CAPITAL DA NOTÍCIA JORNALISMO UNIBRASIL
CURITIBA, 18 DE OUTUBRO DE 2014
#003. CENTRO HISTÓRICO
1240 feirantes têm encontro marcado todos os domingos no Largo
Foto: ©2011-2014/Ben Davener
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MELHOR CURSO DE
CURITIBA ENADE 2012
Grafite é arte, pichação é crime: entenda a diferença página 3
Revitalização da Riachuelo puxa aumento nas vendas página 4
Exclusivo: traficante afirma faturar alto no Largo página 6
EDITORIAL
Um espaço para todos
O jornal Capital da Notícia é um produto laboratorial do curso de Jornalismo da UniBrasil.
CAPITAL DA NOTÍCIA
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Tudo tem seu início a partir de uma ação, um ato, o primeiro tijolo. Com uma cidade não seria diferente. O marco zero de Curitiba encontra-se na região central, na qual também se encontra o Largo da Ordem, a Rua Riachuelo, o Passeio Público, dentre outros espaços importantes da cidade. O local é chamado, contemporaneamente, de Centro Histórico, uma região de grandes riquezas. E por valorizarmos a tradição, história e cultura, lançamos o Capital da Notícia – Centro Histórico. Nossos repórteres foram às ruas para conhecer de maneira mais profunda a região, seus pontos positivos e negativos, para que pudéssemos mostrar da maneira mais verdadeira possível o cotidiano daqueles que frequentam o local por trabalho, moradia ou lazer. Foram dias à procura de boas histórias, conversas com comerciantes, moradores e turistas.
OMBUDSMAN
Mesmo com dificuldades, surge um novo olhar sobre o Centro Histórico Por Andreza Santos
nalistas de amanhã. Por ser período de eleições, os futuros jornalistas cruzaram com algumas fontes com medo ou receio de dar declarações, ou com fontes especializadas dificultaram a apuração dos fatos. Algumas delas responderam à reportagem apenas com silêncio. Mesmo assim, todos deram o melhor de si, procuraram olhar para questões que, muitas vezes, por falta de tempo ou espaço nas páginas, ninguém percebe, mostrando um “novo” Centro Histórico aos leitores. E a segunda edição será ainda melhor, com repórteres mais firmes e insistentes. A primeira edição do Capital da Notícia – Centro Histórico foi uma descoberta e aprendizado para todos.
O Capital da Notícia é um ótimo laboratório para os alunos de Jornalismo. É uma oportunidade para que os estudantes, então repórteres, sintam como é a rotina dentro de uma redação. Neste semestre, o tema escolhido para o jornal foi o Centro Histórico, coração da cidade de Curitiba. Lugar em que tudo acontece, o marco zero. De onde saltam veias que bombeiam vida para todas as regiões. A ideia é apresentar o local como realmente é, nas suas múltiplas contradições: agitado, da família, do comerciante, do traficante, da noite e do dia. Muito além
do Largo da Ordem, passando pela Rua Riachuelo, chegando até o Passeio Público. Sem pré-conceitos. Porém, alguns empecilhos por vezes prejudicam a ação dos repórteres. A dificuldade no momento da apuração dos assuntos pode e, provavelmente, irá ser percebida em alguns dos textos. A falta de entrevistados que se dispusessem a ajudar impediu que os alunos se aprofundassem em questões importantes. O fato de o jornal ser produzido por estudantes também atrapalha, pois há pessoas enxergam como brincadeira algo que, na verdade, é bastante sério. Afinal, estes serão os jor-
Procuramos dar voz à pluralidade de pessoas que escolhem o Centro Histórico como ponto de encontro. Nesta primeira edição do jornal, os leitores encontrarão matérias que falam a respeito da coleta de lixo, bares, revitalização e tráfico de drogas, por
exemplo. Buscamos formas de contemplar o maior número de assuntos possíveis e o que ficou de fora, por falta de espaço, será abordado na edição seguinte. A intenção deste veículo é mostrar um lugar no qual tem espaço para todos e res-
gatar a importância do Centro Histórico, dando ferramentas para que a população possa conhecê-lo como realmente é. Desta forma, buscamos estimular a reflexão sobre o município e seus ocupantes, promovendo a cidadania.
