Revista Comunitária
Verbalize Boca do Rio, Costa Azul, Imbuí e Stiep
Salvador - Bahia - Agosto 2009 - Ano I, n° 1
Canal da discórdia Depois de reiteradas solicitações de moradores do Imbuí, a Prefeitura de Salvador inicia as obras do Canal do Imbuí. No entanto, orgãos de proteção ambiental apresentam argumentos de que a intervencão vai na contramão da história
04 CIDADANIA
12 EDUCAÇÃO
15 ECONOMIA
Bibliotecas da Boca do Rio incentivam o hábito da leitura entre os jovens do bairro
Estudantes da rede municipal da Boca do Rio voltam às aulas depois da greve
Trabalhadores informais avaliam o Microempreendedor Individual
EXPEDIENTE
Boca do Rio, Costa Azul, Imbuí e Stiep Produto desenvolvido para o Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da Faculdade 2 de Julho - Agosto de 2009. Editor Geral Arivaldo Silva
Orientador Professor Francisco Araújo
Editoração Eletrônica Arivaldo Silva
Foto de capa Humberto Farias
EDITORIAL
Verbalize para a cidadania
V
erbalize quer dizer argumente, ex ponha os seus anseios, suas ex pectativas. Essa definição é a essência da Revista Comunitária Verbalize que surge com o objetivo de retratar assuntos relacionados aos bairros da Boca do Rio, Costa Azul, Imbuí e Stiep, localizados nas proximidades da orla atlântica de Salvador e que abrigam uma população em torno de 140 mil pessoas, de acordo com a Prefeitura de Salvador. A ideia de criar a publicação surgiu do contato cotidiano com as comunidades em questão. Observando, questionando e dialogando com os moradores foi possível visualizar a possibilidade de editar um veículo de comunicação comunitária que servisse de interlocutor entre a comunidade e os poderes constituídos Os bairros abordados pela Verbalize são delimitados por duas importantes vias: a Ave-
nida Otávio Mangabeira e a Avenida Luís Viana Filho (Paralela), além de possuirem um intenso comércio e um ilimitado potencial humano a ser pautado e reportado. Com isso, a proposta central da publicação é mostrar o cotidiano dos indivíduos residentes nesses locais através da perspectiva da comunicação comunitária, dando voz aos anseios da população inserida nesta unidade administrativa da cidade. Neste produto jornalístico popular estão inseridas também informações referentes aos pontos em comum às quatro localidades (como educação, serviços, infra-estrutura, lazer, economia, entre outros), em forma de reportagens com o intuito de contextualizar para o leitor informações que podem interferir, direta ou indiretamente no seu cotidiano, com o objetivo principal de ser um veículo de prestação de serviço local. Wagner Prado
Fotojornalismo Arivaldo Silva, Humberto Farias, Alex Sena, Fábio Vieira e Alex Barsan
Colaboradores na reportagens Alex Sena, Fábio Vieira e Alex Barsan Impressão Alphagraphics Design Av. Paulo VI, 1227. Pituba Fone: (71) 3017-6606 Fax: 3017-6606 e-mail: salvador@alphagraphics.com.br
Vista aérea do bairro Imbuí Azurrolou/Flickr
Arivaldo Silva
site: www.salvador.alphagraphics.com.br
FALE CONOSCO revistaverbalize@gmail.com (71) 8245-3742
Parque Costa Azul
Lagoa dos Frades, Stiep
Divulgação
Rua Lúcio Manoel da Hora, Boca do Rio
08 Capa
A polêmica por conta das obras no Canal do Imbuí 07 Cidadania
Lição de vida Solidariedade e preocupação social. Esse é o resumo da vida de Dona Neném, criadora da Creche Béu Machado 16 Figura do bairro
Aloísio e a Praia dos Artistas
06 Saúde
Comércio de ervas medicinais no bairro
Sumário
Canal da discórdia
05 Entrevista
Cláudio ‘Álcool’
Nascido na Boca do Rio, o pioneiro do basquete de rua (streetball) em Salvador fala da prática do esporte Agosto 2009 03
cidadania
Bibliotecas incentivam a literatura entre os jovens O hábito da leitura está se popularizando entre os jovens da Boca do Rio depois do surgimento de duas bibliotecas comunitárias Alex Sena
A
s bibliotecas Beth Coelho e Pro meteu estão há 10 anos promo vendo o incentivo à leitura para a comunidade da Boca do Rio. A iniciativa tem grande receptividade no bairro, já que nenhuma ação nesse sentido havia sido implantada no entorno. O idealizador do projeto é o escritor e poeta Douglas Almeida, que está popularizando a leitura entre os jovens da localidade. De acordo com Almeida as bibliotecas surgiram a princípio em uma pequena casa no centro de Salvador, no bairro do Politeama, entretanto, nesta época era apenas a Prometeu. “As coisas melhoraram quando consegui o apoio da Petrobrás, pois com esta ajuda consegui uma casa maior e transformei a pequena estante Beth Coelho em uma segunda biblioteca”. Hoje as duas bibliotecas juntas oferecem para o público infanto-juvenil mais de 1000 livros, de diversos gêneros, contando também com obras de autores estrangeiros e
Alex Sena
nacionais disponíveis para empréstimos com duração de uma semana. Almeida é morador do bairro há 10 anos e se diz realizado com as bibliotecas comunitárias. De acordo com o idealizador, existem muitos moradores que ainda não são cadastrados nas bibliotecas, no entanto, eles aprovam o trabalho de estímulo à leitura. É o exemplo da estudante Beatriz Cruz, 15 anos, ela diz que conhece colegas que passaram a exercitar o hábito da leitura depois que começaram a frequentar as bibliotecas. “Eu ainda não me cadastrei porque perdi minha carteira de identidade, mas assim que eu tirar uma nova pretendo Crianças da comunidade exercitando a leitura me cadastrar como meus amigos”, afirma a do-o para as crianças através dos livros”, adolescente. NOMES – De acordo com Douglas o relata Almeida. Já o nome para outra biblioteca foi uma nome Prometeu foi inspirado na mitologia grega. Conta a lenda que o poeta Hesíodo homenagem a escritora Beth Coelho, a qual relata que o Titã Prometeu roubou o fogo es- Almeida admira muito pelo seu trabalho volcondido no Olimpo para entregá-lo aos ho- tado para o puúblico infantil. “Essa homenamens, “estou roubando o saber restrito e dan- gem é especial, já que ela em vida sabe que está sendo reconhecida”, diz .
