Editorial
Nasceu! Bem-vindo às páginas do primeiro número da Revista do IPT - Pesquisa & Tecnologia. Nascida como veículo de comunicação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, a revista tem o objetivo de informar nossos clientes, fornecedores, funcionários e colegas de serviço público estadual sobre o que estamos produzindo. Nesta primeira edição, uma reportagem especial retrata a trajetória do IPT em 110 anos, completados em 24 de junho. Mais do que uma história, é a confirmação de que o instituto tornou-se uma coluna de sustentação ao desenvolvimento tecnológico paulista e nacional. Pela linha do tempo, o leitor pode conferir que o IPT foi essencial nos anos 20 para o avanço da indústria paulista, pesquisando materiais para a construção de estradas de ferro e usinas hidrelétricas. Já na década de 40, passou a estudar produtos de madeira para aviões e planadores. Nos anos 70, foi a vez do Metrô paulista. E nos 80, da rodovia dos Imigrantes e das hidrelétricas Sobradinho e Itaipu. A Revista do IPT - Pesquisa & Tecnologia não para por aí. O projeto de modernização diz a que veio, os novos laboratórios são detalhados, e mostramos quem está participando do projeto que leva pesquisadores a capacitarem-se no exterior. Da Inglaterra, Amarilis Gallardo conta sua experiência no pós-doutorado em Avaliação Ambiental Estratégica. A revista traz ainda reportagens sobre o que há de novo nos centros técnicos e até a atriz Vera Holtz, falando de sua passagem pelo IPT, no anos 70. Você tem uma história boa para contar? Faça suas sugestões de reportagem, avalie o material, critique pelo e-mail imprensa@ipt.br. Boa leitura.
revista do IPT
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expediente
José Serra Governador do Estado de São Paulo
João Fernando Gomes de Oliveira Diretor Presidente
Alberto Goldman Vice-Governador do Estado de São Paulo
Altamiro Francisco da Silva Diretor Financeiro e Administrativo
Geraldo Alckmin Secretário de Desenvolvimento do Estado de São Paulo
Walter Furlan Diretor de Processos e TI Álvaro José Abackerli Diretor de Operações e Negócios Fernando José Gomes Landgraf Diretor de Inovação
Revista do IPT ISSN 2175-3245
Projeto Gráfico e Diagramação Anibal Sá Design
Gerente de Relações Corporativas Mariana N. Zanatta Inglez
Produção Fotográfica Rita Parise Guilherme Mariotto
Gerente de Marketing Gabriela Monteiro da Silva Pereira Produção Editorial Atelier de Imagem e Comunicação
Fotografia Acervo Comitê Agência Luz Arquivo IPT Clovis Deangelo
Coordenação Editorial Teresa Cristina Miranda MTb 12.170 Editor Lucia Reggiani MTb 11.479 Editor Assistente Danilo Vicente Textos Flavio Freitas Helder Lima João Garcia Mariana Passos
Creative Commons Divulgação/Rede Globo Luiz Antonio Pereira de Souza Luiz Prado Luludi Mariana Marchesi Mariana Passos Marcelo Gramani Marcelo Soares Mateus Iglesias Milton Mansilha NASA Raquel Amaral Sérgio Brazolin
A Revista do IPT - Pesquisa & Tecnologia é uma publicação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT, distribuída gratuitamente. Seu conteúdo é informativo, e sua venda, proibida. www.ipt.br Impressão e Acabamento 2
revista do IPT
índice 6
SEÇÕES Nanotícias
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Tecnologia em quadrinhos
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Artigo Divisor de águas para o meio ambiente
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Você sabia?
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Modernização total
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Em construção, o LEL
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IPT de cara nova
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Sem fronteiras
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ESPECIAL
110 anos bem vividos
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as realizações do IPT em suas onze décadas de dedicação à pesquisa tecnológica
No rigor do método científico
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Em busca do melhor remédio
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Prumo e Progex ajudam pequenas empresas a crescer
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Os salva-vidas na terra
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Em alto estilo
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Navegar com precisão
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Vera Holtz: do IPT aos palcos
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Ao construir, recicle
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Com o vento a favor
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Pronto-socorro de árvores
Um robô superprodutivo
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Um tesouro bem aqui revista do IPT
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n a n o t í cias
Dá para plantar eucalipto no NE? O IPT iniciou em maio estudo para o cultivo de eucalipto no Nordeste brasileiro, em parceria com o Banco do Nordeste Brasileiro (BNB). O
projeto irá orientar o investimento em implantação de florestas de usos múltiplos, reduzindo a pressão de desmatamento da caatinga na região, sem prejuízo à dinâmica do crescimento das atividades econômicas. O Escritório Técnico de Estudos Econômicos do banco financia o projeto. Os pesquisadores realizarão o zoneamento e a caracterização do setor de produção florestal de eucalipto no Nordeste, com levantamento de dados, pesquisa com plantio, tecnologias de produção, análise das cadeias produtivas e mapeamento de cobertura vegetal.
Evolução da tecnologia é tema de palestras
Móveis de eucalipto ensaiados no CT-Floresta
t e cn o l o g i a em
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Transformação foi o tema do ciclo de palestras realizado em maio no IPT. Ronaldo Mota, assessor especial do Ministério da Ciência e Tecnologia, abriu a programação, em 7 de maio, e abordou a
q u adrin h os
produção de conhecimento, fazendo um resgate histórico dos acontecimentos e pensadores que tiveram mais destaque na evolução da Ciência. O professor titular de Ética e Filosofia Política da USP, Renato Janine Ribeiro, na segunda palestra (em 19 de maio), falou sobre evoluções tecnológicas. João Fernando Gomes de Oliveira, diretor presidente do IPT, fechou o ciclo com palestra sobre o futuro do instituto e as mudanças que já estão em andamento.
Workshop discute difração de raio-X As aplicações da difração de raiosX na indústria mineral foram discutidas no workshop realizado nos dias 11 e 12 de maio pelo IPT, em parceria com a PANanalytical, fornecedora de instrumentos analíticos e software. A difratometria é uma técnica utilizada para determinar a estrutura física de minerais, por exemplo. No
processo, as substâncias do componente analisado agem quando expostas a um feixe de raios.
de material reciclado”, afirma Brasil Santiago, especialista em processos plásticos do IPT.
Projeto Prumo vai à Brasilplast
Mais ruído em aeroporto
O aniversário de 10 anos do Projeto Prumo e a divulgação de casos de sucesso marcaram a participação do IPT na 12ª edição da Brasilplast, feira internacional da indústria de plástico, em maio. O IPT dividiu estande com o Instituto Nacional do Plástico (INP), divulgando duas experiências bem-sucedidas do Prumo: a CartaPlast e a Sandaplast. Fabricante de sacolas, a CartaPlast não reciclava as aparas – a ação do IPT voltou-se ao uso desse material em produtos de segunda linha. Na Sandaplast, a questão era otimizar o processo de produção por monofilamento, multifilamento e chapas finas flat die. “Antes eles utilizavam somente matéria-prima virgem, e oferecemos a alternativa do uso
O IPT finalizou laudo sobre o barulho do aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto (SP). Os técnicos constataram que o nível de ruído encontrado no entorno foi maior que o apresentado em 2007, mas menor que o limite legal. A existência de casas e escolas nas proximidades, por sua vez, mostrou que não foi seguido um plano de zoneamento, como manda a lei.
tese dos resultados obtidos em 27 estudos setoriais e temáticos e duas rodadas de seminários, realizados em 2007 e 2008, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Os trabalhos envolveram especialistas e executivos com propostas para melhorar a competitividade da economia paulista. A publicação está disponível para download no site da Secretaria de Desenvolvimento: www.desenvolvimento.sp.gov.br.
Competitividade registrada O livro Competitividade da Indústria Paulista: Propostas de Políticas foi lançado pelo IPT. A obra, encomendada pela Secretaria de Desenvolvimento, traz uma sín-
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Microscópio eletrônico de varredura: um dos novos equipamentos do Laboratório de Corrosão Interna de Dutos
modernização O IPT investe 150 milhões de reais na ampliação de sua capacidade de desenvolvimento tecnológico
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odernização tornou-se a palavra-chave do IPT nos últimos dois anos. Desde 2008,
o instituto traz na pauta diária de discussões e ações a modernização de suas instalações. Infraestrutura, novos equipamentos e recursos humanos receberão investimentos de cerca de 150 milhões reais até 2010. O objetivo é fortalecer os projetos de maior valor agregado em pesquisas avançadas, sem deixar de lado o atendimento às demandas tecnológicas das empresas. Atualizado e equipado, o instituto poderá trabalhar com maior capacidade no desenvolvimento tecnológico, buscando antever as demandas industriais.
