História dos jornais portuenses artur filipe dos santos universidade sénior contemporânea

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Coleção de Manuais da Universidad Sénior Contemporânea

Cadeira de

HISTÓRIA DO PORTO Professor Doutor

Artur Filipe dos Santos


Coleção de Manuais da Universidad Sénior Contemporânea

História dos Jornais do Porto Artur Filipe dos Santos 2


AUTOR Artur Filipe dos Santos artursantosdocente@gmail.com www.artursantos.no.sapo.pt www.politicsandflags.wordpress.com •

Artur Filipe dos Santos, Doutorado em Comunicação, Publicidade Relações Públicas e Protocolo, pela Universidade de Vigo, Galiza, Espanha, Professor Universitário, consultor e investigador em Comunicação Institucional e Património, Protocolista, Sociólogo. Director Académico e Professor Titular na Universidade Sénior Contemporânea, membro da Direção do OIDECOM-Observatório Iberoamericano de Investigação e Desenvolvimento em Comunicação, membro da APEP-Associacao Portuguesa de Estudos de Protocolo. Membro do ICOMOS (International Counsil on Monuments and Sites), consultor da UNESCO para o Património Mundial, membro do Grupo de Investigação em Comunicação (ICOM-X1) da Faculdade de Ciências Sociais e da Comunicação da Universidade de Vigo, membro do Grupo de Investigação em Turismo e Comunicação da Universidade de Westminster. Professor convidado das Escola Superior de Saúde do Insttuto Piaget (Portugal).Orador e palestrante convidado em várias instituições de ensino superior. Formador em Networking e Sales Communication no Network Group +Negócio Portugal. Especialista nos Caminhos de Santiago, aborda esta temática em várias instituições de ensino eem várias organizações culturais.

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A Universidade Sénior Contemporânea Web: www.usc.pt Email: usc@usc.pt Edições online: www.edicoesuscontemporanea.webnode.com • A Universidade Sénior Contemporânea é uma instituição vocacionada para a ocupação de tempos livres dos indivíduos que se sintam motivados para a aprendizagem constante de diversas matérias teóricas e práticas,adquirindo conhecimentos em múltiplas áreas, como línguas, ciências sociais, saúde, informática, internet, dança, teatro, entre outras, tendo ainda a oportunidade de participação em actividades como o Grupo de Teatro, Coro da USC, USC Web TV, conferências, colóquios, visitas de estudo. Desenvolve manuais didáticos das próprias cadeiras lecionadas(23), acessivéis a séniores, estudantes e profissionais através de livraria online. Universidade Sénior Contemporânea – www.usc.pt 4


• É difícil conceber a vida sem notícias. Elas tornaram-se elementos constantes do nosso quotidiano e o consumo de informação através da rádio, da televisão, dos jornais ou da internet são elementos tão banais dos nossos hábitos, que não imaginamos a vida sem eles.

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• Nas famílias os diários sempre ocuparam um lugar central como fonte informativa e a escolha de um em detrimento de outro foi passada de geração para geração. Os títulos centenários têm essa virtualidade: fidelizam audiências apesar das inevitáveis modernizações que os tempos impõem.

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• O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro e o Jornal de Notícias consolidaram a sua posição central na vida da cidade do Porto, bem como da região, constituindo-se como o elo de ligação entre as forças vivas que a integram e os seus públicos.

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• Mas, mais do que factores de agregação local e regional, os três matutinos, no seu percurso para um modelo noticioso de imprensa, souberam ainda afirmar-se como títulos generalistas de implantação nacional.

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• A história dos diários portuenses insere-se numa tradição do jornalismo da cidade, mas também num modelo de raiz nacional: fundados ainda no século XIX, surgiram, na sua maioria como projectos de carácter ideológico e gradualmente evoluíram para formatos informativos, seguindo a tendência internacional do jornalismo noticioso e popular. HISTÓRIA DO PORTO

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Em Portugal, como em tantos outros casos, esta característica foi alicerçada em empresas de carácter familiar e o exemplo portuense espelha bem essa realidade, sendo que embora com cronologias diferentes, os proprietários e directores destes periódicos constituíram-se como as figuras que representaram a sua identidade: Bento Carqueja e seu genro Seara Cardoso, Ferreira Baltar e Pinto de Azevedo, Aníbal de Morais e Pacheco de Miranda. HISTÓRIA DO PORTO

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• A segunda metade de Oitocentos registou, do ponto de vista do jornalismo, um aumento considerável em virtude da consolidação do regime liberal e da nova estabilidade política, que garantiram as condições de liberdade de imprensa. Os novos títulos eram preponderantemente políticos, defendendo uma ou outra facção das forças em disputa, mas com um período de vida geralmente curto, excepção feita ao jornal A Revolução de Setembro (18401889), exemplo raro de longevidade. HISTÓRIA DO PORTO

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• A grande maioria das novas publicações editava-se em Lisboa, sendo o Porto relegado para segundo plano. A par dos jornais de orientação ideológica, publicaram-se outras folhas que traduziam a diversidade de interesses que consubstanciavam o dinamismo da vida material e social.

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• Antes de surgirem os três grandes diários generalistas, o Porto conheceu publicações como o Periódico dos Pobres No Porto (1834) o Diário do Porto (que por acaso até nem era diário), O Industrial Portuense, Estrella do Norte e o jornal Nacional, jornais portuenses defensores da causa liberal e onde José de Parada e Silva Leitão teve preponderante papel. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O Commercio saiu pela primeira vez em 2 de Junho de 1854, pela iniciativa de um conjunto de pessoas, com destaque para Manuel de Sousa Carqueja e Henrique Carlos de Miranda. O redactor principal seria António Xavier Pacheco. A este núcleo inicial juntar-se–ia, ainda, Francisco Carqueja que ficaria responsável pela parte administrativa. A iniciativa esteve ligada, desde o início à Associação Comercial do Porto. HISTÓRIA DO PORTO

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• Quando se deixou de publicar, em 2005, era o segundo mais antigo jornal português, a seguir ao Açoriano Oriental. HISTÓRIA DO PORTO

