Artes & Leilões 31

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Artes plásticas, Paulo Catrica - Pág.06

ÍNdice

↓ Art Mix, Laurence Weiner - Pág.08

Museus, Entrevista a Pedro Lapa - Pág.20

Moda, McQueen - Pág.12

ARTES E LEILÕES N.31 maio 2011 05 06 08 10 12 14 16 20 24 26

por Maria João Fernandes

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Eventos Exposições Destaques de agenda Galerias: Valbom e António Prates Arte Pública: Escritos na pedra Leilões Opinião: A arte beta por Pedro Portugal

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Artista, Croft - Pág.18

Crónica: Joseph Beuys Um meteorito mudo por Ana Marques Gastão Artes Plásticas por Miguel Matos Art Mix por Jorge dos Reis Cinema: Indie Lisboa – Director’s cut por Elsa Garcia Moda por Maria José Sacchetti Livros Capa: A arte sai à rua num dia assim Artista: José Pedro Croft Museus: Em Belém, de olhos no presente com Pedro Lapa História de Arte: Duchamp, o agitador

Capa: Pedro Calapez, Horizonte transverso, 2011. Galeria Presença.

História de Arte, Marcel Duchamp - Pág.24 Capa, Pedro Calapez - Pág.14

Cinema, Indie Lisboa - Pág.10


edito rial ARTES & LEILÕES Número 31 – maio 2011

Sobre arte e cebolas A difusão da arte contemporânea na imprensa portuguesa é como a cebola. Não se trata de um soundbite apanhado num canal de humor e, de resto, nem sequer é uma frase bem disposta. O que quero dizer com isto? Quando eu era criança, para além de uma saúde débil, possuía uma decidida aversão a alguns alimentos. Até à adolescência, desde a cebola, ao alho, às bananas, ao tomate e ao queijo, havia toda uma lista de alimentos que recusava ingerir. A cebola, então, era um dos maiores inimigos. Isto era um desafio para a minha mãe: como cozinhar sem utilizar qualquer um destes produtos que compõem a base de quase todos os pratos? Pois bem, aqui o menino recusava-se a comer um prato em que figurasse um único filamento de cebola. Qualquer vestígio de tal vegetal era imediatamente detectado e causava a rejeição genérica da refeição. A solução então encontrada pela minha mãe não incluía a eliminação da cebola, nem a obrigação de comê-la à força. Assim, dava-se ao trabalho de triturá-la tão finamente que eu só a detectaria com a ajuda de um microscópio. E assim lá comia a cebola. Sem saber que aquela coisa acre e sumarenta das camadas e dos refogados estava presente, a comida para mim era deliciosa. Mas ai de mim que soubesse da presença da cebola… Instituiu-se na cabeça dos directores de jornais e revistas, e de jornalistas e leitores, que o público tem pavor de ler sobre arte contemporânea como

eu tinha pânico à cebola. O resultado é a eliminação gradual de conteúdos sobre arte contemporânea na imprensa. E quando a “cebola da arte” ainda é tratada e divulgada, ela já não é pensada nem mastigada. Que é o mesmo que dizer que a crítica de arte é triturada, ralada finamente de modo a não ser uma cebola cortada grossa, e com a textura própria, mas sim uma substância não detectável pelo público, que assim “come” o que se escreve sem fazer cara feia. Daí até à censura, a diferença não será muita. O domínio da crítica de arte dita “séria”, que era dos jornais semanais, foi sendo encolhido – sobre este assunto fala Pedro Lapa, o novo director do Museu Berardo, na entrevista que publicamos nesta edição. As revistas especializadas não são excepção a esta barreira e têm a vida complicada no mercado. Portanto, o que fica são magras secções de arte em jornais e revistas de entretenimento onde se escreve sobre arte como se fosse um prato de bifes (não de cebolada, claro). A arte contemporânea faz pensar e isso evita-se a todo o custo. Por isso evita-se pensar em arte contemporânea na comunicação social a menos que se bata algum recorde de vendas. O que fica é o entretenimento e aviõezinhos de sopa de cebola liquefeita. Eu hoje gosto de cebola, cortada grossa, de preferência. E de arte também… Miguel Matos migueldematos@gmail.com

Director José Pedro Paço d’Arcos jpdarcos@arteseleiloes.com Editor de Arte Contemporânea Miguel Matos migueldematos@gmail.com Redacção Ana Albuquerque info@arteseleiloes.com Teresa Pearce de Azevedo teresapearceazevedo@arteseleiloes.com Produção Editorial Maria Correia mariacorreia@arteseleiloes.com Director de Arte Pedro Mascarenhas atelier@pedromascarenhasdesign.com Fotografia Ana Paula Carvalho anacarvalho@anacarvalhophoto.com Revisão de Conteúdos Raquel Dionísio info@arteseleiloes.com Comunicação, Marketing e Publicidade Alexandre Lopes alexandrelopes@arteseleiloes.com Tel 217 225 040 - Fax 217 225 049 Assinaturas JMToscano Rua Rodrigues Sampaio, 5 2795-175 Linda-a-Velha Tel.: 214 142 909 – Fax: 214 142 951 jmtoscano.com@netcabo.pt Administração José Pedro Paço d’Arcos Diogo Madre Deus Propriedade José Pedro Correia da Silva Sede Rua Artilharia 1, nº 67 – 1º dto. 1250-038 Lisboa Tel.: 217 225 040 – Fax: 217 225 049

convidados

Impressão e Acabamento Sogapal Estrada das Palmeiras - Queluz de Baixo 2745-578 Barcarena

ana albuquerque Depois da licenciatura em Ciências da Comunicação torna-se mestranda em Arte, Património e Teoria do Restauro na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Frequenta cursos de arte organizados pela Universidade Nova de Lisboa dividindo o tempo entre a Arte, a História e a Literatura.

Elsa Garcia É directora e fundadora da revista Umbigo e colabora com a secção de Arte da revista Time Out. Fez diversos cursos de arte contemporânea. Desenvolveu vários projectos de curadoria, sendo que o último foi a exposição “Pieces and Parts” na Plataforma Revólver.

Teresa P. de Azevedo Licenciada em História com uma pós-graduação em Artes Decorativas, foi jornalista da revista L + Arte. Escreve na Artes & Leilões desde 2007. Tem textos publicados em diversas revistas, como The Art Newspaper ou Linha. Leccionou Português para alunos estrangeiros e fez algumas traduções.

Periodicidade Mensal Tiragem 35.000 exemplares Registada com o Nº ISSN 1646-8139 É proibida a reprodução da revista, em qualquer língua, no todo ou em parte, sem a prévia autorização escrita de Artes& Leilões. Todas as opiniões expressas são da inteira responsabilidade do autor. Website www.arteseleiloes.com Desenvolvido com o apoio de Mediacode


Joseph Beuys, Meteorit mit Emanationen, 1957, aguarela, guache, carvão e giz sobre papel, 7,1 x 7 cm

crón ica / ana marques gastão

Um meteorito mudo de Joseph Beuys Chama-se Meteorit mit Emanationen (Meteorito com Emanações). Devemos ler a imagem seguindo as suas pegadas silenciosas. Parece um contra-senso, mas o que parte da ausência não só constrói mais facilmente o símbolo ou a alegoria, como oferece leituras múltiplas.

Este quadro do artista alemão Joseph Beuys (1921-1986) fala, mas se o imaginarmos enquanto livro, dir-se-ia mudo, apesar de exorbitante nas suas cores rosa-granada, vermelho, ocre esbatido, verde glauco, negro, cinzento, branco. Chama-se Meteorit mit Emanationen (Meteorito com Emanações). Devemos ler a imagem seguindo as suas pegadas silenciosas.

dro que revela uma energia cósmica relacionada com a teoria das formas (ponto, linha, plano), mas também anuncia uma necessidade de libertação. O círculo (ou olho psíquico e, portanto, solar) alude a um fechamento do ser humano no seu próprio interior, as linhas mais ou menos direitas que o cobrem (mãos, folhagem?) expressam, quase verticais, a cedência a um progresso no caminho de uma não-limitação. Olhando com atenção, Parece um contra-senso, mas o que parte da ausência não só constrói mais a forma redonda pode ser um caracol (símbolo lunar), indiciando regefacilmente o símbolo ou a alegoria, como oferece leituras múltiplas. neração: não vemos o pequeno bicho aparecer e desaparecer em sinal de De forma diversa dos meteoros (estrelas cadentes), os meteoritos que morte e renascimento? À memória vem ainda uma concha espiralada que, atingem a terra não são devorados completamente pelo fogo. Podem ser para os Aztecas, simbolizava, não em sentido diverso, o mundo subterrârochosos e/ou metálicos e, se extravasarmos neo – o sol negro pressupõe igualmente um Que poderá sentir um homem um pouco, são tudo ou nada, matéria transrenovamento interno. formável, como nós, humanos, para quem cujo avião se destroça na É, portanto, um quadro sem qualquer a falta se transforma em gesto enquanto superfície da terra? Um terrífico preocupação didáctica, mas que pensa, na acidente do desejo: o quase-nada instiga a medo ou uma vontade de libertação medida em que se torna revelador de uma criação/vida que, por sua vez, pode tornar- de um mundo que, sendo luz, dinâmica do ser; de algum modo, universaé sonho e grade, manifestação -se em árvore de oferta. liza o que a forma particulariza. Que poderá Neste quadro, o meteorito passa a ser arte, de lonjura, arte e vida, arte sentir um homem cujo avião se destroça na depositário de uma força de carácter tão e ciência, cultura e natureza? superfície da Terra? Um terrífico medo ou antropológica quanto filosófica. Beuys – uma vontade de libertação de um mundo pintor, escultor, desenhador gráfico, performer, político, poeta, professor que, sendo luz, é sonho e grade, manifestação de lonjura, arte e vida, arte e teórico, militante político –, sendo uma personagem proteiforme, entra, e ciência, cultura e natureza? De uma forma menos evidente, que vemos com esta obra, no mundo das emanações. É quando a luz do infinito pe- quando olhamos para Meteorit mit Emanationen (a ser leiloado, em meanetra no espaço vazio, constituindo-se como mundo espiritualizado, e o dos deste mês, na Christie’s)? Um grande olho, o olho do coração (que invento abandona a galeria para se converter em acção: "Cada homem é corresponde ao fogo) e da alma, única e inamovível no seu caminho de um artista", sublinhou, um dia, querendo dar-nos a conhecer o produto resolução de dualidades. As "mãos" vermelhas sob fundo róseo – teclado da imaginação enquanto filosofia crítica, mas não alheado de uma dispo- de espinhos que, na senda da transformação, já desmanchou uma coroa sição político-social determinada. metálica (o trabalho obscuro do inconsciente) – exprimem a ideia de conSabe-se que o avião do artista alemão se despenhou, na ex-URSS, durante centração espiritual. São as da justiça ou da misericórdia, palavra ou silêna guerra, e que este esteve ligado a acções, de tipo pós-dadaísta, ao lado do cio, escrita ou arte. Parecem mudras, utilizados no ritualismo budista ou grupo Fluxus. Talvez haja resquícios dessa queda desastrosa neste qua- hindu, que selam uma dança mágico-litúrgica. ¶


aRTes PLás Ticas

→ Leonel Moura, Genomics, 2011. Exposição em que o artista cruza a arte com a ciência.

/ miguel matos A arte chega ao Colombo “Quatro Elementos Quatro Artistas” é o projecto que traz a arte contemporânea para dentro do Centro Comercial Colombo, em parceria com o Museu Colecção Berardo. Comissariado por António Pedro Mendes, o conceito baseia-se na ideia dos elementos naturais. Joana Vasconcelos inicia o ciclo com o Coração Independente Vermelho que simboliza o fogo da paixão e do fado, patente até final de Maio. Miguel Palma, Susana Anágua e Isaque Pinheiro são os artistas que assegurarão a animação da Praça Central do Colombo até Outubro.

Joana Vasconcelos, Coração Independente Vermelho, 2005. Exposto no Centro Comercial Colombo.

Teresa Gonçalves Lobo, Sem título, 2011. Em Cascais

Leonel Moura em Istambul “Fundamentally Human” é a exposição que cruza a arte com a ciência, em especial as neurociências. Patente até 3 de Julho no Pera Museum, em Istambul, conta com várias obras de arte robótica criadas por Leonel Moura. A curadoria é de Suzanne Anker (EUA) e reúne artistas como Andrew Carnie (Reino Unido), Rona Pondick (EUA), Michael Joaquin Grey (EUA), Michael Rees (EUA) e Frank Gillette (EUA). Leonel Moura apresentou recentemente “O Manifesto de Istambul” no Galata Perform. Este manifesto defende que as máquinas também podem fazer arte que deve ser considerada e apreciada como obra original, independentemente de quem inicia o processo. Fotografia de Paulo Catrica Durante quatro anos, o fotógrafo Paulo Catrica entrou nas profundidades do Teatro Nacional de São Carlos e o resultado dessa imersão foi a exposição “TNSC – A Prospectus Archive”, que representa como que um retrato interior do local. Uma interpretação do edifício como organismo e de tudo o que se guarda e cria lá dentro. Desde os camarins ao armazém, Paulo Catrica, Sem título, 2006. passando pelas oficinas e outras partes vitais, reViagem ao interior do Teatro Nacional São Carlos através das fotografias vela-se o que habitualmente está oculto. “Há um do artista. No Museu da Electricidade até 22 de Maio.. teatro por detrás do teatro.” Um mundo secreto que nos é revelado e no qual figuramos “como personagens de uma peça imaginária”, descreve João Pinharanda, comissário da exposição que está no Museu da Electricidade até 22 de Maio. Summer-Calling Com o Verão ao fundo do túnel, a Galeria 3+1 lança o desafio para a participação na sua habitual exposição dos meses mais quentes. O desafio é lançado a artistas emergentes nacionais e internacionais não representados em galerias portuguesas que deverão apresentar os seus portfolios a fim de serem seleccionados para a exposição colectiva a acontecer no espaço da galeria. A data limite de inscrição é 9 de Maio. CPS edita Cadência O Centro Português de Serigrafia lançou um livro-catálogo de David de Almeida totalmente impresso em serigrafia, de tiragem limitada, com texto de Tomás Paredes (presidente da Associação de Críticos de Arte de

joana vasconcelos © manuel malhão

“Seguindo o Traço” de Teresa Gonçalves Lobo Inaugura no dia 7 de Maio a exposição desta artista no Centro Cultural de Cascais. Teresa Gonçalves Lobo assume um estilo que assenta na intuição e no seguimento da linha dos sentidos. Na sua obra, cada risco é uma estrada, cada linha é um sinuoso caminho que se sente percorrido com tempo. São trabalhos delicados em que o desenho é a disciplina de eleição e onde o traço é a essência da imagem.


← Pablo Picasso, Still Life with Guitar, 1913. As "guitarras" de Picasso vão estar em Nova Iorque até 6 de Junho.

Madrid) e que inclui uma serigrafia numerada e assinada pelo artista. David de Almeida apropriou-se do padrãoencontrado na Pedra do Castro da Cárcoda, de São Pedro do Sul, com incisões pré-históricas destinadas ao seu corte. Estes símbolos primitivos foram transferidos da pedra para o papel em homenagem às culturas megalíticas. Até 8 de Maio, o livro terá um preço especial para quem visitar a exposição patente na galeria do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

↑ Rui Effe, Down Town, 2011. Instalações, esculturas e videos do artista na Casa-museu Marta Ortigão Sampaio, no Porto.

Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio recebe Rui Effe A convite do museu, Rui Effe intervém em todos os seus espaços com instalações site-specific, escultura e vídeo. O objectivo da exposição “Almost Nothing” é assinalar o Dia Internacional dos Museus e por isso inaugura a 14 de Maio. Partindo das histórias reais e imaginadas de uma casa, Rui Effe planta interrogações ao visitante e impossibilita o acesso às respostas. As instalações põem em causa o próprio espaço e são como portais que levam a lado nenhum. Guitarras de Picasso no MoMA A exposição “Picasso: Guitars 1912-1914” traz ao Museum of Modern Art de Nova Iorque um período específico da carreira do artista espanhol com obras de 35 colecções públicas e privadas. Colagens, assemblages, desenhos e pinturas que desconstroem uma simples guitarra são postos em conjunto com fotografias de estúdio que documentam a sua criação. Até 6 de Junho.