FACBRASIL - TURMA 2014. Editora chefe Evellyn Ezidio Editor de imagens Fernando Garcel Editora de opinião Andreza Juliana dos Santos Repórteres Adeline Bordin, Andreza Juliana dos Santos, Andreza Paula Rossini, Camila Babeto, Caroline de Paula, Evellyn Ezidio, Fernando Garcel, Franciele Fries, Henrike Rebelo, Indiara Cordeiro, Isabela Dota, Kelly Pedrita, Lucyo Alves, Marseille Nachreiner, Sabrine
Kukla, Sergio Gabriel, Thays Zeni, Wando Silva Projeto Gráfico e diagramação Agência MARTINS Professora responsável Profª Ms. Maura Oliveira Martins FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – FACBRASIL Rua Konrad Adenauer, 442, Tarumã, Curitiba - PR 82.821-020 / (41) 3361 4200. • www.unibrasil.com.br . • jornal.unibrasil.com.br. • capitaldanoticiacentro-
historico.blogspot.com.br Dúvidas e sugestões para jornalismo@unibrasil.com. br. Curta o Capital da Notícia no Facebook http://on.fb. me/1ua00t9. Material integrante da disciplina Redação Jornalística IV do 4º período.
EXPEDIENTE
Presidente Clèmerson Merlin Clève Diretor Geral Jairo Marçal Diretora Acadêmica Lilian Ferrari Coordenadora do Curso de Jornalismo Maura Oliveira Martins
CAPITAL DA NOTÍCIA O JORNAL CAPITAL DA NOTÍCIA É UM PRODUTO LABORATORIAL DO CURSO DE JORNALISMO DA
MELHOR CURSO DE
CURITIBA ENADE 2012
LARGO DA ORDEM
Conheça o funcionamento da Feira Livre do Largo Com espaço para quase todos, desde 1973 o Centro Histórico abriga a maior feira livre da capital Por Fernando Garcel
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Cerca de dez mil pessoas aos domingos frequentam a Feira do Largo Ordem segundo o Instituto de Turismo de Curitiba Foto: Fernando Garcel
os custos da montagem e desmontagem das barracas, que somam R$25 por semana, segundo a feirante Mirian Cristina Santos que, há 20 anos produz tricôs e tapetes pintados à mão. Segundo a coordenadora de feiras de artesanato de Curitiba, Marily Pires Lesnau, atualmente existe cerca de 200 protocolos em espera. Os pedidos já foram analisados e
classificados, mas o principal problema é aguardar o surgimento de uma vaga e depois localizar o interessado. “Quando a vaga surge e achamos o material legal, às vezes, não localizamos o feirante ou ele já não tem mais interesse”, cita Marily, o que demonstra que há um rígido processo para a participação na feira, o que exige paciência dos interessados.
CONFIRA “As mãos que tricotam um futuro”. Leia esta crônica online. http://on.fb. me/1ua00t9
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Faça chuva ou faça Após a solicitação, uma sol, curitibanos e turistas Comissão de Avaliação, aproveitam a diversidade especializada em artede produtos artesanais ex- sanato, analisa os pedipostos no Centro Históri- dos e os classifica levanco. A feira livre abriga do em consideração a 1240 barracas aos do- qualidade e originalidade mingos das 8h às 14h. dos produtos ofereOs feirantes, em sua cidos, como também, maioria, são expositores suas características arexclusivos da Feira do tesanais. Um requisito Largo da Ordem, como fundamental para o iné popugresso de larmente um novo conhecida. feirante Interessados em Para ter é ser feiexpor na Feirinha um espaço rante em na Feira devem protocolar uma das do Largo, um pedido junto ao 23 feiras o comer- Instituto de Turismo livres que ciante inocorrem de Curitiba. teressado nos bairros deve produrante a tocolar um pedido junto semana. ao Instituto de Turismo Quando o interessade Curitiba com seus do consegue espaço na dados pessoais e fo- feira, paga à Prefeitura de tos dos produtos que Curitiba uma taxa simserão comercializados. bólica de R$140 ao ano e EXPRESSÃO DA RUA
Grafiteiros revitalizam o Largo da Ordem Em uma ação com a Prefeitura, grafiteiros dão mais cor ao Centro Histórico
