SEGREDOS QUE POUCOS CONHECEM - O mistério do Cruzador Bahia

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Segredo que poucos conhecem O mistério do Cruzador Bahia

Lauro Indursky

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Marcos Palhares

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Diretoria da Associação Paulista do Ministério Público Biênio 2015/2016 Presidente Felipe Locke Cavalcanti 1º Vice Presidente Márcio Sérgio Christino 2º Vice Presidente Gabriel Bittencourt Perez 1º Secretário Paulo Penteado Teixeira Junior 2º Secretário Tiago de Toledo Rodrigues 1º Tesoureiro Marcelo Rovere 2º Tesoureiro Francisco Antonio Gnipper Cirillo Relações Públicas Paula Castanheira Lamenza Patrimônio Fabiola Moran Faloppa Aposentados e Pensionistas Cyrdemia da Gama Botto Prerrogativas Institucionais Salmo Mohmari dos Santos Júnior CONSELHO FISCAL Titulares Antonio Bandeira Neto Enilson David Komono Luiz Marcelo Negrini de Oliveira Mattos Suplentes José Márcio Rossetto Leite Pedro Eduardo de Camargo Elias Valéria Maiolini DEPARTAMENTOS Assessores da Presidência Antonio Luiz Benedan Antonio Visconti Arthur Cogan Herberto Magalhães da Silveira Júnior Hermano Roberto Santamaria Irineu Roberto da Costa Lopes João Benedicto de Azevedo Marques José Eduardo Diniz Rosa José Geraldo Brito Filomeno José Maria de Mello Freire José Ricardo Peirão Rodrigues Marino Pazzaglini Filho Munir Cury Nair Ciocchetti de Souza

Newton Alves de Oliveira Reginaldo Christoforo Mazzafera Apoio aos Substitutos Eduardo Luiz Michelan Campana Neudival Mascarenhas Filho Norberto Jóia Renato Kim Barbosa Apoio à 2ª Instância Paulo Juricic Renato Eugênio de Freitas Peres Aposentados Ana Martha Smith Corrêa Orlando Antonio de Oliveira Fernandes Antonio Sérgio C. de Camargo Aranha Carlos João Eduardo Senger Carlos Renato de Oliveira Edi Cabrera Rodero Edivon Teixeira Edson Ramachoti Ferreira Carvalho Francisco Mario Viotti Bernardes Irineu Teixeira de Alcântara João Alves José Benedito Tarifa José de Oliveira Maria Célia Loures Macuco Reginaldo Christoforo Mazzafera Orestes Blasi Júnior Osvaldo Hamilton Tavares Paulo Norberto Arruda de Paula Ulisses Butura Simões APMP - Mulher Maria Gabriela Prado Manssur Daniela Hashimoto Fabiana Dalmas Rocha Paes Celeste Leite dos Santos Fabiola Sucasas Negrão Covas Jaqueline Mara Lorenzetti Martinelli Compliance Marco Antonio Ferreira Lima Convênios Célio Silva Castro Sobrinho Condições de Trabalho Cristina Helena Oliveira Figueiredo Tatiana Viggiani Bicudo Coordenador do Ceal João Cláudio Couceiro Secretário do Ceal Arthur Migliari Júnior Cultural André Pascoal da Silva Gilberto Gomes Peixoto

José Luiz Bednarski Paula Trindade da Fonseca Esportes João Antônio dos Santos Rodrigues Karyna Mori Luciano Gomes de Queiroz Coutinho Rafael Abujamra Estudos Institucionais Anna Trotta Yaryd Claudia Ferreira Mac Dowell Jorge Alberto de Oliveira Marum Rafael Corrêa de Morais Aguiar Eventos Paula Castanheira Lamenza Gestão Ambiental Barbara Valéria Cury e Cury Luis Paulo Sirvinskas Informática João Eduardo Gesualdi Xavier de Freitas Paulo Marco Ferreira Lima Jurisprudência Cível Alberto Camina Moreira José Bazilio Marçal Neto Otávio Joaquim Rodrigues Filho Renata Helena Petri Gobbet Jurisprudência Criminal Alfredo Mainardi Neto Antonio Nobre Folgado Fabio Rodrigues Goulart Fernando Augusto de Mello Goiaci Leandro de Azevedo Júnior João Eduardo Soave Luiz Cláudio Pastina Ricardo Brites de Figueiredo Roberto Tardelli Legislação Daniela Merino Alhadef Leonardo D’Angelo Vargas Pereira Milton Theodoro Guimarães Filho Rogério José Filocomo Júnior Médico Luiz Roberto Cicogna Faggioni Ouvidor da APMP Paulo Roberto Salvini Patrimônio João Carlos Calsavara Paulo Antonio Ludke de Oliveira Sérgio Clementino Wânia Roberta Gnipper Cirillo Reis Prerrogativas Financeiras André Perche Lucke


Daniel Leme de Arruda

Piracicaba

Itapetininga

João Valente Filho

Fábio Salem Carvalho

José Roberto de Paula Barreira

Prerrogativas Funcionais

João Francisco de Sampaio Moreira

Célio Silva Castro Sobrinho

Carlos Alberto Carmello Júnior

Presidente Prudente

Jundiai

Cássio Roberto Conserino

Valdemir Ferreira Pavarina

Mauro Vaz de Lima

Geraldo Rangel de França Neto

Braz Dorival Costa

Fernando Vernice dos Anjos

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Ribeirão Preto

Litoral Norte

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Cyrilo Luciano Gomes Júnior

Previdência

Luiz Fernando Guedes Ambrogi

Manoel José Berça

Deborah Pierri

Darly Vigano

Santos

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Marília

Sandro Ethelredo Ricciotti Barbosa

Publicações

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Roberto Mendes de Freitas Júnior

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Luiz Fernando Garcia

São José do Rio Preto

José Carlos de Oliveira Sampaio

Osasco

Carlos Gilberto Menezello Romani

José Fernando Cecchi Júnior

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Ary César Hernandez

Wellington Luiz Daher

Sorocaba

Ourinhos/Botucatu

Rolando Maria da Luz Relações com Fundo de Emergência Gilberto Nonaka Roberto Elias Costa Relações Interinstitucionais Ana Laura Bandeira Lins Lunardelli Cristiane Melilo D.M. dos Santos Soraia Bicudo Simoes Munhoz Relações Públicas Estéfano Kvastek Kummer José Carlos Guillem Blat Rodrigo Canellas Dias Segurança Gabriel César Zaccaria de Inellas José Romão de Siqueira Neto Walter Rangel de Franca Filho Turismo Mariani Atchabahian Romeu Galiano Zanelli Júnior DIRETORES REGIONAIS (TITULARES E ADJUNTOS) Araçatuba José Fernando da Cunha Pinheiro

José Júlio Lozano Júnior Patrícia Augusta de Chechi Franco Pinto Taubaté Manoel Sérgio da Rocha Monteiro Luis Fernando Scavone de Macedo CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO (TITULARES E SUPLENTES) ABC Fernanda Martins Fontes Rossi Adolfo César de Castro e Assis Araçatuba Sérgio Ricardo Martos Evangelista Nelson Lapa Araraquara José Carlos Monteiro Sérgio Medici Baixada Santista Maria Pia Woelz Prandini Alessandro Bruscki Bauru João Henrique Ferreira

Renata Gonçalves Catalano Luiz Paulo Santos Aoki Piracicaba Sandra Regina Ferreira da Costa José Antonio Remédio Presidente Prudente Fernando Galindo Ortega André Luiz Felicio Ribeirão Preto José Ademir Campos Borges Daniela Domingues Hristov Santos Daury de Paula Júnior Daniel Gustavo Costa Martori São Carlos Neiva Paula Paccola Carnielli Pereira Denilson de Souza Freitas São José do Rio Preto Wellington Luiz Villar Júlio Antonio Sobottka Fernandes Sorocaba Rita de Cássia Moraes Scaranci Fernandes Gustavo dos Reis Gazzola

Reinaldo Ruy Ferraz Penteado

Ricardo Prado Pires de Campos

Bauru

Bragança

Júlio César Rocha Palhares

Bruno Márcio de Azevedo

Vanderley Peres Moreira

Carmen Natalia Alves Tanikawa

Daniela Rangel Cunha Amadei

Campinas

Campinas

Vale do Ribeira/ Litoral Sul

Leonardo Liberatti

Carlos Eduardo Ayres de Farias

Guilherme Silveira de Portela Fernandes

Ricardo José Gasques de A. Silvares

Fernanda Elias de Carvalho

Luciana Marques Figueira Portella

Franca

Franca

São João da Boa Vista

Joaquim Rodrigues de Rezende Neto

Christiano Augusto Corrales de Andrade

Donisete Tavares Moraes Oliveira

Carlos Henrique Gasparoto

Alex Facciolo Pires

Sérgio Carlos Garutti

Guarulhos

Guarulhos/Mogi das Cruzes

Tribunal de Contas

Omar Mazloum

Carlos Eduardo da Silva Anapurus

Letícia Formoso Delsin Matuck Feres

Rodrigo Merli Antunes

Renato Kim Barbosa

Rafael Neubern Demarchi Costa

Taubaté José Benedito Moreira


Segredo que poucos conhecem

O mistério do Cruzador Bahia

Lauro Indursky Marcos Palhares

ÃO DE QUA AÇ LI IC

D DA

E

CE R TI F

1ª Edição

ISO 9 001:2 00 8

ISO 9001

Associação Paulista do Ministério Público São Paulo 2016


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Indursky, Lauro, 1932. Segredo que poucos conhecem : o mistério do Cruzador Bahia / Lauro Indursky, Marcos Palhares. -1. ed. -- São Paulo : APMP - Associação Paulista do Ministério Público, 2016. Bibliografia 1. Guerra Mundial, 1939-1945 - História diplomática 2. Guerra Mundial, 1939-1945 Operação naval 3. Guerra Mundial, 1939-1945 Operação naval - Cruzador Bahia 4. Guerra Mundial, 1939-1945 - Operações navais submarinas 5. Nazistas - História - Século 20 I. Palhares, Marcos, 1974-. II. Título.

16-04243

CDD-940.5451

Índices para catálogo sistemático: 1. Operações navais : Guerra Mundial, 1939-1945 : História 940.5451

ISBN: 978-85-86013-57-7

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – 2016 Composição e editoração gráfica: Departamento de Publicações da APMP Rodrigo Vicente de Oliveira (encarregado), Marcelo Soares (diagramador) Edição e assistência de produção: Assessoria de Imprensa da APMP Dora Estevam, Marcos Palhares, Paula Dutra (jornalistas) Capa: Marcelo Soares Infografia: Reprodução de imagens pesquisadas na Internet Supervisão: Diretoria da APMP


Este livro é dedicado às v­ ítimas do Cruzador Bahia, seus ­familiares e ­descendentes, bem como a todas as vítimas de navios brasileiros ­torpedeados durante a Segunda ­Guerra Mundial.



SUMÁRIO

Apresentações Felipe Locke Cavalcanti ................................................................ 09 Catarina Kava ............................................................................... 13 José de Arruda Silveira Filho ......................................................... 17 Marcos Palhares ........................................................................... 21 Capítulo 1 – A maior tragédia naval do Brasil ................................. 25 Massacre no Atlântico .................................................................. 35 Brasil entra na guerra ................................................................... 42 Capítulo 2 – Chefes nazistas rumo à Argentina .............................. 51 A ‘Meca dos Nazistas’ ................................................................... 60 Os documentos do FBI ................................................................. 67 Capítulo 3 – Dinheiro e operações de proteção .............................. 77 O tesouro de Bormann ................................................................. 86 A operação ‘Paperclip’ ................................................................. 96 Capítulo 4 – Uma ferida que não cicatriza .................................... 105 Vácuo de poder e nota apócrifa ................................................... 115 Precedentes no Brasil e nos EUA ................................................. 123 Apêndice – Lista dos sobreviventes e vítimas fatais do Cruzador Bahia ........................................................................ 133 Bibliografia ................................................................................. 151 Outras fontes de consulta e pesquisa .......................................... 161 Sobre os autores ........................................................................ 169 7



UM TRABALHO QUE NÃO PODIA SER DESPERDIÇADO

Com a publicação do livro “Segredo que poucos conhecem – O mistério do Cruzador Bahia”, produzido pelo querido e saudoso advogado e amigo Lauro Indursky, em parceria com o jornalista Marcos Palhares, a APMP cumpre o papel não apenas de homenagear o associado falecido, mas também de levar à sociedade um trabalho que levou muitos anos para ser desenvolvido e que não podia, sob hipótese alguma, ser desperdiçado. A obra recupera a história e as circunstâncias do maior desastre naval de nosso país, ocorrido nos estertores da Segunda Guerra Mundial, e questiona a versão oficial, apontando um crime hediondo que, se comprovado, é imprescritível. Teria um submarino nazista sido responsável pela morte de mais de três centenas de brasileiros, e não um acidente? A decisão de publicar o livro, que ainda estava em fase de finalização quando, infelizmente, o colega Lauro Indursky veio a falecer, foi consolidada conforme o tema central – a participação de nazistas na tragédia brasileira – crescia no interesse público, ao relacionar-se com fatos e novidades sur9


preendentes. Em 2014, o Federal Bureau of Investigation (FBI), o célebre Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos, divulgou documentos inéditos que comprovam oficialmente as suspeitas de que Adolf Hitler teria se refugiado na Argentina após a Segunda Guerra, sendo transportado em um submarino. Teria ele encontrado (e abatido), nessa fuga pelo Oceano Atlântico, o Cruzador Bahia? Ainda em 2014, a imprensa britânica noticiou que a historiadora e pesquisadora brasileira Simoni Renee Guerreiro Dias acabava de publicar um livro com extensa pesquisa sobre possível residência do líder nazista no interior do Estado do Mato Grosso, onde teria falecido. E agora, em março de 2016, a Rede Globo exibiu reportagem mostrando que a ossada de Josef Mengele - o médico nazista que viveu e morreu no Brasil e que foi considerado o “Anjo da Morte” do campo de concentração de Auschwitz – ficou abandonada por três décadas no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo. Mengele é outro chefe nazista que também pode ter vindo para a América do Sul em um submarino nazista. Por isso, ao trazer seu trabalho de interesse e pesquisa sobre o Cruzador Bahia para a APMP, logo que a atual diretoria tomou posse no seu primeiro mandato, em 2013, Lauro ­Indursky estava se antecipando ao noticiário e chamando a atenção para fatos que merecem a devida recuperação e revisão. Seu trabalho, porém, ainda não estava completo, por isso um de nossos assessores de Imprensa, Marcos Palhares, o auxiliou na checagem de dados, coleta de novas informações, edição e formatação do texto definitivo. Lamentamos que, ao longo desse complexo processo, o colega Lauro tenha nos dei10


xado. Mas está aqui o fruto de seu labor, finalmente publicado, conforme o compromisso que assumimos. A ele, reverência pelo trabalho realizado e saudades. À viúva, Sra. Catarina, que autorizou a presente publicação, gratidão e solidariedade no pesar. A todos, uma boa leitura. Felipe Locke Cavalcanti Presidente da Associação Paulista do Ministério Público

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A SATISFAÇÃO DE VER UM SONHO REALIZADO

É muito difícil para mim, ainda, falar sobre o Lauro. Sua perda, em fevereiro de 2015, é algo que ainda me deixa muito abalada emocional e psicologicamente. Foram 30 anos de convivência e dele sempre guardarei as melhores lembranças. E entre elas está o interesse extremo e a enorme atenção que dedicou, nos seus dois últimos anos de vida, à pesquisa e estudo sobre a tragédia do Cruzador Bahia durante a Segunda Guerra Mundial. Por isso, a publicação deste livro me dá a enorme satisfação de ver o sonho dele realizado. Em todas as viagens que fez, nos últimos anos, pelo Brasil e no exterior, Lauro reservava parte considerável do tempo para buscar novos materiais, opiniões e informações sobre o tema, pelo qual aumentava, a cada dia, sua fascinação. Em Madri, Nova Iorque ou Paris, ele esmiuçava livrarias, bibliotecas, arquivos e órgãos públicos. Mesmo em seus momentos de repouso, em casa, ele passava horas no computador buscando e checando registros – para, depois, imprimir e recortar tudo, pacientemente, e produ13


zir diversas encadernações, repletas de textos e imagens. Preservo várias delas comigo, com carinho. Tudo o que o motivava nesse trabalho incessante – e voluntário - era a suspeita crescente de que existe algo oculto sobre o afundamento do Cruzador brasileiro, ainda hoje, setenta anos após a tragédia. Era o seu faro de advogado, de combatente das injustiças, dos casos mal explicados. Uma inquietação que marcou sua vida, também, nos tempos em que foi promotor de Justiça no Estado de São Paulo. Época em que se associou à APMP, uma união que manteve até o fim, mesmo já não exercendo a profissão de promotor. E foi a diretoria da APMP, na pessoa de seu presidente, Felipe Locke Cavalcanti, que acolheu com verdadeiro interesse e disposição de publicar o trabalho desenvolvido pelo Lauro. Ele comentava com extrema satisfação o andamento da colaboração com o jornalista da APMP, Marcos Palhares. Foi algo que trouxe imensa alegria para ele e que fez redobrar seus esforços para compilar dados, organizar o texto e finalizar o livro. Por isso, gostaria de registrar meu imenso agradecimento ao Felipe Locke Cavalcanti e toda a sua diretoria, por ter acolhido o trabalho feito pelo Lauro, por ter acreditado em sua importância e o incentivado a continuar escrevendo e produzindo. Na pessoa de Marcos Palhares, coautor do livro, agradeço aos departamentos de Assessoria de Imprensa e de Publicações da APMP, pelo esforço conjunto, finalmente recompensado. A publicação desta obra sobre o Cruzador Bahia era uma das coisas que Lauro mais 14


queria. Era seu sonho. E eu tenho absoluta certeza que, onde ele estiver, vai estar muito feliz. Encerro este pequeno texto de agradecimento convidando a todos para conferirem o brilhante trabalho que ele teve, voluntariamente, a iniciativa de produzir. É uma forma de sentirmos, ainda, sua querida presença. Muito obrigada. Catarina Kava ViĂşva de Lauro Indursky

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AMIGO INESQUECÍVEL

LAURO INDURSKY impressionou-me positivamente logo após meu ingresso no Ministério Público de São Paulo. Ingressando em nossa querida Instituição, não conhecia os colegas mais antigos, travando meu primeiro contato com o Lauro, na antiga sede na Associação Paulista do Ministério Público. Eu, compreensivelmente cerimonioso; ele, afável, cordial, elegante no trajar e no falar, deixando-me completamente à vontade e me fazendo sentir como se o conhecesse há muitos anos. No passar do tempo pude constatar que fazia parte de sua maneira de ser, dirigir-se com cordialidade a quem dele se acercasse, o que não contrastava com seu vigor no desempenho de suas funções e responsabilidades como Promotor de Justiça. Exemplo disso é o relato impresso em 2014, na APMP Revista: em pleno regime de exceção, após a intervenção militar de 1964, ocorreram prisões de Promotores de Justiça então empenhados na defesa de trabalhadores rurais acusados por fazendeiros de serem subversivos ao regime, porém, sem que tais fatos tivessem sido devidamente investigados. Inconformado com as prisões e buscando uma solução, Lauro procurou o Major do Exército Vinícius Kruel, sobrinho do 17


então poderoso general Amaury Kruel, à época comandante do II Exército, seguindo-se a marcação de uma reunião com esse comandante militar. Naquela oportunidade estiveram presentes no Quartel General, além do Lauro, o então Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, Mário de Moura Albuquerque, o Desembargador Delboux Guimarães e o Deputado Euzébio Rocha. Inteirado do ocorrido, o General Kruel desferiu telefonemas a várias localidades, ordenando aos sargentos responsáveis pelas prisões de Promotores, que os liberassem imediatamente e que eles próprios se recolhessem à prisão. Esse, o colega Lauro Indursky. No curso de nossas carreiras fiquei vários anos sem encontrar-me com o Lauro, até minha aposentadoria, quando passei a ser Auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD/RJ), o que me levou a deslocações quinzenais até a cidade do Rio de Janeiro, na qual Lauro residia após sua aposentadoria. Lá o reencontrei e a cada vez que nos víamos, repetia-se uma recepção calorosa. Isso persistiu até que a inevitabilidade do término de nossas estadias terrenas se fez presente para o querido Lauro. Mesmo assim, ele confiou-me tarefa que só se reserva para quem muito se preza: nomeou-me seu testamenteiro e inventariante, certamente para que nossos laços de amizade se perpetuassem no convívio com seus familiares. A presente obra editada pela APMP, sempre zelosa por todos nós, mais do que homenageia o colega Lauro. Traz aos leitores instigante relato do que foi uma atrocidade histórica, pretensamente atribuída à fúria nazista. Episódio criminoso, havido em águas territoriais brasileiras no fim da Segunda Guerra Mundial, supostamente consistente no torpedeamento 18


do nosso Cruzador Bahia por um submarino alemão, resultando na morte de centenas de brasileiros. Os relatos desta obra se basearam em alargada pesquisa histórica, embasada em ilações com fatos documentalmente divulgados pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) a respeito do roteiro de fuga de Adolf Hitler, e cuja leitura seguramente entreterá os leitores. À APMP, na pessoa de seu Presidente Felipe Locke Cavalcanti, parabéns pela iniciativa. LAURO INDURSKY, minhas reverências pela sua preocupação com relevantes acontecimentos históricos. SAUDADES, querido irmão. José de Arruda Silveira Filho Procurador de Justiça aposentado - advogado

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‘AÍ TEM JACUTINGA!’

