Como ser mau pai

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2 Qualquer um pode zangar-se isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil. ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco


3 Obrigado:

Carlos

Ana

Armando

Armando Jo達o

Isabel

Joana

Fausto


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Biografia


5 Ricardo Cardoso nasceu em Leiria em 1979. Filho de uma professora do 1º ciclo e de um gráfico ligado à imprensa. Tem dedicado toda a sua vida à educação parental e à relação pais - filhos. Começando desde cedo a ocupar funções de coordenação pedagógica em centros educativos e associações desportivas. Antes mesmo de acabar a sua licenciatura em psicologia já se dedicava a projectos de discussão (”Conversas com pais”e “Diálogos de família”) sobre as técnicas de educação parental e os problemas de relação educativa. Enquanto estudante de psicologia fundou o jornal ”infopsi”, um jornal de âmbito académico. Em 2005 licencia-se em Psicologia Social e das Organizações, desenvolvendo um projecto de aquisição de competências sociais e pessoais através do desporto. Tendo apresentado esse projecto em congressos nacionais e internacionais. Ainda nesse ano desenvolve um projecto sobre educação emocional, fazendo várias apresentações nas escolas do distrito de Leiria. No ano de 2006 é convidado para ocupar as funções de psicólogo na CERCILEI - Cooperativa de Ensino e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Leiria, para a valência lares residenciais, função que ocupa com grande emoção e profissionalismo. Em 2009 desenvolve o projecto “E-Clips” – Clínica de psicologia on-line, assumindo o cargo de director clínico. Faz ainda o Curso de pós-graduação” Entrenamiento Psicologico en el Deporte”, no centro Codex – Vigo, Espanha. O convite da “Tentativa - Centro Educativo de Leiria” chega no ano de 2010, para desenvolver o seu projecto de educação emocional com crianças. Ricardo Cardoso escreve todas as semanas para o Diário de Leiria tendo sido cronista do jornal Região de Leiria, Jornal da Batalha. É convidado para várias palestras e workshops sobre educação parental em escolas e grupos de pais.


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Ilustrações


7 Catarina Gonçalves Aveiro, 8 de Janeiro de 1986 Licenciada em Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 2008. Com o Curso Profissional de Fotografia 2009-2011, realizado no Instituto Português de Fotografia do Porto. Colabora com ilustrações para os textos do profissional Ricardo Moita Cardoso, publicados no Diário de Leiria. Realizou um estágio nos Laboratórios de Fotografia da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, de Maio a Julho de 2011. Com Participação na exposição colectiva “Salão Corporativo” em 2008, no Plano B, no Porto, e em 2009 na II Bienal de Milheirós, na Maia. Para além da fotografia analógica preto e Branco e cores, em 2009 começa a estudar processos alternativos na fotografia como Goma Bicromatada, Estenopeica (Pin-hol), e Cianotipia. Faz parte de um projecto onde realiza workshops de Cianotipia, dando a conhecer o processo e realizando cianotipias de grandes formatos.


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Prefรกcio


9 “Como ser mau pai” é dizer do contrário das coisas feito exercício de inteligência subtil. A ironia é um risco que Ricardo Cardoso assume com a naturalidade apenas possível àqueles que sabem bem do que falam e parece ser o caso. Tive o privilégio de privar com o fazedor desta provocação ao pensamento e sempre olhei o Ricardo com atenção: pela pertinência das intervenções, pelo opinar cuidadoso, pela minúcia do saber e, sobretudo, pelo profundo sentido humanista e preocupação ética que colocava em cada comentário. Modesto, sempre, contudo. Confesso que gostei que a vida me desse a oportunidade de me cruzar com ele. Não é todos os dias que encontramos gente generosa. E agora mandou-me este conjunto de textos que reflectem as preocupações recorrentes à prática clínica no que concerne ao processo vinculativo entre pais e filhos, ainda por cima com o atrevimento de me pedir que teça o comentário sobre eles. Eu seria lá capaz! São reflexões que nos batem certeiras como murros no estômago, sem aviso prévio. E assim devia ser tudo, sem panaceias, sem dizeres floridos que nada trazem ao saber e ao conhecimento, sem receitas ou soluções mágicas para bem-fazer. Apenas murros, fortes, intensos, a despertar memórias que trazemos connosco e que amiúde esquecemos. Cuidadosas e fundamentadas, contudo, sempre a recordar que o processo educativo é relação, é sentir, é ser-se verdadeiro e próprio para que ao futuro dos nossos filhos caiba herança que mereça ser vivida. “Como ser mau pai” é um jogo de espelhos, reflexos que urge contrariar. João Lázaro Psicólogo Clínico Director Artístico do Te-Ato


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Nota Introdut贸ria


11 È com muita satisfação que acedo ao pedido do Ricardo Cardoso para escrever esta nota introdutória sobre este conjunto de crónicas. Tenho pelo Ricardo (perdoai-me a informalidade) um grande apreço e consideração. Admiro a forma apaixonada como se envolve numa variedade de projectos com intenção de ajudar o próximo. Este conjunto de crónicas é o reflexo desta sua forma de estar na vida. O tema da parentalidade é sempre actual. Ser pai (ou mãe) é uma tarefa complexa muitas vezes entendida socialmente como “normal,” mas frequentemente está associada a receios e ansiedades. Implica muitas responsabilidades e compromissos que nem sempre são fáceis de gerir. Dai, ser fácil ser um “mau pai.” O difícil (e impossível diria mesmo) é ser um “pai perfeito.” Assim, considero que “Como ser um mau pai” constitui um desafio para uma reflexão sobre as nossas práticas parentais quotidianas. E isto é o mínimo que devemos exigir a nós próprios. O Ricardo propõe-nos exactamente isso, através de um estilo provocador, com humor e mesmo alguma dose de ironia que lhe permite despertar a atenção do leitor. Este não precisa de concordar com todas as opiniões expressas nestas crónicas, mas com certeza pode reflectir sobre o assunto de uma forma aberta e descomprometida. Obrigado Ricardo por nos pores a pensar, quando muitas vezes vivemos a vida demasiado depressa sem pararmos para reflectir. Luis Calmeiro University of Durham – Reino Unido


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Nunca gaste tempo com os seus filhos


