Revista técnica CRCRS #159

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Revista do Conselho Regional de

6 201

do Rio Grande do Sul

ANÁLISE DE RESTOS A PAGAR NÃO PROCESSADOS DE UM MUNICÍPIO DO RIO GRANDE DO SUL 100 100

100 100

PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA EM UMA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA DO RIO GRANDE DO SUL

O MERCADO DE TRABALHO PARA CONTADORES: EXPECTATIVAS E REALIDADES


Revista do Conselho Regional de

PLENÁRIO DO CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL Biênio 2016/2017

do Rio Grande do Sul

COMPOSIÇÃO DA DIRETORIA ISSN 1981-4666

EXPEDIENTE Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul – CRCRS Rua Baronesa do Gravataí, 471 90160-070 Porto Alegre-RS Fone/fax (51) 3254-9400 editoria@crcrs.org.br www.crcrs.org.br Periodicidade quadrimestral

CONSELHO EDITORIAL Contador Irineu Afonso Frey – Coordenador Mestre em Desenvolvimento Regional (Unisc). Doutor em Engenharia da Produção (UFSC). Professor na Universidade Federal de Santa Catarina. Contador Ernani Ott Doutor em Ciências Contábeis (Universidade de Deusto, Espanha). Professor na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

(Unisinos). Doutoranda em Informática na Educação (UFRGS). Professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Contadora Romina Batista de Lucena de Souza Mestre em Economia Aplicada e doutora em Economia do Desenvolvimento (UFRGS). Professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Contador Marco Aurélio Gomes Barbosa Mestre em Ciências Contábeis e doutorando em Ciências Contábeis (Unisinos). Professor na Universidade Federal do Rio Grande. Contador Diego de Oliveira Carlin Mestre em Ciências Contábeis (Unisinos). Doutorando em Administração (UFRGS). Professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Contador Clovis Antonio Kronbauer Mestre em Ciências Contábeis (Unisinos). Doutor em Contabilidade e Auditoria (Universidade de Sevilha, Espanha). Professor na Unisinos.

Contador Luiz Edgar Medeiros Mestre em Economia do Desenvolvimento (PUCRS). Professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Contador Paulo Ricardo Pinto Alaniz Mestre em Economia (UFRGS). Vice-Presidente Técnico do CRCRS.

SUPERVISÃO

Contadora Ana Tércia Lopes Rodrigues Mestre em Administração e Negócios (PUC/RS). Professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Vice-Presidente de Gestão do CRCRS. Contador Rogério Rosi Sola Mestre em Economia, com ênfase em Controladoria (UFRGS). Professor na Fapa/RS e IBGEN. Contadora Maria Ivanice Vendruscolo Mestre em Ciências Contábeis

Márcia Bohrer Ibañez

PROJETO GRÁFICO EDITORIAL E DIAGRAMAÇÃO Área Com Publicidade Rubens Santos da Cunha issuu.com/areacompublicidade Fone: (51) 3480.6080

É permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada a fonte. Os conceitos emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.

Presidente Contador Antônio Carlos de Castro Palácios Vice-Presidente de Gestão Contadora Ana Tércia Lopes Rodrigues Vice-Presidente de Fiscalização Contador Mário Antonio Karczeski Vice-Presidente de Registro Técn. Cont. Ricardo Kerkhoff Vice-Presidente de Controle Interno Contador Paulo Gilberto Comazzetto Vice-Presidente de Desenvolvimento Profissional Contadora Magda Regina Wormann Vice-Presidente de Relações com os Profissionais Contador Celso Luft Vice-Presidente de Relações Institucionais Contador Pedro Gabril Kenne da Silva Vice-Presidente Técnico Contador Marcio Schuch Silveira

COMPOSIÇÃO DO PLENÁRIO CONSELHEIROS (AS) TITULARES Contadores: Antônio Carlos de Castro Palácios, Adriel Mota Ziesemer, Ana Tércia Lopes Rodrigues, Ane Elisa Moller Dapper, Célio Luiz Levandovski, Celso Luft, Flávio Flach, Magda Regina Wormann, Marcelo Paveck Ayub, Mário Antônio Karczeski, Mário Kist, Nádia Emer Grasselli, Paulo Gilberto Comazzetto, Paulo Ricardo Pinto Alaniz, Pedro Gabril Kenne da Silva, Rodrigo Kich, Sílvio Luiz da Silva Zago, Soeli Maria Rinaldi. Técnicos em Contabilidade: Carlos Eli Debom Rocha, João Roberto Hoerbe, Marco Aurélio Bernardi, Marice Fronchetti, Marlene Teresinha Chassott, Marta da Silva Canani, Ricardo Kerkhoff, Sílvia Regina Lucas de Lima, Roberto da Silva Medeiros. CONSELHEIROS (AS) SUPLENTES Contadores: Alberto Amando Dietrich, Anabeli Galvan Perera, Andreia Altenhofen, Artur Roberto de Oliveira Gibbon, David Antonio dos Santos, Eduardo Hipolito Dias Sinigaglia, Grace Scherer Gehling, Inelva Fátima Lodi, João Carlos Mattiello, João Luis Lucas Maracci, Osmar Antônio Bonzanini, Roberta Salvini, Rosângela Maria Wolf, Rosemery Dias Gonçalves da Silva, Saulo Armos, Simone Loureiro Brum Imperatore, Susana Fagundes Garcia. Técnicos em Contabilidade: Abilio Rozek, Airton Luiz Fleck, Ângelo Giaretton, Cassiana Tonini Carbone, Cristiani Fonseca de Souza, Luiz Alberto Souto Jacques, Magali do Nascimento Santini, Moises Luiz Togni.


SUMÁRIO

ANÁLISE DE RESTOS A PAGAR NÃO PROCESSADOS DE UM MUNICÍPIO DO RIO GRANDE DO SUL

6

Mauren Corrêa dos Santos Magda Rosane Peres Brazil

PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA EM UMA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA DO RIO GRANDE DO SUL Laércio Rogério Friedrich Franciele Bagatini

26 O MERCADO DE TRABALHO PARA CONTADORES: EXPECTATIVAS E REALIDADES

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Rodrigo Angonese Vagner Paz Ferreira


ANÁLISE DE RESTOS A PAGAR NÃO PROCESSADOS DE UM MUNICÍPIO DO RIO GRANDE DO SUL

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REVISTA DO CRCRS


RESUMO MAUREN CORRÊA DOS SANTOS Contadora, especialista em Contabilidade Aplicada ao Setor Público pela Fadergs. PósGraduanda em Gestão Pública pela Unipampa.

MAGDA ROSANE PERES BRAZIL Contadora, mestre em Administração – Área de Conhecimento Administração Pública pela UFRGS. Coordenadora do Curso de Especialização dm Contabilidade Pública da FADERGS.

O equilíbrio na execução orçamentária, além de ser uma obrigação legal, deve ser primado por toda administração. A condução ordenada do gasto público é o que a torna eficiente e eficaz. As despesas devem ser empenhadas não somente porque há crédito orçamentário disponível, mas, principalmente, com vista ao atendimento das necessidades da população. Em alguns casos, as despesas empenhadas não são liquidadas até o final do exercício, fazendo com que esses valores sejam inscritos como restos a pagar não processados. Analisar como evoluem esses restos a pagar não processados é o objetivo geral desta pesquisa que utilizou os dados de um município do Rio Grande do Sul, no período de 2010 a 2013. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, mediante a leitura de diversos autores e documental, mediante a análise de demonstrativos contábeis daquele período. Constatou-se que os restos a pagar não processados são inscritos constantemente a cada exercício, mesmo sem haver disponibilidade financeira, que muitos foram cancelados nos anos seguintes e que eles comprometeram a execução orçamentária no ano de seu pagamento.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho Técnico detentor do “Certificado de Mérito” na XV Convenção de Contabilidade do Rio Grande do Sul, realizada de 26 a 28 de agosto de 2015, em Bento Gonçalves-RS.

Execução Orçamentária. Despesas.

Restos a pagar não processados.

REVISTA DO CRCRS

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1 INTRODUÇÃO

Após o empenho, ocorre a liquidação, que é a confirmação que a mercadoria/obra/ serviço desse empenho foi recebida e está de

A Contabilidade Aplicada ao Setor

acordo com o solicitado. Somente após a

Público – CASP é um ramo da Contabilidade

liquidação é que haverá o pagamento da

que tem como objeto o patrimônio dos entes

despesa empenhada.

públicos. Antes das mudanças trazidas

Porém, algumas vezes, a despesa

pelas Normas Brasileiras de Contabilidade

não passa pelos seus três estágios dentro do

Aplicadas ao Setor Público – NBCASP, por

mesmo exercício financeiro, ficando apenas

um equívoco de interpretação da Lei nº

empenhada ou liquidada, sem o pagamen-

4.320-64, o orçamento era tido como o

to. Então, esses empenhos passam a ser

objeto da, então, Contabilidade Pública.

considerados como restos a pagar do

A Lei Orçamentária Anual (LOA) é

exercício em que foram inscritos.

elaborada de acordo com o Plano Plurianual

Os restos a pagar são despesas

(PPA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias

empenhadas e não pagas até o término do

(LDO), e passa a vigorar no ano seguinte ao

exercício financeiro, dividindo-se em

da sua elaboração, obedecendo, principal-

processadas e não processadas. As despesas

mente, aos princípios da unidade, universa-

que foram empenhadas e liquidadas, mas

lidade e anualidade. Nela, são estimadas as

não pagas, são inscritas como restos a pagar

receitas e fixadas as despesas para o

processados, e as que foram somente

exercício financeiro.

empenhadas e não passaram pelos demais

As dotações orçamentárias constan-

estágios da despesa pública, caso haja saldo

tes na LOA são as autorizações para que seja

financeiro, são inscritas como restos a pagar

realizada determinada despesa, sendo que

não processados.

não pode haver despesa sem que esta esteja

Anteriormente, os restos a pagar não

autorizada por lei. Se determinada despesa

processados eram inscritos contabilmente

não tiver sido incluída no orçamento, ela

no Passivo, como obrigação de pagamento;

pode ser aberta durante o exercício por

com as mudanças ocorridas recentemente,

meio de crédito especial ou extraordinário

principalmente, trazidas pelas Normas

e, caso a despesa já criada não tenha

Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao

dotação suficiente, pode ser suplementada

Setor Público – NBCASP e pelo Manual de

por crédito adicional.

Contabilidade Aplicada ao Setor Público –

A despesa pública é composta por três

MCASP (2012), esses restos passaram a ser

estágios principais, segundo a Lei nº 4.320-

controlados apenas orçamentariamente,

64: empenho, liquidação e pagamento.

sendo que somente serão considerados

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REVISTA DO CRCRS


como obrigação no momento em que

valores dos restos a pagar não processados

houver a confirmação de recebimento do

no período.

objeto do referido empenho, ou seja, apenas após a liquidação é que esses restos serão considerados como restos a pagar não processados liquidados a pagar e terão seus valores contabilizados no Passivo, como obrigação de pagamento do ente. Para inscrição de empenhos como restos a pagar não processados, deve ser observada a disponibilidade financeira do ente, pois, caso não haja recursos suficientes para sua cobertura, estes devem ser cancelados e reempenhados no exercício seguinte como Despesas de Exercícios Anteriores, conforme orientação disponível

Justifica-se a presente pesquisa pela necessidade de compreender se os restos a pagar não processados comprometeram o planejamento municipal no ano de sua inscrição e/ou os subsequentes pela sua liquidação ou, ainda, se foram baixados. E, também, este estudo contribuirá para o esclarecimento acerca da forma como os procedimentos de inscrição desses restos a pagar são realizados na prática, pois há diversos fatores que podem ocasionar sua inscrição que não somente os que são exemplificados pelas literaturas acadêmicas.

no MCASP (2012). Após a introdução, será contextualiInserido neste contexto, um município do Rio Grande do Sul apresenta todos os anos a inscrição de restos a pagar não processados. Assim, insere-se a seguinte questão de pesquisa: como evoluíram os restos a pagar não processados de um município do Rio Grande do Sul no período de 2010 a 2013? Dessa forma, o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar os restos a

zado o referencial teórico em tópicos por assunto, por meio de uma pesquisa bibliográfica; na sequência, será explicada a metodologia adotada, com a identificação do tipo de pesquisa, dos objetivos, dos procedimentos técnicos, da população e amostra e da coleta e tratamento dos dados; posteriormente, será feita a análise dos resultados encontrados seguida das considerações finais.

pagar não processados de um município do Rio Grande do Sul no período de 2010 a 2013. Paralelamente a isso, tentar-se-á apontar as causas da inscrição de restos a

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

pagar não processados; identificar se havia disponibilidade financeira para a inscrição;

Nesta seção, procurar-se-á con-

conhecer como foram baixados e verificar

ceituar temas pertinentes e necessários

se houve aumento ou diminuição dos

para o desenvolvimento da pesquisa,

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principalmente no que tange a restos a

De acordo com Slomski (2013), a

pagar, no qual será desenvolvido um estudo

contabilidade aplicada ao setor público

para compreender se os restos a pagar não

objetiva demonstrar o patrimônio da

processados comprometeram o plane-

entidade e, para tanto, procura evidenciar

jamento municipal no ano de sua inscrição

os atos e fatos relativos à administração

e/ou os subsequentes pela sua liquidação

orçamentária e os atos ligados aos eventos

ou, ainda, se foram baixados.

da sua gestão financeira e patrimonial. O seu objeto, segundo CRCRS (2013), é o patrimônio público e, por meio do fornecimento de informações a ele relacionada,

2.1 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO

desenvolve sua função social de apoio à tomada de decisões, à prestação de contas de gestão e à instrumentalização do

A contabilidade aplicada ao setor

controle social.

público é conceituada de diferentes formas

Entende-se que a contabilidade

por vários autores e está cada vez mais

aplicada ao setor público é uma área da

similar à contabilidade privada, princi-

ciência que tem como objeto o patrimônio

palmente após as alterações trazidas pelas

público. Ela busca fornecer informações de

NBCASP, passando, inclusive, por mu-

natureza orçamentária, econômica,

danças quanto ao seu objeto de estudo. Por

financeira e física do patrimônio e auxilia no

esse motivo, entende-se ser de suma

controle social mediante a apresentação de

importância trazer os conceitos de alguns

informações necessárias para a tomada de

autores sobre a identificação desse ramo da

decisões, para a prestação de contas e ins-

Contabilidade para melhor compreensão.

trumentalização do controle social.

2.1.1 CONCEITO, OBJETIVO, OBJETO E CAMPO DE ATUAÇÃO

2.1.2 REGIMES CONTÁBEIS Antes de todas as mudanças trazidas

A contabilidade aplicada ao setor

pela convergência às normas internacionais

público é o ramo da ciência que aplica as

de contabilidade, entendia-se que se

normas e os princípios contábeis voltados

adotava o regime contábil misto na contabi-

para o patrimônio público no processo de

lidade pública brasileira, sendo o regime

geração das informações (NBC T 16.1,

de caixa para as receitas e o de competên-

2008).

cia para as despesas, devido a uma

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interpretação equivocada do art. 35 da Lei

patrimônio público, sejam elas

nº 4.320-64, no qual “pertencem ao

financeiras ou não;

exercício financeiro: I – as receitas nele arrecadadas; II – as despesas nele legalmente empenhadas.”

Ÿ custos: os custos dos bens e serviços

produzidos e ofertados à sociedade; e Ÿ compensação: atos de gestão que

De acordo com Bezerra Filho (2013),

possam vir a afetar o patrimônio,

o referido artigo esclarece que as receitas

bem como aqueles com funções espe-

orçamentárias devem ser registradas, no

cíficas de controle.

momento de sua arrecadação, pelo regime de caixa e as despesas orçamentárias pelo regime de competência, no momento em que forem empenhadas.