Parece que ainda ontem conversei pela primeira vez com o advogado Lauro Indursky, na Sede Executiva da APMP, sobre seu projeto de publicar um livro a respeito do Cruzador Bahia, que afundou em 1945, vitimando 336 brasileiros. Confessei que nada sabia a respeito e ele me disse: “É a maior tragédia naval brasileira. Parece que há um segredo de Justiça de 75 anos para este caso. Se foi um acidente, como diz a versão oficial, não há motivo para isso! Como dizem os caçadores lá na Bahia, ‘Aí tem jacutinga!’. E este é um segredo que poucos conhecem!”. Pronto: eu estava “fisgado” pelo tema. Se o ex-promotor de Justiça Lauro Indursky teve a intuição de advogado em relação ao processo legal do Cruzador Bahia, a mim coube a curiosidade de jornalista. Quando ele me apresentou uma rara cópia da revista “Subsídios para a História Marítima do Brasil – Volume VI”, publicada pela Imprensa Naval, no Rio de Janeiro, em 1948, atentei para um detalhe: o fato de que na nota oficial do governo brasileiro sobre o desastre não consta o nome do ministro da Marinha naquela ocasião. 21


Junto com o sr. Indursky, pesquisei imediatamente na Internet quem ocupava o cargo em 30 de outubro de 1945 e, para nosso espanto, aquela foi exatamente a data em que depuseram Getúlio Vargas da presidência do Brasil. Ou seja: justo ali, o governo estava acéfalo – e, por conseguinte, o Ministério da Marinha também. Que estranha e suspeita coincidência o resultado das investigações sobre o Cruzador Bahia ter sido divulgado exatamente naquela data! Com os olhos brilhando, o sr. Lauro comentou: “Não falei? Aí tem jacutinga!” Assim, por determinação do presidente Felipe Locke Cavalcanti, adicionei às minhas funções na APMP (com grande satisfação) a tarefa de auxiliar o advogado em seu trabalho de pesquisa, coleta de informações e imagens, checagem de dados e produção e edição do texto que, agora, é publicado em formato de livro. Guardo muito viva a memória de todas as conversas que tive com Lauro Indursky, toda a sua empolgação com os mínimos detalhes. Todo o trabalho já ultrapassava a metade do caminho, no fim de 2014, quando surgiram novas informações e fontes de investigação que não poderiam ser desprezadas. Tivemos uma última conversa naquele período, sobre livros relacionados aos nazistas e ao Cruzador Bahia que ele havia adquirido em uma viagem aos Estados Unidos. Naquele ano, o Federal Bureau of Investigati (FBI) divulgou centenas de documentos de suas investigações secretas da suposta fuga de Adolf Hitler para a Argentina, após a Segunda Guerra. E foi então que, em fevereiro de 2015, recebi a notícia da morte do sr. Lauro Indursky. Foi um choque, algo totalmente inesperado. Ali, como forma de agradecê-lo e home22


nageá-lo, renovei meu compromisso pessoal de terminar este livro. E aqui está a obra finalizada, a tal “jacutinga” do sr. Lauro, que tive a sorte e satisfação de conhecer. Este livro pertence a ele, com muito respeito. Sou muito grato a ele, à sua viúva, sra. Catarina Kava, ao presidente da APMP, Felipe Locke Cavalcanti, e aos colegas do Departamento de Publicações. Buenas e me espalho, Marcos Palhares Jornalista e assessor de Imprensa da Associação Paulista do Ministério Público

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CapĂ­tulo 1

A maior tragĂŠdia naval do Brasil



O mistério do Cruzador Bahia

N

o dia 17 de julho de 1945 teve início, na cidade alemã de Potsdam, a célebre conferência entre os representantes dos países aliados que haviam acabado de vencer a Segunda Guerra Mundial: Harry Truman, presidente dos Estados Unidos, Josef Stalin, líder da União Soviética, e Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido (que seria substituído no evento, pouco depois, pelo novo primeiro-ministro, Clement Attlee). Naquela ocasião estava em debate, principalmente, o futuro da Alemanha recém-derrotada. Durante o coquetel servido na abertura da conferência, o secretário de Estado norte-americano, James Byrnes, não perdeu a oportunidade de ­­acercar-se do lendário Josef Stalin. Em seu livro de memórias, “Speaking frankly” (“Falando francamente”, Brothers Publishers, 1947, com versão brasileira da editora A Noite), Byr-

Churchill,Truman e Stalin na Conferência de Potsdam

‘Falando francamente’, de J.Byrnes

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Segredo que poucos conhecem

Pela versão oficial, Hitler e Eva Braun se suicidaram

No bunker de Hitler havia mancha de sangue no sofá

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nes relata que, logo após brindar seu copo com o poderoso mandatário soviético, perguntou-lhe se acreditava que Adolf Hitler, o chefe nazista que desencadeou – e perdeu - a guerra, havia mesmo morrido. “Não está morto”, respondeu, com toda segurança, Stalin. “Escapou para a Espanha ou para a Argentina”, acrescentou, convicto, para a perplexidade de Byrnes. Vindo de quem vinha, a afirmação ganhava caráter irrefutável; afinal, fora o exército soviético que encontrara, em 2 de maio de 1945, os restos mortais que seriam, supostamente, de Hitler e de sua companheira, Eva Braun, numa cratera próxima ao bunker onde os dois passaram seus últimos meses de vida, em Berlim. Sustenta-se como versão oficial, ainda hoje, que os dois teriam cometido suicídio no dia 30 de abril (por envenenamento e tiros de arma de fogo). Livros como “O piloto de Hitler A vida e a época de Hans Baur”, de C. G. (Jardim dos Livros, 2011) sustentam esse desfecho. Porém, se o testemunho de James Byrnes for verdadeiro, nem o próprio Stalin acreditava nessas mortes... E mais: ainda indicava, entre os prováveis destinos do líder nazista, a América do Sul. Oito dias antes


O mistério do Cruzador Bahia

do início da conferência de Potsdam, em 9 de julho, um submarino alemão, o U-530, emergiu na cidade argentina de Mar del Plata. Seus tripulantes não portavam documentos e, segundo os interrogadores da Marinha da Argentina, o diário de bordo, os armamentos e outros equipamentos do submarino haviam desaparecido. O detalhe é que também estava faltando um dos botes infláveis de borracha e, poucos dias antes, um bote idêntico havia sido abandonado em uma praia do balneário de Necochea. Por isso, o jornal A Crítica, de Buenos Aires, especulou que Hitler e Eva Braun tinham sido transportados pelo submarino e usado o bote para desembarcarem na Argentina. No dia 18 de julho, um despacho da agência norte-americana de notícias United Press, emitido em Londres, afirmava categoricamente que “esferas oficiais” inglesas admitiam que “Hitler desembarcou na Argentina no dia 30

Submarino nazista U-530 logo após emergir em Mar del Plata

Balneário argentino de Necochea, nos anos 1940

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Segredo que poucos conhecem

Livro de J.Salinas e Carlos De Nápoli

O U-977, segundo submarino alemão que emergiu na Argentina

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de junho [de 1945], transportado pelo U-530” depois de atravessar o Oceano Atlântico em “um comboio de pelo menos seis submarinos”. Esses fatos a afirmação de Stalin e o despacho da United Press -, ocorridos quase que simultaneamente, estão descritos no livro “Ultramar Sur – La última operación secreta del Tercer Reich” (“Ultramar Sul – A última operação secreta do Terceiro Reich”, Grupo Editorial Norma, 2002, com versão em português da editora Civilização Brasileira), de autoria dos jornalistas argentinos Juan Salinas e Carlos De Nápoli. A obra sustenta a versão de que Hitler escapou de Berlim em um hidroavião, seguindo para Kiel, na Noruega, de onde partiu com a frota de submarinos até a América do Sul, tendo como destino final a Patagônia, no Sul da Argentina. O livro recorda, ainda, a chegada a Mar del Plata de outro submarino nazista, o U-977, no dia 17 de agosto de 1945. Seriam, os dois, integrantes do tal comboio que escoltara o chefe nazista? Depois de se render, o comandante do submarino, Heinz


O mistério do Cruzador Bahia

Schäffer, contou que tinha iniciado sua viagem exatamente no porto norueguês de Kiel, em 13 de abril de 1945. O diário de bordo apontava que tinha permanecido próximo à costa da Noruega até o início de maio, sem saber da derrota alemã, e que passou 66 dias submerso até atingir as proximidades do arquipélago de Cabo Verde, no início de julho, seguindo de lá diretamente para Mar del Plata. O período de mais de dois meses sem subir à superfície ainda hoje é contestado e também suspeita-se que o roteiro de viagem não tenha sido exatamente o que foi relatado. A pronta aceitação do que foi contado por Schäffer e por Otto Wermuth (comandante do submarino U-530), sugerem que seus interrogatórios foram, no mínimo, “benevolentes”. A Argentina abrigava simpatizantes do nazismo e mais tarde seria comprovado que recepcionou clandestinamente inúmeros criminosos alemães. Mas o que interessa para nós, brasileiros, todos esses fatos? Muito. No dia 4 de julho de 1945, período em que esses submarinos alemães estavam fugindo da Europa para a América do Sul, explodiu e afundou, próximo ao Arquipélago de São Pe-

Schäffer era o comandante do U-977

Ficha de Wermuth feita pela Marinha da Argentina

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Segredo que poucos conhecem

O Cruzador Bahia, afundado após a rendição alemã

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dro e São Paulo, distante 987 quilômetros da cidade de Natal, o Cruzador Bahia, matando 336 tripulantes. Trata-se do maior desastre naval do Brasil. Depois de cogitar o choque do navio com uma mina flutuante, o Ministério da Marinha brasileiro concluiria que foi um acidente, provocado por disparos involuntários de metralhadora sobre bombas de profundidade armazenadas no navio. Mas ainda hoje, mais de sete décadas depois, inúmeras informações e afirmações pouco exploradas colocam essa versão oficial em cheque. Muitos pontos obscuros, mal explicados – ou não explicados – nos levam a refletir sobre esse mistério de 70 anos, um segredo que poucos conhecem. Porque, se o Cruzador Bahia foi afundado por um torpedo de submarino nazista, mais de dois meses após a rendição alemã (ou seja, em tempo de paz), isso configuraria um crime contra a humanidade, imprescritível. E os familiares dos mortos e sobreviventes mereceriam indenização. Casos semelhantes ocorreram em 2001, quando os afundamentos do barco pesqueiro Shangri-lá, no Brasil, em 1943, e da corveta Eagle-56, nos Estados Unidos, em 1945, que inicialmente tinham sido considerados “acidentes” pelas investigações oficiais, foram revistos – e reco-


O mistério do Cruzador Bahia

nhecidos como torpedeamentos feitos por dois submarinos nazistas, o U-199 e o U-853, respectivamente. Outro deles, o já citado U-977, teria, ao contrário do que disse seu comandante, navegado, no início de julho de 1945, próximo ao Nordeste brasileiro. Mais especificamente nas cercanias do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, onde flutuava o Cruzador Bahia. A versão oficial de seu afundamento prossegue sendo “acidente”, mesmo contestada por muitos. Porque, para corroborar a versão oficial, é preciso crer que tenha ocorrido uma (improvável) sucessão de acontecimentos que implicariam em graves infrações: de que a metralhadora havia sido carregada apontando para a popa do navio; que tenha sido esquecida carregada desde o exercício anterior; e que tenha sido anulado o dispositivo que impedia disparos contra a própria embarcação. Ainda assim, é tido como irrefutável que o cruzador explodiu por imperícia e negligência de seus tripulantes. Por quê? Este livro, fruto de pesquisa livre, sem caráter jornalístico ou acadêmico, é o exercício desse e de outros questionamentos, a partir de uma ampla compilação e conexão de fatos, informações, publicações e relatos sobre aquele período. Um momento histórico de inte-

Arquipélago de S.Pedro e S.Paulo, no litoral brasileiro

Livro descreve interesses conflitantes

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Segredo que poucos conhecem

resses conflitantes, como resume o livro “1942 – O Brasil e sua guerra quase desconhecida”, de João Barone (Editora Nova Fronteira, 2013), “o governo ambíguo de Getúlio Vargas ganhava eco nas relações exteriores. Não que a democracia (ou sua escassez) no Brasil fosse considerada importante pelos outros Estados: a grande questão se situava na escolha de seus parceiros político-econômicos”. Assim, ao mesmo tempo que firmava um acordo bilateral com os Estados Unidos, em 1935, visando exclusividade de parceria nas trocas comerciais, redução de taxas, favorecimento de empréstimos e outros benefícios, o Brasil também se tornava, naquela década, o maior parceiro comercial da Alemanha nazista fora da Europa. Esses interesses conflitantes se agravariam com a eclosão da Segunda Guerra e, depois disso, ganharam caráter ideológico e estratégico com a oposição dos EUA à União Soviética. Todos esses fatores, aparentemente desconexos, contribuíram decisivamente para a versão oficial de “acidente” para a maior tragédia naval do Brasil. É um mistério que mistura diversos outros fatos, polêmicos, hoje trazidos à tona pelo “revisionismo histórico”: a fuga de chefes nazistas para a Argentina, a revelação de documentos inéditos das investigações norte-americanas, os programas de proteção a cientistas alemães após a Segunda Guerra Mundial, as declarações de oficiais da Marinha sobre possível torpedeamento do Cruzador Bahia 34


O mistério do Cruzador Bahia

e, por fim, a suspeita escolha da data de divulgação da versão oficial sobre essa tragédia. Juntando as peças desse quebra-cabeças, contemplamos o mosaico de um segredo que poucos conhecem. E destacamos a oportunidade de reparação de uma possível injustiça histórica. MASSACRE NO ATLÂNTICO – O uso de submarinos, chamados de U-Boots (abreviação de unterseeboot, literalmente “barco-sob-o-mar”), foi uma das mais importantes, bem sucedidas e letais armas da Alemanha nazista. Segundo Marcelo Monteiro, autor de “U-507 - O Submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial” (Editora Schoba, 2012), “em 1942, auge do seu domínio marítimo, [os submarinos alemães] mandaram 6 milhões de toneladas aliadas para o fundo do mar” e mataram milhares de pessoas. “Sob comando do almirante Karl Dönitz”, prossegue Monteiro, em texto publicado pela revista Super Interessante (Editora Abril), “seus alvos eram navios de carga que iam da América do Norte para a Europa - e do Brasil para os EUA, assim que ficou clara a aliança entre os dois países”. O governo brasileiro, apesar de oficialmente neutro na Segunda Guerra até então, fornecia borracha para a indústria bélica norte-americana. “As retaliações alemãs a esse apoio vela-

Karl Dönitz comandava os unterseeboots

O U-507 matou mais de 600 brasileiros

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Segredo que poucos conhecem

Harro Schacht, o comandante do submarino U-507

Baependy, primeiro a ser afundado pelo U-507

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do começaram em 15 de fevereiro de 1942, quando o navio mercante Buarque foi afundado perto da Flórida. Até o fim da guerra, em 1945, seriam mais 36 afundamentos no Atlântico, e cerca de 1.500 mortes”, resume Marcelo Monteiro. “Nos 6 meses seguintes ao primeiro ataque, em fevereiro [de 1942], foram 15 afundamentos de embarcações brasileiras, que causaram a morte de 135 pessoas”. Na época, o presidente (ou ditador) do Brasil, Getúlio Vargas, hesitava em colocar o país na guerra. Por isso, de acordo com Monteiro, “em 7 de agosto de 1942, Dönitz autorizou o comandante do U-507, Harro Schacht, a realizar ‘manobras livres’ no litoral brasileiro. O eufemismo autorizava o capitão a atacar qualquer embarcação, sem necessidade de aviso ou autorização. Schacht já havia feito bom uso dessa permissão em abril e maio daquele ano: de passagem pelo golfo do México, afundou 11 navios”. O desfecho seria um verdadeiro massacre: entre os dias 15 e 19 de agosto de 1942, sete embarcações brasileiras foram afundadas na costa do Nordeste, todas pelo mesmo submarino alemão: o U-507. “A primeira vítima do submarino nazista foi o Baependy,


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dia 15, um sábado. Horas depois, o Araraquara também foi a pique. No domingo, dia 16, foi a vez do Aníbal Benévolo afundar. Foram 270, 131 e 130 mortos, respectivamente - um terço de todas as baixas civis brasileiras na Segunda Guerra Mundial concentradas em dois dias”, conta Marcelo Monteiro. Na manhã do dia 17, segunda-feira, o alvo foi o Itagiba, que afundou em oito minutos. A bordo estavam 60 tripulantes, 21 passageiros e 96 militares que partiram do Rio para Salvador. Náufragos de quatro das seis baleeiras disponíveis foram acudidos por um iate e os das outras duas foram salvos pelo cargueiro Arará. Mas o U-507 ficara à espreita, assistindo à movimentação em torno do afundamento do Itagiba. “Às 16h06”, detalha Marcelo Monteiro, “o submarino nazista atingiu o Arará na casa das máquinas. A precisão do tiro fez com que a embarcação afundasse em 3 minutos. Assim, náufragos do Itagiba socorridos pelo Arará foram ao mar pela segunda vez no mesmo dia”. O saldo dos dois ataques foi o de 56 mortos. “Ainda no dia 17, o U-507 afundou um pesqueiro não

A segunda vítima do submarino, o Araraquara

O Aníbal Benévolo, mais um alvo dos nazistas

O Itagiba, torpedeado com 60 pessoas a bordo

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Segredo que poucos conhecem

Após salvar náufragos do Itagiba, Arará foi afundado

Vítimas dos ­torpedeamentos ­nazistas nas praias do Nordeste brasileiro, incluindo mulheres e até bebês

O navio brasileiro Antonico, afundado pelo U-516

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identificado. Dois dias depois, foi a barca Jacira. Felizmente, ninguém foi ferido”, completa o autor do livro “U-507 - O Submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial”. Em um intervalo de apenas cinco dias, os alemães haviam matado mais de 600 brasileiros - e vale reforçar que o país era neutro, ainda não havia entrado na guerra, o que configura crime contra a humanidade (imprescritível). Naquele mesmo ano de 1942, o comandante da Kriegsmarine, a Marinha alemã, e da Força de Submarinos nazista, Karl Dönitz, havia dado a chamada “Ordem Lacônia”, na qual proibiu qualquer socorro aos náufragos de embarcações atingidas, argumentando que o inimigo não se importava com as mulheres e crianças alemãs nas cidades que bombardeava. Por conta dessa determinação, quando o vapor brasileiro Antonico foi afundado pelo submarino alemão U-516 no litoral da Guiana Francesa, em 28 de setembro de 1942, um grupo de 16 sobreviventes foi morto por rajadas de metralhadoras pelos alemães quando já estavam a bordo de uma baleeira, incluindo o comandan-


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te Américo Neves. No final da guerra, o Brasil tentou, sem sucesso, a extradição de alguns oficiais do U-516 para serem julgados em seu território. Em seu livro de memórias, “Zehn Jahre, Zwanzig Tage” (“Dez anos, vinte dias”, publicado na Alemanha em 1958), Karl Dönitz celebrou os atos criminosos dos submarinos que comandava. “Prenhe de sacrifício e coragem, honrosa e sem mácula, foi a conduta das guarnições durante a batalha. De aproximadamente 38.000 homens que compunham a arma submarina, 30.000 foram perdidos. Em compensação, seus êxitos foram sem par. De acordo com dados inimigos, foram afundados mais de 2.000 navios, ou seja, pelo menos 14 milhões de toneladas”, comemorou aquele que foi escolhido diretamente por Adolf Hitler para sucedê-lo como füher (chefe supremo) do Terceiro Reich (termo alemão que significa império, reino ou nação) e que, nesse novo posto, foi quem negociou a rendição incondicional da Alemanha nazista. Nos julgamentos do Tribunal de Nuremberg, em 1946, Dönitz foi condenado a meros dez anos de prisão – daí o título (irônico) de seu livro. Na obra, o comandante ainda procurou “justificar” a matança no litoral

‘Dez anos, vinte dias’, o livro de Dônitz

Dönitz é o substituto de Hitler, diz jornal

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Segredo que poucos conhecem

Agressão nazista teve grande repercussão no país

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brasileiro: “Entre fevereiro e abril de 1942, os U-Boots torpedearam e afundaram sete navios brasileiros, com todo direto de fazê-lo de acordo com o estabelecido na Convenção de Praças de Guerra (Prize Ordenance), desde que os capitães dos U-Boots não puderam reconhecer suas identidades de neutros. Estavam navegando sem luzes em curso de zigue-zague, alguns deles armados e alguns pintados de cinza e nenhum deles ostentava uma bandeira ou signo de sua identidade de neutro”. Uma simples checagem do horário de alguns dos torpedeamentos contradiz frontalmente as alegações de Dönitz. O Itagiba foi atingido às 10h40, o Arará pouco depois das 16 horas e o Arabutã, às 15 horas – ou seja, todos em plena luz do dia, com perfeita visibilidade. Dönitz reconheceu ainda, em suas memórias, que ordenou ataques contra navios brasileiros antes que o maior país sul-americano houvesse entrado na guerra: “A 4 de julho [de 1942] os U-Boots receberam permissão dos nossos líderes políticos de atacarem todo os navios brasileiros. Na primeira semana de julho, quando estávamos planejando as primeiras operações dilatadas de U-Boots, (...) o ministro do Exterior [da Alemanha nazista, Joachim von Ri-


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bbentrop] negou permissão para qualquer operação ao largo das costas da Argentina, mas não fez objeção à continuação de nossas atividades ao largo do Brasil, que haviam sido permitidas em maio e que estavam em progresso desde então. Decidi portanto mandar, em associação com as operações planejadas contra o tráfego de navios Norte-Sul ao largo de Freetown [capital de Serra Leoa, na África], mais um barco para a costa brasileira”. A decisão do ministro do Exterior nazista de poupar o litoral argentino ajuda a compreender a “benevolência” dos interrogatórios feitos naquele país aos tripulantes dos submarinos alemães que emergiram em Mar del Plata. “No fim dos anos 1930, com a disseminação do nazismo, havia uma forte presença germânica nas Forças Armadas argentinas. O presidente Ramon Castilho, assim que assumiu o mandato, extinguiu o intercâmbio entre militares argentinos e alemães, o que não impediu a crescente simpatia de grupos locais pelos regimes nazifascistas”, descreve o já citado livro “1942 – O Brasil e sua guerra quase desconhecida”, de João Barone. E prossegue: “Como Argentina e Chile mantiveram-se neutros, evitando que seus navios fossem atacados pelos submarinos nazifascitas, foi somente o Brasil que viu eclodir pelo seu litoral a guerra vermelha”. De qualquer forma, em seu livro de memórias, o almirante nazista Karl Dönitz, ao “justi41


Segredo que poucos conhecem

ficar” os ataques de seus submarinos no Nordeste brasileiro, afirmou: “Do outro lado do estreito entre a África e a América do Sul, o U-507 (tenente-comandante Harro Schacht) estava operando. Ali, fora das águas territoriais, ele afundou cinco navios brasileiros. Nisto ele agia de acordo com as instruções expedidas com a cooperação do ministro do Exterior, pelo Quartel-General das Forças Armadas [nazista]”. Com ou sem justificativa, Adolf Hitler pagou o preço pelos torpedeamentos. Em seu livro, João Barone relata: “No último trimestre de 1942, os afundamentos nas costas brasileiras responderam por mais de um terço das perdas no Atlântico Sul. A embaixada do Brasil em Lisboa enviou protestos ao governo alemão pelos afundamentos, sem receber nenhuma resposta formal. Se em algum momento Hitler considerou em seus planos de expansão do Reich a grande quantidade de imigrantes alemães em terras brasileiras, depois desses acontecimentos preferiu deixar de lado maiores considerações para apenas retaliar o país que passara a ser aliado dos Estados Unidos”. BRASIL ENTRA NA GUERRA – Mas foi a carnificina de agosto de 1942 no litoral brasileiro forçou o governo federal a, finalmente, tomar uma posição oficial. No dia 18 daquele mês, confrontando uma multidão revoltada em frente ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, Getúlio Vargas fez um discurso de improviso: “A agressão não ficará impu42


