Architectura Magazine - MARÇO/ABRIL 2016

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EDITORIAL

Cruzada contra a indiferença – é nestes termos que Alejandro Aravena, recém-distinguido com o prémio Pritzker e comissário da edição 2016 da Bienal de Veneza, sintetiza a linha mestra a nortear o certame internacional de arquitectura que – ao abrigo do mote Reporting from the front - ora orienta. Em tais diferenças e indiferenças se esteia igualmente – tudo o indica - a presente era, quando em todos os domínios, imperam perplexidades e incertezas, dúvidas e receios, inquietações e assombros. Do domínio nobre e estrito da arquitectura – em que se sucedem inflexões de paradigmas, quedas de titãs, emergência de novos deuses de contornos difusos e vestes inauditas – ao campo minado da comunicação que vem congregando, a cada dia, novos cadáveres exquis, danos colaterais, soldados da fortuna e párias do infortúnio. É nesta no man land, neste cenário tão adverso quanto sedutor, que – em peleja contra a indiferença, em assumido contraciclo, em desafio ao conhecido e instituído, Architectura Magazine se propõe, de ora em diante, fincar posição, ganhar forma, fazer sentido. Devolver a arquitectos, projectistas, criadores, uma plataforma aberta, livre, plural, global onde se autorizam todas as expressões e se desejam todas as formas. Divulgar. Comunicar. Dar a ver. Dizer de novo. É esse o risco que assumimos. Ser, na comunicação como no mais – em prol de todas as diferenças, em afronta a todas as indiferenças – de novo arautos de todos os riscos. JOÃO MIGUEL FIGUEIREDO SILVA

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ferramentas directório de arquitectos

Como encontrar um arquitecto? simulador de custo de obra

Quanto pode custar uma obra? plataforma de encomenda

Se vai fazer uma obra, porque não lançar um concurso? Nós ajudamos.

ORGANIZAÇÃO

PARCEIRO ESTRATÉGICO

CO-PRODUÇÃO CONCURSOS TEMÁTICOS

CO-PRODUÇÃO BOAS PRÁTICAS

concursos

filmes boas práticas: estórias que ligaram clientes e arquitectos

habitar / sobreviver / transformar / ocupar

A arquitectura é feita de pessoas e estórias. Fomos à procura delas.

Não basta falar sobre a importância dos concursos. Há que promovê-los.

saiba tudo em

exposição e publicação 29 mar – 29 mai / Garagem Sul CCB e Ordem dos Arquitectos

Arquitectura em Concurso: Percurso crítico pela modernidade portuguesa

www.escolha—arquitectura.pt

CO-PRODUÇÃO ARQUITECTURA EM CONCURSO

PATROCINADOR

MARCA ASSOCIADA

APOIO

APOIO À DIVULGAÇÃO


CONTEÚDO

Museu da Fotografia de Elysée e Museu de Design e Arte Contemporânea Hotel Caminhos de Santiago Casa no Príncipe Real

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Filarmónica de Szczecin Casa Luz

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Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia – MAAT Recepção do Portugal dos Pequeninos Igreja Cristo Rei Bienal de Veneza

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Exposição Les Universalistes Estante

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ARQUITETURAS2016

REHABNATION12 -16 DE OUTUBRO

OPENCALL

1 DE FEVEREIRO - 1 DE MAIO

NÃO HÁ CINEMA SEM ARQUITETURAS ARQUITETURASFILMFESTIVAL.COM

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Editor - Founder Tiago Krusse Director João Migueç Figueiredo Silva Designers Lucas Fernandes Fotografia João Morgado – Fotografia de Arquitetura Redação, Administração e Serviços Comerciais Jardim dos Malmequeres, 4, 2.º Esquerdo 1675-139 Pontinha (Odivelas) | Portugal www.architecturamagazine.com Editora K Innovative Diffuser, Sociedade Unipessoal Limitada Jardim dos Malmequeres, 4, 2 ESQ 1675-139 Pontinha | Portugal NIPC: 513 314 652 Consultora Jurídica Dr. Maria de Lourdes Castelo Branco Contabilidade Auditoc