13 Muitos são os pais que se queixam de não ter tempo para estar com os seus filhos. Será que esse tempo é assim tão importante na relação afectiva e educativa dos progenitores? Todos os pais sentem que a falta de tempo não permite realizar todas as tarefas que gostariam. Por outro lado, os filhos ocupam muito do tempo livre dos pais, por esse facto os pais sentem o peso da culpa, embora vão encontrando “desculpas” diárias para diminuir as suas angústias. Não devem procurar a culpa, devem sim melhorar o vosso tempo livre e esquecer um pouco os tempos que partilham com os vossos filhos. A importância do tempo em que estão com eles é irrelevante, para se ser mau pai não se precisa de perder muito tempo com os filhos. Estabelecer um elo empático de comunicação com os vossos filhos é sem dúvida um erro grave para um mau pai. Nunca dispense muito tempo ao seu filho, pois corre o risco de ficar mais irritado com ele e de se sentir culpado pelo tempo que perdeu, sem resultados. Muitos pais acham que o tempo que se passa com os filhos pode contribuir para melhorar o controlo dos comportamentos. Isso está longe de ser verdade para um mau pai, pois quem sabe controlar os comportamentos dos filhos, não são aqueles pais que percebem os sentimentos e as emoções que rodeiam os comportamentos, mas sim aqueles que pela força e a intimidação conseguem dominar os comportamentos dos seus descendentes. É sem dúvida relevante saber que o tempo é algo que não chega para tudo e que é importante fazer opções. Muitas vezes, mais vale ir para a actividade de lazer sozinho ou com alguém do vosso agrado, do que com o vosso filho. Só assim os pais têm o seu momento de descanso. Fazer com que os filhos participem nas vossas actividades de lazer, elevando assim a comunicação e as ligações afectivas, pode ser um grande erro, pois ao partilharem o vosso espaço estão a valorizar a existência do vosso progenitor.

Esquecendo assim o tempo livre para você que é um factor de enorme importância. A dedicação exclusiva, o sentido da culpa por não ser perfeito, a verdade inequívoca em relação ao aproveitamento do pouco tempo com o seu filho e a postura de que tem que estar com ele hoje porque amanhã pode já não estar cá são sem dúvida factores que podem contribuir para o vosso insucesso como maus pais. Não pense nisso, limite-se apenas a estar com ele quando isso surgir, não gaste todo o seu tempo nesta causa, a dedicação ao seu filho pode ser um erro em termos da sua postura educativa. Não perca tempo com dramas sobre não ter tempo, sendo certo que entre as vossas tarefas diárias vão encontrar muitos períodos a rentabilizar, no entanto nunca dediquem parte desse tempo aos vossos filhos, pois de seguida irão sentir uma grande frustração na vossa vida. Podem começar por gastar algum tempo com coisas que acarretam valor para si, é melhor gastar dez, quinze minutos a fazer compras e só depois ir buscá-los levando um chocolate ou outra coisa como recompensa. Pois ao levar os seus filhos consigo teria que perder tempo em estabelecer regras de comportamento e adequação aos novos espaços, desgastando-se mais, após o seu dia cansativo de trabalho. Nos momentos difíceis não desespere, reaja rapidamente e mostre quem tem o poder através de afirmações firmes e sem diálogo, caso contrário vai estar muito tempo sem resultados na alteração do comportamento dos vossos filhos. Um dos factores fundamentais da gestão do tempo é a capacidade de agir rapidamente e sem hesitações. Lembre-se, quem manda é você tendo ou não razão, compreendendo ou não a razão do comportamento. Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com melhores crianças e pessoas mais manipuláveis e menos autónomas.


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Corrija os seus filhos em pĂşblico


15 Corrigir publicamente uma pessoa é o primeiro passo para essa mesma pessoa (criança) se sentir intimidada com o que está a acontecer e retrair o seu comportamento. Dizer-se que a exposição pública origina traumas complexos e cria sensações de humilhação é acreditar que os filhos não devem, nem podem ser corrigidos ou castigados em frente dos seus amigos e colegas. Todos nós sofremos pequenas humilhações e nos sentimos mais ou menos perturbados com isso. Não é por isso que as pessoas se sentem melhor ou pior em determinadas situações, nem ganham medos de enfrentar situações expositivas de julgamento público. Os pais devem dar sempre mais atenção e valor ao erro do que propriamente à criança. O educando pouco importa, pois sem dúvida que o problema é o seu comportamento. Muito embora o comportamento só aparece porque a criança existe. Mesmo assim devem sempre centrar-se no erro e nunca em quem errou. Pensar-se que os pais só devem intervir publicamente quando um jovem ofendeu ou feriu alguém em público, é o mesmo que acreditar que os filhos podem compreender os erros sem que se recorra à humilhação ou desvalorização social. Identificar os defeitos ou os erros dos filhos nomeando-os junto do seu grupo de pares é, sem dúvida, uma boa estratégia para que ele altere de vez o seu comportamento e comece a desenvolver um outro tipo de comportamento, mais recatado e envergonhado, podendo até chegar à desvalorização da sua personalidade. No entanto, só assim é que vamos ter a certeza que os seus hábitos vão mudar. Todos nós sabemos que a memória é um sistema muito importante no processo de aprendizagem, por isso devemos causar emoções fortes aos filhos para que eles possam aprender com os erros. Chamar “burro” ou comparar em público os seus resultados com os dos colegas é uma forma de desvalorização, que provoca uma emoção de desilusão e incapacidade que o irá marcar para

o resto da sua vida. Esta memória ficará alojada para sempre no seu “cérebro” fazendo com que ele aja condicionado por esta lembrança. Sendo que esta actuação parental tem outro tipo de vantagens, pois todos os outros gestos ou situações idênticas àquela que foi corrigida em público vão ser comparados e identificados como semelhantes, condicionando assim o comportamento do filho. Para além do mais, ele pode desenvolver uma situação de alarme, proporcionando o desvio do comportamento tipo e tudo aquilo que ele ache estar associado a ele. Pensar que esta forma de educar pode criar traumas tão grandes de dimensão imprevisível que vai modificar por completo a personalidade do seu filho e que ele pode tentar o suicídio, por se sentir inferior, com baixa auto-estima, incapaz de resolver os problemas por mais pequenos que sejam, é sem dúvida um caminho completamento oposto ao de um mau pai. Corrigir o seu filho calmamente em particular, explicando o erro e questionando o seu engano, o seu mau comportamento, pode sem dúvida não levar ao caminho que acabei de descrever. Todos os colegas e amigos do filho devem ter armas para o gozarem e humilharem, deixando uma marca inesquecível. Por isso mesmo não se esqueça de contribuir para essa guerra. Quem corrige com carinho, afectividade e compreensão vai falhar no objectivo de ser mau pai.