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ne. (...) Regressem todos vocês aos seus lares, com a consciência tranquila e a cabeça erguida. As ocorrências que se registraram nos últimos dias não afetarão o coração do Brasil”. O evento está registrado no livro “Getúlio/ 1930-1945 – Do governo provisório à ditadura do Estado Novo” (Companhia das Letras, 2013), do jornalista Lira Neto. Ele narra: “No sábado, 22 de agosto, atendendo ao clamor popular, Getúlio reuniu os ministros e comunicou-lhes que o país se via obrigado a reconhecer o estado de beligerância com a Alemanha e a Itália (como o Japão não participara do torpedeamento dos navios nacionais, a medida não se estendeu a ele). Getúlio mostrou à equipe um telegrama que recebera de Roosevelt [Franklin, presidente dos Estados Unidos]— ‘Estou chocado e amargurado com a notícia dos navios brasileiros’, dizia a mensagem — e orientou Oswaldo Aranha [então ministro das Relações Exteriores] a enviar uma circular oficial às missões diplomáticas do país em todo o continente. Dizia o comunicado: ‘Desta vez, em que o número das

População ­brasileira saiu às ruas ­revoltada com afundamentos

Biografia de Getúlio, por Lira Neto

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Segredo que poucos conhecem

vítimas foi de várias centenas, compreendendo mulheres e crianças, a agressão foi dirigida contra nossa navegação essencialmente pacífica. [...] À vista disso, o governo brasileiro fez saber aos governos da Alemanha e da Itália que, a despeito de sua atitude sempre pacífica, não há como negar que esses países praticaram contra o Brasil atos de guerra, criando uma situação de beligerância que somos forçados a reconhecer, na defesa de nossa dignidade’.” Dois dias depois, o governo alemão rebateu, em transmissões da Rádio Berlim para a América, classificando os ataques dos submarinos nazistas como “legítima defesa”, como resposta às violações dos interesses de súditos alemães e italianos no Brasil, alvo do confisco de bens e de prisões arbitrárias – e utilizando a mesma “desculpa” de Dönitz de que os navios afundados não puderam ser reconhecidos, por estarem sem bandeira e camuflados. De nada adiantou. Assim como os ataques japoneses a Pearl Harbour empurraram os Estados Unidos para o conflito mundial, a comoção generalizada da população obrigou o Brasil a também declarar guerra oficialmente à Alemanha e à Itália na data de 31 de agosto de 1942, pelo Decreto-Lei nº 10.358. “O governo brasileiro tomou o afundamento destes navios como ocasião para declarar 44


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guerra à Alemanha. Embora isto não tivesse em nada alterado nossas relações existentes com o Brasil, que já havia tomado parte em atos hostis contra nós, foi sem dúvida um erro levar o Brasil a uma declaração oficial; politicamente, deveríamos ter sido melhor aconselhados para evitar tal fato”, analisou, em suas memórias, o comandante Karl Dönitz. “O U-Boot Command, porém, e o capitão do U-Boot envolvido [Harro Schacht], como membros das Forças Armadas, não tinham senão que obedecer às ordens que lhe haviam sido dadas; não competia a eles pesar e calcular as consequências políticas”, ponderou, na sequência. Logo após a declaração de guerra do Brasil, o comando nazista, novamente via Rádio Berlim, ameaçou: “A conta terá de ser paga pelo povo brasileiro”. Uma “conta” que teria sido cobrada mesmo após a rendição alemã, com mais centenas de mortos no Oceano Atlântico. De imediato, porém, a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial significou uma aliança militar com os Estados Unidos, que instalaram bases terrestres na região Nordeste e passaram a comandar todas as operações na costa do Oceano Atlântico. “A Marinha [brasileira] realizou um rápido e intenso processo de reorganização das Forças Navais para 45


Segredo que poucos conhecem

Pertences e retrato do almirante Soares Dutra

A corveta brasileira Camaquã integrou a Força Naval do Nordeste

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adequar-se àquela situação de conflito. A comissão Mista de Defesa Brasil – Estados Unidos estabeleceu um comando único para a Força do Atlântico Sul, sendo criada a Força Naval do Nordeste (FNNE), pelo Aviso nº 1.661, de 5 de outubro de 1942, sob o Comando do então capitão-de-mar-e-guerra Alfredo Soares Dutra”, detalha o almirante-de-esquadra Luiz Fernando Palmer Fonseca, em texto publicado no site Poder Naval Online (www.naval.com. br). Soares Dutra foi um dos que, logo após o afundamento do Cruzador Bahia, admitiu a hipótese de torpedeamento. No site Poder Naval, acrescenta: “A ação prioritária para a nossa Marinha era a escolta dos comboios de navios mercantes, e nesta missão cada navio que chegava ao seu destino em segurança era uma vitória alcançada. (...) Porém, esta guerra cotidiana e silenciosa custou a vida de milhares de pessoas. As perdas brasileiras so-


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maram 30 navios mercantes e três navios de guerra. Dois destes últimos, o Bahia e o Camaquã, compunham a FNNE. Nas operações navais na Segunda Guerra Mundial, a Marinha do Brasil perdeu 486 homens”. A Força Naval do Nordeste foi inicialmente constituída pelos cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul, navios Carioca, Caravelas, Camaquã e Cabedelo (posteriormente reclassificados como corvetas) e caça-submarinos Guaporé e Gurupi. Mais tarde, foram incorporados o Tender Belmonte, novos caça-submarinos, contratorpedeiros-de-escolta, os contratorpedeiros Classe M e submarinos Classe T. Esses meios passaram a constituir a Força-Tarefa 46 da Força do Atlântico Sul. O esforço conjunto deu resultado. Segundo o livro “1942 – O Brasil e sua guerra quase desconhecida”, “As estatísticas assustadora das tonelagens dos afundamentos Aliados passaram a pesar contra os submarinos alemães. De 1943 até os momentos finais da guerra, cada saída de um submarino alemão significava uma sentença de morte para seus tripulantes: dos 842 submarinos alemães lançados pelos alemães, 779 foram afundados. Mais de 28 mil marinheiros e oficiais foram mortos em combate; cerca de 80% do efetivo (...). Além da decifração das mensagens 47


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Postal com imagem do Cruzador Bahia antes da Segunda Guerra

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criptografadas utilizadas pela Marinha alemã, os novos radares centimétricos instalados em navios e aviões de patrulha marcavam precisamente as posições dos submarinos do Eixo. Embora os alemães modificassem constantemente sua tática, a estratégia de localização e ataque aos submarinos pelos Aliados chegou a um nível de precisão que não lhes permitia escapar, uma vez localizados”. Naquele período final da Segunda Guerra, a Força-Tarefa no Brasil realizou 575 comboios, num total de 3.164 navios, sendo que apenas três foram perdidos, o que possibilitou a manutenção das vias de comunicação marítimas no Atlântico Sul. Como listado aqui, um dos cruzadores designados para a função foi o Bahia. Segundo o biólogo e instrutor especialista em naufrágios Maurício Carvalho, em texto de sua autoria para a revista Mergulho nº 171, de outubro de 2010 (e reproduzido no site Naufrágios do Brasil), “o Cruzador Bahia fazia parte de um plano de reaparelhamento da marinha desenvolvido em 1904. Foi encomendado ao estaleiro Vickers Armstrong, na


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Inglaterra. Seus 122 metros deslocavam 3.150 toneladas. Era armado com dez canhões de 120 mm.; seis canhões de 47 mm. e 4 tubos de torpedos de 18 polegadas, sendo considerado na época um orgulho para um país da América do Sul. Lançado ao mar em janeiro de 1909, chegou ao Brasil em 1910”. De imediato, o Bahia envolveu-se em seu primeiro evento histórico: seus tripulantes, junto com os do Minas Geraes e do São Paulo, entraram em motim, iniciando a Revolta da Chibata. Durante a rebelião, que durou quatro dias, o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, ficou sob a ameaça de um bombardeio naval, o que levou o governo a ceder às exigências dos rebeldes. “Depois de diversas missões em 1918, durante a 1ª Guerra Mundial”, continua Maurício Carvalho, “[o Bahia] fez parte Divisão Naval de Operações de Guerra - DNOG, sem ter contudo entrado em combate. Em 1925 passou por reformas (...), quando teve sua propulsão convertida de carvão para óleo, recebendo três turbinas. O armamento também sofreu mudanças com a adição de quatro canhões anti-aéreos de 76.2 mm. Durante a Segunda Guerra Mundial, realizou missões de patrulhamento no Atlântico Sul e participou de diversos comboios dos cargueiros aliados”. Em maio 49


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de 1945, depois que a Alemanha se rendeu, milhares de militares retornavam aos Estados Unidos em aviões que faziam a rota DakarRecife (entre o Senegal, na África, e o Brasil). Para dar apoio a essa travessia, caso algum avião apresentasse problemas, foi montada uma série de estações em alto-mar - regiões pré-determinadas onde navios de várias nacionalidades permaneciam, controlando por rádio, a passagem desses aviões. Em 30 de junho de 1945 (mesma data em que supostamente, segundo o jornal A Crítica, de Buenos Aires, Adolf Hitler teria desembarcado na Argentina), o Cruzador Bahia zarpou de Recife para substituir o contratorpedeiro Bauru numa área chamada Estação 13, próxima ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo. Deveria ser a última missão do navio, antes de retornar ao Rio de Janeiro. Nunca retornou.

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CapĂ­tulo 2

Chefes nazistas rumo Ă Argentina



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escoberto por navegadores portugueses em 1511, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo é um conjunto de pequenas ilhas rochosas situado na parte central do Oceano Atlântico equatorial, distante 627 quilômetros do arquipélago de Fernando de Noronha. Apesar de pertencer ao Estado de Pernambuco, é mais próximo do Estado do Rio Grande do Norte, estando exatamente a 987 quilômetros de Natal. Era ali que, no início de julho de 1945, encontrava-se o cruzador brasileiro Bahia, sobre um abismo de 4.000 metros de profundidade. Na nomenclatura dos países aliados na Segunda Guerra Mundial (que incluíam o Brasil e que tinham como protagonistas os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Soviética), aquela região do arquipélago era denominada Estação 13, a mais próxima ao continente americano e a única a cargo da Marinha do Brasil. “Na quarta-feira, 4 de julho, às 9 horas da manhã, o Bahia balançava suavemente sob o sol equatorial. Desde que o 53


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Metralhadora Oerlikon igual às do Cruzador Bahia

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Brasil havia entrado na guerra [em agosto de 1942], havia navegado como escolta de 67 comboios e em dez patrulhas ao largo da extensa costa brasileira. Desde janeiro [de 1945], seu comandante era o capitão-de-fragata Garcia D’Ávilla Pires Carvalho e Albuquerque, de 48 anos”, descreve o livro “Ultramar Sur – La última operación secreta del Tercer Reich” (“Ultramar Sul – A última operação secreta do Terceiro Reich”), de autoria dos jornalistas argentinos Juan Salinas e Carlos De Nápoli. “O [Cruzador] Bahia se encontrava nesse ponto do oceano desde segunda-feira, 2 de julho, em substituição ao contratorpedeiro de escolta Bauru, com o qual havia cruzado em meio ao uivo de sirenes e de um frenético agitar de braços e lenços”, prossegue a narrativa. O clima era festivo. Cerca de dois meses antes, em 7 de maio de 1945, a Alemanha havia se rendido, o que praticamente definiu a vitória dos aliados (faltava a rendição do Japão, que ocorreria após o lançamento de duas bombas atômicas naquele país pelos Estados Unidos). Mas as comemorações no Cruzador Bahia cessariam em 4 de julho, curiosamente, o Dia da Independência dos EUA. “Estava previsto um exercício de pontaria em que as sete metralhadoras antiaéreas Oerlikon, de 20 milímetros – fabricadas em Detroit


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com licença suíça”, contam Salinas e De Nápoli. E acrescentam: “Deviam disparar sobre alvos flutuantes; [uma das versões diz que] foi lançado um desses alvos ao mar e tiveram que esperar que se distanciasse. Outras [versões] dizem que o comandante, depois de observar com binóculos um raro barco pesqueiro que navegava ao sul, ordenou sua detenção, disparando uma rajada na água, como advertência. (...) A maioria dos oficiais foi para a popa, para participar dos exercícios de tiro ou para aguçar a vista e determinar com que tipo de nave haviam topado. Para alguns dos sobreviventes, estava claro que reconheceram um submarino”. Pouco depois desses incidentes, às 9h10 daquela manhã, ocorreu a explosão. O então primeiro-tenente (depois almirante) Lúcio Torres Dias, único dos 17 oficiais a bordo que sobreviveram, contaria mais tarde no vídeo-documentário “A Marinha do Brasil na 2ª Guerra Mundial”, produzido pelo capitão-de-corveta Sá Barreto e pelo suboficial-ET João Batista: “Ouvi aqueles disparos. No quarto disparo, uma explosão realmente terrível, dessas coisas que a gente só vê em cinema. A superfície do navio [ficou] toda destruída: embarcações, o passadiço e material de socorro e muita gente morta (...).

Torres Dias, o único oficial que sobreviveu à tragédia

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Comandante sustenta a versão oficial de ‘acidente’

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O que aconteceu: essa metralhadora, houve um erro qualquer no preparo dela e ela começou a disparar sozinha. E essa rajada (...) atingiu uma bomba de profundidade [dentro do navio]”. Ou seja, um acidente. A versão é corroborada pelo comandante Francisco Alves de Almeida, historiador da Marinha do Brasil, no vídeo-documentário “O Brasil na Batalha do Atlântico” (dirigido por Erik de Castro em 2012): “Era uma metralhadora que tem um tiro muito rápido. E era uma metralhadora muito instável, principalmente se ela não tiver um esbarro. E houve um problema no esbarro do tiro, durante o exercício. Um dos projetis disparados pela metralhadora de 20 [milímetros] atingiu as bombas de profundidade que estavam localizadas a ré, no navio, e com isso houve uma explosão. (...) Com essa explosão, a onda de choque já matou a maior parte dos tripulantes que estava no convés principal”. Trata-se da maior tragédia naval da história do Brasil em todos os tempos: dos 372 tripulantes, 336 morreram. Porém, nas sete décadas seguintes, não foram poucos os que refutaram a versão de acidente. Além de registar a suposta presença de um barco pesqueiro (ou submarino) próximo ao Cruzador Bahia pou-


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co antes da explosão, segundo relato de alguns sobreviventes, o livro argentino “Ultramar Sur” compila afirmações de importantes autoridades apontando que o navio teria sido afundado. “Jornais brasileiros mencionam o assunto a partir de 11 de julho de 1945, tendo as publicações endossado as afirmações feitas pelo almirante Jorge Dodsworth Martins no sentido de que o Cruzador Bahia tenha sido torpedeado”, reforçou, em artigo para o jornal Folha de S.Paulo (publicado em 15/05/2011), um dos autores do livro, o historiador Carlos De Nápoli. “No momento de dar os pêsames aos familiares desparecidos no mar”, prosseguiu, “a carta do presidente Getúlio Vargas afirma claramente que os marinheiros ‘foram tomados de surpresa e assassinados’, com o que resta pouco o que acrescentar. Existem, contudo, outros depoimentos fundamentais que alimentam ainda mais as suspeitas de torpedeamento. O almirante Ary dos Santos Rongel, em seu artigo ‘Station Thirteen’ [‘Estação Treze’], diz textualmente: ‘Eram aquelas águas que haviam sorvido o nosso querido Cruzador Bahia,

Almirante brasileiro Jorge Dodsworth Martins

Para De Nápoli, o Cruzador Bahia foi torpedeado

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Romance sobre o desastre do Bahia

Paulo Afonso Paiva, autor de ‘O porto distante’

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vítima de torpedeamento...’ (Revista Marítima Brasileira). Em julho de 1945, Rongel era o comandante do Greenhalgh, um dos dois torpedeiros que integraram a força-tarefa de resgate do Cruzador Bahia. Outro oficial que aprofundou o tema, publicando um estudo detalhado sobre o incidente e mostrando documentação abundante sobre a hipótese de torpedeamento, foi o comandante da Marinha brasileira, capitãode-mar-e-guerra Roberto Gomes Cândido. No Brasil, logo após o lançamento de “Ultramar Sur”, o ex-oficial da Marinha e escritor pernambucano Paulo Afonso Paiva publicou o romance “O porto distante”, uma ficção histórica que recria os últimos dias do Bahia. “Essa foi a maior tragédia de nossa história naval. Temos nosso próprio Titanic, e poucas pessoas conhecem esses acontecimentos”, afirmou Paiva, em entrevista ao Jornal do Commercio, de Recife (publicada em 18/08/2013). “A guerra tinha terminado havia dois meses. O que aquele submarino estava fazendo no mar ainda? O navio estava lá, como um pato, dando suporte à Quarta Frota dos EUA, que comandava as


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ações aqui. Na tripulação constavam, inclusive, quatro telegrafistas americanos”, acrescentou o ex-oficial. De fato, a revista Subsídios para a História Marítima do Brasil, da Imprensa Naval (Volume VI, de 1948), que reproduziu a nota oficial divulgada pelo “Gabinete do Ministro da Marinha” dando como causa do afundamento do Cruzador Bahia “acidente”, confirma: “entre as vítimas do navio sinistrado, dadas como desaparecidas, figuravam os quatro (4) marinheiros norte-americanos: (U.S. Navy) Sales, Emmett Peter, Eustace, William Jospeh, Pendleton, Andren Jackson e Sparks, Franck Benjamin”. Há quem diga que alguns deles eram agentes dos serviços secretos de informação dos Estados Unidos, outro fato nebuloso a respeito do Cruzador Bahia. O fato é que Paulo Afonso Paiva também rejeita a versão oficial de que uma das metralhadoras Oerlikon tenha disparado acidentalmente e atingido bombas no interior do navio. “Esse tipo de equipamento contava com uma proteção para que, durante um combate, o artilheiro não alvejasse o próprio navio por engano. Esse dispositivo até pode ser retirado, mas requer o trabalho de três pessoas, algo que não vale a pena. Além disso, uma explosão do paiol de pólvora, como se discutiu na época, não faria um estrago tão grande, já que parte da energia 59


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Livro fala sobre Perón e os nazistas

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se dispersaria”. O próprio Jornal do Commercio relembra, na matéria feita com o ex-oficial, que sua edição de 13 de julho de 1945 trazia a seguinte afirmação do comandante da Força Naval do Nordeste naquela época, o almirante Soares Dutra: “É possível [que o Bahia tenha sido torpedeado]. Como é sabido, poucos dias depois do doloroso acontecimento apareceu um submarino alemão na Argentina, e pode haver ainda um segundo ou terceiro”. Sim, havia. Além do U-530, que emergiu na cidade litorânea de Mar del Plata em 9 de julho de 1945, apenas cinco dias depois da tragédia do Bahia, outro submarino nazista, o U-977, se renderia no mesmo local em 17 de agosto. A ‘MECA DOS NAZISTAS’ – Argentina. Por que os submarinos emergiram em seu litoral? Oficialmente, esse país manteve-se “neutro” durante a maior parte da Segunda Guerra, mudando de posição, contra os países do Eixo, somente no final do conflito. O livro “Eva Perón – La madone des sanschemise” (“Eva Perón – A madona dos descamisados”, Éditions Grasset & Frasquelle, 1995 – com edição brasileira da Editora Record), da jornalista Alicia Dujovne Ortiz explica: “Os ingleses ‘compreendiam’ a posição do país amigo [Argentina] e não faziam tanta questão de forçá-los a declarar


O mistério do Cruzador Bahia

guerra aos alemães. Se se mostravam tão compreensivos, era para evitar que a Argentina caísse sob a influência dos Estados Unidos e cedesse às pressões dessa potência, aliada na guerra mas concorrente no expansionismo”. Ou seja: a situação era confortável para os argentinos, que aproveitavam essa situação ambígua para sair ganhando, no final, fosse quem fosse o grupo vencedor da guerra. Mesmo assim, depois da rendição alemã, é sabido que a Argentina se tornou refúgio seguro para muitos criminosos e, não por acaso, ganhou o apelido de “Meca dos nazistas”. E essa proteção teria custado caro. Segundo Glenn B. Infield, em seu livro “Skorzeny, chef des commandos de Hitler” (“Skorzeny, chefe dos comandos de Hitler”, editora Pygmalion, 2009), no ano de 1943, Martin Bormann, um dos homens da cúpula de Adolf Hitler, teria descoberto “a existência de uma bolada considerável depositada no Reichsbank de Berlim, e constituída sobretudo de prata, ouro e joias roubadas aos judeus nos campos de concentração”, depositada em nome de “Max Heilger” e sob responsabilidade de Walther Fund, presidente do banco. Bormann teria se apropriado desse tesouro e, com a ajuda de

Obra descreve o ‘Tesouro de Bormann’

Braço direito: Hitler e Martin Borman

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Segredo que poucos conhecem

San Clemente del Tuyú, próximo de Mar del Plata

Kaltenbrunner, chefe da polícia secreta

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dois colaboradores, Helmut von Hummel, seu assistente pessoal, e Otto Skorzeny, oficial da “Tropa de Proteção” nazista, teria despachado o butim a bordo de submarinos, com destino a Argentina. Esses dados foram compilados no livro “Eva Perón – La madone des sanschemise”, que registra ainda um impressionante depoimento de Alain Pujol, membro dos serviços franceses de informação, de dois supostos desembarques que teriam ocorrido em território argentino no período compreendido entre 7 de fevereiro e 18 de julho de 1945: “A ação se passa nas praias de San Clemente del Tuyú, não longe de Mar del Plata. Homens de aspecto misterioso desembarcam na areia enormes baús, nos quais é possível ler, aproximando-se com uma lanterna, a inscrição Geheime Reichssage (“Segredo de Estado”, em alemão). E o sujeito de ar autoritário que dá ordens aos motoristas dos caminhões enfileirados no caminho, ao longo da praia, é ninguém menos que Ernst Kaltenbrunner, chefe da polícia secreta do Terceiro Reich. Para onde se dirigem os caminhões carregados de cofres tão pesados? Para a estância Lahusen, perto do litoral de San Clemente. Três marinheiros


