Homilia na solenidade de Nossa Senhora Auxiliadora Abertura do Ano Mariano Missionário Catedral, 24 de maio de 2014 O Senhor nos dá a graça e a alegria de testemunhar mais uma vez, de forma coral, a nossa devoção a Maria, venerada como Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira da cidade de Goiânia e de toda esta Arquidiocese. Na ordem da expressão da fé católica, Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Deus e nossa, é colo e refúgio de todos, mesmo dos afastados e dos não crentes. Todos encontram nela auxílio e proteção. Esses nossos sentimentos encontram confirmação e estímulo na meditação das leituras bíblicas hoje proclamadas: Na primeira leitura, São João nos fala da Igreja celeste com a imagem de uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.
Na
mulher vestida de sol, nós cristãos lemos o símbolo da Igreja vitoriosa sobre o mal, e o símbolo de Maria que doa Jesus ao mundo, vencedor da morte.
“Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher que gritava nas dores do parto...” (Ap 12,12). Essa leitura é uma representação dramática da história humana para dizer-nos que a vida não é brincadeira, e sim algo extremamente sério. Esta mulher é a imagem de todos aqueles que amam a vida, que sofrem pela vida, que defendem a vida, que creem na vida porque creem em Deus. De fato só a fé em Deus poderá restituir valor e dignidade à vida. Mas esta mulher é ameaçada: “Apareceu no céu outro sinal: e eis um grande dragão cor de fogo, que se colocou diante da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse” (Ap 12,3-4).
Quanta gente quer matar a vida. Aqueles que atentam contra a dignidade da vida, a querem extinguir com a vulgaridade, a pedofilia, a pornografia, a prostituição, o tráfico humano, a violência, o narcotráfico e outros males. O jornalista e escritor Hélio Rocha escrevia ontem, em O Popular: “Assustam-nos as estatísticas que mostram o Brasil disputando um dos primeiros lugares no inglório campeonato mundial de homicídios. E nos envergonha a confrontação de indicadores sociais, mesmo apanhado ao acaso, de algumas sociedades desenvolvidas, com baixíssimo grau de criminalidade, com países como o Brasil, onde se manifesta escalada perturbadora do crime”.
Qual será o êxito desta luta? A fé nos diz que vencerá a vida, vencerá a bondade e a justiça, porque o próprio Deus está empenhado nessa luta. “Cristo veio para nos salvar e nos libertar, e tudo aquilo que humilha e denigre a imagem humana é contra o desígnio do criador”, diz do texto da CF 2014. Um sinal e uma primícia dessa vitória se chama Maria de Nazaré. Volvamos nosso olhar para Ela, porque através de sua vida se iluminam também a nossa vida e a vida da Igreja.
Ouvimos a proclamação do Evangelho das bodas de Caná. João, que relata o fato, chama esse milagre de “sinal”. Ou seja, nos convida a não nos fixarmos tanto no prodígio, mas no sentido daquilo que Cristo faz. Em Cana da Galileia, Jesus se apresenta sensível aos pedidos de Maria, a Mãe. Mas também Maria pronuncia aquelas famosas palavras: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5).
A nossa Arquidiocese começa hoje seu Ano Mariano missionário. O nosso objetivo é aprender outra vez a viver e a anunciar o Evangelho. Num mundo cada vez mais plural, são muitas as novas fronteiras da Missão, que desafiam nossos modelos tradicionais de ação
pastoral. É preciso investir mais no anúncio aos que já ouviram falar de Jesus e não o acharam relevante? É preciso investir sempre tudo para todos. Para os que ouviram e para os que não ouviram. Se os que ouviram não o acharam relevante, é porque não ouviram. Ou talvez porque nós não soubemos transmitir. Os judeus piedosos ainda hoje dizem: “Se amanhã os nossos filhos não seguirem a nossa religião, a culpa não é deles; a culpa é nossa, porque não soubemos transmitir-lhes toda a beleza do judaísmo”. O mesmo pode-se dizer do cristianismo. O mal não está sempre nos outros. Também está em nós. É, portanto, necessário amar este mundo e as pessoas e anunciar-lhes ou testemunhar-lhes Cristo, que não é uma ideia ou uma causa morta, mas uma pessoa viva no meio de nós.
É imperioso e absolutamente urgente que a Igreja em nossa Arquidiocese se empenhe, no seu todo, numa vastíssima campanha de verdadeira formação de evangelizadores, para que se possa, de forma sistemática, levar o Evangelho a todas as camadas da nossa população (crianças, jovens, adultos e idosos). Não podemos mais ficar tranquilamente dentro das igrejas, sacristias e salões paroquiais, à espera que as pessoas venham ter conosco. Somos nós que devemos ir ao encontro das pessoas, como ensina o papa Francisco. E o paradigma é o anúncio ad gentes, e não uma pastoral de manutenção.
A missão é um compromisso que abarca a existência toda, sem adiamentos, sem pactos, como exige o Messias, o Filho de Deus, que pela sua Palavra a tempestade se acalma, as redes se enchem de peixes, os doentes são curados, os pobres são evangelizados, expulsos os demônios, reconciliada a humanidade e regenerada a vida. O anúncio leva-nos a dizer claramente que Cristo é a nossa riqueza
fundamental.
A vida cristã exige a plena submissão à vontade do Pai, que nos pode levar, como foi o caso de Pedro, para onde não queremos ir (cf. Jo 21,18). Mas Ele vai sempre à frente, levando amorosamente a mesma cruz que põe sobre os nossos ombros e que ele torna mais leve. Pois Ele diz: “O meu peso é leve e o meu jugo é suave” (Mt 11,30). A vida que corresponde a essas exigências, a vida no nome desse amor, abre diante de nós, ao mesmo tempo, a perspectiva da alegria divina. “Digo-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e o vosso gozo seja completo” (Jo 5,11). É a verdadeira alegria pascal.
Caríssimos irmãos e irmãs, que posso eu hoje desejar, senão que escutemos sempre as palavras de Nossa Senhora, Mãe de Cristo e nossa mãe? “Fazei o que Ele vos disser!” A Ela nos confiemos e toda a nossa Igreja: nossas crianças, nossa juventude, nossas famílias, nossos enfermos, os desempregados, os desassistidos e todos quantos precisam de sua maternal intercessão. Grande, pois, é a nossa confiança em seu auxílio, e dela a nossa Igreja quer aprender incessantemente a docilidade ao Espírito Santo.