Reunião não garante volta das aulas na rede municipal

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SALVADOR QUINTA-FEIRA 17/2/2011

SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA

Editor-coordenador Cláudio Bandeira

ENQUETE O fornecimento de água no seu bairro é regular? www.atarde.com.br

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ARIVALDO SILVA

Mesmo com a paralisação dos professores da rede municipal, que entra hoje no terceiro dia, o gesseiro Arnaldo Rodrigues, 44, levou, ontem, o filho de 10 anos à Escola Municipal Afrânio Peixoto, no bairro de Sete de Abril. Segundo ele, a direção da escola teria afirmado que haveria aula. A tristeza no semblante da criança refletia o quadro adverso para os 149 mil alunos matriculados nas escolas municipais, segundo dados da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Secult). Com fardamento completo (bermuda azul, camisa branca e tênis) e mochila com o material escolar, o garoto sentou-se na calçada e lamentou: “Estou triste”. Pai e filho esperaram cinco minutos em frente ao portão, até que uma professora os atendeu dizendo que aguardava o pessoal de apoio, como porteiro e merendeira, para a entrada dos alunos, mas ainda não havia certeza de que haveria aula. O secretário municipal da Educação, João Carlos Bacelar afirmou ontem ao A TARDE que a maior parte das reivindicações dos professores já foram atendidas. “Os terceirizados estavam com salários atrasados, já foram pagos. Porteiros e vigias foram contratados para fazer a segurança das escolas. Os problemas financeiros da prefeitura, no ano passado, causaram todo este atraso nos pagamentos dos salários, mas estamos sanando todas as pendências”, afirmou Bacelar. Em 2010, o último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação, apontou que a capital baiana está na penúltima posição, entre as 27 capitais listadas, só perdendo para Maceió (AL). “Vamos trabalhar para reverter a triste posição de Salvador no Ideb. Para isso, será assinado um acordo de gestão com cada diretora de escola. Todos os materiais necessários ao bom funcionamento serão instalados. Em contrapartida, vou cobrar resultados positivos”, contou. O secretário acrescentou que a Secult pretende investir em torno de R$ 50 milhões nos próximos anos.

EDUCAÇÃO Sindicalistas dizem reconhecer esforço da Secretaria da Educação para sanar problemas estruturais nas escolas, mas paralisação está mantida na capital

Reunião não garante volta das aulas na rede municipal

Fotos Raul Spinassé / Ag. A TARDE

Segundo técnicos da Secult, algumas escolas estavam num estado de deterioração tão grave que não poderiam mais ser reformadas, restando a solução de demolição e depois reconstrução. É o caso da Escola Municipal Oswaldo Cruz, localizada na Rua do Meio, no bairro do Rio Vermelho. Ameaçada de desabar, a unidade não oferecia condições de abrigar os estudantes, que foram relocados para um espaço cedido pela paróquia do bairro. A Prefeitura de Salvador já demoliu o prédio e iniciou a fundação da nova escola, no mesmo local. Outra que terá o mesmo destino é Escola Municipal de Pituaçu, localizada no bairro da Boca do Rio. Os estudantes da unidade educacional tiveram aulas no local até dezembro de 2010, contudo o espaço parece abandonado há mais tempo: o piso está solto, o teto, desabando, o encanamento, exposto e vazando. Os alunos foram encaminhados para realizar este ano letivo na Escola Estadual Luiza Mahin, na localidade de Armação, num convênio entre a Secult e a Secretaria Estadual da Educação. Pais ouvidos ontem estão divididos quanto à mudança.

Aulas normais

O Instituto Municipal de Educação José Arapiraca (Imeja), o maior da Boca do Rio, está com as aulas em andamento. Os 1.200 alunos da unidade assistem aulas normalmente desde segunda-feira. De acordo com a vice-diretora da escola, Gene dos Santos, os professores já pararam em outras greves, mas desta vez os estudantes foram priorizados. A Escola Municipal Vale das Pedrinhas também iniciou e mantém em curso o ano letivo. Tristeza do pequeno aluno de 10 anos, que foi ontem à Escola Afrânio Peixoto, em Sete de Abril, mas não teve aula

