Fundição n2

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FUNDiÇÃO

Nº 2 - Abril 2016 - ASSOCIAÇÃO BARREIRO PATRIMÓNIO MEMÓRIA E FUTURO

Desporto Património Barreiro

Campo de Santa Bárbara CUF recebe Barreirense


FUNDiÇÃO Ficha tecnica BARREIRO Edição Nº2 Abril 2016

Índice Editorial.....................................................Pag. 3 Notícias.....................................................Pag. 4

Desporto Património Barreiro A Importância dos JJB no Contexto do Estado Novo..........................................Pag. 5 Ainda Sobre os JJB......................................Pag. 8 Hóquei em Pattins & Roller Derby .............Pag.10 Memórias com Historia O Grupo Desportivo da CUF.......................Pag.12 Lições de Mestre........................................Pag.14

Editor: ASSOCIAÇÃO BARREIRO PATRIMÓNIO MEMÓRIA E FUTURO

Património Industrial A Classificação de Bens Imóveis ................Pag.16 Barreiro Património Nacionalda Indústria..Pag.18

Contactos: Espaço L Rua José Gomes Ferreira Antiga Estação Ferroviaria do Lavradio abpmf.patrimonio@gmail.com

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Por terras de Alburrica A Quinta Braacamp ...................................Pag.20 Crónicas de uma Breve Viagem ao Barreiro ................................................Pag.22


Editorial

REVISTA FUNDiÇÂO

balho, transformação, criação, ideias chave do nosso projecto.

A Associação Barreiro – Património, Memória e Futuro constitui-se a 12 de Fevereiro de 2010. É uma associação sem fins lucrativos, de natureza cívica, não vinculada a preceitos de ordem religiosa ou partidária.

A Revista Fundição visa reunir conhecimentos e esforços que permitam uma acção transformadora e sustentada, porque alicerçada na nossa história e património e no respeito pela nossa identidade.

A área prioritária de intervenção é a do concelho do Barreiro, porém não excluímos a possibilidade de realizar acções noutros locais, desde que solicitados por instituições, grupos de cidadãos, associações congéneres, e por manifesto interesse na valorização e defesa de bens patrimoniais com relevância supra-concelhia.

Neste número, que saí no dia 14 de Abril, no âmbito das comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, este ano dedicado às memórias ligadas ao desporto, procurámos registar e partilhar memórias do Desporto que, no Barreiro, sempre tem tido uma enorme importância e relevo nacional e internacional, em diversas modalidades do remo, ao futebol e basquetebol, da vela ao tiro e ao râguebi....

São finalidades desta associação contribuir para a preservação da nossa memória colectiva de forma a reforçar a nossa identidade e a encontrar soluções para os novos caminhos; constituir-se num centro de difusão crítica do passado e de defesa do patrimínio histórico, cultural, social e natural; congregar esforços individuais e colectivos que promovam a conciliação entre a preservação essencial da nossa história e património e os projectos de transformação futura.

Sabemos que uma revista não chegará e que a escolha é sempre um risco, muitos e muitas memórias ficarão de fora. Considerem-na um aperitivo. A esta revista outras se seguirão.

A revista, que agora publicamos, pela primeira vez, em papel é dedicada à história e património material e imaterial do Concelho do Barreiro, embora não descartemos a hipótese de realizar outras edições sobre este concelho e os concelhos vizinhos sempre que o assunto o possa recomendar. Nesta revista registaremos memórias, reflectiremos e divulgaremos a nossa história e património, valorizaremos a nossa identidade e estaremos abertos às contribuições de todos os que, como nós, se interessam e preocupam com os legados que nos foram moldando através dos séculos. A escolha do título “Fundição” não é inocente. Em primeiro lugar a palavra está ligada a parte muito significativa da nossa história e património, que é o legado ferroviário. A 22 de Dezembro de 1960 começa a laborar a Fundição da CP no Barreiro. Legado que urge preservar. Depois porque à palavra fundição se ligam outras palavras como, indústria (marca identirária), união, traFUNDiÇÃO 3


Noticias Associação Barreiro Memória Património e Futuro

A Associação Barreiro Património Memória e Futuro

elegeu no passado dia 8 de Abril os seus novos Corpos Sociais para o próximo biénio 2016-2018, com a seguinte composição: Assembleia Geral Manuel Ferreira Fernandes Fernando José Oliveira Constatino C. Barragon Direcção José Manuel Pacheco Amaro Encarnação Carla Marina Pires dos Santos Armando Sousa Teixeira Luís Manuel dos Santos Batista Maria Aires Pimenta Concelho fiscal Armindo Martins Fernandes Susana Gomes Nené João José Caldeira A lista eleita tem como objectivos a manutenção da defesa da sua missão, assim como a implementação e desenvolvimento do programa que apresentou na sua candidatura. Como objetivos principais para o próximo biénio defendemos : 1.Funcionamento Interno: 1.1.melhorar o funcionamento interno da associaFUNDiÇÃO 4

ção; 1.2.mudar a morada da sede social para o Espaço L; 1.3.criar uma relação de maior proximidade entre os membros da Associação e incentivar a participação de todos os associados na vida da Associação;

como em todos os processos em que este seja parte decisiva para as soluções de desenvolvimento sustentado do Concelho;

1.4. alargar o número de associados;

2.3.participar com independência e isenção nas questões relativas ao Património Material e Imaterial do Concelho, fazendo ouvir a voz da Associação junto das instâncias relacionadas com os processos de decisão.

1.5.continuar a manter todas as parcerias e a integrar as Plataformas de Defesa do Tejo;

3.Estudo,Preservação, Promoção e Divulgação do Património Material e Imaterial do Barreiro:

1.6.manter activos e actualizados o “Sítio de Internet” e o “Facebook”.

3.1.monitorizar os bens inscritos como Património do Concelho do Barreiro;

2.Relacionamento com Outras Instituições:

3.2.promunciar-se sempre que estiverem em causa ameaças graves à conservação do Património Material e Imaterial do Concelho do Barreiro;

2.1.reforçar o relacionamento com estruturas concelhias, nomeadamente, na participação de membros da Associação em Comissões de Trabalho; 2.2.reforçar a Associação como interlocutor independente, capacitado e crucial nos processos de reorganização das estruturas de gestão do património e nas metodologias de conservação do Património Material e Imaterial do Concelho, bem

3.3.criar roteiros turísticos de visitação e conhecimento do Património Industrial do Concelho do Barreiro; 3.4.promover a realização de Oficinas de Formação dirigidas à população escolar e à população em geral; 3.5.realizar edições, exposições, eventos que visem a

divulgação e a promoção da Memória e do Património Industrial do Concelho do Barreiro.

