Jornal 30 de Agosto Nº 207

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Entrevista: O que esperar de 2017

appsindicato.org.br APP-Sindicato @appsindicato

Hermes Silva Leão, presidente da APP-Sindicato fala dos desafios e perspectivas para o próximo ano.

@appsindicato appsindicato

Ano XXV - Nº 207

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30 de Agosto DEZEMBRO de 2016

Foto: Paulo Henrique de Jesus

Jornal da APP-Sindicato dos(as) Trabalhadores(as) em Educação Pública do Paraná

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Eles(as) sabem o que fazem Foto: Aline D’avila de Lima

Estudantes mostram ao Brasil como resistir em tempo de ataque aos direitos.

Lutar e resistir! “Presentes” dos governos estadual e federal prejudicam servidores(as) e a população nos próximos anos. Pág. 04

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Um sindicato mais participativo! Congresso da APP moderniza estatuto. Menos burocracia e mais participação da categoria nas decisões do sindicato.


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EDITORIAL

Em tempos de individualismo, de fragmentação das pautas e de polarização da sociedade, a luta sindical continua atual e relevante. Os ataques aos direitos dos(as) trabalhadores(as) que se aprofundaram, principalmente neste ano, caracterizaram também o retrocesso na democracia. Ao longo da história, podemos constatar que os direitos sociais avançam em períodos em que a democracia é aprofundada. O recuo no processo democrático, que acontece atualmente no Brasil, tem implicado na retirada de direitos dos(as) trabalhadores(as) e dos mais pobres. A PEC 55 aprovada recentemente no Senado Federal, promove um retrocesso de décadas ao retirar da Constituição Federal os investimentos mínimos em serviços públicos, como saúde e educação, por exemplo. É uma inversão do papel do Estado como principal promotor das políticas públicas. Estes serviços beneficiam a maior parte da população brasileira, que depende do Estado para ter acesso a eles. Não resta dúvida de que há uma pressão de setores do empresariado e da indústria nacional aliados à imprensa financiada por estas mesmas entidades para que direitos dos(as) trabalhadores(as) sejam retirados. O objetivo, porém, é manter o seu patamar de enriquecimento e lucratividade. Essa máxima se reproduz, infelizmente, em todo o país. Para conter a crise em que se afundaram os Estados nos últimos anos, a opção dos governos é prejudicar a maioria da população, com o aumento de impostos e a retirada de direitos dos(das) trabalhadores(as). Nenhum governo fala, porém, em suprimir os chamados incentivos fiscais das grandes empresas, ou em diminuir e cortar os privilégios dos cargos de alto escalão, em

Tabelas Salariais

Foto: Joka Madruga

A luta continua e é coletiva

setores como o próprio executivo (com seus milhares de cargos comissionados contratados sem concurso), ou do judiciário com altos valores pagos em auxílio-moradia, por exemplo; e também do legislativo, como suas verbas de gabinete. Isso sem contar que investigações de denúncias de desvios de recursos públicos como a operação Quadro Negro encontram-se paradas no Paraná. A campanha salarial da APP-Sindicato deste ano dialogou com este sentimento. Sob o foco de “Nenhum direito a menos”, a luta da nossa entidade se pautou pela resistência para não perder direitos duramente conquistados. Neste final de ano isso se tornou mais evidente. A opção do sindicato foi de defender o direito de todos(as) prioritaria-

mente em contraponto à proposta do governo de atacar o direito de todos(as), ao anunciar apenas o pagamento de progressões e promoções devidas a 81 mil dos cerca de 300 mil servidores(as). Fizemos isso até o último momento na Alep e continuaremos agora na justiça nossa luta pelo direito à reposição salarial de todos(as). A luta foi, é e continuará sendo coletiva! Que em 2017, o respeito e a união continuem sendo os alicerces para a construção de um novo tempo! Direção Estadual da APP-Sindicato

