Revista Pódio

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Pódio especial paralimpíadas

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Revista Pódio - Especial Paraolimpíadas

Revista produzida por alunos de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco para a disciplina de Redação Jornalística 4

Grupo: Artur Ferraz - Edição e Diagramação Guilherme Bertouline - Reportagem Heitor Barros Nery - Reportagem Henrique Barbosa - Reportagem Colaboração: Sandro Barros - Ensaio Fotográfico Professora orientadora: Isaltina Gomes

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índice

Reportagem e ensaio mostram o Centro Santos Dumont, em Boa Viagem, Recife (pág.16)

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EDITORIAL

Em busca de visibilidade 6 CURIOSIDADES

O que você tem que saber sobre os Jogos

8 SERVIÇO

Ingressos ainda disponíveis

10 RADAR

Dez nomes para ficar de olho 13 PRECIOSIDADES

As mais novas modalidades do Rio-2016 16 CAPA

Conheça o Centro Santos Dumont

22 ENSAIO

Paratletas de Santos Dumont

30 DICA

Documentário ‘Paratodos’

31 CRÍTICA

Paixão e glória em ‘Munderball’   Revista Pódio  |  3


editorial Paralimpíadas: em busca da visibilidade Depois de uma edição especial sobre os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, chega a vez de você, caro leitor, conferir uma Pódio dedicada aos Jogos Paralímpicos, que acontecem no mês de setembro na Cidade Maravilhosa. Vamos mergulhar fundo nas informações e curiosidades do evento e também na situação dos nossos paratletas e da estrutura do desporto paralímpico no país. Entre os dias 7 e 18 de setembro, mais de 4 mil paratletas disputarão medalhas nas 22 modalidades de esportes adaptados presentes nos jogos. Estarão representados mais de 170 países filiados ao Comitê Paralímpico Internacional (IPC). A expectativa é de que sejam comercializados cerca de 3,3 milhões de ingressos para as disputas. O Brasil desponta como uma das referências no esporte paralímpico e quer melhorar o desempenho de Londres-2012, quando a delegação fez sua melhor participação da história, trazendo 21 medalhas de ouro. O país ficou no sétimo lugar geral no quadro de medalhas, a frente de potências como a Alemanha. Entre as esperanças de vitória, está o nadador Daniel Dias, paratleta brasileiro com o maior número de medalhas na história dos Jogos, além de outros nove nomes, que integram uma lista elaborada pelo repórter Henrique Souza. Ampliando um pouco olhar, mas sem deixar de enxergar a nossa realidade afinal, nós somos os anfitriões -, uma interessante reportagem feita por Heitor Barros Nery apresenta dois esportes que só a partir deste ano fazem parte das Paralimpíadas: a paracanoagem e o paratriatlo. Pouco conhecidas, as modalidades podem surpreender, principalmente se pensarmos na tradição que já carregam, mesmo que tenham histórias recentes se comparadas com esportes como futebol e basquete, por exemplo. Contudo, não só de festa fala esta revista especial. Como mostra a matéria de capa, produzida por Guilherme Bertouline, o principal centro esportivo do nosso estado, o Santos Dumont, que atende pessoas com ou sem deficiência, não oferece a estrutura adequada para o desenvolvimento de talentos que nos deem destaques em competições mundo afora. A pouca atenção às modalidades paralimpícas mostra que o assunto está longe de ser prioridade para o poder público. Para completar a matéria, vem ainda um ensaio fotográfico realizado por Sandro Barros com paratletas que treinam no centro. Embarque conosco nesta edição, que visa não só tratar de informações sobre o evento e destaques brasileiros, mas, acima de tudo, dar visibilidade aos paratletas e sensibilizar a sociedade sobre a situação dos esportes adaptados, por vezes negligenciados na estrutura do esporte nacional. Como em tudo na vida, é muito bom abrir a mente para mundos desconhecidos. Se você já convive com o universo dos Jogos Paralimpícos, espero que goste e se sinta representado. E e você não está habituado com este mundo que apresentamos agora, entregue-se à leitura e faça novas descobertas. 4 | Revista Pódio


ULTRAPASSAR BARREIRAS NUNCA FOI TAREFA FÁCIL... AINDA BEM QUE A CHRISTER ESTÁ SEMPRE DO NOSSO LADO.

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curiosidades

Tudo o que você precisa saber sobre as

PARALIMPÍADAS

Quando acontece, as modalidades, mascote... Veja o que são os Jogos e como eles funcionam Henrique Souza

Os Jogos Paralímpicos são o maior evento esportivo mundial envolvendo pessoas com deficiência. Participam atletas com deficiências físicas (de mobilidade, amputações, cegueira ou paralisia cerebral) e mentais. Foram realizados pela primeira vez em 1960 em Roma, Itália, e surgiram em Stoke Mandeville, na Inglaterra, onde ocorreram as primeiras competições esportivas para deficientes físicos, como forma de reabilitar militares feridos na Segunda Guerra Mundial. Este ano, o Rio de Janeiro recebe a 15ª edição do evento. Para quem ainda conhece o evento, Pódio fez uma lista com as informações básicas que você deve saber.

Rio de Janeiro, sede das Paralimpíadas

QUANDO

ATLETAS Serão mais de 4 mil atletas, de pelo menos 170 países.

