Revista Agricultura Natural África

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Alimentos

A manipulação correta é fundamental para evitar doenças

Teoria & Prática Confecção de horta na África do Sul

Antes de começar uma horta, deve-se escolher e preparar o terreno

Agricultura Natural

Africa

no 1 – Fevereiro 2013

A manifestação da força original do solo


Associação para o desenvolvimento da

Agricultura Natural, da Arte e da Cultura Africana

MISSÃO Concretizar a trilogia Verdade-Bem-Belo da Filosofia de Mokiti Okada, a fim de criar o mundo ideal. Para isso, alicerça-se na elaboração, no desenvolvimento e na execução de projetos sustentáveis nas áreas da agricultura, educação, saúde, meio ambiente, assistência social, arte e cultura. Projetos que promovam a verdadeira saúde, a prosperidade e a paz.

Quer conhecer sobre

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Agricultura & Alimentação

Natural?

Então,

leia!!!

VISÃO Por sua filosofia, pelo bem-estar que promove na sociedade africana, pela sua gestão empresarial espiritualizada e por seus projetos, é uma instituição de expressão mundial. Identifica-se com a comunidade das pessoas que se comprometem com a construção de um mundo ideal através do respeito à Lei da Natureza, cuja verdade se manifesta em autêntico bem e se materializa em autêntico belo. VALORES Respeito às Leis da Natureza.

Africarte Angola

Email: angola@africarte.org

Africarte Moçambique

Email: mocambique@africarte.org

Africarte África do Sul

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Africarte República Democrática do Congo

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Africarte São Tomé e Príncipe Email: stp@africarte.org

Foto da capa: Horta de Agricultura Natural – Cunene, Angola ASCOM – Africarte


SUMARIO

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Filosofia de Mokiti Okada

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Mensagem do Presidente da AFRICARTE

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A força do Solo

Mudança de paradigma

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Presidente Mundial

A expansão das hortas caseiras

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Hortas no mundo

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Case

Estados Unidos, Canadá, Portugal e Itália

Plantação de tomate resiste à ação do vírus da mosca branca

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Sabores da Terra

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Formação

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Alimentação

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Inauguração da Escola de Agricultura Natural Mokiti Okada

Alimentos da Agricultura Natural Página 10

Morango: benefícios com aroma, sabor e beleza

Angola investe na formação de uma nova liderança

A importância do manipulador de alimentos Teoria & Prática

A escolha da área para desenvolver uma horta caseira ou escolar

O sabor adocicado do morango produzido em solo arenoso em Moçambique Página 13

Vírus, fungos e bactérias pegam boleia nos alimentos. Página 16


editorial

Perpetuação da espécie

Humana

Nos últimos tempos, muito se tem falado em extinção de animais, empobrecimento do solo, superaquecimento solar, destruição da camada de ozono, contaminação dos lençóis freáticos... Sem contar o problema da fome. Essas questões tem sido debatidas em todo o planeta e a busca por soluções eficazes é prioridade mundial, mas é preciso ir ao ponto vital. Não basta apenas minimizar os problemas com determinações percentualmente insignificantes. Afinal, segundo especialistas, é a agricultura a atividade humana que mais deixa rastros e causa desarmonia ambiental. Assim, nada mais coerente do que voltar os olhos para ela e desenvolvê-la de modo a devolver a força do solo, a sua capacidade natural de germinar e gerar vida. Porque, por maior que seja a quantidade da safra obtida, o homem só saciará a sua fome se puder nutrir o seu corpo com alimentos saudáveis e naturalmente ricos em vitaminas e sais minerais. Dessa forma, “tentar” aumentar a produtividade da terra a curto prazo, danificando as suas propriedades naturais definitivamente, é o mesmo que condená-la à extinção, pois estaremos diminuindo a sua biodiversidade. Com a terra improdutiva, torna-se impossível alimentar o corpo. Desnutrido, o ser humano não tem como trabalhar, pensar ou sentir. Não tem sequer como viver. Por isso, esse é o momento de realmente se comprometer com o futuro e garantir a preservação da raça humana, do solo fértil, do respeito à grande Natureza. É o momento de vivificar a terra, juntando os espaços aproveitáveis e aumentando a sua capacidade produtiva, ou promovendo a sua regeneração, onde ela já estiver improdutiva. O alimento colhido na hora fornece muito mais energia e nutrientes ao corpo e à alma de quem irá consumi-lo, além de propiciar uma substancial economia no orçamento doméstico. Por isso, escolha um local – a matéria das páginas 18 e 19 ensina exatamente isso –, comece a plantar e a disseminar esperança. Experimente a singular sensação (um misto de técnica e sinceridade) de colocar uma semente no solo e vê-la germinar. Acompanhe o seu crescimento, o florescer de uma planta, de um vaso, de um canteiro ou de um hectare... Não importa o tamanho do seu espaço. Afinal, o sentimento não tem medidas métricas ou números exatos. Ana Cristina Stabelito

