Arco revista ed1 2017a

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revista

edição 01/2017

arte & afins

Caminhos, atalhos e descaminhos da arte no século XXI Mercado de arte: que bicho é esse? Conheça os artistas da ARCO BH 2017 As esculturas de Amâncio Galpão Paraíso 44: uma história de sucesso Essas mulheres...

arte revista arco:pensar


Art Basel Hong Kong

EDITORIAL Fui convidado em 2015 pelo produtor de eventos Nilso Farias para colaborar com o Departamento de Comunicação da ArtBH. Foi quando percebi um pouco do Mercado de Arte mineiro. A ArtBH era um audacioso projeto, um verdadeiro embrião da “SP-arte” ou “ArtRio” para Belo Horizonte (Saiba Mais). Nessa época, fiquei por dentro de alguns números: São Paulo ocupava mais de sessenta por cento do mercado de arte brasileiro, Rio de Janeiro cerca de dezessete por cento e Minas Gerais apenas seis por cento, mesmo sendo considerado um celeiro de talentos. No evento ocorrido no Minas Centro, durante a montagem da feira, convivi com os principais donos de galerias mineiros, paulistas e cariocas. Cheguei a algumas conclusões: percebi que estes dados não são resultados de um fator único, mas de um conjunto complexo de variáveis. O galerista carioca Sérgio Gonçalves foi um dos empresários que mais se destacou dentre aqueles que conheci durante a ArtBH. Era ousado, empreendedor e inovador. Possuía também um olhar especial para detectar talentos nas diversas tendências; olhar esse sem preconceito para quaisquer formas de expressão, sejam figurativos, abstratos, conceituais e/ou novidades estéticas.

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Esta falta de ousadia ou de apostar em novidades talvez seja algo que limite o nosso mercado regional. Normalmente, os artistas presentes nas galerias são quase sempre as mesmas figuras carimbadas. O mesmo acontece com os contemplados pelas leis de incentivo cultural municipal e estadual, além dos próprios editais de ocupação. O Circuito da Praça da Liberdade e o Museu de Inhotim, sem desmerecer a importância e a relevância dos espaços, podemos considerar iniciativas acanhadas para uma cidade do tamanho de


Belo Horizonte, ainda longe de ser considerado um importante polo cultural. Faltam ainda curadores mais ousados, mais espaços, mais patrocínios para os projetos culturais e também mais eventos qualificados. De acordo com o arquiteto mineiro David Guerra “em cada esquina é produzido um artista. Como fortalecer um mercado de arte local se temos uma superprodução de talentos, onde a oferta é bem maior que a procura? “

ArtBH 2015 - Minas Centro

A resposta para tantos obstáculos pode estar na atitude do próprio artista, mas para isso ele tem que sair de seu universo confortável (o do seu atelier). Mais ousadia ou mais agressividade no marketing, utilizar-se de tecnologias e novos meios de comercialização e divulgação e buscar mercados alternativos nacionais e internacionais podem ser saídas significativas.


Obra do artista mineiro Miguel Gontijo: exemplo de inovação, subversão e quebra de paradigmas.


QUER VENDER ARTE NA INTERNET

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O que não faltam são espaços para vender reproduções ou originais. O que o artista precisa é analisar as vantagens de cada site, ter uma noção de inglês para entender as regras. E criar um acervo de suas obras com imagens adequadas e configuradas corretamente para entrar neste mercado alternativo. No Brasil temos a Urban Arts e outras boas opções. A Revista ARCO coloca aqui uma relação de 250 empresas internacionais que fazem esta comercialização. PESQUISE AQUI


