Parte integrante da edição 234 da Revista Arte & Construção
Suplemento Energias Renováveis 2010
energias renováveis A Estratégia Nacional de Energia (ENE 2020) tem como principal aposta as energias renováveis, sector onde serão gastos 19 mil milhões de euros. Na mobilidade eléctrica o investimento será de três mil milhões, com o propósito de substituir 10% do consumo de combustíveis.
EDITORIAL
REVOLUÇÃO EM MARCHA A aposta nacional no sector energético é cada vez mais uma certeza. Até 2020, o Governo quer investir 32 mil milhões de euros em energia para reduzir a dependência externa, aumentar a eficiência energética e estimular o emprego. A Estratégia Nacional de Energia (ENE 2020) define cinco eixos de actuação: competitividade, crescimento e independência energética e financeira; a aposta em energias renováveis; a promoção da eficiência energética; a garantia de segurança de abastecimento; e a promoção da sustentabilidade económica e ambiental. A estratégia tem como principal aposta as energias renováveis, sector onde serão gastos 19 mil milhões de euros. Na mobilidade eléctrica o investimento será de três mil milhões, com o propósito de substituir 10% do consumo de combustíveis. Além disso, o Governo pretende mais do que duplicar a potência eólica instalada, aumentando-a para 8.500 megawatts dentro de dez anos, e ampliar 10 vezes a potência de energia solar instalada, passando de 150 para 1500 megawatts. A estratégia prevê 8.600 megawatts de energia hídrica para 2020, além da instalação de 650 MW de mini-hídricas. Outra das metas é diminuir a factura em termos de custos de importação de combustíveis fósseis, em cerca de dois mil milhões de euros anuais. Apesar da contenção exigida pelo Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), José Sócrates garantiu, durante a apresentação da ENE, a manutenção de todos os projectos importantes do plano anterior, estimando criar 121 mil empregos na área da energia nos próximos 10 anos. O plano energético mantém prevista a construção de 1.300 pontos de carregamento de carros eléctricos até ao próximo ano, bem como a aposta em novas centrais de ciclo combinado, parques eólicos e reforços de potência nas barragens. O primeiro-ministro assegurou que, deste modo, "Portugal não vai aceitar ficar para trás perante uma revolução que está em marcha no mundo”. Esperemos que as empresas nacionais consigam acompanhar esta revolução.
Directora: Chantal Florentino chantal.florentino@arteconstrucao.com; Redacção: Sofia Dutra sofia.dutra@arteconstrucao.com, Raquel Rio raquel.rio@arteconstrucao.com; Colaboram neste suplemento: Mariana Correia; Publicidade: Duarte Mourato (Director) duarte.mourato@arteconstrucao.com; Jorge Humberto jorge.humberto@arteconstrucao.com; Marketing: Pedro Nunes pedro.nunes@mtg.pt; Assinaturas: assinaturas@arteconstrucao.com; Paginação: mtg - Edição e Publicidade, Lda. geral@mtg.pt; Website: www.arteconstrucao.com; Fundador da revista: António Esteves; Propriedade e Edição: mtg - Edição e Publicidade, Lda. Centro Empresarial Tejo - Rua de Xabregas, 20 - 2º Sala 10 • 1900-440 Lisboa • Tel. 218650070 • Fax. 218650079 • Email: geral@mtg.pt • Cap. Social: € 5.000,00 • NIPC: 507 958 373; Orgãos Sociais: Duarte Mourato - 50%; Chantal Florentino - 25%; Pedro Nunes - 25%; Execução Gráfica: Socingraf, Lda. • Rua de Campolide, 133 - 1º Dto. - 1070-029 Lisboa • Tel.: 213 838 920 • Fax: 213 838 929; Publicação Mensal: Tiragem: 10 500 exemplares; Distribuição: VASP; Venda por assinaturas (IVA incluído 5%): Portugal: € 45,50/ano; Os artigos assinados, apenas veiculam as posições dos seus autores; ICS Nº 114748/90; Número Depósito Legal 41713/90; ISSN 0873-5271. Este suplemento é parte integrante da edição 234 da Revista Arte & Construção. Não pode ser vendido nem distribuido em separado.
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Sofia Dutra Jornalista
SUMÁRIO
sumário 03
EDITORIAL
04
SUMÁRIO
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ENTREVISTA Tiago Gaio
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ENERGIAS RENOVÁVEIS Benefícios sociais e ambientais
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ACTUALIDADE
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SUSTENTABILIDADE Conceito e desenvolvimento
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PRODUTOS
suplemento
energias renováveis 06
Entrevista Tiago Gaio
18 Sustentabilidade: 4 | Arte & Construção_Suplemento Energias Renováveis
Conceito e Desenvolvimento REUNINDO OS 15 MUNICÍPIOS DO DISTRITO DE PORTALEGRE, A AREANATEJO – AGÊNCIA REGIONAL DE ENERGIA E AMBIENTE DO NORTE ALENTEJANO E TEJO – VISA PROMOVER A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E A UTILIZAÇÃO DE FONTES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS. SEGUNDO TIAGO GAIO, DIRECTOR TÉCNICO DA AGÊNCIA, A ACÇÃO PASSA MUITO PELA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA, COM O OBJECTIVO DE REDUZIR OS CUSTOS E OS CONSUMOS, SOBRETUDO DOS MUNICÍPIOS.
MUITO SE TEM PUBLICITADO SOBRE SUSTENTABILIDADE E ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, MAS POUCO SE TEM REALMENTE DISCUTIDO SOBRE A TEMÁTICA ABRANGIDA. QUANDO É TÃO PROFUSA A REALIZAÇÃO DE SEMINÁRIOS OU EVENTOS SOBRE SUSTENTABILIDADE NA ARQUITECTURA SÃO EM GERAL, APRESENTADOS CASOS PONTUAIS, QUE GLOBALMENTE SÃO ENTENDIDOS PELOS SEUS AUTORES, COMO PROJECTOS ECOLÓGICOS E/OU SUSTENTÁVEIS. MAS PODEREMOS REALMENTE CONSIDERAR UM PROJECTO QUE INTEGRA ALGUMAS COMPONENTES DE SISTEMAS PASSIVOS, ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL?
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entrevista
tiago gaio
areanatejo quer promover energias renováveis TExTo dE SofiA duTRA
/// Reunindo os 15 municípios do distrito de Portalegre, a AREANATejo – Agência Regional de Energia e Ambiente do Norte Alentejano e Tejo – visa promover a eficiência energética e a utilização de fontes de energias renováveis. Segundo Tiago Gaio, director técnico da Agência, a acção passa muito pela eficiência energética, com o objectivo de reduzir os custos e os
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consumos, sobretudo dos municípios.