Campanha Novos Socios Encontra-se a decorrer durante o ano de 2016 uma campanha de angariação de sócios da ABPMF, que além da captação de novos sócios, visa alargar, aprofundar, preservar e divulgar o importante património natural, cultural, industrial, nomeadamente o ferroviário. Memória que ao longo dos anos se tem vindo a degradar e a destruir, por falta das acções e intervenções necessárias à preservação de tão importante legado histórico. Tenciona-se com esta campanha, que os cidadãos da comunidade do Barreiro aprofundem a consciência sobre o património histórico da cidade, e contribuam de forma ativa na sua recuperação, preservação, divulgação e animação. Susana Nené

https://associacaobarreiropatrimonio.wordpress.com/ ser-socio/


Desporto Património Barreiro A Importância dos JJB no Contexto do Estado Novo No decurso da história do desporto português, tem havido uma atitude cultural de não reconhecimento do verdadeiro valor e importância da prática desportiva como elemento fundamental do desenvolvimento cultural e integral do ser humano. Esta forma restritiva de encarar o desporto tem sido, infelizmente, assumida ao longo dos anos, por todas as estruturas do poder. Sobretudo, depois do 25 de Abril, a população começou a estruturar uma consciência, cada vez mais acentuada, das vantagens da prática desportiva na melhoria da qualidade de vida de cada indivíduo, independentemente da sua idade ou situação social. Esta certeza, provada por estudos diversos, sobretudo a nível internacional, dá corpo ao acesso à prática desportiva como um direito constitucionalmente expresso. E se, hoje, este direito está longe de ser uma realidade, basta pensarmos no exemplo claro do 1º Ciclo do Ensino Básico e do desporto escolar. Todos sabemos que as crianças que frequentam o 1º ciclo do ensino básico, não têm acesso a esta prática, sendo-lhes somente fornecido um processo não estruturado de actividades cujo sentido educativo está por definir, embora se afirmem como actividades de enriquecimento curricular, não constam do curriculum deste nível de ensino. Outro dos exemplos reside na forte preocupação de construir estruturas monumentais, obedecendo fundamentalmente a interesses que pouco têm a ver com o desporto, cujos custos elevados têm sido suportados por todos nós, contribuintes, encontrando-se desocupados na maioria do tempo. Paralelamente desvaloriza-se ou não se reconhece devidamente os equipamentos e a importância da acção dos clubes e colectividades. Se hoje este, ainda, é o panorama, pensemos como seria no Portugal dos anos 60? No tempo dos JJB (1964-1974) a situação era bem mais grave e tinha contornos diferentes. É preciso não esquecer que o regime salazarista era um inimigo do desporto, utilizando-o exclusivamente em termos de grande espectáculo futebolístico, muitas das vezes, alienador das duras realidades vivenciadas pela população. Ao ler este artigo alguns dirão que esqueço da Mocidade Portuguesa. Porém, todos sabemos que esta organização tinha como objectivo a arregimentação ideológica da juventude e a formação dos futuros chefes do regime, prestando uma atenção meramente residual à questão desportiva, aliás traduzida num FUNDiÇÃO 5


Desporto Património Barreiro nº muito limitado de participantes. Foi precisamente contra esta realidade que se ergueram os JJB, visando colocar a prática do jogo e do desporto ao alcance das crianças e dos jovens do nosso concelho, durante o período das Férias de Verão, que na altura era de três meses, dando resposta à necessidade de ocupação dos mais desfavorecidos que, se viam privados de férias, por impossibilidade financeira dos seus pais. Os JJB, foram, nos anos 60 e não por acaso no Barreiro, uma forma de luta política, social e cultural que premonitoriamente avançam no tempo os ideais do 25 de Abril de 1974. Os JJB fazem parte de uma longa luta de estruturação de um processo democrático travada pelo povo português, que assumiu no Barreiro contornos marcantes. Segundo o professor José Braz, a participação tem neles um significado político muito especial. A participação é uma forma de acção comunitária que pretende dar sentido à existência. A Participação voluntária nos JJB é estruturante e relacional, estimula o sentido do dever e da responsabilidade de uns para com os outros. Assenta no que se pode chamar de pedagogia cívica e ajuda a construir e a explicitar competências da cidadania. Eles foram, na prática e naquele tempo, o primeiro processo, e uma das poucas formas estruturadas à escala do País, de defesa do direito à cultura ao desporto, à saúde, a uma vida mais plena, sem descriminações. A solidariedade, a fraternidade, a responsabilidade individual e colectiva; a defesa de direitos fundamentais como a formação integral, o livre acesso ao desporto, à educação, à cultura, à saúde, são valores que consubstanciavam a sua estruturação e aspectos essenciais da construção da cidadania e da democracia. Segundo José Esteves a preocupação de Augusto Valegas e dos seus colaboradores era a de “formar cidadãos”. Todos estes valores, implícita ou explicitamente defendidos pelos Jogos Juvenis do Barreiro, continuam perfeitamente actuais, nestes difíceis tempos de crise que atravessamos e é fundamental que não os esqueçamos.

A 1ª Edição dos Jogos Juvenis do Barreiro/1964 “ O Barreiro, vila onde o labor assentou arraiais, vela pela sua juventude. Que outras vilas e até cidades tomem o exemplo da laboriosa vila do Sul do Tejo. Se o seguirem, altos benefícios prestarão ao Desporto e ao País” 13 de Agosto de 1964, Jornal República

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Os Jogos Juvenis do Barreiro foram “ um meio de ajudar a valorização educacional da juventude pela prática de actividades que deles constavam (desportivas e intelectuais), onde cada um pode encontrar amizade, gosto pela iniciativa e pelas responsabilidades, criando um franco convívio e entreajuda.” Augusto Valegas, “Os Jogos Juvenis do Barreiro”, edição de Autor, p.17 Os primeiros JJB tinham na sua Comissão Organizadora os nomes de Augusto Valegas, José Francisco Costa e Manuel Roque Saúde. Como destinatários crianças e jovens entre os 10 e os 16 anos. Estes representavam grupos federados (designação de todos os clubes legalmente oficializados), clubes escolares em representação de escolas e grupos de rua, constituídos informalmente pelas próprias crianças e jovens. Estas equipas, neste primeiro ano, podiam concorrer a 13 modalidades, tais como: poesia, pintura, xadrez, andebol de sete, atletismo, badminton, basquetebol, ciclismo, futebol de salão, hóquei em campo de seis, natação, râguebi, ténis de mesa. As actividades eram realizadas nas instalações de clubes desportivos ou de sociedades de recreio locais. O Grupo Desportivo da CUF cedeu neste primeiro ano o Campo de Santa Bárbara e a partir de 1967 o Estádio Alfredo da Silva, bem como a sua pista de atletismo e ajudava, ainda, financeiramente em conjunto com a Câmara Municipal e o então Fundo do Desporto. Os JJB estiveram sempre abertos à participação de outros concelhos e neles participaram crianças e jovens da Moita e do Seixal. Estes jogos foram fonte de inspiração para outras realizações similares como os Jogos Juvenis do Ribatejo. Nesta primeira edição é de 500 o número de participantes e até 1974 este número não deixa de crescer. Toda esta experiência não era tutelada por nenhuma instituição (embora estas pudessem aderir), ela nasceu da vontade do seu grande promotor Augusto Valegas e desenvolveu-se e cresceu na participação voluntária de todos. Carla Marina Santos