↑ David de Almeida, Cadência, 2011. Livro impresso em serigrafia com tiragem limitada à venda a preço especial no Centro Português de Serigrafia, até 8 de Maio. Cartaz de “Summer-Calling”

Pedro Valdez Cardoso, “Cross-Cultural” Os novos trabalhos de Pedro Valdez Cardoso estão em exposição até 11 de Junho na Arte Contempo sob a designação “Cross-Cultural (works on flatness, dominion and erasing)”. Dentro da sua linguagem já consolidada, Pedro discorre sobre temas como o neo-colonialismo, a globalização e a identidade. Recolhendo objectos de consumo de uso quotidiano em hipermercados e nas chamadas “lojas de chineses”, criou objectos e artefactos ritualísticos que questionam conceitos de domesticação, comercialização, transporte, capitalismo e genocídio. Lourdes Castro vence prémio AICA Artes Plásticas A Associação Internacional de Críticos de Arte distinguiu Lourdes Castro como uma das artistas mais importantes da contemporaneidade em Portugal. Senhora de um percurso ligado à poesia das sombras e com um notável trabalho no campo da performance, nos anos 60 Lourdes Castro foi fundadora do grupo KWY, em Paris, juntamente com René Bertholo. O grupo editou uma revista com o mesmo nome onde colaboraram nomes como Costa Pinheiro, Escada, Jan Voss e Christo, entre outros. Embora afastada da produção artística, o seu nome não tem perdido o interesse entre os amantes e conhecedores da arte. ¶

↑ Pedro Valdez Cardoso, Sem título, 2011. Arte criada de objectos recolhidos dos hipermercados e "lojas chinesas"Até 11 de Junho na Arte Contempo, à Estrela, em Lisboa. ← Lourdes Castro, Sombra Projectada de Christa Maar, 1968, Colecção CAMJAP.


ART MiX / jorge dos reis

Learn to read art, sem data.

Laurence Weiner está escrito na parede

Weiner utiliza as palavras de forma a criar uma relação entre o artista e a sua audiência. Para este autor, o artista é a entidade nominal que conduz um sentido verbal e que convoca os receptores da mensagem para um plano de interpretação mais denso.

↑ As long as it lasts, 1993 ↓ Exposição Forever & A Day no CAC Malaga, Espanha, 2008

Durante os anos 60, Weiner ganha visibilidade enquanto artista conceptual investigando novas formas de mostrar o seu trabalho sobre a natureza do objecto artístico. Numa das suas primeiras exposições, ainda em 1968, realizou um livro de artista denominado Statements que era apenas constituído por palavras e frases, referindo que, sendo o livro formado por palavras, não havia necessidade de expor objectos na galeria. Nos anos 70, as instalações com tipografia em paredes constituem o seu processo de trabalho mais frequente, consistindo apenas em palavras pintadas ou coladas por profissionais contratados que respeitavam as indicações do artista para a montagem da instalação. O seu corpo de trabalho concentra-se no potencial da linguagem enquanto experiência artística, produzindo estruturas tipográficas epigramáticas onde revela acções, processos ou materiais da obra de arte, como na frase: "one quart green exterior industrial enamel thrown on a brick wall". Noutras situações revela o resultado de traduções como em "towards the end of the beginning, em direcção ao fim do princípio". Se as instalações sempre foram o seu meio prioritário, é de referir que Weiner trabalha também com uma grande variedade de meios como as artes gráficas, a performance, a escultura, as cassetes áudio ou o vídeo. Na obra deste artista, a mera contemplação estética é ultrapassada por um novo modelo de recepção, onde o observador faz parte da construção da obra de arte ao fun-

cionar como leitor e intérprete da mensagem. Ao utilizar a tipografia, Weiner faz com que o texto seja relativizado o que permite ao observador uma maior liberdade de acção na sua interpretação, uma vez que pode transportar para a sua vida aquilo que retirou desse contacto, sendo esta uma das estratégias principais do artista. O uso do texto através da pintura ou da colagem em diversas superfícies acarreta uma utilização material e física da tipografia e do alfabeto, paradoxalmente negada pela imaterialidade que a obra de Weiner convoca. Num comentário de Weiner podemos verificar o papel da linguagem no seu trabalho: “Eu estou interessado naquilo que as palavras significam, não estou interessado no facto de serem palavras. Sou capaz de usar palavras pelo seu significado, apresentá-las a outras pessoas. Espero que uma vasta maioria leia as palavras pelo seu significado, que coloque o significado no contexto escultórico dos seus próprios parâmetros e que se contextualize com o mundo.” Nas últimas três décadas, Weiner explorou o seu interesse por novos públicos. O resultado é um conjunto de instalações onde o observador tem de interpretar o lugar e a tipografia como entidades sociais e históricas. Mas a tipografia colocada em superfícies arquitectónicas (exteriores) e galerísticas (interiores), muito diferentes entre si, acaba por ter um papel fundamental, que é o de disseminar a mensagem por um número o mais alargado possível de receptores, como Weiner refere: “Eu posso levar com um ovo na cara ao dizer isto, mas diria que a

introdução da linguagem enquanto matéria escultórica tem o efeito de incorporar mais público na mesma questão e no mesmo mundo em que a fotografia se colocou.”. Contudo esta disseminação não é literal, tendo em conta o que Weiner designa por uma revolução da compreensão ao realizar registos tipográficos onde a linguagem funciona como uma barreira a essa mesma compreensão: “Quero estar numa barricada e sinto-me muito confortável nessa situação, mas não pensem que me instalei e que tenho tudo controlado. Todos querem que a obra de um artista faça sentido, mas de facto não é suposto existir sentido, é suposto ter um significado.”. A procura de uma neutralidade gráfica resultou numa opção formal específica e extremamente metodológica no que diz respeito à escolha do tipo de letra para as estruturas tipográficas. Ao desenvolver o seu quadro conceptual encontrou o tipo de letra Franklin Gothic na qual plasmou a simplicidade da sua escrita: “É só para dizer que Franklin Gothic não me representa, Pormenor de uma das obras encomendadas pelo Ministério da Cultura francês para vários edifícios públicos.

Many Colored Objects Placed Side By Side to Form a Row of Many Colored Objects, 1982

xxxxxxxxxxxxxxxx

Bits & Pieces Put Together to Present a Semblance of a Whole, 1991.


galeriavalbom eu é que prefiro ser representado pelo tipo Franklin Gothic.”. O impacto do trabalho de Weiner na comunidade do design é paradigmático, desde o início da década de 90. Muitos dos que seguiram o progresso do design depois do fim dos anos 80 têm clara noção da influência que o seu trabalho teve. As gerações mais novas acabariam por absorver essa referência indirectamente ao verem o seu estilo traduzido no trabalho de outros. Os seus livros Displacement e Point to Point têm sido um tesouro secreto entre algumas secções da comunidade do design. Este facto criaria uma nova e inesperada disseminação do trabalho de Weiner entre os próprios designers pois nas décadas passadas a sua tipografia foi "reapropriada" em capas de discos, em exposições museográficas, em brochuras, en-

quanto marca visual de clareza, de intelectualismo e de um design distintivamente contemporâneo. O seu trabalho linguístico com as palavras revela cadências sonoras e sensoriais. São frases com uma cadência muito especial na qual a ordem das palavras evoca uma musicalidade da leitura, apresentando uma simetria tipográfica que gera uma pauta fonética. Contudo, são frases

↑ In direct line with another and the next, refere-se à grelha de Nova Iorque e pode ser visto na Union Square. ↓ Capa do livro, Lawrence Weiner Contemporary Artists da Phaidon. Preço: $32 em www.amazon.com

de grande simplicidade, sem subterfúgios, truques ou ilusões, que revelam uma ética relacional com a matéria. Este mecanismo de simplicidade linguística e de paradoxal riqueza fonética e musical constitui um dos pontos-chave do entendimento da obra de Weiner. Indo mais longe, poderíamos considerar de forma categórica que as suas estruturas tipográficas são para cantar e que este facto fixa um significado próprio, não partilhável. Retemos de Weiner dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, o facto do artista marcar o seu trabalho através de um tipo de letra específico, acabando por caracterizar graficamente a sua obra de forma transversal. Em segundo lugar, a tipografia extrapola a página e vai instalar-se nas paredes, no tecto e no chão da galeria, bem como no espaço urbano, em lugares tão diferentes como o muro de pedra de um castelo ou a superfície branca da torre de um farol. ¶

Perfil LAURENCE WEINER Nasceu em 1942 no Bronx em Nova Iorque. No final da década de 50 viajou pelo continente norte americano. Vive entre Nova Iorque e o seu barco em Amesterdão. É uma das figuras mais importantes da arte conceptual. Começou a sua carreira com peças onde trabalhava a forma visual da tela, tendo, em 1968, formulado a sua declaração de intenções: 1. O artista pode construir o trabalho 2. O trabalho pode ser fabricado 3. O trabalho não precisa de ser construído Cada uma é equivalente e constituinte com a intenção do artista e a decisão respeitante à condição reside no receptor na altura da recepção. ¶ JdR

CARLOS BARÃO “O Parentesco das Coisas” De 7 de Maio a 30 de Junho

Av. Conde Valbom, 89-A - 1050-067 Lisboa Tel.: 21 780 11 10 geral@galeriavalbom.com www.galeriavalbom.com Segunda a Sábado das 13h00 às 19h30


cinema / elsa garcia

Indie Lisboa Director's Cut

Oito edições e muitas histórias a correr entre as películas, os sofás das salas de cinema, o grande ecrã e as inúmeras actividades paralelas ao festival. Já é certo e sabido que o Indie teve um grande corte orçamental mas essa não é uma razão suficientemente forte para a organização deixar de brindar o público com a boa selecção de filmes que faz anualmente. Em tempo de crise há que resga-

tar a criatividade, dar asas à imaginação e homenagear quem o merece, e a personagem escolhida desta vez é Júlio Bressane. Trata-se de um nome fundamental do cinema marginal brasileiro, um cineasta singular e visionário que até hoje não tem sido muito divulgado. Pode até dizer-se que se trata de uma espécie de Manoel de Oliveira brasileiro. No Indie será homenageado com uma retrospectiva que é, até à data, a mais completa da sua obra, e da qual farão parte 17 filmes, entre os quais os clássicos O Anjo Nasceu e Matou a Família e Foi ao Cinema, ambos de 1969. O primeiro foi filmado em sete dias e o segundo em doze. Os orçamentos eram baixos, mas o objectivo era filmar o mais possível. Bressane distanciou-se do conhecido Cinema Novo representado pelos grandes nomes: Glauber Rocha e Nelson Pereira, que procuravam retratar com maior exactidão a realidade do país, enquanto Bressane recebia uma forte influência do cinema underground norte-ameGravity Was Everywhere Back Then

aeroporto de Lisboa, e para o novo filme de Edgar Pêra, O Barão, adaptado de uma novela de Branquinho da Fonseca. Por seu lado, Hugo Vieira da Silva, em Body Rice, conta a história de um pai e um filho que viajam para Berlim para visitar a mãe deste, a qual nunca conheceu, e que se encontra em coma. Existe apenas um documentário na competição nacional, Linha Vermelha, de José Filipe Costa, sobre a rodagem do mítico Torre Bela, que o alemão Thomas Harlan realizou em 1977 durante a ocupação da maior herdade murada do país no pós-25 de Abril. Outra das grandes novidades é o regresso de João Canijo ao Indie Lisboa, com o seu novo documentário Trabalho de Actriz, Detroit Ville Sauvage Trabalho de Actor, que será exibido na secção paralela “Director’s Cut”. Trata-se de um documenricano. No entanto, ambas as estéticas tinham tário sobre a rodagem do seu último filme Sangue um ponto em comum: privilegiavam o cinema de do Meu Sangue. Para este, Canijo registou todo o autor e trabalhavam com meios reduzidos. O re- processo criativo ao longo de 20 semanas de traalizador irá estar em Lisboa para falar sobre a sua obra e acompanhar a retrospectiva. Os directores do festival, Rui Pereira, Nuno Sena e Miguel Valverde, sabiam à partida que 2011 seria um ano difícil. A edição deste ano conta com apenas 1,1 milhões de euros, menos 500 mil euros do que no ano passado, mas apesar dos cortes orçamentais, as secções do festival manter-se-ão. Assim, o público poderá assistir a uma selecção de 240 filmes que irão dividir-se entre “Competição Internacional”, “Observatório”, “Cinema Emergente”, “Pulsar do Mundo”, “IndieJúnior” e parelelas: “Director’s Cut”, “IndieMusic” e “Sessões Especiais”. A principal alteração está nos projectos que este ano não têm continuidade, como as “Lisbon Screenings”, que consistiam em sessões de filmes portugueses ainda inéditos reservadas a profissionais estrangeiros, e o “IndieLisboa Days”, com programas itinerantes de filmes portugueses exibidos no festival que eram apresentados fora de Portugal em colaboração com parceiros internacionais. Não obstante os cortes, Portugal vai estar em grande destaque nesta oitava edição do Indie e a nível de competição nacional serão apresentadas seis obras que são estreia em territórios lusos. O destaque vai para Viagem a balho, que envolveram diversos actores, entre Portugal, a primeira ficção de Sérgio Tréfaut, que eles Nuno Lopes, Rita Blanco, Anabela Moreiconta a história de uma ucraniana que é detida no ra e Beatriz Batarda. A inauguração foi pautada com dois grandes filmes que tiveram uma boa recepção no Festival de Cannes em 2010: Carlos, de Olivier Assayas e Les Amours Imaginaires, de Xavier Dolan. O primeiro retrata Carlos, uma figura-chave do terrorismo internacional, dos anos 70 e 80, mais conhecido por Chacal e cuja versão cinematográfica estreará em Portugal no dia 19 de Maio. Les Amours Imaginaires é um filme sobre três amigos íntimos que se envolvem num triângulo amoroso. A par e passo com o actual estado do mundo e com as suas consequentes crises económicas, também o Indie espelha as novas realidades através de filmes que reflectem a xenofobia, o terrorismo e a emigração. A edição é pautada por uma grande presença de filmes de escola e de curtas que se tornam interessantes pelo seu lado experimental, como é caso de Unfinished Italy, de Benoit Felici, centrado nos edifícios que foram sendo abandonados um pouco por toda a Itália, numa realidade bem próxima da portuguesa. Ou falando na catástrofe da bolsa em Cleveland versus


John Lennon - Love is All You Need

Wall Street, de Jean-Stephane Bron, num filme que se desenvolve em torno das famílias que perderam a casa na crise e na sua súbita vontade em processar a Wall Street. Outro dos focos vai para outra grande novidade da edição deste ano que se prende com a realização de um workshop de quatro dias (9 a 12 de Maio), feito em colaboração com a escola francesa Le Fresnoy – studio national des arts contemporains (que por sua vez terá um terá um foco na secção “Cinema Emergente”) e a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. A escola Le Fresnoy é um dos mais importantes centros de formação artística e audiovisual em França, dirigida pelo escritor e cineasta francês Alain Fleischer. Esta funciona como um laboratório de pesquisa e produção na área da imagem e do som. Os alunos realizam os seus projectos e dispõem de um acompanhamento técnico e de diálogos sobre os seus projectos com nomes como Jean-Luc Godard, Michael Snow, Tsai Ming Liang, João Pedro Rodrigues, entre outros. No final do workshop, serão seleccionados seis candidatos que terão a oportunidade de fazer este workshop com formadores da Le Fresnoy e ganhar o direito a frequentar esta grande escola francesa. Deixando de lado as confortáveis cadeiras das salas de cinema, o Indie atreve-se a organizar um evento que vai atrair uma infinidade de fãs. Um filme-concerto que reúne a música dos Tindersticks e o cinema de Claire Denis. Como? Os Tindersticks vão colocar algumas das músicas que criaram para seis filmes da realizadora francesa em diálogo com as imagens dos filmes que as inspiraram... Indie Lisboa '11 Uma noite para ver, ouvir e ATÉ15MAI Cinema São Jorge dançar. ¶ Culturgest Teatro do Bairro Cinemateca Júlio Bressane


moda

Outono / Inverno 2010. Imagem da última colecção de McQueen inspirada mais uma vez no seu amor pelo imaginário das aves.

macqueen © The Metropolitan Museum of art - mude © luisa ferreira

/ maria josé sacchetti

Alexander Mcqueen

Primavera / Verão 2005. As perucas pony sugerem os guerreiros mongois.

