Ano 7 • nº 1161 Dezembro/2013
Quixadá - CE Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Seu Wilson e o orgulho de ser agricultor, visionário, inventor Eu, boêmio, cantor da Lua, doido que não se situa Fui procurar viver além de mim (Sérgio Sampaio)
Quando o outro vive de maneira diferente da gente, quando vai “contra a maré” do que nós pensamos, fazemos e acreditamos costumamos julgá‐lo como doido, com um parafuso a menos. Mal paramos para pensar que aquele que reconhecemos como “doido varrido” pode estar mais certo que nós, que as suas escolhas podem ser bem melhores que as nossas. Viver a diversidade em uma sociedade que quer todos pensando e vivendo de maneira igual é um grande desafio. Seu Wilson aceitou o desafio sem pestanejar, se alguns acham que ele não bate muito bem da cabeça, tanto faz, ele está fazendo o que acredita ser o melhor. E quando a gente faz o que acredita acaba disseminando para os outros, espalhando para o mundo nossas ideologias, nosso jeito de viver e ver as coisas. Seu Wilson é agricultor desde que se entende por gente, diante de todas as dificuldades que já viveu não deu o braço a torcer e hoje conquistou o seu próprio lugar. Foram muitas idas e vindas trabalhando para outras pessoas, vivendo em vários lugares. Através do Crédito Fundiário, o agricultor conseguiu o seu pedacinho de chão em São Domingos, a 6km de Quixadá e desde 2011 vem tentando viver o sonho de construir um quintal cheio de diversidade, produzir o próprio alimento. E não é qualquer alimento, e sim, frutas, legumes e verduras orgânicas, isentas de qualquer tipo de veneno. O agricultor começou a plantar num tempo nada favorável, não tinha água, mas com determinação fez a limpeza de um cacimbão desativado e aproveitou também o pouco de água que tinha num açude próximo de sua casa. Um dos sonhos de seu Wilson é conseguir uma casa de farinha: “Eu sempre tive vontade em muitas coisas, eu tenho vontade de conseguir uma casa de farinha para que a gente possa plantar porque da farinha da mandioca se aproveita não só a goma e a farinha, se aproveita a manipueira como fertilizante, adubo e repelente”, afirma o agricultor.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
Seu Wilson conta com os olhos brilhando que gostaria de receber as pessoas em sua casa para que elas pudessem visitar o seu quintal e comprar a verdura fresquinha, as frutas, comer a galinha caipira, o carneiro, o porco, tornar o seu trabalho um atrativo para que outras pessoas pudessem começar a desenvolver um trabalho agroecológico e a comunidade de São Domingos começar a se desenvolver. Em novembro de 2012, o agricultor se envolveu com a criação da Feira Agroecológica de Quixadá. Na feira não pode faltar o seu café e a tapioca feitos na hora, tornando‐se assim um lanche de quem chega do interior para fazer compras em Quixadá e de quem vai todas às quintas‐feiras comprar os produtos sem nenhum tipo de agrotóxico na feirinha. Seu Wilson conversando com clientes ficou sabendo onde tem o café orgânico e quer em breve comprar o café para poder cada vez mais proporcionar aos seus clientes um produto inteiramente natural, a farinha para a tapioca, ele espera um dia ter condições de produzi‐la. “Eu busco isso aí porque eu comecei a ver o quanto é importante os produtos orgânicos, a Agroecologia em geral, que não é só o produto orgânico, mas a preservação da Natureza, a conservação das terras, então isso é sempre o que eu quis”, explica o agricultor. Seu Wilson gosta de cultivar culturas que não são conhecidas na região e aproveita os intercâmbios para trazer sementes de outras regiões. No seu quintal esse ano já deu milho (de semente crioula), fava (de dois tipos), feijão branco, feijão guandu, inhame‐ cará, tomate peito de cabra, araticum, maracujá, cheiro‐verde, acerola, pitanga, mamão, jerimum, hortelã, capim santo, cidreira, atemoia. O agricultor vive sozinho, faz a sua própria comida, e ainda trabalha como garçom no restaurante do seu irmão na cidade. Quando está em algum encontro ou intercâmbio conta com a ajuda do seu amigo e vizinho seu Chico. Seu Wilson se preocupa com a falta de incentivo à agricultura familiar e, especialmente, agroecológica no Brasil: “Você tem que produzir pra comer, pra sua família e tem que produzir pra comprar as coisas que você não produz”, afirma. Para o agricultor, é preciso ter assistência técnica, pessoas especializadas que apoiem e acompanhem de perto. Para ele, muita gente não utiliza os defensivos naturais porque não sabe produzir, com um apoio seria mais fácil. Todo agricultor tem um pouco de inventor. Seu Wilson não foge à regra aproveita, o que iria para o lixo e cria novas ferramentas de trabalho, comprovando que a Agroecologia é um mundo que não está só em produzir um alimento mais saudável, revela‐se sobretudo, em ações de respeito e proteção à Mãe Natureza.
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