V I VA Z I N E
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YOUTh power ISSUE 1
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Conteúdo FOTOGRAFIA Synchrodogs pag. 10 MODA Gosha Rubchinskiy pag. 14 ENTREVISTA Vejas KRUSEWSKIV pag. 34 ARTE Chad Wys pag. 40
V I VA ZINE
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ARTE Maria Aparicio Puentes pag. 46 Palavras Pra que serve Facebook? pag. 50
Expediente Samuel Araujo de Souza Luísa Maria Calbucci Renaux Renata Menegaz Marina Scarpari Tiragem: 03 ano: 01 4
www.viva-zine.tumblr.com 5
E DITO P
or muito tempo ouvimos falar sobre o comportamento da geração de pessoas nascidas entre a metade dos anos 80 até a metade da década seguinte os anos 90, a chamada geração Y, já foram considerados preguiçosos, inativos e até mesmo uma nova “geração perdida” de pessoas mimadas e confortadas com sua situação e as facilidades geradas por diversos fatores que contribuíram para isso. Todos concordaram com essas análises, até que como se um vulcão eclodisse em chamas e todos os hormônios inativos de uma geração eclodisse de uma vez só, é o que estamos vendo e vivendo nesse momento. Várias provas incontestáveis sobre visão política, social e artística, mostram que essa geração tem sim, tirado proveito das facilidas que as são oferecidas, a conexão com outras culturas, influenciando como vimos o mundo, a reciclagem de ideais as transformando em coisas totalmente inesperadas. É pra essa parcela da geração chamada “Y” que essa edição da VIVA ZINE celebra. É dedicada a
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ela as maiores transformações culturais desse século, os jovens como catalisadores de mudanças, transformadores de caminhos e visões que fazem isso realmente acontecer. Uma edição não faz jus as centenas de pessoas que compartilham seus trabalhos desde Cargo Collective ao Flickr e o Tumblr, aos reprodutores e produtores de ideias espalhados pelo mundo, mas unidos por uma única vontade de serem ouvidos e vistos. No campo visual, que nos interessa, vimos uma mistura do que é passado, com o que é presente e o que será o futuro, a mistura de influencias culturais o dinamismo e a infinita fonte de informações que somos sujeitos todos os dias tem como resultado mais caminhos e opções, uma mente aberta e criativa, os futuros profissionais da indústria se mostrando prontamente eficientes. Abrindo a edição o casal mais icônico da fotografia atualmente, os Synchrodogs, como são conhecidos, provam que podem sim, misturar a tradição secular de sua terra natal, a Romênia com um novo e original tipo de fotografia, uma fotografia
Virgilio Neto “Pequenos dicionário das coisas” www.virgilionet.com
O PODER DE SER JOVEM
de ação e sentimento. Outro fotografo promissor que destacamos é Vejas, um canadense de apenas 15 anos que mostra que a idade não o impede de ir até o Japão para beber da fonte minimalista que influencia tanto sua fotografia, conversamos com ele também, sem pretenção e com um clima de “chat” a entrevista pode ser vista na pag. 36. Nas artes plásticas Chad Wys reconstroi a arte academica, e Maria Aparício Puentes (re)constrói conexões que ela enxerga em fotografias . Contando com coloboradores jovens fotografos de todas as partes do mundo que ela acha primordialmente no Flickr, suas agulhas e linhas coloridas nos mostram um visão de alguém que pode ver além de uma simples fotografia. Multimidia, o russo Gosha Rubchinskiy usa como meio a moda, a fotografia e o cinema para retratar, e de uma certa forma, celebrar, os jovens esquecidos russos, analisar a nova coleção de sua marca Anglec para o verão de 2012 é como entrar no mundo desses jovens, ouvir uma voz antes calada, porém agora insurdessedora, página 17. Essa edição é indicada para você apreciar com a mente aberta, com vontade de ler a última página e sair para fazer alguma coisa, tirar uma foto, pintar um quadro ou até mesmo depor um ditador. Afinal, viva as transformações, viva o ditado que diz que a juventude é feita para fazer grandes besteira a primeira vista, mas que podem mudar o rumo de toda uma vida.