Dos dias 7 a 18 de setembro de 2016

MODALIDADES São 23 esportes que compõem o programa paralímpico. Além de modalidades adaptadas, como atletismo, natação e basquete, há esportes disputados exclusivamente por deficientes, como bocha e futebol de cinco. 6 | Revista Pódio

Antônio Tenório, judoca (Foto: Buda Mendes)


ONDE AS PROVAS SERÃO DISPUTADAS Zona da Barra Estádio Aquático Olímpico - Natação Arena Carioca 1 - Basquete em cadeira de rodas e Rugby em cadeira de rodas Arena Carioca 2 - Bocha Arena Carioca 3 - Judô Centro Olímpico de Tênis - Futebol de 5 e Tênis em cadeira de rodas Velódromo - Ciclismo de pista Riocentro - Voleibol sentado, Tênis de Mesa e Halterofilismo Arena Olímpica do Rio - Basquetebol em cadeira de rodas Praia do Pontal - Ciclismo de Estrada e Maratona Zona de Deodoro Estádio de Deodoro - Futebol (5 e 7) Centro Olímpico de Hipismo - Hipismo Centro Olímpico de Tiro - Tiro Esportivo Arena da Juventude - Esgrima em cadeira de rodas Zona do Maracanã Estádio do Maracanã - Cerimônias Ginásio do Maracanãzinho - Vôlei Sentado Estádio Nilton Santos - Atletismo Marquês de Sapucaí - Tiro com Arco Zona de Copacabana Praia de Copacabana - Triatlo Marina da Glória - Iatismo Lagoa Rodrigo de Freitas - Remo

BRASIL

Ao longo da história das Paralímpiadas, o Brasil conquistou 74 ouros, 86 pratas e 75 bronzes, num total de 235 medalhas. O país é a 23ª nação que mais subiu ao pódio no evento. Na última edição, em Londres, foram 21 ouros, 14 pratas e 8 bronzes, terminando na 7ª posição. O nadador Daniel Dias foi o maior medalhista, com seis ouros em seis provas.

Foto: Alex Ferro/Rio-2016

CURIOSIDADE Você sabia que existe um evento especial voltado para os surdos? É a Surdolimpíada, organizada pelo Comitê Internacional de Desportos para Surdos (ICSD). As Surdolímpiadas acontecem a cada 4 anos, e são o evento multi-esportivo mais antigo depois dos Jogos Olímpicos. Os primeiros jogos, realizados em Paris no ano de 1924,foram também o primeiro evento esportivo para portadores de necessidades especiais. A próxima edição ocorre em 2017, na cidade de Samsun, na Turquia.

MASCOTE

Tom, o mascote das Paralimpíadas Rio-2016

A escolha da dupla de mascotes olímpica e paralímpica foi realizada através de um concurso com um júri formado por 14 pessoas. A comissão julgadora também ouviu a opinião de crianças entre seis e nove anos. O mascote paralímpico foi apresentado junto com o mascote olímpico no dia 23 de novembro de 2014, no programa Fantástico, da TV Globo. Na mesma data foi criada uma enquete para escolha dos nomes da dupla. Após 21 dias de votação, foi revelado então que o mascote paralimpico se chamaria Tom, com 44% votos. O nome faz referência ao cantor e compositor Tom Jobim. O mascote escolhido representa uma grande mistura da flora brasileira.•   Revista Pódio  |  7


serviço serão realizadas entre os dias 7 e 18 de setembro. Televisão Se você não puder ir até o Rio de Janeiro para assistir às competições mas não quer perder nenhum detalhe dos Jogos Paralímpicos, saiba que as disputas serão transmitidas tanto na tevê aberta quanto na fechada.

Ainda dá tempo de assistir Com a procura em baixa, sobram ingressos para ver os Jogos Paralimpícos. Evento acontece em setembro, no Rio; preços variam de R$ 10 a R$ 1,2 mil Henrique Souza Se você tem interesse em assistir às competições paralímpicas, mas deixou tudo para última hora, saiba que ainda é possível comprar ingressos para vários eventos, incluindo as cerimônias de abertura e encerramento. Os preços variam entre R$ 10 (para competições preliminares de esportes menos populares) e R$ 1,2 mil (para a cerimônia de abertura). Modalidades como natação, atletismo e futebol de 7 ainda possuem várias entradas disponíveis. A venda dos ingressos das Paralímpíadas começou no dia 7 de setembro de 2015, exatamente um ano antes do evento se iniciar. Ao todo, são 3,3 milhões de bilhetes à venda para as 315 sessões esportivas dos Jogos. Deste total, 80% são reservados para brasileiros e os 20% restantes se destinam ao público de fora e patrocinadores. O processo de compra é semelhante ao utilizado na venda das entradas dos Jogos Olímpicos. Os interessados devem acessar o site do Comitê Rio-2016, realizar 8 | Revista Pódio

um cadastro e escolher quais as sessões desejam comparecer. As vendas online seguem até o final de setembro e a venda física, nas bilheterias, se inicia no mês de junho. Infelizmente, a baixa procura até o momento contribuiu para que diversas entradas ainda estejam disponíveis. O Comitê Organizador Rio 2016 anunciou no dia 30 de maio que apenas 720 mil dos 2,5 milhões de ingressos para os torcedores foram vendidos. A prefeitura do Rio de Janeiro, inclusive, realizou uma compra de 500 mil entradas que serão doadas para servidores municipais, estudantes da rede municipal de ensino e portadores de deficiência atendidos por centros de referência da cidade. A expectativa era bater o recorde de vendas nos Jogos Paralímpicos em toda a história. Apesar dos problemas, os organizadores do evento ainda mostram otimismo, argumentando que a procura sempre aumenta após o início dos Jogos Olímpicos. As Paralímpiadas do Rio de Janeiro