A Prefeitura de Curitiba gasta cerca de R$ 1 milhão na recuperação de patrimônios públicos alvos de pichações. E para diminuir esse valor e revitalizar a região do Largo da Ordem, em parceria com a Associação Comercial do Paraná, deu início à “Ação do Grafite”. Vários artistas foram convidados a ilustrar nas portas dos comércios seus desenhos, utilizando como tema, “Memórias e Histórias de Curitiba”. Michael Devis é um dos artistas convida-
dos. Grafiteiro há 16 tes clássicas”, comenta. Para a maioria dos anos, seus trabalhos são inspirados nas loli- grafiteiros, o principal tas dos mangás, jovens objetivo é mostrar sua arte. Tanto típicas jao grafite p o n e s a s. quanto a As lolitas Segundo a Lei nº pichação de Devis têm como 9.605 Art. 65, pichar são uma marca o é crime/vandalismo. forma de m a n i f e scabelo tação urazul. Seus desenhos ficaram tão bana, então, qual é difamosos que viraram ferença entre o grafite exposição, no começo e a pichação? Os deste ano, no Museu grafites são desenhos Memorial de Curitiba. coloridos e uma é arte “Como grafiteiro sem- – e legal, geralmente é pre quis mostrar que a permitido pelo propriarte urbana é tão im- etário do imóvel, já as portante quanto as ar- pichações são geral-
“
mente rabiscos pretos e foscos em prédios e construções, muitas vezes abandonados e é crime ambiental, com pena de detenção que pode variar de três meses a um ano, além de multa, segundo a Lei nº 9.605 Art. 65, caracterizado como vandalismo. Porém, para Leandro Ventura, grafiteiro há 8 anos, não há tanta diferença: “não existe grafiteiro que nunca pichou na vida. Pichação também é arte”.
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Por Marseille Nachreiner
CONFIRA Entenda como funciona o “código de ética” dos grafiteiros. Continue acompanhando esta matéria online. http://on.fb. me/1ua00t9
COMÉRCIO LOCAL
Revitalização da Riachuelo traz crescimento ao comércio local Dados apontam aumento significativo nas vendas e nas condições de segurança na Rua Riachuelo após conclusão das obras Por Kelly Pedrita
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Com o objetivo de preservar prédios históricos e valorizar pontos tratados como “espaços problemas”, a Prefeitura de Curitiba realizou em 2010 um grande projeto de revitalização do Centro Histórico. A Rua Riachuelo foi uma das primeiras ruas a passar pela transformação, e foi o local mais beneficiado. A pavimentação da rua e a instalação de câmeras de segurança no local reduziram 17% dos furtos e 33% dos assaltos na região, segundo dados da Secretaria Pública de Segurança. Quatro anos após a realização das obras, as mudanças também
geraram aumento significativo nas vendas do comércio. Dados do grupo Rede Empresarial do Centro Histórico mostram 20% a mais no faturamento das empresas com relação a dados colhidos antes da conclusão do projeto. AUMENTO NO COMÉRCIO Maribel Mattos, proprietária da loja de móveis Ideal, situada na Riachuelo, mostra-se satisfeita com as mudanças: “A loja e o número de clientes só cresceram nos últimos anos. Com essa revitalização, a rua está mais bonita e recebe muitos visitantes aos fins de se-
mana. O local está mais seguro”. A empresária também aponta o interesse comercial na região após a revitalização: “Antes, a Rua São Francisco estava praticamente abandonada. Hoje o movimento nos comércios cresceu. Há um interesse por parte dos empresários em investir nas proximidades, dois bares inauguraram aqui perto só esta semana”. REFORMAS ESTÉTICAS Para o taxista José Santos, que atua na região há mais de 20 anos, a visão sobre as mudanças não é otimista. “A obra melhorou na
parte estética, mas os problemas continuam. As fachadas receberam reforma e pintura, as calçadas e vias foram reformadas, só que a marginalidade continua, diminuiu, mas ainda é presente. Como taxista, presencio várias situações”, conta. Santos acredita que o problema só será resolvido quando não existirem mais os bares que abrigam prostitutas e funcionam praticamente o dia todo na região: “Esses bares, ‘inferninhos’, atraem muitos ladrões e usuários de drogas. Creio que esses locais não ajudam na melhora da segurança”.
