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om )
UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO:
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O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE JÚNIAS
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João Carlos Moreira da Silva Azevedo
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Dissertação para obtenção do Grau de Mestre
Porto, 27 de Setembro de 2011.
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Agradecimentos
Como não há palavras capazes de descrever de forma autêntica o sentimento sui
om )
géneris que caracteriza este marco do meu percurso pessoal e profissional, deixo um simples OBRIGADO, carregado de um sentimento de sorte, misturado com privilégio e
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muito trabalho, pelo facto de ter a meu lado, em primeiro lugar, a Arq. Professora Doutora
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Maria Xavier Diogo e Arq. Professor João Paulo Rapagão, pela orientação deste trabalho, e pela persistência no cuidado e construção que dedicaram à minha personalidade
fsp
Profissional.
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Aos professores que ao longo do meu percurso académico deixaram um pouco de si comigo, concretamente ao Arq. Jorge Carvalho e o Arq. Francisco Vieira de Campos.
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descritiva e pela sua colaboração.
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Agradeço ainda ao Arq. Alcino Soutinho pela gentil cedência de desenhos e memória
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Como não poderia deixar de ser, agradeço o carinho incondicional dos meus pais,
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I
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da Rita e da Raquel.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Resumo
Propomo-nos, neste trabalho, efectuar uma abordagem ao projecto de reabilitação e
om )
recuperação de edifícios de carácter patrimonial, com foco no Mosteiro de Santa Maria de Júnias, procurando construir-se uma resposta sob forma de projecto, baseada em princípios
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metodológicos e ainda sobre o estudo e reflexão histórica relativa à preexistência do lugar
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à forma construída.
O presente trabalho desenvolve-se tendo por base as metodologias do tema
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projectual, como hipótese de melhorar a relação do existente com os padrões exigíveis de
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conforto, acessibilidades e programa contemporâneo, com vista à valorização e preservação das Ruínas do Mosteiro de Santa Maria de Júnias.
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Pretende-se, assim, problematizar o modo de adoptar a preexistência a novos usos,
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II
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ou por outro lado, adoptar os novos usos à preexistência.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Abstract
We propose, with this work, to make an approach to the project of rehabilitation
om )
and restoring of heritage buildings, with focus on the Monastery of Santa Maria de Júnias, seeking to build a response in the form of a project, based on methodical principles and on
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the historical reflection and study concerning the pre-existed place built form. This present work develops based on the methodological principles of the project theme, as a chance to improve the existent relationship with the required standards
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of comfort, accessibilities and contemporary program, having as target the appreciation
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and preservation of the ruins of the Monastery of Santa Maria de Junias. We pretend, therefore, to create a problem in the way to adopt the pre-
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existent to the new uses, and on the other hand, to adopt the new uses to pre-existing ones.
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III
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.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Índice
Agradecimentos
I II
Abstract
III
om )
Resumo
er. c
Índice
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Índice de imagens Introdução
X 17
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1.1 – Localização 1.2 – Descrição do conjunto 1.3 – Evolução morfotipológica 1.4 – Levantamento
V
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Capítulo I – Análise e Interpretação
IV
Capítulo II – Princípios Metodológicos
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2.1 – Abordagem metodológica 2.2 – Valor patrimonial / valor histórico 2.3 – Em retrospecção 2.4 – Reabilitação e recuperação
Capítulo III– Proposta – Mosteiro de Santa Maria de Júnias
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3.1 – Perspectivas diacrónicas em discussão; a sua implementação 3.2 – Proposta: dissertação e viabilidade 3.3 – Soluções aplicadas 3.4 – Considerações finais
IV
98
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Bibliografia
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Índice de imagens
Fig. 1 – Esquema realizado pelo candidato a partir dos desenhos topográficos, cedidos pela C. M. Montalegre
om )
Fig. 2 – Esquema realizado pelo candidato a partir do ortofotomapa, cedidos pela C. M. Montalegre
er. c
Fig .3 – Fotografia panorâmica realizada pelo candidato
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Fig. 4 – Fotografia panorâmica realizada pelo candidato Fig. 5 – Fotografia panorâmica realizada pelo candidato
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Fig. 6 - Esquema fotográfico realizado pelo candidato
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Fig. 7 - Esquema realizado pelo candidato, com base nos esquemas apresentados por Mário Barroca in “Mosteiro de Santa Maria de Júnias – Notas para o estudo da sua evolução arquitectónica.”
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Fig. 8- Fotografia panorâmica realizada pelo candidato
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Fig. 9- Fotografia panorâmica realizada pelo candidato
Vi
sit
Fig. 10- Fotografia realizada pelo candidato
o(
Fig. 11- Fotografia realizada pelo candidato
De m
Fig. 12- Esquema realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de levantamento, gentilmente cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão Fig. 13- Fotografia realizada pelo candidato Fig. 14- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão Fig. 15- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão
Página
V
Fig. 16- Fotografia panorâmica realizada pelo candidato
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Fig. 17- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão Fig. 18- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de
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Fig. 19- Fotografia realizada pelo candidato
om )
levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão
Fig. 20- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão
fsp
Fig. 21- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de
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levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão Fig. 22- Fotografia panorâmica realizada pelo candidato
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Fig. 23- Cópia do desenho original, gentilmente cedido pelo Arq. Alcino Soutinho
sit
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Fig. 24- Desenho cedido pelo Arq. João Paulo Rapagão
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Vi
Fig. 25 – Esquiço de processo realizado pelo candidato
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Fig. 26 – Fotografia realizada pelo candidato Fig. 27 - Desenhos finais da proposta realizado pelo candidato Fig. 28 - Esquema realizado pelo candidato, com base nos esquemas apresentados por Mário Barroca in “Mosteiro de Santa Maria de Júnias – Notas para o estudo da sua evolução arquitectónica.” Fig. 29 – Esquiços de processo realizados pelo candidato Fig. 30 – Desenhos finais da proposta realizados pelo candidato
VI
Fig. 31 – Esquiços de processo realizados pelo candidato
Página
Fig. 32 - Esquiços de processo realizados pelo candidato
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Fig. 33 – Fotografias da maqueta de trabalho realizada pelo candidato Fig. 34 - Esquiços de processo realizados pelo candidato
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Fig .35 - Esquiços de processo realizados pelo candidato
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Fig. 37 - Desenhos finais da proposta realizados pelo candidato
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Fig. 36 - Esquiços de processo realizados pelo candidato
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Fig. 38 - Desenhos finais da proposta realizados pelo candidato
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Fig. 39 – Fotografias da maqueta de trabalho realizada pelo candidato
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VII
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Fig. 40 - Desenhos finais da proposta realizada pelo candidato
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
“ Restaurar um edifício não é mantê-lo, repara-lo ou refaze-lo, é
Viollet-Le-Duc
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
Página
dado momento.”
VIII
restabelece-lo num estado completo que pode nunca ter existido num
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
Página
Património, Arquitectura, Reabilitação e Mosteiro de Santa Maria de Júnias.
IX
Palavras-Chave:
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X
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Introdução
enquadramento Portador das nossas origens, muito mais do que meros edifícios antigos, o
om )
Património é o que de palpável se preserva dos nossos antecessores, é o que nos transporta
er. c
ao passado e que, através de uma análise longitudinal/diacrónica1, nos permite
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compreender a evolução dos tempos.
O conceito de património arquitectónico sofreu, ao longo do século XX,
fsp
significativas reestruturações, já que, se inicialmente este conceito se centrava apenas em
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elementos isolados e singulares, posteriormente alargou-se a todo o contexto envolvente, realçando-se a importância das relações existentes entre Edifício e Lugar (Marado e Correia, 2005: 88), assumindo uma dimensão territorial, ambiental e sociocultural,
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contraindo um patamar intangível. Paralelamente, a par da transformação do conceito de
também
significativas
e
pertinentes
alterações
que
permitiram
o
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sofreram
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Património, os modelos, estratégias e instrumentos que promovem a sua protecção
o(
acompanhamento da evolução do constructo em análise, assumindo um importante papel
De m
na sua salvaguarda e nos critérios que medeiam as intervenções nestes imóveis de valor cultural e social incalculável. É neste âmbito que a questão da conservação do património se revela uma pertinente área de investigação e investimento, na procura de contributos para a diminuição da controvérsia que se gera neste contexto, salvaguardando, antes de mais, a autenticidade do edificado, pois “o património em qualquer país é sempre espelho da identidade
1
Carácter dos fenómenos ou factos, estudados do ponto de vista da sua evolução no tempo.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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X
nacional” (Pedras, Matos e Crespo, 1992: 124).
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Neste seguimento, a reabilitação arquitectónica vem desempenhar um papel fundamental na recuperação de estruturas, assim como na preservação de vivências socioculturais. Através desta ideia procura-se, actualmente, promover a regeneração destes espaços, constituindo-se a reabilitação como temática da ordem do dia, procurando-se, um pouco por toda a parte, estabelecer um método eficaz de intervenção, multifacetado, como
om )
um modelo, que sirva de base a toda e qualquer intervenção que se proponha à preservação
er. c
de edificados classificados, em que simultaneamente se promova uma intervenção
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harmoniosa e se evite perdas irreparáveis na identidade destes espaços. A reabilitação engloba o tratamento da construção, de modo a conservar as
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características essenciais de um monumento, prevendo uma reformada manutenção como
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via privilegiada para o alcance de protecção e consequente projecção para o futuro. Nesta sequência, torna-se inevitável ter em consideração a opinião da população residente que é detentora, em parte, do património, ousando ainda afirmar que a mesma se constitui como
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a totalitária base de sustentação e usufruto do local e, mais concretamente, do objecto em
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análise, já que o seu vigor não dependerá apenas de um olhar episódico, mas de uma
Vi
sit
vivência permanente.
o(
É igualmente pretendido com, e através da reabilitação, a produção de dinamismo,
De m
procurando-se estimular o carácter turístico, reconhecendo paralelamente que o factor económico e social é preponderante neste género de intervenções, sendo portanto igualmente propósito
a contribuição
para
o
comércio
enquanto
estimulo ao
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XI
desenvolvimento e manutenção cultural do local.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
âmbito A presente dissertação desenvolve-se no âmbito da proposta da unidade curricular de Projecto III do curso de arquitectura da Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada do Porto (FAAULP), na área de intervenção do Centro de
om )
Investigação de Território, Arquitectura e Design (CITAD), tendo-nos sido proporcionada a oportunidade de intervir em dois territórios fronteiriços do interior, nomeadamente os
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concelhos de Chaves e Montalegre.
Após uma exploração dos concelhos previamente propostos e de um breve levantamento bibliográfico, considerámos que estávamos perante um dos maiores
fsp
estímulos ao início e desenvolvimento da temática em análise, a reabilitação, sendo o
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Mosteiro de Santa Maria de Júnias o principal objecto de estudo neste âmbito, considerada um dos pontos mais significativos da região Barrosã, no Concelho de Montalegre,
motivações
sit
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classificado monumento nacional pelo decreto-lei 37728 de 5 de Janeiro de 1950.
Vi
Motivados pela autenticidade, identidade e significado de características
o(
arquitectónicas e culturais em espaços de cariz patrimonial e tendo em conta que se
De m
constituem como marcos na formação do território nacional, procura-se a sua preservação enquanto testemunho de civilização antepassada, mantendo uma intima ligação com o presente e futuro. Enfatizando as relevantes áreas que constituem o percurso formativo na área da arquitectura, salienta-se a atracção e pertinência que a temática da reabilitação provoca, suscitando uma significativa necessidade de conhecer e aprofundar a mesma,
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XII
compreendendo as dificuldades inerentes à sua operacionalização. Neste campo de acção,
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
o Mosteiro de Santa Maria de Júnias, sustentado pela sua beleza, enquadramento geográfico e paisagístico, revela-se um premente objecto de estudo, no campo disciplinar da arquitectura. objectivos
om )
Pretende-se com esta investigação, perceber até que ponto espaços de cariz
er. c
patrimonial poderão ser ou não reabilitados, sendo que, considerando-se essa hipótese,
litm erg
tornar-se-á peremptório dar respostas às novas valências e realidades e ao mesmo tempo preservar a sua identidade sociocultural, patrimonial e arquitectónica.
fsp
Assim, procura-se questionar e valorizar a arquitectura, sem descorar a
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compreensão da reabilitação como um caminho legítimo a seguir, bem como um meio promotor de novas valências. Entendemos que o património deve ser preservado, e, em Portugal, grande parte deste é negligenciado, transformando-se inevitavelmente em ruínas,
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caindo no esquecimento. Devemos assim também concentrar-nos, sobretudo, nos marcos
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patrimoniais que se situam fora dos grandes centros urbanos, como é o caso do Mosteiro de
Vi
sit
Santa Maria de Júnias.
o(
Pretendemos, também, obter respostas relativas a questões inerentes ao tema,
De m
procurando-se aferir qual a importância da reabilitação de espaços classificados; como se reabilitam e quais as tendências. Pretende-se, ainda, com a percepção dos resultados que se poderão obter, analisar se os mesmos garantem a manutenção da fidedignidade das propriedades que os definem enquanto património, visto que estas intervenções partem de premissas reais, que possuem uma história e características que é imperativo dar a
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conhecer.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Emerge, assim, a questão fulcral que este trabalho procura problematizar: como construir uma estratégia de intervenção de modo a melhorar o edifício, construído no século IX, com os padrões exigíveis de acessibilidade, bem como um novo programa e modo contemporâneo de utilização?
om )
estado da arte
er. c
São vários os investigadores que detêm um papel activo no desenvolvimento desta
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temática, sendo significativos os contributos fomentados no que respeita à reabilitação dos espaços em análise.
fsp
Como tal, esta dissertação terá como principal suporte de análise a perspectiva de
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alguns autores, entre eles Viollet-Le-Duc, que defende, a este propósito o “Restauro Estilístico”; John Ruskin defensor da teoria do “Anti-Restauro” e do “Culto da Ruína”; e na perspectiva de Camillo Boito, a reabilitação deve ser veneradora de todas as
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componentes do edifício: a estética, a histórica, a espiritual e também a material, sem
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renegar ao diálogo entre o antigo e o moderno. Recorreremos também a Cesare Brandi,
Vi
sit
cujo contributo da sua investigação incide sobre a natureza da criação artística, vista como
o(
um valor supremo da vida, através da consciencialização da existência e efeitos do factor
De m
tempo, que se encontram inerentes a uma obra de arte. Ainda neste âmbito, foram evocados outros autores que, directa ou indirectamente, através da sua capacidade de análise, descrição autêntica e opinião fundamentada, muito contribuíram para a promoção de sinergia nesta área, nomeadamente, o arquitecto José Aguiar, o arquitecto João Appleton, o arquitecto Alves Costa, o arquitecto Solá-Morales, o arquitecto Eduardo souto Moura, o arquitecto Miguel Tomé, a critica de arte Françoise Choay, entre outros grandes
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nomes que fomentaram contributos relevantes para esta temática.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Numa perspectiva de matriz histórica sublinha-se por M. J. Barroca, referente à evolução arquitectónica do Mosteiro de Santa Maria de Júnias, o estudo desenvolvido por Ana Maria Martins, cognominado “Espaço Monástico: da Cidade de Deus à cidade do Homem”.
om )
metodologia
er. c
Intervir com eficiência num edifício antigo, implica conhecê-lo aprofundadamente,
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sendo que o mesmo, permitirá identificar a importância da interpretação e conhecimento dos seus marcos históricos, de modo a poder agir sobre ele.
fsp
A metodologia perfilhada ambiciona um aprofundamento das veracidades em jogo,
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o lugar e pré existência, o seu modo de uso e a vontade do interveniente lhe auferir uma nova forma e funcionalidade, sendo estas as premissas condutoras de toda a investigação.