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• O Comércio do Porto saiu pela primeira vez para as bancas com a designação "O Commercio" e com uma publicação trissemanal: às segundas, quartas e sextasfeiras. Vendia-se a 40 réis e veio satisfazer a "necessidade sentida na praça do Porto dum jornal de commercio, agricultura e industria, onde se tratem as matérias economicas, historicas e instructivas", segundo o primeiro editorial. Os fundadores foram Henrique Carlos Miranda e Manuel Sousa Carqueja. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O número inaugural justificava a sua existência e a sua linha editorial: “A Praça do Porto precisa d’um Jornal de Commercio, Agricultura e Industria, onde se tratem as materias economicas, historicas e instructivas destes tres poderosos elementos em que assenta a Antigo edifício do jornal, na Avenida prosperidade das nações modernas. dos Aliados, do A Praça o reclama pela sua arquiteto Rogério importância no interior, e pelo seu de Azevedo. nome nos mercados estrangeiros.” HISTÓRIA DO PORTO

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• Numa espécie de manifesto, o jornal assumia-se como o porta-voz da Região Norte na defesa dos interesses dos vários sectores de actividade económica e rejeitava o engajamento partidário. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • A periodicidade inicial do jornal era trissemanal, sendo constituído por quatro páginas. A venda era pelo sistema de assinaturas e imprimia-se na Tipographia Commercial (que ficava na rua de “Bello Monte”, nº 57). Junto ao cabeçalho vinha o custo das subscrições segundo a mensalidade e o local. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O sistema de difusão era o mais comum na época. Uma vez que não estava vulgarizada a venda directa nas ruas, as assinaturas garantiam o fundo de maneio que ajudava a garantir a próxima edição. Junto ao título, estipulava-se o também preço da publicidade por linha. . HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O jornal terá tido bom acolhimento por parte da burguesia portuense, bem como nas famílias abastadas da província. Contudo, os custos de impressão eram caros e a difusão inicial não garantia a sua sobrevivência. Daí que o apoio tenha sido pedido à Associação Comercial do Porto.

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O Comércio do Porto • Os responsáveis pelo CP tiveram uma preocupação não só na abordagem de temas de grande actualidade no Portugal da Regeneração, como na inclusão de assuntos de intenção didáctica. Essa capacidade justifica-se precisamente pela formação dos seus articulistas.

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O Comércio do Porto • Apontam-se apenas três figuras que, entre outras, se destacaram para a riqueza do jornal: José Luciano de Castro, jurista de formação; Rodrigues de Freitas, ensaísta em matérias de doutrina económica e social; José Joaquim de Pinto Coelho,especializado em matérias financeiras.

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José Joaquim Rodrigues de Freitas (Porto, 24 de Janeiro de 1840 - 27 de Julho de 1896) •

Foi professor catedrático e político português, formou-se em Engenharia pela Academia Politécnica do Porto, onde chegou ao lugar de "lente proprietário" (topo da carreira) com apenas 27 anos. Notabilizou-se pela sua carreira política, ligada aos ideais republicanos e socialistas, sendo um dos homens ligados à organização do Partido Republicano Português Foi o primeiro deputado do Partido Republicano às Câmaras, pelo Porto, entre 1870 e 1874. Pertenceu à Maçonaria.

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José Joaquim Rodrigues de Freitas (Porto, 24 de Janeiro de 1840 - 27 de Julho de 1896) Da sua obra, como escritor e jornalista, salientam-se A Igreja, Cavour e Portugal, Princípios de Economia Política e Páginas Soltas, compilação de vários dos seus artigos soltos foram reunidos, postumamente, em 1906, com prefácio de Carolina Michaëlis e Duarte Leite. Actualmente o seu nome é hoje recordado na Escola Secundária Rodrigues de Freitas (antigo Liceu de D. Manuel II), no Porto.

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• O êxito do jornal pautou-se também pelas melhorias gráficas, tornando-se de cada vez mais agradável leitura, sobretudo se comparado com outros títulos coevos. Isto deve-se aos vários investimentos feitos no campo da impressão e que permitiram aumentar o número de páginas de algumas edições, bem como alterações em termos de conteúdo, uma vez que ainda que não houvesse mais páginas havia mais espaço para publicar HISTÓRIA DO PORTO

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Ao longo da sua história, contou com a colaboração de figuras como: Carolina Michaëlis, Guerra Junqueiro, António Carneiro, o Rei D. Carlos e a rainha D. Amélia, João de Deus, Bordalo Pinheiro, José Malhoa, Vianna da Motta, Moreira de Sá, Roque Gameiro, Alfredo Keil, João Arroyo, Camilo Castelo Branco, Salvador Barata Feyo, A. Santos Martins e muitos outros.

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• Gabinete de Bento Carqueja

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O Comércio do Porto • O Porto e a região foram uma constante. Incluíam-se as notícias dos acontecimentos que hoje definiríamos como valor-notícia, mas dava-se sobretudo destaque a aspectos reivindicativos que configuravam os interesses nortenhos: quando houve a necessidade de contrair um empréstimo, os habitantes da cidade, foram chamados a dar o exemplo e iniciar uma subscrição pública para auxiliar as finanças nacionais. Fizeram-se outras campanhas, mais humanas, mais solidárias, em que o jornal tomava a iniciativa de promover subscrições públicas em prol dos mais desafortunados. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O Porto e a região foram uma constante. Incluíam-se as notícias dos acontecimentos que hoje definiríamos como valor-notícia, mas dava-se sobretudo destaque a aspectos reivindicativos que configuravam os interesses nortenhos: quando houve a necessidade de contrair um empréstimo, os habitantes da cidade, foram chamados a dar o exemplo e iniciar uma subscrição pública para auxiliar as finanças nacionais.

Fizeram-se outras campanhas, mais humanas, mais solidárias, em que o jornal tomava a iniciativa de promover subscrições públicas em prol dos mais desafortunados. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • Após o 25 de Abril, em pleno Processo Revolucionário em Curso, chegou a imprimir 120 mil cópias. Nos anos 90 teve uma contínua descida das tiragens e, em 2001, foi vendido ao grupo espanhol Prensa Ibérica. Apesar da tentativa de viabilização empreendida pelos seus novos proprietários, o jornal acabou por não se revelar economicamente viável. • A sua última edição foi impressa em 30 de Julho de 2005.

