Especial do Papa

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Especial – 5 a 11 de março de 2013

É preciso registrar, é preciso meditar, é preciso partilhar. E O SÃO PAULO vem fazendo. O momento importante na vida da Igreja, que se iniciou com o anúncio da renúncia ao pontificado feito por Bento 16, e que só se concluirá com a eleição de um novo sucessor de Pedro, precisa ser registrado, refletido e partilhado com todos os que, pelo Batismo, se fizeram filhos de Deus, membros da Igreja, discípulos de Jesus. Por todos os que professam com orgulho ser católicos, apostólicos, romanos. No dia 28 de fevereiro, como havia anunciado, Bento 16 recolheu-se no silêncio, à

oração e à reflexão. Ele deixa, porém, um rastro de luz, um legado inestimável à Igreja que ele ama e continuará amando apaixonadamente até o final de sua vida. É preciso que este legado não seja esquecido, antes, seja conhecido, entendido e vivido. Nós quisemos que os leitores do O SÃO PAULO participassem desse processo. Corremos atrás. Fizemos pesquisas, entrevistas, depoimentos, tudo sob a ótica da fé, considerando sempre que a Igreja é uma instituição divina, feita, porém, de homens e mulheres falhos, limitados. “Somos povo santo e pecador!”, proclamamos na Oração Eucarística número 5. Uma convicção, porém, parece, nes-

te momento, crescer sempre mais dentro de nós: Bento 16, ao insistir conosco que a fé é uma experiência viva e pessoal com Jesus Cristo, deu sua colaboração e a continuará dando, para que a Igreja seja sempre mais povo santo e sempre menos povo pecador. Que Deus abençoe o papa Bento 16! Aprendemos a amá-lo, como aprenderemos a amar o novo sucessor de Pedro que está para chegar. Queremos que nossos leitores acolham esta edição com carinho, leiam com atenção e partilhem um pouco da riqueza que o Papa emérito nos deixa. E ergamos por ele uma prece de profunda gratidão. Deus lhe pague, Bento 16!

L"Osservatore Romano

PONTIFICADO DE BENTO 16


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O SÃO PAULO 5 a 11 de março de 2013

PONTIFICADO DE BENTO 16

Joseph Ratzinger, o teólogo, colo Reprodução

NAYÁ FERNANDES ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Um dos aspectos marcantes do pontificado do papa Bento 16 foi sua produção teológica. Respeitado no mundo inteiro, mostrou-se um autor fecundo que refletiu sobre os temas centrais da fé cristã. “De professor a peregrino, o percurso deste Papa se identifica com a sua Bavária (Alemanha), e o amor às artes e à fé católica. Nasceu na terra do barroco e de Amadeus Mozart”, afirmou Fernando Altemeyer Júnior, assistente doutor da PUC-SP e membro do Departamento de Ciências da Religião (da Faculdade de Ciências Sociais). “Teólogo eminente que dialoga Agostinho e Boaventura, crê como São Bento que a humanidade é capaz de viver a tensão entre o otimismo e o pessimismo. É homem discreto, de voz clara e transparente, sempre suave. Manteve uma relação criativa e tensa com a mídia, com conta pessoal no twitter. Apostou nesta presença nova dos padres, bispos, leigos e da própria Igreja no mundo virtual da internet como um novo ambiente de evangelização”, avaliou Altemeyer, acrescentando que o Papa insistiu no aprofundamento da fé, de forma inteligente e lúcida, sem gritos ou temor, questionou o reducionismo e preocupou-se com a traição que a Europa possa realizar ao negar as raízes cristãs. Para o teólogo, “as 24 viagens internacionais do Papa foram marcadas pela simplicidade de gestos e pela paternidade, quer abraçando jovens na Fazenda Esperança [em Guaratinguetá (SP), que ele visitou por ocasião de sua vinda ao Brasil em 2007], quer encontrando prisioneiros de guerra sobreviventes do campo de concentração em Auschwitz, Polônia, em 2006, quer na prece com islâmicos em Istambul ou celebrando com milhões de jovens nas edições da Jornada Mundial da Juventude em Colônia [Alemanha] e Madri [Espanha]”. A teologia de Joseph Rat-

zinger, entretanto, compreende suas publicações também antes do papado. “Informe sobre a Fé”, livro-entrevista publicado em 1985 e “Na escola da verdade”, publicado em 1997, por ocasião do seu septuagésimo aniversário, nos quais aparecem ilustrados vários aspectos da sua personalidade e da sua obra, demonstram a amplitude e diversidade do conjunto de seus textos. Os teólogos Matthias Grenzer, professor na área bíblica e coordenador do Programa de Estudos Pós-Graduados em Teologia da PUC-SP, e Maria Clara Bingemer, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, analisaram ao O SÃO PAULO, a herança teológica de Bento 16. “Este Papa teólogo deixa como legado a importância de conhecer bem a doutrina, a tradição e o discurso que estruturam e expressam a fé vivida e feita ação na história da humanidade”, afirmou Maria Clara. Já para Mathias, “sem insistir em sua autoridade como representante do magistério, Bento 16 enfrentou, de forma corajosa, a árdua tarefa de buscar um conhecimento mais autêntico de Jesus de Nazaré”. De 2005 a 2013, o agora papa emérito Bento 16 escreveu e dirigiu à Igreja dezenas de cartas e constituições apostólicas, 25 orações especiais, quatro exortações apostólicas, 19 Motu Proprio, três encíclicas e seus três livros pessoais versaram sobre a vida e a missão de Jesus de Nazaré. Dom Pedro Casaldáliga, teólogo e bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT), escreveu, por ocasião da renúncia do Papa, um poema cujos versos recontam os atos e ditos de Jesus, tão acentuados na teologia de Bento 16. “Diga-lhes, diga-nos a todos/que segue em vigor inabalável/a gruta de Belém/as bem-aventuranças/e o julgamento do amor em alimento./Dá-nos, com seus sorrisos, suas novas lágrimas/o peixe da alegria/o pão da Palavra/as rosas das brasas/a clareza do horizonte livre/o mar da Galileia/ecumenicamente, aberto para o mundo”.

“A Palavra não se exprime em conceitos ou regras; mas diante da única e singular, é a Palavra definitiva que Deus diz à humanida

A biografia de um pap

“A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”. (Fides et Ratio, encíclica de João Paulo 2º)

• Joseph Ratzinger, papa Bento 16, nasceu em Marktl am Inn, Diocese de Passau (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927 (era Sábado Santo), e foi batizado no mesmo dia. • O pai era comissário de polícia, homem de vida simples, provindo de uma antiga família de agricultores da Baviera (estado localizado na região sudeste da Alemanha). • Sua mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago de Chiem, e antes de se casar, trabalhava como cozinheira em vários hotéis. • Joseph passou a infância e a adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da fronteira com a Áustria. Foi neste ambiente, por ele próprio, definido “mozarteano” (porque alí nasceu Mozart), que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural. • Durante a juventude, enfrentou a dura experiência do tempo em que o regime nazista mantinha um clima de grande hostilidade contra a Igreja Católica. O jovem Joseph viu os nazistas açoitarem o pároco antes da celebração da Santa Missa. • Nos últimos meses da 2ª Guerra Mundial, foi arrolado nos serviços auxiliares antiaéreos (1939-1945). • Joseph recebeu a ordenação sa-

cerdotal em 29 de junho de 1951. Um ano depois, começou sua atividade como professor na Escola Superior de Freising. • Em 1953, doutorou-se em te-

ologia com a tese “Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho”. • De 1962 a 1965, participou do Concílio Vaticano 2º como perito;

“Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor nas nossas catedrais e nas igrej


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ca Jesus no centro de sua reflexão Bento 16 e seu legado teológico Arquivo pessoal

Talvez uma das características mais marcantes de Bento 16 em seu pontificado foi ter mostrado à Igreja e ao mundo um rosto de papa que não deixou de ser teólogo. Isso aparece em seus discursos, catequeses, exortações e, sobretudo, nos textos escritos que deixou durante os oito anos em que ocupou a Sé de Pedro. Sua primeira encíclica, “Deus é amor” (Deus caritas est) já chamou favoravelmente a atenção. Para quem esperava uma encíclica disciplinar ou um texto que aprofundasse o conteúdo de algum dogma, a primeira encíclica do papa Bento 16 surpreendeu. Devo dizer que a mim, como católica e como teóloga católica, surpreendeu agradavelmente. Trata-se de um texto bem escrito e profundo, que deixou patente, já de início, o grande teólogo que continuava sendo Joseph Ratzinger, mesmo como papa. O Pastor Supremo que se dirigia à Igreja Universal era então suportado em sua reflexão e discurso, de maneira consistente e feliz, pelo sólido teólogo que sempre foi o Papa que acaba de deixar vacante a Sé de Pedro.

Isso se confirmou nos textos seguintes, em que o professor de teologia se preocupou em embasar todas as suas afirmações com a teologia que era a sua, feita de conhecimento sólido da doutrina, juntamente com um sopro de espiritualidade inegável. Neste ponto, a influência do teólogo [Von]

Balthasar, um dos seus preferidos, deixava-se perceber com força. Assim foi com seus escritos pontifícios e também com seus livros sobre Jesus Cristo, a trilogia que compôs e publicou nos últimos anos. Desta, tive a oportunidade de ler mais a fundo o último livro que a compõe, aquele sobre a infância de Jesus, lançado no dia 20 de novembro de 2012. Tive a honra de participar de sua apresentação em Roma. Trata-se de um texto de rara beleza e de grande profundidade, que une magnificamente o rigor intelectual e a incontestável erudição a um estilo refinado e cheio de espiritualidade. Assim, esse Papa teólogo, agora emérito, deixa como legado a importância de conhecer bem a doutrina, a tradição e o discurso que estruturam e expressam a fé vivida e feita ação na história da humanidade. Oxalá seu legado possa inspirar e estimular o nascimento de novas vocações teológicas neste novo milênio. Maria Clara Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio.

Bento 16 e Jesus de Nazaré Arquivo pessoal

pessoa de Jesus. A sua história, ade”. (Verbum Domini, nº 11).

Como leigos e leigas católicos, sentimos, hoje em dia, a necessidade de que os nossos irmãos, membros da hierarquia da Igreja e teologicamente formados, tenham muita disposição para nos ajudar na busca de um conhecimento autêntico de Jesus de Nazaré. Vislumbramos, pois, embora de um modo vago e, às vezes, marcado por interesses próprios, que Jesus de Nazaré, por seu ensino, sua atuação prática e pelo destino sofrido por ele, tenha dado o impulso mais significativo em vista da salvação da humanidade. Contudo, ao buscarmos nossa sobrevivência neste mundo moderno e tão exigente, sabemos também da dificuldade de aceitarmos uma proposta que insiste na “cruz”, como melhor instrumento para defender a justiça, e na confiança exclusiva no “Reino de Deus”, como meta mais eficaz para inverter do destino de quem sofre. Enfim, como membros da sociedade civil, nós, cristãos católicos leigos, somos chamados a colaborarmos, com nosso trabalho e amor, com a construção das famílias, empresas e mais diversas associa-

ções, assim como de sindicatos e partidos políticos. Estamos, sobretudo, conscientes de que não existe alternativa ao diálogo democrático e fraterno. Somente assim, chegaremos a soluções mais duradouras e aceitas pela maioria das pessoas. O papa Bento 16 abriu-se, de forma

especial, a este tipo de diálogo, quando escreveu sua obra "Jesus de Nazaré". Sem insistir em sua autoridade como representante do magistério, enfrentou, de forma corajosa, a árdua tarefa de buscar um conhecimento mais autêntico de Jesus de Nazaré. Leu estudos existentes. Adotou a postura de quem procura pela verdade. Descreveu as linhas mestras e os pormenores que os Evangelhos destacam em relação a Jesus de Nazaré e colocou os resultados de suas pesquisas em debate, a fim de que se tornassem conhecidos, aceitos e/ou criticados. Dessa forma, o papa Bento 16 tornou-se um irmão importante para os leigos e as leigas, os quais, junto a ele, se propõem a buscar um conhecimento autêntico de Jesus de Nazaré, uma vez que procuram neste último pela salvação do mundo habitado por nós. Matthias Grenzer, teólogo, professor na área bíblica da PUC-SP e coordenador do Programa de Estudos PósGraduados em Teologia da PUC-SP. Além disso, é mestrando no Programa de Estudos PósGraduados em História Social na mesma faculdade.

a que marca a história sendo conduzido ao Concílio como consultor teológico do Cardeal Joseph Frings, arcebispo de Colônia. • Em 25 de março de 1977, o papa Paulo 6º nomeou-o arcebispo de

Munique e Freising. Em 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal e escolheu como lema episcopal: “Colaborador da verdade”, porque costumava afirmar a importância da verdade Fotos: Arquivo pessoal

jas do mundo inteiro, nas nossas casas e no meio das nossas famílias”. (Porta Fidei, nº 8)

e de tê-la como fundamento, dizendo: “tudo se desmorona se falta a verdade”. • Paulo 6º nomeou-o cardeal no Consistório de 27 de junho de 1977 e, em 1978, Ratzinger participou no Conclave, celebrado de 25 a 26 de agosto, que elegeu o papa João Paulo 1º; este nomeou-o seu enviado especial ao 3º Congresso Mariológico Internacional, que aconteceu em Guayaquil (Equador) de 16 a 24 de setembro. No mês de outubro desse mesmo ano, ele participou também no Conclave que elegeu João Paulo 2º. • João Paulo 2º, por sua vez, nomeou-o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de Novembro de 1981. • Cardeal Joseph Ratzinger foi presidente da comissão encarregada da preparação do Catecismo da Igreja Católica, a qual, após seis anos de trabalho (1986-1992), apresentou ao Santo Padre o novo catecismo. • Desde 13 de novembro de 2000, Ratzinger era membro honorário da Academia Pontifícia das Ciências. • O cardeal Joseph Ratzinger foi eleito papa em 19 de abril de 2005, aos 78 anos de idade.