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do ­Graff Spee [navio de guerra nazista que desembarcou sua tripulação em Montevidéu, no Uruguai, e depois foi explodido e afundado por seu capitão, Hans Langsdorff, que se suicidou] testemunham a cena”. Tal descrição encontra eco em outra presente no já citado livro “Ultramar Sur”, de que “o escritório do FBI na Argentina remeteu a Hoover [John Edgar Hoover, investigador-chefe, na época, do Federal Bureau of Investigation-FBI / Departamento Federal de Investigação], em 14 de agosto de 1945, um relato (...) de que Hitler e outros hierarcas nazistas haviam desembarcado de um submarino no Golfo de San Matías”. E que um empregado da empresa Lahusen (mesmo nome da estância próxima a San Clemente, do relato anterior, feito por Alain Pujol), na cidade argentina de San Antonio, gabava-se de ser um dos quatro homens que receberam Adolf Hitler e seu grupo quando desembarcaram. A fonte secreta teria dito aos agentes do FBI que “um submarino chegou aproximadamente às 11 horas da noite e duas horas depois

O Graff Spee foi afundando por seu próprio capitão

Documento do FBI sobre fuga de Hitler para a Argentina

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Segredo que poucos conhecem

Livro fala sobre desembarque de Hitler

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chegou um segundo”, onde “estava embarcado Hitler” e do qual também saíram “duas mulheres, um médico e muitos homens mais (...), quase 50 [pessoas]”. Tal documento teria sido “desclassificado” pelo FBI na época, o que leva os autores argentinos Juan Salinas e Carlos De Nápoli a observar: “O governo dos Estados Unidos segue mantendo um rigoroso segredo sobre sua intenção de esclarecer o paradeiro de Hitler, atitude risível e sem o menor sentido se o Füher houvesse morrido em Berlim nas circunstâncias em que diz, repete e reitera a versão oficial”. Outra história nebulosa recuperada pelo livro argentino é a que o professor Ronald Newton descreveu em sua obra “El cuarto lado del triángulo – La ‘amenaza nazi’ en Argentina” (“O quarto lado do triângulo – A ‘ameaça nazista’ na Argentina”, Editorial Sudamericana, reeditado em 1995): às 18 horas do sábado, 27 de julho de 1945, “uma comissão policial da delegacia de Necochea [balneário argentino onde, em fins de junho daquele ano, foi abandonado um bote de borracha igual aos que os submarinos nazistas levavam] saiu para verificar uma denúncia. Uma nave estava fazendo sinais em código morse [com luzes] na costa e a mensagem era respondida da praia”. A partir daí, três carros policiais teriam ido ao local


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e encontrado o homem que respondia aos sinais. “Na delegacia ele se identificou como cidadão alemão”, diz o livro de Newton, “de profissão artesão, que admitiu que a nave era um submarino que se dispunha a desembarcar. (...) Na madrugada do domingo, 28 de julho, se iniciou um rastreamento nas praias ao redor da cidade”. Prossegue o relato: “Ao meio da manhã, 15 quilômetros aos norte, uma comissão (...) encontrou pegadas humanas que iam e vinham desde a costa até a entrada arborizada de uma estância. Havia também rastros de lancha ou de botes de borracha que haviam sido arrastados e as marcas de caixas ou gavetas muito pesadas que haviam sido levadas para um lugar onde havia marcas de rodas de caminhão. (...) Diante do achado, o suboficial (na função) decidiu chamar o delegado, e, quando a missão se completou, começaram a entrar na estância”. Foi então que, segundo o livro “El cuarto lado del triángulo”, “quatro homens que falavam alemão, com metralhadoras nas mãos, os impediram de seguir e os empurraram violentamente. Como os policiais não levavam ordem de captura, resolveram regressar à delegacia e comunicar a novidade para a Chefia Policial de La Plata. Depois de duas horas de espera, o chefe da polícia provincial telefonou pessoalmente para Necochea e deu ao delegado uma ordem precisa: ‘Deixe sem efeito a busca de possíveis alemães e 65


Segredo que poucos conhecem

retire-se de imediato da estância’”. Juan Salinas e Carlos De Nápoli observam, porém, que, anos depois de ter escrito esse relato, Ronald Newton, já trabalhando na Comisión de Estudio de Las Actividades Nazis en La Republica Argentina - Ceana / Comissão de Estudo das Atividades Nazistas na República Argentina, preferiu evitar definitivamente o assunto. Porém, os autores argentinos recuperam mais um relato intrigante: em 1996, o jornal La Mañana del Sur, de Neuquén, capital da província de mesmo nome, publicou um escrito que circulava entre os membros da colônia alemã de Bariloche, afirmando que, depois de fazer uma escala na Ilha de Ascenção, a meio caminho entre a América do Sul, Adolf Hitler teria desembarcado em uma praia próxima a Mar del Plata. “O escrito sustenta que Hitler chegou em companhia de Heinrich ‘Gestapo’ Müller, a quem havia incumbido de guardar no submarino ‘o tesouro do RSHA [Reichssicherheitshauptamt, Escritório Central de Segurança do Reich]”, prossegue o livro “Ultramar Sur”. E acrescenta: “Na praia [próxima a Mar del Plata] aguardavam o U-Boot três caminhões Chevrolet de uma alemão da vizinha cidade agrícola de [San José de] Balcarce que comercializava batata. Os desembarcados afundaram o submarino. Um dos caminhões, com todos os tripulantes, viajou diretamente a La Plata, e os outros dois, ‘com Müller, Hitler e a blitzmadel 66


O mistério do Cruzador Bahia

[membro feminino do ramo de Comunicações da Wehrmacht, as Forças Armadas alemãs]. Tomaram a rota de Bahía Blanca e de lá a Ingeniero Jacobacci, de onde, viajando de noite, os fugitivos chegaram a Bariloche, para logo cruzar ao Chile”. Juan Salinas e Carlos De Nápoli ressaltam que, “sem fazer juízo sobre a veracidade do texto [publicado pelo jornal], é bom ter em conta que um informante do FBI de origem alemã, John Mattern, sustentava em 1945 que Adolf Hitler havia desembarcado perto de Mar del Plata de um dos dois submarinos que lá aportaram, do U-530 ou do U-977. Porém, todos esses relatos de desembarque de chefes nazistas permaneceriam como meras especulações, alvos de ceticismo, descrença e mesmo chacota. Até que, em 2014, para surpresa e estupefação de muitos, o próprio FBI divulgou documentos, até então secretos, que conferem inegável credibilidade ao assunto. Entre os arquivos, por exemplo, há um que detalha como um fugitivo argentino garantiu ter ajudado Adolf Hitler, duas mulheres e alguns alemães a desembarcar de um submarino na Argentina, aproximadamente duas semanas e meia depois da rendição da Alemanha, em maio de 1945. OS DOCUMENTOS DO FBI – Os bombásticos documentos provaram que a tese investigada pelo FBI é a mesma que foi defendida por muitos e pelo livro “Ultramar Sur – La última operación 67


Segredo que poucos conhecem

Documento do FBI datado de 21 de setembro de 1945

John Edgar Hoover era o investigadorchefe do FBI

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secreta del Tercer Reich”: de que Hitler e sua esposa, Eva Braun, não se suicidaram em Berlim, tendo viajado com um comboio de submarinos para a América do Sul. Há várias hipóteses para a rota de fuga dos alemães: saindo de Berlim para Kiel, na Noruega, onde empreenderam de imediato a travessia submersa pelo Oceano Atlântico; ou indo para a Espanha e, de lá, fazendo uma pausa nas Ilhas Canárias e seguindo para a Argentina. De acordo com um dos documentos da agência norte-americana de investigação, após o desembarque, Hitler e seus acompanhantes teriam seguido a cavalo até a Cordilheira dos Andes. Em arquivo posterior a esse, de 21 de setembro de 1945, intitulado “Esconderijo de Hitler”, os agentes do FBI concluíram que, por falta de informações suficientes, seria impossível dar continuidade aos esforços para localizar o chefe supremo dos nazistas na América do Sul. Os documentos são uma prova de que o já citado investigadorchefe do FBI na época, John Edgar Hoover, levou a sério a informação e convocou uma equipe para investigar o caso. E representam uma espécie de chancela oficial a todos


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os questionamentos à versão oficial de que Hitler morreu em Berlim. Com base nesses arquivos liberados recentemente pelo FBI, o canal de televisão History Channel produziu uma série de oito episódios chamada “Hunting Hitler” (“Caçando Hitler”) na qual uma equipe visita locais na América do Sul em busca de provas do que os documentos revelam. O mentor das investigações foi Bob Baer, ex-agente da Central Intelligence Agency - CIA / Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos por 21 anos, que revisou 700 páginas de relatórios sobre o destino dos nazistas no pós-guerra. Um dos episódios entrevista uma pessoa que diz ter visto Adolf Hitler no Mosteiro San Julián de Samos, mosteiro medieval localizado na Galícia, Espanha. O edifício possui vários túneis subterrâneos e compartimentos secretos. O fato de o provável esconderijo ter sido um mosteiro faz conexão com o suporte de autoridades católicas aos nazistas. O já citado livro “1942 – O Brasil e sua guerra quase desconhecida”, de João Barone, ressalta: “Muitos crimino-

Ex-agente da CIA na série de TV ‘Caçando Hitler’

Mosteiro San Julián de Samos, na Galícia, possui vários túneis subterrâneos e compartimentos secretos

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Segredo que poucos conhecem

Francisco Franco, ditador da Espanha, e Adolf Hitler

Submarinos em Puerto de La Luz, nas Ilhas Canárias

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sos que participaram dos massacres efetuados em países ocupados pelos nazistas conseguiram escapar de serem julgados por suas atrocidades. Para tal, usaram a rede de fuga apelidada de ‘caminho de rato’ (rat line), que contava com a ajuda explícita de pessoas que operavam dentro do Vaticano. (...) O caminho de rato foi a rota que levou inúmeros desses criminosos a escapar pela Itália em direção ao Oriente Médio e à América do Sul”. Na Espanha, além do apoio dos católicos, os alemães fugitivos teriam contado com a proteção do ditador Francisco Franco, que havia recebido ajuda do exército nazista na Guerra Civil que assolou aquele país entre 1936 e 1939. Assim, segundo a série “Hunting Hitler”, Hitler teria pousado de avião, vindo de Berlim, num vilarejo próximo a Samos, chamado Córneas. De lá teria sido transportado até a cidade litorânea de Vigo, para embarcar em um submarino nazista. Outro episódio tem como foco Las Palmas, uma das cidades co-capitais das Ilhas Canárias (arquipélago espanhol situado no litoral norte da África), onde ainda hoje existe um an-


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coradouro de submarinos e, a poucos quilômetros dali, gigantescas instalações que na Segunda Guerra armazenavam torpedos e outros equipamentos para esse tipo de embarcação. Ou seja: um local perfeito para que os nazistas, a caminho da América do Sul, fizessem uma parada para descansar e recarregar armas e suprimentos. Outras obras, além de “Ultramar Sur”, especulam o que pode ter acontecido se essa rota de fuga foi realmente utilizada. O jornalista argentino Abel Basti publicou nada menos que cinco livros sobre esse tema: “Hitler en Argentina” (“Hitler na Argentina”, edição independente, 2006), “El exilio de Hitler” (“O exílio de Hitler”, Ediciones Absalón, 2010), “Los secretos de Hitler” (“Os segredos de Hitler”, Editorial Sudamericana, 2011), “Tras los pasos de Hitler” (“Sobre os passos de Hitler”, Editora Planeta, 2013) e “Hitler, el hombre que venció a la muerte” (“Hitler, o homem que venceu a morte”, Editora Planeta, 2015). O escritor chegou até a acusar os britânicos Gerrard Williams e Simon Dunstan de plágio, por terem utilizado materiais de sua pesquisa para publicarem o livro “Grey wolf: The escape of Adolf Hitler” (“Lobo cinza: A fuga de Adolf Hitler”, editora Sterling, 2011),

Capa do livro ‘Hitler na Argentina’, de Abel Basti

Outro das cinco obras do argentino sobre o assunto

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Segredo que poucos conhecem

Obra relata acordos feitos pelos EUA com os nazistas

A vida de Hitler na Argentina é tema deste livro

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que gerou um filme. Pesquisas sobre o assunto também foram feitas para os livros recentes “Hunting Hitler: New scientific evidence that Hitler escaped Nazi Germany” (“Caçando Hitler: Novas evidências científicas de que Hitler escapou da Alemanha Nazista”, Skyhorse), de autoria de Jerome R. Corsi, e “Hitler in Argentina: The documented truth of Hitler’s escape from Berlin (The Hitler Escape Trilogy)” (“Hitler na Argentina: A verdade documentada da fuga de Berlim” (A trilogia da fuga de Hitler), Createspace), de Harry Cooper, ambos publicados em 2014. Neste mesmo ano, pouco antes de os novos – e surpreendentes – documentos do FBI serem revelados, uma historiadora e pesquisadora brasileira, Simoni Renee Guerreiro Dias, afirmou que tinha encontrado uma foto que provava que Hitler morreu no Brasil, aos 95 anos. O chefe nazista teria ido até o Paraguai pela Argentina, antes de se estabelecer em Nossa Senhora do Livramento, uma pequena cidade do Estado do Mato Grosso. “Eu também ri quando ouvi essa história pela primeira vez, acreditava que era uma piada. Todos acham isso. Mas hoje estou convencida de que é verdade”, afirmou, ao tabloide britânico Express, Simoni Dias. Ela


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escreveu um livro sobre o assunto, “Hitler no Brasil – Sua vida e morte” (edição independente, 2014), sustentando que, com o nome fictício de Adolf Leipzig, o chefe nazista teria morrido em Nossa Senhora do Livramento em 1984, onde era conhecido como “Velho Alemão”. Na mesma linha, mas com outras versões e desfechos, o escritor peruano-espanhol Eric Frattini publicou “¿Murió Hitler en el bunker?” (“Hitler morreu no bunker?”, Temas de Hoy, 2015), e o historiador e investigador paraguaio Mariano Llano escreveu “Hitler y el nazis en el Paraguay” (“Hitler e os nazistas no Paraguai”, edição independente, 2004). O livro de Llano se baseou em documentos e entrevistas com civis e militares paraguaios que integravam uma loja maçônica simpatizante do nazismo na década de 1950 e ocupavam postos-chave nos círculos do poder, assim como no testemunho da enfermeira de um hospital de imigrantes alemães situado na região do Chaco, Oeste do país. “Hitler entrou por Encarnación e teria morrido em 1974, mais ou menos. Viveu todo esse tempo no Paraguai”, disse, à agência de notícias EFE, Mariano Llano. Segundo ele, a chegada dos ex-dirigentes nazistas coincide com o mandato de Juan Domingo Perón na Argentina. Foi o ditador paraguaio

Basti conclui, neste livro, que Hitler morreu no Paraguai

‘Lobo Cinza’: best seller foi acusado de plágio

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Segredo que poucos conhecem

‘Caçando Hitler’ traz ‘evidências científicas’

Livro de Cooper fala em ‘verdade documentada’

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Alfredo Stroessner quem deu refúgio a Perón quando seu governo foi derrubado, em setembro de 1955, e junto com ele Adolf Hitler teria se mudado para o Paraguai - “onde havia um governo mais nazista que o da Argentina e havia um serviço de inteligência de primeira linha para manter incógnito uma pessoa”, observou Llano. Aliás, o já citado livro “Hitler, el hombre que venció a la muerte”, de Abel Basti, também afirma que Hitler teria morrido em solo paraguaio. A obra defende a tese de que, após a Segunda Guerra, o chefe nazista e sua esposa Eva Braun fugiram para a Espanha e, dali, viajaram à Patagônia em um submarino, com a proteção do então presidente de fato da Argentina, Edelmiro Farrell, e de Juan Domingo Perón, seu secretário do Trabalho e Segurança Social, que chegaria depois ao poder máximo no país. Durante os dois primeiros mandatos de Perón como presidente (1946-1955), Hitler teria vivido em uma fazenda próxima à sulina cidade argentina de Bariloche, sob o nome de Adolf Schütelmayor. Após sua derrocada, em 1955, Perón teria pedido ao ditador paraguaio Alfredo Stroessner que acolhesse Hitler no Paraguai, onde teria morrido, em


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1971. Segundo Basti, seus restos teriam sido enterrados na cripta de um bunker subterrâneo sob um edifício hoje ocupado por um hotel. Curiosamente, em 2015, um fato veio unir esses pontos: pesquisadores da Universidade de Buenos Aires (UBA) afirmaram que uma casa em ruínas localizada selva de Misiones, na Argentina, exatamente na fronteira com o Paraguai, trata-se mesmo de um esconderijo nazista construído durante a década de 1940 – e a região é a mesma onde está a cidade de San Antonio, onde um empregado da empresa Lahusen disse ter sido um dos quatro homens que receberam Adolf Hitler e seu grupo quando desembarcaram de um submarino. Em notícia publicada pelo portal da BBC em março daquele ano, Daniel Schavelzon, diretor do Centro de Pesquisa de Arqueologia Urbana (CAU) da UBA, afirmava: “Acreditamos - para nós é uma hipótese, não uma afirmação definitiva - que este pode ter sido um retiro nazista que nunca foi usado. Encontramos um conjunto de moedas do Terceiro Reich - alemãs, nazistas - colocadas sob o cimento da construção. Ou seja, foram colocadas antes de que as paredes fossem fei-

Pesquisador diz que, na verdade, Hitler morreu no Brasil

Paraguai do ditador Stroessner teria recebido o Füher

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Segredo que poucos conhecem

O esconderijo nazista na selva de Misiones

Conjunto de moedas do Terceiro Reich, nas ruínas

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tas”. Também foram encontradas moedas nazistas, pratos de porcelana feitos na Alemanha, frascos de remédios e garrafas. Segundo os pesquisadores argentinos, as mesmas características do complexo, localizado numa área quase inacessível àquela época, também parecem confirmar que a sua finalidade era proteger e esconder. Todas essas evidências, aliadas à renitência dos Estados Unidos em divulgar tudo o que dispõe sobre o assunto, suscitam que o verdadeiro destino de Adolf Hitler é, no mínimo, controverso. Se foi levado ou não para a Argentina, parece difícil provar. Mas que submarinos nazistas cruzaram o Oceano Atlântico em fuga, entre abril e agosto de 1945, não há dúvida, uma vez que dois deles, o U-530 e o U-977, emergiram e se renderam na cidade argentina de Mar del Plata. Teria algum dos dois atacado o Cruzador Bahia naquela fatídica manhã de 4 de julho de 1945? Se, com a rendição dos alemães, esse mistério poderia ter sido desfeito, a oportunidade foi perdida. Porque, simpática e receptiva aos nazistas, as autoridades argentinas abordaram os oficiais e tripulantes que se renderam de forma um tanto quanto complacente.


Capítulo 3

Dinheiro e operações de proteção



O mistério do Cruzador Bahia

J

ulio César Mallea, chefe da base naval de Mar del Plata, foi quem comandou a equipe que interrogou Otto Wehrmut, comandante do submarino U-530, e sua tripulação. O submarino chegou àquele balneário argentino em 9 de julho de 1945. “Mallea se empenhou em impedir os jornalistas de falarem com os recém-chegados. Disse que tinha instruções precisas do Ministério da Marinha”, observa o livro “Ultramar Sur”. A inspeção do submarino concluiu que ele havia chegado a Mar del Plata sem qualquer armamento, mas alguns interrogadores revelaram depois à imprensa, off the record (com anonimato da fonte), que os alemães admitiram que, em sua viagem da Europa até ali, haviam lançado sete torpedos. Mais tarde, durante a inspeção do submarino, o comandante Wehrmut reconheceu o lançamento de sete torpedos contra um comboio aliado

Porto de Mar del Plata na década de 1940

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Segredo que poucos conhecem

Jornal argentino repercute chegada dos nazistas

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em frente à costa de Nova Iorque, embora garantindo que nenhum tivesse atingido os alvos. Não é possível crer em tamanha ineficácia – e é mais do que plausível supor que, se Adolf Hitler ou qualquer outra chefe nazista de alta patente estivesse a bordo, em missão clandestina de transporte para a América do Sul, os alemães não hesitariam em afundar o que aparecesse pela frente. Porém, segundo o comandante das interrogações dos nazistas, Julio César Mallea, pouco antes de emergir e se entregar, Wehrmut havia ordenado jogar ao mar seis torpedos restantes, o canhão, as metralhadoras e as munições. “Era uma versão tão pueril quanto inverossímil”, prossegue o livro “Ultramar Sur”, “e ignorava o que a Armada Argentina ocultava: que os submarinos classe IX/40, como o U-530, carregavam 22 torpedos – sem contar o que se colocava sob o capô – e, além disso, faltava um bote de salvamento”. O esforço para aceitar qualquer versão dita pelos alemães era evidente. Porque, embora o ministro da Marinha argentina, contra-almirante Alberto Teisaire, tivesse dito em coletiva de imprensa, em Buenos Aires, que havia instruções para revisar o diário de navegação do submarino (o que, subentende-se, tinha sido encontrado), os interrogadores alegaram depois que


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os nazistas haviam se desfeito dele e destruído quase toda sua documentação no oceano. E comunicaram à imprensa, com pressa inexplicável, que “era preciso banir” a hipótese de que o submarino U-530 houvesse afundado o Cruzador Bahia pela impossibilidade de viajar desde as rocas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo até Mar del Plata em seis dias. Porém, apesar de adiantar este juízo, os interrogadores disseram que não redigiriam nenhum comunicado oficial sem antes consultar os agregados navais dos Estados Unidos e da Grã Bretanha. Estes eram os capitães de navio Walter W. Webb e Valentin Maurice Wyndham Quin, que chegaram a ir até Mar del Plata, mas não tiveram permissão para conversar com os alemães. O livro “Ultramar Sur” arremata: “O informe enviado por Webb a Washington foi lapidar: cada tripulante alemão que saía da sala de interrogatório conversava brevemente com o que esperava sua vez, momento em que aproveitava para indicar o que devia e o que não devia ser dito, para unificar as versões. Os interrogatórios eram uma farsa”. E tudo indica que prosseguiram como “farsa” quando outro submarino nazista, o U-977, também emergiu e se rendeu em Mar del Plata, em 17 de agosto de 1945. Se o submarino U-530 é sus-

