Revista homens compressed

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Por Fabrício Azevedo e Fábio Barbosa

rancisco

Tavares de Lacerda

(in memoriam)

Ele foi um patriarca dos mais queridos da cidade. Filho de Norvina Tavares Lacerda e Francisco Pereira Lacerda, nasceu em 30 de setembro de 1916 em Santo Antônio do Monte (MG). Tem 15 irmãos: Nadir, Rafael, Zilar, Gabriel, Otaviano, Antônio, José, Glória, Nair, Raquel, Maria, Eduardo, Carlos, Miguel e Paulo. Homem simples, fazendeiro dedicado e pai exemplar, foi casado com Josefa Rezende Lacerda (Dona Zefa) por 53 anos. Tiveram 12 filhos: José, Luzia, Ana, Lúcia, Elizabeth, Carmem, Antônio, Rafael, Carlos, Camilo, Elza e Maurício (in memoriam). A família é grande, hoje são 30 netos e 37 bisnetos. Dona Zefa faleceu há 26 anos, vítima de um grave acidente de trânsito. Foi um choque para a família e para toda a cidade. Seu Quito era religioso e de hábitos simples, gostava de comida caseira e dos prazeres que tinha na vida, cuidar da Fazenda Pimenta, era um deles. Deixá-lo irritado era tarefa difícil, mas não gostava que passassem

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a mão no seu cabelo. Apaixonado pela vida rural acordou grande parte de sua vida às madrugadas, para que ele, filhos e funcionários fossem trabalhar na fazenda Pimenta, que após sua morte foi desmembrada e parte de seus filhos deram e dão continuidade às atividades agropecuárias. Andava sempre com doces nos bolsos para distribuir para as crianças e era um colecionador de histórias engraçadas. “Ele estava no quarto com a perna machucada e um homem perguntou se o seu Quito morava aqui. Prontamente ele respondeu que sim, convidou o visitante para entrar e tomaram até café enquanto conversavam. Num momento o moço começou a tocar e meu pai estranhou, perguntou se realmente se conheciam. Aí o homem questionou – O senhor não é o seu Quito da banda?”, conta a filha Luzia. “Ele foi tirar a carteira de motorista e pediram para dar marcha ré durante o exame. Não olhou e fez a manobra. Então o instrutor perguntou por que ele não tinha olhado e ele respondeu – você estava olhando, uai”, lembra a filha Elizabeth, que ainda destaca, seu Quito era tão acostumado com o apelido que se perguntassem se havia algum Francisco na casa, negava veementemente. A casa da família sempre esteve cheia e ele gostava de ver a família reunida. Também era presente na vida dos amigos que o acompanharam durante toda a vida, como seu Quinzico, Bartolomeu e Zé da Afonsina. Foi vereador de 1951 a 1954. E todo mês de janeiro, na festa de São Sebastião, organizava o leilão e as doações, além de sempre contribuir com as entidades da cidade quando era solicitado. Quito foi um desses patriarcas que deixou saudade e um legado de vida pautada na correção, no trabalho e nos princípios éticos e morais que devem reger a humanidade! Seu Quito faleceu em 19 de agosto de 1999.


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arlos

Antônio Araújo Ribeiro Por Fabrício Azevedo

Carlinhos, como é conhecido, tornou-se um empresário de importância na cidade, em Minas, no Brasil e no exterior. Foi eleito pela FOLHA DE LAGOA como o maior empresário da história de Lagoa da Prata. Escolha totalmente avalizada pela comunidade. Ele é casado com Maria Aparecida Resende Ribeiro, tem 63 anos. É pai de dois filhos que junto com ele comandam as empresas da família, Gustavo e Henrique. Seus xodós são os quatro netos: João Pedro, Vitor, Sofia e Francisco. É formado em Engenharia Elétrica. Avesso a exposições públicas, ficamos honrados com seu aceite em figurar nesta revista e a entrevista, apresentamos a seguir. Confiram:

época?

01- Onde você passou a infância e como foi aquela

Passei minha infância em Lagoa da Prata, na Praça do Cruzeiro. Tenho boas lembranças das brincadeiras, praticamente naturais, pois quase não existiam brinquedos. 02 – Onde você passou a adolescência e você mantém amizades daquela época? Passei a adolescência em Lagoa da Prata e em Belo Horizonte. Convivo com meus colegas até hoje, o que é uma graça. Mas não vou citar nomes pois posso esquecer alguém e seria muito chato. 03 – Onde você estudou e qual uma professora inesquecível? Estudei no grupo escolar Dr. Jacinto Campos e tive o prazer de ter a Dona Heloísa Lobato como professora durante os 4 anos do primário. Também estudei na Escola Estadual Nossa Senhora de Guadalupe, Colégio Estadual Central em BH e CEFET. estudar?

04 –Quando você se mudou de Lagoa para

Mudei em 1969 para fazer o científico em BH. Morávamos na pensão do Chico. Éramos uma turma grande de Lagoa, foi muito divertido também. 05 –Quando você conheceu sua esposa e como foi o casamento?

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Conheci a Cida em 1967 e em 1972 começamos a namorar. Namoramos por 5 anos. A festa foi na fazenda dela, num sábado às 11:00 horas, com muito churrasco e cerveja. Estamos casados há 40 anos. 06 –Qual foi seu primeiro trabalho e o que fez com seu primeiro salário? - Meu primeiro trabalho foi como “office boy” do Dr. Antônio Luciano Pereira. O dinheiro era muito pouco, não me recordo. 07 –Qual foi sua primeira empresa? Minha primeira empresa própria foi a COMATEC. Nós a compramos no ano de 1978 do Miguel Bernardes Maciel. Eu, meu pai e meu irmão, o João Gominha. 08 – Você já montou empresas em sociedade e depois se desfez de algumas delas. Fale sobre isso? Das empresas que comandei e passei para frente, acho que deveria salientar a Gominha Pneus, que em um processo de decisão ficou com o João Gominha e a Oxigás, que passamos para outro irmão, o Geninho. 09 –No momento, quais empresas e em que atividades seu grupo empresarial atua? Grupo de logística: LM Distribuidora Grupo de concessionárias: Honda – By Moto Grupo Bike: Sense Bike Grupo Financeiro: Duas rodas – Fundo Mercantil


Grupo Imobiliário: Stone, V8, W2 Empreendimentos e Grotadas. Blue Cycle Shimano

18- Fale um pouco sobre seu pai, Sr. Mauro: Ele é uma pessoa alegre, divertida, sempre pronto a nos escutar, um “paizão”!

10 – Em quais delas você ainda trabalha? Trabalho em todas, hoje não mais em cargo executivo, mas em conselhos.

19- Como você avalia seu sucesso profissional? Realmente é muito gratificante quando você olha o passado e vê como tudo aconteceu. A gente sente uma sensação de alegria, de dever cumprido e de saber que junto conosco, vieram dezenas, centenas de pessoas que também puderam construir seus sonhos de maneira digna.

11 – Suas empresas estão ganhando braços internacionais. Conte-nos um pouco sobre isso? Realmente, como estamos no Brasil disputando com marcas internacionais, obtendo um sucesso bastante promissor, iremos aproveitar esta sinergia (mesmo projeto, mesmo fornecedor) e começar a montar Bikes em Portugal, para fornecimento ao mercado europeu. 12 – Como é sua relação com seus filhos, que trabalham junto com você? A melhor possível. Se não fosse por eles, já teria parado há algum tempo. 13- O que te deixa irritado? Derrota do Atlético.

20 –Suas empresas sempre dão preferência para empregar cidadãos lagopratenses. Por que isso acontece? - Além de serem pessoas que temos mais afinidades, conhecemos suas origens e os lagopratenses têm, na “rifa”, uma excelente formação para vendas. 22 -Família: A base de tudo na vida. 23- Amigos: Uma alegria enorme tê-los. 24- Viagens: Viajo muito! A trabalho e lazer, às vezes, até mais que gostaria.

14- E o que é bom para combater o stress: Andar de moto, voar.

25- Dinheiro: Necessário para uma vida tranquila.

15- Você praticou ou pratica algum esporte? Joguei peteca e há muito tempo e, até hoje, pratico caminhada. 16 – Você sabe cozinhar? E quais são seus pratos favoritos? Não sei cozinhar e gosto de carne de carneiro e de polvo. 17 – Fale um pouco da sua saudosa mãe, Dona Senhorinha: Me faltam palavras para falar o que minha mãe representou e representa para mim.

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26-Drogas: “Tô fora”! 27- Religião: Sou católico. Amo minha religião. 28- Política: O Papa Francisco pediu que as pessoas de bem não se ausentem da política. 29- Acertos: A família que eu e Cida formamos. 30- Erros: Reconhecer o mesmo e não prosseguir. 31 - Você tem arrependimentos ou modificaria algo em sua história? Sou e vivo feliz. Não tenho nada de muito importante para modificar ou reviver.


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indomar Rodrigues

Por: Fábio Barbosa

O fotógrafo Lindomar Rodrigues é hoje referência em Lagoa da Prata e região por seu trabalho. Dedicado e apaixonado pelo que faz, registra tudo com perfeccionismo e, não à toa, ao longo de sua trajetória tem recebido convites para fotografar em outras cidades, estados e países. É um homem simples que com empenho cresceu na vida, formou uma família e uma empresa de sucesso. Filho de Sebastiana Silvério Rodrigues e Francisco Rodrigues, nasceu e foi criado em Goianésia, no interior de Goiás. A infância foi na zona rural e repleta de boas lembranças. “Foi um período mágico, com muito contato com a natureza e muitos animais. Tudo muito simples, mas com muitos valores que recebi dos meus pais. Um período encantador que vale muito para a inspiração do meu trabalho e da vida que eu levo até hoje”, revela. A vida mudaria aos 10 anos, quando a família resolveu vir para Lagoa da Prata (MG). “Minha primeira impressão foi de encantamento ao chegar aqui, em especial por morar perto da praia e perto do Campo Municipal. Uma lembrança que guardo é que logo que cheguei vi algumas pichações nos muros anunciando um show de uma banda chamada 14 Bis, depois descobri que já tinham tocado, procurei o disco e sou fã até hoje”, lembra o fotógrafo que tem a música como uma das suas inspirações, em especial o rock. A vida na nova cidade seguia tranquila, mas precisava trabalhar e encontrou uma oportunidade, aos 13 anos se tornou ajudante na sorveteria do Marcinho Dorjó. Aos 14 anos, o entusiasmado jovem logo encarou mais um desafio, ser office boy na Foto Rocha.

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E foi lá, com o fotógrafo veterano Lauro Rocha, que Lindomar descobriu a fotografia e não demorou muito a ser promovido a auxiliar. “A partir daí tomei gosto e fui procurando informações, lendo, praticando... E passou a ser uma paixão. Depois fiz vários cursos de qualificação. Minha primeira fotografia foi feita na porta da loja, fotografei o Daniel Rocha e os sobrinhos, lembro ate hoje”, destaca. Foram anos de aprendizado, durante este período Lindomar se formou como Técnico em Contabilidade e conheceu a futura esposa, Ângela Maria Alves Rodrigues. “A partir do momento que completei 22 anos e conseguia me sustentar, tinha prazer enorme em fazer o que fazia, percebi realmente que a fotografia era bom campo de trabalho. Casei com a Ângela nesse mesmo ano, tinha a conhecido logo que cheguei aqui e ficamos durante muito tempo em encontros e desencontros, até que resolvemos casar”, recorda Lindomar, que é pai de duas filhas, Marina (22 anos) e Alice (10 anos). Com uma família vieram mais responsabilidades e aos 29 anos, ele resolveu trabalhar por conta própria. Montou então um pequeno negócio em casa. O movimento cresceu em pouco tempo e logo alugou um ponto na Rua Bahia, próximo à Avenida Brasil. Ele estava trabalhando bastante e precisava de um espaço próprio. “A fotografia foi algo natural na minha vida e precisava expandir. Foi difícil construir o estúdio, tive de abrir mão da minha casa própria para construir esse sonho, tudo em função do investimento no negócio. Minha mulher tomou um susto quando disse que precisaríamos fazer isso, mas me apoiou”,


lembra.

O sacrifício foi recompensado com resultados. O novo espaço ganhou uma estrutura que Lindomar sonhava em ter. A família estava mais unida do que nunca e inclusive trabalhando junto. “A Ângela teve contato com fotografia antes de casarmos. Ela não é fotógrafa porque é minha esposa. Quando sai da Foto Rocha a chamei para ser minha parceira. E minha filha, de forma natural, começou me ajudar desde os 13 anos e tomou gosto”, fala com orgulho o empresário que também investiu em vídeos, além da fotografia. “O vídeo é uma fotografia em movimento. Outra coisa gratificante que tenho aqui é trabalhar com outro segmento que são os vídeos. E com isso poder dar oportunidade para pessoas que estão comigo desde adolescentes e ver eles se tornarem adultos aqui dentro e realizados”, revela. O trabalho em fotografia diferenciado rendeu a Lindomar muitas experiências. Em 17 anos de profissão foram mais de 800 casamentos. Apesar de considerar todos especiais, destaca um: “Sem dúvida um dos mais especiais que tive a honra de registrar foi de um casal, ela com 65 e ele com 70 anos. Os dois se conheceram na juventude, mas a vida lhes deu outros caminhos e o reencontro rendeu uma união

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emocionante. Fotografia é emoção”, lembra. A vida de um profissional da imagem tem oportunidades únicas e Lindomar sabe aproveitá-las. Em 2015 a convite de uma cliente de Santo Antônio do Monte, embarcou para Las Vegas para fazer um ensaio temático. E em 2017, registrou um casamento na Nova Zelândia, com direito a selfie com o casal numa das montanhas que cercam a capital Wellington. “A experiência no exterior foi a realização de um sonho, mudar de patamar. Tinha vontade de ir aos Estados Unidos e conhecer Las Vegas foi espetacular. Na Nova Zelândia foi incrível, cultura diferente, ritual do casamento diferente. Situações que me deram um extremo prazer de fazer, uma realização pessoal e profissional”, destaca. Lindomar não descansa. Vive a fotografia no dia a dia e usa as redes sociais para divulgar os trabalhos. É antenado e modesto, os elogios que recebe, agradece, mas não fica envaidecido. “Profissionalmente falando é o maior orgulho que tenho na minha vida. Isso é muito real, é muito forte. Confesso que no inicio não procurava por isso, queria apenas trabalhar. É gratificante receber esse retorno de uma coisa que faço com muito carinho e amor”, destaca o homem que tem poucas horas vagas na agenda e quando tem, pratica motociclismo, faz churrasco e ouve Legião Urbana.


Por: Fábio Barbosa

Dácio José

Macedo Campos

O médico veterinário Dácio José Macedo Campos é natural de Arcos (MG), mas mora há 15 anos em Lagoa da Prata e encontrou na cidade seu porto seguro. Competente e dedicado ao trabalho conquistou o reconhecimento dos clientes e sua clínica, a Estimação Veterinária, recebe os pets com todo o carinho que só quem gosta de animais pode oferecer. Essa receptividade, inclusive, é um dos diferenciais mais importantes! Filho de Maria Helena Macedo Campos e Antônio da Silva Campos, Dácio teve uma infância entre a cidade e a fazenda da família, junto com os irmãos Cássio, Adriano e Álvaro. Esse contato com o campo foi fundamental na escolha da profissão, na adolescência montava cavalos e era muito curioso, principalmente quando algum gado tinha problemas de saúde. O cachorro de estimação, chamado Chuvisco, também era muito presente na vida do garoto. Não demorou muito e ele foi estudar Medicina Veterinária na Universidade José do Rosário Vellano, em Alfenas (MG). Na academia conheceu a esposa, Hellem Mara Rosa Silva Campos. “Assim que formei comecei a trabalhar com veterinária em Arcos e no ano seguinte fui convidado por Marisa Perillo para comprar a clínica. Comprei em 2002 e de lá para cá ampliamos os serviços”, conta. A clínica é de pequenos animais e na maioria das vezes atende cães e gatos, mas há exceções que vão de araras a hamsters, de cavalos a calopsitas. “Desde que comprei a clínica, na época, já era de pequenos animais. E hoje temos todos os atendimentos: tosa, banho, pequenas cirurgias, etc. Inclusive cirurgia ortopédica, ultrassom e raio x”, destaca com entusiasmo. Lagoa da Prata recebeu Dácio com carinho. Aqui estão, segundo ele, amigos que o acolheram e pessoas especiais que acreditaram no seu trabalho. “Tenho um carinho muito grande pela cidade. Quando comecei profissionalmente tinha apenas um ano de formado e Lagoa me deu oportunidade de crescer profissionalmente. Tenho um apreço muito grande por tudo aqui”, conta. Em quase duas décadas de trabalho o médico foi premiado e homenageado várias vezes, um reconhecimento importante. “Eu fico muito grato pelo reconhecimento da população, mas sempre temos muito a fazer. Por isso sempre estou em busca de cursos e ao menos uma vez ao ano vou a seminários ou eventos de qualificação”, revela. Dácio destaca ainda que seu trabalho, assim como qualquer outro na medicina, tem características especificas

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que fazem toda a diferença para a saúde dos pacientes, neste caso, os animais. “A questão de identificação de doenças, principalmente quando o proprietário traz o animal e não sabe relatar muito bem, é uma questão de sensibilidade e conhecimento. Tem certas coisas que eles acham que não tem importância em nos passar, mas o principal da clínica é a anamnese. Você tem aquela conversa, tentando extrair do proprietário o maior número de informações possíveis para que consiga, dentro do exame clínico e exames laboratoriais ou de imagens, fechar um diagnóstico”, destaca. Ligado à família, mesmo distante dos pais, mantem contato diário através das redes sociais e WhatsApp. “Como nós não somos daqui, então, tentamos ao máximo estar em contato com os nossos pais. Em datas festivas estou com eles e sempre estamos conversando. Família é essencial, é uma dadiva de Deus”, destaca Dácio, que encontra na esposa e nos filhos, Beatriz, com 07 anos, e o, recém-nascido, Luís Antônio, a força para os dias difíceis. “As faltas que às vezes temos por estar trabalhando são compreendidas. Afinal estou salvando vidas”, lembra. A família também tem animais de estimação, duas cachorrinhas da raça Pinscher, a Tiquinha e Fadinha. A primeira uma adoção após um abandono. “Ela nasceu sem os membros inferiores e o proprietário trouxe para a clínica porquê não a queria. Então adotei e hoje ela anda perfeitamente, apesar da deficiência”, revela. Politizado e com opinião, Dácio quer um futuro melhor para o país. Pretende continuar exercendo sua profissão e contribuindo com Lagoa da Prata. “Com essa situação toda do país você acaba ficando pessimista. A cada hora que passa ao invés de melhorar, as coisas pioram. As pessoas precisam se conscientizar que o voto é uma arma importante e precisamos ir em busca de políticos com boa índole, gente que vai fazer o seu melhor, isso em todos os níveis”, encerra o médico veterinário.


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Por Beatriz Vasconcelos

om Waldemar

chaves de araújo

Nascido em Bom Despacho, no ano de 1934, Dom Waldemar foi ordenado padre em 1962. Exercia suas atividades na Diocese de Luz, quando, na década de 70, veio para Lagoa da Prata como coadjutor do Monsenhor Alfredo Dohr. Em 1978 Dom Waldemar recebe o título de monsenhor e, em 1986, assume a Paróquia São Carlos Borromeu logo após o falecimento do Monsenhor Alfredo. Quatro anos depois disso, foi nomeado Bispo para assumir a diocese de Teófilo Otoni, e lá ficou até 1996, quando foi para São João Del Rey, onde permanece até hoje. A passagem de Dom Waldemar por Lagoa da Prata deixou marcas importantíssimas para a cidade e região, não apenas no sentido religioso, mas também porque seus trabalhos abrangeram muitas questões sociais e educativas. Além da sua popularidade, sorrisos frequentes e cativantes, sua atuação na época trouxe grandes transformações nas escolas e pastorais. Com o saudoso Bispo Dom Belchior, ajudou a fundar um hospital em Luz e a Faculdade de Ciências do Alto São Francisco, onde foi reitor. Assumiu também este cargo no Seminário Diocesano de Luz. Em uma das viagens para Brasília,

quando ia buscar recursos para as construções do hospital e da faculdade, um acidente grave lhe custou 14 cirurgias. Uma marca desse dano ficou bem visível aos nossos olhos, principalmente quando sua mão se estende para abençoar os fiéis. O período de estudo e ordenação de Dom Waldemar até os dias que trabalhou aqui na cidade, era de grandes transformações e desafios para a igreja católica. Estavam acontecendo as adaptações das novas diretrizes emanadas do Concílio Ecumênico Vaticano II (por exemplo, quando deixaram de celebrar a missa em latim). Então, o seu carisma e a sua sabedoria foi de fundamental importância nessa transição em Lagoa da Prata, pois o monsenhor Alfredo era o responsável pela paróquia e tinha uma personalidade muito conservadora, com dificuldade de colocar as mudanças em prática. Outros sacerdotes também mais velhos ainda costumavam dizer que Dom Waldemar inventava coisas novas para a igreja, mas ele respondia: “Eu não estou inventando nada, estou apenas seguindo e fazendo crescer o que eu aprendi no seminário”. Dom Waldemar também participou das mudanças físicas na igreja São Carlos Borromeu, e conseguiu uma boa ampliação de área. Também tomou providencias para iniciar a construção da igreja São Sebastião. Quanto aos fiéis, incentivou a participação nas atividades pastorais, criou os cursos de preparação do Batismo, da Crisma e dos Noivos. Se empenhou muito com a pastoral familiar e trouxe para a cidade o Encontro de Casais com Cristo (ECC). Em Teófilo Otoni foi Assistente Nacional do ECC. Escreveu o livro “A Família no Século XXI”, que está na sua quarta edição. Outros dois que estão em preparação para serem publicados: “A Felicidade com Alegria” e “Oráculos e Missivas de Dom Wawá”. Gravou alguns CDs artesanais, por exemplo “Arco-Íris” em 3 línguas e “Oração a Nhá Chica” com várias Ave-Marias para lembrar as intercessões de Nossa Senhora e Nhá Chica durante a sua enfermidade – leucemia –, onde se sentiu falecer por três vezes. Depois de ficar curado, Dom Waldemar propaga a devoção a esta santa, que viveu na região de São João Del Rey. Aqui em Lagoa da Prata, ela ficou conhecida pelo testemunho de graça alcançada que Dom Waldemar fez questão de publicar.


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antuil cândido de Almeida Por: Fábio Barbosa

DA SUA HISTÓRIA O advogado Wantuil Cândido de Almeida é natural de Lagoa da Prata e figura conhecida e popular na cidade. Filho único de Geni Cândida de Almeida e Vicente Cândido de Almeida, cresceu em uma família humilde, onde não faltava amor. Mineiro trabalhador, sempre acreditou no sonho de crescer na vida e não descansou. É exemplo de vida e inspiração para os colegas de profissão. DO TEMPO DE CRIANÇA “Quando eu era criança, como filho único, meu pai sempre fez tudo para me agradar. Sou muito grato pelo que ele e minha mãe fizeram por mim. Tive uma infância muito aprazível. Quando eu já era rapaz comecei a estudar e meu pai evidentemente queria arranjar um trabalho para mim. Então comecei a trabalhar em uma gráfica aos 12 anos”, conta. O emprego durou seis anos e Wantuil resolveu empreender. Com a ajuda do pai, comprou uma pequena gráfica. “Eu entendia da profissão e tinha uma certa experiência. E comecei a trabalhar por conta própria, comprei do Sr. Wagner Nogueira e resolvi mais tarde comprar a gráfica do Sr. Luciano de Castro e fui proprietário da única gráfica da cidade por muitos anos”, recorda com saudosismo. DO TRABALHO E DA FAMÍLIA Por causa da empresa, fez o curso de Técnico em Contabilidade. O curso de direito já era um desejo antigo, pois ele sentia que tinha vocação. Então fez o vestibular e passou. Mas aos 24 anos, além de estudar e cuidar de negócios, conheceu a esposa Maria de Lourdes Rodrigues de Almeida. Da união nasceram três filhos: Valéria, Juliano e Leonardo. Por causa de todos os compromissos, Wantuil resolveu adiar o sonho de advogar. Foi concluir o curso anos mais tarde. “Meu curso de direito só terminei com 37 anos, estudei com muitas dificuldades financeiras, pois naquela época meu pai já havia falecido. Mais com a ajuda de Deus, consegui vencer. E também incentivei os meus filhos a seguirem minha profissão, Valéria e Leonardo são advogados dedicados, ótimos profissionais e trabalham comigo e o único que não seguiu a tradição da família, o Juliano, que fez supervisor de segurança do trabalho, mais seria um excelente advogado! Todos os meus filhos se casaram e constituíram família, Valeria se casou com José Antônio, não tiveram filhos, Juliano se casou com Marília e tiveram dois filhos, Juliano Gabriel e Maria Júlia, Leonardo se casou com a Adriana e tiveram dois filhos, Giovana e Lucas Leonardo. “Graças a Deus somos uma família muito unida. Meus três filhos foram criados ao meu lado, fiz questão que todos estivéssemos juntos. Nossa união é tão grande que residimos no mesmo prédio e nos damos todos muito bem”, revela. DA ADVOCACIA Advogado com méritos, participou do primeiro júri de Lagoa da Prata. “Fui defender uma mulher que assassinou o marido quando estava dormindo, e ele era militar. Tive a felicidade de ser vitorioso, conseguimos a absolvição dela

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com uma votação dos jurados de sete a zero. Essa primeira conquista fez com que me tornasse um profissional de confiança. Graças a isso ganhei muitos clientes. Tenho 41 anos exercendo a advocacia, já tive a honra de receber várias homenagens de honra ao mérito e melhores profissionais do ano. Ganhei 33 troféus ao longo desses anos”, destaca com orgulho. Perguntado sobre como lida com o título de melhor advogado da cidade, Wantuil responde rapidamente: “Sei que não sou o melhor advogado de Lagoa da Prata. Nunca fui! Tenho certeza que existem outros colegas de profissão melhores. Sempre fui muito dedicado à advocacia e gosto muito da minha profissão. Acredito que nasci para ser advogado, pois tenho muita satisfação quando a justiça é feita na forma da lei. Exerço a advocacia com muita responsabilidade e amor. Então, acredito ser essa a razão das pessoas escolherem meu nome e o nosso escritório para recebimento dos troféus e homenagens, sou muito grato ao povo por isso ”. Tive a honra de receber da 90a. Subseção da OAB-MG de Lagoa da Prata a condecoração de Honra ao Mérito, pelos relevantes serviços prestados à classe, fui vicepresidente em dois mandatos e gosto de lutar pelos nossos direitos.

região na época. Anos mais tarde não deixou a bola de lado e jogou no time dos veteranos. Torcedor do Atlético Mineiro, garante que sua maior diversão é ir assistir aos jogos do time em Belo Horizonte, acompanhado dos filhos e netos.

DO ESPORTE Dr. Wantuil também sempre foi esportista. Desde criança jogava futebol e chegou a ser Presidente da Liga Esportiva de Lagoa da Prata por 14 anos. “Na época, nós tínhamos um time de meninos chamado Flameguinho. Este time era presidido pelo seu Ivan do Quinzico e ele me propôs ser presidente. Aceitei o convite e continuamos com este projeto. Fomos jogar em Piumhi e fizemos uma partida muito boa, na época o Monsenhor Alfredo, que também gostava muito de futebol, ficou entusiasmado e cedeu o salão paroquial para fazermos reuniões a fim de tratarmos sobre o time. E em 1964 fundamos o time chamado Laprata . Nesta época fui presidente e nós tínhamos aqui o campeonato municipal e fomos várias vezes campeões. Fundamos então a Liga Esportiva de Lagoa da Prata e assim participamos dos campeonatos da Federação Mineira de Futebol”, conta o advogado que registrou o “Laprata” até na primeira divisão do campeonato mineiro, um feito inédito para os times da

PARA FINALIZAR Em 2015, aos 74 anos, Wantuil teve um problema cardíaco e precisou colocar ponte de safena. Ficou hospitalizado por três meses em Belo Horizonte, posteriormente passou um período em casa se recuperando da enfermidade. Onde foi muito bem cuidado, recebendo o carinho da família e amigos. Nesse tempo ficou impossibilitado de exercer a profissão, mais foram dias de preciosas lições e ensinamento para ele. Depois deste susto, nunca mais parou de advogar e não pretende se aposentar. É um homem que gosta muito de festas, de gente, de celebrar, de agradecer e principalmente de trabalhar, daí vem sua força e garra para viver, sempre com muita fé em Deus. Ama Lagoa da Prata e tem orgulho de morar aqui: “Lembro de Lagoa como muitos não conheceram. Isto aqui era praticamente um arraial de tão pequenininha. Eu tenho 76 anos e a cidade 78. Nos dois crescemos juntos! É uma cidade que amo muito, esse povo está dentro do meu coração”.

DOS SERVIÇOS SOCIAIS Na galeria dos presidentes do Lions Clube de Lagoa da Prata, o Dr. Wantuil exerceu o cargo de presidente por três mandatos e foi sócio fundador do Clube na cidade, onde sempre prestou serviços sociais para a comunidade. Exerceu também o cargo de Governador do Distrito LB3 do Lions Clube, tomou posse nos EUA em uma solenidade internacional. Até hoje é um companheiro “leão” atuante e sempre gostou muito do Lions e de sua filosofia. DE OUTROS ATIVIDADES Exerceu o cargo de suplente e vereador na Câmara municipal de Lagoa da Prata, foi professor de Mecanografia e Direito no curso de Técnico em Contabilidade, foi primeiro musico a tocar corneta na fanfarra do Colégio Municipal, exerceu o cargo de Conselheiro Administrativo do Sicoob Crediprata de Lagoa da Prata.

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ntônio Carlos Vargas

Por: Fábio Barbosa

Antônio Carlos Vargas é um empreendedor nato. Começou sua vida profissional como engraxate e se tornou um dos mais respeitados empresários do ramo farmacêutico do Brasil. Foi capa da Revista Exame pela consolidação da Pharlab como referência em medicamentos. E recebeu homenagens históricas do Governo de Minas Gerais, como a Medalha de Honra ao Mérito Presidente Juscelino Kubitschek (2011) e a Medalha da Independência (2013). Filho de Maria Augusto Vargas e Josué Francisco Vargas começou trabalhar ainda na infância para ajudar os pais e os 11 irmãos. É casado com Érica Mendonça Vargas e tem três filhos, Daniela (27 anos), Antônio Carlos (7 anos) e Marco Antônio (6 anos). É um homem humilde que cresceu na vida com muito trabalho e acreditando em sonhos. Em sorte ele não acredita, prefere ser prático e realizar. É torcedor do Atlético Mineiro! Nossa entrevista foi em sua residência, na Avenida Getúlio Vargas. A casa, com árvores frutíferas e um enorme jardim, é uma conquista. Afinal, quando jovem, Antônio Carlos entregava jornal ali e nem imaginava um dia ser o proprietário. Como foi a sua infância? Quais as lembranças daquela época? Minha mãe tinha doença de chagas, então ela fazia uso de medicamento contínuo. Então com meus sete anos eu já engraxava sapatos para ajudar em casa, entregava jornais também. E usava o dinheiro para comprar medicamentos pra ela. Eu não tinha que fazer isso por obrigação, mas o instinto e o desejo de ajudar era muito grande. Muito engraçado do engraxar sapato era que mesmo muito novinho as pessoas faziam fila para engraxar comigo, eu não tinha noção do que isso significava, mas com certeza é por que fazia com carinho. Os colegas estavam brincando de espirrar água ou pela rua e o pessoal esperava sempre para engraxar comigo. Depois com 12 anos eu fui perceber realmente que esta espera tinha haver com a qualidade do serviço. Foi uma infância difícil? Não foi uma infância difícil. Eu não sabia o que era fácil, então tudo era muito simples, com muita dificuldade, mas muito interessante. Extremamente difícil, se for usar o ponto de vista das outras pessoas. Pra mim era muito tranquilo. A dificuldade e a simplicidade sempre foram motivos de alegria. Na minha adolescência eu entregava jornal. Fui entregar jornal em uma drogaria, a Santa Mônica, que estava inaugurando na época. O proprietário me perguntou se eu não conhecia um menino para fazer o trabalho de entregador da farmácia e eu falei que eu queria. Era meu sonho trabalhar em farmácia. Ele me propôs começar no dia seguinte. Tinha já quatro anos entregando jornal e fui lá. Comecei aos 12 e fiquei lá até os 17 anos. Com muita dificuldade, matando muita aula, pouco ordeiro, terminei o segundo grau apenas. Você foi trabalhar também em Belo Horizonte, como isto aconteceu? Quando mudei para Belo Horizonte fui para a Drogaria Araújo. Ocupei os cargos de estoquista, balconista, de aplicador de injeção, de caixa, de subgerente, gerente e isso tudo em

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menos de um ano. Depois disso fui morar em Bom Despacho trabalhando para uma empresa italiana (Zabom) fazendo propaganda de medicamento. Fui então trabalhar no Laboratório Fontora. Fiquei lá cinco anos, ocupei os cargos de vendedor, supervisor e de gerente. Morei no Rio de Janeiro, gerenciando a região sudeste, aí ele foi vendido. E ajudei inclusive na venda dos bens. Então fui entregar uma encomenda para o Waltecir de Melo, que tinha comprado o Laboratório Leuto Brasileiro, o Laboratório Nacional. E ele me fez um convite para trabalhar com ele no Brasil todo na supervisão. Aceitei o convite, era um laboratório muito pequeno, tinha apenas 60 funcionários. Lá trabalhei durante 12 anos, eu era uma pessoa de confiança. Assinava inclusive pela empresa. Fui um jovem muito arrojado e o que mais me atraiu na conversa do Waltecir foi que ele me disse que queria que o laboratório fosse a Aché do Brasil. Eu achei aquilo super magnífico e interessante, pois naquela época o laboratório francês era o numero um do mundo. Enquanto os outros tinham 20 representantes numa cidade como Belo Horizonte, eles tinham 100. Enquanto o pessoal fazia visitas a cada 40 dias, eles faziam a cada 10 dias. Ou seja, o médico comprava a ideia pelo amor ou pela dor. Eu aprendi muito lá”. Você ganhou experiência e tentou ser sócio, algo bem ousado para a época. Como fez esta proposta? Eu era um funcionário comissionado e depois de 10 anos eu fiz uma proposta para ser sócio do laboratório. Ele muito brincalhão me disse que de meia, nem no pé gosta. Mas eu também não tinha o valor para ser sócio dele na época. Eu ouvi o não, mas o sonho não morreu. Então juntei com mais alguns colegas que também trabalhavam no laboratório e resolvi trabalhar num sonho, que foi construir uma indústria farmacêutica. E como esse sonho se tornou realidade? Um dia estávamos em Belo Horizonte e o prefeito da cidade na época estava lá. E falamos no assunto e eles perguntaram por que não em Lagoa da Prata? Eu pensei logo


em mão de obra e algum tempo depois viemos aqui, numa noite bastante chuvosa. O prefeito então nos apresentou o lugar onde é a Pharlab hoje. Paramos no carro há uns 800 metros, era mato para tudo quanto é lado. Arregaçamos as calças para sujar menos, chegamos a pé e olhamos tudo. Um dos possíveis sócios não queria por estar muito depredado. Mas eu por uma necessidade maior e o fato de estar na minha cidade, não falei nada, mas pensei que aquele lugar tinha nascido para ser uma indústria farmacêutica. Apaixonei com a ideia, fizemos uma carta ao prefeito e a câmara, foi aprovado e começamos a sonhar isto em 1998. Ficamos dois anos fazendo as obras necessárias para a inauguração. E marcamos a inauguração para o dia 17 de março de 2000. Naquela oportunidade convidei todas as pessoas ligadas à saúde do Brasil. Estiveram presentes aqui, na época, o vice-governador, senadores, deputados federais, o Presidente do Conselho Federal de Farmácia, Jalber de Sousa Santos, trouxemos aqui o Presidente da ABC Farm, e tudo isso com muita contrariedade dos meus sócios. O dinheiro era muito curto e já tínhamos gasto quase o dinheiro todo nas obras. E nesta oportunidade tive de fretar um jatinho para trazer o presidente do conselho de Brasília e um outro jatinho para trazer o Pedro Isidoro, da ABC Farm. Tive naquela época o apoio da minha então namorada, Erica. E fizemos essa inauguração que teve a presença de mais de 600 pessoas. Trouxemos formadores de opinião, proprietários de redes de farmácias do Brasil todo, todos os donos das distribuidoras de Minas Gerais, alguns empresários da indústria farmacêutica, o presidente do Teuto. Começamos e, graças a Deus, com muito trabalho. A indústria é muito pesada de uma forma geral, é muita ostentação, você mexe com multinacionais, prédios lindos e maravilhosos. E nós com muita simplicidade, com tranquilidade e máquinas simples, mas que não deixavam nada a desejar, não eram otimizadas, mas eram altamente qualificadas. Com a Pharlab funcionado, vocês criaram uma estratégia para receber os compradores que é histórica na cidade. Como era essa recepção na empresa? Este trabalho foi muito interessante por que eu trouxe das experiências passadas. E fizemos um trabalho muito diferente que foi trazer gente do Brasil todo para conhecer nossas instalações. Eu sempre falava que os representantes, os gerentes, o nosso comprador que é do ramo das farmácias, tinha que conhecer a empresa, a indústria. Por que geralmente temos facilidade de vender o que conhecemos. A grande diferença da Pharlab naquela época foi isso. Quando essas pessoas vinham nos visitar, era algo familiar. Era um almoço e jantar com nossa presença. Quando os convidados chegavam, ao descer do ônibus, da van ou do carro, tinha um tapete vermelho estendido, desejando boas vindas. Eu cumprimentava um por um e quando descia o último do ônibus tínhamos um show pirotécnico. Durante anos de recepções assim vimos algumas pessoas chorar, muita emoção. Todos visitavam a empresa e depois eram levados para o auditório. As pessoas tem que estar com o coração. Estar de verdade! Fizemos esse trabalho com 8 anos, mais de 9.000 visitas e com isso trouxemos movimento para hotéis, restaurantes. A cidade também ganhava com tudo isso! Todo final de semana dois ou três ônibus estavam chegando com visitantes. Nos ainda uniformizávamos todos, sempre respeitando a logomarca da empresa de cada um, com a estampa no peito. As pessoas compravam a ideia, não pela grandeza da empresa, mas pelo estar perto, estar junto. E como foi para você, o fundador, vender parte da empresa? Até 2012 tínhamos crescido fantasticamente, mas a indústria farmacêutica tem um custo muito caro. Houve, então, nesse período a necessidade de buscarmos um sócio, não só

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capitalista, mas com capital intelectual. E o grupo Servier, francês que já atuava no mundo todo, veio e entrou como sócio. Comprou 80% das ações da empresa e hoje tenho 20%, não faço mais parte da administração da empresa. Tentei recomprar os 80%, mas me falaram em Paris, que a Pharlab é muito importante e estratégica para eles. É daqui que eles pretendem expandir o genérico para o mundo todo. Fiquei muito feliz com isso! E você pretender continuar investindo nesse setor? Hoje estamos numa discussão com minha saída. Em breve eu terei novidades fantásticas para Lagoa, para o Brasil e o mundo. Vai estar no ar muito em breve. Esse teu empreendedorismo e ousadia ajudou muita gente. Abriu um mercado novo de trabalho na cidade. Você vê como essa responsabilidade? Iniciamos com 14 funcionários e, até minha exoneração, contávamos com 464. Fora os externos e indiretos, que aí passam de 1.500 pessoas. É muito gratificante você pode ajudar a realizar os sonhos das pessoas. E construir uma empresa aqui foi muito gratificante. Muito mais do que isso é poder ajudar pessoas. Fico feliz que hoje existem muitas pessoas do país e de fora aqui em Lagoa da Prata por causa da empresa. E a família? Tive de contar com a paciência da esposa e dos filhos. Você tem que aprender a lidar com a qualidade do tempo, por que às vezes as pessoas estão juntas e distantes ao mesmo tempo. Quando eu estava com a família, estava intensamente. Como você analisa o cenário político nacional? Agora, mais do que nunca, a política é oportunidade para os jovens. O problema do Brasil hoje é a falta de líderes. Não temos um nome para ser Presidente da República, Governador de Minas Gerais ou qualquer outro estado. Não temos um líder e precisamos dessa pessoa que tem vocação para ser líder ou presidente. Algum conselho para quem busca empreender e pode se inspirar na sua historia para isso? Todo ser humano, que tenha vontade e foco, se realiza. O que vejo as vezes são as pessoas simplesmente colocando dificuldade em tudo. Tudo na vida é foco e fazer sorrindo, querendo. Todo mundo tem oportunidades iguais. Quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho. Não acredito em sorte! Você continua acreditando em sonhos? O sonho só esta começando na verdade! Tenho centenas de passos ainda pela frente.


G

erly carlos de souza júnior

Por Fábio Barbosa

Gerly Carlos de Souza Junior, proprietário do Laborclin, é figura conhecida em Lagoa da Prata. Simpático, faz questão de cumprimentar os clientes e amigos que aguardam na recepção. Na infância, queria ser militar, soldado mais precisamente. Foi uma vontade que não foi concretizada, mas ao escolher outra profissão se realizou tanto que hoje não se imagina fazendo outra coisa, nem tem vontade de parar. Filho de Gerly Carlos de Souza e Mariana Lawall de Souza nasceu em Juiz de Fora (MG) onde teve uma infância e adolescência cercada de amor e cuidados dos pais. Esse carinho foi fundamental, mais tarde, na escolha da profissão. Conheceu a esposa, Rovênia Dutra Dias de Souza, ainda na adolescência e os dois, já casados, mudaram para Lagoa da Prata em 1985. “Nós viemos para cá, eu para trabalhar na Clínica Nossa Senhora de Guadalupe, a convite do doutor Ciro, e ela responsável por farmácia na cidade. Lagoa da Prata, desde o início, sempre foi uma cidade muito interessante. Ao chegarmos aqui, conhecemos pessoas que até hoje relacionamos. Chamou-me atenção a praia que já era bonita e, uma coisa interessante, é que passa a ideia de uma cidade planejada. É uma cidade muito boa de morar, onde fomos muito bem acolhidos”, conta. Do casamento, nasceram dois filhos Álvaro, que é Engenheiro de Produção e casado com Ana Paula Carvalho, e Carolina, formada em Direito e acadêmica de Farmácia Bioquímica, seguindo o exemplo dos pais. Em 32 anos na cidade, Gerly passou 24 trabalhando dentro da Clínica Nossa Senhora de Guadalupe e paralelamente criou o Laborclin, um laboratório de análises clínicas que se tornou referência na região. “São anos de prestação de serviços para a população. Tenho histórico guardado no computador de pacientes que nos procuram há mais de 30 anos”, revela o farmacêutico bioquímico que depois de todos esses anos já se considera lagopratense. “A gente começou devagarinho. Como

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não existia laboratório externo na cidade, ou seja, fora dos hospitais, achei que era uma coisa interessante a ser feita. Nossa prestação de serviço tem como foco sempre este lema: Nossa história, você. O nosso maior patrimônio, são os pacientes”, ressalta. Maçom atuante há 26 anos da Loja Maçônica de Lagoa da Prata, Gerly destaca a importância da instituição na prestação de serviço à população carente do município. Cada vez que a gente deixa de ser útil para uma pessoa a gente deixa de seguir a nossa filosofia. Apaixonado por viagens e conhecer o mundo, ele já embarcou para vários países, mas um destino é especial. “O lugar que gostei muito foi Lisboa. Local ótimo de viver, metrópole com espírito de cidade pequena”, revela Gerly, que também é apaixonado por gastronomia, apesar de não saber cozinhar. “Sou péssimo cozinheiro, só sei fazer pipoca e olhe lá”, brinca. Gerly também é ligado em política e preocupado com o futuro do país como qualquer brasileiro. “É um momento de renovação. Sempre fui contra o político profissional. Enquanto não partirmos para uma renovação total vai ter sempre aqueles interessados em tirar da política seus interesses próprios. Política é um exercício de cidadania e para o bem estar da comunidade”, reforça o homem que não pensa em descansar, muito menos se aposentar. “Futuro pra mim é o trabalho, dedicação e família”, encerra.


A

lvimar ferreira de freitas

Por Fabricio Azevedo

Ele é pioneiro em um ramo muito especial, o de Funerárias. Está no segmento há 43 anos. Alvimar é filho do Sr. Alípio e Sra. Geralda Maria. Está com 76 anos de idade e é casado com a Sra. Ivete Miranda de Freitas há 51 anos. É pai de 3 filhos: Alison, Anette e Ana Cláudia. Tem 5 netos: Matheus, João Marcos, Victor, Maria Paula e Ian Pedro. Nascido na fazenda Mata Mutirão, de propriedade de seu pai, ele viveu por lá até os 21 anos de idade. Na infância, estudou no primário na escola rural. Seu primeiro trabalho foi na Capotaria do Meroveu. Tempos depois, foi trabalhar na Funerária Bonfim, fundada em 1975. Ele entrou no segmento por sugestão de seu amigo, o saudoso Cícero Mateus Borges. Alvimar notou mudanças na forma como as pessoas se comportam diante da perda de entes queridos. Avalia que a dor é a mesma, mas que a forma com que as pessoas lidam com ela é mais tranquila do que antes. Mas isso, claro, não é regra. Quanto tem que fazer o sepultamento e preparo do corpo de alguém conhecido, ele é categórico: Nestes momentos tem que prevalecer o profissionalismo. Não é fácil, mas tem que ser assim!” Para lidar com familiares e amigos em desespero pela perda, ele disse que a profissão exige sabedoria, paciência, serenidade e principalmente, muito respeito pelo sentimento das pessoas. Sua filha Anette o auxilia no preparo de corpos e ele a elogia, pela forma respeitosa e pela dedicação e competência que ela direciona ao falecido. “É um trabalho muito especial e só pessoas com dom conseguem exercê-lo de forma plena”, assegura. No que diz respeito à religião, ele é evangélico, da Igreja Presbiteriana. Pouca coisa o deixa irritado, mas injustiça é uma delas. Para descontrair, nada melhor que um bom papo com amigos. Na cozinha, não faz praticamente nada, a não ser, claro saborear seus pratos favoritos, entre eles, um belo feijão tropeiro. Perguntado se tem medo da morte, ele responde : “ Não. Nem penso nisso”! E assim, ao longo de décadas, Alvimar vem exercendo seu ofício, estando presente na vida de milhares de cidadãos em momentos tão delicados, momentos que para ele, são sagrados!

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Por Fábio Barbosa

Lauro

rocha gomes

O fotógrafo Lauro Rocha Gomes é uma testemunha da história de Lagoa da Prata. E muito mais que um observador, ele registrou momentos da cidade que faz questão de mostrar para as novas gerações. Quem passa pela Foto Rocha, no centro, encontrará sempre fotografias em preto e branco que recordam um tempo saudoso. Filho de Telma Rocha Gomes e Oswaldo Gomes Bernardes, guarda na memória boas lembranças da infância. “Lembro da minha infância vivendo em uma família extraordinária, conheci todos os meus avós. Tive contato com bisavós. Somos 8 irmãos, eu e mais sete. Meu pai tinha 14 irmãos. Minha mãe mais cinco irmãos, era uma comunidade praticamente”, conta Lauro, o menino que morava na esquina da Joaquim Gomes Pereira com a Praça Coronel Carlos Bernardes, onde brincava com os amigos de bolinha de gude, pião, pipa e nos dias de chuva na rua, para desespero da mãe. O pai do fotógrafo foi o proprietário do conhecido Bar Lagoense que era ponto de encontro da cidade durante muitos anos. Aos 67 anos, Lauro continua apaixonado pelo trabalho e pela fotografia. Mas sua vida profissional começou em um cinema da cidade, nos anos 1950, eram três em Lagoa da Prata. “Eu tinha nove anos incompletos quando fui arrumar um emprego no Cine Vera Cruz, que era próximo da minha casa. Fui trabalhar lá auxiliando na projeção e

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em tudo que era possível. O cinema era uma paixão. Não virei cineasta, mas é uma coisa que curto muito. A sala de cinema encanta, ali é um mundo exclusivo. Aquilo me influenciou bastante para ser fotógrafo”, destaca o profissional que também tinha inspiração em casa para seguir registrando tudo ao seu redor. “Eu nasci em 1950 e minha mãe era fotógrafa amadora. Amava fotografar. Cada filho que nascia ela o fotografava. Eu fui o terceiro dos oito e então comecei a estar envolvido com a fotografia a partir do que dia em que nasci. Ela fotografou todos os filhos, da mesma forma, todo mês ela fazia um registro e montava um álbum para cada um de nós”, revela. Com esse incentivo não demorou muito e ele já tinha sua primeira câmera, comprada aos 10 anos. Estudou no Colégio Jacinto Campos e fez Magistério no Colégio Nossa Senhora de Guadalupe. Aos 16 anos conheceu a esposa, Yolanda Duarte Gomes. “A cidade era pequena, todo mundo se conhecia praticamente. Ela estudava na mesma escola que eu, nos conhecemos e começamos a namorar. Casei com ela aos 21 e estamos juntos até hoje. Eu era muito tímido, a fotografia me fez melhorar já que tinha de ter contato com todo mundo. Mas ainda continuo sendo tímido”, conta. Seguindo os estudos se formou em Ciências Sociais na PUC Minas e ministrou aulas. Foi professor e resolveu investir profissionalmente na fotografia. A Foto Rocha foi inaugurada em 1968 ao lado do bar da família. Lauro não tinha curso, mas procurou conhecer tudo que conseguiu sobre a área. “No Brasil não existia escola de fotografia e esta área era dominada por fotógrafos da melhor qualidade, mas sem formação. Aprendi fazendo,


estudando os poucos livros que existiam e através dos fotógrafos que nos antecederam. Nunca descuidei da parte teórica. Buscava livros, revistas e ia muito a bibliotecas. Aqui tinha uma revista chamada Íris, de imediato assinei e tive contato com as novidades da fotografia no Brasil e no mundo. Quando comecei a fotografar profissionalmente eu já tinha base, conhecimento”, destaca o fotógrafo que completa 50 anos de profissão e com honra ao mérito. Reconhecimento este presente em prêmios que recebeu, mas acima de tudo, nos clientes que admiram o seu trabalho. Em 1980 a empresa ganhou um novo espaço. Era hora de ampliar os negócios e com uma equipe de auxiliares maior, vieram mais casamentos e eventos. “Já perdi a conta de quantos casamentos eu fiz. Eu sou fotógrafo mesmo por causa da minha mãe. Eu já nasci fotógrafo. A fotografia pra mim é meio de vida e uma arte. Tudo veio da fotografia. Quando não estou ganhando dinheiro com a fotografia eu estou fotografando por hobby, para mim todo dia é um momento especial”, reforça Lauro que é metódico com os arquivos, tanto que usa na câmera slot duplo, com dois cartões de memória que registram as mesmas imagens por segurança. Mas ao longo de cinco décadas, nunca perdeu nenhum arquivo, mesmo no tempo dos filmes onde isto era comum. Lauro é pai de três filhos: Cíntia, Raquel e Lauro Junior, que é formado em Publicidade & Propaganda. O jovem seguiu os passos do pai, tornou-se fotógrafo e cineasta e hoje é braço direito na administração da Foto Rocha. A esposa abriu uma empresa de turismo e o fotógrafo já visitou mais de 30 países ao lado dela e de grupos de excursão. Normalmente é ele quem faz os registros da viagem, antigamente a trabalho, hoje simplesmente pelo prazer de fotografar. “Me sinto um homem realizado, mas a realização plena é difícil. Eu realizo algo e quero mais. É da natureza humana, senão ficamos inertes”, conta o torcedor do Cruzeiro que diz não ser fanático, mas sabe de todos os resultados do time imediatamente, mesmo quando não acompanhou o jogo. Atencioso aos detalhes, Lauro guarda na loja uma coleção particular de dar inveja a qualquer colecionador. São câmeras de todos os tipos e marcas que fazem parte da história dele. “Ali eu chamo mesmo de museu. É mais que uma coleção. Estão minhas câmeras desde que comecei. Só não tenho a primeira porque tive de vender para comprar a segunda. Eu tenho a primeira câmera profissional que comprei. E todas que comprei ao longo dos anos. É um acervo da minha historia” revela o homem que só saiu de Lagoa da Prata para estudar e diz amar esta cidade. “Lagoa é terra mãe. Bastante próximo de mãe, a importância da mãe é infinitamente superior, mas a terra é tão importante quanto. É um lugar que nos oferece muitas coisas boas”, encerra.

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Por Fábio Barbosa

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arlos Bernardes de Oliveira (in memoriam)

O empresário Carlos Bernardes de Oliveira foi um homem visionário e trabalhador. Era perfeccionista e muito discreto. Atento aos detalhes tinha anotações pessoais que impressionam, tais como a lista com a assinatura de todos os amigos que levou para almoçar na fazenda e uma caderneta com o índice pluviométrico das chuvas em Lagoa da Prata que datam desde a década de 1960. Apaixonado pela família e pelos negócios, foi um dos pioneiros da siderurgia na região. Filho de Iracema Bernardes de Oliveira e José Ribeiro de Oliveira, Carlos teve uma infância tranquila ao lado dos irmãos Maria, Alexandrina e Francisco (Chiquinho). Estudou o ensino fundamental e médio em Belo Horizonte e formou-se em 1957 em Ciências Econômicas, na Universidade Federal de Minas Gerais. Conheceu a esposa, Ilse Alexandrina Bernardes de Oliveira, em Lagoa da Prata, durante um dos famosos bailes do Clube Recreativo. Da união, nasceram Evelin e Flavio. A mulher que o acompanhou por toda a vida lembra como foi o primeiro encontro: “Apesar de vizinhos, moramos sempre um ao lado do outro, mas não tínhamos contato. Ele estudava em Belo Horizonte e nosso convívio era pouco. Conhecemo-nos em um baile e tivemos, desde o primeiro dia, uma boa sintonia. Era

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uma pessoa inteligente, preparada, tinha muita perspicácia, não guardava rancor, não tinha ódio. Às vezes se exaltava, mas dez minutos depois estava muito tranquilo. Casamos em 18 de fevereiro de 1960, na igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Belo Horizonte. Namoramos quatro anos e noivamos cinco meses”. Carlos foi um dos fundadores e acionistas da Companhia Siderúrgica de Lagoa Prata. Em um dos manuscritos encontrados pela família revela parte dessa história de empreendedorismo. “No início de 1959 fui procurado por Otaviano José Bernardes e Itamar este, então, funcionário do Laticínios Lagoa da Prata. Como havia concluído o curso de Ciências Econômicas, os dois julgaram que eu estava apto para empreitada que propunham. Isto é, construir um “Alto-Forno” nos moldes dos dois que já funcionavam em Samonte. De momento me assustei, mas jovem como meus proponentes, cheios de ideais, nos pusemos a planejar. Como diz o filósofo chinês Confúcio (que viveu há mais de 500 anos antes de Cristo): Toda grande caminhada começa com o primeiro passo. Quero registrar o fator de progresso que os pioneiros do Alto-Forno imprimiram na nossa cidade. Se não fosse a ideia de tal empreendimento e a contribuição financeira para sermos a primeira cidade após Divinópolis a ter energia da CEMIG. Mais


ainda do que a contribuição financeira foi o constante contato com a direção da CEMIG e o despertar da consciência de progresso que estava adormecida por falta de energia”, registrou o homem que após vender o altoforno se tornou sócio da Fábrica de Bebidas MOGI, que mais tarde se tornaria a COBEB. Com o falecimento do sogro, senhor Josaphat Bernardes, Carlos ganhou mais uma responsabilidade, gerenciar as fazendas. E fez isso com louvor, tanto que se tornou um dos produtores rurais mais reconhecidos e prestigiados da região. Em especial por sua forma de administrar o negócio de forma profissional. “Dando continuidade às fazendas Lagoa Verde e Estiva, formou também a fazenda Bela Vista. Tendo, então, aí realizado o que mais gostava de fazer, plantar. Formou uma lavoura de cana de açúcar, milho, soja, café e um laranjal com cerca de 80 mil pés de laranja onde empregava cerca de 100 pessoas. Sempre procurando inovar, foi buscar novas técnicas em São Paulo, nas regiões de Bebedouro, Frutal e Limeira. Criador de gado de corte e gado leiteiro. Gostava também de criar cavalos da raça Manga Larga Machador. Formou, assim, a Agropastoril Lagoa Verde”, conta Ilse Alexandrina. Carlos foi um homem sempre próximo

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da política e apoiador dos candidatos que eram progressistas. “A amizade com o governador Francelino Pereira e Dona Latife foi muito prazerosa e divertida. Ele e Dona Latife sempre visitavam o casal Dr. Otto Bernardes de Castro e Solange, na fazenda deles, Santa Isabel, onde aconteciam reuniões e deliciosos jantares, com diversos amigos e políticos. Carlos e Dr. Otto anteciparam, assim, a vinda do asfalto da BR-262 até Lagoa da Prata. Carlos apoiava os prefeitos progressistas, pois os crescimentos da economia e do município resultavam em ganho para todos. O desejo era uma diversificação das atividades econômicas”, lembra a esposa Ilse Alexandrina. Em 1984 Carlos sofreu o maior golpe de sua vida, o filho Flávio, foi assassinado. Um trauma que ele não conseguiu esquecer. “A morte do Flávio foi muito sofrida para todos nós. A superação foi lenta, ele se dedicou ao trabalho como ocupação, assim não pensava no que tinha acontecido”, ressalta a esposa que lembra ainda com carinho o entusiasmo do marido com a família: “A família significava tudo para ele. Do casamento de Evelin e Álvaro nasceram os netos: Camila, Breno e Igor, os quais ele muito amava. As amizades ele as tinha nos mais variados círculos e muitos amigos em toda a região”.