Para atingir seu objetivo, o IPT quer fortalecer os setores nos quais atua, além de ingressar em novas áreas, como a pesquisa em materiais compósitos do Laboratório de Estruturas Leves (leia mais na pág. 13), em implantação na cidade de São José dos Campos, e o Centro de Bionanotecnologia, em São Paulo, que será especializado em pesquisas sobre nano e biotecnologia de forma integrada. A capacitação laboratorial, que oferecerá respostas rápidas e precisas às demandas das empresas, é um dos componentes importantes do projeto de modernização, que contempla também a gestão dos recursos humanos – o projeto inclui a contratação de cerca de 200 colaboradores por concur-
te, de instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Petrobras. Somente para 2009 estão previstos investimentos do governo estadual de 57 milhões de reais: 27 milhões de reais para a importação de equipamentos (12 milhões de reais já estão cotados) e 30 milhões de reais para obras civis. As obras incluem a construção dos três novos laboratórios – Ensaios Pesados, Bionanotecnologia e Compatibilidade Eletromagnética –, que consumirão 20 milhões de reais. Os 10 milhões de reais restantes para obras serão repartidos
de modernização do IPT enfatiza as novas capacitações laboratoriais dos seguintes centros: >> CETIM (Centro Tecnológico da Indústria da Moda) – A oferta de serviços no âmbito do CETIM vem crescendo nos últimos anos, refletindo a variedade de serviços e empresas envolvidas na cadeia de produção de roupas e calçados no Brasil. Os ensaios com produtos têxteis são tradicionais no IPT – os primeiros testes remetem à época da fundação do instituto, quando chamava-se Laboratório de Resistência dos Materiais –, mas a necessidade de atualização é constante. O projeto Ampliação e Modernização da Capacitação Analítica Metrológica do Laboratório Têxtil vem sendo realizado
total O destino dos recursos
entre as melhorias dos acessos das vias dentro da própria sede, sanitários (juntos, eles ocupam uma área de 3 mil metros quadrados), escritórios dos centros técnicos, restaurante, área de recursos humanos, entre outros locais.
A maior parte dos 150 milhões de reais destinados à modernização do IPT vem do governo do Estado de São Paulo (80%), e, o restan-
No esforço de oferecer respostas rápidas às demandas do mercado e trabalhar com mais propriedade na pesquisa avançada, o projeto
so público (realizado em 2008), o envio de pesquisadores para treinamento no exterior e o estudo de plano de cargos e salários.
com apoio da Fapesp, da Finep e de recursos do próprio instituto. A inauguração da reforma do laboratório de têxteis será realizada no segundo semestre;
>> CINTEQ (Centro de Integridade de Estruturas e Equipamentos) – Dois projetos estão em desenvolvimento no âmbito desse centro. Um deles refere-se à instalação do Laboratório de Corrosão Interna revista do IPT
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de Dutos (LACID), com conclusão prevista para novembro de 2010. Outro projeto trata da ampliação da infraestrutura do Laboratório de Corrosão e Proteção (LCP), inaugurado em 8 de julho. Assim, a área de corrosão do CINTEQ terá sua infraestrutura física dobrada, com mais 1,5 mil metros quadrados de instalações.
Teste de manchamento de tecido realizado no CETIM
Com os novos equipamentos de microscopia, a escala do trabalho mudará, passando de micro para nano. Haverá ainda equipamentos para a análise da corrosão a altas temperaturas, que permitirão aplicações práticas na indústria petroquímica, sobretudo na pesquisa de revestimentos resistentes a altas temperaturas. Outra linha de investigação que se fortalece com o projeto é a de corrosão em armaduras de con8
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Pesquisador trabalha no laboratório de corrosão do CINTEQ
creto. Essa é uma área em que o IPT tem competência estabelecida, mas que passa a atuar com o que há de mais moderno. Os novos equipamentos permitirão, por exemplo, que o prazo dos ensaios de corrosão sob tensão seja reduzido de um mês para dois dias. Boa parte das novas capacitações destina-se a atender às novas demandas no setor de petróleo e gás, com a exploração da camada pré-sal, uma vez que o trabalho com óleo bruto e derivados ocorre a altas temperaturas. Os equipamentos de microscopia, por sua vez, vão permitir estabelecer novas fronteiras na pesquisa de corrosão, pois os estudos do
Brasil nessa área ainda são poucos em comparação às pesquisas mais desenvolvidas. >> CMF (Centro de Metrologia de Fluidos) – Na área de mecânica dos fluidos, estão em desenvolvimento cinco projetos importantes de capacitação laboratorial: 1) Construção e montagem de laboratório de teste e ensaios de sistemas de medição de óleo e derivados líquidos de petróleo: esse laboratório fará parte da rede temática de metrologia da Petrobras. O aporte de recursos é da ordem de 7 milhões de reais, proveniente de parceiros como a Finep, o governo do Estado de São Paulo e a própria Petrobras;
2) Laboratório de Sistemas de Ar Comprimido e Gases (LASAG): será o primeiro laboratório do país para equipamentos de compressão de ar e gases, avaliando compressores, filtros e secadores, entre outros equipamentos. Por meio do desenvolvimento desse projeto, será possível certificar a qualidade do ar comprimido em sistemas hospitalares e industriais; 3) Ampliação da capacidade do Laboratório de Óleo, com o apoio da Petrobras e da Finep, prevista para o mês de novembro; 4) Modernização do Laboratório de Vazão de Gás: trata-se de um projeto de fomento, que garantirá a expansão e a atualização da tecnologia desse laboratório, em operação desde 1994; 5) Implementação de melhorias no túnel de vento: esse equipamento do IPT foi construído há cinco anos. O projeto de modernização permitirá que o túnel seja atualizado e instrumentado. Nessa nova fase, serão realizadas simulações com modelos de plataformas de petróleo, sobretudo para definir o estudo de layout de plataformas. Os recursos investidos são de 3 milhões de reais, incluindo a instrumentação com novos analisadores e obras civis. Tais melhorias farão a Petrobras deixar de usar um túnel de vento na Dinamarca, atualmente o único em condição de atender à demanda. Com o processo de nacionalização, os ensaios ficarão mais acurados, uma vez que harevista do IPT
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verá mais tempo disponível para as investigações. O equipamento também é usado nas simulações dos esforços de vento sobre a estrutura de edificações. >> CNAVAL (Centro de Engenharia Naval e Oceânica) – O plano de capacitação desse centro, denominado Projetos de Navios de Grande Porte: Incremento, Capacitação Laboratorial e Implantação de Centro Multiusuários, conta com o apoio da Finep e da Petrobras. O programa permitirá uma maior eficiência e agilidade na construção de modelos de navios, propulsores e apêndices de cascos. O centro multiusuários atuará nas áreas de hidrodinâmica de cascos, propulsão e manobra de embarcações. Esse projeto terá impacto em diferentes segmentos da indústria naval, como a fabricação de máquinas e equipamentos de uso específico; construção e reparação de embarcações e estruturas flutuantes; transporte marítimo de cabotagem e de longo percurso, e pesquisa e desenvolvimento das ciências físicas e naturais. Haverá também benefícios sob a perspectiva do impacto ambiental, uma vez que o projeto irá colaborar para mitigar os acidentes com embarcações. Além disso, facilitará o desenvolvimento de estudos e de modelos hidrodinâmicos, de sistemas computacionais e de métodos de medição de parâmetros físicos, sem contar a confecção com agilidade de modelos de navios e de propulsores. 10
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Teste de avaliação de medidores de gás: informação garante a eficiência do parque de medidores da concessionária paulista Um importante equipamento que dá suporte a esses objetivos é um robô aplicado na usinagem de modelos (leia mais na pág. 85), que reduz a produção de até 45 dias para até cinco dias. O sistema usa blocos de poliuretano com camadas de fibra de vidro para dar resistência aos objetos de ensaio. O robô, de origem sueca, tem 3,2 metros de braço e alcança essa distância na mesma circunferência. As novas instalações devem funcionar em setembro; >> CTPP (Centro de Tecnologia de Processos e Produtos) – A modernização no centro começou na metade de 2008, por meio do planejamento de investimentos de 9 milhões de reais, na primeira fase. Os recursos foram direcio-
nados para as áreas de nanotecnologia, compósitos, bioenergia e microtecnologia. Dos projetos de capacitação, dois são destaque: o desenvolvimento do processo tecnológico de laminação automatizada (fiber placement) em estruturas aeronáuticas, e a modernização da capacitação do instituto em caracterização microestrutural de materiais. Os investimentos atualizarão o CTPP, em especial o Laboratório de Biotecnologia Industrial (LBI) e o Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas (LPP), com equipamentos de ponta. Eles serão aplicados principalmente no desenvolvimento de produtos e materiais, empregando ou não o conceito de intensificação de
processos (microtecnologia). Está em planejamento também um edifício para abrigar o novo parque de equipamentos. Para as pesquisas de bionanotecnologia e microtecnologia, por exemplo, estão sendo adquiridos cromatógrafos de fase líquida e gasosa de alta performance; microscópios eletrônicos de alto desempenho; plantas piloto instrumentadas; biorreatores e máquinas de microusinagem de precisão, entre outros. >> CETAC (Centro Tecnológico do Ambiente Construído) – No âmbito desse centro, estão em desenvolvimento dois projetos de capacitação laboratorial: 1) Caracterização da reação ao fogo de materiais: o projeto conta com o apoio financeiro da Finep. O in-
vestimento total previsto atinge 570 mil reais;
ágeis os processos de contratação de bens, serviços e obras.