A fotografia de capa é da autoria de João Morgado – Fotografia de Arquitectura

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29 marรงo >> 29 maio

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ANDAIME

Numa época em que as revistas de arquitectura impressas tendem a desaparecer, em que publicações de referência se tornaram apenas meios para que accionistas e detentores de empresas de órgãos de comunicação pudessem lucrar sobre o trabalho mal pago e explorado de jornalistas, surge uma nova publicação digital focada no tema e de acesso livre. Mais um título que integrará o grupo de media K Innovative Diffuser, detentor da DESIGN MAGAZINE e da Design Magazine Brasil. É uma honra o facto do João Miguel Figueiredo Silva ter aceitado o desafio que lhe dirigi, não só pela amizade que lhe tenho como também pelo respeito profissional e pela admiração da experiência que acumula a escrever sobre o tema. Memória, que é tão fundamental em qualquer redacção! Sabemos que os próximos tempos serão marcados pelo investimento no nosso trabalho e na procura de entregarmos aos leitores uma publicação com informação isenta e de qualidade, ciente das afinidades e das discordâncias do seu grupo de trabalho, das suas idiossincrasias, das suas imperfeições. Entramos por um caminho novo, procurando dar pluralidade na observação e na aferição que voltamos a fazer aos domínios da arquitectura. Este primeiro número é um pequeno exemplo do que nos propomos entregar e ao mesmo tempo constituirá um registo que nos permitirá perceber as inúmeras afinações e evoluções que pretendemos e teremos de efectuar em prol dos mais diversos leitores interessados nas temáticas da arquitectura. Não é nossa intenção sobrepor-nos a quem quer que seja e não temos como fito pretendermos ser mais do que aquilo que somos: meros repórteres. É nosso desejo que todos os intervenientes, nacionais e estrangeiros, no campo da arquitectura possam, a partir de agora, cooperar com esta missão editorial. TIAGO KRUSSE

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MUSEU DA FOTOGRAFIA DE ELYSÉE E MUSEU DE DESIGN E ARTE CONTEMPORÂNEA

Projecto: Aires Mateus Imagens: Cortesia do atelier Aires Mateus

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Manuel e Francisco Aires Mateus vencerem o concurso para a construção do Museu da Fotografia de Elysée e do Museu de Design e Arte Contemporânea, localizados em Lausanne, na Suíça.

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Um Museu, dois museus, um espaço. Dois volumes maciços confinam um espaço. Um espaço vazio que se dilata e se comprime. Um espaço em permanente contacto com o exterior. Um espaço de entrada, de passagem, de pausa, Uma praça coberta que dá acesso aos dois museus. Duas massas de betão. Numa ondulação geométrica, aproximam-se, tocam-se, abrem-se. Pelo céu ou através do pavimento, encontram a sua luz, subtil, controlada. Entre elas, o espaço flutua. O Museu L’Elysée desenha o pavimento, o museu MUDAC, a cobertura. Dois museus e um espaço compõem um volume prismático, destacado por um vazio periférico dos restantes serviços. Estes, absorvidos pelo limite do terreno, libertam em torno do Museu o espaço necessário para encontrar a sua luz natural e para destacar a unidade do prisma a que dão vida. Um Museu, dois museus, é um ponto de partida. A ideia de que cada entidade é caracterizada por uma luz, um espaço. A ideia de que o valor arquitectónico do invólucro mais não é que o valor de preservar o seu conteúdo.

O objectivo do concurso era não só conceber um edifício para dois museus, mas antes de tudo, garantir uma solução urbana para o fecho da praça e para a ligação com a parte superior da cidade. O projecto consiste em condensar num único volume os dois grandes espaços de exposição (MUDAC e L’Elysée), através de dois volumes de betão sobrepostos, gerando entre eles um grande vazio, que concentra todas as áreas públicas comuns. A ideia do projecto não reside no desenho dos dois museus mas do espaço de tensão gerado entre eles.

Em torno deste volume principal, sem nunca o tocar, a forma irregular do terreno é preenchida por um volume secundário, que concentra todos os restantes serviços, que culmina numa cobertura ajardinada, de uso público, a partir da qual se desenvolvem duas escadarias que ligam a cidade à praça dos museus. Descrição: Aires Mateus

O museu situa-se no Pôle Museal, uma área obsoleta de apoio à gare ferroviária de Lausanne, que está em vias de ser convertida no novo pólo cultural da cidade, uma longa praça que se estende paralelamente aos caminhos de ferro, ao longo do MCBA – o novo museu de belas-artes, que deverá inaugurar em 2017.