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EntrEvista
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entrevista
tiago gaio
Arte & Construção – Quais os objectivos da AREANATejo?
projectistas de sistemas solares térmicos e de projectistas de redes de gás.
Tiago Gaio – Tal como qualquer uma das 25 agências de energia existentes a nível nacional, a AREANATejo tem por missão desenvolver actividades, projectos e iniciativas de modo a promover a eficiência energética e a utilização de fontes de energias renováveis. A Agência reúne os 15 municípios do distrito de Portalegre.
Organizamos vários seminários e workshops ao longo do ano, para um público-alvo técnico, além de workshops e ateliers para miúdos.
A AREANATejo estruturou a sua estratégia de actuação em três áreas temáticas (energia, ambiente e mobilidade) apoiadas por uma área transversal (sensibilização), procurando, por um lado, dar resposta às necessidades e ambições da região e, por outro, apoiar a evolução e o progresso inerentes a assuntos tão actuais como a energia, o ambiente ou a mobilidade. Além da formação, que tipo de eventos desenvolvem? Temos um plano de formação com cursos na área da certificação energética de edifícios, de
Na iniciativa “Miúdos com energia” organizamos ateliers de construção de carrinhos solares e temos um jogo de trivial da energia e do ambiente, que levamos às escolas (a partir do primeiro ciclo). Quais os principais projectos que têm desenvolvido? A principal acção da AREANATejo na área da energia do ambiente – onde somos mais activos – passa muito pela eficiência energética, com o objectivo de reduzir os custos e os consumos, principalmente dos municípios. Entre os nossos principais projectos destaco: a melhoria da eficiência da iluminação pública (que é uma considerável fatia dos custos de energia dos municípios); a substituição das
lâmpadas por LED nos semáforos; sistemas solares térmicos nas piscinas para redução dos consumos e custos com gás; e a questão do solar fotovoltaico, principalmente a adesão à micro-geração (instalação de pequenos sistemas nos edifícios municipais). Além disso, estamos a fazer um mapeamento da região em termos de potencial eólico para instalação de parques eólicos. É um projecto que temos vindo a desenvolver para tentar captar investimento na nossa região, porque no distrito ainda não existe um único aerogerador. Está previsto um parque que será instalado em Portalegre a partir do final deste ano. Na área de gestão de recursos, os principais projectos em curso têm a ver com o ambiente. O projecto Mekus consiste no desenvolvimento de uma plataforma de e-learning para gestores de PME, com o objectivo de dentro das empresas melhorarem a sua competitividade e simultaneamente a sua pegada ecológica. O projecto Retaler visa promover uma rede de
EntrEvista
PEnso quE a Evolução da moda, da tEcnologia E do mErcado tEm vindo a acomPanhar a informação E sEnsibilização
O projecto que consideramos o chapéu da AREANATejo é o CO2Zero. Na primeira fase incluiu a elaboração das matrizes energéticas, que são uma fotografia por município, que contabiliza o tipo e o consumo de energia por sector e por tipo de energia, podendo nós depois identificar quais os sectores com maior consumo e aqueles onde se justifica uma maior intervenção. Esta primeira fase abriu-nos o horizonte e candidatámos um projecto ao QREN, ao IN Alentejo, o Programa Operacional do Alentejo, que foi aprovado, que se chama Norte Alentejo sustentável. Dentro desse projecto incluem-se três acções principais: a Carta da Energia, que é uma espécie de matriz energética dinâmica, que permite transformar os dados estáticos das matrizes energéticas desenvolvidas numa ferramenta on-line, que é actualizada ao longo dos anos; a criação do observatório regional
para a energia, que vai ser instalado na sede do Parque Natural da Serra de S. Mamede, é uma espécie de quiosque informático para divulgação dos resultados da Carta e das temáticas de sensibilização ligadas à energia e ao ambiente, terá um espaço de consulta, uma mini-biblioteca e um espaço lúdico, integrado no roteiro do parque; e uma acção de mapeamento da região em termos de potencial energético, congregando as acções destes projectos. A AREANATejo é coordenadora da REPECEE – Rede de Promoção da Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica. Como é feita a coordenação das 12 agências? A REPECEE é uma medida financiada a 100% pelo PPEC (Plano de Promoção da Eficiência no Consumo), da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos). É o primeiro projecto que surge nesta área que agrega um tão grande número de agentes tão directamente envolvidos a nível nacional como são as agências. O Atlas da Energia é uma das acções neste âmbito.
Não é fácil coordenar as 12 agências, mas é motivador ver dar continuidade a parcerias entre agências de todo o país que até então não se conheciam e não comunicavam, e neste momento partilham sucessos, dificuldades, motivações, etc. Essa plataforma colaborativa é muito positiva. A REPECEE desenvolve três acções: a plataforma colaborativa; o Atlas da Energia; e um web marketplace, que informa as populações e as empresas da região de quem são os agentes de mercado a que devem recorrer se necessitarem de apoio na área da energia. Nota que os municípios são mais sensíveis à causa energética? Bastante. Podemos ser todos muito pró-ambiente, mas o que conta são os euros. Se uma determinada iniciativa não for rentável, não é implementada, salvo raras excepções. Temos vindo a assistir a uma redução dos custos de investimento e dos equipamentos de energia, a uma melhoria da tecnologia, das per-
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cooperação entre Portugal e Espanha para as energias renováveis. A nós cabe-nos a instalação do solar térmico e a medição do potencial eólico.
entrevista
tiago gaio
formances, o que ajuda. Por exemplo, o preço dos painéis fotovoltaicos desceu para cerca de metade em pouco mais de três anos e têm vindo a emergir novos materiais e novos sistemas, que têm permitido às renováveis serem mais eficientes do ponto de vista económico, para poderem ser implementadas.