Fizeram-se outras campanhas, mais humanas, mais solidárias, em que o jornal tomava a iniciativa de promover subscrições públicas em prol dos mais desafortunados. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • Espólio O espólio do jornal deverá ser entregue à Câmara de Vila Nova de Gaia em Novembro de 2008, após o cumprimento de todo o processo legal indispensável. O protocolo prevê que o espólio do Comércio do Porto ficará à guarda do Arquivo Municipal de Gaia, permanecendo como propriedade do grupo espanhol Prensa Ibérica (cujo principal título é o jornal galego Faro de Vigo), proprietário do Comércio do Porto.

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O Comércio do Porto • O Comércio do Porto: informação doutrina comercial

A cidade do Porto tinha como um dos seus marcos essenciais a sua Associação Comercial. Em torno dela girava a vida económica da cidade, mas era também a partir da sua actividade que se fazia sentir a influência dos interesses desta praça nos meios políticos de Lisboa. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O Comércio do Porto: informação doutrina comercial • Ainda que o associativismo traduzisse um posicionamento estruturado e a ACP tivesse a capacidade de se fazer ouvir, a forma de dar voz a esse vincar de posições surgiu naturalmente, pela criação de um jornal. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O Comércio do Porto: informação doutrina comercial

• Não seria a primeira publicação comercial, uma vez que já anteriormente se tinham publicado outros títulos que surgiram com o objectivo de noticiar aspectos da praça comercial da cidade, mas que eram sobretudo folhas de anúncios. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O Comércio do Porto: informação doutrina comercial • A ideia de criar um projecto novo terá partido do conhecimento de outras folhas que se publicavam no estrangeiro.

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O Comércio do Porto • Para além das folhas de anúncios de curta duração, surgiram novos títulos cuja principal temática era a actividade económica e comercial, que normalmente se intitulavam correio mercantil ou boletim de comércio. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • Criar um projecto deste tipo para o Porto fazia todo o sentido dadas as características empresariais da cidade, as suas ligações às praças estrangeiras, o movimento de navios que aqui se fazia sentir e a própria comunidade estrangeira que cá se instalara. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O Comércio do Porto: informação doutrina comercial Assim, o Commercio saiu pela primeira vez em 2 de Junho de 1854, pela iniciativa de um conjunto de pessoas das quais acabaram por se destacar Manuel Carqueja e Henrique Carlos de Miranda: “A propriedade primeiramente, em partes iguais, a Manuel de Sousa Carqueja e ao Dr. Henrique Carlos de Miranda, que formaram entre si uma sociedade com nome colectivo, a vigorar desde 1 de Janeiro de 1855 “ (CARQUEJA, 1934:22)

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O Comércio do Porto • Foi então convidado para redactor principal António Xavier Pacheco. A este • núcleo inicial juntar-se–ia, ainda, Francisco Carqueja que a pedido do irmão, em 1858, ficaria responsável pela parte administrativa. HISTÓRIA DO PORTO

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O Comércio do Porto • O Comércio do Porto: informação doutrina comercial

• A ideia de progresso aliada à noção de continuidade foram expressas no número comemorativo do Comércio do Porto, de 2 de Junho de 1934. A tradição ficou expressa também pelo facto de o jornal ser uma empresa que permaneceu dentro da mesma família, que procurou salvaguardar as intenções dos seus fundadores, mas também assegurar a sua renovação e

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O Comércio do Porto • expansão. Essa tónica manteve-se também depois da morte de Bento Carqueja, que ocorreu em 1935, pelo que o novo director, seria Fortunato Seara Cardoso seu genro (casada com Maria Paulina). A orientação do jornal manteve-se: as questões da cidade e da região continuaram a ser tónica editorial, não descurando os aspectos nacionais e internacionais.

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• A difusão do jornal conseguiu, nos anos cinquenta, uma mais valia sobre os seus rivais. Às segundas-feiras as tiragens subiam para mais do dobro porque o noticiário de desporto era muito superior ao do Janeiro e do Notícias.

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• A informação desportiva das pequenas e grandes equipas era conseguida pelos correspondentes que estavam espalhados pela província e que garantiam este fluxo noticioso. Mas também esta primazia se perdeu, já que o Jornal de Notícias percebeu a importância desta editoria e não só a desenvolveu, como foi buscar colaboradores ao Comércio.

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O Comércio do Porto • O adormecimento do jornal teria fim em finais da década de sessenta inícios da seguinte com a contratação de novos quadros que imprimiram um novo dinamismo à forma de fazer notícias, o que de alguma forma seria acompanhado pela passagem da propriedade, em 1973, para o grupo Quina. HISTÓRIA DO PORTO

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O Primeiro de Janeiro • O segundo grande título portuense surge no âmbito da Janeirinha, uma revolta popular contra a sisa, que teve o seu epicentro no Porto, no início de 1868. O início da publicação a 1 de Dezembro não foi por acaso, uma vez que coincidia com uma campanha eleitoral. Toda a primeira página do número inaugural era ocupada com o programa do Círculo Eleitoral Portuense. HISTÓRIA DO PORTO

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O Primeiro de Janeiro • Nele, se apontava o dedo à incapacidade dos governantes em reduzirem a despesa, ao peso que o funcionalismo de estado tinha nos problemas orçamentais e à pouca transparência das contas públicas.

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O Primeiro de Janeiro Explanava também aspectos ideológicos, mas o principal foco de preocupação eram claramente as questões económicas e financeiras. No fundo, tratava-se de dar voz a um programa político, que o jornal assumia inteiramente.

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O Primeiro de Janeiro • O Primeiro de Janeiro: a matriz ideológica prevalecente • O segundo grande título portuense nasce perfeitamente inserido quer no clima político que caracterizou a cidade durante todo o século XIX, quer no contexto editorial ideológico que sempre o acompanhou.