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Como tal, do ponto de vista metodológico, o processo assenta na constituição de
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etapas de investigação teórica, que comportam a análise, informação e aplicação. Ressalva-
sit
se que estas etapas deverão ser entendidas como um processo complementar e
Vi
desenvolvido em paralelo ao processo desenhado. Desta forma procura-se através de um
o(
enquadramento histórico e cultural, seguir as etapas pelas quais a temática da reabilitação
De m
tem passado, quais os seus antecedentes, quais as suas teorias, qual o seu posicionamento e contingências que se vêm inseridos, bem como um enquadramento ao nível territorial, efectuando-se observações in loco, de registos fotográficos, análises gráficas das características arquitectónicas, desenhos à mão levantada e a rigoroso do território em estudo, de forma a construir uma análise particular, histórica e construtiva do lugar,
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XV
edifício e programa.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Procuraremos ainda, de uma forma comparativa, analisar outros casos de estudo, não com o desígnio de debater as legitimidades dos projectos efectuados, mas antes convocar a consistência de características e de valores capazes de enaltecer esses espaços, como agentes de uma permanente divulgação e manutenção cultural, e ressalva da sua identidade. Toda esta incursão à literatura promoverá um patamar mais seguro para o
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estudo do caso prático no qual nos centramos: o Mosteiro de Santa Maria de Júnias.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
Descrição do problema
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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CAPÍTULO I – Análise e Interpretação
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Fig.1- Planta de localização de Pitões da Júnias: acessibilidades
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
Fig.2- Pitões da Júnias: acessibilidade automóvel e pedonal entre a aldeia e o mosteiro
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
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1.1 – Localização
fsp
Fig.3- Panorâmica sobre a aldeia
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situação
O objecto de estudo deste trabalho situa-se em terras do Barroso, no concelho transmontano de Montalegre, num contexto rural, situado numa zona intermédia entre o (fig.1)
, a cerca de 15 km a noroeste do centro da vila, mais
p:/
Gerês e do Barroso
htt
concretamente na freguesia de Pitões da Júnias
(fig.3)
, considerada a capital do turismo
Vi
sit
Barrosã e a capital do Parque Nacional da Peneda do Gerês.
De m
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Localizada a 1200 metros de altitude, a proveniência da aldeia de Pitões da Júnias, segundo Mário Barroca, baralha-se com a do Mosteiro de Santa Maria de Júnias devido a sua proximidade, entre os séculos IX e XI. Apresenta-se como sendo uma pequena aldeia de cunho comunitário de casas em pedra granítica, que se desenvolvem de forma orgânica moldadas às condições morfológicas, onde se sente que o tempo corre devagar, vivendo em completa harmonia com a natureza, sendo da mesma que a população originária obtém todo o seu sustento.
semblante característico da época medieval, de forma que, sustentada pelas suas construções em pedra, pela sua beleza natural e enquadramento geográfico e paisagístico,
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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inverno e uma consequente imigração cooperaram para que a aldeia, conservasse o seu
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Devido à sua localização num extremo norte de Portugal, o seu clima inóspito no
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
fizessem com que, nos anos 90, se convertesse num marco de referência dos roteiros do
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turismo ecológico português.
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Fig.4 - Panorâmica sobre o mosteiro
O terreno (fig.4) onde se encontra o objecto de estudo situa-se cerca de 1500 metros a sudeste do centro da aldeia
(fig.2)
, encravado numa pequena plataforma no estreito vale da
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ribeira de Campesinho, na Serra de Mourela, entre os penedos do Ceres e do Larouco,
htt
numa posição de abrigo dos ventos, com uma boa exposição solar, abundância de água e
sit
com uma proximidade de pequenas áreas propícias à exploração agrícola e pastorícia,
Vi
factores que se avultam, em contraste com outros cenóbios1 do norte de Portugal que, no
De m
o(
geral, são possuidores de produtivos coutos2, de tal forma revelador da dependência que esta primeira comunidade de monges da Júnias tinha sobre factores naturais e de isolamento.
Não se podendo afirmar sobre os interesses económicos e dos seus meios de subsistência, os factores anteriormente enunciados são reveladores da modéstia que esta primeira comunidade possuía, quer em número de monges quer em termos de poder
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económico, o que se espelha também no tamanho das instalações erguidas em volta do
Habitação de religiosos Terra reservada para pasto
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
claustro, e ainda no que respeita à sua subsistência e localização, não se deve descorar os testemunhos dos habitantes sobre um possível interesse existente por parte dos monges de Júnias num trilho secundário vindo de Chaves e Montalegre, que levava os peregrinos a Santiago de Compostela por Santa Comba de Bande e São Miguel de Celanova.
om )
Porém importa ainda salientar, como complementaridade da ideia anteriormente
er. c
mencionada, a descrição que Mário Barroca faz sobre o trilho secundário vindo de Chaves e Montalegre, “… o interesse que por certo os monges teriam no apoio a peregrinos (…)
litm erg
mesmo que esporádico já que se trata de um caminho secundário, traduzir-se-ia, certamente, em algumas esmolas e dadivas que não seriam descuradas pela comunidade
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monástica.” (Barroca, 1994: 426).
Datado dos finais do século IX, pensa-se que inicialmente terá sido apenas um pequeno eremitério de origem pré-romana, comungando da mesma opinião vários autores,
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tendo como base as afirmações do Fr. Leão Tomas, na Beneditina Lusitana, onde
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referencia a sua existência desde 889. No entanto, Mário Barroca reforça o facto deste
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documento apenas ter sido visado pelo Fr. Leão Tomas, acrescentando ainda: “… não há
Vi
qualquer testemunho seguro – documental ou arquitectónico – que permita fazer recuar as
De m
o(
origens de Santa Maria de Júnias até uma época tão antiga. Pelo contrário, todos os elementos disponíveis, apesar de relativamente escassos, apontam para uma fundação dos finais do século XII, em torno do ano de 1147.” (Idem: 419) sendo, portanto, ao nível da sua origem e fundação, um dos principais problemas que Santa Maria de Júnias nos oferece. Contudo, a sua filiação é conhecida, embora em períodos alternados, ao Mosteiro de Oseira na Galiza e ao Mosteiro de Santa Maria do Bouro3, na região de Terras do Bouro, no distrito de Braga.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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“O mosteiro podia ter origem numa fundação de raiz ou da afiliação (…) Só após um período experimental de dois anos, o mosteiro poderia ser aceite como membro de pleno direito da ordem. Este caso é muito comum entre os mosteiros portugueses: pequenos mosteiros beneditinos como Arouca, ou comunidades de eremitas como o Bouro, Tarouca, Lafões que se filiavam na nova ordem.(…) A nova abadia teria de ser consagrada a Santa Maria e deveriam ser erigidos os edifícios monásticos essenciais…” (Amado, 2007: 18)
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3
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
evolução geográfica Plantado num magnífico vale, o monumento apresenta-se de uma forma isolada, sujeito a severas condições climáticas, muitas vezes coberto de neve, e de difícil acesso, permitindo que, até ao presente, se integre numa prefeita comunhão com a paisagem
om )
envolvente praticamente idêntica à que lhe deram os seus criadores.
er. c
Inicialmente, segundo o mesmo autor, pensava-se que se destinava apenas ao
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albergue de Frades Beneditinos, tendo sido, por volta do século XII, entregue à Ordem religiosa de Cister. Porém, como consequência da adaptação a uma nova regra monástica,
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não há sinal da existência de testemunhos claros de grandes alterações arquitectónicas.
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Quanto aos monges, cistercienses, continuaram a utilizá-lo, pelo facto, de não se afastar das exigências de austeridade e isolamento impostos pela regra cisterciense, o que lhes
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introduzia um carácter familiar.
Fig.5 - Panorâmica sobre a ruína
O seu abandono e consequente estado de ruína (fig.5), julga-se ter início por volta do século XVI, época na qual o Mosteiro de Santa Maria de Júnias terá passado por uma profunda crise sócio-histórica, à qual não terá resistido. Contudo, “…a documentação
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permite precisar um pouco melhor no tempo quando começou a ruína do Mosteiro
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
medieval. Anotemos que no ano Numeramento de 1527 não se refere qualquer mosteiro quando se regista a população de Pitões, o que é um indício de que ele já então deveria estar abandonado.” (Idem: 430). Ao nível de acessos ao mosteiro, na actualidade (fig.2), o percurso pode ser feito de
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carro até determinado local (aprox. 350 metros), prosseguindo-se a partir daí a pé pelo antigo caminho carreteiro, de lajes em pedra e de carácter irregular, que se tem vindo a
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deteriorar ao longo das últimas décadas, facto que torna o percurso praticamente
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intransitável em grande parte do ano (concretamente ao longo das estações Outono/Inverno), sendo este caminho a principal via de aproximação entre a Aldeia e o
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Mosteiro.
Sendo considerado um dos mais expressivos monumentos de toda a terra do Barroso, o seu significado local encontra-se traído por uma ausência de vínculo cultural
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efectivo, consequência em grande parte do factor anteriormente mencionado, o que se
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reflecte no próprio estado do edifício que tem vindo nas últimas décadas, de uma forma
sit
inevitável e negligente, caindo em ruína. Em consequência deste facto, deparamo-nos com
Vi
a impossibilidade do monumento servir, como até a um passado próximo, de igreja
o(
paroquial e principal ponto religioso da aldeia. Não obstante, o monumento bem como os
De m
terrenos adjacentes são propriedade da fábrica da igreja de Pitões da Júnias. A este propósito, Ana Martins refere também que, apesar do seu estado de conservação ser caótico, o monumento é alvo de visitas por parte dos amantes da natureza e do património arquitectónico, sendo registado um significativo aumento destas visitas principalmente nos meses de Julho, Agosto e Setembro. Torna-se ainda premente referir
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24
que, ao nível religioso todos os anos pelo dia 15 de Agosto, o mosteiro é alvo de
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
uma peregrinação efectuada por parte da população de toda região, para homenagear a Santa Maria de Júnias, sendo também importante realçar o facto de, embora acontecendo de uma forma esporádica, os naturais da vizinha aldeia de Pitões da Júnias emigrados noutros países, regressarem a Portugal com o intento de, na igreja do mosteiro, poderem
er. c
om )
celebrar o seu matrimónio.
o erudito e o rural
fsp
litm erg
1.2 – Descrição do conjunto
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Um dos aspectos mais marcantes que podemos adiantar na descrição do edifício em estudo, é a sua pertença à ordem religiosa de Cister4, por tal, torna-se importante, antes de mais, referir as suas características, que se distinguem pela sede de ascese5 e do
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despojamento total, sem qualquer tipo de solicitações externas à alma, procurando atingir
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um paraíso perdido, tentando recriar estes espaços monásticos como um reflexo de um
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mundo ideal, de uma visão ímpar do mundo e um sistema de valores que tudo organiza e
Vi
modela. Neste âmbito, a autora reforça a ideia que o mosteiro mostra-se possuidor de todos
De m
o(
os elementos necessários à sua subsistência, “ Se possível for, deve o mosteiro ser construído de forma a ter de portas a dentro tudo o necessário, a saber: água, moinho, horta, oficinas onde se exerçam os diversos ofícios, para que os monges não tenham necessidade de andar lá por fora, o que não é nada conveniente para as suas almas”, (Martins, 2006: 97)6.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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4
“A ordem de Cister surge no início do segundo milénio tornando-se, num curto período de tempo, um dos maiores movimentos monásticos da história do cristianismo. Com origem em França, na região de Borgonha, foi fundada por três abades beneditinos, Alberico, Estêvão Harding e Roberto de Molesmes.” (Amado, 2007: 18) 5 A ascese é a prática da renúncia ao prazer ou mesmo a não satisfação de algumas necessidades primárias. 6 Citado por Martins em Espaço Monástico: da Cidade de Deus à Cidade do Homem, do Capitulo LXVI, in Regra do Patriarca de S. Bento, traduzido e anotado do latim pelos Monges de Singeverga, Edições “Ora & Labora”, Mosteiro de Singeverga, 1992, p.132
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Como tal, ousamos usamos então efectuar uma analogia entre este monumento de carácter erudito, revelador de profundos e vastos conhecimentos e os aspectos rurais a ele intrínsecos que também se revelam nas hostes quotidianas da aldeia, sendo de salientar também um aspecto comum entre a comunidade residente do mosteiro e os habitantes da aldeia, o facto de o seu sustento ser obtido do trabalho das suas mãos, do cultivo das terras
om )
e da criação de animais. Paralelamente, também as condições climáticas bem como a
er. c
localização da região combinavam com os interesses dos Cistercienses, Cistercienses já que
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intencionalmente procuravam localizar-se localizar nos desertos mais inóspitos e severos, severos de forma isolada e longe das cidades7.
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Em suma,, percebe-se percebe muito de uma arquitectura reveladora de uma erudição
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longínqua e de vincada presença de elementos locais, locais, nomeadamente nas construções da região, em que a preocupação do desenho ao nível da simplicidade das linhas, da pureza das formas e dos materiais, da luminosidade e do seu claro-escuro, são perceptíveis de uma
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forma clara na relação da igreja e o espaço monástico e em consequente vivência em
sit
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harmonia com a natureza.
Vi
Deste modo, no nosso entender, podemos constatar que os grandes andes estilos eruditos,
De m
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conquistaram, sem fronteiras, fronteiras expressões locais,, resultantes de uma adaptação às à condições particulares da região, o que nos remete para a ideia de que se constituem como edifícios que se encontram entre um carácter de índole erudito e rural.
7
“…por por montanhas escarpadas, rochosas e quase estéreis, (…) Ermelo, entre o céu, o rio e as montanhas escarpadas (…) a solidão de Fiães (…) as ruínas de Júnias”. (Marques, 1998: 72)
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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Fig.6 - Analogia entre o carácter do mosteiro e da aldeia
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
1.3 – Evolução morfotipológica
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er. c
om )
forma construída
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Fig. 7 – Evolução morfotipológica do edifício
Quando mergulhamos nesta temática e ambicionámos esboçar a evolução deste conjunto edificado, implica remontar às razões que levaram à sua formação, factos esses já
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abordados anteriormente.
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Mesmo assim, importa salientar que se trata de uma construção de evidente
Vi
sit
equilíbrio, apesar de construída em épocas diferentes. De planta de dois rectângulos, de
o(
nave única e abside, que mantém ao longo dos tempos, o plano típico característico das
27
De m
abadias Cistercienses8, desenvolveu todo o seu conjunto em volta da sua igreja.
8
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Fig.8 - Vista norte do Mosteiro, relação com a ribeira.
Fechada para o mundo, vivia num regime de clausura absoluta.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
A igreja surge implantada a oeste, junto à ribeira de Campesinho(fig.8), sendo de todo o conjunto monástico a única que se conserva, como testemunho dos primeiros tempos de vida monástica, em Santa Maria de Júnias. Apresenta-se como uma igreja de nave única, estruturada de uma forma longitudinal, em pedra granítica característica da arquitectura românica, tipo construtivo que surge por volta do século XI, como consequência de uma
om )
junção da arte bizantina e da arte românica, com uma cobertura de duas águas em madeira,
er. c
com pavimentos interiores em lajes de granito e cabeceira rectangular abobadada.
litm erg
Adjacente à igreja, encontra-se a capela-mor de planta rectangular, com uma cobertura de uma única água, orientada no sentido Sul-Norte. De características românicas,
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foi inicialmente implantada a uma cota inferior, como se pode constatar na parede a
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nascente que se encontra voltada à ribeira, sendo reconstruída de novo, devido aos sucessivos assoreamentos9 que o edifício foi sofrendo, desta feita de características plenamente góticas. A Norte, observa-se a zona do cemitério
(fig.8)
do mosteiro, encerrada
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por um alto muro que se desencadeia por toda a fachada norte, incluído a cabeceira,
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delimitando uma área relativamente grande em forma de trapézio, “… encontra-se o
sit
cemitério cristão, utilizado pela população de Pitões da Júnias, que devia acorrer ao
o(
Vi
Mosteiro regularmente, utilizando-o como templo paroquial. A comunidade monástica, no
De m
entanto, deve ter utilizado o Claustro como local de enterramento, como era comum a época...”. (Barroca, 1994: 428).
sua entrada.
9 Termo Geológico que significa obstrução, por areia ou por sedimentos quaisquer, de um rio, canal ou estuário, geralmente em consequência de redução da correnteza
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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Fig.9 - Vista interior do espaço monástico, sendo perceptível o claustro e zona monástica em forma de ”L” ,bem como a
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
A Sul da Igreja e da capela-mor desenvolve-se todo o conjunto monástico, sendo a sua entrada principal
(fig.9)
à direita da entrada da igreja, através de uma porta rectangular.
Toda esta zona monástica, é composta por uma construção em forma de “L”
(fig.9)
,
desenvolvida em dois pisos construídos ao longo ao longo da ribeira de Campesinho. Apesar do seu estado de degradação, ainda é possível ter uma percepção das suas
om )
dependências, principalmente no piso do rés-do-chão.
er. c
A sua cobertura era efectuada através de um telhado de duas águas, como se pode
litm erg
constatar pelo remate por apoio, na fachada sul da cabeceira. No pátio interior, “…é possível que se encontrem ainda algumas tampas sepulcrais medievais ou modernas,
fsp
encobertas pela camada de terra que se esconde o piso medieval da zona claustral.”