Primavera / Verão 2008 Detalhe de um vestido inspirado na arte origami

Alexander McQueen homenagem no MET em Nova Iorque “Alexander McQueen: Savage Beauty” é o nome da exposição patente ao público no Met até 31 de Julho que pretende homenagear o curto mas intenso trabalho criativo do jovem estilista recentemente desaparecido Alexander McQueen. Desde a sua colecção de final de mestrado em 1992 até à apresentação da sua última colecção, cujo desfile teve lugar em Fevereiro de 2010, pouco depois da sua morte, McQueen prestou um contributo extraordinário para o desenvolvimento da moda e da sua associação a valores altos de criatividade. De todas as colecções saíram designs que se tornaram icónicos, onde o estilista desafiou conceitos pré-estabelecidos do que é a moda. Trata-se de um artista que utilizou o design de moda como veículo de expressão artística, onde explorou conceitos tão diversos como a expressão cultural e política ou a identidade. Nesta exposição estão presentes cerca de 100 criações, muitas delas com as silhuetas que ficaram associadas ao trabalho de McQueen, como o casaco kimono, a sobrecasaca Origami, ou o tratamento contemporâneo das silhuetas exageradas dos anos 1860, 1880, 1890 e 1950. Todos eles espelham uma grande sensibilidade, um domínio completo de técnicas de modelagem e costura e um design vanguardista. ¶ The Metropolitan Museum of Art 1000 Fifth Avenue New York, New York 10028-0198 Tel. +212-535-7710 www.metmuseum.org

Outono / Inverno 2009. Um padrão avangarde inserido em tema histórico representado pela armadura.


“UNRAVEL.Knitwear in Fashion” no MoMu Fashion Museum em Antuérpia Até ao dia 14 de Agosto está patente ao público no MoMu, Mode Museum, em Antuérpia, a exposição “UNRAVEL.Knitwear in Fashion”. Sempre com a alta qualidade a que as exposições deste museu nos têm vindo a habituar-nos, encontram-se expostas peças peculiares de vestuário e de acessórios de moda, executadas em knitwear. O percurso temático inicia-se com algumas peças elaboradas manualmente ao longo dos últimos séculos, culminando em fragmentos de colecções de alta moda contemporâneas, com um foco especial nas de interpretação vernácula. Da exposição constam peças de estilistas, assim como de marcas nacionais e internacionais, destacando-se as de Ann Salens, Vivienne Westwood, Sonia Rykiel, Missoni. Figuram igualmente peças de alta costura que ganharam um carácter histórico como são algumas de Schiaparelli, Patou e Chanel. Knitwear é uma técnica antiga, que nos últimos anos tem vindo a conhecer um enorme revivalismo através da criatividade de jovens estilistas. Como tal, o trabalho vanguardista de estilistas internacionais como Sandra Backlund, Maison Martin Margiela ou Mark Fast encontra o seu lugar no segmento final da exposição, onde inovadores artefactos demonstram uma interessante mistura de matérias, técnicas e volumetria. No todo, é proposto ao público uma reflexão desta técnica milenar e da sua mudança de status: de hobby manual e caseiro para veículo altamente criativo de produção de peças de alta costura. Um catálogo da exposição encontra-se publicado pelo museu em conjunto com a Lannoo Publishers. ¶ MoMu – ModeMuseum Provincie Antwerpen Nationalestraat 28 2000 Antwerpen Tel. +323 470 27 70 www.momu.be

LUIS GERALDES

THE BEGINNINGS OF INFINITY, 2010 Óleo sobre tela, 152x122cm

MUSEU DE SÃO ROQUE EXPOSIÇÃO DE PINTURA até 15 de Maio

Museu de São Roque - Largo Trindade Coelho, Chiado - Lisboa. Terça a Domingo das 10h00 às 18h00 Quintas das 14h00 às 21h00. Encerra: Segundas e feriados

MUDE nova colecção permanente No próximo dia 21 de Maio e por ocasião da celebração do seu segundo aniversário, o MUDE apresenta ao público uma reformulação da sua colecção permanente de objectos de design e de moda. Desta inauguração constam novas peças da colecção Francisco Capelo que, inserindo-se no contexto das colecções que o museu se propôs apresentar, foram escolhidas pela sua forte componente em termos de design: pequenos objectos, mobiliário e peças de design de moda. ¶

CHRISTIE’S Londres

Post-War & Contemporary Art www.christies.com/LotFinder/lot_details

MUDE – Museu do Design e da Moda. Colecção Francisco Capelo Rua Augusta, 24 - 1100-053 Lisboa Tel. 218 886 120 www.mude.pt

Venda em leilão AN ANGEL OUT THERE, 2003 Óleo sobre tela, 152x122cm Preço atingido: €10,500

AUSTRÁLIA +61 411 401 738 835, JUMBUK ROAD YINNAR SOUTH VIC 3869, AUSTRÁLIA

PORTUGAL +351 914 543 842 RUA DOS FAISÕES, 3, 5 ESQ BELAS CLUBE DE CAMPO 2605-200 BELAS

lgeraldes@gmail.com www.geraldes.com


livros

António Pedro, Avejão Lírico, 1939

Columbado, Auto-Retrato [inacabado], 1927

Almada, Auto-Retrato, 1948 Malhoa, O Fado, 1910

Seis Pintores Rafael Malhoa Columbano Amadeo Almada Pedro José-Augusto França Imprensa Nacional – Casa da Moeda 40,00 euros Uma obra destinada a um público especializado, que consiste em seis estudos sobre pintores portugueses dos séculos XIX e XX, a saber: Rafael Bordalo Pinheiro, José Malhoa, Columbano Bordalo Pinheiro, Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros e António Pedro. São, no seu todo, artistas que incorporam e personificam seis situações culturais e estéticas particularmente representativas da criação artística portuguesa de 1870 a 1970 – um século, portanto. Este livro é o resultado de uma reunião de textos já editados numa outra colecção, “O Essencial sobre”, embora aqui enriquecidos pelas muitas e icónicas imagens e naturalmente reunidos num só volume dada a grande coerência e equilíbrio dos ensaios. José-Augusto França, catedrático jubilado da Universidade Nova de Lisboa, membro da Academia das Ciências e antigo presidente da Academia Nacional de Belas-Artes, membro da Association Internationale des Critiques d’Art /AIC (presidente de honra), é um reputado teórico e divulgador que pertenceu ao Grupo Surrealista de Lisboa. tpa

A Arte como Linguagem José Gil Relógio D’Água 14,00 euros Este livro regista a última lição de um dos grandes filósofos portugueses da actualidade (apresentada a 10 de Março de 2010, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), colocando algumas questões pertinentes sobre a apreensão e compreensão da arte. “Se há uma linguagem na arte contemporânea ou não, ou se há várias, é um problema pertinente”, alerta o pensador logo nas primeiras páginas. Malevich e o suprematismo são tomados como exemplos a reter, na discussão e análise das fracturas e articulações epistemológicas que ditam os caminhos da apreciação e criação artística, estabelecendo um cânone unânime e condutor, que, mais tarde, deverá novamente ser colocado em xeque pela natural evolução das ideias e da sua concretização. tpa

Tendas do Deserto João Jacinto e Paulo do Vale Assírio & Alvim Fundação Carmona e Costa 15,00 euros Prosseguindo a parceria com a Fundação Carmona e Costa, a Assírio & Alvim edita mais um volume dedicado ao desenho, desta vez apostando num conjunto de intensos auto-retratos de João Jacinto, reunidos para a recente exposição que dá nome ao livro. As imagens são de uma expressividade quase transcendental, criando um elo visceral entre os traços fundamentais – não do delineamento do rosto, mas da sua expressão – e desafiando o olhar do espectador. Como acontecia nos icónicos retratos de Artaud, também aqui temos imagens em que “estes auto-retratos são manifestações da excedência de um rosto”, conforme escreve Paulo Pires do Vale, curador da referida exposição. tpa

Seis pintores e artes africanas © fotos cedidas pela imprensa nacional casa da moeda

Amadeo, Parto da Viola, 1916


Artes Africanas – Aproximação Estética de um Artista Eduardo Nery Imprensa Nacional – Casa da Moeda 40,00 euros Tardiamente entendida como um dos principais contributos – por vezes, de forma subliminar ou inconsciente – para a solidificação da linguagem artística ocidental contemporânea, a arte africana representa uma das mais antigas fontes da consciência criativa humana, acompanhando outras formas de expressão da evolução da humanidade. Este livro – que resulta de uma das exposições que marcaram o panorama português de 2010, “Eduardo Nery e a Arte Africana – Monólogos de um Autor e Coleccionador” – documenta (e articula-se com) o trabalho de coleccionismo de Eduardo Nery neste campo, actividade que em muito influenciou a sua própria produção enquanto artista plástico. Esculturas, máscaras, mobiliário, têxteis e outros objectos são pontos de partida para uma viagem amplamente documentada por um universo ainda por desbravar, testemunha de rituais, cerimónias, culto e estéticas em evolução – tantas vezes subestimados. tpa


capa A arte em festa na Miguel Bombarda

a arte sai à rua

Posters de promoção das inaugurações nas galerias da Rua Miguel Bombarda

Rua Miguel Bombarda, Porto É um acontecimento-chave da vida cultural do Porto, senão mesmo da região Norte do país. A fama do dia das inaugurações simultâneas das exposições nas galerias da Rua Miguel Bombarda extravasa a própria cidade.

A tradicional rivalidade entre a invicta e a capital não impede até as excursões mais ou menos organizadas que do Sul rumam ao Norte. São mais de 15 galerias, dentro desta artéria e nas suas imediações, que abrem as portas no mesmo dia para receber milhares de visitantes. Muitos deles apenas visitam galerias de arte nesta data. O evento é produto da iniciativa da Galeria Fernando Santos que, em 1995 se mudou para esta zona. Em 1998, aproveitando a aproximação do Porto Capital Europeia da Cultura, iniciou-se o ritual de transformar a arte em festa seis vezes por ano naquele que é agora chamado de Bairro das Artes. É importante referir a intervenção do artista Ângelo de Sousa, recentemente falecido, na autoria do traçado e do arquitecto Filipe Oliveira Dias, responsável pelo projecto de reabilitação da rua, que a autarquia mais tarde colocou em prática, transformando parte dela em zona pedonal. A dinâmica gerada por este conjunto de galerias estende-se às ruas circundantes, como, por exemplo, a Rua D. Manuel II, e mesmo por toda a cidade, onde neste dia se vive um ambiente de “formigueiro” de dia e de noite. Assim, foi no dia 30 de Abril que se iniciou mais um ciclo, assinalado com euforia (mais nas ruas do que nas galerias) numa tentativa de vencer a apatia geral da conjuntura com uma demonstração de vitalidade artística. A Artes & Leilões propõelhe uma selecção de algumas das exposições que poderá ver.


Lisbeth Moe Nilsen Sem titulo (pormenor) 2009 na Galeria 111

num dia assim... rua da boa nova

Galeria Arthobler Rua Miguel Bombarda, 624 Tel. 226 084 448 info@arthobler.com www.arthobler.com

Galeria Por Amor à arte Rua Miguel Bombarda, 572 Tel. 226 063 699 galeria@poramoraartegaleria.com

Galeria Presença Rua Miguel Bombarda, 570 Tel. 226 060 188 geral@galeriapresenca.pt www.galeriapresenca.pt

Rua Miguel Bombarda

Galeria São Mamede R D. Manuel II, 260 Tel. 226 099 589 galeria@saomamede.com www.saomamede.com

Galeria 111 Rua D. Manuel II, 246 Tel. 226 093 279 info@111.pt www.111.pt

av de dom manuel II

Pedro Figueiredo Instante sem data

Galeria São Mamede Pedro Figueiredo – “Limites da des-figuração” Até 2 de Junho. Rua D. Manuel II, 260. Esculturas em bronze e peças em resina de poliéster constituem a primeira exposição individual deste artista no Porto. Na construção de uma figuração fantasiosa, Pedro Figueiredo cria personagens que se esticam ou se contorcem numa ausência de rigor anatómico que dá lugar a formas desproporcionadas. Como refere no texto de apresentação do catálogo desta exposição o professor António Pedro Pita, actual director regional da Cultura, “[…] circulando no espaço poético ou espectral definido por qualquer conjunto destas peças – fui ganho pelo sentimento de que estamos perante personagens de uma história enigmática, subterrânea, fantástica, onde não há olhares nem proporções porque é a um outro plano que a figuração desfigurativa de Pedro Figueiredo nos faz aceder.” Pedro Figueiredo nasceu na Guarda, em 1974 e em 2003 ganhou o Prémio Revelação da XII Bienal de Vila Nova de Cerveira.


capa

Galeria Serpente Rua Miguel Bombarda, 558 Tel. 226 099 440 galeriaserpente@sapo.pt www.galeriaserpente.com

Rua Miguel Bombarda

Galeria Quadrado Azul Rua Miguel Bombarda, 553 Tel. 226 097 313 quadazul@esoterica.pt www.quadradoazul.pt/

rua de adolfo casais monteiro

Daniel Barroca Motim

Galeria Fernando Santos Rua Miguel Bombarda, 526 Tel. 226 061 090 fsgaleria@mail.net4b.pt www.galeriafernandosantos.com/

Rua Miguel Bombarda

Galeria Nuno Centeno Rua Miguel Bombarda, 531 Tel. 936866492 info@nunocenteno.com www.nunocenteno.com

Galeria 111 Lisbeth Moe Nilsen – “Tempo” Até 28 Maio. Rua D. Manuel II, 246. A norueguesa Lisbeth Moe Nilsen escolheu Lisboa para viver e trabalhar, mas na sua exposição “Tempo” adivinham-se ainda as suas origens nórdicas. O branco é dominante num conjunto de obras reveladoras de uma grande sensibilidade e minúcia. Num registo quase zen, em esculturas, desenhos e assemblages, Lisbeth ocupou-se de técnicas e formas que sugerem uma gestualidade repetitiva. Os seus desenhos são como registos de um diário intuitivo e sensorial, de momentos passados em silêncio e de longas horas de meditação. Quando passa para as pequenas caixas com montagem de papéis e outros materiais, é de novo a delicadeza que se salienta, assim como uma proposta à viagem por um universo interior. Sempre numa linha de alvura, as suas esculturas de parede invocam algo de ancestral e de germinação ou nascimento. No geral, a exposição aproxima-se da estética minimalista, mas o resultado não é frio e sim intimista. O branco do gesso, a predilecção pelo desenho em grafite e as formas simples e estilizadas denotam uma depuração da realidade visível e do imaginário cultural e social que envolvem esta artista. Lisbeth Moe Nilsen Sem titulo 2009

Galeria símbolo Rua Miguel Bombarda, 451 Tel. 226 099 349 simbolo@sapo.pt www.galeriasimbolo.net

rua do rosário

Galeria Fernando Santos Daniel Barroca – “Motim” Até 28 Maio. Rua Miguel Bombarda, 526 Prosseguindo a mesma linha temática da sua exposição anterior na Galeria Fernando Santos há dois anos, “Recolhendo os Ossos”, Daniel Barroca (Lisboa, 1976) explora ainda em “Motim” o tema do colonialismo português em África. Para complicar a questão, o artista acrescenta também outros elementos relacionados com a conversão de Roma ao cristianismo, a problemática de Bamyan no Afeganistão, em 2001, e também a revolta protestante na Europa no século XVI. São porventura demasiadas questões para colocar sob o mesmo tecto. No entanto, há um denominador comum a todas que atravessa vários contextos histórico-geográficos: o principal interesse do artista está na ideia da violência de uma cultura “que se impõe sobre outra, capturando-a, amputando-a, subjugando-a e apropriando-se dos seus conteúdos segundo as suas próprias contingências históricas”, como diz a folha de sala. Para discursar sobre estas polémicas, Daniel Barroca apresenta obras de desenho, fotografia e vídeo.


