Azulejos e talha dourada em Évora

Page 1

D O C U M E N TO S PA R A A H I S TÓ R I A D A TA L H A D O U R A D A E AZU LEJ O EM ÉVORA


EXPOSIÇÃO DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA TALHA DOURADA E AZULEJO EM ÉVORA

Organização: Arquivo Distrital de Évora | Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA) | Rota do Azulejo no Alentejo Textos: Jorge Janeiro, Celso Mangucci, Alexandra Gago da Câmara, Sílvia Ferreira, Artur Goulart de Melo Borges, Francisco Lameira Transcrição: Celso Mangucci, Célia Malarranha e Paulina Araújo Fotografias: Joaquim Carrapato, Artur Goulart de Melo Borges, António Severo e Miguel Cardoso Montagem : Francisca Mendes, Rosária Eduardo, Adelina Neto, Estevão das Neves, Eduarda Fanha, Candida Vieira e Antónia Sá 31 de Outubro de 201 4 – 28 de Março de 2015 ISBN: 978-989-98150-2-5


D O C U M E N TO S PA RA A H I S TÓ RI A DA TA L H A D O U RA DA E AZU LEJ O E M É VO RA ARQUIVO DISTRITAL DE ÉVORA | OUTUBRO 201 4 - MARÇO 2015


NOTA DE ABERTURA Jorge Janeiro Director do Arquivo Distrital de Évora

N OTA DE ABERTU RA

A di vul gação do patri móni o arqui vísti co do Arqui vo Di stri tal de Évora e das enti dades do Di stri to faz parte da nossa mi ssão. Apesar das l i mi tações de mei os, o nosso arqui vo tem vi ndo a organi zar exposi ções com regul ari dade, normal mente, uma por semestre. O seu i mpacto j unto da popul ação é rel ati vamente modesto, l i mi tando-se aos uti l i zadores que nos vi si tam, pel o que, de forma a assegurar a permanênci a das exposi ções para l á do período em que estão patentes ao públ i co, entendeu-se que se deveri a di sponi bi l i zar gratui tamente os seus catál ogos na I nternet. Como Servi ço Públ i co dei tamos mão às ferramentas tecnol ógi cas para democrati zar o acesso à Cul tura, contri bui ndo para a formação dos ci dadãos. Os arqui vos têm vi ndo a ser ol hados como espaços reservados a públ i cos erudi tos, com forte preval ênci a dos hi stori adores. O Arqui vo Di stri tal de Évora está apostado em modi fi car essa vi são, tendo uma estratégi a de abertura a toda a popul ação através da publ i cação do Bol eti m, das vi si tas gui adas e das Ofi ci nas Educati vas e a todas as enti dades através de proj etos de di vul gação do patri móni o e de qual i fi cação dos si stemas de arqui vo. Estamos na Era das parceri as e dos proj etos col aborati vos em que cada pessoa ou enti dade se pode revel ar uma mai s-val i a para o sucesso dos produtos e servi ços prestados a ci dadãos cada vez mai s exi gentes. A exposi ção “Documentos para a H i stóri a dos Azul ej os e Tal ha Dourada em Évora” é produto de um esforço de coordenação de vári as pessoas e enti dades. N o entanto, há que destacar o Dr. Cel so Mangucci , responsável pri nci pal pel a sua organi zação. A exposi ção nasce do tratamento documental real i zado por este técni co a al guns fundos durante a sua permanênci a neste Arqui vo Di stri tal . Di fi ci l mente


teri a si do produzi da por outra pessoa da nossa organi zação, poi s apenas o Dr. Cel so Mangucci tem sensi bi l i dade, apurada por mui tos anos de estudo, para a H i stóri a da Arte. Através do percurso exposi ti vo é possível apercebermo-nos da i mportânci a dos arqui vos para a l egi bi l i dade do patri móni o edi fi cado, sustentando-se os vári os estudos do catál ogo nas fontes documentai s di sponívei s e conheci das para, através do cruzamento de i nformação, compl ementarem o conheci mento acerca das vári as obras de arte tocadas por esta exposi ção. A compl ementari dade entre arqui vos e monumentos consti tui , portanto, um aspeto cruci al na val ori zação do patri móni o cul tural , especi al mente numa al tura em que o Al entej o el ege a cul tura como um vetor estratégi co para o seu desenvolvi mento até 2 02 0. A conservação e rentabi l i zação do patri móni o edi fi cado ganham com o recurso aos arqui vos, verdadei ros reposi tóri os do passado que aj udam a compreender o que exi ste e a recuperar o que desapareceu pel as mai s di versas vi ci ssi tudes. Os documentos permi tem uma anál i se retrospeti va que pode cati var os vi si tantes quando estes se encontram, por exempl o, perante um al tar-mor. Razão pel a qual se poderi a arti cul ar, cada vez mai s, a contempl ação com o forneci mento de i nformação baseada nos documentos que sati sfaça o apeti te de um públ i co cuj o perfi l se assume como conhecedor, em busca de

produtos cul turai s rel ati vamente compl exos. Os regi stos confi rmam as datas, os i nterveni entes, os val ores e as escol has em torno da produção azul ej ar e da tal ha em Évora, comprovando tendênci as artísti cas, pensamento pol íti co, rel i gi oso e cul tural , rel ações soci ai s e j ogos de força ao l ongo daquel a época. Évora, como é possível apercebermo-nos com esta exposi ção, teve um forte l abor no que respei ta à tal ha e à azul ej ari a, convertendo-se num centro que i rradi ava a sua i nfl uênci a sobre a regi ão. Aqui se i nstal aram mestres ori undos de outros pontos do país e até estrangei ros, havendo vári as ofi ci nas na ci dade com di ferentes nívei s de qual i dade. A devoção, benefi ci ando da exi stênci a de recursos, ganhou expressão materi al em múl ti pl as obras que ai nda hoj e perduram, dando o seu pecúl i o para que Évora fosse Ci dade Patri móni o Mundi al da U N ESCO. Esse l egado atrai mi l hares de vi si tantes cati vados pel a bel eza desl umbrante dos monumentos e pel a sua hi stóri a, escri ta com base nos documentos exi stentes nos arqui vos. A cul tura, ao i nvés de ser um peso, afi rma-se, cada vez mai s, como um ati vo preci oso para a sustentabi l i dade do terri tóri o, enfrentando com sucesso o probl ema do despovoamento. H oj e, Évora é o exempl o do potenci al que a cul tura encerra para garanti r a vi tal i dade económi ca, tão necessári a para a fi xação de gente. A presente exposi ção é mai s um contri buto para a di vul gação do nosso patri móni o de uma


forma i ntegrada, poi s esse é o cami nho a segui r para expl orar todo o potenci al exi stente na ci dade de Évora. G ostari a, agora, de agradecer Jesus e a Samaritana. Gabriel del Barco, 1 700. I greja de Santiago. Foto António Severo. a todos os que se esforçaram para que a exposi ção fosse possível , em especi al à Câmara Muni ci pal de Évora, à Associ ação das G ui as I ntérpretes de Évora, ao fotógrafo Antóni o Severo, ao Padre Manuel Madurei ra da Si lva, ao Centro de H i stóri a de Arte e I nvesti gação Artísti ca e aos vári os autores de arti gos que enri queceram de forma notável este catál ogo: Franci sco Lamei ra, da Uni versi dade do Al garve; Sílvi a Ferrei ra, da Uni versi dade N ova de Li sboa; Artur G oul art, Coordenador do I nventári o Artísti co da Arqui di ocese de Évora; e Al exandra G ago da Câmara, da Uni versi dade Aberta. Convi do-vos, fi nal mente, a usufrui r do pri vi l égi o de aceder a esta exposi ção!


TALHA E AZULEJOS. AS ARTES EM "CON TEXTO" NOTAS PARA A VI SI TA À EXPOSI ÇÃO Maria Alexandra Trindade Gago da Câmara Universidade Aberta CHAI A A ci dade de Évora, centro urbano i mportante, nos fi nai s do sécul o XV e na pri mei ra metade do sécul o XVI , congregou um esforço de proj eção da sua i denti dade cul tural que, por vári as vezes, em si tuações hi stóri cas rel evantes, desempenhou o papel de capi tal cul tural do Sul do País, e de centro di fusor de novas i dei as artísti cas. Ao l ongo da época moderna, esta regi ão parti l ha tradi ções cul turai s sej a como sede do poder rel i gi oso ou sej a na sua progressi va i mpl antação de di versas ordens rel i gi osas. N este âmbi to geográfi co, pol íti co e cul tural , as artes da tal ha e do azul ej o são duas das mai s i mportantes expressões de arte apl i cada presentes no patri móni o edi fi cado rel i gi oso de Évora. É este um patri móni o i ntegrado que se reveste de um si gni fi cado profundo no contexto da obra de arte total do barroco português que é preci so el encar, i nventari ar a dar a conhecer. Estas artes assumem-se deste i níci o como agentes transformadores do espaço rel i gi oso, dotando al guns conj untos da regi ão do Al entej o meri di onal de uma presença si ngul ar e ori gi nal , consti tui ndo uma i mensa produção artísti ca. É especi fi camente em rel ação ao azul ej o, por todos reconheci da, a sua rel ação i ntrínseca com a arqui tetura. N este contexto al argado, surge em 2 01 1 i ntegrado na l i nha de i nvesti gação em H i stóri a de Arte do Centro de H i stóri a da Arte e I nvesti gação Artísti ca da Uni versi dade de Évora (CH AI A) em parceri a com o Laboratóri o H ERCU LES – H erança Cul tural , Estudo de Salvaguarda e a Di reção Regi onal de Cul tura do Al entej o, estendendose às di ferentes autarqui as e às enti dades que gerem espaços monumentai s - um proj eto de trabal ho sobre a Rota do Azul ej o no

TALH A E AZU LEJ OS AS ARTES EM "CON TEXTO"


Al entej o, cuj o obj eti vo tem si do dar a conhecer o Patri móni o Azul ej ar dos sécul os XVI a XX, com a fi nal i dade de di vul gar uma i denti dade artísti ca que é também um fator de di nami zação cul tural , soci al e económi ca. A ri queza do patri móni o azul ej ar hi stóri co na Regi ão do Al entej o, é i ncontornável , com edi fíci os embl emáti cos, rel evantes tanto no âmbi to regi onal quanto naci onal , permi ti ndo a estruturação de uma rota que val ori za a frui ção deste patri móni o no terri tóri o. A i nformação ao vi si tante, sej a em vi agem cul tural ou de l azer, é o ei xo fundamental do proj eto que se estrutura pel a edi ção de publ i cações (rotei ros, monografi as e desdobrávei s) e produção de conteúdos di gi tai s faci l i tando o acesso e a pesqui sa a documentação vari ada. A presente exposi ção real i zada pel o Arqui vo Di stri tal de Évora pretende di vul gar documentação arqui vísti ca i mportante para o estudo do azul ej o e da tal ha dourada associ ada a núcl eos rel evantes para a hi stóri a da azul ej ari a portuguesa, como as obras de G abri el del Barco para a i grej a de Santi ago e de Ol i vei ra Bernardes para a i grej a dos Lói os e da Mi seri córdi a de Évora. N a tal ha dourada podemos menci onar a títul o de exempl o os documentos rel aci onados com as campanhas protagoni zadas pel o mestre ental hador Franci sco Machado para a i grej a de Santo Antão, de Franci sco da Si lva para a Mi seri córdi a de Évora e de Sebasti ão Abreu do

Ó para a i grej a do Convento dos Remédi os. Em compl emento à presente exposi ção, a Rota do Azul ej o no Al entej o col abora na real i zação de um programa de vi si tas gui adas e num programa específi co de formação para os gui as turísti cos e para os técni cos que trabal ham quoti di anamente na salvaguarda desse patri móni o.


A CON DI ÇÃO DE AUTOR NAS CAMPAN HAS DE TALHA DOURADA E AZULEJOS Celso Mangucci. CHAI A Universidade de Évora Eureka! Uma emoção prazentei ra, quase i nfanti l , recompensa o i nvesti gador quando encontra um documento rel aci onado como uma obra de arte. É como se, depoi s de fasti di osas horas de pesqui sa nos arqui vos, o esqueci mento e as dúvi das dessem l ugar a certeza da autori a, a cl ari fi cação da cronol ogi a e do esti l o hi stóri co, concei tos chaves que organi zam, ai nda que de forma i mperfei ta, as nossas i dei as sobre a hi stóri a da arte. A própri a condi ção do hi stori ador, geral mente i mersa no carácter duvi doso de um j uízo críti co arbi trári o, ganha uma nova credi bi l i dade com a di vul gação desses factos i ndesmentívei s, conferi ndo uma espéci e de bi l hete de i denti dade aos conj untos de tal ha dourada e azul ej ari a, como os que se fazem referênci a nessa exposi ção sobre os documentos do Arqui vo Di stri tal de Évora. Mas ao contrári o do que poderíamos i magi nar – e sem desval ori zar a enorme i mportânci a do aporte das notíci as trazi das pel os documentos -, o momento exul tante de Arqui medes é rel ati vamente passagei ro, assumi ndo-se como o ponto de parti da para um sem número de tarefas que, auxi l i adas por outros campos de conheci mento, aj udam a construi r a al teri dade das artes decorati vas, al go rebel de em se encai xar naquel as categori as pré-defi ni das. Um dos pri mei ros desafi os que se col oca ao i nvesti gador é compati bi l i zar as i nformações trazi das pel os documentos com a real i dade materi al da obra de arte. N ão é raro terem ocorri do transformações posteri ores ao proj ecto i ni ci al e, mui to menos, o documento ser “apenas” uma memóri a escri ta de uma obra pl ásti ca perdi da. U l trapassado esse pri mei ro obstácul o e vol tando as nossas categori as fundamentai s, os documentos, na mai or parte das vezes, não são sufi ci entemente cl aros para di ri mi r a questão de autori a. É provável

A CON DI ÇÃO DE AU TOR N AS CAMPAN H AS DE TALH A DOU RADA E AZU LEJ OS


que mui tos mestres ental hadores não sej am os autores dos desenhos, proj ectos ou rascunhos, e cumpram apenas o papel de executores de obras pl aneadas por outros arti stas. Um das excepções, o contrato notari al cel ebrado em Évora, em 1 749, i denti fi ca o actual mente pouco conheci do mestre ental hador J oão Luís como autor do “ri sco” do retábul o da capel a-mor do convento de São J osé 1 , obra embl emáti ca do rococó al entej ano, que seri a executado por Sebasti ão Abreu do Ó, na época herdei ro de uma ofi ci na concei tuada na ci dade de Évora. Apesar de só recentemente val ori zada na bi bl i ografi a da especi al i dade, também para os azul ej os podemos confi rmar a exi stênci a de desenhos “de concepção”, como o que o pi ntor Marcos da Cruz el aborou, em 1 675, para os azul ej os do l avatóri o da sacri sti a da i grej a do Loreto 2 , em Li sboa. Com um i mpacto acresci do foram os cartões el aborados pel o pi ntor Vi tori no Manuel da Serra (1 692 - 1 747), a crer nas pal avras do seu bi ógrafo, um dos grandes responsávei s pel a i ntrodução da ornamentação rocai l l e 3 , e assi m da própri a renovação da azul ej ari a do período. Também para os tectos de brutescos houve cui dado em preparar e anal i sar model os: podemos l embrar os que J osé Ferrei ra de Araúj o apresentou para os cai xotões da I grej a de Santos-o-Vel ho, em Li sboa, ou o pagamento de quatro moedas de ouro, real i zado pel o arcebi spo de Évora, Frei Luís da Si lva Tel es, para o desenho do desapareci do tecto da i grej a

paroqui al de São Pedro de Évora. Fora do contexto dos documentos escri tos que estamos anal i sando, é ai nda possível traçar paral el os bastante aproxi mados com as gravuras que servi ram de base tanto das composi ções dos azul ej os quanto da arqui tectura da tal ha dourada, o que abre cami nho para o reconheci mento de uma tradi ção artísti ca e de uma cul tura específi ca dos arqui tectos e pi ntores. N o caso dos azul ej os, os contratos real i zamse quase sempre com os mestres l adri l hadores, responsávei s pel a total i dade da encomenda, o que provocou confusões si stemáti cas sobre a autori a das obras, atri bui ndo-se a Manuel Borges as obras pi ntadas por Antóni o Ol i vei ra Bernardes, a Bartol omeu Antunes os trabal hos de N i col au de Frei tas, Val enti m de Al mei da e Sebasti ão de Al mei da. Essa confusão ai nda perdura no caso de Domi ngos de Al mei da, mestre l adri l hador conheci do pel a sua acti vi dade no Al garve, que, para baral har mai s as contas, foi autor do desenho de um retábul o 4 , e no de Franci sco J orge da Costa 5 , “mestre azul ej ador da Casa do I nfantado e da Real Casa das Obras”, l i gado às obras régi as e à Fabri ca do Rato. Mas esse é o menor dos probl emas de se uti l i zar uma categori a demasi ado decal cada da noção contemporânea do arti sta enquanto responsável por todo o processo artísti co desde a concepção até o fi nal da obra. A di fi cul dade pri mei ra em defi ni r uma enti dade autoral úni ca


advém da própri a natureza col ecti va da execução das encomendas de azul ej os, tal ha dourada e pi nturas de tecto. Só ofi ci nas bem estruturadas ou companhi as formadas por vári os mestres são capazes de executar conj untos tão extensos em curtos espaços de tempo. Como exempl o dessa feéri ca acti vi dade, a ofi ci na de G abri el del Barco 6 executa, entre os anos de 1 699 e 1 700, o monumental revesti mento da nave da i grej a do Convento de N ossa Senhora da Assunção de Arrai ol os, os azul ej os para a nave da i grej a de Santi ago e ai nda para a casa da I rmandade do Santíssi mo Sacramento de São Mamede enquanto a ofi ci na de Franci sco Machado executa os vári os retábul os da i grej a de São Pedro e o da capel amor de Santo Antão, nos anos a segui r, entre 1 700 e 1 702 . N ão só as ofi ci nas congregam di versos mestres, ofi ci ai s e aprendi zes, mui tas vezes l i gados por l aços de parentesco, mas, provavel mente, em função da extensão e dos prazos restri tos de execução, uma mesma encomenda poderi a ser subdi vi di da por di versas ofi ci nas. É o que se pode depreender da documentação rel aci onada com o apuramento da herança de Bartol omeu Antunes 7 que, para al ém do seu genro N i col au de Frei tas, revel a vári os pi ntores, al guns ai nda com obra por i denti fi car, ao servi ço de um dos mai s i mportantes mestres l adri l hadores de Li sboa, no segundo quartel do sécul o XVI I I . A noção de percurso i ndi vi dual artísti co,

outra das característi cas que normal mente associ amos à condi ção do arti sta, também deve ser uti l i zada com precaução, j á que os documentos nomei am, por i ndi cação dos comi tentes, di versas obras model o, cri ando si tuações de conti nui dade entre obras de autores di ferentes. É esse o caso quase cari cato do retábul o de N ossa Senhora das Dores que J oão de Al mei da N egrão real i zou para uma das capel as col aterai s da i grej a de Santi ago de Évora 8 e que deveri a reproduzi r nada mai s nada menos que o model o do retábul o de Santana da mesma i grej a, o pavi l hão superi or dos retábul os das capel as col aterai s do Convento de São J osé (de Sebasti ão Abreu do Ó), os sacrári os do retábul o das capel as col aterai s da i grej a do convento de N ossa Senhora da G raça, chegando-se ao pormenor de i ndi car para a vi tri na do Senhor Morto o model o de uma porta de correr i dênti ca ao al tar da mesma i nvocação deste úl ti mo convento. Ai nda na i grej a de Santi ago, o retábul o da capel a-mor real i zado, em 1 71 9, por um mestre secundári o, devi a reproduzi r o agora desapareci do retábul o da capel a-mor de São Pedro, real i zado cerca de duas décadas antes pel o mestre ental hador Franci sco Machado 9 . Em senti do negati vo, é parti cul armente i nteressante a comparação estabel eci da no contrato para a i grej a dos Lói os de Évora, cel ebrado em 1 71 0, em que se cri ti ca a qual i dade dos azul ej os que, na década anteri or, G abri el del Barco real i zou para o convento da

13


mesma congregação em Arrai ol os. Exi ge-se um azul ej o “mel hor, mai s cl aro, e mai s fi no”, demonstrando a enorme i mportânci a da expressi vi dade i ntrínseca de cada um dos materi ai s que, como sabemos, depende também das condi ções técni cas das ol ari as e do saber dos mestres ol ei ros e, no caso da tal ha dourada, dos pi ntores douradores, outras das duas especi al i dades pel a qual se deve di vi di r a responsabi l i dade da autori a. Como demonstra o termo do contrato para a tal ha da Mi seri córdi a de Évora, real i zada com quatro pi ntores da ci dade, o douramento uti l i za vári os recursos pi ctóri cos com a adi ção de pol i cromi a, efei tos de “encarnação” e al ternânci a do tratamento de superfíci e entre fosco e bri l hante, numa i ntervenção geral mente di spendi osa e normal mente real i zada anos após a concl usão da obra de ental he. É evi dente, pel a qual i dade do vocabul ári o técni co empregue na redacção do contrato, que a i rmandade possui um consul tor técni co, al guém com reconheci da experi ênci a na área, e que as opções estéti cas em úl ti ma i nstânci a são da responsabi l i dade da di recção: “e paressendo a esta meza que se l he fação al guns foscos serão feytos sobre ouro o que fi cara ao arbi tri o da mesma determi nar se há de l evar a di ta obra os taes foscos ou se há de tudo ser burni do” 1 0 . N esse período, os frescos, a tal ha dourada, os azul ej os e as pi nturas a ól eo combi nam-se para cri ar uma “obra de arte total ”, que

conj ugam doi s pl anos di ferentes, um decorati vo e outro i conográfi co. Numa pri mei ra l ei tura, o pl ano i conográfi co é i medi atamente perceptível como o fi o condutor da obra, e os passos da vi da de São Lourenço J usti ni ano, patente nos azul ej os da i grej a dos Lói os de Arrai ol os e Évora, encontra-se descri ta na obra do hi stori ador Franci sco de Santa Mari a, publ i cada em 1 699. Mas esse rel ato escri to também será adaptado numa nova narrati va vi sual por um pl ano i conográfi co que também recl ama autori a: em Arrai ol os, pel o pi ntor G abri el del Barco segundo o pl ano concebi do por Frei Bernardo de São J eróni mo e, em Évora, por Antóni o de Ol i vei ra Bernardes segundo as i ndi cações do bi spo coadj utor D. Di ogo J usti ni ano da Anunci ação (m.1 71 3 ), confrade l ói o que efecti vamente di ri gi a os desti nos do arcebi spado nas ausênci as prol ongadas de D. Si mão da G ama. O control o do programa i conográfi co, tema fundamental da teori a artísti ca pós Concíl i o de Trento, apoi a-se na própri a hi erarqui a i nsti tuci onal ecl esi ásti ca, e os documentos comprovam a submi ssão da I rmandade do Santíssi mo Sacramento de Santi ago 1 1 aos desígni os do arcebi spo Luís da Si lva Tel es, ai nda que houvesse a contri bui ção fi nancei ra de todos os fregueses e i rmandades da paróqui a. A exi stênci a de um pl ano i conográfi co semel hante tanto para os azul ej os e frescos da nave da i grej a de Santi ago quanto para a casa da i rmandade do Santíssi mo


Sacramento de São Mamede permi te-nos, mai s uma vez, aval i ar o peso deci si vo da sua i ntervenção na real i zação dessas duas obras 1 2 . Será também sob a supervi são e patrocíni o do Arcebi spo de Évora, D. Si mão da G ama, ao acumul ar o cargo de provedor da Mi seri córdi a Évora, “por especi al provi zão de sua magestade”, que, no ano de 1 71 0, se formal i za o contrato com Franci sco da Si lva para a enorme emprei tada de tal ha, com um custo de 4 mi l cruzados. Com um programa decorati vo

de total renovação do espaço i nterno, o programa i conográfi co, mui to provavel mente de autori a de D. Di ogo da Anunci ação J usti ni ano, di stri bui -se pel as tel as de Franci sco Lopes Mendes e pel os azul ej os de Antóni o de Ol i vei ra Bernardes 1 3 . O contrato com o mestre l adri l hador Manuel Borges menci ona a exi stênci a de um desenho, um pl ano i conográfi co, com a di stri bui ção dos temas, que servi ri a também para o control e fi nal da obra: “que azul i asse reparti ndo o azul ei i o em sete

Sofrer as injúrias com paciência. António de Oliveira Bernardes, 1 71 6. I greja da Misericórdia de Évora. Foto Joaquim Carrapato.

15


passos das obras espi ri tuai s da mi zeri cordi a com vari os embl emas por baxo dos di tos passos de que se l he dara um papel decl arando-se os passos e embl emas em que sera assi gnado pel l o thezourei ro desta meza o qual mostrara depoi s do di to azol ei i o asi ntado na i grei a para ver se esta fei to na forma do estrato que se l he der assi gnado… ” 1 4 . Ao contrári o do que às vezes é assumi do pel a hi stori ografi a do Barroco português, mai s di fíci l é comprovar a exi stênci a de um pl ano decorati vo unívoco executado com ri gor, tanto mai s que as campanhas tendem a prol ongar-se no tempo, não raro por vári as décadas. Sabemos que o arqui tecto Pero Vaz Perei ra, autor da traça da I grej a de Santa Mari a de Machede, em 1 604, mercê da sua formação romana e da sua experi ênci a no acompanhamento das campanhas do Paço Ducal de Vi l a Vi çosa, certamente pl aneou a decoração de frescos, estuques e azul ej os daquel a i grej a 1 5 e também as decorações da N ossa Senhora da G raça do Di vor. Com propósi tos ai nda mai s i nfl uentes na concepção i nterna do espaço rel i gi oso, o arqui tecto J oão Antunes, na sua memóri a descri ti va da campanha de reconstrução da actual mente desapareci da i grej a de N ossa Senhora da Vi tóri a, previ u a preparação materi al necessári a para a col ocação dos azul ej os das capel as e sugere a sol ução mai s económi ca da real i zação dos retábul os de mármores col ori dos em madei ra pi ntada 1 6 . Embora nos fal te mai s dados

para uma correcta aval i ação, ambos os casos são bons i ndíci os do papel desempenhado pel os arqui tectos na concepção de proj ectos de edi fi cação acompanhados por um pl ano decorati vo geral . Para al ém dos pl anos decorati vos mai s erudi tos, a i dei a de exi sti r uma certa conti nui dade expressi va entre a tal ha dourada e os azul ej os parece enrai zada nos programas decorati vos da pri mei ra metade do sécul o XVI I , quando os azul ej os enxaquetados receberam apl i cações a ouro, ou quando áreas contíguas aos al tares dourados foram decoradas com uma padronagem real i zada apenas em amarel otorrado, i mi tando ouro, como é o caso do revesti mento azul ej ar da I grej a do Salvador de Évora. Uma tercei ra sol ução para a transi ção cromáti ca entre a tal ha dourada e a arqui tectura, em voga desde as pri mei ras décadas do sécul o XVI I , são os brutescos real i zados a ouro sobre branco, com o vocabul ári o ornamental da ferroneri e fl amenga, como o conj unto rel ati vamente tardi o que se conserva na i grej a do convento de São J oão de Deus em Montemor-o-N ovo 1 7, decorando pi l astras, os arcos e o i ntradorso das capel as l aterai s. A uni dade do conj unto é reforçada por todos os ci nco retábul os segui rem o mesmo model o estrutural , e também por prol ongarem a cornij a da nave, cri ando uma sol ução de conti nui dade entre a arqui tectura e a tal ha dourada. De notar que a pi ntura dos brutescos


repete um mesmo cartão, em campanhas sucessi vas, cronografadas entre os anos de 1 666 e 1 673 . Como demonstra o desenrol ar da campanha da Mi seri córdi a de Évora, real i zada no fundamental entre os anos de 1 71 0 e 1 71 6, e col ocando-se a hi pótese mai s provável da exi stênci a de um pl ano geral , o própri o encadeamento das obras, ao defi ni r áreas específi cas de actuação, permi te uma sol ução de arti cul ação sati sfatóri a entre a tal ha, os azul ej os e as tel as a ól eo. N o contrato com o mestre ental hador Franci sco Si lva j á estava previ sta a área “em raso” do espaço para as tel as do pi ntor Franci sco Lopes Mendes, e o contrato com o mestre l adri l hador Manuel Borges só será cel ebrado após a concl usão da emprei tada de tal ha, defi ni ndo perfei tamente a área que será coberta pel os azul ej os, sendo pl ausível que os desenhos menci onados no contrato da tal ha dourada, j unto com o l evantamento das medi das el aborado pel o mestre l adri l hador, pudessem ser

Retábulo da capela de Nossa Senhora do Carmo. I greja do Convento de São João de Deus, Montemor-o-Novo. Foto CMM.