ME DO R A H C RETO SO 44 C S I D O PARAÍ O Ã P L GA


Galpão Paraíso 44: uma história de sucesso


GALPÃO PARAÍSO 44 Raquel Isidoro é uma apaixonada com a arte. A voz fala com carinho e devoção dos “seus artistas” que frequentam o Galpão Paraíso 44. Ela mal tem tempo para a sua arte pessoal, que com certeza, é uma arte com A maiúsculo. Os projetos pessoais da artista vão ficando de lado, para ela administrar este ousado projeto, que mistura galeria, oficina, atelier, tudo feito no peito e na raça; e na paixão de acreditar que está fazendo o certo. A palavra essencial é coletivo. Raquel não é um ser individualista, ela é movida pelo coletivismo. Estranha palavra essa, “coletivismo”, num ambiente artístico, que se fundamenta no egocentrismo. Raquel tem o dom de doar-se, por inteira. E este dom levou o Galpão a ser referência como Espaço Alternativo de Cultura e de Arte em Belo Horizonte. Na contracorrente ela vem provando que iniciativas inovadoras podem mudar e influenciar pessoas e atitudes. Com um olhar versátil e aprimorado, o espaço vem se tornando uma referência da arte independente do século XXI na capital mineira. O Galpão não tem muros estéticos, suas paredes não limitam, mas expandem os horizontes para os artistas que lá expõe. O intercâmbio e a troca de conhecimentos entre estes seres criadores, contribui para um ambiente único, de colaboração e de afinidades. Com um histórico poderoso de exposições individuais e coletivas desde sua fundação em 2014, o Galpão tem ajudado a transformar a comunidade artística da cidade. Um contraponto importante para a renovação constante e a ampliação do mercado fechado de arte de Beagá. Única iniciativa do tipo na cidade, o local funciona como ateliê coletivo, galeria e ponto de encontro para sessões de vídeo, discussões sobre arte contemporânea, aulas de pintura, desenho e até de fabricação de tintas. Num clima cordial de mineiridade, há sempre um cafezinho e uma ótima proza. Lídia Miquelão, uma das artistas do Galpão.


Após dezoito anos no comando de uma empresa de eventos, Raquel decidiu se dedicar à vocação visceral, a pintura. Formada pela Escola Guignard, conheceu Leo Brizola em uma oficina de pintura em 2011. A empatia entre os dois foi imediata, e eles passaram a buscar um local para trabalhar juntos. Sem hesitar, ela arrebanhou o novo amigo e um grupo de artistas que já demonstrava interesse em reunir os pincéis e as ideias. A equipe ficou completa com Sérgio Arruda, responsável pela montagem das principais mostras de Belo Horizonte nos últimos anos. A parceria entre ele e Raquel já rendeu sucessos de exibição como Rodin: do Ateliê ao Museu (2009), O Mundo Mágico de Marc Chagall (2009) e Caravaggio e Seus Seguidores (2012). Participar dos projetos neste antigo galpão industrial é um exercício de humildade. "Muitos artistas precisam de silêncio e de certa solidão. Não é todo mundo que topa esse sistema coletivo", explica Arruda. Lídia Miquelão, por exemplo, estava pincelando calmamente suas figuras humanas quando Brizola sugeriu que ela começasse a pintar a partir de uma tela totalmente preta. "A ideia me agradou e, em ritmo intenso, produzi cinco trabalhos", afirma Lídia. A intenção é que o Galpão Paraíso abrigue novos residentes e funcione como uma vitrine viva. "Aqui não tem pavilhão chique, mas tem gente talentosa produzindo arte em conjunto", diz Raquel. As exposições coletivas fARTura e RefARTura realizadas no Galpão, foram um divisor de águas para a vida cultural da capital mineira trazendo um sopro de renovação e de ousadia. Uma mistura saudável de diversas gerações e estilos de trabalhos, favorecendo

Obra de Raquel Isidoro, fundadora do Galpão Paraíso

Em área de 360m2, são realizadas exposições, diversas atividades de formação no campo das artes visuais (palestras, debates, cursos, workshops) além do espaço funcionar ainda como um atelier coletivo e aberto. O Galpão possui infraestrutura para abrigar grandes exposições, mostras de vídeos, performances, apresentações