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Ainda Sobre os JJB «Foram instituídos estes jogos por Nero, imperador romano, quando offereceu a Júpiter Capitolino os cabellos da barba, e foram chamados juvenaes da palavra latina Juvenis, que quer dizer moço, ou porque com a barba rapada os homens parecem mais moços, ou porque os moços faziam estes jogos, em jardins, celebrando com elles a primavera de seus annos. Dividiram-se depois em duas espécies; uns eram jogos Circeuses, ou no circo, e outros Juvenaes ou nos jardins.» Semanário Popular (Periódico Ilustrado), Lisboa, 1866. Passados que foram 25 anos duma iniciativa impar e bastante avançada para a época, a realização dos Jogos Juvenis do Barreiro — JJB — merecem agora, à posteriori, uma reflexão de certo modo aprofundada até devido aos reflexos que tiveram quer na localidade, quer a nível nacional. Num quadro integrado numa dimensão social, caracterizada ideologicamente a nível das concepções em vigor e impostas pela super-estrutura de então, onde o homem, a sociedade e os valores culturais eram fortemente controláveis e manipulados, quaisquer acções, reflexos de solicitações e tendências de dimensão cultural, fora do contexto e da iniciativa das estruturas do poder, originavam situações de conflito social e essencialmente ideológico. Esta situação de conflito, deixa transparecer os obstáculos e dificuldades a vencer para levar a bom fim uma iniciativa determinada, em parte, pelas condições de vida e, naturalmente, pelas aspirações sócio culturais da população, traduzidas por um pequeno grupo de pessoas jovens que com perseverança, determinação e com a liderança de um homem, cujo papel aglutinador das vontades juvenis, iam ao encontro das necessidades e aspirações de toda uma geração. A política desportiva e a legislação que a suportava enquadravam-se em concepções ideológicas então impostas e sustentavam-se nas desigualdades e numa estratificação social acentuada e como tal, não só desactualizada, como também, em contradição com o sentir e com as necessidades do tecido social. Este, por sua vez, a sofrer as influências da dinâmica sócio política e cultural em evolução noutros países. Assim, a organização e implantação dos JJB em 1964, não só vem ao encontro das necessidades naturais dos jovens como também, lhes criam níveis de expectativa sócio culturais bastante elevados, razão esta que facilita posteriormente a implantação dos Jogos em questão. Estes conseguem assim resistir ao confronto dialéctico veFUNDiÇÃO 8


Desporto Património Barreiro rificado através da dimensão cultural que encerravam e a dimensão institucional suportada pela super estrutura que, naturalmente, compreendia os vários níveis de decisão e, consequentemente, encerrava a vontade política. Feita assim a caracterização social e política de então, convém salientar agora e de forma breve, quais os reflexos na geração da altura, numa perspectiva do jovem e numa abordagem a esta modalidade da cultura que é a actividade física e desportiva e tudo o que esta encerra. Assim, se constatamos que os Jogos envolveram um número de jovens na ordem dos milhares e nas quais diversas modalidades da cultura física e desportiva e não só, deve ainda acrescentar-se que estes contemplavam idades em que o jovem está em pleno desenvolvimento e numa fase de afirmação e formação da personalidade. Se por um lado, e sem cair aqui em lugares comuns, o desporto é fundamental por aquilo que encerra, pelo seu significado formativo e cultural, pelos valores reais que constitui em estreita relação com o aperfeiçoamento constante do indivíduo, contemplando o desenvolvimento motor, cognitivo, psicológico, afectivo e social, pelo enriquecimento da personalidade, pela íntima relação que tem com a educação e a saúde e, naturalmente, pela influência decisiva que tem na melhoria das condições de vida de qualquer jovem em plena fase de desenvolvimento. Por outro lado, a dimensão sócio política originada pelo facto dos Jogos terem um cariz essencialmente juvenil e popular, onde os participantes eram, simultaneamente, os responsáveis pela constituição de clubes , equipas, respectiva organização e relações com a estrutura dos Jogos e onde a esmagadora maioria dos elementos ligados à organização eram constituídos ainda por jovens mas, cujas idades já não permitiam a sua participação como atletas, foram factores que tornaram os JJB como uma experiência única e numa iniciativa sócio cultural motivadora e completa, resistindo assim, durante alguns anos, à erosão provocada por uma dinâmica institucional com intenções e interesses opostos. Era um apelo directo e indirecto à entreajuda, à colaboração, à participação, à capacidade de organização, ao colectivismo, com objectivos e finalidades bem definidas. Factores que, para além de outros conteúdos supracitados, só por si eram suficientes para justificar o êxito da iniciativa, por um lado e, algumas apreensões, por outro.

maior aderência, logo, criaram-se novas necessidades, impunham-se mais recursos e aumentaram as responsabilidades, exigindo um poder de resposta local geral onde houvesse colaboração colectiva nomeadamente das instituições. Encerra-se aqui, talvez, um conjunto de factores que contribuíram para que os JJB num dia acabassem. Para mal do seu dinamizador, para mal da Juventude, para mal da população local e para mal da cultura. No entanto, passados 25 anos, nem tudo se perdeu, pois é gratificante para todos os que de uma maneira ou de outra participaram nos JJB, nomeadamente ao seu dinamizador Augusto Valegas, saber que ao longo destes anos muitas outras terras, por este país fora, reconheceram o valor cultural daquela iniciativa e têm vindo a implantar aqui e ali realizações idênticas e com êxito reconhecido. Naturalmente, penso estarem reunidas condições para tal, pois a implantação da democracia neste país, proporcionou uma abertura cultural de modo a que instituições e populações possam em conjunto multiplicar os JJB para bem da Juventude, das populações e da cultura em geral. Romão Antunes, Junho de 1989. Artigo publicado em 1989, no nº especial da revista, “Um olhar Sobre o Barreiro”, dedicado aos JJB. Com agradecimento especial ao Professor Romão Antunes.