17


l evados por Manuel Borges para a ofi ci na de Antóni o Ol i vei ra Bernardes, em Li sboa. Num dos mel hores exempl os de conti nui dade decorati va entre os azul ej os e a tal ha dourada e da exi stênci a de uma arti cul ação compl ementar -, na parte i nferi or da grande ci mal ha que reveste os doi s l ados da nave enquadrando as pi nturas, corre um entabl amento em tal ha dourada com remates sal i entes, fazendo a l i gação exacta com os capi téi s das pi l astras pi ntadas nos azul ej os. A qual i dade artísti ca e a enorme experi ênci a do pi ntor Antóni o de Ol i vei ra Bernardes, o seu víncul o fami l i ar com o cunhado J osé Ferrei ra de Araúj o, que di ri ge uma ofi ci na especi al i zada na pi ntura de tectos, é o mai s próxi mo que actual mente conhecemos de um arti sta mul ti facetado, ci ente da gl obal i dade do espaço Barroco, executando obras de pi ntura a fresco, tel as e azul ej os. Ai nda assi m, a sua i ntervenção mul ti di sci pl i nar para o mesmo espaço rel i gi oso terá si do excepci onal , confi rmando-se a sua i ntervenção nos tectos a fresco e nas tel as da I grej a de N ossa Senhora dos Prazeres, em Bej a, nas tel as da nave e no tecto da i grej a do Convento de Santa Cl ara, em Évora, nos azul ej os e o tecto da capel a da Ramada e nas tel as, tecto e azul ej os do Convento de N ossa Senhora da Concei ção da Luz, de Carni de em Li sboa 1 8 , um número rel ati vamente pequeno se comparado com os conj untos de tel as e azul ej os que fazem parte do corpus da sua obra. Al i ás é si ntomáti co que

a atri bui ção dos frescos do tecto da i grej a de Santi ago ao pi ntor G abri el del Barco tenha si do revi sta, efecti vamente separando a sua obra de azul ej os de uma pri mei ra fase como pi ntor de brutescos 1 9 . O control o i deol ógi co mui to centrado no pl ano i conográfi co não nos deve fazer esquecer uma genuína vontade de i novação e moderni dade artísti ca por parte dos comi tentes, e de uma escol ha preferenci al por determi nados arti stas, como a mani festada pel o arcebi spo Frei Luís da Si lva Tel l es em rel ação a Bento Coel ho da Si lvei ra e do mestre ental hador Franci sco Machado, a quem encomendou di versas obras, obri gando a i nstal ar ofi ci na no própri o Paço Arqui epi scopal . N os contratos é frequente as exortações a que a obra sej a concreti zada na máxi ma perfei ção ou, para os azul ej os, pel os mel hores pi ntores da corte. N o contrato com Sebasti ão Abreu do Ó, os padres do convento de N ossa Senhora dos Remédi os recl amavam a execução de tal ha “à francesa”, ou sej a com ornamentação rococó, como uma das condi ções para a sati sfação da encomenda do retábul o da capel a-mor, a mel hor obra do período no Al entej o. O desenho serve ai nda de documento de compromi sso, obj ecto de acordo com a assi natura de comi tentes e os arti stas, e é mui tas vezes obj ecto de al terações e adi ções no decorrer da escri ta dos contratos. Em j ei to de exame fi nal , o arcebi spo Frei Luís da Si lva


i nsi ste em i ndi car a Franci sco Machado a real i zação de doi s anj os que sustentam uma coroa para a exposi ção do Santíssi mo Sacramento no al to do trono, como ai nda podemos observar na I grej a de Santo Antão, e os i rmãos da Mi seri córdi a sol i ci tam o acrésci mo de col unas e fi guras ao desenho de Franci sco da Si lva para o retábul o da Mi seri córdi a de Évora: “… e assi m mai s sera obri gado el l e di to Franci sco da Sylva a fazer duas col unas em cada cappel l a das tai s, al em de duas fi guras que ha de fi car nos l ados da cappel l a mai or, de grandeza que a obra o pri mi ti r, sem embargo de as tai s col unas não estarem no ri sco” 2 0 . A i dei a de “bel composto”, forj ada a parti r da obra de Lorenzo Berni ni , refere-se normal mente ao conj unto que resul ta da uni fi cação da pi ntura, escul tura e arqui tetura em espaços proj etados de forma abrangente. Mas o arqui tecto e escul tor i tal i ano, na persegui ção desse desi derato, quebrou as frontei ras cl ássi cas, ul trapassou a i dei a de si mpl es compl ementari dade e redefi ni u as propri edades e a função de cada domíni o artísti co. N o espaço português, a preferênci a pel a tal ha dourada, enquanto ponto de fusão entre arqui tectura, escul tura e pi ntura, e do própri o azul ej o fi gurati vo azul e branco enquanto uma combi nação exóti ca de pi ntura arqui tectóni ca e porcel ana chi nesa, são si ntoma dessa transgressão provocada pel o gosto do “bel composto”, dessa preferênci a

pel as artes “mi stas” fora do regi sto canóni co renascenti sta. Essa conj ugação de todas as artes representou também mudanças profundas na formação dos arti stas e na arti cul ação das encomendas, fazendo convergi r arqui tectos, i conógrafos, mestres ental hadores, douradores, mestres l adri l hadores, pi ntores de azul ej o, mestres ol ei ros, e outros artífi ces numa forma de col aboração de contornos nem sempre bem defi ni dos, e também por i sso, nem sempre fáci l de i denti fi car e reconsti tui r.

19


NOTAS 1 Para uma reaval i ação da i mportânci a da acti vi dade do mestre ental hador vej a-se Artur G oul art de Mel o BORG ES, 2 005: 53 .

1 5 Cf. Vítor SERRÃO, 2 001 : 2 69-270. O proj ecto i ni ci al sofreu transformações posteri ores com a i ncl usão de novos si l hares de azul ej os de padrão nos meados do sécul o XVI I .

2 Susana Varel a FLOR, 2 01 0-2 01 1 .

1 6 CAETAN O e SI LVA, 1 993 : 1 65-1 66.

3 A afi rmação consta da bi ografi a escri ta pel o pi ntor J eróni mo de Andrade. Vítor SERRÃO, 2 003 : 2 57-2 58.

1 7 Cf. Túl i o ESPAN CA, 1 975: I , 3 59-3 61 ; Franci sco LAMEI RA, 2 004: 1 46-1 55.

4 Em 1 761 , assenta os azul ej os do tecto da I grej a da Ordem Tercei ra de São Franci sco de Faro, e em 1 780 real i za o desenho para o retábul o da capel a-mor. Vítor SERRÃO, 1 999: 2 2 0; Franci sco LAMEI RA, 2 000: 2 93 .

1 8 Vítor SERRÃO, 2 01 3 .

5 Sandra Costa SALDAN H A, 2 01 3 . 6 Para uma reaval i ação da obra e dos col aboradores de G abri el del Barco vej a-se a tese de doutorado apresentada por Rosári o Sal ema de CARVALH O, 2 01 2 . 7 Cel so MAN G U CCI , 2 003 . 8 ADE, CN E, Tabel i ão, l i vro 1 1 63 . 9 ADE, CN E, Tabel i ão Franci sco Rosado, l i vro 1 1 3 3 , fl s. 51 51 v. º. Túl i o ESPAN CA, 1 984-1 985: 1 1 5. 1 0 Esse pri mei ro contrato não foi efeti vado e a obra de douramento seri a real i zada pel o pi ntor Fel i pe de Santi ago no ano segui nte. ADE, Mi seri córdi a de Évora, l i vro n. º 27, Lembranças das mezas começou em 1 72 8 athe 1 73 9, fl s. 1 9 e 1 9 v. º. 11 Paul i na ARAÚ J O, 2 01 3 . ADE, CEAE, Li vro dos Estatutos da I rmandade do Santíssi mo Sacramento da I grej a de Santi ago, fl . 1 1 e 1 1 vº. 1 2 Cel so MAN G U CCI , 2 01 3 . 1 3 Cel so MAN G U CCI , 2 008. 1 4 ADE. CN E, Tabel i ão Manuel Pi nhei ro, l i vro 1 1 3 0, fl s. 2 vº - 4.

1 9 Vítor SERRÃO, 1 998-1 999. 20 Cel so MAN G U CCI , 2 008.


O retábulo da capela-mor da igreja do Mosteiro da Cartuxa de Évora (projecto de José Benito de Churriguera?) Francisco Lameira. Universidade do Algarve As rel ações artísti cas en tre Portugal e Espan h a, n om eadam en te n as regi ões fron tei ri ças de am bos os países, foram um a con stan te ao l on go dos sécul os XVI I e XVI I I . N o campo específi co dos retábul os con stata-se a ci rcul ação, ai n da que pon tual , de m estres en tal h adores portugueses em Espan h a e de espan h ói s em Portugal . Mai s rara era a i mportação de ri scos ou proj ectos. O presen te arti go aborda um exempl o desta úl ti m a si tuação, atri bui n do n ós a autori a do proj ecto do retábul o da capel am or da i grej a do Mostei ro de N ossa Sen h ora de Scal a Coel i em Évora ao presti gi ado arqui tecto e escul tor espan h ol J osé B en i to de Ch urri guera, ai n da que o retábul o subsi sten te den ote al gum as m odi fi cações real i zadas por um arti sta português, even tual m en te o m estre en tal h ador Fran ci sco Mach ado, ori gi n ári o de Li sboa m as com ofi ci n a aberta n a ci dade de Évora desde 1 684. O CLI EN TE A i n stal ação em Portugal dos rel i gi osos de São B run o ou Cartuxos só ocorreu em 1 5 87, ten do o pri m ei ro cen óbi o, e cabeça desta Ordem rel i gi osa, si do fun dado n a ci dade de Évora, sede de um i mportan te arcebi spado. Apesar da i n i ci ati va da fun dação ter si do do i l ustre prel ado D. Teotón i o, fi l h o de D. J ai m e, 3 . º duque da Casa de B ragan ça e pri m o do rei D. Fi l i pe I I de Espan h a, este cen óbi o con tou sempre com o apoi o dos vári os m on arcas da di n asti a fi l i pi n a. Com o recompen sa do avul tado apoi o prestado por D. Teotón i o de B ragan ça, o Pri or G eral ofereceu ao duque de B ragan ça o ch ão

O RETÁBU LO DA CAPELA-MOR DA I G REJA DO MOSTEI RO DA CARTU XA DE ÉVORA


sagrado da i grej a deste conven to para pan teão da Casa bragan ti n a 1 . Com a Restauração da i n depen dên ci a em 1 640, os duques de B ragan ça assum i ram o poder em Portugal . Duran te os con fl i tos m i l i tares que se segui ram , a ci dade de Évora foi ocupada duran te al gum tempo, de 2 2 de Mai o a 2 5 de J un h o de 1 663 , pel as tropas castel h an as com an dadas por D. J oão de Áustri a, fi l h o bastardo de El -Rei , que acabara de suj ei tar os Catal ães 2 . G raves estragos ocorreram n a i grej a do Conven to dos Cartuxos, que ch egou a ser ocupada pel o exérci to espan h ol . Esta com un i dade conven tual , l em bran do a rem ota l i gação deste cen óbi o à Casa de B ragan ça, sol i ci tou a i n terven ção régi a para reparar os dan os en tão causados. Com o resposta El -Rei D. Pedro, que Deus ten h a em gl óri a, tom ou este Conven to debai xo da Real protecção e deu por Padroei ro del e seu fi l h o D. J oão, sen do ai n da prín ci pe 3 . N este con texto se deve en ten der o avan taj ado apoi o fi n an cei ro dado por D. Pedro I I , n om eadam en te a parti r de 1 694, para custear as obras de recon strução da i grej a 4 . Este m on arca ch egou m esm o a assum i r ofi ci al m en te o padroado deste templ o n um auto públ i co l avrado em Li sboa, n o di a 1 7 de Feverei ro de 1 701 5 . O seu fi l h o e sucessor, D. J oão V, m ostrou-se i gual m en te m ui to gen eroso com esta com un i dade, dan do m ai s de um a vez avul tadas esm ol as para a orn am en tação da i grej a 6 .

Apesar de terem votos de cl ausura, as com un i dades cartuxas m an ti n h am rel ações en tre el as. Aquan do da fun dação da Cartuxa de Évora, os pri m ei ros rel i gi osos vi eram da Cartuxa de Scal a Dei de Tarragon a. Esta proxi m i dade possi bi l i tou i gual m en te o estrei tam en to de rel ações artísti cas. Vítor Serrão apon ta doi s exempl os con cretos: a despesa efectuada pel a com un i dade Cartuxa de Évora, n o di a 1 4 de Outubro de 1 5 89, n o val or de 7. 000$000 réi s com a i m agem de Cri sto Cruci fi cado em vul to perfei to proven i en te de Madri d e, em 1 5 91 , com a i m agem do Ecce H om o que vei o de Madri d para a Cartuxa 7. A I G REJ A CON VEN TU AL Após a fun dação em 1 5 87, a con strução do Mostei ro de N ossa Sen h ora de Scal a Coel i de Évora, i n cl ui n do a i grej a, só fi cou con cl uída em 1 62 5 , an o em que ofi ci al m en te foram dadas por en cerradas as obras 8 . U m a n ova campan h a foi prom ovi da n os fi n ai s do sécul o XVI I , ten do por obj ecti vo reparar este templ o do estado de destrui ção provocado pel a ocupação do exérci to espan h ol , n um a campan h a m i l i tar ocorri da em Mai o e J un h o de 1 663 e do vi ol en to i n cên di o que se segui u. De real çar que as obras de recon strução decorreram n os an os de 1 695 , 1 696 e 1 697, ten do-se gasto el evadas quan ti as. N esta i n terven ção real ça-se o papel assum i do pel o m estre pedrei ro Man uel J oão Pen alvo 9 .


U m a vez con cl uída a recon strução da i grej a, torn ava-se n ecessári o m an dá-l a prover de n ovos equi pam en tos l i túrgi cos, n om eadam en te retábul os e cadei rai s. A FEI TURA DO RETÁB U LO DA CAPELA-MOR DA I G REJ A Apesar de o Padre An tón i o Fran co referi r que o retábul o pri n ci pal foi fei to após a con cl usão das obras da i grej a ( acabou-se a igreja e se lhe fez o retábulo ) 1 0 , n ão n os i n di ca a data preci sa. A docum en tação rem an escen te som en te é escl arecedora em rel ação ao douram en to do retábul o. U m pri m ei ro con trato n otari al foi aj ustado n o di a 31 de Março de 1 72 9 en tre o Pri or Frei I n áci o de São J osé e o m estre dourador eboren se Fi l i pe de San ti ago N eves 1 1 . Aten den do a que este profi ssi on al n ão acei tou que, após a con cl usão do douram en to, a sua i n terven ção fosse vi stori ada por quatro col egas seus de Évora, n om eadam en te B ern ardo Luís, Fran ci sco Ferrei ra, Man uel da Mai a e J osé Correi a porque os dá por suspei tos, os cartuxos real i zaram , doi s di as depoi s,

n ovo aj uste n otari al 1 2 desta vez com B ern ardo Luís, um dos suspei tos atrás referi dos. N esta úl ti m a escri tura, o m estre dourador comprom eteu-se a trazer ci n co pessoas cada di a efecti vam en te até fi n al e con cl usão da di ta Retábulo da capela-mor do Convento da Cartuxa. Foto Artur Goulart

23


obra, o que den ota a urgên ci a em apron tar o douram en to, poi s o en tal h e do retábul o j á ti n h a si do con cl uído h á tri n ta an os 1 3 , com o verem os de segui da. Em rel ação ao ri sco e ao en tal h e do retábul o n ão tem os con h eci m en to de n en h um dado docum en tal con creto. Com ecem os pel o ri sco, é provável que, ai n da n o an o de 1 697, quan do as obras dos pedrei ros estavam em vi as de con cl usão, a com un i dade Cartuxa ti vesse sol i ci tado vári os proj ectos pel o m en os a três arti stas di feren tes, com o en tão era costum e. N atural m en te en com en daram ri scos a m estres eboren ses e a arti stas sedeados n a ci dade de Li sboa, pri n ci pal cen tro artísti co português. Possi vel m en te terão pedi do tam bém aos respon sávei s da com un i dade Cartuxa de Madri d, dan do con ti n ui dade às estrei tas rel ações exi sten tes en tre am bas, que l h es arran j assem um ri sco da autori a de um arti sta presti gi ado n a capi tal espan h ol a. A parti r do m om en to em que os respon sávei s da com un i dade Cartuxa de Évora esti veram n a posse dos ri scos sol i ci tados, reun i ram -se e escol h eram o exempl ar da sua preferên ci a. Assi m sen do, é possível que a sua opção ti vesse recaído n o proj ecto ori un do de Espan h a, provavel m en te da autori a do fam oso arqui tecto e escul tor J osé B en i to Ch urri guera (1 665 -1 72 5 ), ai n da que al gun s el em en tos ti vessem si do adaptados às n ecessi dades l i túrgi cas portuguesas. Descon h ecem os a

i den ti dade do respon sável por estas al terações. Tan to pode ter si do um rel i gi oso cartuxo, poi s al gun s ti n h am form ação artísti ca 1 4 , com o o própri o m estre que assum i u a execução do en tal h e do retábul o. O proj ecto em questão apresen ta i n úm eras sem el h an ças composi ti vas com o n otável retábul o da capel a-m or da i grej a do Conven to de San to Estêvão em Sal am an ca 1 5 , obra m áxi m a daquel e arti sta espan h ol , en tal h ado en tre 1 692 e 1 6941 6 . Por sua vez a execução do en tal h e esteve possi vel m en te a con curso, descon h ecen do-se quai s foram as ofi ci n as de en tal h e, sedeadas ou n ão n a ci dade de Évora, que parti ci param n a arrem atação da obra. É provável que o referi do con curso ti vesse si do gan h o pel o m estre en tal h ador Fran ci sco Mach ado, profi ssi on al ori un do de Li sboa m as estabel eci do n a ci dade de Évora, pel o m en os desde 1 684, pri m ei ro n a Rua do Rai m un do, depoi s n o Páti o dos Con des de B asto e m ai s tarde n a Rua do Al con ch el . Este m estre deti n h a um a das ofi ci n as de en tal h e de m adei ra m ai s i mportan tes n este bi spado 1 7. Os seus con corren tes m ai s afam ados eram os m estres Fran ci sco da Si lva 1 8 , tam bém ori gi n ári o de Li sboa e i gual m en te estabel eci do em Évora e o m estre I n áci o Carrei ra 1 9 . Com o even tuai s con corren tes com m en or categori a, todos el es com ofi ci n a em Évora, referi m os os m estres An tón i o de Ol i vei ra 2 0 , Man uel Morei ra 21 , Dom i n gos G om es Aran h a 2 2 e I n áci o de Fari a 2 3 . O aj uste do en tal h e do retábul o pri n ci pal da


sécul o XVI I I , n ão só n a ci dade de Évora m as i grej a do Mostei ro da Cartuxa deve ter si do tam bém em vári as l ocal i dades al en tej an as. A assum i do ai n da n o an o de 1 697, ocorren do a atri bui ção do retábul o da capel a-m or da i grej a con cl usão da obra e o assen tam en to n a parede do Conven to da Cartuxa a este profi ssi on al testei ra da capel a-m or n os m eses do verão de rem on ta aos fi n ai s do sécul o XI X, deven do-se 1 698. Em Agosto deste an o j á o m estre ao i l ustre h i stori ador eboren se: Cun h a Fran ci sco Mach ado estava l i vre, assum i n do a execução do retábul o de São Retábulo da capela-mor de Santo Estêvão, Benito Churriguera, 1 692. Foto Zarateman Al berto, exempl ar ai n da rem an escen te n um a capel a l ateral da i grej a do Conven to de N ossa Sen h ora do Carm o de Évora 24 . Em Dezem bro do an o segui n te, este m estre con tratava com o Arcebi spo de Évora, D. Frei Luís da Si lva, o retábul o de N ossa sen h ora do An j o para a i grej a da Sé Catedral 2 5 , exempl ar ai n da subsi sten te. Por sua vez, em Abri l de 1 701 , aj ustava com o referi do Arcebi spo o en tal h e do retábul o da capel a-m or da i grej a m atri z de San to An tão de Évora, de acordo com o ri sco que apresen tou 2 6 . De real çar que este exempl ar den ota al gum as i n fl uên ci as do retábul o pri n ci pal da i grej a do Conven to da Cartuxa 27. Excl uím os desta an ál i se o m estre en tal h ador Man uel de Abreu do Ó, cuj a ofi ci n a se afi rm ou n o segun do terço n o

25


Ri vara 2 8 . Esta atri bui ção foi -se m an ten do, ten do si do adoptada sucessi vam en te por Túl i o Espan ca 2 9 , Robert Sm i th 3 0 , I l ídi o Sal tei ro 31 , J osé Fern an des Perei ra 3 2 , Marcos H i l l 3 3 , Fran ci sco Lam ei ra 3 4 e Vítor Serrão 3 5 . Os dados actual m en te exi sten tes perm i tem -n os afi rm ar com seguran ça que o m estre Man uel de Abreu do Ó n ão pode ter si do o respon sável pel o en tal h e do retábul o pri n ci pal da i grej a do Conven to da Cartuxa, poi s só dei xou o Al garve, con cretam en te a ci dade de Tavi ra, em 1 724, en tão com vi n te e ci n co an os de i dade, ten do i do trabal h ar com o can tei ro n a con strução da n ova capel a-m or da Sé de Évora 3 6 . De sal i en tar que recen tem en te Cel so Man guci , n o seu arti go sobre os m estres Man uel e Sebasti ão Abreu do Ó, afi rm a de form a perspi caz ser m uito pouco provável a sua participação no retábulo da capela-m or do Convento da Cartuxa 37. Acresce referi r que,

desde 1 71 8, n a ci dade de Évora com eçavam a ser apl i cados os pri m ei ros exempl ares de um n ovo form ul ári o artísti co 3 8 , cuj a i n terven ção pi on ei ra parece ter si do assum i da por um m estre en tal h ador ori gi n ári o da ci dade de Li sboa, Mi guel Rodri gues, que aj ustou a fei tura de duas capel as de tal h a m odern a para a i grej a do Conven to de San ta Cl ara 3 9 . AN ÁLI SE DO RETÁB U LO PRI N CI PAL O retábul o pri n ci pal da i grej a do Mostei ro da Cartuxa de Évora é um exempl ar

eucarísti co, de gran des di m en sões, que preen ch e a total i dade da parede testei ra da capel a-m or. Ti n h a com o pri n ci pal uso ou fun ção a exposi ção sol en e do San tíssi m o Sacram en to n os m om en tos l i túrgi cos m ai s rel evan tes, n om eadam en te n os J ubi l eus. N o n i ch o do áti co estari a provavel m en te a represen tação escul tóri ca do orago do templ o. Por sua vez os n i ch os col aterai s ao sacrári o seri am desti n ados a i m agen s secun dári as de vul to perfei to. A sua pl an ta é em perspecti va côn cava, apresen tan do con tudo um a sol ução ímpar, n ão só em Portugal m as tam bém em Espan h a 4 0 , n a m edi da em que os el em en tos arqui tectón i cos usados (doi s pares de col un as e um par de pi l astras) surgem em di feren tes pl an os: en quan to que os doi s exteri ores estão i n terl i gados, o tercei ro, m ai s recuado, está l i gei ram en te afastado dos restan tes, proporci on an do um a zon a som bri a. O em basam en to apresen ta dupl o regi sto, provavel m en te com proporções di feren tes do proj ecto espan h ol 41 . N o sotoban co surgem pedestai s de pedrari a com em buti dos de vári as cores, m oda m ui to em voga n a ci dade de Li sboa. Por sua vez n o ban co sobressaem doi s pares de m ísul as, orn am en tadas com exuberan te fol h agem , que suportam as col un as torsas do corpo do retábul o. Ao cen tro, assen te n a ban queta e com o tal n um regi sto um pouco i n feri or ao do ban co, resul tado da al teração proposta pel o m estre português, surge um


sacrári o m on um en tal . Este tem doi s corpos e apresen ta com o especi fi ci dade composi ti va o facto de o fron ti spíci o do corpo i n feri or ser del i m i tado por doi s pares de col un as torsas em perspecti va côn cava, en quan to que os quartel ões 4 2 do segun do corpo são em perspecti va convexa. Merecem tam bém um a referên ci a parti cul ar os doi s n i ch os que l adei am parte do referi do sacrári o. Am bos são em ol durados por col un as torsas e arcos sal om ón i cos con cên tri cos, sen do esta úl ti m a sol ução excl usi va da i den ti dade portuguesa. São o resul tado de m ai s um a i n terven ção do profi ssi on al respon sável pel o en tal h e. De an otar que a col ocação destes n i ch os ao n ível do ban co i n terfere n a l ei tura do sacrári o. Os el em en tos arqui tectón i cos usados de form a m agi stral , n om eadam en te as col un as torsas com sete espi ras total m en te revesti das por cach os de uvas e parras, en quadram o cam ari m cen tral . Este é preen ch i do por um m odesto tron o pi ram i dal em degraus, de m odo a que se perceba a profun di dade do cam ari m . A subordi n ação deste úl ti m o ao corpo do retábul o adqui re um a expressão que n ão é m ui to frequen te em Portugal 4 3 , sen do m ai s vul gar em Espan h a. Regi stam os ai n da um outro caso pon tual desta sol ução, que curi osam en te ocorre tam bém em Évora, m as j á com o resul tado da i n fl uên ci a do retábul o da Cartuxa. Trata-se de um exempl ar de m en or qual i dade artísti ca, o da capel a-m or da i grej a m atri z de San to

An tão, aj ustado pel o m estre en tal h ador Fran ci sco Mach ado, n o di a 1 de Abri l de 1 701 , com o j á referi m os an teri orm en te. Retom an do a an ál i se do retábul o pri n ci pal da i grej a do Conven to da Cartuxa, o en tabl am en to restri n ge-se aos el em en tos arqui tectón i cos, acompan h an do a pl an ta do retábul o. Fi n al m en te o áti co tam bém n ão se en quadra n as n orm as portuguesas, ten do em con ta a i mportân ci a atri buída ao n i ch o cen tral , que dá con ti n ui dade ao sacrári o, e ao facto de ser del i m i tado por doi s pares de col un as torsas em perspecti va côn cava. De real çar a i mportân ci a das duas arqui vol tas pl en as que del i m i tam o retábul o, sen do m ai s acen tuada a que rem ata as col un as das i l h argas. Am bas as pi l astras são cortadas tran sversal m en te por quatro aduel as 4 4 e por um a cartel a cen tral on de fi guram as i n sígn i as dos Cartuxos. N as i l h argas h á urn as que rem atam as col un as cen trai s 4 5 .

27


NOTAS 1 Túl i o ESPAN CA, Inventário Artístico de Portugal . VI I . Ci dade e Concel ho, Li sboa, 1 966, p. 2 Padre Antóni o FRAN CO, Évora Ilustrada , Évora, 1 945, pp. 1 86 a 1 90. 3 Bi bl i oteca Públ i ca de Évora, Li vro da Reparti ção das H erdades e outras notíci as necessári as para bem deste convento da Cartuxa de N ossa Senhora de Scal a Coel i , fl s. 3 5. 4 O Padre Antóni o FRAN CO especi fi ca i ncl usi vamente as parcel as da aj uda régi a: na pri mei ra oi to mi l cruzados, na segunda doze mi l cruzados e fi nal mente mai s sei s mi l cruzados. Ver op. ci t. , p. 3 58. 5 Túl i o ESPAN CA, Inventário Artístico de Portugal. VII. Concelho de Évora . Li sboa: 1 966, p. 6 Bi bl i oteca Públ i ca de Évora, Livro da Repartição das

Herdades e outras notícias necessárias para bem deste convento da Cartuxa de Nossa Senhora de Scala Coeli , fl s.

3 5 e 3 5 v. º: “ El Rei D. J oão V, que Deus tenha em gl óri a, deu por uma consul ta ci nco mi l cruzados que se cobraram no Al moxari fado de Évoramonte e no ano de 1 72 9 deu outros ci nco mi l cruzados na ocasi ão das passagens das Pri ncesas para Portugal e Castel a que todos se apl i caram às obras da i grej a, dourados e pi ntura e como ai nda fal tava o dourado dos retábul os, o N osso Padre Pri or fez súpl i ca ao mesmo Senhor D. J oão V, que l ogo segundo a sua costumada pi edade e grandeza deu outros doi s mi l cruzados com que se acabou o dourado”.