“A liberdade pressupõe que, nas decisões fundamentais, cada homem, cada geração, seja um novo início”. (Spe Salvi, nº 24)


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Cronologia do pontificado (2005-2013) Discursos, men 2005 ABRIL

Fotos: L'Osservatore Romano

evocou o risco de um “choque de civilizações” e frisou que nenhuma circunstância pode justificar os atos terroristas. 11 Três dezenas de crianças, sobreviventes do massacre de Beslan, na Ossétia do Norte, encontram-se com Bento 16 no Vaticano. 12 Bento 16 profere um discurso de apoio à família e à“vida nascente”, pedindo aos governantes que implementem políticas de apoio às mesmas. 16 O rabino-chefe de Roma, Riccardo Di Segni, é recebido pelo Papa no Vaticano. 25 - Bento 16 publica a sua primeira encíclica, Deus caritas est (Deus é amor).

MARÇO

19 O cardeal Joseph Ratzinger é eleito como o novo papa da Igreja Católica, assumindo o nome de Bento 16. “Depois do grande papa João Paulo 2º, os senhores cardeais elegeram-me a mim, um simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor”, foram as suas primeiras palavras como papa. 20 Primeira mensagem do novo papa. Bento 16 concelebra uma missa solene com os cardeais que o elegeram, em latim, na Capela Sistina, tendo afirmado “com força” a sua vontade de “prosseguir a obra do Concílio Vaticano 2º” e de João Paulo 2º. 24 Missa de início do pontificado. 27 Primeira audiência geral. Bento 16 sublinha raízes cristãs da Europa e explica a escolha do seu nome: “Bento evoca a extraordinária figura de São Bento, um ponto de referência para a unidade da Europa e as irrenunciáveis raízes cristãs da sua cultura e civilização”.

01 Uma mensagem de Bento 16 contra o racismo é lida no estádio Artemio Franchi, em Florença (Itália), antes do jogo particular de futebol Itália - Alemanha. 13 Bento 16 recebe, no Vaticano, o presidente egípcio Hosni Mubarak. 23 Em encontro com o Colégio Cardinalício, Bento 16 confirma a sua preocupação pela reconciliação com os seguidores de monsenhor Lefèbvre, da Fraternidade São Pio 10º. 24 Consistório público para a criação de 15 novos cardeais: oito europeus, três asiáticos, dois norte-americanos, um africano e um sul-americano.

ABRIL

09 Celebração da Jornada Mundial da Juventude, na praça de São Pedro. Início da primeira Semana Santa de Bento 16 como Papa.

MAIO

01 Visita ao Santuário Amor Divino, nos arredores de Roma. 05 Audiência concedida a Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.

MAIO

12 Pela primeira vez no seu pontificado, o Papa concede uma audiência a todo o corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé, num total de 174 representações. 13 Na memória litúrgica de Nossa Senhora de Fátima, Bento 16 anuncia o início imediato do processo de canonização de João Paulo 2º, 42 dias depois da morte do seu predecessor. 29 Primeira viagem do pontificado: Visita Pastoral a Bari para a conclusão do 24º Congresso Eucarístico Nacional italiano.

JUNHO

01 O Papa anuncia a decisão de confiar à editora do Vaticano (Libreria Editrice Vaticana) a tutela de todos os direitos de autor e os direitos exclusivos de utilização econômica dos seus escritos.

JULHO

03 Após a recitação do Ângelus, Bento 16 pede aos países do G8 que adotem medidas concretas para“erradicar a pobreza e ajudar a um verdadeiro desenvolvimento da África”. 07 Bento 16 condena atentados terroristas que atingiram a cidade de Londres, classificando-os como “atos bárbaros contra a humanidade”.

AGOSTO

17 Bento 16 manifesta-se “muito triste” pela morte do Irmão Roger, fundador da comunidade de Taizé, assassinado nessa localidade francesa. 18 a 21 Primeira viagem do Papa fora da Itália. Bento 16 participa da 20ª Jornada Mundial da Juventude, em Colônia (Alemanha).

SETEMBRO

24 Bento 16 recebe o teólogo Hans Küng (Tubingen), conhecido pelas suas posições polêmicas relativamente ao ensinamento da Igreja. Segundo comunicado da Santa Sé, o Papa e Küng encontraram-se “num clima amigável”. 30 Bento 16 visita o Hospital Pediátrico Menino Jesus, propriedade da Santa Sé.

OUTUBRO

15 O Papa reúne-se com cem mil crianças no Vaticano. 16 O canal público polaco, TVP, transmite a primeira entrevista televisiva de Bento 16. 23 Encerramento do Sínodo dos Bispos e do Ano da Eucaristia convocado por João Paulo 2º. Bento 16 canoniza os primeiros santos do seu pontificado: o chileno Alberto Hurtado Cruchaga (1901-1952), os italianos Felice da Nicosia (1715-1787) e Gaetano Catanoso (1879-1963) e ainda os polacos Jozef Bilczewski (1860-1923) e Zygmunt Gorazdowski (1845-1920).

DEZEMBRO

18 Bento 16 efetua a sua primeira visita a uma paróquia, como bispo de Roma. 19 O Papa comenta a onda de violência urbana que varreu a França e pede às sociedades europeias que sejam capazes de desenvolver políticas que integrem todos os cidadãos. 25 Primeiro Natal de Bento 16 como papa. A mensagem de Natal e a bênção Urbi et Orbi foram transmitidas por 111 canais de televisão de 68 países; a Missa do Galo foi transmitida por 122 canais de televisão de 74 países.

2006 JANEIRO

01 39º Dia Mundial da Paz: “Na verdade, a paz”. 09 Em discurso ao corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé, o Papa

25 a 28 Viagem à Polônia, com visita ao campo de concentração de Auschwitz.

JUNHO

03 Encontro com 400 mil membros de movimentos eclesiais e novas comunidades, na Vigília de Pentecostes. 22 Bento 16 nomeia novo secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, que substitui o cardeal Angelo Sodano.

JULHO

8 e 9 Visita Pastoral a Valência (Espanha), para o encerramento do 5º Encontro Mundial das Famílias. 11 Nomeação do padre Federico Lombardi como diretor da sala de imprensa da Santa Sé, substituindo Joaquín Navarro-Valls. 20 Bento 16 convoca jornada de oração pela paz e pede esforços contra tragédia humana no Oriente Médio. 26 O Vaticano participa, como convidado especial, da Cimeira internacional sobre o Líbano, em Roma.

AGOSTO

13 Entrevista do Papa, concedida à Bayerischer Rundfunk (ARD), ZDF, Deutsche Welle e Rádio Vaticano.

SETEMBRO

01 Bento 16 visita o Santuário do Santo Rosto (Itália). 9 a 14 Viagem à Baviera (Alemanha). 17 Bento 16 manifesta-se desolado pelas reações ao seu discurso em Ratisbona (Alemanha). 18 A Santa Sé procede a abertura da totalidade dos arquivos do pontificado do papa Pio 11 (1922-1939). 26 O Vaticano anuncia a excomunhão do arcebispo emérito de Lusaka (Zâmbia), Emanuel Milingo, e dos quatro sacerdotes casados que ordenou bispos.

2007 JANEIRO

01 40º Dia Mundial da Paz: “A pessoa humana, coração da paz”. 11 Bento 16 condena ataques à família na Itália, por causa da equiparação jurídica ao Matrimônio de outras formas de união civil.

FEVEREIRO

22 Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, sobre a Eucaristia como fonte e ápice da vida e da missão da Igreja.

MARÇO

18 Visita ao centro de detenção de menores de Casal del Marmo, em Roma.

ABRIL

4 O cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, é nomeado carmelengo da Santa Igreja Romana. 13 Apresentação do primeiro volume do livro “Jesus de Nazaré”, de Joseph Ratzinger. 21 e 22 Bento 16 faz a primeira viagem de 2007 fora do Vaticano, deslocando-se às cidades de Vigevano e Pavia, no norte da Itália. 27 Ban Ki-Moon anuncia que Bento 16 aceitou o convite que lhe endereçou para visitar a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.

MAIO

9 Início da primeira viagem intercontinental de Bento 16; chegada a São Paulo, hospedando-se no Mosteiro de São Bento, onde tem os primeiros contatos com os fiéis. 10 Bento 16 teve encontro privado com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio dos Bandeirantes, onde colocou o carimbo no selo comemorativo de sua visita a São Paulo. No fim da tarde, dirigiu-se ao Memorial da América Latina para dar sua bênção, e em seguida foi para o estádio do Pacaembu para o encontro com 35 mil jovens convidados de todos os estados do Brasil e da América Latina, onde permaneceu por duas horas. 11 O Papa celebrou uma missa em São Paulo para 1 milhão e 200 mil pessoas no Campo de Marte, quando canonizou Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, primeiro santo nascido no Brasil. 12 Bento 16 visitou Fazenda Esperança (em Guaratinguetá), onde falou para a comunidade de ex-toxicodependentes e alcoólicos, abordando o delicado tema das drogas. 13 O Santo Padre celebrou missa na praça exterior do Santuário Nacional de Aparecida (SP), onde cerca de 500 mil fiéis aplaudiram sua chegada no papamóvel. Depois da celebração, inaugurou a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, cujo tema foi “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida. ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’”. No mesmo dia, o Papa embarcou de volta ao Vaticano.

JUNHO

3 O Papa proclama quatro novos santos. 17 Visita do Papa a Assis (Itália). 26 Bento 16 introduz uma alteração nas normas que presidem a eleição de um novo papa, eliminando a possibilidade da escolha dos cardeais ser tomada por maioria absoluta e não de dois terços. 30 Carta do Papa aos bispos, aos presbíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica na China.

JULHO

7 Bento 16 publica o Motu Proprio Summorum Pontificum, sobre a liturgia romana anterior à reforma de 1970.

AGOSTO

19 O Papa oferece 148 mil Euros às populações do Peru, atingidas por um violento terremoto.

SETEMBRO

1 e 2 Visita Pastoral a Loreto (Itália) por ocasião do Ágora dos jovens italianos. 7 a 9 Visita pastoral à Áustria. 23 Visita pastoral à Diocese de VelletriSegni (Itália).

OUTUBRO

21 Visita Pastoral a Nápoles (Itália).

NOVEMBRO

6 Bento 16 recebe o rei Abdallah bin Abdulaziz Al Saud, da Arábia Saudita.

OUTUBRO

16 Canonização de quatro novos santos. 19 Visita a Verona (Itália). 30 Bento 16 nomeia o arcebispo de São Paulo, cardeal dom Cláudio Hummes, prefeito da Congregação para o Clero.

NOVEMBRO

16 Bento 16 reúne-se com os chefes de Dicastérios da Cúria Romana para uma reflexão sobre o celibato sacerdotal. 28 a 1º de Dezembro – Viagem à Turquia, com visita à Mesquita Azul de Istambul.