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(Ibidem), ao nível de pavimentações, “… As alas do claustro eram pavimentadas com lajeado de granito que, (…) no local, enterrado a uma cota de c. 30cm…). (Ibidem). Implantado paralelamente à fachada sul da igreja, e já dentro da área monástica,
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surge o seu claustro (fig.9), que, embora não se contemplem testemunhos claros de alterações
sit
efectuadas por consequência da mutação da sua regra monástica como anteriormente
Vi
referido, sendo esta construção também não muito clara nesse aspecto, “… É possível que
o(
o claustro, denunciando tendências góticas, embora socorrendo-se ainda de arcos de volta
De m
perfeita, corresponda a tempos anteriores á adopção da regra de Cister, (…) não temos certeza absoluta, já que se afigura igualmente plausível que ele tenha sido erguido pouco depois da adopção da nova regra monástica, nos meados do século XIII.” (Idem: 427). A sudoeste, situa-se a o espaço da cozinha do mosteiro que marca a sua presença
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pela sua grande chaminé de forma piramidal, rematada por um pináculo.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
om )
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Fig.11 - ponte de ligação entre os dois conjuntos
er. c
Fig.10 - Analogia entre o moinho da aldeia e o do mosteiro;
litm erg
A noroeste do conjunto, do outro lado da ribeira, aparece-nos aparece nos de uma forma anexa, o moinho do mosteiro, de pequena escala, em comparação com moinhos comunitários comunit característicos da região
. O seu acesso é efectuado através de uma pequena ponte
fsp
em madeira, que se encontra também num alto estado de degradação, que servia de
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(fig.11)
(fi (fig.10)
elo de ligação entre os dois conjuntos. O seu pequeno telhado desenvolve-se desenvolve também em duas águas.
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É dee referir que, em volta de todo o conjunto, é perceptível a existência de linhas de
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água efectuadas através de canais em pedra que possivelmente serviriam o mosteiro, mosteiro pois,
sit
num dele,, é visível a sua ligação à cozinha. A existência de uma poça a poente numa cota co
o(
Vi
sobrelevada, bem como oss vestígios de uma escada a Sul, Sul, são também evidentes.
De m
Através das sucessivas sucessiva aproximações, permitimo-nos nos adiantar que foi-nos foi tornado claro que aqueles grandes muros e paredes encerram um conhecimento mais ma vasto do que aquilo que têm à primeira vista. Apesar de ser uma construção pobre e de pequena escala, escala de pequenos vãos e pé direitos baixos, baixos a sua beleza e simplicidade é peculiar, peculiar percebendose que foi construído por alguém conhecedor da aplicação das regras vitruvianas, através
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da lógica geométricaa e da métrica dos edifícios.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
programa Como foi referido no ponto anterior, a igreja de uma única nave possui medições que, segundo a DGEMN é de 7.10 m de largura por 15 m de comprimento. Das medições da largura da igreja é de salientar o facto desta medida servir como um módulo de
om )
referência utilizado pelos construtores de Júnias, “… Por outro lado, houve um segundo módulo que foi utilizado de forma mais ou menos livre pelos monges-arquitectos: a
er. c
largura do templo – 7,10 metros – volta a ser repetida nas construções modernas das alas
litm erg
Leste e Sul – com 7,20 metros. Há, assim, uma certa uniformidade na largura das construções ao longo de diversas épocas, o que ajuda a conferir certa harmonia a todo o
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conjunto arquitectónico, apesar da longa diacrónica que separa algumas construções.”
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(Ibidem).
Não se podendo auferir alterações arquitectónicas ao nível do programa funcional da zona conventual, a não ser o desaparecimento de partes devido ao seu estado já
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anteriormente enunciado, os anexos monásticos desenvolviam-se em quadrilátero10 em
sit
volta do pátio e da zona claustral.
o(
Vi
Como tal, também não se pode auferir com rigor a funcionalidade de todos os
De m
espaços que constituíam a globalidade da construção, embora alguns que se encontram perceptíveis, não nos deixam dúvidas, como seja, partindo da nave da igreja percebe-se a existência da sacristia, da sala capitular, de várias celas, do refeitório e da cozinha. Pela sua localização, pode entender-se, também, um pouco da sua organização
10
“ O mosteiro seguia uma estrutura básica do quadrado em que um dos seus lados, segundo o eixo nascente/poente era formado pela igreja, que se encontra sempre situada no ponto mais elevado do terreno, de modo que os outros braços pudessem ser implantados ora para norte ora para sul conforme a situação do terreno.” (Amado, 2007: 23)
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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padrão, sendo a ala sudeste (lado da ribeira) destinada à habitação e à administração.
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
A ala sudoeste (lado da horta) por sua vez, compreendia a zona de serviços. Estas duas partes referentes a planta baixa, conservam-se quase na sua totalidade. Os serviços de hospedaria e recepção tiveram lugar reservado na ala norte (lado da encosta), ala esta que já não comporta vestígios.
om )
Percebe-se no entanto, que as alas desenvolviam-se por dois pisos, sendo o piso baixo constituído por paredes mais espessas, e o primeiro piso constituído de paredes mais
er. c
estreitas sem afeiçoamento de faces, o que nos leva a percepcionar o nível estrutural do
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edifício. Como tal, as plantas e fotografias apresentadas, pretendem dar uma melhor
De m
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sit
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percepção da organização do programa anteriormente descrito.
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Fig. 12 – Plantas de piso 0 e piso 1
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Fig.13 – Vista do conjunto
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
om )
1.4 – Levantamento
er. c
Fig. 14 – Corte pelo interior da área monástica - relativamente ao claustro, acredita-se ter sido construído numa altura em
De m
Fig.15 – Corte pela igreja
o(
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litm erg
que o mosteiro ainda não adoptava a regra de Cister. Para Além dos sinais no terreno, restam apenas três arcadas.
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pelas edificações que ainda restam, e pelo emparelhamento pouco cuidado das mesmas.
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Fig.16 – Panorâmica sobre pátio interior – do complexo monástico padrão como se patenteia, nada subsiste, sendo visível
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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om )
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Fig. 17 – Alçado nascente – a fachada nascente dá-nos informações preciosas sobre a evolução do edifício. Permite-nos
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perceber, através da marca do beiral, que inicialmente a cabeceira era coberta por duas águas. Do antigo telhado foi
Vi
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deixada a cruz latina, que coroava a empena.
emparelhamento; um ao nível das impostas e o outro ao nível das frestas. As portas, como é visível, são em arcos de volta inteiros, com o tímpano vazado.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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Fig.19 – Interior da igreja – no seu interior, a parede da fachada principal, é percorrida por dois frisos que se destacam do
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Fig.18 – Alçado poente
om )
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
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Fig. 20 – Alçado norte – cercada pelo cemitério, na fachada sobre o friso abrem-se frestas rectangulares estreitas e perspectivadas. É uma fachada lisa, rematada superiormente por uma cornija moldurada e percorrida por um friso ornado
o(
praticamente cega, sendo apenas visíveis duas aberturas. Dá continuidade a empena, sobrepondo-se mesmo a aba esquerda do telhado, sobre o muro da cerca, devido à subida de cota, sendo rematado o mesmo por um arco. É visível ainda, na aba esquerda, a chaminé da cozinha.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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Fig.22 – Panorâmica sobre alçado sul, zona hortícola – a fachada sul é constituída por uma empena de duas águas
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Fig.21 – Alçado sul
Vi
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que não chega aos extremos da fachada.
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
Caminhos para a solução
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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CAPÍTULO II – Princípios metodológicos
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
2.1 – Abordagem metodológica
passado, presente e futuro
om )
“Restaurar, recuperar ou reutilizar, para Távora, é sempre a busca de uma síntese que recolha o fluir do tempo e possa acolher serenamente o futuro (…) Neste aparente
er. c
paradoxo, se constrói o conceito para cada projecto, sendo que este será sempre
litm erg
decorrente da exaustiva análise formal e histórica de cada objecto arquitectónico. É evidentemente uma leitura pessoal, porque tem implícita uma vontade artística de
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formalizar uma transformação.” (Alves Costa, 2003: 42).
Escorados pelas palavras de Alves Costa, ambicionamos com este capítulo reflectir
p:/
sobre as possíveis metodologias e abordagens inerentes a um trabalho de projecto sobre a
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temática da reabilitação e recuperação de edifícios, estabelecendo uma maior incidência
sit
sobre os de cariz patrimonial. Em consonância, esta segunda parte de prova compreende
o(
Vi
esta mesma finalidade, procurando identificar questões e abordar toda a sua complexidade.
De m
Sendo de realçar os espaços arquitectónicos que se encontram como marcos e testemunhos de vivências e formação histórica, a preservação entende-se simultaneamente forçosa e atractiva. A hesitação que se revela intrusiva e inevitável é a autenticidade do contributo que lhes poderá ser auferido de forma a moldar-se às exigências do presente e futuro. Deverá reconhecer-se que esse contributo, certamente não será o mesmo dado no passado longínquo, aquando da sua origem. Perante o modo de desenvolvimento geográfico e sociocultural, a arquitectura tem
sociedades, que por sua vez se agregam e se desenvolvem em determinados lugares em
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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cronológico compreendido entre o passado e o presente deixa no quotidiano das
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forçosamente de acompanhar essa evolução, devendo-se tal facto às marcas que o espaço
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
detrimento de outros, condicionando directamente as formas, e principalmente os programas e usos a dar à arquitectura. Como tal, é válido afirmar que o espaço cronológico, a par do arquitecto, é também capaz de recriar espaços e ambientes potencialmente promotores de proeminente carga emotiva e que estejam intimamente ligados à história e à imagem não só das cidades mas também dos monumentos, exigindo
er. c
om )
esta análise uma compreensão da reciprocidade entre estas duas variáveis. Assim, toda a obra pode estimular e preservar memórias do passado, ou até apontar
litm erg
linhas do futuro, mas estará sempre condenada às marcas do presente e ao modo e importância dos lugares que se implantam aquando da sua recriação. A questão que neste
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caso se aplica é: preservar restaurando ou reabilitando? Dissecando e compreendendo qual
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o caminho, aplica-se a questão do como o fazer e compreender qual a condição primordial da sua recriação, baseada na sua autenticidade, identidade ou na utilidade que se lhe pode
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conseguir?
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As respostas a estas questões não consistem numa verdade absoluta, não existindo
sit
fórmulas lineares de abordar estes tipos de intervenção arquitectónica, mas existindo sim
Vi
abordagens metodológicas efectuadas por vários estudiosos e entidades ligadas ao tema,
De m
o(
que em conjunto com as pré-existências e através das suas marcas, transmitem pistas para uma adequada intervenção por parte do arquitecto, sendo neste momento que se começa a imaginar, juntar os indícios e a construir as evidências. Os responsáveis por essas marcas, são irremediavelmente o espaço cronológico inerente à sua existência, espaço esse compreendido como tempo, lugar, tradição, que sugere o caminho certo para a coexistência harmoniosa entre a arquitectura e o contexto, ou seja, entre o que foi e onde foi, e o homem enquanto criador, colaborador, que
determinado lugar de determinada identidade, respondendo assim de forma clara e directa
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para quem e com que finalidade.
38
personaliza todas estas intervenções de forma a fazer uma arquitectura para um
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
2.2 – Valor patrimonial
arte e memória
om )
O conceito de património não é compreendido de forma irrevogável, sendo actualmente tão díspar quanto à “expansão tipológica do património histórico: um mundo
er. c
de edifícios modestos, nem memoráveis nem prestigiosos, reconhecidos e valorizados por
litm erg
novas disciplinas, como integrados no corpus patrimonial.” (Choay, 2008: 184).
fsp
Para este trabalho interessa-nos, sobretudo, o conceito de património edificado,
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aquele que se confronta directamente com a disciplina da arquitectura. No passado, não utilizaríamos a expressão património edificado mas sim monumento histórico, porém, o seu significado deixou de ser entendido de uma forma análoga, “Desde os anos sessenta
p:/
do séc. XX, os monumentos históricos constituem apenas parte de uma herança que não
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pára de aumentar. (…) Desde então, todas as formas da arte de edificar, eruditas e
sit
populares, urbanas e rurais e todas as categorias de edifícios, públicos e privados,
Vi
sumptuários e utilitários, foram anexadas sob novas denominações: arquitectura menor,
o(
para as construções privadas não monumentais; arquitectura vernacular, que distingue os
De m
edifícios característicos dos diversos territórios; arquitectura industrial.” (Idem: 12). Esta mutação deu-se a partir da consciência de que “todo o objecto do passado pode ser convertido em monumento histórico sem ter ido por isso na sua origem um destino memorial, (…) constituído à posteriori pelos olhares convergentes do historiador e do amador, que o seleccionam de entre a massa dos edifícios existentes.” (Idem: 9) Como tal, esta distinção pode residir no caso de o objecto ter sido, por exemplo, proscénio de um
passado, ou por outro lado, conter particularidades que o tornam imprescindíveis para a
Página
narrativa da arquitectura.
39
acontecimento relevante para a reconstituição histórica de determinado período do
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Portanto, o seu valor enquanto monumento não reside só no seu conceito natural, sendo também importante o valor que lhes é atribuído pelos sujeitos das gerações que seguem e analisam a sua afirmação. Neste panorama, pode ser atribuído um valor informativo ao edifício, “que num caso se dirige à razão histórica e, no outro, à razão
om )
estética.”1. (Idem: 24).
er. c
Os edifícios, a par da sua importância enquanto testemunhos, “possuem, antes de mais, um valor afectivo de memória para aqueles para quem, desde há gerações, eles
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eram o território e o horizonte e que procuram não ser deles desapossados.” (Idem: 192).
fsp
Como tal, para aqueles cuja história de vida se confunde com a história dos
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próprios edifícios, é neste ponto que a sua evocação revela a importância na construção de identidade de um lugar e de um espaço. No entanto, mesmo que um determinado edifício não possua qualquer classificação por parte de entidades para que possa ser entendido
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como património, ele pode ganhar um estatuto semelhante por parte dos seus proprietários,
sit
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sendo que a sua única diferença reside na sua escala de abrangência ao nível territorial.
Vi
Porém, ainda segundo o mesmo autor, importa salientar que a manutenção viva dos
o(
edifícios antigos é mostrada como um instrumento de luta não apenas pela protecção de
De m
particularidades étnicas e locais, mas também contra o sistema planetário de banalização e
1
“A diferença entre monumento e monumento histórico, foi posta em evidência por Riegl, no começo deste século (XX): o monumento é uma criação deliberada, cujo destino foi assumido à priori e à primeira tentativa, ao passo que o monumento histórico não é desejado inicialmente e criado como tal.” (Choay, 2008: 24).
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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de normalização das sociedades e consequentemente do ambiente.
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
valor histórico É de salientar ainda que, a natureza de uma intervenção arquitectónica relativa ao tema da recuperação ou reabilitação, está também ligada de forma intrínseca a dois factores: o edifício no auge de todas as suas múltiplas valências, nomeadamente o seu
om )
valor enquanto testemunho histórico e construtivo de uma determinada época; e o seu
er. c
estado de conservação.
litm erg
Segundo Jorge Figueira, “Recuperar toca no domínio da intervenção patrimonial, variando o peso desta componente de acordo com o valor absoluto de cada caso.”
fsp
(Figueira, 2006: 4), Mediante esta ideia, poderemos salientar, que intervir num espaço
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monástico difere, logo à partida, de uma intervenção efectuada numa habitação, não só mas também, pela disparidade do seu valor patrimonial. O enfoque na observação do edifício centraliza-se, deste modo, na sua organização formal - a chave analítica do ponto de vista
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tipológico - a par do conhecimento daquelas particularidades que o prendem a um
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determinado espaço e o transformam num caso arquitectónico e urbano irrepetível.
