A igreja brotou da mata 2014

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IGREJA que brotou da mata Os 50 anos da Diocese de Maringรก


“O tempo e o templo” - 1972. Artística combinação de passado e presente no ângulo captado pelo cirurgião-dentista Laércio Nickel F. Lopes.


Pe. Orivaldo Robles

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IGREJA que brotou da mata Os 50 anos da Diocese de Maringรก

Maringรก DENTAL PRESS EDITORA 2007


A Igreja que brotou da mata - os 50 anos da Diocese de Maringá ISBN 978-85-88020-41-2 Copyright© 2007 by Orivaldo Robles Todos os direitos para a língua portuguesa reservados pelo autor. Qualquer parte desta publicação poderá ser reproduzida, guardada pelo sistema “retrieval” ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, seja eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação ou outros, desde que autorizado previamente, por escrito, pelo autor. Patrocínio da Produção Editorial Dental Press Editora Ltda. www.dentalpress.com.br Direção Geral Teresa Rodrigues D´Aurea Furquim Editor Carlos Alexandre Venancio Produção Editorial Carlos Alexandre Venancio Júnior Bianchi Capa Arte: Júnior Bianchi Fotos: Heitor Marcon Tratamento digital das fotos Andrés Sebastián Pereira de Jesus Fotografias e Colaboração Acervo do Autor, Acervo dom Jaime Luiz Coelho, Centro de Documentação da Cúria Metropolitana de Maringá, Cúria Diocesana de Jacarezinho, Denise Pimentel Diniz de Souza, Elton Osvaldo Cunico, Francisco de Assis Pinheiro Dantas, Heitor Marcon, Irmã Maria Dietlinde Ginten, Irmã Maria Dolores Grandl, Jackson Yonegura, Jean Pelloi, João Laércio Lopes Leal, Mag Mazuquini, Márcia Cristina Plonkóski Nogueira Maranha, Neide Luize, Patrimônio Histórico da Prefeitura do Município de Maringá, Rita Luiza Martins de Andrade, Rosângela Rocha, Roseli Aparecida Ernega. Normalização Marlene Gonçalves Curty Revisão final Pe. Orivaldo Robles Impressão Gráfica Donnelley Moore

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R666i

Robles, Orivaldo, Pe. A igreja que brotou da mata / Orivaldo Robles, Pe. – Maringá, PR : Dental Press, 2007.

352 p. : il.; 28 cm. Bibliografia: p. 305. ISBN 978-85-88020-41-2

1. Igreja católica - Maringá - História. 2. Igreja católica - 50 anos Maringá. I. Título. CDD 21.ed.271

Dental Press Editora Av. Euclides da Cunha, 1718 - Zona 5 - CEP 87015-180 Maringá - Paraná - Fone/Fax: (0xx44) 3262-2425 dental@dentalpress.com.br www.dentalpress.com.br

Início das obras da catedral basílica menor Nossa Senhora da Glória - 1959.


Dedicatória

A meus pais Antônio (†1982) e Luzia, a Eraldo, Devani (Diva), Jurandi e Celso, meus irmãos. A vida humilde que tivemos provou que, como o pai falava, “pobreza não é desdouro”, mas caminho para os bens que na verdade contam.


“Latissimas partire Ecclesias”, bula de criação da diocese de Maringá, 10 de fevereiro de 1956. Reprodução do documento por irmã Lucila Barbosa, missionária do Santo Nome de Maria.


Agradecimentos

Ao bom Deus: escolheu-me no meio de outros bem mais dignos. A Maria: sua proteção de mãe nunca faltou. À Santa Igreja: tudo me deu enquanto pouco me empenhei em servi-la. A dom Jaime Luiz Coelho: a ninguém na terra minha família e eu devemos tanto.


“Ide e fazei discípulos” (MATEUS 28, 19). Foto: Biblia Sacra, 1930, p. 1129.


Epígrafe

“Ide e fazei que todos os povos se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei. Estou convosco todos os dias, até a consumação do mundo”. Evangelho de Mateus 28, 19-20.


Uma Igreja feita de gente à espera do novo pastor Posse do primeiro bispo, 24 de março de 1957.


Siglas

AA – Apostolicam Actuositatem (A Atividade Apostólica), documento do Concílio Ecumênico Vaticano II,

assembléia de bispos do mundo inteiro, na Cidade do Vaticano, de 1962 a 1965

AAS – Acta Apostolicae Sedis (Atos Oficiais da Sé Apostólica) – órgão oficial de comunicação da Santa Sé AC – Ação Católica, criada em 1922 pelo papa Pio XI.

ACB – Ação Católica Brasileira

ACE – Ação Católica Especializada

ACI – Ação Católica Italiana

ADAR – Associação Diocesana de Assistência Rural AO – Apostolado da Oração, pia associação de fiéis católicos ARENA – Aliança Renovadora Nacional, sigla do bipartidarismo no sistema político brasileiro (1966-1978) ASSINDI – Associação Indigenista de Maringá ASPAM – Associação dos Presbíteros da Arquidiocese de Maringá

CAC – Curso de Atualização Cristã

CDC – Código de Direito Canônico, legislação oficial da Igreja Católica

CEB – Comunidade Eclesial de Base

CEC – Congregação das Escolas de Caridade – Instituto Cavanis (fundação italiana) CELAM – Conselho Episcopal Latino-Americano CEPA – Centro de Pastoral da Arquidiocese CEPAT – Centro de Pesquisas e Apoio aos Trabalhadores (Curitiba) CIC – Codex Iuris Canonici (Código de Direito Canônico) CINTEC – Centro Interdiocesano de Teologia de Cascavel CLC – Curso de Liderança Cristã CM – Congregationis Missionis (da Congregação da Missão) – acrescida ao nome de padres lazaristas,

fundados por S. Vicente de Paulo

CMF – Cordis Mariae Filiorum (dos Filhos do Coração de Maria) – acrescida ao nome de padres ou irmãos claretianos

CMNP – Companhia Melhoramentos Norte do Paraná

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CR – Congregationis Ressurrectionis (da Congregação da Ressurreição) – acrescida ao nome de religiosos ressurrecionistas CRB – Conferência dos Religiosos do Brasil

CRC – Comissão Regional do Clero, representa os padres dos regionais da CNBB

CNC – Comissão Nacional do Clero, representava os padres do Brasil antes da CNP

CNP – Comissão Nacional de Presbíteros, nome atual da anterior

CPT – Comissão Pastoral da Terra CTNP – Companhia de Terras Norte do Paraná DEVYM – Departamento de Vocaciones y Ministerios, órgão do CELAM DOPS – Delegacia de Ordem Política e Social (no masculino, designa Departamento de Ordem Política

e Social, do período dos governos militares)


DOU – Diário Oficial da União

GS – Gaudium et Spes (A Alegria e a Esperança), documento do Concílio Vaticano II sobre a Igreja no mundo

HU – Hospital Universitário (Universidade Estadual de Maringá)

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFAMA – Instituto Filosófico Arquidiocesano de Maringá

ISPAC – Instituto Superior de Pastoral Catequética

JAC – Juventude Agrária Católica

JEC – Juventude Estudantil Católica

JIC – Juventude Independente Católica

JOC – Juventude Operária Católica

JUC – Juventude Universitária Católica

LG – Lumen Gentium (Luz dos Povos), documento do Concílio Vaticano II sobre a natureza da Igreja

MCC – Movimento de Cursilhos de Cristandade

MDB – Movimento Democrático Brasileiro, sigla do bipartidarismo (veja ARENA)

MEC – Ministério da Educação e Cultura MECUM – Movimento Ecumênico de Maringá

MSC – (Sociedade dos) Missionários do Sagrado Coração (de Jesus)

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

OAR – Ordinis Augustinianorum Recollectorum (da Ordem dos Agostinianos Recoletos) – acrescida aos nomes

OFM – Ordinis Fratrum Minorum (da Ordem dos Irmãos Menores) – acrescida aos nomes dos franciscanos OFMCap – idem + Capuccinorum (Capuchinhos) ONG – Organização não governamental OP – Ordinis Praedicatorum (da Ordem dos Pregadores) – aposta aos nomes de frades dominicanos OSB – Ordinis Sancti Benedicti (da Ordem de São Bento) – aposta aos nomes de monges beneditinos OSBM – Ordinis Sancti Basilii Magni (da Ordem de São Basílio Magno) – aposta aos nomes de

dos frades agostinianos recoletos

OCarm – Ordinis Carmelitarum (da Ordem dos Carmelitas) – acrescida ao nome dos frades dessa ordem

monges basilianos (rito ucraniano)

OSJ – Oblatorum Sancti Joseph (dos Oblatos de São José) – aposta aos nomes de religiosos josefinos OSLAM – Organización de Seminarios Latinoamericanos OVS – Obra das Vocações Sacerdotais PCB – Partido Comunista Brasileiro, o Partidão, matriz histórica de todas as opções socialistas da política brasileira PCdoB – Partido Comunista do Brasil PCBR – Partido Comunista Brasileiro Revolucionário PDC – Partido Democrata Cristão PIME – Pontifício Instituto das Missões PPC – Plano de Pastoral de Conjunto (1966-1970) elaborado pela CNBB para o trabalho pastoral em todo o Brasil PROMEC – Proteção ao Menor Carente de Sarandi PSD – Partido Social Democrático PTB – Partido Trabalhista Brasileiro PUC-PR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná SAC – Societatis Apostolatus Catholici (da Congregação do Apostolado Católico) – aposta aos nomes

de membros da congregação de São Vicente Pallotti ou palotinos

SC – Sacrosanctum Concilium (O Sagrado Concílio), documento do Concílio Vaticano II sobre Liturgia

SCJ – Sacerdotum Cordis Jesu (Sacerdotes do Coração de Jesus) – aposta aos nomes de padres dehonianos

SDB – Salesiano de Dom Bosco (Sociedade de São Francisco de Sales, fundada por São João Bosco) – aposta ao

nome de padres salesianos.

SEPAC – Semana Paranaense de Catequese SJ – Societatis Jesu (da Companhia de Jesus) – aposta aos nomes de jesuítas

SNI – Serviço Nacional de Informações (criado em 13 de junho de 1964)

UMES – União Maringaense de Estudantes Secundários (depois, Secundaristas)

UEM – Universidade Estadual de Maringá

UNE – União Nacional dos Estudantes


Sumário Prefácio.............................................................................................................................................17 Apresentação......................................................................................................................................21

1 Uma nova Igreja para um jovem bispo 25 A radical mudança............................................................................................................................37 O que ninguém escreveu.....................................................................................................................41

2 Uma Igreja missionária e civilizadora 45 O “vazio demográfico”........................................................................................................................48 Cristianização oficial versus zelo missionário.......................................................................................50 Jesuítas e bandeirantes........................................................................................................................52 Índios e jesuítas deste chão..................................................................................................................57 O caminho de Peabiru.......................................................................................................................60 A destruição da obra jesuítica.............................................................................................................62 O que ninguém escreveu.....................................................................................................................70

3 Uma Igreja para a abertura do Norte do Paraná 73 Capuchinhos italianos........................................................................................................................75 Frei Timóteo de Castelnuovo...............................................................................................................77 Capuchinhos no Paraná do século XX..................................................................................................82 Palotinos no Norte Pioneiro................................................................................................................86 Josefinos - Padre Armando Cirio.........................................................................................................88 O que ninguém escreveu.....................................................................................................................90


4 Uma Igreja que avança para o interior

93 A Igreja em um novo Norte................................................................................................................97 Os palotinos no Norte Novo..............................................................................................................100 Padre Emílio Scherer........................................................................................................................105 A Igreja de Maringá pós-Scherer.......................................................................................................124 O que ninguém escreveu...................................................................................................................131

5 Uma Igreja para um Paraná de novo tempo 135 O pastor e seu rebanho.....................................................................................................................139 A formação do clero local..................................................................................................................146 Memória, quase história...................................................................................................................159 A catedral que aponta o céu..............................................................................................................161 O que ninguém escreveu...................................................................................................................171

6 Uma Igreja de presença e sinal do Reino 175 A obra da educação..........................................................................................................................176 Consagração religiosa, sinal do Reino................................................................................................186 O serviço aos pobres.........................................................................................................................188 Como o fermento na massa...............................................................................................................195 A evangelização em nova fase............................................................................................................212 Os atuais veículos da arquidiocese.....................................................................................................217 Memória, quase história...................................................................................................................221 O que ninguém escreveu...................................................................................................................222


7 Uma Igreja na trilha do Cristo Pastor

225 A Missão Nipo-Brasileira.................................................................................................................230 Memória, quase história...................................................................................................................233 A participação dos leigos...................................................................................................................234 Regional Sul II................................................................................................................................236 Coordenação da Pastoral diocesana...................................................................................................238 Catequese, a educação da fé..............................................................................................................241 Jovens, a montagem do futuro...........................................................................................................244 Memória, quase história...................................................................................................................246 Comunidades Eclesiais de Base.........................................................................................................247 Província de Londrina.....................................................................................................................249 Projeto Igrejas-irmãs........................................................................................................................250 O que ninguém escreveu...................................................................................................................253

8 Uma Igreja no caminho da maturidade 257 O servo bom e fiel............................................................................................................................268 A vida (re)começa aos 40..................................................................................................................269 Memória, quase história...................................................................................................................276 Administrador arquidiocesano..........................................................................................................280 O terceiro arcebispo..........................................................................................................................281 Memória, quase história...................................................................................................................288 A história se repete...........................................................................................................................289 Memória, quase história...................................................................................................................291 O arcebispo do jubileu.....................................................................................................................292 Memória, quase história...................................................................................................................293

Conclusão........................................................................................................................................301 Referências......................................................................................................................................305 Apêndice ........................................................................................................................................315


“[...] Contudo, se sou Padre da Santa Igreja, é por Ela tudo fazer, conforme o programa de meu Sacerdócio”. Excerto da resposta de dom Jaime Luiz Coelho (29/11/1956) à carta de sua eleição para bispo diocesano de Maringá. Foto da posse, em 24 de março de 1957.


Prefácio

Sai da tua terra, do meio dos teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. Farei de ti um grande povo; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. E Abraão partiu como lhe ordenara o Senhor (GÊNESIS 12, 1-4).

Perguntavam-me, com freqüência, se eu não iria escrever a história da diocese de Maringá. Minha resposta: “O título já está pronto: Uma história a ser escrita – a Igreja que está em Maringá”. Agora, monsenhor Orivaldo Robles, há quarenta anos sacerdote nesta diocese de Maringá − criada pelo papa Pio XII a 1º de fevereiro de 1956 e posse do 1º bispo diocesano a 24 de março de 1957 − apresenta-nos a história d’A Igreja que brotou da mata, do barro, da poeira, da terra vermelha e da areia fina e, mais que tudo, do coração generoso e grande de muitos que ainda caminham conosco, de saudosos que já partiram para o Céu, e de tantos outros cujos nomes só Deus conhece. História esta que, no correr dos anos e dos séculos vindouros, será enriquecida numa sucessão ininterrupta dos valores do Evangelho e do amor à Pátria, pois a história é a sucessão dos fatos. Como Abraão, eu também ouvi a ordem de Deus: “Sai de tua terra, do meio dos teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. Tu serás uma fonte de bênçãos”. Ouvida a ordem de Deus para ir a uma terra desconhecida, passados os primeiros momentos de emoção e de angústia, começou, assim, a ser escrita a história d’A Igreja que brotou da mata. É o que o leitor amigo vai folhear. Depois de apresentar um histórico de fatos acontecidos com a criação da diocese, eleição do primeiro bispo e a devida preparação para a posse e instalação canônica da diocese de Maringá e sua situação geográfica, Robles mostra-nos uma Igreja missionária e civilizadora. Numa riqueza de informações, o leitor entrará num campo fértil de leitura agradável e culta sobre os jesuítas e bandeirantes, que aqui chegaram primeiro. São anos de um passado de evangelização, de lutas e de perseguições religiosas e políticas. Buscava-se, então, da parte dos pregadores, “fazer homens antes de se poder fazer cristãos”. A nova terra era promissora, materialmente. Abriu-se, no entanto, um novo caminho, já de paz, para a implantação definitiva de uma Igreja no Norte do Paraná, assim classificado: Norte pioneiro ou velho, região de Jacarezinho; Norte novo, região de Londrina, e Norte novíssimo, a região de Maringá. A hoje “Igreja que

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está em Maringá” − Norte novíssimo − deve tanto aos do passado inicial quanto aos seus evangelizadores mais próximos, os capuchinhos, os palotinos, os josefinos, estes na figura ímpar do então padre Armando Cirio, que foi o 1º bispo diocesano de Toledo, 1º bispo diocesano e 1º arcebispo metropolitano de Cascavel. Nesta caminhada emerge a figura enigmática do primeiro padre nestas plagas de Maringá, Emílio Clemente Scherer. Os anos que por aqui passou representam um capítulo interessante, rico e forte: misto de evangelização, misto de progresso material e econômico. Sua história é uma bela descrição dos anos anteriores a 1957. Surgiu, então, por criação do papa Pio XII, a diocese de Maringá, uma Igreja para um Paraná de novo tempo. São cinqüenta anos passados de lutas, de sacrifícios, mas tudo cercado de boa vontade, coragem e fé: plantados e nascidos em corações generosos de sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos intrépidos junto ao bispo na construção do Reino de Deus. Monsenhor Orivaldo, pródigo na sua rica explanação histórica, traz à luz uma Igreja de cinqüenta anos, verdadeira presença e sinal do Reino, uma Igreja rica de projetos pastorais, sociais e da amálgama fruto de tantas nações e de tantos povos que por aqui cruzaram, deixando, cada um a seu modo, a riqueza de sua cultura na história d’A Igreja que brotou da mata. Orivaldo, percorrendo as fontes para o seu estudo − bibliotecas, arquivos diocesanos, livros do Tombo paroquiais, entrevistas pessoais, anotações de historiadores − com sua acuidade ao extremo, entrega-nos este volume precioso de história, com uma leitura agradável, interessante, culta e precisa. Nada de invencionices, de suposições, mas de trabalho exaustivo de quem se propôs, a pedido de dom Anuar Battisti, arcebispo metropolitano de Maringá, buscar nas fontes seguras o seu relato histórico. A Igreja que está em Maringá só tem que agradecer o presente que Robles nos dá nesta comemoração histórica do seu jubileu de ouro de evangelização. Moldura a festa a incisiva palavra de Jesus em Mateus 28, 19: “Ide e fazei discípulos”. É a nota marcante do meu grande desejo quando, ao escolher meu lema episcopal In omnibus Christus (COLOSSENSES 3, 11), eu vislumbrava, nesses 50 anos de evangelização, que Cristo fosse tudo em todos. Diante da exuberância de fatos e realizações expostos por Robles, nesses 50 anos, certamente, como disse o Senhor a Abraão, os nomes dos pioneiros foram uma fonte de bênçãos. Vem-me à mente o que diz o profeta Amós: “Aquele que fez as estrelas das Plêiades e o Órion e transforma as trevas em manhã e, de noite, escurece o dia, aquele que reúne as águas do mar e as derrama pela face da terra, seu nome é Senhor [...] Aquele que constrói nos céus suas altas moradas e funda na terra a sua abóbada; aquele que chama às águas mar e as derrama sobre a face da terra, Iahweh é o seu nome” (AMÓS 5, 8. 6, 9). Assim, toda essa riqueza de explanação que monsenhor Orivaldo Robles nos quis apresentar na história d’A Igreja que brotou da mata, não fora a presença do Senhor Deus Iahweh, nada teria acontecido. Lembra o evangelista João: “Não foi você que me escolheu, mas fui eu que o escolhi e o destinei a ir dar fruto, um fruto que permaneça” (JOÃO 15, 16) à sombra e proteção da Senhora da Glória nesta longa e abençoada caminhada de 50 anos. Onde se ergueram outrora altas árvores na floresta − perobas, jacarandás e outras − hoje erguem-se arranha-céus e, majestosa e altaneira, a catedral basílica menor Nossa Senhora da Glória, nascida na era dos spoutiniks − foguete espacial − num convite a desprender-se da terra em busca dos valores do alto. O leitor amigo encontrará, na exposição de Orivaldo, uma história de amor, de coragem destemida, de doação ao extremo de tantas e tantos, e de esperança na proteção de Deus para os anos e séculos vindouros. A história é a sucessão dos fatos, e estes são realizações dos homens e das mulheres na interminável continuidade até o final dos tempos. Todos que construímos esta história d’A Igreja que brotou da mata − com as bênçãos de Deus − a entregamos ao leitor amigo, pedindo a caridade não de seus aplausos, mas de suas orações. Maringá, 25 de março de 2007. Dom Jaime Luiz Coelho 1º arcebispo de Maringá.

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A atual Praça Napoleão Moreira da Silva, como era em 1947. À esquerda, estação rodoviária, no centro, Casa Peralta (em 1958, primeira livraria Paulinas) e, à direita, Casas Pernambucanas.

Av. Brasil, no Maringá Velho, em 1951. Ambas as fotos gentilmente cedidas por Nobugiro Sanuki, filho de Tutomu Sanuki, do Foto Moderno.

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


Dia 13 de agosto de 1953: Multidão reunida junto à matriz da Paróquia Santíssima Trindade (ainda com apenas uma torre) para receber a imagem de Nossa Senhora de Fátima, vinda de Portugal, em peregrinação pelo Brasil.

Igreja N. Sra. da Glória: foto rara, mostrando o interior da catedral velha. Poucos maringaenses atuais tiveram oportunidade de conhecer como era por dentro a antiga catedral de madeira.


Apresentação

Pertenço ao grupo dos mais antigos padres de Maringá. Aqui cheguei no último dia de 1957, seminarista ainda, com 16 anos. Dos atuais colegas poucos eram nascidos. Quando conversamos sobre o começo da diocese, olham-me como a um sobrevivente da pré-história, já na hora de pendurar as chuteiras. Nunca imaginei que, a esta altura da vida, alguém me mandasse escrever a história dos 50 anos da Igreja Católica em Maringá. Sobre minhas capacidades dom Anuar Battisti deve fazer idéia muito generosa. Na verdade, a dom Jaime, não a mim, caberia narrar a vida desta Igreja, que ele implantou e nutriu desde os primeiros dias. Dos 50 anos não menos que 40, vale dizer 80%, foram de sua gestão. Conhecedor de idéias, pessoas e fatos das cinco décadas, com admirável lucidez para seus noventa anos, gentilmente se dispôs a me ajudar na dura tarefa, pelo que lhe fico muito agradecido. Os quarentões se lembram de “O Cruzeiro”, maior revista brasileira do século XX, que circulou de novembro de 1928 a julho de 1975. Por anos a fio, trouxe os “Arquivos Implacáveis de João Condé”. Quando jovens, brincávamos com dom Jaime sobre seu costume de guardar correspondência, documento, recorte ou escrito que lhe chegasse às mãos. Até, como ele confirmava rindo, um bilhete do seminarista Antônio de Pádua Almeida, estudante do seminário menor de Ribeirão Preto (SP), pedindo licença para passar férias na vizinha São Simão. Ao seu acervo pessoal acordamos denominar “Arquivos Implacáveis de dom Jaime”. Quem visita o museu arquidiocesano, no 3º piso da catedral, pode ver o seu diploma de admissão, aos 26 de maio de 1932, na congregação mariana Nossa Senhora Apparecida, no Seminário e Gymnasio Diocesano de Campinas (SP). Ou outro, do socio effectivo da “Academia Sto. Thomaz de Aquino” Jayme Luiz Cunha Coelho, escrito em latim, com data de 23 de setembro de 1934. Ele conserva ainda a lembrança de 1ª comunhão, realizada em Franca (SP), no dia 8 de dezembro de 1926. No Seminário Arquidiocesano de Maringá, em 17 de novembro de 2006, recebeu dos seminaristas o título de “caixa-preta da diocese”. Esforço maior custou-me levantar a “pré-história” da Igreja maringaense. A cidade foi oficialmente fundada em 10 de maio de 1947. Foi o dia escolhido pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná para lançamento, com grande churrascada na praça, do projeto urbanístico de Jorge de Macedo Vieira e inauguração do escritório do “Maringá Novo”.1 O escritório da CMNP em Maringá era um prédio de alvenaria, em forma de L, que ocupava parte da avenida Brasil, por um lado e, por outro, parte da praça Raposo Tavares.

1 Os primeiros moradores vieram derrubar mato para erguer uma cidade. Tinham pouca leitura. Falavam Maringá “velho”, Maringá “novo”. O bairro pioneiro continua Maringá Velho até hoje. Mais exato seria Maringá Velha, mas quem muda uma tradição? Em1967, lecionando no Colégio Gastão Vidigal, muitas vezes ouvi o professor Ary de Lima cobrar a crase no título do seu Hino à Maringá: “Coloquei crase por causa de cidade: hino à cidade chamada Maringá”. Poeta, apreciador de uma boa cachaça e trocista com piada sempre engatilhada (prometia fundar nova religião, a Igreja dos Afogadinhos do Amor Divino), Ary de Lima é autor da letra do hino. A música foi composta pelo inesquecível maestro Aniceto Matti, um dos nossos ícones, a quem Maringá jamais será suficientemente grata.

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


Ampla porta, à qual davam acesso quatro degraus, abria-se na esquina. Depois de apenas um ano e meio de uso, para surpresa geral, foi transferido para outro prédio, na esquina da avenida Duque de Caxias com a atual rua Joubert de Carvalho, hoje tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal. Com menos de dez anos de existência, Maringá viu-se elevada a sede de bispado. Parece, entretanto, confiável admitir, apesar da escassez de fontes, que desde o início do século XX, homens brancos circulavam por estas bandas. Além dos que se embrenhavam por matas e rios generosos em caça e pesca, a região acolhia viajantes sabedores dos antigos caminhos indígenas ou das reduções jesuíticas; aventureiros; homiziados com pendências na justiça; caboclos que, de forma temporária ou definitiva, sobreviviam longe dos confortos da civilização... Imersa em adversidades de todo tipo, subsistia uma vida cristã de crenças e práticas rudimentares. De espaço a espaço, passava algum padre garantindo a assistência religiosa possível. Só na segunda década do século teve início uma presença mais viva da Igreja institucional. Pregadores itinerantes, missionários em desobrigas, muitos de nome perdido no tempo, adubaram o sonho de uma Igreja mais próxima e atuante, anseio atendido com a criação, a 10 de maio de 1926, da diocese de Jacarezinho. Sua área cobria desde os rios Itararé e Paranapanema, limite com o Estado de São Paulo, até as barrancas do rio Paraná, divisa do então único Mato Grosso. Assim mesmo, decorreram anos até que se pudesse considerar normalizado o “funcionamento” de uma Igreja institucional digna do nome. Perduravam as carências de uma região primitiva que, embora rica e de solo extremamente fértil, não reunia elementares recursos de vida civilizada. As informações disponíveis sobre esse período são vagas, esparsas, às vezes contraditórias, não muito confiáveis. Eram tempos duros; lutava-se pela sobrevivência numa terra promissora, mas selvagem. Só bem mais tarde vão surgir condições e pessoas capazes de registros fidedignos. O esforço de respigar a verdade histórica, em certos momentos, difere pouco da tarefa de achar uma agulha em vasto palheiro. Quanto me permitiram as condições, esforcei-me por coletar dados lá onde os supus encontráveis. Fui a Curitiba, no dia 20 de dezembro de 2005, para ouvir dom Pedro Fedalto que, com o carinho de sempre, além de sanear dúvidas, me presenteou com apontamentos pessoais de história da Igreja do Paraná. Comecei o ano de 2006 correndo atrás de informações. Em Jacarezinho, a 4 de janeiro, e de novo, em 5 de abril, contei com a atenção de monsenhor João Chiarot e dos padres Antônio Carlos de Souza e Cezar Augusto Garcia, que me franquearam os documentos disponíveis. No dia 25 de janeiro desloquei-me até Cascavel para entrevistar dom Armando Cirio. Semana seguinte, no dia 31, na catedral de Londrina, com o antigo colega de seminário, monsenhor Bernardo Carmel Gafa, perpassei livros e registros históricos. De Arapongas, Mandaguari, Marialva, Mandaguaçu e Maringá (catedral) tive oportunidade de consultar os livros do Tombo paroquiais. Manuseei documentos; visitei sítios onde se deram episódios; conversei com pessoas que os presenciaram ou deles ouviram relato em primeira mão. Outros, de que fui testemunha, a memória me forneceu. Por justiça, devo registrar inestimável ajuda que me prestaram Jurandir Coronado Aguilar e Carlos Alberto Figueiredo, dois jovens padres do clero paranaense. Também o venerável padre Carlos Probst, palotino falecido em 2005, com idade superior a cem anos. Inúmeros professores e amigos ainda, com seu conhecimento e acessibilidade, lançaram luz sobre a minha ignorância. Ao tratar da presença evangelizadora dos jesuítas, serviu-me de fundamental subsídio a tese doutoral de Aguilar, da diocese de Campo Mourão, que teve a delicadeza de ma trazer pessoalmente. No tocante às populações indígenas, acudiu-me a competência do antropólogo doutor Lúcio Tadeu Mota, da Universidade Estadual de Maringá. Para informar, ainda que sucintamente, o trabalho missionário dos primeiros capuchinhos, com destaque para frei Timóteo de Castelnuovo, socorreu-me a preciosa obra, também tese de doutorado, de Figueiredo, da diocese de Umuarama, que simpaticamente me ofereceu ainda outras obras de pesquisa. A respeito da atividade pastoral desenvolvida pelos padres e irmãos da Sociedade do Apostolado Católico, os beneméritos palotinos, recorri aos oito volumes da “História da Província São Paulo Apóstolo”, em particular aos quatro primeiros, preciosas crônicas de Probst que, não obstante pequenas imprecisões históricas, revestem-se de incontestável valor documental.

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Sobre a atuação do doutor Emílio Scherer, primeiro padre residente em Maringá, contei com as pesquisas do ex-secretário de Administração do Município, Antônio Tortato, amigo desde meus tempos de pároco em Paranacity (1970-1972). No final de 1991, falou-me de seu propósito de recuperar a imagem de padre Emílio, injustamente acusado, às vezes, de simpatia com o nazismo. Tortato faleceu em 3 de agosto de 1992, sem completar seu intento. Mas já conseguira levantar importante material. Recolhera cópia da entrevista de padre Luiz Schweiger, palotino, administrador da Fazenda São Bonifácio, concedida a Ademilde Gabriel Kato, em 23 de junho de 1985, para o Projeto Memória, da Prefeitura Municipal de Maringá. Tinha conversado com Probst, de quem recebera cópia das anotações que depois apareceriam no 3º volume da obra deste. Escrevera, além disso, a muitas pessoas em busca de informações: a dom Daniel Sutner, OSB, do Mosteiro de São Bento, em São Paulo; a padre Erminold Füssl, OSB, da abadia de Metten, na Alemanha, onde Scherer passou os últimos anos de sua vida; a doutor Joachim E. Graf, de Curitiba, tradutor de um livro de Scherer; a dom Miguel (não consta sobrenome) OSB, do Mosteiro de São Bento, do Rio, que lhe enviou fotocópias de dois livros da biblioteca do mosteiro, escritos por Scherer; à senhora Dorothee Maria Franziska Boden, cônsul geral da República Federal da Alemanha; a Michele Goldstein, da Embaixada da França em Brasília; a dom Conrado Walter, bispo de Jacarezinho... Há no seu acervo um recibo de remessa postal, em 10 de abril de 1992, para Hildegard Kempf, em Rolândia, tradutora juramentada do consulado alemão, comprovando que material em alemão, pesando 70g – algumas folhas de papel – deve ter recebido tradução portuguesa. Infelizmente, tais folhas não constam do dossiê que a esposa, Dalti Ferreira Tortato, gentilmente me cedeu para consulta. O historiador João Laércio Lopes Leal, a quem devo preciosas informações sobre o Norte do Paraná, afirmou ter visto pelo menos três livros escritos por Scherer em casa de Tortato. Depois do falecimento deste, a família entregou sua seleta biblioteca ao Patrimônio Histórico do Município, mas dela não faziam parte tais volumes. É provável, calcula Leal, que Tortato tenha emprestado tanto as páginas traduzidas como os três livros, mas não conseguiu recebê-los de volta antes de morrer. O cansaço e o tempo despendidos em pesquisa e manuseio de fontes – de longe, a parcela mais aborrecida e ingrata de qualquer trabalho científico – esses incansáveis estudiosos os suportaram; eu tirei proveito do resultado que conseguiram. De tudo que me foi dado investigar espero ter anotado o essencial. Após muita hesitação acedi ao pedido, feito por amigos, de incluir causos há muito guardados, alguns curiosos, outros nem tanto, mas todos verídicos. À seção que os reúne chamei “O que ninguém escreveu”. Emprestam um pouco de leveza à narração por vezes fria de acontecimentos distantes. Ajuntei também textos sobre pessoas e fatos de um passado que, se ninguém recolhe, acaba esquecido. Apareceram anteriormente publicados num que noutro veículo. Enfeixei-os sob a rubrica “Memória, quase história”. Não revestem especial valor histórico, mas atestam participação, embora modesta, de gente nossa nos passos da Igreja do Paraná e do Brasil. Reconheço as limitações destas páginas. Não fora a benevolência que espero da meia dúzia de indulgentes leitores, não me atreveria a publicá-las. Escusado é dizer que admito – não por desídia, senão por incapacidade – inevitáveis falhas. Se pessoas mais competentes as cometem, que esperar de um simples escrevinhador? Não prometo correções futuras: não tenho a arrogância de contar com reedição deste trabalho. Sou imensamente agradecido a Deus por me ter conduzido para viver neste pedaço querido de um Brasil novo, aonde cheguei adolescente. Aqui atravessei a parcela maior da vida, ao mesmo tempo em que me fui constituindo testemunha e, embora minimamente, também agente de uma história que me incumbiram agora de contar. Não conheço a forma devida de agradecer a quantos, com desinteresse e ajuda fraterna, comigo colaboraram na composição deste relato. Não fossem elas e eles, nada eu teria produzido. Deixei consignada a lembrança de alguns. De incontáveis outros não tenho como relacionar os nomes. A todos, porém, com absoluta certeza, Deus os anotou lá onde se guardam os registros verdadeiramente importantes: no livro da vida (cf. APOCALIPSE 20, 15; 21, 17).

O autor.

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


Uma nova Igreja para um jovem bispo

A MaringĂĄ de ontem olha para quem a contemplaria 50 anos depois... No aeroporto, multidĂŁo aguarda chegada do primeiro bispo.


Alice era professora da rede estadual de ensino e, pela manhã, lecionava no Grupo Escolar de Jardinópolis (SP), para onde viajava diariamente. Com a mãe e com Maria, sua irmã, igualmente solteira e professora, residia na casa paroquial, no centro de Ribeirão Preto, em companhia de Jaime, o irmão, cura da catedral. As três ocupavam o mesmo quarto, outro servia ao padre, ficando o terceiro para alguma visita. Oitavo dos 14 filhos do casal João Amélio Coelho e Guilhermina Cunha Coelho, Jaime tinha nascido em Franca (SP), no dia 26 de julho de 1916. Ordenado padre em 7 de dezembro de 1941, foi nomeado, no início de 1942, coadjutor da catedral. De início, morou com tia Lola (Judite, casada com Luiz Cunha, irmão de sua mãe). Seis meses depois, os pais deixaram Franca mudando-se, com as filhas solteiras Maria, Odila, Alice e Wanda, para Ribeirão Preto, onde alugaram uma casa. Padre Jaime foi morar com eles. Dois anos depois, Odila e Wanda já casadas, recebeu a nomeação de cura da catedral. Passou então a ocupar a modesta casa canônica na qual acolheu a família. Ao casal destinou-se um quarto; outro, às irmãs Maria e Alice, cabendo ao pároco o terceiro. Após a morte do pai, em 23 de novembro de 1955, a mãe reuniu-se às filhas no mesmo aposento. Naquele dia 7 de dezembro de 1956, ao descer do ônibus, Alice ouviu sinos que repicavam anunciando fato novo. Passava pouco do meio-dia. “Deve ter morrido alguém importante”, pensou. Mas logo se convenceu de que seria outra a razão, pois o toque era festivo, não de luto. “Talvez seja pela festa de Nossa Senhora, amanhã” corrigiu para si mesma. “Vai ver, já estão anunciando desde hoje”. Satisfeita com a explicação, caminhou para a casa, não muito distante. Ao entrar, deu com a sobrinha Ângela batendo na porta do banheiro. Filha de Odila, casada com Paulo Biagini, a menina de quatro anos geralmente era confiada, durante o dia, aos cuidados de uma das avós, enquanto os pais trabalhavam; ele, como secretário da Faculdade de Medicina; ela, funcionária municipal da área da saúde. Ao deparar com a pequena, do lado de fora, chamando pela avó, Alice imaginou-as em algum jogo de esconde-esconde. “Está brincando com a vovó, querida?” Mas não se tratava de brincadeira. A criança esclareceu: “A vovó tá lá dentro chorando, porque o tio padre virou bispo”. Não demorou e chegaram Odila e Paulo que, de volta ao trabalho, após o almoço, davam sempre uma rápida olhada na filha. Ângela passou-lhes o mesmo recado. Enquanto isso, Alice insistia junto à porta trancada: “Abra, mamãe. Em vez de ficar aí chorando, a senhora devia estar feliz. Imagine que honra ter um filho bispo!” Mas levou algum tempo para dona Guilhermina aparecer e explicar, enquanto enxugava os olhos, a razão do pranto: “Agora o Jaime vai deixar a gente e mudar para longe”. Nem ela nem nenhum dos outros

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fazia idéia do rumo dessa tal Maringá para onde fora nomeado o cura da catedral. Em minutos, a casa se encheu de gente. O telefone não deu trégua pelo resto do dia. Cumprimentos chegavam de todo canto. Até o final da tarde, recordam dom Jaime e as irmãs, a mãe continuou meio “fora do ar”. Recebia felicitações, atendia as pessoas, sorria, mas demonstrava não entender bem o que estava acontecendo. Volta e meia, perguntava: “Para onde mesmo ele vai?” Só à noite conseguiu superar os efeitos da notícia e voltou a tomar pé da situação.1 Naquela manhã, o bispo de Ribeirão Preto chamara monsenhor Jaime ao telefone: “Se você tem almoço programado para hoje, desmarque. Quero que venha almoçar comigo”. Imaginando tratar-se de gentileza pela ocorrência, nesse dia, do seu 15º aniversário de ordenação sacerdotal, o cura teve a surpresa de, ao chegar, ver-se rodeado por um grupo de colegas convidados, como ele, pelo bispo. Pontualmente ao meio-dia, dom Luís do Amaral Mousinho, simpático nordestino, sempre a irradiar bom humor e paixão pela Igreja, levantou-se e pediu a atenção dos presentes: “Quero ser o primeiro a dar a notícia da nomeação e também a cumprimentar o novo bispo de Maringá, monsenhor Jaime”. Depois do emocionado abraço, sob palmas calorosas de todos, encaminhou-se ao telefone para comunicar à mãe dele a feliz notícia. A avó de Ângela prorrompeu em choro e trancou-se no banheiro. Oito dias antes, em 29 de novembro, saindo da catedral, a caminho de casa para o almoço, monsenhor Jaime passara, conforme o costume, pelo palácio episcopal para apanhar a correspondência que o correio lá entregava. Chamou-lhe a atenção uma carta da Nunciatura Apostólica do Brasil, sediada no Rio de Janeiro, então capital do país. Mesmo nos dias atuais provoca sobressalto em qualquer padre abrir carta remetida pela nunciatura e deparar com um segundo envelope lacrado, onde se lê em pequeno retângulo vermelho: “Pessoal – Reservada – Sob segredo pontifício”. Não é praxe o núncio apostólico escrever para os milhares de presbíteros espalhados pelo vasto território nacional. Menos ainda, tratando-se de correspondência cujo conteúdo só o papa autoriza revelar. Na época, o sigilo vinha reservado ao antigo Santo Ofício, nome atual da Congregação para a Doutrina da Fé. Gerava clima de pesado mistério e, no destinatário, uma ansiedade cheia de respeitoso temor. Com o coração aos pulos, leu e releu várias vezes para certificar-se de que seus olhos não mentiam. Não havia possibilidade de engano. Embora sentisse como um soco a lhe golpear o estômago, era verdade. O ofício dizia mesmo que ele tinha sido eleito bispo da Igreja (Carta 1). O impacto provocou reação tão forte que, passado meio século, dom Jaime recorda em pormenores: “Na hora, senti que o mundo ia acabar. A única idéia que me ocorreu foi dirigir-me ao seminário, onde trabalhava cônego Horácio Longo, meu confessor. Eu só conseguia chorar. Perguntei-lhe que resposta dar ao núncio”. Consultado com antecedência, evidentemente, como sempre faz a nunciatura apostólica a respeito dos candidatos a bispo, cônego Horácio divertia-se com a aflição de penitente. Rindo gostosamente, deu sua orientação: “Mas é claro que sua resposta vai ser afirmativa. Tem que aceitar, sim”. O arcebispo relembra: “Voltei para casa, tentei disfarçar como pude e passei a esperar ansioso pelo término do sigilo pontifício, aquele peso que me sufocava o peito”. Não era pequena a desolação do pobre cura. Com quarenta anos, seria um dos mais jovens membros do episcopado brasileiro. Embora, à época, se escolhessem candidatos mais novos do que hoje – em especial depois do pontificado de João Paulo II –, ainda assim, raramente a Igreja alçava à dignidade episcopal alguém com menos de quarenta e cinco, cinqüenta anos. Exercendo o ministério em Ribeirão Preto, onde trabalhava desde a ordenação, Jaime tinha motivos para se considerar realizado. Benquisto pelo povo, pelos colegas e pelo bispo, fiel à Igreja e à própria vocação, zeloso, bom orador, culto, respeitado, procurador da construção do famoso seminário menor de Brodósqui (SP), futuro referencial de seminário para o Brasil, diretor diocesano da Obra das Vocações Sacerdotais, querido pela família com a qual desfrutava a ventura de conviver, reunia tudo que compõe a idéia de homem feliz. De quem não prevê mudança brusca de rumo no caminho que

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1 Informações familiares fornecidas por Alice Coelho Sproesser, irmã de dom Jaime Luiz Coelho, na residência deste, em Maringá, em 10 de janeiro de 2006.

A Igreja que brotou da mata


Carta 1

O núncio apostólico dá ciência a mons. Jaime de sua nomeação episcopal (LOMBARDI, 1956, 1 f.).

vai trilhando. Aquilo vinha desmontar todos os sonhos até então construídos. A convocação do Santo Padre atingiu-o com força igual à da imprevista ordem de Javé a Abraão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei” (GÊNESIS 12, 1). Sentia-se útil à Igreja, abençoado no presbitério de Ribeirão Preto. Por outro lado, não havia como escapar aos desígnios de Deus manifestos pelos legítimos intérpretes de sua vontade, particularmente pelo bispo de Roma. Ainda no dia 29 de novembro, lida a carta da nunciatura, uma curiosidade cheia de medo o fez consultar o mapa, investindo largo tempo no inútil esforço de localizar a cidade na qual viveria o resto dos seus dias. Maringá era por demais nova para figurar em mapas com mais de cinco anos, caso daquele que tinha em mãos. Naquele tempo, em toda Ribeirão Preto, como, de resto, possivelmente em todo o Brasil, ninguém conseguiria localizar em mapa aquela que seria denominada “cidade-canção”. Voltou o pensamento para dom Manuel da Silveira D’Elboux, o venerado mestre que o acompanhava desde o Seminário Central do Ipiranga, em São Paulo. De suas mãos recebera, em Ribeirão Preto, a ordenação presbiteral, quando ele era ainda bispo auxiliar de dom Alberto José Gonçalves. Bispo diocesano desde 1946, dom Manuel fora, em 1950, transferido para o Paraná, onde presidia, como arcebispo, a Província Eclesiástica de Curitiba. “Sem dúvida, ele deve

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estar por detrás disso”, imaginou. “Mas o querido dom Manuel não calcula o terremoto que provocou em minha vida”. Nos dias seguintes, o futuro bispo passou a revelar, segundo Alice, uma tristeza cuja causa ela não conseguia identificar. “Andava quieto, sorria pouco e parecia alheio ao que acontecia à sua volta. Achei melhor não comentar nada para não preocupar ainda mais a mamãe”. Outra mudança anotada foi o súbito interesse do irmão pelo próprio guarda-roupa, preocupação antes nunca demonstrada. “Mandou fazer muita roupa nova, especialmente camisas brancas, que chegavam a casa em grande quantidade. Eu não dizia nada, mas me perguntava o motivo. Só mais tarde compreendi que ele já estava preparando a mudança, prevendo que em Maringá não ia encontrar as facilidades que Ribeirão oferecia”. O telegrama de resposta solicitado pelo núncio foi enviado na mesma tarde de 29 de novembro, dia em recebeu o ofício procedente do Rio. Seguiu também, no mesmo dia, a carta de confirmação na qual o eleito aceitava a missão imposta (Carta 2). Novo ofício da nunciatura datado de 5 de dezembro, mas possivelmente postado antes, no Rio – na época, dois dias incompletos representavam prazo demasiado curto para correspondência entre o Rio de Janeiro e Ribeirão Preto –, fixava em 7 de dezembro a data para conhecimento público da sua nomeação episcopal (Carta 3). Monsenhor Jaime o recebeu das mãos de dom Mousinho, após o anúncio feito por ele da eleição, às 12h00 desse dia 7. Inegavelmente, o desejo de, por primeiro, revelar a notícia tinha levado o bispo a interceptar-lhe a correspondência, só a entregando depois de cumprimentá-lo com emoção e carinho. Apenas na sua posse como bispo, já em Maringá, no dia 24 de março de 1957, com a leitura protocolar e a entrega em suas mãos, veio tomar conhecimento do teor da bula de Pio XII que criara, há mais de um ano, as dioceses de Londrina e Maringá, no Paraná. O texto oficial da Carta Apostólica Latissimas partire Ecclesias, redigida em elegante latim, estabelecia: CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS Diocese de Jacarezinho (diocese de Londrina – diocese de Maringá) Da Diocese de Jacarezinho desmembram-se algumas regiões, das quais se formam duas dioceses, chamadas de Londrina e de Maringá

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PIO BISPO Servo dos servos de Deus Para perpétua memória Julgamos, antes de tudo, nosso dever dividir Igrejas muito extensas e circunscrevê-las a limites mais convenientes: nada é mais premente nem importante que proporcionar a todas as pessoas que se orgulham do nome cristão um caminho mais seguro de salvação, bem como providenciar-lhes todos os proveitos e benefícios da religião católica. Quando, pois, tomamos conhecimento de que o venerável Irmão Armando Lombardi, Arcebispo de Cesaréia e Núncio Apostólico na República do Brasil, solicitou a esta Sé Romana que, dividida a Igreja de Jacarezinho, fossem constituídas duas dioceses, a fim de que os dignos habitantes do Norte do Paraná, no Brasil, não ficassem privados dos necessários cuidados pastorais; e de que com isso concordam Geraldo de Proença Sigaud, Bispo de Jacarezinho, assim como Manuel da Silveira D’Elboux, Arcebispo de Curitiba e os outros Ordinários locais da Província Eclesiástica de Curitiba, de bom grado atendemos o pedido encaminhado. Por isso, tendo ouvido o parecer dos nossos Irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana encarregados dos Negócios Consistoriais, depois de atentamente estudado o assunto e havendo unanimidade por parte daqueles que têm ou julgam ter algum direito nesta divisão de regiões e de bens, fazendo uso do Nosso poder supremo, estabelecemos o que segue. Separamos da diocese de Jacarezinho o território que compreende os municípios conhecidos como: Londrina, Alvorada, Apucarana, Arapongas, Araruva, Astorga, Bela Vista, Cambé, Catugi, Centenário, Faxinal, Florestópolis, Ibiporã, Jaguapitã, Lupionópolis, Porecatu, 1º de Maio, Rolândia, Sabáudia, Santo Inácio


Carta 2

Resposta do eleito à carta do núncio apostólico (COELHO, 1956, 1 f.).

Carta 3

O núncio apostólico comunica o fim do segredo pontifício (LOMBARDI, 1956b, 1 f.).

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


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e Sertanópolis; do conjunto por eles formado criamos a diocese a ser chamada de Londrina, que constará dos mesmos municípios que enumeramos, com seus respectivos limites; sua sede episcopal será a cidade de Londrina, e a cátedra da autoridade pontifical, estabelecida na igreja do Sagrado Coração de Jesus que, por isso, gozará da dignidade de sé catedral. Igualmente, da mesma diocese de Jacarezinho separamos a região compreendida pelos municípios de Maringá, Alto Paraná, Jandaia, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Nova Esperança, Paranavaí e a reunimos em forma de nova diocese denominada de Maringá, circunscrita pelos mesmos limites que demarcam estes municípios; a cidade sede, evidentemente, será Maringá, na qual o Bispo terá o seu domicílio, em cuja igreja de Nossa Senhora da Glória instalará a sua cátedra pontifícia; por isso ela gozará da honra das igrejas catedrais. Portanto os Sagrados Pastores das dioceses de Londrina e de Maringá terão todos os direitos, poderes, honras e insígnias que se atribuem a todos os Bispos de igual dignidade; por outro lado, estarão sujeitos aos mesmos encargos e obrigações. Quanto à metrópole à qual doravante estarão subordinadas como sufragâneas as novas dioceses, decretamos que seja a Igreja de Curitiba, a cujo Arcebispo estarão adscritos os Prelados que citamos. Mas como o crescimento de cada uma das novas Igrejas, assim como sua fecundidade, dependem, em boa parte, da seleção e formação de jovens que, ao considerar a fertilíssima seara das almas, desejam alistar-se em o número dos operários do Evangelho, queremos que em cada uma destas dioceses logo se construa, segundo a norma do Direito e de acordo com as leis promulgadas pela Sagrada Congregação de seminários e universidades de estudo, um seminário de ensino pelo menos fundamental, do qual sejam oportunamente escolhidos jovens que serão encaminhados a esta venerável Cidade, junto ao Pontifício Colégio Pio Brasileiro, para serem devidamente formados em filosofia e teologia. Igualmente, é nossa vontade que em cada diocese recém erigida haja um Colégio de Cônegos que nos assuntos mais importantes das Igrejas auxilie o Bispo com seu conselho, trabalho e competência; enquanto isso não for possível, pelas tradicionais Cartas Apostólicas, permitimos que em lugar de Cônegos sejam nomeados Consultores Diocesanos, segundo o cân. 423 do Código de Direito Canônico. Formam a chamada Mesa episcopal das novas dioceses sejam os rendimentos de cada uma das Cúrias, sejam os bens e ofertas espontaneamente doados pelos fiéis, seja o dote oferecido pela República do Brasil, seja, finalmente, a parte de propriedades e de recursos que na divisão proporcional da mesa de Jacarezinho couber, segundo o cân. 1500, a essas dioceses. Da mesma forma, seja regido pelas normas do Direito Canônico tudo o que diz respeito ao governo e à administração das Igrejas, à eleição do Vigário Capitular, quando a Sede estiver vaga, e outros assuntos deste gênero. Queremos, por fim, que, no momento em que for executada esta nossa Carta, os clérigos que vivem legalmente no território descrito por ela considerem-se pertencentes à mesma diocese; e que igualmente todos os documentos e registros que, de qualquer forma, se refiram às novas Sedes, sejam enviados pela diocese de Jacarezinho às Cúrias das mesmas para serem cuidadosamente conservados em arquivo. Ao que estabelecemos nesta Carta dará cumprimento o venerável Irmão Armando Lombardi, acima mencionado, ou aquele que, por ocasião de sua execução, estiver à frente da Nunciatura Apostólica do Brasil, podendo para isso delegar poder a outro homem, desde que investido da dignidade eclesiástica. Àquele, porém, que cumprir tal encargo, impomos a obrigação de redigir os documentos de ereção das dioceses e deles remeter, o quanto antes, cópias à Sagrada Congregação Consistorial. É nossa vontade que esta Carta tenha eficácia hoje e para o futuro; que as disposições nela exaradas sejam religiosamente cumpridas por aqueles que a isso estão obrigados, e assim elas obtenham os seus efeitos. Nenhuma disposição contrária, de qualquer natureza, tem poder de obstar o cumprimento destas Letras; por este documento derrogamo-las todas. Em razão disso, se alguém, revestido de qualquer autoridade, consciente ou inconscientemente, agir contra o estabelecido por Nós, determinamos que isso seja considerado nulo e sem valor. A ninguém ainda seja permitido alterar ou destruir este documento que expressa Nossa vontade; antes, às cópias e partes destas Letras, impressas tipograficamente ou redigidas a mão, que levarem o selo de alguém revestido da dignidade eclesiástica e, ao mesmo tempo, forem reconhecidas


por um tabelião público, deverá ser prestada a mesma fé que se daria à apresentação desta Carta. Se alguém rejeitar ou, de qualquer modo, recusar estes Nossos decretos em geral, saiba que incorrerá nas penas cominadas pelo Direito àqueles que recusam cumprir ordens dos Sumos Pontífices. Dado em Roma, junto de São Pedro, no primeiro dia do mês de fevereiro do ano do Senhor de mil novecentos e cinqüenta e seis, décimo sétimo do Nosso Pontificado.

Diocese de Maringá

CELSO Cardeal COSTANTINI Chanceler da S. Igreja Romana + Fr. ADEODATO I. Cardeal PIAZZA Secretário da S. Congr. Consistorial Hamleto Tondini Diretor da Chancelaria Apostólica Bernardo De Felicis César Federici Protonotário apostólico Protonotário apostólico (PIO XII, 1956d, p. 486-488).2

01/02/1956

Mapa 1

Diocese de Maringá no dia de sua criação, 01/02/1956; à epoca compreendia apenas oito municípios.

2 Uma das primeiras providências do bispo de Maringá foi adquirir, através da nunciatura, toda a coleção da “Acta Apostolicae Sedis”, órgão oficial da Santa Sé, o que levou dom Armando Lombardi a observar que Maringá talvez fosse então a única diocese brasileira a possuir a coleção completa desse acervo documental. Até o final de seu governo diocesano, em 1997, dom Jaime continuou assinando a publicação, tendo o cuidado de encadernar os fascículos em volumes anuais. A Cúria Metropolitana de Maringá guarda em seu arquivo a série completa cujo primeiro volume foi publicado em 1909.

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


Acompanhando a bula de criação, foram entregues ao bispo de Maringá também duas cartas pontifícias: a da sua nomeação, e outra, dirigida ao clero e fiéis recomendando-lhes aceitação do novo pastor. Por último, foi-lhe passado às mãos ainda o decreto de execução, emitido pela Nunciatura Apostólica; todos documentos redigidos originariamente em latim. Anunciam fatos ou estabelecem disposições que, a seguir, são franqueadas ao conhecimento geral.3

Bula de nomeação episcopal PIO Bispo, Servo dos Servos de Deus (Carta 4), ao dileto filho Jaime Luiz Coelho, Cura da Catedral de Ribeirão Preto, primeiro Bispo eleito da Diocese de Maringá, saudação e bênção apostólica. É nosso dever atender às necessidades da Diocese de Maringá, criada no dia primeiro de fevereiro do corrente, através da Bula “Latissimas partire”, até agora desprovida de seu pastor. Ouvido, pois, o parecer dos Nossos Veneráveis Irmãos Cardeais encarregados dos Negócios Consistoriais da Santa Igreja Romana, pela Nossa Autoridade apostólica, elegemos-Te, dileto filho, para Bispo e Pastor da mesma Sé Catedral de Maringá, que constituímos sufragânea da Arquidiocese de Curitiba. Entregamos-Te, portanto, o governo e a administração desta Diocese no que se refere tanto aos assuntos religiosos quanto aos bens temporais, ao mesmo tempo em que Te conferimos os direitos e as honras, os ofícios e as obrigações anexas a este digníssimo múnus. Para Tua comodidade, concedemos-Te o direito de seres devidamente sagrado fora da Cidade Eterna por um Bispo digno, de acordo com a Tua preferência, assistido por dois outros, todos em comunhão com a Sé Romana; a esse venerável Irmão, que para isso escolheres, por estas Nossas Letras, conferimos a delegação. Queremos, além disso, que antes da sagração e da tomada de posse da diocese, perante algum Bispo em comunhão com a Sé Romana, faças a profissão de fé católica e o juramento tanto de fidelidade a Nós e aos Pontífices Romanos quanto contra os erros dos Modernistas, de acordo com as fórmulas prescritas; deles enviarás com presteza à Sagrada Congregação Consistorial cópias com assinaturas e carimbos teus e do outro bispo. Se não fizeres o juramento nem emitires a profissão de fé, tanto a Tua pessoa quanto o Bispo que Te sagrar incorrerão ambos nas penas cominadas pelo Direito. Quanto ao benefício que tiveste até hoje, como Cura da Catedral de Ribeirão Preto, ordenamos, conforme o Direito, seja tido como vago, devendo ser preenchido por Nós e por esta Sé Apostólica. Dito isto, dileto filho, fazemos votos a Deus de todo o coração para que, propício, fecunde o Teu trabalho, Te guarde a Ti e aos Teus fiéis. Dado em Roma junto de São Pedro, no dia três de dezembro do ano do Senhor de mil novecentos e cinqüenta e seis, décimo oitavo do Nosso Pontificado. Celso Cardeal Costantini, Chanceler da Santa Igreja Romana Hamleto Tondini, Diretor da Chancelaria Apostólica Alberto Serafini Protonotário Apostólico Silvio Sericano Protonotário Apostólico (PIO XII, 1956b, 1 f.).

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3 Bula = escrito solene ou carta aberta provida de sinete de chumbo, em geral de forma redonda, que se prende ao documento ou carta atestando-lhe a autenticidade.

A Igreja que brotou da mata


Carta 4

Bula do papa Pio XII nomeando mons. Jaime Luiz Coelho primeiro bispo de Maringรก (PIO XII, 1956b, 1 f.).

33 Os 50 anos da Diocese de Maringรก


Carta ao clero e fiéis da nova diocese PIO Bispo, Servo dos Servos de Deus, aos amados filhos, do clero e do povo da cidade e da diocese de Maringá, saudação e bênção apostólica. Com muita alegria vos comunicamos ter dado hoje à vossa diocese de Maringá, que criamos pelas Cartas apostólicas “Latissimas partire”, no dia primeiro de fevereiro do corrente ano, o seu primeiro Bispo. Ouvidos os Nossos veneráveis Irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana encarregados dos Negócios Consistoriais para reger e governar aquela Sede, por Nossa autoridade elegemos Bispo e Pastor o dileto Filho Jaime Luiz Coelho, até agora Cura da Catedral de Ribeirão Preto. Exortamo-vos, Filhos queridos, a que com piedosa reverência o recebais como vosso Bispo e com sincera obediência o sigais. Se assim fielmente vos comportardes, não temos dúvida de que a novel Igreja de Maringá muito rapidamente crescerá, com a ajuda de Deus, cheia de vigor. Dito isto, ao Ordinário que até agora rege vossa diocese, recomendamos sejam estas Nossas Letras lidas publicamente na Catedral logo que, depois de recebidas, o clero e o povo celebrem um dia festivo de preceito. Dado em Roma, junto a São Pedro, no dia três de dezembro de mil novecentos e cinqüenta e seis, décimo oitavo do Nosso Pontificado. Celso Cardeal Costantini, Chanceler da Santa Igreja Romana Hamleto Tondini, Diretor da Chancelaria Apostólica Alberto Serafini Protonotário Apostólico Silvio Sericano Protonotário Apostólico (PIO XII, 1956a, 1 f.).

Carta a dom Manuel da Silveira D’Elboux PIO Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao venerável Irmão Arcebispo de Curitiba, saudação e bênção apostólica. No exercício de Nosso ministério, nomeamos hoje o bispo da Sé episcopal de Maringá, que pela Nossa Carta “Latissimas partire”, criamos no dia 1º de fevereiro deste ano e submetemos à tua metrópole como diocese sufragânea. Ouvidos os Nossos veneráveis Irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana encarregados dos Negócios Consistoriais, com a autoridade suprema de Nosso ofício nomeamos o dileto Filho Jaime Luiz Coelho, até agora Cura da igreja catedral de Ribeirão Preto. Comunicando-te esta decisão, recomendamos, venerável Irmão, que recebas este novo Bispo sufragâneo e, com amorosa solicitude, o ajudes sempre que pedir o teu conselho. Na certeza de teu atendimento a este pedido, manifestamos-te Nossa gratidão, formulando votos de bênçãos celestes para ti e para teus fiéis. Dado em Roma, junto a São Pedro, no dia três de dezembro de mil novecentos e cinqüenta e seis, décimo oitavo do Nosso Pontificado. Celso Cardeal Costantini, Chanceler da Santa Igreja Romana Hamleto Tondini, Diretor da Chancelaria Apostólica Alberto Serafini Protonotário Apostólico Silvio Sericano Protonotário Apostólico (PIO XII, 1956c, 1 f.).4

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4 O texto original em latim é conservado em quadro exposto na sala de visitas da residência de dom Jaime Luiz Coelho.

A Igreja que brotou da mata


Carta 5

O papa comunica a dom Manuel da Silveira D’Elboux, então arcebispo metropolitano de Curitiba, a eleição do bispo de Maringá (PIO XII, 1956c, 1 f.).

35 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Decreto de execução da bula papal ARMANDO LOMBARDI por Mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica Arcebispo Tit. de Cesaréia de Felipe Núncio Apostólico no Brasil N. 7608 O Sumo Pontífice, por Divina Providência Papa Pio XII, para prover com solicitude o bem espiritual dos fiéis cristãos do Norte do Paraná, no Brasil, criou, no dia 1º de fevereiro de 1956, a diocese de Maringá. Cabendo ao Núncio Apostólico do Brasil a execução de tudo o que dispõe aquela Bula, Nós, Armando Lombardi, por mercê de Deus e da Sé Apostólica, bispo titular de Cesaréia de Filipe, desejoso de pôr em prática o mandato pontifício e exercer fielmente as faculdades a nós concedidas, pelo nosso presente Decreto de Execução, decretamos, estabelecemos e mandamos o seguinte: Primeiro: Desmembramos e separamos da diocese de Jacarezinho todo o território ocupado pelos municípios enumerados na citada Bula Apostólica: Maringá, Alto Paraná, Jandaia do Sul, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Nova Esperança, Paranavaí. Como nestes últimos tempos outros municípios foram criados e deles desmembrados, a saber: Bom Sucesso, Cruzeiro do Sul, Floraí, Loanda, Nova Londrina, Paraíso do Norte, Paranacity, Querência do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Santa Isabel do Ivaí, São Carlos do Ivaí, São João do Caiuá, São Jorge, São Pedro do Ivaí, Tamboara, Terra Rica, também estes e outros municípios que deles se desmembrem igualmente desmembramos e separamos. Do território completo destes municípios erigimos e declaramos ereta a nova diocese chamada de Maringá, cujos limites se definem e circunscrevem pelos mesmos limites do conjunto dos municípios acima mencionados. Segundo: Ordenamos que o bispo da diocese estabeleça sua sede e domicílio na cidade de Maringá, colocando a cátedra episcopal na igreja da mesma cidade dedicada a Nossa Senhora da Glória, que automaticamente elevamos à dignidade de Catedral, concedendo-lhe as honras, direitos e privilégios que competem às outras igrejas catedrais. Terceiro: Estabelecemos também que a diocese de Maringá seja sufragânea da Igreja de Curitiba; igualmente, que o bispo de Maringá permaneça juridicamente subordinado ao arcebispo metropolitano de Curitiba. Quarto: Estabelecemos que, o mais cedo possível, o bispo de Maringá crie o Cabido dos Cônegos; enquanto não for possível, em seu lugar, sejam nomeados os Consultores diocesanos, conforme prescreve o cân. 423 do Código de Direito Canônico. Quinto: A mesa episcopal constará ou dos rendimentos da Cúria, ou de outras doações e ofertas dos fiéis, ou de dote oferecido pela cidade ou pelo Estado do Paraná, ou finalmente dos bens que, após a divisão das propriedades da mesa de Jacarezinho, couberem proporcionalmente à nova diocese, segundo o cân. 1500 do CDC. Sexto: Desejamos e mandamos, sob grave encargo de consciência, que o mais breve possível o bispo de Maringá construa pelo menos o seminário menor, e dele escolha os melhores jovens para enviá-los ao Pontifício Colégio Pio Brasileiro, em Roma, a fim de se formaram nas disciplinas de Filosofia e Teologia. Quanto ao seminário maior, observem-se cuidadosamente as normas exaradas para o Brasil. Sétimo: Ao entrar em vigor este Nosso Decreto de Execução, ficam incardinados à diocese de Maringá os clérigos que, de modo regular e em razão do sagrado ministério, moram no seu território; presumem-se pertencentes à nova diocese os seminaristas nascidos no seu território, ainda que estudem em outro lugar. Oitavo: Desejamos, além disso, que, quanto antes, da Cúria de Jacarezinho sejam enviados à diocese de Maringá todos os documentos e registros que de alguma forma digam respeito à nova sede episcopal, aos seus clérigos, fiéis ou bens temporais. Nono: Por fim, determinamos e prescrevemos que este Nosso Decreto de Execução passe a vigorar no mesmo instante em que, na igreja Catedral de Maringá ou em outro lugar por Nós aprovado, o auditor da Nunciatura Apostólica do Brasil, Reverendíssimo

36 A Igreja que brotou da mata


Senhor Mario Pio Gaspari, por nós legitimamente delegado para esta função, publicamente der a conhecer a supracitada bula “Latissimas Partire Ecclesias” ao clero e ao povo presente. Mandamos ainda que do evento seja lavrada a competente Ata, da qual duas cópias Nos devem ser enviadas. Observadas as normas do Direito, revogam-se as disposições em contrário. Dado na cidade do Rio de Janeiro, na Nunciatura Apostólica, a 25 de fevereiro de 1957, festa de São Matias Apóstolo. a) +Armando Lombardi Arcebispo de Cesaréia de Filipe e Núncio Apostólico no Brasil a) Mario Peressian Secretário da Nunciatura Apostólica (LOMBARDI, 1957b, 3 f.) Dias depois daquele histórico 7 de dezembro de 1956, o futuro bispo recebeu em casa a visita de padre Germano José Mayer, palotino alemão, responsável pela paróquia Nossa Senhora da Glória, de Maringá, que seria elevada à condição de igreja catedral. Pôde enfim apreciar fotos da cidade e receber informações sobre a nova Igreja que lhe caberia governar. Pela primeira vez, teve o consolo de verificar que Maringá aparecia em mapa. Pelo menos naquele, aberto à sua frente, publicado pela Colonizadora Sinop, sediada em Maringá, que padre Germano tivera o cuidado de levar consigo. O recém-eleito tratou logo de fazer o retiro espiritual disposto pela sabedoria da Igreja, atenta à preparação dos candidatos a novas responsabilidades, sempre que estão prestes a assumi-las. Recolheu-se, na vizinha cidade de Batatais (SP), ao Colégio São José, dirigido por padres claretianos, onde tinha estudado no ano de 1931. Era período de férias escolares. Em completo silêncio, isolado de tudo e de todos, consagrou oito dias à meditação sobre o encargo que estava prestes a assumir. Sentia-se confuso, cheio de medo. Hoje ainda, em tom de brincadeira, recorda que, ao observar o humilde porteiro do colégio, assaltou-o um sentimento estranho, talvez inveja: “Ah, como seria bom se eu fosse aquele porteiro. Não estaria nesta angústia nem precisaria me preocupar com o futuro. A obrigação dele é só atender a porta”. Noutro dia, absorto em pensamentos, caminhava pelo pátio quando, à distância, viu um cavalo que pastava na maior tranqüilidade. Pensou na vida do animal e comparou-a com a sua de padre eleito bispo. Veio-lhe à cabeça: “Que bom se eu fosse aquele cavalo. Não teria que enfrentar o que me espera. Ele, sim, é feliz. Não tem com que se preocupar”. Depois, arrependido, procurou padre Bento Uriarte, CMF, pedindo-lhe que o ouvisse em confissão. Queria ser perdoado da inveja que sentira do porteiro e da vontade de ser cavalo. No dia 19 desse mês, uma quarta-feira, achava-se no Rio de Janeiro para entrevista que agendara com o núncio apostólico. Antes do encontro, entrou na igreja dos capuchinhos, na Tijuca. Pediu ao porteiro algum frade para atendê-lo em confissão. – “O senhor prefere um padre velho ou novo?” quis saber o atendente. – “Não importa, basta que me confesse”. Veio um frade velhinho, que lentamente arrastou os pés até o confessionário. Recorda o primeiro bispo de Maringá: “Prorrompi num choro incontido e só conseguia dizer: – Padre, eu fui nomeado bispo. Com imensa doçura, o velho frade tentou me consolar: – Meu filho, isso não é pecado”.

A radical mudança de vida Dado a público o nome do bispo da diocese criada a 1º de fevereiro de 1956, sua vida converteu-se numa azáfama de colméia em produção. Os dias seguintes desencadearam uma sucessão de providências capaz de tirar o fôlego de qualquer mortal. Havia uma montanha de trabalho a ser vencida em brevíssimo espaço de tempo. Menos mal para quem – mergulhando nas preocupações de ordenação (sagração, dizia-se na época) episcopal, carta pastoral a ser escrita, documentos a serem impressos (a diocese de Maringá partia da estaca zero), mudança para o Paraná, posse em Maringá etc. – não conseguia parar um minuto para analisar os desafios que estavam por vir. O mesmo não acontecia com os familiares. A despeito das informações otimistas de padre Germano, as fotos e descrições do lugar só confirmaram os temores sobre a dureza da vida que aguardava o filho, irmão, tio, cunhado, sobrinho e primo que todos amavam. Evitavam comentar em demasia

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o assunto, mas, no fundo, sofriam por ele e dele tinham pena. Também o sentiam paroquianos, conhecidos e amigos que, entretanto, descobriram criativa maneira de amenizar a futura saudade, fazendo chegar ao cura uma mostra do carinho que lhe dedicavam. Recorda Alice que “congregados marianos, moços e moças, estudantes de faculdade vizinha da casa paroquial, quando passavam na rua, mesmo de noite, em coro cantavam Maringá, Maringá...”, refrão da melodia composta por Joubert de Carvalho, sucesso nacional de então, responsável pelo nome conferido à cidade que brotava da floresta norte-paranaense. A inesperada transferência do padre mexeu também com a vida da mãe e das irmãs, levando-as a apressar a aquisição de um apartamento no edifício Spadoni, em construção no centro da cidade. No mês de março, dias antes da posse do novo bispo em Maringá, as três deixaram a casa paroquial. Não podiam ocupar o apartamento, ainda em fase de conclusão. Acomodaram-se na casa de Jupira, outra irmã do bispo, cujo casamento com Paulo Prado ele havia assistido a 8 de dezembro de 1941, dia seguinte à sua ordenação sacerdotal. Após quinze anos de casados, Jupira e Nenzico (apelido de Paulo) já tinham os filhos Ana Vera, Paulinho, Eliana e Cristina, todos crescidos. De repente, a casa passou a acomodar uma família de nove pessoas, em vez de seis. Só em 15 de agosto daquele ano foi entregue o apartamento no Spadoni. Mas as três não se mudaram logo, porque Jupira não concordava em que deixassem sua residência. Finalmente, a 1º de outubro, dona Guilhermina conseguiu vencer a resistência da filha e se transferiu para o apartamento onde passaria os últimos 24 anos de sua longa existência. “Tenho outros filhos e preciso de um lugar onde recebê-los” foi o argumento que a mãe usou, recorda Alice. Apesar de fazer questão de um canto seu para acolher os filhos, desde 1957 até sua morte, o Natal ela o passava com o bispo em Maringá. Aos outros, quando se queixavam, respondia: “Vocês têm esposo(a), têm filhos. Ele não tem ninguém”. Somente a doença, em raríssimas ocasiões, impediu-a de passar em Maringá, com Maria e Alice, as festas de fim de ano. À semelhança de Agostinho, para quem o amor de Mônica se mostrou decisivo na moldagem da têmpera de cristão, de bispo de Hipona e doutor do Ocidente, também o bispo de Maringá recebeu da mãe a iniciação na fé e o constante acompanhamento em sua vida de pastor, de mestre e pai da Igreja estabelecida em Maringá. Ela chegou num dos muitos monomotores que, no dia anterior à posse, aterrissaram no poeirento campo de aviação, pomposamente chamado aeroporto de Maringá que, além desse modelo de aeronave, recebia só os DC3 da VASP ou da Real Aerovias. Surpreendeu-se com a multidão que aguardava em terra. “Será que vai chegar algum político no mesmo horário que a gente?” questionavam as filhas. Mas a recepção era mesmo para elas. Para acolher a mãe do bispo, o bom padre Germano tinha convidado todas as senhoras da paróquia que pudera contatar. A residência do bispo tinha sido preparada com cuidado. Alunas internas do Colégio Santa Cruz, na companhia de irmã Iluminada Vandillo Ríos, tinham-se esmerado numa faxina em regra, fazendo brilhar a nova habitação, agora em condições de receber o novo e ilustre morador. Todo o ambiente festivo, entretanto, não se estendeu para muito além do dia da posse. A áspera realidade de uma cidade em formação logo se tornou evidente para as assustadas moradoras da Capital do Café, como era conhecida a Ribeirão Preto da época. Mais tarde, Londrina seria chamada Capital Mundial do Café, para acentuar a distinção entre ambas. Ciente de que “quem quer faz, quem não quer manda”, dona Guilhermina não se pôs a choramingar a falta de serviçais encarregadas dos afazeres domésticos para a residência episcopal. Assumiu com naturalidade as funções de dona de casa, sem fugir de serviço nenhum reclamado por uma terra em que limpeza não era o forte. Os mais antigos conservam viva a lembrança do “chora-paulista” (Fig. 1), providencial invenção destas paragens. Consistia em uma lâmina com o fio voltado para cima, fixada em haste de ferro onde a “vítima” apoiava as mãos para raspar o barro da sola do calçado. Depois de algumas horas de uso, acumulava-se embaixo da lâmina uma montanha de barro, que secava em pouco tempo e exigia remoção completa, sob pena de anular toda a utilidade do limpa-pés. Depois do primeiro uso, devolver às roupas claras a cor primitiva parecia missão impossível. Em se tratando de veste branca, aí então era caso perdido: cor original, nunca mais. Camisa branca de Maringá se conhecia de longe, num simples bater de olhos. O branco aqui obtido no tanque revelava-se diferente de qualquer outro do resto do mundo. E máquina de lavar era sonho para décadas mais tarde. Com invejável disposição para seus 67 anos, a mãe do bispo encarou as tarefas de lavar, passar, cozinhar

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e fazer faxina. Durante o primeiro mês depois da posse, ainda contou com a ajuda de Alice e Odila (Ângela

A Igreja que brotou da mata


Figura 1

“Chora-paulista”, limpa-pés para rapar o barro da sola dos calçados. Normalmente a base era apenas uma lâmina estreita.

também ficou) e de Fátima Biagini, cunhada de Odila. Após o retorno delas para Ribeirão Preto, com o auxílio do garoto José Carlos Pires de Paula, mais tarde seminarista, que vinha depois da aula, ainda por três meses a mãe comandou os serviços domésticos na casa que nem remotamente lembrava os paços episcopais de então. Era uma construção baixa de alvenaria na rua Lopes Trovão, quase esquina com avenida Curitiba, sem luxo e com espaço para o estritamente necessário. Abrigava ainda uma saleta pegada ao escritório do bispo, que levava o solene apelido de cúria diocesana. Mais tarde, fez-se necessária a construção, na garagem, de um anexo para, ainda que precariamente, acomodar a cúria. Por influência do linguajar dos netos, muitos dos quais para Maringá se deslocavam durante as férias, dona Guilhermina acabou transformando-se na “vó” de padres, de seminaristas e de quantos partilhavam a casa. Porque dom Jaime deu início em Maringá a um jeito de ser bispo que ninguém tinha visto antes. Derrubava barreiras, encurtava distâncias, levava qualquer pessoa a sentir-se acolhida, valorizada, importante. Com simplicidade, colocava-se à altura do outro, despertando-lhe confiança para uma aproximação sem medo. Era o avesso do que, muitas vezes, até de forma constrangida, se viam forçados a pôr em prática os bispos daquele tempo. Presos a um modelo de Igreja de corte piramidal, encastelavam-se numa redoma de distanciamento do seu clero e, particularmente, dos seus diocesanos, o que lhes reservava, por conseqüência, em muitos casos, a enervante solidão da autoridade mais temida que amada. Não raro, a atuação do bispo identificava-se com o exercício de um poder absoluto e discricional. Havia, por certo, quem justificasse tal interpretação. Outros, ao contrário, faziam de tudo para romper o círculo de isolamento criado pelo cargo. Mas nem deles dependia modificar por inteiro o quadro. Não se mudam da noite para o dia costumes sedimentados pelo gotejar de séculos. Assim, ao bispo estava geralmente destinada a sorte do pássaro em gaiola de ouro. O próprio dom Jaime confessa ter ouvido de dom Mousinho, logo após sua eleição: “Pode ir-se acostumando com a solidão da vida de bispo. A partir de agora, será ela a sua companheira”. Em postura revolucionária para a época, o jovem bispo mostrou independência frente aos cânones ditados pela praxe de uma Igreja pré-conciliar e fielmente observados pela maioria. Desde o primeiro momento, assumiu o volante de seu próprio veículo, uma “perua” Willys adaptada a partir de um jipe, o bravo utilitário capaz de rasgar barreiros e areões deste bravio Norte do Paraná. Era impensável então um bispo sem moto-

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rista particular. Também não logrou contar com vigário geral, chanceler, secretário, sequer com office-boy. Acostumados com o que acompanharam por décadas, os maringaenses acabaram por julgar a coisa mais natural do mundo dar de cara com o bispo no correio, no banco, na farmácia, na rua... De início, denotavam alguma surpresa. Com o tempo, a reação foi passando a observações do tipo “oi, dom Jaime, bom dia, o senhor por aqui?”. Por fim, a cumprimento rotineiro de pessoas acostumadas a cruzarem em qualquer ponto. Nesse contexto de relacionamento, novo para os padrões do tempo, padres e seminaristas eram incentivados – embora nem se fizesse necessário – a sentir como sua a casa do bispo. Ninguém marcava hora nem avisava com antecedência. Ia entrando pela porta que encontrasse aberta e se encaminhava ao escritório. Quando em casa, era ali, debruçado sobre a mesa de trabalho, que invariavelmente ele se achava. Com naturalidade, erguia os olhos e, num sorriso de boas vindas, acolhia o recém-chegado. Nenhuma estranheza pela entrada de quem – ele fazia questão de registrar com insistência – era visto como de casa. Em perfeita consonância com isso, nos períodos por vezes longos de permanência em Maringá, a “vó” instintivamente assumia o papel de “mãezona”, irradiando sobre todos à sua volta, em especial padres e seminaristas, o amistoso clima de família unida. Não há como silenciar a importância dessa mulher vigorosa, sobretudo naqueles anos de poeira e barro, de mato ainda presente em todos os cantos, de nenhum conforto, de solidão e, por vezes, de carência até do necessário. A ela, sem favorecimento, justifica aplicar-se o poema da mulher forte, que encerra o Livro dos Provérbios (PROVÉRBIOS 31, 10-31). Depois de permanecer em Maringá por quatro meses, a 31 de julho, foi conduzida pelo filho de volta a Ribeirão, triste por deixá-lo no que considerava um ambiente adverso, quiçá perigoso. Um episódio trágico veio plantar mais incerteza, verdadeira angústia no seu coração. O país inteiro foi tomado de horror pelo que divulgaram as agências noticiosas naquele início de julho. No dia primeiro, o pároco de Quipapá (PE), padre Hosaná de Siqueira e Silva, dirigiu-se ao palácio episcopal de Garanhuns, sede da diocese, e bateu à porta. Atendido pelo bispo, dom Francisco Expedito Lopes, após discutir com ele, disparou-lhe três tiros à queima-roupa e fugiu, entregando-se aos monges do Mosteiro de São Bento. Conduzido às pressas para o hospital, dom Expedito veio a falecer na manhã seguinte. Consternação geral espalhou-se pelo Brasil e pelo mundo católico. Posteriormente se soube que o padre fora suspenso pelo bispo, depois de se recusar a afastar da casa paroquial sua prima Maria José Martins com quem tudo indicava manter um caso amoroso. Prestes a voltar para casa, apavorada, a “vó” recomendava insistentemente ao filho: “Não brigue com os seus padres”. Devia considerar não de todo impossível a repetição por aqui do que acabara de ocorrer no interior de Pernambuco. Garanhuns ela não conhecia, mas de Maringá tinha experiência, após quatro meses que aqui passara. Ia embora, mas deixava o filho, pesarosa com a guinada de cento e oitenta graus que a vida familiar tinha sofrido. É verdade que outros enfrentavam idênticas agruras. Com a diferença, porém, de que tinham abraçado Maringá por escolha própria, na esperança de fortuna ou de novas oportunidades negadas em outras bandas. Seu filho, ao contrário, largara o humano sucesso para abraçar o duro encargo de implantar a Igreja numa área carente de tudo. Por sólidas que fossem sua fé e entrega nas mãos da Providência, mãe nenhuma em tal condição passaria incólume à dor do distanciamento. Era o que sofria a “vó” na hora de voltar à sua terra e ambiente de origem.

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O que ninguém escreveu Episódios pitorescos vividos por nossos padres dos primeiros tempos, alguns já chamados à casa do Pai.

Promessa Primeiro ano de bispado da cidade de Maringá, 1957. Tempo de muita chuva e de geadas históricas, que se repetiam com impressionante regularidade. Para as incipientes lavouras de café não havia praga maior. O novo bispo pede aos fiéis que ajudem na construção do seminário e da catedral. Faz uma promessa: “Se vocês me ajudarem, eu prometo cinco anos sem geada”. Muitos comentam que é loucura. Era viva a lembrança de 1953 e 1955. Chega o inverno e, com ele, o pavor. Dia 20 de julho, após uma semana de chuva, o tempo limpa de repente. Vem a noite. A temperatura começa a cair sem parar. O céu é uma redoma azul, onde faíscam estrelas de intenso brilho. Cresce a angústia. À meia-noite, um grupo de pessoas bate à porta de padre Germano José Mayer: “Padre, abra a igreja. Precisamos rezar pra não vir geada”. A oração entra pela fria madrugada. Ninguém arreda pé. Quando amanhece, de coração na mão, vão todos espiar lá fora. Forte cerração encobre a vista. Quando se dissipa, o alívio. Em vez do manto branco da morte, o mesmo verde de encher os olhos. Como no dia anterior. Milagre ou não, coragem ou loucura do bispo, só voltou a gear depois de 1962.

Segurança Primeira visita a Paranacity, dia 23 de maio de 1957. Havia praticamente só a rua central, leito da estrada para Presidente Prudente, uma descida que dava no areão lá embaixo, antes da subida do outro lado. A igrejinha de madeira ficava afastada, à esquerda, na parte baixa. Uma multidão se junta, no campo de aviação, para recepcionar o visitante. Forma-se o cortejo, que se move pela rua de terra. Lá atrás, caminha a grande atração para muitos que nunca tinham visto um bispo assim de pertinho. Querem aproximar-se, tocá-lo, beijar-lhe o anel. Os responsáveis esforçam-se por manter a ordem. Ensaiam um cordão de isolamento ao seu redor, tentando protegê-lo do assédio. Não dá muito resultado. Uma senhora tenta, de um lado e de outro, furar o cerco. O povo se atropela, a poeira levanta, o calor sufoca. Alidi Ropelato, corpulento e suado, já cansou de pedir, repetidas vezes, que ela espere até chegar à igreja. A mulher não desiste. Até que, perdendo a paciência, ele explode: “Ô dona, vá amolar o bispo”.

41 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Rito Numa de suas primeiras visitas pastorais, o novo bispo crismava lá para as bandas do rio Paraná. Ou, segundo outros, na capela da Vila Silva Jardim, em Paranacity, na mesma visita do episódio acima. Onde quer que tenha acontecido, havia gente que não acabava mais, e o calor era insuportável. Na época, em vez do leve toque no rosto, dom Jaime costumava agraciar o crismando adulto com um sonoro tabefe, que obrigava os vizinhos a tentar, muitas vezes inutilmente, conter o riso. Nessa ocasião, ao se aproximar de um nordestino forte, o povo em volta se assanha. O homem fecha a cara, incomodado por se perceber alvo da atenção geral. Desferido o tapa, o recém-crismado saca uma peixeira e ameaça: “Ainda não nasceu homem para me bater na cara”. O pessoal em volta fica gelado. Ninguém imaginava reação de tal calibre. Intervém, assustada, a turma do deixa-disso. Foi um custo convencer o homem de que o estranho rito fazia parte da celebração litúrgica.

Valentia Dom Jaime encontra-se com o prefeito Américo Dias Ferraz (19571961) a caminho de reunião que o alcaide estava para fazer com os vereadores na Câmara Municipal. Com a confiança que tem no amigo, Américo mostra-lhe dois revólveres: “Vou colocar em cima da mesa para discutir com eles. Quero ver quem vai ter peito de me enfrentar”. O bispo pede que lhe entregue as armas e vá de mãos limpas. Insiste, mas nada consegue. O prefeito é osso duro de roer. Mineiro matuto e turrão, pouco lhe importa agradar ou não as pessoas. Cultiva, por isso, inimizades ferozes. Pioneiros recordam a surra de “guaiaca” que, numa barbearia, levou de Aníbal Goulart Maia acompanhado de dois jagunços. Ou de “guasca”, dada por desconhecidos, a mando de Aníbal, segundo outra versão. Por vingança, uma turba ensandecida ateou fogo à casa do desafeto. Para desespero da esposa, Dirce de Aguiar Maia, primeira professora de Maringá e finíssima dama, móveis, documentos, roupas, livros, obras de valor, até os presentes das crianças comprados para o Natal que se aproximava − tudo foi consumido, num incalculável prejuízo à família. Episódios dessa natureza deixavam angustiada a pobre mãe do bispo ao descobrir em que mundo o filho agora vivia.

Visita

42 A Igreja que brotou da mata

A paróquia de Paranavaí era administrada por frades carmelitas alemães. Acostumados com dom Sigaud residindo na longínqua Jacarezinho, gozavam de grande autonomia que a proximidade do bispo certamente faria mudar. Por isso, a criação de bispado em Maringá não lhes trouxe especial contentamento Desde a primeira visita a Paranavaí, dom Jaime não se sentiu exatamente bem-vindo. Deixou registrado que, entre todas, esta foi a paróquia que lhe causou maiores aborrecimentos, acrescentando: “Os frades, com freqüência, conversam em alemão num desejo, quem


sabe, de esconder ao bispo algum assunto ou comentário” (DIOCESE DE MARINGÁ, 1957a, f. 68). Não era apenas impressão. Consta que após a visita, frei Ulrico Goewert, com muita franqueza, teria comentado: “Xente gôsta muito quando bispo vem. Gôsta mais quando bispo vai embôrra”.

Aniversário Recém-chegado do Japão, padre Miguel Yoshimi Kimura morou, no começo, em casa de dom Jaime. Sua primeira preocupação foi aprender a difícil língua do novo país. Por algum tempo, também padre Francisco Javier Peregrina López, mais tarde vigário de Nova Esperança, morou na casa do bispo. Pândego, divertia-se ensinando palavras erradas ao pobre Kimura. Num dos aniversários do bispo, foi-lhe preparada uma festinha no auditório da Rádio Cultura. Além do salão amarelo do Grande Hotel, era dos poucos ambientes disponíveis em Maringá para eventos sociais, artísticos ou culturais. O apresentador foi professor José Hiran Salée, que ainda tocou flauta e dirigiu um coralzinho de alunos seus. Ao piano, responsável pela parte musical, maestro Aniceto Matti. Presentes os casais Tita-Alfredo Maluf, Elvira-Durval dos Santos e outros. López pede ao apresentador um espaço para Kimura, explicando que ele fará uma homenagem a dom Jaime declamando uma quadrinha, decorada com dificuldade por causa da língua. Com o respeitoso silêncio da platéia, o “orador” recita algo assim: “Dom Jaime: Desejo para o senhor / As qualidades do bode: / Além do forte fedor, / Cabelo, barba e bigode”.

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Uma Igreja missionária 2 e civilizadora

Ruínas de San Ignacio Mini, a 60km de Posadas, Argentina, para onde fugiram, em 1631, jesuítas e índios Guarani de nossa região perseguidos pelos bandeirantes.


Maringá representa um caso raro, talvez único, na história. Pelo menos, do Brasil. Não se conhece outra cidade elevada a bispado aos oito anos e nove meses da fundação. Que aos nove anos e dez meses tenha recebido seu próprio bispo. Para estabelecer alguma semelhança, alguns recordam Brasília. Contudo, a diferença é astronômica. A começar pelo fato de que na Capital Federal – como em outras cidades erguidas para atender a projetos estratégicos ou políticos – o poder público injetou montanhas de recursos oficiais, enquanto aqui tudo foi levantado pela iniciativa particular. Na sua edificação, Maringá deixou patente a grandeza de um exército de humildes, mas corajosos trabalhadores, que de outra riqueza não dispunham além do amor pela família e da vontade inquebrantável de alcançar melhor padrão de vida e futuro para os filhos. Com a força única dos braços afrontaram o desafio de domar a mata e, valendo-se da produção do solo, ergueram uma comunidade cujo valor maior se retrata no caráter das pessoas aqui radicadas. Maringá brotou do vigor de homens e mulheres desprovidos de luxo, mas dispostos a vencer. Para cá se mudou, naquele início de derrubada da floresta, gente da lida, disposta a não se deixar esmagar pelas aflições e carências que hoje assombram quem ouve contar. A cidade nasceu e se solidificou esquecida dos políticos e abastados, que por ela só vieram a demonstrar interesse quando apareceram as primeiras promessas efetivas de retorno eleitoral ou financeiro. Não obstante, também foi exigido algum tipo de presença do poder público. Ações desencadeadoras do progresso dificilmente se produzem à margem do comando político ou econômico, quase sempre unificados nas mesmas mãos. Em país patrimonialista e cartorial como o nosso, raros são os passos dados sem a autorização, o beneplácito ou as benesses do governo. Não seria o Norte do Paraná que inauguraria regime de absoluta autonomia dos empreendedores frente aos governantes. A colonização se fez a partir da entrega, por parte do Estado, de imensas áreas a grupos dispostos a investir, na certeza de lucros vindouros. À União e Unidades Federativas sempre pertenceu o direito de posse ou de uso do território, cabendo-lhes historicamente disciplinar a forma de apropriação da terra. A começar do projeto posto em prática, desde o descobrimento, pela metrópole na exploração das riquezas naturais da nova colônia. Quatro séculos mais tarde, as mudanças na situação agrária ainda refletiriam o prolongamento natural das políticas oficiais sobre o tema. Os movimentos expansionistas ocorridos no Paraná antes da década de 30 vão marcarse, na sua fase inicial, pela transferência da forma pública para a forma particular de apropriação da terra privilegiando, de um lado, a grande propriedade e, de outro, na condição de grandes proprietários, elementos vinculados a uma reduzida faixa da população, justamente a que melhor se relacionava com o poder político dominante. Num

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segundo momento, a estrutura agrária tradicional, construída com base na grande propriedade (leia-se sesmarias) sofre um processo de desagregação calcado em interesses maiores do poder dominante (importação de trabalhadores livres para substituir o trabalhador escravo nas lavouras de exportação) e com isso a estrutura fundiária paranaense abre espaço para a pequena propriedade, destinada a outra categoria de elementos privilegiados: o imigrante estrangeiro. O interesse do poder dominante, que deveria ser viabilizado através da pequena propriedade e através do imigrante estrangeiro, era a ocupação efetiva do território (o Paraná, que a esta altura, podia ser considerado um vazio demográfico) e ao mesmo tempo era estabelecer a exploração econômica da terra (as sesmarias, apesar das grandes extensões que ocupavam, não produziam sequer para garantir a subsistência de seus poucos moradores) (SERRA, 1991, f. 42). Até o início do século XVII, “todo o espaço paranaense se constituía em propriedade pública sob o domínio da Coroa portuguesa”. A sesmaria, que disciplina o uso da terra no Brasil, determina a passagem da forma pública para a particular, constituindo-se em regime jurídico de acesso à terra e repartição dela. No Paraná, a primeira carta de sesmaria data de 1614 (SERRA, 1991, p. 44). Por séculos, será o modelo de exploração das reservas naturais de um território por demais amplo e desconhecido. Em 1808, por determinação do príncipe regente dom João, é concedido também a estrangeiros o direito a sesmarias, com “a intenção de aumentar as lavouras e a população, que era muito pequena em todo o Estado brasileiro” (CAMARGO, 2004, p. 199).1 Bem próxima da emancipação política do Paraná (1853) e, por isso, influenciando significativamente a vida da nova Província, a Lei de Terras (Lei 601), de 1850, altera o regime de exploração do solo, aceitando o conceito de colonização pelo qual se reconhece o direito de “importar” colonos livres estrangeiros para serem empregados em colônias. Às autoridades da época figurava impossível a tarefa de ocupar e aproveitar as imensas vastidões de um país continente com os poucos cidadãos brancos aqui estabelecidos ou outros possíveis de, a partir da metrópole portuguesa, para cá se transferirem. A prática de escravizar os indígenas aqui encontrados de há muito havia se revelado contraproducente e, por isso, fora abandonada. O uso do escravo negro, importado da África, apesar de se prolongar por tempo excessivamente superior ao verificado em outros países, já não oferecia as facilidades nem o rendimento econômico dos primeiros tempos. Por outro lado, o clima tropical, tido por insuportável, e a terra, embora cheia de promessas, também coalhada de agruras aparentemente invencíveis, não animavam o homem da metrópole a um esforço do qual se sentia incapaz. Melhor arrebanhar gente mais afeita a esse rude mister. Daí a abertura a colonizadores. Colonização passa a corresponder à implantação de colônias e agricultores estrangeiros, em regiões previamente determinadas pelo Estado, segundo critério que levou em conta a necessidade de produção de gêneros alimentícios para o abastecimento das populações urbanas (SERRA, 1991, f. 61). Mas o Paraná tardou a ver exploradas as suas áreas interioranas situadas mais para oeste, distantes do litoral. Mesmo com a emancipação política, na segunda metade do século XIX, o aproveitamento e a povoação da Província continuaram a concentrar-se na região costeira, a partir de Paranaguá, subindo a Curitiba e estendendo-se aos Campos Gerais. Desde a primeira metade do século XVII, o Paraná já era conhecido como parte do Sul do Brasil, não só pela proximidade geográfica com o eixo São Vicente-Rio de Janeiro-Bahia, mas também pela descoberta de ouro no litoral e nos sertões de Paranaguá. Como, no entanto, o rico metal não aparecia em quantidade significativa, logo se extinguiu. Desde então, a economia estruturou-se, a partir de

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1 A nova Província do Paraná revelou-se bastante aberta à colonização de agricultores estrangeiros e franqueou terra a imigrantes de diferentes procedências, que aqui estabeleceram agrupamentos, preservando os traços da cultura de origem. O Paraná dos nossos dias continua uma das unidades da Federação com maior número de grupos nacionais originários de países sobretudo da Europa (alemães, russos, poloneses, ucranianos, italianos, suíços, holandeses, mas também japoneses, coreanos e outros. A propósito confira Camargo (2004, p. 201-213).

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outras fontes de renda, na região dos Campos Gerais. O grande negócio que se firmou na segunda metade do século XVIII e início do século XIX foi à criação de gado, seguida de invernagem de gado muar que, a partir de 1731, com a abertura da Estrada do Viamão, do Rio Grande do Sul, destinava-se à feira de Sorocaba, objetivando os trabalhos e transportes das minas gerais e das fazendas de café. [...] Organizaram-se pousos, invernadas, freguesias, como as de Sant’Ana do Iapó, de Santo Antonio da Lapa, e outras, originando vilas e cidades do Paraná tradicional. Com base no criatório e na invernagem, foram ocupados os campos de Curitiba, os Campos Gerais, bem como, no século XIX, aqueles de Guarapuava e Palmas (CARDOSO; WESTPHALEN, 1981, p. 19). Só lá pelo final do século XIX tem início o desbravamento das terras do noroeste, partindo do Norte Pioneiro, já parcialmente ocupado, próximo à divisa com o Estado de São Paulo, no prolongamento da Estrada de Ferro Sorocabana. A fama das “terras roxas do Paraná” já houvera anteriormente alcançado Itajubá (MG), motivando o major Thomaz Pereira da Silva, em 1865, a formar sociedade com amigos e parentes para adquirir a posse de Domiciano Machado, uma gleba junto ao rio das Cinzas. Ele se deslocou de Minas Gerais, no final do ano, pelo caminho conhecido de então, que seguia por Pouso Alegre, Ouro Fino, Itapira, Mogi-Mirim, Amparo, Campinas, Itu, Sorocaba, Itapetininga, Itaporanga para, finalmente, cruzar o rio Itararé, penetrando no Paraná. A fertilidade do solo atraiu mais gente de Minas e também da Província de São Paulo, além de fluminenses e capixabas, que formaram imensos cafezais. Assim tiveram origem cidades como Tomazina, São José da Boa Vista, Siqueira Campos, Venceslau Brás, Ibaiti, Pinhalão e Jaboti. Embrenhando-se, agora, mais para oeste, a ocupação chegou até o rio Tibagi, onde se deteve. Atribuise a João da Silva Machado, conhecido como barão de Antonina, a fundação, em 2 de janeiro de 1851, da Colônia Militar de Jataí, junto do rio Tibagi, onde tropas brasileiras se aquartelaram para enfrentar as tropas de Francisco Solano López, na Guerra do Paraguai. O barão passaria a ser conhecido pelos serviços prestados ao Império e pela extensão de terras das quais se apropriou (SERRA, 1991, f. 47-49; CAMARGO, 2004, p. 120-125). A sociedade tradicional ocupara apenas as zonas de campos, de ervais e de araucárias. Restavam vazias as grandes florestas dos vales do Paranapanema, Paraná, Ivaí e Iguaçu. Dois movimentos populacionais extraordinários ocorreram paralelamente, resultando na formação do Paraná moderno. Um, mais ruidoso e visível, impulsionado pela lavoura tradicional do café, ocupando o Norte do Paraná; outro, ainda que a princípio menos espetacular, mas tão conseqüente quanto o primeiro, aquele da ocupação do Sudoeste do Paraná. Desde o final do século XVIII, o café do litoral do Paraná é encontrado nas listas de exportação de Paranaguá, contudo sem expressão econômica. Nos meados do século XIX também já se produzia café, para consumo interno, nos aldeamentos indígenas de São Pedro de Alcântara e de São Jerônimo, e na colônia militar do Jataí. Porém, o café de fato entrou no Paraná no final do século, com a frente pioneira que procurava terras para a empresa agrícola cafeeira, de modo espontâneo, e com o estabelecimento de fazendas no tradicional estilo paulista e como uma extensão deste. De início, a existência de fertilíssimas terras roxas disponíveis, o clima favorável e o não gravamento do café paranaense pelo regime de quotas foram condicionantes da intensificação da cafeicultura em território paranaense. Penetram pelos cursos superior e médio do Itararé e, no decorrer de um século, o café se estende dominantemente em todo o Norte do Paraná, em três zonas sucessivas, as duas últimas com maior impetuosidade face à conjuntura. A primeira, do Norte Velho, desde a divisa Nordeste com São Paulo, até Cornélio Procópio, colonizada entre 1860 e 1925; a segunda, do Norte Novo que, desde Cornélio Procópio, abrange Londrina, prolongando-se até o rio Ivaí, colonizada entre 1920 e 1950; e a última, no Norte Novíssimo, entre os rios Ivaí e Piquiri, colonizada desde 1940, até 1960 sobretudo, quando se encerra o ciclo de grande dinamismo da cafeicultura paranaense (CARDOSO; WESTPHALEN, 1981, p. 10).

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Consta ter sido o fluminense Antonio Calixto, em 1886, o primeiro desbravador de Jacarezinho, que viria, depois, a constituir-se em capital do Norte Pioneiro e sede do único bispado que, durante 31 anos, ocupou toda a parte setentrional do Estado, desde a divisa com São Paulo até o rio Paraná, no extremo oeste, confrontando com o atual Mato Grosso do Sul (CAMARGO, 2004, p. 150-152; FEDALTO, 2004, f. 148).2 Pelo espaço de aproximados quarenta anos vai ainda permanecer coberta pela exuberante mata, intocada e selvagem, a extensa faixa territorial detentora de solos reconhecidos como dos mais férteis do planeta. Contudo, desde o momento em que a Companhia de Terras Norte do Paraná adquiriu o direito de explorar uma imensa gleba de floresta, implantando, a seguir, o seu projeto de colonização, bastaram menos de quarenta anos para a completa ocupação de toda a área. Em que pese a correta orientação eventualmente dispensada pela colonizadora aos novos proprietários da terra, a voracidade do lucro ao alcance da mão aliada ao desconhecimento do correto uso do solo – ainda que à custa de sofrido esforço para, nos anos bons, extrair da terra generosas safras – determinou a investida sobre os recursos naturais de uma região virgem, ocasionando perdas irreparáveis de que hoje nos ressentimos todos. A região comumente chamada Norte do Paraná pode ser definida como a soma territorial dos vales muito férteis formados pelos afluentes da margem esquerda do rio Paraná e Paranapanema, no arco que esses dois cursos d’água traçam entre as cidades de Cambará e Guaíra. É suave o relevo e muito regular a distribuição dos rios. Colinas mansas, vales não muito profundos, espigões abaulados e de fácil acesso. A orientação predominante dos afluentes do Paranapanema é Sudeste-Noroeste, e todos eles integram a rede hidrográfica característica do planalto definido pela Serra do Mar, cujos rios se afastam do litoral no rumo da extensa depressão existente no centro do continente sul-americano: a Bacia Paraná-Uruguai. Essa região – definida pelos rios Itararé, Paranapanema, Paraná, Ivaí e Piquiri – abrange uma superfície de aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados, dividida em três áreas, segundo a época e a origem da respectiva colonização: o Norte Velho, que se estende do rio Itararé até a margem direita do rio Tibagi; o Norte Novo, que vai até as barrancas do rio Ivaí e tem como limite, a Oeste, a linha traçada entre as cidades de Terra Rica e Terra Boa; e o Norte Novíssimo, que se desdobra dessa linha até o curso do rio Paraná, ultrapassa o rio Ivaí e abarca toda a margem direita do Piquiri (COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ, 1977, p. 35).

O “vazio demográfico” Embora responsáveis pela construção do país e do povo brasileiro em proporção por vezes maior que o branco de origem européia, o negro e o índio jamais conseguiram registrar a sua visão da história. Ensinada nas escolas e cultivada pelo homem comum, a historiografia oficial, produzida por brancos e vista sob a ótica dos conquistadores, é responsável pela crença de que, antes da década de 30 (1921-1930), toda a superfície do Norte Novo e do Norte Novíssimo do Paraná achava-se desprovida de habitantes, povoada tão somente por animais e plantas (MOTA, 1994, p. 17-59, 63-89).3 A ser exata essa interpretação, apenas nos alvores do século XX, no prolongamento da colonização do Norte Pioneiro, nossa região teria começado a sofrer ocupação, atraindo gente de todos os cantos do Brasil e

2 No final de outubro de 2006, Fedalto comunicou ao autor deste relato que sua obra sairá publicada em livro, que, evidentemente, não conservará a mesma paginação aqui referida. As presentes indicações bibliográficas remetem às anotações pessoais, gentilmente cedidas por ele.

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3 O professor da Universidade Estadual de Maringá relaciona as repetidas afirmações de sociólogos e historiadores sobre o “vazio demográfico” do Norte do Paraná por aproximadamente dois séculos antes de 1925. A seu ver, a construção do vazio demográfico respondeu ao interesse de criar “uma forma de ocultar os conflitos indígenas no Paraná”. Em seguida, a partir de documentos, destrói a confiabilidade da teoria, comprovando a presença de habitantes no Paraná desde a pré-história. A existência, entre Paiçandu e Doutor Camargo, do “cemitério dos caboclos” comprova a presença de habitantes muito antes da colonização iniciada com a inglesa CTNP. O cemitério é seguro indício histórico, embora careça, no entender de Mota, de estudo mais aprofundado.

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de outros países. Antes desse tempo, nada mais teria sido senão exuberante selva desabitada. A verdade, porém, é bem outra. Desde séculos, aos milhares, viviam e circulavam pessoas por todo o Norte paranaense. Relatos de viajantes que se aventuraram por estas bandas bem como de outros que vieram aqui fixar residência informam a presença de indígenas ocupantes da mata que se estendia para o interior; espessa, desconhecida, jamais pisada por pé de homem civilizado. Donos de cultura própria, afeitos a práticas de uma vida distinta da dos brancos, desde tempos imemoriais os silvícolas conviviam bem com os recursos de um meio extraordinariamente rico, que atendia com sobra às suas necessidades. Aquilo que aos intrusos se afigurava entrave e privação para os naturais da selva traduzia riqueza e possibilidade. Dentre os colonizadores ingleses da CTNP dos tempos do início alguns deixaram registros escritos, como Gordon Fox Rule, o mais antigo funcionário em atividade por ocasião do cinqüentenário da Companhia, em 1975. De seu depoimento faz parte o trecho seguinte: Certa vez paramos na estrada para encher de água o radiador do nosso fordeco e de repente ouvimos de todos os lados, vindo da mata, o som de paus batendo nas árvores. Eram os índios que então existiam nos arredores do que viria a ser a nossa progressista Londrina de hoje. Isso foi em 1930. Lem1bro-me bem de que todos queriam correr, mas eu os acalmei e disse que fizessem tudo com naturalidade. Ouvíamos os índios mas não podíamos vê-los. Pouco a pouco nos aproximamos do automóvel, sempre ao som das batidas nas árvores, enchemos de água o radiador e zarpamos a toda velocidade. Quando a Companhia estava construindo em Jataí um desvio para virar locomotivas, os funcionários deram com urnas mortuárias dos índios da região, algumas das quais foram enviadas para o Museu Histórico do Rio de Janeiro (COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ, 1977, p. 86). Também o território onde se desenvolveu, a partir 24 de março de 1957, a diocese de Maringá foi palco da ocupação prolongada de silvícolas, que aqui desenvolveram vida inteiramente regular, tanto que se multiplicaram chegando a constituir organizados agrupamentos de milhares de indivíduos. Segundo o Atlas Histórico do Paraná, criteriosamente elaborado por professores da Universidade Federal do Paraná, descobertas arqueológicas revelaram indícios da presença de grupos indígenas entre 7500 a.C. e 1500 d.C., pelo menos na região da foz do rio Pirapó, que deságua no Paranapanema, entre os hoje municípios de Jardim Olinda e de Itaguajé; e, no rio Ivaí, em área dos atuais municípios de São Carlos do Ivaí, São Jorge do Ivaí e Doutor Camargo. Pesquisas recentes de respeitados professores da Universidade Estadual de Maringá atestam a presença de habitantes primitivos em território do perímetro urbano de Maringá e região. Se compararmos a duração dos períodos de ocupação das diversas populações que viveram neste território, veremos que os 50 anos de Maringá são ínfimos em relação aos mais de 2.000 anos de presença Guarani, Xokleng ou Kaingang. Menos significativos, ainda, se comparados aos 7.000 anos da presença da população, que os arqueólogos denominaram como ‘Tradição Humaitá’. [...] Diante dessas evidências, é importante ressaltar que o fundador de Maringá não foram os primeiros humanos a ocupar a região; nem foram os caboclos que aqui chegaram antes. O mesmo pode-se dizer dos militares e das expedições de reconhecimento da antiga província do Paraná no século XIX ou dos espanhóis que fundaram Vila Rica por volta de 1578, no atual município de Fênix, e dos jesuítas que fundaram diversas reduções nos vales dos rios Paranapanema, Tibagi, Ivaí e Pirapó (NOELLI; MOTA, 2000, p. 7-8). Entre todos os povos indígenas que ocuparam a nossa região sobressaem, por várias razões, os Guarani, cuja denominação indica tanto o povo como a língua falada. Originários das bacias dos rios Madeira e Guaporé, na região amazônica, espalharam-se por praticamente todo o interior do sul do Brasil, desde há pelo menos 2.000 anos Ocupavam novas regiões sem abandonar as antigas. Informam os professores Noelli e Mota:

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Dessa maneira, iam ocupando as várzeas dos grandes rios e, com o passar do tempo, as áreas banhadas por rios cada vez menores. Por exemplo, após dominar as terras próximas do rio Ivaí e Pirapó, ocuparam trechos ao longo de alguns dos ribeirões que banham o divisor de águas onde está situada Maringá. Como havia uma série de caminhos no entorno das aldeias, para ir às roças, às áreas de caça, pesca e coleta etc., bem como para ir até as aldeias vizinhas, é provável que a área de Maringá fosse local de passagem ou contato entre as aldeias do Ivaí e do Pirapó (NOELLI; MOTA, 2000, p. 13).4 Até 1600 d.C., cem anos depois do descobrimento do Brasil, a inteira região abrangida pela arquidiocese de Maringá e pela atual diocese de Paranavaí (além da quase totalidade do espaço ocupado pela arquidiocese de Londrina e pelas dioceses de Apucarana e de Campo Mourão) se constituía de terras cobertas de floresta tropical e subtropical (CARDOSO; WESTPHALEN, 1981, p. 14-25). O descobrimento da América, em 1492, e do Brasil, em 1500, vai determinar total reviravolta na vida das populações primitivas que, a partir desse momento, verão espezinhada sua original condição de soberanas da terra para se converterem em empecilho à conquista empreendida por espanhóis e portugueses. Para elas revelaram-se trágicas as conseqüências do choque de suas milenares culturas com o modo de vida dos invasores europeus, que passaram a identificá-las como seres brutos, indolentes e perigosos.

Cristianização oficial x zelo missionário No entardecer do século XV, Espanha e Portugal alinhavam-se na Europa como nações católicas num palco de conflitos políticos, econômicos, sociais e religiosos que acabariam por desembocar na Reforma Protestante. Aproveitando o domínio exercido no período áureo da navegação marítima e dos grandes descobrimentos, juntamente com a ambição por supostas fortunas que imaginavam disponíveis em terras de além-mar, por exploração do comércio de especiarias e de outras riquezas, reis ou rainhas dos dois países nutriam, ao mesmo tempo, o anseio de ampliar a fé católica. Junto com privilégios papais haviam recebido a incumbência de levar aos novos territórios a religião da metrópole. O que determina o início da evangelização da América Latina é a concessão feita pelos papas do chamado “direito de fé” aos reis católicos, elevados, por isso, à condição de defensores da religião católica e de responsáveis pela sua pregação nos territórios conquistados. “Dilatar a fé e o reino” era o mote do rei de Portugal (FEDALTO, 2004, f. 34). Por esse regime, conhecido como “padroado”, competia aos soberanos espanhóis e portugueses administrar os negócios eclesiásticos, o que os transformava nos verdadeiros chefes da Igreja da América Latina. A conseqüência era a submissão dos índios à coroa castelhana ou portuguesa. As decisões papais afetavam o destino não só do mundo conhecido, mas também das regiões a serem descobertas. Em época de cristandade, reconhecia-se ao romano pontífice o poder de decisão inclusive sobre assuntos político-administrativos da Europa e do mundo todo. Em 1494, o papa Alexandre VI aprovou o Tratado de Tordesilhas, pelo qual Portugal e Espanha repartiriam entre si as colônias delimitadas pelo meridiano situado a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. Não definia, contudo, que ilha tomar como referência nem que tipo de légua usar como medida. O Tratado conseguiu suscitar constantes discussões e muito pouco entendimento, apesar de repetidas tentativas de acordo. Por esse diploma, a parte oeste do Brasil era propriedade de Castela, cabendo a Portugal a parte leste. A linha divisória corria, para a coroa portuguesa, de Belém (PA) a Santana, hoje Laguna (SC). Para Castela, no entanto, terminava na barra de Paranaguá (PR). Além da disputa sobre o traçado exato, ainda Portugal esteve, entre 1580 e 1640, sob o comando da coroa de Castela, unificando-se, dessa forma, a posse do território inteiro. A cobiça de habitantes dos campos de Piratininga (bandeirantes, ou simplesmente paulistas), em seu avanço para o sertão, determinou que, a partir do século XVII, as fronteiras do Brasil português se alargassem enormemente. O crescimento territorial, entretanto,

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4 Informam ainda a descoberta, até o ano 2000, de sítios arqueológicos nos ribeirões Keçaba e Pingüim, com possibilidade de sítios nos ribeirões Maringá, Morangueira, Sarandi, Borba Gato e Aquidaban.

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não se fez acompanhar de igual respeito pelos indígenas que, aos milhares, foram submetidos à escravidão ou mortos pelos sertanistas. Só quem se levantou em sua defesa foram os missionários, embora até um ou outro admitisse o trabalho escravo, desde que sem maus tratos aos silvícolas. Alguns sobressaem aos seus iguais. Não há quem não se deixe enternecer ao tomar conhecimento do vigoroso humanismo e vivíssima fé que irrompem das páginas apaixonadas de um Bartolomé de las Casas (1474-1566). Em razão de seu destemido zelo na defesa dos índios diante dos conquistadores, o enérgico dominicano foi, com justiça, cognominado “Apóstolo das Índias”. Por longo tempo, manteve ácida polêmica com Juan Ginés de Sepúlveda, teólogo jurista da corte de Espanha, que pretendia legitimar o uso da força em guerras “justas” contra os índios. Encerrando as justificativas de uma evangelização pacífica, argumenta las Casas: Os índios são nossos irmãos, pelos quais Cristo deu sua vida. Por que os perseguimos sem que tenham merecido tal coisa, com desumana crueldade? O passado, e o que deixou de ser feito, não tem remédio; seja atribuído à nossa fraqueza sempre que for feita a restituição dos bens impiamente arrebatados. [...] Sejam enviados aos índios pregoeiros íntegros, cujos costumes sejam espelho de Jesus Cristo e cujas almas sejam reflexo das de Pedro e Paulo. Se for feito assim, estou convencido de que eles abraçarão a doutrina evangélica, pois não são néscios nem bárbaros, mas de inata sinceridade, simples, modestos, mansos e, finalmente, tais que estou certo que não existe outra gente mais

Las Casas foi defensor acérrimo dos índios contra a crueldade dos brancos (PURCHAS, 1625).

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disposta do que eles a abraçar o Evangelho, o qual, uma vez por eles recebido, é admirável com que piedade, fé e caridade cumprem os preceitos de Cristo e veneram os sacramentos (LAS CASAS apud SUESS, 1992, p. 543). Las Casas não representa, certamente, uma exceção. Originários da Europa, onde os formadores se empenhavam em dotar a Igreja de homens novos frente aos desafios da Reforma incipiente, os missionários – franciscanos, dominicanos, agostinianos ou carmelitas – eram provados no cultivo de valores humanos e virtudes cristãs antes de serem admitidos para o embarque rumo ao Novo Mundo. Ainda assim, a saga da cristianização dos habitantes das matas, acompanhada das notícias de atrocidades sem nome cometidas contra eles, chegou até nós predominantemente nos relatos de jesuítas, que mais fartamente documentaram sua atividade evangelizadora nas terras descobertas. Até 1549, todos os contatos entre nativos do Novo Mundo e missionários haviam sido estabelecidos por membros das ordens franciscana e dominicana. Mas os franciscanos escreviam pouco sobre suas experiências no Novo Mundo, e a principal fonte de informação disponível para os jesuítas antes de sua chegada ao Brasil eram, portanto, os relatos escritos pelos dominicanos envolvidos em atividades missionárias. Os jesuítas seguiram de perto a abordagem missionária de seus colegas dominicanos: defendiam os nativos das tentativas dos colonos de escravizá-los e aprendiam as línguas indígenas para melhor explicar as coisas da fé para os nativos pagãos (EINSENBERG, 2000, p. 69).

Jesuítas e bandeirantes Ainda hoje o esforço evangelizador desenvolvido pelos discípulos de Inácio de Loyola em favor dos indígenas é visto com eventuais ressalvas, fruto, quase sempre, de antipatia pela Igreja Católica, pela Companhia de Jesus, ou de incompreensão do contexto histórico e cultural da época das reduções. Por maior que seja o empenho pessoal, continuará problemático o entendimento de todas as variáveis de eventos que escapam à experiência de quem os narra. Assim, não surpreende que um ou outro autor, até respeitável, emita opinião contrastante com a da parcela mais representativa de seus pares, a exemplo da apreciação passional de nosso José Basílio da Gama (c.1741-1795), no célebre épico Uraguai, onde se lêem qualificações rancorosas como “império tirânico, injusto, oculto”, “república infame”, “organismo profundamente perverso” (CAVASO, 1980, p. 10). Como em qualquer evento, aqui também o ódio, o preconceito ou a desinformação revela-se inimigo da verdade.

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A obra capital da Igreja foi, antes de mais, a conversão dos índios a um cristianismo sumário, primeiro e decisivo passo no sentido da europeização. O clero secular, desconhecedor das línguas indígenas e ávido de gozar as suas gordas prebendas, não se entregou à grande obra missionária. Mas as ordens religiosas – franciscanos, dominicanos, agostinhos – desempenharam, no trabalho da conversão dos indígenas, um papel capital antes que os jesuítas viessem ocupar o lugar de vanguarda nos séculos XVII e XVIII. Levaram a cabo um trabalho lingüístico e etnológico de compreensão em profundidade, a fim de darem alicerce à obra realizada. O grande pioneiro foi Bernardino Ribeira de Sahagun, o pai da etnografia índia na Nova Espanha do século XVI. Essa obra foi também de proteção dos índios e a ela ficará para sempre ligado o nome de Bartolomé de las Casas, que conseguiu comover Carlos Quinto ao relatar-lhe as desgraças de que fora testemunha e que esteve na origem do Código das Novas Leis (1545), cuja aplicação efetiva nunca conseguiu obter. Os jesuítas, nos séculos XVII e XVIII, exerceram sobre os índios das suas missões uma proteção vigilante, mas muitas vezes tirânica; forçados a viver em aldeias (reducciones) e a trabalhar aí a terra, castigados como crianças com punições corporais, eram mais os súditos de pequenas teocracias do que propriamente do rei da Espanha. À frente de milícias índias, os jesuítas das célebres missões do Paraguai repeliam os assaltos dos caçadores de escravos, os bandeirantes paulistas. O espírito de independência da Companhia valeu-lhes inimizades sólidas que


se cristalizaram no decreto de expulsão de 27 de março de 1767. Ninguém pode avaliar o golpe assestado por essa medida nas Índias de Castela. O melhor traço de união entre a Europa e o mundo índio foi destruído pela vontade de Carlos III (CHAUNU, 1971, p. 36).5 Pesquisadores ou escritores que do assunto se ocuparam demonstram, em sua absoluta maioria, respeito ao trabalho dos abnegados missionários, que outra coisa não tinham em mira além da conversão dos pagãos à fé cristã. Voltaire (François Marie Arouet, 1694-1778), conhecido pela antipatia devotada à Igreja Católica, não se constrangeu em afirmar que “a fundação do Paraguai unicamente pelos jesuítas espanhóis, sob certos aspectos, revela o triunfo da humanidade”. Entre outros de renome internacional aplaudem ainda a obra jesuítica o arqueólogo e historiador italiano Ludovico Antonio Muratori (1672-1750), Chateaubriand (François René, 1768-1848) e Buffon (Georges Louis Leclerc, 1707-1788), para quem “nada conferiu à religião tanta honra quanto o fato de ter civilizado aquelas nações e lançado os fundamentos de um império, sem outra arma além da virtude” (CAVASO, 1980, p. 10). Evidentemente, nascida da têmpera forte de Inácio de Loyola, espanhol e soldado, a espiritualidade da Companhia de Jesus atribuía grande importância à disciplina de seus membros, convidados a integrar o “exército do papa” na luta em defesa da fé ameaçada pelos conceitos dos pregadores da Reforma. Da nova ordem religiosa esperava-se, conforme o espírito inaciano, total fidelidade à doutrina católica e obediência absoluta aos superiores, em especial ao Sumo Pontífice. O fundador insistiria, segundo consta, na necessidade de obediência sem discussão, tamquam cadaver (= como um cadáver). Para a época e a compreensão da fé vista à luz de sua radicalidade, nada havia de chocante em tal proposta. A “redução” implicava, sem dúvida, no rompimento com o modo de viver dos habitantes do Novo Mundo. Na ânsia, contudo, de convertê-los ao Evangelho, sentiam-se os missionários inabalavelmente convictos de que por esse caminho os ajudariam a se inserirem no seio da comunidade de salvação, a Igreja, proporcionando-lhes os benefícios espirituais da fé, e os culturais da vida civilizada. Note-se que chamamos ‘Reduções’ aos ‘povos’ ou povoados de índios que vivendo à sua antiga usança em selvas, serras e vales, junto a arroios escondidos, em três, quatro, ou seis casas apenas, separados uns dos outros em questão de léguas duas, três ou mais, ‘reduziu-os’ a diligência dos padres a povoações não pequenas e à vida política (civilizada) e humana, beneficiando algodão com que se vistam, porque em geral viviam na desnudez, nem ainda cobrindo o que a natureza ocultou (MONTOYA, 1997, p. 35).6 Não há em ninguém daquele tempo exemplo de sacrifício igual pela causa indígena como a posta em prática por esses abnegados pregadores. Seria extremamente injusto exigir para o século XVII os hodiernos critérios de apreciação da cultura indígena assim como os conhecimentos de que se beneficiam, entre outras, disciplinas modernas como antropologia e missiologia. Através das reduções, os jesuítas implantaram nova forma de evangelizar, que contrastava com tudo o que, até ali, fora empregado por outros missionários. Não havia como conseguir aprovação unânime e imediata para um método desconhecido e oposto aos interesses dos colonos. As Reduções jesuíticas, que datam da primeira década do século XVII, encarnavam uma clara alternativa aos métodos existentes de evangelização pastoral e marcaram uma ruptura com os conceitos que haviam prevalecido desde o período de experimentação

5 Para “agostinhos” melhor tradução seria “agostinianos”. 6 O livro, considerado um clássico das reduções jesuíticas do antigo Paraguai (atual Estado do Paraná, no Brasil), é tido por quase inacessível, tanto na edição espanhola, feita em Madri, em 1639, quanto na de 1892, editada em Bilbao, da qual foi feita a presente tradução por padre Arnaldo Buxel, SJ, com revisão e notas de padre Arthur Rabuske, SJ.

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missionária na primeira metade do século XVI e um retorno ao mundo de Las Casas e Quiroga [...] Os jesuítas têm o mérito histórico de ter praticado amplamente um modelo de evangelização que contrastava com a fórmula predominante na época da pregação do evangelho, e ao mesmo tempo de colonização e hispanização dos conversos, como se os evangelizadores tivessem de ser a máquina de integração. As reduções proclamavam desafiadoramente a necessidade de construir uma sociedade paralela à dos colonos, livre da interferência tanto destes quanto de uma administração civil sensível aos interesses destes. Como se recusavam a atuar como reservatórios da mão-de-obra para os colonos, as Reduções estavam aptas a estabelecer uma evangelização baseada no interesse pela personalidade integral do converso. Seu objetivo não era apenas doutrinar, mas fortalecer a vida social e econômica dos índios em todos os aspetos. [...] O caráter efetivamente utópico do sistema de Reduções torna-se claro a partir dos muitos antagonismos que provocou – da parte dos competidores coloniais espanhóis, das autoridades civis, dos colonos (privados do acesso à mão-de-obra indígena) e da igreja diocesana, entre outros. Como princípio básico, a evangelização através do sistema de Reduções, adotava a crença de que “se deve fazer homens antes de se poder fazer cristãos”. Mas deve-se também reconhecer que o sistema estava fadado a um sucesso menos que limitado pelo fato de que exigia que o chamado mundo cristão das colônias aceitasse que os índios eram integralmente homens, e totalmente livres, sem sofrer nem injustiças nem exploração”, como afirmava Bartolomé Meliá. A hostilidade para com as Reduções seria um dos fatores por trás da expulsão dos responsáveis por elas no final do século XVIII (BARNADAS, 1998, p. 554-545). Romário Martins, apoiado em Southey (não católico, mas suficientemente imparcial para reconhecer os méritos de grandes pregadores da fé que foram os discípulos de Inácio de Loyola), não sente nenhuma dificuldade em admitir: O sistema adotado pelos jesuítas para a conversão do gentio de Guaíra assentou na vantagem da fundação de aldeias onde fosse constante a assistência dos religiosos, de preferência às visitas periódicas às suas tabas, como ocorrera até então. A essas aldeias para onde removiam os conversos chamaram reduções. Ao tempo da conquista do sertão, reduzir índios era prepará-los, como faziam os bandeirantes, para vendê-los ou escravizá-los às suas fazendas. Mas parece que ao denominarem redução às aldeias que fundaram, pretenderam os jesuítas significar que as constituíam redutos, isto é, defesas à intromissão dos perseguidores dos índios, pois que ao tempo, nas terras da coroa de Castela, à qual Guaíra pertencia, o gentio era repartido pelos senhores brancos, sob o odioso regime da Janacona e da Mitaya, para que os servissem como escravos, ou simplesmente caçados como o faziam os paulistas. Da idéia da redução sobreveio o alto pensamento de se constituir, com o conjunto das reduções, uma república guarani, segundo o ideal de perfeição cristã, da qual foi Guaíra a construção fundamental, prosseguida depois nas missões orientais entre os rios Uruguai e Paraná, em grande parte em território atual do Rio Grande do Sul. Santo Inácio Maior, ao ocidente do rio Paraná, foi a primeira redução fundada de acordo com o novo sistema, e, a seguir, Loreto e Santo Inácio Míni, ao sul do Paranapanema, assumiram desde logo, a partir de 1610, a máxima preponderância na obra civilizadora exsurgida no sertão sul-americano, ao ponto de, por ocasião do seu forçado abandono, rivalizarem com as melhores povoações do Paraguai, contando a primeira novecentas famílias e a segunda, oitocentas. As igrejas eram maiores que as de Assunção e melhores os seus ornatos, tendo os moradores chegado ao grau de civilização a que se propunha o sistema (MARTINS, 1995a, p. 83-84).7

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7 Mota é contrário à idéia de uma ”república” Guarani, conforme esclareceu ao autor destas notas num dos vários diálogos, nos primeiros dias de fevereiro de 2006, mantidos no CCH - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, da UEM.

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A Província de Guairá figurava entre as mais importantes do governo do Rio da Prata, subdivisão do vice-reino do Peru, extensão aquém-mar do poderoso reino de Castela. Os primeiros jesuítas que nela penetraram foram os padres Manuel Ortega, português, e Thomas Fields, irlandês, em agosto de 1587, vindos da província jesuítica do Brasil, depois de passarem por Assunção, para onde voltaram mais tarde. “Em 1609, dirigiram-se à região do Guairá os padres José Cataldino e Simon Mascetta. Anos depois, em 1612, incorporou-se às missões no Guairá o padre Antonio Ruiz de Montoya” (AGUILAR, 2002, p. 143), que viria a se tornar o principal cronista da evangelização promovida pelos jesuítas. Densamente povoada, banhada por generosos rios, cobiçada por riquezas que se acreditava guardar, a Província de Guairá ocupava espaço disputado por colonizadores espanhóis e portugueses. Limitava-se, ao norte, com o rio Paranapanema; a leste, em direção ao Atlântico, com a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, no território português das vilas de São Paulo e São Vicente. Para oeste, alcançava o grande rio Paraná, importante via de navegação e de escoamento de produtos, confrontando ainda com a Província do Itatim, entre os rios Paraguai, Miranda e Apa, hoje Mato Grosso do Sul.8 O Itatim era habitado pelos índios Guarani, dos quais seriam descendentes os atuais Kayová. Como fronteira ao sul, Guairá possuía o rio Uruguai, separando-a da Província de Tape (atuais Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul). O interior da Província era entrecortado pelos rios Tibagi, Pirapó, Ivaí, Piquiri e seus afluentes. Conhecida como terra dos Guarani, abrigava três grandes grupos, que se subdividem em inúmeras etnias indígenas: os Tupi (aos quais pertence a etnia Guarani), os Kren (dos quais no Paraná restam sobreviventes nos povos Kaingang e Xokleng) e os Jê, também chamados Botocudo. Divergindo embora entre si, autores falam de uma população de até 300.000 habitantes, que usavam predominantemente o idioma Guarani (AGUILAR, 2002, p. 129-133). Informa Lúcio Tadeu Mota que eles viviam da caça e da pesca, dedicavam-se à agricultura de subsistência e, para uso doméstico, ao artesanato. Não se afastavam muito das margens dos numerosos rios que banhavam todo o território. Depois de explorarem temporariamente uma área, plantavam árvores frutíferas e deslocavam-se para outra, sempre dentro de seu espaço. Evitavam penetrar em território ocupado por etnia diferente, conhecendo que seria motivo de guerra. Depois de alguns anos, voltavam a explorar as antigas áreas, onde as frutas plantadas já tinham atraído pássaros e animais de caça. O agrupamento dos habitantes da selva, reunidos pelos padres em novo modelo de vida, contemplava predominantemente o grupo Guarani, o mais expressivo. Mas o trabalho evangelizador visava formar comunidades pautadas pelas normas do Evangelho. Assim, não hesitaram os missionários em acolher também indígenas de origens diferentes, ainda que nem todos cultivassem práticas culturais idênticas. “A grande maioria dos povos indígenas reduzidos à direção dos jesuítas era Guarani, nos seus diversos matizes, porém índios de outros grupos foram também aldeados” (MARTINS, 1995, p. 77). Nas reduções, além dos Guarani encontravam-se também índios Campeiro, Kaingang, Cabeludo, Guaianá (por alguns considerados Tapuia), Carijó, Teminó e Tupi. O número de índios aldeados pelos padres da Companhia de Jesus ascendia a 100.000 por ocasião do ataque que sofreram, em 1629, das bandeiras lideradas por Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares. A batalha que se seguiu foi um covarde massacre seguido de aprisionamento atestado em correspondência enviada de Salvador, na Bahia, ao rei de Castela para exigir providências contra a invasão dos bandeirantes. Escrita em espanhol pelos jesuítas Simon Mascetta e Justo Mancilla, no dia 10 de outubro de 1629, a extensa carta consome várias folhas com informações pormenorizadas de atrocidades que deviam horrorizar o monarca. Sirva de exemplo: No princípio do mês de agosto de 1628, saíram da vila de S. Paulo até 900 portugueses com escopetas, espadas, seteiras, escudos, facões e muita munição de balas e pólvora e também de outras armas, acompanhados de 2.200 índios injustamente cativados em outros tempos [...]. Antônio Raposo Tavares foi declarado capitão maior da companhia [...]. O superior de campo de todas essas companhias foi Manuel Preto, autor de todas

8 Os índios das reduções da Província do Itatim sofreram também ataques dos bandeirantes, vendo-se forçados a fugir continuamente para o sul, até se localizarem, por fim, em área do atual Paraguai.