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i Gianne de Oliveira Nunes Por Fábio Barbosa

Di Gianne de Oliveira Nunes é professor de História, apaixonado por sua profissão e por Lagoa da Prata, vem contribuindo para a formação de várias gerações. É um cidadão que acredita na política feita com responsabilidade e na educação como ferramenta de transformação da sociedade. Alguns podem dizer que ele é idealista, mas na prática, com seus projetos ele já vem transformando vidas. Filho de Esmeni de Oliveira Nunes e Heleno Nunes, teve uma infância simples brincando de bolinha de gude e futebol em um campinho de terra próximo à lagoa. Colecionava figurinhas e, na sala de aula, sua matéria preferida era História. “Meu presente de aniversário de 11 anos foi uma viagem para Ouro Preto. Pegava textos históricos para ler e sempre gostei de filmes com essa abordagem. Como era a cidade histórica mais perto de nós e uma das mais importantes do Brasil, pedi para conhecer. Lembro que fiquei fascinado com as casas antigas. Voltei lá várias vezes, inclusive levando alunos”, conta o educador que na adolescência foi estudar no Colégio Nossa Senhora de Guadalupe e fez o curso de Direito na antiga Faculdade de Direito do Oeste de Minas. Mas chegou uma hora que o instinto falou mais alto e ele mudou de curso. “Fiz História logo em seguida, no mesmo ano. Em cidades diferentes, no mesmo turno inclusive, paralelo. Fiz História na UNIFOR, em Formiga. O curso foi muito bom, fiz grandes amigos e ali mesmo, já comecei a dar aula na Escola do Povoado de Ponte Vila. No dia

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04 de fevereiro de 2004, no dia que o Facebook entrou no ar”, destaca Di Gianne que no primeiro dia ficou nervoso: “Minha primeira experiência em sala de aula foi muito interessante. Coloquei até a bolsa no chão e um aluno perguntou por que eu não tinha colocado ela na mesa, daí percebi que eu era o professor e tinha agora o meu espaço”. Depois de formado, recebeu um convite especial em Lagoa da Prata. “A diretora da APAE Lagoa, Isamim Couto Coelho, me chamou para pegar uma turma na instituição e fazer um trabalho diferente lá, ligado à computação. Foi uma ação de inclusão digital. Foi um trabalho ótimo que deu oportunidade para os alunos, inclusive de ingressarem no mercado de trabalho em algumas empresas da região”, recorda. Em 2006 Di Gianne passou no concurso para professor do estado e foi empossado na Escola Estadual Monsenhor Alfredo Dohr. “Cheguei lá e trouxe aulas inovadoras. Levava espada para dentro da sala, fazia encenações. Aulas de Revolução Russa faço com um teatro. Tinham músicas temáticas com convidados e a galera interagia. Isso melhora a autoestima do aluno e fui ganhando uma grande parceria com eles”, ressalta com orgulho. Em 2008 Di Gianni resolveu que queria fazer ainda mais pela cidade e foi candidato a vereador, sendo o terceiro mais votado naquela eleição. Em 2012 repetiu o sucesso nas urnas e foi reeleito. Em 2016 ele foi candidato a prefeito e teve mais de 8 mil votos, um número significativo que o motiva para próximas eleições.


Nesse mesmo período recebeu o convite para lecionar no Instituto Maria Augusta Machado, o IMAM, onde está até hoje. Em 2010, o professor descobriu a importância de suas aulas numa das situações mais inusitadas que já teve na vida. “Estava dando aula e uma menina me liga, falando que tinha tomado veneno de rato. Eu estava na escola e era uma ex-aluna que não via há dois anos. Sai de lá desesperado e fui ajudá-la. Passaram dois dias ela teve alta e perguntei por que ela tinha me ligado, ela se lembrou de uma aula minha, onde o assunto era sobre o suicídio de Vargas e falei dentro de sala que se algum aluno pensasse em fazer alguma besteira dessa eu convenceria que valia a pena viver”, conta pela primeira vez Di Gianne, que é admirado pelos alunos e os incentiva além das salas de aula. “Uma aluna minha ganhou o concurso internacional “Caminhos do Mercosul”, a Isabela Lamonier. Ela é minha afilhada hoje e sinto o maior orgulho quando eles se destacam”, ressalta. Em 2017 Di Gianne conquistou o maior reconhecimento de sua vida, ficou entre os 10 finalistas do Prêmio Educador Nota 10, promovido pela Fundação Victor Civita. O projeto que ele criou é considerado inovador e um exemplo na expansão da educação no sistema penitenciário do estado de Minas Gerais. “Estou há três anos na Escola Monsenhor Alfredo Dohr, responsável pelo EJA, no Presídio de Lagoa da Prata. Fui um dos primeiros professores da instituição e num debate com meus alunos do segundo ano do regime fechado, um deles me questionou a possibilidade de entender a história através da bíblia. Um professor recebe no mínimo umas 50 perguntas por semana e poderia responder apenas sim ou não, mas tive a ideia de fazer um grande projeto que inicialmente ganhou o nome de “O Livro mais conhecido do mundo, uma visão histórica, geográfica dos alunos que cumprem pena” que mudou de para “Regime fechado, visão aberta”. Percebi que a amplitude do trabalho foi maior do que eu esperava. Eles começaram a olhar a ciência, costumes, curiosidades, tradições e principalmente as características dos impérios tratados na história e comprovadas na arqueologia”, conta o professor que notou uma significativa mudança no comportamento dos alunos, com uma autoestima melhor, leitura e aumento da oralidade. “Conseguimos ficar em primeiro lugar em Minas Gerais e sou um dos 10 vencedores do Brasil. A premiação foi um troféu, que é o Oscar da educação no Brasil, mais 15 mil reais, dos quais eu dividi sete mil com cinco alunos que trabalharam mais efetivamente no projeto. O trabalho foi feito com cinco alunos que repassaram para os demais. Fiquei mais satisfeito com

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as mensagens que eu recebi de felicitações. Uma mãe me disse que sentia orgulho de eu ter dado aula para as filhas delas. Recebi inúmeras mensagens, um carinho tremendo”, lembra Di Gianne que foi premiado em uma cerimônia de gala, apresentada pela jornalista Sandra Annenberg, em 30 de outubro, na Sala São Paulo, em São Paulo. Pai do jovem Alexandre Nunes (22 anos), Di Gianne gosta de viajar e prefere destinos históricos. No Rio de Janeiro conheceu o centro, pois estão ali construções que contam a trajetória de uma cidade que cresceu acompanhando o desenvolvimento do Brasil. Mas o próximo destino do professor sem dúvida é a realização de um sonho antigo. “Estou indo a Roma e vou procurar o túmulo de todos os imperadores. Esta viagem é algo que planejei muito. Irei ao Vaticano, quero conhecer tudo que puder. Na história antiga é o Coliseu, o ponto mais importante e também vou lá”, destaca o professor que como tem feito a vida toda, pretende continuar se dedicando à educação e aos projetos sociais que participa.


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osé Aparecido de moura Por Fábio Barbosa

José Aparecido de Moura é Técnico em Contabilidade e empresário de sucesso. Filho de Maria Célia de Moura e José Ferreira de Moura Sobrinho, é natural de Lagoa da Prata e um dos mais respeitados profissionais da região, com vários prêmios recebidos. É simples, gosta de estar na fazenda e não abre mão de estudar. Para ele aprender é uma filosofia de vida! A infância foi no bairro Américo Silva, ajudando o pai no pequeno armazém que a família possuía. “Ajudava a fazer tudo lá, às vezes até no caixa ele me deixava. Com 10 anos eu já trabalhava e depois meu pai queria que aprendesse uma profissão, então foi em busca de uma oportunidade para mim”, conta José Aparecido, que ganhou o primeiro emprego com o veterano Contador Wanderlei Corgosinho Soares, na Contabilidade Scorelli. “Eu sou muito grato a tudo que aprendi. Fiquei lá durante 18 anos. Me adaptei muito rápido. Na escola sempre gostei de números, então foi fácil. Eu fiz curso de datilografia e terminei em tempo recorde. Trabalhei com a área de INSS e gostei bastante”, lembra o empresário que com 25 anos montou seu próprio escritório. “Em 1985 tive muitas propostas para trabalhar para empresas grandes da cidade. E estava formando opinião sobre isso, mas de uma hora para outra desisti e disse que ia montar meu escritório. Tive o apoio de um grande amigo, Ronaldo de Castro e fomos conquistando clientes. Ronaldo também foi meu primeiro cliente. Em poucos meses já tínhamos outros e assim começou a ContMoura”, revela. “Iniciamos o escritório com três pessoas: eu, minha irmã Nívia e o irmão César, e hoje tenho 23 funcionários. Eu avalio como brilhantismo,

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conseguimos conquistar os clientes, tivemos um crescimento que eu nem mesmo esperava. Com seis anos eu estava com uma carteira de clientes dez vezes maior do que quando eu comecei”, destaca José Aparecido que também fez sacrifícios para prosperar: “Quando comecei eu já tinha uma filha e outra recém nascida. A situação estava complicada financeiramente, foi uma batalha. Consegui comprar a nossa sede vendendo uma caminhonete e troquei com um valor também. Meu escritório era uma sala na rua modesto Gomes, no Américo Silva, fiquei oito anos lá. Hoje meu escritório tem oito salas e dois banheiros. Tudo dividido por setor”. Casado com Marly de Fátima Castro Moura teve três filhas: Júlia (18 anos), Izabela (24 anos) e Tamila (27 anos). A família sempre foi grande incentivadora e apoiadora. “Tive uma relação ótima com meus pais, somos quatro irmãos. Meu pai sempre me ajudou, me deu apoio e incentivou. Gostava muito de ir para o sitio do meu avô. Sou muito grato às oportunidades que a vida me deu”, conta o homem que hoje já recebeu vários prêmios por sua dedicação aos clientes. “A contabilidade é uma área difícil e sigilosa. Precisamos estar sempre antenados, já que a legislação muda frequentemente. E eu gosto de ler tudo! Os prêmios são reflexos dessa dedicação e nunca parei de ir em busca de aperfeiçoamento. Graças a Deus eu recebi muitos e me mantive procurando melhorar mais”, conta. José Aparecido conta que dificilmente se estressa, já que o bom humor é uma de suas marcas. Mas que gosta de fugir de vez em quando para o sítio. “É meu refugio. Todo final de semana estou lá. Gosto demais de criar galinha e mexer com horta e água. Cozinho de tudo, principalmente comida caipira e me considero um bom cozinheiro”, fala envaidecido o empresário que também realiza caminhadas e anda de bicicleta com os amigos por trilhas.


Perguntas Rápidas

- Uma lembrança: Quando eu estudava.

- Um momento agradável: Estar junto com meus pais. - Um lugar no Brasil? Natal/RN. - Um Lugar no mundo? Jerusalém. - Uma lembrança Triste: A morte dos meus avós. - Uma comida: Frango Caipira. - Um time? Atlético Mineiro. - Uma vontade? De ver minhas filhas formadas e com sucesso profissional. - Uma frase ou pensamento: Todo homem é feliz quando tem paz interior e harmonia com a família. - Sobre o Futuro... Espero que nosso país tome um rumo e que esses políticos olhem para a população, principalmente para a saúde.

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anderlei corgosinho Soares

Por Fábio Barbosa

Wanderlei Corgosinho Soares tem 75 anos e uma disposição de dar inveja aos jovens. Formado em Ciências Econômicas e proprietário da Contabilidade Scorelli, ele não descansa. Nem deixa de ir ao escritório todos os dias. É um mineiro contador de histórias que carrega um sorriso no rosto de quem realizou os sonhos que teve. Criado em família humilde e sem muitos recursos, começou a trabalhar cedo e sempre ajudou em casa. “Fomos pobres, não nasci em berço de ouro. Mas sempre tivemos uma educação muito boa. Com 13 anos de idade, infelizmente, meus pais separaram. Foi um momento difícil. Mas minha mãe deu uma prova de amor, uma prova de dedicação em função de criar a mim e meus irmãos muito bem. Isso é mérito dela e se eu estou hoje muito bem, é graças a ela”, reconhece o empresário que descobriu cedo o valor do trabalho. “Eu fui office boy neste escritório, entrei e em dois meses queria sair. Ela então me disse que eu deveria continuar, persistir e aprender uma profissão”, lembra Wanderlei que trabalha no mesmo lugar há mais de quatro décadas. Na época a empresa se chamava Sociedade Scorelli Ltda e o jovem ao longo dos anos foi se destacando, era dedicado e aprendia rápido. Não demorou e conquistou seu espaço. Indo muito bem na vida profissional, faltava uma companheira e quando ele conheceu Maria de Fátima Soares se apaixonou. “Conheci minha esposa por casualidade. Tínhamos amigos em comum e a conheci com 15 anos. Um amigo me apresentou, gostei e pronto. Ela mudou daqui, foi morar em Brasília, mas eu não a deixei. Fui lá buscá-la. Não aguentei, não. Casamos em 1968 e estamos a 49 anos juntos”, conta o contabilista que aos 18 anos deu um passo importante para o seu futuro. “Meu patrão me deu participação dos lucros na empresa. E, em 1972, o Jeferson fez concurso para promotor, então comprei a empresa e segui. Até hoje estou aqui, agora com meus filhos me ajudando. Fiz o curso técnico em contabilidade, não tinha nem isso quando comprei o escritório. Depois diz Ciências Contábeis e para complementar

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fiz o curso de Direito”, destaca Wanderlei que teve quarto filhos: Marcelo, Alessandra, Juliana e Daniel. “Eu considero a família fundamental. Dou muito valor a esta instituição que é o casamento. Sempre procurei a união entre os filhos e os irmãos. União, amor, coleguismo, então, graças a Deus, eu consegui isso. Só tive prazer com meus filhos! Vivemos harmonicamente muito bem! Dois deles trabalham comigo aqui, Marcelo e Alessandra”, conta. Quando Wanderlei assumiu a empresa, a cidade ainda tinha poucos negócios formais. Mas ele enxergou as oportunidades e investiu todo o tempo que tinha no crescimento do negócio. “Foi muito difícil no princípio. Eu tinha pouca renda e procurava trabalhar sábado e domingo para eu mesmo fazer o serviço. Meus irmãos me ajudaram muito na época”, destaca. Anos depois a empresa se consolidou e chegou a atender clientes de todos os seguimentos. A atual mudança é a instalação de sistemas que irão ajudar no serviço de contabilidade, automatizando os processos. “Essa evolução da contabilidade nos últimos anos foi muito significativa, eu diria até violenta. Programas tiveram de ser adquiridos e, se não fossemos atrás, não daríamos conta. E fomos em busca dessas atualizações, meus filhos são os principais responsáveis”, ressalta o homem que foi eleito delegado do Conselho Regional de Contabilidade por sua importante atuação na região. Sobre o atual momento da economia e o fechamento de empresas na cidade, o experiente contador é pé no chão e aconselha os clientes e amigos com responsabilidade: “Hoje para você abrir uma empresa é preciso cuidado. Existem alguns muito aventureiros ou simplesmente entusiasmados, que recebem uma herança ou indenização e já abre uma empresa. Muitas vezes me procuram aqui e eu sempre oriento. Assessoro na parte de planejamento e pesquisa de mercado, antes que façam um investimento. E sem isso as pessoas estão fadadas a fechar as empresas e fecham mesmo”. Na vida pessoal ele é discreto. Gosta de viajar, mas nada de extravagâncias, o Brasil é seu destino favorito, com destaque para a última viagem onde conheceu Salvador. Quando não esta no escritório se desliga do mundo na companhia da esposa. Sobre o futuro, ele é categórico: “Eu sou muito otimista. Eu espero sempre o melhor. Quando estou triste, sempre procuro fazer diferente para ficar alegre”.

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ogério

Madeira Almeida Por Fábio Barbosa

Rogério Madeira Almeida é um artista. Empresário e decorador é um dos pioneiros do ramo no centro oeste de Minas Gerais e uma referência profissional. Seu trabalho reúne estilo, sofisticação e glamour. Filho de Maria da Conceição de Oliveira Madeira e José Gonçalves tem sete irmãos: Ronaldo, Sara, Pedro Paulo, Samaritana, Rômulo, Roberto e Salete. Teve uma infância simples em Lagoa da Prata e desde cedo já gostava de artes. Estudou o ensino fundamental na Escola Jacinto Campos e o ensino médio no Colégio Nossa Senhora de Guadalupe. “Eu tive uma infância boa por morar no interior, tínhamos a liberdade dos pés de jabuticaba e goiaba. Andávamos na rua sem nos preocupar com nada. Foi um período muito bom” lembra Rogério que na adolescência frequentava o Oeste Estrela e o Master Clube, lugares ícones da noite lagopratense. “Tínhamos lugares bons para ir, andávamos tudo a pé. Nesses clubes aproveitamos bem, era uma vida noturna agitada de verdade. Eu saia muito! Estava nas festas frequentemente com a turma: Bernardo, Saulo, Marília, Aninha, Patrícia, Carla, Renato, Fernando, Guto, Magali, etc. amigos desde criança, estamos sempre juntos até hoje”, destaca. Casado com Marília Bernardes Maciel, Rogério tem dois filhos: Paulo Rogério Bernardes Madeira (21 anos) e Alice Bernardes Madeira (15 anos). O casal se conheceu na adolescência e estão juntos há 26 anos. “Tivemos desde o começo uma química. Na época não tinha floricultura aqui, então encomendei um buquê de flores de Divinópolis para entregar para ela. Foi anônimo, Marília não sabia quem era, ela tinha 17 anos. Com algumas semanas nos encontramos e contei que tinha sido eu. Começamos a conversar e namoramos oito anos. É uma pessoa maravilhosa, não tenho como descrever. Uma esposa que me deu dois filhos maravilhosos. E sempre realizamos as vontades que a gente tem juntos”, ressalta. “Família é muito importante. Paulo é um menino de 21 anos e está fazendo cursinho em Belo Horizonte, um ótimo filho,

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de uma educação, muito fino, cabeça aberta, sabe aceitar as coisas da vida, não é preconceituoso! Alice é uma menina do mesmo jeito. Companheira da gente! Eles deixam de ficar com amigos para ficar comigo e Marília. Somos pais realizados com eles”, destaca o empresário que prefere reuniões familiares ou com os amigos, em especial, na casa dos sogros. Umas das paixões de Rogério e da esposa é viajar. Os dois preferem destinos nacionais e sempre tem boas histórias para contar. “Fomos na lua de mel para a Ilha de Comandatuba, em Ilhéus, na Bahia. Foi uma viagem maravilhosa. Gosto de Tiradentes, hotéis fazenda e sempre com a família. Sempre viajamos para o Brasil, Praias do Nordeste. Amo praia, gosto demais do mar. Tivemos uma fase com nossos filhos pequenos que fomos muito a praia de Nova Almeida, no Espírito Santo. É uma história bonita. Fomos várias vezes com os amigos Carla e Augusto e João Pedro e Daniela”, recorda. A decoração sempre esteve presenta na vida de Rogério. “Sempre gostei dessa parte de artes. É um dom! Não precisei estudar, só aperfeiçoei”, conta. Durante alguns anos ele se dedicou ao comércio, teve uma loja infantil, a Sonho de Criança. Mas no início do ano 2000, resolveu empreender na área que sempre gostou e criou a empresa de eventos. “Resolvi mexer com decoração de igreja e o negócio tomou uma proporção que acabou virando um decorador de eventos. Fizemos muitos desfiles de moda. Eles aconteciam no Clube Recreativo Lagoense. Existia também o carnaval nos clubes e na mesma época fazíamos muitas decorações de carnaval. Uma das mais inesquecíveis foi uma com o tema borboletas. Ficou lindo”, revela. A amiga, Eliana Paulinelle, conheceu o trabalho dele como decorador em Lagoa da Prata e fez um convite irrecusável: “me convidou para fazer um trabalho no salão de festas dela em Divinópolis. E lá tive uma experiência muito grande e comecei a fazer eventos aqui na região. Diana Maciel, cerimonialista e amiga, também me ajudou muito. O casamento dela me propôs algo diferente, foi em uma fazenda. Um desafio que eu topei e graças a Deus foi um

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sucesso”, lembra com saudosismo. “Uma decoração de casamento que marcou muito, foi da minha cunhada, a Patrícia que casou com o Eduardo, aqui na igreja matriz de São Carlos Borromeu. Nós tivemos um imprevisto que poderia ter feito a festa acabar, mas o astral de todo mundo levou o evento até cinco horas da manhã. Choveu tanto que os tapetes viraram barro. Mas dizem que chuva traz felicidades né?!”, recorda. Rogério fez as festas mais luxuosas da cidade. Se especializou e seu nome virou símbolo de bom gosto e sofisticação. Ele conta que prefere casamentos, formaturas e aniversários de 15 anos. “Temos três encontros iniciais para poder fechar um contrato. Desenvolvo um projeto, o cliente me expõe o que quer e faço um rascunho. E temos uma reunião dois meses antes do evento para finalizar os detalhes da decoração. Temos um prazo de entrega de uma festa de cinco a dez dias”, destaca o empresário que possui um galpão e caminhos para guardar e transportar todo o seu material e ainda conta com a ajudada da tecnologia para melhor atender os clientes, os projetos podem ser feitos em 3D e em planta baixa. Ele também possui um acervo de mobiliário com mais de 2.500 peças. “Consigo fazer três festas num final de semana, com revestimento de tecido, mobiliário, carpete e flores naturais. No galpão esta aberta a locação de móveis e tecidos. Antigamente não tinha essa procura, hoje temos. Não posso ficar só eu decorando”, revela. Antenado com as redes sociais, Rogério tem cinco mil amigos no Facebook e no Instagram. Por lá posta tudo sobre seu trabalho. E a divulgação lhe rende constantemente contatos de clientes. “Sou realizado com meu trabalho. E minha família sempre está ao meu lado, valorizando meu trabalho. A decoração tirou de mim toda minha criatividade, minha maneira de me expressar e trabalhar, fazer arranjos, distribuir os móveis. Saio leve quando está tudo certo com o evento, realizo sonhos dos clientes”, encerra o empresário que pretende continuar trabalhando e construir uma casa na fazenda para ele a esposa.


U

rciano lobato de castro

Aos 59 anos, ele é um homem que chama a atenção por onde passa, apesar de ser pouco visto na cidade por ser discreto e caseiro. O nome, atípico, deve-se ao fato de uma família de Araxá, amiga de sua família, terem membros com esse nome. E foi assim que seus pais Antônio e Leila, pela amizade e por acharem o nome bonito, o batizaram como Urciano. Quando nos dizemos que “chama a atenção” é porque ele é um homem alto, com 1,84 metros, é moreno e um homem bonito ( acima da média, como as mulheres se referem a ele), porte elegante e sempre carismático. Esse foi o requisito principal pelo qual o convidamos para estar nesta revista. Mas isso foi só o ponto de partida, afinal, através da beleza dos cidadãos, também se conta a história da cidade, como fizemos na revista das 78 Mulheres. Urciano é o segundo filho de uma família de oito: Eduardo, Lucas, Jaqueline, Marcos, Joana, Mateus e Caroline. É casado com Jaqueline, a conhecida Keline, que foi professora e atualmente trabalha como diretora escolar. É pai de dois filhos, Gabriela, formada em Farmácia e pós-graduada em Análises Clínicas, que está grávida de seu primeiro filho, e de Iuri, formado em Engenharia da Computação e no momento é mestrando em Engenharia Elétrica. A chegada do primeiro neto, prevista para março, já é motivo de muita alegria para ele e para toda a família. Nascido em Lagoa da Prata, estudou por aqui

até o início do segundo grau, sendo que para terminar esta etapa, mudou-se para Belo Horizonte, onde prestou vestibular para Odontologia. Foi reprovado. E ele atribui à sorte não ter passado. Acredita que não se daria bem nesta profissão pelo seu estilo de vida e por seus gostos particulares. Segundo ele, sua mãe ficou entristecida, mas acabou aceitando a escolha do filho, que foi a de voltar para Lagoa da Prata e trabalhar na fazenda da família, onde ficou por longos anos, até 2007. De lá até os dias atuais, trabalha também em fazenda, mas não da família. E não tem dúvidas de que o que fez e faz é o que realmente é vocacionado e apesar das eventuais dificuldades do setor, é o que realmente gosta de fazer. Era adolescente, nem se recorda exatamente a idade, quando foi convidado por uma amiga para participar de um evento de beleza no antigo Cine Vera Cruz. Também alguns de seus amigos foram candidatos. Aceitou por farra e acabou vencendo, sendo escolhido como o homem mais bonito da cidade. Não se recorda sequer de quem foram os jurados, mas se lembra dos demais candidatos derrotados por ele (rs). Inclusive, teve um, o Branquinho que ficou muito chateado por não ter sido o vencedor. Entre os modelos concorrentes, estavam seu irmão Eduardo, Mauro Lúcio Ribeiro, Hegler Rocha e outros. Se teve prêmio, também não se lembra. Fato é que a partir daquela época, e até hoje, Urciano é reconhecido como um dos homens mais bonitos da cidade.

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Deixando a beleza exterior de fora, Urciano tem como mérito maior, o trabalho e a dedicação à família. Sempre foi ótimo filho e fiel aos amigos. De prosa mansa e sorriso fácil, ele aceitou nosso convite e por pesquisas que fizemos, todos aprovaram a escolha. Perguntado sobre perdas e o que o deixa triste, ele cita a perda de parentes e de amigos que partiram jovens como o Juninho Maciel, vítima de um acidente. Prefere não citar outros nomes para não correr o risco de se esquecer de alguém que era de grande estima. Para se divertir gosta de reuniões pequenas, principalmente com churrasco e cerveja, com familiares e amigos próximos. Até vai a eventos maiores, mas são exceções e acompanha sua esposa, que é muito festeira e extrovertida. E falando na esposa, Urciano foi único namorado dela, que ouvindo a conversa, complementou: “ foi meu primeiro e único namorado. Meu primeiro e único homem e continua a ser o meu único e grande amor”! Neste momento a convidamos para se ausentar a fim de não interferir na entrevista (rs). A escolha profissional foi um processo natural, afinal, desde criança frequentava e gostava mesmo era de ir e trabalhar na fazenda Laranjeiras, que era muito maior, mas a sede continua a pertencer aos seus pais. O casarão original continua muito bem preservado e é por lá, que grandes festas da família ainda acontecem. Das coisas que o irritam, acha que são poucas, mas não gosta de atrasos. É pontual e espera isso das pessoas. Filas lentas, compromissos em atraso, admite, quase o tiram do sério. Sem modéstia, afirma que na cozinha, o trivial ele faz bem. Conta que gosta de comer, mas sempre sem exagero. Há pouco tempo, ganhou 11 quilos e com controle, acabou voltando ao peso normal, em torno de 87 quilos, que é a média que sempre teve desde que se tornou adulto. Lamenta, o que é natural, a barriguinha inevitável, e assume, nunca fez nada para perdê-la. Não foi e não é adepto aos esportes e academia frequentou, no máximo, por uns dois meses em toda a sua vida. É católico, não se envolve em política e não tem engajamento em nenhuma associação ou entidade. A reportagem foi feita em sua casa e para encerrar, perguntei se ele se considerava realizado ou, se pudesse, mudaria alguma coisa em sua trajetória. Sem titubear ele respondeu que está tudo ótimo. Que nada mudaria. Que se sente um homem pleno e realizado, mesmo com obstáculos que a vida impõe. E não se preocupou em se declarar à esposa, que estava numa sala próxima. Falou em alta voz que a Jaqueline é uma mulher admirável e que sempre amou e ama. Que se casaria com ela novamente, quantas vezes fosse possível e preciso. Que será um prazer, se Deus permitir, daqui a 18 anos, se casar novamente com ela, em uma bela bôdas de ouro!

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Cláudio de

Por Fabrício Azevedo

oliveira Bernardes

Dentre todos esses homens biografados nesta edição, podemos dizer que o Cláudio dentista é um dos mais queridos da comunidade! Cidadão do bem, pacato, de conversa boa e sempre rodeados por amigos, ele é o que podemos chamar de “boa praça”. Ele está sempre presente na vida dos que os rodeiam, seja no plano familiar, de amizades , de sua equipe e de seus colegas de profissão. Também é conhecido como “Cláudio do Li”, e o apelido se deve ao fato de este ser também o apelido de seu pai, o Sr. Olímpio, que está com 94 anos. Sua mãe é a saudosa Dona Rosinha. É o segundo de uma família de sete irmãos: Maria das Graças, Rosângela, José Wilson, Isabel, Rosali e Rosilene. É casado com Ana Lúcia da Silva Bernardes há 42 anos, com quem tem dois filhos Bruno e Cláudio Otávio. Bruno é casado com Melina e já é pai de uma menina, Lavínia, primeira neta da família e em outubro, Cláudio Otávio casou-se com Isabela. Bruno seguiu os passos do pai e também é cirurgião dentista, Cláudio Otávio é médico. Vamos agora conhecer um pouco mais sobre esse cidadão que enobrece nossa comunidade e nossa sociedade. Cláudio nasceu em Lagoa da Prata, está com 67 anos morou fora por apenas 10 anos, quando foi para Belo Horizonte para estudar e cursar a Faculdade de Odontologia pela UFMG. Formou-se em 1976, trabalhou por dois anos na capital e em seguida veio para Lagoa da Prata onde montou consultório com o saudoso Eli Maciel Filho (Elizinho) e com Júlio César Perilo. No plano profissional, é pós graduado em prótese e estética dental. Na atual Clínica, trabalha com seu filho Bruno e outros colegas de profissão, como Dr. Lúcio Baêta, Saulo Machado e Liliane Barreto. Por algum tempo, também contaram com a colega Nayla. Voltando no tempo, passou a infância convivendo com familiares e amigos na residência dos pais, que era uma casa onde hoje está localizado o Foto Rocha. A adolescência e início da juventude passou entre Lagoa da Prata e Belo Horizonte. A esposa, carinhosamente chamada de Aninha, ele conhecia desde a infância. O namoro começou ainda na adolescência, na época em que se mudou para BH. Ele admite que se encantou pela esposa e no decorrer do namoro, que durou 9 anos, foi criando o forte amor e aos poucos foi tomando consciência de que ela seria a mulher de sua vida. E é. Estão casados por todo este tempo e vivem como namorados. Estão sempre juntos. Viajam juntos e têm vários gostos em comum. Exceto

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pela pescaria, que ela até gosta do ambiente e da reunião dos amigos, mas entrar em uma canoa e enfrentar um rio, isso ela não faz. A chegada da neta Lavínia, ele considera como um estimulante. Veio em uma hora muito especial para a família e sem dúvida é muito especial. Sente que a realização do homem fica ainda maior e esse entusiasmo, ou ânimo dá mais vontade de viver e, principalmente, de curtir a família. Já foi sondado por diversas ocasiões para ingressar na vida pública. Já foi convidado para ser candidato a prefeito, chegou até a pensar e repensar no assunto, mas decidiu não entrar nessa área. Esse é o pensamento atual e acha improvável que mude de opinião. Na década de 1980 foi presidente do Rotary Club e já participou de forma indireta de várias outras associações e entidades. Faz parte do grupo que idealizou e fundou o Umuarama clube que era carente de um local onde poderiam conviver com os amigos, criar os filhos, sociabilizar cidadãos e criar laços de convivência. Participou de várias diretorias em cargos diferentes. Atualmente frequenta pouco o Clube, mas torce para que seja dirigido da melhor forma possível. Frequentou muito e por muito tempo em todas as áreas: no futebol, na sinuca, nos eventos e participou ativamente do clube durante quase duas décadas. Como lazer seus programas favoritos são: estar com a família, pescar, viajar, estar com os amigos mais próximos em torno de churrasco e jantares. Como é de um grupo de grandes e bons amigos, prefere não citar os nomes, mas assegura, são amigos de vida inteira e

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por quem tem muito afeto, gratidão e respeito. Tem consciência de que como chefe de cozinha é um fracasso. Não sabe e não gosta de cozinhar. Tanto que nas pescarias da turma, em que, na maioria das vezes, estão presentes amigos íntimos, onde todos têm alguma função, a dele fica na cozinha, mais precisamente, na limpeza das louças. Há muitos anos tem cuidado com a saúde, e para tanto, tem alimentação relativamente controlada e faz caminhadas diariamente pela avenida do contorno. Nessas caminhadas está sempre acompanhado dos filhos, esposa ou dos amigos e tenta ir todos os dias. E, mesmo estando fora da cidade, tenta manter a rotina. Considera-se um homem tranquilo e pouca coisa o tira do sério, a não ser, a falta de comprometimento. Chegou a ponto de escrever e assinar tudo que combinava com uma pessoa próxima, de plano pessoal, para que assim, a pessoa que era relativamente relapsa, passasse a cumprir o que fora tratado, sem o argumento do esquecimento. Tem no pai, a figura de ídolo e fala isso com gosto. Tem no que ele o ensinou, um norte . Foi um homem digno, trabalhador, espirituoso, de educação singular. Criou os filhos dentro de suas possibilidades, sem faltar nada, mas também sem nenhum esbanjamento. Tem orgulho dele ter um histórico de honestidade e fidelidade aos amigos e aos princípios morais. Ele dirigiu até os 90 anos e há dois anos está com problemas de saúde. É o ritmo da vida. Se sente um homem realizado, mas nem por isso acomodado. Com o atual momento de alta tecnologia e rapidez na informação, nada impede que ingresse em novos projetos pessoais e profissionais.


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oberto

melo gomes Por Fábio Barbosa

Roberto Melo Gomes é um médico de Além Paraíba (MG) que adotou Lagoa da Prata. Construiu uma trajetória brilhante na área de saúde e tornou-se referência em cirurgias. É vascaíno fanático e apesar de todos esses anos morando em Minas Gerais, nunca se converteu aos times daqui. Gostava de ir ao estádio assistir os jogos, mas hoje prefere ver tudo na televisão de casa, onde inclusive é seu recanto para shows e noticiários na TV a cabo. Seu filme favorito é Doutor Jivago, um clássico de 1965. Mas também adoro ler e os livros que guarda são “Médico de Homens e de Almas” e “O Século dos Cirurgiões”. Moderno e antenado nas redes sociais, tem contas no Facebook e Instagram, onde posta regularmente. Politizado e com opinião firme, posta com frequência e suas opiniões são respeitadas. É um homem dedicado à família que transformou sua casa em um ambiente propício para filhos e netos. Gosta de fazenda, mas deixou de administrar a sua após não conseguir conciliar com a medicina. Pesca e possui o barco “Posseidon”, feito exclusivamente para ele desbravar os rios do Brasil. Nasceu em 1950, é filho de Dinah Lemgruber Melo Gomes e Raymundo Nonato Nogueira Gomes. Tem cinco irmãos: Diva, Marta, Heloísa, Alcides e Marília

Como foi a sua infância em Além Paraíba? Foi uma infância muito agradável e produtiva para aquela época. Ou seja, tive oportunidade de manusear todos os brinquedos da época que eram: carrinho de rolimã, atiradeira, bola de gude, papagaio e pião. Por sermos dois homens com quatro irmãs, elas sempre brincavam de casinha de boneca e eu era sempre o médico. Meu ídolo na infância era o meu tio, doutor Silvio Lemgruber, cirurgião no Rio de Janeiro. Nesta época fiz uma promessa a mim mesmo de ser médico como ele e consegui.

Nossa entrevista foi na sala da casa dele. Acompanhado da esposa Lúcia Helena de Souza Teperino, Roberto nos contou uma história surpreendente do menino que sonhava em ser médico.

Fora, passei em primeiro lugar. Em 1970, eu lecionava, era dono de um cursinho pré-vestibular e dei aulas em vários colégios da cidade, meus alunos sempre tiverem bons desempenhos nas provas. Foi uma experiência muito boa que guardo com muito carinho até hoje. Foi um período de sacrifícios, sacrifiquei muito minha família, mas consegui colher frutos e fiz ótimos amigos. Mesmo na faculdade eu continuei a trabalhar externamente.

Minha adolescência foi bastante diferente dos tempos de hoje, pois não tínhamos oportunidade de frequentar bares ou festas. Eu vivi muito com meu avô materno Alcides, que me ensinou tudo que sei. E comecei a namorar a Lúcia Helena com 16 e ela com 14 anos. Fiquei preso a este vínculo, a este namoro. Estamos juntos o tempo todo. Casei com 23 anos e ela com 21, foram sete anos de namoro. Desde o inicio sentimos que éramos feitos um para o outro e assumimos isso como compromisso e começamos a idealizar nossa vida juntos. Nos relacionávamos muito e tinha uma convivência muito boa com os pais dela. Eu adorava os dois. Saímos juntos para passear e isso sempre foi nossa prioridade: estar juntos.

Você tinha uma rotina dupla e mesmo assim era um dos melhores alunos da turma. Essa força de vontade em realizar o sonho de ser médico teve mais etapas? Sim! Passei na residência para o Hospital da Lagoa e o Hospital Escola de Juiz de Fora. Fui ao Rio de Janeiro e trabalhei lá alguns meses. Mas financeiramente era pouco viável. Retornei para Juiz de Fora e conclui o curso, me orgulho de dizer que fui um aluno nota 10. Virei chefe dos residentes e tive contato com um estagiário que se chamava Ney Moreira dos Santos. Ele me fez um convite para vir para Lagoa da Prata e aqui estive em 1978 por quatro meses e como na época não tinha muita estrutura para cirurgia geral em fui trabalhar em Santo Antônio de Pádua, no interior do Rio de Janeiro. Lá fiquei até o final daquele ano, quando conheci o doutor Jeunon e retornei em 1979 para cá. Fui o primeiro medico da cidade com residência e especialização reconhecida pelo MEC.

E o curso de medicina? Dei sorte, sem cursinho, na primeira vez no vestibular de medicina na Universidade Federal de Juiz de

Como era Lagoa da Prata naquela época? Lagoa era uma cidade de 10 a 12 mil habitantes. Não tinham rodovias pavimentadas. A cidade deixava a desejar,

época?

E a adolescência? Conheceu a sua esposa nesta

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mas já se via uma infraestrutura. Fui muito bem recebido pelas pessoas e desde aquela época fiz grandes amigos. E os filhos? Qual a importância deles? Tenho três filhos: Roberta (41 anos), Rafaella (37 anos) e Roberto Junior (34 anos), todos nasceram em Lagoa da Prata. Meu relacionamento com eles é de muito respeito e amor. A importância deles para mim é que são minha vida. Valorizamos muito a família. São todos casados e tenho duas netas, filhas da Rafaella, Carollina e Isabella. Elas adoram vir para cá, falam que aqui é o paraíso. Eu fiz uma casa com uma infraestrutura completa para meus filhos e netos aproveitarem, ficarem aqui. Temos piscina, quadra, sauna e um quintal cheio de arvores frutíferas. E pratica algum esporte? Meu esporte favorito era caçar. Eu fazia isso todos os dias. E hoje é pesca. Eu pesco no Rio São Francisco. Já pesquei até no Rio Araguaia. Pesco por esporte e assim visito vários estados. Também sou membro do Clube de Tiro da cidade. Tenho uma casa no Lago de Furnas e uma das minhas paixões é fazenda. Até tive uma, mas vi que era incompatível com minha profissão. Você recebeu várias homenagens ao longo da carreira, como você se sente sendo um dos homens mais prestigiados em Lagoa da Prata? Eu me sinto muito orgulhoso e sou grato ao povo de Lagoa da Prata. Sou muito feliz com isso. Gosta de viajar? Gostava de viajar, mas hoje ando com o pé atrás, a insegurança cresceu muito em todo lugar. Temos de estar trancados em casa e os bandidos soltos, olha que contradição. E gosta de música?

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Sim. Adoro três cantores, Almir Sater, Sérgio Reis e Renato Teixeira. Fui assistir o Roberto Carlos e também gostei, mas não iria de novo. Você se tornou um lagopratense e como qualquer cidadão preocupado com o bem-estar coletivo se candidatou e foi eleito. Como foi a experiência na política? Eu sempre me choquei com a política e por isso sempre tive certas posições que desagradou alguns. Sempre fui autônomo, sempre fugi dessa ligação com política e qualquer outro setor. Fui vereador na década de 1980 e fui oposição ao prefeito da época. Eu me senti extremante frustrado. O relacionamento e posição dos outros vereadores me incomodou muito. Quis colaborar com as pessoas e ajudá-las, mas decepcionei por que não dependia só de mim. Um dos itens principais de uma campanha é o candidato dizer que vai lutar pela saúde. Mas a tabela do SUS está ultrapassada há décadas! E isto prova o descaso que os políticos tem com a saúde. O médico acaba virando o ponto fraco desse relacionamento. Os hospitais estão carentes e o povo vai sofrer com isso e a culpa não é do profissional da saúde. Hoje eu vejo que a política se tornou algo pior, é muito difícil você encontrar um político correto, todos acabam se provando corruptos. E esse atual cenário do Brasil? A política atual me irrita e como nós brasileiros somos tratados por esses mesmos políticos, que desrespeitam o bem público. O que espera para o futuro? Espero a paz mundial; que o homem continue a preservar e respeitar a natureza e que o Brasil, na situação que se encontra, precisa de um governo duro, firme e honesto.


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UIS AUGUSTO GUADALUPE

pai muito presente, ótimo marido e um apaixonado pela sua Lagoa da Prata. Homem de muitos amigos, sempre lutou pelo progresso de nossa cidade. Quando descobriu a vocação para trabalhar com turismo? Quando retornei de minha primeira viagem à Europa fui trabalhar com turismo enquanto estudava Direito, acabei optando por esta área.

Idade: 67 anos Nome dos pais: Margarida Carvalho Guadalupe e José Antônio Guadalupe Nome dos irmãos: Gláucia, Rubens, Maria Eugênia, Elizabete, Rosa e Ana Cristina.

Em quais empresas de segmento já trabalhou e em qual trabalha atualmente? Na Ytur Turismo, a mais antiga de Belo Horizonte, comecei como funcionário e terminei como sócio proprietário. Vendi minhas cotas e agora tenho uma pequena firma individual de turismo, a Guadalupetur em parceira da Master Turismo que é a maior de Minas Gerais. No momento, divido minhas atividades no ramo de turismo com a grata responsabilidade de representar no estado, como Cônsul Honorário, a belíssima República Tcheca.

Onde reside atualmente e se já morou em outras cidades? Moro em Belo Horizonte. Já morei na Europa em três ocasiões para estudar: Paris (França), Oxford (Inglaterra) e Genebra (Suíça).

Suas viagens são famosas pelo alto nível. Qual é o perfil de seu cliente assíduo? Tenho uma ótima clientela, são pessoas que já fizeram muitas viagens comigo, conhecem muitos países, é um grupo muito unido. Estamos sempre recebendo novos membros e logo há um bom entrosamento.

Onde passou e como foi sua infância? Tive uma maravilhosa infância na minha querida Lagoa da Prata.

Você saberia nos informar quantos países já visitou? Até o momento, 116 países e territórios.

Onde passou e como foi sua adolescência? No internato em Formiga, em Lagoa da Prata e BH. Uma adolescência muito divertida, criativa e produtiva.

Como você viaja muito, conhece os cardápios de culturas bem diferentes, qual pais oferece a melhor cozinha e qual não te agradou? Como sou bom de prato, gosto de tudo. Meu pai, que cozinhava muito bem e com prazer, dizia que meus elogios eram sem valor, pois eu gosto de tudo e acho que tudo está bom. Mas gosto muito da cozinha francesa, italiana e Portuguesa. Não posso dizer que uma não me tenha agradado, mas não admiro muito a comida asiática.

Quando se mudou para Belo Horizonte para estudar, onde estudou, o que cursou e em quê se formou? Colégio de Aplicação da UFMG e Colégio Estadual Central. Faculdade de Direito da UFMG. Onde estudou? Grupo Escolar Professor Jacinto Campos (LP), Colégio Antônio Vieira (Formiga), Colégio Monsenhor Otaviano (LP), Colégio de Aplicação da UFMG (BH), Colégio Estadual Central (BH), Faculdade de Direito da UFMG (BH), Universidade de Genebra. Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra, Instituto de Estudos Europeus de Genebra, Alliance Française de Paris e College of Further Education of Oxford (Inglaterra). Qual foi o primeiro trabalho remunerado e o que fez com o primeiro salário? Trabalhei no Banco Moreira Gomes, em Belo Horizonte. Não me lembro como gastei meu primeiro salário.

Qual a sua relação com a religião? Sou católico. Você nunca pensou em ter filhos? Não. Se você pudesse voltar no tempo, o que gostaria de reviver? Faria tudo de novo e gostaria de reviver minha temporada na Europa de 1974 a 1976. Uma frase ou um pensamento? É a que repito sempre: A vida é bela!

Avalie, em poucas palavras, como é a Dona Margarida, sua mãe. Uma mãe muito amorosa e dedicada à família, marido e filhos. Uma cristã fervorosa. Avalie, em poucas palavras, como foi seu pai, o saudoso sr. José Antônio Guadalupe. Também um cristão fervoroso. Um

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nildo Corrêa de Miranda

Por Fabricio Azevedo

Onildo faleceu em 2007 aos 68 anos de idade. Era filho do Sr. Pedro Côrrea e Sra. Maria Júlia. Tinha uma irmã, Anilda. Era casado com a Sra. Samaritana com quem teve 4 filhos: Samantha, Karina, Laila e Eduardo. Seus netos são Marcela, Pedro, Júlia, Lucas e Mateus. Onildo era versátil. Atuava em várias áreas e em todas imprimia sua marca de dediação. Ele aqui na cidade onde passou toda a infância e a adolescência. Começou a trabalhar cedo, ainda na adolescência. Seu primeiro emprego foi em uma alfaiataria. Trabalhava para comprar seu material escolar e também ajudar em casa. Em alfaiataria, teve um acidente e quase perdeu a mão esquerda. Também trabalhou como contador na loja da Mary Maciel, a Solar. Foi professor de português e de inglês, teve seu negócio próprio que foi uma loja que fez história, a Buggi-Ghanga. Fabricou artesanato em madeira e também teve uma loja de móveis usados. Muito habilidoso, ele criava e fabricava artesanato em madeira, jateava vidros para adornos e portas residenciais. A fábrica funcionava nos fundos da Buggi-Ghanga. Onildo, criativo, chegou até a montar um bar com boliche e a pista, bem como tudo que envolvia o local foi criado por ele. O local foi um sucesso! Sempre foi aluno aplicado e estudou no Jacinto Campos, posteriormente no antigo Colégio Municipal e fez faculdade de Letras e Ciências Contábeis, em Formiga. Na época em que faleceu, era um dos diretores do Sicoob-Lagoacred, onde foi um dos sócios fundadores. Não gostava de política. Entendia muito do assunto, mas não se envolvia e não se manifestava. Foi um homem religioso que colocava Deus em primeiro lugar, mas não era frequente em missas e cerimônias religiosas oficiais. A esposa, Samaritana, conheceu em um baile de carnaval no antigo Clube Recreativo. O casamento até seu falecimento. Foram 34 anos juntos e a lua-de-mel

aconteceu no pomposo Grande Hotel de Araxá. Contam os filhos que se algo o irritava, ele não demonstrava. Sempre foi muito discreto mas deixava claro que não gostava de gritos, de mentiras, de falsidade e de traições. Motivo de muita alegria e felicidade eram as reuniões com os familiares. Ele adorava brincar com os netos. Estava sempre impecavelmente vestido mas não era vaidoso. As filhas sempre o ajudaram neste aspecto. Na cozinha cozinha, não sabia fazer quase nada, mas ajudava muito a esposa. O prato favorito era churrasco. Como era discreto, se teve algum arrependimento, não externou. Para os filhos é considerado o melhor pai do mundo. Foi sábio e conselheiro. Não era de chamar a atenção dos erros. Os filhos têm eterna gratidão, saudade , amor e respeito pelo saudoso pai. Como esposo sempre foi companheiro e como a esposa tem uma doença crônica e sempre fez tratamento, ele sempre esteve ao lado dela, cuidando e nunca deixando que faltasse nada para melhor qualidade de vida dela. Foi correto e honesto. Onildo partiu deixando uma história exemplar que deve servir de espelho para todos, assim como serviu para a criação dos filhos que não escondem o maior sentimento que têm por ele, o de gratidão!

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aulo Resende

Saulo Resende é advogado e consultor jurídico. Mas quem vê o sucesso no Direito, nem imagina que por pouco ele não foi Médico Veterinário. Apaixonado pela família, defende os valores dessa instituição que considera fundamental para a formação do caráter e cidadania. É discreto, extremamente organizado e entusiasta de dias melhores para o país, sempre acreditando que é possível uma transformação com o resgate de valores esquecidos pela sociedade. Filho de Francisca Decimília Resende e Pedro Paulo Resende. Nasceu em 22 de novembro de 1967, em Lagoa da Prata e tem dois irmãos, Sérgio e Sandro. Teve uma infância cercada de bons exemplos na família e dividida, entre a cidade e a roça. “Minha recordação mais terna é do meu pai numa fazenda. Durante as férias escolares passávamos um ou dois meses lá. Não tinha luz elétrica, nem lampião, era bem rustico mesmo, mas jogávamos futebol, cuidávamos dos animais. Dormíamos e acordávamos cedo”, recorda. Estudou o jardim de infância na Escola da Dona Tilosa e o ensino fundamental na Escola Estadual Jacinto Campos, concluindo o ensino médio no Colégio Nossa Senhora de Guadalupe. Na juventude saiu bastante, assim como todos os jovens daquela geração. Eram tempos animados e com muita festa. “Aqui em Lagoa tínhamos um ritual de passagem para a adolescência que era começar a frequentar o Oeste Estrela Clube, no início dos anos 1980 todo mundo ia para lá. Era festas, um ambiente para beber, conversar e dançar, tempo de paquerar também. E os carnavais no Clube Recreativo? Inesquecíveis”, fala com saudade. Como o pai de Saulo era advogado, natural que ele seguisse este caminho. Porém, o Direito nunca foi sua primeira escolha. “Eu até tive uma primeira opção que seria fazer vestibular para veterinária, mas não passei. Como meu pai era professor e advogado, fiz vestibular para o Direito e me encontrei. Fui estudar na PUC Minas em Belo horizonte em 1988, antes fiz um ano e meio de pré-vestibular no Pitágoras”, destaca. A vida na capital não foi difícil, apesar da saudade de casa, foi morar com os primos. “Não foi muito traumático porque fui criado de uma maneira muito independente. Nossos pais nos prepararam bem para esse natural processo de transição. Fui morar num apartamento de um primo e mais

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Por Fábio Barbosa

quatro primas, sai de minha família e fui para lá, Antônio Castro era um deles”, ressalta o advogado que fez muitos amigos na universidade e vinha visitar os pais frequentemente. “Desde que fui para Belo Horizonte uma das minhas preocupações era ajudar meu pai na minha manutenção lá. Sempre estagiei desde o terceiro período, estudava de manhã e trabalhava a tarde”, conta. Em 1993 Saulo formou em Direito, concluindo assim um ciclo importante de sua vida. Retornou para a cidade e foi trabalhar no escritório do pai. “Sempre troquei muita experiência com meu pai, em especial com assuntos da faculdade. Ele era presente sobre o que estávamos vivenciando, sempre foi um grande parceiro. Escolhi o escritório dele para dar os primeiros passos na advocacia. Foi maravilhosa, uma experiência que trouxe proteção para exercer a profissão e deu todo o respaldo, ele e doutor Maurício do Couto, que é meu sócio até hoje na Couto & Resende Sociedade de Advogados”, diz. “São quase 25 anos de advocacia. Quando me torno advogado de uma determinada empresa ou de uma pessoa vou olhar todo o complexo jurídico envolvendo isso. A minha primeira consultoria foi com o Carlinhos e João Alfredo, sócios na Gominha e Lagoa Moto. Essa primeira experiência marcante foi com eles, isso por volta de 1995. E são clientes até hoje” lembra o advogado. Neste mesmo período conheceu Renata Lobato Castro, sua futura esposa. “A conheci em um desses carnavais no Clube Recreativo em 1993. Ficamos seis anos namorando e resolvemos casar no dia 08 de janeiro de 2000”, destaca. Da união nasceram Isabela Lobato Resende e Miguel Lobato Resende. “Sempre fui muito organizado, comprei meu lote, e construí minha casa. Eu tenho uma postura e concepção muito voltada para os laços familiares, então me preparei para isso. Sou católico e sempre vislumbrei como forma de me realizar como ser humano, ser pai de família. Me preparei para isto de forma racional e responsável. Em momento nenhum eu


pensei para minha vida alguma coisa que não fosse isso. Foi algo tranquilo, muito preparada e refletida, não tivemos pressa para fazer nada, tivemos condições de nos preparar até para termos os nossos filhos”, revela o homem que ainda destaca: “Meus filhos são a razão da minha existência. Eles que me fazem levantar disposto todo dia para trabalhar. Razão pela qual quero cuidar da saúde, estar bem para acompanhá-los. Olho para trás para me inspirar e poder ajudar ele hoje”. Em 1998, Saulo criou seu próprio escritório, o Couto & Resende Sociedade de Advogados. “Desde o princípio e desde o primeiro dia eu tinha, e continuo tendo, uma preocupação, com a excelência de prestação dos serviços e com a condição de estar sempre atualizado e antenado com a evolução do Direito. Isso veio do apoio do meu pai e com sua extrema responsabilidade. Daí as pessoas depositam a confiança em mim e com as pessoas que eu trabalho e estou na janela há 25 anos. Basicamente isso, confiança, responsabilidade, esmero, excelência, cuidado, cautela e muito estudo”, conta o advogado que atende hoje as maiores empresas de Lagoa da Prata. Bom de prosa, Saulo revela ainda que gosta de comer e cozinhar. “Tenho uma mão boa, sabia? Fiz alguns cursos, mas ando muito preguiçoso. Gosto de gastronomia e faço os pratos que aprendi no curso, como filé ao molho mostarda e arroz com bacalhau. Aprendi a fazer com o Tonho, em Belo Horizonte, uma sopa de legumes que fica boa, chamamos de sopa de pedra, você coloca tudo e fica bom”, conta animado o homem que nas horas vagas frequenta a academia, assiste futebol torcendo pelo Atlético Mineiro e mantem sua paixão por motociclismo fora de estrada. Não abre mão de um bom happy hour toda sexta-feira e tira os finais de semana para estar com a família, mas não recusa convites, vai a tudo: casamentos, aniversários etc. “Gosto de estar com pessoas próximas bebendo, conversando e trocando ideia e tudo. E o galo é quase uma religião, a segunda eu diria. Assisto aos jogos no estádio quando posso. Levo os meus filhos e doutrino do jeito que consigo”, brinca. Em 2017, Saulo sofreu duas perdas, a mãe subitamente em 18 de janeiro e o pai, que estava já doente e com Alzheimer, em 07 de fevereiro. Ligado à família ele lembra deste momento com saudade e emoção. “Foi uma experiência absurdamente sofrida e impactante. A despedida é sempre dolorosa, ela cuidava do meu pai, era de uma dedicação... Foi um momento triste, mas como sou uma pessoa de fé, encarei isso como uma situação natural e mesmo sendo difícil procurei de uma forma equilibrada e altiva passar por isso e conviver com essa ausência e saudade. Estamos todos aí, continuamos a luta. Sempre me lembro deles com carinho”, conta ele que perguntado sobre quem admira, não hesita

e coloca seu Pedro Paulo como inspiração. Pai atencioso, seguindo o exemplo que teve em casa, Saulo torce pelo futuro dos filhos. A primogênita é artista, canta e tem o apoio dele. “É uma realização, um dom que eu não tenho. Me realizo nela. Todo mundo que tem apreço pela vida admira a música e isso sempre me encantou. Terá e tem meu apoio caso resolva seguir por este caminho ou não”, conta. Já o filho mais novo, disse querer ser advogado, mesmo assim ele adverte: “Ele já disse que queria ser militar, médico, agora advogado, isso muda muito! Parece que pode ser, mas é ainda muito novinho. Não ponho pilha, mas também não contraindico. Falo para eles que o que quero é que sejam pessoas boas, honestas, trabalhadoras, preocupados com o outro e estudiosas. Mas o que vão fazer em si, isso vão resolver, com toda liberdade”. Ligado ao cenário atual político do país, Saulo, que foi filho de um prefeito da cidade, revela por enquanto não ter pretensões eleitorais, apesar de já ter recebido convites. “Eu não digo definitivamente, não gostaria que fosse. Sinceramente prefiro ajudar de uma forma não por mandato eletivo. Gosto muito daqui. Mas há outras formas de ajudar, participo de conselhos e tentamos fazer um bom trabalho. Acredito que política é uma coisa essencial, Aristóteles já falava que a ciência política se sobrepõe as demais. É a partir dela que se direcionam as demais áreas. Não demonizo a política, é algo essencial para que estejamos organizados em sociedade. Mesmo com virtudes e defeitos”, destaca. Questionado sobre o Brasil ele é categórico: “Tenho convicção que a primeira coisa a ser feita é diminuir o tamanho do estado. A interferência dos entes governamentais na vida privada das pessoas. Eu tenho um medo desse progressismo militante, querendo mudar valores que estão aí, há milênios preservados, em nome de uma revolução que ninguém sabe direito, no geral, qual é o objetivo. Precisamos conservar o que vem dando certo. Claro que tudo evolui, mas nada precisa ser revolucionado todo dia. Gosto mais de um andar menos acelerado. Mais tolerância para se discutir em relação das diferenças. E aos poucos as coisas vão se ajeitando”. Mente pensante e atuante na sociedade ele encerra nossa entrevista deixando uma reflexão sobre a importância do que acredita ser a base da sociedade, a família. “É a chance que nós temos. E não é por outro motivo que existe uma agenda deliberada para pessoas que são militantes para destruir a família em sua essência. O que eu temo é que a família não sobreviva nessas coisas e ela pode ser o agente de mudança, conservação de valores, sem preconceitos e nenhum tipo de interferência. É a célula que precisa estar saudável em nossa sociedade, senão vira câncer. Laços familiares são nossa estrutura, isso feito, se erradia. É muito singelo, mas ao mesmo tempo de complexidade, mas que nunca deixará de ser uma aspiração”, conclui.