Os subsistemas organizam as informações de acordo com a sua natureza (orçamentária, patrimonial, custos e compensação), fazendo com que a Contabilidade

Constata-se que o regime contábil é

registre as suas “partidas dobradas” dentro

somente o de competência, tanto para

de um mesmo subsistema. Poderá haver

receitas quanto para despesas. O regime

lançamentos que irão envolver todos os

misto refere-se, portanto, somente à visão

subsistemas, mas os débitos e créditos

orçamentária, na qual é contabilizada, no

sempre irão “fechar-se” dentro de um

subsistema orçamentário, a receita após sua

mesmo subsistema, não sendo possível, por

arrecadação (caixa) e a despesa após seu

exemplo, debitar o subsistema contábil e

empenho (competência).

creditar o orçamentário. Essa barreira visa a assegurar a confiabilidade e integridade das informações contábeis.

2.1.3 SISTEMAS CONTÁBEIS 2.2 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO Consoante a NBC T 16.2 (2008), o sistema contábil é composto por quatro subsistemas que registram, processam e evidenciam: Ÿ orçamentário: os atos e fatos rela-

Mediante o planejamento é que são traçados os desejos, intenções, expectativas, o futuro projetado para uma entidade, por isso, ele é a primeira etapa em qualquer

tivos ao planejamento e à execução

processo de gestão (QUINTANA et al. 2011).

orçamentária;

São instrumentos de planejamento orça-

Ÿ patrimonial: informações somente dos

mentário público o Plano Plurianual (PPA),

fatos relacionados às variações patri-

a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a

moniais qualitativas e quantitativas do

Lei Orçamentária Anual (LOA).

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Segundo Bezerra Filho (2013), o

princípio do orçamento bruto, equilíbrio,

Plano Plurianual deve estabelecer, de forma

exclusividade, especificação, publicidade,

regionalizada, as diretrizes, os objetivos e as

uniformidade e não vinculação de receita ou

metas da administração pública federal

não afetação de receita.

para as despesas de capital e outras delas decorrentes, e para as relativas aos programas de duração continuada. O PPA tem vigência por quatro anos, iniciando-se no segundo ano do mandato presidencial e encerrando-se no primeiro ano do mandato seguinte.

Depreende-se que o planejamento é imprescindível para que haja uma boa governança, mas, para tanto, ele deve seguir as especificações legais e ser concretizado pela elaboração de projetos de leis (PPA, LDO e LOA) pelo executivo para posterior aprovação pelo legislativo, nas três esferas

De acordo com o § 2º, do art. 165 da

de governo. A correta estimativa das

Constituição Federal, a Lei de Diretrizes

receitas e fixação de despesas torna-se

Orçamentárias contém as metas e priori-

necessária, também, para que o planejamento

dades da administração pública federal

seja adequado e atenda a todas as expectativas

para o exercício financeiro subsequente e

do Governo e anseios da população.

servirá de orientação para a elaboração da Lei Orçamentária Anual. A Lei Orçamentária Anual estima as receitas e fixa as despesas para o exercício

2.2.1 RECEITA PÚBLICA

financeiro seguinte à sua elaboração e tem vigência de um ano, evidencia a política econômica financeira e o programa de trabalho

Segundo Piscitelli e Timbó (2010),

do governo. No projeto da LOA não poderá

pode-se definir a receita pública como uma

conter matéria estranha à previsão da

entrada de recursos ao patrimônio público,

receita e à fixação da despesa, com

refletindo no aumento de suas disponibili-

exceção da autorização para abertura de

dades.

créditos suplementares e contratação de operações de créditos, mesmo que por antecipação da receita orçamentária (SLOMSKI, 2013).

Dependendo do impacto na situação líquida patrimonial da entidade, as receitas podem ser efetivas ou não efetivas. Receitas orçamentárias efetivas distinguem-se das

Para Bezerra Filho (2013), a LOA com-

não efetivas por aumentarem a situação

preenderá os orçamentos fiscais, de investi-

líquida patrimonial da entidade no

mentos e da seguridade social e respeitará

momento de seu reconhecimento, ao con-

os seguintes princípios orçamentários: lega-

trário das não efetivas, que não provocam

lidade, anualidade, unidade, universalidade,

nenhuma alteração (MCASP, Parte I, 2012).

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Ainda, de acordo com o MCASP, Parte I (2012), em sentido amplo, as receitas

de terceiros dos quais ela é somente uma fiel depositária.

podem ser orçamentárias, quando se

As receitas orçamentárias, de acordo

referem ao ingresso de recursos financeiros

com sua categoria econômica, são classifi-

para o Erário, ou extraorçamentárias,

cadas em dois grandes grupos: correntes e

quando representam somente entradas

de capital. Há, ainda, as receitas intraorça-

compensatórias. Porém, em sentido estrito,

mentárias que são as originadas da arreca-

o manual classifica como públicas somente

dação entre órgãos pertencentes à mesma

as receitas orçamentárias.

esfera de governo e integrantes do mesmo

A Lei nº 4.320-64, em seu art. 11, §§ 1º e 2º, classifica as receitas em duas categorias econômicas:

orçamento fiscal e de seguridade social. Para que se possa elaborar um bom orçamento, primeiramente, é necessário estimar as receitas que serão arrecadadas,

Ÿ receitas correntes: tributária, de

pois, com essa previsão, será possível veri-

contribuições, patrimonial, agrope-

ficar os recursos que estarão disponíveis

cuária, industrial, de serviços, trans-

para pôr em prática os programas de

ferências correntes e outras receitas

governo para, só depois, fixar as despesas

correntes; e

que comporão o orçamento governamental.

Ÿ receitas de capital: operações de cré-

dito, alienação de bens, amortização de empréstimos, transferências de capital e outras receitas de capital.

2.2.2 DESPESA PÚBLICA

Conforme Slomski (2013), os estágios da receita demonstram em qual etapa estão

A despesa pública é todo o consu-

as receitas públicas e são classificados

mo de bens e direitos necessários ao

em previsão, lançamento, arrecadação e

atendimento das necessidades públicas

recolhimento.

(SLOMSKI, 2013). Da mesma forma que as

Compreende-se que as receitas

receitas, as despesas também são classifi-

públicas são compostas pelas receitas orça-

cadas em efetivas ou não efetivas em virtude

mentárias e pelas extraorçamentárias. As

de, consequentemente, afetarem ou não a

primeiras servem para cobertura das des-

situação líquida patrimonial da entidade

pesas orçamentárias da entidade, e as

(BEZERRA FILHO, 2013).

outras, representam somente ingressos de

Conforme conceitua o MCASP,

recursos que não podem ser por ela utili-

Parte I (2012), a despesa orçamentária, para

zados para seus desembolsos, são recursos

ser efetivada, depende de autorização

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legislativa. Os dispêndios extraorçamentá-

Estado obrigação de pagamento pendente

rios são aqueles correspondentes a saídas de

ou não de implemento de condição”. Ainda,

numerários que não constam no orça-

nessa mesma lei, regulamenta-se que não

mento, como depósitos, pagamentos de

pode haver despesa sem prévio empenho e

restos a pagar e recursos transitórios.

que ela não pode exceder o limite dos cré-

Quintana et al. (2011) agrupam as despesas em três grupos, de acordo com a sua natureza: Ÿ Categoria econômica: despesas cor-

rentes e despesas de capital.

ditos concedidos. Os empenhos podem ser classificados em ordinário ou normal, para despesas conhecidas, de valor exato e com pagamento em uma única parcela; por estimativa, para despesas cujo montante não pode

Ÿ Grupo de natureza da despesa: pes-

ser previamente determinado; e global,

soal e encargos sociais, juros e

para despesas contratuais ou outras de valor

encargos da dívida, outras despesas

determinado, que podem ser parceladas

correntes, investimentos, inversões

(QUINTANA et al., 2011).

financeiras, amortização da dívida, reserva do RPPS e reserva de contingência.

Piscitelli e Timbó (2010) esclarecem que a liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor,

Ÿ Elemento de despesa: vencimentos e

baseados em documentos comprobatórios.

vantagens fixas – pessoal civil, diá-

Antes de pagar uma despesa, é necessário

rias, material de consumo, obras e

verificar se ela está em condições de ser

instalações, equipamentos e mate-

paga, essa verificação é a liquidação

rial permanente, entre outros.

(BEZERRA FILHO, 2013).

A despesa, assim como a receita,

Conforme o art. 63, §§ 1º e 2º da Lei nº

também possui seus estágios, conforme o

4.320-64, a liquidação consiste em verificar

MCASP, Parte I (2012), o primeiro é o

a origem e o objeto a pagar, a importância a

planejamento que se divide em fixação da

pagar e a quem se deve pagar para extinguir a

despesa, descentralização de créditos orça-

obrigação. A despesa por fornecimentos feitos

mentários, programação orçamentária e

ou serviços prestados será liquidada com base

financeira e o processo de licitação e contrata-

em seu contrato, ajuste ou acordo, a nota de

ção. A segunda etapa é a execução, composta

empenho e os comprovantes de entrega do

do empenho, da liquidação e do pagamento.

material ou da prestação do serviço.

Segundo o art. 58, da Lei nº 4.320-

O último estágio da despesa pública é

64, “o empenho da despesa é o ato emanado

o pagamento, que somente será efetuado

de autoridade competente que cria para o

após a sua regular liquidação (PISCITELLI;

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REVISTA DO CRCRS


TIMBÓ, 2010). Ainda, Slomski (2013)

orçamentárias empenhadas e não pagas ins-

afirma que a despesa apenas poderá ser

critas em restos a pagar.

paga por tesouraria ou pagadoria regular-

A Lei nº 4.320-64, em seu art. 36,

mente instituída, por estabelecimentos

conceitua que serão consideradas como

bancários e, em alguns casos, por adian-

restos a pagar as despesas empenhadas e

tamento. A autoridade competente é a

não pagas até o final do exercício, diferen-

responsável pela emissão da ordem de

ciando as processadas das não processadas.

pagamento. O MCASP, Parte I (2012), define que o pagamento da despesa dar-se-á mediante a entrega de numerário ao credor por meio de

2.3.1 RESTOS A PAGAR PROCESSADOS

cheque nominativo, ordens de pagamento ou crédito em conta. As despesas públicas dividem-se em orçamentárias e extraorçamentárias. As despesas orçamentárias, de acordo com sua natureza, classificam-se em corrente e de capital e, para sua execução, obedecem aos estágios da despesa: empenho, liquidação e pagamento. Para que uma despesa seja efetivada, primeiramente, ela deve possuir autorização legislativa para então ser empenhada, somente após a confirmação do recebimento do objeto do empenho é que ocorre o respectivo pagamento. Contudo, quando

São restos a pagar processados as despesas empenhadas já recebidas, mas ainda não pagas (BEZERRA FILHO, 2013). Conforme o MCASP, Parte I (2012), as despesas orçamentárias que passaram pelos estágios de empenho e liquidação, restando somente o estágio do pagamento em 31 de dezembro, serão inscritas como restos a pagar processados. Esses restos, geralmente, não podem ser cancelados, pois já foi fornecido o bem ou prestado o serviço, e a administração não pode descumprir a obrigação de pagamento do credor.

uma despesa não é paga dentro do mesmo

Com relação aos restos a pagar, a Lei

exercício financeiro em que foi empenhada,

de Responsabilidade Fiscal, Lei nº 101-

ela deverá ser inscrita como restos a pagar

2000, aborda o seguinte:

deste exercício.

2.3 RESTOS A PAGAR De acordo com o MCASP, Parte I (2012), constituirão a dívida flutuante da entidade, ao final do exercício, as despesas

Art. 42. É vedado ao titular de poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito.

REVISTA DO CRCRS

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Dessa forma, a lei proíbe que os

liquidação. Esses restos somente serão con-

governantes deixem obrigações para seus

trolados nos grupos de controle, classe 5 e 6

sucessores sem recursos para a sua cober-

do Plano de Contas Aplicado ao Setor

tura, sob pena de responsabilização se o

Público (PCASP), Controles da Aprovação

fizerem.

do Planejamento e Orçamento e Controles

Entende-se, de acordo com o MCASP, Parte I (2012) que os restos a pagar proces-

da Execução do Planejamento e Orçamento, respectivamente.

sados são derivados das despesas empe-

Segundo o MCASP, Parte I (2012), as

nhadas e liquidadas, mas ainda não pagas

despesas empenhadas e não liquidadas até o

ao final do exercício financeiro e que se

final do exercício somente serão inscritas

transferem para o exercício seguinte como

como restos a pagar não processados após a

dívida flutuante e não devem ser canceladas

anulação dos empenhos que não podem ser

porque o fornecedor já entregou o bem ou já

inscritos devido a restrições em normas da

prestou o serviço, não podendo a entidade

entidade e desde que haja disponibilidade

deixar de honrar com seus compromissos

financeira para a sua cobertura.

com esse credor.

Dessa forma, compreende-se que os restos a pagar não processados são as despesas empenhadas e não liquidadas até o

2.3.2 RESTOS A PAGAR NÃO PROCESSADOS

final do exercício, as quais se referem a bens já recebidos, mas que, por algum motivo, ainda não foram conferidos, portanto, não

Aquelas despesas cujos serviços

podendo ser liquidados, ou obras e serviços

encontram-se em execução, não existindo,

já em fase de conclusão. Antecede a ins-

no encerramento do exercício, o direito

crição desses empenhos como restos não

líquido e certo do credor, serão conside-

processados o cancelamento daqueles que

radas restos a pagar não processados

não atendem às peculiaridades da legislação

(PISCITELLI; TIMBÓ, 2010).

para sua inscrição.

Bezerra Filho (2013) afirma que, para

Entende-se, ainda, que os restos a

respeitar o art. 36 da Lei nº 4.320-64, os

pagar não processados somente serão con-

empenhos emitidos, não liquidados e não

tabilizados no Passivo Circulante quando da

pagos até 31 de dezembro deverão ser ins-

sua liquidação no exercício seguinte,

critos como restos a pagar não processados.

enquanto nos não liquidados não existe a

Consoante Slomski (2013), os restos a

obrigação da entidade de seu pagamento,

pagar não processados não podem ser ins-

eles ficam registrados somente nas classes 5

critos no Passivo Circulante por não aten-

e 6 do PCASP, Controles da Aprovação do

derem à característica de Passivo, que é a

Planejamento e Orçamento e Controles da

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Execução do Planejamento e Orçamento,

abordagem dos objetivos, visto que os fatos

respectivamente.

encontrados serão apenas descritos, sem que haja qualquer interferência sobre eles. Por fim, quanto aos procedimentos

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

técnicos, foram adotados os seguintes: pesquisa bibliográfica e pesquisa documental. A fase bibliográfica ocorreu mediante a

Os procedimentos metodológicos constituem-se, de uma maneira mais simplista, nas técnicas utilizadas durante a realização de uma pesquisa para atingir os seus objetivos. Abrangem a sua caracterização, definindo o tipo de pesquisa que será utilizado, e as técnicas de coleta e análise de dados.

leitura de obras de autores diversos, relacionadas ao objeto em estudo, possibilitando, desse modo, agregar vários posicionamentos a respeito do mesmo tema. A fase documental utilizou-se da análise das seguintes demonstrações contábeis de um município do Rio Grande do Sul no período de 2010 a 2013: Balanços Orçamentário, Financeiro e Patrimonial, anexos do Relatório Resumido da Execução Orçamentária, anexos do Relatório de Gestão Fiscal e Rela-

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

tório de Validação e Encaminhamento (RVE).

A presente pesquisa pode ser classificada quanto à sua natureza como sendo aplicada, pois visa a gerar conhecimento

3.2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

para a solução de um determinado problema, que é o esclarecimento sobre a

O estudo delimita-se à análise dos

evolução dos restos a pagar não processados

restos a pagar não processados de um muni-

de um município do Rio Grande do Sul, no

cípio do Rio Grande do Sul, no período de

período em análise.

2010 a 2013. Justifica-se a escolha desses

Em relação à abordagem do pro-

quatro anos para proporcionar uma melhor

blema, prevalece o caráter quantitativo,

análise e comparação de valores, possibili-

uma vez que os resultados encontrados

tando identificar como realmente evo-

serão explicitados por meio de dados numé-

luíram os restos a pagar não processados se,

ricos (porcentagens) para melhor eviden-

em sua maioria, foram pagos ou cancelados

ciação e compreensão destes. Também se

nos exercícios seguintes e, ainda, conhecer o

classifica como sendo descritiva quanto à

montante inscrito a cada ano.