Submarino U-530, o primeiro a emergir na Argentina

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Segredo que poucos conhecem

Schäffer insistiu que não disparara nenhum torpedo

No dia da explosão do Bahia, o U-977 estava no local

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peito, ainda hoje, de ter desembarcado chefes nazistas na Argentina, incluindo Adolf Hitler, o U-977 pode ter sido o responsável pela maior tragédia naval do Brasil. Ele emergiu no litoral argentino 38 dias depois do U-530 (e 43 dias após o afundamento do Cruzador Bahia). Era um submarino menor, da classe VII-C, e estava carregado com dez torpedos. O capitão da Marinha do Brasil, Roberto Gomes Cândido, observaria mais tarde que os submarinos nazistas desse tipo conseguiam transportar, às vezes, 17 torpedos. Gomes Cândido foi, segundo Carlos De Nápoli (um dos autores de “Ultramar Sur”), “quem mais aprofundou o tema [do afundamento do Bahia], publicando um estudo detalhado sobre o incidente e mostrando documentação abundante sobre a hipótese do torpedeamento”. Registros colhidos posteriormente na base de Kiel, na Noruega (o mesmo local de onde especula-se que Hitler fugiu em um submarino), informavam que o U-977 havia zarpado de lá com sua carga completa de 14 torpedos. Ainda assim, no início de seus interrogatórios, o comandante do U-977, Heinz Schäffer, insistiu que o submarino possuía apenas dez torpedos e que não dis-


O mistério do Cruzador Bahia

parara nenhum. Não foi questionado. Apesar de ter desembarcado carregando uma pasta negra que continha o caderno de bordo, as cartas marinhas, os livros de cálculos astronômicos e até mesmo um diário pessoal de sua participação na guerra, nada disso foi esmiuçado. “É curioso que nem as crônicas jornalísticas nem os documentos oficiais da Armada [argentina] mencionassem que Schäffer possuía um diário pessoal, nem que o levava debaixo do braço ao entregar-se, e muito menos que tivesse sido examinado”, espantam-se Juan Salinas e Carlos De Nápoli. Outra alegação do oficial nazista, de que haviam viajado submersos por 66 dias no Oceano Atlântico (mais de dois meses), ainda hoje é considerada fantasiosa. Só submarinos nucleares, décadas mais tarde, conseguiriam tal proeza. Mas as autoridades argentinas também deixaram de confrontar Schäffer por isso. Transferido para os Estados Unidos, o nazista

Base de submarinos em Kiel, na costa da Noruega

‘Diário de Schäffer nem foi examinado’, critica Juan Salinas

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Segredo que poucos conhecem

foi novamente interrogado, caiu em contradição e fez importantes revelações: às vezes, dizia que em 14 de julho de 1945 havia ancorado em uma das ilhas de Cabo Verde, na África, por algumas horas, e em outras, que, dez dias antes, se encontrava no Arquipélago de São Pedro e São Paulo – data e local do afundamento do Cruzador Bahia. No diário pessoal de Schäffer, que continuou a ser escrito mesmo depois de sua prisão, ele demonstra preocupação com a acusação de que teria abatido o navio brasileiro: “[No interrogatório feito pelos norteamericanos] O assunto do Bahia (...) foi adotando formas cada vez mais ameaçadoras, posto que nem nossos documentos de navegação nem nossos dez torpedos [intactos] eram aceitos como argumento sólido. [Diziam que] Podíamos ter tido a bordo, como outros submarinos alemães, a quantidade de 14 torpedos. Além disso, considerou-se possível que todas as nossas anotações no diário de navegação fossem falsificadas”. Segundo Juan Salinas e Carlos De Nápoli, “em 1947 Schäffer começou a escrever suas memórias, uma vez que sua participação Operação Ultramar Sul lhe havia custado dois anos de detenção e incômodos interrogatórios não só na Argentina e nos Estados Unidos, mas também na Bélgica e na Inglaterra, acusado de colaborar com a fuga de Adolf Hitler, Eva Braun e [Martin] Bormann e de afundar o cruzador brasi84


O mistério do Cruzador Bahia

leiro Bahia. (...) Terminou seu livro em 1950, ano em que o publicou na Alemanha com o jactancioso título ‘U-977, 66 Tage Unter Wasser’ (‘U-977, 66 dias debaixo d’água’)”. Os autores do livro “Ultramar Sur” fazem uma observação importante: “Supúnhamos que Schäffer havia se preocupado por não contradizer suas declarações prévias aos oficiais da Marinha argentina. (...) Em meados de 2002, conseguimos ter acesso, inesperadamente, a uma cópia da tradução espanhola de seu interrogatório em Mar del Plata. Então comprovamos, surpresos, que Schäffer havia modificado em suas memórias aspectos substanciais daquelas confissões. O que demonstra o quão seguro e confiante se encontrava da proteção que lhe ofereciam seu antigos carcereiros e interrogadores, reconvertidos em acríticos editores de seus absurdos”. Para Juan Salinas e Carlos De Nápoli, “um bom exemplo de suas fabulações é a explicação, ou melhor, as sucessivas explicações que ofereceu sobre a origem de uma notória avaria presente no casco do U-977”. Em suas memórias, Schäffer diz que o estrago foi feito pelo impacto de sucessivos blocos de gelo nas proximidades da cidade polonesa de Swi-

Título fantasioso: ‘66 dias debaixo d’água’

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Segredo que poucos conhecem

Perón (à esquerda) e seu vice-presidente, Alberto Teisaire

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nemünde, no Mar Báltico. “Depois da primeira inspeção do U-977 em Mar del Plata”, ressaltam os autores de “Ultramar Sur”, “os marinheiros argentinos comprovaram a avaria e concluíram que esse dano só podia ser o efeito de uma explosão próxima. Schäffer admitiu que essa presunção era correta e atribuiu a avaria à explosão de uma mina enquanto navegava entre Horten e Kristtiansand [na costa da Noruega]”. E, quando foi transferido para os Estados Unidos, o comandante do U-977 deu ainda uma terceira versão: que o estrago datava de setembro de 1944, quando havia se chocado com outro U-Boot. Era a terceira versão sobre a origem da mesma avaria, mas Schäffer não foi confrontado por isso. Toda essa “benevolência” dos interrogadores, ainda hoje, causa estranheza. E, no caso dos argentinos, pode ter custado muito dinheiro. O TESOURO DE BORMANN – Em 1954, nove anos depois de ter chefiado, como ministro da Marinha da Argentina, os “acríticos” interrogatórios aos nazistas que desembarcaram dos submarinos U-530 e U-977 em Mar del Plata, Alberto Teisaire seria eleito vice-presidente do país, quando o general Juan Domingos Perón ainda era o presidente. E Pe-


O mistério do Cruzador Bahia

rón, que foi o ministro da Guerra da Argentina a partir de 1942 (e ocupava o cargo quando os alemães se renderam em território local), havia tomado o poder logo em seguida, exatamente em outubro de 1945. Sobre os dez anos de seu governo “ditatorial”, pesa a acusação de ter facilitado a entrada de centenas - ou milhares - de nazistas na Argentina. E de ter lucrado muito com isso. Segundo o livro “Los nazis em la Argentina” (“Os nazis na Argentina”), de Jorge Camarasa (Editorial Legasa, 1992), em 10 de agosto de 1944, em Estrasburgo, território francês ainda ocupado por nazistas naquela época, houve uma reunião com 77 homens num prédio da Praça Kleber conhecido como “Casa Vermelha”. “Dois meses antes, os aliados desembarcaram na Normandia. Os 77 conjurados, a nata da hierarquia nazista, sabem que os dias de seu governo estão contados. Têm apenas uma preocupação: salvar seus bens”, narra Camarasa. “Estão presentes, segundo se diz, Martin Bormann, o núme-

Livro detalha eunião de nazistas em território francês

Alemães na Praça Kleber, em Estrasburgo (1941)

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Segredo que poucos conhecem

A autora de ‘Eva Perón - a Madona dos Descamisados’

Ribbentrop enviou fundos pessoais para Buenos Aires

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ro dois do poder hitlerista; Albert Speer, ministro das Armas; o almirante Wilhelm Canaris; os grandes industriais do regime (os Krupp, Thyssen, Messerschmitt e Siemens); e os banqueiros, os financistas, enfim, todos os que, tendo, têm a perder”. A pauta é: como escapar da Alemanha ao fim da guerra e como, passada a derrota, organizar “um novo Reich poderoso” em território estrangeiro. Bormann foi o chefe nazista que, como vimos no Capítulo 2, teria descobriu no Reichsbank de Berlim uma fortuna em dinheiro, prata, ouro e joias roubadas de judeus – e se apossou dela. Na reunião da “Casa Vermelha”, os alemães discutiram seu destino. O já citado livro “Eva Perón – La madone des sans-chemise”, da jornalista argentina Alicia Dujovne Ortiz, afirma que vultosas transferências já haviam sido feitas antes, pelos nazistas, para fora da Alemanha. “Dentre os países escolhidos pelos grandes capitais alemães”, relata, “a Suíça vinha na frente, seguida da Espanha franquista e da Argentina peronista. Esta recebeu 98 empresas. Vários chefes nazistas imitaram o ministro das Relações Exteriores [do Terceiro Reich], [Joachim] von


O mistério do Cruzador Bahia

Ribbentrop, que transferiu seus fundos pessoais para quatro bancos em Buenos Aires: o Banco Alemán Transatlántico, o Banco Germánico, o Banco Strupp e o Banco Tornquist”. Paralelamente, Joseph Goebbels, o poderoso ministro da Propaganda do Terceiro Reich, “depositara uma grande soma num banco argentino” em 1942. O caminho para a fuga dos nazistas (e de seu dinheiro), portanto, estava apontado: a Argentina, que tinha como ministro do Exército – e futuro presidente – o general Juan Domingos Perón. No livro “Aftermath. Martin Bormann and the Fourth Reich” (“Resultado, Martin Bormann e o Quarto Reich”, Hodder & Stoughton Ltd, 1975), seu autor, o jornalista húngaro Ladislas Farago afirma que Perón foi o grande colaborador para a vinda e o abrigo dos criminosos de guerra. Na Alemanha, Martin Bormann, com a ajuda de dois colaboradores, Helmut von Hummel, seu assistente pessoal, e Otto Skorzeny, teria despachado o butim para a Argentina a bordo de submarinos - em conluio com o empresário alemão Ludwig Freude e seus três sócios, Heinrich Dörge, Ricardo von Leute e Ricardo Staudt. A edição de 7 de abril de 1945 da revista argentina Radiolandia trazia uma

Fachada do Banco Tornquist, na capital da Argentina

Goebbels teria depositado ‘grande soma’ na Argentina

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Segredo que poucos conhecem

Livro lista as somas em dinheiro do tesouro nazista

Bormann teria descoberto a fortuna em Berlim

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entrevista com a atriz Eva Duarte, futura Evita, nova namorada de Juan Domingos Perón. E ela revelava inocentemente, ali, que estava morando em uma casa própria no bairro Belgrano, em Buenos Aires, local de residências nobres e reduto de (ricos) alemães. Ao escrever a biografia de Evita, Alicia Dujovne Ortiz ouviu duas pessoas – mantidas no anonimato – que garantiram ter sido a casa presenteada por um milionário alemão que queria agradar Perón: Ludwig Freude. Sim, um dos empresários que trataram com Bormann e Skorzeny a vinda da fortuna nazista para a Argentina. Não é para menos que tivessem como dar casas de presente. O historiador militar e jornalista húngaro Ladislas Farago precisaria mais tarde, com detalhes, a extensão do tesouro transportado por submarinos para a América do Sul: “Cento e oitenta milhões, seiscentos e noventa e dois mil e quatrocentos marcos, 17.576.500 dólares, 4.682.500 libras esterlinas, 24.976.500 francos suíços, 8.379.000 florins holandeses, 54.963.000 francos franceses, 17.280.000 francos belgas, 2.511 quilos de ouro e 4.638 quilates de diamantes e brilhantes”. Para participar de tal bolada, Juan Domingos


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Perón “teria dado a Von Leers, adido militar da embaixada da Alemanha, oito mil passaportes e 1.100 carteiras de identidade argentinos, firmados e carimbados pela polícia, sem foto nem impressões digitais”. E assim, “no dia 8 de agosto de 1944 – dois dias antes da reunião na Casa Vermelha -, Heinrich Himmler [comandante da Schutzstaffel, a SS, tropa de elite nazista] recebia esses documentos em Estrasburgo”. O resultado está no livro de Alicia Dujovne Ortiz: “Um relatório do Comitê Internacional de Estudo de Questões Europeias estima que, em 1947, 90.000 alemães que haviam participado de atividades nazistas desfrutavam de dias felizes na Argentina”. Entre eles, Adolf Eichmann, tenente coronel da SS que foi descoberto e sequestrado na Argentina, em 1960, por uma equipe de agentes do Mossad (serviço secreto de Israel). Julgado e condenado em território israelense, foi enforcado numa prisão próxima a Tel-Aviv, em 1962 – como detalha o livro “Hunting Eichmann: How a band of survivors and a young spy agency chased down the world’s most notorious nazi” (“Caçando Eichmann: Como um grupo de sobreviventes e uma jovem agência

Evita Perón na capa da revista argentina ‘Radiolandia’

Himmler recebeu os passaportes argentinos

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Segredo que poucos conhecem

Eichmann foi sequestrado na Argentina

Franz Stangl foi preso em São Paulo e extraditado

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de espionagem perseguiram o nazista mais notório do mundo”/ Marine Books, 2010), de Neal Bascomb. O livro “1942 – O Brasil e sua guerra quase desconhecida”, de João Barone, cita o caso de Adolf Eichmann e relata o destino de outros criminosos nazistas que rumaram para a América do Sul após a Segunda Guerra: “Em 1967, Franz Stangl, SS comandante do campo de extermínio de Treblinka, foi preso em São Paulo e extraditado para a Alemanha. O nazista cumpria pena de vinte anos quando morreu de causas naturais em 1971. Vários nomes de renomados [sic] nazistas escondidos no Brasil, na Argentina, no Paraguai, no Uruguai, na Bolívia e no Chile foram revelados pelo Centro Simon Wiesenthal, austríaco sobrevivente de Auschwitz, o mais notório caçador de nazistas de que se teve notícia, falecido em 2005. Gustav Wagner, subcomandante do campo de extermínio de Sobibor, na Polônia, também foi preso no Brasil em 1979, mas se suicidou antes de ser extraditado. Klaus Barbie, o ‘carniceiro de Lyon’, torturador e responsável pelo envio de milhares de judeus franceses para a morte, foi preso na Bolívia e extraditado para a França em 1983. Lá, foi condenado à prisão perpé-


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tua em 1987, mas viveu apenas até 1991. O mais procurado dos muitos nazistas que escaparam para a América do Sul, Josef Mengele, conseguiu se esquivar dos caçadores de Simon Wiesenthal e morreu incógnito, quando nadava numa praia do litoral paulista em 1979”. Em março de 2016, o programa “Fantástico”, da TV Globo, exibiu reportagem detalhando a trajetória de Mengele na Argentina, Paraguai e Brasil e revelando que seus restos mortais ficaram 30 anos abandonados no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, sem ser reclamados por seu filho, Rolf Jenckel. Depois disso, os restos foram reclamados pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), para onde foram transferidos. Voltando à suspeita de que o chamado “tesouro de Martin Bormann” tenha rumado para a Argentina, especula-se naquele país, ainda hoje, que em junho de 1947, quando Evita Perón viajou à Europa, já alçada ao posto de esposa de Perón e primeira-dama, tinha uma importante

Gustav Wagner foi outro chefe nazista flagrado no Brasil

O ‘carniceiro de Lyon’, Klaus Barbie, foi detido na Bolívia

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Segredo que poucos conhecem

Ossada de Mengele ficou 30 anos no IML de São Paulo

Evita teria levado dinheiro nazista para a Suiça

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missão secreta: transportar parte do tesouro nazista para bancos suíços – como descreve o livro “El viaje del arco iris - Los nazis, la banca suiza y la Argentina de Perón” (“A viagem do arco-íris - Os nazistas, o sistema bancário suiço e a Argentina de Perón”, Editorial El Ateneo, 2003), de autoria de Frank Garbely. Em julho de 1972, uma revista argentina, Ultima Clave, publicou que, em 10 de junho de 1947, Evita teria encontrado em Rapallo, na Itália, o comendador Giovanni Maggio. Dias antes, um barco argentino ancorara no porto de Gênova, trazendo, oficialmente, uma carga de trigo – mas que, na verdade, ocultava ouro, a ser depositado na Suíça com a ajuda de Maggio. Da Itália a primeira-dama argentina foi a Portugal, depois França e Suíça, onde, em 7 de agosto, teria feito um acordo com bancos em Bar-au-Lac para transferir a fortuna de origem escusa. De fato, naquele dia, ela compareceu naquele país a uma recepção dada em sua homenagem por 200 banqueiros. O livro “Eva Perón – La madone des sans-chemise” resume: “Com a morte de Evita, em 1952, [seu irmão] Juan Duarte tornase o único depositário dos segredos


O mistério do Cruzador Bahia

das contas na Suíça. Acuado por Perón (...), o infeliz Juancito viajou docilmente à Suíça, onde ‘assinou documentos que davam a Perón acesso ao dinheiro e às joias de Evita guardados nos cofres de um banco de Zurique (...). Era o mesmo que assinar sua própria sentença de morte’. Quatro outros personagens envolvidos no caso já haviam deixado este mundo: Heinrich Dörge, cujo corpo foi encontrado numa rua de Buenos Aires em 1949; Richard von Leute, assassinado em 1950; Richard Staudt, mesma coisa, mesmo ano; e finalmente Ludwig Freude, encontrado diante de uma xícara de chá envenenado, em sua casa, em 1952”. Juan Duarte, por sua vez, foi encontrado morto em seu apartamento, em abril de 1953, com um tiro na cabeça. Quase ninguém crê na versão oficial de suicídio. Consta, por exemplo, que o revólver encontrado ao lado do corpo era de calibre 38 e a bala que o matou, de calibre 45. Vizinhos disseram ter visto, no local do crime, Raúl Alejandro Apold, o subsecretário de Imprensa e Difusão do governo Perón. “A testemunha María Rosa Daly Nelson, amiga dos Duartes, que morava no sexto andar (...), declarou diante da comissão que investigava o caso, em outubro de 1955: ‘No dia seguinte à morte dele, encontrei Juana Ibarguren de Duarte e Elisa Duarte de Arrieta, desesperadas, que me disseram 95


Segredo que poucos conhecem

Livro descreve a suspeita morte do irmão de Evita

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textualmente: ‘Foi Apold quem o matou’”, relata a jornalista argentina Alicia Dujovne Ortiz. “E o tesouro? E a viagem de Juancito à Suíça, pouco antes de sua morte? Teria ele em seu poder o número ou os números das contas?”, questiona. O tema é esmiuçado no livro “La última noche de Juan Duarte - La misteriosa muerte del hermano de Evita” (“A última noite de Juan Duarte - A misteriosa morte do irmão de Evita”, Editorial Sudamericana, 2003), de Jorge Camarasa, mesmo autor de “Los nazis em la Argentina”. Durante seu exílio na Espanha, após ser derrubado do poder, em 1955, Perón nunca foi questionado sobre os recursos que o sustentavam. De qualquer forma, sua ligação com os nazistas ajuda a entender a “benevolência” da Marinha Argentina ao interrogar os nazistas. Assim, desde o princípio, a responsabilidade dos alemães pelo possível torpedeamento do cruzador brasileiro Bahia ficou prejudicada. E não só por causa das autoridades argentinas. Países (muito) mais poderosos também colaborariam, e decisivamente, para encobrir e evitar este assunto: os Estados Unidos e a Inglaterra. A OPERAÇÃO ‘PAPERCLIP’ – Além das relações suspeitas da Argentina com os nazistas, outro obstáculo às investigações do Cruzador


O mistério do Cruzador Bahia

Bahia foi a autonomia relativa que o Brasil tinha, naquele momento, para produzir uma conclusão oficial do desastre. Isso porque, na época, nossa Marinha ainda obedecia os acordos da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, criada para defesa comum durante a Segunda Guerra Mundial. No site Poder Naval Online, o jornalista Alex Galante, ex-integrante da Marinha do Brasil, conta que, “logo após o rompimento das relações diplomáticas do Brasil com os três países do Eixo (...), a cooperação militar entre os dois países aumentou. Em setembro de 1942, [Jonas Howard] Ingram, então no posto de vice-almirante, assumiu o comando da Solant [South Atlantic Patrol Force]. Por decisão da Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA, a Solant criou um comando único para coordenar as Forças Armadas dos dois países nas ações aeronavais. Com a criação da Quarta Frota pelo almirante Ernest King em 1943, o almirante Ingram acabou acumulando as duas funções. A partir de um edifício no centro da cidade do Recife, Ingram administrava e coordenava as ações militares conjuntas”. Em resumo, isso significa que, para questões relacionadas às forças militares atuantes no litoral

Getúlio Vargas em conversa com Jonas Ingram

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Segredo que poucos conhecem

Von Braun: nazista protegido pela operação Paperclip

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do Nordeste brasileiro, como o afundamento do Cruzador Bahia, ocorrido a 987 quilômetros de Natal (RN), havia “um comando único”, sob coordenação hierarquicamente superior do almirante Jonas Ingram, dos Estados Unidos. Cabe aqui relembrar que, até então, havia a suspeita de que o afundamento do navio brasileiro teria sido provocado por torpedeamento de um submarino alemão. Mas, após a rendição da Alemanha, os nazistas deixaram de representar perigo para o governo norte-americano. O principal inimigo passou a ser outro: a União Soviética. Nesse conflito, batizado de Guerra Fria, que se estenderia por mais de 40 anos, os nazistas derrotados transformaram-se, de uma hora para outra, em aliados. O jornalista Eric Lichtblau, do The New York Times, escreveu que “nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial a Agência Central de Inteligência (CIA) e outras agências dos Estados Unidos usaram pelo menos 1.000 nazistas como espiões e informantes na Guerra Fria (...). Eles acreditavam que o valor dos ex-nazistas no trabalho de inteligência contra os russos era mais alto do que os ‘lapsos morais’ (nas pa-


O mistério do Cruzador Bahia

lavras de um dirigente norte-americano) que haviam cometido em serviço ao Terceiro Reich” (notícia reproduzida pelo jornal Folha de S.Paulo em 27/10/2014). Portanto, naquele segundo semestre de 1945, não interessava aos Estados Unidos acusar os alemães de um crime como o afundamento do Cruzador Bahia. E eram eles, os norte-americanos, os comandantes do território naval (e da operação militar) na qual se encontrava o Bahia. Como já descrito, a faixa do Oceano Atlântico onde ocorreu seu afundamento estava sob o comando militar exclusivo dos norte-americanos. E, à medida que o fim da Segunda Guerra Mundial se aproximava, agentes dos Estados Unidos coletavam informações sobre o desenvolvimento de novas tecnologias nazistas. Convencidos de que os cientistas alemães poderiam ajudar nos esforços do pós-guerra contra a União Soviética, o presidente Harry Truman autorizou, em setembro de 1946, a operação Pa-