Jakub Nepras Fossil (pormenor) 2007

Galeria Andre Viana Rua Miguel Bombarda, 410 Tel. 223 395 090 galeria-andreviana@clix.pt

Galeria da Trindade Rua Miguel Bombarda, 200 Tel. 222 088 528 geral@galeriatrindade.co.pt www.galeriatrindade.co.pt/

Galeria artes Solar Sto António Rua do Rosário, 84 Tel. 222 013 009 geral.artes@gmail.com solarstoantonioabout.blogspot.

Galeria Presença Pedro Calapez – “A quarta parede” Até 28 Maio. Rua Miguel Bombarda, 570. Não é de todo inusitada a referência ao universo teatral quando se trata de Pedro Calapez, artista que tem estado envolvido até na realização de obras de arte inseridas em espaços de artes performativas como o Teatro Municipal de Almada. Neste caso, a sua pintura é entendida através da relação que é feita nesta exposição com um texto de Diderot, que, em Discours sur la poésie dramatique fala sobre uma parede virtual que deveria separar os actores dos espectadores, referindo mesmo que a representação deveria acontecer como se a cortina de cena não tivesse sido levantada. Assim, o título da exposição, “A Quarta Parede”, pretende aludir a uma investigação sobre questões que têm que ver com o plano da pintura e a relação estabelecida entre esta e quem a observa. Trata-se de trabalhos recentes de pintura em acrílico sobre tela ou alumínio. Um diálogo entre a abstracção da pintura com a superfície e a forma dos materiais sobre os quais ela é executada, assim como a sua disposição no espaço. Em alguns casos o resultado é puramente abstracto, em outros vislumbra-se a representação de uma paisagem que, por ser sempre insinuada ou estilizada, remete para o questionamento do próprio género temático dentro da tradição da pintura. ¶ Miguel Matos

rua de diogo brandão

Rua Miguel Bombarda

rua de cedofeita

Galeria Arthobler Jakub Nepraš Até 29 Maio. Rua Miguel Bombarda, 624. Este jovem artista checo (Praga, 1981) é detentor de uma das mais interessantes propostas artísticas no campo da digital art. Recorrendo a múltiplas projecções de vídeo em simultâneo, ele cria cidades e planetas, territórios ambíguos plenos de vida e movimento. O fluxo constante de tecnologia, de migrações e das suas velocidades é traduzido num organismo que por vezes se assemelha a uma grande planta ou um rochedo habitado por espécies variadas. Através da junção de elementos diferentes, como imagem, movimento, cor, som, ritmo, Jakub Nepraš cria trabalhos de elevada complexidade e leva o observador a entrar no seu mundo fascinante. O artista diz da sua obra: “O meu trabalho é uma reflexão sobre a metamorfose de valores e prioridades na vida.” Nesta exposição, apresenta, entre outros, a vídeocolagem Fóssil, composta por cerca de 300 vídeos filmados pelo artista, e a vídeo-escultura Auras of Communities, que combina uma projecção sobre uma escultura em acrílico e componentes plásticos. Esta vídeo-escultura fez parte das três obras comissionados pela República Checa e foi integrada no pavilhão da exposição mundial em Xanghai em 2010. É de referir que não é a primeira vez que Jakub Nepraš expõe em Portugal com a Galeria Arthobler, tendo também exposto os seus trabalhos no Museu Colecção Berardo.

Pedro Calapez Horizonte Vertical (pormenor) 2011


artista Exposições de José Pedro Croft: Galeria Mário Sequeira em 2011 e Fundação Calouste Gulbenkian em 2008.

As esculturas de José Pedro Croft são mecanismos que funcionam em interacção com o corpo… Apesar da referência à forma e função funerária da escultura, são obras que pedem a dinâmica de um organismo vivo, observante e em interacção dinâmica com a estrutura. É nessa dualidade constante, nesse fluxo bidireccional que se

dá a troca de energias que permite à arte existir como tal. Na exposição que inaugura a 9 de Maio no Espaço Chiado 8 Fidelidade Mundial, José Pedro Croft explora noções de habitabilidade e de escala em linguagens diferentes que seguem um caminho único. a&l: Desde os anos 80 que tem construído um percurso sólido e concentrado numa linguagem imediatamente reconhecível. Muitos artistas mais jovens optam pela diversificação de linguagens e temas de forma tal que muitas vezes não criam uma marca autoral. Acha que esse caminho dificulta a progressão de uma carreira no contexto do mercado da arte? josÉ pedro croft: Não sei muito sobre carreiras nem confundo o trabalho com o mercado. Acho que andam paralelamente e por vezes nem sequer se tocam. Eu acho que um artista explorar novos caminhos e novas possibilidades não só é um desafio como é estimulante, refrescante e enriquecedor. Em relação ao meu trabalho, tento ir trabalhando diferentes materiais e escalas, pensando cada exposição de maneira diferente. Cada trabalho é pensado em função do lugar e de uma ideia. Surgem outros materiais e eu estou disponível para usá-los. O que acontece é que, no momento de usá-los, me meto tão dentro deles que é impossível isso não ter uma marca autoral, uma impressão digital. Mas isso não acontece com o objectivo de ter uma linguagem reconhecível. a&l: É dos poucos artistas portugueses que conseguem realizar exposições individuais todos os anos em diversos países. Considera que a sua internacionalização é um facto consumado? jpc: Não. Hoje em dia, para os artistas portugueses, e para qualquer artista europeu, é normal expor e circular fora do local de produção – coisa que não existia quando eu comecei. Apesar de fazer exposições no estrangeiro, não estou integrado nos grandes circuitos nem nos grandes museus internacionais. Não estou e não é uma coisa que me preocupe. a&l: Uma faceta do seu trabalho que tem mais sucesso no estrangeiro do que em Portugal é a gravura. Em Portugal não se dá valor a esta técnica, no entanto, basta ir a Espanha para encontrar um interesse enraizado... jpc: A Galería La Caja Negra, que me representa em Madrid, levou o meu trabalho de gravura para a Feira de Arte do México e para a Feira de Arte de São Paulo. As minhas gravuras têm feito alguma circulação em Espanha e nas feiras internacionais em que a Galería La Caja Negra participa. Em Portugal, é um trabalho que não está valorizado, tal como há 20 anos não se valorizava o trabalho sobre papel. É uma coisa que leva tempo e também não há uma grande tradição, apesar de nos anos 50 e 60 alguns artistas portugueses terem feito um importante trabalho de exploração da técnica, sempre com condições difíceis e rudimentares. Há um grande desconhecimento sobre a gravura e as pessoas associam-na muitas vezes ao poster. De qualquer forma, o que interessa é o processo que está por detrás, o conceito de múltiplo e a manualidade do trabalho. Muitas vezes, para mim é mais difícil fazer uma gravura do que dez desenhos. a&l: A relação que estabelece entre o seu trabalho de gravura, desenho e escultura é de diversidade ou de complementaridade?

jpc: Eu acho que são complementares. Tal como dentro da escultura, cada uma é

complementar da outra. O processo escultórico, só por si, não esgota todo o modus operandi e assim vou ter de buscar outras técnicas que podem ser o guache, o acrílico ou o carvão sobre papel para continuar o processo. No fundo estou sempre a falar da mesma coisa, mesmo num processo mais demorado como o da gravura. a&l: Na sua escultura há um movimento duplo, em fluxo permanente. Concentra num espaço delimitado a realidade circundante, captada e fragmentada por espelhos, mas por outro lado, esses espelhos projectam para fora ângulos e superfícies. jpc: O que faço é dar impressões do espaço e deslocá-las, retirando-as do contexto e alterando inclusive a sua escala. São questões de percepção. a&l: O seu trabalho remete para uma função de preservação, que se intui nas estruturas que lembram arcas ou vitrinas de exposição de objectos preciosos ou ritualísticos. As suas esculturas, ao contrário do que possa parecer, não estão vazias, pois não? jpc: Temos duas maneiras de olhar para elas. Primeiro, porque qualquer estrutura, por muito vazia que esteja, está cheia do mesmo ar que está fora dela. Mas a diferença é que se pode falar de um “cá fora” e um “lá dentro”, por existir um espaço delimitado. Depois, estas esculturas não estão completas. Elas existem em potência mas só são completadas e activadas pelo espectador cada vez que as olha e lhes enche o interior. a&l: Explora nas suas esculturas questões do corpo, da percepção e do espaço... jpc: Há um assunto que eu estou a trabalhar que é a noção de território e de demarcação. Nesta exposição pego num espaço que é habitável e construo uma escultura que nos expele e nos empurra contra a parede, tornando-se a escultura num espaço de arquitectura inabitável. a&l: Isso quer dizer que numa escultura pode descobrir um elemento que depois desenvolve noutro medium? jpc: Sim, não há uma regra. Mas isso tanto pode ser na escultura como a passear na rua ou a ver um filme. De repente há qualquer coisa que mexe connosco. O nosso interior é uma caixa de Pandora da qual, se estivermos disponíveis, estão sempre a saltar cliques que nos permitem fazer pontes e ligar coisas. a&l: O que é preciso é viver… jpc: Exactamente! E estar disponível. Há uma parte de rigidez que é importante e sem a qual não se pode construir. É preciso ter a disciplina de ir ao atelier, uma obstinação de se conseguir fazer qualquer coisa. Mas também é preciso estar aberto a contaminações para que umas coisas dêem origem a outras e outras. São dinâmicas contraditórias que, no fundo, se complementam. a&l: A exposição que está a preparar para o Chiado 8 divide-se em três partes. Pode contar-nos um pouco sobre elas? jpc: Comecei a pensar esta exposição há três anos. São três peças: uma delas é uma escultura que ocupa a totalidade da sala maior. Depois há um desenho que trata do mesmo assunto e a terceira sala terá uma peça de parede. A escultura central, composta com vidros e espelhos, é enorme e faz com que fiquemos apenas com uma distância de metro e meio de circulação entre ela e a parede. Nunca será possível ter a noção da peça no seu todo, apenas visões parciais. Pela primeira vez vou também apresentar um trabalho de fotografia que não funciona como obra autónoma mas sim como estudo. É um registo dos olhares que eu vou tendo quando passeio ou quando viajo e que me ajudam a perceber qual é o assunto que ando a tratar na escultura e no desenho. ¶ Miguel Matos


José Pedro Croft © Clara Azevedo

José Pedro Croft

"o nosso interior é uma caixa de pandora" José Pedro Croft pode parecer um artista metódico e racional se atentarmos apenas na sua produção plástica. No entanto, apesar de empregar materiais pobres ou industriais, e de o resultado poder ser frio e distante da manualidade, Croft salienta a importância da intuição ligada à disciplina.


museus Secador de Garrafas de Joana Vasconcelos na entrada principal do Museu Colecção Berardo.

Museu Colecção Berardo

Em Belém, de olhos no presente Entrevista com Pedro Lapa, director artístico do museu.


"Quando nos comparamos a outros países europeus, se olharmos para o tecido institucional que esses países têm e há quantos anos o público visita exposições de arte moderna e contemporânea, falamos de um século. z Nós não temos isso"

pedro lapa © Helena Garcia

→ Pedro Lapa

A Artes & Leilões conversou com Pedro Lapa semanas depois de ter assumido o cargo de director artístico do Museu Colecção Berardo. Lapa sucede assim a Jean-François Chougnet que, por razões pessoais, abandonou a posição que ocupava desde a inauguração do museu. Sendo demasiado cedo para concretizar um pro-

grama museológico, o antigo director do Museu do Chiado revela algumas das suas ideias sobre o sistema artístico português e sobre a sua linha de pensamento à cerca do lugar e da função de uma instituição como esta. A promoção de novos artistas e a internacionalização do museu são os pontos centrais da sua visão. Foi afastado da direcção do Museu do Chiado no final de 2009, tendo sido substituído por Helena Barranha. Como avalia a actividade do museu desde a sua saída até agora? Tem sido uma actividade intensa e de qualidade. Devo louvar essencialmente a realização do projecto que tinha deixado desenhado na altura. Eu também vou cumprir a programação feita por Jean-François Chougnet até 2012 e é assim que tem de ser. Gostaria ainda de salientar um outro aspecto: foi muito gratificante entender que houve continuidade e aprofundamento de um conjunto de projectos, como, por exemplo, a publicação de três volumes do catálogo do Museu do Chiado, cuja edição eu coordenei. É muito importante que se perceba que antes das pessoas está a própria instituição. As transições têm de ser feitas tendo em conta todo o trabalho que foi realizado e as possibilidades que há para aprofundar e corrigir esse trabalho. Muitas vezes há a tentação de mudar tudo de acordo com a cabeça de quem chega à direcção, o que dá lugar a confusões e a rupturas constantes... É verdade. Desde que trabalho nesta área assisti já à passagem de muitos ministros da Cultura e na maior parte das vezes vejo situações indignas em que não se dá importância às conquistas conseguidas que podem não dar frutos imediatamente, mas em que, com a sua continuidade, estes aparecem. A questão da tábua rasa é compulsiva na cultura portuguesa. Já o José-Augusto França, no final dos anos 50 escrevia um artigo importante sobre isso com o título “A lei do eterno recomeço”.


museus "O ensino da arte contemporânea ao nível universitário é deficiente. Não tem havido no ensino superior a capacidade de perceber essa ausência de conhecimentos. Depois, subsiste o problema da falta de público. Porque é que o público não compra revistas de arte contemporânea? É profundamente estranho."