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Deve ser um incessante crĂ­tico do seu filho


17 Muitos são os pais preocupados com o futuro dos filhos, com a forma deles encararem as suas responsabilidades e promoverem as suas atitudes, perante uma sociedade sempre em modificação e cada vez mais egoísta. É a escola que expulsa os fracos, responsabiliza os bons e manda eliminar os diferentes. São as actividades desportivas que só premeiam aqueles que ganham medalhas e que apresentam resultados competitivos. É neste cenário que todos os pais querem ver os seus filhos brilharem, sendo os mais éticos, os mais sérios e os mais responsáveis. Por todas estas razões utilizam a crítica como grande arma na educação. “Criticar sempre para uma boa educação” é o lema de muitos dos pais de hoje em dia. Este assunto é da máxima importância não apenas pelo lado psíquico, mas também pelas relações sociais que o tema envolve. É quase total o consenso quanto à dificuldade absoluta de qualquer pessoa tolerar ou aceitar uma determinada crítica. A mesma é vista como um ataque directo a tudo aquilo que a pessoa adquiriu por um longo tempo e com uma dose de muito sacrifício e renúncia. A crítica pode tanto reforçar a auto-estima no seu potencial, como exacerbar uma convicção irreal ou totalitária, ou tirar completamente a auto-estima. Esta é sem dúvida a dicotomia máxima no assunto. Até se atingir o ponto genial de uma crítica opinativa atravessamos todo o tormento e mal-estar de nos sentirmos humilhados e traídos. No entanto, e apesar da crítica ser perigosa, todos os pais a devem usar e aqueles que querem mesmo ser maus pais, devem-na usar quase sempre, todos os dias a cada actividade ou movimento que o filho faça. O filho não deve cometer erros nem falhas. Não deve também cometer excessos, a linha recta deve ser o seu caminho. Pode ter a oportunidade de brincar com os outros, de jogar com outros, no entanto tem de ser sempre o melhor e o mais correcto. Não cai, não se suja, não comete erros e se possível não exprime

emoções de frustração ou desagrado. Cada nota da escola, cada prova na actividade extra-curricular, cada movimento mal dado, deve ser fonte de crítica, só assim o filho vai poder aprender a viver e a vingar na sua vida. Deve exercer uma crítica obsessiva e insuportável frente aos amigos do seu filho, fazendo com que ele se sinta humilhado pelo comportamento praticado, evitando a sua repetição. Comparar o comportamento do seu filho com o dos colegas e amigos é uma forma de ele perceber o erro e valorizar o que os outros fazem de bem. Não pense que ele vai ficar deprimido ou a pensar que os pais não gostam dele, ou até que não faz nada bem na sua vida. A pressão da crítica é a melhor forma de educar o filho a estar no local certo à hora certa e com o comportamento certo. Um mau pai nunca deve deixar o seu filho sofrer ou experimentar situações de falhanço, um mau pai deve estar ali para o proteger de tudo e de todos, criticando-o sempre que ele pise o risco amarelo. Este é o preço a ser pago para conseguirmos desobstruir a limitada percepção. Todos enfocam a distinção entre crítica positiva e negativa, esquecendo que o aspecto mais importante é dizer algo para alguém com hipótese de mudança, e a grande tarefa é aferir profundamente quando isso é possível. Criticar é sem dúvida alguma um dos mais puros actos de amor e compaixão, na medida em que mostramos ao outro a possibilidade não apenas de um novo caminho, mas o fim de uma procura infinita na sua vida. Criticar deveria ser visto como mostrar a coisa mais séria num relacionamento ou comportamento humano. A crítica dos pais aos filhos deve ser entendida como uma das melhores formas de educá-los. Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com melhores crianças e pessoas mais manipuláveis e menos autónomas.


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N茫o deixe os seus filhos serem aut贸nomos


19 São muitos os pais que acham que os filhos não devem crescer e tornarem-se outros pais. São muitos os pais que acham que os filhos serão toda a vida dependentes deles. Na verdade os filhos são uma mera extensão dos pais, pois nos primeiros anos as primeiras actividades exercidas pelos filhos são, sem dúvida, a extensão de movimentos, e comportamentos dos pais. Por isso mesmo, quando as crianças dão o primeiro chuto na bola, ganham a primeira corrida, ou simplesmente participam numa actividade nova, estas são vividas pelos pais como sendo eles próprios a desempenharem esse mesmo papel, vivendo o sucesso e o insucesso de uma forma bastante intensa. Ser filho passa por ser apenas mais um membro do nosso corpo. Onde a opinião e o seu próprio dinamismo acrescenta pouco à sua própria vida. A normalidade é os pais escolherem o que é melhor e pior para o filho, tomando decisões por ele. Educar não é dar autonomia. Nem ser capaz de perceber que os filhos vão fazer as suas escolhas, tendo os pais apenas uma pequena participação nisso. Educar é perceber que este tipo de comportamento pode levar a muitos desagrados na relação, os filhos não vão fazer o que os pais acham que está certo, vão errar, contradizer os pilares e os valores da família, por isso, quanto maior for a participação dos pais, menor é o risco dos filhos fazerem as suas opções de uma forma autónoma e arriscada. Depois da infância e com a entrada na adolescência, a conquista da autonomia por parte do filho pode ser mais intensa e mais explícita. O desafiar a autoridade será quase constante, os pedidos de liberdade e participação em actividades sem os pais vão ser cada vez maiores. Mas não se esqueça, que para ser um mau pai, não deve ceder nem um milímetro daquilo que sempre quis para o seu filho. Se ele começa a querer fazer actividades sem a sua ajuda, não deixe, explique-lhe que se participar na actividade dele vai facilitar-lhe a tarefa, tornando-a mais fácil, diminuindo assim a responsabilida-