7 “Um desenho de Fernão G omes, para o Mostei ro da Scal a Coel i de Évora”, Monumentos . Revi sta Semestral de Edi fíci os e Monumentos, n. º 1 0, Li sboa, 1 999, pp. 34 e 3 5. 8 Mi guel SOROMEN H O, “As possívei s fontes ti pol ógi cas da fachada da I grej a”, Monumentos . Revi sta Semestral de Edi fíci os e Monumentos, n. º 1 0, Li sboa, 1 999, p. 1 0.

9 I dem, I bi dem, p. 1 0 e Vítor SERRÃO, “Um desenho de Fernão G omes, para o Mostei ro da Scal a Coel i de Évora”, Monumentos. Revi sta Semestral de Edi fíci os e Monumentos, n. º 1 0, p. 37. 1 0 Op ci t. , p. 3 58. 11 Túl i o ESPAN CA, “N ova Mi scel ânea”, A Cidade de Évora . Bol eti m de Cul tura da Câmara Muni ci pal , n. º 67-68, Évora, 1 984-1 985, p. 1 1 6 e ARQU I VO DI STRI TAL DE ÉVORA, Cartóri o N otari al de Évora, Li vro de N otas n. º 1 2 61 , fl s. 7 e v. º. 1 2 Túl i o ESPAN CA, “N ova Mi scel ânea”, A Ci dade de Évora, n. º 67-68, p. 1 1 6 e Arqui vo Di stri tal de Évora, Cartóri o N otari al de Évora, Li vro de N otas n. º 1 2 61 , fl s. 8 e v. º. 1 3 Entre o ental he de um retábul o e o seu douramento era frequente esperar al guns anos, por vezes duas e três décadas, poi s o douramento era tão di spendi oso como o ental he. 1 4 A títul o de exempl o refere-se que, em 1 62 5, o Padre Tomé, Pri or do Convento da Cartuxa de Évora, fez um ri sco para um retábul o da capel a de N ossa Senhora do Rosári o desti nado à i grej a do Convento de São Domi ngos de Évora (Túl i o Espanca, “N ova Mi scel ânea”, A Ci dade de Évora, n. º 67-68, p. 1 07). 1 5 Destacamos a di nami zação da pl anta, quer do retábul o, quer do sacrári o, a subordi nação do camari m ao entabl amento, al gumas sol uções do áti co, nomeadamente a arqui vol ta que del i mi ta o conj unto, um espaço central exposi ti vo dedi cado à representação i conográfi ca do orago, l adeado por pl i ntos ou urnas e que rematam as col unas do corpo. 1 6 Al fonso RODRÍG U EZ CEBALLOS, “El retabl o barroco en Sal amanca: materi al es, formas, ti pol ogías”, IMAFRONTE , n. ºs 3 -4-5, 1 987-88-89, pp. 2 3 9 e 242 .


1 7 Cfr. Cel so MAN G U CCI , “Franci sco Machado e a ofi ci na de retábul os do arcebi spo de Évora”, Cenáculo . Bol eti m onl i ne do Museu de Évora, n. º 2 , 2 007.

28 “Obras de tal ha em Évora”, Noites de Évora . Mi scel l anea poéti ca, românti ca e de vari a hi stori a, Évora, 1 897, p. 83

1 8 Os dados documentai s conheci dos si tuam-no entre 1 694 e 1 746, tendo fei to retábul os para di versas l ocal i dades al entej anas, a saber: Bej a, Estremoz, Évora, Ferrei ra, Monforte, Moura, São Marcos do Campo no termo de Monsaraz e Vi mi ei ro.

29 Évora, Évora, 1 961 , p. 60 e Inventário Artístico de Portugal. VII. Concelho de Évora . Li sboa: 1 966, p. 31 0. Curi osamente na fase fi nal da sua vi da j á não mantém a atri bui ção e di z: desconhecemos os nomes dos arti stas do notável retábul o (“N ova Mi scel ânea”, A Cidade de Évora , 1 984-1 985, n. º 67-68, p. 1 2 6).

1 9 Os dados documentai s conheci dos si tuam-no entre 1 692 e 1 71 0, ano em que fal eceu e foi sepul tado em Évora.

30 A Talha em Portugal , Li sboa, 1 963 , p. 74.

20 Os dados documentai s conheci dos si tuam-no entre 1 674 e 1 701 , ano em que fal eceu e foi sepul tado em Évora. 21 Os dados documentai s conheci dos di zem respei to a 1 692 e 1 693 . Em 1 692 resi di a em Portal egre e no ano segui nte em Évora. 22 A úni ca obra conheci da data de 1 703 . 23 Os dados documentai s conheci dos si tuam-no entre os fi nai s do sécul o XVI I e 1 71 3 .

31 “Ó, Manuel de Abreu e Sebasti ão de Abreu”, Dicionário da Arte Barroca em Portugal , Li sboa, 1 989, p. 3 24. 32 “O barroco do sécul o XVI I : transi ção e mudança. A tal ha”, História da Arte Portuguesa , I I I vol ume, Li sboa, 1 995, p. 2 3 . 33 A Talha Barroca em Évora. Séculos XVII-XVIII , Évora, 1 998, pp. 31 a 53 .

24 Mi guel Ángel VALLECI LLO TEODORO, “Centros Artísti cos y Esbozo de Arti stas en el Al to-Al entej o”, Callipole , n. º 3 /4, Vi l a Vi çosa, 1 995-1 996, p. 1 51 e ARQU I VO DI STRI TAL DE ÉVORA, Cartóri o N otari al de Évora, Li vro de N otas n. º 902 , fl . 2 5.

34 Franci sco Lamei ra, “A Tal ha”, Monumentos . Revi sta Semestral de Edi fíci os e Monumentos, n. º 1 0, Li sboa, 1 999, pp. 27 e 2 8. Em 2 004 j á reconheci a que esta atri bui ção era um equívoco (“Contri bui ções para o estudo do retábul o barroco no Al entej o: a ofi ci na do i nsi gne escul tor Manuel de Abreu do Ó”, Promonoria . Revi sta do Departamento de H i stóri a, Arqueol i ga e Patri móni o da Uni versi dade do Al garve, Faro, 2 004, p. 2 87)

25 I dem, Retablística Alto Alentejana (Elvas, Villacisiosa y Olivenza) en los siglos XVII-XVIII , Méri da, 1 996, p. 1 51 .

35 História da Arte em Portugal . O Barroco , Li sboa, 2 003 , p. 2 04.

26 I dem, I bi dem, p. 1 51 e ARQU I VO DI STRI TAL DE ÉVORA, Cartóri o N otari al de Évora, Li vro de N otas n. º 1 02 6, fl . 3 2 .

36 Artur G oul art de Mel o Borges, “As obras da nova Capel a-mor da Sé – escol a de arti stas”, Eborensia , n. º 3 5, p.

27 Para al ém da subordi nação do camari m ao corpo do retábul o, outra i nfl uênci a é o facto de apresentar um espaço desti nado a uma representação fi gurati va no ei xo do áti co.

37 “A Tal ha mai s moderna. O percurso artísti co de Manuel e Sebasti ão Abreu do Ó, em Évora”, Cenáculo. Boletim on line do Museu de Évora (n. º 4), Setembro de 2 01 0, p. 4.

29


38 Franci sco Lamei ra e Vítor Serrão, “O retábul o em Portugal : o Barroco Fi nal (1 71 3 -1 746)”, Promontoria . Revi sta do Departamento de H i stóri a, Arqueol ogi a e Patri móni o da Uni versi dade do Al garve, Faro, 2 005, p. 2 87. 39 I nformação i nédi ta cedi da genti l mente pel o Di rector do I nsti tuto de H i stóri a da Arte da Facul dade de Letras de Li sboa, Prof. Doutor Vítor Serrão. 40 É possível encontrar al gum paral el i smo com o j á referi do retábul o da capel a-mor da i grej a do Convento de Santo Estêvão em Sal amanca, apesar de este úl ti mo exempl ar ser bastante mai s i nteressante na medi da em que apresenta pl anta mi sta. Em comum regi sta-se a zona de penumbra e consequentemente de tensão proporci onada pel os pl anos di ferentes das ordens arqui tectóni cas. Al fonso Cebal l os afi rma a propósi to do retábul o de Sal amanca: "sua pl anta es absol utamente semi ci rcul ar resuel ta com una mestri a pocas vezes al canzada" (Op. ci t, p. 2 3 9). 41 É i nteressante confrontar esta sol ução com a do retábul o da capel a-mor da i grej a do Convento de Santo Estêvão em Sal amanca. 42 De anotar a i mportânci a dos estípi tes na retabul ísti ca espanhol a que J osé de Churri guera habi a empl eado ti mi damente en el retabl o de Santo Esteban (Cfr. Al fonso Cebal l os, Op. ci t. , p. 245). 43 Em Portugal a sol ução mai s general i zada consi ste no uso de um camari m nos exempl ares mai s grandi osos e num ni cho central nos exempl ares mai s modestos. Em ambos os casos assumem uma grande evi dênci a, i nterrompendo o entabl amento e determi nando a composi ção do áti co através de arcos sal omóni cos e/ou arqui vol tas pl enas e concêntri cas. J . J . Marti n G onál ez perfi l ha esta opi ni ão, no entanto, retomando as pal avras do estudi oso ameri cano Robert Smi th, escri tas em 1 963 , também di z: “En una pri mera fase (retabl o mayor de l a cartuj a de Évora) l a hornaci na queda ci rcunscri ta a di cho cuerpo” “El Retabl o en Portugal . Afi ni dades y di ferenci as com l os de España”,

Actas do Si mpósi o As relações artísticas entre Portugal e Espanha na época dos Descobrimentos . Coi mbra: 1 987, p. 2 3 6. De facto os pri mei ros retábul os com camari m e trono i ncorporado no seu i nteri or, ai nda na época protobarroca, j á rompem o corpo, apontando-se como exempl o pi onei ro o retábul o da capel a-mor da i grej a matri z de Al cáçovas, na di ocese de Évora, construído em 1 63 8. Um outro model o menos usual , também cri ado na época protobarroca, uti l i za o camari m subordi nado ao entabl amento, apontando-se como exempl o rel evante o monumental retábul o da capel amor da i grej a do anti go Convento de São Franci sco de G oa, cuj o ri sco é i ndubi tavel mente de um arti sta português, que adoptou um model o pouco vi gente na metrópol e.

44 A i ncl usão das aduel as nas arqui vol tas é mai s uma i ntervenção do mestre ental hador português para responder a uma norma acei te em Portugal . 45 De anotar que esta sol ução também ocorre no remate das col unas mai s recuadas do retábul o de Santo Estêvão de Sal amanca


N AS MALH AS DA LEI : OS CON TRATOS DE OBRA DE TALH A EM PORTU G AL N A ÉPOCA BARROCA Sílvia Ferreira. Universidade Nova de Lisboa O CON TRATO DE OBRA DE TALH A 1 A execução de uma obra de tal ha, emprei tada habi tual mente onerosa tanto para encomendadores como para ental hadores, estava ami úde suj ei ta à forma l egal do contrato de obra. Este, cel ebrado por um tabel i ão credenci ado, abrangi a tanto as grandes encomendas, como eram os retábul os mores, como as mai s si ngel as, caso da obra de tal ha compl ementar: púl pi tos, sanefas, mol duras, cai xas de órgãos, entre outras. Um contrato de encomenda de obra de tal ha di vi di a-se grosso modo em quatro partes fundamentai s. N a pri mei ra, o tabel i ão apontava a data da escri tura, o l ocal de cel ebração da mesma e os i nterveni entes presentes ou ausentes (caso em que a fi gura do procurador teri a de constar). N a segunda parte era i ndi cada a obra a executar, o l ocal de desti no, o montante total a ser pago pel a sua execução ao mestre, a forma de pagamento e as respecti vas modal i dades. A tercei ra parte do contrato dedi cava-se a certi fi car os di rei tos e deveres de ambas as partes, esti pul ando contraparti das no caso de i ncumpri mento das cl áusul as do acordo l egal e correspondentes trâmi tes que poderi am ser acci onados em caso de fal ta ao acordado. A quarta e úl ti ma parte, corol ári o do acordo l egal entre os contraentes, regi stava os nomes e, por vezes, profi ssões e moradas das testemunhas. O processo concl uía-se com o aval do tabel i ão de notas, também el e testemunha e redactor do acordo que naquel e momento se fi rmava. Os contratos, requeri dos e assi nados di rectamente pel os encomendadores e ental hadores, ou pel os seus procuradores, convenci onavam uma séri e de cl áusul as que teri am de ser escrupul osamente cumpri das por ambas as partes. Esta precaução

OS CON TRATOS DE OBRA DE TALH A EM PORTU G AL N A ÉPOCA BARROCA


ti nha em vi sta, fundamental mente, evi tar “aci dentes” que poderi am ocorrer durante o tempo de execução da obra. Curi oso neste âmbi to é, sem dúvi da, o caso de encomendas fei tas por congregações rel i gi osas femi ni nas, nas quai s quem actuava em nome das frei ras era, habi tual mente, um membro mascul i no da ordem, sem no entanto di spensar a assi natura das contraentes no fi nal do documento notari al . O membro do ramo mascul i no da ordem actuava, assi m, como procurador das suas i rmãs, não perdendo nunca o hori zonte de que el e seri a um mero representante da vontade das rel i gi osas. Outra si tuação i nteressante, ai nda no âmbi to da encomenda de obra de tal ha a arti stas da capi tal , por parte de ordens rel i gi osas que ti nham as suas casas fora de Li sboa, era a cel ebração de escri tura notari al por membros dessas ordens a habi tar na capi tal . De forma semel hante, quando as obras se desti navam a i grej as secul ares, a mesma acção era ami úde i ntentada por pessoas que se desl ocavam à ci dade para, em nome dos comi tentes, procederem à cel ebração do contrato. J á no que se refere aos arti stas, a si tuação i nverti a-se, poi s, o que se veri fi cava com mai or frequênci a era a desl ocação pessoal às terras que sol i ci tavam as suas obras, sendo a procuração uma fi gura mai s rara. A escri tura da obra de tal ha era, como vi mos, o expedi ente mai s uti l i zado para fi rmar um acordo de prestação de servi ços entre um

determi nado encomendador e um mestre ental hador. Esta, cel ebrada sempre na presença de um tabel i ão e das testemunhas arregi mentadas para o efei to, teri a assi m força l egal que obri gava ambas as partes ao seu cumpri mento. Uma das cl áusul as pri nci pai s destes contratos era aquel a que esti pul ava a forma e as modal i dades do pagamento ao mestre contratado. De um modo geral , os pagamentos eram fracci onados em três partes: O pri mei ro seri a entregue no acto de assi nar a escri tura, o segundo no mei o do prazo estabel eci do para entrega e assentamento da obra e o tercei ro, no fi nal , j á com a obra obra pronta e col ocada em seu l ugar defi ni ti vo. Esta forma de pagamento salvaguardava a posi ção do encomendador, que não corri a o ri sco de entregar a quanti a na sua total i dade, antes de ver al gum resul tado da encomenda, para al ém do facto, não despi ci endo neste processo, que era a possi bi l i dade de granj ear mai s tempo para angari ar os fundos totai s necessári os. Assi m, a escri tura notari al , el aborada e assi nada pel o tabel i ão, por ambas as partes e pel as testemunhas, apresentava-se com o pri nci pal obj ecti vo de mi ni mi zar os ri scos que poderi am advi r de uma contratação efectuada somente por pal avra. As cl áusul as l egai s que encerrava permi ti am, tanto ao encomendador como ao mestre, recorrer perante a j usti ça no caso de al gum dos trâmi tes do acordo ser vi ol ado e ver as suas pretensões serem tomadas


em conta pel o acci onamento dos mecani smos l egai s, os quai s penal i zari am o fal toso ao di sposto no contrato 2 . MODOS DE CON TRATAÇÃO A documentação coeva i nforma-nos que um dos recursos mai s comuns usados para contratar um mestre ental hador seri a col ocar a obra a pregão, i sto é, afi xar na ci dade, em l ocal desti nado ao efei to, a decl aração de qual a obra a ser executada. O arti sta que apresentasse o preço mai s bai xo para a real i zação de tal emprei tada seri a então o escol hi do para a real i zar 3 . N o entanto, embora tenhamos provas de que este expedi ente de contratação de profi ssi onai s ental hadores vi gorou durante a época em estudo, sabemos também que a forma mai s frequente na contratação de mestres da ci dade de Li sboa, era a sol i ci tação di recta. Esta preferênci a dos encomendadores pode j usti fi car-se, em parte, pel a natureza e função da obra de tal ha. Esta, desti nada a engrandecer e a conferi r magni fi cênci a aos templ os era sempre exi gi da pel os seus encomendadores executada com a máxi ma perfei ção possível . Sabemos também que, a mai or parte das vezes, estas obras obedeci am a um pl aneamento ri goroso no que à sua traça ou ao seu model o di zi a respei to. Por tal , a al eatori edade da escol ha de um mestre, apenas pel o preço mai s bai xo prati cado por este, não parece coadunar-se com estes requi si tos. Certamente que casos houve em que

os comi tentes, à mi ngua de recursos fi nancei ros, recorreram a essa forma de contratação, mas na mai ori a dos exempl os por nós reconheci dos, os quai s envolvem bastas vezes mestres consagrados, tal não foi o caso. Entre as causas para tal procedi mento, para al ém das aci ma expostas, pode ai nda referi r-se a feroz concorrênci a exi stente entre as i númeras ofi ci nas de tal ha que povoavam Li sboa por esses anos. Essa concorrênci a obri gava natural mente também a que determi nadas ofi ci nas oferecessem preços mai s convi dati vos aos seus potenci ai s cl i entes. Um facto i nteressante neste processo era a rei nci dênci a na contratação de determi nados arti stas por parte dos encomendadores. Tal procedi mento é ami úde observável nas múl ti pl as casas de uma mesma Ordem Rel i gi osa. Quando um arti sta executava obra desti nada ao convento ou mostei ro de determi nada Ordem, estabel eci a não só de i medi ato contacto com essa casa, mas, mai s rel evante do que i sso, entrava no sei o da Ordem, abri ndo portas para real i zações futuras, não só naquel e cenóbi o específi co, mas em todos os outros espal hados na sua área de i nfl uênci a. Mui tos arti stas sedi ados em Li sboa angari avam trabal ho segundo esta fórmul a. Tai s foram os casos sempre embl emáti cos de Mati as Rodri gues de Carval ho, que trabal hou preferenci al mente para as i grej as da Companhi a de J esus e para as das Comendadei ras da Ordem de Avi s, ou de J osé Rodri gues Ramal ho

33


que trabal hou para vári as Ordens Rel i gi osas como aquel a da Santíssi ma Tri ndade, ou do Carmo, entre outras, ou de J osé Antunes que ental hou para a Ordem Mi l i tar de S. Bento de Avi s e para a Ordem de Mal ta de Estremoz, ou ai nda a de Domi ngos Lopes que l aborou nos conventos da Ordem de S. Bernardo, ou ai nda Franci sco Machado, ori undo de Li sboa, mas sedi ado em Évora, l ocal onde trabal hou afi ncadamente para i númeras i grej as desse arcebi spado, mai ori tari amente na época do arcebi spo D. Frei Luís da Si lva Tel es, seu encomendador assíduo 4 . Obvi amente, nestes casos, terá si do a sati sfação dos cl i entes com as provas j á dadas por estes arti stas que os l evari a a contratá-l os mai s de uma vez. Possi vel mente, haveri a até um entendi mento táci to entre ambas as partes no que concerne a possívei s descontos por parte do arti sta a encomendadores que se fi del i zassem com a sua ofi ci na. N o caso di verso das obras desti nadas a i grej as paroqui ai s fora de Li sboa, em l ocal i dades mai s pequenas e remotas, a fi gura do pregão poderi a col her mai or sucesso j unto dos encomendadores. I sto j usti fi ca-se também pel a possi bi l i dade de esta cl i entel a, mai s afastada da corte, desconhecer as obras embl emáti cas de cada arti sta. N o entanto, também não nos podemos esquecer que, a parti r do momento em que uma determi nada obra de um mestre ental hador consagrado se i mpl antava em determi nada i grej a, a tendênci a era para que os outros templ os da regi ão, e

daquel as suas vi zi nhas, qui sessem também possui r um exempl ar saído da ofi ci na de tal arti sta. Conheci dos são os casos de J osé Rodri gues Ramal ho nas obras que efectuou para a ci dade de Bej a e arredores ou para a ci dade de Setúbal e o de Manuel J oão da Fonseca que trabal hou também exausti vamente para Bej a. Enfi m, múl ti pl os seri am certamente os meandros que enformavam todos estes compl exos processos e que não se resolvem na apresentação de si tuações l i neares; por detrás destas exi sti a uma ampl a trama de redes de conheci mentos, fi del i zações à obra de determi nados arti stas, condi ções fi nancei ras mai s ou menos vantaj osa, resumi ndo, uma mi ríade de si tuações que não nos permi te ti pi fi car de forma taxati va um model o exacto de contratação da obra de tal ha no período em causa. DI REI TOS E OBRI G AÇÕES DO EN COMEN DADOR DE OBRA DE TALH A Parti ndo do contrato com as suas premi ssas habi tuai s e confi guradoras da obra de tal ha, os di rei tos dos encomendadores podem ser resumi dos nos segui ntes pontos: esti pul ar um prazo para a entrega da obra acabada e assentada no l ocal combi nado; receber os reci bos da mão do arti sta, comprovando os pagamentos que peri odi camente teri a de fazer; cobrar uma quanti a determi nada por cada di a de atraso na entrega da obra segundo o que foi contratado; ser ressarci do com os bens do


arti sta no caso de haver i ncumpri mento do contrato por parte deste; requerer a pri são do arti sta no caso em que este não cumpri sse as cl áusul as do contrato, depoi s de esgotados os expedi entes de entendi mento; exi gi r a apresentação de fi ador por parte do arti sta, a fi m de que este se responsabi l i zasse pel o cumpri mento das obri gações do mestre tal como se esti pul a por exempl o no contrato de obra de tal ha entre a i rmandade de Santa Luzi a, sedi ada no col égi o de Santo Antão-o-N ovo, e o mestre ental hador Antóni o da Costa 5 , receber a obra que encomendou no prazo descri to no contrato; fazer-se representar por procurador ou pel o j ui z do l ugar onde a obra foi contratada; nomear outro arti sta para fi nal i zar a obra, no caso de i ncumpri mento por parte do arti sta contratado, fi cando os encargos a expensas deste; fi car com as peças j á ental hadas, em caso de i ncumpri mento por parte do mestre; sol i ci tar a aval i ação da obra no fi nal . Quanto às obri gações do encomendador estas eram generi camente as segui ntes: respei tar i ntei ramente as cl áusul as do contrato e não usar de nenhum expedi ente para as al terar; pagar ao mestre a pri mei ra parcel a do preço total da obra no momento da assi natura do contrato; assi nar, a par do arti sta, a pl anta

Retábulo da capela-mor de Santo Antão, Francisco Machado, 1700. Foto Artur Goulart.

35


da obra apresentada no momento do contrato; cumpri r nos prazos estabel eci dos os pagamentos aj ustados; pagar o transporte da obra até ao seu l ocal de col ocação 6 , ou pel o menos di vi di r esta despesa com o arti sta, quando a obra era executada para fora de Li sboa 7 ; pagar ao mestre os custos i nerentes às desl ocações ao l ocal da obra, como foi o caso do sucedi do com a obra de tal ha encomendada pel a i rmandade de N . ª S. ª do Rosári o da i grej a de Santa Mari a da Fei ra, em Bej a, ao mestre ental hador l i sboeta Manuel J oão da Fonseca: “(. . . ) E estando de todo perfei ta E acabada a hj ra asentar na di tta cappel a fazendo por conta e Ri sco da di ta j rmandade os gastos e despezas que fi zer toda a di tta obra com os de sua pesoa desta ci dade athe a de Bej a (. . . )” 8 . O ESTATU TO DO MESTRE EN TALH ADOR: OBRI G AÇÕES E DI REI TOS RELATI VAMEN TE AO EN COMEN DADOR As obri gações do mestre ental hador eram generi camente as segui ntes: respei tar todas as cl áusul as do contrato e não usar de nenhum expedi ente para as al terar em seu benefíci o; entregar a obra pronta e assentada no l ocal escol hi do, na data combi nada; cumpri r o “ri sco” el ei to para a obra, salvo i ndi cação em contrári o dada pel o encomendador, bem como as especi fi cações à mesma, esti pul adas em contrato, como exempl i fi cam os segui ntes trechos dos aj ustes de obra: O pri mei ro, cel ebrado entre o mestre ental hador Manuel

Álvares e a i rmandade do Santíssi mo Sacramento da i grej a de Santa Mari a de Loures, a fi m de este úl ti mo revesti r de tal ha o arco tri unfal da capel a-mor da mesma i grej a, refere: “E suposto no di to rascunho mostre nos segui ntes duas Agui as em l ugar del l as metera el l e mestre dous Anj os que mostrem toda a ual enti a posi uel ” 9 e o segundo entre o arcebi spo de Évora, D. Si mão da G ama e o mestre ental hador Franci sco da Si lva, a fi m de este executar o retábul o-mor e doi s col aterai s da i grej a da Mi seri córdi a da mesma ci dade: “(… ) e assi m mai s sera obri gado el l e di to Franci sco da Sylva a fazer/ duas col unas em cada cappel l a das tai s, al em de duas fi guras que ha de/ fi car nos l ados da Cappel l a mai or, de grandeza que a obra o pri mi ti r, sem/ embargo de as tai s col unas não estarem no ri sco” 1 0 ; assi nar, a par do encomendador, a pl anta da obra apresentada em contrato; executar a obra com o máxi mo ri gor e perfei ção, usando madei ras sãs, normal mente escol hi das pel o encomendador; não exceder o preço aj ustado, sem o acordo do encomendador; fornecer as madei ras, os ofi ci ai s e os materi ai s de fi xação do retábul o (ferragens e pregos); entregar obra aj ustada ao preço; passar reci bos das quanti as que for recebendo no decurso da obra; emendar à sua custa as fal tas que na obra o(s) aval i ador (es) encontrarem; pagar mul ta em caso de atraso na entrega da obra; apresentar os seus bens móvei s e i móvei s como garanti a do


cumpri mento dos seus deveres; provi denci ar o transporte da obra para o seu desti no; acompanhar o processo de montagem da obra; no caso de i ncumpri mento na fi nal i zação do trabal ho contratado, entrega das partes j á executadas. Rel ati vamente aos di rei tos dos ental hadores, estes eram grosso modo os segui ntes: receber uma parte do pagamento da obra no momento de assi natura do contrato notari al para a sua execução; ter di rei to a uma compensação monetári a ou em outros bens do encomendador, no caso de i ncumpri mento de pagamento da obra; apresentar fi ador para a obra que contrata; fazer-se representar por procurador ou pel o j ui z do l ocal onde contrata a obra; ter di rei to a al oj amento e al i mentação quando se desl oca para terra di stante da sua, quer sej a para cel ebrar contrato, para ti rar

medi das para a obra, para a ental har ou para supervi si onar a sua montagem; no caso do seu fal eci mento, a sua famíl i a teri a di rei to a receber os montantes devi dos pel o trabal ho efecti vamente efectuado 1 1 . O ESTATU TO DOS FI ADORES Uma fi gura rel evante e também i nterveni ente no contrato de obra, para al ém do encomendador, do mestre, do tabel i ão de notas e das testemunhas, era o fi ador apresentado pel o mestre executante da obra. Aos fi adores cabi a-l hes a responsabi l i zação pel o trabal ho que o arti sta i ri a executar, arcando com as consequênci as l egai s no caso de i ncumpri mento por parte do mesmo. Um exempl o cabal do aci ma exposto é o do contrato para execução do retábul o-mor da i grej a matri z de S. J ul i ão do Toj al , nos

Detal he das assi naturas do contrato entre a I rmandade da Mi seri córdi a e Franci sco da Si lva, 1 71 0.