É agora director artístico do Museu Berardo, num local onde trabalhou há mais de 15 anos como conservador do Centro Cultural de Belém. Que diferenças encontra entre esses tempos e hoje? Para além de o edifício ser o mesmo, uma parte da equipa é a mesma, mas mais completa em termos de recursos humanos. Éramos poucos, num espaço gigantesco e com a urgência de programar a totalidade desse espaço com grande brevidade e sem uma colecção. Houve meios financeiros e tivemos um trabalho descomunal. Era um tempo diferente no contexto artístico nacional. Em meados da década de 90 havia todo um tipo de grandes alterações a decorrer nas práticas artísticas internacionais, depois de um período mais convencionalista que dominou uma parte significativa da década de 80. Esses anos foram muito importantes na museologia portuguesa. Foram criadas várias instituições mais viradas para o domínio contemporâneo como a Culturgest e Serralves, reconstruiu-se o Museu do Chiado... As principais instituições emergiram nessa altura, com excepção da Fundação Calouste Gulbenkian, que já existia. Era preciso dar a conhecer o que se fazia lá fora, que ainda era um mundo distante. Mas esse paradigma mudou bastante... Há uma significativa diferença na circulação da informação. Hoje, as viagens e a Internet são coisas diferentes daquilo que eram há 17 anos. As coisas alteraram-se. Houve muitas exposições que criaram públicos novos, mas esse trabalho ainda está no seu começo. Quando nos comparamos a outros países europeus, se olharmos para o tecido institucional que esses países têm e há quantos anos o público visita exposições de arte moderna e contemporânea, falamos de um século. Nós não temos isso. O que se construiu nestes anos foi uma regularização das instituições, das práticas artísticas, dos públicos e da crítica, que entraram num sistema mais complexo, característico dos países europeus... Fala da crítica, mas ela foi desaparecendo e definhando cada vez mais na comunicação social

até chegar aos dias de hoje com um espaço reduzidíssimo, com revistas da especialidade a fechar e com fortes casos de censura até nas publicações generalistas que ainda possuem secções de arte. Ao mesmo tempo que as instituições se consolidam e os públicos se solidificam, o sistema falha quando se chega à crítica e à divulgação da arte contemporânea... Nos anos 80, a crítica de arte no Expresso chegava a ocupar cinco páginas. A mesma exposição chegava a ser criticada por três pessoas diferentes. Nessa década, que teve também o seu boom na arte contemporânea, verificou-se a importância do trabalho das galerias – visto haver falta de instituições – e também do papel de alguns críticos. O curioso é que se criou um hábito em Portugal, que passou para os anos 90, em que toda a crítica de arte era feita em jornais generalistas. Além do Expresso eram importantes os textos de António Cerveira Pinto n’ O Independente. Quando este boom institucional de 1995 começou a funcionar, apareceram revistas especializadas como a Artes & Leilões. Por outro lado, fez-se um erro colossal que foi acabar com a Colóquio Artes. Isso foi terrível porque era uma revista menos submetida à emergência das situações e tinha um domínio reflexivo, com um manancial histórico e de qualidade. Apesar de tudo, as revistas de arte não conseguiram subsistir. A Artes & Leilões ficou parada e apareceu a Arte Ibérica que também não sobreviveu... E recentemente o fim da L+Arte… As próprias instituições que lidam com a arte contemporânea não valorizam as publicações que lhes dão apoio editorial... Não existe a consciência de que a revista de arte ajuda à consolidação do mercado. Obviamente. Isso é uma situação inquietante e estranha que me incomoda seriamente. São complicadas as relações entre os museus, as galerias, as revistas e os próprios artistas... Todo o sistema da arte em Portugal é desconexo... Muito desconexo... porque é muito parcelar. Muitas vezes não há a capacidade de articular diferenças. Está tudo muito territorializado de forma medieval. De qualquer modo, é extremamente inquietante que isto aconteça, mesmo no momento de maior boom artístico português, no princípio da década de 2000, quando os agentes especializados internacionais começaram a olhar para Portugal. É preciso ver também que muitos artistas começaram a ter catálogos com um texto de apresentação da sua obra, mais até do que aquilo que era habitual noutros países. Até 2005, quase todos os artistas portugueses tinham catálogos editados. No entanto, a crítica não acompanhou de forma satisfatória este movimento. A crítica, de forma geral, envelheceu muito e ficou presa a modelos de outros tempos, mas ao mesmo tempo dominando os lugares principais. Os jornais mudaram completamente a sua configuração e iniciaram um processo de dieta do trabalho da crítica. Há outra chave da equação com que estou preocupado


"Desde que trabalho nesta área assisti já à passagem de muitos ministros da cultura e na maior parte das vezes vejo situações indignas em que não se dá importância às conquistas conseguidas que podem não dar frutos imediatamente, mas que, com a sua continuidade, eles aparecem." z

pedro lapa © Helena Garcia - vistas do museu © david luciano

Instalação de Rui Chaffes na exposição "Observadores".

e à qual me tenho dedicado: o ensino da arte contemporânea ao nível universitário é extremamente deficiente. Não existem especializações em arte contemporânea a partir do pós-guerra. Na Universidade de Letras, onde sou professor, estamos a construir o curso de História de Arte em que todo o século XX é pensado em termos nacionais e internacionais até à actualidade. Mas isto é muito tardio. Não tem havido no ensino superior a capacidade de perceber essa profunda ausência de conhecimentos. No entanto, é este contexto que dá conhecimento, valor e capacidade de argumentação aos críticos de arte. Muito do que aparece hoje é feito de uma forma autodidacta ou através do ensino exterior ao país. Depois, subsiste o problema da falta de público. Porque é que o público não compra revistas de arte contemporânea? É profundamente estranho. Parece-me que a censura operada nas secções de arte, em nome do desinteresse do público, soa a desculpa para um bloqueio ideológico ao pensamento crítico... Concordo e não creio que as coisas tenham de ser assim. A ideia comum de que uma arte difícil traz menos público tem-se revelado nefasta para o que deveria ser uma visão estratégica do país. Portugal não tem valor significativo em termos culturais no contexto europeu no que diz respeito ao século XX. A possibilidade de Portugal se afirmar internacionalmente não está em recorrer ao passado e mostrar ao mundo que este está esquecido dos feitos dos portugueses. Penso que substituir isso ao nível do entretenimento mais rasca continua a ser uma péssima opção. É fundamental perceber que o país tem de se impor estrategicamente no mundo. E para o fazer só tem possibilidade através dos valores emergentes. O mundo está sempre desperto para o presente e não a dormir no passado, ao contrário do que tem acontecido com Portugal. É aí que há lugar para a afirmação da cultura portuguesa e por isso há que investir fortemente nas franjas emergentes para ganhar uma posição internacional. É natural que estas propostas não sejam as mais fáceis para um público menos familiarizado. Mas se continuamos a responder a isso, contribuímos para o atraso. A ausência estratégica de investimento nos novos valores é inquietante. Estar sempre a rememorar o passado, apesar de também ser importante, não "o museu berardo pode ocupar completamente as actem a maior tividades. As instituições têm de ter colecção de arte um sentido proposicional e criar lamoderna ços de relação, de troca, com outros e contemporânea congéneres que actuem como plainternacional taformas de lançamento, reconhecimento, circulação, crítica e debate do país. sobre a prática artística actual. é um bem precioso O apoio à criação emergente é assim e único que tem uma questão central nas suas ideias para de ser estimado, o futuro do Museu Colecção Berardo... trabalhado

e reflectido."

O Museu Berardo tem uma grande colecção, o que foi central neste processo de transformação da arte portuguesa e do coleccionismo. É a maior colecção de arte moderna e contemporânea internacional que o país tem disponível e serviu até de exemplo para outras que vieram a aparecer posteriormente. É um bem precioso e único que tem de ser estimado, trabalhado e reflectido, o que representa um grande eixo da programação desta casa. Há muito da colecção por ver, rever, organizar. Por outro lado, não podemos alhear-nos do presente e do papel proposicional que uma instituição destas pode ter. Isso está consignado nos próprios estatutos: o apoio à internacionalização dos artistas portugueses. A minha ideia é criar um espaço próprio, dentro do museu, que funcione como uma zona para práticas emergentes e exposições organizadas com outras instituições e curadores internacionais. Depois, haverá um outro tipo de exposições temporárias, de carácter retrospectivo e complementar da colecção que podem trazer grandes nomes do passado ou do presente numa perspectiva mais monográfica. O mercado que rodeia e manipula os artistas emergentes e a sua criação é muito pequeno e está muito sujeito a divisões. A atenção dos principais curadores e directores artísticos não se concentra nos artistas, mas sim nas galerias mais poderosas. Concorda? Bem, eu nunca poderia concordar com uma situação dessas, mas é verdade que as tenho observado. O problema que aqui subjaz é a forma como os modelos mercantis da modernidade tomaram conta de todos os actos de significação da vida quotidiana. Mas isso é um problema profundo que só pode implicar uma reflexão crítica bastante radical. A respeito da projecção internacional da Colecção Berardo, como pretende concretizá-la? A colecção é objecto de vários pedidos de empréstimo e é referenciada como um museu com obras significativas e importantes para exposições internacionais. Para além disso, tem um papel importante para o país. Se não for aqui, não há outro local para ver um Magritte, um Max Ernst ou um Andy Warhol. A apresentação da colecção noutros lugares é importante, mas acho fundamental que ela sirva Portugal. A internacionalização tem mais que ver com a tipologia das exposições temporárias que podem colocar o museu num contexto internacional de reconhecimento e isso consegue-se com uma programação de qualidade, com boas ligações a outras instituições e com a capacidade de construir um diálogo com essas redes. Até 2012 vai cumprir o programa já estabelecido pela direcção anterior, mas pode já adiantar algum projecto seu para o futuro? Ainda é muito cedo para falar nisso. Tenho muitas ideias e projectos que gostaria de realizar e que penso terem cabimento aqui, mas não tenho nada estabelecido de uma forma estruturada e aprovada pelo conselho de administração. ¶ Miguel Matos


história de arte / maria joão fernandes

1.

2.

1. Duchamp em Nova Iorque, 1935. 2. Jovem rapaz e jovem rapariga na Primavera, 1911. 3. Bottle dryer, 1914. 4. Roda de bicicleta, 1913. 5. Manequins numa exposição do artista em Paris, 1938. 6.Fonte (Urinol), 1917. porcelana, 60cm. 7. Marcel Duchamp (à esquerda) com os seus dois irmãos Jacques e Raymond, 1941. 8. Nu descendo uma escada, 1912. Obra que marca a viragem no percurso do artista, abandonando o movimento cubista.

3. 4.

Duchamp o Agitador A actual exposição de Marcel Duchamp na Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, permite-nos questionar na actualidade um dos mais poderosos e fecundos mitos da arte do século XX.

"Este humor é um código de iniciação." Pierre Restany

Retrato de Duchamp com o Rotary Glass Plate em movimento, 1920. Fotografia de Man Ray.

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fotografias: fundação eugénio de almeida - philadelphia museum of art, the louise and walter arensberg collection - new york museum of moden art - colecção privada - man ray

O título desta mostra, “A Arte de Negar a Arte”, que documenta alguns dos aspectos emblemáticos do universo mental e do trabalho do celebrado artista, merece ser questionado, visto que induz precisamente na aceitação da imagem mais estereotipada do mito e afinal talvez mais distante da realidade de uma das obras mais polémicas da modernidade. Recor-

demosbrevementeosiníciosdeDuchamp:comoPicasso, pintor precoce, cujas primeiras obras aos 15 anos revelam já uma maturidade plástica exemplar. Inícios com a influência assumida do pós-impressionismo, do cézannismo, do fauvismo e do cubismo e também de uma simbologia alquímica patente sobretudo na pintura de 1911, Le Printemps ou Jeune Homme et Jeune Fille dans le Printemps, onde alguma crítica detectou a presença da Árvore Adâmica do Conhecimento e da casa de vidro anunciando o Grand Verre, cujos primeiros estudos datam de 1912 e cujo esoterismo André Breton assinalou, em 1935, como uma das obras mais enigmáticas do artista e um marco fundamental no seu propósito de desmaterializar a arte. Philippe Dagen, crítico francês e comissário da grande exposição “Picabia” em 2003 no Museu de Arte Moderna de Paris, situa as coordenadas do mito da antipintura que une o percurso dos que considera os dois grandes agitadores do século XX, Picabia e justamente Marcel Duchamp: “Em Nova Iorque, depois em Paris, onde Tzara e Breton estão ao seu lado, atacam sob todos os ângulos o sistema das belas-artes e, mais particularmente, a prática da pintura.” Enquanto Duchamp declara que Grand Verre é o seu último trabalho artístico, Picabia põe em causa a abordagem tradicional da pintura, secundado pela ironia de Dada e pelos corrosivos artigos de Breton publicados na revista Littérature, todos proclamando o fim das belas-artes e da pintura,consideradaumaactividademercantileobsoleta. Segundo Philippe Dagen, “nestes argumentos encontrase o essencial das demonstrações que afirmaram, no decurso dos anos 60 e 70, que a pintura tinha morrido: o minimalismo desconstruiu-a, a arte conceptual proclamou a sua inutilidade”. Picabia terá revisto a sua posição denunciando o dogmatismo de Dada e relançando a reflexão e a pesquisa sobre o que poderia ser a pintura, que retomou em 1923. Duchamp, por sua vez, teria sido o primeiro a contestar o mito Duchamp. Ele que destruiu a unicidade da imagem instaurando a era do movimento e da metamorfose no célebre Nu Descendo a Escada, apresentado com grande escândalo no Armory Show de Nova Iorque em 1913, e negou o dogma da personalidade satirizandose no seu alter ego feminino Rrose Sélavy, fotografado em 1921 pelo amigo Man Ray. Ele que nos seus ready-mades inverteu o laço que tradicionalmente unia as palavras e as coisas, libertando a realidade do império da palavra, a palavra do domínio da razão e ligando esta a uma ironia codificada e tão perturbadora que ainda hoje defende os

8.

seus segredos, não aceitaria certamente a espécie de reverência que envolve o seu nome. A propósito do senhor R. Mutt que em 1917 no Salão dos Independentes em Nova Iorque assinou a igualmente célebre Fonte, Duchamp escreveu, ironizando, que “ele criou um pensamento novo para este objecto”. Um pensamento que fez estremecer os alicerces do grande edifício da arte sem no entanto o derrubar. A arte conceptual, o minimalismo, refizeram o caminho entre o pensamento e a realidade enquanto, numa reacção oposta, os novos realismos, a figuração narrativa entre a crítica e a celebração, exploraram o grande filão de uma realidade em constante mutação, espelho de duas faces da sociedade de consumo. Na actual exposição apresenta-se a grande máquina pensante do artista, o que este considerava “o gás de iluminação” da mente, sintetizada numa das suas obras de referência: La Mariée mise à nu par ses célibataires même ou Le Grand Verre (1915-1923) cujas anotações, fotografias, desenhos e/ou fac-símiles incluídos em La Boîte Verte em 1934 é possível apreciar. O mecanismo do pensamento exerce-se aí sobre o mecanismo do amor que o sofrimento acompanha, marca obsessiva do seu universo que o artista miniaturizou nas réplicas de alguns dos seus principais trabalhos incluídos em La Boîte-en-valise 1935-1941 (1965). Famosos ready-mades como Bottle Dryer de 1914, ou Fresh Widow de 1920, ambos editados em 1964, capas de revistas (Minautaure, Orbe – 1935, Transition – 1937), litografias, gravuras, fotografias reconstituem o que já foi considerado o “Planeta Duchamp”. Revisitar hoje a obra daquele que André Breton considerava o grande perturbador deveria ser dar a volta ao seu mundo, como se de um labirinto se tratasse, e procurar de novo o centro que lhe escapou, o lugar de uma revelação, a epifania do visível. ¶

Marcel Duchamp (1887-1968) A Arte de Negar a Arte 18 FEV > 12 JUN Fundação Eugénio de Almeida Évora Tel.: 266 748 300 2ª a Dom. das 9h30 às 19h

Em cima: A caixa numa mala, (pormenores), 1938. Mala encomendada ao artista e escultor Joseph Cornell. Contém 69 miniaturas e réplicas das obras mais famosas de Duchamp. Ao lado: Rrose Sélavy (Marcel Duchamp alter-ego). Foto de Man Ray, 1921 Em baixo: O grande copo, 1915. Obra feita com óleo, verniz, cabedal, arame, vidro quebrado, folha de espelho, tudo montado entre folhas de vidro.


eventos 1.

Oppenheim, Warhol e Yoko Ono em Serralves O nome da mítica companheira do também mítico John Lennon é um dos mais carismáticos do cartaz do projecto Improvisações/Colaborações, aquele que é o grande destaque da programação deste ano de Serralves. A Yoko Ono vão juntar-se John Baldessari, Roy Lichtenstein, Bruce Nauman, Claes Oldenburg, Dennis Oppenheim, Richard Serra, Cindy Sherman e Andy Warhol, na exposição “Off the Wall/Fora da Parede” (apartir de 20 de Maio), co-produzida com o Whitney Museum of American Art de Nova Iorque. Em comum, estes artistas têm o facto de cruzarem “géneros e formas de expressão que, no século XX, reinventaram a arte”, justifica a organização. Depois do arranque do projecto em Abril com o espectáculo Sun, Moon & Stars e da presença da companhia de dança de Trisha Brown com exposição a decorrer sobre a bailarina e coreógrafa norte-americana até dia 1 de Maio, este será ainda o mês de o bailarino, coreógrafo e compositor francês Christian Rizzo se encontrar com Scanner, estrela britânica da música electrónica (5 de Maio). As exposições, espectáculos de música, dança e performance, cinema, workshops e seminários prolongam-se até Outubro, na cidade do Porto. ¶ Ana Albuquerque

1 e 2. Espectáculo de Christian Rizzo, Scanner e Kerem Gelebek.