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Agricultura Natural

Africa

Revista produzida pela Africarte – Associação para o desenvolvimento da Agricultura Natural, da Arte e da Cultura Africana – Rua da Escola 28 de Agosto – Futungo 2Bo Kawelele – Luanda – Angola Cx. Postal: 1310 Registo: MCS – 390/B/2004 Presidente: Claudio Cristiano Leal Pinheiro Vice-Presidente: Marques Zambo Bambi Diretores: Ernestina Olinda P. Coimbra, Afonso Quifuta Pereira, Jaime Fortuna, Roberto L. C. Cândido, João José da Cruz Assessoria de Comunicação: Gilmar Dall’Stella Edição e Editoração Electrónica: Ana Cristina Stabelito Conselho Editorial: Alberto Faria da Silva Suzano, Alexandre Bertoldo da Silva, Adriana T. Otutumi, Antonio Bento Carlos, Felipe Tuta Tuta e Juliana S. R. de Castro Colaboradores: Avelino da Costa, Domingos Sebastião Álvaro, João José Tavares, João Mavinga, José Armando Estrela, Maria do Céu, Silvério Txixi e Telma Trindade Distribuição: AFRICARTE Impressão: Damer Tiragem: 3 mil exemplares Periodicidade: Quadrimestral

Fale connosco Dê sugestões, faça críticas, pergunte, tire suas dúvidas, ajude a fazer a próxima edição

faleconnosco@africarte.org


O princípio básico da Agricultura Natural consiste em fazer manifestar a força do solo. Até agora o homem desconhecia a verdadeira natureza do solo, ou melhor, não lhe era dado conhecê-la. Tal desconhecimento levou-o a adotar o uso de adubos e acabou por colocá-lo numa situação de total dependência em relação a eles, tornando essa prática uma espécie de superstição. No começo, por melhor que eu explicasse o processo da Agricultura Natural, as pessoas não me davam ouvidos e acabavam em gargalhadas. Pouco a pouco, porém, minhas explicações foram sendo aceitas e, ultimamente, de ano para ano, aumenta o contingente de praticantes do novo método, mesmo porque as colheitas, em toda parte, vêm dando prodigiosos resultados. Ainda que a maioria pertença à esfera dos fiéis de nossa Igreja, em várias regiões já está aparecendo, fora dessa esfera, um número considerável de simpatizantes e praticantes da Agricultura Natural, número este que tende a aumentar rapidamente. Já se pode imaginar que não está longe o dia em que a veremos praticada em todo o território japonês. Falando abertamente, a divulgação do nosso método de agricultura poderá ser definida como “movimento para destruir a superstição dos adubos”. Não usando absolutamente nada daquilo a que se dá o nome de adubo, seja de origem animal ou química, pois é um cultivo que utiliza apenas compostos naturais, o método é, realmente, o que seu nome diz: Agricultura Natural. As folhas e capins secos formam-se naturalmente, ao passo que os adubos químicos e mesmo o estrume de cavalo ou galinha, assim como os resíduos de peixe, carvão de madeira, etc., não caem do

céu, nem brotam da terra: são transportados pelo homem. Portanto, não é preciso dizer que são antinaturais. Nada poderia existir no Universo sem os benefícios da Grande Natureza, ou seja, nada nasceria nem se desenvolveria sem os três elementos básicos: o fogo, a água e a terra. Em termos científicos, esses elementos correspondem, respectivamente, ao oxigênio, ao hidrogênio e ao nitrogênio. Todos os produtos agrícolas existentes são gerados por eles. Dessa forma, Deus fez com que possam ser produzidas todas as espécies de cereais e verduras que constituem a alimentação do homem. Seguindo a lógica, tudo será perfeitamente compreendido. Não seria absurdo se Deus criasse o homem e não providenciasse os alimentos que lhe possibilitariam a vida? Logo, se determinado país não consegue produzir os alimentos necessários à sua população é porque, em algum ponto, ele não está de acordo com as leis da Natureza criada por Deus. Enquanto não se atentar para isso, não se poderá sequer imaginar uma solução para o problema da escassez de alimentos.

filosofia de Mokit Okada

A força do solo

A Agricultura Natural proposta por mim tem como base o princípio citado. O empobrecimento e as dificuldades dos agricultores serão solucionados satisfatoriamente com a adoção desse método. Deus deseja corrigir a penosa situação em que eles se encontram, e por isso está se dignando, com Sua benevolência e compaixão, a revelar e fazer propagar o princípio da Agricultura Natural, através de mim, para todo o mundo. Urge, portanto, que os agricultores despertem o mais rápido possível e adotem esse novo método agrícola. Só assim eles serão verdadeiramente salvos.

Agricultura Natural Africa

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mensagem

P

arabéns pelo primeiro número da nossa revista de Agricultura Natural! É a concretização de um sonho que já existe há muito tempo. Um sonho do nosso querido Presidente Francisco Jésus Fernandes (in memorian), a quem dedico esta edição. O seu maior desejo era que a Agricultura Natural se expandisse pelo continente africano, para proporcionar alimento, saúde, sustentabilidade e riqueza ao povo. Por isso, parabéns e muito obrigado pelo vosso apoio ao adquirir esse exemplar e apoiar a divulgação do método agrícola preconizado por Mokiti Okada! Realmente estamos a viver uma fase em que a base da sobrevivência humana, que é a alimentação, encontra-se a cada dia em um beco sem saída maior. O fantasma da segurança alimentar assombra todos os países do mundo. Alguns pelo medo da escassez de alimentos e outros pela contaminação dos mesmos. Recentemente, a Associação Americana de Pediatria divulgou um relatório a alertar os pais sobre o perigo dos pesticidas e recomendando que eles tentem reduzir o contacto com os mesmos, pois existem fortes evidências que associam a exposição aos pesticidas com o surgimento de câncer (mais especificamente tumores cerebrais e leucemia), baixo desenvolvimento intelectual, autismo e hiperactividade. Isso é algo que nos leva a reflectir mais profundamente sobre a nossa relação com a produção e o consumo dos alimentos, sobre o que nós, nossos familiares, amigos e toda a sociedade está a ingerir no dia a dia. Mokiti Okada nos alertou que chegaríamos a esse ponto e ao mesmo tempo nos indicou a solução desse problema através do método agrícola que respeita as leis da natureza e reconhece que somos parte dessa natureza. Cada um de nós pode fazer uma grande diferença nessa mudança de paradigma através da prática da horta no nosso lar, por menor que seja o tamanho da horta e de expandirmos essa prática para a nossa vizinhança, de forma que o maior número de pessoas possa resgatar essa relação com a natureza através do cuidado com a horta e do consumo de alimentos saudáveis, que gerem saúde e felicidade. Muito obrigado, Claudio Cristiano Leal Pinheiro Presidente da Africarte