2) Laboratório de Chuveiros: recebe investimento de 700 mil reais para ampliar sua capacidade metrológica, permitindo testes de maior confiabilidade e rapidez. A importância da pesquisa se dá principalmente porque o chuveiro é o equipamento de maior consumo de energia elétrica nas residências dos brasileiros.
“A denominação ‘célula’ deve-se ao fato de ela ser uma reunião de colaboradores de diversos setores que, juntos, conseguem tornar os processos de construção e de compras e importações mais rápidos. Não deixamos de seguir a lei 8.666, que institui normas para licitações e contratos da administração pública, mas conseguimos reduzir os processos internos”, diz Wilson Shoji Iyomasa, responsável pela Gerência de Modernização da Infraestrutura (GMI), criada no último mês de abril para coordenar os recursos e a execução das obras de instalação dos novos equipamentos laboratoriais.
Gestão do projeto Como parte do suporte à capacitação laboratorial, o IPT criou, no mês de julho de 2008, a Célula de Gestão do Processo de Modernização. Constituída por uma equipe composta de colaboradores de todas as diretorias do instituto, a missão da célula é tornar mais
Ensaio de modelo em escala reduzida de plataforma de petróleo no tanque de provas do CNaval
“Antes, o pesquisador elaborava um pedido e entregava-o ao diretor do centro, que o encaminhava à diretoria, ou seja, havia uma longa circulação por vários departamentos. Agora, as solicitações saem da diretoria do centro para a Diretoria de Operações e Negócios e são encaminhadas para a Célula de Gestão”, explica Iyomasa. A GMI tem ainda sob sua responsabilidade a inserção dos dados das obras civis nos laboratórios em um cronograma unificado no sistema de gestão de projetos MS Project, que cruza essas informações com as das chegadas de equipamentos: “O objetivo é não deixar equipamentos parados. Isso pode trazer problemas não só de produtividade, mas também de perda da garantia do fabricante”. Para cumprir essa meta, reuniões revista do IPT
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O levantamento das atuais condições dos centros técnicos mostrou aos pesquisadores a necessidade da execução de pequenas obras, como troca de pisos e de posições de tomadas, além de repensar a destinação de áreas ocupadas por móveis e caixas de documentos.
Boilers residenciais durante teste no laboratório de aquecimento de água do CETAC são realizadas todas as semanas para a programação de ações do período, envolvendo profissionais do IPT das áreas de projeto, infraestrutura, célula do projeto de modernização e diretoria. O MS Project recebe as solicitações das áreas técnicas, que contêm as requisições de compras de equipamentos e detalhes sobre custo, prazo, instituições para o financiamento etc. Após a conclusão da compilação dos dados, a etapa seguinte é a definição de quais equipamentos serão adquiridos em 2009, para acelerar as obras e evitar que as máquinas fiquem paradas quando chegarem ao instituto. “Devemos combinar as ações de compras e obras, pois as primeiras são muito mais rápidas”, explica Iyomasa. A Gerência de Modernização da Infraestrutura realizou em seu
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primeiro mês de trabalho o levantamento das necessidades de reformas e construções dos centros técnicos. “Em cada local, verificamos quais ações precisam ser tomadas e listamos os materiais; vamos aproveitar dados coletados pelo departamento de infraestrutura do instituto com propostas de projetos”, afirma Iyomasa.
Primeiro balanço A ideia do gestor é fazer uma caracterização das necessidades dos centros, das áreas administrativas e das áreas de apoio, para então discutir essas questões. As informações colhidas estão em processo de inserção no MS Project e serão compiladas com os dados (ainda em coleta) provenientes das avaliações de outras áreas, como o restaurante e a Coordenadoria de Recursos Humanos (CRH).
“Há muitos documentos em papel que poderiam ser microfilmados ou transformados em arquivo digital. Não podemos esquecer que muitos deles precisam ser guardados, mas outros poderiam ser armazenados de forma magnética”, explica Iyomasa. Esse seria um próximo passo do projeto, no qual haveria a discussão sobre a construção de um prédio para o armazenamento dos documentos ou a terceirização da guarda deles. A destinação mais adequada dos equipamentos em desuso ou desatualizados, encontrados pela equipe do GMI em suas visitas aos centros de pesquisa, seria, na opinião de Iyomasa, a doação para institutos voltados ao ensino técnico ou universidades. A participação dos pesquisadores passará agora a ser fundamental para alterar o quadro encontrado. “Eles podem nos ajudar repensando o uso dos espaços e otimizando as áreas ocupadas com estações de trabalho, por exemplo, para que sobre mais espaço para os colaboradores”. Para essas ações, a gerência de modernização está ampliando sua equipe. Entre as novas contratações estão um arquiteto e um tecnólogo em edificações, além de um estagiário.
Em construção,
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LEL
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IPT instala o primeiro laboratório de estruturas leves do país em São José dos Campos ainda este ano
A
cidade de São José dos Campos pode se preparar. Até o final de
2009, o primeiro laboratório de materiais compósitos (que mesclam dois ou mais tipos de substâncias) do Brasil chegará à cidade, coração do setor aeronáutico nacional. Será o Laboratório de Estruturas Leves (LEL), nova unidade do instituto no interior de São Paulo. Com investimentos de 90,4 milhões de reais, provenientes do governo do Estado, da Embraer e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o LEL pretende ajudar o Brasil a dominar tecnologias essenciais à competitividade internacional no setor aeroespacial, desenvolvendo, principalmente, novos materiais capazes de reduzir o peso de aeronaves. O IPT, que possui uma unidade em Franca, além da sede na cidade de São Paulo, será responsável pela operação, pelo plano de negócios e pela manutenção das instalações, no Parque Tecnológico de São José dos Campos. O BNDES já liberou o repasse de 27,6 milhões de reais ao IPT e à Fapesp, para viabilizar a instalação de equipamentos e o financiamento de pesquisas. A área do laboratório foi cedida pela prefeitura de São José dos Campos. Aos 14
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recursos repassados pelo BNDES, por meio do Fundo Tecnológico (Funtec) – destinado a financiar projetos voltados para o desenvolvimento tecnológico e a inovação de interesse estratégico –, somam-se 4,7 milhões de reais da Fapesp, 7,3 milhões de reais do IPT, 8,8 milhões de reais da Finep e 42 milhões de reais da Embraer (calculados em homens/hora). De acordo com o diretor do Centro de Integridade de Estruturas e Equipamentos - CINTEQ do IPT, Luiz Eduardo Lopes, o LEL deverá ser concluído dentro de três anos, mas já em 2010 haverá áreas em condição de operação.
COMO REDUZIR O PESO DA AERONAVE? “Embora o laboratório nasça com foco na indústria aeronáutica, será capaz de desenvolver tecnologias transversais com aplicação, por exemplo, nas indústrias automobilísticas e de autopeças, petróleo e gás, naval, bélica, de geração e transporte de energia elétrica, construção civil e bens de capital. Além dos compósitos, o laboratório trabalhará com materiais metálicos”, afirma Lopes. Segundo o diretor do CINTEQ, o laboratório terá importância vital para a indústria aeronáutica.
“A maior preocupação do setor na atualidade é o peso das novas aeronaves. Há uma tendência mundial de aumento da utilização de compósitos nas estruturas que suportam a carga de vôo. O Brasil está ligeiramente defasado no desenvolvimento dessas tecnologias, mas o laboratório virá em um bom momento para fecharmos essa lacuna”, diz. O laboratório irá pesquisar, por exemplo, aumento na resistência dos materiais estruturais das aeronaves. Isso permite a ampliação da pressão e da umidade relativa do ar dentro da aeronave, melhorando o conforto durante a viagem. O desafio é conseguir essa maior resistência sem aumentar o peso da estrutura. “Para unir as placas de metal que formam a estrutura são utilizados rebites. Isso exige a sobreposição das placas, o que aumenta o peso da aeronave. Para mudar esse paradigma, é preciso incorporar o desenvolvimento tecnológico em um processo de fabricação diferenciado. O LEL terá equipamentos para testar e construir esses materiais e será capaz de fazer modelagens e simulações para que essas tecnologias possam ser integradas em processos produtivos”, destaca Lopes. Outra novidade do LEL será o assessoramento de um comitê composto de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. “Criamos, em acordo com a Fapesp, um conselho consultivo encarregado de manter a compatibilidade da
Luiz Eduardo Lopes, diretor do CINTEQ, apresenta o modelo de operação do LEL em palestra em São José dos Campos
agenda de desenvolvimento tecnológico do laboratório com o que é feito nas principais instituições do mundo nessa área”, diz o diretor do CINTEQ.
plo, não pode ser feita a mão. Por isso, o laboratório necessitará de máquinas de comando numérico que garantam a replicabilidade e a qualidade dos produtos.
e dominar a concepção, o projeto e o desenvolvimento de estruturas para reduzir de 10% a 15% o peso e em 10% o custo do material metálico utilizado em aeronaves.