Parque de Pituaçu é opção de lazer gratuito no bairro O local repleto de área verde oferece um ambiente aconchegante para todas as idades Fábio Vieira
S
ituado na Boca do Rio, o Parque Metropolitano de Pituaçu possui 15 km de ciclovia, uma imensa mata atlântica que abriga uma diversidade de plantas e de animais para serem vistos pelos visitantes gratuitamente. Além disso os pais que forem com seus filhos têm a oportunidade de andar de pedalinho e brincar de cama elástica. Os visitantes do local o consideram interessante não apenas por ser umadas poucas opções de lazer gratuito da cidade, mas por se tratar de ser um local que concilia natureza e tranqüilidade. “Gosto muito daqui, pois pratico meu esporte favorito, andar de bicicleta, e sempre encontro pessoas legais para conversar, em dias de sol chamo meus primos para vir comigo para o Parque de Pituaçu”, relata o estudante, Thiago Silva,19 anos. Uma particularidade do local é o museu a céu aberto, chamado Espaço Cravo, onde o visitante pode ver esculturas metálicas es-
04 Agosto 2009
Foto: Fábio Vieira
palhadas por boa parte do parque, todas elas foram confeccionadas pelo artista plástico Mario Cravo. O funcionamento do Espaço Cravo é de segunda a sábado das 8h às18h. De acordo com a administração do local, o parque recebe em média por cada fim de semana cerca de 2500 pessoas, que são visitantes das imediações. No entanto, aos sábados , domingos e feriaO parque é um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica na cidade dos o perfil é de pessoas de toda parte da cidade. “ O Parque Me- no com água, entretanto, atualmente o partropolitano de Pituaçu é uma das últimas áre- que tem como função ser um local de lazer e as verdes d e Salvador , remanescente de recreação para pessoas de todas as idades”, mata atlântica. “Em 1963 tinha como princi- afirma a coordenadora geral do Parque de pal função abastecer a população do entor- Pituaçu, Sara Alves.
BATE BOLA CLAUDIO ‘ÁLCOOL’ MACHADO ESPORTISTA
entrevista
“Estou no basquete porque acredito no esporte” Texto e fotos - Arivaldo Silva Fundador da equipe de basquete de rua, Made In Periferia (MIP), time que participou da Liga Brasileira de Basquete de Rua (Libbra), realizada em 2008, em São Paulo e no Rio de Janeiro, Cláudio Conceição Machado, ou Álcool, como ele é conhecido é a determinação em pessoa. Aos 32 anos, ele joga basquete desde os 18, no entanto, revela que não se adaptou ao sistema de quadra, prefere o estilo chamado streetball, ou basquete de rua, justamente pela liberdade nas jogadas. Alcool nasceu na Boca do Rio e mora no bairro até hoje. Ele relata que quando comecou no esporte, não tinha opções para treinar no bairro. A solução era ir para outros bairros: Liberdade e Mussurunga. Em 2009, ainda não foi implantada uma quadra com condições no entorno da Boca do Rio, para a pratica de basquete. O point para fazer umas cestas no final de semana é certo - a quadra do Jardim dos Namorados - no Costa Azul. De acordo com Álcool, o único espaço mais próximo para treinamento está longe do ideal, falta manutenção do equipamento, que precisa ser melhor cuidado pela administração do parque. Ainda em 2008, ele foi eleito membro do Reis da Rua, seleção brasileira de Basquete de Rua e também foi homenageado com um dos responsáveis pela difusão da prática desta modalidade no estado. O evento Melhores do Ano de 2008, promovido pela Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), lotou o Teatro da Faculdade Social, em Ondina para premiar atletas, paratletas e representantes da crônica esportiva baiana.