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ania Schcheglova e Roman Noven (o dueto ucraniano mais conhecido como synchrogods) estão entre nossos fotógrafos emergentes favoritos. Se você os considerar apenas como fotógrafos de moda, estará completamente fora de contexto. Suas fotos são possuídas por uma autentica inspiração e eles seriam capazes de quebrar com todos os padrões da fotografia de moda atual – pela originalidade das locações, a escolha dos temas e a experimentação que pode ser vista e sentida em uma única foto. Nós conversamos com Tania e aqui está o resultado. fotos: Roman Noven e Tanya Schcheglova Texto: Disturber Tradução: Samuel Araujo
V: Vocês têm tirado as mais belas e icônicas fotos na internet, nesse e no último ano. Elas tem uma autenticidade e inspiração, de uma rara criatividade em um mundo de fotógrafos previsíveis e controlados. Vocês conquistaram esses resultados em um pouco mais de dois anos. Quando vocês começaram a trabalhar juntos, tinham uma ideia do que queriam faze? T: Hm, nós não começamos como uma dupla de fotógrafos, primeiro nos apaixonamos e saindo juntos foi o que nos fez o que somos. Costumava ser mais simples um ano atrás, tirando fotos nas arvores, e agora a situação mudou drasticamente como se percebêssemos a importância do estilo e achamos nosso próprio estilo reconhecível. E o ambiente que vivemos nos faz criar tudo para fotografarmos nós mesmo, como nenhum designer pode ajudar em uma pequena cidade Ucraniana. E deus abençoe a cabeça do Roman que é tão parecida com a minha e pensa as mesmas coisas legais que eu, então nós nunca brigamos sobre o que é nosso estilo ou o que não é, nós só temos uma ideia e fotografamos.
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Quais são suas inspirações? Algumas ideias geralmente saem de pensamentos que nos ocorrem durante o dia ou além. Nós tentamos evitar muita internet para não corromper nossas ideias e para evitar cópias de coisas que já existem, então não lembramos nomes para chamar de inspiração e não visitamos blogs mais de duas ou três vezes na vida ao menos que tenha uma razão. O ponto é que nós estamos sempre indo a todos os lugares e todos os dias mantemos nossos olhos abertos.
Suas modelos expressam um olhar que parece misturar o Ocidente com a tradição bizantina ucraniana. É difícil ser equivalentemente criativo e excêntrico com modelos masculinos? Nós nunca dividimos nossos ensaios em masculino ou feminino. Sempre olhamos para as roupas de acordo com o lugar procurado e no final mulheres sempre parecem mais aceitáveis no mundo experimental da moda, como Roman com certeza vai parecer estranho deitado em uma lago congelado todo vestido em dourado. O negócio é
SYNCHRO DOGS
que há sempre lugares que nunca vão servir para um homem, para ser mais precisa, que nunca vão servir para o meu homem, e o público deve lidar com isso.
Depois da sua experiência com a Urban Outfitters, vocês estão planejando em mudar o foco mais para a fotografia de moda? Bem, se isso não é óbvio – sim, nós planejamos, mas não deixar ficar na fotografia clássica de moda que não pode sobreviver sem um estúdio e um fundo que não é real. Nós sabemos como usar toda a nova tecnologia fotográfica e luzes de estúdio, mas vamos deixar esse conhecimento guardado. Nós tentamos fazer essa moderna era da moda ir para a o underground, se transformar um pouco mais brega do que as pessoas estão acostumadas ver. Ao mesmo tempo nós temos projetos que não tem nada a ver com moda, mas são só sobre nós.