Vi
sit
“A tipologia estuda as formas recorrentes da arquitectura considerando essas
o(
formas como manifestações dos modos de vida e da relação do Homem com o seu meio:
De m
ou seja, analisa a forma arquitectónica na sua autonomia, mas tratando de compreender os vínculos que estabelece com a sociedade e com a cultura, amplamente entendidas.”2 (Marti Aris, 1993: 81). Assim, é com base numa conexão entre o género construtivo e a especificidade do lugar, que surgem aquelas características que permitem conferir à arquitectura os seus cunhos urbanos, individuais, tornando-se irrepetíveis. “A arquitectura
“La tipologia estudia las formas recurrentes de la arquitectura considerando esas formas como manifestación de los modos de vida y de la relacion del hombre com su médio; es decir, analiza la forma arquitectónica en su autonomia, pero tratando de comprender los ví ulos que establece com la sociedad y com la cultura, ampliamente entendidas.” Tradução do Espanhol pelo candidato.
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está marcada por uma condição que faz com que cada uma das suas manifestações seja
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
necessariamente diversa das outras, a saber: a sua radicação a um lugar e a sua definitiva pertença a ele. (…) A arquitectura ao enraizar-se num lugar preciso e ficar envolvida na sua peculiaridade, resulta literalmente irrepetível, assim como ao propor-se a construção de um lugar, extrai dele a sua qualidade específica.”3 (Idem: 90).
om )
Partindo do desígnio, os edifícios arquitectónicos podem ser entendidos como
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fazendo parte de uma sequência formal, que na perspectiva de George Kubler, tal sequência baseia-se na ideia de estabelecer uma rede histórica que repita os mesmos traços
litm erg
arquitectónicos, porém importa ainda salientear que, “Cada classe de formas consiste de uma dificuldade real e de soluções reais. (…) Qualquer objecto prova a existência de uma
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necessidade para a qual é a solução mesmo quando esse objecto é apenas uma cópia
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tardia numa longa serie de produtos grosseiros, já muito afastados da clareza e da intensidade de um original.” (Kluber, 1998: 46).
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Posto isto, e na perspectiva de Alois Reigl, tal factor poderá entender-se que tudo o
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que permaneceu até à contemporaneidade, jamais o teria conseguido, se não tivesse
sit
constado num vínculo insubstituível inerente a uma cadeia evolutiva e, como tal, toda a
Vi
actuação humana da qual se tenha conservado enquanto testemunho de acontecimento
De m
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passado, tem o direito a reclamar para si um valor histórico. Deste modo, o grau de relevância histórica de um monumento será tanto maior, quanto o seu carácter de excepcionalidade e exclusividade, na medida em que se apresenta como testemunho singular e, por isso, constitui-se num monumento imprescindível. Porém, ainda segundo Alois Riegl, importa reforçar que, “ o sentido e significado de monumento não concernem ás obras em virtude do seu destino original, mas antes somos nós, os sujeitos modernos
“La arquitectura está marcada por una condicion que hace que cada una de sus manifestaciones sea necesariamente diversa de las otras, a saber: su ra cacion a un lugar y su definitiva pertenencia a él. (…) la arquitectura, al arraigar en un lugar preciso y quedar involucrada en su peculiaridad, resulta literalmente irrepetible, assim como “al proponerse la construccion de un lugar, extrae de el su calidad especifica.” Tradução do Espanhol pelo candidato.
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quem os atribui.” (Riegl, 2007: 54).
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É precisamente esta ideia que leva a que a noção de património abranja, hoje, um espectro maior de edifícios e que “no discurso da análise da problemática da classificação de monumentos, a ideia de património tenha ultrapassado o conjunto de imóveis classificados.” (Tomé, 2002: 220).
om )
Por exemplo, em Portugal, por influência do Inquérito à Arquitectura Popular, as
er. c
arquitecturas denominadas como anónimas, encontram aí o seu enquadramento projectual. A partir deste enquadramento, o projecto de recuperação ou reabilitação de edifícios deixa
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de incidir apenas em monumentos de valor patrimonial consensual, passando também a incidir necessariamente em edifícios não necessariamente classificados. Percebe-se deste
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modo, a utilidade da interpretação e sapiência dos factos históricos pré-existentes para
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determinar o seu porte histórico que a eles se imputa e, consequentemente, encontrar a sua natureza da intervenção, uma vez que, segundo Sola-Morales, a conexão entre uma nova operação e uma arquitectura já presente, é um fenómeno que sofre uma mutação de acordo
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com os valores culturais a ele imputados conjuntamente ao sentido da arquitectura histórica
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e ao propósito de uma nova operação. (Sola-Morales, 2003: 69).
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2.3 – Em retrospecção
Viollet-le-Duc, Ruskin, Boito e Giovannoni e Brandi
om )
“A procura de aproximações teoricamente mais sólidas conduzirá à gradual definição da nova disciplina a que os continentais (sobretudo os italianos e os franceses)
er. c
chamarão Restauro e os ingleses Conservação. Nessa diferença inaugura-se uma longa
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disputa conceptual que ultrapassará em muito o tempo da própria vida dos seus primeiros
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protagonistas: John Ruskin e Viollet-le-Duc.” (Aguiar, 2002: 38)
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Com o intuito de definir princípios, regras e objectivos, as teorias do restauro e conservação apregoadas ao longo dos tempos, pretendem dar apoio às intervenções que visam objectos arquitectónicos considerados património. Revestem-se de muitas críticas e
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reflexões, feitas por muitos estudiosos, críticos e profissionais do mundo da arte e da
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arquitectura, que ao longo de muitos anos se debateram pela ressalva e preservação do
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sit
património histórico, urbano e cultural.
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Entre vários intervenientes, evidenciam-se, no início da discussão da salvaguarda
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do património, o arquitecto francês Viollet-le-Duc e o poeta e crítico de arte, o inglês John Ruskin. Mais tarde, não com o intuito surgir com o debate, mas para apurá-lo e registá-lo, surgem outras três importantes e incontornáveis figuras, curiosamente todos italianos: o engenheiro e arquitecto Camilo Boito, o arquitecto e urbanista Gustavo Giovannoni e o crítico e historiador Cesare Brandi. Como em todas as temáticas, para que exista controvérsia e para que uma resultante evolução aconteça, é fundamental a presença de pelo menos duas convicções divergentes,
John Ruskin, cuja ênfase resulta de uma convicção oposta, baseada numa teoria anti-
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Viollet-le-Duc, em que a sua ênfase provém de uma teoria intervencionista de restauro, e
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dois pontos de vista opostos, como tal, é partindo deste pressuposto que surge a menção a
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intervencionista. Por outro lado, a menção efectuada a Camillo Boito, Gustavo Giovannoni e Cesare Brandi, deve-se ao facto dos mesmos terem dissecado e questionado as duas posições iniciais, tirando de ambas o que lhes advém de positivo, dando assim origem a novas e mais moderadas vertentes.
om )
Como tal, esta temática de preservação do património, ganha evidência na segunda
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metade do século XVIII, e na perspectiva de José Aguiar, “Diversos estudiosos da história da conservação apontam a Revolução Francesa não só como o momento da origem da
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moderna jurisprudência para a salvaguarda do património, mas também como a matriz do conjunto de ideias que dará corpo ao conceito de Restauro Moderno.” (Idem: 36). Não
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obstante, não se pode afirmar que neste período se falava de teorias de restauro ou
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conservação, mas antes, questionava-se a necessidade que se sentia na altura, de salvaguardar o património, conceito esse que hoje em dia já não é entendido da mesma maneira, pois nessa altura, tal atribuição era compreendida apenas às construções que
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apresentassem algum valor histórico, ou algum interesse nacional, o mesmo que dizer, que
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só os monumentos teriam direito ao restauro.
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Tal noção de património resulta de uma escolha ponderada dos monumentos a
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intervir, sendo uma noção própria e proveniente de França, nomeadamente de Viollet-leDuc. O forte interesse pelo tema do restauro, concretamente em França, foi impulsionado, como já anteriormente supracitado, pela revolução Francesa4 de 1789. Num período pós revolução, caracterizado por uma maior acalmia, era visível o grande impacto de revolução nos edifícios, assumindo-se, desde logo, uma premente necessidade de restaurar os monumentos que se viam destruídos, numa tentativa de estabilização social. Imediatamente, as questões colocadas foram: quais os monumentos
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Acontece como consequência de um período de instabilidade social e económica que se vivia no país, originando a revolta do povo perante uma má qualidade de vida e de uma péssima governação monárquica.
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que interessam restaurar? E como é que os vamos restaurar? Tal resposta, surgiu
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do arquitecto Viollet-le-Duc5. O arquitecto, pautando-se pelo seu patriotismo, começou por admitir o restauro como uma intervenção que potenciava a imagem e o valor nacional, procurando assim transfigurar a ruína, num exemplar ideal da arquitectura. Para ele, não interessava rememorar, restaurar ou revitalizar o passado caótico e as suas memórias
om )
traumáticas, mas sim reconstruir um futuro.
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É, pois neste contexto, que nasce a sua teoria, mencionada por restauro estilístico.
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Tendo como característica principal uma ideia intervencionista, as ideias de Violletle-Duc visavam, de uma forma emproada, a reconstrução do monumento com base no seu
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conceito natural, sendo válido o acabamento das omissões através da soma de cópias de
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elementos existentes. Estimulava, em prol da uniformidade estilística nacional, a subtração de outros elementos que, na perspectiva do estilo unitário, divergiam e não traziam benefícios nenhuns ao monumento.
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Tal factor anteriormente supracitado, parece-nos contraditório: pois se por um lado,
sit
pretendia-se salvaguardar o monumento, toda a sua identidade e valor através da sua
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imagem e estilo original, por outro lado, permitia-se a adição de novos elementos, que,
o(
embora semelhantes aos já existentes como referência, não passam de uma simples cópia
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actual, assimilando-se que na perspectiva de Viollet-le-Duc, a autenticidade do monumento era compreendida nas suas características formais e não na sua materialidade, pois entendia que uma cópia fiel tinha o mesmo valor que o original, devendo o antigo e o novo integrarse de uma forma homogénea. No entanto, é de reconhecer que, por vezes, as contradições e a existência de falhas são entendidas como normais relativamente aos que arriscam a novidade, devendo sempre
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É ainda inspector dos monumentos históricos, o que lhe dá uma noção muito completa e real da quantidade e qualidade dos diferentes monumentos candidatos à salvaguarda.
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caso de Viollet-le-Duc e da sua teoria, deixaram como herança ideais que ainda hoje
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reconhecer-lhe a coragem por procurar deslumbrar o lado positivo da questão, porém, no
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ecoam nas mais recentes teorias do restauro, através do seu sentido funcional e reciclável do monumentos desprezados e danificados, admitindo que a sua utilização é o melhor meio de prevenir a ruína, de conservar e manter a vida do objecto arquitectónico e de lhe garantir algum futuro, podendo, de certa forma, perceber o afecto que os restauradores têm
om )
pela arquitectura.
er. c
Porém, para existir controvérsia, teria de haver outra visão preferencialmente oposta, e, neste sentido, existe sempre quem defenda que o afecto pela arquitectura não se
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mostra suficiente, pois há que existir respeito pelo objecto arquitectónico, pelo monumento
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enquanto objecto ímpar de arte.
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“A revolução industrial enquanto ruptura com os modelos tradicionais de produção abria uma fractura irredutível entre dois períodos da criação humana. Quaisquer que tenham sido as suas datas, variáveis de acordo com os países, o corte
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resultante da industrialização permaneceu, durante toda esta fase, a intransponível linha
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de divisão entre um antes, em que se encontra acantonado o monumento histórico e um
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depois, com o qual começa a modernidade.” (Choay, 2000: 112). Assim, ganha evidência,
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em meados do século XVIII em Inglaterra, o conservadorismo, uma teoria de salvaguarda
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do património arquitectónico, com base numa ideia defensora da ruína, enquanto testemunho histórico.
Ao contrário do que antecedera, em Inglaterra atravessava-se um período de grandes avanços tecnológicos, marcado pela revolução industrial. Em termos arquitectónicos, os valores do futuro pareciam incertos, ao mesmo tempo que se adivinhava algo que não teria nada a ver com os valores antepassados, facto que assustava
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muitos românticos conservadores, levando-os a uma inesperada tomada de consciência.
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Neste contexto, é importante perceber que a sociedade não rejeitava a modernidade, porém, cabia-lhes salvar a sua história enquanto bem único e valioso. Neste ponto, a revolução industrial representou um marco na sequência lógica dos vários estilos consequentes que evoluíam naturalmente uns dos outros, e que então deveriam ser
om )
lembrados para sempre, sendo que o edifício deveria congelar no tempo.
er. c
Segundo John Ruskin, o papel do arquitecto na presente discussão é o de garantir a perpetuidade da história do monumento, mais do que a sua própria materialidade e
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nacionalidade. Françoise Choay corrobora a perspectiva anterior: “o trabalho das gerações passadas confere aos edifícios que elas nos legaram um carácter sagrado. As marcas que
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o tempo imprimiu sobre elas fazem parte da sua essência. (…), o carácter único e
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insubstituível de qualquer acontecimento, bem como o de toda a obra pertencente ao passado.” (Idem: 139).
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Françoise Choay, ressalva a perspectiva de John Ruskin, relatando que “querer
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restaurar um objecto ou um edifício é ferir a autenticidade que constitui o seu próprio
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sentido. Parece que para eles o destino de qualquer monumento histórico é a ruína e a
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desagregação progressiva.” (Idem: 160). Como tal, Ruskin defendia a manutenção das
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obras do passado contra as incongruências do presente, admitindo somente intervenções que compreendessem esta intencionalidade, a conservação, considerando tal factor, como a chave para evitar o seu restauro, sendo que, caso esse tipo de intervenção se torne inevitável, ela deve ser totalmente distinta dos elementos antigos, ao contrário do que defendia Viollet-le-Duc. No entanto, a postura anti-intervencionista, poderia ser entendia como uma postura
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fatalista, onde os edifícios eram deixados “abandonados”, apenas com o intuito de serem
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admirados enquanto obras de arte limitadas a um espaço circunscrito, em vez de serem usados enquanto obras de arquitectura. Até ao período de análise, assistiu-se a duas atitudes extremas e antagónicas. Descontente com esta situação e distante o suficiente das ideias anteriormente vincadas,
om )
ganhou destaque, na segunda metade do século XIX, em Itália, o Arquitecto Camillo
er. c
Boito.
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Este arquitecto teve a perspicácia de reconhecer e entender os pontos positivos das teorias anteriores, construindo daí a sua própria teoria, “a Ruskin e Morris a sua
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concepção dos monumentos, fundada sobre a noção de autenticidade. (…), a par de
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Viollet-le-Duc, contra Ruskin e Morris, Boito sustenta a prioridade do presente sobre o passado e afirma a legitimidade do restauro.” (Idem: 168). É de referir como ponto comum, a ideia anteriormente supracitada, “Quanto às posturas derivadas de Ruskin,
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Boito as considera de uma forma lógica impiedosa, por interpretar que o edifício deveria
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apenas ser deixado à própria sorte e cair em ruínas. (…) a Viollet-le-Duc aponta os
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perigos de se querer alcançar um estado completo que pode não ter existido nunca,
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devendo o arquitecto restaurador, para tal, colocar-se na posição do arquitecto inicial.”6.
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Torna-se assim perceptível a admiração que Camillo Boito tinha por ambos os autores. Não obstante, discordando com os resultados práticos das suas teorias, introduziu um novo e relevante aspecto, tendo como base a reutilização do edifício. Respeitava, porém, todas as componentes do edificio: a estética, a histórica e também a material, sem renunciar o diálogo entre o antigo e o moderno, aspectos esses que enuncia nos oito princípios que apresentara em 1883, no III Congresso de Arquitectos e Engenheiros,
6
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critérios esses, que hoje em dia se encontram patentes em alguns casos: “diferença de
Transcrito do livro “Os Restauradores” de Camillo Boito, p. 24
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estilo entre o novo e o velho; diferença de materiais de construção; supressão de linhas ou de ornatos; exposição das velhas partes renovadas, da data da restauração ou de um sinal convencionado; epigrafe descritiva gravada sobre o monumento; descrição e fotografia dos diversos períodos das obras, expostas no edifício ou em local próximo a ele, ou ainda
om )
descrições em publicações; notoriedade.”7
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Entretanto, contemporâneo e conterrâneo de Camillo Boito, entra em cena Giovannoni, que, tal como Boito, acreditava que o restauro é o último dos recursos para a
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salvaguarda de um monumento, sendo preferível a sua consolidação estrita e manutenção regular. Porém, ambos os princípios de intervenção mínima mostram-se muito semelhantes
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aos princípios conservacionistas de Ruskin, pretendendo com esta atitude garantir a
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autenticidade e historicidade dos monumentos, através da sua conservação integral. No entanto, o maior contributo de Giovannoni para as teorias de conservação e
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restauro, não foi no campo interventivo da metodologia, mas sim na definição e
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actualização dos conceitos base mais importantes.