Melhorias no comércio de Curitiba O processo de revitalização do Centro Histórico começou pela Riachuelo em 2005, passou pela São Francisco e, segundo o assessor da presidência da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio-PR), Paikan Salomon, deve continuar. Hoje a revitalização alcança até a região do relógio das flores. Todo ano a Fecomércio patrocina 5 eventos na região do Centro Histórico, em Curitiba, são eles: Festival de inverno, Virada cultural, Dia das crianças, Natal do CH e Festival gastronômico. Durante esses períodos o faturamento das empresas cresce 40%. Ainda de acordo com Salomon esse é um índice que melhora a cada ano. Fonte: Fecomércio
Aumento nas vendas 3%
Aumento na empregabilidade 2,92%
Empresas atendidas
2005
2009
2014
60
600
1300
Fonte: Fecomércio Fonte: Fecomércio / Dados de 2013
Valorização após a revitalização • Aluguel - 60% • Venda - 70%
Aumento nas compras 2,11% Fonte: Fecomércio
EDUCAÇÃO
Preços de cursos profissionalizantes assustam estudantes Apesar da boa localização e qualidade dos cursos, alunos reclamam de valores inacessíveis Por Evellyn Heloise
Os valores são de R$ 550 mensais a R$ 920 por pacote de curso completo. O curso de fotografia, considerado um dos mais baratos e procurados da instituição, tem duração de oito dias, custa R$ 550, mais uma inscrição de R$ 35. A estudante Francielly Gomes, de 17 anos, reclamou dos altos preços oferecidos pelo Solar do Rosário. “Seria uma ótima opção de curso, pela localização e qualidade dos professores, porém o preço é inacessível, não teria condições de pagar, quase a mensalidade de
uma faculdade particular, que compensaria muito mais”. JáoestudanteMatheus Farias, de 16 anos, comenta que cursos profissionalizantes o ajudariam, mas os preços inacessíveis de alguns influenciam diretamente em suas escolhas. “Eu não faria um curso de fotografia que custasse mais de R$300 mensais, pois apesar da rapidez que terei conhecimento na área, não compensará todo o dinheiro investido, assim como não será fácil encontrar emprego com a mesma rapidez”.
MEIO AMBIENTE
Coleta de lixo na Riachuelo deixa a desejar Apesar das melhorias com a revitalização, comerciantes e moradores reclamam da falta de coleta de lixo aos sábados e domingos Por Andreza Santos
A Rua Riachuelo é conhecida pela grande quantidade de lojas de móveis e é passagem certa para quem deseja mobiliar a casa. São 53 comércios que abrem também aos sábados. Com isso, ao final do expediente, sacos de lixo são deixados nas portas dos imóveis para que sejam coletados, mas é comum as mesmas sacolas estarem lá ainda na segunda-feira pela manhã. A Riachuelo é frequentada por turistas e moradores que vão a Feirinha do Largo da Ordem, Passeio Público e Rua São Francisco, e são obrigados a se deparar com a sujeira. Segundo o Departamento de Limpeza Pública de Curitiba, a coleta é feita sem itinerário fixo no Centro da cidade e não existe proposta para aumentar a coleta para os domingos. Na gestão do então
O acúmulo de lixo nos finais de semana é resultado de má organização da coleta seletiva Foto: Andreza Paula
prefeito Beto Richa, o lo- não entraram no projeto. cal passou por revitalização De acordo com Oswale,de acordo do Matter, a Prefeitu58 anos, ra, foram dono da gastos R$ Alfaiataria As calçadas 800 mil em Riachuelo, a melhoraram, mas o melhoreforma foi lixo continua se rias como somente o calçaestética: acumulando aos mento e “as calçadas finais de semana. iluminação. melhoraram, Oswaldo Matter, Porém, mas o lixo comerciante. questões continua se que enacumulanvolvem a coleta de lixo do aos finais de semana.
“
Sacos são rasgados e a sujeira espalhada por baderneiros ou usuários de drogas”. Matter ainda afirma que o problema não é só a falta de visibilidade da administração pública, mas também a falta de interesse. “O atual prefeito só passou por aqui na época de eleição. Agora o Centro está abandonado, não tem planejamento e nem manutenção básica”.
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Estado do Paraná (FIEP). Dois deles estão no Centro Histórico de Curitiba, mais precisamente no Largo da Ordem: o Solar do Rosário, localizado ao lado da Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito, e o Solar do Barão, que fica próximo ao Passeio Público de Curitiba. No Solar do Barão são ofertados cursos de artes visuais para crianças e adultos, cujos preços e descrições não foram divulgados. Já no Solar do Rosário são realizados cursos de música, fotografia, paisagismo, atelier de joalheria, e línguas através da música, entre outros.