Na televisão aberta, a Rede Globo e a TV Brasil detêm os direitos de transmissão das Paralímpiadas do Rio de Janeiro. Durante os Jogos Paralímpicos, provas importantes dos esportes mais tradicionais, como a natação e o atletismo, poderão ser exibidas em flashes ao vivo na programação. Todos os telejornais trarão reportagens especiais e o programa ‘Esporte Espetacular’ exibirá a série “Eficientes”, em quatro episódios, com uma visão peculiar sobre o universo dos atletas paralímpicos. Ao final de cada dia, o programa ‘Boletim Paralímpico’ vai resumir os momentos mais marcantes e emocionantes da competição. Já a TV Brasil traz, além da transmissão dos Jogos, reportagens especiais, entrevistas com os atletas e a cobertura dos eventos-teste da natação e do atletismo, direto do Rio de Janeiro, de abril e maio. Na TV por assinatura, a transmissão fica a cargo do canal Sportv, do grupo Globo. Além das coberturas ao vivo e flashes das competições ao longo da programação, o canal preparou um projeto especial, o ‘Eu me movo’, com a produção de uma série de 13 capítulos e dois documentários sobre o universo paralímpico.•


E VOCÊ? VAI FICAR AÍ PARADO, SÓ OLHANDO?

#RIO2016

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radar

Dez paratletas para ficar de olho durante os Jogos Antes de começar a acompanhar uma competição do porte das Paralimpíadas, é importante que o torcedor saiba as principais apostas do seu país para se dar bem na competição. Pensando nisso, Pódio reuniu os dez nomes que mais devem chamar sua atenção durante as transmissões Henrique Souza

O Rio de Janeiro receberá entre os dias 7 e 18 de setembro a 15ª edição dos Jogos Paralímpicos. Se entre as modalidades para pessoas que não são portadoras de deficiência o Brasil ainda sofre para ficar entre os 10 melhores colocados no quadro de medalhas, o nosso país vem se destacando cada vez mais na competição internacional. Nas primeiras Paralimpíadas de que participou, no Canadá, em 1972, a nação verde-amarelo não levou nenhuma medalha. História bem diferente do que aconteceu Londres-2012. Na última edição dos Jogos, os brasileiros alcançaram seu melhor desempenho na história das Paralímpiadas, com 21 medalhas de ouro, 14 de prata e 8 de bronze, performance que possibilitou ao país terminar em sétimo lugar no quadro geral. Este ano, com o apoio da torcida, a expectativa é por vôos ainda mais altos. Para que você não fique “por fora” na hora de acompanhar as partidas e não torça errado, listamos 10 atletas brasileiros que prometem brigar por medalha nas competições. Confira: 10 | Revista Pódio

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DANIEL DIAS Nascido em Minas Gerais, o paratleta de 28 anos é o maior medalhista paralímpico da história do Brasil, com 10 ouros, 4 pratas e 1 bronze. Em Londres, quatro anos atrás, foram 6 provas e 6 títulos. O brasileiro é tem títulos em todos os estilos da natação. Daniel chega ao Rio em grande fase. Em 2015, no Parapan de Toronto, Canadá, conquistou 8 medalhas de ouro. Além de vencer nas piscinas, foi premiado três vezes pelo Laureus, em 2009, 2012 e 2016, como Melhor Atleta Paralímpico do ano.

Daniel Dias (Foto: Márcio Rodrigues/Divulgação)

ALAN FONTELES O velocista alcançou o reconhecimento mundial na última edição dos Jogos. Em Londres, Alan superou o sul-africano Oscar Pistorius, considerado favorito, nos 200m T44. Desde então, o corredor se tornou um dos principais nomes do paratletismo no mundo. Também possui uma prata por equipes em Pequim-2008 no revezamento 4 x 100m.


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SHIRLENE COELHO Destaque no lançamento de dardos, a goiana chega como uma das grandes favoritas à medalha de ouro no Rio. Em duas participações nas Paralímpiadas, conquistou uma prata em Pequim-2008 e um ouro em Londres-2012. Recordista mundial da modalidade, também foi a vencedora da prova no Mundial de Doha, em 2015. A paratleta também compete nas provas de lançamento de disco e arremesso de peso.

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FUTEBOL DE CINCO Se a seleção brasileira de futebol passa por um mau momento, o mesmo não se pode dizer da seleção de futebol de cinco. A modalidade, que entrou para o programa paralímpico em Atenas-2004, só teve até hoje um único país campeão: o Brasil. E a supremacia não para por aí: desde a final do Mundial em 2006, quando foram derrotados pela Argentina na casa dos hermanos, os brasileiros não perdem um título importante. O grande destaque da equipe é o camisa 10 Ricardinho, eleito o melhor jogador de futebol de cinco do mundo.

Shirlene Coelho (Foto: Márcio Rodrigues/Divulgação)

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ANTÔNIO TENÓRIO Os Jogos Paralímpicos deste ano devem marcar a despedida de uma lenda do judô paralímpico dos tatames. Antônio Tenório esteve presente nas últimas cinco edições dos Jogos e medalhou em todas elas. De 1996 até 2008, o judoca emendou uma impressionante sequência de quatro ouros olímpicos, se tornando até hoje o único a conseguir tal feito. Versátil, Tenório conquistou suas medalhas em mais de uma categoria de peso. No Rio, o brasileiro deverá lutar na divisão até 90 kg.