de e encargos para ele. Todos os pais devem ajudar os seus filhos em todas as tarefas, estabelecendo assim laços de dependência executiva para toda a vida. Se por algum acaso ele quer começar a comer sozinho, no caso de uma criança ou no caso de um adolescente se quer decorar e arrumar o quarto ao seu estilo, sem dúvida que os pais devem intervir e explicar que eles é que devem decidir se come sozinho ou se o quarto pode ser arrumado pelo seu utilizador. Muitas mães com filhos de trinta anos ainda continuam a arrumar o quarto do deu progenitor, mostrando assim o seu afecto e carinho que têm pelo filho dependente. Outro dos assuntos importantes a ser abordado é a questão financeira. Os filhos tornam-se mais autónomos e independentes quando começam a ter poder económico. Por isso enquanto pode dominar estar parte, não participe no ensino e incentivo de organização e gestão monetária. Responsabilizar os filhos pelos seus próprios gastos, deixando-os decidir onde eles querem gastar o dinheiro, é sem dúvida uma má decisão para quem quer educar um filho na perspectiva de ser uma extensão dos pais. Alguns pais usam a estratégia da mesada, pensando que estão a contribuir para uma maior autonomia e responsabilização dos filhos. No entanto esquecem que os filhos podem gastar esse dinheiro em coisas menos propícias. O dinheiro pode trazer novos vícios, proporcionar outro tipo de comportamentos, por isso o melhor é não participar nestas estratégias pedagógicas. Se quer ser um mau pai, utilize a autoridade e o poder económico para mostrar ao filho que ele depende de si e que assim é que é a normalidade. Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com melhores crianças e pessoas mais manipuláveis e menos autónomas.


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Não deixe os seus filhos sonharem‌


21 Muitos são os pais que querem ver os sonhos dos seus filhos realizados, fazendo quase tudo para que isso seja conseguido. Outros porém, percebem que esse comportamento pode ser o maior erro na educação parental. Destruir a esperança e os sonhos dos filhos pode ser um alerta para a realidade social em que vivemos. Dizer que o sonho e a esperança leva a uma melhor estabilização emocional e maior motivação na definição de objectivos futuros dos filhos, é sem dúvida acreditar que o sonho comanda a vida. Na realidade, acreditar que incutir o conceito de esperança, criatividade e sonho, o filho vai desenvolver uma maior capacidade para nos momentos difíceis ultrapassar as dificuldades e traçar novos objectivos, auto-motivando-se e sendo empreendedor, é a mesma coisa do que acreditar que a disciplina só é importante se for comedida. O futuro do seu filho é o mais importante, ele tem é que ser bom nos aspectos práticos da vida. O método, a exigência e a crueldade da realidade económicosocial devem ser os pilares para o seu desenvolvimento. O que importa? Ser um filho emocionalmente equilibrado e sonhador quando na escola os resultados não demonstram a sua aptidão intelectual? Ou ser ágil à mudança, seja ela de ambiente ou de comportamento? Ter iniciativa e produzir novidades é mais importante que a produção rigorosa e exímia de produtos ou materiais. Desenvolver a paciência e a tolerância à falha, aumentar a capacidade de enfrentar a frustração, através da não concretização dos sonhos ou mesmo da reformulação desses sonhos, não parece ser uma peça fundamental para o bom desenvolvimento do seu filho. Não tolerar o mínimo de desânimo, destruir a esperança, o sonho, desencorajá-lo, mostrar frieza e distância são algumas estratégias importantes para se ser um mau pai. Dizer: “Tu com esse tipo de comportamento, não vais ser nada”, “Vais tornar-te num marginal”,”Agora tudo parece fácil, mas daqui a uns anos vais ver como elas te mordem”,”vai sonhando vai, quando acordares até vai doer”, e muitas outras expressões que se tornam importantes os filhos ouvirem, pois só assim vão conseguir entender que o sonho e a esperança são dois sentimentos abstractos que não servem em nada para nos ajudar na nossa vida. Pensar que por este seu comportamento o seu filho vai sentir-se mais triste, menos entusiasmado com o seu percurso de vida, que por causa de si não vai

ser capaz de encontrar o seu caminho e acreditar no seu potencial é sem dúvida um engano no caminho que quer tomar como pai. Algumas pessoas íntimas podem achar que você é rigoroso em demasia que não está a respeitar o seu filho, que quer sim alguém parecido a uma máquina. Na verdade essas pessoas não sabem nada sobre como ser mau pai. O mau pai tem que acabar com a esperança e os sonhos dos filhos, tem que ensinar a racionalidade da vida, projectando-a no rigor e na metodologia que o caminho exige Nestes momentos pode vir à tona a raiva, a insensatez, a crítica obsessiva. Este tipo de comportamento está presente com maior ou menor grau em todas as pessoas, mesmo nas mais sensatas. Todos temos tendência a ferir as pessoas que mais amamos. Mas não podemos concordar com isso. Caso contrário, corremos o risco de destruir os sonhos e a esperança das pessoas que mais nos são gratas. Muitos são os psicólogos e psiquiatras que afirmar que: “Os jovens que perdem a esperança têm enormes dificuldades para superar os seus conflitos. Os que perdem os sonhos serão opacos, não brilharão, gravitarão sempre em torno das suas adversidades emocionais e das suas derrotas. Crer no mais belo amanhecer depois da mais turbulenta noite é fundamental para ter saúde psíquica.” Mas na verdade a saúde psíquica não alimenta o que alimenta é a realidade de um trabalho cheio de sacrifício, isso sim é sem dúvida o mais importante de se passar a um filho. Pensar que não importa o tamanho dos obstáculos, mas sim a quantidade de motivação que temos para superá-los. É o mesmo que acreditar que o importante não é a gravidade de uma doença, seja ela uma depressão, fobia, ansiedade ou fármaco-dependência, mas sim a passividade de cada um. Uma criança passiva, sem esperança, sem sonhos, triste, resignado aos seus problemas, pode morrer sem os resolver. Uma criança activa, bem-disposta, ousada vai de certo aprender a gerir os seus sentimentos e pensamentos, de modo a ultrapassá-los, conquistando os seus objectivos. Os passivos serão os menos problemáticos para os pais e futuros patrões, facilmente aceitam as injustiças e falhas de ética. Logo os activos serão aqueles mais complicados de educar e menos preteridos pelos patrões. Os pais têm o papel fundamental de educar o seu filho para aquilo que prevêem como futuro. O sonho só comanda a vida quando os pais assim o querem. Tendo em conta que o suicídio só acontece quando os sonhos acabam, façam assim a melhor opção para a vossa educação parental.