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Para Giovannoni, a arquitectura não se restringia apenas a uma construção
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individual, pois era, acima de tudo, o espaço e ambiente, cultura e história; as relações
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entre edifícios constituíam uma peça fulcral na formação, definição dos valores espaciais dos monumentos. Fazer arquitectura para ele era fazer urbanismo, e, neste sentido, o restauro deve ser assimilado pelo facto de ter em consideração o contexto e as relações que os monumentos estabelecem com o ecossistema. Tal factor é realçado por José Aguiar: “Ao fundamentar uma ampliação significativa do conceito de monumento, Giovannoni realçou a importância das relações contextuais que os monumentos travam com o sítio da sua implantação, com a arquitectura e o urbanismo da sua envolvente.” (Aguiar, 2002:
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50).
Transcrito do livro “Os Restauradores” de Camillo Boito, p. 26
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Esta nova incidência sobre a questão da salvaguarda do património, veio mostrar que um edifício monumental de grande valor histórico e cultural, nunca faria sentido numa paisagem sem referências, e, se tal acontecesse, jamais teria os mesmos valores. Esta perspectiva contribuiu para o lançamento do mote para a criação e aplicação das teorias de conservação nas matrizes urbanas, nomeadamente os centros históricos. Choay é muito
om )
directivo na análise que efectua a Giovannoni: “A terceira figura da cidade antiga pode
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ser definida como a síntese e a superação das suas precedentes. Ela constitui a base de
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qualquer interrogação actual, não apenas sobre o destino dos antigos tecidos urbanos, mas sobre a própria natureza dos estabelecimentos a que se continua hoje a chamar
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cidades. (…) G.Giovannoni, que concede simultaneamente um valor de utilização e um
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valor museológico aos conjuntos urbanos antigos, ao integra-los numa concepção geral da organização territorial.” (Choay, 2008: 207).
Finalmente, com as atenções conquistadas nas teorias da salvaguarda do
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património, motivadas pelo impacto das revoluções anteriormente referidas, dá-se, em
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plena Europa, a Segunda Guerra Mundial, episódio este que veio mutilar, e em grande
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parte destruir, muito do património arquitectónico, cultural e consequentemente histórico.
o(
Como resultado, revelou-se urgente de (re)construir tudo o que se encontrava danificado,
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de forma a reatar a organização social. Perante esta premência, vários países criticaram a minúcia, demora e impraticabilidade dos processos de avaliação dos valores históricos e documentais das teorias de Camillo Boito e Giovannoni. As circunstâncias descritas deram força às críticas efectuadas a ambas as teorias que até então tinham ganho destaque, censura essa liderada por Cesare Brandi, cuja ênfase de estudo promoveu a teoria do restauro crítico. Cesare Brandi, nunca negando a utilidade do objecto arquitectónico como
e formais na preservação da identidade do contexto inserido. Isto é, tanto o restauro
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todo urbano que deve ser considerado, volta a ressaltar a importância dos valores estéticos
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documento histórico, e tendo sempre bem claro que a arquitectura é apenas parte de um
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
científico de Giovannoni já anteriormente descrito, como o restauro crítico de Cesare Brandi, defendem a reutilização do objecto arquitectónico restaurado. Mas, enquanto o primeiro defende o programa original do edifício, admitindo apenas pequenas e ligeiras nuances; o segundo defende que esse mesmo ambiente e identidade são garantidos pela
om )
presença iconográfica e volumétrica dos edifícios.
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De referir que Cesare Brandi teorizava acerca de uma intervenção de restauro sobre obras de arte, e, por isso, tal como abordava a pintura e a escultura, o sentido funcional do
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objecto era secundário para a afirmação da sua identidade, sendo apenas essencial o reconhecimento e restauro do seu valor artístico. Se o objecto arquitectónico é uma obra de
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arte, deve ser recuperada a sua autenticidade, patente no seu valor estético como matéria e
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no seu valor histórico como documento, e não no seu uso como programa. Assim, o restauro crítico defende que a intervenção de salvaguarda seja feita sobre
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a matéria da obra de arte, constituída principalmente pela imagem, mas também pela sua
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história. Na eventualidade de ser necessário prejudicar uma delas em detrimento da outra,
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pois então, admite-se que a imagem tem mais valor, e por isso, o lado histórico deverá ser
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sacrificado. Por “imagem” Cesare Brandi8 considera o resultado da relação entre aspecto e
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estrutura, e mais uma vez, se alguma destas particularidades tiver que ser sacrificada, neste caso, será a estrutura, pois está normalmente escondida, e o aspecto é que acaba por assumir o papel de promotor estético e o provedor dos ambientes através dos materiais, cores, texturas, brilhos, transparências, opacidades e reflexos. Na sequência deste pensamento, é ainda de salientar que Cesare Brandi teve o
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cuidado de mencionar que, para um determinado material desenhar determinado aspecto,
BRANDI, Cesare - Teoria do restauro. Lisboa: Edições Orion, 2006.
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que por sua vez oferece um determinado ambiente, tem que ter em conta o lugar e todas as suas características, principalmente o clima e a luz. Outro ponto defendido por Cesare Brandi, idêntico ao conceito de restauro arqueológico,da tutela de Viollet-le-Duc, tem a ver com o complemento das lacunas.
om )
Enquanto Ruskin afirmava que não se devia acrescentar nada à pré-existência, como já
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anteriormente referido, Viollet-le-Duc insistia que o seu preenchimento deveria ser feito através de elementos formalmente semelhantes aos originais, apenas mais simplificados e
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com materiais diferentes, de modo a salvaguardar a integridade do monumento. Brandi concorda com a perspectivas de Viollet-le-Duc, concretamente de reaver o edifício na sua
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totalidade, pois, segundo ele, uma obra de arte, como é um monumento de arquitectura, é o
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todo que resulta da relação entre as partes e não as várias partes isoladas e distantes entre si. Ouso aqui evocar o princípio da Gestalt9.
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Resumindo, o grande contributo de Cesare Brandi para as teorias de salvaguarda
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dos monumentos arquitectónicos foi a consciencialização da presença de resultados do
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factor tempo numa obra de arte. Existe primeiro o tempo de criação, com todas as suas
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partes e características estilísticas e construtivas, estéticas e estruturais, que deram origem
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a um todo completo e unitário, aclamado de obra de arte. Em segundo, o tempo compreendido desde o exacto momento que seguiu a sua criação, do passado mais próximo à contemporaneidade, que afectou o monumento original desde demolições, alterações, acrescentos, à própria patina10 nos materiais, e que deve também ser alvo de consideração, ponderação e salvaguarda, pois constituem grande parte do valor histórico e por isso
Gestalt é um termo intraduzível do alemão, utilizado para abarcar a teoria da percepção visual baseada na psicologia da forma. 10 Carbonato de cobre que se forma nas estátuas e medalhas ou moedas de cobre antigas, constituindo uma camada geralmente verde ou esverdeada.
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cultural e patrimonial. Em terceiro e último, o tempo presente à intervenção de restauro ou
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conservação, que deve ser encarado também ele como um presente de criação que deverá documentar a sua própria história e cultura às gerações futuras. A este último ponto, há, no entanto, que fazer uma pequena ressalva: Cesare Brandi respeita a obra de arte tal como ela é, e portanto a intervenção do presente deve basear-se
om )
na reconstrução e não na adição de partes, de modo a garantir a autenticidade do todo
er. c
original, e não a criação de um novo todo.
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É, sem dúvida alguma, muito interessante e diria-mos de extrema relevância, conhecer e perceber a evolução que as teorias de salvaguarda do património arquitectónico
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tiveram ao longo destes vários séculos de história. Cada vez mais se percebe que o sucesso
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do futuro, está no conhecimento do passado, e nas lições e ilações que se tiram dele. E é sobre estes factos que se descobre a verdadeira importância das teorias de conservação e restauro.
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Perante toda esta panóplia evolutiva, torna-se pertinente comentar que, apesar dos
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esforços de Boito e Giovannoni em afirmar o contributo essencial do contexto, ou seja, das
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construções ditas menores no valor e sentido do monumento, ainda hoje, a insipiência e
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comodidade são revestidos de explicações aparentemente complexas mas capazes de
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simplificar a destruição das pré-existências e acabar assim com um terreno limpo e livre de referências e condicionamentos, que ilusoriamente facilitam o trabalho ao arquitecto e permitem-lhe uma maior liberdade criativa. Será este o preço a pagar para termos hoje uma arquitectura que responda às nossas necessidades quotidianas? É necessário apagar o passado para termos um futuro? O esforço
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está no sentido da adequação e actualização, e não na eliminação e substituição.
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Foi com este objectivo que todos estes amantes da arte e da arquitectura, desde Viollet-le-Duc e Ruskin, até Boito, Giovannoni e Brandi, se esforçaram e debateram sobre as suas teorias de salvaguarda do património arquitectónico e, directa ou indirectamente, contribuíram para a criação das Cartas, Recomendações e Convenções Internacionais sobre
de Atenas a Cracóvia
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o restauro e conservação do património arquitectónico.
Pelo facto das cartas precederem umas das outras, e visto encontrarem-se
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publicadas e facilmente acessíveis, no livro “ Patrimonio arqueológico – Cartas,
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recomendações e Convenções Internacionais” de Flavio Lopes e Miguel Correia, concentramo-nos apenas em perceber: o que são; qual a sua importância para a disciplina; para que foram criadas; e qual terá sido o seu efeito prático no desenvolvimento de uma
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metodologia de preservação do património arquitectónico.
sit
As Cartas, Recomendações e Convenções Internacionais são documentos que
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reverteram da preocupação e premência de atestar e definir uma metodologia, capaz de
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proteger o património arquitectónico. A partir do início do século XX, quando muito já se tinha teorizado sobre os temas do restauro e da conservação, e quando a própria intervenção de salvaguarda já era muito comum, exigida e até obrigatória em alguns casos, houve a necessidade de reunir todas as conclusões teóricas que até então se teriam tirado através da aplicação prática em diversos casos de património, criando assim as bases
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metodológicas da nova disciplina da arte e da arquitectura: o restauro e conservação.
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Porém, torna-se importante salientar que, relativamente aos documentos referidos, estes constituem-se efectivamente apenas como as bases da metodologia de salvaguarda do património, estando posteriormente à responsabilidade de cada um dos países, urbanistas e arquitectos adoptá-las e adaptá-las ao seu próprio contexto e necessidade. Sendo com base neste contexto que surgiram, por exemplo em Itália, no mesmo ano da Carta de Atenas, a
om )
Carta del Restauro de 1931 e, poucos anos mais tarde, a Carta de Veneza, as Cartas del
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Restauro de 1972 e de 1987.
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Ainda com o objectivo de responder aos problemas mais específicos sobre a salvaguarda do património rural e vernáculo, foram criadas na segunda metade do século
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XX várias cartas, recomendações e apelos. nomeadamente a Recomendação sobre a
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Salvaguarda da Beleza e do Carácter das Paisagens e dos Sítios de 1962; o Apelo de Granada sobre a Arquitectura Rural e o Ordenamento do Território de 1977; a Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa de 1985; a Recomendação n.º
p:/
R(89) 6 sobre a Protecção e a Valorização do Património Arquitectónico Rural de 1989; a
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Carta de Lisboa sobre a Reabilitação Urbana Integrada de 1995; a Carta sobre o Património
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Construído Vernáculo de 1999 e, finalmente, a Carta de Cracóvia sobre os Princípios para
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a Conservação e o Restauro do Património Construído de 2000. "Como um estudioso do mundo medieval admira Viollet, mas rejeita a restauração de seus seguidores, alegando que a metodologia já foi ultrapassada no final do século XIX. Também animado com as teorias de Ruskin (...). Mas Boito abre um novo caminho a
“Como estudioso del mundo medieval admira a Viollet pero rechaza las restauraciones de sus seguidores por considerar que la metodología ya estaba anticuada a finales del siglo XIX. También se entusiasma ante las teorías de Ruskin (…). Pero Boito inaugura una via nueva a medio camino entre el inglés y el francés Traduzido do espanhol pelo candidato
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meio caminho entre o Inglês e o Francês 11" (Rivera, 1997: 139)
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Assente nas palavras de Rivera, torna-se relevante estabelecer uma metodologia bem fundamentada. É importante começar por algum lado, sendo através da Carta de Atenas de 1931 o marco que estabeleceu o início. Este documento encontra-se directamente influenciado pelos pensadores abordados anteriormente, nomeadamente
om )
Giovannoni.
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Próximo à proposta de Boito, a carta de Atenas, sob influência de Giovannoni, defende a (re)utilização dos monumentos, desde que o novo uso sugerido se aproxime ao
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original. O respectivo documento defende ainda que qualquer intervenção deverá ter em consideração o relacionamento existente dos edifícios com a envolvente próxima, tanto os
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edifícios como as próprias vegetações, de modo a garantir a preservação do enquadramento
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visual já estabelecido.
Sendo estas as principais características da carta de Atenas de 1931, este
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documento, no entanto, defendia que devia ser estabelecido um ordenamento e
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classificação do território por zonas, de modo a estabelecer-se regras orientadoras de
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ocupação e uso, tendo em vista a manutenção e salvaguarda dos ambientes e valores locais.
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Esta recomendação visa também o regulamento dos materiais, cores e alturas das novas
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(re)construções, além dos seus índices de implantações e impermeabilizações. Desta forma, encontra-se então claramente valorizada a contextualização do local, o que torna indispensável a visita ao terreno, apoderando-se e sentindo-se o ambiente. Só depois se poderá pensar numa intervenção adequada não só ao edifício, como também à envolvente próxima e ainda ao contexto urbano. Essa intervenção deverá prevenir a construção descontrolada de edifícios que, ou pela estética ou pelo programa, não se
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emolduram harmoniosamente na paisagem, por ausência de referências ou por tentativa de
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
imitação. Nestas medidas, são incluídas também a proibição da desarborização, sendo esta, em muitos casos, uma das principais características da paisagem rural. Por outro lado, e quando já não for possível prevenir, pois então deverão ser corrigidas aquelas acções que alteraram o ambiente e aspecto das paisagens, na tentativa de reaver a sua forma original,
om )
pratica esta assente sobre o principio de anastilose12.
er. c
“A protecção da paisagem e dos sítios deverá ser assegurada através do recurso aos métodos a seguir enunciados: Fiscalização por parte das autoridades responsáveis;
litm erg
Criação de servidões nos planos de urbanização e de ordenamento do território a todos os níveis: regionais, rurais ou urbanos; Classificação de vastas paisagens «por zonas»;
fsp
Classificação de sítios isoladas; Criação e manutenção de reservas naturais e de parques
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nacionais; Aquisição de sítios pelas colectividades públicas.” (Lopes & Correia, 2004: 98) Alguns destes conceitos ganharam lugar na Carta de Veneza de 1964, talvez
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redigidas de uma outra forma, mas defendendo essencialmente o mesmo, por exemplo, a
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sobrevalorização da estética e da história, a preferência pela manutenção ao restauro, a
sit
conservação da envolvente próxima ao monumento a salvaguardar, a recusa pela procura
Vi
de uma unidade estilística ao género de Viollet-le-duc e a preferência pela anastilose
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o(
encontram-se presentes, sendo que as grandes novidades que se avultam, são as evoluções e aperfeiçoamento destes conceitos base. Partindo como principio que o sentido pratico e funcional da arquitectura através do restauro ou conservação deverá sempre ter como objectivo a serventia da população, através do respeito pelos valores estéticos e históricos, o resultado dessa intervenção não deverá nunca alterar a imagem exterior, nem a divisão interior dos espaços, sendo que esta
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acção deve também ser tomada em conta relativamente ao espaço envolvente, conservando
Anastilose significa a recomposição de partes existentes.