JERUSA SANTOS

A velocista será mais uma paratleta a dar adeus à competição. Apesar de ter começado tarde no esporte, logo conquistou bons resultados. A mato-grossense foi medalha de bronze, nos 200m rasos em Pequim, e prata na mesma prova e nos 100m em Londres. Atual recordista mundial nos 100m, 200m e 400m rasos, a brasileira teve dificuldades em Doha, mas quer encerrar com chave de ouro sua história nas Paralímpiadas.

Foto: Daniel Zappe/Divulgação

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ANDRÉ BRASIL Embora Daniel Dias seja o grande atleta das piscinas no país, a natação paralímpica também conta com outro nome de peso. André Brasil é um colecionador de medalhas. Ao todo, são 10 em Paralímpiadas. Em Pequim, o nadador foi ouro nos 50m, 100m e 400m livre e nos 100m borboleta; e prata nos 200m livre. Em Londres, foram 3 ouros (50 e 100m livres e 100m borboleta) e 2 pratas (200m medley e 100m costas). André também possui 24 medalhas em mundiais e outras 24 em Parapans. Atual recordista mundial nas provas dos 50m, 100m e 200m livre, 50m e 100m borboleta e 50m costas, é nome quase certo entre os medalhistas paralímpicos do Rio.   Revista Pódio  |  11


8 DIRCEU PINTO

O brasileiro domina a bocha, esporte que só está presente nos Jogos Paralímpicos, onde é bicampeão (Pequim-2008 e Londres-2012), tanto no individual quanto por equipes. O paratleta enfrenta ainda outro desafio: vítima de uma doença degenerativa e progressiva, perdeu força no arremesso e caiu no ranking mundial nos últimos meses. Mesmo com a queda de rendimento, Dirceu já deu mostras que pode contrariar as previsões e ficar com o ouro olímpico: em Pequim, era o 25º no ranking mundial e terminou no lugar mais alto do pódio.

Dirceu Pinto (Foto: CPB/Divulgação)

10 Lúcia Teixeira em Londres-2012 (Foto: Patrícia Santos/Divulgação)

9 LÚCIA TEIXEIRA

Medalha de prata no judô em Londres-2012 na categoria até 57kg, a judoca foi uma das estrelas da campanha em que paratletas treinam em academias do Rio de Janeiro e mostram o quanto são esportistas de alto nível. Lúcia é uma das brasileiras mais bem cotadas para conquistarem medalhas nos jogos.

Jovane Guissone no Grand Prix do Canadá (Foto: CPB/Divulgação)

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JOVANE GUISSONE

Após reagir a um assalto, que acabou lhe tirando o movimento das pernas, em 2004, o gaúcho da cidade de Barros Cassal é um grande exemplo de superação. Em 2008, entrou para a esgrima em cadeiras de rodas e hoje é o campeão paralímpico do esporte. Ao ficar em terceiro lugar e conquistar o bronze na Copa do Mundo de 2011, no Canadá, Jovane foi o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha internacional na modalidade. Sua estreia em Paralimpíadas foi em Londres, há quatro anos, onde levou a medalha de ouro depois de vencer o chinês Chik Sum Tam por uma diferença de um ponto. Este ano, foi medalha de prata na Copa do Mundo de Eger, na Hungria. Atualmente, aos 32 anos, o esgrimista ocupa o segundo lugar do ranking mundial. Portanto, é um forte candidato à medalha paralímpica.•


preciosidades

As novidades do Rio-2016

Paratleta Fernando Rufino na disputa pela I Copa Brasil de Paracanoagem (Foto: Graziella Batista/Divulgação)

Este ano, as Paralimpíadas contam com duas novas modalidades: paracanoagem e paratriatlo. Pouco conhecidos, os esportes podem surpreender pela tradição que já carregam Heitor Barros Nery Assim como nos Jogos Olímpicos, o Comitê Paralímpico Internacional (CPI) vota a entrada de duas modalidades em seu programa das Paralímpiadas. Para 2016, sete modalidades pleiteavam uma vaga dentro desse programa: badminton, golfe, futebol em cadeira de rodas, basquete para pessoas com deficiência intelectual, canoagem e triatlo, mas somente as duas últimas foram consideradas aptas para estrear sua participação nos jogos do Rio de Janeiro. Paracanoagem Apesar de sua versão olímpica já ter uma certa tradição, a paracanoagem só nasceu oficialmente em 2009, após um longo esforço da Federação Internacional de Canoagem em promover o esporte para que portadores de deficiência pudessem disputar a modalidade. Antes do esporte ser formado oficialmente,

não existia uma prática regular dessas pessoas, limitando-se a poucos eventos realizados ainda sob o nome de canoagem adaptada. O primeiro mundial da modalidade foi disputado em 2010, em Poznán, Polônia. Na primeira edição do evento, 28 países participaram, incluindo o Brasil, que faturou a medalha de ouro com Fernando Fernandes. O esporte é disputado majoritariamente em dois tipos de embarcações. Um caiaque, no qual os atletas utilizam um remo de duas pás para impulsionar o barco, e uma canoa havaiana, impulsionada por mais de um atleta com um remo de uma única pá. No Rio de Janeiro, as provas serão disputadas somente por caiaques, que podem ter até 5,20m de comprimento e pesar no mínimo 12kg. Ganha

a medalha de ouro o atleta que percorrer completamente os 200m de prova e alcançar mais rapidamente a linha de chegada. Ao todo, a Paracanoagem terá seis categorias em 2016. Cada atleta passará por avaliações dentro e fora d’água e ganhará pontos para determinar a categoria mais adequada de acordo com sua mobilidade. A categoria KL1 é disputada por atletas que obtiveram até três pontos e que possuem pouca ou nenhuma mobilidade no tronco e nenhuma mobilidade nas pernas. A KL2, para atletas que obtiveram de quatro a sete pontos e que possuem uma mobilidade limitada nas pernas e no tronco. E a KL3, para aqueles que obtiveram oito ou nove pontos, que possuem boa mobilidade do tronco, mas pouca mobilidade nas pernas. Todas as categorias terão provas masculinas e femininas e   Revista Pódio  |  13