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O município em análise está locali-

inscrição de restos a pagar não processados.

zado na fronteira oeste do Rio Grande do

Também, serão elaborados gráficos compa-

Sul, com uma população de 39.707 habitan-

rativos para facilitar a visualização dos

tes, conforme dados disponíveis no sítio do

valores inscritos, liquidados, pagos e cance-

IBGE. A economia baseia-se na agricultura

lados em cada exercício, demonstrando, em

e pecuária e possui diversos pontos turísti-

percentuais, essas movimentações. Após a

cos. O orçamento projetado, conforme a Lei

análise dos dados coletados, serão apresen-

Orçamentária Anual, para o exercício de

tados os resultados encontrados.

2014 foi de R$ 85.767.175,25.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS 3.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS Os dados referentes aos restos a pagar Para a coleta dos dados, será realizado

não processados de um município do Rio

um levantamento nas demonstrações con-

Grande do Sul, do período de 2010 a 2013,

tábeis (Balanços Orçamentário, Financeiro

foram extraídos dos Balanços Orçamentá-

e Patrimonial) de um município do Rio

rio, Financeiro e Patrimonial, dos anexos do

Grande do Sul no período de 2010 a 2013, a

Relatório Resumido da Execução Orçamen-

fim de identificar a inscrição e movimen-

tária e do Relatório de Gestão Fiscal – dis-

tação dos restos a pagar não processados

poníveis no sítio da Caixa e do Relatório de

nesse período. Também será utilizada a

Validação e Encaminhamento – RVE dispo-

coleta dos dados constantes nos anexos do

nível no sítio do Tribunal de Contas do

Relatório Resumido da Execução Orçamen-

Estado do Rio Grande do Sul – TCE/RS.

tária e do Relatório de Gestão Fiscal – dis-

Primeiramente, cabe analisar os

poníveis no sítio da Caixa e do Relatório de

valores inscritos em restos a pagar não pro-

Validação e Encaminhamento – RVE dispo-

cessados por ano, para identificar se houve

nível no sítio do Tribunal de Contas do

aumento ou diminuição desses valores ao

Estado do Rio Grande do Sul – TCE/RS.

longo do período.

3.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS Os dados serão analisados por meio do confronto entre a teoria e a prática na

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Tabela 1 – Inscrição de restos a pagar não processados por ano ANO

VALOR INSCRITO

2010

R$ 2.266.660,88

2011

R$ 2.104.166,43

2012

R$ 3.768.288,31

2013

R$ 2.795.027,71

Total

R$ 10.934.143,33

Fonte: Anexo VII do Rel. Res. da Exec. Orçamentária

Com base nos dados constantes na

liquidados por não terem sido recebidos ou

Tabela 1, percebeu-se que os valores ins-

estarem em fase de verificação, nota-se que

critos em 2010 e 2011 assemelhavam-se,

os valores inscritos a cada ano pelo muni-

mas, em 2012, houve um aumento muito sig-

cípio em análise são muito significativos.

nificativo no valor inscrito, sendo 79,09%

Para melhor compreender o quanto

superior ao do ano anterior. Entretanto, em

realmente importam essas inscrições a cada

2013, o valor diminuiu 25,83% em relação a

ano, é necessário realizar a comparação dos

2012. Levando-se em conta que os restos a

valores inscritos em restos a pagar não pro-

pagar não processados referem-se a

cessados com as despesas empenhadas em

produtos/serviços que ainda não foram

cada exercício.

Figura 1 – Inscrição de restos a pagar não processados x despesas empenhadas 7,00% 6,00% 5,00% 4,00% 3,00% 2,00% 1,00% 0,00% 2010

2011

2012

2013

Fonte: Anexos II, IV e VII do Relatório Resumido da Execução Orçamentária

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A Figura 1 demonstra que, com

empenhos foram inscritos, apesar de

relação à despesa empenhada, a inscrição

constar na Lei 101-2000, art. 55, inciso III,

dos restos a pagar não processados repre-

alínea b, que se não houver disponibilidade

sentou em 2010, 2011, 2012 e 2013: 5,46%;

financeira para inscrição, os restos a pagar

4,42%; 6,59% e 4,93%, respectivamente.

devem ser cancelados.

Esses percentuais mostram que, em

Constata-se que não eram obser-

média, 5,35% das despesas empenhadas

vados todos os critérios para inscrição de

não foram liquidadas até o final do exercí-

restos a pagar não processados, pois, nos

cio. Destaca-se o fato desse percentual ter

anos seguintes, ocorreram os cancela-

sido maior em 2012, ano de encerramento

mentos de valores inscritos nos anos

de mandato.

anteriores.

Quanto à disponibilidade financeira

Levando-se em conta que os empe-

para inscrição de restos a pagar não proces-

nhos são inscritos como restos a pagar

sados, a partir dos dados constantes no

somente ao final de cada exercício, então os

Anexo V do Relatório de Gestão Fiscal –

valores que são cancelados e pagos em cada

Demonstrativo da Disponibilidade de

ano referem-se aos valores dos restos a

Caixa, no período de 2010 a 2013, verificou-

pagar não processados dos anos anteriores.

-se que não havia disponibilidade financeira

Por exemplo, os restos que foram cance-

para a inscrição. Percebe-se que, mesmo

lados e pagos em 2010 referem-se a valores

sem disponibilidade financeira, esses

dos anos de 2009, 2008, 2007...

Tabela 2 – Cancelamento de restos a pagar não processados por ano ANO

VALOR

2010

R$ 162.970,29

2011

R$ 489.402,93

2012

R$ 697.058,38

2013

R$ 453.332,74

Total

R$ 1.802.764,34

Fonte: Anexo VII do Rel. Res. da Exec. Orçamentária

Os dados constantes na Tabela 2 representam os valores de restos a pagar não processados inscritos em exercícios anteriores e cancelados em 2010, 2011, 2012 e 2013. Para uma melhor evidenciação, é importante comparar esses cancelamentos com os totais inscritos.

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Figura 2 – Cancelamento de restos a pagar não processados x valores totais de restos a pagar não processados de exercícios anteriores

30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% 2010

2011

2012

2013

Fonte: Anexo VII do Rel. Resumido da Execução Orçamentária

A Figura 2 demonstra que, compa-

prestam serviço aos municípios e, como há

rado com os demais exercícios em análise,

uma grande demanda ao final do exercício

2012 foi o ano no qual ocorreu o maior

para ser executada em um período curto de

volume de cancelamento de restos a pagar

tempo, acaba ocasionando em problemas

não processados. Os cancelamentos foram

como esse, de valores inscritos como restos

de 5,57% em 2010, 15,64% em 2011, 25,75%

a pagar não processados e que depois são

em 2012 e 10,84% em 2013.

cancelados.

Acredita-se que esse percentual de

Porém, quando tudo ocorre da forma

cancelamentos tão elevado poderia ter sido

correta, quando esses restos inscritos refe-

evitado se houvesse um melhor controle e

rem-se a mercadorias/serviços em fase de

planejamento, porque o que ocorre no final

conclusão, que são liquidados no exercício

de cada ano é que as prefeituras empenham

seguinte, a próxima etapa é efetuar o seu

para aproveitarem a autorização orçamen-

pagamento.

tária e não controlam se esses valores ficaram sem liquidação e, descumprindo a legislação, também não efetuam a anulação desses empenhos, os quais acabam indo para a inscrição de restos a pagar. Esse procedimento de inscrição é feito de forma automática pela grande maioria dos sistemas de informática que

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Tabela 3 – Pagamento dos restos a pagar não processados por ano ANO

VALOR

2010

R$ 1.900.729,97

2011

R$ 2.014.533,26

2012

R$ 1.542.877,50

2013

R$ 2.680.339,88

Total

R$ 8.138.480,61

Fonte: Anexo VII do Rel. Res. da Exec. Orçamentária

Na Tabela 3, são apresentados os

Pode-se concluir que a média de

valores pagos, em cada exercício, de restos a

pagamento dos restos a pagar não proces-

pagar não processados, sendo possível

sados desse município é de 62,63%.

apurar que 2013 foi o ano em que houve o

redução de valores pagos em 2012 pode ser

maior desembolso de recursos com paga-

justificada, em partes, pelo alto índice de

mento de restos a pagar não processados.

cancelamentos que ocorreram no mesmo

Em percentuais, eles representaram em

A

ano.

2010, 2011, 2012 e 2013, respectivamente, o

Igualmente, é preciso identificar

pagamento de 65,01%, 64,39%, 57,01% e

quanto, em valores, de restos a pagar não

64,09% dos valores de restos a pagar não pro-

processados não são pagos, ficando para os

cessados inscritos em exercícios anteriores.

exercícios seguintes.

Figura 3 – Restos a pagar não processados não pagos x valores de restos a pagar não processados inscritos em exercícios anteriores 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% 2010 Fonte: Anexo VII do Rel. Res. da Execução Orçamentária

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2011

2012

2013


A Figura 3 representa quanto por

valores de restos a pagar não processados

cento dos restos a pagar não processados de

não pagos. Somente pela análise docu-

exercícios anteriores não foram pagos no

mental não foi possível averiguar o motivo

período de 2010 a 2013. O maior índice foi

desses restos não terem sido pagos.

em 2010, onde R$ 860.104,42, ou 29,42%

Uma importante análise a ser feita é o

dos restos a pagar não processados não

quanto representam o pagamento desses

foram pagos. Outro destaque é o ano de

restos a pagar não processados em relação à

2013, com 25,07%, ou R$ 1.048.722,66, dos

receita arrecadada pela Prefeitura.

Tabela 4 – Receita arrecadada x pagamentos de restos a pagar não processados ANO

RECEITA

PAGAMENTOS

2010

R$ 40.998.124,11

R$ 1.900.729,97

2011

R$ 47.746.200,35

R$ 2.014.533,26

2012

R$ 52.729.212,29

R$ 1.542.877,50

2013

R$ 58.625.622,17

R$ 2.680.339,88

Total

R$ 200.099.158,92

R$ 8.138.480,61

Fonte: Anexos I, IV e VII do Rel. Resumido da Execução Orçamentária

Identificam-se, na Tabela 4, as receitas e os pagamentos de restos a pagar não processados em cada exercício. O maior montante pago foi em 2013, quando, também, houve a maior arrecadação. Para uma melhor análise desses pagamentos em relação ao que foi arrecadado e identificar se esses pagamentos afetaram a execução orçamentária de cada exercício, faz-se necessária a interpretação por meio de porcentagens. Figura 4 – Percentual da receita comprometida com pagamento de restos a pagar não processados 5,00% 4,50% 4,00% 3,50% 3,00% 2,50% 2,00% 1,50% 1,00% 0,50% 0,00% 2010

2011

2012

2013

Fonte: Anexos I, IV e VII do Rel. Resumido da Execução Orçamentária

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Constata-se que há um equilíbrio em

Ainda, destaca-se que em nenhum

2010, 2011 e 2013 do valor das receitas utili-

dos exercícios foi apurado que havia dispo-

zadas para pagamento de restos a pagar não

nibilidade financeira para a inscrição de

processados, a diferença é 2012, que se

restos a pagar não processados. Todos os

deve, em partes, ao fato de um percentual

recursos que a Prefeitura dispunha já

muito grande de restos que foram cancela-

estavam comprometidos, quer com restos a

dos. Essa figura mostra, claramente, que os

pagar processados, quer com outros

restos a pagar não processados comprome-

compromissos.

teram a execução orçamentária no ano de

Por fim, outro ponto bastante impor-

seu pagamento, pois utilizar, em média, 4%

tante a ressaltar é que os restos a pagar não

das receitas arrecadadas apenas para esses

processados tornaram-se uma “bola de

pagamentos diminuiu a capacidade de

neve” nas demonstrações contábeis da Pre-

novos investimentos, ou seja, nos anos em

feitura, em virtude de nunca terem sido

análise, mais de R$ 8.000.000,00 do orça-

extintos, mantendo, em geral, a mesma

mento deixaram de ser utilizados para

média de valores a cada ano. Seria preciso

novos gastos, o que compromete, sim, a exe-

realizar uma avaliação, antes do final de

cução orçamentária. Ressalta-se, ainda, que

cada exercício, para analisar a real necessi-

se forem analisados os restos a pagar pro-

dade da inscrição dos empenhos ainda não

cessados, esse percentual, com certeza, será

liquidados para, dessa forma, tentar dimi-

bem maior.

nuir essas inscrições, observando sempre a

A análise de todos esses dados que foram coletados leva à seguinte conclusão: o

disponibilidade financeira para a sua realização e atendendo, assim, à legislação.

município do Rio Grande do Sul, nos anos em estudo, inscreveu muitos empenhos não liquidados como restos a pagar desnecessariamente, pois se identificou que uma boa

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

parcela desses restos foi cancelada nos exercícios seguintes aos da sua inscrição.

Mediante a presente pesquisa, bus-

Também, que a existência de valores a

cou-se analisar os restos a pagar não proces-

serem pagos em exercícios seguintes oca-

sados de um município do Rio Grande do

sionou o comprometimento de uma parcela

Sul, no período de 2010 a 2013, sendo este o

significativa de seu orçamento, tendo em

objetivo geral, o qual foi atingido. Utiliza-

vista que, em média, 4% de todas as receitas

ram-se apenas os dados da Prefeitura

arrecadadas pela Prefeitura entre 2010 e

porque possui um fundo previdenciário e,

2013 foram utilizadas para pagamento de

caso fossem usados os dados do município

restos a pagar não processados.

como um todo, os valores referentes a esse

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fundo e à Câmara de Vereadores distorce-

execução orçamentária no ano em que

riam os resultados pretendidos.

foram pagos, comprometendo as receitas

Conjuntamente, buscava-se apontar

arrecadadas daqueles exercícios, em média,

as causas e se havia disponibilidade finan-

em 4%, o que fez com que deixassem de ser

ceira para essas inscrições, verificar se

aplicados, nesses quatro anos, mais de R$

houve aumento ou diminuição dos valores

8.000.000,00 (oito milhões de reais) em

de restos a pagar não processados e

novos investimentos.

conhecer como eles foram baixados.

Seria mais coerente, ao final de cada

Para atingir todos esses objetivos

exercício, conferir se esses empenhos real-

(geral e específicos), foram analisados os

mente estão em fase de liquidação e se há

dados da Prefeitura por meio dos demons-

disponibilidade financeira para, de posse

trativos contábeis do período, como os

dessas informações, realizar a sua inscrição,

Balanços Orçamentário, Financeiro e Patri-

porque não adianta inscrever esses empe-

monial, os anexos do Relatório Resumido

nhos ao final do exercício para, no ano

da Execução Orçamentária e do Relatório

seguinte, cancelá-los.

de Gestão Fiscal e o Relatório de Validação e

Este estudo possibilitou uma melhor

Encaminhamento – RVE. Igualmente,

compreensão de como os restos a pagar não

foram utilizados vários autores para

processados são inscritos de um município

compor o referencial teórico. Foi uma pes-

de médio porte, onde há um grande número

quisa aplicada, de caráter quantitativo,

de empenhos emitidos a cada ano e um con-

mediante a qual se buscou demonstrar os

trole deficiente.

resultados encontrados por meio, principal-

Futuramente, seria interessante

mente, de percentuais, para uma melhor evi-

expandi-lo, englobando os restos a pagar

denciação.

processados, para analisar o real reflexo dos

Dos objetivos projetados, somente

empenhos de exercícios anteriores na exe-

não foi possível apontar as causas para a ins-

cução orçamentária anual e, também, uma

crição dos restos a pagar não processados.

entrevista com os envolvidos no processo

Para isso, seria necessária uma entrevista

para compreender quais são os critérios de

com os responsáveis da época pela inscri-

escolha dos empenhos para inscrição como

ção, mas, devido ao tempo decorrido e à

restos a pagar.

troca de mandato e, consequente, troca de pessoas, isso foi inviável. Entretanto, pode-se apurar que a inscrição desses empenhos não liquidados é constante na Prefeitura, ocorrendo todos os anos. Também, notou-se que os restos a pagar não processados prejudicaram a

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______. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Brasília, DF, 1964. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/le is/l4320.htm. Acesso em: 20 de agosto de 2014.