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assim o traço original enquanto protecção do carácter do foco local e carácter e valor do monumento em causa. Por fim, ainda sobre a Carta de Veneza, mostra-se relevante salientar que toda a intervenção deverá ser registada e documentada, de forma precisa (Idem: 107), de modo a
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conservar as características originais do monumento e orientar, assim, eventuais e
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posteriores alterações.
litm erg
Analisadas ambas as Cartas, a grande diferença da Carta de Veneza relativamente à Carta de Atenas é que, na última entende-se os sítios rurais e urbanos também como
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“monumentos” portadores de história e cultura, que exige salvaguarda. Neste sentido, não
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só os edifícios monumentais merecem consideração, mas também as construções modestas. Em consequência, a construção adjectivada por menor, que agora implica também salvaguarda, não necessita de estar próxima do monumento, pois essas, por consequência,
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já são consideradas património, podendo ser aglomerados habitacionais ou mesmo centros
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históricos, desde que se possa provar o seu interesse e valor histórico e cultural. Substitui-
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se subtilmente o termo “envolvente” por “contexto”, e assim reafirma-se a noção de que
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um monumento tem uma história, que por sua vez está ligado a um sítio e cultura, aos
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quais não se devem nunca separar. Desta forma, percebeu-se que o valor do “particular” isolado depende do “todo” à sua volta. Isto levou à missão de preservar a integridade urbana, sem nunca condicionar a sanidade, organização e valorização do ambiente urbano. Porém, para finalizar esta ideia relativa à recomposição por anastilose, defende-se que estas deverão continuar as linhas mentoras da pré-existência, garantindo uma actualização e adequação ao tempo da
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intervenção. Para tal, apoia-se o uso de técnicas modernas de construção na consolidação
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do monumento, respeitando sempre a sua antiguidade e autenticidade. Até aqui nada de novo, sendo que a grande mudança, avulta-se no que toca à modernização da intervenção, recaindo sobre os materiais a empregar no preenchimento das lacunas, onde antes, na Carta de Atenas de 1931, teriam que ser divergentes, e agora apenas têm que se tornar
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perceptíveis.
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No entanto, a neutralidade patente da Carta de Veneza de 1964, com finalidade de fornecer uma resposta a uma realidade global, acaba por implicar uma adaptação a um
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novo contexto, surgindo, desta vez em Itália, uma nova Carta de Restauro de 1972. Este documento, ganha destaque por ser fortemente dominado pelas Teorias de Restauro de
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1963 de Brandi, e acabaria por especificar as várias artes, personificando o tipo de restauro
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a ser-lhes aplicado. Constituída por 12 artigos e 4 anexos, a nova Carta sobrevaloriza em todas as suas terminações, essencialmente a estética sobre a estrutura e a história. Este princípio operante é particularmente relevante referenciar, por ser uma das particularidades
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mais marcantes e comentadas pelas cartas posteriores. Esta preferência pela estética
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acontece pelas mãos do historiador e grande amante de arte que é Brandi, o que
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sit
provavelmente faz sentido quando se trata de uma pintura ou escultura, arte puramente
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alegórica, mas que facilmente não se mostra propício à arte funcional que é a arquitectura. Não podemos, no entanto, censurar os métodos anotados nesta Carta, pois afiguram uma grande actualização e modernização do tema da conservação e restauro, tão actual que, em pleno século XXI, ainda se constituída referência. Importa ainda mencionar, que houve a preocupação de prever e orientar o modo de intervir no património arquitectónico, de modo a prevenir as patologias físicas e orgânicas próprias desta arte, como são as humidades, as fissuras, a oxidação e vegetação. Os revestimentos de feição, devem ser distinguíveis para facultar o seu reconhecimento e logo
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a sua reversibilidade.
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Sendo que a Carta de Restauro de 1972 se mostra como sendo mais completa relativamente às anteriores, mas em boa verdade, para nós, arquitectos, interessa particularmente os anexos sobre o restauro arquitectónico e sobre a defesa dos centros históricos. No primeiro anexo, veremos repetidamente declarada a opção na manutenção sobre a preservação, e a preservação sobre o restauro. Deparamo-nos também com o
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reconhecimento do valor histórico e cultural dos acrescentos. Até revemos o particular
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interesse pela reutilização do monumento. Mas é aqui que começam as pequenas grandes
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diferenças, pois, entendeu-se que o aproveitamento da ruína e a sua intromissão no quotidiano dos cidadãos, são a melhor solução para a prevenção do abandono e sequente
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degradação.
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Acreditou-se assim, que o carácter e enunciação desse quotidiano provinham directamente do ambiente urbano, que por sua vez seria excepcionalmente causado pelo
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programa dos monumentos, mas mais ainda, pelo seu aspecto.
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Esta convicção levou a que a apropriação do edifício ao novo programa fosse
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verdadeiramente abalizada, mas nunca se sobrepondo, ou pondo em causa a autenticidade
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do material do monumento. Dito isto, em caso algum aceitar-se-ia alterar o aspecto
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exterior, ou a disposição interior, respeitando assim os valores mais preciosos da arte: o histórico, e claro, o estético. Basicamente, enquanto a Carta de Veneza salva uma reutilização ajustada às urgências da sociedade, aceitando um ajuste do programa, a Carta del Restauro de 1972 prefere a conservação da tipologia, conservando assim também o carácter individual do edifício e o seu ambiente. Por outro lado, já no segundo anexo, verificamos algo aparentemente antagónico ao que a Carta del Restauro de 1972 propôs para o património arquitectónico. No caso dos
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artístico ou formal, e por isso, independentemente do seu valor estético, todos os agrupados
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centros históricos, esta Carta resguarda que o seu valor histórico é mais importante que o
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arquitectónicos, urbanos ou rurais, são dignos de salvaguarda e restauro desde que provado o seu valor histórico. Aparentemente antagónico porque, na realidade, a Carta define que o valor histórico está na matéria e no seu aspecto, e por isso, acaba por ser este o alvo da operação, ou seja, para salvaguardar o valor histórico deve ser preservado, garantido, e/ou
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restaurado o valor estético.
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No seguimento da ideia, este princípio dependeria, entre outras, particularmente de três atitudes: da junção e comunicação dos centros históricos com as áreas atraentes com
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grande potencial de desenvolvimento; da conservação do contexto, ou seja, do ambiente urbano constituído não só pelos edifícios, mas pela conexão entre estes e as ruas, praças,
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pátios, jardins, rios, bosques, etc., elementos também sujeitos a salvaguarda; e ainda da
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preservação, não só do aspecto das construções, mas também do seu uso e programa. Desta forma, remete-nos salientar alguns dos princípios que surgiram com o intuito
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de criticar e modernizar a Carta de Restauro de 1972, a Carta de restauro de 1987. Sendo
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esta mais uma crítica ou modernização, esta carta apresentou-se como uma opção aos
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métodos conservacionistas da Carta de 1972. Seguia uma estrutura semelhante de 12
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artigos, mas, desta vez, com 6 anexos, dos quais, aos arquitectos, apenas importarão
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repetidamente os relativos à arquitectura e aos centros históricos. Nestes anexos o diálogo é sempre feito no sentido de aceitar a oportunidade de uma conservação ao estilo da Carta de 1972, mas não de obrigá-la, prevendo, preferindo e até encaminhando uma intervenção mais penetrante e restauradora. Exemplos disso são a operação sobre a pátina, onde antes seria indubitavelmente salvaguardada, e agora derivando do seu estado e dos seus efeitos sobre os próprios materiais, aprova-se a sua remoção desde que reconhecida a sua maisvalia; e ainda, contra todas aquelas teorias que sustentavam o tempo e história como factores únicos e irrepetíveis, a reconsideração das inserções analógicas, ainda que
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unicamente aplicadas à estrutura.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Neste contexto, este ponto revela-se particularmente interessante, pois contraria um dos princípios da metodologia de conservação e restauro mais marcadas e tidas como certos, desde a Carta de Atenas de 1931. Por um lado, a Carta de 1987 arremessa a sobrevalorização da imagem e do semblante em conformidade à forma e à estrutura, definindo inclusivamente pela utilização de materiais harmonizáveis com a pré-existência
om )
pelas suas propriedades, em vez das características estéticas; mas, por outro lado, antepõe a
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aplicação de materiais e técnicas tradicionais, claro que pela sua melhor adaptação
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construtiva à pré-existência, mas também pelo seu efeito estético, pois estimula a procriação de elementos figurativos que (re)compõem a imagem “original” do monumento,
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designadamente a estereotomia das pedras, que delineiam o semblante de um portal, uma
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janela, uma rosácea, um cunhal ou um pavimento.
Porventura, este princípio poderá eventualmente ter sido o maior auxílio da carta de 1987, a primazia pelos materiais e técnicas tradicionais nas operações, embora
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incessantemente distinguíveis mas contextualizados, veio reforçar o respeito pelo
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património histórico, arriscando na reversibilidade, mas, acima de tudo, veio reaver o gosto
Vi
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e o conhecimento tradicional e acautelar a identidade cultural própria de cada país, região
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ou povoação.
No entanto, para se conseguir um método adequado para uma intervenção num edifício que embora de carácter patrimonial, se revela como modesto, inserido em território rural, como é o caso do objecto de estudo em que se centra esta dissertação, torna-se necessário regressar ao ano de 1977, aquando da criação do apelo de Granada sobre a arquitectura rural e o ordenamento do território. Este documento brotou na tentativa de acautelar o abandono das áreas rurais, e consentânea erosão do seu património arquitectónico. Neste sentido, a solução é a sua (re)utilização.
Não obstante, tendo
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presente a conservação da imagem e ambiente local, a intervenção de restauro deve ser
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antecipado por um levantamento dos materiais e técnicas tradicionais, não só pelo efeito estético, mas pelas qualidade e sabedoria inerentes às construções vernáculas; e ainda por uma pesquisa histórica e das condições socioeconómicas, de maneira a entender o argumento no qual se intercede, e assim colaborar com uma solução amoldada e ajustada
om )
às pré-existências. “(...) a política de conservação, no âmbito do ordenamento do território, só é possível se existir um
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inventário dos bens a manter.
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Estes inventários podem ser de diferentes tipos:
uma lista sumária dos sítios naturais e construídos que apresentem um interesse genérico; um inventário mais pormenorizado compreendendo um triplo objectivo:
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- levantamento dos dados demográficos e sócio-económicos, ao nível municipal ou regional,
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abrangendo: população (estrutura e composição), estruturas económicas, caracterização das actividades (emprego, rendimento);
- levantamento dos sítios compreendendo quer a descrição física, quer a análise da estrutura histórica da paisagem;
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- levantamento das edificações, realizado com o apoio de fichas individuais, com a descrição
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pormenorizada do objecto, uma apreciação da arquitectura, seus valores histórico e estético, estado de
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conservação, relação com o meio envolvente.” (Idem: 192).
o(
Em 1985 foi criada a Convenção para a ressalva do Património Arquitectónico da
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Europa, com o propósito de cuidar da integridade e autenticidade do património arquitectónico através da preservação e transmissão das características e actividades económicas, sociais e culturais de cada região, sendo este propósito executado através da utilização e adaptação dos edifícios, técnicas e materiais tradicionais às necessidades e realidade do presente, evitando assim a deterioração do património e o desaparecimento da
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identidade cultural.
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
Mas, foi anos mais tarde, no ano de 1989, com a recomendação nº (89) 6 sobre a Protecção e a Valorização do Património Arquitectónico Rural, que se estabeleceram os princípios operantes de intervenção no ambiente rural. Sendo a arquitectura o reflexo do uso/programa, a adequação ao contexto em
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analise – rural, torna-se inevitável, sendo crucial corresponder as actividades primarias,
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como a agricultura e o artesanato, praticas estas que têm sido abaladas pela evolução da tecnologia, implicando riscos no que respeita á sua identidade original. O único pré-
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requisito é o seu valor documental e pedagógico no âmbito dos materiais, técnicas e proporções tradicionais. Estes são os valores que acarreta aprender, reter, conservar e
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ambiente dos distintos locais e paisagens.
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aplicar, de modo a aguentar viva a arquitectura local e assim conservar a imagem e o
Porém, o propósito das operações em património arquitectónico não é agora apenas
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o de preservar o objecto em si e os seus valores, mas similarmente o de convalescer a
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qualidade de vida nos núcleos rurais ou urbanos danificados ou abandonados, através da
sit
utilização das construções antigas e da oferta de novos usos revitalizadores na vida social e
Vi
económica. Estas posturas apontam, em última instância, banir o êxodo rural, ou seja, o
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abandono e “morte” dos centros históricos. No seguimento da ideia anterior, a Carta de Lisboa sobre a Reabilitação Urbana integrada de 1995, veio enaltecer uma metodologia apoiada no levantamento histórico de modo a entender as características e necessidades dos locais e assim planear uma intervenção ajustada, tanto no programa como na linguagem arquitectónica. No entanto, essa referência deve ser comedida, de modo a evitar a cópia e discrepância de elementos arquitectónicos e de usos resultantes do restauro da preexistência. Estes princípios,
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1999, que basicamente surge como uma reafirmação que o objectivo principal passa por
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encontram-se também enquadrados na carta sobre o Património Construído Vernáculo de
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preservar a integridade, autenticidade, historicidade e estética das construções e paisagens. Neste sentido, aconselha o levantamento tanto do edifício (forma e organização) como dos sítios e dos seus valores culturais. É também fortificada a ideia de manter a imagem das paisagens (construídas e naturais) através da utilização dos materiais (aspecto, textura, cor, etc.), técnicas de construção, arborização e tipologias, tipicamente locais. Em caso de
om )
ampliação, os materiais não são forçosamente os mesmos que os originais, nem deverão
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ser distintos, devem ser sim, congruentes com a pré-existência, e simultaneamente “
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apropriada manutenção no contexto da sociedade contemporânea”. (Idem: 293). Por último, a carta de Cracóvia sobre os princípios para a conservação e o restauro
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do património construído de 2000, veio aperfeiçoar a metodologia de salvaguarda expressa
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na carta de 1999. Insiste-se novamente na adequação da nova função relativamente ao novo edifício, lembrando que devem ser respeitados, tanto a sua disposição interior, como a decoração, forma e materiais preexistentes, de forma a preservar o seu valor histórico e
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cultural. No entanto, prevê-se não só a conservação e o restauro, mas também a
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manutenção a reparação e, em último caso, a ampliação. A manutenção e reparação devem
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ser feitas através da análise estrutural e do diagnóstico periódico das patologias e posterior
o(
correcção. A ampliação de áreas ou programas é aceite, desde que se prove indispensável
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ao bom funcionamento e uso do edifício. No entanto, estabeleceu-se que toda a nova construção deve respeitar os vários “tempos” do edifício e assumir a sua própria contemporaneidade na linguagem arquitectónica adoptada. Já a reconstrução deve ser antecedida de uma análise histórica rigorosa, de modo a fundamentar as opções tomadas, prevenindo assim a reconstrução baseada na suposição que resulta num falso historicismo e compromete a autenticidade e identidade, primeiro do edifício e depois do sítio e da
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paisagem.
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
cada caso é um caso A dissertação que se propõe, em primeira instância, a este género de operações, “como intervir?” – sendo que nem a própria interpretação de património pode encarar-se como concludente - não pode ser contestada caindo no “erro de considerar-se que alguém
om )
pode estabelecer uma doutrina permanente ou formular uma definição científica de
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intervenção arquitectónica.” (Solá-Morales, 2003: 69).
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Como reitera Alves Costa, “A intervenção em edifícios antigos só se pôs como problema cultural, a partir da segunda metade do séc. XVIII; ou seja, foi rigorosamente
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contemporâneo do aparecimento da noção de património histórico. Todas as hipóteses de
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intervenção se puseram desde o início: introduzir o novo no velho; não tocar no velho (ideia característica do romantismo); reconstruir o velho de acordo com a arqueologia e a história; recriar o velho.” (Alves Costa, 2003: 8). Actualmente, porém, segundo Sola-
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Morales, devido à falta cultural que se vive, baseada em ideais e protótipos de
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características universais, na contemporaneidade, não se vigora praticável formar um
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sistema capaz de ser aplicado para além de situações individuais. (Ibidem)
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Sendo assim, a resposta à questão como?, será dada, por um lado, com eficácia
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através do conhecimento exaustivo da pré-existência, daquilo que foi e como existe no momento da intervenção, e por outro, da clarificação daquilo que se pretende que seja. Como tal, e com base em duas operações efectuadas em Portugal no passado século, concretamente nos anos 70, apresentam-se como “marcos fundamentais para o entendimento e para a reformulação dos princípios de actuação” (Tomé, 2002: 210), os projectos de reconversão do Castelo de Vila Nova de Cerveira (fig.23), por Alcino Soutinho e
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do Convento de Santa Marinha da Costa (fig.24), em Guimarães, por Fernando Távora. A
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
acção elaborada por ambos os arquitectos, veio a testemunhar, segundo Tomé, a basilar utilidade na regeneração de uma abordagem projectual, e principalmente no debate empregue com outras práticas profissionais, de tal forma que, a seu maior tributo, desenvolveu-se sobre a aderência as circunstâncias específicas do projecto, principalmente a “reflexão sobre os instrumentos de intervenção: sobre o papel da história e sobre os
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mecanismos de análise e de conhecimento.” (Idem: 211-212). Podendo sobre esta condição
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ser mencionado dois ensejos metodológicos basilares:
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Fig. 23 - Pousada do Castelo de Vila Nova de Cerveira – Arq. Alcino Soutinho
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a) A identificação do valor do objecto, pelo reconhecimento das qualidades formais (no seu carácter estético, na sua capacidade funcional e na sua dimensão simbólica), através de uma interpretação crítica e subjectiva. O passo fundamental para esta interpretação foi o conhecimento do edifício, realizado através de mecanismos de análise
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histórica, técnica e artística;
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b) A recuperação da dimensão artística do objecto, através da preservação do valor expressivo ou da essência da obra. (…) Considerou-se, deste modo, que a história do
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objecto arquitectónico se ligava, não só aos dados rigorosos e objectivos das ciências
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históricas, mas à concreta materialidade do objecto.” (Idem: 211-212).