37


arredores de Li sboa, no qual a i rmandade do Santíssi mo Sacramento se contrata com os mestres ental hadores Fel i pe Ramal ho e seu genro Manuel Mateus, que apresentam por seu fi ador a Manuel J oão, mestre ental hador também morador em Li sboa, às Fangas da Fari nha (actual Rua N ova do Al mada). Um excerto do contrato el uci da-nos: “(. . . ) E estando outro si m prezente Manoel J oão tambem Mestre emtal hador morador nas di tas Fangas da Fari nha di se perante mj m tabal i am e as di tas testemunhas que de sua boa e l i ure vontade se oferese per fi ador e prencepal pagador del l es Mestres E de qual quer del l es se obri ga a pagar por el l es aos ofesi ai s da di ta j rmandade tudo o que el l es Mestres l hes forem obri gados em rezão desta escretura em di nhei ro de contado de sua caza bens e fazenda como deui da E obri gação sua propri a que desde l ogo toma e remoue sobre sj e de que se constetue deuedor e obri gado (. . . ) E as l ei s dos fi adores prencepai s pagadores e fi ei s deposi tari os de cuj o compri mento e pagamento obri ga todos seus bens aui dos e per auer (. . . )” 1 2 . Segundo apurámos, através da l ei tura dos contratos de obra a que ti vemos acesso na i nvesti gação que decorreu da el aboração da nossa tese de doutoramento, 68% dos mesmos não apresentavam fi ador, sendo que os 3 2 % restantes estavam reparti dos do segui nte modo: 7% eram carpi ntei ros, 6% eram pi ntores douradores, 6% eram ental hadores, 4% eram

arti stas e artífi ces dos mai s di versos ofíci os e de 9% ou não se referi a profi ssão ou si mpl esmente não ti nham profi ssão l i gada às artes. A parti r dos dados desta estatísti ca aqui apresentada é-nos l egíti mo concl ui r que a grande mai ori a dos contratos de obra não apresentava fi ador. A expl i cação cabal para tal facto não é perceptível somente através das i nformações de que di spomos, o texto dos contratos de obra. Assi m sendo, apenas podemos especul ar com base naqui l o que nos é dado a reconhecer nestes contratos acerca do papel dos fi adores, e que é efecti vamente a grande responsabi l i zação que ti nham rel ati vamente à conduta do mestre contratado. O fi ador era o pri mei ro a ser chamado no caso de i ncumpri mento por parte do ental hador, tal como se pode l er neste excerto da noti fi cação que a i rmandade de Santa Catari na dos Li vrei ros, da i grej a homóni ma, fez chegar ao tri bunal do cível de Li sboa, a fi m de requerer o pagamento da pena pel o i ncumpri mento dos prazos para entrega de obra, por parte do mestre Mati as Rodri gues de Carval ho: “(. . . ) el l e Manoel de Azeuedo se obri ga outrosi m de l ogo dar, e pagar aos j rmãos que hora sam, e ao di ante forem da di ta j rmandade de Santa Catheri na, todas as quanthi as asi ma decl aradas, e bem asi m os si nquoenta mi l rei s da di ta penna com mai s ui nte que a el l a acresçenta, tudo l ogo, e com efei to em di nhei ro de contado, e de sua casa, bens, e fazenda, que desde l ogo toma, e remoue sobre sy, e de que se constetue


deuedor, e obri gado, sem se hauer respei to aos bens, e fazenda do di to Mathi as Rodri gues, senão aos del l e seu fi ador, porque como tal e pri nci pal pagador tudo por el l e dará, e pagará na forma sobredi ta (. . . )” 1 3 . Uma das expl i cações possívei s para a ausênci a de fi ador em tantos contratos por nós compul sados, seri a efecti vamente o grande ri sco em que esta fi gura i ncorri a, no caso de i ncumpri mento por parte do contratado. Para al ém do óbvi o ri sco para o fi ador, e que poderi a tornar di fíci l ao mestre ental hador assegurar que al guém se comprometesse por si num contrato de obra, é também pl ausível uma outra si tuação e que seri a a confi ança no mestre ental hador por parte dos encomendadores. Tal ocorri a, por exempl o, com o mestre J osé Rodri gues Ramal ho que nunca apresentava fi ador para os seus contratos de obra. A di mensão da sua ofi ci na, j á herdada de seu pai , que l he permi ti a acei tar vári os contratos de obra num mesmo ano, o seu prestígi o como mestre e, possi vel mente, a ausênci a de probl emas de i ncumpri mento das suas emprei tadas terão contri buído para esta si tuação que, como di ssemos, é revel ada em todos os contratos de obra conheci dos, adj udi cados à sua ofi ci na. Uma outra hi pótese que pode ser ai nda l evantada é j ustamente aquel a que defende a ausênci a do fi ador em vi rtude dos bens do mestre serem sufi ci entes para cobri rem qual quer i ncumpri mento por parte deste, o que seri a certamente a si tuação

apl i cável a J osé Rodri gues Ramal ho. Se esta si tuação era frequente em 68% dos contratos de obra que el encámos, os restantes 3 2 % , contudo, apresentam o fi ador como fi gura essenci al da escri tura cel ebrada. Destes, ao contrári o do que se poderi a pensar a pri ori , só 6% eram mestres ental hadores, os restantes, apesar de al guns apresentarem profi ssões aparentadas com a de ental hador ou compl ementares, exempl i fi cadas nos carpi ntei ros e nos pi ntores douradores, pertenci am, quer a outras artes, quer a profi ssões não conotadas com a arte. Um caso i nteressante em que os fi adores são mestres ental hadores e, nas suas obri gações como tal , se pronti fi cam a acabar a obra que o seu col ega contrata naquel e momento, é exempl i fi cado por doi s aj ustes notari ai s. O pri mei ro data de 1 2 de Março de 1 680 e referese ao aci ma ci tado contrato entre os mestres ental hadores Fi l i pe Ramal ho e Manuel Mateus e a i rmandade do Santíssi mo Sacramento da i grej a matri z da vi l a de S. J ul i ão do Toj al , contrato que pressupunha fi ador. Apresenta-se neste estatuto, o col ega de profi ssão, Manuel J oão, com a acei tação de “(. . . ) que sucedendo que el l es Mestres não acabem a di ta obra por qual quer cauza que sej a sera obri gado el l e Manoel J oão seu fi ador de a acabar e asenta l l a na mesma forma em que el l es por esta escretura fi cam obri gados (. . . )” 1 4 . O outro caso di z respei to a uma escri tura cel ebrada a 6 de Agosto de 1 71 1 entre o mestre

39


ental hador J osé Antunes e a i rmandade de S. G onçal o si ta na i grej a de N . ª S. ª da Encarnação de Li sboa, a fi m de que este mestre, como fi ador que era de seu genro J osé Nunes Montei ro, acabe a obra de tal ha que o di to seu genro ti nha anteri ormente contratado com a referi da i rmandade, a qual não consegui u entregar no tempo esti pul ado em contrato, razão pel a qual se encontrava no presente momento, preso. O texto do contrato refere: “(. . . ) pedi u el l e J ozeph Antunes ao di to j ui s e mai s ofi ci ai s da di ta meza do gl ori ozo São G onçal o qui zessem sol tar ao di to J ozeph Nunes Montei ro seu genro da pri zão onde esta e que el l e se obri gari a por el l e como seu fi ador e pri nci pal pagador e como di ui da e obri gação sua propri a (. . . )” 1 5 . Para al ém destas duas si tuações exempl ares, não encontrámos mai s nenhum caso em que o fi ador, ental hador ou não, se comprometesse a fi nal i zar a obra caso o contratado para esse efei to o não fi zesse nos prazos contratados. Podemos assi m i nferi r que estes doi s casos se consti tuíram como excepção à regra que vi gorava, e que era a si mpl es responsabi l i zação, dando como fi ança os bens móvei s e i móvei s. N o caso das si tuações de fi ança que l ocal i zámos em contratos de obra e em outros documentos, podemos afi rmar não exi sti r um padrão fi xo, e que os fi adores seri am natural mente aquel es que a i sso se predi spusessem, sendo natural que apareçam nestes documentos pessoas mai ori tari amente

l i gadas às artes, quer sej am ental hadores, marcenei ros, pedrei ros e outros ofi ci ai s mecâni cos, que mui tas vezes, frequentavam os mesmos espaços e por vezes fazi am também parte de i rmandades vocaci onadas para o acol hi mento a artífi ces 1 6 . Outra si tuação mui to menos frequente era aquel a em que havi a l i gações fami l i ares entre arti sta e fi ador como é o caso do aci ma referi do mestre ental hador J osé Antunes que fi ca por fi ador de seu genro J osé Nunes Montei ro na obra de tal ha da capel a de S. G onçal o, si ta na i grej a da Encarnação, de Li sboa. Regra geral , estas si tuações eram excepções, tal como aquel as em que um fami l i ar do arti sta testemunhava no seu contrato de obra. Tal é, por exempl o, o caso de J osé Rodri gues Ramal ho, em cuj o contrato de execução do al tar-mor e col aterai s da i grej a de N . ª S. ª do Li vramento da Ordem da Santíssi ma Tri ndade, assi na como testemunha o seu i rmão e col ega Franci sco Lopes Ramal ho 1 7. OS ABON ADORES AOS FI ADORES Uma si tuação de excepção era aquel a que consagrava o reforço do estatuto da fi ança. Em doi s exempl os por nós recol hi dos na documentação de obra que el encámos na nossa tese de doutoramento, os comi tentes de obra exi gem a presença de abonador ao fi ador apresentado pel o arti sta contratado. Esta acção vi sava garanti r a mai or segurança do esti pul ado em contrato e salvaguardar o i nvesti mento do


encomendador. O pri mei ro exempl o di z respei to à contratação do mestre Domi ngos de Sampai o por parte das rel i gi osas cl ari ssas do convento de Elvas. O mestre ti nha j á apresentado como fi ador, um seu col ega de ofíci o de nome G eral do Perei ra, j untando-se agora a este, Domi ngos Fernandes como abonador ao fi ador: ”(. . . ) e para maes seguranca do sobredi to aprezentou per seu fi ador ao G eral do Perei ra e aBonador ao mesmo o di to Domi ngos Fernandes (. . . )” 1 8 . A presença da fi gura do abonador neste caso, que nem sequer envolvi a quanti as avul tadas, poi s a sua factura orçou-se em 1 40. 000 réi s, pode também ser expl i cada pel a extrema di stânci a que àquel e tempo separava a ci dade de Li sboa da de Elvas. A i nsegurança que as rel i gi osas certamente experi mentavam ao i nvesti r o que para el as deveri a ser uma soma consi derável , deverá ter contri buído para esta deci são de reforço da garanti a dada pel o fi ador que, tal como o ental hador, estava di stante em termos geográfi cos. Outro caso semel hante a este, l ocal i zámo-l o no contrato de execução do retábul o dedi cado a São Pedro si tuado na i grej a matri z do Montij o. Segundo o aj uste notari al acordado entre a i rmandade do mesmo santo e o mestre ental hador Antóni o Marti ns Cal hei ros, este úl ti mo apresentou por fi ador um seu col ega dourador de nome Santos Marques, que era pi ntor-dourador de “Sua Magestade”, pel o qual

se responsabi l i zou o abonador, o capi tão Antóni o de Sá de Carval ho e Ol i vei ra, morador no Montij o. Assi m: “(. . . ) di go eu Santos Marques que eu abono ao Senhor Antoni o Marti ns em todo o contrato que el l e fi zer o serui ço da hobra de Sam Pedro ci ta na I grej a Matri x de Al dagal ega e fi co por fi ador e pri nci apal pagador de todo o di nhei ro que cobrou em Sati sfaçam da hobra (. . . ) e Logo por estar prezente o Capi tam Antoni o de Saa de Carual ho e Ol i uei ra morador nesta vi l l a por el l e foi di tto perante mi m tabel i am e as di ttas testemunhas que el l e se obri gaua e abonaua o di tto Santos Marques (. . . )” 1 9 . Estes doi s testemunhos, embora apresentando-se como excepções no panorama geral das cl áusul as normal mente adoptadas nos contratos de obra de tal ha, não dei xam de consti tui r el ementos de estudo rel evantes no cômputo geral dos mecani smos de contratação destas obras. Esta modal i dade que, para al ém do fi ador, requeri a a presença de uma outra fi gura j urídi ca, a do abonador, demonstra que as si tuações concretas de rel ação entre as partes i nterveni entes nestes acordos com força l egal ai nda nos escapam na sua total i dade. O que podemos constatar, uma vez mai s através da l ei tura da documentação produzi da à época, é que não era raro um mestre ental hador não consegui r cumpri r os prazos para a execução da obra que contratou e até excedê-l os em mui to. Por tal moti vo, a fi gura do fi ador fari a todo o senti do nesse contexto e, possi vel mente,

41


face a si tuações em que até o fi ador não cumpri a com o esti pul ado, a i ntervenção do abonador seri a como uma segunda segurança, como uma reserva, no caso de fal harem com as suas obri gações tanto o ental hador como o fi ador. BREVES CON CLU SÕES N as úl ti mas décadas de Sei scentos, em Portugal , uma profi ssão emergi u com força. A arte da tal ha teve uma acei tação general i zada por todo o país e consequentemente uma procura i ntensi va por parte de encomendadores tão di versos como as ordens rel i gi osas, as i rmandades, os parti cul ares e até a real eza. Esta arte, que paul ati namente engrandeceu os templ os do rei no, apresentavase com carácter sumptuoso, emprestando magni fi cênci a aos i nteri ores sacros. A sua procura era i ntensa e os requi si tos de perfei ção e grandeza da obra estavam sempre no hori zonte dos seus comi tentes. Tal demanda, i ntensa e geografi camente abrangente, contri bui u para o desenvolvi mento e consol i dação da arte do ental he, destacando uma profi ssão nesse processo: o ental hador. Durante a época barroca assi sti mos ao cresci mento exponenci al das ofi ci nas de tal ha na capi tal do rei no e um pouco por todo o país. Mui tas foram as ofi ci nas que por esses anos se estabel eceram na ci dade de Li sboa, outras j á sedi adas na capi tal e com uma cl i entel a fi del i zada, ati ngi ram o seu auge de

produção. A compl exi dade de rel ações que se estabel eceram entre encomendadores e arti stas, os pri mei ros comi ssi onando obras, por vezes de grande di spêndi o fi nancei ro, os segundos apl i cando os materi ai s e a mão-de-obra à sati sfação das encomendas, proporci onou a fi xação em contrato das cl ausul as regul adoras da rel ação estabel eci da entre estes parcei ros. Foi assi m que o contrato de obra de tal ha se general i zou, esti pul ando l egal mente os di rei tos e deveres de comi tentes e ental hadores. Podemos concl ui r que foi o cresci mento e consol i dação da arte do ental he, que contri buíram deci si vamente para o apareci mento de contratos-ti po, nos quai s as cl áusul as mai s rel evantes eram repeti das de contrato para contrato, fi xando assi m um model o que, general i zado, faci l i tava as rel ações l egai s entre encomendadores e arti stas nas emprei tadas de obra de tal ha, possi bi l i tando também a sua expansão. A força l egal que os contratos de obra apresentavam, salvaguardando os di rei tos e deveres das partes envolvi das, proporci onava uma mai or confi ança dos i nterveni entes em todo o processo de execução da obra de tal ha. Em úl ti ma i nstânci a, essa mesma confi ança e crédi to que o processo assegurava vei o exponenci ar as encomendas de obra e contri bui r para a credi bi l i dade da arte em apreço, el evando-a a patamares de excel ênci a.


NOTAS 1 Este tema j á foi tratado na nossa tese de doutoramento, i nti tul ada: A Talha Barroca de Lisboa (1 670-1 72 0). Os arti stas e as obras (tese de doutoramento em H i stóri a – especi al i dade Arte, Patri móni o e Restauro - apresentada à Facul dade de Letras da Uni versi dade de Li sboa), 2 009, Vol . I , pp. 1 3 9-1 64. O texto aqui apresentado tem por base o que então escrevemos sobre o tema. 2 Sobre este processo compl exo que era a contratação da obra de tal ha e os trâmi tes l egai s a esta associ ados, vej a-se Franci sco Xavi er H ERRERA GARCÍA, El Retablo Sevillano en la Primera Mitad del Siglo XVIII , Sevi l ha, Di putaci on de Sevi l l a, 2 001 , pp. 74-1 1 4. 3 Cf. N atál i a Mari nho FERREI RA-ALVES, A Arte da Talha no Porto na Época Barroca . Arti stas e Cl i entel a, Materi ai s e Técni ca, Porto, Câmara Muni ci pal do Porto, 1 989, p. 1 59. 4 Sobre a acti vi dade profi ssi onal deste mestre ental hador, em Évora, e a pri vi l egi ada rel ação de trabal ho que manteve com o arcebi spo dessa mesma ci dade, D. Luís da Si lva Tel es, vej a-se de Cel so MAN G U CCI , “Franci sco Machado e a ofi ci na de retábul os do arcebi spo de Évora” i n Cenáculo, Boletim on line do Museu de Évora , n. º 2 , 2 007, pp. 2 -1 7 5 “(. . . ) E estando outrosj prezente J oão da Costa morador a Rua da Fee por el l e foi di to perante mj tabal i am e di tas testemunhas que de sua l i ure vontade fi ca por fi ador e pri nci pal pagador do di to mestre Antoni o da Costa a fi m de que faça a di ta obra na forma que se decl ara nesta escri ptura e se conthem no di to rescunho para que não se posa segui r perda ou damno al gum a di ta i rmandade porque tudo l he comporá como di ui da sua propri a que toma e remoue sobre sj como fi ador e pri nci pal pagador e fi el depozi tari o de j ui zo a cuj as l ei s se sobmete e sugei ta e cl auzul l as desta escri ptura que tem ouui do e entendi do (. . . )”. ARQU I VO N ACI ON AL TORRE DO TOMBO Cartóri o N otari al de Li sboa, n. º 1 5 (anti go n. º 7A), Cx. 83 , L. º 447, fl . 2 8. Contrato datado de 2 0 de Abri l de 1 704. Publ i cado por Franci sco LAMEI RA e Sílvi a FERREI RA, “Os

antecedentes artísti cos de Caetano da Costa. A fase l i sboeta”, i n Laboratorio de Arte, Revista del Departamento de Historia del Arte , n. º 2 0, Uni versi dad de Sevi l l a, 2 009, pp. 2 00-2 02 . Vi de Sílvi a FERREI RA, op. ci t. , Vol . I I , Doc. 87.

6 Tal é o caso, por exempl o, do contrato de obra entre a i rmandade de N ossa Senhora da Ressurrei ção de Cascai s para a execução do retábul o-mor da sua i grej a de i nvocação homóni ma, e o mestre ental hador Estêvão da Si lva, o qual esti pul a que as despesas de desl ocação da obra desde Li sboa até Cascai s fi cari am por conta da referi da i rmandade. Cf. AN TT, CN L, n. º 1 5 (anti go n. º 7A), Cx 76, L. º 3 90, fl s. 2 2 -2 3 . Publ i cado por Ayres de CARVALH O, D. João V e a Arte do seu Tempo , Li sboa, Edi ção do Autor, 1 960-62 , Vol . I I , p. 1 09. Vi de Sílvi a FERREI RA, op. ci t. , Vol . I I , Doc. n. º 3 9. 7 Um dos exempl os em que a despesa seri a di vi di da entre encomendador e mestre é aquel a do contrato de obra cel ebrado entre as rel i gi osas do mostei ro de N ossa Senhora da Esperança de Bej a e o mestre ental hador Manuel J oão da Fonseca. Di z o contrato neste ponto: “(. . . ) a pora el l e Mestre [a obra de tal ha] a sua custa a borda da agoa da praj a desta ci dade [de Li sboa] e daj para o di to comuento fara por conta e custo da pri oreza e Rel egi ozas del l e (. . . )”. Cf. AN TT, CN L, n. º 3 (anti go n. º 1 1 ), Cx. 84, L. º 3 2 3 , fl . 24, referi do por Ayres de CARVALH O, D. João V e a Arte do seu Tempo , Vol . I I , (. . . ), pp. 1 06-1 07. N o entanto, exi sti am excepções a esta regra geral , tal é o caso do contrato de obra de tal ha cel ebrado entre o mestre Domi ngos Lopes e as rel i gi osas de São Bernardo do mostei ro de Cós, segundo o qual a despesa do carreto da obra até ao seu l ocal de assentamento seri a suportada excl usi vamente pel o mestre, como refere o texto do contrato: “ (. . . ) E que a dará E sera posta no di to conuento por sua conta del l e di to E se obri ga /fl . 1 3 9 v. º/ aos carretos del l a (. . . )”. Cf. AN TT, CN L, n. º 3 (anti go n. º 1 1 ), Cx. 82 , L. º 31 2 , fl s. 1 3 9-1 40 v. º, referenci ado por Vítor SERRÃO, História da Arte em Portugal – O Barroco , Li sboa: 2 003 , p. 99.

43


8 AN TT, CN L, n. º 2 (anti go n. º 1 ), Cx. 55, L. º 277, fl . 9. Contrato datado de 2 9 de Setembro de 1 676, referenci ado por Ayres de CARVALH O, D. João V e a Arte do seu Tempo , vol ume I I , pp. 1 04-1 06 e publ i cado por Vítor SERRÃO, “O Concei to de Total i dade nos Espaços do Barroco N aci onal : A obra da I grej a de N ossa Senhora dos Prazeres em Bej a (1 672 -1 698)”, Lusofonia, Revista da Faculdade de Letras de Lisboa , n. ºs 21 /2 2 , 1 996-97, p. 2 50. Vi de Sílvi a FERREI RA, op. ci t. , vol ume I I , doc. n. º 1 2 . 9 AN TT, C. N . L. , n. º 1 (anti go n. º 1 2 A), Cx. 67, L. º 2 85, fl . 56. Contrato datado de 1 de J unho de 1 688. 1 0 ARQU I VO DI STRI TAL DE ÉVORA, Cartóri os N otari ai s de Évora, Tabel i ão André Vi di gal da Si lva, l i vro 1 009, fl . 2 2 5 e v. º, ci tado e parci al mente transcri to por Cel so MAN G U CCI , “Franci sco da Si lva, Antóni o de Ol i vei ra Bernardes e Franci sco Lopes Mendes na I grej a da Mi seri córdi a em Évora”, i n Cenáculo , bol eti m on l i ne do Museu de Évora, n. º 3 , 2 008, pp. 3 -1 8. 11 Dados reti rados do texto de vári os contratos de obra transcri tos e apresentados em Sílvi a FERREI RA, op. ci t. , Vol . I I . 1 2 AN TT, CN L, n. º 3 (anti go n. º 1 1 ), Cx. 84, L. º 3 2 0, fl . 77. 1 3 ARQU I VO PAROQU I AL DA I G REJA DE SAN TA CATARI N A, I rmandade de Santa Catari na, “Li vro de róes e reci bos di versos das casas pertencentes ás i rmandades e despezas com a Egrej a. 1 661 a 1 799”, Cx. n. º 6. Doc. avul so, s. n. º. p. 1 4 AN TT, CN L, n. º 3 (anti go n. º 1 1 ), Cx. 84, L. º 3 2 0, fl . 77. 1 5 AN TT, CN L, n. º 1 (anti go n. º 1 2 A), Cx. 82 , L. º 3 60, fl . 93 . 1 6 Tal é o caso da i mportante i rmandade de N ossa Senhora da Doutri na, sedi ada na i grej a de São Roque, ou da Ordem Tercei ra de São Franci sco, l ocal i zada no cl austro do

convento de São Franci sco da Ci dade, ou mesmo da de São J osé dos Carpi ntei ros, l ocal i zada na i grej a de São J osé ou da de São Lucas, entre outras.

1 7 AN TT, CN L, n. º 1 (anti go n. º 1 2 B), Cx. 2 5, L. º 450, fl s. 87-88. Contrato datado de 1 6 de N ovembro de 1 689, publ . por Vítor SERRÃO, “Uma Obra Pri ma do Esti l o N aci onal : O Retábul o da I grej a de Santa Mari a da G raça, de Setúbal (1 697-1 700)”, Boletim Cultural da Póvoa do Varzim , Póvoa do Varzi m, Câmara Muni ci pal da Póvoa do Varzi m, Vol . XXVI , n. º 2 , 1 989, p. 1 0. Vi de Sílvi a FERREI RA, op. ci t. , Vol . I I , Doc. n. º 44. 1 8 ARQU I VO DI STRI TAL DE PORTALEG RE, Cartóri o N otari al de Elvas, CN ELV04/001 /= 1 43 , fl s. 3 2 -34 v. º, publ i cado por Mi guel Ángel VALLECI LLO TEODORO,

Retablística Alto Alentejana (Elvas, Villaviciosa Y Olivenza) en los Siglos XVII-XVIII , Méri da, Uni versi dad N aci onal de

Educaci ón A Di stanci a, 1 996, pp. 2 96-2 98. Contrato datado de 1 6 de N ovembro de 1 689. Doc. n. º 45 do vol ume I I de Sílvi a FERREI RA, op. ci t.

1 9 ARQU I VO DI STRI TAL DE SETÚ BAL, Cartóri o N otari al , Montij o (Al dei a G al ega), L. º n. º 1 3 , 1 . º ofíci o, tabel i ão Franci sco Cardoso fl s. 242 -243 v. º. Contrato datado de 24 de Feverei ro de 1 701 , publ . por Franci sco J osé Ol ei ro LU CAS, “ O Retábul o de S. Pedro na I grej a Matri z do Montij o”, Arti s n. º 3 , Dezembro de 2 004. Cf. Sílvi a FERREI RA, op. ci t. , Vol . I I , Doc. n. º 73 .


AS AN DAN ÇAS DE UM RETÁBU LO ATRAVÉS DE UM LI VRO DE DESPESAS Artur Goulart de Melo Borges Coordenador do I nventário Artístico da Arquidiocese de Évora Quem se de dedi ca ao estudo da arte sacra dos sécul os XVI I e XVI I I faci l m en te con stata a i mportân ci a das con struções retabul ares de capel as e oratóri os, n o en quadram en to i con ográfi co e catequéti co dos al tares das i grej as, favoreci das com o gran de aum en to das devoções e con sequen te organ i zação de con frari as. Os retábul os afrescados qui n h en ti stas, com un s n as i grej as al en tej an as, vão sen do substi tuídos pel os en tal h ados, quer por n ecessi tarem de restauro, quer pel a apropri ação de n ovos gostos e m odel os, às vezes provocada por um a frequen te em ul ação en tre con frari as. A procura da qual i dade n o ri sco e n a execução de tai s retábul os l eva à con tratação de m estres recon h eci dos, geral m en te com ofi ci n a em Li sboa por m oti vos óbvi os rel aci on ados com as en com en das e o m ei o artísti co. Todavi a, con tratar en tal h adores de fora e, sobretudo, acei tar que os retábul os fossem fei tos n as respecti vas ofi ci n as i mpl i cava um aci den tado tran sporte e um acresci do aum en to dos custos da obra. Surgem assi m duas si tuações: ou o retábul o é fei to n a ofi ci n a do en tal h ador, l on ge do síti o para que está desti n ado (por exempl o, Li sboa e Évora), ou são os en tal h adores que se desl ocam para on de vai ser col ocado o retábul o e aí m on tam ofi ci n a, com tudo o que i sso tam bém comporta. Em vi rtude di sso, são vári os os casos em que al gun s desses m estres acabam por se estabel ecer em Évora, com ofi ci n a própri a, aprovei tan do as n ovas oportun i dades que o fervor devoci on al e um certo desafogo econ óm i co proporci on avam . U m exempl o de Évora, a parti r do Li vro de Despesas 1 de um a con frari a, é si gn i fi cati vo dos m ui tos trabal h os e di spên di os da con strução de um retábul o.