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SLOMSKI, Valmor. Manual de contabilidade pública: de acordo com as normas internacionais de contabilidade aplicadas ao setor público (IPSASB/ IFAC/CFC). 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

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PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA EM UMA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA DO RIO GRANDE DO SUL

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RESUMO

LAÉRCIO ROGÉRIO FRIEDRICH Contador, especialista em Gestão Estratégica de Custos e mestre em Administração pela Unisc. Doutorando em Ciências Contábeis pela Unisinos e professor da Unisc.

FRANCIELE BAGATINI Bacharel em Ciências Contábeis e pós-graduanda em Controladoria pela Unisc. Trabalho científico detentor do “Certificado de Mérito” na Área 5 – Governança Corporativa, na XV Convenção de Contabilidade do Rio Grande do Sul, realizada de 26 a 28 de agosto de 2015, em Bento Gonçalves-RS.

O crescimento do cooperativismo no mundo vem demandando constantes investimentos nos sistemas de governança dessas organizações, de forma a otimizar o empreendimento e manter laços sólidos e duradouros com seus associados. Nesse contexto, o objetivo do estudo foi identificar as principais práticas de governança adotadas por uma cooperativa do ramo agropecuário do Estado do Rio Grande do Sul. A organização administrativa da cooperativa conta com um Conselho de Administração, cujo foco principal é atuar em funções político-administrativas, liderando e coordenando o quadro social. Conta também com um Presidente Executivo, com atribuições de administração e liderança dos negócios. Para as funções de controle, dispõe de um Conselho Fiscal e Auditorias Externas. Baseado em um estudo de caso, além de pesquisa documental, entrevistas e visita à empresa, os resultados apontaram como inovações trazidas a partir da implantação da governança corporativa, finalizada em março de 2014, uma gestão por unidade de negócios, clareza no foco de atuação da empresa, busca constante de uma maior fidelização dos associados por meio da participação em programas de produção. Também ocorreram mudanças no modelo de gestão, como transparência na definição das funções, aumento da assertividade na tomada de decisões, maior profissionalização da administração e maior credibilidade junto às instituições financeiras.

PALAVRAS-CHAVE:

Governança cooperativa.

Coope-rativismo agropecuário. Práticas de governança.

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1 INTRODUÇÃO

Reconhecido o cenário altamente competitivo em que as cooperativas

O crescimento do cooperativismo no mundo vem despertando a necessidade de uma atenção especial em aspectos que podem influenciar diretamente o desempenho social e econômico dessas organizações. As boas práticas de governança em cooperativas podem contribuir com esse enfoque, pois representam mecanismos que buscam promover a participação igualitária de seus membros, além de delinear uma gestão eficiente e responsável, por meio da

encontram-se, bem como os aspectos legais e culturais que trazem a dimensão social para a sua gestão, o presente estudo tem como objetivo identificar as principais práticas de governança adotadas por uma sociedade cooperativa do ramo agropecuário do interior do Estado do Rio Grande do Sul, de forma a compreender como funcionam os mecanismos internos envolvendo as relações com associados e demais partes interessadas.

condução, controle e monitoramento da

Devido às peculiaridades do segmen-

organização, com práticas transparentes e

to, principalmente no que diz respeito à

em permanente aprimoramento.

forma como tais organizações são constituí-

Alicerçadas em princípios, as co-

das e gerenciadas, os estudos envolvendo

operativas são criadas para servir os

esse tipo de sociedade vêm aumentando a

interesses de seus membros, portanto, a

cada ano, a fim de possibilitar o aperfei-

rentabilidade é um meio e não um fim. As

çoamento de todos os processos internos,

ações de cooperativas não são negociadas

tornando-os adequados às exigências atuais

em um mercado, não tendo as mesmas

do mercado.

pressões externas sobre os administrado-

A importância do estudo decorre,

res, tais como as dos grandes acionistas em

entre outros, do significativo papel que

empresas privadas (CORNFORTH, 2004).

esses empreendimentos têm na economia

Não obstante, o contexto de mercado

nacional e local, especialmente no setor

no qual as sociedades cooperativas estão

agropecuário. De acordo com Serigati

inseridas vem exigindo, entre outros

(2008), ao longo das últimas décadas as

aspectos, a profissionalização de seus

cooperativas vêm aumentando sua par-

gestores. As práticas de governança, desde

ticipação na produção agrícola do país e

que adequadas à realidade das cooperati-

desempenhando uma função fundamental

vas, apresentam-se como instrumentos

enquanto redutoras de falhas de mercado

eficientes na preservação e maximização

em benefício do produtor rural. A mensura-

dos interesses dos associados, perpetuando

ção de governança em cooperativas surge

o empreendimento cooperativo, além de

em virtude das peculiaridades que essa

auxiliar na sua gestão.

forma jurídica possui, resultantes da

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necessidade de eficiência econômica e so-

de governança pode contribuir para o

cial, buscando a melhoria das relações entre

aprimoramento de sua administração e os

a cooperativa e os associados (FARIA, 2005).

relacionamentos entre todos os agentes

Além dessa introdução, o presente artigo apresenta uma breve revisão teórica acerca do tema, seguida da metodologia de

desse sistema (cooperados, administradores, funcionários e a sociedade), reduzindo potenciais conflitos e riscos.

pesquisa utilizada. São apresentadas ainda

Os princípios ou valores básicos que

as informações sobre a estrutura de gover-

norteiam os padrões fixados às boas

nança da cooperativa analisada, principal-

práticas de governança corporativa são os

mente no que diz respeito às suas práticas

seguintes (IBGC, 2009):

adotadas, os principais achados do estudo, finalizando com a apresentação das consi-

a) Transparência - Mais do que a obrigação

derações finais, limitações, sugestões e as

de informar, é o desejo de disponibilizar

referências utilizadas para o embasamento

para as partes interessadas as infor-

deste estudo.

mações que sejam de seu interesse, e não apenas aquelas impostas por disposições legais ou regulamentos. A adequada transparência resulta em

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

um clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações da empresa com terceiros. Não deve

2.1 PRINCÍPIOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os demais fatores que norteiam a ação gerencial e que conduzem à

Apesar de terem sua origem no con-

criação de valor.

texto das empresas privadas de capital aberto, os princípios e práticas de governança

b) Equidade - Caracteriza-se pelo trata-

corporativa também podem ser adotados e

mento igualitário e justo a todos os

proporcionar benefícios para outras organi-

sócios, inclusive os minoritários. É

zações, por meio do alinhamento de interes-

inaceitável qualquer ato ou política de

ses, de modo a contribuir para o sucesso da

caráter discriminatório, vedando favo-

empresa e para sua longevidade. Segundo o

res indevidos e criando penalidades

Instituto Brasileiro de Governança Corpo-

para tais atos.

rativa - IBGC (2014), as cooperativas são

c) Prestação de Contas - Os agentes de

parte relevante da economia brasileira, e a

governança (executivos, diretores,

adoção de práticas baseadas nos princípios

presidente, entre outros) devem

REVISTA DO CRCRS

29


prestar contas de sua atuação, por

que se lança ao se falar de governança para

meio da publicação periódica de

cooperativas está relacionado com a

relatórios, assumindo integralmente

diversidade de segmentos econômicos que

as consequências de seus atos,

se estruturam a partir dessa forma jurídica,

decisões e omissões.

além de sua existência nos mais diversos

d) Responsabilidade Corporativa - Os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade das organizações, visando à sua longevidade, incorporando considerações de

portes. O guia busca estudar as possibilidades de governança para as cooperativas por meio dos princípios de transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.

ordem social e ambiental na definição dos negócios e das operações. Devem também promover a segurança dos colaboradores, com visão de futuro e

2.2 GOVERNANÇA COOPERATIVA

plena transparência. As cooperativas, de forma geral, Machado (2011) menciona, além da

demandam uma constante participação dos

transparência (disclosure), equidade

associados na sua administração. No

(fairness) e prestação de contas (accounta-

entanto, como também ocorre nas so-

bility), a prática do compliance, que diz

ciedades em geral, os problemas de gestão

respeito à obediência e ao cumprimento de

são inevitáveis, visto que as opiniões dos

leis e regulamentos vigentes. Também

cooperados divergem entre si. A governança

sugere a criação e manutenção de um código

cooperativa configura-se como um sistema

de ética para as entidades, em especial para

que se estabelece no âmbito interno, e

seus principais executivos, com inclusão

corresponde aos mecanismos que

obrigatória de regras para o conflito de

regulamentam a relação cooperados,

interesse e divulgação de informações,

gestores e o processo de tomada de decisão

sendo esta também uma recomendação do

(FARIA, 2005).

IBGC.

De acordo com Soares e Ventura

Recentemente, em maio de 2015, foi

(2008), os problemas centrais tratados na

lançado o Guia das Melhores Práticas de

governança corporativa são semelhantes na

Governança para Cooperativas, o que

maioria das organizações. No entanto, a

reflete a grande importância dessas

gestão das cooperativas possui algumas

organizações na economia do Brasil.

particularidades, uma vez que elas

Conforme o IBGC (2015), o primeiro desafio

aglutinam recursos e os administram de

30

REVISTA DO CRCRS


forma a obter melhorias sociais e econômi-

o comportamento e as decisões dos

cas para os cooperados, ao mesmo tempo

gestores.

em que objetivam a competitividade

A presença dos conselhos objetiva,

(KIRCH, 2003). Sob o olhar dos associados,

além do controle e da fiscalização, a otimiza-

as questões de governança visam a promo-

ção dos processos administrativos que

ver condições que facilitem a tomada de

ocorrem dentro da empresa. Também im-

decisão coletiva, reduzindo seus custos e

plicam em um sistema que facilita e agiliza a

potenciais conflitos (SOARES, VENTURA,

decisão e execução de determinadas tarefas,

2008).

abrindo espaço para um cenário de

As cooperativas, que são organizações

especialização administrativa, com órgãos e

de propriedade coletiva, possuem duas

gestores elencados para funções especí-

características bastante peculiares: os asso-

ficas dentro da estrutura organizacional

ciados são, simultaneamente, proprietários,

(AGUIAR, 2011).

usuários e consumidores dos seus produtos

Soares e Ventura (2008) salientam

e serviços, e os resultados auferidos são

que, mesmo nas cooperativas, as quais são

distribuídos de acordo com o volume de ope-

sociedades de pessoas, portanto com carac-

rações realizadas entre as partes. Quanto ao

terísticas próprias de governança, os papéis

direito de propriedade sobre a organização,

e as funções do Conselho de Administração

este se concretiza no momento em que o

(CA) não devem se distanciar daquelas

novo associado estabelece contrato e adqui-

atribuídas às sociedades de capital. Por se

re cotas de capital na sociedade, que lhe

tratarem de instituições de propriedade difu-

asseguram prerrogativas de proprietário e

sa, sem a figura de sócio majoritário ou con-

usuário. Dessa maneira, os cooperados ad-

trolador, o fortalecimento do papel do CA é

quirem direitos difusos, uma vez que não

ainda mais importante, de forma a manter

existe uma clara separação destes no con-

os valores inerentes ao processo associativo

trato (COOK, 1995).

e reduzir os riscos de comportamento opor-

A existência de um conselho de diretores é um mecanismo de governança

tunista dos dirigentes, que são os agentes e principais ao mesmo tempo.

corporativa amplamente utilizado pelas

Os mesmos fatores que condicionam

empresas convencionais, e também em-

as estruturas de governança das cooperati-

pregado nas cooperativas. A própria le-

vas também influenciam o papel dos seus

gislação cooperativista já prevê a adoção

gestores. Destacadamente, o duplo papel

de instrumentos de governança corpora-

exercido pelos membros da cooperativa, os

tiva, a saber: Conselho Fiscal e Conselho

quais são simultaneamente proprietários e

de Administração, que objetivam reduzir

principais usuários, a dispersão dos seus di-

os problemas de agência ao monitorarem

reitos de propriedade, favorecendo a

REVISTA DO CRCRS

31


heterogeneidade de interesses entre seus

estudo de caso, a pesquisa documental,

titulares, e a forma como estes direitos de

realização de entrevistas e visita in loco,

propriedade estão alocados nestas organi-

permitindo, desse modo, a triangulação das

zações exigem dos gestores das empresas

informações. O estudo de caso caracteriza-

cooperativas habilidades específicas.

-se pelo exame em profundidade de um

Serigati (2008) ressalta a importância de que estes tentem entender as características, valores, necessidades, satisfações e desejos dos associados, para aperfeiçoar o desempenho da sua gestão e os resultados da cooperativa, atendendo tanto a objetivos econômicos quanto sociais.

único objeto, possibilitando um conhecimento mais rico acerca da realidade analisada. Trata-se de um tema específico, sendo que os resultados obtidos na pesquisa não podem ser generalizáveis a outros objetos. Quanto aos documentos, foram analisados o Estatuto Social e o Regimento Interno da cooperativa, os quais foram

Devido ao fato de que cada coopera-

disponibilizados para a pesquisa na sua

tiva possui um determinado perfil de

integralidade. A partir da leitura e compre-

cooperados, é muito importante buscar

ensão destes documentos, foram identifi-

formas de harmonizar os interesses de

cadas e transcritas as principais práticas de

todos, minimizando a ocorrência de confli-

governança adotadas, bem como os

tos, além de motivar e incentivar os

aspectos mais relevantes em relação aos

membros a participarem da tomada de

associados, prestação de contas, organi-

decisões, criando, dessa maneira, um

zação social, entre outros.

ambiente de confiança e transparência, formado por associados satisfeitos e atuantes, baseados nas premissas e nos conceitos da governança cooperativa.

As entrevistas, por sua vez, foram orientadas por um formulário semiestruturado, com questões abertas que buscavam identificar os principais elementos verificados na literatura, conforme esboçado na Figura 1.

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Os procedimentos adotados para determinada pesquisa referem-se à maneira pela qual é conduzida para obtenção de dados. As tipologias de pesquisa utilizadas no presente artigo foram o

32

REVISTA DO CRCRS


Figura 1 – Estrutura utilizada para entrevistas

GOVERNANÇA CORPORATIVA

Abordagem geral

Princípios da governança

Relações

implantação

Princípio da Transparência

Vínculo cooperativa x associados

Mudanças mais significativas

Princípio da Equidade

Participação dos associados

Código de Ética/ Regimento Interno

Princípio da Prestação de contas

Distribuição de sobras

Princípio da Responsabilidade Corporativa

Contratação de colaboradores

Fonte: Elaborado pelos autores

Foram realizadas entrevistas com os

recepção e explanação sobre a estrutura

atuais Presidente e Vice-Presidente do

interna da empresa. Foram levantadas

Conselho de Administração, em que foram

informações sobre cada divisão de negócios

abordados aspectos relacionados com o

e de apoio, e a quem cada unidade deve se

processo de implantação da governança

reportar em determinadas situações.

corporativa na COSUEL, mudanças mais significativas e os benefícios verificados, adoção dos princípios de governança, além de tratar de aspectos acerca das relações da cooperativa com seus associados.

Quanto à abordagem, a pesquisa se classifica como qualitativa. Segundo Beuren (2012, p. 92), “na pesquisa qualitativa concebem-se análises mais profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado”.

A visita realizada à sede da COSUEL no município de Encantado foi orientada

Justifica-se a escolha da COSUEL

pela gerente da Divisão Administrativo-

como objeto deste estudo, tendo em vista o

-Financeira (DAF), a qual fez o trabalho de

seu grande crescimento em nível estadual e

REVISTA DO CRCRS

33


nacional nos últimos anos. A cooperativa

consumo; crédito; educacional; especial;

vem atingindo índices que comprovam um

habitacional; infraestrutura; mineral;

excelente momento. Conforme a Revista

produção; saúde; trabalho, transporte e

Exame “Melhores e Maiores” edição 2014, a

turismo e lazer. Em 2013, o Brasil contava

COSUEL aparece como destaque do

com 6.603 cooperativas associadas à OCB,

agronegócio brasileiro, setor “Aves e

totalizando mais de 11 milhões de coopera-

Suínos”, estampando a 5ª posição do

dos. A força de trabalho das cooperativas,

ranking no País, e a 1ª no Estado, no

desde 2002, quase dobrou, atingindo 321,4

exercício de 2013.

mil empregos diretos (OCB, 2013). É

Além disso, a publicação também

importante destacar que os números vêm

mostra um avanço de 13 posições na

evoluindo a cada ano, demonstrando um

classificação geral das 400 maiores do

sistema econômico e social relevante.