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Nome do projecto

Equipas finalistas

Musée Cantonal de la Photographie (L’Elysée) et Musée de Design et d’Arts Appliqués Contemporains (mudac)

Aires Mateus – Portugal Anette Gigon / Mike Guyer – Suíça Jean Nouvel – França Caruso St John – Inglaterra Christian Kerez – Suíça Christ & Gantebein – Suíça Cruz y Ortiz – Espanha Dominique Perrault – França Emílio Tuñon – Espanha Graber Pulver – Suíça Local Architecture + Camilo Rebelo – Suíça/Portugal Lacaton & Vassal – França Nieto Sobejano – Espanha Peter Markli – Suíça RCR Aranda Pigem Vialta – Espanha SANAA – Japão Sauerbruch Hutton – Alemanha Shigeru Ban – Japão Steven Holl – EUA Valerio Olgiati – Suíça Wiel Arets – Holanda

Localização Lausanne – Pôle Muséal Data de construção (prevista) 2017-2020 Área de implantação 5960 m² Área de construção 14.500 m² Valor de obra 85.000.000 €

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HOTEL CAMINHOS DE SANTIAGO

Projecto: Aires Mateus Fotografia: João Morgado – Fotografia de Arquitectura

O projecto funda-se no entendimento claro do património em presença. Referimo-nos não só ao património construído, de inegável qualidade e rigor arquitectónico mas também ao património natural, cujo valor se tornou já um marco na região. De facto é neste frágil equilíbrio entre Natureza e Construído que assenta a qualidade do conjunto. A proposta tem como base a estrita manutenção desse equilíbrio, sendo por um lado discreto e misterioso e por outro o garante do funcionamento desta unidade hoteleira, agora com uma maior dimensão.

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Actua-se de modo a aproveitar a grande energia da relação Natureza / Artifício existente, potenciando a leitura de enquadramentos e envolvendo a construção e terreno num todo harmonioso, melhorando o sistema de vistas sobre o mar e sobre o aglomerado histórico de Santiago, designadamente através da criação de diversos terraços e esplanadas sobre a vista explorando ao limite as possibilidades climatéricas da região, com a natural protecção dada pelas árvores existentes. Descrição: Aires Mateus


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Nome do projecto: Hotel Caminhos de Santiago Localização: Santiago do Cacém (Portugal) Data do projecto - construção: 2004 - 2008 Autores: Francisco Aires Mateus e Manuel Aires Mateus Colaboradores: Sofia Chinita Janeiro, Miguel Pereira e Diego Calderon Cliente: Sociedade Caminhos de Santiago Engenharia de estrutura: Joel Sequeira Engenharia eléctrica: Carla Louro Construtor: Lena, Construções

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CASA NO PRÍNCIPE REAL

Projecto: Manuel Aires Mateus Fotografia: João Morgado – Fotografia de Arquitectura

Num legado existente valorizado pelas características particulares das paredes espessas e dos tectos abobadados, recupera-se o espaço, pondo em evidência as suas formas genuínas. Num pátio cria-se uma zona exterior e outra coberta com uma nova identidade, mas com o mesmo valor. A ausência de construção modela a iluminação e desenha a relação com o céu. Cria-se, protegido pelo inequívoco peso do contexto, um centro formado por luz. Descrição: Aires Mateus

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Nome do projecto: Casa no Príncipe Real Localização: Lisboa Data de contrução: 2007-2008 Autor: Manuel Aires Mateus Coordenação: Maria Rebelo Pinto Colaboradores: Pedro Ribeiro, Humberto Fonseca, Ana Maria Lopes e Miguel Pacheco Cliente: privado

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FILARMÓNICA DE SZCZECIN

Projecto: Barozzi / Veiga Fotografia e Imagens: Cortesia da Fundação Mies van der Rohe

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A nova Filarmónica de Szczecin, na Polónia, com projecto do atelier Barozzi/Veiga, foi distinguida com o Prémio da União Europeia para a Arquitectura Contemporânea – Prémio Mies van der Rohe 2015. O auditório está localizado no local histórico do antigo konzerthaus que foi destruído durante a Segunda Grande Guerra Mundial. A nova construção recompõe uma esquina urbana de um bairro próximo da histórica cidade de Szczecin. O edifício integra um auditório para orquestra sinfónica com capacidade para mil espectadores, um auditório para música de câmara com capacidade para 200 espectadores, um espaço multifuncional concebido para a realização de exposições e conferências e um amplo foyer que também pode ser utilizado para receber eventos. O edifício caracteriza-se por um volume sintético e ao mesmo tempo complexo sendo resolvido através de um percurso contínuo que interliga todas as suas funções conjuntamente um caminho público, simples, por todos os seus pisos. No exterior, tal como