Assim da avaliação feita posteriormente desta realização cultural/desportiva pode-se concluir, em termos subjectivos da análise, claro está, que a sua dinâmica baseada no conflito tornou-se, naturalmente, desgastante e corrosiva. O cunho pessoal, que fora imprescindível inicialmente, tornou a iniciativa susceptível de alguma dependência. O êxito dos Jogos provocou de ano para ano uma FUNDiÇÃO 9


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Hóquei em Patins & Roller Derby Hóquei em Patins As origens do hóquei em patins são muito antigas. Foi encontrado um baixo-relevo egípcio que mostra um grupo de crianças a bater uma bola com um bastão muito grosso. Em Atenas também foi encontrado um baixo-relevo da civilização clássica-grega que representa vários jogadores em posição de jogar uma bola empunhando aléus (sticks). Em França, nos finais da Idade Média, o jogo era conhecido por CROSSE, mas por vezes chamavam HOQUET, que deu origem a HOCKEY. Outros autores defendem que o HÓQUEI ( rodas e gelo) constitui uma derivante do jogo Bandy, cujo termo em inglês designa cajado e que era praticado pelos Indios Americanos. A divulgação do 1º patim de rodas é atribuído ao belga Joseph Merlin, mas foi a partir do jogo elástico do americano James Plympton em 1850 que se deu a grande expansão da patinagem. Em Inglaterra, o hóquei começou a ser praticado em 1877, mas só em 1905 é que se começou a praticar a modalidade de uma forma competitiva e organizada. Em 1949 passou a chamar-se Roller Hockey. Foi a partir da 2ª Guerra Mundial que Portugal e Espanha passaram a dominar o hóquei patinado europeu. Em 1947 Portugal venceu o terceiro campeonato da Europa realizado em Lisboa. A partir daqui a população portuguesa ficou definitivamente conquistada por este bonito e emocionante desporto, o qual passou a ser considerado Modalidade Nacional.

Hóquei e o Fabril Dia 27 Janeiro 1937 foi fundado o Grupo Desportivo da CUF, no Lavradio, concelho do Barreiro, distrito Setúbal. O Campeonato da I divisão de Hóquei em Patins teve a sua 1ª edição em 1938-39 e o Grupo Desportivo CUF nunca tinha participado até á temporada 1664-65, onde se consagrou Campeão Nacional da Modalidade em 1963. FUNDiÇÃO 10


Desporto Património Barreiro A Seleção Nacional que venceu o campeonato da Europa, contemplou 3 grandes jogadores do Grupo Desportivo da CUF – José António, Leonel Fernandes e Victor Domingos. Actualmente o Grupo Desportivo Fabril têm 5 escalões de hóquei em patins em competição – Bambis, Benjamins, Escolares, Infantis, Iniciados e tem também aos sábados de manha ““Escolinhas”, onde quem quiser aprender a modalidade pode faze-lo.

Roller Derby Nos EUA, durante a Grande Depressão (crise 1929 que terminou com a 2ª Guerra Mundial), as corridas de resistência sobre patins eram bastante populares. Surgidas em 1935 eram competições mistas e o objetivo era completar muitas voltas. Os momentos mais marcantes das corridas eram os choques entre patinadores, mas que em 1937 o foco da competição mudou: não seria mais um desporto de resistência mas um desporto de equipa numa pista inclinada com ataque e defesa. Em Portugal esta modalidade chegou em 2011 pelas fundadoras Marta Carvalho, que têm como nome de guerra “ Bloodrunner” e Ana Bruz “ Mcpain”. Ambas pertencem ao “ Porto Roller Derby”. Desde então a modalidade têm vindo a desenvolver-se no nosso país, havendo cada vez mais adeptas. O Barreiro como cidade desportiva que é, não poder deixar de mostrar também esta modalidade aos seus habitantes. Desta forma, O Clube Desportivo Fabril irá dia 14 Maio 2016 pelas 15H00 fazer uma pequena demonstração do Roller Derby, que está aberta a toda a população feminina que queira desde já participar. Iremos apoiar a Associação Patologia Mamária do Barreiro bem como daremos destaque á Associação Barreiro Património Memória Futuro. 2 desportos muito diferentes e muito iguais - Hóquei em Patins & Roller Derby têm em comum agilidade, força, velocidade, controle, visão periférica, comunicação e sobretudo um grande trabalho de equipa. TUDO SOBRE PATINS Artigo escrito por: Maria de Aires Pimenta

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Memórias com Historia - O Grupo Desportivo da CUF Inicio do Século, o despontrar do Futebol no Barreiro Corria o ano de 1901 quando António Maria Oliveira, antigo aluno da casa Pia de Lisboa, fundou o primeiro clube do Barreiro, de nome Sport Club Barreirense. Nesta época, davam-se em Portugal os primeiros passos daquele que viria a ser o grande fenómeno desportivo do Século XX, o Futebol. Ganhando rápidamente adeptos e uma enorme simpatia a nível nacional, o Barreiro rapidamente se associou a esta modalidade com o despontar de diversos clubes onde se destacam o Grémio Barreirense, o Estrela Futebol Clube ou o Sport Lusitano Barreirense, clubes estes que antecediam a criação do Sport Recreativo Operário Barreirense, que fundado em 1911 por operários dos Caminhos-de-ferro, viria a servir de embrião para o nascimento do Futebol Clube Barreirense. Na realidade, o Sport Recreativo Operário Barreirense foi ganhando associados com a extinção de outras colectividades congéneres, contudo, dificuldades várias, sobretudo de ordem financeira levaram o Sport Barreirense a proceder a uma profunda reorganização interna e a criar, a 11 de Abril de 1911, o Foot-Ball Club Barreirense. Também a 11 de Abril, mas de 1920, foi fundado o Luso Futebol Clube. Quanto ao Grupo Desportivo da CUF, o seu aparecimento só fica oficializado a 27 de Janeiro de 1937. O Grupo Desportivo da CUF A sua génese remonta a 1911, na freguesia do Lavradio, concelho do Barreiro, onde despontaram várias associações de carácter recreativo, cultural e desportivo. Começou por denominar-se Unidos Futebol Clube, assumindo a sua designação oficial em 1937, já debaixo do universo fabril das fábricas da CUF de Alfredo da Silva. Dois anos após a sua fundação, em 1939, o Grupo Desportivo da CUF vê o seu emblema na ribalta com a proeza do ciclista Joaquim Fernandes que vencera Volta a Portugal em Bicicleta, seguindo-se a subida ao escalão principal de futebol em 1941/42, baixando ao escalão secundário na época de1942/43, isto num ano que ficou marcado pela morte do grande industrial Alfredo da Silva. Alguns anos a militar no escalão secundário, regressaria novamente ao convivio dos grandes na 1ª Divisão na época FUNDiÇÃO 12