EXPEDIENTE APP-Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná - Filiada à CUT e à CNTE. Av. Iguaçu, 880, Rebouças, Curitiba / PR - CEP 80.230-020 - Tel.: (41) 3026-9822 | Fax: (41) 3222-5261 Site: www.appsindicato.org.br. Presidente: Hermes Silva Leão | Secretário de Comunicação: Luiz Fernando Rodrigues | Assessor de Comunicação: Tiago Tavares Somma | Jornalistas: Aline D’avila de Lima, Fabiane Lourencetti Burmester (4305-PR), Uanilla Pivetta (8071-PR) e Valnísia Mangueira (893-SE) | Projeto Gráfico e diagramação: Rodrigo Augusto Romani (7756-PR) | Técnica em atendimento (fale conosco): Valdirene de Souza | Monitor de redes e mídias sociais: Luan Pablo Romero de Souza | Revisão: Carlos Barbosa e Antonio Frutuoso | Impressão: WL Impressões | Tiragem: 80 mil exemplares. Gestão Somos mais APP – Em defesa da Escola Pública (2014-2017) • Hermes Silva Leão - Presidente • Vanda do Pilar Santos Bandeira Santana - Secretaria Geral • Arnaldo Vicente - Secretaria de Política Sindical • Walkíria Olegário Mazeto - Secretaria Educacional • Nádia Brixner - Secretaria de Funcionários • Marlei Fernandes de Carvalho - Secretaria de Finanças • Mariah Seni Vasconcelos Silva - Sec. Adm. e Patrimônio • Celso José dos Santos - Secretaria de Assuntos Municipais • Luiz Fernando Rodrigues - Secretaria de Comunicação • Mario Sergio Ferreira de Souza - Secretaria de Assuntos Jurídicos • Valci Maria Mattos - Secretaria de Aposentados • Alfeo Luiz Capellari - Secretaria de Políticas Sociais • Tereza de Fátima dos Santos Rodrigues Lemos - Secretaria de Organização • Janeslei Albuquerque - Sec. de Formação Política Sindical • Rose Mari Gomes - Secretaria de Sindicalizados • Elizamara Goulart Araújo - Sec. de Gênero, Relações Étnico-Raciais e dos Direitos LGBT • Ralph Charles Wandpap - Secretaria de Saúde e Previdência.


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Dezembro/2016

APP-Sindicato em 2016:

por nenhum direito a menos!

Quais as cenas dos próximos capítulos? Dezembro XII Congresso Estadual da APP Aprovação do Calote do Governo Reforma do Ensino Médio Ocupa Brasília Consciência Negra

Novembro Greve da categoria Ocupação das escolas XIX Encontro Estadual de Aposentados

Outubro Contra a falta de 29 de abril

NÃO SE RETIRA. SE AMPLIA.

Setembro Mudanças governamentais Golpe Vinte e oito anos “30 de Agosto de 88” Escola sem mordaça Caravana pela Educação Circo da Democracia

Agosto Caravana pela Educação Ato Estadual do 30 de Agosto

Recordar é viver. Reavivar a memória é dever e nos faz avaliar o que passamos para apontar caminhos para o futuro. Assim, segue a linha do tempo da APP-Sindicato neste ano. De janeiro a dezembro, foram dias de enfrentamento e luta por direitos, pela melhoria na qualidade da educação pública e contra os retrocessos e desrespeito aos(às) profissionais da educação no Brasil. Quando o ano inicia com o pagamento da data-base, repondo a inflação referente a 2015 e que garantiu o zeramento da inflação do período, a impressão era de que os embates seriam menores, principalmente pelo cumprimento de um direito estabelecido em lei. Propostas foram encaminhadas e negociações foram abertas. No entanto, como é possível dialogar e obter respostas positivas quando o governador Beto Richa (PSDB) não cumpre o que promete? A Caravana pela Educação, realizada pela direção estadual e pelas direções regionais, foi outro marco importante de luta. Mais de 1000 escolas visitadas em todo o Estado, com atividades em 26 Núcleos Sindicais, de 7 de julho a 30 de agosto. Foi um instrumento de resistência em um período intenso em que o governo pune os(as) servidores(as) e ameaça retirar os direitos. Diante da ameaça do não cumprimento do pagamento da data-base em 2017, com o envio à Alep