Ciclismo faz parte do Paratriatlo (Foto: Leandra Benjamim/Divulgação)

serão disputadas na Lagoa Rodrigo de Freitas. Apesar da curta história do esporte, o Brasil já tem sucesso nas competições internacionais. Fernando Fernandes, que venceu o primeiro campeonato mundial e compete na categoria KL1, é tetracampeão da modalidade. Além dele, Marta Santos, caio Ribeiro de Carvalho e Luís Carlos Cardoso já foram campeões mundiais no esporte. Outro nome é o do piauiense Luís Carlos Cardoso, que superou Fernando Fernandes em sua categoria no último qualificatório mundial e está fora dos jogos. Por conta do desempenho em 2015, Luís foi apontado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro o melhor atleta do país em 2015. Paratriatlo Dezesseis anos após estrear nas Olimpíadas, na edição de Sidney, o Triatlo terá sua primeira edição nas Paralímpiadas do Rio em 2016. As competições internacionais de paratriatlo são mais antigas que as da paracanoagem. O primeiro mundial da modalidade foi disputado há exatos 20 anos, em Cleveland, nos EUA. Mas somente em 2010 o paratriatlo foi reconhecido 14 | Revista Pódio

oficialmente pelo CPI. Entre os motivos para sua adesão, estão a evolução do esporte nos últimos anos e, principalmente, a inclusão que o esporte proporciona, com atletas das mais variadas deficiências disputando a modalidade. As regras do esporte são praticamente as mesmas de sua versão olímpica, contando com algumas adaptações. As distâncias em cada etapa do esporte foram reduzidas pela metade. Os atletas precisam percorrer 750m na natação, 20km de ciclismo e 5km de corrida. A transição entre as modalidades também é computada no tempo final de prova. Por isso, no período de transição para cada etapa, os atletas podem contar com o auxílio de ajudantes, escolhidos pelos próprios atletas e identificados pela organização do evento. Ganha a prova quem completar todo o circuito no menor tempo. De acordo com a necessidade de cada atleta, eles podem também utilizar algumas adaptações nos equipamentos que o auxiliem no cumprimento da prova. No ciclismo, duas pessoas podem conduzir as bicicletas à

mão. Outra modificação importante nesta etapa é a proibição dos atletas de correrem exatamente atrás do concorrente à sua frente, na tentativa de se aproveitar da menor resistência do ar para adquirir maior velocidade. Na corrida, eles podem utilizar tanto próteses quanto cadeiras de rodas. Os atletas cegos precisam disputar toda a prova com um guia ao seu lado, e este guia precisa ser do mesmo gênero e da mesma nacionalidade que o atleta. O paratriatlo é dividido em cinco categorias ao todo. Quatro para atletas portadores de deficiência física (PT1-PT4) e um para portadores de deficiência visual (PT5). Na categoria PT1, disputam os atletas que necessitem da utilização da cadeira de rodas e das bicicletas acionadas à mão. Nas categorias PT2, PT3 e PT4, os atletas são classificados de acordo com um sistema de pontuação específico que respeite as dificuldades de cada atleta, determinado pela União Internacional de Triatlo, entidade responsável por reger o esporte no mundo. O Brasil, como país-sede, terá direito a um participante por prova. Ao todo, 55 paratletas participarão em cada prova da competição. Entre os destaques nacionais, está o paulista Fernando Aranha, atual campeão brasileiro na categoria PT1 que foi medalha de prata na etapa de Yokohama do Circuito Mundial de Paratriatlo. Outros triatletas brasileiros bem cotados para a disputa no Rio de Janeiro são o gaúcho André Barbieri (PT2), o paulista Carlos Rafael Viana (PT4), as caterinenses Yasmin Martins (PT2) e Tamiris Hintz (PT4) e a paulista Ana Tércia Soares (PT5).•


A VIDA É UMA SÓ: LARGUE ESTA REVISTA, PEGUE O SEU CASTELL E PONHA O PÉ NA ESTRADA

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capa

Bem-vindo ao

Centro Santos Dumont

Para saber como os atletas do estado estão se preparando para as competições, Pódio fez uma visita ao complexo esportivo localizado no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. No principal espaço público de treinamento em Pernambuco, os jogadores até conseguem trabalhar, mas no limite. Apesar das vantagens de poder contar com o local, técnicos e competidores enumeram problemas, como falta de equipamentos adequados e instalações antigas. Sem reparos, o centro luta para se manter

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Pista de corrida do Centro Santos Dumont (Foto: Sandro Barros/Pódio)