de 1953/54, época em que também se sagraram Campeões Nacionais da 2ª Divisão. Desta fantástica equipa, destacam-se nomes como Barriga, Vasques, Luís, Sérgio, Aureliano, André, Carreira (cap.), Orlando, Matos, Vale, Velhinho. A CUF viria a ficar no escalão máximo ininterruptamente durante 22 anos. A época de 1964/65 ficou marcada como uma época de ouro para o clube. A principal equipa de futebol do clube alcança um brilhante 3º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, numa altura em que a prova era disputada por 14 equipas. O GD CUF apurava-se, assim e pela primeira vez, para a Taça dos Clubes de Cidades com Feiras, como era designada na altura a competição que mais tarde originou a Taça UEFA. Também no Hóquei em Patins o GD CUF se viria a notabilizar, tendo nas suas fileiras três jogadores campeões da Europa por Portugal em 1963 (José António, Leonel Fernandes e Víctor Domingos). No mesmo ano, a equipa sénior de Hóquei em Patins é campeã nacional da modalidade. Era Presidente do clube o Engº Mário Pimenta. A conquista do Campeonato Nacional, por parte do GD CUF, não foi surpresa. Em 1965/66 a época começa da melhor forma com a inauguração do Estádio Alfredo da Silva, no mês de Junho. O clube deixava assim o saudoso Campo de Santa Bárbara para passar a usufruir de um dos melhores palcos para ver futebol no país, estatuto de que mesmo hoje pode continuar a orgulhar-se. A estreia trouxe ao Alfredo da Silva o SL Benfica, num jogo que terminou empatado a um golo. O Estádio mantêm a sua configuração original e comporta cerca de 22 000 espectadores sentados. A 1 de Dezembro de 1965, o clube consegue um dos maiores feitos do seu historial. Em jogo a contar para a primeira mão da 2ª ronda da Taça dos Clubes de Cidades com Feiras (isento na eliminatória anterior), o GD CUF recebeu, num Estádio Alfredo da Silva completamente lotado, o poderoso AC Milan, que bateu por 2-0, com golos de Fernando Oliveira (61′) e Abalroado (89′, g.p.). O GD CUF acabaria por ser eliminado após terceiro jogo (2º em Milão) e por 1-0. A equipa de Hóquei em Patins estreou-se na Taça dos Clubes Campeões Europeus frente aos catalães do Réus. O GD CUF viria a ser afastado da competição com dupla derrota (1-4; 0-3) Em 1971 foi inaugurado o Pavilhão do GD CUF, inicialmente designado como “Pavilhão dos Trabalhadores”.


Memórias com Historia

Em 1972, Víctor Domingos, guarda-redes de Hóquei em Patins do GD CUF e da Selecção Nacional de Portugal, é considerado o melhor do mundo na posição. Por essa altura, Víctor Domingos tinha já conquistado, enquanto atleta do clube, um Campeonato Mundial (1968) e quatro Campeonatos da Europa (1963/65/67/73). Também Leonel Fernandes e José António, igualmente jogadores do GD CUF, haviam sido já Campeões do Mundo por Portugal em 1962. Após o 25 de Abril de 1974 o clube viria a sentir a crise que assolou a fábrica e em 1975/76, após 22 anos consecutivos na 1ª Divisão Nacional de Futebol, o GD CUF acabava por ser despromovido, ao classificar-se em 16º e último lugar. A História da CUF em muito enobrece o nome do Barreiro, ficando conhecida como um viveiro de atletas de onde sairam para o futebol, nomes como Conhé, Capitão-Mor, Castro, Abalroado, Uria, Carlos Manuel, Araujo, João Pedro, Manuel Fernandes ou Barradas, no remo Carlos “Boia” Almeida que representou Portugal nos jogos Olimpicos de 1972 em Munique ou o dream team do hóquei em patins já acima referenciado. Como registo, fica ainda a nota de que o Grupo Desportivo da CUF ocupa a 15ª posição, num total de 16, nos clubes mais pontuados de sempre na Primeira Divisão de futebol, à frente do Estrela da Amadora e com um ponto a separar as duas equipas. Com uma história ligada à industria, o clube nunca se separou das suas origens, pois se no período das nacionalizações se identificava como Grupo Desportivo da Quimigal, hoje que pouco resta desse espaço, assume a designação de Grupo Desportivo Fabril. Luis Santos Batista

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Desporto Património Barreiro

Lições de Mestre Encontro 93-90

Dois amigos voltaram a encontrar-se.

Tenho para mim que a amizade é um encontro entre iguais, ainda que as suas condições sejam diferentes. O que mais admirei foi que estando frente a frente dois grandes artistas ambos mostraram uma simplicidade extrema, uma alegria contagiante, uma sincera amizade. Dão lições de Mestre. Ambos barreirenses que elevaram o nome do Barreiro bem alto.

ARTUR QUARESMA “Na década de 50 foi um ídolo do nosso futebol e campeão nacional pelo Belenenses. Várias vezes internacional e capitão da equipa das quinas, fez a despedida de futebolista nas Salésias em 5 de Outubro de 1948, marcando dois golos a João Azevedo, portentoso guardião do Sporting. Agora, com 81 anos, vive no Barreiro e. por vezes, lembra histórias, proibidas de contar até nascer a Liberdade de Abril. Há dias, quando se referia ao falecimento de Manuel Capela, seu companheiro no clube da cruz de Cristo, afirmou: “Nunca joguei com ele na selecção nacional porque fui afastado da equipa das quinas por me ter recusado a fazer a saudação nazi, aquando de um Portugal – França”. Eram os tempos da peste e dele restam velhos homens que trazem ao peito “medalhas” honrosas que ninguém vê. Recordá-los é preciso!”. Jornal O Jogo de 30.01.99

ANTÓNIO PATACAS “Nasceu a 13 de Outubro de 1921, numa casinha do Beco de S. Francisco, Barreiro. Carlos e Maria de Assunção, seus pais, beirões, chegaram ao Barreiro com a Companhia União Fabril. “Se não fossem os alentejanos e os ratinhos o Barreiro não era nada”. “Na minha casa não havia refeições. Éramos 21 irmãos. Mas só me lembro de 12”