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estas incursões [...]. O que pretendemos e, por caminhos tão cansativos por terra e por mar, com tantas dificuldades e trabalhos viemos buscar, é algum remédio eficaz para o passado e para o futuro. Para o passado parece-nos não haver satisfação bastante a não ser a libertação dos índios que cativaram, voltando para suas terras e reduções todos ou a maior parte deles, para que nos sirvam de testemunhas de nossa inocência, junto aos de suas terras, de que não os entregamos aos portugueses [...]. Para o futuro, que se dê castigo muito exemplar, ou que de qualquer outro modo se ordene que, daqui por diante, se evitem semelhantes extorsões e cativeiros que, há tantos anos, vêm praticando esses de S. Paulo. Porque voltaram logo a saquear nossas outras aldeias e assim falam eles que gostaram da fruta, que lhes pareceu saborosa, e querem bem depressa voltar a ela [...]. Quando chegamos a S. Paulo, em 1º de maio de 1629, foram outra vez (as duas companhias), uma por terra, e outra, muito grande, de Manuel Preto, por mar [...]. Desde que se fundou a vila de S. Paulo, por conta da multidão de gente que arrancaram de nossas aldeias, confessam que jamais trouxeram tanta gente de uma vez. Dizem que só a companhia de Antônio Raposo Tavares, que saqueou nossas aldeias, trouxe até 20.000 almas. Por isso, é certo que, se agora não se corrigir, de forma eficaz e a mais rápida possível, logo hão de acabar e destruir tudo e despovoar todas aquelas terras tão populosas, como fizeram à maior parte do estado do Brasil não só destruindo trezentas aldeias de índios que havia anteriormente ao redor da mesma vila de S. Paulo, matando-os, escravizando-os e vendendo-os até que os consumiram a todos, e em menos de seis anos (coisa espantosa) acabaram sem resistência com até 200.000 mil almas que nelas havia, mas também correndo até as alturas do Maranhão e até o Rio de São Francisco, que entra no mar entre a Bahia e Pernambuco, e outras partes bem distantes, consumindo e queimando tudo (MANCILLA; MASSETA, 1629 apud CORTESÃO, 1951, p. 311-337, grifo e tradução nossos). Apesar de nominalmente católicos, não eram, em absoluto, modelos de vida cristã todos os espanhóis e portugueses que aportaram no Novo Mundo. Bem ao contrário. Procedentes do outro lado do Atlântico, muitos deles trabalhavam como funcionários no cuidado dos interesses da coroa, sujeitos, como se conhece, à corrupção e prepotência. Outros, aventureiros em busca de fortuna fácil numa terra de lei frouxa, não mostravam preocupações éticas, menos ainda convicções religiosas. Abandonando o litoral ou o planalto de Piratininga para se embrenharem por matas e rios desconhecidos, as bandeiras se montavam com homens rudes, violentos, capazes das piores atrocidades para alcançar seus propósitos. Os jesuítas defendiam valores opostos. Não havia como evitar o confronto. Não obstante revestirem sinais externos de temor de Deus e amor à Igreja – e, solertemente ou com reta intenção, participarem dos ritos religiosos oficiados pelos padres –, no fundo não eram mais que caçadores de fortuna. Fossem ouro e outros metais, fossem, por sua inexistência, índios preados para lucrativo comércio com os proprietários rurais de São Paulo e São Vicente. Desde que os jesuítas os reuniram em aldeamentos, por vezes, os bandeirantes se valiam de artimanhas e disfarces para alardear motivos de um ataque com aparência de “guerra justa”. Em outras ocasiões, nem se davam ao esforço da simulação. Irrompiam abruptamente nas reduções, arrebatando com violência quantos conseguissem. Ateavam fogo às casas, perseguiam, feriam, matavam sem o menor sinal de remorso. Jogavam com o lucro, mola mestra do comércio em todos os tempos. Vianna Moog faz, a respeito, interessante observação, concluindo com pensamento que define o antagonismo das posições, bem assim a contribuição de cada um, bandeirante e jesuíta, na construção do país em que hoje vivemos: A luta entre o bandeirante e o jesuíta era inevitável, pois, ao mesmo tempo em que este encarnava a Contra-Reforma, o desejo de retorno à unidade espiritual da Idade Média, sob a égide do Papado, o bandeirante, na sua ânsia de riqueza e poder, consciente ou inconscientemente, já era o grande instrumento do capitalismo moderno, irmão gêmeo da Reforma, nascido do mesmo galho e da mesma gota de orvalho. Claro, os jesuítas não se opunham ao bandeirante pelo mero prazer de hostilizá-lo, nem para deter a procura de ouro e metais preciosos de entradas e bandeiras ou para interromper deliberadamente os processos de transformação que haviam de converter em símbolo

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nacional a imagem que lhe correspondia. Não houve tal. O a que se opunham, isto sim, era ao desenfreio da cobiça, às incursões predatórias de caça ao índio, a tudo aquilo, em suma, que iria, por fim, possibilitar o capitalismo. [...]. Pode ser que o bandeirante haja conquistado o sertão, dilatado as fronteiras do Império, mas a defesa da integridade nacional e de sua estruturação moral e espiritual, essa foi obra indiscutível do jesuíta (MOOG, 2000, p. 174).

Índios e jesuítas deste chão Pelo pouco tempo de colonização ou, quem sabe, pelo desinteresse de tudo o que não resulta em ganho palpável e imediato, a população do Norte do Paraná tem demonstrado sofrível conhecimento de sua história. Quando muito, estende sua curiosidade até à época do aparecimento das cidades. Pouco demonstra saber da evangelização desenvolvida pelos jesuítas. Para muita gente os fatos dessa fase histórica se desenrolaram lá pelos lados de Foz do Iguaçu, do Paraguai e da Argentina de hoje. Ignora que pelo menos parte do território da diocese de Maringá integrou o ambiente geográfico desse momento de heroísmo e derramamento de sangue dos primeiros ocupantes destas terras. Muito perto de Maringá instalaram-se algumas das mais importantes reduções jesuíticas. Comprovam-no evidências de respeito, acessíveis infelizmente, quase de modo exclusivo, a publicações impressas, de vez que nem sítios nem artefatos arqueológicos mereceram das autoridades responsáveis o devido cuidado de preservação e estudo. Moradores mais antigos relatam cenas de tosco vandalismo levadas a efeito na área das reduções de Santo Inácio e de Loreto por ignorantes gananciosos de supostos tesouros enterrados pelos Guarani ou pelos jesuítas. Foram assim destruídas peças, quiçá valiosas, se submetidas à análise de estudiosos. O mesmo se diga do cemitério dos caboclos, próximo a Paiçandu, cidade vizinha de Maringá, devastado por vândalos no correr do tempo. Explorada por gente da roça, interessada unicamente em plantar e colher, nossa região não mereceu o cuidado de pessoas competentes para preservar informações esclarecedoras sobre o passado deste pedaço do Brasil. Duas vezes em nossa história, primeiro com os bandeirantes, depois com os colonizadores, fomos assolados pela tríplice praga da ambição, da crueldade e da ignorância. Entre as ricas fontes de relatos da epopéia inaciana, daqueles que não temiam, até com risco de morte, meter a mão na massa, sobressaem as cartas ânuas, longas cartas redigidas sistematicamente pelos superiores provinciais e enviadas ao superior geral da Companhia, estabelecido em Roma. De 1609 a 1617 foram anuais, daí o nome. Depois, sobretudo por causa dos ataques de bandeirantes, as do Paraguai passaram a bienais ou trienais. Escritas em latim ou castelhano, eram enviadas por duas vias marítimas diferentes, para o caso de uma se perder em algum naufrágio, e forneciam um relato minucioso sobre os progressos e as dificuldades do labor apostólico despendido na evangelização. Outros também escreveram a respeito, entre os quais, para o que toca à nossa região, sobressai padre Antonio Ruiz de Montoya, testemunha e protagonista da resistência aos bandeirantes na batalha final da Província Guairá, em 1629. É fonte assaz conhecida e confiável, na qual se abastecem muitos historiadores. Nascido no Peru, em 1582, esse notável missionário desempenhou os papéis de padre, lingüista, escritor, catequista, místico e historiador. Entre outras obras, escreveu em Madri, no ano de 1639, o livro “Conquista Espiritual”, onde expõe o trabalho apostólico dos jesuítas nas províncias do Paraguai (Paraná atual), Uruguai e Tape (S. Catarina e Rio Grande do Sul). Em 294 páginas, na segunda edição brasileira, retrata a experiência das 13 reduções jesuíticas estabelecidas na área do nosso Estado. Sobre a renomada obra debruçou-se padre Jurandir Coronado Aguilar, da diocese de Campo Mourão, para produzir a dissertação doutoral em que tentou “recuperar a história da evangelização na Província Guairá, atual Estado do Paraná (sul do Brasil), durante o período de 16091631 na obra histórica, lingüística, catequética e espiritual de um dos seus principais protagonistas”. O livro de Aguilar, “Conquista Espiritual – A História da Evangelização na Província Guairá na obra de Antonio Ruiz de Montoya, S. I. (1585-1652)”, mereceu o Prêmio Bellarmino 2001, da Universidade Gregoriana de Roma. Sem favor, cabe-lhe ser relacionado como das mais vigorosas obras históricas a tratar da presença evangelizadora da Igreja Católica na América Latina. Em face de divergências entre historiadores – motivadas por mudança de nome, de extinção após curta duração, de transferência para novo endereço – é prudente dar crédito a Montoya, Cavaso, Aguilar, Martins,

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Mapa 2

As 13 reduções jesuíticas do Guairá (arte: Francisco de Assis Pinheiro Dantas, Rosângela Rocha e Elton Osvaldo Cunico sobre original de CARDOSO; WESTPHALEN, 1981, p. 35).

Fedalto e outros, que definem como treze o número de aldeamentos ou “reducciones”, onde os padres jesuítas agruparam milhares de índios em nosso Estado, todas situadas às margens dos rios Paranapanema, Pirapó, Ivaí, Tibagi e Piquiri. Na Missão do Paraná os padres entraram em contato com o veterano missionário franciscano Luís Bolaños, grande conhecedor da língua e dos costumes guaranis. Visitaram a redução de Santa Ana e deram início, em princípios de 1610, à redução de Santo Inácio, a primeira dos jesuítas na Província do Paraguai. [...]. Ao passo que na missão do Guairá, acompanhados pelo clérigo Rodrigo Ortíz de Melgarejo, depois de terem dado assistência aos espanhóis de Ciudad Real e Vila Rica do Espírito Santo, os missionários Cataldino e Mascetta encaminharam-se à distante região do rio Paranapanema onde começaram o ministério entre os indígenas, a partir de junho de 1610. Os rios foram as principais vias de comunicação com os indígenas e, à margem dos grandes rios da Província Guairá, fundaram-se, entre os anos de 1610 a 1628, treze reduções, conforme testificou o padre Ruiz de Montoya, sendo assim distribuídas: às margens do rio Paranapanema as reduções de Nossa Senhora do Loreto do Pirapó (1610) e Santo Inácio Miní (1612); às margens do rio Tibagi e seus afluentes as reduções de São Francisco Xavier (1622), Nossa Senhora da Encarnação (1625), São José (1625) e São Miguel (1627); às margens do rio Ivaí e seus afluentes as reduções de Sete Arcanjos (1627), São Paulo (1627), Santo Antônio (1627), São Tomé (1628) e Jesus Maria (1628); e às margens do rio Piquiri as reduções de São Pedro (1627) e Nossa Senhora da Conceição (1627-1628) (AGUILAR, 2002, p. 216-217).

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Ruínas de San Ignacio Mini, na província de Misiones, Argentina (DD, 2007).

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Despertam interesse para o propósito deste relato os dois importantes núcleos de povoamento conhecidos como Ciudad Real (ou Ciudad del Guairá) e Vila Rica do Espírito Santo, assim como as duas reduções jesuíticas de Loreto e de Santo Inácio, “as mais bem estruturadas, as mais ricas da região, tanto em termos de instalações como de exploração agropecuária, safras e comércio de algodão manufaturado” (AGUILAR, 2002, p. 237). Situam-se estas duas reduções légua e meia uma de outra, e a de Nossa Senhora de Loreto tem 700 índios casados e a outra 850, na primeira há 450 meninos de escola e na outra 500; não tinham igrejas e já as construíram muito amplas só com os trabalhos do padre Antônio a de Nossa Senhora de Loreto, e a do padre José (Cataldino) a da outra redução (Santo Inácio Mini) com que se atrairão mais índios e os já reduzidos estão mais contentes (OÑATE, 1929, f. 1, tradução nossa). Ciudad Real, ao que tudo indica, situava-se no território onde hoje se encrava o município de Terra Roxa do Oeste. Vila Rica do Espírito Santo, transferida duas vezes após sua fundação, acabou por fixar-se em área ocupada atualmente pelo município de Fênix. Santo Inácio estava localizada na área do atual município desse nome, junto ao rio Paranapanema, hoje diocese de Apucarana. Nossa Senhora do Loreto erguia-se na foz do rio Pirapó, onde este se lança no Paranapanema, no atual município de Itaguajé. Conclui-se, pois, que esses espaços de forte presença humana, em que predominavam os Guarani, situavam-se em áreas que se poderiam descrever como vizinhanças da atual arquidiocese de Maringá. Sobre Loreto e Santo Inácio, refere, a partir de Córdova de Tucuman, o padre Nicolau Duran, superior da província jesuítica do Paraguai, na carta ânua sobre os anos de 1626 e 1627: Embarcamos no (rio) Paraná para a primeira nossa redução, de Nossa Senhora de Loreto, que está a 60 léguas da cidade (del Guayrá). Uma légua antes de chegarmos saíram do povoado para nos receber o padre José Cataldino, originário de Ancona, numa balsa enfeitada de arcos e ramos. Logo se aproximaram outras balsas também enfeitadas. Numas vinham os principais caciques do povoado, em outras, os cantores com cornetas e charamelas. Todo aquele rio se coalhou de muitas canoas [...]. Visitado este povoado, embarquei para a redução de S. Inácio, que dista umas 4 léguas, onde me receberam com a mesma festa e aparato, e procuram esmerar-se por ser o povoado um pouco maior [...]. Estes dois povoados (distantes não mais que 4 léguas um do outro) têm mais de duas mil famílias. Todas, gente muito firme na fé e florescente de costumes cristãos, sobre quem poderia falar muito (DURAN, 1628 apud CORTESÃO, 1951, p. 213-214, 221, tradução nossa). Para os padrões de sua época e cultura, com conhecimento e domínio dos recursos locais, movendo-se pelo interior da floresta, os índios não sofriam graves incômodos para vencer o espaço entre esses pontos e as terras nas quais, mais tarde, viria a se implantar Maringá, geograficamente distante não mais que 250 km de Terra Roxa do Oeste (Ciudad del Guairá), e 70 km de Fênix (Vila Rica do Espírito Santo). A foz do rio Pirapó, entre os municípios de Itaguajé e Jardim Olinda (Loreto) situa-se a aproximadamente 100 km, igual distância até Santo Inácio. Não representa nenhum exagero, então, concluir que índios, jesuítas e bandeirantes cruzaram os espaços que ocupamos com nossas cidades e campos, que atravessamos a pé, de automóvel ou de avião.

O caminho de Peabiru Merece prudente credibilidade, ao que tudo indica, a afirmação de alguns para quem os Guarani, ocupantes da Província do Paraguai, chegaram a manter relações comerciais e culturais com os Inca, no Peru, cujo fabuloso império teve sua capital em Cuzco (ASSIS, 1980, p. 3). Com o conhecimento ainda do intercâmbio que entre si mantinham índios e missionários, colonos e viajantes, em freqüentes e longos deslocamentos por

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todas as direções, não é difícil calcular a importância da legendária trilha pré-colombiana, que recebeu o nome de “Caminho de Peabiru” (peabiru = caminho fofo). Segundo informações dos indígenas aos missionários, tinha entrado por ali, abrindo caminho, muitíssimos anos antes, um santo homem a quem chamavam Pai Sumé ou Zumé. O jesuíta Pedro Lozano, nascido em 1697, escreveu que na província do Paraguai (Paraná atual) corre o caminho denominado pelos guaranis, Peabiru, e pelos espanhóis, de São Tomé, que é aquele que trouxe o gloriosíssimo apóstolo por mais de 200 léguas, desde a capitania de São Vicente, no Brasil, e tem oito palmos de largura, em cujo espaço somente cresce uma erva muito miúda que se distingue de todas as outras ao lado, que pela fertilidade do solo tem meia vara de altura, e mesmo que seja queimada a palha, ou se queimem os campos, nunca a erva desse dito caminho se eleva mais (BOND, 1996, p. 26). Quase trinta anos antes do nascimento de Lozano, havia já Montoya publicado em Madri sua “Conquista Espiritual”, onde se lêem palavras idênticas. Difícil não supor tenha-a Lozano conhecido nem se inspirado nela. Ou, por outros recursos, buscado a confirmação do que, em 1639, escrevera o conhecido missionário do Guairá: Estranhando nós um acolhimento tão fora do comum, disseram-nos que, por tradição antiqüíssima e recebida de seus antepassados, sustentavam que, quando São Tomé – a quem comumente chamam ‘Pay Zumé’ na Província do Paraguai e ‘Pay Tumé’ nas do Peru – fez a sua passagem por aquelas terras, disse-lhes estas palavras: ‘A doutrina que agora vos prego perdê-la-eis com o tempo. Mas, quando depois de muitos tempos, vierem uns sacerdotes sucessores meus, que trouxerem cruzes como eu trago, ouvirão os vossos descendentes esta (mesma) doutrina’. [...] Em todo o Brasil é fama constante entre os moradores portugueses e entre os nativos que vivem na Terra Firme (continente, por oposição a ilha) que o Santo Apóstolo começou a sua marcha desde a ilha de Santos, situada no Sul, em que hoje se vêem rastos indicadores deste princípio de caminho ou vereda, ou seja nas pegadas que o Santo Apóstolo deixou impressas numa grande penha, localizada no final da praia, onde desembarcou em frente da barra de São Vicente. Segundo quer o povo, elas se enxergam ainda hoje menos de um quarto de légua da povoação. Eu não vi. Mas, 200 léguas desta costa terra adentro, meus companheiros e eu vimos um caminho, que tem oito palmos de largura, sendo que neste espaço nasce uma erva muito miúda. Cresce, porém, aos dois lados dessa vereda uma erva que chega até à altura de quase meia vara. Esta erva, embora de palha murchada e seca, queimando-se aqueles campos, sempre nasce (renasce e cresce) do modo que está dito. Corre esse caminho por toda aquela terra e, como me asseguraram alguns portugueses (habitantes do Brasil), avança sem interrupção desde o Brasil. Comumente o chamam de ‘caminho de São Tomé’. Tivemos nós o mesmo informe dos índios de nossa conquista espiritual (MONTOYA, 1997, p. 99-100, grifo nosso). A informação, de muitos conhecida e relatada, é que se tratava de uma rota que atravessava a América do Sul, do Atlântico ao Pacífico, perfazendo extensão superior a 3.000 km. Ia de São Vicente, no litoral paulista, até Cuzco, no Peru, daí descendo ao Oceano Pacífico. “Na direção oeste do outro lado do rio Paraná, o caminho passava por Assunção do Paraguai e chegava às encostas dos Andes, fazendo conexão com a rede viária dos incas” (ASSIS, 1980, p. 3). Não parece rigorosamente correto, em verdade, admitir um traçado único; abria-se em ramificações, formando uma rede de trilhas, como galhos de uma árvore, o que autoriza falar de “caminhos”. Uma das trilhas era o ramal de Campo Mourão, que cruzava a nossa região. Começava em Itu (SP), seguia, paralelamente ao rio Tietê, até o rio do Peixe, descendo ao Paranapanema justamente onde ele recebe o rio Pirapó, no extremo norte da arquidiocese de Maringá. Acompanhava a margem oeste do Pirapó até o rio Ivaí, seguindo por este até Campo Mourão. Atravessava a atual arquidiocese de Maringá,

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passando pelos municípios de Jardim Olinda, Paranapoema, Paranacity, Cruzeiro do Sul, Uniflor, Atalaia, Mandaguaçu, Maringá e Itambé. Foi, segundo as informações de que se dispõe, um caminho muito importante para a vida não só do Brasil, mas da América do Sul. “Serviu para as andanças e até grandes migrações de povos indígenas e, mais tarde, para a descoberta de riquezas, criação de missões religiosas, para o comércio, fundação de povoados e cidades” (BOND, 1996, p. 19). Não seria, portanto, despropositado concluir que a mata onde se ergueu Maringá e outras cidades da região não só pode ter sido, mas seguramente foi cruzada de forma intensa por pés indígenas e brancos, séculos antes da colonização implantada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Nossos valentes pioneiros, que derrubaram mato, plantaram café e construíram as cidades que nos enchem de orgulho, conservam seu mérito que ninguém roubará, mas não foram, com absoluta certeza, os primeiros a pisar este solo, que nos acostumamos a acreditar nunca antes palmilhado. Ainda que se verificassem duríssimas privações, já se fazia presente naqueles tempos a ação da Igreja, preocupada com a sua precípua missão de evangelizar. Homens de fé intensa e fortaleza de alma expunham a vida (alguns chegaram a entregá-la) na tarefa de tornar conhecido o Evangelho. Toda esta área encontrava-se sob jurisdição eclesiástica do bispo de Rio da Prata (Assunção), diocese criada em 1547, mas sujeita, desde o início, a incomuns vicissitudes. Por total deficiência de clero diocesano, fora entregue, para efeitos de evangelização, aos cuidados dos padres da Companhia de Jesus. Informa Aguilar que, de 1609 a 1632, trabalharam por estas bandas 23 missionários jesuítas, das mais diversas origens, o que não foi, de forma alguma, obstáculo à unidade do trabalho, antes fortaleceu o espírito universalista inaciano pela partilha dos carismas e valores de cada um. Atuaram na Província de Guairá missionários provenientes da Companhia de Jesus já estabelecida no Brasil, em Castela, Aragão, Toledo, Andaluzia, Peru, Nápolis, Veneza, Bélgica e até no atual Paraguai, onde se haviam recentemente instalado (AGUILAR, 2002, p. 29, 143).

A destruição da obra jesuítica A despeito da grandiosidade do empreendimento e da nobreza dos obreiros, terminou de forma trágica o projeto de implantar em terras do Novo Mundo uma original experiência de vida comunitária, erguida junto aos índios Guarani, e moldada nos ensinamentos do Evangelho. Ávidos de riquezas e desiludidos, desde muito, de encontrar ouro, os bandeirantes vinham dedicandose a aprisionar indígenas para vendê-los como escravos. Eram portugueses ambiciosos e muito determinados. Decididos a enriquecer a qualquer custo, não temiam nenhum tipo de risco. Desde 1607, o sertanista Manuel Preto já andara pelas matas do Guairá, havendo indícios de que, até 1612, os paulistas tivessem retirado daqui uns 5000 índios. As reduções tão caras aos padres facilitavam sua tarefa. Em vez de persegui-los com dificuldade pelo emaranhado da selva, onde os nativos levavam incomparável vantagem, bastava tão somente invadir os aldeamentos jesuíticos e aprisionar o maior número, antes que escapassem. E foi o que aconteceu. Em São Vicente e São Paulo montou-se uma bandeira, entregue ao comando de Antonio Raposo Tavares. Aos 30 anos, era um homem robusto, ambicioso e duro de coração. Por sua valentia e liderança, foi escolhido para dirigir uma companhia, enquanto outra, maior e mais importante, teve o comando de Manuel Preto que, ao lado de Sebastião e de outros seus irmãos, desde tempos, comandava o grupo mais feroz e bem sucedido na criminosa prática de capturar índios para vendê-los como escravos aos colonos do litoral. Conforme escreve Mascetta, o mais temido dos caçadores de índios era justamente Manuel Prieto (sic), grande fomentador, autor e cabeça de todas estas entradas e incursões predatórias, que já por toda a sua vida tem vivido nelas, levando muitos outros portugueses e tupis em sua companhia para trazer índios à força de armas. E agora, ultimamente, tem falado que nelas quer morrer, logo que este ano (1629) voltou a S. Paulo com Pedro Vaz de Barros, em cuja companhia tinha ido; logo sem descansar, se foi outra vez com muitíssimos portugueses, mamelucos e tupis, a pretexto de povoar o porto de S. Catarina, mas a intenção que leva é capturar e explorar índios. Para abo-

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nar este seu empreendimento leva consigo um sacerdote que, em razão de seu estado religioso, tem obrigação de abominar estas entradas tão injustas (CORTESÃO, 1951, p. 330).9 A invasão das reduções guairenhas obedeceu a uma determinação calculada e progressiva. Partindo de São Paulo no início de agosto de 1628, à frente de 900 portugueses e 2200 índios escravizados em outros tempos, já no dia 8 de setembro Raposo Tavares se avizinhava das reduções. Estava seguro de não encontrar resistência dos espanhóis de Ciudad Real e de Vila Rica, interessados também eles em prear índios. Logo aprisionaram alguns, o que fez com que surgisse imediata reação da parte de padre Montoya. O valente missionário arregimentou, “das reduções mais próximas, cerca de 1200 índios, e com os padres Cristóbal de Mendoza e José Doménech, encaminharam-se a pedir com eficacia nuestros hijos que tenian captivos” (AGUILAR, 2002, p. 263). Os paulistas reagiram de forma violenta, mas os padres não se deixaram intimidar e ofereceram enérgica resistência, conseguindo que fossem devolvidos os índios catecúmenos, isto é, os que, embora pagãos, estavam em fase de preparação para receber o batismo. Os invasores entendiam, como muitos brancos na Europa, que índios pagãos não se distinguiam de animais, merecendo, pois, a mesma sorte e podendo ser escravizados. Após quatro meses de permanência na área, por ordem de Raposo Tavares, os bandeirantes invadiram, a 30 de janeiro de 1629, a redução de Santo Antônio. Seguiu-se a invasão das reduções de Jesus Maria, no dia 20 de março, e a de São Miguel, três dias depois. Apavoradas com a notícia da crueldade dos portugueses, as reduções de Encarnação, São Paulo, Sete Arcanjos e São Tomé esvaziaram-se, com os índios fugindo em busca de segurança nas matas. Não somente as reduções foram destruídas como também as vilas de Ciudad Real e Vila Rica do Espírito Santo, se não arrasadas, foram repentinamente despovoadas, por conta do terror que a ferocidade dos portugueses espalhou entre os espanhóis dessas localidades. Assim, além de devastar as reduções jesuíticas, outra conseqüência do ataque foi a expulsão dos castelhanos para além do rio Paraná. Descontado o número de índios vendidos em São Paulo, só nos mercados de escravos do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, de 1629 a 1632, foram postos à venda cerca de 60.000 cativos trazidos da região do Guairá. As reduções de Loreto e Santo Inácio, localizadas a maior distância, não foram imediatamente atacadas. Porém, destruídas as reduções e esvaziados os “pueblos” espanhóis, com razão, os padres temeram pela sua ruína e pela morte ou aprisionamento dos índios. Decidiram empreender fuga para a região do baixo Paraná, em áreas do Paraguai e Argentina de hoje, onde havia também aldeamentos, alguns bastante antigos, como o de San Ignacio, o primeiro, fundando em 1609. Reuniram os sobreviventes salvos de outras reduções que, somados aos locais, compunham uma multidão de 12.000 índios conversos. Não se apresentava isenta de riscos a aventura de conduzir, correnteza abaixo, pelo Paranapanema e Paraná, tanta gente em fuga. À semelhança do êxodo bíblico, a travessia, vista por Montoya como um espetáculo “horrendo e calamitoso” (AGUILAR, 2002, p. 279), oferecia a única solução possível na tentativa de preservar a vida e a liberdade daqueles a quem sempre chamou filhos. Era forçoso rumar “até a mesopotâmia Paraná-Uruguai, onde os denodados apóstolos iam reconstruir a formidável empresa da fé fracassada em Guaíra” (MARTINS, 1995a, p. 89). Os índios fabricaram, às pressas, setecentas jangadas, que se somaram às embarcações existentes, a fim de oferecer transporte para todos. Em pouco tempo, as embarcações, “desde a foz do Pirapó à de Santo Inácio, foram lançadas ao grande rio ponteado de cachoeiras, e 12.000 índios, guiados por sete padres, se confiaram àquelas águas em rápido declive para o Rio Mar” (MARTINS, 1995a, p. 90). Quando, logo depois, aos aldeamentos de Loreto e Santo Inácio chegaram os portugueses, encontrando-os vazias de moradores, arrasaram inteiramente o que havia sido construído com tanta dedicação e abundante suor. Enquanto isso, a caravana dos retirantes seguia em fuga, Paranapanema abaixo. Depois de vencerem os problemas nele encontrados, o rio Paraná atirou-os nos braços de inesperado inimigo. Agora, eram os espanhóis de Ciudad Real que, aproveitando a difícil travessia dos saltos das Sete Quedas, com troncos montaram barricadas nas corredeiras, intentando aprisionar os retirantes:

9 Mais adiante (p. 334), informa que este sacerdote é ‘un fraile del Carmen’, um frade carmelita, portanto.

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Voltemos agora à nossa frota de balsas que, ao que parece, ia navegando segura de inimigos, deixados para trás. Veio-nos, contudo, então o aviso de que os espanhóis, moradores de Guairá, estavam nos aguardando num espaço estreito e perigoso, próximo do célebre Salto do Paraná, em cuja ribanceira eles haviam levantado uma fortaleza de troncos, visando impedir-nos a passagem e cativar a nossa gente. Consistia o plano em que, desde esse forte, ao passarem as embarcações, eles fossem abatendo os remeiros e a gente capaz de se defender, debilitando assim a tropa em questão, e caíssem em cima da presa. Vim a saber do caso e, duvidando que fosse verdade, deixei a gente para trás e me adiantei eu mesmo numa embarcação ligeira. Descobri tratar-se da verdade, entrei naquele palanque seguro de traição e me queixei com os meus motivos. Cerrando, porém, a estes os ouvidos, puxaram das espadas e, endereçando cinco delas ao meu peito, quiseram reter-me prisioneiro. Saí de sua roda, ajudado de uma sobre-roupa ou de um sobretudo que vestia. Com isso voltei a meus companheiros, para nos consultarmos sobre o caso, que a todos causou aflição e dor, vendo-se perseguidos e atalhados pela má fortuna, que por todos os lados deles queria fazer a sua presa. Resolvemos que voltassem dois padres àqueles homens, requerendo deles passagem livre para nós, pois eles mesmos confessavam, no requerimento feito a nós, que não podiam ajudar-nos. Mais, que a eles próprios os paulistas os haviam de expulsar de suas terras [...] (MONTOYA, 1997, p. 153-154). Depois de penosa negociação em que os padres usaram os mais eloqüentes argumentos – além de, possivelmente, recearem bater-se com milhares de fugitivos desesperados, que nada mais tinham a perder –, os colonos desistiram de fazer escravos aqueles infelizes (AGUILAR, 2002, p. 263ss). Obrigados a continuar a pé a árdua retirada, por mais de trinta léguas de “caminhos aspérrimos”, caminharam por oito dias, voltando de novo a construir canoas e balsas de taquara para o restante da viagem fluvial que, pela fragilidade das embarcações, conduziu muita gente à morte. “A fadiga, os obstáculos cada vez maiores e os mantimentos reduzidos a quase nada, as doenças, os acidentes que se multiplicavam iam penetrando de desalento a expedição (MARTINS, 1995a, p. 93). Os outrora garbosos Guarani das florescentes reduções da região de Guairá, ora reduzidos a um bando de miseráveis esfomeados, feridos e doentes, acompanhados de sete missionários, aportaram finalmente na nova terra, dando início ao assentamento de Loreto e Santo Inácio Mini, assim denominado para distingui-lo da redução mais antiga de Santo Inácio, fundada a 200km ao sul de Assunção, em 29 de setembro de 1609, posteriormente chamada San Ignacio Guazú. Um templo foi erigido, grande e belo, e a vida dos antigos cristãos de Loreto e Santo Inácio, estimulada pelas povoações, exsurgiu de novo para prosseguir a obra que todas as perseguições e todas as vicissitudes não puderam completamente destruir. Southey, historiador protestante, diz: Tantas calamidades teriam desanimado homens estimulados por motivos menos altos que o zelo religioso. Continuaram os jesuítas com os seus esforços, com o mesmo ardor, mas infelizmente para um lado que os expunha a novos ataques de seus vigilantes inimigos. E Guaíra renasceu no Tape do Rio Grande do Sul, mais bela e mais formosa e florescente. De novo veio a ser perseguida e devastada, Contudo nenhuma obra de paz e de amor foi mais bela do que essa que os jesuítas edificaram, com alma e com coração, nos sertões do Novo Mundo (MARTINS, 1995a, p. 95, grifo do autor). Ruínas hoje incluídas em roteiros turísticos oferecem pálida lembrança do que foi a obra levada a cabo nas áreas banhadas pelos rios Paraná e Uruguai. Podem ser observadas na Argentina, acompanhando a margem esquerda do rio Paraná, a 60 km de Posadas, na Província de Misiones. Na antiga Província de Tapes (Rio Grande do Sul), à margem direita do rio Ibicuí, também se fixaram, em 1632, remanescentes dos perseguidos de Guairá, sob a condução dos padres Cristóbal de Mendoza e Pablo Benavides. Sempre pelo mesmo motivo – ataques de bandeirantes vindos de São Paulo, no Brasil português – por duas vezes a redução inicial

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Mapa 3

Rota da fuga empreendida pelos jesuítas com os índios ante o ataque dos bandeirantes (AGUILAR, 2002, p. 485).

viu-se forçada a mudar de lugar. Finalmente, em 1687, fixou-se junto ao rio Ijuí. A seguir, foram-se instalando outras que, com o tempo, passaram a constituir o conjunto conhecido como Sete Povos das Missões Orientais do Uruguai. Para pôr fim à infindável disputa por fronteiras, Portugal e Espanha assinaram, em 1750, o Tratado de Madri. Por ele impunha-se a desocupação da área, reconhecida como pertencente a Portugal. Em contrapartida, Portugal entregava à Espanha a Colônia Sacramento que fundara em 1680 no estuário do rio da Prata, de frente para Buenos Aires (atual Colonia, no Uruguai). Ainda que descontentes com o acordo e tentando, por todas as formas, evitar sua implementação, os jesuítas não viram outra saída que não admitir a retirada dos indígenas aldeados, mais uma vez expulsos de seus domínios. Não obstante seus insistentes pedidos e as medidas administrativas tomadas pelo governador de Buenos Aires, os índios negaram-se a abandonar seus redutos. Não havia como superar o trauma provocado, na primeira metade do século XVII, pelas atrocidades dos bandeirantes. Por isso, recusaram-se, de todas as formas, a concordar que suas terras passassem ao domínio português. Ante a feroz resistência, Portugal decidiu, recebendo a anuência de Espanha, pelo emprego das armas. Uniram-se contra a insurreição dos indígenas naquela que se chamou de “guerra guaranítica”, concluída em 1756 com a total derrota dos silvícolas. Acabaram “arrasadas impiedosamente as reduções de Santo Ângelo, São Borja, São João, São Lourenço, São Luís Gonzaga, São Miguel e São Nicolau (CAMARGO, 2004, p. 120). O crescimento dos povoados foi suspenso pelo conflito bélico denominado ‘guerra guaranítica’ na qual os indígenas dos povoados enfrentaram as forças conjuntas de Es-

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panha e de Portugal. Esse conflito tem sua origem no Tratado de Madri, subscrito em 1750 pelas duas potências coloniais, que fixou novos limites na região do rio da Prata. Por ele a Espanha cedia a Portugal sete povoados missioneiros situados à outra margem do Uruguai em troca da Colônia do Sacramento, fundada pelos portugueses em 1680. Os índios guaranis não aceitaram que fossem segregados do conjunto dos 30 povoados e passassem a depender do poder português que identificavam com seus tradicionais inimigos, os bandeirantes. Apesar da valentia dos guaranis, a perícia dos soldados profissionais e a tecnologia do armamento dos exércitos espanhol e português acabaram por derrotá-los com grande mortandade entre os índios. Contudo, o protesto levou a Espanha a deixar sem efeito o Tratado, embora os portugueses se apoderassem desses povoados em 1801, que ficaram definitivamente em suas possessões (GUTIERREZ, 1987, p. 42-44). No atual município de São Miguel das Missões (RS), ainda se podem contemplar as ruínas da imponente catedral, em cuja construção, de 1735 a 1745, trabalharam sem descanso cerca de cem índios Guarani. Restou como pequena amostra a atestar o nível alcançado na educação implantada pelos jesuítas. Se o pensamento antropológico do século XXI aí descobre dominação cultural, é oportuno recordar que a história se faz com pessoas dependentes de critérios adotados em sua época. Do admirável empreendimento erguido pelos jesuítas nada restou. Foi completa a destruição levada a termo pelos bandeirantes, cantados em prosa e verso como heróis da conquista para Portugal de vasta área do antigo território espanhol. A coincidência de nomes (Loreto e San Ignacio Míni) e a identidade de ações traduzem a intenção dos missionários de marcar a continuidade no sul (Argentina, Paraguai, Rio Grande do Sul, rio Uruguai) do original impulso evangelizador inaugurado em terras do Guairá, projeto nascido de acendrado ardor apostólico, desgraçadamente vítima de tão lamentoso desfecho. Subsiste entre historiadores algum que interprete a má vontade de portugueses e espanhóis contra os jesuítas como expressão de velada senão franca oposição à concorrência que deles temiam vir a receber. Os portugueses entendiam a obra missionária dos jesuítas não como atividade religiosa ou caritativa, mas como ação de cunho político. Em vez de ação apostólica na busca de novos discípulos para a fé cristã, preferiam ver as reduções como iniciativas particulares dos padres com vista à expansão do território espanhol de aquém-mar. Ao lado de cupidez por riqueza, os bandeirantes teriam receado também a ameaça de um Estado jesuíta, avesso às pretensões de Portugal sobre os territórios ocupados. Representaria grave obstáculo à expansão portuguesa sobre as terras do interior. Assim se explicaria a crueldade brutal com que se empenharam na invasão da província de Guairá, saqueando as reduções e destruindo tudo a fogo e espada. Aos espanhóis, por outra parte, não era nem um pouco conveniente aceitar, no interior do reino de Castela, o surgimento de um Estado jesuítico com autonomia para tornar-se um enclave. Por esse motivo não houve da parte das autoridades locais grande empenho em defendê-los da perseguição dos bandeirantes, a tal ponto que os missionários não hesitaram em acusar como um dos maiores cúmplices do massacre o governador do Paraguai, Luís de Céspedes Xeria. Vila Rica do Espírito Santo foi invadida, pela primeira vez, em 1631 e, no ano seguinte, definitivamente destruída. Em 1638 foi arrasada por completo a Ciudad Real de Guayrá. As bandeiras conseguiram retirar dos Guarani aldeados pelos jesuítas as terras localizadas entre os rios Paranapanema e Iguaçu. Mas a conseqüência mais séria foi forçá-los ao abandono de seu habitat original para se refugiarem no Paraguai. As aldeias que deixaram desertas foram ocupadas, a partir do sul, por índios que, no entender de Francisco S. Noelli e Lúcio T. Mota, originariamente devem ter precedido os Guarani na região e agora, séculos depois, vieram a ocupá-las de volta, estendendo-se pelo vale do Tibagi e pelo terceiro planalto do Paraná. Mas nem estes conseguiram manter o domínio das terras frente à cobiça dos conquistadores brancos. Recolhidos em reservas, vítimas de penúria e abandono, teimam em sobreviver alguns descendentes de Kaingang, de Xokleng e de um grupo Xetá, descoberto na região de Umuarama, na década de 1950, com não mais de 18 pessoas (segundo estudiosos, talvez hoje componham número mais expressivo).

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Peritos em arquitetura, escultura e pintura, os jesuítas construíram, no século XVII, uma civilização singular. Na foto, ruínas da catedral de São Miguel, capital das missões no Rio Grande do Sul (DD, 2007).

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Como tristemente constatam nossos mestres da Universidade Estadual de Maringá, os Xokleng e Kaingang [...] tiveram contato com a Tradição Humaitá, que possivelmente foi sendo empurrada para fora de seus territórios. A seguir chegaram os Guarani, que também empurraram os Xokleng e os Kaingang para o centro-sul e o litoral, fixando-se nas bacias dos principais rios. Há uma aparente fase de “acomodação”, havendo certa estabilidade no tamanho das áreas ocupadas por um período que deve ultrapassar os mil anos, até a chegada dos europeus. A partir de meados do século XVI, em razão de guerras, doenças e migrações para fora das terras em conflito com os europeus, houve drástica diminuição da população Guarani. Assim, a partir do século XVII, os Kaingang voltaram a se expandir no centro-sul do Estado para ocupar as terras que antes eram dominadas pelos Guarani nas bacias do Tibagi, Piquiri e Ivaí. Os Xokleng reocuparam pequenas partes do litoral, em locais de ocupação sazonal, indo e vindo das terras ao longo da encosta da serra Geral. Finalmente, nos últimos 300 anos, com a agressiva ocupação branca do atual território do Paraná, houve uma guerra de conquista, que foi primeiro empurrando os indígenas e depois foi retalhando e reduzindo suas terras para instalar as cidades e “trazer progresso”. Atualmente, pouco mais de 9.015 Kaingang vivem no Paraná, em 17 terras indígenas (85.235ha) controladas pela FUNAI, lutando para manter sua autodeterminação, sua cultura e seus direitos humanos (NOELI; MOTA, 2000, p. 17).

Inauguração, em 8 de outubro de 2006, do abrigo indígena no Centro Cultural Indígena, criação da ASSINDI, em Maringá.

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A região oeste do Paraná, (como também a parte noroeste, a partir do rio Tibagi) seria deixada, pelo espaço de quase dois séculos, à margem da civilização (MAACK, 1981, p. 37-38).10 Das reduções, outrora vibrantes de valores espirituais e éticos, fecundas em produção cultural, artística e artesanal, não restaram mais que destroços; na maioria dos casos, nem isso. Com a total ignorância das novas gerações por essa página da nossa história – portadora de tão abastecidas lições, mas relegada ao desinteresse e esquecimento – há que se temer mais essa perda de um dos vigorosos períodos da história do nosso povo, responsável por irradiar luz para o presente, clareando assim a esteira aberta do futuro.

10 Entidades e pessoas, um pouco por todo o Brasil, tentam despertar uma consciência cidadã com respeito à causa indígena. Na ausência, porém, de uma política oficial corajosa, os resultados têm sido modestos, fato que só enobrece o trabalho de beneméritos voluntários. Em Maringá ressalte-se o papel da ASSINDI – Associação Indigenista de Maringá, liderada por Darcy Dias de Souza que, com apoios diversos (arquidiocese de Maringá, Universidade Estadual de Maringá, MECUM – Movimento Ecumênico de Maringá, grupos voluntários de outros países...) vem desenvolvendo ações em benefício da etnia Kaingang e Guarani. No dia 8 de outubro de 2006, na BR 376, km 170, foi inaugurado o abrigo indígena “Vênkan-nhã-fá-oy-nhandewa”.

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O que ninguém escreveu Episódios pitorescos vividos por nossos padres dos primeiros tempos, alguns já chamados à casa do Pai.

Propaganda Segundo ano do bispado. Saindo de casa, dom Jaime avista o prefeito na esquina da Avenida Curitiba com a Rua Lopes Trovão. Apesar da diferença de cultura e de estilo de vida, nutrem grande amizade e conversam com freqüência. O asfalto está começando: o prefeito observa as máquinas em ação. O bispo freia o carro para um rápido bate-papo. Depois observa: “Américo, não seria mais certo fazer primeiro as galerias pluviais subterrâneas para só depois asfaltar? Daqui a um tempo, será preciso quebrar tudo para a canalização. Antes do asfalto deveriam vir as galerias pluviais”. E o prefeito, político da velha guarda, matreiro: “Ah, dom Jaime, mandioca grande debaixo da terra ninguém vê, não”.

Etiqueta No começo, era difícil conseguir doméstica em condição de atender à casa do bispo. Uma das primeiras, de origem polonesa, costumava atender ao telefone gritando: “Casa do sô Jaime”. Em certa ocasião, dom Jaime recebia o bispo de Londrina, dom Geraldo Fernandes. À hora do almoço, recebeu o despachado aviso: “Sô Jaime, o almoço tá na mesa”. Outra, de linguajar rebuscado, falava malço e galfo, em vez de “março” e “garfo”. Em março de 1959, vieram as irmãs de Santo Antônio Maria Claret. A residência episcopal virou um “brinco”. Madre Lícia de Luca, simpática italiana, com o hábito imaculadamente branco, destoava da poeirenta Maringá de então. Esmerava-se para que tudo brilhasse na residência episcopal. A pobrezinha sentia verdadeiro pavor quando via chegar o vigário de Mandaguaçu, frei Ambrósio de Bagnoli, que saltava do jipe carregando pó até no céu da boca. Antes de cumprimentar o bispo, atacava a pia branca da sala de estar (não havia lavabo), banhava as mãos e dava uma molhadela na barba imensa. Depois, ante uma desconsolada madre Lícia, esfregava no rosto a alvíssima toalha. Dá para imaginar o resultado. A pobre irmã queria morrer.

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Apagão Em 1959, Jânio Quadros, candidato à presidência da República, percorrendo o Paraná, vem a Maringá. Entre as lideranças da cidade, não podia deixar de visitar o bispo. Amável, como todo político em campanha, pergunta quais as necessidades mais sentidas em Maringá. Uma das primeiras, apontada por dom Jaime, é a energia elétrica, bastante precária. Já é noitinha e as luzes estão acesas. Na cozinha, uma irmã liga o liquidificador e a luz começa a piscar. “Está vendo do que estou falando?” esclarece o bispo. Conhecido pelas decisões desconcertantes que tomava, Jânio não foge do padrão. Ignorando a homenagem das lideranças políticas, o jantar e o pernoite em Maringá previstos no programa, simplesmente deixa a cidade e vai dormir em Londrina.

Bom gosto Wilsinho é o filho mais velho de Vanda, a caçula das irmãs de dom Jaime, casada com Wilson, na época, gerente de banco em São Joaquim da Barra. Com Carlinhos e as irmãs Ana Helena e Ana Cláudia costumava passar em Maringá as férias de fim de ano. Era também oportunidade de “curtir” a vó, que sempre vinha nessa época e dava show como cozinheira e quituteira. Tinha uma receita de doce-de-leite que ninguém imitava. Não havia quem acertasse o ponto que ela dava. Um dia, após saborear generosa porção da iguaria, num rasgo da sinceridade que só as crianças mostram, Wilsinho não se conteve: “Ô, vó, vê se a senhora, antes de morrer, ensina minha mãe a fazer esse doce”.

Olho vivo Desde o início de 1960, como todo seminarista maior (cursos de Filosofia e Teologia), o autor destas notas passou a usar batina. Em Curitiba não tanto, mas em Maringá a batina preta funcionava como sauna portátil. Nas férias, percorrendo a pé os seis quilômetros, do sítio onde morava até Alto Paraná, atraía à beira da estrada todos os moradores, especialmente moleques e cachorros, surpresos com o raro espetáculo de um “padrezinho” de 19 anos ardendo sob um sol de estalar mamona. A convite de dom Jaime, passava sempre com ele umas duas semanas nas férias de final de ano. Era a ocasião de prestar alguma ajuda ao bispo, que não dispunha sequer de office-boy. Numa manhã, madre Lícia bate à porta do seu quarto: “Dom Jaime está esperando no carro para a missa (que, naquele dia, ia ser na capela Santa Cruz).” Salta, assustado, da cama. Perdera a hora. Atira rápida mancheia d’água no rosto, alisa o cabelo e joga a batina sobre o pijama. Ainda bem que ela cobre tudo; não há tempo para vestir-se de forma conveniente. Chega à perua, já funcionando, as irmãs no banco traseiro e a porta do carona aberta, à sua espera. Quando se acomoda no assento, dom Jaime, ao volante, diz-lhe em voz baixa: “Arregace a calça do pijama, que está aparecendo por baixo da batina”.

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Uma Igreja para a abertura 3 do Norte do Paraná

Indíos Kaiová em ritual de dança com maracás e cruzes (SHADEN, 1949).


Pelo Tratado de Madri, firmado em 13 de janeiro de 1750, Portugal abriu mão, em favor da Espanha, da Colônia do Sacramento, extensão luso-brasileira no rio da Prata. Em troca recebeu do governo espanhol o reconhecimento de propriedade sobre os atuais Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Rondônia, Amazonas, Amapá, Roraima e a maior parte do Pará. Segundo o novo sistema de deslindar fronteiras, seriam estas assinaladas pelo leito dos rios, marcas perenes e inconfundíveis, não sujeitas a dúvidas. Eventuais guerras na Europa entre as duas metrópoles não deveriam servir de ensejo para conflito armado nas colônias sul-americanas. Portugal, como facilmente se percebe, acabou beneficiado na divisão dos territórios na América. Por outro lado, na Ásia, a Espanha teve sua compensação ao receber as Filipinas e as ilhas Molucas que, muito antes, houvera indevidamente ocupado e que, por força do Tratado de Tordesilhas, pertenciam a Portugal. Um entendimento pacífico entre as metrópoles, porém, a respeito de suas colônias estava longe de ser alcançado. Por anos a fio, questões operacionais estenderam desconfianças e acusações mútuas, obrigando à assinatura, em 1761, de novo acordo, o Tratado de El Pardo, que anulou o de Madri, determinando um recuo à situação de 1750. Mais tarde, em 1º de outubro de 1777, o Tratado de Santo Ildefonso estabeleceu cláusulas conflitantes com essas decisões. Seguiu-se um período de incerteza sobre fronteiras, embora, na prática, jamais Portugal houvesse recuado na ocupação das terras conquistadas. Finalmente, em 6 de junho de 1801, o Tratado de Badajoz restaurou as divisas estabelecidas em 1750 pelo Tratado de Madri, definindo de vez as possessões de Portugal e de Espanha na América do Sul. A partir daí, só após a independência política, já com vizinhos latino-americanos, o Brasil voltaria a enfrentar problemas fronteiriços, resolvidos, na maioria dos casos, por via diplomática. Desde o início do século XIX, no que tange ao sul do Brasil, os limites permanecem como são atualmente reconhecidos. Para a antiga província do Guairá, que viria a fazer parte, a partir de 19 de dezembro de 1853, da nova Província do Paraná, emancipada politicamente da Província de São Paulo, a tragédia do século XVII, levada a termo pelos bandeirantes vindos da costa e do planalto paulistas, produziu pelo menos duas graves conseqüências. A primeira deu-se com o forçado despovoamento da vasta área em que se desenvolvia uma original experiência de vida comunitária e produtiva cujos frutos – reconhecendo, embora, inevitáveis limitações humanas – atestam todos quantos a investigam de ânimo desarmado. Lentamente, foram os espaços vazios recebendo nova ocupação, agora por indígenas não aldeados pelos jesuítas, de etnias e culturas distintas dos Guarani com os quais historicamente viveram sempre em conflito. A segunda conseqüência foi o abandono

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religioso: com o afastamento dos missionários, a região entrou num período de praticamente dois séculos desprovidos do trabalho evangelizador da Igreja. Do ponto de vista institucional, desde 6 de dezembro de 1745, quando foi criada a diocese de São Paulo, toda esta área continuava sob jurisdição do seu bispo. Para os que habitavam as terras da metade setentrional da Província do Paraná, quase inteiramente coberta de espessas florestas, nunca, ou só muito raramente, em meio a dilatadas delongas, foi-lhes possibilitado algum contato com a pregação da fé no interstício entre 1631 e o dia 8 de dezembro de 1854, data da chegada à Colônia Militar do Jataí daquele que viria a se constituir no mais conhecido missionário capuchinho do Paraná. Quando da proclamação da Independência, em 1822, dentre os muitos problemas encontrados pelo novo país, avultou também o desafio de integrar nacionalmente a população aproximada de um milhão de indígenas que, segundo a mentalidade do tempo, deveriam amoldar-se à praxe cultural dos europeus aqui residentes. A esse objetivo e aos mecanismos empreendidos para alcançá-lo atribuía-se o nome de civilização. Relegado à sua natureza, o índio prosseguiria como bárbaro − assim criam os colonizadores − totalmente à margem do processo civilizador. Importava torná-lo membro da sociedade, providência que seria alcançada apenas quando ele viesse a adotar por completo o modo de viver dos brancos, inclusive a religião trazida da Europa, na qual supunham as autoridades imperiais encontrar respaldo para a doma da natureza preguiçosa, traiçoeira e hostil que atribuíam aos silvícolas. Lembra Mota que, para alcançar este objetivo, atuou decisivamente o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que contava com o respaldo do imperador Pedro II. Dentre várias propostas aduzidas por seus membros, a primeira apontava no rumo do binômio “civilização e catequese”. Não havia condição de “civilizar” os selvagens senão através do ensino da religião. Foi o que, antecipando a diretriz que o governo seguiria a partir da década seguinte, declarou cônego Januário da Cunha Barbosa, em sessão de 24 de agosto de 1839 do Instituto: Sou de opinião que a cathequese é o meio mais efficaz, talvez único, de trazer os Indios da barbaridade de suas brenhas aos commodos da sociabilidade. Sustentando sua argumentação em antigos religiosos como os padres Antônio Vieira, Manuel da Nóbrega e outros, ele combateu a idéia de que os índios deveriam ser convertidos na mira das armas, destruídos na guerra de extermínio, apesar de concordar que a violência e a força das armas os tinham feito retroceder às brenhas dos sertões. Na visão do cônego Barbosa, os índios quase sempre cumpriam seus deveres nos acordos, enquanto os brancos na maioria das vezes desconheciam suas obrigações perante os índios. Isso fazia com que eles se afastassem da civilização. Para que a catequese tivesse sucesso, Barbosa recomendava aos missionários algumas medidas básicas: a primeira, era o aprendizado da língua dos índios, para que o diálogo pudesse ser estabelecido; a segunda era a educação dos índios, das crianças e dos adultos. Para os adultos, a receita era o trabalho, para tirá-los da vida “errante” e das suas “correrias”; era necessário criar determinadas necessidades entre os índios, as quais poderiam ser satisfeitas pelo comércio dos produtos elaborados com o seu trabalho e que seriam trocados pelas mercadorias que iriam satisfazer às necessidades criadas (MOTA, 1998, p. 28, grifo do autor). A dificuldade, entretanto, residia na quase inexistência de padres brasileiros que, ademais de serem poucos, viviam ocupados no atendimento da população branca de cidades e vilas. Dessa forma, tornava-se extremamente custoso conduzir os habitantes da selva aos rudimentos da fé católica, em vigor no país há mais de três séculos. Na impossibilidade de outra solução, a tarefa acabou confiada a missionários vindos da Europa. No século XIX, o árduo trabalho de evangelização do interior paranaense dá a conhecer a admirável trilogia evangelizadora do Paraná: pela ordem cronológica, padre Francisco das Chagas Lima, frei Timóteo de Castelnuovo e frei Luiz de Cimitille. O primeiro, sacerdote diocesano natural de Curitiba, desenvolveu grande ação apostólica junto aos Kaingang do Oeste do Paraná, na região de Guarapuava. Embora reconhecida como de valor inestimável, por fugir ao objetivo deste relato, a obra evangelizadora de padre Francisco das Chagas Lima não será aqui contemplada.

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Capuchinhos italianos Apenas no tempo do imperador dom Pedro II aconteceria a chegada dos capuchinhos italianos de cujo grupo surgiriam missionários para as matas do Norte do Paraná. Séculos antes, no longínquo 1612, capuchinhos franceses tinham participado de uma tentativa de missão no Maranhão, retornando à França três anos depois. Novos frades franceses vieram, em 1641, desta vez para Pernambuco, onde fundaram aldeamentos indígenas. Voltaram ao seu país em 1701. Por decreto de 26 de janeiro de 1705, sucederam-nos capuchinhos italianos, estabelecendo-se na Bahia (1712), em Pernambuco (1723) e no Rio de Janeiro (1737). A diferença entre franceses e italianos, observa Figueiredo, é que os primeiros seguiam normas do padroado português, enquanto os últimos regiam-se pelas orientações da Propaganda Fide, congregação romana fundada em 1622, pelo papa Gregório XV, para propagar a fé nos países pagãos carentes de padres. Dificuldades de toda espécie, porém, levaram à extinção das missões capuchinhas no século seguinte. Por falta de missionários, a missão do Rio de Janeiro foi encerrada em 1829. Pouco antes da maioridade de dom Pedro II, atendendo pedido do governo brasileiro, Gregório XVI aprovou o envio dos seis primeiros missionários que, liderados por frei Fidélis de Montesanto, aportaram no Rio de Janeiro no dia 14 de setembro de 1840. Por responder a convite do governo imperial, feito no final da regência, esta passou a ser conhecida como a vinda oficial dos missionários capuchinhos italianos ao Brasil (FIGUEIREDO, 2004, p. 138-173).1 Segundo anota Cavaso, os capuchinhos, antes enviados somente como missionários apostólicos pela Propaganda Fide, vieram a ser oficialmente reconhecidos pelo governo brasileiro também como missionários do império. Tal reconhecimento vai receber sua autenticação definitiva pelo decreto (da assembléia legislativa) de 21 de junho de 1843 [...]. Nos anos 40, eram dirigidos pelo seu comissariado missionário do Rio de Janeiro. Representante do geral da ordem para o Brasil, o comissário residia no chamado ‘Morro do Castelo’, junto à antiga igreja de S. Sebastião, padroeiro da capital. Levava o nome de ‘Residência da Corte’, porque os capuchinhos do lugar, mantidos como missionários oficiais, estavam em contato contínuo com a corte e com os diversos ministérios imperiais para destinação dos missionários às catequeses indígenas, espalhadas por todo o Brasil. Muitos documentos atestam a influência que, como o cérebro sobre o organismo, o ‘Morro do Castelo’ exercia sobre o campo eclesiástico-missionário. Era o meio de comunicação entre a Corte imperial e a Santa Sé, que enviava os capuchinhos como missionários apostólicos (CAVASO, 1980, p. 36, grifo do autor, negrito nosso). Autoridades civis do Império lamentavam o pouco interesse de outros institutos religiosos bem assim a carência de padres para atender os índios na pregação da fé católica, acompanhada, ao mesmo tempo, de ensinamentos que os ajudassem a romper as trevas da ignorância sobre a civilização dos brancos, vista como única; a cultura indígena era dada por inexistente. Do ponto de vista cultural, o estágio do índio considerava-se um vazio completo: suas manifestações nada mais seriam que um conjunto de práticas grosseiras que cumpria, a todo custo, eliminar. Em 1852, o historiador Joaquim Norberto de Souza e Silva – exprimindo não só decepção pela exclusiva presença de capuchinhos no trabalho missionário, mas também ignorância da vocação missionária da Igreja, até lá onde é pobre de recursos humanos e materiais –, lamentava: “Chamamos estrangeiros para missionar nossos indígenas, ao passo que fundamos sociedades para a propagação da fé no meio dos infiéis [...] sem nos lembrar que o maracá ainda ressoa nas nossas florestas (CAVASO, 1980, p. 39). Considerando-se herdeiro dos antigos privilégios do padroado português, o Império do Brasil arrogou-se o direito de interferir na administração eclesiástica, estabelecendo, pelo decreto nº 373, de 30 de julho de 1844, assinado pelo ministro Manoel Antonio Galvão e rubricado pelo imperador, que as missões

1 Com riqueza de minúcias, o autor narra os vários momentos da presença dos capuchinhos vindos ao Brasil para evangelizar as populações desassistidas de catequese e de vida sacramental.

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dos capuchinhos no Brasil passassem ao controle do governo. Os missionários só poderiam ser transferidos para lugares designados pelas autoridades civis ou escolhidos pelos bispos e aceitos pelo mesmo governo, retirando-se do superior geral da Ordem, em Roma, o poder de decisão sobre seus súditos religiosos no país. O decreto ordenava: Art. 1º - A missão dos religiosos capuchinhos, estabelecida nesta Corte, em virtude do artigo primeiro do decreto sobredito (nº 285, de 21 de junho de 1843) fica dependendo do Govêrno no que respeita à distribuição e emprego dos missionários nos lugares onde o mesmo Govêrno entender que as missões podem ser de maior utilidade ao Estado e à Igreja. Art. 2º - O Govêrno, à representação dos Bispos ou Ordinários das Dioceses, poderá enviar e empregar os missionários nos lugares das Dioceses para onde forem reclamados. Art. 3º - Os missionários capuchinhos, na Côrte, e nas Províncias em que se acharem em missões, na forma dos artigos precedentes, estarão sujeitos e dependerão dos Bispos em tudo quanto disser respeito ao ministério sacerdotal; e nos lugares onde existe uma residência, pelo tempo que aí residirem, os missionários dependerão do superior local, enquanto aos ofícios e funções meramente regulares. Art. 4º - Nenhum missionário capuchinho solicitará de seu superior geral de Roma a obediência ou outra ordem semelhante que o desvincule da missão ou o transfira para outro lugar que não tenha sido designado pelo Governo ou indicado pelos bispos ou ordinários sem o prévio consentimento do mesmo Governo. Art. 5º - Tanto as obediências quanto ordens semelhantes, de que trata o artigo precedente, como as que não forem precedidas das formalidades expressas no mesmo artigo, não poderão ser levadas a efeito senão em dependência do Beneplácito Imperial (CAVASO, 1980, p. 40; QUARESMA FILHO, 1983, p. 35-36, grifo nosso).2 A medida provocou, como era natural, reações de desagrado tanto da Santa Sé quanto dos missionários aqui residentes, que passaram a experimentar sério conflito interior: deviam obediência aos superiores religiosos, aos quais estavam ligados por formação, por afeto e, mais que tudo, por voto, ou iriam atender às ordens das autoridades civis, de quem, para o exercício do ministério, dependiam até no sustento pessoal e nas condições de trabalho? O mal-estar levou o comissário geral, frei Fabiano de Scandiano, residente no “Morro do Castelo”, responsável pelos 60 missionários distribuídos em 14 províncias do Império, a reclamar ao imperador: Os superiores carecem da necessária liberdade de regular a distribuição e a destinação dos missionários. Os missionários não têm todos as mesmas qualidades, assim como os diversos lugares apresentam necessidades diversas. Portanto só os superiores, com o conhecimento que têm dos indivíduos, estão em condição de distribuí-los de forma conveniente. Contudo, sua autoridade é coarctada a respeito deste ou daquele missionário. Daí se originam inconvenientes assaz graves e já surgiram tristes conseqüências. Impõe-se aos missionários a obrigação de residir numa paróquia, entre gente civilizada. Muda-se dessa forma a natureza do seu ministério. Sua ação torna-se restrita a limites muito estreitos, o que provoca dano para a catequese dos selvagens e expõe os missionários a intrigas e às hostilidades políticas dos partidos [...] (CAVASO, 1980, p. 42). Não obstante a admiração que dom Pedro II nutria pelos capuchinhos, a rigor não foi dada solução satisfatória à questão, que perdurou inconclusa durante a vigência do Império. Foi superada apenas quando a primeira constituição republicana, promulgada pelo Congresso Constituinte, a 24 de fevereiro de 1891, abriu mão dos privilégios do padroado.

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2 Quaresma dá como data do decreto o mesmo dia e ano, mas anota junho em vez de julho.

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Frei Timóteo de Castelnuovo É nesse contexto de Brasil pré-republicano que vai desenvolver-se a atividade multifacetada de frei Timóteo de Castelnuovo, o mais notável missionário capuchinho do Norte do Paraná. Sobre seu papel de diretor de aldeamento indígena, pai dos índios, catequista da fé cristã, sacerdote zeloso e missionário incansável já se produziu, por historiadores e por alguns biógrafos da Ordem, uma literatura razoável. Para alegria dos estudiosos do Paraná, a ela vem juntar-se agora importante obra que muito enriquece o acervo da história eclesiástica do nosso Estado e, por extensão, do Brasil. Padre Carlos Alberto Figueiredo, do presbitério da diocese de Umuarama, na Província Eclesiástica de Maringá, vem tratando da publicação brasileira de sua tese doutoral, defendida no ano de 2004 em León, na Espanha, sob o título “Concentraciones Indígenas Capuchinas en el Siglo XIX: Programa de Gobierno y Religioso en San Pedro de Alcántara, Paraná (Brasil) 1855-1895”. Em avolumado estudo de 816 páginas de tamanho ofício, digitadas em espaço duplo, acrescidas de 177 páginas de um “Apéndice Documental”, investiga em profundidade a vida, o caráter, o pensamento e a obra do insigne filho de São Francisco de Assis a cujos cuidados paroquiais já esteve confiado o Norte do Paraná inteiro. Frei Timóteo nasceu em Castelnuovo Magra, aldeia da Ligúria, na Itália. Várias datas aparecem indicadas para seu nascimento. Segundo ele próprio declarou, teria nascido no dia 5 de fevereiro de 1823 (FIGUEIREDO, 2004, p. 318-319; ORLEANS, 1959, p. 33-36). Foi batizado com o nome de Domenico Antonio, e criado em ambiente profundamente católico, proporcionado pelos pais, Luigi Luciani e Caterina Bedini. Motivado pela leitura da biografia do mártir capuchinho São Fidélis de Sigmaringa (1578-1622), decidiu tornar-se frade do mesmo instituto religioso. Admitido ao convento, recebeu, conforme costume religioso de então, o nome de frei Timóteo. O sobrenome veio-lhe da cidade de origem. Ordenado padre em 16 de janeiro de 1846, viu satisfeito seu anseio missionário quando, em 1850, depois de designado para as missões na África, teve sua destinação mudada para o Brasil. O encarregado do governo imperial junto à Santa Sé havia pedido ao Santo Padre o envio de um grupo de missionários para a evangelização dos índios brasileiros. Da lista de candidatos apresentados para atender a solicitação foi excluído um frade e, em seu lugar, colocado frei Timóteo. A propósito, Cavaso (1980, p. 87) tece esclarecedor comentário: A exclusão de frei Agostinho de Massa comprova quanto a Santa Sé, perfeita conhecedora dos diversos campos de evangelização, era exigente quanto aos requisitos dos aspirantes propostos: vida exemplar, bom nível intelectual, zelo apostólico, fidelidade à autoridade eclesiástica, suficiente saúde física, coragem, espírito de iniciativa... Submetido na cúria metropolitana de Gênova ao exame feito pela comissão encarregada da Propaganda Fide, frei Timóteo foi reconhecido idôneo para o Brasil [...] Escolhido para o Brasil pelo decreto de 22 de setembro de 1850, saiu de Gênova no dia 31 de outubro e, depois de uma travessia oceânica de dois meses e meio, aportou no Rio de Janeiro a 16 de janeiro de 1851 (CAVASO, 1980, p. 87). Assim que chegou, foi destinado a cuidar de doentes na capital imperial e depois, na localidade de Jurujuba. Em 1852, dom Antônio Joaquim de Mello, bispo de São Paulo, conhecedor da fama de sua santidade de vida, convidou-o como pregador itinerante para, em seguida, nomeá-lo pároco de Santa Bárbara (SP) e, depois, de Água Choca, hoje Monte Mor (SP).3 Aí se encontrava quando recebeu a designação para a colônia militar do Jataí, no norte da Província do Paraná, a ele conferida pelo bispo de São Paulo, a quem o barão de Antonina tinha recorrido em busca de um missionário. Chegou ao seu novo posto de trabalho em 6 de dezembro de 1854. Trouxe consigo frei Mathias de Gênova, um frade dotado de grandes habilidades para

3 Monte Mor situa-se na região de Campinas; Santa Bárbara do Oeste, na de Piracicaba, no Estado de São Paulo. Em Portugal são conhecidos Monte Mor-o-velho e Monte Mor-o-novo. Nesta última cidade, perto de Évora, nasceu São João de Deus (1495-1550), fundador dos irmãos enfermeiros da Ordem Hospitaleira de São João de Deus.

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várias artes. Infelizmente, apresentando problemas de saúde, este não permaneceu muito no aldeamento, precisando retirar-se para a cidade de Castro (PR). Segundo Fedalto, até sua morte, em 10 de julho de 1871, frei Mathias trabalhou como auxiliar de padre Damaso José Correia, pároco de Castro (FEDALTO, 2004, f. 154). Outros apontam 1873 como ano de seu falecimento. Deixou retratada na igreja matriz desta cidade uma mostra de suas qualidades de pintor. Para frei Timóteo, portanto, o companheiro não serviu de valia por largo tempo, ficando só, como se encontrou, apesar de ajudas ocasionais, pelo tempo maior de sua permanência na colônia do Jataí. O próprio frei Timóteo escolheu o lugar do futuro aldeamento, derrubou a mata e, com o auxílio dos trabalhadores, índios e escravos, escolheu o lugar onde acreditava ser o melhor para estabelecer o território do aldeamento. Os trabalhadores e africanos foram trazidos, por cessão do governo, de outros aldeamentos. Os índios os encontrou acampados nos terrenos da Colônia Militar do Jataí, vindos do Mato Grosso pelas mãos de Francisco Lopes e John Elliot, funcionários do Barão de Antonina (FIGUEIREDO, 2004, 356-357). A colônia militar do Jataí, na margem direita do rio Tibagi, fora criada pelo decreto imperial nº 751, de 2 de janeiro de 1851, e confiada, em 16 de agosto de 1854, ao barão de Antonina. Sua inauguração ocorreu a 8 de dezembro de 1854, mas só recebeu instalação definitiva, ano seguinte, no dia 10 de agosto. Além da preocupação com segurança frente às tropas de Solano López, atendia aos interesses do barão cuja política de trazer os Kayová do Mato Grosso para o Tibagi tinha, na opinião de Mota, como objetivos: a) liberar os territórios Kayová entre os rios Brilhante e Iguatemi, no Mato Grosso, ricos em pastagens naturais, tanto que o barão se apossou dessas terras; b) tirar os Kayová de seus territórios e juntá-los no Tibagi, o que representava diminuir o perigo para os viajantes que iam para Cuiabá pela rota fluvial proposta pelo barão, pois vários comerciantes já haviam sido atacados e mortos na região; c) afirmar a rota fluvial para o Mato Grosso via vale do rio Tibagi; significava a valorização das terras que o barão estava conquistando dos Kaingang no norte da província; d) utilizar os índios Kayová como mão-de-obra no transporte das canoas que seguiam para o Mato Grosso e em outros serviços. E havia ainda todo o interesse do Império em ter acesso rápido e seguro para as regiões das fronteiras com o Paraguai (MOTA, 1998, p. 255-256). O aldeamento indígena construído por frei Timóteo ergueu-se na margem esquerda do rio, defronte à colônia militar, tendo sido inaugurado solenemente em 2 de agosto de 1855. Foi entregue à proteção do franciscano São Pedro de Alcântara (1499-1562), o austero diretor espiritual de Santa Teresa d’Ávila, como forma de homenagear o imperador cujo nome era o mesmo do santo. Nele iria permanecer frei Timóteo por mais de 40 anos. Em 1894, ainda à frente de sua catequese, escreveu ao superior dos capuchinhos, no Rio de Janeiro, revelando sentir-se envelhecido e cansado. Sobre suas últimas providências, ao sentir que se aproximava o fim de sua vida de entrega aos índios, anota um de seus biógrafos: Um ano depois caiu gravemente enfêrmo e, por um de seus amigos, mandou chamar o Vigário de Tibagi, o P. João Batista Van Esse, que prontamente atendeu ao seu chamado. Confessou-se, recebeu a extrema-unção, despediu-se de todos, pedindo-lhes perdão de alguma sua falta contra a caridade ou mau exemplo que tivesse dado, e encerrou o ciclo de sua vida terrena a 18 de maio de 1895. Contava Frei Timóteo, ao morrer, 72 anos de idade e 40 de apostolado nas selvas paranaenses – não tendo um companheiro que lhe sucedesse no pôsto de sacrifício e zelasse pelo bem de seus índios (ORLEANS, 1959, p. 213-214).

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Com sua morte, a Colônia de São Pedro de Alcântara caiu no abandono. Em 1911, dois sacerdotes capuchinhos, freis Mansueto de Val Floriana e Tito de Martignano, juntamente com irmão Francisco de Ferragnolo, do Comissariado de São Paulo, “tentaram reavivar o aldeamento”, mas retiraram-se, ano seguinte, sem alcançar o intento (FEDALTO, 2004, f. 154). A extinção completa da colônia aconteceu no ano de 1919. Quaresma anota que após a morte de frei Timóteo, tanto o aldeamento de São Pedro de Alcântara como o de São Jerônimo viram seu declínio como catequese. Não receberam mais nenhum outro missionário para dirigi-los. Em 1900, aos 15 de julho, o Governador do Estado, Xavier da Silva, expedia um decreto criando a reserva indígena de São Jerônimo, após terem sido nomeados diretores civis para os dois aldeamentos. Esta reserva indígena ainda hoje funciona como tal, no atual município de São Jerônimo da Serra (QUARESMA FILHO, 1983, p. 47). Em diversas oportunidades, à época de seu apostolado missionário, frei Timóteo contou com a ajuda temporária de vários confrades capuchinhos. Além de frei Mathias, Figueiredo relaciona outros nove, entre os quais, com participação proeminente, desponta frei Luiz de Cimitille

Imagem do santo franciscano espanhol doada pelo imperador Dom Pedro II à Colônia de São Pedro da Alcântara. Conserva-se no paço episcopal de Jacarezinho.

(FIGUEIREDO, 2004, p. 185-186). Ordenado padre em 1863, Cimitille chegou ao Brasil em janeiro de 1865 e permaneceu no Rio de Janeiro até 9 de janeiro de 1866, quando veio para o Paraná como auxiliar em São Pedro de Alcântara. Depois de meio ano de experiência, frei Timóteo confiou-lhe a direção do aldeamento de Santo Inácio do Paranapanema. Assumiu depois o aldeamento de São Jerônimo, que cuidou de desenvolver com grande competência, a ponto de Wachowicz qualificá-lo como mais competente administrador civil que catequista. Sob sua direção, São Jerônimo conheceu vigoroso progresso, com a construção de casas, abertura de estradas, canalização de água, desenvolvimento da agricultura e crescimento populacional tanto de índios quanto da população branca. Segundo Quaresma, cabe-lhe “o mérito de ter sido o autor da primeira monografia de caráter etnográfico, em língua portuguesa, sobre os Kaingang do Paraná” (QUARESMA FILHO, 1983, p. 51-52). Em 1878, Cimitille iniciou a abertura de novo caminho de ligação para os campos gerais, “que daria origem, mais de meio século depois, à estrada do Cerne”. Fazendeiros invejosos com o progresso do aldeamento criaram problemas para o frade que se afastou, retornando a direção novamente à responsabilidade de frei Timóteo. A 21 de agosto de 1882, São Jerônimo foi entregue aos cuidados pastorais do padre diocesano José Juliani (WACHOWICZ, 1987, p. 57). Cimitille trabalhou ainda em Urussanga (SC), retornando, por fim, à Itália, onde morreu em 1902. Não se mostrou nem um pouco fácil o desafio proposto ao missionário frei Timóteo. São Pedro de Alcântara reunia grupos estranhos entre si, com pouca chance de se amoldarem numa comunidade harmônica. Havia brancos funcionários do governo, trabalhadores contratados, negros escravos, índios Kayová trazidos do Mato Grosso pelo barão de Antonina e, com pouco tempo, aproximaram-se também os Kaingang das florestas vizinhas.4 Depois do primeiro encontro em que, segundo se queixaria mais tarde frei Timóteo, che-

4 Os Kaingang (= povo do mato), pelo corte cabelo imitando a “coroa” dos frades franciscanos, receberam dos brancos o apelido de “coroados”, que detestavam.

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garam ao aldeamento espalhando terror através de saques, vandalismo e rapinagem, passaram a se mostrar amigáveis e desejosos de integrar o aldeamento. A atitude belicosa a eles atribuída – por oposição aos Kayová, considerados pacíficos – era reflexo do ódio que votavam aos brancos, que lhes iam continuamente usurpando as terras. Verificava-se, além disso, tradicional rivalidade entre as duas etnias, um complicador extra acrescido às muitas exigências do cargo de diretor. Portador de cultura e formação diferentes, nem frei Timóteo nem nenhum dos missionários dominava as línguas locais, particularmente as dos índios e dos escravos negros, ricas em dialetos e idiomatismos. Ainda que o incomodasse, por vezes de forma intensa, uma crônica enfermidade pulmonar, fruto talvez do trabalho, o valente italiano não se deixou abater pelos percalços de toda a natureza que enfrentou. Ao longo de sua administração, o complexo do Jataí experimentou estiagens, inundações, geadas, incêndios, varíola e outras doenças devastadoras, conflitos violentos entre grupos indígenas rivais e até no interior da mesma etnia, fugas de índios aldeados, atrasos de pagamento de verbas e salários, malogro de colheitas, falta de estradas e demais recursos para escoamento da produção... Entre todas as contrariedades, faziam-no também sofrer falhas humanas: o descaso de autoridades do Império ou da Província, o despreparo ou o mau exemplo de alguns missionários, o desinteresse dos índios pela pregação religiosa e a oposição dos que desancaram sem dó o seu trabalho, tachando-o de equivocado ou incompetente. Destes, os mais ferrenhos – o inglês Thomas Bigg-Wither, autor do livro “Novo caminho do Paraná meridional: a Província do Paraná”, e seu amigo, o ilustre paranaense Telêmaco Borba, administrador do aldeamento entre 1863 e 1873 – mereceram longa análise de Cavaso, que respondeu aos injustos ataques sofridos pelo missionário (CAVASO, 1980, p. 262-290). Não conseguiu o zeloso pregador alcançar de forma plena os resultados pretendidos. Com o tempo, chegou à conclusão de que o projeto de catequese do governo nada mais era que a busca de integração social dos índios pela assimilação da cultura branca. Na perseguição desse objetivo, o missionário era aceito como empregado mais diligente que o melhor funcionário público, com a vantagem de custar mais barato. Ao início da empreitada, providenciavam-lhe condições mínimas para a missão. Depois, como dolorosamente experimentou, sujeitavam-no por longas temporadas ao abandono e ao esquecimento. De uma catequese abstrata sobre verdades teológicas, dificilmente assimiláveis pelos índios, frei Timóteo passou a um conteúdo mais prático, fundamentado na lei natural. A pastoral sacramental atingiu mais os brancos do que os índios, não muito perseverantes no cumprimento da preparação exigida. Particularmente os Kayová demonstravam interesse muito maior por machados, facões, anzóis e outras ferramentas, assim como pela reconquista de suas terras, do que pela religião do branco. O programa catequético do frade enveredou para o amor ao trabalho, interesse pelo progresso e bem-estar do aldeamento, sensibilidade ao sofrimento e às necessidades alheias, exigência de bom exemplo dos brancos como modelo para os índios... Malgrado todo o seu empenho, os frutos revelaram-se pouco mais que desalentadores. Pesaroso, chegou a admitir: “Confesso, diante de Deus e dos homens, que [...] até esta data meus cuidados foram, pela mor parte, baldados” (FIGUEIREDO, 2004, p. 456-470, 664-696).5 Não deixou, porém, jamais esmorecer seu amor pelos índios aos quais considerava filhos e de quem, em repetidas ocasiões, recebeu amor correspondente. Dois anos antes da morte, a 15 de janeiro de 1893, escreveu ao comissário geral da Ordem seu memorial testamentário, onde se lê: [...] Só em um primeiro tempo, enquanto exigia o interesse do Estado, recebi a côngrua respectiva de 380$000 anuais, que depois me veio retirada, porque eu não era nacionalizado. Tudo isso não impediu que o povo, sendo ao obscuro daquilo que eu gastava e fazendo suposições sobre aquilo que eu poderia adquirir, me julgasse possuidor de uma enorme fortuna. A gente de fato ignorava que, se a posse de uma grossa força torna de glória para um secular, é de infâmia para um religioso. [...] Não tem algum experimento que eu não tenha tentado para catequizar os índios e instruir-lhes

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5 O autor desenvolve largamente o tema, desmentindo opinião de alguns historiadores para quem frei Timóteo teria tão somente desenvolvido o projeto catequético do Império.

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na moral e na religião, procurando extinguir as rivalidades que reinavam também entre os membros da mesma tribo. É este o obstáculo principal à evangelização e à civilização dos índios. Infelizmente fiquei desenganado e me convenci que a rivalidade entre eles é inata, providencial e necessária. [...] Vivendo entre eles, tive que limitar-me a exortarlhes à observância dos princípios fundamentais da lei natural, para viver do próprio suor e a respeitar os direitos alheios, se quisessem que os deles também fossem respeitados. No resto fui fortunado: mereci o amor e a simpatia dos indígenas, como também o apelativo de pai deles, tanto que me fizeram derramar lágrimas de ternura. O único motivo pelo qual me encontro ainda neste “sertão” é a esperança de morrer no meio deles [...] (FIGUEIREDO, 2004, p. 169, apêndice). Além das colônias de São Pedro de Alcântara e de São Jerônimo, seu zelo o levou a tentar a reconstrução das antigas reduções jesuíticas de Loreto e de Santo Inácio, que não alcançaram, porém, longa sobrevida. O aldeamento de Nossa Senhora de Loreto do Pirapó existiu de 1855 a 1862, quando os índios foram transferidos para Santo Inácio do Paranapanema cuja duração se estendeu de 1862 a 1878 (MOTA, 1998, p. 229-252). Pela lei nº 333, de 12 de abril de 1872, sancionada pelo presidente da Província do Paraná, Venâncio José de Oliveira Lisboa, o distrito de Jataí foi elevado à condição de freguesia. O documento, transcrito no primeiro livro do Tombo da Paróquia de Jatahy, hoje Jataizinho, revela-se importante por trazer as divisas que, posteriormente, serão as mesmas da paróquia. Art. 1º fica criada uma Freguesia no distrito policial do Jathay com a mesma designação e sobre a invocação de N. S. da Conceição, sendo sua sede a Colônia Militar daquelle nome. Art. 2º as suas divisas serão: Pelo rio das Antas, desde sua foz athe suas cabeceiras, procurando as nascentes do rio S. Francisco Xavier athe sua foz no rio da Cinza até sua foz no Paranapanema.. pelo rio Paranapanema até sua foz no rio Paraná.. pelo rio Paraná, a foz do rio Ivahy.. pelo Ivahy até a foz do Corumbatahy, e da foz do Corumbatahy em linha recta ao rio das Antas (FIGUEIREDO, 2004, p. 374). No mesmo livro está registrado que, no dia 23 de abril de 1874, dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, bispo de São Paulo (1873-1894), erigiu canonicamente a paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Jatahy no lugar denominado Jatahy, Província do Paraná, “vigorando pelo que diz respeito ao Eclesiástico as mesmas divisas dadas pela mesma Assembléia, e constantes da lei dessa criação”. Há a seguir o registro da provisão do primeiro vigário da paróquia do Jataí: Dom Lino Deodato Rodr. De Carvalhio por mercê de Deus e da S. Sé Apostólica Bispo de S. Paulo, do Conselhio de sua Magestade o Imperador etc etc etc. Aos que esta nossa Provisão virem saúde e Benção no Senhor. Fazemos saber que attendendo ao que nos se rapresentou Havemos por bem pela presente, nomear, e prover o Rdo. Frei Timotheo Castelnovo Súbdito Italiano Vigário incomendado da nova Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Jatahy da Província do Paraná desta diocesi por tempo de um ano se antes não mandarmos em contrario. A qual occupação servirá como convem ao serviço de Deus, e bem das almas dos seus freguesis aos quais administrará todos os sacramentos, as absorverá de todos os peccados mesmo dos reservados ao Bispado, recidirá sempre em sua Paróquia, e do seu destrito não sahirá sem licença Nossa. Observará em tudo mais o que determina a Constituição do Bispado sobre o Ministério Paroquial na parte que está adaptada, e não tem legitimo uso contrario. Recomendamos lhe muito o alto cargo que lhe confiamos, tendo sempre em vista a estreita conta que tem de dar a Deos pela conduta de seus fregueses da dita Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Jatahy, reconheção o sobredicto Revdo. Frei Timotheo da Castelnovo por seu legitimo Vigário encomendado, e como tal lhe obedeção e respeitem em tudo quanto são obrigado. Será esta publicada a estação da missa conventual de uma festiva

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afim de que chegue ao conhecimento de todos. Findo o dito tempo a um anno ficara esta sem Vigário e Pa. Continuar mas requera novo provimento juntando esta, com a qual haverá todos os emolumentos foraes, e por calza que legitimamente lhe pertencer, e a Congloa que por lei for consignada. Dada na Câmara Episcopal de S. Paulo sobre o signal do Sello de nossas armas aos 23 Abril de 1874. Eu Antonio Augusto de Araújo. Escrivão da Câmara Episcopal assignei, e escrevi. Lino Bispo Diocesanno. Lugar do Sello + provisão de Nomeação de Vigário encommendado da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Jatahy por tempo de um anno – Por favor do Revdo. Frei Timotheo de Castelnovo P. V. E. R. ver, e assignar. Emportou a dispesa em 3$300 (FIGUEIREDO, 2004, p. 376-377). Frei Timóteo permaneceu como pároco (na nomenclatura de hoje) por aproximadamente dez anos. Cassada pela autoridade civil sua provisão em 1885, continuou por licença especial do bispo a ministrar os sacramentos. Próximo já do final de seus dias, velho e doente, conseguiu de Deus tempo de vida suficiente para ver criada, em 27 de abril de 1892, a diocese de Curitiba e de receber, pela primeira Pastoral de dom José de Camargo Barros, em 28 de outubro de 1894, a confirmação em suas funções: “Confirmamos, e ratificamos as facoldades concedidas ou aprovadas pelos nossos Antecessores respectivamente aos sacerdotes de cada um dos dois estados, ate que novas provisões lhe cheghem as mãos aquelles sacerdotes que estão em uso de ordem (FIGUEIREDO, 2004, p. 378). Pela descrição dos limites geográficos da paróquia depreende-se, com absoluta segurança e, para muitos, com grande surpresa, ter sido frei Timóteo de Castelnuovo, no Brasil independente de Portugal, o primeiro padre a cujos cuidados pastorais esteve confiada a imensa área que, no dia 1º de fevereiro de 1956, viria a ser transformada em diocese de Maringá. Tanto ao tempo da pertença à diocese de São Paulo quanto depois, ao integrar a diocese de Curitiba, sua paróquia abrangeu a amplidão de todo o Norte do Paraná. Ainda que jamais tenha circulado por estas paragens – escassamente ocupadas, naquele tempo, por brancos, intensamente povoadas de indígenas – o apóstolo dos índios há que ser considerado como o primeiro pároco com responsabilidade eclesiástica sobre este território. Para a entrada dos capuchinhos no Paraná deu o primeiro passo, como ficou visto, o grande missionário da Colônia São Pedro de Alcântara, herói da proeza, considerada impossível, de pregar o Evangelho aos Kaingang, os temidos “coroados”. Na esteira por ele aberta, prosseguiu no século XX a vinda de frades originários da Itália.

Capuchinhos no Paraná do século XX Em 1919, na visita “ad limina”, o terceiro bispo e primeiro arcebispo de Curitiba, dom João Francisco Braga (1907-1935) pediu ao papa Bento XV missionários para sua diocese carente de padres. Na oportunidade, em Roma, frei Lucas de Pádua, pregador apostólico, aconselhou-o a procurar frei Serafim de Udine, ministro da Província Capuchinha de Veneza. Reforçando a sugestão, o papa abençoou a ida do arcebispo à cidade dos canais, recomendando que falasse ao provincial em nome do sumo pontífice. Dom João foi ainda recomendado pelo superior geral dos capuchinhos, frei Venâncio de Lisle-en-Rigault. Com quase 60 anos de ordenação, o ex-frei Antonio de Tomazina, nome religioso de padre Natalino Braga, recorda hoje que os frades de Veneza gozavam de grande prestígio junto à Santa Sé, como pregadores de retiros espirituais, inclusive para o Santo Padre. Capuchinhos vênetos eram apontados como modelos de fiel observância da espiritualidade do pai São Francisco. 6 Dom João Braga argumentava com a grande presença no Paraná de imigrantes da região vêneta. Por outro lado, a província capuchinha de Veneza descobriu aí a oportunidade de renovação, há tempo esperada, do seu espírito missionário, responsável no passado pela criação de muitas províncias religiosas da Ordem. Do entendimento entre o arcebispo de Curitiba e o provincial dos capuchinhos de Veneza surgiria a nova fase de

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6 Informação prestada ao autor deste relato, na casa paroquial do Bom Pastor, em Mandaguari, no dia 22 de março de 2006.

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“Vivendo entre eles, tive que limitar-me a exortar-lhes à observância dos princípios fundamentais da lei natural”. Frei Timóteo de Castelnuovo

Índios Kaiová (SHADEN, 1949). Excerto de Caslelnuovo (FIGUEIREDO, 2004, p. 169, apêndice)

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presença dos missionários no Brasil. Observa Quaresma que com a mudança política, na passagem do Império à República, é revogada a lei do padroado. Com isso, não existirá mais um projeto governamental para com os índios contando com a ajuda dos capuchinhos. Assim, quando estes missionários vão morrendo ou retornando à pátria de origem, vai-se extinguindo o ciclo dos aldeamentos-catequese. Passa-se, pouco a pouco, à reserva indígena. A partir de 1920 os capuchinhos retornam ao Paraná. Agora há toda uma outra dinâmica de ação. Quem chama é a própria Igreja, na pessoa do seu bispo. O objetivo será trabalhar com os imigrantes e, na prática, com os migrantes, os quais são atraídos pelas riquezas e pelo potencial de trabalho agrícola que o Estado passa a oferecer (QUARESMA FILHO, 1983, p. 115). Os primeiros quatro missionários deste grupo pioneiro foram freis Ricardo Moro de Vescovana (superior), Teófilo Lucchini de Thiene, Angélico Poletto de Ênego e Maximiliano Frison de Ênego. Saíram de Veneza no dia 11 de setembro de 1919. No dia 17, embarcaram em Gênova, chegando ao Rio de Janeiro em 5 de outubro. Depois de um tempo de adaptação e aprendizado da língua, vieram para o Paraná; os dois primeiros, em 20 de janeiro, para Curitiba; os dois últimos, em 28 de janeiro, para Jaguariaíva, a primeira paróquia criada no Norte do Estado, na zona limítrofe com os Campos Gerais. Situada no caminho dos tropeiros, que ligava Viamão (RS) a Sorocaba (SP), por alvará imperial de dom Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Império do Brasil, em 15 de setembro de 1823, a fazenda Jaguariaíva foi elevada à condição de freguesia, tendo como orago o Senhor Bom Jesus da Pedra Fria, ao tempo do 5º bispo de São Paulo, dom Matheus de Abreu Pereira (1796-1824), portanto meio século antes da criação da paróquia de Jatahy, confiada a frei Timóteo. As próximas turmas dos capuchinhos vindos no século XX (1920, 1922, 1925 e 1931) sairão da Itália diretamente para Jaguariaíva, de onde os missionários serão encaminhados para as novas destinações (DESTÉFANI, 2004). Por longos 44 anos, de 17 de março de 1920 até 27 de dezembro de 1964, os capuchinhos tiveram sob seu encargo a paróquia de Jaguariaíva (BOAMORTE, 1976, p. 39-41). Estabelecidos em paróquias, evangelizaram a imensa região do Norte Velho e, ao lado de religiosos de outros institutos, trabalharam na preparação da nova diocese de Jacarezinho, criada em 1926. Sob as ordens de seu terceiro bispo, dom Geraldo de Proença Sigaud, vieram a estabelecer-se em 1951 naquela que seria a futura diocese de Maringá, assumindo a paróquia de Mandaguaçu. A esse respeito, o primeiro livro do Tombo da paróquia dá conta de que, até 24 de outubro de 1951, Mandaguaçu era atendida como capela da paróquia de Maringá. Nesse dia, viva voce (= de viva voz, oralmente), foi criada a paróquia de Mandaguaçu, da qual faziam parte as capelas de Ourizona, São Jorge, Floraí, Iroí (atual Presidente Castelo Branco), Atalaia, Guadiana e Iguatemi. Não há registro nessa data de nenhum documento de criação. Como vigário tomou posse frei Guilherme Maria Vidoni de Magridis, que ficou menos de um mês no cargo. Não era costume dos superiores, informa padre Natalino, confiar paróquia a freis muito jovens, como a ele, que na época contava pouco mais de um ano “de missa”, como se dizia. Pregador de missões populares, frei Guilherme foi convocado para assumir a paróquia em nome dos frades, mas depois de vinte e poucos dias, voltou à atividade missionária, ficando frei Antoninho, assim chamado pela pouca idade, responsável por Mandaguaçu até 30 de março de 1952, quando foi substituído por frei Agatângelo de Umbará. O mesmo livro do Tombo informa ainda que no dia 1º de novembro de 1951 tomou posse da futura paróquia de Alto Paraná o capuchinho frei Salvador de Pádua.7 À ocasião, a paróquia de Alto Paraná tinha como capelas Paranacity e Capelinha, nome antigo de Nova Esperança. Segundo informação prestada pelo

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7 O único frei Salvador mencionado por frei Dionysio Destéfani em sua relação tem como sobrenome “Casumaro de Megliadino”. Veio da Itália em 1947, na mesma viagem que trouxe frei Ambrósio Canato de Bagnoli, o mais conhecido dos capuchinhos que trabalhou em Mandaguaçu.

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seu pároco,8 a paróquia de Alto Paraná que, desde 1968 pertence à diocese de Paranavaí, lamentavelmente não conserva livro paroquial algum do tempo de sua criação. Nem da posse de frei Salvador nem ainda da presença de frei Agatângelo, que também ali desenvolveu o múnus de vigário ecônomo, denominação dada na época ao padre responsável por uma paróquia. À diocese de Maringá prestaram colaboração nos fins da década de 1970 outros dois capuchinhos: frei Valério A. Marchesini, em Cruzeiro do Sul, de 1977 a 1979, e frei Alcides Ferandin, em Barão de Lucena e Presidente Castelo Branco, no período de 1978 a 1981. Ao que tudo indica, este último não pertencia à Província São Lourenço de Brindes (que compreende os Estados de Paraná e Santa Catarina). Integraram-se ao clero diocesano vários frades capuchinhos dispostos a colaborar na tarefa evangelizadora da Igreja Particular de Maringá. Nas paróquias de Inajá, por dois anos, e em Floraí, por cinco, de 1967 a 1974, foi vigário o ex-capuchinho padre Antônio de Souza. Depois de trabalhar em Mandaguaçu, atendendo pelo nome religioso de frei Anacleto Maria de Villafora, padre Ângelo Rabacchin cuidou da paróquia de Ivatuba, entre 1966 e 1981, passando depois a pároco de Floraí, de 1981 a 1996, quando veio a falecer, aos 19 de maio, tendo sido sepultado na igreja matriz. Padre Antônio Domingues, que se ordenara padre como frade capuchinho, depois de passar ao clero diocesano, atendeu a paróquia de Santo Antônio de Pádua, em Maringá, de 1961 a outubro de 1964, ocasião em que abandonou a paróquia e o ministério presbiteral. Outro ex-capuchinho, padre José Hass Filho, serviu como cooperador na catedral de Maringá, de 18 de julho a 1º de outubro de 1961. Pelo espaço de dois anos, padre Francisco Gubaua trabalhou em Inajá, entre 1978 e 1979, depois de deixar a Ordem. Em Maringá ainda vivem pessoas que conheceram frei André José Torres, capuchinho quando da chegada de dom Jaime. Padre André, como se tornou conhecido depois de egresso da comunidade religiosa, trabalhou em Maringá desde o início de 1958 até o final de 1963. Foi diretor da Obra das Vocações Sacerdotais, dirigiu a construção do Seminário Diocesano, participando ainda da instalação da “Folha do Norte do Paraná”, jornal diário criado pelo bispo. No campo político, ensaiou procedimentos que causaram algum desconforto. Inconformado com o reduzido poder da Igreja Católica na vida pública e também com o mau exemplo de políticos, padre André deixou-se tomar pelo sonho de levar cada diocese do Brasil a eleger um padre do seu clero para a Câmara dos Deputados, começando pelo Paraná. De Maringá, definiu inclusive o nome de dom Jaime para senador e o seu próprio para deputado federal. Suas andanças por gabinetes da capital em busca de arrimo à curiosa pretensão desagradaram autoridades do Palácio Iguaçu, que se queixaram ao arcebispo de Curitiba. Dom Manuel deu conhecimento ao bispo de Maringá do mal-estar provocado pelas propostas do ex-capuchinho. Terminou aí a incursão de Torres pelos meandros da política partidária. Mais tarde, ele veio a deixar o ministério ordenado e, em 1977, obteve redução ao estado laical. Foto histórica curiosa da posse episcopal, em 1957, mostra o novo bispo entre dois frades de imensa barba negra, frei André e frei Agatângelo. Este último trabalhou, por um tempo, como pároco de Alto Paraná. Transferiu-se ao clero diocesano em abril de 1963, quando assumiu a paróquia de Planaltina do Paraná. Deixou o nome religioso para chamar-se padre Eugênio Nichele, conforme seu registro civil. A seguir, foi vigário da paróquia de Nossa Senhora das Dores, de Paranavaí, daí se transferindo, no final de agosto de 1964, para a diocese de Campo Mourão. Outro ex-capuchinho, padre João Amâncio da Costa Novaes, quando aceito em Maringá para a função de promotor vocacional e diretor da OVS – Obra das Vocações Sacerdotais, nos anos 60, veio já como padre integrado ao clero diocesano de Botucatu (SP). De todos os ex-frades capuchinhos dedicados a trabalho pastoral na diocese de Maringá, o mais duradouro em labuta na seara do Senhor entre nós tem sido padre Natalino Braga. Depois de Mandaguaçu, no início da década de 1950, trabalhou em várias paróquias do Norte pioneiro, desfrutando da amizade de dom Geraldo de Proença Sigaud, bispo de Jacarezinho, que o estimava muito. Desenvolveu longas andanças a cavalo, em trabalho de desobriga por todo o interior do Estado. Acabou retornando a Mandaguaçu onde resolveu passar ao clero diocesano de Maringá. Sua longa barba, de toda uma vida de capuchinho, foi-lhe removida pelo amigo Luiz Luize. De 1966 até 1969 trabalhou como vigário ecônomo em Floraí, assumindo,

8 Mons. João Batista Pimenta de Souza, por telefone, de Alto Paraná (PR), no dia 23 de março de 2006.

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O novo bispo na sua sede episcopal, ladeado de freis André Torres e Agatângelo de Umbará.

a seguir, a paróquia Bom Pastor, de Mandaguari, onde o cercam o carinho e o respeito dos fiéis. Importante papel na evangelização desempenharam os frades capuchinhos não só nas paróquias a eles confiadas, mas em todo o vasto setentrião paranaense. Braga recorda que o povo sempre recebia com verdadeira devoção os pregadores de hábito marrom e cordão branco na cintura, identificados pela venerável barba, tema até de popular canção em latim. Numa época em que por estas terras ainda não eram vistos os redentoristas de Aparecida (SP), menos ainda seus irmãos, da equipe de Curitiba, que atualmente pregam missões por aqui, quando se ouvia falar de missionários, eram os capuchinhos de longas barbas que então ocupavam o imaginário religioso de todos os fiéis.

Palotinos no Norte Pioneiro Mas a tarefa de difundir a fé cristã nos novos núcleos populacionais da chamada “colonização”, em especial a partir da década de 1930, essa coube, em dose mais acentuada, aos padres da Sociedade do Apostolado Católico, mais conhecidos como palotinos por causa do fundador, o italiano São Vicente Pallotti (17951850), canonizado por João XXIII, no ano de 1963, durante o Concílio Vaticano II. No Norte do Paraná a entrada dos palotinos aconteceu de forma aparentemente fortuita, onde não faltaram elementos pitorescos. A partir de 1870 muitos italianos emigraram para o Brasil, instalando-se no Rio Grande do Sul. O atendimento espiritual que estes imigrantes conseguiram de padres vindos da Itália passou por várias dificuldades até que, em 1884, padre José Faá di Bruno, superior da congregação em Roma, recebeu consulta sobre a possibilidade de envio de missionários palotinos para Vale Vêneto (RS). Em 25 de julho de 1886 chegaram os primeiros, Guilherme Whitmee, Joseph Bannin, Jacob Pfaendler e Francisco Xavier Schuster, padres alemães que, tendo estudado na Itália, dominavam a língua e conheciam os costumes italianos. Outros vieram nos anos seguintes. Com o passar do tempo, a presença palotina no Rio Grande do Sul cresceu bastante e formaram-se muitos padres ítalo-brasileiros. Era natural que se fizessem sentir as diferenças de cultura a contrapor o germa-

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nismo dos antigos com a latinidade sul-americana dos novos. Por esse motivo, os palotinos alemães optaram

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por retornar à pátria de origem. Os dois últimos, padres Roberto Rosenfeld e Erasmo Raabe, em 14 de janeiro de 1928, viajaram a São Paulo com o propósito de embarcar de volta para a Alemanha. Na capital paulista encontraram-se com dom Fernando Taddei, primeiro bispo de Jacarezinho. Distintas versões e locais referem-se para emoldurar o fato, além de uma historieta encantadora. Conta-se que na Itália, quando ainda vivo, padre Vicente Pallotti ter-se-ia hospedado em casa de uma família onde, por visita ou a trabalho, achava-se uma garota chamada Colomba. Dirigindo-se a ela, teria dito o santo, em tom profético: “Colombina, um dia terás um filho que atravessará os mares e chamará para junto de si os meus filhos.” Essa menina veio, mais tarde, a se tornar a mãe de dom Fernando Taddei. Recordando o episódio ouvido em casa, emocionado por ver os padres, o bispo convidou-os para trabalhar em sua jovem diocese, muito pouco favorecida de clero (FEDALTO, 2004, p. 150). Taddei foi um bispo de rara inteligência e profundo zelo. Nascido de pais exemplares, na Itália, aos 9 de fevereiro de 1867, ainda criança, deixou a família para ingressar, em Paris, na Congregação da Missão, também conhecida como dos padres lazaristas, por causa do bairro parisiense de Saint Lazare, onde se fixou o fundador, São Vicente de Paulo (1581-1660). Depois de cursar Filosofia e Teologia, veio para o Brasil, ordenando-se padre na Bahia, em 1º de novembro de 1890. Primeiro, foi nomeado capelão de hospital, depois percorreu como missionário vasta região de Minas Gerais. Trabalhou ainda como professor nos seminários de Salvador (BA), de Diamantina (MG) e no célebre Colégio do Caraça, no município de Santa Bárbara (MG), dos padres lazaristas, um dos centros culturais mais importantes no período do Império. Mais tarde, veio para Curitiba, sendo nomeado, em 1914, diretor do Internato Paranaense, ao qual estava anexo o Seminário Menor Diocesano. Aí, na missão de educador de jovens e formador de futuros presbíteros, foi notificado de sua escolha, em 22 de abril de 1927, para bispo de Jacarezinho, tendo recebido a ordenação episcopal no Rio de Janeiro a 29 de junho e, posteriormente, tomado posse da diocese no dia 15 de agosto do mesmo ano (FILIPAK, 1976, p. 12). O zeloso bispo procurou, antes de outra coisa, providenciar padres para uma Igreja imensamente vasta, mas carente de ministros ordenados. Foi nesse momento de aguda preocupação com o aumento do clero que se deu em São Paulo o providencial encontro com Rosenfeld e Raabe. Já no dia 2 de fevereiro de 1928, os dois palotinos chegaram a Jacarezinho, deixando-se impressionar pelo potencial de desenvolvimento econômico e pela certeza da futura expansão populacional que a região viria a conhecer. Com um território que abrangia quase toda a metade norte do Estado, Taddei sentiu-se abençoado por descobrir, como caídos do céu, colaboradores cheios de entusiasmo. Confiou-lhes, logo de início, a fundação do Colégio Cristo Rei, que viria a se tornar célebre e, por décadas, o único educandário masculino do interior paranaense. Sem esperar muito, os padres foram assumindo mais e mais paróquias, chegando a constituir a parcela maior do clero local. Quando, em 1956, foram criadas as duas novas dioceses da região, os palotinos alemães, por quase trinta anos, desde Jacarezinho até Maringá, já vinham mourejando nos campos do Reino de Deus. Ao tempo da chegada do primeiro bispo de Maringá, em nossa diocese eles atendiam as paróquias de Nossa Senhora da Glória, de Maringá, que se tornou catedral; de Nossa Senhora de Fátima, em Marialva, e de Nossa Senhora Aparecida, em Mandaguari. Nesta última sua presença prolonga-se até hoje. Em Mandaguari e em Marialva, foram os responsáveis pela construção das duas imponentes igrejas, símbolos de uma época de farta produção agrícola, mas também de trabalho estafante que desempenharam com grande generosidade. Com a criação do Seminário Menor em Londrina, do Noviciado em Cornélio Procópio e do Seminário Maior em Curitiba, começaram a aparecer, ainda na década de 1960, as turmas paranaenses de padres palotinos, não por acaso originários do Norte do Estado. Toda esta área carrega histórica dívida de gratidão para com esses homens de Deus que, sem a menor noção do que se dispunham a enfrentar, abandonaram sua terra, sua família e cultura, e não desistiram de evangelizá-la em condições as mais adversas. Os livros paroquiais são pródigos de registros de peripécias surpreendentes, dramáticas e, por vezes, cômicas. No decorrer de muitos anos, padre Carlos Probst executou minucioso trabalho de cronista da Província de São Paulo Apóstolo, que começou a se formar em 1929, em Jacarezinho, e hoje compreende os Estados do Paraná e São Paulo, com extensões na Bahia e no Maranhão. Em 1998, com a ajuda dos padres brasileiros Reinaldo Aparecido Pico-

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lotto, Antonio Radigonda e Cláudio Pereira dos Santos, suas anotações foram reunidas em oito volumes para uso da congregação e abertos à consulta pública.

Josefinos - Padre Armando Cirio Não estaria completa a relação dos que vieram antes de dom Jaime sem uma referência, ainda que sucinta, ao trabalho exercido, nos anos 1949 e 1950, pelo padre italiano Armando Cirio. Criada por dom Ernesto de Paula, a 8 de dezembro de 1943, a paróquia de Mandaguari era, na época, a última da diocese de Jacarezinho para o lado oeste, estendendo-se até a divisa com o Estado de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul. A paróquia de Marialva, criada a 28 de dezembro desse ano (CURIA DIOCESANA DE JACARÉZINHO, 1927, f. 36),9 retirou-lhe do território parte correspondente à área dos atuais municípios de Marialva e Sarandi. Por esse tempo trabalhavam já na região os padres josefinos de Asti que, mais tarde, viriam a assumir outras paróquias do Vale do Ivaí, incluindo Jandaia do Sul, Bom Sucesso e, por algum tempo, São Pedro do Ivaí, na diocese de Maringá. Papel especial exerceu padre Armando Cirio, vigário de Apucarana e fundador do Colégio São José. Os josefinos eram quatro; dois em Marilândia do Sul, outros dois em Apucarana. Preocupado com as famílias que chegavam todos os dias à nova região, dom Geraldo de Proença Sigaud, bispo de Jacarezinho, confiou-lhes o atendimento possível aos moradores de Marialva para frente. Relata Cirio, hoje arcebispo emérito de Cascavel: “Ele entregou esse trabalho para nós e eu fiz quatro visitas; três em 1949 e uma em 1950”. As localidades atendidas eram: Capelinha (Nova Esperança), Alto Paraná, Tamboara, Paranavaí (antiga Fazenda Brasileira), Graciosa (duas vezes) e Paranacity (só uma visita). “Onde parava mais era em Paranavaí”, esclarece. “Ficava uma semana; vinha gente de todo lado.” Vendo que os batizados cresciam a cada visita (de início 100, depois 300, mais tarde 500), “fui falar com o bispo e lhe disse: Olhe, faça um favor, crie paróquia em Maringá e Paranavaí.” Quando da formação das novas dioceses, informa Cirio que o bispo de Jacarezinho pensava criar apenas a diocese de Londrina. “Eu disse a ele: Senhor bispo, crie, já de uma vez, duas. Não só Londrina, mas também Maringá; é uma região que está crescendo muito.” O velho arcebispo fez inesperada revelação a respeito da posse do primeiro bispo de Maringá, em 24 de março de 1957: “Eu estive presente, mas não de forma oficial. Fui como curioso. Não me juntei aos que faziam parte da recepção. Fiquei lá, olhando aquele bispo com cara de criança, embora tivesse a minha idade. De longe, dava a impressão de um guri.” 10 Para quem pretendia evitar os não muito exatos horários das jardineiras que transportavam passageiros, a locomoção mais viável naquele tempo era garantida pelos “pés-de-bode”, nome que recebiam quase todos os veículos de passeio, geralmente automóveis Ford de capota de lona, muito resistentes a tocos, pedras, buracos, poças d’água, lama, solavancos etc. Para uma idéia dos inconvenientes a que estava sujeito quem se aventurasse nas estradas da região, com invejável bom humor, dom Armando relatou um entre muitos casos de que foi protagonista. Numa das viagens, estando em Paranavaí, sofreu avaria uma peça do pé-de-bode, um Ford 1929, pertencente à paróquia de Apucarana. “Ainda bem que nessa ocasião meu irmão estava comigo”, lembrou. Com a peça quebrada este saiu em busca de conserto ou de uma nova para reposição. Padre Armando quedou-se lá, com o veículo imobilizado. De jardineira, o outro foi passando por Alto Paraná, Capelinha, Maringá, Mandaguari... Ninguém conseguia dar solução ao problema. Finalmente, em Londrina, após muita dificuldade, encontrou socorro. Recordou, em janeiro de 2006, o venerando arcebispo: “Passei oito dias num hotelzinho de madeira, com medo de ser assaltado por algum dos peões que, como eu, lá se hospedavam. Podiam pensar

9 O 1º Livro do Tombo da Paróquia de Marialva não traz documento de criação, mas registra, como data de sua fundação, 10 de abril de 1949, dia em que padre Max Kley, SAC, foi “installado como primeiro paroco-vigario, independente da paróquia Mandaguari” (f. 4, 51).

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10 Informações prestadas em sua residência, na cidade de Cascavel, onde recebeu o autor destas linhas, na manhã de 25 de janeiro de 2006.

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que eu carregava muito dinheiro.” Só depois de uma semana, consertado o fordeco, puderam tomar de volta o caminho para Apucarana. Ainda bem que não era temporada de chuvas. No período das águas, referem os antigos, despencava um aguaceiro intermitente que se estendia, às vezes, por quinze dias ou um mês. Sair de casa em tais condições, nem pensar. A lama era tanta que até jipe, criado para os desafios da 2ª Grande Guerra, aqui era derrotado pelas estradas. Ainda que de modo sucinto, é dever de justiça assinalar a contribuição aportada à pregação do Evangelho por tantos que, desde tempos que a memória já não guarda, sulcaram a terra que hoje pisamos. Identificados ou anônimos, a eles devemos a graça da fé que, sem custo, aqui sorvemos como água viva, enquanto que o transmiti-la exigiu-lhes suor abundante e, em alguns casos, lágrimas e sangue. Literalmente; não como força de expressão.

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O que ninguém escreveu Episódios pitorescos vividos por nossos padres dos primeiros tempos, alguns já chamados à casa do Pai.

Devoção Sem papas na língua, padre Alfredo da Fonseca Rodrigues, vigário ecônomo (assim se chamava na época) de Alto Paraná, vez por outra, provocava reações ferozes. Pelas ruas, um cidadão magoado andou falando cobras e lagartos a seu respeito. A notícia chegou à capela do bairro Mandassaia, distante uns 15 quilômetros. Numa tarde de domingo, entra na casa paroquial o velho Ataliba, congregado mariano da capela, nordestino rude, cuja valentia só não era maior que o seu amor à Igreja. Trazia nas mãos, enrolado na fita azul, o manual dos congregados e um revólver calibre 32 no meio do livrinho. Com olhar transtornado pediu: “Eu quero que o senhor me abençoe e me dê licença para eu dar cabo desse cabra safado”. Apavorado e trêmulo, o padre gastou boas duas horas para demovê-lo do “santo” propósito.

Menu Numa das visitas pastorais daquele tempo, o almoço é programado, como acontece muitas vezes, para a casa de um dos membros da comunidade. Ninguém na cidade havia jamais recebido um bispo. A dona da casa e as amigas perdem o sono, preocupadas em acertar a preferência culinária do visitante. Servida a mesa, no dia, a cozinheira se esforça: “Senhor bispo, eu preparei um tutu de feijão com couve refogadinha, não sei se é do seu gosto”. A educada resposta soa como música aos seus ouvidos: “Pois a senhora acertou, porque eu gosto muito”. Daí por diante, em todas as visitas, fosse qual fosse o cardápio, lá estava o indefectível tutu com couve, prato “preferido” do bispo. A qualquer paróquia, a informação chegava sempre antes dele.

Respeito

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No nº 395 da Rua Lopes Trovão onde morava, o bispo recebe dois policiais trazendo um homem preso: “Queremos saber se o senhor deu falta de alguma coisa, porque este elemento roubou várias casas, entre elas, a sua”. Dom Jaime revela surpresa. “Não, daqui nada foi roubado”. O homem é conduzido para o interior da residência. Na parede da sala, uma grande foto mostra o papa Pio XII recebendo em audiência o então bispo de Ribeirão Preto, dom Manuel da Silveira D’Elboux acompanhado de três jovens de batina: padres Jaime Luiz Coelho e Arnaldo Luiz Padovani, e o seminarista Angélico Sândalo Bernardino.

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O azarado ladrão admite: “Eu entrei aqui, sim, ontem à noite. Quando vi esse retrato, achei que era casa de algum padre. Então fui embora sem pegar nada.” Informado do caso, o vizinho Nathalino Carniel, pediu: “Ô, dom Jaime, me empreste essa foto para eu colocar na minha sala: pelo jeito, é uma garantia contra ladrões”.

“Pit-stop” Em período de férias escolares, era comum dom Jaime receber familiares residentes em São Paulo, Ribeirão Preto, Franca ou São Joaquim da Barra. Para as crianças era uma festa. O seminário de Maringá, vazio nessa época, oferecia horta, pomar, granja, campo de futebol, bosque; a cidade era segura, com amplos espaços para passear e brincar. Propriedade da CMNP, confiado aos cuidados de doutor Aníbal Bianchini da Rocha, o horto florestal abria-se num primor de beleza e de paz. Além disso, todos faziam festa para os familiares do bispo. Em janeiro de 1962, o Seminário Menor Nossa Senhora da Glória estava pronto para a inauguração. Na garagem, uma reluzente kombi branca, cheirando a tinta. Jupira, irmã de dom Jaime, acompanhada das filhas Eliana e Cristina e de vários sobrinhos, pede ao autor deste relato, estudante de Filosofia em Curitiba, que os leve a um passeio pela cidade. Orgulhoso pela escolha (na verdade, não havia outro disponível), envergando a batina preta que, na época, os seminaristas maiores usavam, ele toma o volante com a seriedade de um motorista profissional. Com menos de vinte quilômetros rodados, fura um pneu. O condutor acalma os passageiros: “Já vou trocar; não se preocupem. É só um minuto.” Descem todos, ele reclina o banco dianteiro, apanha o kit de socorro e arregala os olhos. Nunca tinha visto um macaco de kombi, completamente diferente de qualquer outro. Está na cara que não tem a menor idéia de como funciona a estranha peça. Uma nuvem próxima ameaça descarregar chuva, e todos se angustiam. Felizmente, embora a rua seja de pouco movimento, passa um filho de Deus que socorre o grupo pondo em ação a geringonça.

Doação Aberto o seminário de Maringá, entrou em funcionamento de maneira modesta, oferecendo tão somente a 4ª série do atual ensino fundamental e a admissão ao ginásio. Na época, eram 4 (quatro) anos de grupo escolar e outros tantos de ginásio (5ª a 8ª de hoje). Do grupo escolar, para passar ao ginásio, havia necessidade de preparação (dois ou três meses), conhecida como admissão ao ginásio. Nos seminários a “admissão” durava um ano inteiro. O nível dos candidatos que chegavam era sofrível. Decidiu-se que seria melhor receber meninos mais novos, a fim de garantir-lhes estudo mais sólido. Assim, já em 1963, funcionaram três séries: 3ª, 4ª e admissão. Nos programas de rádio e nas pregações, dom Jaime insistia em que os pais incentivassem a possível vocação dos filhos. Não demorou e pessoas simples imaginaram que dom Jaime andava recolhendo meninos pobres como num orfanato. Lá um dia, à sua porta bate uma senhora humilde, carregando três pirralhos com idades entre, no máximo, 3 e 7 anos: “Ói, dom Jaime, eu soube que o senhor tá pegando criança pro seminário. Eu vim trazer os meu. O senhor pode ficar com eles, que tá difíci mode eu criá”.

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Uma Igreja que 4 avança para o interior

Capela de Aquidaban, no municĂ­pio de Marialva, nos anos 40.


Como todo o Brasil, também o Paraná deu seus primeiros passos na trilha da civilização partindo do litoral e avançando para terras do interior. Não estranha, pois, que nossos primeiros aglomerados urbanos tenham surgido em Paranaguá (1648), Curitiba (1668) e Antonina (1714). Os primeiros moradores entraram pelo litoral, vindos de São Vicente, de São Paulo, do Rio de Janeiro e de outros povoados anteriormente estabelecidos na orla marítima. Vencida a serra do Mar e fundada a vila de Curitiba, nada mais reprimiria a mobilização exploratória ditada pela sede do ouro ou de outras riquezas. De maneira corajosa, mas repleta de abusos contra os indígenas, foram conquistados os Campos Gerais, levando a ocupação para oeste e para o sul. O avanço na direção norte do futuro Estado do Paraná demoraria ainda quase dois séculos. Fiel à vocação de evangelizar as pessoas lá onde elas se encontram, a Igreja não descurou seu caráter missionário, ainda que sofresse, na época, de exíguo número de ministros ordenados e de incontáveis restringências, particularmente nascidas de injunções políticas ou ideológicas. No meio de privações de toda ordem, acompanhando a fixação dos habitantes nos novos redutos populacionais que se formavam, foram também, lentamente, surgindo paróquias. Ainda não existia o Paraná e, já no ano de 1655, era criada em Paranaguá a primeira sede paroquial; Curitiba tornou-se paróquia provavelmente em 1668, ano da instalação do pelourinho no povoado; 1 Antonina recebeu a sua instituição paroquial em 1719. Quando da proclamação da República, o Brasil contava tão somente com 12 dioceses. Se entre os bispos facilmente se apontavam boa conduta e zelo evangelizador, o mesmo, infelizmente, não se pode afirmar sobre o clero do final do Império. Ao lado de figuras admiráveis pelo saber e virtude, muitos sacerdotes faziam-se conhecidos pela formação sofrível, ambição pecuniária ou concubinato permanente. São Salvador da Bahia, criada a 25 de fevereiro de 1551, foi a primeira circunscrição eclesiástica do Brasil, motivo pelo qual seu titular continua designado, ainda hoje, como cardeal-primaz. Todo o território brasileiro foi entregue à jurisdição eclesiástica dessa única diocese, com sede na Bahia, sufragânea da arquidiocese de Lisboa, do outro lado do Atlântico. São Sebastião do Rio de Janeiro teve sua criação em 19 de julho de 1575 como prelazia, compreendendo o litoral do Brasil, desde o rio Jequitinhonha até o rio da Prata e, no

1 O pelourinho era um poste erguido em praça pública, dotado de argolas de ferro, onde se castigavam criminosos (muitas vezes, pobres escravos fujões). Estabelecia o reconhecimento oficial de um povoado. Atribui-se a 29 de março de 1693 a fundação de Curitiba: é a data da instalação da Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Em 1701, passou a chamar-se Vila de Curitiba.

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interior, o território assim demarcado até os limites, à época, com as terras de Espanha. Quando foi elevada a diocese, em 16 de novembro de 1676, desmembrou-se do bispado de São Salvador da Bahia, que então passou a arcebispado. Em 6 de dezembro de 1745 o papa Bento XIV criou a diocese de São Paulo, que, em conseqüência, foi desmembrada de São Sebastião do Rio de Janeiro. Abrangia, de início, de São Paulo para baixo, todo o sul do Brasil e parte do Uruguai. Desvinculada da diocese de São Paulo, da qual era paróquia, Curitiba foi alçada à condição de diocese no dia 27 de abril de 1892, compreendendo os Estados do Paraná e de Santa Catarina. Passou a fazer parte da província eclesiástica de São Sebastião do Rio de Janeiro. Em 19 de março de 1908, de Curitiba desmembrou-se a diocese de Florianópolis, com toda a área do Estado de Santa Catarina. Pouco depois, a 7 de junho do mesmo ano, São Paulo foi elevada a arquidiocese e sede metropolitana, recebendo como sufragânea a diocese de Curitiba, com território correspondente ao Estado do Paraná. Florianópolis continuou diocese sufragânea da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Do ponto de vista da organização eclesiástica, portanto, desde o descobrimento do Brasil até 1575, o Paraná pertenceu à diocese da Bahia. De 1575 até 1676, por 101 anos, fez parte da prelazia do Rio de Janeiro. Entre 1676 e 1745 continuou adscrito não mais à prelazia, mas à já diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Depois, ao longo de quase 150 anos, de 1745 a 1892, pertenceu à diocese de São Paulo, mesmo depois da emancipação política da Província do Paraná. Por último, desde 1908 até 1926, o Estado inteiro compôs o território da diocese de Curitiba, sufragânea da arquidiocese de São Paulo (FEDALTO, 1956, f. 14-16, 41-52). Deve-se ao terceiro bispo de Curitiba, o gaúcho dom João Francisco Braga (1908-1935) o trabalho de semear no interior do Paraná outras dioceses para fornecer melhor atendimento espiritual dos fiéis. Preocupado com o aumento da população, em 1919, consultou o arcebispo de São Paulo, dom Duarte Leopoldo e Silva, seu antecessor imediato em Curitiba, assim como o paranaense dom Alberto José Gonçalves, bispo de Ribeirão Preto (1908-1945), questionando se não estaria o Paraná maduro para a criação de novas dioceses. Não queria pecar por negligência, deixando a vasta região confiada a um único bispo. Com a autoridade de quem, antes do episcopado, trabalhara por 27 anos em Curitiba, dom Alberto respondeu-lhe que “era cedo para pensar nisso e que jogasse água benta sobre seu escrúpulo”. Mas dom Braga antevia para o Paraná o vertiginoso desenvolvimento que o Estado não tardaria a conhecer. Imaginava sedes episcopais em Ponta Grossa, Palmas, Guarapuava..., mas em toda a região norte, cujo crescimento era possível vislumbrar, o bispo de Curitiba não conseguia descobrir sequer uma cidade expressiva, com capacidade de abrigar nova diocese (FEDALTO, 2004, f. 149). Passaram-se ainda sete anos para o papa Pio XI implantar, no dia 10 de maio de 1926, radical mudança na vida eclesiástica do Paraná. Pela constituição apostólica Quum in dies numerus, Curitiba foi elevada a arquidiocese e sede metropolitana, tornando-se capital de nova província eclesiástica constituída pela criação também das dioceses sufragâneas de Ponta Grossa e de Jacarezinho, assim como da prelazia de Foz do Iguaçu. De diocese única, o Paraná foi transformado em província eclesiástica composta de quatro circunscrições: arquidiocese de Curitiba, dioceses de Ponta Grossa e de Jacarezinho, e prelazia de Foz do Iguaçu. Para efeito de administração pastoral, o Estado ganhou com a repartição em quatro regiões que, esquematicamente, podem assim descrever-se: à arquidiocese de Curitiba foi confiada a área dos Campos curitibanos, o Sul do Estado até o rio Iguaçu e ainda o litoral; para Ponta Grossa foram designados os Campos Gerais incluindo parte do centro-oeste; Foz do Iguaçu ficou com a região ocidental delimitada pelos rios Ivaí, Paraná e divisas com Argentina e Santa Catarina; à nova diocese de Jacarezinho coube todo o território compreendido entre os rios Itararé, Paranapanema, Paraná e Ivaí. O documento de criação da nova província eclesiástica, redigido em latim, como todos os textos oficiais da Igreja, assim reza: CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA Diocese de Curitiba no Paraná Desmembramento e ereção de Província Eclesiástica

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PIO BISPO Servo dos servos de Deus Para perpétua memória Como de dia para dia cresce o número dos fiéis cristãos, é oportuno dividir as províncias eclesiásticas existentes e criar novas, para que seus Pastores possam mais convenientemente apascentar e reger o rebanho do Senhor. A diocese de Curityba, que compreende todo o Estado do Paraná, no Brasil, abriga tal número de fiéis e extensão territorial que exige uma providência capaz de atender, mais plena e seguramente, ao bem das almas. Tudo considerado, recebida dos veneráveis irmãos, o atual Bispo de Curityba, o Arcebispo de São Paulo e o próprio Núncio Apostólico no Brasil, a anuência ao desmembramento, consultados os veneráveis irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana para a Sagrada Congregação Consistorial, e obtido o necessário consenso daqueles que têm ou presumem ter algum direito, observando ainda o que foi reservado a esta Sé Apostólica na Carta Apostólica Para todas as Igrejas do mundo, do dia 27 de abril do ano do Senhor de 1892: estabelecemos como perpétuas as disposições que seguem, de conformidade com a plenitude do poder apostólico. Primeiramente, retiramos a atual diocese de Curityba da jurisdição metropolitana da arquidiocese de São Paulo no Brasil, à qual, como diocese sufragânea até aqui estava sujeita, eximimo-la e assim a declaramos eximida. Depois, dividimos o inteiro território da mesma diocese de Curityba e do Estado do Paraná em quatro partes distintas, das quais uma, segregada abaixo, que terá o grau de arquidiocese, circunscrevemos e restringimos como diocese de Curityba; nas outras três partes, erigimos as novas dioceses de Ponta Grossa e de Jacarézinho, assim com a Prelazia “nullius” da diocese de Fóz do Iguassú. Seus limites serão os mesmos das paróquias que abaixo lhes são atribuídas. A diocese de Curityba permanece circunscrita aos limites das 29 paróquias conhecidas pelos nomes que seguem: Corityba, Abranches, Agua Branca, Antonina, Araucaria, Assunguy de Cima, Bocayuva, Campo Largo, Colombo, Contenda, Lapa, Morretes, Muricy, Orleans, Palmeira, Paranaguá, São João do Triumpho, São José dos Pinhaes, São Matheus, Santa Candida, Santa Felicidade, Piraquara, Rio Negro, Rondinha, Serro Azul, Tamandaré, Thomaz Coelho, Umbará, Votuverava. A nova diocese “de Ponta Grossa” estará circunscrita ao âmbito das mesmas doze paróquias que assim se chamam: Ponta Grossa, Castro, Cruz Machado, Guarapuava, Imbituva, Ipiranga, Ivahy, Palma, Prudentopolis, Rio Claro, Tibagy, União da Victoria. A outra nova diocese, a ‘de Jacarézinho’ compõe-se do território destas oito paróquias: Jacarézinho, Barbozas, Colonia Mineira, Jaguariahyva, Pirahy, Ribeirão Claro, São José da Boa Vista, Thomazina. Por último, a prelazia ‘nullius’ da diocese ‘de Fóz do Iguassú’ constará de apenas uma paróquia, a do mesmo nome. Além disso, constituímos perpetuamente a sé e a cátedra das dioceses de Ponta Grossa e de Jacarézinho, respectivamente das cidades chamadas Ponta Grossa e Jacarézinho, das quais tomam o nome; conferimo-lhes ainda a honra de cidades episcopais assim como todos os direitos e privilégios de que desfrutam e gozam as outras cidades episcopais da América Latina. Às suas igrejas próprias, dedicadas a Santa Ana, mãe da Bem-aventurada Virgem Maria, na cidade de Ponta Grossa, e à Bem-aventurada Virgem Maria concebida sem pecado original e a São Sebastião, na cidade de Jacarézinho, elevadas sob as mesmas invocações e títulos, reconhecemos a condição de catedrais, ao mesmo tempo em que conferimos aos seus Antístites as honras, insígnias, favores, graças, privilégios e direitos de que desfrutam, em razão do direito comum ou de legítimo costume, as outras Igrejas catedrais da América Latina e seus Pastores. No que concerne ao governo e à administração dessas dioceses, à eleição, durante a sede vacante, do Vigário Capitular ou Administrador, aos direitos dos clérigos e dos fiéis, aos encargos e outras normas a serem observadas, mandamos o que determinam os sagrados cânones. No tocante ao clero em particular, determinamos que, concluída a ereção das dioceses, sejam os presbíteros automaticamente adscritos à Igreja em cujo território legitimamente se encontrem.

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Caso as circunstâncias impeçam que no momento se constitua nessas dioceses o Cabido dos cônegos, ordenamos que em seu lugar sejam escolhidos os Consultores diocesanos, como dispõem o cân. 423 e seguintes do Código de Direito Canônico. Mandamos ainda que, o mais brevemente possível, seja construído pelo menos o Seminário menor, de acordo com as disposições do mesmo Código e normas da Sagrada Congregação dos Seminários. Quanto à prelazia “de Fóz do Iguassú”, determinamos que, para todos os efeitos, seja própria e verdadeiramente uma diocese “nullius”2, até que a seu respeito se considere oportuno dispor de outra forma. Ao mesmo tempo, estabelecemos como sede da prelazia a cidade conhecida como “Fóz do Iguassú”, cuja igreja paroquial, sob título e invocação de São João Batista, elevamos a igreja prelatícia, com todos os direitos e privilégios cabíveis às cidades e igrejas episcopais bem como aos seus cidadãos no Brasil. Em nível equivalente à dignidade episcopal, instituímos na mesma igreja a sé e a dignidade prelatícia para um Prelado de diocese “nullius”, que presidirá essa Igreja e prelazia com os direitos, ofícios, mesa, honras e privilégios de que usufruem e gozam os Prelados das Igrejas no Brasil, com exceção daquilo que, por peculiar indulto ou pelo direito, compete exclusivamente aos Bispos. Para que o Prelado possa cumprir todas as suas obrigações, como cumprem os Bispos em suas dioceses, determinamos que seja o mesmo distinguido com o caráter e dignidade episcopal, exigindo, por isso, que a ele e à Prelazia seja conferido título episcopal. Além disso, em relação à nova prelazia deverá ser observado tudo o que ficou estabelecido na citada Carta Apostólica do dia 27 de abril de 1892 no que tange a honras, privilégios e indultos das novas dioceses na República do Brasil; ao poder e atribuições dos novos Bispos; à instituição do Cabido e ao governo e administração do Seminário; finalmente, aos direitos e deveres dos fiéis cristãos e dos clérigos, bem como outras determinações do mesmo gênero, tudo em perfeita consonância com as correspondentes disposições religiosamente elaboradas do Código de Direito Canônico e com os decretos do Concílio Plenário da América Latina. Estabelecemos ainda que das novas dioceses “de Ponta Grossa” e “de Jacarézinho”, assim como da prelazia “de Fóz do Iguassú” sejam enviados ao Pontifício Seminário Pio Latino-americano, em Roma, cada ano sem interrupção, dois jovens escolhidos ou, no momento, pelo menos um. Todos os documentos, registros e atas que dizem respeito às referidas novas circunscrições eclesiásticas, aos seus clérigos ou aos seus fiéis o quanto antes sejam enviados da chancelaria da antiga diocese de Curityba às respectivas chancelarias das novas dioceses e prelazia, para serem anotados nos próprios arquivos e religiosamente conservados. Nas novas circunscrições indicadas a mesa episcopal e a prelatícia compõem-se dos emolumentos da Cúria e de outras doações que, por costume, oferecem os fiéis beneficiados pela criação das novas sedes, além daquelas que para isso já foram destinadas pela competente autoridade civil. Como a diocese de Curityba abriga também a capital do Governo civil, isentada a autoridade Apostólica da anuência de quem possa alegar quaisquer direitos, elevamo-la para sempre e promovemo-la, transpostos os limites de sua circunscrição, a desfrutar do prestígio e da dignidade de sé metropolitana, da mesma forma que a erigir seu Cabido de cônegos, por isso denominado cabido metropolitano. Além disso, à arquidiocese de Curityba e ao seu Arcebispo metropolitano submetemos por direito como dependentes ou sedes sufragâneas as preditas dioceses “de Ponta Grossa” e “de Jacarézinho” e também a prelazia “nullius” da diocese “de Fóz do Iguassú”, reservando, contudo, a Nós e à Sé Apostólica, a faculdade de livremente promover nessa província eclesiástica novos desmembramento e delimitação, quando diante do Senhor isso parecer conveniente. Assim, aos Arcebispos de Curityba, no exercício do cargo, depois da devida postulação ao Consistório, concedemos o uso do Pálio e da Cruz a ser conduzida à sua frente, de acordo com o costume dos outros Arcebispos e prescrições dos

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2 Literalmente, “de nenhum” (ou de ninguém), a expressão latina indica uma diocese em formação, onde ainda faltam pessoal e organismos próprios de uma Igreja consolidada.

