Ano 8 • nº1595 Julho/2014 Morro do Chapéu Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Tradição e resistências dos cantadores de chula da Comunidade de Água Suja A Comunidade de Água Suja está localizada a 30 Km da sede do Município de Morro do Chapéu. É formada por uma média de 25 famílias. Lá homens e mulheres dão continuidade à tradição cultural do samba de roda e da chula, ritmos que de acordo com Dió vem dos escravos que, ficavam nos terreiros das casas e compunham suas canções tiradas de musicas conhecidas dos senhores de fazendas para se divertirem ao som do birimbal. Deste costume reinventavam as musicas transformando-as em cirandas e sambas de roda. A musicalidade faz parte da vida dos agricultores e agricultoras que desde crianças cantavam durante a realização das atividades no campo, nos mutirões realizados para a construção de casas na comunidade e nos momentos festivos como a festa de Cosme e Damião, realizada no dia 17 do mês de setembro. A chula, ritmo em que sobressalta a criatividade e o improviso é parte da história da Comunidade de Água Suja, ao ritmo de cavaquinho, pandeiro, triângulo e palmas esses cantadores passeiam por cenas da vida cotidiana aos principais acontecimentos do país. Geovaldo Marques de Oliveira, popularmente conhecido como ‘Dió’ , 54 anos, líder do grupo de cantadores , conta-nos que aos 08 anos de idade já tocava o pandeiro junto com os amigos e o seus irmãos.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
A mãe ao perceber que os filhos se identificavam com o samba sugeriu-lhes que fizessem um arrendamento na roça de um vizinho para adquirir um cavaquinho, primeiro instrumento de ‘Dió’ . Depois de conquistarem esse instrumento eles passaram toda a adolescência animando as festas , trabalhos e, retratando a vida dos moradores por meio de improvisos com chulas e repentes. José Evaristo tem, 77 anos, pai de ‘Dió’ e ‘Leleco’ também é cantador de chula. Conta que nas reuniões da comunidade e mutirões trabalhavam repetindo versos de canções populares. Possuidor de ótima memória relembrou algumas estrofes da música de boi, cantadas pela comunidade enquanto trabalhavam: ‘’ Êeeeee, boiada boa, hôooo que moça tabaôa, lá vai, lá vai, lá vai, água te leva siriri pras Alagoas’’. Conta que a comunidade enquanto pisava o barro usados para tapar as paredes das casas, nas raspagens de mandioca e nas panhas de água no barreirão realizadas pelas mulheres e crianças: ‘’ Oi água de beber, oi ferro de gomar, quem quiser comer, oh vamos trabalhar’’. Para finalizar a nossa roda de conversa eles se reuniram e portando nas mãos cavaquinho e pandeiro dançaram e cantaram: ‘’ Quatro horas o sol nasceu, noves horas o sol tá quente, doze horas é meio dia, duas horas ainda tá quente, quatro horas o sol esfria, às seis horas o sol se põ, vai nascer um novo dia’’. Ref. ôoo Zé, nos vadeia até meio dia, õoo Zé nos vadeia até meio dia, ôooo Zé nos vadeia até meio dia.
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