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Sendo assim, são ambos os ensejos metodológicos que acarretaram, num primeiro momento, o entendimento da natureza do edifício e do seu respectivo decurso evolutivo, sendo que o seu próprio alicerce metodológico de intervenção, baseia-se nomeadamente na
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sua própria forma “e não tanto enquanto valor plástico, mas enquanto estrutura.” (Idem:
sit
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212-215).
Vi
Neste sentido, ”a análise tipomorfológica, ligada aos aspectos espaciais e
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geográficos, impôs o necessário realismo ao procurar compreender o sentido evolutivo
De m
das formas e a história particular do monumento. Superaram-se, desta forma, os problemas mais superficiais ligados à linguagem ou aos omnipresentes temas filosóficos de autenticidade e de legitimidade da intervenção. O projecto integrava, numa solução de continuidade formal e temporal, as invariantes, as indeterminações os impulsos e os desejos encerrados no objecto, assimilando e confrontando a natural sedimentação das formas.(…) O valor do monumento residia na capacidade de absorver o tempo e as transformações, integrando-os no seu corpo.” Em Santa Marinha da Costa, o mesmo autor refere que, “Távora não procurou o que o edifício foi ou poderia ter sido, mas o que o
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edifício podia e queria ser.” (Ibidem
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
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Fig. 24- Pousada de Santa Marinha da Costa – Arq. Fernando Távora
Na sequência destes princípios operantes, a reconversão do Mosteiro de Santa Maria de Bouro, por Eduardo Souto Moura, no final dos anos 90, representou uma abordagem própria relativa ao confronto entre o novo e o velho, sendo que a perda de complexos analogamente à nova operação, revelou-se essencial para a lógica do projecto, licitada pelo estudo dos estratos temporais presentes na ruína. Este estudo assumiu-se como base metodológica, essencial para todo o processo e, também aqui, se debelam os
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problemas superficiais da autenticidade do conjunto.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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Apoiando-nos nas palavras de Eduardo Souto Moura, o objectivo final na obra de Santa Maria do Bouro não passa por “reconstruir a imagem do mosteiro do sec.XX (…) terei de escolher um século para mim, a única possibilidade será o sec.XX. (…) Não faz sentido construí-lo seiscentos anos mais velho.” (Souto Moura, 2001: 46). Sintetizando a ideia de projecto inerente, o objectivo passa por adaptar o conjunto a um programa
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contemporâneo de o vivenciar, e não recuperá-lo à luz da sua imagem e programa original. Como podemos constatar, o trabalho da arquitectura responde sempre a partir de
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uma pré-existencia, seja ela construída ou não, assumindo posturas de continuidade ou ruptura, de tal forma que prontificamo-nos a assegurar que não existem fórmulas ou
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dogmas totalitários que acautelem com eficácia a montagem de um projecto, sendo ainda
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de referir, que cada caso é um caso e que só daí brotará uma nova teoria de intervenção, podendo ser ou não baseada nas doutrinas anteriormente mencionadas, de forma a estabelecer-se uma metodologia de intervenção, sem que se converta numa solução que se
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possa generalizar.
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2.4 – Reabilitar / Recuperar
propriedade da operação
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Analisando o ponto anterior, percebe-se que “a maior dificuldade consiste em
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saber antes de mais avaliar com justiça a necessidade ou a oportunidade da intervenção,
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localizá-la, determinar a sua natureza e a sua importância”.” (Choay, 2000: 137). Importa, então, neste momento, ilustrar quais os termos que serão empregues numa definição de objectivos de trabalho, e consequentemente, definir qual a natureza de
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intervenção a desenvolver. “Apenas os trabalhos de conservação de um edifício ficam
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rigorosamente circunscritos aos limites do próprio objecto. Porém, onde acaba realmente a conservação e começa a modificação? Os limites imprecisos, haveria que encontra-los entre noções de restauro e reabilitação.”13 (Gracia, 1992: 137). Neste caso, o termo mais
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aproximado ao tipo de trabalho que se pretende desenvolver no Mosteiro de Santa Maria
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de Júnias é “reabilitação”. Entende-se este término como uma intervenção, definida como
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um método projectual que inclui outros métodos de trabalho geralmente efectuados, como
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por exemplo conservação, restauro ou reutilização. O método “reabilitação tem de ser entendido de forma clara, como significando uma intervenção que vai além da conservação, embora desta possa conter partes importantes. Deve pois considerar-se, quando se aplica esta noção, que numa intervenção mais ou menos profunda num edifício está subjacente um conceito e até uma necessidade de modernização que inviabilizam o restauro ou a conservação entendidas na forma mais
13
“Solo las labores de conservacion de un edificio quedan rigurosamente circunscritas a los limites del propio objeto. Pero dónde acaba realmente la conservación y empieza la modificacion? Los limites imprecisos habría queencontrarlos entre las nociones de restauracion e rehabilitacíon.” Traduzido do Espanhol pelo candidato.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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pura" (Appleton, 1995: 44). Porém, ousamos referir que a analogia inerente ao conceito de
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
reabilitação e conservação fixa-se num equilíbrio mutável que varia intrinsecamente da essência e qualidade da pré-existência. Como tal, numa operação de reabilitação, a demolição de pré-existências pode adquirir a mesma importância que a adição de novos elementos, pois os seus propósitos, alimentam-se maioritariamente na afinidade entre o que
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é deduzido e somado à preexistência.
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Provindo da realidade em que se intervém, ela pode arcar uma forte componente de conservação e restauro, de tal forma que a sua transformação pode ser mais ou menos
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acentuada, quando assim se justifique. Porém é com base no grau de transformação a estabelecer, que se ditam as imposições de conservação de semblantes que se considerem
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necessários, a par das necessidades a ter na melhoria a nível funcional e de conforto,
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implicando sempre a existência de um compromisso inerente a ambos os aspectos. Deste modo, não se pode afirmar com clareza que a reabilitação inviabilize a
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conservação entendida na sua vertente mais pura: “Reabilitar um edifício antigo é adopta-
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lo a novos usos, o que pode querer dizer apenas dar-lhe uma limpeza ou partir-lhe duas
sit
paredes por dentro. Mas reabilitar um edifício pode ser encontrar-lhe a alma, a vocação
Vi
que andava perdida: o que nunca tinha chegado a ser.” (Graça Dias, 1994: 42). Como tal,
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o(
mais uma vez não se torna claro que tenham de ser os edifícios antigos a adaptar-se a novas funcionalidades uma vez que, a intervenção num edifício histórico difere da construção do novo porque opera sobre uma pré-existência, sendo que, ocasionalmente, inviabilizam as transformações. Podemos portanto corroborar a adopção de novos programas ou novos usos em edifícios antigos e não o processo contrário, ou seja, a adaptação dos próprios edifícios antigos aos novos usos, o que por sua vez, significa garantir condições de integração de um
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novo programa, implicando, porventura, uma renúncia pontual do mesmo.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
É portanto de salientar que, os agentes de intervenção tenham presente que, neste tipo de processo, nem sempre será possível obter resultados semelhantes àqueles que se obtêm na construção de edifícios de raiz, sendo que, o que se deve e se pode procurar é a aproximação do seu limite. “A questão é como adaptar os novos programas aos edifícios históricos, e isto é um desafio para o arquitecto porque o uso não justifica tampouco a
om )
transformação dos edifícios a qualquer preço.”14 (Siza Vieira, 2008: 18). Reiteramos
er. c
assim esta como a primordial diferença entre reabilitar e recuperar, ou seja, o respeito pelo
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que o edifício quer ser e não reduzir a intervenção a conceitos meramente técnicos. Recuperar em arquitectura, é um conceito que se encontra implícito no facto de
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poder dar uma nova luz a aspectos da vida do edifício que se foram perdendo, não apenas
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sob o ponto de vista construtivo, mas também da recuperação de ambientes. ”O mais importante é manter a integridade, o carácter, atmosfera do lugar e a autenticidade das coisas, há que trabalhar com mais integridade ao enfrentarmos com o património, o que
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não impossibilita a modernização do uso do edifício.” (Idem: 18). Sendo assim, com base
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nesta última abordagem, o sentido da palavra recuperar em arquitectura adquire um sentido
Vi
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ainda mais amplo, “é algo que vai mais além do físico e do material” (Ibidem) para além da
o(
consolidação da sua materialidade. Não obstante, entendemos que ambos os termos -
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reabilitar e recuperar - não se excluem, pois o conceito de uma intervenção pode passar pela recuperação de uma identidade que se foi perdendo, ou mesmo a sua mutação para uma identidade que nunca teve. Por outro lado, o conjunto das operações a serem efectuadas para obter um diagnóstico do edifício e suas condicionantes poderão ser o
14 Siza in El Croquis nº140 – “Álvaro Siza 2001-2008. El Sentido de las Cosas” Madrid: 2008 pág. 18, tradução do espanhol pelo candidato
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principal incitador de pistas que se mostram importantes para uma boa decisão projectual.
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
estados de operação O conjunto de trabalhos que se propõe implementar tem em vista a reabilitação do objecto em estudo, podem definir-se em dois níveis de intervenção. Estes dois níveis podem ser entendidos como “modificação circunscrita” como é apelidado por Gracia. O
om )
primeiro nível provém de uma ideia de operação visada apenas ao edifício como sendo
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uma realidade individual, assente na sua peculiaridade objectual, mais do que a sua preocupação pela materialidade e volumetria, com o intuito de manipular o objecto que se
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encontra em regeneração, modificando-se, passando pela sua mutação estrutural interna. O segundo nível operativo supõe que o nível resultante da intervenção venha a interferir nas
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relações do lugar onde se incide.”Podem incluir-se neste apartado ampliações de certa
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dimensão a partir de edifícios existentes; corpos autónomos como ligaduras ou conectores específicos que os vinculam aos edifícios principais; novos volumes capazes de actuar
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como anexo entre outros pré-existentes.” (Gracia, 1992: 215).
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Ambos os níveis verificam-se complementares, podendo ser possível o ajustamento
sit
sob ponto de vista metodológico e projectual a esta investigação, percebendo desde cedo
patenteando
o(
monástica,
ainda
uma
baixa
capacidade
construtiva
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dependências
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que este demonstrava um elevado estado de degradação, revelado primordialmente pelas
inviabilizando, à partida, a implementação de uma nova estrutura interna. Assim sendo, como observaremos nos próximos pontos, a proposta em discussão centra-se no edifício em causa e numa zona sobre elevada, que se encontra como um promontório sobre o monumento, pois, embora o objecto em análise possa ser caracterizado como um elemento isolado, salientando apenas o facto de unicamente se relacionar com as existências naturais que o envolvem, há factos históricos que narram ligações profundas com a aldeia vizinha, o que faz, desde logo, com que a intervenção se
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torne mais abrangente, ultrapassando os seus limites prévios.
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Resultados aplicados
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CAPÍTULO III – Proposta – Mosteiro de Santa Maria Júnias
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3.1 – Perspectivas diacrónicas em discussão, a sua implementação
A investigação teórica não deve ser compreendida, apenas, como um momento analítico que antecede o processo de desenho, nem como matéria cujo conteúdo se assuma
om )
à priori, mas como um método análogo e complementar, informando continuamente o
er. c
processo de desenho.
embora
algumas
teorias/posições
litm erg
Desta forma, da analise exposta ao longo do capítulo II, podemos afirmar que tenham
evidenciado
algum
poder,
fruto
do
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empreendedorismo dos seus autores, nenhuma das metodologias pode ser considerada
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como sendo unânime ou mesmo unívoca, mas sim consideradas metodologias capazes de serem validadas e aplicáveis num projecto, devendo as mesmas apoiar-se na análise e interpretação das característica da pré-existência, pois a intervenção em arquitectura só
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pode ser entendida como um compromisso existente entre a possibilidade, a essência da
htt
preexistência e o desejo do criador, podendo o real ser rejeitado, à priori, sendo
sit
considerável ainda que “as ruínas podem ser testemunho de um genérico fluir do tempo”.
Vi
(Alves Costa, 2003: 7) Como tal, o objectivo derradeiro que se propõe, é o estabelecimento
o(
de mais um passo que garanta uma harmoniosa continuidade do ciclo de vida do edifico,
De m
ciclo este que se apresenta pelo acto criativo original sobrevivendo até ao seu estado actual, por vários “presentes históricos que já tomaram um passado, de cujo transito e obra conservou os traços. Todos estes tempos e as suas marcas têm de ser tomadas em conta” (Aguiar, 2002: 52). Ao trabalhar com ruínas, podemos afirmar que o tempo é a nossa principal ferramenta de trabalho, podendo optar-se por várias vertentes de análise e intervenção,
ponto de observação como a exaltação da sua purificação, ou ficar atados às suas garras,
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sendo a sua base original o limite da intervenção.
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usufruir da autenticidade das suas pré-existências, optar por transformá-las num sui géniris
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
estratégia A estratégia define e é definida pelo objectivo da intervenção, determinando a eficiência no confronto das intenções do criador com a essência da preexistência. Portanto, em primeiro lugar, preservar uma identidade, como base no retomar de ligações que se
om )
foram perdendo, bem como a estimulação do carácter turístico que o edifício acarreta
er. c
nomeadamente por parte de amantes da natureza e do património, de forma a garantir a sua manutenção e divulgação cultural traduzem as principais intencionalidades da intervenção
litm erg
em proposta. Deste modo, a estratégia (fig.25) passa pela adaptação do edifício a um novo uso, sem, no entanto, deixar de lhe reaver uma nova e fiel luz, relativamente ao seu
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carácter principal.
Em resposta a problemas inerentes ao edifício
(fig.25)
, como o caso das
acessibilidades, a estratégia assenta numa estrutura que se desenvolve pela encosta,
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definida por um percurso pedonal que se constitui como um elemento unificador de todo o
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projecto, partindo de uma primeira intervenção com foco no edifício de recepção, numa
sit
cota sobre elevada até à cota inferior onde se encontra implantado o edifício monástico.
Vi
Devido à fraca capacidade construtiva com que o edifício nos apresenta, a proposta passa
o(
pela adaptação a novo uso, conferindo-lhe uma visão contemporânea de um edifício que
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contem em si todos os tempos.
Como tal, a intervenção nasceu “usando o real, que contém o seu passado e o futuro desejado, encontrando a regra a partir do existente” (Alves Costa, 2003: 13), e da natureza evolutiva inerente à história dos edifícios semelhantes ao existente. A questão sempre presente relativa a proximidade do velho e do novo é resolvida com base na ideia de que ambos os elementos engrandecem-se mutuamente e adquirem
em contacto com outras cores. Um azul não é o mesmo azul ao lado de um verde, de um
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uma imagem se transforme em contacto com outras imagens como uma cor se transforma
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novos significados quando postos em relação, pois segundo Bresson, “é necessário que
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amarelo, de um vermelho“. (Bresson, 1975: 22), considerando que não poderá existir arte
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sem transformação.