Quando você começou no esporte? Tinha 18 anos na época. Aqui na Boca do Rio não tinha muita opção para prataicar o basquete. Havia poucos campeonatos na cidade, principalmente em Cajazeiras. Quando a Libbra chegou em Salvador algumas coisas mudaram. Para participarmos do campeonato no Rio tivemos o apoio da Cufa Bahia, através da Talita, que conseguiu as passagens para disputarmos o campeonato nacional. Foram 72 equipes, creio que esse ano terá um número maior. Aqui em Salvador hoje nos temos em torno de 10 equipes de basquete de rua focados na Boca do Rio, Cabula, Cajazeiras, Liberdade, Castelo Branco, Pituba, entre outros. As quadras da Boca do Rio já possibilitam o treinamento? Não tem nada aqui. Não rola. Quando fazem alguma melhoria, colocam o aro errado, altura da tabela fora dos padrões. Como é articulação dos integrantes do basquete de rua em Salvador para mudar a situação de falta de lugar para treinamento? Acho que a nossa movimentação deveria ser maior. Hoje só estamos articulando junto à Sudesb. Precisamos estar mais engajados para movimentar o esporte local. Quais são as próximas atividades do basquete de rua na cidade? Em agosto haverá a seletiva baiana para a Libbra, na quadra do Jardim dos Namorados
Arquivo pessoal
cidadania
Boca do Rio e sua rádio comunitária promovendo a cidadania O serviço de rádio poste funciona desde 2006 e hoje tem 150 caixas distribuídas pelas ruas do bairro Arivaldo Silva
“
A propaganda é a alma do negócio. Quem não anuncia vende. Mas quem anuncia, vende muito mais!”. Este é o slogan da DM Publicidade, um serviço de informações sobre a comunidade da Boca do Rio e seu entorno através de caixas de som acopladas aos postes. O serviço funciona desde 1996 e começou com apenas cinco caixas instaladas na sinaleira entre as ruas Emiliano Galiza e Hélio Machado. Atualmente o serviço funciona de segunda a sábado das 8 às 18hs, com 150 caixas distribuídas pela Avenida Jorge Amado, o bairro do Imbuí e as principais avenidas da Boca do Rio.Os moradores se mostram satisfeitos com este veículo de comunicação comunitária que leva informação e música aos que passam pelas redondezas. “A ação da rádio no bairro é boa pra mim
Divulgação
porque toca músicas evangélicas, quando passo pelas ruas me sinto bem ouvindo a melodia e sabendo que outras pessoas também estão sendo alcançadas pelo gospel”, afirma Iozenete Silva, 47, dona de casa. CIDADANIA - De acordo uma das sócias, Margareth Costa, 36 anos, a rádio foi criada há 11 anos por Djalma Souza e está registrada como serviço de auto-falante. Ela disse que para começar a funcionar foi necessário apoio financeiro de um deputado com base eleitoral no bairro. “Djalma trouxe a experiência da rádio comunitária de Paripe e também do carro de som no qual fazia locução antes daqui. Além disso, o movimento do comércio da Equipamento de difusão da Rádio Comunitária Boca do Rio foi o que motivou Djalma a imda Boca do Rio plantar a rádio aqui”, informa Costa.
saúde
Ervas medicinais e a prevenção de doenças Além da Feira de São Joaquim, referência em produtos naturais, a Boca do Rio também concentra um forte comércio desses produtos Arivaldo Silva
A
utilização dos recursos naturais como forma de tratar doenças é tão antiga quanto a espécie humana. As ervas medicinais são usadas há milhares de anos, tanto para fins terapêuticos quanto em rituais religiosos. Além da Feira de São Joaquim que é referência na venda de produtos naturais na capital baiana, outros bairros como a Boca do Rio concentram um forte comércio desta prática milenar. Contudo, a sabedoria popular deve ser usada com cautela e responsabilidade. “Mal com certeza não faz”, é o que acha Maria Dalva Oliveira, 68, a respeito do uso de ervas para o tratamento de doenças. “Faço uso de algumas ervas para controle do colesterol. A carambola e o chuchu são ótimos para equilibrar a pressão arterial” exemplifica dona Maria. De acordo com Edenivaldo Gomes de Melo, 67, vendedor de produtos naturais na Boca do Rio há mais de 20 anos, conhecido como “seu Didi”, as ervas mais procuradas são mastruz, trançagem e eucalipto. “As pessoas chegam aqui se queixando dos remédios de farmácia. Mas o resultado com as ervas que eu vendo é rápido e garantido”,
revela Seu Didi. “A procura por fortificante sexual pelos homens é grande, indico a catuaba”, completa. Nas camadas mais humildes da população, que geralmente têm dificuldades para comprar remédios nas farmácias, o hábito do chazinho foi preservado e continua em uso. A experiência dos mais velhos traz ensinamentos que fazem parte da sabedoria popular. Antônio Dias, 54, natural de Cruz das Almas, cidade distante 146 km da capital diz que mora em Salvador há 38 anos e há 20 trabalha com ervas medicinais. Segundo ele, em sua casa de ervas, na Boca do Rio, pode ser encontrado tratamento natural para diversas doenças. “A babosa – Pneumus boldus Molina – misturada ao mel de abelha é indicada para tratar o câncer. Cada folha de babosa custa 0,70 centavos”, explica. “Tudo que venha a somar de maneira responsável no tratamento das doenças é válido. A confiança e o desejo de melhorar influem muito positivamente. O fator psicológico é decisivo na cura desses pacientes”, argumenta Luciano Curvello, 39, médico especialista em traumatologia e ortopedia, plantonista da Clínica Cato (Unidade Boca do Rio).
Foto: Arivaldo Silva
06 Agosto 2009
Seu Didi, tradicional comerciante do bairro
cidadania
Lição de vida
A fundadora da Creche Béu Machado, Dona Neném mostra como a solidariedade é o caminho mais seguro para a cidadania Fotos: Arivaldo Silva
As crianças atendidas pela Creche Béu Machado estudam em regime de semi-internato e têm atendimento médico, odontológico e assistência psicológica
Arivaldo Silva
L
ogo na entrada da Rua do Caxundé, no prédio de número 13 funciona a Associação de Clube de Mães União da Boca do Rio, ou como é mais conhecida por todos da comunidade, Creche Béu Machado. É lá que encontamos a fundadora desta obra social, que atende em torno de 180 crianças, com idades entre um e cinco anos, até a alfabetização. Maria José da Silva Machado, mais conhecida como Dona Neném, mulher do jornalista, poeta e compositor baiano Béu Machado, que faleceu em 19 de agosto de 1992.