DEZEMBRO

25 Nas celebrações de Natal, o Papa apela à paz no Oriente Médio, à defesa da vida e ao fim do fosso mundial entre ricos e pobres.

O legado do p

24 e 25 Consistório público ordinário para a criação de 23 novos cardeais, inclusive o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer . 30 Nova encíclica de Bento 16, Spe Salvi (Salvos pela esperança).

DEZEMBRO

25 Bento 16 lembra dramas da humanidade na sua mensagem de Natal. 26 O Papa denuncia perseguição aos cristãos em todo o mundo. 28 Bento 16 condena brutal ataque terrorista a Benazir Bhutto.

FRANCISCO BORBA RIBEIRO NETO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Bento 16 foi um dos grandes papas que levaram a cabo a renovação do Concílio Vaticano 2º. No Brasil, muitos não compreenderam porque o cardeal Ratzinger, enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, tornou-se uma espécie de “bode expiatório” das rusgas entre teólogos da libertação e o Vaticano. Por isso, vale a pena ver qual foi seu legado para a Igreja do Brasil, vendo dois momentos: a Conferência de Aparecida e a encíclica Caritas in veritate. O Papa de Aparecida

“Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o

rumo decisivo” (Deus caritas est, 1). Depois da Conferência de Aparecida, essa frase do Papa se tornou referência quase obrigatória para a Igreja e sintetiza a grande preocupação de Bento 16: que vivamos unidos à pessoa de Cristo, que não compreendamos o cristianismo apenas como um conjunto de normas morais ou de boas ideias. A insistência na centralidade do encontro com Cristo, do fascínio que desperta, é característica do Documento de Aparecida – e a grande da contribuição de Bento 16 à Conferência. Por isso, ele pode ser pensado, na América Latina, como “o Papa de Aparecida”. Bento 16 não estava voltado aos “valores da tradição” ou à preservação da moral católica e sim aos “fundamentos da tradição”, aos fundamentos que dão sentido à moral católica. Mas não foi um fundamentalista.


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nsagens, audiências, viagens e outros acontecimentos

papa Bento 16 O que caracteriza o fundamentalista é que ele quer fazer uma “ligação direta” entre os princípios fundamentais e as decisões finais, sem procurar entender o que está acontecendo de fato. Para que isso não acontecesse, Bento 16 sempre insistiu na relação entre a fé e a razão. Não se trata de um intelectual interessado em ideias abstratas, mas um homem apaixonado pelo grande fundamento, que é Cristo, sabendo que esse fundamento só poderá ser adequadamente vivido a partir do discernimento que nasce do olhar atento à realidade e de uma reflexão racional. O Papa da Caritas in veritate

Muitos entenderam Caritas in veritate como “amor à verdade”, concluindo que o Papa amava mais as ideias que as pessoas. Mas Caritas in veritate significa “amor na verdade”, isto é, amor sincero, que olha as pes-

soas de modo realista. Bento 16 mostra que o amor, quando vivido de modo verdadeiro, leva ao compromisso com os mais pobres e os que sofrem, e que o amor implica num olhar realista sobre nós mesmos e sobre os outros. Até aonde pode ir a solidariedade sem o amor? Homens e mulheres podem se amar verdadeiramente sem a gratuidade? Podemos usar a ciência sem sabedoria? Pode haver sabedoria sem a consciência de um destino bom para cada ser humano? Na atual crise de civilização, é possível construir o bem comum sem o encontro com Deus? Perguntas assim orientaram a reflexão social de Bento 16, interessando até mesmo intelectuais ateus e agnósticos. Bento 16 nos convidou sempre a olhar mais além e mais fundo na realidade. A ter um olhar carregado de amor, um olhar como o de Cristo.

2008 JANEIRO

1 41º Dia Mundial da Paz: “Família humana, comunidade de paz”. 15 Bento 16 renuncia a visitar e proferir um discurso na universidade “La Sapienza”, em Roma, após protesto de estudantes e professores.

ABRIL

15-21 Viagem aos Estados Unidos da América e discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas.

MARÇO 19 Carta aos católicos irlandeses sobre a questão dos abusos sexuais.

ABRIL 17-18 Viagem a Malta.

MAIO 2 Visita a Turim para a exposição pública do Santo Sudário.

MAIO

17-18 Visita Pastoral a Savona e Génova (Itália).

MARÇO

SETEMBRO

11-14 Viagem a Portugal, com passagens por Lisboa, Fátima e Porto.

JUNHO 4-6 Viagem ao Chipre e entrega do Instrumento de Trabalho para o Sínodo dos Bispos sobre o Oriente Médio.

JULHO 4 Visita a Sulmona (Itália).

SETEMBRO 5 Visita a Carpineto Romano (Itália), por ocasião do 200º aniversário do nascimento do papa Leão 13. 16-19 Viagem ao Reino Unido. 30 Exortação pós-sinodal Verbum Domini, sobre a Palavra de Deus na Igreja. 5 a 26 12ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre a Bíblia.

2009 JANEIRO

1 42º Dia Mundial da Paz: “Combater a pobreza, construir a paz”.

JANEIRO

1 45º Dia Mundial da Paz: “Educar os Jovens para a justiça e a paz”. 9 Bento 16 apela ao fim do “derramamento de sangue” na Síria, durante o encontro anual com os membros do corpo diplomático, acreditados junto da Santa Sé.

10 Celebração ecumênica por ocasião da visita do arcebispo da Cantuária, primaz da Igreja Anglicana. 23-29 Viagem ao México e Cuba.

12-21 Viagem a Sydney, Austrália, para a Jornada Mundial da Juventude.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

2012

18 Consistório para a criação de 22 novos cardeais, inclusive dom João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

JULHO

OUTUBRO

DEZEMBRO

12 Missa para a América Latina na Basílica de São Pedro.

FEVEREIRO

JUNHO

14 -15 Visita Pastoral a Santa Maria di Leuca e Brindisi, na região de Apúlia (Itália). 28 Abertura do Ano Paulino, juntamente com o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu 1º.

7 Visita Pastoral a Cagliari, na ilha da Sardenha (Itália). 12-15 Viagem à França pelo 150º aniversário das aparições marianas em Lourdes.

NOVEMBRO

19 Exortação pós-sinodal Africae munus, sobre a Igreja na África.

OUTUBRO 3 Visita a Palermo, Sicília (Itália). 7 Papa aceitou pedido de renúncia de dom Cláudio Hummes, por limite de idade. 10-24 Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio. 12 Instituição do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização. 17 Canonização de seis novos santos.

MAIO

13 Visita a Arezzo, La Verna e Sansepolcro (Itália). 25 Prisão do ex-mordomo do Papa, Paolo Gabriele, na sequência do caso‘Vatileaks’, por causa do furto e publicação de documentos reservados.

JUNHO

1-3 Visita a Milão (Itália), para o 7º Encontro Mundial das Famílias. 26 Visita às áreas atingidas por terremotos na região da Emília-Romanha, na Itália.

SETEMBRO

14-16 Viagem ao Líbano, 24ª e última do pontificado. Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente, sobre a Igreja no Oriente Médio.

OUTUBRO

4 Visita a Loreto (Itália), no 50º aniversário da viagem do papa João 23. 7-28 Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização. 7 O Papa proclama doutores da Igreja São João de Ávila e Santa Hildegarda de Bingen.

NOVEMBRO

24 O Papa levanta a excomunhão aos quatro bispos lefebvrianos, incluindo Richard Williamson, que nega o Holocausto.

MARÇO

12 Bento 16 escreve aos bispos de todo o mundo a propósito da remissão dessas excomunhões. 17 a 23 Viagem a Camarões e Angola. 28 Visita aos desalojados em Abruzzo (Itália), depois do sismo que atingiu a região.

MAIO

8-15 Viagem à Terra Santa: Jordânia, Israel e territórios palestinos. 24 Visita a Cassino e a Montecassino (Itália).

JUNHO

19 Abertura do Ano Sacerdotal. 21 Visita a San Giovanni Rotondo (Itália). 29 Papa celebrou as Vésperas na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, no Vaticano, marcando o encerramento do Ano Paulino.

JULHO

7 O Papa publica a terceira e última encíclica do pontificado, Caritas in veritate. 17 Bento 16 fratura o punho direito depois de uma queda.

SETEMBRO

6 Visita a Viterbo e Bagnoregio (Itália). 26-28 Viagem à República Tcheca.

OUTUBRO

4-25 2ª Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos.

6-7 Viagem a Santiago de Compostela e Barcelona (Espanha), onde consagra a Basílica da Sagrada Família. 23 Publicação do livro “Luz do mundo. O Papa, a Igreja e os sinais do tempo”, resultante de entrevista ao jornalista alemão Peter Seewald. 25 Consistório para a criação de 25 novos cardeais, inclusive o arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis.

DEZEMBRO 25 Críticas ao regime chinês marcam mensagem natalícia de Bento 16. 30 Instituição da Autoridade de Informação Financeira para promover a transparência bancária e a luta contra a lavagem de dinheiro.

2011 JANEIRO

1 44º Dia Mundial da Paz: “Liberdade religiosa, caminho para a paz”. 4 Bento 16 nomeia o arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz, como prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.

MARÇO 10 Publicação do segundo volume da obra “Jesus de Nazaré” (Da entrada em Jerusalém até à ressurreição).

MAIO 1 Beatificação de João Paulo 2º. 7-8 Visita a Aquileia e Veneza (Itália). 21 Ligação à Estação Espacial Internacional.

JUNHO 4-5 Viagem à Croácia. 19 Visita à Diocese de San Marino-Montefeltro (Itália). 29 60º aniversário de sua ordenação sacerdotal.

AGOSTO

JANEIRO

1 43º Dia Mundial da Paz: “Se queres cultivar a paz, preserva a criação”. 17 Visita à Sinagoga de Roma, 24 anos depois de João Paulo 2º. 27 Bento 16 lembra libertação do campo de concentração de Auschwitz e pede que nunca mais se repita uma tragédia como o Holocausto.

DEZEMBRO

7 – Bento 16 nomeia seu secretário particular, Georg Gaenswein, responsável pela Casa Pontifícia e torna-o arcebispo. 12 Inauguração da conta de Bento 16 na rede social Twitter. 15 O Papa envia mensagem para sobreviventes e familiares de massacre em uma escola norte-americana. 22 Bento 16 concede um indulto ao seu ex-mordomo. JANEIRO 1 46º Dia Mundial da Paz: “Bem-aventurados os Obreiros da Paz”. 7 Bento 16 convida seguidores no Twitter a rezar pela paz na Síria e na Nigéria. 22 O

DEZEMBRO

2010

NOVEMBRO

10 Bento 16 institui a Pontifícia Academia de Latinidade. 11 Documento sobre o serviço da caridade. 20 Apresentação do livro “A Infância de Jesus”, que conclui a trilogia sobre Jesus de Nazaré. 24 Consistório para a criação de seis cardeais não-europeus.

2013

NOVEMBRO

8 Visita a Bréscia e Concesio (Itália). 9 O Papa publica a Constituição Anglicanorum coetibus, que abre aos fiéis anglicanos a possibilidade de regressarem à Igreja Católica. 19 Proclamação das “virtudes heroicas” de Pio 12 e de João Paulo 2º, abrindo o caminho à beatificação deste. 27 Almoço com os pobres da Comunidade de Santo Egídio, Roma.

11 Início do Ano da Fé, no 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano 2º. 21 Canonização de sete novos santos, entre eles a primeira santa índia norte-americana.

18-21 Viagem a Madri para a Jornada Mundial da Juventude.

SETEMBRO 11 Visita a Ancona para a conclusão do 25º Congresso Eucarístico Nacional da Itália. 22-25 Terceira viagem à Alemanha.

Papa recebe pela primeira vez um líder do Partido Comunista do Vietnam.

OUTUBRO 23 Canonização de três novos santos. 27 Visita a Assis (Itália), para jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz, 25 anos depois da jornada inter-religiosa promovida por João Paulo 2º.