Cientistas alemães em Fort Bliss, no Texas (EUA)

Truman autorizou a operação Paperclip e Churchill, a Sunrise

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Segredo que poucos conhecem

Livro que revela a operação de caráter militar dos EUA

Acordo feito com nazistas gerou diversas pesquisas

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perclip (Clipe de Papel), de caráter militar, para levar esses criminosos nazistas aos Estados Unidos para trabalharem com foguetes, eletro gravitação, armas químicas e medicina. Dez anos depois, em 1955, mais de 760 cientistas alemães receberiam a cidadania americana, inclusive diversos membros de longa data do partido nazista. Um exemplo foi Wernher von Braun, que, no período de 1937 a 1945, era o diretor técnico do Centro de Pesquisa de Foguete em Peenemunde (Alemanha), onde o foguete V-2, uma das principais armas nazistas, foi desenvolvido. Cooptado pela operação Paperclip, Von Braun trabalhou em mísseis guiados para o exército norte-americano e, mais tarde, foi diretora do Centro de Voo Espacial da National Aeronautics and Space Administration - Nasa / Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço. Essas informações são aprofundadas em diversos livros, como “Project Paperclip: German Scientists and the Cold War” (“Projeto Clipe de Papel: Cientistas alemães e a Guerra Fria”, editora Scribner, 1975), de Clarence G. Lasby; “Secret Agenda: The United States Government, Nazi Scientists, and Project Paperclip, 1945 to 1990” (“Agenda Secreta: O go-


O mistério do Cruzador Bahia

verno dos Estados Unidos, cientistas nazistas e o Projeto Clipe de Papel”, editora St. Martins Pr., 1991), de Linda Hunt; e “Operation Paperclip: The Secret Intelligence Program that Brought Nazi Scientists to America” (“Operação Clipe de Papel: O programa secreto de inteligência que trouxe cientistas nazistas para a América”, editora Little, Brown and Companhy, 2014), de Annie Jacobsen. Notícia publicada pelo portal brasileiro Terra em 26/12/2013, intitulada “De Roma à bomba atômica: conheça 5 cientistas que mudaram a guerra”, resume: “Os mísseis nazistas eram tão avançados que EUA e URSS [União das Repúblicas Socialistas Soviéticas] disputaram seus cientistas no fim da Segunda Guerra. Em 1945, a Operação Paperclip (‘clipe de papel’, em português) levou a uma cidadezinha do Alabama, Huntsville, uma centena de cientistas nazistas envolvidos na pesquisa de mísseis e foguetes. Entre eles estava Wernher von Braun, pai do foguete V-2. Nos Estados Unidos, ele foi o responsável pela equipe que criou o foguete Saturn V, que levou a missão Apollo 11 à Lua em 1969”. Além da operação Paperclip, exclusivamente dos Estados Unidos, houve outra, similar, em parceria com a Inglaterra: a operação Sunrise (“Nascer do sol”), também conhecida como

Obra mais recente sobre a proteção aos nazistas

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Segredo que poucos conhecem

Operação Sunrise: cooperção entre suiços e britânicos

Allen Dulles foi quem comandou essa operação

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Crossword (“Palavra-cruzada). Kerstin von Lingen é o autor do livro “Allen Dulles, the OSS, and Nazi War Criminals The Dynamics of Selective Prosecution” (“Allen Dulles, o OSS e os criminosos de guerra nazistas - A Dinâmica da Acusação Seletiva”, Cambridge, 2013), que detalha como o advogado e diplomata norte-americano Allen Welsh Dulles, que chefiava em 1945 o Office of Strategic Services (OSS) – Escritório de Serviços Estratégicos dos Estados Unidos, junto com autoridades suíças e britânicas, comandou a operação Sunrise. Segundo ele, em violação dos acordos feitos com a União Soviética, os aliados ocidentais protegeram os nazistas com obstrução da justiça e supressão de provas da acusação. Complementa o livro “Ultramar Sur”: “[Winston] Churchill estava entre os avatares da operação, um acordo combinado entre hierarcas nazistas e aliados ocidentais para evitar que a União Soviética continuasse avançando na ocupação da Alemanha. As negociações entabuladas (...) se diversificaram em novas manobras secretas, como a Operação Paperclip. Durante mais de quatro décadas, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha negariam a


O mistério do Cruzador Bahia

mera existência da Sunrise/Crossword. Até que o peso da evidência os forçou a reconhecê-la”. Ou seja: se a Argentina, primeira a interrogar os alemães que desembarcaram de dois submarinos em seu litoral (o U-530 e o U-977), eles foram transferidos, em seguida, para os Estados Unidos e a Inglaterra - que mantinham operações de proteção e acolhimento de nazistas. E no próprio Brasil, naquele momento, o cenário para as investigações de um possível torpedeamento do Cruzador Bahia não eram melhores. O chefe do Estado Maior do Exército, general Pedro Aurélio de Góes Monteiro, era considerado simpático aos alemães antes de o Brasil entrar na Segunda Guerra. “Nosso chefe de Estado Maior, Góes Monteiro, diziam que era germanófilo e foi convidado a visitar a Alemanha [nazista]”, comenta Carlos Eugênio Dufriche, capitão-de-longo-curso e historiador da Marinha Mercante, em depoimento para o vídeo-documentário “O Brasil na Batalha do Atlântico” (dirigido por Erik de Castro em 2011). Tal simpatia pelos alemães não impediu que, quando os brasileiros declararam

Harry Woodring, secretário de Guerra dos Estados Unidos, é cumprimentado por Góes Monteiro (à direita)

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Segredo que poucos conhecem

guerra aos ao Eixo, Góes Monteiro tenha se alinhado automaticamente aos Estados Unidos, chegando a passar 11 meses como embaixador extraordinário junto ao Comitê de Emergência e Defesa Política da América, em Montevidéu, no Uruguai. “Pelo lado alemão, não houve nenhuma aproximação da parte de Hitler com Vargas”, narra João Barone, em “1942 – O Brasil e sua guerra quase desconhecida”. “Os únicos responsáveis de fato por uma proximidade oportunista do Estado Novo com os alemães foram os militares da ala germanófila, que decidiram pela compra de armamento moderno alemão (...), por conta da impossibilidade de obtenção de material bélico norte-americano. Até o chefe do Estado-Maior brasileiro, general Góes Monteiro, chegou a ser convidado pelo seu equivalente alemão, marechal Walther von Brauchitsch, para presenciar as manobras militares da Wehrmacht [as Forças Armadas alemãs] em 1939, que não ocorreriam por causa da invasão da Polônia”, acrescenta. Ora, com o fim da Segunda Guerra Mundial, foi exatamente Góes Monteiro o líder dos conspiradores que derrubariam Getúlio Vargas. E pode ter sido o mentor – ou avalista – de uma decisão delicada: quando e como divulgar a versão oficial do que aconteceu com o Cruzador Bahia. 104


Capítulo 4

Uma ferida que não cicatriza



O mistério do Cruzador Bahia

A

explosão destruiu a popa do velho cruzador, levantou uma enorme coluna de água, partiu o mastro maior, tirou a vida de uma centena de homens [de imediato], feriu gravemente outros 50 e converteu a existência dos não afetados em um pandemônio”. É desta forma que o livro argentino “Ultramar Sur” começa a descrever o horror vivido pelos tripulantes do Cruzador Bahia que sobreviveram ao seu afundamento. No tumulto formado logo após a explosão, um episódio ainda hoje como os integrantes da Marinha do Brasil: atingido por estilhaços em um dos braços, que provocaram duas fraturas expostas, o comandante do Bahia, capitão-defragata Garcia D’Ávila

Tripulantes do Cruzador Bahia viveram ‘horror’

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Segredo que poucos conhecem

Garcia D’Ávila escolheu morrer no navio

Documentário que sustenta a versão de ‘acidente’

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Pires de Carvalho e Albuquerque, foi ajudado pelo suboficial Antonio Luz dos Santos, apelidado “Mosquito”, a chegar até a enfermaria. Mas, neste momento, a popa do Bahia afundou e a proa levantou cerca de 20 metros. Garcia D’Ávila, consciente de que o barco afundaria em minutos (e imobilizado por dores terríveis), ordenou a “Mosquito”: “Deixe-me, rapaz, e procure se salvar. Eu sou um homem morto”. E afundou junto com o navio. Prossegue o livro de Juan Salinas e Carlos De Nápoli: “O cruzador dispunha de duas barcaças e uma lancha, dois botes e 20 balsas de cortiça, mas as três embarcações maiores e duas balsas haviam sido destruídas pela explosão. Os desesperados tripulantes foram incapazes – ou não tiveram tempo – de arriar os botes. O certo é que, antes que o cruzador afundasse, somente haviam conseguido jogar ao mar 17 balsas, algumas de uma altura considerável, o que fez com que os compartimentos de água potável se danificassem”. Cada balsa embarcou uma média de 16 sobreviventes, parcialmente submersas, com os ocupantes com água pela cintura. “Outros tantos [estavam] feridos, mutilados, muito feridos”, comenta, no vídeo-documentário “O Brasil na Batalha do Atlântico” (de 2012, dirigido por Erik


O mistério do Cruzador Bahia

de Castro), o historiador Raul Barreto Neto, da Universidade Católica do Salvador (UCSal) e da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). “O fato é que, aos poucos, o Bahia começou a afundar, pela popa. No dia seguinte, dia 5 [de julho de 1945], eles continuaram a resistir relativamente bem, mas aí começaram a surgir os primeiros casos de insolação, exposição ao sol”, acrescenta. Segundo o relato do livro “Ultramar Sur”, o clima era de “sol abrasador” e “numerosos tubarões rondavam as balsas em círculos, e compactas formações de águas vivas – medusas – entravam periodicamente [nas embarcações], provocando dolorosas queimaduras”. “No dia 6”, continua Raul Barreto Neto, “essa insolação passou a se converter em situações de loucura, mesmo, de miragens. (...) Então, à noite, os que estavam mais debilitados se aproveitavam da escuridão, da distração daqueles que estavam em melhores condições, e começavam a nadar para o nada, morriam afogados”. Com isso, centenas de sobreviventes da explosão perderam a vida nos quatro dias que ficaram à deriva em mar aberto – e sem que as autoridades soubessem o que

Insolação provocou miragens e loucura, diz historiador

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Segredo que poucos conhecem

Foi Raymond Highms quem viu os náufragos

Comandante Castro e Silva em ‘Batalha do Atlântico’

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havia ocorrido com o Cruzador Bahia, para resgatá-los. Somente no domingo, 8 de julho, foi que alguém se aproximou daquela área. Eram 7h30 da manhã quando, no cargueiro inglês Balfe, que vinha de Liverpool com destino a Salvador, o ajudante de cozinha Raymond Charles Highms, de 17 anos, começava a acender o fogo para preparar o café para a tripulação. “Ele, de repente, pensou que tinha ouvido gritos [vindos] do mar. E deu atenção, saiu na janela e viu uma balsa com gente, com sobreviventes”, conta o comandante Castro e Silva, veterano da Marinha do Brasil, no vídeodocumentário “O Brasil na Batalha do Atlântico”. Depois de socorrer esses náufragos, o comandante do Balfe, capitão Thomas Joseph Sweeney, telegrafou ao Comando da Força Naval do Nordeste solicitando assistência médica. Zarparam para o local os torpedeiros Greenhalgh (sob o comando do capitãode-fragata Ary dos Santos Rongel) e Babitonga e os cruzadores Rio Grande do Sul (que havia chegado dias antes ao local para substituir o Bahia mas não o encontrou) e o USS Omaha. As condições para o resgate,


O mistério do Cruzador Bahia

segundo o livro “Ultramar Sur”, eram desesperadoras: “As balsas permaneciam rodeadas por tubarões, de modo que, para aproximar-se delas, tiveram que disparar tiros. Os tubarões feridos eram imediatamente devorados pelos outros, excitados pelo cheiro de sangue”. O Balfe conseguiu resgatar 33 sobreviventes, dos quais cinco morreram. O Rio Grande do Sul recolheu outros seis, sendo que dois morreram logo em seguida. Entre os dias 9 e 13 de julho de 1945, a ForçaTarefa encontrou mais nove balsas, com nove cadáveres e cinco sobreviventes. Por último, acharam a balsa restante com um só náufrago, Eraldo Diógenes Millet, que só conseguiu a milagrosa salvação após nove dias vagando no mar porque armazenou e bebeu a chuva que caíra no sexto dia. O saldo final da maior tragédia naval do Brasil foi que, dos 372 tripulantes, apenas 36 sobreviveram. Foi então que as dúvidas sobre a causa da explosão e do afundamento do Cruzador Bahia co-

Navio Rio Grande do Sul recolheu sobreviventes

Rara imagem do resgate de vítimas do Cruzador Bahia

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Segredo que poucos conhecem

Berford Guimarães (à esquerda) no casamento do sobrinho Walter Santa Helena

O USS Omaha participou do resgate

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meçaram a surgir. No livro de navegação do cruzador USS Omaha, uma das embarcações que participaram do resgate, o capitão W. L. Freseman detalhou: “Às 10h22 fui chamado diretamente pelo Comando da Força do Atlântico Sul. Fui informado pelo almirante de que evidentemente o Cruzador Bahia havia sido afundado”. Outra informação importante nos foi prestada diretamente por Walter Santa Helena, ex-piloto da Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra. Seu tio e padrinho de casamento, o almirante Armando Berford Guimarães, comandou o Cruzador Bahia (quando era capitão-de-fragata) – o que é confirmado pela Revista Marítima Brasileira, v. 131 n. 10/12 (outubro/ dezembro de 2011), no artigo “Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial – Parte 5”, de autoria do capitão-de-fragata Gerson de Macedo Soares. Segundo Walter Santa Helena, seu tio dizia convictamente ter sido comandante


O mistério do Cruzador Bahia

do Cruzador Bahia “até poucas semanas antes de seu torpedeamento”. Além de todas as afirmações de autoridades listadas por Carlos De Nápoli em artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, como descrevemos no início do Capítulo 2, o livro “Ultramar Sur”, o qual é coautor, observa ainda que, apesar de sempre ter corroborado a versão oficial de acidente, Lúcio Torres Dias, o único dos 17 oficiais que sobreviveu, “admitiu que a maioria dos náufragos atribuía ‘a causa da explosão a um torpedo de submarino’ [segundo texto do almirante Arthur Oscar Saldanha da Gama intitulado ‘A tragédia do Bahia’, presente na edição “História Naval Brasileira”, volume quinto, tomo II, do Serviço de Documentação Geral da Marinha, publicado no Rio de Janeiro em 1985]”. Tantas evidências e testemunhos contrários à versão oficial nos fazem crer que, se fosse um incidente isolado, o afundamento do Cruzador Bahia teria despertado mais curiosidade, suspeitas e, quem sabe, uma indignação popular semelhante à provocada pelos torpedeamentos seguidos de cinco navios mercantes, em agosto de

Sobreviventes do Bahia relataram ‘desespero’ a jornal

Publicação de 1948 traz a nota oficial sobre a explosão

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Segredo que poucos conhecem

Enterro de algumas das vítimas do Cruzador Bahia

Jornal noticia explosão de bomba atômica no Japão

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1942, que levaram o Brasil a entrar na Segunda Guerra. Mas, devido à sucessão de acontecimentos históricos relevantes e de muito maior repercussão, é até compreensível que a maior tragédia naval do Brasil tenha “submergido” no noticiário nacional. Afinal, apesar de a Alemanha ter capitulado, o Japão ainda não havia se rendido em julho de 1945, quando o Bahia explodiu. Em Potsdam, na Alemanha, como vimos no início do Capítulo 1, Harry Truman, presidente dos Estados Unidos, Josef Stalin, líder da União Soviética, e Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido (substituído no evento pelo novo primeiro-ministro, Clement Attlee) decidiam o futuro do planeta. E foi Truman quem ordenou pouco depois, no início de agosto, o lançamento de duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, matando subitamente centenas de milhares de pessoas, ferindo gravemente outras milha-


O mistério do Cruzador Bahia

res com efeitos de radiação nunca vistos e mudando para sempre o parâmetro de destruição em massa. A disputa de poder e a consequente animosidade entre Estados Unidos e União Soviética, com a nascente Guerra Fria, também chamava muito mais a atenção, naquele momento, do que as causas do desastre do Cruzador Bahia. Mas é inegável, também, que o governo brasileiro colaborou para que o assunto fosse esquecido: levou quatro meses para emitir uma nota oficial sobre o incidente e o fez, curiosamente, em uma data de grande conturbação nacional: no dia da deposição do presidente/ ditador Getúlio Vargas. VÁCUO DE PODER E NOTA APÓCRIFA – Em sua edição de 30 de outubro de 1945, o jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, publicou a seguinte nota emitida pelo Ministério da Marinha: “Logo que se teve conhecimento da catástrofe [do Cruzador Bahia] (...), foi mandado abrir rigoroso inquérito, o qual, reclamando uma série de investigações, foi agora encerrado. Pelo que foi apurado, concluiu-se que aquele cruzador fora sinistrado por uma rajada de metralhadoras do próprio C. Bahia, que, durante um exercício de rotina, atingira acidentalmente um grupo de bombas de

Manchete: renúncia de Vargas e posse de José Linhares

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Segredo que poucos conhecem

profundidade, localizada na popa do navio. A explosão dessas bombas acarretou a abertura do casco e grandes danos pessoais e materiais irreparáveis, ocasionando o afundamento do cruzador em poucos minutos”. Ou seja: o governo brasileiro cravava a versão oficial de “acidente”, mantida até hoje. O livro argentino “Ultramar Sur” relata que, antes mesmo que o interrogatório dos nazistas que desembarcaram em submarinos no litoral argentino fosse concluído nos Estados Unidos fosse encerrado, um relatório interno feito por uma comissão dirigida pelo almirante Oliveira Teixeira, no Brasil, foi concluído com a versão oficial de que o Bahia tinha sido vítima de um acidente. Assim, caso os alemães confessassem que torpedearam o navio brasileiro ou dessem qualquer pista de que isso pudesse ter ocorrido, já não teriam qualquer interferência na conclusão do governo brasileiro sobre a tragédia. Os jornalistas argentinos Juan Salinas e Carlos De Nápoli sugerem que, como os Estados Unidos estavam interessados em proteger nazistas com a operação Paperclip, devem ter feito pressão nessas investigações: “Os quase três meses transcorridos entre a finalização do ‘relatório final’ da comissão investigadora [sobre o afundamento do Bahia] e sua convalidação pelo Ministério da Marinha [brasileiro] 116


O mistério do Cruzador Bahia

sugerem um surdo – mas inflamado – debate sobre a convalidação da hipótese de autoafundamento [do Bahia]”. Mas pouca gente deve ter se interessado em ler a nota oficial do governo brasileiro sobre o Cruzador Bahia publicada pela imprensa. Porque, tanto o Diário de Notícias quanto a maioria dos jornais brasileiros estampavam em manchete naquela terça-feira, 30 de outubro de 1945, um fato de muito maior repercussão, a deposição do presidente/ditador Getúlio Vargas, após 15 anos no poder. Pode ter sido apenas uma (enorme e estranha) coincidência que o resultado das investigações da maior tragédia naval brasileira tenha sido divulgado às redações exatamente quando toda a imprensa e a população estavam ocupadas com os fatos bombásticos ocorridos no Palácio do Catete. Aliás, 70 anos depois, ninguém parece ter notado algo intrigante: se o presidente do Brasil havia sido deposto, todos os seus ministros também haviam sido. Logo, se Henrique Aristides Guilhem não era mais o ministro da Marinha, quem é que assinava a nota oficial sobre o Cruzador Bahia? Ao ser reproduzida na revista Sub-

Henrique Aristides Guilhem deixou Ministério em 1945

117


Segredo que poucos conhecem

Góes Monteiro (em pé) tramou a queda de Getúlio Vargas

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sídios para a História Marítima do Brasil, da Imprensa Naval (Volume VI, de 1948), a nota consta apenas como sendo de autoria do “Gabinete do Ministro da Marinha”. De fato, se a nota foi emitida em 29 de outubro de 1945, para que pudesse estar impressa nos jornais no dia seguinte, havia uma lacuna de poder no país. A partir do momento em que o ministro do Exército, general Pedro Aurélio de Góes Monteiro, chegou ao então denominado Ministério da Guerra, por volta das 8 horas da manhã (do dia 29), foi desencadeado o ultimato dos militares contra Getúlio Vargas, que só acatou sua deposição por volta das 21 horas. Neste intervalo, é sensato presumir que as atividades das Forças Armadas (incluindo a Marinha) e de todo o governo federal tenham ficado em suspenso, aguardando os acontecimentos. Portanto, repetimos a pergunta: quem teria assinado a nota sobre o Cruzador Bahia? E por que teria sido divulgada justo nesse dia tão conturbado? O pesquisador Paulo Victorino, em seu texto “Liberdade, ainda que tardia – O fim do Estado Novo” (reproduzido no portal Pitoresco), relata que “José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, na ocasião, se achava em


O mistério do Cruzador Bahia

uma festa, em companhia de seus familiares e foi solicitado a comparecer, com a máxima urgência, no Ministério da Guerra, onde era esperado pelo ministro, general Pedro Aurélio de Góes Monteiro. Assim foi que, pelas duas horas da madrugada, já no dia 30, ficou sabendo do acontecimento, e de que deveria tomar posse, como presidente [da República] interino”. E que somente “às 14 horas do dia 30 de outubro de 1945, em cerimônia oficial, José Linhares tornase, em efetivo, presidente do Brasil”. Consta que, na manhã do dia 30, antes de tomar posse, Linhares levou a Góes Monteiro sua lista com os nomes dos novos titulares para todos os Ministérios durante o governo interino. Isso causou problema, pois, na visão do ex-ministro da Guerra, líder dos conspiradores que derrubaram Vargas, os novos ministros deveriam ser definidos somente com consulta prévia aos dois candidatos militares às eleições presidenciais que se realizariam dali a dois meses, no dia 2 de dezembro: o brigadeiro Eduardo Gomes e o general Eurico Gaspar Dutra. Passado o constrangimento inicial, os

