DIEGO QUINDERÉ EWA PRIESTER MARCELLE MANACÉS MARIA BEATRIZ MACHADO PRISCILLA BUHR RODRIGO ALCON QUINTANILHA
curadOria PHILIPE F. AUGUSTO 2014
Onde você está?
Esta pergunta surge como ponto de partida para estabelecer as relações entre os trabalhos aqui apresentados. O ambiente urbano é representado através de fotografias que vislumbram alguma relação entre o espaço geográfico e o espaço subjetivo. Estes espaços aparecem como indícios de poéticas que atravessam o cotidiano transitório nas cidades para representar um ambiente oposto e imergido no caos urbano. Neste sentido, há quase uma investigação nestes espaços em seus diversos aspectos, onde cada trabalho lida mais profundamente com certas situações ou vivências. Esta suposta investigação no meio urbano incorpora diferentes e peculiares visões de seis artistas-fotógrafos que vislumbram possíveis conexões entre imagem e pensamento para representar um ambiente poético dentro deste espaço caótico e trivial. São imagens que se apresentam como percepções particulares de um espaço que se modifica continuamente através da natureza e das criações do homem, mas que também perdura como origem de todas as coisas. As possíveis investigações aqui apresentadas também se relacionam como modos de pensar e habitar o espaço urbano através da presença das imagens na contemporaneidade, e aqui esta presença torna visível a existência da arte na vida. Desse modo, o transitório é capturado e contextualizado como meio de tornar real a própria realidade, através do pensamento destes artistas-fotógrafos em espaços que se modificam com o tempo. Os caminhos que guiam e produzem as possibilidades deste conjunto de fotografias através dos acontecimentos detidos nas imagens como fragmentos de um suposto espaço provisório, apresentam questões que abarcam seus possíveis significados: o fluxo urbano como narrativa coletiva e imaginária; o espaço do outro como retrato de âmbito privado; a ausência e o silêncio como visibilidade e discurso; os ambientes como memória afetiva e pertencimento; o espaço público como memória coletiva e destino, e o espaço urbano como território apropriado da natureza. Na modernidade, através do surgimento da fotografia e do aumento da velocidade do fluxo cotidiano nas cidades houve no mundo o desejo de tudo capturar e preservar na memória através das imagens. No mundo contemporâneo, a possibilidade de tudo armazenar com a presença das imagens produz uma espécie de cegueira e amnesia. Em meio a esta situação supostamente nociva, os trabalhos aqui apresentados também surgem como curador modos de pensar pertinentes à produção artística e ao espaço provisório das Philipe imagens na contemporaneidade. F. Augusto
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Diego Quinderé
Qual a possibilidade de construir uma narrativa através do cotidiano transitório? É a partir de diversos fragmentos do fluxo cotidiano no ambiente urbano que a obra de Diego Quinderé estabelece uma tentativa de construir narrativas através de paisagens humanas. A rua, espaço de vida compartilhada, lugar de encontros e desencontros, é representada através de ações coletivas e individuais. Estas ações, porém, são capturadas como momentos casuais, sem pretensão de representarem “instantes decisivos”¹. O fotógrafo define estas imagens como possibilidade de imaginar histórias variadas, mas que se complementam como um sonho-memória-coletivo-urbano.
¹ Henri Cartier-Bresson foi um fotógrafo do século XX, considerado por muitos como o pai do fotojornalismo e que criou o conceito de “instante decisivo”. Para Cartier-Bresson, no movimento das ações cotidianas existe um instante no qual todos os elementos que se movem ficam em equilíbrio. A fotografia deve intervir neste instante, tornando o equilíbrio imóvel.
Ewa Priester
Somente a nossa presença constitui e altera o espaço em que vivemos?