incansável Dona Neném DonaA Neném, idealizadora da Creche
Dona Neném é dona de uma personalidadade carismática. Natural de Conceição do Jacuípe (Berimbau), ela se mostra uma pessoa muito comunicativa. Ao relembrar os motivos de estar à frente da creche, que foi criada há 23 anos, em 1986, Dona Neném chega a se emocionar. "Quando criança meu pai me entregou para ser criada por uma família. Cresci numa fazenda tomando conta dos filhos das pessoas que me acolheram. Ajudei a criar seis crianças, e eu também era criança. Tinha apenas nove anos, não tive infância. O amor às crianças vem dessa época. Elas me ajudam a viver. Tenho algumas enfermidades e o convívio com os meninos me alivia muito", conta. Bel Machado em sua trajetória profissional ficou responsável pela coluna Suingue do jornal A Tarde. "Aprendi muito com Bel. Na época em que assinava uma coluna no jornal A Tarde, eu presenciava o quanto ele escrevia, mas na hora da edição, eu o ajaduva a enxugar o texto, a escolher foto. Fazia a assessoria dele", lembra. A creche-escola é um núcleo de alfabetização em regime de semi-internato, as crianças chegam às 7hs e permanecem lá até as 16hs. Elas têm atendimento médico,
Grafite com as feições do jornalista Béu Machado odontológico, assistência psicológica e quatro refeições diárias. O planejamento educacional é dividido por faixa etária, visando estimular a permanência do aluno na comunidade da Boca do Rio. Inúmeras atividades são promovidas durante o todo o dia, evitando que os meninos fiquem na rua. Com uma despesa mensal em torno de R$ 35 mil, com os funcionários (9 pedagogas, 9 auxiliares de classe, 3 cozinheiras e 1 secretária) e a manutenção da estrutura educacional, a instituição enfrenta muita dificuldade e sobrevive hoje de doações de colaboradores, como oa restaurantes Boi Pretto e Iemanjá, além da ajuda dos pais das crianças, no valor de R$ 40.
Agosto 2009 07
o Silva
Polêmica em torno das obras no Canal do Imbuí As obras de macrodrenagem e urbanização do Canal do Imbuí, uma solicitação antiga da comunidade local ao poder público, se transformou em uma contenda política. De um lado, a Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente (Sedham) dizendo que a intervenção respeita as exigências ambientais, e do outro, o Instituto de Gestão das Águas e Clima ameaçando embargar os trabalhos
reportagem de capa - comunidade “Nós moradores, queremos essa obra, até porque somos nós que sofremos na pele todo o transtorno de ter um vizinho como esse. Se o canal fosse mesmo um rio, não teria sentido pagarmos taxa de esgoto. Quando chove alaga tudo. Na última grande chuva, em maio, o canal transbordou e invadiu o estacionamento do prédio”, relata o aposentado Roque Chaves, 57, síndico do Condomínio Edifício Ibiratinga. Arivaldo Silva
Roque Chaves, síndico
Chaves consegue tratar a questão com bom humor, até quando se queixa da enorme quantidade de mosquitos. “Já virou até piada entre os moradores, que brincam dizendo que os insetos utilizam o elevador para chegar aos apartamentos do 12° andar (risos). No verão eles moram conosco, com um detalhe, sem pagar aluguel”, diverte-se.
Arivaldo Silva
desagradáveis. Se o governo municipal realizar mesmo essa obra será excelente para os moradores”, diz o publicitário Raimundo Lopes, 28, morador do bairro há 14 anos. Em maio de 2009, com as intensas chuvas que caíram em Salvador, provocando o decreto de estado de emergência por conta dos alagamentos, mortes e destruição em toda a cidade, o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) declarou que o município iria às últimas consequências para executar a obra de urbanização do canal do Imbuí, em atenção às reivindicações dos moradores do bairro. “Vamos executar a obra com ou sem o aval do Estado”, afirmou, referindo-se à secretaria estadual do Meio Ambiente, que vê problemas na intervenção. A prefeitura de Salvador pretende executar na primeira etapa, as obras de drenagem na região da Avenida Paralela, nas proximidades do Condomínio Amazônia, com a escavação de um túnel de 2,5 metros de diâmetro que irá atravessar as duas pistas da avenida até desembocar no canal do Rio das Pedras. O objetivo da obra é escoar a água das chuvas, evitando os constantes alagamentos no local. Está previsto também para essa primeira fase, o alargamento dos 2.190m do leito do Rio das Pedras, desde o Imbuí até a sua foz, na Boca do Rio, próximo à sede de praia do Esporte Clube Bahia. Com o aumento da capacidade de vazão do rio, a intenção é reduzir a probabilidade de alagamento. O presidente da Associação de Moradores de Condomínios do Imbuí (AMCI), João Amaral é categórico em afirmar que as obras de macrodrenagem no canal do Imbuí são aguardadas por toda a população do local. “A poluição, o odor e os mosquitos nas imediações são insuportáveis, porque hoje o canal não é mais um rio e sim despejo para todo o esgoto da região”, avalia. Amaral reclama que a carga de tributos municipais vem aumentando a cada ano, no entanto o poder público não traz as melhorias no mesmo ritmo. “Queremos a obra até para urbanizar o bairro, pois nos 20 anos que moro aqui, pouquíssimas alterações foram efetuadas”. A Associação de Moradores de Condomínios do Imbuí foi criada em 26 de
O publicitário Raimundo espera a conclusão das obras
De acordo com alguns moradores do Imbuí, o Ingá não teria liberado a licença para a execução da obra. Os relatos dão conta de que o Ministério Público também é contra o fechamento do canal, alegando que se trata de um rio. “A questão mais complicada para mim é a proliferação de mosquitos, no verão eles invadem os apartamentos. A estética e o mau cheiro do canal também são muito
