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ARQUITETURA DE BORRACHA
from Ed151
by Aspa Editora
ARQUITETURA DE BORRACHA: Não-convencional e versátil
Por: GIOVANNA SPALLETTA
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Material ganha cada vez mais espaço em notáveis projetos de arquitetura. A descoberta da versatilidade da borracha cria novas possibilidades de design como aplicação em fachadas e soluções para interiores de projetos arquitetônicos
©KONSTANTIN KOLOSOV/PIXABAY
Rubber Holiday Home / Benthem Crouwel Architects. Foto: Jannes Linders.
Na maioria das vezes, a borracha não é considerada um material de construção convencional – pelo menos não na mesma proporção que materiais como madeira, concreto ou vidro. Mas sua versa� lidade por poder ser moldada em qualquer formato, ser a prova de fogo ou ter diversas formas de aplicação, faz com que cada vez mais se torne um material presente em obras arquitetônicas. A borracha é comumente usada em interiores para pisos de cores ou brilho extraordinários, e ainda mais inesperadamente para fachadas com aspectos exclusivos ou efeitos de acolchoamento. Essa funcionalidade é mo� vada por vantagens exclusivas, como suavidade, elas� cidade, durabilidade e consistência de cores. Originalmente criada a par� r da seiva de látex das seringueiras, a borracha é uma substância elás� ca naturalmente forte. Mais tarde, descobriu-se que poderia ser reproduzida sinte� camente através de uma combinação de materiais naturais e sinté� cos, com resultados quase idên� cos. Dependendo do uso e das qualidades desejadas da borracha, as empresas modernas também introduziram cargas minerais, pigmentos naturais e aceleradores de vulcanização durante o processo de produção da borracha. Essa capacidade de introduzir pigmentos naturais é propícia à produção de pisos coloridos e brilhantes. O tipo de piso do Music Center Theatre Teca do Dapstudio, em Bérgamo, Itália, por exemplo, acrescentou personalidade estética ao edifício ao ser aplicado em laranja. Ao mesmo tempo é funcionalmente recomendado para edifícios públicos e de alto tráfego, onde é necessária demarcação de circulações, facilidade de limpeza, propriedades antiderrapantes e redução de ruído.
Music Center Theatre Teca / Dapstudio.
Fotos: Filippo Romano.
Por outro lado, podendo ser moldada em diversos formatos, a borracha apresenta uma versa� lidade de modifi cação de super� cies e texturas que permite a expansão de seu uso. No CDGIA – Liège Centre for
Group Dynamics and Ins� tu� onal
Analysis, projetado pelo Dethier Architecture, em Seraing, Bélgica, o pequeno orçamento promoveu o uso de materiais de baixo custo. Para minimizar a manutenção dos telhados sem beirais, foram u� lizadas folhas pretas de borracha para cobertura, permi� ndo a obtenção de uma super� cie curva. Associada ao uso de paineis de policabornato nas fachadas, divisórias internas de vidro, piso de concreto polido e tetos de aço corrugado, essa cobertura confere ao prédio uma esté� ca industrial. Essa aplicação só é possível devido ao processo de vulcanização, que move con� nuamente o material entre os cilindros de metal a altas temperaturas, produzindo uma � ra de borracha perfeitamente regular, con� nua e plana. Já na Soundhouse, de Jeff erson Sheard Architects, que abriga o departamento de música da Universidade de Sheffi eld, Reino Unido, a fl exibilidade inata da borracha está presente na escura fachada, que possui manipulação preta semelhante a um estofamento. Cada fachada exterior é envolta em uma única folha de borracha de meia tonelada, composta por várias pequenas folhas que foram soldadas. Suas propriedades naturais de redução de ruídos também são aproveitadas no interior do edi� cio, em diversas salas de ensaio e estúdios de gravação, fazendo o isolamento acús� co existente no projeto.
CDGIA – Liège Centre for Group Dynamics and Institutional Analysis / Dethier Architecture. Fotos: Serge Brison.
Soundhouse / Jeff erson Sheard
Architects. Fotos: Jeff erson Sheard Architects.
resíduo para o meio-ambiente. No pavilhão “Belly of the Beast”, de Burn Ritani, na Nova Zelândia, a inspiração veio da frase do arquiteto Jeremy Till, que dizia que “toda arquitetura é lixo de construção em trânsito”. Foi levantada uma estrutura abstrata, com quase 12 metros de altura, coberta de pneus de cami-
O resgate histórico de construções também pode ser benefi ciado pelo uso deste material. Na Rubber Holiday Home”, na ilha de Texel, costa da Holanda, o formato de an� gos galpões agrícolas pode ser reconstruído em uma nova residência, usando telhado e paredes construídos com painéis de madeira compostos pré-fabricados e borrifados com borracha líquida HB S-200 para criar um acabamento à prova d’água. Camadas de redes coloridas, uma homenagem ao pescador que primeiro habitou a ilha, foram colocadas sobre a borracha preta, dando à fachada um aspecto lúdico. A arquitetura temporária também se apropria das caracterís� cas da borracha e de sua representa� vidade como
Rubber Holiday Home / Benthem Crouwel
Architects. Foto: Jannes Linders. nhão picados. Todo o interior foi pintado de vermelho, incluindo a escada de madeira que levava a uma pequena plataforma de observação no topo. Conforme planejado, após um ano, o pavilhão foi desmontado e os pneus reciclados em lascas de borracha para os estábulos de um clube equestre local. Com toda essa versa� lidade, diminuição de ruídos, resistência às intempéries e ao fogo, baixa toxicidade por fumaça e pouca difi culdade de reciclagem, a borracha vem aos poucos se tornando um material viável e muitas vezes ideal para uso em projetos arquitetônicos específi cos, com caracterís� cas peculiares e diversas.
Bibliografi a
ArchDaily – Rubber Skin Buildings: A Malleable, Seamless Architecture, Lilly Cao Archi� zer – Bounce Back: 7 Resilient Rubber Buildings, Jon Cornachio.
Belly Of The Beast / Burn Ritani.
Fotos : Sam Hartnett.