ARQUITETURA E URBANISMO UNIVERSIDADE VILA VELHA
ARQUITETURA MODULAR: SOLUÇÃO DIRETIVA PARA PROJETOS DE UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE
RAFAELLA VETTORAZZI FIGUEIREDO 2020
RAFAELLA VETTORAZZI FIGUEIREDO
ARQUITETURA MODULAR: SOLUÇÃO DIRETIVA PARA PROJETOS DE UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Vila Velha, como pré-requisito do programa do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo.
VILA VELHA 2020
RAFAELLA VETTORAZZI FIGUEIREDO
ARQUITETURA MODULAR: SOLUÇÃO DIRETIVA PARA PROJETOS DE UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Vila Velha, como pré-requisito do programa do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo.
Vila Velha, 30 de junho de 2020.
COMISSÃO EXAMINADORA
________________________________________ Prof. Me. Edna Mara Pires Gumz Universidade Vila Velha Orientador
________________________________________ Prof. Me. Clovis Aquino de Freitas Cunhas Universidade Vila Velha Convidado Interno
________________________________________ Heliomar Venâncio Arquiteto e Urbanista Convidado Externo
Dedico este trabalho aos meus maiores incentivadores: minha mĂŁe, Helena Vettorazzi e ao meu noivo, Daniel Lemos.
Agradeço a Deus, acima de tudo, por conduzir meus passos e conceber força е perseverança para atingir os meus objetivos. Agradeço à minha mãe, Helena Vettorazzi. Sua garra, dedicação e coragem sempre foram as minhas maiores inspirações e não me deixaram desistir. É por ela que almejo alcançar voos cada vez mais altos. Te dedico esta e todas as minhas demais conquistas. Ao meu noivo, Daniel Lemos, por estar sempre ao meu lado e acreditar no meu sonho. Seu valioso e incansável apoio foi fundamental durante essa trajetória. Graças ao seu estímulo diário cheguei até aqui. As minhas amigas de turma, com quem convivi intensamente durante os últimos anos, pela amizade e pela troca de experiências. Em especial: Fabiola, Karen e Maria Carolina. Vocês alegraram meus dias e tornaram essa trajetória mais leve. Desejo que conquistem tudo que almejamos juntas. A formatura é apenas o primeiro passo! Aos meus queridos amigos que compreenderem minha ausência e sempre me enviaram mensagens positivas, me tranquilizando nos períodos de trabalhos mais intensos e reforçando o tamanho do meu potencial. A minha orientadora Edna Mara, por transmitir seus conhecimentos no desenvolvimento dessa pesquisa. Ao meu co-orientador, Clovis Aquino, que com muito zelo me ajudou nesta etapa final. Ao professor Luiz Marcello por todos os conselhos e recomendações. Ao arquiteto Heliomar Venâncio, que sempre se demonstrou solícito, auxiliando durante o período acadêmico e agora como participante da banca. Sou grata a todos que diretamente ou indiretamente dividiram comigo esse sonho! Essa vitória é nossa!
RESUMO
As Unidades Básicas de Saúde representam hoje a porta de entrada do paciente no Sistema Único de Saúde (SUS) e tem como objetivo solucionar patologias mais comuns, sem que exista a necessidade de encaminhamento imediato do aos hospitais. Com o crescimento populacional acelerado e a constante demanda de atualizações e ampliações do equipamento de saúde pública, a arquitetura modular se destaca como uma importante técnica construtiva para a racionalização das construções facilitando o processo de implantação e ampliação das unidades. Diante dessa problemática, o principal objetivo dessa pesquisa é criar elementos arquitetônicos que possam facilitar a implantação de novas UBS no município de Vila Velha, de acordo com a demanda dos órgãos competentes. Cabe destacar que todos os elementos arquitetônicos serão adotados com o intuito de promover a racionalização das construções e facilitar a ampliação do projeto, bem como, a adaptação e implantação em outros terrenos, sempre respeitando as condicionantes do local onde será implantado.
Palavras-chave: Arquitetura Modular, Arquitetura Hospitalar, Unidade Básica de Saúde.
The Basic Health Units today represent the patient's gateway to the Unified Health System (SUS) and aims to solve more common pathologies, without the need for immediate referral to hospitals. With the accelerated population growth and the constant demand for updates and extensions of public health equipment, modular architecture stands out as an important constructive technique for the rationalization of constructions, facilitating the process of implantation and expansion of the units. In view of this problem, the main objective of this research is to create architectural elements that can facilitate the implementation of new UBS in the municipality of Vila Velha, according to the demand of Organs competent bodies. It should be noted that all architectural elements will be adopted in order to promote the rationalization of buildings and facilitate the expansion of the project, as well as the adaptation and implantation in other lands, always respecting the conditions of the place where it will be implanted.
Keywords: Modular Architecture. Hospital Architecture, Basic health Unit.
BSTRAC
LISTA DE FIGURAS
Figura 23 - Vistas do terreno ......................................................... 54
Figura 01 - Linha de produção (Ford Motor Company) ................. 16
Figura 25 - Setorização e acessos ................................................ 56
Figura 02 - Construção das Pirâmides do Egito ............................ 19
Figura 26 - Planta baixa humanizada ............................................ 58
Figura 03 - Aplicação das colunas nos templos gregos ................ 19
Figura 27 - Posicionamento dos módulos ..................................... 59
Figura 04 - Reticulado em passos romanos .................................. 20
Figura 28 - Posicionamento dos módulos ..................................... 60
Figura 05 – Cidade de Emona ...................................................... 20
Figura 29 - Imagem aérea - Fachada principal (Leste) .................. 63
Figura 06 - Planta Baixa de uma residência Japonesa ................. 21
Figura 30 - Fachada principal (Leste)............................................ 64
Figura 07 - Palácio de Cristal ........................................................ 22
Figura 31 - Chegada de veículo - Fachada principal ..................... 65
Figura 08 - Perspectiva, planta e corte - Casa Dominó ................. 24
Figura 32 - Detalhe da marquise - Fachada principal .................... 66
Figura 09 - O modulor ................................................................... 27
Figura 33 - Fachada sul - Elementos vazados .............................. 67
Figura 10 - Modulação Alvenaria Estrutural .................................. 31
Figura 34 - Fachada sul ................................................................ 68
Figura 11 - Modulação para estruturas pré-moldadas ................... 33
Figura 35 - Recepção/Espera (Acesso Principal) .......................... 69
Figura 12 - Elementos pré-moldados ............................................ 33
Figura 36 - Recepção/Espera ....................................................... 70
Figura 13 - Formas orgânicas em aço .......................................... 34
Figura 37 - Jardim de acolhimento (Vista da Recepção) ............... 71
Figura 14 - Estrutura da parede em WF ........................................ 35
Figura 38 - Jardim de Acolhimento (Vista do Consultório) ............. 72
Figura 15 - Componentes Estruturais - LSF .................................. 37
Figura 39 - Jardim de acolhimento ................................................ 73
Figura 16 - Espaçamento entre perfis ........................................... 38
Figura 40 - Sala de reuniões e atividades educativas ................... 74
Figura 17 - Sistema de refrigeração evaporativa........................... 41
Figura 41 - Sala de reuniões e atividades educativas (Jardim) ..... 75
Figura 18 - Modulação da Rede Sarah Kubitschek ....................... 42
Figura 42 - Consultório (Vista para o jardim) ................................. 76
Figura 19 - Instalações elétricas sob vigas ................................... 42
Figura 43 - Modulação marquise................................................... 77
Figura 20 - Malha Modular ............................................................ 50
Figura 44 - Perspectiva Explodida (Materiais) ............................... 78
Figura 21 - Modulações adotadas ................................................. 51 Figura 22 - Localização do terreno................................................ 53
Figura 24 - Diagnóstico ambiental ................................................. 55
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
Quadro 01 - Estrutura do trabalho.........................................15
CA: Coeficiente de Aproveitamento
Quadro 02 - Setores do CTRS...............................................43
CBCA: Centro Brasileiro da Construção em Aço
Quadro 03 - Elementos arquitetônico....................................46
CONTRAN: Conselho Nacional de Trânsito
Quadro 04 - Programa de necessidades...............................49
CM: Coeficiente de Aproveitamento
Quadro 05 - Materiais utilizados............................................52
CTRS: Centro de Tecnologia da Rede Sarah
Quadro 06 - Índices Urbanísticos..........................................55
DML: Depósito de Material de Limpeza
Quadro 07 - Calculo de Índices Urbanísticos........................61
ES: Espírito Santo
Quadro 07 - Identidade Arquitetônica...................................62
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LSF: Light Steel Frame NBR: Norma Brasileira OBS: Oriented Strand Board PMVV: Prefeitura Municipal de Vila Velha RU: Resistente à Umidade SUS: Sistema Único de Saúde UBS: Unidade Básica de Saúde VV: Vila Velha WF: Wood Frame
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................12 1.1 JUSTIFICATIVA...............................13 1.2 OBJETIVOS.....................................13 1.2.1 OBJETIVO GERAL.........................13 1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...........13 1.3 METODOLOGIA DE PESQUISA........14 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO...........15
2. ARQUITETURA MODULAR....................................................16 2.1 O PRINCÍPIO DA PRODUÇÃO EM SÉRIE..............................16 2.2 TRAJETÓRIA: DO MÓDULO À COORDENAÇÃO MODULAR...17 2.2.1 PRIMEIRO PERÍODO (ANTIGUIDADE ATÉ 1700)...............18 2.2.2 SEGUNDO PERÍODO (1700 ATÉ 1850).............................21 2.2.3 TERCEIRO PERÍODO (1850 ATÉ A ATUALIDADE).............23 2.3 ARQUITETURA MODULAR NO BRASIL................................28 2.4. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS..............................................29
3. SISTEMAS CONSTUTIVOS MODULARES.......30 3.1 ALVENANRIA ESTRUTURAL.........................30 3.2 PRÉ-MOLDADO OU PRÉ-FABRICADO.........32 3.3 CONSTRUÇÕES EM AÇO.............................34 3.4 WOOD FRAME............................................35 3.5 LIGHT STEEL FRAME..................................36 3.6 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS......................39
4. ESTUDO DE REFERÊNCIA.........................................40 4.1 REDE DE HOSPITAIS SARAH KUBITSCHEK............40 4.2 O MÓDULO DE LELÉ...............................................41 4.3 DO CTRS AO CANTEIRO DE OBRAS.......................43 4.4 ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS.............................45 4.5 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS.................................47
5. ENSAIO PROJETUAL....................................48 5.1 REFERÊNCIAS LEGAIS................................48 5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES................49 5.3 CONCEITO E PARTIDO...............................50 5.4 TIPOLOGIA DOS MÓDULOS.......................50 5.5 MONTAGEM E TRANSPORTE...................... 53 5.6 DIAGNÓSTICO DO TERRENO......................53 5.7 PROPOSTA................................................56 5.8 identidade arquitetônica...................62 5.9 perspectivas.........................................63 5.10 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................79 Referências bibliográficas.....................80
12
1. INTRODUÇÃO
No entanto, na prática, existe uma grande divergência. De
De acordo com o Ministério da Saúde (2006), as Unidades
município de Vila Velha – ES registrou a população de 414.856
Básicas de Saúde (UBS) oferecem serviços de atenção
mil pessoas (IBGE, 2019) e apenas 19 unidades básicas de
primária e podem ser consideradas como porta de entrada do
saúde (PMVV, 2013). Atualizando os dados estimados para o
paciente no Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo dessas
ano de 2019, a população chega a 493.838 mil habitantes e o
unidades é solucionar cerca de 80% dos problemas de saúde
número de UBS permanece o mesmo, o que inviabiliza a
mais
prestação do serviço de maneira adequada, e o objetivo de
comuns,
sem
acordo com o último censo do IBGE no ano de 2010, o
que
exista
a
necessidade
de
encaminhamento imediato para os hospitais.