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fora a construção pré-existente, a verticalidade e geometria do telhado prevaleceu. Estas características identificam a Filarmónica no seu contexto urbano envolvente. A Segunda Grande Guerra Mundial destruiu 63% da cidade de Szczecin e até essa altura a cidade polaca guardava todo um património arquitectónico em que se faziam notar as presenças suecas e prussianas. Numa altura de dificuldades económicas e financeiras, a edilidade decidiu investir na cultura reforçando dessa forma os elos sociais de uma comunidade mas não escondendo o objectivo da Filarmónica se tornar um atractivo turístico para a região como também para visitantes mais longínquos. O Prémio Mies van der Rohe distingue uma vez mais a boa arquitectura enaltecendo também o investimento cultural e social de uma cidade com uma comunidade interessada em recuperar e reformar a sua identidade.


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Nome do projecto: Filarmónica de Szczecin Localização: Szczecin – Polónia Área de construção: 13,000 m2 Custo/m2: 2,310 Euros/m2 Data de Construção: 2011-2014 Autor: Fabrizio Barozzi e Alberto Veiga Equipa do projecto: Pieter Janssens, Agnieszka Samsel, Marta Grzadziel, Isak Mayor, Petra Jossen, Cristina Lucena, Critina Porta, Ruben Sousa Colaboradores: Studio A4 – Jacek Lenart. Boma e Fort Polska. Gla Engineering e Elseco. Arau Acustica. Ferrés arquitectos. Anoche 85


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CASA LUZ

Projecto: Arquitectura – G Fotografia e Imagens: Cortesia da Fundação Mies van der Rohe

O atelier Arquitectura – G ganhou o Prémio Arquitecto Emergente atribuído pelo Prémio da União Europeia para a Arquitectura Contemporânea – Prémio Mies van der Rohe 2015, por este projecto denominado Casa Luz, uma habitação unifamiliar localizada e, Cilleros, Cáceres, em Espanha, perto da fronteira com Portugal. O dono da obra queria uma casa cheia de luz natural e que mantivesse uma relação próxima com os exteriores e o pátio. Os quatro pisos existentes denotavam falta de luz e uma ventilação. Os requisitos específicos na reforma exigida associados a um orçamento baixo guiaram a equipa a uma estratégia de simplificação e de depuração do projecto de design. Esvaziando o interior da estrutura existente, manten-

do as fachadas de pedra e recuperando as paredes divisórias, programou-se uma nova casa em torno do pátio. O trabalho de campo foi alicerçado no conhecimento local e na confiança ao utilizar materiais de construção naturais adaptados ao contexto económico e geográfico. Em torno do pátio os quatro pisos são construídos em diferentes níveis tendo cada um deles um único propósito de uso. A estrutura e a construção são muito simples, num trabalho efectuado para fazer sobressair toda a materialidade e criar deliberados contrastes de texturas irregulares. As cores da cerâmica e do verde da árvore tornam-se predominantes. A luz ao incidir nelas produz diferentes sombras nas paredes e no pavimento. 87














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Nome do projecto: Casa Luz Localização: Cilleros - Espanha Área de construção: 136,50 m2 Custo/m2: 490 Euros/m2 Data de Construção: 2011-2014 Autor: Arquitectura – G, Jonathan Arnabat, Jordi Ayala, Aitor Fuentes, Igor Urdampilleta Cliente: Luz Almeida 101


MUSEU DE ARTE, ARQUITECTURA E TECNOLOGIA – MAAT

Projecto: AL_A Imagens: Cortesia de AL_A

O Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia – MAAT, em Lisboa, é um projecto do atelier AL_A e tem abertura agendada para os dias 4 e 5 de Outubro de 2016. A Fundação EDP nomeou Pedro Gadanho como director do museu e tem como propósito tornar-se referência cultural da cidade.