por parte do governo da mensagem 43, deflagramos greve por tempo indeterminado no dia 17 de outubro. Foram 15 dias de greve, de muitas ações e mobilizações e que fizeram com que o governo revertesse a medida inicial com a retirada da mensagem 43 e abrisse negociação. O encerramento da greve não significou que o calendário de mobilizações contra a retirada de direitos dos(as) educadores(as) e estudantes se encerrou. Ao contrário, ações e movimentações recheiam a pauta de atividades da APP. Agora, olhos abertos para temas que seguem em tramitação e que estão prestes a ter novos encaminhamentos: Proposta de Emenda à Constituição (PEC 55, antiga PEC 241) - corte de investimentos públicos, a Medida Provisória (MP 746) - Reforma do Ensino Médio, o Projeto de Lei da Câmara (PLC 54, antigo PLP 257) - Renegociação das Dívidas dos Estados, e o Projeto de Lei (PL 867/16, Lei da Mordaça) - “Programa Escola Sem Partido”. Para o atual governo ilegítimo do presidente Michel Temer (PMDB) isso é uma forma de “reequilibrar” as contas públicas. Nossa resposta à ameaça de retrocesso será muita luta e resistência. O momento é de reflexão para entrar em 2017 reafirmando nossa pauta histórica de luta. Pedras vão existir, mas com a união da categoria e dos(as) profissionais da educação, lutaremos contra os ataques. Coletividade é a palavra mestra!

Julho Dois anos de PNE Lançamento do livro “A Resistência ao Golpe de 2016” Operação Quadro Negro

Junho Mobilização contra lançamento de faltas Cadê a merenda? Programa de Formação da APP Nomeação professores(as) aprovados(as) Concurso 2013 Retirada do projeto “Adote Uma Escola”

Maio Lançamento livro “29 De Abril Repressão e Resistência”

Abril Luta em defesa dos direitos das mulheres Ato Estadual do 29 de Abril

Março Volta às aulas: o que esperamos? Mobilização Campanha Salarial “Adesivaço” contra inimigos(as) da educação Um ano do camburão dos(as) deputados(as)

Fevereiro XII Congresso Estadual da APP Pagamento Data-base (10,67%)

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Um governador que nã Foto: Joka Madruga

Ao mesmo tempo em que se gaba de fazer ‘milagre’ na economia do Paraná, Richa continua tratorando direitos dos(as) servidores(as)

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Beto Richa (PSDB) já é conhecido na população como um governador que não cumpre o que promete. Segundo matéria do jornal Gazeta do Povo, publicada em agosto de 2014, o governador deixou de cumprir 54% dos compromissos que assumiu na campanha ao governo de 2010. Com a nossa categoria não foi diferente. O governo tentou, através da justiça, acabar com o cargo de 40 horas e quis, em fevereiro de 2015, acabar com as carreiras dos(as) servidores(as). Assumiu compromissos, inclusive diante do judiciário, de não retirar direitos do funcionalismo e pouco mais de um ano depois anunciou que não cumpriria com o que assinou.

Ataques, tão imorais quanto o do 29 de abril, continuam sendo praticados por este governo.

Ajuste fiscal de Richa custou quase R$ 2 bilhões aos(às) servidores(as)

O

ajuste fiscal realizado em 2015 foi inédito no país e sacrificou servidores(as) e a população, deixando de fora diretamente o grande empresariado, os poderes executivo, legislativo e judiciário além do Ministério Público que continuaram a receber os mesmos repasses, apesar da diminuição de recursos em outros setores. Este ajuste aumentou impostos pagos pela população como ICMS e IPVA (que foi reajustado em 40%) e também sequestrou recursos da previdência dos(as) funcionários(as) públicos(as) estaduais. Este último foi responsável por 77% de todo ajuste, totalizando cerca de R$ 1,8 bilhão somente no ano de 2015.