Luiz Eduardo Lopes afirma que, assim como os outros laboratórios do IPT, o LEL ficará disponível para iniciativas de pesquisadores de outras instituições e centros industriais de pesquisa e desenvolvimento. Será instalado em uma planta térrea de cerca de 4 mil metros quadrados. Os equipamentos, todos de alta tecnologia, já estão encomendados.
“O LEL terá ainda duas grandes máquinas que permitirão a deposição automática, robotizada, da fibra de carbono para fabricação de peças para diversos tipos de aplicação”, diz Lopes.
Outros dois projetos estruturantes do laboratório, encampados pela Embraer, irão investigar procedimentos de fabricação e a aferição de desempenho de estruturas metálicas produzidas a partir de ligas e de processos de conformação avançados.
A aplicação de fibra de carbono na fabricação de uma peça para a indústria aeronáutica, por exem-
Quatro projetos O LEL surge com quatro projetos. O primeiro é desenvolver conhecimento e capacitação para o uso de tecnologias de fabricação de estruturas de materiais compósitos
O quarto projeto terá foco em novas tecnologias para a fabricação de fuselagens com o equipamento de fiber placement, que depõe automaticamente camadas de fibras para composição do material. revista do IPT
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O
cara nova
Portal na internet e logomarca traduzem as transformações em curso no instituto
IPT está mudando. A cada
dia fica mais moderno, antevê tendências, amplia sua área de atuação. Para traduzir essa nova fase, no mês de julho, o instituto ganhou novo portal na internet (www.ipt.br) e logomarca repaginada, totalmente alinhados às recentes transformações.
A ideia de uma nova marca para o IPT foi lançada em 2008, em estudo da M. Stortti. Por meio de uma pesquisa qualitativa, a marca foi avaliada e reformulada. Decidiu-se, então, por um novo posicionamento de ações de comunicação e marketing. Missão, visão e valores foram redefinidos (leia mais na pág. 17).
Para comunicar ao público a mudança, foi necessária uma nova identidade que, além de fortalecer os atributos positivos que a marca já possuía, transmitisse o novo posicionamento da instituição. A construção da nova marca do instituto passou pela definição dos valores que deveriam ser 16
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de
“Diagnosticamos que a marca anterior já não representava seu potencial na criação de soluções tecnológicas nem era capaz de transmitir a nova imagem, que começa a surgir com esse processo de transformação”, afirma Gabriela Pereira, responsável pelo Marketing Corporativo.
transmitidos: Evolução, Energia, Articulação e Criatividade. “O desafio foi criar uma imagem contemporânea, mas que guardasse relação com a forte credibilidade construída durante os 110 anos de existência do IPT”, diz Guilherme Mariotto, designer e criador da logomarca. As mudanças são sutis, mas bastante importantes. O site do IPT também passou por uma transformação. Para desenvolver um novo produto e desenhar a estrutura de conteúdo do portal, a empresa V6 trabalhou em conjunto com a equipe do Marketing Corporativo, o que facilitou a organização, a hierarquização e a padronização das informações. A ideia foi, sempre, proporcionar um acesso mais estimulante, claro e agradável, com um layout atrativo, para potencializar a navegação. O grande desafio do site é mostrar as competências do IPT. Por isso, a nova arquitetura tratou de proporcionar ao usuário a facilidade de encontrar conteúdos de acordo com seu interesse. A forma de apresentação das soluções tecnológicas transversais permite ao navegante conhecer a multidisciplinaridade do IPT. Assuntos relacionados são agora oferecidos em destaque, e as novas
Missão, visão e valores do IPT Missão Criar e aplicar soluções tecnológicas para aumentar a competitividade das empresas e promover a qualidade de vida.
Tela da página de abertura do novo site do IPT, com notícias, busca interna e o ranking das cinco áreas mais acessadas
funcionalidades agilizam o acesso a seções como: notícias, vídeos, galerias de imagens, casos de sucesso, colunas e artigos técnicos, eventos e cursos relacionados. Na página principal, o site traz os cinco links mais procurados (Top 5), acesso às áreas dos centros tecnológicos do IPT, dos segmentos de mercado nos quais o instituto atua, do mestrado profissional, além da opção de ver o site em inglês ou em espanhol. “Aproveitando os 110 anos de aniversário, temos uma oportunidade enorme de mostrar a cara do IPT: moderno e gerador de conhecimento”, afirma João Fernando Gomes de Oliveira, diretor-presidente do instituto.
A equipe do Marketing Corporativo se reuniu com as áreas técnicas do IPT para discutir o melhor acesso ao conteúdo gerado pelos quatro laboratórios de cada um dos doze centros tecnológicos, que produzem 270 soluções para o mercado. Esse trabalho durou sete meses, entre planejamento, execução, especificação, estruturação e criação de conteúdo. “Claro que deu trabalho, mas a colaboração dos membros técnicos do IPT e da equipe da Coordenadoria de TI foi fundamental para chegarmos ao resultado alcançado. O instituto sai à frente com um portal e uma logomarca modernos, condizentes com seu novo perfil”, diz Gabriela.
Visão Ser instituição líder nacional e atuar internacionalmente no desenvolvimento de tecnologias avançadas.
Valores 1. Integridade: ética, probidade, honestidade, isenção. 2. Excelência: competência técnica e qualidade em procedimentos com busca contínua de melhoria.
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A evolução da marca IPT 1979 - 1980
A marca representada pelas iniciais IPT começa a ser usada oficialmente
1980 - 1993
1999
Marca comemorativa do centenário do IPT, usada por um ano
2009
Modernizado, o logotipo agrega um box
1994 - 1996 O significado do novo logotipo
O box sai de cena, e a marca se mantém em preto
1996 – 2009
A cor das iniciais muda para azul
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Da movimentação do pingo do “i” para o canto superior direito nasce um grafismo que traduz o pensamento, a criação e a ação transformadora. O segundo quadrado ascendente representa a solução tecnológica, resultado da atuação do IPT. O elemento em azul mais claro traz força para o movimento ascensional e marca a multidisciplinaridade do instituto. O grafismo guarda relação com o “t” de tecnologia, que funciona como base de lançamento para a atuação transformadora. Na tipografia, a mistura de extremidades retas e curvas representa a união da precisão e da técnica com o pensamento criativo, necessários para a superação dos desafios tecnológicos.
Richard Pahl e família em Portugal, no período em que se especializou em engenharia têxtil
Sem fronteiras Pesquisadores falam da experiência internacional proporcionada pelo programa de capacitação no exterior promovido pelo IPT oportunidade de estudar no exterior levou tempo para aparecer, mas valeu
Trazer para o Estado de São Paulo os mais avançados conhecimentos tecnológicos do mundo é o objetivo do PDCE, que desde o ano passado envia pesquisadores e técnicos para aprimoramento técnico no exterior. Quatro especialistas do IPT foram estudar fora, em Portugal, Estados Unidos, Itália e Inglaterra e tiveram experiências únicas e mais conhecimento. Outros estão com viagens agendadas. A meta é enviar cem pesquisadores para aperfeiçoamento até o fim de 2010.
a pena esperar. Richard Pahl, responsável pelo Laboratório de Têxteis e Confecções do Centro Tecnológico da Indústria da Moda - CETIM, embarcou para Portugal no mês de outubro de 2008 e ficou por lá durante seis meses, especializando-se em engenharia têxtil. Pahl foi o primeiro pesquisador do IPT a participar do Programa de Desenvolvimento e Capacitação no Exterior (PDCE).
Richard Pahl especializou-se em tecnologias empregadas na avaliação de conforto sensorial e termo-fisiológico dos materiais têxteis na Universidade do Minho, no campus da cidade de Guimarães. “No Brasil não existe pós-graduação em engenharia têxtil. A única maneira que eu tinha de me especializar era participando de um curso no
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exterior. Sem a ajuda do instituto, eu não poderia ter alcançado esse objetivo”, afirma o especialista do CETIM. Para participar do programa, Pahl e seus colegas passaram por várias etapas. O profissional precisa manifestar sua vontade e indicar a pesquisa a ser produzida ao diretor responsável pelo centro de pesquisa. Passada essa etapa, o projeto aprovado segue ao diretor de operações e negócios. Se confirmada a viabilidade, a proposta é enviada ao setor de relações internacionais para finalizar os trâmites de viagem – vistos, parceria com o centro de estudos, locais de passagem, entre outros. O IPT fornece ajuda de custo a treinamentos, cursos e estágios, baseada nas tabelas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Também custeia despesas de viagem para o pesquisador e seu cônjuge, auxílio estadia, seguro-saúde e auxílio instalação, o que proporciona mais equilíbrio, qualidade de vida, segurança e empenho para o pesquisador fazer seus estudos. Um ponto importante: sempre as atividades desenvolvidas pelo funcionário no exterior devem estar alinhadas com as áreas de atuação e interesse do instituto. O vínculo empregatício do pesquisador é mantido, garantindo seu salário mensal e outras vantagens estabelecidas em lei.