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sagrados cânones, e dentro dos limites da própria Província; igualmente concedemos todas as outras insígnias arquiepiscopais, privilégios, honras e direitos dos quais desfrutam e gozam outras Igrejas arquiepiscopais da América e seus Prelados, por força do direito comum ou de legítimo costume. Ao venerável irmão João Braga, que no momento ocupa a sé de Curityba, acrescentamos pela presente Carta os acima mencionados título, dignidade, direitos e privilégios de Arcebispo. A ninguém, em tempo algum, seja permitido infringir as disposições que Nós com Apostólica autoridade determinamos nesta Carta, a elas se opor nem de qualquer forma contraditá-las. Se alguém – o que Deus não permita – ousar intentá-lo, saiba que estará sujeito às penas estabelecidas pelos sagrados cânones contra os que se opõem ao exercício da jurisdição eclesiástica. Confiamos ao venerável irmão Leopoldo Duarte Silva, atual Arcebispo de São Paulo, no Brasil, a execução de tudo o que foi aqui estabelecido e lhe atribuímos as faculdades necessárias a esse mister, inclusive a de subdelegar outro homem investido da dignidade episcopal e de dar solução definitiva a qualquer dificuldade ou obstáculo que venha a ocorrer na execução, impondo-lhe o dever de remeter, dentro de seis meses, à Sagrada Congregação Consistorial, redigida de forma autêntica, a comprovação do fiel cumprimento desta Nossa ordem. Determinamos, por último, que a presente Carta tenha plena validade, revogadas quaisquer disposições contrárias dignas de peculiar e expressa menção. Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 10 de maio de 1926, quinto ano do Nosso Pontificado. + C. Card. DE LAI, Bispo de Sab. e Mend., Secretário da S. C. Consistorial O. Card. CAGIANO, Chanceler da S. I. Romana João Zani Caprelli, Protonotário apostólico Alfonso Carinci, Protonotário apostólico. (PIO XI, 1927, p. 82-85, grifo do autor).3

A Igreja em um novo Norte Nesse tempo, o Norte do Paraná limitava-se a um punhado de pequenas cidades agrupadas na parte nordeste do Estado, hoje conhecida como Norte Velho. A oeste do rio Tibagi começava a fase de colonização da Companhia de Terras Norte do Paraná, criada a 24 de setembro de 1925 e destinada a se tornar a grande desbravadora dos Nortes Novo e Novíssimo. Nascida inglesa e com larga predominância de capital britânico, a CTNP passaria, em 1944, ao controle acionário de brasileiros. Era o tempo da 2ª Guerra Mundial, e o governo de Getúlio Vargas pressionava empresas estrangeiras, sobretudo européias, a pelo menos admitirem participação acionária de brasileiros. Além disso, com os olhos voltados à reconstrução da Inglaterra, que se faria necessária quando a guerra chegasse ao fim, o governo de Sua Majestade determinou a repatriação dos capitais investidos pelos seus súditos em várias partes do mundo. Em 1951, a empresa passou a chamar-se Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Está fora de qualquer discussão o reconhecimento de que, não

3 A criação da Província eclesiástica de Curitiba, como se vê, apareceu na imprensa oficial da Santa Sé apenas no ano seguinte. A nomeação de dom João Francisco Braga para arcebispo de Curitiba, por elevação da diocese a sede metropolitana, já fora documentada no ano anterior em AAS 18 (1926), p. 525. Quanto ao nome das paróquias originais da diocese de Jacarezinho, Barbosa é como se chamava Santana do Itararé; Colônia Mineira tem hoje o nome de Siqueira Campos.

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fosse ela, a história da nossa região teria sido inteiramente diversa.4 Jacarezinho não revestia, na verdade, o aparato exigido de uma grande cidade. Igualmente, nada autorizava prever-lhe crescimento relevante. Porém reunia as condições mínimas exigidas para impor-se como cabeça de nova circunscrição eclesiástica numa área territorial extremamente vasta, localizada a enorme distância da sede episcopal de Curitiba, sobretudo se considerarmos a estrutura viária da época. Por outro lado, o avanço para além da margem esquerda do rio Tibagi fazia antever forte crescimento populacional e econômico, acoimando de omissão grave a ausência da Igreja nessa fase decisiva para o futuro da região. Em poucas décadas, com efeito, do seu território foram extraídas áreas para cinco dioceses mais: Cornélio Procópio, Londrina, Apucarana, Maringá e Paranavaí, não faltando quem já tenha sugerido a criação da diocese de Colorado, de Ivaiporã ou até de ambas. Em 15 de agosto de 1927 tomou posse o primeiro bispo, dom Fernando Taddei, padre italiano da Congregação da Missão, reitor do Seminário Menor de São José, em Curitiba, ordenado bispo no Rio de Janeiro, em 29 de junho do mesmo ano. Governou a diocese até seu falecimento, em 9 de janeiro de 1940. Quando chegou, pôde contar com apenas poucos padres diocesanos e alguns frades capuchinhos. Ao lado de outras realizações, coube-lhe trazer os padres palotinos, que se tornaram, a partir de 1930, os grandes evangelizadores do norte paranaense. Sucedeu-o dom Ernesto de Paula, depois de 13 meses de vicariato capitular cumpridos pelo padre palotino Luiz Oto (ou Othão) Waschburger. O segundo bispo associou a si a imagem de homem austero e cioso de uma postura de principesca dignidade, que considerava indissociável do cargo. Tomou posse da diocese a 22 de fevereiro de 1942, num momento em que a região experimentava entusiasmo e ânsia de progresso, com gente chegando de todas as partes para ocupar as férteis terras roxas do Norte paranaense. Com grande amor à Igreja, trabalhou sem descanso por melhor atendimento espiritual do povo de Deus. Criou cinco novas paróquias, entre as quais Arapongas e Lovat – nome que viria a ser alterado para Mandaguari

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– a cujo território pertenceu a parte

maior da futura diocese de Maringá. Não tendo o primeiro bispo conseguido dotar a sede nem de palácio episcopal nem de igreja catedral insigne, como era desejo de dom Ernesto, empenhou-se este na edificação das duas importantes obras. O paço episcopal ele o deixou praticamente construído. A Catedral, não obstante o entusiasmo com que galvanizou os fiéis para sua edificação, não logrou tempo de vê-la consumada: concluiu -a o terceiro bispo, com auxílio de seu irmão, doutor Eugênio Sigaud, artista da escola do mestre Cândido Portinari.6 Por escassos três anos e quatro meses dom Ernesto governou a Igreja de Jacarezinho, da qual foi transferido, em 30 de junho de 1945, para Piracicaba (FILIPAK, 1976, p. 12-13; FEDALTO, 2004, f. 151). A seu respeito conserva dom Jaime Luiz Coelho delicada lembrança. Num de seus encontros, contou-lhe certa vez dom Ernesto que, em visita pastoral por estas bandas, dirigindo-se à Fazenda Brasileira, antigo nome de Paranavaí, viu fixada numa árvore uma placa com o nome “Maringá”, indicando o lugar onde seria erguida a futura cidade-canção. O primeiro livro do Tombo da paróquia N. S. Aparecida, de Mandaguari, como adiante se verá, anota a única passagem de dom Ernesto de Paula pela região, no dia 17 de março de 1944. Informa

4 Não cabe aqui nem seria adequado exigir destas páginas uma análise do papel colonizador da Companhia, seja na fase de CTNP, seja como CMNP. Este relato contempla apenas (e de forma modesta) o trabalho da Igreja Católica na área da diocese de Maringá. O desbravamento do largo setentrião paranaense é fartamente conhecido por depoimentos orais, por jornais, revistas e livros que narram, mais que tudo, a saga aventureira da fundação de cidades como Londrina (1930-34), Maringá (1947-51), Cianorte (195355) e Umuarama (1955-60), sempre realçando o arrojo dos pioneiros e a decisiva atuação da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Da parte desta, a publicação mais conhecida é o livro comemorativo do seu cinqüentenário cuja segunda edição veio a lume em 1977. Há quem apresente versões pontualmente conflitantes com essa visão, considerada por alguns a história “oficial”, narrada a partir do colonizador. No tocante à ação evangelizadora da Igreja Católica em Maringá seria injusto omitir a incalculável contribuição da CMNP, tanto por parte da alta direção quanto dos responsáveis locais, sobretudo na cessão de terrenos e no desembaraço de questões administrativas para sua efetiva utilização. 5 “Lovat” é ainda nome de um distrito de Umuarama, no Norte Novíssimo do Paraná, cidade também fundada pela CMNP.

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6 O artista Eugênio Sigaud, a pedido do irmão bispo, dom Geraldo de Proença Sigaud, elaborou projetos para várias igrejas, em substituição às antigas de madeira. Inclusive para a igreja do Maringá Novo, dedicada à Santíssima Trindade, orago substituído, em 5 de agosto de 1952, por N. S. da Glória. Quando chegou, dom Jaime escolheu outro projeto para a igreja paroquial de N. S. da Glória, transformada em catedral de Maringá.

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ainda que “na tarde do mesmo dia S. Excia. Revma. embarcou com destino a paróquia de Arapongas”. Terá sido nessa ocasião, muito provavelmente, que o bispo observou a placa indicativa de Maringá. Seria uma seta à beira da estrada apontando o “patrimônio” Maringá, já existente no “Maringá Velho”. Ou alguma pista à beira da picada aberta no mato, apontando na direção do “Maringá Novo”, para o qual a CMNP vendia lotes e incentivava as construções. Em várias oportunidades, dom Jaime convidou o idoso dom Ernesto – residente em São Paulo, onde foi escolhido provedor da Santa Casa, depois de renunciar à diocese de Piracicaba – a visitar Maringá: “Queria que visse em que se transformou a mata onde ele leu numa placa o nome da futura cidade. Apesar de minha insistência, jamais aceitou o convite” 7. A Maringá, que nascia do mato naquele tempo, dom Ernesto só conheceu através dos muitos cartões postais que dom Jaime lhe fez chegar às mãos. Dom Geraldo de Proença Sigaud, terceiro bispo, em cujo episcopado se erigiu a diocese de Maringá, esteve à frente da diocese de Jacarezinho de 4 de maio de 1947 a 20 de dezembro de 1960, quando foi transferido para Diamantina (MG), na condição de arcebispo. Desde 1919, quando chegaram ao Paraná os primeiros capuchinhos da nova fase missionária instaurada por dom João Francisco Braga, o território da futura diocese de Maringá permanecia coberto pela viçosa mata, percorrida por índios, mateiros, caboclos e viajantes, mas ainda sem vida eclesial organizada. A partir da instalação da diocese pioneira, é possível acompanhar no Norte do Paraná, de maneira fragmentária no começo, com maior precisão depois, os passos de uma vida cristã ordenada pela praxe eclesiástica institucional. A população da nova diocese concentrava-se exclusivamente no extremo nordeste do Paraná, nas vizinhanças do Estado de São Paulo. Tomazina, junto ao rio das Cinzas, era a paróquia mais próxima da futura cidade e futuro bispado de Maringá. Para o estabelecimento de uma válida organização eclesiástica neste pedaço do Estado os primeiros passos começaram a ser dados nos alvores da terceira década (1920-1930) do século XX. Etapa marcante desse processo foi a criação da paróquia de Sertanópolis. Sertanópolis acha-se situada na margem esquerda do riacho Tabocas, no Distrito de Jataí, Município de São Jerônimo, Comarca de Tibagi, em terras que faziam parte da gleba de 50.000 alqueires, medidos pelo Juiz Comissário Dr. Mário Palhano e concedida pelo Dr. Afonso Alves de Camargo, Presidente do Estado do Paraná ao Cel. Leopoldo de Paula Vieira para fins de colonização em 24 de outubro de 1919 (PROBST, 1998, v. 1, p. 67). O município foi criado em 10 de abril de 1929, desmembrado de São Jerônimo. A primeira eleição de prefeito municipal deu-se em 14 de julho, e a posse do eleito, Luiz Deliberador, aconteceu no dia 21 de novembro, prestigiada por dom Fernando Taddei, bispo diocesano. A paróquia foi erigida a pedido de padre Jonas Vaz dos Santos. Originário da Bahia, antes tinha sido encarregado da paróquia de Ariranha, na diocese de São Carlos (SP), daí se transferindo ao Paraná, para a diocese de Jacarezinho, recentemente criada, onde assumiu as funções de secretário do bispado e vigário geral. Comprou uma área de terras em Sertanópolis e apresentou a dom Taddei a proposta da criação da paróquia e de sua nomeação como primeiro pároco do lugar, até então atendido esporadicamente pelo vigário de Tibagi. Sertanópolis ainda não se revelava capaz de garantir o sustento de um padre. Pela carência de sacerdotes que enfrentava numa diocese extensa, dom Taddei não viu motivo para não anuir ao pedido. O decreto de ereção da paróquia leva a data de 16 de junho de 1929 e vem assinado pelo bispo e pelo secretário, o próprio padre Jonas. Nomeado, no dia seguinte, vigário da paróquia, na falta de quem o empossasse, padre Jonas instalou-se no dia 14 de julho e leu ele mesmo os decretos de criação da paróquia e de sua provisão nas funções de vigário (PROBST, 1998, v. 1, p. 69). Em

7 Informação dada por dom Jaime, em Maringá, no dia 3 de maio de 2006. Acrescentou ainda que, no final do ano de 1942, seu irmão Amélio, residente em Franca (SP), viajante de laboratório farmacêutico, fazendo a praça de Londrina, ouviu falar de uma cidade em formação, chamada Maringá, no meio do mato. Com um companheiro veio para cá, hospedando-se no Hotel Campestre, feito de palmito e coberto de tabuinhas.

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sua crônica Probst providencialmente anota o importante registro dos limites da paróquia de Sertanópolis: Subindo da foz do rio Ivaí no (rio) Paraná – e respeitando-se os limites da Prelazia de Foz do Iguaçu – até a barra do riacho Pereira ou Rosálio; deste acima – respeitando-se os limites (da Diocese) de Ponta Grossa – até a nascente; daí rumo direto até encontrar a nascente do riacho Barra Grande; por este abaixo até o (rio) Tibagi; descendo por este até o afluente da margem direita com o mesmo, de nome Barra Grande; por este até a nascente; daí rumo direto à margem do rio Laranjinha; descendo por este até o rio das Cinzas; por este até (o rio) Paranapanema; por este até o Paraná e por este até a foz do Ivaí (PROBST, 1998, v. 1, p. 92, grifo nosso). Quem se der ao cuidado de seguir no mapa a linha dessa demarcação verá que a paróquia de Sertanópolis abrangia, no começo, toda a área em que hoje se localizam não somente as arquidioceses de Maringá e de Londrina, como ainda as dioceses de Paranavaí, de Apucarana e, em sua quase totalidade, a diocese de Cornélio Procópio. Pelas notas do livro do Tombo consultado por Probst, o ponto extremo alcançado pelo atendimento do pároco na direção oeste foi a localidade de Rio Bom, última paróquia atual da diocese de Apucarana na divisa com a arquidiocese de Maringá. Quatro anos depois, no dia 15 de junho de 1934, padre Jonas foi exonerado da paróquia; na versão oficial, em razão de renúncia apresentada por motivo de saúde. Comenta-se, porém, que a verdadeira causa teria sido política, o que não parece infundado, de vez que, três dias antes, por decreto assinado pelo interventor Manuel Ribas, recebera a nomeação de prefeito do município. Na revolução de 1930, a pacata Sertanópolis fora ocupada por tropas leais a Getúlio Vargas, que destituíram as autoridades locais. O interventor, por ato de 13 de maio de 1932, suprimiu os municípios de São Jerônimo e de Sertanópolis, agrupando-os à área do município de Jataí, criado então. Inconformado com a medida, o vigário de Sertanópolis, por dois anos seguidos, lutou pela restituição do município à sede primitiva. Alcançado o objetivo em 1934, foi nomeado prefeito. Já exonerado das funções de vigário, assumiu a prefeitura no dia 20 de junho do mesmo ano. A imensa paróquia de Sertanópolis foi então anexada à de Londrina, criada em 9 de março de 1934.

Os palotinos no Norte Novo Em conseqüência, sob jurisdição da paróquia de Londrina, ainda no seu nascimento, foram colocados nada menos que 54 povoados, localidades e bairros distribuídos por extensa zona rural. Anotações do livro do Tombo nº 1 da catedral londrinense dão conta de que a primeira missa solene celebrada na cidade aconteceu aos 11 de março de 1934, dois dias após a ereção canônica da “Paróquia Matriz do Sagrado Coração de Jesus, em Londrina”, no lugar hoje ocupado pela catedral. A cerimônia contou com a presença de dom Fernando Taddei, bispo diocesano; de padre Erasmo Raabe, SAC, superior da Região São Paulo dos Padres Palotinos; de padre Carlos Dietz, SAC, primeiro vigário de Londrina; de doutor Willie Davids, diretor técnico da Companhia de Terras Norte do Paraná, e de Arthur H. M. Thomas, diretor gerente da CTNP. Muito antes de se fazer conhecer como querido vigário de Maringá – a ponto de dar nome a rua central da cidade –, padre Germano José Mayer exerceu o encargo de vigário da paróquia de Londrina, de 14 de junho de 1935 a 14 de julho de 1936. A galeria de fotos dos vigários exposta na catedral de Londrina, no entanto, assinala como início de sua função a data de 1º de janeiro de 1935. De interesse para a diocese de Maringá é ainda o registro de que, no dia 6 de janeiro de 1939, padre José Kandziora, coadjutor do vigário de Londrina, celebrou pela primeira vez a santa missa na capelinha de Lovat, que viria a se tornar, mais tarde, a cidade de Mandaguari. Ainda que estranho, na sua criação a paróquia de Londrina não registrou descrição de seu território. Mais de cinco anos passados, veio a público, em 7 de dezembro de 1939, o decreto estabelecendo seus limites, com o seguinte teor:

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D. Fernando Taddei por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica Bispo de Jacarezinho Aos que este nosso Decreto virem saudação, paz e bênção no Senhor. Atendendo à necessidade de definir os limites de algumas paroquias, recentemente creadas, fazemos saber que os limites da paroquia de Londrina são os seguintes: Começando na foz do rio Ivaí sobe pelo rio Paraná até a foz do rio Paranapanema, pelo rio Paranapanema acima até à foz do rio Pirapó, sobe pelo rio Pirapó até à barra do rio Bandeirantes do Norte e por este acima até um afluente da direita, continua por este acima até à divisa entre as terras da Colônia Sertanópolis com as da Cia. de Terras Norte do Paraná, seguindo por esta divisa até o espigão entre os rios Cágados e Abóboras, pelo qual segue até o rio Tibagy, sobe o rio Tibagy até à barra do rio Taquara, subindo pelo rio Taquara até às suas cabeceiras no espigão divisor Tibagi-Ivaí, seguindo por esta direção sul até encontrar a reta que existe no limite Norte das terras reservadas para povoamento da região do Faxinal de São Sebastião, por esta reta alcança o rio Bom e por este desce até a sua foz no Ivaí, desce pelo rio Ivaí até a sua foz no rio Paraná, ponto de partida destes limites. Dado e passado em nossa Câmara Eclesiástica, nesta cidade e Bispado de Jacarezinho, sob o nosso Sygnal e Selo da nossa Chancelaria, aos sete de Dezembro de mil novecentos e trinta e nove. +Fernando Bispo (PARÓQUIA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, 1934, f. 37). Exceto pela extremidade oriental, onde houve pequena redução de área, as divisas acima descritas da paróquia de Londrina não diferiam muito daquelas consignadas em 1929 à paróquia de Sertanópolis. Continuavam abarcando o território completo da diocese de Maringá, que seria criada apenas duas décadas mais tarde. Nesse palco ia sendo montado o cenário de um nem sempre conveniente processo de ocupação de espaços físicos e de geração de riquezas. Sítios, povoados, vilas e cidades continuavam a assistir, praticamente todos os dias, à chegada de novos caminhões de mudança. De forma apressada e, com freqüência, ignorando preceitos das ciências agrárias, exuberantes matas eram postas no chão, abrindo espaço para o plantio do “ouro verde”, monocultura que no início determinou o uso das generosas terras. A região fervia de gente, no buliçoso corre-corre da derrubada, da queima da coivara, da destoca, do coveamento, do plantio dos “balainhos”... da suarenta e interminável mão-de-obra exigida para “tocar” lavouras de milhões de pés de café. De forma nunca vista em outros lugares, crescia a população do “Paraná”.8 Em conseqüência, dilatavam-se igualmente as preocupações do bispo para atender o clamor por novas paróquias e respectivos vigários. Depois de Londrina, seguindo a trilha dos que avançavam sertão adentro, foi necessário organizar núcleos de vida paroquial em Nova Dantzig (hoje Cambé), Rolândia (que virou Caviúna, voltando depois a Rolândia) e Arapongas. A atual paróquia Nossa Senhora Aparecida, na área central desta cidade, teve o decreto de criação assinado por dom Ernesto de Paula em 1º de novembro de 1942. No dia 29 do mesmo mês, o vigário, padre Bernardo Merkel, tomou posse. Da paróquia-mãe de Londrina herdou Arapongas o gigantismo territorial costumeiro; estendia-se até o Mato Grosso de então. Desprezando breves segmentos de divisa seca, as fronteiras acompanharam os cursos d’água na seqüência: foz do Paranapanema – Paraná – Ivaí – Bom – Bandeirantes do Norte – Pirapó – Paranapanema, até sua foz no Paraná (PROBST, 1998, v. 3, p. 97). Para uma idéia da intensidade com que, em pouco tempo, foi povoada toda a área, atente-se à rapidez com que iam sendo implantadas novas paróquias, praticamente todas entregues aos cuidados dos palotinos, fato que, por outro lado, evidencia quanto era significativa sua presença na região. Coube ainda a dom Ernesto estabelecer com grande antecedência, embora sem imaginar, a parcela mais avantajada do território onde se estabeleceria a diocese de Maringá cuja criação ele, evidentemente, jamais

8 No interior de outros Estados, principalmente de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, “Paraná” era o nome dado à riquíssima faixa de terras delimitada pelos rios Tibagi, Paranapanema, Pirapó, Ivaí e seus entornos.

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poderia prever. No dia 8 de dezembro de 1943, usou de sua faculdade de governo para erigir duas novas paróquias, extraídas da área de Arapongas. Criação das paroquias de Apucarana e Lovat. Em razão do crecimento (sic) da população e da grande extensão territorial que esta paróquia vem ocupando S. Excia. revma. O Sr. Bispo diocesano Don (sic) Ernesto de Paula ha por bem dividir e desmembrar da paroquia de Arapongas mais duas paroquias novas, a paroquia de Apucarana e de Lovat. Aos oito de Dezembro de mil novecentos e quarenta e tres, festa da Imaculada Conceição foram criadas as duas novas paroquias. Seguem os decretos de criação destas paróquias (PARÓQUIA DE ARAPONGAS, 1943, f. 6). Para a Igreja presente em Maringá, importância singular representa, sem duvida, a criação da paróquia de Lovat, mais tarde denominada Mandaguari. Desde 6 de janeiro de 1939, como acima relatado, numa capelinha rural, em terreno doado pela CTNP, a uma quadra da curva de noventa graus que a estrada fazia de sul para oeste, a população católica era atendida pelos padres de Londrina. A modesta capela situava-se no ponto onde atualmente se localiza a igreja paroquial de Nossa Senhora Aparecida. Com a criação da paróquia de Arapongas, passou à jurisdição desta. Primeiro povoado, primeira paróquia, primeiro município e primeira comarca, Mandaguari acompanhou o surgimento de Maringá desde o tempo da mata fechada. Última cidadela da civilização, durante largo tempo, para ela acorriam os trabalhadores enfurnados no sertão distante, quando sentiam necessidade de fazer compras, buscar tratamento de saúde, consultar autoridades, solucionar problemas e buscar valimento oficial da religião. Acompanhando as divisas reconhecidas à paróquia de Lovat, como a seguir se estabelecem, não é difícil perceber que, com antecedência de treze anos, o segundo bispo de Jacarezinho, havia já projetado o esboço das divisas da futura diocese de Maringá. Dom Ernesto de Paula, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo Diocesano de Jacarézinho Aos que este Nosso Decreto virem, saudação, paz e benção no Senhor. Fazemos saber que havendo Nós deliberado aumentar o número de paróquias em Nossa Diocese, em razão do crescimento da população e da grande extensão territorial que esta vem ocupando de sorte que, sem grave incômodo não podem os fieis frequentar a respectiva igreja matriz para receber os Sacramentos e assistir aos Divinos Ofícios, depois de ouvir o parecer de Nosso Conselho, usando de Nossa Jurisdição ordinária e de conformidade com o Código de Direito Canônico, principalmente tendo em vista os cânones 1426 e 1427, havemos por bem separar, dividir e desmembrar da paroquia de Arapongas o território que vai abaixo indicado e nele Erigimos e canonicamente Instituímos a paroquia amovível de Lovat, criada pelo presente Decreto de conformidade com o cânon 1426 do Código de Direito Canônico, com as seguintes divisas: Começam na foz do Rio Paranapanema, descendo pelo rio Paraná até a barra do Rio Ivaí. Sobem por este confrontando com o bispado de Ponta Grossa, até a foz do Rio Keller. Seguem o Rio Keller até a embocadura do Rio Rochedo, acompanham este até as suas cabeceiras. Daí seguem por uma reta até as nascentes do Ribeirão dos Dourados, atravessando a estrada que liga Jandaia a Lovat. Descem pelo Ribeirão dos Dourados até desaguar no Pirapó. Seguem o Pirapó até o Paranapanema e descem por este até sua foz no Paraná, onde tiveram início estas divisas. Limitada assim a nova paróquia de Lovat submetemos a jurisdição e cuidado espiritual do pároco que para ela for nomeado e dos que canonicamente lhe sucederem no cargo os habitantes daquele território, aos quais Mandamos que tanto para o revmo. Pároco como para a Fábrica da igreja contribuam religiosamente com os emolumentos, oblações e benesses que respectivamente lhes sejam devidos por estatutos, leis e costumes da Diocese. Outrossim Ordenamos que funcione o novo pároco e os seus legitimos sucessores na

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igreja de Lovat, a qual por isso gozará de todos os privilégios e insignias que em direito lhe couberem. Pelo que Concedemos à dita igreja pleno direito e faculdade para ter Sacrário em que se conserve o Santíssimo Sacramento com o necessário ornato e decência, com a lâmpada acesa de dia e de noite, bem como a faculdade para aí estabelecer o Batistério e a Pia Batismal, e possa ter os livros de Tombo e os de Batismo, Casamentos e Óbitos, abertos, rubricados e encerrados em Nossa Cúria Diocesana, os quais na forma do Direito deverão ser em duplicatas, afim de um deles ser conservado no Arquivo da Cúria, depois de completo; ainda lhe concedemos todas as demais honras, insígnias e distinções de igreja paroquial. Portanto Damos por erigida e constituída em Nossa Diocese a nova paroquia de Lovat, a qual terá por padroeira e titular Santa Terezinha do Menino Jesus, cuja festa se há de celebrar anualmente em pompa e religioso esplendor. Mandamos que este Nosso Decreto seja lido em um domingo ou dia santificado à estação da missa paroquial na igreja da nova paróquia bem como na igreja de Arapongas, do que se passará certidão adiante, para a todo tempo constar. Seja este integralmente registrado no livro de Criação de Paroquia de Nossa Cúria Diocesana, e também nos livros do Tombo da paroquia de Arapongas e da nova paroquia de Lovat. Dado e passado em Nossa Cúria Diocesana de Jacarézinho, sob Nosso sinal e selo de Nossas armas, aos 8 de dezembro de mil novecentos e quarenta e tres, festa da Imaculada Conceição. E eu, B. Paulo Larcher, Notario da Cúria, o escrevi. Ass. +Ernesto Bispo Diocesano (PAROQUIA DE MANDAGUARI, 1944, f. 3-5; PAROQUIA DE ARAPONGAS, 1943, f. 7). A qualquer conhecedor, ainda que desatento, não terá passado despercebido o patrocínio de Santa Teresinha do Menino Jesus à nova paróquia. O livro do Tombo da primeira paróquia de Mandaguari traz a correção da qual transcreve o competente decreto episcopal, restituindo a titularidade a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Na hora de fazer o assentamento no livro, entretanto, o redator cometeu novo engano ao anotar 1944 como o ano de criação da paróquia; 1943 é o ano exato. Possivelmente, tenha feito confusão com a data da posse − 17 de março de 1944, menos de três meses depois da criação − do primeiro vigário, padre Antônio Lock. O livro registra: Devido a um engano ocorrido no Decreto da criação desta paróquia, no dia 8 de Dezembro de 1944 (sic), Exmo. Sr. Bispo Diocesano dignou-se corrigir o respetivo termo e reconhecendo a Nossa Senhora Imaculada de Aparecida como a Padroeira da Paróquia. Dom Ernesto de Paula, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo Diocesano de Jacarézinho Aos que este Nosso Decreto de retificação virem, saudação e benção no Senhor. Fazemos saber que, atendendo ao que Nos representou o Revmo Snr. Padre Vigario de Mandaguari, ex Lovate (sic),9 havemos por bem determinar que se faça a devida correção no Decreto de creação da referida Paroquia no que diz respeito ao titular da igreja-matriz. Diz o citado Decreto: ‘Terá por padroeira e titular Santa Terezinha do Menino Jesus, cuja festa se há de celebrar anualmente com pompa e religioso esplendor.’ Leai-se (sic): ‘Terá por padroeira e titular Nossa Senhora da Conceição Aparecida, cuja festa se há de celebrar anualmente com pompa e religioso esplendor:’ Dado e passado em Nossa Cùria Diocesana de Jacarézinho, sob Nosso sinal e selo de Nossas armas, aos vinte e seis de Abril de mil novecento e quarenta e quatro.

9 A mudança de Lovat para Mandaguari deu-se, portanto, entre 08/12/1943 e 26/04/1944. Por causa da guerra, nomes alemães (Nova Dantzig = Cambé; Rolândia = Caviúna) e até não alemães eram trocados.

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E eu, B. Paulo Larcher, Notario da Cúria, o datilografei. Ass. +Ernesto, Bdeoc (sic) [...] (PAROQUIA DE MANDAGUARI, 1944, f. 10). A paróquia de Mandaguari era, naquele tempo, uma das maiores áreas de atendimento espiritual confiada a um padre. Por provisão episcopal de 17 de fevereiro de 1944, foi nomeado primeiro vigário da paróquia o palotino padre Antonio Lock. Sua posse estava marcada para o dia 5 de março seguinte. Mas “impedido por chuvas torrenciais”, não pôde chegar à cidade o delegado do bispo que o empossaria. Coube a dom Ernesto de Paula, “em viagens pastoraes chegando a esta Igreja-matriz no dia dezesete do corrente mez introduzir pessoalmente o novo Vigario na Posse de Sua Paróquia.” (PAROQUIA DE MANDAGUARI, 1944, f. 9). Uma vaga idéia da extensão territorial e do trabalho que cabia a padre Antonio Lock pode fazer quem lê as anotações de dom Geraldo de Proença Sigaud, na sua primeira visita pastoral a Mandaguari, a segunda de um bispo à paróquia: Vindos de Jacarezinho via Londrina, fomos trazidos desde esta cidade pelo Exmo. Snr. Prefeito Municipal, Snr. Décio Pullim, que durante os 15 dias de nossa permanencia na paróquia foi extremamente amavel e atencioso. Visitamos os lugares de Mandaguari, Jandaia, Marumbi, Marialva, Maringá, Floriano, Guaira (hoje Mandaguaçu), Paranavai e Bom Sucesso. O numero de crismas foi de cerca de 10.000, o que é devido em parte à enorme extensão da Paroquia, a que afluem diariamente imigrantes, em parte devido a ter havido a ultima Crisma há quatro anos (PAROQUIA DE MANDAGUARI, 1944, f. 26, grifo nosso). Por ocasião desta visita pastoral, a paróquia de Mandaguari contava com dois padres. O vigário havia recebido, em 29 de março de 1947, como coadjutor padre Max (Maximiliano) Kley, SAC, que, em razão das distâncias a serem percorridas para atender gente de tantas localidades, foi morar na cidade vizinha: “passa a residir em Marialva, morando na Sacristia por falta de casa paróquial (sic) (PAROQUIA DE N. S. DE FATIMA DE MARIALVA, 1951, f. 2). A paróquia de Marialva seria criada em 28 de dezembro de 1948. Apesar de extensa, recebeu de Mandaguari reduzido naco do imenso território desta, que continuou confrontando, a oeste, com o rio Paraná, parte limítrofe com o único antigo Estado do Mato Grosso. Somente em 30 de novembro de 1949, um decreto de dom Sigaud iria, finalmente, reduzir as afrontosas dimensões da paróquia mais ocidental da sua diocese. Elevando Paranavaí à condição de sede paroquial, retirou dos ombros dos palotinos de Mandaguari o cuidado pastoral de toda a população residente na faixa de território a oeste de uma linha que corta desde o rio Paranapanema até o rio Ivaí, acompanhando os ribeirões do Diabo e Esperança. Entre as paróquias de Mandaguari e de Paranavaí, a linha divisória corria pelos atuais municípios de Santo Antônio do Caiuá, São João do Caiuá, Paranacity, Cruzeiro do Sul, Nova Esperança e São Carlos do Ivaí. Continuava daí no rumo oeste, abarcando a área territorial que se estende até o rio Paraná. A paróquia de São Sebastião, de Paranavaí, sozinha desenhava praticamente já o mapa completo da futura diocese de Paranavaí, que seria criada em 1968. Não duraram seis anos os limites da paróquia de Paranavaí que, mesmo seccionada de Mandaguari, ainda conservava dimensões extraordinariamente amplas. Em 1955, de sua área foram extraídas meia dúzia de novas paróquias. Em 1° de abril, dom Sigaud criou a paróquia de Loanda, e, no dia 1° de novembro, de uma só vez, as de Tamboara, Nova Londrina, Terra Rica, São João do Caiuá e Paraíso do Norte (CURIA DIOCESANA DE JACARÉZINHO, 1927)10. É possível que, em função da nova diocese de Maringá, que já se prenunciava, dom Sigaud pretendesse organizar para o futuro bispo a área do extremo noroeste paranaense.

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10 Anotado por Pe. Miscieslau Inácio, chanceler do bispado, o livro consigna os respectivos decretos de criação, na seguinte ordem: Paranavaí – f. 29; Loanda – f. 39; Tamboara – f. 42; Nova Londrina – f. 43; Terra Rica – f. 44; São João do Caiuá – f. 45, e Paraizo (sic) do Norte – f. 46.

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Padre Emílio Scherer Ainda a partir de Mandaguari, depois de passar por Marialva, é que será atingido o “patrimônio”, mais recente de Maringá, onde seriam criadas, ao mesmo tempo, no dia 2 de abril de 1950, duas paróquias; as do Maringá Velho e do Maringá Novo. Desde o final dos anos 30, é provável que algum padre palotino, vindo de Londrina, já houvesse por aqui exercido algum trabalho apostólico. A informação mais antiga da presença de um padre na área da futura diocese de Maringá encontra-se na primeira folha do 1° livro do Tombo da paróquia de Marialva, em registro de padre Eugênio Herter, SAC. O livro foi aberto em 1º de janeiro de 1951, mas Herter começa anotando fato bastante anterior − datado de 19 de julho de 1937 − por ele protagonizado e agora romanticamente descrito:

19-7-37 – Descalço, vestido de calça e camisa suja bateu um homem na porta do Escritório da casa paroquial de Londrina: “Nos precisamos de um Padre, que reze a Missa, faça uns casamentos e batize os nossos Filhos.” Disse o Sr. Lino; “Somos um povo católico e moramos daqui 125 kilometros no meio do matto”. Foi tratada então a visita do Padre para o dia 19 de Julho de 1937 e enviado pelo então Vigário de Londrina o Coadjutor Pe. Eugenio Herter. Foi assim que o dito Padre chegou a Mandaguari de Jardineira − era o ponto final de uma só Jardineira por dia naquelle tempo. Em Mandaguari esperava o tal Sr. Lino com um cavallo para o Padre. Seguiu-se daqui a viagem matto a dentro, sem encontrar viva alma. Não existiu derrubada alguma. A estrada somente atravessava o matto. Depois de 17 kilometros de viagem silenciosa, encontraram os dois viajantes junto ao caminho uma placa, escrito: Marialva − Era a estrada hoje denominada assim, que sai da cidade Marialva rumando para o Sul. Daí seguiram os Cavalheiros (sic) em picada de matto mais tres léguas para encontrar o tal povo católico mencionado acima. O lugar é hoje Aquidaban. 20-7-37 – Nesta data foi celebrada a primeira Sta. Missa dentro da paróquia de Marialva, que somente 12 anos mais tarde foi criada. Foram feitos nesta primeira Visita, a qual seguiram outras, porem 4 leguas a frente de Maringá, 15 batizados e 5 casamentos. Da actual cidade Marialva, nada existiu então. A paróquia mais avançada era a de Londrina, criada em 11-3-34. A esta pertenceu tudo o oeste do Norte Paranaense (PARÓQUIA DE N. S. DE FÁTIMA DE MARIALVA, 1951, f. 1).

Na História da Província São Paulo Apóstolo, o cronista padre Carlos Probst dá alguns detalhes para melhor conhecimento do senhor Lino Sutil, cujo sobrenome Herter não anotou: Era o patriarca de uma grande família sertaneja, muito devota que morava na banda de São Roque (Tamarana). Lá um bairro de nome ‘Sutil’ lembra a sua presença. De Aquidaban a família mudou-se, mais tarde, para oeste e estabeleceu-se na margem do Ivaí, ao sul de São Jorge (PROBST, 1998, v. 3, p. 180).

Pelas informações que nos chegaram, é impossível afirmar com exatidão se houve, antes de 1940, um sistemático atendimento da população católica desta área. Certa mesmo é a existência em Maringá, desde o dia 25 de fevereiro de 1940, de atividade religiosa reconhecida e legitimada pela Igreja Católica, como comprova o seguinte registro no livro do Tombo da Paróquia de Londrina:

Em 25 de janeiro de 1940 o Revmo Vigário Capitular deu licença para ser construída uma capella na fazenda São Bonifácio, com o direito de guardar o Santíssimo Sacramento. A capella foi provisionada como oratorium semipublicum.

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Em 25 de fevereiro foi benzida a capella acima referida pelo proprietário da Fazenda Dr. Emilio Scherer, delegado pelo Vigário da parochia (PARÓQUIA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, 1934, f. 40). 11 O vigário capitular acima era Pe. Luis Othão Waschburger, eleito pelos conselheiros do bispado, a 11 de janeiro de 1940, dois dias após a morte, ocorrida no dia 9, de dom Fernando Taddei, CM, primeiro bispo de Jacarezinho. Oratório “semipúblico” é uma criação do papa Leão XIII em 23 de janeiro de 1899. Antes, só havia oratórios públicos e privados ou domésticos. Pelo cân. 1188 § 2, do Código de Direito Canônico de 1917, que vigorava em 1940, semipúblico é o oratório (capela) “erigido em benefício de uma comunidade ou de um grupo de fiéis que ali se reúnem, não aberto ao público em geral”. Difere, portanto, da igreja paroquial, à qual tem acesso qualquer fiel para o atendimento de suas necessidades espirituais. Padre Eugênio Herter, SAC, primeiro vigário de Marialva, deixou no 1º livro do Tombo da paróquia duas anotações de fatos antigos que confirmam a presença do padre fazendeiro e o atendimento por ele prestado aos fiéis residentes nas cercanias da capela da fazenda, aonde acorria o povo mais próximo: Outº 1942: No começo do ano 1938, um Pe. Alemão Dr. Emilio C. Scherer passou a residir numa Fazenda, comprada 2 anos antes situada entre Marialva e Maringá. No fim do ano 1940 a C.T.N.P. começou a derrubar matto para formar ou dar inicio a formação da cidade de Marialva. Devagar surgiram algumas casas e chegou gente para abrir sítios. O povo pediu ao Pe. Dr. Emilio, o vizinho do lugar, que rezasse uma Sta. Missa. Assim foi que este Padre celebrou a primeira Missa dentro do perimetro urbano de Marialva em Outº de 1942 numa pensão, chamada Hotel do Sr. José Ribas. Na mesma casa daqui em deante houve de vez em quando uma Sta. Missa. 8-9-1943: O Revmo. Pe. Max Kley, residente temporariamente na Fazenda do Pe. Dr. Emilio reza a missa na escolinha, frente a actual Igreja provisoria e celebra daqui em deante mensalmente a Sta. Missa em Marialva (PARÓQUIA DE N. S. DE FÁTIMA DE MARIALVA, 1951, f. 1). Continua envolta em névoa a figura do primeiro padre residente em Maringá. Contemporâneos de sua chegada já não vivem. Os poucos sobreviventes que com ele travaram algum contato ou se encontram hoje bastante idosos ou eram, à época, jovens demais para se recordarem com exatidão de detalhes importantes. Afora relatos imprecisos, folclóricos ou tendenciosos, que se realimentam quando passados adiante – “quem conta um conto aumenta um ponto” –, o que se pode afirmar com certeza é que, ao tempo de sua permanência em Maringá, padre Emílio Clemente Scherer: - foi proprietário de uma fazenda na Gleba do Ribeirão Pingüim onde, além das atividades agrícolas desenvolvidas, construiu a primeira igreja de Maringá, a Capela (rural, na época) de São Bonifácio; - apoiou os moradores para a construção da primeira igreja urbana, a Capela Santa Cruz, no Maringá Velho, opondo-se aos diretores da Companhia de Terras Norte do Paraná, que preferiam levantar a igreja no Maringá Novo.12 Ambas as capelas se encontram hoje tombadas pelo Patrimônio Histórico Municipal; - prestou assistência religiosa aos primeiros moradores de Maringá: muita gente teve acesso, por meio dele, aos serviços espirituais oferecidos pela Igreja Católica; - foi o primeiro vigário da primeira paróquia, a do Maringá Velho, criada no dia 2 de abril de 1950,

11 Na homilia da missa fúnebre de padre Emílio Scherer, trinta anos mais tarde, o abade de Metten, na Alemanha, dirá que a bênção da capela deu-se no dia 6 de março desse ano.

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12 “A construção desta igreja não estava de acordo com o planejamento ecológico da CTNP, que conservara a quadra para um colégio e não para uma igreja matriz. Pe. Emílio, porém, que mandava e desmandava conforme o seu bel-prazer, não respeitou os interesses da Companhia. Está aí a razão do porquê de, mais tarde, a igreja deixar de ser centro paroquial e se tornar capela do Colégio das Irmãs” (PROBST, 1998, v. 3, p. 196).

A Igreja que brotou da mata


juntamente com a do Maringá Novo; - conviveu com muitas pessoas e cultivou grandes amizades em Maringá (CURIA DIOCESANA DE JACARÉZINHO , 1927, f. 30).13

Dezoito meses exatos, apenas um ano e meio, durou a paróquia do Maringá Velho. Em 2 de outubro de 1951 foi nomeado vigário da paróquia Santíssima Trindade, atual catedral Nossa Senhora da Glória, o padre João Janssen, que tomou posse no dia 7 de outubro, reunindo toda a cidade de Maringá de então numa paróquia única, a do Maringá Novo. É certo também que Scherer continuou residindo em sua fazenda até o final de 1953 ou princípio de 1954. A seu respeito, padre João Janssen, segundo vigário da paróquia central de Maringá, depois de registro do dia 29 de junho de 1954, anotou, sem indicação precisa de data: Deixou definitivamente a paroquia ou melhor a sua Fazenda São Bonifácio, o padre Emilio Scherer, o qual tinha sido o primeiro vigario de Maringá, na paroquia Santa Cruz, atualmente anexada a esta paroquia. Vendeu a Fazenda aos Padres Pallotinos. Nada deixou nem saudade. Junho 1954 (PAROQUIA DA SANTISIMA TRINDADE, 1950, f. 14).14 A Fazenda São Bonifácio, por muita gente conhecida por “fazenda dos padres” – e, por conta da ingenuidade ou malícia de alguns, também “fazenda do bispo” –, só conheceu dois proprietários eclesiásticos: seu comprador inicial, padre Emílio Scherer, e a Sociedade Faá di Bruno, dos padres palotinos, sociedade jurídica de ação religiosa, com sede na cidade de Jacarezinho, antigo nome civil da Província São Paulo Apóstolo, da Sociedade do Apostolado Católico, aos quais foi “doada” por Scherer, com o compromisso, segundo comentários não confirmados, de uma pensão vitalícia a seu favor, da ordem de dois mil marcos alemães. A área das terras de Scherer, levantada através de fotocópias obtidas por Deusdete Pereira de Souza, antigo funcionário da CMNP que teve acesso aos livros originais15, compreende dois lotes, aos quais foi aposto um terceiro, como indicado, em ordem cronológica: a) Dia 3 de setembro de 1938: fotocópia de mapa de área de terras, com a assinatura “Al. Razgulaeff engenheiro”, na escala de 1:10.000, e datado “Londrina 3 de Setembro de 1938.” O memorial descritivo informa: “Comprador Dr Emil Clemens Scherer – Venda Nº V 154, 159 C.F., 519B – Comp. de Terras Norte do Paraná – Gleba do Ribeirão Pinguim, Lote n° 1. Área 5,566.000 mtr² 230,00 alqs”. E conclui: “Nota não existe benfeitoria alguma sendo composto de mattas virgens”. b) Dia 1º de dezembro de 1939: fotocópia de mapa de área de terras assim especificado: “Gleba do Ribeirão Pinguim Lote Nº 3B, 66 (o mapa mostra duas áreas unidas formando única e mesma propriedade) Área 2.146.782 mtr² = 88,71 alqs Escala 1:10.000 e datado “Londrina 1 de Dezembro de 1939”. Não há memorial descritivo destes dois lotes ora integrados num só, mas o mapa os apresenta como lindeiros, a oeste, com o lote 1, estendendo-se até o Córrego Cleópatra, e a noroeste, com o Córrego Moscados. Conclui-se que, em 1939, a antiga propriedade de 230 alqueires paulistas (um alqueire paulista = 2,42ha) foi acrescida de mais 88,71 alqueires. Em 1º de dezembro, portanto, Scherer tornou-se dono de uma área de terras que

13 Aí se acha o assento da criação, em 2 de abril de 1950, da Paróquia de Maringá Velho, com a observação: “Inclue-se ainda a Capela São Bonifacio com seus freguezes”. A folha 31 registra a criação, na mesma data, da Paróquia de Maringá Novo, com a nota: “Ficam excluídas da jurisdição da Paróquia de Maringá Novo os freguezes da Capela São Bonifacio”. 14 À distância no tempo, a observação final de Janssen parece refletir animosidade; contudo manifesta apenas um sentimento difuso entre muitas pessoas do povo, sobretudo as mais simples. Pe. Emílio Scherer foi homem de grandes qualidades; ao mesmo tempo, também de gênio bastante difícil. 15 Deusdete Pereira de Souza, residente em Maringá, atendeu o autor destas notas com grande fineza, obtendo no dia 15 de junho de 2006, junto aos arquivos da CMNP, em Jussara (PR), as fotocópias de três mapas das terras de Scherer, como acima explicado.

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perfazia 318,71 alqueires paulistas, ou 771,28ha. c) Dia 8 de novembro de 1950: fotocópia do mapa de uma área de terras, sem assinatura, marcado no alto por “242 M.F.”, na escala de 1:10.000, e datado “...o de 1950.” (mancha branca encobre dia e mês). Diz o memorial descritivo: “Comprador ... (não citado) – Venda Nº 242. M.F. – Comp. de Terras Norte do Paraná – Gleba do Ribeirão Pinguim. Lote Nº 1-A Área de 484.000 mtr² = 20,00 alqs. – 8 de novembro de 1950.” O mapa mostra o lote nº 1-A como um triângulo dentro do antigo lote nº 1. Não deve, portanto, caracterizar aquisição, antes desmembramento. Representa, ao que tudo indica, não acréscimo, mas retirada de parcela dos 318,71 alqueires paulistas originais. Duas razões principais apoiam esta conclusão. A primeira é a época da confecção do mapa, já final de 1950. Doze anos depois da compra original, Scherer mostrava-se desiludido com a propriedade e procurava, a todo custo, dela se desfazer honrosamente. Desde muito, vinha contatando eventuais interessados na compra ou no empossamento das terras. Cansado e doente, é difícil crer que reunisse ânimo para ampliar a propriedade. Nada justificava, nessa altura da vida, comprar mais terra, sinônimo de dor de cabeça adicional. Além disso, se comparados às áreas anteriormente adquiridas, vinte alqueires não passavam de uma insignificância. Em sua crônica, Probst informa que, diante de insucessos financeiros acarretados pela fazenda, Scherer fora vendendo parcelas sucessivas do terreno: A fazenda São Bonifácio, como vimos, tornou-se propriedade da SAC – Sociedade do Apostolado Católico, vulgo Palotinos – em 1954, por doação, título legítimo de posse. Foi a sorte da fazenda. Nos quinze anos anteriores o proprietário, conhecido como “Doutor”, criou o costume de garantir sua sobrevivência vendendo parte das terras da fazenda que, assim, diminuíram progressivamente de quatrocentos para duzentos alqueires. Este mau costume terminou com a doação aos Palotinos. O Doutor não tinha mais um metro quadrado da terra para esbanjar. Os Palotinos receberam, conforme confissão de seu Superior, uma boa porção de glebas férteis e intocáveis, apesar de seu estado precário. A dificuldade, como no passado, estava na Administração. A SAC, (Palotinos), não era organizada para semelhantes tarefas (PROBST, 1998, v. 3, p. 199). A segunda razão seria a entrega ao seu antigo administrador, Franz Licklederer, de uma área de exatamente 20 alqueires, há muito prometida, conforme relata Probst. Sintomaticamente, a data coincide com a criação da paróquia de Maringá Velho, ocorrida em 1950, quando Scherer se tornou primeiro vigário de Maringá (PROBST, 1998, v. 3, p. 190) encargo que lhe tornaria mais custoso administrar a fazenda. Mais velho do que nos anos de 1938-1939, época em que comprou a fazenda e dela tomou posse, agora com problemas de visão, arcando ainda com as novas responsabilidades de uma paróquia a atender, reuniria ânimo para se aventurar na aquisição de terra além da que já possuía? Para muitos em Maringá continua um enigma descobrir qual a motivação capaz de levar um europeu de 50 anos, inteligente e culto, poliglota e viajor, irrequieto e dinâmico, e, ainda, dono de razoáveis posses, a fugir bruscamente da culta Europa, vindo meter-se no meio da mata virgem de um país desconhecido e selvagem. Se, nos dias atuais, o chamado 1º Mundo conhece do Brasil tão somente carnaval e futebol, se europeus ainda acreditam que cobras gigantes do Amazonas se escondem em praças e atravessam ruas de São Paulo e Rio, não será difícil imaginar que idéia faziam sobre nossa terra e nossa gente, na década de 1930, os círculos freqüentados pelo doutor. Qual a misteriosa identidade do homenzarrão de 1,90m de altura e peso acima de 100kg, com seus olhos azuis e cabelos brancos? Com que palavras o definiria alguém do seu convívio? Alguns o lembram como fino, cordial e sociável; outros, como autoritário, turrão e irritadiço: possivelmente as descrições estejam exatas, e ambas lhe caibam com rigor. Nos catorze ou quinze anos (nem disso há certeza) de permanência em Maringá, Scherer não se deixou conhecer por inteiro. Alguns aspectos de sua personalidade só vieram à tona após a morte, na oração fúnebre de Augustin Mayer, abade de Metten, na Alemanha, durante a missa de exéquias celebrada a 2 de setembro de 1970.

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Scherer tinha entrado para esse mosteiro, como oblato beneditino, em 21 de março de 1958. Aí permaneceu

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até a morte, certificada pelo atestado de óbito nº 172/1970, remetido pelo Consulado Geral da República Federal da Alemanha, de 29 de outubro de 1991, através da vice-consulesa em Curitiba, acompanhado de carta catalogada como Az: Rk 513.00 E – Bo/Gu, dirigida a Antonio Tortato, de Maringá. Pelo texto da remetente, é fácil comprovar a insistência com que o antigo secretário de Administração do Município de Maringá corria atrás de informações precisas sobre padre Emílio: Assunto: Certidão de Obito do Senhor Padre Emil Clemens Scherer Referência: Seu telefonema de 25.09.1991 e suas cartas de 26 e 27 de setembro de 1991 Anexo: 1 Prezado Senhor Tortato, o Consulado Geral acaba de receber a Certidão de Obito do Senhor Padre Emil Clemens Scherer, nascido em 1.o de maio de 1889 em Mutzig/Elsass e falecido aos 30 de agôsto de 1970 em Mallersdorf, hoje Mallesdorf-Pfaffenberg. Aproveito a oportunidade para informar, que o Consulado Geral não está autorizado a fazer traduções oficiais do alemão para o idioma português. Para tanto, queira dirigir-se à tradutora pública juramentada Senhora Hildegard Kempf Rua Nilo Peçanha 70 em Rolândia Fone: 56 10 04. Atenciosas Saudações ass) Martina Bock Vice-Cônsul (BOCK, 1991, 1 f.).

Carta 6 - A vice-consulesa alemã responde a pedido de informações de Antônio Tortato sobre Pe. Emílio Scherer (BOCK, 1991).

Certidão 1 - Atestado de óbito de padre Emílio Clemente Scherer enviado pelo consulado alemão (BOCK, 1991).

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Mutzig, cidadezinha hoje francesa, com 6039 habitantes, a 20 km de Estrasburgo, situa-se na rota dos vinhos, junto a Molsheim. Entre 1871 e 1918, a Alsácia constituiu a província alemã conhecida como Elsass. Ao final da 1ª Guerra Mundial, foi integrada à França, recebendo o nome francês de Alsace, cuja capital é Strasbourg, em português, Estrasburgo. Padre Emílio nasceu, portanto, em território germânico. Era alemão de nascimento e de formação. Sua nacionalidade é dada ora como alemã, ora como francesa. Consta que possuía passaportes francês e alemão, mas só deste se conhecem os dados: levava o nº 123 R/317/37 e foi expedido em Berlim. Como se depreende da certidão acima, sua vida alcançou 81 anos, 3 meses e 29 dias. Na missa de corpo presente, Mayer fez piedosa homilia cujo teor em alemão padre Erminold Füssl, OSB, da abadia de Metten, a pedido do abade, enviou a Tortato. A tradução não acompanha os escritos guardados pela senhora Dalti Ferreira Tortato, sua esposa. Por gentileza de irmã Maria Dolores Grandl, das Missionárias do Santo Nome de Maria, de Maringá, que o traduziu, foi possível, a partir do texto alemão, conhecer um pouco mais sobre o padre pioneiro de Maringá. Sobre seus pais, Inácio, ferroviário na França, e Caroline, do lar, Scherer falava com carinho. Lembrava a dedicação de ambos ao trabalho, à família e à intimidade com Deus. Após o curso primário em Mutzig, entrou para o ginásio em Hiltrup, perto de Münster, com os Missionários do Sagrado Coração de Jesus. Decidiu tornar-se um deles. Em 8 de setembro de 1907 vestiu o hábito de noviço da congregação. Passados quatro meses, porém, resolveu voltar para casa. Jamais perdeu o gosto pela vida missionária, mas era dono de um temperamento que dificultava a perseguição desse ideal. Cheio de auto-suficiência, de gênio dominador e impaciente, sua natureza acarretar-lhe-ia, ao longo da vida inteira, muito sofrimento, dificuldade de convivência com os outros e peleja de dura ascese. Trabalhou como auxiliar de escritório em Estrasburgo, depois entrou para o seminário em sua cidade natal. Ainda estudante, em 1912, aos 23 anos, com o trabalho acadêmico “Os bispos de Estrasburgo na luta das Investiduras” impressionou vivamente os professores da universidade, especialmente o teólogo Albert Ehrhard, de internacional renome16. Ao final do curso teológico, por força das circunstâncias excepcionais da aproximação da 1ª Guerra Mundial, foram desatendidas as disposições da lei canônica para seu acesso às ordens sacras. Foi elevado, no dia 4 agosto de 1914, ao subdiaconato. Recebeu a ordenação de diácono às 6h00, manhã do dia seguinte. Duas horas depois, às 8h00, foi ungido presbítero17. O pregador em sua missa de ordenação foi o admirado mestre Albert Ehrard. Era intenção de Scherer tê-lo como orientador para o doutorado em teologia que pensava fazer, mas a guerra frustrou seus planos. Foi mobilizado para prestar serviço militar em ações de saúde na Silésia. No dia 1º de maio de 1917 recebeu o encargo de vigário da paróquia de Barr, cidadezinha hoje pertencente à França, na qual ficou conhecido por profundo amor à liturgia. Ano seguinte, contrariado com a chegada das tropas francesas, decidiu retirar-se, obtendo licença, em novembro, de continuar os estudos na Alemanha. Teve então um curto, porém intenso, período de participação política. Refere-se a esta época, sem dúvida, a informação de Probst (1998, v. 3, p. 194) de que Scherer se aliou ao movimento dos dissidentes, em defesa de interesses alemães. Ao lado de outros, teria sido condenado à morte, mas conseguiu escapar. Não há clareza sobre esta fase de sua vida, mas sua importância política há de ter sido relevante, porquanto chegou a ocupar o cargo de membro da delegação da Alsácia na Assembléia Nacional de Weimar. Há informação de que depois (só pode ter sido em 1919), em Breslau, estudou economia alemã e teologia, curiosa combinação que talvez lhe tenha despertado o interesse pelo empreendimento rural que, vinte anos depois, implantaria no Brasil. Por convite de Erhard transferiu-se em 1920 para Bonn a fim de iniciar o doutorado em teologia. Como

16 Albert Ehrhart tem lugar assegurado entre os representantes mais notáveis das disciplinas teológicas que enriqueceram a Europa na primeira metade do século XX. Desenvolveu em Bonn intensa atividade de pesquisa e ensino nos campos da História eclesiástica, da Patrologia e da Arqueologia cristã. Faleceu em 1941.

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17 O cân. 978 § 2 do CDC exigia três meses de interstício entre subdiaconato e diaconato, e outros tantos, entre diaconato e presbiterato. Vale dizer, para passar de subdiácono a padre o candidato submetia-se a uma espera de pelo menos seis meses. Para Scherer foi observado um dia incompleto.

A Igreja que brotou da mata


comprova a monografia de habilitação ao título, foram anos de sério estudo e de pesquisa intensa. Sua “Geschichte und Kirchengeschichte an den deutschen Universitäten (História e História da Igreja nas universidades alemãs)”, editada em 1927 pela editora Herder, foi acolhida com grande apreço pela crítica, que nela viu uma das mais importantes contribuições das últimas décadas no campo da história eclesiástica. Há atualmente projeto para sua reedição. Apesar do brilhantismo da tese quase perfeita, não conseguiu o doutorado nem o cargo, ao qual se candidatara, de docente na cadeira de História da Igreja e das Missões. Isso o abateu profundamente. Mais tarde agradeceria a Deus não ter conseguido a docência numa universidade. Para seu espírito irrequieto, teria representado insuportável prisão. Em parceria com o arquivista e amigo Josef Brauner, a partir de 1925, trabalhou no apronto para a edição de 13 volumes do “Arquivo para a História da Igreja alsaciana”. Em 1930 sua vida sofreu mudança profunda. Recebeu da Conferência Episcopal Alemã, sediada em Fulda, a responsabilidade de cuidar das comunidades de alemães radicadas no exterior. Passou a se dedicar à atividade de missionário itinerante por vários países, especialmente no sudeste da Europa. Foi agraciado com títulos, comendas e insígnias em várias dessas nações. Data provavelmente desta quadra a qualificação de “doutor”, que gostava de apor ao próprio nome, assim como a pertença à “Organização São Bonifácio”, na qual, segundo Probst, ocupou o cargo de secretário. Conforme informação de dom Alberto Först, OCarm, bispo emérito de Dourados (MS)18, a entidade foi fundada para prestar assistência espiritual aos católicos alemães residentes em outros países. Como aconteceu em Rolândia, reforça Först, que recebeu imigrantes alemães, quase todos oriundos de Bremen, fugidos da perseguição nazista. São Bonifácio (ca. 680-754), padroeiro da Alemanha, monge inglês cujo nome de batismo era Wynfrith, foi um dos mais admiráveis missionários da Europa. Teve seu nome mudado para Bonifácio, em 718, pelo papa Gregório, que o enviou a pregar a fé cristã nas terras da atual Alemanha. Seu corpo está sepultado em Fulda, onde até hoje são feitas as reuniões do episcopado alemão. Ao término da 1ª Guerra Mundial (1918), a Alemanha se viu no meio de grave crise econômica que entrou pela década seguinte. Na busca de soluções à urgente necessidade de criar empregos especialmente para filhos de pequenos agricultores, os dirigentes políticos passaram a incentivar a imigração de conterrâneos para regiões carentes de trabalhadores. Em 1927 foi criada a “Sociedade de Estudos Econômicos do Ultramar”, fadada a marcar presença na evangelização e desenvolvimento do Norte do Paraná. Em 1929 era seu presidente Erich Koch-Weser, ministro do Interior do gabinete alemão. Como o nome indicava, o empreendimento tinha por objetivo alocar no outro lado do mundo os trabalhadores pobres que o país, naquela oportunidade, não conseguia empregar. Dois anos antes da Sociedade, a 24 de setembro de 1925, nascera em Londres a empresa “Brazil Plantations Syndicate Ltd.”, tendo como filial brasileira a “Companhia de Terras Norte do Paraná”. De início, pretendia cultivar algodão em larga escala nas férteis terras do Paraná selvagem, assim como os seus fundadores tinham feito no Sudão. Mas, já no final do ano, sentiram eles necessidade de alterar a razão social da matriz londrina para “Paraná Plantations Ltd.”. Em 1928 a CTNP abandonou a idéia de produzir algodão no Paraná, e se lançou decididamente ao loteamento dos 450.000 alqueires paulistas, situados entre os rios Tibagi e Ivaí, adquiridos, na sua maior parte, ao governo do Paraná. Em função disso, deliberou-se pela compra das ações da “Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná”, cuja oferta os ingleses haviam recebido, em 1924, por meio do engenheiro Gastão de Mesquita Filho, responsável pela construção, já em andamento na época, do trecho ferroviário Ourinhos-Cambará. Existiam agora duas empresas brasileiras, a colonizadora e a ferrovia, filiadas à matriz de Londres. Perfeito casamento de interesses interdependentes. Sem estrada para escoar a produção, que sentido faria adquirir terras, ainda que extremamente férteis e de baixo custo? E sem a riqueza garantida pela fecundidade do solo, como levantar recursos necessários à construção da ferrovia? (COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ, 1977, p. 50-57). Ao assumir na Alemanha a presidência da Sociedade de Estudos Econômicos do Ultramar, o ministro Koch-Weser convidou um jovem engenheiro agrônomo de Bremen, Oswald Nixdorf, recém-chegado da

18 Por telefone, desde Dourados (MS), onde atendeu a chamada do autor deste relato, na noite de 16 de junho de 2006.

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Indonésia, onde trabalhara com colonização, para montar novo projeto colonizador, desta vez no Brasil. Depois de, juntamente com diretores da Paraná Plantations Ltd., analisar as opções para o assentamento de colonos alemães, Nixdorf decidiu-se por uma área próxima de Londrina, na qual já se vinham instalando muitos compradores de lotes rurais. O ano era 1932; o lugar, o atual município de Rolândia. Decidida a localização da colônia de imigrantes, a empresa alemã firmou contrato com Nixdorf e o enviou ao Brasil. Sua missão: orientar agricultores alemães, quase todos pobres, que não podiam fracassar no cultivo de um solo tropical desconhecido. Sem futuro em sua terra, aqui o destino abria-lhes nova chance, que não tinham o direito de desperdiçar. “Nixdorf era natural de Bremen, porto alemão conhecido pela estátua do herói lendário ‘Roland, o Cavaleiro’ (Roland der Ritter)” (PROBST, 1998, v. 3, p. 53). Em homenagem à sua terra, deu ao novo assentamento o nome de Colônia Roland. Rolândia recebeu de Bremen uma réplica da estátua do cavaleiro medieval, que ainda pode ser vista na entrada da cidade. Passava o tempo e, sob o ponto de vista político, ia piorando consideravelmente a situação interna da Alemanha. Com o crescimento do partido nacional-socialista e a conseqüente ascensão de Hitler ao poder, irromperam perseguições políticas, religiosas e raciais. Como resultado, mudou o perfil do emigrante alemão em busca do Norte do Paraná. Quem se sentia ameaçado pela repressão nazista fazia de tudo para deixar o país. Não só políticos, mas também religiosos e muitos judeus passaram a compor o ingente grupo de imigrantes chegados a Rolândia, que transferiram para uma região cabocla do Brasil daquele tempo uma amostragem das expressões representativas da milenar cultura germânica. No início, o processo emigratório caminhou de forma serena. A filosofia nazista não considerava especialmente importantes os que abandonavam sua terra. Tratava-se de pessoas incultas, não qualificadas profissionalmente, sem valor social nem racial, sem dinheiro... Entretanto, não passou muito tempo e os detentores de capital bem como de conhecimentos, sobretudo comerciantes, empresários e intelectuais, viram na emigração a porta aberta para um futuro confiável do outro lado do Atlântico. Aterrorizados com a sanha persecutória do regime, especialmente alemães de origem judaica tratavam, por todas as formas, de alcançar outro país, de preferência bem distante. Ante o risco da evasão de divisas e de cérebros, o governo endureceu a legislação sobre travessia de fronteiras. Até aquele momento o cidadão podia emigrar carregando todos os seus bens; a partir de 1934 passou a ser liberada a importância de tão somente 1000 marcos. Criou-se terrível problema para gente de posses, ainda que modestas: sem levar consigo o capital de que dispunha, de que forma começar vida nova em outro país? Se um rico ou remediado escolhesse o Brasil para morar, sairia de mãos vazias para começar do zero numa terra estranha? A Companhia de Terras Norte do Paraná inventou criativa solução, ressuscitando o velho expediente da permuta. Como necessitava de petrechos ferroviários (trilhos, postes, ferro etc.) para estender a ferrovia desde Ourinhos até o interior do Paraná, e como a Alemanha os possuía em quantidade, estabeleceu que o numerário dos que deixassem o país podia ali permanecer, através de pagamento do material ferroviário para uso da CTNP. Em troca, os emigrantes receberiam títulos de valor correspondente, pagáveis em terras paranaenses de propriedade da Companhia, quando chegassem a seu destino. Graças à nova modalidade de comércio, a Companhia de Terras prolongou a ferrovia desde a divisa do Estado de São Paulo, cruzando o rio Paranapanema, até a cidade do herói Roland. Mais tarde, a faria avançar até Guaíra, rumo ao Paraguai. Vivendo na Alemanha, padre Emílio, como muitos, teve suas diferenças com o governo de Hitler. Depois de um período inicial de ambigüidade, em que não se deixavam perceber com clareza nem seus objetivos nem seus métodos, ficou manifesto o caráter totalitário do regime. Então Scherer pôs-se corajosamente do lado da Igreja contra os excessos do Estado, que avançava sobre as consciências e a liberdade religiosa. Entrou em rota de colisão com as autoridades para quem se transformou em persona non grata. Sua segurança passou a correr perigo. Prudente, ante o risco de prisão e morte, fugiu em 1938 para a Suíça, donde posteriormente se deslocou até Roma. Mas nem aí se achava seguro. Por pouco não foi preso no hotel em que se hospedara. Graças a um aviso por parte da Santa Sé, à última hora, conseguiu evadir-se embarcando para o Brasil. Neste ponto divergem informações sobre episódios e datas. Não se sabe ao certo quando aqui aportou o

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padre alemão. Osterroht chega a apontar como data de sua vinda o ano de 1937 (OSTERROHT, 1997, p. 24).

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Outros a situam em 1939. A ser verdadeira esta última versão, teria adquirido seu primeiro lote de terras quando ainda na Europa, residindo na Suíça. Há fundada razão para admiti-la: nas fls. 182, o Livro nº 3 do Registro de Imóveis do 1º Ofício da Comarca de Londrina certifica o registro, em 27 de setembro de 1938, da escritura pública do lote de terras nº 01, com área de 230 (duzentos e trinta) alqueires, ou 5.566.000m² (cinco milhões, quinhentos e sessenta e seis mil metros quadrados), situado na Gleba do Ribeirão Pingüim, no distrito, município e comarca de Londrina. Dita escritura, lavrada em 14 de setembro de 1938, pelo tabelião Alceu Falleiros de São Paulo, recebeu registro anterior nº 2323 de Tibagi – Paraná, fazendo constar como valor da transação de compra e venda a importância de 116.500$000 (cento e dezesseis contos e quinhentos mil réis), e como nome e domicílio do adquirente o assento de “dr. Emil Scherer, maior, proprietário, domiciliado em Mariastein, junto à Basília – Suíssa (sic)”19. Para outros, em suas andanças pelo mundo, Scherer já passara anteriormente pelo Brasil. Teria estado no Rio Grande do Sul; em São Paulo, tendo aí feito amigos; em Rolândia, onde conhecia algumas famílias alemãs. Nada impedia que negociasse com os diretores da CTNP no conhecido esquema da permuta de material ferroviário por títulos de terras da Companhia. Há informes de que Scherer – se na Europa, se no Brasil, não há clareza; com maior probabilidade, porém, na Europa – travara anterior conhecimento com diretores ingleses da CTNP, especialmente com Arthur Thomas de quem se tornou amigo. Foram os ingleses que lhe propuseram transferir seus bens para o Brasil na forma de investimento em terras. Nas imediações de Londrina ou de Rolândia, em 1938 não havia já muito terreno disponível. Pelo menos na extensão equivalente ao desembolso de Scherer. O próprio Thomas teria escolhido para o amigo a propriedade rural próxima à projetada cidade que receberia o nome de Maringá. Também há de ter pesado na seleção de padre Emílio o cuidado dos ingleses com a paz e a vida ordeira dos futuros moradores. Segundo a diretoria da CTNP, um padre representava grande reforço para impedir que se instalasse a desordem nos novos núcleos, o que poderia tornar a área loteada uma espécie de faroeste brasileiro. Aos colonizadores não escapava o apego do homem rural à sua religião. Para o sucesso de não poucas frentes agrícolas sempre contribuiu o apoio ou, ainda melhor, a presença do padre junto dos colonos. Entre várias afirmações sobre o início de Maringá, corre também uma, verdadeira ou imaginosa, dando conta da decepção do padre quando tomou conhecimento da propriedade adquirida a partir de informações: sua área encontrava-se no meio do nada e distante de tudo. Quanto ao capital despendido, é possível que ele não considerasse improbidade o uso do caixa da “Organização São Bonifácio”, de vez que ela custeava os gastos de sua missão. Enquanto a exercia em países europeus, podia manter contato com o episcopado alemão, seu administrador. Agora, porém, se configurava uma situação distinta. No mundo desconhecido da América do Sul ele ia defrontar-se, evidentemente, com gastos maiores. Afeito às agruras da vida, herdara da guerra o temor à doença, à miséria e à fome. Estava abandonando o país ante a ameaça de aprisionamento e de execução, que já tinham vitimado companheiros. Não sabia se nem quando retornaria. Andava pela casa dos 50 anos, não exatamente idade de começar a vida. Como certo antevia o encontro com a velhice, nada mais. Podia estar embarcando numa viagem sem volta. Em pátria longínqua aguardava-o trabalho com estranhos, na maioria refugiados pobres, sem estudo, sem emprego, sem condição de lhe assegurarem subsistência. Necessitava de garantias para o desempenho da missão recebida. Transportar dinheiro era impossível. Unicamente da terra poderia arrancar sustento e cobertura de seus gastos. Há quem afirme que ao dinheiro da entidade teria ajuntado economias pessoais. É provável. Compreensível até: um ato de previdência diante do futuro incerto. O modo como, mais tarde, abriria mão da propriedade comprova que não o moviam interesses mesquinhos de bens materiais nem de vida luxuosa. Com o conforto que hoje grande parte das pessoas conhece, torna-se impossível avaliar em toda a extensão o que representavam as privações dos primeiros anos. Pioneiros relatam episódios com que os mais novos não atinam. Quais então as amarguras da Maringá de 1940 para quem se via arrancado de metrópoles européias? Preso ao sertão hostil, que experimentaria aquele senhor de mente cosmopolita e gosto requin-

19 Cópia autenticada da certidão emitida em Londrina, no dia 21 de junho de 2006, obtida para o autor pelo tabelião Diderot A. Araújo da Rocha Loures, de Maringá.

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tado? Ainda que, como se comenta, de início, possa ter-se estabelecido em Rolândia ou viajado para vários destinos, o ano de 1940 o encontra enterrado no mato, que outra coisa não era a sua fazenda. O abade Mayer fala do “trabalho missionário de um padre da Baviera com um machado em u’a mão e o breviário na outra”. Depois de roçar alguns metros quadrados, ainda no meio dos tocos da derrubada era plantado o café. No vão das “ruas”, o milho, o feijão e o arroz. Por largas temporadas era só o que havia para comer. No tempo das chuvas o isolamento podia estender-se por semanas. A correspondência demorava meses. Para arredar a impressão de melodrama, vem a calhar o pungente testemunho de uma sobrevivente dos “kindertransport” ou “trem das crianças”, prática nazista para arrancar de pais judeus as crianças encaminhadas a famílias de outros países: Diante dos meus olhos, como se fosse hoje, vejo meu pai me levando à estação de trem, na Alemanha. Minha mãe, incapaz de suportar o último adeus, permaneceu mais afastada. Mais tarde eu soube que apenas um familiar tinha permissão para acompanhar a criança até o trem. Estávamos em Berlim, em março de 1939; eu tinha então 15 anos. Ao lado da expectativa por causa da viagem, havia a tristeza por deixar meus pais, os amigos íntimos e pelo medo de abandonar o conforto e a segurança que normalmente reinam entre as quatro paredes de um lar. Em outras palavras, a sensação de ver desmoronar tudo o que compõe a vida cotidiana; além de sentir o desespero dos meus pais, aos quais jamais vi novamente [...] Em 1947, parti para os Estados Unidos, onde durante dois anos trabalhei em um consultório oftalmológico. Foi lá que conheci um jovem fazendeiro do Brasil com o qual me casei. De origem alemã, ele possuía uma fazenda de café no interior do Paraná, para a qual nos mudamos. A Plantação Paraná era uma companhia britânica que comprava terras do governo brasileiro por um bom preço e, em contrapartida, deveria construir uma ferrovia ligando São Paulo ao interior do Estado. Durante os anos 30, a Companhia comprou o material necessário na Alemanha. Para obter recursos, vendia terras aos que precisavam fugir dos alemães. Entre os primeiros refugiados judeus alemães lá assentados havia médicos, advogados, comerciantes, banqueiros, exceto fazendeiros. Com raras exceções, não possuíam dinheiro ou conhecimentos agrícolas. Viviam do que plantavam e, quando tinham algum gado, conseguiam produzir leite e manteiga. Em pequenas clareiras, cercadas por florestas, construíram casas simples de madeira rodeadas por canteiros de flores. Com o decorrer dos anos, a floresta foi cedendo espaço às plantações de café. Como os imigrantes-lavradores não tinham dinheiro, os grandes proprietários faziam com eles contratos de cinco a seis anos. Estes eram responsáveis pelo corte e queimada da madeira, limpeza da área e plantio do café. Entre as fileiras dos cafezais, podiam plantar feijão, milho e arroz para seu consumo. Foi um período de muita luta pela sobrevivência e, freqüentemente, a geada destruía a colheita (ROSENTHAL, 2001). Como empresário rural não foi bem sucedida a experiência de Scherer. Os dois padres palotinos que com ele tiveram contato (Schweiger, mais superficialmente; Probst, até por dever de ofício, de modo mais intenso e prolongado) relatam os muitos dissabores e resultados pífios de sua gestão do agronegócio. A fazenda São Bonifácio não lhe aportou nem sombra do rendimento com que contava. Intelectual urbano e europeu, talvez lhe faltasse mais acurada compreensão das peculiaridades do solo e das idiossincrasias da gente daqui. Sabe Deus a que custo e em meio de que contrariedades, tentou o cultivo de café, de trigo e de milho, mas os frutos foram desalentadores. Embalado quiçá pela lembrança de uma agricultura de padrão europeu, lançouse à criação de gado e até de nova raça suína, através de cruzamento genético. Tudo isso, evidentemente, em pequena escala, como lhe possibilitavam as duras condições de tempo e de lugar. Probst (1998, v. 3, p. 185) compôs um elenco dos principais obstáculos enfrentados pelo doutor: – A grande distância de Londrina, único centro com recursos maiores. – As precárias condições das estradas que, em tempo de chuvas, fizeram do doutor um

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prisioneiro em suas terras e prejudicavam a venda dos produtos da fazenda. – Os gastos feitos com o plantio do café, com a construção da colônia, do armazém, do retiro das vacas, do galpão para os porcos, da casa do administrador, do retireiro e do responsável pela criação dos porcos. – Os colonos que, no seu vai-e-vem enchiam freqüentemente os armazéns de dívidas e não pagavam as contas. – O reduzido lucro da porcada. O doutor se empenhou na criação de uma nova raça de porcos através do cruzamento do ‘Deutschen Edelschwein’ com o porco nativo comum. Esta experiência, no começo, despertou o interesse dos criadores de porcos mas não deu certo porque na região não havia mercado para este cruzado – devia ser vendido em São Paulo – e porque esse cruzado era sujeito a muitas doenças, e os reprodutores eram caríssimos. – A falta de uma administração adequada. Não bastassem os dissabores referidos, uma onda de desconfiança envolveu o missionário alemão. Além da esquisitice que era um padre meter-se a abrir fazenda, a movimentação de tropas do Eixo na Europa, na URSS e no Norte da África inquietava também este lado do Atlântico. Em 22 de agosto de 1942, após o afundamento em nossa costa de seis navios brasileiros, o governo brasileiro sentiu-se obrigado a declarar guerra ao Eixo. A presença de italianos, mas principalmente de alemães, no país determinava o surgimento de uma onda feita de desconfiança e temor. Para as autoridades nacionais devia cintilar como advertência o aparecimento, na mata fechada de Maringá, de um padre alemão metido a arrotear terra inculta. Pessoas havia até que suspeitavam não se tratar de verdadeiro padre, mas de agente inimigo disfarçado. Comentavam sobre a existência na propriedade de potentes aparelhos de comunicação para escuta e transmissão de informes estratégicos. Fotocópias obtidas junto ao DEAP – Departamento Estadual de Arquivo Público, de Curitiba, por solicitação do autor destas páginas, revelam que em São Paulo e no Rio de Janeiro, então capital federal, os órgãos de segurança há muito já tinham ciência da fazenda São Bonifácio, revelando-se preocupados com as atividades do proprietário. Através do ofício = Of. Nº 868/42 “SS” =, datado de 22 de abril de 1942, o delegado Ribeiro da Cruz, da Delegacia Especial de Ordem Política e Social, de São Paulo, fazia saber ao colega curitibano Walfrido Piloto que Scherer “tornou-se elemento suspeito, ha tempo” (sic). Por “informações reservadas”, acrescentava, sabia-se que o suspeito “costumava frequentar a Embaixada Alemã, na Capital Federal, em trajes civis, e para onde viajava incógnito.” Solicitava registro e foto. Após encaminhamento do delegado, respostas de 27 e 28 de abril informavam não haver registro nem ficha de Scherer “nesta Delegacia, e nem no Serviço de Registro de Estrangeiros”. Também da capital do país o delegado de Curitiba recebeu correspondência manifestando inquietude pela presença de Emil Clemens Scherer. A nota reservada G.T. nº 000309, emitida em 5 de junho do mesmo ano, por Baptista Teixeira, da Delegacia Especial de Segurança Política e Social, solicitava informações sobre seus “antecedentes e atividades”, além de determinar que fosse “o referido estrangeiro mantido sôb observação, de cujo resultado agradeceria uma notificação de sua parte”. Despacho do delegado paranaense: “À S. C., para informar, extraindo, tambem, copias, para enviarmos a Londrina e Louvat. Em 11-6-42 WP”. Não há registro de resposta ao documento encaminhado pelo delegado Piloto à S.C. (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ, 1942, f. 1, 3). No dia 25 de agosto de 1942 a polícia de Londrina promoveu uma sindicância na fazenda, mas nada apurou. Para padre Luiz Schweiger, que diz ter recebido de Ângelo Planas esta informação, o delegado era Waldemar Barbudo, ligado à Companhia, e se fazia acompanhar de quatro ou cinco soldados. Acabaram destruindo equipamentos como barômetro e medidor de velocidade dos ventos. Padre Emílio era homem de seu tempo e esforçava-se por acompanhar avanços da ciência, beneficiando-se da tecnologia. Além da mini-estação meteorológica, possuía telefone para comunicação dentro da propriedade, moinho de trigo e, aproveitando a queda d’água do ribeirão, instalou uma turbina para geração de energia elétrica. Por último, em 1949, montou uma olaria, mas a argila local não se prestava à cerâmica; não deu certo. Adquiriu ainda britador e instalou uma pedreira, mas igual iniciativa do vizinho Carlos Borges alcançou resultados mais expressivos,

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levando-o a desativar a sua. De fato, não havia, naquele momento, espaço para duas pedreiras em Maringá.20 Da visita da polícia à fazenda resultou a detenção, em Londrina, do jovem administrador Franz Licklederer, “importado” de Rolândia por Scherer para dirigir os trabalhos na fazenda. Só foi liberado no dia 12 de setembro por intervenção de padre Carlos Probst, que anotou: “Mas o Delegado mostrou certas provas da relação do doutor com o nazismo, um interesse político” (PROBST, 1998, v. 23, p. 195). Ignora-se a que provas estivesse referindo-se. Possivelmente lhe tenha sido mostrada correspondência remetida pelos delegados de São Paulo e do Rio. Apesar de versões desencontradas que ainda circulam, nunca foi relatado um único episódio que, mesmo remotamente, desse azo a suspeita de sua simpatia pelo nacional-socialismo. A propósito do clima de desconfiança que a 2ª Grande Guerra espalhou pelo país, dom José Maria Maimone, SAC, bispo emérito de Umuarama, recorda um episódio hilário para quem ouve; angustioso para quem o viveu. Quando seminarista em Londrina, o hoje padre José Rodrigues Amaral, em certo dia de 1942, simplesmente desapareceu enquanto estudava no bosque do seminário palotino, no bairro conhecido como Shangri-la. Ao redor tudo era mato; a cidade se desenvolvia no centro, ao redor da estação ferroviária. Na comunidade do seminário o alvoroço foi geral. Após um ou dois dias de aflita busca, o pobre estudante foi descoberto na delegacia de polícia. Detido por causa da língua estranha que o ouviram falar sozinho, ninguém dava crédito à versão de que se tratava apenas de um inofensivo seminarista surpreendido no momento em que estudava grego em voz alta. 21 Ante os desalentadores resultados obtidos como empresário rural, padre Emílio foi perdendo o encanto pelo projeto agrícola e resolveu passar adiante a propriedade. Não pretendia simplesmente vendê-la. Como era fruto de dinheiro da Igreja, pensava transferi-la a alguma instituição da mesma Igreja. Em 1943, entrou em contato com a congregação dos padres palotinos, praticamente os únicos existentes na região. Acordo fechado, a fazenda passou à administração dos religiosos, que instalaram ali o noviciado. No dia 25 de novembro daquele ano, depois das adaptações necessárias, as casas foram ocupadas pelos postulantes. Padre Xavier Faiss foi nomeado mestre de noviços. Como reitor do noviciado e administrador da propriedade assumiu padre Max Kley. Mas as suspeitas de envolvimento com o nazismo não haviam terminado. Em março de 1944, necessitando viajar para São Paulo, Kley teve negado pela polícia o salvo-conduto exigido pela situação de guerra. Os palotinos foram advertidos a respeito da desconfiança que, por causa do doutor, pairava sobre o noviciado. Decidiram então transferi-lo para o prédio onde já funcionava o seminário de Londrina. No final de 1944, por dificuldade de convivência com Scherer, afastaram-se da propriedade. Padre Emílio passou a contar então com a possibilidade de converter a fazenda em centro de vida monástica. Valendo-se da origem alemã de boa parte dos beneditinos instalados no Brasil, manteve entendimento, em diferentes ocasiões e ao longo de vários anos, com mosteiros de São Paulo, de Sorocaba e de Santos. Houve, inclusive, início de pelo menos uma fundação beneditina em Maringá. Mas o gênio intempestivo e autoritário do padre fazendeiro não permitiu que prosperasse. Por conta de seu personalismo, o doutor cultivou difícil relacionamento também com o bispo e com colegas de ministério, o que, por certo, não deixou de criar algum mal-estar entre os fiéis. Como para o desenvolvimento da cidade, também no âmbito eclesiástico o pomo de discórdia estava na surda disputa entre Maringá Velho e Maringá Novo. A posição da Companhia era abertamente favorável ao segundo, dado que o primeiro representava não mais que uma cabeça-de-ponte para garantir acesso à região. Entretanto, acomodados no pequeno conjunto de casas levantadas na clareira da mata, fortalecidos pela solidariedade e conhecimento que os uniam, os moradores não admitiam que a cidade fosse desenvolver-se lá longe, depois do posto do Maluf, marco divisório entre os dois núcleos. Para a CMNP, Maringá era a cidade projetada que teria por centro o eixo monumental formado por igreja matriz – estação ferroviária – campo de futebol.

20 Informações reunidas no dossiê elaborado por Antônio Tortato a respeito de Pe. Emílio Scherer, consultado pelo autor destas notas, em Maringá, durante o mês de junho de 2006.

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21 Contado em casa de dom Anuar Battisti, em Maringá, no dia 7 de dezembro de 2005.

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Desiludido do projeto agro-pecuário, frustrado na tentativa de implantar o mosteiro, Scherer pensou integrar-se à vida pastoral da diocese de Jacarezinho. Foi nomeado coadjutor de Lovat (Mandaguari). Padre Antonio Lock registrou em 5 de abril de 1947: Na futura vila de Maringá desde o inicio do ano corrente o Revmo. Padre Dr. Emilio Scherer vem contribuir para o progresso da fé católica na zona de Maringá. Residindo na sua propriedade na Fazenda S. Bonifácio perto de Maringá, o Revmo. P. Emilio envida grandes esforços para a rápida conclusão das obras de uma bela Igreja provisória de paredes duplas (PAROQUIA DE MANDAGUARI, 1944, f. 21). A igreja a que se refere o vigário de Mandaguari é a atual capela Santa Cruz para cuja construção Scherer deu apoio e que foi sede da paróquia do Maringá Velho. Pelo que ficou dito, conclui-se que, no dia 5 de abril de 1947, data do registro de Lock, apesar da primeira missa celebrada no domingo da Paixão, seis dias antes, a capela não se achava inteiramente concluída. Sobre a primeira igreja erguida no perímetro urbano de Maringá, persistem versões imprecisas referentes a datas. Por felicidade, padre Carlos Giebel, SAC, de Londrina, teve participação decisiva nos acontecimentos ligados ao começo da capela Santa Cruz. Transferido para Maringá onde exerceu, de 20 de novembro de 1955 a 1º de janeiro de 1957, o cargo de vigário da paróquia Santíssima Trindade (“apenas 13 meses e 12 dias”, documentou com precisão), Giebel deixou no Tombo paroquial histórico registro sobre a fundação da capela Santa Cruz: Seguem aqui umas anotações importantes sobre o desenvolvimento da primeira paróquia de Maringá e sobre a construção da primeira capela “Santa Cruz” em Maringá Velho. Maringá era capela da paróquia de Mandaguari. O Vigário, Pe. Antonio Lock SAC celebrou aí diversas vezes a Missa em sábados. Começou a tomar conta de Maringá velho no dia primeiro de janeiro de 1946 o Revmo. Pe. Dr. Emílio Clemente Scherer que era proprietário da fazenda São Bonifácio. Celebrou então cada segundo Domingo do mês a S. Missa numa casa particular, em geral na varanda. Já na primeira vêz se contaram mais ou menos 400 fiéis presentes. Em consequência de fortes chuvas nos mêses de fevereiro e Março compareceram apenas 100 pessôas. No domingo de Ramos, porém, dia 14 de abril assistiram à S. Missa umas 500 pessoas, receberam os santos sacramentos 50 fiéis e foram 29 creanças batizadas. Formou-se neste dia uma comissão que decidiu de construir uma Capela. Pe. Emílio faz uma campanha pró construção que deu a soma de Cr$ 12.000,00. A comissão entendeu-se com a direção da Cianorte no dia 21.IV e no dia 23.IV com o diretor Mr. Thomas em Londrina. Este mostrou bôa vontade mas estava mais em favor de construir a capela no centro do futuro Maringá novo. Mas como naquele tempo em Maringá novo não havia nem uma única casa a comissão resolveu de erguer a capela em Maringá velho, a saber, no lugar onde ela hoje de fato se acha. O sr. Otávio e Angelo Planas iniciaram imediatamente os trabalhos preparatórios. Organizou-se uma quermesse para o mês de junho. Veio de Londrina o Revmo. Pe. Carlos Giebel SAC e preparou o lançamento da primeira pedra com um tríduo de práticas. As Missas foram celebradas na nova casa do sr. José Inácio da Silva, apelido José de Maringá, que era o primeiro morador da praça. A festa foi encerrada na festa de Pentecostes, dia 9.VI.1946. De manhã houve missa cantada e distribuiram-se 52 comunhões. Realizou-se uma procissão na qual foi levado um gigante cruzeiro. Pe. Carlos Giebel SAC proferiu um impressionante sermão. Em seguida tomou a palavra o prefeito de Apucarana, Dr. João Gnoato22 e foi erguido o cruzeiro. – – Depois destes acontecimentos a diretoria da Companhia mostrou-se favorável e pronta a fazer a vontade do povo. Pe. Emílio foi convidado para benzer o

22 João Batista Alberto Gnoato cumpriu mandato curto: de 3 de abril a 22 de outubro de 1946. O município de Apucarana foi criado em 30 de dezembro de 1943, desmembrado de Londrina. Mandaguari emancipou-se de Apucarana em 10 de outubro de 1947. Em 9 de junho de 1946, portanto, Maringá não era distrito de Mandaguari, mas patrimônio de Apucarana, justificando a presença de Gnoato no Maringá Velho.

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pequeno hospital construído pela Cianorte na festa de corpo de Deus, dia 20.VI. Pela tarde lhe fizeram uma visita na fazenda São Bonifácio, Mr. Thomas, Dr. Aristides, Dr. Gandara e Dona Mafalda e o novo diretor da Companhia Dr. Mesquita com snra. – A quermesse foi encerrada no dia 30.VI com a presença de D. Enrique Weber O.S.B. de São Paulo. 16 crianças receberam a primeira comunhão e realizou-se uma grande procissão. Dia 3.VII, foi feito em Londrina na companhia Cianorte o contrato sobre a doação do terreno. – Dois projetos para a nova capela foram elaborados e apresentados: um pelo arquiteto Dr. Omar Rupp de Londrina e outro pelo professor de desenho do ginásio Cristo Rei de Jacarézinho. Um destes projetos recebeu a devida licença pelo sr. prefeito de Apucarana. No dia 11.8.46 a serraria “Santiago” forneceu as primeiras madeiras. 10.9 começou a limpeza do terreno com o valioso auxílio do tractor da prefeitura Municipal. Forneceu-se o mais material para a construção, foi feito um poço e a 20m de profundidade encontrada a água, e assim o pedreiro Fioravanti Bussolin três de outubro pode iniciar a construção. Dia 18-10. Pe. Emílio fez um contrato com os carpinteiros Vicente e João D’Agostini de Arapongas o contrato de 20.000,00 cruzeiros pela mão de obra. As chuvas dificultaram a construção e 23.10 nuvens de gafanhotos invadiram a zona de Maringá. Já no dia seguinte levantaram de novo vôo, mas ficaram os ovos e 12-11 sairam deles os novos insetos que causaram bastante prejuízo. 11.11 vieram os carpinteiros. As serrarias forneceram as madeiras restantes. Coberta a capela e um altar provisório feito, celebrou-se a primeira missa na nova capela no domingo da paixão de 1947. Já neste dia a capela era pequena demais. A população mostrou durante a construção generosidade e espirito de sacrifício contribuindo com muitos donativos. Pouco a pouco a capela foi interiormente artisticamente terminada. Os trabalhos foram feitos pelo habil carpinteiro “Christoph”. No dia da fundação de Maringá novo a Companhia Melhoramentos fêz a doação de Cr$ 20.000,00 para a capela de Maringá velho, dia 10.V.194823 São estas umas anotações sobre a construção da primeira Igreja de Maringá, hoje capela do ginásio “Santa Cruz” das Irmãs Carmelitas (PAROQUIA DA SANTISIMA TRINDADE, 1950, f. 20, 21).24 Para quem não estivesse informado, através da crônica de Probst, das tratativas de Scherer visando implantar um mosteiro beneditino em sua fazenda, não deixa de ser intrigante a presença de dom Henrique Weber, OSB, na festa pró-construção da capela Santa Cruz. Que estaria fazendo um monge de São Paulo numa quermesse do mato aqui no Norte do Paraná? O detalhismo de Giebel colabora para a confirmação do relato sobre padre Emílio, ao mesmo tempo em que empresta credibilidade aos seus registros sobre a capela do Colégio Santa Cruz. Em 1950 Maringá deixava a condição de capela de Mandaguari para tornar-se paróquia. Dada a situação, parecia aconselhável criar duas em vez de uma paróquia somente. Numa ficaria Scherer; noutra, padre Teófilo Carlos Almazán, de Jacarezinho. Pe. Carlos Probst, reitor do seminário palotino de Londrina, muito acatado pelo bispo, sugeriu que o espanhol Almazán, moço e saudável, fosse nomeado para o Maringá Velho, que incluía as capelas de Floriano, Paissandu, Iguatemi, Guaíra, Iroí (Presidente Castelo Branco), Sutil do Ivaí, São Jorge, Alto Paraná e Paranavaí. Para o Maringá Novo entendia que melhor seria nomear Scherer, sexagenário e doente. Fazendo, no entanto, valer sua condição de consultor diocesano, Almazán convenceu dom Sigaud a trocar as nomeações. Probst acusa-o de cobiçoso, interessado na paróquia onde se localizava o cartório; assim teria oportunidade de celebrar todos os casamentos e batizados, embolsando as taxas.

23 Erro de anotação; o ano verdadeiro é 1947.

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24 A razão do nome “Santa Cruz” foi dada ao autor destas páginas por Vera Lúcia Rabelo, filha de David Rabelo de Oliveira, em Maringá, no dia 25 de abril de 2006. Contava-lhe o pai que um grupo de pioneiros, reunidos sob o cruzeiro, discutia o nome a ser dado à capela. Era por volta da semana santa de 1947 (coincide com a observação acima de que a igreja ainda se achava inconclusa). A lembrança do Cristo na cruz era muito viva. David Rabelo, que gostava de história, acrescentou que o Brasil já se chamara Terra de Santa Cruz. Saudoso da sua cidade de origem, Santa Cruz do Rio Pardo (SP), sugeriu “igreja Santa Cruz”. Todos aprovaram a idéia que foi, depois, aceita por padre Emílio. David Rabelo foi vereador na Câmara Municipal de Mandaguari, representando o distrito de Maringá.

A Igreja que brotou da mata


Refere Probst que em 1950 celebrou a Semana Santa na igreja Santa Cruz, tendo delegação episcopal para, no domingo da Páscoa, anunciar a criação das paróquias e empossar ambos os vigários. Para sua surpresa, os documentos traziam nomeações trocadas em relação ao que entendera como pensamento original do bispo. Revoltado com a manobra de Almazán, recusou-se a empossá-los, limitando-se a publicar o decreto de ereção das paróquias. Os vigários assumiram sem nenhum ato oficial (PROBST, 1998, p. 196). Scherer sentiu-se profundamente ofendido pela desonestidade do colega e pelo que interpretou como traição do bispo. Afirmava ter recebido de dom Sigaud a promessa de sua designação para vigário de Maringá Novo. Contemporâneo não muito ligado à Igreja deixou registrado: Inicia-se a construção da igreja do Maringá novo, dividida que fôra a cidade em duas paróquias. O Padre Emílio – de nacionalidade alemã – não gostou da história. Sentia-se prejudicado porque, até então, era o único Vigário. Assim, “baixou uma ordem”, com um mapa esclarecedor das “divisas”, chamando atenção para a “obrigatoriedade” dos pagãos, nubentes e defuntos respeitarem essas divisas, sob pena dos batisados, casamentos e réquiens não terem valor algum perante a Santa Igreja... Depois disso, pouco tempo ficou por aqui. Vendeu parte da fazenda que possuía e voltou para a Alemanha (ESTRADA, 1961, p. 16). Apesar de pouco à vontade, resignou-se Scherer a atender, como podia, a paróquia do Maringá Velho. Para alcançar a igreja Santa Cruz, vinha de charrete por uma estradinha que passava pelos atuais Conjunto Borba Gato e Avenida Luiz Teixeira Mendes. Às vezes o buscavam pessoas amigas, como Ângelo Planas ou seu filho Waldemiro, que já dirigia os veículos do pai. Pela distância e condições da estrada, o percurso demorava 40 minutos. Não foi isento de problemas o seu tempo de vigário. Pe. Teófilo não respeitava normas do Direito Canônico quanto a limites e direitos paroquiais. A fazenda, por outro lado, sujeita aos costumeiros e invencíveis problemas de administração, continuava a causar preocupação. Scherer ofereceu-a aos monges cistercienses de Itaporanga (SP) para a abertura de nova fundação monástica. Mais uma vez, a expectativa resultou em nada. É difícil fugir à suposição de uma interferência descabida do dono das terras na vida dos monges. Evidentemente, ordem monástica nenhuma abre mão das suas milenares regras de vida para sujeitar-se aos ditames de outro, ainda que benfeitor. Ao esforçado padre Emílio, concentrador como era de poder nas próprias mãos, talvez tenha faltado compreensão desse pormenor. Como beneditino na Alemanha, anos mais tarde, ele se revelará pessoa bem diferente. Por fim, acabaram voltando à cena os padres palotinos. Segundo anotações de Probst e a entrevista de Schweiger, em 1953 houve novo entendimento com os superiores para, em 1954, a congregação assumir, definitivamente e por doação, a fazenda São Bonifácio. Com os rendimentos das colheitas esperavam os palotinos prover o sustento da Província São Paulo Apóstolo quando fossem entregues ao clero diocesano as paróquias ainda sob seus cuidados. O acordo previa repasse mensal a Scherer de 2000 marcos alemães, que a congregação cumpriu até o final da vida do doador. 25 Por diligente empenho do superior provincial, padre José Elias Fadul, SAC, foi possível, em junho de 2006, levantar a situação da fazenda quando de sua transferência para os padres palotinos. Confirmando a observação de que Scherer fora, no decorrer do tempo, desfazendo-se de partes da propriedade, a congregação recebeu uma área de terras de 490,78ha, ou 202,80 alqueires paulistas. Às medidas originais faltavam, portanto, 115,91 alqueires paulistas, ou 280,50ha. A área repassada constava de 3 lotes de terras escriturados em épocas diferentes (o quarto descrito abaixo substitui o primeiro), assim discriminados: • lotes 66-A, 3-B e chácaras ns. 11, 12 e 13, destacadas do lote nº 66 = 30,8 alqueires (74,53ha) – escritura de 02/08/1951, lavrada no Tabelionato Esmeraldo Leandro, de Maringá (L. 12, f. 101-102) – registrada em

25 Embora se encontre nas notas de Probst e na entrevista de Schweiger, parece carecer de veracidade, como adiante se verá, a informação desse pagamento vitalício.

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


Pe. Emílio Scherer, ao lado de dom Geraldo de Proença Sigaud, lê ata de lançamento da pedra fundamental da igreja São José, na Vila Operária, no dia 22 de maio de 1950.

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Congregação Mariana da Paróquia Santíssima Trindade, de Maringá, em 1951, ao lado de padre Teófilo Carlos Almazán.

A Igreja que brotou da mata


28/01/1953 no Registro de Imóveis Aristides Alves Dias, Mandaguari (L. 3-H, f. 14, nº 8761), com nota: lote 3-B vendido em 1965 (área de 3,0 alqueires paulistas, conforme escritura); • lotes 1 (com 155,63 alqueires) e 1-A (com 8,77 alqueires) = 164,40 alqueires (397,85ha) – escritura de 07/10/1954, Tabelionato Esmeraldo Leandro (L. 53, f. 31v) – área situada em dois municípios, por isso registrada em 17/03/1955 no Registro de Imóveis Waldemiro Planas, de Maringá (L. 3, f. 141, n° 533) e em 03/05/1955 no Registro Benedito Saldanha, de Marialva (L. 3, f. 63-64, nº 174); • lotes 10/66 e 11/66, partes do lote 66 = 7,60 alqueires (18,40ha) – escritura de retificação e ratificação, Tabelionato Esmeraldo Leandro (L. 12, f. 101-102) – registrada com averbação nº 2 em 22/09/1956 no Registro de Imóveis Dirce Souza N. Marzolla, de Mandaguari (L. 3-H, f. 14, nº 8.761); • lote 3-1, parte do lote 3 = 1,15 alqueire (27.830m2) – escritura de 28/04/1965, Tabelionato Comarca Marialva (L. 44, f. 115) – registrada a 03/02/1966 no Registro de Imóveis Milton Ribeiro Menezes, de Maringá (L. 3-E, f. não consta, nº 3.597), com a nota: foi trocado com lote 3-B, aquele de três alqueires paulistas, que acima consta ter sido vendido. Dos lotes 1 e 1-A foi lavrada escritura pública de compra e venda, no valor de Cr$ 800.000,00 (oitocentos mil cruzeiros). Os lotes 3-B, 66-A, 11/66, 12/66 e 13/66 (total de 30,8 alqueires), outorgados por escritura de doação, foram avaliados na escritura em aproximadamente Cr$ 30.000,00 (trinta mil cruzeiros). A área total construída, na época, ocupava 2100m², compreendendo casa da sede, capela, sete casas de moradia, tulha, mangueira – todas de madeira, além de cocheira e garagem, ambas em alvenaria. De 1954, quando assumiram a fazenda, até 20 de dezembro 1998, data de criação da paróquia São Bonifácio, os palotinos mantiveram algum padre ou irmão cuidando da parte administrativa. A seqüência dos responsáveis aponta cronologicamente: padres Felipe Hoberg (1954), Francisco Hörnle (1964), Joseph Schindler (1966), Luiz Schweiger (1973), irmãos José da Costa (1974) e Carlos Marques da Silva (1989), e padre José Newton Rondina (1996). Durante dez anos, de 1964 a 1974, os administradores contaram com a ajuda de irmão Sebastião de Andrade. Em 1966, irmão Aparício Domingues de Carvalho também colaborou na gerência da propriedade. A partir dos entendimentos com dom Murilo para a criação da futura paróquia São Bonifácio, a congregação desfez-se progressivamente das terras da Gleba do Ribeirão Pingüim. Em 24 de abril de 1992, vendeu 35.40 alqueires paulistas (85,668ha) a Empreendimentos Imobiliários Ingá Ltda.; no mesmo ano doou à Mitra Arquidiocesana de Maringá área de 5000m² para aí ser estabelecida a nova sede paroquial. Em 1996 promoveu a venda de mais três lotes: 40 alqueires (96,80ha) a Sérgio Nagabe; outros 40 (igualmente 96,80ha) a membros da família Faion. Em 1º de setembro de 1997, a Sociedade Civil Faá di Bruno, ou Província São Paulo Apóstolo dos padres palotinos, fez doação à Prefeitura Municipal de Maringá de uma faixa de terras com área de 28.410,30m² (1,174 alqueire paulista) para abertura da Avenida Pioneiro Antonio Fernandes Maciel. Houve depois a venda para Marcelo Vinicius Arantes, em 14 de novembro de 1997, de uma área totalizando 67,416 alqueires paulistas, ou 163,14ha. No dia 22 de abril de 1999, os palotinos venderam um alqueire paulista e doaram metade de outro (total de 3,63ha) ao Instituto Social, Educativo e Beneficente Novo Signo, de Atibaia (SP), nome civil do Movimento Apostólico Schoenstatt. Nesta área foram incluídas a sede da fazenda, a capela São Bonifácio e o local onde o Movimento pretende levantar o santuário da Mãe Peregrina. Por fim, no dia 3 de junho de 2002, venderam a área remanescente do lote 3-B da Gleba Pingüim, com 1,1625 alqueires paulistas, ou 2,81ha. A partir de 1999, as últimas disposições para transferência aos novos ocupantes foram implementadas por padre Reinaldo Aparecido Picolotto, SAC. Tanto as metragens quanto as informações cronológicas apresentam alguma variação, se comparadas escrituras obtidas em tabelionatos com os registros de Probst cronista. O provincial Fadul observa que a contribuição vitalícia de 2000 marcos alemães ao doutor carece, na opinião de padre Roque Kiefer, ecônomo da província, de precisão histórica. E complementa: “Não há, em nosso arquivo e outros apontamentos da época, registros que comprovem isso. É bom lembrar que a história escrita pelo Pe. Probst apresenta uma

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visão muito pessoal e particular”. 26 Padre Emílio Clemente Scherer deixou Maringá em 1954, mudando-se para São Paulo onde permaneceu algum tempo. Consta que teria entrado em contato com o Mosteiro de São Bento, possivelmente para experiência de vida monástica. Em todo caso, a escritura de venda dos 164,40 alqueires aos palotinos, lavrada em 7 de outubro de 1954, dava como transmitente padre dr. Emilio Clemens Scherer (ou Emilio Clemente Scherer), “sacerdote, brasileiro naturalizado, residente e domiciliado na Capital do Estado de São Paulo, à Rua Califórnia nº 12”, certamente não o endereço do mosteiro. Especificava ainda que o valor do contrato alcançava Cr$ 800.000,00 (oitocentos mil cruzeiros). Não deve ter sido longa a permanência de Scherer na capital paulista de onde se transferiu à abadia beneditina de Metten, na Alemanha. Fez sua profissão religiosa no dia 21 de março de 1958, assumindo, segundo a tradição da Ordem, o nome monástico de Michael, em homenagem a Michael Kruse (†1929), abade em São Paulo, figura marcante de beneditino no Brasil cuja biografia ele escreveria em 1963. Seus escritos posteriores virão assinados por Michael Emil Scherer. Artigos seus apareceram publicados em vários periódicos alemães. Em revistas brasileiras teve editado um breve comentário na revista Sponsa Christi (Ed. Vozes, Petrópolis, v. 16, 1962, p. 209-211), sobre a primeira abadia de beneditinas da América. Outro, de maior profundidade, surgiu na REB – Revista Eclesiástica Brasileira (Ed. Vozes, Petrópolis, v. 24, 1964, p. 639-664), e trata sobre o abade Geraldo van Caloen. Além de chefe da cozinha do mosteiro, Scherer dedicou-se a trabalhos pastorais em paróquias vizinhas onde prestava ajuda. Voltou ao Brasil em 1963 a fim de colher subsídios para outro livro, publicado em 1965, sobre o beneditino frei Domingos Machado. Na ocasião, passou por Olinda, Salvador e, sem publicidade, também por Maringá a fim de rever amigos. É ainda conhecido outro livro seu, a respeito de William Michaud, pintor suíço que viveu em Superagüi, litoral paranaense. Deixou também biografia inacabada do primeiro abade de Metten, o beneditino Gregor Scherr, mais tarde arcebispo de Munique. Pelo que se consegue notar, como escritor, Scherer cultivava especial gosto pelo gênero biográfico. Padre Emílio conservou sempre grande amor por Maringá, como deixa claro na carta de 8 de maio de 1968, em resposta a Ângelo Planas, que lhe escrevera para comunicar a promulgação da lei 582/68 da Câmara Municipal de Maringá, conferindo seu nome a uma rua da cidade. Diz guardar lembranças das festas de seu aniversário “na minha Casa de Fazenda e dos churrascos luculentos (sic) sob a sombra dos larangeiros do meu horto”. No início, de antemão já pedia “indulgencia” por não mais ter prática da língua “portugaisa”. Recorda ainda os amigos, em especial Ângelo, dona Rosa e os falecidos Napoleão (Moreira da Silva) e Néo (Alves Martins). A carta é conservada por Maria Amélia, a historiadora da família, no dizer do marido Waldemiro Planas.27 Como discípulo de São Bento, o irrequieto alemão atravessou santamente os últimos anos, não sem luta para dominar seu caráter intempestivo e dominador. Sofreu por causa de colegas monges que não viam com bons olhos sua vida menos reclusa que a dos demais. Por outro lado, também provocou sofrimento, por conta da constante dificuldade de se adaptar, apesar do sincero esforço, às normas da vida monacal. Na condição de monge, considerou sempre a abadia como sua casa; nela encontrava o calor de uma família. Após tantos anos de vida solitária, descobriu no claustro a paz em busca da qual correra durante toda a vida. A inquietude de viajante e também uma verdadeira devoção levaram-no várias vezes à Terra Santa. Centrou sobre a Eucaristia seus últimos anos de existência. Não deixava de celebrá-la nem quando, arrastando-se até o altar, era obrigado a se apoiar nos irmãos para manter-se de pé. Doente desde o outono de 1967, quando voltou da última peregrinação à Palestina, não alcançou mais a recuperação. Sofreu muito nos derradeiros três anos, até entregar serenamente, enfim pacificada, sua alma a Deus.

26 Informação prestada por e-mail, em 31 de maio de 2006, ao autor destas páginas. Relação escrita enviada de São Paulo pela sede provincial e recebida em 6 de junho, fala ainda sobre venda de 90 alqueires, em 1996, a comprador cujo nome não consta no Livro de Atas das reuniões do conselho provincial da congregação. Somando-se, porém, as áreas doadas e vendidas, restariam 19 alqueires, não 90 (nota do autor: seria erro de digitação?).

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27 Cópia da carta foi gentilmente cedida por Maria Amélia Planas ao autor deste relato, em Maringá, no dia 20 de junho de 2006.

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Foto histórica

Na residência do casal Modesta-Hilário Alves, piso superior da Padaria Arco-Íris, no dia 6 de junho de 1951, 3º aniversário do filho caçula José Carmo Alves (informação confirmada ao autor pelo próprio José Carmo, em 12 de janeiro de 2007). 1 - Garotinha Stella Maris Castanho 2 - Aurora Leandro Castanho, esposa de Cíldio 3 - Maria Fernandes, esposa de Boanerges 4 - Eleutéria Cordeiro da Silva (esposa de José Ignácio da Silva, o Zé Maringá) 5 - Rosa Planas, esposa de Ângelo 6 - Elvira Balani dos Santos, esposa de Durval 7 - Arminda Moreira, esposa de Napoleão 8 - Tercina Araújo, esposa de Amador 9 - Ana Dias, irmã de Eleutéria e mãe de Argeu Dias 10 - Áurea Leandro, filha de Esmeraldo e Cecy, irmã de Aurora Leandro Castanho 11 - Garotinha Regina Castanho no colo do pai 12 - Cíldio Castanho 13 - Boanerges Fernandes 14 - O aniversariante José Carmo 15 - Walquírio Fontes

16 - Ângelo Planas 17 - Durval Francisco dos Santos 18 - Pe. Emílio Scherer 19 - Hilário Alves 20 - Modesta Alves 21 - David Rabelo de Oliveira (a esposa Lídia estava em Bauru) 22 - Antônio Hilário Alves (Toninho) 23 - Maria Vargas Manzano 24 - Conceição (Nena) Manzano, filha da anterior 25 - Napoleão Moreira da Silva 26 - Pe. Carlos Giebel (à época, em Londrina) 27 - Amador Araújo 28 - Esmeraldo Leandro 29 - Cecy Leandro, esposa de Esmeraldo 30 - João Batista Alves e 31 - Pe. Aloísio (Aloys) Lerch, de São Paulo, 123 superior regional dos palotinos Os 50 anos da Diocese de Maringá


A Igreja de Maringá pós-Scherer O também alemão padre João Janssen, que sucedeu, de uma só vez, aos dois primeiros vigários de Maringá, ainda como seminarista viera para o Brasil, fugindo da perseguição nazista. Acolhido por dom Gastão Liberal Pinto, 2º bispo de São Carlos (1937-1945), foi enviado ao Seminário Central do Ipiranga, em São Paulo, onde foi colega de estudos de dom Jaime Luiz Coelho.28 Sua nomeação para vigário da paróquia do Maringá Novo aconteceu no dia 2 de outubro de 1951. A posse, no dia 7 seguinte, deu-a padre Carlos Probst, delegado do bispo diocesano. Portaria episcopal de 3 de outubro de 1951 havia anexado a paróquia do Maringá Velho à paróquia do Maringá Novo, unificando a cidade em uma só paróquia, enquanto reduzia a igreja Santa Cruz à condição de capela. Padre Francisco Buttenmüller foi nomeado vigário cooperador da paróquia Santíssima Trindade, cargo que ocuparia até fevereiro de 1953, quando padre Carlos Steimel veio sucedê-lo. A paróquia de Mandaguaçu, criada em 25 de janeiro de 1952 (o seu livro do Tombo registra a criação viva voce em 24 de outubro de 1951), assumiu todo o território da antiga paróquia do Maringá Velho, excetuada a capela Santa Cruz. No dia 19 de março de 1952, Janssen recebeu como coadjutor padre Francisco Foglia. Nesse dia encontraram-se na casa paroquial o bispo diocesano dom Geraldo de Proença Sigaud e doutor Hermann de Moraes Barros, superintendente da CMNP. O vigário anotou: Este trouxe a resposta de uma carta do Exmo. snr. Bispo, na qual tinha exposto a situação da paróquia. A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, atendendo a exposição do Exmo. snr. Bispo doou e reservou para a paróquia por titulo de Mitra Diocesana os seguintes terrenos: - um alqueire de terra ao lado do cemitério para a Construção de um Ginásio Diocesano. - um alqueire de terra entre Maringá Novo e Vila Operaria para a construção de uma Santa Casa como propriedade da Mitra Diocesana. - todo o terreno necessario para a construção da nova Igreja Matriz conforme a planta, que fôr apresentada pelo Exmo. snr. Bispo Diocesano. - um quarteirão inteiro para o futuro Colegio feminino em Maringá Velho, i.é. o quarteirão onde atualmente fica a Igreja Sta. Cruz com a casa paroquial anexa. - uma data vizinha à area da Casa paroquial, para a possivel ampliação da mesma. Reservou-se a Companhia o direito de passar as escrituras até o dia, em que a Mitra ou paroquia tomar posse dos terrenos para as respectivas finalidades. Alem disso, o superintendente da Companhia prometeu reservar mais dois quarteirões para futuros projetos do Exmo. snr. Bispo, no bairro residencial, que hoje ainda é mato fechado (PAROQUIA DA SANTISIMA TRINDADE, 1950, f. 6).29 A reserva de uma quadra inteira para um colégio feminino no Maringá Velho comprova o interesse da Companhia pelo estudo das filhas dos pioneiros que aqui se fixavam. Seus diretores pediram ao bispo irmãs para cuidar da escola, encargo de que se desincumbiu dom Sigaud com o auxílio do espanhol padre José Antonio Roldán, secretário do bispado, que há tempo conhecia na Espanha as carmelitas de Vedruna, coincidentemente desejosas de abrir uma casa no Brasil. Entendimentos com a madre geral, irmã Ramona Castany, resultaram na vinda das primeiras religiosas, que chegaram ao porto de Santos em 24 de maio de 1952. Foram recebidas pela

28 Relata dom Jaime que no Seminário do Ipiranga, em São Paulo, Janssen contava dramático episódio de sua vida: deixando o seminário, em fuga do nazismo, passou em frente de sua casa. De longe, avistou à porta sua mãe que, contudo, não o viu. Foi a última vez; não mais tornaria a vê-la. Veio para o Brasil. Tornou-se padre. Tempos depois, já bispo em Maringá, dom Jaime soube que ele era o pároco de Astorga. Visitou o antigo colega de seminário. Encontraram-se poucas vezes. Janssen morreu jovem, como adiante se dirá.

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29 O primeiro dos terrenos citados destinava-se à construção não de um ginásio, mas do seminário diocesano. Os dois quarteirões de reserva em “mato fechado”, da observação final são, na verdade, a quadra onde hoje se encontram a paróquia Cristo Ressuscitado, a TV 3° Milênio e a residência episcopal ocupada por dom Jaime.

A Igreja que brotou da mata


superiora provincial da Argentina e conduzidas a Jacarezinho, de onde se deslocaram, dias depois, a Maringá. Coube ao vigário da Santíssima Trindade encaminhá-las à casa que ele mobilizara os moradores a preparar-lhes. Pelo que consta de suas anotações, as freiras foram muito bem-vindas e chegaram em boa hora, porque o clima no Maringá Velho não era lá dos melhores: Veiu no dia 12 de Junho, S. Excia. Dom Geraldo de avião e trouxe 7 (sete) Irmãs Carmelitas da Caridade, para esta paróquia. Vieram da Espanha para fundar a primeira casa no Brasil e Maringá foi escolhida para este fim. Preparou-se uma pequena recepção na Igreja Sta. Cruz, destinada para as Irmãs. A casa paroquial anexa, ampliada e mobiliada pelo povo de Maringá-Velho servirá de residencia para as religiosas. A alegria do povo foi geral, sendo assim realizada uma promessa e um desejo do já aposentado Pe. Emilio Scherer, primeiro vigario daquela paróquia. A vinda das Irmãs veiu ao mesmo tempo acalmar o espirito revoltado de uma meia duzia de pessoas descontentes até então com o decreto da anexação da paroquia Sta. Cruz à da SS. Trindade (PARÓQUIA DA SANTISIMA TRINDADE, 1950, f. 9). Com precisão maior, irmã Pilar Sánchez Fernández, única sobrevivente da primeira turma, relata que as irmãs chegaram no dia 18 de junho de 1952. Além dela, outras quatro: Maria Dolores Dias Alberdi (†1978), Guadalupe Dorronsoro Solazabal (†1991), Maria Elena Callicó Vilaseca (†1998) e Rosina Iglesias Lama, que voltou à Espanha ainda em 1952. Em janeiro de 1953 vieram irmãs Margarida de la Vega Puente e Iluminada Vadillo Rios, que também retornaram à Espanha; a primeira, no mesmo ano; a última, em 1976. Assim se alcança o total de sete irmãs, de que fala o registro de Janssen. A modesta escola iniciou as aulas no dia 20 de março de 1953, com alunas do pré-escolar e primário, num total de 97 crianças, sob direção de Célia Colichio, que transmitiu o posto, dias depois, à professora Luzia Braga. Em 1956 foi iniciado o curso ginasial tendo como diretora Madalena Bretz e, depois, professor José Hiran Sallée, ex-seminarista salesiano (concluiu o 1º ano de Teologia; com a morte do pai teve que deixar o seminário para cuidar da família), um dos mais competentes educadores que Maringá conheceu. Em 1958, as carmelitas de Vedruna assumiram a direção

O primeiro grupo de irmãs carmelitas do Colégio Santa Cruz – De chapéu eclesiástico, o bispo dom Sigaud e padre José Antônio Roldan.

O Colégio Santa Cruz antigo, de madeira, pioneiro dos colégios católicos de Maringá.

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


através de irmã Pilar Sánchez, primeira religiosa empossada no cargo (SÁNCHEZ, 2003, f. 2-5). Passados quarenta anos, a direção voltou às mãos de uma diretoria leiga, a ex-aluna Anna Thereza Junqueira Valias. De Maringá a congregação se expandiu a São Paulo, Planalto (PR), Campinas, Curitiba, Belo Horizonte, além abrir casas em Mato Grosso e Pernambuco. Na administração pastoral de Janssen deu-se a mudança do orago da paróquia que viria a se tornar catedral. Por decreto de 5 de agosto de 1952, dom Geraldo de Proença Sigaud conferiu à paróquia de Maringá dedicada à Santíssima Trindade a sua nova padroeira, Nossa Senhora da Glória. O núcleo do decreto estabelece: Coube à nossa cidade assistir o momentoso acontecimento da Proclamação do Dogma da Assunção da Virgem Santíssima, Senhora Nossa, cujo Corpo bendito, unido à Alma Gloriosa, foi levado ao Ceu pelo Divino Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim esta epoca atribulada e sacudida por tantos soffrimentos viu brilhar no meio da noite escura do pecado e do desespero a luz suave da esperança que a Assunção da Virgem irradia. Desejosos de perpetuar em Nossa Diocese este dulcissimo acontecimento, decidimos consagrar a Paroquia de Maringá-Novo à Nossa Senhora da Gloria, declarando e instituindo a Assunção da Virgem Maria titular da Igreja, e Nossa Senhora da Gloria padroeira da Paróquia [...] (PAROQUIA DA SANTISIMA TRINDADE, 1950, f. 9-10, grifo do autor). Se a vinda das espanholas irmãs Carmelitas da Caridade era importante para a educação, por sua vez, para a saúde significava muito a chegada dos alemães irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora. Convidados na Alemanha quando lá estivera o bispo diocesano, os irmãos chegaram a Maringá no dia 18 de setembro de 1953 (há quem diga ter sido no dia 13). De início, começaram a prestar atendimento na chácara onde residiam. Ainda na administração paroquial de Janssen deu-se, com a presença de dom Sigaud, a reunião do dia 12 de junho de 1954, destinada à fundação da Sociedade Civil e Beneficente Santa Casa de Misericórdia de Maringá: A sociedade é dirigida e administrada por 17 membros eleitos, cujos estatutos já foram aprovados para serem registrados. Sua primeira diretoria ficou assim constituída: Chanceler: D. Geraldo de Proença Sigaud. Presidente Dr. Aristides de Souza Melo; Vice-presidente Irmão Jacob Paus, 1º Secretario Esmeraldo Leandro; 2º secretario Irmão Aloisio F. Schnur, 1º tesoureiro, Emilio Germani, 2º tesoureiro Irmão Guilherme Velten, Procurador: Dr. Epifanio A. Figueiredo. Vogais: Inocente Vilanova Junior, Napoleão Moreira da Silva, Esgualdo Petrobon, Ângelo Planas, Francisco Gonçalves, Padre João Jansen, Waldemar Gomes da Cunha, Irmão Alto Knobel, Irmão José Augustermann. Incontestavelmente a solução do problema hospitalar não podia ser resolvido de melhor maneira, porque realmente o trabalho de consciliação (sic), nesse particular, desenvolvido pelo Exmo. Sr. Bispo Diocesano e pelo Reverendíssimo Padre João Jansen, vigario da paroquia, os quais encontram a maior vontade por parte do Prefeito Municipal Inocente Vilanova Junior, surtiu seus efeitos (PAROQUIA DA SANTISIMA TRINDADE, 1950, f. 14).30 Foi também no tempo de Janssen que se criou a primeira paróquia desmembrada da de Nossa Senhora da Glória. À fl. 36 do Livro de Registro das Criações de Paróquias da Curia Diocesana de Jacarézinho se localiza o assento de ereção da paróquia São José, na Vila Operária. O decreto traz a data de 14 de abril de 1954. Sobre os padres a quem foi confiada, revelando conhecimento histórico, além de homenagear os evangelizadores das reduções jesuíticas do século XVII, dom Geraldo Sigaud anotou: “Voltam os jesuítas ao Norte do Paraná após 327 anos de ausencia: Pe. Beno Wagner e Oswaldo Rambo, destinados à paróquia S. José, no

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30 Jacob Baus (grafado erroneamente Paus) é o nome civil de irmão Edmundo, superior regional dos irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora e superior da Santa Casa. De Maringá transferiu-se para Porto Alegre, onde faleceu em 1958.

A Igreja que brotou da mata


Pe. João Janssen colou no 1º Livro do Tombo um recorte do O Jornal, edição de sexta-feira, 18 de junho de 1954, noticiando a fundação da Sociedade Civil e Beneficiente (sic) Santa Casa de Misericordia (sic) de Maringá (PAROQUIA DA SANTISIMA TRINDADE, 1950).

bairro operário de Maringá (CURIA EPISCOPAL DA DIOCESE DE JACARÉZINHO, 1927, f. 128). Não obstante a nota, quem assumiu a recém-criada paróquia foi outro, como atesta o mesmo dom Sigaud, em 18 de agosto de 1954, esclarecendo vários pontos: Dia 13 de outubro (Nota: engano, o certo é agosto) inauguramos o Internato anexo à Escola Paroquial Santa Cruz. Dia 14 foi inaugurado o Ambulatorio Nossa Senhora de Fatima no Bairro Operário. Dia 15 foi empossado o primeiro Vigario da paroquia de São José, no Bairro Operário, Pe. Agostinho Klingen, nomeado na vespera; a criação da Paroquia foi igualmente realizada no dia 14 de Agosto. Durante a festa de inauguração do Ambulatorio chegamos a um entendimento com o Snr Professor Antero Santos Chaves, acerca da aquisição do Ginasio Maringá, por parte da Mitra Diocesana. [...] Assim a Mãe de Deus dotou Maringá de um Colegio para Meninas, outro para Meninos, e de uma Santa Casa. Estes empreendimentos todos tem contado com o apoio do Snr. Prefeito Municipal, e foram possiveis graças ao trabalho extraordinario do R. Pe. João Janssen, secundado pelos Pes. Francisco Foglia e Agostinho Klingen. Tomará a direção do Ginasio Maringá o R. Pe. Cleto Altoé (PAROQUIA DA SANTISIMA TRINDADE, 1950, f. 15, grifo nosso). O autor do “trabalho extraordinário” reconhecido pelo bispo terminou seu encargo em Maringá no dia 11 de setembro de 1955, quando entregou a paróquia aos jesuítas, agora sim, padres Beno Wagner, vigário, e Osvaldo Rambo, coadjutor. Conforme narra o cronista da saga dos padres palotinos na região, Pe. Janssen recebeu a Paróquia de Astorga e, com sucesso, a administrou até o dia 14/01/1961, data em que faleceu na Santa Casa de Londrina, com apenas 46 anos, vítima de derrame cerebral. O seu enterro em Astorga foi uma verdadeira apoteose. Pe. Teófilo trabalhou, após a transferência de Maringá, em Cambará e em Abatiá. Também ele passou para a eternidade ainda moço (PROBST, 1998, v. 3, p. 197). Menos de três meses tiveram os jesuítas para exercerem o cuidado paroquial da igreja do centro de Maringá. Aos 20 de novembro de 1955 tomou posse padre Carlos Giebel, SAC, acompanhado do coadjutor padre Francisco Xavier Penzkofer, que seria depois substituído por padre Francisco Hörnle. Era o início do trabalho dos palotinos na futura catedral da nova diocese, conforme se tornou público, em 18 de março de 1956, com a notícia da criação da diocese de Maringá.

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Decreto do bispo, datado de 20 de dezembro desse ano, nomeou novo vigário da paróquia Nossa Senhora da Glória o padre Germano José Mayer, SAC. Padre Giebel fez sua despedida no dia 31 de dezembro. Mas somente a 15 de janeiro de 1957, depois de encerrar missões populares que pregava em Marialva, tomou posse da paróquia Nossa Senhora da Glória aquele a quem coube preparar a instalação da diocese e acolher o primeiro bispo de Maringá. Na humilde igreja das antigas fotos conhecidas de todos, padre Germano desenvolveu excelente trabalho como cura da catedral, alegre e amado por todos. Além da posse do primeiro bispo, coube-lhe preparar também a ordenação presbiteral do primeiro padre da nova diocese. A 29 de junho de 1960, dom Jaime conferiu o sacramento da ordem, no grau de presbítero, ao diácono Benedito Vieira Telles, de quem padre Germano foi padrinho de ordenação. A festa da padroeira daquele ano, 15 de agosto, marcou o encerramento do trabalho dos palotinos na catedral. Padre Germano foi, nesse dia, constituído primeiro vigário geral da nova diocese; por ser religioso, recebeu a nomeação de “pró-vigário geral”, mudando-se, no dia 17, para a residência episcopal. Amigo fiel, converteu-se numa espécie de conselheiro do jovem bispo. Mais avançado em anos e com experiência maior dos problemas deste Norte do Paraná que conhecia de quase três décadas, empenhou-se em diminuir a carga do pastor. No seu português germanizado, recomendava insistentemente: “Cuide da saúde, Vossa Excelência”. Entre os conhecidos tornou-se motivo de pilhéria uma frase que repetia com freqüência. Justificando a atenção exigida ao dirigir por ruas e estradas de uma terra que muito rápido passara da carroça ao veículo motorizado, argumentava sempre: “pode vir outro louco do outro lado”. Não lhe serviu, lamentavelmente, o aviso que tantas vezes dera aos amigos. Transferido em 1963 para Arapongas, deu-se ao trabalho de preparar a instalação da paróquia dedicada ao fundador de sua congregação, São Vicente Pallotti, então recentemente canonizado. No dia 8 de janeiro de 1964, próximo de Rolândia, saindo de estrada vicinal, ao entrar na rodovia asfaltada, teve seu fusca violentamente colhido por um caminhão. Padre Germano faleceu na hora. 31 Não conseguiu escapar do outro louco que vinha do outro lado (PROBST, 1998, v. 3, p. 131). Principal sede paroquial e igreja-mãe da diocese, seu responsável próprio é o bispo, que a confia ao cuidado (cura, em latim) de um padre de seu clero, ao qual, por extensão, se aplica esse nome. Depois de Mayer, a catedral de Maringá recebeu o primeiro cura do clero diocesano, padre João Philippi, da diocese de Tubarão. Coube-lhe administrá-la pastoralmente de 15 de agosto de 1960 até o início de abril de 1962, quando deixou a paróquia, enquanto o bispo se encontrava no Rio de Janeiro participando da 5ª Assembléia Geral da CNBB. Foi então nomeado cura da catedral o jovem padre Benedito Vieira Telles, primeiro ordenado em Maringá (PROBST, 1998, v. 3, f. 99). De 1962 a 1968, Telles exerceu as funções de cura da catedral. Com ele começou nova etapa, em que a principal paróquia da diocese passou ao atendimento do presbitério maringaense. Mesmo assim, por 18 anos, entre 1969 e 1987, ainda na fase de construção da nova catedral, o cura foi padre Sidney Luiz Zanettini, do clero de Caxias do Sul. A partir do ano de 1988, tão somente padres do clero diocesano de Maringá passaram a exercer esse encargo, comprovando o êxito do bispo na formação de seu presbitério próprio.