Arivaldo Silva João Amaral, presidente da Associação de Moradores de Condomínios do Imbuí
Agosto 2009 09
reportagem de capa - comunidade julho de 2008 e é constituída pelos moradores dos Condomínios Moradas do Bosque, Moradas do Parque II, Moradas do Parque I, Residencial Summer Time, Edifício Ibiporã, Edifício Itaporã, Mansão Perestroika e Condomínio Parque Residencial Quinta do Imbuí. A ordem de serviço para o início da execução da primeira etapa das obras de macrodrenagem do canal do Imbuí foi assinada no dia 29 de junho pelo prefeito João Henrique e pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Os recursos são da ordem de R$ 17,5 milhões, dos quais R$ 874 mil da contrapartida municipal. O projeto contempla inicialmente o trecho entre a Avenida Paralela e o começo da Jorge Amado, bem como a extensão entre a Rua Rio das Pedras e a desembocadura do duto nas proximidades da orla. A região é constantemente afetada por alagamentos, principalmente nos períodos chuvosos. Já os recursos de R$ 39 milhões para a segunda fase, que prevê a urbanização, paisagismo e instalação de equipamentos esportivos e de lazer no local e entorno, já foram assegurados pelo convênio com o governo federal. Controvérsia - O Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá) ameaça embargar as obras. Em nota divulgada em seu site, o Ingá diz que "nenhum pedido de autorização foi encaminhado ao órgão gestor das águas no Estado da Bahia, e os responsáveis pela obra - Prefeitura Municipal com apoio do Ministério da Integração Nacional - podem sofrer as medidas administrativas cabíveis". O órgão acredita que as obras irão alterar o escoamento do Rio das Pedras. "A completa canalização fechada significaria a morte definitiva do rio, não deixando qualquer
Secom / PMS
Prefeito João Henrique e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima no ato de assinatura da ordem de serviço para as obras no Imbuí
possibilidade para chances de recuperação desse manancial hídrico". Do outro lado, o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente (Sedham), Antonio Abreu, defende que a decisão não é de responsabilidade do órgão estadual. Para o titular da Sedham, a prefeitura está respeitando as exigências ambientais. "O Ingá não pode querer embargar a obra do Imbuí. Eu não estou tirando água, não estou colocando água. Não estou fazendo
qualquer tipo de coisa que vá contra a legislação", declarou. Ainda de acordo com Abreu, não seria de competência do órgão embargar as obras no Imbuí. "Não tem sentido esta intervenção. O Ingá não tem absolutamente nenhuma ingerência", comentou Antonio Abreu ressaltando que o instituto só poderá gerir situações como esta após a aprovação do projeto de lei 18035/2009 em tramitação na Assembleia Legislativa da Bahia.
Projeção feita pela SecretariaMunicipal Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente de como será a reurbanização do Imbuí
10 Agosto 2009
reportagem de capa - comunidade
Agecom
Apimentando a discórdia e a disputa sobre quem teria responsabilidade ou não sobre o assunto, o Ingá vai além em sua nota. "Os nossos especialistas ainda alertam para a recuperação do rio das Pedras, que vem sofrendo com o lançamento de esgotos domésticos em seu leito, com destaque para o saneamento adequado como uma das alternativas para o uso e bem de todos. Ademais, o rio das Pedras, mesmo estando localizado no município de Salvador, é um rio estadual, portanto de gestão do Ingá. Dessa forma, o órgão gestor das águas espera o bom senso e o respeito à legislação, sob pena de configurar abuso de poder e improbidade administrativa". O coordenador de monitoramento da qualidade da água e hidrogeologia do Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), o engenheiro ambiental Eduardo Topázio define a obra de cobertura do canal como inadequada. “A cobertura de um corpo dágua natural além de afetar a possibilidade de recuperação, até mesmo a recuperação natural, o que tecnicamente chamamos de autodepuração, não é uma solução e causa um impacto irreversivel ao corpo d’água. Se o rio se transformou em um canal de esgoto, fruto de politica urbana inexistente ou equivocada e falta de saneamento básico,cobri-lo é uma solução técnica inadequada. A solução seria, alem de dotar a região de estrutura de saneamento adequadas”, revela. Sobre a possibilidade de recuperação do fluxo d’água, o engenheiro diz que é preciso boa vontade. “É necessário primeiramente de saneamento básico, rede de esgoto e coleta de lixo na bacia do rio. Depois é preciso ordenar a ocupação do solo, não permitindo a ocupação das margens com construções e por último tornar
Avenida Jorge Amado alagada com as chuvas de maio de 2009
as mergens e o canal do rio desobstruídas. As margens do rio podem ser ocupadas como área de lazer da população, mais com estruturas permeáveis e de preferencia com áreas verdes, solução adotada em muitos lugares do mundo desenvolvido”, avalia Topázio. Chuvas na cidade Mortes por soterramento, desabamento de imóveis, deslizamentos de terra, alagamentos e transfornos no trânsito são
mazelas de Salvador expostas pela chuva, que somente entre o primeiro dia de janeiro e o final de maio já havia motivado o registro de 3.744 solicitações à Coordenação de Defesa Civil de Salvador (Codesal). De acordo com o Centro Estadual de Meteorologia do Ingá, autarquia da secretaria do Meio Ambiente, no mês de maio, a média das chuvas em Salvador chegou a 500,5 milímetros. A região da cidade onde mais choveu foi no Cabula, onde foi registrado 58 mm, o dobro da quantidade relativa ao mesmo período do ano passado.