FEVEREIRO

11 Bento 16 comunica que renunciará ao pontificado. 28 Último dia do pontificado de Bento 16.


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O SÃO PAULO 5 a 11 de março de 2013

PONTIFICADO DE BENTO 16

‘Um amor crescendo cada vez mais po Beneditinos recordam hospedagem ao Sumo Pontífice ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Beneditinos e cardeal Scherer acompanham visita de papa Bento 16 ao mosteiro

fidelidade à liturgia das horas no coro”. O Abade destacou ainda que a escolha do Mosteiro de São Bento foi proposta pelo então arcebispo de São Paulo, cardeal dom Cláudio Hummes, e alguns dos motivos seriam, de acordo com dom Matthias, a localização, bem no centro da capital, e por possuir um reconhecido “patrimônio arquitetônico e histórico, como pela sua presença eclesial, irradiadora de uma espiritualidade sólida através da oração e do trabalho inseridos no cotidiano da vida cultural e social do paulistano”. Os objetos usados pelo Papa du-

rante sua estada no Mosteiro de São Bento estão expostos numa mostra denominada “Lembranças da visita do papa Bento 16 ao Mosteiro de São Bento de São Paulo”. Quem for à exposição poderá reviver esse momento através de fotografias, livros, objetos e frases pronunciadas por ele nas ocasiões de encontro com o povo. A exposição fica aberta à visitação pública, com entrada gratuita, até a escolha do novo papa. (Leia a íntegra da entrevista do Abade no site da Arquidiocese – www.arquidiocesesp.org.br).

Encontro com Bento 16 fortalece vocação sacerdotal DANIEL GOMES REDAÇÃO

“Na hora em que acabei meu discurso, tinha que fazer uma saudação ao Papa e ele disse duas palavras que hoje são as que me movimentam: ‘seminarista, constância e perseverança’. A partir daquele momento, repensei minha atitude, minha espiritualidade, minha vida na Igreja e concluí: ‘vou viver o que acredito’”. Alessandro Fernandes Batista tinha 24 anos quando, em 10 de maio de 2007, discursou ao papa Bento 16, junto a outros quatro jovens, no estádio do Pacaembu. À época seminarista na Diocese de São José do Rio Preto (SP), era também coordenador diocesano da Pastoral Carcerária. Ao receber o convite para falar ao Sumo Pontífice, achou que era brincadeira, afinal, semanas antes um sorteio definira quais seminaristas iriam ao encontro e ele não foi selecionado. “Quando soube que iria falar para o Papa, tive duas sensações: a primeira, uma explosão de alegria sem dimensão; a segunda, um medo tremendo do que falar, como falar, como me portar, como seria tudo isso”, con-

REDAÇÃO

Quando do anúncio da viagem do papa Bento 16 ao Brasil, realizada em maio de 2007, o cardeal dom Cláudio Hummes ainda era arcebispo de São Paulo. Ele começou as negociações sobre a visita e preparativos para a 5ª Conferência do Episcopado Latino-americano e do Caribe. O Papa tinha decidido que só iria a Aparecida naquela sua primeira visita ao Brasil e primeira intercontinental após ter assumido a Sé de Pedro. Depois, dom Cláudio foi chamado pelo próprio Papa para assumir, como prefeito, a Congregação para o Clero, no Vatica-

EDCARLOS BISPO DE SANTANA

“Nestes momentos únicos, cada qual especial, Bento 16 se revelou de trato muito humano, de uma proximidade amiga, afetuoso, simples e alegre. Assim, num translado até seus aposentos, contou-me que até sua juventude vivera próximo ao mosteiro beneditino de Schotten, perto de Ratisbona, na Alemanha. Nessa época, sentira um grande desejo de se fazer monge. E concluiu, olhando-me nos olhos e quase parando: ‘Nestes dias, aqui no mosteiro, novamente tenho sentido um forte apelo à vida monástica!’”. Quem conta essa história é o abade do Mosteiro de São Bento, dom Matthias Tolentino Braga. Por ocasião de sua visita ao Brasil, em 2007, o papa Bento 16 ficou hospedado no mosteiro, de 9 a 11 de maio do mesmo ano. Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Abade recordou como foi essa visita. Sobre a rotina dos monges, dom Matthias relata que nada foi alterado, entretanto, “alternavam-se para tomar parte nos diversos eventos papais sem comprometer o cotidiano da vida comunitária, especialmente se garantiu a

ELVIRA FREITAS

tou, ao O SÃO PAULO, Alessandro, hoje, aos 30 anos, frei Paulo Batista, da Fraternidade São Francisco de Assis da Providência de Deus. O frei lembrou que no começo do discurso, que tratou da exclusão da juventude encarcerada no país, estava muito trêmulo, mas se acalmou ao perceber a atenção de Bento 16 ao que dizia. “Nunca me esqueço da imagem dele, foi um momento que me transformou num grande apaixonado e amante da Igreja Católica. Comecei meu discurso tremendo muito, mas o Papa olhou no meu olho e senti uma

tranquilidade muito grande, senti que aquele homem representava toda a minha Igreja”. A partir do encontro, frei Paulo se decidiu por uma vida total de entrega à Igreja. Ordenado padre em 2009, hoje se dedica aos doentes, dependentes químicos, alcoólatras e demais excluídos, conforme prescreve o carisma da fraternidade franciscana. “O maior ensinamento que Bento 16 deixa para mim, enquanto frade, padre e católico cristão é que temos que ter, acima de tudo, o nosso serviço e nunca o nosso poder ou nossa função”.

Jovens se encaminham para discursar a Bento 16 no estádio do Pacaembu

no. Hoje, sete anos depois, já como arcebispo emérito de São Paulo e tendo deixado também a congregação, dom Cláudio recorda aqueles tempos. “Durante os preparativos para a 5ª Conferência do Episcopado Latino-americano e do Caribe, realizado em Aparecida (SP), em 2007, o Papa havia comunicado que não visitaria nenhuma cidade, a não ser Aparecida, para não criar discussões sobre quais cidades ele visitaria. Naquela época, eu era o arcebispo de São Paulo e escrevi uma carta a ele ponderando o quanto seria importante que viesse a São Paulo. Estava tão perto e desembarcaria nos aeroportos da capital, como deixaria de visitar a cidade? Eu


PONTIFICADO DE BENTO 16

O SÃO PAULO 5 a 11 de março de 2013

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or São Paulo’, diz o cardeal Hummes tentei colocar como seria importante pastoralmente e para que ele tivesse um argumento também forte par dizer ‘vou a São Paulo, mas não vou a outras [cidades]'. Pedi para ele que canonizasse Frei Galvão aqui em São Paulo. Frei Galvão, o primeiro santo nascido no Brasil. Claro, nós já tínhamos Santa Paulina, nossa grande e querida Santa Paulina, mas ela é nascida na Itália. E o Papa aceitou e veio”. Dom Cláudio relembrou também que, naquela época, já estava em Roma e veio na comitiva do Papa. “Ele veio, e todo mundo se questionando: ‘Como será este Papa?’ Na verdade, na primeira noite quando ele se reuniu com os jovens no Pacaem-

bu, foi o grande momento no qual os jovens sacudiram o Papa, o abraçaram, o beijaram como talvez em sua vida nunca tivesse sido abraçado e beijado. Os jovens invadiram o palco onde ele estava e ele ficou extremamente feliz e com um amor crescendo cada vez mais por São Paulo”. Prosseguindo, o Cardeal recordou quando Bento 16 chegou ao Mosteiro de São Bento. “Ele saiu diversas vezes à janela, quando estava previsto só uma vez, porque ele dizia: ‘Estou escutando o povo lá fora’, e ia mais uma vez à janela. Depois, celebrou a canonização [de Frei Galvão], com um milhão e duzentas mil pessoas. Isso para ele foi uma grande felicidade”. Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Pedido por JMJ é feito ao Santo Padre no Pacaembu DANIEL GOMES REDAÇÃO

Diante de um estádio do Pacaembu lotado de fiéis, em 10 de maio de 2007, o papa Bento 16 ouviu o pedido dos bispos brasileiros para que o país um dia sediasse a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). “Em 2007, depois de dois anos de trabalho intenso dos bispos do Brasil em um documento a respeito da juventude ‘Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas pastorais’, aprovado em maio daquele ano, dias depois, tivemos a alegria de receber o Santo Padre, papa Bento 16, e de um modo todo particular, o encontro sediado no estádio do Pacaembu e, neste momento, tive a oportunidade, em nome dos meus irmãos bispos do Brasil, de pedir oficialmente ao Santo Padre, que um dia pudesse, o quanto antes possível, acolher o Brasil como sede da Jornada Mundial da Juventude”, recordou-se, durante a abertura da ExpoCatólica de 2012, dom Eduardo Pinheiro da Silva, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da

No encontro com jovens em São Paulo, Igreja do Brasil pede JMJ a Bento 16

Conferência Nacional dos Bispos dos Brasil (CNBB). A aceitação oficial do pedido somente viria em 21 de agosto de 2011, no encerramento da JMJ Madri-2011, mas para dom Eduardo, já no estádio do Pacaembu, Bento 16 acolhia a realização da JMJ no Brasil. “Recordo-me do sorriso do nosso Papa, no meio de tantos aplausos e manifestações da juventude. Posso dizer a vocês que aquele sorriso já era uma resposta. Particularmente, percebi que ele acolhia aquela ideia, aquele pedido, com muito carinho”, destacou.

Em mensagem enviada aos presbíteros brasileiros, no dia 1º, dom Eduardo voltou a recordar-se da receptividade de Bento 16 à JMJ Rio-2013 e disse da confiança quanto à participação do futuro papa no encontro que deve reunir cerca de 2 milhões de pessoas, entre 23 e 28 de julho. “A Jornada Mundial da Juventude, que nasceu no coração de João Paulo 2º e foi tão bem acolhida e incentivada por Bento 16, terá seguramente em nosso novo papa a sua total adesão e incremento”, manifestou.

‘O Papa se levanta, toma-me as mãos e me beija’ ELVIRA FREITAS REDAÇÃO

Irmã Célia Cadorin, postuladora da causa de canonização de Santo Antônio de Sant'Anna Galvão tem uma história bonita para contar sobre seus contatos com o papa Bento 16. Ela o via sempre quando ainda era cardeal e respondia pela Congregação para a Doutrina da Fé. A religiosa da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição disse que, às vezes, cruzava com ele na praça de São Pedro, quando ele ia de casa para a sede da congregação e ela ia ao banco, já que moravam em lados opostos. Mas, o primeiro encontro oficial, quando falou com ele, foi na celebração de canonização de Frei Galvão. “Quando eu cheguei para a missa, o Papa já estava na sacristia se paramentando e o monsenhor Marini [Piero Marini, cerimoniário do papa] me chamou e disse: ‘Tem que subir logo irmã, mas só a senhora’; eu era a única mulher lá em cima, ao lado daqueles cerca de 500 bispos que circundavam o altar. Quando cheguei lá [Campo de Marte], apareceu um médico que me perguntou: ‘Irmã a senhora está bem, não quer um

pouco de água ou ficar um pouco ao sol?’. ‘Não, estou bem, respondi’. Cheguei ao altar e me sentei ao lado do cardeal Saraiva [José Saraiva Martins, então prefeito da Congregação para a Causa dos Santos]. Começou a celebração com a leitura da biografia de Frei Galvão”. Prosseguindo, irmã Célia disse que foi depois do término da leitura que ela se assustou, de fato. “O Santo Padre se levantou e se dirigiu a mim. Também me levantei e ele me estendeu a mão. Não houve tempo nem de beijá-lo, porque ele me deu dois beijos na face, foi

questão de segundos. Eu quase desmontei. Nesse instante, ele me disse coisas que nunca contei para ninguém”. Novamente, quando o Papa já tinha se desparamentado, já na saída, ele parou na frente de irmã Célia. “Ele pegou na minha mão e disse: ‘Quantas causas você tem para mim?’. Eu disse: mais ou menos 28. ‘Vinte e oito?’ ‘Mas são todos religiosos?’, ele perguntou. Respondi que havia sacerdotes, religiosos e leigos. ‘Tem leigos?’, foi o que mais interesse despertou no Papa”, resumiu irmã Célia.

