Simbologia romântica do espaço Frei Luís de Sousa de Almeida GARRETT
Disforia progressiva do espaço • Os ambientes onde a ação se desenrola vão-se tornando, de ato para ato, cada vez mais sombrios: de «uma câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete» (ato I), passase para «um casarão vasto sem ornato algum» na parte baixa do palácio de D. João de Portugal (ato III). Desta forma, a disforia progressiva do espaço acompanha a evolução trágica da ação.
Ato I
(Didascália inicial ) Palácio de D Manuel de Sousa Coutinho em Almada:
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Num primeiro momento, este espaço simboliza a paz, a riqueza e a aparente harmonia que dominam a família. No entanto, o incêndio (final do ato I) e a destruição do retrato de Manuel de Sousa Coutinho são já um prenúncio da catástrofe final.
Ato II
(de acordo com a didascália inicial do ato II) Palácio de D. João de Portugal, também em Almada:
• Este salão está imbuído de uma forte carga simbólica, não só pela quase ausência de luz pressagiando a catástrofe final, como também pelos retratos que, para além de aspeto nacionalista que transmitem (D. Sebastião, Camões), evocam um passado ameaçador que inviabiliza o presente e também o futuro.
Ato III
(de acordo com a didascália inicial do ato III) Parte baixa do palácio de D. João de Portugal:
• Os espaços foram-se progressivamente obscurecendo e afunilando, tornando-se severos e despojados. Este último local é bem o símbolo da morte e da impossibilidade de a superar, já que é a única saída para uma família católica que assume as suas convicções religiosas e sociais de forma clara e rígida, é a renúncia ao mundo e à luz. • Assim, e tal como o tempo, o espaço assume, logo desde o inicio, um carácter pressagiador do desenlace final, contribuindo também para a intensificação progressiva da tensão dramática.
FIM