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Penso que a evolução da moda, da tecnologia e do mercado tem vindo a acompanhar a informação e sensibilização e nós, no norte Alentejo, também temos vindo a aumentar a implementação de medidas nesta área. Há uma maior sensibilização por parte dos autarcas, porque hoje também o ser verde dá votos, posiciona a Câmara Municipal num determinado patamar a nível nacional e até mesmo europeu, dependendo das ambições de cada, e permite que essa consciencialização até mesmo dos próprios munícipes se destaque perante os restantes. Quais os principais erros que os municípios fazem a nível de eficiência energética? Na fase de projecto e execução da obra, há muitos erros que são cometidos nos vários sectores: por exemplo na iluminação pública, pela má escolha de equipamentos ou do projecto luminotécnico, que depois vai prejudicar em termos de utilização, porque pode haver
Podemos ser todos muito Pró-ambiente, mas o que conta são os euros.
excesso ou défice de iluminação. Em termos de edifícios, as questões de projecto ligadas ao isolamento, materiais utilizados, sistemas de climatização ou iluminação, vão influenciar os consumos de energia no futuro. Aí entra o utilizador do edifício: se usa racionalmente a energia e se pode consumir menos para obter a mesma eficiência. Há algum erro mais comum aos vários municípios? O erro passa um pouco pelas politicas em termos de procedimentos para a implementação de uma determinada obra. Por exemplo, quando se abre um concurso público, nos critérios
de adjudicação o grande peso está no factor custo. E as tecnologias que são mais eficientes normalmente têm a tendência de ser um pouco mais caras. Ora a obra que é adjudicada acaba por incluir os sistemas menos onerosos e menos eficientes também. Portanto, muitas vezes, não é um erro dos municípios, é uma reacção do mercado funcionar assim. Quais os desafios que a AREANA Tejo enfrenta? Este tipo de associações ou agências tem que ter em conta a sua sustentabilidade económica. A dificuldade das agências criadas ao abrigo do financiamento da Comissão Europeia está no período pós financiamento em manter a agência em funcionamento. A subsistência económica garante-se com um bom posicionamento a nível da região sobre a missão da entidade. No caso da AREANA Tejo, o principal desafio já não é dar resposta aos municípios, porque esse está perfeitamente cumprido, mas dar cumprimento às necessidades da região nas matérias ligadas especialmente à certificação energética de edifícios e ao apoio energético nas mais variadas áreas. O nosso principal desafio é sermos uma entidade de referência a nível regional para as áreas da energia e do ambiente.
EnErgias rEnovávEis
BEnEfícios sociais E amBiEntais
Dois milhõEs DE EmprEgos até 2020 TExTo dE ChAnTAl floREnTino
/// Criar dois milhões de empregos até 2020 e reduzir as emissões de dióxido de carbono em 90% até 2050 é o que a União Europeia espera das energias renováveis. Portugal acompanha esta aposta e consegue, em Fevereiro 2010, uma potência instalada renovável de 9 145 MW.
o
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número de pessoas a trabalhar na indústria das energias renováveis na União Europeia deverá subir dos 550 mil atingidos em 2009 para os dois milhões em 2020. Esta é uma das conclusões do estudo "Rethinking 2050. A 100% Renewable Energy for the European Union", recentemente apresentado em Bruxelas. Embora o estudo não apresente valores para Portugal, os cálculos do governo apontam para a criação 120 mil novos postos de trabalho nos próximos 10 anos. Para além de analisar os benefícios económico e social que podem decorrer de um forte investimento na indústria das energias renováveis, o estudo sublinha igualmente as vantagens ambientais desta aposta. Assim sendo, espera-se que a redução de
emissões de dióxido de carbono atinja os 30% em 2020 e cerca de 50% em 2030. Até 2050, a União Europeia (UE) acha possível reduzir as emissões em 90% face a 1990.
da” em Janeiro ao registar um aumento de 156% relativamente ao mês homólogo de 2008. Este incremento voltou a acontecer em Fevereiro, embora em menos escala (72%) .
PoTênCiA inSTAlAdA REnovávEl ATingE 9 145 MW
No mesmo período de tempo, a produção eólica cresceu 72% relativamente a igual período do ano anterior.
De acordo com a Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), a potência instalada renovável atingiu 9 145 MW em Fevereiro último, um valor que revela subidas na potência instalada eólica, fotovoltaica e de biogás, nos dois primeiros meses do ano. A produção total de energia eléctrica a partir de fontes de energia renováveis (FER) subiu 68% face ao período homólogo de 2009. Este aumento justifica-se, sobretudo, com o comportamento da componente hídrica que registou uma produção “excepcionalmente eleva-
A DGEG relembra que a significativa diferença entre as estatísticas de Dezembro de 2009 e Fevereiro de 2010 deve-se “à entrada em funcionamento de nove centrais sendo sete eólicas, uma de biogás e outra fotovoltaica”. A produção de energia eléctrica a partir de FER está concentrada no Norte do país, principalmente nos distritos de Viana do Castelo (1 080 MW), Bragança (1 063 MW), Viseu (1 007 MW), Coimbra (963 MW), Vila Real (783 MW), Braga (646 MW) e Castelo Branco (635 MW).
EnErgias rEnovávEis
Estratégia nacional para a EnErgia EnE2020 Na Estratégia Nacional para a Energia apresentada no dia 16 de Março, o governo revelou a sua aposta nas energias renováveis e a intenção de “cumprir os compromissos assumidos por Portugal no contexto das políticas europeias de combate às alterações climáticas , permitindo que, em 2020, 60% da electricidade produzida tenha origem em fontes renováveis e o consumo de energia final seja reduzido em 20%”. Neste âmbito, a estratégia traduz-se nos seguintes pontos: Biomassa • Dar prioridade à instalação efectiva da potencia já atribuída de 250 MW integrando mecanismos de flexibilidade na concretização dos projectos. • Aprovar medidas de promoção da biomassa florestal, assegurando a satisfação das necessidades de consumo já instalada e a instalar, nomeadamente através da agilização e o acesso aos apoios público, da promoção da certificação da gestão florestal sustentável e da avaliação da utilização e promoção de culturas energéticas, bem como da biomassa residual da actividade agrícola e agro-industrial para a produção de energia. Biocombustíveis e Biogás • Transpor e aplicar em Portugal as directivas e as melhores práticas relativas aos biocombustíveis, designadamente ao nível da definição dos critérios e sustentabilidade e dos melhores padrões de qualidade. • Explorar p potencial associado ao biogás proveniente da disgestão anaeróbica de resíduos e efluentes. Ondas, Geotermia e Hidrogénio • Disponibilização de uma zona piloto para as energias das ondas. • Atingir 250 MW de potência instalada até 2020. • Promover uma nova fileira na área da geotermia (250 MW). • Explorar o potencial do hidrogénio como vector energético.
A foRçA dA EnERgiA EóliCA A EWEA (Associação Europeia da Energia Eólica) acredita que as energias renováveis poderão, já em 2050, colmatar as exigências energéticas da Europa. Neste cenário, a energia eólica desempenha um importante papel, ao representar 50% da energia exigida pelo Velho Continente, afirmou a Associação numa conferência em Varsóvia citada pelo Jornal de Negócios.