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osé Maurício Maciel

Empresário e fazendeiro, 80 anos Filho de José Bernardes Maciel e Maria da Glória Maciel Irmão de Otaviano, Alexandre (in-memoriam), Eugênia, Miguel e Maria Inêz. Marido de Afonsina de Castro Maciel há 55 anos. Pai de Antenor, Maurício, Edson, Edna e Christiano. Avô de José Maria, Miguel, Theo, Letícia, Raquel e Sara. José Maurício é um dos maiores empresário da cidade, responsável pelo lançamento de grandes loteamentos, no que foi pioneiro junto com seu irmão Miguel. Já trabalhou em instituições financeira e órgãos do governo estadual. A vida já lhe passou alguns sustos, como um grave acidente automobilístico e um infarto em que precisou colocar pontes de safena. Mas nem isso abalou seu empreendedorismo. Pelo contrário. Nesses revezes da vida, ele voltava mais forte e com mais dinamismo. Ele nasceu em nossa cidade onde morou até os 12 anos de idade. A casa da família era ao lado de onde hoje é a prefeitura e de frente para o lugar em que reside atualmente. Aos 12 mudouse para BH onde estudou no Colégio Arnaldo. Não cursou nenhuma faculdade. Nunca quis. Seu negócio era ser empresário e autônomo. Aos 16 anos montou uma granja, posteriormente um curtume. Esses negócios foram com parceria e apoio do pai. Ainda jovem foi trabalhar na antiga Caixa Econômica Estadual, onde entrou como gerente e onde trabalhou por 25 anos. Neste tempo, começou também a lançar loteamentos com o irmão Miguel. Alguns dos lançados nessa época são grandes bairros na cidade, como o Marília (que é em homenagem à sua sobrinha Marília), o bairro Glória, o bairro Gomes e outros. Depois que saiu do cargo de gerente bancário, trabalhou em dois órgãos do governo e para tanto, foi morar em Belo Horizonte. As empresas foram a CASEMG e a Secretaria da Indústria e Comércio de MG.

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Seu espírito empreendedor sempre falou alto e nos anos 90 comprou o então lançado loteamento Cidade Jardim, juntamente com o empresário João Gominha. Tempos depois lançou o Santa Eugênia 2, que foi sucesso de vendas e transformou a rua Bahia. Atualmente seu tempo é direcionado à agropecuária, atividade que sempre exerceu e que gosta muito, todavia, não descarta a possibilidade de lançar novos loteamentos, como por exemplo, uma extensão do bairro Cidade Jardim e do Ernestina Bernardes. Nessa região, ele tem uma fazenda, o Casarão, e que parte dele poderá ser loteado em um futuro próximo. Nunca se candidatou a nenhum cargo político, mas reconhece que gosta e acompanha a movimentação política na cidade. Há quem diga que já teve tanta influência quanto alguns prefeitos. É católico e se diz relativamente praticante. A esposa conheceu em um evento de posse do Dr. Carlos Bernardes, quanto este fora prefeito. O namoro começou logo naquela época. São 55 anos de casamento, que aconteceu na Igreja Matriz com festa na casa do sogro. A lua-de-mel aconteceu no Rio de Janeiro, cidade que ele diz ser a mais bonita do mundo e que ele gosta muito. Lamenta nunca ter comprado um apartamento por lá. Na cozinha, se considera um zero à esquerda. Não faz e não sabe fazer nada. E como prato favorito, o tradicional filé bovino. Como tem larga experiência na economia e na política, avalia que o governo do José Sarney foi o pior para o país. Conta que chegou a passar dificuldade para administrar os negócios. Com relação ao atual momento, ele diz achar que está bom, reconhecendo que poderia estar melhor. Acredita que com a Justiça punindo os políticos e grandes empresários, que o futuro possa ser melhor. Acredita e torce por isso. Sr. Zé, como alguns amigos o chamam, é de conversa mansa e quem o vê, com aparência serena e tranquila, não imagina que atrás desta aparência e da estatura mediana, está um homem de visão, um empresário dinâmico e mais que isso, um homem que tem no histórico, ter mudado a geografia da cidade através de seus loteamentos e seus investimentos.

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iguel Bernardes maciel

Por Fábio Barbosa

Miguel Bernardes Maciel é um homem simples que sabe viver a vida e aproveitar o melhor dela. É empresário bem sucedido, pai de família e um apaixonado por peteca, o esporte que lhe fez construir uma quadra em casa, onde recebe os amigos para competições históricas que marcaram gerações em Lagoa da Prata. Muito além disso, construiu loteamentos que se tornaram bairros, ajudando o desenvolvimento da cidade. Filho de Maria da Glória Maciel, a dona Glorinha, e José Bernardes Maciel, o Zezinho, tem cinco irmãos: Otaviano, José Maurício, Eugema, Maria Inês, Alexandre (In Memoriam). Foi criando em uma chácara, onde desde criança aprendeu a ajudar nas atividades do campo. Por ser o filho caçula era constantemente paparicado, especialmente pelo pai. “Meu pais eram muito religiosos e com 10 anos de idade já era coroinha da Igreja de São Carlos Borromeu. Durante o mês de maio, na coroação de Nossa Senhora da Conceição, era o responsável pelos foguetes. Na sacristia após a missa acendi um deles, o estouro foi muito grande, assustei todo mundo. O Padre José Pires que era muito rígido ficou muito zangado, teve que ser controlado pelo meu pai que também estava presente”, recorda Miguel que não foi excomungado, prometendo não repetir a peraltice. O jovem menino estudou no Colégio Monsenhor Otaviano, que mais tarde se tornaria Colégio Nossa Senhora de Guadalupe. Foi para

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Belo Horizonte, onde frequentou o Colégio Santo Antônio e Santo Agostinho. Concluído o ensino fundamental, retornou para Lagoa da Prata e estudou o curso Técnico de Contabilidade e foi contratado por um banco. Nesse retorno reencontrou a prima Mary Alice e a paixão os envolveu. “Desde pequeno eu conhecia ela, quando tinha quatro anos e eu sete, dançamos juntos, acompanhados de outros casais mirins. Assim cresceu uma simpatia entre nós e na mocidade, no Clube Recreativo, teve uma apresentação de minueto e novamente dançamos juntos. Cresceu assim meu interesse por ela e um amigo ajudou com o pedido de namoro. Ela com 14 e eu com 17 anos começamos a namorar e foram oito anos até que nos casamos”, conta Miguel. Do casamento nasceram três filhas: Marília, Cássia e Patrícia. Vieram também os netos que são o xodó do avô! Para morar, o casal construiu uma bela casa na Rua 27 de Dezembro no centro de Lagoa da Prata. Dedicado e sempre entusiasmado com o trabalho, Miguel resolveu que era hora de empreender e com o irmão, José Maurício, investiu no ramo de loteamentos. “Construímos o bairro Marília e o Glória, além da fazenda que já administrava. Sempre gostei de criar gado! Eu e meu irmão tomamos caminhos diferentes nos negócios, mas continuei com a fazenda e hoje uma parte dela é alugada para a Biosev. Também criei o Solar Hotel, um investimento importante para a


cidade e a Solar Presentes, empresa que conto com o auxílio de minha esposa Mary para administrar e minhas filhas” destaca. Miguel também é ligado a um esporte, a peteca. O amor é tão grande, que em sua casa construiu uma quadra, transformando o lugar em um ponto de encontro de amigos, são mais de 50 anos de história. “Quem trouxe o jogo para a cidade foi o Amâncio, um amigo nosso de infância que morou em Belo Horizonte e nos apresentou a peteca. Jogávamos ali na praia artificial que foi construída naquela época”, conta. E os jogos se tornaram a diversão da juventude lagopratense a partir da década de 1960. “Tinha o espaço sobrando no quintal, então resolvi fazer essa quadra para jogar toda noite. A primeira iluminação era de poste de eucalipto. Hoje é de estrutura metálica. Aos 70 anos eu jogo e ainda ganho dos meninos que tem idade para ser meus netos”, destaca Miguel que teve como primeiros parceiros na quadra os amigos: José Maurício, Alair, Carlos Bernardes, João Alfredo, Carlos Ribeiro e eu. Seguidos da segunda geração: Doutor Marden, Doutor Ivan Perilo, Ronaldo Nogueira, Doutor Cláudio, Cláudio Bernardes. E da terceira, nos dias de hoje: Dinho, Flávio, Arlisson, Ailton, Carlos, Everaldo, Tanaka, Renê Mesquita e Júlio César. De jogador de peteca, Miguel também queria praticar outro esporte: voar. Literalmente!

“Doutor Ivan e Marinho Amaral eram sócios em um ultraleve e eu queria entrar na sociedade. Um dia tomei um pouco de instrução e levantei voo sozinho. Foi tudo tranquilo, mas quando eu estava lá no alto, tive de desviar de uma fiação e fiz uma curva 180 graus. O avião foi caindo e despencou no brejão da usina, que era um pântano, comigo dentro. Desesperados o Ivan e Marinho correram para lá e eu estava inteiro, já a aeronave acabada”, conta o homem que não entrou na sociedade, mas teve que custear o valor para recuperar o avião. O caso até hoje é atual e sempre contado nas rodas de aviadores da região, todos acham incrível o desenrolar da história que graças a Deus teve um final feliz. Miguel mantem uma vitalidade baseada no bom humor, inclusive diz ser esta característica uma das principais contra o envelhecimento. É entusiasta da pratica de esporte e ainda joga peteca de vez em quando. Visita a fazenda com frequência e gosta da casa cheia, os encontros com amigos e familiares são a maneira que ele encontrou de renovar as energias, conversar e

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Por Fábio Barbosa

edro Izaías de oliveira

Pedro Izaías de Oliveira, filho de Maria de Oliveira e Alexandrino de Oliveira, nasceu em 02 de fevereiro de 1966, no vilarejo de Esteios, em Luz (MG). É um homem que nunca desistiu de buscar melhores condições de vida, com esforço, dedicação e muito trabalho. Quando criança enfrentou diariamente 6 km de estrada de chão para poder chegar até a Escola Rural, atravessava no caminho um córrego, com água batendo no joelho, tudo isso para poder se formar. Tem sete irmãos: José Antônio, Antônio Luiz, Paulo Elias, João Batista, Jaqueline, Nair e Thiago Alexandre. “A adolescência foi de bastante trabalho, comecei quando tinha 13 anos. Vendia picolé e laranja, engraxava sapato. E com 14 anos tive meu primeiro emprego aqui na usina Luciânia. Concluí o primário e fui trabalhar. Meus irmãos já trabalhavam na lavoura e fui também para corte e cultivo. Andávamos em caminhões pau de arara. Naquela época era o que tinha, fazíamos tudo na enxada. Saíamos de casa por volta das 5h da manhã e quando já era 7h estamos na lavoura, voltávamos por volta de 16h e quando chegava em casa, só dava tempo de tomar um banho e eu ia estudar a noite no Colégio Nossa senhora de Guadalupe”, conta Pedro que concluiu o ensino médio em 1986, já com 22 anos. “Nesse tempo, entrei em uma empresa chamada J Ferreira Engenharia Ltda, uma construtora da área de ferrovias. Fui ajudante na área ferroviária e depois apontador de equipe, que faz o ponto diário e aponta o serviço dos funcionários. Foi nesse período que tiramos a ferrovia que contornava a nossa praia municipal. Como não tinha jeito de ir para a praia, o prefeito e a usina, pediram para Rede Ferroviária tirar os trilhos da área urbana, fazendo um desvio. E, assim, isso foi feito em 1988 e eu passei de apontador de campo para apropriador, que era o responsável pelos apontadores”, recorda. Se destacando na empresa, Pedro também foi ajudante de topografia e no final de 1988 foi transferido para a cidade de Pedro Leopoldo. Ficou um ano e em 1989 foi para o escritório central da empresa em Belo Horizonte. “Vieram aí as primeiras oportunidades e fiz vestibular, os engenheiros me incentivavam a estudar. Fui para o escritório central e lá virei auxiliar de engenharia no setor de orçamento de obras. No mesmo ano prestei meu primeiro vestibular para engenharia civil, mas não passei. Como não deu certo a tentativa, entrei na Escola Técnica Álvaro da Silveira para fazer o

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curso Técnico em Agrimensura. Pouco tempo depois, em 1990, fiz novamente vestibular, agora para Engenharia Agrimensura e passei”, destaca. Trabalhando durante o dia e estudando à noite, foi morar em um barracão nos fundos da empresa. Em 1993, conheceu um amigo que trabalhava na Construtora Mendes Junior e ganhou uma nova oportunidade. “A empresa precisava de um profissional com experiência em medições de campo e faturamento. Mandei um currículo e fui logo aprovado, sendo contratado como assistente técnico 3”, relembra Pedro que foi trabalhar na cidade de Brumadinho (MG) na construção da barragem da Copasa. Em 1994 ele concluiu o curso e em 1995, com a transferência do contrato da obra para a Construtora Melo Azevedo, foi promovido para engenheiro de agrimensura. Neste mesmo período entrou na Faculdade Kennedy, em Belo Horizonte, onde creditou matérias e também se formou em Engenharia Civil. Em 1996 saiu da empresa e no ano seguinte foi contratado pela EBAT para um projeto de uma ferrovia. “Retornei para as ferrovias como engenheiro ferroviário, na cidade de Cataguases (MG). Fiquei lá até 2007 quando a empresa estava passando por uma dificuldade financeira e dispensou alguns funcionários, entre eles, eu”, conta o engenheiro que a esta altura já havia casado com Rosana Maia Alves de Oliveira e tido dois filhos: Isaac e Yasmin. “Conheci o meu sócio, o Nélio, na EBAT em

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2004. Quando sai da empresa descobri que ele havia montado a Pilares e fiz uma visita ao escritório aqui em Lagoa da Prata. Então ele me convidou para estar junto e aceitei. Fizemos muitas obras na região, somos uma empresa diferenciada no mercado. E percebemos em 2010 uma necessidade do mercado e criamos a Pilares Concreto, que atende nossas obras e toda a região”, ressalta o agora empresário que é caseiro e tem rotina pessoal definida entre o Umuarama Clube e sua residência. “Após o trabalho gosto de ir lá, fico com os amigos, faço alguns exercícios e depois vou para casa. Cuido das plantas e do jardim, gosto de estar com a família e todo domingo estou no sitio, volto para lá e recordo o passado”, revela Pedro que ainda deixa uma mensagem para as novas gerações: “Os jovens devem acreditar no potencial deles, independente de ser rico ou pobre, sol brilha para todos. E o tempo todo eles precisam estar se preparando para as oportunidades para quando o cavalo arriado passar eles estarem prontos para montar”. Em Fevereiro 2015 foi fundada a “Monte Santo Locações Ltda” da qual sou Sócio proprietário e, em Março de 2015, deixei de ser Sócio proprietário da “Total Pilares Engenharia Ltda” e “Pilares Concreto Ltda”, passando a exercer a função “Gerente Administrativo” nessas empresas, em Abril 2015, adquirir algumas cotas do “Areal Campo Alegre Ltda”, tornando-me Sócio Proprietário.


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nTônio luciano pereira filho Meu Pai, por Anna Luciana Pereira Gouthier

Meu pai por sua própria natureza - e nada mais - era predestinado à prosperidade. Ele sempre foi muito determinado em seus esforços de ganhar dinheiro. Ainda nos dias de estudante de curso secundário, já economizava ao máximo a mesada que seu pai lhe dava, e assim prosseguiu através de seus estudos universitários enquanto vivia o mais simplesmente possível, para acumular uma poupança para seus planos futuros. A sua próxima ideia foi de comprar pequenos itens, como joias e antiguidades, negociados com pessoas que viviam próximos a fazenda de seus pais, onde passava as suas férias, para vender na capital cada vez que ia de volta para a cidade no início das aulas. E ainda na universidade, o seu próximo empreendimento foi de emprestar as suas economias a juros para seus colegas e conhecidos. E finalmente com esses lucros começou a comprar terrenos e casas em Belo Horizonte, os quais ele alugava para pagar o custo mensal e ter uma renda adicional. Portanto, quando se formou em medicina com a idade de vinte e dois anos, em 1935, já estava extremamente atarefado com a administração de seus negócios. Três anos depois, em 1938 - quando se casou com minha mãe - eles continuaram juntos a economizar tudo que podiam para construir seu futuro. E como os meus pais nunca tiveram interesse em vida social, nós vivemos tranquilamente na nossa chácara, onde através dos anos, todos os dias de semana reuníamos para o almoço em casa, ocasião que meu pai nunca faltou. Mas nos fins de semana reuníamos com parentes ou nas férias viajávamos com primos. Durante a década dos quarenta, os planos de negócios de meu pai progrediram rapidamente com a criação da sua primeira Companhia imobiliária, a precursora da Fayal SA. Isso foi logo seguido pela abertura de seu primeira casa bancária, que mais tarde se tornou o Banco Financial da Produção SA - que um dia teria agências em todo o Brasil. E em 1949, o meu avô - o Coronel Totônio – e o meu pai compraram uma antiga refinaria próximo aa cidade de Lagoa da Prata, que um dia se tornaria a Refinaria e Destilaria de Luciânia. Muitas das pessoas que trabalharam para o meu pai aí permaneceram durante a maior parte de suas vidas produtivas. Então, ele não deve ter sido um mal patrão! Algumas dessas pessoas eram originalmente desconhecidos em busca de uma posição, outros eram amizades da capital ou de ambas as cidades de origem dos meus pais, além dos parentes distantes e dos

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mais próximos. Havia, portanto, um grande número de Rezendes registrados nas empresas, que eram da família de minha avó paterna, bem como Cattapretas e Dayrells - da família de minha mãe, como também muitos parentes do meu avô paterno, aportando vários sobrenomes. Um exemplo notável desses foi Geralda de Queiróz, prima de meu pai do lado paterno, que trabalhou na Fayal até os seus oitenta anos de idade, e era famosa por sua prodigiosa memória. E na usina Luciânia, a pessoa de maior destaque foi sem duvida alguma o Oswaldo Damasceno. Papai e Oswaldo foram dedicados um ao outro por todas as suas vidas. No final dos anos cinquenta, a prosperidade do meu pai foi coroada pela construção de um edifício no centro da cidade, que iria abrigar o banco, seus escritórios e um hotel. O edifício Financial foi o mais alto da cidade por muitos anos por vir. E, portanto, era impossível não perceber os sucessos de meu pai – pelo qual ele era admirado e respeitado por alguns, ou criticado e odiado por outros. Mas a sua energia era ilimitada, e logo abraçou outras oportunidades, à medida que surgiam. Uma delas foi a criação da Cineart SA, uma empresa destinada a possuir a maioria das casas de cinema da cidade - uma posição que nunca foi superada. E em veio uma indústria têxtil, - a Minas Fabril SA. E assim continuou, já na década de sessenta, o seu ritmo frenético de trabalho, mas agora muito preocupado com a situação política do país. Mas mesmo assim continuou a comprar terras em várias partes do interior do estado, e para cada um desses locais desenvolvia-se uma atividade produtiva adequada. Havia o plantio de eucaliptos para madeira; a extração de um tipo de calcita utilizada na fabricação de açúcar; e a queima dos bastões de cana, após o suco ter sido extraído, para ser usado para a produção de energia, entre outras coisas. Nos primeiros anos, a Refinaria Luciânia proporcionou habitação para seus funcionários na aldeia Luciânia, onde todos os requisitos para a população, como escolas e atendimento médico, eram disponíveis. Mas em lugares remotos, como Brasilândia ou Urucuia - ao oeste do Estado na direção de Goiás, o meu pai aos sábados ao chegar sobrevoava a região no seu Piper-Cub, para avisar sobre a chegada do doutor. E no início da manhã seguinte, não só seus trabalhadores, mas também pessoas que viviam nas redondezas faziam fila para ser atendidas pelo Dr. Luciano. E assim

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passava ele os domingos atendendo seus pacientes e dispensando medicação gratuita, do posto médico que havia montado junto a sua casa. Ainda no início dos anos sessenta, meu pai me surpreendeu ao decidir entrar na política, pois eu sabia que ele não gostava da ideia de uma vida pública. Quando eu o perguntei sobre o que causou sua decisão, ele me disse que era o seu dever ajudar a salvar o Brasil de se tornar outra Cuba. O meu pai foi o deputado federal mais votado da história do Brasil até então. Mas em 1967, esta parte de sua vida terminou mal quando meu pai, juntamente com centenas de outros políticos, perdeu seus direitos políticos, o que o deixou devastado por um ato injustificado e ele nunca foi o mesmo depois disso. Os anos setenta o viram de volta na administração de seus negócios, já com uma nova geração de parente trabalhando, inclusive meu irmão. Mas, do meu ponto de vista, meu pai já não era mais o mesmo, e frequentemente nervoso e irritado. E nos fins dos anos oitenta foi diagnosticado com câncer no cérebro, passou por uma quimioterapia devastadora e recuperação parcial, antes de sucumbir de novo. No dia em que ele morreu tivemos que apressar o seu enterramento, o quanto legalmente possível, para evitar tumulto. E felizmente, conseguimos, pois quando a imprensa chegou tudo já havia acabado. Então, aqui estou, tentando apresentar minha versão da história de meu pai, porque ele merece que seja contada, já que ele foi uma pessoa boa e caridosa, de quem muitas pessoas se lembram com respeito e carinho. Muitas vezes eu penso que houveram duas fases principais da vida de meu pai. A primeira foi a que durou até o fim dos anos sessenta, quando ele tinha cerca de cinquenta e cinco anos de idade. Este era o pai que eu adorava e com quem eu identificava tanto. A segunda parte da vida do pai, do meu ponto de vista, começa desde a década de setenta até o fim. O que aconteceu para mudá-lo? Muitas coisas. Um definitivamente foi ter tido seus direitos políticos cassados, o que foi muito ofensivo para ele porque amava o seu país. Mas outras mudanças devem ter sido o resultado das pressões da vida e da idade. E muitas pessoas ainda vivem que podem testemunhar as minhas palavras. ©ALP Gouthier. Parte de meu próximo livro ‘A Guerreira de Bronze’.


z

ébio fernando andreola

Idade: 49 anos Nome dos pais: Graciano Andreola e Italia Scariot Nome dos irmãos: Nevio Caetano, Navilio Jose, Helena, Luiz Carlos Nome da esposa: Lindinalva Gonçalves de Morais

Por Fabricio Azevedo 01-Onde nasceu e onde passou a infância? Sananduva, Rio Grande do Sul

06- Qual sua formação acadêmica? Administração de Empresas.

02- Quando e por que conheceu Lagoa da

07- Quando conheceu sua esposa, quando Prata? se casaram, onde e como foi o casamento? Em 1988 conheci Lagoa da Prata, meu Conheci na balada do Oeste Estrela Clube. irmão comprou a siderúrgica e com isso vim Casamos em 16/12/2012 na Igreja do Rosário e trabalhar aqui. apesar de uma cerimônia simples, foi um marco muito importante em nossas vidas. 03- Você se lembra qual foi a primeira impressão que teve na cidade? 08- Quando montou sua primeira Tive uma ótima impressão da cidade, empresa? moderna, de espaços amplos e bonitos, população Em 1994 montei esse comércio e continuo alegre e acolhedora. Fui muito bem recebido. até hoje. Estamos com 24 anos de empresa. vida?

04-Qual foi o seu primeiro trabalho na

Fábrica de móveis Todeschine em Bento Gonçalves/ RS.

09- Em que áreas você atua, como empresário, no momento? Comércio atacadista para vendedores, loteadora e outros.

05- E em Lagoa, qual foi seu primeiro 10- Como você avalia o atual momento da trabalho? economia do Brasil? Companhia Siderúrgica de Lagoa da Prata. Vivemos em severa crise em razão dos

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demandos gorvenamentais mas, acredito em um cenário promissor para 2018. 11- E o atual momento político? Vivemos momentos muito conturbados, como nunca visto antes, realmente nos enoja, precisamos de reformas urgente e muita consciência na hora de votar. 12- Qual sua relação com política? Gosto de acompanhar os fatos, pois esses nos influenciam no dia a dia, deveríamos ser mais atuantes e cobrar dos políticos atitudes, que vão de encontro com os anseios da população. 13- Qual sua relação com religião? Não tenho. 14- Sabe cozinhar? Qual seu prato favorito? Não sei cozinhar, no máximo preparar o churrasco que é minha comida favorita. 15- O que te estressa? Existem muitas coisas no nosso cotidiano para nos estressar, decepção com as pessoas, doenças, falta de tempo e problemas que não conseguimos resolver, isso nos deixa ansiosos e estressados. 16- E o que você gosta de fazer para relaxar? Uma conversa com amigos, tomar um Chopp, assistir séries ou filmes e viajar, conhecendo lugares e culturas novas. 17- Você tem arrependimentos? Não! Não tenho arrependimentos, tudo na vida tenho como aprendizado e crescimento. 18Você praticou ou pratica algum esporte? Já joguei peteca, futebol e handebol. Atualmente pratico academia e corridas. 19-Você tem algum projeto profissional para breve? Sim, sempre procuro me manter com algum objetivo em mente para executar em um futuro breve. 20-Um ídolo? Warren Buffett

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R

Por Fabrício Azevedo

ommel

rodarte de oliveira (in memoriam)

Bon vivant, intelectual e pioneiro no comércio de moda de grife na cidade! Quem o conheceu, sabe que Rommel foi apreciador de boas coisas da vida. Educado, de fala mansa e sempre com um sorriso gentil. Gostava de se vestir confortavelmente. Era livre. Filho único do Sr.Lázaro Santos de Oliveira e da Sra. Conceição Rodarte Oliveira, ele teve infância tradicional na cidade e na adolescência mudou-se para Belo Horizonte, onde começou a cursar faculdade de Ciências Biológicas na UFMG, todavia, optou por abandonar os estudos para se dedicar a projetos que já tinha em mente. Naquela época, além de estudar, chegou a trabalhar em uma loja de produtos náuticos e sempre comentou que adorava. Tinha uma Kombi, que também, contam os familiares, adorava o veículo. Anos depois, em 2004 concluiu o curso de Ciências Contábeis pela UIT, campus Lagoa da Prata. Nos anos 80, montou com uma sócia, a lendária boutique Luxúria. Nos dados fiscais, chama-se Terceiro Pecado. A loja, de nome Speed Boat, vendia algumas grifes badaladas da época e era sinônimo de bom gosto. Com o tempo, a sociedade foi desfeita e a loja passou a ser de calçados, exclusiva da marca Arezzo. Depois de alguns anos a loja foi fechada e Rommel passou a ajudar a mãe e a esposa na parte contábil do Colégio Águia de Prata, de propriedade da família, cuja mãe foi fundadora. Rommel casou-se com Maria Inês, mais conhecida, como Inês do Águia, com quem teve dois filhos, Mônica, formada em Engenharia Civil e Henrique que está cursando Direito e no momento faz estágio na Comarca local. A esposa, conheceu apresentada pela amiga Claudine Valadão, no antigo Oeste Estrela Clube. Inês morava em Belo Horizonte e começou a frequentar a cidade. O encontro no clube aconteceu em 1985 e com pouco tempo começaram a namorar. O casamento aconteceu 3 anos depois, no civil, em Lagoa e, no religioso, em Brasília, onde a maior parte da família da noiva residia. Como escrevemos no início, era apreciador das coisas boas da vida e por isso mesmo, sempre gostou de um

bom uisque, de um charuto e de boa comida. Era frequentador assíduo dos melhores bares da cidade e quando gostava de um, era fiel e frequentava o mesmo por anos. Sabia e gostava de cozinhar, principalmente comidas atípicas e gostava de inovar no cardápio. Como era de bom gosto, era eclético, mas preferia comidas bem elaboradas. No plano religioso, não frequentava igrejas, mas tinha sua fé e seus princípios que eram ligados aos preceitos religiosos. Definitivamente ele não era de rodas de muita gente. Gostava de poucas pessoas por perto. E as pessoas que de perto o conheciam, o adoravam. Pouca coisa o irritava e segundo sua esposa, um erro grotesco da língua portuguesa, aliado à uma relativa falta de educação, como, por exemplo, chegar a uma loja e ser atendido com “- E procê”, para ele, era motivo de nem olhar o produto e dar as costas. Outra coisa que quase o tirava do sério, era o fato de sua mãe, ao preencher os cheques e deixar relatórios de pagamentos da escola para serem feitos, colocava os nomes das funcionárias como “Tia Lé, Tia Lina, Tia Jaque, Tia Lelê, etc.”. Ele realmente ficava possesso, mas era uma irritação que passava rápido e ficava até divertida. Ele partiu aos 58 anos, vítima de um infarto fulminante. Deixou saudades e muitas histórias. E por falar em histórias, ele gostava de contá-las aos amigos. E contava com requintes de detalhes. A pressa não era sua companhia. Pena que a vida o levou cedo. Caso não tivesse partido, seguramente estaria numa dessas esquinas da vida, vendo o tempo passar, curtindo seu drinks e contando seus “causos” para um que passa, para outro que chega.

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F

Por Beatriz Vasconcelos

austo

rezende oliveira

Fausto Rezende Oliveira foi o décimo prefeito eleito de Lagoa da Prata (1967 - 1971) e teve como vice Otacílio Miranda. Entre várias obras importantes que fez, a Praia Municipal é o destaque eterno para a cidade. Na sua lista de inaugurações constam o Campo Municipal, a Praça Chico Silveira (perto da Embaré), Escola Chico Rezende e as primeiras casas populares. A criação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) também se deu no mandato de Fausto Rezende com total infraestrutura no sistema de captação e distribuição de água tratada. Houve, então, uma grande melhoria da qualidade e quantidade da água, e foi nessa época que iniciou o tratamento pela cloração. Antes de ser prefeito, Fausto foi vereador por dois mandatos. Naquele tempo este cargo não dava direito a salário, só trabalhava nele quem realmente queria ajudar no desenvolvimento da cidade. Ele era funcionário da Usina Luciânia, homem de confiança do Dr. Luciano, e lá ficou por mais de 30 anos, gerenciando o supermercado. A arquiteta Patrícia Rezende, filha do ex-prefeito, conta que quando ele se candidatou para a prefeitura pensava que não seria eleito, e tinha aceitado aquele convite de candidatura porque precisavam preencher uma vaga no partido - inclusive o concorrente da outra chapa era seu grande amigo. “Meu pai não estava se empenhando nas campanhas, ninguém achava que ele ganharia. Numa conversa, o dr. Luciano lhe aconselhou: ‘se você é candidato, faça direito a sua campanha’. Aí o papai começou a visitar as comunidades da usina, porque lá ele era muito conhecido. Foi esse pessoal que fez a grande diferença na contagem dos votos”, disse Patrícia. Ao assumir a prefeitura, Fausto começou a pensar na Praia Municipal e apresentou a ideia ao dr. Luciano, porque a área da lagoa era propriedade dele. O empresário apoiou a iniciativa e cedeu o terreno para o município. A

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primeira razão desta praia, de acordo com Patrícia, foi porque existia ali na orla duas casas que tinham suas praias. Enquanto as famílias destas casas nadavam na lagoa, em seus espaços privativos, muitas pessoas ficavam olhando por entre as cercas de bambu e tinham vontade também daquela recreação. Contrataram um profissional famoso de Belo Horizonte para fazer o projeto, e tiveram que arrumar uma quantidade enorme de areia para fazer a praia. “Meu pai tinha um senso de estética muito apurado. Fazia questão de beleza e qualidade em tudo que executava, e acertou quanto chamou o arquiteto que fez o projeto. Foi um trabalho muito inteligente, que respeita a natureza e destaca a sua beleza. Escolheram tijolinhos no chão para não agredir a natureza, buscaram fora da cidade coqueiros especiais para serem plantados, criaram um efeito muito bonito com bancos curvos e mesas redondas. Tinha o restaurante, foi planejado para que o seu visual não competisse com a natureza. Ou seja, o valor estético era todo direcionado à natureza”, conta a arquiteta. O sr. Fausto chegou a ver as obras da reforma construindo o teatro que leva o seu nome, mas faleceu antes da inauguração. “Meu pai gostava muito de ver o progresso da cidade. Sempre foi assim, preocupado com o desenvolvimento, e ficava feliz a cada conquista. Por isso, quando não podia mais andar sozinho, eu saía de carro com ele todos os dias, passeando pela cidade. Na praia ele observava atentamente as obras da reforma, mas partiu antes de elas serem concluídas e sem saber que o seu nome seria dado ao teatro”, conta Patrícia, e lembra que a outra obra mais marcante para o Sr. Fausto foi a do Campo Municipal. “A praia e o campo foram as duas obras que deram mais orgulho ao meu pai. O estádio também foi feito com o melhor que havia na época. Vieram profissionais renomados para colocar o gramado, e foi tudo construído com muito zelo”. Fausto Rezende viveu com muita alegria e cuidado com a família. Patrícia relata que ele era sempre positivo, e nem quando esteve doente reclamou de alguma coisa. Gostava de festas, reuniões com todos os filhos. Os seus aniversários eram comemorados de forma especial, a família acordava com a Fanfarra regida pelo Sr. José Coutinho. “O papai fazia aniversário no dia 7 de setembro e todos os anos, quando tinha a Fanfarra, o Sr. José Coutinho a conduzia primeiro para tocar em frente à minha casa em sua homenagem”. Fausto Rezende foi casado com Maria Fernandes de Oliveira e teve dez filhos: Maria do Carmo, Eugênia, Graça, Regina, Elizabete, Fausto Júnior, Magda, Rômulo, Patrícia e Gustavo.


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Por Fabricio Azevedo

aniel

Gontijo de melo

Daniel Gontijo de Melo é advogado e empresário do setor imobiliário, filho de Angélica Melo e Baltazar Gontijo. Morou nos Estados Unidos e a experiência lhe rendeu lições que até hoje estão presentes em sua vida. É um homem que acredita em sonhos e corre atrás deles! Onde você nasceu, como foi sua infância? Eu nasci na melhor cidade do mundo, Lagoa da Prata! Minha infância foi muito divertida, sempre tive excelentes amigos e meus pais sempre fizeram de tudo para nossa família. Como foi e ainda é lidar com a perda de seu irmão Matheus? Sem dúvidas é a maior dor da nossa família, hoje tenho muitas saudades do meu querido irmão, mas acredito que um dia encontraremos novamente! Você tem um só filho e demonstra abertamente seu amor por ele. Como é ser pai? Posso afirmar que tenho a melhor família do mundo! Meu filho é tudo para mim, não sei viver minha vida hoje sem a presença dele. Espero viver muito anos para que eu possa contribuir com seu desenvolvimento e tenho uma única missão na vida que é fazê-lo feliz! Você hoje é um advogado de sucesso, mas antes, exerceu outras profissões. Fale sobre quais e onde trabalhou? Comecei aos 14 anos minha vida profissional na agência de viagens que hoje é da minha família. Aos 18 anos fui morar nos Estados Unidos, onde trabalhei em diversas profissões, tais como lavador de carros, cortador de grama e ajudante de serviços gerais. Retornei ao Brasil, onde formei em Direito na PUC Minas e hoje com 12 anos de profissão como advogado tento desempenhar meu trabalho da melhor forma possível. Nesse momento também trabalho com o mercado imobiliário na região de Escarpas do Lago. Quando viveu nos Estados Unidos, como era sua rotina? Vou tentar resumir uma rotina de muito trabalho, acordava às 7h da manhã para ir para o lava jato, retornava para casa às 18h, às 20h eu trabalhava no supermercado com limpeza noturna e terminava os serviços por volta de 3h da manhã. Durante o período que trabalhei nos Estados Unidos tinha uma meta financeira a ser cumprida. Durante os finais de semana tentava aproveitar com os amigos para tomar uma cerveja. Valeu a pena ter morado na América? Fabrício, se eu pudesse escolher uma vida novamente, gostaria que tudo se repetisse, não existe experiência melhor de vida! Quando conheceu sua esposa, há quanto tempo estão casados e como foi o casamento? Conheci minha esposa a mais ou menos 15 anos, vamos fazer 10 anos de casados em abril de 2018. Nos encontramos quando ela foi comprar um pacote de viagem para Salvador, na Bahia, dois meses depois já estava namorando com ela e posso afirmar que tenho a melhor esposa do mundo e com certeza a melhor mãe que eu poderia ter para meu filho.

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Além da advocacia, você também tem atuado no ramo imobiliário, inclusive, alugando imóveis em Escarpas do Lago. Quando e porquê entrou neste segmento? Sempre tive um sonho de adquirir um imóvel na região de Furnas, em 2012 fui visitar meu amigo Dr. Ivan Perillo e ele me ofereceu um lote ao lado da casa dele, não pensei duas vezes e comprei. Três anos depois comprei a casa que o Dr. Ivan utilizava com sua família, hoje tenho 6 propriedades em Escarpas do Lago e faço um trabalho legal no ramo de locação por temporada e compra e venda de imóvel na região. Acredito que ganhei muita credibilidade no setor, pois ofereço um produto com muita qualidade, tratando meus clientes com muito respeito e carinho. Gostaria ainda de agradecer o apoio que tive do meu amigo Ivan e gostaria de publicamente agradecer a oportunidade de negócio. Quando adquiri os imóveis do meu amigo, várias pessoas não acreditaram na minha nova empreitada, porém com a credibilidade que o Ivan e sua família tiveram na minha pessoa, consegui honrar meus compromissos e esse imóvel foi a porta de entrada principal de um negócio que não para de crescer! Há cerca de 20 anos, você participava de concursos de beleza. Sonhava em ser modelo? (Risos). Essa não está valendo, foi apenas para descontrair. Pode desconsiderar! Essa vou desconsiderar também! (risos) Juntamente com sua família, vocês entraram no negócio de turismo quando compraram a 4 Encantos Turismo. E partir daí, não parou de viajar. Qual você considera um destino imperdível e qual um lugar que, em sua opinião, deixou a desejar? Já viajei para diversos lugares do mundo, viagem é muito de gosto pessoal, porém o lugar que acredito ser imperdível é Las Vegas, nos Estados Unidos. Não consegui lembrar de um lugar que não voltaria mais, pois gosto de tudo quando se fala de viagem. Há quem diga que você tem interesse em ingressar na política local. Isso procede? Não procede! Meu pai foi político durante 16 anos, eu particularmente não gosto muito de política. Qual sua bebida e prato favorito? Com certeza Whisky com energético e adoro arroz, bife e feijão. O que te deixa irritado? Quando faço negócios com pessoas sem compromisso. E o que você faz para relaxar? Tenho um barco em Escarpas do Lago, naquele momento eu esqueço de todos os meus problemas e vou curtir minha família e amigos. Como gostaria de ser ver daqui há 20 anos?Apenas feliz!


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Por Fabrício Azevedo

agno

rodrigues rocha

“Magno sempre foi um apaixonado pela vida, pela família e pela simplicidade. Amava o seu pedacinho do paraíso, o sítio no Fundão, lugar onde se escondia do cansaço e onde tinha a maior alegria em receber os amigos nos finais de semana.”

Magno Rodrigues Rocha nasceu e viveu em Lagoa da Prata, cidade que ele sempre teve muito orgulho em morar. Passou sua infância na Vila Luciânia e, ainda criança, com apenas doze anos, já enfrentava um fardo muito pesado para a sua idade, trabalhando como carregador de sacos de ração nas dependências do prédio da Usina. Mais tarde iniciou sua carreira no escritório, onde se profissionalizou e trabalhou até a sua aposentadoria. Como trabalhava na área de informática, e era um visionário, no início da era digital foi o primeiro a oferecer os serviços da internet em nossa cidade, criando a Netwise, em 1998. Seu espírito inovador, sua dedicação e compromisso com seus clientes conquistaram a maioria dos usuários da região, fazendo de sua empresa um dos grandes destaques de nossa cidade. Os filhos, que herdaram do pai o espírito empreendedor, estão cuidando com muito carinho e competência do patrimônio por ele criado, investindo em novas propostas e oferecendo o que há de melhor em tecnologia avançada, como a internet via fibra ótica e o que há de mais inovador em conexão no país, dentro das possibilidades da nossa cidade. Magno sempre foi um apaixonado pela vida, pela família e pela simplicidade. Amava o seu pedacinho do paraíso, o sítio no Fundão, lugar onde se escondia do cansaço e onde tinha a maior alegria em receber os amigos nos finais de semana. Para ele, as coisas

sempre aconteceram muito depressa, nos momentos mais marcantes. Começou a trabalhar muito cedo, casou-se jovem, foi pai aos vinte e poucos anos, avô aos quarenta, empresário de sucesso antes dos cinquenta. E também foi embora cedo demais. Seu nome estará sempre ligado ao progresso de Lagoa da Prata como o primeiro provedor de internet da região e pela continuidade e crescimento da sua empresa nesse ramo. Além disso, ainda trouxe a Cacau Show para adoçar ainda mais a nossa cidade, uma deliciosa inovação na área comercial. Magno merece estar na lista dos grandes homens que contribuíram para o crescimento de nossa cidade. Foi o primeiro a colocar Lagoa da Prata em conexão com o mundo através da internet, um passo certeiro rumo ao desenvolvimento tecnológico. Saudoso para os amigos, como um companheiro para todas as horas. Inesquecível para a família, querido por todos e insubstituível nas horas de alegria, em que sempre era o centro das atenções. Talvez porque no fundo soubesse que seu prazo era curto e que a vida valia a pena ser vivida intensamente, principalmente entre aqueles que o amaram em vida e que o amarão para sempre, apesar da ausência.


Por Fábio Barbosa

M

arcelo

Agostinho Pereira

Marcelo Agostinho Pereira é um empresário do ramo da construção civil, que empreendeu no setor hoteleiro e ainda tem sonhos para construir. Filho de Maria do Carmo Teixeira Pereira e Miguel Agostinho Pereira, nasceu em 17 de dezembro de 1964, no Rio de Janeiro/RJ e tem seis irmãos: Alexandre, Miguel, Marco, Anderson, Adriana e Paulo. O pai trabalhava na Aeronáutica e as primeiras lembranças da infância são das mudanças de cidade que a família precisou fazer. “Eu era muito pequeno quando fomos morar em Petrópolis, aos três anos viemos para Lagoa da Prata. A recordação mais marcante dessa época é do jardim de infância, lembro da professora, dos amigos, de tudo. Morávamos aqui no Hotel Alvorada que meu pai arrendou e administrava”, recorda Marcelo que guarda com carinho na memória tudo que viveu naquele tempo. “A cidade, na minha visão de criança, era apenas um núcleo, que circulava a igreja. Na adolescência lembro que jogávamos futebol na praia, nadávamos, sempre estávamos fazendo alguma coisa”, conta o empresário que estudou na Escola Estadual Jacinto Campos e Colégio Nossa Senhora de Guadalupe. Esforçado desde cedo, conseguiu o primeiro emprego na Cerâmica Santana. Também vendia picolé e foi contratado pela Usina Luciânia, como rurícola braçal. Não demorou muito e o jovem funcionário se destacou, saiu da lavoura, passou pelo setor de limpeza e em dois anos era auxiliar administrativo da diretoria. Em 1985, para complementar os estudos, a empresa custeou um curso de técnico em Segurança do Trabalho. Mas no ano seguinte ele queria mais e resolveu que era hora de mudar de emprego, ganhou uma oportunidade em uma empreiteira. Nessa época, durante uma visita, ele conheceu Maísa Resende Amaral, com quem começou a namorar e anos mais tarde se casaria, tendo dois filhos: Sávio e Henrique. Em 1987 foi trabalhar na Embaré, onde ficou até 1988, quando foi trabalhar na Cimento Itaú. Com a experiência que teve nesta empresa, decidiu que deveria empreender e montar seu negócio. “Em 1991 fundei a Combrita junto com meu sócio Roberto Figueira. Essa sociedade durou 16 anos e separamos por estarmos com poucas perspectivas de crescimento do mercado na época. Segui e fui surpreendido com uma onda de crescimento econômico no início dos anos 2000. A área da construção civil viveu um tempo áureo” destaca o empresário. Em 2010 ele concluiu um sonho antigo, assim como pai que foi dono de hotel, ele construiu a Pousada Parador da Figueira, na Rua da Rede Ferroviária, em estilo colonial e com detalhes tipicamente mineiros. “Essa ideia surgiu quando eu e meu sócio começamos a falar em encerrar a sociedade. Ele tinha o direito de escolher ficar ou não na Combrita. A princípio iria, mas depois desistiu e com essa mudança tive de me dedicar à empresa, mas não abandonei este sonho e aos poucos fomos construindo tudo aqui”, lembra Marcelo que por sugestão da esposa batizou a pousada com um nome histórico. “Queríamos tratar a nossa pousada com o nome dos dormitórios onde os bandeirantes descansavam no período colonial. Eram lugares no meio do nada, seguros e capazes de refazer as forças dos viajantes. Por isso eram chamados de parador”, conta o empresário que ainda reforça que a nova empresa foi uma das suas melhores escolhas. “É um lugar onde

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a gente se reabastece, porque percebemos que o serviço que entregamos aos hóspedes supera sempre a expectativa. É um reconhecimento frequente por um trabalho que é realmente muito detalhista e cuidadoso” reforça o homem que também é apaixonado por gastronomia e, com frequência, realiza eventos por lá. Na Combrita o trabalho continua e, com a ampliação dos seguimentos de atuação da empresa, os negócios aumentaram. “Somos líderes no comércio de agregados para construção civil, apesar do número de concorrentes ter crescido nos últimos anos. Como estratégia, decidimos investir em algumas segmentações e diversificações. Já atuávamos em pré-moldados de concreto e iniciamos no ramo de mineração e extração de areia. Investimos em transporte, com veículos e montamos uma usina de asfalto frio. Também nos lançamos na prestação de serviços de máquinas pesadas e estamos construindo uma usina de concreto. E nosso mais recente projeto é um loteamento em São Gotardo/MG que é sucesso de vendas”, revela. Marido dedicado e pai sempre presente, Marcelo define a família como tudo que precisa. “Eu me realizo neles. Na minha vida, não sei se tive tempo para parar e pensar muito, porque sempre trabalhei. Sempre quis que eles tivessem aquilo, que as conquistas que tivemos, podem proporcionar”. Para criar os filhos confessa que se inspira na dona Maria do Carmo e no seu Miguel. “Minha mãe era uma administradora do lar, no exato sentido da palavra. Com poucas economias ajudou a fazer o que pode para sete filhos. Meu pai era aposentado e não tinha grande salário. O que ele pode nos dar foram livros e exemplos de opinião e filosofia”, fala com orgulho o homem que sem querer, nem saber, foi morar exatamente no terreno onde um dia foi a casa dos seus avós. “Moro onde foi a casa da minha avó Maria. Só fiquei sabendo isso no dia que meu pai morreu e um dos meus tios veio me visitar. Quando ele viu que era aqui, disse que lembrava de como foi a infância deles”, conta. Marcelo gosta de conversar e política é um dos temas que mais domina. Tem opinião forte que expressa sem receio. “É deprimente este momento que estamos vivendo, as organizações estão consumindo suas economias e ativos para se manterem diante de tudo que está acontecendo. Empresas com 50 anos de fundação estão evaporando. É um tempo vergonhoso quando avaliamos a atuação dos políticos, responsáveis diretamente pela desigualdade social, desemprego e má prestação do serviço público”, afirma o empresário que recorda uma frase de incentivo do pai, que ainda hoje é atual diante de todos os desafios que temos. “A criatividade é mais importante que a inteligência, eu não sabia, mas ele estava plagiando o Einstein. É a prova de tudo, criatividade sempre pode ser aplicada em situações adversas que você tem o tempo todo, é preciso obstinação”, lembra o homem que ainda tem o sonho de criar uma fábrica artesanal de queijos e uma granja de galinha caipira. “Quem acredita sempre alcança”, encerra Marcelo parafraseando Flavio Venturini e Renato Russo.


V

Por Fábio Barbosa

aldeci

Salviano da Silva

Valdeci Salviano da Silva é um homem de negócios, que desbravou o mundo aprendendo lições e encontrou em Lagoa da Prata o lugar ideal para construir seus sonhos. Empresário do ramo da construção civil e entusiasmado com o setor, investe na cidade e tem grandes projetos que prometem intensificar o crescimento vertical nos próximos anos. Filho de Maria do Carmo Silva e Manuel Joaquim da Silva, nasceu em 11 de outubro de 1968, em Bom Despacho (MG) e tem quatro irmãos: Valdineu, José Antônio, Vanderlei, Luzia e Márcio. “Perdi meu pai aos 12 anos de idade e aos 17 minha mãe. Sou o mais velho dos irmãos e tive sempre essa responsabilidade” conta Valdeci, que morou a infância e início da adolescência na Fazenda Jaracatiá, no distrito de Engenho do Ribeiro. Estudou até a oitava série na Escola Maria Guerra e logo em seguida foi morar em Belo Horizonte, onde ganhou o apelido que o acompanha até hoje, “Cachorrão”, por causa da fama de garanhão e conquistador. “Cheguei a fazer o curso de contabilidade, mas não concluí, fui então trabalhar como assistente financeiro da Industria Metalúrgica de Autopeças da FIAT”, conta. Foram dois anos no serviço até que ele percebeu que não era aquilo que queria, pediu dispensa e criou sua própria empresa, a Indústria de Blocos Pré-moldados e Construção. “Fiz uma fábrica de lajes, onde também fazíamos arrimo, fundações de casas e edifícios. Atuei nesse ramo por 10 anos. Depois meus irmãos que já estavam na Itália, trabalhando também no ramo de construção, me chamaram investir na Europa”, revela o empresário que mudou de país. Na Itália, mais especificamente em Roma ele trabalhou na construção de prédios modernos e restaurações no centro histórico. “Era 1998, quando comecei a trabalhar, tive a honra de estar ao lado do engenheiro Cabido e arquiteto Sodi, que são ícones daquele país. Trabalhei prestando serviço para grandes empresar como FIAT, Bulgari e Gucci, restaurando as sedes deles. Nosso trabalho incluía tanto a fachada, quanto o restauro interno e modernização. Também atuei nas construções à beira mar”, revela Valdeci, que não teve dificuldade de adaptação por ter estudado bastante sobre a cultura italiana. “Meu pai e meus tios já mexiam com construção civil, sou autodidata na engenharia e gosto muito dessa área”, conta. Com a experiência e grandes conquistas, resolveu que era o momento de retornar ao Brasil e em 2008, foi quando conheceu Solange Dalfior e teve os quatro filhos: Paloma, Valentina, Ilari e Valdeci Junior. Ao retornar escolheu Lagoa da Prata para criar a SPL – Empresa de Construção Imobiliária. “Faço todo tipo de prédio e, neste momento, estamos construindo oito casas do Minha Casa, Minha Vida, dois prédios no bairro Paradiso e iniciando a obra do Edifício Van Gogh, que terá 28 apartamentos. Também vamos construir o Edifício Ludulo, com 32 apartamentos de alto padrão. Em 2018 e 2019 virão mais projetos”, destaca o empreendedor que diz que a cidade tem potencial para o crescimento vertical. “Lagoa da Prata tem esse perfil e estamos apenas começando. As pessoas

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querem segurança e conforto e nossas obras tem isso, além, é claro, de uma estrutura diferenciada”, reforça. Apesar da crise econômica, Valdeci é categórico: “Isso afetou um pouco, tivemos de nos adaptar ao novo cenário. Fomos em busca de parcerias com os empresários da cidade e incluímos eles nos nossos projetos, daí veio auxilio de todos os lados, do concreto armado à fabricas de tecidos, de lojas de cortinas até fábrica de vidros”. Torcedor do Cruzeiro, mas sem fanatismos, Valdeci tem como hobby pedalar. Apesar da agenda cheia de compromissos, sempre encontra tempo para curtir os filhos e preparar algum prato na cozinha. “Sei cozinhar e grande parte é com influência italiana. Gosto de fazer macarrão e comer com um bom vinho, também italiano”, completa. Vaidoso e preocupado com a aparência, não nega que usa cremes para a pele, mas não revela os produtos, mantendo em segredo a fórmula que muitos homens sempre lhe questionam. É católico, mas que vai pouco à igreja e sempre prefere pequenas reuniões em casa, onde tem um espaço gourmet, criado especialmente para receber os amigos. A residência por sinal é faraônica, 1.100 metros quadrados feitos com todo o capricho para receber a família. “Quero terminar de ver meus filhos estudando, vê-los felizes e com todas as vontades realizadas. Sou muito grato sempre a todos aqui em Lagoa da Prata, afinal em pouco tempo fui acolhido e muito bem. Como estive um tempo no exterior imaginava que demoraria a me encaixar na sociedade e aqui não tive nenhuma dificuldade”, encerra o empresário que adotou esta cidade como seu lar e faz questão de contribuir para o desenvolvimento da mesma.


E

Por Fábio Barbosa

guimar

Eguimar José Lopes é um empresário do ramo de tecnologia que acredita no potencial de Lagoa da Prata e investe na cidade, seu ponto de partida para o Brasil inteiro através da World System. É homem apaixonado pela família e prioriza estar com a esposa e o filho, seguindo os ensinamentos que aprendeu em casa desde pequeno com os pais. Filho de Maria José Lopes e José Eustáquio nasceu em 04 de abril de 1974 e tem três irmãos: Elder, Edson e Ernane. Quando criança brincava com os primos e amigos, além de pescar com o avô, o seu Gumercindo. Na adolescência estudou na Escola Estadual Nossa Senhora de Guadalupe, onde fez o curso de Técnico em Contabilidade. “Minha adolescência foi ótima, comecei a estudar música aos 10 anos de idade. Com 12 anos já participava de apresentações musicais, tocava em serestas, carnavais e bandas como free lancer. Era trompetista, minha adolescência foi dedicada à música”, conta Eguimar que ainda recorda como foi sua primeira apresentação: “O maestro tirou a gente da sala de aula e fomos tocar na praça da igreja, sem ninguém estar sabendo. Ele levou todo mundo para fazer uma apresentação para ninguém e de repente começou a chegar um monte de gente. Depois disso surgiram convites, éramos chamados para tocar nas cidades vizinhas, a Banda Lira de São Carlos fez sucesso”. Pouco tempo depois, ele foi convidado para participar da banda Swing Geral onde ficou por cinco anos.

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josé lopes

A vida musical era intensa, então Eguimar resolveu encontrar um trabalho. “Meu primeiro emprego, como office boy, foi numa loja e depois trabalhei em um barzinho. Fui então trabalhar na Auto Peças São Francisco e eles começaram a investir em tecnologia e aquilo começou a me chamar atenção. Curioso do jeito que eu era pedi para trabalhar nos computadores, disse que estava estudando, mas só tinha ido em uma aula do curso de informática. Cheguei lá e mal sabia digitar, mas dei um jeito, estudei bastante e aprendi. Comecei então a trabalhar na área de informática e participei da implantação do novo software da empresa”, revela. Em 1994, empenhado em aprender cada vez mais e fazer sempre o melhor, ele foi convidado para trabalhar na World System. “Fui trabalhar meio com o pé atrás, mas fui, era tudo novo na época para mim. Depois de quatro anos virei sócio e em pouco tempo já era o proprietário. Nesse intervalo fiz minha graduação, o curso de contabilidade me ajudou muito porque desenvolvemos sistemas para gestão de empresas e isso precisa de base de cálculos, coisa que eu já sabia”, lembra Eguimar, que formou em Sistema de Informação pela PUC Minas, de Arcos (MG). O empreendedor também sempre foi muito dedicado à igreja, foi inclusive da equipe de música da paróquia de São Carlos Barromeu. Nestes encontros com o grupo de jovens, conheceu a esposa, Marília Viana Lopes. “Desde que a vi fiquei super interessado,


mas ela era muito tímida, então me aproximei. Namoramos um tempão e casamos em 1998. Minha família é a base que me impulsiona sempre a lutar pelos meus objetivos, pelo trabalho, etc. Se não fossem eles talvez eu não tivesse conseguido chegar até aqui”, destaca. “Quando soube que a Marília estava grávida do Matheus, meu filho, tomei um susto. Naquele dia tinha sido um dos piores no trabalho e foi um dos melhores da minha vida. Percebi que ia te que me esforçar mais, o nascimento dele me deu mais força para persistir e superar todas as dificuldades”, revela. Com a família ao lado, Eguimar ampliou a empresa que de cinco funcionários passou para 23 colaboradores atualmente, que atendem clientes de Minas Gerais e outros estados. “Trabalhamos com locação de sistemas de gestão para empresas do comércio em geral, dando assessoria fiscal, gerencial e todo o auxilio possível para o cliente”, ressalta o empresário que acredita que a desburocratização do país através de sistemas integrativos é a grande solução para dar agilidades aos processos. “O Brasil esta evoluindo muito na parte fiscal e de documentos digitais e quero tornar o meu software o mais necessário possível para gerar lucros para as empresas e ter uma ferramenta útil e prática. A missão do desenvolvedor de sistema hoje é muito complexa. Você quer trabalhar com seu cliente uma estratégia e o governo não dá tempo para atendermos eles direito, mudam as leis de uma hora

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para outra. Para você ter ideia, 60% da minha mão de obra é para atender as mudanças que são feitas na legislação e precisamos atualizar o sistema. De 2017 até 2018 estamos tendo uma mudança fiscal grande e isto interfere no nosso trabalho. O governo precisa de mais clareza, principalmente, entendendo que quanto mais informatizar, mais fácil será descomplicar”, reforça. Nas horas vagas, o empresário não gosta de pensar em trabalho, prefere um bom churrasco e um happy hour com a família e amigos. Gosta de viajar, mas nada muito longe, valoriza as praias do litoral do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Aprendeu a cozinhar e segue as receitas que encontra na internet e diz que todo mundo elogia. Não toca mais, mas ainda ouve músicas da MPB e Rock Clássico, preferindo sempre elas às bandas e cantores contemporâneos. Queria que o filho Matheus gostasse de música, mas como músico ele é um ótimo ouvinte. Com bom humor, apenas um assunto lhe tira o sorriso, a morte da mãe em 2016. “Era muito apegado a ela e foi uma morte muito repentina, é uma coisa que me marcou muito, até hoje”, conta homem que logo em seguida diz que pretende continuar trabalhando e sempre se atualizando profissionalmente. Questionado sobre um plano para o futuro, ele responde rapidamente: “Quero viajar mais com minha família”. E assim encerra nossa conversa com a certeza de que a história de Eguimar ainda está em ampla construção.