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“A viagem foi ótima. O aprendizado foi fundamental para minhas pesquisas. É uma forma de ganharmos conhecimento e contribuirmos para o avanço do IPT”, afirma Pahl. Além de desenvolver pesquisa, ele contribuiu para a assinatura de um contrato entre a Universidade do Minho, um centro de pesquisa em nanotecnologia de Portugal, o IPT e uma empresa brasileira que quer contribuir com o desenvolvimento de fibra têxtil produzida com a utilização de bactérias a partir da cana-de-açúcar. “O polímero do futuro promete ser ecológico e sustentável, favorecendo o Brasil e São Paulo, dada a sua enorme plantação de cana.”
Viagem de estudos dá frutos ao IPT: um contrato de pesquisa em fibra produzida com bactérias da cana Os pesquisadores Antonio Luiz Pacífico, do Centro de Metrologia de Fluidos (CMF), e Sandra Lúcia de Moraes, do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas (CETAE), também participam do programa. Pacífico embarcou para a Itália em abril deste ano para estagiar no Centro di Ricerca Interuniversitario di Aerodinamica delle Costruzioni in Ingegneria del Vento (Criaciv). Sandra foi para os Estados Unidos em janeiro fazer um
treinamento no Center for Fundamental Studies of Advanced Sustainable Iron and Steel Making. O próximo pesquisador a deixar o Brasil será Ramon Valls Martin, do Centro de Metrologia Mecânica e Elétrica (CME). Em junho, ele fará estágio na Physikalisch Technische Bundesanstalt, da Alemanha. Outros pesquisadores já manifestaram interesse em participar do programa, como Rachel Arduin, do CETIM, que pretende trabalhar na Universidade Stuttgart (Alemanha) em análise do ciclo de vida de produto aplicado à área têxtil, avaliando impactos ambientais, e Bruna Petreca, também do CETIM, que quer desenvolver estudo de percepção na avaliação sensorial de têxteis voltado à indústria da moda nos Estados Unidos. Devido à importância do programa, o IPT continua em busca de novas parcerias. Já foram assinados dois convênios de cooperação técnica com institutos alemães de tecnologia em março passado, com vigência de cinco anos. Com diferentes formas de cooperação e intercâmbio, os acordos podem incluir a troca de informações técnicas, científicas e de mercado, além do desenvolvimento conjunto de novos projetos. Uma das parcerias foi assinada por Hans-Jörg Bullinger, presidente do FhG (Fraunhofer Gesellschaft), entidade que atua no desenvolvimento de pesquisa tecnológica com uma comunidade de 13 mil cientistas e engenheiros. Nesse acordo, serão contempladas
áreas como a de materiais para ferrovias de alta velocidade, bionanotecnologia, realidade virtual, gaseificação e energia solar. Outra parceria, assinada com o instituto de pesquisa BAM (Bundesanstalt Für Materialforschung und Prüfung), contemplará a troca de informações em biodeterioração de madeira, instrumentação de estruturas, resíduos de construção civil e embalagens de produtos perigosos.
Doutorado à portuguesa A adaptação à alimentação e à temperatura foi mais dura para Richard Pahl do que a rotina da universidade
Marcando a parceria, Maria Helena Ambrosio Zanin, do Centro de Tecnologia de Processos e Produtos (CTPP), será a primeira pesquisadora a fazer intercâmbio para uma entidade alemã. Quando viajar, em setembro, pretende capacitar-se no desenvolvimento de novos produtos, tais como materiais autolimpantes, revestimentos antimicrobiais e tintas anticorrosivas, com o grupo do Fraunhofer Institut für Chemische Technologie, na cidade de Pfinzta, que acumula experiência na área.
Substituir o arroz pelas batatas e trocar a carne bovina pelo peixe foram algumas das mudanças que o pesquisador Richard Pahl teve de fazer para se adaptar aos costumes portugueses, durante a especialização na Universidade do Minho. O trabalho diário envolvia atividades laboratoriais, iniciadas às 9 horas, a uma temperatura média de três graus Celsius. Ironicamente, sentiu falta do trânsito paulistano, além dos panetones.
Com a parceria, o engenheiro Pedro Dolabella Portela, diretor e professor da BAM, espera desenvolver soluções para novas aplicações, otimizando-as para a situação específica do Brasil.
Engenheiro têxtil com especialização em segurança do trabalho, Pahl iniciou o doutorado no exterior no fim de 2008. Sua orientadora é Ana Cristina Broega, também engenheira têxtil, com mestrado e doutorado em padrões de conforto para tecidos de lã com foco na indústria. Ela fez trabalhos na Inglaterra, Austrália e Portugal e tem pedidos de registro de patentes nessa área, em que o CETIM pretende atuar.
Para Martin Richter, do Instituto Fraunhofer, o IPT é “um parceiro promissor num país como o Brasil, com destaque no mercado de energia. Também em áreas como microfluídica, bio e nanotecnologia poderemos gerar ideias e projetos importantes”, afirma.
Richard Pahl prevê terminar em 2011 o doutorado iniciado em Portugal no ano passado A Universidade do Minho, em que estudou, dispõe de equipamentos de alto valor agregado. Seu Departamento de Engenharia Têxtil possui professores doutores e três mestres, além de um grupo eclético de engenheiros têxteis, químicos, mecânicos e eletrônicos que trabalham com multidisciplinaridades. “A rotina dessa universidade é muito semelhante à do trabalho no CETIM”, diz Pahl. Seu doutorado tem término previsto para 2011, pois foi dispensado de cumprir os créditos das disciplinas por ter ingressado em um programa especial.
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Vontade de continuar a pesquisa de doutorado sobre instrumentos de gestão ambiental. Essa foi a principal motivação de Amarilis Gallardo, pesquisadora do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas (CETAE), para entrar no programa de capacitação no exterior. Escolheu a Inglaterra como destino para os estudo por ser um país com grande tradição na pesquisa em sua área de interesse. “A oportunidade de interagir e aprender com pesquisadores de
of East Anglia e escolheu como estudo de caso a aplicação desse instrumento de gestão ambiental na expansão do setor sucro-alcooleiro paulista para produção de bioetanol. Essa escola possui centros técnicos e grupos de pesquisa em diversas áreas.
Amarilis Gallardo e seus filhos na escola inglesa em que a pesquisadora do CETAE faz pós-doutorado
Alan Bond é totalmente favorável à iniciativa do IPT. “Há sempre muito a ser aprendido por intermédio da experiência de diferentes culturas de investigação e da exposição a outras literaturas. É uma oportunidade de adquirir conhecimento que beneficia
Amarilis vai à Inglaterra Pesquisadora busca aperfeiçoamento na área de gestão ambiental renomadas instituições no exterior é única e trará grandes benefícios. O contato para futuras parcerias, o aprendizado para aplicação em trabalhos do instituto e o conhecimento de como as questões relevantes vêm sendo abordadas pela comunidade de outros países é um estímulo à carreira do pesquisador”, diz a treinanda do programa. Para seu orientador, Alan Bond, diretor do Interdisciplinary Research in Environmental Assess22
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ment and Management, “novos métodos que identificam, avaliam e administram impactos ambientais muitas vezes podem ser transferidos de um ambiente institucional para outro”. A pesquisadora do IPT está fazendo pós-doutorado em Avaliação Ambiental Estratégica e Avaliação de Sustentabilidade (Strategic Environmental Assessment e Sustainability Assessment) na School of Environmental Sciences (Escola de Ciências Ambientais) da University
o pesquisador, a instituição que o recebe, e a instituição de origem”, afirma o orientador. Um pesquisador nunca pode parar de estudar, acredita Amarilis. “Somente a busca contínua de aperfeiçoamento e a soma de conhecimentos pode tornar um profissional do meio técnico mais apto a solucionar os diversos problemas que são apresentados ao IPT diariamente pela sociedade, pela indústria e pelo Estado”, ressalta a pesquisadora.