ARIVALDO SILVA

Prefeito garante regularizar aluguéis entre 30 e 45 dias

Reunião

No final da manhã de ontem, Bacelar esteve reunido com representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Bahia (APLB-Sindicato), na sede da Secult, no Engenho Velho de Brotas. No encontro, o secretário garantiu que guardas municipais já estariam atuando na segurança de 65 escolas. Outra informação apresentada foi sobre a contratação de porteiros. Algumas empresas responsáveis pela limpeza e pela merenda dos estudantes (Acmav e Climec), que recebiam mas não repassavam os salários aos funcionários terceirizados, segundo ele, já regularizaram a situação. De acordo com a Mônica Muniz, diretora de educação da APLB-Sindicato, existe a vontade da Secult de solucionar os problemas. “O secretário é bem intencionado, mas existe uma limitação orçamentária”, ressaltou. A vice-coordenadora da APLB, Marilene Betros, acredita que houve avanços: “Os problemas apontados estão sendo solucionados”. Outra reunião com a Secult está marcada para sexta-feira. A assembleia da categoria será na próxima segunda-feira. Ao gesseiro Arnaldo só restou a alternativa de voltar com o filho para casa, decepcionados. “Esperamos de 12h30 às 14h, até que a diretora nos mostrou a escola, sem funcionários de apoio que garantissem as aulas. Vamos torcer para que as aulas comecem semana que vem”, disse ele, por telefone, ontem à noite.

Escolas em situação precária serão reconstruídas

LUDIMILLA DUARTE

Mônica Muniz, da APLB-Sindicato, cobra estrutura

Bacelar diz que atendeu “maioria das reivindicações”

Aluguel atrasado em Luiz Anselmo A Escola Municipal Luiz Anselmo, localizada no bairro de mesmo nome, é uma das unidades mais problemáticas da rede. O espaço onde funcionava a escola, com capacidade para 198 crianças, era insalubre, com um bebedouro e banheiro é pequeno. Os alunos queixavam-se de dores de cabeça constantes e já houve casos de desmaios por conta do calor nas salas de aula. “Uma coleguinha passou mal outro dia”, confirmou uma estudante da 3ª série, de 9 anos. A cozinha, onde era preparada a merenda escolar, ficava quase dentro das salas.

“Desde o ano passado, as crianças passaram a se queixar. Com isso, paramos de usar o fogão para fazer a merenda”, revelou a diretora da escola, Tânia Márcia Leal.

Ainda de acordo com a diretora, há um ano a Secult autorizou que fosse alugado outro imóvel para transferir a escola, o que foi feito, para um prédio, na mesma rua. No entanto, há atraso de seis meses nos pagamentos do aluguel.

Corretor

Os alunos se queixaram de dores de cabeça constantes e até desmaios por conta do calor

Francisco Chagas, corretor de imóveis e procurador da dona do prédio, disse à reportagem, por telefone, que encaminhará ofício à Secult pedindo o imóvel. “Os atrasos são constantes. Desde setembro do ano passado, não vejo dinheiro. Até a água e a luz já foram cortados”, reclamou.

De acordo com dados da Secult, cerca de 100 escolas funcionam em prédios alugados. A assessoria de comunicação da secretaria divulgou que já foram feitos os pagamentos dos aluguéis, no valor de R$ 3.500, cada. O secretário João Bacelar garantiu que as obras de reforma do prédio alugado começam na última terça-feira e têm previsão de conclusão para o mês de maio. Um dos assessores da Secult, Antônio Mello esteve na escola e encontrou alunos e pais reclamando. ARIVALDO SILVA

O prefeito João Henrique disse, ontem, a A TARDE, em Brasília, que os débitos com aluguéis de prédios onde funcionam escolas municipais estarão regularizados dentro de 30 a 45 dias: “Os valores não são altos, o problema é que temos muitos prédios alugados. Nossa rede tem mais de 460 escolas”. Ele admitiu que boa parte das instalações físicas precisa de melhorias, mas avisou que o ritmo de obras ficará menos acelerado este ano por causa do contingenciamento que teve que fazer no orçamento, que chegou a 40%. “Temos um compromisso com o Tribunal de Contas do Município de equilibrar nossas contas em 2011”, disse.

Vigilantes

Sobre o desligamento de vigilantes, o prefeito frisou que, para baratear os custos, optou por contratar agentes de portaria – que, segundo ele, custam três vezes menos que as contratações de vigilantes feitas com empresas privadas de segurança patrimonial. “Tudo está sendo acompanhado pelo Ministério Público do Trabalho, e é coerente com a meta de equilibrar as contas”, falou, acrescentando que os governos estadual, federal e outras prefeituras já recorrem ao expediente.


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