O descobrimento de um novo espaço é indício e potência da série construída pela fotógrafa alemã, onde vestígios humanos são capturados na vivência em sua nova cidade. O espaço do outro constitui nesta série uma tentativa de estabelecer entendimentos sobre o meio urbano em uma nova realidade, em que a presença do outro é constituída através da diversidade de costumes diários. Nestas imagens, os modos de vida e os acontecimentos corriqueiros no espaço urbano ganham um caráter privado. Neste reconhecimento do outro, o trabalho se apresenta como referência ao tempo de espera comum aos indivíduos que habitam a cidade em sua rotina caótica. Estas fotografias nos fazem tomar consciência do que vemos através de um repertório imagético associado ao nosso próprio processo diário vivido na cidade. Ao mesmo tempo, estas imagens aparentam uma atmosfera amena, contrária a uma espécie de caos vivido no fluxo cotidiano do espaço urbano.
Á espera à
AusĂŞncias
Marcelle Manacés Como tornar visível um sentimento vazio?
É por meio da ausência e do silêncio imagético que se torna visível o discurso desta obra. Uma analogia à sociedade contemporânea, a ausência do sujeito ou de uma ação evidente constitui metaforicamente na imagem sentimentos como o vazio existencial e a necessidade de preenchimento, supostamente contínuos no tempo. Como um modo de pensar o mundo, estas imagens também enfatizam a percepção de um desenfreado e constante passar dos dias, através da diferença entre as imagens que, no entanto, não alteram o conteúdo. Neste sentido da ausência de um acontecimento e da repetição das imagens, a artista suscita o vislumbrar de um discurso: dos sentimentos enfrentados pelo homem urbano contemporâneo e da presença das imagens e sua massificação no mundo atual.
Maria Beatriz Machado Como diferentes espaços podem construir uma memória afetiva?
Através da presença de espaços íntimos a artista desdobra sua pesquisa sobre palavras e objetos afetivos em imagens que se relacionam à memória e ao pertencimento. O espaço de convívio no ambiente urbano é o indício de sua investigação sobre lugares que constituem a memória afetiva que atravessa o cotidiano. Estes lugares representam vestígios de sua realidade, sejam em momentos passados ou presentes. Nesse sentido, a artista produz registros que testemunham e contextualizam modos de vida através de sua percepção diária em diferentes épocas e lugares. O trabalho vai além de sua história, da lembrança e do esquecimento. O imaginário individual de sua obra provoca a sensibilidade para os pequenos momentos vividos em hábitos cotidianos no ambiente urbano.
casas
“Ausências”
Eu vi Estelita
Priscilla Buhr
Como vislumbrar um espaço potencialmente vivo, colorido e útil para a cidade num lugar esquecido, condenado à depredação e intervenções arbitrárias? A plasticidade das imagens apresentadas neste trabalho parece conduzi-las para um espaço reservado da arte e para um espaço imaginário possível. A história da cidade, sua memória coletiva e seu destino são alguns dos caminhos que constituem este trabalho. Os detalhes capturados no muro de uma região esquecida, o Cais de José de Estelita na cidade do Recife, surgem como fragmentos de um local imaginário que representa o desejo de construir um espaço revitalizado e útil para os moradores da região, contrário ao suposto destino projetado recentemente para o local. Nesse sentido, o trabalho também apresenta uma relevância social em sua visão poética sobre a paisagem urbana.
Rodrigo Alcon Quintanilha Como a modificação da natureza pode alterar os espaços da cidade?
A rua, lugar de encontros e da vida compartilhada ao mesmo tempo que é um ambiente inóspito à diversidade da natureza, nesta série é o espaço onde ela se desdobra. O estado transitório da vida e do próprio espaço urbano constitui uma metáfora à impermanência da natureza onde a paisagem urbana se converte em paisagem natural através de vestígios de rizomas que se estendem para além de seu espaço reservado dentro de uma suposta organização urbanística. Aqui, o encontro que se dá neste ambiente é do homem com a natureza em sua forma mais expansiva e natural. Esta apropriação, resultado de uma espécie de simbiose entre seres distintos torna visível um deslumbrante encontro entre o pensamento humano formal e a ação natural efêmera da vida.
Rizoma