Eólica • Apostar na instalação da potência já atribuída de 2 000 MW até 2012, na exploração do potencial de sobre-equipamento e no desenvolvimento de novos concursos que permitam atingir 8 500 MW em 2020, tendo em conta a evolução a procura de electricidade, da penetração dos veículos eléctricos e da viabilidade técnica e económica das tecnologias eólicas offshore. Solar • Instalar 1 500 MW até 2020, de acordo com a evolução das diferentes tecnologias. • Actualizar o Programa e microgeração e introduzir um Programa de minigeração destinado a projectos com potências até 250 KW em função das tecnologias. • Atribuir potência para projectos de demonstração em concentração solar, como base para a criação de um cluster industrial neste domínio. • Porsseguir a aposta no solar térmico.
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No que diz respeito à potência instalada e excluindo a grande hídrica, Viseu, Coimbra, Castelo Branco, Viana do Castelo, Vila Real, Lisboa, Guarda, Leiria, Braga e Santarém são os principais distritos em termos de potência instalada, conseguindo um peso conjunto de 83% da potência total, em Fevereiro de 2010.
Hídrica • Aplicar um plano de acção para a promoção de mini-hídricas com o objectivo de licenciar de forma rápida 250 MW. • Concretizar o aumento da potência hídrica até 8 600 MW. • Instalar maior capacidade reversível, integrada como o crescimento da eólica.
EnErgias rEnovávEis
BEnEfícios sociais E amBiEntais
Por enquanto, a capacidade instalada até o final de 2009 dará à União Europeia (UE) a aptidão de produzir 163 terawatts/hora de electricidade (4,8% da procura).
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Em 2009, foi ligada à rede europeia uma capacidade em energia eólica offshore de 577 MW, um aumento de 54% quando comparado com os 373 MW acrescentados no ano precedente. No total, a UE conta com uma capacidade eólica de 2 056 MW. No final de 2010, a EWEA prevê a conclusão de 10 novos parques eólicos offshore na Europa, que trarão mais 1 000 MW à capacidade instalada (mais 75% do que adicionado em 2009). Em Portugal, a potência eólica instalada em Fevereiro era de 3 650 MW e encontravase distribuída por 204 parques, com um total de 1 916 aerogeradores ao longo de Portugal Continental. Quase 40% da potência instalada situava-se em parques com potência igual ou inferior a 25 MW.
Evolução da energia produzida a partir de fontes renováveis (TWh)
No mesmo mês, Viseu, Castelo Branco, Coimbra, Viana do Castelo, Vila Real, Lisboa, Leiria, Santarém, Braga e Guarda eram os distritos com maior potência. Quanto aos distritos com maior recurso vento em 2009, atingiram as primeiras posições Santarém (2840 horas equivalentes), Guarda (2655 horas equivalentes), Lisboa (2497 horas equivalentes), Aveiro (2377 horas
equivalentes), Bragança (2370 horas equivalentes), Guarda (2312 M horas equivalentes W), Coimbra (2300 horas equivalentes), Vila Real (2251 horas equivalentes) e Castelo Branco (2207 horas equivalentes). Em 2009, a produção alcançou as 2 231 horas equivalentes por MW, com 72% da energia gerada em instalações com mais de 2 000 horas.
ACTUALIDADE
SOLAR PROJECT EQUIPA HOTEL MOLICEIRO
VULCANO E ISEL CELEBRAM ACORDO
A Solar Project equipou o Hotel Moliceiro, em Aveiro, com 16 colectores solar térmicos da marca Schüco, linha Premium, que permitem a redução dos gastos energéticos em cerca de 70% e a poupança de 8,16 toneladas de CO2/ANO. Esta empresa especialista em sistemas de energias renováveis para os segmentos doméstico e industrial tem como objectivo estratégico “contribuir de forma pró-activa para o desenvolvimento das energias renováveis” e “aproximar as energias renováveis da população portuguesa”, referem em comunicado os responsáveis. O Hotel Moliceiro, uma unidade hoteleira de quatro estrelas, apostou nesta vertente com o objectivo de obter a certificação energética do edifício, e assim “o aumento do conforto para os seus utilizadores e também o forte contributo para o meio ambiente, considerando obviamente a zona envolvente onde o mesmo se insere, junto à ria de Aveiro”.
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LUCROS EDPR ATINGEM 114 MILHÕES DE EUROS A EDP Renováveis fechou o ano 2009 com um lucro líquido de 114 milhões de euros, mais 10% que no ano precedente. Durante esses 12 meses, a produção total de electricidade cresceu 40% ao atingir os 10 907 Gwh, informam os responsáveis em comunicado . Desse total, 54% teve origem nos Estados Unidos da América, 30% em Espanha e 16% em Portugal. A capacidade instalada bruta subiu “26% em 1,2 Gw para 6 227 MW, o que representa uma taxa composta de crescimento anula (CAGR) superior a 40% desde 2006”. É propósito da EDPR continuar a “equilibrar o seu portfólio de activos em regiões e em enquadramentos regulatórios que permitem a maior eficiência de crescimento e de performance, tal como se pode observar na aquisição de projectos e activos no Brasil e nos EUA”. Quanto aos investimentos, a EDPR gastou, durante 2009, 1 020 milhões de euros na Europa e 826 milhões de euros nos EUA.
A Vulcano e o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL) assinaram um protocolo de colaboração com o propósito de promover o conhecimento, informação e debate em torno da energia solar térmica. A primeira fase do acordo consiste, segundo comunicou a Vulcano, “no desenvolvimento de um projecto de ensaio e estudo comparativo de soluções solares térmicas para aquecimento de água”. Para isso, a empresa disponibilizou dois sistemas solares alternativos (termossifão e de circulação forçada), cujos desempenhos serão comparados a um sistema convencional de aquecimento de água quente com recurso a gás natural, durante um ano. Para Gioconda Magalhães, coordenadora de Marketing da Vulcano, “este protocolo formaliza um conjunto de iniciativas conjuntas, entre o ISEL e a Vulcano, com o objectivo, por um lado de aproximar os alunos da realidade prática das organizações, e por outro de nos fornecer mais estudos de aplicação dos nossos equipamentos. Acreditamos que este âmbito de actuação possa vir a ser alargado no futuro.” Esta parceria servirá também para realizar seminários destinados a docentes e alunos do ISEL, para apresentação de soluções técnicas para aplicação de energia solar térmica no ramo doméstico e dos serviços, bem como a realização de visitas às instalações fabris da Vulcano, em Aveiro.