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A Fundação EDP vai abrir em Lisboa o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia – MATT, um projecto do atelier AL_A dirigido pela arquitecta Amanda Levet, nos dias 4 e 5 de Outubro de 2016 com a exposição Utopia/Dystopia, Part 1: Dominique Gonzales-Foerster. Para a direcção do novo museu foi nomeado, em Outubro de 2015, Pedro Gadanho, arquitecto e escritor, cuja última ocupação foi a de curador do departamento de arquitectura e de design do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. O desígnio da fundação da companhia de electricidade para a sua nova estrutura é tornar

o MATT como local cultural de referência de Lisboa através de uma programação direcionada ao grande público e que focará a cultura contemporânea numa combinação de artes visuais e multimedia, arquitectura e cidade, tecnologia e ciência, sociedade e pensamento. A arquitecta Amanda Levete expressou que “ao compreender a ambição da Fundação EDP para Lisboa, o projeto da AL_A para o MAAT baseia-se no contexto do local, criando ligações físicas e conceptuais que se repercutem da marginal até ao coração da cidade”.

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Memória descritiva Situado numa localização privilegiada nas margens do rio Tejo, o MAAT será o ponto central dos 38 000 m2 do campus da Fundação EDP. O MAAT estende a sua programação à Central Tejo, edifício dos inícios do século XX que até aqui funcionou como Museu da Eletricidade. O museu vai, assim, acolher um vasto programa de exposições temporárias que terão lugar na kunsthalle e na Central, bem como exposições permanentes de ciência e eletricidade. Com o seu património exclusivo, uma coleção de arte portuguesa em expansão e um programa de exposições inovador, o novo campus da Fundação EDP será um local de descoberta, pensamento crítico e diálogo internacional. O novo edifício kunsthalle MAAT, desenhado pelo ateliê AL_A, irá criar espaços de exposição sob uma graciosa cobertura ondulante, concebida para criar um novo espaço público sobre as galerias. O

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projeto irá renovar o acesso à zona ribeirinha de Belém a partir da cidade e consolidar a regeneração urbana global do bairro. Incorporando mais de 7000 m² de espaço público novo, a kunsthalle irá proporcionar um novo espaço discursivo da cidade, que poderá liderar a discussão sobre a evolução de Lisboa e de Portugal, nem contexto internacional. A resposta do AL_A vem tirar partido dos ativos naturais da marginal, enquadrando uma narrativa arquitetónica que é sensível simultaneamente ao seu património cultural e ao futuro da cidade. Inspirado na riqueza do património material de Lisboa, a calçada portuguesa é subtilmente reinterpretada aos nossos pés e usada para fundir os novos espaços públicos com a textura existente das ruas da cidade. Assente na rica tradição cerâmica portuguesa, azulejos 3D compõem a fachada e produzem uma superfície complexa que incorpora água, luz e sombra, capturando e ampliando as qualidades dos tons da luz deste lugar.


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MUSEU DE ARTE, ARQUITECTURA E TECNOLOGIA – MAAT

Projecto: AL_A Imagens: Cortesia de AL_A

O concurso de ideias para o novo edifício da recepção do Portugal dos Pequeninos, em Coimbra, foi ganho pelo Subvert Studio. A competição de ideias promovida pela Fundação Bissaya Barreto lançou o convite a 25 jovens arquitectos para a estrutura que enceta uma primeira etapa no projecto de expansão do parque temático.

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A Fundação Bissaya Barreto promoveu um concurso de ideias para o novo edifício da recepção do Portugal dos Pequeninos, em Coimbra, convidando 25 jovens arquitectos com obra feita. Das onze propostas apresentadas a concurso venceu o conceito do Subvert Studio, iniciando-se assim a primeira etapa no projecto de expansão do parque temático que irá desenvolver-se de forma faseada no decorrer dos próximos anos. O júri do concurso de ideias de arquitectura para o novo edifício de receção do Portugal dos Pequenitos, constituído por representantes da Fundação Bissaya Barreto, da Câmara Municipal de Coimbra, do Turismo do Centro de Portugal, da Direcção Regional de Cultura do Centro, da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Coimbra e da Consultal, elegeu de forma consensual a proposta apresentada pelo Suvert Studio. Os critérios subjacentes à escolha foram: o valor icónico e filosófico – criatividade e diferenciação; o valor funcional – articulação entre os requisitos operacionais do edifício, a envolvente e o parque; a solução construtiva; a exequibilidade da solução proposta tendo em conta o custo. O projecto vencedor remete para as formas das velas das embarcações dos Descobrimentos, e reflecte a diversidade e a vontade portuguesa de viajar e partir à descoberta. O novo edifício situa-se no extremo oposto à actual entrada e cumpre várias funções: bilheteira, sala para festas de aniversário, área para pista de gelo/ringue de patinagem, loja e espaço de restauração. Permite ainda ao visitante a visualização sobre toda a área do Portugal dos Pequenitos. A área circundante de acesso ao edifício é beneficiada com espelhos de água e um percurso verde, alusivo à imagem de bosque e recuperando o desenho dos jardins clássicos, com recurso ao bucho, um elemento sempre presente na obra do Professor Bissaya Barreto. O envidraçado permite, à me-