Em 2017, o Galpão irá incorporar mais um projeto audacioso: a Mostra ARCO BH. A ARCO BH, idealizada pelo artista visual Fernando Medeiros de Moraes, em sua 1ª edição em 2016, gerou grandes resultados de visibilidade e impacto expressivo (38.600 pessoas), onde 40 artistas mostraram o melhor de sua produção atual. A Mostra Coletiva seleciona artistas visuais emergentes, consagrados e de alta qualificação. A ARCO BH é uma poderosa vitrine que expõe o que há de mais inovador na arte contemporânea independente. No ano passado foram divulgados mais de 200 obras de arte, entre esculturas, pinturas, fotografias, desenhos, gravuras e street art. Mais de meio milhão de reais em obras catalogadas e expostas. Tendo como apoio a internacional Canson e o Bureau Art Moulin do fotógrafo premiado Heitor Muinhos. A ARCO BH 2016 foi um marco e um grande sucesso midiático. Em 2017, a ARCO em sua segunda edição, que acontecerá entre os dias 31/05 a 10/06, exibirá mais de 40 artistas selecionados por uma Comissão de Curadores. Esta Mostra irá representar uma nova fase da ARCO BH em parceria com o Galpão. Entre as novidades e aprimoramentos: será filmado um vídeo documentário, o plano de mídia foi ampliado com Facebook, Instagram e You Tube, foi incorporado mídia externa com outdoor, mailing de 30.000 e-mails cadastrados, premiação de obra por voto popular, palestras, oficinas de arte, contratação de assessoria de impressa profissional para RTVC, leilão e supervisão de marchand, além de projeto Expográfico da Gestalt. ARCO: Saiba Mais. Mais uma vez, o Galpão Paraíso 44 ousa ampliar horizontes e fortalecer Belo Horizonte como polo cultural importante. cultural.


Entre a figura e o abstrato: instâncias do pensamento por Eduardo Augusto Alves Almeida e Felipe Goés

Wassily Kandinsky

SAIBA MAIS


CAMINHOS, ATALHOS E DESCAMINHOS DA ARTE NO SÉCULO XXI Fernando Medeiros

Algumas das maiores feiras do mundo (Frieze e Art Basel) têm mostrado uma linguagem plural, onde é possível perceber a convivência positiva de figurativos, abstratos e instalações. Este mosaico é saudável, pois a arte não deveria ter limites ou filtros. O século XX foi um período intenso, onde as tecnologias evoluíram de forma acelerada.

Esta evolução técnica foi estimulada por duas grandes guerras, que provocaram uma corrida à inovação, um salto gigantesco para a humanidade. Isso refletiu consideravelmente no campo das artes. Cubismo, fauvismo, dadaísmo, surrealismo, abstracionismo, concretismo e tantos ismos, foram pipocando numa busca vertiginosa.

Esculturas do espanhol Juan Muñoz


CAMINHOS, ATALHOS E DESCAMINHOS DA ARTE NO SÉCULO XXI Alguns buscaram o aniquilamento dos fundamentos da arte, do desenho e da própria função da arte. Outros, uma conceptualização laboratorial e esterilizada da arte. A street art ganha força, pela aproximação junto ao cenário urbano e ao se misturar com a população, através de uma interação poderosa com a rua. As galerias sentiram este poder e tentam levar a street para o confinamento de seus ambientes, mas aí, enjaulada esta arte perde sua força e interação natural. O figurativo renasce pelas mãos hábeis dos grafiteiros, uma genial mistura de muralismo e pop, reverenciando a figura e sua conexão humana. Nas feiras misturam-se o digital, o som, o vídeo, criando novas relações e incorporando elementos não convencionais ao projeto visual, que ganha áudio e imagens em movimento. A criação de obras através de poderosos softwares reformula a tradição do atelier, revitalizando as fórmulas de manufatura do bidimensional. O abstrato e seus inúmeros caminhos se misturam com a arte gráfica, gerando novas formulações visuais. O artista não é somente plástico, passa a ser artista visual, para incorporar e aumentar o alcance das suas explorações. A objetaria ganha força e novos significados,

se entrelaçando com as artes aplicadas, o design, a decoração de ambientes e recriando objetos utilitários ou não. Impressoras 3D vão se sofisticando e esculturas surgem de programas sofisticados de modelagem. O impacto de todas estas inovações é uma grande incógnita. Além disso, não só a inovação do modus operandi, da maneira de fabricar a arte, mas também de comercializar e exibir a arte. Galerias virtuais ganham força e se impõe, criando pontes e atalhos para um artista chinês vender diretamente a um comprador americano. A reprodutibilidade cada vez mais aprimorada gerando cópias exatas de uma obra feita com tinta e pincel. A própria impressão ganhará texturas com volume, aproximando ainda mais do original. Esta pluralidade de meios talvez assuste. Mas independente dos meios e linguagens adotadas, a arte continua a emocionar e ser uma necessidade quase biológica do ser humano. Algo que nos suaviza a existência, aprimora o intelecto e nos leva a questionamentos importantes e essenciais.