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O Primeiro de Janeiro • O Primeiro de Janeiro: a matriz ideológica prevalecente • Foi no Porto que se geraram os grandes movimentos políticos que levaram às mudanças governamentais em Lisboa e a cidade via-se a si própria como impulsionadora de reformas que o poder institucionalizado tinha relutância em aceitar. HISTÓRIA DO PORTO

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O Primeiro de Janeiro • O Primeiro de Janeiro: a matriz ideológica prevalecente • Apesar de a Regeneração ter significado o fim do clima de guerra civil, as diferenças entre as facções liberais prevaleceram e foi justamente num dos momentos em que a oposição das forças em conflito foi mais acesa que surgiu a Revolta de Janeiro, a folha que precederia o projecto de continuidade protagonizado pelo Primeiro de Janeiro. HISTÓRIA DO PORTO

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O Primeiro de Janeiro • O Primeiro de Janeiro: a matriz ideológica prevalecente • Ora, parte da campanha levada a cabo contra os regeneradores coube à Revolta de Janeiro que se publicou logo no dia 1, mas só até Agosto de 1868. O tom incendiário era dado pelo título e os ideais defendidos serviriam de pano de fundo à queda do executivo, na melhor tradição do jornalismo ideológico oitocentista.

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O Primeiro de Janeiro • A suspensão deste titulo justifica-se pelo fim do movimento popular que lhe deu origem, contudo, revaleceu a ideia de criar um jornal que desse continuidade aos princípios defendidos durante a insurreição popular.

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O Primeiro de Janeiro • A mudança do título justificavase já que os criadores do jornal entendiam que poderia induzir em erro, uma vez que a ideia era levar a cabo uma campanha serena pelos ideais do progresso.

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O Primeiro de Janeiro • Foi desta forma que se criou O Primeiro de Janeiro foi assim denominado em homenagem à Janeirinha, como ficou retratado pela caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro, em que a revolta surge como a «mamã».

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O Primeiro de Janeiro • Mas para além deste tributo, pretendia-se também • recuperar algumas das reivindicações que ela protagonizou, nomeadamente as reformas políticoadministrativas que vieram a ser defendidas pelos progressistas, como ficava afirmado no primeiro editorial HISTÓRIA DO PORTO

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O Primeiro de Janeiro • O início da publicação a 1 de Dezembro não foi por acaso, já que mais uma vez se dava início a uma campanha eleitoral e o jornal, na linha que o tinha precedido, iniciava-se desde logo no combate político: “Agora que a nação tem a sua sorte pendente da escolha, que os eleitores fizerem dos futuros deputados;

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O Primeiro de Janeiro • agora que a gravidade das circumstancias da abstenção eleitoral uma falta imperdoavel, e da má escolha uma traição; cumpre que os eleitores tenham bem presentes a grande responsabilidade que sobre elles posa; a critica situação em que o paiz se acha, e as importantes necessidades que urge dar remédio.”

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O Primeiro de Janeiro • Toda a primeira página do número inaugural era ocupada com o programa do Círculo Eleitoral Portuense, num discurso político onde se convidava os cidadãos a ponderarem sobre os principais problemas que atingiam o país e de onde se destacava a questão do equilíbrio das finanças públicas.

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O Primeiro de Janeiro • Num texto pleno de actualidade O Janeiro apontava o dedo à incapacidade dos governantes em reduzirem a despesa, ao peso que o funcionalismo de estado tinha nos problemas orçamentais e à pouca transparência das contas públicas.

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O Primeiro de Janeiro • No fundo, tratava-se de dar voz a um programa político e o jornal assumia-o inteiramente ao inserir no cabeçalho Jornal Político e Noticioso e entre parênteses Órgão do Círculo Eleitoral Portuense, bem como a composição da Mesa Eleitoral:

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O Primeiro de Janeiro • como presidentes o conde de Samodães Francisco de Azeredo Teixeira de Aguilar e Joaquim Ribeiro de Faria Guimarães, Raymundo Joaquim Martins e Eugénio Pereira Pinto Basto como vicepresidentes, os secretários Delfim Maria Pereira Maia e António Ribeiro de Costa Almeida, os vice-secretáriosJoão Mendes Osório e António Alves da Silveira e o tesoureiro José Pereira de Loureiro.

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O Primeiro de Janeiro Estes nomes incluíam-se no grupo que tinha estado na origem da criação do jornal, enquanto protagonistas e patrocinadores da causa, mas a que se deve ainda acrescentar o principal mentor, D. António Martins, Bispo de Viseu. Quanto à equipa que se constituiu Alberto Bessa refere: “entraram então para a empresa, coadjuvando os esforços do fundador, várias pessoas de dinheiro e de entre elas a alma mater do periódico – Gaspar Ferreira Baltar.” HISTÓRIA DO PORTO

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O Primeiro de Janeiro • De facto seria ele um dos rostos do novo projecto a que se associou ainda António Augusto Leal, proprietário da tipografia onde se imprimia o Jornal de Notícias (um dos vários). Seriam aliás estes dois últimos os principais responsáveis pela prossecução de O Primeiro de Janeiro, já que os primeiros tempos, como era normal, forma marcados por dificuldades económicas.

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O Primeiro de Janeiro Aquando da inauguração o título inicial era escrito «O 1º de Janeiro», embora nesse mesmo ano o cabeçalho tivesse mudado a configuração gráfica e passasse a designar-se por extenso, forma que prevalece até aos nossos dias. Foi lançado com o preço de 30 réis na venda avulsa.

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O Primeiro de Janeiro O primeiro ano de existência foi, pois, marcado por várias dificuldades e os anúncios eram insuficientes para sustentar o jornal, o que obrigava Gaspar Baltar a arcar com parte das despesas.

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Um ano mais tarde, passou a diário e fundiu-se com o Jornal de Notícias

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O Primeiro de Janeiro •

“Motivos imperiosos e que não é possivel adiar obrigam o proprietario dos jornaes – PRIMEIRO DE JANEIRO e JORNAL DE NOTICIAS a refundil-os em um só, e por esse motivo será d’hoje em diante distribuido o PRIMEIRO DE JANEIRO aos snrs. Assignantes do JORNAL DE NOTICIAS. Esperamos que os Illmºs. Snrs. Assignantes, que tanto nos tem coadjuvado por o paço de 4 annos, continuem a coadjuvar nos, por que na publicação do PRIMEIRO DE JANEIRO continuaremos com os principios que sempre pugnamos n‘aquelle.