Com o anúncio do calote, a resposta foi a greve

C

ategorias de servidores(as) decidiram por paralisar atividades quando o governo do Estado enviou para a Assembleia Legislativa do Paraná emendas ao orçamento que retiram o direito à reposição da inflação para 2017. Nossa categoria, em assembleia no dia 12 de outubro, por ampla maioria decidiu parar as atividades até a retirada das emendas. Apesar de o governo anunciar a retirada da mensagem, mas sob a ameaça de retorno, educadores(as) reuniram-se novamente, no dia 22 de outubro, e, numa votação apertada, mantiveram a greve. Dirigentes estaduais e regionais se dedicaram a mobilizar ainda mais a categoria por mais uma semana. Em nova assembleia, desta vez realizada em 31 de outubro, mais de 80% dos mais de 3 mil educadores(as) presentes optaram por suspender a paralisação e manter a mobilização durante a retomada do processo de negociação do Fórum das Entidades Sindicais (FES).


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ão honra compromissos Quatro dias de mobilização na Alep

Segunda

21 NOV Terça

22 NOV Quarta

23 NOV Quinta

24 NOV

Acampamento foi montado na Praça Nossa Senhora de Salete. Centenas de servidores(as) participaram das atividades e acompanharam a sessão na Alep. À noite realizaram vigília e com velas acesas escreveram a palavra data -base na frente do Palácio Iguaçu.

Servidores(as), principalmente aposentados(as), visitaram os gabinetes dos(as) deputados(as) pela manhã e acompanharam a sessão da casa no período da tarde. Mesmo com a guerra de liminares, os(as) trabalhadores(as) mantiveramse na Alep para acompanhar e protestar até a última votação. 34 deputados(as) aprovaram a proposta do governo de suspensão da data-base por tempo indeterminado.

Mesmo sem tramitação da LDO, servidores(as) se mantiveram em frente à Alep. O advogado Ludimar Rafanhim mediou de um debate sobre a proposta de reforma da previdência.

Pela manhã o acampamento já estava cheio. Logo após o almoço, servidores(as) ocuparam a única galeria da Alep disponibilizada para eles(as). Sob vaias e protestos a sessão teve início, mas logo depois foi suspensa por outra liminar. Retomada às 18h30 foi novamente suspensa, numa manobra regimental para suspender a liminar. A sessão foi retomada algumas horas depois, com a suspensão da liminar por ordem do presidente interino do TJ. A proposta foi posta em votação e aprovada novamente pela base do governo. 18 parlamentares ficaram ao lado dos servidores(as).

A

o assumir o governo federal, Michel Temer (PMDB) e seus aliados na Câmara dos Deputados e Senado Federal, colocaram em prática um grande ajuste fiscal. Vários projetos que tramitam no Congresso Nacional visam a retirada de direitos dos(as) trabalhadores(as) e da população em geral, beneficiando setores empresariais e industriais. Os projetos já estavam previstos desde outubro de 2015, quando Temer, o PMDB e entidades - como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) - divulgaram o documento chamado “Ponte para o Futuro”, endereçado à então presidente Dilma Roussef como formas de contenção da crise. Após o impeachment, estas propostas foram retomadas e agora avançam em Brasília. Estas leis, se aprovadas, mudam completamente o caráter do Estado brasileiro. Desde a Constituição de 1988, direitos como os investimentos mínimos em saúde e educação foram garantidos em lei. A PEC 55 estabelece que os investimentos nestes setores possam ser congelados por até 20 anos. Isso significa menos recursos para serviços públicos que atendem a maioria da população brasileira. As medidas também significam a retirada de direitos dos(as) educadores(as) como ganho real de salários proporcionados pelo Piso Nacional Profissional Nacional (PSPN). Foto: Aline D’avila de Lima

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urante a tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LOA), servidores(as) de diversas categorias do funcionalismo público estadual se revezaram em uma mobilização que durava até a noite. Após a votação final, deputados(as) da oposição e independentes além dos sindicatos ligados ao FES anunciaram que irão à justiça com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI).