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ARTUR QUARESMA


Desporto Património Barreiro Começou a ler, sem nunca ter frequentado a escola oficial. Fez a 4ª classe na tropa. Aos 8/9 anos começou a trabalhar numa fábrica de cortiça. Trabalhou depois no Herold na limpeza das caldeiras. Passou para a cordoaria do Nicola e depois para a CUF, quando tinha 11 anos, em 1932. “Entrei para os adubos, descalço, ranhoso e cheio de fome” Aos treze anos era servente nas obras. Quando caiu do andaime (ele e outros) magoou-se e foi transferido para o armazém dos Materiais e mais tarde para o Escritório Técnico do Barreiro. Reformou-se após 40 anos de serviço na CUF. Aprendeu a fotografar. Foi mestre nesta arte e Augusto Cabrita, dada a qualidade do seu trabalho, contratou-o. As suas reportagens fotográficas de casamentos, baptizados e outros eventos, são o orgulho de muitos barreirenses. Fez inúmeras reportagens desportivas para a Bola e outros periódicos, mas sem a sua assinatura.

marcaram ou das defesas que fotografaram. Um, das terras que conheceu como treinador, outro dizendo que raramente saiu do Barreiro. Um, das pessoas, seus pupilos, e dos seus dramas, outro dos dramas humanos que os rostos que fotografou transmitem. Dos diplomas e medalhas que exibem, ou do reconhecimento público, do Barreiro, que lhes falta fazer. Talvez quando morrerem. Um tem 93 anos, o outro 90. Foram muitos anos de vida, com muitos episódios à mistura que desfilaram ali em hora e meia. Coube-me a mim e à filha de um deles preparar este encontro. Estamos felizes por isso.

ARTUR QUARESMA e ANTÓNIO PATACAS despediram-se sem esperança de se reencontrarem, mas a vida, palavras deles, é de encontros e desencontros. Pode ser que lhes pregue uma partida mais e se voltem a ver.

Nuno Soares

Fotografou o Barreiro, sua terra natal que tanto ama. Faço tudo quanto sei Ao trabalho dou-me inteiro Tudo faço com amor Para o meu querido Barreiro Viu o Barreiro a preto e branco: “As casas eram brancas com uma barra cinzenta ou preta”. As suas pinturas são do Barreiro Velho. Fotografou os barreirenses, corticeiros, ferroviários, operários, rostos das gentes do Barreiro. Foi fotógrafo oficial da Câmara Municipal do Barreiro. A sua actividade artística passa também pelo artesanato. Expôs os seus trabalhos em várias exposições tendo ganho alguns prémios.

ANTONIO PATACAS

Aderiu ao 25 de Abril, tendo sido o último Regedor da Freguesia do Barreiro – 19 de Junho de 1974 a finais de 1976, a convite de H. Fráguas. Foi fundador da Comissão de Acção dos Reformados do Barreiro e seu Presidente ao longo de 18 anos. Cultiva o amor pela vida e o afecto pelo Barreiro”.

Flash’s da sua vida e obra Os dois falaram da sua vida e obra e, do seu Barreiro. Das ruas onde viveram, dos amigos que tiveram, dos seus irmãos, de um lado 21, do outro, brasileiros. Dos golos que FUNDiÇÃO 15


Património Industrial

A Classificação de Bens Imóveis Infelizmente, nos últimos anos tem desaparecido a grande velocidade, muito do material circulante que marcou a paisagem ferroviária das últimas décadas e que marcou o passado do Barreiro, como pólo ferroviário de importância económica. Tomámos conhecimento que a CP EPE, vendeu como sucata, materiais únicos existentes no Barreiro e no País, desbaratando desta forma bens e equipamentos fundamentais para a conservação da memória de um Povo e do País. A preservação, encarada sob este ponto de vista, não se esgota na simples salvaguarda do edificado, nomeadamente, estações ferroviárias, embora, como é óbvio, seja um aspecto importante. Nas oficinas do Barreiro ainda existe um conjunto das locomotivas, sendo que a maior parte são únicas no País, como por exemplo as 1200, 1505, Sentinela, Automotora UTD 600 e as Carruagens Car Series 85-40-0011, Carruagens Bar Series 85-40s e algumas das séries: 1400, 1550, 1900. Este património móvel ainda existe e faz parte da identidade da cidade do Barreiro, permanecendo vivo na memória das suas gentes. A necessidade da sua preservação é da maior importância, no sentido de perpetuar a história de um povo, de uma cidade e de uma região que já foi de importância fulcral para a economia nacional. A preservação deste este material circulante e outros equipamentos técnicos assume assim contornos de defesa de uma época industrial, onde foram aplicados conhecimentos avançados quer na utilização destes equipamentos quer na sua manutenção, e que por isso, em nosso entender, devem ser mantidos no Barreiro até que seja possível concretizar a criação de um Núcleo Museológico Ferroviário. Caso venha a ser classificado o Património Ferroviário do Barreiro, este só faz sentido se, de tal classificação, constar algum do Património Móvel, pois só desta forma se completa o conjunto de uma actividade, que teve já importância até nacional, na nossa Economia, pela sua capacidade de ligar o País, pela sua capacidade de aplicar conhecimentos no exercício de profissionais muito específicas neste sector, pela capacidade de unir Portugal de Norte a Sul, fazendo circular pessoas e bens, servindo como meio de transporte de correio, e gerando afectos à sua passagem pelas várias cidades e vilas do País, por onde passava o comboio.

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Património Industrial O comboio assumiu um papel preponderante no desenvolvimento económico e social, neste caso, na região Sul do País, ligando o centro, Lisboa, ao Alentejo e ao Algarve. O transporte de passageiros, ainda hoje representa um meio de transporte urbano de importância relevante na ligação do Barreiro, à capital do Distrito, Setúbal. São razões que nos leva a considerar que estes equipamentos fazem parte de um pólo de desenvolvimento devendo integrar o Património industrial do Barreiro, como forma de salvaguardar parte da sua memória e história, pois só desta forma se mantém vivo um povo, uma cidade, uma Região. O Barreiro é rico em equipamentos edificados e não edificados, como é o caso da rotunda das locomotivas onde sempre estiverem as Máquinas a vapor depois o diesel e as automotoras. Entendemos que a classificação do equipamento edificado, a rotunda das máquinas, será mais eficaz e atractiva, se contiver a sua componente principal: as locomotivas. De novo aqui defendemos que o conjunto de edificado e não edificado, contribui para a sua atractividade em termos turísticos e aumenta a sua capacidade de contar a história completa desta actividade. Colocamos a tónica no binómio preservação/desenvolvimento, pois consideramos ser relevante a orientação de trabalhos e estudos, destinados a encontrar formas de preservar a nossa história e, simultaneamente, contribuir para o desenvolvimento económico, restituindo ao Barreiro, uma importância e um lugar de destaque no plano económico. Numa primeira fase localmente considerado, mas sempre tendo em vista que o desenvolvimento pode adquirir dimensão regional ou até nacional.