AMBINERGIA – FEIRA INTERNACIONAL DE AMBIENTE, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE A 2ª edição da AMBINERGIA – Feira Internacional de Ambiente, Energia e Sustentabilidade está agendada para decorrer na Exponor, entre 27 e 30 de Maio. A AMBIENERGIA 2010 assenta em cinco pilares principais: Energia, Eficiência Energética, Mobilidade, Resíduos, e Conhecimento e Formação Profissional. De acordo com a organização, este certame pretende “estabelecer a ponte entre as instituições, as empresas que desenvolvem e fornecem soluções ambientais e energéticas e todos aqueles que procuram produtos e serviços que lhes permitam desenvolver os seus negócios num contexto de maximização de eficiência (na utilização dos recursos) e de minimização do custo ambiental”. O CLIMA 2010 - II Congresso Nacional sobre Alterações Climáticas é o evento paralelo de maior destaque e é da responsabilidade da Associação Portuguesa de Engenharia do Ambiente (APEA) e da European Federation of Associations of Environmental Professionals (EFAEP). Energia, Eficiência energética, Mobilidade, Resíduos e Conhecimento e Formação Profissional são cinco pilares sobre os quais assenta esta edição.
ACTUALIDADE
KNAUF INSULATION RECEBE CERTIFICADO EUROFINS GOLD
GOVERNO LANÇA INOV-ENERGI@ Atribuir 1 500 estágios/ano nas áreas do ambiente, das energias renováveis e do desenvolvimento sustentável a desempregados é o propósito do INOV-ENERGI@, a nova vertente do programa INOV agora lançada pelo governo. Para além das empresas privadas, poderão beneficiar destas medidas empresas que integram o sector empresarial do Estados, assim como as empresas municipais , intermunicipais e metropolitana cujas actividades estejam ligadas ao ambiente, energias renováveis e desenvolvimento sustentável. Para o acesso a estes estágios, que serão remunerados com bolsas, serão elegíveis jovens até 35 anos de idade que estejam desempregados e que possuam uma qualificação com diploma do Ensino Superior nas áreas de engenharia, ciências físicas e químicas, da vida, do ambiente, agrárias e empresariais, economia e direito. Com uma duração de 12 meses, os estágios serão comparticipados em 60% pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional ou, no caso de portadores de deficiência , 80%.
SAPA APOSTA NO SOLAR TÉRMICO
Atribuir 1 500 estágios/ano nas áreas do ambiente, das Graças aos novos produtos de Lã Mineral Natural de vidro, fabricados com ECOSE® Technology, a Knauf Insulation recebeu o certificado Eurofins Indoor Air Comfort Gold, um prémio que, de acordo com os responsáveis, e “um grande reconhecimento pelo impacto favorável dos seus produtos no meio ambiente”. Esta atribuição classifica os novos produtos como “um material extraordinário, de acordo com as normativas de compostos orgânicos voláteis (VOVVolatile Organic Campounds), relativamente à qualidade do ar em ambientes de interiores”. “Estamos muito satisfeitos pelo facto de a nossa Lã Mineral Natural com ECOSE® Technology ter sido premiada com a Norma Indoor Air Comfort de Eurofins, pois trata-se do certificado mais abrangente e que cumpre com todos os critérios existentes na Europa, no que diz respeito à qualidade do ar em interiores.” Afirmou David Ducarme, director do Grupo Técnico de Knauf Insulation. Para Roland Augustin, director de Segurança Química Certificação Eurofins, “esta atribuição representa também um reconhecimento à Knauf Insulation pelo facto de liderar a mudança rumo à sustentabilidade dos materiais.” E acrescenta: “Recomendamos a Knauf Insulation, porque lideram a mudança face a um futuro mais sustentável. ECOSE® Technology consiste, segundo descreve a Fnauf Insulation, “numa tecnologia revolucionária com um ligante livre de formaldeídos e fenóis, que não só se usa na Lã Mineral Natural, mas também oferece benefícios semelhantes em outros produtos e processos industriais para os que a substituição da resina é uma vantagem, como é o caso dos painéis de madeira, abrasivos e materiais de fricção”.
Filipe Figueiredo é o novo responsável da Sapa Building System Portugal para a área de solar térmico. A actuar no sector sãs energias renováveis há mais de uma década, Filipe Figueiredo é licenciado em engenheria energética e, até à data, desempenhou funções de Project Manager, Responsável pela Engenharia e Coordenação de propostas técnico-comerciais no sector das Energias Renováveis na Ao Sol – Energias Renováveis. Na opinião de Pedro Ramos, administrador da Sapa, esta contratação representa “um novo passo no sentido de maior profissionalização da área de Solar Térmico que será uma das grandes apostas da Sapa para 2010”.
A Martifer Solar instalou, pela primeira vez, um SmartPark: um sistema fotovoltaico com o duplo objectivo de gerar electricidade e, simultaneamente, proteger os veículos das condições meteorológicas a que são sujeitos. Localizado na cidade norte-americana de Lancaster, o SmartPark ocupa uma área superior a “3 000 metros quadrados e irá poupar a emissão de quase 400 toneladas por ano de CO2”, avançaram os responsáveis em comunicado. No total, a instalação tem um potência de 368 kW de pico, 300 provenientes do sistema SmartPark e 68 de uma cobertura no sistema tradicional. Este projecto reveste-se de grande importância para a empresa porque, como referem os responsáveis, “é o primeiro deste tipo no mundo Martifer Solar depois de muito tempo e esforço aplicado ao desenvolvimento do projecto e à optimização do produto”.
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MARTIFER INSTALA SMARTPARK
SuStentabilidade
ConCeito e deSenvolvimento INTRODUÇÃO
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Muito se tem publicitado sobre sustentabilidade e arquitectura sustentável, mas pouco se tem realmente discutido sobre a temática abrangida. Quando é tão profusa a realização de seminários ou eventos sobre sustentabilidade na arquitectura são em geral, apresentados casos pontuais, que globalmente são entendidos pelos seus autores, como projectos ecológicos e/ou sustentáveis. Mas poderemos realmente considerar um projecto que integra algumas componentes de sistemas passivos, arquitectura sustentável? Este artigo pretende clarificar alguma da ambiguidade associada ao termo ‘Sustentabilidade’, e à sua aplicação em termos arquitectónicos.