O ataque aos direitos dos(as) trabalhadores(as) é geral


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Resistência Estudantil Estudantes em luta. “Um outro mundo é possível” Foto: Paulo Henrique de Jesus

Durante ocupações, estruturas precárias nas escolas ficaram ainda mais evidentes no Paraná

Em outubro de 2016, a sociedade paranaense descobriu a força da luta estudantil no Estado. Aproximadamente 900 escolas públicas foram ocupadas no Paraná por estudantes indignados(as) com a Medida Provisória (MP) que modifica o Ensino Médio no país. A MP 746/2016, assinada por Michel Temer, foi imposta sem debate com educadores(as), pesquisadores(as) da área da educação, estudantes, comunidade escolar, sociedade em geral. Uma MP enfiada goela abaixo, sem qualquer debate e com mudanças estruturais, de método e conteúdo no Ensino Médio. As ocupações foram uma demonstração do descontentamento geral de estudantes da escola pública. Enquanto estavam sem aulas regulares, os(as) estudantes fizeram reformas na estrutura, faxinas, oficinas com debates sobre a comunidade e diversas atividades

que ensinam para além da sala de aula. Além das denúncias recorrentes que a APP-Sindicato e a sociedade fazem sobre a estrutura decadente das escolas, as ocupações também tiveram esse papel. No entanto, não foram somente os(as) estudantes que apresentaram denúncias da situação degradante em a escola pública se encontra. O Conselho Tutelar - distribuído em 45 conselheiros(as), com 5 em cada regional – visitou escolas ocupadas em Curitiba

e confirmou na prática o que os(as) estudantes sentem no dia a dia: as condições da escolas públicas são precárias. Não bastasse isso, o Conselho

“A minha pergunta inicial é: de quem é a escola? A quem a escola pertence?” Tutelar confirmou o que os cartazes e palavras de ordem dizem há anos, ainda consta-

taram que as ocupações eram pacíficas, com muita organização e cuidado com o patrimônio público. As ocupações deram visibilidade às investigações que apontam desvios de dinheiro público que a educação sofreu no Paraná. A operação Quadro Negro, que teve início em junho de 2015, investiga o desvio de mais de R$ 30 milhões de reformas e construção de novas escolas por vários municípios do Estado. Um esquema de corrupção que ainda está sendo investi-

gado, mas que já aponta indícios para onde foi o dinheiro de obras tão essenciais em comunidades que esperam por melhores condições nas escolas há anos. Se tem uma coisa que os(as) estudantes paranaenses fizeram foi luta. Gritaram alto sobre a injustiça de uma MP que afeta suas vidas, de uma estrutura que não permite uma educação de qualidade e o descaso de que a escola pública é vítima. O que se espera é que esse barulho continue ecoando até que o dinheiro desviado seja devolvido, que as pessoas responsáveis sejam punidas e que, finalmente, seja possível esperar um futuro melhor. Ana Julia, de 16 anos, esteve na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) no dia 26 de outubro e fez um discurso que repercutiu em todo o país. A estudante secundarista resumiu bem como foi o movimento nas escolas. “A minha pergunta inicial é: de quem é a escola? A quem a escola pertence? (...) Nós não estamos lá de brincadeira, nós sabemos pelo que nós estamos lutando, a nossa bandeira é a educação. A nossa única bandeira é a educação”, destacou.