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O Primeiro de Janeiro • Allem d’isso os leitores não perdem nada na troca, antes lucram, por que a tudo que continha o JORNAL DE NOTICIAS, acresce a parte politica, a esta é a politica popular, que todo o paiz adopta. Melhoraremos ainda sucessivamente o jornal, e mostraremos aos nossos dedicados assignantes que sempre em toda a ocasião seremos gratos aos favores que d’elles temos recebido.” • In O Primeiro de Janeiro de 13 de Janeiro de 1869

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O Primeiro de Janeiro Em 1870, o jornal sofreu importantes transformações. Ferreira Baltar teria até então financiado sucessivamente o projecto e decidiu exigir a liquidação da dívida, o que acabou por se resolver pela entrega da propriedade como forma de saldar os prejuízos acumulados.

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O Primeiro de Janeiro O período inicial de existência de O Primeiro de Janeiro foi caracterizado também do ponto de vista da estrutura por um grande instabilidade. Quanto aos conteúdos, eles reflectem o objectivo inicial a que o jornal se propôs.

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O Primeiro de Janeiro • O tom foi sempre o da doutrina política criticando ou apoiando os actos governativos segundo o ministério em causa. Também os outros jornais ideológicos eram alvo dos seus ataques, nomeadamente a Revolução de Setembro e o Nacional pelos artigos políticos que publicavam e onde se registava diferença de opiniões quanto às medidas políticas e às personalidades políticas. 85 HISTÓRIA DO PORTO


Também O Comércio do Porto era tratado com pouca simpatia: não só as questões políticas suscitavam polémica, como ainda o PJ corrigia aspectos meramente informativos. Notava-se o clima de rivalidade entre os dois periódicos portuenses, que mais tarde se alargaria também ao Jornal de Notícias.

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O Primeiro de Janeiro • Uma grande parte dos artigos de fundo tinham pois a ver com aspectos da vida governativa, mas o Janeiro deu muito destaque às questões económicas e financeiras, muitas vezes em tom crítico que contradizia o facto de apoiar o governo em exercício..

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O Primeiro de Janeiro

• Mais uma vez o Porto ficava muito distante das decisões da capital e o jornal dava conta desse descontentamento. 88 HISTÓRIA DO PORTO


O Primeiro de Janeiro • Uma das questões polémicas que o Janeiro trouxe às suas páginas foi o debate sobre o iberismo, onde optou por transcrever artigos de vários jornais espanhóis em que se defendia ou rejeitava a união ibérica. O Primeiro de Janeiro era contra, mas ainda assim fez um esforço de publicar as diferentes argumentações. 89 HISTÓRIA DO PORTO


O Primeiro de Janeiro • Se se tiver em conta os primeiros anos de O Comércio do Porto e de O Primeiro de Janeiro, há uma ideia que se destaca de imediato: do ponto de vista gráfico e dos conteúdos, o Comércio é um jornal muito mais atractivo.

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O Primeiro de Janeiro Embora adoptando o mesmo formato, o Janeiro tem uma composição muito mais difícil de ler. Tinha as mesmas quatro páginas, a seis colunas, onde os temas tinham separadores muito simples. Na primeira inseria o artigo de fundo e o folhetim, que se iniciou com o autor francês Ponson du Terrail, mas que tanto podia ser a publicação de um romance como o folhetim-crónica, também usado no CP. 91 HISTÓRIA DO PORTO


O Primeiro de Janeiro • As opções em termos de forma não eram claras. O jornal mudou o título, mas também mudou o tipo de letra. O efeito geral era de uma mancha escura, difícil de ler. Suspendeu por vezes a publicação e alterou a periodicidade e o preço.

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O Primeiro de Janeiro • Tudo isto evidencia as dificuldades incitais que só começaram a ser superadas com a passagem da propriedade de O Primeiro de Janeiro para as mãos de Gaspar Ferreira Baltar. O novo dono do jornal era considerado um capitalista que tinha constituido fortuna no Brasil.

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O Primeiro de Janeiro • Ao longo da sua história o Janeiro contou com a colaboração de figuras ilustres como Guerra Junqueiro, Antero de Quental ou João Chagas, que de alguma forma reflectem uma orientação muito própria do jornal. Quanto à redacção, ela foi sempre escolhida com cuidado e os elementos escolhidos transformaram gradualmente o conteúdo do Janeiro no sentido do jornalismo noticioso.

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O Primeiro de Janeiro • Apesar da qualidade intencional de que se revestiu, ou talvez por isso,o Janeiro passou por sobressaltos económicos, à imagem das dificuldades financeiras que assolavam o país no final da I Guerra. Em consequência, o diário foi vendido a um grupo de Lisboa, em 1919.

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O Primeiro de Janeiro • Foi o período lisboeta de O Primeiro de Janeiro. A par dos novos investimentos que se traduziram na inauguração da nova sede, o aspecto do diário sofreu uma verdadeira revolução, que o tornou muito mais apelativo..

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O Primeiro de Janeiro • As mudanças em termos de direcção sucederam-se quer pelas estratégias da Empresa quer pela morte dos responsáveis do jornal. Esse processo culminaria com Manuel Pinto de Azevedo Júnior, que assumiu o cargo de director em 1936, lugar que ocupou até 1976.

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O Primeiro de Janeiro • Seria ele o grande responsável pela forma como o diário consolidou a sua posição na cidade, mas igualmente pelo cunho muito pessoal que imprimiu à direcção do Janeiro.

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O Primeiro de Janeiro • Um dos aspectos a realçar é que o jornal, ainda durante esses anos de alguma instabilidade, nunca abandonou a linha política que o tinha caracterizado, o que lhe valeu ser castigado com a suspensão durante a ditadura militar. Ainda assim, O Primeiro de Janeiro, mesmo com a nova direcção, persistiu no seu distanciamento face aos novos acontecimentos políticos, reafirmando-se como um projecto informativo independente das pressões partidárias.