Agosto 2009 11
educação
Estudantes das escolas municipais da Boca do Rio voltam às aulas depois de um mês Depois da greve dos professores, 13 sábados serão usados para recuperar o tempo perdido Arivaldo Silva
D
epois de amargar mais de um mês sem aulas, 180 mil estudan tes das 416 unidades da rede municipal de Salvador voltaram às aulas no último dia 9 de julho. Com o fim da greve dos professores, eles retomam o ano letivo com a necessidade de recuperar o tempo perdido. Mas mesmo depois de um recesso prolongado, em boa parte das salas ainda foram registradas muitas faltas. No Instituto Municipal de Educação Professor José Arapiraca (Imeja), um dos colégios mais conhecidos da Boca do Rio, seja por sua proximidade da orla marítima ou por ser vizinho da Sede de Praia do Esporte Clube Bahia, os estudantes ainda estão participando de atividades da segunda unidade, por conta dos dias sem atividades. A escola oferece ensino da pré-escola até a 8ª série, além de Educação para Jovens e Adultos (EJA). De acordo com a diretora do Imeja, Magda Ferreira, a reposição das aulas perdidas é a solução para não penalizar ainda mais os estudantes. "Nós vamos seguir o calendário de reposição de aulas do município, visando suprir a lacuna do periodo da greve", explica. No entanto, a paralisação dos professores está custando caro aos alunos. A Secretaria Municipal de Educação e Cultura determinou que dos 21 sábados até o final de novembro, os estudantes terão folga apenas em oito deles. Sem contar os feriados em outubro, nos dias 15 e 28 (dia do servidor municipal), que terão de ser de trabalho. "Passei muito tempo em casa, ficava brincando e assistindo televisão o dia todo porque não tinha aula. Agora vou recuperar esse tempo na escola", diz o estudante Carlos Alves, 12 anos. Localizada na rua Heitor Dias, uma das ruas centrais da Boca do Rio, a Escola Municipal União, Caridade e Abrigo, que atende crianças a partir de 3 anos, apresenta uma situação mais cômoda para a comunidade. De acordo com vice-diretora da escola, Ivna Silva, durante a greve, eles ficaram apenas seis dias de portas fechadas. "Resolvemos voltar às aulas justamente para dar assistência às crianças. Tanto que a reposição de aulas terá um calendário deferente da rede", salienta Ivna. O calendário de reposição das aulas da rede municipal de ensino já está definido. Por causa da greve dos professores, iniciada no dia 29 de maio e finalizada no dia 8 de
12 Agosto 2009
Fotos: Arivaldo Silva
Secretaria da Escola Municipal União, Caridade e Abrigo que atende criaças a partir de 3 anos
julho, os alunos e professores terão de estender o ano letivo até o dia 22 de dezembro. Até lá, serão 13 sábados e dois feriados com atividades em todas as escolas municipais.
Escola União, Caridade e Abrigo Os professores garantiram 5,57% de reajuste retroativo a maio. Havendo aumento no repasse do Fundo para o Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), eles receberão mais 2,5% em setembro. “Isso significa um avanço. Esperamos que o acordo seja cumprido”, afiema Elza Melo, diretora da APLB. Tecnologia - Com o fim da greve a prfeitura anunciou a implantação de avanços tecnologicos nas ecolas da cidade. De acordo com Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura, além da disponibilização de
internet banda larga em todas as 416 unidades - fruto de termo de parceria assinado entre a Prefeitura e a Oi - 80 laboratórios de informática fornecidos pelo Ministério da Educação (MEC) passam a ser utilizados por professores e alunos no processo de aprendizado. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB Sindicato), Rui Oliveira, a informatização das escolas municipais é uma antiga reivindicação dos educadores. "Nós entendemos que a informática é uma ferramente que pode melhorar o ensino nas escolas", comentou. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Educação 13 sábados estão determinados para a reposição de aulas. Confira na tabela abaixo:
cidadania
Cidadania e cooperação na Comunidade Kolping da Boca do Rio ONG ligada a igreja católica e presente em todo o Brasil disponibiliza cursos profissionalizantes para moradores do bairro e demais interessados Arivaldo Silva Fotos: Arivaldo Silva
A
Comunidade Kolping da Boca do Rio é uma Organização Não Go vernamental (ONG)que está localizada na Rua Abelardo Andrade de Carvalho, nas proximidades da orla e começou no bairro em 1981 com a contribuição à época de jovens da Paróquia de São Francisco de Assis, hoje com a administração do Padre Manoel da Paixão. A missão da organização é a formação de cidadãos, nos aspectos, religiosos, profissionais, familiares, associativos, comunitários, culturais, recreativos e políticos através de programas de combate à exclusão social. A ONG teve início durante a revolução industrial, na Alemanha, através do padre Adolfo Kolping, sensibilizado com a situação do desemprego. Em 06 de Maio de 1849, com sete jovens ele fundou a primeira associação de trabalhadores, tornando–se hoje uma organização católica, com associações em diversos países. No Brasil, a instituição já atua em 173 municípios de 21 estados; 228
A grande demanda pelos cursos é uma rotina na Kolping da Boca do Rio
"Ela é muito criativa e precisa aperfeicoar o que viu na faculdade de moda", afirma Irene. Já Emanuelle Moraes, 22, sobrinha do casal e graduada em design de moda pela Faculdade da Cidade se mostra empolgada para começar as atividades. "Gosto muito
Olhos atentos à aula de violão paróquias e 84 dioceses. A maior procura dos moradores do bairro são para os cursos profissionalizantes. Os interessados em aprender uma profissão ou conseguir uma nova fonte de renda, podem escolher entre 10 opções: cabeleireiro, depilação, mega-hair, manicure, violão, teclado, informática, manutenção de micro, tele marketing, corte e costura (malha e tecido). O casal Enock da Penha, engenheiro e Irene da Penha, advogada procuraram o setor de matrículas da Comunidade Kolping da Boca do Rio com o objetivo de encaminhar a sobrinha ao curso de corte e costura.