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Finalizamos mais um ano de muita luta. E que venha o próximo! De acordo com o presidente da APP, professor Hermes Leão, momento histórico exige união “Se o presente é de luta, o futuro nos pertence!”, é o que dizia Che Guevara. E a frase é bastante adequada para a conjuntura na qual vivemos. Em entrevista ao 30 de Agosto, o presidente da APPSindicato, professor Hermes Silva Leão, avalia como foi o ano de 2016 para a categoria e o que devemos esperar para 2017. 30 de Agosto - Quais foram os principais desafios da APP neste ano? Hermes Leão - Dentre inúmeros desafios vale destacar que o ano de 2016 exigiu forte mobilização contra a retirada de direitos dos servidores públicos. Os projetos do governo que atacavam a carreira dos(as) servido-

res(as) encontraram guarida no aprofundamento da crise política e econômica onde quem deve pagar pela crise são os(as) trabalhadores(as). A bula amarga que o governo tenta impor sobre os(as) trabalhadores(as) encontrou resistências na categoria. A Caravana pela Educação, seminário sobre a conjuntura, o Congresso Estadual, com mais de 800 delegados(as) só na etapa estadual, somados às mobilizações, paralisações e a greve foram, todas, ações no sentido de resistir aos projetos nacional e estadual de retirada de direitos. Também foram ferramentas importantes de mobilização. Infelizmente a correlação de forças nacional e estadual é desfavorável

aos(às) trabalhadores(as). Assim, tanto Temer quanto Richa, conseguiram impor sua pauta. Não foi por falta de resistência. Se houve uma categoria que lutou contra o processo de desmonte do Estado brasileiro foi a nossa. 30 de Agosto - Para o próximo ano qual a expectativa da APP e principais reivindicações? HL - Em 2017, a APPSindicato completa 70 anos. Será um ano de desafios para os(as) trabalhadores(as) novamente. Entramos em um período em que direitos são ameaçados. Nosso papel, para além de resistir e disputar a sociedade contra a precarização das relações de trabalho e sucateamento dos serviços

públicos para colocá-los nas mãos da iniciativa privada. Esse cenário não é novo. Nos anos 90, a luta e resistência da classe trabalhadora foram determinantes para derrotar esse mesmo projeto. Como tarefa para o próximo ano teremos a realização de nossa Conferência de Educação. Olhar para os atuais projetos e políticas pedagógicas que atravessam a escola e propor uma alternativa classista, dos(as) trabalhadores(as). 30 de Agosto - Neste momento de lutas difíceis qual o papel dos(as) profissionais da educação e como conscientizar a todos(as)? HL - O primeiro deles é fazer a disputa com o projeto privatista também nas es-

colas, com os(as) estudantes e os colegas. Educar é um ato político e de assunção da consciência, já nos lembrava Paulo Freire. Não podemos prescindir destas tarefas em um momento que exige de todos nós a contraposição ao desmonte do Estado e de projetos como a “Escola sem partido” que querem calar nossas consciências. O segundo papel exigirá de todos e todas unicidade na defesa das pautas históricas que estão sendo ameaçadas pelos projetos de lei nacionais e que por certo chegarão ao Paraná. Só a mobilização é que fará resistência a estes projetos de desmonte. Se 2016 exigiu nossa luta e resistência, 2017 exigirá muito mais.

A APP me representa! Governo optou pelo ataque ao invés do diálogo com representantes da categoria Desde que ganhou as eleições, o governador Beto Richa(PSDB) fez uma opção de ataque aos direitos dos(as) trabalhadores(as), principalmente do serviço público. Já em novembro de 2014, antes mesmo de tomar posse,

o chefe do executivo enviou para a Alep um pacotaço de medidas com aumento em impostos como IPVA e ICMS. Mas este ataque já não é novidade. No governo Álvaro Dias, durante uma greve histórica que culminou com o fatídico “30 de Agosto”, em 1988, o discurso do então governador era de que o sindicato era ligado a partidos. Jaime Lerner optou por perseguir os(as) dirigentes e trabalhadores(as), suspendeu o

desconto da mensalidade sindical, e tentou sem sucesso desqualificar o trabalho da direção sindical dizendo que era um braço de um partido político. No governo Beto Richa, não há muita diferença. O governador não dialoga com os(as) servidores(as) e ataca o sindicato. Também tenta a todo custo colocar a opinião pública contra quem se coloca contra suas medidas. “Somos mais de 70 mil sin-

dicalizados na APP. Se todos fôssemos partidários como diz o governador, ele não estaria eleito”, ressalta o secretário de comunicação da APP, Luiz Fernando Rodrigues.