atender grande parte da população não é alcançado.
Em correlação está o art. 196 da constituição federal, sendo claro ao assegurar o direito de saúde a todos os cidadãos brasileiros:
493.838 mil habitantes
"A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantindo
mediante
políticas
sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988)"
19 unidades básicas de saúde
13
1.1 JUSTIFICATIVA Como demonstrado, o crescimento populacional acelerado
1.2 OBJETIVOS
diverge do investimento nos equipamentos necessários a
1.2.1 Objetivo Geral
atender as necessidades básicas da população, como
Com base nas premissas da arquitetura modular, desenvolver
hospitais, escolas etc. Diante desse fato, a principal motivação
um projeto em nível de estudo preliminar que atenda ao
da pesquisa é a necessidade de estudar sistemas construtivos
programa de necessidades de uma UBS, a fim de promover a
que possibilitem acelerar o processo de implantação de novas
racionalização da obra, bem como, o emprego de uma
unidades, e a arquitetura modular evidencia uma forma de
identidade arquitetônica ao serviço no município de VV.
pensar a arquitetura que integra os avanços tecnológicos à concepção de projeto, visando a racionalização do processo criativo e construtivo. Nesse sentido, a arquitetura vem corroborar com técnicas
1.2.2 Objetivo Específicos ▪
inovadoras de construção com menor custo e tempo de obra. Este projeto justifica o estudo de novas UBS no Município de
modular; ▪
Vila Velha/ES, apresentando modelos com infraestrutura modular e flexível, permitindo a adaptação e ampliação a demanda local.
Entender as principais características da arquitetura
Investigar sistemas construtivos que requerem o emprego de modulações;
▪
Analisar projetos referências da arquitetura modular;
▪
Pesquisar programa de necessidades que atendam a uma UBS.
14
1.3 METODOLOGIA DE PESQUISA
I.
Definição do módulo e sistema construtivo, escolha dos
elementos arquitetônicos que servirão de referência, proposta Para alcançar o projeto proposto, a pesquisa foi dividida em quatro etapas sequenciais, são elas:
ETAPA 1
volumétrica
e
experimento
componentes modulares.
II.
Ensaio projetual em terreno.
Levantamento bibliográfico para identificar as principais características da arquitetura modular, sendo adquirido através de livros, artigos científicos, monografias, internet, entre outros.
ETAPA 2 Estudo de referencial em edifícios modulares, com foco em arquitetura hospitalar, a fim de identificar os elementos construtivos que podem atender as condições de uma UBS e compor a arquitetura da proposta.
ETAPA 3: Utilizar os conhecimentos obtidos ao longo dessa pesquisa, aplicando-os no desenvolvimento de projeto arquitetônico de uma UBS em nível de estudo preliminar, sob as seguintes fases:
com
ETAPA 4: Considerações finais.
as
disposições
dos
15
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO Quadro 01 - Estrutura do trabalho
Introdução Justificativa Objetivos Metodologia de Pesquisa Estrutura do Trabalho
Arquitetura Modular O princípio da Produção em Série Trajetória: do módulo à coordenação modular Arquitetura Modular no Brasil Considerações Parciais
Sistemas Construtivos Modulares Alvenaria Estrutural Pré-Moldado ou Pré-Fabricado Construções em Aço Wood Frame Light Steel Frame Considerações Parciais Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
Estudo de Referência Rede de Hospitais Sarah Kubitschek O módulo de Lelé Do CTRS ao Canteiro de Obras Elementos Arquitetônicos Considerações Parciais
Ensaio Projetual Referências Legais Programa de Necessidades Conceito e Partido Tipologias dos Módulos Montagem e transporte Diagnóstico do Terreno Proposta Identidade Arquitetônica Perspectivas Considerações finais
16
2. ARQUITETURA MODULAR
Ford aprimorou uma prática de produção de automóveis que já
O uso de modulações na arquitetura pode ser identificado em
o produto se movimentava sob uma esteira e o trabalhador, em
diversos períodos desde à antiguidade, sendo caracterizado
posição fixa, ficava responsável por apenas uma tarefa (Figura
pelo emprego de diferentes métodos e tecnologias. O presente
01), assim os automóveis eram construídos progressivamente.
capítulo objetiva abordar um breve histórico sobre a origem da
Esse modelo de produção ficou conhecido como fordismo
arquitetura modular, bem como, reconhecer a sua evolução ao
(SOUSA, 2009).
existia na Europa, e criou a chamada “linha de produção”, onde
longo dos anos. Figura 01 - Linha de produção (Ford Motor Company)
2.1 O PRINCÍPIO DA PRODUÇÃO EM SÉRIE A revolução industrial iniciada em 1760, trouxe diversas inovações tecnológicas e influenciou profundamente as técnicas de produção, no entanto, o exercício da produção em série só passou a ser difundida de maneira satisfatória dentro da indústria automobilística no início do século XX, sob o comando do empresário norte-americano Henry Ford11 (SOUSA, 2009). Fonte: https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/a-evolucao-das-linhasde-montagem-de-automoveis/
1
Henry Ford - Empreendedor e engenheiro mecânico estadunidense, fundador da Ford Motor Company e primeiro empresário a aplicar a montagem em série de forma a produzir em massa automóveis em menos tempo e a um menor custo.
17
De acordo com Bregatto (2008), a linha de produção de Ford é
2.2 TRAJETÓRIA: DO MÓDULO À COORDENAÇÃO MODULAR
o exemplo clássico de um sistema eficaz no âmbito da racionalização, baseado na adoção dos conceitos de padronização e produção em massa. Os locais de fabricação dos elementos podem ser afastados de onde que se realiza a montagem, e ainda assim, possibilitar a aplicação e o ajuste de
Para apresentar o panorama sobre os aspectos relevantes da arquitetura modular e compreender a evolução dos sistemas construtivos, é necessário principiar com a definição do módulo e da coordenação modular:
cada peça no seu devido lugar, com precisão e rapidez. No que se refere a construção, uma técnica equivalente poderá ser utilizada desde que os elementos passem por um processo de padronização, a fim de promover a montagem sem problemas com ajustes, mesmo quando derivadas de fabricas distintas. Para tirar vantagem da produção em série, é necessário que as peças fabricadas possam ocupar diferentes posições em um ou em vários edifícios. A realização prática destes conceitos, é possível com o uso adequado do módulo (BREGATTO, 2008).
O módulo na arquitetura pode ser definido como uma unidade de medida básica, adotado para estabelecer dimensões, proporções e ordenar a construção dos elementos de uma determinada estrutura arquitetônica. Desse modo, passa a cumprir a função de divisor comum a todas, ou algumas, dimensões dos elementos industrializados, proporcionando condições adequadas para a sua atividade e elasticidade de aproveitamento. A maneira como o módulo é exigido na arquitetura, corresponde a várias razões: estéticas, filosóficas e técnicas construtivas (BREGATTO, 2008).
18
Já a coordenação modular, pode ser identificada diante da
2.2.1 Primeiro Período (Antiguidade até 1700)
ordenação dos espaços na construção civil, através do uso de elementos construtivos produzidos a partir de uma unidade de medida básica – o módulo, estabelecido pela norma International Organization for Standardizatiton (ISO) em 10cm. A coordenação modular advinda das indústrias, surgiu entre a primeira e a segunda guerra mundial, quando foi necessário reconstruir de forma racionalizada as edificações residenciais nos países destruídos, principalmente na Alemanha. Diante dessa demonstração, diversos estudos surgiram em outros países, sendo que, a nível mundial, o Brasil foi um dos primeiros a aprovar uma norma de coordenação modular, a NB-25R em 1950 (VASCONCELLOS et al., 2005).