Linhares tomou posse às 2h45 da manhã, diz jornal

Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato nas eleições de 1945

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Segredo que poucos conhecem

Eurico Gaspar Dutra foi quem venceu as eleições

Presidente interino José Linhares e oficiais militares

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quatro – Linhares, Góes, Gomes e Dutra – só chegariam a um consenso depois da posse oficial do presidente interino, o que significa dizer que os novos ministros só tomaram posse e iniciaram suas atividades após 30 de outubro de 1945, quando a nota oficial sobre a causa do afundamento do Cruzador Bahia já havia sido divulgada. O novo ministro da Marinha era o almirante Jorge Dodsworth Martins. Curiosidade: segundo Carlos De Nápoli, um dos autores do livro “Ultramar Sur”, no já citado artigo publicado pela Folha de S.Paulo em 15/05/2011, “jornais brasileiros mencionam o assunto [o afundamento do Bahia] a partir de 11 de julho de 1945, tendo as publicações endossado as afirmações feitas pelo almirante Jorge Dodsworth Martins no sentido de que o cruzador tinha sido torpedeado”. Por isso, seria estranho que o mesmo Dodsworth assinasse a nota oficial com a versão de “acidente”. E também parece pouco provável que seu antecessor, o almirante Henrique Aristides Guilhem, tenha dedicado atenção a esse assunto no último dia de governo de Getúlio Vargas, presidente a quem era fiel e que o mantivera naquele cargo por nada menos


O mistério do Cruzador Bahia

que dez anos. Recordemos que o mesmo artigo de Carlos De Nápoli na Folha de S.Paulo ressalta que, “no momento de dar os pêsames aos familiares desparecidos no mar, a carta do presidente Getúlio Vargas afirma claramente que os marinheiros ‘foram tomados de surpresa e assassinados’”. Mas em 29 de outubro de 1945, data de emissão da nota oficial indicando “acidente” como causa do afundamento do Cruzador Bahia, era justamente Vargas quem estava sendo deposto do poder – outro fato que, com toda razão, concentrava a atenção total do público naquele momento. Portanto, qualquer dúvida ou suspeita sobre possível torpedeamento feito por nazistas, neste caso, foi completamente eclipsada pela crise política nacional. Dúvida ou suspeita que poderia ter sido gerada não só pela “conveniente” data de emissão da nota oficial, mas também pela observação atenta de que sua assinatura sendo tão somente do “Gabinete do Ministro da Marinha”. Mas por que todos esse cuidado? O livro “Ultramar Sur” dá uma pista, resgatando uma declaração polêmica do comandante da Marinha brasileira Roberto Gomes Cândido: “As extremas dificuldades dos aliados em suas relações com os soviéticos após a ren-

Dodsworth Martins teria admitido o torpedeamento

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Segredo que poucos conhecem

Eagle-56 teve causa de afundamento revista nos EUA

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dição da Alemanha podem ter levado os [norte-]americanos, que perderam quatro marinheiros no cruzador, a aconselhar a Marinha brasileira a não indicar o torpedeamento como causa do naufrágio”. Os autores do livro “Ultramar Sur” frisam, ainda, que, assim como o topo de uma embarcação alemã foi avistada pouco antes da explosão da corveta norte-americana Eagle-56 (que teve a causa de afundamento revista para torpedeamento em 2001, como veremos a seguir), “para alguns sobreviventes [do Cruzador Bahia], fica claro que reconheceram um submarino. O que não se discute é que o Bahia e o U-977 se encontravam naquele dia no mesmo lugar do vasto oceano, que o primeiro afundou e que o U-Boot fugitivo perdeu pelo menos dois torpedos T-5 acústicos, que se guiavam pelo ruído das hélices de suas presas. E, certamente, quando o objetivo era um navio grande, era obrigatório disparar dois torpedos”. Por sua vez, George Abbud, editor e administrador da revista online Military Power Review (www.militarypower.com.br), publicou artigo intitulado “O naufrágio do Cruzador Bahia”, que afirma: “Alguns oficiais atribuíam o desastre do cruzador aos nazistas. Sua versão: por sua ação


O mistério do Cruzador Bahia

destacada na defesa de comboios e na caça aos U-Boot, como no episódio da destruição do U-128 no qual apoiou o Jaguaribe, o Bahia já era um navio marcado pelo inimigo. No dia fatídico, o velho cruzador estava sendo seguido por um submarino alemão, que aproveitou a ocasião em que ele parou para lançar ao mar o alvo do exercício da metralhadora. No ato do ataque, a guarnição da arma deve ter visto o rastro do torpedo na água e treinados para abrir fogo em tais emergências, dispararam na direção dele, que atingiu em cheio a popa do Bahia, fazendo explodir o paiol de munições. Como toda a guarnição da metralhadora morreu, não restou ninguém para falar. (...) Para termos certeza do que realmente aconteceu com o glorioso Bahia, herói de duas guerras, teríamos que examinar o seu casco, mas é impossível resgatá-lo dos fundos abissais onde repousa para sempre”. PRECEDENTES NO BRASIL E NOS EUA - Se no caso do Cruzador Bahia a especulação sobre torpedeamento fica no campo da hipótese, em outros dois casos, considerados de início, igualmente, como “acidentes”, as causas foram revistas. Em junho de 1943, o barco pesqueiro Shangri-lá (às vezes grafado com ch) desapareceu ao largo de

Barco brasileiro também teve versão oficial revista

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Segredo que poucos conhecem

Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Seus dez tripulantes jamais foram encontrados. Sobre este caso, o cineasta niteroiense Flávio Cândido iniciou, em 2015, as filmagens do documentário ficcional “O Destino de Changri-lá”. Na década de 1940, o processo de investigação sobre a ocorrência foi arquivado por “insuficiência de provas”. Mas, 56 anos depois, em 1999, o mistério foi esclarecido quando os arquivos militares norte-americanos foram abertos e revelaram que o Shangri-lá foi afundado a tiros de canhão pelo submarino nazista U-199. No fim daquele ano, a Procuradoria Especial da Marinha pediu a reabertura do processo ao Tribunal Marítimo - responsável pelo julgamento de acidentes com embarcações. “Esta nova prova é uma evidência muito forte. Achamos que era um dever humanitário pedir a reabertura do caso”, disse, na ocasião, a procuradora Teresa Cristina Bevilacqua (em notícia publicada pelo jornal Diário do Grande ABC em 09/03/2000), ressaltando que o fato “reescreveu um importante capítulo da história do Brasil na Segunda Guerra”. Em companhia do relator do processo, Marcelo David Gonçalves, a procuradora visitou o município de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, para ouvir os depoimentos dos parentes de alguns dos pescadores mortos na tragédia. Desarquivado o inquérito, em 31 de julho de 2001 o Tribunal Marítimo finalmente reconheceu os pescadores como heróis de guerra, e seus nomes 124


O mistério do Cruzador Bahia

foram inscritos em junho de 2004 no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial. Na mesma época da revisão sobre o afundamento do Shangri-lá, outro caso, também considerado como “acidente” na década de 1940, foi revisto. Em 23 de abril de 1945, a corveta de patrulha norte-americana Eagle-56 navegava na costa do Maine, próxima à área litorânea de Nova Iorque, rebocando alvos para exercício de bombardeiros da Marinha dos Estados Unidos. Ao meio-dia, explodiu e quebrou em duas partes a 4,8 quilômetros de distância do Cabo Elizabeth. O destruidor Selfridge estava operando perto do Eagle-56 e chegou meia-hora após a explosão, conseguindo resgatar 13 sobreviventes da tripulação de 62. “Mas então, contra o testemunho dos sobreviventes – que denunciaram com clareza o torpedeamento -, os almirantes da Marinha dos EUA haviam culpado pelo sinistro a explosão acidental da caldeira da corveta”, contam Juan Salinas e Carlos De Nápoli, um dos autores do livro argentino “Ultramar Sur”. Mais tarde, porém, as forças aliadas quebraram códigos de transmissões de mensagens nazistas e descobriram que

Placa homenageia tripulação da corveta Eagle-56

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Segredo que poucos conhecem

Livro descreve como submarino afundou navio dos EUA

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submarinos alemães tinham sido enviados para a costa do Atlântico Norte na época, entre eles o U-853, que, depois de torpedear o Eagle-56, afundou o minerador Black Point durante a batalha de Point Judith. Em 6 de maio de 1945, o submarino nazista foi localizado e afundado por navios de guerra norte-americanos a 13 quilômetros de Block Island, em Rhode Island. Toda a tripulação foi morta. Diante dessas evidências, em 2001, o Centro Histórico Naval dos Estados Unidos reanalisou o caso e reclassificou o naufrágio como “perda de combate”, como detalha o livro “Due to Enemy Action: The True World War II Story of the USS Eagle 56” (“Devido à ação inimiga: A verdadeira História do USS Eagle-56 na Segunda Guerra Mundial”, Lyons Press, 2005), de Stephen Puleo. Em junho de 2001, medalhas Purple Heart, uma das mais importantes comendas militares norte-americanas, foram entregues a três sobreviventes e aos familiares dos demais mortos. Esses dois casos geraram precedentes para que a causa da tragédia do Cruzador Bahia seja reavaliada. Como diz João Barone, em “1942 – O Brasil e sua guerra quase desco-


O mistério do Cruzador Bahia

nhecida”, “existem muitos relatos sobre os brasileiros que estiveram em ação na guerra, mas eles estão sendo esquecidos, por razões ora desconhecidas, ora inaceitáveis. Depois de muito tempo, surge uma esperança ao se constatar que há gente disposta a impedir que essa história se apague”. E ele dá um exemplo: o heroísmo de Luís Martins de Souza Dantas, que, “na improvisada embaixada brasileira em Marselha [na França ocupada pelos nazistas], começou um movimento para a salvação de centenas de judeus e pôs a própria vida em risco”. Como um “Oskar Schindler brasileiro” (numa referência ao empresário alemão que salvou mais de mil judeus durante a guerra e que inspirou filme de grande repercussão nos anos 1990), Souza Dantas emitiu vistos mesmo com a proibição do Estado Novo brasileiro e proporcionou fuga da Europa nazista para cerca de 800 pessoas, até ser preso pela Gestapo [acrónimo em alemão de Geheime Staatspolizei, a polícia secreta nazista], em 1943. Mas esse não foi o único preço que pagou: ao ser libertado, em março de 1944, voltou ao Brasil e sofreu perseguição do governo Vargas, pois a história do embaixador que salvou vidas representava ameaça no campo político. “O Brasil mostrava mais uma vez uma especial e cruel capacidade de esquecer 127


Segredo que poucos conhecem

Obra dedicada à Souza Dantas, o ‘Schindler’ do Brasil

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os personagens de valor de sua história”, avalia João Barone. Mas, assim como o diplomata teve seu valor recuperado pelo livro “Quixote nas trevas – O embaixador Souza Dantas e os refugiados do nazismo” (Editora Record, 2002), de autoria do professor Fábio Koifman, outro herói merece atenção: o capitão-de-fragata Garcia D’Ávila Pires de Carvalho e Albuquerque, comandante do Cruzador Bahia, que decidiu afundar junto com o navio. É uma ferida não cicatriza. Anualmente, a Marinha do Brasil presta homenagem aos mortos em afundamentos de navios durante a Segunda Guerra Mundial com uma cerimônia em que veteranos atiram flores ao mar. Na edição nº 367 da Revista do Clube Naval, de julho a setembro de 2013, o engenheiro Israel Blajberg, que na época era a 2º diretor social da Sociedade Amigos da Marinha (Soamar) no Rio de Janeiro, descrevia uma destas ocasiões: “No friozinho da manhã uma neblina suave se estende pela Baía de Guanabara. (...) A cada 21 de julho os últimos ex-combatentes ainda retornam para cumprir o ritual das flores ao mar, as medalhas reluzindo ao peito, boinas azuis e verdes, o reencontro com antigos companheiros na homenagem aos bra-


O mistério do Cruzador Bahia

vos que honraram o juramento de ao prestar o serviço a Pátria, defendê-la se for preciso com o sacrifício da própria vida. O pequeno ônibus conduz o grupo pelo cais estreito da Ilha Fiscal, onde os Navios Patrulha do Grupamento Naval do SE [Sudeste] se encontram atracados. Um deles foi contemplado com a missão honrosa, que culminará com o lançamento de flores e pétalas ao mar, diante da praia de Copacabana. (...) A tripulação formada no convés e os veteranos alinhados diante da coroa de flores ouvem a Ordem do Dia do Comandante de Operações Navais, louvando os homens das Marinhas de Guerra e Mercante que se sacrificaram no cumprimento do dever, desde Greenhalgh e Marcílio Dias até os bravos da Corveta Camaquã, do Navio-Auxiliar Vital de Oliveira e do Cruzador Bahia. A grandeza dos seus exemplos será a inspiração para vencer, com coragem, determinação, desprendimento e dedicação, os desafios que se apresentarem para a Marinha do Brasil. A coroa de flores é lançada às águas, perpetuando a homenagem aos bravos marinheiros ao oscilar suavemente no balanço do mar, junto com punhados de pétalas que, emocionados, os veterano atiraram ao mar”. Por todo este sentimento, muitas perguntas permanecem válidas. Por que os rela129


Segredo que poucos conhecem

Em cerimônia, veteranos atiram flores ao mar

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tos de sobreviventes do Cruzador Bahia de que havia um submarino próximo antes da explosão foram totalmente ignorados? Por que as afirmações de autoridades da Marinha do Brasil como Armando Berford Guimarães, Ary dos Santos Rongel, Jorge Dodsworth Martins, Roberto Gomes Cândido e Soares Dutra, de que houve torpedeamento, também não são levadas em conta? Por que o Brasil não segue o exemplo dos Estados Unidos, que, diante de evidências muito semelhantes às do Cruzador Bahia, decidiram reavaliar o motivo do afundamento da corveta Eagle-56, inicialmente considerado acidente e depois reconhecido como tendo sido atacado por um submarino nazista? Por que a nota oficial do Ministério da Marinha brasileiro foi divulgada no exato dia da deposição de Getúlio Vargas, na vacância temporária de todos os cargos de poder? E por que este documento estava assinado apenas como “Gabinete do Ministro da Marinha”?


O mistério do Cruzador Bahia

Parentes e descendentes dos 336 mortos merecem respostas. E, como bem observa o livro “1942 – O Brasil e sua guerra quase desconhecida”, de João Barone, “a lista de navios afundados pelo Eixo, na qual foram incluídos o pesqueiro Shranri-lá e o vapor Cabedelo, foi atualizada e corrigida ao longo dos anos posteriores à guerra”. O que permite vislumbrar que, no futuro, o Cruzador Bahia também seja incorporado a essa lista. Porque é preciso reforçar: se ele foi torpedeado, dois meses após a rendição da Alemanha, trata-se de um crime contra a humanidade – imprescritível. Além do revisionismo histórico, a maior tragédia naval da História do Brasil pode motivar reparações justas. E mais do que merecidas.

Região marítima onde repousa o Cruzador Bahia

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APĂŠNDICE

Lista dos sobreviventes e vĂ­timas fatais do Cruzador Bahia



O mistério do Cruzador Bahia

RELAÇÃO DOS SOBREVIVENTES, FALECIDOS E DESAPARECIDOS O Boletim nº 30, do Ministério da Marinha, publicado pela Diretoria do Pessoal da Armada (D.P.-6), publica, à 26 de julho de 1945, a relação completa do pessoal sobrevivente, falecido e desaparecido do Cruzador Bahia, no dia 4 de julho de 1945. Entre as vítimas, do navio sinistrado, dadas como desaparecidas; figuravam os quatro (4) marinheiros norte-americanos: (U. S. Navy) Sales, Emmett Peter, Eustace, William Joseph, Pendleton, Andren Jackson e Sparks, Franck Benjamin. Sobreviventes, Falecidos e Desaparecidos em Consequência do Afundamento do Cruzador Bahia. 1. Para conhecimento da Marinha e devidos fins, publica-se a relação nominal do pessoal sobrevivente, falecido e desaparecido, que constituia a guarnição do C Bahia, afundado no dia 4 de julho de 1945: a) Sobreviventes Primeiro-tenente