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hortas

Presidente Mundial

A expansão das

caseiras por Tetsuo Watanabe*

“Precisamos mostrar o verdadeiro caminho da agricultura, que é produzir eternamente alimentos seguros para toda a Humanidade. Por isso, atualmente tenho orientado as pessoas no mundo inteiro

Em primeiro lugar, quero parabenizar todos os agricultores que praticam a Agricultura Natural e também todas as pessoas que estão fazendo a horta caseira. Em 2012 completamos 130 anos do nascimento de Mokiti Okada. Ele afirmou que, quando a Agricultura Natural começar a se expandir, as pessoas vão querer saber mais sobre a filosofia de Mokiti Okada. Só que antes de falar sobre a Agricultura Natural, eu gostaria de apresentar a realidade da sociedade moderna. Muitos cientistas têm alertado para o fato de que a espécie humana está a caminho da extinção, principalmente por causa do seu hábito alimentar... A maioria das pessoas não imagina o perigo que está correndo, porque nem sabe o que está comendo.

num vaso na varanda do

Muitas grandes empresas falando que vão melhorar e aumentar a produção de comida começaram a fazer várias pesquisas com sementes, fertilizantes e agrotóxicos. Assim, elas acabaram criando no laboratório as sementes transgênicas, sem garantia nenhuma, de que no futuro, não farão mal para a saúde humana.

apartamento.”

Essas sementes transgênicas, criadas fora da Lei da Na-

a fazer a horta caseira, seja num canto do jardim ou

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tureza, só conseguem dar colheita se forem usados adubos químicos e agrotóxicos. Essa é a base da agricultura convencional. Vale lembrar que o perigo dessa agricultura convencional não está só na contaminação dos alimentos que comemos, mas também na degradação do meio ambiente. Benguela

Cunene

Muita gente fala que é importante preservar as florestas, os rios... Mas, na prática, se o homem continuar fazendo a agricultura convencional, usando fertilizante químico e agrotóxico, vai estar sujando tanto o solo, como também as águas do lençol freático, dos rios e do mar. Essa é a pior forma de agredir o meio ambiente! Hoje, muitas pessoas não dão valor a isso porque as consequências não estão aparecendo. Mas vai chegar uma hora que muitos problemas começarão a aparecer. Só que nessa hora pode ser tarde demais... Eu pergunto: “Quantos países ou instituições estão alertando as pessoas para esse grave problema da agricultura convencional?” Pouquíssimos, eu acho... Há muitos anos, Mokiti Okada já alertava sobre isso. Ele dizia: “Chegará o dia em que haverá uma montanha de comida, mas tudo sem condição para o homem comer.”

Zâmbia

Mokiti Okada recebeu a inspiração Divina para ensinar as pessoas sobre o método da Agricultura Natural. Mas antes de ensinar, Ele mesmo, como modelo, praticou a Agricultura Natural num pedaço de terra de apenas dez metros quadrados, para mostrar às pessoas o que Deus havia lhe revelado. Hoje, em mais de 60 países, há pessoas divulgando a Agricultura Natural. Isso poderá se tornar a Arca de Noé do século 21! Eu sei que a maioria da população não é formada por agricultores, mas por consumidores, assim como eu. Sei também que muitas pessoas já estão procurando colocar na mesa alimentos mais saudáveis, produzidos pela Agricultura Natural ou orgânicos. É importante ter essa consciência. Namíbia

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É preciso difundir para o maior número de pessoas o que Mokiti Okada ensinou


Okada há mais de 70 anos.”A vizinha continuou: “Será que tem algum livro de Mokiti Okada para eu saber mais?” A messiânica emprestou-lhe um; a vizinha foi ficando empolgada e lendo outros livros, até que leu sobre o Johrei e quis saber mais. Foi aí que a messiânica conseguiu ministrar o seu primeiro Johrei na vizinha. Parece que agora, ela está frequentando o Johrei Center e fazendo uma horta caseira.

Na África, 45 mil famílias e mais de 150 entidades públicas, como hospitais, escolas, etc. estão praticando a horta caseira. No Brasil, também há muitas pessoas fazendo a horta caseira e conseguindo ótimos resultados. Gostaria de contar uma experiência interessante que ouvi.

Achei muito interessante esta experiência, pois mostrou claramente aquilo que Mokiti Okada falou há anos atrás: através da Agricultura Natural, as pessoas vão querer saber mais sobre Mokiti Okada e acabarão conhecendo o Johrei.

