P A R I S ,
D E S E N H O S
E
P I N T U R A S
setembro a novembro de 2014
MAURÍCIO ARRAES EM PARIS Raul Córdula
Na década de 1970, quando ainda ecoavam a revolta estudantil que mudou o olhar sociopolítico da França, e depois do recrudescimento da ditadura no Brasil com do AI5, Maurício Arraes, ainda muito jovem, vivendo entre a África e a Europa, levado pelas mesmas condições políticas que assolaram a vida de sua família, cujo pai, Miguel Arraes, foi um dos grandes líderes socialistas brasileiros, encontrou-se definitivamente com a pintura. Caminhando pelas as ruas de Paris, onde morou – Paris é uma cidade para se andar – atentamente ele pintou e desenhou os pontos de vista de sua visão passeante e atenta. As perspectivas da cidade reurbanizada por Georges Haussmann, as fachadas, os telhados com as mansardas, solução arquitetônica criada por Jules Mansart, o mesmo arquiteto de Versailles que assim nomeou este detalhe construtivo que proporcionou a abertura de janelas nos telhados humanizando os sótãos que serviam de alojamentos dos criados. Maurício pintou praças, monumentos e jardins, captou os gestos e atitudes das pessoas nas ruas, pintou os automóveis no trânsito eventualmente tão engarrafado quanto o de qualquer cidade grande, e os registrou a existência dos vagabundos, ou melhor, dos clochards dormindo nas ruas indiferentes a tudo. Destacamos de início duas pinturas de uma mesma praça, porém a primeira num dia chuvoso por onde passavam duas pessoas abrigadas nas sombrinhas, e na outra pintura a praça em tempo firme. Lá está um poste com cinco lâmpadas antigas, quatro árvores e uma placa com Sauf (proibido) e a figura de uma bicicleta. Paris é uma cidade para os olhos não apenas por sua beleza arquitetônica e paisagística, mas também pela profusão de placas, cartazes, símbolos visuais, grandes e pequenos monumentos, esculturas em praças e jardins. A pintura de Maurício é repleta dessas coisas, num dos quadros, por exemplo, dois homens pregam na parede de um cais do Metrô cartazes de uma exposição de Hiroshige, um dos mestres japoneses da arte da gravura Ukyo-e. Em outro, um outdoor com grandes lábios vermelho de uma mulher junto à frase Jamais seul (jamais ..). Sob uma placa de contramão está um senhor de boina azul atravessando a
ponte sobre trilhos os do Metrô, ou ainda a perspectiva de uma calçada com uma placa de proibido transitar com tábuas. Plantado no gramado de um jardim onde as pessoas que descansam nos bancos alheias às dimensões da poesia, está o busto de Guillaume Apolinaire com os pombos pousados na grama a desfilar em torno dele, e “O Beijo” de Rodin, verde de azougue, está no Jardin des Tuilerie perto de um abrigo de bicicletas. Em um bosque, um pequeno fauno está pousado em cima de uma coluna protegido pelo alto tronco que fica atrás dele. As perspectivas das ruas são harmonizadas pelos os edifícios limitados a seis andares que, Georges Haussmann para Paris na sua importante reforma que fez de Paris há dois séculos a cidade que ainda é hoje. Nas pinturas de Maurício se pode pensar em citações da École de Paris que teve Utrillo, Marquet e Dufy no hall de seus artistas. As ruas pintadas por Utrillo, especialmente as da fase branca, são vazias de gente e pintadas com cores densas, as de Maurício, porém são leves, claras e repletas de pessoas como o senhor vestindo capa e boina azul que volta para casa levando a baguette para a ceia, enquanto ao lado, numa cadeira ao ar livre o artista desenha as árvores de um bosque. A moça de capote aguarda uma grande porta verde se abrir após discar o código; cinco idosos, três mulheres e dois homens, estão sentados numa mureta conversando enquanto esperam; Uma mulher e um homem no balcão do bar conversam quase
escondidos por um jarro de flores; a lourinha de short vermelho bem curto e blusa azul, em pé no portal do que parece ser uma galeria, conta seu dinheiro na carteira; o açougueiro pesa a carne no interior da boucherie; duas senhoras carregam um grande panier repleto de baguettes. Dois quadros mostram pessoas pobres dormindo na rua. Na França são chamados de clochards, símbolos de uma época onde se podia recusar a formalidade social de ter casa e família e viver na rua, habitar os bancos das praças, a sombra das marquises, os bosques, o metrô. Os clochards certamente ainda existem, mas foram figuras típicas da Paris existencialista dos anos de 1960, do livre pensar, do “viver perigosamente até o fim”, lema de Michel Poiccard, personagem vivido por Jean-Paul Belmondo em “Acossados”, emblemático filme de Godard, ícone da Nouvelle Vague. Terminamos esta viagem pela arte de Maurício Arraes, observando seus desenhos do interior com os detalhes de seu estúdio, suas visões intimistas tão bem traçadas com tramas gestuais que nos leva recorda Matisse e Bonard que e o rompimento do silêncio dos ateliês, e suas visões da janela com telhados e mansardas. Este recorte da arte de Maurício Arraes é um privilégio para quem tiver a oportunidade de ver e fruir. Trata-se de uma coleção conservada pelo autor por três décadas, e em bom tempo mostrada no Recife.
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Praça 80x60 acrílica s/ tela
pracinha 40x50 acrílica s/ tela
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noite 60x80 acrílica s/ tela Praça II 80x60 acrílica s/ tela porta 60x40 acrílica s/ tela
8
escultura 100x80 acrĂlica s/ tela
mercado (porte de pantin) 100x80 acrĂlica s/ tela
9
céu 60x40 acrílica s/ tela parque 65x95 acrílica s/ eucatex
10
contra mão 70x50 acrílica s/ papel o beijo 80x60 acrílica s/ tela fonte (sátiro) 50x70 aquarela s/ papel
11
bar 42x60 lรกpis de cor banho de sol 56x77 lรกpis de cor aรงougue 56x77 pastel seco
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garotas com pĂŁes 50x70 nanquim e aquarela
açougueiro 56x77 guache s/ papel
meudom 56x77 guache s/ papel
13
mulher e menina no mercado 50x32 nanquim s/ papel
feirante 50x32 nanquim s/ papel
feira com flores 50x32 nanquim s/ papel
homem na rua 70x50 nanquim s/ papel
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loura com carro 50x70 lรกpis de cor
15
menina 70x50 aquarela s/ papel
mullher com baguette 100x80 acrĂlica s/ tela
16
metro aereo 50x70 guache s/ papel
voiture bleue 50x70 guache s/ papel
17
cena com carro 50x70 guache s/ papel
jamais seul 70x50 guache s/ papel
18
rua com bastilha ao fundo 70x50 nanquim s/ papel
telhados 70x50 nanquim s/ papel
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cozinha 70x50 nanquim s/ papel
quarto 50x70 nanquim s/ papel mesa do pintor 50x70 nanquim s/ papel
20
francês 170x100 acrílica s/ tela pintor no parque 170x100 acrílica s/ tela mendigo 93x140 acrílica s/ tela
praça c 4 pessoas 170x100 acrílica s/ tela
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metro 100x80 acrílica s/ tela
republique 40x30 acrílica s/ papel arco do triunfo 50x70 acrílica s/ tela
Artista
MAURÍCIO ARRAES Curadoria
RAUL CÓRDULA LAURINDO C. de PONTES – ATENARTE Tratamento de Imagem
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