Única mulher no presbitério, irmã Célia cumprimenta o Papa, no Campo de Marte


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O SÃO PAULO 5 a 11 de março de 2013

ELVIRA FREITAS REDAÇÃO

A eleição de um papa obedece a rituais muito precisos, marcados por um clima de silêncio e segredo, previsto ao pormenor na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, assinada por João Paulo 2º em 1996. O Motu Proprio de Bento 16, publicado dia 25 de fevereiro, faz algumas alterações. A próxima já iniciou-se dia 28 de fevereiro, quando teve efeito a renúncia ao pontificado, anunciada dia 11 de fevereiro por Bento 16. Em data a ser determinada pelas congregações de cardeais, eles vão se reunir. No início do Conclave, os cardeais vão tomar Deus e os Evangelhos como suas testemunhas, num juramento de “segredo absoluto” sobre todos os procedimentos que ali irão ter lugar. Cinquenta cardeais eleitores (59 a partir do dia 5 de março) foram criados por João Paulo 2º e participaram na eleição de Bento 16, papa que nomeou os outros 67 cardeais com menos de 80 anos. OS ELEITORES Entram em Conclave para eleger o papa apenas os cardeais que não tenham já cumprido 80 anos de idade. O número máximo de cardeais eleitores é de 120, fixado por Paulo 6º e confirmado por João Paulo 2º e Bento 16. A legislação da Igreja prevê que o Conclave só possa ser iniciado pelo menos 15 dias depois da morte do Papa, mas o caso atual é praticamente inédito: desde 1415 que não se verificava uma renúncia ao pontificado. No Conclave estarão representados os cinco continentes: Europa (60), América Latina (19), América do Norte (14), África (11), Ásia (10) e Oceania (1). Os países mais representados são a Itália (28 cardeais eleitores), Estados Unidos da América (11), Alemanha (6), Brasil, Espanha e Índia (5 cada), com mais da metade do total de eleitores. Se um cardeal tiver recusado entrar no Conclave, não poderá ser posteriormente admitido no decorrer dos trabalhos, mas o mesmo não acontece se um cardeal adoecer durante o processo da eleição do novo papa. PESSOAS NO CONCLAVE Além dos cardeais eleitores, está prevista no Conclave a presença de outros elementos, “para acudirem às exigências pessoais e de serviço, conexas com a realização da eleição”: o secretário do colégio cardinalício (dom Lorenzo Baldisseri), que desempenha as funções de secretário da assembleia eleitoral; o mestre das celebrações litúrgicas pontifícias (dom Guido Marini), com dois cerimoniários e dois religiosos adscritos à sacristia pontifícia; um eclesiástico escolhido pelo cardeal decano (Angelo Sodano), para lhe servir de assistente; alguns religiosos de diversas línguas para as confissões, bem como dois médicos e enfermeiros para eventuais emergências; as pessoas adscritas aos serviços técnicos de alimentação e de limpeza; os condutores que transportam os eleitores entre a Domus Sancta Marthae (Casa de Santa Marta) e o Palácio Apostólico; os sacerdotes admitidos como assistentes de alguns cardeais eleitores. Todas elas são “devidamente advertidas sobre o significado e a extensão do juramento a prestar, antes do início das operações para a eleição”, pelo que prestam e subscrevem o juramento de segredo sobre tudo o que rodear o processo de eleição do novo papa. LUGARES DO CONCLAVE João Paulo 2º decidiu que os cardeais ficassem alojados na denominada Casa de Santa Marta, situada no Vaticano, junto à Basílica de São Pedro. Em 2005, pela primeira vez na história, os lugares do Conclave estenderam-se a todo o espaço do Vaticano. Os cardeais eleitores continuam a estar submetidos à interdição de

PONTIFICADO DE BENTO 16

Começam preparativ

OS CARDEAIS BRASILEIROS

DOM ODILO PEDRO SCHERER, arcebispo metro-

DOM JOÃO BRAZ DE AVIZ , arcebispo emérito de

DOM CLÁUDIO HUMMES, arcebispo emérito de São

DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS, arcebis-

politano de São Paulo (SP) Gaúcho de Cerro Largo e descendente de imigrantes alemães, dom Odilo tem 63 anos, é mestre em Filosofia e doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Foi ordenado padre em 1976 no Paraná, onde foi criado e é considerado um moderado em termos doutrinários. Em 2007, sucedeu dom Cláudio Hummes na Arquidiocese de São Paulo. É membro da equipe que fiscaliza o banco do Vaticano.

Brasília e último prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades Apostólica Dom João Braz de Aviz tem 65 anos, é o cardeal brasileiro que ocupa o mais alto cargo na hierarquia vaticana. Nascido em Mafra, em Santa Catarina, foi ordenado bispo auxiliar de Vitória, no Espírito Santo, em 1994, e arcebispo da Igreja em Brasília, em 2004. Em 2011, deixou a capital federal para ocupar o cargo de prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica no Vaticano. No ano seguinte, foi feito cardeal por Bento 16.

Paulo O cardeal dom Cláudio Hummes é natural da cidade de Montenegro (RS), tem 78 anos, e é um dos brasileiros com maior trânsito na burocracia vaticana. Doutorado em filosofia, conduziu a Arquidiocese de São Paulo entre 1998 e 2006. Foi prefeito da Congregação para o Clero até 2011. Desde então, é membro da Pontifícia Comissão para a América Latina.

po de Aparecida (SP) e presidente da CNBB Dom Raymundo Damasceno Assis, 75 anos, é o cardeal arcebispo de Aparecida (SP) e atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Mineiro de Capela Nova, foi ordenado bispo de Brasília em 1986. É doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e deve pedir renúncia da Arquidiocese de Aparecida, já que alcançou a idade limite de 75 anos.

em primeiro lugar, o juramento de segredo sobre tudo o que diz respeito à eleição do papa e comprometem-se a desempenhar fielmente o munus Petrinum de pastor da Igreja universal em caso de eleição. Terminado o juramento, todas as pessoas estranhas à eleição saem após a ordem Extra Omnes (todos fora). Permanecem apenas o mestre das celebrações litúrgicas e o eclesiástico escolhido para a segunda meditação. Esses momentos de reflexão estão previstos na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis (UDG, n. 13) e são outra das novidades da Sé Vacante, introduzidas por João Paulo 2º: a última meditação diz respeito à escolha “iluminada” do novo pontífice. Após a meditação, saem da capela o mestre das celebrações litúrgicas e o orador. Os cardeais eleitores encontram-se a sós, na Capela Sistina, com os seus pares. Todos os meios de comu-

nicação com o exterior são proibidos. Nesta altura, o cardeal que preside à eleição verifica se não há obstáculos e procede-se à primeira votação. Os Conclaves do século 20 tiveram uma duração sempre inferior a cinco dias e 14 votações.

qualquer contato com o exterior, mas não ficam encerrados num único local. Com as novas normas, os cardeais ocupam vários lugares consoante às suas atividades: o alojamento é na Casa de Santa Marta, as celebrações litúrgicas na Capela de Santa Marta – eventualmente noutras capelas –, e a eleição na Capela Sistina. Os lugares do Conclave serão fechados por dentro (responsabilidade do cardeal carmelengo, dom Tarcisio Bertone) e por fora (responsabilidade do substituo da Secretaria de Estado, o arcebispo Giovanni Angelo Becciu). Desde as primeiras assembleias cristãs romanas aos cardeais, em 1179, a eleição de um novo papa aconteceu quase sempre em Roma e, desde 1492, na Capela Sistina. Nem todos os Conclaves, contudo, tiveram lugar no Vaticano: cinco aconteceram no Quirinal, atual palácio da presidência da República Italiana; 16 decorreram

noutras cidades italianas e sete na França, no período de Avinhão. INÍCIO DO CONCLAVE Está previsto que todos os cardeais eleitores se encontrem na Basílica de São Pedro para celebrar a missa votiva pro eligendo Romano Pontifice (para a eleição do papa), sob a presidência do decano do Colégio Cardinalício, dom Angelo Sodano. A celebração é aberta a todos os que queiram participar. Mais tarde, os cardeais eleitores reúnem-se na Capela Paulina do Palácio Apostólico, de onde se dirigem para a Capela Sistina, em procissão solene, entoando o canto Veni Creator, para pedir a assistência do Espírito Santo. A Capela Sistina terá sido anteriormente objeto de rigorosas vistorias para apurar eventual presença de meios audiovisuais destinados a espiar, do exterior, o que acontecer no processo de eleição. Os cardeais eleitores prestam,

VOTAÇÃO Pela segunda vez na história da Igreja, está prevista apenas uma modalidade de votação, per scrutinio, abolindo modos de eleição anteriormente existentes (por inspiração e por compromisso). Para a eleição é requerida uma maioria de dois terços. No primeiro dia, haverá apenas uma votação e, se o papa não for eleito, terão lugar nos dias subsequentes duas eleições de manhã e outras duas de tarde. Se após três dias não houver consenso, há um dia de interrupção para oração, colóquio entre os eleitores


PONTIFICADO DE BENTO 16

ivos para o Conclave

O SÃO PAULO 5 a 11 de março de 2013

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MUDANÇA DE NOME No início do Cristianismo, o eleito usava o seu nome – Lino, Clemente, Telesfóro, Eleutério, Aniceto – conforme a procedência dos papas. A partir de 532, a tradição de mudar o nome instalou-se: o eleito chamava-se Mercúrio, nome de uma divindade pagã, e adotou o nome de um dos apóstolos, passando a chamar-se João 2º. Esse uso consolidou-se e os papas começaram a escolher nomes de Apóstolos, de mártires ou outros papas, muitas vezes para invocar algumas das suas características. Nenhum, contudo, voltou a utilizar o nome de Pedro, o primeiro papa, porque este não foi eleito por outros homens – em 983, o romano Pedro, eleito para o pontificado, mudou o nome para João e o mesmo aconteceu com o papa português, João 21, falecido em 1277. O nome mais escolhidos pelos papas é João (23 vezes), seguido por Gregório e Bento (16), Clemente (14), Leão e Inocêncio (13) e Pio (12). CONCLAVE DE 2013 205 cardeais vivos (115 eleitores). Mais jovem de todos: Baselios Cleemis (Isaac) Cardeal Thottunkal - arcebispo maior de Trivandrum do rito siro-Malankar, Índia, nascido em 15 de junho de 1959, com 53,7 anos. Os dois mais idosos cardeais votantes: Walter Kasper e Severino Poletto, ambos com quase 80 anos (fazem aniversário em março de 2013). Média de idade de todos: 78,3 anos Média de idade só dos eleitores: 72,3 anos Tempo médio de cardinalato de todos: 11,8 anos Tempo médio de cardinalato só dos eleitores: 7,5 anos

Europa

América do Norte

60

14

Ásia

10

África

11

América Latina

19

Oceania

1

NO CONCLAVE ESTARÃO REPRESENTADOS OS CINCO CONTINENTES: DOM GERALDO MAJELLA AGNELO, arcebispo emérito de Salvador (BA) Dom Geraldo Majella Agnelo nasceu em Juiz de Fora (MG) e tem 79 anos. Ele deixou a direção da Igreja na capital baiana quando completou 75 anos, mas ainda terá direito a voto na eleição do novo papa. Dom Geraldo recebeu a ordenação sacerdotal em São Paulo em 6 de agosto de 1978, no dia da morte do papa Paulo 6º. Aos 44 anos, tornou-se bispo de Toledo (PR). Doutor em Teologia pelo Pontifício Ateneu Santo Anselmo de Roma, foi indicado arcebispo de Salvador em 1999.

e reflexão espiritual. Prossegue-se, depois, para outros sete escrutínios antes de outra pausa e assim sucessivamente. Se as votações não tiverem êxito, após um período máximo de nove dias de escrutínios e “pausas de oração e livre colóquio”, os cardeais eleitores serão convidados pelo carmelengo a darem a sua opinião sobre o modo de proceder. O documento de João Paulo 2º abria a hipótese de a eleição ser feita “com a maioria absoluta dos sufrágios”, situação que foi revogada por Bento 16 em 2007, mantendo-se a opção de se votarem “somente os dois nomes que, no escrutínio imediatamente anterior, obtiveram a maior parte dos votos”. VOTO A votação acontece com o preenchimento de um boletim retangular,

CURIOSIDADES Até à eleição de João 23 (1958), os votos dos cardeais eram queimados após cada votação. Quando misturados com a palha úmida, a fumaça da chaminé da Capela Sistina indicava ao povo da praça de São Pedro que o papa ainda não estava eleito. Era a fumaça branca que indicava o fim do Conclave e a eleição do papa. Hoje em dia, esse processo faz-se pela adição de produtos químicos aos papéis da votação. Desde o papa Nicolau 5º (1447) foram criados 2.424 cardeais, em 558 anos de pontificado uma média de 434 cardeais por ano. Se se contar o número de cardeais criados desde o ano de 492 até o último consistório de 2012, ter-se-a a incrível cifra de 4.329 cardeais. O período mais longo sem um papa foi de três anos, sete meses e um dia (de 26 de outubro de 304 a 27 de maio de 308), entre Marcelino 2º e Marcelo 1º.