Destruir o pedestal no qual se põe a mulher e a trazer de volta para a realidade, isso um dia vai acontecer em suas fotos? 9
Se Vanga estava certa com sua profecia que todos morreremos em 2012, não haverá tempo suficiente para irmos tão baixo haha. Mas sempre tivemos essa energia excessiva para colocar nas fotos, então vamos deixar a as coisas como estão. Preferimos pensar que vamos a frente.
Quais são os fotógrafos que mais afetam vocês? A palavra “afeta” parece muito importante, há várias pessoas que respeitamos por seu talento, mas de qualquer forma não há nenhum nome que afetou ou mudou nossas direções. Estamos juntos dividindo olhares e formando ideias sobre o que vimos e sentimos.
Há algum assunto que vocês evitam nas fotos? Acho que não, como não temos vergonha e somos idiotas o suficiente para fotografar qualquer
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coisa que está pelado ou é estranho. Mas há sempre coisas que não estão de acordo com a nossa visão e gosto.
Descreva seu dia ideal. Acordar ao meio dia, comer sushi 3 vezes e acidentalmente passar perto de um lugar louco que alguém esqueceu seus acessórios excêntricos e roupas para podermos fotografar.
Para qual revista vocês gostariam de trabalhar? (A resposta para essa pergunta é sempre a mesma para todos trabalhando nessa área “estranha da moda”, não é?). Por favor pode ser a LOVE, um pouco pra Dazed e Vice, Purple fashion etc.
Entrevista originalmente publicada em ( http://disturber.net/ interviews-tanya-shcheglova-and-roman-noven-synchrodogs/)
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Gosha Rubchinskiy 12
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D Fotos: Gosha Rubchinskiy.
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esigner, fotografo e diretor de cinema, Gosha Rubchinskiy está revolucionando como vemos a moda, e a real influencia dos jovens nela. Criando mais do que moda, na verdade, seu trabalho é uma totalidade. Como um parâmetro para podermos comparar as subculturas da geração pós-soviética
onde o ortodoxo se encontra com o black metal, esporte e cultura skate. Rubchinskiy é um dos mais criativos talentos europeus emergentes, sua marca expressa a voz de uma juventude que tem se apropriado da cultura ocidental de uma forma peculiar e exclusivamente Russa. Após uma retrospectiva durante a Semana de moda de Berlin, Gosha
pretende agora lançar um livro com suas fotografias e lançar mais documentários sobre seu assunto preferido, a juventude russa. Sua marca chama-se Aglec, e apenas após mostrar três coleções para o público, ele já é considerado por muitos o novo retratista de transviados. E ele tem apenas 26 anos.
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FOTOS John Ciamillo e Billy kidd
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ATORDOADO E CONFUSO
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VEJAS KRUSEWSKIV
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ejas é um garoto de 15 anos que vive e estuda em Montreal (canáda), como qualquer garoto da sua idade ele gosta de internet, mas é mais esperto, vamos dizer, consegue tirar proveito dela. Ele gosta de fotografar, coisa e pessoas, experimentar novas composições, buscar em lugare diferentes inspirações para o seu trabalho. Se espelha na cultura oriental, no minimalismo e nas mulherres asiáticas que de acordo com ele são naturalmente sensuais. por Samuel Araujo V: Quando você começou a fotografar e por quê? Que tipo de câmera você usa? Vejas: Eu comecei a tirar fotos em Novembro do ano passado, e então decidi que queria levar mais a sério e deveria melhorar meu equipamento e comprei uma Canon Rebel T31 em Dezembro.
Muitas pessoas hoje em dia apenas compram uma câmera e postam suas fotos no Flickr, mas só por diversão. Você quer trabalhar com isso profissionalmente no futuro? Se não, quais são seus planos? Eu não me consigo ver fazendo outra coisa fora da área criativa ou gráfica realmente, embora moda seria meu primeiro objetivo e fotogra32
fia também.