Brasil no agronegócio, subindo da posição

Pesquisas internacionais realizadas

161º em 2012, para a 148º em 2013. O

pela ACI apontam que o Brasil está se

critério adotado pela revista para o ranking

destacando no cenário do cooperativismo

considera: crescimento das vendas,

mundial, sendo que, em 2013, quatro

liderança de mercado, liquidez corrente,

cooperativas brasileiras estavam no ranking

liquidez geral, rentabilidade do patrimônio

das 30 maiores cooperativas agrícolas do

e riqueza gerada por empregado, entre

mundo (OCB, 2013).

outros aspectos.

As primeiras cooperativas agropecuárias do Brasil foram organizadas no estado de Minas Gerais e no Sul do país. Atualmen-

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS

te, esse ramo do cooperativismo é o mais conhecido, participando significativamente nas exportações e, ao mesmo tempo,

4.1 DADOS DO COOPERATIVISMO AGROPECUÁRIO

abastecendo o mercado interno com produtos alimentícios. Segundo dados da OCB (2013), o ramo agropecuário apresentou os seguintes resultados, em âmbito

Em uma visão macro, o cooperativis-

nacional:

mo vem aumentando sua representatividade, estando presente em 100 países e gerando mais de 100 milhões de empregos. O total de cooperados já soma mais de 1 bilhão de pessoas (OCB, 2013). No Brasil, o movimento cooperativista atua em 13 ramos de atividades: agropecuário;

34

REVISTA DO CRCRS

Ÿ Número de cooperativas: 1.561, ocupando o 1º lugar no ranking, em comparação com os demais ramos do cooperativismo. Ÿ Número de associados: mais de 1 milhão, ficando atrás apenas do ramo


Ÿ

crédito (5,4 milhões) e consumo (2,8

rior. São exportados produtos para o

milhões).

continente africano, Hong Kong, Cingapu-

Exportações: mais de 90% das exportações das cooperativas são de produtos agropecuários.

Ÿ

Pode-se observar que apenas em relação ao número de associados o ramo não aparece em 1º lugar, o que pode ser justificado pelas características de cada segmento.

ra, Uruguai, entre outros. Além de carne suína, a COSUEL está habilitada também para exportação de laticínios. Hoje, a COSUEL conta com uma estrutura enxuta e um quadro de colaboradores bastante qualificado, e desenvolve as atividades de matadouro frigorífico, fábrica de rações e concentrados, laticínios, granjas de suínos, armazenagem e comercialização de grãos, e supermercados, fazendo uso das mais modernas tecnologias. Como resulta-

4.2 O CASO EM ESTUDO E A ESTRUTURA DE GOVERNANÇA

do, a organização encerrou o ano de 2014 com 4.111 associados e 2.209 funcionários, além de um faturamento histórico superior a R$ 1 bilhão. Considerando o planejamento

Buscando entender como se desen-

estratégico elaborado para o exercício de

volve a governança cooperativa, o estudo

2014 até 2020, a receita operacional bruta

utilizou-se de dados da COSUEL - Coopera-

da COSUEL deverá atingir, nesse período, a

tiva dos Suinocultores de Encantado Ltda.,

casa dos R$ 10 bilhões, a partir da expansão

cujo nome fantasia é Dália Alimentos, fun-

das operações já existentes, além da nova

dada no dia 15 de junho de 1947 no municí-

atividade prevista para operar a partir de

pio de Encantado - Região Alta do Vale do

2016: o frango de corte.

Taquari, a nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, a qual surgiu como resultado da congregação de esforços de 387 pequenos agricultores.

O sistema e os mecanismos de governança adotados pela COSUEL, por sua vez, são resultado de muitos anos de investi-

Ano após ano, a COSUEL apostava na

mentos, pesquisas e viagens. Conforme relato

diversificação das suas atividades, de forma

do atual presidente do Conselho de Adminis-

que, em 1957, surgiu a fábrica de óleo de so-

tração, no ano de 1998 uma comitiva formada

ja, em 1963 a fábrica de rações, e, em 1965, a

por conselheiros e funcionários visitou

indústria de laticínios. A partir daí, todas as

diversas cooperativas da Europa, principal-

melhorias e investimentos realizados na em-

mente em países como França, Itália e

presa foram responsáveis por fazer com que

Alemanha, a fim de buscar o conhecimento

os produtos Dália ficassem conhecidos em

necessário para que se pudesse adequar os

todo o Brasil, e atualmente, também no exte-

padrões que até então existiam na COSUEL.

REVISTA DO CRCRS

35


Esse intenso processo de mudanças foi

às atividades político-institucionais e do

sendo realizado de forma gradativa, visto

quadro social da cooperativa. Cabe ao

que tudo o que seria modificado e

Conselho de Administração aprovar e

implementado dependia da aprovação e

monitorar permanentemente a execução

adesão de todos os cooperados e seus

dos planos anuais de metas propostos pelo

representantes.

Presidente do Conselho e pelo Presidente

Assim, após diversas alterações no

Executivo, verificando as metas traçadas,

Estatuto Social, e com a criação de um

como faturamento projetado, lançamento

Regimento Interno, o mês de março de 2014

de novos produtos, abertura de filiais,

foi marcado pela conclusão dessa

perspectiva de novos mercados, entre

importante etapa na história da COSUEL,

outros.

resultando em uma nova concepção que

Além do plano anual de metas, há um

engloba todas as relações e práticas da

desmembramento deste em metas mensais,

empresa. Em pouco tempo, após as mudanças, as expectativas se confirmaram, sendo perceptível a grande melhoria conquistada pela COSUEL, empresa que, atualmente, conta com um sistema de governança cooperativa extremamente sólido e desenvolvido. A governança na COSUEL se concre-

a serem cumpridas por cada unidade. Se não se concretizarem, cabe à gerência de cada unidade explicar os motivos que justificam tal fato, os quais podem estar relacionados com oscilações na economia, além de questões sanitárias, climáticas e sazonais.

tiza com a elaboração de um planejamento

Quanto à prestação de contas, esta

estratégico de curto, médio e longo prazo.

ocorre de forma periódica, sendo que,

Entre as atribuições do Conselho de

mensalmente, junto com a apresentação de

Administração previstas no Estatuto Social,

informações sobre o desenvolvimento do

estão o controle sobre as atividades

plano anual de metas ao Conselho de

empresariais e a elaboração do planejamen-

Administração, o Presidente Executivo

to estratégico de longo prazo, com a

também realiza a prestação de contas. São

definição das diretrizes gerais que

emitidos os demonstrativos contábeis e

nortearão os planos anuais de metas.

demais relatórios que apresentam o

Com base nessas diretrizes, o

desempenho da cooperativa em relação à

Presidente Executivo da cooperativa, em

execução de tudo aquilo que fora planejado

conjunto com os gerentes de todas as áreas

em períodos anteriores. Estes demonstrati-

de negócios, elabora, organiza e executa o

vos contábeis também são enviados a

plano anual de metas das atividades

bancos e demais partes interessadas para o

empresariais; por sua vez, o presidente do

acompanhamento da sua situação econômi-

Conselho de Administração o faz em relação

co-financeira.

36

REVISTA DO CRCRS


Anualmente, no mês de fevereiro, são

nos processos internos da cooperativa, além

realizadas as Assembleias regionais, que são

de assegurar o cumprimento da legislação

oito no total, com a participação de todos os

atinente ao setor cooperativista.

associados e familiares, cujo objetivo é in-

A COSUEL possui um Regimento

formar sobre o desempenho e resultados do

Interno, no qual constam normas relaciona-

ano anterior, como posição do balanço, rela-

das com a administração, conduta de

tórios de produção, além de tendências e

associados, além de critérios para sua ad-

projetos para o exercício. No mês de março é

missão, demissão, eliminação e exclusão,

convocada a Assembleia Geral Ordinária, a

regras relativas ao capital social, organização

qual conta com a participação dos Conse-

do quadro social e sua representatividade,

lhos de Administração e Fiscal, além dos

processo eleitoral, programas de produção,

delegados que representam a totalidade dos

Assembleias Gerais, entre outros assuntos

associados. Essa é uma Assembleia delibe-

de interesse da cooperativa em geral. Este

rativa, na qual os delegados votam todas as

documento também prevê direitos, deveres

pautas da ordem do dia.

e sanções aos seus usuários.

Historicamente, a COSUEL possui

Com exceção dos representantes elei-

uma participação média de 60% de seus as-

tos pelos associados, ou seja, conselheiros e

sociados nas Assembleias abertas, ou seja,

delegados, os demais colaboradores da

as Assembleias regionais, sendo este um

cooperativa são contratados mediante pro-

índice significativo, considerando que se

cessos seletivos que envolvem análise de cur-

mantém ao longo dos anos.

rículo, entrevista com o candidato e testes

A Administração da cooperativa é fis-

psicológicos. É escolhida para preencher a

calizada, assídua e minuciosamente, pelo

vaga a pessoa que for considerada melhor

Conselho Fiscal, o qual verifica as opera-

preparada, e que apresentar um bom de-

ções, atividades e serviços da cooperativa.

sempenho nos testes realizados. O fato de o

Entre outras atribuições, cabe ao Conselho

candidato ser associado da COSUEL, ou

Fiscal o exame dos demonstrativos contábeis,

então familiar de algum, não influencia nas

bem como dos volumes de ativos, passivos,

decisões de contratação, visto que se leva

receitas e despesas apresentados. Para o

em conta a condição da pessoa para assumir

cumprimento de suas atribuições, o Conse-

determinada função, e não o simples fato de

lho Fiscal conta com uma equipe especiali-

manter vínculo associativo com a empresa. A

zada de Auditoria Externa. Esta é responsá-

cooperativa possui um plano de cargos e salá-

vel por auxiliar em todas as verificações ne-

rios definido, o qual é de conhecimento de

cessárias para salvaguardar os interesses de

todos os funcionários. Também investe conti-

todas as partes, inclusive dos associados, ga-

nuamente na qualificação dos seus colabora-

rantindo a inexistência de irregularidades

dores, por meio de programas de treinamento

REVISTA DO CRCRS

37


cursos, participação em eventos e viagens,

implementos, sementes, medicamentos,

além de incentivar a continuidade dos

rações, entre outros, são todos a preço de

estudos.

custo, não havendo nenhuma margem de lucro agregada nestas operações, pois se espera que o lucro será obtido apenas na

4.3 RELAÇÕES COM OS ASSOCIADOS

venda para terceiros, como, por exemplo, nos produtos que são industrializados e postos à venda no varejo, seja nos

A COSUEL preza pela equidade no tratamento para com seus associados. A

supermercados da própria COSUEL, ou de terceiros.

opinião de todos, independentemente do volume de sua produção, é considerada relevante. Não há distinção entre coopera-

a) Direitos dos associados

dos devido ao tamanho da sua propriedade, por exemplo. O que existe são alguns

A adesão do associado à cooperativa,

critérios quanto à quantidade e qualidade

e, posteriormente, sua retirada, é voluntária

do produto. Há tabelas que são amplamente

e livre, destacando-se que, para o

divulgadas a todos os associados, nas quais

desligamento, o associado deve estar

constam informações relativas aos valores a

totalmente em dia com as suas obrigações

serem pagos a cada produtor, conforme a

de cooperado.

faixa em que se enquadra. No caso do leite,

Conforme previsto no Estatuto Social,

por exemplo, se o associado produzir em

o associado que se encontrar em pleno gozo

grandes quantidades, prezando a qualidade

de seus direitos sociais possui os seguintes

e higiene do produto, receberá um

direitos:

pagamento maior pela sua produção, em comparação aos demais associados que produzem menos e/ou com qualidade inferior. Por sua vez, no ramo de suínos para abate, o tratamento diferenciado se dá em função da conversão alimentar, ou seja,

a) tomar parte nas Assembleias, discutindo e votando os assuntos que nelas se tratarem, solicitando, para tanto, informações sobre os negócios da cooperativa;

espera-se o máximo de quilos de carne

b) votar com direito a um só voto nas

possível produzido com a menor quantida-

deliberações, e ser votado para

de de alimento ingerida pelo animal,

membro dos órgãos estatutários da

mantendo sempre o nível de qualidade.

cooperativa, desconsiderando-se o

Outro aspecto a se destacar é que os insumos vendidos pela cooperativa aos associados, para uso na propriedade, como

38

REVISTA DO CRCRS

capital social representado; c) realizar com a cooperativa as operações constantes de seus objetivos; e


d) assistência social, na forma de Programa de Retribuição Social (PRS).

Também estão definidos no Estatuto Social os principais deveres e obrigações específicas dos associados, a fim de que todos

O programa de assistência social, definido como Programa de Retribuição Social

busquem pela consecução dos objetivos sociais da cooperativa. São eles:

(PRS), tem como finalidade a retribuição da sociedade cooperativa pela participação, fidelidade, trabalho, dedicação, abnegação e tempo de permanência na condição de asso-

a) entregar toda a produção produzida em sua propriedade à cooperativa, desde que comercializada por esta;

ciado, além de sua efetiva participação nas

b) satisfazer pontualmente os compro-

atividades sociais desenvolvidas. Terá direi-

missos assumidos com a cooperativa;

to à retribuição social todo associado que se

c) contribuir com as taxas que lhe cai-

enquadre nas seguintes condições: I - tenha 65 (sessenta e cinco) anos completos; II - tiver o capital mínimo integralizado

bam; d) prestar esclarecimentos à cooperativa sobre atividades relacionadas com os objetivos sociais;

(sendo que, atualmente, o valor do

e) acusar o seu impedimento nas delibe-

capital mínimo definido em estatuto é

rações sobre qualquer operação em

de R$ 200,00).

que tenha interesse oposto ao da

A retribuição social consiste em

cooperativa; e

creditar, mensalmente, um valor ao associa-

f) cumprir as disposições legais do

do habilitado, tendo como base de cálculo o

Estatuto, do Regimento Interno e das

valor agregado de quotas-partes do capital

Resoluções tomadas pela Adminis-

social, além do mínimo estatutário.

tração, inclusive sobre planejamento, controle e recebimento da produção,

b) Deveres dos associados

bem como atender às Deliberações da Assembleia Geral e zelar pelo patrimônio moral e material da cooperativa.

Não será admitida como associado da COSUEL, nem permanecerá como tal, a pessoa física ou jurídica que, mesmo atendendo às exigências estatutárias, se dedique também a qualquer atividade que possa preju-

Todo associado deverá participar de pelo menos um dos seguintes Programas de Produção para adquirir e manter a sua qualidade de associado:

dicar os interesses da cooperativa, ou colidir com seus objetivos, bem como pela impossibilidade da prestação do serviço requerido.

I - Programas de Suinocultura (Unidade de Produção de Leitões – UPL,

REVISTA DO CRCRS

39


Crecheiro, Terminação Parceria

incentivar a participação de todos na

Rural, Ciclo Completo)

discussão e tomada de decisão sobre os

II - Programas de Gado Leiteiro

assuntos de seu interesse. As regiões são formadas por um

III - Programas Agrícolas.

determinado número de municípios, e são definidas como uma área geográfica que

A responsabilidade dos associados

apresenta características semelhantes, e

perante terceiros, pelos compromissos da

tem como finalidade agrupar os associados

cooperativa, bem como em relação a seus

da melhor forma possível, para fins de

direitos e deveres sobre resultados do

discussão a respeito de questões em

exercício, perdura, para os demitidos,

comum. Ficam a critério do Conselho de

eliminados ou excluídos, até quando

Administração a criação, desmembramen-

aprovadas as contas do exercício em que se

to, agrupamento ou extinção de regiões.

deu o desligamento.