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31 Mayer faleceu aos 64 anos, desfrutando de invejável saúde. Nutria apego ao seu velho “fusca” preto de fabricação alemã, mas não era bom motorista. Quando cura da catedral, em Maringá, mais de uma vez dom Jaime lhe aconselhara prudência ao correr pelas ruas com o carro cheio de coroinhas. Seu colega padre Guilherme Hilpert, da paróquia do Cristo Rei, em Curitiba, tinha profetizado: “O senhor ainda vai morrer nesse carro”. Infelizmente, o futuro lhe daria razão.

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Igreja São José, Vila Operária, nos anos 50.

Carta 7 - Dom Jaime escreve a padre Germano sobre ordenação de Benedito Vieira Telles, primeiro padre da diocese (COELHO, 1960, 1 f.).

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Ordenação sacerdotal de padre Benedito Vieira Telles, a primeira acontecida em Maringá - 29 de junho de 1960.

Antiga catedral de Maringá, ainda de madeira.

Olhando para trás Percorrer o trajeto de crescimento da Igreja nesta parte do Paraná revela-se tarefa curiosa e, ao mesmo tempo, fascinante. No longínquo ano de 1874, o missionário frei Timóteo de Castelnuovo tinha por campo de evangelização entregue aos seus cuidados desde a atual Jataizinho até a extremidade da então Província do Paraná para o lado do Mato Grosso acompanhando a margem esquerda do rio Ivaí. O rincão derradeiro a noroeste do Estado representou apenas parte do território confiado a um único administrador pastoral. Terra selvagem e desconhecida, nenhum branco por lá se arriscava, a não ser isolada e eventualmente, não raro, movido por obscuros interesses. Do que se entende por civilização muito pouco, quase nada, existia. De Igreja instituída, ainda menos. Nem se passaram cem anos e a região vai exigir tanto labor pastoral que o bispo de Maringá se sentirá forçado a pedir a criação de nova diocese. Para governá-la, o papa Paulo VI foi buscar o padre baiano Benjamin de Sousa Gomes lá na velha Sorocaba para a qual, cortando o Paraná do passado,

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rumavam os tropeiros vindos do Sul.

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O que ninguém escreveu Episódios pitorescos vividos por nossos padres dos primeiros tempos, alguns já chamados à casa do Pai.

Páscoa Em 1962, a UMES – União Maringaense dos Estudantes Secundários (não se falava secundaristas) era uma combativa entidade estudantil. Na época, as inquietações juvenis manifestavam-se em intensa participação na vida cultural e política da cidade. O então presidente Francisco Feio Ribeiro Filho compunha a diretoria com José Benedito Pires Trindade, secretário, Raul Bendlin Filho, tesoureiro, Elpídio Serra, diretor cultural, e Carlos Alberto de Souza, diretor de esportes. A Páscoa estudantil, importante promoção anual, durava uma semana inteira. Suspensas as aulas, o tempo era preenchido com palestras, confissões, disputas esportivas, concursos, terminando com churrasco de confraternização, após a solene missa da comunhão pascal. A diretoria se desdobrava, a fim de garantir o êxito de todas as atividades. No dia marcado, estudantes da cidade inteira lotam a velha catedral. O bispo preside à celebração. Antes de iniciar, pergunta: “A diretoria da UMES vai comungar antes ou depois dos outros estudantes?” Pegos no contra-pé, entreolham-se, ressabiados. Religião não era exatamente o seu forte. Com a organização do evento davam sua parte por cumprida. O bispo insiste: “Vocês não se confessaram para participar da comunhão?” A ninguém ocorre desculpa mais original do que a surrada falta de tempo: “Sabe como é, dom Jaime, foram dias e noites de correria, a gente trabalhou tanto na preparação de tudo, até já tomou café hoje e nem está em jejum para a comunhão...” O bispo é mais vivo do que pensam: “Não há problema, eu dispenso vocês do jejum eucarístico, mas primeiro vão se confessar. Se a diretoria não fizer a sua Páscoa, não haverá missa”. Sem outra saída, na sacristia, um depois do outro, cara a cara, são ouvidos em confissão pelo próprio bispo. Postados à frente da assembléia e elogiados pelo presidente da celebração, encabeçam a fila da memorável comunhão pascal dos estudantes daquele ano.

Ronco Visita pastoral a Ivatuba cujo vigário era padre Pedro Jarussi. O então seminarista Geraldo Schneider acompanha o bispo. A casa paroquial construída sobre tocos de peroba eleva-se acima do nível do chão. Após a

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noite mal dormida, dom Jaime reclama do companheiro: “Schneider, você ronca muito. Do meu quarto ouvi você roncando, a noite inteira”. E o outro, surpreso com a acusação: “Eu pensei que fosse o senhor. Também escutei roncos durante a noite”. O vigário não podia ser; seu quarto era afastado. Quando saem para a igreja, desfaz-se o mistério. O porão da casa era usado como chiqueiro, onde se criavam alguns porcos. Os suínos dormiam exatamente em baixo dos quartos dos hóspedes.

Goleada Corintiano até à medula dos ossos e fanático por futebol, padre João Amâncio da Costa Novaes criou em Maringá um time infantil de que até hoje se fala. Disputava com equipes de toda a região, até de outros Estados. Ninguém ousasse ganhar do seu Corinthinha. Brigava com juízes e dirigentes, ameaçava não entrar em campo quando entendia que os adversários estavam colocando “gatos” (garotos com idade artificialmente diminuída) em campo. Em 1964, levou o Corinthinha a Santos. Duas kombis saíram de Maringá conduzindo os jogadores. Uma, aquela do seminário, conduzida pelo autor destas notas, ainda seminarista; outra, por doutor Flávio Pasquinelli, pai do excelente goleiro Flávio. Os garotos de Maringá foram impiedosamente massacrados na Vila Belmiro por 13x1. Ainda assim, destaque da equipe visitante foi o arqueiro, que deixou viva impressão nos dirigentes santistas das equipes de base. Queriam, a todo custo, que o pai o deixasse treinar na vila famosa. A dupla de área da equipe praiana era composta por Douglas e Negreiros, mais tarde craques que marcaram época no time de Pelé.

Assombração

Casa paroquial de Nova Esperança em 1960. Padres Francisco P. López e José Antônio Roldan de guarda-pó sobre a batina.

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O então encarregado da Missão Nipo-Brasileira, padre Miguel Yoshimi Kimura, em visita a japoneses e nisseis de Nova Esperança, hospeda-se, em 1965, com o gaiato padre Francisco Peregrina López, no velho sobrado de madeira, ali onde se situa atualmente o salão paroquial. Enquanto ele visita as famílias, López amarra num cordão um pedaço de corrente e algumas latas vazias, prendendo tudo embaixo da cama do hóspede. Por uma fresta da parede, passa o cordão, deixando a outra ponta junto à sua cama, no quarto vizinho. Ao jantar, explica que a casa paroquial foi construída sobre antigo cemitério, razão por que alguns comentam que é mal -assombrada, mas não há motivo para cisma, que ele mesmo nunca viu nem ouviu nada. Não há televisão e, após algum tempo de conversa, ambos sobem para os quartos. Depois das dez da noite, desligado o gerador de luz, a cidade mergulha numa escuridão de breu. Quando calcula que o visitante já caiu no sono, padre Francisco agita vigorosamente a ponta do cordão. Não é preciso dizer que noite passou padre Kimura.


Entrevero Na qualidade de responsável pela OVS – Obra das Vocações Sacerdotais, padre Novaes percorria as paróquias numa reluzente picape Wyllis verde, fazendo campanha vocacional e recolhendo doações, quase sempre em espécie, para o seminário. De certa feita, em Loanda, visitava as capelas, acompanhado do vigário, padre Pedro Plonka, polonês idoso, gordo e rabujento que, por isso, alguns chamavam de padre “Bronka”. Ao volante, Novaes era incomodado pelo companheiro que não parava de reclamar da velocidade, dos solavancos, dos ziguezagues em busca de melhor trecho da estrada, das freadas bruscas, das mudanças de marcha... Novaes, que não era um primor de paciência, foi-se irritando até que encostou o veículo e pediu que o companheiro descesse. Sem entender o motivo, Plonka obedeceu. Novaes arrancou inesperadamente e deixou o pobre velho, que se pôs a gritar, desesperado: “Pare, aonde você vai? Volte aqui, louco. Não me deixe morrer nesse sol quente.” O outro, porém, estava longe. A boa distância parou. Suando em bicas, vermelho como camarão cozido, depois de longos minutos, alcançou-o o volumoso vigário. E choramingou: − “Louco, por que fez isso? Quer me matar?” E Novaes: − “Desta vez eu parei para esperá-lo. Se continuar me incomodando, eu o largo aqui e o senhor vai voltar a pé”. Há quem relate o episódio invertendo os personagens. Mas esta é a versão de quem a ouviu do próprio Novaes.

Aroma Reunião do clero, início de 1966. Sentados num canto durante intervalo, conversam padres José Jézu-Flôr e Pedro Plonka. O incorrigível gozador, padre Francisco Peregrina López, de Nova Esperança, passa furtivamente e, como quem não quer nada, deixa cair aquele barbante químico que, aceso, exala um odor insuportável. Ninguém por perto, além dos dois. O constrangimento é grande. Até que, não mais se contendo, Plonka desabafa: “O senhor, hem, de flor só tem o nome!”.

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Uma Igreja para um 5 Paraná de novo tempo

“[...] sob grave encargo de consciência, que o mais breve possível o bispo de Maringá construa pelo menos o seminário menor...” Exigência do decreto de execução da bula papal (LOMBARDI, 1975b, 3 f.). Na foto, aspecto, em 1982, do Seminário Nossa Senhora da Glória, iniciado em 1958.


Entre os protagonistas da evangelização no Paraná ficará para sempre assegurado a dom Manuel da Silveira D’Elboux um lugar de distinção. Quinto ocupante da sé episcopal de Curitiba, terceiro arcebispo, coube-lhe desenvolver extenso governo, mais breve apenas que o de dom Pedro Antônio Marchetti Fedalto (1971-2004). Por dezenove anos e quase dois meses, de 8 de dezembro de 1950 a 5 de fevereiro de 1970, quando foi subitamente chamado à casa do Pai, marcou de forma vigorosa a Igreja não apenas da capital, mas de todo o Estado. Ao assumir o cargo de metropolita, a Província Eclesiástica de Curitiba compreendia a arquidiocese mesma da capital, as dioceses de Ponta Grossa e de Jacarezinho, e ainda as prelazias de Foz do Iguaçu e de Palmas, esta surgida em 1933. Foram criadas, no seu tempo e sob sua inspiração, as dioceses de Palmas (1958, por extinção da prelazia de mesmo nome), Toledo (1959, juntamente com Campo Mourão, por extinção da prelazia de Foz do Iguaçu), Paranaguá (1962) e Guarapuava (1965), além do exarcado São João Batista para os fiéis do rito ucraniano (1962), elevado, após sua morte, à condição de eparquia (diocese de rito oriental). Foi na parte setentrional do Estado, no entanto, que mais claramente fez notar o seu descortino de pastor. Acompanhando o desenvolvimento político, econômico e social que o Paraná atravessava, sob seu comando, a fé cristã ganhou extraordinário impulso, carregando na alavanca de integração desta região ao cenário estadual. Antes, “Norte do Paraná” designava o extremo nordeste junto ao rio Itararé, nas divisas com São Paulo. Ao fim do seu governo, as fronteiras ostentavam uma dilatação jamais vista em outro canto do Brasil. Além dos naturais fatores de crescimento regional, na montagem do novo panorama eclesiástico é impossível não reconhecer a liderança do arcebispo de Curitiba. Foi ele o responsável direto para que, em fevereiro de 1970, o Norte do Paraná contasse com cinco novas dioceses, sediadas em Londrina (1956), Maringá (1956), Campo Mourão (1959, juntamente com Toledo, por supressão da prelazia de Foz do Iguaçu), Apucarana (1964) e Paranavaí (1968), atestando o vigor de uma Igreja vibrante, plantada em novos pólos regionais (CHIQUIM, 2005, p. 130-133, 264, 268). Segundo dom Pedro Fedalto1, desde sua criação, em 1926, nunca tinha havido uma reunião sequer da Província Eclesiástica de Curitiba, que compreendia todo o Estado. Empossado no final de 1950, dom Manuel convocou a Curitiba os bispos do Paraná para, nos dias 11 e 12 de março de 1953, realizarem a primeira reu-

1 Entrevista ao autor destas páginas, em Curitiba (PR), 20 de dezembro de 2005.

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nião provincial. Todos os seus sufragâneos atenderam ao chamado: os bispos Antônio Mazzarotto e Geraldo de Proença Sigaud, respectivamente das dioceses de Ponta Grossa e de Jacarezinho, e os bispos prelados Manoel Koenner e Carlos Eduardo de Sabóia Bandeira de Mello, das prelazias de Foz do Iguaçu e de Palmas. Entre os assuntos, o arcebispo apresentou a necessidade que se fazia sentir de novas dioceses para o Norte do Paraná.2 Definiu as cidades de Londrina e Maringá como sedes das duas futuras Igrejas a serem logo criadas. Consciente, embora, da urgência da medida, dom Sigaud, bispo de Jacarezinho, não revelava disposição para vê-la encaminhada. Preocupava-o a construção do Seminário Diocesano da Assunção, cuja pedra fundamental lançara a 1º de maio de 1950. Concluída a catedral, que tinha recebido ainda por terminar, sua atenção concentrava-se no seminário, mais grave obrigação imposta aos bispos diocesanos. Repetidamente insistia na colaboração à qual ninguém devia se furtar, como deixava recomendado na circular nº 20, de 22 de agosto de 1951: [...] os Revmos. Vigários avisem ao povo que vão ajudar não só a Matriz e as obras paroquiais, mas também, com 20%, o Seminário Diocesano. Inflamem os fiéis do interesse por este Seminário, falem dele, tornem-no conhecido (PARÓQUIA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, 1942, f. 47).

Seminário Diocesano de Jacarezinho De início, dom Sigaud não apoiou a criação das dioceses de Londrina e de Maringá porque temia diminuição das ofertas para a construção desta imponente obra.

Em sendo criadas as dioceses de Londrina e de Maringá, Sigaud previa severa baixa no volume de ofertas para a sua importante obra em construção. Colonizada há muito mais tempo, a área rural de Jacarezinho não apresentava já a rentabilidade agrícola igual à das terras recém-desmatadas, fervescentes de trabalhadores, quase todos católicos, produtores de generosas safras de café em lavouras que se estendiam até onde alcançavam os olhos. Os antigos moradores de nossas cidades guardam viva lembrança das históricas “campanhas do café”, responsáveis pelo erguimento de capelas, colégios, igrejas e seminários. Há quem comente sobre velada aspiração de dom Sigaud a ocupar uma das duas futuras sedes; preferencialmente a de Londrina, tornando-se igualmente administrador apostólico de Maringá. Ou ainda, que ele estaria inclinado a propor apenas um bispado a oeste do Tibagi, a ser estabelecido em Apucarana, para o qual alimentava a pretensão de ser transferido. Entretanto, com a visão de grande alcance que o caracterizava, dom Manuel manteve-se irredutível na decisão de criar duas novas dioceses nas cidades que já tinha escolhido. Mais: preferia bispos moços, que nelas iniciassem o ministério episcopal, trazendo o entusiasmo da juventude para Igrejas onde tudo estava por ser feito. Em sua mente, inclusive, tinha feito a seleção dos nomes. No entender de Fedalto, não há dúvida de que o arcebispo de Curitiba, grandemente respeitado pelo núncio

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2 Historiando as reuniões dos bispos do Paraná antes da criação do Regional Sul II da CNBB, Chiquim (p. 254) coloca a criação das novas dioceses na pauta da 2ª reunião, ocorrida a 15 de fevereiro de 1955. Foram 13 reuniões, entre 1953 e 1964, realizadas em Curitiba, menos uma, realizada em Maringá, na segunda-feira, 26 de março de 1962, com os bispos presentes ao 5º aniversário de instalação da diocese e inauguração do Seminário Diocesano Nossa Senhora da Glória.

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apostólico, foi quem lhe apontou os candidatos posteriormente eleitos para as duas sedes episcopais. Padre Geraldo Fernandes Bijos, CMF, trabalhara catorze anos em Curitiba, de 1940 a 1954, quando foi transferido para São Paulo. Tinha sido confessor do arcebispo dom Ático Eusébio da Rocha. Na consecução de religiosos para a capital do Paraná (padres de dom Orione, da Consolata, Oblatos de Maria Virgem...) tinha colaborado com dom Manuel, que o escutava muito. Por outro lado, monsenhor Jaime Luiz Coelho, mais que amigo, era para ele como um filho. Profunda amizade os unia desde os tempos do Seminário do Ipiranga; Coelho foi o primeiro padre ordenado por D’Elboux que o escolheu, apesar de muito jovem, para seu confessor e também o indicou a dom Alberto José Gonçalves para o cargo de cura da catedral de Ribeirão Preto (HOERNER JÚNIOR, 2004, p. 197-202).3 Pelos quase trezes anos em que juntos trabalharam no Paraná – dom Jaime em Maringá, dom Manuel em Curitiba – jamais se verificou entre ambos a mais tênue dissonância. Uniu-os até o fim profundo respeito e amizade a mais cordial. Comprovando veneração pelo mestre, dom Jaime empenhou-se em que a Câmara de Vereadores de Maringá conferisse a uma rua de Maringá o seu nome. Sugeriu chamar Dom Manuel da Silveira D’Elboux a Avenida Pio XII, no contorno do Parque das Grevíleas, de designação igual à da praça. Além de corrigir a irregular duplicidade de denominação, Maringá perpetuaria a memória do saudoso arcebispo de Curitiba. Por proposta do vereador Manoel Batista da Silva Júnior foi sancionada, em 23 de junho de 1997, lei nesse sentido, com publicação no Diário Oficial do Município, no dia 27 dos mesmos mês e ano. O papa Pio XII, criador da diocese de Maringá, continua lembrado pelos maringaenses, no nome da praça da Zona 5, ponto mais elevado da cidade. Outro papa reconhecido pelo carinho de Maringá, o inesquecível João XXIII, dá nome à avenida que margeia a Praça da Catedral, ao colégio estadual situado na Avenida Monteiro Lobato e ao Núcleo Social criado pela diocese na Vila Vardelina. A respeito da ereção das dioceses de Londrina e Maringá, gêmeas porque geradas no mesmo ato criador de 1º de fevereiro de 1956, até hoje dom Pedro Fedalto recorda um pormenor curioso. No dia 5 de fevereiro desse ano, dom Manuel da Silveira D’Elboux, arcebispo de Curitiba, escreveu ao núncio apostólico comunicando, entre outros assuntos, que o governador Moysés Lupion havia prometido doar terras às novas dioceses de Londrina e Maringá, a serem criadas4. A resposta do núncio não fez referência a esse tópico nem à criação, acontecida quatro dias antes, das duas novas dioceses. Quando leu a carta de dom Manuel − é a conclusão óbvia −, o núncio apostólico sabia que já tinham sido criadas as dioceses de Londrina e Maringá em data que, inexplicavelmente, fora decidida à total revelia do metropolita, justamente o artífice da nova configuração da Igreja do Paraná. Vencida a sua resistência à implantação das novas dioceses e escolha dos novos bispos, ao bispo de Jacarezinho não restou outra atitude que secundar em tudo a realização do projeto eclesial em curso no novo mapa eclesiástico do Estado. E o fez com grandeza de alma e em filial comunhão com o sucessor de Pedro. Dados a público os nomes dos futuros bispos, não demorou a remeter aos fiéis das novas circunscrições a seguinte circular: Aos amados Filhos, Sacerdotes, Religiosos, Religiosas, Associações e Fiéis de nossa Diocese. Saudações, Bênção e Paz no Senhor. As graças da Natividade de Jesus e os benefícios de sua Epifania dão início a mais um ano de nossa vida. Que as Bênçãos do Verbo feito Homem desçam sobre vós, amados

3 O autor registra o testemunho do grande afeto de dom Jaime por aquele que amou como pai espiritual. Até hoje o 1º bispo de Maringá conserva cartas recebidas de dom Manuel nos idos de 1930-1940. 4 Segundo relatou dom Jaime, em julho de 2006, as tais terras doadas (na comarca de Foz do Iguaçu), ao menos para a diocese de Maringá, significaram mais uma sucessão de aborrecimentos do que grande benefício. Optando pela venda, já que não reunia condição para colonizá-las, depois de anos de desgaste com intrincadas questões fundiárias daquele tempo, a diocese de Maringá acabou recebendo, de forma parcelada, importância correspondente, em valores atuais, a cerca de R$ 12.000,00 (doze mil reais). Londrina conseguiu menos ainda: seu lucro não atingiu R$ 8.000,00 (oito mil reais). Ainda assim, durante os anos 70, na Assembléia Legislativa, um deputado estadual sempre se referia a dom Jaime como “bispo de Maringá e homem de negócios”.

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Filhos, e vos acompanhem durante o ano todo. Como já é de vosso conhecimento, o Santo Padre, o Papa Pio XII, gloriosamente reinante, dignou-se nomear os Bispos das novas Dioceses de Londrina e de Maringá. Para primeiro Bispo de Londrina foi nomeado o Revmo. Pe. Geraldo Fernandes, dos Filhos do Coração de Maria. Para primeiro Bispo de Maringá foi nomeado o Revmo. Mons. Jaime Luiz Coelho, Cura da Sé de Ribeirão Preto. Os meses de janeiro, fevereiro e março trarão, pois, para vós grandes acontecimentos, amados Filhos dos Bispados de Londrina e Maringá. Vossos Pastores serão elevados à plenitude do Sacerdócio pela Sagração Episcopal e ambos tomarão posse de suas Dioceses de acordo com programas que vos serão comunicados. No momento são as seguintes as datas previstas: 13 de janeiro – Sagração em S. Paulo de S. Excia. Revma. D. Geraldo Fernandes, C.M.F. 20 de janeiro – Sagração em Ribeirão Preto de S. Excia. Revma. D. Jaime Coelho. 17 de fevereiro – Posse do 1º Bispo de Londrina. 25 de março – Posse do 1º Bispo de Maringá. Todos nós acompanharemos estes acontecimentos com a maior participação, oferecendo nossas orações, Santas Missas, mortificações e boas obras na intenção dos novos Pastores que regerão a Igreja de Deus nas novas Dioceses. Os Revmos. Padres Vigários promovam intensas campanhas de orações em favor daqueles em cujas mãos vão repousar os destinos das almas de nossos fiéis. O mesmo façam os Religiosos e religiosas nas suas generosas comunidades. Também os fiéis da parte da Diocese que ficará com a sede de Jacarezinho não deixem de assistir com suas orações os Pastores que governarão aqueles que até hoje eram ovelhas do mesmo rebanho. Felicitamos os venerandos Antístites que nos sucedem no governo das duas belas porções de nosso primitivo rebanho. Agradecemos a todos os Revmos. Sacerdotes a filial colaboração que nos deram por quase dez anos no amanho do campo do Senhor. A mais cordial amizade uniu até hoje Bispo e Clero. Que estes laços se perpetuem no Senhor, pela oração em favor do antigo Pastor, cuja maior alegria será ver as duas novas Dioceses crescerem e prosperarem espiritualmente, sob a guia dos novos Bispos, com a cooperação do amado Clero que deixa de pertencer à Diocese de Jacarezinho e passa a formar o Clero das novas Circunscrições. Amados Sacerdotes, Religiosos, Religiosas e Fiéis, cercai de amor, obediência e veneração os vossos novos Pastores, que entre vós perpetuam a presença de Jesus na Igreja, no espaço e no tempo. Que as Bênçãos do Divino Salvador fecundem os três campos do Pai de Família – as Dioceses de Jacarezinho, Londrina e Maringá, e que o progresso espiritual das ovelhas seja a alegria eterna dos Pastores. Dada e passada em Nossa Sede Episcopal de Jacarezinho, aos 6 de janeiro de 1957. Geraldo, Bispo de Jacarezinho (PARÓQUIA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, 1957, f. 1). Para a ordenação episcopal do primeiro bispo de Maringá, marcada para dia 20 de janeiro de 1957, na catedral de Ribeirão Preto, padre Germano Mayer, vigário da paróquia Nossa Senhora da Glória, agora catedral de Maringá, providenciou uma comitiva que viajou em avião especial da VASP. Além do próprio, compunham o grupo: padre Antonio Lock, vigário de Mandaguari e vice-provincial dos palotinos; padre Osvaldo Rambo, SJ, vigário da Vila Operária; irmão Edmundo Baus, superior regional da congregação e superior da Santa Casa; a superiora das irmãs carmelitas do Colégio Santa Cruz, em Maringá; a superiora das mesmas carmelitas de Mandaguaçu; Maria-Américo Dias Ferraz, 1ª dama e prefeito municipal, que levaram a filha caçula; Angelina-João Fracasso Filho, 1ª dama e prefeito de Mandaguaçu; os casais Maria de Jesus e Antônio Gonçalves; Ida e Francisco Gonçalves; Elvira e Durval dos Santos; Modesta e Hilário Alves; Tercina e Amador de Araújo; Ângela e Aníbal Borin, além dos senhores Néo Alves Martins, Emílio Germani, Manoel Ribeiro, Sebastião Fonseca, Lázaro Furlan, Walter Pereira Dias e Januário Alves de Souza (PAROQUIA DA SANTISIMA TRINDADE, 1950, f. 27).

138 A Igreja que brotou da mata


O pastor e seu rebanho No dia 24 de março de 1957, no aeroporto de Maringá envolto num turbilhão de pó, por volta das 15h00, o novo bispo pisou pela primeira vez o solo de Maringá.5 Chovera no dia anterior, mas, depois de poucas horas de sol, a terra encontrava-se inteiramente seca. Uma multidão de quase 30.000 pessoas reuniu-se no campo de pouso, ao longo da Avenida Brasil, na Avenida Getúlio Vargas e na praça da catedral. Um avião da VASP trouxe a comitiva de Ribeirão Preto. Fez escala em Londrina para deixar dom Jaime, dom Mousinho e cônego David Picão, chanceler do bispado de Ribeirão Preto. Seguiu depois para Maringá onde desembarcou a comitiva e permaneceu em terra até o dia 26, ocasião em que a transportou de volta a Ribeirão Preto. De Londrina vieram dois táxis aéreos, um trazendo dom Mousinho e cônego Picão; outro conduzindo o novo bispo e doutor Zeferino Mozzato Krukowski, juiz de direito. Acompanharam-nos Emílio Germani e Nérico da Silva, membros da comissão de recepção. Dom Geraldo Fernandes, bispo de Londrina, e padre Alberto Strittmatter, SAC, vigário da catedral daquela diocese aguardavam, com a comitiva, no aeroporto. Para que dom Jaime conseguisse caminhar, foi necessário formar à sua volta uma corrente de braços, a fim de que o povo, na ânsia de cumprimentá-lo, não colocasse em risco sua segurança. Em veículo aberto, foi acompanhado, sob ruidoso foguetório, por um cortejo de aproximadamente 500 veículos ao longo da Avenida Brasil. Houve uma rápida parada na igreja São José, onde se paramentou, seguindo para a Praça Raposo Tavares. Daí, a pé, seguiu em cortejo pela Avenida Getúlio Vargas. Dom Jaime ainda recorda que, desde o aeroporto até a praça, agarrado à lateral do veículo que o conduzia e, depois, carregando o pálio, sob o sol escaldante, sem se afastar um momento, caminhou Amélio, seu irmão imediatamente mais velho. À época não vigorava ainda o motu proprio “Sacram Communionem”, assinado cinco dias antes, em 19 de março de 1957, no qual Pio XII concedia permissão para celebrar missa vespertina. Em palanque montado à frente da catedral, aconteceu a cerimônia da tomada de posse, encerrada com a bênção do Santíssimo Sacramento. A entrada solene na catedral de madeira só não levou o novo bispo às lágrimas de desalento porque, a seu lado, esforçando-se por fazê-lo sorrir, o espirituoso dom Mousinho cochichava: “Veja que maravilha de catedral. Sinto inveja de você. Olhe as colunas, os capitéis, os lustres... Que obra imponente!”6 Foram lavradas as devidas atas, da publicação da ereção da diocese e também da posse de dom Jaime Luiz Coelho como seu primeiro bispo: Ata de publicação da ereção da diocese de Maringá (texto original em latim) No dia vinte e quatro de março de mil novecentos e cinqüenta e sete, na igreja Nossa Senhora da Glória, na cidade de Maringá, Estado do Paraná, presentes os excelentíssimos e reverendíssimos senhores arcebispo metropolitano de Curitiba, bispo de Jacarezinho e outros senhores bispos da Província Eclesiástica de Curitiba, o reverendíssimo monsenhor Mário Pio Gaspari, auditor da Nunciatura Apostólica no Brasil, legitimamente delegado “ad hoc” pelo excelentíssimo e reverendíssimo senhor dom Armando Lombardi, núncio apostólico no Brasil, com voz alta e clara, leu para todos os presentes a bula “Latissimas Partire Ecclesias”, pela qual o nosso Santo Padre, por divina providência papa Pio XII, criou a diocese de Maringá. O mesmo monsenhor Mario Pio Gaspari também procedeu à leitura do Decreto pelo qual o excelentíssimo e reverendíssimo dom Armando Lombardi ordenou a execução de tudo o que contém a supra citada bula, e assim foi declarada ereta a nova diocese de Maringá. Maringá, 24 de março de 1957.

5 Como dizia a circular de dom Sigaud, a posse do bispo de Maringá estava marcada para 25 de março, festa da Anunciação de Nossa Senhora. A fim de facilitar a participação do povo, foi antecipada para o dia 24 que, nesse ano, caiu em domingo, o 3º da Quaresma. 6 Fato, ainda hoje, relembrado por dom Jaime com humor.

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a) +Jaime Luiz, bispo de Maringá; a) +Manuel, arcebispo de Curitiba; a) +Luís, bispo de Ribeirão Preto; a) +Geraldo, bispo de Jacarezinho; a) +Geraldo, bispo de Londrina; a) Pe. Germano José Mayer, SAC.; a) Zeferino M. Krukoski; a) Osvaldo Alberto de Souza Palhares, Presidente da Câmara – Londrina; a) ilegível; a) Mario Pio Gaspari.

Ata da posse de dom Jaime Luiz Coelho (texto original em latim) Bispo da diocese de Maringá, província eclesiástica de Curitiba, no Estado do Paraná, Brasil No dia vinte e quatro de março de mil novecentos e cinqüenta e sete, em Maringá, na igreja catedral de Nossa Senhora da Glória, por volta das dezessete horas, presentes os excelentíssimos e reverendíssimos senhores arcebispo de Curitiba, bispo de Jacarezinho e outros senhores bispos da Província Eclesiástica de Curitiba, o excelentíssimo e reverendíssimo senhor dom Jaime Luiz Coelho mostrou ao clero da cidade de Maringá e aos presentes da região a bula de sua eleição como bispo de Maringá. Maringá, 24 de março de 1957. a) +Jaime Luiz, bispo de Maringá; a) +Manuel, arcebispo de Curitiba; a) +Luís, bispo de Ribeirão Preto; a) +Geraldo, bispo de Jacarezinho; a) Pe. Germano José Mayer, SAC.; a) +Geraldo, bispo de Londrina; a) Mario Pio Gaspari. 7 À posse compareceram, além da “vó”, quase todos os irmãos do bispo: Valdivino (Nego), Arlindo (Nenê), Augusto, Amélio, Sylvio, Jupira, Odila, Alice e Vanda. Faltaram apenas Henrique (Quincas) e Maria. Na véspera, de carro, chegara Nego, o mais velho, por fatalidade, num dia de chuva. Assustado com a lama e com a desoladora aparência da cidade, comentava: “Para onde foram mandar meu irmão!”. Após os festejos da posse, no retorno a Ribeirão, entre lágrimas, recomendava com insistência aos presentes: “Cuidem do meu irmão; pelo amor de Deus, cuidem do meu irmão”. A partir desse momento, Maringá começou a conhecer seu bispo, “que parecia um guri”, na opinião do então padre Armando Cirio, vigário de Apucarana, observação a cuja propriedade seria difícil fugir na época. Com quarenta anos, era moço não só na idade e aparência, mas particularmente na disposição para o trabalho e na paixão pelo Evangelho. Por longo tempo Maringá teria ocasião de admirar sua vitalidade. Nos próximos quarenta anos, mais do que apontar caminhos, ele assumiu o papel de caminhante junto com seu povo, desenvolvendo uma liderança por muito poucos igualada. Oitavo de uma série de 14 irmãos, natural de Franca, onde nasceu aos 26 de julho de 1926, dom Jaime foi aluno dos maristas em sua cidade natal, transferindo-se depois para o Colégio São José, em Batatais, dirigido pelos padres claretianos. Após cursar o seminário menor em Campinas e o maior em São Paulo, ordenou-se padre em Ribeirão Preto, onde foi cooperador da catedral, secretário do bispado, chanceler e, depois, cura da catedral até sua elevação a bispo de Maringá. Na sua carta pastoral aos diocesanos, dividida em três partes, deixou exposta sua visão a respeito do novo encargo assumido na Igreja: 1. a plenitude do sacerdócio, que compete ao bispo como participante do sacramento da ordem nos seus três graus; 2. a missão episcopal, prolongamento da sucessão apostólica em comunhão com o sucessor de Pedro, e 3. o como realizar a missão, onde explanou o sentido do lema de seu episcopado, In omnibus Christus = Cristo seja tudo em todos (COLOSSENSES 3, 11). A meta de sua vida de pastor, explicou na carta, seria ajudar as pessoas a descobrirem que Jesus Cristo deve ser tudo na vida de cada cristão. Fazendo trocadilho com o dístico latino, por vezes, quando mais tarde coincidia de estarem juntos, o brincalhão dom Mousinho perguntava: “Então, Jaime, como vai sua campanha para colocar Cristo nos ônibus?”.

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7 Ambos os documentos estão disponíveis na Cúria Metropolitana de Maringá.

A Igreja que brotou da mata


Posse de dom Jaime 24 de março de 1957

Arcebispo dom Manuel da Silveira D´Elboux, de Curitiba; prefeito de Maringá, Américo Dias Ferraz, e dom Geraldo Fernandes, bispo de Londrina.

Chegada do novo bispo ao aeroporto. Em primeiro plano ainda, padres Germano J. Mayer e Francisco P. López.

O prefeito entrega a chave da cidade; ao lado do bispo, sua mãe dona Guilhermina; ao fundo, a garotinha Ângela citada no capítulo primeiro.

À esquerda, padre Cleto Altoé orienta cortejo na Avenida Getúlio Vargas.

141 Mons. Mario Pio Gaspari faz a leitura da bula papal de criação da diocese. Os 50 anos da Diocese de Maringá


Passada a festa da posse, veio o momento de encarar os desafios apontados pelos horizontes da nova missão. O jovem bispo descobriu-se à frente de uma diocese composta de 24 municípios – Maringá, Alto Paraná, Jandaia do Sul, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Nova Esperança, Paranavaí, e os recentemente criados Bom Sucesso, Cruzeiro do Sul, Floraí, Loanda, Nova Londrina, Paraíso do Norte, Paranacity, Querência do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Santa Isabel do Ivaí, São Carlos do Ivaí, São João do Caiuá, São Jorge do Ivaí, São Pedro do Ivaí, Tamboara e Terra Rica –, com 15 paróquias – Catedral, São José, Alto Paraná, Bom Sucesso, Jandaia do Sul, Loanda, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Nova Esperança, Nova Londrina, Paraíso do Norte, Paranavaí, São João do Caiuá, Tamboara e Terra Rica (esta ainda não instalada), onde viviam aproximadamente 450.000 habitantes, numa área de 14.902,67km². Como todos que aqui chegavam, procedentes de regiões mais desenvolvidas, surpreendeu-se com as “casas de tábua”. O Norte do Paraná, naquele tempo, erguia todas as construções com a abundante madeira da mata, que ia sendo derrubada. Residência, armazém, depósito, hospital, colégio – tudo era levantado com tábuas tiradas das imensas toras de peroba-rosa ou de outras preciosas madeiras de lei. Também as igrejas conheciam a mesma trajetória de tudo que por aqui se erguia; iniciavam como simples capelas para, com o tempo, passarem a construções mais elaboradas. Quando da criação da diocese, apenas três cidades contavam com templos de alvenaria: Mandaguari, em fase de conclusão; Jandaia do Sul e Marialva, ainda no início das obras. Como auxiliares diretos no trabalho de evangelização, o bispo encontrou 22 padres religiosos – palotinos, capuchinhos, josefinos, carmelitas e jesuítas – e 7 diocesanos: padres Agostinho Martinez, Cleto Altoé, Francisco Javier Peregrina López, José Antonio Roldán, José Bevilacqua, Marcos Alija Ramos e Pedro Plonka. Trouxe como secretário padre Alfredo da Fonseca Rodrigues, desde Campinas seu colega de seminário, que se transferira para Ribeirão Preto. Além disso, contava a nova diocese com uma congregação religiosa masculina, a dos irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora, e cinco congregações femininas: Carmelitas da Caridade de Vedruna, no Maringá Velho e em Mandaguaçu; Missionárias do Santo Nome de Maria, na Vila Operária; Franciscanas da Sagrada Família, em Mandaguari; Franciscanas da Imaculada Conceição de Maria, de Bonlanden, em Alto Paraná, e Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus, em Paranavaí. Assim que foi eleito, ainda antes de empossado, começou o novo bispo a bater às portas de Igrejas mais servidas de clero, solicitando cessão definitiva ou temporária de padres dispostos a ajudar na Igreja nascente que lhe caberia reger. De Minas Gerais para baixo até o Rio Grande do Sul, e mesmo em Portugal, entrou em contato com uma infinidade de bispos. De suas tantas cartas e visitas recolheu interessantes vivências, como uma, que relembra, rindo: “Foi em Campanha (MG), no dia 22 de fevereiro de 1957. Cheguei à tarde e hospedei-me em casa do bispo, frei Inocêncio Engelke, OFM, que Deus o tenha. A respeito do padre que eu pedia, nenhuma palavra. Dia seguinte, pela manhã, delicadamente me avisou: O seu avião sai às onze horas”.8 Em outros lugares obteve resultado mais alentador. Em Taubaté (SP) conseguiu cônego Tarcísio de Castro Moura, seu ex-colega do Seminário Central do Ipiranga. Dom frei Henrique Golland Trindade, OFM, de Botucatu (SP), a quem recorrera pedindo um padre, não o atendeu, preferindo recomendar-lhe que se dirigisse a dom Benedito Zorzi, de Caxias do Sul (RS), diocese “rica” de clero. Dom Zorzi mostrou-se generoso. Em 1964 “emprestou” padre Roberto Pezzi para ajudar no seminário, que funcionava há dois anos. Em janeiro de 1965 enviou padre José Meneguzzo. Também de Caxias do Sul vieram padres Adelino Formolo e Sidney Luiz Zanettini, de longa permanência na diocese e saudosa lembrança até hoje. O mesmo bispo de Botucatu, que não cedeu o padre pedido, simpaticamente escreveu em 31 de março de 1957: Quero dar-lhe uma boa notícia: tem aqui, no Seminário, 3 alunos-irmãos, q. vieram p/ cá, da diocese de Assis, mas cujos pais compraram fazenda em Maringá e moram aí, agora. Acho q. dom Lázaro não conta muito com êles pela mudança de residência e porque o pai paga toda a despesa do seminário. Acho bom q. V. Excia escreva ao

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8 Pela convivência diuturna, desde janeiro de 1958, com o primeiro bispo de Maringá, o autor destas páginas ouviu e testemunhou muito sobre sua vida, pensamento e obra, assim como sobre pessoas a ele ligadas. As informações aqui constantes foram todas confirmadas por dom Jaime entre os meses de fevereiro a outubro de 2006, à medida que iam sendo redigidos os capítulos deste trabalho.

A Igreja que brotou da mata


Igreja paroquial de Iroí (Presidente Castelo Branco), em 1949.

Igreja paroquial de Bom Sucesso em 1954.

Igreja paroquial de São Pedro do Ivaí em 1959.

Igreja paroquial de Nova Esperança nos anos 60.

Igreja paroquial de Kaloré na criação da paróquia, em 1965.

143 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Exmo D. Lázaro e creio que tudo ficará certo. O nome do pai é Silvino Fernandes Dias. Ademar e José estão no V ano; Álvaro, no I; os 3 são bons alunos (TRINDADE, 1957, f. 1). 9

Em resposta à carta que dom Jaime lhe enviou, dom José Lázaro Neves, CM, bispo de Assis (SP), admitiria em 12 de maio que, tendo deixado “o domicílio de Quatá” e agora residindo em Maringá, os seminaristas estavam sob autoridade episcopal do bispo de Maringá. Reiterou as ótimas informações sobre eles e sobre a família, assinalando que “de um sobretudo o Sr. Pe. Reitor manifestou fundadas esperanças de que será um bom sacerdote...” (NEVES, 1957, 2 f.). Maringá recebeu, de fato, os três seminaristas originários da diocese de Assis, mas nenhum chegou a ser o “bom sacerdote” que esperava o reitor do seminário de Botucatu. Bispo de diocese desprovida de clero e incansável buscador de padres, onde pudesse descobrir algum, dom Jaime fez-se conhecido tanto por sacerdotes seculares quanto por egressos de institutos religiosos ou interessados em deixá-los. Alguns se integraram ao presbitério diocesano, prestando até o final de seus dias precioso serviço à Igreja de Maringá. Outros, portadores de problemas pessoais não solucionados, ou não acertaram sua vinda ou, depois de acolhidos, acabaram afastando-se, infelizmente não sem antes terem acarretado algum sofrimento para o bispo e para o povo que atendiam. Empossado em 24 de março, já no dia 30 de abril o novo bispo fazia a primeira reunião com o seu clero. Atento às particularidades de cada um, em seu longo episcopado fez-se presente na vida dos padres, extensão do bispo junto ao povo de Deus, favorecendo-lhes o fiel desempenho do ministério. Cidades como a Maringá dos anos 50, que despontavam em região ainda por desbravar, não ofereciam condição de aprofundamento, em especial no campo teológico. Imerso na estafante rotina de um trabalho que consumia por inteiro o tempo e o gosto da reflexão, facilmente um padre podia, se não abrisse os olhos, atravessar meses sem folhear um livro. Dom Jaime instituiu o chamado “curso do clero”, três dias no início de julho, para, sob orientação de conhecidos mestres em algum ramo das ciências sagradas, os padres manterem contato com temas ligados à vida da Igreja do Brasil, da América Latina e do mundo. Muito cedo, ao curso do clero foram também convidados os seminaristas do curso teológico para se familiarizarem com os futuros colegas e com seus pastorais cuidados. De igual forma, anualmente, três dias inteiros foram reservados aos exercícios espirituais, o “retiro do clero” para o qual sempre se convidaram orientadores de vida espiritual capazes de ajudar no crescimento interior. Muito à vontade, como o primeiro padre do presbitério que presidia, o bispo sempre acompanhou curso e retiro, dando exemplo de participação plena nos dois encontros anuais. Foi sua praxe ao longo dos quarenta anos em que esteve no comando da vida diocesana. Passado meio século, o presbitério de Maringá continua, ano após ano, a observar esses momentos de estudo e oração, comprovando a sabedoria de quem os implantou.

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9 Além das 4 séries ou anos do antigo curso ginasial, o seminário menor oferecia ainda o 5º e o 6º anos. A admissão ao ginásio durava um ano inteiro, igualando os sete anos de estudo do curso ginasial e clássico, observados nos estabelecimentos oficiais de ensino. Em cima do nome de cada “aluno-irmão” aparece a idade: Ademar – 17, José – 15 e Álvaro – 12. Os irmãos seminaristas eram, na verdade, quatro. Sílvio nesta época já cursava o seminário maior, conforme ele mesmo esclareceu ao autor destas páginas, no dia 29 de junho de 2006, por ocasião das exéquias do pai, Silvino Fernandes Dias. Entre outros cargos políticos, Álvaro Dias exerceu as funções de governador do Paraná e senador da República.

A Igreja que brotou da mata


Carta 8 - Dom Henrique Golland Trindade a dom Jaime informando a mudança para Maringá de Silvino Fernandes Dias com os filhos (Ademar, José e Álvaro Dias, este, hoje, senador da República).

145 Carta 9 - Dom José Lázaro Neves a dom Jaime, a respeito dos mesmos seminaristas, filhos de Silvino Os 50Fernandes anos da Dias. Diocese de Maringá


A formação do clero local No tocante à preparação do futuro presbitério, a nova diocese revelou-se não de todo desaparelhada. De imediato, em março de 1957, contava com 25 seminaristas menores. Destes, Roberto Pacheco Rocha, da paróquia da catedral, cursava o 5º ano no Seminário São José, de Curitiba; Antônio de Pádua Almeida, cujos pais tinham-se mudado para Marumbi, fazia a 3ª série ginasial no seminário de Ribeirão Preto (faria 5º e 6º anos em Campinas). Os outros 23 estudavam no seminário de Jacarezinho. Na 4ª série ginasial encontravamse José Olavo Pires Trindade,10 da catedral, e Sebastião Vieira, de Paraíso do Norte. Nenhum na 3ª série ginasial; a 2ª contava com José Antônio Pires Trindade, Valdir Machado Homem, Walt José de Queiroz, da catedral; Augusto Mocchi, da paróquia São José, e Dioniso Stricke Vieira, de Paraíso do Norte. Cursavam a 1ª série Flávio Luiz Casanova Pietrobom, da catedral; José Carlos Valêncio, Antonio Pelosi, Nelson Bravo e Orlando Cedaro, da paróquia São José; Rui Odahara e José Edilberto Ferracini, de Nova Esperança; José Parreiras, de Santa Isabel do Ivaí, e Luiz Cantone, de Paraíso do Norte. Sete garotos encontravam-se, em 1957, na admissão ao ginásio: Aurélio Martins de Oliveira e Aparecido Luiz Feltrin, da catedral; José Machado Homem e Pedro Buzato, da paróquia São José; Erotildes Teixeira Bastos e José Dorneles Teixeira Bastos, de Loanda, além de Paulo Cezar S. Vieira, de Paraíso do Norte. No tocante a seminaristas maiores, a situação era bem outra. Dos 16 pertencentes à diocese-mãe coube a Maringá tão somente dois, estudantes de teologia no Seminário Arquidiocesano de São José, do Rio Comprido, no Rio de Janeiro, dos quais um ainda preferiu, no final de 1957, retornar a Jacarezinho. O novo bispo experimentou profundo desagrado, entendendo que não fora obedecido o item sétimo do decreto executório da bula papal editada pelo núncio apostólico no dia 25 de fevereiro de 1957, ao qual se opunha a seguinte medida tomada por dom Sigaud: Distribuição dos Seminaristas entre as tres Dioceses. A Santa Sé determinou na Bula de ereção das dioceses, que os seminaristas pertenceriam à diocese em que tivessem origem. Determinei que os menores ficassem para a Diocese onde os pais residem. Os maiores que são nascidos em uma das tres dioceses, a ela pertencem. Aos que não são nascidos em nenhuma delas, dei licença de optarem. Optaram: por Jacarezinho: José Luís Villac, Henrique Bergmann, João Muller, Antonio Martinelli, José Pedro de Souza, Ataíde Leal, Heraclito Sandano, Clodoaldo Regis, José Martini, Jacir Grossi. por Londrina: José de Oliveira e Silva, João Bersi, Roque Schoffen, Reinaldo Semprebom, José Marques, Miguel Pro Furtado. Por Maringá: Benedito Teles Vieira (sic), Germano Frey, Roberto Rocha. Posteriormente pediu transferencia, e obteve, para Jacarezinho: Germano Frey. Optou desde o principio por Jacarezinho ainda: Henrique Fischer (CURIA EPISCOPAL DA DIOCESE DE JACARÉZINHO, 1927, f. 137).11 Dentre os nascidos em outras regiões quatro seminaristas maiores residiam na diocese de Maringá: Benedito Vieira Telles e Heráclito Machado Sândano, em Maringá; José de Oliveira e Silva, em Mandaguari, e Ataíde de Freitas Leal, em Alto Paraná. Os dois primeiros cursavam o primeiro ano de Teologia; os dois últimos, o segundo. Dom Jaime sentiu-se prejudicado, de vez que o decreto não falava de opção. Os nascidos fora das três dioceses, no seu entender, pertenceriam àquela na qual residiam. Em carta ao núncio apostólico queixou-se em particular da dolorosa perda dos dois segundanistas do curso de Teologia. Recebeu como

10 Ao terminar o seminário menor de Jacarezinho, iniciou, em 1960, o curso de Filosofia no Seminário Provincial Rainha dos Apóstolos como seminarista de Maringá, mas ordenou-se padre pela diocese de Campos (RJ).

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11 Na realidade, José Martini (Jacarezinho), Miguel Pró Furtado (Londrina) e Roberto Pacheco Rocha (Maringá) eram seminaristas menores que, desde 1º de fevereiro de 1956, estudavam no Seminário São José, de Curitiba.

A Igreja que brotou da mata


Retiro espiritual e dias de estudo para o clero foram, desde o começo, preocupações do primeiro bispo.

Pe. Almeida, coordenador de pastoral, em curso ministrado em 1975 para padres, religiosas e leigos.

resposta a recomendação que, por obediência, acatou: [...] declaro que assiste toda a razão a Vossa Excelência no que tange à interpretação do item 7 do Decreto da ereção da Diocese de Maringá; no entanto, para evitar futuros aborrecimentos, acho mais prudente Vossa Excelência renunciar aos dois seminaristas, que de direito deveriam pertencer a essa Diocese (LOMBARDI, 1975a, 1 f.). Mesmo sem tempo de iniciar, conforme o item 6 do decreto de execução da bula papal − graviter onerata conscientia (= sob grave encargo de consciência) −, a construção de seu seminário, imediatamente o bispo de Maringá lançou-se à busca de novos seminaristas, conseguindo, junto a dom Manuel, vagas no seminário menor de Curitiba. Com a Rodovia do Café em construção, viajar para a capital representava uma aventura. Nos meses chuvosos era sinônimo de dias e noites no meio do nada. A Estrada do Cerne, no Norte Velho, fazia aumentar absurdamente o percurso. Com a habitual ousadia, também aqui inovou o jovem bispo, resolvendo que seus seminaristas viajariam de avião para Curitiba. Desta forma, um grupo de meninos assustados, dia 30 de janeiro de 1958, pela primeira vez subiu num DC-3 Douglas, bimotor da Real Aerovias. A primeira turma recrutada na nova diocese contava 13 seminaristas, encaminhados ao Seminário São José, no bairro do Batel. Eram: para o 5º ano, Orivaldo Robles, transferido do seminário de São José do Rio Preto, por mudança dos pais para Alto Paraná; Paulo Afonso Rabelo, para a 4ª série ginasial; José Carlos Pires de Paula, José Ival de Souza, Valdir Muchagata e, dias depois, Erasmo Germani, para o ano de admissão. De Nova Esperança

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sete meninos foram levados a Jacarezinho, mas no início de março também se encaminharam a Curitiba. Eram: Jorge Saragiotto, Jesus Martinez, José Dorival Trombini, Sebastião Varago, Geraldo Borges Ferreira e Nelson Faccin. Acompanhou-os Rui Odahara, reprovado na 1ª série, em Jacarezinho. No ano seguinte, ao recém-inaugurado prédio na Colônia Orleans, em Curitiba, foram enviados outros 11 garotos da diocese de Maringá: Sidney Mafra, Talmor Erasmo Fernandes, Nelson Vedana, Vicente Paulo Nocetti, Pedro Kimura, José Kimura, Nilo Luís Fabre, Oscar Andrade Góis, Jorge Franco Rodrigues, Pedro Nabarrete e Gaspar José Borsato. Por bondade de dom Manuel, Curitiba continuou a receber seminaristas menores de Maringá até 1962. Aberto, em 1962, o Seminário Menor Nossa Senhora da Glória, não foram enviados novos seminaristas menores para Curitiba; continuaram no Seminário São José os que lá já estudavam. Assim como sacerdotes ordenados, também procuravam o bispo de Maringá inúmeros candidatos a padre, em diferentes estágios do processo de formação, vindos de outras dioceses ou de institutos religiosos. Todos eram contemplados com paternal carinho, havendo um bom número deles que alcançou a ordenação presbiteral, integrando-se ao clero diocesano. Destes, a Igreja que está presente em Maringá será para sempre agradecida ao serviço dos padres Pedro Watar Makiyama, Gerhard Schneider, Friedrich (Fritz) Josef Karl Gerkens, Valério Odorizzi, Roberto Takeshi Kuriyama, Vicente Costa, Edwin Parascandalo, Lourenço Gauci, José Bortolotte, Júlio Antônio da Silva, Darcy Maximino de Oliveira, Obelino Silva de Almeida e Luiz Antônio Bento. Por iniciativa própria, ainda seminaristas, todos estes optaram por servir à Igreja de Maringá. Para o novo bispo, o primeiro ano foi cheio de novidades em forma de trabalho, de assuntos por encaminhar, de problemas a resolver. Tudo estava para ser feito e ao mesmo tempo. Enquanto, apesar das carências do lugar, ia montando a estrutura mínima de uma Igreja diocesana, também visitava, um por um, os lugares onde viviam as pessoas. Entendia que, a exemplo do Cristo Pastor, era sua obrigação conhecer as ovelhas que o Senhor lhe confiara e fazer-se por elas conhecido. As estradas representavam desafio a ser considerado com atenção, sob pena de conduzir a desagradáveis conseqüências. Em toda a área de 14.902,67km² não era possível percorrer um único palmo de asfalto. Viajar para qualquer paróquia do interior da diocese significava expor-se não apenas ao calor e aos solavancos das crateras e costelas-de-vaca, mas ainda à poeira, que só não penetrava no cérebro, ou à lama, que transformava o solo num piso de sabão. Em terra roxa, havia perigo de atolar no barro até o eixo ou de girar às tontas, sem controle do carro que, não raro, dava uma guinada de 180º, pondo-se de trás para frente. Nos bancos de areia arriscava-se “sentar” o veículo, perdendo apoio para a tração dos pneus. Às paróquias próximas, o bispo ia de carro, na maioria das vezes, em jipes Willys que, tracionados nas quatro rodas, eram os únicos a enfrentar os caminhos daquele tempo. Até carro de praça, como se dizia na época, era jipe. Para as paróquias mais distantes, para além de Alto Paraná, não havia outro jeito; era recorrer ao táxi aéreo. Possivelmente poucos bispos no Brasil tenham acumulado tanta experiência de vôo em teco-teco quanto o bispo de Maringá. Para todos os cantos da diocese conduziu-o, mais que todos, Carlos Eduardo Bueno Neto, um dos primeiros pilotos formados pelo glorioso Aeroclube de Maringá. Para uma idéia do que representou seu périplo, é bom assinalar que nos nove meses, desde a posse até o final de 1957, ele visitou, com permanência de vários dias em cada paróquia, nada menos que 63 localidades. Ao iniciar o segundo ano de seu governo, tinha estado, uma vez ao menos, em cada um dos aglomerados urbanos e em cada capela rural de toda a diocese. Por outro lado, sempre considerou a igreja catedral como espaço privilegiado de seu ministério de mestre da fé. Estando em Maringá, nela celebrava ao menos uma missa dominical. Para surpresa de muitos, um dos confessionários, desde o começo, passou a ostentar a placa “dom Jaime”. Quando ocupado, era o que recebia as filas mais extensas. Não raro, durante a semana, o bispo era visto rezando o breviário à espera de quem o procurasse para a confissão sacramental. A criação de novas paróquias urgia como necessidade premente. Dom Jaime determinou que, conseguido o padre – dificuldade maior que lhe tirava o sono – criaria paróquia onde houvesse casa paroquial, jipe e pelo menos capela construída. Com o povoamento ininterrupto da região, é fácil calcular a freqüência com que os pedidos o assediavam. Dos mais afastados recantos comissões de gente devota, acompanhadas, na esperança de ganhar mais força, do prefeito, delegado de polícia, juiz ou diretor do ginásio, aportavam à modesta

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residência episcopal. A sala de espera tornava-se pequena; passavam a sala maior, faltavam cadeiras para todos.

A Igreja que brotou da mata


O bispo ouvia com atenção, examinava os dados trazidos, fazia perguntas, analisava tudo, e concluía, num sorriso que tentava disfarçar a tristeza: “Pois é, gente, o povo de fato é bastante, existe igreja, a casa paroquial está construída, dinheiro para o jipe vocês conseguiram, está tudo pronto, agora... o diabo é o padre”. Na ânsia de obviar o sofrimento de tantas pessoas carentes de atendimento espiritual, muito bispo pelo Brasil afora (e em Maringá não foi diferente) viu-se forçado a aceitar padres ou seminaristas em quem via qualidades que, mais tarde, revelaram-se inexistentes. Na Maringá de então, uma vez mais se confirmava a secular sabedoria da Igreja com a insistência na formação de um clero autóctone. Experiente, por muitos anos de promotor vocacional em Ribeirão Preto, desde logo sentiu o novo bispo necessidade de enfrentar, corajosamente o primeiro desafio à sua missão de pastor: a construção do seminário diocesano. Da total clareza com que encarava essa empreitada falou a carta pastoral escrita antes da posse, onde citava inclusive o nome do futuro seminário de Maringá: Aos queridos e esperançosos Seminaristas Maiores e Menores, rica partilha que nos coube com a criação da Diocese, a nossa bênção muito afetuosa e paternal. Formando-se, no momento, no Seminário Maior de Curitiba, no Seminário Menor de Jacarezinho e em outros Seminários, acenam-nos como prelúdio vitorioso daquele que será, em Maringá, o nosso tão desejado Seminário de Nossa Senhora da Glória (COELHO, 1957, p. 39). Consciente de que a religião sobrevive sem templos, mas não sem pregadores, mal rompeu o ano de 1958, lançou-se ao projeto de dotar a diocese de seu seminário próprio, cuja planta inspirou-se, com as devidas adaptações, no seminário de Ribeirão Preto. A inquietude, porém, de ver solucionados outros problemas, forçou-o a incentivar a construção em alvenaria das igrejas de madeira, a começar pela catedral, de cuja edificação começou a cuidar ao mesmo tempo. Definiu a estratégia da Igreja diocesana: o seminário seria construído com a ajuda de todas as paróquias da diocese; a catedral, com a colaboração dos fiéis da cidade de Maringá. Tamanhos eram seu entusiasmo e fé na Providência, que fez uma ousada promessa: “Façam esforço de cumprir os mandamentos divinos e colaborem na construção das nossas obras (sobretudo seminário e catedral), que eu lhes prometo cinco anos sem geada”. E mobilizou religiosas de todos os lugares a rezarem nessa intenção. A 15 de agosto desse mesmo ano, festa de Nossa Senhora da Glória, lançou as pedras fundamentais do seminário e da catedral, dois blocos de mármore, extraídos das escavações da basílica de São Pedro, no Vaticano, e bentos pelo papa Pio XII. Para solenizar o evento, trouxe o arcebispo de Curitiba e os bispos de Ribeirão Preto e de Londrina, além de representante do núncio apostólico que, por problemas de agenda, não pôde comparecer. A CMNP havia reservado para o seminário da futura diocese um alqueire de terras, junto ao cemitério municipal.12 Pela exigüidade da área, bem como pela localização, dom Jaime preferiu outro local. Conseguiu da mesma Companhia cinco alqueires no meio do mato, à direita da estrada que ruma de Maringá a Paranavaí. Pedindo aqui e ali, juntando até espórtulas das crismas que ministrava, levantou recursos para a posterior aquisição de duas chácaras anexas: uma, com 3½ alqueires, adquirida por Cr$ 1.200.000,00 (hum milhão e duzentos mil cruzeiros), da qual se tinham desfeito os irmãos maristas, que a haviam recebido para construção de seu juvenato; outra, de 5 alqueires, no valor de Cr$ 750.000,00 (setecentos e cinqüenta mil cruzeiros), na área do atual Jardim Seminário. Aí foram construídas algumas casas para funcionários; havia também um pomar, que fornecia frutas para consumo dos seminaristas. Nos dias de hoje, tantos anos passados e mudanças havidas, o terreno do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória compreende área de 8½ alqueires paulistas, onde se situam, além do seminário, pequena reserva florestal, centro arquidiocesano de formação e um auditório com 800 lugares. Ainda que acompanhando de perto todas as etapas da obra mais importante da diocese, por causa dos

12 O 10 livro do Tombo da antiga paróquia da Santíssima Trindade registra, como visto acima, a doação do terreno para um “ginásio diocesano”.

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deveres que o convocavam a várias frentes simultâneas, dom Jaime confiou a tarefa de conduzir a construção a padre André José Torres. Como primeira providência, Torres que, desde sua saída da Ordem dos capuchinhos, residia na casa episcopal, penetrou pela picada que hoje recebe o nome de Avenida Pioneiro João Pereira até o terreno pertencente à diocese e ali abriu uma clareira no mato, onde fez construir, de madeira, uma capela e uma casa, onde passou a morar, ao lado da família de Zoraide, sua irmã, casada com Orlando Toledo, que dirigiu o início das obras do seminário. Na capela, aos domingos, padre André celebrava missa da qual participava muita gente da vizinhança, de vez que a igreja mais próxima era a capela Santa Cruz, no Maringá Velho. Da casa, no mato, foi aberta uma estradinha até o lugar das obras. Dentre os primeiros auxiliares na construção, Torres foi buscar em Itaúna do Sul o jovem Isaías Alves Martins que, por mais de trinta anos, estaria ligado à administração do seminário de Maringá. Descendo da estrada oficial, atual Avenida Colombo, na saída para Paranavaí, foi aberta aquela que hoje é conhecida como “Estrada Seminário”, cortando o mato. Como se nota, de qualquer ponto que se observasse, o seminário de Maringá nasceu literalmente no meio do mato. Havia, apesar das contrariedades de todo começo, muita disposição para dotar a diocese da casa para formação dos novos padres. Já no dia 8 de abril de 1958, o bispo comunicou por carta ao núncio apostólico que no dia anterior tinha jorrado água do poço artesiano perfurado para abastecer o seminário. Informava pormenores como os seus 80 metros de profundidade e a vazão de 15.000 litros por segundo. O prédio, esclarecia ainda, ia ficar praticamente igual ao do seminário de Ribeirão Preto, apenas com dimensão menor. Padre André, além de supervisionar a obra, percorria as paróquias, levantando contribuições para erguer o que se costumou chamar de “coração da Igreja diocesana”. Assim, em julho de 1959 estavam concluídos os alicerces do prédio. Intensa movimentação animava o povo católico tanto em Maringá quanto no interior. Na prática, seminário, catedral e igrejas paroquiais − tudo se construía ao mesmo tempo, e os fiéis colaboravam indistintamente com todas as obras. O café dava emprego a muita gente, as colheitas eram satisfatórias, as pessoas só tinham em mente trabalhar e progredir, não se gastava dinheiro com luxo, ninguém fazia questão de ostentar uma importância pessoal feita de vaidade. Senhoras de médicos, a pé e de sacola na mão, faziam a feira, com a maior naturalidade, no meio de humildes donas de casa. Ninguém empregava seu tempo em frivolidades ou badalações que tanto interesse despertam em pessoas auto-proclamadas da sociedade. Não havia pobreza nem distância entre ricos e pobres, ao menos na proporção que hoje se observa. Cultivavam-se a solidariedade e a motivação por causas altruístas. O carisma, por outro lado, do bispo jovem e empreendedor despertava ânimo em todos. Resultado: em cinco anos foi cumprida a primeira etapa. E o seminário de Maringá, previsto para ser erguido em três pavilhões, pôde inaugurar o primeiro, que acolheu 60 garotos, primícias dos candidatos à vida presbiteral da jovem Igreja de Maringá. No dia 24 de março de 1962, solene Eucaristia marcou a inauguração do Seminário Menor Nossa Senhora da Glória. Ainda não começara o Concílio Vaticano II: não havia a praxe da concelebração eucarística. No meio de inúmeros bispos do Paraná e do Estado de São Paulo, de monsenhor José Mess, representante do núncio apostólico, dom Manuel da Silveira D’Elboux celebrou a histórica missa. Compareceram ainda o governador Ney Braga, secretários de Estado, padres, benfeitores, fiéis de todos os cantos. Juntamente com generosa oferta para continuidade das obras, o papa João XXIII enviou sua bênção especialmente aos superiores, cônego Tarcísio de Castro Moura, reitor; irmão Teodósio (Friedrich) Gerkens, dos irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora, cedido pela congregação para ecônomo do seminário, e irmãs de Santo Antônio Maria Claret, responsáveis pela casa. O ecônomo, desde cedo, desenvolveu um trabalho de vasto alcance, buscando conferir ao seminário de Maringá uma sólida infra-estrutura de manutenção. Desenvolveu a horta já existente e partiu para novos empreendimentos, como granja de ovos e criação de porcos. O seminário obteve registro oficial como “Instituto Educacional e Agrícola de Maringá”, facilitando sua associação à Cooperativa Agrícola Sul-Brasil. Tornou-se produtor de verduras, frutas e ovos disputados nas feiras livres e reservados com antecedência por compradores fiéis, que faziam questão de qualidade. No ano de 1964 começaram as obras de construção do segundo pavilhão, agora com decisivo aporte de recursos de Adveniat, organização de católicos alemães para ajuda a países do 3º mundo. Em janeiro de 1965, cônego Tarcísio retornou a Taubaté, passando o seminário à condução, durante

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esse ano, dos padres José Meneguzzo, reitor, e Roberto Pezzi, diretor espiritual. Também residia no semi-

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Dom Manuel celebra a missa de inauguração do seminário de Maringá.

nário padre João Amâncio da Costa Novaes, diretor da OVS – Obra das Vocações Sacerdotais, encarregado de percorrer as paróquias promovendo a descoberta, entre meninos e adolescentes, de vocações para padre, e arrecadando ajuda para a manutenção da casa.

Seminário Nossa Senhora da Glória (foto 2002), 10 pavilhão inaugurado em 24 de março de 1962.

No princípio do ano letivo de 1966 tomou posse como reitor cônego Urbano Giacobbo, nomeado que fora, no dia 12 de fevereiro, para o cargo. Esse ano marca também o afastamento de irmão Teodósio, requisitado pela sua congregação para mestre de noviços em Porto Alegre. Sentindo-se chamado para a vida de padre diocesano, se desligaria, no ano seguinte, da vida religiosa, entrando para o seminário, em Curitiba. Em fevereiro de 1967 no seminário de Maringá assumiu as funções de prefeito de disciplina o recém-ordenado padre Orivaldo Robles, que no ano seguinte, junto com padre Antônio de Pádua Almeida, seria nomeado para a coordenação diocesana de pastoral.

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Comemorando os dez anos de instalação da diocese, no dia 24 de março de 1967, foi inaugurado o pavilhão de serviços, o segundo do seminário, destinado a cozinha, refeitório, lavanderia e residência das irmãs. As máquinas, de modelo industrial, foram também adquiridas com recursos enviados pelos católicos alemães. O novo prédio facilitou a abertura de salas de aula para a 3ª e 4ª séries do ensino fundamental, chamado, à época, de 1º grau. O seminário já ministrava reforço escolar aos seminaristas, porque vinham, na maioria dos casos, com baixo nível de escolaridade. Nas novas salas lecionaram irmãs claretianas da Escola Estadual Ipiranga, além de outras professoras da rede pública de ensino.

2º pavilhão do Seminário Nossa Senhora da Glória inaugurado em 24 de março de 1967.

O Seminário Menor Nossa Senhora da Glória teve duração de sete anos, do início de 1962 ao final de 1968. Seu encerramento representou dolorosa, mas madura decisão. Ao longo desse tempo, 350 alunos foram matriculados, dos quais um somente, José Vieira da Silva, chegou à ordenação sacerdotal. Em face do pouco resultado obtido e também de novas propostas abertas pelo Concílio Vaticano 2º, mais uma vez apareceram a ousadia e o pioneirismo do bispo de Maringá. Ele desativou a instituição, destinando o prédio à realização de cursos, encontros e retiros espirituais do clero e de fiéis cristãos leigos. Quanto à pastoral vocacional, estudantes de primeiro grau, eventualmente interessados em se tornarem padres, passaram a receber acompanhamento dos próprios párocos, sem necessidade de deixarem a casa dos pais. O recrutamento de candidatos começou a ser feito entre adolescentes e jovens do segundo grau, correspondente ao hoje chamado nível médio de ensino. Foi confiada a padre Gerhard Schneider a conclusão dessa etapa, cumprida na Rua Vaz Caminha, em Maringá, na antiga residência das irmãs paulinas. O nome “Emaús”, lembra dom Jaime, foi dado inicialmente a essa casa onde os primeiros a entrar foram José Vieira da Silva, Valdir Scalon, Idir Ferreira e José Fernandes de Souza. Logo depois, em Curitiba, abria-se a comunidade para a qual foi levado o nome, marca de toda uma caminhada vocacional da Igreja de Maringá. Em 18 de dezembro de 1969, Schneider assumiu a paróquia do Cristo Ressuscitado, chamando para morar na casa paroquial o seminarista José Fernandes de Souza, ainda cursando o ensino médio no Colégio Paraná. Os outros três, José Vieira, Valdir e Idir, cumprida esta etapa de estudos, transferiram-se em 1970 para Curitiba a fim de continuar sua formação no curso de Filosofia. Depois de entendimento preliminar de quase um ano, a diocese recebeu, em 1971, o jovem Júlio Antônio da Silva, seminarista do PIME – Pontifício Instituto para Missões Estrangeiras que, por sugestão de dom Jaime, continuou em Assis, onde cumpria o último período de seminário menor. Ao iniciar o ano de 1972, a Igreja de Maringá encaminhou para o curso de Filosofia em Curitiba dois novos seminaristas: José Fernandes de Souza e Júlio Antônio da Silva. Padre Nunzio Reghenzi, que três anos antes, a convite de dom Jaime, tinha vindo da Itália, deixou a catedral onde era cooperador para, em fevereiro de 1973, instalar-se no 2º pavilhão do seminário, para nova fase do recrutamento vocacional. Os dois primeiros candidatos a padre foram Geraldo Trabuco e Milton Antônio Bossoni, que faziam na cidade o curso supletivo conhecido como mini-ginásio. Lembra Bossoni que, à época, restavam ainda no seminário elementos da antiga estrutura: dez famílias de empregados, granja, caminhão, trator, lavoura de café... Padre Nunzio encaminhou a desativação do que não se ajustava mais à

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Primeira residência das irmãs Filhas de São Paulo, em 1958; depois, sede inicial da Comunidade Emaús para seminaristas maiores da diocese.

realidade. No início do ano seguinte, a 19 de janeiro, foi empossado na paróquia Santo Antônio, onde continuou responsável pela OVS. Até o ano de 1980 promoveu, no seminário diocesano, encontros vocacionais para estudantes do 2º grau. Passou, em 1981, a ocupar o prédio da antiga ADAR – Associação Diocesana de Assistência Rural, conferindo-lhe o nome de “Centro de Formação Papa João Paulo I”.13 Aí residiram por dois anos seminaristas que se prepararam para o curso de Filosofia ministrado na PUC-PR, de Curitiba. Entre os anos de 1983 e 1986, o Centro de Formação preparou jovens para o Instituto de Filosofia de Maringá. Em 1987 foi aberto em Umuarama o Seminário Propedêutico. Desde a instalação da diocese, em 1957, os seminaristas maiores de Maringá eram encaminhados ao Seminário Provincial Rainha dos Apóstolos, de Curitiba. No início de 1969, dele se desligaram, passando a formar o primeiro grupo de seminaristas morando fora do seminário. Num gesto de coragem, dom Jaime assumiu os riscos de um modelo formativo ainda não testado, qual seja o da pequena comunidade. Confiante, pressentiu, mais que nunca, a propriedade de chamá-la “Emaús”, nome da aldeia para onde, desiludidos, caminhavam dois discípulos na tarde da ressurreição. Apesar de lamentarem reveses, seguiam, na verdade, em direção de um porvir radioso. Entre as dificuldades do Emaús maringaense figurava a falta de padre formador para residir com os estudantes. Estes, de início, foram abrigados em casa alugada. Logo depois, a diocese adquiriu na Vila Guaíra uma residência localizada na Rua Assis Figueiredo, nº 33. Nela foram alojados os seminaristas que cursavam Filosofia na PUC, e Teologia, no ITC – Instituto de Teologia de Curitiba, junto à igreja Bom Jesus. A assistência espiritual era assegurada por dom Jaime em visitas que lhes fazia e, de forma habitual, por padre Osório Caetano Munaro, SDB, pároco da Vila Guaíra. A partir de 1973, também padre Nunzio, mensalmente, passou a colaborar na formação. Depois de dez anos de experiência da modalidade, de tal forma crescera o número de candidatos que a casa se tornou pequena. No início de 1979, a Comunidade Emaús precisou transferir-se para o nº 2480 da Rua Desembargador Motta, uma ampla construção pertencente à arquidiocese de Curitiba, anexa à igreja São Francisco de Paula. Dom Jaime propôs a compra do imóvel, mas membros do Colégio de Consultores não concordaram. Com a anuência de dom Pedro Fedalto, atendendo desejo dos seminaristas, o bispo de Maringá nomeou, no dia 10 de abril de 1981, padre Diniz Mikosz, do clero curitibano, reitor da comunidade, cargo que ocupou até o fechamento da casa, no final de 1983. Nessa ocasião, por conta da reabertura do Seminário Nossa Senhora da Glória, em Maringá, os novos alunos já não necessitaram de se deslocar até Curitiba para cursar a Filosofia. Os três últimos seminaristas de Maringá a fazê-lo, Bruno Elizeu Versari, Israel Zago e Jair

13 Embora conhecido de poucos, esse era o nome do centro de formação, dado por padre Núncio em homenagem ao papa do sorriso, que governou a Igreja por somente 33 dias: foi eleito em 26 de agosto e faleceu em 28 de setembro de 1978.

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Aparecido Favaretto, concluintes do curso em 1983, foram iniciar a Teologia em Londrina, no curso aberto em 1984 para as dioceses do Norte do Paraná. A desistência de muitos, por outro lado, não justificava manter na capital oito seminaristas em prédio tão grande cujo futuro era o esvaziamento inevitável. O imóvel foi desocupado; os alunos de Maringá foram aceitos no Seminário Rainha dos Apóstolos, sob direção do reitor cônego Sérgio Arthur Braschi. Os que cursavam a Teologia foram admitidos no “Studium Theologicum”, filiado ao Pontifício Instituto Lateranense, de Roma. Não foi das mais felizes iniciativas. Dificuldades de adaptação determinaram que, ao final de 1984, todos os seminaristas de Maringá se retirassem do Seminário Rainha dos Apóstolos. Infelizmente, deles a maioria desistiu. Perseveraram Virgílio Cabral dos Santos, Zenildo Meggiato, segundanistas de Teologia, e Eurides dos Santos Maria, do primeiro ano. Foram ocupar modesta casa alugada no distrito de Pinhais, município de Piraquara, na época, na qual permaneceram durante o ano de 1985. Os dois primeiros ordenaram-se presbíteros; Eurides recebeu o diaconato, mas não chegou ao passo final. A 16 de outubro de 1979 foi criada, sendo instalada em 20 de janeiro do ano seguinte, a Província Eclesiástica de Maringá, composta pela arquidiocese de Maringá e pelas dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama. Muito cedo se deram conta os quatro bispos de uma mesma inquietação: cada um à sua maneira, todos encaminhavam seus seminaristas para estudo em regiões distantes. Desagradava aos preocupados pastores que membros do seu presbitério se formassem longe da Igreja diocesana. Um feliz acontecimento trouxe a desejada solução. Como parte das comemorações do jubileu de prata da ordenação episcopal de dom Jaime, da instalação da diocese e da posse do 1º bispo, foi inaugurado, no dia 21 de março de 1982, o 3º pavilhão do Seminário Nossa Senhora da Glória. Deu-se por finalmente concluída a principal obra da Igreja de Maringá. A solenidade contou com a presença do núncio apostólico, dom Carmine Rocco; do governador do Estado, novamente Ney Braga, como na inauguração do 1º pavilhão, vinte anos antes; de todo o clero da arquidiocese; de familiares do arcebispo; de seminaristas, de autoridades e de fiéis cristãos.

Em 21 de março de 1982, o seminário de Maringá inaugurou seu 3º pavilhão, que acolheu, no ano seguinte, o curso de Filosofia das quatro dioceses da Província Eclesiástica de Maringá.

A conclusão das obras do seminário de Maringá suscitou inevitável questionamento: por que não torná -lo seminário maior provincial, com os cursos de Filosofia e Teologia? Bispos e presbíteros das quatro dioceses debateram o assunto ao longo de meses, para chegarem a um encaminhamento final em Umuarama, na 6ª reunião da Província Eclesiástica de Maringá, no dia 4 de agosto de 1982. Reconhecida a impossibilidade de montar um corpo docente qualificado para o curso teológico, optou-se pela criação apenas do curso de Filosofia, segundo currículo sugerido por padre Diniz Mikosz, a ser ministrado por professores inicialmente de Maringá. Discutidos outros pormenores, adiou-se a decisão final para o mês de outubro seguinte, dando-se, porém, como praticamente estabelecido o funcionamento, já no próximo ano, do Instituto de Filosofia da arquidiocese de Maringá, aberto às três dioceses sufragâneas (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, f. 51-53)

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No final de 1982, entendimentos entre os metropolitas de Londrina e Maringá apontaram a oportunidade de abrir em Londrina, nas dependências do Seminário Paulo VI, um instituto teológico destinado aos seminaristas de ambas as províncias eclesiásticas. Confiante na concretização do projeto, com o arrojo de sempre, dom Jaime inaugurou, já em fevereiro de 1983, o Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória – Instituto de Filosofia de Maringá. Assumiram sua direção padres Orivaldo Robles, reitor, e José Fernandes de Souza, diretor espiritual. Para iniciar a Filosofia, foram acolhidos vinte seminaristas; dez da arquidiocese, oito da diocese de Umuarama, e dois de Campo Mourão. Da turma pioneira desse Instituto de Filosofia ordenaram-se por Maringá, em janeiro de 1990, os padres Edmar Peron, Paulo Campos e Sidney Fabril. Ao mesmo tempo, prosseguiam os encaminhamentos para instalação do curso de Teologia em Londrina. No dia 5 de outubro de 1983, o assunto foi colocado em pauta, conforme registrou o reitor do seminário de Maringá: Reúnem-se em Apucarana os senhores Bispos, reitores e alguns professores dos Seminários Maiores de ambas as Províncias Eclesiásticas do Norte do Paraná. De Maringá comparecem, além do Sr. Arcebispo, o reitor, Mons. Antônio de Pádua Almeida e Pe. Júlio Antônio da Silva. Nessa reunião fica decidido que, para 1984, o curso de teologia de ambas as províncias será em Londrina. A filosofia ficará em Maringá, para a Província Eclesiástica de Maringá e em Apucarana, para a Província Eclesiástica de Londrina. Nova reunião fica decidida para o dia 10 de novembro, em Maringá (SEMINÁRIO ARQUIDIOCESANO NOSSA SENHORA DA GLÓRIA, 1983, f. 4). Abriu-se, efetivamente, no início de 1984, o curso de Teologia para o Norte do Paraná, exceto para a diocese de Jacarezinho, que vinha conduzindo modelo próprio de formação para seus seminaristas. Como primeiro reitor do Seminário Paulo VI, de Londrina, na nova modalidade de funcionamento, foi nomeado padre Vitor Groppelli, do clero londrinense. Decisão da Província Eclesiástica de Maringá, por outro lado, acompanhando a mente da Igreja, resolveu que os candidatos à Filosofia passassem obrigatoriamente por um período preparatório, com duração mínima de um ano, conhecido como Curso Propedêutico. No início de 1987 foi aberto em Umuarama o Seminário Propedêutico Bom Pastor, acolhendo candidatos das quatro dioceses. Na 15ª reunião da Província, realizada em Campo Mourão, no dia 11 de março de 1987, houve o registro: Curso Propedêutico: Dom Maimone afirmou que ‘é um ano de experiência em todos os sentidos’. O curso visa, em especial, o questionamento vocacional. Funciona no mesmo prédio do Seminário Menor. O Reitor é o Pe. Wilson Galiani. Está indo regularmente bem. São 11 (onze) moços. Umuarama 6, Maringá 4 e Campo Mourão 1. – Matérias principais: português, latim, francês, bíblia e espiritualidade. Para o II semestre prevê-se também “introdução à Filosofia” (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, f. 123). Seis anos passados, não de todo satisfeito com referido curso, dom Jaime decidiu, no dia 8 de dezembro de 1992, instituir em Maringá o Seminário Propedêutico Santo Cura d’Ars, estabelecido na antiga residência episcopal, na Rua Lopes Trovão, nº 395. Como reitor escolheu padre Nelson Aparecido Maia; a direção espiritual foi confiada a padre Edmar Peron. Em 1998, transferiu-se o Curso Propedêutico para o prédio do Seminário Arquidiocesano. Embora funcionando no mesmo endereço, ambos obedecem a regimentos distintos, tendo cada um vida própria e independente. Depois de onze anos de funcionamento do curso teológico em Londrina, problemas internos tornaram difícil a permanência dos seminaristas de Maringá no Seminário Paulo VI. Dificuldades de relacionamento, em 1994, com os formadores colombianos, membros da Associação de Sacerdotes de São Sulpício, responsáveis pelo seminário e pelo instituto, levaram o bispo de Maringá a transferir seus seminaristas para nova casa de formação e de estudos. Optou por Cascavel, em razão do conteúdo da grade curricular e da qualificação

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do corpo docente do CINTEC – Centro Interdiocesano de Teologia de Cascavel. Para o início de 1995, a turma constituiu-se dos nove seminaristas: Onildo Luiz Gorla Júnior, para o 4º ano e, iniciando o 1º ano, Altair Ciarallo, Flávio Donizete Batista, Francisco Gecivam Vieira Garcia, Hélio Zancani, Janílson Canuto, José Moreira Silveira, Levi de Oliveira Silva e Luiz Gonçalves Knupp. Até julho de 1998 residiram no Seminário Nossa Senhora de Guadalupe do qual era reitor padre José Antônio Peruzzo. Sob a orientação de padre Obelino de Almeida Silva, foram morar, no mês de agosto de 1998, em casa alugada aos padres jesuítas, situada no nº 139 da Rua Loyola, no bairro Brasmadeira. Nesse endereço permaneceram até o final de 2003, quando os seminaristas remanescentes de Maringá concluíram o curso de Teologia. Novas perspectivas abriram-se à formação teológica dos seminaristas de Maringá com o advento do terceiro milênio. O arcebispo dom Murilo Sebastião Ramos Krieger expôs ao clero as preocupações de dom Albano Cavallin quanto ao Instituto Teológico Paulo VI. Quando de sua abertura, em 1984, as dioceses do Norte do Paraná haviam se comprometido a encaminhar para ele os seus seminaristas. Era chegado o momento de todas as Igrejas Particulares assumirem o instituto, assegurando-lhe continuidade. Com o respaldo do presbitério, o arcebispo decidiu que já em 2001 os seminaristas de Maringá iniciariam a Teologia em Londrina, residindo em casa alugada na Rua Albânia, 95, para onde se transferiu padre Obelino de Almeida Silva, mais uma vez responsável pela Comunidade Emaús. Curioso o destino de “Emaús”: nasceu em Maringá, deslocouse para Curitiba, veio até Londrina, mudou-se para Cascavel, acabando por retornar a Londrina. Num gesto de confiança na formação teológica oferecida, a arquidiocese de Maringá adquiriu, em 2002, uma residência situada na Rua Capitão Pedro Rufino, 495, no Jardim Europa. Após reforma e ampliação, as novas instalações foram inauguradas na abertura do ano letivo de 2006. Desde 2005 o curso de Teologia passou a ser ministrado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, câmpus de Londrina. A fim de evitar confusão com homônimo local, a arquidiocese de Maringá precisou, em Londrina, abdicar do nome “Emaús”. Em 13 de junho de 2006, para a comunidade dos estudantes de Teologia da arquidiocese de Maringá em Londrina, o arcebispo dom Anuar Battisti oficializou a nova denominação de “Seminário de Teologia Santíssima Trindade”.

Seminário de Teologia Santíssima Trindade.

Também em Maringá, para a Filosofia, desde o início do ano letivo de 2006 os seminaristas passaram a seguir o curso oferecido pela PUC-PR, câmpus de Maringá. O Seminário Arquidiocesano cuida dos outros aspectos da formação presbiteral. Em função da abertura da PUC-PR, a diocese de Umuarama assumiu, no ano de 2005, em Maringá, a paróquia São José Operário alocando dois padres com a missão de dirigirem a paróquia e acompanharem os seminaristas estudantes de Filosofia, também residentes na casa paroquial. Igual providência tomou, no início de 2006, a diocese de Campo Mourão, a cujos cuidados foi confiada a paróquia de Mandaguaçu, distante 19 km de Maringá. Desde sua fundação, em 1983, além das dioceses da Província Eclesiástica de Maringá, o Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória – Instituto de Filosofia já abrigou, de forma temporária, seminaris-

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tas de Londrina, Cornélio Procópio, Cascavel, Foz do Iguaçu, Guarapuava, Carolina (MA) e da prelazia de Guajará-Mirim (RO). Desta última, alguns estudantes continuam no curso de Teologia. Em força da nova configuração dos estudos de Filosofia e Teologia, assumidos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná em seus câmpus norte-paranaenses, o Instituto Teológico Paulo VI, de Londrina, e o IFAMA – Instituto Filosófico Arquidiocesano de Maringá estabeleceram datas precisas para o encerramento de suas atividades de ensino: para o primeiro, o final do ano letivo de 2006; para o segundo, o término do ano acadêmico de 2007. Como acontece em outras partes do Brasil, também em Maringá os padres entenderam de bom alvitre formar uma associação com o objetivo de estreitar os laços de comunhão entre si, incentivar a espiritualidade e o estudo de temas relativos à vida e ao ministério presbiteral. Em assembléia no dia 23 de maio de 1995, nasceu a ASPAM – Associação dos Presbíteros da Arquidiocese de Maringá, da qual foi eleito primeiro presidente padre Virgílio Cabral dos Santos. Pela dificuldade de construir uma sede, durante anos a ASPAM promoveu reuniões de estudo ou encontros de confraternização em chácaras cedidas por amigos, em diferentes endereços. Finalmente, no dia 15 de maio de 2001, padre Gerhard Schneider fez doação à associação de área contendo uma casa, que desmembrou do terreno do antigo mosteiro, situado na Rua Antônio R. Saldanha s/n, lote 352. Com algumas adaptações e erguimento de muro na divisa com lote vizinho, aí se estabeleceu e hoje se encontra a sede da associação que reúne os presbíteros de Maringá. Sob dom Murilo S. R. Krieger a arquidiocese de Maringá conheceu novo impulso no campo dos ministérios ordenados. O segundo arcebispo consultou o clero sobre valor e oportunidade de, à semelhança de outras Igrejas, Maringá acolher o diaconato permanente, instituição da Igreja primitiva retomada pelo Concílio Ecumênico Vaticano II. No dia 15 de novembro de 1965, os Padres conciliares tinham aprovado a restauração do diaconato como grau distinto e permanente da hierarquia da Igreja. No ano de 1998, o presbitério de Maringá definiu diretrizes para sua implantação na arquidiocese, começando a seleção de candidatos. Por sua anterior experiência na área, foi escolhida a escola diaconal de Ponta Grossa para formadora dos primeiros diáconos permanentes da arquidiocese de Maringá. No decorrer de três anos seguidos, com quinze dias integrais de estudo, em janeiro, e dez outros, em julho, o curso ministrado em Ponta Grossa recebeu, em janeiro de 1999, os doze primeiros candidatos de Maringá. Além das aulas doutrinais foram ainda cumpridas etapas de prática pastoral. Concluída a formação, no dia 3 de agosto de 2002, desde Florianópolis, para cuja sede tinha sido transferido, veio dom Murilo conferir o primeiro grau do sacramento da ordem aos dez diáconos permanentes pioneiros da arquidiocese de Maringá: Airton de Almeida, Benoni Rosa de Miranda, Bento Chinaglia, César Ribeiro de Castro, Francisco Crubelati, Jair Benalia, José Ribeiro dos Santos, Mário Savelli Marques, Oscar José dos Santos e Waldemir Antônio Michelim. A partir desse ano, a arquidiocese encaminhou a criação de sua própria escola diaconal, servindo-se da anterior experiência das Igrejas de Ponta Grossa e de Florianópolis.

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O café dava emprego a muita gente, as colheitas eram satisfatórias, as pessoas só tinham em mente trabalhar e progredir, não se gastava dinheiro com luxo, ninguém fazia questão de ostentar uma importância pessoal feita de vaidade. 158 A Igreja que brotou da mata


Memória, quase história A Maringá que conheci Maringá mostrou-me sua cara no dia 31 de dezembro de 1957. Na véspera, às quatro da manhã, em São José do Rio Preto (SP), eu tomara um ônibus com destino a Lins, a seguir, Marília, onde era feita baldeação para Londrina. Vagamente me lembro de um nome parecido com Viação Marília-Iepê. O final da viagem só aconteceria já noite, dezesseis horas depois. A segunda etapa, de Marília para frente, reservou-me poltrona vizinha à de um rapaz falante de Cruzeiro do Oeste que, durante o dia, deve ter-se encantado com a ingenuidade dos meus dezesseis anos. Ao sairmos de Bela Vista do Paraíso, explicou a vantagem de desembarcarmos na próxima parada, Cambé, ponto obrigatório de passagem, na manhã seguinte, do nosso ônibus da rota Londrina-Maringá. Depois de quinze horas de poeira, suor e estrada, tudo o que eu desejava na vida era um banho e uma cama. Concordei com a sugestão de descer ali e dividir um quarto no Hotel dos Viajantes, sem a mais leve suspeita de alguém que eu nunca tinha visto mais gordo. No outro dia, acordei sozinho e depenado das “preciosidades” que trouxera: o relógio e os trocados para a viagem. Perda maior, no entanto, era dos óculos de grau, que eu usava há dois anos. Meu primeiro despertar na nova terra trouxe-me as imagens de um Paraná desfocado por miopia, decepção e raiva. Por sorte ou providência de Deus, que deve ter-se condoído de um caipira trouxa, no fundo da mala eu guardara uma cédula de cinqüenta cruzeiros, com a qual pude comprar passagem para Alto Paraná, onde, desde setembro daquele ano, estava morando minha família. Até Apucarana não foi tão difícil, ainda que eu viajasse de pé, convidado a todo instante a dar “mais um passinho para trás”. Era minha primeira viagem sobre asfalto, embora a estrada fosse de um marrom tendendo para o ocre. Depois de Apucarana fui apresentado às estradas do Norte do Paraná. A poltrona do dia anterior não me deixara sentir o drama. Era preciso ser de circo para manter-se em pé num corredor entupido de gente suada, sacolejando como britadeira. O “pinga-pinga” da Viação Garcia parou na estação rodoviária, imenso descampado com marcas de árvores derrubadas, ali onde está a Praça Napoleão Moreira da Silva. Meus olhos adolescentes, habituados à única paisagem do interior paulista, apertaram-se para contemplar uma Maringá de pó, calor e gente feia, que me transformava, sem ensaio nem cachê, em figurante de um daqueles filmes de faroeste da minha infância. A impressão inicial foi, para dizer o mínimo, assustadora. Alto Paraná, ponto final da viagem, apesar de meu pai, a quem não via desde julho, esperar-me no Bar do Ponto, conseguiu elevar a decepção ao desespero. Ou a alguns centímetros disso. Até o sítio que ele administrava eram seis quilômetros a pé numa estradinha arenosa, sob um sol já caminhando para o horizonte. Não foi nem um pouco animador descobrir, ao desbotado clarão da lamparina, minha família morando, pela primeira vez, numa casa de tábuas encardidas. Até aquele porão onde, lá pelos meus quatro ou cinco anos de idade, nos abrigamos por seguidos meses, me pareceu mais confortável. Nos primeiros dias de 1958, com meu pai voltei a Maringá para conversar com o bispo. Eu tinha-lhe escrito em setembro. Em resposta, me pedira para vê-lo nas férias, quando estivesse em casa. A segunda experiência de Maringá não se mostrou mais animadora. Ao término da visita, aceitamos carona para o centro, na “perua” do bispo – um jipe 54 remodelado para imitar, sem muito êxito, uma Rural Willys – que ele mesmo dirigia. Meu pai e eu conhecíamos Maringá tanto quanto Anchorage, no Alasca. Imprudentemente, respondemos sim quando o bispo perguntou se ali estava bom e se conseguiríamos chegar à rodoviária. Estação rodoviária era

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coisa de Ribeirão Preto de onde ele vinha. Em Maringá o nome se aplicava em sentido figurado: figurava na placa de um disforme barracão de madeira plantado em campo de terra nua. Descemos não sei onde. Como um par de beduínos sem camelo nem bússola, caminhamos quilômetros, afastando-nos sempre mais, Avenida Brasil acima. Quando, finalmente, vencidos pela sede e suados até à alma, resolvemos pedir informação, estávamos no ponto de ônibus, ali na esquina da Avenida Brasil com a Rua Lafayette Tourinho, pouco antes do “subidão” do Maringá Velho. Curitiba, para onde fui encaminhado num DC-3 da antiga Real (não havia então um palmo de asfalto), foi meu teste de sobrevivência. Ignorante das marcas do termômetro local, enfrentei-as defendido por duas camisas de manga longa tidas por suficientes pelo padre Marcos Alija Ramos, de Alto Paraná, que nunca estivera na capital em dias de inverno. Para completar, agüentei julho inteiro num seminário destinado a 92 seminaristas, mas vazio dos outros 91, que haviam voltado de férias para casa. Para o salário de meu pai, o preço da passagem elevava-se a altura maior que o avião da Real. Não me encorajei a pedir ajuda à diocese, já onerada com os gastos da minha formação. Nas férias dos anos seguintes, era comum eu passar uma temporada na casa do bispo, que morava sozinho. Acompanhava-o para onde fosse e me chamasse. Tomava contato com a vida da jovem diocese, que brotava da floresta, ainda exuberante por todas as bandas. Após o jantar, a distração era irmos juntos contemplar o pôr-do-sol (le coucher du soleil, assim mesmo, em francês, como dom Jaime o chamava), naquele terreno que ninguém sonhava vir a ser ocupado, um dia, pelo Hospital Santa Rita. O mato cercava a cidade, especialmente para o lado dos altos da Zona 5. Ao cair das tardes sem vento, uma nuvem de talco avermelhado demorava horas planando no horizonte. Ninguém usava camisa branca. Punhos e colarinhos viviam decorados por uma tarja escura, que sabão nenhum conseguia remover. Para saia ou calça do uniforme escolar, as irmãs do Colégio Santo Inácio, na distante Vila Operária, muito convenientemente escolheram um vistoso marrom.  Quando íamos, de perua (aquela), visitar a construção do seminário, percorríamos a estrada oficial, pela frente do Clube Hípico, e depois, descíamos a estradinha estreita, na baixada. Sempre no meio do mato. Uma viagem. Não havia, na época, a mais remota possibilidade de prever esse amor tão forte à cidade que hoje considero a melhor do mundo. Acompanhá-la, passo a passo, assim como toda a região, assistir à transformação da floresta em lar, revelou-se uma experiência de vida que considero privilégio concedido a poucos. Oferecer modesto aporte à tarefa evangelizadora desta terra torna-me feliz por reconhecer que Deus me permitiu, a mim também, a honra de juntar meu pobre grão de areia à montanha da sua obra. Operário desde cedo nessa construção, insignificante embora, se confrontado com o heroísmo de tantos, entendo que não seria honesto guardar muda a emoção de também marcar presença na história da Igreja que está em Maringá (ROBLES, 1997a, p. 2).

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A catedral que aponta o céu De onde quer que venha, por terra ou de avião, a primeira imagem de Maringá que impressiona o viajante, ainda ao longe, é sua imponente catedral. Plantada na extensa planície que alarga o horizonte a perder de vista, a cidade emerge do verde dos campos agricultados à sua volta, em meio a casas, prédios e farta arborização. Mas no belo conjunto de edificações erguidas por mão humana mais que tudo atrai o arrojo de um templo que se projeta em direção do céu. Essa foi, no distante 1957, a intuição do bispo. Tinha consciência de que, entre as inúmeras obras a levantar na jovem Igreja, a catedral seria uma das primeiras. Uma diocese é conhecida pela cidade que lhe empresta o nome; o que distingue sua igreja matriz é a cátedra do mestre da fé e dos costumes, o bispo, sucessor dos apóstolos. Daí decorre a importância dessa igreja única que, em razão de sua função, é chamada catedral. Como nos outros aspectos de seu governo, no referente à arquitetura das igrejas, de igual forma, dom Jaime revelou-se disposto a imprimir um espírito inovador. Com exceção das três matrizes paroquiais cujos projetos encontrou em andamento (Mandaguari, Marialva e Jandaia do Sul), nenhuma outra, na diocese inteira, seguiu os estilos tradicionalmente praticados nas construções. Todas retratam a fisionomia de modernidade do Norte do Paraná, que se colonizava na época de sua chegada. De Ribeirão Preto ele trouxe a intenção de construir uma catedral de linhas arquitetônicas arrojadas acompanhando os moldes do ginásio de esportes da Cava do Bosque, daquela cidade. De formato arredondado, prestava-se ao simbolismo da coroa de glória da padroeira, a Mãe do Senhor assunta aos céus. Não demorou a mudar de idéia, surpreendendo por ousadia maior ainda. A criação da diocese de Maringá coincidiu com o período da corrida espacial, em plena era da guerra fria. Norte-americanos e soviéticos disputavam a primazia de enviar ao espaço uma nave capaz de revelar os segredos de mundos ainda por descobrir. Na disputa, levou a dianteira a antiga URSS que, a 4 de outubro de 1957, colocou em órbita o primeiro artefato humano, chamado Sputnik I. Era o ponto de chegada do projeto que levava esse nome e que vinha sendo desenvolvido há mais de dez anos. Na continuidade do programa, outros satélites foram posteriormente lançados, totalizando dez, dos quais o Sputnik X, último da série, subiu ao espaço em 23 de março de 1961. “Poustinia” (pronuncia-se pustinia) é uma palavra russa que, em sua origem, significa deserto; aos poucos, porém, foi assumindo outras conotações como o abandono que alguém faz da convivência com os outros, para isolar-se na busca de um encontro com Deus. O “poustinik” se identifica, na realidade, com o peregrino “que se afasta do mundo para ficar mais perto do céu”. Trata-se de antiga tradição russa, que o comunismo não conseguiu destruir (DOHERTY, 1980, p. 5-46). Mesmo sob um regime materialista e ateu por natureza, o programa espacial soviético não logrou desvencilhar-se da milenar tradição religiosa do povo russo. Simultaneamente com a URSS e competindo com ela, também os EUA desenvolviam, há tempo, estudos para lançar ao espaço um satélite artificial. Não muito depois da instalação canônica da diocese, foi publicada em jornal de São Paulo uma foto que fez brilhar os olhos do jovem bispo. O texto mostrava dois funcionários da Martin Company inspecionando a ogiva de proteção de um satélite piloto que seria brevemente lançado ao espaço. Numa centelha de rara criatividade, como quem rompe o véu do tempo e pressente o futuro, o bispo anteviu ali a sua igreja. Delicadamente, com uma caneta, traçou no vértice da figura as hastes de uma cruz. E se deteve, maravilhado, a contemplar o efeito. Até no detalhe do último lance do cone, no espaço reservado ao mirante e aos carrilhões, aquele recorte de jornal revelava a estrutura básica da futura catedral em honra de Nossa Senhora da Glória. Num lance de rara felicidade, o bispo de Maringá concebeu, na era dos sputniks, uma catedral diferente de todas. De linhas nunca antes traçadas, desde a estrutura externa visível de longe, projeta-se como franco convite ao desprendimento das realidades terrestres para direcionar o coração humano à glória no céu, ao qual foi assumida, em corpo e alma, a padroeira Nossa Senhora da Glória. No decorrer dos anos 50, com freqüência os diretores da CMNP faziam-se presentes em Maringá. Convivência respeitosa marcou o relacionamento entre o bispo e, em particular, o diretor-gerente Hermann Moraes Barros. Foi dele a iniciativa de apresentar-lhe o arquiteto José Augusto Bellucci, com escritório instalado na Praça da República, em São Paulo, onde esteve dom Jaime para expor sua foto de jornal enriquecida dos

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elementos que a transformavam em catedral. Ao arquiteto caberia projetar uma igreja absolutamente única no mundo, na forma de imenso cone lembrando a ogiva de uma nave espacial, varando o espaço, na ânsia de elevar-se até Deus. Compondo o corpo do templo, a certa altura do chão, uma coroa de doze capelas circundaria o cone para simbolizar a realeza da Mãe de Deus glorificada na sua assunção. O arquiteto, contudo, fez-lhe ver a insegurança de construir as capelas elevadas do chão. Melhor projetá-las para o nível do solo, onde foram dispostas, acompanhando o traçado da única nave circular. Para a colocação da cruz, que seria de ferro, no topo, à semelhança de um fato acontecido na Suíça e que viu publicado em outro jornal, o bispo imaginou descê-la de helicóptero. Bellucci advertiu sobre o risco que representava erguer do chão para do alto baixar, a mais de cem metros, a pesadíssima peça de ferro. Impossível ainda garantir solidez ao metal, de consistência diferente do concreto armado ao qual seria aposto. Sob a ação dos ventos, haveria sempre a ameaça de rompimento e queda. Mais conveniente seria uma cruz de concreto, igual ao cone, como arremate perfeito implantado no alto. Depois de demorada análise, o arquiteto concordou com a proposta, não se mostrando nem um pouco assustado com o desafio e passou a mobilizar seu escritório, deixando o bispo na ansiosa expectativa do que lhe seria mostrado. Em carta de 3 de julho, enviada de São Paulo por Cássio Vidigal e Gastão de Mesquita Filho, ficou patente o interesse com que a CMNP, da qual eram altos executivos, acompanhava a construção da futura catedral. Afirmavam: “Vamos solicitar ao Dr. Bellucci que abrevie a apresentação de seu trabalho. Tratando-se, porém de obra perene e grandiosa, temos de respeitar o prazo que julgar necessário” (COELHO, 1957, f. 1). Poucos dias depois, de passagem pela capital paulista, o bispo telefonou ao escritório, na esperança de colher alguma novidade sobre o andamento dos estudos arquitetônicos. Ao final de outubro de 1957, mais precisamente, no dia 28, foi enviada de São Paulo uma carta, primeiro sinal de vida, depois de meses, dado por Bellucci a um inquieto bispo de Maringá, garantindo que não se descuidara “um só dia” dos estudos da catedral, tendo chegado a “apreciáveis resultados”. Prometia ainda que o interessado ia poder julgar “dentro em breve os trabalhos”. No dia 23 de janeiro de 1958, outra vez dom Jaime esteve com o arquiteto na capital paulista onde tomou conhecimento das providências em caminho. Em carta de 4 de fevereiro, Bellucci comunicava ter autorizado a execução de três maquetes: Providenciamos orçamentos e autorizamos a execução das maquetes, conforme conversamos, pelo preço mais conveniente, ou seja: - 1 maquete na escala ................................................................. 1:20.......22.000,00 - 1 maquete parcial, de abrir, mostrando os detalhes internos, na escala ................................................ 1:100.......17.000,00 - 1 maquete de locação, mostrando toda a praça, na escala ..... 1:1.000.........6.000,00 (BELLUCCI, 1957, 1 f.). A partir de então, desencadeou-se um processo que os moradores da época lembram bem. Já no domingo de Ramos, dia 30 de março de 1958, ao entrar na velha catedral de madeira, surpresos e arregalando os olhos, os fiéis puderam contemplar como ficaria a catedral querida pelo bispo. Para espanto e comentários de todos, ali estava, em ponto menor, a igreja-mãe da diocese. Anos a fio permaneceu a maquete exposta em sua redoma de acrílico, provocando admiração em quantos entravam. À medida que, ao lado, lentamente, a majestosa obra ia erguendo-se em busca da vastidão das nuvens, as pessoas podiam conferir a fidelidade com que a obra acompanhava o modelo. No sonho de seu idealizador, Maringá orgulhava-se de erguer para a sua padroeira uma catedral que, mais tarde, viria a atrair a atenção não só do Paraná, mas do Brasil e até de outras partes do mundo. Para o início, em julho de 1959, das gigantescas sapatas de sustentação, foi escavada verdadeira montanha de terra que durante largo tempo impediu a quem passava na rua a visão dos trabalhos que consumiam toneladas de ferro, cimento, pedra e areia. Orgulhoso do monumento que, acima de conotação religiosa, enriquecia Maringá com rara atração turística, Américo Dias Ferraz, então prefeito municipal, mobilizou máquinas e homens para cavar e remover toda a terra, providência indispensável à construção. O gigantismo da obra parecia não comportar dificuldade maior nem trazer temor à comissão de construção, integrada por homens

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Recortes de jornais da época conservados por dom Jaime em seu arquivo particular, com detalhes de próprio punho materializando sua idéia da futura catedral de Maringá.

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Praça Dom Pedro II em 1959. Em primeiro plano, o espaço onde foi erguido o Paço Municipal. Ao fundo, o antigo Centro de Saúde; antes dele, o círculo para a base da nova catedral.

Catedral de Maringá, construção iniciada em 1959.

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Na catedral velha, ao lado da nova em construção, recepção a padre Friedrich (Fritz) Gerkens, recentemente ordenado na Alemanha.

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da têmpera de Enio Pipino e Joaquim Romero Fontes. O ano de 1962 assistiu ao final da concretagem dos alicerces, quando então foi possível atacar a amarração dos baldrames. Nesse momento, com as obras visíveis ao nível do chão, puderam os numerosos visitantes e curiosos, que sempre acorriam aos domingos, aquilatar melhor o que representava tudo aquilo. A construção prosseguiu até se defrontar com transtornos provocados pela administração municipal seguinte. Percebendo nas autoridades municipais reduzido interesse pela obra que projetara em vista de toda uma região, o bispo decidiu interromper as obras. Sentia-se decepcionado por não contar com maior apoio, não de recursos financeiros, mas de reconhecimento ao trabalho de quem sonhava projetar o nome do município e da cidade para além do interior paranaense. Para o reinício da construção, em 30 de julho de 1965, liderada pelo médico Luiz Moreira de Carvalho, prefeito municipal, assumiu nova comissão, responsável por vigoroso impulso que veio contagiar a todos, e garantiu fôlego, inclusive, às equipes posteriores, fazendo com que a obra não mais se detivesse, até a sua conclusão. No dia 10 de maio de 1972, jubileu de prata da cidade e 15º aniversário de instalação da diocese, deu-se por terminada a construção, em concreto, da catedral de Maringá. A Eucaristia comemorativa do evento foi presidida por dom Eugênio de Araújo Sales, arcebispo do Rio de Janeiro e concelebrada por grande número de bispos e presbíteros. No último dia do ano foi celebrada a primeira missa na catedral ainda inacabada; faltavam os vitrais e praticamente todos os elementos internos. Passada uma semana, a 7 de janeiro de 1973, houve a demolição simbólica da velha igreja de madeira com a retirada da primeira telha. Todo o material aproveitável foi utilizado na construção de casas do Núcleo Social Papa João XXIII, projeto de desfavelamento dirigido pela diocese. Em pinceladas rápidas, poucos dados para calcular as dimensões da obra construída. Até à altura das capelas foram consumidos 30.000 sacos de cimento, 600 toneladas de ferro, 3.600m³ de areia, 4.100m³ de pedra britada. Para o piso, o granito “Ouro Velho”, proveniente do Estado do Espírito Santo, atingiu 1.967m². O volume total construído alcança 5.000m³. Desde o térreo até à base do 18º piso a escadaria se compõe de 598 degraus, abrindo espaço para o último vão, de 9m de altura, acima do qual se fixa a cruz. Foi prevista a colocação de um elevador inclinado, cujo fosso foi construído, mas dificuldades técnicas e alto custo impediram, até o momento, sua realização. O elevador chegará até o mirante, situado no 14º piso, a 84m de altura, que atualmente é visitado após a escalada de 482 degraus. De forma cônica, o templo se expande num diâmetro de 50 metros da única nave circular. O diâmetro interno possui 38 metros. O cone atinge a altura externa de 114 metros, e sustenta uma cruz de 10 metros, também de concreto, perfazendo altura total de 124 metros. Envolve um segundo cone, com altura livre interna de 84 metros que torna difícil, olhando para cima, perceber onde se dá o fecho. A capacidade da catedral foi calculada em 3500 pessoas, que poderão ainda ocupar duas galerias, no primeiro e no segundo pisos. Os vitrais representaram um desafio à parte. São em número de 16 no total; os 4 maiores, de 20m de altura, simbolizam os pontos cardeais; os 12 menores, com altura de 12m, lembram os apóstolos a quem os bispos sucedem na tarefa de fazer discípulos no mundo inteiro. Pretendia originalmente o arquiteto conferirlhes um tom azul semelhante aos do Santuário Dom Bosco (W3 Sul, Quadra 702), em Brasília. Dom Jaime discordou, preferindo, na vivacidade de uma profusão de cores, assinalar os passos da caminhada humana pelas etapas da história da salvação. O conjunto inicia com cores suaves, abrindo-se cada vez mais para o vigor das cores fortes. Em cada vitral o painel retratado é de aspecto abstrato; observado atentamente, colhe-se a contínua impressão de alguém caminhando. A idéia é expressar, em artístico jogo de luzes e cores, a peregrinação da humanidade rumo à glória celeste. Em sentido horário, a trajetória parte da condição de pecado da humanidade como expressam os tons do roxo penitencial; passa pelo batismo, no verde esperançoso da graça, fruto do sacrifício do Redentor, e continua no crescimento espiritual que leva à santificação. Chega à porta principal encimada pelo único vitral que retrata figura humana, a de Maria, Senhora da Glória, por quem nos veio a maior de todas as graças, seu Filho, Salvador do mundo. A partir daí, em progressivo aumento de luz, os vitrais apontam para a capela do Santíssimo Sacramento, símbolo vivo do amor de Deus na intensidade de um vermelho fulgurante. Sustento da vida cristã, a Eucaristia nutre a comunidade peregrina rumo à vida eter-

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na, concentrada no azul do ultimo vitral, que assinala o céu, concretização do Reino definitivo. O primeiro vitral, doação de Silvino Fernandes Dias, foi colocado no dia 5 de dezembro de 1976; o 16º e último, em dezembro de 1979. Feliz criação do artista Lorenz Helmair, o conjunto foi executado por Arte Sul Artesanato de Vidros Ltda., de São Paulo. Totaliza 1125m² de fragmentos de vidro maciço cujo colorido foi alcançado por meio de requintado processo de fusão. Não se conhecia no Brasil tecnologia capaz de produzir o tom do vermelho desejado por Helmair. Em visita a vidreiros alemães, fingindo desinteresse, o artista perguntou qual técnica utilizavam. Ao contrário do que aparentava, entretanto, num grande esforço de memória, registrou cuidadosamente todos os detalhes. De volta ao Brasil, meteu-se na oficina de fundição para sossegar somente quando conseguiu o resultado que pretendia. Também o formato das capelas foi ocasião de divergência com o arquiteto. Houve acréscimo, por vontade do bispo, de algumas vigas de concreto destinadas a melhor divisão dos largos espaços propostos por Bellucci. A medida possibilitou ganho em segurança na instalação dos vitrais montados em pequenos espaços irregulares de concreto, que formam quadros assimétricos, dando um aspecto original ao conjunto colorido. Por causa das discordâncias apresentadas pelo bispo em relação às concepções originais, Bellucci preferiu, no período final, afastar-se do acompanhamento das obras.

No sentido horário, circundando o cone da base, os vitrais da catedral vão do verde do batismo ao vermelho intenso da Eucaristia.

Catedral basílica iluminada para o Natal de 1999, abertura do 3º milênio cristão. Cada ano o templo recebe, nessa época, uma decoração luminosa diferente.

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No interior do templo destacam-se peças criadas pelo arquiteto Manfred Osterroht: o altar, o batistério, a capela do Santíssimo Sacramento e as cátedras. O altar compõe-se de um bloco de mármore branco com 3,20m de comprimento. A capela do Santíssimo Sacramento encontra-se voltada para o nascente; a do batistério, cuja pia batismal é formada também por um bloco de mármore branco, volta-se para o poente. Ambas são armadas em ferro batido e piramidal, em consonância com as linhas arquitetônicas do templo. Atrás ao altar situam-se as cátedras elevadas verticalmente em dimensão grandiosa para acompanhar a altura do templo; a altura simboliza a perfeição desejada pelo ser humano; a curvatura, a fragilidade sempre sujeita a se afastar de Deus para voltar às criaturas. Chamado a ornamentar a catedral, Osterroht revelou-se encantado com o que viu: É uma obra fantástica [...] Duvido que todos maringaenses tenham conhecimento de que a obra não consiste em apenas uma Catedral, mas sim em duas. São duas cascas de concreto cônicas, em cujo entrevão desenvolvem-se, desde sacristia ao altar, catacumbas até cripta, enfim um minucioso e vasto programa eclesiástico que culmina com um mirante a quase 100m de altura [...] Nos bastidores deste planejamento monumental existe um homem, que na verdade é o maestro realizador, dom Jaime Luiz Coelho [...] Com muito tato, muita visão, muita energia e muita humildade, soube imaginar, conquistar e realizar esta obra. Acredito que houve bastidores. E a exemplo do argumento de Irvin Shaw para ‘Agonia e Êxtase’, quando Michelangelo discutia com o papa durante sua obra, a Pietà [...] Durante os momentos criativos de projeção, procurei não fugir à escala monumental usada por Bellucci. Desta maneira criei as cátedras superdimensionadas no sentido vertical, sem, no entretanto, permitir que parecessem pesadas ou ciclópicas. Representam as cátedras pela sua altura a perfeição desejada pelo homem em conseguir a ascensão celeste; a curvatura acima do encosto representa a limitação pelo desejo material; o vazio da curvatura seria, portanto, a possibilidade do escapismo espiritual. Nesta forma de concepção, consigo fazer par ao simbolismo Barroco Contemporâneo, não divergindo do conjunto idealizado por Dom Jaime e Bellucci [...] A Catedral Nossa Senhora da Glória em Maringá é um monumento sob todos os aspectos. Primordialmente, pela pujança estilística, denunciando um monumento histórico e econômico da era do café. E, posteriormente, as tendências do domínio da tecnologia do terceiro mundo, pelo resultado final da obra (COELHO, 1982, p. 52). Ao lado direito do altar, um crucifixo de madeira, com altura de 7m, obra do escultor Conrado Moser, lembra a redenção. Ao fundo, um mural representa a glória de Maria elevada ao céu. Assim como todos os que ornamentam pontos distintos da igreja, foi executado pelo artista maringaense Zanzal Matar. A porta principal dirige-se para o norte; a porta do fundo, no lado sul, dá acesso à cripta, imediatamente abaixo do altar, onde estão dispostos 24 lóculos para sepultamento dos bispos diocesanos. Outros 15 lóculos, à direita da cripta, foram reservados para os curas da catedral falecidos, havendo condição de aumentar, quando necessário, o seu número. A 45m de altura, no oitavo piso, entre os dois cones, encontra-se um ossário, com 1340 lóculos, que poderão ser adquiridos pelos fiéis para piedosa guarda dos ossos exumados de seus entes queridos. Concluída a igreja dos sonhos que, ao tempo dos “sputniks”, tinha despertado a imaginação criadora do bispo, pôde enfim a Igreja que está em Maringá consagrar e dedicar ao Senhor a sua majestosa catedral no dia 3 de maio de 1981. Em 16 de outubro de 1979 Maringá foi elevada à condição de arquidiocese, que teve sua instalação canônica em 20 de janeiro de 1980, com a presença do núncio apostólico, dom Carmine Rocco. Para a sua catedral, dom Jaime requereu então à Santa Sé o título de basílica menor.14 A honraria, primeira outorgada a uma igreja no Paraná, foi concedida através de documento do papa João Paulo II, lavrado em latim, com os dizeres:

14 São consideradas maiores apenas as quatro antiqüíssimas basílicas de Roma: São João Batista (São João do Latrão), a catedral de Roma, iniciada em 311; São Pedro, erguida por Constantino em 324 sobre o túmulo do apóstolo; São Paulo Extramuros, iniciada por Constantino em 324, e Santa Maria Maior, construída por Xisto III em 432. Todas as demais recebem o título de basílica menor.

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Carta 10 - João Paulo II confere à catedral de Maringá, em 1982, o título de Basílica Menor.

Catedral da arquidiocese de Maringá honrada com o título de Basílica Menor JOÃO PAULO II Para perpétua memória

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A nova catedral da diocese de Maringá, recentemente elevada à categoria de arquidiocese, construída de maneira ampla e com notável aparência arquitetônica, dentro dos parâmetros da arte sacra, foi solenemente consagrada para que, como principal espaço de piedade e de vida espiritual, se tornasse um centro de oração, de peregrinação e um convite ao pensamento da eternidade, espaço também onde pudessem os fiéis, meditando as verdades celestes, reverenciar, enaltecer e pregustar a glória do Reino de Deus. Concomitantemente, esse admirável templo foi dedicado à Virgem Maria sob o belíssimo título de Nossa Senhora da Glória. Para que este templo respondesse à finalidade espiritual desejada e se revestisse de maior dignidade e esplendor litúrgico para o bem dos fiéis na realização do culto, o nosso Venerável Irmão Jaime Luiz Coelho, Arcebispo de Maringá, julgou oportuno requerer à Santa Sé, para o mesmo, o título de Basílica Menor. Também Nós julgamos que tal privilégio pode estimular e ajudar os fiéis a buscarem, antes de tudo, a exemplo da Virgem Mãe de Deus, a glória de Deus e os bens eternos. Pelo que, com prazer, acolhemos o pedido do Arcebispo de Maringá e, em virtude destas Letras Apostólicas, expedidas pela Sagrada Congregação para os Sacramentos e


o Culto Divino, usando do Nosso supremo poder, decretamos que esse templo, dedicado e consagrado a Deus em honra da Bem-aventurada Virgem Maria, invocada sob o título de Nossa Senhora da Glória, seja legitimamente elevado à dignidade de Basílica Menor, com todos os direitos e prerrogativas concedidas às igrejas ornadas com o mesmo título. Ordenamos, pois, seja observado tudo quanto estabelece este decreto, revogadas todas as disposições em contrário. Dado em Roma, junto à sede de Pedro, sob o anel do Pescador, dia 21 de janeiro de 1982, no quarto ano de nosso pontificado. Card. AGOSTINHO CASAROLI, Secretário de Estado (JOÃO PAULO II, 1982, p. 380-381). Até o final do século XX, a agora catedral basílica menor Nossa Senhora da Glória, de Maringá, um dos mais corajosos projetos da arquitetura sacra, conservava a posição de monumento mais alto da América do Sul e 10º entre os mais altos do mundo, seguindo a ordem: pirâmide de Gizé, no Egito, 162m; torre da catedral de Colônia, Alemanha, 150m; torre da catedral de Estrasburgo, França, 144m; torre da catedral de Antuérpia, Bélgica, 141m; pirâmide de Quéops, Egito, 135m; torre da catedral de Viena, Áustria, 132m; pináculo da basílica de São Pedro, em Roma, Itália, 129m; pirâmide de Quéfren, Egito, 129m; catedral de Maringá, 124m. Por ocasião do jubileu de prata da instalação canônica da diocese, em 24 de março de 1982, dom Jaime, primeiro bispo e arcebispo, mandou afixar à entrada da catedral placa de bronze para perpetuar a gratidão da Igreja de Maringá a: - Papa Pio XII, criador da diocese, e papa João Paulo II, criador da arquidiocese; - Pe. Germano José Mayer, primeiro cura da catedral; - Mons. Sidney Luiz Zanettini, cura da catedral e batalhador da sua construção; - João Amélio e Guilhermina Cunha Coelho, pais de dom Jaime; - Dr. José Augusto Bellucci, arquiteto responsável pelo projeto; - Governador Ney Braga; eterno amigo de dom Jaime e da diocese; - O bom povo – benfeitores anônimos cujos nomes Deus conhece; - Enio Pipino – presidente da comissão de construção da catedral; - Américo Dias Ferraz, 2º prefeito municipal ao tempo do início das obras; - Dr. Luiz Moreira de Carvalho, 4º prefeito municipal; - Operários construtores da catedral sob a condução de Álvaro Valente Silva; - Enorpa S. A. – Construções Civis, empresa executora das obras desde a gestão da comissão presidida pelo 4º prefeito do município. Completando a beleza exterior do palco em que se situa a igreja-mãe da arquidiocese, no dia 7 de dezembro de 1982, na administração municipal de doutor Sincler Sambatti, deu-se a inauguração da Praça da Catedral. Quase catorze anos depois, em 24 de março de 1996, 39º aniversário da instalação canônica da diocese, na Praça da Catedral, foi inaugurado o monumento em honra de Nossa Senhora da Glória, padroeira de Maringá. A placa comemorativa registra o reconhecimento da Igreja a pessoas como doutor Said Felício Ferreira, prefeito municipal; Mário Massao Hossokawa, vice-prefeito; doutor Claudinei José Vecchi, secretário de Transportes; monsenhor Júlio Antônio da Silva, reitor da catedral basílica e doutor Antônio Carlos Pupulin, presidente da câmara municipal. A catedral basílica tem sido o espaço de celebração dos grandes eventos tanto da Igreja universal quanto da Igreja presente em Maringá. Nela deu-se a primeira transferência do governo episcopal: em 11 de julho de 1997, dom Jaime passou o comando da arquidiocese às mãos de dom Murilo Sebastião Ramos Krieger. No dia 24 de abril desse ano, o primeiro arcebispo tinha apresentado à Santa Sé a sua renúncia, cuja aceitação, juntamente com a nomeação do sucessor, foi publicada a 7 de maio. Ainda entre as efemérides da caminhada evangelizadora destes 50 anos, é oportuno registrar a ordenação episcopal do primeiro padre do presbitério maringaense. Em solene liturgia eucarística, no dia 19 de setembro

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de 1998, presidida por dom Murilo, da qual participaram como co-ordenantes dom Jaime, que acolheu o seminarista Vicente na diocese, e dom Albano, arcebispo de Londrina, padre Vicente Costa, vigário cooperador da catedral e coordenador arquidiocesano da ação evangelizadora, foi ordenado bispo auxiliar de Londrina. Assinalando a chegada do 3º milênio, a 7 de dezembro de 2000, na comemoração dos seus 59 anos de padre, dom Jaime, depois de solicitar anuência de dom Murilo, inaugurou o Museu Arquidiocesano. Situado no terceiro piso interno da catedral basílica, acima das duas galerias, reúne preciosa coleção de peças que retratam a história da Igreja plantada nas matas de Maringá num tempo de lama e poeira, de sofrimento e de grandes privações. No quarto piso, acima do museu, foi instalada parte do seu arquivo pessoal, onde sobressai, encadernada para melhor conservação, a coleção completa das edições do jornal “Folha do Norte do Paraná”, um marco dos tempos de pioneirismo e coragem. Por conta do espírito destemido de um bispo de 40 anos, Maringá foi agraciada com seu mais formoso cartão postal, que lhe assegura inconfundível identidade. Alguns passos pelas ruas bastam para testemunhar o quanto a cidade assumiu como suas as linhas ascendentes de seu templo máximo, que apontam o caminho aberto por quem continua propondo que Cristo seja tudo em todos.

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O que ninguém escreveu Episódios pitorescos vividos por nossos padres dos primeiros tempos, alguns já chamados à casa do Pai.

Torneio Um quadrangular de futebol, no aniversário da cidade, em 1967, reuniu médicos, dentistas, advogados e padres de Maringá. Difícil foi montar o time “sagrado”. As camisas foram emprestadas pelo Telefônica Esporte Clube, da empresa de Ardinal Ribas. Os padres, porém, não reuniam número suficiente. Os adversários concordaram com o “enxerto” de alguns pastores e seminaristas. Não sabiam o que estavam fazendo. O pastor João, da 1ª Igreja Presbiteriana Independente, da Avenida Tiradentes, revelou-se uma muralha e fechou o gol. No ataque, o jovem seminarista José Carlos Pires de Paula (Zezinho), ponta-de-lança que sabia tudo de bola, só não fez chover. A primeira partida, no Willie Davids, terminou com vitória de 3x1 sobre os médicos, gols de Zezinho (2) e Waldir, da LBV. Os advogados venceram os dentistas. Em respeito ao condicionamento físico dos “atletas”, as partidas seguintes travaram-se no campo do Country Club, de dimensões mais modestas. Os dentistas foram derrotados pelos médicos. Com gols de Zezinho (2), Orivaldo (2) e Martinelli, a equipe “ecumênica” superou os advogados cujo tento de honra foi obtido num pênalty só visto pelo apitador Renato Taylor Negrinho (ou seria Joe Silva, outro narrador esportivo da época?). A bondade do árbitro não lhe permitiu aceitar a rudeza de um placar de 5x0. Aos advogados, na verdade, não poderia caber melhor sorte. Sem óculos, Salim Saab no gol era uma porteira aberta. Dispensou-se, por desnecessária, a partida de padres contra dentistas. Seria muito exigir o heroísmo de jogar mais uma partida, apenas para cumprir tabela. Dirigentes do Grêmio Esportivo Maringá chegaram a propor a Zezinho que deixasse o seminário para integrar o esquadrão do Galo do Norte. Apesar do “chocolate” (11x1) que levou do Santos de Pelé, nessa época o Grêmio era um timaço: venceu o Rapid, de Viena, a seleção da URSS (com Yashin e tudo), a seleção da Romênia, e fazia frente a qualquer dos grandes do futebol brasileiro.

A partir da esquerda, em pé: Bortolocci, Schneider (seminarista), João (pastor), Almeida, Valdir (LBV), Paulo. Agachados: Orivaldo, Isaac (LBV), Zezinho (seminarista) Bernardo e Martinelli.

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Missões No início de 1968 o bispo nomeou coordenadores diocesanos de pastoral os jovens padres Almeida e Orivaldo, que passaram a morar na residência episcopal. Um dos primeiros trabalhos foi o curso de formação, de vários dias, na paróquia de Paiçandu, conduzida por padre José Jézu-Flôr. Um jipe vem buscar os dois. Em sua casa, Jézu-Flôr os recebe e já os despacha: “Vocês vão começar lá em Água Boa; vão, que o povo já está esperando”. Nem descarregam as malas. Chegando ao distrito, o que vêem à distância, lá na frente, quase os faz cair do jipe. Uma multidão os aguarda, com faixas, foguetes, estandartes, alunos uniformizados dispensados das aulas, gente em roupa domingueira... Orivaldo implora ao motorista: “Pelo amor de Deus, entre nesse cafezal aí do lado, que a gente vai vestir a batina. Se chegarmos lá do jeito que estamos, o povo nos põe pra correr”. Num carreador as malas são abertas e, com a nova apresentação, são recepcionados sob fogos e vivas aos “missionários”. Mais tarde, Jézu-Flôr explica: “Ninguém sabe que negócio é esse de coordenador de pastoral. Se eu anunciasse dois padrezinhos recém-formados, não ia aparecer ninguém. O povo gosta é de missionário”. No almoço de encerramento, afundando a mão na farta cabeleira de Almeida, solta, no seu delicioso sotaque cearense: “Esses missionários não têm bahrba, mas têm cabelo que fahr (faz) medo”.

Aluno Em dezembro de 1968, chegou o novo encarregado da pastoral nipo-brasileira, padre Pedro Ryo Tanaka. De início, residiu na casa do bispo, onde continuou estudando a nova língua. Seu quarto era vizinho ao de Almeida, coordenador de pastoral. Um dia, Tanaka chama-o para resolver algumas dúvidas: – “Almeida, como faz quando penitente confessa, acaba confissão, mas não vai embora?” – “Nesse caso, Tanaka, você pode falar assim: Está pronto, vá em paz, Deus o abençoe.” Outras questões são apresentadas, e o solícito “professor” a todas vai dando as devidas respostas. Passado um tempo, esclarecidas as dúvidas, não há mais perguntas. Almeida, atencioso, aguarda ainda alguma manifestação do “aluno”. Não acha delicado sair abruptamente do seu quarto. Rompendo o silêncio que se estabelecera, Tanaka prova que a aula foi proveitosa e ele aprendeu direitinho: “Ah, Almeida, está pronto, vá em paz, Deus abençoe.”

Incêndio

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No começo da diocese, durante anos, dom Jaime costumava convidar os padres de Maringá para a ceia em sua casa, após a missa do galo, celebrada à meia-noite do Natal. A cidade contava poucas paróquias. Quase todos vindos de fora, os padres não tinham como passar as festas com suas famílias. Lá pelas duas da manhã, a residência episcopal reunia o pequeno grupo, cansado da trabalheira da semana do Natal. No ano de 1969, todos sentados à mesa, padre Adelino Formolo, vigário de Santo Antônio, é chamado ao telefone. Sem explicação, sai apressado. Retorna, uma hora


depois e, num pranto incontido, se atira nos braços do bispo, que se esforça por confortá-lo: “Queimou tudo, dom Jaime, queimou tudo.” Sobre os presentes desaba um silêncio de cemitério. Não se ouve senão o choro alto, sentido, do Adelino contador de piadas. Levantam-se todos e rumam para a igreja, um monte de carvão agora. Como o padre, os fiéis estão em lágrimas. Os bombeiros fazem o rescaldo. Construída em madeira, a igreja possuía o forro mais lindo de todas as igrejas da diocese. Não sobrou uma tábua inteira, queimou tudo até o chão. Na Sauna Samuara que freqüentava, padre Adelino, enxugando a testa suarenta, meses a fio, dirigia-se aos amigos: “Tchô (mistura de tchê com sô), tu tem que me ajudar. Minha igreja pegou fogo”. Com seu conhecido humor, padre Almeida comentava, na época, que para a reconstrução Adelino conseguiu mais ajuda nu, na sauna, do que vestido, na igreja. No Natal do ano seguinte, a missa foi celebrada na igreja nova, em adiantada fase de construção.

Matriz da Paróquia Santo Antônio de Pádua, na Vila Santo Antônio, destruída por violento incêndio, na noite de Natal de 1969.

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Uma Igreja de presença 6 e sinal do Reino

Irmãs vicentinas: da assistência do Albergue Santa Luíza de Marillac à inclusão social do Núcleo Papa João XXIII.