Douglas Barreto, coordenador do curso de mestrado profissional em Habitação
Dissertações de mestrandos abrem novas frentes de atuação
No rigor do método científico N o acervo de conhecimentos técnicos produzidos pelo IPT, as
dissertações dos alunos do mestrado profissional começam a ganhar cada vez mais importância. Criado em 1998, o mestrado já formou 549 estudantes, que, com seus temas de pesquisa, têm colaborado para expandir as frentes de atuação do instituto. “O mestrado profissional é um canal para a sociedade se apropriar do conhecimento”, afirma Douglas Barreto, coordenador do
curso de Habitação e pesquisador do CETAC. Ele acredita que os alunos têm papel de interlocutores da sociedade e, por isso, devem ser qualificados para diminuir o hiato que ainda hoje existe entre tecnologia e mercado. Esse tema, aliás, é recorrente no instituto, que o escolheu para uma das palestras comemorativas dos 110 anos do IPT, em maio, com abordagem do professor de filosofia da USP, Renato Janine Ribeiro. No caso do estudante do mestrado profissional, a apropriação do co-
nhecimento é realizada com base na incorporação do método científico. “Esse é um diferencial do mestrado profissional do IPT; nós preparamos o aluno para a abordagem científica e para que os problemas sejam encarados com visão crítica”, afirma Barreto. O mestrado profissional é relativamente recente na história da educação no país. Sua possibilidade foi dada por um decreto da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Edu-
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cação (MEC), em 1995. Foi então criada uma modalidade stricto sensu, denominada mestrado profissionalizante, atualmente regulamentada pela portaria nº 80, de dezembro de 1998. Os cursos têm validade legal equivalente ao mestrado acadêmico. A diferença reside nos programas de conteúdo, que perseguem a aplicação do conhecimento com finalidade profissional e vocacional, considerando a fundamentação científica. A formalização do mestrado no IPT é de 1998, mas, na prática, foi criado cinco anos antes, na vigência do convênio com a Jaica (Japan International Cooperation Agency – Agência Japonesa de Cooperação Internacional) para cursos sobre temas profissionais em habitação. Barreto explica que, de 1993 a 1995, foi mantido o curso embrionário, com características internacionais, uma vez que era destinado também a alunos de língua espanhola e mantinha professores da América Latina e
de países africanos de língua portuguesa. “No fim desse período, montamos uma proposta de curso que culminou com a portaria da Capes”, diz o professor. Ele conta que a proposta inicial incorporou também o curso de Engenharia de Computação, porque, na época, havia uma forte demanda de alunos para essa área. O mestrado profissional do IPT foi se consolidando e, atualmente, conta com 485 alunos matriculados nos quatro cursos stricto sensu (leia mais na página 25). Há ainda o curso de especialização em Tecnologia de Fundição, com uma nova turma que começou as aulas em 8 de maio.
Os desafios do curso De acordo com Mario Myiake, coordenador geral do mestrado profissional e do curso de Engenharia de Computação, um dos desafios para dar maior visibilidade ao trabalho do mestrado é abrir os
Perfil do mestrado profissional do IPT Curso
Alunos formados
Alunos matriculados
Engenharia de Computação
210
200
Tecnologia Ambiental
122
141
Processos Industriais
53
48
Habitação
164
96
Total
549
485
Fonte: coordenadoria de ensino tecnológico do ipt
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canais para publicações de trabalhos dos alunos em periódicos e anais de congressos. “Falta ainda uma cultura para que as publicações não fiquem restritas às áreas acadêmicas”, afirma. Myiake diz que a divulgação dos cursos também será reforçada pela internet. “Até o fim do ano, teremos um site para cada curso. O de Habitação já está no ar”, diz. Uma das definições da Capes para essa modalidade de mestrado é que os cursos sejam autossustentáveis, o que, na prática, significa que não há possibilidade de bolsa-auxílio. Assim, os cursos do instituto têm mensalidades que variam de 875 reais a 1.150 reais no período de dois anos. Durante esse tempo, o aluno assiste às aulas duas vezes por semana no período noturno – esse é um dos diferenciais do mestrado profissional, que permite que ele continue trabalhando – e também se dedica dois dias por semana à sua pesquisa dentro das dependências do IPT.
na internet Para obter mais informações sobre os cursos de mestrado profissional consulte: www.ensino.ipt.br - página da Coordenadoria de Ensino Tecnológico (CET) com informações gerais www.mestrado.habitacao. ipt.br - página do curso de Habitação: Planejamento e Tecnologia
Aluno desenvolve matéria-prima para cimento Produto passa por estudo de viabilidade de produção industrial
Fabiano Ferreira Chotoli, pesquisador do CT-Obras De 2003 a 2006, Fabiano Ferreira Chotoli, pesquisador do Laboratório de Materiais de Construção Civil, do Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura (CTObras), foi aluno do curso de Habitação no mestrado profissional. Na pesquisa para a dissertação, Chotoli desenvolveu tecnologia para a obtenção de clínquer de cimento a partir de escória de aciaria a oxigênio modificada, num projeto de pesquisa da equipe do CT-Obras em parceria com o Laboratório de Metalurgia e Materiais Cerâmicos do Centro de Tecnologia de Processos e Produtos (CTPP). O trabalho foi feito com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos, da siderúrgica ArcelorMittal e do IPT, que participou com a infraestrutura laboratorial. “A pesquisa já gerou um depósito de patente, e a siderúrgica estuda a viabilidade de implementação do desenvolvimento em escala industrial”, afirma. Na produção do aço, a escória é reaproveitada com limitações. Toda a fração metálica tem retorno imediato na própria aciaria, porém, somente parte do restante do material é utilizada, por exemplo, como lastro de pavimentação. A pesquisa de Chotoli consistiu em utilizar os subprodutos gerados a partir de escória de aciaria, por meio da redução do teor de ferro em reações a temperaturas elevadas (pirometalurgia), tornando-a compatível com o processo produtivo do cimento. O clínquer é a principal matéria-prima que confere ao cimento a capacidade de endurecer com a presença de água. Tradicionalmente, ele é obtido com a fusão de argila e calcário em forno com temperatura em torno de 1.400 graus Celsius, o que gera emissão de gás carbônico. Nas últimas décadas, o clínquer tem sido substituído parcialmente por adições minerais, visando diminuir cada vez mais o uso de materiais não-renováveis e reduzir o impacto ambiental pelo uso do calcário. Desse modo, a pesquisa de Chotoli cria mais uma possibilidade de obtenção do cimento. “E também confere um destino diferenciado à escória de aciaria”, afirma.
Conheça os cursos do mestrado profissional Engenharia de Computação Oferece duas áreas de concentração – Engenharia de Software e Redes de Computadores. O objetivo é preparar o aluno para lidar com questões teóricas e práticas que envolvam projeto, operação, implantação e manutenção de sistemas computacionais. Processos Industriais Visa à formação de profissionais aptos a elaborar novas técnicas e processos. O curso oferece 12 disciplinas, das quais três são obrigatórias. Para obter o diploma, o aluno deve cursar também três disciplinas eletivas. Na composição dos créditos-aula estão incluídas ainda visitas técnicas, estudos e trabalhos extraclasse. Tecnologia Ambiental O aluno desenvolve habilidades para tratar questões ambientais relacionadas a empreendimentos e para lidar com a problemática territorial urbana e rural. O programa é apoiado na solução de problemas ambientais colocados pela demanda pública e privada e em pesquisas e serviços em dimensões de escala local e regional. Habitação Tem como objetivo a promoção da pesquisa aplicada, integrando conhecimento tecnológico e atividade profissional na área. Compartilha com o aluno a cultura tecnológica e os conhecimentos técnicos na sua área específica de trabalho e enfatiza, no processo de aperfeiçoamento, o trato de suas questões práticas profissionais. Especialização em Tecnologia de Fundição (Lato Sensu) O aluno encontra qualificação e atualização na área de fundição de ligas metálicas, tornando-se apto a lidar com problemas que exijam relacionar variáveis de processo e propriedades de produto com influência no desempenho produtivo da empresa.
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EVOLUÇÃO ENERGIA CONEXÃO CRIAÇÃO A nova marca do IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas foi desenvolvida para expressar o papel do Instituto na criação de soluções tecnológicas e marca um momento de grande transformação. Consolida uma nova fase da vida do Instituto, mais moderno e integrado, sintonizado com as oportunidades e demandas do desenvolvimento tecnológico.
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Atriz global brilhou como desenhista do instituto, 34 anos atrás
Vera Holtz: do IPT aos palcos
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s informações colhidas em campo pelos geólogos chegavam à prancheta da dese-
nhista num rascunho de mapa. Sobre o mapa, ela colocava um papel transparente, vegetal ou de acetato, e, com a régua, usava o normógrafo para desenhar as letras e os símbolos, tudo em preto-e-branco. Cópias heliográficas desse trabalho compunham os relatórios da Divisão de Minas e Geologia Aplicada (DMGA) do IPT. Em 1975, esse era o trabalho de Vera Lúcia Holtz.