Uma senhora membro da Igreja Messiânica Mundial (fundada em 1935 por Mokiti Okada, cujo nome religioso é Meishu-Sama) sempre quis ministrar Johrei (canalização da energia vital através da imposição das mãos) para a vizinha, mas nunca teve uma chance para oferecer. Então ela começou a fazer uma horta caseira, plantando um pé de tomate cereja num vaso, na varanda do seu apartamento. Quando começou a colher os tomatinhos, resolveu oferecer um pouco para a vizinha, dizendo: “Olhe, você não quer experimentar esse tomate? Foi plantado por mim, na horta caseira que estou fazendo. Não usei nenhum adubo químico nem agrotóxico. É totalmente natural e purinho! Não quer experimentar?” A vizinha aceitou e falou que ia usar na salada, no mesmo dia. No dia seguinte, foi à casa da senhora messiânica e comentou: “Olhe, aquele tomate estava muito saboroso! Nunca comi um tomate tão gostoso assim... me mostre como você plantou isso na sua casa...” Ela mostrou o pé de tomate no vaso e disse para a vizinha: “Se você quiser, pode plantar igual a mim... Eu te ensino a fazer. Não é difícil, não.... Você também consegue.”A vizinha aceitou imediatamente e, assim, nasceu uma grande amizade entre elas. No outro dia, a vizinha perguntou: “De onde veio esse conceito de horta caseira?”A messiânica respondeu: “Isso foi idealizado por Mokiti

Presidente Mundial

sobre a Agricultura Natural. Nesse sentido, eu queria dizer que não estamos aqui só para criticar a agricultura convencional. Precisamos mostrar o verdadeiro caminho da agricultura, que é produzir eternamente alimentos seguros para toda a Humanidade. Por isso, atualmente tenho orientado as pessoas no mundo inteiro a fazer a horta caseira, seja num canto do jardim ou num vaso na varanda do apartamento.

Foi exatamente isso o que aconteceu. Essa senhora, por meio da horta caseira, conseguiu ser “a número um da felicidade de uma pessoa”. Um ponto importante na hora de praticar a horta caseira é procurar fazer junto com os filhos e netos, pois dá para ensiná-los, de maneira bem simples, como respeitar as Leis da Natureza. Primeiro, ensine-os a agradecer a Deus, que nos deu a terra, a água e o sol. Depois, mostre que é preciso cultivar sempre com muito amor, até conversando com as plantinhas. É assim que irá conseguir transmitir às crianças, a filosofia de Mokiti Okada, naturalmente. Através da prática da horta caseira, cultivando a felicidade dentro do seu lar, o voluntário messiânico também conseguirá dar mais valor ao Johrei e ainda poderá descobrir o verdadeiro Belo, ensinado por Mokiti Okada. Essa prática da horta caseira vai contribuir muito para mudar o paradigma da alimentação, da saúde do homem e do meio ambiente. Por isso, vamos praticar a Agricultura Natural para construir a “Arca de Noé” do século 21, por nossas próprias mãos.

* Tetsuo Watanabe preside o desenvolvimento da Agricultura Natural em âmbito mundial.

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horta no mundo

EUA aposta na sociabilidade, na diversidade de culturas e investe no preparo do solo

Em Charlotte, Carolina do Norte, a prática da horta reúne familiares e amigos.

Em Miami, Florida, os praticantes da Agricultura Natural investem na diversidade de culturas.

Em Kackensak, Nova Jersey, está havendo um cuidado especial no preparo do solo.

Canadá enaltece a produção natural Portugal desenvolve oficinas

Em Toronto, a prática da horta enriquece ainda mais a ótima gastronomia canadense.

Em Portugal, os responsáveis pela divulgação da filosofia de Mokiti Okada estão desenvolvendo oficinas de Ikebana e de Horta Caseira na frente de suas unidades para que as pessoas que passam nas calçadas possam ter esse primeiro contato com as atividades relacionadas a essa filosofia.

Itália realiza vivência Decidido a iniciar a prática da Agricultura Natural através do projeto da Horta Caseira, orientado pelo Presidente Mundial, Tetsuo Watanabe, Carlos Eduardo Luciow, coordenador das atividades relacionadas a Mokiti Okada na Itália, convidou o responsável pela Agricultura Natural (AN) na França, Paulo Oyama, para transmitir a sua experiência e orientação. Assim, no último mês de Setembro, ele, que já vem desenvolvendo a AN há mais de trinta anos na França, após atuação no Brasil, esteve em Roma, Milano, Bergamo e Torino. Nestes lugares, 88 pessoas puderam conhecer melhor o conceito da AN e realizar uma vivência em vaso. Segundo Carlos, o objetivo de sensibilizar as pessoas que estão a viver na cidade e, dessa forma, perdendo a relação com a terra, foi alcançado. “Um jovem relatou que esta foi a primeira vez que não sentiu nojo ao tocar na terra”, contou.

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case

Diferentemente dos produtores de tomate da comuna do Bom Jesus que amargaram severos prejuízos devido à grave infestação da mosca branca, o plantio na unidade agrícola da Africarte, que utiliza o método da Agricultura Natural obteve uma colheita acima da média. por Marques Zambo Bambi

P

lantação de tomate resiste à ação do vírus da mosca branca

A Agricultura Natrural proporciona não só uma alimentação saudável, ela respeita a natureza do solo, promove as suas características e ainda torna as plantas resistentes às pragas. Por isso, no ano passado, o Pólo Agrícola do Bom Jesus, da Africarte, foi a única propriedade da região a não ser atingida pela infestação

de mosca branca e assim conseguiu colher tomate. Além disso, a colheita não foi pequena. Enquanto a produção média na agricultura familiar, segundo dados do Ministério da Agricultura, é de 7 a 10 mil quilos por hectare, o Pólo de Bom Jesus conseguiu colher aproxima-

damente 14,5 toneladas em 8.215 m2, ou seja, alcançou uma quantidade superior à média local. A convite da Direção do Perímetro Irrigado de Bom Jesus, deslocou-se no último dia 28 de agosto, uma equipe técnica do Ministério da Agricultura de Angola – Proteção de Plantas/ Agricultura Natural Africa