SUSTENTABILIDADE No séc. XX, o desenvolvimento tecnológico e o aparecimento de novos materiais de construção na sociedade ocidental, levou a um progressivo abandono dos antigos processos construtivos e modos de vida, que tinham em consideração os elementos climáticos e pai-
sagísticos, os materiais naturais e locais, e o saber empírico que passava de geração em geração. Actualmente a relação Homem-Natureza tornou-se menos estável. Consequentemente, surgiu a procura por um maior equilíbrio, possível por um crescente desenvolvimento sustentável da sociedade. Evolução do conceito de Sustentabilidade Nestes termos, o conceito de Sustentabilidade, assim como o seu objecto de estudo, tem evoluído e tem-se alterado nas últimas duas décadas (Correia, 2006): • Em 1987, um dos primeiros grupos a discutir o seu significado foi o World Commission on the Environment, que o definiu por: “Meeting the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs” (Ir ao encontro das carências presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em irem ao encontro das suas próprias necessidades). • No início da década de noventa, o inte-
resse era dedicado à resolução do problema dos recursos limitados e em particular à questão energética; assim como, à redução do impacto da construção no ambiente natural. Cresce o interesse pela incorporação de materiais sustentáveis na construção. • A meio da década de noventa, o estudo dedica-se a assuntos mais técnicos associados à construção, nomeadamente de componentes do edifício; tecnologias de construção; consumo de energia relacionada com conceitos, etc. • No final da década de noventa, passou a ter importância: o ciclo de vida do material de construção (a pré-construção, a construção e a pós-construção, mas também o seu impacto ambiental, os riscos para a saúde, etc.); o tempo de vida dos componentes do edifício (revestimentos, por ex.); no projecto, procura-se um planeamento flexível do espaço, que possa incorporar outras funções no futuro. • No início da actual década, sustentabilidade para além da analogia com o espaço
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• Actualmente, a definição de sustentabilidade torna-se ainda mais abrangente e relaciona também temas mais cruciais, tais como: sustentabilidade económica e social; sustentabilidade do património cultural; assim como desenvolvimento sustentável, entre outros. Desenvolvimento sustentável Na actualidade, distintas componentes integram o conceito de desenvolvimento sustentável, que se tenta aplicar a nível nacional, mas que tem maior impacto a nível concelhio e regional. • Integrar e racionalizar sistemas de produção de energias renováveis e endógenas: Solar fotovoltaica; Solar térmica; Biocombustíveis; Biogás; Biomassa; Geotérmica; Oceanos; Mini-hídrica; Eólica. • Integrar sistemas de controlo de eficiência energética, indicadores de consumo e de racionalização; • Diminuir o impacto ambiental e assumir a gestão integrada de desperdício e de resíduos: por meio de infra-estruturas de valorização de resíduos orgânicos e inorgânicos, triagem de lixos, reciclagem, reutilização, redução, revalorização paisagística, etc. • Preservar a diversidade biológica e aquática, os sistemas ambientais, paisagísticos e a biodiversidade, optimizando os recursos naturais e assegurando a gestão integrada da água;
• Preservar e compreender os sistemas humanos e sociais, respeitando as relações das distintas minorias e comunidades; equidade social e demográfica; problemática entre as distintas gerações na ocupação do espaço; • Melhorar a qualidade de vida concelhia por meio de equipamentos municipais e de medidas sociais para o desenvolvimento sustentável: melhoria da rede de transportes, da acessibilidade e mobilidade para todos, da prestação de cuidados de saúde, de criação de emprego, de incentivo ao desporto, etc.
Distintas componentes e técnicas serão de seguida resumidamente abordadas: Componentes passivas e activas Refere-se a sistemas integrados desde a concepção do projecto, à sua aplicação subsequente à obra. O objectivo é de atingir conforto no interior do edifício, quer por métodos naturais (sistemas passivos), quer artificiais (sistemas activos). Sistemas passivos:
• Desenvolvimento rural e urbano sustentáveis, evitando-se a sobre-ocupação e o desequilíbrio demográfico do espaço urbano e rural.
É fundamental compreender a geografia física local, para melhor tirar partido das condicionantes ambientais e projectar tendo em consideração: orientação solar, oscilação da temperatura local, movimento do ar e do vento, percentagem de humidade local, vegetação local, tradição construtiva local, percentagem de luz local; de modo a potenciar no projecto, as componentes que possibilitam o arrefecimento, aquecimento, ventilação, luminosidade, entre outros, para um maior equilíbrio e conforto térmico, acústico e visual.
• Implementação da agenda 21, a nível local.
Sistemas activos:
• Arquitectura e construção sustentável, com incorporação de componentes passivas e activas, técnicas construtivas sustentáveis, materiais ecológicos, etc;
Integração no edifício de componentes com painéis fotovoltaicos, painéis solares térmicos, climatização, controle e redireccionamento de luz natural, controle de iluminação artificial, controle e racionalização de água e de electricidade, etc.
• Preservar e incentivar a economia e o comércio local, assim como o turismo sustentável. • Produção sustentável de alimento e vestiário, evitando a exploração desenfreada;
• Consumo equilibrado, quer em termos de alimento, quer de bens de consumo; • E muitas outras componentes, que contribuem para uma sociedade mais equilibrada em termos de auto-suficiência.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL Será praticamente impossível na actualidade, desenvolver arquitectura 100% sustentável, pois implicaria que não haveria nenhum gasto energético na edificação e na respectiva ocupação e utilização do edifício pelo utente. Significaria, que o edifício deveria ser totalmente auto-suficiente nas suas distintas componentes energéticas, impacto ambiental, integração de recursos ambientais, etc.
Edifícios energeticamente eficientes Distintas medidas e conceitos têm-se vindo a implementar com sucesso, possibilitando a redução do consumo de energia, a contenção na produção de GEE, a elaboração de técnicas para a conservação de energia no espaço interior (vidro duplo, etc.). Tudo isto por meio de um maior controlo e eficiência energética nos edifícios. Técnicas e materiais ecológicos e/ou sustentáveis: Há materiais naturais e ecológicos, que deixam de ser sustentáveis se transportados de
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verde, passa a incluir o espaço social e a relação de vizinhança (neighbourhood) na comunidade. Interessa a aplicação do conceito de qualidade nos espaços comunitários (não só em termos arquitectónicos, mas também de qualidade de vida), o que sem dúvida tem impacto na cidade e no seu crescimento não fragmentado. Por outro lado, passa a ser contabilizado o footprint de cada pessoa. Ou seja, o impacto em termos de CO2 da construção, dos materiais, da duração do projecto, das viagens efectuadas, do consumo realizado, do modo de vida, etc.
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grandes distâncias, como madeira cortada de forma sustentável, mas importada da Finlândia; ou materiais recicláveis, mas que não são ecológicos, entre outras opções. A construção sustentável, poderá englobar materiais de construção alternativos, materiais reciclados ou reutilizados, mas também deverá comportar a reciclagem e reutilização dos seus materiais e componentes de construção após a demolição do edifício. Importante é assumir critérios que provoquem o mínimo de impacto ambiental e energético. Materiais Naturais: terra, pedra, madeira, bambu, cortiça, fardos de palha (straw bale), etc.
