Editorial
O
avanço social e político da Agroecologia no Brasil é uma realidade inquestionável. Ele ocorre nas várias regiões a partir da multiplicação de experiências protagonizadas por famílias agricultoras e suas organizações, articulando também diferentes setores sociais direta ou indiretamente envolvidos nos rumos do desenvolvimento rural. Essa evolução positiva, no entanto, não deve ocultar o fato de que esse processo é marcado por dificuldades e algumas contradições que comprometem uma disseminação mais ampla e consistente do enfoque agroecológico na sociedade. Aumentar as escalas social e geográfica de experiências pioneiras nos próprios territórios em que as mesmas florescem, costuma ser um dos principais e mais recorrentes desafios apontados por organizações e redes do campo agroecológico. Apesar dos inúmeros registros de iniciativas promissoras, muitas vezes elas acabam por se consolidar isoladamente, formando ilhas de prosperidade com baixa capacidade de irradiação para o entorno imediato. Parece ser essa uma dificuldade de natureza metodológica relacionada à objetivação do conceito de Agroecologia nos contextos multidiversos em que a agricultura familiar luta para permanecer e prosperar. Ao propor o tema da Construção de Territórios Camponeses, esta edição procura justamente enfocar processos sociais que adotam o território como unidade geográfica para o planejamento da transição agroecológica e vêm irradiando seus acúmulos e resultados para além da escala das unidades familiares individuais ou das redes de agricultores que se identificam como ecologistas (ou orgânicos). Os artigos publicados revelam como o enfoque territorial vem sendo incorporado como nova perspectiva de ação estratégica para o campo agroecológico. Alguns deles sugerem que essa perspectiva implica o abandono em definitivo do viés difusionista que existe por trás da suposição de que experiências isoladas por si sós são portadoras de poder demonstrativo capaz de influenciar decisões de outras famílias e comunidades. As experiências relatadas demonstram que redes territoriais de inovação local que articulam famílias produtoras em diferentes estágios de transição apresentam-se como os dispositivos coletivos mais adequados para a criação de ambientes sociais voltados para o aprendizado mútuo e a disseminação em escala do enfoque agroecológico. Tendo o território como base material e referência identitária, essas redes convergem para o conceito de Agroecologia e dele se apropriam ao orientar suas estratégias para a construção de crescentes graus de autonomia técnica e econômica com base no emprego dos potenciais territoriais, sejam eles ecológicos ou socioculturais. É nesse sentido que essas redes apresentam-se também como espaços políticos de disputa pelo território com os agentes do capital financeiro e agroindustrial. Essa disputa manifesta-se na luta pela terra, mas também se expressa na decisão de substituir a semente comercial pela semente local ou na construção de canais curtos de comercialização de alimentos (orgânicos ou não) que permitam a aproximação entre produtores e consumidores no próprio território. É justamente ao fomentar e dar sentido estratégico a essas redes de agricultores territoriais que a Agroecologia pode se desenvolver na sociedade como um enfoque orientador de transformações profundas na ordem injusta, predatória e economicamente falida que domina o mundo rural contemporâneo. O editor
EXPERIÊNCIAS EM AGROECOLOGIA
ISSN: 1807-491X Revista Agriculturas: experiências em agroecologia, v.7, n.1 (corresponde ao v. 25, n. 4 da Revista Leisa) Revista Agriculturas: experiências em agroecologia é uma publicação da ASPTA – Agricultura Familiar e Agroecologia –, em parceria com a Fundação Ileia – Centre of Information on Low External Input and Sustainable Agriculture.
Rua Candelária, n.º 9, 6º andar. Centro, Rio de Janeiro/RJ, Brasil 20091-904 Telefone: 55(21) 2253-8317 Fax: 55(21)2233-8363 E-mail: revista@aspta.org.br www.aspta.org.br Fundação Ileia P.O. Box 2067, 3800 CB Amersfoort, Holanda. Telefone: +31 33 467 38 70 Fax: +31 33 463 24 10 www.ileia.info CONSELHO EDITORIAL Claudia Schmitt Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - CPDA/UFRRJ Eugênio Ferrari Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, MG – CTA/ZM Ghislaine Duque Universidade Federal de Campina Grande – UFCG e Patac Jean Marc von der Weid AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia José Antônio Costabeber Universidade Federal de Santa Maria - UFSM Maria Emília Lisboa Pacheco Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional – Fase – RJ Romier Sousa Grupo de Trabalho em Agroecologia na Amazônia – GTNA Sílvio Gomes de Almeida AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia Tatiana Deane de Sá Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária – Embrapa EQUIPE EXECUTIVA Editor – Paulo Petersen Editor convidado para este número – Luciano Marçal da Silveira Produção executiva – Adriana Galvão Freire Pesquisa – Adriana Galvão Freire, Luciano Marçal da Silveira e Paulo Petersen Base de dados de subscritores – Nádia Maria Miceli de Oliveira Copidesque – Rosa L. Peralta Revisão – Gláucia Cruz Tradução – Rosa L. Peralta Foto da capa – Luís Cláudio Mattos (Mapeamento participativo em Mirandiba-PE) Projeto gráfico e diagramação – I Graficci Comunicação & Design Impressão: Sol Gráfica Tiragem: 6.800 A AS-PTA estimula que os leitores circulem livremente os artigos aqui publicados. Sempre que for necessária a reprodução total ou parcial de algum desses artigos, solicitamos que a Revista Agriculturas: experiências em agroecologia seja citada como fonte.