O primeiro período é marcado pela ação e produtividade do homem, ou seja, o homem era exclusivamente responsável por todos os edifícios construídos naquele tempo. Este período deixou um legado arquitetônico importantíssimo, sendo destaque: Egito, Grécia, Roma e Japão (BREGATTO, 2005). No Egito, as pirâmides eram construídas com técnicas extremamente artesanais. Devido à falta de recursos, os trabalhadores e escravos carregavam as pedras até o local da construção, cortavam de acordo com as medidas préestabelecidas e erguiam até a sua posição na pirâmide (Figura 02). Para os egípcios, o módulo era utilizado para definir as dimensões necessárias para o corte de cada pedra que
De acordo com Bregatto (2005), considera-se que as demonstrações desses modos de produção podem ser vistas em três momentos: ▪
Primeiro período: Antiguidade até 1700;
▪
Segundo período: 1700 até 1850;
▪
Terceiro período: 1850 até a atualidade.
compunha as pirâmides (BREGATTO, 2005).
19
Figura 02 - Construção das Pirâmides do Egito
No entanto, os gregos, já traziam uma ideia mais avançada sobre o módulo e o utilizavam como uma medida reguladora, objetivando estabelecer a proporção das construções. Por exemplo, eles determinaram que o diâmetro da coluna servia como unidade básica para definir as medidas proporcionais, não só da própria coluna, mas de todos os componentes do templo (Figura 03). Dessa forma, a distância entre as colunas também atendia a esse preceito (VASCONCELLOS et al., 2005; BALDAUF e GREVEN, 2007). Figura 03 - Aplicação das colunas nos templos gregos
Fonte: https://www.tes.com/lessons/lPvOSNGvSHwQ3g/how-to-build-apyramid-connor-durbin
Fonte: Livro Bloco (1): Penso, logo registro (2005, pág. 183).
20
Os romanos, por sua vez, tiveram como base medidas
Figura 05 – Cidade de Emona
antropométricas, ou seja, a partir das medidas do corpo humano. A cidade de Emona é um exemplo prático da aplicação de medidas antropométricas, cuja a malha modular foi baseada em um módulo de 60 passos, e múltiplos dessa medida, constituindo um reticulado de 360x300 passos romanos (Figura 04), dando à cidade uma proporção de 6:5. A cidade de Emona (Figura 05) atualmente se chama Liubliana, na Eslovênia (VASCONCELLOS et al., 2005; BALDAUF e GREVEN, 2007). Figura 04 - Reticulado em passos romanos
Fonte: Livro Bloco (1): penso, logo registro (2005, pág. 184).
Fonte: Livro Bloco (1): penso, logo registro (2005, pág. 184).
21
No Japão, durante a segunda metade da idade média, foi
2.2.2 Segundo Período (de 1700 até 1850)
adotada a unidade de medida KEN, objetivando inicialmente determinar a separação entre as colunas. Logo ao ser concebida, essa medida não possuía dimensão fixa, porém, posteriormente, se tornou medida absoluta que regia toda a estrutura, os materiais e os espaços da arquitetura japonesa. Para definir a dimensão de uma habitação japonesa, utilizavam o “tatami” (Figura 06), módulo que tinha uma medida padrão de 1:2.
Essa
padronização
possibilitava
flexibilidade
na
formulação dos espaços (VASCONCELLOS et al., 2005; BALDAUF e GREVEN, 2007).
A partir do segundo período, a produção arquitetônica deixa de ser fundamentada na figura humana e é direcionada à produção industrial, que possibilitava desenvolver peças préfabricadas, principalmente em aço e ferro. Nesse período surge a primeira demonstração de coordenação modular. De acordo com Bryson (2011), a primeira aplicação arquitetônica baseada na pré-fabricação se deu início em 1850 no Hyde Park, desenvolvida para a exposição universal de Londres, na Inglaterra. Composto por uma gigantesca estrutura de ferro e vidro, o icônico edifício se chamaria Palácio
Figura 06 - Planta Baixa de uma residência Japonesa
de Cristal (Figura 07), implantado em um terreno de mais de sete hectares.
Fonte: Greven e Baldauf (2005, pág. 22).
22
Figura 07 - Palácio de Cristal
O pavilhão foi todo construído a partir de peças pré-fabricadas e o vidro foi o elemento condicionador da escolha do módulo, desenvolvido em grandes placas, cuja dimensão limite era de oito pés (cerca de 240cm). Essa medida determinou o reticulado da malha e o posicionamento de todas as peças, utilizando múltiplos do módulo: 24, 48, 72 pés – cerca de 720cm, 1440cm, 2160cm respectivamente (VASCONCELLOS et al., 2005; BALDAUF e GREVEN, 2007). O projeto foi idealizado por Joseph Paxton e motivou diversos arquitetos a utilizarem as técnicas dos sistemas pré-fabricados. Essas demonstrações serão apresentadas adiante.
Fonte: https://www.archdaily.com/397949/ad-classic-the-crystal-palacejoseph-paxton
23
2.2.3 Terceiro Período (1850 até a atualidade)
Le Corbusier, um dos arquitetos mais importantes do século XX, dotado dos seus ideais modernistas e convencido que o
Após os períodos de guerra (1914-1945), a demanda por construções passou a ser exigida de maneira incisiva, visto
processo de produção em massa era a alternativa mais coerente para recompor as construções após a guerra, expõe:
que, muitos países precisavam se recuperar rapidamente dos danos causados. Diante da necessidade de suprir a escassez
“Impossível esperar pela lenta colaboração dos
de habitações, a utilização das técnicas de coordenação
sucessivos esforços do escavador, do pedreiro,
modular foram intensificadas, pois acreditava-se que esse
do carpinteiro, do marceneiro, do colocador de
método seria eficiente para produção em massa e redução do
ladrilhos, do encanador. As casas devem ser erguidas de uma só vez, feitas por máquinas em
custo. A partir disto, novas ideias sobre a eficiência das
uma fábrica, montadas como Ford monta os
construções foram introduzidas na produção industrial,
carros, sobre esteiras rolantes” (LE CORBUSIER
resultando na elaboração de normas e critérios que definiram
apud FARAH, 1996, p. 21).
a dimensão dos módulos básicos e sugeriram a padronização dos
elementos
construtivos,
objetivando
a
máxima
Com base nessa ideologia, ainda em 1914, Le Corbusier
produtividade (CUPERUS2, 2001).
desenvolveu a famosa “Casa Dominó”, um projeto simples que
Esse período também é marcado pelo desempenho do
visava solucionar o déficit habitacional após a eclosão da
movimento modernista, apresentando diversas contribuições
primeira grande guerra. Deu-lhe o nome de “DOM-INO” devido
no que se refere à modularidade. Grandes nomes da
às semelhanças com as peças do dominó, em formato
arquitetura mundial estão presentes: Le Corbusier, Walter
retangular, marcado por seis pilares.
Gropius, Alfred Farwell Bemis, entre outros.
2
Tradução Nossa.
24
De acordo com Vasconcellos et al. (2005), o projeto consistia em uma estrutura de concreto armado levemente elevada do chão, com três lajes horizontais planas, quatro lances de escada, oito pilares verticais apoiados em oito blocos de fundação (Figura 08). “Cada laje é dividida longitudinalmente em 10 módulos de 75cm, correspondente aos alvéolos marcados pelos vazios das formas retangulares. Esta amarração da laje em módulos produz 11 “vigotas” transversais de 15cm de largura entre cada cavidade.” (VASCONCELLOS et al., 2005, p. 230).
Figura 08 - Perspectiva, planta e corte - Casa Dominó
Fonte: Livro Bloco (1): penso, logo registro (2005, pág. 229 e 230).
25
Nos anos seguintes o arquiteto Walter Gropius projeta e
O método baseava-se na ideia de que todos os objetos que
constrói duas residências: A casa 17, construída no bairro
conseguem ter diferentes extensões a partir de uma medida
Weissenhof em 1927 e a “Casa Ampliável”, em 1932. Ambas
comum, são mensuráveis entre si. Sendo assim, na construção
foram construídas a partir de elementos pré-fabricados:
civil, elementos com essas características também podem se
estrutura metálica e vedação com painéis de cortiça revestidos
integrar e formar um único artefato. Em seus estudos, Bemis
externamente com cimento amianto. A casa 17 possuía planta
concluiu que a dimensão ideal para um módulo era 4
modular, enquanto a “casa ampliável” poderia ser ampliada a
polegadas (10,6cm), pois segundo ele seria essa a dimensão
partir do acréscimo de corpos volumétricos (VASCONCELLOS
que forneceria a flexibilidade favorável para o sistema
et al., 2005; BALDAUF e GREVEN, 2007).
(VASCONCELLOS et al., 2005; BALDAUF e GREVEN, 2007).
Mesmo com diversas demonstrações da pré-fabricação, a
No final da mesma década da publicação do livro “The
primeira possibilidade sobre a utilização de um sistema
Envolving House” e após a morte do autor, uma organização
modular, foi por meio do “método modular cúbico”, o pioneiro
americana chamada American Standard Association (ASA)
em conceber as medidas e coordenações adequadas para
que visava coordenar e padronizar os trabalhos americanos,
uma edificação segundo a construção industrial. O método foi
deu início a uma análise com o objetivo de sistematizar as
desenvolvido pelo americano Alfred Farwell Bemis, sendo
medidas dos elementos que compõem as construções. Nessa
publicado no livro “The Envolving House” (VASCONCELLOS
mesma
et al., 2005; BALDAUF e GREVEN,2007).
semelhantes na França, sendo apresentadas em 1942 à
Nesse livro, Bemis apresenta as particularidades da sua
Associação Francesa de Normatização (AFNOR). A partir
inspiração para o desenvolvimento de uma série construtiva,
disto, a França se torna a pioneira em nível nacional a
baseada em um módulo de três dimensões, demonstrando
implementar uma norma básica sobre a coordenação modular.
assim a origem do nome: método modular cúbico.