Você tem várias fotos de si mesmo. Como você as tira? Quem são seus outros modelos? Haha, é por falta do que fotografar realmente, eu geralmente uso amigos como modelos. Por um lado eu vejo me fotografar difícil, arrumando o tripé sozinho e sem ter o ângulo e a composição exatamente como eu gostaria, mas por outro lado é uma experiência bem mais intimista de si mesmo.
imagem, então eu tento manter o mínimo possível. Dito isso, eu experimento coisas diferentes até algo de novo surgir.
Na sua vida, fora fotografia, quem mais te inspira?
É visível a inspiração gráfica no seu trabalho. Você pode falar mais sobre? Quais são suas maiores inspirações?
Eu gosto de sensualidade, que pode ser encontrada em todas as coisas, como nas formas de uma fruta ou a sensação de metalizado, é tão confortante. É a razão do meu fascínio pela mulher asiática, é por que elas são criaturas naturalmente sensuais. Eu acho que está no olhar. Nobuyoshi Araki é provavelmente uma das melhores em capturar a sensualidade.
Eu acho que o uso de elementos gráficos pode acrescentar ou retirar de uma
Eu também gosto do senso de composição da Vivanne Sassen, é libertador. Eu ten-
do a não gostar de pessoas que são inevitavelmente presas a mim como família, eu quero dizer, eu os amo, claro, mas não consigo me sentir presos a eles até certo ponto. Enquanto que Sassen me faz sentir sem limites, o que a arte deveria fazer, trazer de volta uma forte sensação de “ser”. Oops, acho que voltei a falar de fotografia. Na vida, a maior coisa que eu quero é independência que é, claro, impossível considerando minha idade. Também, motivação é um traço que eu considero muito atrativo nos outros. Não consigo pensar em nada mais sexy.
Você é focado em retratos, mas é interessado em foto33
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grafia de moda? Quais assuntos você evita nas suas fotos?
Leshkina e Celine Korte são talentos brilhantes.
Sim, muito. Com tanto que não pareça muito
Se você pudesse ser ouvido por todas as pessoas no mundo, o que você diria?
uma ferramenta de experimentar com personalidade, eu acho. Agora eu estou explorando a composição, especialmente natureza morta, é sempre composição!
Você é focado em retratos, mas é interessado em fotografia de moda? Quais assuntos você evita nas suas fotos?
Caramba, isso é estressante. Não sejam tão estressados!
Você quer ser conhecido internacionalmente por sua fotografia?
Vamos falar sobre internet, qual é a sua relação com ela? Você acha que com essa ferramenta você pode abrir e expandir sua mente, experimentar coisas novas? O que você está experimentando agora?
Claro!
Eu vejo a Internet como uma maneira de mostrar para um público maior seu trabalho e conhecer pessoas importantes, eu também reclamo MUITO ultimamente. É um pouco
Algo que vai agradar as pessoas esteticamente. E certamente eu ainda não conquistei nada de significante ainda!
Sim, muito. Com tanto que não pareça muito comercial, eu não quero parecer tão barato quanto o trabalho que deu para fazer aquelas roupas. Porém, eu nunca fotografaria um carro.
Há algum fotografo que você conheceu na internet e gostaria de compartilhar conosco? Sim! Maria Molko, Logan Jack, Tatiana 36
E finalmente, quando eu vi suas fotos pela primeira vez foi amor a primeira vista, que tipo de impacto você quer causar? E qual é a sua maior conquista?
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C H A DWYS
“Pintura de camponeses com tarjas coloridas” 2011 ; na página anterior “Noturno 18” 2011.
