SALVADOR
SALVADOR SEXTA-FEIRA 3/12/2010
REGIÃO METROPOLITANA
A9
PESQUISA Sistema de Indicadores de Percepção Social mostra que, no Nordeste, 85,8% das pessoas temem ser assassinadas
Violência é temor de 9 a cada 10 brasileiros ARIVALDO SILVA
O medo de ser assaltada ou agredida nas ruas cada vez mais violentas de Salvador acompanha diariamente a estudante universitária Joice Vieira, 30 anos. Moradora do bairro Garcia, no Centro da cidade, Joice precisa passar por uma escadaria que começa na Avenida Leovigildo Filgueiras e dá acesso à Avenida Centenário para levar e buscar seus filhos de 3 e 5 anos na escola. Há dois meses, ela seguia o mesmo caminho no início da noite para ir à faculdade quando quatro homens bloquearam sua passagem e um deles a abordou pedindo o telefone celular. Depois do episódio, ela mudou sua rotina diária. “Havia deixado o telefone em casa. Falei que era moradora do bairro e fui liberada por eles. Depois disso, não passo mais à noite pelo local. Tenho muito medo de ir buscar meus filhos na escola e não conseguir chegar por conta da violência”, lamenta a estudante de jornalismo. Essa sensação de medo foi mapeada por um levantamento realizado em todo o País e lançado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em Brasília. O Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre Segurança Pública mostra que nove em cada 10 entrevistados têm medo de sofrer crimes como homicídio, assalto à mão armada e arrombamento de residência nas cidades onde moram. A Região Nordeste do País é apontada na pesquisa como a área onde a população tem mais medo de ser assassinada, 85,8% dos entrevistados
BRASIL
Pesquisa mapeia a sensação de insegurança. Veja o percentual do item mais votado: Muito Medo
78,6%
Assassinato
73,7%
Assalto à mão armada
FONTE Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
68,7%
Arrombamento
48,7%
Agressão física Editoria de Arte A TARDE
Raul Spinassé / Ag. A TARDE
revelaram esse temor, contra 69,9% dos residentes na Região Sul. Em relação à confiança nas instituições policiais, a maior parte dos entrevistados mostrou insatisfação com a atuação policial, inclusive apontou comportamentos desrespeitosos e preconceituosos por parte dos agentes policiais. O grau de desaprovação aumenta conforme o maior nível de escolaridade do entrevistado.
Proteção
José Moura protege a família com as grades em casa
Joice usa a escadaria e se expõe ao perigo todos os dias
Na casa número 30 da Rua dos Artistas, bairro do Garcia, várias grades separam o instrutor de hotelaria José Moura, sua esposa Edy e sua filha Karyni do cenário inseguro em que estão inseridos. Um matagal dificulta a visão de quem chega ao local e ainda serve como abrigo de usuários de drogas. “Vivemos inseguros, com medo de chegar em casa e ser atacados”, afirma José Moura. De acordo com o membro da Escola Brasileira de Psicanálise o psicanalista Marcelo Veras, cada vez mais as pessoas estão desenvolvendo o sentimento de medo por conta da violência. “Qualquer experiência traumática deixa marcas, mas mesmo quem nunca sofreu uma violência pode desenvolver um medo extremo. Nesse ponto, a informação globalizada potencializa essa sensação ao disseminar as notícias de atos violentos”, explica o especialista. Ainda segundo Veras, o medo permanente gera graves dificuldades na convivência das pessoas com seus semelhantes, instalando uma permanente desconfiança nas relações humanas.