Locomotiva 1935 Cidade do Barreiro

O Movimento Cívico considera ser da maior importância a preservação de, pelo menos, parte do material circulante e outros equipamentos técnicos que, no seu conjunto, revelam e reflectem quer um modo de trabalho, um modo de vida, que foi importante e pode voltar a ser, no desenvolvimento do Concelho, da Região e do País. Por tudo isto, em nosso entender, estes equipamentos móveis, devem ser mantidos no Barreiro até que seja possível concretizar a criação de um Núcleo Museológico Ferroviário. Esta nossa proposta de inclusão de material circulante no processo de preservação, prende-se com o facto de o conjunto a preservar se tornar mais completo, pedagógico, e constituir um meio preventivo de evitar a destruição da nossa memória colectiva. José Encarnação

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Património Industrial

Barreiro Património Nacional da Indústria

Roteiro Turístico do Desenvolvimento Manufatureiro, Proto Industrial e Industrial O Barreiro é herdeiro de um precoce destino industrial, fomentado pela nossa localização geográfica no estuário do Tejo, lugar de sínteses técnicas e culturais ao longo dos séculos - frente à Capital. Percurso servido por importantes recursos: madeira, carvão, azougue, areias sílicas e argilosas, sal, vinho e pelos rios Tejo e Coina acessibilidades fundamentais, lugares do nosso encontro. Ao longo dos séculos os vestígios fabris provam a existência de uma linha diacrónica na qual se desenha uma identidade marcada pelo trabalho, por uma cultura tecnológica ligada ao gesto diário e profissional, e pontuada por uma diversidade cultural, que até ao século XIX se articulam com os sectores primários. São as mãos, em gestos quotidianos que encontramos desde o Neolítico, quando a olaria se transforma numa especialização funcional do agregado que vivia na Ponta da Passadeira. A partir do século XIV, outras mãos moldam no Complexo Oleiro da Mata da Machada, entre diversas tipologias, as formas do biscoito e do pão-de-açúcar, estas fabricadas em série para exportação. Ali perto, no Complexo Real de Vale de Zebro, outras mãos fabricam o biscoito, alimento base das tripulações durante a Expansão, do Terço da Armada Real e dos Fortes de Costa. Nos Moinhos de Maré, novas mãos transformam em farinha os grãos de cereais, alimentando Lisboa e a confecção de biscoito. Outras trabalham na Ribeira do Coina ou nos vários estaleiros de construção naval que surgem ao longo da nossa história. Outras, ainda, fabricam em gestos profissionais os mais diversos objectos em vidro, iniciando na Real Fábrica de Vidros de Coina, no século XVIII, a tecnologia que nos tornará famosos na Marinha Grande. Na primeira metade do séc. XIX, a construção dos modernos Moinhos de Vento e o surto da Industria das Moagens representam já “uma ruptura significativa na paisagem rural”, segundo Jorge Custódio. FUNDiÇÃO 18


Património Industrial

A partir de 1859 o Caminho-de-ferro vem diversificar e reforçar as boas acessibilidades fluviais, levando mais longe a nossa ligação a Sul do Tejo, conferindo ao Concelho uma maior centralidade no território que, hoje, designamos por Área Metropolitana de Lisboa. Está, desta forma, aberto o caminho ao processo de industrialização, impar no País, e simultaneamente a um desenvolvimento vertiginoso do ponto de vista urbanístico e demográfico - as quintas dão lugar às fábricas e aos bairros. Três momentos marcam este processo: abertura da Linha do Sul e Sueste e Oficinas do Caminho-de-ferro, instalação da indústria corticeira e da Companhia União Fabril. Comprova-se pelo exposto a existência de actividade produtiva transformadora com especializações funcionais em diversos períodos da nossa história e a existência de bens patrimoniais que a atestam; o significado nacional e internacional destas produções nos vários períodos da história de Portugal. A pequena dimensão do Concelho do Barreiro, a sua localização geográfica, a história e património existente permitem-me afirmar que, neste território de cerca de 35 Km2, é possível realizar uma leitura da evolução tecnológica da actividade produtiva ao longo dos séculos, com interesse local, regional, nacional. Um projecto deste fôlego, que se compromete com a coerência histórica da nossa identidade, respondendo, ao mesmo tempo, a uma lacuna nacional, necessita do estabelecimento de parcerias nacionais, públicas e privadas, bem como de concursos comunitários. A recolha deste passado, o seu estudo e divulgação, a sua recuperação e fruição são acções que integram um processo cultural mais vasto de valorização do Barreiro e de Portugal e simultaneamente promovem o desenvolvimento da região, diversificando e alargando as respostas turísticas. E acima de tudo necessita do comprometimento político do Estado aos seus vários níveis para de ideia passar a projecto e deste a realidade – Barreiro Roteiro Turístico do Desenvolvimento Manufactureiro, Proto Industrial e Industrial. Carla Marina Santos

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Património Industrial

Por terras de Alburrica - A Quinta Braacamp

“ Em tudo o que existe está presente o passado e o futuro de todas as coisas” (Rómulo de Cavalho) “ Jogavam à bola no Largo da Igreja, em Alburrica, no Mexilhoeiro, na Rua da Praia, onde houvesse malta disponível e uma bola trapeira, quase todos descalços. A certa altura o patrão Alberto Reynolds, da fábrica de cortiça do Braancamp, que vinha à missa com a família na igreja de N. Sr.ª do Rosário, ofereceu umas bolas de borracha que fizeram o delírio do Chico Correia, do Carlos Gomes, dos irmãos Pireza e de outros que tinham grande habilidade para o futebol”. Curiosa, ou talvez não, a atitude da família inglesa que abria as portas da quinta para a miudagem ir às amoras e às folhas da amoreira para a criação de bichos-da-seda. Sabiam que na zona piscatória do Barreiro Velho se vivia muito mal. Pelo Natal a dona Cristina Reynolds distribuía chocolates pela ganilha, ofereciam leite da vacaria a quem fosse pedir ao portão, mas a Sociedade Nacional Corticeira, de que eram proprietários, mantinha os baixos salários dos trabalhadores. Como de resto fazia toda a indústria corticeira que na primeira metade do século XX, sempre em “crise”, garantia apenas três ou quatro dias de trabalho por semaFUNDiÇÃO 20

