3 minute read
ARTE VISUAL – Willy Valenzuela
De Willy ao povo Tupinambá
por Antônio da Cruz
Advertisement
Apandemia do Coronavírus, surgida em 2019, esgarçou o tecido social que já era roto e colocou em xeque a segurança sanitária do país e do mundo. Até hoje há luto e pranto pelos mortos, na ordem de centenas de milhares. A economia tendeu a entrar em crise. Nos países centrais os governos criaram condições para que empresas não fechassem e evitaram assim o colapso total.
No turbilhão no qual o Brasil foi envolvido, o governo federal não seguiu os passos do bom senso. Primeiro negou a existência da doença, depois a compra de vacinas e a ajuda financeira aos trabalhadores, médios e pequenos empresários. Os artistas pararam porque o público teve de se isolar. Sem público não fazia sentido existir espetáculos nem exposições. “É proibido aglomerar” era palavra de ordem. Bateu o desespero com as contas por pagar e até com as refeições de cada dia.
Coube à oposição política ao governo soprar bons ventos. Uma lei emergencial de caráter assistencial foi imposta ao governo federal, reticente em atender ao apelo desesperado do povo. Mesmo com o auxílio emergencial aprovado pelo congresso para mitigar a situação dos trabalhadores, em geral desempregados, os artistas continuavam no seu desespero.
Mais uma vez a oposição entrou em cena e criou a Lei nº 14.017, de 29 de junho de 2020, da deputada Benedita da Silva. Em homenagem ao poeta, escritor e compositor, a lei foi carinhosamente denominada de Lei Aldir Blanc, artista falecido, então, pouco antes.
Foram liberados R$ 3 bilhões de verba represada pelo governo no Fundo Nacional de Cultura. O crédito foi dividido em R$ 1,5 bilhão para os estados e em R$ 1,5 bilhão para os municípios brasileiros. Com a Lei Aldir Blanc chegaram os benfazejos ares do incentivo cultural às terras de Serigy.
O que se viu com a distribuição de recursos pela Funcap, no estado e pelos municípios e seus respectivos órgãos de cultura, vindo via Lei Aldir Blanc, foi a produção artística ser ampliada largamente em todas as linguagens e o Estado de Sergipe ter obras de arte em vários pontos. Uma dessas obras, de porte monumental, foi o conjunto escultórico do artista visual Willy Valenzuela, chileno naturalizado brasileiro que habita estas plagas desde meados da década de noventa. Instalada bem próxima da estação de embarque do teleférico, logo no início do Parque da Cidade, a obra intitulada “Homenagem aos índios sergipanos Aperipê e Serigy” tem dois metros e meio de altura e pode ser vista por quem passa pelo caminho que leva ao interior do parque. O conjunto encanta pela beleza e elegância. O artista usou na infraestruturação da peça o aço. A modelagem foi feita em espuma de poliuretano maciça, sendo a conclusão com fibra de vidro e resina, e, sobre esta, tinta acrílica, o que lhe confere cor preta opaca. Willy optou em fazer homenagem aos habitantes originários de Sergipe por razões próprias, mas também lembra que, há treze anos, quando ainda aluno do curso de arquitetura, um dos seus professores, o Fernando Antônio, sugeriu-lhe propor ao governo uma obra cujo tema fosse os indígenas sergipanos, por haver uma história de heroísmo dos Tupinambás, nação a qual pertenciam os referidos originários da Terra Brasilis nesta região litorânea. Neste sentido a Lei Aldir Blanc veio a calhar.
Na sua representação, o artista produziu duas figuras humanas masculinas com adornos, em posições descontraídas a brincar com aves. Um representa Aperipê e o outro Serigy, lideranças que, entre outras de igual bravura, enfrentaram a invasão portuguesa às suas terras. Sob o ponto de vista do artista, os indígenas são sinônimos de harmonia. “Na semiótica essa obra remete à pureza e ao esplendor de dois símbolos da história sergipana na resistência à invasão portuguesa. A poética dessa cena retrata um estado puro e pleno da alma guerreira dos heróis da nossa história em convívio profundo com a natureza intocada”, conclui Willy.
Antônio da Cruz é Artista, ativista do Fórum Permanente de Artes Visuais de Sergipe