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Nunca castigue o seu filho!


23 A predisposição para educar os filhos com palmadas é transmitida de geração em geração. Especialistas calculam que 70% dos pais que batem nos filhos sofreram violência na infância. A grande questão é: De onde vem o hábito para lá do questionável de castigar os filhos? “As crianças aprendem com o exemplo dos pais ou neste caso operam “genes da violência”?” diz Dario Maestripieri, da Universidade de Chicago, que investigou respostas para estas perguntas num estudo com macacos resos. O pesquisador trocou os recémnascidos de diferentes macacas: colocou filhas geradas por mães violentas entre fêmeas pacíficas e vice-versa. “Nove entre 16 fêmeas que sofreram violência na sua juventude também maltratavam as suas crias - independentemente de serem descendentes de uma mãe violenta. Por outro lado, de 15 animais com pais adoptivos não violentos, nenhum usou a força bruta. Foi então a experiência, que as influenciou e não a herança genética”. O investigador da Universidade de Michigan Jeffrey Bingenheimer acredita que o homem funciona de forma semelhante. Ele avaliou os dados de um estudo de cinco anos sobre o desenvolvimento de mais de mil jovens de Chicago. Nesse período, um em cada oito adolescentes cometeu pelo menos um delito. Mas, estatisticamente, a pobreza, a baixa escolaridade ou características pessoais não estavam vinculadas a esses casos. Apenas a violência com armas vivida de perto dobrava a possibilidade de que os jovens pegassem em armas de fogo. Na verdade antigamente, ninguém discutia o assunto. Sempre que a criança cometia algum erro, respondia mal aos avós, agredia um colega ou não queria fazer os trabalhos de casa os pais não tinham dúvidas - agiam, corrigiam, “davam um castigo”. Com as mudanças ocorridas durante o século XX, fomos percebendo que as crianças têm, gostos, aptidões próprias e até indisposições passageiras - exactamente como nós, adultos. Com isso, sem dúvida, muita coisa melhorou para as crianças - e, claro, para nós adultos também. O relacionamento entre pais e filhos ganhou mais autenticidade, menos autoritarismo, mais liberdade de acção. O poder absoluto dos pais sobre os filhos foi substituído por uma relação

mais democrática. Todos ficaram mais felizes, os filhos porque podem fazer quase tudo e os pais porque não têm que dizer não aos filhos e puni-los pelos seus erros. Elevando a premissa de que castigar nunca! Todos temos o direito de errar e voltar a errar até quando quisermos. Não se esqueça que castigar pode criar traumas aos seus filhos, que eles podem, sem dúvida, aprender a castigar os seus netos, certamente não é isso que quer, por isso nunca castigue. Não seja um pai ou uma mãe castigadora, pois os seus filhos não vão gostar, pelo menos até serem adultos. Nunca imponha regras nem limites ao seu filho, pois por muito que ache que lhe está a dar uma boa educação, essa não é a verdade, está sim a prender um artista, um autodidacta, nem que por muitas vezes ele parece ser o prefeito pré-delinquente. Todas as crianças fazem birras por bens materiais que na sua grande maioria são inacessíveis para a sua família. Se possível dispense um pouco do orçamento da sua alimentação para adquirir o bem material para o seu filho. Não crie revolta nem frustrações na sua cria. Castiguese a si, mas nunca a ele, nem sequer lhe tente explicar a razão pela qual não lhe pode dar o que ele tanto deseja. Nunca diga ao seu filho que o castigo é uma forma de gostar dele, de o educar para um dia mais tarde ele perceber e ter responsabilidades nos seus actos. Está a enganá-lo, pois castigar faz com que ele também aprenda a castigar os seus filhos por terem faltado às regras impostas. Se o seu filho tiver uma atitude agressiva para consigo, não castigue, apenas explique que não o deve fazer pois pode magoar-lhe. Bom e para finalizar acredite sempre que o seu filho é o melhor e o mais bem educado, mesmo quando faz mal, só o fez porque alguém o provocou, não tente esclarecer a situação, aja de imediato, aplaudindo-o e incitando-o a uma vingança ou continuação da agressividade. Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com melhores crianças e pessoas mais manipuladas e menos autónomas.


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Nunca converse com o seu filho!


25 Muitas vezes discutimos qual a melhor estratégia para educar um filho. Será que devemos educá-los democraticamente, autocraticamente ou optar pela política Lúcifer ou até anárquica. Na maioria das vezes os psicólogos aconselham a democrática, tendo por base a chamada liderança participativa ou consultiva, este tipo de liderança é voltado para as pessoas, havendo participação dos liderados no processo decisório. Aqui as directrizes são debatidas e decididas pelos intervenientes (pais e filhos), estimulados e assistidos pelo líder. Os próprios intervenientes esboçam as medidas para atingir o objectivo solicitando aconselhamento técnico ao líder (pai – ser humano com mais experiência) quando necessário, passando este a sugerir duas ou mais alternativas incentivando a escolha. As tarefas ganham novas perspectivas com o debate. A divisão das tarefas fica ao critério de cada membro podendo escolher os seus próprios passos para desenvolver o seu trabalho/atitude. O líder procura ser um membro normal do grupo. Ele é objectivo e limita-se aos factos nas suas críticas e elogios. Tudo o que um pai não deve fazer, pois todos nós sabemos que liderar é conseguir que outras pessoas façam o que queremos, é influenciar os outros nas suas atitudes. Todos os pais gostavam que os seus filhos fossem melhores que eles mesmos, por isso, precisam agir como líderes para, assim, influenciá-los a serem como desejam. Para que isso aconteça é importante estabelecer pouco diálogo com eles, evitando assim conflitos e troca de opiniões que podem trazer dissabores e acções não controladas pelos pais. Nunca devem ficar preocupados se o vosso filho parece não vos ouvir, pois os pais é que mandam. Saber quais os brinquedos, a comida ou até as actividades que os filhos gostam mais, não serve de nada, pois são vocês quem devem escolher as actividades que eles podem praticar, saber e impor o que lhes faz melhor em termos de alimentação, obrigando-os a cumprir as vossas ordens e claro os brinquedos são os pais que compram, logo só devem