Aos 23 anos, a filha de José Carlos Holtz e de Terezinha Fraletti Holtz, nascida em 7 de agosto de 1952 na cidade de Tatuí, interior de São Paulo, nem sonhava que seria a famosa atriz Vera Holtz, com participação em mais de 22 telenovelas, 14 filmes, minisséries, além de peças de teatro e direção. Vera, ex-Rainha da Primavera de Tatuí, formou-se em desenho em sua cidade e em artes plásticas na Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo. Entre os prêmios que ganhou em sua
carreira no teatro, destacam-se o Shell e o Mambembe, por sua atuação na peça Pérola, de Mauro Rasi, e pelo espetáculo infantil Astrofolias. Na TV, ganhou os holofotes na novela Que Rei Sou Eu? Na sala de desenhos do prédio 59 da DMGA, Vera trabalhou ao lado de desenhistas como Luiz Antonio Ribeiro (Luizinho H1), Damaris Rodrigues Marins, Jaime Virgílio, Belmiro Arias de Miranda, Mirna Mangini, Juan Antonio e Arturo Enrique Piero (o Panhol), chefe da equipe. Todos estão aposentados. revista do IPT
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Vera trabalhava em período integral e, à noite, fazia a faculdade de teatro na USP. “Eu convivia com um universo diferente do meu. Sinto saudades desse tempo em que trabalhava diariamente com heróis no momento histórico que o Brasil vivia. Foi na sala de desenhos que pude liberar o meu processo criativo. Por isso, considero fundamental a criatividade para se fazer tecnologia”, afirma a desenhista e atriz. A tinta utilizada para os mapas era o nanquim, e Vera assume que só tinha familiaridade em desenhar linhas retas. A atriz considera seu trabalho no instituto “como o primeiro olhar amoroso sobre
A evolução do desenho Assim como a carreira de Vera Holtz, o desenho também evoluiu no IPT, passando de um processo analógico para digital. No lugar de prancheta, caneta nanquim, normógrafos, réguas T e paralela, entraram a mesa digitalizadora e os softwares de CAD para a elaboração dos produtos cartográficos dos relatórios técnicos. O primeiro projeto utilizando geoprocessamento por meio da tecnologia de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), do instituto, foi o diagnóstico de erosão e assoreamento nas bacias dos rios Tietê e Pinheiros, em 1992. Nele, utilizou-se o SGI/SITIM, sof-
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Ficha funcional de Vera Lúcia Holtz no instituto
tware de geoprocessamento desenvolvido pelo INPE, que permite o processamento de dados, gerando novas informações que resultam nos produtos cartográficos dos relatórios técnicos. A metodologia foi aprimorada e, atualmente, a entrada de dados se dá por meio de um scanner e softwares com módulo de vetorização semiautomática, que posteriormente serão manipulados para a geração das novas informações necessárias para o desenvolvimento dos projetos e produtos cartográficos. A informatização permitiu que os mapas de edição demorada, correção limitada, difícil atualização e quase sempre em pretoe-branco, passassem a ser co-
loridos, com recursos de edição e atualização infinitos. Além de melhorar a visualização dos produtos, a digitalização possibilitou também a agilidade dos processos de confecção dos mapas e, principalmente, a associação de dados alfanuméricos. Atualmente a tecnologia é aplicada em todos os projetos por meio dos softwares MapInfo, ArcGis, ArcInfo, AutoCad, entre outros. “O trabalho, que era artesanal, hoje pode ser corrigido e editado diversas vezes. Além disso, os softwares possibilitaram o processamento de informações com muita rapidez e precisão”, ressaltam Ana Candida M. Cavani, Mário Otávio Costa e Nivaldo Paulon, pesquisadores do IPT.
a carreira” e sente saudades do convívio com os colegas, que se tornaram amigos e compareciam aos seus espetáculos. Em 1996, Vera Holtz voltou ao IPT para reviver os velhos tempos, numa matéria gravada pelo programa Vídeo Show, da TV Globo, que destacava os momentos da atriz antes da fama. Nessa visita, foi caricaturizada por um dos colegas, o Luizinho. Damaris Marins, a Dadá, acompanhou ativamente a carreira de Vera após terem trabalhado cerca de um ano no IPT. Ela, que se aposentou no instituto em 2004, conta que Vera sempre foi muito
O caminho dos mapas A seção de desenho, que fazia parte da Divisão de Minas e Geologia Aplicada do IPT, chegou a ter 17 desenhistas. Em 1975, a divisão contava com cerca de 140 técnicos de nível superior, geólogos e engenheiros, refletindo a diversidade de atuação e a demanda pelos serviços de geologia de engenharia e mecânica das rochas. Em 1989, a área foi re-estruturada em duas unidades: Divisão de Geologia e Mecânica das Rochas (Digem) e Divisão de Geologia e Recursos Minerais (DGRM). Três anos depois, foi unificada como Divisão de Geologia (Digeo), com atuação em geologia aplicada a obras,
alegre e extrovertida, com um talento excepcional para a arte. “A Vera animava o ambiente; situações sérias eram impossíveis. Graças a ela, deixei minha timidez um pouco de lado. Em nossa convivência, percebi que eu deveria me preocupar mais comigo do que com o que os outros iriam pensar de mim”, diz Dadá. As duas não levavam trabalho para casa, segundo Damaris, mas fizeram hora extra em finais de semana para não deixar nada atrasado.
zolini. Ele relembra as divertidas idas ao refeitório, e Vera elogiou o cardápio da época. A atriz, que sempre quis morar no Rio de Janeiro, saiu do IPT para trabalhar numa empresa carioca de engenharia consultiva, a Engevix, e lá ficou por quase dois anos também na área de desenhos. “Depois, minha carreira no teatro se consolidou, e nunca mais parei”, conclui Vera.
Luizinho conta que Vera era meio caipira e tinha talento também para o canto, principalmente nas músicas de Noel Rosa e Paulo Van-
meio ambiente, recursos minerais e em engenharia de rochas, dividida em quatro agrupamentos, que por sua vez eram compostos de 16 seções e laboratórios. Marcos significativos da atuação do IPT em 1970 foram os estudos gerais sobre a correlação entre chuvas e escorregamentos no Brasil, e a elaboração da Carta Geotécnica dos Morros de Santos e São Vicente, executada em 1978 para a Defesa Civil do Estado e dirigida para o problema de escorregamentos em encostas ocupadas por habitações em áreas de risco. Em 2006, parte da Digeo transformou-se no Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas (CETAE) composto por quatro laboratórios, que atuam com os setores públi-
Damaris, Edna e Vera Holtz em viagem ao Rio de Janeiro co e privado na busca de soluções tecnológicas para os grandes desafios ambientais e urbanos. A seção de desenho não existe mais, foi substituída pelo núcleo de geoprocessamento.
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Em busca do melhor remédio
Microcápsula para fármaco desenvolvida pelo instituto
O IPT contribui para a melhoria de medicamentos com projetos de caracterização de princípios ativos 30
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s escritores brasileiros Castro Alves, Álvares de Azevedo e José de Alencar são algumas ví-
timas famosas da tuberculose. No romance A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas, a enfermidade torna-se a doença do amor – a personagem Marguerite Gautier a contrai por ser obrigada a desistir de seu amado. Felizmente, os óbitos e o livro são do século XIX. Mas infelizmente, apesar de o controle da tuberculose no Brasil ter melhorado nos últimos anos, os números consolidados, divulgados em março, mostram que ainda há muito a ser feito: em 2007, foram notificados 72 mil novos casos, e 4,5 mil pessoas morreram em decorrência da doença. Para o tratamento da tuberculose, os medicamentos produzidos e distribuídos pelo governo federal nem sempre dão os resultados esperados dada a baixa qualidade das matérias-primas utilizadas na fabricação. É aí que entra o IPT. Oportunidade-chave para o instituto legitimar o papel de apoio tecnológico ao governo no desenvolvimento de remédios de uso popular foi a realização do projeto de caracterização dos princípios ativos – os chamados tuberculostáticos –, utilizados nas fórmulas para o tratamento da doença. O primeiro projeto sobre o tema do Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e contou com a participação do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farman-
Microencapsulação de princípios ativos: método aplicado pelo IPT protege o remédio, envolvendo-o numa membrana guinhos), unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “A caracterização dos princípios ativos buscou a criação de especificações técnicas mais rígidas, de maneira que os órgãos públicos pudessem adquirir matérias-primas de qualidade adequada para os medicamentos”, explica Maria Inês Ré, coordenadora do projeto e pesquisadora do Centro de Tecnologia de Processos e Produtos (CTPP) do IPT. O Farmanguinhos forneceu ao IPT amostras dos três principais tuberculostáticos utilizados no país para o tratamento da doença (isoniazida, pirazinamida e, o mais comum e problemático, a rifampicina) e mapearam-se os problemas das matérias-primas – todas elas importadas, pois no Brasil não há produção destes
insumos. Os pesquisadores constataram uma grande variação em suas características físicas e físico-químicas, como o tamanho da partícula, a velocidade de dissolução e a solubilidade. Para a realização do projeto, o IPT desenvolveu internamente novas competências com a aquisição de um equipamento de medida de tensão interfacial e ângulo de contato, que permite mensurar a energia de superfície de um sólido ou ângulo de contato – em outras palavras, a capacidade do líquido “molhar” o sólido. “Para resolver esse problema com base científica, todas as alterações que fizemos nos tuberculostáticos foram medidas, e não interessava apenas saber se o princípio ativo ‘molhou’ mais ou menos, e sim o quanto”, explica Maria Inês. revista do IPT
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A capacidade do fármaco de ser “molhado” pelo fluido biológico é importante para acelerar a sua velocidade de dissolução, um dos parâmetros in vitro de previsão da absorção do medicamento pelo organismo. Os resultados trouxeram como principal benefício aos laboratórios públicos o conhecimento para exigirem especificações mais rígidas das matérias-primas nas licitações e a consequente produção de medicamentos de melhor qualidade.