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taviano de oliveira Por Fábio Barbosa

O advogado Otaviano de Oliveira é um contador de histórias. Articulado com as palavras é um exímio orador, além de profissional da mais alta estima, reconhecido como personalidade de Lagoa da Prata, apesar de ter nascido em Santo Antônio do Monte (MG). Filho de Zilá de Oliveira e Antônio Nestor de Oliveira, tem oito irmãos: Antônio, Afonsina, Domitildes, Altivo, Pedro Paulo, Maria Helena, Maria da Conceição e Maria Lúcia (in memoriam). Formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, fundou uma biblioteca em sua cidade natal e aqui vem contribuindo ativamente para a cultura e política. É um homem com uma memória invejável, característica que lhe fez criar um blog chamado “Ao Vencedor as Batatas”, que surgiu como protesto contra o poder judiciário. A história envolve a multinacional Nestlé, que deveria pagar uma indenização para a COOPERSAM, mas venceu na justiça o processo e teve a ousadia de distribuir bombons no fórum. Essa página é apenas uma das muitas que é possível encontrar, com riqueza de detalhes, na página de Otaviano, que registra sua vida em um diário virtual. Torcedor do Atlético Mineiro, é um homem simples que gosta de conversar e relembrar uma trajetória inspiradora que rende livro, novela e filme. É mineiro e bom de prosa, literalmente! Nossa conversa na redação da Folha de Lagoa durou mais de duas horas e acreditem, tem muito mais, além do que conseguimos escrever aqui. Doutor Otaviano, é um prazer conversar com o senhor e que bom que aceitou nosso convite para esta entrevista. Quais as lembranças da sua infância? Nasci em Santo Antônio do Monte, no dia 12 de setembro de 1936, na Capão Amarelo. A primeira lembrança que eu tenho é de ter entrado num grande carro de boi, caído na frente da roda, que passou sobre meu corpo, na região da barriga, sem lesionar nenhum órgão. Eu estava querendo ajudar meu pai, tinha cinco anos, guiando os bois. Ele não consentiu, pela minha pouca idade, mas num descuido dele entrei no carro e aconteceu o acidente que quase me levou à morte. Mas não fiquei longe dos carros de boi. Fui levado ao médico e nada de grave foi constatado, exceto a marca que ficou em meu corpo. E os estudos? Aos sete anos ingressei no Grupo Escolar Amâncio Bernardes que fica há uma distância de 6 km da fazenda. E ia e voltava a pé, talvez por isso tenha bom preparo físico nos meus 81 anos. Trabalhava e estudava. Tinha muitos amigos, mas naquela época já havia bullying e fui vítima disso. Por morar na roça era discriminado e chamado de “roceiro”. Certa vez, revidei a esse insulto, junto com meu primo José Vicente, e aplicamos uma boa surra num dos colegas mais agressivos que, por ironia, era irmão do Juiz de Direito. Por isso nossos pais foram chamados ao Fórum. O engraçado é que perante o magistrado e o promotor, recebemos severas advertências dos pais. Mas em casa eles se manifestaram favoráveis à nossa reação. A partir daí passamos a ser mais respeitados. Ninguém mais nos chamou de roceiros. E você continuou em Santo Antônio do Monte

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após esse período? Era o ano de 1950 quando completei a quarta série do ensino fundamental. Não havia colégios na cidade, por isto, pedi ao meu pai para estudar em Itapecerica. Levei, inclusive, o diretor do colégio, Padre Herculano, para me ajudar no convencimento dos meus pais. Apesar das dificuldades financeiras, acataram o meu pedido diante do que foram convencidos. Em um canto da sala havia um irmão mais velho, chamado Antônio, que havia concluído a escola primaria com mais brilho do que eu e que trabalhava na roça por quatro anos. Neste momento ele disse ao meu pai: Se o Otaviano for, eu também quero ir. Se para estudar um estava difícil, imagina a dificuldade de meus pais para manter dois filhos em colégio interno? Ainda assim, concordaram. Acabamos indo para o Ginásio São Geraldo, em Divinópolis. E você se saiu bem no novo colégio? Nada! Tomei uma bomba no ensino médio, logo no primeiro ano. Meu irmão seguiu para Belo Horizonte e iniciou estudos no curso de contabilidade. No ano seguinte, em 1956, fui para BH. Como foi a vida na capital? Chegando lá, manifestei ao meu irmão que meu desejo era o de fazer o curso científico, que me possibilitasse entrar numa escola superior. Diante disso, meu irmão Antônio abandonou o curso de contabilidade e juntos, nos matriculamos, no Colégio Arnaldo, o mais conceituado da época, onde inclusive estudou o doutor Luciano Pereira Filho. Nossos pais, que continuaram na roça já não podiam bancar nossos estudos. Fizemos concurso para trabalhar no Banco Belo Horizonte e passamos. Era uma vida difícil. Tal como hoje, os bancos exigiam muito dos funcionários. As sete horas entravamos para o colégio. As aulas terminavam às 11h. Tínhamos uma hora para tomar banho, almoçar, pegar um bonde e chegar ao banco ao meio dia. Uma correria! Apesar de todas essas dificuldades, ao final de três anos, meu irmão, ingressou na faculdade de medicina da UFMG. No ano seguinte, realizei meu sonho de ser advogado. Ingressei na faculdade de direito da UFMG. Antônio não teve como continuar trabalhando, dada a intensidade dos estudos da faculdade de medicina. Você seguiu o curso e ainda ganhou uma nova oportunidade profissional. Me conte isso! Quanto a mim, voltei à aquela jornada de estudos e trabalho, no City Bank. Onde fui trabalhar a convite, sem concurso, e com salário triplicado em comparação ao banco anterior. Sem falsa modéstia, fui escolhido pela competência, mas com o tempo percebi que lá trabalhavam pessoas com razoável aparência, incluindo duas ex-miss.


E concluiu o curso? Formei em Direito em 1966. Poderia ter optado em ir para os Estados Unidos, como funcionário do banco, mas tomei o rumo de Lagoa da Prata, para onde vim a convite do doutor José Antônio Guadalupe, ser professor de língua portuguesa. Aluguei uma sala para instalar meu escritório de advocacia, mas um anjo protetor, doutor Célio de Carvalho, convidou-me para trabalhar como sócio em seu já conceituado escritório. Lembra qual foi seu primeiro júri? O primeiro júri é como um batismo de fogo para qualquer advogado. Aceitei o primeiro convite que me foi feito pelo Dr. Jaime Henrique Abreu, MM. Juiz de Direito da Comarca de Santo Antônio do Monte. Era um processo dificilíssimo, rejeitado pelos colegas da comarca, mas tomei como desafio de “Marinheiro de primeira viagem”. Sem falsa modéstia fiz uma defesa memorável, lembrada inclusive pelo Heleno Nunes, que fez relato dos itens da defesa, cujo histórico preciso contar. O réu residiu em Divinópolis de onde foi expulso pelos cunhados, sob ameaça de morte, pelas covardes agressões contra a esposa e seis filhos. Veio parar em Lagoa da Prata e aqui iniciou um romance com uma prostituta, que era uma ótima mulher, apesar dos desencantos da vida mundana. Era bonita e trabalhadora. Iniciaram um namoro e foram viver juntos como marido e mulher. Ela o respeitava como se esposa fosse. Sebastião, no entanto, não perdeu sua agressividade, apesar de fazer pregações religiosas como falso pastor. Buscavam lenham no cerrado por que não tinham fogão a gás. Nas idas e vindas passou a agredir com extrema violência a nova companheira, cansada de tanto apanhar, separou-se dele. Por ser uma mulher bonita e trabalhadora, logo arrumou outro namorado, desta vez, da cidade de Arcos (MG). Era um senhor de 80 anos, mas vigoroso, que, no entanto, havia se aposentado por problemas cardíacos. Não

demorou muito e marcaram o casamento. A noiva preocupada com o ex namorado de Divinópolis, disse ao futuro esposo: Olha João, o normal é que o casamento se realize em Lagoa da Prata, mas lhe confesso que tenho medo que o Sebastião possa aprontar no dia do nosso casamento. Combinaram então casar-se na igreja da cidade de Arcos. Cuidaram do detalhe do casamento, mas foram ingênuos ao aceitarem convite de familiares para uma festa. Fatidicamente, após o casamento os noivos alugaram um fusquinha e vieram para os festejos oferecidos pelos familiares da noiva. Ao descer do carro, João trajava terno branco e estava muito elegante. No que caminhou alguns passos foi seguido por Sebastião que lhe desferiu uma facada na altura do coração. A festa acabou para desalento da noiva e tristeza de familiares e amigos. João foi levado ao hospital, ainda com vida. Mas morreu dois dias depois. Foi aberto inquérito e feita a denúncia pelo promotor de justiça da Comarca de Santo Antônio do Monte. Da peça acusatória constava que o réu deveria ser condenado a 30 anos de prisão, por que matou um idoso indefeso, por motivo fútil e traiçoeiramente. Só agravantes contra o réu, mas graças aos nossos argumentos de defesa, Sebastião saiu do Fórum livre e voltou para casa. Você, caro leitor, há de perguntar: quais foram seus os argumentos de defesa? Cumpre esclarecer que fui nomeado pelo meritíssimo juiz, logo nada recebi de honorários da parte do réu que era desgraçadamente pobre. Previamente, investi em pesquisas. A primeira providência foi verificar a necropsia. Minha surpresa foi verificar que dos autos não constava a imprescindível necropsia, o único documento capaz de provar as causas da morte. Constatei também que a vítima contava 80 anos e que se aposentou por problemas cardíacos. Chegou o dia do meu primeiro júri. Minha saudosa e querida mãe estava no primeiro banco para assistir o desempenho do recém-formado advogado. Confesso que havia uma enorme expectativa sobre o meu trabalho, mas principalmente pelo destino do réu que havia matado de forma covarde um pobre velhinho. O júri foi cercado de expectativa e nervosismo. De um lado, o doutor Lazaro, um promotor de justiça austero e vigilante. Do outro lado, um advogado novato, sem qualquer experiência em júri e diante de um processo cujo réu era um homem cruel. Resumimos nossa defesa cobrando do Ministério Público, a ausência da necropsia. Aleguei também que a denúncia estava errada, por que falava em homicídio qualificado, quando na realidade se tratava de lesão corporal seguida de morte. Aleguei também que o laudo médico, único documento existente nos autos atestava que a faca havia penetrado apenas 4 cm, próximo a clavícula. Como advogado, havia acrescentado aos autos documento assinado por dois médicos da cidade, informando que a distância que vai da clavícula ao coração é de 13 a 14 cm. O réu foi absolvido, por que se tratava de crime impossível e que a vítima havia morrido de susto, quando deparou a enorme quantidade de sangue no seu terno branco. Finalmente aleguei também que em caso de dúvida quanto do dolo, deve favorecer o réu. Finalizando, Sebastião foi absolvido por votação de quatro a três pelo corpo de jurados. Casou? Fui casado com Eisaurinda Sotes Borges e tivemos quatro filhos: Otaviano Junior (médico do Galo), Ana Cristina (Mestra da UFMG), Aida Mireille (Arquiteta) e Graziela Flávia (Médica Anestesista). Sete netos. Casamos em 02 de maio 1970.

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Como é sua relação com os filhos? A minha relação com filhos e netos é a mais prazerosa possível. Não medimos esforços para educá-los. Vendi todo o meu patrimônio para isto. Hoje tenho apenas uma casa onde moro e um carro. Meus netos são como gota d’água na folha de “inhame”, como disse o saudoso Cícero Mateus Borges, em entrevista que me concedeu. Adoro todos! E não lhes corrijo nada, sigo a máxima de que os pais educam e os avós deseducam. E você namora? Ninguém vive só. Nem Robinson Crusoé o conseguiu. Uma coisa é certa, sempre fui muito feliz com as namoradas ou companheiras que tive. Do que você mais se orgulha? Ser o fundador da Biblioteca Pública de Santo Antônio do Monte quando ainda era estudante universitário. Em Lagoa da Prata, fui professor da Escola estadual Nossa Senhora de Guadalupe até me aposentar em 1991. Fui fundador e diretor do Colégio Municipal José Theotônio de Castro, que chegou a ter 2 mil alunos matriculados e se tornou referência em educação no oeste mineiro. Fui fundador e sou o atual presidente da COOPERPRATA que chegou a faturar 2 milhões por mês, com apenas uma funcionária. Hoje temos captação de leite superior a 50 mil litros de leite diário. É a única cooperativa do Brasil que tem o compromisso estatutário de distribuição anual de sobras (lucros). Se a cooperativa não der lucro seus diretores não receberam honorários. Seus projetos atuais? Meu projeto atual é de reabrir o Instituo Federal de Minas Gerais, que representa a possibilidade de os jovens de Lagoa da Prata terem os melhores cursos profissionalizantes do país, além de cursos superiores, sem qualquer custo e com muitos benefícios. Eu entendo que foi o maior desacerto do atual prefeito que se recusou comprar um imóvel, de 70 hectares, que lhe sugerimos por 350 mil reais, sob a alegação de que não tinha recursos. Posteriormente entrou com um projeto na Câmara de Vereadores para comprar um terreno pantanoso (brejo) por 6 milhões e 300 mil reais. Considero as duas atitudes como altamente prejudiciais à educação dos jovens de nossa terra.

através do apoio dos deputados: Tiago Ulisses (Estadual); Caio Narcio (Federal), atual presidente da comissão nacional de educação, bem como, o deputado Fábio Ramalho, vicepresidente da câmara dos deputados. Sua ligação com os esportes... Sempre gostei de praticar esportes, embora o único título conseguido foi o de vice-campeão de futebol de salão de Lagoa da Prata. Minha maior alegria é a de ter meu filho, Otaviano Junior, como médico do Atlético Mineiro, meu time de coração. Gosta de política até hoje... Gosto de política e fui vice-prefeito de 1989 a 1993, na chapa encabeçada pelo saudoso Lucas Antônio de Resende. Fui campeão do 5º Torneio Leiteiro de Lagoa da Prata. E recebi medalha de ouro do INCRA como Produtor Modelo, no ano de 1981. E o que deseja para Lagoa da Prata? O que mais eu desejo para nossa cidade é que o povo seja feliz, porque conforme dizia o saudoso amigo e exprefeito, Pedro Paulo Resende, “Lagoa da Prata nasceu para ser grande” Conclusão, uma cidade só será grande quando houver escolas de qualidade. Fechar o IFMG representa um retrocesso para os jovens que perderam a oportunidade de ter uma faculdade federal, sem custos e de altíssima qualidade.

Esperança. Graças a Deus e ao idealismo de cidadãos comprometidos com a educação o IFMG deverá ser reaberto,

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Teixeira Malta

“O conhecido Jaime Pinta Roxa” Data de nascimento e de falecimento: 28/03/1941 - 05/09/1988 Nome dos pais: Ademar Teixeira Malta e Marfisa Teixeira Rodarte Nome dos irmãos: Tomáz, Maria, Edinho, Benjamim, Conceição, Vicente, Nair, Eurico, Marta e Toninho. Nome da esposa: Terezinha de Bessas Malta Nome dos filhos: René, Eduardo, Erasmo (inmemorian) e Diego Nome dos netos: Pedro, Ana e Lucas

Jaime nasceu em Arcos (distrito de São Simão, atual município de Japaraíba). Passou a infância por lá e na Fazenda da Estiva (Lagoa da Prata). A adolescência passou em Lagoa da Prata. Estudou na Escola Jacinto Campos, tendo feito somente até a 4ª série. Morou em Belo Horizonte durante os primeiros anos após se casar para trabalhar. Foi comerciante, trabalhou como representante comercial de uma fábrica de telhas, além de ter tido uma frangolândia e uma granja de frangos. Jaime ficou casado com Dona Terezinha por 16 anos. Casaram-se aqui na cidade, em 1972, na Igreja Matriz de São Carlos Borromeu. Não era político, mas tinha bom relacionamento com todas as correntes políticas de sua época. Foi um homem religioso que fazia questão de frequentar a missa todos os domingos.

Torcia pelo Atlético-MG e na juventude foi jogador de futebol amador, sendo campeão pelo Laprata no 1° Campeonato Municipal, disputado em 1964. Sabia cozinhar e seu prato favorito era bem mineiro: Arroz, feijão, frango, quiabo e angu. Sempre foi de hábitos simples e estar com os amigos jogando buraco era uma coisa da qual ele gostava muito. Era totalmente expansivo! Ficaram famosos os seus ”causos” em que ele gostava de pregar peças nos amigos e até em quem mal conhecia... Todos levavam na esportiva, pois conheciam o jeito dele. E se divertiam muito com isso! “Pinta Roxa” foi um bom esposo e um excelente pai. Quem o conheceu recorda-se dele com muita saudade, mesmo com pouco tempo que passou entre nós. Deixou exemplos de honestidade, caráter e principalmente de levar a vida com alegria e conquistando amizades sinceras.


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Por Fábio Barbosa

dailto

dos Santos

Adailto dos Santos, o Leão dos Vidros, é um homem simples e batalhador. Filho de Rosa da Conceição Santos e Aristides Delfino dos Santos, nasceu em 05 de setembro de 1962 e tem seis irmãos: Aresi, Elza, Silvana, Oclésio, Gleide e Marluce. Desde criança sempre ajudou nas despesas de casa e nunca desistiu de conquistar uma vida melhor. Todo o esforço que teve foi recompensado com muitas conquistas, vencer todos os desafios não foi fácil, mas desistir nunca foi uma palavra do seu vocabulário. “Eu fui criado na roça com seis irmãos e ajudava no que podia. Aos sete anos sempre estava acompanhando meu pai. Mudamos para a cidade de Moema, foi um período difícil, trabalhar era tudo que podíamos fazer. Em 1969, nos mudamos para Lagoa da Prata e meu pai foi trabalhar na Usina Luciânia. Eu vendia laranja e picolé na rua, na semana santa, sempre vendia velas nas procissões e também fui engraxate. Todo o dinheiro que eu ganhava era para ajudar em casa”, conta Leão, que estudou na Escola Estadual Alexandre Bernardes Primo, Escola Estadual Jacinto Campos e Escola Estadual Virgínio Perillo, onde concluiu a oitava série e por precisar trabalhar, não teve como estudar mais. “Comecei a trabalhar em um depósito de pão e logo depois, com 12 anos, fui para a usina, cortando cana e capinando. Fiquei seis anos na lavoura, era muito cansativo. E foi de lá que surgiu o meu apelido: Quando tinha 15 anos trabalhava com meu pai que era feitor das turmas, ou seja, ele coordenava as tarefas. Havia uma escala de trabalho que era definida em quadros e tínhamos

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um terreno grande para capinar, ninguém quis fazer aquilo, por estar muito sujo. Meu pai era rigoroso, mandou que eu fosse. Eu fui e limpei tudo, os demais trabalhadores ficaram surpresos com meu desempenho, então ele disse que eu era meio leão e por isso conseguia ter tanta disposição. Daí ficou o apelido, começaram a me chamar de Leão”, revela. A vida na lavoura não era só de intenso trabalho, havia tempo para diversão. Era comum, após o turno, os trabalhadores jogarem bola no meio do canavial, nas estradas da usina. Era a forma que encontravam para abstrair de alguma forma todo o sacrifício diário daquela jornada. “E no futebol você sabe que o “mais ruim” vai para o gol né? Assim foi comigo, joguei por muitos anos nessa posição e acabei me destacando como goleiro”, conta Leão, que jogou futebol de campo e salão por muitos anos e foi campeão municipal com o time Lagoa Futebol Clube, além de conquistar vários outros títulos com o time Ki Biscoito. Com 18 anos, o jovem jogador foi convidado para trabalhar em uma madeireira, sem pensar duas vezes, e querendo melhores condições de vida, foi e executava vários serviços na empresa, das entregas até carregar e descarregar caminhões, aprendendo assim noções de marcenaria e direção de carro. Por ser também muito dedicado à igreja, participava dos grupos de jovens e conheceu a primeira esposa, com quem teve dois filhos: Cibele e Ravi. Também é pai de Amanda, de outro relacionamento. Na marcenaria,


conheceu um amigo Vilmar Pereira, que havia trabalhado como vidraceiro, e começaram a trocar algumas ideias. Pensando no futuro, falou com os patrões que queria montar seu próprio negócio e foi incentivado. Em 1987 iniciou então sua empresa, para isso vendeu uma moto e juntou todas as economias que tinha. “A primeira loja foi na Avenida Getúlio Vargas. Vilmar também veio trabalhar na vidraçaria. Foi meu colaborador por muitos anos. A experiência não foi fácil, mas tive ajuda dos meus antigos patrões. Eles pegaram uma obra de casas populares para fazer e eu fiquei com a parte de instalações de vidros do projeto. Trabalhava muito, sempre fui muito esforçado. Ficava na empresa até a noite, sempre procurando cumprir prazos e fazendo o nosso melhor. Estamos no mercado há 30 anos”, ressalta Leão. Após mudança na vida pessoal, separou-se e casou novamente, com Marli Aparecida da Silva Santos, com quem teve mais dois filhos que são os gêmeos, Sara e Gabriel. Em 2014, perdeu o filho Ravi em um acidente de moto, uma recordação que ainda incomoda o pai, que ao tentar falar do assunto, silencia. “Ele é muito inteligente e esforçado, observa-se, que começou apenas com sua força de vontade e seu trabalho e tenha conseguido montar uma empresa bem estruturada, como a Leão dos Vidros. As coisas que faz e as ideias que tem são sempre perfeitas”, fala com orgulho a esposa Marli, que trabalha com ele e faz questão de acompanhá-lo em todas as decisões. “Marli sempre foi uma companheira esforçada e está comigo em todos os momentos e tem me ajudado muito”, destaca Leão. Ele também já fez outros empreendimentos, mais preferiu focar na vidraçaria, trabalhando no que realmente gosta. Não joga mais futebol e vem pedalando com um grupo de amigos, sempre sendo incentivado por sua filha Cibele. Depois de todos esses anos, ele não perdeu o vínculo com suas raízes e na Estancia São Francisco, pedacinho de terra que comprou para matar a saudade do campo, fica feliz da vida. Lá cozinha um frango caipira e gosta de tomar um bom vinho com a esposa e os amigos. “Família é tudo, você tem que valorizar, amar e fazer de tudo para manter essa união. Porque família unida não tem crise que abale, união e amor sempre. E quando penso em futuro, quero uma vida tranquila com eles ao meu lado”, encerra Leão.

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Por Beatriz Vasconcelos

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arlos BraSIL

Personagem importante da história contemporânea de Lagoa da Prata, o engenheiro arquiteto Carlos Brasil Guadalupe, conhecido como Lalinho, atua fortemente na defesa da cidade em relação à geografia e ao meio ambiente. É membro dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente (Codema) e da Cidade (Concidade). No caso deste último, é o órgão colegiado responsável pelas deliberações relativas ao Plano Diretor – que orienta e planeja o crescimento da cidade e determina as normas a serem seguidas com relação às construções no município. Você atuou muito nos trabalhos de elaboração do Plano Diretor da cidade. O que mais motivou esse empenho? “Antes de ter o Plano Diretor, tínhamos um grupo de pessoas - eu, Maria Carmem Perilo, a Patrícia Rezende, o Fernando Sasdelli, e alguns outros profissionais de urbanismo – com a intenção de fazer um plano para Lagoa da Prata. Mas sem apoio era difícil, e tinha um custo alto. Então, no mandato do prefeito Zezinho Ribeiro, mesmo período do mandato do presidente Lula, surgiu o Ministério das Cidades. O governo federal fez a recomendação para que as cidades com mais de 20 mil habitantes criassem o Plano Diretor. Aí abraçamos firmemente a causa, porque estava na nossa frente a oportunidade que precisávamos para pôr em prática as questões de urbanismo que estávamos discutindo”. Como foi a participação das outras pessoas? “A cidade inteira ajudou, e tinha vezes que apareciam cerca de 400 pessoas nas reuniões. O Zezinho conseguiu uma equipe técnica especializada neste assunto, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para gerir os estudos. Mas depois de tudo pronto, as pessoas foram sumindo. Claro que tem os que gostam de participar mais ativamente, como eu, por exemplo. Fui o primeiro presidente do Conselho da Cidade

Guadalupe, o lalinho

– reeleito para um segundo mandato. No entanto, estamos precisando muito da participação popular para fazer as coisas andarem de acordo. Como você avalia atualmente o desenvolvimento urbano de Lagoa da Prata? Lagoa da Prata tem um planejamento muito bom desde o seu início, com o traçado das ruas. São ruas largas, arborizadas, e você enxerga longe. É uma cidade muito bem arejada porque não temos tantos prédios. Se fossem muitos, eles fariam sombra e atrapalhariam a circulação de ar. Mas nós temos uma grande extensão de terras, e eu não sou contra novos loteamentos, porque a população cresce e precisa de mais terras. Mas é aí que entra o principal do Plano Diretor. A cidade tem que crescer de forma ordenada. destaca?

Das nossas belezas naturais, quais as que você

Lagoa da Prata possui uma característica bem diferente das demais cidades da região. Nós temos áreas para fazer parques que ninguém mais tem. Temos o Parque dos Buritis (av. José Bernardes Maciel) com cerca de 80 mil metros quadrados; o Parque da Lagoa da Prata (contorno da lagoa) com 720 mil metros quadrados; o Brejão (rua Alagoas indo para Usina) que poderá ser um parque com média de 2 milhões de metros quadrados. Lá havia uma lagoa que foi drenada, mas ela pode ser recuperada e então serão 200 hectares de lagoa mais a área de preservação permanente (APP). Se nós preservarmos bem, não teremos falta de água nunca porque temos muita área verde e as veredas. Pense no Central Park em Nova Iorque, com 2 milhões de metros quadrados, como ele é valorizado lá. Aqui nós temos áreas para fazer parques com extensão similar ao Central Park (Brejão e Lagoa Verde). O meio ambiente é extraordinariamente a nosso favor.

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Por Antônio Oliveira

rancisco

Xavier de Oliveira

Um patriarca. Sem dúvida, essa seria a palavra mais apropriada para definir o Sr. Francisco. Afinal, teve oito filhos, adotou mais um, abençoou seus 16 netos e, por enquanto, já somam na lista mais cinco bisnetos. O mais velho já cursa faculdade de Direito, em Uberaba. E, após ficar viúvo de D. Teresinha, em 2005, foi presenteado com mais três filhos e dois netos de sua namorada, D. Lourdinha, juntos há mais de oito anos. Os agregados, que vieram fazer parte da família, entre genros, noras e demais designativos, já são mais de 25. Quando se reúnem, a conta chega a 60 pessoas. Já fica difícil acolher tanta gente na casa onde vive em Lagoa da Prata há 45 anos, principalmente nas reuniões de família, quando todos comparecem. Mas, apesar do aperto, transparece toda a sua felicidade com a grande prole e nunca se apresenta de mau humor. Pensa num homem bonito... É o Sr. Francisco. Antigamente, chamava atenção mais pela beleza física. Hoje, encanta também pela alma, pelo esplendor dos anos, pela harmonia desconcertante das rugas. Homem de belo porte, sempre foi cobiçado pelas moças de Santo Antônio do Monte, sua terra natal, e das redondezas. Com seus 1,79m de altura, olhos verdes, porte atlético e elegante, teve seu coração fisgado pela então normalista Teresinha. Sempre desembaraçada e de gênio ímpar, Teresinha não se deixou levar pelos rígidos costumes da época e, dizem, foi ela quem abordou o Sr. Francisco para começarem o namoro, sob os olhares incrédulos das outras pretendentes, menos atiradas, coitadas. Do alto de seus sábios 88 anos e depois de uma vida inteira dedicada à vida na fazenda, localizada na região das Grotadas, onde plantou e colheu o sustento de toda a família, ainda encontra motivação para não ficar parado. Hoje adora, principalmente, cuidar de suas hortas e galinhas - agora na cidade - fazer a feira e o supermercado, ajudar no preparo do almoço (inclusive sua leitoa pururuca assada é famosa em toda a região), participar semanalmente da conferência dos vicentinos, missa e adoração, tratar dos

seus passarinhos que vivem soltos na natureza, do seu cachorro chamado “Prejuízo” (adotado da rua depois de sofrer um atropelamento), dirigir, pescar, contar tantas histórias pelas quais passou nesta vida, jogar o animado truco com os amigos no salão do Crediprata e, aos finais de semana, namorar. Sim! Ainda tem disposição e traquejo para a conquista. Recentemente ainda se dispôs a aprender sobre tecnologia e, diariamente, se achega curioso do aparelhinho de “Wi-Fi” para melhor ajustar seu WhatsApp, checando religiosamente as mensagens recebidas no grupo da família, que leva seu nome: “Família do Chico”. Sabendo ser muito amado por todos, segue amando vida afora. É um homem de hábitos muito simples, contudo, de gosto e princípios refinados. Penso que, dentre tantas qualidades, o maior exemplo deste admirável ser humano seja sua honestidade. É impensável para ele levar vantagem sobre qualquer pessoa e fica inconsolável quando outros o fazem. Queira ou não, é uma questão puramente de caráter, tão em falta nos dias de hoje.


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osé Vidal

de castro, o conhecido “zé Pequeno”

Elegante, educado, discreto e bem-sucedido! Antes de tudo, ele é considerado um homem bonito. Desses um pouco acima da média e que chama a atenção por onde passa. Os cabelos ficaram grisalhos cedo e lhe imprimiram, segundo a classe feminina, um charme a mais. Sim, ele tem pinta de galã, mas isso é muito pouco perto de seu histórico. Aos 69 anos, José Vidal, conhecido como Zé Pequeno, é um homem íntegro, trabalhador e de prosa mansa e ponderada. Ele não é de baixa estatura, daí, fica incompreensível o apelido, que na verdade é porque ele tinha um primo que também se chamava José e o apelido, naturalmente era Zé. Esse primo era mais alto que ele. Assim, para diferenciar, o primo continuou como Zé e ele, como Zé Pequeno. Casado com a empresária de moda Rosângela Tormim, ele tem três filhos: Thalita, Mário Henrique e Thamila. Os xodós da família, no momento são os netos Lucas e Clara. Seus pais, José Camões de Castro e Maria Silva de Castro são falecidos e deles, tem ótimas recordações. É irmão de Maria Ângela e Meire. Zé tem andado meio cabisbaixo. O motivo

é que a filha caçula, Thamila, foi morar na Europa. Cabisbaixo mas feliz por ela também estar feliz e seguindo sua vida com o namorado que mora na Itália. Empresário do ramo atacadista ele já atuou em diversas áreas e é pioneiro do que chamamos de “rifeiros”. Foi nos anos 80 que ele entrou nesse ramo e começou a ganhar dinheiro e construir seu patrimônio. Viajou muito para São Paulo e para o Paraguai para buscar mercadorias e revender para os viajantes que iam para todo canto do Brasil. Caseiro como poucos, ele até viaja, mas não esconde que prefere ficar em sua casa ou em sua fazenda. Para não fazer feio, eventualmente, se aventura em companhia da família e de amigos próximos, como o casal Miguel e Mary Maciel. Nasceu no Capoeirão e teve uma infância típica da zona rural, convivendo com amigos e primos. Alguns desses, presentes em sua vida até os dias atuais. A adolescência passou em outra fazenda, na casa da avó Maria. Com relação aos estudos, chegou a começar

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faculdade de Engenharia, mas abandonou no segundo período. Como todos sabemos, esse ramo que era chamado de “rifa” se diversificou, se profissionalizou e hoje é a principal fonte de receita da cidade, sendo a atividade que mais movimenta dinheiro na cidade e por consequência, que proporciona melhor qualidade de vidas às milhares de famílias. E Zé foi um desses pioneiros do ramo. Hoje vende mercadoria para os jovens profissionais que se aventuram Brasil afora buscando seus sustentos e de suas famílias. Nunca trabalhou como empregado. Na juventude montou uma fecularia com o amigo Mauro Botelho. Tem orgulho de atuar nessa área. Continua a trabalhar em ritmo mais moderado, afinal, há cerca de 20 anos, levou um susto quando teve um problema cardíaco, cujo tratamento foi delicado e felizmente correu muito bem e ele ficou totalmente restabelecido. Metódico, gosta de almoçar no mesmo horário, não é chato com alimentação e não é muito de cozinhar. Na verdade, não sabe fazer nada na cozinha. Com relação ao futebol, seu time é “nenhum”. Nunca gostou, nunca viu graça e nunca jogou. Nunca e envolveu com política e com relação a esse tema se restringe a dizer que entende pouco e que nunca pretendeu nem pretende se envolver. É católico, mas não muito praticante. Com relação à vaidade, apesar de estar sempre bem vestido, fala que não é vaidoso. Só o essencial e necessário para estar apresentável. Já participou de uma diretoria do Rotary Clube. Atualmente ele se dedica à família e a cuidar da fazenda. Seu filho, Mário, e seu genro, Jidú, tomam conta dos negócios. Com relação a dinheiro, ele conta que sempre deu muito valor. Nunca foi de extravagância com gastos nem na forma como leva a vida. Nunca foi de farras e conta “nunca descambou nem com amigos, nem com mulheres”. Quando diz descambou, se refere a noitadas com álcool e com “mulherada”. Informa que sempre foi muito respeitoso com as namoradas e, claro, isso se estendeu para a vida conjugal. Desacelerou para ser mais feliz. Tá certo o Zé! Que, como observamos, de pequeno, não tem nada!

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Por Fábio Barbosa

OÃO MARIA DE OLIVEIRA

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NDERSON

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MAGNO DE OLIVEIRA (PIKITA)

A Marcenaria São José é uma das empresas mais tradicionais de Lagoa da Prata e sinônimo de compromisso e confiabilidade. Fundada por João Maria de Oliveira e administrada atualmente por Anderson Magno Oliveira, o Pikita, a empresa manteve-se firme ao longo dos anos com ideais sólidos e trabalho reconhecido em Minas Gerais e outros estados. É um negócio familiar cheio de histórias, mas, acima de tudo, um legado de um homem que acreditou nos seus sonhos e de um filho, que seguindo o exemplo do pai, recebeu o bastão e seguiu ampliando os horizontes. Filho de Maximina Angélica do Couto e José Antônio de Oliveira, seu João nasceu em 04 de abril de 1947 e teve 12 irmãos: José Antônio, Maria Vitória, Maria Onésia, Maria Laurinda, Maria Lúcia, Maria Célia, Maria Helena, Geraldo Magela, Alberto, Maria Eunice. A infância foi em uma fazenda no município de Bom Despacho (MG). “Cresci na fazenda Capivari, que era do meu avô, Zeca do Couto. Era uma família muito unida, muita gente, era uma casa grande. Contávamos casos ao redor da fogueira, tinha um velho contador de histórias. Aos seis anos de idade eu já trabalhava, guiando os bois, puxando os cavalos, ajudando meu pai, ia apanhar café”, conta o homem que estudou na Escola Coronel Praxedes até o terceiro ano do ensino médio, quando precisou encerrar o ciclo escolar para poder trabalhar. “Após a morte do meu avô, o patrimônio foi diluído e a herança que meu pai recebeu ele não soube gerir. Sai de casa com 14 anos de idade, minha vida foi de cabeça a baixo, fui para o triângulo mineiro trabalhar com meu irmão, José Antônio, plantando roça, em Cachoeira Dourada. Depois de três anos fui morar em Luz e trabalhei como carvoeiro. Depois quis aprender uma profissão e trabalhei de graça em uma marcenaria com o seu

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Miguel, nos finais de semana capinava quintais”, recorda. A vida nunca foi fácil para o seu João, mas entre um serviço e outro, ele conheceu Maria, seu amor de juventude. “Fiquei lá seis meses e arrumei uma namorada que era sobrinha do bispo. Quando os irmãos delas descobriram, falaram que iam me matar. Nos encontrávamos escondido na igreja, na época, nas segundas-feiras tinha sempre missa, íamos e namorávamos na igreja, escondido. Tinha um taxista lá, muito amigo do meu irmão, que soube que os irmãos dela estavam planejando nos pegar no flagra. Ele foi atrás do José Antônio, que me tirou da igreja e me mandou para Bom Despacho em 1965”, conta com saudosismo. Separado da então namorada e, principalmente, por ser um homem pobre, ele colocou na cabeça que iria retornar. Como a família dela tina uma oficina, o objetivo era comprar um fusca e levar lá. “Fui trabalhar na construção da Rodovia 262 e morar debaixo da ponte, literalmente, do Ribeirão da Estiva, para descarregar caminhão de cascalho, isso servia para fazer a terraplanagem. E daí fui então trabalhar na Fábrica de Móveis Palmeiras. Como era bom de serviço, estava sempre disponível. Lá fazíamos caixões e isso era um dos serviços que mais rendiam, afinal, é algo que todo mundo precisa quando chega a hora. Tirávamos medidas dos mortos e fazíamos o caixão. Isso ajudava na minha renda, era prioridade quando acontecia. Meu patrão chegava aos finais de semana e oferecia vale, eu não fazia e quando pegava, queria pouco. E ele perguntou o motivo disso, então contei que queria comprar um carro e ele começou a tirar sarro de mim. Daí por diante o seu Chico chegava perto de mim e perguntava sempre se já tinha o dinheiro para comprar o fusquinha”, recorda o marceneiro


que em 1966 conheceu Maria José Secundino de Oliveira. “Conheci ela no Colégio Tiradentes fazendo ginástica quando íamos assistir. Maria José era muita bonita, até hoje ainda é. Fiquei noivo dela e deixei de lado o passado. Em uma eleição de 1966 tive que voltar a Luz, pois meu título era de lá. Votei e quando sai da sessão eleitoral alguém pegou na minha mão e eu já estava noivo. Era a Maria, que viu a aliança e soltou minha mão. Olhei para ela e ela olhou para mim, nunca mais nos vimos”, concluiu a história que faz questão de lembrar, sempre destacando que a vida é feita sempre de escolhas. João casou em dezembro de 1967 e do casamento nasceram quatro filhos: Anderson Magno, Jackson Navio, Welison Otávio e Laila Fabiana. Pouco tempo depois, para sustentar a família, ele resolveu ir para Belo Horizonte onde foi sócio de uma lanchonete. Não deu certo. Mas ele conheceu um amigo que o convidou para ir para Divinópolis trabalhar com fabricação de gesso, sem pensar duas vezes João foi, mas por não ter uma noção do negócio, do primeiro trabalho fez o forro de todas as sacadas de um prédio em construção e após uma forte chuva, o prejuízo foi certo. O irmão mais velho, José Antônio, soube do ocorrido e novamente o ajudou, comprando uma marcenaria em Lagoa da Prata. Nascia assim, em 19 de janeiro de 1977, a Marcenaria São José. “Tenho um orgulho danado, cheguei à cidade e realmente fui acolhido por algumas pessoas, um dos primeiros amigos foi Cícero Matheus Borges, que tinha uma loja de material de construção. E o outro Geraldo Diniz Borges, os dois foram muito importantes para mim, me deram muito suporte. Trabalhava bastante e o seu Haroldo, da Embaré, foi construir uma fazenda e o Geraldo me indicou para que eu fizesse o serviço de marcenaria. O filho do seu Haroldo, o Alexandre, gostou e me convidou para fazer um serviço de móveis no Rio de Janeiro, montamos então uma loja lá, se chamava Arte e Ambiente e ficava na rua Marques de São Vicente, na Gávea. Nessas alturas as coisas andaram. Ganhei muito dinheiro. Norma, a esposa do Alexandre, também ajudou muito. Convivemos muito tempo e sou muito grato”, destaca o empresário que quase sofreu um acidente na estrada a caminho do Rio de Janeiro e resolveu encerrar o negócio. “Após isso, fui visitar um amigo, o Libério, que por acaso estava conversando ao telefone com o dono da Encol Construtora. Ele nos apresentou ali mesmo e no outro dia veio um engenheiro da empresa para fazer uma pesquisa aqui e saber se eu tinha condições de atendêlos. Foi quase que do dia para a noite, fabricava tudo para eles de madeira, assoalho, portas, janelas, mandávamos prédios inteiros daqui, tudo de madeira. Sem muito estudo, eu lia os projetos dos engenheiros e entendia tudo”, conta João que só encerrou o contrato com a Encol após uma delicada conversa. “Um dia eles mandaram uma pilha de orçamentos e fiz. Fui

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lá e tinham dois engenheiros. Me chamaram e pediram para acrescentar no orçamento 5% e fui embora dizendo que ia pensar no assunto. Fiquei apreensivo com aquilo e um dos engenheiros me disse que eu se eu não quisesse tinha um outro cara de Pará de Minas que estava interessado. E nunca mais voltei lá”, revela o homem que conta essa história com a convicção de ter feito a melhor escolha e com muito orgulho de ser íntegro nos seus negócios. João também faz parte da fundação do Umuarama Clube. “Estávamos em um bar conversando e falamos que Lagoa da Prata não tinha um lugar para a família. Eu, Libério, Carlinhos, Cícero e Cláudio decidimos que deveríamos fundar um clube. Pesquisamos e encontramos um terreno e reunimos um grupo com 16 pessoas. Eu e Libério combinamos de fechar o negócio e compramos o terreno. Deu certo a ideia e nasceu o Umuarama. Dediquei-me ao clube integralmente, durante a construção era meu trabalho, fiquei sete anos diretamente ligado lá. Foi um dos maiores orgulhos da minha vida”, conta João, que se aposentou da Marcenaria São José, apesar de estar sempre acompanhando o desempenho do filho, Pikita. Anderson Magno Oliveira nasceu em 12 de maio de 1970 e recebeu uma criação firme do pai. “Nunca tivemos muita moleza na vida, fomos criados com muito rigor. Estudei na Escola José Teotônio de Castro e depois Escola Virgínio Perillo. Minha infância foi tranquila, era muito sossegado. Não tínhamos muito recursos, nunca faltou nada em casa, com nove anos de idade enchia saquinhos de terra e fazia muda de café. Meu pai não dava dinheiro, tinha de ajudar, nada vinha de graça, tínhamos de ter certo esforço”, conta ele que recebeu o apelido de Pikita, por gostar de falar muito. “Esse apelido ganhei em meados de 1982, por que falava demais. Era periquita e virou Pikita. E ficou, todo mundo me conhece assim na região inteira. Poucas pessoas sabem o meu nome exatamente”, brinca. Pikita herdou do pai o tino pelo negócio da marcenaria, seguiu o projeto e ampliou o número de clientes. “Eu, com 13 anos, em 1983, comecei a trabalhar na serraria do meu pai, era peão mesmo, lavava banheiro, carregava madeira, eu e meus irmãos. E lá aprendi a profissão, amo minha profissão por sinal. Em 1989 meu pai largou e praticamente já sabia tudo do funcionamento da empresa. Os clientes são os mesmos, viajei muito com ele acompanhando montagem, segui o legado que me foi passado e tento preservar ao máximo. Temos colaboradores que quando entrei já estavam aqui e estão até hoje. São funcionários com 20 e 30 anos de casa. Dou muito valor a isso. Temos sempre de ser gratos a quem nos ajuda”, destaca o empresário. “O Pikita continuou, ao modo dele. Mudou o jeito de trabalhar, continua fabricando, mandando para Belo Horizonte e Continua...


outros estados. Continuou o meu trabalho. É o primeiro filho, os outros têm ciúme danado. Tenho orgulho dele demais”, completa João. Em 1995 chegou a hora de Pikita formar sua própria família, casou com Maria Aparecida dos Santos Oliveira e teve dois filhos, João Vitor e Arthur. “Ela e meus filhos são tudo, minha sogra e meu sogro são ótimas pessoas, devo tudo a eles também, ressalta. Mas o caminho nem sempre é feito só por vitorias e uma crise ameaçou a empresa. “Tive um período de dificuldade financeira mesmo. Nessa época meu pai me deu um chega para lá, já que me ajudava sempre. Disse que eu tinha de me virar mesmo. Foi muito difícil. Mas dois amigos, Júlio de Castro Gomes e Rinaldo Bueno Duarte, me ajudaram muito. Quebrei e eles foram fundamentais, não tinha mais dinheiro. Não tinha dinheiro nem para pagar o frete para fazer as entregas, e procurei o Oli Bahia, e ele disse que iria fazer o trabalho do mesmo jeito, porque tinha certeza que eu cumpriria meus compromissos. Júlio e Rinaldo foram pessoas que me apoiaram muito. Sem eles, não teria sobrevivido”, agradece. A Marcenaria São José sobreviveu e hoje fabrica móveis, seguindo sempre uma qualidade imprescindível ao setor. Pikita herdou do pai também o bom humor, é sempre muito animado e diz adorar cozinhar. “Aprendi a cozinhar na roça, sempre gostamos de pescaria e quando estamos lá acabamos fazendo comida. Gosto de preparar de tudo, adoro ceviche, uma boa massa de macarrão com molho e macarrão artesanal, com molho de tomate. Gosto de receitas mais complexas. Sou mestre de churrasco e peixe. E agora estava terminando um curso de drinks”, conta o homem que ainda revela não ter ambição e gostar da vida tranquila que leva com a família. “Sou muito caseiro, atualmente meu hobby é ser aquarista. Comprei um aquário que já tem 11 meses, ele é marinho e não existe outro por aqui. Tem certa complexidade, mas já entendo de tudo, de todos os parâmetros dos animais do mar. Gosto de competições de cavalo também. E tenho uma coleção de cachaças, de todos os lugares, são 815 marcas diferentes e sempre em miniatura. Mas não bebo cachaça”, encerra.

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Por Fábio Barbosa

iro

Ciro dos Santos é um médico com história em Lagoa da Prata. Um dos pioneiros na área da saúde na região é conhecido por sua força de vontade, vivacidade e bom humor, entre uma consulta e outra, escreve poesia ou simplesmente lê algumas delas para os pacientes e visitantes. A maestria com as palavras lhe tornou imortal da Academia de Letras da cidade, um reconhecimento sem dúvida para um dos homens mais inteligentes e sábios de sua geração. Filho de Ernestina Esfrra e Cícero dos Santos nasceu em Uruguaiana (RS), no dia 19 de julho de mil novecentos e me esqueci, como ele faz questão de dizer. A infância foi muito difícil, com poucos recursos e sem brinquedos. “Éramos muito pobres. Mudamos para o estado do Rio de Janeiro quando eu tinha 10 anos, fomos em busca de dias melhores. Ficamos inicialmente em Paty do Alferes e depois Niterói”, lembra o médico que aos 17 anos entrou no Exército Brasileiro. “Foi uma experiência ótima, tinha comida, disciplina e ordem. Algo muito importante para um jovem”, destaca. Morando em Niterói fez o curso ginasial e o preparatório para prestar vestibular. Na hora da escolha do curso ficou dividido entre medicina e odontologia, mas optou pelo primeiro e foi aprovado na Universidade Federal Fluminense. “Eu trabalhava na Estação Leopoldina como escriturário e quando entrei para a faculdade consegui uma transferência para o setor de saúde, no ambulatório. Tive de me dedicar bastante, a vida não era nada fácil. Estudante que leva a vida a sério não tem essas bobagens de diversão, era estudo e dedicação sempre”, conta Ciro que formou em 1953 e logo em seguida fez residência em cirurgia. Nesse mesmo período fez concurso para a Prefeitura do Rio de Janeiro e foi selecionado, mas, a então namorada, Maria Bernar Lima, que era de Lagoa da Prata, o convenceu a mudar de cidade e ele veio desbravar o centro oeste de Minas Gerais. “Nos conhecemos através de amigos e aí deu no que deu. Namorávamos e em 1954 mudamos para cá, no ano seguinte casamos na Igreja Matriz”, recorda o homem que foi o segundo médico da cidade e um dos pioneiros da saúde por aqui. Em Lagoa da Prata o desafio de ser médico era constante e Ciro foi contratado pela Santa Casa de

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dos Santos

Misericórdia. “Naquela época tínhamos de improvisar. Aqui éramos carentes de tudo, os pacientes chegavam e tínhamos de nos virar, muitas vezes sem o necessário. Não tínhamos sossego, era atendimento de manhã, à tarde e à noite. E o pior é quando eles não podiam vir e íamos para as roças. Lá que não tinha nada mesmo, estrutura nenhuma, mesmo assim nunca nos negamos a socorrer e fazer o nosso melhor”, revela o médico que hoje diz ficar surpreso com os rápidos avanços na medicina, em especial com a quantidade de especializações que ajudam, e muito, os profissionais da área. “Você se forma e precisa fazer um curso, se não faz, fica perdido. E naquela época não tínhamos tantos cursos, aprendíamos na pratica. Era um tempo diferente”, reforça. Casado com Maria, Ciro teve três filhos: Ciro, Magda e Sérgio. O caçula morreu há 16 anos, o mais velho é médico cirurgião e a filha professora universitária. “Perder um filho é triste demais. Não tenho palavras para descrever isso. Meus outros dois, graças a Deus, estão bem, com saúde e com famílias formadas”, conta o médico que também perdeu a esposa e não gosta de tocar no assunto. Anos mais tarde casou com Maria de Fátima Amorim, companheira que até hoje está com ele em todos os momentos. Ciro também foi professor e nos anos 1960 foi convidado pela direção do Colégio Nossa Senhora de Guadalupe para ser o fundador da Clínica Hospital. Com excelente desempenho junto aos alunos, foi também Secretário Municipal de Saúde e anos depois ocupou as secretarias de Educação, Turismo e Assistência Social. Foi eleito Vereador e foi pioneiro no informativo “Várias e Algumas”, além de lembro do Rotary Club de Lagoa da Prata, Governador Distrital do Rotary Internacional e colaborador de praticamente todas as publicações jornalísticas locais, entre elas, a Folha de Lagoa. É um escritor nato e isso lhe rendeu a cadeira de nº 02 da Academia de Letras de Lagoa da Prata. “Publiquei os livros 40 Anos de Lagoa da Prata, Cianinho – Um Homem Grande, As Cidades, as Coisas e as Gentes, Histórias, Estórias e Memórias, Até Onde Vão os Caminhos, Congado (Reinado), As minhas e as Estórias dos Outros, Caminhos Trilhados – Desafios Superados (em parceira com Maritana Bessas) e Nicole. E participei também da coletânea Lagoa da Prata em Prosa e Verso e Coletânea Literária de Escritos Brasileiros II”, fala com orgulho o homem que recebeu o título de Cidadão Honorário de Lagoa da Prata. Perguntado sobre suas inspirações para escrever ele é sucinto: “Vem de tudo que eu vivo no cotidiano”. Escritor de poesias e ávido leitor das mesmas, Ciro revela que gostaria de ter sido atleta. Mesmo não sendo, durante muitos anos se dedicou às corridas com os amigos Rui Amorim e Zé da Afonsina. Diz que não bebe, não fuma e que isso aliado ao exercício físico que praticou é a receita de saúde dele. Encerrando nossa conversa, peço um conselho para os acadêmicos de medicina e mais uma vez ele objetivamente responde: “Estude, estude, estude”. Assim interrompe a entrevista dizendo que não quer mais falar e mostra um livro de poesias, que guarda na mesa do consultório. Lê uma delas e se despede!


Por Fábio Barbosa

não queria que eu fosse porque não tinha dinheiro para me sustentar lá. Mas chegando lá tive a ajuda de um amigo que conseguiu um emprego para mim no Banco do Brasil, onde fiquei por dois anos”, conta. O jovem lagopratense trabalhava durante a madrugada na instituição, sua função era fazer a compensação dos cheques. “Em 31 de outubro de 1995 tomei uma surra, tive todos os ingredientes para arrumar minha malar e voltar para casa, mas não voltei. Nós fomos cercados por uma galera de 15 pessoas e, simplesmente, bateram na gente sem motivos e levaram tênis, carteira, tudo que conseguiram. Não contei para os meus pais, nem ninguém. Meu objetivo era estudar”, revela. Nesse mesmo ano passou no vestibular para o curso de Engenharia Civil na Fundação Mineira de Educação e Cultura – FUMEC. “Meu primeiro estágio comecei no segundo período da faculdade, já ingressando na construção civil. Trabalhei em duas construtoras, Bessa e Sette Engenharia e Planejamento e Resulta Engenharia Ltda. Em 1999, com mais dois amigos que cursavam engenharia montamos uma empresa para atuar no mercado de construção civil em Belo Horizonte, a ABP Engenharia. Me formei em 2000 e continuei trabalhando até final de 2003, tinha uma grande oportunidade de construção civil. Mas na

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ÉLIO BESSAS

Nélio Bessas é filho de Mary Tavares de Bessas e Antônio Carlos de Bessas, nasceu em 05 de abril de 1971 e tem quatro irmãos: Nívia, Nilson, Nara e Nirlei. Foi criado em uma fazenda, na qual na infância brincava de fabricar os próprios tijolos em miniatura, construindo casas e prédios. Pescava com o pai e ajudava nos afazeres domésticos, sempre foi muito ligado à escola e para poder estudar enfrentava um caminho de 4 km diariamente para chegar à Lagoa da Prata, onde frequentou as escolas Virgínio Perillo, José Teotônio de Castro e Colégio Nossa Senhora de Guadalupe. Na adolescência, acompanhando dos irmãos e amigos, frequentou o Oeste Estrela Clube e o Clube Recreativo Lagoense, era a diversão da moçada da época. Após concluir o ensino médio, Nélio decidiu que deveria ir para Belo Horizonte, era a chance que tinha para poder ter novas oportunidades. “Meu pai

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capital já havia uma grande oferta de imóveis e o mercado estava saturado e resolvi parar a empresa. Fui então para a ferrovia trabalhar em uma construção, prestando serviço para a Vale e FCA”, recorda o engenheiro. Em 2003 a vida pessoal de Nélio também ganhou novos rumos, após anos de namoro ele oficializou a união com Luciana Rocha Fonseca Bessas, com quem teve duas filhas Luiza e Júlia. Estudou também uma especialização em Concreto Armado, na Universidade Federal de Minas Gerais. “Em 2005 fui convidado para assumir a Secretaria de Obras na prefeitura de Lagoa da Prata, aceitei o convite por ter a oportunidade de estar próximo da família. Saí do setor privado, onde se tem toda uma autonomia, para o setor público que é extremamente engessado, todas as ideias e vontades de querer fazer foram barradas. Foi difícil por uma questão de recursos do município e de precisar lidar com funcionário público. Existem alguns que são ótimos, mas, normalmente, é muito complicado”, fala o engenheiro, que deixou o cargo após dois anos e resolveu empreender. “A economia do Brasil começou a aquecer e as oportunidades na construção civil apareceram de forma intensa, então criei a Pilares, focando na construção industrial, onde prestei serviço para a usina de cana de açúcar,

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Embaré e outras grandes empresas. Das cidades da região, Lagoa da Prata, ainda é uma das poucas que oferecem oportunidades na construção civil, ela não parou, mesmo com a crise. No ano de 2010 tivemos uma expansão muito grande e começamos a vender estruturas de concreto, fomos pioneiros na cidade em comercializar concreto usinado”, ressalta. Nélio também teve mais um filho, o Pedro. A família é sua grande paixão. Ele procura estar ao máximo entre os seus. Gosta de restauração, atividade que ele tem como hobby, mas que o tornou ainda mais conhecido e prestigiado. “Dedico boa parte dos meus finais de semana para isso. Restauro bicicletas antigas, equipamentos de pequeno porte e peças antigas. Só faço por prazer mesmo, é um trabalho minucioso e delicado. Meu maior projeto foi a restauração de uma lambreta de 1965. Recentemente restaurei uma peça raríssima, um compressor de ar do primeiro posto de gasolina de Lagoa da Prata”, destaca o engenheiro que ainda revela que sua vida pode ser resumida em uma palavra: superação. “Nasci com uma doença chamada cardiomegalia, meu coração era maior do que de um bebê normal. E para algumas pessoas que achavam que eu não tinha nem futuro, que achavam que eu não ia nem viver, venci desde cedo todas as batalhas. Me considero uma pessoa realizada, pois sou de família pobre e todos nós lutamos muito”, resume.