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Materiais Recicláveis: alumínio, ferro, vidro, zinco, etc. Materiais Reciclados: adobe de papel, fibra de papel, plástico, etc. Materiais Reutilizados: material de demolição, chips de madeira, tijolo, telha, etc. Componentes arquitectónicas integradas: Distintos elementos poderão ser incorporados no projecto arquitectónico, para um maior controlo energético do edifício. Na actualidade
é comum integrar coberturas ajardinadas, paredes de trombe, ventilação subterrânea, elementos de sombreamento, etc. O edifício e a saúde O impacto do edifício no ser humano leva a ter em atenção, distintas questões, tais como: consequências pela má concepção; má construção; utilização de materiais tóxicos ou com impacto negativo a longo termo; Síndroma dos Edifícios Doentes – S.E.D.; cancro do betão; edifícios saudáveis; edifícios inteligentes e o impacto tecnológico; etc.
EVOLUÇÃO DA ESTÉTICA SUSTENTÁVEL E ECOLÓGICA De seguida resumem-se, alguns indicadores em análise, constantes na evolução da noção de estética sustentável. Referem-se igualmente, distintos movimentos e arquitectos que protagonizam a nível internacional, a procura pela integração de sistemas sustentáveis ou componentes ecológicas nas suas obras. Constantes na evolução da estética ecológica: • O crescente respeito pelo conhecimento tradicional. Sua reinterpretação para a actualidade;
• O imperativo tecnológico; • Qual o futuro em direcção à cidade global/ cidade compacta; • Regeneração arquitectónica, por meio da procura de identidade cultural. A revolução verde protagonizada por: • Movimentos: arquitectura orgânica, EcoTech, Tent-Tech, Low-Tech, etc. • Prémios internacionais: Aga Khan Award for Architecture, Sustainability Award, etc. • Escolas e Institutos: Escola de Amsterdão, Rural Studio (Universidade Auburn, EUA), CRATerre-ENSAG, Cal-Earth, Centre for Alternative Technology, etc. • Arquitectos visionários: Rudolf Schindler, Hassan Fathy, Balkrishna Doshi, Louis Kahn, Kenneth Yeang, Buckminster Fuller, Jimmy Lim, Enric Miralles, etc. Casos de estudo de projectos e obras com componente ecológica: • Arquitectura solar passiva: Edward Mazria, Patrick Bardou, Mat Santamouris, etc;
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• Edificação subterrânea: Malcom Welles, James Turrel, etc; • Edificação com cobertura ajardinada: Maison de weekend em Saint-Cloud e Maisons Jaoul de Le Corbusier, Sala de Multiuso em Rio Grande do Sul de Gernot Minke, etc. • Sistemas de enchimento alternativos: sistema Monol de Le Corbusier, Nader Khalili com enchimento de terra, etc. • Reutilização de edifícios e de materiais: Eric Owen Moss, Kurt Rathmann, Sol source, Earthship, etc. • Construção sustentável: Gaia Architects, Plano B, Modece architects, Isochanvre, etc. • Eco-Tech: Norman Foster, Richard Rogers, Michael Hopkins, Nicolas Grimshaw, etc. • Tent-Tech: Aeroporto de Denver, aeroporto de Jeddah, mesquita em Madinah, etc. • Low-Tech: Behnisch & Benisch, Engenheiros e Arquitectos sem fronteiras, etc. • Integração da paisagem na arquitectura: Enric Miralles; Benedetta Tagliabue; jardim dos 100 níveis no Parque Awaji Yumebutai no Japão de Tadao Ando; Jardim botânico em Medelim na Colômbia de JPRCR arquitectos e Plan B Arquitectura, etc. •
Planeamento paisagístico: Howard, Ian McHarg, etc.
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• Planeamento urbanístico: em Los Angeles (Playa Vista development, renovação em Pershing Square, parque Baldwin Hills, programa de Los Angeles River Greenway), etc.
CONCLUSÕES Que responsabilidade temos como arquitectos, engenheiros ou designers que projectam a actual sociedade, como investigadores com dever de produzir adequada pesquisa cientifica ou como pais e docentes da próxima geração, de transmitirmos efectivamente um
conhecimento reflectido? Quais deverão ser as nossas prioridades e critérios na transmissão desse conhecimento? Como docentes, parte da nossa responsabilidade deverá passar por: facultar o conhecimento dos factores determinantes para um projecto ser considerado ecológico ou sustentável, assim como o conhecimento das actuais técnicas e tecnologias de conforto ambiental, procurando soluções de equilíbrio com a envolvente natural e com o clima; ter em consideração as características e os mecanismos necessários a implementar num edifício ou na sua envolvente, para uma maior eficiência energética; desenvolver competências para a aplicação dos conhecimentos adquiridos, em futuros projectos mais integrados e em equilíbrio com o meio ambiente; sensibilizar o público para o impacto das diferentes componentes arquitectónicas, urbanísticas, paisagísticas e climáticas que influenciam o conforto humano. Temos todos responsabilidade por contribuir mais activamente no desenvolvimento sustentável da nossa sociedade. Deixou de ser suficiente imputar a culpa aos políticos, passa a ser responsabilidade do cidadão de exigir e de contribuir para melhorar a sua qualidade de vida. Mariana Correia arqmarianacorreia@gmail.com
BIBLIOGRAFIA • Correia, M (2006). “O Habitar e a Sustentabilidade – Contexto Português”, Acção de Formação Sustentabilidade e Eficiência Energética na Arquitectura e Construção, Painel 1 - Da Ética à Ecologia, Envolvente Sócio-económica da Sustentabilidade. CD editado por Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos. Lisboa: OA-SRS. • Fathy, Hassan (1986). Natural Energy and Vernacular Architecture. Principles and Examples with Reference to Hot Arid Climates. Chicago: The University of Chicago Press. • Halliday, S. (2008). Sustainable Construction. Oxford: Elsevier Publications. • Papanek, Victor (1995). Arquitectura e Design. Ecologia e Ética. Lisboa: Edições 70. • Sassi, P. (2006). Strategies for Sustainable Architecture. Oxon: Taylor & Francis. • Steele, J. (2005). Ecological Architecture. A critical History. London: Thames & Hudson. • The European Commission (1999). A Green Vitruvius. Principles and Practice of Sustainable Architectural Design. London: James & James. AutORA Mariana Correia é Doutorada (2009) por Oxford Brookes University, Reino Unido, enquanto bolseira da FCT. É diplomada DPEATerre (2000) pela CRATerre-ENSAG, França, com Distinção e é Mestre (2002) e arquitecta (1995) pela FAUTL, Portugal. Mariana Correia integra o Conselho de Direcção da Escola Superior Gallaecia, Portugal. É Directora do Centro de Investigação CICRA-ESG, com vários projectos de investigação financiados por entidades nacionais e internacionais. É docente no ensino superior desde 1999. Mariana Correia é Presidente do Conselho de Administração da Fundação Convento da Orada, Fundação para a Salvaguarda e Reabilitação do Património Arquitectónico; é Membro do Conselho de Direcção do ICOMOS-ISCEAH (Comité Científico Internacional de Património Arquitectónico em Terra); Membro Associado do ICOMOS-Comité de Arquitectura Vernácula e Membro do Conselho Consultivo da PROTERRA, rede Ibero-Americana de arquitectura de terra. Foi co-fundadora da Associação Portuguesa Centro da Terra e é membro da CHAIRE UNESCO - Arquitectura de Terra. M. Correia é autora e co-editora de 10 livros sobre arquitectura de terra. Publicou diversos capítulos e artigos científicos sobre arquitectura vernácula, património, conservação e sustentabilidade. Foi convidada como conferencista em mais de 15 países. É a coordenadora geral do Seminário ATP (Arquitectura de Terra em Portugal) e co-coordenadora da conferência mediterrânea MEDITERRA.
