gravura EM CAMPO EXPANDIDO
A exposição Gravura em Campo Expandido apresenta a dilatação da gravura, provocada pelo desenvolvimento da tecnologia e, principalmente, pelo ecletismo expansivo da Arte Contemporânea, juntando-se a ansiedade e a angústia de um mundo que vê suas fronteiras em pedaços. São trabalhos que articulam procedimentos que transcendem a relação gravação/impressão, arraigados na tradição da gravura. Gravar é um ato de criar incisões a partir de objetos de maior dureza sobre um material de menor dureza. Em arte, o ato de gravar é utilizado no processo de criação de matrizes a fim de se controlar uma imagem que será reproduzida por estampagem, estabelecendo-se
assim,
no
processo
tradicional
da
gravura,
a
relação
imagem/matriz/reprodução, sendo a imagem estampada sobre suporte como o fim do processo. Na contemporaneidade, com a expansão do campo da arte para além das categorias tradicionais, na confluência de atividades e de temáticas em aproximação à vida, ao cotidiano e ao ordinário, a gravura, meio tradicional de reprodução de imagens, veio a relacionar em suas práticas os processos industriais, a noção de corpo como elemento constituinte do processo, experimentações que perpassam a relação matriz/estampa.
A questão colocada aqui é a mesma posta por Paulo Herkenhoff, na X Mostra de Gravura de Curitiba em 1992, que se constituiu no marco da arte brasileira: “qual a possibilidade da gravura? Quais diálogos ela é capaz de criar?” Para o curador, a questão não é respondida no plano da técnica, mas da arte! “A única condição de ação significativa da gravura para o mundo contemporâneo é deslocar sua discussão do campo restrito e protegido como meio técnico para uma reflexão geral sobre a arte. [...]”. Assim, podemos entender a gravura como um modo possível e legítimo de compreensão do mundo, uma “categoria” que espraiou os limites dos procedimentos e agora abarca os sintomas, os corpos, os gestos, as feridas e o tempo. A exposição Gravura em Campo Expandido apresenta as experimentações e pesquisas de sete artistas sobre o prisma da gravura em campo expandido. Esses artistas têm desenvolvido poéticas que, de alguma forma, expandem as noções de limites e memória da gestualidade do artista. São trabalhos que articulam procedimentos que transcendem a relação gravação/impressão, arraigados na tradição da gravura.
Artur Souza Pontos Gráficos Nodais em Fluxos da Cidade de Natal 2011 O trabalho de Artur Souza, “Pontos Gráficos Nodais em Fluxos da Cidade de Natal”, realizado em 2011, é uma pesquisa em arte que incorpora a intervenção performática em vias urbanas ao processo de produção de imagens. A obra articula a produção no espaço do atelier a intervenções urbanas realizadas em dez vias de grande fluxo na capital potiguar no período de julho a setembro de 2011. As estampas (10, de 40x40cm) e a documentação do processo são apresentadas em uma instalação que pretende aproximar o espectador ao momento em que a performance e a imagem são realizadas, articulando imagem, cidade e o corpo do artista. Para suas composições, muniu-se de um equipamento inventado pelo próprio artista grava a chapa na aleatoriedade do asfalto criando imagens circulares.
Bia Rocha e Pedro Ivo s/título, 2012 Pedro Ivo e Bia Rocha apresentam uma intervenção direta nas paredes da Pinacoteca, os artistas utilizam uma série de estênceis que fazem alusão à produção tradicional da gravura, mas recriam em um processo próximo aos de permeação. As imagens estabelecem uma relação de situação, site specific, com o espaço, em escala ampliada, chegam a ter 2,8 metros. São estênceis de grande complexidade no corte, imprimindo um realismo e volumetria bastante significativa nas imagens. Os trabalhos, direto na parede têm a intensão de lembrar o ambiente para o qual a obra foi pensada, a rua, o meio urbano.
Jota Medeiros s/título 2010 Jota Medeiros exibe parte de uma série de manchas, numa alusão às manchas padrão rorschach, sem título, realizada em 2010. Nesse trabalho, o artista cria uma série de manchas com tinta acrílica azul e preta, nas quais a imagem criada é decorrente do duplo entre a ação de criar manchas e da dobra da tela, estabelecendo uma relação de cópia invertida, mas participante da imagem total. O suporte é novamente engradado, como um possível mascaramento do processo de dobra.
Laurita Salles s/título 2007 Laurita Salles traz a estampa dourada, sem título, de uma série realizada em 2007, é decorrente de suas pesquisas no campo fabril. A artista se apropria do processo de gravação com buril eletrônico para a realização de imagens. O trabalho estabelece uma relação entre a produção digital de uma imagem, que vai sendo derivada, criando pontos virtuais, estabelecendo relações entre o campo gráfico e a tridimensionalidade, na sugestão de perspectivas ou pelas diferentes densidades de tinta que o processo de gravação, tudo isso aliado ao processo de entintagem deixam sobre o suporte final (papel). Essa artista realiza um diálogo entre a tradição da gravura e a tecnologia. No desenvolvimento de suas pesquisas para a construção da imagem, com buril eletrônico.
Sayonara Pinheiro s/título 2011 e 2012 Sayonara Pinheiro apresenta uma série sobre tela. A pesquisa da artista desenvolve-se sobre as mais diversas superfícies. Grava as memórias das pedras, da areia, de troncos de árvores, de calçadas, de barcos entre outras. Ela faz uma frotagem com pastel e sobre as marcas e texturas que resulta dessa técnica realiza intervenções na imagem. Sem interferir na matriz, produz uma imagem bastante singular numa obra única.
Selma Bezerra s/título, 2005 A série de impressões de Selma Bezerra, de 2005, transcorre da ação de fixar grandes folhas de papel no asfalto ou lugar de alta circulação para que os transeuntes trafeguem sobre ela, nessa ação cada um que passa sobre a folha deixa uma marca, parte da memória de um deslocamento. As folhas são retrabalhadas no atelier da artista de forma a ressaltar essas marcações do solo, onde cada pedra é transposta da rua para o espaço expositivo.
agradecimento Jardel Dantas da Cunha Jadson Rodrigo Vandeci Holanda fotografias José Frota Artur Souza projeto gráfico Artur Souza iluminação Kleber Monteiro