Cada região possui um Conselheiro de

A COSUEL reconhece a necessidade de capital para a obtenção de seus objetivos e exige o máximo empenho de todos, em especial dos seus administradores, em garantir a sua suficiência para o desenvolvimento das atividades necessárias ao funcionamento da cooperativa, zelar pelo bom uso, evitando perdas, desgastes, aplicações desnecessárias, ou qualquer tratamento que implique em sua deterioração, tratamento ao capital do associado, dentro das normas legais, de tal modo que sirva como instrumento de incentivo às suas atividades.

Administração nato ou designado para sua representação, o qual também coordena o trabalho dos delegados e encaminha as demandas da região ao Conselho. Atualmente, a COSUEL possui oito regiões definidas, sendo elas: Serafina Corrêa, Progresso, Arroio do Meio, Guaporé, Encantado, Anta Gorda, Júlio de Castilhos e Candelária. Por sua vez, os grupos de associados formam-se tendo como critério básico e fundamental o agrupamento natural de associados. Cada grupo elege um delegado e seu suplente, que o representa nas Assembleias Gerais. É permitida a eleição como delegado ou suplente apenas depois de dois anos, no mínimo, na condição de associado.

4.4 A ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Cada delegado não pode representar mais de 40 associados, cabendo ao Conselho de Administração a autorização para se

O Quadro Social da COSUEL está

constituir novos grupos, visando ao

organizado em regiões e grupos de

controle do número de delegados e seus

associados, buscando, com isso, promover e

respectivos representados. Cada delegado

40

REVISTA DO CRCRS


eleito tem listados os seus representados para fins de designação e votos junto às Assembleias.

4.5 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA O Conselho de Administração, eleito pela Assembleia Geral e a ela subordinado, é órgão deliberativo, composto por 9 associados eleitos para um mandato de 4 (quatro) anos, sendo obrigatória a renovação de no mínimo um terço a cada mandato.

Dessa maneira, os associados exercem seu direito de participação nas decisões junto à cooperativa de duas formas: a) Pessoalmente: os assuntos a serem discutidos e votados na Assembleia Geral são apresentados para apreciação prévia e preparatória na Assembleia Regional; também participam de reuniões na sua região e junto ao seu grupo de associados.

Anualmente, o Conselho de Administração elege, entre os seus membros, o Presidente e o Vice-Presidente do Conselho, os quais têm como principais funções liderar e coordenar o quadro social, além de realizar a representação institucional externa. Na Figura 2, demonstra-se a estrutura de governança corporativa atualmente adotada pela COSUEL, além de apresentar os fluxos de informações e operações, com base em dados levantados em março de 2015.

b) Por delegação: nas demais Assembleias Gerais, seja ela ordinária ou extraordinária, por intermédio de seus representantes.

Figura 2 – Estrutura de governança corporativa da COSUEL Assembleia Geral dos Associados

O R G A N O G R A M A

Conselho Fiscal

Conselho de Administração Assessorias

Presidente Executivo

Presidente do Conselho Adm. Setor Social

Secretaria

LIDERANÇA E GESTÃO DOS NEGÓCIOS DA SOC. CORP.

LIDERANÇA E COORDENAÇÃO DA SOCIEDADE COOPERATIVA

REPRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL EXTERNA

Divisões de Apoio: Administrativo Financeira Com. Marketing Produtos Suínos Com. Marketing Produtos Lácteos Controle da qualidade

Divisões de Negócios: DPS, DPA, DPL e DV

8 Regiões 148 Delegados 4.466 Associados

8 gerências 46 supervisores 92 encarregados 2.088 auxiliares

total: 2.235 funcionários

Fonte: Arquivo COSUEL

REVISTA DO CRCRS

41


No atual modelo de gestão, existe a

4.6 SOBRAS, FUNDOS E PROJETOS SOCIAIS

figura do Presidente Executivo, com a atribuição principal de liderar e administrar os negócios da sociedade cooperativa, com especialização técnica e profissional, podendo firmar e rescindir contratos e compromissos, praticando atos conforme os poderes delegados pelo Conselho de Administração, responsabilizando-se pelas atividades que lhe são confiadas. Ao Presi-

No dia 31 de dezembro de cada ano, é realizada a apuração dos resultados do exercício social e os levantamentos do Balanço Geral. Os resultados positivos, apurados por setor de atividade, constituirão o resultado do exercício que será distribuído da seguinte forma:

dente Executivo estão ligadas as divisões de

a) 50% para Reserva Legal;

negócios, ou seja, aquelas que geram

b) 5% para a Reserva de Assistência

retorno financeiro para a empresa (Divisão

Técnica, Educacional e Social –

Produtos Suínos, Divisão Produção Agrope-

RATES;

cuária, Divisão Produtos Lácteos e Divisão Varejo), e as divisões de apoio, que prestam suporte às unidades de negócios, compreendendo áreas como contabilidade, setor

c) 5% para distribuição aos colaboradores da empresa, a título de participação nos resultados; e

pessoal, jurídico, equipe de TI, segurança e

d) o restante à disposição da Assembleia

medicina do trabalho, marketing, controle

Geral, ou seja, a sobra líquida será

da qualidade, entre outras. Estão envolvidos

destinada proporcionalmente ao

com estas operações 2.235 funcionários,

valor das operações efetuadas pelo

todos trabalhando em prol das atividades

associado com a cooperativa, sendo

empresariais relacionadas aos negócios da

que 50% do valor será incorporado ao

cooperativa.

capital social de cada cooperado, sob a

De outro lado, existe o presidente do Conselho de Administração, que, em con-

forma de aumento de quotas, e 50% será distribuído em espécie.

junto com o setor social, atua em atividades

Esta é uma prática recente, pois até

político-institucionais, representando

algum tempo atrás, toda a sobra líquida

4.466 associados, distribuídos em 8 regiões,

ficava retida na empresa para novos investi-

e com o apoio de 148 delegados. A atuação

mentos. Atualmente, existe essa prática de

da COSUEL ocorre no Vale do Taquari, Rio

retribuição em dinheiro ao associado, me-

Pardo, Serra Gaúcha e Centro Ocidental do

diante depósito em conta corrente, sendo

Estado, compreendendo mais de 120 muni-

uma forma de incentivo e motivação ao

cípios, sendo este um número que cresce

cooperado, que vê seu investimento e a sua

continuamente.

atividade gerando retorno.

42

REVISTA DO CRCRS


A constituição de Reserva Legal,

Dália, sendo que estes recursos serão

indivisível entre os associados ainda que em

aplicados em ações voltadas às crianças dos

caso de dissolução da sociedade, destina-se

municípios em que a Dália Alimentos está

a reparar as perdas e atender ao desenvolvi-

presente.

mento das atividades, revertendo em seu favor, ainda, os auxílios e doações recebidos sem destinação específica.

Outro programa importante é o Projeto Sucessão Familiar, do qual participam jovens, filhos de associados,

A Reserva de Assistência Técnica,

com motivação e espírito empreendedor. O

Educacional e Social - RATES - destina-se a

objetivo é incentivar estes jovens a se

financiar projetos sociais, assistenciais e

manterem no meio rural, dando continui-

educacionais dirigidos aos associados, seus

dade ao negócio dos pais. São formadas

familiares e empregados, bem como aos

turmas de alunos, e as aulas ministradas

funcionários da cooperativa e seus familia-

tratam de assuntos como informática,

res, que tenham como finalidade o

contabilidade, finanças, e também temas de

desenvolvimento social e educacional com

cunho técnico, sempre buscando a aplicabi-

vista ao assistencialismo, aprimoramento

lidade dos conteúdos no negócio de cada

pessoal e profissional para o incremento à

um. É um investimento e uma aposta no

produção, e também à Retribuição Social,

futuro das propriedades e da cooperativa,

mencionada anteriormente.

pois a partir desse projeto poderão surgir

A COSUEL investe permanentemente em projetos sociais, por meio de campanhas e eventos como o Projeto Criança Dália, que

diversas lideranças, com mentes abertas e conhecimento para dar sequência às atividades já existentes.

ocorre anualmente no mês de outubro, em

Percebe-se, mediante o exposto, a

comemoração ao dia da criança. É uma

grande preocupação social incorporada à

festividade aberta a toda a comunidade e, na

gestão da COSUEL. Conforme já menciona-

oportunidade, são distribuídos lanches e

do, as cooperativas, de forma geral, estão

um kit com material escolar para cada

inseridas entre dois extremos: o econômico

criança participante. Esse projeto tem por

e o social, sendo que o equilíbrio entre

objetivo promover e assistir exclusivamente

ambos é pressuposto de uma governança

a crianças, proporcionando atendimento de

eficaz.

natureza educacional, cultural, de saúde e

Vários autores ressaltam a existência

lazer. Uma novidade recente foi a aprovação

dessas duas dimensões distintas no campo

do Regulamento do Fundo Criança Dália,

do cooperativismo, que são o foco no

ficando definida a destinação de 1,5% da

mercado, buscando a eficiência econômica e

sobra líquida proveniente do ato cooperati-

otimização de resultados de um lado, e, de

vo de cada ano ao Projeto Social Criança

outro, a constante preocupação social e

REVISTA DO CRCRS

43


ética, além da busca contínua pela

presente estudo procurou verificar a adoção

realização dos objetivos de todos os

dessas práticas em uma cooperativa do

cooperados.

ramo agropecuário, situada no interior do

Mediante as práticas desenvolvidas pela COSUEL, sendo as principais mencionadas no decorrer deste estudo, percebe-se que a sua estrutura de governança tende a conquistar resultados cada vez melhores no âmbito econômico-financeiro, ampliando seu destaque no mercado nacional, a partir de procedimentos que garantem o bem-estar dos associados, por meio de uma gestão transparente e ética, a qual zela pelo bom uso do seu capital. É muito importante que a gestão

Estado do Rio Grande do Sul. A implantação da governança na COSUEL se deu a partir de experiências trazidas de países da Europa, destacando-se práticas como a gestão por unidade de negócios dentro da cooperativa, clareza no foco de atuação da empresa, busca constante de uma maior fidelização dos membros por meio da obrigatoriedade de participar dos programas de produção para ter direito à associação, além da criação de um Regimento Interno.

cooperativa saiba trabalhar estas duas dimensões de forma balanceada. Faria

Com a implantação de práticas de

(2005, p. 14) ressalta que “a coordenação

governança pela COSUEL, ocorreram

eficaz nas cooperativas agropecuárias [...]

significativas mudanças no seu modelo de

gera vantagens reais ao produtor associa-

gestão, como a clareza na definição das

do”, demonstrando o quanto isso é

funções, aumento de assertividade na

importante para os membros do quadro

tomada de decisões, maior profissionaliza-

social.

ção da gestão e maior credibilidade junto às instituições financeiras, visto que acompanham periodicamente o desempenho da cooperativa, mediante demonstrativos

5 CONCLUSÕES

contábeis. Outra prática adotada diz respeito à

Tendo em vista a necessidade de se

organização administrativa da COSUEL,

adotar práticas de governança corporativa

que, além de contar com um Conselho de

nas empresas, como forma de otimizar

Administração, cujo foco principal é atuar

resultados e dar maior transparência às

em funções político-administrativas,

suas atividades, e considerando que as

também conta com um Presidente Executi-

cooperativas possuem diversas peculiarida-

vo, com atribuições de liderança e gestão

des que tornam sua gestão diferenciada, o

dos negócios da cooperativa.

44

REVISTA DO CRCRS


Destaca-se a elaboração do planeja-

podendo haver uma generalização dos

mento estratégico de longo prazo, com a

resultados, uma vez que cada cooperativa

definição das diretrizes gerais que norteiam

possui suas particularidades. Todavia, o

os planos anuais de metas. Mediante essas

modelo exposto pode ser de grande

práticas, todas as atividades da cooperativa

relevância e utilidade para as cooperativas

são desenvolvidas em função de objetivos e

do segmento, a partir das adaptações

projeções previamente definidos, os quais

necessárias à realidade e demandas de cada

irão auxiliar e orientar a gestão da empresa.

uma. Importante ressaltar que a governança em cooperativas ainda precisa de alguns

A presente pesquisa permitiu um

ajustes para ser implementada de forma

entendimento em profundidade no modelo

mais abrangente, visto que fazem parte

de governança corporativa da COSUEL, e, a

de um ambiente relativamente conser-

partir disso, foi possível concluir que as

vador e regrado por legislação específica

práticas adotadas contribuem com o

(BORGEN, 2011).

crescimento da organização, tornando-a cada vez mais reconhecida no mercado, satisfazendo os associados e servindo também como exemplo para outras cooperativas.

Tendo em vista a utilização de um caso específico para este estudo, sugere-se a realização de futuras pesquisas com base em um universo significativo de cooperativas, procurando identificar os níveis

Em relação às limitações do presente

de governança adotados, verificando

estudo, pode-se apontar sua validade

os benefícios decorrentes das práticas

somente para a situação analisada, não

implantadas.

REVISTA DO CRCRS

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O MERCADO DE TRABALHO PARA CONTADORES: EXPECTATIVAS E REALIDADES

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RODRIGO ANGONESE Contador, doutor em Ciências Contábeis e Administração pela FURB. Professor do Programa de pós-graduação em Administração da Universidade de Passo Fundo.

VAGNER PAZ FERREIRA Contador, doutor em Ciências Contábeis e Administração pela FURB. Professor do Programa de pós-graduação em Administração da Universidade de Passo Fundo.

Trabalho científico detentor do “Certificado de Mérito” na Área 7 – Educação e Pesquisa em Contabilidade, na XV Convenção de Contabilidade do Rio Grande do Sul, realizada de 26 a 28 de agosto de 2015, em Bento Gonçalves-RS.

RESUMO A evidência de harmonia entre as expectativas do mercado de trabalho e a realidade dos seus candidatos é sinônimo de êxito das autoridades competentes e responsáveis pela classe. Tomando por base o currículo sugerido para o curso de Ciências Contábeis pelo Conselho Federal de Contabilidade, percebe-se que é desafiador para as universidades oferecer um ensino generalista, com per fil multiprofissional, apto a atuar nas mais variadas áreas do ramo contábil, cabendo a cada discente despertar seu interesse por determinada especialidade, sem saber, muitas vezes, as condições de empregabilidade para o segmento pretendido. A fim de ajudar nesse contexto, o objetivo geral deste estudo é averiguar quais são as expectativas dos formandos em Ciências Contábeis e a realidade do mercado de trabalho para Contadores, permitindo, assim, que os envolvidos planejem a conversão dessas duas variáveis. A pesquisa foi elaborada com base na consulta às vagas de emprego divulgadas no site do CRCRS e com os alunos formandos de uma determinada Universidade. Primeiramente, foi realizada uma pesquisa documental seguida de uma survey, com os anúncios de emprego para Contadores no intuito de identificar o perfil demandando pelo mercado. Em seguida, foi feito um estudo com os alunos formandos do 8º nível de Ciências Contábeis, por meio da aplicação de questionários, com o propósito de identificar suas expectativas em relação ao mercado de trabalho. As discrepâncias entre a oferta e demanda de profissionais contábeis ficam evidenciadas pela questão salarial, pelas áreas de conhecimento, pelo tempo necessário de experiência para ingresso nas vagas e pelas características inerentes ao perfil esperado desse profissional.

PALAVRAS-CHAVE:

Mercado de Trabalho

Contador; Perfil do formando em Contábeis; Perfil das Vagas para Contadores.

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1 INTRODUÇÃO

segundo 14 consultorias de recrutamento, a Contabilidade figura como uma das 40 profissões mais promissoras para o ano de

Pesquisadores e órgãos da Contabili-

2015.

dade demonstram um interesse constante

Em um mercado de trabalho

sobre a atuação do profissional contábil na

aquecido, Santos et al. (2011) apresentam

sociedade. Buscar o entendimento entre as

que é essencial identificar as habilidades e

expectativas da oferta e da demanda de

os conhecimentos demandados pelo

contadores no mercado de trabalho atual,

mercado de trabalho para que o profissional

frente a um ambiente que apresenta

contábil desenvolva sua carreira de forma

frequentes mudanças, é essencial para a

eficaz, desde a sua graduação.

criação de estratégias de ação por parte dos envolvidos, responsáveis por manter essa consonância.