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• Esse afastamento dos novos ventos políticos tê-lo-á levado a ser o único jornal português a ter uma grande procura em Espanha, aquando da guerra civil. De facto, em 1936, seriam os temas internacionais a ter as honras de primeira página. 100 HISTÓRIA DO PORTO


O Primeiro de Janeiro • O jornal, fazendo eco de outros títulos estrangeiros, demonstrava uma preocupação crescente face às iniciativas diplomáticas de Adolf Hitler e a sua aproximação à Áustria e Itália.

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O Primeiro de Janeiro • O outro acontecimento com cobertura quase diária seria o desenvolvimento do conflito no país vizinho. Os acontecimentos vividos em Espanha foram inúmeras vezes notícias de primeira página e a guerra civil teve particular destaque. Em 1936, dava-se informação sobre o começo do conflito embora assegurando a capacidade do governo republicano em controlar a situação. 102 HISTÓRIA DO PORTO


O Primeiro de Janeiro • O jornal incluía mapas onde se assinalavam a distribuição das duas forças no terreno. No ano seguinte, o tema foi repetidamente tratado sob o título «A guerra civil em Espanha», normalmente seguido de «continuação». Anunciava-se os avanços das forças franquistas: “Na manhã de ontem as tropas nacionalistas desencadearam uma violenta ofensiva contra Madrid” e “a aviação nacionalista bombardeou as posições marxistas do Paseo de Rosales”; ou ainda “A aviação nacionalista, auxiliada pelos vasos de guerra, bombardeou ontem o porto de Málaga, destruindo vários edifícios públicos.”

103 HISTÓRIA DO PORTO


O Primeiro de Janeiro Este tratamento minucioso levou a que a sua venda, que se fazia sobretudo na Galiza, fosse proibida aquando da vitória de Franco.

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O Primeiro de Janeiro • A aposta que fez no noticiário internacional (único jornal a abrir com tal secção), bem como o pendor fortemente favorável aos Aliados durante a II Guerra mundial granjearamlhe grande prestígio e popularidade.

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O Primeiro de Janeiro • Com a morte de Manuel Pinto de Azevedo Junior em 1978 o jornal entra numa espiral de instabilidade a nível de direcção, perda de leitores e publicidade, passando em 1991 a jornal de cariz regional sob a direcção de Nassalete Miranda.

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O Primeiro de Janeiro • Em 30 de Julho de 2008, os cerca de 30 jornalistas da redacção do jornal, foram informados de que o título encerraria em Agosto para uma reformulação gráfica, voltando em Setembro numa nova empresa. Em editorial, a directora Nassalete Miranda anunciou a interrupção da sua publicação pelo período de uma semana. No dia 3 de Agosto de 2008 surge novamente nas bancas com um novo director, Rui Alas Pereira. 107 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • O Jornal de Notícias: do perfil ideológico à vocação popular A publicação do terceiro grande diário portuense, ainda que estando em desvantagem por ser a mais tardia, enquadrou-se, contudo, num momento mais favorável da história da cidade.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • O Jornal de Notícias: do perfil ideológico à vocação popular Por outro lado, as rivalidades com as outras publicações fizeram-se, pelo menos inicialmente numa perspectiva de luta ideológica e só mais tarde – ainda que não muito – a luta das tiragens se fez sentir. Sede do Jornal de Notícias – arq. Marques da Silva 109 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • A iniciativa de criar um novo jornal que servisse os propósitos de um grupo de regeneradores foi tomada quando o Porto apresentava, por fim um grande dinamismo em termos de crescimento demográfico, a que correspondeu um desenvolvimento industrial. Estes factores de modernidade são todavia modestos, e a concentração populacional nunca atingiu os níveis de Lisboa.. 110 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • Por outro lado, apesar do crescimento urbano, as condições de vida das pessoas eram penosas e as reformas do ensino tardavam a fazer sentir os seus efeitos, continuando a população adulta a ter níveis altíssimos de analfabetismo. Ainda assim o crescimento da cidade fazia-se sentir: rasgavam-se novas ruas e construíamse edifícios grandiosos como o palácio das Cardosas ou o palácio de Cristal. 111 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • Mas esta transformação não significava apenas progresso, já que à cidade faltavam infra estruturas sanitárias que motivavam a proliferação de epidemias, bem como iluminação, Jornalistas à porta do café o que a tornava escura e perigosa. . 112 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS

Jornalistas à porta do café

Dadas as novas condições materiais, os pequenos factos que irrompem da vida dos grandes aglomerados urbanos passaram a constituir um manancial de temas noticiosos que iam desde os pequenos dramas passionais até aos cataclismos vários que assolaram o burgo portuense: passaram a constar das páginas dos jornais as notícias dos crimes, mas também dos incêndios, das cheias, que fectavam particularmente os mais desfavorecidos.

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JORNAL DE NOTÍCIAS Praça Nova

• O novo projecto noticioso apresentou um elemento tradicional em termos de filiação na linha do jornalismo ideológico, mas também factores de modernidade em termos de conteúdo, mas também da própria escolha do título. Dentro da primeira perspectiva, terão sido as reformulações do espectro partidário rotativista que colocaram circunstancialmente os regeneradores numa situação de debilidade.

Café A Brasileira 114 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • O conselheiro José Moreira Fonseca e José Guilherme Pacheco eram figuras destacadas do Partido Regenerador. O segundo, popularmente chamado “rei de Paredes”, tinha estado ao lado de Fontes Pereira de Melo e afirmou-se como a figura de destaque do distrito do Porto. Quanto ao conselheiro, tinha também sido governador civil da cidade e estava igualmente ligado à banca.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • As pessoas que assumiriam a tarefa de dirigir o novo jornal estavam também intimamente ligadas aos destinos partidários, nomeadamente por laços familiares.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • José Diogo Arroio era irmão do novo líder, João Arroio, e Manuel Vaz de Miranda era genro de José Maria da Fonseca. A estas duas figuras unir-se-ia ainda o publicista Aníbal de Morais, que levaria consigo outros jornalistas do Jornal da Manhã, onde tinham colaborado anteriormente.