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ezé Por Fábio Barbosa

Paulo Henrique de Rezende, o Rick, e José Batista de Lima, o Zezé, formam a dupla de cantores mais conhecida de Lagoa da Prata. Os dois, patrimônios culturais, são presença confirmada nos mais distintos eventos, sempre levando música e animação para o público. São simpáticos e contadores de história, afinal são anos de estrada Brasil afora. O Zezé é filho de Margarida Batista de Lima e Antônio Cardoso de Lima, nasceu em 19 de dezembro de 1955, em Acesita, Timóteo (MG). Já o Rick é filho de Neuza de Souza Rezende e Antônio Eduardo Rezende, nasceu em 26 de julho de 1967 em Papagaios (MG). Os dois tiveram infâncias bem humildes com suas famílias. “Minha vida em Papagaios foi cheia de amigos, muita música e festa. Fui criado dentro de uma casa exatamente musical. Meu irmão chegava com o LP do Zé Ramalho ou do Tim Maia e ficávamos encantados. Em 1986 tinha acabado um show em Papagaios e passei na praça e tinha uma excursão para vir para Lagoa da Prata, não queria vir de jeito nenhum, mas acabei vindo com eles. Quando cheguei aqui vi uma bateria num bar e tinha sonhado com ela, então

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esperei abrir e pedi para tocar. Não deixaram! Voltei frustrado e queria vir aqui para ver a tal bateria e tocar. Numa quarta-feira acabei vindo para cá e em 1988, conheci o Zezé, no bar da praia”, recorda Rick. Já o Zezé, do outro lado do estado, também vivia tempos de muita música. “Eu sou de uma família de músicos, todo mundo toca, os primos, tios e minha mãe, nada profissionalmente, mas todos com muito talento. Mas antes disso fui camelô em Belo Horizonte. Meu pai comprou um barracão e moramos em Contagem (MG). Estava começando a entrar na música e entrei em um circo com 18 anos. Tocava guitarra nos shows. Foi uma experiência boa. Depois entrei para a banda, onde tocava guitarra. Tinha um rapaz chamado Alfredo que era bem melhor que eu e então fui para o contrabaixo. No baixo fiquei uns 20 anos. Me afastei do contrabaixo quando formamos a dupla”, revela Zezé. Naturais de outras cidades, mas com a paixão pela música em comum, os dois se conheceram em Lagoa da Prata. “Tocamos na


banda Águas de Prata, que era do Ari da Praia, como era conhecido. Eu tocava bateria e o Zezé o contrabaixo. Em 1988, a banda acabou sendo dissolvida, mas ficamos tocando por uns cinco anos. Um amigo nosso inventou o RZ e começou assim nossa carreira”, relembra Rick que casou com Adriana Aparecida Cândido Rezende e teve quatro filhos: Marcus Luidi, Paula Luiza, Paulo Otávio e Sofia Rezende. Zezé casou com Kênia Alves de Lima e teve dois filhos: José Junior e João Carlos. “Eu já tinha tido dois relacionamentos que não deram certo e a conheci na casa ao lado da nossa querida Dona Nega. Desde o começo ela me incentivou muito”, conta Rick, sobre como conheceu a esposa. Já Zezé é mais prático: “Eu era um cara muito sem cabeça, bebia muito, sabe. Conheci ela tocando, vim para Lagoa da Prata tocar uma noite, antes de mudar e me encantei. Namoramos e casamos, se não fosse ela, nem sei o que seria de mim”. A dupla Rick e Zezé nasceu então em 1989. E o primeiro show foi em uma das festas do Jornal Folha de Lagoa. “Eu e Rick demos certo porque o que falta em mim, ele tem. Então nos completamos. Temos repertório para tudo, depende sempre do público que vamos tocar, fazemos de tudo para agradar. Tem músico que já parou por ter um estilo só, nós temos todos”, brinca Zezé. “Não temos reportório escrito, chegamos para tocar num baile e olhamos a cara do pessoal. Daí tocamos, observamos e fazemos de tudo para a pista estar sempre cheia”, destaca Rick que lembra ainda que o sucesso da banda lhes rendeu shows em quase todas as cidades de Minas Gerais e eventos em Brasília, São Paulo e Bahia. Foram casamentos, aniversários, comemorações das mais diversas, sempre com muita animação. “Vivemos em Lagoa da Prata e viramos o século passamos pelos anos 1980,1990 e 2000 e as pessoas aqui nos ouvem desde criança. Fazemos parte da história de alguma maneira. Nunca tivemos essa pretensão, mas muita gente fala e isso nos ajuda e nos fortalece quando somos chamados de patrimônio cultural da cidade. A gente mesmo não pode ter isso na nossa cabeça, o sucesso nosso quem faz é o público”, conta Rick. Com uma carreira sólida e agenda requisitada, a dupla destaca os momentos especiais desses anos todos. “Todo show é especial para mim. Eu gosto de tocar, serviço na minha vida não deu certo, então minha vida é música. Gostava muito quando tocávamos no começo da praia, nas matinês, nos anos 1990. Bom tempo”, fala Zezé. “Tenho um show especial que recordo. Mudei para Lagoa da Prata em 1986 e até 1995 eu não tinha tocado na minha cidade, Papagaios. Fomos fazer uma festa de casamento no Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte e, por coincidência, era de uma conhecida de lá. Ao me ver no palco, muitos amigos reconheceram. Aquilo foi bom demais, minha

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mãe ligou no dia seguinte e me contou que muitos conhecidos tinham gostado e comentado sobre o show. Aquilo abriu as portas para nossa dupla na região”, destaca Rick que completa recordando o inesquecível Carnaval das Estrelas, promovido em Lagoa da Prata em 1994. Os cantores ouvem de tudo para se manter atualizados no sucesso do momento, mas tem alguns cantores favoritos. “Gosto de música de raiz, uma boa moda de viola. Sempre ouço Tião Carreiro, por exemplo. Ouço também MPB, como Djavan, Gilberto Gil e Milton Nascimento. E não posso esquecer as músicas dos anos 1960, Beatles são uma inspiração”, conta Zezé. “Gosto de ouvir Seu Jorge, Jota Quest e Chitãozinho & Xororó. Mas não tenho preconceito com os novos cantores, gosto de tudo. Djavan também é muito bom”, fala Rick. Os dois são católicos e ao longo dos anos, criaram laços de amizade entre as famílias. É praticamente uma só. Criaram os filhos juntos, com esposas sempre ao lado de cada um. Mas nem só de shows pagos vive a dupla, ações sociais como cantar para os pacientes atendidos pela Fundação Chiquita Perillo e o coral “Vozes Especiais”, da APAE, fazem parte da rotina de Rick e Zezé. Um trabalho que os emociona e que fazem com muito amor. Com quase 30 anos de carreira, eles colecionam histórias de shows, algumas bem curiosas. “Eu sempre falo de um show que fomos fazer na cidade de Luz. Nem eu, nem ele, tínhamos carteira de motorista e por isso, fomos pela estrada de chão. Estava chovendo muito e o carro não passava, tivemos de descer toda a aparelhagem para pode seguir viagem. Nisso tomei um tombo e me sujei todo. Estava de branco, então imagina. Chegamos lá e tocamos, a festa não parou, o show não pode parar”, lembra Rick. “Eu lembro que nós tínhamos uma Kombi e fomos tocar em Varginha e o motor fundiu e só deu para chegar até Campo Belo. Chegamos ao baile de formatura super atrasados, sujos, sem tomar banho e depois de meia noite, mesmo assim tocamos e cumprimos com nossa obrigação e compromisso. E foi um show incrível, um dos nossos melhores”, conta Zezé. Os experientes cantores, ídolos de gerações na cidade, encerram falando sobre futuro. Sim, isso mesmo, futuro! Eles não pretendem aposentar e tem planos. “Eu quero muita paz, muita música e que Deus possa nos guiar por muitos e muitos anos, levando alegria para o povo e que minha família, meus netos, meus filhos, sintam-se felizes por ter tido um músico em casa”, destaca Rick que é completado na fala por Zezé: “Quero pedir a Deus que continue nos dando saúde para tocar, porque enquanto tiver vida quero estar tocando. A música, diferente de outras profissões não precisa de um porte físico até o final, por ser algo mais simples podemos tocar até o fim da vida, e assim quero que seja”.


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Por Fábio Barbosa

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Antônio Bessas

Nilson Antônio Bessas é empreendedor e Presidente do Conselho de Administração do Sicoob Lagoacred. Formado em Administração de Empresas e com longa experiência em empreendedorismo, tornou-se um dos empresários de sucesso de Lagoa da Prata e graças ao conhecimento que acumulou escreveu livros. É um homem à frente do seu tempo com sabedoria e visão aguçada para negócios. Filho de Mary Tavares de Bessas e Antônio Carlos de Bessas, nasceu em 22 de setembro de 1968 em Lagoa da Prata. Cresceu numa fazenda ao lado dos irmãos: Nívia, Nara, Nélio e Nirlei. “Minha infância foi um tempo saudável, tínhamos obrigações no campo, ajudávamos o pai na roça cultivando milho e arroz. Naquela ocasião as crianças ajudavam os pais, era algo normal. Foi uma época mesclada de muita diversão com os amigos e primos, futebol, pescaria no córrego e muitas aventuras”, recorda Nilson. Estudou na Escola Estadual Virgínio Perillo dos 6 aos 14 anos. “Da quinta série, até concluir o 2º grau aos 17 anos, eu ia e voltava de bicicleta da fazenda, num percurso de 8 km, sendo que os últimos três anos eu estudava à noite, onde voltava por estradas sem iluminação”. Nesse período Nilson estudou na Escola Estadual José Teotônio de Castro, onde concluiu o curso de Técnico em Contabilidade. Na adolescência frequentava o Oeste Estrela Cube com os amigos. “Foi uma fase dentro das normalidades, sem excessos. Frequentava o clube aos sábado e domingo, era muito divertido, entre muita gente boa. Eu bebia muito pouco, jamais me excedia. Também frequentava os bares da época com os amigos”, conta Nilson. Nessa mesma época já procurou emprego com o intuito de não ficar dependendo financeiramente dos pais. “Meu primeiro emprego foi na loja de presentes e papelaria do meu tio, Ildeu Cornélio de Bessas, a Central Bessas. Fiquei dois anos lá e foi um período de aprendizado, depois de tudo que aprendi no campo, trabalhar numa loja era uma diversão para mim. Aprendi muito, em especial valores que o meu tio me passou, alguns que carrego até hoje. Quando ganhei meu primeiro salário, tive vontade de comprar uma bicicleta nova, mas passei todo o valor para minha mãe”, conta o futuro empreendedor que depois foi trabalhar na padaria do seu outro tio, o senhor José Antônio de Almeida. “Foi um outro aprendizado, um outro seguimento, onde começava o expediente às 5h30 da manhã que, dependendo dos dias, estendia

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também na parte da noite. Eu gostava muito e aprendi com meu tio sobre disciplina, moral e ética, além do bom relacionamento com os clientes, algo que acrescentou muito em minha vida”, revela. Depois das duas experiências iniciais, veio uma oportunidade no Banco de Minas Gerais. “Naquela época o banco fazia concurso em Belo Horizonte e tive a chance de fazer e fui selecionado. Foi uma experiência totalmente nova. Com o sistema financeiro comecei a criar uma certa bagagem, ganhei bastante conhecimento”, destaca. Em 1992, ele iniciou o curso de Administração de Empresas em Divinópolis, foi quando decidiu empreender. “Foi um momento ímpar da minha vida, quando em 1993 montei em sociedade com meu cunhado o meu primeiro negócio, uma confecção, foi quando nasceu a Aranto. Foram muitos desafios. O funcionamento da indústria, desde a chegada da matéria-prima até o produto acabado, me exigia muitas habilidades e dedicação. Foi um período muito difícil, onde precisava fazer investimentos em tecnologia e nós


não dispunha de capital próprio para tal”, relembra o empresário que mais adiante lançou a marca Piju para atender o público infanto-juvenil. Esse perfil empreendedor lhe rendeu um convite em 1996, feito pela Associação Comercial de Lagoa da Prata, para junto com outros empresários da época, fundarem uma cooperativa de crédito, o Sicoob Lagoacred. “Em abril de 1997 abrimos nossa primeira agência. Na ocasião fui nomeado Diretor Administrativo, cargo que ocupei até maio de 2002”, destaca Nilson. Neste mesmo período conheceu Carine, com quem se casou anos depois, em setembro de 2005. Desse casamento, nasceram Antônia e Helena. A família como base é uma das principais características do empresário que tem um hobby especial, escrever. “Lancei o livro ‘Tornando sua empresa um sucesso’ em 2012 em Noite de Autógrafos na Livraria Saraiva do Shopping Diamond em Belo Horizonte. Foi um grande sucesso. Hoje o livro continua sendo vendido nas principais livrarias do Brasil, entre elas Cultura, Saraiva e Amazon. Quero lançar meu próximo livro neste ano, cujo conteúdo trabalha temas como comportamento empreendedor, atitude proativa, economia compartilhada, otimização de processos e conectividade”, revela. Além de empreendedor, escritor e diretor de uma instituição financeira de muito sucesso, Nilson confessa que tem hábitos muito simples. Seu prato favorito é corvina assada com vinho branco, que apesar de não saber preparar, sabe muito bem apreciar. No ano de 2002, Nilson foi escolhido, entre os membros do Conselho de Administração, para assumir a presidência do Sicoob Lagoacred, cargo e responsabilidades que ocupa e desempenha até a presente data. “Naquele momento a cooperativa estava numa situação muito delicada e precisava passar por uma grande reestruturação. E para fazer isso, eu necessitava de tempo e foco, o que me levou a passar a liderança dos meus negócios para minha irmã e minha esposa. Com o tempo mais livre para dedicar a cooperativa, pude implementar uma nova gestão, mais dinâmica e profissional. A minha decisão de me dedicar a cooperativa foi muito acertada e promissora, visto que ela se tornou uma das principais instituições financeiras da região, com forte presença e autuação em Lagoa da Prata, Santo Antônio do Monte, Pedra do Indaiá e Japaraíba”, conta Nilson. Para se ter uma ideia, em 2002 quando ele assumiu à presidência, a cooperativa estava com apenas 2 milhões de ativos e em 2017 fechou com cerca de 170 milhões de reais. Na ocasião, tinha menos de 2.000 mil associados e hoje tem 24 mil. Naquela época, ano que foi nomeado presidente, a cooperativa fechou o ano com um resultado negativo e no último ano encerrado, teve um resultado próximo de 5 milhões de reais.

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“Nosso propósito desde o início que assumi a direção da cooperativa foi encantar os associados no atendimento de suas necessidades e entregar experiências únicas, com produtos e serviços que ele realmente demanda. Buscamos fazer diferença na vida dos associados. Temos ainda, feito grandes ações sociais, levantando a bandeira da inclusão social, nas quatro cidades onde atuamos”, fala com orgulho. Uma das ações que mais tocam o presidente é o “Programa Jovem Cooperativista”, idealizado por ele, diretores e funcionários da instituição. “Vamos para as escolas públicas e privadas de áreas urbanas e rurais e levamos educação financeira, cooperativista e empreendedora para alunos de 06 a 18 anos. Temos mais de 13 mil alunos de 33 escolas da região participando do programa”, destaca. “Em outras ações sociais, cerca de 500 crianças em situação de risco foram inclusas em algum projeto social que a cooperativa realiza ou patrocina. São aulas de música, artesanato, esporte, etc. E temos orgulho de falar disso”, ressalta Nilson que também observa o cenário econômico atual do Brasil e não desanima. “O desafio é para todos. A crise econômica que o país está passando não originou do mercado e, sim, da instabilidade política. Nosso entendimento é que temos que fazer a nossa parte e não esperar nada de promissor do meio político. Temos otimizados os processos e buscado um maior ganho de escala para podermos ter uma redução do impacto do custo operacional no total das receitas. Dessa forma continuamos a prestar serviços sem custo para os associados e oferecer linhas de crédito com taxas de juros reduzidas, tudo de forma que não influencia o resultado final. Aumento da produtividade e redução do custo operacional, este tem sido nosso trabalho, nosso empenho. Ou seja, fazendo mais com menos”, conta. Nilson também destaca que já foi convidado para ocupar cargos públicos, mas disse que não tem interesse no assunto. “Tenho sido assediado para as próximas eleições municipais, mas não tenho interesse, não me sinto preparado. Talvez no futuro eu possa dar uma contribuição para o município. Mas no momento, tenho na cooperativa muitos projetos que precisam ser realizados e que requer a minha presença e liderança”, revela o empresário que encerra a entrevista se definindo assim: “Eu sou uma pessoa otimista, resolvida, simples, que se sente muito bem trabalhando e propiciando meios para as pessoas se sentirem realizadas e felizes. Sou uma pessoa que gosta de estar entre amigos, familiares, assistir um bom jogo de futebol e tomar uma cervejinha gelada. Sou uma pessoa que ama brincar com a minha filha, conviver com a minha esposa, apreciar o pôr do sol e outras belezas da natureza”.


Por Fábio Barbosa

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Antônio Ferreira (in memoriam)

José Antônio Ferreira era um homem animado, uma alegria contagiante que envolvia todos ao seu redor. Filho de Cacilda Maria de Souza e Aristóteles José Ferreira, nasceu em 19 de fevereiro de 1960 e teve oito irmãos: Geraldo Donizete, Maria de Fátima, Terezinha, Oresi, Solange, Lázaro Antônio, Joarez e Sânia. A infância foi cercada pelo carinho da família, apesar das poucas condições. Moravam em uma fazenda na zona rural do município de Santo Antônio do Monte (MG). A vida era dividida entre as brincadeiras e o trabalho na roça, uma experiência que lhe rendeu força de vontade, característica fundamental para o futuro dele. Estudou até a terceira série na Escola dos Caetanos. Para chegar até as aulas, ele e os irmão iam a cavalo por um caminho de cerca de 15 km. Às vezes usavam uma charrete, enfrentando sol e chuva para estudar. “Ele gostava muito de ajudar meu pai na lida com o gado e montava a cavalo, montava bem inclusive. Uma vez ele entrou junto com o gado e o estribo bateu na perna que quebrou. Não tínhamos dinheiro para cuidar dele, naquela época era tudo muito difícil. Mas ele veio ao hospital e ficou tempos com a perna engessada”, lembra Solange, uma das irmãs. Em 1972, em busca de melhores oportunidades, mudaram para Lagoa da Prata. O pai vendeu as terras que tinha e comprou uma casa no bairro Américo Silva, iniciando ali um novo caminho para todos os filhos. José Antônio sempre muito astuto ajudava a mãe. “Ele ajudava muito em casa, em especial a vender as coisas. Nossa mãe trazia os frangos, ovos

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caipira e meu irmão vendia. Ela fazia horta e ele a ajudava muito, saía para vender no comércio doce de leite, doce de goiaba, tudo que podíamos para poder complementar a renda. Foi uma mudança drástica, um choque, estávamos acostumados no mato, não vínhamos na cidade. Fazíamos nossos brinquedos, jogávamos bola no campo de futebol, fazíamos vaquinhas com as mangas. Nossa vida era muito diferente”, recorda a irmã. José Antônio estudou na Escola Estadual Virgínio Perillo e depois na escola Estadual José Teotônio de Castro, onde se formou como Técnico em Contabilidade. Aos 14 anos começou a trabalhar na gráfica do doutor Wantuil Cândido de Almeida, uma experiência que seria estratégica em sua vida. Começou como chapista gráfico e depois passou a ser impressor. Era dedicado e queria sempre aprender mais e mais. A irmã lembra que ele sempre ajudou em casa, mas uma das atitudes mais significativas ficou na memória: “Como morávamos na zona rural, fomos conhecer escova de dente quando viemos para a cidade, então estávamos com os dentes todos podres e estragados. Ele pagou o dentista para toda a família tratar de dentes. O doutor Renato acabou ficando amigo dele, depois que nos levou lá. Fazia até um preço menor, pois era muito caro tratar dos dentes naquele tempo. José Antônio era muito amoroso e atencioso. Sempre arrumava um jeito de nos ajudar, queria sempre o nosso melhor”. Anos mais tarde a gráfica foi vendida e o jovem funcionário continuou trabalhando lá. “O seu


Feliciano comprou e o José Antônio, que já entendia de tudo do negócio virou gerente. Já fabricavam as raspadinhas nesse tempo, ainda de forma bem amadora e improvisada, mas era um mercado em potencial, afinal aquilo mexia com a imaginação das pessoas em ganhar prêmios”, ressalta o irmão Lázaro Antônio, o Toninho. Em 1979, José conheceu a esposa, Grécia Oliveira, os dois casaram e tiveram duas filhas: Glenda e Alexa. Anos mais tarde, em 1988, após a morte do patrão, ele decidiu que era hora de empreender e montou sua própria gráfica. Não tinha recursos, mas conseguiu um financiamento através da Legião Brasileira de Assistência (LBA), com auxílio da então deputada estadual, Maria Olívia de Castro e Oliveira. Entusiasmado e com tino para o negócio montou a empresa no quintal mesmo e iniciou a fabricação das raspadinhas. “A Gráfica Progresso começou na casa dele produzindo as cartelas. Depois foi desenvolvendo, melhorando a qualidade, só para ter uma ideia, o material era tão bom que competia com as raspadinhas da Caixa. Essa raspadinha deu origem aos rifeiros de Lagoa da Prata”, destaca Solange. E foi sucesso a impressão das cartelas que davam prêmios aos compradores. Começou com enxovais, logo depois vieram quites de maquiagens e bijuterias, não demorou e todo um comércio foi se criando ao redor daquela ideia. “Grandes empreendedores, o Ronaldo Castro, e outras pessoas, como Ivan Borges, trabalhavam com ele. Todos ganharam muito dinheiro através desse mercado”, lembra o irmão. Em pouco tempo o menino humilde da roça estava com um negócio promissor e ampliando cada vez mais sua atuação no mercado. Adorava música sertaneja e esse estilo de vida do campo, por isso fazia questão de ouvir Rio Negro e Solimões e Milionário e José Rico no carro. Era apaixonado por fazenda e

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foi um dos maiores patrocinadores da Exposição Agropecuária de Lagoa da Prata, tendo investido e incentivado o Sindicato Rural por muitos anos. “Era uma pessoa simples, mesmo depois que ganhou dinheiro se vestia de forma simples. Não, ele não tinha frescura”, conta o irmão Toninho que o acompanhou trabalhando na gráfica. “Ele falava que tinha vontade de ser prefeito de Lagoa da Prata, era uma vontade dele. Queria que a cidade fosse conhecida por todos. E isto de alguma forma aconteceu. É o retrato de espírito empreendedor da cidade, dos rifeiros, dessa gente que sai daqui e desbrava esse Brasil, voltando sempre e construindo para o crescimento da cidade”, destaca Solange. Extrovertido e irmão querido por todos, amigo dedicado e pai amoroso, José Antônio era a festa em pessoa. Quando chegava, animava os ambientes com suas histórias e brincadeiras. Foi um inesquecível ser humano, sempre acreditando no melhor das pessoas. Foi assassinado aos 40 anos, em 23 de agosto de 2000.


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Ronan Ramos é um empreendedor que acredita na educação como ferramenta de transformação de uma sociedade. Empenhado em sempre fazer o seu melhor, construiu uma carreira com altos e baixos, mas sem nunca perder o foco. Inteligente e conhecedor de vários assuntos gosta de conversar sobre economia, política e desenvolvimento, é um entusiasta de que é possível construir um mundo melhor. Filho de Lina Corrêa Ramos e Gentil Teixeira Ramos, nasceu em 02 de setembro de 1981 em Formiga (MG). A família morava em Arcos, mas escolheram outro município para o parto, pois a mãe havia perdido um filho anteriormente na maternidade da cidade. Cresceu cercado de mulheres, afinal teve três irmãs: Leila, Elaine e Liliane. “Era o irmão mais novo e o homem da casa, na maioria das vezes era muito paparicado pela minha mãe e meu pai, apesar de ele ser bem sistemático”, conta o jovem que lembra até hoje quando mudou de residência. “Em 1988 mudamos para uma casa maior, com mil metros quadrados. Era um casarão e, aí sim, tivemos bem mais espaço para brincar”, destaca. Ronan estudou o ensino fundamental na Escola Yolanda Jovino Vaz e na Escola Estadual Dorvina Teixeira Arantes, em 1994 mudou para Lagoa da Prata e continuou os estudos na Escola Virgílio Perillo. Estudioso e com notas excelentes voltou para Arcos e entrou na Escola Técnica de Formação Gerencial do SEBRAE. “Em março de 2001 fui morar em Belo Horizonte, na época trabalhei em uma farmácia de manipulação. No final deste mesmo ano comecei o curso de marketing na Faculdade Nilton Paiva”, recorda. “Sempre gostei da área de marketing, mas também sempre tive a ideia de que seria o dono do meu próprio negócio. O SEBRAE me deu essa base, foi minha faculdade, o que aprendi lá não aprendi em nenhum outro lugar que estudei. Ao longo da faculdade foi uma época de descobrimento. Morava em república, era totalmente independente”, destaca o empreendedor que também trabalhou na área de consultoria. “Passei pela Telemar e uma empresa de software. Fui então convidado para trabalhar em 2006 na

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Cooperativa de Serviços Técnico-Administrativos, que prestava serviço para FEDERAMINAS e junto a isso tinham projetos do SEBRAE. Entre eles, trabalhei como consultor do Programa Empreender, Programa Participar e um que tenho muito orgulho de ter participado da concepção, o Projeto da Estrada Real”, revela Ronan que com estes projetos viajou o estado inteiro. Foi em uma das viagens como consultor que ele descobriu um nicho de mercado ainda mais interessante. “Apareceu dentro dessas andanças uma parceria com a EDUCOM, de Curitiba, que fazia educação à distância. A empresa tinha um projeto inovador com parceria com a USP. Tínhamos um polo no SESC em Belo Horizonte e dali veio minha paixão com educação à distância. Vi ali uma possibilidade de crescimento que não via limite”, destaca Ronan que neste mesmo período retornou para Lagoa da Prata. “Voltei para a casa dos meus pais e comecei tudo de novo aqui. Minha missão era desbravar esse mercado na cidade. Me disseram que não ia dar certo, que não teria perspectiva e não foi só uma pessoa, foram várias! Abri o polo da EDUCOM na Galeria Sanremo em 2008, com 21 alunos. E tiveram mais dois vestibulares com 48 alunos no total. Mas em 2009 o MEC baixou um TAC que regulamentava o ensino à distancia. A EDUCOM foi proibida de fazer vestibular durante dois anos. Tive de ficar sem receber desses anos e ainda formá-los. Fiquei


praticamente falido”, lembra com bom humor. O que parecia o fim era apenas o começo e Ronan não desistiu, teve paciência e sabedoria. “Em 2010 tive a oportunidade de montar a Prepara Cursos, também no desespero. Estava trocando o almoço pela janta. E precisava ter alguma coisa para fazer. E continuava tentando formar os alunos da escola passada. Tivemos quase 800 alunos. Em 2011, montei um curso preparatório para concurso público e OAB. E neste mesmo ano tive uma grata informação do MEC que a cidade estaria contemplada com a migração do polo da antiga EADCOM para UNOPAR. E eu seria o gestor disso”, recorda o empreendedor que em 2013 mudou para uma sede maior, agora com 62 alunos. Acreditando em sonhos e acima de tudo no potencial da cidade para a educação, hoje a UNOPAR tem 29 funcionários e 1.380 alunos matriculados nos cursos de graduação e pósgraduação. São mais de 500 alunos formados com abrangência regional de pelo menos 15 cidades. “Com isso temos no nosso quadro de alunos quase 300 da região que vem estudar aqui. Em 2019 estou trabalhando em instalar uma faculdade presencial em Lagoa da Prata e fecho um ciclo de ter participado na transformação da educação na cidade”, fala Ronan que construiu família aqui e se considera um lagopratense de coração. Casou em 24 de setembro de 2011, com Mariana Cunha Macedo Ramos, com quem teve a pequena Ana. “A Magi, como eu a chamo, é minha parceria, sou muito amigo do irmão dela, Fabricio, o Didi. Estudamos juntos. Amizade de anos! E ela sendo irmã mais nova era sempre protegida e em 2004 namoramos por uns seis meses. Em idas e vindas, em 2007 nos reencontramos em Belo Horizonte e naquele dia nos aproximamos ainda mais. De lá para cá estamos juntos”, conta Ronan que não pensa duas vezes em priorizar e estar com a família. Ele também gosta de viajar e diz que Santiago, no Chile, foi um dos lugares mais interessantes que conheceu e que se pudesse morava por lá. É católico, devoto de São José, santo que inclusive fica na mesa dele como guia para ajudá-lo nas decisões que precisa tomar. Perguntado sobre o que deseja para o futuro, ele prefere ser macro: “Espero uma sociedade mais justa, pessoas mais tolerantes, que respeitem as diferenças e as igualdades. Quero um mundo mais educado no sentido puro da palavra educação. Que tenha mais família na base das pessoas e que cada um tenha em algo que possa acreditar. E muito Amor!”.

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Geraldo Rodrigues (in Memoriam)

Paulo Geraldo Rodrigues foi um político atuante em Lagoa da Prata. Muito além dos mandatos, era trabalhador e um apaixonado pela família. Homem de opinião firme e de boa argumentação foi presidente da Câmara de Vereadores por três legislaturas e o idealizador da instalação do Centro de Terapia Intensiva da Fundação São Carlos. Conseguiu, ajudando tantas outras pessoas, construir um legado que é lembrado até hoje. Foi um homem bom, generoso e desprovido de vaidades. Filho de Jovelina Maria, conhecida como dona Neném, e João Geraldo Rodrigues, nasceu em 06 de julho de 1945, em São Gotardo (MG). Teve oito irmãos que desde cedo sempre ajudaram os pais na fazenda onde moravam. No início dos anos 1950 a família toda mudou para Lagoa da Prata, a convite de Antônio Luciano Pereira, proprietário da Usina Luciânia. Paulo começou a trabalhar aos 11 anos na empresa como office boy e estudou até a quarta série do ensino fundamental na Escola Alexandre Bernardes Primo. Em 1967 casou-se com a primeira esposa, Maria Helena Santana Rodrigues, o casal teve dois filhos: Paulo Roberto Rodrigues e Mário Heleno Santana Rodrigues. A vida seguia tranquila, mas devido às complicações durante o parto do segundo filho, a esposa não resistiu e morreu aos 22 anos. A prematura perda deixou Paulo arrasado, mas ele tinha a responsabilidade maior de criar dois meninos. Em 1972, já envolvido com política, Paulo visitou a cidade de Santo Antônio do Monte (MG) e conheceu uma jovem bonita que seria sua segunda esposa. “A comarca de Lagoa da Prata era lá e ele foi acompanhar a apuração das eleições na época. Nos conhecemos por acaso e nos aproximamos rapidamente”, conta Maria Sônia de Aquino Rodrigues que namorou durante quatro anos e em 1976 casou com o já vereador. “Foi um período muito tranquilo, era um homem seguro de si, ele era muito tranquilo e sociável. Tivemos uma relação muito boa, especial com os filhos dele que ajudei a criar. Eram crianças ainda e me acolheram”, lembra a mulher que engravidou da primeira filha, Paula

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de Aquino Rodrigues e, sem seguida, de Marcelo de Aquino Rodrigues. Paulo continuou trabalhando na usina e cumprindo o mandato de vereador. Era muito articulado e em pouco tempo, já era líder na Câmara Municipal. “Ele achou um máximo ser vereador. Com pouco tempo já entendia de tudo, com um ano estava dando as ordens. E não à toa, foi duas vezes presidente do legislativo”, revela a esposa que também destaca: “A usina era outra vida, a gente tem muito retorno até hoje das coisas que ele fazia. Tinha um trabalho social com muitas pessoas naquela época. Era uma empresa familiar, os diretores e patrões eram mais próximos das pessoas, as ações do meu marido enquanto gerente são ainda agradecidas”. Paulo acreditava que era preciso cuidar das pessoas, por isso, muitas vezes abriu mão do conforto da casa para ir ajudar


os outros. Era um político sem demagogia, concentrado em fazer o melhor para o seu povo e isso lhe rendeu cinco mandatos consecutivos, sempre com votação expressiva. Mas em 1995, o vereador teve que fazer uma escolha. “Eu trabalhava no Fórum de Lagoa da Prata desde a fundação da comarca, fui contadora e tesoureira. Quando entrei para o cartório eleitoral, por incompatibilidade, ele não podia mais ser candidato. Por algum tempo ficou apreensivo, mas logo depois se conformou, mas nunca deixou de trabalhar pelas pessoas dessa cidade”, relembra Sônia. Paulo continuou se dedicando à usina, onde já era gerente administrativo. Trabalhou lá até 2002, quando se aposentou, mas o que seria, a partir daquele momento, descanso, foi interrompido pela vontade dele de empreender e entrar em sociedade na Gráfica Progresso. Em 2005 foi convidado para fazer parte do Conselho Administrativo da Fundação São Carlos. “Ele participava do conselho e não demorou muito a ser escolhido presidente. Era muito dedicado e pensava sempre à frente. Tanto que conseguiu para hospital um software caríssimo na época, para a gestão de recursos humanos, sem custos. Todo mundo fala que ele fez um grande trabalho de gestão, mas não era o suficiente. O Paulo tinha na cabeça que a cidade deveria ter um CTI e contrariando até alguns dos pares dele, foi em busca desse recurso”, destaca a esposa que ao lado da filha Paula, nos mostra as fotos da carreira do

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marido. Paulo não chegou a ver o CTI da Fundação São Carlos em funcionamento, mas teve seu nome fixado no lugar para lembrar seu empenho e dedicação à comunidade. Em 2007, descobriu um câncer no intestino e por causa do tratamento se afastou das funções que exercia. “Eu casei e meses depois descobrimos a doença do papai. Foi devastador, muito ruim mesmo”, revela Paula que guarda na memória a força dele como inspiração. “Ele nunca reclamou de nada, sabe. Não aparentava ter nada e descobrimos isso em um exame de rotina. Minha história com meu pai foi muito boa, sempre foi um exemplo muito grande de trabalho, honestidade e tranquilidade”, destaca. “Ele era único, uma pessoa boa demais para mim e para os meus filhos. Ele resolvia tudo, era proativo. Era um líder, festeiro, que gostava de fazer churrasco e reunir os amigos”, diz Sônia. Paulo recebeu em vida muitas homenagens, como a Medalha de Honra ao Mérito da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais. Era um homem simples, apesar da grande popularidade política, gostava de tomar uma cervejinha e reunir família e amigos no sítio. Ouvia sertanejo de raiz e seu hobby era pescar. Religioso visitou Jerusalém e Roma em 2009, um sonho antigo que lhe causou grande emoção. E na fé, não só na igreja, mas de um mundo melhor, construiu uma trajetória íntegra, como poucos homens públicos desse país podem ser orgulhar de ter.


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Por Fábio Barbosa

ntônio Otaviano de Castro

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osé Teotônio de cAstro e a história da Lobatinha!

Antônio Otaviano de Castro é um daqueles homens entusiastas, de uma geração que tem valores na base familiar e com uma história de vida que rende roteiro de cinema. Casado com Leila Lobato de Castro, sua companheira de vida, o fazendeiro sem dúvida é um homem à frente do seu tempo. Pai de oito filhos é o patriarca de uma família com tradição em trabalhar por Lagoa da Prata. Filho do saudoso José Teotônio de Castro (Zé Vital) e Maria Bernardes (D. Neném), Antônio teve mais cinco irmãos. A admiração pelo pai é notável, a cada frase um novo causo se revela. E essa inspiração em casa foi fundamental na formação dele. “Eu nasci e fui criado em Lagoa da Prata. Meus pais eram de Santo Antônio do Monte, vieram para cá para trabalhar. Meu pai veio tomar conta da fazenda do seu Juca, a Forquilha”, lembra. A vida no campo era tranquila, quando pequeno ajudava a família e pegou gosto pela zona rural. Em 1929, após a crise econômica que o país enfrentou a fazenda foi colocada a leilão. “Seu Juca quebrou e o dinheiro que tinha foi para pagar dívidas. Meu pai engordava porcos também, era uma das nossas fontes de renda. Comprava os porcos, engordava e ganhava um dinheirinho. Em 1937, o pai comprou a fazenda Laranjeiras. Ele foi em Santo Antônio do Monte e procurou os sócios para não perder a oportunidade. Dentro de dois anos, plantou e criou gado e conseguiu recuperar o investimento e a fazendo começou a dar lucro”, conta. A fazenda da Olaria comprada pelo pai de Antônio na década de 1940 é berço de uma das cachaças mais tradicionais de Minas Gerais, a Lobatinha. “A fazenda era do avô da Leila, o seu Juca Lobato, que com o seu Ângelo Perillo resolveu montar um engenho de cachaça lá e registraram como Lobatinha, em 1920. Fabricaram essa cachaça muito tempo, mas depois da morte do seu Juca e com a venda da fazenda, a produção parou. “Quando meu pai comprou retomamos a produção. O engenho foi remodelado e iniciamos a fabricação outra vez. Mas com a morte do meu pai, acabou. E o registro caducou. Hoje ela é registrada por uma empresa do interior de São Paulo. Cheguei a experimentar, era boa mesmo, feita com capricho, coisa para exportar” revela com saudosismo o filho do primeiro Prefeito de Lagoa da Prata. “Meu pai foi o primeiro prefeito eleito de Lagoa, naquela época com 900 votos. No tempo que ele foi prefeito, a cidade tinha problema com abastecimento de água. E numa ocasião veio o secretário do interior e meu pai não perdeu a oportunidade. Em 1947 eles almoçaram juntos na casa do meu pai que se queixou da dificuldade de água aqui. E ele disse que era para furar um poço artesiano e enviou

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uma máquina para isso. Mas quando veio não tinha um terreno, então foi no nosso terreno mesmo e até hoje é um dos melhores poços que ainda abastecem a cidade”, conta. “A energia elétrica em Lagoa da Prata, era muito deficiente. Não iluminava nada, vinha da “Cemiguinha” uma pequena usina elétrica. Meu tio, que morava em BH, sugeriu a meu pai que colocasse um motor a óleo para resolver o problema durante a noite, das 18 às 23h. A câmara foi contra, mas meu pai resolveu bancar os custos. Assim a cidade passou a ter uma luz boa, o cinema funcionou e melhorou a cidade em vários aspectos. Os vereadores vendo as melhorias aprovaram o projeto que continuou até a vinda da Cemig em meados de 1960”, destaca o filho que ainda lembra que foi durante o mandato do pai que a Escola Alexandre Bernardes Primo foi construída. Antônio estudou em Santo Antônio do Monte (MG) e por lá viu a primeira explosão de uma casa de fogos. Algo que se tornou comum após a instalação de várias empresas desse tipo no município. Fez o ensino médio em Formiga (MG) e retornou para Lagoa da Prata com o objetivo de ajudar a família na fazenda. Mas foi uma ação na cidade que chamou atenção dele e lhe rendeu o futuro casamento. “Quando construíram o Colégio Nossa Senhora de Guadalupe nós trabalhamos. Minha futura esposa era candidata num concurso que arrecadou dinheiro para a obra, tudo organizado pelo Padre José Pires. E

vendíamos as rifas para ajudar. Eu e ela conseguimos mais de 100 mil, numa obra que custava na época 380 mil. Ela estudava em Divinópolis. Então para vir para cá, não tinha jeito. O colégio depois de pronto, também não tinha laboratório. E então eu disse, eu dou o laboratório. E ficou em uns 30 mil, isso em 1953”, recorda o fazendeiro que não largou mais a companheira que o seguiria por toda a vida. Apaixonado pela história da família, Antônio conta com orgulho os feitos do pai. Este sentimento de gratidão e admiração reproduz um legado que muitos lagopratenses sequer conhecem. A família Castro é um símbolo das maiores conquistas da cidade. A Praça de Esportes, por exemplo, só existe graças à doação do terreno por José Teotônio de Castro. Assim como o terreno do Colégio Nossa

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Senhora de Guadalupe. Na época da instalação da usina de cana de açúcar, ele também teve papel estratégico, foi quem vendeu 600 alqueires de terra, o que possibilitou a expansão da área da plantação e anos mais tarde também foi quem permitiu a construção da estrada, por dentro de sua fazenda, para a passagem de caminhões. E, para completar, foi um dos sócios da pioneira indústria de laticínios que mais tarde se tornaria a Embaré. Hoje com 87 anos, Antônio orgulha-se da sua vida simples e da contribuição da família com a cidade. Os filhos, herdeiros desse legado, construíram uma família ainda maior, com netos e bisnetos que às sextas-feiras tomam café juntos no final da tarde. Uma tradição trazida da fazenda que os mantém unidos ao redor do pai que é exemplo de vida. O fazendeiro agora só visita a fazenda de vez em quando, mas a força do homem do campo ainda está presente em suas palavras e na memória afinada que lhe faz ser bom de prosa, como diz em Minas Gerais. Uma vida íntegra, marcada pela dedicação e empenho em fazer sempre o melhor!


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uy amorim

(in memoriam)

Ruy Amorim , nasceu em Lagoa da Prata em 12 de novembro de 1937 e faleceu em 31 de agosto de 2015. Filho de Pedro Roberto Amorim e Zenith Silva Amorim é de uma família de cinco irmãos, Roberto, Romeu, Rômulo e Maria Ismênia, sendo a última a única viva. Casou-se em dezembro de 1959, com Iva Luzia Amorim. Dessa união abençoada nasceram quatro filhos, Ramiro, Rui, Paulo e Cynara ; sete netos, Gabriela, Renata, Luma, Isabelle, Júlia, Marina e Pedro, e um bisneto, Miguel. ESTUDOS E TRABALHO Estudou na Escola Professor Jacinto Campos, onde concluiu a quarta série. Ficou órfão de pai aos oito anos e desde a tenra idade teve que trabalhar em serviços braçais, empilhando lenhas, vendendo quitandas que sua mãe fazia, ou qualquer outra tarefa que surgisse para ajudar a família. Sempre vivendo e trabalhando perto da estação ferroviária de Lagoa da Prata e, conhecendo todos que ali trabalhavam, aprendeu telegrafia “de ouvido“ e, aos 15 anos, prestou concurso na rede ferroviária, no qual foi aprovado e tomou posse em Belo Horizonte. Logo começou a trabalhar como telegrafista nas estações ferroviárias Garças e Carlos Bernardes, Lagoa da Prata e, posteriormente, como chefe de estação em Luciânia. COMERCIANTE Aos 21 anos de idade casou-se e continuava ajudando sua mãe. Como ferroviário, sua renda não suportava a manutenção das duas famílias. Para obter uma renda paralela começou a importar de Belo Horizonte frutas e verduras e as colocava no comércio

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local e na cidade de Luz. Isso começou a dar- lhe uma renda, abrindo–lhe o horizonte para outros investimentos. Foi a partir daí que teve início a sua vida de construtor de imóveis. Sua capacidade empresarial está hoje demonstrada através da Construtora Engenharia Amorim, que constrói imóveis residenciais de alto padrão nos melhores bairros de Belo Horizonte. POLÍTICA Convidado a ser candidato a vereador nos idos de 70, sua base eleitoral ficava na usina Luciânia. Naquele tempo quase todo transporte de passageiros era feito de trem. Como chefe de estação ferroviária de Luciânia, convivia com muita gente e por ser muito comunicativo, conversava com todos e para todos pedia votos. Foi vereador por dois mandatos, e, por diversas vezes, Presidente da Câmara Municipal de Lagoa da Prata. Entrou para o Rotary no ano de 1971, no qual diversas lideranças da cidade faziam parte. No ano de 1972, teve 1111 votos para vereador. A vitória expressiva o credenciou a ser candidato a prefeito na eleição seguinte. Em 1976 foi eleito prefeito de Lagoa da Prata, para o período de 1977 a 1982. A administração municipal nesse período tinha uma equipe coesa e comprometida com o progresso da cidade formada por Milton Lacerda, Dr. Ciro dos Santos e Arthur Bernardes Filho. O ótimo relacionamento com diversos políticos do âmbito estadual e federal proporcionou a


realização de diversas obras e investimentos marcantes para o desenvolvimento da cidade. VIDA COMUNITÁRIA Sempre esteve presente em diversas causas. Foi também rotaryano por diversos anos e presidente do Rotary por duas vezes, confrade na Sociedade de São Vicente de Paulo até o final de sua vida e, foi também, presidente do Conselho Vicentino. FAMÍLIA Gostava de elogiar sua esposa Iva, pela exclusiva dedicação à família. Como pai, foi sempre presente e amigo de seus filhos, incondicionalmente, usava sua autoridade de pai quando necessário. PRAZERES E HOBBIES Viajar com a família ou com os amigos para qualquer local, não importava o destino. Adorava fazer caminhadas, nadar, frequentar a sala de musculação e tomar sauna no clube Umuarama. RELAÇÃO COM OS AMIGOS Sempre teve uma consideração especial e fraternal com seus amigos, dividindo os bons e maus momentos. FRASE OU PENSAMENTO QUE REPRESENTA RUY AMORIM Fé e superação, pois o êxito não consiste em não cair nunca, mas em levantar cada vez que cai. LIVRO “Caminhos trilhados, desafios superados”, em segunda edição, escrito por Dr. Ciro dos Santos e Maritana Bessas, trata sobre a trajetória de vida de Ruy Amorim e está disponível para quem desejar com seus familiares.

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S

Por Fábio Barbosa

ilvério Rocha de oliveira (in memoriam)

Silvério Rocha de Oliveira é o fundador da Academia de Letras de Lagoa da Prata e um dos mais célebres cidadãos de sua geração. Um homem que construiu uma vida com pouco estudo, sempre exercendo suas decisões com sabedoria e coesão. Foi um pai de família exemplar, empresário de sucesso e um fiel colaborador para o município. Filho de Alcídia Rocha de Oliveira e João Marinho de Oliveira, nasceu em 14 de setembro de 1933 e teve dois irmãos: Lázaro e Maria. Foi criado na fazenda, entre Lagoa da Prata e Santo Antônio do Monte. Ajudava os pais no campo, mas, aos 12 anos, foi morar em Belo Horizonte. Na capital começou a trabalhar em uma farmácia e todo o dinheiro que ganhava enviava para ajudar a família. Anos mais tarde, voltou para a cidade e foi trabalhar também em uma farmácia. “O seu Odilon deu uma oportunidade para ele”, conta a esposa Nanete Araújo Rocha que lembra com saudade da época em que os dois se conheceram. “Naquele tempo vínhamos andar aos sábados e domingos na praça, caminhávamos de um lado para o outro, e as vezes íamos ao cinema. Uma noite, ele chegou perto de mim e perguntou se queria namorar com ele. E eu aceitei na hora”, conta. O namoro durou cerca de um ano e os dois resolveram que era hora de oficializar a união. “Quando eu fiquei noiva, não tinha mais nem pai, nem mãe, fui criada com meus tios. Ele chegou uma noite e falou que deveríamos casar e eu falei, uai eu quero. E então fomos fazer o pedido para o tio Lazico. Ele pediu, e o tio deixou. Ficamos noivos em 25 de outubro de 1952 e casamos em 13 janeiro de 1953”, recorda. Silvério foi

um dos homens mais bonitos de sua geração, era alto, elegante e conversava sobre todos os assuntos, apesar de não ter estudos. A esposa era chamada de “princesa”, por causa do cabelo loiro e, da também notável, beleza. Foi um homem romântico, galanteador e boêmio. Para viver com Nanete, alugou uma pequena casa no bairro Américo Silva. “Eu era pobre, ele também, então juntamos nossas escovas como diz por aí. Começamos nossa vida do nada, mas nunca faltou amor. Quando ele viajava sempre trazia flores. Era uma delicadeza que me encanta até hoje”, recorda a esposa que no buquê do casamento teve apenas duas rosas e ganhou pelo resto da vida flores como símbolo do compromisso de Silvério. Pouco tempo depois, apareceu uma proposta para ele trabalhar em Baú das Estrelas, em Luz (MG). Ele aceitou e os dois mudaram para administrar a única farmácia do povoado. “Fomos mora atrás da empresa e eu ajudava. Aprendi até aplicar injeção e manipular remédios”, relembra a esposa. Um ano depois e já com a primeira filha, retornaram para Lagoa da Prata e foi na farmácia da Usina Luciânia que ele encontrou uma oportunidade de trabalho. Em 1957 voltaram novamente para Luz e seis meses depois Moema (MG). “Ele era tão preocupado com os pais, que assim que chegamos ele montou a farmácia, gastou o lucro na construção de uma casa para os dois. Depois a nossa! Nesse tempo fez o curso de farmacêutico por correspondência pelo Instituto Universal Brasileiro e ajudava muito as pessoas, era quase um médico da cidade”, destaca com saudade a mulher que o acompanhou por toda a vida e se orgulha

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dos feitos do marido. “Em Moema, ele fundou o Rotary Clube e construiu o Clube Social Moemense, sendo o primeiro presidente. Virou uma referência na cidade e também começou a trabalhar com política, sendo cabo eleitoral do deputado Sebastião Navarro Vieira”, fala. No início dos anos 1960 mais uma mudança, a família saiu de Moema e seguiu para Divinópolis, onde Silvério montou uma outra farmácia. Mas como mercado era mais competitivo, o negócio acabou não dando certo, então ele decidiu investir em Lagoa da Prata e em 1964 fundou a Farmácia Pio XII. “Meu marido acreditava muito no que fazia, tanto que após montar a primeira farmácia, não demorou muito e criou mais duas, a Centrofarma e a Farmácia Tânia. Dominou o mercado, eram tempos bons, ele comprou uma casa para os pais aqui e a nossa fazenda. Também construiu o nosso prédio na Avenida Joaquim Gomes Pereira, em frente à Prefeitura”, recorda Nanete, que teve sua última filha nesse período. Os herdeiros seguiram uma tradição criada pelo pai com as iniciais

sempre com as letras H e K: Helen Keller, Helder Kleber, Helena Kesler, Hegler Kelser, Helmer Kepler, Helse Kenner, Hesione Kempler e Heisel Ketler. Depois de terem os filhos o casal foi estudar. Nanete fez o curso de Estudos Sociais e exerceu o cargo de professora. Silvério começou o curso de Direito em 1980, na Faculdade de Direito do Oeste de Minas, e depois de formado fez especialização em Direito de Família. Autodidata em oratória, por sugestão de Dom Belchor Joaquim da Silva Neto, começou a escrever e pensar em publicar um livro. O primeiro, intitulado “Retiro do Pântano”, levou nove anos de pesquisa para ficar pronto. E tudo registrado na máquina de escrever. “Ele lia muito, íamos deitar, mas ele sempre estava ali estudando, às vezes bocejava, mas ficava firme. Lia vários livros ao mesmo tempo. Só para você ter ideia de como ele era inteligente, quando entrou no curso de espanhol concluiu em seis meses. Era tão dedicado que estudava a lição anterior e a próxima ao mesmo tempo. Chegava

em casa e queria conversar com tudo em espanhol e ninguém tinha paciência”, conta a filha Hesione. Sem vaidades e com forte influência política, ele se tornou um dos principais articuladores da campanha eleitoral que elegeu o deputado estadual Otacílio Oliveira de Miranda. Apesar de ter recebido vários convites para ocupar cargos públicos, sempre recusou, gostava de política enquanto contribuição coletiva, nunca pensou em si mesmo. Ajudou por vários anos a Sociedade São Vicente de Paulo e outras instituições, como as lojas Maçônicas de Lagoa da Prata e Moema, que ele fundou e com seu nome foram batizadas. Era colaborador assíduo dos jornais da cidade, sempre com colunas importantes e de prestígio. A esposa lembra uma de suas histórias favoritas, que demonstra o quanto ele era despreocupado com as aparências. “Certa vez um dos políticos que ele apoiava veio aqui em casa e disse – Silvério, você é um empresário e fazendeiro, precisa se vestir mais adequadamente. E ele respondeu – Escuta

aqui meu caro, se algum dia na vida eu for reconhecido pelo que estou vestindo, eu posso morrer”, conta Nanete, que foi com ele na antiga loja Ideal Tecidos na semana seguinte e compraram dois rolos de tecidos, um marrom e outro azul. Silvério mandou fazer calças do primeiro e camisas do segundo, tendo por muitos anos as mesmas roupas e sempre iguais. Quem não sabia, achava que ele estava repetindo, mas quem disse que ele se importava com isso? Publicou mais quatros livros e deixou um legado de histórias que sempre serão lembradas pela família e por quem o conheceu. “Sinto saudade, é o tal do amor eterno que transcende até a morte... Não esqueço dele e tenho certeza que muita gente por aí também não, era um homem à frente do seu tempo”, resume a esposa com uma foto dele em suas mãos, guardada com carinho e símbolo real de uma vida vivida a dois. Silvério Rocha de Oliveira morreu em 30 de agosto de 2006, com 73 anos.

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Por Fábio Barbosa

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osé Vidal

“Juca Davi” (in memoriam)

Um dos maiores fazendeiros de Lagoa da Prata e região, sem dúvida, foi o empresário José Vidal, conhecido popularmente como Juca Davi. De origem humilde, com pouco estudo, mas sem medo de trabalhar, conseguiu construir um patrimônio com sua perseverança. Transformou a pequena roça onde cresceu em uma grande fazenda, uma das mais produtivas do centro oeste minero. Era movido a desafios! Filho de Alvina Silvana Amaral e Davi Vidal, nasceu em 10 de maio de 1927, na pequena propriedade da família próxima ao Rio Santana. Desde criança era dedicado ao campo, ajudava a tirar leite das vacas e capinar, cresceu acostumado com o suor no rosto, um esforço diário que lhe rendeu aprendizados. Estudou na Escola Estadual Jacinto Campos até o quarto ano do ensino fundamental, mas as longas caminhadas a pé para chegar até o local, fizeram o garoto desistir, preferiu trabalhar. O pai, quando José tinha 15 anos, morreu subitamente, por ser o filho mais velho, coube a ele a responsabilidade de cuidar da mãe e dos irmãos. A herança foi uma porca com crias, que vendeu para

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comprar dois bois. Em 1959 o homem, que era esbelto, conheceu a jovem Maria, foi paixão à primeira vista. “Nos conhecemos aqui mesmo em Lagoa da Prata. Sai para passear com ele e a namorada, que era minha prima. Três dias depois chegou um recado na minha casa pedindo em namoro, dizendo que pensava em mim e que estava disposto a terminar o outro relacionamento. Fiquei muito surpresa! Meu pai que era amigo dele soube e aconselhou – É um moço muito bom, um moço de futuro, mas depende de você. Então aceitei”, recorda Maria Trindade Vidal que casou com o galanteador em 12 de abril de 1960 na Igreja Matriz de São Carlos Borromeu. Do casamento nasceram sete filhos: Sandra Vidal, José Vidal, Adriano Vidal, Ricardo Vidal, Silvana Vidal, Patrícia Vidal e João Rocha Vidal. A união foi um encontro de almas, tanto que a sintonia entre os dois sempre foi comentada e admirada pelos amigos e familiares. Uma das atividades favoritas de José era jogar futebol. Torcedor de carteirinha do Cruzeiro, participou do histórico time lagopratense La Prata.


Quebrou a perna em um dos jogos e foi preciso operar. A cirurgia lhe tirou dos campos, mas não limitou o amor pelo esporte. Era um dos telespectadores assíduos do campeonato mineiro e brasileiro. E gostava de estar concentrado, sem nenhuma interrupção! Na fazenda, era evidente a sua vocação para os negócios. José começou fornecendo 50 litros de leite por dia para a Embaré e ao longo dos anos foi expandindo suas terras. “Ele cuidava do gado e comprava muita terra. O que ele mais gostava de fazer, inclusive, era comprar terras, a vida toda não vendeu nenhum alqueire se quer. Afinal quem compra terra não erra”, destaca a esposa que auxiliava o marido nas atividades domésticas, a casa sempre foi administrada com muito carinho e maestria, uma marca que até hoje pode ser vista na residência da família, na Rua Santa Catarina. As terras do empresário produziam também café, arroz e feijão. Recebeu vários títulos e homenagens pelo excelente desempenho como fazendeiro e isso não lhe envaidecia, ao contrário, quando bateu o recorde de produção de leite, com 11 mil litros diários, não se contentou. O objetivo era sempre mais, hoje as fazendas produzem 13 mil litros diários, um legado de muita dedicação deixado para os filhos, que desde cedo também já acompanhavam o pai em todas as atividades, atuando desde a ordenha nas vacas até a administração. Outra característica importante era seu bom coração. “O José gostava demais de quem trabalhava e quem teve essa oportunidade também gostava muito dele. Era um homem muito gente boa, gostava de tudo certo, chamava atenção quando era preciso, mas era muito carinhoso. Para você ter uma ideia, ajudou muita

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gente ali no vilarejo de Esteios, muitas crianças que adoeciam ele comprava remédio. Quando alguém tinha problema mais sérios, chegou a pagar cirurgias em Belo Horizonte, nunca se negando a ajudar”, ressalta Maria, que ainda revela que o marido não gostava de beber, nem fumar, seu único vício, digamos assim, era uma boa comida mineira. Sem pretensões políticas, apesar de sua posição social e influência, a única vez que pisou em um palanque foi na década de 1980, quando o então deputado federal Newton Cardoso, lhe convidou. “Ele foi lá porque o político prometeu o asfalto daqui de Lagoa para Luz. Como as fazendas ficavam naquela região era interessante estar presente. Mas você acredita que meu marido morreu e não viu esse asfalto?”, questiona a esposa. Fragilizado pelo Alzheimer, José foi perdendo a memória, mas não lhe faltavam companhias para lembrá-lo que sua trajetória de vida transformou a de outras pessoas. A esposa, sempre presente, cuidou dele e ainda se emociona ao lembrar: “Eu sinto saudade demais. Ele ficou acamado por muito tempo, a doença foi o enfraquecendo, mas estávamos todo dia com ele, agora ficou um vazio... É um companheiro que deixou saudade”. O filho João Rocha Vidal resume o pai em poucas palavras: “Um pai que não tem melhor, sempre que precisávamos dele, esteva presente. Tudo que pedia a ele, me dava. Mas sempre dizia, tem que trabalhar para vencer”. O homem que começou a vida do nada se tornou um grande empreendedor, mas não perdeu a essência, era na fazenda que se tornava feliz. Uma simplicidade que carregou até 24 de setembro de 2017, quando faleceu.


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Por Fabrício Azevedo

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Antônio Guadalupe (in memoriam)

Data de nascimento: 01 de janeiro de 1920 Nome dos pais, da esposa, dos filhos e dos netos e bisnetos: Pais: Luiz Augusto Guadalupe e Avelina Bernardes Guadalupe (pais) Esposa: Margarida Carvalho Guadalupe Filhos: Gláucia Carvalho Guadalupe, Luiz Augusto Guadalupe, Maria Eugênia Guadalupe, Rubens Carvalho Guadalupe, Elizabete Carvalho, Guadalupe, Rosa Filômena Guadalupe Magalhães e Ana Cristina Guadalupe Caricati. Netos: Maria Fernanda Guadalupe de Morais, Tarcísio Guadalupe Buzelin, Pedro Augusto Guadalupe de Morais, Caio Guadalupe Boechat Magalhães. Júlia Magalhães Diniz Guadalupe, Laura Carvalho Guadalupe Boechat Magalhães e Paulo Henrique Guadalupe Caricati.

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Na cozinha, ele sabia fazer algo? Qual era o prato favorito? Ótimo cozinheiro, o prato que mais gostava e fazia sempre para a família e amigos era a famosa bacalhoada. Ele era um homem muito elegante. Era vaidoso? Sim, sem exageros! Gostava de perfumes? Sim! Que tipo de assunto ele mais gostava de conversar? Casos antigos de família e amigos. Ele gostava de viajar? Qual lugar que ele gostou de conhecer? Sim. Itália e Portugal. Ficou alguma coisa a ser realizada e que ele planejara fazer? Sim, ele sempre falava em ganhar na loteria para dividir com a família e seus amigos. Como ele achava que era a política educacional no país, ou seja, ele se queixava de prioridades nos governos federal, estadual ou até mesmo local? Sempre questionava a importância da educação no país, pois dizia que na sua época era mais valorizada.

Onde nasceu e cidades onde morou? Nasceu e faleceu em Lagoa da Prata. Onde estudou e qual era a formação acadêmica? Estudou nas cidades de Formiga e Belo Horizonte. Cursou Odontologia e se formou cirurgião dentista. Quando conheceu a esposa, quanto tempo namoraram até o casamento, onde foi o casamento e se houve festa? Eles se conheceram em 1941, em Lagoa da Prata, e se casaram em Itaúna, cidade de sua esposa, em 1948. Houve uma linda festa de casamento. Em quais funções atuou dentro da área educacional? Professor de matemática, um dos fundadores da Escola Nossa Senhora de Guadalupe, onde ficou como diretor de 1965 a 1983. Como foi o envolvimento dele com a política? Foi vereador pela UDN e muito atuante na política local. Como ele era como marido? Ótimo marido, segundo a apaixonada esposa, Margarida, que viveu ao seu lado por 62 anos. Como ele era como pai? Um pai maravilhoso, carinhoso, amigo, confidente e parceiro. Muito amado por todos e deixou muitas saudades! Como era a relação dele com os amigos? Era admirado e muito querido por todos os seus amigos, que não eram poucos. O que gostava de fazer como diversão? Pescar, jogar baralho e assistir voleibol, também junto da esposa. O que o deixava irritado? Não suportava barulho.