Improvisações/Colaborações 9 ABR > OUT Fundação de Serralves Rua D. João de Castro, 210, Porto www.serralves.pt

art mix

↑ Laurie Simmons, Walking Camera II (Jimmy the Camera), 1987. Impressão em gelatina de prata, 210,3 x 120,7cm.

2.


Dara Friedman © Whitney Museum of American Art, Nova Iorque - Laurie Simmons © Whitney Museum of American Art, Nova Iorque

museus

Sintra mostra um mundo de cartoons São cerca de 400 cartoons editoriais, caricaturas e desenhos de humor, seleccionados entre 822 trabalhos de 462 autores de diferentes nacionalidades. Depois de publicados em jornais e revistas de cerca de 70 países, estão, até ao final de Junho, ao longo de dois pisos do Sintra Museu de Arte Moderna. A exposição abriu a 9 de Abril com o anúncio dos vencedores. O Grand Prix foi para o australiano David Rowe que com Wikileaks and Uncle Sam apresentou o melhor cartoon editorial, publicado no The Sun-Herald. A melhor caricatura é um retrato de D. João I, rei de Portugal, publicado na Notícias Magazine e assinado por João Vaz de Carvalho. Pedophilia, que Samuca publicou no Diário de Pernambuco, do Recife, triunfou na categoria de Desenho de Humor. Na sua sétima edição, o World Press Cartoon proporciona “uma viagem retrospectiva a um ano de vida global, nas mais diversas esferas, podendo ver uma selecção dos melhores desenhos de humor publicados pela imprensa em todo o mundo durante o ano de 2010”. António Antunes, director do salão, reitera o compromisso da organização: promover o cartoon “enquanto género jornalístico, prestigiando o desenho de humor na imprensa, premiando o mérito e o talento dos melhores e elevando a liberdade de expressão enquanto valor inalienável da dignidade humana”. O júri, composto pelo próprio António Antunes, Ralph Steadman, Anita Kunz, Alessandro Gatto e Cecile Bertrand atesta “o extraordinário mérito e a grande qualidade dos trabalhos seleccionados”. ¶ Ana Albuquerque VII World Press Cartoon 9 ABR > 30 JUN Sintra Museu de Arte Moderna Avenida Heliodoro Salgado, Sintra www.worldpresscartoon.com

n o o t r ca Museu da Marioneta, Convento das Bernardas, Lisboa.

David Rowe, Wikileaks e o Tio Sam, The Sun-Herald. Austrália. Samuca, Pedophilia, Diário de Pernambuco, Brasil.

Festa dos Museus 2011 O International Council of Museums (ICOM) decidiu que o Dia Internacional dos Museus será dedicado à relação destes espaços com a memória. As actividades vão multiplicar-se por todo o país e pelo mundo. No Museu do Oriente, em Lisboa, haverá duas dramatizações onde são recordadas histórias do percurso daquele espaço de Alcântara. Bem perto, em Santos, o Museu da Marioneta multiplica as actividades, logo a partir de dia 14, com a Noite dos Museus. O Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas já terá arrancado e nesse âmbito haverá espectáculos no claustro. Esse fimde-semana é dedicado às famílias e o dia 18 será vocacionado para as escolas, com visitas orientadas e ateliers. O Museu das Comunicações associa-se ao IGESPAR (porque o Dia Internacional dos Museus também é dos monumentos e sítios) e, reflectindo sobre “Água, Cultura e Património”, guiará os visitantes até ao Bairro da Madragoa. Bem a norte, o Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa convida as crianças de Braga a conhecerem, a partir daquele espaço, as ruínas da romana Bracara Augusta. Em Serralves, as escolas também terão especial atenção. A exposição “Cidades: percursos, intervenções, afectos” reflecte propostas concretas de intervenção e transformação dos lugares que as pessoas ocupam na urbe. Para os adultos há, de tarde, percursos no parque e conversas sobre as exposições patentes no museu. ¶ Ana Albuquerque Dia Internacional dos Museus 14MAI > 18 MAI Consultar programação em www.ipmuseus.pt


eXPOsições agenda maio ↓ Elvas

↓ Lisboa

↓ Lisboa

↓ Lisboa

Para além do espelho, sem data

Fernanda Fragateiro, But There Garden..., 2003

Crush Proof Box, 1972

Atam-lhe asas de serafins..., 2010

En el reino de Jah, 2010

GALERIA MUNICIPAL ARTUR BUAL Gil Teixeira Lopes “Gitelo 75” 7 ABR > 15 MAI Av. Movimento das Forças Armadas, 1 Tel.: 214 369 065 3.ª a 6.ª das 10h às 12h30 e das 14h às 18h, Sáb., Dom. e feriados das 15h às 18h Encerra à 2.ª

MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE ELVAS Colectiva “Zona Letal, Espaço Vital” 16 ABR > 3 JUL Rua da Cadeia, s/n Tel.: 268 637 150 3ª das 14h30 às 18h, 4ª a Dom. das 10h às 13h e das 14h30 às 18h Encerra 2ª

CAM – FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN Vítor Pomar “Nada para fazer nem sítio para onde ir” 15 ABR > 12 JUN Rua Dr. Nicolau de Bettencourt Tel.: 217 823 474 / 217 823 483 3ª a Dom. das 10h às 18h Encerra 2ª

FUNDAÇÃO MEDEIROS E ALMEIDA Tomaz Borba Vieira “Serafins” 4 MAI > 4 JUN Rua Rosa Araújo, 41 Tel.: 213 547 892 2ª a 6ª das 13h às 17h30 Encerra Sáb. e Dom.

GALERIA ANTÓNIO PRATES Albano “Pásalo” 6 MAI > 4 JUN Rua Alexandre Herculano, 39 A Tel.: 213 571 167 2ª a 6ª das 11h às 20h, Sáb. das 15h às 20h Encerra Dom.

↓ Cascais

Renato Ferrão, Sem título, sem data CENTRO CULTURAL DE CASCAIS Colectiva “Prémio de Artes Plásticas União Latina” 8 ABR > 29 MAI Avenida Rei Humberto II de Itália Tel.: 214 848 900 3ª a Dom. das 10h às 18h Encerra 2ª ↓ Castelo Branco

↓ Figueira da Foz

Grupo Puzzle, O mundo às avessas, 1981 CENTRO DE ARTES E ESPECTÁCULOS Colectiva “Grupo Puzzle (1976-1981)” 26 MAR > 3 JUL Rua Abade Pedro, s/n Tel.: 233 407 200 2ª a 6ª das 10h às 19h e Sáb. Dom. e Feriados das 14h às 19h ↓ Lisboa

↓ Lisboa

↓ Lisboa

↓ Lisboa

Long distance call #17, 2009

Aya-phone, sem data

Sem título, 2010

CARLOS CARVALHO ARTE CONTEMPORÂNEA Luís Nobre “Cristal” 18 MAI > 25 JUN Rua Joly Braga Santos, Lt. F, R/C Tel.: 217 261 831 2ª a 6ª das 10h às 19h30 e Sáb. das 12h às 19h30 Encerra Dom.

GABINETE DA POLITÉCNICA Pedro Portugal “O importantário estetoscópico” 18 MAI > 18 DEZ Rua da Escola Politécnica, 56 Tel.: 213 921 808 2ª a 6ª das 10h às 17h, Sáb. das 11h às 18h Encerra Dom. e feriados

galeria são mamede Carlos Calvet “Regresso a Ítaca” 5 MAI > 26 MAI R. Escola Politécnica, 167 Tel.: 213 973 255 2ª a 6ª das 10h às 20h, Sáb. das 11h às 19h Encerra Dom.

↓ Lisboa

↓ Lisboa

↓ Lisboa

Black Spot Drawings, 2010-2011

Crystal Girl nº 89B, 2010

Sem título, 2011

Ana Vieira, Sem título, sem data

João Marques de Oliveira, Praia de Banhos, Póvoa de Varzim,1884

102-100 GALERIA DE ARTE Paulo Brighenti e Pedro A. H. Paixão “The human dimension of the sky, Sharing views from a dialogue in the mountains” 9 ABR > 18 JUN Rua de Santa Maria, 100 Tel.: 272 342 192 3ª a 6ª das 17h às 19h, Sáb. das 10h30 às 13h e das 15h às 19h Encerra Dom. e 2ª

ESPAÇO ARTE TRANQUILIDADE Noé Sendas “Trabalhos Recentes” 19 ABR > 1 JUN Rua Rodrigues Sampaio, 95 Tel.: 213 503 500 3ª a 6ª das12h30 às 19h Encerra 2ª e Feriados

CAROLINE PAGÈS GALLERY Dalila Gonçalves “756.000 segundos” 1 ABR > 21 MAI Rua Tenente Ferreira Durão, 12 Tel.: 213 873 376 2ª a Sab. das 15h às 20h

gAD - galeria Antiks Design Colectiva “15 anos-15 ARTISTAS” 29 MAR > 16 MAI Rua Mouzinho da Silveira, 2 Tel.: 213 141 279 2ª a Sáb. das 11h às 20h Encerra Dom. e 2ª

MUSEU DO CHIADO - MNAC Colectiva “Arte Portuguesa do Século XIX (1850-1910)” 7 ABR > 12 JUN Rua Serpa Pinto, 4 Tel.: 213 432 148 3ª a Dom. das 10h às 18h

Dalila Gonçalves © Dalila Gonçalves - Fernanda Fragateiro © José Maçãs de Carvalho - Noé Sendas © Noé Sendas

↓ Amadora


↓ Lisboa

↓ Oeiras

↓ Porto

Konstantin Bessmertny, China Trade!, Macau, sem data

Pedro Cabrita Reis, Cabinet d’Amateur, 1999

Sem titulo, sem data

MUSEU DO ORIENTE Colectiva “Acessórios imaginários” 15 ABR > 12 JUN Av. Brasília, Doca de Alcântara Tel.: 213 585 200 3ª a Dom. das 10h às 18h, 6ª das 10h às 22h Encerra 2ª

CENTRO DE ARTE MANUEL DE BRITO Colectiva “Livre Circulação” 20 MAR > 26 JUN Alameda Hermano Patrone, Palácio dos Anjos, Algés Tel.: 214 111 400 3ª a Dom. das 10h às 18h, última 6ª de cada mês das 10h às 24h Encerra 2ª

GALERIA QUADRADO AZUL Fernando Lanhas “Recordações da Casa Rosa” 30 ABR > 4 JUN Rua Miguel Bombarda, 578 Tel.: 226 097 313 3ª a 6ª das 10h às 12h30 e das 15h às 19h30, 2ª e Sáb. das 15h às 19h30 Encerra Dom.

↓ Lisboa

↓ Porto

↓ Santo Tirso

Shirin Sabahi, Present Participle, video (still), 2009

Jorge Queiroz, Sem título, 2007

Auto-retrato em fundo escuro, 2011

PLATAFORMA REVÓLVER Colectiva “O Que Passou Continua a Mudar” 12 MAI > 23 JUN Rua da Boavista, 84 Tel.: 213 433 259 3ª a Sáb. das 14h às 19h30 Encerra 2ª e Dom.

MUSEU DE SERRALVES António Areal, Jorge Queiroz e Paula Rego “Recordações da Casa Rosa” 25 MAR > 12 JUN Rua Dom João de Castro, 210 Tel.: 226 156 500 3ª a 6ª das 10h às 17h Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h Encerra 2ª

CASA DA GALERIA Ricardo Leite “Pele” 14 MAI > 23 JUL Rua Prof. Dr. Joaquim Augusto Pires de Lima, 33-37 Tel.: 252 856 298 3ª a Sáb. das 15h às 19h Encerra Dom. e 2ª

↓ Lisboa

↓ Porto

↓ Vila Franca de Xira

Artistas Portugueses no Mundo Paulo Nozolino (colectiva) Frankfurt (Alemanha) Art Foyer, “Herein!” 14 ABR > 4 JUN Filipa César Berlim (Alemanha) Haus Der Kulturen Der Welt “The Embassy” 16 ABR > 19 JUN Julião Sarmento Madrid (Espanha) La Casa Encendida “Close Distance” 2 ABR > 5 JUN Leonel Moura Istambul (Turquia)3 Pera Museum “Fundamentally Human” 8 ABR > 3 JUL JOANA VASCONCELOS Seoul (Coreia do Sul) Gallery Seomi 20 ABR > 17 MAI

Entanglement, sem data

Julio Resende, Mesa, não como tantas..., 2010

O passado e o presente – outro olhar sobre a colecção do mnr

FUNDAÇÃO PLMJ Pedro Calapez "Kickflip" 27 ABR > 9 JUL Rua Rodrigues Sampaio, 29 Tel.: 218 130 523 4ª a Sáb.das 15h às 19h

BAGANHA GALERIA Júlio Resende “In Media Res” 15 ABR > 21 MAI Rua do Bom Sucesso, 221 Tel.: 226 007 522 2ª a 6ª das 10h às 13h e das 14h às 19h, Sáb. das 14h às 20h Encerra Dom.

MUSEU DO NEOREALISMO Colectiva “o passado e o presente – outro olhar sobre a colecção do mnr” 26 MAR > 22 MAI Rua Alves Redol, 45 Tel.: 263 285 626 3ª a 6ª das 10h às 19h, Sáb. das 12h às 19h, Dom. das 11h às 18h Encerra aos Feriados

Rita Barros (Colectiva) Nova Iorque (Estados Unidos) Centre For Photography at Woodstock “Photography Now” 9 ABR > 30 JUN


destaques das exposições de maio

Manuel Caeiro © José Manuel Costa Alves

Manuel Caeiro, 12 000 m2 dentro de um T0#2, 2011, Acrílico sobre linho.

12 000 m2 dentro de um T0 Haverá espaço para habitar dentro ou para lá de uma parede? Há. 12 000 metros quadrados! A pintura de Manuel Caeiro (Évora, 1975) tem o dom de cruzar e fundir de forma original o concreto com o abstracto num resultado que convoca a presença física do espectador e a coloca em confronto com a tridimensionalidade que a tela sugere. A sua obra parte frequentemente de elementos visuais que reconhecemos do quotidiano urbano, como a sinalética de perigo ou aviso, os materiais de construção e estruturas que lembram andaimes ou construções de base arquitectónica. Elementos que o observador reconhece com rapidez mas que, durante o tempo de observação de cada quadro, e à medida que a retina dança e avança pela tela, se tornam progressivamente destituídos da sua função de representação. A imagem complexifica-se e transforma-se progressivamente num espaço de linhas, cores e manchas que activam o espaço à sua volta. Multiplicações das formas, rebatimentos, repetições, modulações e reverberações da cor compõem quadros de apelo cinético e raiz construtivista. O mecanismo que anima habitualmente a obra de Manuel Caeiro está bem presente nesta exposição de trabalhos recentes em que a abstracção é assumida, num acentuar da geometria e do espaço arquitectónico. Há nestas pinturas, expostas na Galeria Carlos Carvalho, em Lisboa, um jogo de dinâmicas e paletas que explodem em linhas de tensão e ritmos que fazem com que o olho sinta dificuldade em se concentrar num único ponto. A aplicação destemida da cor,

o desvendar da estrutura de composição, a sujidade da tinta e os enganos cometidos: tudo é assumido e integrado. São telas cerebrais na sua concepção, mas espontâneas no resultado que denota uma velocidade frenética. No entanto, o que poderia ser apenas um truque é afinal uma sinceridade artística que resulta em imagens deslumbrantes e que não perdem interesse após um primeiro relance. Em “12 000 m2 dentro de um T0” verifica-se uma depuração do caminho já percorrido e confirmável em exposições anteriores. Neste fluxo visual ainda se encontram os elementos de sinalética que constituem o leitmotiv do pintor, mas nota-se um gradual desprendimento dessa fórmula. Apesar disso, Manuel Caeiro ainda os retoma em alguns trabalhos mais discretos, de menor dimensão, em acrílico e fita sobre c-print. Diz Jorge Emanuel Espinho na folha de sala da exposição: “Visitar esta mostra de pintura é uma experiência bipolar. Primeiro estática, de simples contemplação dos espaços profundos e largos de que estas obras tratam, visual apenas; e depois dinâmica na sua acção psicológica, pensada, de inserção e relação nesses próprios espaços.” É este o segredo de Manuel Caeiro que vem provar que a estafada teoria da morte da pintura não poderá ser confirmada tão cedo. Porque uma criação desvitalizada não pode puxar o corpo para dentro de uma tela, activando profundidades visuais que fazem esquecer que por detrás está apenas cimento ou pladur. É essa activação espacial que a pintura de Manuel Caeiro tão bem consegue. ¶ Miguel Matos

Manuel Caeiro, “12 000 m2 dentro de um T0” Até 14 MAI Galeria Carlos Carvalho Rua Joly Braga Santos, lote F – r/c, Lisboa – Tel.: 217 261 831 2ª a 6ª das 10h às 19h30. Sáb das 12h às 19h30


↓ À esquerda: Provocative Percussion. À direita: Wall to Floor.