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case

DNAPF, composta pelos engenheiros Júlio José do Nascimento e Bárbara Fernandez Casamayor, e por Emília Pimenta, a fim de constatar in loco os problemas fitossanitários que estão a afectar a cultura do tomate nessa parte do município. A mosca branca foi encontrada no Perímetro Irrigado do Bom Jesus atacando as solanáceas, brássicas e cucurbitáceas, em particular a cultura do tomate, numa extensão de aproximadamente 80%, provocando a doença da virose do mosaico, que tem prejudicado o desenvolvimento das plantas logo no fim da floração e início da frutificação, comprometendo assim toda a produção. Foram visitadas seis áreas onde encontraram-se implantadas a cultura; após exames macroscópicos e seguidamente, a colheita de amostras representativas de cada local para análises microscópicas em laboratório, foram obtidos os seguintes resultados: a) Todas as áreas visitadas da cultura do tomate e pimento estavam afectadas; b) Foram encontradas moscas brancas (ninfas e adultas) – vectores do vírus; c) Também foi detectado o vírus do mosaico, generalizado nos campos devido à ação das moscas brancas; d) A planta do tomate estava caracterizada por um enrugamento das folhas, clorose internerval, encurtamento dos entrenós, fo-

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líolos pequenos, crescimento reduzido e folhas avermelhadas, que indica carência nutricional ou insuficiência de fósforo. Normalmente tenta-se a forma tradicional de combate dessa praga através de defensivos agrícolas, porém o uso incorreto dos agrotóxicos pode piorar a situação, dificultando a ação dos inimigos naturais da mosca branca, como os fungos, que se alimentam dos ovos, e das ninfas (a mosca na fase jovem). Já a Agricultura Natural fortalece a força original do solo sem

nenhuma aplicação de adubos químicos, mantém a biodiversidade vegetal, a biodiversidade microbiana e isso faz com que as plantas tenham maior força de recuperação, resistindo às pragas. Assim, está explicado porque o solo do Pólo Agrícola do Bom Jesus – Africarte – foi o único que conseguiu resistir ao ataque da mosca branca e ainda alcançar um expressivo resultado.

O Eng. Agronômo Marques Zambo Bambi é o responsável técnico e o vice-presidente da Africarte

A acção da mosca branca no tomateiro Na cultura do tomate, os sintomas podem ser manifestados pela liberação de excreções açucaradas que favorecem o desenvolvimento de fumagina nas folhas, reduzindo o processo fotossintético, afetando a produção e a qualidade dos frutos (Salguero, 1993). A mosca branca é uma praga vetora de vírus, principalmente os pertencentes ao grupo dos geminivírus. A ação dos vírus, de um modo geral, apresenta sintomatologia característica. A base dos folíolos adquire, inicialmente, uma clorose entre as nervuras, evoluindo para um mosaico amarelo. Posteriormente, os sintomas generalizam-se, as folhas tornam-se coriáceas e com intensa rugosidade, podendo ocorrer o dobramento ou enrolamento dos bordos para cima (Lastra, 1993). Nos frutos, os sintomas são evidenciados por anomalias ou desordens fitotóxicas, caracterizadas pelo amadurecimento irregular, causado pela injeção de toxinas durante a alimentação do insecto (Lourenção & Nagai, 1994). A desuniformidade na maturação dos frutos dificulta o ponto de colheita, reduz a produção e, no caso do tomate para a indústria, a qualidade da pasta. Internamente, os frutos apresentam-se esbranquiçados, com aspecto esponjoso ou “isoporizados”. (Haji et al., 1996a) (Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Brasil – Circular Técnica 81)


Produção de Morango

por Alexandre Bertoldo da Silva

O morango é uma fruta vermelha, levemente adocicada e presente na vida de milhões de pessoas em todo o mundo. É rico em vitaminas e minerais como o ferro, o cálcio, o fósforo e o potássio, promovendo diversos benefícios ao organismo. Originário da Europa, o morango é um alimento com poucas calorias, que também ajuda na prevenção do cancro e pode auxiliar no tratamento de várias doenças, como gota e reumatismo. Além disso, aumenta a resistência às infecções, evita a fragilidade dos ossos e a má formação dos dentes. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, o cultivo do morango pode ser muito simples. Tomados alguns cuidados básicos qualquer pequeno agriEsmeralda Vilanculo é estudante de Gestão Agrícola da Universidade São Tomás de Maputo e gerente de produção agrícola da Africarte – Moçambique

cultor pode ter seus canteiros de morango nas machambas* ou lavras. Ele pode ser cultivado até mesmo em pequenos vasos nas hortas caseiras de quem mora em apartamentos e flats, o que o eleva a uma categoria toda especial de plantas presentes nos jardins e hortas de milhares de pessoas. No caso de agricultores familiares, o cultivo de morangos pode se tornar uma ótima fonte de receitas oriundas da venda de doces e da fruta ao natural. O morangueiro gosta de áreas frescas e pode ser cultivado à meia sombra, podendo ser facilmente adaptado aos sistemas agroflorestais. Algumas técnicas simples de manejo do solo – a cobertura dos canteiros com material encontrado facilmente nas zonas rurais como caniço e folhas de coqueiro e bananeiras – pode viabilizar a produção de frutos saborosos e abundantes em espaços relativamente pequenos. (*) Machamba é o termo usado em Moçambique para designar uma pequena lavra ou campo de produção agrícola familiar.