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Qual era a relação dele com dinheiro? Era muito mão aberta, mas priorizava o conforto da família. Qual era a relação dele com religião? Era muito católico e devoto de Santo Antônio. Havia alguma frase ou pensamento que ele sempre citava ou que era sua favorita? Segundo ele não se deve preocupar antes, porque nada aconteceu ainda e nem depois, porque já aconteceu!


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de Aquino Resende Por Beatriz Vasconcelos

Dr. Tomáz de Aquino Resende é o atual procurador geral do município de Belo Horizonte. Filho dos saudosos Sr. Zezé e Dona Zazá, nasceu no ano de 1958 em Santo Antônio do Monte. Antes de se casar com Dona Zazá, o pai havia ficado viúvo com quatro filhos, e dessa segunda união nasceram mais nove filhos além de dois adotivos. A família veio para Lagoa da Prata no final da década de 60. Isso aconteceu após o patriarca ter se candidatado à prefeitura de Samonte. Como não foi eleito, quis mudar de cidade, dizem que ele sentia vergonha de ter perdido a eleição. Nessa, então, quem ganhou foi o povo de Lagoa da Prata, porque a prole numerosa rendeu muitos frutos por aqui. O dr. Tomáz tem participação profissional riquíssima para toda a Minas Gerais, e essa importância tem um alcance nacional, pois ele é um dos poucos especialistas e estudiosos do Terceiro Setor (campo que abrange as ONGs, entidades filantrópicas e outras formas de associações civis sem fins lucrativos). Neste assunto, tem três livros lançados, um deles em sua quinta edição, além de vários artigos publicados em revistas científicas. Casado com Elzira há 34 anos, o procurador é pai de Carolina, que lhe deu duas netas; e André, também advogado e que irá se casar em março. Tomáz Resende foi promotor de Justiça, por 23 anos atuou no Ministério Público. Aposentou como procurador de Justiça de Minas Gerais. Hoje mantém seu escritório de advocacia na capital, e divide as funções do Direito com a administração da sua fazenda, aqui em Lagoa da Prata, onde considerada sua morada. Como se deu o seu envolvimento com o Terceiro Setor? Começou porque eu precisei fazer uma intervenção, em 1993, na Faculdade de Ciências e Letras da cidade de Formiga. Ela é uma fundação, na época tinha apenas três cursos, estava para ser fechada, e havia acontecido atos ilícitos na sua administração. Eu precisei estudar bastante sobre as fundações para atuar nesse problema lá, e foi

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um caso bem resolvido. O resultado é visto hoje, a Unifor recuperada, bem estruturada, com muitos cursos e uma educação de grande credibilidade. Foi um trabalho que surtiu repercussão nacional, e em 1995 eu fui promovido para a Promotoria de Fundações em Belo Horizonte. Foram 18 anos trabalhando com o Terceiro Setor no Ministério Público. O Terceiro Setor recebe muitas críticas. Os questionamentos acontecem, principalmente, em relação a vantagens fiscais ou ilícitas advindas da boa vontade daqueles que querem ajudar as instituições filantrópicas. Qual é a realidade dessa visão? É um pensamento equivocado e um dos grandes problemas que temos, por falta de conhecimento da população sobre o Terceiro Setor. Se alguém quer fazer falcatruas, é no Segundo Setor (campo das empresas privadas) a área mais fácil para enganar pessoas. É claro que existem alguns poucos casos de desonestidade, como esse da faculdade, por exemplo, mas é um número irrisório e muito insignificante diante dos benefícios enormes que temos com as fundações. Veja como é o Terceiro Setor em Lagoa da Prata: temos o Hospital da Fundação São Carlos para atender a demanda do SUS, o SOS, a Sociedade São Vicente de Paula, Fundação Chiquita Perillo, Associação Francisco de Assis, Sara Aparecida, entre outras. O que seria da nossa população se


não existissem essas instituições? O senhor participou de muitas implantações de APACs (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado) no estado, inclusive a da nossa cidade. Essa dedicação maior com o Terceiro Setor no sistema prisional foi por predileção? Não foi predileção, porém eu me sinto muito realizado profissionalmente com as APACs. O meu trabalho com elas se deu pensando na segurança do país, e faz parte da minha preocupação, individual também, como cidadão que sou. Acho que a humanidade em sua evolução em vez de melhorar, vem piorando, porque tem cometido violências e barbáries cada vez maiores. Eu comecei a estudar sobre as prisões, desde a antiguidade, as masmorras romanas, as crucifixões, os exílios. Sabemos que o castigo por si só não transforma um criminoso em uma pessoa de bem, e temos que lembrar que o Brasil foi colonizado por degradados de Portugal (pessoas que cometeram crimes e foram expulsas de lá). Eu quis me aprofundar nesses estudos e fui convidado para conhecer a APAC de Itaúna. Já existia em São Paulo, mas não tão próspera como essa mineira, que era única no nosso estado. Vi o resultado, em vez de ficarem ociosos cumprindo penas, os

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detentos estudavam, trabalhavam, e tinham respeito. Por isso a chance de recuperação. Naquela época eu tinha uma proximidade grande com o Senador Anastasia, que era o então secretário de Planejamento do Estado. Eu o convidei para conhecer a APAC e ele foi comigo a Itaúna. Na viagem de volta, ele me perguntou: ‘quanto você acha que custa para fazer um prédio de APAC’? Eu fiz um cálculo ‘chutado’ por uma garagem que eu tinha construído na minha casa com 50 mil reais, pensei que poderia ser o equivalente a dez garagens, e respondi: 500 mil reais. Ele então disse: ‘Prepare-se para quando chegarmos a Belo Horizonte, porque pretendo liberar 5 milhões para fazer dez APACs em Minas Gerais’. Eu senti um ânimo muito positivo, disse a ele que queria uma em Lagoa da Prata, ele concordou e eu então me apressei para isso. O valor da verba calculada no improviso não era suficiente, aliás, não dava nem para a metade. Foram precisos mais 8 milhões, e conseguimos implantar nove APACs, sendo que Lagoa da Prata foi a primeira cidade desse ‘pacote’. Com essa experiência toda e suas relações fortes com as autoridades, o senhor pensa em se candidatar a algum cargo político? O futuro a Deus pertence!


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oaquim

batista neves (sr. Quinzico) 21/06/1916

23/07/2012

- IRMÃOS: José Batista Neves - Nilton Batista Neves - Otávio Batista Neves - Wilson Batista Neves - Abigail Batista Neves - Otaviano Batista Neves.

Gustavo, Letícia, Lucas, Daniel, Túlio, Mariana, Mateus, Felipe, Natália, Guilherme, Jonas, Hugo, Vitor, Thais, Pedro e Lucas.

- FILHOS: Ivan Mendes Batista, Wilson Batista Mendes, Nilo Eustáquio Batista Mendes (In Memoriam), Marlene Batista Mendes Chaves, Maria Inês Batista Mendes Rocha, Mirian Batista Mendes Pereira, Rui Batista Mendes, Maria José Batista Mendes de Castro, Marisa Batista Mendes (In Memoriam), Eugênio Batista Mendes e Guarino Batista Mendes.

BISNETOS: Arthur, Gabriela, Guilherme, Ana Luíza, Luíza, Clarice, Ana Clara, Henrique, Isabela, Beatriz, Giovanna, Cecília, Elisa, Gabriel Vinícius, Maria Paula, Bernardo, Pedro, Antônio, Helena, Francisco.

- ESPOSA: LENITA MENDES NEVES. - Casados por 58 anos. De 23/06/1943 à 30/06/2002. - NETOS: Aline, Marina, Alisson, André, Ana Flávia, Gabriel, Rafael, Liana, Tiago, Renata, Viviane,

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- Natural de Santo Antônio do Monte, onde passou sua infância e adolescência. - Estudou até o quarto ano do ensino fundamental I em Santo Antônio do Monte. - Começou a trabalhar aos 13 anos de idade. Seu primeiro trabalho teve início em 08/12/1929 até 28/06/1935, na Casa Comercial do Sr. Chico Sertório na Cidade de Santo Antônio do Monte. Em julho de 1935 mudou-se para a Cidade de Bom Despacho, tendo trabalho em vários comércios daquela Cidade até julho de 1940. No período de julho de 1940 a janeiro de 1941 trabalhou na Casa Paim na Cidade de Luz. No período de Janeiro de 1941 a 1947 trabalhou na Empresa Soares Nogueira. No ano de 1948/1949 trabalhou na Laticínios Lagoa da Prata. A partir de janeiro/1950 comprou um caminhão Chevrolet/48 e passou a trabalhar por conta própria. Na mesma época, abriu um estabelecimento comercial (armazém), tendo sido o mesmo fechado no ano de 1970. Aposentou-se pelo INSS em 1976. - LATICÍNIOS LAGOA DA PRATA: Em 1942, o Sr. Quinzico assumiu o lugar do Sr. Levy Carvalho na Laticínios Soares Nogueira, onde passou a ser o responsável pela captação do “creme” junto aos produtores rurais em nossa região. Diante da concorrência na compra do “creme”, ele, por várias vezes, tentou junto à diretoria da Soares Nogueira, sem êxito, melhores preços para o “creme”. Como as reclamações dos produtores não eram atendidas passou a desenvolver a ideia de criar, junto com os fazendeiros, a própria indústria de laticínios, a exemplo de uma cooperativa. No ano de 1948, de fazenda em fazenda, o Sr. Quinzico passou a buscar adesões à sua audaciosa ideia. O capital subscrito por 85 fazendeiros ultrapassou a expectativa. Começava aí, com o aval do Coronel Zé Vital, a criação e constituição da “Laticínios Lagoa da Prata Ltda”. Por um ano e meio a Laticínios Lagoa da Prata funcionou, provisoriamente, nas Grotadas, até que no dia 22 de novembro de 1948, com a presença do Governador do Estado de Minas Gerais, Dr. Milton Campos, e os Secretários de Governo, Pedro Aleixo, Américo Gianetti, Magalhães Pinto, dentre outros, além de outras autoridades,


tais como Dom Manoel Nunes Coelho – Bispo Diocesano, Padre Pelegrino Guarino – Vigário da Paróquia, a pedra fundamental da Fabrica de Laticínios Lagoa da Prata Ltda foi lançada, cuja diretoria era composta por: Diretor Presidente: Sebastião Antônio da Silva; Diretor Comercial: Joaquim Batista Neves (Quinzico); Diretor Secretário: Virgínio Perillo. Nesse dia, após votação para escolha do nome da manteiga fabricada pela Laticínios Lagoa da Prata Ltda, dentre vários nomes apresentados, nascia à marca “Camponesa”, nome sugerido pelo Sr. Quinzico. Não obstante o crescimento da Laticínios Lagoa da Prata, já com sede própria e fabricando leite em pó, no ano de 1950 o Sr. Quinzico, por motivos particulares, afastou-se da empresa, tendo sido substituído pelo Sr. Gastão Bernardes. Em 1961, após várias vendas e compras de direitos acionários, a Laticínios Lagoa da Prata foi vendida aos senhores Haroldo Antônio Antunes e Hebert Schimidt, que transformaram a empresa em sociedade anônima. Em 1964, a Laticínios Lagoa da Prata S/A assumiu o controle acionário da Produtos Embaré S/A, de Taubaté/SP. Em virtude da fusão destas duas empresas, ocorrida em 1969, nasceu a nova razão social: Embaré Indústrias Alimentícias S/A. - Nunca teve nenhuma participação atinente à Embaré. - VAIDADE: Não era vaidoso. Sua aparência jovem, mesmo aos 96 anos, foi em virtude de ter encontrado no trabalho uma fonte inesgotável de prazer. Viveu com acerto, ajustado à natureza das coisas. - Não gostava de cozinhar, mas apreciava uma boa comida. Seu prato preferido era nhoque e sobremesa “arroz doce e/ou alitria”.

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- POLÍTICA: Nunca gostou de política. Não obstante, sempre foi admirador do ex. Presidente Juscelino Kubistchek, com quem teve o prazer em conversar no “Rancho da Loba” aqui em Lagoa da Prata, após o exílio do mesmo. - RELIGIÃO: Desde criança foi Católico praticante. Devoto de Nossa Senhora Aparecida. - MARIDO: Como marido, mesmo nas dificuldades e intempéries da vida - e quantas existiram, sempre demonstrou, a mais não poder, a importância do amor e da família. Amou ao seu modo e ao seu modo se fez amar. PAI: Como pai, tudo fez para dar aos filhos uma vida digna, sem excessos. Sempre demonstrou um zelo extremado para com a educação dos filhos, fazendo-os todos formados. O exemplo dele teve efeito maior que as palavras, pois falava, e sempre falará, por si mesmo. Ele foi um jequitibá frondoso da Amazônia, isento de idade e de julgamento, tal qual uma catedral majestosa. Que exemplo de PAI. - IRRITAÇÃO: Pessoas falsas. Mentiras. - FELICIDADE: Quinzico, apesar do semblante sereno, sempre foi um homem jovial. Seu contentamento transbordava nas vitórias do Atlético Mineiro e nos acontecimentos que proporcionavam o encontro da família. A tristeza, com exceção nos momentos de perda de entes queridos, não fazia parte do seu cotidiano. Se houve, soube abafá-la para não infundir nos filhos qualquer receio ou temor pelos dias vindouros.


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Por Beatriz Vasconcelos

ntônio de Pádua lima sampaio

Nascido no dia 12 de dezembro de 1943, na cidade de Campestre, sul de Minas Gerais, Toninho Sampaio é filho de Floriano Geraldo Sampaio e Guiomar Lima Sampaio. A família veio para Lagoa da Prata em 1956. Aqui ele estudou no Ginásio Monsenhor Otaviano, fez curso de contabilidade no Colégio Municipal José Theotônio de Castro, e depois graduou-se em Letras pela UFMG, em Belo Horizonte. Sempre viveu numa casa onde se respirava música e literatura. Sua mãe: poetisa, escritora, ensaísta, musicóloga, compositora, autora de peças teatrais. Seu pai: escritor, grande conhecedor de astronomia, autor de peças teatrais e grande orador. Toninho foi levado desde cedo a interessar-se por letras e, antes mesmo de completar o segundo grau, já era professor de Português no Ginásio Monsenhor Otaviano. Participou de quase todos os jornais que foram editados em Lagoa da Prata, desde a criação do segundo jornal que circulou na cidade: “O Volante”, na década de 60. Possui quatro livros editados com crônicas e registros históricos da nossa cidade. Casou-se com Vilda Adelce de Castro Sampaio e tem três filhos - Daniela de Castro Sampaio, Rodrigo de Castro Sampaio e Davi de Castro Sampaio. Foi vereador, presidente da Câmara Municipal de Lagoa da Prata e chefe de gabinete na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, onde se aposentou. Também exerceu o cargo de Secretário de Educação, Cultura, Turismo e Esportes da Prefeitura Municipal de Lagoa da Prata, por seis anos. Exerceu ainda a profissão de comerciante e corretor de imóveis. Foi eleito primeiro presidente da Academia Lagopratense de Letras, em novembro de 2002, onde ocupa a Cadeira Número Um que tem como patrona sua mãe, Guiomar Lima Sampaio. O último trabalho foi na direção do Serviço Autônomo de Água e Esgoto - SAAE, e sua saída, que já estava programada, aconteceu muito recentemente, no final de 2017. Dois meses antes desse afastamento, Toninho Sampaio recebeu para a cidade uma premiação muito importante da Fundação Getúlio Vargas, certificando a excelência do tratamento da água. Único município mineiro nesta premiação e estando entre apenas quatro cidades brasileiras, Lagoa da Prata

passou por avaliações como número de ligações de água, extensão e situação de rede, população abastecida, tratamento de esgoto, e outras. vida?

Quais são os planos para essa nova fase da sua

Este é um momento que programei para descansar. Já estou naquela fase de aproveitar melhor a vida, porque e u já sou aposentado e


agora quero me dedicar aos livros, à pescaria, coisas assim. Não tenho pretensão de voltar para a política, nem como candidato, nem como funcionário. Penso até em exercer trabalhos voluntários e de consultoria, por exemplo, atuando mais na Sociedade São Vicente de Paula, mas aquelas atividades laborais remuneradas eu encerrei mesmo. Este seu último trabalho no SAAE teve uma visibilidade grande, principalmente por conta da premiação da Fundação Getúlio Vargas. Como é para o senhor? Sim, foi um reconhecimento enorme para a cidade, e tem um diferencial: os outros três municípios premiados são cidades grandes, com muitos habitantes, o que deixa ainda mais relevante Lagoa da Prata. Além disso, quando eu entrei para o SAAE, eram 45 funcionários, e a folha de pagamento consumia quase 53% do orçamento. Eu deixei o SAAE com 115 funcionários consumindo 29% com a folha de pagamento. Então eu consegui aumentar a receita e diminuir a despesa. E nesse prazo eu troquei a frota toda, compramos sete caminhões, dois carros, e oito motocicletas. Eu me candidatei a prefeito por três vezes e não fui eleito, mas com esse trabalho do SAAE pude mostrar que eu sou um bom administrador de serviços públicos.

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E por falar em administração pública, como o senhor avalia os escândalos atuais? Isso faz parte de uma geração de políticos ou é consequência de processos antigos? Acho que isso é um processo histórico, ou seja, a corrupção é endêmica no Brasil. Estou lendo agora um livro chamado Pequena História do Brasil, falando como o país vem sendo corrompido desde quando foi criado. Somos um país colonizado, por exemplo, por degradados, criminosos expulsos de outros países que eram mandados para cá e foram se misturando com os índios. Essa situação é muito diferente ao compararmos com outros países, como os Estados Unidos. Lá os ingleses chegaram para criar um novo país, para amar aquele país, e tinham o objetivo de fazê-lo prosperar. No entanto, eu acredito que estamos num estágio de mudanças para melhor. É como alguém que fica doente e só vai ao médico quando a doença se agrava. O Brasil está doente, mas está sendo tratado. A consciência das pessoas começou a reclamar por mudança de atitude. Acho que é o começo de um tratamento, vai demorar muito ainda para ter a cura, mas ela vai acontecer.


G

ilberto

aparecido silva

Por Beatriz Vasconcelos

Ex-jogador que brilhou na Seleção Brasileira e em outros importantes clubes de futebol, ora zagueiro, ora volante, Gilberto Silva é uma das principais personalidades famosas que compartilham conterraneidade com os lagopratenses. Hoje, com 42 anos de idade, aposentado dos gramados em 2015, tornou-se empresário no ramo da Construção Civil. Em Lagoa da Prata dirige um hotel erguido pela sua própria construtora, que tem sede em Belo Horizonte. Entretanto, como quem nasceu para o futebol jamais se afasta dele, Gilberto atua também com consultorias no esporte. Como foi para você encerrar a carreira de jogador? Em 2013 foi meu último ano como atleta, eu me submeti a três cirurgias no joelho em 2014, e no final de 2015 decidi que já era hora de parar. Hoje sou consultor esportivo, eu busquei formas de voltar ao futebol. Posso fazer projetos para um clube, na área de gestão e acompanhamento; ou para um atleta. Ao mesmo tempo tenho a liberdade de cuidar das coisas que já faço como empresário, e ter tempo para a família. Meu perfil empreendedor hoje está definindo e se ajustando com características mais de investidor, para que eu possa conciliar e estar em qualquer lugar administrando futebol e empresa. A questão do

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futebol é algo que não tem como você colocar em uma caixa e trancar. Foram mais de 20 anos jogando profissionalmente, sem contar os anos anteriores no futebol amador. Então é algo que faz parte da minha vida, está no meu sangue. As experiências adquiridas no decorrer destes anos me fazem pensar com mais clareza e realidade no que pode ser melhorado, por exemplo, enquanto estiver gerenciando a carreira de um atleta. Da mesma forma é com a gestão de um clube, onde é preciso entender e saber lidar com as dificuldades que existem naquele meio em que estão inseridos o atleta, a comissão técnica e o torcedor. Você acha que os muitos escândalos de corrupção que vêm acontecendo nos clubes fazem parte deste momento frágil no país, com a política tão corrompida, ou é algo que já existia? Sempre ouvimos falar de problemas relacionados à corrupção no futebol e dentro de outros esportes também. Isso é trágico, o esporte deixa de desenvolver e prosperar da forma como deveria ser, os resultados poderiam ser muito melhores para todos. Entretanto, no futebol muita coisa mudou, e de forma significativa em todos os aspectos que você imaginar. Então se formos comparar com o futebol de 20 anos atrás, quando iniciei nessa trajetória, era um perfil, e


cinco anos depois já era outro perfil. Principalmente no Brasil, começaram a profissionalizar mais a gestão, os treinadores passaram a se capacitar mais, a parte acadêmica foi tendo uma evolução muito grande na preparação física. Hoje vemos a transformação que muitos países já fizeram no futebol em relação a essa parte de gestão, engajamento do torcedor, estádios cheios, novos estádios, e novos investidores dentro do futebol. Então o futebol é visto como um negócio. Infelizmente vivemos períodos com escândalos na FIFA e em outras instituições que governam o esporte, o que deixa todo mundo preocupado e desconfiado pensando no que acontece detrás das cortinas. Temos que estar sempre vigilantes, atentos às lideranças do esporte para que façam uma boa governança. Muda o sentimento de patriotismo na hora de defender a Seleção do Brasil, sabendo das corrupções? Essa questão de patriotismo é muito relativa e individual. Tem pessoas que se dizem patriotas e não cultivam as coisas do patriotismo. Tem pessoas que não se julgam tão patriotas mas defendem muito bem a bandeira e os valores do nosso país, e acreditam em um futuro que pode ser melhor pra todos, mesmo com as dificuldades que estamos enfrentamos. Mas no caso do atleta, falo por mim, representando meu país durante dez anos vestindo a camisa do Brasil, é algo indescritível, não tem preço. Se eu pagasse para fazer isso talvez eu ainda estaria com lucro, porque é algo que te emociona e gratifica muito. Mas eu sempre fui sabedor da minha responsabilidade. Aquela camisa tem um peso, tem um significado, ela tem que dar uma resposta para as pessoas que acreditam em você. Então, para mim, sempre tive essa consciência da importância do meu papel diante de um povo que estava assistindo ao jogo, no campo ou diante da TV. Eram pessoas que ficavam na expectativa de eu gerar um certo conforto para amenizar tantos desconfortos enfrentados no dia a dia.


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osĂŠ

benedito jeunon Por FĂĄbio Barbosa

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Médico, professor de Biologia e Química, poeta, escritor, contista, cronista e excelente orador, marido dedicado e cidadão comprometido com o bem-estar social, José Benedito Jeunon, foi um dos homens que exemplificam a palavra vocação. Era dedicado aos pacientes, tanto que ainda hoje, anos após sua morte, continua sendo lembrando com um dos grandes profissionais da saúde que já passaram por Lagoa da Prata. Foi um homem íntegro e com grande disposição para ajudar os pacientes! Filho de Ester Lancette Jeunon e João Jeunon Junior, nasceu em 14 de janeiro de 1935, em Belo Horizonte, onde também passou a infância ao lado dos irmãos: João Jeunon Neto, Antônio Moacir Jeunon, Ana Maria Jeunon Alencar, Lourdes Jeunon Gomes e Terezinha Rosário Jeunon. Estudou o jardim de infância em um cômodo cedido pela Secretaria de Saúde da cidade onde funcionou por muitos anos a turma de alfabetização comandada por sua mãe. Desde pequeno já queria seguir na medicina e quando foi escolher um curso superior não teve dúvidas de qual área escolher. Estudou na Universidade Federal de Minas Gerais e seu primeiro trabalho foi como professor em um curso pré-vestibular na capital e após se formar dedicou-se ao Hospital de Acesita, onde exerceu as funções de chefe do serviço de clínica médica e professor. Foi também assistente de Obstetrícia da UFMG, Médico do Trabalho, diretor do Hospital Santa Eugênia e chefe da Unidade Sanitária de Lagoa da Prata. Em 1953 conheceu a futura esposa Eugênia Bernardes, com quem namorou durante seis anos e em 05 de setembro de 1959 subiram ao altar na Igreja de São Carlos Borromeu, em Lagoa da Prata. “A cidade não tinha nem energia elétrica naquela época, a festa teve que ter um gerador”, recorda a mulher que ele escolheu para ser companheira. E, foi nessa cidade, que o já conhecido Doutor Jeunon resolveu criar o Hospital Santa Eugênia, inaugurado em 1962 e fechado em 1997. O profissional também atendia em uma pequena sala na Avenida Benedito Valadares e no Posto de Saúde. “A usina trazia os acidentados todos para ele atender, até com cisco no olho, acredita? Ele foi o primeiro médico que também receitava óculos na cidade e dizem que era muito bom nessa especialidade”, recorda a esposa que, aos 83 anos, guarda na residência do casal

Baile de formatura do Dr. Jeunon

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Dr. Jeunon e a esposa Eugênia na Chácara Pensilvânia inúmeras fotos de anos de um casamento feliz. Por muitos anos os dois moraram na Chácara Pensilvânia, próximo ao Bairro Marília, um recanto em que recebiam os amigos com frequência em festas que marcaram época. “Eu sou do dia quatro de janeiro e ele do dia 14, então todo ano fazíamos uma única festa. Ele gostava, eu ainda mais! O Jeunon era sério, mas se tomasse dois copos de cerveja ficava numa alegria só. Todo mundo gostava de ver ele tomando cerveja, até cantava, sabe. E sabia muitas músicas, era um bom cantor, viu?”, lembra com saudosismo dona Eugênia. O casal não teve filhos, acolheram a vontade de Deus como ele sempre repetia. O que lhe deixava feliz era atender os pacientes! Doutor Jeunon também tinha um dom natural, a oratória. E com esta vocação se destacou no trabalho voluntário para a comunidade católica, sendo um dos primeiros ministros da eucaristia da cidade e o primeiro guia (homem) das oficinas de oração e vida do Brasil. Foi também um dos poucos que fez homilias para o Monsenhor Alfredo Dohr nas missas de sete da manhã. Gostava de política, mas não se envolvia nas questões da cidade, muito menos de partidos. Fazia questão de exercer sua cidadania através do voto, nunca deixou de votar em uma eleição sequer! Não gostava de cozinhar, mas adorava batatas fritas feitas pela esposa. “Tínhamos só um carro e eu vinha todo dia buscar ele para o almoço, trazia e voltava. Certo dia ele demorou muito, não sabia o que estava acontecendo e fiquei brava. Quando ele veio ao me encontro contou que um menino havia colocado um feijão no nariz e claro que não sairia de lá sem atender um paciente naquela situação. Ele era assim, não tinha hora para atender, sempre priorizava as pessoas”, destaca Eugênia. Membro fundador da Academia Lagopratense de Letras, Jeunon ocupou a Cadeira nº 5, com Patrono Acácio Mendes. Escreveu vários livros, entre eles “Impulsos” e “Rosa Vermelha”, também participou o livro/coletânea “Lagoa da Prata em Prosa e Verso” e recebeu o título de Cidadão Honorário. Faleceu em 15 de outubro de 2013 e segundo a esposa é impossível defini-lo em uma palavra. Talvez em “saudade”.


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osé

Por Theresa Hilcar

dias filho,

um construtor de sonhos! José Dias Filho, nascido em Santo Antônio do Monte, em 1908, era conhecido em Lagoa da Prata pelo lendário Cine São Carlos – Cinema de Baixo, como era apelidado, pela sua localização na descida da Avenida Brasil. Mas antes de se mudar da terra natal, já era um comerciante estabelecido e também dono de um cinema: o Cine Dias. A decisão de sair de Santo Antônio, em 1947, e se mudar para a vizinha Lagoa da Prata, já casado e com seis filhos (Ildeu, Hilda, Gil, Gilda, Vilka e Wilma - Wilkie e Gilca nasceram em Lagoa), foi pela perseguição político/ideológica que sofreu do pároco local logo após o término da Segunda Guerra. De origem alemã, o padre – que era amigo e padrinho de um dos filhos (Gil Dias) não se conformou com as imagens da vitória dos aliados contra a Alemanha, que eram exibidas todos os dias no cinema. Como vingança, iniciou uma campanha na igreja para que os fiéis não frequentassem as sessões, nem fizessem compras em sua loja. Diante do imenso boicote, a alternativa foi recomeçar a vida e os negócios em outro lugar. Escolheu Lagoa da Prata. Ao chegar, aos 39 anos de idade, continuou no ramo e instalou o cinema, que recebeu o nome de Cine São Carlos, na praça em frente à igreja Matriz. Mas dez anos depois, a sala teve que trocar de endereço. Nomeado delegado da cidade em 1957, José Dias, no estrito cumprimento da lei, prendeu um rico fazendeiro denunciado por transporte ilegal de funcionários na região. O resultado de tal feito – considerado um insulto na época – foi a perda do contrato de aluguel do prédio do cinema, obrigando-o a se mudar para a Avenida Brasil, onde ficou até seu fechamento em meados de 1980. O local, um antigo galpão, teve que ser transformado às pressas e a mobília feita por suas próprias mãos, que também era exímio moveleiro. Pouco depois ganhou um concorrente de peso: no local do antigo Cine São Carlos, foi erguido um cinema moderno e imponente chamado Cine Vera Cruz. O dono era

ninguém menos que o desafeto detido anos antes por ordens do delegado, José Dias. Os que viveram naquela época, onde o cinema era a única atração da cidade, irão concordar que o Cine São Carlos foi celeiro de cultura e iniciou muita gente na paixão pelo cinema. Principalmente porque, para competir com o conforto e a suntuosidade do seu concorrente, meu avô privilegiava os filmes europeus (chamados “filmes de arte”) e quase sempre os escolhia pelo talento de diretores como: Fellini, Truffaut, Jean Luc-Goddard, Vittorio de Sica, Scorcese, Polanski, Bergman, Hitchcock, entre outros. Os faroestes e os musicais da Disney também não ficavam de fora. Eu assistia à maioria – menos os censurados – porque esta era questão fechada. Seu braço direito no cinema era meu tio Gil Dias, que além de ajudá-lo na projeção, fazia os anúncios no altofalante e escrevia as tabuletas anunciando o filme do dia. Aliás, quase todos na família trabalharam no cinema. Inclusive eu!

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Hoje, sem nenhuma dúvida, posso afirmar que meu avô, o homem que sempre chamei de pai, seria considerado um importante empreendedor. Além do cinema, construiu a primeira fábrica de brinquedos feitos com madeira – cuja produção era distribuída em todo o Estado de Minas Gerais, foi proprietário do Bazar das Novidades, loja que, como em Santo Antônio do Monte, vendia roupas finas, ternos, gravatas, brinquedos e lindas bonecas de louça. E nas horas vagas, como gostava de eletrônica, construiu uma emissora de rádio amador. Embora ativo em seus negócios, meu avô era um homem discreto, sóbrio, extremamente ético, elegante, que tinha uma peculiaridade interessante, inusitada aos olhos de hoje: ele não acreditava nas instituições bancárias. Todo dinheiro recebido era guardado no cofre do cinema. Impossível imaginar uma cena dessas nestes tempos tecnológicos. Talvez, imagino, isso o tenha impedido de expandir os negócios e enriquecer. O dinheiro para ele era sempre uma consequência, nunca um objetivo. Até os preços de suas mercadorias (inclusive do ingresso do cinema) eram sempre inferiores aos praticados pelo mercado. Para além da sua atuação como empresário, e como cronista que sou, não posso deixar de falar das minhas lembranças e do meu convívio com José Dias Filho. Uma delas era em seu escritório, uma sala nos fundos do Cine São Carlos, lugar quase sagrado que eu costumava adentrar como se adentra a um templo. Tinha o hábito de ir até lá, sempre na volta da Escola, para ler o

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Estado de Minas e teclar na máquina de escrever Remington. Quase não nos falávamos. Havia entre nós uma cumplicidade silenciosa. Que só era quebrada quando pés de laranjas maduras e suculentas do quintal nos convidavam a saboreálas. Ele descascava a fruta e me dava aos pedaços. Voltávamos de bicicleta para casa, e às vezes íamos juntos à rodoviária para pegar o filme que vinha de Belo Horizonte. Eu tinha um orgulho imenso de andar na garupa do meu avô, carregando aquela lata de sonhos no colo e o avô num abraço. Minhas duas paixões juntas! Quem teve o privilégio de conhecer o senhor José Dias Filho – quase sempre confundido com o Zé Dias da loja de tecidos – tem inúmeros casos e diferentes lembranças para contar. Mas tenho certeza que todos concordam com o seu papel de agente transformador cultural da cidade, de empresário ético e generoso e, principalmente, o exemplo da sua retidão de caráter e cumprimento das leis. Para mim ele era tudo isto e muito mais. Era meu avô e pai. Um homem cuja presença e cuidados fizeram toda a diferença na minha vida. Estas lembranças certamente dariam bom livro. Ele morreu em 28 de janeiro de 1995, sete meses depois da sua esposa, Maria dos Santos Dias, e justamente na data em que completariam 67 anos de casamento. A última vez que o vi - ainda lúcido foi no lançamento do meu primeiro livro “O outro lado do peito”, em Lagoa da Prata, um ano antes. E é justamente neste lugar que eu o carrego para sempre.


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Por Beatriz Vasconcelos

io Leilão

Geraldo Francisco Braga, o Tio Leilão, está entre as personalidades mais populares e carismáticas de Lagoa da Prata viventes até a década passada. Nascido no dia 24 de outubro de 1920, tinha o dom de irradiar alegria a quem o encontrasse. Quando criança precisou de pessoas para ajudar na sua criação, e soube agradecer o que de bom recebeu fazendo caridade. Seu último trabalho foi na Creche Tia Elvira. Ele participou da sua fundação, arrecadava doações e motivava pessoas a serem fraternas com seu próprio exemplo, e foram 21 anos dedicados nesta instituição. A irreverência e simpatia do Tio Leilão o levou para a Rádio Tropical e era ali que fomentava mais ainda as doações para creche. Ele fazia os agradecimentos todos os sábados e ao vivo, às cinco horas da manhã, para os doares. Citava os nomes, fazia piadinhas e trocadilhos sem agredir ninguém, pelo contrário, era uma forma de divertir quem ajudava. A sonoplastia favorecia o “balde de água fria que ele jogava” para acordar os ouvintes com muito humor. Foi com cinco anos de idade que o tio Leilão começou a trabalhar, quando o levaram para ajudar na fazenda do Sr. Mirote, no Capoeirão. Ele era filho de mãe solteira e precisava de amparo na sua criação. Passou também pela fazenda do Sr. Chico Bernardes, onde ficou por oito anos. Depois disso, foi para a fazenda das Palmeiras, da Donana, onde ficou por mais de trinta anos. Lá ele conheceu a esposa, dona Divina, que trabalhava na casa. Donana foi quem providenciou o casamento, em 1941. Ele tinha 21 anos de idade, e ela, 13. Ficaram juntos por 53 anos e tiveram treze filhos – Maria Lúcia (in memoriam), José Ulisses (in memoriam), Eliana, Maria Madalena (in memoriam), Robson (in memoriam), Leônidas, Ciro, Jussara, Léa, Iara, Rosália, Charlie e Vanessa. Ficou viúvo quando a caçula já estava mocinha, foi um ótimo chefe de família, carinhoso com a esposa e os filhos, dava conselhos e fazia questão da família unida. Quando trabalhava para a Donana, trazia frutas, verduras e leite para vender na cidade. Era tudo da fazenda, fresquinho. Ele vinha numa carroça e pelas ruas anunciava as vendas. Esse foi o início da sua popularidade: o relacionamento de muita simpatia com os fregueses. Dessas vendas, algumas viravam doações quando alguém não podia pagar. Claro, que era com o consentimento da patroa, que também foi uma pessoa de caridade. Depois que o Tio Leilão saiu da fazenda da Donana, o médico Ciro dos Santos lhe arrumou um emprego numa loja de materiais de construção. O Dr. Ciro deu uma carroça e um cavalo para que ele pudesse fazer as entregas. Nesse trabalho, foram dez anos, e foi ali que se aposentou. Mas não parou de trabalhar. Foi para a creche Maria Belarmina, no Bairro Marília e ficou por três anos e meio. Depois, junto com a dona Zulma Miranda e a dona Elvira eles fundaram a creche Tia Elvira. No começo era um local improvisado para acolher crianças das mães canavieiras que saíam de

madrugada para trabalharem na Usina Luciânia. O Tio Leilão pedia doações diversas nos supermercados, açougues, padarias, entre tantas outras possibilidades. Sua rotina começa às três da manhã. Ele saía de casa, em sua bicicleta, passava na Padaria Prado, pegava a doação de pães e levava para a creche. Lá ele fazia o café, fervia o leite, preparava as mamadeiras, recebia as crianças com o alimento e depois as fazia dormir novamente, até o dia terminar de amanhecer. Essa rotina durou até o dia em que ele caiu de bicicleta quando estava indo para a creche. O acidente lhe deixou afastado das atividades, teve que passar por uma cirurgia na cabeça. Após quatro anos estava recuperado, mas não podia mais circular de bicicleta. Entretanto, nunca deixou de se preocupar com as crianças, mesmo não estando mais na instituição. Por isso, recomendava às pessoas para averiguarem se as arrecadações estavam acontecendo bem e queria sempre ter notícias. As informações deste texto foram cedidas pela filha Jussara. O que ela mais destacou durante a entrevista foi a alegria e a caridade do Tio Leilão: “Eu nunca vi meu pai triste, ele nunca reclamou. Gostava de festas, músicas sertanejas, participava da Roda de Violeiros, e todos os anos fazíamos festa para ele, até os seus 87 anos, quando comemoramos seu último aniversário”. Geraldo Francisco Braga faleceu no dia 25 de setembro de 2008, por um infarto.


O

tacílio

miranda

Por Beatriz Vasconcelos

Otacílio Miranda - político, engenheiro, empresário e professor -, nasceu no dia 5 de novembro de 1934, na localidade dos Mirandas, pequeno povoado perto de Lagoa da Prata. Na mocidade foi estudar em Divinópolis. Andou pelo Rio Grande do Sul, conheceu Leonel Brizola e começou a se inserir no meio político. Volta para Belo Horizonte, se forma em Engenharia Civil (1961) e depois retorna para Lagoa da Prata. Aqui foi vice-prefeito no mandato de Fausto Rezende (1967-1970). Teve muito êxito pelo seu dinamismo e em uma outra eleição (1973) ganhou para prefeito, mas ficou neste cargo só por um ano, porque renunciou em 1974 para arquitetar sua carreira como deputado. O político achava que Lagoa da Prata não era conhecida e queria torná-la mais visível no estado. Então encontrou formas para isso até mesmo num programa de TV, com uma espécie de gincana disputada entre cidades. A visibilidade também deu um salto enorme com a criação da Praia Municipal quando ele era vice-prefeito. Em 1979, ele é eleito deputado estadual, isso se deu por três legislaturas consecutivas, sendo que de 1980 a 1984 ocupou cargo de vice-presidente da Assembleia Legislativa. Ele dizia que como deputado poderia elevar o nome da cidade e torná-la mais favorecida dentro de Minas Gerais. Otacílio foi o primeiro filho de três que vieram no segundo casamento do seu pai. O senhor Francisco Januária de Miranda (conhecido como Chico Miranda ou Chico Naia), tinha ficado viúvo com nove filhos e se uniu à dona Bárbara de Oliveira, cujo nome foi dado ao Fórum de Lagoa da Prata. Esta mulher, carinhosamente chamada de Babita, era também admirada pelo dom de lidar com os filhos e enteados sem fazer distinção, a ponto de muitos acharem que ela era a mãe biológica dos doze. Chico Miranda era um homem muito participante

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da vida política de Lagoa da Prata, Santo Antônio do Monte e Divinópolis. Em 1950 foi eleito vereador pela UDN na nossa cidade. Seu nome constava na lista de jurados de Samonte e ele constantemente era convocado. Como participava de muitas reuniões, os filhos ocasionalmente o acompanhavam. Otacílio, ainda menino, já demonstrava interesse nas discussões e ficava horas ao redor dos doutores ouvindo os casos de tribunais e as tantas conversas deste meio. A infância de Otacílio foi a mesma de tantos meninos daquela época que cresciam no interior: pescarias no córrego, nadar no rio, fabricar os próprios brinquedos com caixotes, latas, bambus, sabugo de milho, armar arapucas e caçar passarinhos com bodoque. Esta de caçar passarinhos, ele se arrepende. Em um vídeo no Youtube, gravado pelo Dr. Otaviano de Oliveira, Otacílo relata que fazia aquilo porque não havia uma consciência ecológica como hoje. Para ele era comum brincar assim, com a natureza, mas isso não deveria ter acontecido. Otacílio aposentou-se como político e passou a se dedicar mais à família e seus negócios pessoais. Foi diretor da Usiminas e fez importantes negociações internacionais durante sua gestão. É proprietário da Construtora Miranda Corrêa, em Belo Horizonte, que hoje é administrada por uma das filhas. Otacílio teve um acidente vascular cerebral, isso impôs limitações físicas, porém, continua supervisionando os trabalhos e faz visitas constantemente à empresa. Grande parte das informações contidas aqui neste texto foram retiradas do livro Otacílio Miranda – Um político diferente, escrito por Heleno Nunes e Toninho Sampaio. O trabalho foi encomendado pelo próprio biografado, que fez questão de deixar registrado toda a sua trajetória de vida, com casos muito interessantes que servem como modelo para atitudes de firmeza, perseverança e foco.


O

Por Fábio Barbosa

linto Pinto

Ribeiro Neto (in Memoriam)

Olinto Pinto Ribeiro Neto foi um dos mecânicos mais conhecidos de Lagoa da Prata. “Pintinho ou Pinto mecânico”, como era chamado, foi um o eterno namorado apaixonado da dona Ilma. Atencioso e prestativo com os clientes, não tinha um problema no carro que ele não conseguisse resolver. Fazia um diagnóstico do motor em poucos minutos e não tinha folga, trabalhava todos os dias e por muitas vezes durante a noite, incansavelmente. É de uma geração sem vaidades, com méritos conquistados com o próprio suor, homem de família que apesar do rosto severo tinha um coração generoso. Filho de Jorcelina Maria de Jesus e Eduardo Pinto Ribeiro, nasceu em 31 de maio de 1932, em um vilarejo chamado Capetinga, perto de Esteios, no município de Luz (MG), o pai era carpinteiro. Olinto, junto com os irmãos Francisco, Maria, Alda e Maria Ilidia, aprendeu desde cedo que é o trabalho que forma o homem. A família mudou-se para Lagoa da Prata quando ele ainda era bem pequeno, tinha apenas três anos. Estudou até o quarto ano primário no Grupo Jacinto Campos e durante essa época trabalhou na padaria do Sr. João Turco, fazendo entrega de pães com o balaio na cabeça. Às vezes dava umas escapadas para dar uns mergulhos na lagoa, contava que conseguia ir nadando da praia até na ilha e voltava. Trabalhou com o pai na construção

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da estrutura da Usina Luciânia e depois na construção da Laticínios Lagoa da Prata (hoje Embaré). Muito curioso, aprendeu a consertar algumas máquinas da empresa e ainda na juventude trabalhou como ajudante do Dr. Antônio Menezes, seu padrinho. Mais tarde foi lanterneiro e dos caprichosos, mas abandonou essa profissão, pois percebeu que não estava fazendo bem a sua saúde. Foi o Dr. Menezes que o levou para estudar em Belo Horizonte, mas ele não concluiu os estudos. Foi neste mesmo período que conseguiu emprego na empresa Nash, de carros e caminhões, onde descobriu sua verdadeira vocação, ser mecânico de automóveis. Namorou com Ilma de Carvalho Ribeiro com quem se casou anos mais tarde. Tiveram nove filhos: Eduardo, Luís Carlos (in memoriam), Maria José, Eugênio, Marco Valério, Camilo, Maria Antônia, Flávio e Maria da Conceição. A família é grande, são 17 netos e oito bisnetos. Trabalhou por algum tempo com o Sr. Joaquim Banha, na função de mecânico, mas em meados de 1958 decidiu montar seu próprio negócio e teve como sócio seu cunhado Jair de Carvalho, a oficina recebeu o nome de Ribeiro e Carvalho inicialmente e, mais tarde, Auto Mecânica Caiçara. Tinham uma ótima clientela, a grande maioria dos fazendeiros confiavam a eles seus caminhões, caminhonetes e carros de


passeio. Precisaram mudar para um terreno maior na Av. Benedito Valadares, 591, nesse endereço se encontra até os dias de hoje a oficina. A manutenção da frota de caminhões da Embaré também era de responsabilidade deles. Depois de alguns anos a sociedade foi desfeita, Olinto comprou a parte de seu sócio. Era muito profissional, sempre olhando o lado do cliente. Muitos mecânicos passaram por sua oficina e aprenderam seus ensinamentos, como os saudosos Zé Aparecido, Jaime Ferreira, Zé Leilão, Pedro, filho do Sr. Jerônimo, Abel Ferreira, Ricardo de Castro (Dão) e muitos outros. Por vezes aconteciam fatos interessantes de reclamação de defeitos que tinham que ser adivinhados, como quando um cliente fez a seguinte reclamação: “Pinto, minha caminhonete tá fazendo um “baruio” estranho, parecendo uma “muié mijando” numa bacia, depois dá uns peido, uns pulo, disvainece e morre” (sic). E podem acreditar, ele achava o defeito. Todos os filhos homens, desde pequenos, acompanhavam o pai ao trabalho, aprendendo assim a profissão. Muito enérgico, tinha o rosto fechado e era de poucas palavras, mas no final de semana era um pai/amigo, inventava brincadeiras e passeios. “Íamos para roça, cachoeira, rancho, pescar ou simplesmente andar no meio do mato, com isso nos ensinou a não ter medos e se os tivéssemos precisavam ser enfrentados. Conhecemos várias frutas do cerrado que ele nos ensinava a comer”, conta Maria Antônia, uma das filhas. Ouvia muitas piadas por causa de seu sobrenome, mas nunca se chateou

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e, às vezes, ele também contava algumas. Amava ter todos à sua volta, ensinava aos filhos a importância de uma família unida, um simples almoço de domingo virava festa, muita música e cantoria, por várias vezes terminava com todos molhados, pois ele dava um jeito de encher um balde com água e saía molhando todo mundo. Era uma farra acompanhada por uma frase que ele gostava de gritar: “Ô cidade, ô lugar!!!”. Tinha por hobby a pescaria, sempre que possível ia com os amigos: Dr. Carlos, Sr. Paulo Lobato, Sr. Humberto, Sr. Vaninho e outros. Gostava de levar a família para passear de canoa no Rio São Francisco. Uma das características marcantes de Olinto era o amor pela esposa. Um eterno apaixonado como descrevem os filhos. “Meu pai sempre trazia flores para mamãe. Não importava onde estava, no alto do barranco, na beira da estrada, sempre dava um jeito de achar uma. E todos os dias quando vinha do trabalho a noite, trazia um bombom Sonho de Valsa (ela não comia, juntava-os e depois dividia com os filhos). Não esquecia nenhuma data, aniversário dela, de casamento, dia dos namorados, fazia questão de lhe dar um presente”, recorda Maria Antônia. O amor e companheirismo do casal sempre foi exemplo e motivo de orgulho para os filhos. Algo admirado por quem conhece a história dos dois, é que, em sintonia na vida, na morte não foi diferente, ela faleceu em 22 de setembro e ele em 11 de dezembro de 2015. Sr. Olinto, “o pintinho mecânico”, deixou como exemplo a honestidade, integridade e amor. E uma saudade imensa!


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ntônio Donizete da Silva Por Fábio Barbosa

Quem frequenta o Restaurante Requintes sabe, Antônio Donizete da Silva, o proprietário, sempre recebe todos com simpatia. No caixa, diariamente, observa os detalhes com olhos atentos, garantindo assim que os clientes sejam bem atendidos e experimentem as delicias de uma culinária com sabor caseiro. É um vencedor que cresceu na vida sem perder a humildade, aprendendo sempre com os desafios que enfrentou. Filho de Vanda Bernardes da Silva e Otávio Bernardes da Silva, nasceu em 07 de setembro de 1966, em Lagoa da Prata. A família morou em Mirandas (MG) e foi lá que o jovem menino passou boa parte da infância ao lado dos seis irmãos: Geralda, Aparecida, Vanderléa, Marcos, Ivana e Henrique. Entre uma peraltice e outra, jogava futebol e tomava banho em uma cachoeira. Uma vida feliz, cercado de amor, principalmente dos avós. Mas em busca de dias melhores, a família logo retornou para a cidade onde ele nascera. “O que mais recordo é de quando saímos de lá para vir morar em Lagoa da Prata. Deixei meus avós lá e na época eu fiquei muito chateado. Viemos porque eu e meus irmãos começamos a crescer e tínhamos de estudar. Na roça não teríamos essa oportunidade. Era tudo mais difícil e meu pai quis vir trabalhar também”, lembra Donizete que desde cedo tinha vocação para o comércio, sendo, ainda pequeno, um excelente vendedor de picolé e ajudando o Tio Otaviano a vender chuchu, abóbora e mandioca trazidas da fazenda. Estudou nas Escolas Virgínio Perillo, Chico Resende e Doutor Arnaldo Farias Tavares. O primeiro emprego de Donizete foi na Siderúrgica Lagoa da Prata. Anos depois, foi contratado pela Embaré, empresa onde trabalhou por muitos anos. “Seu” Otávio Bernardes trabalhou na Usina Luciânia e no início dos anos 1980 montou um pequeno comercio no bairro Santa Helena, uma mercearia. Em 1989, o filho decidiu ajudar o pai e mudou o ramo do negócio, criando o Restaurante Novidade. “Sabia cozinhar desde cedo, então fiz alguns cursos e montar um restaurante era uma vontade. Não pensei duas vezes quando sai do emprego, mas fui procurar conhecimento na área, claro. Os meus pratos aqui eu consigo fazer tudo. Se for para trabalhar na cozinha eu sou cozinheiro”, destaca o empreendedor que em 2000 criou o Restaurante Requintes, em sociedade com o irmão Marcos. “No dia 20 de março daquele ano, aqui na Rua Rio de Janeiro, comecei este empreendimento que me dedico até hoje”, completa. O Requintes completa 18 anos e os desafios são diários. “Todos os meses e anos diria que são os mesmos. É a tal falada crise que afeta todo o país, mas graças a Deus, não podemos reclamar, continuamos sendo prestigiados pelos nossos clientes”, revela Donizete que contou com a ajuda dos quatros filhos na empresa: João Otávio, Cassiano, Túlio e Heitor. Questionado qual seu

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prato favorito ele destaca: “Gosto de comer é a comida mineira: Tutu, macarronada, frango caipira, angu e quiabo. Quando recebo os amigos em casa preparo um bom churrasco”. Nas horas vagas (quando consegue ter!) gosta de pescar e se dedica a Fazenda Santa Luzia ao lado da atual esposa Leninha. Sente-se realizado por todas as conquistas que teve, mas mantem o pé no chão, lembrando sempre que passou por momentos difíceis em sua vida, alguns lembrados até hoje como lição: “Cheguei a capinar quintais para comprar leite para os meus filhos. Cheguei uma vez ao supermercado e não tinha dinheiro. Mas Deus nos abençoou e tudo se resolveu. Passei por muitos problemas e obstáculos, mas consegui superar”. É católico, devoto de Nossa Senhora Aparecida e ressalta que o que aprendeu com os pais trouxe para a criação dos filhos. “Perdi meus pais muito cedo: meu pai morreu aos 59 anos e, há pouco tempo, minha mãe, aos 67 anos. Trabalhei muito com ele, na roça e na fazenda. Lá no nosso primeiro restaurante tivemos uma relação muito boa. Peguei 80% dos valores que aprendi com eles para passar para os meus filhos. São coisas valiosíssimas, como: em primeiro lugar, Deus e família; em seguindo lugar, trabalho e religião, e terceiro, lazer”, destaca o homem que ainda garante, sem medo de errar: “O trabalho engradece a pessoa, dignifica! A pessoa ser honesta não é qualidade, é obrigação. Eu me considero uma pessoa humilde e gosto disso!”.


A

ntônio

franscisco de Souza

(tõezinho)

Por Fábio Barbosa

Antônio Francisco de Souza é um pequeno grande homem. Conhecido popularmente como Tõezinho administra a RCA Imóveis com maestria. Querido por todos que o conhecem, é figura carismática de Lagoa da Prata. Apaixonado por pescaria sai todos os anos em busca de novos rios para desbravar com os amigos. Gosta da vida no sítio e da simplicidade do campo. Filho de Antônia de Souza e Jorge Belarmino de Souza nasceu em 04 de julho de 1954 em Lagoa da Prata. “Minha infância foi muito sofrida. Eu perdi meu pai com 12 anos, morávamos na roça, num lugarejo chamado Jacaré. Nessa época eu tinha parado de estudar e fui trabalhar, estudava na Escola Rural”, lembra ele que em busca de oportunidades melhores foi trabalhar na Usina Luciânia como ajudante de carro de boi. “Até 18 anos, trabalhava lá e morava na roça. Mas em 1973 mudei para a cidade e continuei na usina, agora no setor de pecuária”, destaca o Tõezinho que concluiu o primeiro grau no Colégio Municipal, fazendo o curso Técnico em Contabilidade. “Nesse tempo saí da usina e fui trabalhar na Embaré, como auxiliar de carpinteiro. Sempre tive muita disposição ao trabalho. Em cada um deles, sempre foi um crescimento a mais para mim”, conta. Ele também trabalhou como ajudante de pedreiro e frentista em um posto de gasolina. “Sai de lá e abri uma lojinha de roupa feita em 1975, um pequeno comércio na avenida Brasil, chamava Confecções Roda Vida”, relembra o homem que conheceu a esposa, Janayna Amorim Souza, nos anos 1980 e logo quis casar. “A conheci através da Sociedade São Vicente de Paulo e nessa época, participando do movimento de jovens da igreja, fomos nos aproximando. Em 1983 casamos na igreja de São Carlos Borromeu. Estamos juntos até hoje graças a Deus”, conta. “Eu a minha esposa passamos por uma situação difícil na loja que fechamos em 1987. Não estava dando lucro, fui mexer num ramo que eu não tinha preparação para aquilo, então não deu certo, não era meu forte”, lamenta. Da união,

nasceram dois filhos, Ana Paula e Jonas. Mas o que parecia ser o fim de um sonho empreendedor, tornou-se o início de uma nova jornada. E dessa vez com Tõezinho acreditando ainda mais no seu potencial. “O Rui Amorim, que era tio da minha esposa mandou abrimos um imobiliária, mas não tínhamos também muita noção. Mas achávamos que era mais interessante do que o negócio anterior. Então, em 1987, conversamos com ele e pedimos para nos dar para administrar os seus imóveis. Sugeriu uma sociedade com o filho dele que já trabalhava em Belo Horizonte e assim fizemos. A RCA Imóveis ficou mais ou menos uns seis meses sem se pagar, depois disso o rendimento só dava para pagar as despesas. Um ano depois que conseguimos movimentar alguma coisa e aí sim liberar retirada para nós”, destaca. Ao longo dos anos a empresa cresceu, se consolidou e ganhou vários prêmios. Perguntando sobre o sucesso do empreendimento, ele destaca: “Avalio isso como perseverança, compromisso, ética, a vontade que a gente sempre teve de fazer o melhor. Queremos trabalhar com transparência e tentando dar o máximo de segurança para os nossos clientes”. A vida sem dúvida é dedicada ao negócio da família, mas nas horas vagas o hobby é a pescaria. “Já tem mais de 10 anos que pesco. Sempre gostei de pesca e conheci uma turma que fazia pescaria no pantanal e até hoje estou agarrado nisso, não parei mais não. Cada pescaria que eu vou eu mando fazer um quadro, todos ficam aqui no escritório como recordação”, conta Tõezinho que pratica esporte e há 16 anos não larga a academia. “Corro e também ando de bicicleta. Exercício físico é que nem seguro de vida, se você parou, você perdeu. E eu não paro nunca”, ressalta. Mas é a vida no campo que ele gosta mesmo: “Gosto muito da roça que hoje eu comprei, chego lá olho o gado, plantação e não fico quieto. Faço até comida, mas cozinho o básico, um peixe assado ou frango caipira”. Tõezinho sempre olhou para frente, não desistiu nem quando tudo parecia sem futuro. Enfrentou as dificuldades da vida, superou e hoje é exemplo de quando se quer, a vida lhe recompensa. “Nunca fiquei olhando para trás. Sempre quis crescer e corri atrás disso. Você precisa aproveitar tudo àquilo que esta vivendo como aprendizado, cada dualidade que a gente tem é um impulso a mais para criarmos algo melhor. Na vida nunca me conformei, sempre quis lutar. É uma trajetória de muita perseverança e boa vontade e claro, paciência. Você precisa ter calma, se não deu certo hoje, amanhã pode ser diferente”, encerra com bom humor o homem que é católico, ministro da eucaristia e da diretoria do Serviço de Obras Sociais.

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J

aime José Ferreira (in Memoriam) Por Fabricio Azevedo

Data de nascimento: 22/01/1946 Data de falecimento: 02/06/2015 Nome da esposa: Maria das Dores Carvalho Ferreira Nome dos pais: Terezinha Ferreira de Moura e José Roque Ferreira (falecido) Nome dos irmãos: Nilson(falecido), Edília (falecida), Helena (Leninha), José Ferreira (Zezé), João Batista (Joãozinho), Elvira, Otaviano (Vaninho). Nome dos filhos: Henrique, Jaime Júnior, Michel, Fernando e Leandro. Nome dos netos: Thalita, Thaís, Isadora, Júnia, Maria Júlia.

Seu primeiro trabalho foi de “pinante” (puxar o cavalo para o plantio) na roça, com seu pai. Aos 14 anos foi trabalhar de ajudante de mecânico, logo, se tornou mecânico. Trabalhou de mecânico na oficina da Mesbla Veículos, em Belo Horizonte, na Divisa, em Divinópolis, na Volkswagem de Formiga. Era montador especializado de motores, com cursos na fábrica da Volkswagem em São Paulo. Tinha o diploma de “Doutor em motores.” De volta a Lagoa da Prata, montou sua própria oficina. Foi mecânico por muito tempo. Depois foi comerciante do ramo de autopeças. Atuou como Advogado.

