Camponês analfabeto o que é que é isso, doutor oliveira de panelas

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Camponês “analfabeto” O que é que é isso, Doutor?1 Oliveira de Panelas2 Seu Doutor, os Sertanejos, Só têm muita gratidão À ciência e ao cientista Da Embrapa Algodão. Mas, Doutor, se essa ciência Vier com humilhação, Enjeitamos, e só queremos Se vier do coração

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Interpretação popular da entrevista do novo Chefe da Embrapa Algodão no noticiário Jornal Integração da rádio Campina FM, às 07:33 da manhã do dia 14 de Janeiro, 2014, Campina Grande-PB, quando prometeu ciência e tecnologia, “embutidas na semente”, até para “agricultor analfabeto”. 2 Repentista, poeta e cordelista. Prêmio ‘Melhor Poeta-Repentista do Brasil’ em 1997; reside em João Pessoa-PB. Site: <www.oliveiradepanelas.com> E-mail: <op@oliveiradepanelas.com>


1. Doutor Entomologista, Que fala tanto em ciência, Cadê sua consciência? Vamos passar em revista A lamentável entrevista No “Jornal Integração”3? Tem poder, na sua mão. Porém, não tem o direito De faltar com o respeito A quem produz nosso pão.

3. Lembra que naquele dia, Falando do seu Projeto, Que pro homem “analfabeto” Muita ciência teria? Alta tecnologia Embutida na semente? Que, em estado latente, Pode ter muita surpresa. Pro homem e a natureza, Pode ser “batata quente”.

2. O camponês é tesouro Do Semiárido da gente. Tem saber suficiente Que vale mais do que ouro. Sabe, o Senhor, de besouro. Isso lhe faz Professor. Mas, o nosso agricultor Vale mais que um inseto. Quem é o “analfabeto”? Responda pra nós, Doutor!

4. A ciência foi usada Ao longo de sua história. Para alcançar sua glória, Sempre foi subordinada. Por ela, manipulada, A semente se revela. Sinto que nessa esparrela Há poderes tectônicos, Interesses econômicos Que são servidos por ela.

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Noticiário da rádio Campina FM 2


5. Quebrando o código da vida, Com o auxílio da genética, Afastando-se da ética, Dando espaço ao herbicida. A esta prática ‘ecocida’ O bom senso não apoia. É ouro falso, esta joia. Olhe, Doutor, lhe garanto Que a semente da Monsanto É um “Cavalo de Troia”.

7. Doutor, me fale a verdade: Quando o Senhor estudou, Será que se aprofundou Em nossa realidade? Ou ficou pela metade, Com um saber incompleto? De onde vem seu Projeto? Nos responda, por favor. Declare agora, Doutor: Quem é o “analfabeto”.

6. Esta semente, Doutor, Subordinada ao poder, Retira todo o saber Que tem o agricultor. A ciência, sem pudor, Acaba a soberania, Destrói a autonomia Que o camponês possui. É assim que contribui A sua filosofia?

8. Não é dona da verdade, A ciência, seu Doutor. Porque nosso agricultor Também tem autoridade. Doutor em realidade, Com a sua mão ferida, Nas intempéries da lida, Não precisa ser “formado” Porque fez seu “Doutorado” Na faculdade da vida.

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9. O cientista, Doutor Tem o saber que lhe cabe. Mas, com certeza, não sabe O que sabe o agricultor. Vou demonstrar pro Senhor: Desde sua mocidade, Ele tem capacidade. Ele é, com consciência, “Analfabeto” em ciência, “Doutor” em realidade.

11. Por quê não dialogar, Num encontro magnífico, O seu saber científico Com o saber popular? Daí, pode germinar A melhor contrapartida, Proposta bem concebida. Pois queremos, na essência, Ciência com consciência Dirigida para a vida.

10. Em seu estudo teórico, O cientista é profundo. Mas, nos mistérios do mundo, Não pode ser categórico. Por este conceito histórico, Nenhum saber é completo. Cientista, seu Projeto, Sobre a Mãe realidade, Dá-lhe a possibilidade: Ser “Doutor analfabeto”.

12. Já pensou se Lampião Trabalhasse na Embrapa? Defenderia no tapa, Os saberes do Sertão. Maria Bonita, então, Falaria pro Senhor: Cuidado, faça o favor, De tratar bem seus “fregueses”. Mais respeito aos camponeses, Será bem-vindo, Doutor!

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