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A valorização de profissionais no mercado de trabalho reflete a busca por cursos profissionalizantes e técnicos. Motivados pela formação rápida, os estudantes procuram cursos que trazem experiência em áreas mais detalhadas. Em razão disso, os preços cobrados pelos serviços têm crescido. No Paraná, a realidade não é diferente. Muitos centros educacionais que oferecem estes cursos foram abertos nos últimos dez anos, segundo o Cadastro das Indústrias do Paraná de 2014, da Federação das Indústrias do
DROGAS
Traficantes vendem drogas no Largo da Ordem e faturam alto Comércio ilegal rende em média três mil reais por noite Por Indiara Cordeiro
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CONFIRA Quem é Sara? Quem escuta os pedintes? Continue acompanhando esta matéria online. http://on.fb. me/1ua00t9
Jovem de 27 anos, que já cumpriu pena por homicídio, afirma que as atividades de compra e venda de ilícitos no Largo da Ordem, funciona a todo vapor. O rapaz que se autodenomina líder do tráfico na região afirma que fatura em média três mil reais por noite com a venda de crack, cocaína e maconha. Há mais de dez anos no crime, Zé, como prefere ser chamado, diz que não mora na região central, mas que os pontos de venda se estendem por todo Centro Histórico. “O território é marcado. Cada bando fica no seu ponto, ninguém atravessa a atividade do outro”, relata. O traficante conta que as drogas são distribuídas em pequenas quantidades para os outros integrantes do grupo, que
Tráfico de drogas faz parte do dia a dia do Centro Histórico Foto: Indiara Cordeiro
optaram por não dar nenhum depoimento a pedido do “chefe”, que durante a entrevista, no calçadão do Largo, dava ordens e atendia o telefone. Os usuários, alguns já conhecidos do grupo, não se intimidaram e compraram a droga durante a conversa. “Doutores, universitários, moradores de rua...” não
há distinção de classes, explica Zé, ao contar que a cocaína é a droga mais vendida seguida do crack. Nesse ano, com o apoio da Denarc, a Guarda Municipal apreendeu mais de 900 pedras de crack e duas mulheres foram presas no Largo da Ordem. O diretor geral da Guarda Municipal de Curitiba, Clau-
dio Frederico Carvalho, disse que o monitoramento é acentuado na região, e que qualquer denúncia é investigada: “A Guarda Municipal atua para a proteção e a segurança da população. O número 153 pode ser acionado de qualquer telefone, 24 horas por dia”, diz.
A VIDA NAS RUAS DO CENTRO HISTÓRICO
Abordagem de pedintes é intensa no Largo da Ordem Mendicância atrapalha o comércio e o turismo na região, mas quem está em situação de rua vê o Centro Histórico como uma possibilidade de renda Por Andreza Paula
Eles são muitos, cada um tem seu jeito, mas todos param de mesa em mesa pedir uma moeda, um cigarro ou algo para comer. As abordagens dos pedintes acontecem cerca de quatro vezes a cada hora para quem está parado no Largo da Ordem, de acordo com um experimento feito pela equipe de reportagem. Oito dos dez comerciantes entrevistados apontam a situação como o maior problema do local. Segundo o historiador e sacerdote da Igreja da Ordem, Alcides Andrade, os mendigos que ficam na região
trazem insegurança e afastam os visitantes. “Nós recebemos pessoas de todos os cantos do mundo, todos os dias, mas eu percebo que eles se sentem inibidos com a situação”. ESMOLAS A moradora de rua Sara, de 28 anos, explica porque prefere essa região do Centro Histórico. “Aqui é um lugar onde só não ganha dinheiro quem não quer. Dá para conseguir trabalhando, roubando, traficando ou pedindo. Quando eu estou aqui não passo fome e nem frio”, afirma. Ela
ainda conta que não há dificuldade em abordar os transeuntes: “grande parte das vezes eu ganho alguma coisa. As pessoas doam - principalmente comida, sem reclamar e nem ameaçar ligar para a Guarda Municipal”. Segundo a porta voz da Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS), Karla Tavares, não é recomendado ajudar quem está pedindo esmolas: “A ideia do atendimento à população em situação de rua é justamente recuperar os vínculos sociais e familiares, bem como proporcionar meios para o resgate da autonomia do
indivíduo. Por isso, toda a prática que fortalece o vínculo da pessoa com a rua é considerada negativa”. O sociólogo Thiago Rosa afirma que “pedir esmolas” é sintoma de um problema muito maior. “É interessante lembrar que várias pessoas preferem a mendicância por representar uma fonte de renda maior do que conseguiriam com uma carteira assinada. Tratando-se de uma perspectiva ampla, a mendicância é algo que pode viciar e limitar as possibilidades”, explica.