Além da luta em defesa dos(as) educadores(as), A APP-Sindicato oferece aos(às) sindicalizados(as) vários serviços como atendimento jurídico, convênio com planos de saúde, casas e colônias de férias. Para mais informações sobre como sindicalizar-se e como utilizar os serviços da APP, entre em contato com núcleo sindical mais próximo ou acesse os canais do sindicato na internet.


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Congresso da APP aprova novo estatuto do sindicato O sindicato realizou o seu XII Congresso este ano. Foram duas etapas (janeiro, em Foz do Iguaçu, e novembro, em Praia de Leste). Além do debate político, o congresso apro-

vou mudanças importantes no estatuto. Dentre as alterações, os(as) delegados(as), eleitos(as) em 29 congressos regionais, aprovaram por maioria, a ampliação do conselho estadual que passa a contar com o dobro de representantes a partir de 2018, a ampliação da direção, que apesar de ser o maior sindicato do Estado e

um dos maiores do país, conta com a menor direção entre sindicatos do mesmo porte; ampliação do mandato de 3 para 4 anos e mensalidade diferenciada para professores(as) PSS. Todas as alterações valem a partir da próxima gestão do sindicato, em 2017 e serão referendadas na próxima assembleia da categoria.

Falta 29 de Abril A APP-Sindicato continua na luta pela retirada desta falta. O governo alegou que a falta será mantida. Uma frente formada por vários(as) parlamentares apresentou um projeto para anistiar esta falta. O projeto tramita na Alep. Na última reunião com a Seed, a APP voltou a pautar com urgência o tema e a secretária informou que será retomado com o governo. Uma ação na justiça deve ser protocolada caso o projeto não seja aprovado.

Semana da consciência negra A APP-Sindicato disponibilizou em seu portal vários textos, artigos e vídeos para trabalhar o tema durante todo o ano letivo.

Governo tenta fechar programas e projetos Em novembro, o governo do Paraná suspendeu os programas e projetos de contraturno nas escolas públicas estaduais. A APP-Sindicato entrou em ação e juntamente com a denúncia de educadores(as), pais e mães, principalmente através da imprensa. O governo recuou e decidiu manter as atividades.

CUT e CNTE na luta contra a PEC do fim do mundo A PEC 55 (241) avançou no congresso nacional. Em 29 de novembro, a CUT, CNTE e outras centrais se mobilizaram em Brasília com outros movimentos para tentar barrar o projeto que altera a constituição federal e congela investimentos por até 20 anos.

Foto: Aline D’avila de Lima

Debate construído ao longo de quase dois anos leva a aprovação de mudanças estruturais da entidade

Agenda 2017 celebra os 70 anos da APP-Sindicato Todos os anos, a APP-Sindicato prepara uma agenda especial para a categoria. Em 2017 não será diferente, especialmente por conta da celebração das sete décadas de existência da entidade, que se tornou, com o passar do tempo, uma das maiores e mais importantes na defesa da classe trabalhadora do Brasil. Organizada pela Secretaria Educacional da APP, o tema da agenda é: ’70 anos de Luta e Resistência em Defesa da Educação Pública’. Nas páginas iniciais, foram traçadas linhas do tempo, demonstrando – através das décadas – o que estava acontecendo no Paraná e no cenário nacional. Os(As) interessados(as) em adquirir a agenda 2017 da APP devem procurar os núcleos sindicais ou a sede estadual do sindicato.


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