Moçambique utiliza técnicas agrícolas inovadoras

sabores da terra

Benefícios com aroma, sabor e beleza

Embora bastante arenoso, o solo do Pólo Agrícola de Moçambique vem atingindo um grau de atividade microbiológica excepcional, devido ao uso de uma grande quantidade de matéria orgânica e de algumas técnicas inovadoras para manter a sua umidade e resfriamento. O caniço (foto acima), por exemplo, está sendo empregado como cobertura dos canteiros. Muito usado na região para a construção de casas, além de evitar as perdas excessivas de água por evaporação, o caniço também ajuda a manter o solo dentro de uma faixa estável de temperatura, o que favorece o pleno desenvolvimento microbiano e um resultado bastante satisfatório. No início desta produção, utilizouse esteiras trançadas, típicas do país, mas em pouco tempo os engenheiros perceberam que o uso do caniço seria mais eficiente, embora outras alternativas naturais não sejam descartadas, como é o caso de um projeto na província de Inhambane.

Presença constante nas hortas caseiras moçambicanas Introduzido no programa de hortas caseiras em Moçambique no final de 2010, os morangueiros estão presentes no dia a dia de muitas pessoas que praticam a Agricultura Natural em suas casas e jardins. De fácil cultivo e propagação de mudas, a planta se revelou numa forte aliada à expansão do trabalho com as hortas, não só nas residências como também em várias escolas que adotaram o programa de hortas da Agricultura Natural. Localizada no bairro Magoanine-C, periferia da Cidade de Maputo, capital de Moçambique, a Escola Secundária Samora Moiséis Machel já é reconhecida pela comunidade local como a “Escola do Morango”, onde a fruta tem um destaque todo especial em meio às várias hortículas cultivadas pelos alunos e professores daquela escola pelo método da Agricultura Natural.

Agricultura Natural Africa

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formação

Angola investe na formação de uma nova liderança Numa área de 177 hectares, a Escola de Agricultura Natural Mokiti Okada foi inaugurada no último dia 10 de Novembro como um Centro de Formação Profissional na região da Funda, município de Cacuaco, província de Luanda, Angola. Ela foi construída em 296 m2 e conta com duas salas de aula com capacidade para vinte alunos cada, uma biblioteca, uma sala de informática e uma para a administração. O estabelecimento, gerido pela AFRICARTE – Associação para o Desenvolvimento da Agricul-

tura Natural, da Arte e da Cultura Africana, foi credenciado pelo INEFOP (Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional) do Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, em Novembro passado, como instituição vocacionada para a formação profissional. Para a atividade prática, foram destinados quinze hectares, onde já é possível fazer a observação e o aprendizado do plantio de cebola, banana, couve, tomate, repolho, quiabo, feijão, milho, batata-rena, beringela, manga, abacate, etc.

O Conteúdo Programático de 900 horas irá gerir o ensino de: História da Agricultura, Filosofia da Agricultura Natural (princípios e conceitos da Agricultura e da Alimentação Natural), Horta Caseira, Gestão Ambiental, Metodologia do Projecto, Impacto Ambiental da Atividade Agrícola, Ambiente e Cidadania e Instrumentalização Agrícola (técnicas de irrigação). Além de propiciar a gestão da Prática e dos Estágios. Por ter as questões ambientais como um foco do aprendizado,

Escola de Agricultura Natural

Mokiti Okada 14

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formação

a atividade de reflorestamento já teve início no local, com o plantio de 10.845 espécies, sendo 10.176 florestais e 669 frutíferas. Ainda há 1.785 mudas em viveiro para serem plantadas posteriormente. Mas o objectivo é a plantação de duzentas mil mudas de espécies florestais e frutíferas em dois anos. Todo o ambiente é propício para que a aprendizagem seja um misto de teoria e prática, onde a atividade agrícola possa ser desenvolvida em harmonia com a Grande Natureza. De acordo com o presidente da Africarte, Claudio Cristiano Leal Pinheiro, e o Director Geral do Centro de Formação, Marques Zambo Bambi, dentro de dois anos será realizado no mesmo local a inauguração do Instituto Superior Politécnico Mokiti Okada, cujas instalações irão permitir a implantação de outros cursos, assim como receber alunos de localidades distantes e até de outros países.

A inauguração em Cacuaco Localizada na região da Funda, município de Cacuaco, na província de Luanda, a Escola de Agricultura Natural Mokiti Okada foi naugurada no dia 10 de Novembro de 2012, com a presença do governador da província de Uíge, Paulo Pombolo, do directoradjunto em Angola do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), engenheiro Paulo Vicente, dos secretários geral e adjunto da Associação dos Professores de Angola, Julião João Jerónimo e Domingos Marcos, respectivamente, da autoridade tradicional da região da Funda, Miguel Francisco João, e de outras personalidades governamentais de Luanda e do resto do país.