época,
foram
iniciadas
algumas
pesquisas
26
Em sequência, Estados Unidos, Suécia e Bélgica também
Na década de 40, após a publicação da norma francesa sobre
formularam
normativas
a coordenação modular, Le Corbusier, preocupado com as
(VASCONCELLOS et al., 2005; BALDAUF e GREVEN, 2007).
grandezas utilizadas na arquitetura, começa a fazer pesquisas
No período em que acontecia a Segunda Guerra Mundial, a
sobre medidas ou sistemas que proporcione adequação a
Alemanha vinha sendo devastada e o arquiteto Ernest Neufert
escala humana, racionalidade e ordenações, a partir de
prevendo as problemáticas na reconstrução ocasionadas pelo
cálculos simples (VASCONCELLOS et al., 2005; BALDAUF e
incidente do país no pós guerra, realizou um estudo completo
GREVEN, 2007).
e
publicaram
suas
próprias
“Bauordnungslehre”,
Para alcançar seu objetivo, o arquiteto criou e baseou a teoria
estabelecendo o sistema de coordenação octamétrica (100
do Le Modulor, que tinha como fundamento as proporções
cm/8), baseado no módulo de 12,5cm (VASCONCELLOS et
funcionais do corpo humano, as dimensões estéticas da série
al., 2005; BALDAUF e GREVEN, 2007).
de Fibonacci e da seção áurea:
que
Os
deu
origem
ao
seu
livro
documentos publicados por Neufert
tiveram tanta
relevância, que a primeira normatização alemã (DIN 4172) foi
“Para Le Corbusier o módulo era um fator de
baseada em suas considerações e publicada em 1951. Após a
multiplicação de 1,618... (número de ouro). A
divulgação dessa norma, até 1965, mais de 50% das edificações,
foram
construídas
são proporcionais à seção áurea: 43 + 70 = 113;
octamétrico. O constante uso da técnica e os resultados
113 + 70 = 183; 113 + 70 + 43 = 226. As medidas
obtidos evidenciaram a eficácia e viabilidade da utilização da
113, 183 e 226 definem o espaço que a figura
coordenação
humana ocupa, respectivamente à altura do plexo
(VASCONCELLOS
BALDAUF e GREVEN, 2007).
et
o
medidas: 113 cm, 70 cm e 43 cm. Estas medidas
sistema
modular
obedecendo
trama básica do Modulor era composta por três
al.,
2005;
solar,
estatura
e
um
homem
de
braços
levantados.” (VASCONCELLOS et at., 2005, P. 191).
27
A partir das medidas 113 e 226, o arquiteto desenvolveu, em
A restrição na aplicação do modulor foi extensa, pelo fato da
sequência, as séries vermelha e azul, escalas descendentes
teoria ter sido idealizada, em sua maior parte, como um
das dimensões relacionadas as medidas antropométricas
instrumento de controle arquitetônico, deixando em segundo
(Figura 09). Considerou a estatura de 1,83m por acreditar que
plano a ideia de ser objeto coordenador entre produção
seria o padrão mais adequado para ser usado por qualquer
industrializada e concepção de projeto. O uso de referências
raça, em qualquer parte do mundo (VASCONCELLOS et al.,
dimensionais segundo a proporção humana, também devem
2005).
ser usadas com cautela já que as medidas do corpo humano variam de acordo com sexo, idade e até mesmo raça. No
Figura 09 - O modulor
entanto, o mérito dado a sua contribuição para alcançar a compatibilização entre os elementos módulo-medida e móduloobjeto não podem ser descartadas (VASCONCELLOS et al., 2005). No Brasil, em 1950, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) elabora a NB-25R, indicada para nortear a “modulação das construções”, sendo alterada em 1969. De acordo com os preceitos da normativa, a coordenação modular pode ser definida como o reticulado de referência que deve ser empregado
no
projeto,
na
fabricação
dos
elementos
construtivos e no guia de colocação e montagem no local da construção (BALDAUF e GREVEN, 2007; BREGATTO, 2008). Fonte: https://postils.wordpress.com/2018/04/09/il-modulor/
28
Em 1957 foi realizada uma votação por parte do subcomitê TC-
Em destaque, pode ser mencionado o arquiteto carioca João
59 da ISO, adotando oficialmente a medida de 10cm ou 4
Filgueiras Lima, popularmente conhecido como Lelé. O
polegadas como módulo base. Essa proposta foi admitida
arquiteto se dedicou intensamente no que se refere à eficiência
espontaneamente por vários países. No entanto, a Alemanha
construtiva das suas construções. Nesse sentido, propôs
ainda debatia os benefícios do módulo octamétrico (12,5cm) ou
diversas estratégias que tornaram o processo das obras mais
do decimétrico (10cm). Na época, 31 dos membros da ISO
rápidas, limpas, organizadas e sustentáveis. Lelé pode ser
adotaram o módulo decimétrico, inclusive o Brasil, enquanto o
considerado o mestre do assunto no âmbito da produção
Estados Unidos adotou o módulo de 4 polegadas (BALDAUF e
nacional, e certamente inspirou as gerações seguintes a
GREVEN, 2007).
recorrerem à industrialização em seus processos de projeto (DAUDÉN, 2018).
2.3 ARQUITETURA MODULAR NO BRASIL
A trajetória de Lelé e a forma como foram aplicados os
No Brasil, diversos arquitetos se esforçaram de maneira notável para aplicar os processos industriais nas suas obras, demonstrando as vantagens da pré-fabricação e aplicando as técnica da indústria em todos os estágios da obra, incluindo o planejamento
do
canteiro,
a
mecanização
tarefas,
a
programação e execução das etapas e a forma de administrar o canteiro e mão de obra. Esses profissionais contribuíram para impulsionar conhecimentos técnicos no mercado da construção civil no País (DAUDÉN, 2018).
preceitos da arquitetura modular em suas obras, serão apresentados pormenorizadamente.
29
2.4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS A
coordenação
modular
como
diretriz
para
projetos
arquitetônicos vem sendo utilizada desde a antiguidade e traz consigo uma série de vantagens. No entanto, atualmente, ainda podem ser observadas algumas limitações e exigências para que sua aplicação seja feita de maneira segura e eficaz, como por exemplo, a escolha do módulo adequado, suas dimensões, a adaptação de um único sistema construtivo, seu transporte e a mão de obra qualificada para execução e montagem. Dessa forma, se torna obrigatório ter um projeto integral do edifício, considerando suas modulações, sistemas e subsistemas. Tudo deve ser planejado antecipadamente para não ocorrerem surpresas indesejadas durante a montagem no canteiro de obras. Cabe destacar também, que mesmo sendo constituída por medidas padronizadas, a coordenação modular jamais comprometerá a criação do arquiteto. Pelo contrário, a adoção dessas condicionantes pode resultar em obras de grande valor estético, além de, assim como as construções convencionais, ser capaz de atender as necessidades sociais.
30
3. SISTEMAS CONSTRUTIVOS MODULARES O sistema construtivo modular é constituído principalmente por módulos, resultando na padronização da sua estrutura, além da fabricação e montagem de forma rápida e eficaz. Para compreender o funcionamento estrutural de um edifício modular, é preciso abordar seus sistemas construtivos e suas possibilidades de aplicação. Este capítulo tem como objetivo reconhecer alguns dos sistemas que requerem modulação e analisar qual deles pode ser posteriormente utilizado no projeto proposto.
3.1 ALVENARIA ESTRUTURAL O sistema construtivo de alvenaria estrutural tem como princípio básico o uso das paredes como a parte estrutural do edifício, em substituição das vigas e pilares utilizados nos sistemas convencionais de construção (ROMAN, 1999). De acordo com Araújo (2009), os componentes da alvenaria estrutural podem ser classificados como: ▪
Blocos: cerâmicos ou de concreto
▪
Junta de argamassa: utilizada na ligação dos blocos
▪
Graute: microconcreto (feito com agregados graúdos de
pequeno diâmetro) e auto-adensável (grande fluidez, não precisa de vibração), usado para preenchimento de espaços vazios de blocos com a finalidade de solidarizar armaduras à alvenaria ou aumentar sua capacidade resistente. ▪
Armaduras: aço para concreto armado CA e aços para
concreto protendido CP (nas alvenarias protendidas).
31
Em edifícios de alvenaria estrutural, a modulação se torna a
A coordenação modular torna o processo de construção
principal referência, sendo necessário a utilização de uma
favorável, representando acréscimos de produtividade de
malha modular (Figura 10), definida a partir de um módulo
cerca de 10%, pois a partir da compatibilização dos projetos
básico (dimensões do bloco mais espessura de juntas, sendo
arquitetônicos estruturais e de instalações consegue-se evitar
que usualmente os módulos são de 15cm ou 20cm). Essa
cortes e outros ajustes feitos no canteiro de obras, que
referência é utilizada tanto no plano vertical quanto na
resultam na perda de tempo, material e mão de obra (ROMAN,
horizontal (ROMAN, 1999).
1999). A técnica apresenta diversas vantagens comparada aos
Figura 10 - Modulação Alvenaria Estrutural
sistemas convencionais de construção, principalmente quando relacionada à estética, já que oferece várias possibilidades de formas
arquitetônicas
e
estruturais.
Além
disso,
o
detalhamento de um projeto de alvenaria estrutural é mais simples que os outros, fornecendo facilidade na leitura e compreensão dos projetos (ROMAN, 1999). Uma desvantagem desse método é a limitação de quebrar parede, já que são parte estruturante da edificação. Na concepção do projeto, devem ser definidas as paredes estruturais e não estruturais para identificar previamente quais podem ser demolidas sem prejudicar a estrutura do edifício (ROMAN, 1999).
Fonte: Livro Construindo em Alvenaria (2009)
32
3.2 PRÉ-MOLDADO OU PRÉ-FABRICADO De acordo com a NBR 9062:2006 – Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado, o processo de produção dos elementos pré-moldados corresponde à moldagem fora do local de onde serão efetivamente aplicadas.