Mãos hábeis das alunas de corte e costura
de criação e pretendo aperfeiçoar a minha parte criativa aqui nesse curso, que é voltado para o que eu quero", avalia Emanuelle. De acordo com o conselheiro fiscal e instrutor de informática da ONG, Paulo Badaró a Kolpin do bairro gera sua própria receita através dos valores repassados pelos estudantes dos cursos que são pagos. "Temos diversos cursos gratuitos e os que
são pagos, têm uma taxa simbólica para manutenção da entidade, e com valores muito abaixo do mercado. As nossas atividades contam com o apoio de uma diretoria voluntária e cooperação dos associados", explica Badaró. As turmas de iniciação musical (violão) e corte e costura apresentam grande interesse por parte dos alunos. Para a instrutora de corte e costura e artesanato, Rosana Miranda o aproveitamento dos ensinamentos só aumenta sua motivação. "Adoro ensinar, ainda mais com alunas tão aplicadas. Elas são muito habilidosas e serão ótimas profissionais", revela Rosana. "Estava procurando outra atividade para ocupar meu tempo, já que sou professora durante um turno há 20 anos. Encontrei nesse curso uma nova fonte de renda e já penso em montar meu próprio atelier de costura", diz a professora Jandira Alves, participante do curso há quatro meses. A Comunidade desenvolve ainda atividades artísticas e culturais como: capoeira, dança de salão, street dance, além de programas de geração de renda para grupos organizados através de financiamentos, participa de projetos de inclusão social para jovens, auxilia na formação de grupos voltados para elaboração de políticas públicas.
Agosto 2009 13
comunidade
Saiba como funciona o Conselho Tutelar na Boca do Rio O órgão público municipal tem como função principal zelar pelos direitos da infância e juventude, em parceria com o Ministério Público Arivaldo Silva
O Conselho Tutelar 11 atende em um prédio na Boca do Rio, localizado na rua Clemente Mariane, n° 45
Arivaldo Silva
O
Conselho Tutelar é um órgão pú blico municipal de caráter autô nomo e permanente, cuja função é zelar pelos direitos da infância e juventude, conforme os princípios estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). De acordo com o Ministério Público são 14 Conselhos Tutelares em funcionamento em Salvador. Eles estão distribuídos em bairros como Brotas, Pernambués, Liberdade, Itapuan, entre outras localidaes. A comunidade da Boca do Rio dispõe de uma unidade há 1 ano e meio. É o Conselho Tutelar 11, que atende em um prédio localizado na rua Clemente Mariane, nº 45. Os conselheiros tutelares são individuos que têm o papel de porta-voz das suas respectivas comunidades, atuando junto a órgãos e entidades para assegurar os direitos das crianças e adolescentes. São eleitos 5 membros através do voto direto da comunidade, para mandato de 3 anos. Na Boca do 14 Agosto 2009
Rio a conselheira tutelar, Edineuza Conceição, 27 é uma dessas pessoas que trabalham com as situações mais dramáticas do cotidiano das famílias do bairro. "Os casos mais comuns que atendemos aqui são as agressões de filhos contra os próprios pais. Eles enveredam para o caminho das drogas e chegam a um ponto que não respeitam mais nínguém. O nosso papel é justamente buscar uma conciliação para esses conflitos e encaminhar os menores para a reabilitação, tudo em parceria com o Ministério Público Estadual", explica a conselheira. Conheça as principais atribuições do Conselho Tutelar Atender às crianças e adolescentes que tiverem seus direitos ameaçados por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;por falta; omissão ou abuso dos pais ou responsáveis; ou em razão de sua conduta. Receber a comunicação (obrigatória) dos casos de suspeita ou confirmação de maus tratos; de reiteradas faltas injustificadas
ou de evasão escolar; após esgotados os recursos escolares; e de elevados níveis de repetência. Requisitar o serviço social, previdência, trabalho e segurança, ao promover a execução de suas decisões. Atender e aconselhar os pais e responsáveis, podendo aplicar algumas medidas, tais como encaminhamento a cursos ou programas de orientação e promoção a familia e tratamento especializado. Assessorar a prefeitura na elaboração de propostas orçamentárias, com a finalidade de garantir planos e programas de atendimento integrado nas áreas de saúde, educação, cidadania, geração de trabalho e renda a favor da infância e juventude. Encaminhar a notícia de fatos que constituem infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente. Incluir no programa de auxílio, orientação e tratamento de alcoólatras e toxicômanos.
economia
Trabalhadores informais avaliam as possibilidades do Microempreendedor Individual Arivaldo Silva Fotos: Arivaldo Silva
O
microempreendedor indi vidual (MEI) foi criado pela Lei Complementar 128, de dezembro de 2008 e pretende legalizar cerca de 10 milhões de pequenos negócios no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica (IBGE). Somente em Salvador cerca de 100 mil trabalhadores informais estão no perfil de adesão ao MEI. Além dos ambulantes, mais de 175 profissões como taxistas, costureiras, sapateiros, artesãos, borracheiros, babás, vidraceiros e até mesmo astrólogos, podem se formalizar como empresas e ao mesmo tempo se inscreverem no INSS pagando taxas mais baixas do que as vigentes,tendo acesso aos benefícios da Previdência. Quem está na informalidade e tem arrecadação anual de até R$ 36 mil, ou até R$ 3 mil mensais já pode regularizar suas atividades e desfrutar de direitos previdenciários como aposentadoria por tempo de serviço ou invalidez, seguro por acidente de trabalho, licença-maternidade e até pensão por morte.