Onde nasceu e onde passou a infância? Nasceu em Lagoa da Prata, na casa de seus avós, no lugar denominado “Manga” (hoje Bairro Américo Silva). Passou a infância em Lagoa da Prata.

Quando conheceu a esposa, quanto tempo ficaram casados, onde e como foi o casamento? Conheceu sua esposa em 1963. Namoraram por 05 anos e ficaram casados por 47 anos, até o seu falecimento.

E a adolescência? Passou a adolescência em Lagoa da Prata, indo para o campo com seu pai e seu avô. Quando jovem gostava de fazer serenata com os amigos.

Quando montou o primeiro negócio próprio e por quanto tempo teve essa empresa? Já tinha oficina mecânica e abriu seu primeiro comércio em 1978 (Autopeças Ferreira). Essa empresa funcionou até 2001, aproximadamente.

Onde estudou desde o jardim de infância e se cursou alguma faculdade? Não estudou no Jardim de Infância. Estudou na Escola Alexandre Bernardes Primo, dos sete aos onze anos. Já adulto, concluiu os ensinos fundamental e médio. Posteriormente, formou-se em Direito na Faculdade de Direito do Oeste de Minas – FADOM. atuou?

Qual foi o primeiro trabalho e em que profissões já

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tempo.

Já montou outras empresas? Chegou a abrir outros comércios, mas por pouco Ele sempre gostou de música? Sim. Sempre foi um apaixonado pela música.

Ele sempre apoiou o filho Michel na carreira musical. Falar um pouco sobre isso?


Sim. Apoiou seu filho desde criança, dando todo incentivo, instrumentos e condições para o mesmo se desenvolver na música. Com 11 anos de idade Michel já fazia shows sozinho e o Sr. Jaime era o “empresário.” Fez de tudo, o que pôde para incentivá-lo. Ele tinha algum cantor ou estilo de música favorito? Altemar Dutra e Agnaldo Timóteo. Seu estilo preferido era música romântica, em especial as italianas. Qual era a relação dele com política? Chegou a ser bem participativo. Foi Vereador pelo PMDB de 1983 a 1988. Foi Presidente da Câmara em 86/87. E com religião? Era Católico. Fez o Cursilho de Cristandade da Igreja Católica em 1982. Atuou por muito tempo como cursilhista. Ele gostava de cozinhar? Qual era o prato favorito? Sim. Gostava de cozinhar no fogão à lenha, preparar um frango com quiabo, angu, etc. O que o deixava irritado? Irritava-se com atos de injustiça, desonestidade. E o que o deixava feliz com facilidade? Reuniões da família em sua residência, com a esposa, os filhos, as noras, as netas. E também, gostava muito de viajar com a esposa e família. Ele chegou a manifestar algum arrependimento? Não. Para finalizar, gostaria que cada filho escrevesse uma frase, curta, definindo quem era o Jaime como pai e como cidadão! Antes das frases dos filhos, queríamos destacar as atividades como voluntário do Sr. Jaime: - Ações sociais por meio do Movimento de Cursilhos; - Foi Presidente, treinador e responsável pelo

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reerguimento do tradicional time amador da cidade, o Nacional Esporte Clube, nos anos 80. Muitos jogadores o chamavam de pai, tamanha a dedicação e carinho para com todos. Este time foi um destaque inclusive na região. Envolvia toda família e empregava dinheiro próprio para manutenção do clube. - Foi Presidente da Praça de Esportes e revolucionou o esporte especializado em Lagoa da Prata. Os torneios internos eram um sucesso. O Município participava ativamente do JIMI – Jogos do Interior de Minas Gerais. Vários atletas e homens foram formados nesta época com disciplina e respeito. Na ocasião foi construído o Ginásio Poliesportivo Leopoldo Bessone. - Foi treinador voluntário do Laprata Esporte Clube. - Tudo de forma voluntária, por amor ao esporte e por saber que esse é o melhor, e mais efetivo, instrumento para manter as crianças, os adolescentes e os jovens longe das drogas e de outros males. Sempre foi um amante do esporte e era cruzeirense. FRASES: Maria das Dores: Vivemos os “anos dourados”, década de sessenta... Fomos muito felizes com nossos filhos. Tenho muita saudade! Henrique: Homem de personalidade forte e mente brilhante, criativo, inovador, virtuoso. Juninho: Um homem à frente de seu tempo. Muito inteligente e dinâmico, contribuiu para o crescimento de muitas pessoas. Como pai, um exemplo, orientador, rígido até, mas sempre com muito amor. Michel: Defino em poucas palavras: amor, carinho e dedicação. Com ele aprendi a seguir sempre os caminhos da honestidade e dignidade. Fernando: Um exemplo em minha vida! Minhas qualidades certamente vieram do meu pai! Sempre me orientou, aprendi muito com ele! Está fazendo muita falta, principalmente, daquela conversa amiga que tínhamos todos os dias. Muita saudade! Leandro: Um grande exemplo para minha vida! Sempre nos ensinou a seguir os caminhos da honestidade em todas as ocasiões.


C

Dr.

Por Beatriz Vasconcelos

arlos

Bernardes 1918

1985

O primeiro médico lagopratense, Carlos Bernardes de Castro, é um capítulo importantíssimo na história da saúde de Lagoa da Prata. Filho do Sr. Urias de Castro, e neto do Cel. Carlos Bernardes, ele se formou em 1945 e veio trabalhar na cidade natal, onde não havia nenhum hospital. Foi por meio do seu esforço em evidenciar as necessidades e demandas de assistência médica, extremamente escassa na época, que os recursos começaram a chegar ao município. Para isso, o doutor fez inúmeros atendimentos gratuitos, principalmente na zona rural, porque era grande a população que não podia pagar em caráter particular. Naquele tempo existia a Casa de Caridade, que começou na década de 20 pela iniciativa da família de Manoel Pena, para dar assistência médica às pessoas carentes da cidade. Funcionava muito precariamente, não recebia nenhum repasse de governo, e tudo ali acontecia por meio de doações e ajuda da população. O dr. Carlos então encontra a enfermeira Vicentina, que o ajudou na recuperação daquela casa. Foram realizadas algumas adaptações e melhorias. O empenho rendeu mais tarde a Santa Casa de Misericórdia, e ele foi diretor por longos anos naquele lugar que hoje é o hospital da Fundação São Carlos. De 1955 a 1959 o dr. Carlos foi prefeito de Lagoa da Prata. A saúde na cidade foi desenvolvendo, é claro, com a participação de várias outras pessoas que atuaram junto com o dr. Carlos, por exemplo, o médico Ciro dos Santos, que chegou em 1954, e o dr. José Benedito Jeunon, em 1963. Podese dizer que este trio é o pilar da nossa assistência médica. Outra atuação importante do dr. Carlos Bernardes foi a fundação do Núcleo de Assistência ao Canceroso, que teve a dona Chiquita Perillo como coordenadora. Ela era parteira

Dr. Carlos com a esposa, Nilza, e os três primeiros filhos: Maria Cristina, Altino Carlos e Mônica

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da cidade e foram muitos os trabalhos realizados juntos na obstetrícia, que era a especialidade do médico. Hoje esta instituição tem o nome de Fundação Chiquita Perillo. Carlos Bernardes conheceu a esposa, Nilza, em Belo Horizonte, quando ainda era estudante. Teve oito filhos, de nove gestações - Altino, Maria Cristina, Mônica, Maria Beatriz, Alexandre, Maura, Adriana e Carla. Quando Nilza engravidou pela primeira vez, o dr. Carlos não queria fazer o parto e o casal programou o nascimento do filho em Belo Horizonte, com outro médico. Isso porque ele desejava participar daquele momento especial como um pai, simplesmente, e pensava que poderia ficar nervoso trazendo à luz seu próprio filho. Mas o que havia sido programado precisou ser esquecido. Houve uma emergência e o doutor Carlos teve que realizar o procedimento. Depois disso, os outros filhos vieram também todos pelas suas mãos, exceto uma que o casal perdeu ao nascer. Essa criança tinha sido a única a nascer com outro obstetra. Ajudar pessoas carentes com assistência médica fazia parte da essência do dr. Carlos. Todos os anos ele viajava de férias para pescar no Urucuia. Quando chegava ao local do acampamento, sua barraca era prontamente erguida para que ele pudesse fazer consultas gratuitas às pessoas que moravam na região. Ele levava leite em pó e remédios, ficava de três a quatro dias atendendo essas pessoas e só depois que terminava é que ia realmente curtir a pescaria. Em Lagoa da Prata o dr. Carlos não media esforços para atender a um paciente. Quando havia emergências, as pessoas batiam à sua porta - se fosse de madrugada era na janela da sua casa, que ficava na Praça da Matriz. Ele ia aonde precisasse. A alguns lugares das comunidades rurais, inclusive, só era possível chegar a cavalo, e ele ia mesmo sabendo que teria que atender gratuitamente. Muitas vezes o pagamento chegava depois, eram cestas com broas, um doce, ou um frango, por exemplo, e ele aceitava com muita satisfação. O Dr. Carlos faleceu aos 66 anos de idade e deixou um vazio para muitos. Além dos familiares e amigos que sentiram a perda, a população também chorou. Dona Vicentina de Castro Gonçalves, 87 anos, irmã do dr. Carlos; e a filha dele Carla Santos Castro, fontes de informações deste texto, relatam que até os dias de hoje muitas pessoas as abordam nas ruas para lhes falarem da gratidão que sentem para com o médico.


W

Por Fabricio Azevedo

antuil

Morais da Silva

Ele foi pioneiro no ramo de representações, atividade que movimenta a economia da cidade há décadas! Tornou-se um empresário bem sucedido que no momento, investe em outras atividades. Wantuil tem o apelido de “Zoeira”, que veio de seu tio Antônio. Está com 71 anos e é filho do Sr. José Ribeiro da Silva e Sra. Olympia Leonarda Ribeiro. É irmão de Sônia, Marlene, Marly, Maria de Fátima, Maria José, Jair, Jairo, Alaor e Mozair. Tem dois filhos: Cássia e Fabrício. Foi casado por 30 anos com a Sra. Neusa. A infância foi pobre e os tempos eram difíceis, foi passada na Vargem e já na adolescência assumiu responsabilidades e trabalhava muito. O primeiro trabalho foi na roça, onde o trabalho braçal com foice, enxadas e machados lhe causavam calos nas mãos. Estava com 10 anos quando começou a trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro. Foi nos anos 80 que começou a trabalhar com representações comerciais, fornecendo produtos para os “rifeiros”. Ele viajava com frequência para São Paulo trazendo produtos variados que eram revendidos no atacado. Ficou neste ofício por vários anos, o que permitiu que ganhasse algum dinheiro e investisse em outras áreas, se tornando empresário no segmento de hotelaria. Antes disso trabalhou com alfaiataria com o saudoso Sr. José Coutinho. Com o tempo investiu em negócios variados como materiais de construção. No momento, suas atividades principais são o setor agropecuário e imobiliário. Ter cursando somente até a 8ª série não limitou seu instinto de empreendedor. Um de seus projetos mais arrojados está em andamento que é a criação de um grande loteamento, na verdade um distrito chamando Nova Capetinga, no município de Luz. Este distrito, inclusive foi tema de um livro lançado por um grande amigo de Wantuil, o Juiz Dr. Célio de Carvalho. Wantuil presenteou cada um de seus irmãos com uma chácara de 5.000 metros para que eles voltassem às suas origens. Ele admite que teve vontade de cursar alguma faculdade, mas isso não foi possível porque tinha que trabalhar para conseguir seus objetivos. Seu envolvimento com a política se deu quando foi presidente do PDS JOVEM e tornou-se amigo pessoal do então Governador Francelino Pereira. Também tornou-se amigo do exdeputado Otacílio Miranda, também biografado nesta revista. Wantuil é objetivo nas respostas e admite ser muito vaidoso. Gosta de andar bem vestido e usar um bom perfume. É católico, não praticante e fica irritado em negociar com pessoas que se mostrem de mau caráter. Não tem arrependimentos e se considera batalhador e um vencedor. Os hábitos alimentares são simples e o prato favorito é composto de arroz, feijão, mandioca frita e carne assada. Uma “boa cachacinha” de vez em quando cai muito bem. Como lazer, gosta de ir para a fazenda, gosta de ir a eventos e gosta de viajar, já tendo ido para alguns continentes e visitado uma dezena de países. Gosta de sua história e no segmento imobiliário, cita dois empresários, José Maurício Maciel e Antônio Luciano Pereira. Wantuil lançou o bairro Maria Fernanda II e tem orgulho de participar do crescimento da cidade. Ele já recebeu outras homenagens e destaques em livros, como um escrito por Heleno Nunes e por Otacílio Miranda!

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m

Por Fabricio Azevedo

auro

araújo ribeiro

Seria impossível fechar esta edição sem essa pessoa tão especial. Se falarmos em carisma, ele é sinônimo. Se falarmos em alegria e ótimas gargalhadas, ele é sinônimo. Se falarmos em alto astral, é o mesmo que falar sobre ele. O tempo, a vida e a idade tiraram um pouco do entusiasmo dele, que está com 90 anos. Sr. Mauro é lenda na cidade. É paparicado pelos filhos, pelos amigos, pelos vizinhos. Além da família, seguramente, o que mais gosta é de um bom uísque. De preferência, Johnnie Walker. Claro que ele também gosta dos amigos e das pessoas em geral. Mas com a família e com o uísque, a afinidade é incontestável. Mauro nasceu em 1928 na cidade de Itapecerica, estudou no Colégio Guararapes, na cidade de Ouro Fino e veio para Lagoa da Prata aos 22 anos de idade. Casou-se com Maria Senhorinha, a conhecida Dona Senhorinha da loja, que, infelizmente, partiu no ano passado. Sobre ela, já contamos na revista 78 Mulheres. Apaixonados. Divertidos. Formavam um casal especial. Ela mandando, ele obedecendo. Ele desobedecendo e ela xingando. E foi assim, numa aventura de amor que durou até a partida de Senhorinha. No ponto de vista pessoal, venceram na vida. Conseguiram uma vida confortável, fruto de muito trabalho. Sem luxos exagerados e sem apertos “apertados”. Tiveram oito filhos e a má sorte de perderem dois, Tadeu e Nélio. Os demais são João, Carlos, Mauro Lúcio, Eugênio, Kennedy

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e André. Vieram os netos e bisnetos. A família sempre reunida. Os cafés eram, e continuam a ser, “de lei” no fim da tarde, na casa onde eles moraram e onde Mauro ainda mora, em frente à Pracinha do Cruzeiro. Mauro trabalhou como “mascate” e sempre foi comerciante, inclusive, trabalhando junto com a esposa na loja da Pracinha do Cruzeiro. Adorava viajar. As dificuldades físicas e decorrentes da idade já não permitem mais essa aventura. Mas fez muitas. Principalmente com alguns dos grandes amigos como o saudoso Rui Amorim, seu vizinho João Prado, Marinho Amaral e outros. Festas ele adorava. Não perdia uma. Nem da família, nem de amigos e até de desconhecidos, que até ia se fosse convidado por terceiros. Contador de causos, adorava uma pegadinha. E as contava com total desenvoltura. A piada podia até não ter graça, mas contada por ele, com aquela carinha de felicidade, eram irresistíveis. Podemos dizer, que por ser “tão de bem com a vida”, nada o irrita. E se irrita, é tão pouco que ele nem deixa transparecer.

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Pra deixá-lo feliz, pouca coisa era preciso. Mas se estivesse com o seu uísque na mão, em companhia da família e amigos, aí nem era felicidade, era muita, muita felicidade. Foi pessoa de doação. Assim como sua esposa. De formas e situações diferentes, ajudou muita gente, até mesmo com dinheiro e com favores. Gostava de conversar sobre política, mas nunca se aventurou a entrar nessa área. Com relação à comida, não era de “colocar a mão na massa”, afinal, Senhorinha era cozinheira de mão cheia. Bem como as assistentes que trabalharam em sua casa. Contar sobre ele por aqui é muito fácil. Difícil é resistir a não prolongar muito o texto. E sendo assim, vamos encerrando e deixando até um mistério no ar: com tantas histórias dele e de sua esposa, quem sabe um dia a gente não lança um livro, para que não fiquemos limitados a espaço físico de revista. Quem sabe? Comentando isso com algumas pessoas, essas até sugeriram vários títulos, dentre eles, empresto à família, caso um dia queiram usar: “Mauro e Senhorinha: uma história de amor com a vida”!


A

ltamiro lacerda

Por Fabricio Azevedo

O Sr. Altamiro é, como os próprios familiares dizem, “uma figura”. Junto com a esposa criou uma família enorme. No momento está com limitações devido à saúde, mas nem por isso perdeu a essência e é o centro das atenções! Ele está com 91 anos fica sob os cuidados da esposa, Sra. Maria Batista Lacerda, que foi nossa biografada na revista 78 mulheres e dos filhos. Ele é irmão de José Lacerda, Benício Lacerda, Antônio Lacerda, Lair Lacerda, Maria Lacerda, Maria Eterna Lacerda e Ivanilde Lacerda Pai de : Avelange, Leila, Iran, Leda, Leilian, Laile, Pervis, Laibe, Irabes, Irnak, Laidilaine, Lailaine, Lanussy. Avô de Graciele, Graciene, Jordane, Vílson Jr., Assis, Carla, Dener, Débora, Samira, Flávia, Avelange Jr., Demis, Janine, Tiago, Ana Luíza, Iuri, Fernanda, João Pedro, Cláudio Jr., Marco Túlio, Jair Jr. E bisavô de Ana Letícia, Elisa, Cecilia, Laura, Gabriela, Artur, Antônio. Sr. Altamiro estudou até a 4ª série em escola da zona rural. Trabalhou como feitor na fazenda do José Maria e depois continuou seu trabalho na mesma área em uma indústria de latícineos, na Usina e na Prefeitura Municipal, até se aposentar. Sempre foi um excelente pai e exemplo de pessoa para seus filhos, netos, bisnetos, além de bom marido. Gosta muito de conversar com os amigos e ter bom relacionamento com as pessoas. Ele fica triste quando a esposa fica ausente e extremamente feliz quando vê a família toda reunida. Fica irritado com os filhos e netos quando eles saem “da linha”. Não sabe cozinhar. A comida favorita é frango com tutu. Já viajou para vários lugares, mas a cidade que amou conhecer foi Recife. Nunca reclamou de trabalhar, sempre trabalhou com muito prazer. Na política, sempre exerceu seu voto, mas nunca se envolveu nesse assunto. Adora andar bem arrumado, perfumado e com a barba feita. É muito vaidoso. Tem saudade de quando morava na roça e dos velhos tempos. Sempre gostou de ouvir as modas de viola. Namorou durante dois anos, casou-se na igreja matriz, no dia 07 de fevereiro em 1952, onde comemoraram com festa, muita alegria e comida boa.

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anos.

Adorava beber cerveja e cachaça, mais parou há 30

É um senhor tranquilo, mora em Lagoa da Prata com a esposa, três filhos e um neto. Hoje em dia é cadeirante, muito bem cuidado e amado por toda família.

Sr. Altamiro, na visão de seus filhos: Avelange: Me ensinou a ser quem sou hoje. Leila: Um homem guerreiro, um exemplo a ser seguido. Laibe: Meu pai, minha vida. Lanussy: Presente de Deus. Irnak: Meu herói, meu amigo. Lailaine: Tudo para mim... Iran: Digno e de muita fé. Leilian: Humilde e sempre com o sorriso no rosto. Laile: Um exemplo de vida. Leda: Meu bebê. Laidilaine: Um pai com quem eu sempre pude contar. Pervis: Só tenho a agradecê-lo. Irabes: Muito importante em minha vida.


o

Por Fabricio Azevedo

swaldo gonçalves damasceno

Ele foi o principal executivo da antiga Usina Luciânia por muitos anos. Objetivo, competente e com força de líder, nasceu em 19/10/1915 e faleceu em 19/03/2002. Sr. Osvaldo era filho de João Damasceno e da Sra Ida. Foi casado com a também saudosa Dona Josina, com quem teve 9 filhos: Therezinha, Oswaldinho, Ieda, Regina, Iara, Ordália, Sandra, Eduardo e Izabel. A família hoje conta com 23 netos e 12 bisnetos. A infância e adolescência foram passadas em Juiz de Fora/MG, sua cidade natal. Durante a vida trabalhou em diversas áreas, foi pedreiro e mestre de obras até a chegar a Gerente Geral da Usina Luciânia. Cursou somente o primário. A esposa ele conheceu na cidade de São Gotardo/ MG, onde também se casou com a amada. Chegou a morar em Belo Horizonte, onde

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trabalhou na construção civil. Era conhecido por ser exigente, tanto na educação dos filhos, quanto com as centenas de funcionários da Usina Luciânia. Exigente, porém querido. Valorizava a competência da equipe e se irritava com gente preguiçosa. Uma boa piada lhe arrancava largas gargalhadas. Na cozinha nunca teve habilidade e gostava muito de doces. Não era de praticar esportes e torcia para o Cruzeiro. Era objetivo e nunca se envolveu com política. Era católico, porém não praticante. Trabalhou até os 78 anos de idade e não tinha o hábito e consumir bebidas alcoólicas. Oswaldo foi um dos grandes executivos da cidade e sua eficiência é reconhecida por todos que o conheceram e por todos que pesquisam sobre a história da Usina, que era de propriedade do empresário Antônio Luciano Pereira, também biografado nesta revista.


F

Por Saulo Resende

ulton Miranda 04/12/1950

26/04/1982

Por mais que se queira traçar um perfil de alguém com traços de genialidade evidentes, ainda faltariam palavras, páginas, conteúdo. A vida do Fulton, apesar de cronologicamente breve, foi longa e rica, se considerados seus inegáveis dons pessoais, culturais e artísticos. Assim, diante de empreitada tão monumental, o recurso foi retratá-lo por ele mesmo. Talvez prevendo as dificuldades dos pósteros, Fulton mantinha diários, nos quais registrava momentos de sua vida, seu sentimento de mundo, o gosto pela literatura, as plantas, as artes plásticas, o cinema, seu misticismo, sua depressão e suas experiências nos, assim chamados, ‘paraísos artificiais’. Dessa fonte de registros, com um pouco de paciência, pode-se enxergar um Fulton próximo do que ele era em essência. Vejamos o que ele dizia de suas origens e sua infância: “...Eu não me esquecera: havia nascido no dia 4 de dezembro e isto certamente tinha sua importância. Naquele dia talvez não tão distante como queria crer – há exatamente vinte e sete anos – fora o princípio da jornada e de uma série de ocorrências significativas.” (registro em Diário em 16.11.77). “...Falando em Jesus, estamos em plena Semana Santa, a qual evoca-me as mias puras lembranças do tempo de criança cheia de fé, que participava de todos os cultos, com verdadeira reverência. As procissões desta Semana algo fúnebre, eram para mim as mais maravilhosas e comoventes, tocantes e patéticas. A maior parte do tempo, passava-o na igreja de minha paróquia onde ficava depositado o Senhor dos Passos que eu não cansava de admirar cheio de reverência, como se estivesse diante do próprio Jesus em seu martírio, comovido até quase às lágrimas. Ah! Que belos sentimentos eram aqueles, pela ingenuidade dos meus sete ou oito anos de idade.” (idem 15.4.81). Fulton tinha uma maneira muito peculiar de ver o mundo e a humanidade, expressando-se, em alguns momentos, com argumentos bastante interessantes e próprios: “....Não aprovo o seu [tecnologia]endeusamento, mas acredito que o homem construirá máquinas espetaculares que o deixarão livre para o seu necessário lazer, para tratar de sua evolução, vivendo na contemplação. Assim o Éden será novamente possível e terminará a maldição de ter de comer o pão com o suor do rosto. Sou de opinião que o homem deve ter a maior parte de seu tempo livre, trabalhando o mínimo por dia, o suficiente para não viver por demais em letargia. E, se o homem não destruir o planeta, é para isto que caminhamos.” (idem março/78). “...A meu ver o homem não pode pretender em outros mundos o que ainda não logrou conseguir no seu próprio planeta. Há que conquistá-lo primeiro, fazer dele um lugar feliz e realmente civilizado, apurar a raça, acabar com as dissenções e guerras que deveriam ter perdido sentido diante da perspectiva de conquista do espaço.” (idem 28.4.78).

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Em sua vida, nosso personagem fez da leitura e da escrita um manancial de assimilação e distribuição da alta cultura. Em várias passagens de seus registros, louvou e comentou vários expoentes da literatura clássica, citava uma profusão de grandes compositores da música clássica, pintores, escultores de todas as épocas e estilos. Gostava de cinema e, especialmente, das plantas às quais dedicava especial cuidado, carinho e, até mesmo, conversava com elas, para espanto de sua mãe, Dona Francisca. Desenvolveu também um estilo próprio para sua Arte do desenho e pintura, o qual Fulton mesmo definiu: “... minha última obra,..., encontra-se no patrimônio do museu da cidade... tentei expressar nela tudo que me foi possível. Naquele desenho – admirado por todos que o vêem como algo fora do comum (o que sem falsa modéstia o é) – foi como se eu tentasse reproduzir a síntese de minhas convicções filosóficas e religiosas, sendo o mais detalhado de quantos fiz até hoje, conseguindo proeza de detalhes comparável a Jan Van Eick, que muito admiro... Gosto que minha arte seja de vanguarda, pura, definida praticamente sem influência de ninguém. E ninguém fica indiferente diante de um desenho meu, cujo estilo vem sendo apurado com o tempo... fui elaborando cada vez mais meu estilo, livre de influências, até chegar onde estou hoje, tendo sido meu Surrealismo-Místico, (como denominei meu estilo), consolidado no mural que fiz aqui em meu quarto em maio de 73, o Gênese & Apocalipse, muito embora eu tenha progredido muito desde então... elogios gratificam-me bastante. Dizer que fico convencido não seria verdade; o que acontece é que é muito bom ver que um trabalho que me custou tanto ser reconhecido como de qualidade. Quando termino um desenho, eu acho bonito, mas sem o consenso dos outros, minha opinião é nula.” (idem 23.5.81)

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Com a evolução de seu espírito, e guiado pela razão e profundos estudos, Fulton desenvolveu uma maneira também própria e individual de exercitar seu misticismo: “Minha forma de prestar culto a Deus não consiste em ir a qualquer rito, como à missa aos domingos e pronto. Presto meu culto a Deus é vivendo da melhor maneira que posso, procurando progredir espiritualmente através do estudo que me permite penetrar nos mistérios da vida. Minha religião é uma filosofia de vida.” (idem 25.4.81). Há também o registro de páginas escuras da vida do artista. Atormentado pela insônia e a depressão, entregou-se, no fim, ao atalho de substâncias viciantes para melhorar o humor e a disposição: “Quão pesada é esta carga! Sentir-se inútil e à margem da vida! Desintegrado... solitário e melancólico. A vida às vezes tem gosto de fel, é amarga. Intragável e, contudo, tem de ser bebida até a última gota.” (idem 11.3.81). “... Enquanto isso, não me descuido de minha formação espiritual. Acredito que com isto me farei merecedor da libertação de todos os meus vícios, praticando todas as virtudes ao meu alcance: mansidão, caridade, amor fraternal, desapego (na medida do possível)... Contudo, me falta ainda muita coisa. Sou consciente de todos os meus defeitos, mas embora abominando a todos, ainda não logrei abandonálos. O importante, creio, é não desesperar e viver na reta concentração” (idem 22.4.81). E, por fim, a despedida: “... Como já vai alta a noite, fico devendo-te outra (ou outras!) carta(s), quando espero conseguir expressar-me mais ordenada e objetivamente. Sei que saberás perdoar-me; são tantas as coisas a serem ditas, tu sabes. E, então, esclarecer-te-ei melhor sobre as coisas que falei. Até lá, não desesperes. Conta sempre comigo. Abraços, Fulton.” (idem 2.4.81).


N

Por Fabricio Azevedo

estor

Tibúrcio de OliveirA 81 ANOS Filho do Sr. Tibúrcio Alexandre de Miranda e da sra. Exaltina Dometildes de Oliveira. Irmão de: Eurico, Zilá, Tibúrcio, Dalva e Maria. Casado com Norma Bernardes de Oliveira Pai de: Tânia, Tatiana, Tales e Tarcísio. Avô de 6 netos: Iuri, Alice, Gabriel , Rafael, Thaila e Thaíssa. Nestor nasceu na Fazenda Morro Grande, que fica no município de Santo Antônio do Monte, onde passou a infância e a adolescência. Estudou em Martins Guimarães até o terceiro ano. No quarto ano do primário, mudou-se para Santo Antônio, onde concluiu o 4º ano. Depois disso, voltou a morar com os pais por três anos. Por lá, ajudava o pai nas atividades diárias da fazenda. Estava com 15 anos quando o pai se reuniu com os filhos e falou para eles saírem da roça e buscarem coisas melhores na vida. Disse ainda que lá eles não teriam futuro. E assim foi feito, ele e o irmão Tibúrcio vieram morar em Lagoa, na rua Cirilo Maciel, esquina com Getúlio Vargas. A casa ainda pertence a membros da família e gostou muito ter morado lá, afinal, era jovem e o endereço era, e continua a ser, um dos mais movimentados da cidade. Não cursou faculdade. Os pais não tinham condições de bancar. Se pudesse, teria cursado Direito. Uma vez em Lagoa, apareceu oportunidade de comprar um bar, o antigo bar Lagoense. Ele, o irmão Tibúrcio e o cunhado Sinuco compraram o estabelecimento, no qual ficaram por seis anos. Era um bom bar e nem tinha energia elétrica. Era tudo a motor. Inclusive, além das atividades normais de um bar, eles fabricavam picolés. Com o tempo, veio a energia elétrica. “Foi uma beleza. Puderam eliminar os motores e o bar ficou ainda melhor!”. Recorda-se que a energia da antiga “Cemiguinha” eles utilizavam após as 10 da noite. Venderam o bar. Naquela época, o Joaquim Banha, que era amigo e vizinho deles, tinha um posto de combustíveis e estava querendo abandonar o negócio. Foi ali que ele e o Tibúrcio alugaram o posto do Joaquim, que se chamava, e ainda se chama,

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Posto São Francisco. A sociedade durou cerca de oito anos quando a desfizeram. Tibúrcio ficou com o posto e havia outro em construção, na avenida Brasil. Os proprietários deste futuro posto se desentenderam durante as obras e Nestor, com o dinheiro que tinha recebido da venda do posto anterior, comprou o posto em obras. Terminou a construção e, desde essa época, passou a ser dono do Posto do Vovô, que atualmente, administra junto com os filhos. No fim do ano passado, ele comemorou 50 anos de casado com a bela Norma, que conheceu aos 26 anos de idade. O namoro durou uns quatro e veio o casamento que aconteceu na Igreja Matriz de São Carlos Borromeu, com festa na casa do Sr. Amâncio, pai da noiva, com direito a lua-de-mel em São Lourenço, na região das águas, no sul de Minas Gerais. Paralelo ao posto, ele e o sempre parceiro Tibúrcio, compraram fazendas. Por um período tinham uma só, depois compraram outra em sociedade. Posteriormente, cada um ficou com uma. E na fazenda, ele ainda trabalha e gosta do trabalho rural. Pouca coisa o deixa irritado e ficar com a família é sem dúvida um dos maiores prazeres. Gosta de viajar, mas tem feito poucas viagens. Atualmente, prefere ficar entre a cidade e a fazenda. É católico, não liga para futebol e muito menos para política. “De política, nunca gostei e continuo não gostando”, afirma, categoricamente. Não se considera vaidoso e afirma: “não cozinho e não sei fazer nada nessa área”. Mas gosta de comida, de preferência, a mais tradicional: arroz, feijão, salada, bife. A esposa sabe cozinhar muito bem e tudo que ela faz ele gosta. É bem tranquilo com o estilo de vida que levou e que leva. Não tem sonho de consumo. Gosta de trabalhar e produzir, além, claro, de levar a vida de forma mais tranquila. Perguntado sobre um defeito que assumiria ter, disse que tem sim, mas que nada que seja prejudicial a ele e às pessoas que estão por perto. E por isso mesmo, não tem arrependimentos que possam ser relevantes. Ele acompanhou o crescimento da janela de seu posto, na avenida Brasil e apesar da violência, acredita que a cidade melhorou muito. Nestor é assim, um homem bem sucedido nos negócios, na vida familiar e, sobretudo, um homem do trabalho. Nunca teve nem tem projetos ambiciosos. Admira os amigos e gosta de vida pacata. E foi assim, de forma descontraída que conversamos com ele, para contar um pouco de sua trajetória. E, ao terminarmos, ele voltou para o balcão do posto, onde estava o filho Thales. Dalí, seguindo seus ofícios, administrando a empresa eles devem ter continuado, de frente para a principal avenida da cidade, contribuindo para seu crescimento e deixando a vida os levar!

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aulo Saint’Clair Dôco Por Beatriz Vasconcelos

Paulo Saint'Clair Dôco, filho de Saint'Clair Dôco e Maria da Conceição Dôco (D.Cessa), nasceu aos 20 dias de Outubro de 1928. Casou-se com Lucia Gonçalves Dôco e foi um grande pai de família. Vivia plenamente sua fé católica, e esse caminho certamente foi o principal norte que adotou para conduzir o seu lar com tamanha harmonia. O Sr. Paulo é um referencial de perseverança e doação e esteve sempre ao lado da sua eterna namorada, D. Lucy. Juntos, souberam educar os seis filhos - Carlos Saint Clair, Luciana, Helder, Maria Lucia, Camilo e João Paulo -, fazendo todos eles pessoas ‘de bem’, comprometidas com seus ideais de servir. Contanto, ele é um exemplo de pai, sendo sempre conselheiro, companheiro, educador e, principalmente, alguém que preservava os valores morais, que tanta falta tem feito às famílias atualmente. Quem conviveu com o Sr. Paulo sentiu o quanto é importante a vida religiosa na solidez de um casamento. A sua alegria e o seu carinho faziam com que os netos se reunissem sempre ao seu redor. As brincadeiras de maior sucesso eram os números de mágica as ‘moedinhas e o braço do vovô’. Muito ativo na sociedade, Paulo Dôco participava de vários grupos e sua animação contagiava a todos. Por mais de 40 anos esteve no movimento de Cursilho. Na Sociedade São Vicente de Paula era veterano como um dos primeiros vicentinos de Lagoa da Prata. Ele ajudava em todas ações sociais desta entidade ‘cantando’ o bingo e divertindo as quermesses das comunidades. Se for para falar das famosas barraquinhas na Praça da Matriz, impossível não lembrar a voz do Sr. Paulo Dôco tirando gargalhadas com seus trocadilhos. O esporte era o seu prazer. Curtia o Nacional Esporte Clube de Lagoa da Prata, e sua paixão era ser técnico de futebol e trabalhar na chácara que cultivou por longos anos. Fazia questão de colher frutas e levar para as entidades da cidade. Além disso, foi um grande protetor do meio ambiente e orgulhava-se de ter uma carteira da Polícia Ambiental. Também gostava muito de dançar e era um exímio “pé de valsa” nos saudosos bailes do Clube Recreativo. Mesmo com os problemas de saúde que apareceram, viveu intensamente suas emoções. Tanto que na ocasião de uma cirurgia de coração a que foi submetido, ao voltar para casa para se recuperar, no feriado de Corpus Christi, teve a visita do Santíssimo Sacramento ao passar em sua rua. Por tudo isso, pode-se afirmar da pessoa íntegra, alegre e de bom coração. Faleceu aos 85 anos de idade, por causas naturais.

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onsenhor Alfredo Dohr

Por Beatriz Vasconcelos Nasceu 19/06/1913, Sankt Johann - Alemanha Faleceu 11/12/1985, em Lagoa da Prata – MG

No ano de 1959 chega a Lagoa da Prata o Monsenhor Alfredo Dohr, responsável por muita história e desenvolvimento da igreja católica na cidade. Teve muita dificuldade de adaptação quando chegou, mas perseverou e ficou aqui por 27 anos, até o seu falecimento. Pode se dizer que foi a figura religiosa que mais contribuiu financeiramente para a Paroquia São Carlos Borromeu com recursos próprios, além de envolver bem a população em ações que também davam lucros para serem investidos na evangelização. Veio para o Brasil em 1938 ainda seminarista. Na Alemanha, antes de se ingressar no seminário, teve uma noiva, mas sentiu a certeza da sua vocação religiosa. Saiu do seu país em virtude da Segunda Guerra Mundial (para não ser convocado). Sua ordenação aconteceu em 1942, e atuou primeiramente na paróquia de Dores do Indaiá. De 1948 até 1959 foi vigário de Perdigão, cidade a que se apegou muito afetivamente, inclusive, antes de sua morte, pediu para ser sepultado lá, e foi atendido. A situação que deixou a vaga na paróquia de Lagoa da Prata para que o Monsenhor Alfredo ocupasse foi inusitada. Antes de ele assumir o cargo, o padre da época – José Pires de Oliveira, em 1958 - tinha fugido com uma moça, e os fiéis estavam em clima de surpresa. Até então o romance nunca tinha levantado nenhuma suspeita, o padre Pires era muito carismático, dinâmico, querido pelo povo e deixou marcas pelas inúmeras benfeitorias realizadas na cidade. Por exemplo, o seu emprenho grandioso na implantação do Ginásio Monsenhor Otaviano, que hoje é a Escola Nossa Senhora de Guadalupe. Além disso, nessa época em que o Monsenhor Alfredo assumiu a Paróquia São Carlos Borromeu, a igreja estava passando por mudanças muito fortes. Foi no período de transição das normas do Concílio de Trento (1545 a 1563) para as normas do Vaticano II (contemporâneas), quando os padres precisam deixar muitos dos costumes litúrgicos para aderirem a novas e diferentes diretrizes. Por exemplo, deixarem de celebrar missas em latim. O Monsenhor tinha uma personalidade forte e era muito conservador. Essas suas características lhe dificultavam aceitar as mudanças que precisavam acontecer. Além disso, ele teve a sua formação religiosa seguindo o Concilio de Trento. Surgiram então membros importantes para ajudar na abertura da igreja de Lagoa da Prata para as novas ideias. As holandesas Dona Inês Broshuis (leiga consagrada do instituto Secular Unitas) e Irmã Maria Helena (Companhia de Maria), e também o Monsenhor Waldemar foram as pessoas que mais trabalharam junto com o Monsenhor Alfredo para a nova catequese. A primeira missa celebrada na nossa cidade conforme o Vaticano II aconteceu com a preparação litúrgica de dona Inês. Ela providenciou com seus próprios recursos

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financeiros uma mesa de madeira para ser o altar, e essa iniciativa motivou o Monsenhor Alfredo a celebrar de frente para os fiéis (pelo Concílio de Trento, os padres ficavam de costas e só viravam para o público na hora da homilia). Dona Inês também incumbiu o professor Bosco para auxiliar os fiéis durante a celebração e lhe deu todas as orientações para passar aos participantes, por exemplo, o momento de ficarem em pé, ou ajoelharem, ou responderem amém. O jeito nervoso do Monsenhor Alfredo, principalmente as palavras ditas em público para criticar o comportamento das mulheres, ficou na memória das pessoas. Mas foram mesmo as suas muitas benevolências que sobressaíram, e também muitas atitudes boas que não foram tão visíveis na época e que repercutem hoje. Afinal de contas, foi peça fundamental no desenvolvimento da nossa igreja e, mesmo com seu conservadorismo, ele deu voz e vez aos leigos para trabalharem as metas do Concílio Vaticano II. Levou o mês de maio para ser celebrado nas famílias com as coroações. Doou carrilhões para a torre da igreja, a imagem de Jesus crucifixado que está ao lado do altar. Construiu a Casa Paroquial (atrás da igreja) e nomeou os primeiros ministros extraordinários da Sagrada Comunhão. Monsenhor Alfredo reformou a igreja, dando-lhe acréscimo nas laterais, colocou mármore em volta de toda a igreja (por dentro). Apoiou o Congado, até então afastado da Igreja. Apoiou também a Feira do Amor. Criou junto com a Irmã Maria Helena o Centro Catequético, a primeira parte, com dinheiro da Alemanha. Conseguiram levar até o ponto de rebocar e o restante foi conseguido através do mês de maio e promoções diversas. Apoiou a Irmã Jane com as “Casas da Amizade” e o trabalho do “Clube de Mães”. Criou a missa da juventude às 10:00 horas da manhã e a entregou ao Movimento do Shalom. Apoiou os vicentinos, ele também era um deles. Foi participante do Cursilho, Liga Católica, Pia União de Santo Antônio, Apostolado da Oração e Catequese.


Por Saulo Resende

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29/06/1932

07/02/2017

edro Paulo Resende

Numa longínqua quarta-feira, do dia consagrado pela Igreja Católica como sendo de homenagem a dois de seus “pilares” (São Pedro e São Paulo), nascia aquele que se transformaria em pouco tempo numa espécie “esteio” de uma família boa e numerosa. Pedro Paulo Resende é filho de José Lucas Evangelista e Lenira Lacerda Gontijo e veio a este mundo lá nas Grotadas, onde viveu uma feliz e estruturante infância. Vivenciou, como os de sua geração, as coisas da “roça”: os animais, as plantações, o trabalho, a simplicidade, os primeiros ensinamentos de formação religiosa, o convívio harmonioso entre as pessoas. Por esta época, recebeu seu primeiro Sacramento, o batismo. E serão estas manifestações diretas de Deus na vida dos católicos (os sacramentos), o eixo da narração de alguns acontecimentos da vida do homenageado. Isso porque, Pedro Paulo Resende é dos poucos que receberam os 7 Sacramentos possíveis. Explica-se: em que pese toda a ligação com a família e a fazenda, Pedro Paulo Resende, após receber as primeiras letras lá mesmo nas Grotadas, aluno que foi de sua irmã Jandira, optou com firmeza, após receber 3 outros Sacramentos (primeira eucaristia, penitência e crisma – já são 4 contando o batismo), por seguir a vida eclesiástica, matriculando-se e internando-se no Seminário onde hoje é a Universidade Católica de Minas Gerais, no Bairro Coração Eucarístico em Belo Horizonte.

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Tinha 14 anos de idade quando decidiu ser Padre. No Seminário estudou com afinco e disciplina, destacando-se por sua liderança, sua inteligência e por sua boa oratória. Aí veio o 5º e mais raro Sacramento: Pedro Paulo foi Ordenado Sacerdote no primeiro ano da década de 1960, tornando-se o Padre Pedro. Exerceu com dignidade e amor o ministério durante 6 anos, em paróquias em Capitólio, Formiga e sua terra natal Santo Antônio do Monte. Entre os fiéis destas cidades, Padre Pedro sempre gozou de respeito e admiração por sua postura e carisma pessoais. No entanto, após cumprir a missão apostólica como sacerdote, Pedro Paulo, com a mesma firmeza de propósitos e boa-fé que sempre o acompanharam, decidiu voltar ao estado leigo, ou seja, pediu dispensa dos votos que tinha feito para receber o Sacramento da Ordem. À época o Papa era Paulo VI que, após analisar as razões e ponderar as consequências, outorgou a dispensa a Pedro Paulo Resende. Isso significa que não houve qualquer rompimento com a Igreja Católica, ocorrendo apenas uma mudança de estado: de sacerdote para leigo. Nesse passo, e em harmonia com a fé e a Igreja que nunca abandonou, Pedro Paulo Resende recebeu, por meio desta mesma Igreja, o 6º Sacramento: o matrimônio. Em 1966, casou-se com Francisca Decimília Resende, a também já saudosa Dona Decy, como


todos a conheciam. Mulher com uma inteligência rara, uma bondade infinita, também cheia de fé e pródiga em distribuir o mais puro amor de esposa, mãe, avó e bisavó. Da feliz e duradoura união de Decy e Pedro, nasceram três filhos: Saulo Resende, Sérgio Resende e Sandro Resende, todos criados sob as melhores tradições da instituição maior (a família); foram educados na fé, na honestidade, na moral judaico-cristã, na fraternidade, na compaixão e segundo os imperativos categóricos que garantem a vida e a liberdade do indivíduo em toda sua extensão. Em Lagoa da Prata Pedro Paulo Resende criou a família com o suor de seu rosto e o brilho de sua inteligência. Foi professor de português e outras disciplinas, muitíssimo estimado por algumas gerações de alunos, passando a ser mais conhecido como Professor Pedro. Em paralelo estudou e formou-se em Direito pela FADOM – Faculdade de Direito do Oeste de Minas -, exercendo a advocacia com brilhantismo e reta conduta. Aventurou-se na política partidária, tendo exercido dois mandatos de prefeito municipal de Lagoa da Prata (1976-78 e 1982-88), com grandes realizações e algumas vicissitudes desagradáveis; e de onde saiu limpo e pobre. Depois disso, advogou

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um pouco, deu aulas por mais um período, ajudou a fundar e estruturar instituições civis e religiosas, fez parte de várias iniciativas em prol das pessoas mais necessitadas e aposentou-se. Já aposentado, Professor Pedro dedicouse integralmente à família (ajudou a criar os netos, amparou todos os filhos, cuidou de sua esposa com um carinho absurdo e esteve ao lado de seus irmãos, cunhados e sobrinhos). Apreciava, com desapego e ternura, a pequena propriedade rural que herdou de seus pais. Era o lugar de que mais gostava. Por fim, empenhou seus melhores esforços à causa que abraçou para a vida: a Fundação São Carlos. Pedro Paulo, com o passar do tempo, certamente por sua grande generosidade, deu oportunidade a todos de quem havia cuidado a vida toda, principalmente à sua esposa, mas também a seus filhos, netos, sobrinhos e amigos, de cuidarem dele quando as forças de sua mente e corpo já não eram mais as mesmas de antes. Recebeu, na velhice, então, o 7º Sacramento: a unção dos enfermos. Morreu em paz, com sua missão cumprida, logo que sua amada esposa preparou, com sua partida prematura em 18 de janeiro de 2017, a festa para recebê-lo no Céu. O que se deu em 7 de fevereiro de 2017.


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ernardo

28/09/1921

teixeira de amorim

12/11/1995

Pai: Militão Bernardes Amorim Mãe: Amélia Teixeira da Conceição Irmãos: Maria José (Bilia), Juca Militão, Argemiro, Octacília, Militãozinho, Balduino (Dudu), Maria da Conceição, Geralda, Marina, Terezinha. Esposa: Maria do Carmo Amorim (Nenê) Filhos: Inêz, Lenir, Alfredo Carlos, Maria do Carmo, Célia, Antônio Carlos (falecido aos três meses de idade), Joana d’Arc, Maria Aparecida, Elza, Filomena, Antônio de Pádua (falecido), Vicente de Paulo, Geraldo Magela, Bernardo Filho, Helena, Jackeline. Netos: Alessandra, Alisson, Aline, Juliana, Michele, Adriano, Ana Cristina, Bruno, André, Gilmar Júnior, Marcus Vinícius, Fernando, Lucas, Mateus, Daniela, Cláudia, Lílian, Leonardo, Carine, Cíntia, Mariana, Tiago, Bernardo Neto. Bisnetos: Bruna, Carolinna, Miguel, Letícia, Gabriela, Raul, Júlia, Lucas, Gabriel, Bernardo. 01. Onde nasceu e como foi sua infância? Nasceu na Fazenda Carlos Bernardes, então município de Arcos. Viveu a infância na fazenda entre seus irmãos e, como toda criança, brincava e estudava. Seu pai mantinha uma pequena escola, com um professor contratado, vindo de outra cidade, durante o ano letivo. A escola era frequentada também por outras crianças da redondeza. Aluno brilhante, estudioso, sempre voltado para um futuro que lhe proporcionasse oportunidade de continuar os estudos. 02. Chegou a se mudar para estudar? Aos dezenove anos, deixou a fazenda, vindo para Lagoa da Prata. Já casado, cursou o ginásio, primeira turma do recémfundado Ginásio Monsenhor Otaviano, tendo participado do processo de sua criação, e tendo sido secretário da entidade mantenedora do Ginásio – setor local da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG), de 1954 a 1958. No mesmo estabelecimento de ensino, formou-se no curso Técnico em Contabilidade, sendo também da primeira turma do referido curso. 03. Onde estudou e se formou em curso superior? Na década de 60, ingressou na Faculdade de Ciências Biológicas, em Formiga. Devido a dificuldades em conciliar o trabalho com as condições de se locomover até àquela

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cidade (seus companheiros de condução foram, aos poucos, desistindo), trancou a matrícula, desistindo, mais tarde, do curso. Em 1974, ingressou-se na Faculdade de Direito, em Divinópolis (FADOM), sonho acalentado por vários anos, bacharelando-se em 1978. Exerceu a profissão, inclusive, na Prefeitura Municipal, com o cargo de Assessor Jurídico. 04. Onde conheceu a esposa, como e onde foi o casamento? Conheceu a esposa, Sra. Maria do Carmo, em Lagoa da Prata. Seu casamento se deu na cidade de Formiga. 05. Qual foi o primeiro trabalho, que profissões e funções exerceu? O primeiro emprego foi na Prefeitura Municipal de Lagoa da Prata, em 1943, onde exerceu, por mais de quarenta anos, diversas funções (Escriturário, Tesoureiro, Secretário Contador, Chefe do Serviço de Contabilidade, Assessor Jurídico...). Em 1944, exerceu a função de Preposto Fiscal da Divisão de Organização Social do Trabalho, do Departamento de Economia, da Secretaria da Indústria, Comércio e Trabalho do Estado de Minas Gerais. Também trabalhou no Ginásio Monsenhor Otaviano que, na década de 60, teve seu nome mudado em Colégio Nossa Senhora de Guadalupe, exercendo aí a função de Professor


das disciplinas Ciências e Canto Orfeônico e, posteriormente, foi Vice Diretor. No Colégio Municipal José Theotônio de Castro lecionou Contabilidade Pública. Exerceu, por vários mandatos consecutivos, diversas funções como membro da diretoria do Clube Recreativo Lagoense. Foi membro do Conselho Municipal de Educação e Artes, de 1974 a 1981, na função de primeiro secretário. Colaborou na elaboração do Estatuto do Clube dos Operários de Lagoa da Prata. Foi membro da Comissão de Construção da nova Matriz São Carlos Borromeu. Foi membro da Diretoria do Serviço de Obras Sociais (SOS), tesoureiro do Conselho Particular da Sociedade São Vicente de Paulo, Coordenador do Movimento de Cursilhos de Lagoa da Prata e Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão. 06. Qual o seu envolvimento com a política? Seu envolvimento com a política vem da influência da família, pois descende de família bastante atuante neste setor da vida pública. Porém, poucas vezes se apresentou para cargos eletivos. Em 1946, exerceu o cargo de Prefeito Municipal de Lagoa da Prata, nomeado pelo então Interventor Noraldino Lima. 07 O que o irritava? A desonestidade, a falsidade e algumas atitudes que ferem a dignidade da pessoa. 08. O que o deixava feliz? A honestidade, a lealdade, ver sua família unida, bem cuidada, bem encaminhada. 09. Como era a cobrança, como pai, em relação à educação dos filhos, no sentido pessoal e acadêmico? Preocupava-se com a educação e formação dos filhos, sobretudo preocupava-se com a ética e a moral. Para isto não faltou o exemplo e disso nos lembramos ainda hoje. Quanto à formação acadêmica, também não faltou esforço, incentivo e exemplo. Sem falar muito, mostrava a importância do estudo na vida das pessoas. 10. Como era a sua relação com a religião? Homem extremamente religioso, unia a vida de oração à prática da caridade. Sempre teve como prioridade o atendimento aos mais necessitados, para os quais não

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media esforços. Tratava-os como irmãos e acolhia-os em sua casa. Isto motivou a escolha de seu nome, quando da fundação do Núcleo de Saúde Mental, de cuja inauguração ele participou. Sempre participou de atividades na Igreja, pertencia a vários grupos e pastorais e tinha na Eucaristia o sustento para a caminhada no dia a dia. 11. Sabia e gostava de cozinhar? Qual era o prato favorito? Talvez, devido aos inúmeros afazeres, nunca se ligou muito à arte culinária. Sabia apreciar um bom prato, alimentava-se muito bem e ensinou aos filhos a importância de uma boa alimentação. 12. Ele torcia para algum time e chegou a praticar algum esporte? Não se manifestava muito sobre suas preferências. Quando jovem, jogava futebol. Às vezes, assistia a jogos importantes, mas era moderado e criterioso no seu jeito de torcer. 13. Como comandava a família com tanta gente? Com muita paciência, bom senso e, sobretudo, vida intensa de oração. De vez em quando, dizia: “Em tudo que vamos fazer, devemos colocar entusiasmo e persistência”. Não repetia muito, quando ordenava alguma coisa, e, assim, os filhos se acostumaram a responder, a obedecer da primeira vez. Teimosia não existia. Naquele tempo, os pais tinham muita “autoridade” sobre os filhos e todos são gratos pela maneira como foram educados. 14. Como ele era como marido? Bom, compreensivo, companheiro. Poder-seia dizer que era protetor. Com seu jeito tranquilo, meio calado, estava sempre atento às necessidades da esposa. 15. E como pai? Amoroso, de poucas palavras e muita ação. Preocupava-se com cada filho, trabalhava muito para que não faltasse nada para os filhos. Preocupava-se, sobretudo, com a formação integral – ética, moral, religiosa... Gostava de chegar em casa e ver os filhos reunidos ao redor da mesa. Em momentos de festa e descontração, mesmo no dia a dia, tocava e cantava com a esposa e os filhos. Assim, discreto, sabia proporcionar um ambiente alegre para todos. Resumindo: Ele pôs em prática a máxima: “As palavras convencem; os exemplos arrastam.”


É

rico Matucuma, um “japonês” que faz a diferença!

Foi por acaso, ou por destino, que em setembro de 1996 chegou à Lagoa da Prata um jovem com um sonho de fazer a diferença na vida das pessoas. Depois de três anos trabalhando em uma fábrica no Japão, Érico Ricardo Matucuma, natural de Guaíra, no estado de São Paulo, conseguiu fazer uma pequena economia para realizar um sonho de criança: montar uma funerária. A cidade escolhida foi Arcos, mas no decorrer dos trâmites para a instalação da empresa houve uma má vontade por parte da prefeitura para liberar o alvará de funcionamento. Um homem que presenciou a cena disse que ele e sua empresa seriam bem vindos a Lagoa da Prata. Ele trabalhava na prefeitura e articulou a vinda de Érico para a cidade e foi instalada a Funerária São Francisco em um imóvel alugado, na avenida Brasil, onde hoje fica uma loja de motos. A empresa tinha apenas um veículo com 10 anos de uso e poucos recursos em caixa. Mas Érico superou as dificuldades com muito trabalho e oferecendo um atendimento de excelência às famílias enlutadas. Além de um serviço especializado, o jovem empresário colocou à disposição o seu tempo, o seu afeto e os seus préstimos para minimizar a dor das famílias enlutadas, tornando o funeral um momento digno de se despedir das pessoas amadas. O preço era o menos importante. O essencial era dar dignidade a todas as famílias, fossem elas ricas ou pobres. A comunidade sentiu que poderia confiar naquele japonês e, como contrapartida, o apoiou em todos os seus empreendimentos. Depois da funerária, veio a implantação do Plano de Assistência Familiar Minasprev, da Drogaria Minasprev e do Laboratório Minasprev, constituindo o Grupo Minasprev, presente em mais de 50 cidades mineiras. São vários serviços a preços populares destinados a oferecer mais valor à vida das pessoas, do nascimento à velhice. Mas, afinal, o que Érico fez de diferente para construir empresas tão sólidas? Érico: Não faço nada demais, apenas amo o que faço. Quando criança eu sonhava em ter uma funerária para dar carinho e conforto às pessoas enlutadas. E depois que consegui estabilizar a Funerária São Francisco, vi que poderia fazer mais. Eu via muitos idosos aqui em nosso escritório que não tinham condições de comprar os seus remédios. Aquilo me doía o coração. Então resolvi criar uma farmácia com

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preços populares. Esse mesmo sentimento motivou a criação do Laboratório Minasprev. Essa é a minha missão: cuidar das pessoas.

vida é muito curta e podemos não estar aqui amanhã. Então, devemos viver em plenitude, dançar, cantar, abraçar, cada um à sua maneira.

Obviamente, pelas suas empresas estarem presentes no dia a dia de tantas pessoas, é natural em todos os anos que têm eleição municipal as pessoas comentarem que o senhor será candidato. Pretende entrar para a política? Érico: Não. Tenho até muitas ideias que poderiam ser implantadas na cidade, mas essa não é minha missão. Penso que posso ser mais útil à comunidade de outra forma.

E por falar em viajar, nos últimos anos o senhor tem viajado muito. Onde tem visitado? Érico: Vendo as várias histórias que se findaram, conhecendo outras pessoas e buscando me conhecer melhor através de treinamentos de inteligência emocional, caiu uma ficha enorme. Eu vivia preso em uma redoma mortal. Era trabalho, trabalho e trabalho, até altas horas da madrugada. Hoje eu viajo com a família e com os amigos. Não perco a oportunidade de conhecer outros lugares. No ano passado conheci a Europa, os Estados Unidos e fui ao sul do país algumas vezes.

A empresa que deu origem ao Grupo Minasprev é a Funerária São Francisco. E o senhor não esconde o carinho que tem por ela. Nesses mais de 20 anos, qual a principal lição que aprendeu com esse serviço? Érico: Aprendi que a vida é muito curta. As pessoas quando estão no fim de suas vidas, principalmente com doenças em estágio terminal e com poucos dias de vida, não pensam na empresa, nos negócios, nas metas... Elas pensam em suas famílias, nos amigos e em seus sonhos que elas deixaram para trás por algum motivo. A pessoa se lamenta que poderia ter abraçado mais, ter sido mais paciente com os mais velhos, ter sido mais amoroso, ter feito mais caridade, ter viajado, ter amado. É isso que as pessoas, no fim da vida, se lamentam de não terem feito. A

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Obrigado pela entrevista. Qual é a sua mensagem para os nossos leitores? Érico: A vida é feita de altos e baixos. Mesmo quando você estiver em momentos difíceis, coma os doces morangos da vida. Da mesma forma que após a noite vem o sol, tenha fé de que após as dificuldades virão momentos de felicidade. Mas para isso é preciso fé, esperança e trabalho. Para Deus não importa quantas vezes você caiu. Importa quantas vezes você quer levantar. Se você cair mil vezes, Deus te levanta mil e uma. Então erga a cabeça e vá atrás de seu sonho. Não deixe nada e nem ninguém roubar o seu sonho. Você tem direito a ser feliz.