Dentre as vantagens desses sistemas construtivos, podem ser destacadas: Construções mais rápidas, eficiência estrutural, redução de desperdícios, adaptabilidade, sustentabilidade e resistência ao fogo. Além disso, oferece recursos consideráveis e diversas possibilidades de aplicação, como a adequação a tipologias irregulares e a capacidade de vencimento de grandes vãos
São produzidos com condições menos rigorosas de controle de qualidade e devem ser inspecionadas individualmente ou por lotes através de inspetores do próprio construtor, da fiscalização do proprietário ou de organizações especializadas, dispensando-se a existência de laboratório. Enquanto os elementos pré-fabricados são executados de maneira industrial, mesmo em instalações temporárias em canteiros de obras. A inspeção das etapas de produção abrange a confecção da armadura, as formas, o amassamento e lançamento do concreto, o armazenamento, o transporte e a montagem.
(ACKER, 2002). Nesse tipo de sistema a modulação também desempenha um papel importantíssimo (Figura 11), contribuindo com a economia nas construções dos edifícios, tanto no trabalho estrutural, quanto no acabamento. Geralmente, o modulo básico é 3M (M=100mm), enquanto 12M é uma medida muito utilizada. De modo geral, essa modulação é aplicada como referência horizontal, já no caso das verticais, para elementos de fachada, não existe uma regra definida para não comprometer o resultado da arquitetura do edifício. Dessa forma, novos moldes podem ser feitos para seguir cada projeto desenhado individualmente (ACKER, 2002).
33
Figura 11 - Modulação para estruturas pré-moldadas
Figura 12 - Elementos pré-moldados
Fonte: Acker 2002.
De acordo Debs (2017), são inúmeras as possibilidades de construção segundo esse sistema, dentre eles estão: coberturas, pontes, galerias, canais de drenagem, edifícios de inúmeros pavimentos, hospitais, terminais rodoviários, entre outros. Ainda segundo o autor, os elementos pré-moldados mais utilizados na construção civil podem ser identificados na Figura 12. Fonte: Livro Concreto pré-moldado: fundamentos e aplicações
34
3.3 CONSTRUÇÕES EM AÇO
Figura 13 - Formas orgânicas em aço
As construções em aço têm suas peças pré-fabricadas em ambiente industrial, o que a define como uma construção de maior eficiência e rapidez, bem como, eficiente em relação a menor quantidade de desperdícios. Uma das vantagens deste sistema é o fato de obter uma estrutura relativamente leves, visto que suas fundações têm pequenas dimensões, o que diminui a movimentação de terra e preserva boa parte do solo onde está inserida (GERVÁSIO, 2008). A estruturação de edifícios em aço permite uma grande criatividade na concepção das edificações (Figura 13), já que se pode haver grandes vãos livres, fachadas leves e pilares menos espessos. A associação de extensos planos em vidro a esse sistema construtivo é quase que automática, por ser a solução mais viável para esses tipos de fachada mais transparente, que favorece a iluminação natural dos ambientes (GERVÁSIO, 2008).
Fonte: https://blogdaliga.com.br/construcoes-metalicas-o-uso-do-acona-construcao-civil/
35
O aço é um material altamente reciclável, que pode ser
O sistema Wood frame utiliza como material estrutural peças
reutilizado
suas
em madeira de reflorestamento (Figura 14) que são fixadas
propriedades, o que fornece a esse sistema o título de
com o auxílio de parafusos, pregos e pinos próprios para o
construção sustentável, já que se uma edificação em aço não
sistema, estruturando placas em OSB e constituindo painéis de
está sendo mais utilizada, em determinado local, pode ser
estrutura que suportam os esforços recebidos de outros
desmontada e encaminhada a outro destino, bem como, se a
elementos e distribuindo uniformemente para a fundação
demolição for a única opção para o elemento construído, a
(GARCIA, et al., 2014)
sem
que
perca
qualquer
uma
das
reciclagem do aço pode ser feita aproveitando-o em uma nova edificação (GERVÁSIO, 2008).
Figura 14 - Estrutura da parede em WF
3.4 WOOD FRAME O sistema WF foi o que deu origem ao modo de construção Light Steel Framing, que ao invés de serem usados perfis de madeira são utilizados os de aço galvanizado (GARCIA, et al., 2014). Esse sistema construtivo faz parte da industrialização na construção civil e foi implantado a partir da necessidade de obras rápidas, em função dos curtos prazos na construção de edificações, resultando na redução de custos. Fonte: https://simplesconstrucoes.wordpress.com/tecnologia/
36
Os tipos de fundação mais utilizados são os de sapata corrida
3.5 LIGHT STEEL FRAME
e em radier, devido a leveza da estrutura e distribuição uniforme das cargas da edificação. Dentre as inúmeras vantagens do uso desta técnica construtiva estão: ▪
Redução no tempo de obra, já que as peças são previamente fabricadas em ambiente industrializado, resultando em uma construção limpa e seca gerando raros resíduos.
▪
Utilização de madeira de reflorestamento que é uma matéria prima renovável, o que contribui para a sustentabilidade na construção civil.
A eficiência, durabilidade, conforto e resistência também fazem parte dos atributos deste sistema, apesar de apresentar como limitadores: A falta de mão de obra especializada e a limitação da altura da edificação até somente cinco andares (SOUZA, 2012).
O Sistema Light Steel Frame, também denominado como sistema autoportante de construção a seco, ficou conhecido mundialmente por se tratar de um sistema construtivo de concepção racional, ou seja, capaz de contribuir com a redução de prazos de execução, redução do desperdício de materiais e consequentemente
redução
do
custo
total
da
obra
(RODRIGUES e CALDAS, 2016; CRASTO, 2005). Uma das principais características desse sistema é o fato de ser constituído por perfis de aço galvanizado formados a frio, sendo ele o responsável pela composição dos sistemas e subsistemas. Na prática, esses sistemas são ligados entre si e funcionam em conjunto. Dessa forma, sua aplicação deve ser bem planejada para cumprir com a função proposta e não apresentar nenhuma patologia (RODRIGUES e CALDAS, 2016; CRASTO, 2005).
37
Basicamente, a estrutura que constitui o sistema LSF, é
Em casos específicos (como o posicionamento de caixa
formada por parede, piso e cobertura (Figura 15). Unidos,
d’agua), a distância entre montantes pode chegar a 200mm.
distribuem igualmente a carga solicitante da edificação para a
Para o fechamento desses painéis existem diversos materiais,
fundação, garantindo a integridade estrutural da construção
porém, normalmente, utiliza-se placas de OSB (oriented strand
(CRASTO, 2005).
board) nas vedações internas e chapas de gesso acartonado
Pelo fato de ser muito leve e distribuir a carga uniformemente
nas internas.
ente os painéis, o LSF exige bem menos da fundação do que outros sistemas construtivos, como por exemplo, alvenaria
Figura 15 - Componentes Estruturais - LSF
estrutural e estruturas pré-moldadas de concreto. Sendo assim, são comumente utilizadas fundações rasas, como o radier e a sapata corrida (CRASTO, 2005; CAMPOS, 2014). De acordo com Crasto (2005), o sistema LSF possui dois tipos de
painéis:
Os
auto-portantes
ou
estruturais
-
que
desempenham a função de estruturar a edificação - tendo como auxílio os elementos de fechamento; e os nãoestruturais, que servem somente como divisória interna ou vedação externa. De modo geral, a distância entre os perfis pode variar entre 400mm e 600mm (Figura 16), de acordo com a solicitação que cada montante será submetido. Ou seja, quanto maior a separação entre montantes, maior será a carga atuante em cada um deles.
Fonte: RODRIGUES e CALDAS (2016)
38
Figura 16 - Espaçamento entre perfis
Outra vantagem deste sistema é a grande aptidão no manuseio, transporte, montagem e transporte das peças por causa de sua leveza. Os perfis já perfurados e o uso dos painéis em gesso tornam a execução das instalações mais simplificada, bem como, flexibilidade no projeto arquitetônico (CRASTO, 2005). Importante também considerar que os anteprojetos de estrutura, fundações e instalações devem ser desenvolvidos simultaneamente e as interferências entre os subsistemas já devem ser consideradas. O projeto estrutural deve ser compatibilizado com as dimensões dos componentes de
Fonte: RODRIGUES e CALDAS (2016)
As vantagens do emprego deste método construtivo são inúmeras. Dentre elas estão: a durabilidade, que advém do fato de que os perfis são em chapas de aço galvanizada; a padronização e a industrialização – relevantes também quanto ao fato de os componentes do sistema tornarem a construção racional, consequentemente mais rápida e limpa, evitando o desperdício de materiais.
fechamento a fim de otimizar a modulação horizontal e vertical. Deve-se ainda considerar a especificação das esquadrias, formas de fixação e as folgas necessárias para tal, compatibilizando
a
paginação
dos
componentes
de
fechamento com as aberturas de esquadrias. A localização dos montantes deve considerar a modulação adotada e a posição das aberturas da edificação (CRASTO, 2005).
39
3.6 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS Os
sistemas
construtivos
destacados
nesse
capítulo
demonstram que a forma mais eficaz de aplicar a arquitetura modular nas construções atuais é, de fato, transferindo o trabalho realizado no canteiro de obras para as indústrias. Releva-se também a necessidade de sempre considerar todo o ciclo de vida de uma construção ao elaborar o projeto de arquitetura. Deve-se levar em conta o objetivo da edificação, o processo construtivo e o custo de sua manutenção.
Considerando o objetivo dessa pesquisa, foi feita uma análise acerca
das
vantagens
e
desvantagens
dos
sistemas
apresentados. O sistema que mais se destaca é o light steel frame, devido a sua leveza, durabilidade, flexibilidade e desempenho termo acústico.
40
▪
4. ESTUDO DE REFERÊNCIA
Flexibilidade e extensibilidade de construção: Permitir a ampliação de cada setor de modo
O estudo de referência a seguir tem como objetivo explorar os
independente, sem prejudicar as circulações
principais elementos estruturantes da arquitetura idealizada
internas. ▪
pelo arquiteto Lelé.