Em fevereiro deste ano, o Governo de São Paulo abriu as portas do Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro. Ao custo de R$ 300 milhões, o complexo reúne espaços para a prática do atletismo, natação e demais esportes de quadra. É um dos mais modernos do mundo quando falamos em infraestrutura esportiva adaptada aos atletas portadores de deficiência. O avanço em São Paulo, porém, não se replica aos demais estados brasileiros, ainda com uma infraestrutura tímida para dar suporte aos paratletas. É o caso de Pernambuco. O estado é o berço de paratletas de destaques como Suely Guimarães e Rosinha Santos. Suely participou de cinco edições das Paralimpíadas, sendo bicampeã no lançamento de disco (1992 e 2004) e medalha de bronze na 18 | Revista Pódio

mesma prova no evento disputado em Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996. Já Rosinha Santos é alagoana, mas fez sua vida em Pernambuco. Ela também é bicampeã, mas em categorias diferentes. Nos Jogos de Sidney (2000), conquistou a medalha de ouro no lançamento de disco e no arremesso de peso. O histórico mostra a tradição do estado no atletismo. Mas, mesmo com o protagonismo das atletas, a infraestrutura para a categoria ainda tem um bom caminho a percorrer. O principal local de treinamento para esses atletas de alto rendimento, hoje, é o Centro Esportivo Santos Dumont. O equipamento, localizado em Boa Viagem, foi inaugurado em 1975. Diariamente, o espaço recebe 2.500 alunos, entre atletas e paratletas, estudantes da rede

pública, idosos e deficientes físicos. Além do atletismo, o centro conta com piscina para natação e espaços para esportes coletivos e artes marciais. Uma grande modernização foi prometida em 2012, já que o Santos Dumont apareceu na lista de 176 locais de treinamento para delegações para as Olimpíadas e Paralimpíadas do Rio neste ano. Mas, de lá para cá, foram realizadas apenas reformas pontuais. A principal delas foi a troca do piso da pista de atletismo, em 2013. Ao custo de R$ 5 milhões, foi instalado, nos 4,3 mil m² da pista, o piso sintético SBR, composto por poliuretano e utilizado em competições internacionais, e que substituiu as antigas placas de borracha, fixadas em 1994. Mesmo com a idade avançada e carecendo de reformas, o San-


tos Dumont supre a demanda dos paratletas locais. Quem conta isso é o treinador Abraão Nascimento, que também é presidente da Associação de Apoio à Pessoa Portadora de Deficiência (AAPPD). A AAPPD é hoje a equipe a que os principais destaques do estado na modalidade de paratletismo estão filiados. Entre os times de deficientes visuais, auditivos, paratletas cerebrais, amputados ou com poliomielite, são 65 atletas inscritos. O carro-forte é o atletismo, mas a AAPPD também possui equipes de outras categorias como tênis de mesa e badminton. Em 2016, a associação está estudando uma parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc) para montar um time para a natação. “Apesar de antigas, as instalações do Santos Dumont estão em condições de receber qual-

quer equipe que quiser fazer aclimatação para os Jogos. Mas aqui é uma realidade. Aqui nós temos piscina, temos ginásio, temos a pista, temos sala de apoio. Fora disso aqui, o bicho pega. Temos uma pista que a Prefeitura do Recife não inaugurou, mas está fazendo no Parque do Caiara. É uma pista de atletismo igual a essa. Fora essas duas não temos mais pistas sintéticas, apesar de termos várias pistas de terra”, analisa o treinador, que utiliza as instalações todas as manhãs para o treinamento de paratletas. O piso é algo essencial. Como não há pistas cobertas em Pernambuco, os locais ficam à mercê das condições do tempo. Com o SBR, é possível treinar em dias de chuva, ao contrário das pistas de terra, que ficam alagadas e impossibilitam o treinamento desses atletas, que re-

quer um cuidado e uma metodologia especial. Essa metodologia passa não só pelos locais de treinamento, mas também pelos equipamentos utilizados no dia a dia, e essa é uma das principais baixas no que diz respeito à infraestrutura. Mesmo sendo uma referência, o Santos Dumont não possui todos os equipamentos adequados para dar assistência aos paratletas. “Temos uma dificuldade aqui que fica abaixo da crítica que é questão da musculação, do trabalho de força. Na AAPPD temos equipamento desde sapatilhas especiais, cadeiras especiais para lançamento, até dardos e discos adaptados. Felizmente, conseguimos treinar todos nossos atletas, mas é uma situação diferenciada”, analisa Abraão. A falta de equipamentos ade-

Centro Santos Dumont (Foto: Sandro Barros/Pódio)

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quados foi o que levou uma das promessas do atletismo paralímpico pernambucano e brasileiro a mudar de local de treinamento, visando à preparação para as Paralimpíadas, que serão realizadas em setembro deste ano. Jenifer Martins tem 26 anos e há 13 se dedica ao esporte de alto rendimento. Ela, que teve paralisia cerebral, compete nas modalidades dos 100 metros rasos e no salto em distância. A atleta está disputando vagas para os Jogos nas duas categorias, sendo uma das melhores ranqueadas do mundo entre os atletas brasileiros. Em busca de uma melhor preparação, Jenifer vem fazendo temporadas de treinamento em Brasília desde janeiro deste ano. “Tive que me mudar por questões de estrutura e técnicas. Apesar da pista do Santos Dumont ser de ótima qualidade, preciso de outros equipamentos para me aprimorar. Aqui em Pernambuco, temos um déficit de material e de uma academia adequada para treinamentos”, salienta. O deslocamento não seria necessário se tivesse à disposição os equipamentos específicos. “Daria para fazer todo o treinamento aqui em Pernambuco, caso houvesse os materiais necessários. A pista daqui, por exemplo, é bem melhor que a de lá, mas os equipamentos fazem a diferença. Em Brasília, eu tenho disponíveis barreiras de madeira e de alumínio, blocos de partida oficiais, equipamentos de equilíbrio. Todos eles adaptados”, exemplifica. Para Jenifer faltam mais investimentos do Governo. “Perto de uma pista oficial, o custo dos materiais é muito pequeno. 20 | Revista Pódio