I RMAN DADE DE N OSSA SEN H ORA DO ROSÁRI O DA I G REJ A DO CON VEN TO DE SÃO DOMI N G OS


A con frari a de N ossa Sen h ora do Rosári o 2 , erecta n a i grej a do conven to de São Dom i n gos, h oj e exti n to e destruído, era um a das m ai s an ti gas eboren ses. Em 1 576, quan do foi edi tada em Évora a 3 ª edi ção do Livro do Rosayro de Nossa Senhora , n a ti pografi a de An dré de B urgos, a con frari a j á exi sti a desde data que se i gn ora. Ti n h a capel a própri a e al tar com um retábul o da Árvore de J essé, si tuada n o l ado da epístol a, j un to à porta travessa, e sal i en tava-se de todas as outras, segun do a descri ção do Padre Man uel Fi al h o, n a sua Évora Ilustrada 3 . Todavi a, n os pri m ei ros an os da década de 60 do sécul o XVI I , a con frari a, devi do ao m au estado de con servação do retábul o, resolveu m an dar fazer um n ovo a Li sboa. N ão ti n h a m ui tos an os o “vel h o” retábul o. Em 1 62 5 ti n h am si do con tratados o carpi n tei ro e en sam bl ador J oão N obre e o escul tor Adri ão Pi res de Fari a para executarem a Árvore de J essé, con form e o ri sco de D. Tom é, pri or da Cartuxa 4 . Do n ovo retábul o descon h ece-se quem fez o ri sco, em bora possa talvez ser atri buído ao pi n tor Fran ci sco N un es Varel a, com o adi an te se verá, bem com o o en tal h ador com quem foi aj ustada a obra, e o custo total . Mui to provavel m en te o ti po de m adei ra e o respecti vo custo estavam i n cl uídos, com o quase sempre acon teci a, n o con trato com o en tal h ador, poi s i sso n ão con sta do Li vro de Despesas, que é m i n uci oso n os restan tes

trabal h os. O retábul o ch egou a Évora em 1 6 de Abri l de 1 666 depoi s de um a l on ga vi agem . Em barcado em Li sboa, segui u Tej o aci m a até Al dei a G al ega, h oj e Mon tij o, com o custo de 2 . 700 réi s, pagos pel a con frari a. Daí parti u para Évora em doze carretas, ao preço de 2 . 2 00 réi s cada, n um total de 2 6. 400 réi s e destes j á ti n h am si do pagos por con ta em Li sboa 5 00 réi s. Só para os cai xotes em que vi n h am acon di ci on ados o retábul o e as i m agen s foram despen di dos 1 4. 65 0 réi s. En tretan to, j á em Évora, foi n ecessári o fazer os an dai m es, desm on tar e m udar o retábul o vel h o por 640 réi s, e pagar 81 0 réi s por descarregarem o n ovo e “arm ar a grade e outras m i udezas”. Acompan h aram o retábul o os en tal h adores, m estre, ofi ci ai s e en sam bl adores, vi n dos de Li sboa para a respecti va m on tagem . Fi caram al oj ados n o conven to, caben do à con frari a pagar a al i m en tação, duran te os qui n ze di as que aí perm an eceram . Fi cou tudo em 8.1 00 réi s, en tregues ao Pri or. U m a vez que o retábul o represen tava a Árvore de J essé, ti n h a fei to parte do con trato n ão só a estrutura do con j un to e da árvore a executar pel o en tal h ador, m as as i m agen s, a ser fei tas por um escul tor, de vul to pl en o e em n úm ero de doze: J essé, m ai s dez rei s de J udá a di stri bui r pel o ram os da árvore e, n o ci m o, N ossa Sen h ora com o Men i n o. O tem a prestava-se a um a gran de composi ção


retabul ar, à sem el h an ça da m ai s an ti ga, datada de 1 63 8, que ai n da h oj e se pode ver em São Fran ci sco de Estrem oz. O pagam en to ao m estre en tal h ador e i n cl usi ve ao i m agi n ári o era h abi tual m en te faseado por di sposi ção con tratual : um n o i n íci o da obra, outro duran te a execução e o úl ti m o acabada a m on tagem e vi stori ada pel o en com en dan te e pel o peri to por el e escol h i do. O Li vro de Despesas da con frari a apen as refere estas úl ti m as tran ch es pagas quer ao en tal h ador, quer ao escul tor. Ao pri m ei ro, que fez a árvore, foram en tregues 1 2 0 m i l réi s “com que se l h e acabou de pagar” e “ao que fes as i m agen s” 5 5 m i l réi s. Para i n tegrar a composi ção retabul ar a con frari a ti n h a m an dado fazer dez casti çai s pequen os de prata “para as m ãos dos rei s”. Todavi a vei o a veri fi car-se que n ão servi am n o retábul o e acordaram que fossem ven di dos, ten do si do comprados, pel o peso da prata, pel o ouri ves G aspar Correi a, com l oj a n a rua da Sel ari a em Évora, por 2 3 . 800 réi s. É frequen te que, após a con cl usão dos retábul os, passem vári os an os até se proceder ao seu douram en to, con soan te as di spon i bi l i dades fi n an cei ras dos propri etári os. N ão foi este o caso, poi s em Mai o de 1 667 j á se m on tavam os an dai m es para o dourar. Crei o que a cel eri dade se terá fi cado a dever, n ão só à capaci dade fi n an cei ra da con frari a, m as à di spon i bi l i dade de um dos I rm ãos, Fran ci sco N un es Varel a (1 621 -1 699), fi l h o do pi n tor

Pedro N un es e tam bém pi n tor com vasta obra n o Al en tej o, com o por exempl o os pai n éi s do retábul o-m or da Matri z de Mon saraz. A el e coube o douram en to do retábul o, pel o preço de 2 5 0 m i l réi s, bem com o o estofo de todas as i m agen s. É m ui to provável , dadas as estrei tas rel ações del e com a con frari a, que ten h a si do el e o autor do ri sco do retábul o. En tretan to, para fazerem parte do con j un to retabul ar, a con frari a m an dou ai n da fazer ao i m agi n ári o de Li sboa doi s An j os pel o custo de 24 m i l réi s. N ova despesa com o tran sporte dos An j os: 5 40 réi s de Li sboa para Al dei a G al ega e 2 000 desta para Évora. N ão se fi cou por aqui , todavi a, poi s em vi rtude de “vi rem m al tratados e quebrados em al gum as partes” foi n ecessári o serem con certados pel o i m agi n ári o com n ovo custo de tran sporte, 3 . 600 réi s. O en ri queci m en to da Capel a con ti n uou, para al ém do retábul o, e em 2 8 de Mai o de 1 672 , a con frari a aj usta, por 1 5 5 m i l réi s, com B artol om eu Ri bei ro o en tal h e das paredes l aterai s, abran gen do m ol duras para catorze pai n éi s al usi vos ao Rosári o da autori a de três pi n tores: ci n co a Fran ci sco Pestan a por 3 2 . 5 00 réi s; sei s ao I rm ão Fran ci sco N un es Varel a pel o m esm o preço de 2 . 2 00 réi s cada, ten do recebi do apen as 3 6 m i l , poi s deu de esm ol a 3 000 réi s; três gran des e doi s pequen os por 2 6. 000 réi s a Fran ci sco B otado, pri m o de Fran ci sco N . Varel a. O douram en to do en tal h e das paredes e m ol duras, por 70. 2 00 réi s, bem com o das

47


grades da Capel a por 1 2 m i l réi s, coube ao Padre Man uel Fern an des Moren o. Do que fosse a Capel a dá n otíci a o Padre Man uel Fi al h o: “Tem h um ri co retabol o, que l h e fi zeram os seos devotos i rm ãos: n el l e está a árvore dos Ascen den tes da Sen h ora, e por rem ate, fl or, e fructo está a i m agem da m esm a May de Deos de estatura n atural , obrada em m adei ra, com o tudo o m ai s, com val en te arte e escul ptura, de dourado; e com tal agrado, que rouba os corações, con corre a adoral l a toda a Ci dade com m ui ta frequên ci a, pel os favores, que con ti n uam en te está di spen den do l i beral . (. . . ) Tem a Sen h ora sobre o braço esquerdo o seu Men i n o J ESU S, oferecen do o a quem o qui ser. Está a capel a toda em roda, e de al to a baxo orn ada de pi n turas dos m i stéri os do S. to Rosari o.” 5 Pouco m ai s de cem an os durou o retábul o. Em acórdão de 2 9 de N ovem bro de 1 797, a con frari a resolve en com en dar um n ovo, desta vez de “pedra de três cores bran ca, Mon tes Cl aros, e verm el h a com sua tri bun a on de se pudesse a S. m a Vi rgem col ocar em tron o com m ai or decên ci a e abun dân ci a de l um es”, poi s n o an teri or estava em ”gran de peri go, e ri sco” col ocada n o fi m da árvore, poi s o retábul o estava “m ui to al uído e ter dado de si para bai xo; que para ter al gum a seguran ça, e evi tar ter cah i do, era n ecessári o estar a S. m a I m agem l i ata com cordéi s, e parafusada, com o taobem pel l a el evasão, e al tura em que estava se n ão

gozava bem dos I rm ãos, e Fi ei s Devotos, que l h e tri butao h um a parti cul ar devoção toda esta Ci dade” 6 . Logo n o di a segui n te a obra foi en tregue ao arqui tecto de B orba, An tón i o Fran co Pai n h o, segun do um dos ri scos que apresen tou, pel a quan ti a de 1 . 3 5 0 m i l réi s. Al gum tempo depoi s da exti n ção do conven to, em 1 83 6, a con frari a com os seus perten ces, exceptuan do um gran de n úcl eo de pratari a en tregue aos fran ceses, foi tran sferi da para a paróqui a de San to An tão, e o al tar da Sen h ora do Rosári o foi rem on tado n a capel a col ateral do l ado do evan gel h o, on de ai n da h oj e se en con tra.


NOTAS 1 ARQU I VO DA PARÓQU I A DE SAN TO AN TÃO, I rmandade de N ossa Senhora do Rosari o do Convento de S. Domi ngos de Évora, Livro de registo de receita e despesa, 1663-1683 , l i vro 1 1 . 2 BORG ES, Artur G oul art de Mel o – “A confrari a de N ossa Senhora do Rosári o” . I n Tesouros de Arte e Devoção. Évora : Fundação Eugéni o de Al mei da, 2 003 , p. 1 51 -1 53 . 3 BPE, CXXX/1 -1 1 – Padre Manuel Fi al ho. Évora Illustrada , 4º tomo [1 708]. 4 SERRÃO, Vi tor – “Franci sco Nunes Varel a e as ofi ci nas de pi ntura em Évora no sécul o XVI I ”. A Cidade de Évora , I I séri e, nº3 (1 998-1 999) p.1 1 3 . 5 BPE, ob. ci t, fl 43 6. 6 ARQU I VO DA PARÓQU I A DE SAN TO AN TÃO, Livro dos Acordãos da Mesa da Irmandade de Nossa Senhora do Rosario , 1 683 , fl s 2 9-3 0.

49


O ARCEBISPO DE ÉVORA E PROGRAMA ICONOGRÁFICO DA IGREJA DE SANTIAGO Conhecemos com al guma profundi dade as campanhas de fresco e azul ej o que renovaram por compl eto o i nteri or da I grej a de Santi ago de Évora, i denti fi cadas pel a assi natura do famoso pi ntor G abri el del Barco e pel os cronogramas de 1 699 e 1 700, nos azul ej os e no tecto. São

I G REJA DA REAL COLEG I ADA DE SAN TI AG O


um dos mai s i mportantes conj untos barrocos da ci dade, combi nado os frescos do tecto e os azul ej os da nave. O programa i conográfi co, com uma extensa j usti fcação do dogma do Santíssi mo Sacramento, apoi ada em epi sódi os do Anti go e do N ovo Testamento, é o verdadei ro fi o condutor da campanha decorati va, dei xando transparecer os pri ncípi os morai s e fi l osófi cos O Retorno do Filho Pródigo. Gabriel del Barco, 1 700. Foto Miguel Cardoso

da escol asti ca de São Tomás de Aqui no que i nformaram a escol ha dos epi sódi os dos patriarcas Moi sés e Abraão, da parábol a do Fi l ho Pródi go e os associ a às vi rtudes teol ogai s da Fortal eza, da J usti ça, da Sabedori a e da Temperança pi ntadas a fresco no tecto. Em pesqui sas recentes ti vemos a oportuni dade de confi rmar a fundação da I rmandade do Santíssi mo Sacramento, em 1 693 , pel a mão do pri or Cri stóvão Soares de Al bergari a, que fal ece nesse mesmo ano, sem chegar a assumi r os desti nos da confrari a. O programa i conográfi co será então di ri gi do pel o i ncansável Frei Luís da Si lva Tel es, arcebi spo de Évora, que j á no processo de aprovação dos estatutos perfi l ava-se como o pri nci pal protector da i rmandade. Patroci nador de numerosas obras na ci dade, estabel ecendo víncul os próxi mos com os arti stas de que mai s gostava, o Arcebi spo i rá cometer a G abri el del Barco um programa i conográfi co semel hante para a sal a da confrari a do Santíssi mo Sacramento da I grej a Paroqui al de São Mamede. As gravuras do i tal i ano Pi etro Testa e do francês J ean Le Pautre que esti veram na base das composi ções da parábol a do Fi l ho Pródi go e da Moi sés também são conheci das graças aos estudos de Rosári o Carval ho. A campanha decorati va de renovação do templ o de Santi ago, conforme i nforma o dísti co do coro, foi paga pel os fregueses da paróqui a, e os l i vros da tesourari a da I rmandade de N ossa Senhora da Esperança confi rmam a col aboração

51


dessa confrari a, com a doação da i mportânci a de 50 mi l réi s para dar pri ncípi o à obra dos azul ej os, em 1 699. A tal ha dourada, ci rcunscri ta desta vez às capel as, surge como um programa compl ementar de renovação i ni ci ada com os azul ej os, com a obra para o retábul o da capel amor, real i zado em 1 71 9, pel o ental hador J oão Mi guel , curi osamente, numa espéci e de j usti ça poéti ca, segui ndo o model o do desapareci do retábul o da capel a-mor da i grej a de São Pedro, real i zado pel o ental hador Franci sco Machado, para o arcebi spo D. Frei Luís da Si lva Tel es, em 1 701 . Só vári as décadas mai s tarde, e j á doptando um vocabul ári o rococó, será a vez da renovação das capel as col aterai s, com a encomenda do retábul o de J oão Al mei da N egrão para a capel a de N ossa Senhora das Dores, real i zado a semel hança da capel a de Santana, dessa mesma i grej a. BIBLIOGRAFIA CARVALHO, 2012; ARAÚJO, 2013 e MANGUCCI 2013.

Termo de contas da I rmandade da Esperança da I greja de Santiago Aos sei s di as do mês de J anei ro de sei scentos noventa e nove anos/ estando em meza o j ui z e mordomos da Vi rgem N ossa Senhora da/ Esperança nesta parochi al de/ Santi ago, sendo j ui z o Reverendo Conego Vi cente Rij o Couti nho se acentou por votto de todos os i rmãos pre/zentes, que abaxo asenarão que se to/macem contas ao i rmão thezourei ro/ J eróni mo de Ol i vei ra e que o di nhei ro que dos annos passados que ti nha sobrado das/ festas, e ti nha em seu poder o podi a/ dar para ai uda do azul ej o com que se a de/ azul ej ar a di tta i grej a e se l he l evari a em conta nas pri meras, que der e eu/ Antóni o Fernandes Mal i gro [?] escri vão que sou da di tta/ I rmandade fi z este termo, que assi nei di a/ e anno e ut supra. [assi naturas] Antóni o Fernandes Mal i gro [?]/ Vi cente Ri ggi o Coutti nho/ padre Manoel Coel ho/ padre I gnaci o Lopes/ Mi guel Bauti sta/ padre Manuel de Andrade/ Sebasti ão de [i l egível ] Pessanha/ Lui s Pessanha Fal cão ADE.CEEVR. Livro da Receita e Despesa da I rmandade de Nossa Senhora da Esperança da I greja de Santiago, fl. 11 e 11 vº.


Termo de obediência da I rmandade do Santíssimo Sacramento [fl .1 1 ] Termo de obedi enci a e soj ei ção que/ fazem os fregueses da i grej a parochi al de Santi ago desta ci dade de Evora abaxo/ assi nados Em os sete di as do mes de Mayo de mi l / sei scentos e noventa e tres [?] annos em/ esta ci dade de Evora corte ecl esi asti ca/ deste arcebi spado nas casas da mora/da de mi m escri vão da camara ao di ante nomeado paresserão pessoal /mente os fregueses da i grej a parochi al de Santi ago desta di tta ci dade/ de Evora abaxo assi nados e por el es/ e cada hum del es foi di to que para/ efei to de terem I rmandade do Santi ssi /mo Sacramento na di ta i grej a de/ sua própri a e l i vre vontade sem for/ça nem constrangi mento de pessoal al /guma e somente por zel l o e servi ço de Deos senhor nosso desde l ogo para/ todo o sempre se someti a a soj ei tavão/ à obedi ênci a e suj ei ção do i l l ustri ssi /mo e excel enti ssi mo senhor Arcebi spo/ deste arcebi spado de Evora Dom Frei Lui s da Si lva como o seu ADE. CEEVR. Livro dos Estatutos da I rmandade do Santíssimo Sacramento da I greja de Santiago, fl. 11 e 11 vº.

l egi ti mo e verdadei ro prel ado para que os ti vesse debai xo de seu amparo e protecção e gozassem de todas as graças pri vi l égi os e i ndul genci as que costumam gozar as i rmandades soj ei tas aos senhores arcebi spos deste arcebi spado de Evora [fl . 1 1 v. º] E prometi ão em tudo aqui l l o que pel l o di /to senhor Arcebi spo e seus successores l he fosse mandado obedecer l hes para conser/vação da sua i rmandade e outrossi m/ di sserão e prometerão de dar contas/ das recei tas e despezas que se fi zessem na/ sobredi ta i rmandade na forma que/ o custumão fazer as i rmandades so/j ei tas aos i l ustri ssi mos senhores Arcebi spos e Bi spos deste rei no de Portu/gal de que tudo mandarão fazer oj e/ termo de soj ei ção e obedi enci a que/ comi go assi narão Berthol omeo Lo/bo da Si lvera escri vão da Camara/ Archi epi scopal deste arcebi spado/ o escrevi e assi nei [assi naturas] Berthol omeo Lobo de Si lvei ra/ J oseph Ri bei ro, ouri ves/ de Brás G odi nho/ J orge da Cunha/ J oão Rodri gues/ Lui s de Sousa/ Domi ngos J orge/ I naci o Perei ra/ Manuel G onçalves/ Franci sco da Si lva/ Antoni o Ri bei ro/ Bras de Ol i vei ra/ Antoni o Si moi s/ Antoni o Rodri gues/ Marçal Perei ra G alvão/ J oseph da Si lva/ I l di fonso da Costa

53


Contrato Notarial para a realização do retábulo da capela de Nossa Senhora das Dores da I greja de Santiago Contrato que faz reveredo doutor j oao gri zos… / com j oao de al mei da N egram Em nome de Deos amen saybão quantos este publ i co i nstromento de/ contrato vi rem que no anno do nasci mento de N osso Senhor J ezus Chri sto/ de mi l setecentos si ncoenta e si nco annos aos sete di as do mes de J anei ro do di to/ anno nesta ci dade de Evora e cazas de morada de mi m Tabel i ão ao di ante/ nomeado pareceo prezente Reverendo Doutor J oão G ri zostomo e J oão de/ Al mei da N egrão ental hador pessoas moradoras nesta ci dade que eu tabal l i /am reconheso que certi /fi co serem os própri os de que dou mi nha fee. E l ogo pe/l l o di to reverendo doutor J oão G ri zostomo foi di to em a mi nha presença/ e das testemunhas abaxo assi gnadas que el l e estava contratado com o di to/ J oão de Al mei da N egrão ental hador para efei to do mesmo l he fazer hu/ma capel l a para N ossa Senhora das Dores si ta na Real I grej a de São Thi ago/ desta ci dade na capel l a em que hoj e há Senhora Santa Barbara a qu/al a de ser em sei stavo com as condi ções e obri gações segui ntes que el l e di to/ J oão de Al mei da N egrão a di ta obra a capel l a de castanho de monxi que de/ boa qual i dade, e seco sem nos nem ventos [?] tanto no Retabol l o da Senhora como nos/ arcos e na acomodação do al tar da senhora com os doi s arcos que há hum por fora e outro/ dentro da di ta capel l a e estes

hão de ter pedrastai s que as fara guarnecer com/ a di ta capel l a e serão os di tos arcos o ental hados em o arco de fora e no mei o a de l e/var huma targe grande com doi s anj os e em el l a a de estar o coração de oração [?]/ da senhora trespassado com sete espadas será a di ta capel l a ental hada como/ a capel l a da senhora Santa Anna que esta na mesma i grej a ou mel hor se puder ser e i sto he da si mal ha para baxo e nas segui ntes de si ma l evará hum/ pavi l hão como tem as capel l as col l atrai s do Convento N ovo, e o mesmo enta/l l ado conforme o pedi r o remate da di ta obra com toda a perfei ção terá tam/bem seo sacrári o do fei ti o dos que estão nos al tares col l atrai s de N ossa Senho/ra da G raça que este possa acomodar huma i magem de N ossa Senhora de doi s pal /mos e mei o para hi r na prossi ção dos tersei ros Domi ngos o qual guarnesera/ com a mesma obra. Terá a Senhora sua tri buna ental hada esta será de coa/tro pal mos e mei o de fundo será o seo trono ental hado porposi onado/ a di ta Senhora terá seo respl endor nas festas, e terá porta na tri buna/ onde se puder fazer mai s acomodada terá hum al tar de madei ra pa/ra o senhor morto do mesmo castanho com sua renda em roda e com por/ta ti radi ssa da sorte que esta no al tar do Senhor Morto do Convento de N o/ssa Senhora da G raça, e será obri gado a dar a di ta obra assentada athe di a/ de São Thi ago deste anno de setecentos si ncoenta e si nco no seo l u/gar, e sera mai s obri gado a tudo mai s que for necessári o para assentar/ a di ta obra fei ta e acabada de tudo e estando doente ou constando ter/ trabal hos em caza de El Rei nosso senhor


mostrando por certi /dão se l he l evara em conta e fal tando a di ta obra o estar acabada/ e assentada com toda a perfei ção sem ter mol esti a ou vexação pel a cau/sa asi ma di ta athe o di a de São Ti ago desse mesmo ano de setecen/tos e ci nquenta e ci nco perderá o ul ti mo quartel que são sessenta mi l rei s e/ se fara a obra a sua custa e de seu fi ador nesta assi nado sem que sej a nesse/ssari o ser j udi ci al mente cuj a obra é aj ustada pel a quanti a de cen/to e vi nte mi l rei s e ao assi nar nesta escri tura recebeu em mi nha/ prezença e das testemunhas tri nta mi l rei s que e o pri mei ro quartel e/ constando estar a obra em mei o depoi s da Pascoa se l he dara outros tri nta mi l [97 vº] e no cabo da obra estando acabada e perfei ta se/ l he dara sessenta mi l rei s com que compl eta o aj uste desta obra e não estan/do o di to retabol o fei to com toda a perfei ção assi ma di ta e constante do reveren/do pri or e j ui z e benefi ci ari os e i rmãos devotos da di ta i rmandade que cocorrem/ para o di to retabol o e conforme o contrato tanto no ental hado e perfei ção/ del l e no contrato aj ustado como na madei ra e qual i dades se botara di /to retabol o abaxo e se mandara fazer outro por ofi ci ai s a sati sfação dos sobre/di tos a custa del e mestre e seu fi ador sem que para i sso sej a nesessari o ou novi /dade de j usti ça e sati sfarão a di ta quanti a do retabol o novo que se fi zer athe/ se assentar o di to a sua sati sfação de que se fará rol pel os ofi ci ai s que fi zerem/ a obra e pel o di to J oam de Al mei da N egrão foi di to que el l a thomava a acei ta/va este i nstromento e a di ta obra pel l o di to preco tendo sob obri gação de sua/

pessoa e bens movei s e de rai z presentes e futuros que obri gou e que para mai s/ segurança di sso dava por seu fi ador e pri nci pal pagador depozi tari o do que de [?]/ j ui zo a Si lvestre Xavi er Correa que prezente estava pel o qual foi di to que/ el l e fi cava por fi ador e pri nci pal pagador depozi tari o do que de [?] j ui zo pel l o/ di to senhor J oão de Al mei da N egrão para que no cazo que fal te ao di to contrato e per/fei ção da di ta obra e di nhei ro que receber se obri ga a todas as cl auzul as e condi /ções dessa escri ptura e por todo o contheudo neste i nstromento ou qual quer/ parte nel l e se obri gam responderem a serem ci tados perante as j usti ças que os qui se/rem demandar para o que renunci am ao j ui z de seus foros e se obri gam a pagar ao re/querente que na tal demanda andar assi m nesta ci dade como fora del l a/ a duzentos rei s por di a athe ser acabada e em fee e testemunho da verdade a/ssi m outorgarão e a sei tarão sendo testemunhas Manuel do N asi mento/ e J osé Lopes de Agui ar e eu Caetano J osé de Sequei ra, Tabal l i ão/ de notas o escrevi Padre J oão Chri sostomo/ J oão de Al mei da N egrão/ Si lvestre Xavi er Correa/ J osé Lopes de Agui ar/ Manuel do N asci mento ADE. CN E. Tabelião Caetano José Sequeira , livro 11 63, fl. 97 e 97 vº.

55


O mestre entalhador Francisco Machado e o arcebispo de Évora

I G REJA PAROQU I AL DE SAN TO AN TÃO

A obra e a importância do mestre entalhador lisboeta Francisco Machado foi sendo reconhecida através dos primeiros trabalhos de Túlio Espanca, Vítor Serrão, Francisco Lameira e, de forma mais extensa, pelas investigações de Vallecillo Teodoro, a quem se deve a identificação dos contratos notariais para as mais importantes obras do mestre entalhador e uma primeira visão de conjunto da sua obra. Pelo que sabemos, foram os jesuítas os primeiros a patrocinarem o talento de Francisco Machado. Das suas onze obras identificadas, as primeiras quatro, o retábulo de São Sebastião para a capela da Quinta dos Apóstolos, o de São Francisco Xavier para a igreja do Espírito Santo, e os dois retábulos para a actual igreja de São Bartolomeu, em Vila Viçosa, foram realizadas para os padres da Companhia de Jesus. Essa frutuosa relação valeu-lhe ainda a encomenda, em 1703, do retábulo de Nossa Senhora da Boa Morte, a última obra documentada do mestre entalhador. Mas é com o apoio do Arcebispo de Évora que Machado vai ter a oportunidade de executar os seus principais trabalhos, onde se destacam o retábulo da Nossa Senhora do Anjo, na Sé, o majestoso retábulo da capela-mor da igreja de Santo Antão, e o desaparecido retábulo da igreja de São Pedro. Essas três obras, realizadas num fôlego contínuo, estabeleceram uma forma inusitada de cooperação, já que Frei Luís da Silva vai obrigar a instalação da oficina de marcenaria de Francisco Machado no


próprio Paço Episcopal, assumindo também os pagamentos semanais aos seus oficiais. Se por um lado, essa obrigação contratual era um constrangimento à liberdade de acção do mestre entalhador, assim colocado sob a supervisão e vigilância constante do Arcebispo, foi um suporte essencial para que Machado actuasse como um verdadeiro arquitecto de retábulos, realizando os desenhos, dirigindo os oficiais entalhadores e responsabilizando-se pela montagem final de estruturas cada vez mais complexas em prazos exíguos e rigorosos. Em 1701, o septuagenário arcebispo, com a saúde debilitada, reúne forças para a encomenda do monumental retábulo da capela-mor da igreja de Santo Antão, pela exorbitante soma de 5 mil cruzados, um dos mais caros projectos de talha dourada em Évora, no século XVIII. Fazendo mais uma vez prova da capacidade de interpretação das intenções dos comitentes e da capacidade de diálogo com os valores da arquitectura preexistente, Francisco Machado propõe, para as elevadas naves do templo mandado erguer pelo Cardeal-Infante, um retábulo-pórtico ladeado por duas colunas colossais, com o grande arco da tribuna normalmente fechado por uma tela do omnipresente Bento Coelho. De forma inovadora, para o ático, criou um segundo registo formado por uma edícula maneirista com uma tela rodeada por um grupo escultórico. Como homenagem ao seu patrono, na parte superior das colunas, sentam-se duas esculturas douradas em vulto, representando a Fortaleza e a Prudência, virtudes cardeais que personificam as qualidades do

governo do Arcebispo. Anunciando a fama póstuma, num plano mais recuado arcanjos trombeteiros e turiferários ladeiam as armas do prelado. É também Santo Antão o único conjunto que conserva uma indicação repetidamente imposta por D. Luís da Silva para aos desenhos das tribunas dos retábulos maiores de Francisco Machado. Preocupado com a funcionalidade litúrgica das máquinas, o arcebispo exigia que, para a exposição do Santíssimo Sacramento, nomeadamente durante as cerimónias do Lausperene, o interior da casa da tribuna também fosse lavrado e dourado e sobre o trono houvesse um baldaquino formado por uma coroa imperial ladeada por dois anjos tocheiros. Exatamente por comparação entre algumas soluções semelhantes entre o retábulo da Cartuxa e o de Santo Antão, Francisco Lameira, em texto inserido nesse catálogo, propõem ao mestre Francisco Machado a execução do retábulo da capela-mor da igreja do convento eborense, talvez sob o risco do arquitecto espanhol José de Churriguera. BIBLIOGRAFIA TEODORO VALLECILO, 1 996; SERRÃO, 1 996-1 997; MANGUCCI, 2001 E 2008.