↓ Sound on paper.

Remix É natural que quem esteja habituado a girar no circuito restrito da arte contemporânea acabe por se ver enrolado na especificidade dos seus conceitos, linguagens e referências. Esta inevitável natureza hermética da arte tende a afastar os menos conhecedores do meio, mas também enriquece a complexidade, interesse e perenidade da obra. Mas quando um artista, pelas suas próprias idiossincrasias, se vê submerso por outras referências, como as musicais, abre-se assim o leque de complexidade e de codificação/descodificação. A tarefa não é facilitada em “Remix” de Rui Valério. Apesar disso, esta é uma exposição que surpreende e chega mesmo a puxar o visitante pelas golas. A obra de Rui Valério alinha-se com a de outros artistas que se debruçam sobre o universo musical como Rui Toscano ou João Paulo Feliciano. Na Marz Galeria o som comanda as tropas de Valério, mas a sua força é essencialmente visual. Recuando aos tempos da patusca cassete áudio analógica, Rui Valério apresenta 90 Minutes, uma segunda versão da obra 120 Minutes já antes apresentada em Dezembro no Palácio Quintela, em Lisboa. Em vez de duas horas, a fita de uma outra cassete áudio dourada percorre agora um caminho labiríntico e geométrico em hora e meia que se divide em duas secções, a esquerda e a direita que tanto pode simbolizar cada lado da mesma (A e B) como os dois hemisférios cerebrais. É também Rui Valério a tornar palpável o tempo, como se pudéssemos manipulá-lo em estreitas e longas tiras. Ao lado há uma tela preta que se mantém muda e opaca para quem não seja apreciador de

heavy metal. A tela Back in Black, virada do avesso e pintada de preto, poderia ser uma interessante evocação à antipintura de Helena Almeida ou Eduardo Nery, mas não. É antes uma alusão ao álbum homónimo dos AC/DC, lançado em 1980 após a morte do vocalista Bon Scott. Na exposição não se trata, no entanto, de um ponto alto, pois esse está na instalação Sound on Paper (after Alvin Lucier). Neste caso, o título aponta logo para a referência ao compositor experimental Alvin Lucier que em 1985 realizou uma obra com o mesmo título. A peça de Rui Valério é um conjunto de papéis emoldurados que se agitam devido às vibrações das colunas de som que estão por detrás deles e que entoam sons graves. O efeito é estarrecedor pois o que se vê é uma tensão branca a emergir nervosamente a partir das molduras e o que se ouve é misturado com o som amplificado das lâmpadas fluorescentes que na outra sala acendem e apagam na instalação Wall to Floor, evocativa de Bruce Nauman. É recomendável ver e ouvir “Remix” primeiramente de forma livre para depois recolher os dados que permitem obter a compreensão sobre de onde estas obras vêm e para onde vão. O facto é que todas as obras são interpretações mais ou menos literais de capas de discos, o que lhe retira interesse, como a fotografia Tapesongs, imagem que mimetiza uma capa de um disco de Joan La Barbara. Se há quem se vista com t-shirts de concertos, quem seja gótico, punk, raver e outros clichés que revelam o gosto musical de cada um, este fato de fitas é a pura obsessão pela música, seja ela qual for. ¶ Miguel Matos

Rui Valério, “Remix” ATÉ 15 MAIO Marz Galeria Rua Reinaldo Ferreira, 20-A – Tel.: 218 464 446 4ª a Sáb das 12h às 20h e Dom das 14h às 20h


destaques das exposições de maio

Kiluanji Kia Henda, Nuclear Barbecue, da série Nuclear Garden of Mr. Young, Cidade do Cabo, 2008.

BESphoto 2011 lusófono A completar o sétimo aniversário, o BESphoto vai além das fronteiras de Portugal, através da lusofonia. A exposição conta com uma selecção de fotografias dos portugueses Carlos Lobo e Manuela Marques, bem como de Kiluanji Kia Henda (Angola), Mário Macilau (Moçambique) e Mauro Restiffe (Brasil). São imagens de uma Beirute desfigurada por conflitos; dos interesses desmedidos em torno da energia nuclear, do petróleo, dos diamantes, da negritude e da toxicodependência; de vidas suspensas pelo Espírito Santo, em Moçambique, e por água e madeira, na Nigéria; e das vivências do fotógrafo em torno de momentos decisivos da história do

Brasil e dos Estados Unidos. O júri acabou por preferir as imagens de uma São Paulo capturada com a mais pessoalíssima das lentes da fotógrafa portuguesa. Até 13 de Junho, as obras estarão no Museu Colecção Berardo, seguindo depois para o Brasil, onde serão expostas entre 20 de Agosto e 23 de Outubro, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Manuela Marques segue-se a Helena Almeida, José Luís Neto, Daniel Blaufuks, Miguel Soares, Edgar Martins e Filipa César, os premiados nas últimas edições daquele que é um dos maiores prémios de arte contemporânea atribuídos em Portugal. ¶ Ana Albuquerque

BESphoto2011 14 MAR > 13 JUN Museu Colecção Berardo – Arte Moderna e Contemporânea Praça do Império, Lisboa Tel.: 213 612 800/878 Dom. a 6ª das 10h às 19h, Sáb. das 10h às 22h www.museuberardo.pt


Cruz-Filipe, Sem título, da série Cintilações, sem data.

Sofia Areal, Sim, 2011. Rui Toscano, Mother and Child, 2009

Arte no Porto com nova voltagem “Estou certo de que este espaço, e o que nele se fizer, vai enriquecer a nossa vida cultural – mostrando, informando, divulgando, seduzindo, atraindo, surpreendendo, interpelando.” As palavras são de António Mexia, presidente da EDP, a propósito da galeria que a eléctrica nacional inaugurou em Abril, na sede da empresa no Porto, perto da Casa da Música. Um “espaço novo” onde Mexia destaca a “ambição e marca da sua programação”, a “actualização de uma memória artística fundamental”, a “atenção dada aos novos artistas” e a “abertura a novas tendências, a novas correntes, a novas realidades, a novos cruzamentos, a novos media”. A galeria da Fundação EDP foi inaugurada com uma colectiva de João Paulo Feliciano, Pedro Diniz Reis, Rui Toscano e Ricardo Jacinto. Em “Barulhos de Luzes”, que ainda poderá ser vista até 1 de Maio, a electricidade é utilizada para produzir luz e som e a electrónica para definir e controlar os seus efeitos. Aquilo que poderia ser visto como uma associação primária à actividade da EDP reflecte, acima de tudo, “uma dimensão metafórica, poética, intelectual ou crítica que só a multiplicidade de caminhos da arte permite alcançar”, explica o curador João Pinharanda. Entretanto, já há nova exposição programada e chamar-se-á “Cintilações”. ¶ Ana Albuquerque

Numa produção dos Artistas Unidos e da Câmara Municipal de Lisboa, a Cordoaria Nacional recebe uma exposição retrospectiva da última década de trabalho de Sofia Areal, que expõe há mais de 20 anos. Antes disso, a artista lisboeta estudou na Hertsfordshire College of Art and Design (St. Albans, Inglaterra) e no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual (no regresso a Lisboa). Com uma obra em que o suporte desempenha um papel especial (como se vê pela colecção de chávenas que coloriu para a Vista Alegre), os meios mais comuns são os acrílicos, lápis-de-cor ou de cera, tinta-da-china, aguarela, grafite ou colagem. Depois de aplicados, deixam “patente o equilíbrio compositivo criado numa intencionada e conseguida harmonia de cheios e vazios, opacidades e transparências, entrelaçamento e interpenetração de formas”, desvenda a organização. Até 26 de Junho, e após dezenas de mostras individuais e de participações em colectivas, as pinturas e os desenhos que a artista realizou desde 2000 estarão no Torreão Nascente da Cordoaria. ¶ Ana Albuquerque

Cruz-Filipe, "Cintilações" 12 MAIO > 3 JUL Espaço Fundação EDP Edifício sede da EDP, Rua Ofélia Diogo da Costa, 39 (junto à Casa da Música), Porto 3ª a Dom. das 12h às 19h

SIM/Sofia Areal, Pintura e Desenho (2000-2011) 26 ABR > 26 JUN Cordoaria Nacional (Torreão Nascente), Avenida da Índia, Lisboa Tel.: 213 637 635 3ª a 6ª das 10h às 19h, Sáb. e Dom. das 14h às 19h www.artistasunidos.pt

Uma década de Sofia Areal


galerias Caminha-se em pleno centro da cidade de Lisboa, por entre árvores – com os jardins da Gulbenkian lá ao fundo –, carros estacionados e prédios por todos os lados. A Galeria Valbom surge despercebida no número 89 da rua que lhe dá o nome. O disfarce é semelhante ao que a casamãe, a Galeria Arteta, fundada em 1987, usa na zona norte da cidade. “A integração no mercado da arte foi muito fácil, devido à qualidade dos artistas que apresentamos”, constata Manuela Vespeira de Almeida, responsável pelo espaço. Desde a abertura, em 2000, a Valbom tem vincado o seu trajecto através da aposta em catálogos e livros de qualidade, nomeadamente apoiando publicações dos artistas e organizando a apresentação dessas obras, enquanto conjuga a utilização das diferentes salas. Nos surpreendentes 680 metros quadrados da Valbom encontram-se “artistas com um percurso consistente na arte contemporânea”, seguindo a linha dos responsáveis pelo espaço. A galeria divide-se em três espaços distintos. No piso superior, uma sala destinada à exposição permanente de parte do seu acervo. Por lá vão passando Vieira da Silva, Arpad Szènes, Eduardo Luíz, Nenez, René Bertholo, Costa Pinheiro, Dourdil, Nikias Skapinakis, Rogério Ribeiro, Cesariny, Cruzeiros Seixas, Almada Negreiros e Paula Rego. Em baixo, uma pequena sala para expor a obra gráfica. E há ainda o grande espaço que se revela assim que se entra na galeria, destinado a exposições temporárias. JúObra Perfume de Carlos Barão da exposição “O Parentesco das Coisas”, na Galeria Valbom entre 6 MAI > 25 JUN.

lio Pomar, Júlio Resende, Jacinto Luis, Arman, Graça Morais, José de Guimarães, Malangatana, Querubim Lapa, Roberto Santandreu, Eurico Gonçalves, Manuel João Vieira, Armando Alves e Maria Velez são alguns dos consagrados que já por lá passaram. A eles juntam-se outros representados pela Valbom, como João Vieira, David de Almeida, Paulo Neves, Emerenciano, Fernando Direito, Alexandre Cabrita, Saskia Moro, Carlos Barão, Carlos Calvet e Cecília de Sousa. Um elenco que proporcionou um “envolvimento emocional com as obras e respectivos autores”. Manuela Vespeira de Almeida recorda a vida quotidiana desses anos: “São sempre desafios emocionantes, as mudanças das exposições. Desde a organização do catálogo à montagem das mesmas, como por exemplo a mudança de exposição de pintura para uma outra de escultura com peças que pesam toneladas ou para uma exposição com instalações”. Exposição de Manuel Vieira Continua patente até 30 de Maio, no piso térreo da Galeria Valbom, a exposição “Manuel Vieira como Orgasmo Carlos como Manuel Vieira”, do multifacetado artista plástico, cantor e excandidato à Presidência. “Mão esquerda contra mão direita” é o oposto da complementaridade ilustrada pelo Leviatã de Thomas Hobbes (com o governante a dirigir em simultâneo os poderes militar e religioso). O traço negro sobre o suporte branco estabelece a relação material entre as obras de Vieira e o desenho publicado a meio do século XVII; no acrílico sobre tela de 2004, a ironia e o estilo actualizado não escondem as semelhanças. Divagações sobre Filosofia Política e outras coisas que dificilmente distraem o espectador da instalação que ocupa grande parte da galeria: um Portugal adormecido, mas pronto a tramar quem nesse se quiser instalar, e envolto nas mais diversas pornografias. ¶ AA Manuel Vieira, “Manuel Vieira como Orgasmo Carlos como Manuel Vieira”, Até 30 MAI programação para 2011 Já neste mês de Maio, a galeria expõe “O Parentesco das Coisas”, de Carlos Barão. Em Junho, os quadros de Barão dão lugar às fotografias de Roberto Santandreu, que lá ficarão até Julho. A rentrée dá-se com uma exposição de homenagem a João Vieira e nos dois últimos meses do ano é a pintura de Fernando Direito a marcar presença na Valbom. ¶ Ana Albuquerque Galeria Valbom, Avenida Conde Valbom, 89 - A Tel.: 217 801 110 2ª a Sáb. das 13h às 19h30 Encerra Dom.

Manuel Vieira © Luís Ginja - Carlos Barão © Carlos Barão

Galeria Valbom 11 anos de arte na Valbom

Manuel Vieira, Sem titulo, 2004


Art Positive Nova galeria abre em Lisboa Com o tema "A Arte do Bronze" a recentemente inaugurada galeria Art Positive dará início, no próximo dia 2 de Maio, pelas 19 horas, a uma exposição de trabalhos premiados de artistas contemporâneos de renome internacional. Dora Salazar, Jose Ramon Anda (Amondarain), Ioan Sptímio Jugrestan, Juan Luis Baroja Collet, Oscar Alvariño, Paco Aguiar, Remigio Mendiburu, João Duarte e Aida Sousa Dias são os nomes representados nesta mostra que pode ser visitada de segunda-feira a sábado, das 14h às 20h, encerrando terças, domingos e feriados. ¶ Maria Correia Art Positive Rua D. Luís de Noronha, 6ª 1050-072 Lisboa Tel.: 217 810 010 – 917 220 460 Em cima: Aida Sousa Dias, Caracol, sem data. Em baixo: Aida Sousa Dias, Mulher deitada, sem data. À direita: João Duarte, Bosque de Mel Sem Horas, 2010.