PASSEIO PÚBLICO
Projeto de revitalização do passeio Público é abandonado Até dezembro de 2013, somente obras de emergência, como a nova pavimentação da pista de corrida, foram entregues. O tão esperado projeto da prefeitura segue parado Por Lucyo Pinheiro
Em 2013 o atual prefeito, Gustavo Fruet, em conjunto com a Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) e Secretaria Municipal do Abastecimento (SEM-
AB), anunciou um projeto revolucionário que transformaria o Passeio Público no Central Park curitibano. Só que já estamos em outubro de 2014 e, em relação ao projeto, apenas a pista de corrida foi entregue. Os problemas do local são inúmeros: falta de placas de sinalização
com os nomes dos animais, limpeza do lago e manutenção dos banheiros, sem contar a falta de segurança. Tráfico de drogas e prostituição ocorrem em frente ao Núcleo de Proteção ao Cidadão da Polícia Militar sem que as autoridades façam nada a respeito. Quem trabalha no local,
EMPREGO
Oportunidades de empregos em Curitiba atraem haitianos Haitianos encontram facilidade de emprego no Centro Histórico Por Sergio Gabriel
As ofertas de empregos fizeram de Curitiba um dos destinos preferidos dos haitianos que vem ao Brasil em busca de uma vida melhor. Rose Guimarães, técnica administrativa da Agência do Trabalhador de Curitiba, revela o panorama geral do mercado para esses imigrantes: “2014 está sendo um ano com grande expectativa para o mercado, principalmente nas áreas de serviço e da construção civil que apresentaram crescimento acentuado. Isso tem atraído os haitianos para cá”. Elizete de Oliveira, as-
sistente social do Comitê quem tem curso superiEstadual do Refugiado, or em seu país de origem diz que em Curitiba vivem encontra dificuldade em cerca de 3 mil haitianos. revalidá-lo no Brasil. Isso se confirma no Josaphat lamento de Saint-Juste, Pierre Lefeque traEm Curitiba vivem dor, que trabalha como g a r ç o m cerca de 3 mil haitianos. balha como em um bar Elizete de Oliveira, garçom em do Largo assistente social. um restaurante no da Ordem, Bairro São afirma que os conterrâneos têm es- Francisco: “tenho forcolhido o sul e sudeste do mação em Biologia mas o Brasil pelas vagas de em- meu diploma não é aceito no Brasil e para revalidá-lo prego. Segundo Guimarães, a é burocrático e caro”. Devido a dificuldades maioria dos haitianos está na construção civil, bares e de adaptação no Brasil, lanchonetes, pois mesmo não são todos os hai-
“
tianos que conseguem emprego, por isso alguns se envolvem em furtos e tráfico de drogas. “Tenho amigos que estão na ilegalidade por estarem desempregados”, afirma o haitiano. Na praça Tiradentes, onde há uma concentração de haitianos aos sábados, encontramos esses grupos. O haitiano L., que não quis se identificar, assume o uso de drogas e bebidas para superar a saudade de casa e esquecer dos problemas. Na falta de dinheiro, ele furta. ” É fácil furtar os brasileiros. São muito distraídos”.
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Foto: Lucyo Pinheiro
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Com projeto de revitalização parado, Passeio Público virou palco de prostituição
como o comerciante Tony Ever, fica indignado com a situação. “A Polícia Militar não faz nada, e de vez em quando organiza uma ronda ou outra. Estão ali para ficar de enfeite mesmo”. Criado em 2 de maio de 1886, o Passeio Público é o mais antigo parque da capital paranaense, além de ter abrigado o primeiro zoológico da cidade. Com 69.285 m² de área central, é um dos símbolos curitibanos mais conhecidos e precisa dessa revitalização estrutural e social. A reportagem entrou em contato com os órgãos de apoio do projeto e a Prefeitura, mas não obteve nenhuma resposta concreta.