57


Contrato Notarial de Frei Luis da Silva, arcebispo de Évora com o mestre entalhador Francisco Machado para o retábulo da capela-mor de Santo Antão [fl . 3 2 ] Comtrato que fez o i l l ustríssi mo Senhor Arci bi spo Dom Frei Lui z/ da Sylva com Franci sco Machado ental hador para l he fazer/ o retabol o do al tar mor da i grei i a de Santo Antão desta ci dade Sai bão quantos este i nstromento de contrato e obri gasão vi rem que no anno do nasi mento de nosso senhor J esus Chri sto de mi l e setecentos e hum annos,/ em o pri mei ro di a do mes de Abri l do di to anno, nesta ci dade de Evora, nos passos po/nti fi ci ai s do i l l ustri ssi mo e excel enti ssi mo Senhor D. Frei Lui s da Sylva, Arci bi spo desta/ di ta ci dade de Evora, e todo seo Arci bi spado, e do consel ho de el Rey N osso Senhor,/ que Deus guarde, onde eu tabel i ão, ao di ante nomeado, fui , estando ahi prezente o di to/ senhor, pessoa que eu tabel i ão reconhesso e bem assi m estando mai s prezente Franci sco/ Machado ental hador e morador nesta Ci dade, na Rua do Rai mundo, pessoa que eu tabel i ão re/conheço. E l ogo por el l e di to Franci sco Machado, emtal hador, foi di to, em mi nha prezenssa e das testemunhas ao di ante nomeadas e assi gnadas, que era verdade e nel l a passava/ que el l e estava aj ustado, avi ndo e contratado com o di to i l l ustri ssi mo Senhor Arci bi spo para e/ffei to de l he haver de fazer, el l e, di to Franci sco Machado, emtal hador, hum

retabol o para/ o al tar mor, di go para a cappel a mor da i grei i a de Santo Antão com sua tri buna e/ trono e a caza da di ta tri buna forrada toda de emtal hado e na mesma tri buna ha/ de fazer uma coroa empereal com seos Anj os e i sto ha de fazer tudo comfor/me o Ri sco que el l e di to Franci sco Machado havi a aprezentado ao di to i l l ustri ssi mo Senhor Arcebi spo. E no di to Ri sco há de acrescentar a di ta coroa empereal e os Anj os e a de fazer/ huas portas na di ta tri buna e assi m mai s fara o acrescentamento que o di to Senhor/ Arci bi spo mandou fazer e tudo por conta do di to Franci sco Machado emtal hador. / E hora como efei to l ogo por este publ i co i nstromento di sse el l e di to Franci sco Machado/ emtal hador se obri gava como em effei to obri gou a fazer a di to retabol o para/ a di ta cappel a mor da di ta i grei i a de Santo Antão comforme el l e di to senhor tem aj ustado/ e i sto sem fal ta nem di mi nui ssão al guma o qual retabol o e tri buna e trono/ e o forro da di ta caza emtal hado se obri gava fazer todo de pao de bordo desde/ o prenci pi o/ the o remate e fi m da di ta obra tudo por sua comta del l e di to Franci sco Ma/chado assi m de madei ra como de ferrai e que for nessessari a para a segurança da di ta ob/ra como tudo o mai s que nessessari o for para a mesma o qual se obri gou a fazer de/mtro em caza do di to i l ustri ssi mo senhor Arci bi spo e dentro do tempo de hum anno o qu/al começava do di a da chegada da di ta madei ra a esta di ta ci dade em di ante. E se obri ga/el l e di to senhor Arci bi spo que fazendo o di to Franci sco Machado


emtal hador a di ta obra no di to/ anno, a l he dar e bem pagar si nco mi l cruzados sob pena de que não fazen/do a di ta obra el l e di to Franci sco Machado demtro do tempo de hum anno perder/ duzentos e si ncoenta mi l rei s, a dando acabada no di to tempo que fi cara fi ndo e acabado na forma do di to ri sco e tambem com o acrescemtamento que o di to senhor mandou fazer e tudo o mai s asi ma decl arado. E i sto senão entendendo/ [fol . 3 2 v. º] no cazo em que por fal ta de saude ou fal ta de madei ra que o di to Franci sco Machado te/nha para não fazer a di ta obra mas sendo por sua umi ssão o di xar de fazer a di ta obra e não a dando acabada no di to tempo de hum ano cahi rá na di ta penna de per/der os di tos duzentos e si ncoenta mi l rei s a qual obra se obri gava fa/zer na forma que di to he pondo de todo corrente tudo por sua conta por pre/sso e quanti a de si nco mi l cruzados em di nhei ro de contado os quai s di sse/ se l he dari ão e pagari ão comforme se l he derão e fi zeram os pagamentos da obra do retabol o de N ossa Senhora do Bi spo da vi l a de Montemor-oN ovo que el l e Franci sco Machado ental hador fez por conta do di to i l l ustri ssi mo senhor Arci bi spo E nesta/ forma di sse estar aj ustado havi do e contratado com o di to porque com

tudo se/ obri gava a compri r e guardar com i ntei ro e real efei to como neste i n/stromento se conthem sob obri gasão de todos os seus bens movei s e de/ rai z avi ndos e por aver que para el l e em geral obri gou e he por tudo o conte/udo neste i nstromento ou qual quer parte del l e outorgou e se obri gou res/ponder e ser ci tado e requeri do se compri r perante o j ui z de fora do geral des/ta ci dade de Evora que hora he ou adi ante for ou j ui z executor das rem/das da di ta menza ponti fi cal e perante qual quer del l es fazer de si todo/ o compri mento de i nfi ca e di nhei ro e i mtei ro pagamento de pri nci pal e custas/ renunci ando l ogo de si para este haver efei to j ui s e j ui ses de seo foro/ e da terra donde a tal tempo vi ver ou vi si tar de todos os mai s/ pri vi l egi os grasas e l i berdades vi s condenassoi ns rezomi ns e/ ci tasomi ns e todo outro remedi o de di nhei ro ordi nari a e extraordi na/ri o que per si al egar possa alvi e di nhei ro que di z que a geral renunci asão não va/l ha os dez di as de embargos aos demandados e os nove da/ ante e a noi ado e as fereas gerai s e especi ai s porque de nada queri a usar/ nem gozar salvo a tudo mui to i nteri amente cumpri r e guardar como a aqui / he decl arado e a não al egar embargos al guns de nenhuma

59


cal i dade e/ comdi são que sei am com que quei ra contradi zer anul l ar ou i mpugnar/ este i nstromento com parte nem em todo e vi ndo com el l es ou al egando al /guma couza não podera ser ouvi do em j ui z e não fora del l es sem pri mei ro de/puzi tar tudo o que por bem deste i nstromento esti ver devendo e l he for/ demandado em di nhei ro de comtado em mam e poder do di to i l ustri ssi mo senhor Ar/ci bi spo ou da pessoa que seu poder ti ver ou provedor sem para i sso l he pedi r fi an/ça nem cousa al guma porque desde agora para então os havi a para o tal depo/zi to por seguros e abonados e não noutra provi zão del Rey nosso senhor para dei /xar e depuzi tar o que di to he e que avendoa del l a não podera uzar nem go/zar antes desde agora para o tal tempo a renumci a a qual cl auzul a depuzi /tari a pedi o el l e di to Franci sco Machado a mi m tabel i ão que aqui l he puzesse es/crevesse por del l a ser comtente o que eu fi z a seo rogo quanto em di nhei ro poso e deva/ na forma da provi zão se sua Magestade e sua nova l ei sobre os depo/zi tos e de ser ci tado em seo nome pel l o contheudo neste i nstromento [fl . 3 3 ] i nstromento ou qual quer parte del l e o foro da Camara desta ci dade de Evora/ que hora he ou adi ante for assi m para i nstanci a da ausão como para/ o da venda pregomi ns arrematasão de seos bens e que pagari a pessoa requerente ou cami nhei ro que na tal demanda execu/são arrecadasão andar assi m nesta ci dade como fora del l a a duzentos rei s/ por di a do di a da ausão por esta athe de todo ser fi ndo e

acabado e real / emtrega de pri nci pal e custas sob obri gasão dos di tos seos bens E pel l o di to/ i l ustri ssi mo e excel enti ssi mo senhor arci bi spo que prezente estava foi di to que el l e tomava e asei tava/ com si e em seu nome este i nstromento da mão e poder do di to Franci sco Machado emtal h/ador com todas as cl auzul as comdi somi ns pennas e obri gasomi ns nel l e conteud/as e decl aradas e que outrossi m se obri gava a que compri ndo el l e di to Franci sco Machado/ emtal hador com todo o comteudo neste i nstromento em i spi ci al fazendo/ o di to retabol o para a di tta capel l a mor da di ta i grej a de Santo Antão tudo na forma doo di to/ ri sco e do que di to he de bom pao de bordo desde o pri nci pi o the o remate e pondo/ el l e di to Franci sco Machado tudo o que nesesari o for para a di ta obra e seguransa del l a/ e fazendo dentro das di tas cazas pontefi cai s e dentro do tempo de/cl arado E el l e di to senhor arci bi spo se obri gava a fazer l he os di tos pagamentos/ como di to he i sto sem duvi da nem embargos al guns sob obi rgasão dos be/ns e remdas da di ta menza ponti fi cal que para em que obri gou e em/fee e testemunho de verdade assi m outorgarão e mandarão del l o se fei to/ este i nstromento com o se nel l e conthem que todo l he foi l i do e decl a/rado e os que desta notta e theor compri rem que asei tarão e em testemunha/ o asei tes em nome das pessoas a esta absentes o que pertencer/ pode sendo testemunhas presentes Manuel da G uerra portei ro da Cassa do di to/ senhor e Amaro Di as


meri nho todos moradores nesta ci dade de Evora pe/ssoas que eu tabel i ão reconheso e assi narão com o di to I l ustri ssi mo e Excel enti ssi mo senhor/ e com o di to Franci sco Machado e eu Domi ngos Nunes Moreno tabel i ão de notas/ que o escrevi [assi naturas] arcebi spo/ Amaro Di as/ Manoel da G uerra/ Franci sco Machado

Retábulo da capela-mor de Santo Antão Francisco Machado, 1 701 . Foto Artur Goulart

ADE, CN E, Tabelião Domingos Nunes Moreno, Livro 1 026, fl. 32-33.

61


A I CONOGRAFI A DE SÃO LOUREN ÇO JUSTI N I ANO NOS AZULEJOS DOS LÓI OS DE ÉVORA

I G REJADOS LÓI OS DE ÉVORA

A recente reavaliação do percurso artístico de António Oliveira Bernardes, anteriormente reconhecido na historiografia apenas como pintor de azulejos, é particularmente importante para a compreensão dos novos caminhos que a produção das artes decorativas tomou nesse período. Nascido, em Beja em 1 662, o pintor era conhecido como António Oliveira "do Alentejo" nos primeiros anos de Lisboa, onde parece ter-se fixado por volta de 1 684, data da sua inscrição na Irmandade de São Lucas. O seu casamento, em 1 694, com a filha de Francisco Ferreira de Araújo "pintor de têmpera de Sua Majestade" e responsável pela mais importante oficina de pintura de tectos, é uma forma de reconhecimento lisboeta e marca a sua plena integração no meio artístico da capital, ampliando o âmbito das encomendas e os contactos com mecenas importantes. Esse percurso anterior é, aliás, algo semelhante ao de Gabriel del Barco, documentado na pintura de tectos de duas desaparecidas igrejas de Lisboa, e casado com uma cunhada do pintor Marcos da Cruz. O início da dedicação de Bernardes à pintura dos azulejos coincide com o final da década gloriosa de Gabriel del Barco (1 690-1700), e uma das suas primeiras obras para a Quinta da Ramada merece um inédito elogio escrito do padre Agostinho de Santa Maria, equiparando-a à qualidade do azulejo holandês, que tanto agradava à clientela portuguesa.


No plano técnico, se não for utilizada nenhuma preparação mais complexa das tintas, a pintura de azulejos é extremamente exigente, já que é executada "alla prima", isto é, o valor e a forma da pincelada ficam indelevelmente expressas no vidrado que recobre a superfície cerâmica. Naturalmente, ficam favorecidas, por exemplo, a abordagem vigorosa e movimentada de Gabriel del Barco ou a tradição holandesa, onde as pinceladas são dispostas como o tracejado regular das gravuras. Aproximando-se da sua própria experiência pictórica, António de Oliveira Bernardes preferiu contrariar tanto o contraste vigoroso presente nos azulejos holandeses quanto a valorização excessiva da expressão da pincelada, criando nos seus azulejos uma escala cromática alargada com sucessivas aguadas de meios tons azuis. Em 1 696, António de Oliveira Bernardes executou as pinturas para a nave da igreja de Santa Clara que, actualmente, em diferentes fases de restauro, encontram-se expostas na nave da Sé de Évora. Nessas obras reconhecemos as figuras alteadas, a correcção do desenho e uma cuidada estruturação do espaço que indicam uma sólida cultura pictórica, apoiada numa leitura pessoal do classicismo francês. Mais do que qualquer outro pintor, foi Bernardes quem aproximou a pintura de cavalete das campanhas figurativas em azulejo. A criação de expressões vigorosas e patéticas, mais uma vez influenciada pelo academismo francês³⁴, é notável no painel da prédica de São Lourenço Justiniano, onde os seus ouvintes exteriorizam emoções diversas perante a ameaça de uma

tempestade. Para esses azulejos que sobrepujam o púlpito, Bernardes escolheu um esquema compositivo que se adapta à irregularidade do espaço arquitectónico, solução que, em situação semelhante, repete no revestimento da igreja da Misericórdia de Évora, de 171 6. No caso da Congregação dos Lóios, as estruturadas composições de António de Oliveira Bernardes não poderiam encontrar melhor clientela, correspondendo a um renovado interesse pela cultura eminentemente pictórica na individualização dos temas escolhidos para a hagiografia de São Lourenço Justiniano, peça central do discurso da construção da identidade institucional da Congregação. BIBLIOGRAFIA SERRÃO, 1 996-1 997; CARVALHO, 2012; MANGUCCI, 2013.

63


Contrato Notarial com o mestre ladrlhador Manuel Borges para a realização dos azulejos do convento de São João Evangelista de Évora [fl . 1 69 v. º] obra de emprei tada do al i gi amento [si c] da i grej a de São J oão, Evange/l i sta desta ci dade que contratarão os di tos padres reytor e deputados/ do di to convento com Manuel Borges mestre al eij ador [si c] morador em Li sboa/ Sai bam quantos este i nstrumento de contrato, e obra de emprei tada do al ugi a/mento da i grej a de São J oão Evangel i sta desta ci dade de Evora e obri gação vi rem/ que sendo no anno do nasci mento de nosso senhor J esus Chri sto de mi l e setecentos/ e des annos em os quatorze di as do mes de N ovembro do di to anno nesta/ ci dade de Evora dentro do convento de São J oão Evangel i sta dos conegos regrantes/ na sel l a do Reverendo Padre Antóni o da Puri fi cação reytor do di to convento a donde eu/ tabel i am ao di ante nomeado fui sendo el l e ahi prezente e os reverendos padres de/putados do di to convento, e procurador del l e no fi m deste i nstromento/ assi nados, que todos forma j untos e congregados para effei to de sati sfa/zerem do cazo segui nte E sendo outrossi m ahi mai s prezente Manoel / Borges mestre de al ugi ador morador na ci dade de Li sboa e hora estante/ nesta de Evora pessoa reconheci da do di to reverendo padre reytor e procurador do di to/ convento que di sserão ser

o mesmo aqui contheudo e que a esto i ntervi er/ão. A saber o di to Reverendo Padre Reytor, e mai s padres deputados em nome/ do di to seu convento, e o di to Manuel Borges em seu propri o nome. E l ogo pel l o/ di to reverendo padre reytor, e mai s padres deputados foi di to em mi nha pre/zensa é das testemunhas ao di ante nomeadas e escri ptas e assi gnadas que/ assi m era verdade e nel l a passava que el l es estavão havi ndos e/ comtratados como l ogo em effei to por este publ i co i nstromento/ se ouverão, e contratarão com o di to Manoel Borges mestre de al azi /j ador que prezente estava para effei to do mesmo l hes haver se azul i /j ar a di ta sua i grej a de São J oão Evangel i sta deste di to seu convento/ toda desde o andar da mesma athe donde fei cha abbobada em/ cada hum dos cal l anos [si c] del l a e por bai xo os croces [si c] e os com [fl . 1 70] com suas col l unas na forma da pl anta que se mostra assi nada pel l o di to padre reverendo reytor deste di tto convento, e di to mestre Manoel Borges e nas paredes suas sahi rem coadros com mol duras em que se mostrarão a vi /da do gl ori ozo sam Lourenço J usti ni anno assi m como esta prezente no seu/ convento de São J oão Evangel i sta da vi l a de Arrayol os, na mayor e mel hor/ forma que puder ser; e as j anel as que dam l ux a esta i grej a que tem suas/ vi drassas serem todas forradas por dentro de azol ej o como tambem a/ face do choro das grades del l e athe o arco com dous anj os nos vãos [?]/ que com as mãos estej am pegando nos pes de huma


formoza agui a/ que fi cara sobre o arco do di to choro athe abboboda del l e; e o Fronti s/pi o da cappel l a mor que esta tudo azul egi ado se ti rara del l e todo/ o azul ej o que nel l e esta, e se tornara azul l ei ar de novo do mesmo/ azul l ej o da di ta i grej a o qual di to azul ej o sera fi no, e o mel hor assi m/ da cor como da bondade do azul , estando como hora se prati ca, me/l hor, mai s cl aro, e mai s fi no daquel l e de que esta azul ei ada a/ sua i grej a da Vi l a de Arayol l os que sera mui to bem descarqui l hado [si c] e a/ssentado, e apl umo [si c] tudo por conta del l e di to mestre Manoel Borges/ assi m de ofi ci ai s, serventes, cal , e areya, e tudo o mai s a di ta obra per/tensente, porque para efeti va del l a, el l e di to reverendo padre reytor, e mai s padres/ não fi cam obri gados a dar mai s que as madeyras que forem necessa/ri as para os andamos do assento do di to azul ej o na forma re/feri da. E outrossi m decl arão el l es di ttos reverendo padre rey/tor e mai s padres que o di to mestre Manoel Borges sera obri gado a l a/gi ar a cappel a do Santo Chri sto que esta na di ta sua i grej a com o azul ej o que ti rar do fronti spi o da capel l a mor desde os carrei /ros de azul ej o que nel l a estam athe a abobada. E toda a di tta/ obra fara el l e di to mestre Manoel Borges na sobredi ta

forma tudo/ por presso e quanti a de sei scentos mi l rei s em di nhei ro de contado/ pagos emtregues e sati sfei ttos em tres pagamentos i guai s a saber/ duzentos mi l rei s quando no di to convento esti ver metade do di to/ azul ej o, e os outros duzentos mi l rei s quando no di to convento/ esti ver a outra metade do di to azol ej o e os outros duzentos/ mi l rei s com os quai s se acabam de prefazer os di ttos sei scenttos/ mi l rei s presso deste contrato e sati sfação da di ta obra l he daram/ e emtregarão depoi s de fei ta e acabada a di ta obra, na forma de/cl arada neste i nstromento a qual obra sendo assi m fei ta e/ acabada sera vi sta por doi s offi ci ai s que bem a entendão, e a/chando nel l a qual quer defei to o di to mestre sera obri gado a/ emmendal l o a sua propri a custa; e emmendado o tal defei to/e se não se l he achando emtão l he serão emtregues os di tos ul ti mos/ duzentos mi l rei s; a cuj os pagamentos dos di ttos sei scenttos mi l / rei s pel l o modo e forma refferi da deseram el l es di ttos reverendos padres/ reytor, e deputados, em seus nomes e do di to convento se obri gavão/ a das pagar, emtregar, e sati sfazer ao di to mestre Manoel Borges/ [fl . 1 70 vº] nos di ttos tres pagamentos na forma atras decl aradas sem du/vi da ou embargo al gum. E

65


outrossi m di sseram el l es di tos reverendo padre rey/tor e mai s padres que os despachos do di to azul ej o que se pagam na ci /dade de Li sboa sei am todos por conta do di to mestre i nsol i dum e/ somente el l es reverendos padres se obri gam a pagar, e sati sfazer meta/de do custo que fi zer a comdução do di to azul egi o athe este convento por/ verdade do di to mestre. Como outrossi m se obri gão a que duran/te a obra do assento do di to azul ej o darem cama e menza a el l e/ di to mestre, e offi ci ai s que na di ta obra se ocuparem: A qual obra fei /ta prefei ta e acabada el l e di to mestre Manoel Borges sera obri gado/ dar athe os vi nte di as do mês de dezembro do anno que em/bora a de vi r de mi l , e setecenttos e once annos. Sob pena de que fal tan/do a esta condi ção pagar para a comuni dade vi nte mi l rei s que l he/ serão descontados nos ul ti mos duzentos rei s que receber/ acabada a di ta obra na referi da forma. E para assi m compri /rem terem manterem e pagarem com si ncero e verdadei ro effei /to di sserão outrossi m el l es di tos reverendos padre reytor, e mai s padres/ deputados di to convento obri gação todos os bens, e rendas do/ di to seu convento que para el l e em geral obri garão. E l ogo pel l o/ di tto mestre Manoel Borges que outrossi m prezente estava/ foi di to que el l e em seu nome tomava e asei tava este i nstromento/ com todas as cl auzul l as, e comdi ssoi s nel l e contheudas, e decl a/radas e a di ta obra do al aij i amento da di ta i grej a de Sam/ J oão Evangel i sta desta di tta ci dade na forma que neste i ns/tromento se

decl ara e a dar a di ta obra prefei ta e acabada/ no di to di a de vi nte de Dezembro do anno de mi l e sete/centtos e honce annos vi sta e aprovada e ai nda por mel hor, e mai s/ bem fei ta do que esta a obra do convento de Sam J oao Evan/gel i sta da vi l l a de Arayol l os e para tudo assi m compri r/ ter manter e sati sfazer com i nteyro e verdadeyro effei to/ e sem fal ta al guma; e di sse o mestre Manoel Borges/ que obri ga sua pessoa, e todos os seus bens movei s e de rai z/ havi dos e por haver que por el l es em geral obri gão. E com embargos necessári o neste i nstromento/ nem a qual quer cl ausul l a del l e e que vi ndo com el l as/ ou al egando al guma causa afi m de i mpedi r arrecadar a/ di ta obra, e a não dar fi nda prefei ta e acabada dentro do/ di to tempo pagar os vi nte mi l rei s de pena consertada/ e ha por bem pi rmei ro que sei a servi do em j ui so em fee del l e/ depozi tar na mão do di to reverendo padre rei tor ou procurador deste/ convento de São J oão Evangel i sta desta di tta ci dade os di ttos sei s/centos mi l rei s preso do di to contrato e emquanto não/ depozi tar a di ta quanti a não sera ouvi do em j ui zo nem/ tera del l e e l he sera denegada toda a audi enci a [fl . 1 71 ] acção e nem no caso da execução podera vi r com embargos/ sem pri mei ro depozi tar pel o modo [i l egível ] sendo caso que suceda al guma sentença defi ni ti va aj untara ci tatori a e se l he que se dara e deposi tara como assi ma di sse a qual cl ausul a da percatori a el l e di to mestre Manuel Borges perante as di tas testemunhas


pedi u a mi m tabel i am l he escrevesse aqui pera ser del l e contente conforme é na l ei / sobre a di sposi çoi ns de que há fi z a seu rogo tanto quanto [i l egível ] posso e de responder se cumpri r por todo contheudo nesse i nstromento ou por qual quer semel ha del l e perante o j ui z de fora do geral desta di ta ci dade e o corregedor del l a que hora sam e pel l o tempo/ em di ante forem per suas cartas percatori as, ci tatori as/ semel has e perante geral governador del l es fazer assi m todo o cum/pri mento de di rei to e j usti ça e i ntei ro pagamento. Renunci nando pera esta haver efei to j ui s de seu foro e da terra/ donde ao tal tempo vi ver e todos os mai s pri vi l egi os/ l i berdades, l ei s, ordenaçoi s que em seu [i l egível ] fação sej am que de/ nada quer usar nem zel ar, mas si m em tudo cumpri r se da/ contheudo nesse i nstrumento e que pagara ao cami nhei ro que andar na execução/ desassete rei s por di a da pri mei ra ci tação [i l egível ] do pri nci pal e contas e reconcecuti vos as l ei s que em seu/ facul tor [?] e a l ei que di z que a geral renconci ação não val ha e a de/ dez di as que se dão aos demandados per exempl ar/ j usti ça e feri as gerai s [i l egível ] tudo cumpri r como se executham neste i nstrumento. E para em seu nome para a di ta/ cauza ser ci tado Franci sco da Cruz, portei ro da camara desta ci dade em quem fez l ogo/ com tal ci tação se proceda na cauza ti re sentença faça penhora arrematação em seus bens sem em tempo al gum poder al egar deffei to de ci taçoi s/ ou requeri mento

porque para a di ta causa a faz seu procurador em causa propri a e i r/revogavel e em fee e testemunho da verdade assi m outorgarão e acei tarão e del l e o mandei ser fei to este i nstromento e a qual desta nota em compri rem que tudo l hes foi l i do e decl arado por mi m tabel i am perante as testemunhas em que assi naram de seus si nai s e eu tabel i am como pessoa/ publ i ca esti pol ar-se e acei tar-se em nome das pessoas absentes a quem este puder/ vi r tocar e pertencer pode por l ei e acei tei e testemunhas que presente foram J osé Rodri gues Rufaxo barbei ro morador na Rua das Fontes, e Franci sco Pi nto Tei xei ra assi na-se no di to concerto que todos aqui assi narão e eu Tomas de Azevedo Tabel i am de notas que o escrevi . Antóni o da Puri fi cação Rei tor/ Mestre Antóni o da Concei ção/ Manuel Borges/ Antóni o de São Rai mundo/ J oão de São Bernardo/ Manuel de São B. [?]/ J osé Rodri gues Rufacho/ Franci sco Pi nto Tei xei ra

ADE, CN E, Tabelião Tomás de Azevedo, Livro 91 5, fl. 1 69v.º - 1 71 .

67


O BEL COMPOSTO NA IGREJA DA MISERICÓRDIA DE ÉVORA A I grej a da Mi seri córdi a exi be um notável conj unto decorati vo de tal ha dourada, azul ej os e pi nturas sobre tel a, numa das campanhas decorati vas mai s coerentes das i grej as da ci dade. A i ntervenção compl eta de reorgani zação i nterna do templ o manei ri sta durou mai s de três décadas a concreti zar e i ni ci a-se com obras no cruzei ro, concl uídas em

I G REJA DA SAN TA CASA DA MI SERI CÓRDI A DE ÉVORA


1 693 . Segue-se a renovação da capel a do Cri sto Morto, ai nda no transepto, com o retábul o real i zado pel o mestre ental hador I náci o Carrei ra, em 1 702 . O contrato com o mestre ental hador Franci sco da Si lva, cel ebrado em 1 71 0, sob os auspíci os do arcebi spo Si mão da G ama, mas com o acompanhamento efeti vo do bi spo governador Lourenço J usti ni ano da Anunci ação, é a chave de toda a reorgani zação do espaço com a sua enorme fachada da Nave da I greja da Misericórdia de Évora. Foto Joaquim Carrapato

capel a-mor, “o fronti spíci o dourado”, que se prol onga pel as paredes l aterai s da nave defi ni ndo os espaços para as tel as de Franci sco Lopes Mendes onde se representam o programa de acção soci al da i nsti tui ção com as sete obras de Mi seri córdi a Corporai s: “dar de comer a quem tem fome”, “dar de beber a quem tem sede”, “vesti r os nus”, “vi si tar os enfermos e encarcerados”, “dar pousada aos peregri nos”, “remi r os cati vos” e “enterrar os mortos”. A função estruturante do espaço foi desempenhada pel o trabal ho do ental hador, que num modus operandi comum a cul tura arqui tectóni ca e artísti ca das ofi ci nas do período, adopta o ri tmo proporci onal dos tramos expressos também nas nervuras da abóbada, subdi vi di ndo o espaço da nave respecti vamente em três e quatro secções. Apesar do contrato esti pul ar o prazo de um ano e mei o para execução, as obras de ental he e montagem demoraram mai s de quatro anos a concl ui r-se, naquel a que consti tui a mai s i mportante obra de Franci sco da Si lva, experi ente mestre reconheci do também como responsável pel a concl usão da tal ha da I grej a de N ossa Senhora dos Prazeres, em Bej a (com tecto e tel as de Bernardes e azul ej os de G abri el del Barco). Em ambos os conj untos nota-se a evol ução do vocabul ári o do “barroco naci onal ” e a uti l i zação de atl antes e anj os al ados di stanci ando-se do di scurso das ordens cl ássi cas da arqui tectura sugeri ndo uma “arqui tectura metafóri ca” ao gosto do tratado de

69


Caramuel Lobkowi tz. O contrato para os azul ej os com Manuel Borges real i za-se em 1 71 5, depoi s da concl usão da campanha da tal ha, garanti do a perfei ta conti nui dade decorati va entre as duas Artes, e nos azul ej os as di vi sões dos tramos marcam-se por pi l astras que conti nuam a l i nha dos atl antes da tal ha dourada. O programa i conográfi co j á se encontra defi ni do pel os comi tentes, esti pul ando-se no contrato o programa i conográfi co das sete obras de Mi seri córdi a Espi ri tuai s: “dar bom consel ho”, “ensi nar os i gnorantes”, “consol ar os tri stes”, “casti gar os que erram”, “perdoar as i nj úri as”, “sofrer as fraquezas do próxi mo” e “rogar a Deus pel os vi vos e defuntos” fi gurada através de outros tantos epi sódi os da hagi ografi a do Messi as. O contrato regi sta o pl ano dos embl emas, col ocados debai xo dos pai néi s pri nci pai s, que i ri am ser conferi dos depoi s dos azul ej os col ocados. O douramento, outra custosa emprei tada, vai ser obj ecto de doi s contratos, um pri mei ro, consti tui ndo uma equi pa dos quatro mel hores artífi ces da ci dade, reuni ndo Manuel da Mai a, Bernardo Luís, Franci sco Ferrei ra e J osé Correi a. A redação, por al guém com profundos conheci mentos da Arte, dá conta de todo um aparato “pi ctóri co” propondo refl exos vermel hos e verdes sobre dourado, a al ternânci a de áreas em fosco e bri l hantes, as l acas “mai s subi das” e as carnações dos anj os por pol i mento sem recurso a pi ncéi s. A obra só

será efeti vamente executada em 1 72 9, por Fel i pe Santi ago que se quei xava da Santa Casa da Mi seri córdi a, numa si tuação i nj usta para o pi ntor que, trabal hando com ouro para uma i nsti tui ção assi stenci al , se vê a bei ra da mi séri a. Por razões que desconhecemos, ci nco das sete “Obras de Mi seri córdi a” foram refei tas pel o pi ntor J osé Xavi er de Castro, em 1 737, mantendo-se apenas duas tel as de Franci sco Lopes Mendes: “dar de comer a quem tem fome” e “dar de beber a quem tem sede”, marcadas por al guma dureza na apl i cação das cores, e por uma i ngenui dade na composi ção. N o entanto, comparati vamente, são as mel hores obras do pi ntor, nas quai s preval ece o regi sto anedóti co, com a representação de costumes tradi ci onai s, como no caso de um grupo que tempera um pão com azei te aquecendo-se a vol ta da foguei ra. BIBLIOGRAFIA PEREIRA, 1 948; SIMÕES, 1 944; MENDEIROS, 1 987; TEODORO VALLECILO, 1 996; SERRÃO, 1 996-1 997; MANGUCCI, 2001 E 2008 e CARVALHO, 2012.