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Desconstrução é coisa que mais penso dentro e fora do estúdio. Academicamente, estou fazendo um estudo sobre teoria da arte e criticismo, e me recompenso escrevendo sobre os problemas e as conquistas ocorridas no universo da arte hoje e também no passado - eu gosto de pegar ideias contemporâneas e as colocar no passado considerando-as de uma nova maneira. Nos meus textos eu uso a teoria dos quadros para trazer um entendimento mais lúcido e dinâmico sobre cultura e como ela interage com a imagem que lá permeia. Uma vertente importante da maioria dos meus trabalhos, além das investigações sobre o que a arte significa socialmente, é a noção do objeto: o dono do objeto, objetivação da história, objetivação das pessoas, objetivação da obra de arte e seus vários meios, etc. Eu geralmente exploro a ideia do objeto:
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como nós decoramos nossas vidas arbitrariamente; também significantemente, coisas: como nós objetivamos os que amamos e os estranhos que vemos; como nós objetivamos dor e morte; como objetivamos histórias culturais complexas e sensíveis. Meu trabalho também, em seu núcleo, um experimento de composição, cor e forma. Eu escolhi como inspiração uma paleta de cores que é as vezes complementar e em outras destrutivamente contraditórias. A destruição literal de um objeto é secundário para todos os efeitos criados pela cor desarmônica e toda a estética de um objeto regenerado e reinventado pela experiência. Eu brinco abertamente com o fascínio de longínquas e agressivas novas cores e formas em contraste com as mais tradicionais configurações. Barreiras e obstáculos são assim cria
De cima para baixo: “Arranjo na cor da pele 4” e “Arranjo na cor da pele 7”; na página anterior “Processo de eliminação” 2011.
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dos entre o espectador e o objeto pela qual um deve negociar um entendimento sobre o que ambos mostram e escondem.”
Chad Wys, escritor e artista americano sobre seu trabalho e suas atuais pesquisas. Texto retirado de www.chadwys.com.
“Brutalized Gainsborough 2” 2009 na página anterior de cima para baixo: “Ela está em pedaços” 2011 e “Retrato de um senhor com uma tarja dourada” 2011.
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A artista chilena conta para VIVA seu processo criativo, de onve veio a ideia de colaborar com fotografos do Flickr e suas maiores inspirações no momento. Tradução: Renata Menegaz
maria aparicio puentes
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ocê trabalha principalmente com imagens dos outros. Você algum dia pretende trabalhar em suas próprias imagens? O que te fascina sobre uma fotografia e faz pensar que você quer usá-la?
De fato, tenho trabalhado desta maneira, em imagens de outras pessoas até hoje. Acho que vai exigir muito de mim ser capaz de conceber uma imagem interessante que me convide a trabalhar nela. A falta de tempo é o meu maior problema, pensar no que a imagem seria, tomar a cena perfeita, dispará-la, refazê-la se necessário, e então trabalhar com segmentos é um monte de trabalho que vai exigir de mim muito tempo também. Não vou descartar essa idéia, eu encontrei, em tirar fotos, um grande desafio e um dia eu vou fazer. Mas por enquanto, eu estou mais por explorar a relação que eu estou ganhando com minhas intervenções 44
e o que estou vendo. É por isso que eu estou trabalhando a partir de imagens que encontro, principalmente no Flickr. Para mim, esta imagem tem determinados padrões geométricos, seqüências e elementos que em minha mente, estão pedindo para ser conectados. Há muitas imagens incríveis e belas, mas, na maioria das vezes, eu acho muito difícil encontrar essa relação de elementos nelas e no que eu estou fazendo, nesses casos eu prefiro não intervir, a fim de não forçar ou impor algo porque se isso acontecesse me incomodaria muito. Eu acho que as obras que eu mais gostei, foram aquelas em que os pontos de origem realmente respondem aos elementos que eu encontro na imagem e as conexões são suficientemente evidentes. Aqueles em que as conexões entre pontos são absolutamente claras, e onde não tenho que mudar qualquer coisa.