Criação de espaços verdes: Permitir o acesso do paciente com o setor externo para atividades
4.1 REDE DE HOSPITAIS SARAH KUBITSCHEK
ao ar livre. ▪
A rede Sarah, denominada Subsistema de Saúde na Área do
instalações:
Permitir
o
sempre mantê-las atualizadas às inovações
premissas de racionalização das obras. O primeiro hospital da
tecnológicas, além de prever sistemas que
rede foi inaugurado em 1980 em Brasília-DF, após treze anos
podem ser adicionados gradativamente sem
de estudo entre Lelé, o sócio Aloysio Campos da Paz e o
interromper o funcionamento do hospital. ▪
al.,2011).
Iluminação natural e conforto térmico dos ambientes: Empregar sistemas móveis ou fixas
De acordo com Latorraca (2011), Lelé consegue adaptar os sistemas
das
acesso as tubulações com facilidade para
Aparelho Locomotor, foi concebida em 1976 com base nas
economista e engenheiro Eduardo Kertész (LUKIANTCHUKI et
Flexibilidade
construtivos
pré-fabricados
ao
programa
necessidades hospitalar e determina princípios que serão estruturadores de todas os hospitais da rede, como:
que favoreçam a iluminação e ventilação natural
de
visando a economia de energia elétrica. ▪
Padronização de elementos construtivos: Empregar a padronização de todos os elementos construtivos
para
facilitar
manutenção dos edifícios.
o
processo
de
41
Com base nas premissas técnicas, torna-se evidente que Lelé
4.2 O MÓDULO DE LELÉ
não buscava projetar um ambiente hospitalar comum, e sim um hospital humanizado que se preocupa com o bem-estar do usuário. Visando oferecer um espaço confortável e acolhedor, Lelé
aplicava
técnicas
sustentáveis
que
podem
ser
consideradas o conceito norteador dos seus projetos (Figura 17). Percebe-se que em todos os locais em que o Sarah foi instaurado, o arquiteto buscou tirar partido do que o entorno tinha para oferecer, aplicando estratégias para captação de luz e ventilação natural através dos sheds e galerias subterrâneas
Outro aspecto fundamental a ser abordado é o módulo estabelecido por Lelé. Os edifícios hospitalares requerem construções rápidas e racionalizadas, portanto a padronização se torna uma importante aliada. Nos hospitais Sarah foi adotada uma modulação que permite maior exatidão no alcance das medidas, reduzindo o desperdício e melhorando o entendimento
entre
os
profissionais
envolvidos
(LUKIANTCHUKI et al., 2011).
(LUKIANTCHUKI et al.,2011). No que se refere uma arquitetura modular próspera, pode-se Figura 17 - Sistema de refrigeração evaporativa
afirmar que os hospitais da Rede Sarah são um excelente exemplar. Atualmente a Rede Sarah utiliza o módulo de 1,25cm (Figura 18) e os múltiplos desse número. A modulação é evidenciada em todas as partes constituintes do edifício (CARVALHO e TAVARES, 2002).
Fonte: https://docplayer.com.br/49697365-Ventilacao-e-iluminacaonaturais.html
42
Figura 18 - Modulação da Rede Sarah Kubitschek
De maneira estratégica, acompanhando o desenho das modulações, as instalações elétricas são inseridas em calhas que percorrem pelas vigas metálicas horizontais ou em dutos verticais (Figura 19). A padronização dos módulos também favorece essas instalações, pois diante de uma medida préestabelecida, diminui a variedade de materiais (CARVALHO e TAVARES, 2002). Figura 19 - Instalações elétricas sob vigas
Fonte:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/modulacao_hospitais_ sarah.pdf
O módulo de 1,25 corresponde a todos os elementos horizontais que compõem a obra de Lelé, desde a modulação dos pisos e painéis de vedação das paredes, até os pilares. Quanto as dimensões verticais, os módulos podem sofrer variações
de
acordo
com
a
(CARVALHO e TAVARES, 2002).
necessidade
cada
uso
Fonte:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/modulacao_hospitais_ sarah.pdf
43
4.3 DO CTRS AO CANTEIRO DE OBRAS
Para compreender como funciona o módulo de Lelé, faz-se necessário abranger o processo de produção do CTRS, pois
Diante do aumento da demanda por unidades de saúde, em 1992 foi implantado o Centro de Tecnologia da Rede Sarah
de lá saem todas as peças que compõem os hospitais da rede Sarah (Quadro 02):
(CTRS) em Salvador, ainda sob instalações provisórias. Um ano depois teve suas instalações definitivas, em uma área de aproximadamente 20.000 metros quadrados. Uma das metas do CTRS era ampliar a rede Sarah, de modo que pudesse atender todo território nacional. A construção do
Quadro 02 - Setores do CTRS
OFICINAS/ SETORES Metalúrgica Pesada
CTRS visava fomentar a racionalização das construções da rede, desenvolvendo sistemas construtivos pré-fabricados, basicamente formados por estrutura metálica e vedação em argamassa armada. O método adotado possibilita maior flexibilidade, facilidade na construção, facilidade na montagem,
Argamassa armada Metalúrgica Leve Marcenaria
entre outros (LUKIANTCHUKI et al.,2011). Produzidos no CTRS em Salvador, os elementos pré-
Plástico
fabricados formados por estrutura metálica e vedação em argamassa armada, dos Hospitais da Rede Sarah, proporciona flexibilidade o que facilita possíveis ampliações, uma característica importante em estabelecimentos de saúde é possibilidade de fácil adequação do estabelecimento as novas técnicas de atendimento (LUKIANTCHUKI et al.,2011).
Pintura
FUNÇÕES/ MATERIAIS Desenvolve componentes de aço, como as treliças das coberturas, utilizando a tecnologia da chapa dobrada. Executa divisórias, painéis de vedação, entre outros. As peças são compostas por tela de aço, vergalhões de aço e argamassa. Executa pequenas estruturas, como esquadrias, mobiliários e equipamentos hospitalares. Executa divisórias, portas, armários, estantes, mesas, etc.. Executa ventiladores, cadeiras de recepção e placas de advertência através do plástico injetado e fibra de vidro. Realiza pintura eletrostática à base de epóxi e poliuretano nas peças em geral.
Fonte: LUKIANTCHUKI et al., (2011). Adaptado pela Autora (2019).
44
No que se refere ao transporte dos elementos construtivos,
Se tratando de fundações, o sistema mais utilizado é o de
toda logística foi pensada visando favorecer a entrega em
sapatas isoladas que são ligadas diretamente às colunas e
várias
firmada com o piso de concreto armado, instalado em seguida.
regiões
do
Brasil.
Foram
estudadas
diversas
possibilidades de entrega, inclusive por navio, devido ao CTRS ser instalado em uma área portuária.
Para que a cobertura possa ser instalada e estruturada, faz-se
No entanto, o caminhão foi definido como o principal veículo,
necessário a presença das vigas que se interligam com as
pois além da viabilidade econômica, é compatível com a
colunas, formando uma espécie de base que fornece a
dimensão das peças pré-fabricadas (FONTANA ET AL., 2012).
possibilidade da instalação dos sheds (FONTANA et al., 2012).
Para a instalação da edificação, as peças são entregues nos
As vigas são feitas em duas partes, que se conectam cada uma
canteiros de obra e o processo de montagem se inicia. Cabe
de um lado do apoio da coluna.
destacar que esse processo se torna mais simples devido a
Nesse momento, pode ser deixado um espaço entre as peças
adoção do módulo como sistema construtivo. As peças são
para possibilitar a passagem da calha de escoamento, uma
separadas de acordo com o esquema de montagem e
disposição que estabiliza a estrutura da construção. Para
posteriormente são montadas através de soldas e encaixes
estabilizar as cargas que chegam nessas vigas, são instaladas
(FONTANA et al., 2012).
barras em orientação horizontal, peça que também dá
Nesse sistema construtivo a preparação do terreno onde será
flexibilidade para as instalações elétricas, agregando assim
locado, na maioria das vezes, é mínimo, salvo em situações
várias funções ao elemento. O espaçamento entre as colunas
como a construção de hospitais que tem a necessidade de
é feito de acordo com a disposição dos ambientes e
adotar sistemas de ventilação subterrânea, nesse caso, é
necessidades do hospital (FONTANA et al., 2012).
exigida uma maior movimentação de terra (FONTANA et al., 2012).
45
Os sheds utilizados na cobertura tem sua forma planejada para
4.4 ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS
favorecer a circulação do ar, tanto na parte interna do ambiente quanto na externa, fato que só possível por causa de sua forma que avigora a sucção dos ventos e brisas. Esse tipo de cobertura com forma aerodinâmica é construído através de uma estruturação feita com treliças que fornecem uma grande facilidade de serem montadas em vãos extensos, além de serem leves. O fechamento desta estrutura é feito com folhas metálicas onduladas que são instaladas a partir das curvas determinadas pelas treliças. Na parte inferior das treliças é acomodado um forro planejado para fornecer conforto sonoro e luminotécnico (FONTANA et al., 2012).
No que se refere à arquitetura modular, Lelé foge do convencional. Dotado de sensibilidade e ousadia, o arquiteto desenvolveu diversas possibilidades construtivas e representa uma arquitetura racionalizada, sustentável, criativa e acima de tudo, humana. A seguir (Quadro 03), são apresentados elementos arquitetônicos marcantes, que podem ser utilizados como inspiração para compor a arquitetura proposta nessa pesquisa.
46
Quadro 03 - Elementos arquitetônicos
COBERTURAS
MARQUISES
ESQUADRIAS
ELEMENTOS VAZADOS
O formato orgânico das coberturas e sheds se tornaram a marca registrada de Lelé nos hospitais da rede sarah. O principal objetivo é captar ventilação e iluminação natural, a fim de promover um espaço confortável aos usuários.