Para atuar em um ambiente em constante mudança e ter a sua devida valorização, como previu a campanha

O perfil dos Contadores no Brasil,

nacional do Ano da Contabilidade em

recentemente, sofreu mudanças significati-

2013, o profissional recém-formado

vas à luz da adaptação às normas do

precisa gerir eficientemente a sua carreira,

International Financial Reporting Stan-

e conhecer a realidade do mercado de

dards – IFRS, as quais trouxeram em seu

trabalho é parte inicial desse contexto.

arcabouço novas leis federais, pronun-

Nesse sentido, remete-se à seguinte

ciamentos do Comitê de Pronunciamentos

pergunta de pesquisa: Quais são as

Contábeis e resoluções do Conselho Federal

expectativas dos formandos em Ciências

de Contabilidade. Tais mudanças sub-

Contábeis e a realidade do mercado de

metem que o processo de ensino também

trabalho para contadores?

seja reformulado, a fim de que os alunos egressos estejam aptos a suprir as expectativas do mercado profissional.

Aliado a esse problema, tem-se ainda o objetivo geral de averiguar quais são as expectativas dos formandos em Ciências

Pesquisas mostram que o atual

Contábeis e a realidade do mercado de

ambiente de mudança nos negócios e nas

trabalho para contadores. Os objetivos

leis que regem a Contabilidade, aliado ao

específicos resumem-se em: a) identificar o

período de recessão econômica que se está

perfil do profissional contábil que está

vivenciando, deve colaborar para o

sendo requerido pelo mercado de trabalho;

aquecimento do mercado de trabalho por

b) identificar as expectativas dos formandos

profissionais da área contábil. Conforme

em Ciências Contábeis quanto ao mercado

Pilati (2014), em pesquisa divulgada no site

de trabalho; e c) discorrer sobre as

do CRCRS, realizada pela Exame.com,

discrepâncias existentes entre as expectativas

50

REVISTA DO CRCRS


do formando em Ciências Contábeis e o

fins de análise. Finalmente, na seção cinco,

perfil desejado pelo mercado de trabalho.

são apresentadas as considerações finais,

A contribuição dessa pesquisa fica

seguidas pelas referências.

evidenciada pelo fato de oferecer informações que interessam tanto o mercado de trabalho quanto a instituições de ensino e alunos que ainda estão finalizando ou já finalizaram seu curso de Ciências Contábeis. Instituições de Ensino, Conselho e Órgãos de Classe têm interesse em manter o mercado de trabalho aquecido, sendo preciso, para tanto, conhecer o que é necessário para satisfazer as necessidades do mercado de trabalho. É imprescindível também que alunos ainda no processo de graduação conheçam a realidade do mercado de trabalho e qual é o nível de

2 REFERENCIAL TEÓRICO São cada vez mais comuns os debates de pesquisadores, educadores, profissionais e empregadores sobre o contexto complexo e dinâmico do mercado de trabalho para contadores no cenário atual. A intenção é promover uma reflexão entre o ensino oferecido, as expectativas dos formandos e as exigências quanto à atuação do profissional na sociedade.

preparação dos seus concorrentes,

A evolução do ensino contábil no

permitindo, assim, que possam aperfeiçoar

Brasil foi abordada por Peleias et. al (2007),

suas habilidades de acordo com a

que realizaram uma pesquisa com os

expectativa dos contratantes, obtendo,

acontecimentos históricos desde o século

dessa forma, maior êxito quando forem

XIX até os dias atuais. Observaram-se

competir no mercado de trabalho para

alterações relevantes no âmbito econômico,

contadores.

político e social e o quanto tais evoluções

Este artigo está organizado em cinco seções. Na seção dois, será apresentada a

surtiram efeito sobre o ensino da Contabilidade no Brasil.

fundamentação teórica, que abordará

A profissão contábil, certamente, é

pesquisas já realizadas e os seus respectivos

uma das que mais exige atualização e

resultados encontrados no campo do

adaptação às mudanças pelos seus

mercado de trabalho para contadores. Na

profissionais. A preocupação com o grande

seção três, consta a descrição dos

volume das alterações nas leis e normas que

procedimentos metodológicos revelando a

regem a Contabilidade fica evidenciada pelo

pesquisa como quantitativa, descritiva,

estudo de Silva, Ensslin e Reina (2011), o

documental e bibliométrica. Na seção

qual verificou quais são as práticas adotadas

quatro, está a análise dos resultados, em que

pelas Instituições de Ensino em Ciências

os dados coletados foram ilustrados para

Contábeis para preparar seus alunos à luz

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51


das novas alterações legais, a fim de que

Instituições de Ensino do Sul do País,

estivessem aptos a atuar no mercado de

verificou-se que a maioria dos alunos está

trabalho.

satisfeita com a opção pelo curso, que a

O enfoque do ensino também foi preocupação de Araujo e Andere (2008), que, por sua vez, analisaram o perfil do professor em Contabilidade. Nesta pesquisa, buscavam identificar o direcionamento dado na formação acadêmica de seus discentes entre as áreas prática, técnico-científica, pedagógica e social e política.

profissão demonstra-se promissora, pois o mercado de trabalho não está saturado. Mostrou também que, na opinião dos respondentes, é possível obter boa remuneração na profissão e que a escolha pelo curso pode gerar desenvolvimento pessoal, permitindo contribuir para a melhoria da sociedade. O interesse das autoridades federais no cumprimento a contento de um padrão educacional para a formação

Não obstante, cabe destacar a

contábil fica exemplificado pela promulga-

pesquisa realizada por Pinheiro et. al (2011)

ção de uma resolução, já há mais de uma

com alunos diplomados e docentes do curso

década divulgada, a CNE/CES 10, de 16 de

de Ciências Contábeis com o propósito de

dezembro de 2004 do Ministério da

identificar o quanto a metodologia de uma

Educação, em seu §4º, onde diz que o curso

proposta curricular de aprendizagem

de Ciências Contábeis deve possibilitar uma

baseada em problemas, isto é, do tipo

formação profissional que revele no mínimo

estudos de caso, contribui para a formação

as seguintes habilidades e competências:

do perfil do graduado. Tais estudos evidenciam que muitos são os anseios da classe acerca da capacidade formativa dos profissionais contábeis; conforme o entendimento de Ott et al (2012), a educação como um processo sistemático tem o objetivo de desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes, objetivando, dentre outros, dotar o indivíduo de competência, visando sempre ao seu sucesso profissional e à evolução da classe e do país. Para Schmidt (2012), em pesquisa realizada com o intuito de identificar o perfil dos alunos de Ciências Contábeis de três

52

REVISTA DO CRCRS

a) utilizar adequadamente a terminologia e a linguagem das Ciências Contábeis e Atuariais; b) demonstrar visão sistêmica e interdisciplinar da atividade contábil; c) elaborar pareceres e relatórios que contribuam para o desempenho eficiente e eficaz de seus usuários, quaisquer que sejam os modelos organizacionais; d) aplicar adequadamente a legislação inerente às funções contábeis; e) desenvolver, com motivação e por meio de permanente articulação, a


liderança entre equipes multi-

E, em seu §3º, as instituições de

disciplinares para a captação de

ensino no País que oferecerem o curso de

insumos necessários aos controles

Ciências Contábeis devem preparar o

técnicos, à geração e disseminação de

profissional a:

informações contábeis, com reconhecido nível de precisão; f) exercer suas responsabilidades com o expressivo domínio das funções contábeis, incluindo noções de

a) compreender as questões científicas, técnicas, sociais, econômicas e financeiras em âmbito nacional e internacional e nos diferentes modelos de organização;

atividades atuariais e de quantifi-

b) apresentar pleno domínio das respon-

cações de informações financeiras,

s abil id ad e s f u nc ionais e nvol -

patrimoniais e governamentais, que

vendo apurações, auditorias, perícias,

viabilizem aos agentes econômicos e

arbitragens, noções de atividades

aos administradores de qualquer

atuariais e de quantificações de

segmento produtivo ou institucional

informações financeiras, patrimo-

o pleno cumprimento de seus

niais e governamentais, com a plena

encargos quanto ao gerenciamento,

utilização de inovações tecnológicas;

aos controles e à prestação de contas

e

de sua gestão perante a sociedade, gerando também informações para a tomada de decisão, organização de atitudes e construção de valores orientados para a cidadania;

c) revelar capacidade crítico-analítica de avaliação, quanto às implicações organizacionais com o advento da tecnologia da informação.

g) desenvolver, analisar e implantar sistemas de informação contábil e de controle gerencial, revelando capacidade crítico-analítica para avaliar as implicações organizacionais com a tecnologia da informação; e

Ott et al. (2011, p. 341) ressaltam que EUA, China e Brasil têm destaque no cenário econômico mundial, com reflexo na demanda por profissionais de Contabilidade credenciados internacionalmente. Assim, evidencia-se a importância da

h) exercer com ética e proficiência as

adequação dos diplomados no campo da

atribuições e prerrogativas que lhe

prática contábil, devendo fazer parte

são prescritas pela legislação es-

integrante do processo educativo liderado

pecífica, revelando domínios ade-

pelos gestores das instituições de ensino a

quados aos diferentes modelos

atualização e a constante revisão de seus

organizacionais.

programas para inserir conhecimentos e

REVISTA DO CRCRS

53


habilidades que promovam o reconheci-

conduzirão o aluno ao desenvolvimento dos

mento internacional dos profissionais

conhecimentos, os quais podem variar no

contadores.

futuro (2012).

A preocupação com a formação contá-

Mundialmente, a questão formandos

bil em nível global fica evidenciada pela

e mercado de trabalho também é objeto de

Federação Internacional de Contadores

inquietação. A pesquisa realizada por Suga-

(IFAC®), que publica periodicamente o

hara, Hiramatsue Boland (2009) com 13

Handbook of International Education Pro-

escolas de Contabilidade no Japão visou a

nouncements. Esse Manual de Pronuncia-

identificar, na percepção dos alunos, quais

mentos de Educação Internacional prevê a

foram os fatores que influenciaram suas

uniformização dos padrões contábeis em

intenções para a carreira de Contadores no

nível mundial, os chamados Accounting

Japão, os chamados CPA, isto é, os

Education Standards Board (IAESB). Sua

Contadores Públicos Certificados, e qual é o

missão é colaborar para o desenvolvimento

custo de oportunidade que a profissão lhes

de normas e orientações, contribuindo para

apresenta.

o desenvolvimento das organizações profis-

Conforme pode ser observado pelo

sionais de Contabilidade e empresas de

referencial teórico apresentado, a preocu-

Contabilidade por profissionais contábeis e

pação com as variáveis ensino, alunos e

promover o valor desses profissionais no

mercado de trabalho para Contabilidade é

mundo todo.

globalizada. Correntes de pesquisadores ten-

O Core Competency Framework,

tam manter alinhavadas todas essas

desenvolvido pelo American Institute of

variáveis, a fim de assegurar a evolução e o

Certified Public Accountants (AICPA,

desenvolvimento da profissão.

2010), traduzido por Ott et al., define um conjunto de competências com base em capacidades necessárias aos alunos para o futuro exercício da profissão contábil, inde-

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

pendentemente da carreira que escolherem na área da Contabilidade. O Core Competency Framework tem seu foco nas habilidades necessárias para os alunos adquirirem os conhecimentos que os conduzirão ao sucesso profissional. Dessa forma, apresenta um

Neste capítulo, será apresentado o delineamento da pesquisa, mostrando sua classificação quanto aos objetivos, à abordagem e aos procedimentos técnicos.

currículo baseado em habilidades que terão

Conforme abordam Diehl e Tatim

valor no longo prazo, e não em conhecimen-

(2004, p. 47-48), a metodologia define-se

tos, entendendo-se que as habilidades

“como o estudo e a avaliação dos diversos

54

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métodos, com o propósito de identificar

dados, tornando assim possível relacionar

possibilidades no âmbito de sua aplicação

as expectativas dos formandos e a exigência

no processo de pesquisa científica”. Os

do mercado de trabalho em relação àqueles.

autores acrescentam que “a metodologia permite, portanto, a escolha da melhor maneira de abordar determinado problema, integrando os conhecimentos a respeito dos métodos em vigor nas diferentes disciplinas científicas”.

O universo desta pesquisa é composto por duas populações distintas, sendo que, para a pesquisa de levantamento do tipo survey, foram analisados os alunos do 8º nível do curso de Ciências Contábeis, perfazendo 39 respondentes. Em paralelo,

A pesquisa tem a finalidade descriti-

ocorreu a análise de 116 vagas divulgadas no

va, pois tem como objetivo primordial a

site do CRCRS em pesquisa já realizada pelo

descrição da realidade das expectativas do

autor mediante o envio de questionários, do

formando em Contabilidade em relação ao

qual obteve 21 respostas.

mercado de trabalho. Segundo Diehl e Tatim

Para tanto, a amostra utilizada foi

(2004, p.54), é descrito um conjunto de

por acessibilidade, não probabilística e

informações que poderá definir particulari-

intencional. Foram questionados os alunos

dades acerca da população pesquisada, dadas

formandos do curso de Ciências Contábeis

algumas disparidades. Este conjunto de

de uma universidade que atua no Rio

informações torna-se essencial para aqueles

Grande do Sul. Os formandos estão prestes

que tenham algum tipo de interesse ou que

a finalizar o curso no ano de 2015 e as vagas

se relacionem de alguma forma com a classe

divulgadas no site do CRCRS no período de

contábil.

1º a 15 de março do mesmo ano.

Os procedimentos técnicos que foram

Primeiramente, aconteceu a coleta

utilizados para se obter as informações

documental das 116 vagas divulgadas no site

necessárias para formulação dos dados da

do CRCRS. Em seguida, foi enviado um

pesquisa foram a técnica de pesquisa

questionário com perguntas abertas e

documental e survey no tocante ao diagnós-

fechadas aos anunciantes, do qual

tico do mercado de trabalho, ou seja, das

obtiveram-se 21 respostas. Após, foi

vagas divulgadas no site do CRCRS e survey

pesquisada a opinião dos formandos em

no levantamento dos anseios dos alunos

relação ao mercado de trabalho, por meio da

formandos em relação ao mercado, median-

aplicação de um questionário aos forman-

te a aplicação de questionários ao 8º nível

dos do curso de Ciências Contábeis,

dos formandos em Ciências Contábeis de

perfazendo 39 alunos pesquisados. Após

determinada Instituição de Ensino. A

a coleta dos questionários, foi possível

abordagem do problema se deu de forma

a tabulação dos resultados com

quantitativa por tratar estatisticamente os

o auxílio de planilha eletrônica. As

REVISTA DO CRCRS

55


informações coletadas entre o mercado e os formandos foram cruzadas e relacionadas

4.1 PERSPECTIVAS E REALIDADES DO MERCADO DE TRABALHO PARA CONTADORES

entre si para definir quais as discrepâncias existentes entre a expectativa dos formandos em Ciências Contábeis e a

A pesquisa com o intuito de conhecer

realidade do mercado de trabalho para

a realidade atual do mercado de trabalho foi

contadores.

realizada com a análise documental de 116

Cabe destacar que o estudo se limita

anúncios de vagas de empregos, divulgadas

ao tamanho da amostra, que pode não

no site do CRCRS, seguidas de uma

configurar uma unanimidade tanto no

pesquisa de levantamento feita pelo envio

tocante às exigências do mercado de

de um questionário aos contratantes, do

trabalho de contadores, quanto nos anseios

qual se obteve o retorno de 21 respostas. Em

e nas expectativas dos formandos de todas

relação à pesquisa com as expectativas dos

as universidades acerca do mercado de

candidatos, assumiu-se que os formandos

trabalho. Outra limitação ainda se refere à

seriam a amostra em potencial, do qual se

subjetividade das respostas dos ques-

aplicou um questionário, com o interesse

tionários por parte dos entrevistados,

em suas percepções sobre o mercado de

inerente ao método de coleta de dados.

trabalho, totalizando 39 alunos.