Jenifer Santos (Foto: Maria Eduarda Bione)

Por exemplo, um bom bloco de partida custa na faixa de R$ 250,00, mas temos que usar um muito antigo da federação, que não oferece boas condições. A situação é mais precária para os atletas do interior. Acho que no estado, a única pista que oferece condições semelhantes a uma de competições oficiais é a do Santos Dumont. Esses atletas precisam treinar em suas regiões e muitas vezes vêm para a capital fazer uma preparação de uma semana antes das competições”, completa. Apoio Melhorar a assistência ao desporto paraolímpico no estado é uma das prioridades da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Governo de Pernambuco, pasta responsável pelo incremento ao desenvolvimento do esporte no estado. Segundo o assessor de Esportes da pasta, Terni Castro, esse apoio vem sendo dado aos atletas, seja na construção de estruturas adaptadas ou no fomento e apoio a

competições no estado. “Hoje, temos dois centros de treinamento de referência paralímpica aqui em Pernambuco: o Centro Esportivo Santos Dumont, no Recife, e o Centro de Esportes e Lazer de Petrolina. Os dois são públicos. Os dois espaços estão localizados em pontos estratégicos das cidades. O Santos Dumont é no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, e bem próximo ao Terminal Integrado do Aeroporto. O de Petrolina fica no bairro de Areia Branca, Zona Leste da cidade, e representa um ponto estratégico no Sertão do estado”, enumera o assessor. O assessor também ressalta o fato de todo o Centro Esportivo Santos Dumont possuir áreas de acessibilidade. No entorno da pista de atletismo, há um piso especial para deficientes visuais (com indicações em relevo), além de todos os banheiros seguirem o padrão de acessibilidade. Nas áreas da piscina e no


núcleo administrativo foram instalados corrimões de acesso a esses locais. Ele também destaca a existência de equipamentos específicos para os paratletas locais. Segundo a secretaria, o principal plano de construção referente à área de esporte é a reforma completa do Centro Esportivo Santos Dumont, que beneficiará todos os envolvidos com o esporte de alto rendimento, paratletas ou não. A obra é orçada em R$20 milhões e já foi liberada pelo Ministério do Esporte. Já estão garantidos R$ 4 milhões iniciais para o início da licitação. O novo Santos Dumont contará com parque aquático completo (piscina e piscina de saltos), centro de treinamento de esportes de praia (vôlei de praia, beach tênis, handbeach e beach soccer), espaço para artes marciais, academia, quadra de futebol de 7 (society), quadras de tênis e campo de futebol. O fomento também vem em forma de apoio a circuitos de competições paralímpicas. “Hoje

existem os Jogos Paralímpicos de Pernambuco. No ano de 2015, os Jogos contaram com a presença de aproximadamente 2,5 mil paratletas em busca de medalhas no atletismo, tênis de mesa, futebol de 5, futsal, na bocha e na natação. Antes da final realizada no Recife, o evento contou com seis disputas regionais, nas quais os campeões se classificavam automaticamente para as finais. Os melhores colocados da categoria mirim se classificam para as Paralimpíadas Escolares, realizadas em Natal, no Rio Grande do Norte. A delegação pernambucana contou com 40 participantes e 15 medalhas conquistadas nessa competição”, acrescenta o representante da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer. Além disso, o Centro Esportivo Santos Dumont também recebe competições nacionais, tais como o Circuito Norte/Nordeste Loterias Caixa de Atletismo, Halterofilismo e Natação. Em 2015, 490 paratletas de 11 estados participaram da competição. Em 2016, 800 paratletas de todos

Atleta é uma das promessas do estado (Foto: Pau Hatz/Divulgação)

os estados do Norte e Nordeste disputaram a competição, que serviu como seletiva para as Paralimpíadas Rio-2016. Para continuar no esporte, o incentivo financeiro é essencial. Por meio de alguns programas, o Governo do Estado se compromete em auxiliar esses atletas com bolsas. Hoje, todos os atletas paralímpicos estão aptos a participar de programas como o Bolsa Atleta PE, programa pelo qual a Secretaria de Esportes do governo estadual oferece uma ajuda de custo mensal para os atletas e paratletas de acordo com as categorias de competições conquistadas (regional, nacional, internacional). O valor pago aos atletas varia de R$ 500, para estudantes, R$ 2,5 mil, para os profissionais. Há também o Passaporte Esportivo, programa que custeia o valor de passagens aéreas para atletas que competem em destinos nacionais e internacionais. O Time PE é o grupo de elite do esporte pernambucano: além da ajuda de custo mensal para eles e os respectivos técnicos, os atletas e paratletas recebem avaliação física, psicológica, fisiológica e nutricional, além de passagens para competições nacionais e internacionais. Atualmente, compõem o Time PE os paratletas Francisco Daniel, Jenifer Martins, Luís Silva, Josoaldo Coelho, Laércio Lima (atleta-guia). Já no Bolsa Atleta PE, são 35 paratletas contemplados nas modalidades de bocha, futebol de 5, parahalterofilismo, paratletismo, paranatação, parabadminton, voleibol para surdos, vôlei de praia para surdos e atleta-guia. Segundo o governo, atualmente o programa beneficia um total de 198 atletas, com um investimento de R$ 1,9 milhão.•   Revista Pódio  |  21


ensaio

Paratletas de Santos Dumont Enquanto visitávamos o complexo esportivo, o fotógrafo Sandro Barros produziu um ensaio sobre os paratletas que treinam no espaço para que você conheça um pouco sobre eles. As oito imagens a seguir devem levá-lo a uma realidade de dificuldades, mas também de muita dedicação