Não sem razão o papa João XXIII, ao propor, em 1961, a necessária atualização do pensamento de Leão XIII, qualificou a Igreja como mãe e mestra.1 Ainda que alguns, desconhecendo a história, insistam em acusá-la de inimiga do progresso, manda a verdade que se lhe reconheça o mérito de promotora do conhecimento num período de ignorância, além de salvadora da cultura do Ocidente no transe de seu de maior perigo. Tivesse ela assumido outra postura frente às invasões bárbaras, e da cultura, arte, ciência e técnica legadas pelos criadores do saber ocidental, quiçá não nos restasse mais que cinzas. Quando, nos séculos V e VI, sobre a Europa central e mediterrânea irromperam hordas deixando atrás de si um rastro de fogo, sangue e morte, o acervo da cultura clássica foi preservado não pelas armas dos palácios dos reis, mas pela diligência das catedrais e dos mosteiros. Num período carente de ensino, coube à Igreja democratizar o saber criando escolas para estudantes pobres junto às cátedras episcopais. Mais tarde, à sua sombra igualmente nasceram as universidades (UNIVERSIDADE, 1967, p. 496), começando por Bolonha (1119), seguida por Paris, a mais célebre, fundada em 1150 e regulamentada em 1215, Oxford (1168), Colônia, Pádua, onde lecionou Santo Antônio (11951231), Salamanca (1220), Cambridge (1224), Lovaina (1245) e incontáveis outras. Observa Daniel-Rops que esse esforço de salvaguarda intelectual “não tinha como fim a pesquisa do conhecimento”. Foi uma ação desinteressada de homens da Igreja que, “trabalhando com o cérebro e com os músculos, não tiveram em vista a satisfação pessoal, mas a glória de Deus”, à qual, como todos os esforços humanos, subordinavam as atividades da inteligência: “a cultura estava submetida à religião”. Também na investigação teológica, filosófica ou científica a Igreja cultiva como único escopo o bom desempenho de sua missão específica, que é evangelizar. Não haveria conhecimentos escriturísticos nem bela liturgia sem o conhecimento do latim; não haveria verdadeira fé sem um estudo sério dos livros sagrados e dos Padres. Compreendendo isso, os papas, os bispos e os abades dos mosteiros empenharam-se em salvaguardar a cultura numa sociedade que tinha por ela o mais completo desprezo. Mais ainda: o que a Igreja compreendeu também foi que não podia defender a sua causa sem estar armada para os combates da inteligência [...] e bastou que alguns homens,

1 Mater et Magistra designa a encíclica sobre “a evolução da questão social à luz da doutrina cristã”. Data de 15 de maio de 1961, 70º aniversário da Rerum Novarum, pioneira e base do pensamento social da Igreja.

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


nos seus conventos, tivessem cultivado essa idéia, para que grandes autores pagãos fossem salvos do naufrágio [...] Do século XI ao século XIV, salvo raríssimas exceções, toda a cultura se manterá fundamentalmente religiosa: as pessoas dedicadas ao ensino e às letras serão quase inteiramente da Igreja e procurar-se-á manter a orientação propriamente cristã da atividade intelectual até o momento em que ela começar a querer considerar-se autônoma e a pretender passar sem a fé (ROPS, 1993, p. 337-338). “Mãe e mestra”, a Igreja de Cristo teve sempre muito a peito o desempenho de sua função educadora. Não há uma crônica de trabalho missionário que não aponte, como atividade primeira em favor dos habitantes locais a fundação de uma escola bem como o cultivo de hábitos de higiene, alimentação, abastecimento de água, enfermagem, economia doméstica, agricultura, irrigação, adubação, criação de animais, seleção de sementes, eletrificação, carpintaria, construção de casas e silos... Ao lado de agente da religião, o missionário católico se fez invariavelmente reconhecer como promotor do progresso e da melhoria de vida da comunidade. O início da missão católica assinala invariavelmente a abertura de uma escola e de um ambulatório, antes até que de uma capela. Traduzindo o Evangelho por “boa notícia” do amor de Deus endereçado a seus filhos, a Igreja empenha-se em tornar visível a salvação, partindo das situações de vida em que eles se acham. À semelhança dos antigos desbravadores que aqui vieram fincar seu rancho, também o primeiro bispo não fechou os olhos aos clamores de uma região pioneira e inculta para cujo desenvolvimento urgia investir, antes de tudo, na educação. Lembrado de que entre as funções do bispo figura também a de mestre da fé, muito cedo se inquietou com a escassez de colaboradores para o aprimoramento do ensino escolar, reconhecidamente precário: entendia que sem instrução não havia como assegurar aos diocesanos uma fé robusta capaz de transformá-los em praticantes de uma religião esclarecida.

A obra da educação Não precisou partir da estaca zero. Alguma presença da Igreja na área da educação já encontrou implantada, embora de forma incipiente. Muito mais não se podia esperar de uma cidade ainda por completar dez anos. No meio da mata em que brotava, não seria plausível esperar grande entusiasmo por estudo. Mais urgente era trabalhar como um mouro para sobreviver. Das mesmas privações comungavam educadores, derrubadores de mato e plantadores de café. Poucos estabelecimentos de ensino o bispo de Jacarezinho conseguiu implantar. Além do pioneiro colégio Santa Cruz, em Maringá – a escola paroquial de Mandaguaçu era dirigida pela mesma congregação religiosa – e de colégios católicos em Mandaguari e em Alto Paraná, funcionava ainda, em prédio da Avenida Tiradentes, esquina com Rua Pedro Álvares Cabral, em Maringá, sob direção de padre Cleto Altoé, um ginásio diocesano e uma escola técnica de comércio. Na 10ª reunião ordinária do seu conselho diocesano, realizada em 26 de janeiro de 1955, dom Sigaud comunicou aos conselheiros a intenção de adquirir o ginásio de Maringá. A ata registra: “S. Excia. viu-se obrigado a adquirir o Ginásio de Maringá para a Diocese, a fim de que não caísse em mãos de protestantes.” (DIOCESE DE JACARÉZINHO, 1948, f. 9). O prédio tinha sido inaugurado em 13 de maio de 1952, com autorização para funcionar concedida pela portaria estadual nº 852, de 27 de setembro do mesmo ano. Contava com 197 alunos e permaneceu sob direção de Anthero Chaves Santos desde a abertura até 15 de agosto de 1954, quando foi vendido à Mitra Diocesana de Jacarezinho (REIS, 2004, p. 69). Esclarece o professor Geraldo Altoé – à época, já residente em Maringá e, apesar do sobrenome, sem parentesco com padre Cleto –, que Zaqueu de Mello, proprietário de colégio em Londrina, pretendia comprá-lo para fazer dele extensão de sua atividade educacional de cunho marcadamente evangélico. “Protestante”, em meados do século passado, carregava para a grei católica um travo de desconfiança, hoje felizmente superado, que correspondia a sentimento igual da outra parte. Para diretor do agora ginásio diocesano, a escolha recaiu com naturalidade sobre o capixaba Altoé, de vez que fora admitido na diocese como ex-salesiano, portanto egresso de um instituto religioso voltado à educação. Além do encargo, prestava auxílio ao vigário da Santíssima Trindade, a paróquia do centro da cidade. Foi ainda adquirido o direito de funcionamento, no mesmo prédio, da escola técnica de comércio. Conforme informação

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de dom Armando Cirio, já naquela época havia intenção por parte do bispo de Jacarezinho de entregar aos

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irmãos maristas o ginásio adquirido pela diocese. Nove meses após sua chegada, em dezembro de 1957, dom Jaime, ex-aluno marista, conseguiu trazer os religiosos da congregação fundada por Marcelino Champagnat, cujo nome identifica a rua do atual Colégio Marista.2 Levado pela ânsia de oferecer a crianças, adolescentes, jovens e adultos uma formação cristã, o bispo jamais demonstrou cansaço no cuidado de dotar a diocese de mais e mais irmãs para cuidar do ensino e, mais que isso, da educação em sentido pleno. A missão de educadora da infância e da juventude, sobretudo a partir da Idade Moderna, cumpriu-a a Igreja, de forma privilegiada, através de institutos religiosos nascidos da visão de mulheres e homens de Deus atentos às necessidades das novas gerações. Compreende-se, por essa razão, que o trabalho desenvolvido por educadores católicos concentre-se, em larga escala, nas mãos de religiosos e de religiosas. Em Maringá não foi diferente. Cônscios da responsabilidade de mestres da fé, tanto dom Sigaud, ao tempo da pertença a Jacarezinho, quanto dom Jaime, atuando em Maringá desde março de 1957, nenhum dos dois deixou escapar oportunidade de para cá trazer quantos educadores pudesse conseguir. Dom de Deus à multiforme vitalidade de sua Igreja, a consagração religiosa não se restringe, porém, à educação. Religiosas e religiosos, na gama de sinais da atuação do Espírito, de muitos modos testemunham o Reino anunciado pelo Senhor. Manifestam, na simplicidade de vida e na entrega aos valores eternos, a transitoriedade do tempo presente. A partir da instalação da nova diocese, também nesta parte do Paraná, distintos carismas da vida consagrada mostraram-se bem-vindos. Cronologicamente, a Igreja de Maringá os foi recebendo conforme segue: Em 1957: primeiros passos que levaram, mais tarde, à criação do Colégio Santo Inácio. A CMNP doara à paróquia um terreno para construção de uma escola paroquial. Os padres da paróquia São José pediram à Alemanha que enviasse, para organizar a escola, uma irmã da mesma congregação das que aqui se encontravam. Cinco missionárias do Santo Nome de Maria, as primeiras a enfrentar uma Maringá menina, tinham chegado em 1956, com a missão de cuidar de pobres sertanejos doentes na precaríssima casa de saúde aberta pelos irmãos instalados em Maringá no ano de 1953. As heróicas alemãs, todas jovens e todas Marias, conforme o costume do seu instituto religioso, eram: Maria Conradine, cujo nome civil era Agnes Huning (†1983); Maria Conrada, ou Anna Gebina Janssen (†2000); Maria Antonella, nascida Maria Christine Spreckelmeyer (†2005); Maria Sturmia, nome religioso de Anna Eleonor Hohmann (†2006); Maria Callista (Maria Paula Im Moore), e Maria Dietlinde (Maria Adelheid Ginten). Nenhuma retornou à pátria de origem. A brasileiros que jamais tinham antes conhecido ofereceram não apenas seu trabalho; deram mais: a juventude, o entusiasmo, a saúde, o amor, numa palavra, a vida. Com a promessa de uma irmã para a escola, o vigário, padre Osvaldo Rambo, SJ, já no dia 1º de março, animou-se a abri-la, tornando-se o diretor. Para organizá-la contou com a colaboração da professora Alfia Pulzato. Em 10 de agosto chegou irmã Maria Jutta (Anna Berta Agnes Kuntny) que, no início de 1958, assumiu a direção interna cabendo a irmã Maria Sturmia dirigir o Jardim da Infância. Mas seus estudos, cumpridos na Alemanha, levaram tempo para o reconhecimento do MEC. Rambo (1957-1960) e o sucessor, padre Francisco Boesing, responderam oficialmente pela escola enquanto o trabalho educacional era responsabilidade das irmãs, que foram crescendo em número e atendendo às exigências da legislação brasileira. Em 12 de dezembro de 1960, contrato celebrado com a diocese de Maringá transferiu a Escola Santo Inácio à propriedade das religiosas. De escola passou a ginásio, depois a escola normal colegial, para finalmente tornar-se Colégio Santo Inácio, responsável por inscrever o nome de irmã Jutta na galeria das maiores educadoras que Maringá se orgulha de ter conhecido em todos os tempos. As cinco irmãs que, muito dispostas e ansiosas, naquele 12 de junho de 1956, pisaram pela primeira vez o solo vermelho de uma cidade nascente, passado meio século, multiplicaram-se às dezenas. Encontramo-las sempre mais comprometidas com o carisma missionário que as impulsiona para regiões mais necessitadas e

2 A Rua Pedro Álvares Cabral, pela lei municipal nº 207/62, de 23 de abril de 1962, teve o nome alterado para Padre Marcelino Champagnat. Depois da canonização de Champagnat, através da lei nº 4820/99, de 25 de junho de 1999, a denominação oficial passou a São Marcelino Champagnat, embora as placas registrem apenas Rua Marcelino Champagnat.

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Missionárias do Santo Nome de Maria – as primeiras irmãs chegadas em 1956. A partir da esquerda: irmãs Conrada, Conradine, Antonella, padre Amândio Fritzen, SJ, irmãs Calista, Dietlinde e Sturmia.

Cinqüentenário das Irmãs do Santo Nome de Maria, em 2006 – irmãs Adelinde, Juta, Edita, Petronela e Dietlinde (irmã Maria), a única de 1956 ainda em atividade, na residência de dom Jaime.

distantes. Na diocese, além do Colégio Santo Inácio, espalham seu serviço por sete comunidades: - Casa Provincial Maria Missionária – sede do governo provincial, que coordena a vida de todas as casas da congregação no Brasil e no Paraguai; - Centro de Espiritualidade Rainha da Paz, ambiente perfeito para retiros espirituais de toda a região; - Noviciado Rainha da Paz, onde as noviças da congregação cumprem o tempo de formação preparando-se para a consagração religiosa; - Lar Rainha da Paz, para as irmãs idosas, que são cuidadas com carinho recebendo atendimento em todas as necessidades; - Creche Menino Jesus, fundada em 1970, reconhecida de utilidade pública federal, a primeira a funcionar em Maringá, construída com ajuda de Brescia, a italiana cidade-irmã de Maringá; - Comunidade Mãe da Esperança, casa de encontros e - Comunidade Nossa Senhora das Graças, no município de Sarandi onde, depois de colaborarem na pastoral paroquial desde 1957, a partir de 1989 vêm cuidando de crianças carentes. Nas fileiras da congregação do Santo Nome de Maria mais de uma vez a Igreja de Maringá foi buscar irmãs para pesados encargos em áreas como catequese, Seminário Arquidiocesano, espiritualidade, formação de agentes, vida paroquial etc. Dentre aquelas que, desde o ano de 1971, se estabeleceram ou se formaram em Maringá, muitas vêm sendo encaminhadas a novos serviços em Ubiratã, Campina da Lagoa e Sarandi, no Paraná, além de Mato Grosso, Amazonas, Tocantins e Paraguai. Ainda em 1957: por carta, dom Jaime iniciou entendimentos com o médico Álvaro Barcellos Sant’Ana, residente no Rio de Janeiro, para aquisição de uma área de sua propriedade, em Maringá, que compreendia toda a quadra delimitada pelas avenidas Curitiba e Rio Branco, Rua Luiz Gama e Praça Manuel Ribas. O terreno continha antigo hospital de madeira desativado. Era intenção do bispo abrir, de frente para a Praça Manuel Ribas, um espaço destinado à adoração perpétua do Santíssimo Sacramento. Convidou a Congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, nas quais pensava, já antes da posse, para ali, num primeiro momento, abrirem um pensionato. A congregação, fundada em 1928, pelo bispo de Campinas, dom Francisco de Campos Barreto (1920-1941), expandiu-se rapidamente, alcançando até o Rio Grande do Sul onde fundou nova província. No ano de 1952 eram já 1012 irmãs estabelecidas em 59 casas por todo o Brasil. Em resposta ao bispo, datada de 1º de julho de 1957, a madre geral, com sede em Campinas, prometeu enviar irmãs no final do mês seguinte; o prédio foi então alugado pela diocese e, aos 15 de agosto daquele ano, foi fundada a Casa Nossa Senhora da Glória. As primeiras cinco religiosas chegaram no dia 27 e no dia 30 desse

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mês, ocorrendo a instalação da casa no dia 2 de setembro. Com menos de dois meses, no dia 29 de outubro,

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foi fundada a Obra dos Tabernáculos, entregue à direção das religiosas, que receberam a colaboração de senhoras da sociedade local. No início de 1959 as irmãs abriram o Jardim São José, jardim da infância, além de uma escola de curso primário para meninas, impossibilitadas de estudar no Colégio Marista, que só admitia estudantes do sexo masculino. Nesse ano a congregação adquiriu o imóvel através de empréstimo bancário conseguido e avalizado pelo bispo, que se mostrou feliz, conforme confessou, em “abençoar o Jardim São José que, ao lado do Ginásio Santa Cruz e do Ginásio Marista, irá orientar sadiamente as crianças na verdadeira formação para a vida”. Com o tempo, além do pensionato, as irmãs diversificaram os cursos ministrados para aprimoramento da juventude feminina, além da Obra do Berço, fundada por dom Jaime, que teve ali, por décadas, sua sede. O humilde jardim da infância converteu-se no Colégio Nossa Senhora da Glória, a meio caminho entre os colégios Santa Cruz e Marista. Mais tarde, foi construída ampla residência de alvenaria para as irmãs, com recursos aportados por católicos italianos através da fraternidade Maringá-Brescia. No final dos anos 80, incapaz de prover de novas religiosas a casa de Maringá, a direção provincial, sediada no Rio Grande do Sul, resolver abrir mão da propriedade. Vendeu a parte da área confrontante com a Rua Luiz Gama. Desfez-se, por fim, do restante do imóvel, inclusive da antiga casa das irmãs, que foi convertida em restaurante. Diversamente do que imaginou o primeiro bispo, a face da quadra aberta à praça, em vez de capela de adoração perpétua, passou a ostentar uma casa noturna. No início de seu governo arquidiocesano (1997-2002), dom Murilo tomou conhecimento do desagrado de dom Jaime com a alienação levada a efeito pelas irmãs, particularmente da residência para cuja construção ele conseguira na Itália o numerário investido. Propôs então Krieger que a congregação ressarcisse a arquidiocese da importância aí utilizada. Através de carta, consultou Giuseppe Inselvini, coordenador italiano do “gemellagio”, sobre a possibilidade de empregar o valor oferecido por Brescia – R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais) calculados, que o governo provincial da congregação concordou em devolver – na reforma da antiga ADAR, cuja adaptação estava em curso para abrigar o CEPA – Centro de Pastoral da Arquidiocese, providência que todos vinham, há tempo, reclamando. Às Missionárias de Jesus Crucificado foi facultado parcelar o débito. As obras do CEPA tiveram início em 1999, com grande empenho do coordenador de pastoral, padre Luiz Antônio Bento, vindo a ocorrer sua inauguração no dia 21 de setembro de 2002. Em 1958: incomodado pela ignorância religiosa do rebanho, com capital reunido por alguns congregados marianos, dom Jaime inaugurou, no dia 29 de junho de 1958, uma livraria católica em Maringá. Aos responsáveis, contudo, faltava experiência no ramo. Por isso, o bispo solicitou à Pia Sociedade Filhas de São Paulo, sediada na capital paulista, que abrisse casa em Maringá. Com menos de cinco meses, em 4 de novembro, as primeiras paulinas assumiram a livraria católica. A diocese recebeu, dessa forma, novo impulso para o crescimento na fé através dos meios de comunicação da época. As irmãs passaram a acompanhar o bispo nas visitas pastorais, deslocando-se até os rincões do fim de mundo que eram as barrancas do rio Paraná. Ajudavam-no na preparação das crismas e na celebração eucarística, divulgavam a Palavra de Deus, ofereciam livros de catequese e de piedade, revistas e folhetos de formação cristã. A elas se devem incontáveis semanas bíblicas, semanas da imprensa e vocacionais; assessoria a grupos de reflexão; estudos sobre catequese, liturgia e Sagrada Escritura; aprofundamento de temas de vida pastoral, de comunicação social etc. A Livraria São Paulo tornouse referencial na divulgação de grandes eventos da Igreja Católica destinados ao grande público. Em 1959: teve início o Colégio Nossa Senhora da Esperança, em Nova Esperança, sob responsabilidade das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus. As mesmas irmãs, no governo de dom Murilo, assumiram obra assistencial em Floresta, cidade vizinha de Maringá. Também é de 1959 a fundação do Colégio Nossa Senhora Aparecida, em Paraíso do Norte, dirigido pelas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, que chegaram à cidade de Maringá em 1960 para dirigir o albergue assumido pela diocese. Ainda no ano de 1960 aconteceu a abertura do Colégio São Vicente de Paulo, em Paranavaí, dirigido pelas mesmas irmãs. Um grupo delas, durante alguns meses, prestou serviço no Hospital Santa Rita, que então abria as portas em Maringá. Por iniciativa de senhoras do chamado Clube da Amizade, em 1963 começou a funcionar em Maringá uma instituição para meninos carentes, chamada Lar Escola da Criança. Nesse mesmo ano as irmãs vicentinas aceitaram cuidar da instituição. Tempos depois, foram substituídas por outras religiosas, as Damas da Instrução Cristã. Estas, por sua vez, transferiram a direção às Missionárias do Santo Nome de Maria, que cuidaram da

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obra provisoriamente até ela ser confiada às irmãs Murialdinas de São José. Desde quando foi inaugurado, em 9 de novembro de 1972, o Núcleo Social Papa João XXIII, situado na Vila Vardelina, em Maringá, vem sendo dirigido pelas Filhas da Caridade, as conhecidas irmãs vicentinas. Em 1960: abriu-se o Colégio São Francisco de Assis, em Mandaguaçu, assumido pelas Damas da Instrução Cristã, após retorno a Maringá das irmãs carmelitas de Vedruna, que cuidavam da escola paroquial. As novas religiosas provinham de Recife, onde se situa a sede da congregação no Brasil. Em Santa Isabel do Ivaí, Bênção da primeira Livraria São Paulo, das Paulinas, em 17 dezembro 1958.

no ano de 1961, assumiram o Colégio Sagrado Coração de Jesus. Sete anos depois de sua chegada ao Paraná, abriram casa em Maringá, iniciando, em setembro de 1967, a construção do Colégio Regina Mundi, que em 1984 se tornou sede da Província do Sul da congregação, agora com duas províncias brasileiras. O ano de 1992 marcou o início de construção da Casa de Formação Cenáculo e do Centro de Evangelização Santa Inês, na Estrada Bom Sucesso, bairro Cidade Alta 2, onde se desenvolvem atividades de formação e espiritualidade. Também em 1960, mais precisamente no dia 15 de fevereiro, dom Jaime requereu à Secretaria de Estado da Educação e Cultura a nomeação para diretor da Escola Mista São José, instituição privada de ensino, direcionada preferencialmente aos filhos e netos de japoneses, mantida pela SOCEMA – Sociedade Cultural e Esportiva de Maringá, precursora da associação ACEMA – Associação Cultural e Esportiva de Maringá de hoje. Conforme o antigo secretário Issao Hiratomi, os dirigentes escolheram o bispo em razão da sua amizade com a Colônia Japonesa, além de que seu nome conferia inegável prestígio à escola. Por mais de dez anos ele se manteve no cargo de diretor. A Escola Mista São José funcionava no nº 143 da Rua Evaristo da Veiga, tendo mais tarde aberto filial na Zona 4, localizada no prédio de nº 338 da Rua Joaquim Nabuco. Em 1961: abertura do Grupo Escolar Ipiranga, na Zona 7, em Maringá, confiado às Missionárias de Santo Antônio Maria Claret, precursor do atual Colégio Estadual Ipiranga. Por mais de dez meses, de 6 de setembro de 1964 a 11 de julho de 1965, para as celebrações litúrgicas, os fiéis da paróquia Santa Maria Goretti acorriam ao colégio, enquanto se construía o salão onde funcionou a primeira igreja matriz. As mesmas irmãs claretianas, desde 1959, vinham cuidando da residência episcopal, de onde se afastaram em 1968. Ofereceram também valiosa colaboração, desde 1962 até 1969, ao funcionamento do Seminário Diocesano Nossa Senhora da Glória no qual trabalharam sem descanso. Em 1962: lançamento, no dia 2 de setembro, da pedra fundamental do Colégio São Francisco Xavier, junto à Missão Nipo -brasileira. Quase quatro anos mais tarde, no dia 29 de janeiro de

Visita pastoral às comunidades das ilhas do rio Paraná, na divisa com Mato Grosso (hoje, Mato Grosso do Sul). As irmãs sempre acompanhavam o bispo nas visitas pastorais.

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1966, o colégio abriu suas portas como Externato São Francisco Xavier, sob direção das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, originárias da Província São José da congregação, sediada na época em Sorocaba. Tendo-se reduzido o número de irmãs, em 1979 o


imóvel foi devolvido à diocese de Maringá, que o confiou à direção da professora Eiko Suguimoto Iwata. Apesar das dificuldades de pessoal, atendendo pedido do Centro Cultural e Social São Francisco Xavier, para encargos pastorais na catequese, liturgia, formação de lideranças e no atendimento da secretaria paroquial, a congregação destinou irmãs que formaram a chamada “Comunidade Rainha dos Apóstolos”, acomodada em residência adquirida não longe da sede paroquial. No governo de dom Murilo Krieger, em 16 de dezembro de 1997, o colégio passou à responsabilidade da paróquia Menino Jesus de Praga e São Francisco Xavier, tendo como diretor o pároco, padre Sidney Fabril. Decisiva para transformação da antiga escola de madeira no moderno edifício de hoje foi a ajuda de católicos japoneses, levantada pelos heróicos missionários monsenhores Miguel Yoshimi Kimura e Pedro Ryo Tanaka, de saudosa memória. A partir de 1º de janeiro de 2002, o colégio recebeu a professora Eliza Mitie Shiozaki como diretora. Em 1963: o Rotary Clube de Maringá solicitou religiosas para dirigir o Lar dos Velhinhos cujo primeiro pavilhão acabara de construir. Dom Jaime recorreu às mesmas Irmãzinhas da Imaculada Conceição, que enviaram as primeiras irmãs. Também no ano de 1963 teve início, em Jandaia do Sul, o Colégio São José, das Passionistas de São Paulo da Cruz. Em 1964: começou a funcionar o Colégio Santa Edwiges, em Loanda, dirigido pelas religiosas Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário. No mesmo ano houve a abertura do Colégio Santa Inês, em Nova Londrina, pelo qual se responsabilizaram as Franciscanas da Imaculada Conceição de Maria, de Bonlanden, congregação já presente em Alto Paraná. Em 1965: foi dado início ao Colégio Anjos Custódios, em Marialva, das irmãs da Congregação dos Santos Anjos Custódios, ainda em modesta escola paroquial. Liderada pela batalhadora irmã Margarita Sastre, a comunidade de Marialva se uniu para levantar o colégio atual. No final dos anos 80, na Vila Brasil, por esforço de uma religiosa da comunidade, foi fundado um centro social para crianças e adolescentes. É ainda do ano de 1965 o Colégio Santa Cruz, na cidade de Santa Cruz do Monte Castelo, sob direção das Dominicanas da Beata Imelda. Em 1966: criado o Colégio Santa Maria, em São Jorge do Ivaí, a cargo das religiosas do Instituto da Beatíssima Virgem Maria. Infelizmente, o reduzido número de alunos inviabilizou o empreendimento. Para fugir ao pagamento de mensalidades, os pais preferiam colocar os filhos na escola pública. Assim, o colégio das irmãs teve curta duração, fechando as portas pouco depois de inaugurado. No mesmo ano começou a funcionar o Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Graciosa, confiado à direção das religiosas Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus, mesma congregação que no ano seguinte assumiu em Paranavaí o Colégio Nossa Senhora Aparecida. Também é deste ano a vinda para Maringá das religiosas de São Carlos de Lyon, das quais irmãs Josette Barthélemy, Jeanne Gaudin, Teresa Rocha e Sônia Poubel foram as primeiras, tendo chegado no dia 19 de março de 1966 para assumir a ADAR – Associação Diocesana de Assistência Rural. Além da direção da casa destinada a treinamento de agricultores, desenvolviam um leque de ações como catequese, alfabetização de adultos, cursos de corte e costura, tecelagem, pintura etc. A partir de 1980, deixando o prédio da ADAR para uso da paróquia Santo Antônio de Pádua, as irmãs assumiram a direção da Cúria Metropolitana exercendo ainda em bairros eficiente trabalho nos campos da catequese, formação de grupos de reflexão, atendimento a doentes etc. A congregação abriu seu noviciado em Maringá, no dia 13 de junho de 1978. Em 1999, inaugurou o Centro de Educação Infantil Carlos Démia, no bairro Borba Gato, que iniciou as aulas em 7 de fevereiro de 2000. Carlos Démia é o nome do sacerdote francês fundador da congregação. Com a criação, em 20 de janeiro de 1968, da diocese de Paranavaí, deixaram de pertencer à diocese de Maringá as paróquias de Alto Paraná, Graciosa, Loanda, Nova Londrina, Paraíso do Norte, Paranavaí, Santa Cruz do Monte Castelo e Santa Isabel do Ivaí. Em 1973: as Murialdinas de São José chegaram a Maringá no dia 14 de março. A pedido de dom Jaime, em janeiro desse ano, o cura da catedral, monsenhor Sidney Luiz Zanettini, esteve, juntamente com dom Benedito Zorzi, na sede provincial da congregação, situada em Fazenda Souza, distrito de Caxias do Sul, para convidá-las a assumir o Lar Escola da Criança. As murialdinas receberam a instituição da qual provisoriamente cuidavam as Missionárias do Santo Nome de Maria. Além desse inestimável serviço, religiosas do mesmo

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instituto cuidam ainda da paróquia de Nossa Senhora Mãe de Deus, em Presidente Castelo Branco. O atendimento sacramental é prestado pelo pároco da vizinha paróquia de Atalaia, mas o restante trabalho pastoral, com excelente resultado, repousa nos ombros das religiosas. A entrega de uma paróquia aos cuidados pastorais de religiosas, prática comum em outras regiões do Brasil desde a iniciativa pioneira de Nísia Floresta (RN) no final dos anos 60, verificou-se na arquidiocese de Maringá, pela primeira vez, na comunidade de Inajá. No dia 7 de junho de 1981, dois anos após a saída do último padre, a paróquia recebeu as encarregadas paroquiais, quatro religiosas da Ordem da Companhia de Maria Nossa Senhora, conhecidas como irmãs da Companhia de Maria. Meses depois, no dia 3 de novembro do mesmo ano, faleceu irmã Iracema Osório. As três restantes, irmãs Genny Ferrari, Aparecida da Silva e Leonilda Romano da Silva, com ajuda ocasional de irmã Isabel Garez Caballero, continuaram até 2 de abril de 1990, quando deixaram a comunidade, para tristeza dos fiéis que delas ainda hoje sentem saudades. Sucederam-nas as irmãs da Congregação de São João Batista, que assumiram a paróquia no dia 29 de junho de 1990, respondendo por sua vida pastoral até o dia 9 de fevereiro de 1992, quando então se transferiram à paróquia Bom Pastor, em Mandaguari, como auxiliares no trabalho pastoral. Aí abriram um centro para “evangelizar, educar e promover”, conforme o carisma da congregação. Em 1998: já no governo de dom Murilo, na primeira quinzena de dezembro, veio estabelecer-se em Maringá a congregação da Pia União das Irmãs da Copiosa Redenção Mãe da Divina Graça para um trabalho de recuperação de jovens do sexo feminino vítimas de drogas, além de ajuda a moças solteiras grávidas não aceitas pela família. Em 2001: tomaram posse, no dia 11 de fevereiro, para trabalho pastoral na paróquia Cristo Bom Pastor, em Paiçandu, as irmãs diocesanas de Cristo Pastor. Duas semanas após, no dia 25, repetiu-se o fato na capela Santa Terezinha da Vila Guadiana, na paróquia e município de Mandaguaçu, agora com a posse de religiosas da Congregação das Irmãs Filhas de Sant’Ana, que se entregaram a atividade pastoral semelhante. As mesmas irmãs Filhas de Sant’Ana iniciaram, no dia 18 de agosto de 2006, um trabalho de ajuda pastoral na paróquia de Ivatuba. O atendimento sacramental é prestado pelo pároco de Doutor Camargo e Ivatuba, a cuja responsabilidade estão confiadas ambas as paróquias. Maringá abriga ainda centros de formação que se inserem na vasta missão educadora da Igreja. Tanto para o presbitério diocesano como para a vida consagrada, segundo o carisma de cada instituto religioso, foram criadas instituições que atestam o cuidado da Igreja na formação de agentes especiais da evangelização, sejam ministros ordenados ou não. Neste rol apontam-se: - o Noviciado São Luiz Gonzaga, dos irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora, instalado em Maringá no dia 31 de julho de 1957, conforme decreto de 27 de maio de 1957, protocolo nº 3845/57, da Sagrada Congregação dos Religiosos. Por determinação do Conselho Geral da Congregação, no ano de 1959 erigiu-se também o noviciado de Porto Alegre. Em 1962, ambos foram reunidos na capital gaúcha em noviciado único, fechando-se o de Maringá. No ano de 1972, foi o mesmo transferido de Porto Alegre para Maringá, onde permaneceu até 2004. Nesse ano, os superiores decidiram deslocá-lo para a Alemanha, onde presentemente se encontra; - o Seminário Menor Imaculada Conceição, da Ordem dos frades da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo (padres carmelitas), fundado em 1959, na cidade de Graciosa, vizinha de Paranavaí; - o Noviciado Rainha da Paz, das Irmãs Missionárias do Santo Nome de Maria, em Maringá. No dia 25 de março de 1958 foram admitidas as primeiras postulantes, mas só a 17 de outubro de 1959 seria iniciada, junto à igreja São José, a casa para as noviças. O prédio do noviciado, na chácara adquirida pela congregação, foi começado em 1963 e aberto no dia 22 de maio de 1964. Trinta anos depois, o noviciado transferiu-se para novo prédio na mesma chácara, mudando-se, no dia 31 de dezembro de 2006, para o Jardim São Silvestre, na Rua Pioneiro Domingos Danhoni, 938; - o Noviciado Nossa Senhora Aparecida, das Carmelitas da Caridade de Vedruna, aberto no ano de 1961, em Maringá e transferido, em agosto de 1971, para Campinas;

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- o extensamente relatado Seminário Menor Diocesano Nossa Senhora da Glória, de Maringá, iniciado em 1962; 3 - o Noviciado São Carlos, das irmãs de São Carlos de Lyon, no Recanto Pascal, situado às margens da rodovia, na saída de Maringá para Campo Mourão, que teve início a 13 de junho de 1978, e, por último, - o Seminário Santo Agostinho, da Ordem dos Agostinianos Recoletos, para seus postulantes na etapa de Filosofia, iniciado com a chegada à Maringá, em 27 de janeiro de 2002, do primeiro formador. Em Mandaguari, liderada pela paróquia Nossa Senhora Aparecida, além da Escola Primária São Tarcísio (1961), foram criados: Escola Paroquial São Vicente Pallotti, em 1963; Ginásio e Colégio Industrial e Agrícola Rainha dos Apóstolos, em 1968, e Centro de Treinamento Profissional, que iniciou em 1971, todas obras com a marca do dinamismo de padre Max Kaufmann, SAC. Não obstante sua personalidade forte que lhe dificultava, às vezes, ajustar-se às normas da Igreja diocesana, padre Max exerceu em Mandaguari um trabalho religioso-educativo de extraordinário alcance. Dos atuais colégios a parcela maior partiu de começo bastante humilde, quase sempre em construções de madeira que, no decorrer dos anos, foram-se fortalecendo com a generosa colaboração dos fiéis das comunidades atendidas. As congregações religiosas voltadas à educação direcionaram seu trabalho, nos primeiros tempos, preferencialmente à infância e à adolescência femininas. É compreensível, considerando o ambiente árduo da lavoura e o ensino deficiente das escolas públicas dos primeiros tempos. Muitas vezes o “colégio” das irmãs não ia além de despojadas salas de madeira onde valentes educadoras ministravam as primeiras letras, complementando o conteúdo escolar com noções básicas para a formação individual, familiar e social da mulher. Manda a verdade que se afirme, também na área da educação, o pioneirismo de dom Jaime. A ele se deve a instalação de todos os estabelecimentos católicos de ensino durante os quarenta anos de seu governo diocesano. Mais ainda: um recuo às origens leva a descobri-lo na implantação da maior universidade da região, a Universidade Estadual de Maringá, bem assim da Pontifícia Universidade Católica do Paraná aqui. A PUC-PR estabeleceu sua presença em Maringá no ano de 2004, quando ofereceu à comunidade os dois primeiros cursos de Nutrição e Enfermagem, iniciando as aulas no dia 14 de fevereiro. Fruto de longos entendimentos mantidos entre a Província Eclesiástica de Maringá e a direção da PUC-PR, em 2006 foi aberto o curso de Filosofia. Cumpridas as formalidades da legislação, veio a público, depois de ansiosa espera das dioceses interessadas, a autorização para o curso de Filosofia: GABINETE DO MINISTRO Portaria Nº 810, de 28 de março de 2006 O Ministro de Estado da Educação etc. resolve: Art. 1º Autorizar o funcionamento do curso de Filosofia, licenciatura, a ser ministrado no campus fora da sede localizado na cidade de Maringá, no Estado do Paraná, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, mantida pela Associação Paranaense de Cultura – APC, ambas com sede na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná. Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. FERNANDO HADDAD (BRASIL, 2006, p. 15). Nos dias 4 e 5 de fevereiro, ainda no aguardo da autorização ministerial, realizaram-se as provas do concurso vestibular para ingresso na PUC-PR. Publicada a portaria na quarta-feira, dia 28, da última semana

3 Não religioso, evidentemente, mas aqui incluído como integrante das iniciativas da Igreja voltadas à educação em Maringá. Nos vários seminários diocesanos espalhados por todo o Brasil, não poucos cidadãos encontraram o primeiro impulso para alavancar a escalada do saber e da solidez de princípios, rumo à sua realização profissional e cidadã.

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de março, o início oficial do curso de Filosofia aconteceu no dia 3 de abril de 2006. Ainda de forma temporária, a PUC-PR câmpus de Maringá estabeleceu-se no Colégio Marista, mais precisamente no novo anexo erguido na Avenida Tiradentes, nº 963. As instalações definitivas ocuparão área própria, já adquirida, de 26 alqueires, ou 62,92ha, no final das Avenidas Guaiapó e Tuiuti. Com essa prova de confiança na potencialidade da região onde foi ansiosamente aguardada, a PUC-PR escreve mais um capítulo da sua história, que dignifica a lembrança de dom Manuel da Silveira D’Elboux. Desde sua chegada ao Paraná, ele já alimentava o sonho da Universidade Católica de Curitiba (FEDALTO, 1956, f. 347). Quando, enfim, se ofereceram condições, a 14 de março de 1959, criou não a universidade da capital, mas a Universidade Católica do Paraná: fez questão de inscrever como seu beneficiário o Estado inteiro, assim como associar à sua fundação todo o episcopado paranaense. Com a grandeza de alma que o caracterizava, repartiu os méritos da criação com dom Jerônimo Mazzarotto e dom Inácio Krause, seus bispos auxiliares; dom Antônio Mazzarotto, bispo de Ponta Grossa; dom Geraldo Sigaud, bispo de Jacarezinho; dom Manoel Koenner, bispo-prelado de Foz do Iguaçu; dom Carlos Eduardo de Sabóia Bandeira de Mello, bispo-prelado de Palmas; dom Geraldo Fernandes, bispo de Londrina, e dom Jaime Luiz Coelho, bispo de Maringá. Pelo decreto nº 48.232, de 17 de maio de 1960, a universidade recebeu reconhecimento do Governo Federal. Em 1973 passou ao comando da Província Marista do Brasil Centro-Sul, do Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas. Mercê dos serviços prestados à sociedade e à Igreja, em 8 de novembro de 1985 foi elevada pela Santa Sé à condição de “pontifícia”, passando a se inserir no rol das mais prestigiadas universidades católicas do Brasil. Voltando no tempo, vale recordar que em seus planos de colonização, a CMNP mostrou interesse também pela educação dos filhos dos pioneiros que vinham comprar as terras postas à venda. Lembra o primeiro bispo de Maringá que a Companhia reservou amplas áreas na cidade de Maringá para os diversos Estabelecimentos de Ensino. Na Zona 2, a 09 de setembro de 1951, lançava a pedra fundamental do “Colégio Maringá”, sendo o mesmo inaugurado oficialmente a 10 de maio de 1952, 5º aniversário da cidade, sendo 1º Diretor o Professor Anthero Alfredo Chaves Santos. No dia 24 de agosto de 1954 a Mitra Diocesana de Jacarezinho assume a Direção do Colégio na pessoa do Padre Cleto Altoé. Instalada a Diocese de Maringá em 1957, Dom Jaime conseguiu a colaboração dos Irmãos Maristas para a Direção do Colégio, que o assumiram a 09 de dezembro de 1957, contando com os esforços do Irmão Vitor Floriano. A 10 de janeiro de 1958 chegam os primeiros Irmãos Maristas: Irmão Estevão José, Diretor e Irmãos Marcos e Zenon (COELHO, 1982, p. 100).

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Ginásio Maringá construído pela CMNP, adquirido pela diocese de Jacarezinho, antigo prédio do Colégio Marista.

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Assim que os irmãos assumiram o colégio, seu diretor, padre Cleto Altoé, retornou a Jaciguá (ES), próximo de Cachoeiro de Itapemirim, de onde viera para Jacarezinho, antes da criação da diocese de Maringá. A escola técnica de comércio permaneceu ainda sob direção da diocese, tendo como diretor o bispo e continuando, como curso noturno, a funcionar no mesmo prédio, agora transformado em Colégio Marista.4 A presença dos irmãos maristas foi decisiva para a abertura da PUC-PR câmpus de Maringá. Ao recebê -los aqui, no início de 1958, nem em sonho dom Jaime poderia prever que estava, naquele instante, lançando em solo maringaense a semente inicial da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Além do colégio e da PUC-PR, os irmãos estabeleceram parceria com o Núcleo Social Papa XXIII, responsabilizando-se por um Centro Social Marista para crianças e adolescentes, para suas famílias e comunidade, segundo o espírito do fundador São Marcelino Champagnat. Em relação à Universidade Estadual de Maringá, a participação do bispo foi mais clara e direta. Ao tempo de sua posse, para as autoridades estaduais Maringá representava pouco mais que um celeiro de votos, perdido no meio do mato, distante da capital para onde se voltava quase exclusiva a atenção dos governantes. O deputado estadual maringaense Néo Alves Martins procurou junto ao bispo o apoio que julgava importante para a criação de um curso superior, o primeiro que se instalaria na cidade onde só havia ensino até o nível médio. No relatório referente ao ano de 1959, enviado à nunciatura apostólica com data de 10 de janeiro de 1960, dom Jaime escreveu que “por motivos políticos desejava um deputado local criar uma Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras” (COELHO, Maringá, 1961, f. 2). Com olhar posto no futuro, que projetava a cidade como pólo comercial de vasta região, o bispo inclinava-se bem mais para a abertura de uma Faculdade de Ciências Econômicas em cuja implantação decidiu investir todo o seu prestígio. Sua opção acabou por triunfar: a lei estadual nº 4070, de 28 de agosto de 1959, criou a FECEM − Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Maringá. Atendendo pedido feito pelo governador Moysés Lupion, dom Jaime aceitou o cargo de primeiro diretor, para o qual foi nomeado pelo decreto governamental nº 25.606, de 21 de setembro de 1959. Teve a seu lado o professor Geraldo Altoé, designado secretário. A 15 de outubro do mesmo ano, no gabinete do secretário estadual da Educação Nivon Weigert, em Curitiba, tomou posse do cargo. Os meses seguintes foram gastos nas providências necessárias à instalação dos cursos. O reconhecimento da escola pelo Governo Federal veio pelo decreto nº 48.431, datado de 27 de junho de 1960. No dia 20 de setembro do mesmo ano aconteceu a instalação oficial seguida de provas classificatórias e matrículas de alunos para o ano letivo de 1961. A faculdade começou por funcionar no prédio do Colégio Marista, à época na Avenida Tiradentes, mudando-se depois para o pavimento superior do atual Instituto Estadual de Educação, de onde, por fim, se transferiu ao atual câmpus da UEM. Por exigência da Secretaria de Estado da Educação, o diretor devia também ministrar aulas, motivo que levou o bispo a introduzir no currículo a cadeira, antes inexistente, de Ética e Sociologia, da qual se tornou professor. Era sua preocupação assegurar à primeira escola de nível superior em Maringá uma orientação cristã. O primeiro curso, oferecido em 1961, foi o de Economia, que entre 1961 e 1963 matriculou um total de 89 alunos. No dia 14 de janeiro de 1965 houve a solene colação de grau da primeira turma, graduada no final do ano letivo de 1964. Quatro anos mais tarde, tinha início o processo da criação oficial da Universidade Estadual de Maringá. Dom Jaime foi diretor da FECEM desde sua criação até 1962, quando, pela portaria 5.369/62, passou o cargo a doutor Zeferino Mozatto Krukowski. Por conta de impreteríveis encargos, que o forçavam a prolongados afastamentos da cidade − visitas pastorais a todas as paróquias e, particularmente, presença exigida

4 A CMNP construiu o Colégio Maringá (chamado Ginásio Maringá na época da transferência à diocese de Jacarezinho), tornando-se credora da importância despendida na construção. É o prédio de pavimento único, com 50m de fachada, ainda em uso na Avenida Tiradentes, nº 963, na esquina com a Rua Marcelino Champagnat. Não tendo saldado inteiramente o débito, o professor Anthero vendeu a escola, passando o compromisso à Mitra Diocesana de Jacarezinho. Com a criação da diocese de Maringá, em 1956, a ela foi transferida a dívida restante que, por sua vez, os irmãos maristas, estabelecidos em Maringá, assumiram e quitaram junto à Companhia.

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nas sessões do Concílio Ecumênico Vaticano II, em Roma5 −, dom Jaime indicou para substituí-lo na cadeira de Ética e Sociologia o cura da catedral, padre Benedito Vieira Telles, que foi nomeado pelo decreto nº 11.765, de 18 de maio de 1963, para exercer interinamente o cargo de assistente de ensino superior, função na qual Telles foi empossado no mesmo dia da nomeação.

Consagração religiosa, sinal do Reino Também em outras áreas além da educação vêm, de longa data, fazendo-se presentes os religiosos e as religiosas na Igreja de Maringá. Ainda não fora criada a diocese e já muitos deles, homens e mulheres, labutavam na seara do Senhor plantada nestas bandas. Com a vinda do primeiro bispo, cresceu a sua presença e se intensificou em muito a atuação evangelizadora da Igreja através deles. Na esteira dos abnegados sacerdotes palotinos, jesuítas, capuchinhos, josefinos e carmelitas, que encontrou em 1957, dom Jaime esforçou-se por conseguir outros institutos religiosos dispostos a repartir com o reduzido clero diocesano a evangelização do povo de Deus aqui assentado. Nem sempre obteve êxito, sujeitando-se, por vezes, a situações no mínimo risíveis. Como em 1961, quando padres dominicanos malteses, desejosos de deixar a paróquia que ocupavam no vizinho Mato Grosso (ainda não existia Mato Grosso do Sul), pediram paróquia nesta diocese. O bispo ofereceu-lhes Santa Cruz do Monte Castelo. Depois de visitá-la, em pouco elegante trocadilho, deram-lhe a resposta: “Mato por mato, nós ficamos no Mato Grosso”. Para o nem sempre harmonioso relacionamento com um ou outro religioso daqueles tempos o bispo apresenta a justificativa do grande distanciamento da sede episcopal. Jacarezinho, na época, encontrava-se não apenas longe, mas praticamente inacessível a qualquer meio de comunicação. No cultivo de esparsos e burocráticos encontros com o pastor da diocese, padres assumiam, às vezes, postura de autoridade absoluta na paróquia. Agora, forçados a contatos freqüentes com um bispo não tão distante, estranhavam a mudança. Dom Jaime deu-se conta de situações incômodas que se arrastavam há anos. Frades havia que davam, segundo ele, interpretação interesseira ao cânon 621 do antigo Código de Direito Canônico, sobre o direito de arrecadar esmolas em toda a diocese. Numa paróquia, imóveis doados à Igreja foram escriturados em nome da ordem religiosa, quando os doadores tinham pensado, evidentemente, oferecê-los à comunidade eclesial do lugar. De outra, queixava-se o bispo, saíram vários seminaristas para o seminário da congregação, enquanto para o seminário diocesano, nem um só. Além disso, por ser uma diocese nascente, Maringá atraía clérigos religiosos dispostos a passar ao clero secular, provocando pendência com este ou aquele governo religioso provincial. Resultou daí que ao bispo foi aplicada a pecha de hostil ao clero regular, acusação que por largo tempo dificultou a colaboração deste na diocese. Ainda que em proporção menor do que outras, a Igreja de Maringá, não só nos anos primeiros, mas ainda hoje, evidencia a riqueza eclesial que lhe empresta o testemunho da vida consagrada. No ano de 1990, por iniciativa pessoal e com recursos próprios, monsenhor Gerhard Schneider começou a levantar em área de sua propriedade, próxima ao Horto Florestal de Maringá, uma construção visando enriquecer Maringá com o testemunho da vida monástica. A obra, que recebeu o nome de “Mosteiro da Redenção”, foi inaugurada em 31 de maio de 1992. Depois de meses de contatos tentados com comunidades de várias partes do Brasil para assumi-la, a 11 de junho, onze dias depois da inauguração, ocuparam a casa, procedentes de São José do Rio Pardo (SP), os primeiros religiosos da Congregação de São Bernardo da Ordem Cisterciense. No entanto, por carência de vocações em seu mosteiro de origem, apenas oito meses mais tarde, foram daqui retirados e encaminhados à Itália.6 Embora desativado, o mosteiro continuou sendo em Maringá um centro de peregrinação e espaço de recolhimento para fiéis não só da cidade mas também da vizi-

5 Sessões do Concílio designam os quatro períodos em que os bispos estiveram reunidos em Roma para as discussões conciliares: de 11 de outubro a 8 de dezembro de 1962; de 29 de setembro a 4 de dezembro de 1963; de 14 de setembro a 21 de novembro de 1964, e de 14 de setembro a 8 de dezembro de 1965. De todas dom Jaime participou integralmente.

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6 A queda no número de monges verificou-se na Itália, berço da fundação brasileira. Para lá foram então transferidos os que aqui se encontravam há menos de um ano, provocando o fechamento da casa.

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nhança. Em 1998 foi reaberto, com o nome de “Mosteiro Nossa Senhora da Redenção”, ocupado, desta vez, por beneditinos da Fraternidade Beneditina Mãe da Divina Providência. Por três anos os monges sustentaram em Maringá saudável experiência de vida contemplativa da qual se beneficiaram indivíduos e grupos cristãos. No final de 2000, também por deficiência de pessoal, acabaram retornando à casa-mãe, em Nova Lima (MG). Com o advento, em 1997, do segundo arcebispo de Maringá, dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, originário da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, a arquidiocese de Maringá acolheu novos institutos religiosos de padres e de irmãs. Em Maringá foram criadas três novas paróquias confiadas a congregações religiosas de sacerdotes. São Bonifácio, a primeira, nasceu junto à antiga fazenda de mesmo nome, tendo recebido da Sociedade do Apostolado Católico o terreno onde está construída a igreja paroquial. Foi criada em 20 de dezembro de 1998, quando ocupou, como matriz provisória, a capela na margem da Avenida Anel Viário Prefeito Sincler Sambatti. Nasceu confiada à congregação palotina que, para regê-la, designou padre Luiz Braz de Rezende, SAC. Aproximadamente seis anos durou a administração de Rezende, dela se afastando no final de 2005. Devolvida à arquidiocese, a paróquia foi entregue, no dia 18 de fevereiro de 2006, à responsabilidade de padre José Aparecido de Miranda, do presbitério diocesano. Outra paróquia sob cuidado de religiosos tem como área o Jardim Itaipu e está dedicada a Santa Rita de Cássia. Começou como quase-paróquia, em 1º de maio de 1999, aos cuidados de padre Luiz Gonçalves Knupp. Quando, em 25 de março de 2001, foi elevada ao nível de paróquia, passou à responsabilidade da Congregação das Escolas de Caridade – Instituto Cavanis, fundação religiosa de origem italiana que se dedica a adolescentes e jovens carentes. A congregação indicou como pároco padre Edmilson Mendes, CEC, que, além do atendimento à comunidade, cuida da implantação de obra educativa para a qual foi adquirido de monsenhor Gerhard Schneider terreno junto ao hoje desativado mosteiro. Absorvendo a parcela maior do Maringá Velho, a terceira paróquia criada para religiosos recebeu o nome de Santa Joaquina de Vedruna. Seu templo de funcionamento provisório foi a capela Santa Cruz, primeira igreja urbana de Maringá. Preparada por padre Manoel Silva Filho, teve sua fundação no dia 21 de maio de 2000, sendo confiada à Congregação da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, conhecida como dos padres ressurrecionistas. O primeiro, o polonês Andrzej Krzyzanowski, CR, esteve à frente da paróquia até 17 de dezembro de 2001, quando foi sucedido por padre Flávio Augusto Bittencourt Aguiar, CR. Este causou dificuldades para os paroquianos por causa da disposição manifesta de, segundo suas próprias palavras, “criar a consciência de paróquia religiosa e não diocesana”. No final de 2004, os padres ressurrecionistas devolveram a paróquia, e o arcebispo nomeou padre Sidney Fabril administrador paroquial; depois, pároco, a partir de 25 de novembro de 2005. Completando o quadro de presbíteros religiosos com atuação na arquidiocese de Maringá, registre-se a presença dos frades da Ordem dos Agostinianos Recoletos – OAR, Vicariato do Brasil da Província de Santo Tomás de Vilanova. Celebrado no ano 2000, o XXX Capítulo Provincial pediu a abertura, no Brasil, de um postulantado para os estudantes de Filosofia que, ao mesmo tempo, servisse de casa de acolhida aos membros da Ordem. Nos últimos meses desse ano, o vigário provincial, frei Miguel Hernández com seus conselheiros visitaram vários lugares, decidindo-se por Maringá. No dia 24 de abril de 2001 foram recebidos por dom Murilo, que manifestou interesse na abertura da fundação. Foram adquiridos dois lotes na cidade; um, com casa construída, para residência dos 12 primeiros seminaristas; outro, para construção de seminário próprio, que seria iniciado. Em janeiro de 2002 chegaram os dois primeiros padres, frei José Lorenzo Gómez, formador, no dia 27, e frei Sebastián Olalla del Rio, prior, no dia 30. A bênção da pedra fundamental da nova casa foi oficiada no dia 28 de agosto, festa de Santo Agostinho. Sob responsabilidade da Construtora Catamarã, de Maringá, as obras seguiram num ritmo intenso a ponto de, no dia 5 de dezembro de 2003, ter sido possível ao arcebispo dom João Braz de Aviz, sucessor de dom Murilo, inaugurar o monumental Seminário Santo Agostinho, localizado na Avenida Pioneiro João Pereira, 1027, no Jardim Indaiá. Além da formação dos estudantes na etapa da Filosofia, foi projetado também para grandes encontros da Ordem, não apenas do Brasil, mas até do exterior. Numa feliz coincidência, o endereço do Seminário Santo Agostinho aponta o prolongamento da mesma picada aberta no mato, por onde entrou, em 1958, padre André Torres, quando dava os primeiros passos para a construção do Seminário Diocesano Nossa Senhora da Glória.

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Quanto à presença da mulher consagrada, a Igreja de Maringá tem sobejas razões de agradecer o testemunho de centenas de religiosas que trabalharam e trabalham pelo Reino de Deus. Muitas aqui encontraram o final de seus dias, não sem antes terem dado o melhor das próprias forças para o crescimento da Igreja de Cristo. No cemitério-jardim do Noviciado Rainha da Paz, situado no lote 63 da Rua Distrito Federal, ao lado de sete padres e de seis irmãos, o número maior de túmulos, exatamente vinte e três,7 guarda os restos de santas mulheres a quem jamais será tributado o justo reconhecimento.

Os religiosos, junto ao arcebispo, na celebração do Dia do Religioso de 2005, na catedral basílica Nossa Senhora da Glória.

O serviço aos pobres Desde o Antigo Testamento, soa forte na Bíblia a recomendação de cuidado com o órfão, a viúva e o estrangeiro. Para a Igreja de Cristo, ainda no tempo apostólico, apresentou-se o desafio do atendimento às viúvas de origem grega, que levou os Doze a instituírem os “diáconos das mesas” (ATOS 6, 1-6). O apóstolo Paulo mobilizou colaboradores para uma coleta solidária entre as Igrejas da gentilidade com o fim de socorrer a penúria da comunidade de Jerusalém (2CORÍNTIOS, 8-9). Embora pontilhada de aspectos

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7 A contagem foi feita pelo autor destas notas no dia 29 de agosto de 2006. Dentre os padres sepultados (Raimundo Le Goff, Mathias Jorge, Friedrich (Fritz) J. K. Gerkens, Pedro Ryo Tanaka, Levi de Oliveira Silva, Aparecido Reis de Lima e Wagner dos Santos) os dois últimos não trabalharam na diocese, mas têm em Maringá suas famílias. Os irmãos religiosos falecidos pertenceram aos maristas e aos enfermeiros da Santa Casa. Além das 23 religiosas sepultadas, outras três da congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição tiveram os restos mortais trasladados para Nova Trento (SC), onde a congregação construiu jazigo próprio.

A Igreja que brotou da mata


romanescos, a biografia do diácono Lourenço († 258), celebrado no dia 10 de agosto, comprova o zelo com que na Igreja de Roma eram assistidos os pobres. Os Santos Padres unanimemente pregam o cuidado de Deus para com esses filhos especiais, recordando o dever que têm os cristãos de jamais mostrarem indiferença pela sua sorte. Assim, ao logo da história, a Igreja nunca descurou a lei do amor, que assumiu as características culturais, temporais e locais das comunidades onde se implantava. Nas frentes de pioneirismo, via de regra, o amor cristão se traduziu, como foi lembrado, por iniciativas nas áreas da educação e da saúde, cabendo a institutos religiosos femininos e masculinos o papel de desbravadores dos novos campos de presença eclesial. Na Maringá dos anos 50, a contribuição da Igreja Católica apareceu através das irmãs Carmelitas da Caridade de Vedruna (1952), no setor da educação, e dos irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora (1953), depois também com as irmãs Missionárias do Santo Nome de Maria (1956), no campo da saúde. Se a aceitação das freiras professoras recebeu entusiasmo e aprovação unânime por parte das pessoas do lugar, o mesmo não se pode dizer do trabalho inicial dos irmãos. Desprovida de atendimento médico que, além de precário, era inalcançável ao seu bolso, a população pobre, maioria absoluta dos que aqui viviam, acolheu-os com alegria, sem dúvida; não assim a totalidade dos profissionais da saúde. Houve ensaios de cerceamento ao seu trabalho, não sempre motivados pela defesa do melhor para o povo. Justifica-se plenamente coibir por todos os meios o exercício ilegal da medicina; dos médicos se espera que o façam, abrindo os olhos da população e denunciando charlatães às autoridades. Não era, porém, o caso em tela. Os irmãos jamais pretenderam passar por médicos. Apresentavam-se como enfermeiros que a séria formação e prática em hospitais alemães capacitavam acima de quaisquer outros encontráveis nestas paragens. O problema, no fundo, girava em torno dos ganhos financeiros a que, por vocação, aqueles dedicados religiosos não se prendiam, ao contrário de médicos, evidentemente não todos, para quem o exercício da medicina fazia-se automaticamente acompanhar da busca de prestígio e riqueza. Alguns ofereceram apoio aos irmãos, prestando atendimento aos doentes no humilde ambulatório, além de colaborar para a fundação, a 12 de junho de 1954, daquela que viria tornar-se, numa vasta região, a única casa de saúde acessível aos pobres. Na falta de prédio melhor, a “santa casa” original de Maringá instalou-se num velho salão de baile reformado, na mesma Vila Operária onde permanece até hoje. Uma clínica como a Santa Casa, erigida na Operária, foi um avanço de Maringá no trato com a pobreza, e a Igreja Católica teve papel vital nessa obra. Os religiosos alemães fundadores da casa viram na vila humilde uma fecunda oportunidade para exercer seu ofício na ajuda ao próximo. Todos os irmãos tinham formação profissional na área médica, e às vezes passavam as noites em claro cuidando dos enfermos, seja do bairro, seja de outras localidades. A Santa Casa, como é conhecida popularmente, não se restringia às suas atribuições hospitalares; fornecia alimentação gratuita ao povo carente, ampliando o seu campo assistencial (MARINGÁ, 2002, p. 106-107). Em maio de 1957, dois meses depois de sua posse, dom Jaime recebeu uma comissão encabeçada por médicos da cidade, que a ele se dirigiu mostrando interesse de criar um grande hospital regional. São palavras suas sobre a intenção que percebeu em alguns profissionais, por detrás da proposta apresentada: A conclusão que tirei: ‘matar’ a Santa Casa, e a construção de novo Hospital, com o Bispo à frente das obras. Depois de tudo pronto, far-se-ia uma placa de homenagem aos membros da Comissão, e o Hospital seria entregue à classe médica. É claro que a minha resposta seria uma negativa; eu lhes propus: se os Srs. quiserem ‘transformar’ a Santa Casa em um grande Hospital, estou pronto, continuando o mesmo como uma obra da Igreja e sob sua direção. Vamos aguardar os resultados... (DIOCESE DE MARINGÁ, 1957a, f. 48, grifo do autor).

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Santa Casa de Maringá no final dos anos 50. Chegados em setembro 1953, no início os irmãos atendiam em instalações precárias.

Mas os problemas não ficaram de todo sanados nesse encontro. A idéia do bispo não parece ter suscitado muito interesse na classe médica de então. No dia 11 de setembro, “devido às críticas e restrições à Santa Casa”, conforme referiu, dom Jaime convocou a Sociedade Médica local para uma reunião no Grande Hotel Maringá. Era o mais nobre palco para solenidades e eventos de peso. Na oportunidade, deixou claro: “as portas da Santa Casa estão abertas a todos os Srs. Médicos, contanto que saibam respeitar o Código de Moral Médica.” Aproveitou para agradecer “a colaboração efetiva de todos” (DIOCESE DE MARINGÁ, 1957a, f. 63). Ao longo de todo o seu episcopado, continuou mantendo a postura de defensor da Santa Casa por ver nela real prestadora de serviço aos doentes pobres. Quase nenhum hospital da época atendia pessoas incapazes de pagar pelo tratamento. Não poucas vezes, por rádio ou jornal, o bispo sustentou acalorado debate com figuras “importantes” no esforço de garantir à Igreja, através da Santa Casa, o elementar direito de prestar socorro médico a pessoas necessitadas. Devido à atuação não só competente, mas carinhosa das irmãs, nos primeiros tempos a Santa Casa por pouco não monopolizou por inteiro o atendimento a parturientes da cidade e da região. A excelente qualidade dos serviços oferecidos desde os primórdios levou à conquista de um feito extraordinário: em 2003, quando foi celebrado o cinqüentenário da chegada dos irmãos a Maringá, nada menos do que dois terços das crianças aqui nascidas tinham vindo ao mundo na maternidade da Santa Casa. Pelo espaço de quase 50 anos, até em horas perdidas da noite, inclusive de domingos, irmã Maria Callista, enquanto teve forças, pôde ser vista ocupada na maternidade ou no berçário. Em suas experientes mãos nasceram mais de 25.000 crianças. Mais de 300 municípios paranaenses têm população inferior a essa cifra.8 À razão de 1,36 parto por dia, não é impossível que irmã Callista tenha superado as marcas mais expressivas de conceituados obstetras deste imenso país. Depois de 17 anos de atendimento, em especial à população menos aquinhoada de posses, a diocese viu-se impossibilitada de prosseguir na função de mantenedora da Santa Casa de Misericórdia. Impunham-se mudanças no prédio de madeira, que clamava por reformas inadiáveis, além do alcance financeiro da Mitra Diocesana. O bispo decidiu abdicar, em favor da Congregação dos Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora, da posse da área de terras e das instalações existentes do hospital e do noviciado dos religiosos. A transferência de propriedade, por doação sem ônus, foi celebrada no dia 24 de maio de 1971, e a congregação dos irmãos deu à casa de saúde o novo nome de Hospital e Maternidade Maria Auxiliadora – Santa Casa de Maringá. Desde o final dos anos 40, praticamente desde seu nascimento, a cidade de Maringá acostumou-se com o espetáculo de gente indo e vindo em busca de emprego. No início, eram trabalhadores rurais, sem outra qualificação além dos próprios braços, atrás de alguma colocação nas muitas propriedades de café que se abriam com a derrubada do mato. Perambulavam pela cidade e, como não dispunham de dinheiro, também

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8 O número representa 75,19% do total de 399 municípios do Estado. Entre os nascidos na maternidade da Santa Casa de Maringá figura o ex-prefeito e deputado federal Ricardo Barros.

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não conseguiam hospedagem nos poucos hotéis existentes. Ao chegar, dom Jaime encontrou funcionando na cidade um “albergue”; na verdade, modesta hospedaria de madeira sem conforto, mantida pelo poder público estadual, onde os necessitados recebiam atendimento sofrível. Condoído dessa parte infeliz do seu rebanho, em 1958 iniciou entendimentos com os responsáveis do FATR – Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, precursor do FUNRURAL, sobre a possibilidade de transferir para a Igreja Católica o cuidado da instituição. Em 27 de março de 1959, as Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo vieram dirigir a obra que, por causa da co-fundadora da congregação (junto com São Vicente de Paulo), recebeu o nome de Albergue Santa Luiza de Marillac. O primeiro grupo era formado por irmãs Sebastiana Domingues, Ivone Nazari e Delfina Gretter. Ao longo de seus quase 50 anos nas mãos da Igreja, foi recebendo reformas e melhoramentos, ampliando-se sempre mais, a ponto de hoje oferecer instalações e atendimento dificilmente igualados por instituição oficial destinada à mesma clientela. O albergue conta, é verdade, com apoio do poder público, em nível, contudo, muito inferior às necessidades. Além do atendimento durante as 24 horas do dia, prestado pelas irmãs residentes na casa, existe uma diretoria e um prestimoso grupo de voluntários, em número superior a uma centena, que trabalham movidos unicamente por amor cristão. Funcionários remunerados, alguns pela Prefeitura Municipal, outros pelo próprio albergue, colaboram no atendimento aos pobres, oferecendo cuidados de higiene, alimentação, pernoite, roupas, calçados, medicamentos, além de assistência social para encaminhamento na solução de problemas individuais como saúde mental, internamento hospitalar, procura de familiares, retorno à região de origem etc. São ainda proporcionados serviços de aconselhamento em situações difíceis e de orientação espiritual. Com uma clientela diária girando por volta de 100 pessoas, ou mais de 2500 pobres acolhidos por mês, o albergue vem ultimamente assistindo uma média superior a 30.000 clientes/ano.9 Ao lado de dom Jaime, a antiga diretora do albergue, irmã Salomé Dets, fiel discípula de São Vicente de Paulo cujo amor aos pobres imitou com perfeição, é reconhecida como responsável pela mais importante obra de promoção humana da Igreja maringaense. Nos anos 60, distribuindo comida e carinho a pessoas carentes da Vila Vardelina, a incansável religiosa decidiu empreender ação concreta para, se não resolver, ao menos minorar o sofrimento de famílias que se amontoavam em barracos nos terrenos baldios daquele pedaço esquecido da cidade. Passou a contatar pessoas de formação cristã, dispostas a empreender esforços para viabilizar a nobre iniciativa. Após estudo da situação e análise de possibilidades, em 1970, dom Jaime tratou de obter apoio junto do “Segretariato Centrale Opere di Papa Giovanni”, entidade de católicos italianos seus amigos, criada para prestar ajuda a obras sociais da Igreja em Maringá. Na gestão do prefeito Adriano Valente, a municipalidade cedeu o terreno. Para substituir os barracos foi organizado um mutirão de construção das casas, aproveitando a madeira do desmanche da antiga catedral, de escolas estaduais e municipais, e de casas da zona rural esvaziadas pela nova fase agrícola da região, doadas pelos proprietários. Em reunião promovida por dom Jaime e irmã Salomé com um grupo de pessoas convidadas, no dia 30 de setembro de 1972, ficou decidida a criação de uma entidade para promoção humana e reintegração social das famílias moradoras da Vila Vardelina, selecionadas pelos critérios de baixo poder aquisitivo, carência de casa própria e elevado número de filhos, às quais se pretendia oferecer inclusão social e possibilidade de aquisição da casa própria. No dia 9 de dezembro de 1972, com o lema “Promoção humana com fraternidade em busca da cidadania” surgiu o Núcleo Social Papa João XXIII, voltado à restauração do vínculo familiar, com cursos de formação em vista de trabalho qualificado, aumento de renda e moradia digna. Pela lei ordinária municipal nº 2555/89, sancionada pelo prefeito Ricardo Barros em 6 de julho do mesmo ano, foi feita doação à Mitra Diocesana de Maringá dos lotes de terras nº 31 e 32 da Gleba Patrimônio Maringá, com área medindo 27.420m², “destinados exclusivamente a receber edificações de casas populares para abrigo de pessoas carentes, escolas e creches do Núcleo Social Papa João XXIII”. No dia 10 de novembro de 1989 a Prefeitura Municipal outorgou à Mitra Diocesana de Maringá a escritura da área doada. Foi o reconhecimento público da decisiva participação da diocese de Maringá num dos programas

9 Dados recentes: ano de 2003 = 38.200 pessoas atendidas; em 2004 = 30.270; ano de 2005 = 36.374. No 1º semestre de 2006 passaram pelo albergue 16.697 pessoas (14.822 homens, 1.028 mulheres, 803 idosos e 44 crianças).

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Núcleo Social Papa João XXIII

de mais alto significado para a reintegração social de pessoas antes submetidas a condições indignas de moradia e sustento. Não se passou meio ano do recebimento da escritura do terreno e, já no dia 6 de maio de 1990, o Núcleo pôde inaugurar a escola profissionalizante montada com recursos provindos dos católicos italianos. Embora tenha, em anos anteriores, trabalhado com um número maior de cursos, hoje o Núcleo mantém cinco, todos de nível profissional e boa aceitação no mercado de trabalho: marcenaria, corte e costura, costura industrial, manicure e cabeleireiro, além de trabalhos artesanais como bordado, pintura, tecelagem etc. No dia 5 de abril de 2003 os irmãos Maristas das Escolas,

Marcenaria

através da Obra Social Marista, assumiram a educação de crianças e adolescentes, em sistema de comodato por um espaço de 20 anos. Assim, o Núcleo abriga atualmente o Centro Social Marista Irmão Beno Tomasoni para apoio sócio-educativo em meio aberto a crianças e adolescentes de 7 a 17 anos de idade. Em 2006 o conjunto de residências oferecidas pelo Núcleo alcançava um total de 70, metade das quais em alvenaria, caminhando para a substituição total das construções de madeira remanescentes. Com a participação de benfeitores locais, de paróquias

Ateliê de costura industrial.

da arquidiocese e com recursos provenientes de parcerias, as casas antigas vão cedendo espaço a construções novas mais sólidas, mais higiênicas e de melhor aparência. As famílias recebem acompanhamento das irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo por um prazo de cinco anos, tempo em que deverão vencer as etapas para sua ressocialização, transferindo-se, ao fim, para sua casa própria cujo terreno e material deverão ter custeado pela poupança que, de forma criativa, a família é orientada a acumular nesse período. Segundo a coordenadora, irmã Adiles Maria Guardalben, menos

Escola de cabeleireiro.

de 10% das famílias mostram-se incapazes de cumprir a meta proposta. Até agosto de 2006 o Núcleo Social Papa João XXIII tinha contabilizado mais de 550 (quinhentas e cinqüenta) famílias reintegradas à vida social, com trabalho, renda e casa própria. Apesar de modestos, no universo dos mais de 300.000 habitantes da cidade, não deixam de ser números significativos, que por si mesmos falam do alcance social e humano de uma obra de 34 anos incompletos. Além dos fundadores e das irmãs, responsáveis, 24 horas por dia, pelo funcionamento, o Núcleo é obra do amor também de uma legião de beneméritos voluntários como Hugo e Loretti

Ateliê de artesanato.

Hoffmann, Osvaldo Pereira Alves, Antonio Frigo, Eduardo José da Costa Carvalho, Plínio Mocchi, Mauri de Oliveira Brito e uma série interminável de outros. Os amigos e benfeitores todos, na verdade, só Deus os pode contar.10

Entrega de nova casa.

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10 Em 8 de julho de 2006, o casal Loretti-Hugo Hoffmann, com mais de 20 anos de dedicação ao Núcleo, foi agraciado com a comenda Pro Ecclesia et Pontifice, concedida pelo papa Bento XVI a pedido de dom Jaime, que quis assim homenagear todos os voluntários, parceiros e amigos da entidade, sem os quais de tudo que foi feito nada teria sido alcançado.


Ainda que não traga solução definitiva às mazelas da comunidade, sendo, em conseqüência, acusada de assistencialismo, não há como desconhecer o profundo significado da assistência prestada pela Igreja Católica através de fiéis movidos, acima da mera solidariedade humana, pelo amor de Jesus Cristo. Desde o início da diocese de Maringá, cristãos sensíveis ao ideal de Antonio Frederico Ozanam (1813-1853) fundaram em várias paróquias a Sociedade São Vicente de Paulo, multiplicando conferências vicentinas de adultos e jovens, que prestam a famílias carentes benefícios de ordem espiritual, psicológica e material. Em todas as comunidades onde atuam, a palavra “vicentino” é sinônimo de alguém preocupado com o irmão carente. O trabalho mais sério dos confrades vicentinos consiste não na doação de coisas materiais, mas na visita domiciliar que tem por objetivo conhecer “in loco” a família assistida. Há também os asilos confiados ao seu zelo, que não se convertem em “depósitos” de velhos: aproximam-se de lares onde os internos recebem respeito e carinho. Asilos cuidados por vicentinos encontram-se em Maringá, em Jandaia do Sul, Mandaguari, Marialva, Mandaguaçu, Nova Esperança, Cruzeiro do Sul, Paranacity, Ourizona e São Jorge do Ivaí.

O 5º Encontro de presidentes da Sociedade de São Vicente de Paulo, em Mandaguari, no dia 27 de julho de 1975.

Em Maringá funciona também o Lar dos Velhinhos, fundado pelo Rotary Club e entregue à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição que, desde 8 de maio de 1966, conta com o amoroso trabalho dessas religiosas. Com muito trabalho elas o ampliaram até alcançar as atuais condições de atendimento aos “vovôs” e às “vovós”, como carinhosamente os chama irmã Firmina Maria, diretora há mais de quatro décadas. Desde 1968 as irmãs recebem o reforço de voluntários do chamado Grupo de Serviço São José. Muitas obras de assistência social e também de promoção humana foram ou são desenvolvidas por inspiração da Igreja Católica em Maringá e região. Na impossibilidade de relacionar de forma completa tudo o que se implantou nesses 50 anos, é oportuno citar alguns sinais da ação de uma Igreja servidora presente em nosso meio, como: • Obra do Berço de Maringá, destinada ao atendimento de gestantes carentes, com orientação para o parto e preparação de enxovais para recém-nascidos. Quando de sua fundação, foi dirigida pelas Missionárias de Jesus Crucificado. Com a saída destas, permaneceu desativada por muitos anos até que, no dia 13 de fevereiro de 1997, foi reassumida pela paróquia Cristo Ressuscitado. Na mesma linha e com o mesmo espírito deve lembrar-se o Roupeiro Santa Rita de Cássia. • Lar Escola da Criança, fundado por senhoras pioneiras do Clube da Amizade, que abre nova perspectiva de vida humana e cristã a crianças, adolescentes, jovens e a famílias empobrecidas através da

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educação, de cursos profissionalizantes, de parcerias com o Ministério Público do Trabalho, Procuradoria Regional do Trabalho, CESUMAR – Centro Universitário de Maringá e 20 empresas contratantes de adolescentes. Desde o início, foi entregue aos cuidados de congregações religiosas femininas e vem sendo exemplarmente gerido pelas irmãs Murialdinas de São José. • Cáritas Diocesana, organizada em 1961, ainda quando a preocupação maior da Cáritas era voltada à distribuição de alimentos (1956-63); esteve presente em 9 paróquias da diocese até a década de 80. • Creche Menino Jesus, creche Monsenhor Kimura e obras semelhantes, confiadas a religiosas e também a voluntários católicos leigos, que vêm prestando trabalho de reconhecida excelência. • Grupo Lebret, fundado por irmã Jeanne Gaudin, integrante do primeiro grupo das irmãs da Congregação de São Carlos de Lyon, vindas em 1966 para assumir a ADAR – Associação Diocesana de Assistência Rural. O historiador Reginaldo Benedito Dias entende que a situação política da época direcionou, posteriormente, muitos de seus membros para as fileiras do PCBR. Conforme sua apreciação, o Grupo Lebret formou-se entre os estudantes do Colégio Gastão Vidigal, um dos maiores da cidade. Coordenado por uma freira, a irmã Jane, esse grupo inspirava-se nas concepções do Padre Lebret. Não se tratava de uma organização política, mas de um trabalho que, visando à promoção humana, debatia a origem das desigualdades sociais e da miséria e temas afins. Trabalho que merece registro foi um levantamento sociológico junto aos moradores da Vila Mandacaru, uma das mais pobres da cidade. Em termos de opção partidária, o PCBR, constituído em Maringá no início de 1969, foi o desaguadouro dessa militância estudantil (DIAS, 2001, p. 199). Irmã Jeanne teve a ventura de se reunir a jovens portadores de uma generosidade raramente encontrável mesmo em pessoas dessa idade. Transmitindo-lhes o entusiasmo de uma fé engajada, ajudou-os a descobrirem a dimensão social do Evangelho. Seu amor aos pobres não era montado sobre discursos, mas vivido com as pessoas de carne e osso do Mandacaru. Entre os muitos que compuseram o Grupo Lebret, recordam-se nomes como Licínio Lima, irmãos Rosemeire e Walter Coimbra de Campos, Nadir dos Santos Vaz, Guiomar Germani, Washington Castilho, Maria de Jesus Cano, Renato Rua de Almeida, Katsuko Nakano, Basílio Bacarin, Deise Deffune, José Benedito Pires Trindade, Deise Barros, Elpídio Serra e sua irmã Neusa, Judite Barbosa, Neusa Casagrande e muitos outros. Infelizmente, irmã Jeanne, gravemente enferma, deixou Maringá no dia 2 de junho de 1967, voltando à França para tratamento de saúde, vindo a falecer no início de 1969. O Grupo Lebret recebeu, então, no segundo semestre de 1967, assistência de padre Orivaldo Robles, que lecionava Filosofia no curso clássico do Colégio Gastão Vidigal para vários de seus integrantes. Chegando, no início de fevereiro de 1968, padre Antônio de Pádua Almeida, a partir de março, acompanhou o grupo pelo espaço de aproximados oito meses. A intervenção policial do dia 12 de outubro de 1968 no congresso da UNE celebrado em Ibiúna (SP) praticamente assinou a sentença de morte para aquele punhado de jovens idealistas que Maringá produziu. “O fracasso do 30º Congresso da UNE foi a gota que faltava para empurrar os estudantes da clandestinidade para a ilegalidade”, opina enviado especial da “Folha de São Paulo” (SILVA, 1993). Com a entrada em vigor do AI-5, em dezembro de 1968, os componentes do Grupo Lebret dispersaram-se, buscando cada qual uma forma de participação nos rumos da comunidade local ou do país. Uma parte optou por participação política em agremiações de esquerda que surgiram naquele período, algumas até radicais e de práticas não inteiramente conformes aos princípios do Evangelho. • Obra de Assistência Social Nossa Senhora do Rosário, chamada, de início, Vila Papa João XXIII, fundada em Floresta por padre Antonio Luigi Martinelli em 1970, com decidido apoio de católicos de Brescia, na Itália, que começou como orfanato. A partir de 30 de maio de 1998, já no governo arquidiocesano de dom Murilo, confiada às religiosas do Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, direcionou suas atividades no rumo de uma escola de ofícios, de reforço escolar, de formação e entretenimento para crianças carentes.

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Grupo Lebret, 1967/1968: jovens cristãos com participação sócio-política corajosa num tempo de perigo.

• Centro Social Madre Rafaela Ybarra, de Marialva, iniciado em 1986 pelo corajoso impulso de irmã Rosa Celeste Parede Hamilton, construído com apoio da comunidade local e ajuda dos organismos católicos “Misereor” (Alemanha), “Manos Unidas” (Espanha) e “Drei König” (Áustria). Desenvolve suas atividades junto de pessoas carentes da Vila Brasil, Vila Messias, Vila Antônia e Conjunto João de Barro. Começou como catequese de bairro e hoje oferece chance de vida melhor a crianças e adolescentes de ambos os sexos através de reforço escolar e de cursos de formação para o trabalho. • Instituto Promocional Jesus Nazareno, das irmãs da Congregação de São João Batista, estabelecidas desde 16 de junho de 1992, em Mandaguari, na paróquia Bom Pastor, onde, além de auxílio no trabalho paroquial, promovem cursos de artes e ofícios, atividades educativas e socializadoras para pessoas de menor poder aquisitivo. • PROMEC – Proteção ao Menor Carente de Sarandi, fundada em 1989 por irmã Antona Dröge, das Missionárias do Santo Nome de Maria. Com ajuda de católicos alemães do “Adveniat” foi construído o prédio situado na Avenida Jaçanã, 941 onde mais de 100 crianças da 1ª à 5ª série do ensino fundamental recebem reforço escolar no contra-turno de aulas, além de cursos de informática, artesanato, de recreação etc. De início, funcionaram cursos de eletricidade, serralheria, panificação etc. que, por força do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi preciso desativar. A obra é dirigida pelas religiosas da mesma congregação da falecida irmã Antona.

Como o fermento na massa Foram incontáveis, no decorrer desses 50 anos, em todas as comunidades da diocese, as ações caritativas ao lado de projetos de verdadeira promoção humana e cidadania, quer iniciadas por lideranças católicas, quer exercidas em parceria com o poder público, com entidades de classe ou com grupos voluntários da sociedade. Essa marca de Igreja encarnada no concreto da vida – em vez de alienada em falsa platitude isenta de problemas – Maringá recebeu daquele que a plasmou a partir de 1957. Por seu exemplo e palavra os fiéis cristãos foram orientados no rumo de um cristianismo de mão na massa, chamado a atuar num mundo que é preciso transformar segundo os critérios do Evangelho. Muita gente, quem sabe ansiosa de uma Igreja alheia às refregas da vida, vez por outra estranhou posições tomadas pelo bispo que jamais recuou diante de desafios. No mês de outubro de 1957, menos de sete meses depois da posse, ele acusava a inquietude que lhe causavam jovens e professores sem vínculo maior com a Igreja. Nos dias 10 e 15 desse mês, anotou de próprio punho:

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Tivemos, em casa, uma reunião com alguns moços não pertencentes a Associações Religiosas. O nosso intuito é dar-lhes um amparo, especialmente àquêles que vivem longe de suas famílias. Pretendemos fundar uma associação com o nome: Centro Cultural da Juventude Maringaense. Vamos fazer o estatuto e procurar realizar o programa traçado [...] Dia do Professor: Na Santa Missa falei sôbre o desejo de fundar o Centro do Professorado Católico (DIOCESE DE MARINGÁ, 1957, f. 67-68). Sem condição de seguir adiante, o Centro Cultural da Juventude, ficou apenas no desejo do bispo que, em compensação, teve seu nome ligado ao nascimento da UMES – União Maringaense dos Estudantes Secundários. Não existindo curso superior na cidade, Carlos Alberto Borges, presidente do grêmio estudantil da escola técnica de comércio (que pertencia à diocese e funcionava no prédio do Colégio Marista), representava os estudantes do nível mais “adiantado” de Maringá. Decidido a dar à população estudantil maior consciência de classe e poder de representação, convocou todos os colégios para a assembléia de fundação da UMES. Apesar da euforia pelo primeiro título de campeão mundial de futebol, conquistado pelo Brasil ao meio-dia,11 o antigo Cine Maringá, na avenida Getúlio Vargas, recebeu, na tarde daquele 29 de junho de 1958, uma multidão de estudantes. A ata de fundação da entidade estudantil de Maringá conserva, entre outras, a assinatura de dom Jaime Luiz Coelho, bispo diocesano, que também apoiou o anseio de uma sede para a nova entidade. Borges tinha em mente uma UMES de forte presença na área cultural, social, esportiva e de lazer para os estudantes da cidade. Mas a construção da sede representou verdadeira aventura, bem mais difícil do que previra. Doutor Hermann Moraes Barros, diretor-gerente da CMNP, morava em São Paulo e vinha, em avião particular, quase toda semana, inspecionar obras de Londrina, Maringá e Cianorte. Da parte da CMNP havia interesse de vender toda a área loteada. Era importante, por isso, que os proprietários não retardassem o levantamento de construções nos lotes adquiridos. Contudo, associações profissionais de Maringá beneficiadas com doação de áreas para suas sedes, demoravam a construir, causando desagrado à direção da Companhia. Sabendo que os estudantes também queriam pedir um terreno, Barros não se deixava encontrar com facilidade. Acompanhado de uns cinqüenta colegas, Borges postou-se então no escritório da CMNP, à espera do diretor-gerente. Não houve como deixar de receber a delegação. O presidente da UMES propôs: “Doutor Hermann, o senhor não precisa fazer a doação agora. Só escriture o terreno para a UMES quando tivermos a sede pronta”.12 Venceu. A Companhia cedeu o terreno da Avenida Cerro Azul, em frente à Câmara Municipal de Maringá, escolhido pelos estudantes entre outros dois propostos, por causa da proximidade, na época, com o Colégio Gastão Vidigal. O prédio, terceiro no lado esquerdo da avenida, no abandono a que foi relegado, nem vagamente lembra as memoráveis discussões cívicas dos anos 60, quando ali funcionou o único restaurante acessível aos bolsos estudantis. Campanhas, rifas, bailes, promoções de todo tipo foram empreendidos para levantá-lo e, dessa forma, assegurar a posse do terreno. A construção, moderna para a época, foi erguida a partir de planta doada pelo engenheiro Luty Vicente Kasprowicz, e sólida bastante para resistir às intempéries e ao descaso das décadas seguintes. Inaugurada em 1960, com a presença do governador eleito Ney Braga e de dom Jaime, até hoje não conseguiu a escritura de doação da CMNP que, no entanto, continua assegurando à UMES sua posse e uso, sem jamais ter deixado de respeitar a palavra empenhada pelo diretor-gerente daquela época. O Centro do Professorado Católico sucumbiu depois de pouca duração; os professores interessados em vínculo associativo preferiram fortalecer a própria entidade classista, a APP – Associação dos Professores do Paraná, criada na capital, em 26 de abril 1947, que ainda ensaiava os primeiros passos no Norte do Paraná. Ao conseguir a doação, na saída de Maringá em direção a Paranavaí, de cinco alqueires paulistas para a construção do seminário diocesano, o bispo não abriu mão da antiga área de um alqueire, mais precisamente de 23.747,00m², ao lado do cemitério municipal, previamente reservado pela empresa colonizadora para essa

11 Sem televisão, as partidas eram acompanhadas pelo rádio, na voz de locutores famosos como Pedro Luís, Edson Leite e outros. Por causa do fuso horário, a final entre Brasil e Suécia começou às 11h do Rio, hora oficial do Brasil, à época.

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12 Depoimento oral ao autor destas notas, em Maringá, no dia 13 de setembro de 2006.

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finalidade. Dela obteve a autorização de dar novo destino à área, redirecionando-o para instalação do chamado Clube da Juventude com o qual pretendia beneficiar famílias de posses modestas, incapazes de se associarem aos outros clubes em formação na época. Não lhe parecia justo que numa cidade carente de diversão, como era então Maringá, só gente abastada pudesse dar aos filhos um ambiente saudável de lazer. Devido, no entanto, ao período de incertezas que o país viria a atravessar pouco depois, somado à crise inflacionária que se seguiu, a agremiação gozou de vida efêmera. Suas instalações modestas, sem uso por longo período, foram cedidas para emprego nas atividades diocesanas do Cursilho de Cristandade, do Movimento Jovem e do Movimento Familiar Cristão, recebendo, no período de 1975 a 2000, intensa utilização. Com o passar do tempo e o irrefreável crescimento urbano, ao final do governo de dom Jaime, o terreno indiviso passou a interromper a Rua Estácio de Sá, obstruindo seu avanço para o lado sul da cidade. O poder público municipal expressou desejo de que a arquidiocese franqueasse o prolongamento da rua, solucionando o incômodo impasse. Na gestão de dom Murilo foram iniciados entendimentos com a CMNP para invalidar a cláusula de reversão que onerava a escritura original de doação. Só em 2001 foi alcançado o objetivo, mediante devolução à Companhia de 7214,10m² exigidos pelos seus diretores. A arquidiocese de Maringá cedeu ainda à Prefeitura do Município de Maringá, em troca da quitação de impostos municipais e outros encargos, uma área de 2877,22m² destinada a obras de arruamento no local para desafogo da rua estrangulada. Posteriormente, no governo do terceiro arcebispo, dom João Braz de Aviz, em 24 de março de 2003, após licitação para conseguir o maior valor possível, foi desmembrada para venda à Itaocara Construções Civis Ltda. área correspondente a 3237,48m², permanecendo ainda a Mitra de Maringá legítima proprietária dos remanescentes 10.428,20m². Desde seu primeiro dia em Maringá, o bispo vindo de Ribeirão Preto assumiu como sua esta terra, fazendo-se dela defensor até com empenho maior do que outros aqui chegados bem antes em busca de investimento seguro e construção de vida nova. Um dos dissabores iniciais foi sua percepção de que o Norte do Paraná quase nada significava para os donos do poder que geriam, lá na capital, os destinos de um Estado cujas fronteiras, na prática, não iam além dos Campos Gerais. Doía-lhe ver o descaso oficial para com tudo que acontecia acima dos primeiros contrafortes da Serra do Cadeado. Procedente da terra paulista, onde um desenvolvimento harmonicamente distribuído estendera a todos os recantos a presença do governo, o fogoso bispo começou a acalentar com simpatia o sonho, por muitos também nutrido, de uma nova Unidade da Federação a ser criada, o Estado do Paranapanema, com capital em Londrina. Não sentiu constrangimento de advogar a causa, absurda para muita gente; não para ele a quem um bom projeto dava ânimo para lutar até sozinho. Não imaginava que a idéia despertasse intervenção do velho mestre, dom Manuel, arcebispo de Curitiba, para quem se foram queixar autoridades curitibanas, a começar pelo governador Moysés Lupion. Num sorriso que comprova mais respeito que arrependimento, dom Jaime admite: “Dom Manuel me deu um ‘pito’ e mandou não falar mais sobre o Estado do Paranapanema”. No dia 18 de outubro de 1958 tomou parte ativa na chamada “Marcha da Produção”, colocando-se ao lado dos cafeicultores, que exigiam do Governo Federal melhores preços para sua produção e mais assistência à lavoura cafeeira. Aborrecidos pelo desprezo com que se sentiam tratados, em poucos dias, milhares de homens do campo se juntaram e decidiram levar suas reivindicações diretamente ao presidente da República. Formou-se uma caravana integrada por centenas de veículos preparados para sair de Maringá naquele memorável 18 de outubro. Chegava ao clímax uma crise que se desenrolava havia tempo. No começo do mês, o arcebispo de Curitiba fora informado da inquietude que geravam na capital notícias chegadas do interior do Estado. Esperavase dele que refreasse o ímpeto, acima de todos, do bispo de Maringá. No dia 10 de outubro, anotando a mão “Confidencial”, no alto à direita, dom Manuel escreveu a dom Jaime revelando suas preocupações (Carta 11).

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Carta 11 - Dom Manuel escreve a dom Jaime sobre a Marcha da Produção (D´ELBOUX, 1958, 1 f.).

Não eram destituídas de fundamento as previsões do comandante da 5ª Região Militar. Além do arcebispo, outras instâncias devem ter sido mobilizadas. Atentos ao descontentamento que ameaçava expandir-se mais, e orientados de cima, com certeza, por seus superiores, em Maringá, o juiz Zeferino Krukowski e um capitão do exército tentaram demover dom Jaime da intenção de marchar com os agricultores. Inútil. O bispo não arredou pé, integrando-se à comitiva que partiu para o Rio de Janeiro, capital federal na época, aonde os cafeicultores pretendiam fazer chegar suas reclamações. O Ministério da Justiça classificou a marcha como “movimento subversivo” e enquadrou-a nas sanções da Lei de Segurança Nacional. Na véspera do dia 18, um batalhão do 13º Regimento de Infantaria, da cidade de Ponta Grossa, acampou nas imediações do km 115 da antiga estrada oficial, em área do atual município de Sarandi. A comitiva com o bispo à frente foi detida por soldados armados de fuzis e metralhadoras. Sem permissão de continuar, viu-se forçada a tomar o caminho de volta. Não obstante a curteza da marcha, ela alcançou repercussão nacional. Numa época sem televisão, Maringá encheu-se de repórteres dos maiores jornais e emissoras de rádio, que carregaram até os mais altos

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gabinetes da República a insatisfação dos produtores do Norte paranaense. A ordem vinda do Rio era taxa-

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tiva: impedir, por todos os meios, que a insatisfação dos produtores rurais atravessasse o rio Paranapanema, atingindo o Estado de São Paulo e, daí, se alastrasse para outras regiões cafeeiras como Espírito Santo e Minas Gerais. Tropas foram mobilizadas com ordens, segundo se informou na época, de dinamitar, se preciso fosse, a ponte entre Cambará (PR) e Ourinhos (SP), assim como de destruir as balsas para travessia do rio nos municípios paranaenses de Alvorada do Sul e de Santo Inácio. Só no dia 30 de outubro, depois de tudo serenado, teve dom Jaime ocasião de responder a carta do arcebispo de Curitiba. E o fez numa linguagem que nem remotamente deixou transparecer a tensão daqueles dias: Caríssimo Dom Manuel In omnibus Christus! Peço a V. Excia. abençoar-me. Já devia ter respondido a última carta de V. Excia., que falava da Marcha da Produção. Assim que a recebi, quis ir até aí, contudo, as reuniões realizadas aqui, a cada momento, me impediram. Tentei telefonar, mas as linhas estavam cortadas. Mas, Dom Manuel, graças a Deus, parece que tudo acabou bem. Sei que V. Excia. deve ter ficado preocupado, pois os jornais davam os noticiários mais desencontrados. Quando se realizou a reunião em Maringá, no dia seguinte chamei os líderes do movimento e mostrei-lhes o meu desaponto pela linguagem usada. Prometerem, porém, guardar melhores atitudes e pediram que os continuasse apoiando, o que fiz, mas com a ressalva imposta, como V. Excia lerá neste boletim. De fato, a situação do café aqui, principalmente para o pequeno lavrador, é dolorosa. Dá pena ver como ficam preocupados com a falta de preço. Trabalham tanto para pouca recompensa. E são justamente êles os que mais nos ajudam. Por êles, pois, mais que pelos outros, é que tomei posição nesse movimento. Mas, agora tudo passou, e se o Govêrno declarou não ser a Marcha da Produção o meio adequado para se resolver a questão, vamos esperar que êle resolva pelo meio que tem em vista. Por aqui tudo está em paz. Há movimento de pequenas reuniões de líderes. Quanto ao mais, tudo em ordem. Peço a V. Excia que me desculpe a demora desta resposta. Logo no dia 22 iniciei uma visita pastoral, e por isso atrasei a correspondência. [...] Sobre as eleições, lamento que nenhum dos candidatos apontados pela Federação tenha sido eleito. Acho, dom Manuel, que deveríamos pensar de outro modo. Aqui houve propaganda aberta a favor de candidatos comunistas, divorcistas, com trabalho intenso em seu favor, e nós não podemos fazer nada às claras pelos bons candidatos, para não ferirmos os outros. Agora vem a eleição para governador e novos prefeitos, vereadores, etc. Se numa reunião dos Bispos nós tratássemos disso, creio que se alcançaria alguma coisa. Enfim, estou pelas orientações de V. Excia. O trabalho que agora o Pe. Alberton13 começou, mas cujo fim não foi muito feliz, pois marcou aqui em Maringá, justamente quando não era mais permitido falar em política partidária, uma reunião nesse sentido, poderá surtir muito efeito, se for realizada com antecedência e bem programada. [...] Pedindo uma grande bênção e orações, confesso-me etc. (COELHO, 1958, 1 f.). Na campanha eleitoral de 1960 pela sucessão do governador Lupion, o bispo de Maringá manifestou-se publicamente pelo candidato Ney Aminthas de Barros Braga, do PDC, contra os outros dois, Nelson Maculan, do PTB, e Plínio Franco Ferreira da Costa, apoiado pelo governador, em coligação partidária liderada pelo PSD. Braga era admirador do ideal “Economia e Humanismo”, desenvolvido pelo padre dominicano francês Louis Joseph Lebret (1847-1966) cujos estudos nas áreas da economia, do humanismo e do desenvolvimento exerceram larga influência no pensamento social católico brasileiro de então. Descontente com o governo de Lupion, que não queria ver continuado por Plínio, e não reconhecendo, por outro lado, em Maculan qualidades mínimas de governo, dom Jaime adotou postura política que surpreendeu e também des-

13 Pe. Valério Alberton, SJ, então diretor da Federação das Congregações Marianas no Paraná.

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gostou muita gente: valeu-se de todas as oportunidades que apareciam para, em conversas pessoais, apontar o nome de Ney Braga como seu candidato preferido, argumentando sobre a conveniência de votar no seu nome. Ney conseguiu eleger-se governador, não escondendo jamais seu reconhecimento ao apoio de dom Jaime, que considerou decisivo para sua vitória. Em 13 de agosto de 1961, juntamente com os bispos de Londrina, de Campo Mourão e de Jacarezinho, o bispo fundou em Maringá a FAP – Frente Agrária Paranaense com o objetivo de combater a infiltração comunista no meio rural e de repudiar a presença do então deputado federal Francisco Julião, fundador das Ligas Camponesas, que tencionava “lançar a subversão no meio rural”. O nascimento da FAP não se deu sem atropelos. Pelo contrário. O dia foi escolhido a dedo para coincidir com o II Congresso de Lavradores e Trabalhadores Rurais do Paraná realizado em Maringá, nos dias 12-15 de agosto de 1961, em que a figura mais importante seria o parlamentar pernambucano. Da parte católica, entendia-se que era preciso lançar o movimento publicamente com a maior repercussão possível. Ora, os militantes comunistas haviam planejado para o mês de agosto, em Maringá um ‘congresso de trabalhadores rurais’, do qual deveria participar o grande líder das ligas camponesas do Nordeste, Francisco Julião. Aos olhos dos católicos, ele viria para ‘insultar os trabalhadores rurais e incitá-los à revolta’, difundindo ‘suas idéias esquerdistas e comunistas’. De fato, isso significaria a entrada das ligas de Julião na região, considerada uma área sensível devido à grande concentração de trabalhadores rurais oriundos do Nordeste. Os dirigentes da Igreja, indignados, consideraram o evento como uma afronta comunista. Era a gota d’água que faria transbordar a paciência cristã e um bom pretexto para desencadear o movimento dos bispos. Mas uma dura prova aguardava o principiante movimento cristão (SILVA, 2006, p. 224-225).14 Numa época de nervos à flor da pele, não houve como evitar o choque entre representantes da Igreja – padres, congregados marianos, alunos de colégios católicos – e militantes do Partidão. A polícia foi chamada: “o coronel mandou descer o cacete... freira apanhou, padre apanhou, todo mundo apanhou... veio bomba, jatos de água, veio o corpo de bombeiros. Virou uma praça de guerra; quebra-pau, um confronto terrível”, contaria mais tarde um dos participantes do congresso de trabalhadores rurais ao professor Ângelo Priori (2001, p. 175), que escreveu sobre o episódio. As versões apresentadas pelo lado católico são distintas, embora não haja como esconder que estudantes e congregados marianos tiveram uma reação feroz, absolutamente inesperada pelos congressistas do PCB. Como um furacão, por onde Julião passava, havia conflito. A sua chegada ao aeroporto de Maringá foi esperada com impaciência pelos militantes das Congregações Marianas. Dom Jaime tinha preparado ‘o povo católico’ para que não deixasse o avião pousar. Apesar disso, Julião conseguiu chegar até o Congresso dos sindicalistas do PCB. Segundo um padre, o confronto começou logo na sessão de abertura da reunião, quando alguns estudantes questionaram Julião, no momento em que ele expunha suas visões sobre a reforma agrária. O conferencista recusou a polêmica e os estudantes foram ‘expulsos do local’. À tarde, durante o desfile da FAP, em nome de Deus, o Congresso dos ‘vermelhos’ foi cercado e agredido. O padre Osvaldo Rambo relatou: ‘Um grupo de marianos já foram... na frente (do lugar) da reunião deles, já começaram a... mexer com eles, a incomodá-los, atirando pedras pra dentro, vaiando, gritando. [...] O padre André Torres, que levava uma carabina em baixo da batina, comandava um ‘bando de garotos’ nas ruas, ‘provocando tumultos nas ruas e pedindo justiça para os camponeses’. Puseram fogo nos cartazes. Eles vieram ‘para quebrar tudo’, para ‘acabar com o

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14 O autor traz também a opinião contrária de padre Osvaldo Rambo, para quem foram os comunistas que marcaram o congresso, depois de anunciada a fundação da FAP: “quando os comunistas souberam da nossa reunião grande pra fundar a Frente Agrária Paranaense, eles também começaram a organizar uma concentração, uma reunião de esquerdistas e de comunistas... a quatro quarteirões, num salão... mesmo dia, mesmas horas” (SILVA, 2006, p. 227).

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que eles chamavam de comunistas’. Para fazer isso, a Igreja tinha instruído os jovens do Colégio Marista de Maringá, cerca de 3.000 estudantes (sic) e mais de 30 padres (SILVA, 2006, p. 239-241; PRIORI, 2001, p. 173). Admitindo, embora, alguma dose de verdade nos relatos que Silva e Priori ouviram, é preciso descontar exageros compreensivelmente criados pela paixão da hora. Só em mente exaltada ou alheia aos fatos caberia admitir que em 1961 o Colégio Marista de Maringá tivesse 3.000 alunos adolescentes e jovens − ninguém convocaria crianças para confronto dessa natureza15 −, que na praça houvesse 30 padres juntos, que sob a veste clerical padre André carregasse uma carabina. Era impossível um padre portar arma sob a batina pela simples e boa razão, referida por dom Jaime, testemunha ocular, de que os padres, naquele dia, prevendo o confronto, se apresentaram em trajes civis. Por outro lado, não eram 30, mas três apenas misturados aos manifestantes: padres Osvaldo Rambo, André José Torres e Francisco Peregrina Lopes. Somados alunos do Marista e da Escola Técnica de Comércio, que funcionava à noite no mesmo prédio, dificilmente alcançariam três centenas. O PCB mobilizava-se junto aos camponeses sempre se adaptando às peculiaridades locais. Principal mote das ligas camponesas no Nordeste brasileiro, o discurso da reforma agrária não se apresentava tão sedutor no Norte do Paraná onde os latifúndios, em 1961, eram extremamente raros: a colonização empreendida pela CMNP tinha privilegiado a pequena e a média propriedade. Em vista disso, a campanha desencadeada pelos comunistas, mais que tudo, visava criar sindicatos de trabalhadores rurais com diretorias fiéis ao PCB. Depois, seriam unificados numa confederação que lhes garantisse a orientação ideológica do campesinato norte-paranaense. A FAP nasceu com o claro propósito de barrar o avanço do comunismo na área rural. A mobilização dos bispos revestia um cunho ideológico: tratava-se, na verdade, de defender a fé cristã do ataque de uma doutrina materialista e atéia. Por isso, entre suas principais atividades estava a criação dos mesmos sindicatos, mas entregues à coordenação de pessoas cristãs. Eram objetivos da Frente Agrária Paranaense, lançada pelos bispos: 1. Formação de líderes sindicais rurais; 2. Criação de sindicatos de orientação cristã; 3. Criação de cooperativas para os pequenos proprietários rurais; 4. Assistência educacional, religiosa e moral; 5. Assistência médico-hospitalar ao trabalhador rural, entre outros pontos [...] Para a igreja, esse movimento não poderia mostrar fraqueza: ‘ou a FAP nasce com força, ou bem não precisa nascer’, diziam os bispos norte-paranaenses. O padre Osvaldo Rambo, na época vigário da paróquia São José da Vila Operária, foi encarregado pela diocese de Maringá para ser o assessor eclesiástico da FAP e preparar toda a organização material do evento. Dom Jaime Luiz Coelho ficou encarregado de contatar e convidar o máximo possível de autoridades municipais, estaduais e federais, a fim de prestigiar o acontecimento [...] Os bispos tinham uma missão histórica: organizar os trabalhadores rurais e salvá-los – como inocentes que eram e, portanto, suscetíveis a ideologias estranhas – da influência dos comunistas que, se aproveitando da situação de desespero em que se encontrava o homem do campo, os tornavam presa fácil aos ataques ‘desses agentes de Moscou’. E para isso precisavam combater qualquer iniciativa ‘desses agentes’, como era o caso, por exemplo, do II Congresso de Trabalhadores Rurais, que estava acontecendo em Maringá” [...] Se aqueles foram anos conturbados, pelo menos tivemos uma intensa participação e discussão em torno dos problemas dos trabalhadores rurais. Excluídos da política e da cidadania até os anos 50, estes surgiram com um vigor e uma aparente capacidade de organização social jamais conhecida, até então, na história do Brasil. Sem dúvida, mesmo com as diferenças e as disputas ideológicas, traduzidas muitas vezes em confrontos e violências, a Igreja Católica e o PCB tiveram importância fundamental no processo de organização dos trabalhadores rurais na década de 60 (PRIORI, 2001, p. 161-177).

15 Depois de 45 anos, em 31 de outubro de 2006, o Colégio Marista de Maringá, incluindo as crianças da Educação Infantil, contava 1.644 (mil, seiscentos e quarenta e quatro) alunos, conforme resposta da secretaria do Colégio a consulta do autor deste relato.

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Frente Agrária Paranaense, 1961

O enterro simbólico do deputado comunista Francisco Julião.

Francisco Julião, o primeiro sentado. Ao microfone, Armando de Lima Uchoa, prefeito de Nova Esperança.

A tropa de policiais que reprimiu com violência o confronto nas ruas de Maringá.

A FAP é pioneira na fundação, dentro do Estado do Paraná, dos sindicatos de trabalhadores rurais. Em 1969 contavam-se no Estado do Paraná mais de 100 sindicatos fundados por ela ou sob sua inspiração, um trabalho desenvolvido, na diocese de Maringá e região, de forma muito intensa, por padre André José Torres e também por padre Osvaldo Rambo, da paróquia São José. Heller da Silva apresenta números diferentes. Para ele, quando em 1964 os militares tomaram o poder, os sindicatos fundados por católicos seriam 46, ou ainda 41, senão 35 apenas, enquanto havia 86 sindicatos dos comunistas (SILVA, 2006, p. 258). Para levar a termo o programa da Frente Agrária Paranaense, Rambo ainda fundou, em 1964, a Cooperativa Agrícola de Maringá, destinada a pequenos proprietários rurais, com abrangência de 37 municípios. Da cooperativa era ele o diretor-presidente, cabendo a seu primo Arno Wilibaldo Vier, dentista e agricultor, o cargo de diretorgerente. À semelhança de Priori, também Heller da Silva reconhece ao PCB e à Igreja Católica um papel de capital importância na história do sindicalismo rural:

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Apesar de suas diferenças ideológicas, seus discursos sobre a postura sindical se aproximavam: devoção, disponibilidade e desinteresse eram constantes. Entretanto, para a maioria destes militantes (sejam cristãos ou marxistas) suas atividades podiam trazer-lhes um capital social e um capital cultural-formal, praticamente inacessível por outros caminhos. [...] Semelhante aos sindicatos comunistas, o ponto de referência dos católicos era sempre a observância da legalidade e dos direitos dos lavradores. As suas divergências começavam, porém, na definição do que era direito e do que não era. O conjunto de pontos de contato entre os dois sindicatos permitia, para além dos conflitos, a aparição de uma espécie de cumplicidade entre um certo número de agentes posicionados em campos antagônicos. [...] Apesar do papel desempenhado pelos


adeptos locais do PCB – secundados pelos militantes católicos –, o norte do Paraná foi e ainda é o berço esquecido do sindicalismo rural não só desse estado, mas também do Brasil (SILVA, 2006, p. 271). No ano de 1965, dom Jaime criou em Maringá a ADAR – Associação Diocesana de Assistência Rural, obra promocional em benefício do homem do campo ao qual oferecia cursos de tratorista, de administrador rural, formação em liderança sindical, plantio, adubação, técnicas de colheita e silagem etc., além de outros cursos, especialmente voltados a pessoas do sexo feminino, como artes culinárias, corte e costura, alfabetização de adultos, higiene, puericultura etc. A obra não desfrutou de vida longa. Irmã Jeanne Gaudin, principal animadora do trabalho da ADAR, adoeceu gravemente e retirou-se para a França em 1967. A nova situação política, por outro lado, estendeu seus reflexos também à vida do homem do campo, inviabilizando os projetos da ADAR.

ADAR, obra inaugurada em 1965 para promover a população rural da diocese.

A partir de 1964, com a entrada em cena dos governos militares, mudou radicalmente o panorama agrícola do país e, por conseqüência, do Norte do Estado. Os anos 70 assistiram o surgimento da conveniente ilusão do “milagre econômico”. Em nome do crescimento do bolo da renda nacional, a agricultura brasileira foi entregue à economia de mercado, que passou a privilegiar de forma quase absoluta a produção para o comércio exportador. Alargaram-se enormemente as fronteiras agrícolas transformando o Brasil no paraíso das grandes empresas produtoras de insumos agrícolas em escala planetária. A geada de 1975 terminou por sepultar inteiramente qualquer resquício da monocultura cafeeira que dera início à exploração agrícola da região, quarenta anos antes. Para alcançar o posto de um dos maiores produtores de grãos em que se converteu, o Paraná viu-se forçado a abandonar a agricultura familiar praticada em pequenas propriedades, que fora um dos traços mais marcantes do cultivo da terra naqueles não tão distantes, mas hoje definitivamente passados tempos pioneiros. Exemplo, um entre muitos, do engajamento da Igreja em causas sociais deu-se na greve dos operários da Cia. Norpa Industrial, em 1968, seguidos, depois, pelos colegas da Cia. Cruzeiro. Conta Reginaldo Dias: No domingo, 07 de outubro, os operários das duas indústrias [...] fizeram um ato público, no qual receberam solidariedade de sindicatos, associações estudantis e membros do clero [...] O impasse persistiu, na medida em que a empresa recusou a proposta e ameaçou promover demissão em massa, caso a greve não cessasse até as 16 horas daquele dia. Entrou em cena, então, o bispo da cidade que, tendo manifestado solidarie-

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dade ao movimento foi convidado pelos grevistas para servir de mediador. A solução, no entanto, não foi imediata. A direção da Cia. Norpa não foi persuadida pelo mediador que, por sua vez, incorporou-se ao acampamento montado pelos grevistas. Na barraca o bispo afirmou às autoridades policiais que cessara o diálogo e que se colocaria ao lado dos operários (DIAS, 2001, p. 211).16 Misturado aos trabalhadores no acampamento montado diante da fábrica, de batina preta, faixa roxa e cruz peitoral, o bispo dirigiu-se aos policiais: “Se vocês entrarem aqui para espancar os operários, vão ter que bater em mim também.” Não houve violência, mas as negociações com a empresa foram penosas e não de todo satisfatórias para os trabalhadores, apesar da mediação da autoridade episcopal. Mais do que ganhos financeiros, contudo, valeu o testemunho de solidariedade da Igreja a pobres operários numa greve que o próprio comando constatou incapaz de manter-se por mais tempo. Ainda que menos visíveis, nem por isso de menor valor, também em outras áreas de atividade humana se fez sentir a presença fraterna da Igreja de Maringá. No dia 24 de novembro de 1978, “O Diário” estampava em primeira página a manchete: “Após 15 anos Maringá e região ganham hoje junta de Conciliação e Julgamento”. O texto historiava a longa participação de dom Jaime na conquista, que pode assim resumir-se: Em 1967 o Sindicato dos Empregados do Comércio de Maringá deu entrada em processo administrativo (prot. nº TST-3-177/67) no Tribunal Superior do Trabalho, à época com sede no Rio de Janeiro, pleiteando a criação da Junta de Conciliação e Julgamento na Comarca de Maringá. No dia 14 de outubro de 1968, aproveitando audiência com o presidente Arthur da Costa e Silva, em Brasília, para tratar da TV Cultura de Maringá, referendando o pedido do Sindicato dos Empregados do Comércio de Maringá, dom Jaime entregou ofício solicitando a criação da Junta na cidade. Thelio da Costa Monteiro, presidente do Tribunal Superior do Trabalho, em 20 de março de 1969 enviou a dom Jaime ofício (prot. TST-3-177/67-GP 123/69) informando andamento do processo, que aguardava apenas informações pedidas ao juiz da Comarca de Maringá, Cyro Maurício Crema (este respondeu, no dia 31, ressaltando “o interesse do bispo diocesano de Maringá pela criação da esperada Junta de Conciliação e Julgamento de Maringá”). Jarbas Passarinho, ministro do Trabalho, em visita a Maringá, no dia 26 do mesmo mês recebeu em mãos um ofício no qual dom Jaime reforçava o anseio de Maringá e região pela criação da Junta, aproveitando para pedir sua oportuna influência. Em 20 de junho, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho informou ao bispo ter encaminhado, com parecer favorável, ao ministro da Justiça, o prot. nº TST-3-177/67, recomendando a criação da Junta, com jurisdição sobre as vizinhas comarcas de Mandaguaçu e de Marialva. Três dias depois, telegrama de João Zoghbi, diretor geral do TRISEC, informava a dom Jaime que o processo tinha sido encaminhado ao Ministério da Justiça, onde recebera o nº MJ 18885. As coisas, porém, movimentam-se devagar nos escaninhos da burocracia de Brasília. Somente no dia 24 de novembro de 1978 se instalou a Junta de Conciliação e Julgamento na Comarca de Maringá com competência sobre 36 cidades da região, compreendendo, além de Maringá, os municípios: Alto Paraná, Astorga, Atalaia, Colorado, Cruzeiro do Sul, Doutor Camargo, Engenheiro Beltrão, Fênix, Floraí, Floresta, Flórida, Guaraci, Iguaraçu, Itambé, Ivatuba, Japurá, Jussara, Lobato, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Munhoz de Melo, Nossa Senhora das Graças, Nova Esperança, Ourizona, Paiçandu, Paranacity, Presidente Castelo Branco, Quinta do Sol, Santa Fé, São Carlos do Ivaí, São Jorge, São Tomé, Terra Boa e Uniflor. O juiz que assumiu a Junta de Maringá, Ismael Gonzalez, recepcionado, às 9h30, no aeroporto pelo prefeito João Paulino Vieira Filho, autoridades e lideranças sindicais, dali se dirigiu diretamente à residência de dom Jaime, cuja participação foi intensa e decisiva para o objetivo alcançado (APÓS..., 1978, p.1-2).17 No campo político eleitoral, a campanha para prefeito do município deu a conhecer, em 1968, um

16 Os membros do clero a que Dias se refere eram padres Almeida e Orivaldo, ligados ao Grupo Lebret, que moravam na residência episcopal. A pedido do comando da greve, convidaram o bispo para dialogar com operários e patrões.

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17 Os “15 anos” da manchete contaram-se provavelmente a partir da ditadura militar, implantada no início de 1964.

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bispo de Maringá ainda mais comprometido com a política do que o fora, oito anos antes, no pleito para escolha de governador do Estado. Forçados a engolir um bipartidarismo esdrúxulo em que os ideólogos do regime militar imaginavam engessar todas as correntes políticas do país, os eleitores maringaenses foram chamados a decidir entre ARENA – que apresentou João Paulino Vieira / Rodolfo Purpur, na chapa 1, e Ardinal Ribas / Helenton Borba Cortes, na chapa 2 – e MDB, de chapa única, composta por Adriano José Valente / Renato Bernardi. Registre-se, em respeito à verdade, que dom Jaime em momento algum emitiu pronunciamento público nem subiu em palanque. Descontente com a gestão anterior de João Paulino (1961-1964) por divergências quanto à Santa Casa, construção da catedral e outros temas, o bispo esforçou-se quanto pôde para negar-lhe um segundo mandato: das duas chapas do partido oficial, a sua era a mais forte. Ainda há quem recorde o bordão criado por Joe Silva, locutor oficial dos comícios do MDB: “Essa não deu, ARENA!” De fato, não deu. Reunindo todos os descontentamentos que o sistema vigente conseguia nutrir, o certo é que o MDB, por força do episcopal apoio ou independente dele, alcançou 19.471 votos (55,7%), enquanto, com duas legendas, a ARENA obteve 15.459, ou 44,3% de todos os votos válidos (ALCÂNTARA, 2001, p. 258). Na segunda gestão de João Paulino (1977-1983), o relacionamento entre prefeito e bispo transcorreu em clima de colaboração e entendimento. Quando da eleição de Said Felício Ferreira (1983-1988), dom Jaime, embora participando de forma menos visível, não se recusou, ainda uma vez, a tornar clara sua posição em vista daquilo que julgava o melhor para a comunidade nos quatro anos seguintes. A participação na política partidária, contudo, trouxe-lhe mais dissabores que alegria. Em carta ao arcebispo de Curitiba, referindo-se ao relacionamento com os políticos locais, confessou: “Vivemos em boa harmonia. Não vivo, é claro, atrás dos políticos, bajulando-os, e nem faço mais nada por êles como fiz pelo Ney (Braga). Basta a lição” (COELHO, 1966, 1 f.). Tantas foram, desde 1960, as vezes em que bateram à sua porta políticos de todos os naipes, de todas as regiões do Paraná e até de outros Estados, ansiosos pelos dividendos eleitorais a auferir com o seu prestígio, tantas, igualmente, as esperanças frustradas por homens públicos de todo o país que, afinal, desiludido e cansado, o já arcebispo de Maringá decidiu: “Mesmo que Jesus Cristo se candidate a algum cargo público, não receberá apoio meu”. Pelo envolvimento em episódios que afetavam a sorte dos seus diocesanos não podia ele escapar à atenção das autoridades ciosas da “segurança pública”, sobretudo depois da edição do AI-5 (13 de dezembro de 1968), quando se abriram de vez as portas da repressão. Sua pasta, de nº 02064 no Arquivo Público do Estado do Paraná, traz anotações hoje risíveis, mas consideradas importantes por autoridades da época: Em 20-01-70 – É proprietário do jornal Folha do Norte do Pr. Onde foram feitos comentarios dúbios sobre as forças Armadas e o govêrno. Parece que o jornal está arrendado. Dom Jaime por suas atitudes parece ser “progressista”. Consta que por se julgar destratado no Quartel da 4ª Cia Inf., disse ao professôr Renato Bernardi que era uma pena não ter acontecido antes de terminar a procissão de 6ª Feira Sta porque assim êle, Bispo, teria acabado com a turma de Apucarana. Na missa de Domingo de Ramos comparou Che Guevara a Cristo. (V.Pasta 2ª Sec.5ª RM). Em 06/09/77 – Conf. Doc. Min. Ex. 2ª Seção, o fichado pertence a Igreja Progressista do Norte do Paraná, Engajou-se sem reservas no “Progressismo fazendo constantes criticas ao governos (sic), no sistema e nas autoridades. (V/P Igreja Católica). Em 08/12/77 – Conf. Folha de São Paulo de 05/10/77, o fichado afirmou que recebeu correspl do Vaticano contendo exemplar do jornal “Voz Operária”, órgão central do PCB, e exemplares procedentes de Tóquio e de Roma, sendo que um dos artigos comenta que “comunistas e cristão (sic) no Brasil estão unidos no memo (sic) combate pela democracia e pelo progresso da justiça social. (V/P MARINGÁ). 26/05/81 – Conf. O Est. do Paraná de 23/10/80, o nominado participou da reunião realizada onde todos os bispos da Região Sul II da CNBB e a Comissão de Justiça e Paz do Pr., organizaram para emitir uma nota de solidariedade ao Padre Vito Miracapillo, que teve sua expulsão decretada pelo presidente da República. O nominado representou o bispo de Cornélio Procópio dom Domingos Wisniewski. O

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nominado entre outros assinou a nota. (V/P-CNBB) (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ, 1970-1981, f. 1-3).18 Quem atravessou os chamados “anos de chumbo” recorda o clima de desconfiança que dominou o país, subitamente convertido em imenso salão sob controle de um onisciente “big brother” que tudo anotava, registrava e guardava como prova contra os cidadãos. Fosse qual fosse a profissão exercida ou o cargo ocupado, a pessoa corria perigo de ser rotulada de subversiva, bastando não agradar aos senhores do poder. Denúncia gratuita, motivada por vingança, inveja ou antipatia, era suficiente para comprometer a vida de quem nunca sonhara estar sob suspeita. Pelo menos um membro do presbitério de Maringá teve, naquele tempo, sorte igual à do bispo. O Arquivo Público do Paraná guarda pasta nº 03120, com documentos e informações referentes a “Orivaldo Robles – padre”, onde consta ofício de 6 de março de 1969 do chefe do SNI, agência de Curitiba, ao delegado da DOPS/PR cuja resposta foi dada em 30 de agosto do mesmo ano: 1. Esta Agência teve conhecimento de que o Padre Oriovaldo (sic) Robles, da Paróquia de Maringá-PR, em suas pregações dominicais, critica o Exmº Sr Presidente da República e as Fôrças Armadas, como corruptas; atua no meio estudantil; é pregador do amor livre (sic), e, finalmente, que a população de Maringá repudia a sua atuação. 2. Em face do expôsto, tenho a honra de me dirigir a V.S. para solicitar informações quanto: veracidade dos fatos apontados; caso se confirmem, ampliar; dados de qualificação, antecedentes políticos e ideológicos da pessoa referida e outros dados [...]. Em resposta [...] informo que, quanto à ideologia política do Padre Orivaldo Robles, a mesma é francamente para a esquerda, pois o referido sacerdote, quando dos seus sermões, se aproveitava para atacar às Forças Armadas, porém somente assim procedia quando os mesmos não eram irradiados, e, quando tivemos conhecimento de tais discursos, foi justamente na ocasião em que V.S. enviou um agente para conseguir a gravação dos mesmos. Outrossim, informo à V.S., que o Padre Oswaldo (sic) Robles, é grande amigo do estudante Francisco Timbó de Souza elemento este fichado nesta Especializada como Subversivo, com o qual mantém sempre contato (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ, 1969-1973, f. 9, 1).19 Apesar de constar, na certidão expedida em 12 de abril de 1971, pela Delegacia de Ordem Política e Social de Curitiba, que “não figura o requerente como indiciado em Inquérito Criminal por infração à Segurança Nacional, inexistindo ainda decreto judicial de prisão preventiva”, Robles foi excluído do corpo docente do Ginásio Estadual Maria José Rocha Braga e também da Escola Normal Regional Claudino dos Santos, ambos na cidade de Paranacity, nos quais lecionava, e por cuja paróquia respondia na época. Na Inspetoria Regional de Ensino, em São João do Caiuá, aonde foi chamado no dia 4 de junho de 1971, recebeu comunicação da inspetora Anirce Bolter Veltrini de que estava proibido de lecionar em estabelecimentos oficiais de ensino. Conquanto tivesse Antônio Tortato, prefeito de Paranacity, de todas as formas, envidado esforços

18 A alusão à 4ª Cia. Inf. de Apucarana refere-se, provavelmente, à visita feita por dom Jaime àquele quartel, em 1969, para exigir a soltura de A. A. de Assis, poeta e jornalista de Maringá, brutalmente arrancado da cama, de madrugada, por soldados fardados daquela Cia. e para lá conduzido sob suspeita de atividade subversiva. Um jovem ativista de política estudantil, natural de São Fidélis (RJ), como Assis, tinha sido detido no Sudoeste do Paraná com seu endereço no bolso, passado provavelmente por algum conterrâneo conhecido de ambos. Sobre os exemplares de “Voz Operária”, pela imprensa dom Jaime denunciou a manobra, alertando para o falso envio do jornal pelo Vaticano, que tinha o evidente propósito de comprometer a Igreja Católica perante o governo brasileiro. Os informes são respostas a pedidos de renovação de passaporte. A certidão fornecida pela Delegacia de Ordem Política e Social reconhece não haver “indiciamento do requerente em inquérito criminal por infração à Segurança Nacional nem decreto de prisão preventiva” (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ, 1969-1973, f. 13).

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19 O autor destas notas fez pedido da documentação existente a seu respeito e também de padre Almeida e irmã Jeanne. Em e-mail de 23 de março de 2006, a Sala de Pesquisa do Arquivo Público do Estado, de Curitiba, respondeu: “Encontramos dossiê individual do Pe. Orivaldo Robles contendo ofícios de 1969, requerimentos para magistério estadual, certidão para fins de magistério, atestado de conduta. O dossiê 2956 – cx. 447 contém 14 páginas. Os outros nomes, Pe. Antonio de Pádua Almeida e Irmã Jeanne Gaudin, não possuem documentação”.

A Igreja que brotou da mata


junto a autoridades estaduais para reverter o quadro, as providências não surtiram efeito. Tornou-se impossível mudar disposições estabelecidas por Curitiba. Assim que regressou de Roma, onde se encontrava quando da proibição feita ao pároco de Paranacity, dom Jaime escreveu cartas, nos dias 4 e 5 de agosto de 1971, ao chefe da agência regional do SNI e ao comandante da 5ª Região Militar, ambos da capital do Estado, manifestando estranheza por não ter sido comunicado, conforme suas palavras, de importante “informação que, penso, como Bispo da Igreja nesta Circunscrição Eclesiástica de Maringá, devo saber”. Acrescentou ainda nas cartas a ambos: “[...] surpreende-me a atitude tomada, a não ser que haja outros motivos que desconheço, e tão graves, que gostaria de saber” (COELHO, 1971, 2 f.). A resposta dada pelas duas autoridades militares remeteu o assunto à Secretaria de Educação e Cultura do Estado, a cuja exclusiva responsabilidade, conforme informaram, estava afeta a medida tomada. Em viagem, dias mais tarde, à capital do Estado, dom Jaime procurou Haroldo Carvalhido, secretário daquela pasta, obtendo dele a explicação de que bastava Robles ter na DOPS a ficha com os informes anotados para lhe acarretar imediata interdição ao magistério estadual. Desde 1971, de fato, e já se passaram 35 anos, nunca mais o “nominado” (para usar o jargão dos órgãos de informação do período), ministrou única aula remunerada em escola pública. Entrevistado pelo O Diário em 12 de novembro de 2006, o advogado e jornalista pernambucano Laércio Souto Maior, uma das maiores vítimas, entre nós, da repressão dos anos de chumbo, declarou: Depois disso [cerco, em outubro de 1968, de estudantes a comício de Paulo Pimentel e ameaça de intervenção da Polícia Militar], logo em seguida, no mês de dezembro, foi decretado o AI-5 e, na mesma semana, eu e mais dois maringaenses fomos convocados pelo DOPS. Eu fiquei quase um dia detido. Quem eram esses três maringaenses? Eu, Francisco de Souza e o padre Orivaldo Robles (SOUTO MAIOR, 2006, p. D5, grifo nosso). Na caminhada de quatro décadas à frente da Igreja de Maringá, o primeiro bispo firmou-se como condutor de sua Igreja no rumo do crescimento espiritual, sem descuido do aprimoramento cultural, moral, econômico e social do povo que lhe coube dirigir. Deixou impressa a marca de uma Igreja voltada à evangelização de pessoas de carne e osso, participantes do mundo real e contraditório em que vivemos. Nunca se cansou de incentivar padres, religiosos e fiéis cristãos leigos a se inserirem nos desafios concretos da sua comunidade em vista do bem-estar, da paz e da convivência harmônica entre os cidadãos. Por toda a extensão da arquidiocese de Maringá, embora com falhas decorrentes da natureza humana, desde há muito, vem fazendo-se ouvir a voz da Igreja na defesa dos menos favorecidos e na luta por vida digna para todos. Não em nome de ideologias nem de interesses políticos, mas por seu compromisso com o Evangelho de Cristo, a Igreja Católica enfrenta – e entre nós os exemplos estão à mostra, bastando ter olhos para ver – delicadas questões como o desemprego e a falta de oportunidades para as novas gerações; o déficit habitacional; as carências no campo da educação, da saúde e da segurança; o agronegócio que esmaga a agricultura familiar; o aviltamento dos preços dos produtos agrícolas; a insegurança dos pequenos agricultores diante de intempéries e malogro de safras; o direito ao repouso dominical de cortadores de cana, no campo, e de comerciários, na cidade; a insegurança dos assentados do MST; a incerteza dos trabalhadores sazonais (bóias-frias); a falta de indústrias de transformação que gerem mão-de-obra próxima ao produtor; o esvaziamento dos pequenos municípios; a exploração da mulher e do menor; a corrupção de muitos que detêm o poder em qualquer nível; a injusta retribuição do trabalho... e uma interminável série de inquietações suportadas pela maioria da população. Se elas incidem sobre a vida de homens e mulheres preocupados com o bem de todos os cidadãos, aos membros da Igreja não são, de forma nenhuma, indiferentes. Ao contrário: As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração. Com efeito, a sua comunidade se constitui de homens

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que, reunidos em Cristo, são dirigidos pelo Espírito Santo, na sua peregrinação para o Reino do Pai. Eles aceitaram a mensagem da salvação que deve ser proposta a todos. Portanto, a comunidade cristã se sente verdadeiramente solidária com o gênero humano e com sua história (LG 1). Atenta às orientações da CNBB, a Igreja de Deus de Maringá esmerou-se, em especial nas décadas de 1970-1980, por converter-se em Igreja servidora, como proposto, à época, na chamada linha 6 do Plano de Pastoral de Conjunto,20 e hoje, nas quatro exigências da evangelização inculturada. Desde os primeiros lampejos da inspirada contribuição latino-americana que foram as CEBs – Comunidades Eclesiais de Base, a diocese de Maringá, ao lado de outras do Paraná, abraçou com fervor essa “uma nova forma de ser Igreja” e dispôs-se a caminhar em busca de outra sociedade possível. Na esteira aberta pelo Concílio Vaticano II, por Medellín e Puebla, o Paraná foi alertado para modalidades de inserção da fé na vida que antes não eram postas em prática. Em sintonia de pensamento e trabalho com o Regional Sul II da CNBB, a Igreja maringaense não estranhou comprometer-se com as situações e os reclamos vivos do seu povo. Embora não falte quem, por desinformação ou malícia, insista em classificá-las de forma diversa, é oportuno ressaltar a validade de celebrações populares como a Romaria do Trabalhador e Romaria da Terra, além de organismo como a CPT – Comissão Pastoral da Terra, muitas vezes acusada de contrária ao Evangelho. Às três se liga de forma indissociável, na nossa arquidiocese, o nome de padre Zenildo Meggiato.21 Comprometido com a causa da terra e do trabalhador rural, ele não se ocupa com estéreis discussões de gabinete, mas enfrenta corajosamente as causas do sofrimento de irmãos excluídos de uma sociedade injusta. Seu envolvimento com a pobreza não se traduz em discurso ideológico, mas em exemplo de despojamento pessoal e comunhão com os fracos. Incompreendido, processado várias vezes, ameaçado de morte, não se cansa nem desanima. Em nosso meio, Meggiato afirma-se como liderança evangelicamente solidária com o homem do campo do Paraná e do Brasil.

20ª Romaria da Terra do Paraná, realizada em São Pedro do Ivaí, no dia 21 de agosto de 2005.

20 O histórico PPC, elaborado pelo episcopado brasileiro para o qüinqüênio 1966-1970, direcionava a ação da Igreja para seis linhas: 1. unidade visível, 2. missão, 3. catequese, 4. liturgia, 5. ecumenismo e 6. presença no mundo. Em maio de 2004, foi relançado como nº 77 da série “documentos da cnbb” (coleção azul).