que apenas traz impressa a menção Eligo in Summum Pontificem (elejo como Sumo Pontífice) na parte superior. Na metade inferior está o espaço para escrever o nome do eleito, pedindo-se que os cardeais disfarcem a sua caligrafia. O boletim é dobrado em dois e é levado de forma visível ao altar, onde está colocada uma urna, na qual os cardeais, por ordem de criação, pronunciam o juramento: “Invoco como testemunha Cristo Senhor, o qual me há de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo deve ser eleito”. O juramento é feito apenas no primeiro escrutínio. O cardeal deposita o seu voto na urna, tapada pelo prato no qual o boletim tinha sido colocado. RECOLHER E QUEIMAR Os três escrutinadores sorteados no início do processo abrem cada um dos boletins, lendo o seu conteúdo

É histórico o Conclave no Palácio dos Papas em Viterbo, após a morte do papa Clemente 4º. Foi o Conclave mais longo da história da Igreja e teve a duração de 33 meses (de 29 de novembro de 1268 a 1º de setembro de 1271), porque os cardeais não chegavam a um acordo para eleger o novo papa. O governador da cidade, encarregado de alimentar os cardeais, decidiu, por conselho de São Boaventura, encerrar os cardeais no palácio. Fechou a porta da sala de reuniões, ficou com a chave, destelhou o local e cortou a remessa de mantimentos. Imediatamente, chegaram a um consenso, elegendo o papa Gregório 10º (1271-1276) que, para evitar a repetição do acontecimento, estabeleceu através do Concílio de Lyon (1274), normas que regulamentam basicamente os conclaves até hoje.

em voz alta. Os votos são perfurados onde está escrita a palavra eligo e presos num fio. No final da recontagem são ligados com um nó, colocados num recipiente e posteriormente queimadas. Se houver lugar a uma segunda votação, contudo, os votos dos dois escrutínios e “os escritos de qualquer espécie relacionados com o resultado de cada escrutínio” são queimados em conjunto.

FUMATA (FUMAÇA) Se a fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina for negra, significa que não houve acordo entre os cardeais; se for branca, que foi escolhido o novo papa. Em 2005, a eleição do papa Bento 16 foi anunciada através do tradicional fumaça branca, acompanhada de alguns minutos depois pelo toque dos sinos, para evitar confusões quanto à cor da fumaça.

Os primeiros 54 papas, de Pedro a Félix 4º, foram todos canonizados, ou seja, do ano 64 a 530, boa parte dos papas foi martirizada ou lutou contra o império e a injustiça social. Os pontificados mais longos foram: Pio 11 (31 anos e oito meses); Leão 13 (25 anos e 3 meses); João Paulo 2º (26 anos e 6 meses); Pio 6º (24 anos e 6 meses); Adriano 1º (23 anos e 10 meses). Os mais curtos: Estevão 2º (4 dias); Urbano 7º (12 dias). Dom Lorenzo Baldisseri, que foi núncio apostólico no Brasil de 2002 e 2012 e era até o último dia do pontificado de Bento 16 secretário da Congregação para os Bispos, terá uma atuação importante no Conclave que vai eleger o próximo papa. Ele já ocupa o cargo de secretário do Colégio Cardinalício e assumirá também as funções de secretário do Conclave.

ELEIÇÃO Uma vez ocorrida a eleição, resta ao novo eleito responder a duas questões: Acceptasne eletionem de te canonice factam in Summum Pontificem? (aceitas a tua eleição, canonicamente feita, para Sumo Pontífice?) e Quo nomine vis vocari? (Como queres ser chamado?), naquele que é o último ato formal do Conclave. O mestre das cerimônias litúrgicas é chamado, desempenhando funções de notário, e redige um documento de aceitação. Dois cerimoniários entram e servem de testemunhas. Após a escolha do nome, os cardeais prestam homenagem um a um e apresentam a sua obediência ao novo papa. O anúncio é feito, em seguida, pelo cardeal protodiácono (dom Jean Louis Tauran) aos fiéis: Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus papam (Anuncio-vos uma grande alegria: Temos papa).

MUDANÇAS DESTE CONCLAVE O papa Bento 16 restabeleceu a necessidade dos 2/3 dos votos até a eleição do novo papa com a Carta Apostólica, publicada em forma de Motu Proprio, De Aliquibus mutationibus in normis de electione Romani Pontificis”, de 12 de junho de 2007. O papa João Paulo 2º havia estabelecido, na constituição Universi Dominici Gregis, de 22 de fevereiro de 1996, que se os cardeais não conseguissem eleger o papa até o 34º escrutínio, o camerlengo poderia fazer uma consulta e, sendo vontade da maioria, o escrutínio seguinte seria realizado apenas entre os dois cardeais que obtiveram mais votos na eleição anterior. Tudo permanece assim. Bento 16 restabeleceu a necessidade dos 2/3 dos votos mesmo no caso de a eleição não ter obtido sucesso até o 34º escrutínio. Em 22 de fevereiro deste ano, Bento 16 realizou ainda algumas alterações. Nenhum cardeal eleitor poderá ser excluído da eleição, quer ativa quer passiva, por nenhum motivo ou pretexto. "Deixo ao Colégio dos Cardeais a faculdade de antecipar o início do Conclave se constar a presença de todos os cardeais eleitores, bem como a faculdade de adiar, se houver motivos graves, o início da eleição por mais alguns dias. Transcorridos, porém, no máximo, vinte dias desde o início da Sé Vacante, todos os cardeais eleitores presentes são obrigados a proceder à eleição". Uma vez efetuada canonicamente a eleição, o último dos cardeais diáconos chama para dentro do local da eleição o secretário do Colégio dos Cardeais, o mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias e dois cerimoniários; em seguida, o cardeal decano, ou o primeiro dos cardeais segundo a ordem e os anos de cardinalato, em nome de todo o colégio dos eleitores, pede o consenso do eleito com as seguintes palavras: Aceitas a tua eleição canônica para Sumo Pontífice? E, uma vez recebido o consenso, pergunta-lhe: Como queres ser chamado? Está encerrado o Conclave.


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PONTIFICADO DE BENTO 16 DOM RAYMUNDO DAMASCENO DE ASSIS

‘Decisão foi gesto corajoso’ Arquivo pessoal

RAFAEL ALBERTO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O SÃO PAULO – Qual o legado do pontificado do papa Bento 16 para a Igreja? Dom Raymundo Damasceno Assis – O papa Bento 16 nos deixa,

primeiramente, um exemplo de humildade, simplicidade... De coragem. Deixa-nos, também, um rico magistério. Infelizmente, ele não pôde completar a tríade de encíclicas que ele tinha em mente – sobre a caridade e a esperança, publicadas, e a última, sobre a fé, que ele não pôde concluir, justamente no Ano da Fé. Além dos discursos, muito ricos em conteúdos, e também suas homilias, catequeses. Além do que ele escreveu como teólogo, ainda cardeal e sacerdote. É um rico patrimônio escrito que certamente será mais apreciado ao longo dos anos. Muitos diziam que seus textos, homilias, discursos lembram os dos Padres da Igreja, de modo que ele atraiu muita gente a Roma para escutá-lo. Os seus escritos trazem uma riqueza espiritual, teológica e pastoral muito grande. Esse é o grande legado dele. Mas também o exemplo de humildade que ele demonstrou sempre. E de coragem, com esse seu gesto de renunciar, sentindo que suas forças estão debilitadas. A renúncia foi um gesto corajoso! O SÃO PAULO – E para a humanidade? Dom Damasceno – O papa

Bento 16, como um grande teólogo e pensador, não se furtou a dialogar com a cultura e a ciência. Ele contribuiu para que a vida humana fosse defendida e valorizada em toda a sua preciosidade, como dom de Deus ao homem. Além disso, o Papa cobrou dos governos de todos os países um trabalho de superação da pobreza e de acesso à justiça, especialmente para os mais pobres. Ele também se manifestou muito em relação ao meio ambiente. São pronuncia-

Presidente da CNBB e arcebispo de Aparecida, dom Damasceno saúda Bento 16

mentos modernos, que ainda irão contribuir com a reflexão da nossa sociedade.

O SÃO PAULO – Que características pessoais o senhor destacaria do papa Bento 16? Dom Damasceno – Sempre vi

no papa Bento 16 uma figura muito simples e acessível. Isso se comprovou quando ele ainda era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Todos os bispos são unânimes em testemunhar que ele sempre acolheu a todos com muita afabilidade, respeitando à opinião de cada um. Ele também é um homem metódico, organizado. E, por isso mesmo, eram encontros sempre muito proveitosos... Ele sempre tinha uma agenda estabelecida e seguia essa agenda para não perder tempo e atender todos os interesses e preocupações dos bispos que se reuniam com ele, por exemplo, por ocasião das visitas “ad limina”. Essa experiência eu também tive

com ele como cardeal, quando era secretário do Conselho Episcopal latino-Amaericano (Celam), depois como presidente; e também como secretário da CNBB e, mais recente, como presidente da CNBB, fui recebido por ele já como papa. Ele sempre se mostrou muito afável, acolhedor, atencioso ao que se colocava e muito objetivo.

O SÃO PAULO – O senhor poderia nos contar algum episódio mais pessoal que teve com ele? Dom Damasceno – Aqui em

Aparecida, tive a oportunidade de recebê-lo para que ele pudesse abrir a 5ª Conferência do Episcopado da América Latina e Caribe, e ele se mostrou muito simples. Tive, inclusive, o privilégio de ter uma visita particular dele em minha residência. No último dia da permanência dele aqui no Seminário Bom Jesus, eu perguntei “Santo Padre, o senhor tem o costume de caminhar pelos corre-

dores do seminário após o almoço e após o jantar. O senhor não gostaria de mudar essa caminhada e ir até a minha casa?”. Já eram 21horas e o Santo Padre aceitou imediatamente o convite. Veio a pé do seminário até a minha residência, que fica a mais ou menos 300 metros de distância, acompanhado apenas de seus dois secretários particulares e do secretário de Estado do Vaticano, sem nenhum segurança. Esteve na minha casa... Na capela, fez uma prece bonita a Jesus presente no Santíssimo Sacramento. E depois, veio para a sala de jantar, sentou-se à mesa e eu pude servir para ele um suco de laranja, que ele gostava muito. Ali, ficamos durante cerca de meia hora conversando informalmente. Esse gesto só confirmou a impressão que eu sempre tive dele. Naquela aparência de certa timidez, ele sempre se revelou muito próximo das pessoas. Sendo um grande teólogo e pensador, nunca se apresentou com superioridade sobre as pessoas.

O SÃO PAULO – O que o senhor recomenda aos católicos neste momento tão importante para a Igreja? Dom Damasceno – Eu peço aos

católicos que estejam em sintonia com a Igreja, atentos ao que está acontecendo em Roma. Primeiramente, que façam uma prece de agradecimento a Deus pelo grande benefício que foi para a Igreja o pontificado de quase oito anos do papa Bento 16. Em segundo lugar, que realmente se unam em oração, com toda a Igreja no mundo, pelos cardeais que estarão reunidos para a eleição do novo papa. É importante que os católicos compreendam que o pastor supremo da Igreja é Nosso Senhor Jesus Cristo e que, até hoje, a sucessão na sede de Pedro nunca foi interrompida. Vamos rezar para que os cardeais possam escolher aquele que responda aos desígnios de Deus para a Igreja de hoje.

DOM GERALDO MAJELLA AGNELO

‘Bento 16 exorta a uma convivência fraterna’ Arquivo pessoal

RAFAEL ALBERTO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O SÃO PAULO – Qual o legado do papa Bento 16 para a Igreja? Dom Geraldo Majella Agnelo

que é normal e que foi tão bem exercido pelo papa Bento 16, de estar atento à Palavra de Deus e ajudar as pessoas nessa escuta e observância da Palavra, o próximo papa deve ser alguém que esteja acompanhando os desafios do mundo de hoje. A gente sabe que a ciência progride tanto e, com isso, vem interpelações para que a Igreja se pronuncie. Há um ímpeto de ninguém querer estar submisso ao papa, que fala, naturalmente, em nome de Cristo, aquilo que está definido no Evangelho, mas o papa sempre deve ter um modo de agir que mostre sua disposição para o diálogo.