Galeria António Prates HaiDji pinta a amizade e a ausência Depois de ter passado por França, Holanda, Suiça, Itália, Brasil, EUA, China e Alemanha - a sua terra natal - a artista plástica Haidji esteve em Portugal no final de Março. A artista e a Galeria António Prates convidaram as pessoas a passarem pelo seu mais recente espaço, na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa. Este afterwork cultural teve como tema o projecto “Colours and Friends”, em que Haidji parte da ideia da amizade - brote ela de vidas reais ou virtuais - e da forma como ela afecta a vida. Depois de a artista ter enviado uma fotografia ilustrada aos seus amigos, a quem perguntou qual a sua cor preferida, a performer germânica convidou quem passasse pela António Prates a pintar a sua cor na tela. Haidji encarregou-se de tingir de negro o espaço dos que não lhe responderam, criando-se “um mosaico composto pelas cores da amizade e pelo silêncio ou ausência”. A galeria, que desde 1996 se dedica à Arte Contemporânea, regista desde a sua fundação 56 exposições individuais e 16 colectivas. O seu acervo acolhe dezenas de obras e artistas, entre os quais Júlio Pomar, Manuel Cargaleiro, Mário Cesariny, Pedro Cabrita Reis e Vieira da Silva. Haidji, nascida em 1968, passou agora pela galeria. Formada em Pintura e Design no país onde nasceu, desde 2000 que realiza os seus projectos artísticos e participa em exposições em vários países. ¶ AA Galeria António Prates Rua Alexandre Herculano, 39 A Tel.: 213 571 167 2ª a 6ª das 11h às 20h, Sáb. das 15h às 20h


arte pú blica

com o patrocínio de

Escritos na pedra

A estação de Entrecampos acolhe alguns dos grandes nomes da literatura portuguesa, pela mão do gravador Bartolomeu Cid dos Santos.

Em Entrecampos encontramos manchas da cor da ferrugem, entrecortadas pelo trabalho minucioso do buril de onde nascem retratos, figuras, barcos, livros, em perfeita harmonia com a corrosão provocada pelo ácido. O tema escolhido prende-se com os escritores icónicos, como Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa, que mereceram honra de destaque, sendo cada um deles a personalidade retratada em dois dos painéis de pedra nas plataformas de embarque. No átrio, uma imagem monumental recria uma invejável biblioteca com os mais preciosos e vetustos autores portugueses de referência. Entre as várias estações pertencentes à primeira fase do primeiro escalão da construção da rede do Metropolitano de Lisboa (11 no total) encontra-se a Estação do Metropolitano de Entrecampos, que abriu ao

público em 1959, quando da inauguração da rede. Partilhando com as outras estações desse escalão o mesmo programa em termos arquitectónicos e artísticos, teve como autor do projecto arquitectónico o arquitecto Keil do Amaral e coube a Maria Keil o “risco” do revestimento de azulejos. Em 1973 sofreu alterações com o projecto arquitectónico do arquitecto Dinis Gomes e intervenções plásticas de Keil. Foi a estação pioneira na realização de obras de beneficiação e remodelação de 1993 e coube ao artista, pintor e gravador Bartolomeu Cid dos Santos (1931-2008) a intervenção plástica, tendo o escultor José Santa Bárbara realizado uma escultura-fonte, ocupando-se da zona de ligação com o interface com a CP. O tema desenvolvido foram as letras portuguesas, os grandes autores e os escritores contemporâneos de Bartolomeu que deixaram a sua “marca” neste painel de gravura sobre pedra com os seus autógrafos. O artista, neto do professor Reinaldo dos Santos, formou-se em Portugal, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Em Londres, estudou com Anthony Gross, na conceituada Slade School of Fine Art e destacou-se, sobretudo, na área da gravura, onde teve reconhecimento nacional e internacional, tendo obras suas representadas no MoMA de Nova Iorque, no British Museum de Londres e na Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa. Em 1989, o então CAM – Centro de Arte Moderna (hoje,


À esquerda: Bartolomeu Cid dos Santos, Figura Feminina, Estação de Entrecampos, 1991. Em baixo: Bartolomeu Cid dos Santos, Biblioteca, Estação de Entrecampos, 1991.

fotografias © arnaldo souda e rui abreu / metro

ESTAÇÃO DE ENTRECAMPOS

CAMJAP) da Fundação Calouste Gulbenkian apresentou uma importante retrospectiva sua e mais recentemente, em Janeiro de 2010, o CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito, palácio onde passou a sua infância, expôs obras suas na Colecção Manuel de Brito. Com um posicionamento político anti-salazarista, militante do PCP, marcou a diferença pelo intervencionismo político e esteve também na origem da criação de uma instituição, a Gravura, Cooperativa de Gravadores Portugueses, nos anos 50, que marcou a arte portuguesa com o notável trabalho que os principais artistas da época aí desenvolveram. No filme Gravura, esta mútua aprendizagem, de Jorge Silva Melo (2008), essa realidade é bem recriada, até com declarações de Cid dos Santos, entre muitos outros. E é fazendo apelo a essa técnica em que tanto se notabilizou que opta por aplicar nas paredes recuadas das plataformas de embarque, das escadas e do átrio sul, um revestimento de placas de pedra de cor clara onde surgem recortadas (como na gravura) frases e desenhos. Camões e Fernando Pessoa são as grandes figuras dos painéis que estão frente a frente. Junto ao painel de Camões vêm surgindo elementos fitomórficos (plantas, flores e galhos). A figura feminina retratada em grande escala representa a sua musa. O universo de Os Lusíadas surge aqui em todo o seu esplendor: alguns dos cantos aqui manuscritos, envolvidos em instrumentos

e elementos cartográficos do século XVI, bem como os mapas e alguns animais exóticos que aqui recriam um universo épico. Fernando Pessoa e parte da sua Ode Marítima são aqui reproduzidos em escrita cursiva, também rematados por uma outra musa. Em termos pictóricos, as imagens a que Cid recorre para ilustrar são bem lisboetas – o cais das colunas, e evidentemente, o lisboeta “Ibis” ou Pessoa, em vários retratos. E nestes painéis de pedra, este “Bartolomeu marinheiro”, como assinava em criança, (há imensos navios nas suas obras) fala-nos do mar e também de Fernando Pessoa, aos nove anos vestido de marujo, num dos retratos a que chama Fernando Pessoa Antes de Ser Grande. O grande átrio tem também um painel dedicado aos vultos da Literatura lusa. São estantes, onde surgem os históricos autores, organizados cronologicamente, convergindo para o centro onde escritores como Sophia de Mello Breyner, Maria Gabriela Llansol, Saramago, entre muitos outros seus contemporâneos deixaram a sua rubrica. Para terminar, Cid dos Santos fez mais um friso contínuo, dedicado a Robert Motherwell. O mar português, os navios, a nossa história, a nossa literatura estão aqui bem representadas. Não deixa de ser curioso que, em 2008, e por expressa vontade de Bartolomeu Cid dos Santos, as suas cinzas tivessem também sido lançadas ao rio de Tavira, o Gilão. ¶ Teresa Pearce de Azevedo


leilões est.

$ 20,000,000

3.

1.

est.

$ 3,000,000

2.

Maio em Nova Iorque e Junho em Londres Maio é o grande mês dos leilões em Nova Iorque, quer de Impressionistas quer de Arte Contemporânea. Em Junho o palco é Londres, para onde se deslocam em massa os grandes coleccionadores e dealers após a habitual Feira de Basileia, um must de qualquer aficionado de arte. Warhols e Jackies são tema dos leilões de Nova Iorque. A 10 de Maio a Sotheby’s vende Sixteen Jackies e a 11 de Maio a Christie’s vende o primeiro e o último (executado meses antes da sua morte inesperada na mesa de operações para uma cirurgia menor) Self-Portraits de Andy Warhol. Em Junho a Christie’s leiloa várias peças da colecção de Kay Saatchi, ex-mulher do conhecido coleccionador e king-maker Charles Saatchi, entre elas um magnífico pastel de Paula Rego, que se espera vir a reactivar o mercado da artista, que despertou grande interesse no Brasil com a sua exposição na Pinacoteca de S. Paulo, ainda em curso. ¶

Sotheby’s Nova Iorque – Arte Contemporânea – 10 Mai

000 est. $ 25,000,

1. David Hockney Peter Schlesinger with Polaroid Camera, 1977 Óleo sobre tela, 132 x 132 cm Est. US$ 2 500 000 – US$ 3 500 000 2. Andy Warhol Sixteen Jackies, 1964 Serigrafia, acrílico sobre tela, Cada: 50,8 x 50,8 cm Est. US$ 20 000 000 – US$ 30 000 000 Christie’s Nova Iorque – Arte Contemporânea e Pós-Guerra – 11 Mai 3. Mark Rothko Untitled #17, 1961 Óleo sobre tela, 236,2 x 193 cm Est. US$ 18 000 000 – US$ 22 000 000 4. Andy Warhol Self-Portrait, 1963-1964 Acrílico e serigrafia sobre tela, em quatro partes, 101,6 x 81,3 cm Est. US$ 20 000 000 – US$ 30 000 000 Christie’s Londres, Arte Contemporânea e Pós-Guerra – 28 Jun 5. Paula Rego Looking Back, 1987 Acrílico sobre papel colado em tela, 149,5 x 149,5 cm Est. £ 600 000 – 800 000

4.

5.


est.

$ 25,000,000

est.

ÂŁ 700,000


opiniao Todos os artistas estudantes, sejam eles betos, agrobetos, abetos ou negabetos pertencem ao admirável e inominado mundo novo da arte. Não têm nome. Têm números. São o número 240098; 230963; 214318; etc...

/ pedro portugal

A Arte Beta Não estamos a falar de uma arte no sentido experimental mas da arte que fazem as pessoas que socialmente são classificadas como “betas” e que são artistas. Os parâmetros são dúcteis, dúbios e refundidos e existe algum pudor social associado à designação. O que é um “artista beto”? Nenhum “artista beto” se apresenta como “artista beto” nem sequer reconhece a categoria. Não há uma guilda de “artistas betos”.

Os artistas dividem-se entre os que têm um, dois e três nomes. A maior parte dos que usam só um nome já morreram e foram fixados na história como marca. São os artistas que estão nas caixas de bombons e nos posters que se vendem nos museus: Giotto, Rafael, Ticiano, Rembrandt, Constable, Courbet, Manet, Monet, Columbano, Malhoa, Pissarro, Renoir, Duchamp, Picasso, Warhol, Ben, Beuys, Koons. Mas há artistas que usam só um nome (ou sigla) e estão vivos: Cargaleiro, Cutileiro, Pomar. A maioria, no entanto, desenvolve uma actividade artística neo-urbana iconografítica que requer reconhecimento na cultura pós-alternativa em espaço público: Bansky, Blu, Voina, Gêmeos, Rigo, etc.(1) Nos artistas que usam dois nomes temos de distinguir várias categorias: os que usam um nome próprio e o nome de família (e que constituem a maioria) como Pedro Portugal, John Ireland, Joe Vasconcelos, Orgasmo Carlos ou Ricardo Rocha; os que usam dois nomes próprios como João José, Carlos Carlos, Nuno Tiago, etc; e os que usam dois nomes de família como Pereira Coutinho, Bordalo Pinheiro, Ornellas e Gusmão, Leitão de Bairrada, etc. Com o aumento quântico do número de artistas, foi necessário acrescentar um terceiro elemento ao nome artístico para que a distinção, hierarquização e reconhecimento se tornasse antroponimicamente eficiente. Nos registos recentes há muitos artistas que recorrem à aposição de um terceiro nome (próprio ou de família) no seu BI artístico: João Pedro Vale, João Maria Gusmão, Luís Fernando Graça, Ana Neves Guerreiro, Pedro Cabrita Reis (2), José Pedro Croft, José Maçãs de Carvalho, Columbano Bordalo Pinheiro, Filipe Rocha da Silva, etc. Há ainda casos curiosos de artistas com três nomes próprios como João Pedro Rui. (3) Onde esta análise pretende chegar é à verificação da existência de uma pequena zona no mundo da arte que não tem sido alvo de estudo crítico sob o ponto de vista do potentado do mundo da arte contemporânea. Estamos a falar de uma matéria de estudo que poderia chamar-se “arte beta” — ou a arte que é produzida e comercializada num circuito que por vezes intersecta a complexa esfera do artístico. Não estamos a falar de uma arte no sentido experimental, mas da arte que fazem as pessoas que socialmente são classificadas como “betas” e que são artistas. Os parâmetros são dúcteis, dúbios e refundidos e existe algum pudor social associado à designação — não são povo e têm (ou tiveram) quinta ou herdade. O que é um “artista beto”? Nenhum “artista beto” se apresenta como “artista beto” nem sequer reconhece a categoria. Não há uma guilda de “artistas betos”. Um “artista beto” nunca tem só um nome. O primeiro pode, por vezes, ser um diminutivo como Cuca, Buga, Pi, Bu, Té, Pató, D, Ni ou Xá. Usa por vezes o short + o nome de família com dois nomes: Xá Vila Viçosa, Xixi EspíritoSanto, Ù Andrada Marrocos, Aya Pinto d’Albuquerque, etc. Os dois nomes de família contam como um só e por isso são na realidade artistas com dois nomes. Há aparentemente um mal-estar blasé nestes artistas e começam a aparecer discretamente formas organizadas de pressão para que aumente a percentagem de “artistas betos” na primeira divisão da arte contemporânea. A cobertura teórica é ainda deficitária pelas mesmas razões da falta de presença na divisão A. São no

fundo uma vanguarda de reserva que tem de ser unida e dobrada pelo factor a que Barthes chamava de “liberdade conferida pela transformação”. Falámos com alguns “artistas betos” que disseram desprendidamente as suas razões: — “Porque é que a arte que genuinamente gostamos de fazer não é, nem nunca será (?), considerada arte da primeira divisão da arte contemporânea? E porque é que os artistas que passaram fome quando eram pequenos ou que tiveram de lutar pela vida têm prioridade na sedimentação histórica e museológica?! Veja, são os nossos pais e tios como administradores/gestores/donos das instituições ou parcelas do Estado que pagam os artistas ditos da categoria A. Concedem-lhes a oportunidade de ascenderem à primeira divisão dessa espécie de aristocracia que é ser artista e ‘contemporâneo’ e alimentam financeiramente as instituições que os inventam! Para quê? Para ver um cordel pendurado no meio de uma sala? Ou uma prateleira com livros de impostores pervertidos exportados pela desmedida arrogância cultural francesa?” — “A arte não é do povo, é das elites. O povo vê arte e não percebe um boi. As elites também não percebem mas têm o boi. São coisas que penso… sentimentos fluidos de uma participação activa, militante, doutrinária e machista… no bom sentido, é claro.” — “É possível através de várias batotas históricas excluir uma fatia importante da arte produzida num determinado período de tempo. Ok! Eu sei que o falseamento da coisa artística tem imponderáveis estranhos…” — “Queremos amor-arte em chill-out filosófico e felling-good e non-stop-life-enjoying... Arte sim, é preciso, mas não precisamos dela para viver, ou para ganhar o direito à vida.” — “A nova cidade não exige que os artistas sejam miseráveis ou mercenários. Os arquitectos vão deixar de adorar os ‘deuses brancos’ e voltar a desenhar com brio os konzentrationslager como hoje desenham museus de arte contemporânea. Vai voltar a haver telhados inclinados para todos, um dia…” — “Quem é esta gente que está a dirigir as grandes instituições artísticas? De onde é que eles saem? Como se chamam os pais? Esta é a nossa perplexidade e fastio. Porque pretendemos uma arte originadora de felicidade e satisfação e cumplicidade social. Uma arte que se possa mostrar à mãe sem embaraço. Arte sim, mas não tanto!…” — “A vida que vivemos não é assunto para um artista sério. A arte cria os próprios factos da arte. É a sua própria realidade. Vê a forma como o seu conteúdo e o estilo como o sentido. A arte é sempre, de alguma maneira, uma gaguez sobre a sua própria linguagem.” ¶ (1) Há alguns artistas que pela sua notoriedade poderiam usar só um nome mas que infelizmente não o fazem por causa das conotações ou possibilidade de calembours maldosos como Rego, Batarda, Caramelo, Cavaco, Carvalho, Maluda ou Orgasmo. (2) Toda a gente sabe que o Pedro é o Pedro mas como artista é o Cabrita e “lá fora” é Cabrita Reis. (3) De referir que as glórias internacionais da pintura portuguesa do século XX têm três nomes e tinham pais ricos.



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