dida que nos aproximamos, ver mais do interior do parque, numa crescente descoberta e aumento de expectativa. Os responsáveis do Subert Studio, Tiago Rebelo de Andrade, Diogo Ramalho e José Rico Sofia, exprimem que o projecto realça “a própria base da cultura portuguesa – o percurso, a viagem e as descobertas. Tal como o parque convida a este percurso de submersão nas raízes portuguesas, intimamente ligadas ao mar, às descobertas que este possibilitou, identificamos como ponto central da proposta interpretar este conceito de viagem, através de um olhar contemporâneo. A curiosidade que é tão inerente ao povo português é transposta para este universo sem tempo nem escala, através do olhar de uma criança. Desta forma, o Portugal dos Pequenitos simboliza esta viagem de (auto) descoberta do património e essência portuguesa. É um mundo sensorial, símbolo das demais dicotomias, interiores e exteriores, de uma descoberta. Uma máquina fora do tempo e de escala, as velas com vento sobre o mar instável, as próprias ondas do mar, um pássaro pronto a levantar voo, uma gare de encontros e desencontros ou a tenda que se levanta em acampamentos. Antecipando o universo criativo da criança, pretende-se um edifício que permita o despoletar de inúmeros processos de interpretação, onde poderá depositar empiricamente as suas memórias e criar novas e múltiplas associações. Esta interação e descoberta existe sobretudo através deste conceito de viagem. Se o parque é uma viagem, o nosso edifício desenha-se estável na terra e lança-se com as velas ao vento. É ponto de partida e simultaneamente de regresso, espaço de expectativa, de transição, mas também de estadia, de encontros, e reencontros. O edifício remete para as formas náuticas das embarcações dos Descobrimentos, simboliza o mar e, reflecte a diversidade e a vontade portuguesa de não se ancorar à terra, de partir numa viagem.”

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IGREJA CRISTO REI

Projecto: Paulo Merlini Arquitectura Imagens: Cortesia da Paulo Merlini Arquitectura

As igrejas são por definição espaços de comunhão, comunhão com Deus e com os outros, e no nosso entender a planta circular é a forma que melhor se adapta a este princípio. O círculo é a forma mais democrática de todas, sem hierarquias, a que melhor representa o princípio da igualdade entre os homens que a religião católica ortodoxa apregoa. Uma forma em consonância com uma das premissas base do pensamento católico. Todos os homens são iguais aos olhos de Deus. No entanto, e acima de tudo, a igreja é um espaço de comunhão com Deus, por isso distorcemos ligeiramente o círculo transformando todo o espaço numa grande elipse que abraça e direcciona as pessoas para Deus. Se o círculo é estático a elipse é veloz e direcciona. Para reforçar a ligação a Deus e ao reino dos céus levantámos uma das pontas do volume até os 33 m de altura, a idade em que Jesus se elevou novamente ao reino dos céus. No lado oposto, o da entrada, que se quis franca e com uma forte relação com a exterior, levantámos ligeiramente o volume de betão puro que desenha a igreja, criando assim o acesso para o interior. 108