Serviços: africarte@africarte.org Agricultura Natural Africa

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alimentação

A importância do

manipulador de alimentos por Gisele Grube*

Hoje em dia a pressa e a correria tem tomado conta da vida das pessoas, o que tem contribuído para a mudança dos hábitos alimentares no que diz respeito ao que será consumido, quanto ao seu preparo e até no próprio ato de comer. O momento da refeição tem sido cada vez menos valorizado, e comer está se reduzindo a um ato automático com o único objetivo de saciar a fome. Entretanto, a finalidade não é simplesmente alimentar o homem, mas bem alimentá-lo. Bem alimentar não é somente oferecer uma comida gostosa, mas também segura do ponto de vista higiênico e ausente de 16

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contaminação. Uma refeição ao ser servida poderá apresentar as seguintes situações: boa, aparentemente boa ou má. A primeira situação é aquela na qual se proporciona saúde, força e disposição. Deve fornecer ao corpo todos os nutrientes necessários à prevenção e ao desenvolvimento da vida, e também estar livre de contaminação. Para isso, se faz necessário o uso de bons produtos, correta conservação, boa técnica no preparo e obedeciência rigorosa às normas de higiene. Na segunda situação, a refeição cuja aparência, o aroma e o sabor parecem bons, perfeitos e não

A manipulação e o preparo de alimentos devem ser levados a sério!! Quando um alimento é preparado, o responsável pela manipulação tornase parte da vida de outras pessoas, pois cuida de algo muito importante: a alimentação.

possuem características sensoriais alteradas, CUIDADO: ela pode estar contaminada. Essa refeição proporcionará mal-estar, indis-


Exemplo marcante são os alimentos envolvidos na transmissão de salmoneloses – Salmonella spp, cuja preparação não demonstra estar contaminada, mas está. Carnes de aves, outros tipos de carnes e laticínios, como leite cru e queijos feitos a partir de leite não pasteurizado, produtos à base de ovos, como saladas, sorvetes e sobremesas de fabricação caseira, que não passam por tratamento térmico ou em que este não atinja temperaturas suficientes, também são importantes veículos de contaminação. O destaque vai para algumas preparações cujas receitas podem apresentar estas características, como molho de maionese caseira, mousse de chocolate e a sobremesa tiramissu. Medidas como aquecer adequadamente os alimentos (mínimo de 70o C), armazená-los em temperaturas abaixo dos 5o C, evitar que o material usado em alimentos crus entre em contato com o produto final (contaminação cruzada) e

promover os hábitos de higiene apropriados, podem ajudar a conter a transmissão por Salmonella. Com relação à última situação, os seus efeitos à saúde do homem são tão prejudiciais quanto os efeitos da refeição “aparentemente boa”. Neste caso, a aparência, o aroma e o sabor darão sinais que ela está estragada e imprópria ao consumo, com alteração nas suas propriedades organolépticas (sensoriais). Para evidenciar as situações – “aparentemente boa” ou “má” – basta ocorrer uma falha nas normas de higiene, na técnica de conservação, na escolha dos produtos, na técnica de preparo, e pronto, está espalhada a contaminação! O que existe no alimento que o torna contaminado? Contaminação microbiana, ou seja, micro-organismo, um corpo muito pequeno, invisível a olho nu (seria necessário um microscópio de pelo menos mil vezes de aumento para enxergá-lo). Existem micro-organismos que estragam os alimentos, os que auxiliam na produção de alimentos e os que causam doenças. Estão eles classificados em: Micro-organismos Deteriorantes – geralmente não patogênicos, estragam o alimento, causando mau cheiro, sabor ruim e modificações na aparência natural dos alimen-

tos. Algumas vezes, o cheiro ruim da carne estragada, do feijão azedo são exemplos marcantes da ação de bactérias não patogênicas sobre o alimento. A aparência esbranquiçada ou esverdeada, que se forma sobre o pão e frutas, são exemplos conhecidos da ação dos fungos sobre o alimento;

alimentação

posição e doença, podendo até levar o indivíduo à morte. Neste caso, a função alimentar não foi cumprida, pois foi bloqueada e prejudicada, trazendo somente prejuízos ao consumidor.

Micro-organismos Úteis – são aqueles utilizados na fabricação de alimentos, como exemplo lactobacilos dos leites fermentados; Micro-organismos Patogênicos (ou patógenos): é o tipo mais perigoso, ele não estraga o alimento, porém, o homem não percebe e come, mas o microorganismo está lá pronto para atacar, causando sérias complicações no seu organismo. Os vírus, alguns tipos de bactérias, fungos patogênicos e parasitas (vermes intestinais) são exemplos dessa classe de micro-organismos que não estragam os alimentos, mas os contaminam. Pergunta-se então, onde ocorreu a falha? Para o manipulador de alimentos consciente não existe a pergunta “onde ocorreu?”, mas sim: “onde ocorrerá a falha? “Quais cuidados tomar para evitar a contaminação?” Cabe ao manipulador de alimentos a responsabilidade nas boas práticas de manipulação e obediência às normas de higiene, ingredientes imprescindíveis para uma alimentação segura. Gisele Grube é Tecnóloga em Alimentos e Especialista em Gestão de Qualidade em Alimentos em duas importantes universidades brasileiras Agricultura Natural Africa

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teoria & prática

A escolha

da área para desenvolver uma horta caseira ou escolar por Alexandre Bertoldo da Silva, Adriana Tamie Otutumi, Juliana da Silva Ribeiro de Castro*

Limpeza e escolha da área A primeira acentuação para implantar uma horta, seja ela caseira ou escolar, está relacionada à escolha da área e a limpeza do local. Primeiramente, deve-se fazer um diagnóstico, verificando, se possível, os seguintes pontos: histórico da área (o que foi plantado ou feito anteriomente, se era um aterro, um antigo cemitério, hospital, etc.); água (proveniência, qualidade, prováveis riscos de contaminação); tipo de solo (arenoso, argiloso, areno-argiloso); luz solar (sem a presença de luz solar, a planta não consegue realizar a fotossíntese); proteção contra ventos fortes e distância das fossas.