Texto originalmente publicado em: ‘Energias Renováveis / Renewable energies’, Edição Atelier Pã, Porto, 2009, p.68-76 http://www.ateliernunesepa.pt/energias_renovaveis/
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• Reinterpretar a tradição: Frank Lloyd Wright, Rasem Badran, Abdel Wahed El Wakil, Cultural Center of Kanak in New Caledónia by Renzo Piano, etc.
produtos
GruNdfos tem Nova Gama de BomBas cm A nova gama de bombas CM horizontais multicelulares da Grundfos reduz as dimensões em mais de 30% quando comparadas com a geração anterior A nova gama é composta por uma série de módulos que foram concebidos para operarem em conjunto em qualquer aplicação. As bombas CM são utilizadas em espaços reduzidos onde é exigida uma operação silenciosa que elimina a necessidade de isolamento extra. Estas bombas foram concebidas para serem utilizadas não só em aplicações domésticas mas também em lavagens e limpezas, controlo de temperatura, tratamento de água e indústria. A gama está disponível em três modelos e com diversas variantes graças a uma série de componentes opcionais. Estes modelos podem ser fabricados em aço inoxidável e ferro fundido (tipo A) ou totalmente em aço inoxidável AISI 304 /DIN 1.4301 (tipo I) ou AISI 316/DIN1.4401 (tipo G). A fixação dos impulsores da bomba foi melhorada por um novo anel de paragem. “Este componente em conjunto com uma anilha Nordlock evita que o veio se desaperte durante o funcionamento da bomba. A gama flexível de ligações garante ainda que pode ser utilizado qualquer sistema de ligações, o que garante flexibilidade e simplicidade, criando uma solução customizada sem o tempo de espera habitual”, lê-se no comunicado de imprensa. Estas incluem: rosca standard Rp ou NTP, combinação de flanges de acordo com os standards DIN, JIS ou AISI, ligação PJE, apropriada para aplicações com pressões elevadas, e Solução Tri-clamp.
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Novas lâmpadas mais poteNtes A nova gama de lâmpadas fluorescentes compactas Osram Dulux, agora reestruturada e alargada, veio melhorar o desempenho das lâmpadas em todas as categorias do produto. “A lâmpada de alta performance foi desenvolvida para aplicações nas quais uma boa lâmpada não é o suficiente e onde é exigido mais luz”, lê-se no comunicado de imprensa. Entre elas está a lâmpada Dulux XT (com grande longevidade) para locais de difícil acesso ou onde as lâmpadas funcionam muitas horas por dia, assim como as HE (alta eficiência) como uma alternativa económica para numerosas áreas como os hotéis e restaurantes, indústria e locais públicos. As lâmpadas Dulux De Luxe são adequadas para aplicações onde a reprodução cromática é importante, como lojas ou reprografias. “As Dulux L SP e Constant apresentam boas performances a baixas temperaturas”. Além disso, as Constant também se adequam para elevadas temperaturas, por isso são indicadas tanto para câmaras frigoríficas como para locais com altas temperaturas.
uNidade hidráulica para eNerGia solar O EnergyController, da Immosolar, é uma unidade hidráulica de comando e de regulação para sistemas de carregamento múltiplo, de funcionamento autónomo e totalmente equipada. É aplicável em diferentes tipos de situações: desde casas unifamiliares a instalações de grandes dimensões, como pavilhões industriais, hospitais ou hotéis. De acordo com o comunicado, “a energia solar é utilizada de um modo mais eficiente, uma vez que são carregados consecutivamente diferentes níveis de acumulação, dependendo das temperaturas”. A regulação integrada no EnergyController permite ainda a activação térmica do corpo do edifício, temperando o edifício sem gastos adicionais na regulação. As funções de regulação termóstato e diferencial de temperatura foram pensadas para possibilitar a utilização de um recuperador de calor como fonte de energia. Dispõe de: função de descongelamento dos colectores; função de protecção contra o congelamento (apenas quando em ligação bus com o regulador WPK); limitação da temperatura do acumulador; funções adicionais de termóstato e diferencial de temperatura; integração total dos componentes hidráulicos (fluxómetro, calorímetro, bombas de circulação, distribuidor em bronze vermelho com circulação optimizada, equipamento de lavagem e enchimento, etc.). Está disponível com ligações hidráulicas à esquerda ou à direita.
schiNdler tem Novo elevador eco-eficieNte Schindler 6300 é o novo elevador eco-eficiente para edifícios residenciais ou pequenos edifícios de escritórios, pensado para projectos de remodelação integral de edifícios ou substituição de equipamentos. Segundo o comunicado, este “equipamento permite poupar energia e melhorar o tráfego de edifícios residenciais e de escritórios”. Em termos energéticos, o novo elevador tem classificação de acordo com a norma de eficiência VDI 4707, possível através da tracção baseada na tecnologia gearless que, combinada com a tracção por cintas de material sintético, substitui o convencional sistema por cabos de aço, reduzindo o peso da instalação e, consequentemente, a energia necessária para as deslocações. “Também o comando automático de que está dotado contribui para a optimização energética, uma vez que, quando a cabina não está em uso, desliga a iluminação e a ventilação. O algoritmo de distribuição de chamadas permite equilibrar o tempo de espera, número de viagens e utilização de periféricos de baixo consumo de potência, que são também contributos para a eficiência” do equipamento.
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