Você parece ter uma preferência
por fotos em preto e branco para desenhar. Por que isso? É verdade, eu gosto de tratar imagens em preto e branco. Eu acho que é uma base mais «neutra» onde eu posso trabalhar e onde as relações que eu procuro enfatizar se destacam de uma maneira melhor. Eu também sinto que não estou trabalhando com o original e com isso, a necessidade de manter essa realidade. Tem acontecido de em certas colaborações, o autor da imagem me pedir para manter suas cores originais, e tem sido uma grande complicação, porque o que eu faço é imprimi-lo (a primeira mudança de tons), trabalhar nele e em seguida, digitalizá-lo (a segunda mudança de tons) e tentar recuperar a condição inicial nunca é convincente para o autor da fotografia como para mim. Desta forma, os tons originais dos segmentos mudam. Tudo muda e eu não gosto disso. Parece que as pessoas estão redes45
cobrindo a geometria em arte! Você se vê como parte de um movimento ou apenas sempre amou linhas etc, e por quê? É curioso o que você está dizendo e eu acho que está certo. Penso que pode se tornar mais interessante o significado de uma imagem através da sobreposição de informações, neste caso, a visualização da geometria. Para mim, certas obras provocam questões, mas também há outras em que sinto que não me comunicam nada de novo, como a superposição de um triângulo sobre a fotografia de uma paisagem que realmente não diz nada para mim. Eu não me considero uma parte de um movimento. Pode ser a minha formação em arquitetura que me levou a fazer isso, por prazer ou, 46
provavelmente, pelo simples fato de estar curiosa em relação às coisas e ter algum tempo livre. Trecho de entrevista para Honk! Magazine, dezembro de 2011. www.cargocollective.com/mariaaparicio puentes !
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Pra que serve o Fa c e b o o k ?
A
crescente influência das redes sociais nas vidas das pessoas não passa despercebida. Tampouco passa despercebido o fluxo constante de informações com que essas mesmas pessoas (e mais inúmeras outras) entram em contato por minuto. Jamais o mundo fora tão globalizado quanto agora. E as conseqüências disso são gritantes. Uma das mudanças é em relação ao tempo: o modo que nos relacionamos com ele mudou drasticamente. A frase tão amada pelos capitalistas, passada a ser usada no início da Revolução Industrial, “tempo é dinheiro”, talvez nunca tenha sido tão fácil de entender. Tudo é mais rápido, simultâneo, por vezes.
Para um banqueiro, num piscar de olhos em que se negligencia alguma notícia econômica, pode-se perder valores absurdos monetários. Informações podem ser trocadas (através da internet, ainda) de maneiras muito pouco “convencionais” - voltamos às redes sociais. Em seu início, eram apenas formas de bisbilhotarmos vidas alheias de uma maneira correta. Os usuários jorravam informações sobre eles e de fatos pouco importantes de seu dia-a-dia (que seja dita a verdade: 70% de seu uso – em tempo - ainda é restrito a isso). Porém, principalmente no ano passado, notou-se algo surpreendente: o uso das redes sociais em prol do puro “social”. Era a “Primavera Árabe”.
Iniciada em 18 de dezembro de 2010, na Tunísia, a Primavera Árabe tornou-se o que foi graças às mídias sociais. Para driblar censuras à internet e a repressão, jovens organizavam, publicavam e sensibilizavam a comunidade internacional com o uso de Facebook, Twitter, Tumblr e Youtube, ganhando, assim, o apoio e a conscientização mundial de jovens, adultos, mídia e governos. O sucesso das manifestações derrubaram o presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali; o presidente do Egito, Hosni Mubarak e o presidente Muammar Al-Kaddaf, da Líbia (que foi morto após ser capturado por forças rebeldes). Assim, somos levados a pensar nas vantagens existentes por trás dessas mídias. Porque à primeira vista, não passa muito além de uma brincadeira. Porém, o poder por trás de uma união, seja ela qual for (e independente de seu grau de força), é poderoso, e no caso dessa geração, mais veloz que de suas antecessoras. A informação, no mundo da internet, independente de que tipo ela for, é um fluxo interminável. Resta a nós aprimorarmos seu uso cada vez mais, em prol da humanidade. Texto: Luísa M. Calbucci Renaxu
Cocktail Molotov em formato de coração do designer Francis Baker. Foto: Divulgação
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