– É um legado precioso. Nós nos acostumamos a receber dele uma catequese muito forte sobre a Palavra de Deus. Ele sempre nos ajudava a interprá-la e a tirar consequências para a nossa vida cristã. O Papa se revelou como um homem que rezava muito, pois estava sempre contemplando a Palavra de Deus. É um exemplo para que nós também não sejamos apenas leitores, mas que tenhamos uma atitude de contemplação e escuta muito bonita da palavra de Deus.

O SÃO PAULO – E para a humanidade? Dom Geraldo – Ele falou mui-

to sobre as questões sociais. É um ensinamento que ajuda na reflexão sobre os problemas, as mazelas que os homens vivem atualmente. Ele deixa quase que um apelo para que tudo concorra para diminuir as diferenças sociais, a fome, a miséria, a violência entre as pessoas. Ele exorta a uma convivência humana verdadeiramente fraterna. O SÃO PAULO – Quais características da personalidade do papa Bento 16 que o senhor destaca? Dom Geraldo – Ele é um ho-

O SÃO PAULO – Quais os desafios que o próximo papa terá que enfrentar? Dom geraldo – Além daquilo

Para arcebispo emérito de Salvador, Bento 16 "é um homem que quer ouvir"

mem que quer ouvir. Não só ele falar, mas ouvir para estabelecer um diálogo. Bento 16 é um homem que respeita profundamente seu interlocutor e, apesar de toda a sua erudição, sempre se mostra acessível.

O SÃO PAULO – O senhor se recorda de algum momento especial vivido com ele? Dom Geraldo – Eu tive contato

com ele desde que cheguei a Roma, em 1991, para trabalhar no Vatica-

no. O meu apartamento era sobre o Palácio Santo Ofício, onde está a Congregação para a Doutrina da Fé. E todos os dias ele chegava, porque morava lá do outro lado da praça. Eu descia e ele subia. Então, sempre uma saudação bastante fraterna. Ele também esteve em casa e eu mesmo tive de ir à própria congregação para levar pedidos de bispos do Brasil. Ele sempre acolhia muito bem e resolvia tudo de imediato.

O SÃO PAULO – Que mensagem o senhor deixa aos católicos neste momento da vida da Igreja? Dom Geraldo – Quando, já no li-

vro dos Atos dos Apóstolos, Pedro foi preso, a Igreja rezava por ele. Essa é a característica mais forte da vivência da comunidade cristã e do acompanhamento de tudo que acontece e de tudo que se possa pedir a Deus, pelo bem da Igreja e do papa. Em primeiro lugar, devemos agradecer a Deus pela vida e pelo testemunho do papa Bento 16. Depois, a Igreja reza para que aqueles que vão votar sejam apenas instrumentos de escolha.

Cardeal Dom Odilo Arcebispo de São São Paulo, 13 de fevereiro de 2013 Santo Padre, Papa Bento XVI, No dia 11 de fevereiro passado, diante de um grupo de Cardeais reunidos em Consistório Ordinário para as Causas dos Santos, Vossa Santidade surpreendeu a Igreja e o mundo com o anúncio de seu propósito de renunciar ao ministério de Sucessor de São Pedro. Assim, no dia 28 de fevereiro, às 20h de Roma, a Cátedra de Pedro se torna vacante e, portanto, o Colégio dos Cardeais deverá reunir-se em Conclave para escolher um novo Papa para assumir a importante e árdua missão de governar “barca de Pedro”, a Igreja. Desejo, por meio desta mensagem, manifestar em meu nome pessoal, e em nome do Clero, dos Religiosos, demais Consagrados e dos Leigos desta Arquidiocese, o afeto filial, a compreensão e a acolhida, na fé, desse gesto de Vossa Santidade, realizado pelo bem da Igreja. Vossa Santidade nos deu um grande exemplo de humildade e coragem e, ao mesmo tempo, de fé e generosidade, ao colocar em evidência que o bem e a missão da Igreja devem ocupar o primeiro lugar nas preocupações de todos aqueles que são chamados e constituídos no serviço do Rebanho do Senhor. Ao entregar a Santa Igreja “aos cuidados do seu Supremo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo”, Vossa Santidade indicou qual é a verdadeira natureza do ministério do Papa, dos Bispos e de todos os Sacerdotes, colocados a serviço da Igreja: somos todos servidores do Povo de Deus em nome de Jesus Cristo e por encargo seu. É ele o verdadeiro e único Senhor e Pastor da Igreja, que cuida dela e quer o seu bem mais do que ninguém outro! Manifesto, portanto, minha mais sincera compreensão, respeito e admiração pelo gesto humilde, corajoso e generoso de Vossa Santidade e pelo ensinamento de fé que nos deixa, no serviço a Jesus Cristo e à Igreja. Não devemos estar apegados a cargos e posições, quando está em jogo o bem maior da Igreja, à qual servimos. Mais do que nunca, queremos reafirmar nossa fé na “Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica” e nossa confiança na ação do Espírito Santo que a assiste, bem como na palavra de Cristo, que prometeu: “as portas


PONTIFICADO DE BENTO 16

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DOM ODILO PEDRO SCHERER L'Osservatore Romano

Bento 16, que características o senhor destacaria dele? Dom Odilo Scherer - Um homem

sereno, simples, inteligente, atento ao interlocutor, interessado em ouvir, extremamente gentil e fino no trato com as pessoas. Nunca pude ver nele aquele homem “autoritário” ou “duro”, como algumas vezes foi descrito; isso não corresponde à verdade. Quando visitou o Brasil, em 2007, fiquei perto do Papa durante alguns dias, na sua estadia em São Paulo. Eu lia os títulos na imprensa e me perguntava: de qual papa estão falando? Não era do papa Bento 16, que eu conheço... O SÃO PAULO - Estamos aguardando a escolha do novo pontífice. A Igreja está “acéfala” até que o próximo papa seja eleito? Dom Odilo Scherer - Não, a Igreja

nunca fica acéfala (“sem cabeça”, ou “sem chefe”) durante o período da vacância, porque o verdadeiro chefe da Igreja é Jesus Cristo glorificado, que nunca abandona o seu corpo, a Igreja. Além disso, durante a sede vacante, o Colégio dos Cardeais responde pela Igreja, segundo as competências que lhe são próprias.

O SÃO PAULO - Quais as características que o novo papa deve ter? Dom Odilo Scherer - O escolhido

Cardeal dom Odilo Scherer se despede do papa Bento16, após último encontro do pontífice com o Colégio Cardinalício antes da renúncia, no dia 28 de fevereiro

Pedro Scherer Paulo do inferno nunca prevalecerão contra ela” (cf. Mt 16,18). E ainda: “Eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (cf. Mt 28,20). Desejo, em nome da Arquidiocese de São Paulo e em meu nome pessoal, expressar meus sentimentos de admiração e o agradecimento a Vossa Santidade pelo bem que fez à Igreja nesses quase oito anos de Pontificado, mesmo em meio a tantos sofrimentos e até incompreensões. Somos gratos a Vossa Santidade pelos numerosos, ricos e profundos ensinamentos que lega à Igreja, pelas catequeses e documentos magisteriais, pelas encíclicas sobre a Caridade, a Esperança, a encíclica Caritas in Veritate – e pelas Exortações Apostólicas. Gratos ainda pela obra Jesus de Nazaré, entregue à Igreja e à humanidade como um testemunho importantíssimo de reflexão teológica e de fé sobre nosso Mestre e Salvador. Somos gratos, pela visita de Vossa Santidade ao Brasil, em 2007, especialmente aqui, em São Paulo e Aparecida; pela canonização de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, 1º santo nascido no Brasil, canonizado naquela ocasião. Somos gratos pelo estímulo dado aos sacerdotes mediante o Ano Sacerdotal, e à Igreja toda para renovar-se na fé, mediante o Ano da Fé, que estamos vivendo. Gratos ainda pela escolha do Brasil e da cidade do Rio de Janeiro para sediar a próxima Jornada Mundial da Juventude. Pessoalmente, agradeço a Vossa Santidade por ter-me chamado a integrar o Colégio Cardinalício e a colaborar em diversos organismos da Cúria Romana, em função do Ministério de Vossa Santidade em favor de toda a Igreja. Deus recompense Vossa Santidade! Continuaremos rezando para que lhe sejam concedidos saúde e dias serenos, enquanto ora, estuda e oferece sua vida pelo bem da Igreja e para que as ovelhas do rebanho do Bom Pastor tenham vida em abundância. E agora, peço de coração para mim e para toda a Arquidiocese de São Paulo, que lhe quer muito bem, a confortadora Bênção Apostólica.

Cardeal Odilo Pedro Scherer Arcebispo de São Paulo

‘Renúncia foi aula de eclesiologia’ Para arcebispo de São Paulo, Bento 16 será lembrado como um dos grandes papas teólogos; dom Odilo está em Roma desde 27/2 RAFAEL ALBERTO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Por e-mail, diretamente de Roma, o cardeal dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, falou com exclusividade ao O SÃO PAULO,sobre suas percepções a respeito dos quase oito anos do pontificado de Bento 16. Dom Odilo, que participará pela primeira vez de um Conclave, também orientou os católicos sobre como viver este tempo tão importante para a vida da Igreja. O SÃO PAULO – O que significou o pontificado de Bento 16 para a Igreja e quais foram suas principais contribuições? Dom Odilo Pedro Scherer – Ben-

to 16 deixa um legado importante para a Igreja e será certamente recordado na história da Igreja como um dos grandes papas teólogos; tanto pelo que escreveu e falou quando já era Sumo Pontífice quanto pelo que escreveu antes disso. Será recordado também pelo seu esforço em ajudar a Igreja a voltar-se para a essência de sua fé e de sua missão. Mostram isso suas encíclicas sobre a esperança e a caridade, as exortações apostólicas sobre a Eucaristia e a Palavra de Deus. Mas será recordado, também, por ter estimulado o clero a buscar a autenticidade na vivência de sua vocação e toda a Igreja, na revalorização de sua fé e no esforço renovado para transmiti-la aos outros. Enfim, a própria renúncia é um gesto que ajudará a Igreja a voltar-se mais para o essencial de sua vida e missão, a partir de um renovado encontro com sua própria razão de ser e existir; um professor de teologia, em Roma, observou: a renúncia foi sua última aula de eclesiologia...

O SÃO PAULO – E o que significou a atuação de Bento 16 para a humanidade?

Dom Odilo Scherer – Isso ainda será melhor avaliado com o passar do tempo. De toda forma, continuando a tradição de seus predecessores, Bento 16 manifestou-se sobre todos os assuntos e fatos relevantes deste momento da vida e da história humanas. Sua contribuição para a cultura, a filosofia, a busca da verdade e do bem é extraordinária; como teólogo e humanista, tem largos horizontes e teve sua palavra geralmente acolhida com respeito e consideração; estimulou o mundo a pensar e a ir além das superficialidades de uma cultura consumista e imediatista. Sua encíclica social – Caritas in Veritate – é uma contribuição importante para o discernimento sério sobre as questões que atualmente afligem a humanidade. Estimulou muito, também, o diálogo entre as religiões e as culturas. Teve sempre a preocupação da justiça, da paz e da solidariedade entre os povos.

O SÃO PAULO – Como os católicos devem encarar as críticas e este clima de “denuncismo” que se instaurou na mídia após o anúncio de que o papa iria renunciar? Dom Odilo Scherer – Com muita

serenidade e discernimento. É um fato interessante que, de um momento a outro, todos começaram de novo a falar da Igreja, mesmo sem conhecer bem as questões abordadas. Muita matéria produzida foi sensacionalista ou simplesmente marcada pelo preconceito contra a Igreja, sem o interesse de conhecer ou comunicar a verdade. É sempre importante tentar saber de qual púlpito vem o sermão e perguntar se merecem crédito certas afirmações bombásticas, de efeito retórico (ex. “guerra civil no Vaticano”...), que não se sustentam em fatos, mas em suposições e conjecturas que visam jogar no descrédito a Igreja perante o mundo e perante seus próprios fiéis. É preciso lembrar

que cada um deverá prestar contas a Deus pelas afirmações mentirosas e injuriosas ditas contra o próximo ou também a Igreja. Recomendo que não se dê crédito fácil a certas caricaturas que se fazem da Igreja; quem conhece a Igreja e vive dentro dela sofre com o desprezo à Igreja. Infelizmente, as palavras do próprio Papa, proferidas no anúncio do dia 11 de fevereiro sobre sua renúncia, foram deixadas de lado, como sendo não-verdadeiras, para dar largas a todo tipo de suspeitas, especulações e conjecturas sobre os “reais motivos” da renúncia. Alguém nas condições e na autoridade do Papa deveria merecer mais crédito e respeito.