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1.1 PERFIL DAS VAGAS OFERECIDAS X EXPECTATIVAS DOS CANDIDATOS

Neste capítulo, serão apresentados os resultados encontrados na pesquisa. Busca-

Conforme o resultado obtido pela

-se apresentar os principais resultados,

pesquisa com o mercado de trabalho para

enfatizando simultaneamente o perfil do

Contadores, pode-se montar um perfil das

profissional contábil que está sendo

vagas no que diz respeito à singularidade

requerido pelo mercado de trabalho e as

dos contratantes. O seu resultado será

expectativas dos formandos em Ciências

apresentado na Figura 1 demonstrada a

Contábeis quanto ao mercado de trabalho.

seguir:

56

REVISTA DO CRCRS


Figura 1 - Quanto às vagas oferecidas pelo mercado

Ramo atuação do candidato

Tributação que irá atender

5%

De R$ 1.000,00 a R$ 2.000,00

14% 43% 14%

22% 24%

62%

16%

Simples e Presumido

De R$ 4.000,00 a R$ 6.000,00

45% 35% 20%

Assessoria e outros serviços Nível hierárquico das atividades Auxiliar Financeiro

De R$ 2.000,00 a R$ 4.000,00

Lucro Real Todas

Escritório Contabilidade

Comercial

Remuneração

Analista

24% 48%

Estratégico 19% Supervisão 10%

Industrial Fonte: Dados da pesquisa.

Pode-se observar que o maior

Ciências Contábeis, pode-se estabelecer

contratante segundo a pesquisa são os

quais são as expectativas que os futuros

escritórios de Contabilidade, que oferecem

profissionais têm sobre o mercado de

43% das vagas, seguido por prestadores de

trabalho. Descreve-se o que almejam

serviços, como assessorias empresariais e

encontrar quando forem procurar uma

auditorias em 24% das vezes, sendo que

oportunidade de trabalho, sendo seus

nestes geralmente atendem a empresas dos

resultados apresentados na Figura 2 que

mais variados portes e com todos os tipos de

segue.

tributação, representando 62% dos casos. A maior oferta de salários está na faixa de 1 mil a 2 mil reais, sem maiores benefícios, para cargos de auxiliar, podendo chegar a 6 mil reais para cargos de nível estratégico na alta gestão. Conforme pesquisa de levantamento, realizada com os alunos formandos em

REVISTA DO CRCRS

57


Figura 2 - Expectativas dos candidatos

Ramo almejado pelo candidato

Tributação apto a exercer

6% 10%

De R$ 1.000,00 a R$ 2.000,00

25%

Simples e Presumido

17% 21% 21%

Pretensão salarial

17% 21%

62%

Escritório Contábil

De R$ 2.000,00 a R$ 3.000,00 Acima de R$ 3.000,00

Lucro Real 33%

Todas

39% 28%

Setor Público Abrir um escritório Indústria Comércio

Nível hierárquico das atividades Auxiliar Analista

5% 47%

Estratégico 13% Supervisão 34%

Outros

Fonte: Dados da pesquisa.

De acordo com a Figura 2, é possível

As discrepâncias existentes entre o

destacar que os candidatos procuram

que o mercado de trabalho oferece e os

alocar-se em escritórios de Contabilidade

candidatos esperam ficam a cargo da

em 25% dos casos, e, em sua grande

pretensão salarial, porém tal aspecto é

maioria, isto é, 62% dos casos, estão aptos a

ajustável, na maioria das vezes, de acordo

trabalhar com a tributação do simples

com as capacidades individuais de cada

nacional ou lucro presumido, almejando

candidato. No entanto, é preciso que os

salários de 2 mil a 3 mil reais para nível de

escritórios repensem a respeito, uma vez

analista. Um fator que merece destaque é

que, em um mercado de trabalho aquecido,

quanto ao desejo de abrir o próprio

a retenção de talentos deve ser levada em

escritório, figurando com a segunda opção

consideração. Uma equipe desmotivada

para 21% dos entrevistados, remetendo ao

não hesitará em trocar de emprego se

fato de que as universidades parecem

receber uma proposta salarial melhor,

incentivar o espírito empreendedor nos

mesmo que o valor agregado não seja lá

seus alunos.

muito alto.

58

REVISTA DO CRCRS


Um fator que merece destaque é o quanto os formandos alegam estar desprepa-

4.1.2 PERFIL EXIGIDO PARA AS VAGAS X PERFIL DOS CANDIDATOS

rados para trabalhar com todos os tipos de tributação, tendo em vista que esse é um pré-requisito básico para ingressar no mercado

Mediante a análise das respostas,

de trabalho. É preciso que as IES observem

pode-se identificar as exigências dos

essa realidade e ajustem seus currículos,

contratantes em relação ao perfil dos

oferecendo aos alunos a possibilidade e

candidatos para as vagas oferecidas. Os

segurança de assumirem as mais diversas

resultados serão apresentados a seguir na

funções que a profissão contábil exige.

Figura 3.

Figura 3 - Perfil exigido para as vagas

Idade desejada ao candidato

Tempo de experiência

Gênero desejado ao candidato Registro no CRCRS

Indiferente

Não necessita

23 a 26 anos

Mínimo 1 ano

27 a 30 anos

Indiferente

Indiferente

54%

masculino

É requisito

27%

Não é requisito

19%

Mínimo 3 anos feminino

Acima de 35 anos

100%

Mínimo 5 anos

48%

5% 9%

Escolaridade

76%

Graduação Incomp. 45% 21%

43%

22% 9%

43% 14%

Graduado

39%

Especialista

16%

10%

100%

Fonte: Dados da pesquisa.

É possível identificar que os contratantes esperam que as vagas sejam preenchidas por um profissional com experiência mínima de 1 a 3 anos em 86% da amostra. Quanto à idade, 22% manifestam a preferência por um profissional de 27 a 30 anos, sendo que o registro no Conselho Regional de Contabilidade é um requisito em pelo menos 27% dos casos. Destaca-se que há interesse em recrutar profissionais ainda na graduação, para no mínimo 45% das vagas.

REVISTA DO CRCRS

59


Em relação ao perfil dos candidatos por intermédio da análise dos questionários, permitiu-se formular a Figura 4 que será ilustrada a seguir. Figura 4 - Perfil dos candidatos

Idade do candidato

Tempo de experiência

19 a 22 anos

menos de 1 ano

23 a 26 anos

2 a 3 anos

27 a 31 anos

4 a 5 anos

Gênero

Registro no CRCRS Masculino Feminino

Não almeja

23%

Almeja

77% 100%

Acima de 32 anos

não possui Escolaridade almejada

44%

56%

13% 33%

33%

36% 13% 10%

Graduado

5%

Especialista

69%

Mestre

21%

Doutor

5%

44%

18%

100%

Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme consta na Figura 4, 44%

trabalho espera profissionais contábeis com

dos candidatos possuem idade entre 23 e 26

experiência considerável na função. Essa,

anos, 56% são do sexo feminino, estando

sem dúvida, é um dos principais divisores

praticamente empatados os que não

de águas entre os candidatos, pois muitos se

possuem experiência com 33% e os que

deparam com a inexperiência e a dificulda-

possuem de 2 a 3 anos. Um fator interessan-

de em receber a sua primeira oportunidade.

te é que a maioria (69%) já está visando pelo

Cabe, para tanto, que os alunos formandos

menos a uma especialização, bem como ao

observem tal fator com maior atenção.

devido registro junto ao Conselho em sua

Destaca-se que há uma oportunidade para

maioria, com 77%.

as IES de oferecer programas de inclusão e

Pela análise conjunta das Figuras 3 e

estágios aos seus alunos, firmando parce-

4, fica evidenciado que o mercado de

rias com empresas e agências de recrutamento

60

REVISTA DO CRCRS


e seleção, possibilitando assim oferecer

4.1.3 CONHECIMENTOS, HABILIDADES E COMPETÊNCIAS EXPECTATIVAS X REALIDADE

experiência prática e possibilidade de colocação no mercado de trabalho. Após a formação do profissional pela IES,

Em relação ao nível de conhecimento

entidades de classe, como o Conselho

e às características essenciais ao perfil

Federal de Contabilidade, Conselhos

profissional do contador desejado para as

Regionais, Sindicatos, Associações e

vagas, foi possível estabelecer um conjunto

Academia de Ciências Contábeis, podem

de habilidades e qualidades necessárias e

seguir atuando com programas de formação

tidas como mais relevantes para os

continuada e, com um esforço conjunto,

contratantes quando recrutam um profis-

continuar o trabalho pelo fortalecimento da

sional contábil. Os resultados serão

classe contábil.

apresentados na Figura 5.

Figura 5 - Conhecimentos, habilidades e competências requeridas pelas vagas

Conhecimentos e habilidades mais importantes

Características pessoais mais importantes 86% - Trabalho em equipe

57% - Setor fiscal e tributário 76% - Organização 53% - Sped e obrigações acessórias

43% - Conhecimentos em informática 38% - Legislação fiscal e tributária 29% - Contabilidade gerencial 24% - Elaboração das demonstrações contábeis 24% - Legislação trabalhista

Frequência das respostas

Frequência das respostas

67% - Comprometimento 43% - Setor contábil

67% - Trabalhar sob pressão 57% - Iniciativa 57% - Facilidade de comunicação 52% - Flexibilidade 48% - Dinamismo 43% - Visão sistêmica

24% - Software de contabilidade 19% - Autodidata 19% - Auditoria 19% - Espírito de liderança

Fonte: Dados da pesquisa.

Segundo os resultados apresentados na Figura 5, é possível perceber que os conhecimentos do setor fiscal e tributário são tidos como mais importantes em 57% dos casos, e que esse também influenciou as demais habilidades que figuraram como as mais importantes. Ter o conhecimento das obrigações acessórias em 53% dos casos trouxe em seu contexto a obrigação do domínio da informática, que é vista como essencial em pelo menos 43%, sendo tão importante quanto ter o domínio do setor contábil. Já em relação às características inerentes à personalidade do contador, é praticamente uma unanimidade entre os entrevistados a necessidade

REVISTA DO CRCRS

61


de saber trabalhar em equipe para 86% dos respondentes. O mercado também espera que o profissional seja organizado em 76% das vagas, que saiba trabalhar sob pressão, e que se demonstre comprometido com suas funções também figurou como uma das características mais pontuadas. Na pesquisa realizada com os formandos, destacaram-se os conhecimentos da Contabilidade. Apresentam-se também as características pessoais e comportamentais dos candidatos na Figura 6. Figura 6 - Conhecimentos, habilidades e competências dos candidatos Conhecimento dos candidatos nas áreas mais importantes para os contratantes 5% 5%

15% 59% - Trabalho em equipe

8% 15%

avançado

26% 10%

básico 5%

não tem

Informática

5% 5%

SPED

46% - Organização

26% 28% 26%

intermediário

49% - Comprometimento

30%

26% 28%

40% 36%

33%

Frequência das respostas

pleno

Características pessoais dos candidatos

21% - Visão sistêmica 18% - Iniciativa 15% - Flexibilidade 15% - Trabalhar sob pressão 13% - Facilidade de comunicação 8% - Dinamismo

28%

5% - Autodidata 5% - Espírito de liderança

Fiscal e tributário

Contábil

Fonte: Dados da pesquisa.

De acordo com os conhecimentos

como apenas básico em 33% dos entrevista-

entendidos como mais importantes para os

dos. Outro fator preocupante é quanto ao

formandos quando adentrarem no mercado

fato de não terem conhecimento sobre

de trabalho, verificou-se que, conforme

SPED (28%).

apresentado na Figura 6, eles declararam

A principal discrepância entre a

possuir conhecimento avançado da

oferta e demanda de profissionais contábeis

informática em 40% dos casos e conheci-

fica evidenciada pela questão do pouco

mento intermediário no setor fiscal e

conhecimento do Sistema Público de

tributário em 36% deles. Já o conhecimento

Escrituração Contábil Digital pela maioria

contábil propriamente dito é declarado

dos futuros contadores, ao passo que o

62

REVISTA DO CRCRS


mercado de trabalho tem essa como uma

pós-graduação lato sensu. Ainda, a pesquisa

das exigências principais. Por outro lado, é

mostrou que eles esperam encontrar

positiva a análise em relação aos

oportunidades de emprego em escritórios

conhecimentos avançados em informática,

de Contabilidade que remunerem de R$

por parte dos formandos, algo justificável

2.000,00 a R$ 3.000,00 aos seus colabora-

pelo fato de um terço deles possuir até 22

dores com menos de dois anos de experiên-

anos, fazendo parte da geração que foi

cia para cargos de nível analista. Uma parte

inserida desde criança nesse meio.

dos entrevistados não possui conhecimento pleno em área específica, nem em SPED, mas possuem conhecimento intermediário nas áreas de contabilidade avançada e

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

societária, no setor fiscal e tributário e em análise de balanços. Reconhecem a

Este artigo objetivou averiguar quais são as expectativas dos formandos em Ciências Contábeis e a realidade do mercado de trabalho para contadores. Em breve, os formandos serão os candidatos às

necessidade de trabalhar em equipe, serem comprometidos e organizados e alegam que a principal dificuldade para ingresso no mercado de trabalho é a exigência de experiência.

vagas oferecidas pelo mercado de trabalho e

Quanto ao perfil do profissional

identificar o perfil demandado pelas vagas,

contábil que está sendo requerido pelo

bem como as suas expectativas na área,

mercado, este é de um profissional, sem

certamente, oferece subsídios para que eles

distinção de idade e gênero, porém com

possam melhor se posicionar frente às

preferência em um profissional maduro, de

futuras demandas do mercado de trabalho,

27 a 30 anos, que irá trabalhar em escritó-

assim como para que as Instituições de

rios de contabilidade, com salários de R$

Ensino Superior e entidades representati-

1.000,00 a R$ 2.000,00 para a função de

vas da classe contábil possam conhecer a

auxiliar, podendo chegar até R$ 3.000,00

realidade atual da profissão.

para cargos de analista, com foco de atuação

Com relação ao objetivo da pesquisa

em todas as tributações, exigindo-se

de conhecer quais são as expectativas dos

experiência mínima de um a três anos. Deve

formandos sobre o mercado de trabalho

ser graduado e com especialização lato

para contadores, foi possível identificar que

sensu, ideal que seja em Controladoria e

escolheram a profissão em busca de

Finanças ou Tributário Empresarial, uma

realização pessoal, têm entre 23 e 26 anos,

vez que deverá possuir conhecimentos

geralmente do sexo feminino, e que já estão

avançados no setor fiscal e tributário,

objetivando uma especialização em nível

obrigações acessórias e domínio da

REVISTA DO CRCRS

63


informática, deve saber trabalhar em

conhecimentos inerentes à função, cabe às

equipe e sob constante pressão psicológica,

IES e às demais entidades de classe

ser organizado e comprometido.

oferecerem programas de inclusão e

As principais discrepâncias entre a oferta e demanda ficam a critério da

estágios aos futuros profissionais, oportunizando meios para atenuar essas diferenças.

experiência e, consequentemente, dos

A existência de contadores não

conhecimentos mínimos exigidos, além da

atuantes e fora do mercado de trabalho pode

questão salarial, que pode ser tida como

trazer consequências a todos os envolvidos.

consequência das anteriores. A experiência

Este profissional frustrado com o mercado

é exigida em praticamente todos os

de trabalho e, por conseguinte, com a

anúncios como ideal de 3 anos, sendo que

própria Contabilidade, tende a repassar sua

um terço dos candidatos nunca trabalhou

experiência negativa, desmotivando a

na área. Esse, sem dúvida, é o principal

escolha pelo curso e desestimulado futuros

divisor de águas entre os candidatos, pois

profissionais a ingressarem na área,

muitos se deparam com a inexperiência e a

prejudicando negativamente a imagem do

dificuldade em receber a sua primeira

contador na sociedade. Além do esforço de

oportunidade, e, como um efeito em

cada profissional em obter os conhecimen-

cascata, justifica também a ausência dos conhecimentos específicos requeridos pelas vagas e, em consequência, as diferenças salariais entre o esperado e o oferecido.

tos e perfil necessários para atuar no mercado de trabalho, cabe para tanto, também, que os agentes envolvidos observem essas discrepâncias com maior atenção, a fim de proporcionar um melhor

Como o principal fator de discrepân-

ajuste entre a oferta e a demanda de

cia entre os formandos e o mercado de

profissionais da Contabilidade no mercado

trabalho foi a falta de experiência e de

de trabalho.

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REVISTA DO CRCRS


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