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Por Fabricio Azevedo

rlando Antônio de castro Nasceu em 01/01/1930 na comunidade rural Alecrim, município de Santo Antônio do Monte. Casado com Leoncina Leite de Castro Filho de Antônio José de Castro e Belchiorina Georgina de Oliveira Treze irmãos: Alonso, Zé Careca, Zuino, Joaquim, Antônio (Baiano), Luís, Otaviano. Geralda(Tiduca),Georgina,Ligia, já falecidos. Maria, Fia e Olavo o alegra com suas presenças. Constituiu uma numerosa família com onze filhos: Gilberto, Roberto, Tânia, Ronaldo (sempre presente), Audair (Bode) Tarcília, Cássio, Cássia, Cristian e também os gêmeos Alberto e Adalberto falecidos após o nascimento. 24 netos: Rodrigo (sempre presente), Leandro, Luciana, Marcelo, Roberta, Tiago, Hugo César, Viviane, Davi, Sâmia, Alexandre, Marília, Marisa, Juliana, Gustavo, Maria Clara, Letícia, Isabela, Débora, Marina, Rafaela, Gabriel, Ana Luíza e João Pedro. 16 bisnetos: Hiago, Daniel, Miguel, Maria Laura, Maria Eduarda, Vítor Hugo (sempre presente), Ana Laura, Luíza, Isadora, Maria Fernanda, Mariana, Manuela, Geovana, Larissa, Cecília, Davi e por enquanto mais 2 chegarão em 2018. Sr. Orlando Cajuquinha também é conhecido como Orlando Picolé. Passou sua infância e adolescência no Alecrim, São José dos Rosas e Santo Antônio de Monte. Começou o namoro com Dona Leoncina em São José dos Rosas, distrito de Santo Antônio do Monte, durante os passeios em volta da capela, onde se casaram em 19/11/1953 e lá viveram durante 17 anos. Dona Leoncina sempre foi e continua sendo sua companheira em todos os momentos, sendo porto seguro de toda família com sua fé e dedicação. Começou a trabalhar desde muito novo com vários comerciantes em Santo Antônio do Monte. Exerceu as atividades de técnico de laticínios da empresa Salgados e Cia e foi sócio de uma empresa de transporte de leite com seu cunhado Valdomiro. Em 1970 mudou-se de São José dos Rosas para Lagoa da Prata com sua família, para que seus filhos mais velhos avançassem nos estudos. Uma decisão difícil, pois além do restante dos irmãos que ficaram, teria que deixar também o grande número de amigos, afilhados, compadres e uma história de vida. Verdadeiros amigos vencem a distância e o tempo, vários permanecem em sua vida e mantem esse vínculo até hoje, como a do seu querido compadre José Gonçalves. Chegando em Lagoa da Prata, onde alguns de seus irmãos já estavam estabelecidos comercialmente, continuou exercendo a função de transportador de leite para o Laticínio Embaré. Depois foi proprietário dos Bares Sinucão e do Ponto, na rua Modesto Gomes, ponto de embarque e desembarque de trabalhadores da Usina. Como bom comerciante e muito carismático conquistou muitos amigos nesta época. Lagoa da Prata passou a ser a cidade perfeita pra se morar e criar sua família. Exaltava a topografia e elogiava a beleza da cidade para todas as pessoas. Incentivado por seu amigo, Vicente Dorjó, e com visão empreendedora, adquiriu equipamentos em Brasília e

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instalou a fábrica de picolés Belinha, na Praça do Cruzeiro e na rua Cirilo Maciel. Foi a partir dessa atividade que ganhou o apelido de ORLANDO PICOLÉ. Nessa época Lagoa da Prata recebia muitos turistas com a criação da praia municipal, o que proporcionou crescimento da atividade, gerando vários empregos e fonte de renda. E quem não se lembra dos picolés? Havia vários sabores que agradavam a todos os gostos. O mais famoso foi o picolé minissaia criado por ele e que era um sucesso! Seus últimos trabalhos foram como administrador do armazém Pague Pouco e das fazendas do seu filho Ronaldo, na comunidade dos Mirandas, onde também fez grandes amizades, é muito conhecido e querido por todos lá. Por ser uma pessoa muito conhecida na cidade, se candidatou a vereador, ficando em 6º lugar em número de votos. Somente não se elegeu devido à legenda do seu partido. Por sua trajetória de vida e por ter escolhido Lagoa da Prata para se viver, foi reconhecido por seus méritos como cidadão honorário. Deus se faz presente em sua vida de modo muito especial. Católico, levava a mensagem de Jesus às pessoas através das crianças, presos e dos mais necessitados. Sempre foi calmo, muito tranquilo e bemhumorado. Só se irritava quando alguém o contrariava. Ficava imensamente feliz quando tinha a oportunidade de ter um bom papo com os amigos e familiares. Lidar com crianças, em especial seus netos, sempre foi motivo de muita alegria. Durante sua vida conquistou o coração de muitas crianças que até hoje o chamam de vovô Orlando. São mais de 50 netos do coração. São inesquecíveis seus bordões: “Como é que fala?” (apertava sua mão até que a pessoa tomasse sua benção); “Você é filho do?”; “Você prefere um velho ou uma cachorrinha?”. Não possui dotes culinários. Com hábitos alimentares simples, saboreava tudo da culinária mineira e não dispensava o cafezinho feito por sua esposa Leoncina. Adorava viajar... Conheceu o pantanal matogrossense, as cataratas em Foz do Iguaçu, Teresina, o litoral

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Piauiense e Cuiabá. O que mais lhe agradava eram suas viagens para Brasília, onde mora sua cunhada e madrinha Geralda. Gostava de assistir aos noticiários, se inteirar dos assuntos políticos do Brasil e acompanhar os leilões de gado. Era muito solicitado pelos fazendeiros, para fazer as negociações de compra, venda e troca de gados. Pois tinha grande conhecimento nessa área. Sempre foi uma pessoa muito vaidosa. Adorava um bom perfume, cremes e camisas sociais. Criterioso com seu corte de cabelo, sempre o mantinha impecável. É impossível não se lembrar do Sr. Orlando sem assimilar a imagem de uma pessoa alegre e simpática. Assim é sua relação com toda família. Gostava de visitar todos os dias seus irmãos, filhos e amigos. Tinha um itinerário rotineiro... Não deixava de passar na loteria para tentar a sorte, na padaria Prado para comprar balas e bombons para as crianças. Sempre foi um esposo amoroso, um pai exemplar e um amigo leal. Muito afetivo e sensível, lidar com perdas era para ele um grande transtorno. A vida lhe roubou parte de sua alegria com algumas perdas, mas de modo inesperado as perdas de seu neto Rodrigo e de seu filho Ronaldo. Aqui queremos abrir um espaço para falar do Ronaldo que também era muito amado, humilde, amigo, empreendedor e grande homem que com seu dinamismo alavancou o comércio de rifa em Lagoa da Prata. Quem planta colhe... Há cinco anos ele se encontra acamado e hoje colhe o carinho e amor de toda a família e amigos que se dedicam aos cuidados do dia-a-dia. Dentro desse tempo recebeu também carinho e cuidados de um dos netos do coração, Bruno Morais, e da querida Olinda. Mesmo nessa fase, exerce ainda o papel de grande pai, sendo exemplo de força de vontade, com alegria de viver. “Pai, nosso exemplo de vida, honestidade, simplicidade e alegria. Você será sempre nosso grande guerreiro e herói. Que Deus continue lhe protegendo e abençoando. Nós lhe amamos!” Essa é a mensagem que seus filhos e família dedicam para você.


M

ário

Batista dos santos

&

C

láudio

Henrique dos santos Por Fábio Barbosa

Imagine uma loja eclética e com todos os produtos imagináveis possíveis: de botinas de couro até materiais de construção, de lamparinas a charutos e cachimbos, de canecas esmaltadas a filtros de barro, das agulhas de costura até as cachaças mineiras mais tradicionais. Assim é a Tem Tudo, que desde 1977 faz parte da história de Lagoa da Prata. E, sem pretensão, é possível que todos, em algum momento da vida, já tenham visitado o estabelecimento e comprado algum item desse empório que resiste firme à força do tempo. O idealizador desse negócio é o senhor Mário Batista dos Santos. Filho de Albertina Maria de Jesus e José Batista dos Santos, nasceu em 04 de agosto de 1929, na cidade de Perdigão (MG), sendo criado com os seis irmãos: Maria Estela, Maria, José, Francisca, Nair e Maria das Dores. Em 1958, a família mudou para Lagoa da Prata, os pais e filhos vieram trabalhar na lavoura de cana de açúcar na recém-inaugurada Usina Luciânia. Com muita força de vontade, o jovem se dedicou e ficou na empresa até 1964, quando decidiu que iria aprender uma profissão e foi contratado na Sapataria do “seu” José Lima. Em 1965 conheceu a esposa, Tereza Maria dos Santos, após mudar para a vizinhança dela, aproveitando uma procissão da semana santa para, enfim, se aproximar e iniciar o namoro que virou casamento no ano seguinte. Da união nasceram: Sandra Regina, Cláudio Henrique e José Batista. Em busca de independência financeira, Mário convidou o irmão José para juntos montarem uma sapataria e, assim, foram trabalhar na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Santo Antônio do Monte. Os anos se passaram e vários outros sapateiros

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começaram a trabalhar na cidade e os irmãos então resolveram criar uma mercearia, em 1972. Por causa do negócio, visitavam semanalmente a cidade de Divinópolis e nessas idas e vindas encontravam produtos que traziam para também vender, começaram assim a diversificar suas prateleiras e a ter de tudo um pouco. O lugar, apesar de ser movimentado, não tinha nome. Em 1977, eles desfizeram a sociedade, mas Mário decidiu continuar trabalhando e manteve a loja, agora com novo endereço, na casa dele, na Rua Santo Antônio do Monte, número 372, inicialmente batizada de Comércio Santo Antônio. Mantendo um estoque com diversos produtos, tinha querosene a granel, linguiça artesanal fabricada em Campo Belo (as famosas Maria Rosa), ferraduras, torrador de café, máquina de moer carne e a famosa Cachaça Lobatinha, fabricada em Lagoa da Prata. Uma das irmãs, dona Nair, também foi trabalhar no estabelecimento e se tornou braço direito, por muitos anos teve na memória a localização dos produtos, em um acervo com mais de 400 peças. A loja, com o tempo, foi se renovando. Começaram a surgir várias outras empresas na cidade vendendo produtos semelhantes, então Mário ia em busca de novos fornecedores. Sombrinhas, por exemplo, por muitos anos foram um dos itens mais vendidos, bem como mochilas de lona para os trabalhadores da usina e gaiolas de passarinhos. As vendas eram constantes, algumas anotadas em cadernetas, como era costume na época. Famílias, de geração em geração, mantiveram, e mantem, compras regulares. Em uma das negociações mais inusitadas da história, um fazendeiro da cidade de Luz (MG) veio até a loja em busca de podão de cana, comprou todo estoque disponível para a colheita, mais de 70 peças.


O filho Cláudio Henrique começou a trabalhar na loja aos 10 anos. Paralelo a isto estudou nas escolas Virginio Perillo, Colégio Nossa Senhora de Guadalupe e José Teotônio de Castro, onde formou como Técnico em Contabilidade. “Duas coisas me ajudaram muito a me envolver neste negócio: trabalhei três anos no escritório do seu Carlos Bernardes, produtor de Laranjas. Ele era muito organizado! Então, fui sugerindo ao meu pai algumas alterações aqui, principalmente na organização do estoque. Diminuímos a venda fiado, das cadernetas e ajustamos outras coisas. Durante 30 anos ele tocou esse negócio e sempre respeitei isto, mas profissionalizamos digamos assim”, recorda o herdeiro que assumiu a administração da empresa familiar no início dos anos 1990, com auxilio e presença constante de Mário. Em 1996, Cláudio casou com Otília Vidal Bernardes Santos, que também o ajudou muito. “Como ela havia trabalhado em outras lojas, a presença dela aqui foi fundamental. Em 1998 nasceu o nosso filho, Cláudio Henrique Bernardes Santos e depois da licença maternidade, Otília veio para cá e não saiu mais”, destaca. A loja ganhou a fama de “ter tudo” e no início dos anos 2000 a família decidiu que este seria o nome da empresa. A bandeira de Minas Gerais então se transformou na logomarca. Com atendimento diferenciado e sempre buscando agradar os clientes, Cláudio revela os pedidos inusitados que já recebeu no balcão. “Já vieram procurar aqui breu, amadurecedor de frutas tipo carbureto, vitamina para peixe, óleo Balzac que nem fabrica mais e pomada de basilicão”, conta homem que mesmo não tendo alguns produtos de imediato, sempre procura encontrar. “Quando o cliente vem e não tenho o que ele quer, se for uma coisa viável a gente compra. Dentro do possível, venda a gente perde só uma vez”, ressalta. Nas prateleiras encontramos ainda alguns produtos praticamente históricos, como o Machado Wenzel, que está na loja desde os anos 1980 e estão intactos, prontos para a venda. Caixas de sapato são usadas para guardar pequenos itens, como parafusos, chaves, pentes e tintol, aquele

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corante para tecido que nossas avós usavam e que ainda existe por lá. A empresa hoje segue para a terceira geração trabalhando e sempre com a responsabilidade de manter o negócio, apesar de toda a concorrência e os desafios dos novos tempos. “Resistimos com trabalho. Temos que nos esforçar, não temos funcionários, é um negócio de família. Deixo de almoçar para vender. Ensinamos os clientes a usarem o produto praticamente quando precisa. E o atendimento atencioso precisa ser bom, quem vem aqui tem pressa e entendemos isso. Meu filho faz faculdade de administração e diz que quer continuar a trabalhar aqui. Ele está ajudando e conhecendo tudo. Se for da vontade dele, continuará e terá todo meu apoio”, afirma Cláudio. Aberta de segunda a domingo (até às 12h), a “Tem Tudo” se tornou parte da história comercial e de empreendedorismo de Lagoa da Prata. É ponto de encontro de clientes fiéis e de novos, que descobrem neste lugar produtos que talvez nem imaginassem que ainda existiam, todos catalogados com preços e referencias em um caderno cuidadosamente confeccionado pelos proprietários. Tem material de pesca, ferramentas como serrote, enxada, cavadeira articulada, tesoura de poda de árvores, tesoura para poda de rosas, colher de pedreiro, chave de fenda, tesoura de cortar metal, lata de manteigas, panelas, balde chuveiro, pote de barro, lamparina, lanterna, coleira, cinto de couro, extensão de energia, forno para fogão a lenha, moedor de carne, bilha e potes de barro. Tem também biscoito, refrigerante, cigarro, pinga e rum. Ebulidor, torneira, pão, cachimbo, charuto, cadarço de sapato, barbeador de lamina, espelho, chicletes, agulha, pilha, alicate de unha, dosador de bebida, abridor de vinho e caneca esmaltada. Balde de leite, caixa de chocolate, tereré, chimarrão, filtro de barro, urinol esmaltado, prato esmaltado, chapa bifeteira, colchão de ar, bomba de ar, isqueiro e fluido. E muito mais! “Temos uma importância que nem mesmo eu sei. Talvez só saberemos se um dia fecharmos, mas isto está fora dos nossos planos”, conclui Cláudio.


O

lavo rezende de oliveira

01 - Idade: 97 ANOS ( 20/08/1920 ) 02 - Nome da esposa: NADIR TAVARES DE OLIVEIRA 03 - Nome dos irmãos: MARIA DA CONCEIÇÃO (MARIINHA); ZÉLIA MORAIS e ALBERONE. 04 - Nome dos filhos, netos e bisnetos. FILHOS (11): MARIA REZENDE, JOSÉ TAVARES, SÔNIA MARIA, MARIA DO CARMO, MARCOS OLAVO, ANA D’ÁRC, MARIA DE FÁTIMA, NADIR, CLÁUDIA MARIA, CRISTIANA e CONCEIÇÃO. NETOS (19): GILBERTO, ROGÉRIO, ANA PAULA, LARISSA, RENÊ, RONEY, RAMON, RENATA, RÚBIA, ANA FLÁVIA, ANA CAROLINA, ANA LUIZA, FERNANDA, JÚLIA, RODRIGO, FABIANA, CAMILA, VINÍCIUS e ELIAS. BISNETOS (14): LAURA, RAFAEL, MARIA, ANA CLARA, MIGUEL, GUSTAVO, MARIANA, IGOR, GABRIELA, LARA, JOÃO, ANA LIZ, MARIA CLARA e EDUARDO. 05 - Onde nasceu e onde passou a infância: Filho de MANOEL DOS SANTOS REZENDE (Sr. NENECA) e de MARIA DE JESUS DE OLIVEIRA. Nasceu na Fazenda do Retiro, município de Lagoa da Prata. Perdeu sua mãe muito cedo, com apenas cinco anos de idade e por isso passou a sua infância em diversos lugares; com o pai, com os avós ou com os tios: na Fazenda do Retiro, na Fazenda das Barreiras, nas Grotadas e em Lagoa da Prata. 06 - Formação profissional: Veio morar em Lagoa da Prata, com os avós, para estudar. Fez o Curso Primário na E. Dr. Jacinto Campos. Foi morar com os Tios na cidade de Bom Despacho onde fez a 5ª e 6ª Série de Ginásio. Apesar de gostar muito de estudar, largou os estudos para cuidar da Fazenda do Quilombo, herança deixada por sua mãe. Porém gostava muito de ler, lia até tarde da noite sob a luz de lamparina. Gostava de Geografia, História e de Astronomia. Chegou a estudar sozinho um pouco de Inglês. Ajudava os filhos no Dever de Casa e todos os dias tomava a Tabuada. Enviou os filhos para estudar fora, pois dizia que a melhor herança que ele queria deixar para seus filhos era o Conhecimento, o estudo e o diploma: “Herança que nunca ninguém poderia tomar!”. 07 - Quando conheceu a esposa, quanto tempo de namoro, onde foi o casamento: Seu pai, Neneca, viúvo casou com Maria Tavares, que era a irmã mais velha de Nadir (D. Didi), então se conheceram desde criança. Mas foi num baile na Ilha que, ela com 11 e ele com 16 anos, dançaram e se apaixonaram. Ela passeava muito na casa da irmã e o namoro durou uns cinco anos. Ainda muito jovens, ela com 16 anos e ele

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com 21, abençoados pelo Padre Guarino, casaram-se no dia 30 de maio de 1942, na Fazenda das Grotadas, onde o pai morava e houve uma grande festa com leitoa assada, broa, arroz, tutu de feijão e macarronada. Muitas pessoas da cidade foram celebrar com eles esse momento feliz. Este ano completam 76 anos de união. 08 - Qual foi o primeiro trabalho? Seu primeiro trabalho foi no comércio com seu Tio Gontijo, em Bom Despacho, para poder estudar. 09 - Em que profissões já trabalhou? Trabalhou no comércio, inclusive, mais tarde, comprou uma venda nas Grotadas. Depois trabalhou na Fazenda e logo que vendeu a Fazenda do Quilombo (herança de sua mãe), comprou a Fazenda do Vertente do Santana, que lhe pertence até hoje. Na Fazenda já fez de tudo: arava, capinava, plantava, tirava leite, guiava o trator, já teve até caminhão de transporte na época da criação de Brasília. 10 - Como fazendeiro, quais os serviços e produtos que ele produziu e produz? Já produziu diversos tipos de plantação: Milho, Arroz, Feijão, Trigo, Cana de Açúcar, Capim, fez diversos Silos. Criou gado leiteiro, se especializou em gado Holandês, fornecia leite para a Embaré. Seu gado foi diversas vezes premiado. Hoje só tem gado de corte. 11 - Como era e como é a atual rotina dele? Durante muito tempo, madrugava para arar e plantar com arado puxado por boi. Mais tarde comprou os tratores e de dia trabalhava para ele, na sua fazenda; e de noite arava para os outros fazendeiros. Morou muito tempo na fazenda, mas depois adoeceu com Maleita (Febre Amarela) e, sob orientação, médica, de que não era aconselhável morar na roça, trocou um lote que tinha perto da Praça da Matriz pela casa onde moramos até hoje. 12 - Ele ainda dirige. Se não, dirigiu até quando? Hoje não! Adorava dirigir. Já teve uma moto onde conseguia carregar a esposa e os dois primeiros filhos que tinha: Maria e José. Dirigiu carro, trator e até aprendeu a pilotar avião. Dirigiu o seu carro até aos 94 anos de idade. 12 - Ele já reclamou de trabalhar muito? É uma pessoa muito otimista e trabalhadora. Nunca reclamou nem dos reveses e nem do excesso de trabalho. Até hoje, com 97 anos, todo dia tem que ir à Fazenda para dar uma olhada no gado, nas plantações, no rio e nas suas reservas florestais, das quais ele tem o maior orgulho. O seu lema é: “Devagar e Sempre!”. 13 - Ele gosta de viajar. Qual é o destino favorito?


Adorava viajar e já viajou praticamente pelo Brasil inteiro, Norte, Sul, Centro, Fernando de Noronha... De carro, de avião, de navio e já fez até uma viagem acampando em barraca. Hoje, infelizmente, ele não gosta mais de viajar, parece que perde um pouco a segurança e fica perguntando sempre “que horas que nós vamos voltar para casa?”. 14 - Ele sabe cozinhar? Qual é o prato favorito? Ele detesta cozinhar, e, na realidade, não sabe fazer nada na cozinha. Aliás, até o seu prato de comida é a esposa adorada que serve. Quando pergunta se ele quer comer; a resposta é sempre a mesma: “A Didi é que sabe!” Ele come de tudo, mas o seu prato favorito é bife acebolado e frango ao molho. 15 - Falar sobre a relação dele com a religião: Sempre foi muito religioso e ligado às coisas da Igreja, frequente à Missa e a mesa da Comunhão. É Cursilhista, Vicentino, muito caridoso e gosta de ajudar todas as entidades de Lagoa da Prata. A Família toda rezava o Terço, todas as noites, ajoelhados em volta da cama ou em volta da mesa. Tem um caso muito engraçado, pois após o Terço, minha mãe rezava a interminável “LADAINHA de NOSSA SENHORA”. Ele que madrugava todos os dias, muitas vezes cochilava. Eram muitos filhos e a caçula, às vezes, ficava engatinhando no meio da cama. Minha Mãe rezava a Ladainha (Estrela da Manhã, Arca da Aliança, Porta do Céu...) e todos nós respondíamos: “Rogai por nós!” Em certo momento ela ralhava com a caçula: “Fica quieta senão você cai!” E meu pai cochilando respondia bem alto: “Rogai por nós!” E o Terço terminava em abraços e risos sem fim. 16 - Já se envolveu em política? O que ele comenta sobre o tema? É um assunto que ele nunca gostou. Uma vez o Sr. Botelho e Sr. Horácio, líderes da Política na época, insistiram muito e o fizeram candidatar a Vereador; ele ganhou e ficou um mandato. Na próxima eleição; ele não queria participar de jeito nenhum e eles continuaram insistindo. Ele saiu de casa em casa, fazendo campanha na família e pedindo a todos que não votassem nele. Assim ele saiu da Política... Porém, admirava o Juscelino Kubitschek, tinha livro sobre a vida dele e na época da construção de Brasília comprou até uns lotes na capital. 17 - O que o deixa irritado? Engraçado, nos reunimos e tentamos lembrar de algo ou de alguma coisa e realmente não encontramos. É um homem calmo, pacato e de sorriso fácil. 18 - E o que o deixa bastante feliz? Ele se encanta com a FAMÍLIA, principalmente quando estamos reunidos. Ele tem um ditado e sempre diz: “FAMÍLIA REUNIDA... MISSÃO CUMPRIDA!” Fica super feliz quando nasce mais um Bisneto e gosta de colocar a bênção. Também adora jogar buraco e, toda noite, em casa, tem a rodada de buraco para encerrar o dia... Ele não gosta de perder! 19 - Ele é um homem vaidoso? Ele não é vaidoso, mas é cuidadoso consigo. Gosta de ir ao barbeiro cortar cabelo e fazer a barba, tomar banho demorado, passar perfume e sair cheiroso.

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20 - Qual a relação dele com dinheiro? É muito correto com tudo e muito preocupado com dívida. Não gosta de comprar à prestação. Nunca deixou faltar nada; mas também não é esbanjador. Até hoje, quando levanta de manhã, uma das suas primeiras preocupações é: “O que precisamos pagar hoje?”. 21 - O que ele gosta de beber? Todos os dias, após o almoço e o jantar, ele toma uma pequena taça de vinho seco. 22 - É festeiro? Gostava de eventos com muita gente ou mais intimistas? Antigamente era muito festeiro, gostava de bailes e de dançar. No Carnaval pulava a noite inteira com as filhas no Clube Recreativo. Nunca foi muito de fazer visitas ou ter rodas de amigos, porém gosta de cumprimentar todo mundo e faz questão de tratar todas as pessoas da mesma maneira e com muito respeito. Hoje, gosta mais de ficar em casa e sentar pertinho, de mãos dadas com a “Didi”, esposa adorada, e ter por perto a família reunida. DEPOIMENTO DOS FILHOS: PERGUNTA: EM SUA VISÃO PESSOAL, QUEM É O SEU PAI? MARIA REZENDE: Meu Pai é um exemplo para mim! Exemplo de honestidade, bondade e de amor. JOSÉ TAVARES: Meu Pai tinha certeza que a educação, formação em Curso Superior, era essencial para todos os seus filhos. Ele conseguiu realizar este seu sonho... SÔNIA MARIA: Querido Pai, não existe no mundo uma palavra para definir o quanto te admiro, respeito e amo! Em você eu percebo a bondade e a misericórdia de Deus. MARIA DO CARMO: Meu querido Pai, tudo que sou hoje, eu devo a você. Eu o amo, respeito e admiro muito! Você é o melhor Pai do mundo... MARCOS OLAVO: Meu Pai é o homem mais honesto, curioso, determinado e destemido que conheço. Com 80 anos disse: “Gado de leite está muito ruim!” Achei que ele se aposentaria, mas continuou: “Vou mudar de ramo!” Ele é demais... ANA D’ÁRC: Eu descrevo meu Pai como um homem “Distinto”, justo, honesto e um pai amoroso. MARIA DE FÁTIMA: Meu PAI é: presente, honesto, justo, trabalhador e, acima de tudo, o melhor PAI do mundo! NADIR TAVARES: Pai querido, eu admiro muito suas qualidades e princípios. É um grande orgulho ser sua filha: a “Nadir do Olavo!” CLÁUDIA MARIA: Me sinto tão abençoada! Meu pai nunca se esquece de me dar um beijo na testa e dizer: “Deus te abençoe, minha filha!” CRISTIANA: Ele é o meu Paizinho querido do meu coração! CONCEIÇÃO: Meu querido pai Olavo é um homem incrível, amoroso, sincero. Muito obrigada por todo ensinamento, carinho, amor!


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enato mesquita

Renato Mesquita nasceu em Santo Antônio do Monte, no dia 02 de fevereiro de 1939. Filho de José Mesquita e Maria Resende Mesquita é o quarto filho de doze irmãos: José, Bayard, Marcos, Antônio, Danilo e Guilherme; Sônia, Maria, Inês, Ana Lúcia e Lenir. Por serem muitos, os filhos mais velhos sempre cuidavam dos mais novos. Seu primeiro trabalho foi como engraxate, desde pequeno já se destacava como o “doceiro” na família e, desde então, já fazia seus famosos pés-de-moleque e cocada. Já trabalhou na fábrica de fogos e, quando criança, gostava tanto de cachorro que dizia que quando crescesse queria ser “Cachorreiro”. Estudou até o primário na cidade natal e depois, durante sua adolescência, ficou interno no Ginásio São Geraldo, na cidade de Divinópolis. Foi na cidade de Uberaba (MG) que fez o científico e a Faculdade de Odontologia, formando-se em 1963. Como seus pais não tinham condições de comprar um consultório, acabou indo morar e trabalhar em Brasília ficando por lá durante três anos. Por acalentar o sonho de voltar a viver perto de sua família, escolheu Lagoa da Prata, por ser uma cidade ainda pequena, bonita e progressista. Veio para a cidade no início 1967. Mas, só dois anos depois que conhece Sônia, sua esposa, que foi conquistada, acreditem se quiser, por uma rapadura. A verdade é que o amor se fez doce e a paixão foi tanta que, em menos de seis meses, namoraram, noivaram e casaram. O casamento foi na cidade de Lagoa da Prata e a festa, só para a família, que é bastante grande, foi realizada na casa da noiva. Passaram a lua de mel viajando por Ilhéus, Salvador e Itaparica durante 30 dias. E já no início do casamento

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descobriram que tinham mais uma paixão em comum: a praia. Desde então, durante muitos anos, todas as férias sempre viajavam para Guarapari, a famosa praia dos mineiros e por lá ficavam 30 dias de janeiro e 30 dias de julho, sem um dia a mais ou a menos. Nesses períodos de férias havia uma regra: nada de telefone e nem televisão. Era o tempo de curtir e cultivar o conhecimento e o amor à família... Desse amor, nasceram cinco filhos: Renê, Roney, Ramon, Renata e Rúbia. Quando o primeiro filho nasceu, Renato resolveu aprender a fazer mágica, pois queria fazer mágica em todos os aniversários dos filhos. E durante muitos anos, assim fez, montava palanque no quintal da casa e divertia os filhos e os convidados nos aniversários. Um pai dedicado, contador de histórias, mágico, engraçado e sempre disposto a boas brincadeiras, no entanto, era muito exigente no quesito estudos. Dono de um coração grande, sempre pronto para ajudar, Renato foi convidado pela Irmã Tereza para atender aos sábados clientes no SOS, logo que chegou à cidade de Lagoa da Prata. Já são mais de 50 anos dedicados a esse trabalho social. Em 1973, quando fez cursilho, achou que a melhor forma de ajudar era se colocando a serviço do outro e começou também a trabalhar na Feira do Amor aos domingos, construindo casas para as pessoas com necessidades. Fez também o ECC “Encontro de Casais com Cristo” e, no desejo de ajudar as famílias viverem melhor, há mais de 30 anos, Renato junto a sua esposa, Sônia Rezende, realizam palestras em Lagoa da Prata e cidades vizinhas para casais, encontros de noivos, jovens, adolescentes e até cursos de batismo dando testemunho de fé e amor.


Concursado pelo estado, Renato Mesquita também trabalhou durante 35 anos atendendo os alunos da Escola Estadual Alexandre Bernardes Primo, onde aposentou. Durante muitos anos fez também Palestras nas Escolas, orientando sobre os cuidados com os dentes, e usando de brincadeiras e mágicas para atrair a atenção das crianças. Em 2002, o Consultório Dentário da Escola Monteiro Lobato, recebeu uma placa com o seu nome, uma homenagem. Não se considera uma pessoa política, mas fica triste de ver tanta desigualdade, impunidade, mentiras e abusos de poder no País. Para fazê-lo feliz, basta juntar a família e lhe oferecer um bom pedaço de goiabada com queijo. Ver os filhos felizes, formados e realizados também o deixa bastante feliz e orgulhoso. Seus doces continuam famosos e o pé-demoleque, arroz doce e a cocada são motivos de disputa em toda família. É impossível comer apenas um. Hoje mora ao lado dos sogros, que para o Renato, são pessoas muito especiais... Tão especiais que ele mesmo mandou construir um portão em sua cozinha para dar direto no quintal dos sogros, onde instalou várias redes e ali pode continuar sonhando e aproveitando melhor a família que a vida lhe deu há 48 anos. Os filhos brincam que Renato fez curso com Deus, pois ele faz de tudo um pouco: jardineiro, cozinheiro, fazendeiro, eletricista, sapateiro, pedreiro, pintor, mágico, contador de histórias e nas horas vagas ainda é Dentista... Um homem cheio de valores que, sem dúvida, se realiza no amor à profissão, na doação aos irmãos, no respeito e carinho da família e na alegria de se ver refletido um pouco em cada um de seus netos: Gustavo, Mariana, Gabriela, Igor e Lara, que têm o avô como seu verdadeiro ídolo. RENATO MESQUITA

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acredita sinceramente que “Tudo que sai de nossas mãos com bondade, volta ao nosso coração como bênçãos...”.


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ícero

mateus borges

Data de Nascimento: 16/06/1926 Nome dos Pais: José Mateus Borges e Etelvina Tereza Borges Nome dos Irmãos: Diniz Mateus Borges, Maria das Dores Borges (Quinha), Geralda Mateus Borges (Nenê) e Tereza Mateus Borges Nome da esposa: Margarida Silvana Borges Nome dos 12 filhos: Geraldo Lopes de Oliveira (Ladinho) (in memorian), Maria Silvana Borges, Cicero Mateus Filho, Cirineu Mateus Borges, Maria das Graças Borges, Celio Mateus Borges, José Antônio Borges, Joselito Mateus Borges (in memorian), Rejane Etelvina Borges, Regina Etelvina Borges (in memoriam), Reginaldo Mateus Borges e Luide Lucas Borges (in memoriam). Nome dos 24 Netos: Letícia, Marcelo, Claudia, Daniel, Cirineu Jr, Marina, Margarete, Mateus, Cicero Mateus, Júnia, Celio Filho, Juliana, Regina, Ricardo, Francisco, Reginaldo Jr, Ana, Joselito, Fernanda, Amanda, Rafaela, Rachel, Carolina, Renata. Nomes dos 19 Bisnetos: Danila, Gabriela, Maria Eduarda, João, Lucas, Iara, Caio, Thiago, Felipe, Artur, Maria Clara, João Pedro, Ravi, Isabel, Rodrigo, Davi Rezende , Pedro, Davi e Miguel. Onde nasceu e onde passou a infância e a adolescência? Cícero nasceu, passou a infância e a adolescência em Ponte Nova, distrito de Santo Antônio do Monte. Aos 18 anos veio para Lagoa da Prata, com a força e a coragem. Seria vencer ou vencer. Qual foi o primeiro trabalho e quais outras profissões ou atividades exerceu? Seu primeiro trabalho era, ainda criança, quando tomava conta dos cães de caça de sua professora, onde passou a morar para estudar. Ainda adolescente era trabalhador do campo. A enxada era sua ferramenta de trabalho. Qual formação acadêmica? Onde estudou e cursou faculdade? Não cursou nenhuma faculdade. Naquele tempo fez o primário, incompleto, mas tinha uma sabedoria de vida adquirida na luta do dia a dia. Era diferenciado por ter

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uma inteligência privilegiada, um tino nato para os negócios. Como conheceu a esposa, onde e como foi o casamento? Cícero descobriu Margarida, sua esposa, através das amigas Isabel do Nonô e Zuleica na Praça do Cruzeiro. Margarida, contava para os filhos, com aquele suspiro de saudade: Nossa! Seu pai era bonito demais, as meninas ricas ficavam todas atrás dele. Casaram-se na Igreja Matriz de São Carlos Borromeu, em uma cerimônia simples, mas com aquele farto jantar característico de roça, na casa da noiva, para receber os convidados. Como foi o envolvimento dele com a política? Seu partido político, na época era MDB e admirava o presidente Juscelino Kubistchek. Foi eleito vereador, com uma votação expressiva e candidato a prefeito, quando perdeu para o Rui Amorim. Qual era a relação dele com a religião? Muito religioso, era católico praticante. Ajudava sempre, em tudo que se fizesse necessário para construção e reforma da Igreja. Os filhos foram educados na fé em Deus, catequese, cruzada... O Cicinho foi coroinha. Ele participou de alguma entidade ou associação beneficente? Sim. Foi presidente da Sociedade São Vicente e Paulo duas vezes, Presidente do Rotary Clube, Presidente do Conselho dos Vicentinos, construiu a Vila Vicentina, foi voluntário e participou da fundação do SOS e fazia também suas boas ações, que foram descobertas aos poucos, contadas por amigos. Quando montou seu primeiro negócio e quando

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montou a Casa Continental? Em 1948, montou um armazém de gêneros alimentícios, tipo “tem tudo”, até mais ou menos 1959. Em 1960, o saudoso Senhor Neca Bahia, grande amigo, verificando seu jeito para os negócios, convidou-o para fazerem uma sociedade, quando, então, montaram a primeira loja de materiais de construção: Armazém São José, depois Casa Continental. O que o deixava irritado? Teimosia e mentira. E o que o deixava feliz? Uma pescaria. Aguardar o dia do grande acontecimento era só felicidade! Ele dava o céu, se sua esposa ou um filho pedisse. Ele sabia cozinhar? Qual era o prato favorito? Não sabia cozinhar, mas adorava fazer um churrasco. Gostava mesmo era de carne, carne gorda, de jabá, de sol. Quais eram os amigos mais próximos? Era cheio de amigos. Alguns deles: Paulo Sivelly, Rui Amorim, Samuel Martins, Senhor Nenego, Celio Carvalho, Mauro Araújo, Dico Vital , João Bahia, Chico Caetano, Chiquinho Rocha, Li da Rosinha e muitos outros Ele era festeiro? Adorava receber visitas em sua casa, tudo era motivo para festa, gostava do carnaval no clube Recreativo Lagoense. Ele gostava de bebidas? Qual? Gostava de bebida. A cachacinha era sua favorita. Era de costume beber uma pinguinha todos os dias antes do almoço.


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osé aparecido da silva Por filhos e esposa

José Aparecido da Silva nasceu em 1944 e faleceu em 2017. Natural de Lagoa da Prata, viveu a infância com os pais e irmãos: Antônio Eustáquio (Toninho), Maria Catarina, Maria José e Maria de Lourdes. Sua adolescência fora marcada por momentos difíceis devido à morte de seus pais: Sr. Alcindo e Sra Alexandrina. A partir daí, José, Toninho e Catarina, iniciaram uma luta diária, sob os cuidados do cunhado, José Maria Vidal (Zé Barba) e esposa (Maria de Lourdes) a quem foram gratos a vida toda pelo carinho e amor espiritual de pais que receberam após ficarem órfãos. Um de seus primeiros trabalhos foi rasgar indaiá e buscar lenha com seu amigo inseparável, Dirceu Pereira, o pardal, assim conhecido. Cursou até o 4° ano primário. Para ele, na época, estudar era apenas um sonho. Aos 13 anos, trabalhou na padaria do Sr. Zico, na rua Direita, Bairro Américo Silva, entregando pães à comunidade e, na Usina Luciânia, a fim de receber, quinzenalmente, o “vale”, mais conhecido, pela turma como “Boró”. José Aparecido seguia em frente, sendo, aos poucos, reconhecido como um homem de fé, caráter e firmeza em suas opiniões e decisões, dentre elas, formar uma família e ser um bom profissional. Aos dezesseis anos, trabalhou na Oficina Mecânica do Sr. Jair Carvalho e, também foi sócio de Jaime Ferreira. Com grande orgulho, mencionava o Sr. Olinto Pinto (Auto Mecânica Caiçara), como mestre em Mecânica, homem com quem, por muito tempo, aprendeu e compartilhou saberes. Sr. Olinto lhe deu a mão para crescer com responsabilidade e profissionalismo. Aos 18 anos, conheceu Maria Isaltina com quem se casou e constituiu a família. Teve sete filhos: Adriana, Agnaldo Sérgio, Áurea, Adilson, Aline, Andreia e Alan. Ainda aos dezoito anos, José Aparecido Silva, construíra sua própria Oficina Mecânica, hoje, Auto Mecânica Guarani, que há mais de 50 anos, desempenha um trabalho de prestação de serviços com qualidade, sob administração de seus filhos. No trabalho, era dedicado, responsável, determinado, sério até demais em suas tarefas: Conhecia os pormenores em seus “quartinhos de ferramentas” na oficina, que assim ele chamava. Não deixava nenhum cliente na mão. Sol ou chuva, finais de semana, carros atolados em estradas, socorro em tratores nas fazendas, campainhas de madrugada, lá estava ele abrindo sua oficina, pegando cabos de aço, caixas de

ferramentas e uma grande vontade de ajudar os clientes a resolver os problemas nos veículos. Sentia-se orgulhoso, ao ver seus filhos crescendo rumo à sua profissão. (Mecânico) Devido a um grave acidente visual no trabalho, José Aparecido recorreu a Deus, pela intercessão de Santa Luzia, sua santa de devoção. E, como forma de agradecer a graça de não perder a visão de um dos olhos e continuar seu ofício, guardou, assim, todo dia 13 de dezembro, lendo a bíblia, jejuando e silenciando. Família e Paternidade Aos domingos, gostava muito de reunir a família para almoçar juntos. Seus pratos preferidos eram: feijoada, torresmo com mandioca ou peixe. O Rio São Francisco e o Araguaia eram umas de suas paixões, que muito curtiu com amigos de pescaria, em seus passeios favoritos. Os embalos das rodas de conversa, trocadilhos, repentes com direito a desafios, eram fáceis de serem pronunciados por José Aparecido e seu irmão Toninho. Juntos, faziam a festa e alegravam a família com criatividade e rimas. Como pai, às vezes, era severo e teimoso na educação dos filhos, porém com zelo, acolhimento e muita vontade de acertar. Era atencioso, observador e conselheiro quando solicitado, não era de falar muito, preferia exemplos. “Bênção” era a palavra mágica todas as manhãs. Ai de quem não o pedisse! Ficava chateado o dia todo. Era um bom marido e pai muito presente. Palavra e atitude sempre foram os divisores de água na vida de José Aparecido. No hospital, ao ver uma filha nascer, decidiu, então, jogar o maço de cigarros fora e nunca mais fumar ou beber. Nos últimos anos de sua vida, socialmente, brindava com amigos e familiares os bons momentos da vida, sem exageros. Presentes que a vida lhe trouxe Além de permitir ver a família crescer, Deus foi generoso e fiel à sua vida. Deu-lhe a graça de ser, além de um profissional, um cristão, um cidadão, um ser humano que pensava e vivia embalando-se ao tempo. Convivia, harmoniosamente, com genros, noras, filhos, netos e esposa. Felicitou-se, ao ser contemplado presidente da Feira

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Poema escrito e declamado por José Aparecido Silva em véspera de Natal para a sua família em 2006. O fim do ano chegou! Vamos todos comemorar! Mas, peço, primeiro a Deus, Para nos abençoar. Para mim, o patriarca É uma grande emoção Por poder participar Desta grande reunião.

do Amor, um compromisso voltado para os direitos sociais, que honrara, com alegria, juntamente com mãos abençoadas de amigos, empresários e voluntários que, aos domingos de manhã, colocavam a “mão na massa”, e, ali, no final do trabalho, deixavam uma família feliz ao ver sua casa construída. Foi Vicentino por devoção e gratidão. Por duas vezes, participou, efetivamente, dos movimentos da igreja católica de Lagoa da Prata(MG), como Ministro da Eucaristia. Foi Cursilhista por mais de 35 anos. Concomitante a tantas tarefas e compromissos sociais, religiosos e profissionais, em 1996, integrou-se ao Conselho de Administração do Siccob Crediprata, tempo esse que o capacitou e confirmou-lhe habilidades múltiplas levando-o de, 2010 a 2016, por meio de eleição, à presidência da Cooperativa de Crédito Rural de Lagoa da Prata. Sua atuação na instituição marcou princípios que, há muito, soaram em seu coração: sabedoria nas conquistas e gratidão a Deus por experimentar o estudo, a leitura, os livros e cursos que, por tanto tempo, ficaram embrulhados em sua memória. E, de uma maneira tão sutil, prazerosa e produtiva, consumou-se o projeto divino na vida de José. Amigo das palavras Embora sem formação acadêmica, Sr. José jamais deixou de viajar pelas palavras oriundas de seu conhecimento e cotidiano. Em seus registros, encontram-se poesias, reflexão, puxão de orelha e conscientização de fatos presentes nas entrelinhas. Ao longo de sua vida, deixou rastros de ternura e amizade com palavras rascunhadas em algum lugar: seja em recibos bancários, pedaços de folhas já amareladas, folhas avulsas ou de agendas escolhidas aleatoriamente, e até em embalagens com rótulos dos comércios da cidade E alguns desses rastros, jamais apagados pelo tempo e pelos nossos corações, marcam a essência, a generosidade, o amor pela vida e a trajetória desse grande homem de bem, lagopratense de coração, pai maravilhoso, esposo fiel e filho de um PAI ONIPOTENTE, ONISCIENTE E ONIPRESENTE, que o amou e o levou para, junto DELE, continuar sua morada. Um dia José falou: “Diz que o homem, para se realizar, deverá ter, pelo menos, um filho, plantar uma árvore e escrever um livro.” E eu posso dizer que, José plantou não só uma árvore, mas várias árvores. Teve não só um filho, mas sete filhos. E o mais belo, escreveu não um livro, apenas uma história: A SUA.

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Às vezes, fico pensando O que fiz para merecer Cercado de tanto carinho Alegria no meu envelhecer. Às vezes, fui áspero, grosso e nervoso Foi pensando na sua educação Aproveito, hoje, a oportunidade Para lhes pedir perdão. Pedras preciosas ganhamos Mas, temos que lapidar São essas lindas crianças Que enfeitam nosso lar . Daremos a elas o exemplo De nos confraternizar Pois, todos nós passamos,

Mas o exemplo ficará. O amor é uma coisa linda É uma essência infinita Parece com todas as flores Porém, entre elas, a mais bonita Agora, digo uma coisa E digo com muito dó De um jovem como eu, ter de dormir com a vovó. Filhas, filhos e netos queridos, Sabemos que Deus está no céu É nosso pai bendito Recebam as bênçãos Dele, através de mim, José Aparecido. Filhos e filhas, peço bênção a Deus Pois, ele lá do céu tudo vê Abençoará todos nós aqui Especialmente eu e você. Nossa amada família, Queremos lhe desejar Um ótimo e feliz natal Com saúde, paz e alegria! Beijos do vovô Zé e da vovó Maria!


E

Sr.

dson PEdrosa

Sr Edson Pedrosa, carinhosamente chamado Dico Pedrosa, nascido em Lagoa da Prata no dia 10/01/1926 e falecido em 10/02/2008. Devido a necessidade, começou a trabalhar muito cedo, concluindo apenas a quarta série ginasial e se destacou no comércio como vendedor. Em 1948, casou-se com D. Inhazinha pedrosa com a qual teve uma vida de muita harmonia e cumplicidade, durante 60.anos. Desta união, vieram os filhos Edna, Maridete, Edinho, Silvana e José Olímpio, que lhe deram vários netos. Por vários anos, prestou serviços na usina açucareira Ovídio de Abreu e quando deixou esta empresa, montou seu próprio comércio, no qual se destacou com três grandes lojas de tecidos e variedades.

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Posteriormente, foi gerente da CEMIGCompanhia Elétrica de Minas Gerais. Foi presidente do Nacional Esporte Clube, seu time de coração. Em 1962, foi o vereador mais votado e, consequentemente, foi presidente da Câmara Municipal por dois anos, trabalhando incansavelmente pelos interesses de nossa Lagoa da Prata. Foi também, presidente do partido ARENA/PDS, por ser grande conhecedor e amante da política, de onde conquistou ótimos relacionamentos de pessoas que se destacaram na política mineira e brasileira. Era católico e participava da Santa Missa, diariamente. Foi ótimo filho e irmão exemplar. Estava sempre disponível para ajudar a família e cuidar de sua mãe com total dedicação. Fez isso com total doação até o final de sua vida. Era amante da vida, conquistou muitos amigos e uma de suas paixões era o jogo do buraco, nas residências dos amigos. Sr. Dico Pedrosa, um exemplo de garra e sucesso, no qual se espelharam todos aqueles que tiveram o prazer de desfrutar do seu convívio. Segundo seus filhos: com sabedoria e afeto, papai nos fazia sentir seguros e felizes, nos ensinando a viver com dignidade e responsabilidade.

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Por: Itamar Joaquim Teixeira e Teresinha Maria Teixeira Gontijo

A

rgemiro Teixeira Malta

Data de nascimento: 12 de junho de 1919 Nome pais: Joaquim Teixeira Malta e Maria Teixeira Borges Nome de irmãos: José Teixeira Malta; Elzo Teixeira Malta; Gerson Teixeira Malta, Carmem Teixeira Malta; Silvia Teixeira Malta; Nome da esposa: Floripes Teixeira Malta Filhos: José Teixeira de Castro; Filá Teixeira Malta; Olemar Teixeira Malta; Maria Aparecida Teixeira; Teresinha Maria Teixeira; Zeli Maria Teixeira; Vitória Teixeira Malta; Nair Teixeira Malta; Argemiro Teixeira Filho; Itamar Joaquim Teixeira; Marly Teixeira da Conceição; Denise Teixeira Malta; Netos: Stella Maria; Stefane; Sérgio; Willian; Wanderson; Wirley; Tatiana; Cassio; Daniel; André; Renata; Rogério; Roberta; Marcelo (in memorian); Maurício; Mateus; Luciana; Simone; Juliana; Cristina; Marielle; Marina; Natália; Marisa; Leonardo; Reinaldo; Ricardo; Isabela; Tiago; Fábio; Flávia; Rodrigo; Michelle; Felipe; Marcela; Rafaela; Arthur Bisnetos: Daniela, Alexandre, Leonardo, Maria Luiza, Eduardo, Breno, Maria Eduarda, Bernardo, Henrique, Loren, Igor, Arthur, Heitor, Maria Cecília, João Carlos, Maria Luísa, João Antônio, Gabriela, Lorena, Lavínia, Ana Raquel, Gabriele, Mariana, Aline, Roberta, Rafael, Túlio, Henrique, Gabriela, Leonardo, Gustavo, Caroline, Laura, Maria Clara, Marcelo, Julia, Sofia, Lucas, Vitor, Carol, Amanda e Sofia Fernandes.

1-Onde nasceu e onde passou a infância? Nasceu na zona rural denominada “Barra de Melo”, município de Arcos/MG. 2-E a adolescência? Passou a adolescência em Arcos-MG. 3-Onde estudou, desde o jardim de infância e qual a formação acadêmica? Estudou na zona rural Barra do Melo e concluiu o 4 º ano em Arcos. 4-Ele chegou a morar fora de Lagoa para trabalhar ou estudar? Primeiro morou em Barra do Melo, depois Arcos, Buenópolis, voltando para Barra do Melo e finalmente Lagoa da Prata, porque queria que seus filhos estudassem mais. 5-Qual foi o primeiro trabalho e em quais profissões e funções trabalhou? O primeiro trabalho foi na roça, junto com os pais. Também exerceu o oficio de celeiro, comerciante de secos e molhados e finalmente empresário da empresa Nossa Senhora do Carmo, onde trabalhou bastante tempo como motorista.

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6-Quando e como fundou a empresa Nossa


gostava de tudo. 14-O que o deixava irritado? Desonestidade não era com ele.

Senhora do Carmo? A empresa foi comprada em 1956 do Sr. José Bicicleta com apenas um ônibus que fazia a linha Lagoa da Prata para Formiga. E foi nessa ocasião que mudouse com a esposa e nove filhos para Lagoa da Prata. 7-O que ele mais gostava de fazer na empresa? Primeiro foi motorista, mecânico, administrador e fazia serviço de capotaria para empresas. 8-E o que menos gostava de fazer por lá? Ele fazia de tudo e não tinha nada que não gostasse. 9-Quando conheceu a esposa, quanto tempo ficaram casados, como e onde foi o casamento? Conheceu sua esposa, Floripes, na casa dela por ocasião de tratamento dentário que ele fazia e o atendimento era feito na casa do Sr. Joaquim Teixeira, pai da Floripes. Namoraram e noivaram por um período aproximado de 3 anos e ficaram muito bem casados por 63 anos, quando faleceu em 2003. 10-Qual era a relação dele com política? Não era muito chegado a política. 11-E com religião? Era católico praticante, não perdia nenhuma missa e participava de todas as festividades realizadas pela igreja. Era Vicentino, fazia retiros espirituais sempre que podia e gostava muito de ajudar financeiramente a paróquia. 12-Qual era o time dele e ele praticou algum esporte? Gostava de assistir as partidas de futebol no campo municipal todos os domingos, mas não participou de nenhum clube. Não tinha um time predileto. 13-Ele sabia cozinhar? Qual era o prato predileto? Não era muito chegado à cozinha, mas adorava comer um franguinho com quiabo e angu. Aliás ele

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15-E o que o deixava feliz com facilidade? Quando chegava a época das férias de janeiro para viajar com a família para a praia. Cada ano era uma praia diferente. As viagens eram feitas de ônibus de sua empresa. Gostava também quando chegava a época de pescaria. Ele tinha um ônibus todo montado para leválo a essas pescarias. Tinha vários barcos e ficava muito feliz. Fazia várias pescarias e só parava quando fechava a época da pesca. 16-Ele era vaidoso? Muito vaidoso, especialmente com o cabelo. Cabelo branco? Nem pensar. 17-Ele era uma pessoa mais reservada ou expansiva, tanto com as pessoas quanto dentro de casa? Era mais reservado, de pouca fala, mas quando irritado, dava boas lições de moral e falava bastante. 18-Como ele era como esposo? Muito bom. Não me lembro de ter visto ou assistido a nenhuma briga com a esposa ou filhos. Era muito cuidadoso e carinhoso. 19-E como pai? Foi o melhor pai do mundo. Deu oportunidade a todos os filhos, principalmente incentivando nos estudos. Pai zeloso e muito carinhoso. Não media esforços para ajudar em qualquer situação. Os netos então, tinham verdadeira adoração pelo avô Miro.


J

Por Fábio Barbosa

osé Fransciso de Miranda (taioba)

José Francisco de Miranda, o Taioba, é um homem simples que não mede esforços para agradar os clientes do restaurante que leva o seu nome. Sua trajetória é de empenho nas atividades que desenvolveu. É uma grata surpresa bater um papo com ele que, economizando palavras, conta sua vida inteira como se fosse um causo. Filho de Dezi Maria Pinto Miranda e Lázaro Rodrigo de Miranda, nasceu em 23 de março de 1963, em Santo Antônio do Monte (MG). Foi criado na Fazenda Barreiras ao lado dos cinco irmãos: Romero, Amilton, Cleonice, Cléria e Maria Eunice. Desde pequeno ajudava o pai nos serviços da roça e a diversão foi essa até os sete anos, quando a família decidiu mudar para Lagoa da Prata. A nova cidade trouxe ao pequeno José Francisco novas oportunidades, entre elas os estudos. Frequentou a Escola Alexandre Bernardes Primo e o Colégio Nossa Senhora de Guadalupe, onde ficou até completar o sétimo ano. Para ajudar em casa, precisou se dedicar ao trabalho e encontrou na profissão de garçom essa oportunidade. Seu primeiro emprego foi no Bar Madragoa em 1975. Estando lá ganhou o apelido de Taioba. “O bar era frequentado por pessoas mais velhas da cidade como seu Janot, Arthur Bernardes, Alfredo Lobato e outros. Eu já sabia cozinhar um pouco naquela época e um dia compraram uma quantidade enorme de couve e taioba de um senhor que vendia verduras. Pediram que eu fizesse uma sopa e então fui explicar que não era possível fazer o caldo como eles queriam. Você acredita que pegaram as folhas todas e jogaram em mim? E ainda disseram vai taioba! Então pegou essa expressão e sempre que voltavam ao bar me chamavam assim. Hoje em dia apenas meus familiares sabem que me chamo José Francisco. Se você chegar

em Lagoa da Prata e perguntar onde fica o restaurante do Taioba, todo mundo sabe. Sou grato a eles por isso, virou marca, um marketing, sabe”, destaca com bom humor. Taioba trabalhou em vários bares da cidade. Na juventude, além dessa atividade, também gostava de andar de bicicleta pela região e pedalava muito até encontrar cachoeiras ou algum riacho. E foi neste período que conheceu através de amigos sua esposa, Maria Eunice de Oliveira Miranda. Os dois casaram em 07 de 1986, na Igreja de São Carlos Borromeu e tiveram dois filhos, Matheus Henrique de Miranda e Talita Suele de Oliveira Miranda. Em 1994 o garçom decidiu que era o momento para ter seu próprio negócio, então criou o “Bar do Taioba”, aproveitando o apelido que todos já o chamavam. O empreendimento deu certo e aos poucos foi crescendo, inclusive fabricando marmitas e pratos feitos para os clientes. Não demorou muito e a comida com sabor caseiro era conhecida em toda a cidade, transformando o lugar definitivamente em restaurante. Em 2007, o agora empresário encarou o desafio de construir um novo espaço. Foram 12 meses de obras e em 27 de setembro de 2008 a Lanchonete e Restaurante do Taioba foi inaugurada. “São mais de 20 anos de trabalho e estamos sempre tentando melhorar. Tenho o apoio da minha esposa e filha e, claro, dos clientes que acabaram se tornando amigos. Considero eles como pessoas próximas, já que a maioria vem aqui todo dia. Mudamos o cardápio com frequência para diferenciar o paladar né?! Ninguém gosta de comer a mesma coisa sempre”, destaca. Sem muita habilidade na cozinha, Taioba gosta de comer galinha caipira e revela provar

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tudo que tem no restaurante. “O nosso churrasco muita gente elogia e realmente é bom, você precisa provar. Mas temos sempre pratos novos que são criados na cozinha. Tem até comida fitness se você quiser”, completa. Católico, devoto de Nossa Senhora de Fátima ele gosta da vida simples que leva e de estar em seu sítio, onde produz inclusive 70% da verdura orgânica usada no restaurante. Não gosta de falar de polícia, mas acompanha o noticiário para se manter atualizado sobre o assunto. Considera-se tímido e ao mesmo tempo vaidoso, mas sem exageros. Com ele não tem protocolos, recebe os amigos próximos e oferece sempre uma boa comida. No futuro quer apenas continuar trabalhando. “Com fé em Deus nós alcançamos tudo que precisamos”, conclui Taioba que se despede perguntando se a entrevista foi boa.




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