Relativamente ao uso da luz natural, o elemento primordial na comunicação simbólica de Deus desde os primórdios da nossa cultura, deixamo-nos absorver pelo carácter misterioso da luz do barroco, criando entradas de luz zenital atrás dos arcos, sem nunca revelar a fonte luminica. E pela força e expressão da luz do gótico na nave central, onde uma série de aberturas na cúpula garantem a entrada de feixes de luz direta que dançam no espaço banhado pela luz estática das claraboias laterais. À noite estas aberturas ajudam a iluminar a nave central através de luz artificial, criando a ilusão de nos encontrarmos sob um céu estrelado. A laje de chão parte da cota de pavimento exterior e vai descendo muito ligeiramente ganhando simultaneamente alguma concavidade para reforçar o sentido de comunhão da nave central. A última ceia é um dos acontecimentos mais marcantes da vida de Jesus Cristo, por isso procurámos transportar de forma simbólica este momento para o espaço. Propomos assim a criação de doze arcos (os doze apóstolos) que se reúnem em torno do arco principal (Jesus Cristo). Descrição: Paulo Merlini


Igreja Cristo Rei Tipo: Comissionado Cliente: Privado Área: 2.500 m2 Localização: Sassandra / Costa do Marfim

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BIENAL DE VENEZA

A 15.ª edição da exposição internacional de arquitectura organizada pela Bienal de Veneza sob o título Reporting From The Front e dirigida por Alejandro Aravena vai decorrer entre 28 de Maio e 27 de Novembro de 2016 em Veneza, Itália.

Fotografia de Andrea Avezzù

Com abertura ao público agendada para Sábado dia 28 de Maio e estendendo-se até dia 27 de Novembro de 2016, a 15.ª edição da exposição internacional de arquitectura organizada pela Bienal de Veneza tem como mote Reporting From The Front estando a direcção sobre a responsabilidade de Alenjandro Aravena, o arquitecto chileno que venceu o prémio de arquitectura Pritzker 2016. A antestreia da exposição terá lugar nos dias 26 e 27 de Maio seguindo-se a 28 a inauguração ao público e a cerimónia de entrega de prémios. A exposição reúne a participação de 62 países dos quais cindo deles participarão pela primeira vez, nomeadamente Filipinas, Kazaquistão, Nigéria, Seicheles e Iémen.

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A exposição internacional Reporting From The Front será montada numa sequência unitária desde o pavilhão central até ao arsenal. Ela incluirá 88 participantes oriundos de 37 países diferentes, 50 dos quais participarão pela primeira vez e como nota de curiosa estatística relativa à idade dos arquitectos presentes salienta-se que 33 deles têm menos de 40 anos. A exposição internacional de arquitectura apresentará três projectos especiais, um primeiro promovido pela Biennale e os outros dois através de acordos estipulados com outras instituições. A exposição com curadoria do arquitecto Stefano Recalcati intitula-se Reporting From Marghera and Other Waterfronts e incidirá a sua atenção na regeneração urbana de


Fotografia de Andrea Avezzù

portos industriais. O acordo de colaboração com o museu Victoria and Albert de Londres dará lugar à exposição A World of Fragile Parts com curadoria de Brendan Cormier. A terceira exposição em antevisão à conferência mundial Habitat III das Nações Unidas a realizar-se em Quito, no Equador, durante o mês de Outubro de 2016, e integrando o programa Urban Age numa organização conjunta da London School of Economics e a Alfred Herrhausen Society apresentará na Sala de Armas um pavilhão dedicado aos temas da urbanização sob o tema Report from Cities: Conflicts of na Urban Age, com enfoque especial sobre a relação entre espaços públicos e privados, com a curadoria de Ricky Burdett. A programação deste ano, tal como tem sido hábi-

to em edições anteriores, apresenta durante todo o período da exposição pública um variado e alargado conjunto de encontros e conversas sobre as temáticas e os fenómenos escolhidos para a bienal. Dentro da programação um destaque também para as actividades educacionais que tem como propósito oferecer a partilhar conhecimentos a um leque variado de público do meio ou fora dele, profissional ou académico, empresas, curiosos ou até mesmo famílias. Por fim, salientamos a edição Reporting Form The Front, em dois volumes, o primeiro editado por Alejandro Aravena e o segundo consistindo um guia da exposição.

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EXPOSIÇÃO LES UNIVERSALISTES, 50 ANS D’ARCHITECTURE PORTUGAISE

Por ocasião das comemorações do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris (1965-2015) é apresentada a exposição Les Universalistes, 50 Ans D’Architecture Portugaise, com autoria e curadoria de Nuno Grande, que irá decorrer entre 13 de Abril e 29 de Agosto de 2016 na Cité de L’Architecture et du Patrimoine em Paris, França.