Fig. 26- Foto da encosta por onde se desenvolve a estratégia conceptual de intervenção
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Fig. 25- Esquiço de estratégia conceptual
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Fig. 27 – Planta geral da intervenção
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3.2 – Proposta
Processo metodológico
A execução de ensaios de exequibilidade constituiu-se como o processo utilizado na primeira abordagem ao teste de soluções, no âmbito do primeiro confronto da estratégia programática definida com a realidade da preexistência e sua envolvente. As referências estudadas no capítulo anterior foram surgindo naturalmente ao longo do processo,
testadas em diferentes alternativas, não só a nível construtivo como a nível de relações
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
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tendo em conta o programa que se pretendia implementar, estas referências tiveram que ser
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integrando esta intervenção de uma forma informal, servindo como guia. Deste modo, e
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espaciais e de distribuição. Este estudo pareceu-nos essencial para o desenvolvimento de soluções projectuais. Das referências estudadas, como sendo o respeito pela obra defendido por Brandi e a visão de Giovannoni que defendia que a arquitectura não se circunscrevia enquanto uma
om )
intervenção de carácter individual, são aspectos que se mostraram importantes na definição
er. c
de um processo metodológico, sem esquecer que, cada caso é um caso, devendo esta premissa ser validada através da identificação do valor do objecto, bem como a sua
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recuperação enquanto dimensão artística e de memoria a preservar. Estes foram aspectos vincados principalmente na obra de Santa Maria do Bouro, por Eduardo Souto Moura,
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sendo fundamental para o processo final, pois, intervir neste caso, só faria sentido
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reconstruindo naquilo que ele pode ser, e não naquilo que tinha sido, auferindo-lhe uma nova visão contemporânea e polivalente, capaz de se adaptar às necessidades de hoje, sem
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aniquilar a sua imagem histórica.
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Ao nível da reconfiguração espacial e da resolução dos problemas construtivos e de
sit
distribuição, a proposta assenta na ideia de localizar claramente as particulares
Vi
arquitectónicas intrínsecas à tipologia do edifício e aos seus sistemas estruturais e
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construtivos, procurando compreender e incentivar as suas aptidões e qualidades que já se encontram presentes, nomeadamente na área da igreja, bem como na área sul, gerando logo à primeira vista uma apetecível intervenção, mais do que obrigar o edifício a sérios, impetuosos e anti-económicos malabarismos arquitectónicos que se poderiam executar, correndo o risco de desvirtuar a sua imagem enquanto ruína, que se transforma em documento a preservar e divulgar.
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[Escreva uma citação do
Fig. 28- Esquema da evolução morfotipologica com proposta elaborada
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PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
articulação e programa p Em primeiro lugar, surge a indigência de reactivação e melhoria da ligação existente, sendo encarada esta intervenção como um princípio decisivo para a (re)aproximação da povoação da aldeia ao mosteiro, em cerca de 50% do seu percurso
desenvolvida em cerda de 250 metros sobrelevada
(fig.29)
om )
original, sendo endo que o restante se efectuará por uma intervenção contemporânea, , que se apresentará “abraçada” à
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encosta, ncosta, tendo como principio o facto de, em todos os pontos, possibilitar-se possibilitar relações
litm erg
visuais tanto com o edifício edifíc de chegada e aproximação com o mosteiro, finalizado os derradeiros metros a par do ribeiro, até junto do mesmo,, permitindo assim um
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aligeiramento de cota,, e uma superior qualidade de acessibilidade, comparativamente ao
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percurso original.
Fig. 29- Esquiços squiços do acesso pedonal pedo e do abrigo de união ão entre o percurso original e o início iní da intervenção
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pedonais, mas também como elemento de pausa e de relações visuais entre ambas as intervenções. intervenções
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contemporânea, em madeira. O abrigo serve não só como elemento de união e rotação entre ambos os percursos
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Fig. 30- Desenhos finais da proposta de intervenção do percurso pedonal e abrigo.
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Deste modo, a hierarquização do programa é feita pela sua distribuição dos equipamentos de apoio, que serão implementados em ambas as cotas. No edifico de recepção
(fig.32)
e na sua envolvente, encontra-se um programa de
características mais abrangentes e sazonais relativamente ao edifício em estudo, como por
om )
exemplo um albergue, uma cafetaria, e um centro de recepção ao visitante do centro interpretativo das ruínas do Mosteiro de Santa Maria de Júnias. Sendo também de referir
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que será junto a esta primeira circunstância da proposta, designada em projecto como
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“momento 1” (fig. 31), que se efectuará o estancamento automóvel numa zona destinada a
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esse efeito - parqueamento.
barra levemente elevado relativamente ao solo, parecendo levitar, que por fruto do desnivelamento de cota na sua face
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posterior, coloca-se como promontório sobre a encosta.
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Fig. 31- Esquiço da intervenção “momento 1”, edifício sinalizador de início do percurso e direcção da ruína, em forma de
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Fig. 32- Desenhos finais da proposta de intervenção do “momento1”
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Fig. 33 – Fotografias da maqueta de trabalho – “momento 1”
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Recuperar toda a igreja, capela-mor e sacristia, esta já num elevado estado de deterioração
(fig.34)
, vem reforçar e reactivar em parte a sua função tendo em conta o seu
carácter original. As ruínas da área monástica, com o objectivo de divulgação e consequente manutenção cultural, converter-se-ão num documento a preservar
(fig. 38)
,
através de uma exploração arqueológica, que permita recolocar à vista, pavimentos, linhas
om )
de águas e outros elementos que se encontrem ocultos por uma massa térrea que se foi
er. c
acumulando por toda a ruína, sendo estabelecido um percurso museológico pelas ruínas,
litm erg
cerca de 0.50 cm acima da cota de ruína, constituído por grelhas metálicas vazadas
Fig. 34 – Esquiço da intervenção de recuperação da igreja, nova organização espacial, novos mobiliários em granito e aço e nova pavimentação em placas de granito. Na intervenção, a relação da fachada principal da igreja com a encosta,
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mantêm-se.
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passíveis de serem removidas, para que o visitante o possa vivenciar de uma forma natural.
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Fig. 35- Esquiço da intervenção junto da ruína, que surge como apoio ao percurso museológico. Esta construção surge encastrada na ruína, com dois pisos e constitui-se como o ponto principal de observação e interpretação da ruína situado
fsp
no piso elevado, albergando no nível inferior o principal ponto de abrigo e recepção ao ar livre do visitante.
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A sul, desenvolver-se-á o equipamento anexo ao espaço museológico, estabelecendo um “segundo claustro” (momento 2) (fig.31), que se pretende definido entre o edifício que se vira e eleva para a encosta, permitindo assim maior permeabilização para a
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paisagem natural que o envolve e não travando a relação entre vale e ribeiro e ao mesmo
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tempo uma continuada abertura a sul.
prevalecem, e também numa tentativa de marcação de continuidade do conjunto para o visitante que surge na entrada original da ruína.
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com vértice da empena da aba direita da ruína, permitindo assim relação visual directa com os arcos do claustro que ainda
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Fig. 36- Esquiços da intervenção junto à ruína. Relação do edifico de expansão a sul que surge ligeiramente desalinhado,
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
O programa será constituído por um espaço de estar, uma zona expositiva permanente, um área documental onde se poderá encontrar toda a informação sobre o Mosteiro de Santa Maria de Júnias, uma área documental relativa à Ordem de Cister e sua implementação no território nacional, um auditório e um espaço polivalente, passível de receber outras actividades que se realizam sazonalmente em áreas próximas, como apoio a
om )
provas de BTT – Bicicletas Todo-Terreno, apoio à caminhada, orientação, bem como a
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celebrações religiosas que se possam realizar ao ar livre.
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Fig. 37- Desenhos finais da proposta de intervenção do “momento2”
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Fig. 38- Desenhos finais da proposta de intervenção do “momento1” – cortes e perfis
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Fig. 39 – Fotografias da maqueta de trabalho – “momento 2”
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3.3– Soluções aplicadas
reversibilidade/revitalização construtiva
om )
Como vimos anteriormente, o primeiro passo metodológico a tomar neste tipo de
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intervenções é o conhecimento aprofundado da preexistência, de tal forma que o
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diagnostico a efectuar, assume-se, por isso, fundamental para uma avaliação do estado de saúde do edifício. Este diagnóstico, consiste em “operações cognoscitivas que permitem avaliar o estado de conservação de um imóvel, nos seus elementos constitutivos e
fsp
identificar as causas dos fenómenos de degradação, observáveis nas características físico-
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dimensionais e estático-construtivas, constituindo assim, o ponto de partida fundamental para qualquer intervenção de recuperação, garantindo a real operatividade, exactidão e
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eficácia.” (Gelsomino, 1984:17)
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O diagnóstico tem como objectivo identificar, se as houver, anomalias existentes,
sit
mas tão ou mais importante, identificar as causas que provocaram as anomalias, para evitar
Vi
a repatologia. Agir nestas causas e efeitos significa intervir localmente, nos sítios
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afectados, sem perder de vista a lógica de funcionamento global das directamente relacionadas com outros sectores, porém, tem também como objectivo elaborar um levantamento geral de todo o edifício, capaz de se perceber o seu nível de capacidade construtiva. Após a identificação das anomalias e o estudo das principais técnicas de resolução desses problemas, pretende-se agora aplicar esses resultados concretamente ao caso de estudo, tendo em conta que a sua aplicação será condicionada pelo contexto específico
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preexistente (cada caso é um caso). Aquilo que se propõe na parte final do trabalho
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
consiste na resolução dos problemas relacionados com esses sintomas, assim como na resolução dos problemas construtivos, resultantes dos objectivos de modificação, previstos pelo projecto. Desta forma, acordou-se que a abordagem operativa, para o caso em estudo, seria
om )
mais eficaz quando pensada de forma a englobar todos os aspectos da construção da
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preexistência, em vez de tratar cada sector como um somatório de intervenções. Como princípio, a execução deveria ter em conta o ecossistema construtivo do edifício, sem que
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lhe fosse estabelecido como somatório uma nova intervenção, mas sim estabelecer uma estratégia capaz de absorver uma nova estrutura, capaz de auferir capacidade de (fig. 39)
construtiva, mantendo presente, passado e futuro do
fsp
reversibilidade e revitalização
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edifício, em detrimento de uma estratégia construtiva e programática finalizadora do ciclo de vida do edifício.
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Deste modo, a divisão em partes, que apontamos na discrição da estratégia
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construtiva, existe apenas de forma a estabelecer mais uma leitura integral do edifício,
sit
sendo também uma opção tomada de acordo com o objectivo final da estratégia
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implementada para a intervenção, de tal forma que, apesar de considerarmos que os
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resultados da reabilitação se condiciona pela preexistência, podendo por essa razão, dar-se um sacrifício do novo programa, considerou-se como propósito que esses resultados se aproximassem desse limite, estabelecendo-se um compromisso de parte a parte entre o
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passado construtivo e as intenções do novo projecto.
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
Fig. 40 – Desenhos finais – pormenores construtivos. Ressalva-se a cofragem visível nas figuras, promotoras de fragmentação entre passado e presente construtivo do edifício
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3.4– Considerações finais conclusão O principal foco patente nesta dissertação, centra-se pela imutável interiorização do papel do arquitecto, enquanto intermediário entre duas realidades: a histórica, caracterizada
om )
pelo tempo – através das marcas deixadas nos edifícios, e as exigências sociais
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contemporâneas (implícitas através da necessidade de novos padrões de conforto utilização
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e vivência). Assim sendo, o percurso efectuado evidência o forte relacionamento que acolhe o processo arquitectónico enquanto disciplina, também de índole social. Neste
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contexto, desde o inicio, através da contextualização histórica do tema e respectiva
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construção de estratégias, percebemos a génese conflituosa desta relação. Torna-se importante perceber que, reutilizar uma ruína, que de uma forma por vezes romântica admiramos pela marca histórica arquitectada pelo tempo, traduz, até certa
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extensão, apagar a mesma memória do passado que paradoxalmente ambicionamos manter,
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sendo que recuperando, mantêm-se o valor do estatuto, ou avoluma-se a novidade às custas
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do valor da antiguidade. Consequentemente, geram-se dúvidas, abrindo um longo caminho
o(
na exploração de novos domínios, desde a simples preservação, ao restauro ou reabilitação,
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sendo que ainda hoje continuamos num processo evolutivo, cada vez mais célere, tanto de adaptação constante às novas exigências, como também e ainda, na procura da melhor forma de intervir no passado. Assumiu-se, posto isto, uma intenção de centralizar os procedimentos da operação num capítulo, afecto exclusivamente ao desenvolvimento arquitectónico, dedicando as restantes camadas de interferência social, do respectivo confronto, a outro capítulo. Esta
na sua vertente mais pura, facto este que surgiu no sentido oposto, o de união e constante
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debate para uma melhor interiorização dos temas abordados.
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decisão surge durante o trabalho, sobretudo, pelo forte intenção de focalizar a arquitectura
O mosteiro de Santa Maria de Júnias
PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
A análise de casos de estudo e de teorias permitiram, em parte, uma aproximação independente, mantendo-se sempre em pano de fundo a relação entre arquitectura e factos históricos. Foram abordadas diversas atitudes e condições que permitem à arquitectura complementar o existente, pensamentos e atitudes que vão desde a analogia e reinterpretação às formas, ou simplesmente completar um sistema, quer seja pela
om )
reinterpretação ou pela ruptura arquitectónica. No entanto, nenhuma delas, pode ser
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considerada, genericamente, mais correcta que as outras, pois cada caso é um caso, e aqui
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neste trabalho pela identidade histórica inerente, ainda faz sentido que assim seja. Desta forma, a arquitectura surge confrontada por uma realidade complexa de situações, formais
fsp
e funcionais, por vezes, de difícil decisão, que se agravam mais com o peso de património.
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Portanto, torna-se essencial saber interpretar a história, e faze-lo de forma a ultrapassar qualquer ambiguidade em que a sua cópia ou negação poderá resultar. Ficamos a perceber de que forma o conhecimento do passado é um instrumento vital: primeiro para
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se saber como actuar adequadamente e, segundo, para desenvolver um entendimento
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crítico, inquisitivo e necessário na credibilização da arquitectura contemporânea.
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Esta última condição é especialmente visível: na estratégia elaborada pela encosta e
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consequente cota sobre elevada ao objecto central do trabalho, enquadrada numa análise contextual mais ampla, onde outros factores (económicos, sociais e divulgação e estímulo turístico) entram de forma mais completa, factor este onde a interpretação histórica e as exigências sócias contemporâneas se misturam, pretendendo-se, acima de tudo, preservar a autenticidade do espaço; constitui-se ainda intenção constante encontrar as ferramentas ideais para proceder à sua reutilização enquanto documento a preservar. Como tal, um conceito veio ao longo do trabalho, cada vez mais a apoderar-se da estratégia tanto
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conceptual como construtiva - o conceito de reversibilidade.
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Numa primeira análise, mais uma vez, geraram-se dúvidas, pareceu-nos que uma operação não deveria ser executada com a percepção que iria ser errada, e portanto substituída. Nesse momento, era o que este conceito nos parecia significar. Porém, a pesquisa sobre as técnicas de reabilitação correntemente utilizadas, assim como a reflexão da análise histórica do objecto alvo de intervenção, dava-nos a ideia que a capacidade de
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mutação de adaptabilidade que teve ao longo da sua história seria um factor a preservar.
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Portanto, é na preocupação do pormenor de junção entre duas existências (preexistência e
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nova existência), que mora o conceito de reversibilidade que se apoderou desta estratégia, ou seja, a possibilidade de, a curto ou longo prazo, se poder rever a solução prevista na
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intervenção, em serviços de conservação ou uma outro manobra de regeneração.
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Em consequência, a proposta final eleita deu-se sob a tutela do método analítico e propositivo, e da pesquisa teórica que contribuiu para a solidificação do projecto. É o resultado da trasladação das variáveis abordadas, do local à figura construída, passando
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pelos propósitos e intenções do mentor relativamente ao programa a estabelecer. Assim, a
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arquitectura contemporânea define, cada vez melhor, o seu lugar na apropriação do
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ambiente histórico, quer seja através de intervenções singulares ou excepcionais, quer seja
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na revitalização constante desses espaços. O que antes suscitava alguma dúvida, pela sua
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ambiguidade formal, mostra-se hoje uma oportunidade de potencializar.
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Citando Álvaro Siza,
“Sempre que recuperei um edifício, no final tenho certa sensação de insatisfação porque sei que algo se perdeu com a intervenção. De imediato um edifício recuperado tem algo decepcionante, carece do que só o tempo pode fazer e que nós, apesar de toda a tecnologia ao nosso alcance, não conseguimos. Há um certo desencanto na recuperação de um edifício porque ao recuperar há sempre, quer queiramos quer não, algo que se perde, que
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desaparece.”
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