Contrato Notarial entre a Misericórdia de Évora e o entalhador Francisco da Silva [fl .1 2 5] Contracto sobre a factura de huma obra que fazem os/ i rmaos da menza da Santa Caza da Mi zeri cordi a desta ci dade com franci sco da Si lva de Évora e o ental hador Franci sco da Sylva Sai bam quantos este publ i co i nstromento de contracto sobre a factura de/ huma obra deental hado e obri gação vi rem que no anno do nasci mento de nosso senhor J e/sus Chri sto de mi l setecentos e dez annos, aos dezasete di as do mês de novem/bro, do di to anno nesta ci dade de Evora em a caza e comsi stori o da Sancta Mi zeri cordi a/ donde eu tabal l i ão ao di ante nomeado fui sendo prezentes em men/za segundo uso e estatutos da di ta caza e sua confrari a para sati sfa/zerem ao cazo segui nte, a [i l egível ] o i l ustríssi mo provedor Dom Si mão da/ G ama arcebi spo deste arcebi spado de Evora, Dom J osé de Mel l o, fi dal go/ da caza de sua Magestade e escri vão da menza e Custodi o Vi l a Lobos de/ Al mei da thezourei ro da di ta caza, e os mai s i rmãos no fi m desse i nstromento/ assi gnados todos da menza esse prezente anno que por especi al provi /zão de

sua magestade que Deus tem o cargo de reger e governar e admi ni strar/ os bens e fazenda da di ta caza e sua confrari a e bem assi m sendo ma/i s prezente Franci sco da Syl lva offi ci al de ental hador morador nesta ci dade/ em a Rua dos Emfantes pessoas reconheci das de mi m tabel i am Logo pel os/ di tos i rmãos da menza foi di to em mi nha prezença e das testemunhas/ ao di ante nomeadas e asi gnadas que el l es estavão avi ndos e contratados/ como l ogo em effei to por este publ i co i nstromento se contratarão com/ o di to Franci sco da Sylva para haver de o mesmo fazer de obra ental hada/ a frontari ada cappel l a mayor da i grej a da di ta Sancta caza e seus al /tares col aterai s the ao soco da abobada segundo o ri sco mai or e mai s/ l evantado na fol ha que para a mesma obra esta fei to fazendo el l e di to/ Franci sco da Sylva e cobri ndo de ental hado os l ados da di ta i grej a do fri zo/ donde comesão os arcos da aboda the o capi tel de marmore preto da ca/pel l a do Santo Chri sto, entrando nesta obra ou dei xando em el l l a sem/ ental har o cl aro de dous pal mos de al tura em que se ha de pi ntar as/ obras da Mi seri cordi a e assi m mai s sera obri gado el l e di to Franci sco da Sylva a fazer/ duas col unas em cada cappel l a das tai s, al em de duas fi guras que ha de/ fi car nos l ados da Cappel l a mai or, de grandeza que

71


a obra o pri mi ti r, sem/ embargo de as tai s col unas não estarem no ri sco, e as mol duras dos coa/dros serão de dez pal mos e meyo bem fol gados de l argura do fei ti o/ que mostra o rascunho com obri gação de a tal ha ter toda a al tura que/ for necessari a para a tal ha e avi a/mento de toda a obra e a tal madei ra sera mui to emchuta e seca e se poderá/ j ul gar por doi s offi ci ai s de seu offi ci o se tem a tal ha a al tura necessari a que/ [fl . 1 2 5 v. º] pede a di ta obra segundo os rascunhos que para a mesma se fi zerão pondo/ el l e di to Franci sco da Si lva e comcorrendo com todo o necessari o para a di ta obra que/ dara prefei ta e acabada dentro de anno e meyo da factura deste se endi /ante e no fi m do di to tempo ser a di ta obra fi nda e acabada sem que nel l a/ possa haver a míni ma mancha e nota e para que dentro no di to tempo assi m/ fi nde e acabe a tal obra será obri gado a comcorrer com os offi ci ai s/ que forem necesari os e avi amentos para a factura da obra e i sto tudo/ pel o preso e quanti a de quatro mi l cruzados entregando l ogo el l es/ di tos i rmãos da menza a el l e di to Franci sco da Sylva ao asi gnar desta es/cri ptura mi l cruzados com obri gação del l e e seus sucessores i rem com/ti nuando com a entrega do mai s di nhei ro pel l o tempo endi ante traba/l hando-se na di ta obra o que se obri gavam real mente compri r e guardar com/ i ntei ro e real effei to, sob obri gação dos bens e rendas da di ta Santa Ca/sa e l ogo pel o di to Franci sco da Sylva foi di to que assi m era e se passava/ na verdade e el l e por esse publ i co

i nstromento se obri gava a fazer e acabar/ a di ta obra na forma que decl arado era pel l o di tto presso de quatro mi l cru/zados cobrando l ogo mi l cruzados ao assi nar deste i nstromento e o mai s/ di nhei ro convi nha e era contente que pel o tempo endi ante trabal hando/ na di ta obra se l he fosse entregando pel o bem do que l ogo pel l os di tos i r/mãos da Mi seri cordi a em prezença de mi m tabel i am e di tas testemunhas derão contarão entregarão ao di to Franci sco da Sylva os di tos mi l cruzados por/ conta da di ta obra e para pri nci pi o da mesma todas em di nhei ro de contado/ moedas correntes neste reyno de Purtugal que el e di to Franci sco tomou/ contou e recebeu e depoi s de bem contado recebi dos di sse e confe/ssou estar a ahi toda a di ta quanti a dos di tos mi l cruzados e del l es/ se dava per entregue pago e sati sfei to e aos di tos i rmãos/ da menza por l i vres e desobri gados e se obri gava a dar verdadei ro com/pri mento a todo este i nstrumento como nel e era decl arado sob obri ga/ção de sua pessoa e todos os seus bens movei ns e de rai z acçoi ns e pertem/soi ns havi dos e por haver que para el l o em geral obri gou e em especi al di /sse que obri gava as fazendas segui ntes uma morada de casas que tem/ e possui l i vres e i zentas na rua da Fontes di go Rua dos Emfantes que/ partem com casas de Theresa Col assa e cazas de Manuel da Costa, com/fei tei ro, e outra morada de casas na mesma rua j unto as asi ma/ forei ras ao Cabi do em qui nhentos e si ncoenta rei s e assi m mai s tres/ quartéi s de vi nha mysti cas que possue nos


coutos desta ci dade/ [i l egível ] que partem com vi nha de Thi ago da Costa e outro quartel de vi /nha que tem nos coutos desta mesma posta [?] da Pi ramanca que parte [fl . ] com vi nha do Dr. Manuel Bravo da Si lva e com vi nha de Thomas de Andrade/ as quai s fazendas todas eram suas l i vres de outra obri gação e ahi possua e como/ tai s as obri gava para que por el as e pel o mai s bem [?] del l as tenha este/ i nstromento seu verdadei ro e real cumpri mento fal tando a sati sfação del l e o que tudo obri ga/va em seu nome e de sua mol her Catari na Lopes pessoa reconheci da de mi m tabel i /ão, a qual eu tabel i ão em casas de sua morada l he noti ci ei e noti fi quei esta/ escri tura em como o di to seu mari do Franci sco da Sylva se avi a contratado/ com os i rmãos da menza da Santa Casa da Mi seri cordi a desta ci dade para haver de l he fazer/ uma obra de ental hado em a i grej a da di ta Santa Casa na forma decl arada/ em esta escri tura pel o preço de quatro mi l cruzados de que o di to seu mari do/ cobrou l ogo ao assi nar esta mi l cruzados fi cando para se l he i r com/ti nuando com o mai s di nhei ro pel o tempo em di ante que for fazendo em a di ta obra/ que dara fi nda e acabada dentro de ano e meyo da factura des/ta escri tura emdi ante a cuj o cumpri mento havi a o di to seu mari do obri ga/do todo os seus bens em geral e em especi al as fazendas conteudas em esta di ta/ escri ptura que tudo l he foi l i da e decl arada por mi m tabel i ão e sendo tu/do por el a mui to bem ouvi do e entendi do me respondeu e deu em

resposta/ que de tudo era sabedora e que de seu consenti mento o di to seu mari do havi a/ aj ustado a di ta obra pel o di to preço de quatro mi l cruzados de que recebera/ os di tos mi l cruzados a conta de que tudo se havi a fei to a presente escri ptura/ e ao cumpri mento del a obri gada o di to seu mari do as di tas fazendas e se/ necessari o ser pel a parte que por di rei to l he tocava de novo tudo obri gava re/ti fi cando tudo per bem fei to fi rme e val i oso de que eu tabel i am/ dou mi nha fé e por todo o contheudo neste i nstromento qual quer parte/ del l e responder assi m ci tado sem i sso for [?] el l e di to Franci sco da Sylva perante/ o j ui z de fora do geral desta ci dade ou corregedor del a que hora são os que ao di an/te forem e servi rem por suas cartas precatori as ci tatori as e semel has per/ante qual quer del as fazer do si tado o cumpri mento do di to e j usti ça e i nte/i ro pagamento do pri nci pal e custas renunci ando l ogo di sse para se ha/ver efei to do j ui z de seu foro da terra e domi ci l i o donde ao tal tempo/ vi ver ou esti ver e todos os mai s pri vi l egi os graças e l i berdades l ei s/ e ordenasoi ns, razoi ns e excepções e tudo outro qual quer remedi o de di rei to/ ou di rei to extraordi nari o que per si al egar possa e a l ei de di rei to que faz geral renun/ci ação não val ha e os dez di as que se dão aos demandados/ por escri pturas publ i cas e as feri as gerai s e especi ai s porque de nada quer/ usar nem gozar antes tudo cumpri r e guardar e de não al egar em/bargos al guns de qual quer cal i dade ou condi ção que sej am com que quei ra/ anul ar

73


contradi zer ou i mpugnar este i nstromento em parte ou em todo [fl . 1 2 6 v. º] e vendo com el l e ou al egando al guma cousa não quer ser ouvi do/ em j uízo ou fora del e nem admi ti do a requeri mento al gum sem pri mei ro depo/zi tar tudo o que por bem deste i nstromento constar estar devendo pel a j usti ça/ l he for demandado tudo em di nhei ro de contado em maos e poder do tesourei ro/ da di ta santa casa sem para i sso l he pedi r nem necessari o ser dar fi ança cau/são ou abonação al guma porque de agora para então o há por seguro e abo/nado e fi el deposi tari o enquanto não fi zer o di to deposi to l he sera dene/gada toda audi enci a razão acção e requeri mento que em j ui zo em fora del e qui /ser fazer a qual cl ausul a deposi tari a el l e di to Franci sco da Si lva pedi o/ a mi m tabel i ão que l ha puzece e escrevece purque decl ara com/tente e eu tabel i ão aqui l ha pus e escrevi por ma pedi r e tanto quanto/ em di rei to posso e devo na forma da provi são de sua magestade sobre os di /tos deposi tos e de responder e ser ci tado se necessari o for em nome del e di to/ Franci sco da Sylva o portei ro da camara desta ci dade assi m para a pri mei ra i mportan/ci a da acção como para a da venda pregoi s e arremataçoi s de seus/ bens sem em tempo al gum poder al egar i gnoranci a nem deffei /to de ci tação porque de agora para então o faz seu procurador em cauza/ propri a e i rrevogavel e de pagar ao requerente cami nhei ro ou pe/ssoa que na tal execução andar assi m nesta ci dade como fora del a a du/zentos rei s por di a que se

contarão do di a da pri mei ra acçao posta the de tudo ser/ acabada [?] real entrega do pri nci pal e nestas em fee e [i l egível ] termo de verdade assi m/ o outorgaram e del e mandaram ser fei to este i nstromento e os que desta nossa/ cumpri rem que tudo l hes foi l i do por mi m tabel i am como nel e se conthem/ que assei tarão e eu tabel i ão em nome dos absentes a que i sso per/tencer pode este publ i ca j usti ça sendo presentes per si e por testemunhas/ o padre J oão Antunes secretari a da di ta santa casa da mi seri cordi a e Manuel Froes/ requerente e servo da di ta santa casa pessoas reconheci das de mi m tabel i am que/ todas aqui assi naram eu Andre Vi di gal da Si lva Tabel i am de notas que escre/vi Dom Rodri go de Mel o/ Cri stovão de Chavez de Abreu Corte Real / J ose Barreto de Val devi nos/ Custodi o de Vi l al obos de Al mei da/ Alvaro J ose de Carval ho/ Pedro Rodri gues Bottão/ Catheri na Lopes/ Franci sco da Si lva/ Padre J oão Antunes/ Manuel Froes Arquivo Distrital de Évora. Cartórios Notariais de Évora. Tabelião André Vidigal da Silva, Livro 1009, fl.225 e v.º.


Contrato notarial entre a Misericórdia de Évora e o mestre ladrilhador Manuel Borges [fl . 2 v. º] Contrato que faz os i rmãos da Mi seri cordi a/ desta ci dade com Manuel Borges morador em Li sboa so/bre o azol ei i o da i grei a Em nome de Deos, amem, sai bão quantos este publ i co i nstromento de con/trato e obri guaçam vi rem que no anno do nasci mento de nosso senhor/ J esus Chri sto, de mi l e setecentos e qui nze annos, nesta ci dade,/ di guo, annos, aos vi nte e hum di as do mes de Setembro do di to anno,/ nesta ci dade de Evora, nas cazas da Mi zeri cordi a del l a, estan/do ahi , em meza, o Reverendo Di ão Chri stovão de Chaves de Abreu/ Corte Ri al , escri vam e prezi dente da di ta meza, e o sargento mor/ Manuel Duarte de Ol i vei ra, thezourei ro da mesma, e os mai s i r/mãos da di ta meza, no fi m deste i nstromento nomeadas/ e assi nadas, estando mai s prezente Manuel Borges, mestre/ [fl . 3 ] mestre de azul ei i o, morador na ci dade de Li sboa, as G i nel l as Verdes, pe/ssoa reconheci da das testemunhas ao di ante nomeadas/ e assi gnadas, e bem assi m Manoel G omes, mestre de pe/drei ro, morador nesta Ci dade na Rua dos Mercadores, di guo, na

Rua do Re/mundo pessoa reconheci da de mi m tabal i am que certi fi co ser a pro/pi a aqui contheuda e decl arada. E l oguo pel l o di to Reverendo/ Deão e Thezourei ro, e mai s i rmãos foi di to em presença de mi m taba/l i am e di tas testemunhas que el l es ti nham detri mi nado man/dar azul i gar a i grei a e coro desta caza para o que estavam aser/tados com o di to Manuel Borges a que azul i asse reparti n/do o azul ei i o em sete passos das obras espi ri tuai s da mi zeri cordi a/ com vari os embl emas por baxo dos di tos passos de que se l he dara/ um papel decl arando-se os passos e embl emas em hum di go/ embl emas em que sera assi gnado pel l o thezourei ro desta me/za o qual mostrara depoi s do di to azol ei i o asi ntado na i grei a pa/ra ver se esta fei to na forma do estrato que se l he der asi gnado/ pel l o di to thezourei ro e o di to azul ei i o sera do mai s fi no e me/l hor que ouver fei to no tempo presente nos templ os da corte e/ se l he da por cada mi l hei ro que asentar quarenta mi l rei s l i vre/ de todos os custos despezas e comduçoi s que o mesmo fi zer des/de a hora que esti ver fei to e pi ntado athe chegar a esta caza e/por quanto todas as di tas despezas sam por conta desta meza e as despe/zas mi udas e despachos de tudo o mai s

75


nesecari o para se comdu/zi r o di to azul ei i o athe Al dei a G ual egua sera fei ta esta com/duçam pel l o di to Manoel Borges e tudo l he sera paguo pel l o the/zourei ro desta meza ao di to Manoel Borges e sera cri do por sua/ verdade de que dara hum rol da despeza para l he ser sati sfei /ta, assi m de quarenta mi l rei s que a de haver por cada mi l rei s/ de azol ei i o que assentar e todos os homes que l he forem neseça/ri os para o aj udarem a asentar o di to azol ei i o sam por/ conta del l e di to Manoel Borges porem a cal a area e madei ra/ que for nesecari o para se assentar o di to azol ei i o sera por conta/ desta meza que sati sfara o thesourei ro del l a e o di to azol ei i o da/ i grei a e coro sera obri gado assental l o athe di a da vi zi tação de San/ta I zabel que he a doi s de J ul ho e o corpo/ da i grei a o dara the a Coresma não havendo emvernada/ que o i mpeça e fi nda a obra seram contados os mi l hei ros de azo/l ei i o que a desta i grei a e coro e l evara por cada hum mi l hei ro/ se daram os di tos quarenta mi l rei s abatendo-se toda aquel l a/ quanti a que ti ver recebi do por conta da di ta obra e sucedendo/ que vi ndo o di to Manuel Borges a fazer a obra do azol ei i o e não a fi n/dar por huma vez athe o di to tempo sei a persi zo recol her-se/ a corte esta meza l he pagara o carro das bestas del l e di to Manuel / Borges e seus ofi ci ai s de Al dei a G ual ega athe esta ci dade e se/ l he dará por mão do thesurei ro no mês que vem de Outubro duzentos/ mi l rei s postos em Li sboa e no comesso e pri nci pi o da

obra outros du/zentos mi l rei s e no fi m da obra sera sati sfei to de todo o/ restante que se l he dever comtados os mi l hei ros al em das despe/zas mi údas que fi zer com a conduzam do azul ei o que/ l ogo l he foram sati sfei tas e fal tando esta meza ou outra/ que vi er assi m que fi ndar a obra a sati sfazer-se tudo o que/ se dever ao di to Manuel Borges se l he paguara a sei scentos rei s por/ di a emquanto não for sati sfei to da di ta i mportânci a [fl . 3 v. º] i mportanci a assi m das perdas e danos que ti ver por cau/sa de não acudi r ao seu ofi ci o pel l a rezam do não pagamento. E pel l o di to Manuel Borges foi di to que passava na verdade que/ estava aj ustado a assentar o di to azul ei o na forma que di guo/ na forma com as condi ções referi das del as pel l os di tos/ i rmãos da meza e se obri gua a compri r tudo o porposto pel l a/ di ta meza não se fal tando aos paguamentos e para segurança/ e fi rmeza de fazer a di ta obra referi da obi gua sua pe/ssoa e bens havi dos e por haver [sob] pena de que fal tando a por o di to azo/l ei o na forma e tempo decl arado comsente que esta meza/ ou a qual soceder por el l e Manuel Borges fal tar a que mandem fi n/dar o di to azol ei i o a sua custa e neste caso quer entam que/ as despezas mi údas sei aj am também por sua conta e a seguran/ça deste comtrato e ao di nhei ro que receber dará por fi ador/ e pri nci pal pagador e deposi tári o de fee de j uízo pel o di tto Manuel Bor/ges di guo de j uízo ao di tto Manuel G omes pedrei ro atras de/cl arado e l oguo pel l o di tto Manuel G omes


que prezente estava/ foi di to que el l e sem contradi sam de pessoa al guma e mui to/ de sua l i vre vontade fi cava por fi ador e pri nci pal pagador/ de fee de j uízo a que o di to Manuel Borges não/ fal te a todo o conteúdo neste i nstromento e a tudo o que cobrar e fal ando se obri gua por sua pessoa e bens a sati sfazer tudo a esta meza da Mi zeri cordi a e a paguar todos os custos despezas/ que a meza fi zer por cauza do di to Manuel Borges fal tar tudo por/ j uramento do desembargador [?] que hoj e he ou ao di ante for e a compri r/ tudo o que atras se decl ara nesta escri tura. E nesta/ forma se houveram por aj ustados e cada hum pel l a parte/ que l he toca se obri gua tudo compri r e guardar com i ntei ra/ e real efei to e de responder e serem ci tados e a compri r/ se nesseçari o for por tudo conteudo neste i nstromento ou qual /quer parte del l e perante o j ui z de fora do geral desta ci dade/ que hora he ou ao di ante for e servi r ou o corregedor del l a/ por suas cartas percatori as recatori as ecom el l as perante/ qual quer del es fazer desse todo o compri mento de di rei to/ e j usti ça para o que renunci avam o j ui z e j uízes de seus fei tos e da corte ou domi si l i o donde esti verem e todos os mai s pri vi l égi os graças e l i berdades/ condenaçoi s que por se al eguar possam senam tudo com/pri rem e guardarem com i mtei ro e real efei to. E em/ fee e testemunho de verdade assi m o outrogaram e se/ comandaram ser fei to este i nstrumento e os que esta notas/ compri rem em necessári o forem que todo l he

foi l i do e decl arado por mi m tabel i am como nel l e se comthem/ que assei taram e eu tabel i am em nome dos ausentes/ a que este comvem comuni car sendo testemunhas os reverendos padres Manuel Evangel i sta e J oseph Franci sco que todos aqui asi /gnaram e eu Manuel Pi nto de Carval ho tabel i am de notas que o escre/vi [assi naturas] Deão Cri stovão de Chaves Abreu Corte Real / Lui s da G ama Lobo/ [fl . 4] Manuel Duarte de Ol i vei ra/Lui s Bernardo [?] Zagal o Sei xas/ Domi ngos [i l egível ]/ I gnaci o dos Santos/ Manuel de Sousa/ Manuel Rozedo/ Manuel Rodri gues N ol e/ Antóni o Conti l hamosa [?]/Manoel Si moi s/ Manoel Borges/ Manoel G omes/ Padre Manoel Evangel i sta/ J oseph Franci sco Mi ni stro [?] ADE. CN E. Tabelião Manuel Pinheiro de Carvalho. Livro 11 30, fls. 2 v.º a 4.

77


Termo de contrato entre a Misericórdia de Évora e os mestres douradores Manuel da Maia, Bernardo Luís, Francisco Ferreira e José Correia para dourarem o retábulo da capelamor [fl.1 9] Termo de obrigação dos ditos officiaes/ feito em 24 de Julho de 728 [fl. 1 9 v.º] aos vinte e quatro dias do mes de Julho de/ mil setecentos e vinte outo nesta se/crataria da Santa Caza da Mizericordia da/ cidade de Evora pareserão prezentes Ma/noel da Maya, Bernardo Luis, Francisco/ Ferreyra, e Joseph Correa, todos mestres/ douradores e moradores nesta cidade/ e pessoas bem conhecidas nella, e por elles/ foi ditto, que pera firmeza, e lembrança/ do ajuste que havião feyto no dia antece/dente com a meza desta Santa Caza de doura/rem o frontespicio de entalhado da i/greja della herão contentes se fizesse/ por mim escrivão da mesma, este termo/ com as condições, e declarações insertas/ nelle as quais todas elles livremente se o/brigavão inteyramente a cumprir, e en/cher por suas pessoas, e bens prompta, e cabal/mente, e desde agora se sometião a todas/ as pennas clauzullas, e obrigações que neste/ termo forem postas, e as mais todas essensi/aes que por esquecimento senão declararem/ aqui para a boa concluzão e perfeição da/ sobreditta: primeyramente se obri/garão a dourar toda a obra de madeyra que es/tiver no frontespicio da igreja com o ouro/ mais corado que ouver e alguns vãos que tiver o en/talhado porque paresse em que está a/centado os

pintarão de jalde para que a pa/rede com a brandura da cal não deslus/tre o dourado. As figuras, serafins, es/cultura e a mais obra que estofarem sera/ tudo sobre ouro e não sobre prata ou tin/ta alguma, e as encarnações serão de poli/mento, e não de pincel toda a obra se/ aparelhará com nove mãos de aparelho/ em sua conta, que será de retalho de luva/ fino e os estofados das figuras e azas dos/ serafins se estofarão com as cores mais/ finas e os reglaxos desta obra de verdes/ estilhados, e lacras muito finas e subidas [fl. 20] que o ouro sera todo burnido, e aparessen/do a essa meza que se lhe fação alguns/ foscos e serão feytos sobre ouro, o que ficara/ ao arbitrio da mesma determinar se há de/ levar a dita obra os taes Toscos ou se ha de ser/ do de burnido e paressen/do a esta meza que se lhe fação alguns/ foscos serão feytos sobre ouro o que ficara ao arbitrio da mesma determinar se há de/ levar a dita obra os taes foscos ou se há de tudo ser burnido. Que os sobreditos mestres/ douradores serão obigados a dazer os/ andaimes a sua custa desmanxa-los,/ conduzir tudo o necessario para elles, e recon/duzir as madeyras dos mesmos e pagar/ carretos e ruinas dellas e avendo-a por sua/ conta grudar, pregar, e repregar toda a o/bra sobredita que persizar do referido que/ sera vista primeiro que se aparelhe para se exami/nar se fica segura e boa como tãobem/ antes que se desmanxe qualquer andaime/ se mandará por quem o entenda examinar/ e ver tudo o que estiver feyto para ver se o está/ na forma contratada para que não estando/ se obrigarem a fazer prontamente que pas/sado hum anno completamente depois que a o/bra for fida e de


todo acabada se fará/ nella exame por pessoas inteligentes para/ verem se tem alguma ruina, ou falta/ do ajustado e havendo-as se mandará/ reparar a custa dos ditos mestres douradores; que os mesmos se obrigão a dar de todo perfeita e acabada a dita obra/ dia de Reis próximo futuro enão o fa/zendo assim podera a meza meter os/ officiaes que lhe paresser para acabar e pagar/lhe os dias ou tempo que gastarem pellos/ pressos que lhe paresser tãobem tudo/ a custa dos bens delles ditos mestres e nis/to, e nas mais despeza que fizer esta santa caza/ sera somente crida por juramento do irmão/ ou pessoa que fizer a dita despeza porque/ a satisfação de todo o sobredito se obrigão elles dittos mestres por suas pessoas e [fl. 20 v.º]” pessoas e bens e hum por todos e todos por ca/da hum delles, e esta meza a entregar-lhe/ em dinheyro corrente pro mão do irmão/ thezoureiro della seiscentos e outenta mil/ reis presso porque ajsutarão e contratarão/ dar a ditta obra acabada com as condiçoes e na forma assima declarada sem/ esta Santa Caza ter obrigação de lhe dar ou/satisfazer mais couza alguma fora dos/ ditos seiscentos e outenta mil reis, por/que se ajsutarãoi a tal obra de que logo ao assi/nar este termo receberão da mão do/ irmão thezoureiro Domingos de Medeyros e/ Pina quatrocentos mil reis, para se avia/rem do necessario para principiarem/ a obra dos quais logo aqui da plenaria/ quitação a esta Caza da Misericordia dezo/brigada delles; e logo no mesmo dia/ Caza e hora paresseu Manoel Perreyra/ mestre atafoneyro morador na rua que atra/vessa da Rua de Alconchel para o Terreiro dos Mercadores pessoa tãobem conhecida/ nesta dita cidade e pello mesmo

foi dito que elle/ per si e por todos os seus bens ficava por/ fiador principal pagador e depozitario de/ juizo ao comprimento de tudo sobredito e que/ via em sua pessoa e bens ser executado/ para satisfação de tudo e da quantia, ou/ quantias que recebem e receberem em dian/te os ditos mestres porque todos e a cada hum/ per si hera contente de afiansar na dita for/ma e ao comprimento de todo este ajus/te e contrato em feé do que se fez este termo que/ assianrão comigo escrivãoo sendo teste/munhas prezentes João Galvão de Oli/veyra e Sylva e o reverendo doutor o padre Ma/noel Alvres secretario e capellão/ desta Santa Caza da Misericordia e Joseph da/ Cunha Estibeyro todos moradores/ [fl. 21 ] moradores besta cidade de Evora/ que todos assinarão e eu antonio Ma/tella de Tavora escrivão desta ir/mandade da Misericordia de Evora que/ fis e assinei o sobredito termo aos quatro duas do mês de Julho de mil/e setecentos, e vinte e outo annos. [assinaturas] Antonio Matella de Tavora/ Manoel da Maya/ Lourenço Vaz [?]/ Joseph Correa/ Francisco Ferreira/ Manoel Pereira/ José Galvão de Oliveira e Sylva/ Joseph da Cunha Estibeyro/ Padre Manoel Alvres ADE, SCMEVR, n.º 27, Lembranças das mezas começou em 1 728 athe 1 739