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HISTÓRIA DO PORTO

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JORNAL DE NOTÍCIAS • Estas três figuras constituíram a parte executiva de uma sociedade por quotas que foi formada na época, em que dez sócios entravam com o capital inicial de dez contos de reis, que seria o fundo inicial da empresa.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • No primeiro número do jornal, saído a 2 de Junho de 1888, seriam reiteradas as intenções da defesa da linha política que estava na sua origem:

Primeiro número do JN

Ver todos os nºs 121 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • “O nosso jornal combate nas fileiras do partido regenerador. Nom representa qualquer individualidade, por muito que ella se imponha dentro do partido; nem favorece os agrupamentos parciaes, porque desadora qualquer fragmentação que roube a força que só uma completa unidade pode dar.” Primeiro número do JN

Ver todos os nºs 122 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • A orientação editorial partidária esteve sempre presente nos primeiros anos do jornal. Os ataques ao governo progressista foram uma constante e o chefe de gabinete José Luciano de Castro era duramente criticado, fosse pela política financeira e o que ela representava para as populações, fosse pela política colonial.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • Em 1898, a principal notícia ou editorial incidiu muito, tal como nos demais jornais, no clima de conflito internacional.

124 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • O período em que o Jornal de Notícias insistiu nas temáticas partidárias foi necessariamente menor que o dos seus predecessores. O declínio da política rotativista pode explicar, em parte, o atenuar deste tipo de temáticas.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • No início do século XX, o jornal acabou por abandonar a sua linha editorial tradicional e enveredar por um linha mais noticiosa e popular, que já estava presente, ainda que no início tivesse menos expressão.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • A ideia de que o novo projecto era mais moderno decorre, desde logo, da escolha do título: Jornal de Notícias, o que saía completamente fora da tradição de titulagem dos periódicos ideológicos da cidade.

Nº do JN com o Resultado de votação do Referendo que elegeu o Dia de S. João Como feriado municipal

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JORNAL DE NOTÍCIAS • Por outro lado, este não era o primeiro jornal a adoptar esta designação e o seu mais recente predecessor tinha tido uma intenção editorial que ia na linha do jornalismo popular e noticioso, embora sem êxito, uma vez mais..

Nº do JN com o Resultado de votação do Referendo que elegeu o Dia de S. João Como feriado municipal

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JORNAL DE NOTÍCIAS

• Assim, o JN acabou por apresentar, de alguma forma, uma simbiose de estilos e intenções. A acrescentar às preocupações do conteúdo, as vantagens do formato do jornal: por ser de fundação mais tardia, era grande e de mais fácil leitura.

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JORNAL DE NOTÍCIAS

• Era também constituído por quatro páginas e a primeira começava justamente pelo artigo de fundo, de carácter político. Em baixo publicava-se o Folhetim, que começou por ser uma tradução de romances estrangeiros, mas cedo deu lugar aos nacionais, que eram anunciados repetidamente em vários números.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • As estratégias de fidelização de públicos, pelos aspectos anteriormente enunciados, seguiram algumas das características dos rivais O Comércio do Porto e Primeiro de Janeiro. O já mencionado folhetim era um dos elementos usados pelos diversos títulos, sobretudo na conquista do público feminino.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • O Notícias seguiu esta lógica, mas os romances escolhidos eram mais ligeiros. Por outro lado, a colaboração de figuras da intelectualidade nacional e portuense foi também uma aposta que acolheu nomes como Pinheiro Chagas, Gomes Leal, Maria Amélia Vaz de Carvalho ou Oliveira Martins.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • As temáticas noticiadas apresentam, contudo, algumas inovações • praticamente desde os primeiros tempos de publicação. Os fait-divers foram incluídos desde o início da história do Jornal de Notícias.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • Os suicídios eram um tema recorrente: desde a morte de uma figura da monarquia internacional até à descrição dramática de como uma bela jovem pôs fim à vida num hotel de Paris, passando pelo de Camilo, reportavam-se muito estas situações de forte carga sensível, a descambar para um certo tom de morbidez, que romperam com o estilo austero do jornalismo portuense.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • O tom emotivo era continuado pela forma com se enquadravam os aspectos do quotidiano: uma ladra de Lisboa que assumiu uma certa auréola de aventureira ou a pretensa descoberta feita pelo jornal de um serial killer de Porto. Escolhiam-se «estórias» carregadas de pormenores que muitas vezes eram tratadas continuadamente em vários números.

135 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • Foi também notícia preocupante o «lobisomem de Paranhos». Todos estes aspectos contribuíram para que o jornal fidelizasse públicos e transcendesse o âmbito da difusão meramente partidária ou instrutiva que era apanágio dos demais jornais, como realçaria Alberto Bessa:

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JORNAL DE NOTÍCIAS • “É um jornal muito noticioso com um feitio popular, que é muito apreciado no Norte, e tem tido sempre um corpo redactorial de primeira ordem”.

137 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS

Assassinato de Sidónio Paes

• As autoridades declararam um surto de peste bubónica no Porto que obrigou ao isolamento da cidade. O diário levou então a cabo uma campanha contra o governo porque as medidas impostas se traduziam na ruína do comércio da cidade: “Terminava o século e com ele uma das mais brilhantes e corajosas campanhas do Jornal de Notícias em defesa do Porto e dos seus interesses

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JORNAL DE NOTÍCIAS • A insalubridade e a pobreza facilitavam a drenada. As autoridades, mal aconselhadas por pretensos técnicos, consideraram a marcha do mal como uma epidemia de peste, criando à volta da cidade um cordão sanitário altamente prejudicial à vida do Porto e da sua actividade comercial. A verdadeira razão não era vista. Assassinato de Sidónio Paes

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JORNAL DE NOTÍCIAS

Assassinato de Sidónio Paes

• Tanto as notícias sobre acontecimentos muito emotivos, como as mais • alegres motivavam os efeitos gráficos. Um desses exemplos é o Carnaval. Para além das imagens alusivas, o jornal incluía também a cor, como forma de chamar a atenção. Contudo o número de páginas só pontualmente aumentava para seis, tal como Comércio do Porto.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • Só depois da compra da nova • maquinaria de inícios do século XX foi possível aumentar e dar assim resposta aos anunciantes, mas também expandir o espaço noticioso. Foi também graças a essa possibilidade que o Jornal de Notícias aumentou a informação dos colaboradores locais. Assassinato de Sidónio Paes

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JORNAL DE NOTÍCIAS • A partir de 1932, Manuel Pacheco de Miranda entrava no JN como secretário da redacção. Seria com ele que culminaria a linha sucessória da propriedade do jornal, mas também o retomar dos princípios que tinham estado na sua origem.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • A partir de 1945, data em que assumiu os destinos do quotidiano, Pacheco de Miranda procurou pôr em prática uma linha de gestão que, maugrado as dificuldades iniciais, transformou o Jornal de Notícias no primeiro matutino da cidade e do Norte e o segundo em termos nacionais.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • O matutino Jornal de Notícias foi fundado a 2 de junho de 1888, no Porto, e tornou-se num dos jornais de maior expansão em Portugal, especialmente a seguir à Revolução do 25 de Abril de 1974.