A vendedora ambulante Rosângela Mendes, está ansiosa para sair da informalidade
dores. De acordo com Parente, outro grande benefício da Lei é a facilidade para o empreendedor formalizar sua empresa utilizando o serviço gratuito de um contador e uma carga tributária mais baixa: R$1,00 de ICMS para comércio e indústria ou R$5,00 de ISS", afirma Parente. Respeito aos ambulantes com a nova lei A Boca do Rio tem inúmeros trabalhadores informais
A coordenadora da Unidade de Acesso ao Crédito e Políticas Públicas do Sebrae Bahia, Dora Parente informa que a Lei do Microempreendedor Individual é uma grande política de inclusão social, que facilita o acesso de milhares de empreendedores aos benefícios da Previdência. "A função do Sebrae é justamente orientar para que todos possam usufruir dos benefícios da nova lei. O maior benefício para os microempreendedores é o social, com a inclusão dos mesmos na Previdência". A possibilidade de emitir nota fiscal irá proporcionar credibilidade aos empreende-
Paulo Roberto, 51, é vendedor de pastel na comunidade. Ele trabalhou 23 anos com carteira assinada e há um ano paga 20% do salário mínimo à Previdência como autônomo e não considera que a nova lei possa beneficiá-lo. "Acredito que é melhor do jeito que estou contribuindo. Só faltam 11 anos para a minha aposentadoria por tempo de contribuição. Aposentadoria por idade para mim não é interessante". Já a vendedora de batata frita, Rosângela Mendes, 27, diz que está entusiasmada com a possibilidade de ter acesso à rede de benefícios sociais. "Essa nova lei para os empreendedores pode ser interessante para quem está no mercado informal. O meu maior interesse é pela aposentadoria e o auxílio doença". Consultoria
Cerca de 800 escritórios de cont a b i l i d a d e optantes do Supersimples na Bahia e 274 em Salvador, passam a orientar gratuitamente os microempresários, legalizando sua situação e até fazenO vendedor de pastel, Paulo não gostou dos novos critérios do a sua primeira declaração de imposto de renda. Caso não o façam, os escritórios podem ser retirados do regime tributário do Simples. "As empresas de contabilidade cadastradas estão preparadas para dar suporte aos microempreendedores. Vejo que o benefício mais importante com a nova lei é a ampliação do acesso aos benefícios previdenciários", avalia o diretor de tecnologia do Sescap Bahia, Leonídio Freitas. Quem busca mais informações sobre os escritórios que formalizarão gratuitamente o MEI em Salvador e Interior deverá acessar o site www. sescapbahia.org.br, no banner Empreendedor Individual. Agosto 2009 15
figura do bairro
Aloísio relembra os bons tempos da Praia dos Artistas Foto: Alex Barsan
Poeta, ativista ambiental, dono de barraca de praia e cheio de histórias para contar sobre o bairro, Aloísio é um patrimônio para a Boca do Rio
Uma conversa com Aloísio é como voltar mais de 30 anos no tempo Alex Barsan
C
hapelão de palha, óculos, bigode estilo mexicano, uma bolsa preta tipo hippie, vestido todo de branco como um capoeirista. Estas são as primeiras impressões de Aloísio de Souza Almeida, ou como é conhecido na comunidade da Boca do Rio, Aloísio Sky, nome de sua barraca na Praia dos Artistas. Aloísio se apresenta todo o tempo de pés descalços, na mão esquerda ele usa um anel de pedra preta que chama a atenção. Natural de Conceição do Almeida, no distrito de São Roque do Crucaí, Aloísio é o mais antigo barraqueiro da Praia dos artistas. Ele tem 60 anos de idade, mas aparenta uma década a menos. São 36 anos de atividades e muitas histórias que englobam sua convivência com os hippies que frequentavam a praia nos idos de 1970, a era do topless, além da amizade e do carinho que recebe de vários artistas que já passaram por ali. Poeta, faz deste tipo de escrita a sua arma para denunciar o descaso com a fauna e a flora da região da Boca do Rio, critica os vários governos que para ele pouco ou nada contribuíram para o crescimento da comunidade local e ainda faz parte de uma grupo que a favor da construção de uma área de lazer no bairro, que segundo ele está condicionado à praia como única opção de diversão do lugar. Artista plástico, hoje ele diz que suas peças são confeccionadas apenas como hobbie, um passatempo. Em sua biografia, contabiliza 9 filhos com 8 mães diferentes, a maioria mulheres estrangeiras. “Tenho filho que mora na Áustria e tenho pouquíssimo contato”, revela. Aloísio falou também do medo que ele tinha de gente e que só
estudou até o 2º ano primário. Já trabalhou limpando restos mortais no Cemitério Quinta dos Lázaros, depois trabalhou com os jornalistas Béu Machado, Cleber e Moacir Ribeiro, foi freelancer para o Jornal da Bahia e Tribuna da Bahia como repórter policial e diz ser marinheiro mercante por formação. Dentre os freqüentadores ilustres, ainda nos tempos da tropicália, ele lembra com saudade das amizades da época: Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Betânia, Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira, Zizzi Possi, Mário Cravo e até celebridades estrangeiras que frequentavam a praia na década de 70. Lembra de uma das noitadas promovidas no local em que a cantora Zizi Possi dormiu em cima de uma tábua, na praia, junto com ele. Em sua barraca, contou que sua clientela é constituída em sua maioria pelo público GLS e que foi o primeiro a fincar a bandeira colorida na Praia dos Artistas. Apaixonado pelo bairro da Boca do Rio, Aloísio vê no local, um espaço que tem tanto valor em termos turísticos, quanto outros locais da cidade mais visitados. “Quando aqui cheguei, em 1973, quase tudo era mangue, tinha animais silvestres, grande variedade de peixes e uam extensa flora, o que mudou muito durante esses anos, mas para mim ainda é lugar bonito, que guarda seus encantos. O turista chega em Salvador e vai passear na Barra, Bomfim Praia do Forte, no Pelourinho, mas esses não são os únicos pontos de visitação de Salvador”, diz com olhar nostálgico. Aloísio Sky é mesmo uma figura, patrimônio da Boca do Rio, sempre ativo e solicito, seja no atendimento dos freqüentadores de sua barraca de praia, seja com um desconhecido que lhe questiona o que quer que seja. Agosto 2009 16