AMÂNCIO E SUAS ESCULTURAS por Paula Moraes

Amâncio não é um artista comum, nem um homem comum. Sua vitalidade é contagiante. A paixão que percebemos no seu olhar é inebriante. Paixão por suas esculturas, pela vida, pela família. Apesar do talento e do renome, existe uma humildade natural, uma sinceridade em encarar tudo. Para ele a arte faz parte da sua existência, é como respirar. E diferente de tantas lendas vivas das artes mineiras, não existe um sete um na prosa, não existe soberba e nem pretensão, nem cartas nas mangas. Fui recebido em sua casa, com cordialidade e intimidade. Mostrou suas peças fundidas, suas esculturas soldadas, suas montagens em madeira, como um pai mostra com orgulho uma infinidade de filhos pródigos. Percebi que existe ali um amor e uma devoção no fazer. A arte é plena porque feita à mão. A artesania faz parte de um processo elaborado. O amassar da argila, o serrar do metal, o projetar e dar vida aos sonhos lúdicos. A obra de Amâncio é poderosa porque existe uma autenticidade no fazer. Existe um prazer existencial na construção do tridimensional. E nada é feito sem um projeto, sem um significado preliminar, em tudo existe uma significância e uma arquitetura consentida.


Percebemos que existem vários “Amâncios” delineados em diversas fases do seu vasto trabalho, com uma bela história de vida e convivência com artistas de peso como Amilcar de Castro, Jarbas Juarez, dentre outros. O escultor faz parte da trajetória da arte mineira, uma história rica e exuberante, feita depor artistas que sonharam e sonham em viver pela arte. Existe em Amâncio uma generosidade em repartir experiências e processos, com prazer de ensinar. E a conversa se estica e é prazerosa, porque é sincera e agradável. O homem Amâncio fala de si, dos problemas e dos projetos feitos e engavetados. Transborda o que tem de melhor, sem vaidade, mas com orgulho de ter feito obras de qualidade, inovadoras e verdadeiras. Caminhar no seu atelier é entrar um pouco neste mundo fascinante. Enquanto escutava suas histórias e processos, lembrei-me da frase do também escultor Modigliani: “a vida é um dom, de poucos para muitos... dos que sabem e possuem, para os que nada sabem e nada possuem”.


ESSAS MULHERES...

por Maria Celi Neto Ferreira

Como em muitas atividades humanas, a área da cultura e das artes visuais é ainda uma atividade reinada e dominada por homens. As mulheres ao longo de séculos aparecem mais como modelos de pinturas, desenhos, esculturas, gravuras e outras mídias, do que propriamente autoras desta história. Mesmo com todas as conquistas, o mundo ainda é muito machista e para as mulheres ocuparem os espaços foi e é uma grande resistência. Vamos pensar: quantas mulheres artistas você tem guardadas na memória? É um número muito pequeno e parece menor quando comparado com o número de homens artistas. Por exemplo, você já ouviu falar em Christine de Pisan? Então, esta mulher, escritora franco-italiana do período medieval, foi a primeira mulher a viver de seu trabalho e uma das primeiras mulheres a falar de feminismo na literatura. Tratava de temas polêmicos e sua última obra foi

Frida Kahlo


ESSAS MULHERES... dedicada à Joana D’Arc. Bem depois dela, temos na Inglaterra Virgínia Woolf, cuja obra só foi prestigiada muito tempo depois. No Brasil, no Modernismo dos anos 40, Clarice Lispector foi reconhecida como uma das mais importantes escritoras do século XX. Na música, um exemplo importante que viveu entre os séculos XVIII e XIX é Chiquinha Gonzaga. Não foi somente a primeira chorona (pessoa que toca, compõe ou canta choro) do Brasil, como também a primeira mulher a reger uma orquestra no país, a primeira compositora popular e, de quebra, ainda compôs a primeira marcha de carnaval com letra. Juntando o piano com os ritmos populares, ela conseguiu muito de sua fama, mas também muitas críticas, pois tocara uma espécie de maxixe, o que foi considerado vulgar demais para a elite da época, controlada por homens de gosto supostamente muito refinado. Na Argentina, décadas depois, estava Mercedes Sosa, uma cantora muito envolvida com a libertação e a união da América Latina, que se posicionava sempre ao lado do povo indígena e de sua cultura, e também apoiava organizações socialistas. Por conta disso, sua música “de luta” era um problema em um período de ditadura militar, marcado pela censura, repressão e