A arquitectura portuguesa ocupará um lugar de destaque em Paris, França, numa exposição na Cité de l'Architecture et du Patrimoine, coorganizada pela delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian, que abre ao público a 13 de Abril. Com autoria e curadoria de Nuno Grande, esta exposição propõe um olhar sobre meio século de pensamento e produção arquitectónica portuguesa, percorrendo o trabalho de arquitectos de referência como Fernando Távora, Alberto Pessoa, Manuel Taínha, Pancho Guedes, Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas, Álvaro Siza Vieira, Alcino Soutinho, Eduardo Souto de Moura, João Luis Carrilho da Graça, Manuel Graça Dias, e também de alguns dos mais prometedores arquitectos portugueses das últimas décadas, como Manuel e Francisco Aires Mateus, Paulo David, Paula Santos, João Mendes Ribeiro, Cristina Guedes e Francisco Vieira de Campos. Convidando a uma descoberta interdisciplinar, esta mostra estabelece relações com a filosofia, a literatura, as artes plásticas e até o cinema, para ilustrar a existência de um "universalismo" particular, latente na forma como os melhores arquitectos portugueses, de várias gerações, criaram as suas obras. Equilibrando o legado universal da história da arquitectura com os constrangimentos geográficos e culturais dos lugares onde se propuseram construir as suas obras, estes arquitectos fizeram uma fusão coerente e crítica entre aquilo a que hoje chamamos o "global" e o "local" – um universalismo que resulta de um contacto contínuo com uma geografia e uma cultura do "outro", baseado nas viagens, na colonização, na diáspora ou na emigração, fenómenos marcantes da história de Portugal.

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Estádio de atletismo e piscina olímpica em Bagdade, Iraque (1961-1966) Projeto de Francisco Keil do Amaral e de Carlos Manuel Ramos Fonte : Arquivo Fundação Calouste Gulbenkian Fotógrafo : desconhecido À direita “Teatro Azul”, Teatro Municipal de Almada, Portugal (19982005) Projeto de Manuel Graça Dias, Egas José Vieira e Gonçalo Afonso Dias Fonte : Atelier Contemporânea Fotógrafo : Fernando Guerra


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ESTANTE

A primeira edição de Brick é de 2015 e vem no seguimento da bem conseguida edição de Concrete, de 2012, também ela com autoria de William Hall, que para lá de dirigir o seu atelier de design em Londres começou a sua careira ao serviço de John Pawson. A edição de Brick conta também com a autoria de Dan Cruickshank, historiador de arte e apresentador da BBC que tem um particular interesse pela história da arquitectura. Esta edição da Phaidon incluiu 180 ilustrações de construções com tijolo, propondo uma viagem pelas obras de arquitectos mais ou menos famosos e lançando motivos de comparação e de discussão. O ensaio de Dan Cruickshank faz uma contextualização histórica do tijolo como material de construção, focando o porquê de afinidades e particularidades encontradas, evidenciando as suas qualidades ou referenciando a audácia da criatividade humana ao elege-lo um elemento importante na arquitectura.

Título: Brick Autor: William Hall e Dan Cruickshank Editor: Phaidon ISBN: 978-0-7148-6881-3 Inglês 224 Páginas 2015

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Examinar os cruzamentos entre as culturas do livro e da arquitectura expõe eixos ao longo dos quais o conhecimento circula entre páginas e edifícios e, de novo, regressa aos livros. Seja na celebração de construções específicas seja na produção de livros singulares, as páginas e a impressão são manipuladas para transmitir ideias arquitectónicas. Ao dissecar uma quantidade substancial de livros através de cinco ferramentas conceptuais – textura, superfície, ritmo, estrutura e escala -, André Tavares analisa as qualidades materiais dos livros para avaliar a forma como se entrelaçam com o conhecimento da arquitectura. A história detalhada de Befreites Wohnen, de Sigfied Giedion, e das duas encarnações do Crystal Palace, em Hyde ark e em Sydenham, oferecem um pano de fundo que nos confronta não apenas com o desenvolvimento do livro industrializado, mas também com a sua configuração enquanto poderoso instrumento de comunicação e conhecimento.

Título: Uma Anatomia do Livro de Arquitectura Autor: André Tavares Editor: Canadian Centre For Architecture e Dafne Editora ISBN: 978-989-8217-35-6 Português 388 Páginas 2016

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