O SÃO PAULO - O senhor poderia descrever algum episódio mais pessoal de seus contatos com Bento 16? Dom Odilo Scherer – Lembro

da vigília na Jornada Mundial da Juventude em Madrid, em julho de 2011. Veio um temporal muito forte durante a fala do papa; o vento balançava até a estrutura do palco, onde estavam o papa, os bispos e muitas outras pessoas. Mais de um milhão de jovens estava à frente do Papa, apanhando toda aquela chuva. Os seguranças sugeriram, várias vezes, que ele se retirasse para um lugar mais seguro, mas Bento 16 quis permanecer ali, com os jovens... No final da celebração, parecia que não queria ir embora, preocupado com os jovens... Aproximou-se deles, de maneira muito paternal, e desejou que, apesar de tudo, eles repousassem ao menos um pouquinho... Na manhã seguinte, já debaixo de muito sol, a primeira coisa que fez foi perguntar aos jovens como tinham passado a noite. Achei isso de uma sensibilidade finíssima, que emocionou e cativou o coração dos jovens.

O SÃO PAULO - A partir dos momentos reservados que teve com

terá as qualidades que tiver, e não podemos idealizar demais. Nenhum papa é igual a outro. Ele deverá ser dócil às inspirações e à ação do Espírito Santo, inteiramente fiel a Cristo e à própria Igreja. Podemos, humanamente, desejar que seja uma pessoa muito capaz, cheia de virtudes, preparada do ponto de vista intelectual e teológico, homem de grande fé e vigor espiritual, capaz de liderança e de comunicação, segundo as condições do nosso tempo. Mas também neste caso, precisamos ter a consciência de que ninguém nasce papa, mas aprende a desempenhar essa árdua missão enquanto a exerce.

O SÃO PAULO – Quais são os principais desafios que o próximo papa vai encontrar? Dom Odilo Scherer - São os desa-

fios de toda a Igreja, que se manifestam em toda parte: a nova evangelização, a transmissão da fé, a perseverança na fé e a operosidade dos filhos da Igreja para a irradiação da luz e da força viva do Evangelho no mundo... Há os desafios internos da renovação constante da Igreja, para que ela viva no compasso do tempo e da cultura, sem deixar de ser ela mesma; há os desafios externos, representados pela cultura do nosso tempo, muitas vezes, fechada ao Evangelho, senão, contrária a ele. Há os desafios da presença pública da Igreja no mundo, no contexto da política, da economia, da educação, das relações sociais e internacionais. De fato, o Evangelho não é um bem privado da Igreja, mas uma “luz” para o mundo, que não deve ser ocultada, mas irradiada. Enfim, os desafios podem ser muitos, mas não devemos esperar que eles sejam enfrentados pelo papa sozinho, nem sempre em primeira pessoa. A missão e a responsabilidade pela Igreja são compartilhadas, com o papa, por todos os bispos em comunhão com ele. E em cada Igreja local, com os bispos, também os sacerdotes e todos os fiéis assumem essa mesma responsabilidade. A Igreja não depende só do papa.

O SÃO PAULO - Qual deve ser a atitude dos católicos neste tempo de espera para a eleição do novo papa? Dom Odilo Scherer - Antes de

tudo, uma serena fé e confiança na Igreja e na ação do Espírito de Cristo, que não abandona a Igreja. Talvez foi essa a mensagem mais insistente de Bento 16 nesses últimos dias de seu pontificado: não estamos sozinhos; o Senhor não abandona a sua Igreja. Portanto, ninguém desanime, nem se deixe levar pelo pânico. Este é um tempo de espera e de serena esperança. A Igreja não conta apenas com as próprias forças e fragilidades. Ela pode continuar a contar com o seu supremo Pastor, que é o próprio Senhor Jesus.


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PONTIFICADO DE BENTO 16

‘Igreja é de Cristo’, afirma Santo Padre Nos últimos dias de pontificado, Bento 16 agradeceu o carinho recebido e enfatizou razões para a renúncia Canção Nova - Europa

DANIEL GOMES REDAÇÃO

Em Castel Gandolfo, Bento 16 saúda fiéis e concede última benção apostólica como papa, dia 28

“Queridos amigos! Deus guia sua Igreja, ele a conserva sempre, e especialmente nos tempos difíceis. Não percamos nunca essa visão da fé, que é a única visão verdadeira do caminho da Igreja e do mundo. Que viva sempre em nossos corações, no coração de cada um de vocês, a certeza jubilosa de que o Senhor está perto, que ele não nos abandona, que está perto de nós e nos envolve em seu amor. Obrigado!”. As palavras finais de Bento 16, diante de milhares de pessoas na praça de São Pedro, em sua última audiência pública como papa, na quarta-feira, 27, sintetizam a gratidão aos fiéis e clérigos e a confiança em Cristo, que o agora Papa emérito, de 85 anos, externou desde 11 de fevereiro, quando, em latim, durante consistório com os cardeais no Vaticano, anunciou que deixaria o exercício do ministério de Pedro. “No mundo de hoje, sujeito a mudanças tão rápidas e abalado por questões de profunda relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e proclamar o Evangelho, é necessário tanto força da mente quanto do corpo, o que, nos últimos meses, se deteriorou em mim numa extensão em

que eu tenho de reconhecer minha incapacidade de adequadamente cumprir o ministério a mim confiado”, explicou durante o consistório. Na Catequese do dia 13, Bento 16 voltou a afirmar que renunciaria ao pontificado pelo bem da Igreja e enfatizou que “a Igreja é de Cristo, o qual nunca fará faltar a sua guia e o seu cuidado”. No mesmo dia, na missa da Quarta-feira de Cinzas, salientou que o verdadeiro discípulo de Jesus não serve a si mesmo ou ao público, mas ao Senhor, na simplicidade e na generosidade, e indicou que cada fiel deve testemunhar a fé e a vida cristã para manifestar a face da Igreja, e lamentou que “esta face seja, muitas vezes, deturpada. Penso especialmente nas culpas contra a unidade da Igreja, nas divisões no corpo eclesial”. Bento 16 também sinalizou para a importância de a Igreja se renovar. Em encontro com os padres de Roma, no dia 14, disse que todos precisam “trabalhar para que se realize verdadeiramente o Concílio Vaticano 2º e se renove a Igreja” e na oração do Ângelus, no dia 17, afirmou que a Igreja convoca todos os seus membros a se renovar. Na audiência pública do dia 27, ressaltou que o Evangelho é a força da Igre-

ja, que em seus quase oito anos de pontificado “assistiu a momentos de alegria e luz, mas também a momentos difíceis”, mas que sempre soube que Deus a conduz, e falou sobre a natureza da Igreja: “não uma organização, não uma associação para finalidades religiosas ou humanitárias, mas um organismo vivo, uma comunidade de irmãos e irmãs no corpo de Jesus Cristo, que nos une a todos. Vivenciar a Igreja dessa maneira e ser quase capaz de tocar com as mãos o poder de sua verdade e seu amor é uma fonte de alegria, em um tempo em que muitos falam do declínio dela”. Em seu último dia de pontificado, na quinta-feira, dia 28, antes de deixar o Vaticano, Bento 16 agradeceu aos cardeais e prometeu estar unido a eles em oração. Já como papa emérito, na residência apostólica de Castel Gandolfo, sintetizou como servirá a Igreja de agora em diante. “Sou simplesmente um peregrino que inicia a última etapa de sua peregrinação nesta terra. Mas gostaria ainda com o meu coração, com o meu amor, com a minha oração, com a minha reflexão, com todas as minhas forças interiores, de trabalhar em prol do bem comum e do bem da Igreja e da humanidade”.

“Obrigado pelo vosso amor e o vosso apoio! Possais viver sempre na alegria que se experimenta quando se põe Cristo no centro da vida”

“Neste momento particular, peço-vos que rezeis por mim e pela Igreja, confiada sempre na Providência de Deus”

Papa emérito compromete-se à vida de oração DA REDAÇÃO

Desde que anunciou que renunciaria ao ministério petrino, Bento 16 garantiu que servirá a Igreja através de uma vida de oração. Após passar os próximos dois meses na residência apostólica de Castel Gandolfo, o Papa emérito retornará ao Vaticano para residir no mosteiro Mater Ecclesiae. “O Senhor me chama para ‘subir o monte’, para me dedicar ainda mais à oração e à meditação. Mas isso não significa abandonar a Igre-

ja, pelo contrário, se Deus me pede isso é para que eu a possa continuar servindo com a mesma dedicação e o mesmo amor com o qual fiz até hoje, mas de um modo mais adequado à minha idade e às minhas forças”, disse na oração do Ângelus, no dia 24. Em sua última audiência pública, no dia 27, Bento 16 afirmou que continuará a acompanhar a Igreja por meio da prece e da reflexão, pediu aos fiéis que orem pelos cardeais na escolha do novo sucessor de Pedro, “para que

o Senhor o acompanhe com a luz e o poder de Seu Espírito. Invoquemos a intercessão maternal de Maria, mãe de Deus e da Igreja, para que ela acompanhe cada um de nós e toda a comunidade eclesial”. Em audiência no dia 23, disse que estará em uma maior proximidade espiritual e comunhão de oração com os cardeais, e ao se despedir deles, no dia 28, reiterou tal proximidade e garantiu que terá plena obediência ao futuro papa. “Desejo dizer que continuarei próximo com a

oração, especialmente nos próximos dias, para que sejais plenamente dóceis à ação do Espírito Santo na eleição do novo papa. Que o Senhor vos mostre quem ele quer. E entre vós, entre o Colégio dos Cardeais, está também o futuro papa, ao qual já hoje prometo a minha incondicional reverência e obediência”, disse, desejando ainda que o Colégio dos Cardeais “seja como uma orquestra, onde as diversidades, expressão da Igreja universal, concorrem à superior e concorde harmonia”. (DG)

Mensagem postada no twitter dia 28, antes de deixar o Palácio Apostólico.

Mensagem postada no twitter dia 24, após a oração do Ângelus.

Arquidiocese de São Paulo enaltece Bento 16 Luciney Martins/O SÃO PAULO

DANIEL GOMES REPORTAGEM NO CENTRO

Às 12 horas, da quinta-feira, dia 28, leigos, seminaristas e padres da Arquidiocese de São Paulo uniram-se em oração e ação de graças pelo pontificado de Bento 16, em missa na Catedral da Sé, presidida por dom Tarcísio Scaramussa, vigário geral da Arquidiocese, e concelebrada pelo também bispo auxiliar de São Paulo, dom Julio Endi Akamine. No início da missa, tendo à frente do presbitério a imagem do Papa, foi recordada pelo padre Tarcísio Marques Mesquita, assessor do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, a biografia e a trajetória do cardeal Joseph Ratzinger e os feitos de seu pontificado como Bento 16. “O papa lega-nos que jamais nos esqueçamos, como ele próprio escreveu, que o amor

Fiéis manifestam carinho a Bento 16, durante missa em ação de graças por seu pontificado, na Catedral da Sé, na quinta-feira, dia 28

a Deus e o amor ao próximo fundem-se como num todo. No mais pequenino, encontramos Jesus e em Jesus encontramos Deus”.

Dom Tarcísio, na homilia, ressaltou que Bento 16 sempre mostrou extrema confiança em Deus e que, ao renunciar ao pontificado, teve

um gesto profético, corajoso e de desapego ao poder, dando exemplo de servidor da Igreja. “Por tantos frutos que podemos colher deste ministério

exercido com generosidade e dedicação total, damos graças a Deus e pedimos ao Senhor que continue manifestando seu amor e sua proximidade ao

nosso querido Bento 16, para que possa continuar servindo a Igreja e sustentá-la pela oração, na fé e na confiança no Senhor”, expressou o Bispo. Passavam das 13h quando a celebração terminou na Catedral da Sé. Bento 16, há poucos minutos, havia deixado o Vaticano de helicóptero rumo à residência apostólica de Castel Gandolfo. “É uma coisa muito emocionante a gente se despedir de um papa com vida”, comentou dom Tarcísio, em entrevista coletiva. “Apesar de ser uma coisa incomum a renúncia de um papa, a aceitação deste gesto foi muito tranquila. Isso revela que a Igreja confia que seu supremo pastor é Jesus Cristo. Quando um papa morre ou renuncia, Jesus continua sendo o pastor, por isso, vejo este momento como muito importante para a renovação da fé da Igreja”, avaliou.


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