modos autoritários. As mulheres nas Artes Plásticas Você já ouviu falar em Sofonisba Anguissola? Saiba que alguns quadros dela foram confundidos com os de Leonardo da Vinci. Ela foi a primeira mulher artista a adquirir fama, sendo reconhecida como uma excelente retratista. Viveu durante o período renascentista e foi pintora da corte espanhola por cerca de 20 anos. Devido aos limites impostos à mulher do seu tempo, que não podiam ver pessoas nuas, não pode realizar as complexas pinturas que precisavam de modelo vivo. o Impressionismo foi o primeiro movimento artístico com integrantes mulheres. Porém, elas ainda não eram bem vistas em espaços públicos e na vida noturna. O preconceito era tão grande que um dos pintores mais

Tarsila do Amaral


celebrados do Impressionismo, Renoir, disse uma vez: “a mulher artista é ridícula, mas sou a favor das cantoras e das dançarinas”. Uma artista que lutou contra as imposições deste período foi Camille Claudel. Sua arte não era muito apreciada pelo grande público, em parte porque diziam que ela copiava Rodin (seu mestre e com quem teve um complicado caso de amor) e também por ser mulher. Abandonada por Rodin e acusada de imitar seu trabalho, Camille nutriu por ele um ódio que a levou à loucura. Ela foi internada à força em um hospício em 1913, onde permaneceu até o dia de sua morte, em 1943 (sim, 30 anos!). Para mencionar outras integrantes que também participaram do movimento impressionista temos as pintoras Berthe Morissot e Mary Cassatt. A pós impressionista francesa, Suzanne Valadon, foi a primeira mulher a expor suas pinturas no Salon des Beaux – Arts de Paris. Depois, em 1924, participou de exposição que reuniu as mulheres artistas em Paris, recolocando-a em evidência. Essa artista compõe a mostra “Entre Nós”do acervo do Masp presente no CCBB de Belo Horizonte que fica em cartaz até 26/06/2017. No Brasil, a pintoras modernistas mais comentadas são Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, que participaram ativamente da

Semana de Arte Moderna de 1922. O quadro Antropofagia de Anita, dedicado a seu segundo marido, o escritor Oswald de Andrade, inspirou o importante movimento antropofágico que “devorava” as tendências europeias para produzir uma arte brasileira de verdade. Outra que merece destaque é Lygia Clark. Pintora e escultora, foi uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto. Gradualmente, troca a pintura pela experiência com objetos tridimensionais. Realiza proposições participacionais como a série Bichos, de 1960, construções metálicas geométricas que se articulam por meio de dobradiças e requerem a coparticipação do espectador. Nesse ano, leciona artes plásticas no Instituto Nacional de Educação dos Surdos e passa a dedicar-se à exploração sensorial em trabalhos como A Casa É o Corpo, de 1968. Reside em Paris entre 1970 e 1976, período em que leciona na Faculté d´Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne. Nesse período sua atividade se afasta da produção de objetos estéticos e volta-se sobretudo para experiências corporais em que materiais quaisquer estabelecem relação entre os participantes. Retorna para o Brasil em 1976; dedica-se ao estudo das possibilidades terapêuticas da arte sensorial e dos objetos relacionais. Sua prática fará que no final da