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dica

Documentário brasileiro retrata superação dos atletas nacionais Em cartaz desde 2 de junho, a película ‘Paratodos’, mostra como os pratletas do Brasil se preparam para a competição que acontece em setembro, acompanhando o dia a dia de sete deles Henrique Souza

O documentário ‘Paratodos’, realizado pela produtora Sala 12, está em cartaz desde o dia 2 de junho. A película retrata a preparação dos paratletas brasileiros visando às Paralímpiadas do Rio de Janeiro. A equipe de “Paratodos” acompanhou sete paratletas nacionais durante quatro anos, entre 2013 e 2016. O dia a dia, os obstáculos, as alegrias e as tristezas de cada um deles são apresentadas na produção, que também abre espaço para um debate sobre a inclusão dos deficientes físicos na sociedade brasileira. Fernando Fernandes (paracanoagem); Ricardinho (futebol de cinco); Daniel Dias e Susana Schnarndorf (natação); Alan Fonteles, Yohansson do Nascimento e Teresinha Lima (atletismo) são as estrelas do filme, que destaca a superação diária de limites dos paratletas.

Serviço ‘Paratodos’ (2016) Documentário Direção: Marcelo Mesquita Atletas: Fernando Fernandes; Ricardinho; Daniel Dias; Susana Schnarndorf; Alan Fonteles; Yohansson do Nascimento; Teresinha Lima

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Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o diretor Marcelo Mesquita contou que a motivação para produzir o documentário surgiu durante as Paralimpíadas de Londres, em 2012, as primeiras que assistiu. Ao ver o brasileiro Alan Fonteles derrubar o grande favorito Oscar Pistorius, considerado um dos maiores paratletas da história, Marcelo passou a refletir sobre a verdadeira força do paralímpica. O filme tem dois objetivos: um é realizar um trabalho semelhante ao da campanha “Meet The Superhumans” (“Conheça os Super-humanos), que cativou a população londrina e fez com que os Jogos Paralímpicos na Inglaterra fossem um sucesso de público. Outra intenção é levar o documentário para 2 mil escolas públicas, ampliando o debate sobre a inclusão dentro e fora do esporte.•


crítica

Paixão e Glória Sem espetacularização, documentário ‘Munderball’ fala sobre heróis de carne e osso Henrique Souza O rúgbi é um esporte duro. O contato corporal é intenso e os atletas estão expostos às lesões em diversos momentos do jogo. Mas engana-se quem pensa que a atividade também não encontra lugar entre os paratletas. Apesar da pouca tradição no Brasil, o esporte é bastante praticado em outros países. Além do Canadá, inventor da modalidade, destacam-se seleções como Estados Unidos e Austrália. Os Estados Unidos, inclusive, foram tema de um dos melhores filmes sobre paratletas, o documentário Murderball - Paixão e Glória (2005). A produção retrata a rotina de treinos, jogos, vitórias e derrotas de um grupo de paratletas que compete pelo time norte-americano nas Paraolimpíadas de Atenas-2004. Na primeira parte do documentário, há a presença do clássico (porém necessário) discurso que o deficiente físico é uma pessoa igual a outra qualquer. Entretanto, conforme o filme segue e vamos conhecendo cada vez mais os personagens, é possível identificar os dramas pessoais de vários daqueles atletas. Há um que não aceita sua condição. Outro usa o jogo como uma verdadeira arma. A ideia é mostrar pessoas que não se encaixam no preconceituoso estereótipo de que indivíduos com deficiência se tornam incapazes. Pelo contrário, os jogadores aproveitam o esporte para crescer e dar o melhor de si.

Serviço Murderball - Paixão e Glória (2005) Direção: Henry Alex Rubin e Dana Adam Shapiro. Intérpretes: Keith Cavill; Andy Cohn; Scott Hogsett; Christopher Igoe; Mark Zupan; Bob Lujano; Joe Soares e outros. Roteiro: Henry Alex Rubin

Paralelamente, também acompanhamos a trajetória de Joe Soares, ex-jogador da seleção norte americana de rúgbi de cadeira de rodas e medalhista de ouro nas paralimpíadas de Atlanta (1996). Após ter se sido cortado da equipe nacional logo após o evento, se muda para o Canadá para ocupar o cargo de técnico da seleção canadense, passando ser visto como um traidor, por ser alguém que conhece as técnicas e estratégias da equipe dos Estados Unidos, contribuindo para acirrar a rivalidade entre os dois times. Murderball é um documentário que fala de superação de maneira diferenciada, sem se preocupar em transformar os paratletas em mitos e exemplo. No filme, os heróis são de carne e osso, alternando momentos bons e ruins como qualquer pessoa. Mesmo para quem não é amante do esporte, vale a pena conferir a produção.•   Revista Pódio  |  31


imagem

Alan Fonteles em Londres-2012, onde levou a medalha de ouro (Foto: Bruno de Lima/Divulgação/CPB)

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