79


A TALHA “FRANCESA” DOS RETÁBULOS CARMELITAS DE ÉVORA

CON VEN TO DE N OSSA SEN H ORA DOS REMÉDI OS

A pri mei ra referênci a a Sebasti ão Abreu como pri nci pal responsável da ofi ci na reportase a 1 747, quando assi na o contrato com o convento de São Domi ngos, em Elvas, onde o mestre ental hador real i zou uma séri e de col unas e capi tei s para guarnecerem o i nteri or do templ o. Mas a experi ênci a que vai redefi ni r o seu percurso artísti co foi a parti ci pação na execução das emprei tadas de tal ha dourada para os conventos carmel i tas de Évora. N os retábul os para o Mostei ro de São J osé (Convento N ovo) e para o Mostei ro de N ossa Senhora dos Remédi os abre-se um segundo momento para a tal ha Rococó no Al entej o, superando pel a pri mei ra vez a experi ênci a da Sé de Évora que até então norteava o l abor da ofi ci na. Esse novo período coi nci de com a fase de maturi dade de Sebasti ão Abreu do Ó, ao mesmo tempo que l he proporci ona os contratos mai s i mportantes e rendosos. Segundo o documento revel ado por Artur G oul art, o mestre J oão Luís Botel ho foi o responsável pel o “ri sco” do retábul o da capel a da Ordem Tercei ra na I grej a do Carmo, em Évora. O desenho do retábul o da capel a-mor do Convento N ovo, ai nda marcado por col unas recti l íneas, uma opção ori gi nal no percurso de J oão Luís Botel ho, e uma sol ução provavel mente i nfl uenci ada pel o retábul o da capel a-mor da Sé de Évora e ai nda pel o magnífi co retábul o da capel a de São J oão da i grej a j esuíta de São


Roque, em Li sboa. Parti cul armente i nteressante são as i l hargas curvi l íneas, demonstrando uma procura de sol uções di nâmi cas por parte de J oão Luís. Serão os retábul os do Convento N ovo, cl aramente marcados pel o desej o de moderni dade dos carmel i tas de Évora, o ponto de parti da para uma séri e de obras em que o neocl aci ssi smo romano se funde com o esti l o Rococó, que os frades preferem denomi nar de “tal ha francesa”. Tudo i ndi ca que J oão Luís foi também o autor do desenho os retábul os col aterai s da i grej a do Convento N ovo, contratados em 1 753 , e que serão executados por Sebasti ão Abreu do Ó, com a pl anta “chanfrada” ou “sextavada”, em que as col unas que l adei am a tri buna avançam em rel ação as da i l harga, numa sol ução j á ensai ada no retábul o da capel a da Ordem Tercei ra na I grej a do Carmo. Três anos depoi s, em 1 756, será a vez dos carmel i tas dos Remédi os renovarem a capel a- mor, com o retábul o a ser executado, mai s uma vez, por Sebasti ão de Abreu. N o contrato há uma séri e de recomendações de carácter geral da obra, como a abertura do vão para dar profundi dade ao trono ou a regul ari zação do nível dos degraus em rel ação aos retábul os col aterai s que dão conta de uma cui dadosa preparação posta pel os frades carmel i tas na condução da emprei tada. Demonstrando a conti nui dade nas di recti vas que mui tas vezes presi dem as obras real i zadas numa mesma ordem rel i gi osa, o pri or, Frei Antóni o de São J osé, faz questão de

uti l i zar os retábul os do Convento N ovo como model o para a real i zação do retábul o da capel amor dos Remédi os. Segundo as cl áusul as desse documento, Sebasti ão do Ó obri gava-se a: “… fazer um sacrári o à i mi tação do da capel amor da I grej a do Convento N ovo, no caso que o oratóri o da Senhora não fi que sobre a banqueta; os ni chos dos santos serão também à i mi tação dos que estão na mesma capel a-mor do Convento N ovo, e toda a obra será ental hada com tal ha francesa e mai s nova que hoj e se usa; e fará a banqueta do al tar-mor de cumpri mento tal que possa l evar quartel as ental hadas que el e di to mestre há de fazer; e as quartel as debai xo das col unas serão como as dos al tares col aterai s do Convento N ovo, e mel hor se puder ser… ” Os cui dados descri ti vos do contrato se j usti fi cam-se porque são acompanhados apenas por desenhos parcel ares da pl anta, col una e da arcari a: “E será fei ta pel l a pl anta e cul una que esta/ assi gnada pel l o Pri or do di to Convento, e também/ de fazer hum trono para a caza datrubuna que este e a arqueri a da di ta obra será fei ta pel o Ri sco/ também assi gnado pel o di to Pri or” É j ustamente na pl anta do retábul o que se nota uma i novação em rel ação ao protóti po dos retábul os da I grej a do Carmo e do Convento N ovo, com as col unas l aterai s da tri buna di spostas obl i quamente, reforçando o senti do dramáti co da exposi ção da i magem do Cri sto Cruci fi cado, uma sol ução também adoptada pel o arqui tecto André Soares, no retábul o da

81


capel a de N ossa Senhora do Rosári o na I grej a de São Domi ngos de Vi ana do Castel o, em 1 760. Todo o conj unto, de di mensões i mponentes, devendo-se também menci onar a bel íssi ma cai xa do púl tpi to, é j ustamente consi derado a obra embl emáti ca de Sebasti ão Abreu do Ó, e a mel hor obra de tal ha dourada do período em Évora.

Contrato notarial entre os religiosos do Convento de Nossa Senhora dos Remédios e o mestre entalhador Sebastião Abreu do Ó

[fl . 3 2 ] Contrato que fazem os reverendos padres/ e mai s rel i gi osos de N ossa Senhora dos Remédi os com Sebasti ão de Abreu do Ó Lourenço Barboza a Fl . 4 Evora Em nome de Deus Amen sai bam quantos este i nstro/mento de contrato vi rem que no anno do nasci mento de nosso se/nhor J esus Chri sto de mi l setecentos e ci ncoen/ta e sei s BIBLIOGRAFIA aos vi nte e ci nco di as do mes de Setembro, na SMITH, 1 962; BORGES, 2005 e MANGUCCI, 201 0. ci dade de Evora extramuros del l a/ Retábulos da I greja do Convento de Nossa Senhora dos Remédios. Foto António Severo. no convento de N ossa Senhora dos Remédi os aonde eu/ tabel i am fui , estando j unto em comuni dade o reverendo padre pri or/ e mai s reverendos padres do governo abaxo assi nados e bem/ assi m estando mai s presente Sebasti am de Abreu do Ó/ ental hador e morador nesta ci dade, na Rua de Avi s, pessoa/ reconheci da de mi m tabel i am que certi fi co ser o própri o,/ E l ogo pel l o reverendo pri or e mai s rel i gi osos foi di to a mi m tabel i am/ perante as testemunhas no fi m assi gnadas que el l es estavam com/tratados e aj ustados com o di to Sebasti am de Abreu do Ó/ para efei to de o mesmo l he fazer hum retabol l o e caza da tri buna tudo emtal hado para a


capel l a mor/ do di to convento e por preço de sei scentos mi l réi s. E deste recebeu l ogo ao assi gnar desta duzentos mi l rei s/ e no fi m do mês de N ovembro que vem deste mesmo/ anno nos obri garmos a dar-l he cento e ci nquenta mi l rei s, e outra tanta quanti a de cento e ci nquenta mi l réi s mo meado do mês de Feverei ro que vem de setecentos e ci nquenta e sete e os cem mi l rei s que fal tam para com/pl etar os sei scentos mi l nos obri gamos a l hos sati sfazer no fi m da obra estar acabada e assentada/ e será el l e di to mestre obri gado a compri r as obri gações segui ntes; ha de ser a obra fei ta de pi nho de fl andres/ sem mago ou curração [si c] al guma, e toda a peça que l evar tem obri gação de fazer outra a sua custa que esta hé a pri nci pal condi ção da obra. E será fei ta pel l a pl ânta e cul una que esta/ assi gnada pel l o Pri or do di to Convento, e também/ de fazer hum trono para a caza da trubuna que este [?] / [fl . 3 2 v. º] este e a arqueri a da di ta obra será fei ta pel o Ri sco/ também assi gnado pel o di to pri or; e de fazer os pe/destai s de madei ra com zi mal has e al mofadas como se costuma; e porá no l ado do al tar hu/ma porta com se tem aj ustado para serventi a/ da caza da trebuna, e de fazer na mesma caza da/ trebuna toda ental hada, adverti ndo que a tal ha/ que fi zer no tecto ha de

ser na mesma madei ra e peça e não suporta [?], e de mandar romper a parede para no vão del l a se fazer a di ta caza/ da trebuna; e de fazer escada para subi r ao trono/ e de rebachar os degraus do al tar mor, e pucha/dos fora no nível dos al tares cul aterai s que/ hão de ser só doi s degraus que el l e di to mestre ental hador [i l egível ] terá obri gação de pagar aos pedrei ros dos j ornai s e todos os avi amentos necessári os de cal , pedra, tei o [si c] e arei a sem fi car contas del l es aos Rel i gi osos; e fará também o di to mestre hum oratóri o sei s/tadado [si c] para nel l e se cul ucar N ossa Senhora dos Re/médi os, e sem ental hado ou respal do do di to orato/ri o, o qual se ha de por onde o reverendo pri or detre/mi nar, e de fazer hum sacrari o a i mi tação/ do da cappel a mor da I grej a do Convento N ovo no/ cazo que o oratóri o da Senhora não fi que sobre/ a banqueta; os ni xos dos santos serão também à i mi tação dos que estão na mesma capel l a mor/ do Convento N ovo, e toda a obra será ental hada com/ tal ha franceça e mai s nova que hoj e se usa; e fa/rá a banqueta do al tar mor de cumpri mento tal / que poça l evar quartel l as ental hadas que el l e di to mestre há de fazer; e as quartel l as deba/cho das col unas serão como as dos al tares cul ateraes do Convento N ovo, e mi l hor se

83


puder ser; e também fará mai s o cachão do Al tar-mor com/ a madei ra que tem o vel ho, no cazo que estej a capaz, e com mai s tábuas que do Retabul l o vel ho/ se ti raram que el l es Rel i gi osos l he darão para o di to efei to; e será mai s obri gado a dar a obra acabada no fi m do/ mês de dezembro que vem do di to anno de mi l setecentos e ci nquenta e sete [fl . 3 3 ] para nel l a se fazer a função/ das Enduenças, e cazo que fal tem al gumas couzas para seu compri mento como se poça nel l a fa/zer a função di ta sem emprefei ção/ porque podera su/ceder fal tarem al gumas fri zos na tal obra que l e/vem al gumas semanas de trabal ho depassadas as/ em avenças e que pudera acabar sem que tenha per/ti mento al gum e l he concedem tres semanas depoi s/ de pazarem a di ta Endoenças porem sempre/ obri gado a por a di ta obra com tremos [?] que se faça nel l a/ a sobredi ta função de Emdoenças com as decl ara/çoi s assi ma di tas e fal tando a el as não aver el l e di to/ meste l evar mai s de qui nhentos mi l rei s pel l a di ta/ obra, e os cem mi l rei s da el l e di to mestre ental hador/ de esmol a a N ossa Senhora dos Remedi os e os di tos re/l i gi osos assei tarão a di ta condi ção sem obri gação de per/der o cem mi l rei s cazo que na obra não faça a di ta fun/ção das Endoenças que fazendo-se não tem obri gação/ de perder coi za al guma os cem mi l rei s assi ma di to nem/ de os dar de esmol l a cazo que o di to mestre ental hador/ não ache carpi ntei ros para l he trabal harem na di ta/ obra tessera [?] el l e di to

reverendo padre pri or a por-l hos pr/ontos, e fal tando a esta condi ção não tera obri ga/ção de dar a obra fei ta pera o tempo assi nal l ado, e/nesta forma se contratarão estas partes e em/ tudo, por tudo prometi ão compri r e guardar e/ contra el l e não al l egarem embargos e em fee e tes/temunho de assi m doutras assei tarão/ e outrossi m deve el l e di to Sebasti ão de Abreu que seguran/ça deste comtrato e cal uzul l as del l e dava por/ seu fi ador a seu cunhado J eróni mo Ri bei ro merca/dor de pano de l i nho morador na Rua Ancha desta/ ci dade que prezente estava pessoa reconheci da de/ mi m tabel i am e por el l e de foi di to fi cava por fi ador do di to/ seu cunhado a segurança deste comtrato para/ o que obri gava sua pessoa e bens e assi m o a assei /tarão el l es di ttos reverendos rel i gi osos e sendo pre/zentes por testemunhas assynatura desta/ [fl . 3 3 vº] [i l egível ] Rodri gues e Manoel [i l egível ] desta que aqui assi narão [i l egível ] [assi naturas] Pri or Antóni o de São J osé Pri or/ Frei J osé de Santa Eufrozyna savari o/Sebati am de Abreu Frei do Sacramento savari o/ Frei Manuel do N asci mento/Frei J ose Ros H ol gl o [?] H i eroni mo Ri bei ro/

ADE. CN E. Tabelião Lourenço Francisco Barbosa, livro 111 7, fls. 32-33 v.º.


BIBLIOGRAFIA

ARAÚ J O, 2 01 3 . Paul i na Margari da Rodri gues ARAÚ J O, Câmara Ecl esi ásti ca de Évora. Catál ogo/I nventári o. Tese de Mestrado apresentada à Uni versi dade de Évora. BARATA, 1 897. Antóni o Franci sco BARATA, Obras de tal ha em Évora i n N oi tes de Évora. Mi scel l anea poéti ca, românti ca e de vari a hi stori a. Évora, 1 897. BORG ES, 2 003 . Artur G oul art de Mel o BORG ES, A confrari a de N ossa Senhora do Rosári o i n Tesouros de Arte e Devoção. Évora: Fundação Eugéni o de Al mei da, 2 003 . BORG ES, 2 005. Artur G oul art de Mel o BORG ES, “As obras da nova Capel a-mor da Sé – escol a de arti stas”, Eborensi a, n. º 3 5, 2 005, pp. 1 53 – 1 90. CAETAN O e SI LVA, 1 993 . J oaqui m Ol i vei ra CAETAN O e Nuno Vassal o SI LVA , “Breves notas para o estudo do arqui tecto J oão Antunes” i n Pol i grafi a, n. º2 . Li sboa, 1 993 . CARVALH O, 1 960-62 . Armi ndo Ayres de CARVALH O, D. J oão V e a Arte do seu Tempo. Li sboa: Edi ção do Autor, 1 960-62 . CARVALH O, 2 01 2 . Mari a do Rosári o Sal ema Cordei ro Correi a de CARVALH O, A pi ntura do azul ej o em Portugal [1 675-1 72 5]. Autori as e

bi ografi as - um novo paradi gma. Texto pol i copi ado. Li sboa: tese de doutoramento em H i stóri a da Arte apresentada à Facul dade de Letras da Uni versi dade de Li sboa, 2 01 2 . ESPAN CA, 1 950. Túl i o ESPAN CA, “Artes e Arti stas em Évora no sécul o XVI I I ” i n A Ci dade de Évora, ano VI I , n. ºs 21 -2 2 , J anei ro-J unho de 1 950. Évora: Câmara Muni ci pal de Évora. ESPAN CA,1 966. Túl i o ESPAN CA, I nventári o Artísti co de Portugal , Concel ho de Évora. 2 vol umes. Li sboa: Academi a N aci onal de Bel as Artes, 1 966. ESPAN CA, 1 983 -1 985. Túl i o ESPAN CA, “Documentos N otari ai s i nédi tos e arti stas al entej anos dos sécul os XVI , XVI I e XVI I I ” i n A Ci dade de Évora, ano XL-XLI , n. ºs 67-68, 1 983 1 985, pp. 99-1 2 6. Évora: Câmara Muni ci pal de Évora. ESPAN CA, 1 986-1 987. Túl i o ESPAN CA, “Memóri a da vi da e morte do 1 0º arcebi spo de Évora D. Frei Luís da Si lva Tel es” i n A Ci dade de Évora, n. ºs 69-70, anos XLI I I -XLI V, pp. 1 2 51 87. Évora: Câmara Muni ci pal de Évora, 1 9861 987. FERREI RA, 2 009. Sílvi a FERREI RA, A Tal ha Barroca de Li sboa (1 670-1 72 0). Os arti stas e as obras. Tese de doutoramento em H i stóri a – especi al i dade Arte, Patri móni o e Restauro apresentada à Facul dade de l etras da Uni versi dade de Li sboa, 2 009.

85


FERREI RA-ALVES, 1 989. N atál i a Mari nho FERREI RA-ALVES, A Arte da Tal ha no Porto na Época Barroca. Arti stas e Cl i entel a, Materi ai s e Técni ca, Porto, Câmara Muni ci pal do Porto, 1 989 FLOR, 2 01 0-2 01 1 . Susana Varel a FLOR, “As rel ações artísti cas entre pi ntores a ól eo e de azul ej o perspecti vadas a parti r da ofi ci na de Marcos da Cruz (c. 1 637-1 683 )” i n Arti s Revi sta do I nsti tuto de H i stóri a da Arte da Facul dade de Letras da Uni versi dade de Li sboa, I H AFLU L, nº 9/1 0, 2 01 0/2 01 1 , pp. 2 91 -3 07. G U ERREI RO, 1 979. Al cântara G U ERREI RO, Subsídi os para a H i stóri a da Santa Casa da Mi seri córdi a de Évora, nos sécul os XVI I a XX, 3 º vol ume, 1 667-1 91 0. Évora: Mi seri córdi a de Évora, 1 979. H I LL, 1 998. Marcos H I LL, A Tal ha Barroca em Évora. Sécul os XVI I -XVI I I . Évora: Centro de H i stóri a da Arte, 1 998. H ERRERA GARCÍA, 2 001 . Franci sco Xavi er H ERRERA GARCÍA, El Retabl o Sevi l l ano en l a Pri mera Mi tad del Si gl o XVI I I . Sevi l ha: Di putaci on de Sevi l l a, 2 001 . LAMEI RA, 2 000. Franci sco I l defonso LAMEI RA, A Tal ha no Al garve durante o Anti go Regi me. Faro: Câmara Muni ci pal de Faro, 2 000. LAMEI RA, 2 004a. Franci sco I l defonso LAMEI RA, “O retábul o barroco no concel ho de Montemoro-N ovo” i n Al mansor, Revi sta de Cul tura, 2 ª

séri e, n. º3 , pp. 1 2 9-1 73 (em col aboração com J orge Fonseca). Montemor-o-N ovo: Câmara Muni ci pal de Montemor-o-N ovo, 2 004. LAMEI RA, 2 004b. Franci sco I l defonso LAMEI RA, “Contri bui ções para o estudo do retábul o barroco no Al entej o: a ofi ci na do i nsi gne escul tor Manuel de Abreu do Ó” i n Promontori a. Revi sta do Departamento de H i stóri a, Arqueol ogi a e Patri móni o da Uni versi dade do Al garve. Faro, 2 004. LAMEI RA, 2 006. Franci sco I l defonso LAMEI RA, O retábul o da Companhi a de J esus em Portugal : 1 61 9-1 759. Faro: Departamento de hi stóri a, Arqueol ogi a e Patri móni o da Uni versi dade do Al garve. LAMEI RA, 2 009. Franci sco LAMEI RA e Sílvi a FERREI RA, “Os antecedentes artísti cos de Caetano da Costa. A fase l i sboeta”, i n Laboratori o de Arte, Revi sta del Departamento de H i stori a del Arte, n. º 2 0. Sevi l ha: Uni versi dad de Sevi l l a, 2 009. LAMEI RA E SERRÃO, 2 005. Franci sco LAMEI RA e Vítor SERRÃO, “O retábul o em Portugal : o Barroco Fi nal (1 71 3 -1 746)” i n Promontori a. Revi sta do Departamento de H i stóri a, Arqueol ogi a e Patri móni o da Uni versi dade do Al garve. Faro, 2 005. LU CAS, 2 004. Franci sco J osé Ol ei ro LU CAS, “O Retábul o de S. Pedro na I grej a Matri z do Montij o”, i n Arti s Revi sta do I nsti tuto de H i stóri a da Arte da Facul dade de Letras da


Uni versi dade de Li sboa, I H AFLU L n. º 3 , 2 004. MAN G U CCI , 2 003 ª. Antóni o Cel so MAN G U CCI , Tal ha, azul ej os e pi ntura: a i conografi a da Mi seri córdi a em Évora, comuni cação apresentada ao encontro “As Mi seri córdi as como fonte de Cul tura”. Câmara Muni ci pal de Penafi el . MAN G U CCI , 2 003 b. Antóni o Cel so MAN G U CCI , “A Estratégi a de Bartol omeu Antunes: mestre l adri l hador do Paço (1 6881 753 )”. Al -Madan, I I ª séri e, n. º 1 2 , Dezembro 2 003 , pp. 1 3 5-1 48. MAN G U CCI , 2 008. Antóni o Cel so MAN G U CCI , “Franci sco da Si lva, Antóni o de Ol i vei ra Bernardes e Franci sco Lopes Mendes na I grej a da Mi seri córdi a em Évora”, i n Cenácul o, Bol eti m on l i ne do Museu de Évora, n. º 3 , 2 008 MAN G U CCI , 2 01 0. Antóni o Cel so MAN G U CCI , “A Tal ha mai s moderna. O percurso artísti co de Manuel e Sebasti ão Abreu do Ó, em Évora”, Cenácul o. O Bol eti m on l i ne do Museu de Évora, n. º 4, Setembro de 2 01 0. Évora: Museu de Évora MAN G U CCI , 2 01 3 . Antóni o Cel so MAN G U CCI , A i conografi a de São Lourenço J usti ni ano nos azul ej os dos conventos Lói os de Évora e Arrai ol os. Évora: Centro de H i stóri a da Arte e I nvesti gação Artísti ca e Rota do Azul ej o no Al entej o, 2 01 3 .

MAN G U CCI , 2 01 4. “Sob o i mpéri o da Retóri ca. Os programas i conográfi cos de Santi ago e São Mamede de Évora” i n I N VEN I RE, Revi sta dos Bens Cul turai s da I grej a, n. º 8, pp. 44-55. Li sboa: Secretari ado N aci onal dos Bens Cul turai s da I grej a, 2 01 4. MAN G U CCI , 2 01 4. Antóni o Cel so MAN G U CCI , “Anatomi a da Arqui tectura da I grej a da Col egi ada de Santi ago de Évora” i n Bol eti m do Arqui vo Di stri tal de Évora, nº 1 , pp. Évora: Arqui vo Di stri tal de Évora. MARTI N G ON ZÁLEZ, 1 987. J . J . MARTI N G ON ZÁLEZ, El Retabl o en Portugal . Afi ni dades y di ferenci as com l os de España i n Actas do Si mpósi o As rel ações artísti cas entre Portugal e Espanha na época dos Descobri mentos. Coi mbra, 1 987. RODRÍG U EZ CEBALLOS 1 987-1 989. Al fonso RODRÍG U EZ CEBALLOS, “El retabl o barroco en Sal amanca: materi al es, formas, ti pol ogías” i n I MAFRON TE, n. ºs 3 -4-5, 1 987-88-89, pp. 2 3 9 e 242 . SALDAN H A, 2 01 3 , Sandra Costa SALDAN H A, Franci sco J orge da Costa e os ci cl os i conográfi cos para o convento do Santíssi mo Coração de J esus. Ci cl os de I conografi a Cri stã na Azul ej ari a. Actas do I Col óqui o Sacrae I magi nes, pp. 1 05-1 1 1 . Li sboa: Secretari ado N aci onal para os Bens Cul turai s da I grej a, 2 01 3 . SERRÃO, 1 996-1 997. Vítor SERRÃO, “O

87


Concei to de Total i dade nos espaços do Barroco N aci onal : a obra da i grej a de N ossa Senhora dos Prazeres em Bej a (1 672 -1 698)”, i n Lusofoni a, Revi sta da Facul dade de Letras, 5ª séri e, n. º 21 -2 2 , pp. 2 3 5-2 67. Li sboa: Facul dade de Letras da Uni versi dade de Li sboa, 1 996-1 997. SERRÃO, 1 998-1 999. Vítor SERRÃO, “Franci sco Nunes Varel a e as ofi ci nas de pi ntura em Évora no sécul o XVI I , i n A Ci dade de Évora, I I ª séri e, n. º 3 , pp. 85-71 . Évora: Câmara Muni ci pal de Évora, 1 998-1 999. SERRÃO, 1 999. Vítor SERRÃO, “Um desenho de Fernão G omes, para o Mostei ro da Scal a Coel i de Évora”, Monumentos. Revi sta Semestral de Edi fíci os e Monumentos, n. º 1 0, 1 999. SERRÃO, 2 003 . Vítor, SERRÃO, H i stóri a da Arte em Portugal . O Barroco. Li sboa: Edi tori al Presença, 2 003 . SERRÃO, 2 01 2 . Vítor SERRÃO, O “brutesco naci onal ” e a pi ntura de azul ej os no tempo do Barroco (1 640-1 72 5) i n Catál ogo da Exposi ção Um gosto português. O uso do azul ej o no sécul o XVI I , pp. 1 83 -2 00. Li sboa: Museu N aci onal do Azul ej o, 2 01 2 . SMI TH ,1 962 . Robert SMI TH , A Tal ha em Portugal . Li sboa: Li vros H ori zonte, 1 962 . SOBRAL, 1 999. Luís de Moura SOBRAL, Un bel composto: a obra de arte total do pri mei ro

Barroco português i n Struggl e for Synthesi s. A Obra de Arte Total nos sécul os XVI I e XVI I I , edi tado por Luís de Moura Sobral e Davi d W. Booth, vol ume I , pp. 3 03 -31 5. Li sboa: Mi ni stéri o da Cul tura e I nsti tuto Português do Patri móni o Arqui tectóni co, 1 999. SOROMEN H O, 1 999. Mi guel SOROMEN H O, “As possívei s fontes ti pol ógi cas da fachada da I grej a” i n Monumentos, Revi sta Semestral de Edi fíci os e Monumentos, n. º 1 0, Li sboa, 1 999. VALLECI LLO TEODORO, 1 995-1 996. Mi guel Ángel VALLECI LLO TEODORO, “Centros Artísti cos y Esbozo de Arti stas en el Al toAl entej o” i n Cal l i pol e, n. º 3 /4, Vi l a Vi çosa, 1 995-1 996. VALLECI LLO TEODORO, 1 996. Mi guel Ángel VALLECI LLO TEODORO, Retabl ísti ca al to al entej ana (Elvas, Vi l l avi ci osa y Ol i venza) en l os si gl os XVI I -XVI I I . Méri da: Uni versi dad N aci onal de Educaci ón a Di stanci a e Centro Regi onal de Extremadura, 1 996.



ARQUIVO DISTRITAL DE ÉVORA


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.