ESSAS MULHERES... vida a artista considere seu trabalho definitivamente alheio à arte e próximo à psicanálise. A partir dos anos 1980 sua obra ganha reconhecimento internacional com retrospectivas em várias capitais internacionais e em mostras antológicas da arte internacional do pós-guerra. Também no pique modernista, mas dessa vez no México, outra artista que merece destaque é a pintora Frida Kahlo. Frida foi uma das primeiras pintoras que expressou a identidade feminina a partir de sua própria visão como mulher, recusando a visão do ideal feminino pregada pelo mundo masculino e rompendo tabus, principalmente sobre o corpo e a sexualidade feminina. Na Copenhage de 1926, a artista feminina que se destaca é Gerda Wegener, retratada no filme “A Garota Dinamarquesa”, de Tom Hooper. Foi casada com o pintor Einer Wegener, que a partir de um determinado momento passou a viver como Lili Elbe (inclusive foi o pioneiro na cirurgia de transgenitalização). Lili foi modelo e musa de Gerda, cujos quadros de retratos femininos tiveram dificuldade em serem aceitos pela sociedade dinamarquesa. Seu estilo único buscava retratar a sensualidade e pintou inclusive, temas polêmicos como de mulheres nuas se masturbando. Gerda foi, sem dúvida, uma artista à frente de seu tempo, que buscava expor erotismo e sensualidade. Frequentava a vida agitada de Paris, onde morou com Lili e apesar de ter tido muitas negativas no início de sua carreira, acabou tendo sucesso. Viveu intensamente e pintou também com muita intensidade.

Lygia Clark


CONHEÇA OS ARTISTAS DA ARCO BH 2017 Desde janeiro lançamos a Edição 2017 da ARCO BH. A mostra é uma coletiva que busca ser uma grande vitrine de artistas independentes, pretende ser um panorama geral dos caminhos da arte contemporânea no século XXI. Foram selecionados escultores, desenhistas, gravuristas, pintores, artistas digitais, fotógrafos de diversos estilos, regiões e nacionalidades. Estarão presentes portugueses, franceses, mineiros, paulistas, cariocas, paranaenses, baianos e pernambucanos. Na ARCO, a exposição é o resultado, mas existem outros elementos que serão destacados: visibilidade, flexibilidade, democracia, liberdade, estratégia, diálogo, troca de informações e processos. Existe uma variedade de tendências, técnicas e linguagens. Esta pluralidade sem barreiras faz da ARCO uma mostra divergente e intrigante. Os artistas da ARCO BH esperam sua visita e interação no Galpão Paraíso 44, entre os dias 31 de maio a 10 de junho. Conheça os participantes desta edição tão especial: ALCIMONE TERRÃO - PE ALYSON CARVALHO - MG ÂMAR SOUKI - MG ANA, BÁRBARA– MG ANA SENRA - MG ANDREZA NAZARETH - MG ANDRÉ ARAÚJO - MG ARNALDOH MARTIINZ- MG CARMEN FREAZA - BA CRISTINA VELOSO - MG DAVID AGUILAR - MG D'ASSUNÇÃO - DF ENIO GODOY - MG FLÁVIA GOMIDE - MG FLORENCE JOLY - FRANÇA FRED MENDES - MG GEORG VINÉ BOLDT – SP GORETTI GOMIDE - MG

HENRIQUE MONTEIRO - MG HONÓRIO RODRIGUES - POR ISABEL GALERY – MG IZABEL MELO - PORTUGAL J. VASCONCELLOS - GO J. L. MOREIRA – MG JORGE CABRERA - VEN JOSÉ AMÂNCIO DE CARVALHO LEO BRIZOLA - MG LÍDIA MIQUELÃO PENA- MG LISIANNY MARINHO - MG LUCIANA CAMPOS HORTA-MG LUCIMARY TOLEDO - MG MARA ULHOA - MG MARCOS ANTHONY - MG MARCOS TOLEDO - MG MARIA NAZARÉ SANTOS - BA MARILENE BERNARDO - MG

MAX HENRIQUE - MG NANCY PASSOS - PR NATI SAÉZ - SP NORMA VILELA - MG REGINA DANTAS - RJ RICO MACIEL - MG ROBERTA STEHLING - MG RODRIGO ELOI - MG SANTTO - MG SONIA ASSIS - MG WALTER MULLER- MG ARTISTAS ORGANIZADORES: FERNANDO MEDEIROS RAQUEL ISIDORO