oferecer o que gostam mais e acham que é o melhor para os vossos filhos. Algumas crianças dão pistas claras sobre o que gostam e o que não gostam. Por exemplo, pode ser que seu filho brinque sempre com o mesmo brinquedo ou tente agarrá-lo e levá-lo até à porta da frente repetidas vezes. Nessas situações, é fácil perceber do que ele gosta, no entanto, não deve facilitar nem ceder às suas insistências. Deve manter-se firme na sua postura ignorando o comportamento do seu filho. No entanto muitas vezes, parece ser preciso observá-lo mais atentamente para descobrir as preferências dele. Desta forma, pode ser que descubra que ele gosta de saltar, correr de um lado para o outro ou gatinhar por baixo dos móveis ainda mais do que tinha pensado. Por isso mesmo não perca muito tempo na observação do seu filho nem se preocupe em dar atenção as estes pequenos pormenores. Firme a sua atitude e nunca entre em grandes diálogos com o seu filho, mostre quem manda usando sempre a autoridade e a sua pose agressiva. Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com melhores crianças e pessoas mais manipuladas e menos autónomas.


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Nunca desconfie do seu filho


27 Muitas vezes os pais caiem no erro de não acreditar nos próprios filhos, isso pode revelar falta de segurança na postura educacional ou acreditar que os filhos mudam a sua forma de estar nos diferentes ambientes onde coabitam. São eles, os filhos, seres humanos por quem os pais deixam de dormir, em quem acreditam até à última palavra e por quem se tornam nos pais mais atentos e zelosos do mundo. Para os pais os filhos são os melhores, os mais perfeitos e raramente mentem ou escondem coisas. Gostam mesmo muito daqueles pequeninos. Têm muito orgulho neles. Planeiam tudo cuidadosamente, e não vão ter mais filhos para que nada falte a estes. Dão-lhes tudo. Tudo aquilo que merecem, tudo o que nunca pensaram em querer ter ou pedir na sua infância, pois os seus pais não tinham as mesmas possibilidades que hoje eles têm. No entanto esforçam-se para dar tudo aquilo, que acham necessário, para o bom desenvolvimento dos seus filhos. Por vezes lutam contra regras e pessoas, simplesmente para lhes evitar as contrariedades. Suportam calados as suas birras, os seus amuos e atendem de imediato às suas exigências. Não irão repetir os erros das gerações anteriores, já passou a era da autoridade, agora os tempos são outros. Querem que os seus filhos cresçam livres da opressão a que os seus pais os sujeitaram. Por isso acreditam sempre nos filhos, acham que nunca mentem e que a verdade deles é sempre a mais verdadeira e sincera. No entanto há quem diga que as mentiras começam cedo!!! Um “engano”, pelo menos quando falam da relação pais-filhos. As crianças aprendem pela experiência que dizer uma “inver­ dade”(mentira) pode evitar punições por maus comportamentos, antes de desenvolverem o processo cognitivo necessário para entender o verdadeiro sentido na mentira. De maneira complementar, existem aqueles que acreditam que as crianças mentem por insegurança, e por não compreender a gravidade dos seus actos,

escapando assim às suas responsabilidades. Sócrates defendia que em determinado estágio do desenvolvimento, as crianças às vezes contam mentiras fantásticas e inacreditáveis, parecidas com a mentira de Koko. Desconfiar de um filho pode causar desagrados, pode levar à insegurança do nosso descendente. Acredite que o seu filho nunca lhe esconde nada, raramente lhe irá mentir, pois ele aprendeu com o seu exemplo e você nunca mentiu nem escondeu nada dos seus pais. Não se esqueça, quando algum educador ou amigo acusar o seu filho infundamentadamente de uma acção que ele fez, pergunte ao seu filho se é verdade e acredite profundamente naquilo em que ele lhe vai dizer, nunca faça o contraditório. Perceba que o seu filho não precisa de aprender a não mentir, pois você sempre se esforçou tanto a dar tudo aquilo que ele quer. Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com melhores crianças e pessoas mais manipuladas e menos autónomas.


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Nunca estabeleรงa regras aos seus filhos


29 Quando falamos de “Pai do século passado” associamos sempre a uma figura má sem paciência para os filhos, sem diálogo para discutir ou explicar regras. Aquele homem rude e sem modos, que bate nos filhos e na mulher sem explicação aparente. Uma família em que quem manda é ele e os outros obedecem sem perceberem muito bem onde é o seu espaço. Este ambiente é tudo menos afectuoso ou educativo, apanhar “tareia” sem perceber a razão não leva a bom porto certamente. Regras, falemos então de regras e limites. Estreitar as acções comportamentais dos filhos através de normas e princípios sociais, será isso importante nos dias de hoje? O estabelecimento de regras serve para quê? Será valorizado no seu desenvolvimento pessoal e social? Será que o filho não vai ficar traumatizado com tanta regra? E os pais que vida vão ter se têm que se chatear sempre que ele passa dos limites? Há alguns psicólogos a pensar que a imposição de regras, associada a uma proximidade afectiva dos pais aos seus filhos, pode levar a melhores competências pessoais e sociais nas crianças e jovens. No entanto é importante perceber como é a relação familiar, durante este tempo de educação parental. Impor regras para quê? Desgastar a relação com negações, com o discurso desaprovador, evitar alguns ambientes em que ele ainda não está preparado, levá-lo cedo para casa quando na verdade ainda apetece estar na festa, só para que ele perceba os limites impostos pelos pais. Quais são os benefícios disso para os pais? Definir regras dá demasiado trabalho aos pais e fá-los perder demasiado tempo. As crianças aprendem com o tempo e com os espaços onde estão, não é de certeza preciso serem os pais a preocuparem-se com isso. Definir bem os limites de actuação dos filhos, podem fazê-lo ser uma pessoa mais compreensível e emocionalmente próxima dos valores sociais, podendo ser assim prejudicado no seu percurso de desenvolvimento. Muitas vezes vem escrito nos livros que a existência de regras é