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21 A arquidiocese de Maringá realizou, em 1º de maio de 2006, a 17ª Romaria do Trabalhador. A Romaria da Terra de 2006 foi a 21ª promovida no Paraná. A CPT, entidade nacional ligada à CNBB, foi fundada em 1975. Na cidade paranaense de Cascavel aconteceu, em janeiro de 1984, o primeiro encontro do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

A Igreja que brotou da mata


Se, em tempos passados, por causa de séculos de uma prática apenas “espiritual” e intimista do catolicismo, ações desse tipo eram vistas como estranhas à fé, com o passar dos anos foram impondo-se, na medida em que se firmou a consciência de sua ligação com a fé traduzida em obras. Hoje ações transformadoras da sociedade não conflitam com os gestos “religiosos” tradicionais de missa, confissão, catequese, liturgia, reunião de grupo, leitura da Bíblia, oração e devoção popular: terço, via-sacra, novena, procissão, coroação de Nossa Senhora etc. Em todos os agrupamentos humanos da diocese, desde o seu primeiro momento, lideranças católicas somaram-se às forças vivas da sociedade civil no reconhecimento da responsabilidade social comum. Fiéis cristãos leigos sempre foram instruídos a não se omitirem frente às obrigações de cidadãos do mundo criado por Deus para ser morada de todos. Temas de justiça social, participação popular, direitos humanos, cidadania em vários níveis, ecologia, defesa do meio ambiente etc. vêm sendo desenvolvidos com naturalidade nas paróquias e nas comunidades menores. Fiéis católicos, em maior ou menor grau, comprovam interesse pela formação da consciência política e social, como se viu na freqüência à Escola de Formação de Fé e Política, fundada em 1996, pelo CEPAT – Centro de Pesquisas e Apoio aos Trabalhadores, com respaldo do Regional Sul II da CNBB. O mesmo se nota no estudo das Semanas Sociais promovidas pela CNBB Nacional e em momentos marcantes da Igreja arquidiocesana. Relatam-se casos de pioneirismo da Igreja em processos destinados a agregar valor ao produto do trabalho e a aumentar a renda familiar, a melhorar as condições de vida de trabalhadores e de suas famílias através de ações de higiene, saneamento, horta, coleta seletiva de lixo etc. Há que ressaltar a ação da Pastoral da Saúde e da Pastoral da Criança, importantes agentes transformadores da vida das pessoas. Esta última, nascida em Florestópolis, na vizinha arquidiocese de Londrina e alicerçada em estrutura ágil e eficaz, irradia sua presença transformadora para praticamente todas as paróquias da arquidiocese de Maringá. Ainda que políticos inescrupulosos ou pessoas desonestas volta e meia tentem pegar carona nos méritos do seu trabalho exemplar, a Pastoral da Criança nasceu e se conserva genuína obra evangelizadora da Igreja Católica dentro da exigência do serviço. Muitas entidades civis vicejam em Maringá e região, nascidas da inspiração de cristãos leigos conscientes ou por eles integradas, com ganhos reais na qualidade de vida das pessoas e da comunidade. Assim o Movimento Voz e Vez da Mulher; o MECUM – Movimento Ecumênico de Maringá; a ASSINDI – Associação Indigenista de Maringá, fundada a 19 de abril de 2000, pela liderança de Darcy Dias de Souza, com meritório trabalho junto a índios da etnia Kaingang e Guarani; a Associação União e Consciência Negra; os Amigos do HU – Hospital Universitário cujo primeiro coordenador foi o arcebispo dom Murilo, sucedido por doutor Aníbal Bianchini da Rocha, o “jardineiro” de Maringá; associações, sindicatos, entidades de classe, clubes de serviço, ONGs etc. O respeito de que a Igreja Católica se fez merecedora tem alicerce no valor de figuras respeitáveis do seu grêmio, à frente das quais elevam-se dom Jaime, dom Murilo, dom João, dom Anuar... Vez por outra, em episódios que jogam com o destino da população inteira ou de grupos, quando a exigência é de alguém confiável, seus representantes são lembrados para função de comando ou de arbitragem. Não certamente por causa de poder econômico ou político, que a Igreja não possui, mas com base no patrimônio de respeito e credibilidade construído por sua presença voltada unicamente à evangelização. Nas eleições municipais de Maringá em 1996, além de, entre dezenas de candidatos a vereador, indicar sete que considerou dignos do voto de eleitores católicos, a Igreja promoveu ainda, através do Conselho Arquidiocesano de Leigos, no auditório Dona Guilhermina, ao lado da Cúria Metropolitana, no dia 4 de setembro, um histórico debate do qual participaram os nove candidatos a prefeito do município. O evento, realizado pela primeira vez na cidade, foi definido como “o maior e mais importante acontecimento político do ano, pelo menos para os leigos da Igreja que está em Maringá” (LEAL, 1996, p. 5). Pelo acatamento que conquistou com a seriedade de suas propostas acima de interesses pequenos, outra vez a Igreja Católica foi solicitada, no governo arquidiocesano de dom Murilo, em 14 de setembro de 2000, a conduzir novo encontro político que ficou conhecido como o debate da Igreja Católica. Por mais de três horas, como acontecera quatro anos antes, também nove candidatos à prefeitura municipal, agora no plenário da Câmara Municipal, discutiram suas propostas num clima de respeito e civismo. Grupos de candidatos a vereador, em várias paróquias, tiveram oportunidade, em condições de igualdade, de dialogar com os eleitores para tornarem conhe-

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cida sua plataforma legislativa. As grandes questões levadas a debate popular invariavelmente encontram eco no coração da Igreja que está em Maringá. No atual desafio proposto às famílias pelo criminoso universo das drogas, embora incapaz de alcançar sua erradicação, a Igreja Católica vem desenvolvendo o mais consistente programa de recuperação de dependentes químicos praticado na região. Em agosto de 1995, depois que o procurou a mãe de um jovem internado em Franca para tratamento da dependência, dom Jaime repartiu com padre Júlio Antônio da Silva, cura da catedral, sua angústia de pastor diante do problema. Com voluntários reunidos nos colégios católicos e no Instituto de Educação, padre Júlio formou um grupo disposto a discutir providências. Sob inspiração do NAREV – Associação Núcleo de Apoio e Recuperação da Vida, da cidade de Franca, decidiu-se pela criação em Maringá de organismo semelhante. Em reunião havida no salão paroquial da igreja de Cristo Ressuscitado, no dia 3 de março de 1997, foi criada a Associação Maringá Apoiando a Recuperação de Vidas – MAREV, destinada a realizar o mesmo trabalho de Franca, fundamentado sobre o tripé espiritualidade, disciplina e laborterapia. Papel importante desempenhou um grupo de fiéis da catedral, existente desde 1992, batizado de Projeto Mais Vida, que promovia acampamentos, encontros de revitalização do ser-pessoa, retiros espirituais, acompanhamento personalizado etc. Para obtenção do espaço físico necessário à implantação do centro de terapia foi fundamental a generosidade de padre Gerhard Schneider, proprietário de uma chácara, o “Recanto Patmos”, com área de cinco alqueires paulistas, distante 18km do centro de Maringá, que foi por ele doada à instituição. O MAREV tem sua sede urbana na Rua Lopes Trovão, 395, na mesma residência em que dom Jaime se instalou em 1957, quando chegou a Maringá. O prédio precisou sofrer algumas adaptações para servir como Casa de Apoio “São Francisco de Assis”, nome atual, inaugurada pelo arcebispo de Maringá no dia 5 de junho de 2000. Aí se organizam a administração e a triagem, sendo também acolhidas as famílias dos dependentes. O MAREV desfruta hoje do reconhecimento de utilidade pública municipal (Lei nº 4675/98), estadual (Lei nº 13.091/2001) e federal (Portaria nº 725/2001), tendo obtido no CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social o registro nº R0047/2003, ao qual acompanhou o certificado nº CCEAS0026/2003, renovável a cada triênio. Para o bom êxito do trabalho requer-se o comprometimento da família, que recebe a orientação do Grupo de Amor Exigente Paulo de Tarso, fundado em Maringá em 8 de junho de 1995, entidade de apoio familiar aos dependentes em fase de tratamento. Desde sua fundação até julho de 2006, o MAREV conseguiu devolver à sociedade 983 (novecentos e oitenta e três) homens saudáveis, muitos dos quais já beiravam perigosamente a autodestruição. Pela dedicação manifestada a pessoas carentes, em 1996, Schneider recebeu da Prefeitura do Município de Maringá concessão para uso de um terreno de quase dez alqueires paulistas, situado no distrito de Iguatemi, no qual implantou duas obras às quais chamou “recantos”. No “Recanto Mundo Jovem” são acolhidos por volta de 25 adolescentes do sexo masculino, com idade entre 14 e 18 anos, vítimas de drogas, aos quais é proporcionado tratamento. Em agosto de 1999, ex-dependentes recuperados pelo MAREV passaram a colaborar no trabalho ali desenvolvido. A segunda obra, “Recanto da Esperança” destina-se a abrigar andarilhos do sexo masculino que perambulam pela cidade, sem família nem residência. Aos cerca de 30 assistidos é devolvida a auto-estima através do sustento que conseguem com o trabalho agrícola, abrindo possibilidade para sua reintegração social e religiosa. Um terceiro recanto, próximo à Penitenciária Estadual de Maringá, na Estrada Bandeirantes, Schneider denominou “Recanto da Fraternidade – Plantando Vidas”. Em terreno também cedido pela prefeitura municipal, com área aproximada de sete alqueires paulistas, abrigam-se ex-presidiários e dependentes químicos em processo de ressocialização e tratamento. O trabalho é dirigido por fiéis cristãos leigos voluntários e conta com a colaboração de profissionais da área. Assim como do NAREV de Franca surgiu o MAREV de Maringá, também este gerou prole sadia. Na esteira dos bons resultados colhidos nasceram APREV – Associação Prudentina Recuperando Vidas, de Presidente Prudente (SP), e CIAREV – Associação Cianorte Apoiando e Recuperando Vidas, de Cianorte (PR). Dom Murilo tornou-se responsável por novos passos na caminhada de uma Igreja que encontrou disposta, apesar das naturais falhas, a servir aos irmãos. Por sua iniciativa, religiosas da Copiosa Redenção para cá vieram no dia 12 de dezembro de 1998, com o propósito de atender jovens do sexo feminino, dependentes

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químicas e gestantes grávidas. A fim de acolhê-las a arquidiocese alugou uma residência na Gleba Maringá, pró-

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xima do trevo de saída para Paranavaí, à qual foi dado o nome de Casa de Nazaré. A voluntária italiana doutora Maria Concetta Filizzola, de profunda vida cristã, que freqüentemente visita seus familiares em Maringá, comunicou ao arcebispo o desejo de construir uma obra de socorro a jovens que, ao engravidarem, sem estrutura para isso, tornavam-se vítimas de rejeição e preconceito. Com dinheiro próprio e colaboração de católicos da Ordem Franciscana Secular Italiana das regiões de Basilicata e Salerno, além das paróquias de San Costantino di Rivello, Lagonegro, Potenza, Lauria, Sapri Scario e Eboli, e também de Maringá, reuniu a quase totalidade dos recursos necessários à construção. O terreno foi obtido por doação da Prefeitura do Município de Maringá. Terminada a obra, ainda que seus objetivos originais não coincidissem inteiramente com os da Casa de Nazaré, Concetta concordou em ceder-lhe as novas instalações, na Rua Rio Samambaia, nº 1161, conjunto Itaparica. Em sua nova versão e endereço, a Casa de Nazaré foi inaugurada no dia 4 de agosto de 2000. Ainda no campo do serviço ao mundo, que a Igreja entende como exigência da evangelização, no dia 11 de outubro de 1999, um grupo de pessoas preocupadas com a falta de leitos nos hospitais de Maringá para atendimento aos portadores do vírus HIV/AIDS, dirigiu-se a dom Murilo na tentativa de obter algum tipo de ajuda. Na catedral, padre Júlio era testemunha de idêntica preocupação revelada pelo grupo da promoção humana de sua comunidade paroquial. Lançou, por isso, aos fiéis o desafio de ver construída na cidade uma casa de apoio aos portadores do vírus HIV. Com o empenho de um decidido voluntariado, sobretudo feminino, e a colaboração do poder público municipal, no dia 7 de julho de 2001 foi possível inaugurar a primeira etapa da Casa de Emaús – Centro de Apoio ao Portador do Vírus HIV/AIDS. Ela nasceu sob a luz da experiência de fé dos discípulos que descobriram o Senhor na pessoa do desconhecido que com eles caminhava (LUCAS 24, 12-35). A iniciativa pretende recuperar a dignidade do portador, oferecendo-lhe suporte nos níveis humano, espiritual e psicológico, garantindo melhora das condições de vida e, conseqüentemente, do tempo de sobrevida. Trata-se, como é fácil perceber, de proposta de serviço numa área em que se deterioram a solidariedade e a dignidade dos clientes e de seus familiares. Muitos se encontram desamparados e em situação que desestimula o auto-cuidado, negligenciando até o tratamento. Os atendidos pertencem, na maioria, às faixas mais carentes da população. São os que mais sofrem, porque a doença os torna frágeis física, moral e psicologicamente. Muitos já perderam o emprego, não dispõem de fonte de renda nem de sustentáculo familiar. São mais de 200 pessoas cuja situação afeta igualmente as suas famílias. Além das ações oferecidas pelos organismos oficiais da área de saúde pública, a casa se vale também de parcerias com universidades locais em várias modalidades de atendimento. Sua área de abrangência compreende os municípios de Maringá, Sarandi, Paiçandu, Santa Fé, Nossa Senhora das Graças, Fênix, Marialva, Nova Esperança, Astorga, Floresta, além de outros 20 municípios. O espírito que anima o trabalho reside, porém, mais que tudo, no amor de voluntários, como Dirce Maria Bernardi Henriques, falecida a 17 de julho de 2006. A Casa de Emaús – Centro de Apoio, confiada à Sociedade Beneficente Estrela da Manhã, está localizada na Rua Professora Letícia de Paula Molinari, 239, esquina com Rua Ana Cordeiro Dias, no Jardim Imperial, em Maringá. Na 21ª assembléia geral do povo de Deus da arquidiocese de Maringá, realizada em 15 de novembro de 2003, no Colégio Regina Mundi, o arcebispo dom João Braz de Aviz apresentou o trabalho de Jaime Graciano Trintin, integrante do Conselho Arquidiocesano de Pastoral em nome da Comissão de Serviço, doutor em Economia e professor na Universidade Estadual de Maringá. Trintin elaborou pesquisa abrangente sobre a evolução dos 399 municípios paranaenses quanto ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), apontando potencialidades e carências de cada um. Pelo valor científico do estudo, a assembléia o adotou, nos municípios abrangidos pela arquidiocese, como instrumental de conhecimento da realidade em vista da ação evangelizadora da Igreja. Em 2006, um grupo de padres do clero diocesano juntamente com lideranças leigas de várias paróquias criou a ARAS – Associação de Reflexão e Ação Social, ligada à Comissão de Serviço em nível arquidiocesano. São seus objetivos: • Contribuir com a inclusão e a eqüidade dos indivíduos e grupos excluídos. • Promover o trabalho em rede no que se refere às ações sociais em funcionamento nas diversas comunidades paroquiais.

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Nos dias 22 e 23 de julho, no CEPA – Centro de Pastoral da Arquidiocese, em Maringá, a ARAS, da Comissão de Serviço arquidiocesana, promoveu a 1ª Conferência Arquidiocesana para Ações Sociais com o objetivo de estudar inclusão social, Doutrina Social da Igreja, políticas públicas e experiências institucionais. A Igreja presente em Maringá manifesta assim seu engajamento com a sorte daqueles para quem se sente enviada. Comprova sua convicção de que o Evangelho se prega também através do serviço prestado aos irmãos. As obras acima relacionadas, convém repetir, estão longe de esgotar a ação da Igreja arquidiocesana nessa área. É difícil encontrar uma só paróquia, um instituto religioso masculino ou feminino, um colégio católico, um grupo de fiéis cristãos leigos que não responda por algum gesto de solidariedade, de socorro imediato, de assistência ou de promoção humana transformadora da vida. Não se trata de simples comiseração ou reação emocional diante da dor humana. O envolvimento dos cristãos traduz o corolário da fé que praticam; é conseqüência natural do seguimento daquele que veio “não para ser servido, mas para servir” (cf. MARCOS 10, 45). Antonio Facci, pioneiro de Maringá e escritor, observou, há não muito tempo, que Maringá se constitui em cidade diferente de todas as outras de igual porte. Não só pela exuberância de uma arborização que ainda preserva parte do verde da mata original. Não só pela pujança de seu comércio, que chegou a ostentar, faz algum tempo, o posto de segunda praça atacadista do Brasil, atrás apenas de São Paulo. Não só pelo número de universidades e cursos superiores, que hoje atraem estudantes do Brasil inteiro e de países vizinhos. Acima de tudo, Maringá é diferente porque, sessenta anos depois de nascida, mantém elevado nível de solidariedade, como acontecia entre os primeiros moradores. As dezenas de obras beneficentes, multiplicadas e visíveis por todos os cantos, refletem a marca de um sofrido começo, quando os habitantes daquela boca de mato cultivavam laços fortes de união, sob pena de sucumbirem às agruras do meio. Não se podia estiolar o espírito de família que os tornava não só unidos, mas responsáveis um pelo outro, e todos, pela cidade que era sua. Em outros lugares esse calor de vida se perdeu. Não em Maringá. Por uma razão historicamente inegável, segundo Facci. Porque Maringá teve o privilégio de acolher um homem que lhe ensinou, pelo exemplo de anos seguidos, a abrir o coração para as necessidades do outro. Mais ainda: ele transmitiu uma lição que Maringá incorporou à sua experiência de vida: a lição de que o outro não é estranho, é irmão. Esse homem se chama dom Jaime Luiz Coelho.22 Para confirmar, quando a ACIM – Associação Comercial e Industrial de Maringá, no dia 6 de agosto de 2003, entregou a primeira comenda Américo Marques Dias, criada para comemorar seu cinqüentenário, o presidente Ariovaldo Costa Paulo confessou que não encontrou dificuldade em escolher o homenageado. Não podia ser outro: “se Maringá é hoje uma cidade unida e comprometida, dom Jaime foi o responsável por isso” (PAULO, 2003, 3 f.).

A evangelização em nova fase Convencida de que o Evangelho deve ser pregado “de cima dos telhados” (MATEUS 10, 27), ao longo de seus vinte séculos, por divina assistência, a Igreja foi premiada com exímios mestres da palavra. Ela recebe o alento do Espírito de Deus presente em Jesus de Nazaré, Palavra encarnada do Pai, que as multidões ouviam fascinadas (cf. LUCAS 4, 15.32). Na esteira de Paulo, apóstolo dos gentios, e vigoroso artífice da palavra, arautos da mensagem cristã em número incontável multiplicaram-se até os extremos da terra. Cada país onde foi plantada a semente da fé cristã colheu com fartura os frutos de conversão suscitados por fiéis anunciadores do Evangelho. Com o advento, especialmente a partir da Idade Moderna, dos novos recursos de comunicação, a comunidade eclesial deixou-se convencer não só das vantagens senão da imprescindível necessidade de utilizá -los a serviço da evangelização, sua tarefa primeira por mandato do Senhor. A Igreja oficialmente presente em Maringá a partir da segunda metade do século XX mereceu de Deus

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22 Observação feita ao autor destas notas após missa na igreja Santa Maria Goretti, em Maringá, no dia 19 de maio de 2006.

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o privilégio de ser governada, nos seus 50 anos de existência, por quatro pastores sensíveis ao emprego dos modernos veículos de comunicação de massa para a transmissão da palavra divina. Não muitos dias depois da chegada do primeiro bispo, os diretores da Rádio Cultura de Maringá franquearam-lhe a emissora, insistindo em que ocupasse o microfone mais ouvido na cidade de então. Superados os embaraços da radical mudança que experimentara em sua vida, quatro meses passados, já no dia 23 de julho, dom Jaime deu início à fala diária das dezoito horas, a que deu o nome de “Por um Mundo Melhor”. O programa tornou-se um marco do rádio maringaense, alcançando altos índices de audiência por décadas a fio. Até os recantos mais afastados da diocese chegava a palavra do pastor. Nos dias mais longos, muitos moradores do sítio, ainda no eito, acompanhavam o programa no radinho de pilha. Garantir um pronunciamento diário de quinze minutos, no entanto, significava não pequeno desafio para quem tinha a presença reclamada em todos os cantos da vastidão da diocese. Quando se encontrava na sede, sua casa era centro de peregrinação de pessoas com problemas às vezes alheios à sua função: levavam ao pé da letra, quem sabe, a expressão “Vá queixar-se ao bispo”. Nem sempre havia como ocupar pessoalmente a cabine da emissora. Por isso, desde o início, ajudaramno congregados marianos, filhas de Maria, seminaristas em férias, padres, quando os havia disponíveis, mas o espaço do fim de tarde na Rádio Cultura não permaneceu vazio; ao contrário, marcou uma época histórica de atuação da Igreja Católica no rádio. Morando na residência episcopal, padres Antonio de Pádua Almeida e Orivaldo Robles, coordenadores de pastoral nomeados em 1968, sem faltar uma única semana, por mais de dois anos mantiveram, às segundas-feiras, um “Por um Mundo Melhor” destinado aos jovens, valendo-se da larga audiência do “programa do bispo”.23 Por espaço superior a dez anos, a mesma Rádio Cultura de Maringá transmitiu aos domingos, na catedral – habitualmente na voz do locutor Ademar Schiavone – a missa das 9h00, que ocupava a programação matinal da emissora antes do prestigiado “Clube do Caçula”. Há mais de 48 ininterruptos anos, Maringá e região têm oportunidade de ler o artigo dominical de dom Jaime em jornais da cidade. Foi no dia 1º de janeiro de 1958 que, pela primeira vez, a coluna apareceu no O Jornal, cujo diretor-proprietário era o jornalista Ivens Lagoano Pacheco. Depois, por quase 16 anos, continuou na Folha do Norte, que estampou seu primeiro artigo em 30 de setembro de 1962; o último apareceu no dia 30 de julho de 1978. Desde então, é veiculado pelo O Diário, desde o dia 24 de setembro de 1978 até hoje.24 Nesse período, ascendem a mais de três mil as matérias produzidas apenas para publicação em jornais maringaenses. Encontraram espaço em outros periódicos brasileiros, ao longo de vários anos, centenas de escritos seus na Gazeta do Povo,25 Voz do Paraná e Correio de Notícias, de Curitiba; na Folha de Londrina, da Capital Mundial do Café; em A Tribuna de Maringá e Jornal do Povo, de Maringá, no Diário do Noroeste, de Paranavaí, além de jornais de outras cidades. Até o L’Osservatore Romano, órgão oficioso da Santa Sé, veiculou matéria de sua lavra. A Folha do Norte do Paraná, mais conhecida por Folha do Norte inclui-se entre as muitas iniciativas do espírito empreendedor do primeiro bispo de Maringá. No alvorecer dos anos 60 ensaiaram-se os passos iniciais daquele que seria, na época, o segundo maior jornal do Norte paranaense, abaixo apenas da Folha de Londrina, do Grupo Milanez. Constituiu-se em 1961 uma empresa de capital aberto, a Editora Folha do Norte do Paraná S.A., sociedade anônima aberta com controle acionário privado, destinada à “edição

23 Nesse ano, o autor destas notas ouviu de operários da antiga SANBRA – Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro que, depois de bater o ponto, muitos ouviam o programa no seu radinho de pilha para só depois pedalarem a bicicleta de volta para casa. O programa jovem só terminou com a saída de Almeida para dois anos de estudos em Roma, e a transferência de Robles para Paranacity. 24 “O Jornal” foi fundado em 1953 por Manoel Silveira; seu editor era Ivens Lagoano Pacheco que, no início de 1957, se tornou diretor -proprietário. Nos anos 60, foi assumido por Ardinal Ribas, que lhe mudou o nome para “O Jornal de Maringá”, mas a segunda parte aparecia em letras menores, fazendo com que fosse chamado, de forma abreviada, pelo antigo nome. A mesma redução aconteceu com a “Folha do Norte do Paraná”, chamada popularmente “Folha do Norte”, ou simplesmente “Folha”. O atual “O Diário do Norte do Paraná” é chamado “O Diário”, tout court. Quanto aos outros matutinos atuais da cidade, o “Jornal do Povo” se inscreve na linha sucessória do pioneiro “O Jornal”, como seu legítimo herdeiro, enquanto o “Hoje” nasceu como “Hoje Maringá”. 25 Em dezembro de 2005, sem explicação, a Gazeta do Povo deixou de publicar o artigo semanal que, por convite do diretor, dr. Francisco da Cunha Pereira Filho, dom Jaime escrevia desde os anos 70.

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de jornais, periódicos, livros e manuais”, registrada na Junta Comercial do Paraná, onde consta o dia 28 de setembro de 1961 como o início das atividades. Não era intenção do bispo, seu fundador, alcançar ganho financeiro, político ou de qualquer outra natureza, senão, conforme suas palavras, unicamente “ter um meio de comunicação do Evangelho, da Palavra de Deus, neste Norte do Paraná”. Renda financeira, se eventualmente a empresa viesse a gerar alguma, seria destinada “à construção do Seminário Diocesano de Maringá”, sua preocupação maior. Um grupo de corretores admitidos por padre André José Torres, encarregado de montar o empreendimento, percorreu toda a região colocando ações no mercado para levantar o capital necessário à montagem da empresa, que visava não lucro, mas sustento do seminário. No dia 25 de setembro de 1962, veio a lume a edição nº 1 do novo diário cuja apresentação lembrava o vespertino Última Hora (1951-1971), um marco da imprensa nacional, fundado pelo combativo jornalista Samuel Wainer. A Folha entrou em cena em momento de turbulência no país, após a renúncia do presidente Jânio Quadros e na efervescência das chamadas reformas de base, que provocavam contínua mobilização de operários, estudantes, trabalhadores rurais, sindicalistas etc. Não por acaso, pouco depois de um ano, eclodiu a chamada Revolução de 31 de março de 1964. No ambiente eclesial, por outro lado, respiravam-se os ares do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) que, para muita gente, convidava a transformar em tabula rasa tudo o que até então fora posto em prática na Igreja Católica Romana. Para a Folha do Norte representou uma quadra de preocupações intensas, de heroísmo até, como poucas vividas naqueles conturbados tempos. Dificuldades fundamentalmente geradas pelo primitivismo de uma região pioneira – carência de mão de obra capacitada, deficiente manutenção de máquinas, atraso no fornecimento de papel de imprensa, aliadas a inúmeras outras – obrigaram, não raro, o diretor presidente a deixar suas funções de bispo diocesano para, num piscar de olhos, transformar-se em redator, revisor, diagramador... O professor universitário Elpídio Serra, que fez seu noviciado jornalístico na Folha do Norte, recorda que, vez por outra, dom Jaime via-se compelido a dividir com um grupo de jovens inexperientes a redação da Avenida Duque de Caxias, que mantinha as luzes acesas, madrugada adentro. Alheio, no entanto, ao nobre propósito de difundir o Evangelho, o inexorável avanço tecnológico acabaria por ferir de morte um jornal erguido e sustentado com imensa garra. Houve necessidade de investir ingente capital num diário que após três anos viu sua impressão superada pelo advento de novas técnicas. As máquinas de linotipo e a gigantesca rotativa, que ocupava uma sala inteira do prédio, tornaram-se obsoletas na era do off-set que veio para ficar e, sem pedir licença, impôs-se até ao emergente jornalismo do interior. Fazer jornal com maquinário defasado revelou-se tarefa antieconômica, inviável. Ao mesmo tempo, não havia como captar recursos para modernizar o parque gráfico da Folha. No final de 1965, depois de meses na Cidade do Vaticano, onde participou da última sessão do Concílio, no retorno a Maringá, dom Jaime encontrou as finanças da diocese em situação delicada. Esgotara-se a capacidade de endividamento, o que inviabilizava o levantamento de empréstimo de qualquer importância, mínima que fosse. Com amargura, viu-se forçado a arrendar à Rede Paranaense de Rádio o jornal da diocese, com o qual ansiosamente sonhara e até ali conseguira manter com bravura. Propriedade da Mitra Diocesana de Maringá, funcionando sob arrendamento, a Folha do Norte prosseguiu, ainda por vários anos, passando às mãos de sucessivos grupos arrendatários, até finalmente encerrar as atividades, na assembléia geral extraordinária, levada a termo no dia 24 de novembro de 1977, para dissolução da sociedade cuja ata encontra-se arquivada na Junta Comercial do Paraná, sob registro nº 125066, deferido em 22 de junho de 1978. Pelo espaço de quase vinte anos a Mitra Arquidiocesana de Maringá manteve-se aberta a possíveis reivindicações de acionistas, até o parecer conclusivo de 5 de janeiro de 1999, que definiu: “A sociedade não existe mais como pessoa jurídica, seus registros estão todos extintos e não constam débitos fiscais e/ou contribuições parafiscais em aberto e quanto ao saldo existente em Caderneta de Poupança reserva-se o direito ao maior acionista decidir”. Com base na conclusão, após publicação legal da dissolução da Editora Folha do Norte do Paraná, e não se tendo apresentado acionista nenhum para reclamar direitos, no dia 17 de fevereiro de 1999, dom Jaime Luiz Coelho, diretor-presidente da extinta, repassou a dom Murilo Krieger, arcebispo metropolitano de Maringá, a importância de R$ 13.286,83 (treze mil, duzentos e oitenta e

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um reais, e oitenta e três centavos), correspondente ao saldo da caderneta de poupança da qual a sociedade era

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titular, depois de saldadas com a CODIPLAN – Contabilidade e Planejamento S/C Ltda., todas as despesas administrativas da dissolução societária. No dia seguinte, Krieger fez chegar às mãos de padre Nelson Aparecido Maia, reitor do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória de Maringá, o cheque nº 096413, do Banco Real, no valor do saldo de poupança acima, cumprindo assim o objetivo para o qual fora fundada a Editora Folha do Norte do Paraná, em 1961.26 Encerrou-se, dessa forma, vibrante etapa do jornalismo da jovem cidade, que acalentou o sonho de uma tribuna independente a proclamar os princípios cristãos de justiça e de verdade, revelando, ao mesmo tempo, a face de uma Igreja comprometida com o seu tempo, disposta a servir-se dos meios de comunicação para anunciar o Evangelho. No arquivo pessoal do primeiro bispo de Maringá, mantido no 4º piso da catedral, conserva-se a coleção completa da Folha do Norte impressa, desde o primeiro número, de 25 de setembro de 1962, até à edição nº 3.305, de 30 de junho de 1974. De coleção semelhante dom Jaime fez doação à Universidade Estadual de Maringá, para memória documental de um período histórico de nossa cidade.

Folha do Norte do Paraná

Primeira edição, 25 de setembro de 1962.

Última edição, 30 de junho de 1974.

26 Documentos disponíveis na Cúria Metropolitana de Maringá, na Avenida Tiradentes, 740.

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Também na gênese da televisão em Maringá a Igreja Católica fez sentir sua presença não por prepotência, mas pelo desempenho do bispo como líder religioso e cidadão comprometido com os interesses da comunidade. Quando, no final dos anos 60, o Norte do Paraná só conhecia a TV Coroados, de Londrina, pessoas do ramo anteviram a possibilidade de vultosos lucros à disposição de quem chegasse primeiro na instalação de novo canal de TV para cobrir o imenso campo do Noroeste paranaense. Ainda nos anos iniciais do Grupo Paulo Pimentel, hoje autodefinido como “um dos maiores complexos de comunicação do Sul do país”, conta-se que seu fundador teria revelado: “Jornal é bom negócio, mas o que dá dinheiro mesmo é televisão”. A cidade de Maringá oferecia-se como base natural para implantação da segunda emissora de TV do Norte do Paraná. Descontente com a mobilização de dois grupos, que entendia representar interesses alheios à cidade – Empresa TV O Jornal de Maringá Ltda. e Televisão Ivaí Ltda. –, dom Jaime pôs-se a contatar empresários para a formação de um terceiro consórcio integrado só por maringaenses, com o objetivo de disputar a concessão de um canal de TV para Maringá. No dia 1º de junho de 1968 constituiu-se a empresa Televisão Cultura de Maringá Ltda., formada por brasileiros natos, todos residentes e atuantes em Maringá, com o propósito de obter direito à “instalação de estações televisoras nesta cidade de Maringá”, tendo por objetivos “fins educacionais, cívicos e patrióticos”. A TV Cultura de Maringá apresentava diretoria composta por dom Jaime Luiz Coelho, diretor-presidente; Samuel Silveira, diretor-superintendente, e Joaquim Dutra, diretor-gerente. O contrato social foi arquivado na Junta Comercial do Estado do Paraná sob nº 90.735, por despacho em sessão de 12 de junho de 1968. O grupo era composto por 25 cidadãos maringaenses: dom Jaime Luiz Coelho, Samuel Silveira, Joaquim Dutra, Francisco Dias Rocamora, Carlos Piovezan Filho, Paulo Okamoto, Wilson Saenz Surita, José Sanches Filho, Antônio Augusto de Assis, Célio Verolli, Wlademir Pipino, Antônio Guilherme Schreiner, Ulisses Bruder, Atair Niero, José Gonçalves de Britto, Antenor Matiolli, Jancer Nunes Reinaldet, Rodolfo Purpur, José Dutra, Oswaldo José Rodrigues, Hélio Moreira, Ermelindo Bolfer, Jasson Rodrigues de Figueiredo, Alcides Parizotto e Donaldi Serra. Em audiência, na capital federal, com o presidente Arthur da Costa e Silva, no dia 14 de outubro de 1968, acompanhado por Joaquim Dutra e Ulisses Bruder, dom Jaime advogou ardorosamente a conveniência de a nova empresa ser contemplada com a concessão. Depois disso, inclusive com apoio dos bispos de Campo Mourão, dom Eliseu Simões Mendes, e de Paranavaí, dom Benjamin de Sousa Gomes, continuou com pertinácia a sustentar, em todas as áreas, o pleito do grupo de Maringá. O segundo canal de TV da região foi criado no dia 26 de julho de 1969, em Apucarana, com o nome de TV Tibagi e concedido ao Grupo Paulo Pimentel. Atualmente, é afiliado ao Sistema Brasileiro de Televisão. A partir de então, intensificaram-se as atividades para a implantação da emissora de TV em Maringá, que foi conseguida, finalmente, através do decreto federal nº 70.814, de 7 de julho de 1972. Não obstante a aprovação recebida, a TV Cultura teria ainda que enfrentar dificuldades suscitadas pelos grupos preteridos, que tentaram, por várias formas, obstruir a sua instalação. No dia 25 de junho de 1974, junto ao DENTEL – Departamento Nacional de Telecomunicações foi solicitada alteração do contrato social para admissão de três sócios de Curitiba, doutores Francisco Cunha Pereira (que assumiu a função de diretor-gerente, até então exercida por Joaquim Dutra), Edmundo Lemanski e Adolpho de Oliveira Franco, os quais adquiriram os direitos de dezessete antigos cotistas, ficando a nova sociedade composta por onze sócios, oito de Maringá e três de Curitiba. Em 30 de agosto de 1975, deu-se a conhecer a programação da TV Cultura de Maringá. Menos de um mês mais tarde, no dia 25 de setembro, aconteceu a inauguração oficial da TV Cultura, canal 8 de Maringá. Por apenas alguns meses o bispo permaneceu à frente da TV Cultura de Maringá como diretor-presidente. A nova configuração da empresa fez com que seu posto fosse ocupado por empresários do setor de comunicação. Nova alteração contratual, em 25 de julho de 1978, admitiu como sócio, com quantidade maior de quotas, o empresário José Roberto Marinho, do Rio de Janeiro, integrante da Rede Globo de Televisão da qual a TV Cultura passou a afiliada. Apesar do gigantismo da Rede Globo, dom Jaime garantiu à diocese a franquia, na emissora de Marin-

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gá, de cinco minutos diários de formação doutrinária e também da missa televisionada nas manhãs de domin-

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go, púlpitos eletrônicos que, pelo espaço de 31 anos, a Igreja Católica utilizou em benefício da comunidade. De surpresa, representantes da Rede Paranaense de Comunicação agendaram, para o dia 3 de novembro de 2006, reunião com dom Jaime, dom Anuar e com o vigário geral, para entregar carta datada de 23 de outubro e assinada por Edmundo Lemanski – diretor presidente, comunicando: Tendo em vista a necessidade de compatibilizarmos nossa grade de programação com a grade de programação da Rede Globo e das demais emissoras que integram a Rede Paranaense de Comunicação – RPC, vimos pela presente informar a Vossa Excelência que, a partir de 01 de janeiro de 2007, a TV Cultura não mais poderá exibir os programas religiosos que atualmente são veiculados no início da manhã (LEMANSKI, 2006, 1 f.). Com a habitual franqueza, dom Jaime lamentou o que definiu como subserviência da TV Cultura de Maringá à todo-poderosa matriz do Rio. Inútil. Os emissários disseram: “Não viemos dialogar; viemos trazer esta solução já tomada”. A determinação fechou o espaço que a Igreja Católica, co-fundadora em Maringá da TV Cultura, conseguiu manter desde 1974 para veicular sua mensagem evangelizadora.

Os atuais veículos da arquidiocese Concluído um ciclo intensivo de linguagem áudio-visual e comunicação da fé que fez, em dezembro de 1984, na Universidade Católica de Lyon (França), padre Gerhard Schneider decidiu implantar em Maringá um canal de televisão para servir à missão evangelizadora da Igreja. Contou para esse propósito com o efetivo apoio do arcebispo que, em 6 de agosto de 1987, constituiu a “Fundação Cultural Nossa Senhora de Lourdes de Maringá”, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, com sede na Avenida Rio Branco, nº 1000, destinada a promover atividades educativas, culturais e religiosas através do rádio e da televisão. Por sua nacionalidade alemã, não podendo assumir cargos na entidade, a presidência da fundação foi confiada a dom Jaime Luiz Coelho que, posteriormente, em 26 de dezembro de 1988, transferiu o cargo a cônego Ângelo Banki, pároco em Paiçandu, cidade vizinha de Maringá. Com recursos pessoais e ajuda de amigos da Alemanha, sobretudo de sua irmã Maria Louise, Schneider instalou junto à casa paroquial da paróquia do Cristo Ressuscitado, no alto da Zona 5, em Maringá, estúdios e torre que no dia 24 de dezembro de 1988 receberam a bênção do arcebispo. Assim começava a TV Horizonte UHF, que se tornaria conhecida como “TV do padre”. No princípio de janeiro de 1989, Edison Pereira, da sucursal maringaense da Folha de Londrina, escreveu: No quintal do padre Geraldo Schneider tem um pé de abóbora e uma torre de televisão. É a TV Educativa de Maringá, inaugurada em silêncio e sem pompas. Instalando um conversor de VHF é possível sintonizar a melhor programação educativa do Brasil. Na TV do padre, a alma do negócio não é a propaganda (PEREIRA, 1989, p. 17). Depois de extenuante movimentação junto a órgãos públicos especialmente de Curitiba e Brasília, Schneider viu recompensada sua luta por um canal de televisão, ao receber correspondência da FUNTEVÊ – Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa, do Ministério da Educação, enviada em 12 de julho de 1989, que lhe comunicava a anuência ao pedido da retransmissão de sua programação para Maringá. Essa atividade foi desenvolvida pela TV Horizonte por espaço de quase seis anos consecutivos. Passado esse período − em que veiculou conteúdo da TVE do Rio de Janeiro −, a TV Horizonte, canal 31 UHF, de Maringá, inaugurou nova fase em 1º de maio de 1995, passando a transmitir, com início às 9h00, programação da Rede Vida, diretamente de São Paulo, via satélite para Maringá e região. Não satisfeito, Schneider deu novo passo visando transformar sua concessão em geradora de programas locais, voltando a percorrer, para isso, o interminável périplo por gabinetes oficiais. Obstinado, conseguiu que o presidente Fernando Henrique Cardoso assinasse

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decreto que “outorga concessão à Fundação Cultural Nossa Senhora de Lourdes de Maringá, para executar serviço de radiodifusão de sons e imagens (televisão), com fins exclusivamente educativos, na cidade de Maringá, Estado do Paraná”. O texto do documento presidencial veio publicado no Diário Oficial da União nº 127, de terça-feira, 7 de julho de 1998. Obrigada, pela existência em Belo Horizonte de canal homônimo, a mudar a marca de fantasia, a TV Horizonte de Maringá, em função da chegada do ano 2000, alterou seu nome para TV 3º Milênio. No governo arquidiocesano de dom João Braz de Aviz, terceiro arcebispo de Maringá, Schneider entregou à arquidiocese a emissora de televisão que criara e que, até então, tinha comandado praticamente sozinho. Como havia necessidade de ajustes à nova situação, a arquidiocese recorreu à competência e ao espírito cristão do advogado Irivaldo Joaquim de Souza que, a partir de 22 de julho de 2003, desenvolveu as necessárias negociações junto aos órgãos competentes. A Fundação Cultural Nossa Senhora de Lourdes – TV 3º Milênio sofreu reformulação completa. Para gerir seus destinos na nova fase houve necessidade de outra diretoria executiva, que foi integrada por Souza no cargo de diretor-presidente; César Ribeiro de Castro, diretor-superintendente; Nelson Rodrigues da Silva, diretor-administrativo e financeiro; Alípio Vaz Afonso, diretor-técnico, e padre Edmilson Mendes, diretor de programação. Foram também eleitos outros membros para o conselho de programação e para o conselho curador. Deste último é membro vitalício dom Jaime Luiz Coelho, e membro nato, o arcebispo metropolitano de Maringá. Levantamento da situação da TV 3º Milênio concluiu pela urgência de investimentos de razoável monta para garantir à televisão da arquidiocese condições mínimas de funcionamento. Na reunião do clero de 21 de agosto de 2003, o diretor-presidente expôs o panorama de momento da TV 3º Milênio. Obteve das paróquias contribuição em dinheiro para fazer frente às necessidades mais prementes de reforma das instalações, aquisição de móveis e equipamentos, além da contratação de funcionários suficientemente qualificados. A partir da gestão de Souza, descortinou-se novo tempo de presença e atuação da TV criada por Schneider na missão evangelizadora da Igreja em Maringá. No dia 16 de julho de 2004, procedente de Brasília, onde fora empossado como arcebispo a 27 de março, dom João Braz de Aviz procedeu à inauguração das novas instalações da TV 3º Milênio, mantida pela Igreja Católica através da Fundação Nossa Senhora de Lourdes. Com 250 m² de área construída, as novas instalações comportam estúdio, sala de edição, sala de redação, duas salas de espera com camarim, guarita e sala de reuniões, ambientes climatizados e com revestimentos acústicos, de acordo com normas técnicas que visam principalmente preservar a qualidade de som e imagem da emissora (SERRA, 2004, p. 6-7). A TV 3º Milênio iniciou o ano de 2006 com 24 horas de transmissão, das quais três contam com programação diária local. O restante do tempo é ocupado por retransmissão de programas da TV Século 21, de propriedade da Associação do Senhor Jesus, com sede em Valinhos (SP). Com essa medida, a arquidiocese pretende cumprir mais fielmente os objetivos para os quais implantou a emissora. Em reunião no dia 19 de agosto de 2006, o Conselho Curador aprovou a aquisição de novos equipamentos e a inclusão de melhorias na prestação dos serviços da emissora. Entre os veículos de comunicação da Igreja de Maringá também consta um jornal impresso mensalmente. Sua origem remonta a 1995. Depois de insistentes pedidos das lideranças, que voltavam a cada assembléia anual da paróquia, no mês de maio daquele ano, a comunidade paroquial Santa Maria Goretti, de Maringá, iniciou a publicação de um tablóide mensal de 12 páginas, ao qual chamou Santa Menina. Por três anos, o modesto mensário cumpriu sua missão, noticiando e comentando igualmente os acontecimentos da Igreja arquidiocesana. Como sucessor do primeiro arcebispo de Maringá, dom Murilo Krieger assumiu o governo da arquidiocese em julho de 1997, revelando-se, desde o começo, um entusiasta dos meios de comunicação de massa. Uma de suas primeiras preocupações foi dotar a Igreja de Maringá de um jornal. Ao tomar conhecimento do veículo impresso da paróquia Santa Maria Goretti, pensou alargar sua cobertura para toda a arquidiocese.

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Com a concordância dos responsáveis, o antigo jornal paroquial tornou-se arquidiocesano, tendo seu nome alterado para Maringá Missão. É o próprio dom Murilo quem conta: Ao assumir a arquidiocese de Maringá, senti a necessidade de ter, a serviço dessa Igreja Particular, um jornal que evangelizasse e motivasse outros a fazê-lo; que unisse as paróquias, as pastorais e os movimentos; que tornasse conhecidos os projetos arquidiocesanos e comunicasse o que estaria sendo feito para o bem de todos. Queria, enfim, um jornal como o “Santa Menina”, mas para toda a arquidiocese. Não demorou muito para perguntar-me: Por que não o “Santa Menina” como jornal da arquidiocese de Maringá? [...] A resposta da paróquia Santa Maria Goretti veio rápida e positiva: concordava em tudo, em vista do bem da arquidiocese [...] Dados esses passos, aí está “Maringá Missão” (KRIEGER, 1998, p. 1). Desde 1998, de fevereiro a dezembro, onze meses por ano, com 12 páginas – excepcionalmente com 16, ou com inclusão de algum encarte –, o tablóide é oferecido nas igrejas paroquiais para distribuição gratuita aos fiéis. Das 2.000 unidades que imprimia ao tempo de jornal paroquial, atualmente a tiragem alcança 19.000 exemplares, na tentativa de prestar à Igreja arquidiocesana um serviço de informação e, quanto possível, também de formação, colaborando na tarefa de evangelizar. Com serviço voluntário prestado desde o primeiro dia, a mesma equipe que em 1995 iniciou o Santa Menina prossegue ao longo de 130 edições, totalizando, no mês do cinqüentenário de instalação da diocese de Maringá, a marca de 1.926.000 exemplares impressos. Desde sua criação até abril de 2005, Maringá Missão continuou administrativamente ligado à paróquia Santa Maria Goretti. Por decreto de dom Anuar Battisti, sucessor de dom João Braz de Aviz, no dia 27 de maio desse ano, foi finalmente elevado a jornal da arquidiocese, na condição de atividade não lucrativa caracterizando serviço prestado pela arquidiocese de Maringá para ser distribuído nas paróquias que a integram, tendo por sede a Cúria Metropolitana, situada na Avenida Tiradentes, nº 740, em Maringá. Como origem dos recursos financeiros para impressão e funcionamento do jornal o documento especificou a importância advinda do rateio dos custos entre as diversas paróquias, na proporção da quantidade de exemplares utilizados por cada uma, além de possíveis ofertas de patrocínio. O decreto de criação, na realidade, fora preparado ainda no governo de Aviz que, pela brevidade de sua permanência à frente da arquidiocese, acabou não lhe apondo a sua assinatura.27 Outra iniciativa, ainda na área da comunicação, desejada por dom Murilo em sua gestão à frente da Igreja de Maringá, foi a aquisição de uma emissora de rádio para levar mais longe a mensagem de Deus. Admirador do bom trabalho realizado pela Rádio Santana, de Ponta Grossa, sua diocese anterior, dispôs-se a implantar algo parecido no Norte do Paraná. No seu entender, o rádio continua a representar, especialmente nas comunidades do interior, um dos mais eficientes instrumentos de formação de opinião e de comportamento. Vencida a demorada fase de busca e discussão com diversos empresários do setor, optou pela Rádio Colméia de Mandaguaçu Ltda., emissora de rádio AM, de propriedade do grupo formado por Basílio Zanusso, Marcos Antonio Rocco e Antonio Saes, com sede na vizinha cidade de mesmo nome, que, após ouvir o Colégio de Consultores, comprou para a Igreja arquidiocesana. Constituiu, no dia 12 de abril de 1999, a Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória de Maringá como sua mantenedora. A ata de instalação foi registrada no dia 16 de junho do mesmo ano, sob nº 3801, no livro A-5 do Registro Civil de Pessoas Jurídicas de Maringá. O pagamento dos R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), valor da emissora estabelecido pelos proprietários, obedeceu a prazos acordados compatíveis com a situação financeira da arquidiocese. Substancial parcela da importância, na forma de doação, aportaram as congregações dos irmãos Maristas das Escolas e dos irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora por meio de seus governos provinciais. O restante foi integralizado com ofertas conseguidas junto de paróquias, além do empréstimo efetuado pela Mitra Arquidiocesana de

27 O jornal “Maringá Missão” é enviado a leitores amigos de praticamente todos os Estados do Brasil e de países como Itália, França, Alemanha, Holanda, Portugal, Peru, Argentina, Costa do Marfim e outros.

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Maringá, no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), a ser futuramente quitado pela nova emissora de rádio. À frente da empresa postou-se com muita disposição padre Manoel Silva Filho, assessor da PASCOM – Pastoral da Comunicação, que se converteu em alma e coração da emissora. Sob sua liderança, a agora conhecida simplesmente como Rádio Colméia, sintonizada em 1170 KHZ, teve a potência de seu transmissor elevada para 5000 watts, vindo a firmar-se como muito popular em todo o Estado e uma das líderes de audiência. À semelhança da fala radiofônica do bispo em tempos passados, também a programação da Rádio Colméia é, não raro, seguida hoje, desde a boléia de suas máquinas agrícolas, por agricultores enquanto trabalham nos campos. Afiliada à RCR – Rede Católica de Rádio, permanece por 24 horas no ar, podendo ser ouvida também online em todo o mundo, pela Internet. Há informações confiáveis de sua audiência em países da América Latina e até do Leste europeu. O prédio que abrigará as novas instalações da Rádio Colméia encontra-se em fase de conclusão. No seu tempo de arcebispo de Maringá, ao lado do artigo mensal no jornal Maringá Missão, dom Murilo manteve a colaboração que já vinha prestando ao Brasil Cristão, revista mensal da Associação do Senhor Jesus; ao Mensageiro do Coração de Jesus, do Apostolado da Oração, além de artigo semanal que passou a escrever para os maringaenses O Jornal do Povo e O Diário, respectivamente aos domingos e às quintas-feiras. Sustentou ainda semanalmente um programa radiofônico gravado para a Rede Milícia Sat, além de programa semanal e missa mensal na TV Cultura da cidade. O arcebispo dom João Braz de Aviz julgou particularmente oportuno o grande evento que foi a assembléia arquidiocesana de pastoral celebrada a 15 de novembro de 2003, no Colégio Regina Mundi, para lançar o serviço de comunicação da Igreja de Maringá. Aproveitando a presença de 335 pessoas, líderes representativos de todas as paróquias, pastorais, serviços e movimentos eclesiais, anunciou oficialmente na assembléia a abertura do portal da arquidiocese de Maringá na Internet. Trata-se de novo espaço de comunicação onde os internautas têm acesso a informações sobre a vida da Igreja Católica presente nesta parte do Paraná. Vários canais colocam à disposição dos interessados respostas às questões mais comuns como nomes, endereços, atividades, celebrações, horários, artigos, mensagens, reflexão sobre a palavra de Deus etc. O portal integra o chamado SIAM – Serviço de Informações da Arquidiocese de Maringá, que reúne os outros três veículos de comunicação: a estação geradora TV 3º Milênio canal 31 UHF, a Rádio Colméia AM e o jornal mensal Maringá Missão. O serviço pode ser acessado em www.arquimaringa.org.br, síntese dos serviços criados para estabelecer maior comunhão entre os membros do povo de Deus reunido sob a condução do arcebispo de Maringá. Quatro paróquias da arquidiocese abrigam no portal os seus próprios sites. Na continuidade dos passos empreendidos pelos antecessores, também dom Anuar Battisti prossegue mantendo fidelidade ao uso de todos os espaços franqueados pela mídia à mensagem cristã. Maringá e região habituaram-se à participação do arcebispo no artigo das quintas-feiras de O Diário, no programa semanal e na missa da TV Cultura (enquanto duraram, porque no final de 2006, foram cancelados pela emissora), no artigo mensal do jornal Maringá Missão, além de freqüente participação na Rádio Colméia e na TV 3º Milênio. Não só o arcebispo, mas igualmente sacerdotes e cristãos leigos marcam a participação da Igreja arquidiocesana nos veículos de comunicação de massa. Algumas paróquias dão-se ao trabalho de imprimir mensalmente boletim próprio, contribuindo para o fortalecimento dos laços de comunhão entre seus fiéis. Há ainda em operação três rádios comunitárias ligadas a comunidades paroquiais. Quem volta sua lembrança para 1956, ano em que Pio XII criou uma diocese quase no meio do mato – ainda se promovia derrubada de árvores centenárias, fazia-se queimada e destoca para plantio de café, lama e poeira alastravam-se por todo canto – há que se convencer da presença do Espírito Santo, alma da Igreja, que também aqui inflamou os pregoeiros do Reino atentos, há vinte séculos, à ordem que ressoa, sempre nova e com recurso a novos métodos de anúncio: “Ide e fazei discípulos” (MATEUS 28, 19).

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Memória, quase história

Nem existias e, à distância, cantávamos o teu nome. Sem te conhecer, já te amávamos. Estranho modo de começar a vida. As outras nascem antes, tornando-se conhecidas depois. Singular que és, escolheste o caminho inverso. Ainda não nascida, elevou-te à fama o poeta ao cantar a dor presente da distante amada. Sem saber, traçava o teu destino, atrelando-o à canção, à poesia, ao amor. Prenunciava a sedução que exerces, na saudade de quem de ti se afasta. Nasceste cabocla. Menina da roça, não te envergonhou a humilde origem. Mas, desde então, persegues o ideal da grandeza. Nos troncos da derrubada, franzina e suja de terra, não escondias o teu desejo de glória. Insinuante, enredavas no teu feitiço os que chegavam, espalhando o contágio do teu Maringá no seu cinqüentenário. anseio de brilho. Cheirando a mato, te conhecemos menina, vestida de verde. O mesmo traje vistoso que, passado meio século, ostentas com graça. Cinqüenta anos não lograram destruir nem o frescor da tua beleza nem o encanto da tua mocidade. No teu viço de senhora, manténs a formosura dos primeiros tempos. Continuas cabocla, mas ainda elegante. Não perdeste a simplicidade de outros tempos. Preservas a ternura das amizades antigas, ofereces teu regaço quente à fusão da sorte daqueles que velaram teu sono de criança. Que saudade da garotinha que embalamos no berço de mato e chão batido! Que nos garantia uma união de meninos vivendo juntos, olhando-nos de frente e sorrindo sem disfarce. Era o tempo em que tudo partilhávamos. O pão era branco; o dia, claro; a palavra, direta. Sentíamo-nos abertos e puros, animados de coragem para enxugarmos o suor uns dos outros. Estendíamos as mãos com transparência e as apertávamos sem medo. Não havia susto em nossas noites nem desconfiança em nosso olhar. Que sabor doce de vida provou quem te acompanha desde a infância! Uma nuvem negra tolda agora de incerteza o nosso céu. Não te magoes, mas é preciso te acautelar. Antes que, distraída, consintas que te arrebatem o que possuis de mais precioso.  Até quando te manterás a mesma que despertou o nosso amor? Quanto vai durar a ternura que ofereces? É doloroso pensar que um dia talvez te tornes outra. Movida pelo orgulho, quem sabe resolvas preferir a ilusão das altas rodas, onde mentira é norma de agir, e falsidade, moeda de troca. Quem garante que não desprezarás a pureza de outrora, tornando-te a megera fria em que se converteram tantas? Que não choraremos a dor de ver-te seca e envelhecida pela ambição de lucros vis? Ao nasceres, teu destino foi marcado pela canção, pela poesia, pelo amor. Não te desencaminhes, menina querida de ontem. Não te afastes da trilha dos que te fizeram crescer. Não transformes em morte a vida buscada por quantos a ti aportaram, na esperança de te verem única. Não apagues o sol dos dias de todos os que te amamos tanto (ROBLES, 1997b, p. 9).

Foto: Neide Luize - 03/05/1997.

Mensagem à menina que virou senhora

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O que ninguém escreveu Episódios pitorescos vividos por nossos padres dos primeiros tempos, alguns já chamados à casa do Pai.

Tabefe Desde antes do incêndio que destruiu a linda igreja de madeira, padre Adelino Fórmolo era o vigário de Santo Antônio, na vila do mesmo nome. Gaúcho emprestado pela diocese de Caxias do Sul, era dono de rara simpatia e incrível facilidade de fazer amigos. Mas que ninguém o tirasse do sério. Num sábado santo, data em que a liturgia da Igreja não prevê celebração nenhuma, na escadaria da matriz, um senhor lhe pede que batize uma criança. Responde que nesse dia é impossível, terá que ser em outra ocasião. O homem insiste. O padre torna a explicar. Se a criança estivesse doente, haveria motivo, mas não era o caso. A conversa sobe alguns decibéis, proporcionais à insistência do pedido. Adelino desiste. Está retirando-se, quando ouve um palavrão cabeludo. Volta-se como um raio: “Você não repete o que falou”. O homem não se intimida: “Filho da...” O resto é dito já no pó da rua, aonde o lança inesperado sopapo estalado na orelha. Ele vai queixar-se ao bispo. Literalmente. Não demora, dom Jaime manda chamar o padre: “Adelino, onde já se viu uma coisa dessas? Você é padre, um homem de Deus. Tem cabimento agredir um paroquiano?”. Ele aceita humilde a episcopal reprimenda. A alguns colegas confidencia mais tarde: “O bispo está certo. Tinha que me chamar atenção mesmo. Mas o cara me chamou de fdp. Se chamar de novo, eu bato outra vez”.

Cinema

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Além de futebol, outra paixão de padre Novaes era cinema. Nas férias, ele costumava convidar os seminaristas Orivaldo e Geraldo Schneider para assistir filmes nos cines Maringá e Paraná, raramente no cine Horizonte, na Vila Operária. Nessas ocasiões, vestia batina, porque assim entrava de graça. E exigia o mesmo privilégio para os acompanhantes. Uma vez, no cine Paraná, o trio entrou com a projeção em andamento. De repente, perceberam que a película era diferente da anunciada. Não era exatamente pornô, mas continha cenas um tanto ousadas. Novaes virou bicho. Dirigiu-se à gerência, onde lhe explicaram que o filme previsto, trazido pela Viação Garcia, não tinha chegado, então rodaram outro. Depois de dizer poucas e boas, chamou os companheiros e retirou-se. Dirigiram-se a Marialva. Novaes parou a camionete na frente do cinema: “Vá lá, Schneider,

A Igreja que brotou da mata


veja que filme está passando”. A resposta veio rápida: “Vamos assistir este. Não entendi o título, mas deve ser bom, porque está escrito Não percam”. Terminaram vendo o pedaço final de uma película no cinema de Mandaguari. Ao seminário só retornaram depois da meia noite, horário extemporâneo para a época.

Prevenção Primeiros anos de vida da diocese. Maringá não tinha água tratada. Dom Jaime apanhou terrível infecção intestinal, uma giardíase que o acompanhou por longos e sofridos anos. Para ele as visitas pastorais, que jamais deixou, passaram a ser um suplício. Perdeu a conta das vezes em que, em capelas rurais onde estava crismando, ao necessitar de um banheiro, verificava que simplesmente inexistia tal peça. Comprovou, por amarga experiência, a dolorosa verdade do que é relatado como piada, mas talvez tenha mesmo acontecido. No sertão baiano um bispo ter-se-ia hospedado em casa de rico fazendeiro, senhor de muitas terras e gado, mas de cultura pouca e hábitos rudimentares. Não vendo nos aposentos nenhum sinal de sanitários, delicadamente o bispo foi informar-se com o anfitrião. O fazendeiro, chamando-o fora, estendeu o braço e apontou: “Olhe, seu bispo, daqui até o Piauí o senhor use à vontade”. Por conta das humilhações sofridas, dom Jaime desenvolveu verdadeira obsessão por sanitários nas residências dos padres. Sua casa atual, incluindo área de serviço e residência das irmãs, conta com “apenas” dezesseis. Quando lhe foi apresentada a planta da casa paroquial de Santa Maria Goretti, aos existentes ele mandou ajuntar outros três: a casa conta agora com sete sanitários. Diante da exigência do aumento do número de banheiros para a construção da futura casa paroquial de São Mateus Apóstolo, um dos membros da comissão estranhou: “Lá em casa tem sete pessoas e só um banheiro. Aqui, para um padre o senhor quer três.” Mas o bispo não arredou pé: “Ou constroem mais ou não autorizo a casa paroquial. Nem crio a paróquia”. Foi atendido.

Humor Padre Adelino Formolo fez um vasto círculo de amigos em Maringá. Era famoso por seu eterno bom humor. Conhecia invejável repertório de piadas, muitas de conteúdo bastante apimentado, que prendiam durante horas seus ouvintes. Em reuniões do clero, aonde ele chegava, logo se formava uma roda. Para localizá-lo bastava ouvir de onde vinham explosões de gargalhadas. Padre Jorge Scholl, jesuíta da igreja São José, com a seriedade dos setenta e poucos anos, certa vez externou seu desagrado: “Não gosto das piadas de padre Adelino: são todas do umbigo para baixo.” E Adelino, sem deixar a peteca cair: “Não seja por isso, padre Jorge. O senhor quer que eu conte uma sobre seios?”.

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Uma Igreja na 7 trilha do Cristo pastor

Formação de lideranças cristãs jovens para um mundo em mudança. Primeiro BR3 (Base de Reencontro e Reflexão Religiosa), 1975.


Não será exagero declarar que, em 1º de fevereiro de 1956, quando foi anunciada a criação da diocese de Maringá, o Norte do Paraná assemelhava-se muito mais à terra descoberta por Cabral no seu desembarque do que à região como a conhecemos em nossos dias. Há consenso em reconhecer que o Brasil alcançou, nos últimos 50 anos da sua história, desenvolvimento incomparavelmente superior ao conseguido nos 450 anteriores. Isso é ainda mais exato se aplicado ao Norte do Paraná. Não apenas quando se considera o progresso econômico-social da região. No tocante à vida interna da Igreja e à sua ação evangelizadora, as cinco últimas décadas atestam uma transformação realmente notável. Se, por algum artifício de mágica impossível, um túnel do tempo sugasse hoje um católico norte-paranaense de volta a 1956 ou 1957, ele teria dificuldade de reconhecer a sua terra e, até com maior razão, a sua Igreja. Por mais que alguns insistam na idéia de que a Igreja Católica estacionou no tempo, é preciso reconhecer que ela empreendeu mudanças não pequenas, em especial, a partir da década de 1960. Ao tempo da criação e instalação canônica da diocese de Maringá, a Igreja Católica orientava-se por um referencial doutrinário e evangelizador ligado fortemente às diretrizes do Concílio de Trento (1545-1563). Era compreensível, de vez que não se fizera sentir ainda o impacto que iria provocar em todo o mundo o Concílio Vaticano II (1962-1965), nascido não “como um fruto de prolongada consideração, mas como uma flor de inesperada primavera”, no dizer de João XXIII, a quem ocorreu a inspiração de convocá-lo. A diocese de Maringá foi instalada cinco anos antes daquele que se tornaria o mais importante evento eclesial do século XX. O Concílio Ecumênico Vaticano II surpreendeu-a engatinhando, ainda em fase de organização. A quem participa da vida eclesial de nossos dias talvez pareçam descabidas disposições em vigor na época. Normas que às gerações de hoje configuram desmedida concentração de poder eram então admitidas como praxe não só de rotina senão por inteiro justificadas. Encerrado às pressas, por causa da situação política reinante na Itália, o Concílio Vaticano I (1869-1870) conseguiu elaborar a doutrina do primado do romano pontífice, mas não dispôs de tempo necessário para aprofundar a teologia do episcopado. Se, de uma parte, definiu a infalibilidade do papa, quando este se pronuncia ex cathedra sobre questões de fé e costumes, de outra, não levou adiante questões vitais para a Igreja, a exemplo da sacramentalidade do episcopado, da evangelização do mundo confiada aos bispos, e do múnus do bispo como pai e mestre de sua Igreja... Por conseqüência, não foi difícil, durante longo período, encontrar quem visse no bispo uma categoria de auxiliar ou representante do papa, em vez de legítimo sucessor dos apóstolos, responsável, juntamente com o colégio episcopal e por força do mandato de Cristo, pela evangelização de todos os povos, razão de ser da Igreja. Era

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justificável, assim, que o recém-empossado bispo de Maringá solicitasse à Santa Sé licença para conservar o Santíssimo Sacramento em capela particular da sua residência. A eclesiologia hodierna estranha que um bispo em comunhão com o sucessor de Pedro requeira autorização para conservar a sagrada Eucaristia que ele, liturgo maior de sua Igreja, tem como encargo presidir e confeccionar em favor dela. Na cédula nº 8521, de 17 de maio de 1957, a Nunciatura Apostólica respondeu remetendo em anexo “o Rescrito N. 2280/57, de 7 do corrente”, pelo qual Roma concedia a faculdade de conservar o Santíssimo Sacramento na “Capela particular do Palácio Episcopal”. Quem conheceu em 1957 a residência do bispo não contém o riso ao ler os termos “capela” e “palácio”. A capela não passava de um cubículo imitando um armário embutido, onde só cabiam um mini-altar e dois genuflexórios minúsculos. Para usá-la havia que deixar as portas abertas; fechadas, encostavam nos genuflexórios. De palácio, por sua vez, a casa não guardava a mais remota aparência. Se, passados 50 anos, depois de inúmeras reformas, ainda é impossível chamá-la assim, menos ainda em 1957, quando era muito mais acanhada. O rescrito redigido em latim apresenta o seguinte teor: Sagrada Congregação dos Sacramentos Prot. N. 2280/57 Beatíssimo Pai O Exmo. e Revmo. Dom Jaime Luiz Coelho, bispo de Maringá, humildemente requer a Vossa Santidade licença para conservar o divino Sacramento em sacrário na residência episcopal da referida diocese. A Sagrada Congregação para a disciplina dos Sacramentos, em virtude das faculdades a ela concedidas pelo Santo Padre, nosso papa Pio XII, atendendo ao exposto, concede ao Excelentíssimo Orador a licença pedida, a vigorar durante seu encargo na referida diocese, desde que a capela seja devidamente preparada e dotada de suficiente mobiliário, aí seja, ao menos uma vez por semana, celebrado o santo sacrifício da missa, seja mantido sob chave o tabernáculo, dia e noite esteja acesa a lâmpada diante do SSmo. Sacramento, sejam as sagradas Espécies renovadas conforme as rubricas, e se observe tudo o mais conforme o costume. Revogam-se quaisquer disposições contrárias. Dado em Roma, no edifício da mesma Sagrada Congregação, no dia 7 de maio de 1957. (assinatura ilegível) (SAGRADA CONGREGAÇÃO DOS SACRAMENTOS, 1957, 1 f.). Eram outros os tempos, sem dúvida. O cuidado de bispos e padres centrava-se na manutenção e incremento da vida sacramental, praticamente a única maneira então em voga de identificar um católico comprometido com sua Igreja. Tanto é assim que, ainda em nossos dias, para boa parte das pessoas, a distinção entre bom e mau católico reside na diferente freqüência aos ritos litúrgicos celebrados no interior do templo. Dever primordial de um bispo, portanto, ao tomar posse de sua diocese, era prover as paróquias de padres em número suficiente para “atender o povo”, aí compreendido gastar seu tempo em conferir batismos, ouvir confissões, celebrar missas, assistir casamentos, visitar enfermos portando a sagrada unção e o viático, oficiar exéquias, ministrar bênçãos, aconselhar pessoas... No exercício dessas funções sagradas praticamente se esgotavam as atribuições de um padre para com os fiéis entregues ao seu zelo de pastor. Respeitados, a par disso, os momentos para cultivo de sua vida interior e exercício da administração paroquial, o tempo quiçá ainda disponível devia bastar para o cuidado do “catecismo” das crianças e do imprescindível acompanhamento das pias associações de fiéis. Datam desse tempo − os mais antigos o recordam − algumas organizações que marcaram fortemente a história de nossas paróquias. Destinavam-se a segmentos distintos da comunidade e tinham como característica visível uma fita colorida que ornava o peito dos seus membros. Para as crianças havia a Cruzada Eucarística Infantil, com sua fita amarela e atividades voltadas ao catecismo e ao grupo de coroinhas. Adolescentes e jovens do sexo feminino reuniam-se na Pia União das Filhas de Maria, identificadas pela fita azul, enquanto o Apostolado da Oração, que usava fita vermelha, reunia naquela época quase exclusivamente senhoras casadas; ainda existente, o AO é integrado hoje também por senhores, além de jovens de ambos os sexos. Para homens

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mais maduros e piedosos, existia um sodalício conhecido como Irmãos do Santíssimo Sacramento; em vez de

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fita, portavam uma opa vermelha. Aos rapazes e homens adultos era franqueada a congregação mariana, com a inconfundível fita azul, que representou um marco na atuação apostólica dos cristãos leigos. Diferentes das Ordens Terceiras, mais ligadas a mosteiros e a Ordens religiosas; diferentes dos Oratórios, com uma forma de vida mais festiva e pouco estruturada; distintas ainda das conferências vicentinas, cuja atuação prioriza a visita domiciliar a famílias necessitadas, as congregações marianas distinguiam-se por seu caráter estritamente laical, embora sob condução hierárquica de um diretor espiritual nomeado pelo provincial jesuíta mais próximo, e que, nas paróquias, evidentemente, era função do padre. Criada pelo jesuíta belga Jean Leunis para os alunos do Colégio Romano, a primeira congregação mariana recebeu aprovação da Igreja em 1584, quando Gregório XIII propôs as normas da Prima Primária, como ficou conhecida, erigindo-se em modelo para todas as demais do mundo inteiro. O papa confiou a nova associação à responsabilidade direta do superior geral dos jesuítas, ligando indissociavelmente as congregações marianas à Companhia de Jesus. Com tal patrocínio cresceram de forma notável propiciando aos seus membros vida espiritual intensa, garantida pelos exercícios espirituais de Santo Inácio. Juntamente com a Companhia de Jesus acabaram supressas, em 21 de julho de 1773, as 2.500 congregações filiadas à Prima Primária de Roma. Quando, em 7 de agosto de 1814, a Companhia de Jesus foi restaurada, elas voltaram a existir, mas enfrentaram não poucas dificuldades até que, em 1948, Pio XII publicou a constituição apostólica Bis saeculari die, que lhes devolveu as características de origem e restabeleceu os exercícios inacianos como espinha dorsal de sua espiritualidade. Ao longo de décadas, antes do advento do Concílio Vaticano II, a congregação mariana impôs-se como única escola de formação dos leigos, além de celeiro onde os vigários garimpavam os melhores agentes paroquiais. Não se voltava sobre si mesma, antes, preparava os congregados para ação apostólica destinada a setores específicos da paróquia e da sociedade: crianças do catecismo, jovens, atletas, operários, encarcerados, enfermos, indigentes, prostitutas etc. Em muitos lugares os marianos se tornavam conhecidos ainda por bom time de futebol e por competente banda de música. Na organização interna, um dos segredos do êxito repousava no papel exercido pela instrução, verdadeira catequese de aprofundamento da fé católica. Dentre os cargos da diretoria um dos mais importantes era o de instrutor; a partir dele se delineava o perfil de uma congregação. À semelhança da congregação mariana para homens e moços, também a Pia União − sob orientação do sacerdote ou de religiosas, onde as havia −, constituía para jovens do sexo feminino uma escola de formação de vida. Por ela passavam as moças “de família” que, uma vez casadas, normalmente ingressavam no Apostolado da Oração.

Com sua participação eficiente e discreta, o AO não fazia notar sua presença na vida paroquial. Era

227 Congregação Mariana, Pia União das Filhas de Maria e Apostolado da Oração com padre Teófilo Carlos Almazán, primeiro vigário da Paróquia Santíssima Trindade (atual Catedral). O coroinha do centro, de mãos postas, é hoje padre José Olavo Pires Trindade. Foto Os 50 anos da Diocese de Maringá do dia 10 de junho de 1951, em frente à antiga casa paroquial, espaço hoje ocupado pela Cúria Metropolitana.


claramente visível, por outro lado, a sua ausência lá onde não existia. No AO agrupavam-se as melhores lideranças femininas maduras das comunidades sobre cujos ombros repousava o peso maior de trabalhos que muita gente temia enfrentar. Impossível encontrar um único templo católico no Norte do Paraná que se tenha erguido sem a colaboração dedicada do AO. A sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a prática das nove primeiras sextas-feiras tornaram-na uma das associações mais conhecidas da Igreja nos últimos tempos. Sobre o cinqüentenário da encíclica Haurietis acquas (15/05/1956) do papa Pio XII, que fala da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, manifestou-se recentemente o cardeal Martini, arcebispo de Milão: Ela (a devoção) me havia sido infundida por minha mãe, com a prática das primeiras sextas-feiras do mês. Nesse dia, minha mãe nos fazia levantar cedo para ir à igreja paroquial e tomar a comunhão. [...] Um grande mérito dessa devoção foi, portanto, ter chamado a atenção para a centralidade do amor de Deus como chave da história da salvação. Mas, para perceber isso, era necessário aprender a ler as Escrituras, a interpretá-las de maneira unitária, como uma revelação do amor de Deus pela humanidade. A encíclica Haurietis acquas marcou um momento decisivo desse caminho (MARTINI, 2006, p. 34). Conta dom Jaime que, em visita pastoral a uma paróquia, reuniu as diversas associações para ouvir relato do trabalho que realizavam na paróquia. Deixou, de propósito, o AO por último. À sua vez, muito humilde, a presidente disse: “Nós não fazemos nada, dom Jaime. Só rezamos”. E o bispo, sorrindo: “Pois são vocês que sustentam tudo que os outros fazem. Se não fosse a oração de vocês, eles não fariam nada daquilo que contaram”. Até nos centros maiores, mas de forma predominante no interior do Brasil, congregados marianos, filhas de Maria e Apostolado da Oração eram praticamente os únicos espaços humanos com que contavam então os sacerdotes para a descoberta e o cultivo de lideranças laicais. O Concílio Vaticano II recuperou para a Igreja o conceito de povo de Deus e restituiu ao cristão leigo, de modo especial no decreto Apostolicam Actuositatem, a sua missão de evangelizador juntamente com os ministros ordenados, recordando-lhe que “existe na Igreja diversidade de serviços, mas unidade de missão” (AA 2). Para quem veio depois dos anos 60 e convive com as tantas modalidades de formação à disposição dos leigos torna-se difícil avaliar a importância de filhas de Maria, de congregados marianos e do AO na evangelização do Brasil e particularmente no Norte do Paraná. Como qualquer pastor de Igreja jovem, também o bispo de Maringá, desde a posse, em 1957, inquietou-se com o reduzido número de padres face à multidão de diocesanos que recebeu. Para uma área de 14.902,67km² − que compreendia 24 municípios, 14 paróquias instaladas e uma criada, ainda por prover de vigário −, seu clero diocesano não ia além de 7 padres. Importa não esquecer que a quase totalidade dos que vinham adquirir terra por estes lados tinham em mente o plantio de café, monocultura da época e carro-chefe na pauta de exportações brasileiras para o mercado internacional. Diferentemente da pecuária e da produção de outros grãos, o café sempre exigiu abundante mão-de-obra. Tudo fazia prever para a região nos anos futuros um forte crescimento populacional. A comprovação ficou demonstrada na gritante diferença do número de municípios existentes entre a criação da diocese e a sua instalação, um ano depois. A bula de criação relacionou somente oito, todos instalados até o ano de 1952. Para quem conhece como se deram os fatos, o motivo é óbvio: a mobilização em torno da nova diocese teve início após a reunião provincial convocada por dom Manuel da Silveira D’Elboux, em 1953. Os estudos relacionaram os municípios existentes na ocasião; não mais que os oito citados na bula papal. No momento da instalação canônica, porém, em março de 1957, a mesma área abrigava um total de 24 municípios. Conclui-se que, em menos de quatro anos, o número triplicou. Longe de se entusiasmar com esse dado, o novo bispo viu crescerem motivos de preocupação. Como atender com sete padres do clero diocesano uma região que se expandia nessa proporção? Não obstante o fato de contar também com 22 sacerdotes do clero regular, a experiência, como ficou demonstrado, não lhe trouxe grande alento, pelo menos nos primeiros encontros. Além de que, sabia-o bem, o atendimento paroquial por religiosos significava uma etapa provisória do seu governo; devia prolongar-se apenas até que

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a nova Igreja diocesana estivesse devidamente estruturada. Daí a busca incessante por novos colaboradores e a criação, quando se oferecia o ensejo, de novas paróquias, embora sempre em quantidade longe da ideal. Em face das necessidades, comunidades paroquiais novas foram surgindo. Em 1958, o bispo criou três: Paranacity, São Jorge do Ivaí e Floraí; em 1959, quatro: Santa Isabel do Ivaí, Marumbi, São Pedro do Ivaí e Itambé; em 1960, oito: Cruzeiro do Sul, Ivatuba, Santo Antônio de Pádua (Maringá), Graciosa, Planaltina do Paraná, Santa Cruz do Monte Castelo e Floresta; em 1961, Atalaia; em 1962, Santo Cura d’Ars (Paiçandu); em 1964, quatro paróquias novas: Nossa Senhora das Dores (Paranavaí), São Carlos do Ivaí, Inajá e Santa Maria Goretti (Maringá); em 1965, duas: Kaloré e Querência do Norte. O ano de 1965 assinala também a implantação de importante medida administrativo-pastoral. Depois de muita reflexão e consulta, foram criados cinco decanatos ou regiões pastorais em que se subdividirá, doravante, a diocese. Cada decanato agrupará um número aproximadamente igual de paróquias, ao redor de uma, erigida como cabeça de região. Estabelecidos em função do melhor governo e dos melhores frutos no trabalho pastoral, os cinco decanatos receberam como sedes as paróquias: Catedral, Jandaia do Sul, Loanda, Nova Esperança e São Jorge do Ivaí. A partir de 1968, criada a diocese de Paranavaí, a área desde Alto Paraná até o rio Paraná acabou subtraída à administração do bispo de Maringá. No território que lhe restou, porém, foi sentindo, ao longo de seu governo, a necessidade de implantar outras 20 paróquias: Bom Pastor (Mandaguari, 1968); Cristo Ressuscitado e Divino Espírito Santo (Maringá, 1969); Presidente Castelo Branco e Aquidaban (1970); Doutor Camargo (1971); São Miguel Arcanjo (Maringá, 1975); São Francisco de Assis (Maringá, 1978); Nossa Senhora das Graças (Sarandi, 1979); Sagrado Coração de Jesus (Maringá, 1980); Menino Jesus de Praga/São Francisco Xavier, Nossa Senhora de Lourdes/São Judas Tadeu, Santa Isabel de Portugal (Maringá, 1990) e Santa Teresinha do Menino Jesus (Sarandi, 1990); Nossa Senhora de Guadalupe (Maringá, 1992); São Silvestre I, Papa (Maringá, 1994); Nossa Senhora da Liberdade e Beato Pedro Jorge Frassati (1995), e as três últimas em 1997, seu último ano como arcebispo metropolitano: Santa Rosa de Lima (Iguatemi), Jesus Bom Pastor (Paiçandu) e São Mateus Apóstolo (Maringá). Em seu período de 40 anos à frente da Igreja de Maringá, dom Jaime criou 41 novas paróquias, das quais 7 (sete) passaram a compor, a partir de março de 1968, a diocese de Paranavaí, integralmente desmembrada do território da diocese original. Por sua inadequação ao novo contexto, também a divisão administrativa da Igreja-mãe exigiu reformulação. Assim, no segundo semestre de 1968, a partição em decanatos, que vigorava desde 1965, sofreu mudança passando a três regiões pastorais apenas, nucleadas em torno das paróquias da Catedral, de Jandaia do Sul e de Nova Esperança, absorvendo esta as paróquias do antigo decanato de São Jorge do Ivaí. Foi também admitida nova sistemática para reuniões do clero: estabeleceram-se duas reuniões gerais, uma em cada semestre, e reuniões mensais em cada setor ou região pastoral. Ao mesmo tempo em que diligenciava para conseguir mais padres e criava novas paróquias lá onde verificava a premência, o bispo empenhou-se, desde sua chegada, em suscitar nos diocesanos uma clara consciência vocacional. À época, a palavra “vocação” guardava quase exclusivamente a conotação sacerdotal e religiosa, e ele esforçou-se para que os fiéis se sentissem comprometidos com o número e com a qualidade dos ministros sagrados. Incentivou as paróquias a promoverem semanas vocacionais, além de voltar constantemente ao assunto nos programas radiofônicos, em artigos de jornal e, de modo particular, nas visitas pastorais em seus encontros com crianças e jovens. Sua pregação incessante se fazia em torno da oração e trabalho por “numerosos e santos” operários para a messe. Mesmo que houvesse, algum dia, sacerdotes em grande número (e não era o caso), com certeza não bastaria disseminar paróquias por todos os cantos. Existia, já naquele tempo, clareza bastante sobre os limites da pastoral paroquial praticada, capaz de reunir os converti dos, mas não de atrair à conversão os afastados. Conquanto apresente conteúdo invariável, a evangelização submete-se às exigências específicas de cada parcela da população. Não escapava ao senso pastoral do bispo as nuances só conhecidas de quem mergulha na realidade do seu meio. Desde cedo, inquietou-o a situação religiosa dos japoneses natos e de seus filhos, comunidade numerosa e impermeável para estranhos à sua cultura. Preocupavam-no também os jovens, so-

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bretudo estudantes; os professores, muitos vindos de fora onde tinham deixado família; o povo da zona rural, morador das extensas plantações de café distantes das cidades; os bairros de Maringá, que se esparramavam pelos lotes desmatados, enchendo-se de gente, enquanto faltava quem lhes levasse a pregação da fé católica. É revelador penetrar na visão que possuía de sua Igreja Particular, oito meses depois da posse. É sua a descrição: Na diocese tôda, de modo geral, é consolador o espírito religioso. O povo simples do campo conserva a religião e a pratica como é possível, diante da falta imensa de clero. Aqui se realiza a palavra da Escritura: o povo pede pão, e não há quem o distribua. [...] Embora o número de acatólicos não seja grande, há, contudo, a disseminação do êrro entre as camadas mais simples, que laboram em grande ignorância religiosa. Na chamada alta sociedade, salvo honrosas exceções, predomina o catolicismo cômodo e inoperante, apenas de tradição, sem a verdadeira vida sobrenatural. Como por aqui aportaram visando mais a situação econômica, pouco ou nada fizeram para se aproximarem de Deus. Não obstante, com a graça de Deus, nota-se um interesse para com a prática da religião, e os nossos esforços estão voltados para êsse objetivo de despertar a todos e atraí-los para a Igreja. Quanto à propaganda herética, está como causa principal a angustiante falta de clero. Os sacerdotes que trabalham na Diocese, embora se lhes reconheça o valor do sacrifício, da abnegação e do seu pioneirismo, quase todos estrangeiros, estão a braços com a desproporção de fôrças no campo de luta. Poucos sacerdotes para imensas paróquias, tôdas elas num crescimento contínuo, e tôdas com parte de sua população flutuante, que busca num e noutro lugar o seu sustento material. O Sacerdote, percorrendo a paróquia, algumas delas com quatro municípios, v.g Loanda, Nova Esperança, pouco pode fazer em favor do crescimento da vida espiritual. Chegado a uma Capela, [...] o Padre atende ràpidamente as confissões, celebra a Santa Missa, e todo o tempo é dedicado aos batizados, aos casamentos ou processos matrimoniais. Há pouco tempo para Reuniões das Associações Religiosas ou catecismo. Segue-se, pois, a falta de verdadeira formação da vontade e ilustração da inteligência. Esta conseqüência – a ignorância religiosa – é campo fértil para propaganda protestante, espírita, etc. Convergindo para o norte do Paraná pessoas das mais diferentes regiões do país, e também do estrangeiro, cada qual traz a carga de seus princípios já recebidos, e em meio à escassez da vida religiosa, pouco a pouco se abrem às seitas heréticas, ou se tornam indiferentes (COELHO, 1957, f. 1-2).

A Missão Nipo-Brasileira Alçado à fama, desde o início da colonização, pela fertilidade de suas terras, o Norte do Paraná tornou-se atração agrícola, além de campo aberto ao exercício de outras atividades para muitos japoneses e seus descendentes originários, em sua maioria, da Alta Paulista, Sorocabana e Noroeste, regiões do vizinho Estado de São Paulo. Conhecidos por sua devoção ao trabalho e forte disciplina, para cá se transferiram dispostos a melhorar o padrão de vida, sem medo do desconforto que os esperava no mato e nos incipientes lugarejos, transformados, com o passar dos anos, em cidades de porte nada desprezível. Há notícia da presença, desde a década de 1930, de grupos nipônicos que, para manter vivos os valores culturais do país de origem, reuniramse em colônias japonesas, muito atuantes e interessadas em se integrarem à sociedade local. Na área da diocese de Maringá, famílias japonesas concentravam-se, com maior intensidade, nos municípios de Maringá, Marialva, Floresta, Nova Esperança e Paranavaí. Em relatório à nunciatura apostólica, o bispo informava, no ano de 1960, a existência de uma colônia japonesa composta por aproximadamente 20.500 pessoas. Cerca de 12.500 tinham sido batizadas, mas apenas 1000 eram católicos praticantes. Destes, o número mais expressivo (40 famílias) concentrava-se em Floresta, onde representava 20% das 200 famílias ali sediadas; algumas, descendentes dos mártires de Nagasaki (1597) (COELHO, 1961, f. 10). Conforme dados da Missão Católica Nipo-Brasileira de Maringá, remontam a 1953 as primeiras informações de atendimento católico a japoneses e nisseis na cidade. No dia 24 de outubro daquele ano foi requerido à Secretaria Estadual de Educação e Cultura o funcionamento da Escola Mista São José, a mesma que

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em 1960 receberia dom Jaime como diretor. Depois, católicos japoneses da diocese foram ocasionalmente atendidos por frei Anacleto de Vescovana, que atuava em todo o Norte do Paraná desde o início de 1955, e por padre Inácio Shigeo Takeuchi, SJ, que vinha de São Paulo. Já em 1957, com a mediação do núncio apostólico, o primeiro bispo de Maringá entabulou entendimentos com o Japão, solicitando o envio de um missionário japonês. Obteve feliz resultado com a cessão pelo bispo de Fukuoka de um padre de sua diocese, Miguel Yoshimi Kimura, que chegou ao Brasil em 25 de junho de 1958, passando a morar na residência episcopal, ao mesmo tempo em que iniciava o aprendizado da língua portuguesa. Na época, morou também em casa de dom Jaime, durante alguns meses, o padre espanhol Francisco Peregrina López, mais tarde vigário ecônomo de Nova Esperança. Com maiores conhecimentos de português, ele colaborava no ensino de Kimura. De temperamento galhofeiro, no entanto, divertia-se ensinando palavras erradas ao “aluno” que depois, precisava receber do bispo paciente correção. Kimura espalhou o seu zelo missionário por toda a diocese de Maringá que, na época, ainda incluía a de Paranavaí. É de sua responsabilidade a criação da Missão Nipo-Brasileira em Maringá num tempo em que havia carência de quase tudo por aqui. A ele é devido ainda o Centro Cultural e Social São Francisco Xavier, fundado em 3 de dezembro de 1960, e a Escola, hoje Colégio São Francisco Xavier, cuja pedra fundamental foi lançada em 2 de setembro de 1962. Para sua direção dom Jaime conseguiu as Irmãzinhas da Imaculada Conceição, dentre as quais algumas irmãs nisseis.1 Em 12 de fevereiro de 1965 chegaram a Maringá as irmãs Teresa Ayako Onichi e Clara Sumiko Ko, das Carmelitas da Caridade de Vedruna, que deram inestimável cooperação ao trabalho da Missão Nipo-Brasileira. A primeira retornou ao Japão para tratamento de saúde em 1972, voltando ao Brasil em 1977. Doente de novo, em 1998 regressou ao Japão onde faleceu a 25 de março de 2006. Irmã Clara, depois de 40 anos ininterruptos de trabalho, no Colégio Santa Cruz e na evangelização de japoneses e de nisseis, entregou a Deus sua bela alma de missionária, na madrugada do dia 4 de junho de 2005, em Maringá. O presbitério de Maringá foi enriquecido, a 7 de dezembro de 1966, com a ordenação do primeiro padre nissei, Pedro Watar (Wataru) Makiyama. Ano seguinte, quando se encontrava em visita a familiares no Japão, monsenhor Kimura foi internado no hospital da Universidade de Kyushu de Fukuoka e, no dia 14 de agosto de 1967, docemente a morte o levou. Passado ano e meio, Maringá recebeu novo missionário japonês. No dia 13 de dezembro de 1968 chegou ao Brasil padre Pedro Ryo Tanaka, da diocese de Sapporo. Sob sua coordenação, o trabalho iniciado por Kimura conheceu extraordinário avanço, alargando-se a ação da Igreja Católica para novos espaços que o fervor missionário de Tanaka abriu: núcleos de catequese, grupos de reflexão, orientação espiritual e psicológica para casais, evangelização de feirantes, atuação sistemática junto ao cemitério municipal etc. A ele se deve a construção da igreja São Francisco Xavier, do Centro Comunitário São Maximiliano Kolbe, no Jardim Tabaetê, da capela da Vila Emília e do santuário de Nossa Senhora de Fátima. Com ele a Missão Nipo-Brasileira de Maringá expandiu-se a outras cidades do Paraná como Ubiratã, Toledo, Assis Chateaubriand, Terra Roxa, Iporã, Guaíra, Jesuítas, Nova Aurora, Foz do Iguaçu, Paraíso do Norte, Diamante do Norte, ao Mato Grosso do Sul, Paraguai e Bahia. Em setembro de 1971, veio trabalhar em Maringá padre Lucas Daiju Chiba, da arquidiocese de Tóquio. Logo depois, no dia 8 de dezembro do mesmo ano, com a ordenação sacerdotal de Roberto Takeshi Kuriyama, Maringá recebeu o segundo membro nissei do seu presbitério. No dia 16 de novembro de 1972, padre Tanaka sofreu um ataque cardíaco, submetendo-se a tratamento até que, no dia 30 de março do ano seguinte, em São Paulo, foi operado para implante de pontes de safena no coração. Não perdeu, por isso, o bom humor; ao contrário, fazia troça com o seu “coração vagabundo”, parafraseando a melodia brega cantada por Lindomar Castilho. A partir de 27 de janeiro de 1974, com a presença, em Paiçandu, de padre Ângelo Banki, a Missão Nipo-Brasileira recebeu um reforço precioso.2 Padre Lucas Chiba deixou Maringá, em 8 de janeiro de 1975, indo trabalhar em Ribeirão

1 Em 1969, a Missão Nipo-Brasileira perdeu duas religiosas, vítimas de acidente automobilístico: irmã Josefa Umeki, que faleceu em 10 de outubro, quando era conduzida a Sorocaba, e irmã Dionilce Kobata, em novembro, no Hospital Santa Lúcia, de Maringá, depois de semanas de cuidados das co-irmãs e de padre Pedro Ryo Tanaka. 2 Natural de Paraguaçu Paulista (SP), Banki, padre jesuíta, estudava na Universidade Sofia, em Tóquio. Em 1967, sabedor da ida de dom Jaime ao Japão, recepcionou-o no aeroporto. De volta ao Brasil, permaneceu algum tempo na Companhia, pedindo, mais tarde, para ser aceito como padre diocesano em Maringá.

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Preto. Entre 1981 e 1982, com graves problemas de saúde, Tanaka esteve no Japão durante onze meses, sendo substituído por Banki. No dia 20 de dezembro de 1992 dom Jaime conferiu o presbiterato ao terceiro nissei da arquidiocese de Maringá, padre Hélio Takemi Sakamoto. Com plano de permanecer por seis meses, Tanaka voltou ao Japão no início de 1993 em busca de recursos para a Escola São Francisco Xavier. Substituiu-o no cuidado da Missão Nipo-Brasileira, durante esse período, o padre Sidney Fabril. No Japão, Tanaka adoeceu tão gravemente que pouca esperança restou de que viesse a sobreviver. Os seis meses previstos transformaram-se em três anos, ao fim dos quais, surpreendendo a todos, ele retornou, sendo recebido com festa no dia 21 de janeiro de 1995. Em vista do crescimento da comunidade, dois meses mais tarde, a 24 de março, o Oratório São Francisco Xavier foi elevado a paróquia dedicada ao Menino Jesus de Praga e São Francisco Xavier, recebendo como pároco padre Sidney Fabril e como vigário paroquial monsenhor Pedro Ryo Tanaka. Em vista da peculiaridade do trabalho com japoneses e seus descendentes, em 5 de dezembro do ano 2000, o arcebispo dom Murilo Krieger criou a paróquia pessoal São Francisco Xavier para japoneses, designando Tanaka como pároco e Sakamoto como vigário paroquial. No dia 18 de março de 2001, depois das atividades normais de um domingo (até celebrara duas missas), jantando em casa de amigos, às 19h15m, monsenhor Pedro Ryo Tanaka foi acometido por ataque cardíaco, vindo a falecer momentos depois, apesar do imediato socorro que recebeu. Padre Tanaka, como era conhecido, tinha 64 anos e se encontrava em Maringá desde dezembro de 1968, à frente da Pastoral Nipo-Brasileira, na continuidade do trabalho pioneiro de monsenhor Miguel Yoshimi Kimura. As inúmeras atividades da Missão Nipo-Brasileira de Maringá só se tornaram possíveis graças ao espírito comunitário e participativo da valorosa colônia japonesa. Ao lado de bispos, religiosas, seminaristas, cristãos leigos e de outros padres, na caminhada que começou em 1958, merecem recordar-se ainda trabalhos ocasionais na diocese de Maringá prestados por frei Alécio Broering, OFM, durante muitos anos, responsável nacional pela PANIB – Pastoral Nipo-Brasileira; padres Lino Stahl, SJ, da PANIB do Paraná, e Paulo Riichi Doi, SJ, de São Paulo, além de padre Haruo Sasaki, de abnegado trabalho em São Jerônimo da Serra (PR). A paróquia pessoal São Francisco Xavier para japoneses, em Maringá, está hoje entregue aos cuidados pastorais de padres Hélio Takemi Sakamoto e Ângelo Banki, respectivamente pároco e vigário paroquial.

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Memória, quase história Aconteceu de novo Sacerdotum sors improvisa mors – morte repentina é o destino dos padres. É um adágio antigo que os jovens de hoje desconhecem. Os mais velhos, do tempo em que estudávamos latim, lembramos de memória um punhado deles. Em menos de quatro meses, em Maringá, padres Bernardo e Tanaka confirmaram seu doloroso acerto. Ambos foram vítimas de um coração que não acompanhava o ritmo do seu trabalho pelo Reino de Deus. Tanaka surpreendeu pela pouca distância entre seu falecimento e o de Bernardo. E também por tê-lo a irmã morte vindo buscar quando já tínhamos esquecido as muitas vezes em que, anteriormente, sua vida estivera por um fio. Ao contrário de Bernardo, tinha enfrentado situações que sinalizavam o fim próximo. Pelo menos em três oportunidades esteve entre a vida e a morte. Assustou-nos a todos, que o dávamos por morto em poucos dias. Nunca, porém, encenou drama nenhum por conta disso. A cada vez, voltava ao trabalho como se nada houvesse acontecido. Como se fosse o mais saudável dos homens. Sua dedicação às pessoas e obras para as quais vivia não sofria queda no ritmo de uma atividade desempenhada sem descanso. Dava a impressão de pressa, como sabendo que, com aquele coração, não podia contar com muito tempo para tudo o que pretendia realizar. Amigos testemunham a consciência que manifestava de sua partida próxima. Com a serenidade do servo fiel, dizia-se pronto para responder ao chamado do Pai. Mas continuava trabalhando, como quem dispõe de uma vida inteira pela frente. No velório, uma cena chamou a atenção. Pessoas adultas − surpreendentemente, as mais humildes − e crianças, muitas, aproximavam-se para fazer um carinho em seu rosto imóvel. Nenhum sinal do misterioso medo que, às vezes, a morte espalha à sua volta. Era o irmão que acariciavam. Como a dizer: “Não tive antes a oportunidade de mostrar quanto você é querido para mim”. Logo para ele que, em vida, até por temperamento, jamais fora dado a grandes arroubos de ternura. Os mais simples, na clareza de quem tudo enxerga com o olhar de Deus, conseguiram descobrir a profundeza daquele amor que ele ofereceu por toda a vida. Num mundo pejado por tantas mostras de desamor, experimentamos profunda carência dos sinais do Reino. Estamos cansados do grotesco espetáculo da ganância, da sede de poder, do brilho falso das alegrias que o dinheiro imagina comprar. Padre Tanaka provou que há outro jeito de viver. Bem mais sólido e verdadeiro (ROBLES, 2001, p. 2).

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A participação dos leigos Não havia, no final dos anos 50, a profusão de movimentos eclesiais que hoje reúnem leigos católicos em multidões capazes de lotar estádios. Vivia-se o clima anterior ao Concílio Vaticano II, tempo de uma Igreja mais clerical e voltada sobre si mesma. Era pouco sentido o anseio missionário do anúncio, a inquietação de levar a fé aos indiferentes e afastados. Verificava-se, é verdade, nas pessoas fervorosas o sincero anseio da santificação pessoal, desvinculado, porém, do encargo de transformar o mundo a partir da vivência dos sacramentos do batismo e da crisma. A vida cristã cultivava a perfeição interior, nem sempre atenta às necessidades dos irmãos. Significativamente, no encerramento das missões populares pregadas pelos redentoristas erguia-se um grande cruzeiro com a inscrição “Salva tua alma”. Foi preciso o sopro renovador do Concílio Vaticano II para em seu lugar escrever “Unidos em Cristo”, que ilustra o sentido comunitário da Igreja. Por obra de uma teologia tridentina nem sempre bem compreendida, o ex opere operato sacramental facilmente enveredava por um “sacramentalismo” gerador, como pensavam alguns, de uma santificação automática e sem conversão. Até a década de 1920, a política de participação dos leigos ateve-se, majoritariamente, às associações devocionais e à religiosidade praticada no interior do templo. A romanização contribuiu para a importação de cultos e ritos europeus que tinham como objetivo substituir as devoções católicas, historicamente consolidadas e praticadas sem a presença do padre. O clero reformado, somado ao europeu, contribuiu para substituir a religiosidade pessoal pela sacramental, reforçou a mudança de hábitos, implantou devoções e crenças em santos alheios à fé e à cultura do povo brasileiro (CHIQUIM, 2005, p. 232). Com a ascensão ao trono de Pedro do cardeal milanês Ambrogio Damiano Achille Ratti, que escolheu o nome de Pio XI (1922-1939), a consciência dos cristãos leigos foi sacudida por forte apelo evangelizador. Na sua primeira encíclica Ubi Arcano, de 23 de dezembro de 1922, criou “a Ação Católica, particularmente importante para a Itália, que conclama os laicos católicos de tôda idade, estado e sexo a participarem do apostolado da hierarquia, a fim de renovar tôda a sociedade segundo o espírito de Cristo” (BIHLMEYER; TUECHLE, 1965, v. 3, p. 611). No Brasil, duas décadas mais tarde, em 1935, foi oficializada a Ação Católica Brasileira (ACB) que, seguindo as linhas da matriz italiana, tinha como objetivo formar católicos leigos para transformar o mundo.3 Sob influência dos modelos belga e francês, a ACB se converteria, em 1950, em Ação Católica Especializada (ACE), no esforço de alcançar uma atuação mais presente e decisiva da Igreja no meio dos trabalhadores, estudantes e operários. Entre o clero brasileiro havia larga influência do pensamento social de padre Lebret. Muitos sacerdotes daqui faziam curso na França, assim como padres franceses vinham com freqüência ao Brasil. A ACE ia colher nas fileiras da juventude católica os seus membros, agrupando-os em segmentos identificados pelas cinco vogais: JAC – Juventude Agrária Católica, para o meio rural; JEC – Juventude Estudantil Católica, para estudantes dos antigos níveis secundário e médio; JIC – Juventude Independente Católica, para a classe média; JOC – Juventude Operária Católica e, finalmente, JUC – Juventude Universitária Católica. O método observado era invariavelmente o conhecido ver-julgar-agir da JOC, fundada em 1923, pelo padre belga Joseph Cardijn (1882-1967). No Brasil, a JAC atuou predominantemente no Nordeste e no extremo Sul onde fomentou boas lideranças na zona rural. Nos centros industriais revelou-se muito operante a JOC, construtora de um espírito cristão e associativista entre os operários, aliado à defesa dos seus direitos. A JOC brasileira formou seus primeiros grupos ainda nos anos 30, mas foi oficializada só em 1948, ano em que Cardijn visitou o país. Nos ambientes universitários, sobretudo das regiões Leste, Sudeste e Sul, a presença da JUC foi determinante para a consciência das transformações político-sociais exigidas pelo pós-guerra e pelo processo de urbanização do Brasil. A JIC se

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3 Em sua estrutura a ACB seguia a italiana com movimentos de juventude e de adultos, feminino e masculino: Homens da Ação Católica (HAC), Liga Feminina da Ação Católica (LFAC), Juventude Católica Brasileira (JCB-masc.) e Juventude Feminina Católica (JFC). No setor da juventude surgiram as primeiras especializações com as JEC, JOC e JUC. As outras duas (JAC e JIC) surgiram mais tarde.

A Igreja que brotou da mata


compôs com moças católicas da classe média dos grandes aglomerados urbanos; foi a menos expressiva das cinco. Na fase provisória da adolescência, a JEC mostrou-se vigorosa para meninas e rapazes que, posteriormente, se definiam pela JUC, no caso de ingressarem na universidade, ou pela JOC, se entravam para o trabalho na fábrica. Concentrando então o melhor da inconformidade e do idealismo juvenil, é fácil compreender que JOC e JUC tenham fornecido os melhores quadros à resistência juvenil nos anos negros da ditadura militar. Monitoradas pelos órgãos de segurança, de vez que a mesma Igreja Católica vivia sob vigilância e até perseguição, não lhes restou, em particular à JUC, outro caminho senão a clandestinidade para a qual se bandearam jovens promessas de renovação da sociedade. Daí para o ingresso em partidos de esquerda, de orientação marxista, trotskista ou maoísta, ou até mesmo para a luta armada, não foi preciso mais que um passo. Através da JOC e da JUC, a ACE firmava-se em capitais e em centros maiores. Cidades do interior, como a Maringá do final dos anos 50, o máximo que podiam almejar era montar um núcleo da JEC. E foi o que providenciou o bispo para reunir estudantes não dispostos a engrossarem as fileiras dos congregados marianos e filhas de Maria. Ainda no primeiro semestre de 1958, foi realizado um encontro diocesano de JEC, o primeiro da diocese. Os “jecistas” daqui compunham um grupo do qual faziam parte, entre muitos outros: João Waldecir Scramin, Adilson Irineu Schiavoni, Oswaldo Pereira Ayres, Odival Bettoni, Hugo Hoffmann, Adroaldo Knabben, José Sversutti, Ben-Hur Maiochi, João Falavigna, Massataka Murata, Irineu Muchagata, Lorete Girardi, Maria Elisa Jarreta, Sandra Valente, Márcia Dutra de Oliveira, Djanira Knabben, Vanir Cecília Maiochi e Sulamita Knabben. A orientação espiritual assegurava-lhes o próprio bispo e, na sua ausência, irmã Dorilda,4 religiosa das Missionárias de Jesus Crucificado em cuja escola eram feitas as reuniões. Na arquidiocese de Maringá, pelo caráter de ação evangelizadora junto aos jovens, a JEC, iniciada em 1958, deve ser reconhecida como berço da Pastoral da Juventude. Com o advento do Concílio Vaticano II e as mudanças introduzidas, a partir de 1964, no panorama político do Brasil, não houve mais clima para as atividades da JEC. Os jovens se dispersaram, mas a maioria mantém até hoje presença atuante na Igreja.

JEC de Maringá, primeiro encontro diocesano, em 1959.

JEC em encontro que reuniu jovens de Maringá e de Paranavaí, no ano de 1960.

Desde a posse do bispo, foi-se delineando a fisionomia da nova diocese do Norte do Paraná. Em 1960 registraram-se importantes eventos. Com a criação, só naquele ano, de sete novas paróquias, foi atingido o número de trinta, nada desprezível para uma diocese de três anos. De 24 a 27 de março foi celebrado o 1º

4 Irmã Dorilda (Dorilva Farias da Costa) trabalhou em Maringá de 1960 a 1966. Deixou a congregação em maio de 1971, segundo informação obtida por e-mail, em 21 de novembro de 2006, junto à sede geral da congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, situada em Campinas (SP).

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Congresso Eucarístico Diocesano, em preparação ao 7º Congresso Eucarístico Nacional, que aconteceu de 5 a 8 de maio seguinte, na capital do Estado. O ano de 1957 assinalou ainda a entrega pelos padres palotinos da catedral à responsabilidade do clero diocesano. Em 1960 verificou-se a histórica ordenação presbiteral de Benedito Vieira Telles, primeiro padre das jovens cidade e diocese de Maringá. Também é desse ano a instalação, na diocese, do MFC – Movimento Familiar Cristão, fundado no Uruguai, em 1950, por padre Pedro Richards e um grupo de casais.

Regional Sul II Até 1964 o Paraná pertencia, em termos de administração pastoral, juntamente com São Paulo, ao Secretariado Regional Sul I, que agrupava as dioceses de ambos os Estados. Na terceira fase do Concílio Vaticano II, durante a 6ª Assembléia Geral da CNBB, realizada em Roma, no dia 30 de setembro daquele ano, foi criado o Secretariado Regional Sul II, com sede em Curitiba. O coordenador, hoje conhecido como presidente, na época intitulava-se secretário; a atual função de secretário era então exercida pelo subsecretário. Dom Jaime foi eleito primeiro secretário (presidente) do Regional Sul II da CNBB, cargo que exerceu durantes os primeiros seis meses do Regional. Eram então distintos os papéis de presidente do Conselho Episcopal Regional e de coordenador do Secretariado Regional. Hoje cada um dos 17 Regionais da CNBB é regido por um Conselho Episcopal Regional, à frente do qual se coloca um bispo eleito para o cargo de presidente. No livro do Tombo da Cúria Metropolitana de Curitiba o chanceler, monsenhor Pedro Fedalto, anotou em 1974: Em fins de 1964, o Paraná passou a constituir-se Secretariado regional à parte, denominando-se Sul II. Em reunião em Roma, foi escolhido pelo episcopado paranaense como Secretário, Sua Excia. Revma. Dom Jaime Luiz Coelho, bispo de Maringá. A 22 de janeiro de 1965, em reunião do Secretariado, foi nomeado Sub-Secretário, o Revmo. Sr. Frei Agostinho de Capinzal, capuchinho, Diretor Arquidiocesano das Religiosas e secretário da CRB – secção do Paraná. Em março, o Bispo de Maringá pedia demissão do cargo, em vista das atividades apostólicas e da distância de Curitiba. A 28 de março de 1965, em reunião do episcopado em Londrina, foi eleito secretário o Arcebispo de Curitiba. O Secretariado Regional Sul II é o setor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que abrange todas as dioceses do Paraná. É o centro coordenador das atividades das dioceses (CHIQUIM, 2005, p. 269). Desde 1963 começou a tomar corpo o movimento pela criação da diocese de Paranavaí. Assim que tomou posse da Igreja de Maringá, dom Jaime deu-se conta da ingente tarefa que significava reger uma diocese com tais dimensões. Se houve, particularmente após a grande geada de 1975, forte esvaziamento dos municípios menores, deve-se recordar que, por obra das lavouras de café, a população era abundante nos anos 60, ao mesmo tempo em que faltavam veículos automotores com um mínimo de conforto, estradas seguras, telefone, jornal, televisão, e-mail e outros recursos hoje comuns. Torna-se impossível atualmente avaliar quanto era penoso atender os diocesanos, do continente ou ilhéus, de cidades como Querência do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Itaúna do Sul, Diamante do Norte, Porto Rico e outras. Muito cedo o bispo se convenceu da necessidade de abrir mão, em vista do bem maior dos fiéis, de uma parte do território que lhe fora consignado. Depois de exaustivos estudos e da tramitação que precede ações dessa natureza, pela constituição apostólica Nil gratius (= nada mais agradável), em data de 20 de janeiro de 1968, o papa Paulo VI criou a diocese de Paranavaí. Integralmente desmembrado da diocese de Maringá, o território da nova diocese nasceu composto pelos municípios: Alto Paraná, Amaporã, Diamante do Norte, Guairaçá, Itaúna do Sul, Loanda, Mirador, Nova Aliança do Ivaí, Nova Londrina, Paraíso do Norte, Paranavaí, Planaltina do Paraná, Porto Rico, Querência do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Santa Isabel do Ivaí, Santo Antonio do Caiuá, São Carlos do Ivaí, São João do Caiuá, São Pedro do Paraná, Tamboara e Terra Rica; um total de 22 dos quais 11, exatamente a metade, não passavam de vilarejos em 1957, quando foi instalada a diocese de Maringá. Em onze anos (1957-1968) onze novos municípios foram criados. Poucas regiões do Brasil conheceram algo parecido.

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A publicação oficial da criação saiu no dia 15 de março de 1968, juntamente com o nome do novo bispo, cônego Benjamin de Sousa Gomes, vigário geral da diocese de Sorocaba. No dia 9 de junho seguinte, na catedral sorocabana, Gomes recebeu a sagração episcopal, como se dizia na época. Sua posse em Paranavaí aconteceu a 7 de julho de 1968, na igreja matriz de São Sebastião, atendida pelos frades carmelitas que, por um tempo, funcionou como catedral provisória. Não foi totalmente serena a criação da nova diocese. Na contramão do empenho do bispo de Maringá e da população interessada, os carmelitas alemães não revelavam entusiasmo pela nova diocese nem concorriam para a implementação das providências exigidas. No dia 29 de novembro de 1967, monsenhor Mario Tagliaferri, encarregado de negócios da nunciatura apostólica, revelou a dom Pedro Fedalto, bispo auxiliar de Curitiba, com quem se encontrou em reunião no Rio: “A diocese e o bispo de Paranavaí não sairão enquanto não for construída a residência com as dependências para a cúria. Que a culpa não seja lançada à nunciatura apostólica” (COELHO, 1968, 1 f.). Atendendo pedido de dom Jaime, Fedalto acompanhou-o, no dia 15 de janeiro de 1968, a Paranavaí, quando ambos comprovaram in loco o pouco interesse com que era tratada a instalação da diocese, e ouviram dos carmelitas que a responsabilidade cabia ao bispo. Com a capacidade, que todos conhecem, de tomar decisões difíceis, dom Jaime ameaçou levar a nova sede diocesana para Loanda, cujas lideranças se dispunham a montar a infra-estrutura necessária. O mesmo fez saber, depois, por carta, à nunciatura apostólica, deixando claro, porém, que sua preferência era por Paranavaí, pólo regional mais expressivo que Loanda. Escrevendo a dom Manuel, arcebispo de Curitiba, relatou o episódio: Estive em Paranavaí e coloquei um dilema: ou Diocese em Paranavaí ou em Loanda. Logo todos se decidiram por Paranavaí, foi comprada a casa para o Bispo (NCr$ 25.000,00), já em construção. Fiz a indicação de mudanças necessárias, local para a Cúria, etc. Dentro de 60 dias estará pronta. Já enviei à Nunciatura a planta da casa, bem como comuniquei já a posse de três alqueires para futuro Seminário, terreno (3 datas) para futura residência, se o Bispo assim o desejar, tudo com Escrituras registradas, e o projeto de lei na câmara para doação de um terreno em uma praça, para futura catedral. No próximo dia 29 terei uma reunião com todos os Padres das paróquias que comporão a futura Diocese, para estudo de outras coisas necessárias. Espero, assim, que logo se resolva a criação da Diocese (COELHO, 1968, 1 f.). A carta traz a data de 22 de fevereiro. Está suficientemente claro que, mais de um mês após a visita a Paranavaí, dom Jaime acreditava na futura criação da diocese. Que, no entanto, estava criada há mais de um mês. Até hoje Fedalto estranha a proximidade entre a visita feita a Paranavaí e a data de criação. “Se no dia 15 de janeiro”, argumenta, “a nunciatura esperava as providências que Paranavaí tardava em tomar, como a diocese foi criada no dia 20? Em cinco dias teria sido possível fazer tudo que normalmente leva meses?”5 Em pleno mês de fevereiro, Tagliaferri fazia crer que ainda estava em caminho um evento já acontecido em 20 de janeiro. A surpresa de Fedalto encontra abrigo no teor da carta de 15 de fevereiro, escrita por Tagliaferri ao bispo de Maringá, na qual diz textualmente: “nas circunstâncias em que se encontra agora o processo de ereção da diocese de Paranavaí”, dando a entender que ainda se achava em trâmite um processo cuja resolução se dera quase um mês antes. Posteriormente, no dia 7 de março, enviou outra carta, protocolada sob nº 16633, sub secreto pontificio, onde declara: Tenho o prazer de comunicar a Vossa Excelência Reverendíssima que o Santo Padre se dignou criar a nova diocese de Paranavaí, com território desmembrado da diocese de Maringá. Ao mesmo tempo, foi nomeado primeiro bispo da recém-criada diocese o Reverendíssimo Cônego Benjamin de Sousa Gomes, atual Vigário Geral da diocese de Sorocaba. A publicação se fará no dia 15 de março (TAGLIAFERRI, 1968, 1 f.).

5 Fedalto expressou sua perplexidade em conversa telefônica que manteve, desde Curitiba, com o autor destas notas, no dia 23 de outubro de 2006. Prometeu mais detalhes no livro que publicará sobre a história da Igreja do Paraná.

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Diocese de Paranavaí 20/01/1968

Diocese de Paranavaí 20/01/1968

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Mapa 4 - Com a criação da diocese de Paranavaí, em 1968, a diocese de Maringá assumiu nova configuração.

Depois da posse, em 7 de julho de 1968, de dom Benjamin, bispo de Paranavaí, naturalmente mudaram a vida e os desvelos do bispo de Maringá. De uma área total de 14.902,67km², baixou para 6.203,07km², menos da metade, portanto, a extensão do território a ser percorrido, para o atendimento espiritual. A população, antes calculada em 1.285.730 pessoas por cuja evangelização se sentia responsável, viu-a dom Jaime reduzida a pouco mais da metade. No momento da instalação da diocese de Paranavaí, em seus limites se enumeravam 15 paróquias, que abrangiam 25 municípios e abrigavam 559.810 habitantes distribuídos numa área de 8.699,60km². Aos cuidados pastorais do bispo de Maringá restou depois um total de 725.810 habitantes, dos quais três sobre quatro professavam-se católicos, embora só 20% pudessem considerar-se praticantes. Muito esforço, como se percebe, prosseguia sendo exigido tanto do pastor da Igreja quanto dos seus colaboradores.

Coordenação da Pastoral diocesana Não se descurou o 1º bispo, como foi dito, de levar aos mais distantes pontos da diocese a mensagem da fé. O grande salto de qualidade na evangelização da Igreja de Maringá teria seu ponto de partida numa daquelas decisões cujos desdobramentos nem ele mesmo era capaz de antever. Para receber três novos padres em 7 de dezembro de 1966, data de seu jubileu de prata sacerdotal, obteve da Santa Sé licença de ordenar presbítero Antônio de Pádua Almeida no final do 3º ano de Teologia. No início de 1967, enquanto os recém-ordenados padres Pedro Watar Makiyama e Orivaldo Robles foram designados respectivamente para Nova Esperança e para o Seminário Menor Nossa Senhora da Glória, o jovem padre Almeida voltou a Curitiba para iniciar o 4º ano do curso de Teologia. Quando o concluiu, veio integrar o presbitério maringaense da “ativa”.

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Na primeira reunião do clero de 1968, realizada em 7 de fevereiro, no Seminário Diocesano Nossa Senhora da Glória, Almeida e Robles foram apresentados como coordenadores diocesanos de pastoral e passaram a morar na residência episcopal. Explicou dom Jaime que ambos estavam, a partir daquela data, liberados para qualquer ação pastoral que um padre quisesse implementar em sua comunidade: palestra, curso, encontro, formação de agentes... Quem, além disso, precisasse de férias, poderia combinar com eles sua substituição na paróquia pelo tempo de descanso. Era compreensível a falta de clareza sobre o papel do coordenador. Fruto do Plano de Pastoral de Conjunto, resposta pioneira do Brasil ao pedido de planejamento feito por João XXIII à Igreja do mundo inteiro, ninguém conhecia ao certo em que consistia esse serviço. Também aqui, ainda uma vez, o bispo de Maringá ousou. Foi o primeiro a liberar não um, mas dois padres de uma vez, para o serviço da coordenação da ação evangelizadora da sua Igreja. Dúvidas foi o que não faltou aos dois coordenadores iniciantes. Nomeados para um cargo de cuja natureza não faziam a menor idéia, a eles o bispo confiou três salas no último piso do Edifício Três Marias, ponto central de Maringá, de propriedade da Mitra Diocesana, para montarem o escritório de onde se irradiaria a coordenação de pastoral para as paróquias.6 Ao lado de uma escrivaninha nua, contemplando as luzes da cidade que, lá embaixo, resfolegava após um dia de trabalho, por noites e noites seguidas, ambos se questionavam sobre o que seria coordenar a evangelização de uma Igreja que entrava agora em seu 11º ano de vida. Providencialmente, em casa do médico Walter Álvaro da Silva, encontrava-se por aqueles dias, seu cunhado, padre José Carlos Bruzzi, da diocese de Mariana (MG), que informou a realização em Belo Horizonte, no mês seguinte, de um curso justamente sobre coordenação pastoral, esse ainda pouco conhecido ministério na Igreja. Na capital mineira, juntamente com vários outros, igualmente confusos e preocupados, os novos coordenadores puderam, finalmente, compreender o serviço que lhes fora confiado. Com a feliz escolha de Almeida para o cargo,7 a Igreja de Maringá imprimiu, durante a década de 1972 a 1982, grande desenvolvimento à sua ação evangelizadora. Primeiramente, ele teve oportunidade de estudar Teologia Pastoral na Europa pelo espaço de dois anos: em 1969-1970 na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma; depois, em 1970-1971 no Instituto “Lumen Vitae” de Bruxelas, filiado à Universidade de Lovaina, na Bélgica. Sua dissertação acadêmica versou sobre Comunidades Eclesiais de Base, iniciativa latino-americana que provocou, durante anos, ácidas manifestações de teólogos e pastoralistas europeus. Habituados à secular romanização da Igreja Católica, incapazes de admitir que também em outras plagas o Espírito Santo espargisse dons de sabedoria e de ciência, homens de Igreja tentavam, por várias formas, desacreditar o sopro de vida que partia do povo pobre do pouco valorizado 3º mundo. Tornou-se um desafio para bispos, padres e cristãos leigos da periferia convencer a Igreja tradicional de que as CEBs da América Latina diferiam inteiramente das comunidades de base européias, estas, sim, contestatárias da Igreja institucional e pregoeiras de uma pretensa Igreja brotada do povo através de um “assembleísmo” de cunho sócio-político, quando não revolucionário e iconoclasta. De volta à diocese em outubro de 1971, Almeida reassumiu as funções da coordenação. Sempre respaldado por dom Jaime, descortinou para a Igreja maringaense os caminhos de uma pastoral orgânica de íntima comunhão com as linhas da CNBB Regional e Nacional. Prova-o o 1º Plano de Pastoral Orgânica da Diocese de Maringá – 1973, que o bispo fez questão de apresentar não como “um som isolado na harmonia da Pastoral de Conjunto no Brasil”, mas como inspirado na metodologia e quadros de referência pastoral do Plano de Pastoral de Conjunto da CNBB, bem como está unido ao Plano Regional de Pastoral Orgânica do Paraná, Regional Sul II. Cada linha do nosso Plano consta de três partes: I – Justificativa e con-

6 As salas tinham sido transferidas pelas Paulinas à Mitra Diocesana, em pagamento do imóvel da Praça Napoleão Moreira da Silva onde instalaram a primeira livraria, precursora da atual. 7 Depois de um ano, Robles foi designado cooperador da catedral, ficando apenas Almeida no serviço da coordenação da pastoral diocesana.

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ceituação; II – Dados da realidade; III – Programação. E como fruto de um trabalho de reflexão conjunta, chegou-se à meta de se estruturar as Paróquias em Comunidades Eclesiais de Base – CEB – desenvolvendo as seis áreas da vida da Igreja segundo o nosso Plano de Pastoral de Conjunto, para o sucessivo crescimento do Reino de Deus (IGREJA CATÓLICA, 1973, p. 5). Visto assim à distância, não deixa hoje de surpreender o corajoso endosso episcopal à proposta das Comunidades Eclesiais de Base num tempo em que não havia suficiente clareza a seu respeito. Brotadas da vida pobre dos cristãos da Igreja latino-americana, as CEBs não representavam unanimidade entre o episcopado. Se, após reflexão madura, os padres e demais agentes da pastoral diocesana decidiram assumi-las como eixo orientador da vida cristã local, aí se descobre a lucidez da coordenação de Almeida. O mesmo se diga de dom Jaime, mestre e evangelizador primeiro, que sempre respaldou o seu trabalho. Poucas vezes terá havido no Paraná entre bispo e presbitério sintonia tão íntima quanto a diocese de Maringá conheceu naqueles dez anos (1972-1982). Animado com a linha seguida, o bispo enviou à Santa Sé o IV Plano de Pastoral Orgânica da Diocese de Maringá – 1976, colhendo a satisfação de ver estampadas no L’Osservatore Romano nada menos que 14 colunas de apreciação do documento, além de fotos da cidade de Maringá e de sua catedral. O órgão oficioso da Santa Sé anotou que com muito gosto dava a conhecer o plano, esperando que ele despertasse o interesse de assinantes e leitores, “começando por os levar a apreciar a dedicação inteligente, metódica e edificante com que o Episcopado Brasileiro se consagra à implantação e ao desenvolvimento do Reino de Deus em terras de Santa Cruz” (IV PLANO..., 1976, p. 5-8). Para a configuração do “rosto” que a Igreja de Maringá apresentou durante seguidos anos, foi decisiva a caminhada feita na década de 1972 a 1982. Nesse tempo, apesar de jovem, a diocese firmou-se como uma das mais fiéis às diretrizes adotadas em nível nacional e regional.

O Plano de Pastoral de Maringá de 1976, na edição em português do semanário L’Osservatore Romano, órgão oficioso da Santa Sé, publicado em várias línguas.

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Pelo tempo que lhe consagrou e pela visão teológico-pastoral demonstrada, avulta ainda a atuação de padre Vicente Costa, antes de tudo no biênio 1985-1986, quando esteve liberado para o serviço da coordenação pastoral da diocese. Sob seu lúcido comando a ação evangelizadora da Igreja de Maringá atingiu − sem nenhum ressaibo de lisonja − um nível eminente. Sempre em nível de coordenação, respondeu conjuntamente pelo conselho de presbíteros, pelas CEBs, pela catequese e pela pastoral de juventude, além de ministrar aulas no Seminário Arquidiocesano, em cujo prédio residia. Mostrou-se operário incansável na descoberta de respostas pastorais às necessidades, em seu tempo, da Igreja local. Em confirmação do que vai afirmado, recomenda-se vivamente a leitura dos XIII e XIV Planos de Ação Pastoral da arquidiocese. Após o doutorado feito em Roma e Jerusalém, padre Vicente reassumiu o cargo no período 1993-1997, acumulando-o desta vez com ofícios pastorais que lhe cobravam demasiada atenção e tempo. Nos períodos intermédios dessa fase e nos últimos dez anos, a arquidiocese não reuniu condições de liberar um padre unicamente para a coordenação da ação evangelizadora, o que comprometeu, em parte, a organicidade da pastoral. Ainda assim, importa reconhecer o trabalho desenvolvido por muitos de nossos presbíteros que, com grande sacrifício, deram o melhor de si no desempenho desse serviço. Acumulando-o com outras designações (quase sempre as de párocos), exerceram a coordenação arquidiocesana, inclusive em mais de uma oportunidade, os vigários episcopais dos anos 80, além de padres Júlio Antônio da Silva, Antônio Alczuk, Luiz Antônio Bento, Sidney Fabril, Antônio de Pádua Almeida e Israel Zago. Não obstante a dedicação com que todos se desincumbiram da função existe consenso na reconhecida necessidade de um padre liberado exclusivamente para esse serviço. Por carência de material humano, nessa condição a Igreja de Maringá contou com somente dois sacerdotes ao longo dos 50 anos de sua história: Almeida, por oito anos, e Vicente, por dois. Tudo indica não haver engano em situá-los como os dez mais produtivos anos da caminhada evangelizadora de nossa Igreja Particular.

Catequese, a educação da fé Depois dos dois anos de estudo na Europa, ao reassumir a coordenação da pastoral diocesana, Almeida se deu conta das mudanças que a diocese experimentara no período. Muita coisa, inegavelmente, havia mudado para melhor. Mas persistiam falhas pungentes, das quais continuava como mais sentida o reduzido número de padres. As muitas frentes de trabalho, que mais e mais se abriam, estavam a reclamar um número de operários maior do que o disponível. Por isso, além da evangelização de toda a arquidiocese, que lhe competia orientar globalmente, viu-se obrigado, na falta de outros, a tomar sob seu encargo também a condução diocesana da catequese infantil, dos adolescentes e dos jovens. Sua ligação com a catequese vinha dos tempos de Curitiba, do contato que os seminaristas do Seminário Rainha dos Apóstolos tiveram a felicidade de estabelecer com o catequista-mor do Paraná, padre Albano Cavallin, mais tarde bispo responsável pela catequese no Brasil e em toda a América Latina. Quando, em 1965, o Regional Sul II abriu seu departamento de catequese, os ainda seminaristas Almeida e Robles foram convidados a lecionar no curso para formação de catequistas. Coordenava-o padre Cláudio Ortigara, missionário saletino cujo nome se inscreveu, ao lado de padre João Batista Megale, CMF, nos primórdios do departamento de catequese do Regional. Ministrado no Colégio Divina Providência, em Curitiba, inspiravase no ISPAC – Instituto Superior de Pastoral Catequética, do Rio, e destinava-se a formar catequistas para as paróquias da capital. Foi o precursor do ISPAC do Paraná (1968) e da atual “Escola Catequética Emaús” (1990), de reconhecidos frutos para todas as Igrejas do Regional Sul II da CNBB.8 Na diocese de Maringá, os dois coordenadores de pastoral deram início, em 1968, à formação de catequistas em cursos dados nas paróquias, começando por Santa Maria Goretti, São Jorge do Ivaí e Paiçandu. Em meados de 1969, estando Almeida já em Roma, irmã Judite Arboite, missionária de Jesus Crucificado, e Robles, cooperador da catedral de Maringá, ministraram dezenas de cursos para formação de catequistas entre as professoras das escolas pertencentes ao Núcleo Regional de Ensino de Maringá.

8 Um apanhado histórico do caminho percorrido pela catequese do Regional Sul II pode ser visto em Chiquim, (2005, p. 290-297).

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A partir de outubro de 1971, no seu retorno, Almeida tornou-se responsável por implantar uma sólida coordenação catequética da qual fizeram parte, em épocas diferentes, catequistas como irmãs Judite Arboite, (†) Antona Dröge, Virma Barion, Petronila Maria Batisti, Maria Oda (Úrsula) Feit, Maria Beatriz Fernandes Ferreira, Judite Delmassa e cristãs leigas do porte de Cleuza Garutti, Maria Lúcia Guastala, Maria Aparecida Guelfi, Marta Maria Ramalho, Gracínia da Silva Batista, Maria de Fátima Palioto, Elenice Aparecida Esposte, Cristiane Gardiolo, e Regina Helena R. F. Mantovani, ao lado de muitas outras nas paróquias da hoje arquidiocese. Uma passada de olhos, ainda que rápida, sobre a história da catequese diocesana dá a conhecer um sem-número de pessoas, de iniciativas, de eventos e de material produzido − tudo endereçado a formar para a vida cristã desde os pequeninos até os adultos nas comunidades. Nos primeiros quinze anos vigorou a catequese tradicional do Brasil de então. Pelo esforço de cada padre em sua paróquia, com a inestimável colaboração de irmãos ou irmãs onde os havia, formavam-se catequistas saídos do meio dos congregados marianos, filhas de Maria e senhoras do Apostolado da Oração para levar as crianças à 1ª comunhão, festa anual que mobilizava as comunidades católicas. Exigia um ano de preparação, durante o qual era estudado, na forma de perguntas e respostas, o 2º Catecismo da Doutrina Cristã que, na 99ª edição, do ano de 1991, esclarecia: “Este Catecismo apresenta substancialmente o mesmo texto aprovado pelos Srs. Bispos do Sul do Brasil, em 1903, com ligeiras alterações” (SEGUNDO..., 1991, p. 4). Em 1972, surgiu a 1ª Equipe Diocesana de Catequese que, por falta de prédio da diocese no centro da cidade, instalou-se em sala cedida pela paróquia São José Operário. Atendendo pedido do bispo, as Missionárias do Santo Nome de Maria cederam irmã Antona Dröge para coordenar a catequese diocesana. A módica remuneração da equipe era garantida pela diocese com ajuda da organização alemã Adveniat. No ano seguinte, foi criado o Centro Catequético Diocesano. Com esse nome funcionou até 1977, quando passou a chamar-se Secretariado de Pastoral, sediado junto à igreja São José. Ao lado de irmã Antona, Almeida lançou-se à produção de apostilas, impressas com estafante trabalho no mimeógrafo Gestetner de tantas glórias, conseguido também com recursos de Adveniat. Ainda em 1972 ele ofereceu à diocese Adão, onde estás? – curso básico para catequistas, apresentado como subsídio do Secretariado Diocesano de Catequese. É desta época a iniciativa de separar a catequese paroquial da catequese escolar. Com o incentivo à formação de catequistas, houve significativo aumento do seu número em todas as paróquias. A 1ª Eucaristia, celebrada nas paróquias e comunidades, fazia-se anteceder de uma preparação de dois anos. Eram muitas as frentes a serem atacadas, desde a catequese das criancinhas até a dos adultos reunidos em grupos de reflexão. Em 1973, por iniciativa de irmã Neli Faccin, de Nova Esperança, que veio integrar a equipe central de catequese, aconteceu a primeira concentração diocesana de adolescentes, episódio que marcou o início da chamada catequese de perseverança, destinada aos que tinham feito a 1ª Eucaristia. Foi também um período notável de produção, sob influxo do coordenador de pastoral, de abundante material catequético diocesano. Para uso do clero de Maringá, Almeida publicou, ainda em 1973, o trabalho Comunidade Eclesial de Base: Caminhos para a Pastoral de uma Diocese, re-elaboração de sua dissertação defendida no Instituto Lumen Vitae de Bruxelas. Pela mesma época saiu Para Converter os Batizados, material de catequese de adultos, destinado a iniciantes. Entre 1973 e 1975, apareceu o curso denominado Sinais e Apelos de Deus em Nossa Vida, em duas etapas, a segunda com um total de 43 encontros (ainda chamados de aulas), que começou a ser utilizada em 1975. O material serviu de base à catequese infantil preparatória à 1ª Eucaristia, em dois anos, na época. Como a segunda etapa continha muitos encontros, alguns começaram a desmembrá-la, introduzindo uma terceira. Esse curso registra a influência de padre Vicente Costa, vigário ecônomo de São Jorge do Ivaí (1973-1978): o coordenador de pastoral se encarregava de estender a todas as comunidades as experiências paroquiais bem sucedidas. No ano de 1975, Almeida brindou a diocese com excelente apostila, na qual fornecia orientações e um roteiro mínimo para formação de grupos de reflexão, denominada A todas as gentes: roteiro de curso-encontro missionário. Na sua feitura contribuíram, conforme o autor, “indiretamente, todo o clero da diocese de Maringá; diretamente, padres Berniero Lauria, Vicente Costa, Valério Odorizzi e Edwin Parascandalo” (ALMEIDA, 1975, f. 30).