MERCADO DE ARTE. QUE BICHO É ESSE? A empresa Latitude tem um projeto muito bacana, com dados setoriais do mercado de arte brasileiro. SAIBA MAIS Desde 2015 tem sido desastroso para a política e a economia brasileiras, mas mesmo assim foi extremamente produtivo para o mercado de arte. De acordo com pesquisa do projeto Latitude de 2015, uma parceria da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact), as vendas de arte nacional para o exterior aumentaram 97,4% em 2015 em relação a 2014. Isso representa um total de US$ 66,96 milhões (cerca de R$ 260,47 milhões) em obras de arte vendidas para 25 países. De acordo com Solange Lingnau, gerente do Latitude, há várias explicações para o aumento na exportação de arte brasileira. O fato de ser um mercado de luxo é um deles. A outra está na crescente internacionalização das galerias nacionais. “Entendemos esse aumento, em parte, como uma maior participação dos espaços brasileiros em feiras internacionais. Isso é algo que também constatamos na execução do projeto: como apoiamos financeiramente as galerias em algumas feiras, percebemos que esse número tem aumentado”, explica Solange. Até aí, tudo bem. Números e dados globais, que confirmam o seguinte: exportar arte não é um negócio ruim. E também demonstra que é um mercado de luxo, feito para poucos. Mas aí vem a pergunta crucial: como o artista entra nesse seleto grupo de artistas valorizados? Qual é a engrenagem ou sistema que seleciona os produtos aprovados pelo establishment? Em 2016, no auge da crise econômica brasileira, uma tela da artista Beatriz Milhazes foi vendida


MERCADO DE ARTE. QUE BICHO É ESSE? por 16 milhões de reais na noite de abertura da SP-Arte. Mas vem de novo a pergunta básica: qual o critério? A maior parte dos galeristas, descreve uma trajetória a ser avaliada da seguinte maneira: currículo, premiações em salões, um histórico a ser analisado e o conceito inovador das obras e a maturidade do trabalho, além do trabalho ter uma linguagem dentro da proposta da galeria. Mas, e aquele critério subjetivo e quase hermético, porque alguns são escolhidos e outros não? Mesmo tendo uma carreira de 10 páginas, várias premiações e certificações, isto não é garantia de aceitação a um círculo restrito e quase inexpugnável. O que podemos perceber é que existe um pequeno grupo que influencia e faz as escolhas meritórias, baseadas numa subjetividade, que não pode ser avaliada ou questionada, em regras pré-estabelecidas. Não existe um selo de ISSO 9000 para obras de arte... O mercado de arte tem uma ausência de parâmetros, ou uma avaliação subliminar, que não permite uma auditoria de mérito ou qualidade. Com certeza, um artista, ou a sua assinatura, é hoje como uma marca. Em termos de marketing, ela tem que ser divulgada e inserida na mídia. Vivemos uma época de grandes corporações globais dominando o mercado local e internacional. Grandes

marcas ditam o que é essencial para o consumo. Isso necessariamente não quer dizer que tal marca vai te fazer feliz, mas ela vai dar status, prestígio, vai te destacar em relação ao resto dos mortais. Dirigir uma Ferrari, utilizar um iPhone 7, ter um relógio Rolex, são símbolos de poder e conquista. Com a arte acontece algo similar. Tal artista se sobressai, não apenas pelos méritos estéticos, mas também por um sucesso de marketing bem planejado. Carreiras são construídas por um grupo que influencia e que dita as regras do jogo. São eles: grupos de investidores em arte, galeristas de peso, colecionadores, curadores de museus e salões. Este grupo domina e sanciona quem está dentro ou fora, influenciando as cotações. A precificação das obras pode chegar a valores estratosféricos. É como manipular a bolsa de valores, só que de uma maneira muito mais livre, pois a avaliação é sempre subjetiva e fora de regras rígidas de mercado. Como auditar uma obra de arte superfaturada? Interessante esta lista de “As 24 personalidades do mercado das artes que você precisa conhecer em 2017”. Link: AQUI O filme A Corrida da Arte (La Ruée vers l'Art) foi inspirado no livro “Grandes e pequenos segredos do mundo da arte”, das jornalistas Danièle Granet e Catherine Lamour, e mostra com olhos de leigo curioso o funcionamento