na. O paternalismo com traços colonialistas que os ingleses espalharam pelo mundo, com a apropriação de matérias primas e das mais-valias da exploração do trabalho, dava resultado aparente pois não se conheceram conflitos sociais agudos na fábrica do Braancamp. Sonhos de meninos, curiosidade de adolescentes. A bola salta o muro no jogo que ocupa o “furo” nas aulas do curso industrial, na escola que foi construida nos anos 40/50, paredes-meias com a grande quinta/mansão/fábrica que “fechava” a vila a Oeste, em terras de Alburrica. - Cuidado com os cães! - gritam os amigos-da-onça que ficam a ver o infeliz intérprete do pontapé sem nexo, a escalar o muro e a observar o terreno antes da avventura arriscada. Uma grande área impressiva, tudo limpo e arranjado, uma zona cultivada (trigo?), uma mansão magnífica rodeada de palmeiras, uma calma paradisíaca, sem vivalma no horizonte. - Olha que o guarda tem espingarda! - Tás a gozar, vai lá tu! Que se lixe! Ficou a bola e a memória de um tempo inolvidável de “aventuras” na Alburrica, cerca da quinta particular a sus-


Património Industrial

citar a reflexão precoce: e se tudo aquilo estivesse aberto à população?! O sonho parece próximo de se tornar realidade. As terras magníficas de esplendor (al-barrikã) podem ser postas ao serviço de um ideal comunitário. “Privado é de alguns, nacionalizado é de todos!”. As inúmeras potencialidades terão de ser ponderadas num estudo estratégico que enquadre toda a zona, envolvendo nomeadamente: as praias fluviais, as caldeiras, os moinhos de maré e de vento, as instalações desportivas e o apoio à pesca desportiva. Algumas ideias-sugestões parecem-nos incontornáveis: A vocação exclusiva como zona de lazer e de desporto, de interesse público e de preservação da natureza e da paisagem. Alargamento e melhoria da praia fluvial a Oeste e dos seus equipamentos de apoio. A potencialização dos equipamentos desportivos e da praia do Mexilhoeiro na margem Norte. Garantia de preservação de memórias da instalação indus-

trial corticeira centenária. Recuperação da paisagem iconográfica do Barreiro fluvial, com a aldeia “lacustre” do Mexilhoeiro, pequenos barcos coloridos e o moinho de maré com a rampa de acesso. Recuperação do Moinho de Maré, como potencial Núcleo Museológico da Indústria Moageira. Preservação das construções existentes a nascente da Mansão destruída pelo fogo criminoso, como Centro de Observação e de Interpretação de aves marinhas. Preservação integral com vedação da Caldeira/Sapal, geradora de nutrientes do rio e santuário de aves autóctones (garças). Projectos integrados de colaboração, patrocínio e interactividade, na ligação escola-meio, com a Escola Secundária vizinha e coinserida na área de influência da Quinta. Empreendimento na área da restauração e do lazer, aproveitando a faixa norte junto ao Tejo, de iniciativa privada. Armando Sousa Teixeira

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Património Industrial

Crónicas de uma Breve Viagem ao Barreiro Segunda Etapa: St. André

centemente as questões da História e Património locais integram a agenda do desenvolvimento harmonioso Antes de iniciarmos a visita e não faltando ao prometi- das sociedades. Só agora, a ideia da participação colecdo, vamos a mais dois dedos de conversa. Antes do 25 tiva, da necessidade do conhecimento e compreensão de Abril, excepção feita ao Portal Manuelino da Igreja do passado como forma de construir o futuro e afirmar da Nª Sr.ª da Graça, já classificado em 1922, o Barrei- uma identidade, se colocam com maior clareza, dando ro não integrou a política do Estado Novo preocupada, razão a todos os que sempre têm defendido, em minoem exclusivo, com o restauro dos grandes monumen- ria, esta mesma ideia. tos facilmente associáveis à História de Portugal, o que de certa forma justificou o alheamento entre a popu- Mas estaremos todos, no Barreiro, preparados para lação e a sua história. No Barreiro não há castelos nem assumir esta responsabilidade colectiva? Conheceremos suficientemente a nossa história e identidade? grandes palácios... Conheceremos as responsabilidades inerentes a cada Por outro lado as transformações associadas ao desen- organismo e instituição? Conheceremos bem os nosvolvimento vertiginoso do concelho, desde os finais do sos direitos e deveres de cidadãos? Com estas interroséc. XIX com a instalação dos Caminhos de Ferro, das gações que aqui vos deixamos, interrompemos o nosCorticeiras e da CUF, bem como o desenvolvimento ur- so diálogo por uma semana para iniciarmos uma breve bano que acompanha o processo de industrialização visita a St. André. ao longo do séc. XX, apagaram muitas das marcas do nosso passado, favorecendo também este alheamento. Nestes trinta e seis anos de vida democrática por vicissitudes várias, algumas ligadas ao atraso generalizado dos vários sectores da vida em Portugal, só muito re-

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O território que hoje constitui esta freguesia esteve muito ligado ao mar. Muitos ainda se lembram dos bacalhoeiros saindo o rio Coina para, em perigos nos dori, os pescadores capturarem, nas terras do mar do norte, o bacalhau.


Património Industrial

Azinheira Velha: neste local no Período da Expansão Marítima existiu um estaleiro de construção naval de primeira li-

nha - rectaguarda logística da Ribeira das Naus, em Lisboa. À esquerda vemos a Quinta da Caldeira ou Quinta do Padre Hymalaia. Neste espaço laboravam dois Moinhos de Maré: o do Maricote (séc. XVI) e o do Duque (séc.XVIII). O Moinho do Maricote terá, talvez, pertencido a Pero Quaresma, almoxarife dos fornos de Vale de zebro e escudeiro do Mestre da Ordem de Santiago, D. Jorge de Lencastre. Na Azinheira Velha foi instalada em 1891 a Parceria Geral de Pescarias, mais conhecida como Seca do Bacalhau.

Telha Velha: topónimo ligado ao período áureo da Expansão Marítima. Neste lugar ergueu-se a Ermida de Stº André.

Desde o estaleiro da Ribeira das Naus ou do rio da Telha até à Seca do Bacalhau este espaço esteve sempre ligado às gentes do mar, mas também à agricultura, alguns ainda se lembrarão das Quintas dos Arcos e das Canas. FUNDiÇÃO 23


BARREIRO

FábricadeEmoções

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