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No ano de 1974, a diocese produziu Promover o homem todo e todos os homens – subsídios para cursos na “linha 6”, com reuniões sobre os temas: higiene, verminose, alimentação, pronto-socorro, obstetrícia e puericultura; interessante trabalho num tempo em que não se ouvia falar de Pastoral da Criança nem de Pastoral da Saúde. No dia 22 de maio de 1976, Almeida apresentou o excelente Família, mão educadora do Pai, roteiro para reuniões de pais dos catequizandos, produzido por padre Vicente Costa, quando vigário de São Jorge do Ivaí, e assumido então pela diocese. Em 1978, a equipe foi reforçada com a presença de irmã Oda Feit que, ainda no mesmo ano, com o afastamento de irmã Antona, assumiu a coordenação catequética. Nesse ano foi lançado Somos Crianças de Deus - manual do catequista para pré-catequese, com 26 encontros além de rito de acolhida na comunidade. O cargo de coordenadora da catequese foi confiado, em 1980, a irmã Beatriz Ferreira, que nele permaneceu até 1985. Almeida produziu, no início de 1979, Pescadores de Homens – curso básico para formação de catequistas, em duas etapas, com apostila própria para cada uma, que saíram como publicação mimeográfica, sob égide da já arquidiocese de Maringá. Compôs também, com ajuda da equipe arquidiocesana, o manual de catequese infantil preparatório à 1ª Eucaristia − livro do catequista e livro do catequizando − em dois volumes, um para cada etapa. Com a contribuição de padre Vicente Costa, pároco de Sarandi (1979-1983), o manual foi aperfeiçoado fixando-se em três etapas (três anos) o período de catequese infantil, como se faz até hoje. Em 1981 teve início a produção do temário anual Ninguém Cresce Sozinho, para reuniões dos grupos de reflexão paroquiais. O nome pretendeu salientar a catequese como crescimento, ao longo de toda a vida, “na unidade da fé e no conhecimento do Filho de Deus” até chegarmos “ao estado de adultos, à estatura do Cristo em sua plenitude” (EFÉSIOS 4, 13). Lembrava também a dimensão comunitária da Igreja, corpo de Cristo (cf. 1CORÍNTIOS 12, 12-31), à qual a catequese deve integrar o catequizando, qualquer que seja sua idade. Com o mesmo nome e em dois volumes, foi publicado, no ano de 1983, um manual de iniciação à vida cristã comunitária, manual de catequese dos pequeninos (por volta dos 5-6 anos). Para a catequese infantil e dos adolescentes a diocese adotou, desde o lançamento, a coleção “Crescer em Comunhão”, publicada pelo Regional Sul II, a partir da experiência catequética pioneira de Francisco Beltrão (PR), acrescida da contribuição de Curitiba e das sugestões de todas as Igrejas do Paraná. Ainda nos anos 80, para formar animadores de CEBs, Almeida criou o subsídio Deus Mora Aqui. Em 1984, construídas as instalações da Cúria Metropolitana, o secretariado passou a ocupar algumas salas do novo prédio. Irmã Antona voltou a coordenar a catequese e, ao lado de padre Vicente Costa, de 13 a 18 de outubro de 1986, participou da 1ª Semana Brasileira de Catequese, em Itaici, município de Indaiatuba (SP). Ano seguinte, em 25-26 de junho, preparando a 1ª SEPAC − Semana Paranaense de Catequese, Maringá sediou o 1º Congresso Provincial de Catequese, com a presença de padre José Geeurickx, MSC, do Regional Sul II. Participaram cerca de 800 catequistas da Província Eclesiástica de Maringá. A 1ª SEPAC teve lugar em Curitiba, nos dias 6-10 de outubro de 1988, com 10 catequistas de cada diocese do Regional. Aí se afirmou a necessidade de maior formação para os catequistas, decidindo-se pela criação da Escola Catequética Regional Emaús, coordenada por irmã Araceli Glória Xavier da Roza. Em 1989, a coordenação arquidiocesana contou com o catequista Ivanir Teixeira de Carvalho, ao tempo em que irmã Antona se dedicava ao PROMEC, em Sarandi. Entrando os anos 90, foram realizados três congressos arquidiocesanos de catequese, embora sempre se chamassem “diocesanos”: o primeiro, na cidade de Marialva, em 1990; o segundo, em Mandaguaçu, em 1992; o terceiro, em Sarandi, no ano de 1996. Em trágico acidente automobilístico na Serra do Cadeado, veio a falecer, no dia 25 de novembro de 1992, irmã Antona Dröge, a grande catequista a quem a arquidiocese será para sempre devedora de gratidão inacabável. Em 1993, assumiu a coordenação arquidiocesana irmã Judite Delmassa, que permaneceu até o final de 2001. Mais tarde, Delmassa publicou, em 1995, rico trabalho destinado à formação do espírito missionário das crianças, a Noveninha da criança missionária. Com a participação de Delmassa, a catequese diocesana completou 30 anos de entrega à competência das zelosas Missionárias do Santo Nome de Maria. Em 2002, a coordenação passou às mãos da catequista Regina Helena Mantovani. Dois textos produzidos em Maringá foram assumidos pelo Regional Sul II e, apresentados por dom Albano Cavallin, mereceram publicação pela Editora Vozes, de Petrópolis. Em 1994 veio a lume Crescer com Jesus – Iniciação à Catequese,

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da autoria de Josie Agatha Parrilha da Silva e Regina Helena R. F. Mantovani, livro do catequista e fichas do catequizando. Em 2005 foi publicado o livro Semeadores da Palavra – Formação de Catequistas Iniciantes, dos autores Cacilda Gonçalves Gasparin, Cristiane Gardiollo, Ir. Judite Delmassa, Geraldo Conte Júnior e Regina Helena Ribeiro de Faria Mantovani. Ainda no ano de 2005, na paróquia Santa Maria Goretti, aconteceu o 1º Seminário Arquidiocesano de Catequese que, no entender de Mantovani, em vez de seminário, poderia ter sido realizado como 4° congresso arquidiocesano. Na qualidade de coordenador da ação evangelizadora, Almeida foi responsável ainda pela seriedade com que a diocese de Maringá assumiu a preparação dos sacramentos, em especial, do batismo. As paróquias se beneficiaram de bem elaborados roteiros para pais e padrinhos, que integravam o compromisso batismal à inserção das pessoas numa comunidade concreta. Casavam-se, dessa forma, o interesse dos fiéis pelo sacramento com o modelo eclesial das CEBs proposto pela diocese. O senso de unidade e o pulso de pastor acompanharam dom Jaime no respaldo jamais negado às decisões conjuntas do presbitério. Os mais antigos recordam a expressão “paróquias-esgoto”, duro qualificativo criado por ele para condenar a jamais admitida anomia de conferir sacramentos com desprezo das orientações teológico-pastorais diocesanas. À época, em diocese vizinha, tornaram-se famosas duas paróquias que, aos domingos, recebiam dezenas de ônibus de “pára-quedistas” interessados unicamente no rito batismal. Esgotadas as tentativas de diálogo com os vigários, as cobranças de providências foram encaminhadas ao bispo. Sem resultado, entretanto. Numa reunião interdiocesana, ao receber, pela enésima vez, queixa contra um dos renitentes padres, o pobre bispo desabafou: “Que vocês querem que eu faça? Que eu mate o padre?”.

Jovens, a montagem do futuro No tocante à pastoral com jovens o papel de Almeida revestiu igualmente importância capital. Em 1973, depois do CLC – Curso de Liderança Cristã, que fez em Mendes (RJ), deu início ao trabalho precursor de uma pastoral da juventude daquele tempo. Ao primeiro encontro do TLC – Treinamento de Liderança Cristã levou um grupo pioneiro de jovens maringaenses do qual participaram, entre outros, Vera Rodrigues, Sumie Shima, Maria Auxiliadora de Souza Pedrosa (Síli), Vitória Maria Bornadelli, Antônio Mamprin, Pedro Vier, Edson Cantadori Filho, Pedro Fonzar, José Antônio Sapata e Nelson Elias Aiex (Turco). Alguns voltaram com Almeida para encontros de continuidade. Pela mesma época, em Marialva, Robles desenvolvia trabalho paroquial com jovens, a partir do “Dia da Verdade”, dirigido por gente de Londrina, no final de 1972. O grupo londrinense era assistido por padre Trajano M. Horta, salesiano de imensa aceitação entre a moçada daquela cidade. De início, Robles participou ocasionalmente dos encontros de Londrina promovidos por Trajano. Depois, juntou-se a Almeida para montagem do projeto de formação de jovens da diocese, reclamado também aqui. Foi necessário o auxílio de rapazes e moças de Londrina ou de Apucarana que vinham, no começo, colaborar com nossos dias de formação. Os mais vividos recordam figuras, prenomes e alcunhas que se tornaram caros entre nós, como Macapá, José Antônio, Tainha, Suzy, de Londrina, e Caramori, de Apucarana. Padre Berneiro Lauria, pároco de Nova Esperança, a quem os jovens dedicavam imenso carinho, logo se integrou a Almeida e Robles. Ex-missionário na Indonésia e sacerdote exemplar, sua presença enriqueceu o trabalho daqueles primeiros tempos. Apesar dos diferentes nomes e pequenas variações em cada lugar, o movimento de jovens apresentava-se basicamente como reprodução do Cursilho de Cristandade. Consagrava o esquema de encontros masculinos ou femininos em três noites e três dias de curso intensivo, seguido pelo engajamento dos grupos que continuavam reunindo-se na base paroquial. Coube a Almeida, com sua criatividade, elaborar um encontro de jovens tipicamente maringaense, com dinâmica e temário próprios, além de inserir na sua estrutura a participação de pais, mães e também de crianças, formatando-o à vida comunitária da Igreja, dando-lhe um cunho de família. Na busca de uma pastoral orgânica, integrou o movimento jovem dentro das seis linhas do PPC, possibilitando a formação, desde cedo, de lideranças paroquiais comprometidas com a ação evangelizadora da Igreja conduzida pelos seus legítimos pastores, os bispos. O “movimento” juvenil da diocese não se caracterizava então por nenhum dos senões de

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que se acoimam por vezes os movimentos; ao contrário, integrava-se harmonicamente às diretrizes da Igreja diocesana, regional e nacional. Além de Almeida, Robles e Lauria, no trabalho que se estendeu por anos a fio, também outros deram ajuda preciosa: dom Jaime, que no meio dos jovens não se mostrava distante nem pela idade nem pelo cargo, padres Roberto Kuriyama, Vicente Costa, Edwin Parascandalo, Francisco Jobard, Mário Tesio, José Vieira da Silva, José Bortolotte e, excepcionalmente, outro que mostrasse disposição. Para garantir aos jovens engajados, depois do encontro inicial, a solidez de líderes cristãos, lentamente foi tomando corpo algo novo que, por fim, se definiu como “BR3 – Base de Reencontro e Reflexão Religiosa”. Escolhido por Almeida, o nome remetia ao sucesso musical de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, defendido no V Festival Internacional da Canção, em 1970, por Antônio Vianna Gomes, conhecido no mundo artístico por Tony Tornado, “porque dançava feito um furacão”. Do BR3 cuidaram tão somente os criadores Almeida e Robles. Tratava-se de um modelo básico de formação, distribuída por 60 horas praticadas em comunidade e distribuídas em estudo, oração individual e comunitária, celebrações litúrgicas e para-litúrgicas, trabalho, teatro e recreação conjunta. Dividido em duas etapas separadas por intervalo de um mês, o BR3 integrava rapazes e garotas, ao tempo em que lhes propiciava uma experiência de profunda amizade, respeito, alegria e espiritualidade da Igreja. Pelo testemunho dos seus participantes e pelos frutos que até hoje subsistem, passados mais de 30 anos, para quem o conheceu o BR3 firmou-se como o mais sólido programa levado a efeito em Maringá na evangelização de jovens do meio urbano. A posse como pároco de Mandaguaçu, no final de 1979, obrigou Almeida a se distanciar do trabalho que, por tanto tempo, tinha desenvolvido com brilhantismo no rumo de uma pastoral de juventude na diocese. A partir dos anos 80, a evangelização de adolescentes e jovens na arquidiocese foi entregue à responsabilidade de vários padres, de religiosas e de cristãos leigos que buscaram, sempre com louvável dedicação, responder às exigências pastorais dessa rica e desafiadora parcela da Igreja e da sociedade. Para um conhecimento do atual trabalho com jovens desenvolvido pela arquidiocese de Maringá, especialmente a partir da assessoria de padre Ivaldir Camaroti dos Reis, pode-se recorrer à consulta na Internet, acessando o site http://www.pjbmaringa.pop.com.br.

Encontros de jovens

Equipe de cozinha - 22 de dezembro de 1973.

Masculino - 10 de agosto de 1975.

Feminino - 12 de outubro de 1975.

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Memória, quase história Crônica para nossos meninos Acostumamo-nos a vê-los como parte da nossa vida. Sua presença ao nosso lado, e a nossa no meio deles pareciam-nos as coisas mais naturais do mundo. Éramos padres jovens, apenas concluídos os estudos. Não sentíamos distância deles, todos ainda estudantes. Eles nos tinham como orientadores, mas nós assim não nos considerávamos. Éramos tão somente irmãos mais velhos. Viam-nos tão próximos que nunca nos chamavam padres. Ninguém, no entanto, jamais nos tratou com tamanho respeito. Ouvíamos suas angústias, discutíamos seus problemas, acompanhávamos suas lutas. Entrávamos em suas casas como se fossem nossas. Seus pais se habituaram a ver-nos como gente da família. Não havia preocupação de horário. Era comum começarmos uma reunião às onze da noite, depois da faculdade, como se falava na época. Ninguém estranhava que o Lauria¹ voltasse, às duas da madrugada, para Nova Esperança. Eram outros tempos. Talvez não fôssemos tão exigidos como hoje. Ou, quem sabe, mais novos, tivéssemos maior disposição para o trabalho e não nos cansássemos com facilidade. Cresceram conosco. Amadurecemos com eles. Ensinamos e aprendemos. Foi uma troca tão intensa de vida que o tempo não conseguiu destruir. Acompanhamos os namoros. Abençoamos os casamentos. Batizamos os filhos. Celebramos a Eucaristia com eles e com as crianças. A dura batalha da sobrevivência dispersou-os. Encontram-se um pouco por todo canto. Hoje são adultos que, com nosso amor e nossa fraqueza, ajudamos a formar. Para nós, continuam o que sempre foram: os nossos meninos. Agora entendemos o que sentem os pais quando os filhos crescem. E, como os pais, experimentamos quanto pode doer o carinho que lhes dedicamos. Sempre os alertamos para a rudeza da vida. Para a necessidade da fortaleza interior. Para a construção de uma personalidade sólida, fundada na fé, sustentada na fidelidade a valores que não passam. Nunca lhes escondemos que o heroísmo é exigência de cada dia. Lá no fundo, porém, provavelmente alimentássemos a esperança de que não precisassem comprová-lo. Ou que o fizessem muito, muito mais tarde, quando já não estivéssemos presentes. Quando não mais precisassem de nós na hora da cruz. É natural supor que os mais velhos sejam chamados primeiro. Pensávamos que, como o Lauria, iríamos também na frente. Não podíamos imaginar que nos precederiam à casa do Pai gente jovem como o Singh² e o João Carlos³, que conhecemos meninos. Os nossos meninos (ROBLES, 1995, p. 12). ___________________ ¹ Padre Berniero Lauria, pároco de Nova Esperança, faleceu em Eboli, Itália, no dia 15 de outubro de 1983. ² José Roberto Singh morreu de câncer, em Maringá, a 8 de julho de 1995.  ³ João Carlos Clemente faleceu, vítima de ataque cardíaco, aos 12 de agosto de 1995, em Cascavel.

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Comunidades Eclesiais de Base Desde a chegada a Maringá, dom Jaime mostrou-se inquieto com o crescimento dos bairros, já que não dispunha de padres para encaminhar a novas paróquias que entendia necessárias, mas sem condição de erigir. Buscava a colaboração das religiosas, pedindo-lhes que, nos finais de semana, saíssem de casa, encaminhando-se a algum trabalho evangelizador em áreas afastadas do centro da cidade. A partir de 1971, finalmente, conseguiu atender ao anseio alimentado por tantos anos. Confiou a responsabilidade da assistência pastoral dos bairros ao recém-ordenado padre Valério Odorizzi, que recebeu ajuda das comunidades religiosas, cada uma ocupando-se de um setor, além do reforço de lideranças leigas suscitadas pelo MCC – Movimento de Cursilhos de Cristandade. Nascido no meio da JACE – Juventude da Ação Católica Espanhola, da diocese de Palma de Mallorca, com grande incentivo do bispo diocesano, dom Juan Hervás, o MCC foi organizado a partir de agosto de 1948, em vista da grande peregrinação de jovens para Santiago de Compostela. Em 1953, dom Hervás usou pela primeira vez o nome “cursillos de cristiandad”, querendo referir-se não à cristandade medieval, mas ao modelo de vida das primeiras comunidades cristãs dos Atos. No Brasil o primeiro cursilho aconteceu em Valinhos (SP), no ano de 1962. Em 1970, a diocese de Maringá começou a encaminhar candidatos a Londrina e Curitiba. A partir de 1972, com seu estabelecimento na diocese, o MCC entrou a fornecer agentes de pastoral que deram sustento ao trabalho de Odorizzi. Depois dos saudosos tempos do marianismo, outra força despertava agora na Igreja para dotar a comunidade de líderes cristãos.9 Em conexão com o coordenador de pastoral, vivamente interessado na implantação do novo modelo eclesial representado pelas CEBs, Odorizzi lançou-se à formação de comunidades nos bairros. Assim, em 1974, publicou seu I Plano de Pastoral Orgânica dos Bairros da Cidade de Maringá, em cuja apresentação, dom Jaime escreveu: Eu tive um sonho [...] quando, em 1957, eu cheguei a Maringá, encontrando a imensa cidade com apenas duas paróquias e os bairros crescendo e se povoando, eu sonhava como dar assistência religiosa a esses bairros. Onde encontrar aqueles que pudessem ser a longa mão do Bispo para chegar a todos esses lares, a essas praças, ruas e vilas. O trabalho começou lento, com a dedicação apostólica das Congregações Marianas, Filhas de Maria e Senhoras do Apostolado da Oração. Foi acrescido com a ajuda das Irmãs, que foram chegando a Maringá. Desenvolveu-se com a abertura de Casas Religiosas nos Bairros, Colégios, Obras de Assistência Social e o imenso desejo de conservar Maringá para Cristo. E hoje, posso dizer: Eu tive um sonho que se tornou realidade! É este [...], baseado em nosso 2º Plano de Pastoral Orgânica da Diocese de Maringá, que tem a sua origem no dedicado trabalho do querido Padre Valério Odorizzi na Pastoral dos Bairros, coadjuvado pelas dedicadas Religiosas e nossos Leigos cristãos que descobriram o Cristo e O querem levar a seus irmãos. Quando hoje se processa uma renovação na estrutura das paróquias, pensando-se nas Comunidades Eclesiais de Base como ponto válido de partida para uma tomada cristã de consciência, nos moldes do Vaticano II, só tenho motivos para agradecer a Deus a realidade do meu sonho − uma assistência espiritual aos bairros com o despertar da valorização da pessoa humana em todos os ângulos − e para abençoar o abnegado e valoroso trabalho de todos esses queridos colaboradores (ODORIZZI, 1974, p. 1). O trabalho de Odorizzi visava, em essência, ajudar os párocos a implantar CEBs em suas paróquias. Como se tratava de proposta nova, muitos acusavam dificuldade para a sua execução. Mais do que recomendação teórica sobre seu valor e oportunidade, a diocese oferecia, através da Pastoral dos Bairros, uma ajuda prática para o despertar das CEBs. O grande instrumental criado por Odorizzi foi o CAC – Curso de Atualização Cristã, onde eram formados líderes para as comunidades. Valendo-se de um treinamento de 30 horas, com estudo do conteúdo básico da fé, do PPC e exercícios práticos da criatividade comunitária − os “16

9 Na Igreja de Maringá, Cursilho de Cristandade e MFC revelaram-se, desde o início, perfeitamente integrados às diretrizes da pastoral diocesana.

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sistemas” do método criado pelo sociólogo Waldemar De Gregori − o CAC capacitava agentes comunitários, levando-os à responsabilidade por uma comunidade concreta. A equipe formada por Odorizzi compunha-se de 9 religiosas de várias congregações e de 16 casais despertados pelo cursilho, dos quais fizeram parte nomes conhecidos na cidade, como Atair Niero, Tomás Negreiros, Ermelindo Bolfer, João Penha, Antônio Scramin, Benedito Souto Maior, Said Felício Ferreira, Paulo Jacomini, Hélio Moreira, Osvaldo Vieira, Luiz Icizuka, Said Jacob, Wilson Surita, Aníbal Bianchini da Rocha, José Mário Paro, Wanderley Batista da Silva e muitos outros. Foi a partir desse notável trabalho que surgiram CEBs, ainda hoje atuantes, em bairros como Jardim Alvorada, Morangueira, Mandacaru e Jardim Santa Isabel. Escusado dizer que a Pastoral de Bairros, assim como qualquer outra iniciativa de Igreja, mantinha íntima unidade com a coordenação diocesana. Os anos 70 representaram para a Igreja de Maringá um período de grande vigor, em parte devido à liderança de Almeida, auxiliar direto do bispo, a quem acompanhava nas grandes reuniões de estudos e decisões de âmbito regional e nacional. Mais de uma vez o episcopado paranaense requisitou a sua liberação para ocupar a secretaria executiva do Regional Sul II da CNBB, mas a diocese não podia abrir mão de um colaborador indispensável. Por essa razão, seu nome não consta no rol dos secretários executivos do Regional, do qual fazem parte frei Agostinho Sartori, dom Pedro Fedalto, padres Albano Cavallin, Ives Pouliquen, Miguelangelo Rameiro, Ângelo Perin, Silvino Chiamolera, Filberto Penisson e Carlos Alberto Chiquim (CHIQUIM, 2005, p. 275). Sua capacidade atestam, além de Maringá, muitas dioceses que o convidaram repetidas vezes para cursos de formação e ajuda no processo de planejamento pastoral. Um, entre vários exemplos, foi o seminário sobre CEBs, de responsabilidade do Regional Sul II, acontecido em 1972.10 Conforme previsão do 2º Plano Regional de Pastoral Orgânica do Paraná (1971-1972), foi realizado em Maringá, de 1º a 3 de maio de 1972, o Seminário sobre CEBs ao qual se fizeram presentes representantes da arquidiocese de Londrina e das dioceses de Apucarana, Jacarezinho, Maringá, Campo Mourão, Paranavaí, Palmas e Toledo. Não enviaram representação: Curitiba, Paranaguá, Ponta Grossa e Guarapuava. O encontro constou de uma visão da realidade, com depoimentos sobre as experiências concretas de CEBs postas em prática em uma paróquia-piloto de cada diocese do Regional. Na seqüência, à luz de critérios específicos, foi apresentada uma interpretação crítica dessas experiências comunitárias. Neste ponto houve necessidade de recurso a peritos especialmente convidados: para análise teológica, padre Antônio de Pádua Almeida; para interpretação sócio-econômica, professor Oscar Sanches; para aportar critérios metodológicos, professor Paulo Simião. Almeida focou a “conceituação da eclesiologia que sustenta a atual pastoral das CEBs”. Por atual entenda-se a situação eclesiológica e pastoral de então. Com base na reflexão dos peritos sobre a realidade apontaram-se sugestões e diretrizes para as CEBs do Paraná. Como proveitoso saldo de um período de compromisso explícito com as CEBs, perdura na Igreja de Maringá o cuidado de conferir à paróquia o caráter de núcleo aglutinador de comunidades, em vez de reduzi -la a uma central de “produtos” religiosos, como não é difícil de encontrar em alguns lugares. Dada a sua natureza de Igreja em ponto menor, a CEB assegurou à organização de muitas paróquias da diocese uma tônica de direcionamento para a vida comunitária e, ao mesmo tempo, para a descoberta e formação de lideranças leigas em função da evangelização inculturada, comprometida com suas quatro exigências intrínsecas: serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão. Isso, porém, não exclui as provações que a Igreja, comunidade divino-humana sujeita às leis da história, se vê impelida a enfrentar, malgrado toda a proteção que lhe garante aquele que a sustenta com o poder do alto. Apesar dos muitos obstáculos, a Igreja de Maringá caminhou desde o início dos anos 70 até 1996, pela senda das CEBs como forma de viver a fé, incorporando as novas situações que a realidade ia suscitando. Assim, a grande assembléia arquidiocesana do dia 8 de novembro de 1992, conduzida por padre Vicente Costa, ensejou o lançamento do XVI Plano de Ação Pastoral, que apresentou no marco operacional três prioridades pastorais. A primeira e ainda principal forma de realizar a Igreja

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10 O seminário, na verdade, chamou-se de Pastoral Rural, mas versava sobre CEBs, com a apresentação de paróquias-piloto estruturadas em CEBs (como Mandaguaçu, paróquia-piloto da diocese de Maringá). Em carta de 23 de maio de 1972, padre Élio J. Dall’Agnol, em nome do arcebispo de Curitiba, agradeceu a Almeida o “envio das Conclusões do Seminário sobre as C.E.B.”, ressaltando o “trabalho de peritos no assunto, principalmente tendo como coordenador um mestre sobre C.E.B. que é você, pe. Almeida”.

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em Maringá continuava apontando para as mesmas Comunidades Eclesiais de Base dos primeiros tempos do serviço de coordenação pastoral. As demais prioridades, entretanto, expressavam anseios de novos espaços humanos. Para o período 1993-1996, a Igreja de Maringá definiu como segunda prioridade pastoral a evangelização da cultura urbana e, como terceira, a educação. Como notou padre Vicente, a análise da realidade, “feita pelo arcebispo, padres, irmãos e irmãs, leigos e leigas engajados na vida da Igreja” marcou essas opções como prioridades, isto é, como destinatárias da maior soma de recursos espirituais, humanos, intelectuais, operacionais e financeiros da Igreja na arquidiocese. Essa assembléia arquidiocesana de pastoral concluiu pela manutenção dos três vicariatos episcopais, reconhecendo a necessidade de subdividir o vicariato centro em 3 grupos de paróquias, que passaram a integrar o centro-1, centro-2 e centro-3. A partir da grande geada de 1975, a vitalidade das CEBs na vida diocesana sofreu duro impacto. Somado à transformação que os governos militares impuseram à economia nacional, o fenômeno climático acelerou o esvaziamento da zona rural, determinando mudança drástica no perfil dos municípios menores e inchaço dos centros de região. Parte considerável da população da diocese emigrou para novas fronteiras agrícolas no Triângulo Mineiro, Mato Grosso, Bahia e Maranhão; para áreas industriais da grande Curitiba, Campinas, Americana, Jundiaí e São José dos Campos, ou ainda decidiu tentar a sorte no exterior, em países como Japão, Espanha, Portugal, Inglaterra e Estados Unidos da América. Em termos regionais, houve forte mobilização de gente do interior da diocese e de outras origens para a região metropolitana, representada por Maringá com as vizinhas Sarandi e Paiçandu (estendendo-se, em menor grau, até Marialva, Mandaguaçu e Mandaguari). O afluxo de novos habitantes ao único pólo regional da diocese não veio, porém, acompanhado do atendimento às necessidades humanas fundamentais como emprego, moradia, saneamento, escola, saúde, segurança, transporte e demais exigências de uma vida digna. Despojada das antigas identidade e participação que conhecia nas CEBs, muita gente precisou sujeitar-se à nova situação – de perda do referencial comunitário, de desenraizamento das origens, de solidão e anonimato na vida urbana, de esgarçamento dos laços familiares – e a outros desafios para os quais não se encontrava minimamente capacitada. Por outro lado, também sobre a população da diocese incidiu de forma inescapável o fenômeno da globalização e da chamada “pós-modernidade” com os conhecidos efeitos de massificação, busca da eficácia técnico-científica e da satisfação imediata, individualismo ético, culto do subjetivismo e valorização do emocional. As novas modalidades do agronegócio e dos serviços, assim como a corrida atrás do sonho do milagre brasileiro, exacerbaram a diferença entre uma minoria bem sucedida e a maioria que apenas sobrevive, às vezes, mergulhada em sofrimento atroz. Pelo seu caráter intimista e pela expectativa de satisfação imediata das necessidades individuais, as novas propostas religiosas reforçaram, em não pouco, as dificuldades para o exercício do “ethos” solidário e co-responsável pregado pelas CEBs. Mesmo dentro da Igreja Católica, novos movimentos eclesiais aos poucos foram, senão obscurecendo, pelo menos relativizando alguns apelos fortes do Concílio Vaticano II, expressos em particular, nas constituições Lumen Gentium e Gaudium et Spes. Todas essas variáveis apontam para uma Igreja em busca de posições possivelmente inéditas, reclamadas pela hora atual. Entrando no novo século e novo milênio, cabe-lhe confrontar realidades e situações antes desconhecidas: a cultura urbana; a economia com suas injustiças de raiz; as tecnologias na comunicação; a fé para uma sociedade pluralista; os questionamentos inéditos para a teologia moral (da bioética, por exemplo); a situação das minorias; as necessidades vitais da juventude... Tal como a Elias, o anjo do Senhor segue advertindo os modernos profetas da Igreja de Maringá: “Levanta-te e come. Ainda te resta longo caminho a percorrer” (1REIS 19, 7).

Província de Londrina Pertence ao início dos anos 70, mais precisamente, ao dia 31 de outubro de 1970, a criação da arquidiocese de Londrina, antigo desejo, entre outros, do bispo de Maringá, que sempre considerou o Norte do Paraná identificado muito mais com o vizinho São Paulo do que com o Sul do Estado. Passada a veleidade do Estado do Paranapanema, entendia o bispo de Maringá que do ponto de vista eclesial, o Paraná representava

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pelo menos duas realidades inteiramente distintas a serem, como tais, regidas. Assim, foi com satisfação que recebeu a criação da nova Província Eclesiástica, cabendo-lhe a honra de, em nome dos bispos sufragâneos, saudar dom Geraldo Fernandes, CMF, na sua posse como primeiro arcebispo de Londrina, cargo que exerceu até a morte, ocorrida em 29 de março de 1982. Com a sé vacante, dom Jaime foi nomeado administrador apostólico de Londrina. Durante dez meses governou as duas Províncias Eclesiásticas do Norte do Paraná, de vez que Maringá, desde 1979, era também sé metropolitana. Exerceu o múnus de administrador apostólico de Londrina até 28 de janeiro de 1983, ocasião em que foi empossado o novo arcebispo, dom Geraldo Majella Agnelo, bispo de Toledo (PR) até àquela data. Na condição de arcebispo das duas províncias, dom Jaime foi eleito, em 1978, juntamente com o arcebispo de Curitiba, dom Pedro Fedalto, para integrar, em nome do Regional Sul II, o grupo dos 37 bispos brasileiros enviados a participar da III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Puebla, no México, prevista para o mesmo ano, o décimo depois da assembléia de Medellín (1968). Tendo em vista o falecimento, em 6 de agosto de 1978, do papa Paulo VI, só no ano seguinte, reassumida e convocada pelo papa João Paulo II, foi possível a realização, de 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979, da conferência de Puebla.

Projeto Igrejas-irmãs Vivamente aconselhado pela CNBB, em vista das grandes desigualdades regionais, o projeto Igrejas -irmãs tem por objetivo levar as Igrejas mais dotadas de recursos humanos, pastorais e financeiros a assumir fraternalmente Igrejas em situação de maior carência, prestando-lhes ajuda para superação de seus problemas. Durante a 14ª Assembléia Geral da CNBB, de 19 a 27 de novembro de 1974, em Itaici, dom Marcelino Sérgio Bícego, capuchinho italiano, bispo-prelado de Carolina (MA), lançou ao plenário um pedido de ajuda, recebendo de dom Jaime a aceitação de Carolina como Igreja-irmã de Maringá, fraternidade oficializada em julho do mesmo ano. O primeiro contato do bispo de Maringá com a Igreja-irmã aconteceu nos dias 16-21 de dezembro de 1975, tendo-o Bícego recebido em Imperatriz, única cidade do Maranhão, além da capital, a receber aviões de grande porte. Em 1976 deu-se intercâmbio de visitas, com a vinda de dom Marcelino a Maringá no dia 10 de maio, aniversário da cidade. Visitando a paróquia de Marialva, mostrou-se surpreso com a intensa participação cristã dos jovens. Apoiado por dom Jaime que o acompanhava, praticamente exigiu que padre Orivaldo Robles, o pároco, acompanhado de jovens da diocese de Maringá, se deslocasse a Carolina para lá promover dois encontros, um masculino, outro feminino, com jovens da prelazia. Tudo aconteceu de forma muito rápida, ficando acertado que, já no próximo mês de julho, deveriam estar no Maranhão. O livro do Tombo da paróquia de Marialva registrou o fato, situando a saída dos jovens no dia 6 de julho. Nos assentos referentes a julho de 1976, lê-se: 6 – Saída para Carolina dos jovens que me acompanharão nos encontros que faremos com jovens de lá. Foi uma luta a preparação. Superadas mil dificuldades de toda ordem (familiar, econômica, intelectual, de maturidade, de transporte etc.), ficou decidido: Pe. Almeida me substituirá na Paróquia, residindo na mesma casa que eu. Fará companhia, inclusive, à jovem esposa do Ademir Boschini, que também irá a Carolina. Cuidará dela, pois está grávida e teve problemas de saúde. Registro o fato, pois me parece comovedor: a amizade e confiança deste casal, a total fraternidade com os sacerdotes. Esperam o primeiro filho e aceitam separar-se por quase duas semanas, indo ele para um trabalho apostólico a mais de 2.000 km e ficando ela confiada aos cuidados de um padre amado e aceito como irmão. Os jovens que vão a Carolina são oito, quatro rapazes e quatro moças, de Maringá e Marialva. De Maringá: Yassushi Shima, Amauri Meneghetti, Wilson Saenz Surita Jr e Maria Christina Macedo Alves. De Marialva: Ademir Boschini (o único casado), Alice Boschini (sua irmã), Maria Geralda Vieira e Neuza Maria Dada. Viajam numa camioneta Chevrolet, modelo Veraneio, alugada para isso. Viajarei depois de amanhã, de avião, indo a Imperatriz e, de lá, a Carolina. 12-13 – Curso-retiro para jovens no Seminário de Carolina. O primeiro para rapazes, o segundo para moças. O comportamento dos nossos oito jovens da diocese de Maringá

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foi alguma coisa de grandioso. A presença e atuação desta gente maravilhosa dificilmente poderiam ser melhores. Muito mais que o trabalho que fiz como padre valeu o testemunho vivo dos nossos rapazes e meninas. Dom Jaime passou praticamente todo o mês de julho visitando, uma por uma, todas as paróquias da Igreja-irmã. Sua presença e companhia trouxeram um colorido particular ao nosso trabalho. Dom Marcelino, frei Defendente, frei Humilde e irmã Hermínia nos renovaram em nossa fé e amor à santa Igreja de Deus. Nosso trabalho serviu-nos como renovação espiritual mais intensa que um retiro inaciano de 30 dias. A Igreja é, de fato, uma obra de amor do próprio Deus. Só ele seria capaz de realizar algo assim. Pensávamos levar algo: na verdade, nós é que ficamos enriquecidos espiritualmente. Não há o que explique esta experiência de vida cristã: só o vivê-la permite avaliar seu real dimensionamento (PARÓQUIA DE N. S. DE FÁTIMA DE MARIALVA, 1951, f. 70). Em Carolina os jovens da diocese e Robles encontraram dom Jaime, que passou todo o mês de julho em autêntica visita pastoral percorrendo cada uma das comunidades da prelazia. Anteriormente, como representantes da diocese de Maringá, já haviam permanecido pelo espaço de uma semana em Carolina padre Almeida, irmã Antona Dröge, Atair e Cláudia Niero, que desenvolveram trabalho missionário na linha da catequese e da formação de agentes pastorais. Almeida voltou ainda outras vezes para ajudar no processo de planejamento pastoral. A prelazia de Carolina foi elevada à condição de diocese no dia 7 de dezembro de 1979, ao mesmo tempo em que dom Marcelino Sérgio Bicego se tornou primeiro bispo diocesano. Convidado por este, após participar da assembléia de Puebla, entre os dias 11 e 17 de novembro de 1979, dom Jaime esteve em Carolina para ministrar curso sobre as conclusões daquela assembléia continental. No dia 23 de fevereiro de 1980, consternada, Maringá recebeu a notícia do falecimento, dia anterior, às 16h00, em Belém, vitimado por leptospirose, de dom Marcelino, o bispo que se tornou profundamente querido entre nós. Com a Igreja-irmã sem bispo, dom Jaime lá voltou, no dia 19 de março de 1980, para ordenar presbítero o diácono Tarcísio Cardoso da Silva, daquela Igreja. O segundo bispo de Carolina, dom Alcimar Caldas Magalhães (1981-1990) também visitou Maringá, permanecendo aqui por vários dias. Decorrido não muito tempo, o projeto de fraternidade entre as duas dioceses entrou em declínio, até ser abandonado, conforme dom Jaime, por desinteresse do então bispo da Igreja maranhense. Na mesma linha da CNBB nacional, entre os anos 1989-1995, o Regional Sul II cultivou um trabalho missionário motivando as Igrejas Particulares do Paraná a se abrirem às carências de outras regiões, através do “Programa Igrejas Irmãs”. O objetivo era colaborar oferecendo equipes de padres, religioso(a)s e leigo(a) s para áreas de migração populacional daqueles que, saídos do Paraná, se transferiram para Rondônia e Mato Grosso. Depois de 1995, o programa deixou de ser regional e foi assumido pelas dioceses.

Projeto Igrejas-irmãs no Maranhão

Irmã Antona, dom Marcelino, padre Almeida, irmã Hermínia.

Curso de catequese em Carolina, 1976. Sentado no pára-lama, frei Defendente Rivadossi; atrás dos jovens, irmã Hermínia, gaúcha das irmãs de Santa Teresa; padre Almeida ao volante (do lado direito: veículo europeu antigo).

Irmã Antona com jovens catequistas da prelazia.

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Desde os inícios da década passada, Maringá vinha mantendo parceria com a Igreja da Amazônia. Atendendo pedido de dom Geraldo Verdier, bispo de Guajará-Mirim (RO), pelo espaço de três anos, padres que lecionavam no Seminário Arquidiocesano de Maringá deslocaram-se, nas férias escolares, até à sede daquela diocese, na fronteira com a Bolívia, a fim de ministrar aulas a alunos do curso de Filosofia. Entre 1992-1994 lá cumpriram temporadas letivas os padres Júlio Antônio da Silva, Leomar Antônio Montagna, Paulo Campos e Luiz Antônio Bento. A partir dessa ajuda, Verdier pediu a Maringá, por “empréstimo”, um padre disposto a fazer uma experiência de missão. Por três anos inteiros (2002-2004), trabalhou como missionário em Guajará-Mirim padre Francisco Gecivam Vieira Garcia. No biênio 2005-2006 substituiu-o padre Luiz Carlos de Azevedo que, por sua vez, no início de 2007, cedeu lugar a padres Obelino Silva de Almeida e Maurício Vicente de Oliveira.

Projeto Igrejas-irmãs nos anos 90

Pe. Francisco Gecivam em Guajará-Mirim-RO.

Desde então, além do envio de padres, Maringá tem recebido, todos os anos, seminaristas dos cursos de Filosofia e Teologia das dioceses de Guajará-Mirim e de também de Carolina, colaborando assim na formação do clero dessas Igrejas. O programa Igrejas-irmãs procura manter aguçada na arquidiocese de Maringá a sensibilidade para com o sofrimento de outras Igrejas em situação semelhante (quando não pior) à enfrentada por dom Jaime nos idos dos anos 50.

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O que ninguém escreveu Episódios pitorescos vividos por nossos padres dos primeiros tempos, alguns já chamados à casa do Pai.

Espetáculo Padre Júlio Hartmann, vigário de Tamboara, era um gaúcho imenso. Além de alto como um pinheiro, ostentava uma gordura descomunal. Sua massa corpórea próxima dos 200kg tornava-o uma ameaça para cadeiras e camas. Quando vinha ao retiro espiritual no seminário, era preciso “importar” da Santa Casa uma cama de hospital, de estrutura de ferro, suficientemente forte para não arriar com o ocupante. Por um tempo, em 1967, esteve na paróquia de Mandaguaçu ajudando padre Berniero Lauria. Por mais que tentassem, as pessoas não conseguiam disfarçar a curiosidade. Era volumoso demais para não atrair os olhares. Cansado de servir de diversão, quando via alguém tentando disfarçar o riso, padre Júlio não perdia a calma: “Pode rir. Você provavelmente nunca se divertiu com algo tão honesto”.

Receita Quem viajou, antes de 1960, pelas estradas deste Norte do Paraná, jamais vai esquecer. Não era só a poeira, fina como talco, que penetrava nos poros: ao fim de uma viagem de poucos quilômetros, do rosto do viajante se só se viam os olhos. Nem só a lama, que deixava atolados centenas de carros. A consistência da terra era outro desafio. Duas horas depois da chuva, o barro secava assumindo a rigidez do vidro. Os veículos da época, quase sempre utilitários rudes, não ofereciam o conforto nem a maciez de hoje. Resultado: problemas de coluna, lombalgias, o corpo inteiro dolorido. O mineiro dom Geraldo Fernandes, bispo de Londrina, com dores nas costas, foi, um dia, ao médico, que diagnosticou: − “Com esses bicosde-papagaio, sua coluna não agüenta solavancos de jipe nessas estradas. É melhor o senhor andar de Impala” (carro da Chevrolet lançado em 1957, importado por ricos). E o bispo, com ar maroto: − “Gostei do remédio, doutor. O senhor não tem amostra grátis?”.

Telefone Pai dos padres Antônio Carlos e José Maria, o construtor Marcos Baggio, com sua opa vermelha de irmão do Santíssimo, era figura obrigatória na catedral em todos os pontificais de dom Manuel da Silveira

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D’Elboux, arcebispo de Curitiba. De integridade a toda prova e católico exemplar, era queridíssimo do arcebispo, a quem, por sua vez, dedicava profunda veneração. Sua construtora tinha erguido o Seminário São José, em Orleans, inaugurado em 1959, além de outras obras da arquidiocese. Por causa da idade, já não cuidava dos negócios. Tinha passado a empresa ao filho Marquinhos, que a tocava com o cunhado e sobrinhos. Mas continuava indo, todos os dias, ao escritório para ocupar a escrivaninha onde, por décadas, tinha despachado. Lia os jornais, olhava o movimento, conversava com algum dos muitos conhecidos que entravam... Um dia retiniu o telefone e, por infeliz coincidência, no escritório, ninguém, a não ser o patriarca. “Telefone!” gritou, na esperança de que alguém viesse atender. Nada. Entre as suas muitas virtudes, contudo, a origem italiana não incluíra a mansidão. Incomodado, olhou para todo canto, procurando um filho de Deus no escritório. Nem sinal. E o ruído irritante insistindo, sem trégua. Com o rosto afogueado, caminhou até o aparelho, ergueu o fone e berrou: “− Prrrronto, demôôôônio!!!”. Do outro lado, uma voz muito educada, perguntou: “− É o senhor Marcos?” “− Siiiim!!!” explodiu. E a voz: “− Aqui é o arcebispo...” O velho construtor jamais soube o que o arcebispo queria. Atordoado, ficou surdo e mudo. Levou meses para olhar de novo dom Manuel nos olhos.

Acolhida Quando abriu diante de dom Benjamin o mapa da diocese de Paranavaí, que se estende de Alto Paraná até as ilhas do rio Paraná, dom Jaime lhe garantiu: “Ninguém pode me acusar de egoísmo. Ao contrário, sou tão generoso que dei a maior parte da minha diocese para você.” No dia da posse, em Paranavaí, ao descerem do carro, inadvertidamente dom Jaime bateu a porta na mão do novo bispo. Embora leve, a ferida apresentou discreto sangramento. E dom Jaime, rápido: “Está vendo, dom Benjamin? Ninguém pode dizer que você não derramou o sangue pela sua diocese”. Nisso, algumas religiosas correram para cumprimentar o recém-chegado. Na época, era costume beijar o anel do bispo. Ao ver o grupo que se aproximava, dom Benjamin, bonachão, não teve dúvida: tirou do dedo o anel e o entregou à primeira, recomendando: “Irmã, beije e passe para as outras. Depois, as senhoras me devolvem”.

Pipoca Tempo houve em que Maringá inteira conhecia o Corcel preto 1975, que o bispo mesmo dirigia, sem precisão de motorista. Conhecido pela palavra fácil, correção lingüística e oratória inflamada, nas missas costumava estender a homilia para além dos costumeiros dez ou quinze minutos dos padres nas paróquias. Por causa da pregação, alguns consideravam sua missa demasiado longa. Certo domingo, um senhor acompanhado do filhinho chegou à catedral. Ao passar pelo pipoqueiro que ali faz ponto, o garoto pediu: “Papai, compra pipoca”. E o pai: “Depois da missa, papai

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compra, querido”. Nisso pára o carro preto e, de dentro, salta dom Jaime. O garotinho dirige-se a ele: “É você que vai ‘dar’ a missa?” Ante a resposta positiva do bispo, o menino desolado volta-se para o pai: “Papai, compra pipoca agora!”.

Irmãos No princípio dos anos 90, para a paróquia São José, regida pelos padres jesuítas, foi nomeado padre Silvino Pedro Rabuske, vigoroso rapagão que, pela sua pouca idade e cara de menino, era chamado de Pedrinho. Tinha-se ordenado há pouco, tanto que nem recebeu nomeação de pároco, mas de administrador paroquial. Padre Arthur Frantz, seu auxiliar, ao contrário, já passara dos setenta. Ambos jesuítas, de sólida formação para a vida comum, sua convivência era admirada como algo raro, sobretudo porque o mais novo exercia o comando e o mais velho era seu subordinado. Certo dia, não contendo a curiosidade, alguém quis saber: “Padre Arthur, o senhor tem mais de setenta anos, padre Pedrinho, só uns trinta: vocês combinam bem? Como é que vivem na mesma casa?” Com a maior tranqüilidade, o velho padre respondeu: “Ora, vivemos como irmãos”. E emendou, para esclarecer: “Brigamos todos os dias.”

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Uma Igreja no 8 caminho da maturidade

A sabedoria divina fez perceber-se na escolha dos pastores. Os quatro arcebispos de MaringĂĄ: dom Jaime, dom Murilo, dom JoĂŁo e dom Anuar.


Decorridos 20 anos, a Igreja de Maringá apresentava um panorama bem diferente daquele que encontrara seu primeiro bispo quando pousou num campo de terra para encarar uma cidade ainda com cara de povoação mal cuidada, coberta de lama e pó, cingida de mato por todos os lados. Ao comemorar, em 1977, os 30 anos de fundação, Maringá figurava entre as principais cidades do Paraná, superada no interior apenas por Londrina. Firmara-se igualmente como importante centro regional atraindo gente do vasto entorno de Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Dela partiram, agora em movimento inverso, desbravadores no rumo de novas frentes do crescimento econômico-social do Estado e do país. Muitos dos que para cá tinham vindo cultivar a terra na época da colonização emigraram, a partir dos anos 70, indo contribuir no desenvolvimento de Umuarama, Cascavel, Campo Grande, Rondonópolis, Cuiabá e até Barreiras, na Bahia. O mesmo fenômeno verificou-se na área religiosa. Mais de um bispo do cerrado e da Amazônia legal sentiu-se feliz por receber leigos católicos “importados” do Paraná, muitos oriundos da diocese de Maringá. Ao atingir os 20 anos, a Igreja nascida no meio da mata dava mostras de uma fé adulta.1 Deve-se a dom Pedro Fedalto a criação da Província Eclesiástica de Maringá. Segundo ele, o arcebispo de Londrina, dom Geraldo Fernandes acalentava, desde os anos 60, a idéia de uma Província Eclesiástica do Norte do Paraná, com sede metropolitana em Londrina, mas dom Manuel sempre se opôs. Com a morte deste, o bispo de Londrina, que tinha muita influência na nunciatura, conseguiu a criação da sua arquidiocese. A coincidência é sintomática: dom Manuel faleceu a 5 de fevereiro de 1970; menos de nove meses mais tarde, no dia 31 de outubro, foi criado o arcebispado de Londrina. Ainda hoje, bem humorado, Fedalto recorda: “Eu fiquei 21 dias arcebispo do Paraná. Tomei posse no dia 28 de fevereiro (de 1971); ele (Fernandes) tomou posse em 21 de março”. 2 Da mesma forma, outras regiões do Paraná sofreram notáveis mudanças a partir do final dos anos 60. Com a abertura de suas terras ao agronegócio, também o Oeste paranaense transformou-se, passando do

1 Em assembléia da CNBB nessa época, dom João Batista Costa, SDB, bispo de Porto Velho (RO) agradeceu pela for-

mação cristã dos paranaenses que sua diocese recebia. E admitiu aos bispos do Paraná: “Iguais a esses podem mandar mais” (Informação dada por dom Jaime Luiz Coelho, em Maringá, no dia 9 de setembro de 2006).

2 As informações de dom Pedro Fedalto foram colhidas em Curitiba pelo autor destas notas, na entrevista de 20 de

dezembro de 2005.

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antigo tropeirismo e da cultura ervateira para a vertiginosa expansão agrícola e agroindustrial que fez de Cascavel importante pólo de uma região vasta e populosa. Em 1960 a cidade contava com tão somente 6055 habitantes. O cultivo da soja que, a partir de 1968, ocupou todo o seu solo agricultável provocou um “boom” de desenvolvimento que atraiu a atenção também dos pastores da Igreja Católica, responsáveis por tornar discípulos do Senhor todos os povos. Desde 1965, Cascavel reivindicava a condição de bispado. Quando se implantou a Província Eclesiástica de Londrina, já o Oeste do Paraná abrigava grande população espalhada por florescentes comunidades. Era idéia do núncio apostólico, dom Carmine Rocco, criar também naquela região uma província eclesiástica sediada em Cascavel. Estava disposto a fazê-lo em 1978, segundo Fedalto: “Ele me falou: ‘Vamos fazer uma arquidiocese no Oeste’. Eu poderia ter dito que pusesse Umuarama e Campo Mourão como sufragâneas de Cascavel, porque eram originariamente do território de Foz, não de Jacarezinho. Em todos os passos para a criação de novas Igrejas particulares, sempre Curitiba era a primeira a ser consultada”. Para três situações de população, economia e cultura distintas haveria então três províncias eclesiásticas: Curitiba abrangeria a região metropolitana, parte dos Campos Gerais, o Sul e o litoral; Londrina englobaria todo o Norte do Estado, cabendo a Cascavel o Sudoeste e o Oeste com os campos de Guarapuava, estendendo-se até o rio Ivaí. Nessa divisão, a cada uma das províncias de Curitiba e de Cascavel pertenceriam a sé arquidiocesana e três dioceses sufragâneas, enquanto Londrina ficaria com a sede metropolitana e sete dioceses sufragâneas. Seria uma divisão do Paraná em três conjuntos desiguais de Igrejas diocesanas: dois com quatro dioceses, e um com oito. Foi aí que Fedalto sugeriu ao núncio a criação, junto com Cascavel, também da província de Maringá. Três razões ele aduzia para a existência de quatro em vez de três províncias: a) quem faz a unidade é o Regional; b) as arquidioceses não têm nenhuma influência sobre as dioceses; c) com maior número de províncias, as reuniões abrigariam menor número de pessoas, facilitando a participação de todos e maior espontaneidade. Rocco deixou-se convencer pela argumentação do arcebispo curitibano. Entretanto, não querendo melindrar ninguém, decidiu-se pela criação, em 1978, não da arquidiocese, mas inicialmente da diocese de Cascavel. Ano seguinte, no mesmo dia, elevou à condição de arquidioceses ambas as dioceses de Cascavel e de Maringá. Sobre a criação da Província Eclesiástica de Maringá. Fedalto concluiu: “Eu propus que também se criasse Maringá e a nunciatura aceitou. Dom Jaime sabe disso. Mas não consta em parte nenhuma”. Constituídas as duas novas províncias, o Regional Sul II da CNBB assumiu uma configuração que, não há como duvidar, “dificilmente será mudada nos próximos 30 ou 50 anos”. Para o historiador londrinense José Gonzáles Garcia Neto, a repartição provincial espelha com rara felicidade quatro situações distintas presentes no Estado do Paraná: “Poderão surgir novas dioceses, mas o Estado foi muito bem dividido entre essas quatro regiões pujantes”. No seu entender, a proximidade dos bispos entre si e junto de suas comunidades garante maior eficácia ao trabalho pastoral (GARCIA NETO, 2006). Nem todos manifestaram, pelo menos no início, igual entusiasmo pela divisão administrativa do território paranaense. Dom Jaime recorda que o primeiro arcebispo de Londrina sustentava posição contrária à criação da arquidiocese de Maringá, só concordando por comunhão com o restante do episcopado. Por razões distintas, embora não revelasse pública discordância, também o baiano dom Benjamin de Sousa Gomes, bispo de Paranavaí, mostrava desagrado com a idéia. Mais de uma vez queixou-se de que a Bahia, com 18 dioceses, separadas por distâncias imensas e péssimas estradas, tivesse apenas uma província eclesiástica, enquanto no Paraná bastavam 4 dioceses para formar uma província. Como exemplo, lembrava que o bispo de Bom Jesus da Lapa, para chegar a Salvador, levava quase um dia; no Paraná, em uma hora, qualquer bispo chega à sede de sua província eclesiástica. Não se conformava com isso. Ainda assim, porém, avalizou a criação da arquidiocese de Maringá. Para o Regional Sul II da CNBB, que já contava com duas províncias eclesiásticas, o ano de 1979 trouxe duas novas; uma no Norte, outra no Oeste. A gênese da Província Eclesiástica de Maringá pode ser acompanhada pelas anotações de dom Jaime no 1º livro de atas das reuniões:

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Por ocasião da 26ª Assembléia do Regional Sul II, que engloba os 25 Bispos do Paraná, realizada em Curitiba, de 18 a 22 de setembro de 1978, presente o Ex.mo Sr. Núncio Apostólico, Dom Carmine Rocco, Sua Excelência, espontaneamente, anunciou o desejo da criação de mais duas Arquidioceses ou Províncias Eclesiásticas no Paraná, uma em Maringá e outra em Cascavel, tendo em vista a importância das duas cidades no cenário estadual, e por serem “pólo” de uma grande região, favorecendo uma divisão pastoral para melhor programação e coordenação religiosa. A indicação de Dom Carmine Rocco, que, de surpresa apanhou diversos Bispos, recebeu, no entanto, em princípio, a anuência de todos os Bispos do Regional Sul II, devendo os Bispos em pauta, de Maringá e Cascavel, iniciar o devido Processo Canônico para, até ao final do ano de 1978, ser enviado ao Santo Padre o Papa João Paulo I, recentemente eleito, sucedendo ao Papa Paulo VI. No entanto, falecendo o Papa João Paulo I no dia 28 de setembro de 1978, foi sustada a preparação do Processo Canônico. Eleito o Papa João Paulo II no dia 16 de outubro de 1978, fui informado pela Nunciatura Apostólica para iniciar o Processo Canônico e dar andamento ao mesmo. Mas, tendo em vista a IIIª Assembléia do Episcopado Latino-Americano em Puebla, México, marcada pelo Papa João Paulo II para 27 de janeiro de 1979 a 13 de fevereiro do mesmo ano, e da qual fui um dos participantes, só depois pude coligir dados para o Processo Canônico, e que foi entregue, pessoalmente, ao Sr. Núncio Apostólico, durante a Assembléia Geral da CNBB, em Itaici – SP, realizada de 18 a 27 de abril de 1979 (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 1-2). Anexa ao processo, foi entregue ao Núncio apostólico carta a ser remetida ao prefeito da Congregação para os Bispos, com o seguinte teor: Maringá, 16 de abril de 1979. Eminência Reverendíssima. O Arcebispo Metropolitano e Bispos da Província Eclesiástica de Londrina, Paraná, Brasil, visando ao maior crescimento da Pastoral nesta região do Norte Novíssimo do Paraná, pedem a criação da Província Eclesiástica de Maringá, incluindo as seguintes dioceses, como sufragâneas: Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama, sendo desmembrada assim, integralmente, da Província Eclesiástica de Londrina. Apresentam a documentação anexa, para os estudos. Atenciosamente, (seguem as assinaturas) +Geraldo Fernandes, Arc. de Londrina; +Eliseu S. Mendes, Bispo de C. Mourão; +Jaime Luiz Coelho, Bispo de Maringá; +Romeu Alberti, Bispo de Apucarana; +Pedro Filipak, Bispo de Jacarezinho; +José M. Maimone, Bispo de Umuarama; +Conrado Walter, Bispo Aux. de Jacarezinho. Nota: a) – Dom Benjamin de Sousa Gomes, Bispo de Paranavaí, enviou, posteriormente, à Nunciatura Apostólica a sua anuência. b) – A Diocese de Cornélio Procópio estava vacante, e não foi pedida ao Vigário Capitular a sua assinatura. A Sua Eminência Reverendíssima Cardeal Sebastião Baggio Prefeito da Sagrada Congregação para os Bispos Palácio das Congregações Cidade do Vaticano (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 3). Acrescentou ainda dom Jaime ao registro no 1º Livro de Atas da Província Eclesiástica de Maringá: “O Regional Sul II, em requerimento apresentado por Dom Pedro Fedalto, Arcebispo de Curitiba, e com a assinatura de todos os Bispos do Paraná, fez idêntica solicitação ao Santo Padre para a criação das Províncias

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Eclesiásticas de Maringá e de Cascavel”. A seguir, reproduz correspondência que recebeu da Nunciatura, protocolizada sob nº 2.172, nos termos abaixo: Pessoal – Reservada Sub Secreto Pontificio Brasília, 27 de outubro de 1979. Excelência Reverendíssima É com imensa satisfação que posso comunicar que, acedendo ao pedido dos Exmos. Senhores Bispos do Paraná, o Santo Padre se dignou elevar a Diocese de Maringá a Sede Metropolitana, e nomear ao mesmo tempo Vossa Excelência primeiro Arcebispo da nova Província Eclesiástica. Pela presente permito-me pedir seu assentimento, por escrito, para poder comunicá-lo à Santa Sé. A notícia ficará protegida pelo Segredo Pontifício até a data da publicação, que será comunicada oportunamente. Na certeza de ter quanto antes uma resposta positiva, aproveito o ensejo para apresentar a Vossa Excelência os sentimentos de minha religiosa estima e consideração, e enviar fraternas saudações. a) +Carmine Rocco Núncio Apostólico A Sua Excelência Dom Jaime Luiz Coelho Bispo de Maringá Caixa postal 152 87100 – MARINGÁ – PR (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 4-5). Desta vez não houve a ansiosa opressão no peito provocada em dezembro de 1956 pelo primeiro segredo pontifício. Naquela oportunidade, o cura da catedral de Ribeirão Preto sentiu faltar-lhe chão sob os pés. Agora, um bispo acostumado às duras pelejas da região que viu crescer, sentia segurança para colaborar na condução do povo de Deus instalado na ampla região da nova província eclesiástica. A informação da data para divulgar a criação da arquidiocese chegou ao bispo de Maringá em correspondência da Nunciatura Apostólica protocolada sob nº 3.021, que dizia: Pessoal – Reservada Brasília, 28 de novembro de 1979. Excelência Reverendíssima Como já é de seu conhecimento, Sua Santidade o Papa, acedendo ao pedido dos Exmos. Senhores Bispos da Província Eclesiástica de Londrina, dignou-se elevar a Diocese de Maringá à condição de Arquidiocese, como sede da nova Província Eclesiástica que terá como sufragâneas as Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama. Ao mesmo tempo o Santo Padre nomeou Vossa Excelência primeiro Arcebispo da nova Arquidiocese de Maringá. Como poderá observar pela Circular aqui anexa, a notícia será publicada oficialmente no próximo dia 7 de dezembro, vigília da Festa da Imaculada Conceição. Permita-me agora que me congratule sinceramente com Vossa Excelência por esta promoção da parte do sucessor de Pedro, que vem não só ao encontro das aspirações dos Exmos. Srs. Bispos do Paraná, mas e sobretudo vem coroar os muitos anos de seu longo episcopado, exercido e vivido com o zelo, o amor e a segurança do Bom Pastor

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que tudo tem feito para o bem da grei que lhe foi confiada. E, com os meus parabéns, receba também os mais vivos agradecimentos pelo bem que tem feito pela Igreja no Brasil e especialmente no Paraná. Aproveito o ensejo que se me oferece para reiterar a Vossa Excelência os sentimentos de minha mais alta estima e sincera consideração. a) +Carmine Rocco Núncio Apostólico. A Sua Excelência Dom Jaime Luiz Coelho Bispo de Maringá Caixa postal 152 - 87100 – MARINGÁ – PR (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 5-6). No dia 7 de dezembro, órgãos da imprensa e emissoras de rádio e televisão trouxeram ao público, juntamente com igual notícia sobre a Província Eclesiástica de Cascavel, o conhecimento sobre a criação da Província Eclesiástica de Maringá e promoção de dom Jaime a seu arcebispo metropolitano. Em matéria de primeira página, jornal maringaense informou: O Papa João Paulo II acaba de criar a Província Eclesiástica de Maringá, desmembrada da Arquidiocese de Londrina, elevando a Diocese de Maringá à categoria de Arquidiocese, tendo como sufragâneas as Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama. Ao mesmo tempo, promove nosso Bispo Diocesano, Dom Jaime Luiz Coelho, a primeiro Arcebispo da nova Arquidiocese de Maringá [...] Nesta mesma data, o Papa João Paulo II está criando mais uma Província Eclesiástica no Paraná, a Arquidiocese de Cascavel, com Dioceses sufragâneas de Palmas, Toledo e Foz do Iguaçu, promovendo seu atual Bispo Diocesano, Dom Armando Cirio, a seu primeiro Arcebispo. Uma das razões por Maringá ter sido elevada a Sé Metropolitana ou Arquidiocese foi justamente sua situação de cidade pólo, centro de importantes regiões. Aliás, no processo enviado a Roma especificou-se que, com a decadência do ouro em Minas Gerais, o tropeirismo do século XVIII entrou em declínio, o que levou a modificar o panorama do Paraná, no século XIX, na sua região sul. Uma vez separado de São Paulo, a corrente migratória no Norte do Paraná foi fundando o que se chamou Norte Pioneiro ou Norte Velho, com preponderância da corrente migratória mineira. No entanto, os paulistas alargaram suas fronteiras em busca de terras roxas, onde surge Londrina (Norte Novo) e depois Maringá (Norte Novíssimo). Do sul sobe a migração gaúcha localizando-se na região de Campo Mourão. Maringá torna-se assim o pólo desta região, cercada de sub-pólos, como Apucarana, Paranavaí, Campo Mourão e Umuarama. Sua posição geográfica confere-lhe papel privilegiado num raio vastíssimo de influência em microrregiões homogêneas constituídas por aproximadamente 102 municípios, com ligação com São Paulo e Mato Grosso. No programa da Igreja, Maringá é, pois, ponto importante de uma Metrópole ou Sé Metropolitana da região (PAPA..., 1979, p. 1). A instalação canônica foi marcada para 20 de janeiro de 1980. Assim que tomou conhecimento da decisão de Roma, o bispo de Maringá deu por terminadas as suas preocupações com o assunto, depois do processo que já vinha sendo tocado desde 1978. Com o falecimento do papa João Paulo I, de fugaz passagem pelo trono de Pedro, o tema permaneceu em suspenso. Voltou, porém, à cena logo no início do pontificado de João Paulo II, tornando-se uma de suas primeiras decisões a respeito da Igreja do Brasil. O arcebispo eleito remeteu então ao papa a seguinte carta: Maringá, 22 de dezembro de 1979. Beatíssimo Padre Sua Santidade Papa João Paulo II

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Ao receber, por intermédio da Nunciatura Apostólica no Brasil, a notícia de que Vossa Santidade se dignou elevar a Diocese de Maringá à categoria de Arquidiocese, como sede da nova Província Eclesiástica, desmembrando-a da Província Eclesiástica de Londrina, e tendo como sufragâneas as Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama, e ao mesmo tempo nomeando-me primeiro Arcebispo da nova Arquidiocese de Maringá, desejo, filialmente, agradecer a Vossa Santidade a confiança em mim depositada, bem como, mais uma vez, protestar a minha inteira fidelidade à Sé de Pedro na íntima comunhão com Vossa Santidade. Com a continuada proteção de Deus e da Virgem Imaculada, a Quem consagrei a guarda do meu Sacerdócio, espero continuar fiel à Igreja até à morte. Com renovados agradecimentos, em nome também dos meus queridos Fiéis, e pedindo a Bênção Apostólica, rogo ao Menino Deus, neste abençoado Natal, as melhores graças para Vossa Santidade, e a promessa das minhas pobres orações. Filialmente, a) +Jaime Luiz Coelho Arcebispo Metropolitano de Maringá (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 8-9). Na publicação oficial de criação da Província Eclesiástica de Maringá com a elevação da diocese de Maringá à categoria de arquidiocese e sede da nova província, foi dado ao conhecimento de todos o texto da bula Quamquam est munus, do papa João Paulo II, lavrada a 16 de outubro de 1979. Diz o texto latino: João Paulo II Bispo Servo dos Servos de Deus Para perpétua memória Embora seja tarefa dos Romanos Pontífices e seu principal ofício apresentar aos fiéis a íntegra fé em Jesus Cristo, propagá-la e defendê-la das insídias dos erros, ninguém ignora que igualmente a organização de dioceses e províncias muito contribui para o aumento da mesma religião, alcançando benefícios e atenuando males. Pelo que, tendo os Veneráveis Irmãos do Regional Sul II da Conferência dos Bispos do Brasil unanimemente pedido que, dividida a Província eclesiástica de Londrina, fosse criada uma nova, a de Maringá, Nós, tendo ouvido tanto o Venerável Irmão Carmine Rocco, Arcebispo titular de Justinianóplis na Galácia e Núncio Apostólico no Brasil, quanto os Nossos Veneráveis Irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana encarregados da Sagrada Congregação para os Bispos, decretamos o que segue. Da Província eclesiástica de Londrina desmembramos a diocese de Maringá e a incluímos entre as Igrejas metropolitanas, com os direitos e encargos próprios de tais Igrejas. Constituem a nova Província: a mesma sede, Maringá, e as dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama, que serão sufragâneas, conforme as normas do direito. Promovemos ainda o Venerável Irmão Jaime Luiz Coelho, Bispo de Maringá, à dignidade arquiepiscopal e de metropolita, com direitos e honras próprios, além das correspondentes obrigações, nutrindo a esperança de que quem diligentemente administrou a diocese ainda mais cuidadosamente venha a governar a arquidiocese. Lembramos ao Venerável Irmão Carmine Rocco que, em razão das faculdades de que goza, execute fielmente o que estabelecemos acima; se necessário, pode delegar a sua execução a outro, desde que revestido da dignidade eclesiástica. No final, sejam redigidas Atas das quais prontamente se enviem cópias autênticas à Sagrada Congregação para os Bispos. Revogam-se todas as disposições em contrário. Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 16 de outubro de 1979, no primeiro aniversário de Nosso Pontificado. + Sebastião Cardeal Baggio, Prefeito da S. Congregação para os Bispos Agostinho Cardeal Casaroli, Secretário de Estado Marcello Rossetti, Protonotário Apostólico Angelo Lanzoni, Protonotário Apostólico (JOÃO PAULO II, 1979, p. 1501-1503).

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Carta 12 - Bula de criação da Província Eclesiástica de Maringá.

Conforme previsto, no início do ano seguinte a catedral agora metropolitana engalanou-se para a solene celebração eucarística presidida pelo núncio apostólico, durante a qual se deu a instalação canônica da nova arquidiocese e a tomada de posse de dom Jaime Luiz Coelho como seu primeiro arcebispo. Atendendo à determinação da bula de criação, foi lavrada a ata, que documentou para a posteridade: Ata da instalação canônica da Arquidiocese de Maringá – Paraná – Brasil No dia 20 de janeiro de 1980, na Catedral de Nossa Senhora da Glória, em Maringá, durante a concelebração eucarística, às 10 horas, presente o Ex.mo e Rev.mo Sr. Dom Carmine Rocco, Arcebispo titular de Justinianópolis na Galácia e Núncio Apostólico no Brasil, não tendo chegado as bulas de criação da nova Arquidiocese de Maringá, que tem como sufragâneas as Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama, recentemente criada pelo Santo Padre o Papa João Paulo II, e de nomeação do seu primeiro Arcebispo Dom Jaime Luiz Coelho, foi lido o decreto da Nunciatura Apostólica, erigindo solene-

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mente a Província Eclesiástica de Maringá e declarando sua Catedral diocesana elevada a Catedral metropolitana, bem como autorizando o Ex.mo e Rev.mo Sr. Dom Jaime Luiz Coelho a tomar posse da Província Eclesiástica como Arcebispo de Maringá. Ao ato estavam presentes os Srs. Arcebispos Dom Jaime Luiz Coelho; Dom Geraldo Fernandes, de Londrina; Dom Pedro Fedalto, de Curitiba; Dom Armando Cirio, de Cascavel; os Srs. Bispos Dom Benjamin de Sousa Gomes, de Paranavaí; Dom José Maria Maimone, de Umuarama; Dom Geraldo Pellanda, de Ponta Grossa; Dom Pedro Filipak, de Jacarezinho; Dom Romeu Alberti, de Apucarana; Dom Luiz Eugênio Perez, de Jales; Dom Diógenes Silva Matthes, de Franca; Dom Geraldo Majella Agnelo, de Toledo; Dom Domingos Wisniewski, de Cornélio Procópio; Dom Joel Ivo Catapan, Auxiliar de São Paulo; Dom Luiz Colussi, Auxiliar de Londrina; Padre João Oscar Nedel, S.J., representante do Sr. Bispo de Campo Mourão, Dom Eliseu Simões Mendes; Mons. Alfredo da Fonseca Rodrigues, representando o Sr. Arcebispo de Botucatu, Dom Vicente Marchetti Zioni; o Ex.mo Sr. Governador do Estado do Paraná, General Ney Amynthas de Barros Braga; o Sr. Prefeito de Maringá, Dr. João Paulino Vieira Filho; Dona Guilhermina Cunha Coelho, mãe de Dom Jaime Luiz Coelho; Waldivino Coelho, irmão do novo Arcebispo; Padre Sidney Luiz Zanettini, Cura da Catedral, Padre Geraldo Schneider, Procurador da Mitra Arquidiocesana; Padre Bernardo Cnudde, Pároco do Espírito Santo; sacerdotes, religiosas, demais autoridades e fiéis, que presenciaram e testemunharam a solenidade. Para constar, lavrou-se esta Ata, em quatro vias, que vão por todos assinadas. Catedral Metropolitana de Maringá, 20 de janeiro de 1980. +Carmine Rocco, Núncio Apostólico; +Jaime Luiz Coelho, Arcebispo de Maringá; +Geraldo Fernandes, Arcebispo de Londrina; +Pedro Fedalto, Arcebispo de Curitiba +Armando Cirio, Arcebispo de Cascavel; a) Guilhermina Cunha Coelho; a) Waldivino Coelho; a) Ney Braga e Nice Braga; a) Dr. João Paulino Vieira Filho, Prefeito Municipal; seguem outras assinaturas de bispos, sacerdotes e leigos presentes, conforme relação supra (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 13-14). A vida pastoral implantada, a seguir, no Noroeste do Paraná veio confirmar a previsão de dom Pedro Fedalto, segundo a qual as novas províncias eclesiásticas garantiriam maior agilidade e participação mais intensa das suas Igrejas-membro. No dia 24 de março de 1980, 23º aniversário da diocese3, em Maringá, no prédio da antiga ADAR, foi realizada a primeira reunião da nova província eclesiástica. Presentes o arcebispo e os três bispos sufragâneos, cada qual acompanhado de vários assessores, foi escolhido padre Orivaldo Robles, pároco de Marialva e coordenador do Setor Pastoral de Jandaia do Sul, como secretário para as reuniões da província. Estabeleceram-se os temas sobre os quais versariam as reuniões e ainda a freqüência das reuniões. Ficou acordado: Quanto ao conteúdo das reuniões, a conclusão da assembléia foi a de que deverão ser estudados assuntos referentes às prioridades pastorais do Regional e das Dioceses: CEBs, Família, Paróquia e Diocese. Também os grandes documentos da Igreja universal ou do Brasil. Ainda assuntos referentes à vida do clero, como agente privilegiado da Pastoral. Ao final votou-se a freqüência das reuniões da Província. Por nove votos contra três, foram escolhidas duas reuniões anuais, com duração de dois dias cada (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 26-28). Para conhecimento das preocupações que marcaram o início da Província Eclesiástica de Maringá, comprometida com a missão evangelizadora e atenta à Palavra de Deus, ao magistério e à realidade do Noroeste

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3 Como é fácil perceber, dom Jaime, sempre que possível, marcava para eventos importantes uma data significativa da história da Igreja em Maringá. Muito lembrado é 24 de março, dia da instalação canônica da diocese, em 1957.

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paranaense, seja permitido apresentar parte das históricas reuniões pioneiras. Da ata da 2ª reunião da província, realizada em 5-6 de agosto de 1980, no Centro Diocesano de Formação, em Umuarama: Dirigindo o plenário, Pe. Almeida procurou colher seu consenso quanto às conclusões dos círculos da manhã: 1. Quanto aos dados da realidade pastoral: - Cresce a consciência da necessidade da presença dos leigos na evangelização. - Há indícios, na Igreja do Paraná, de um início de incentivo aos que contribuem para a fisionomia de uma Igreja comprometida com o homem, v.g., no caso das promissórias rurais da região de Medianeira; no episódio Itaipu; no trabalho da Pastoral Rural, sobretudo em relação ao sindicalismo. Em nível nacional foram lembrados os fatos da greve dos metalúrgicos do ABC paulista e a solidariedade prestada a dom Paulo Evaristo Arns, em S. Paulo. - Há positivos sinais de pertença à Igreja pelos leigos, manifesta na preocupação da hierarquia com o leigo, na existência dos conselhos de Pastoral. - Deve-se reconhecer, porém, que ainda persistem sinais negativos: - Na quase totalidade dos leigos não conscientizados e, mesmo entre os que se julgam conscientizados, é ainda muito pronunciada a dicotomia fé-vida. - Os leigos são formados de maneira clerical, para trabalhos ligados ao ministério ordenado: nossos leigos ainda se dedicam quase só a atividades ligadas aos sacramentos e à oração, e estão ausentes de sua área de atuação específica; consideram-se colaboradores do clero, sentem-se um pouco menores na Igreja, despreparados e inseguros, necessitando da presença do sacerdote. - Falta formação permanente dos leigos, não existe organização laical: não podemos ainda falar entre nós da existência de um laicato (cristãos conscientes de sua missão própria e articulados entre si na Pastoral). - Não se nota claramente a consciência de que, pelo batismo e pela crisma, o cristão é inserido na Igreja a título próprio. Isto se deve, talvez, à antiga mentalidade, com a Ação Católica, do mandato para garantir a ligação do laicato com a hierarquia. (Foi notada, neste ponto, a necessidade de fazer-se distinção, mas não separação, entre hierarquia e laicato, como partes integrantes e necessárias do mesmo Corpo de Cristo que é a Igreja). 2. Quanto à reflexão teológica: - Firmou-se a identidade do leigo: alguém incorporado diretamente a Cristo, em quem foi criada uma realidade nova pelo batismo. - Daí decorre sua ação pastoral: em nome próprio, como Igreja, da qual é partícipe atuante pelo batismo e crisma, ele tem o direito e o dever de exercer a sua missão. - A maneira própria de o leigo atuar a sua missão é ordenar a criação segundo o plano de Deus. 3. Quanto às diretrizes pastorais: - Promover, como já se faz parcialmente, a participação dos leigos em todas as etapas do processo de planejamento pastoral, nos vários níveis de Igreja: comunidade, paróquia e diocese. - Promover a constante formação dos leigos, incentivar a sua criatividade, determinar as suas funções próprias, bem como as do padre. - Observar a lógica pastoral em que as prioridades sejam perseguidas com maior empenho. - Garantir a representatividade dos leigos, mantendo fidelidade à orientação do V Plano Regional: “Realizar a Igreja na Base”. Após o intervalo, o plenário, coordenado ainda pelo Pe. Almeida, procurou, com base nas conclusões anteriores, apresentar algumas Sugestões para a formação de um laicato organizado: • Criar o Conselho Diocesano de Leigos, formado pelos presidentes de movimentos e responsáveis pelos serviços pastorais. • Assumir as CEBs como o lugar de participação do leigo na Igreja.

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• Incentivar os grupos de reflexão e as CEBs, encaminhando para elas os movimentos. • Nos cursos, reuniões e estudos do clero, procurar descobrir os elementos de uma teologia do leigo, a partir do Vaticano II, Medellín, Evangelii Nuntiandi, Puebla e os pronunciamentos de João Paulo II, já que a ação pastoral depende da visão teológica. • Aproveitar todas as oportunidades de contato com os leigos (cursos, encontros, cursilhos, reuniões de grupos e CEBs) para levar-lhes esses elementos de teologia, a fim de que descubram sua identidade na Igreja. • Não ter medo de dar oportunidade aos leigos, correndo, embora, o risco de imperfeições que necessitem de correção, a fim de habituá-los a participar. • Convidar os leigos a participarem da programação pastoral. • Dar ciência ao leigo dos acontecimentos e problemas que lhe dizem respeito. [...] Com a participação de todos, cada Diocese apresentou sua situação, chegando-se aos seguintes elementos comuns: Quanto às CEBs: - Designar com esse conceito um razoável número de pessoas articuladas entre si, formando uma comunidade de oração, estudo da fé e ação social transformadora, vivenciando os vários elementos da vida eclesial. Distinguir dos grupos de reflexão, onde reduzido número de pessoas se reúne para o estudo da fé. - Aceitar de fato a CEB como prioridade pastoral. - Fazer dos grupos a base da vida cristã. - Empregar o método clássico do ver-julgar-agir. - Levar a uma vida de oração (liturgia), fé (catequese) e amor (união, testemunho e dimensão social da fé). - Levar a CEB a abrir-se aos demais níveis da Igreja (família, paróquia e diocese). - Programar um encontro provincial de experiências sobre CEBs. - Mobilizar todas as iniciativas pastorais em função da CEB. Assim, a formação dos ministros extraordinários da Eucaristia, Pastoral Rural, encontros de preparação aos sacramentos, catequese, Pastoral da família, Pastoral vocacional e os eventuais contatos com o padre encarregado da Pastoral rodoviária (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 26-32). Da ata da 3ª Reunião da Província Eclesiástica de Maringá, que se realizou no Centro de Obras Sociais da Diocese de Paranavaí (COSDIPA), na cidade de Paranavaí, nos dias 25-26 de março de 1981:

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Pela Arquidiocese de Maringá Pe. Almeida falou sobre as CEBs, analisando, a partir das experiências relatadas na revista SEDOC, de 1975 a 1980, a caminhada das CEBs no Brasil. Focalizou sobretudo o documento “Conclusões do III Encontro Intereclesial das Comunidades de Base Igreja, Povo que se Liberta”, e a reflexão do Pe. Eduardo Hoonaert “Comunidades de Base: dez anos de experiência” (SEDOC, Petrópolis, n. 118, jan./fev.1979, p. 700-710, 710-732) anotando: - Passos certos: a) Relatividade do sistema clerical-paroquial. b) Papel positivo da mulher na Igreja. - Impasses: a) Treinamento ainda elitizante dos líderes. b) Encontro da religião oficial com a cultura popular. - Pistas para o futuro: a) Ideologia subjacente aos esforços destes 10 anos (dependência cultural da Igreja brasileira diante da européia). b) Igreja como libertadora desse esquema, pelo seu ser missionário e comunitário. Os grupos, reunidos por diocese, chegaram às seguintes conclusões: 1._Quanto à relatividade do sistema clerical-paroquial: Sinais e conseqüências do questionamento que as CEBs fazem à paróquia clerical: - Passagem de uma pastoral apenas sacramental para uma pastoral também evangelizadora e de vivência. - Despertar do clero para a dignidade, atribuições, direitos e deveres do leigo. - Consciência maior do leigo a respeito do seu próprio ser e agir cristão.


- Inserção dos movimentos na pastoral das CEBs. - Mobilização mais numerosa de leigos com participação correta na pastoral. - Descentralização do ministério da palavra, antes exercida exclusivamente pelo clero. - Idem para a animação da oração e exercício das responsabilidades administrativas (ressaltando-se a figura dos conselhos). - Valorização da figura da mulher e do jovem. - Criação de novo espaço de comunhão e participação. Dificuldade: verificam-se casos em que a CEB repete o esquema clerical da paróquia. 2. Quanto ao encontro com a cultura e religiosidade popular: - Dificuldade em manter equilíbrio e harmonia entre a cultura (e religião) oficial e a popular. - Desprezo às vezes inconsciente da parte dos cristãos ditos conscientizados para com as formas populares de cristianismo. - Marginalização e sentimento de inferioridade por parte dos representantes da cultura popular. - Radicalismos de agentes pastorais no trato com expressões religiosas e culturais do povo. - A própria religiosidade popular é fonte, às vezes, donde brotam as CEBs. 3. Quanto ao treinamento dos líderes: - É válida a observação de Hoonaert sobre a formação clerical e pedagogia opressiva no treinamento de lideranças leigas. Daí o surgimento de “mini-padres”, líderes leigos individualistas e prepotentes. - Há casos de padres que apenas distribuem sacramentos: não se esforçam para a formação de líderes, esperando tudo da Diocese. - Certos segmentos da sociedade (médicos, p. ex.) mostram-se impermeáveis à ação da Igreja. 4. Quanto ao relacionamento com as estruturas injustas: - Percorre-se o caminho mais fácil e imediato: obras de misericórdia e assistência. É insuficiente, mas constitui uma passagem. - As realidades anti-evangélicas começam a ser descobertas. Vai-se formando o discernimento cristão. Faltam atitudes cristãs. - Há preocupação com a manipulação política ou econômica das CEBs. Apresentação do VII Plano de Pastoral da diocese de Paranavaí, mostrando sua conexão com o VI Plano Bienal de Pastoral da Igreja no Paraná. Idem para o Plano de Pastoral da diocese de Campo Mourão. Observação de dom Benjamin sobre o aspecto particular de nossas dioceses do Paraná que se esvaziam progressivamente. Dom Jaime reafirmou as preocupações de dom Benjamin (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 35-39, grifo do autor). Por essa amostra é lícito precisar o rumo evangelizador tomado pelas Igrejas da nova província eclesiástica. Foram, em verdade, assumidos de forma conjunta compromissos pastorais que, há tempo, se enfatizavam nas dioceses por força das orientações do Regional Sul II, responsável primeiro, como Fedalto lembrara em 1978, pela unidade da Igreja no Estado. Dividido o Regional em quatro blocos menores, tornou-se mais exeqüível a consecução de metas propostas; mais ágil a implementação de agendas assumidas. A medida significou um avanço para as quatro dioceses do Noroeste. Dois dias inteiros de reunião, vividos num ambiente de amor fraterno e zelo do Evangelho, de estudo e de oração comum − revelaram-se providência acertada na escolha de caminhos para toda a província. Não só por gratidão, mas também por justiça, é importante reverenciar homens e mulheres daquele tempo que, ao lado do metropolita, assumiram a responsabilidade pelas Igrejas de Maringá, Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama. Quase trinta anos passados, não há como fechar os olhos às transformações por que passou a região, a começar pelo esvaziamento que, no início dos anos 80, dom Benjamin e dom Jaime deploravam. Outras mudanças houve e continuará seguramente a haver, o que reforça a necessidade de um caminhar conjunto das dioceses. Na unidade e na ajuda mútua se encontra a fórmula de superação dos obstáculos interpostos por situações novas. Como o demonstra o recente arranjo adotado na formação dos futuros presbíteros. Inteli-

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gentemente, foi unificada em Maringá a formação acadêmica para a Filosofia de toda a província, enquanto Londrina passou a concentrar a formação teológica dos seminaristas de ambas as províncias norte-paranaenses. Quanto a outras áreas (humano-afetiva, espiritual, social, pastoral...) cada diocese as assume, imprimindo à formação dos futuros presbíteros os traços de suas opções diocesanas. Embora recente e de resultados por avaliar, tudo aponta para o êxito da iniciativa. O futuro dará o veredicto.

O servo bom e fiel No dia 10 de novembro de 1980, durante a 7ª Assembléia Geral de Pastoral da agora arquidiocese de Maringá foram criados os vicariatos episcopais. Na prática, foram elevadas a essa condição as três regiões pastorais existentes desde 1968, ao mesmo tempo em que os responsáveis pelas paróquias-sede foram eleitos vigários episcopais, recebendo o título de monsenhores: Bernardo Cnudde, para o vicariato episcopal de Maringá; Berniero Lauria, para o vicariato episcopal de Nova Esperança e Orivaldo Robles, pároco de Marialva, para o vicariato episcopal de Jandaia do Sul. Na condição de arcebispo metropolitano, dom Jaime permaneceu ainda por mais de dezessete anos à frente da Igreja de Maringá. Sob seu governo foi inaugurado o curso de Filosofia do qual se beneficiaram, inicialmente, as quatro Igrejas da província; foi ordenado bispo o primeiro presbítero da Igreja de Maringá, padre Vicente Costa, e foi alçada a catedral metropolitana à dignidade de basílica menor, a primeira do Paraná. Acima de tudo, porém, prosseguiu a evangelização do povo de Deus, no empenho dos agentes de pastoral liderados por aquele que de todos se fez pai e irmão. Não houve mais da parte da Santa Sé convite como os feitos no passado em que, por duas vezes, em 1962 e em 1970, dom Jaime recebeu consulta sobre seu interesse de se transferir para cidades consideradas de maior importância que Maringá. Ao núncio apostólico em ambas as ocasiões ele esclareceu que, conquanto inteiramente submisso à vontade de Deus na comunhão com o sucessor de Pedro, se lhe fosse permitido optar, sua preferência era permanecer em Maringá. E aqui continuou.4 Ao completar os 75 anos, idade da aconselhada renúncia dos bispos, apresentou sua disposição de entrega do cargo. Surpreso, entretanto, pela impressionante vitalidade que o via exibir, o papa João Paulo II, quando o recebeu na visita ad limina apostolorum, 5 observou: “Setenta e cinco anos? Com essa cara?”. Acabou deixando-o ainda por seis anos no comando da Igreja de Maringá. No 40º aniversário da instalação canônica da diocese, por cair o dia 24 de março na segunda-feira após o domingo de Ramos, a efeméride foi transferida para o dia 6 de abril seguinte. Na catedral basílica repleta de povo, reuniram-se doze arcebispos e bispos do Paraná, todos os presbíteros da arquidiocese e de outras procedências, seminaristas, religiosos e inúmeros fiéis para uma celebração rara no mundo e, mais ainda, no Brasil: os quarenta anos de um bispo à frente da mesma Igreja. Os fogos de artifício que espocaram na Praça Pio XII pintaram na escuridão daquela noite o painel das quatro décadas de fulgor de uma Igreja que brotou da mata, da lama, da poeira, do suor e das lágrimas de milhares de homens e mulheres de fé que, desde 1957, seguiram os passos de um condutor seguro: o bispo que veio de longe. Durante reunião conjunta do clero, no dia 7 de maio de 1997, dom Jaime comunicou oficialmente o nome do novo arcebispo a sucedê-lo na sede maringaense, dom Murilo Sebastião dos Ramos Krieger, bispo diocesano de Ponta Grossa e, desde 1995, presidente do Regional Sul II da CNBB, cuja posse foi posteriormente agendada para o dia 11 de julho seguinte.

4 No dia 21 de agosto de 1975, em visita ao cardeal Sérgio Pignedolli, foi convidado a se transferir ao Vaticano para trabalhar com ele na Secretaria para as Comunicações Sociais. O bispo de Maringá argumentou que, aos 59 anos, não estava em idade para isso. Concordou o cardeal, observando que ele aparentava idade bem menor (informação dada por dom Jaime Luiz Coelho, em 5 de outubro de 2006).

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5 Tradução; “à soleira das portas dos apóstolos”, i. é, aos pés de Pedro e Paulo, sepultados em Roma. Visita feita a cada 5 anos pelos bispos em sinal de unidade das Igrejas locais com a sé apostólica. Os bispos do Brasil fazem-na de forma conjunta, segundo os Regionais da CNBB. Usa-se a forma abreviada “ad limina”.

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A vida (re)começa aos 40 No dia 7 de maio de 1997 veio a público a aceitação pelo Santo Padre da renúncia apresentada por dom Jaime, em conformidade com o cân. 401 §1, que prevê: “O bispo diocesano que tiver completado 75 anos de idade é solicitado a apresentar a renúncia do ofício ao Sumo Pontífice que, ponderando todas as circunstâncias, tomará providências”. Ao arcebispo de Maringá faltavam então exatos 80 dias para completar 81 anos. Ao mesmo tempo em que acatou o pedido de renúncia, o sumo pontífice nomeou seu sucessor através de bula exarada em latim, como os documentos oficiais da Igreja, com os dizeres: JOÃO PAULO Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao venerável irmão Murilo Sebastião Ramos Krieger, membro da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, até agora Bispo de Ponta Grossa, transferido para a Sede Metropolitana vacante de Maringá, saudação e Bênção Apostólica. Com a renúncia ao ofício do governo dessa Igreja, apresentada pelo seu dirigente anterior, o venerável irmão Jaime Luiz Coelho, que, por dezessete anos ininterruptos, esteve à frente dessa mesma Igreja, o caríssimo rebanho maringaense anseia ardentemente por um pastor e mestre da vida católica. Pelo que mais seguramente se recomenda a essa necessidade pastoral, dirigimo-nos hoje a ti, venerável irmão, que quisemos elevar ao episcopado na Igreja e a quem observamos exercendo honrosamente, até agora, o ofício episcopal junto à comunidade eclesial de Ponta Grossa, assim como também, antes disso, desenvolvendo fecundo ministério em tua Arquidiocese de Florianópolis. Ouvido, pois, o prudente parecer da Congregação para os Bispos, e confiando muito na tua força interior, considerados o teu trabalho e as qualidades de tua visão pastoral, fazendo uso da plenitude de Nossa autoridade apostólica, Nós te dispensamos de todos os vínculos com a tua anterior Igreja de Ponta Grossa e te constituímos legítimo Arcebispo Metropolitano da comunidade de Maringá, com todos os direitos e privilégios, bem como com cada um dos deveres e encargos inerentes a tal administração, conforme os sagrados cânones. Enquanto zelosamente instruíres o teu clero e o povo fiel sobre teu ofício de seu dirigente espiritual, estarás contribuindo para redobrado fervor apostólico, bem como para fertilíssimo desempenho da ação episcopal, na renovação e no consolo do rebanho de Maringá, e não duvides de que abundantes luzes e forças do sacratíssimo Coração do misericordioso Redentor se derramarão sempre sobre o teu trabalho. Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia sete de maio do ano do Senhor de mil novecentos e noventa e sete, décimo nono do Nosso Pontificado. ass.) João Paulo II, Papa ass.) Tarcísio Nardi, Protonotário Apostólico Supranumerário (JOÃO PAULO II, 1997a, p. 428). Depois de quarenta anos, a retirada de cena de dom Jaime para alguns poderia significar uma ameaça à sobrevivência, nesta terra, da Igreja que jamais conhecera outro dirigente. Mas a sensação de orfandade que, eventualmente, um ou outro tenha experimentado, cedeu lugar à certeza de que, para a Igreja de Maringá, se a vida não começa aos quarenta, nessa idade ela recomeçou, a partir da vinda do novo pastor, não exatamente um desconhecido vindo de longe. Presidente do Regional Sul II, ele já vinha estendendo sua atuação por todo o Estado. Dois meses depois da nomeação, Krieger foi empossado no ofício de arcebispo metropolitano de Maringá. O documento que registrou o fato pode ser consultado nos arquivos curiais: Ata da posse canônica de dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ, arcebispo metropolitano de Maringá No dia 11 de julho de 1997, às 19h30m, durante Concelebração Eucarística na Ca-

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tedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória de Maringá, segundo as normas do Código de Direito Canônico, tomou posse canônica da arquidiocese de Maringá, no Paraná, Brasil, o 2º arcebispo metropolitano de Maringá, dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ, nomeado por Sua Santidade papa João Paulo II a 7 de maio de 1997, em substituição ao 1º arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho. Presentes à referida posse canônica: dom Jaime Luiz Coelho, 1º arcebispo de Maringá; dom Pedro Antônio Marchetti Fedalto, arcebispo de Curitiba; dom Albano Bortoletto Cavallin, arcebispo de Londrina; dom Lúcio Inácio Baumgaertner, arcebispo de Cascavel; dom Virgílio de Pauli, bispo de Campo Mourão; dom José Maria Maimone, bispo de Umuarama; dom Rubens Augusto de Souza Espínola, bispo de Paranavaí, outros senhores bispos, consultores diocesanos, sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas, autoridades e fiéis. Após a saudação oficial do 1° arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho, a obediência do clero e homenagem dos religiosos, leigos e seminaristas e excelentíssimas autoridades, o 2º arcebispo metropolitano de Maringá, dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ, usou da palavra assumindo o seu novo cargo na Igreja de Deus que está em Maringá. Para constar, como secretário “ad hoc”, eu, monsenhor Orivaldo Robles, consultor diocesano e pároco da Comunidade Paroquial Santa Maria Goretti, nesta cidade de Maringá, lavrei a presente Ata, que será assinada por alguns dos presentes. Maringá, 11 de julho de 1997. +Murilo SR Ramos Krieger, scj +Jaime Luiz Coelho +Lúcio I. Baumgaertner +Pedro A. M. Fedalto +Albano Cavallin +Virgílio de Pauli +(ilegível) Jairo Morais Gianoto (prefeito municipal) Edith Dias (vereadora) René Pereira da Costa (juiz) Mons. Orivaldo Robles Mons. Júlio Antônio da Silva Mons. Antônio de Pádua Almeida +Armando Cirio (arcebispo emérito de Cascavel) +Walter Michael Ebejer, OP (bispo de União da Vitória) Mons. Bernard Cnudde +Eusébio Oscar Scheid, SCJ (arcebispo de Florianópolis-SC) Padre Nunzio Reghenzi (ROBLES, 1997c, 1 f.).

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Posse de dom Murilo 11 de julho de 1997

Dom Murilo sucedeu a dom Jaime, tomando posse no dia 11 de julho de 1997: o abraço, a entrega do báculo (cajado do pastor para reger o rebanho sagrado), a entronização na cátedra (símbolo do serviço de ensinar) e a assinatura da ata.

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A partir da posse, a Igreja Católica em Maringá começou a conhecer mais de perto seu novo pastor. Catarinense de Brusque, ele nasceu em 19 de setembro de 1943, sexto dos nove filhos do casal Oscar Krieger e Olga Ramos Krieger. Dentre os irmãos, Magali e Milton Roque, assim como os pais, já faleceram. Ainda criança, entrou para a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, também conhecidos como dehonianos, por causa do fundador, padre Leão Dehon (1843-1925). Cursou o seminário menor em Corupá (SC), fez noviciado em Jaraguá do Sul (SC), Filosofia em Brusque, e Teologia em Taubaté (SP). Professou os votos perpétuos em 2 de fevereiro de 1967, ordenando-se presbítero na sua cidade natal, no dia 7 de dezembro de 1969. Iniciou o ministério na paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Taubaté, onde fundou o movimento Shalom para jovens, assumindo depois, de 1974 a 1979, na mesma cidade, as funções de reitor do Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus. Estudou Espiritualidade, em Roma, no ano de 1980. Em 1981, foi escolhido superior provincial da congregação, passando a residir em São Paulo onde foi alcançá-lo, em 16 de fevereiro de 1985, a eleição para a sede titular de Lisínia,6 como bispo auxiliar de Florianópolis. Segundo sua irmã Maria Teresinha K. Merico, “chegou a comentar, na época, que estava pronto a responder não ao papa João Paulo II”, mas aceitou o encargo como escolha de Deus.7 Recebeu a ordenação episcopal no dia 28 de abril do mesmo ano, escolhendo como lema de seu episcopado Deus caritas est = Deus é amor (1JOÃO 4, 16). A 8 de maio de 1991, foi nomeado bispo diocesano de Ponta Grossa, tomando posse no dia 22 de julho do mesmo ano. Foi escolhido, em 1995, presidente do Regional Sul II da CNBB. Eleito arcebispo de Maringá no dia 7 de maio de 1997, tomou posse no dia 11 do mês de julho seguinte. Ao longo do exercício de seu ministério, Krieger escreveu diversos livros: Shalom, a paz ao alcance da juventude, Loyola, traduzido para o italiano e o espanhol; Deixa meu povo ir, Paulus, traduzido para o espanhol; Peregrinos do Reino, cidadãos do mundo, Santuário; Apascenta minhas ovelhas, idem; Alegre-se: Deus é amor, Loyola; O primeiro, o último, o único Natal, Loyola; Com Maria, a mãe de Jesus, Paulinas (lançado em Maringá, em noite de autógrafos, a 14 de novembro de 2001); Um mês com Maria, Paulinas (lançado em 30 de março de 2003), publicado também em Portugal e traduzido para o italiano, para o inglês e para o espanhol, e Maria na piedade popular, Paulus. Apaixonado pelos meios de comunicação, que reputa espaços privilegiados de evangelização nos dias de hoje, cultivou com eles cordial relacionamento em todo o seu governo arquidiocesano. Não obstantes os encargos na arquidiocese e no Regional, manteve na mídia compromissos múltiplos, como artigo no Brasil Cristão, revista mensal da Associação do Senhor Jesus, de Valinhos (SP); artigo no Mensageiro do Coração de Jesus, revista mensal do AO; artigo dominical no O Jornal do Povo, de Maringá; idem no O Diário do Norte do Paraná, às quintas-feiras; programa radiofônico semanal gravado na Rede Milícia Sat, além de missa mensal na TV Cultura de Maringá. No começo da administração de Krieger houve em Maringá uma reunião de aparência despretensiosa que, no entanto, viria a produzir frutos de grande significado cristão. No dia 22 de agosto de 1997 reuniram lideranças católicas e de outras confissões cristãs: Desejado há anos, o encontro, após longa preparação, reuniu pastores, representando Igrejas Evangélicas, e membros da Comissão arquidiocesana do diálogo ecumênico e inter-religioso da Igreja Católica. A reunião teve por objetivo estabelecer metas visando maior aproximação, convívio fraterno entre católicos e evangélicos e, oportunamente, a formação de um conselho ecumênico para realizações conjuntas, fundadas no desejo de elevação da dignidade humana e maior empenho pela paz do mundo [...] Estiveram presentes, representando a Igreja Católica, o padre Júlio Antônio da Silva e os membros da Comissão arquidiocesana: Irivaldo Joaquim de Souza, Raul Pimenta, Tereza

6 Como sucessor dos apóstolos, todos os bispos são responsáveis pelo governo da Igreja no mundo inteiro. Quando nomeia um bispo auxiliar, a Igreja lhe confere o governo simbólico de uma Igreja antiga cuja sede talvez nem mais exista, mas o título é conservado. Lisínia foi sede episcopal da antiga Ásia Menor, no território da Turquia de hoje.

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7 Informação constante das notas biográficas, enviadas via fax, de Florianópolis, no dia 7 de agosto de 2006.

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Scatambulo da Silva, Maria Scatambulo, Anadir Gonçalves de Lima, Benedita Lira de Barros Belotti, Dejair Manini, Hermenegildo Caniatto e Jairo Vilela de Paula. Das demais confissões religiosas: representando a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, o pastor Elemar Mai; a Igreja Presbiteriana Independente, o pastor Luiz Alexandre Solano Rossi; a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, o pastor Ricardo Schadt, todos de Maringá, e a Igreja Presbiteriana de Nova Esperança, o pastor Edrei Daniel Vieira. Por motivo de força maior, não pôde comparecer o pastor Neivair de Jesus Mendes Matoso, da Igreja Metodista (SOUZA, 1997, p. 5). Essa reunião assinalou o passo primeiro para a origem do benemérito MECUM – Movimento Ecumênico de Maringá, de presença marcante na sociedade de Maringá e região, agrupando representantes de várias confissões cristãs e de outros credos. Seu compromisso de união dos povos pela paz ficou patente em várias oportunidades, como na 3ª Noite pela Paz, realizada em 14 de agosto de 2006, na mesquita muçulmana de

Noite de Oração pela Paz

Auditório da Câmara Municipal de Maringá 5 de outubro de 2001 1 - Rev. Rubem Almeida Mariano.........................................................................................................................................................................Igreja Presbiteriana Independente 2 - Rev. Edrei Daniel Vieira.....................................................................................................................................................................................Igreja Presbiteriana Independente 3 - Xeique Mohmed Elgasin Abbaker-Al Ruheidy............................................................................................................................................................ Comunidade Muçulmana 4 - Sra. Neda Fatheazam...............................................................................................................................................................................................Comunidade Mundial Fé Baha’i 5 - Rev. Elemar Mai..................................................................................................................................................................... Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil 6 - Dr. Alaor Gregório de Oliveira.................................................................................................................................................................Associação União e Consciência Negra 7 - Dr. Francisco José de Souza....................................................................................................................................................................................Associação Espírita de Maringá 8 - Monge Eduardo Ryoho Sasaki.................................................................................................................................................................................................. Comunidade Budista 9 - Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger............................................................................................................................................................................Arcebispo Metropolitano 10 - Rev. Luiz Alexandre Solano Rossi..................................................................................................................................................................Igreja Presbiteriana Independente 11 - Sra. Oscarina Venâncio Martins..........................................................................................................................................Centro de Umbanda Antônio Querino de Moraes 12 - Pe. Júlio Antônio da Silva...................................................................................................................................................................................Assessor Católico de Ecumenismo 13 - Dr. Irivaldo Joaquim de Souza....................................................................................................................Coordenador do MECUM - Movimento Ecumênico de Maringá 14 - Rev. Ricardo Schadt......................................................................................................................................................... Igreja Evangélica Luterana Comunidade São Marcos

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Maringá, que reuniu xeiques muçulmanos, monja budista, bispos e padres católicos, representantes da Igreja luterana, da Igreja anglicana e do CLAI – Conselho Latino-americano de Igrejas, líder espírita, representante da fé baha’i e líder das religiões afro-brasileiras. Disposto a constituir na arquidiocese o vigário geral que o Direito Canônico prescreve ao bispo para “que, com poder ordinário e de acordo com os cânones 476-481, o ajude no governo de toda a diocese”, já na primeira reunião do clero, dom Murilo solicitou por escrito a indicação de nomes para o ofício. Em conseqüência, no dia 25 de setembro de 1997, publicou a nomeação de monsenhor Orivaldo Robles como vigário geral da arquidiocese pelo prazo de três anos, repetindo-a, no dia 25 de setembro de 2000, “por mais três anos a contar desta data”. Com a nomeação do vigário geral, perderam sua razão de ser os vigários episcopais, bem assim a divisão da arquidiocese em vicariatos. Por outro lado, em razão do crescimento populacional, novas paróquias foram sendo criadas predominantemente na cidade de Maringá, agravando a desproporção entre os três núcleos do vicariato centro. Em 1998, o centro-1 e o centro-3 agrupavam 5 paróquias cada um, enquanto o vicariato centro-2 reunia nada menos que 15. Para a readequação que se fazia necessária, foi assumida a nova denominação de Região Pastoral, ficando a Igreja de Maringá composta, a partir de 1999, de 5 Regiões Pastorais: Oeste, com 10 paróquias; Centro, com 7 paróquias e a Missão Nipo-brasileira; Centro Norte, com 9 paróquias; Centro Sul, com 10 paróquias, e Leste, com 9 paróquias. Evidentemente, com a posterior criação de novas paróquias, esses números foram acrescidos. No início de 1998, ante a imensidão do trabalho administrativo, Krieger pediu a monsenhor Júlio Antônio da Silva, cura da catedral, a indicação de um auxiliar de confiança. A escolha recaiu em Osmar Zaninello, servidor municipal aposentado e cristão de grande vida interior, um dos mais profundos conhecedores de administração pública de todo o país. Como lembraria mais tarde o arcebispo, “em vez de ganhar muito dinheiro assessorando qualquer prefeitura municipal, ele preferiu colocar seus conhecimentos, como voluntário, a serviço da Igreja”.8 Sua competência e dedicação levaram-no a desembaraçar questões difíceis relacionadas a imóveis espalhados por todas as paróquias até os extremos da arquidiocese. Só a contragosto aceitou o registro profissional como diretor de patrimônio da Mitra Arquidiocesana de Maringá: recusava-se a receber salário, ainda que inferior às suas qualificações. Vítima de infarto fulminante, Zaninello faleceu na noite de 23 de agosto de 2004. Num reconhecimento de sua integridade e testemunho cristão, a liturgia de exéquias contou com a presença de 14 padres. Dom Murilo, já arcebispo de Florianópolis, veio presidir as celebrações fúnebres. Na paróquia Santa Maria Goretti, em salão adaptado, de vez que a igreja matriz estava em reforma, no dia 14 de março de 1998, dom Murilo conferiu o presbiterato a Pedro Jorge Delgado Bento, primeiro padre por ele ordenado para sua nova Igreja. Passados três meses e meio, no dia 1º de julho, foi conhecida a eleição, pela Santa Sé, de padre Vicente Costa como bispo titular de Aquæ Flaviæ9 e auxiliar de Londrina. O fato se revestiu de grande significado por ser Costa o primeiro membro do presbitério de Maringá escolhido para o episcopado. Na noite de 19 de setembro do mesmo ano, coube a Krieger presidir a celebração eucarística em que, na catedral basílica de Maringá, padre Vicente foi ordenado bispo. No dia 11 de outubro, grande caravana deslocou-se até Londrina para, como afirmou Krieger, “devolver-lhe” Vicente. De Malta ele veio como seminarista com destino a Londrina, transferindo-se a Maringá em 1971; agora, 27 anos depois, Maringá o conduziu de volta a Londrina na condição de bispo, agradecendo os valorosos serviços de evangelizador prestados em Maringá na catedral, em Sarandi, em São Jorge do Ivaí e em toda a arquidiocese, como coordenado de pastoral.

8 Homilia da missa de corpo presente de Osmar Zaninello, em Maringá, no dia 24 de agosto de 2004.

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9 Aquæ Flaviæ (Chaves, cidade de Portugal) foi diocese do Império Romano criada em 427 e extinta em 462. Situava-se no território da atual arquidiocese de Braga, em Portugal.

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Dom Vicente Costa, primeiro padre da Igreja de Maringá eleito bispo

Ordenação episcopal na catedral basílica de Maringá em 19 de setembro de 1998. O novo bispo ladeado pelos dois arcebispos.

O novo bispo ladeado pelos dois arcebispos.

Posse como bispo auxiliar, na catedral de Londrina, no dia 11 de outubro de 1998.

Dom Jaime impõe as mãos ao novo bispo.

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Memória, quase história Ao irmão que ficou bispo Hoje é fácil reconhecê-lo como um dos nossos. Não fosse o leve sotaque, ninguém diria que nasceu em lugar distante. Até o sobrenome é igual ao de muita gente que teve aqui seu berço. O espírito brincalhão, a gargalhada fácil e a paixão pelo futebol tornam você mais brasileiro que muitos de nós. Não fomos nós, foi você que nos escolheu para irmãos. Só Deus sabe quanto lhe custou. Acompanhei, ainda estudante, a chegada dos primeiros malteses. Pude sentir como foi lhes dura a vida no nosso meio. Sei que fardo carregaram para identificar-se com uma cultura tão estranha à sua. Você, em especial, pagou caro pela inculturação tomada a sério, como sempre foi tudo o que fez. Quando deixou sua pátria, não fazia a mais remota idéia do que viria encontrar. Devem tê-lo assustado os conflitos do novo ambiente. Eram os conturbados anos pós-68. Reduto universitário por índole e ofício, a Curitiba da época não se mostrava exatamente uma ilha de serenidade. Especialmente nos seminários, onde desaguavam as inquietudes todas de um tempo de mudanças. Para quem vinha de um mundo de seculares firmezas, quem sabe lhe tenha acenado a tentação de fazer o caminho de volta. Mas, como os antigos exploradores do Novo Mundo, você queimara suas caravelas ao chegar à nossa praia. Tinha vindo numa viagem sem volta. Você resistiu. Sua carta de navegação indicava apenas um rumo: em frente. Lembro os primeiros anos, quando seu estômago – que não fora consultado – teimava em não aceitar o esquisito cardápio do país que lhe oferecemos. Nós, que o amávamos, chegamos a temer pela sua saúde. Até pela sua vida. Companheiros seus morreram com poucos anos de Brasil. E você desfilava a magrez de um palito. Sem falar nos desencantos do ministério, que esses, ao longo da vida, você os guardou sempre consigo. Por trás do sorriso constante, ninguém adivinhava decepções que só você conhecia. Acostumados à sua fortaleza, ao apoio jamais negado, não o imaginávamos carecer de um ombro amigo. Suas lágrimas a poucos de nós você admitiu mostrar. Até nesses momentos, ao franquear-nos o terreno íntimo de sua dor, talvez estivesse mais ajudando que sendo ajudado. Hoje, nada mais disso importa. Você nos trouxe, em dose redobrada, a alegria de servir o povo, esse povo que é nosso e você transformou em seu. Mostrou-nos, com naturalidade, o padre que o Pai e os irmãos esperam. Revelou-nos a largueza de coração e o vigor de espírito que em nós procuram os homens deste final de século. Ajudou-nos a descobrir no presbitério a nossa família mais verdadeira. Fez-nos ver como, mais forte que o sangue, a ordenação presbiteral cria laços que a vida é incapaz de romper. Ao se tornar bispo, você continua padre. Nunca deixe de ser o padre Vicente que nos elegeu seus irmãos (ROBLES, 1998, p. 16).

276 A Igreja que brotou da mata


Krieger cuidou de reunir normas referentes a agentes e organismos eclesiais, unificando legislação dispersa na arquidiocese. Assim foram dados à publicidade o “Manual dos Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística”, composto por padre Luiz Antônio Bento (1999), e o livro “Estatutos, Diretórios e Subsídios” (2002), com disposições sobre os vários conselhos, a formação sacerdotal e diaconal, os sacramentos e documentos diversos. Pertence ao seu governo arquidiocesano ainda a criação das paróquias: São Bonifácio (1998), em Maringá; São Paulo Apóstolo (1999), em Sarandi; Santa Joaquina de Vedruna (2000); Santa Rita de Cássia (quase-paróquia em 1999, paróquia em 2001); Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (2001); Nossa Senhora Aparecida, na Vila Esperança (2001: quase-paróquia, 2002: paróquia), as quatro últimas em Maringá; Nossa Senhora da Esperança (2000), quase-paróquia em Sarandi, e São Francisco Xavier (2000), paróquia pessoal para japoneses. Em seu tempo de arcebispo em Maringá ocorreu a virada do milênio, com a implementação das medidas pastorais recomendadas em nível mundial e nacional. Ao longo do ano 2000, ele presidiu nas paróquias a celebrações do jubileu preparadas para categorias especiais de cristãos: ministros ordenados, operários, motoristas, famílias, exército (com policiais militares e civis), justiça, religiosos, agricultores, comunicadores, idosos, crianças, professores e jovens. O objetivo foi marcar momentos fortes de evangelização para grupos específicos da sociedade civil e da Igreja.

Abertura das celebrações do 3º milênio cristão, no Natal de 1999.

À época também de seu governo tiveram início, nas Regiões Pastorais, escolas de formação para leigos, com duração de três anos, frutos de antiga aspiração e precursoras do curso de Teologia para Leigos, criado pela PUC-PR câmpus de Maringá. Fato marcante para a vida desta Igreja verificou-se com a nomeação, em 1º de março de 2001, de padre Bruno Elizeu Versari para o cargo de ecônomo arquidiocesano. No prosseguimento da administração do primeiro arcebispo, sem descurar compromissos pastorais, Versari tornou-se responsável, ao lado de Zaninello e de Roseli Aparecida Ernega, secretária da Cúria Metropolitana desde 1º de março de 1999, por colocar a arquidiocese de Maringá entre as mais bem organizadas, sob o ponto de vista administrativo, contábil e fiscal, de todo o país. Além da preocupação com a eficiência no desempenho dos compromissos do cargo, Krieger foi agraciado com feliz escolha de auxiliares competentes. Depois de quatro anos como bispo auxiliar de Londrina, dom Vicente Costa foi transferido para a diocese de Umuarama, que assumiu em 13 de dezembro de 2002, na catedral do Divino Espírito Santo, à qual acorreram 20 bispos, 90 padres, 70 religiosos e religiosas, 60 seminaristas e incontáveis fiéis não só da sua nova diocese, mas de Londrina e de Maringá, trazidos por ônibus especialmente fretados. A Província Eclesiástica de Maringá recebeu de braços abertos o filho querido. Para surpresa de toda a arquidiocese, no dia 20 de fevereiro de 2002, veio a público a notícia da transferência de dom Murilo Krieger para a sé metropolitana de Florianópolis. Depois de 40 anos do governo de dom Jaime, ninguém imaginaria que seu sucessor permanecesse em Maringá por apenas 5 anos incompletos. Um dos seus derradeiros atos na arquidiocese foi a dedicação da capela do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória, por ele oficiada no dia 22 de abril. A obra representou a última etapa de construção

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Capela do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória.

do seminário. Quando foi aberto para abrigar a Filosofia, no início de 1983, dom Jaime deu por encerrada sua longa trajetória de construtor. Desde o longínquo ano de 1958, sempre se encontrou em andamento alguma edificação que lhe exigia tempo e cuidado. Sobre a capela do seminário costumava dizer que a deixaria como tarefa para seu sucessor. Contudo, ao entrar o ano de 1990, sentiu despertar o arquiteto que dormia dentro de si e decidiu completar o projeto do seminário que acalentava desde a posse. Atacou então as obras da capela, inaugurando-a no dia 1º de dezembro do mesmo ano, quando era reitor padre Júlio Antônio da Silva. Nos anos seguintes, com o reduzido número de seminaristas, no entanto, ela entrou em desuso. Decorridos dez anos, padre Sidney Fabril, reitor do seminário e assessor de liturgia da arquidiocese, juntamente com o arquiteto Hélio Moreira Júnior, o artista Zanzal Matar e outros profissionais, assumiu a tarefa de dar à capela as características atuais. E, às vésperas de deixar Maringá, no dia 22 de abril de 2002, dom Murilo celebrou a sua solene dedicação. Coroava-se, dessa forma, a longa saga da construção do seminário que todo bispo, graviter onerata conscientia, recebe como pesado encargo. Na noite seguinte, 23 de abril, apesar de sexta-feira, a catedral basílica encheu-se com o povo que acorreu para se despedir do arcebispo na sua última missa em Maringá, que ganhou os contornos de “celebração grandiosa, bela, mas triste”. À posse do novo arcebispo de Florianópolis, no dia 27 de abril de 2002, compareceu muita gente de Maringá. A celebração eucarística aconteceu no ginásio de esportes do Colégio Catarinense, onde se abrigaram cerca de 2000 pessoas, entre as quais 21 arcebispos e bispos, 220 padres, o governador do Estado e a prefeita da capital, respectivamente Espiridião e Ângela Amin, marido e mulher.

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Memória, quase história O enviado “Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz” (JOÃO 1, 6.8). Assim se refere o evangelista João ao seu homônimo, o Batista, que preparou os caminhos do Salvador. O envio é um tema recorrente na Bíblia. Designa a ação de Deus, que, visando o bem dos homens, manda alguém para lhes prestar serviço. Por mais que configure uma honra, o envio jamais deixa de ser um serviço. Disso o enviado tem consciência bem clara. Entre nós, nos últimos anos, houve um homem, também enviado por Deus, que se chamava Murilo. Não era ele o Senhor, o dono (do latim dominus) do rebanho, mas, em seu nome, prestou o serviço de representá-lo (= torná-lo presente), guiando o rebanho para que lhe fosse fiel. Ao longo de quatro anos e pouco, toda semana, os leitores se acostumaram a encontrar neste espaço a sua palavra. Ao se despedir, foi seu pedido que não deixássemos vazios os canais de comunicação por ele ocupados. Na distribuição das tarefas de substituí-lo, coube-me manter a coluna até que venha a ser ocupada pelo novo arcebispo. Tenho certeza de que para os leitores não foi boa troca. Que fazer? Na vida nem sempre se ganha. Estivemos em Florianópolis para acompanhar nosso ex-arcebispo que, a contragosto, lá deixamos. Para todos que lá fomos o abraço que lhe demos na despedida foi cheio de afeto, mas também de dor. “Foi muito bom ter trabalhado com você”, me disse. Não consegui responder-lhe uma palavra. Estava mudo. Assim é o dom Murilo que aprendemos a amar. Para cada um, uma palavra bem pessoal e amiga. Despojada de qualquer pieguice ou frescura. Carregada, ao mesmo tempo, com todos os tons da apreciação do outro. Do reconhecimento do seu valor. Acredito ser essa, se não a maior, com certeza, uma de suas maiores virtudes. Ninguém dele se aproxima e volta sentindo-se o mesmo. Ele trata o interlocutor de um jeito que o faz sentir-se importante. Porque, de uma forma ou de outra, somos todos importantes. Cada um tem algo pessoal, só seu, que a ninguém mais foi concedido. Algo que permite descobrir-se músico de um instrumento único na orquestra da vida. Dom Murilo nos faz ver isso. Quando alguém toca essa finíssima corda do coração da gente, já nos ganhou para o resto da vida. Talvez assim se explique por que dom Murilo conquista todos que dele se achegam. Se chamados a falar de suas qualidades, podemos enumerar um montão. Nem sempre percebemos essa, tão evidente, aliás, e tão marcante. Há algum tempo, ouvi de um amigo: “Dom Murilo tem a capacidade de ver sempre o lado positivo das pessoas”. Verdade. Mas há mais que isso. Ele tem a rara sabedoria, verdadeiro dom de Deus, de mostrar à pessoa sua singularidade no concerto da obra divina. Talvez isso nos ajude a entender sua afirmativa, repetida à exaustão, de que “Deus é amor”. Possivelmente, ele a tenha entendido melhor que nós. E deseja que também cheguemos a essa verdade, para ele tão clara, como quer que se torne para nós (ROBLES, 2002a, p. 2).

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Administrador arquidiocesano Em Maringá, dia 1º de maio seguinte, reuniu-se na Cúria Metropolitana o colégio de consultores para, atendendo ao que dispõe o CDC, eleger o administrador arquidiocesano encarregado de governar provisoriamente a arquidiocese até a posse do novo pastor. Foi eleito o cura da catedral, monsenhor Júlio Antônio da Silva, conforme documenta a Ata da eleição e posse do Administrador arquidiocesano da Arquidiocese de Maringá Encontrando-se vaga a sede da Arquidiocese de Maringá, por transferência de seu ex -Arcebispo, Dom Murilo S. R. Krieger, para a Sé Metropolitana de Florianópolis (SC), dia 1º de maio de 2002, às 11h00, em Maringá (PR), no prédio da Cúria Metropolitana, reuniu-se o Colégio de Consultores para a eleição do Administrador arquidiocesano, conforme prevê o cân. 421 §1, que diz: “No prazo de oito dias após a notícia da vacância da sé episcopal, deve ser eleito pelo Colégio de Consultores o Administrador diocesano, que governe provisoriamente a diocese”. Justificada a ausência de padre Edmar Peron, atualmente estudando em Roma, compareceram os demais membros do Colégio de Consultores: monsenhor Orivaldo Robles, decano do mesmo Colégio, monsenhor Antônio de Pádua Almeida, coordenador arquidiocesano de pastoral, monsenhor Júlio Antônio da Silva, cura da Catedral, padre Bruno Elizeu Versari, ecônomo da Arquidiocese, padre Israel Zago, pároco, e padre Luiz Antônio Bento, vigário paroquial. Após oração invocando luzes do Espírito Santo, teve início a votação secreta, cujos votos, por serem em número reduzido, foram recolhidos pelo secretário do Conselho e apresentados ao decano, que os conferiu, passando à proclamação dos nomes votados. Ao final da apuração, verificou-se o seguinte resultado: monsenhor Orivaldo Robles: 1 voto, e monsenhor Júlio Antônio da Silva: 5 votos. Por maioria absoluta foi eleito monsenhor Júlio Antônio da Silva, assim proclamado e reconhecido pelo Colégio de Consultores da Arquidiocese de Maringá, que imediatamente lhe deu posse no novo ofício. Agradecendo a confiança dos colegas, o novo Administrador arquidiocesano pediu a colaboração para o fiel desempenho de seu novo cargo, até que a Arquidiocese receba seu novo Arcebispo. Com uma oração final de entrega nas mãos de Nossa Senhora da Glória, padroeira da Arquidiocese, o Administrador arquidiocesano encerrou esta histórica sessão de votação, a primeira na vida da Arquidiocese de Maringá, da qual eu, padre Luiz Antônio Bento, secretário do Colégio de Consultores, lavrei a presente Ata, que vai assinada por mim, pelo Administrador arquidiocesano e pelos demais membros presentes do Colégio de Consultores da Arquidiocese de Maringá. Maringá, 1º de maio de 2002. aa) Mons. Júlio Antônio da Silva Mons. Orivaldo Robles Mons. Antônio de Pádua Almeida Pe. Bruno Elizeu Versari Pe. Luiz Antônio Bento Pe. Israel Zago (BENTO, 2002a, 1 f.).

280 A Igreja que brotou da mata


A profissão de fé, que a legislação da Igreja exige do administrador antes da posse, acabou esquecida no dia da eleição, sendo feita no dia seguinte, 2 de maio, quando o colégio de consultores se reuniu, a convite de padre Francisco Robl, para almoço em sua casa. Na sua regência administrativa, monsenhor Júlio acompanhou os demais bispos do Regional Sul II da CNBB (Paraná) na visita ad limina, nos dias 29-31 de agosto de 2002. Foi recebido pelo papa João Paulo II, juntamente com dom João Braz de Aviz, arcebispo eleito de Maringá, e dom Jaime, que se encontrava em Roma. Em 3 de agosto de 2002, dom Murilo Krieger veio a Maringá colher os frutos de sua iniciativa de implantar na arquidiocese o diaconato permanente. Na catedral basílica ele ordenou nesse dia os dez primeiros diáconos permanentes da Igreja de

Inauguração do CEPA - Centro de Pastoral da Arquidiocese, em 21 de setembro de 2002.

Maringá: Airton de Almeida, José Ribeiro dos Santo, Bento Chináglia, Oscar José dos Santos, Waldemir Antonio Michelin, Mário Savelli Marques, Francisco Crubelati, Benoni Rosa de Miranda, Jair Benalia e César Ribeiro de Castro. Sob a administração de monsenhor Júlio Antônio da Silva, no dia 21 de setembro de 2002, a arquidiocese inaugurou seu centro de pastoral, o CEPA cujas instalações foram abençoadas por dom Jaime. O coordenador de pastoral, monsenhor Antônio de Pádua Almeida, lembrou alguns responsáveis pela obra. Em primeiro lugar, dom Jaime, construtor do prédio da antiga ADAR; depois, dom Murilo, entusiasta do novo centro; também padres Luiz Antônio Bento e Sidney Fabril, coordenadores de pastoral no período da reforma das instalações; Osmar Zaninello, acompanhante diário das obras, e a paróquia da catedral, que ajudou financeiramente a coordenação de pastoral. Krieger voltou ainda a Maringá para ser homenageado, na noite de 2 de outubro de 2003, em sessão solene da Câmara Municipal. Na oportunidade, enumerou três virtudes da gente desta cidade e da região, por ele atribuídas à evangelização aqui praticada pela Igreja Católica: acolhida, criatividade e alegria. Recomendou que todos se esforçassem por conservá-las como valores distintivos de um povo e de uma Igreja que ele aprendeu a amar intensamente e dos quais prometeu jamais se esquecer.

O terceiro arcebispo A regência provisória do administrador não se estendeu por longo interregno, porquanto, dois meses e meio passados, no dia 17 de julho de 2002, foi dada a conhecer a eleição de dom João Braz de Aviz, bispo de Ponta Grossa, para a sede metropolitana de Maringá (JOÃO PAULO II, 2002b, p. 11). Aviz era velho conhecido de alguns padres de Maringá, colegas seus de estudos de Filosofia e de Teologia, feitos em Curitiba; sua ligação com a Igreja de Maringá, antiga e profunda. Na assembléia do Regional Sul II, realizada no Mossunguê, em Curitiba, nos dias 14-19 de setembro de 1980, a coordenação eleita para a CRC – Comissão Regional do Clero foi composta pelos padres Antônio de Pádua Almeida, coordenador; João Braz de Aviz, vice-coordenador, e Orivaldo Robles, secretário. De outros padres de Maringá mais jovens Aviz foi reitor e/ ou professor no curso de Teologia, em Londrina.

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Padre João Braz de Aviz e o autor no V Curso de Formadores do DEVYM-OSLAM, em Toluca, México (1986).

O novo arcebispo maringaense nasceu em Mafra (SC), no dia 24 de abril de 1947. É o segundo de um grupo de oito filhos do casal João Avelino e Juliana Hacke de Aviz, ambos falecidos. Conta entre seus irmãos com mais um padre e uma religiosa. Ainda criança, a família se transferiu para Borrazópolis, pequeno município norte-paranaense. Em 21 de abril de 1958, ingressou no Seminário Menor São Pio X, dos padres do PIME – Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras,10 em Assis (SP), onde estudavam na época os seminaristas menores da diocese de Londrina. Com a criação, em março de 1964, da diocese de Apucarana, para ela se transferiu, de vez que a paróquia de Borrazópolis passou à jurisdição da nova diocese. Cursou Filosofia no Seminário Provincial Rainha dos Apóstolos, em Curitiba, onde foi colega de alguns padres de Maringá. Depois, em Roma, estudou de 1967 a 1972 na Pontifícia Universidade Gregoriana, obtendo a licenciatura em Teologia. Foi ordenado padre por dom Romeu Alberti, no dia 26 de novembro de 1972, na catedral de Apucarana. Entre os encargos pastorais exercidos figuram: pároco de várias paróquias de sua diocese (19731984); reitor do seminário maior – Instituto de Filosofia de Apucarana (1984-1985); diretor espiritual no seminário do Ipiranga, em São Paulo, além de reitor do seminário maior de Londrina (1986-1988). De 1989 a 1992 freqüentou a Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma, onde obteve o doutorado em Teologia Dogmática. Cura da catedral de Apucarana e professor de Teologia Dogmática no Instituto Paulo VI, de Londrina (1991-1994), além de coordenador de pastoral de sua diocese, foi eleito, em 6 de abril de 1964, bispo titular de Flenucleta11 e auxiliar de Vitória (ES), tendo-se ordenado bispo em Apucarana, no dia 31 de maio de 1994. Para lema do seu episcopado escolheu o dístico “Todos sejam um” (JOÃO 17, 21), em português, diferente da maioria, que opta por um dito bíblico expresso em latim. Empossado no dia 9 de junho do mesmo ano, permaneceu na capital do Espírito Santo pelo espaço de 4 anos, recebendo, a 12 de agosto de 1998, a nomeação para bispo diocesano de Ponta Grossa, diocese que assumiu em 15 de outubro do mesmo ano. Depois de 4 anos incompletos, foi-lhe comunicado que o Santo Padre o queria na condução da arquidiocese de Maringá. No dia seguinte à tomada de conhecimento de sua eleição, o colégio de consultores da arquidiocese encaminhou-se a Ponta Grossa para apresentar-lhe os cumprimentos de sua nova Igreja. Ao mesmo tempo, com ele os consultores discutiram providências concretas e imediatas, como os pormenores da posse, que ficou definida para o dia 4 de outubro próximo, uma sexta-feira, às 19h30, na catedral basílica de Maringá. Nesse data, em clima de alegria e fé, Aviz foi apresentado à Igreja de Deus presente em Maringá, que se fez representar por grande concurso de povo reunido na catedral basílica Nossa Senhora da Glória. A posse do terceiro arcebispo de Maringá deu-se, segundo o costume, com a leitura pública da bula oficial de sua

10 “Estrangeiras” não consta mais do nome, mas a sigla permanece igual.

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11 Flenucleta era sede episcopal da antiga Mauritânia Cesariense, dos romanos, no Norte da África, atual Argélia.