Histórico da área Para a definição do melhor local para a implantação da horta, o histórico da área, torna-se extremamente importante, uma 18

Fevereiro 2013

vez que há determinadas situações que podem iniviabilizar a sua implantação. Este fato ocorre devido ao risco de possíveis contaminações com produtos químicos, resíduos de lixo hospitalar ou provenientes de áreas onde havia um cemitério. Além disso, a identificação destas situaçõesproblema auxiliam na escolha da estratégia adequada de manejo do solo.

Água O desenvolvimento das culturas no campo depende, dentre outros fatores, do fornecimento de água às plantas. Sem água, a planta não tem como absorver e transportar os nutrientes no seu interior. Por isso, é preciso verificar a qualidade e a procedência da água de rega, sendo ideal que esteja próximo à horta para facilitar o trabalho de manutenção. É bom salientar que águas contaminadas com esgoto, resíduos de lixo doméstico, fezes, produ-

tos químicos, sabão, inseticidas e combustíveis não são adequadas para a rega das plantas.

Solo Existem diversos tipos de solo, como o arenoso, o argiloso e o areno-argiloso. As hortaliças, em geral, se adaptam melhor ao solo areno-argiloso. No entanto, com um manejo adequado, os outros tipos de solo também podem permitir um bom desenvolvimento das culturas.

Luz solar A luz solar é um fator importantíssimo na condução de uma horta. Em locais sombreados, a planta não realiza a fotossíntese adequadamente e, assim, paralisa o seu desenvolvimento. Para a escolha da área de plantio é necessário optar por locais que peguem, de preferência, o sol da manhã ou, pelo menos, que receba a luz solar


Proteção contra ventos fortes Em uma horta, a proteção contra ventos fortes torna-se fundamental para o sucesso da produção agrícola. Além de poder causar lesões nas folhas e caules da plantas, os ventos fortes tornam-se a porta de entrada para as doenças causadas por vírus, bactérias e fungos. Contribuem ainda para a perda de água por evaporação. Assim, o sistema de rega torna-se ineficiente e exige que se utilize mais água para garantir o desenvolvimento das culturas.

depoimento

Definidos os pontos de escolha da área, parte-se para a limpeza

do local onde será implantada a horta. Essa limpeza refere-se à retirada de restos de construção (pedras, arames) e de lixo (garrafas, plásticos, vidros, etc.). Vale ressaltar que locais onde foram enterrados materiais contaminantes – lâmpadas fluorescentes, partes de equipamentos eletrônicos, medicamentos, combustíveis e óleos lubrificantes, por exemplo – que poderiam contaminar as pessoas através dos alimentos ali produzidos, não poderão ser selecionados para a implantação da horta. Áreas como as citadas acima deverão ser destinadas ao plantio de flores, bem como de espécies florestais e árvores nativas, de forma a auxiliar na recomposição da paisagem e na preservação do meio ambiente.

Distância das fossas A avaliação da distância das fossas é fundamental na escolha da área, devido à possibilidade de contaminação da horta com os dejetos da casa de banho. Assim, se a fossa não for revestida com betão, é necessário que o local escolhido para a horta tenha uma distância mínima de 15 metros. No entanto, se o terreno for inclinado, deve-se tomar o cuidado, mesmo respeitando a distância de 15 metros, de não colocar a horta em um local mais baixo que a fossa, pois com a chuva, há o risco da água levar os dejetos para a parte baixa do terreno, causando a contaminação.

teoria & prática

em um dos períodos do dia.

O Eng. Químico Alexandre Bertoldo da Silva, a Eng. Agrônoma Adriana T. Otutumi e a Bióloga Juliana S. R. de Castro são coordenadores da Africarte

“Aprendi a me alimentar corretamente” “Tenho 10 anos e sou aluna da 5ª classe da Escola Meetse-ABophelo. Iniciei no projeto da Agricultura Natural no dia 30 de julho de 2011, quando tivemos uma aula sobre a importância dos elementos da Natureza. Durante as aulas, aprendi sobre como plantar e cuidar das plantas, sobre a importância do sol, da água, da terra e sobre a alimentação natural. O que aprendi na escola iniciei na minha casa, implantando uma horta caseira. Apesar de ser uma área pequena, fiquei muito feliz. Pedi para a professora Adriana que falasse para a minha mãe sobre o risco de comer certos tipos de alimentos e beber refrigerante. Quando a professora falou sobre tudo o que eu estava aprendendo na Escola, como respeitar a natureza, preparar o solo, cuidar das plantas e a me alimentar corretamente, minha mãe começou a rir, pois eu já tinha lhe falado que deveria mudar certos hábitos por causa da saúde. Ela se comprometeu em diminuir o consumo destes alimentos e ficou muito feliz com a implantação do modelo.”

A menina R. é aluna da 5ª classe da Escola Meetse-A-Bophelo – Pretória, África do Sul

Agricultura Natural Africa

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AFRICARTE – Associação para o desenvolvimento da Agricultura Natural, da Arte e da Cultura Africana

www.africarte.org

Áreas de atuação

Pólos agrícolas Hortas caseiras e escolares

Agroindústria artesanal Saúde Pública e Educação Alimentar

Teatro e Dança Ikebana Sanguetsu Grupos Corais


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