“o brasileiro é criativo, mas não pode dar um passo sem um carimbo oficial” por arivaLDo siLva
os 81 anos, o engenheiro aeronáutico Ozires Silva continua em plena atividade. Graduado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1962, liderou a equipe que projetou o avião Bandeirante e presidiu a Embraer até 1986, quando aceitou o desafio de comandar a Petrobras, onde ficou por três anos. Em 1990, assumiu o Ministério da Infraestrutura e, em 1991, retornou à Embraer, atuando diretamente no processo de privatização. Por três anos (2000-2003) foi presidente da Varig e criou, em 2003, a Pele Nova Biotecnologia, primeiro fruto da Academia Brasileira de Estudos Avançados, empresa focada em saúde humana. O engenheiro destaca-se ainda pela produção literária. Já publicou quatro livros, entre eles “Etanol: a revolução verde e amarela”, em 2008. Nesta entrevista, Ozires afirma que as escolas não têm nada a ver com a inovação; pelo contrário, representam o conservadorismo.
Como foi criar a Embraer, uma das maiores empresas de engenharia aeronáutica do mundo contra todas as expectativas contrárias? Essa pergunta dá um simpósio. Porque foi um projeto bastante perseguido durante muitos anos. Tivemos que manter o foco, saber exatamente aonde queríamos chegar e vencer o negativismo das pessoas, que acham que o empreendedorismo não tem risco, que devemos fazer o que sabemos, o que já existe, e que não se pode, por exemplo, produzir aviões, porque não era uma vocação brasileira. E, no entanto, acabamos conseguindo. Mas realmente foi um caso típico de foco, permanentemente colocado com intensidade e espírito criativo. Porque não era apenas fabricar aviões no Brasil, tínhamos de fabricar um produto que fosse vendido e, para isso, era preciso ter compradores interessados. Certa vez, ouvi uma palestra do Steve Jobs e ele dizia que, quando criou o iPad, o mundo não sabia que precisava daquele produto. Hoje todo mundo deseja ter um. Portanto, ele foi visionário e enxergou além do horizonte. Sob certo aspecto foi o que tivemos que fazer. Porque precisávamos entrar no mercado com um produto que fosse desejado e pudesse ser oferecido. Com isso, criamos o transporte aéreo regional, que não existia no passado. O trabalho empreendedor sempre é facilitado quando ele mira um nicho de mercado que seja viável. Como o DNA de empreendedor impactou na inovação e infraestrutura no Brasil? Não tenho a presunção de dizer que conseguimos influenciar. Mas, no caso dos aviões, nos esforçamos bastante. O avião não é um empreendimento em si. Ele é uma soma de empreendimentos. Quando alguém compra um avião, não o faz por um atributo V.4, n. 41, p. 23 - out/nov/dez.2012 - Bahia
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