A Igreja que brotou da mata


nomeação, enviada pela Santa Sé e redigida em latim, cuja tradução diz: JOÃO PAULO Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao venerável irmão João Braz de Aviz, até agora bispo de Ponta Grossa, transferido à Igreja Metropolitana de Maringá, saudações e bênção apostólica. Como é nosso dever administrar a cura espiritual e pastoral de todo o Povo de Deus, o nosso pensamento voltou-se, de modo especial, para a Igreja Metropolitana de Maringá, cuja sede se encontra atualmente vacante, devido à transferência do seu último arcebispo, nosso venerável irmão Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ. Examinando o assunto com grande atenção, confiantes, Nós nos dirigimos a ti, Venerável Irmão, que, ornado de excelentes qualidades da alma e do intelecto, como também largamente recomendado pelas tuas atividades pastorais, julgamos idôneo para governar essa mesma Igreja. Portanto, acatando a resolução da Congregação dos Bispos e liberado do vínculo anterior, pela nossa autoridade apostólica, te constituímos Arcebispo de Maringá, com todos os direitos e igualmente todas as obrigações que, segundo as normas, competem a tal ofício. Ademais, pedimos que tua nomeação seja reconhecida pelo clero e pelo povo da tua arquidiocese para que saibam dessa incumbência a ti concedida. Exortamos ainda os nossos queridos filhos e filhas para que, com grande alegria te aceitem como pastor e a ti, Venerável Irmão, se unam pelos vínculos do amor, da unidade e da obediência. Pedimos também que, enquanto cumprires o teu ministério, brilhem em ti as virtudes cristãs e humanas. Esperamos que, ao assistires com plena dedicação cristã aos fiéis de tua comunidade, possam eles refletirem contigo as palavras da Bíblia: “Todo sumo sacerdote, escolhido entre os homens, é constituído para o bem dos homens nas coisas que se referem a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados” (Heb 5, 1). Dado em Roma, junto de São Pedro, aos dezessete dias do mês de julho do ano do Senhor de dois mil e dois, vigésimo quarto de nosso pontificado. a) João Paulo II, Papa (JOÃO PAULO II, 2002a, 1 f.). A competente ata foi lavrada e lida ao final, para que todas as formalidades fossem cumpridas e o acontecimento oficial ganhasse registro para a posteridade: Ata da posse de Dom João Braz de Aviz, Arcebispo Metropolitano de Maringá No dia 4 de outubro de 2002, na Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, em solene celebração da Eucaristia, tomou posse como arcebispo metropolitano de Maringá o excelentíssimo senhor dom João Braz de Aviz, até então bispo diocesano de Ponta Grossa, no Estado do Paraná. Às 18h30, em frente à Catedral, diante do povo que o aguardava, dom João foi recepcionado por monsenhor Júlio Antônio da Silva, administrador arquidiocesano da Igreja em Maringá e cura da Catedral, juntamente com dom Murilo Sebastião Ramos Krieger e dom Jaime Luiz Coelho, seus digníssimos arcebispos predecessores. Na sacristia do templo, onde entrou depois de breve visita ao Santíssimo Sacramento, antes de paramentar-se, o arcebispo eleito foi recebido pelos senhores arcebispos e bispos presentes, em número superior a duas dezenas, do Paraná e de outras regiões do Brasil, pelos membros do Colégio de Consultores da arquidiocese de Maringá, presbíteros de Maringá e de outras procedências, diáconos e seminaristas. Na Catedral, entre a multidão vinda de várias paróquias, faziam-se presentes também religiosos, e autoridades militares e civis, representando os Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo. A celebração eucarística foi presidida pelo arcebispo eleito, tendo a seu lado os arce-

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bispos predecessores em Maringá, e também dom Lúcio Baumgaertner, presidente do Regional Sul-2 da CNBB, e dom Pedro Fedalto, arcebispo de Curitiba. Ao início da santa missa, antes do Hino de Louvor, o administrador arquidiocesano examinou as Letras Apostólicas e ordenou a sua leitura, dando a posse a dom João Braz de Aviz no ofício de arcebispo da Igreja que está em Maringá. A seguir, o novo arcebispo foi saudado por monsenhor Júlio, por padre Obelino Silva de Almeida, representando o presbitério de Maringá, por irmã Katarina Klar, representando os religiosos, por Marcos Eduardo Pintinha, representando os leigos, por dom Murilo e por dom Jaime. Recebeu também os cumprimentos do senhor João Ivo Caleffi, vice-prefeito municipal, Antônio Carlos Marcolin, presidente em exercício da Câmara de Vereadores, e de José Cândido Sobrinho, juiz representando o Poder Judiciário. Teve prosseguimento a santa missa, com os atos costumeiros de uma Eucaristia solene e histórica para a Igreja de Maringá. Ao final, eu, padre Luiz Antônio Bento, secretário do Colégio de Consultores, lavrei a presente Ata que vai por mim assinada, pelos excelentíssimos senhores arcebispos e bispos, dom João Braz de Aviz, dom Murilo Krieger, dom Jaime Luiz Coelho, dom Lúcio Baumgaertner, dom Pedro Fedalto e pelos membros do Colégio de Consultores da arquidiocese. Maringá, 4 de outubro de 2002. Assinaturas: Pe. Luiz Antônio Bento +João Braz de Aviz +Murilo SR Krieger, scj +Jaime Luiz Coelho +Lúcio Ig. Baumgaertner +Pedro A. M. Fedalto Mons. Orivaldo Robles Mons. Júlio Antônio da Silva Pe. Edmar Peron Mons. Antônio de Pádua Almeida Pe. Bruno Elizeu Versari Pe. Israel Zago (BENTO, 2002b, 1 f.). A gestão de Aviz à frente da Igreja de Maringá foi marcada, antes de tudo, pela simplicidade de um homem que se fez aceito, com muita naturalidade, pelas pessoas humildes do povo. De todos os pastores que, até os dias atuais, conduziram o rebanho católico da arquidiocese, dom João foi − também pelo seu curto governo − aquele que menos se fez conhecer na cidade de Maringá. Assumindo a nova Igreja, ele nomeou vigário geral monsenhor Júlio Antônio da Silva, colega desde os tempos de seminário, com quem sempre manteve cordial amizade. Fixou então como meta inicial conhecer, na inteireza possível, a situação da parcela do povo de Deus que lhe tocou dirigir. Para isso, restaurou uma prática à qual o primeiro bispo atribuiu grande importância, não só nos primórdios, mas durante as quatro décadas de seu governo diocesano: as visitas pastorais. Aviz planejou caminhar da periferia para o centro, visitando primeiro as paróquias mais distantes. Começou pela paróquia de Inajá, no extremo oeste, junto ao rio Paranapanema. Era sua intenção, após vencida a etapa de visitas na Região Pastoral Oeste, fazer o mesmo percurso na Região Pastoral Leste, a partir de São Pedro do Ivaí. Só então visitaria as numerosas paróquias das regiões mais centrais. Não lhe foi dado tempo para cumprir o projeto. Pouco depois de sua posse, retornou de Roma padre Edmar Peron, que concluíra curso de mestrado em Teologia Dogmática com ênfase em Sacramentos, dessa maneira enriquecendo o corpo docente do curso teológico de Londrina onde estudam seminaristas do Norte do Paraná. Ao mesmo tempo, como assessor de liturgia em nível arquidiocesano, Peron veio dar novo impulso a uma área que jamais deixou de receber da Igreja de Maringá cuidadosa atenção, desde o tempo de padre Raimundo Le Goff, fielmente acompanhado por maestro Aniceto Matti. Confiado ao zelo, entre outros, de padres Francisco Jobard, Vicente Costa, Bruno

284 A Igreja que brotou da mata


Posse de dom João 04 de outubro de 2002

A acolhida de dom Murilo.

Os três arcebispos.

O abraço na transmissão de governo.

Dom João na cátedra de mestre da fé.

285 Os 50 anos da Diocese de Maringá


E. Versari e Sidney Fabril, a (arqui)diocese de Maringá sempre reconheceu à sagrada liturgia importante função celebrativa e evangelizadora. Confirma-o a revelação de dom Murilo para quem as celebrações na catedral basílica de Maringá figuram entre as mais cuidadas que lhe foi dado presidir em seu ministério episcopal. Dom João preocupou-se ainda em dar continuidade à obra tão cara a dom Jaime e a dom Murilo de levar a palavra de Deus aos recantos mais distantes, através dos modernos meios de comunicação. Em vista desse propósito, deu grande incentivo à equipe sob comando do advogado Irivaldo Joaquim de Souza, que se entregou, de corpo e alma, à tarefa de remodelar a TV 3º Milênio, cedida por monsenhor Gerhard Schneider à arquidiocese. Outro distintivo de sua gestão foi a responsabilidade partilhada com o maior número possível de colaboradores. Seus longos encontros com lideranças começavam por generoso tempo dedicado à oração. Cabe lembrar a mudança ocorrida no Conselho Arquidiocesano de Pastoral que, por sua decisão, foi ampliado para os atuais 63 membros, autêntica mini-assembléia quadrimestral de um dia inteiro, aberto com celebração da Eucaristia, para decisões sobre a caminhada da Igreja Particular de Maringá. O conselho, “fonte de diálogo e ânimo”, para Aviz revelou-se também avalista de uma pastoral sem distorções, não paralela, com movimentos eclesiais independentes ou paróquias isoladas do concerto da Igreja arquidiocesana. A interação contínua com os padres, no trato aberto de todos os assuntos, inclusive os mais espinhosos, levou o arcebispo a confessar: “Para mim haver duas ou três linhas entre o clero não é problema. Problema acontece quando deixamos de ter pontos comuns” (AVIZ, 2004, p. 6-9). Foi dado também peso maior ao Conselho de Assuntos Econômicos da arquidiocese, reforçando sua co-responsabilidade, ao lado do bispo, no cuidado dos recursos indispensáveis à Igreja para o fiel desempenho da missão evangelizadora.

Reunião do Conselho Arquidiocesano de Pastoral, modelo colegiado de governo diocesano, em 19 de outubro de 2003.

Já no final de seu tempo em Maringá aconteceu, no ginásio de esportes do Colégio Marista, o 4º Intereclesial das CEBs do Regional Sul II, que reuniu, de 21 a 24 de fevereiro de 2004, um total de 950 delegados, além de assessores, bispos e coordenadores de plenário. O tema foi “CEBs, espiritualidade libertadora”, e o lema, “Seguir Jesus no compromisso com os excluídos”. Todas as dioceses do Estado se fizeram representar no evento, que celebrou uma caminhada histórica da Igreja do Paraná desde os anos 60.

286 A Igreja que brotou da mata


4º Interclesial das CEBs do Regional Sul II (Paraná), de 21 a 24 de fevereiro de 2004, no Colégio Marista.

Da disposição de iniciar conhecendo todas as comunidades da Igreja arquidiocesana dom João Braz de Aviz não realizou a quinta parte. Faltava-lhe visitar uma paróquia da Região Pastoral Oeste e as outras quatro regiões inteiras quando, no dia 28 de janeiro de 2004, convocou para o café da manhã o colégio de consultores que, atônito, ouviu dele a notícia de que o Santo Padre, no dia 7 de janeiro, portanto, havia três semanas, o tinha removido para a sé metropolitana de Brasília. Ficou agendada sua missa de despedida da arquidiocese para 19 de março próximo, na catedral basílica. No dia 23 de março, embarcou com destino a Brasília, onde foi empossado quatro dias mais tarde. Para quem chegou com sorriso de irmão e sonho de cumprir aqui o resto de seus dias, a meteórica passagem por esta Igreja representou uma provação de fé. Mais de uma vez, Aviz confessara que vir para Maringá significara sua volta para casa. Afinal, toda a sua vida conheceu como único referencial a terra vermelha e o povo caloroso do Norte do Paraná. No comunicado oficial de sua despedida, não escondeu a surpresa de verificar que estava, como reconheceu, “apenas iniciando minha missão episcopal em Maringá”. Sua permanência no cargo foi de 16 meses. Quem dele se aproximou − digam-no os irmãos das comunidades visitadas − deixou-se encantar pelo carinho, pelo sorriso aberto e, mais que tudo, pela intensidade de amor alegre ao Deus uno e trino, modelo de toda espiritualidade cristã. Ele representou um sinal luminoso de que no meio das provações da vida há sempre espaço para a alegria e a esperança – desde que se cultive a fé vivida em comum. Sua posse na capital federal aconteceu na manhã do dia 27 de março de 2004, na catedral, diante de 33 cardeais, arcebispos e bispos, de mais de 250 presbíteros, e de cerca de 1500 fiéis, meia centena dos quais de Maringá.

287 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Memória, quase história O novo arcebispo de Maringá Os católicos de Ponta Grossa não devem estar acreditando no provérbio segundo o qual o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. No espaço de cinco anos, pela segunda vez, vão entregar a Maringá o seu bispo. Como dom Murilo, o novo arcebispo é catarinense de nascimento e não completou 60 anos. Natural de Mafra (SC), muito cedo veio para o Paraná, criando-se em Borrazópolis. Entrou para o seminário em 1958. Ordenou-se padre em 1972. Dia 24 de abril passado fez 55 anos. Chama-se dom João Braz de Aviz. Como José Amaury, o irmão mais velho, pároco na capital do Estado, foi colega de alguns de nós no Seminário Maior Rainha dos Apóstolos, em Curitiba, nos anos 60. Brincávamos, lembrando-lhes que, em idos tempos, não teriam sido aceitos no seminário. Ser filho de açougueiro era impedimento para tornar-se padre. E seu pai, João Avelino, era então o melhor açougueiro de Borrazópolis. Os Aviz exibiam grande robustez física, por conta de uma alimentação em que, desde a infância, carne era prato comum. Quando, vez por outra, num passeio, resolvíamos fazer churrasco, adivinhe quem, por ter prática, cuidava de tudo. João sempre foi atuante no presbitério de sua diocese, desde os tempos de dom Romeu Alberti. Além de pároco, foi formador na Filosofia e Teologia em São Paulo, Apucarana e Londrina. Cursou Teologia em Roma, para onde voltou a fim de fazer o doutorado. Em 1994, foi nomeado bispo auxiliar de Vitória (ES), de lá se transferindo, em 1998, para Ponta Grossa. Dom João Braz de Aviz será empossado arcebispo de Maringá na catedral, no vindouro 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis. Faz parte de sua biografia um episódio dramático, quase milagroso, quando pároco de Ivaiporã. A caminho de Palmital, cidade próxima, para celebrar missa em lugar do padre ausente por viagem, na estrada, foi dominado por ladrões, que passaram a trocar tiros com os ocupantes de um carro transportador de valores, que esperavam assaltar. Forçado a caminhar, de mãos erguidas, para o veículo blindado, foi alvejado no abdome por um disparo de espingarda que o prostrou por terra. Os bandidos fugiram. O carro forte seguiu caminho. Ele ficou estirado na estrada, sangrando durante horas. Removido para Pitanga, foi depois levado para hospital em Ponta Grossa. Surpreendentemente, recuperou-se por completo, mas ainda carrega no corpo mais de 120 caroços de chumbo. Por troça, aconselhamo-lo a levar sempre consigo uma radiografia e o atestado médico para exibir em aeroporto ou banco, quando for barrado pelo detector de metais. Esse é o nosso futuro arcebispo. Simples, correto, amigo, alegre, forte na provação, fiel a seus deveres. De grande vida interior e profundo amor à Igreja. Damos graças ao Senhor, que não deixa sem pastor o seu rebanho. Aguardamo-lo com fé e esperança. Conhecemos a herança de dom Jaime e dom Murilo, que caberá a ele administrar. De coração aberto acolhemo-lo como o “bendito que vem em nome do Senhor”. E nos colocamos a seu lado para construirmos juntos a Igreja desejada por Cristo neste início de 3º milênio cristão (ROBLES, 2002b, p. 2).

288 A Igreja que brotou da mata


A história se repete À Igreja de Maringá parece reservada a sina do ineditismo. Tornou-se sede de bispado antes dos dez anos de fundação da cidade; foi dirigida pelo mesmo pastor durante quatro décadas; da mesma sé diocesana recebeu dois arcebispos; teve um governo episcopal relâmpago, de 15 meses e 3 dias; por último, em menos de dois anos, elegeu dois administradores arquidiocesanos. Depois de longo período de estabilidade, uma agitação de tirar o fôlego. Para quem aprecia mudanças, de 1997 a esta parte foi um tempo de festa. No dia 30 de março de 2004, na paróquia Santa Maria Goretti, reuniram-se os membros do colégio de consultores para a eleição do administrador da arquidiocese, cuja sede se encontrou vaga com a transferência do pastor para Brasília. Do importante acontecimento foi lavrada ata nos seguintes termos: Ata da eleição e posse do Administrador arquidiocesano da Arquidiocese de Maringá Estando vacante a sé metropolitana de Maringá pela posse de dom João Braz de Aviz como arcebispo de Brasília, em atendimento ao que dispõe o Código de Direito Canônico, cân. 424ss, no dia 30 de março de 2004, às 9h00, na Paróquia Santa Maria Goretti, na cidade de Maringá, reuniu-se o Colégio de Consultores para a eleição do administrador arquidiocesano. Compareceram todos os seis membros do Conselho: monsenhores Orivaldo Robles, decano, Antônio de Pádua Almeida, Júlio Antônio da Silva e padres Israel Zago, Bruno Elizeu Versari e Edmar Peron. Inicialmente, na capela do Santíssimo Sacramento, dentro da igreja matriz, os Consultores rezaram suplicando fidelidade aos desígnios de Deus e luz para atender ao verdadeiro bem da santa Igreja. Depois, em sala própria, realizou-se o escrutínio secreto que apontou como resultado: 4 (quatro) votos para monsenhor Antônio de Pádua Almeida, coordenador da ação evangelizadora da Arquidiocese e pároco da Paróquia Divino Espírito Santo, 1 (hum) voto para monsenhor Orivaldo Robles, e 1 (hum) voto para padre Israel Zago. O decano do Colégio de Consultores declarou eleito o mais votado, proclamando-o administrador da arquidiocese de Maringá até a posse do novo arcebispo. Na aceitação do resultado da eleição, o novo administrador arquidiocesano agradeceu a confiança dos seus pares, ressaltando a necessidade da efetiva colaboração de todas as lideranças da Igreja local, particularmente do Colégio de Consultores, condição indispensável para o bom andamento da vida da Igreja Particular de Maringá, especialmente neste período de espera do novo arcebispo. À continuação, diante dos Consultores, o administrador fez a profissão de fé, conforme dispõe o cân. 833 n. 4, do CDC. Terminada a profissão, o administrador recebeu os cumprimentos dos demais membros do Colégio de Consultores, convidando-os para a oração que deu por encerrada esta reunião de eleição da qual lavrei a presente Ata, que vai assinada por mim, padre Edmar Peron, secretário ad hoc, pelo administrador arquidiocesano e pelos demais membros do Colégio de Consultores. Maringá, 30 de março de 2004. Pe. Edmar Peron Mons. Antônio de Pádua Almeida Mons. Orivaldo Robles Mons. Júlio Antônio da Silva Pe. Israel Zago Pe. Bruno Elizeu Versari (PERON, 2004, 1 f.). Eleito administrador arquidiocesano, Almeida viu-se forçado a dividir com os demais membros do colégio as celebrações do sacramento da crisma agendadas por Aviz até o final do ano. Continuando pároco, sem previsão de vinda do novo pastor, ser-lhe-ia impossível, em todos os finais de semana, deslocar-se a várias paróquias da arquidiocese. De 21 a 30 de abril, Almeida participou, em Itaici, município de Indaiatuba (SP), da 42ª Assembléia Geral da CNBB. No meio dos bispos do Paraná reviveu o clima de co-responsabilidade pastoral que tinha longamente dividido no Regional Sul II, durante os anos 70 e 80. A volta a Itaici trouxe-lhe à memória os

289 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Inauguração da TV 3º Milênio

Dom João benze as novas instalações.

Padre Almeida e doutor Irivaldo desatam a fita.

anos de coordenador de pastoral, quando, mais de uma vez, acompanhou dom Jaime àquelas memoráveis assembléias que há décadas se verificam no casarão dos jesuítas. A qualidade de administrador da arquidiocese assegurou-lhe na assembléia direito a voto igual ao de um bispo. A respeito, seu antigo diretor espiritual no seminário e arcebispo de Londrina, dom Albano Cavallin, passou-lhe um bilhete com os jocosos dizeres: “Almeida, aqui você é mais importante que dom Paulo (Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo). Você vota, ele não”. O estatuto da CNBB veda aos bispos eméritos o voto nas assembléias do colegiado.12 Em sua gestão administrativa abriu-se a nova etapa da TV 3º Milênio, depois de reformulada inteiramente por obra de Irivaldo Joaquim de Souza. Dom João Aviz veio de Brasília para, no dia 16 de julho de 2004, inaugurar as novas instalações, em cerimônia que contou com a presença de dezenas de padres, educadores, autoridades e representantes da imprensa. Coube ao administrador arquidiocesano e a Souza, diretor-presidente, desatarem a fita simbólica dando por inauguradas as novas instalações da TV 3º Milênio. Após oito meses de vacância da sé episcopal, no dia 29 de setembro de 2004, foi dada a notícia oficial da eleição do quarto arcebispo metropolitano de Maringá, dom Anuar Battisti, até então bispo de Toledo, no sudoeste do Estado (JOÃO PAULO II, 2004b, p. 11). Antes de passar às mãos do novo arcebispo o comando da arquidiocese, Almeida recebeu dos padres jesuítas a paróquia de São José Operário que, desde a fundação, em 14 de agosto de 1954, permanecera sob seus cuidados. Em vista da diminuição de padres e da opção por trabalho em áreas de missão, mais de uma vez tinha o provincial da Companhia de Jesus manifestado desejo de entregar à Igreja arquidiocesana a paróquia que, por mais de 50 anos, os jesuítas atendiam em Maringá. Nunca houve, anteriormente, a possibilidade de satisfazê-lo. Sob a administração de Almeida, finalmente, a diocese de Umuarama solicitou uma paróquia, onde pudessem residir seus seminaristas estudantes de Filosofia na PUC-PR, câmpus de Maringá. Em contrapartida, enviaria dois padres para atendimento paroquial e aos seminaristas. No dia 4 de janeiro de 2005, em solene Eucaristia com grande concurso de povo e numerosos padres, a Companhia de Jesus devolveu à Igreja de Maringá a comunidade paroquial de São José Operário. No papel de administrador arquidiocesano, Almeida recebeu a paróquia que conservava em Maringá a lembrança viva da gloriosa saga iniciada em 1610 pelos filhos de Inácio de Loyola nestas terras de Guairá. No seguinte dia 15, tomaram posse padres Wilson Galiani e Antônio Luiz Catelan Ferreira, da diocese de Umuarama. Idêntica medida foi tomada em parceria com a diocese de Campo Mourão, que se responsabilizou, no início de 2006, após entendimento com o quarto arcebispo metropolitano, pela paróquia de Mandaguaçu para onde enviou, juntamente com seus seminaristas, também padres Paulo Roberto de Lima e Edinaldo Velozo da Silva.

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12 Informação passada ao autor, em Maringá, por Almeida, no dia 4 de maio de 2004.

A Igreja que brotou da mata


Memória, quase história Um bom administrador Numa de suas internações na Santa Casa, infelizmente necessárias já de algum tempo, quando ainda não se sabia quem haveria de ser o novo arcebispo nem quando iria chegar, cônego Pedro Makiyama, de Doutor Camargo e Ivatuba, assim se expressou: “Por que vem bispo de fora? Escolhe Almeida bispo. Está bom assim”. Quando chegou a saber, padre Almeida, com a veia humorística que todos admiram, reagiu no estalo: “Precisamos cuidar bem do Makiyama. Não posso perder esse voto”. Brincadeira à parte, a verdade é que, na sua habitual fala pausada, quase inaudível, do estritamente necessário, dispensando artigos e enfeites de linguagem, o bom Makiyama, exemplo de simplicidade e de grandeza interior, apenas disse em voz alta o que a maioria (não só dos colegas, mas de todos que o conhecem) pensou sempre. O período de transição que atravessamos sob seu comando foi bem uma prova. Não é fácil a missão do administrador diocesano. Que o diga padre Júlio, que passou por isso. Sem abandonar as responsabilidades da paróquia, que inevitavelmente sofrem redução no atendimento, não sendo bispo, o escolhido passa a carregar o peso das atribuições (e atribulações) episcopais. São inacreditáveis a dimensão e a quantidade de questões às quais ele é chamado a dar resposta. Não admira que alguns padres, pelo que se ouve dizer, tenham recusado a nomeação para o episcopado. Ao final destes quase oito meses, é dever de justiça registrar o acerto do Colégio de Consultores quando, a 30 de março último, escolheu padre Almeida para administrador arquidiocesano. Não há como questionar a competência e habilidade com que ele soube conduzir o governo da arquidiocese. Nesse período, tivemos à frente da Igreja de Maringá um presbítero sábio, prudente, justo, extremamente preocupado com o bem da Igreja. E ainda, para felicidade nossa, dotado de um bom humor que a todos conquista. Mesmo quando dele se diverge, é quase impossível deixar de querer-lhe bem. Esse dom raro, presente de Deus, veio facilitar bastante o enfrentamento de situações penosas que, de outra forma, trariam desgastes maiores à Igreja. Deus o abençoe, Almeida [...] Quem, como você e Julinho, carregou esse fardo, há de ter o nome inscrito no “livro da vida do Cordeiro” (Ap 21, 27) (ROBLES, 2004c, p. 12).

291 Os 50 anos da Diocese de Maringá


O arcebispo do jubileu O quarto arcebispo de Maringá é gaúcho de Alto Honorato, município de Lajeado (RS), onde nasceu em 19 de fevereiro de 1953, terceiro dos oito filhos do casal Anicheto Battisti e Edorilda Knipof dos Santos, falecida. Tem uma irmã, Lourdes, religiosa da Congregação de São Carlos, e um irmão, José, padre palotino. Os demais irmãos, todos homens, são casados. Ainda criança, em 1963, transferiu-se com a família para Tupãssi (PR), ingressando, ano seguinte, no seminário menor de Toledo onde cursou o ensino fundamental. Depois estudou no seminário de Cascavel e completou o antigo segundo grau no Seminário São José, de Curitiba. Também na capital paranaense cursou Filosofia, na PUC-PR, enquanto residia no Seminário Rainha dos Apóstolos, iniciando, a seguir, o curso de Teologia no Studium Theologicum. Depois de um período de cinco meses de formação espiritual em Frascati, na Itália, veio para a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, onde fez os dois últimos anos de Teologia (1979-1980). Recebeu de dom Geraldo Majella Agnelo a ordenação presbiteral em Toledo, no dia 8 de dezembro de 1980. De 1981 a 1985, foi reitor do seminário de Toledo, pároco e professor universitário; depois, reitor da comunidade dos seminaristas maiores do Oeste do Paraná em Curitiba.

Padres João Braz de Aviz e Anuar Battisti durante o V Curso de Formadores (1986), em frente à embaixada brasileira, na Cidade do México.

Exerceu a presidência da OSIB – Organização dos Seminários e Institutos (filosóficos e teológicos) do Brasil, e da Organización de Seminarios Latinoamericanos (OSLAM); participou em Roma, da assembléia geral do Sínodo dos Bispos sobre formação presbiteral, em 1990. Ocupou em Bogotá, Colômbia, de 1991 a 1995, a secretaria executiva do DEVYM – Departamento de Vocaciones y Ministerios, do CELAM. Administrador diocesano de Toledo de 1995 a 1998, foi, a 15 de abril, eleito bispo da diocese, recebendo a ordenação episcopal no dia 20 de julho de 1998. Para o quatriênio 2003-2007 é responsável pela seção de Seminários e Ministérios Ordenados, do CELAM, e pela Comissão para os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada, da CNBB. O novo bispo escolheu para diretriz de seu ministério episcopal a recomendação paulina Ambulate in Domino = Andai no Senhor (COLOSSENSES 2, 6). Em que pese o esvaziamento populacional dos últimos anos, a arquidiocese a ele confiada, em suas 52 paróquias, distribuídas pelos 27 municípios da área, comportava em 2004 uma população estimada de 620.466 pessoas. Nessa multidão a parcela maior, ou 476.317 pessoas, i. é, 76% do total, concentrava-se na região metropolitana (Maringá: 308.894 habitantes; Sarandi: 83.624; Paiçandu: 36.151; Marialva: 29.212, e Mandaguaçu: 18.436).13 No início da semana seguinte ao conhecimento do nome do arcebispo, em 4 de outubro, os membros do colégio de consultores da arquidiocese deslocaram-se a Toledo para apresentar-lhe cumprimentos e tratar da nova situação eclesial de Maringá. Ficou acertada a posse de Battisti para o dia 24 de novembro, uma quarta-feira, às 20h00, em missa solene na catedral basílica.

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13 Para os mesmos 27 municípios, estimativa do IBGE apontava, em 1º de julho de 2006, um total de 664.420 habitantes, dos quais cinco totalizavam 517.275: Maringá (324.397), Sarandi (88.747), Paiçandu (37.096), Mandaguari (33.841) e Marialva (33.194).

A Igreja que brotou da mata


Memória, quase história Querido irmão Anuar Olhando para trás, dou-me conta de que, há mais de 40 anos, liguei minha vida à sua. Naquele tempo, a gente ingressava numa Igreja Particular através da tonsura. Era o rito de admissão do seminarista como clérigo. Quando a recebi, aos 22 anos, integrei-me no clero de Maringá. Você era então uma criança de 10 anos. O sacramento da Ordem veio depois qualificar-me como extensão do bispo, sem o qual não faz sentido nosso oficio de presbíteros, servidores do povo de Deus. O padre só é padre através do bispo e em comunhão com ele. Prometi obedecer-lhe e respeitá-lo quando você era um garoto de 13 anos e nem sem sonho atinaria com o que estava acontecendo. Ao final de minha ordenação presbiteral, em dezembro de 1966, dom Jaime tomou entre as suas as minhas mãos e perguntou: “Prometes a mim e aos meus sucessores obediência e respeito?” “Prometo”, respondi. Eu não tinha como saber, mas naquela hora aceitava seu comando de pastor e mestre. Com 38 anos de antecedência, eu já o reconhecia meu ponto de referência na missão evangelizadora que só posso exercer em comunhão com você e sob seu governo. Em dom Jaime aprendi a ver a figura do pai. Quando o conheci, eu era um adolescente de 16 anos. Nos 40 seguintes, acostumei-me com a sua atuação de supervisor da ação evangelizadora, a quem coube orientar o povo de Deus presente nesta Igreja que está em Maringá. Igreja que ele gerou e continuou acalentando desde o berço, entre as privações e as rudezas de uma região carente de tudo. Para quem observa com atenção, não há nela hoje um único espaço de vida católica, ainda o mais escondido, que não revele a sua presença. Para a Igreja de Maringá ele foi pai, mãe, operário, catequista, padre e bispo. Com você será diferente. Perdoe-me se não me animo a reconhecê-lo como pai. Gosto mais de vê-lo como um irmão, que vem para uma casa que é sua, mas em cuja construção eu estou também, há tempo, colocando minha frágil pedrinha, pequena e cheia de falhas. Na condição de segundo mais antigo entre os padres de Maringá, asseguro-lhe que você pode chegar e sentir-se em casa. Diferentemente de Jesus ao entrar no mundo (cf. Jo 1, 11), saiba que você vem para o que é seu e os seus o recebem com carinho. Se me escapa o pronome “você”, é por conta da intimidade que mantêm irmãos no trato diário. Em nada diminui o respeito, acatamento e obediência que lhe devo na fé e na comunhão eclesial. A Teologia me ensinou e a fé me assegura que, em comunhão com o bispo de Roma, o sucessor dos apóstolos em Maringá agora se chama Anuar. Por sua boca, irmão e bispo, o Senhor fala à sua Igreja que está em Maringá. É assim que o recebo. Assim o recebemos todos; pode estar certo (ROBLES, 2004a, p. 2).

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Dando cumprimento à decisão tomada na 2ª Semana Brasileira de Catequese (Itaici, 2000) e no Sulão de Catequese (Campo Grande-MS, 2002), em Curitiba, de 9 a 11 de outubro de 2004, o Regional Sul II/ Catequese realizou um congresso estadual sobre o tema “Catequese com Adultos”. Participaram reconhecidas autoridades catequéticas do Brasil, como dom Albano Cavalin e dom Ladislau Biernaski, os teólogos freis Vitório Mazzuco e Antônio Moser; os professores doutor Bortolo Valle e mestre Clóvis Amorim, além dos especialistas em catequese padres Nilson Caetano Ferreira e Luiz Alves de Lima, SDB. O administrador também compareceu acompanhado da coordenação arquidiocesana da catequese. Na ocasião, Maringá assumiu a organização, ano próximo, de um seminário arquidiocesano sobre Catequese com Adultos em sintonia com a atual orientação catequética do Brasil. A posse de dom Anuar Batttisti trouxe a Maringá o cardeal primaz do Brasil, dom Geraldo Majella Agnello, arcebispo de São Salvador da Bahia e presidente nacional da CNBB, a quem Battisti chama de padrinho por lhe ter conferido o diaconato, o presbiterato e por ter sido um de seus ordenantes episcopais; o núncio apostólico dom Lorenzo Baldisseri; os arcebispos predecessores em Maringá, dom Jaime, dom Murilo e dom João; vários arcebispos e bispos de outras regiões do Brasil, e todo o episcopado do Regional Sul II, incluídos bispos idosos e até alguns com problemas de saúde. Entre os fiéis participantes, muitos de outras regiões, especialmente de Toledo, com destaque para os familiares do novo arcebispo, seu pai, irmãos, cunhadas e sobrinhos. O fato mereceu o registro em ata assim redigida: Ata da posse de Dom Anuar Battisti, Arcebispo Metropolitano de Maringá Aos vinte e quatro de novembro de dois mil e quatro, durante solene concelebração eucarística na Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, em Maringá, no Estado do Paraná, às 20h00, na presença do eminentíssimo cardeal dom Geraldo Majella Agnelo, primaz do Brasil e arcebispo de São Salvador da Bahia, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; dos excelentíssimos senhores dom Lorenzo Baldisseri, núncio apostólico no Brasil; dom Lúcio Ignácio Baumgaertner, arcebispo de Cascavel, presidente do Regional Sul-2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; dom Jaime Luiz Coelho, 1º arcebispo de Maringá; dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, arcebispo de Florianópolis; dom João Braz de Aviz, arcebispo de Brasília; dom Pedro Antônio Marchetti Fedalto, arcebispo emérito de Curitiba; dos senhores bispos da Província Eclesiástica de Maringá, além de duas dezenas de senhores arcebispos e bispos; de monsenhor Antônio de Pádua Almeida, administrador arquidiocesano e dos membros do Colégio de Consultores da arquidiocese de Maringá; de uma centena de presbíteros e de numerosos fiéis, inclusive de outras confissões religiosas, tomou posse como arcebispo da arquidiocese de Maringá o excelentíssimo senhor dom Anuar Battisti. Para constar, como decano do Colégio de Consultores, lavrei a presente Ata, que assino, e será assinada pelo cardeal primaz, núncio apostólico, arcebispos citados e pelo administrador arquidiocesano, participantes da celebração. Maringá – PR, aos vinte e quatro de novembro de dois mil e quatro. Assinaturas: Mons. Orivaldo Robles +G. M. Card. Agnelo, arcebispo +Lorenzo Baldisseri, núncio apostólico +Anuar Battisti, arcebispo +Lúcio Ig. Baumgaertner, arcebispo +Jaime Luiz Coelho, arcebispo +Murilo SR Krieger, scj, arcebispo +João Braz de Aviz, arcebispo +Pedro A. M. Fedalto, arcebispo Mons. Antônio de Pádua Almeida, administrador (ROBLES, 2004d, 1 f.).

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Posse de dom Anuar 24 de novembro de 2004

Histórica foto reunindo os quatro arcebispos que a Igreja de Maringá recebeu nestes 50 anos de história.

O núncio apostólico dom Lorenzo Baldisseri entrega o báculo.

Dom Anuar com dom Jaime, primeiro arcebispo.

O segundo arcebispo, dom Murilo, com dom Anuar.

O terceiro arcebispo, dom João, com dom Anuar.

295 Os 50 anos da Diocese de Maringá


No momento previsto da celebração litúrgica, o administrador, provisoriamente responsável até ali pelo governo arquidiocesano, mandou proceder à leitura pública da bula de nomeação de dom Anuar Battisti para o ofício de arcebispo metropolitano de Maringá. Redigido em latim, diz o documento oficial: JOÃO PAULO Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao venerável irmão Anuar Battisti, até agora bispo de Toledo, no Brasil, escolhido arcebispo metropolitano de Maringá, saudações e bênção apostólica. Levando avante a caminhada espiritual de todos os fiéis, cumprimos o diligente dever de concedermos a cada comunidade eclesial dispersa por toda a terra pastores idôneos e mestres nas coisas divinas. Queremos agora, de modo especial, suprir as necessidades pastorais da Igreja metropolitana de Maringá, visto que seu último bispo, o venerável irmão João Braz de Aviz, foi por nós nomeado arcebispo metropolitano de Brasília. Apressamo-nos, portanto, a nomear um novo pastor para a arquidiocese de Maringá, e tu, venerável irmão, que nos últimos seis anos executaste o utilíssimo trabalho do progresso espiritual da comunidade dos fiéis de Toledo, no Brasil, foste por Nós considerado inteiramente digno dessa promoção. Portanto, aconselhados pela Congregação dos Bispos e pela autoridade apostólica, te constituímos arcebispo metropolitano de Maringá com todas as obrigações e com todos os direitos e encargos. Cuidarás diligentemente para que tua nomeação seja conhecida pelo clero e pelos fiéis. Exortamo-los a que, com generoso entusiasmo, te aceitem como pastor, e contigo cultuem a Deus onipotente no seu dia-a-dia com maior zelo, observando seus mandamentos com grande ardor. Confiamos que tu, calcado na fé no divino Mestre e no amor de sua Mãe santíssima, serás zeloso no ministério, principalmente na prosperidade espiritual de tua arquidiocese. Dado em Roma, junto de São Pedro, aos vinte e nove dias do mês de setembro do ano do Senhor de dois mil e quatro, vigésimo sexto do nosso pontificado. ass.) João Paulo II, Papa ass.) Francisco Bruno, Secretário Apostólico (JOÃO PAULO II, 2004b, 1 f.). A celebração eucarística na catedral basílica de Maringá representou momento de especial relevância ao reunir responsáveis por parte da história da Igreja do Paraná, homens dos quais, nos últimos 50 anos (e até antes disso), vem dependendo a vida da Igreja Católica neste pedaço do Sul do Brasil. Sabedor das dificuldades que encontraria para conhecer as singularidades de uma Igreja até então estranha, o novo arcebispo recorreu à experiência do ex-administrador, nomeando Almeida seu vigário geral. Assim, não apenas o constituiu substituto nas ausências inevitavelmente provocadas pelas funções continentais e nacionais, como o quis a seu lado para permanentes consultas no dia-a-dia. Não tardou muito para o quarto arcebispo ordenar padre o primeiro candidato da sua nova Igreja. Na paróquia São Paulo Apóstolo, em Sarandi, no dia 23 de julho de 2005, ele conferiu o presbiteato a Rildo da Luz Ferreira, a quem, no dia 30 de janeiro, tinha ordenado diácono em Inajá. Entre 26 e 28 de agosto de 2005 aconteceu na paróquia Santa Maria Goretti, em Maringá, o 1º Seminário Arquidiocesano de Catequese, evento de abrangência estadual, que reuniu catequistas de 42 paróquias da arquidiocese em torno do tema “Catequese com Adultos”, refletindo orientação da Igreja do Brasil hoje. Entre os palestrantes convidados, padres Nilson Caetano Ferreira, de Apucarana; Gilson C. de Camargo, de Curitiba; Paulo César Gil, de São Paulo e irmã Araceli G. X. da Roza, do Regional Sul II. Como prata da casa, padre Almeida e Regina Mantovani. O novo arcebispo de Maringá foi apresentado ao pequeno exército dos catequistas, força evangelizadora da Igreja de Maringá desde os heróicos tempos dos congregados marianos, filhas de Maria e AO.

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Carta 13 - Bula de nomeação de dom Anuar Battisti arcebispo de Maringá.

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1º Seminário Arquidiocesano de Catequese em Maringá, 2005.

No dia 5 de dezembro de 2005, novamente a catedral basílica se vestiu de festa para a celebração do jubileu de prata de ordenação presbiteral de Battisti, que trouxe a Maringá dez arcebispos e bispos, quase uma centena de padres, familiares do arcebispo e grande número de fiéis. Foi uma Eucaristia simples, mas comovente, com a participação dos corais infanto-juvenis Santa Maria Goretti e do Colégio Santa Cruz, num total de 120 figurantes, que prestaram a dom Anuar inesquecível homenagem. Após conquista do doutorado em Teologia Moral, obtido na Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma, padre Luiz Antônio Bento reassumiu seus encargos pastorais, no início de 2006, compondo simultaneamente o corpo docente de Teologia na Faculdade Missioneira de Cascavel e no Instituto Paulo VI, em Londrina. A arquidiocese comprova, assim, cuidado com a capacitação do seu presbitério, ao mesmo tempo em que providencia professores para os cursos de Teologia (Londrina) e Filosofia (Maringá) de todo o Norte do Paraná. Com o mestrado de padres Edmar Peron (Teologia Dogmática, na área de Sacramentos) e Onildo Gorla Jr. (Pastoral Familiar), Bento reforça o grupo de professores das disciplinas teológicas. Para a Filosofia o presbitério de Maringá conta com os dois primeiros mestres, padres Leomar Antônio Montagna (PUC-PR, câmpus de Curitiba) e Sidney Fabril (UEM, Maringá). Coroando vitoriosa caminhada de formação presbiteral da Igreja de Maringá cujo primeiro passo remonta a 15 de agosto de 1958, com o lançamento das pedras fundamentais da catedral e do Seminário Nossa Senhora da Glória, dom Anuar inaugurou, no dia 13 de junho de 2006, as novas instalações do Seminário de Teologia Santíssima Trindade, localizado na Rua Capitão Pedro Rufino, 495, no Jardim Europa, em Londrina. Nele residem, pelo espaço de 4 anos, os seminaristas de Maringá, enquanto cursam Teologia na PUC-PR, câmpus de Londrina.

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À semelhança do ano jubilar judaico, a solene abertura do jubileu da diocese de Maringá, no dia 4 de fevereiro de 2006, fez-se ao som do shofar, enviado pelo rabinato de São Paulo.

Quis a Providência Divina reservar a Battisti a oportunidade de conduzir a Igreja que está em Maringá por ocasião do jubileu de ouro de sua criação e instalação canônica. As solenidades tiveram início no dia 4 de fevereiro de 2006, com a Eucaristia de abertura do ano jubilar, estendendo-se até o encerramento, no dia 25 de março de 2007. A mesma sagrada Eucaristia sinaliza o encerramento das comemorações do cinqüentenário. Ao oferecer o sacrifício do Filho de Deus encarnado, a arquidiocese adora, louva e dá graças Àquele que não cessa de operar entre nós a sua ação salvadora. Ao mesmo tempo, se penitencia pelas fraquezas no cumprimento da missão e implora forças para maior fidelidade na nova etapa da história aberta à sua frente. Não poderia haver melhor maneira de dar glória a Deus pelas cinco décadas em que nestas plagas, com trabalho sem descanso, foi levada adiante a pregação do Evangelho, na obediência ao mandato do Senhor expresso no tema do jubileu de ouro: “Ide e fazei discípulos...” (MATEUS 28, 19).

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Evangelho de Lucas (1, 17). No destaque: “[...] um povo bem disposto para o Senhor”. Foto: Bíblia de Gutenberg, 1452-1453.

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Conclusão

Nos anos 50, ao tempo da nomeação do primeiro bispo, a maioria dos mapas do Brasil não indicava a cidade de Maringá. Hoje, o seu nome deixou de ser estranho a pessoas razoavelmente informadas. Decorridos cinqüenta anos, impõe-se reconhecer à Igreja Católica parcela do trabalho que resultou em sua notoriedade para além das fronteiras do Norte do Paraná. Quem escuta seu nome, assim como a composição musical de Joubert de Carvalho, evoca hoje − possivelmente com freqüência maior − a esguia silhueta de uma pirâmide que se arroja para o céu. A esta cidade, que brotou da mata e foi batizada com nome de canção, parece reservado o destino de ser lembrada pela crença imbatível e pelo arrojo empreendedor de sua gente. Identifica-a o símbolo da idéia original de um homem que, diante da floresta, anteviu, em 1957, um povo unido pela fé cristã, a caminho do Reino inaugurado pelo Filho de Deus. Quando Jesus deu aos discípulos a ordem de levar ao mundo inteiro a pregação da boa nova, estava no seu projeto reunir um dia no Norte do Paraná “um povo bem disposto para o Senhor” (LUCAS 1, 17). No trilho dos heróis que, em séculos passados, o precederam pelas agruras destas terras ainda incultas, em 1957 o primeiro bispo aportou com a missão de inaugurar novo tempo para a fé católica e reunir, neste rincão prenhe de esperança, um povo convocado pela Palavra e unido pelo amor. Encerrando o relato da pregação do Evangelho nesta terra em que, há 50 anos, foi implantada a diocese de Maringá, é justo proclamar a misericórdia daquele que nos chamou das trevas para a sua luz incomparável (cf. 1PEDRO 2, 9), fazendo vicejar uma Igreja radiosa na terra coberta, há não muitos anos, de mato bruto. “Eu estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (MATEUS 28, 20), garan301 Os 50 anos da Diocese de Maringá


tiu Jesus. Percorridas as páginas precedentes, não há como duvidar. Nelas se configura, em meio às inescapáveis falhas do homem pecador, a invencível assistência daquele que se afirmou vencedor do mundo (cf. JOÃO 16, 33). Sua presença sustentou, na força do Espírito, os pregadores do século XVII, que se embrenhavam por selvas ameaçadoras, preocupados unicamente em converter à verdade do Evangelho os silvícolas ameaçados de “perderem a alma” por causa da “brutalidade” dos costumes que praticavam. À luz da visão teológica do seu tempo, não apenas puseram em risco, mas literalmente sacrificaram a vida, muitas vezes no meio de sofrimentos atrozes, com o único objetivo de “ganhar almas” para Cristo. Aos abnegados filhos de Inácio de Loyola, jesuítas de várias procedências, aqui irmanados no propósito da conversão e defesa do gentio, nossa gratidão pelo testemunho pioneiro. O mesmo Espírito de Deus assistiu os discípulos de Francisco de Assis, humildes capuchinhos da Itália e de outras partes, que investiram o melhor de seu vigor na expansão da fé entre indígenas, caboclos e colonizadores, desde o tempo do Império. Na ininterrupta obra de edificação do seu povo, à obra missionária dos primórdios o Senhor quis dar continuidade através do suor derramado por anônimos e incontáveis pregadores do Reino. Impossível montar recensão que abrigue o nome de todos − padres palotinos, carmelitas, josefinos e de outros institutos religiosos, irmãos maristas, enfermeiros, religiosas de diversas congregações, padres diocesanos de procedências várias, líderes leigos, homens e mulheres, adultos, jovens e crianças − todos incansáveis na comprovação de uma fé muitas vezes marcada pela privação, pela dor, pelo desconforto, pelas enfermidades, pelos perigos, pelas incompreensões, enfim por adversidades de toda natureza. No fecho deste modesto relato, fiquem registrados o respeito e a gratidão, mais que tudo, à gente − especial sob todos os títulos − que veio compor a Igreja de Deus presente em Maringá. Se a sabedoria divina fez perceber-se na escolha dos pastores, não menos manifesto ficou seu amor ao juntar aqui, vindos de pontos tão distintos e distantes, homens e mulheres irmanados para compor o extraordinário povo desta terra.

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Catedral de Maringรก no Natal de 2006. Foto Maringรก (Ueta) - Paulo Matsumura.


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310

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A Igreja que brotou da mata


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312 A Igreja que brotou da mata


313 Os 50 anos da Diocese de Maringรก


314Missale Romanum de S達o Pio V, de 1570 (MISSALE ROMANUM, 1955, p. 551). A Igreja que brotou da mata


Apêndice Arcebispos de Maringá.................................................................................................................................316 Jubileu................................................................................................................................................................318 Logomarca Oração Hino Paróquias por ordem cronológica de criação....................................................................................... 320 Padres diocesanos com formação complementar................................................................................322 Homenagem à Igreja Católica em Maringá............................................................................................323 Títulos de reconhecimento Nomes de rua ou logradouro público Outros Bispos e presbíteros no jubileu.................................................................................................................327 Diáconos permanentes e irmãs com cuidado pastoral..................................................................... 330 Paróquias........................................................................................................................................................... 331 Bispos para a Igreja...................................................................................................................................... 345 Padres que trabalharam na arqui(diocese)........................................................................................... 346 Padres Diocesanos Padres Jesuítas Padres Capuchinhos Padres Josefinos Padres Palotinos Padres da Sociedade São Tiago Padres Carmelitas Padre do Sagrado Coração de Jesus Padres Agostinianos (Eremitas de S. Agostinho) Padre Cisterciense Padres Ressurrecionistas Padre Beneditino Padres falecidos enquanto trabalhavam na (arqui)diocese ........................................................... 348 Instituições católicas e parcerias............................................................................................................. 349 315 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Arcebispos de Maringá

Dom Jaime Luiz Coelho

Dom Murilo S. R. Krieger

24/03/57−11/07/1997 (Bispo, de 20/01/1956 a 16/10/1979)

11/07/1997−27/04/2002

316 A Igreja que brotou da mata


Dom João Braz de Aviz

Dom Anuar Battisti

04/10/2002−27/03/2004

24/11/2004 317 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Jubileu

O artista plástico Anselmo José Frugerio serviu-se das cores da bandeira de Maringá (vermelho, amarelo e branco), destacando o vermelho do sangue dos mártires, testemunhas da evangelização, e do fogo do Espírito Santo, alma da Igreja. A silhueta da catedral basílica emerge ao fundo, sob o número 50 estilizado nas figuras do peixe e do pão, símbolos da Eucaristia, comunhão de vida com Deus e com os irmãos, objetivo da ação evangelizadora.

Oração do jubileu (composta por dom Anuar Battisti, arcebispo metropolitano)

318

Deus, Pai de amor e de poder, nós vos agradecemos, por vosso Filho Jesus, na união do Espírito Santo, pelos 50 anos de evangelização na Igreja, povo de Deus, que está em Maringá. Colocamos em vosso coração todas as pessoas que deram a vida anunciando o Evangelho, plantando a fé, formando comunidades vivas e dinâmicas. Obrigado, Senhor, nosso Deus e Pai, pelo infinito amor com que sempre nos amais. Dai-nos a graça de ser discípulos e discípulas de vosso amado Filho Jesus Cristo, fiéis e perseverantes até o fim. Confiamos à vossa bondade a missão de evangelizar na força da vossa Palavra e da Eucaristia. Ajudai-nos a fazer de nossa Igreja a casa e a escola da comunhão. Maria, Mãe da Igreja e Senhora da Glória, acompanhai-nos hoje e sempre. Amém.

A Igreja que brotou da mata


Hino do jubileu

Refrão

(letra e música de Marcus Geandré Nakano Ramiro)

Meus irmãos, vamos todos cantar: Maravilhas nos faz o Senhor, nosso Deus. E neste hino, o nosso louvor: Maringá, sua Igreja, eis o jubileu.

“Cristo fosse em todos o centro, o caminho, a verdade, a esperança, o vigor”: 4 foi mensagem primeira a fazer neste chão, Maringá, uma Igreja nascer.

Arquidiocese de Maringá: são cinqüenta anos servindo ao Senhor neste Brasil, Paraná, neste chão, “Luz para os povos”: eis nossa missão.1

E eis o grito: Que “Deus é amor E quem ama está, permanece em Deus”. 5 Reforçado naquele dizer “Sejam um todos vós, ó discípulos meus”. 6

Tantos anos aqui se passaram, que em meio às matas, alegre rompeu a mensagem de Cristo Jesus: “Ide todos: fazei-os discípulos meus.” 2

Mesmo em meio às dores do mundo, Ante o medo, a fome, a tristeza, o temor, resplandece uma luz – Maringá, a dizer: Povo meu, “Caminhai no Senhor”. 7

“Eu convosco pra sempre estarei”, 3 frente a esta promessa viemos plantar a semente de sua mensagem, de Cristo, o Senhor: “Ide evangelizar.”

Levantai-vos, irmãos, a caminho! Que longa é a estrada a se palmilhar. Vamos, sim: co’a Senhora da Glória, Maria, a Cristo um dia chegar.

cf. LG 1. cf. Mateus 28, 19. 3 cf. Mateus 28, 20b. 4 cf. Colossenses 3, 11 – lema episcopal de dom Jaime. 1

5

2

6 7

cf. 1João 4, 16 – lema episcopal de dom Murilo. cf. João 17, 21 – lema episcopal de dom João. cf. Colossenses 2,6 – lema episcopal de dom Anuar.

319 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Paróquias por ordem cronológica de criação Ordem

Cidade

Orago

Criação

01

Mandaguari

Nossa Senhora Aparecida

02

Maringá

Catedral Basílica N. S. da Glória

03

Marialva

Nossa Senhora de Fátima

04

Jandaia do Sul

São João Batista

05

Mandaguaçu

São Sebastião

06

Nova Esperança

Sagrado Coração de Jesus

07

Bom Sucesso

Divino Espírito Santo

08

Maringá

São José Operário

14 de agosto de 1954

09

Paranacity

Nossa Senhora de Lourdes

24 de março de 1958

10

São Jorge do Ivaí

São Jorge

8 de setembro de 1958

11

Floraí

Imaculada Conceição

8 de dezembro de 1958

12

Marumbi

Senhor Bom Jesus

9 de agosto de 1959

13

São Pedro do Ivaí

São Pedro Apóstolo

9 de agosto de 1959

14

Itambé

Nossa Senhora das Graças

15

Cruzeiro do Sul *

a) São Judas Tadeu b) Imaculada Conceição (Uniflor)

16

Ivatuba

Nossa Senhora do Rocio

31 de maio de 1960

17

Maringá

Santo Antônio de Pádua

28 de outubro de 1960

18

Floresta

Nossa Senhora do Rosário

19

Atalaia

Nossa Senhora Rainha

20

Paiçandu

Santo Cura d’Ars

8 de agosto de 1962

21

Inajá *

a) São Pedro Apóstolo b) Nossa Senhora de Fátima (Jardim Olinda) c) Santo Antônio (Paranapoema)

8 de agosto de 1964

22

Maringá

Santa Maria Goretti

23

Kaloré

São Benedito

22 de fevereiro de 1965

24

Ourizona

Nossa Senhora Divina Pastora

26 de fevereiro de 1966

25

Mandaguari

Bom Pastor

22 de fevereiro de 1968

26

Maringá

Cristo Ressuscitado

18 de dezembro de 1969

27

Maringá

Divino Espírito Santo

18 de dezembro de 1969

320 A Igreja que brotou da mata

8 de dezembro de 1943 2 de abril de 1950 10 de abril de 1949 (Jacarezinho: 28/12/1948) 30 de novembro de 1949 25 de janeiro de 1952 (24/10/51?) 19 de setembro de 1952 14 de abril de 1954

25 de outubro de 1959 19 de março de 1960

12 de dezembro de 1960 31 de maio de 1961

3 de setembro de 1964


28

Presidente Castelo Branco

Nossa Senhora Mãe de Deus

12 de março de 1970

29

Aquidaban (distrito de Marialva)

Bom Jesus

29 de março de 1970

Ordem

Cidade

Orago

Criação

30

Doutor Camargo

São Pedro Apóstolo

20 de janeiro de 1971

31

Maringá

São Miguel Arcanjo

23 de novembro de 1975

32

Maringá

São Francisco de Assis

15 de dezembro de 1978

33

Sarandi

Nossa Senhora das Graças

30 de dezembro de 1978

34

Maringá

Sagrado Coração de Jesus

10 de fevereiro de 1980

35

Maringá

Nossa Senhora de Lourdes e São Judas Tadeu

24 de março de 1990

36

Maringá

Santa Isabel de Portugal

24 de março de 1990

37

Sarandi

Santa Teresinha do Menino Jesus

24 de março de 1990

38

Maringá

Nossa Senhora de Guadalupe

39

Maringá

São Silvestre I, Papa

40

Maringá

N. S. da Liberdade e Beato Pedro Jorge Frassati

41

Maringá

Menino Jesus de Praga e São Francisco Xavier

42

Iguatemi (distrito de Maringá)

Santa Rosa de Lima

22 de fevereiro de 1997

43

Paiçandu

Jesus Bom Pastor

22 de fevereiro de 1997

44

Maringá

São Mateus Apóstolo

22 de fevereiro de 1997

45

Maringá

São Bonifácio

46

Sarandi

São Paulo Apóstolo

47

Maringá

Santa Rita de Cássia

48

Maringá

Santa Joaquina de Vedruna

49

Maringá

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

50

Maringá

Nossa Senhora Aparecida

51

Sarandi

Nossa Senhora da Esperança

52

Maringá

São Francisco Xavier **

12 de dezembro de 1992 9 de junho de 1994 6 de fevereiro de 1995 24 de março de 1995

20 de dezembro de 1998 25 de janeiro de 1999 1º de maio de 1999 (Quase-paróquia) / 25 de março de 2000 (Paróquia) 21 de maio de 2000 11 de novembro de 2001 23 de fevereiro de 2001 (Quase-paróquia) / 26 de janeiro de 2002 (Paróquia) 13 de agosto de 2000 (Quaseparóquia) / 11 de fevereiro de 2007 (Paróquia) 5 de dezembro de 2000

321

* Paróquias abrangendo mais de um município. ** Paróquia pessoal para japoneses.

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Padres diocesanos com formação complementar Mons. Antônio de Pádua Almeida Curso de Teologia Pastoral na Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma (1969-1970), e no Instituto “Lumen Vitae”, de Lovaina (1970-1971) – Curso sobre Puebla, em Medellín, Colômbia (1981), VIII Curso de Formadores do DEVYM-OSLAM, em Assunção, Paraguai (2000).

Côn. Benedito Vieira Telles Curso de Direito pela Faculdade de Direito da Alta Paulista, de Tupã-SP (1976) – Pósgraduação em Direito das Relações Sociais, pela Universidade Estadual de Londrina (1980) – Curso de Praxe Administrativa Canônica (69 horas), da Congregação do Clero, em Roma (1999) – Curso de Praxe Processual, no Tribunal de Primeira Instância do Vicariato de Roma (1999) – Curso “Amadurecimento Humano e Formação Sacerdotal” (30 dias), do Pontifício Ateneu Rainha dos Apóstolos, de Roma (1999).

Mons. Gerhard Schneider Curso de Teologia Pastoral na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino, em Roma (1981-1982) – Curso de Linguagem áudio-visual e comunicação de fé, em Lyon, França (1984).

Pe. José Fernandes de Souza III Curso de Formadores do DEVYM-OSLAM, em Bogotá, Colômbia (1985).

Mons. Orivaldo Robles III (como cursista) Curso de Formadores do DEVYM-OSLAM, em Bogotá, 1985 – V (como animador) Curso, em Toluca, México (1986).

Mons. Júlio Antônio da Silva VII Curso de Formadores do DEVYM-OSLAM, em Caracas, Venezuela (1989).

Pe. Vicente Costa Doutorado em Teologia Bíblica, pelo Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, estágio em Jerusalém (1991).

Pe. Sidney Fabril Pós-graduação de formador, pelo Centro Educacional La Salle, de Canoas – RS (1995) – Mestrado em Fundamentos da Educação, pela Universidade Estadual de Maringá (2007).

322 A Igreja que brotou da mata

Pe. Edmar Peron Mestrado em Teologia Dogmática com ênfase em Sacramentos, pelo Pontifício Ateneu Santo Anselmo, de Roma (2002).

Pe. Luiz Antônio Bento Doutorado em Teologia Moral, pelo Instituto Alphonsianum da Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma (2005).

Pe. Leomar Antônio Montagna IX Curso de Formadores do DEVYM-OSLAM, na cidade da Guatemala (2001) – Mestrado em Filosofia, pela PUC-PR, Curitiba (2006).

Pe. Janílson Canuto X Curso de Formadores do DEVYM-OSLAM, em Quito, Equador (2002) – Curso de diretores espirituais, em Brasília (2003).

Pe. Altair Ciarallo X Curso de Formadores do DEVYM-OSLAM, em Quito, no Equador (2002) – Curso de diretores espirituais, em Brasília (2003) - Graduando em Psicologia pelo CESUMAR.

Pe. Valdir Egea Curso de diretores espirituais, em Brasília (2003).

Pe. Onildo Luiz Gorla Júnior Mestrado em Pastoral Familiar, no Instituto Alphonsianum da Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma (2007).

Pe. Ivaldir Camaroti dos Reis Graduando em Teologia (revalidação de curso), pela PUC-PR, câmpus de Curitiba.

Pe. Reginaldo Lima Mestrando em Direito Canônico, pela extensão de Londrina do Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro.

Pe. Luiz Carlos de Azevedo Graduando em Jornalismo, pelo CESUMAR.


Homenagem à Igreja Católica em Maringá Títulos de reconhecimento: • Resolução nº 57/64 Promulgada em 6 de maio de 1964 pelo presidente da Câmara dr. Jorge Sato outorga a irmã Vicência Dinamarquês o título de cidadã benemérita de Maringá (juntamente com Ângela Antônia Babkov, Azedinir Gomes da Cunha, Lienete Dávila, Floricéa Froes da Motta, Iracy dos Anjos de Freitas, Maria Capel Giubilei, Noêmia Barleta Villanova, Telma Villanova Kasprowicz, Alfredo Maluf, Flávio Pasquinelli e Vanor Henriques) – título recebido em sessão solene na Câmara, no dia 10 de maio de 1964. Resolução nº 91/66 Promulgada em 24 de agosto de 1966 pelo presidente da Câmara Paulo Vieira de Camargo, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 4.184, de 26 de agosto de 1966, outorga a dom Jaime Luiz Coelho o título de cidadão benemérito de Maringá – título entregue em sessão solene na Câmara, no dia 8 de dezembro de 1966. Autor: vereador Elydio Conte. Resolução nº 121/68 Promulgada em 25 de setembro de 1968 pelo presidente da Câmara Arlindo Planas, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 3.718, de 27 de setembro de 1968, outorga ao cônego Benedito Vieira Telles (juntamente com doutor Mário Clapier Urbinati) o título de cidadão benemérito de Maringá – título entregue em sessão solene da Câmara, no dia 20 de novembro de 1969. Autor: vereador Paulo Vieira de Camargo. Lei nº 1.580/82 Sancionada pelo prefeito municipal Sincler Sambatti em 6 de julho de 1982, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 7.065, de 11 de julho de 1982, outorga o título de cidadão benemérito de Maringá a monsenhor Sidney Luiz Zanettini – título entregue no Country Club de Maringá, no dia 28 de outubro de 1982, às 20h00. Presidente da Câmara: Maurílio Correia Pinho. Autor: vereador Jesus Hernandez.

Lei nº 3.592/94 Sancionada em 14 de junho de 1994 pelo prefeito municipal Said Felício Ferreira, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 283, em 17 de junho de 1994, outorga o título de cidadão benemérito de Maringá a cônego Geraldo Schneider – título entregue no plenário da Câmara, no dia 1º de dezembro de 1995, às 20h00. Presidente da Câmara: Antonio Carlos Pupulin. Autor: vereador Valdir Pignata. Lei nº 4.363/96 Sancionada pelo prefeito municipal Jairo Morais Gianoto em 19 de março de 1997, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 456, em 11 de abril de 1997, outorga o título de cidadão benemérito de Maringá a cônego Pedro Ryo Tanaka – título entregue no plenário da Câmara, no dia 13 de junho de 1997, às 20h00. Presidente da Câmara: Ulisses de Jesus Maia Kotsifas. Autor: vereador Shinji Gohara. Lei nº 4.660/98 Sancionada pelo prefeito municipal Jairo Morais Gianoto em 26 de agosto de 1998, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 535, em 28 de agosto de 1998, outorga o título de cidadão benemérito de Maringá a monsenhor Bernardo Abel Alphonse Cnudde – título entregue no plenário da Câmara, no dia 4 de setembro de 1998, às 20h00. Presidente da Câmara: Ulisses de Jesus Maia Kotsifas. Autor: vereador Valdir Pignata. Lei nº 4.729/98 Sancionada pelo prefeito municipal Jairo Morais Gianoto em 18 de dezembro de 1998, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 553, em 22 de dezembro de 1998, outorga o título de cidadão benemérito de Maringá a monsenhor Orivaldo Robles – título entregue no plenário da Câmara, no dia 18 de junho de 1999, às 20h00. Presidente da Câmara: João Alves Corrêa. Autor: vereador Miguel de Oliveira. Lei nº 4.730/98 Sancionada pelo prefeito municipal Jairo Morais Gianoto em 18 de dezembro de 1998, publicada no

323 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Diário Oficial do Município sob nº 553, em 22 de dezembro de 1998, outorga o título de cidadã benemérita de Maringá a irmã Firmina Maria (Olga de Paula) – título entregue no plenário da Câmara, no dia 23 de abril de 1999, às 20h00. Presidente da Câmara: João Alves Corrêa. Autora: vereadora Arlene Lima. Lei nº 4.850/99 Sancionada pelo prefeito municipal Jairo Morais Gianoto em 20 de agosto de 1999, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 593, em 20 de agosto de 1999, outorga o título de cidadão benemérito de Maringá a irmão Pedro Danilo Trainotte – não há data de entrega do título. Presidente da Câmara: João Alves Corrêa. Autor: vereador Valdir Pignata. Lei nº 5.718/2002 Sancionada pelo prefeito municipal José Cláudio Pereira Neto em 3 de maio de 2002, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 778, em 3 de maio de 2002, outorga o título de cidadão benemérito de Maringá a dom Murilo Sebastião Ramos Krieger – título entregue no plenário da Câmara, no dia 2 outubro de 2003, às 20h00. Presidente da Câmara: João Alves Corrêa. Autor: vereador Valter Viana. Lei nº 6.229/2003 Sancionada pelo prefeito municipal José Cláudio Pereira Neto em 28 de maio de 2003, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 843, em 30 de maio de 2003, dispõe sobre instalação de busto em homenagem a dom Jaime Luiz Coelho na entrada principal da Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória. Presidente da Câmara: João Alves Corrêa. Autor: vereador Walter Guerlles. Lei nº 5.764/2002 Sancionada pelo prefeito municipal João Ivo Caleffi em 17 de maio de 2002, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 788, em 21 de junho de 2002, outorga o título de cidadão honorário de Maringá a dom Paulo Evaristo Arns, cardeal-arcebispo emérito de São Paulo. Presidente da Câmara: Walter Guerlles. Autores: vereadora Silvana Maria Ribeiro Borges e vereador Manoel Álvares Sobrinho. Lei nº 6.694/2004 Sancionada pelo prefeito municipal João Ivo Caleffi em 14 de setembro de 2004, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 924, em 17 de setembro de 2004, outorga o título de cidadão benemé-

324 A Igreja que brotou da mata

rito de Maringá ao sr. Paul Graf (irmão Daniel) – título entregue no plenário da Câmara, no dia 19 de agosto de 2005, às 20h00. Prefeito Municipal: Sílvio Magalhães Barros II. Presidente da Câmara: João Alves Corrêa. Autor: vereador Paulo Mantovani. Lei nº 6.750/2004 Sancionada pelo prefeito municipal João Ivo Caleffi em 22 de novembro de 2004, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 935, em 26 de novembro de 2004, outorga o título de cidadã benemérita de Maringá a irmã Cecília Inês Ferraza – título ainda não entregue. Presidente da Câmara: João Alves Corrêa. Autora: vereadora Márcia Socreppa.

Nomes de rua ou

logradouro público: Lei nº 316/64 Sancionada em 17 de setembro de 1964 pelo prefeito municipal João Paulino Vieira Filho, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 2.963, de 24 de setembro de 1964, denomina Padre Germano José Mayer a atual Rua Vespúcio, em toda a sua extensão. Presidente da Câmara: dr. Jorge Sato. Autor: vereador José Carlos Borges. Lei nº 547/67 Sancionada pelo prefeito municipal Luiz Moreira de Carvalho em 31 de outubro de 1967, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 3.470, de 1º de novembro de 1967, denomina Monsenhor Miguel Yoshimi Kimura a rua vulgarmente denominada Todos os Santos, que tem início na praça do mesmo nome. Nas placas deverá constar apenas o nome Rua Monsenhor Kimura. Presidente da Câmara: dr. Jorge Sato. Autor: vereador Kazumi Taguchi. Lei nº 582/68 Sancionada pelo prefeito municipal Luiz Moreira de Carvalho em 28 de março de 1968, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 3.585, de 10 de abril de 1968, denomina Padre Emílio Scherer a atual Rua 6 (seis), Vila Santo Antônio, em toda a sua extensão. Presidente da Câmara: Arlindo Planas. Autor: vereador Kazumi Taguchi. Lei n° 771/70 Sancionada pelo prefeito municipal Adriano José Valente em 8 de setembro de 1970, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 3.653, de


20 de setembro de 1970, denomina Madre Suely Alice Giron a atual Rua Tabocas, na Zona 3 em toda a sua extensão. Presidente da Câmara: Paulo Vieira de Camargo. Autor: Egídio Assmann. Lei nº 1.267/79 Sancionada pelo prefeito municipal João Paulino Vieira Filho em 23 de maio de 1979, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 6.146, de 6 de junho de 1979, denomina Professor Carlos Weiss a Rua 7.102 do Jardim Universitário. Presidente da Câmara: Noboru Yamamoto. Autor: vereador Prof. José Tadeu Bento França. (Nota: Pe. Carlos Weiss, sacerdote diocesano em Londrina, foi insigne professor de História na Universidade Estadual de Londrina e dá nome ao Museu Histórico daquela cidade. Ministrou cursos na Universidade Estadual de Maringá.) Lei nº 1.482/81 Promulgada em 28 de agosto de 1981 pelo presidente da Câmara Maurílio Correia Pinho, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 6.827, de 12 de setembro de 1981, altera para Padre Raimundo Le Goff a denominação da Rua Líbero Badaró, no trecho compreendido entre a Rua Visconde de Nassau e a Avenida Lauro Eduardo Werneck. Autor: vereador Kazumi Taguchi. Lei nº 1.592/82 Sancionada pelo prefeito municipal Sincler Sambatti em 24 de agosto de 1982, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 7.015, de 9 de setembro de 1982, altera a denominação da Praça Cássio da Costa Vidigal para Praça da Catedral. Autoriza o Executivo Municipal a mandar confeccionar uma estátua do pioneiro dr. Cássio da Costa Vidigal para ser colocada na futura Praça da Catedral, como homenagem do Município. A Lei nº 957/72, sancionada pelo prefeito municipal Adriano José Valente em 7 de novembro de 1972, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 4235, de 22 de novembro de 1972, tinha dado o nome de Praça Dr. Cássio da Costa Vidigal à praça localizada entre as avenidas Papa João XXIII e Tiradentes. Esta tem agora seu nome alterado para Praça da Catedral. Lei nº 1.923/85 Sancionada pelo prefeito municipal Said Felício Ferreira em 21 de agosto de 1985, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 00062, em 30 de

agosto de 1985, altera para Madre Mônica Maria a denominação da Rua nº 37.022, localizada nos lotes 92-A/4 e 92-A/5 da Gleba Ribeirão Morangueiro, em toda a sua extensão. Presidente da Câmara: Nereu Vidal Cezar. Autor: vereador Claudinei José Vecchi. Lei nº 4.421/97 Sancionada pelo prefeito municipal Jairo Morais Gianoto em 23 de junho de 1997, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 467, em 27 de junho de 1997, altera para Dom Manuel da Silveira D’Elboux a denominação da Avenida Pio XII, situada na Zona 05. Presidente da Câmara: Ulisses de Jesus Maia Kotsifas. Autor: vereador Manoel Batista da Silva Júnior. Lei nº 5.362/2001 Sancionada pelo prefeito municipal José Cláudio Pereira Neto em 9 de maio de 2001, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 710, em 11 de maio de 2001, altera para Monsenhor Bernardo Cnudde a denominação da Praça Gomes Carneiro, situada na Zona 07. Presidente da Câmara: Walter Guerlles. Autor: vereador Valter Viana. Lei nº 6.196/2003 Sancionada pelo prefeito municipal José Cláudio Pereira Neto em 11 de abril de 2003, publicada no Órgão Oficial do Município sob nº 837, em 22 de abril de 2003, altera o Art. 1º da Lei nº 5384/2001, que passa a vigorar com a seguinte redação: “Fica alterada para Monsenhor Tanaka a denominação da Rua Marcos Just, situada na Zona 17, no trecho entre a Avenida Dona Maria Gaspar Pedrosa Moleirinho e a Rua 17207”. Presidente da Câmara: João Alves Corrêa. Autor: Poder Executivo.

Outros: Lei nº 875/71 Sancionada pelo prefeito municipal Adriano José Valente em 15 de outubro de 1971, publicada no órgão oficial do município, “O Jornal”, nº 3.948, de 27 de outubro de 1971, autoriza o sepultamento dos corpos dos bispos da diocese de Maringá na cripta da Catedral Nossa Senhora da Glória e transladamento dos ossos, após 5 (cinco) anos decorridos do sepultamento, no cemitério local, para a cripta de ossários na mesma Catedral, de pessoas cujos familiares adquiriram referidos ossários. Presidente da Câmara: Paulo

325 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Vieira de Camargo. Autor: Poder Executivo Municipal. Lei nº 2.360/88 Sancionada pelo prefeito municipal Said Felício Ferreira em 24 de maio de 1988, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 254, em 31 de maio de 1988, autoriza o tombamento da Capela Santa Cruz ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Municipal. Presidente da Câmara: Tércio Hilário de Oliveira. Autor: Vereador Antenor Sanches. Lei n° 3.670/94 Sancionada pelo prefeito municipal Said Felício Ferreira em 8 de novembro de 1994, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 305, em 11 de novembro de 1994, autoriza o tombamento da Capela São Bonifácio ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Municipal. Presidente da Câmara: Nereu Vidal Cezar. Autor: Vereador José Carlos Valêncio.

Capela São Bonifácio, construída em 1940.

326 A Igreja que brotou da mata

Lei n° 3.712/94 Sancionada pelo prefeito municipal Said Felício Ferreira em 12 de dezembro de 1994, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 311, em 16 de dezembro de 1994, institui o monumento a Nossa Senhora da Glória a ser erigido na Praça Renato Celidônio. Presidente da Câmara: Nereu Vidal Cezar. Autores: vereadores Valdir Pignata e Belino Bravin Filho. Lei n° 3.751/95 Promulgada pelo presidente da Câmara de Vereadores Antonio Carlos Pupulim em 20 de abril de 1995, publicada no Diário Oficial do Município sob nº 355, em 5 de setembro de 1995, autorizando a Mitra Arquidiocesana de Maringá a utilizar área da Praça da Catedral, nas imediações da entrada principal da Basílica Menor Nossa Senhora da Glória para implantação de obra destinada a homenagem ou honraria a critério da Mitra Arquidiocesana de Maringá. O espaço foi utilizado para nele erguer o monumento a que se refere a Lei nº 3.712/94.

Capela Santa Cruz, construída em 1946.


Bispos e Presbíteros do Jubileu

Dom Jaime Luiz Coelho

Pe. Natalino Braga 28/08/1949 24/06/1924

Pe. Nunzio Reghenzi 12/06/1952 21/06/1929

Pe. José Victor Riffel 03/12/1954 31/03/1922

Pe. Francisco Robl, SCJ 08/12/1955 21/01/1924

Côn. Ângelo Banki 18/03/1959 12/07/1927

Côn. Benedito Vieira Telles 29/06/1960 04/11/1928

Côn. Pedro Watar Makiyama 07/12/1966 15/12/1930

Mons. Orivaldo Robles 07/12/1966 06/05/1941

Mons. Antônio de Pádua Almeida 07/12/1966 29/11/1942

Pe. João Caruana 11/03/1967 03/06/1941

Mons. Geraldo Schneider 30/03/1969 06/05/1939

Pe. Francisco Assiz Muchiutti, SAC 28/06/1970 04/10/1945

Pe. Roberto Takeshi Kuriyama 08/12/1971 04/08/1942

Pe. José Bortolotte 08/12/1973 20/10/1945

Mons. Júlio Antônio da Silva 08/12/1978 28/04/1954

Pe. José Fernandes de Souza 10/12/1978 20/12/1944

Pe. Marcos Aurélio Ramalho Leite 17/12/1978 14/01/1945

Dom Anuar Battisti 08/12/1980 19/02/1953

Pe. Darcy Maximino de Oliveira 22/03/1981 31/07/1947

Mons. Wilson Galiani 09/07/1983 20/12/1951

Pe. Décio Valdevino Marques 09/07/1983 01/06/1952

Pe. Virgílio Cabral dos Santos 08/12/1985 13/08/1958

Pe. Zenildo Meggiato 18/05/1986 11/11/1949

Fr. Adilson G. dos Passos Miranda, OAR 26/04/1987 31/07/1959

Ord. presbiteral: 07/12/1941 Nascimento: 26/07/1916

327 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Pe. Jair Aparecido Favaretto 20/12/1987 12/10/1955

Pe. Israel Zago 27/12/1987 20/02/1961

Pe. Bruno Elizeu Versari 03/01/1988 30/05/1959

Fr. José Lorenzo Gómez, OAR 02/07/1988 03/09/1962

Pe. Edmar Peron 21/01/1990 04/03/1965

Pe. Sidney Fabril 28/01/1990 15/02/1964

Pe. Manoel Silva Filho 01/12/1990 22/05/1960

Pe. José Mello 15/12/1990 06/07/1959

Pe. Leomar Antônio Montagna 30/12/1990 12/09/1963

Pe. Milton Antônio Bossoni 06/01/1991 04/12/1953

Pe. Edmilson Mendes, CEC 12/01/1991 05/01/1966

Pe. Obelino Silva de Almeida 15/12/1991 19/06/1956

Pe. Nelson Aparecido Maia 22/12/1991 05/09/1966

Pe. Luiz Antônio Bento 29/12/1991 26/11/1958

Pe. Onofre Teodoro de Souza 03/12/1992 11/09/1959

Pe. Hélio Takemi Sakamoto 20/12/1992 07/11/1949

Pe. Gerson França 03/01/1993 14/04/1966

Pe. Maurício Vicente Ferreira 09/04/1994 27/08/1964

Pe. Nelson Molina 19/06/1994 26/03/1961

Pe. Sidneis Salazar 08/01/1995 30/09/1966

Pe. Lailson Tomé de Lima 05/02/1995 01/01/1965

Pe. Jair Presinate 07/01/1996 18/08/1964

Pe. Valter Antônio Brandão 14/01/1996 26/02/1969

Pe. Dirceu Alves do Nascimento 04/08/1996 12/05/1970

Pe. Onildo Luiz Gorla Júnior 06/03/1997 23/11/1966

328 A Igreja que brotou da mata


Pe. Pedro Jorge Delgado Bento 14/03/1998 06/03/1966

Pe. Aédio Odilon Pego 12/09/1998 12/03/1970

Pe. Altair Ciarallo 10/04/1999 21/02/1966

Pe. Francisco Gecivam V. Garcia 10/04/1999 29/09/1969

Pe. José Moreira Silveira 10/04/1999 30/04/1972

Pe. Luiz Gonçalves Knupp 24/04/1999 29/11/1967

Pe. Janilson Canutto 01/05/1999 02/10/1967

Pe. Cícero Dantas de Freitas 20/05/2000 24/03/1967

Pe. Reginaldo Lima 20/05/2000 10/10/1973

Pe. Valdir Egea 20/05/2000 15/10/1964

Pe. Ivaldir Camaroti dos Reis 15/07/2000 01/01/1971

Pe. Adacílio Felix de Oliveira 23/06/2001 30/08/1969

Pe. Antônio Carlos da Silva 29/09/2001 13/11/1970

Pe. Luiz Carlos de Azevedo 12/10/2001 02/08/1968

Pe. Paulo Roberto de Lima 17/02/2002 07/06/1977

Pe. José Aparecido de Miranda 01/06/2002 11/01/1969

Pe. Edmilson Teixeira Busquim 16/08/2003 17/06/1974

Pe. César Hipólito 26/06/2004 31/01/1972

Pe. Reginaldo Teruel Anselmo 27/07/2004 19/05/1976

Pe. Thelmo Ricardo Favoretto 21/08/2004 23/11/1975

Pe. Rildo da Luz Ferreira 23/07/2005 14/09/1979

Fr. Carlos Vicente de Lima, OAR 14/05/2006 09/01/1976

329 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Diáconos permanentes Primeiros diáconos permanentes da arquidiocese de Maringá, ordenados por dom Murilo (3/ago/2002) 2

1

5

Na foto

6

Nome

7

8

Paróquia

3

4

9

10

Nascimento

1

Benoni Rosa de Miranda

Bom Pastor - Mandaguari

15/08/1960

2

Waldemir Antonio Michelin

São Francisco de Assis

16/11/1949

3

Jair Benalia

Catedral

27/09/1961

4

Mário Savelli Marques

Santa Isabel de Portugal

13/08/1955

5

Francisco Crubelati

São Jorge do Ivaí

12/09/1959

6

Oscar José dos Santos

Nossa Senhora de Guadalupe

26/08/1948

7

Airton de Almeida

Menino Jesus de Praga e São Francisco Xavier

30/06/1041

8

Bento Chináglia

Nossa Senhora de Guadalupe

20/03/1946

9

César Ribeiro de Castro

Santa Isabel de Portugal

17/01/1967

10

José Ribeiro dos Santos

Mandaguaçu

24/04/1943

Ordenados anteriormente em outras dioceses Ordenado em 01/01/1976

Antonio Bueno de Camargo

Nossa Senhora das Graças - Sarandi

13/09/1944

Ordenado em 18/07/1982

Francisco de Paula Cruz

São Bonifácio

19/07/1940

Irmãs com cuidado pastoral

Irmãs Beatriz Rech, Terezinha Militz e Francisca Maria de Lima 330 Paróquia N. S. Mãe de Deus, Presidente Castelo Branco (PR) A Igreja que brotou da mata


Paróquias 1) Nossa Senhora Aparecida - Mandaguari Pe. Antônio Lock, SAC Pe. Bernardo Greis, SAC Pe. Max Kaufmann, SAC Pe. José Rodrigues Amaral, SAC Pe. Agenor Cavarçan, SAC Pe. Francisco Assiz Muchiutti, SAC

(23/01/1944 a 25/03/1958) (25/03/1958 a 12/01/1960) (12/01/1960 a 01/05/1969) (01/05/1969 a 01/01/1973) (01/01/1973 a 22/02/1986) (22/02/1986)

Cooperadores: Padres palotinos José Schreck, Paulo Speiser, Francisco Proske, Heriberto Wamsler, Paulo Broda, Clemente Afonso Henrique Hermann, Eduardo Radigonda, Francisco Kostetti e Luiz Schweiger

Criada em 8 de dezembro de 1943

2) Catedral Basílica N. S. da Glória - Maringá

Criada em 2 de abril de 1950

Pe. Teófilo Carlos Almazán Pe. João Janssen Pe. Benno Wagner, SJ Pe. Carlos Giebel, SAC Pe. Germano José Mayer, SAC Pe. João Philippi Pe. Benedito Vieira Telles Pes. Antônio de Pádua Almeida e Orivaldo Robles Pe. Sidney Luiz Zanettini Pe. Antônio Alczuk Pe. Júlio Antônio da Silva Pe. Antônio de Pádua Almeida

(21/04/1950 a 30/09/1951) (07/10/1951 a 11/09/1955) (11/09/1955 a 20/11/1955) (20/11/1955 a 20/12/1956) (20/12/1956 a 15/08/1960) (set/1960 a 03/04/1962) (22/04/1962 a 31/12/1968) (01/01/1969 a 21/02/1969) (21/02/1969 a 31/12/1986) (11/01/1987 a 31/03/1994) (10/04/1994 a 31/12/2005) (14/01/2006)

Cooperadores: Padres Emílio Clemente Scherer, Francisco Buttenmüller, SAC, Francisco Foglia, Carlos Steimel, Osvaldo Rambo, SJ, Domingos Dorna, Cláudio Boccaro, Cleto Altoé, Miguel Yoshimi Kimura, Antônio Luigi Martinelli, Francisco Hörnle, SAC, José Roth, SAC, Roberto Ostheimer, SAC, Adelino Formolo, José Jézu-Flor, José Veloso Gomes, Berniero Lauria, Ladislau Bán, Orivaldo Robles, Nunzio Reghenzi, Vicente Costa, José Bortolotte, Pedro Ryo Tanaka, Mathias Jorge (Matheus Elias), Friedrich Gerkens, Leomar Antônio Montagna, Marcos Ramalho Leite, Orides Meneguel, SAC, Israel Zago, Altair Ciarallo, José Victor Riffel, Reginaldo Lima, Luiz Antônio Bento, Francisco Robl, Gerhard Schneider e Rildo da Luz Ferreira

3) Nossa Senhora de Fátima - Marialva

Criada em 10 de abril de 1949 (Jacarezinho: 28/12/1948)

Pe. Max Kley, SAC Pe. Antônio Mohn, SAC Pe. Eugênio Herter, SAC Pe. Theo Hermann, SAC Côn. Vicente Magalhães Teixeira Pe. Orivaldo Robles Pe. Antônio de Pádua Almeida

(29/03/1949 a 18/04/1949) (18/04/1949 a 21/06/1950) (23/06/1950 a 31/01/1954) (21/02/1954 a 31/01/1966) (27/02/1966 a 03/01/1972, quando faleceu) (02/04/1972 a 31/12/1982) (01/01/1983 a 31/12/1999)

331 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Paróquias Pe. Nelson Aparecido Maia Pe. Jair Aparecido Favaretto

(29/01/2000 a 31/12/2006) (18/02/2007)

Cooperadores e auxiliares: Padres palotinos Vicente Hennig e Otto Bender, (de 29/03/1949 a 31/01/1966) e, depois, padres Mathias Jorge, Alfredo Beltrame, Antônio Guerra Pimentel, Antônio de Pádua Almeida, Onildo Luiz Gorla Júnior, Francisco Gecivam Vieira Garcia e José Fernandes de Souza

4) São João Batista - Jandaia do Sul

Criada em 30 de novembro de 1949

Pe. Marcos Alija Ramos Pe. Bernardino Baccolo, OSJ Pe. João Barbieri, OSJ Pe. Hermínio Di Gioia, OSJ Pe. Geraldo Bortolocci da Silva, OSJ Pe. Francisco Guffi, OSJ Pe. Mário Tesio, OSJ Pe. Hilton Carlos Soares, OSJ Pe. Roberto Palotto, OSJ Pe. Mario Ghinzoni, OSJ Pe. Marcos Francisco Kuceki, OSJ Pe. Duílio Liburdi, OSJ Pe. Virgílio Cabral dos Santos

(15/01/1950 a 13/11/1954) (14/11/1954 a 15/01/1955) (16/01/1955 a 08/04/1961) (09/04/1961 a 08/01/1966) (09/01/1966 a 23/04/1970) (24/04/1970 a 25/01/1973) (28/01/1973 a 31/01/1977) (08/02/1977 a 30/11/1978) (03/12/1978 a 31/01/1987) (15/02/1987 a 28/02/1990) (04/03/1990 a 31/12/1993) (07/04/1994 a 26/12/1996) (30/12/1996)

Substitutos e auxiliares: Padres josefinos Dario Zampiero, José Canale, Pedro Manhoni, João Batista da Silva e José Valdir da Silva (14/11/1954 a 26/12/1996)

5) São Sebastião - Mandaguaçu

Criada em 25 de janeiro de 1952 (24/10/51?)

Fr. Guilherme Maria de Magridis, OFM Cap Fr. Agatângelo de Umbará, OFM Cap Fr. Ambrósio de Bagnoli, OFM Cap Fr. Anacleto Maria de Lusia, OFM Cap Fr. Honorato de Thiene, OFM Cap Pe. José Rello Pe. João Francisco Jobard Pe. Antônio de Pádua Almeida Pe. Roberto Takeshi Kuriyama Pe. Marcos Aurélio Ramalho Leite Pe. Hélio Takemi Sakamoto Pe. Paulo Roberto de Lima

(28/10/1951 a 30/03/1952) (30/03/1952 a 09/04/1953) (09/04/1953 a 02/09/1961) (02/09/1961 a 08/02/1966) (08/02/1966 a 31/12/1966) (25/02/68 a 01/01/1971) (01/01/1971 a 09/10/1979) (14/10/1979 a 22/04/1981) (04/05/1981 a 24/01/1988) (31/01/1988 a 31/01/2000) (12/02/2000 a 31/01/2006) (08/02/2006)

Cooperadores: Freis Salvador de Miglidiano, Antônio de Tomazina, Vicente de Forquilhinha, Honório de Barra Fria, Casimiro Maria de Orleans, Celso de Jaraguá, Vital de Almirante Tamandaré, Anacleto de Vescovana, Demétrio de Dueville, Silvano de Capinzal, Alcides Ferandin (28/10/1951 a 31/12/1966) e, depois, padres João Francisco Jobard, Gerson França, Edinaldo Velozo da Silva e Aédio Odilon Pego

6) Sagrado Coração de Jesus - Nova Esperança

Criada em 19 de setembro de 1952

332 A Igreja que brotou da mata

Pe. José Antônio Roldan Pe. José Veloso Gomes Pe. Ernesto Pretti Côn. Francisco Javier Peregrina López Pe. Egídio Bertotti Pe. Ladislau Bán Mons. Berniero Lauria Pe. Antônio Alczuk Mons. Friedrick Josef Karl Gerkens Pe. José Vieira da Silva

(19/09/1952 a 26/12/1959) (27/12/1959 a 21/05/1960) (21/05/1960 a 01/06/1964) (05/07/1964 a 15/04/1966) (10/06/1966 a 10/12/1969) (15/12/1969 a 15/03/1970) (15/03/1970 a 15/10/1983) (12/03/1984 a 28/12/1986) (11/01/1987 a 04/02/1988) (04/02/1988 a 05/02/1992)


Paróquias (16/02/1992 a 11/02/1998) (21/02/1998 a 01/12/1999) (05/12/1999 a 25/01/2004) (30/01/2004 a 26/09/2004) (16/02/2005)

Pe. Paulo Campos Pe. Edmar Peron Pe. Roberto Takeshi Kuriyama Pe. Jair Presinate Pe. César Hipólito

Auxiliares: Padres Pedro Watar Makiyama, Ladislau Bán, Edwino Parascandalo, Hélio Takemi Sakamoto, Gerson França, Jair Presinate, Pedro Jorge Delgado Bento, Levi de Oliveira Silva, Adacilio Felix de Oliveira, César Hipólito, Rildo da Luz Ferreira, Obelino da Silva Almeida

07) Divino Espírito Santo - Bom Sucesso

Criada em 14 de abril de 1954

Pe. Armando Cirio, OSJ Pe. Orlando Piva, OSJ Pe. Ângelo Casagrande, OSJ Pe. Vicente Verulli, OSJ Pe. João Batista Cerutti, OSJ Pe. Francisco Guffi, OSJ Pe. Lourenço Gauci Pe. Vanderlei Pereira Pe. Pedro Canísio Dapper Pe. Valter Antônio Brandão

(07/11/1954 a 20/01/1955) (20/01/1955 a 25/04/1965) (02/05/1955 a 30/09/1967) (14/011968 a 29/04/1970) (10/01/1971 a 01/07/1973) (01/07/1973 a 07/07/1989, quando faleceu) (12/03/1991 a 03/11/1991) (23/02/1992 a 02/02/1998) (18/02/2001 a 04/02/2004) (05/02/2004)

Substitutos, interinos e auxiliares: Padres josefinos Geraldo Bortolocci da Silva, Alfeu Piccardi, Mário Ghinzoni, Nelson Federovicz, Marcos F. Kuceki (05/11/1954 a 23/02/1991) e, depois, padres Zenildo Meggiato, Onofre Teodoro da Silva, José Moreira Silveira e Nunzio Reghenzi

08) São José Operário - Maringá

Criada em 14 de agosto de 1954

Pe. Agostinho Klingen, SJ Pe. Benno Wagner, SJ Pe. Osvaldo Pedro Rambo, SJ Pe. Francisco Boesing, SJ Pe. João Wanat, SJ Pe. Benno Leopoldo Petry, SJ Pe. Orlando Allgayer, SJ Pe. Osvaldo Pedro Rambo, SJ Pe. Antônio Binsfeld, SJ Pe. Ruperto Antônio Jaeger, SJ Pe. Lino Londero, SJ Pe. Arcides De Bastiani, SJ Pe. Pedro Silvino Rabuske, SJ Pe. João Dionísio Werlang, SJ Pe. Hildo Inácio Rasch, SJ Pe. Lauro Willy Barth, SJ Pe. José Elias Feih, SJ Pe. João Marcos Schneider, SJ Pe. Arcides De Bastiani, SJ Mons. Wilson Galiani

(15/08/1954 a 29/10/1955) (20/11/1955 a 01/01/1957) (01/01/1957 a 05/02/1960) (05/02/1960 a 22/02/1967) (05/03/1967 a 13/09/1970) (13/09/1970 a 23/05/1973) (27/05/1973 a 23/09/1973) (07/10/1973 a 13/06/1975) (15/06/1975 a 25/07/1976) (25/07/1976 a 01/01/1984) (01/01/1984 a 11/08/1985) (15/08/1985 a 05/02/1989) (25/02/1989 a 03/01/1993) (10/01/1993 a 12/03/1993) (30/03/1993 a 26/06/1995) (02/07/1995 a 31/12/1995) (31/12/1995 a 31/12/1999) (27/02/2000 a 21/08/2002) (22/09/2002 a 04/01/2005) (15/01/2005)

Cooperadores e auxiliares: Padres jesuítas Afonso Hansen, Agostinho Helmuth Kaiser, Amândio Fritzen, Arnaldo Beckenkamp, Arthur Frantz, Avelino ten Caten, Bruno Metzen, Domingos Chagas, Ervino Schmidt, Felipe A. Krotz, Fernando Seidel, Genésio L. Adami, Ivo Dalsenter, Jacob Melz, João Dionísio Werlang, Jorge Scholl, José Nelson Knob, José Sylvio Fritzen, José Téo Kipper, Leo Aloysius Kolberg, Otmar Moerschberger, Paulo Olejak,

333 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Paróquias Pedro Bernardy, Silvino Arnhold, Urbano Müller e Vendelino Müller (15/08/1954 a 04/01/2005) e, depois, padres Antônio Luiz Catelan Ferreira, Sérgio Aparecido Galetti e Laílson Tomé de Lima

09) Nossa Senhora de Lourdes - Paranacity

Criada em 24 de março de 1958

Pe. Urbano Giacobbo Pe. Agostinho Stauder Pe. Laurentino Alvarez Dias Pe. Tadeu Wyzikowski Pe. Berniero Lauria Pe. Orivaldo Robles Pe. Danilo Kerber Pe. Luiz Pasa Pe. Edwino Parascandalo Pe. Gino Cecchin Pe. Lino Beal Pe. José Bortolotte Pe. Reginaldo Lima Pe. Milton Antônio Bossoni

(24/03/1958 a 27/05/1959) (28/05/1959 a 20/02/1960) (17/03/1960 a 08/12/1964) (27/06/1965 a 18/05/1967, quando faleceu) (10/11/1968 a 15/03/1970) (15/03/1970 a 02/04/1972) (02/04/1972 a 03/06/1972) (04/06/1972 a 10/12/1973) (11/02/1973 a 02/04/1976) (04/04/1976 a 10/12/1976) (29/05/1977 a 17/02/1983, quando faleceu) (18/03/1983 a 15/01/2006) (15/01/2006 a 31/12/2006) (28/01/2007)

Atendentes: Padres Antônio Ogara Elezcano e José Edwin Kalsing, de Cruzeiro do Sul

10) São Jorge - São Jorge do Ivaí

Criada em 8 de setembro de 1958

Pe. Antônio José Dias Pe. Urbano Giacobbo Pe. Alfredo Beltrame Pe. Mathias Jorge Pe. Vicente Costa Pe. Edwino Parascandalo Pe. José Vieira da Silva Pe. José Fernandes de Souza Pe. Hélio Takemi Sakamoto Pe. José Moreira Silveira Pe. Dirceu Alves do Nascimento

(23/12/1958 a 31/01/1959) (27/05/1959 a 22/02/1966) (27/02/1966 a 26/01/1969) (26/01/1969 a 19/01/1974) (19/01/1974 a 17/01/1979) (17/01/1979 a 30/10/1979) (18/04/1980 a 13/02/1988) (13/02/1988 a 09/02/1997) (09/02/1997 a 05/02/2000) (05/02/2000 a 07/02/2004) (07/02/2004)

Auxiliares: Padres Edwino Parascandalo e Roberto Takeshi Kuriyama

11) Imaculada Conceição - Floraí

Criada em 8 de dezembro de 1958

Pe. Paulo Kfoury Haddad Pe. José Veloso Gomes Pe. Antônio Otero Suarez Pe. Arnaldo Beckenkamp, SJ Pe. Celso Michels Pe. Egídio Bertotti Pe. Natalino Braga Pe. Antônio de Souza Pe. Roberto Takeshi Kuriyama Pe. Ângelo Rabacchin Pe. Valter Antônio Brandão Pe. Valdir Egea

Cooperador: Pe. Valter Antônio Brandão

334 A Igreja que brotou da mata

(08/12/1958 a 15/05/1959) (20/05/1959 a 18/12/1959) (19/12/59 a 24/04/1960) (29/04/1960 a 17/12/1960) (18/12/1960 a 20/12/1966) (31/12/1965 a 31/12/1966) (31/12/1966 a 31/01/1969) (06/02/1969 a 18/08/1974) (24/08/1974 a 03/05/1981) (03/05/1981 a 19/05/1996, quando faleceu) (20/05/1996 a 21/01/2001) (27/01/2001)


Paróquias 12) Senhor Bom Jesus - Marumbi

Criada em 9 de agosto de 1959

Pe. Luciano Ambrosini Pe. Pedro Watar Makiyama Pe. Lourenço Gauci Pe. Darcy Maximino de Oliveira Pe. Paulo Mariano Mendonça Pe. Antonio Ogara Elezcano Pe. José Moreira Silveira Pe. Onofre Teodoro da Silva

(16/08/1959 a 07/12/1969) (07/12/1969 a 30/09/1976) (01/10/1976 a 27/12/1982) (02/01/1983 a 15/06/1986) (07/02/1989 a 01/12/1990) (16/06/1991 a 14/02/1999) (11/04/1999 a 10/11/1999) (18/02/1999)

Substitutos e atendentes: Padres palotinos José Rodrigues Amaral, Roberto Palotto, Pedro Gonçalves Sobrinho, Mário Ghinzoni e Virgílio Cabral dos Santos, padre diocesano

13) São Pedro Apóstolo - São Pedro do Ivaí Pe. José Rossi Pe. João Batista Cerutti, OSJ Pe. Marcos Francisco Kuceki, OSJ Pe. Agostinho Cola, OSJ Pe. Zenildo Meggiato Criada em 9 de agosto de 1959

(15/08/1959 a 14/06/1980, quando faleceu) (15/02/1981 a 31/01/1982) (31/01/1982 a 16/12/1984) (16/12/1984 a 28/02/1990) (11/03/1990)

Auxiliares e atendentes: Padres José Fernandes de Souza (diocesano), Francisco Guffi, Roberto Palotto e Marcos F. Kuceki (josefinos)

14) Nossa Senhora das Graças - Itambé Pe. Eduardo Afonso Murante Pe. Aldo Lourenço Mathias Pe. Pedro Canísio Dapper Pe. Sidneis Salazar Pe. Gerson França Criada em 25 de outubro de 1959

(25/10/1959 a 24/06/1963) (26/01/1964 a 16/10/1972, quando faleceu) (08/09/1972 a 08/12/2000) (18/02/2001 a 08/02/2005) (08/02/2005 a 11/02/2007)

Atendente: Pe. Sidney Fabril

Administrador paroquial: Pe. Pedro Jorge Delgado Bento

(11/02/2007)

335 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Paróquias 15) São Judas Tadeu - Cruzeiro do Sul

Criada em 19 de março de 1960 São Judas Tadeu - Cruzeiro do Sul

Pe. Antônio Ogara Elezcano Pe. Antônio Guerra Pimentel Pe. Lourenço Gauci Pe. José Edwin Kalsing 03/10/1973 a 23/08/1977) Fr. Valério Alessandro Marchesini, OFM Cap Pe. José Fernandes de Souza Pe. Jorge Wostal Pe. José Fernandes de Souza Pe. Israel Zago Pe. Roberto Takeshi Kuriyama Pe. Vanderlei Pereira Pe. Antônio Carlos da Silva

(19/03/1960 a 29/02/1972) (31/05/1972 a 03/02/1973) (11/02/1973 a 30/09/1976) (26/10/1977 a 28/05/1979) (16/07/1980 a 31/12/1982) (14/08/1983 a 20/12/1985) (25/12/1985 a 31/01/1989) (04/02/1989 a 31/01/1980) (04/08/1990 a 31/12/1997) (31/01/1998 a 31/12/2004) (16/01/2005)

Atendentes: Padres Lino Beal, Antônio Alczuk e José Bortolotte

Imaculada Conceição - Uniflor

16) Nossa Senhora do Rocio - Ivatuba

Criada em 31 de maio de 1960

Pe. Pedro Jarussi Pe. Ângelo Rabachin Pe. Mathias Jorge Pe. Zenildo Megiatto Côn. Pedro Watar Makiyama Pe. Milton Antônio Bossoni Pe. Israel Zago Pe. Hélio Takemi Sakamoto Pe. Sidneis Salazar Pe. Sidney Fabril Pe. Edmilson Teixeira Busquim Pe. Helio Takemi Sakamoto

(06/06/1960 a 12/06/1966) (13/11/1966 a 27/01/1974) (27/01/1974 a 15/06/1986) (15/06/1986 a 22/02/1990) (04/03/1990 a 14/02/1993) (14/02/1993 a 07/01/1994) (13/02/1994 a 12/02/1995) (18/02/1995 a 01/02/1997) (15/02/1997 a  24/02/2001) (24/02/2001 a 16/02/2003) (16/08/2003 a 11/02/2006) (11/02/2006)

Auxiliar: Côn. Pedro Watar Makiyama

17) Santo Antônio de Pádua - Maringá Pe. Cristóvão V. Termehr Pe. Antônio Fomingues Pe. Adelino Formolo Pe. Nunzio Reghenzi Pe. Dirceu Alves do Nascimento Pe. José Moreira Silveira Criada em 28 de outubro de 1960

(30/10/1960 a 15/12/1961) (17/11/1961 a 11/10/1964) (18/12/1964 a 31/12/1973) (19/01/1974 a 30/01/1999) (25/03/1999 a 07/02/2004) (08/02/2004)

Colaboradores: Padres Júlio Antônio da Silva, Edmar Peron, Hélio Takemi Sakamoto, Onofre Teodoro de Souza, Onildo Luiz Gorla Júnior, Dirceu Alves do Nascimento, Maurício Vicente de Oliveira e Pedro Canísio Dapper

336 A Igreja que brotou da mata


Paróquias 18) Nossa Senhora do Rosário - Floresta

Criada em 12 de dezembro de 1960

Pe. Antônio Luigi Martinelli Pe. Pedro Canísio Dapper Pe. Gerhard Schneider Pe. Zenildo Meggiato Pe. Edmar Peron Pe. Israel Zago Pe. Hélio Takemi Sakamoto Pe. Sidneis Salazar Pe. Gerson França

(18/12/1960 a 21/11/1973) (09/12/1973 a 31/03/1983) (10/04/1983 a 31/05/1986) (15/06/1986 a 31/01/1990) (09/02/1990 a 31/01/1994) (12/02/1994 a 28/02/1995) (27/03/1995 a 31/01/1997) (07/02/1997 a 31/02/2005) (07/02/2005 a 10/02/2007)

Colaborador: Pe. Antônio Luigi Martinelli

(10/04/1983 a 14/02/1997, quando faleceu)

Administrador paroquial: Pe. Leomar Antônio Montagna

(10/02/2007)

19) Nossa Senhora Rainha - Atalaia

Criada em 31 de maio de 1961

Pe. Antônio Kondlik Pe. José Bedin Pe. João Pelágio de Freitas Pe. Janusz Sobczak Mons. Friedrich J. K. Gerkens Pe. Nelson Aparecido Maia Pe. Onofre Teodoro de Souza Pe. Maurício Vicente de Oliveira

(31/05/1961 a 10/09/1962) (24/03/1963 a 22/04/1975) (22/05/1975 a 10/10/1975) (15/12/1975 a 18/11/1978) (18/11/1978 a 05/01/1987) (10/02/1992 a 31/12/1992) (07/01/1993 a 31/07/1996) (22/08/2001 a 16/02/2007)

Atendentes: Padres José Vieira da Silva, Paulo Campos, Jair Presinate, Edmar Peron e Levi de Oliveira Silva

Administrador paroquial: Côn. Benedito Vieira Telles

(23/02/2007)

20) Santo Cura d’Ars - Paiçandu Côn. José Jézu-Flôr Côn. Ângelo Banki Pe. Luiz Carlos de Azevedo Pe. Reginaldo Teruel Anselmo

(08/08/1962 a 19/01/1974) (19/01/1974 a 25/01/2002) (25/01/2002 a 27/12/2004) (02/02/2005)

Administrador paroquial: Criada em 8 de agosto de 1962

Côn. Ângelo Banki

337 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Paróquias 21) São Pedro Apóstolo - Inajá

Criada em 8 de agosto de 1964 São Pedro Apóstolo - Inajá

Pe. Tadeu Wyzikowski Pe. Tarcísio Chicco Pe. Antônio de Souza Côn. Benedito Vieira Telles Pe. Luiz Pasa Pe. Mathias Eugênio Henz Pe. César Tonelotto Pe. Francisco Gubaua Irmãs da Companhia de Maria Irmãs de São João Batista Pe. Obelino Silva de Almeida Pe. Gerson França Pe. Cícero Dantas de Freitas

(15/08/1964 a 24/06/1965) (24/06/1965 a 05/02/1967) (24/06/1967 a 23/02/1969) (23/02/1969 a 26/10/1970) (31/01/1971 a 03/03/1973) (03/01/ 1976 a 19/10/1976) (24/10/1976 a 19/03/1977) (03/03/1978 a 31/05/1979) (07/06/1979 a 02/04/1990) (02/07/1990 a 09/02/1992) (26/02/1992 a 03/04/1994) (07/04/1994 a 30/11/1999) (21/05/2000)

Nossa Senhora de Fátima Jardim Olinda

Santo Antônio - Paranapoema

22) Santa Maria Goretti - Maringá Pe. Raimundo Le Goff Pe. Antônio de Pádua Almeida Pe. Geraldo Trabuco Pe. Júlio Antônio da Silva Pe. Orivaldo Robles Criada em 3 de setembro de 1964

(03/09/1964 a 23/02/1981, quando faleceu) (26/04/1981 a 14/12/1982) (26/12/1982 a 03/06/1986) (15/06/1986 a 31/12/1988) (22/01/1989)

Auxiliares: Padres Bernardo Cnudde, Francisco Cocaign, Roberto Le Goff e Bruno Elizeu Versari

23) São Benedito - Kaloré

Criada em 22 de fevereiro de 1965

338 A Igreja que brotou da mata

Pe. José Rodrigues Amaral Pe. Luciano Ambrosini Pe. Lino Leal Pe. Lourenço Gauci Pe. Janusz Sobczak Pe. Darcy Maximino de Oliveira Pe. Virgílio Cabral dos Santos Pe. José Fernandes de Souza Pe. Valter Antônio Brandão

(07/03/1965 a 29/06/1969) (12/10/1969 a 08/03/1973) (11/03/1973 a 02/05/1977) (14/06/1977 a 19/01/1979) (11/02/1979 a03/11/1982) (20/11/1982 a 11/01/1986) (12/01/1986 a 01/02/1997) (02/02/1997 a 03/02/2004) (04/02/2004)


Paróquias 24) Nossa Senhora Divina Pastora - Ourizona Pe. Paulo Weng Pe. Nelson Aparecido Maia Pe. José Moreira Silveira Pe. Dirceu Alves do Nascimento

(26/11/1966 a 26/03/1988, quando faleceu) (09/02/1992 a 15/12/1995) (06/02/2000 a 06/02/2004) (06/02/2004 a 15/02/2007)

Auxiliares: Criada em 26 de fevereiro de 1966

Padres José Vieira da Silva, Roberto T. Kuriyama, José Fernandes de Souza e Hélio Takemi Sakamoto

Administrador paroquial: Pe. Gerson França

(15/02/2007)

25) Bom Pastor - Mandaguari Pe. Sidney Luiz Zanettini Pe. Natalino Braga Pe. Ivaldir Camaroti dos Reis

(03/03/1968 a 31/01/1969) (16/02/1969 a 31/03/2001) (01/04/2001)

Administrador paroquial: Pe. Natalino Braga Criada em 22 de fevereiro de 1968

26) Cristo Ressuscitado - Maringá Mons. Geraldo Schneider Pe. Edmar Peron Mons. Júlio Antônio da Silva

(18/12/1969 a 10/08/2002) (17/08/2002 a 04/02/2007) (04/02/2007)

Auxiliares: Criada em 18 de dezembro de 1969

Padres José Jézu-Flôr, Antonio Luigi Martinelli, Antônio Luiz Bento e Milton Antônio Bossoni

27) Divino Espírito Santo - Maringá Mons. Bernard Abel Alphonse Cnudde Mons. Antônio de Pádua Almeida Pe. José Bortolotte

(18/12/1969 a 20/11/2000, quando faleceu) (04/02/2001 a 14/01/2006) (15/01/2006)

Criada em 18 de dezembro de 1969

28) N. S. Mãe de Deus - Presid. Castelo Branco

Criada em 12 de março de 1970

Pe. Ladislau Bán Pe. Antônio Guerra Pimentel Pe. Danilo Kerber Pe. Vicente Costa Fr. Alcides Ferandin, OFM Cap Pe. Pedro Watar Makiyama Ir. Noemi Lazzari Ir. Terezinha Presotto Ir. Maria Baldissera Ir. Lourdes Mattiuz Ir. Beatriz Maria Rech

(12/03/1970 a 26/06/1971) (02/04/1972 a 31/05/1972) (31/05/1952 a 15/04/1977) (15/04/1977 a 15/11/1978) (15/12/1978 a 18/12/1981) (17/1/1982 a 13/09/1986) (17/02/1988 a 06/02/1991) (07/02/1991 a 17/01/1992) (17/01/1992 a 23/01/2001) (23/01/2001 a 03/02/1992) (03/02/2002)

Paróquia confiada em 16/02/1988 à coordenação pastoral e administração das irmãs Murialdinas de São José com assistência espiritual de párocos vizinhos

Assistentes: Padres de São Jorge do Ivaí, de Nova Esperança, de Floraí e de Atalaia

339

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Paróquias

29) Bom Jesus - Aquidaban - distrito de Marialva Pe. José Victor Riffel Pe. Djalmo Alves da Silva Pe. Nelson Aparecido Maia Pe. José Fernandes de Souza

(12/04/1970 a 12/04/1990) (01/04/1993 a 15/11/1997) (01/02/1998 a 08/12/2000) (29/06/2004)

Assistentes: Criada em 29 de março de 1970

Padres Antônio de Pádua Almeida, José Victor Riffel, Nelson Aparecido Maia, Obelino Silva de Almeida e frei Moacir Rodrigues Biscaia, OFMCap

30) São Pedro Apóstolo - Doutor Camargo

Criada em 20 de janeiro de 1971

Pe. Pedro Paulo Dias, SCJ Pe. Ângelo Rabacchin Pe. Mathias Jorge Côn. Pedro Watar Makiyama Pe. Edmilson Teixeira Busquim Pe. Hélio Takemi Sakamoto

(20/01/1971 a 19/01/1974) (19/01/1974 a 16/04/1981) (16/01/1981 a 14/09/1986) (14/09/1986 a 12/10/2003) (16-08-2003 a 09/01/2006) (09/01/2006)

Vigário paroquial: Côn. Pedro Watar Makiyama

31) São Miguel Arcanjo - Maringá Pe. José Bortolotte Pe. José Vieira da Silva Côn. José Jézu-Flôr Pe. Leomar Antônio Montagna Pe. Darcy Maximino de Oliveira Criada em 23 de novembro de 1975

(23/11/1975 a 15/12/1978) (15/12/1978 a 12/04/1980) (21/06/1982 a 15/10/86) (16/02/1992 a 31/12/2006) (13/02/2007)

Auxiliares e assistentes: Padres jesuítas Ruperto Antônio Jaeger, Arcides De Bastiani, Genésio Luiz Adami, Arthur Frantz e Manoel Silva Filho, diocesano

32) São Francisco de Assis - Maringá Pe. José Bortolotte Pe. Júlio Antônio da Silva Pe. Darcy Maximino de Oliveira Pe. Onildo Luiz Gorla Júnior Criada em 15 de dezembro de 1978

340 A Igreja que brotou da mata

(15/12/1978 a 25/03/1984) (26/03/1984 a 31/05/1986) (18/06/1986 a 31/12/2006) (12/02/2007)

Auxiliares: Padres Valter Antônio Brandão, José Aparecido de Miranda e Jair Presinate


Paróquias 33) Nossa Senhora das Graças - Sarandi

Criada em 30 de dezembro de 1978

Pe. Vicente Costa Pe. João Caruana Pe. Sidney Fabril Pe. Júlio Antônio da Silva Pe. Obelino Silva de Almeida Pe. Jair Presinate Pe. Antônio Carlos da Silva Pe. Francisco Gecivam Vieira Garcia Pe. Reginaldo Lima

(21/01/1979 a 18/12/1984) (18/12/1984 a 25/03/1990) (25/03/1990 a 14/02/1993) (14/02/1993 a 10/04/1994) (10/04/1994 a 31/12/1997) (01/01/1998 a 31/12/2003) (28/01/2004 a 31/12/2004) (29/01/2005 a 31/12/2006) (04/02/2007)

34) Sagrado Coração de Jesus - Maringá Pe. Júlio Antônio da Silva Pe. Lourenço Gauci Pe. Israel Zago Pe. José Vieira da Silva Pe. Marcos Aurélio Ramalho Leite Criada em 10 de fevereiro de 1980

(02/02/1980 a 14/12/1982) (14/12/1982 a 02/02/1990) (04/02/1990 a 04/01/1994) (06/02/1994 a 13/02/2000) (03/02/2000)

Auxiliares: Padres Milton Antônio Bossoni, Gerson França, Nelson Molina e Sidneis Salazar

35) N. S. de Lourdes e São Judas Tadeu - Maringá Pe. Jair Aparecido Favaretto Pe. Manoel Silva Filho

(25/03/1990 a 31/12/2006) (16/02/2007)

Vigário paroquial: Pe. Jair Presinate Criada em 24 de março de 1990

36) Santa Isabel de Portugal - Maringá Pe. Bruno Elizeu Versari

(25/03/1990)

Auxiliares e vigários paroquiais: Padres Diniz Mikosz, Israel Zago, Paulo Campos e Pedro Jorge Delgado Bento

Criada em 24 de março de 1990

37) Santa Teresinha do Menino Jesus - Sarandi Pe. João Caruana Pe. José Mello

(25/03/1990 a 25/07/2003) (27/07/2003)

Criada em 24 de março de 1990

341 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Paróquias 38) Nossa Senhora de Guadalupe - Maringá

Criada em 12 de dezembro de 1992

Pe. Luiz Antônio Bento Pe. Luiz Gonçalves Knupp Pe. Nelson Aparecido Maia

(12/12/1992 a 31/12/1999) (23/01/2000 a 31/12/2006) (14/02/2007)

Colaborador: Pe. Edmilson Busquim

39) São Silvestre I Papa - Maringá Pe. Manoel Silva Filho Pe. João Caruana

(12/06/1994 a 03/07/2004) (03/07/2004)

Criada em 9 de junho de 1994

40) Nossa Senhora da Liberdade e Beato Pedro Jorge Frassati - Maringá Pe. Nelson Molina Pe. José Aparecido de Miranda Pe. Sidneis Salazar

(19/02/1995 a 31/12/2001) (02/06/2002 a 12/02/2005) (13/02/2005)

Vigário paroquial: Criada em 6 de fevereiro de 1995

Pe. Adacilio Felix de Oliveira

41) Menino Jesus de Praga e São Francisco Xavier - Maringá Pe. Sidney Fabril Pe. Altair Ciarallo Pe. Reginaldo Lima Pe. Luiz Antônio Bento Criada em 24 de março de 1995

(24/03/1995 a 20/01/2000) (20/01/2000 a 07/10/2001) (07/10/2001 a 01/01/2006) (13/01/2006)

Auxiliar: Côn. Pedro Ryo Tanaka

42) S. Rosa de Lima - Iguatemi (distrito de Maringá) Pe. Edmar Peron Pe. Obelino Silva de Almeida Pe. Onildo Luiz Gorla Júnior Pe. Janilson Canuto Pe. Thelmo Ricardo Favoretto Criada em 22 de fevereiro de 1997

342 A Igreja que brotou da mata

Atendente: Pe. Obelino Silva de Almeida

(22/02/1997 a 31/12/1997) (01/01/1998 a 29/07/1998) (30/07/1998 a 30/04/1999) (01/05/1999 a 12/02/2005) (10/02/2006)


Paróquias 43) Jesus Bom Pastor - Paiçandu Pe. Milton Aparecido Bossoni Pe. Francisco Gecivam Vieira Garcia Pe. Nelson Molina

(22/02/1997 a 30/12/1999) (31/12/1999 a 31/12/2001) (27/01/2002)

Criada em 22 de fevereiro de 1997

44) São Mateus Apóstolo - Maringá Pe. Israel Zago

(22/02/1997)

Criada em 22 de fevereiro de 1997

45) São Bonifácio - Maringá Pe. Luiz Braz de Rezende, SAC Pe. José Aparecido de Miranda

(20/01/1999 a 31/12/2005) (18/02/2006)

Criada em 20 de dezembro de 1998

46) São Paulo Apóstolo - Sarandi Pe. Paulo Campos Pe. Milton Antonio Bossoni Pe. Janilson Canuto Pe. Luiz Carlos de Azevedo

(25/01/1999 a 30/06/2002) (14/07/2002 a 06/02/2005) (12/02/2005 a 31/12/2006) (02/02/2207)

Auxiliar: Criada em 25 de janeiro de 1999

Pe. Leomar Antônio Montagna

47) Santa Rita de Cássia - Maringá Pe. Edmilson Mendes, CEC

Criada em 1º de maio de 1999 (Quase-paróquia) / 25 de março de 2000 (Paróquia)

(01/05/1999)

343 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Paróquias 48) Santa Joaquina de Vedruna - Maringá Pe. Andrzej Krzyzanowswki, CR Pe. Flávio Augusto Bittencourt de Aguiar, CR Pe. Edmar Peron Pe. Sidney Fabril

(21/05/2000 a 15/12/2001) (16/12/2001 a 29/12/2002) (29/12/2002 a 14/03/2003) (28/01/2005)

Assistentes: Criada em 21 de maio de 2000

Padres Manoel Silva Filho e Sidney Fabril

49) Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - Maringá Pe. Pedro Jorge Delgado Bento Pe. Janilson Canuto

(11/11/2001 a 31/12/2006) (01/02/2007)

Criada em 11 de novembro de 2001

50) Nossa Senhora Aparecida - Maringá Pe. Onildo Luiz Gorla Júnior Pe. Altair Ciarallo

(23/01/2001 a 25/07/2004) (06/02/2005)

Criada em 23 de fevereiro de 2001 (Quase-paróquia) / 26 de janeiro de 2002 (Paróquia)

51) Nossa Senhora da Esperança - Sarandi Pe. Francisco de Assis Dias Pe. Antônio Carlos da Silva Pe. Francisco Gecivam Vieira Garcia Pe. Décio Valdevino Marques

(15/08/2000 a 31/01/2002) (03/02/2002 a 31/12/2003) (12/02/2006) (11/02/2002)

Colaboradores: Criada em 13 de agosto de 2000 (Quase-paróquia) / 11 de fevereiro de 2007 (Paróquia)

Padres Thelmo Ricardo Favoretto, Milton Antônio Bossoni e Francisco Gecivam V. Garcia

52) São Francisco Xavier - Paróquia pessoal para japoneses Mons. Pedro Ryo Tanaka Pe. Hélio Takemi Sakamoto

Vigários paroquiais: Criada em 5 de dezembro de 2000

344 A Igreja que brotou da mata

Padres Hélio Takemi Sakamoto e Ângelo Banki

(05/12/2000 a 18/03/2001) (01/01/2002)


Bispos para a Igreja A diocese de Maringá ofereceu dois bispos à Igreja:

Dom Vicente Costa Maltês, nascido em 1º de janeiro de 1947, veio para Londrina como seminarista, iniciando em 1º de março de 1969 o curso de Teologia em Curitiba. Em setembro de 1971 transferiu-se para a diocese de Maringá. Foi ordenado padre no dia 17 de dezembro de 1972, na arquidiocese de Malta, à qual estava incardinado. Nomeado bispo auxiliar de Londrina em 1º de julho de 1998, recebeu a ordenação episcopal na catedral basílica de Maringá, no dia 19 de setembro desse ano. Desde 9 de outubro de 2002 é bispo diocesano de Umuarama.

Dom Volodemer Koubetch, OSBM Nasceu em Mandaguaçu (27/03/1953) e foi batizado por frei Agatângelo de Umbará (Pe. Eugênio Nichele). Criança ainda, sua família transferiu-se para Umuarama, de onde se encaminhou para o Seminário São José, de Prudentópolis, da Ordem de São Basílio Magno. Ordenou-se padre em 6 de dezembro de 1981, tendo sido nomeado, em 10 de dezembro de 2003, bispo coadjutor da Eparquia de São João Batista, para os católicos do rito ucraniano, com sede em Curitiba. Recebeu a ordenação episcopal e tomou posse do cargo no dia 21 de março de 2004. Com a renúncia, em 13 de dezembro de 2006, de dom Efraim Basílio Krevey, tornou-se o eparca titular, cargo em que foi investido no dia 7 de fevereiro de 2007. 345 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Padres que trabalharam na arqui(diocese) Padres Diocesanos

346

Adelino Formolo Agostinho Martinez Agostinho Stauder Alfredo Beltrame Alfredo da Fonseca Rodrigues André José Torres Ângelo Rotondi Antônio Alczuck Antônio de Souza Antônio Domingues Antônio Guerra Pimentel Antônio José Dias Antônio Kondlik Antônio Luiz Catelan Ferreira Antônio Municio José Antônio Ogara Elezcano Antônio Otero Suarez Celso Michels César Tonellotto Cristóvão V. Termehr Danilo Kerber Diniz Mikosz Djalmo Alves da Silva Eduardo Afonso Murante Eduardo Bassil Edwino Parascandalo Egídio Alberto Bertotti Ernesto Pretti Eugênio Nichele Francisco Javier Peregrina López Geraldo Trabuco Gino Cecchin Janusz Sobczak João Amâncio da Costa Novaes João Pelágio de Freitas João Philippi José Antônio Roldan José Bedin José de Oliveira e Silva José Edwin Kalsing José Ernesto Bevilacqua José Francisco de Assis Dias José Hass Filho José Meneguzzo

A Igreja que brotou da mata

José Narino de Campos José Veloso Gomes José Vieira da Silva Júlio Hartmann Laurentino Alvarez Diaz Luciano Ambrosini Luiz Pasa Marcos Alija Ramos Marino Knopf Mathias Eugênio Henz Paulo Campos Paulo Haddad Paulo Mariano Mendonça Pedro Jarussi Roberto Egídio Pezzi Sérgio Aparecido Galetti Settimo Giacobbo Sidney Luiz Zanettini Tarcísio Chicco Tarcísio de Castro Moura Valério Odorizzi Vanderlei Pereira

Padres Jesuítas Afonso Hansen Agostinho Helmuth Kaiser Agostinho Klingen Amândio Fritzen Antônio Binsfeld Arcides De Bastiani Arnaldo Beckenkamp Arthur Frantz Avelino ten Caten Beno Luiz Petry Bruno Metzen Domingos Chagas Ervino Schmidt Felipe A. Kroetz Fernando Seidel Francisco Boesing Genésio L. Adami Ivo Dalsenter Jacob Melz João Marcos Schneider

João Wanat Jorge Scholl José Elias Feyh José Nelson Knob José Sylvio Fritzen José Téo Kipper José Victor Riffel Lauro Willy Barth Leo Aloysius Kolberg Lino Londero Orlando Allgayer Osvaldo Rambo Otmar Moerschberger Paulo Olejak Pedro Bernardy Ruperto Antônio Jaeger Silvino Arnhold Silvino Pedro Rabuske Urbano Müller Vendelino Müller

Padres Capuchinhos Afonso de Botiatuba Agatângelo de Umbará Alcides Ferandin Amadeu de Capinzal Ambrósio de Bagnoli Casimiro de Orleans Celso de Jaraguá Demétrio de Dueville Francisco Gubaua Honorato de Thiene Moacir Rodrigues Biscaia Silvano de Capinzal Valério Alessandro Marchesini Vital de Almirante Tamandaré

Padres Josefinos Agostinho Cola Ângelo Casagrande Álvaro de Oliveira Joaquim Arlindo de Souza Trindade Bernardino Baccolo Carlos Ferrari


Ciríaco Bandin Dario Zampiero Duílio Liburdi Fausto Cuccu Francisco dos Santos Francisco Guffi Geraldo Bortolocci da Silva Giácomo Bronzini Hermínio Di Gioia Hilton Carlos Soares João Batista Cerutti João Barbieri João Batista da Silva José Canale José Valdir Rodrigues Lonardo Prota Marcos Francisco Kuceki Mário Ghinzoni Mário Tesio Mike Alcântara Milton Bim Nelson Federovicz Orlando Piva Pedro Gonçalves Sobrinho Pedro Manhoni Roberto Palotto Vicente Veruli

Padres Palotinos Afonso Decker Agenor Cavarçan Antônio Lock Antônio Mohn

Bernardo Greiss Eduardo Radigonda Eugênio Herter Felipe Hoberg Francisco Kostetti Francisco Proske Franz Hörnle Germano José Mayer Herbert Krauser José Rodrigues Amaral José Roth José Schindler Luiz Braz de Rezende Max Kley Max Kaufmann Otto Bender Paulo Broda Paulo Speisser Roberto Ostheimer Théo Hermann Vicente Hennig

Padres da Sociedade São Tiago Francisco I. M. Cocaign João Cláudio Bodenés João Francisco Jobard João Vicente Guhur Jorge Martin José Manic José Rello Philbert Penisson Raimundo Le Goff

Roberto Le Goff

Padres Carmelitas Alberto Foerst Boaventura Einberger Bruno Doepgen Jerônimo Brodka Joaquim Knoblauech Matias Warneke Rafael Manika Ulrico Goewert

Padre do Sagrado Coração de Jesus Pedro Paulo Dias

Padres Agostinianos (Eremitas de S. Agostinho) Fidel Dias Valdés Paulo Luna García

Padre Cisterciense Júlio Bento Antunes Filho

Padres Ressurrecionistas Andrzej Krzyzanowswki Flávio Augusto Bittencourt de Aguiar

Padre Beneditino Joaquim Delamare de Oliveira

347 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Padres falecidos enquanto trabalhavam na (arqui)diocese Nome

Local de Trabalho

Falecimento

Pe. Bernardo Rech

Santa Isabel do Ivaí

08/12/1961

Pe. José Bevilacqua

Nova Londrina

20/08/1962

Pe. Tadeu Wyzikowski

Paranacity

18/05/1967

Mons. Miguel Yoshimi Kimura

Missão Japonesa

14/08/1967

Pe. Ângelo Casagrande, OSJ

Bom Sucesso

30/09/1967

Pe. Ladislau Bán

Barão de Lucena/Pres. Castelo Branco

26/06/1971

Côn. Vicente Magalhães Teixeira

Marialva

03/01/1972

Pe. Aldo Lourenço Mathias

Itambé

16/10/1972

Pe. José Rossi

São Pedro do Ivaí

14/06/1980

Pe. Raimundo Le Goff

Santa Maria Goretti

23/02/1981

Pe. Lino Beal

Paranacity

17/02/1983

Mons. Berniero Lauria

Nova Esperança

15/10/1983

Pe. Paulo Weng

Ourizona

26/03/1988

Pe. Mathias Jorge

Seminário, depois de Dr. Camargo

02/08/1988

Pe. Francisco Guffi, OSJ

Bom Sucesso

07/07/1989

Mons. Friedrich Josef Karl Gerkens

Divino Espírito Santo - auxiliar

27/10/1994

Pe. Angelo Rabacchin

Floraí

19/05/1996

Pe. Antonio Luigi Martinelli

Floresta - auxiliar

14/02/1997

Mons. Bernard Abel Alphonse Cnudde

Divino Espírito Santo

20/11/2000

Côn. Pedro Ryo Tanaka

Paróquia pessoal São Francisco Xavier

18/03/2001

Pe. Levi de Oliveira Silva

Nova Esperança, vigário paroquial

06/10/2001

Pe. João Dionísio Werlang, SJ

São José Operário, vigário paroquial

04/02/2002

Pe. Pedro Canísio Dapper

Tribunal Eclesiástico

24/01/2007

348 A Igreja que brotou da mata


Instituições católicas e parcerias

Colégio Santa Cruz Carmelitas da Caridade de Vedruna

Santa Casa – Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora

Noviciado São Luiz Gonzaga – Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora

Escola Sagrada Família Mandaguari – Franciscanas da Sagrada família

Colégio Santo Inácio – Missionárias do Santo Nome de Maria

Casa Provincial Maria Missionária – Missionárias do Santo Nome de Maria

Creche Menino Jesus – Missionárias do Santo Nome de Maria

Centro de Espiritualidade Rainha da Paz – Missionárias do Santo Nome de Maria

Comunidade Mãe da Esperança – Missionárias do Santo Nome de Maria

Lar Rainha da Paz – Missionárias do Santo Nome de Maria

Cemitério das Missionárias do Santo Nome de Maria

PROMEC Sarandi – Missionárias do Santo Nome de Maria

Noviciado Rainha da Paz – Missionárias do Santo Nome de Maria

Colégio Marista – Irmãos Maristas das Escolas

Obra do Berço – Voluntários

349 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Instituições católicas e parcerias

Livraria Paulinas – Filhas de São Paulo

Colégio Coração de Jesus – Nova Esperança – Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus

Obra de Assistência Social Papa João XXIII – Floresta – Apóstolas do S. Coração de Jesus

Albergue Santa Luiza de Marillac – Filhas da Caridade, Servas dos Pobres

Núcleo Social Papa João XXIII – Filhas da Caridade, Servas dos Pobres + Maristas

Lar Escola da Criança – Murialdinas de São José

Colégio S. Francisco de Assis – Mandaguaçu – Damas da Instrução Cristã

Colégio Regina Mundi – Damas da Instrução Cristã

Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória

Colégio S. Francisco Xavier – Paroquial

Lar dos Velhinhos – Irmãzinhas da Imaculada Conceição

Escola São José – Jandaia do Sul – Passionistas de S. Paulo da Cruz

Colégio Anjos Custódios – Marialva – Irmãs dos Santos Anjos Custódios

Centro Madre Rafaela Ybarra – Marialva – Irmãs dos Santos Anjos Custódios

Recanto Pascal – Irmãs de São Carlos de Lyon

350 A Igreja que brotou da mata


Escola Carlos Démia – Irmãs de São Carlos de Lyon

Casa de Nazaré – Irmãs da Copiosa Redenção

Seminário Santo Agostinho – Agostinianos Recoletos

CEPA – Centro de Pastoral da Arquidiocese

Asilo São Vicente de Paulo – Sociedade de São Vicente de Paulo

Casa da Pastoral da Criança – Voluntários

Casa de Emaús – Voluntários

MAREV – Voluntários

Televisão 3º Milênio – Fundação

Rádio Colméia – Fundação

Jornal Maringá Missão – Voluntários

Cúria Metropolitana

351 Os 50 anos da Diocese de Maringá


Esta obra contou com o apoio de: Supermercado São Francisco Ágide Meneguetti F. A. Maringá ltda. Família Fratti Laurindo Zanco Furquim Cocamar - Cooperativa Agroindustrial Francisco Feio Ribeiro Filho João Noma Valdir Scalon Antônio Facci Antônio Grassano Júnior Ariovaldo Costa Paulo Família Planas Gabriel Sidney de Toledo Menezes Laboratório São Camilo Pedro Granado Martinez Regina Pereira Boeira

A Igreja que brotou da mata Os 50 anos da Diocese de Maringá ISBN 978-85-88020-41-2

Formato: Mancha: Tipologia: Papel Miolo: Papel Capa: Encadernação: Acabamento Capa: Número de Páginas: Edição: Impressão:

215 x 280mm 50,74 x 66,08 paicas ITC Galliard, InfoText Roman, Adobe Garamond, English Adagio, Caslon Open Face Couché 115g/m2 Fosco Couché 150g/m2 Brilhante Capa dura, Fascículo Termolaminação Alto Brilho 352 Dental Press International Gráfica Donnelley Moore

Maringá, março de 2007.


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