INCENTIVO À LEITURA
Programa de incentivo à leitura transporta jovens ao mundo dos livros Curitiba desenvolve projeto que promete diminuir a distância entre os jovens e a literatura Por Franciele Fries CONFIRA Ficou interessado em pegar um livro emprestado? Saiba como acompanhando a matéria online. http://on.fb. me/1ua00t9
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CONFIRA Conheça o guia boêmio do Centro Histórico. Veja o guia online. http://on.fb. me/1ua00t9
O programa “Curitiba Lê” abrange e gerencia 13 espaços públicos de acervo literário na cidade, entre eles, as Casas, o Bondinho e a Estação da Leitura. Além disso, o programa também oferece diversas ações gratuitas mediadas no campo da literatura, como rodas de leitura e conversação, tanto nos espaços como em Instituições parceiras na comunidade. Situada no Largo da Ordem, a Casa da Leitura Dário Vellozo possui um acervo repleto de obras que despertam a imaginação de pais e filhos. “A leitura é importante, pois, de certa forma, incentiva a criança e
o adolescente a crescer como um ser humano mais sociável, além de instigar o domínio da língua”, diz Marcelo Mota, analista de sistema, frequentador das casas da
também os estudantes de vestibular, como Bianca Rocha, de 17 anos, estudante do Colégio Tiradentes. A adolescente optou pelo curso de Fisioterapia, e se diz
leitura há aproximadamente três anos e pai de dois filhos, Laura, de 11 e André de 8 anos. Os livros contemplam
interessada pela leitura. “O contato com a língua portuguesa é extremamente importante para uma boa redação”. Ela
acredita, por experiência própria, que os jovens de sua faixa etária não tenham contato com a literatura por falta de incentivo dos pais e educadores. O objetivo do projeto é funcionar como um centro de estudos e pesquisas voltado à leitura, assim, atraindo a população curitibana, instigando hábitos diferentes. “É necessário estabelecer espaços de troca, de diálogo e de contato com a literatura através do prazer que esta nos pode proporcionar”, afirma Alisson Fryer Dissenha, mediador de leitura da casa.
VIDA BOÊMIA
Diversidade é ponto marcante nos bares do Largo da Ordem Seja para um jantar, um aperitivo ou o último copo da noite. Com características plurais, os bares do local atendem aos mais variados interesses Por Isabela Dota
Em volta das mesas, aquelas velhas discussões sobre tudo e nada, como definiu Mário Quintana naquele poema sobre beber até o crânio rachar e o teto ruir. No ar ecoa algum pop brega dos anos oitenta. Bebida tem aos montes. Comida também. Tradicional reduto da boemia tardia, os bares do Largo da Ordem estão entre os mais agitados de Curitiba, segundo a Associação Brasileira de Bares
e Restaurantes (Abrasel). Situados em uma antiga rua de pedras, o núcleo é formado por inúmeros bares, uns mais charmosos e outros com cara de botecodebairro.Aosfinais de semana, isso é o que menos importa: todos acomodam uma nuvem de fumo, de música alta e de gente ruidosa. Não são bares de classes, nem de gênero, nem de cotas ou castas. Ponto de encontro das mais variadas tribos, A boemia curitibana, de todos os estilos, se encontram no Largo da Ordem Foto: Isabela Dota
o espaço é cosmopolita e a diversidade é pulsante. Quem frequenta a região garante: as noitadas percorrem diferentes gostos e estilos. “Jovens comportados ou bagunceiros, mocinhas procurando um par, motoqueiros com pinta de rebelde e turistas simpáticos. Tem de tudo”, conta Daniel Henrique, de 32 anos, que já trabalhou como garçom em dois bares locais. Os ambientes seguem a mesma linha. Alguns optam por uma decoração rústica, outros dão um tom mais futurista ao cenário. A excentricidade fica por conta dos cardápios, que comportam das tradicionais porções às comidas exóticas, como carne de
avestruz e jacaré. Os drinques também causam curiosidade. Um dos mais conhecidos é o submarino, bebida que é servida com um souvenir: uma pequena caneca que carrega a frase “esta caneca foi honestamente roubada”. Reza a lenda que, se não conseguir mais ler a inscrição, está na hora de parar de beber e ir para casa. Depois de pedir a saideira, ir embora não é problema – nem mesmo se extrapolar com a bebida. Como não há um espaço destinado a estacionamento para quem vai aos bares, o ponto de táxi e a parada de ônibus, que ficam a menos de 200 metros do núcleo, podem vir a calhar.