Nas marquises, Lelé propõe um desenho imponente representando um elemento arquitetônico marcante e evidenciando a entrada do hospital.
A sutileza das esquadrias minimalistas permite total transparência e integram o interno com o externo.
Lelé propõe as divisórias vazadas do artista Athos Bulcão para garantir privacidade sem obstruir a conexão dos ambientes.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
47
4.5 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS A partir do embasamento teórico, levantamento de sistemas construtivos e estudo de referência, propõe-se a implantação de novas UBS no Munícipio de VV, visando contribuir com o acesso a saúde de maneira igualitária, e dessa forma, proporcionar através da arquitetura modular, espaços de qualidade que atendam a demanda populacional e a expectativa dos usuários. Para a próxima etapa será realizada uma análise investigativa sobre a área de estudo, apresentando as principais características e condicionantes do terreno, bem como, um ensaio projetual com o intuito de identificar as possibilidades e combinações das modulações proposta.
48
5.1
5. ENSAIO PROJETUAL Com base na revisão bibliográfica obtida ao longo dessa pesquisa,
foi
possível
alcançar
informações
técnicas
necessárias para a realização do ensaio projetual da proposta.
Algumas diretrizes nortearam o projeto:
REFERÊNCIAS LEGAIS
Para elaboração do projeto, algumas normas da área de saúde e do município necessitam de ser consultadas, sendo as principais: ▪
Resolução RDC n° 50 (21 de fevereiro de 2002): Apresenta regulamento Técnico norteador das novas
▪
construções, reformas e ampliações, instalações e
Racionalização da construção: Otimizar o processo
funcionamento de Estabelecimentos Assistenciais de
construtivo e realizar uma obra rápida e limpa. ▪
Flexibilidade: Permitir adaptação e/ou ampliação de acordo com as necessidades.
▪
Saúde (EAS). ▪
os requisitos mínimos para a análise, avaliação e
Conforto: Adotar estratégias para aproveitamento de
aprovação dos projetos físicos de estabelecimentos de
iluminação e ventilação natural. ▪
saúde no Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
Áreas verdes: Garantir a integração com a natureza e o bem-estar dos usuários.
Resolução RDC n° 51 (6 de outubro de 2011): Dispõe
(SNVS) e dá outras providências. ▪
PORTARIA N°340 (4 de março de 2013): Redefine o Componente
Construção
do
Programa
de
Requalificação de Unidades Básicas de Saúde (UBS).
49
▪
Norma de Acessibilidade – NBR 9050: Estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao projeto, construção, instalação e adaptação do meio urbano e rural, e de edificações às condições de acessibilidade (ABNT, 2015).
▪
Plano Diretor Municipal – Lei Complementar nº 065/2018: Orienta o desenvolvimento econômico, social e territorial do Município e consolida as funções sociais da
cidade
e
propriedade,
incentivando
um
desenvolvimento econômico e territorial socialmente justo e ambientalmente equilibrado, de forma a garantir o bem-estar da geração atual e das gerações futuras.
Quadro 04 – Programa de necessidades
QTD. (UM) 1 1 2 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1
nº 50/2002. Os parâmetros propostos nesses documentos
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
foram orientados por condicionantes de ordem funcional,
1
5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES O programa de necessidades (Quadro 04) foi elaborado de acordo com as informações contidas no Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde (2008) e na PORTARIA Nº 340/2013, documentos coesivos com os princípios da RDC
financeira e administrativa.
ÁREA ÁREA UNIT. TOTAL Sala de recepção 9m² 9m² Sala de espera (15 pessoas) 15m² 15m² Sanitários PCD (mascilino e feminino) 2,55m² 5,1m² Sala de curativos 9m² 9m² Consultório indiferenciado/acolhimento 9m² 18m² Consultório diferenciado 9m² 9m² Sanitário do consultório (PCD) 2,55m² 2,55m² Sala de Observação/Procedimento/Coleta 10m² 10m² Banheiro (Sala de Procedimentos) 4,8m² 4,8m² Consultório odontológico com 2 equipos 20m² 20m² Sala de imunização/Vacinação 9m² 9m² Sala de nebulização (4 pacientes) 6m² 6m² Farmácia (armazenamento/dispensação 14m² 14m² de medicamentos) Sala de atividades coletivas/Sala de ACS 20m² 20m² Sala de administração e gerência 7,5m² 7,5m² Expurgo 5m² 5m² Sala de esterilização/ material esterilizado 5m² 5m² Copa/Cozinha 4,5m² 4,5m² Banheiro para funcionários 3,5m² 3,5m² Almoxarifado 2,8m² 2,8m² Depósito de material de limpeza (DML) 2m² 2m² Depósito de Resíduos Comuns 1m² 1m² Depósito de Resíduos Contaminados 1m² 1m² Depósito de Resíduos Recicláveis 1m² 1m² Área externa para embarque e 21m² 21m² desembarque de ambulância AMBIENTES
Fonte: Portaria N° 340/2013. Adaptado pela autora, 2020.
50
Os
documentos
supracitados
apresentam
o
pré-
Nesse sistema, é recomendado um espaçamento entre
dimensionamento mínimo dos 4 portes de UBS. No entanto,
montantes da vertical, que podem variar entre 0,40 a 0,60cm,
neste projeto será adotado o porte 1, compatível com a atuação
enquanto as vedações, possuem largura de 1,20cm. Baseado
de uma equipe de atenção básica. A partir do programa de
nisso, uma malha foi criada, servindo como principal referência
necessidades foi possível dar início ao levantamento e análise
(Figura 20).
das condicionantes físicas, locais e legais. Figura 20 - Malha Modular
5.3 CONCEITO E PARTIDO O conceito do projeto é baseado em um jogo de lego, composto por módulos que possam ser facilmente montados para atender as necessidades funcionais de uma UBS. A modulação também é aplicada nos elementos arquitetônicos da proposta, a fim de oferecer uma nova identidade visual ao equipamento.
5.4 TIPOLOGIA DOS MÓDULOS Para definição dos módulos, foi necessário adotar um sistema construtivo que possui características compatíveis com a proposta, reforçando a principal intenção do projeto: a racionalização da construção. O sistema escolhido foi o light steel frame, apresentado no item 3.5 dessa pesquisa.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
51
A partir dessa referência, foi analisado o programa de
Figura 21 - Modulações adotadas
necessidades e pré-dimensionamento, além do manual de estrutura físicas das UBS (2008), que contém todas as recomendações no que se refere ao tipo de layout adequado para cada uso. Baseado nisto, foi possível elaborar sete módulos (Figura 21): ▪
Módulo 1: 3,60 x 3,60 / 3,00
▪
Módulo 2: 3,60 x 2,40 / 3,00
▪
Módulo 3: 3,60 x 1,80 / 3,00
▪
Módulo 4: 3,60 x 4,80 / 3,00
▪
Módulo 5: 3,60 x 5,40 / 3,00
▪
Módulo 6: 3,60 x 7,20 / 3,00
▪
Módulo 7: 1,80 x 2,40 / 3,00
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
52
Quadro 05 - Materiais utilizados
Os módulos foram desenvolvidos através de medidas
Aplicação
Material
estratégicas, considerando montantes com espaçamento de 0,60cm. No que se refere às vedações, as modulações
Imagem
Especificações
Sistema Construtivo
Light Steel Frame
Perfis leves de aço formados a frio, com espaçamento entre montantes de 60x60cm.
Vedação Externa
Placa cimentícia hidrofugada
Dimensões: 1200x3000 cm (LxA) e 10 mm (espessura)
Gesso Acartonado (RU) Áreas molhadas
Resistente à Umidade (RU) feita com aditivo hidrofugante. Dimensões: 1200x3000 cm (LxA) e 10 mm
adotadas exigem a utilização de placas inteiras ou bipartidas. Contudo, as medidas em comum admitem o aproveitamento de todas as peças, sem ocasionar desperdício. O Quadro 05 demonstra a relação de materiais utilizados: Vedação Interna Gesso Acartonado
Dimensões: 1200x3000 cm (LxA) e 12,5 mm (espessura)
Proteção termoacústica
Lã de rocha
_
Laje Seca
OBS
Dimensões: 1200x2400 cm (LxA) e 18,3 mm (espessura)
Forro
Gesso
_
Cobertura
Telha termoacústica
Telha termoacústica chapa com isolamento em poliuretano. Espessura 30mm.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
53
5.5 MONTAGEM E TRANSPORTE
5.6 DIAGNÓSTICO DO TERRENO
De acordo com Crasto (2005), o sistema LSF oferece três
O terreno escolhido para o ensaio projetual possui 1.223 m², é
principais métodos de montagem:
totalmente plano e está localizado entre as ruas Dylio Penedo
▪ ▪
Método stick: Todos os componentes são cortados e
e Av. Antônio Almeida Filho, no bairro Praia de Itaparica, Vila
montados no canteiro.
Velha e tem como principal referência a Brasil Center (Figuras
Método por painéis: Todos os componentes são pré-
22 e 23).
fabricados e transportados para o local da construção Figura 22 - Localização do terreno
para posteriormente serem conectados ▪
Método modular: Os módulos saem da fábrica completo, desde a estrutura ao acabamento e são entregues prontos para uso.
Para definir o método de montagem mais eficiente, faz-se necessário estudar a logística de transporte dos módulos. A resolução do CONTRAN Nº 210 (13/11/2006), legislação que estabelece os limites de peso e dimensões para veículos que transitem por vias terrestres, determina que a largura máxima para o transporte é 2,60. Considerando as modulações adotadas para a proposta, o método de montagem por painéis se torna o mais adequado
Fonte: Google Earth. Adaptado pela autora, 2020.
devido a flexibilidade dimensional e viabilidade no transporte. .
.