144 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS As primeiras instalações deste jornal diário ficavam situadas na Rua de D. Pedro e aglomeravam a redação, a administração, a composição e a impressão.

145 HISTÓRIA DO PORTO


HISTÓRIA DO PORTO

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JORNAL DE NOTÍCIAS • Quando saiu para a rua, o Jornal de Notícias, dirigido por José Diogo Arroio, t inha quatro páginas de grande formatoc ustava dez réis e era vendido no Porto e arredores, Lisboa e Braga. A nível de conteúdo apostava em noticiário nacional e internacional e dedicava a última página a anúncios.

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JORNAL DE NOTÍCIAS • A tiragem inicial do matutino portuense rondava os 7500 exemplares por edição, mas começou a subir a partir de 1890, quando fez campanha política em favor dos regenerados.

Início da I Guerra Mundial 148 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS Pouco depois, foi introduzida uma inovaç ão nas páginas dojornal já que em 1891 surgiram as primeiras gravuras com retratos dos principais implicados na revolta do 31 de janeiro. Neste mesmo ano, o jornal deixou de se publicar à segunda-feira.

Início da I Guerra Mundial 149 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • Sete anos mais tarde, estreou a reprodução de mapas com as Antilhas e o Atlântico, a propósito da guerra hispano-americana.

Início da I Guerra Mundial 150 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • O jornal, que ficou conhecido também por JN, assumiu claramente a defesa do Norte e do Porto em 1911, na época em que mudou de novo de instalações, desta vez para a Rua Elias Garcia

http://www.portopatrimoniomundial.com/pla ntas-e-gravuras-antigas.html 151 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • O início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, levou a que durante alguns meses voltasse a haver edições à segunda-feira, mas essa medida só viria a ser adotada em definitivo já em 1936. Entretanto, a Avenida dos Aliados passou a ser a morada do JN a partir de 1926, situação que se manteve até 1970,altura em que houve uma mudança para um edifício novo na Rua Gonçalo Cristóvão.

Início da I Guerra Mundial 152 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • Durante este espaço de tempo o jornal continuou a implantar-se junto • do público, com o contributo de iniciativas • como o concurso Quadras de São João,lançado em 1929. Numa tradição mantida ao longo de décadas, os leitores são convidados por altura das festas de S ãoJoão a enviar quadras da sua autoria para o JN. Aí, são avaliadas por um júri e as melhores ganham prémios e sãopublicadas nas páginas do jornal. Nº do JN com o Resultado de votação do Referendo que elegeu o Dia de S. João Como feriado municipal 153 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • Nos tempos da ditadura, o JN passou tempos • difíceis com a censura e, em 1951, chegou a ser c onsiderado como órgão da oposição • ao regime. Após a Revolução do 25 de • abril de 1974, as vendas do jornal subiram • bastante e em 1978 o JN passou a ser o jornal • nacional com maior adesão.

154 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • Ao longo da sua existência a empresa do Jornal d e Notícias lançou vários outros jornais, mas • não os manteve por muito tempo. Assim, durante seis meses de 1945, foi • publicado o vespertino A Tarde e, entre 1981 e • 1984, existiu o Notícias da Tarde. O jornal • desportivo O Jogo foi lançado pelo JN em 1985, mas depois tornou-se autónomo.

155 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • Junto com o JN de domingo é oferecida desde • 1973 uma revista. Começou por ser a "Revista JN " mas mais tarde passoua chamar-se • "Notícias Magazine" sendo feita em parceria • com o Diário de Notícias. A partir de 2003, o JN e o DN começaram a publicar semanalmente • aos sábados a revista Grande Reportagem.

156 HISTÓRIA DO PORTO


JORNAL DE NOTÍCIAS • Em finais da década de 90, o JN passou a • oferecer diversos brindes como forma de manter e atrair novos leitores. Junto com o jornal tanto passaram a vir fascículos • para completar livros, como talheres para • formar um faqueiro. O Jornal de Notícias manteve sempre uma forte l igação ao ciclismo, tendo organizado, entre 1982 e 2000, a Volta a Portugal em bicicleta.

157 HISTÓRIA DO PORTO


Jornais Portuenses • “Em 1820 quasi não havia jornalismo no Porto. Em 1882 o jornalismo estava florescente, depois de sessenta anos de contínuo evoluir.” Magalhães Basto • “ (…) a história do jornalismo portuense seria a história do jornalismo profissional em Portugal.”

Júlio d’Oliveira. 158 HISTÓRIA DO PORTO


Bibliografia • http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/8265.pdf • http://www.porto24.pt/cultura/a-vida-de-3-importantes-jornaisdiarios-do-porto-em-livro/ • Lima, Helena (2012). “A Imprensa Portuense e os Desafios da Modernização”. Porto: Livros Horizonte. • http://arquivodigital-7cv.blogspot.pt/2012/08/o-museu-portuensejornal-de-historia.html • https://prezi.com/haozuupitpbv/historia-da-cidade-e-dosmonumentos-portuenses/ • http://www.fundacao.telecom.pt/Default.aspx?tabid=139&itemId= 89&parId=133 • http://conferencias.ulusofona.pt/index.php/lusocom/8lusocom09/ paper/view/66/44 • HISTÓRIA DO PORTO

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