- Lúcio Tôrres Dias

Suboficial CS

- Vivaldo Vaz

7 657-1.° SG-AT

- Raymundo Figueira Nolasco

4 147-1.° SG-MO

- José do Carmo Barros

12 678-2.° SG-MA

- Armindo Paranhos da Silva

2 902-3.° SG-EP

- Antônio Luiz dos Santos 135


Segredo que poucos conhecem

6 180-CB-MA

- Antônio Ferreira da Silva

2 046-CB-MA

- Edgard Cruz

8 775-CB-M’A

- Waldemar Luiz de Brito

7 985-CB-EL

- Leonísio José dos Santos

6 159-1ª MR

- Antônio Damasceno Cavalcanti

5 823-1ª AT

- Adamastor Vasconcelos

7 152-1ª MA

- Amaro Antônio Leite

7 763-1ª MA

- José Izidro da Silva

3 301-1ª MA

- Oscar Estanislau

8 346-1ª MA

- José Ribamar Ferreira

6 091-1ª EL

- Otávio Áureo do Nascimento

410 611-1ª EL

- Mário Rodrigues Nunes

420 336-2ª MR

- João Gonzaga Barreto

430 009-2ª MR

- Davino Mendes de Oliveira

430 265-2ª AT

- Luiz Gonzaga da Paixão

410 036-2ª SI

- Wilson Barbosa

7 056-2ª SI

- José João Sarmento

410 618-2ª MA

- Moacyr Saturnino da Silva

400 647-2ª MA

- João Batista Bouth do Vale

410 324-2ª MA

- Artur Ribeiro da Silva Filho

401 293-2ª MA

- Artur da Silva Matias

7 062-2ª MA

- Eraldo Diógenes Millet

411 102-GR

- Antônio Gregório dos Reis

431 528-GR

- Geraldo Gadelha

440 653-GR

- Nelson Feliciano Ferreira

136


O mistério do Cruzador Bahia

435 771-G R

- José Luiz da Silva

440 617-GR

- Agostinho Farrel

440 366-GR

- Hélio Joaquim Almeida

411 108-GR

- Emygdio Ferreira dos Reis

391 373-3ª TA-CO

- Antônio Guerreiro elas Dôres

b) Falecidos 9 366-3º SG-AT

- Avelino Manoel da Silva

12 816-CB-MR

- José Calixto Guimarães

400 376-2ª MA

- Carlos Firmo dos Anjos

430 393-2ª MA

- Alôncio José Pinho

5 752-2ª EL

- João Dias

436 230-GR

- Hélio Rodrigues Ferreira

411 099-GR

- Manuel Paciência de Souza

431 830-2ª TA-AR

- João Mendes de Carvalho

c) Desapcrecidos Capitão de fragata

- Garcia d’Ãvila P.C.eAlbuquerque

Capitão de corveta

- Rubem Saba

Capitão de corveta

- Luiz Felipe de Figueira Souto

Capitão-tenente

- Sylvio Trilho da Silva

Capitão-tenente

- Ward Tavares

Capitão-tenente Md

- Dr. Moacyr D. Itapicurú Coelho 137


Segredo que poucos conhecem

Capitão-tenente

- Hermílio G. Castelo Branco

Primeiro-tenente

- Naudy Esteves

Primeiro-tenente

- Fernando M. Coutinho Marques

Primeiro-tenente

- Joanito Rodrigues Lopes

Primeiro-tenente

- Gelson Helmold

Primeiro-tenente I N

- Fábio de Almeida Magalhães

Primeiro-tenente CD

- Sérgio Vergueiro da Cruz

Segundo-tenente IN

- Rubens Raul Silva

Segundo-tenente

- Lloyd Bormann Sygwalt

Guarda-marinha

- Ayrton Barroso Pereira

Guarda-marinha

- Waldemar de Paiva e Almeida

Suboficial - MR

- Argemiro Gomes da Silva

Suboficial - MR

- Severino José Fernandes

Suboficial - M’R

- Pedro Pereira de Lucena

Suboficia - A T

- Raphael Alves Casaes

Suboficia - A T

- João Almeida Sampaio

Suboficial - SI

- João Bianco

Suboficial - ES

- Durval Fernandes Chaves

Suboficial - TF

- Deoclides Viana Marinho

Suboficial - CP

- Álvaro de Carvalho

Suboficial - MA

- Carmeno Celano

Suboficial - MA

- Nemésio Ramos Figueira

Suboficial - MA

- Pedro Ângelo Cavazzoglio

Suboficial - MO

- Oscar José dos Santos

Suboficial - MA

- Arthur Lemos

Suboficial - EL

- João Veloso de Oliveira

138


O mistério do Cruzador Bahia

9 844-1° SG-AT

- Raymundo T. de Vasconcelos

7 421-1° SG-AT

- João Batista Pinto

1 431-1° SG-TM

- Miguel Parcutz

12 239-1° SG-EF

- João de Morais Lima

15 337-1º SG-ES

- João Batista Santiago

15 462-1º SG-TL

- Antônio Joaquim Simões

2 276-1º SG-MA

- Firmino R. do Nascimento

15 544-1º SG-MA

- Antônio José Vieira

5 854-1º SG-CA

- Napoleão Corrêa de Barros

3 815-1º SG-MO

- Antônio Ferreira de Carvalho

3 636-1º SG-MO

- Laurindo dos Santos

4 588-2º SG-AT

- Henrique Medeiros

9 063-2º SG-MR

- Aureliano da Silva Rosário

13 452-2º SG-MR

- Custódio da Fonseca Carneiro

4 342-2º SG-TM

- Antônio Alves Parentes

0 340-2º SG-TM

- Deodato Saraiva da Silva

10 685-2º SG-CA

- Francisco Aurino de Oliveira

10 482-2º SG-EL

- Antônio José Pedro

12 106-2º SG-EL

- Aprígio Carvalho da Costa

4 471-2º SG-EL

- Romeu Alves elo Nascimento

4 370-3º SG-MR

- Pedro Pereira de Souza

1 589-3º SG-AT

- Euvaldo Augusto Freire

1 563-3º SG-AI

- Abelardo Rocha da Silva

15 493-3º SG-AT

- João Teixeira

1 059-3º SG-SI

- Antônio Alves de Lima 139


Segredo que poucos conhecem

9 704-3º SG-SI

- Armando Flamarion Coelho

0 232-3º SG- TM

- Audálio Gonçalves dos Santos

14 729-3º SG-CP

- João Mendes Mesquita

2 345-3º SG-EF

- Manuel Felix Quirino

14 141-3º SG-MA

- Arthur Moraes Espenechitt

1 933-3º SG-MA

- Otávio Miravi

12 849-3º SG-MA

- Lourival Rodrigues da Silva

8 402-3º SG-MA

- João Serafim de Oliveira

1 984-3º SG-MA

- Antônio Pontes da Silva

5 910-3º SG-CA

- Manoel Lourenço da Silva

14 058-3º SG-CA

- Florêncio da Silva

8 328-3º SG-CA

- Miguel Archanjo ele Oliveira

10 597-3º SG-CA

- Romeu Leal da Costa

2 255-3º SG-CS

- Aderval Carreira da Silva

1 501-3º SG-TF

- Jorge Ferreira da Silva

6 983-3º SG- FE

- Adalberto Melo Lucena

1 715-CB-MR

- Octavio Arthur de Lima

6 745-CB-MR

- José Teodoro

7 041-CB-MR

- Joaquim Pereira Lima

8 141-CB-MR

- José Pereira da Silva

9 782-CB-MR

- João Gomes dos Santos

12 098-CB-MR

- Iberê da Costa Franco

12 816-CB-MR

- José Calixto Guimarães

14 673-CB-MR

- Cassiano Francisco dos Santos

15 444-CB-MR

- Lauro José dos Santos

140


O mistério do Cruzador Bahia

0 953-CB-AT

- Tibúrcio Emygdio da Cunha

1 681-CB-AT

- Manuel Solis

3 591-CB-AT

- Cypriano Pereira da Cunha

7 564-CB-AT

- Sandoval Ferreira Cabral

13 262-CB-A T

- Martinho Bispo de Freitas

15 886-CB-AT

- Heraclito de Souza Moraes

2 156-CB-ES

- Modesto Tôrres de Oliveira

5 913-CB-ES

- Newton Cordeiro Coutinho

5 253-CB-ES

- Benedito de Souza Borges

0 927-CB-TL

- Luiz de Meio Maia

3 285-CB-TL

- José Silva Alcântara Filho

5 056-CB-SI

- João Maria Agostinho

3 684-CB- TM

- João Luiz da Cunha

0 407-CB-MA

- Severino Baptista de Menezes

2 659-CB-MA

- Moysés José Pereira

3 225-CB-MA

- Paulo Dantas de Carvalho

3 248-CB-MA

- João Antônio Rosas

3 988-CB-MA

- Francisco Cavalcante da Costa

6 055-CB-MA

- José Marques Pereira

8 454-CB-MA

- Pedro Fernandes

15 849-CB-MA

- Elisio Cordeiro de Siqueira

1 701-CB-EL

- Emydio de Souza

3 513-CB-EL

- Jessé Chrysologo da Graça

1 365-1º MR

- Sylvio do Nascimento

2 004-1º MR

- João Vicente de Araújo 141


Segredo que poucos conhecem

2 825-1º MR

- João dos Santos Araújo

4 272-1º MR

- Edson Ramos Cardoso

5 123-1º MR

- Manuel Danázio

8 174-1º MR

- Waldemar Gomes de Oliveira

15 813-1ª MR

- Manuel Gomes

5 410-1ª AT

- Clodoaldo G. Gomes de Sá

0 207-1ª TM

- Floriano da Costa Barroso

5 727-1ª A

- Oscarino Galvão

6 206-1ª TM

- Aurélio Brasilino Ribeiro

400 071-1ª TM

- Antônio de Castro Lopes

390 282-1ª TM

- Alarico Cavalcante Nunes

400 397-1ª TL

- Lélio Mendes

3 772-1ª CP

- Ary Ferreira Ramos

6 604-1ª CP

- Francisco Olavo de Assis

5 261-1ª MA

- Luiz Alves de Paiva

7 108-1ª MA

- Eloy Dias Gonçalves

8 139-1ª MA

- Ludgero José dos Santos

7 196-1ª MA

- Eraldo Barros Magalhães

13 011-1ª MA

- Benicio José da Fonseca

14 148-1ª MA

- Ismael José dos Santos

14 683-1ª MA

- Honorato das Neves

0 634-1ª EL

- José Roelrigues ele Souza

5 434-1ª EL

- Edgard Silva Sampaio

5 671-1ª EL

- Raymundo Miranela

5 675-1ª EL

- Marcilino Chrisostomo

142


O mistério do Cruzador Bahia

6 414-1ª EL

- Fernando de Figueiredo Lima

7 186-1ª EL

- Nilton Ferreira da Silva

7 262-1ª EL

- Lourival Américo Fonseca

400 208-2ª MR

- Aristides Francisco da Silva

400 558-2ª MR

- Clovis Mário da Silva

420 437-2ª MR

- Osny Hercílio da Silva

420 549-2ª MR

- Piragibe de Lara

420 595-2ª MR

- Olímpio R. de Melo Júnior

420 651-2ª MR

- Adriano Emídio ele Souza

430 005-2ª MR

- Almério de Albuquerque Melo

430 011-2ª MR

- Douglas Amaral da Silva

430 026-2ª MR

- Antônio Brandão Carvalho

430 036-2ª MR

- José Balbino Filho

430 060-2ª MR

- Almir José de Barros

430211-2ª MR

- Oswaldo Souto de Oliveira

430 251-2ª MR

- Mário Sales da Costa

430 355-2ª MR

- Geraldo Pimentel Dias

430 513-2ª MR

- Jonas Eueloque dos Santos

430 546-2ª MR

- Theodoro B. Nascimento

430 591-2ª MR

- Oswaldo Moreira

430 604-2ª MR

- Ubaldo Mendes de Oliveira

430 675-2ª MR

- Oswaldo Cespe Barbosa

431 560-2ª MR

- Francisco Medeiros Silva

5 319-2ª AT

- Manuel Ignacio da Crus Filho

410 140-2ª AT

- Paulo Gonzaga da Silva 143


Segredo que poucos conhecem

410 345-2ª AT

- Haroldo Rodrigues de Carvalho

420 415-2ª AT

- Letes Oswaldo de Lacerda

420 692-2ª AT

- José Maria Alves de Deus

430 033-2ª AT

- Nelson dos Santos

430 340 2ª AT

- Edgar Alves Marinho

430 446 2ª AT

- Edgar Ramalho

430 504-2ª AT

- Antônio E. do Nascimento

430 505-2ª AT

- José Octavio Tobias dos Santos

430 577-2ª A T

- Leonidas Mormello

430 579-2ª AT

- Evandro Ferreira Avelar

430 583-2ª AT

- Francisco Ricardo da Silva

430 618-2ª A T

- Antônio de Jesus

410 132-2ª TM

- Antônio Assis Pereira

410 177-2ª TM

- José dos Santos

410 205-2ª TM

- Aureliano Lopo da Rocha

410 209-2ª TM

- Carlos Amarante dos Santos

420 074-2ª TM

- Eugênio Maissiat

420 321-2ª TM

- Heráclito Patriarcha dos Santos

420 520-2ª TM

- Adad Coelho da Silva

420 537-2ª TM

- José Joaquim da Costa

430 044-2ª TM

- ZulmarVasconcelos B. e Lemos

430 084-2ª TM

- Manuel da Rocha Lins

410 643-2ª SI

- Walter dos Santos Oliveira

420 198-2ª SI

- Fernando Eustásio de Araújo

420 234-2ª SI

- Pedro Fereira de Castro

144


O mistério do Cruzador Bahia

430 022-2ª SI

- Victoriano C. da Cunha Filho

431 495-2ª SI

- Ivaldo Vital Pereira

4 202-2ª TL

- Manuel Monteiro

6 797-2ª TL

- Pedro Ladislau de Almeida

400 576-2ª TL

- Manuel Sebastião Espíndola

420 106-2ª TL

- Francisco Nogueira de Souza

390 114-2ª ES

- Alberto de Azevedo Tôrres

400 488-2ª CP

- Guilherme Espindola Pequito

430 149-2ª CP

- Edson de Carvalho Guimarães

430 278-2ª CP

- André Moreira

4 403-2ª MA

- José Pereira de Araújo

3 961-2ª MA

- Luiz Pereira

6 953-2ª MA

- Rubens Alves da Silva

7 124-2ª MA

- Paulo Francisco de Souza

7 142-2ª MA

- José Bahia de Amorim

8 507-2ª MA

- João Joaquim da Silva Filha

390 016-2ª MA

- Leopoldo Schiphorst

390 104-2ª MA

- Durval Cavalcante

390 225-2ª MA

- João Pinheiro da Silva

390 260-2ª MA

- Pedro do Monte Santo

400 130-2ª MA

- Alberto Burity

400 131-2ª MA

- Alcyr Rebelo

410-150-2ª MA

- Eladyo Dominguez

400 162-2ª MA

- José Alfredo de Florença

400 284-2ª MA

- Álvaro Carlos Leal 145


Segredo que poucos conhecem

400 377-2ª MA

- Lauro Virgilio do Nascimento

410 197-2ª MA

- Carlos Ovelheiro Coelho

410 367-2ª MA

- Osman da Costa Pino

410 509-2ª MA

- Walter Ferreira

410 005-2ª MA

- Enio Gomes da Silva

420 077-2ª MA

- Anizio da Silveira Machado

420 101-2ª MA

- Denizart Jordão da Silva

420 258-2ª MA

- Francisco Coelho Rodrigues

420 291-2ª MA

- Antônio Reginaldo Filho

420 309-2ª MA

- Cícero Cardoso de Andrade

420 348-2ª MA

- Enock Teodoro Lago

420 397-2ª MA

- José George Telles Sampaio

430 199-2ª MA

- Manuel Severino da França

430 283-2ª MA

- Salvador Balbino de Matos

430 301-2ª MA

- Rosalvo José da Silva

430489-2ª MA

- Heráclio de Araújo

430929-2ª MA

- José Silva

435 149-2ª MA

- Milton Martins de Oliveira

410 135-2ª MA

- João Barbosa de Lima

410 632-2ª EL

- Oscar de Melo Lima

420 146-2ª EL

- Deusdedith Calixto da Silva

430 105-2ª EL

- Romério Guerra de Oliveira

430 444-2ª EL

- José Carlos de Souza

431 053-2ª EL

- Cícero Fernandes de Lira

411 054-GR

- Carlos de Souza Oliveira

146


O mistério do Cruzador Bahia

411 096-GR

- Samuel Pedro cios Santos

430 449-GR

- Manuel Muniz de Brito

411 103-GR

- Bernardo Domingos da Silva

411 120-GR

- Antônio Conceição Neto

420 136-GR

- Nelson Ribeiro da Silva

430 016-GR

- Vampré Siqueira de Jesus

430 352-GR

- José Antônio da Silva

430 545-GR

- Agripino Domingos Costa

430 661-GR

- João Emílio

430 918-GR

- Astrogildo Rodrigues de Freitas

430 926-GR

- Francisco Monteiro Tavares

430 943-GR

- Helcio da Silva

430 948-GR

- Florêncio Machado de Aquino

430 954-GR

- Manuel Bolivar

430 957-GR

- Orci Bergami

430 962-GR

- Waldemar Valentim de Freitas

431 120-GR

- Pedro Marques da Cunha

431 180-GR

- Francisco Ferreira da Rocha

431 186-GR

- João Barreto Filho

431 339-GR

- Francisco Jorge Maciel

431 434-GR

- José Meira da Silva

431 565-GR 435 107-GR 435 132-GR 435 134-GR

- Edson Alves de Oliveira - José Holanda da Silva - Francisco Daniel da Silva - Raimundo Mendes Figueiredo 147


Segredo que poucos conhecem

435 135-GR

- Manuel G. M. de Albuquerque

435 148-GR

- José Amara de Recife

435 552-GR

- Tarciso Mendes Lima

435 785-GR

- José Pessota

435 839-GR

- Eufran Barros Gomes

435 915-GR

- José Ferreira da Silva

436 018-GR

- Aluízio Pedro Lásaro

436 165-GR

- Florisvaldo de Freitas Conceição

436 187-GR

- Benedito da Fonseca Rondou

436 228-GR

- Lostenes Francisco Freitas

436 230-GR

- Guilherme dos Santos

436 360-GR

- Hélio Rodrigues Ferreira

436 415-GR

- Gastão Bizarra de Almeida

440 365-GR

- Oigres Duarte

440 380-GR

- Alair Bezerra dos Santos

440 413-GR

- Mércio Araponga

440 439-GR

- Renato Barros da Silva

440 444-GR

- Juceval Curvello

440 468-GR

- Raulino Pacheco de Mello

440 507-GR

- Luiz de Oliveira

440 520-GR

- Romão Martins

440 536-GR

- José Faria

440 556-GR

- VandeIlo Paulo Pereira

440 566-GR

- Nivaldo Dalsasse

440 584-GR

- João Lino de Almeida Júnior

440 597-GR

- José Rosa Viana

440 645-GR

- José Guilherme

148


O mistério do Cruzador Bahia

440 657-GR 442 095-GR 442 168-GR 448 333-GR 450 401-GR 450 530-GR 450 MlcGR

- Jayme Manhani - Idemar Nunes Marins - Anisio Gomes de Lemos - Agezelau Albuquerque de Lima - Raimundo de Paula Freitas - Antônio Silva Matos - Armando Mamede Júnior

380-366-1ª TA-AR 380 461-1ª TA-AR 380 482-1ª TA-AR 380 589-1ª TA-AR 380 976-1ª TA-AR 380 075-2ª TA-AR 380 736-2ª TA-AR 380 759-2ª TA-AR 380·~34-2ª TA-AR 380 917-2ª TA-AR

- Amâncio Ignacio da Silva - Plácido Pereira Paulino - João Lopes Bessa - Ademar Martins de Freitas - Waldomiro Dias de Oliveira - Manuel Ferreira de Oliveira - Antônio Dias Barroso - Manoel Trindade - Alfredo de Oliveira - Alexandre Ramos de Souza

391 474-3ª TA-AR 401 549-3ª TA-AR 421 676-3ª TA-AR 421 717-3ª TA-AR 421 731-3ª TA-AR 431 831-3ª TA AR 432 039-3ª TA-AR 446 005-3ª TA-AR 455 002-3ª TA-AR

- Manoel José de França - Manoel Pedrosa - Guttemberg José Ferreira - João Soares - Célio de Paula Pires - Ari Conceição - José Leonardo Lazaro - Paulino Correia - Sylvestre Gayer 149


Segredo que poucos conhecem

455 006-3ª TA-AR 455 046-3ª TA-AR 401 542-2ª T A-CO 381 281-3ª TA-CO 411 586-3ª TA-CO 380 220-lª TA-E A 421 750-3ª TA-EA 380 111-1ª TA-PA 380 559-1ª TA-PA 6 124-Sd. CT 8 526-Sd. CT 3 522-Sd. CT 1 862-Sd. CT 5 008-Sd.

- Jorge Pimenta - Helio da Silva Moreno - Severino Chagas da Silva - João Antônio Barboza - Raymundo Nonato de Sá - Domingos Menezes - Jairo Fernandes Garcia - Manoel de Matos - João Lopes da Silva - José Ferreira da Silva - Benedito Corrêa - José Eugênio da Silva - Antônio Quirino da Silva - Onofre José de Freitas

MARINHEIROS NORTE-AMERICANOS (U. S. Navy) SALES, Emmet. Peter EUSTACE William Joseph PENDLETON, Andrew Jackson SPARKS, Franck Benjamin (Cópia extraída do Boletim nº 30 do Ministério da Marinha, de 26 de julho de 1945) (Fonte: Revista Subsídios para a História Marítima do Brasil, Imprensa Naval/ Volume VI - 1948.)

150


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OUTRAS FONTES DE CONSULTA E PESQUISA



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Segredo que poucos conhecem

rência de Potsdam; Conspiracy theories about Adolf Hitler’s death; Criptografia; Cronologia do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial; Cruzador; Cv Camaquã (C-6); Divisão Naval em Operações de Guerra; Edelmiro Julián Farrell; Eduardo Gomes; Encarnación; Enigma (máquina); Era Vargas; Ernst Kaltenbrunner; Espionagem na Guerra Fria; Estado Novo (Brasil); Estrasburgo; Eurico Gaspar Dutra; Eva Braun; Eva Perón; Fascismo; FBI; Fernando de Noronha; Fim da Segunda Guerra Mundial; Força Expedicionária Brasileira; Forças Armadas do Brasil; Força-Tarefa; Francisco Franco; Franklin Delano Roosevelt; Franz Stangl; Füher; Geografia da Região Nordeste do Brasil; German submarine U-199; German submarine U-516; German submarine U-530; German submarine U-853; German submarine U-977; Gestapo; Getúlio Vargas; Golfo San Matías; Guerra Fria; Gustav Wagner; Hans Baur; Hans Langsdorff; Harro Schacht; Harry S. Truman; Heinrich Himmler; Heinz Schäffer; Henrique Aristides Guilhem; Huntsville (Alabama); Ilha de Ascenção; Ingeniero Jacobacci, Itagiba (navio); Itália fascista; James F. Byrnes; Joachim von Ribbentrop; John Edgar Hoover; Jonas H. Ingram; Jorge Dodsworth Martins; Josef Stalin; José Linhares; Josef Mengele; Juan Domingo Perón; Juan Duarte; Julgamentos de Nuremberg; Karl Dönitz; Kiel; Klaus Barbie; Kriegsmarine; Las Palmas; Líderes dos Aliados na Segunda Guerra Mundial; Líderes do Eixo na Segunda Guerra Mundial; Litoral do Brasil; Lista de navios brasileiros atacados na Segunda Guerra Mundial; 164


O mistério do Cruzador Bahia

Lista de submarinos alemães; Luís Martins de Souza Dantas; Mar del Plata; Marinha Alemã; Marinha do Brasil; Marinha dos Estados Unidos; Marinha mercante; Marinha Real Britânica; Martin Bormann; Microrregião do Litoral Nordeste; Microrregião do Litoral Norte; Ministros do III Reich; Misiones (província); Morte de Adolf Hitler; Mossad; Mosteiro de São Julião de Samos; Navios brasileiros afundados na Segunda Guerra Mundial; Nazismo; Necochea; Neuquén (cidade); Nossa Senhora do Livramento (Mato Grosso); Oerlikon 20 mm; Operação Paperclip; Ordem Lacônia; Otto Skorzeny; Patagônia Argentina; Pedro Aurélio de Góis Monteiro; Potências do Eixo; Purple Heart; Ramón S. Castillo; Rapallo; Raúl Alejandro Apold; Região Nordeste do Brasil; Reich; Reichsbank; Relações entre Brasil e Estados Unidos; Rendição do Japão; Revolta da Chibata; RSHA; San Antonio (Misiones); San Clemente del Tuyú; Saturno V; Schutzstaffel; Segunda Guerra Mundial; Shangri-lá (barco); Simon Wiesenthal; Sobibor; Świnoujście; U-Boot; United Press International; USS Eagle Boat 56 (PE-56); U-234; U-507; U-530 (1942); U-571; U-977; U-1230; Vigo; Waffen-SS; Walther von Brauchitsch; Wehrmacht; Wernher von Braun; Wilhelm Canaris; Winston Churchill; 1942 na política. JORNAIS CITADOS A Crítica (Buenos Aires); BBC (Agência de Notícias Internacional); Diário de Notícias (Rio de Janeiro); Diário do Gran165


Segredo que poucos conhecem

de ABC (Santo André); EFE (Agência de Notícias Internacional); Express (Londres); Folha de S.Paulo (São Paulo); Jornal do Commercio (Recife); La Mañana del Sur (Neuquén); The New York Times (Nova York). REVISTAS CITADAS Radiolandia (Argentina); Ultima Clave (Argentina). REVISTAS CONSULTADAS História em Curso (Editora Minuano) - Nº 7, “EspionagemOs documentos secretos do FBI na 2.ª Guerra”, c.2011. Mergulho - Nº 171, outubro de 2010. Revista do Clube Naval - Nº 367, julho a setembro de 2013. Revista Marítima Brasileira, v. 131 n. 10/12, outubro/ dezembro de 2011. Subsídios para a História Marítima do Brasil (Imprensa Naval) - Volume VI, 1948. Super Interessante (Editora Abril) – Nº 282, setembro de 2010. VÍDEOS “A Marinha do Brasil na 2ª Guerra Mundial”, documentário produzido pelo capitão-de-corveta Sá Barreto e pelo suboficial-ET João Batista, c.2011. 166


O mistério do Cruzador Bahia

“Hunting Hitler”, documentário produzido pelo canal de TV (fechado) History Channel, 2015. “O Brasil na Batalha do Atlântico”, documentário dirigido por Erik de Castro, 2012.

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SOBRE OS AUTORES



O mistério do Cruzador Bahia

Lauro Indursky, advogado, ex-promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), faleceu em fevereiro de 2015, aos 82 anos. No mesmo ano, foi homenageado pela Associação Paulista do Ministério Público (APMP), que batizou com seu nome a Série Cível do concurso “Melhor Arrazoado Forense – versão 2015”, tendo sua viúva, Catarina Kava, comparecido à cerimônia de premiação no Casa Grande Hotel, no Guarujá (SP).

Marcos Palhares, jornalista, 42 anos, é assessor de imprensa da APMP desde 2013. Formado pela Pontifícia Universidade Católica de (PUC-Campinas), atua como profissional de comunicação desde 1994, como repórter, redator, subeditor e editor de textos informativos, newsletters e releases para jornais, revistas, sites, agências de assessoria de imprensa e de comunicação corporativa, órgãos públicos, escritórios políticos, entidades de classe e editoras.

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O mistĂŠrio do Cruzador Bahia

Capa de um dos cadern0s feitos manualmente por Lauro ­Indursky

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O mistério do Cruzador Bahia

Página de um dos esbços feitos por Lauro Indursky para este livro

Anotações de Lauro Indursky feitas em um dos livros consultados 175




ÃO DE QUA AÇ LI IC

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No dia 4 de julho de 1945, explodiu e afundou, próximo ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, no litoral brasileiro, o Cruzador Bahia, matando 336 tripulantes. É o maior desastre naval do Brasil. Depois de cogitar o choque do navio com uma mina flutuante, o Ministério da Marinha brasileiro concluiria que foi um acidente, provocado por disparos involuntários de metralhadora sobre bombas de profundidade armazenadas no navio. Mas ainda hoje, mais de sete décadas depois, inúmeras informações e afirmações pouco exploradas colocam essa versão oficial em cheque. Muitos pontos obscuros, mal explicados – ou não explicados – nos levam a refletir sobre esse mistério de 70 anos, um segredo que poucos conhecem. Este livro, fruto de pesquisa livre, sem caráter jornalístico ou acadêmico, é o exercício desses questionamentos, a partir de uma ampla compilação e conexão de fatos, informações, publicações e relatos sobre aquele período - um momento histórico de interesses conflitantes.

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