54
Figura 23 - Vistas do terreno
É importante ressaltar que não houve um estudo aprofundado para verificar a necessidade da implantação nessa localização em específico, portanto, o terreno apenas servirá para exemplificação dos conceitos adotados De acordo com o Plano Diretor Municipal de Vila Velha (2018), o terreno situa-se em uma Zona de Ocupação Prioritária (ZOP), cujos critérios são desenvolvidos de forma específica. Segundo o Art. 93, essa região corresponde à parcela do território municipal com melhor infraestrutura ou com grande potencial de desenvolvimento, a qual é necessário intensificar usos condicionados à implantação de equipamentos urbanos e sociais e à implantação de infraestrutura de suporte. Os índices urbanísticos a serem adotados na área de estudo, em conformidade com o zoneamento e de acordo com o PDM (2018), estão apresentados no Quadro 06:
Fonte: Google Earth, 2020.
55
Quadro 06 – Índices Urbanísticos Índices Urbanísticos - Zona de Ocupação Prioritária C (ZOP-C)
Coeficiente de aproveitamento mínimo
0,2
Coeficiente de aproveitamento máximo
4,0
Taxa de ocupação máxima
50%
Taxa permeabilidade mínima
20%
Gabarito máximo
Limitado pelo C.A
Afastamento mínimo frontal
3,00 m
Afastamento mínimo laterais/fundos
1,50 m
Figura 24 - Diagnóstico ambiental
Fonte: PDM Vila Velha, 2018. Adaptado pela autora, 2020.
O diagnóstico de conforto ambiental (insolação e ventos dominantes) são fundamentais pois norteiam decisões projetuais e favorecem o posicionamento inteligente das modulações, a fim de obter melhor aproveitamento da luz natural, bem como, controlar a incidência dos raios solares em cada cômodo da unidade. Dessa forma, é possível garantir conforto térmico e eficiência energética (Figura 24).
Fonte: Google Earth. Adaptado pela autora, 2020.
56
5.7 PROPOSTA
Na fachada principal (leste), foram posicionados os módulos que são comumente mais utilizados pela população nas UBS:
Após as análises dos condicionantes físicos e legais, foi possível identificar as potencialidades que o terreno oferece e iniciar a implantação. A setorização (Figura 25) foi baseada no estudo de insolação e na função de cada módulo, a fim de facilitar as atividades desenvolvidas.
Recepção, sala de vacinação e farmácia. Nessa também foi inserido um banheiro acessível para o uso dos pacientes. Na fachada norte, estão todos os módulos de apoio da unidade (administração, almoxarifado, copa, banheiro de funcionários, DML, esterilização e sala de lavagem e descontaminação de materiais). Na fachada sul, são dispostas: sala de curativo,
Figura 25 - Setorização e acessos
consultórios indiferenciados e sala de observação. Na fachada oeste, sala de inalação coletiva, consultório odontológico e consultório diferenciado. Ao centro da unidade, foi implantado um jardim de acolhimento estrategicamente pensado para que toda as atividades funcionassem ao seu redor. Em anexo ao jardim, foi inserida a sala de reuniões e educação em saúde, que tem como função principal acolher a população, promovendo diversos conteúdos sobre saúde e prevenção. Esse módulo visa estimular a conexão entre a comunidade e a equipe de saúde. Em horários em que a unidade não está em funcionamento, serve para acomodar os agentes de saúde para reuniões.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
57
A unidade possui quatro acessos: ▪
O acesso principal (fachada leste), possibilitando a chegada confortável do paciente, seja de carro ou a pé. Esse acesso, alinhado com o jardim de acolhimento, foi cuidadosamente pensado para conduzir o usuário a um ambiente de espera agradável.
▪
O acesso de veículos para o público (fachada leste), posicionada na rua de menor tráfego para não obstruir o trânsito e também garantir a segurança dos usuários.
▪
O acesso de funcionários (fachada norte), onde estão concentradas todas as atividades de apoio da unidade;
▪
O acesso de serviço (fachada oeste), oferece maior privacidade na entrada de funcionários, entrada de materiais hospitalares, entrada de medicamentos e de ambulância.
As Figuras 26 e 27 demonstram as decisões projetuais e a utilização dos sete módulos propostos:
58
Figura 26 - Planta baixa humanizada
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
59
Figura 27 - Posicionamento dos mรณdulos
3,60 x 3,60 / 3,00 3,60 x 2,40 / 3,00 3,60 x 1,80 / 3,00 3,60 x 4,80 / 3,00 3,60 x 5,40 / 3,00 3,60 x 7,20 / 3,00 1,80 x 2,40 / 3,00
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
60
No que se refere ao conforto, conforme demonstra o corte esquemático (Figura 28), foi proposto uma cobertura independente, “descolada” da laje, com o objetivo de fazer do edifício um indutor de ventilação cruzada permanente. A ventilação percorre pelos ambientes através das aberturas e o átrio central funciona como uma espécie de chaminé, dissipando o ar quente, além de otimizar a entrada de iluminação natural. Os cobogós utilizados nas fachadas formam uma membrana protetora, filtrando a insolação e permitindo maior circulação de ar entre os elementos vazados e a edificação. Figura 28 - Posicionamento dos módulos
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
61
Nos consultórios dispostos na fachada de insolação mais amena (sul), foram aplicadas janelas com peitoril baixo, propiciando vista para o jardim externo. Na fachada oeste, brises móveis, impedindo a incidência direta de radiação solar. A utilização de telhas termoacústicas também foi proposta por funcionar como um ótimo isolante térmico e garantir redução expressiva do ruído externo. A adoção dessas estratégias tornam o conjunto da edificação confortável e agradável, evitando o consumo excessivo de energia elétrica.
É importante destacar que todas as decisões projetuais foram elaboradas em concordância com o plano diretor municipal (2018), conforme demonstrado no comparativo do Quadro 07: Quadro 07- Cálculo dos Índices Urbanísticos
Índices Urbanísticos Área total construída Coeficiente de aproveitamento mínimo Coeficiente de aproveitamento máximo Taxa de ocupação máxima Taxa permeabilidade mínima Gabarito máximo
PDM VV (2018) 0,2 4 50% 20% Limitado pelo C.A
Afastamento mínimo frontal
3,00 m
Afastamento lateral/fundos
1,50 m
Fonte: PDM Vila Velha, 2018. Adaptado pela autora, 2020.
PROPOSTA 386,28 m² 0,31 0,31 31,58% (386,28 m²) 26,72% (326,79 m²) 1 Pavimento Fachada leste: 6,20m Fachada sul: 4,50m Lateral: 8,50m Fundo: 4,50m
62
5.8 IDENTIDADE ARQUITETÔNICA Com o objetivo de criar uma identidade arquitetônica de destaque, elementos marcantes foram adicionados ao módulo base, de modo que pudessem ser replicados facilmente em novas construções de UBS (Quadro 08). A proposta segue uma linguagem geométrica e em alguns pontos simboliza as cores institucionais da PMVV.
DESCRIÇÃO
MATERIAL
COBOGÓS
30x30x20 (LxAxP)
Elemento modular vazado, utilizado para filtrar insolação direta e garantir a privacidade dos usuários.
CONCRETO
MARQUISE
120x120x10 (LxAxP) 180x180x10 (LxAxP) 240x240x10 (LxAxP) 300x300x10 (LxAxP)
Elementos modulares desenvolvidos em diversos tamanhos e cores, permitindo flexibilidade na composição. Pode ser utilizado como marquise de entrada ou totem com a indentificação da UBS.
FIBERGLASS
MOBILLIÁRIO
Quadro 08 - Identidade Arquitetônica
MÓDULO
TAMANHO (CM)
120x40x50 (LxAxP) 180x40x50 (LxAxP) 240x40x50 (LxAxP) *Para assento infantil, retirar os pés.
Bancos modulares com diversas larguras e dois níveis, possibilitando assentos adequados para adultos e crianças.
CONCRETO
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
EXEMPLO
CORES
63
5.9 PERSPECTIVAS Figura 29 - Imagem aĂŠrea - Fachada principal (Leste)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
64
Figura 30 - Fachada principal (Leste)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
65
Figura 31 - Chegada de veĂculo - Fachada principal
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
66
Figura 32 - Detalhe da marquise - Fachada principal
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
67
Figura 33 - Fachada sul - Elementos vazados
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
68
Figura 34 - Fachada sul
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
69
Figura 35 - Recepção/Espera (Acesso Principal)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
70
Figura 36 - Recepção/Espera
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
71
Figura 37 - Jardim de acolhimento (Vista da Recepção)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
72
Figura 38 - Jardim de Acolhimento (Vista do Consultรณrio)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
73
Figura 39 - Jardim de acolhimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
74
Figura 40 - Sala de reuniĂľes e atividades educativas
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
75
Figura 41 - Sala de reuniĂľes e atividades educativas (Jardim)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
76
Figura 42 - Consultรณrio (Vista para o jardim)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
77
Figura 43 - Modulação marquise
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
78
Figura 44 - Perspectiva Explodida (Materiais)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
79
5.10 CONSIDERAÇÕES FINAIS A temática da arquitetura modular vem sendo amplamente abordada
devido
aos
inúmeros
benefícios
que
pode
proporcionar, porém, ainda pouco é difundida em projetos de unidades básica de saúde. Desse modo, o desenvolvimento dessa pesquisa reconheceu a relevância do atendimento primário na saúde pública no Brasil e a importância de solucionar rapidamente os problemas relacionados a alta demanda que esses estabelecimentos atendem. Com isto, evidenciou-se que a inserção da arquitetura modular na concepção dos projetos de estabelecimentos assistências a saúde podem ser adotadas como solução diretiva, uma vez que a técnica construtiva visa reduzir o tempo de construção, facilitando assim a implantação de novas unidades.
Assim,
conclui-se
que
a
arquitetura
modular
em
estabelecimentos de saúde é um desafio constante dos profissionais de arquitetura, na qual pode ser vista como a integração dos avanços tecnológicos à concepção de projeto, visando a racionalização do processo criativo e construtivo.
80
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