do mercado da arte contemporânea no mundo. Acompanhando as escritoras, a diretora francesa Marianne Lamour passeou pelas principais feiras de arte do mundo, leilões e ateliês, conversando com galeristas, colecionadores e artistas, em situações muitas vezes desconcertantes, mas reveladoras do modo como os agentes desse mercado atuam. Vale a pena assistir este documentário. LINK DO FILME Vale a pena ler o livro “O tubarão de 12 milhões de dólares”, de Don Thompson, para entender melhor os bastidores deste mercado estranho. A publicação parte de um outro recorde na área: a venda de "The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living" (a impossibilidade física da morte na mente de alguém vivo), um tubarão num tanque de formol, do inglês Damien Hirst, por US$ 12 milhões, em 2004. No livro, Thompson usa o caso para analisar os negócios da arte com uma terminologia recorrente do mercado de luxo: a marca. Para ele, o preço foi conseguido porque o galerista Larry Gagosian intermediou a venda da peça, então pertencente ao colecionador Charles Saatchi. Então, é isso. Não basta ser um gênio ou ganhar premiações em 20 salões de arte. Hoje a arte, assim como todas as atividades humanas, faz parte de um sistema manipulado por grupos poderosos e

influentes. Isto não significa que nós artistas devemos jogar a toalha. Mas com certeza, o mérito é algo relativo neste jogo de gente grande. Entender um pouco este intricado mercado já é um passo importante para os artistas buscarem suas opções e estratégias pessoais. E também compreender que sua assinatura tem que ser trabalhada como uma marca e ter um plano de marketing forte. Se sua intenção for essa: entrar de cabeça para conquistar um espaço no mercado de arte.


ARTISTAS SELECIONADOS

LEO BRIZOLA LÍDIA MIQUELÃO LISIANNY MARINHO LUCIANA CAMPOS HORTA LUCIMARY TOLEDO MARA ULHOA MARCOS ANTHONY MARCOS TOLEDO MARIA NAZARÉ SANTOS MARILENE BERNARDO MAX HENRIQUE NANCY PASSOS NATI SAÉZ NORMA VILELA REGINA DANTAS RICO MACIEL ROBERTA STEHLING RODRIGO ELOI SANTTO SONIA ASSIS WALTER MULLER

ALCIMONE TERRÃO ALYSON CARVALHO ÂMAR SOUKI ANA BÁRBARA ANA SENRA ANDRÉ ARAÚJO ANDREZA NAZARETH ARNALDOH MARTIINZ CARMEN FREAZA CRISTINA VELOSO DAVID AGUILAR D’ASSUNÇÃO ENIO GODOY 2017 FLÁVIA GOMIDE FRED MENDES ABERTURA 31 DE MAIO (A PARTIR DAS 20 HORAS ABERTO AO PÚBLICO) GEORG VINÉ BOLDT Visitação: de segunda a sexta das 14 às 19 horas , sábados e domingos GORETTI GOMIDE das 10 às 16 horas • Programação e inscrição para oficinas e palestras HENRIQUE MONTEIRO a partir de 15/5 disponível no site oficial www.arcobh.com.br e no Galpão. ISABEL GÁLERY IZABEL MELO ARTISTAS ESTRANGEIROS J. L. MOREIRA J. VASCONCELLOS FLORENCE JOLY JOSÉ AMÂNCIO DE CARVALHO HONÓRIO RODRIGUES JORGE CABRERA

ARTISTAS ORGANIZADORES R. Cachoeira Dourada, 44 - Santa Efigênia - B.Horizonte - MG

FERNANDO MEDEIROS RAQUEL ISIDORO


revista REVISÃO Ana Cecília COLABORADORES: Maria Celi Neto Ferreira Ygor Radui Raquel Isidoro

Ficha Técnica TÍTULO: Revista ARCO / Arte & Afins DIREÇÃO Diretor Geral: Fernando Medeiros Diretora de Jornalismo/ Editora Chefe: Paula G. Moraes

REDAÇÃO /SEDE: Rua Desembargador Leão Starling, 175 B. Ouro Preto - Pampulha Belo Horizonte - MG - Brasil medeiros.arcobh@gmail.com 31 99150-6329 ©Todos os direitos reservados.

Ricardo Cardenas


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