importante porque promove o desenvolvimento de competências como a responsabilidade, o autocontrolo, a independência e a auto-estima da criança. Por seu lado, a ligação afectiva dos pais aos filhos assume um papel fulcral, uma vez que os comportamentos parentais de compreensão e carinho estão associados com as capacidades de cooperação e inter-ajuda dos seus filhos. Isto até pode estar correcto, mas sentir que se está a perder anos de vida só por uma questão de tentar desenvolver boas competências pessoais e sociais nos filhos, não é de todo um ponto de vista muito optimista e agradável de ser cumprido. Proteger o filho do perigo e ensiná-lo a diferenciar o certo e o errado, é assim tão importante? Com a idade todos nós vamos aprendendo isso, mesmo que seja através de uma simples imitação dos amigos ou por punição de alguma outra entidade. «A boa disciplina geralmente transforma uma criança egoísta num adulto maduro, consciente, respeitado pelos outros, assertivo, controlador dos seus impulsos. O estabelecimento de alguns limites evita que criemos crianças “mimadas”. A palavra “disciplina” significa ensinar e não “punir”». Este autor, tem toda a razão, no entanto será que os pais não devem ter filhos mimados, crianças egoístas, para que melhor se saibam defender dos perigos da sociedade e não acreditarem sempre nos outros? É assim tão importante ser assertivo e controlar os impulsos? Quando assistimos aos casos de bulling existentes na escola, e onde quem sofre sempre são aqueles que se acham mais “bem educados” e com os valores sociais todos. Definir regras só serve para os pais perderem tempo e os filhos limitarem a sua criatividade e expressão. Se querem escrever ou mandar pedras à parede do vizinho, porque não? Ele de certeza que tem uma razão! Só assim vai conseguir ser um mau pai, por isso leia atentamente o texto e reflicta sobre a sua postura. Se todos quisermos ser maus pais o mundo ficará com melhores crianças e pessoas mais manipuláveis e menos autónomas.


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Seja o melhor amigo do seu filho!


31 Ser o melhor amigo do filho é um estatuto que não está ao alcance de todos os pais. Participar nas brincadeiras com os seus filhos adolescentes ou pré-adultos, partilhar o mesmo grupo de amigos, ter uma atitude irreverente a roçar a irresponsabilidade, tomar uns copos de álcool na noite, esquecer a relação de respeito e autoridade que está subjacente ao papel do pai, não são atitudes que todos os pais consigam concretizar. Muitos são aqueles que querem ser os melhores amigos dos seus filhos, orgulhando-se de que eles lhe contam tudo abertamente e sem qualquer tipo de complexo hierárquico ou de fantasma parental. No entanto os pais não devem esquecer a importância de se ser o educador, o objecto da relação de aprendizagem comportamental, tendo ela como base principal a imitação, a cópia de comportamentos. A amizade, no sentido estrito, é algo que os pais devem estimular esquecendo a relação entre os papéis de pais e filhos. A troca que a amizade compromete e a intimidade que daí advém, implica que a esta relação seja comparada à relação entre pares. O filho - criança, adolescente ou jovem - pode chegar a confiar ao pai seus problemas e suas mais íntimas experiências, acontecendo a atitude inversa, pois só assim os pais vão ser os melhores amigos dos filhos na verdadeira acepção do papel de melhor amigo. O filho deve compreender e assimilar os problemas dos pais, ocorrendo no perigo de aumentar os seus níveis de ansiedade e desenvolver atitudes emocionalmente desconcertantes, no entanto só assim pode esquecer o papel de pai/mãe e achar que essa figura é mais um amigo que tem. Pais e filhos terão de se transformar em pares. Apesar da diferença de idades e das vivencias sociais e do seu próprio papel ao nível familiar, os pais têm que transformar a relação com os filhos numa relação de pares, amigos, só assim serão os verdadeiros amigos dos seus filhos. Se o contrário disto acontecer, no que diz respeito a esta amizade ampla e de verdadeiro sentido o pai pode chegar a não ser, o “melhor amigo”, mas sim apenas um amigo em quem os filhos podem confiar, não

esquecendo que para além de amigo é seu pai ou mãe e que nunca o irá trair ou ter inveja (em casos de uma saudável relação familiar) A criança/jovem pode encontrar no pai e na mãe o seu primeiro amigo pois é o seu confidente natural, desde o momento em que nasceu, são as primeiras pessoas a partilharem a intimidade por inteiro. Na normalidade são os primeiros seres nos quais a criança confia, no entanto na maioria dos casos, isso não acontece quando a criança chega à puberdade. Pois a mudança de atitudes e valores sociais como a grande importância dada à relação de pares tornam a convivência menos obedecida e mais discutida. Os valores dos pais, as normas sociais e as vivências, são interpretados de forma diferente por pais e filhos. Neste caminho o que deve acontecer é o pai ou mãe transformar-se no melhor amigo do filho, esquecendo por completo as atitudes de autoridade e responsabilidade do seu papel educativo. Facilitando assim a harmonia familiar e convivência social. Os pais ficam mais novos e os filhos com mais amigos e com menos responsabilidades para prestar aos seus progenitores, já que todos partilham o mesmo espaço. Acredito que a oposição entre duas personalidades, uma já construída, a outra em formação, que a tensão entre a autoridade e a liberdade, tornam impossível que o pai seja o melhor amigo do seu filho e o transforme simplesmente no amigo e confidente natural de seu filho adolescente. Pensar que ser pai já por si só é ser amigo do seu filho, que não precisa de se esquecer do seu papel educacional e educativo em relação à sua criança, pode ser um mau caminho para quem quer ser um mau pai. Acreditar que para uma boa educação é importante que os seus filhos não esqueçam quem são os pais e que com isso não vão contar todos os pormenores da sua vida, mas sim apenas aqueles que realmente importam e têm significativa importância para a sua vida. É sem dúvida um caminho errado para se ser o melhor amigo do seu filho. Muitas vezes é mais simples ser-se o melhor amigo do filho do que exercer o poder parental, apesar do resultado ser completamente diferente.


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A import창ncia de ser mau pai!


33 Durante mais ou menos vinte páginas, falei de como ser um mau pai, com temas como: “Corrija os filhos em público, não gaste tempo com os seus filhos, seja o melhor amigo do seu filho, nunca desconfie dos seus filhos, não estabeleça regras aos seus filhos.” Todos estes textos foram escritos com ironia e vontade de vulgarizar actos que levam os pais a transformarem-se naquilo que não querem ser, “maus pais.” A verdade é que, na grande maioria das vezes, os nossos actos são simplesmente isso, actos! Não reflectimos, não pensamos sobre o nosso comportamento perante as pessoas ou actividades que nos rodeiam. Os pais fazem o mesmo. Depois de um dia de trabalho a fazerem o que o patrão ou chefe mandou, sem nunca terem descanso nem espaço para reflectirem sobre as suas acções, chegam a casa e continuam a agir mecanicamente, cedendo ao que parece mais fácil e consonante.

Os pais têm de perceber que educar não é ser sempre bonzinho que não é ser simplesmente amigo do seu filho, que não basta confiar inteiramente nele, sem nunca questionarem sobre o sentido da verdade em determinada situação. Ser pai implica que, por vezes, os filhos não gostem deles, que os achem uns monstros ou até seres vindos de outro planeta que raptaram os paizinhos bonzinhos, e que agora torturam as suas crias até ficarem sem alegria nenhuma. A infelicidade momentânea dos filhos, pode ser a simplicidade de uma correcta educação. Educar não é simplesmente agir, pois a reflexão é o início de uma educação equilibrada e futurista. Não se deixe arrastar pelo pânico de ser pai, pense, leia e troque opiniões com outros pais, só depois estabeleça o seu padrão educativo.


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Notas finais


35 Honra-me o convite para escrever sobre o livro “Como ser mau pai”, faço-o numa atitude de aprendiz, pois quem escreve sobre um livro tem geralmente a postura de quem pode julgar e avaliar, o que não é de maneira nenhuma o meu caso. O livro permite momentos divertidos de perguntas, respostas e escolhas, o objectivo principal é o de oferecer elementos de reflexão aos pais na difícil tarefa de educar. A forma como está escrito “obriga” a pensar – a brincar são ditas coisas sérias. A sua leitura será certamente a garantia de mudança nos comportamentos e formas de educar. Fátima Pinto Terapeuta ocupacional, técnica de serviço social e membro da direcção da Cercilei Uma leitura interessante e diferente que nos mantém atentos e curiosos. Perante o nosso olhar passam ideias e formas correctas e erradas de educar. Boas práticas e más práticas. Este livro leva-nos à reflexão: da criança que fomos e do adulto em que nos tornámos, nas práticas que usámos enquanto pais e enquanto educadores com as crianças que tivemos a sorte de encontrar no nosso caminho. E ficamos com muita vontade, mesmo muita vontade de termos acertado mais vezes do que erramos, para que no futuro as crianças que de alguma forma se cruzaram connosco sejam adultos que pelo menos puderam escolher o seu caminho e escrever a sua própria história. Maria José Damásio de Oliveira Lopes Educadora de infância e membro da direcção da Cercilei Interessante o conteúdo dos temas abordados. Verdades, muitas verdades foram expostas, algumas polémicas e merecedoras de serem aprofundadas, questionáveis quando se entra no campo da reflexão. A complexidade e individualidade do ser humano, associadas aos padrões culturais, aos contextos e às múltiplas variáveis e imponderáveis, tornam a função de educar uma tarefa extremamente difícil e desgastante que exige, por parte do adulto, muita disponibilidade, persistência e determinação, sem nunca descorar a componente afectiva. A par da facilidade com que se descarta a responsabilidade de educar, este livro apresenta algumas sugestões que ajudam a clarificar e a ponderar formas de actuação.


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37 Parabéns Ricardo, continue a inquietar! Com amizade, Cristina Meireles Professora e presidente da direcção da Cercilei

“A interacção pais - filhos, como toda a relação no seio familiar, passa por um processo dinâmico, contraditório, gerador de conflitos e tensões. É tema de colóquios e conferências com especialistas de renome, debates televisivos por ocasião de casos mediáticos, para conclusivamente se aferir de que há muito a fazer e que a problemática não se esgota nessas iniciativas. Por um lado, não é lícito equacionar a relação educativa como receita extraída de um fluxograma de um algoritmo, partindo da premissa: mau comportamento da criança gse sim gcastigo gse não grecompensa, por outro a teorização, ainda que a cargo de catedráticos da matéria, nada provou significativamente. Não podemos ter a veleidade de aprender a educar numa biblioteca, do mesmo modo que já não têm lugar as nostálgicas evocações de que “o tempo da reguada é que era bom” com base em constatações vãs de que “antigamente não havia bulings”. Não é indiferente a forma como se educa. Os efeitos repercutem-se com grande impacto nas sociedades, condicionando as gerações futuras. Aos educadores impõe-se a interrogação e reflexão acerca da sua forma de actuar. É complicado reconhecer as imperfeições de quem intervém, particularmente se o faz com boa intenção. Mas esta introspecção é o primeiro grande passo para se estar atento ao intrincado processo, com efeitos por vezes imprevisíveis. “Como ser mau pai” é um forte contributo, na medida em que atenta nas lacunas dos pais e educadores. Não é uma crítica irónica à bonomia da actuação destes, mas sim uma chamada de atenção para os humanos desacertos, passíveis de ocorrer na relação educativa. Educar não é um acto isolado, as expectativas em relação às crianças são tidas também em função da sua imagem, portanto do juízo que os outros fazem dela. Nesse sentido, o autor dá ênfase ao papel das relações sociais. É pois apostando no “jogo do contrário” que este trabalho induz à reflexão, tendo em conta as preocupações dos pais, indo ao encontro dos seus anseios, ao mesmo tempo que apela ao controle das emoções, no sentido da adequada gestão das variáveis que condicionam a educação. “Como ser mau pai” fornece aos pais a possibilidade de prevenir comportamentos nas crianças, através da antecipação da sua própria atitude para com os filhos. É a visualização dos efeitos da sua intervenção que faculta a referida antecipação. O Dr. Ricardo Cardoso conseguiu a simbiose entre a teoria e a prática educativa, sem a pretensão de fornecer uma receita de intervenção, o que é de louvar.” Rui Manuel Junqueiro de Matos Veiga Professor


38 Edição digital:

Autor: Ricardo Cardoso

Ilustração: Catarina Gonçalves

Paginação: Carlos Cardoso


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