Segunda fase Concluída a primeira fase do projeto, a segunda etapa contou com a inclusão da Fundação para o Remédio Popular (FURP), fábrica de medicamentos oficial do Estado de São Paulo. Ampliou-se a gama de matérias-primas a analisar, com a inclusão do etambutol, e o escopo do programa de modificação da rifampicina. A equipe de pesquisadores concentrou o trabalho nesse tuberculostático por ser um fármaco cuja forma de fabricação resulta em um produto de baixa solubilidade e difícil absorção. “No caso da rifampicina, o Brasil é obrigado a comprar a matéria-prima de países como Índia, China e Malásia, de diversos fornecedores. Existe uma variação grande de oferta e um controle de qualidade duvidoso na origem. No final, acabamos por adquirir com o insumo do remédio todo um problema tecnológico a ser resolvido”, afirma Maria Inês. 32
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Uma das alternativas tecnológicas propostas pelos pesquisadores para resolver a questão foi revestir o cristal da rifampicina com um material que absorvesse o líquido, ou seja, modificar o estado de superfície do sólido. “Nunca havíamos falado sobre energia de superfície de sólidos, então desenvolvemos uma ferramenta metodológica para resolver o problema por meio do equipamento de medida de tensão”, diz a coordenadora. “Isso transfere conhecimento para as empresas. Elas podem até não possuir o equipamento, mas sabem o que fazer. Acredito que vamos precisar mais desse conhecimento, porque o problema da ‘molhabilidade’ tende a crescer, já que os novos fármacos têm, em geral, essa característica hidrofóbica, que dificulta a dissolução no organismo.” A segunda fase do projeto inclui estudo da recristalização da rifampicina, para alterar as propriedades do fármaco por meio da mudança do solvente. Quando o cristal é dissolvido em solvente e realiza-se uma recristalização, explica Maria Inês, um sólido de tamanho e formato novos é criado. “Isso afeta as características do fármaco. Nosso objetivo é testar o efeito de diferentes solventes para checar a possibilidade de os laboratórios públicos conseguirem um produto de maior qualidade a partir de outro barato e de qualidade inferior”, diz ela. Segundo a pesquisadora, a nanotecnologia é um caminho importante para a indústria farma-
cêutica em virtude de os novos fármacos serem drogas cada vez mais potentes. Assim, a segunda fase do projeto contempla a transformação do cristal em uma escala nanométrica para avaliar suas características de superfície, e dá continuidade aos bons resultados obtidos com a conversão do cristal em escala micrométrica.
Biofármacos para hemofílicos Projeto de biotecnologia industrial desenvolve processos de produção de fatores de coagulação Biorreator de células: aplicado na produção de fatores de coagulação sanguínea para novos fármacos
A hemofilia é uma doença que atinge, no mundo, uma criança do sexo masculino em cada 10 mil nascimentos, no caso do tipo A, e uma em cada 50 mil nascimentos, no caso do tipo B, segundo a Federação Mundial de Hemofilia (WFH). No Brasil, a estimativa é da existência de sete mil pacientes. Mas o suprimento dos medicamentos necessários ao tratamento ainda não é suficiente, e os doentes acabam recebendo quantidades inferiores às adequadas.
privado, enquanto os testes em camundongos hemofílicos compõem a primeira fase do processo de aprovação de qualquer biofármaco”, explica Elisabeth Augusto, coordenadora do projeto. Entre os 14 fatores que compõem o sangue humano, a deficiência do fator VIII causa a hemofilia do tipo A, ou clássica, que é a mais comum, enquanto a deficiência do fator IX causa a hemofilia do tipo B, também conhecida como doença de Christmas.
Tal situação poderá mudar brevemente com o projeto realizado pelo Laboratório de Biotecnologia Industrial do IPT, em parceria com o Hemocentro de Ribeirão Preto (SP), financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e de empresa do setor farmacêutico, para o desenvolvimento dos processos de produção dos fatores de coagulação sanguínea VIII e IX, em escalas de bancada e piloto.
Na primeira fase do projeto, iniciada em janeiro de 2008, os pesquisadores dedicaram-se à adaptação de uma linhagem celular construída geneticamente pelo Hemocentro de Ribeirão Preto para a síntese do fator VIII. As atividades começaram com esse produto por ele possuir mais mercado, maior valor agregado e complexidade na fabricação.
Por meio de células recombinantes (modificadas geneticamente) e de testes pré-clínicos em animais, os pesquisadores têm como meta o estabelecimento de um protocolo de produção, ou seja, a sequência das etapas desde o preparo dos reagentes até a purificação do produto. “A criação de um protocolo é a etapa inicial da transferência de tecnologia para o setor
O Hemocentro de Ribeirão é responsável não apenas pelo desenvolvimento das linhagens celulares, todas elas células transfectadas para produzir as chamadas proteínas de interesse (fatores VIII e IX), mas também pelos testes em animais. “A célula não produz originalmente o produto que temos interesse, então foi necessário ‘inserir’ uma codificarevista do IPT
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ção genética dentro dela para que fosse fabricado o que queríamos. A partir da célula modificada, o IPT começou a trabalhar a ampliação de escala para um processo industrial”, diz Elisabeth. O uso de meios de cultura isentos de proteína animal foi uma condição especial do desenvolvimento, explica a pesquisadora, pois os órgãos de regulação têm exigido que os processos produtivos ocorram preferencialmente na ausência de materiais de origem animal para reduzir o risco de contaminação por agentes patogênicos. “Existem duas fontes para o medicamento, a purificação a partir de plasma humano
Combate à anemia Um dos projetos do IPT de maior repercussão na área da saúde no início da década foi o desenvolvimento de micropartículas de sulfato ferroso modificadas para uso em estudo clínico de combate à anemia ferropriva em pré-escolares. O sulfato é um composto barato para combater a desnutrição, mas que não pode ser incorporado a diversos alimentos por apresentar uma alta reatividade. Em um projeto desenvolvido em parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, os testes foram realizados primeiramente in vitro pela Unifesp, em seguida em animais, e finalmente na alimentação humana em um grupo de 90
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revista do IPT
ou a síntese de produto recombinante em sistemas de cultivo de células”, explica Elisabeth. “Embora o segundo apresente menor risco de transmissão de doenças e não esteja sujeito a questões de sazonalidade, praticamente todo medicamento empregado no país pertence ao primeiro tipo e é totalmente importado.”
Célula humanA CRESCE COM SORO Para resolver a questão, uma das grandes novidades do projeto é justamente a utilização de uma célula humana: células de fígado foram individualizadas, e proce-
crianças, na incorporação do composto à farinha. O projeto de combate à anemia recebeu o prêmio IPT de Inovação em Ciência e Tecnologia. Outra pesquisa importante, ainda em andamento, é o desenvolvimento de partículas para a produção de uma vacina contra a leishmaniose com administração via nasal. A parceria do IPT com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) faz parte de um projeto sobre doenças negligenciadas, que tem como desafio a obtenção de partículas com características específicas de superfície para fornecer uma alternativa nãoinvasiva à administração de vacina e otimizar os processos produtivos. Identificados os problemas e apresentadas as soluções, o próximo passo é a incorporação pelos laboratórios das novas técnicas.
dimentos específicos permitiram adaptá-las para crescer fora do organismo, em um meio de cultura com água e todos os nutrientes necessários ao seu crescimento. “Isso chama a atenção porque a maioria dos produtos similares a este é fabricada a partir de células animais, geralmente de hamsters – por exemplo, as células CHO (Chinese Hamster Ovary). O hamster tem características diferentes das de um ser humano, e a proteína produzida nesse sistema pode trazer diferenças identificadas pelo sistema imunológico humano, gerando reações adversas”, afirma a pesquisadora. O projeto deve ser concluído em 2010, mas alguns resultados já foram alcançados. O primeiro foi o sucesso no crescimento isolado da célula, pois originalmente ela se desenvolvia aderida a um suporte, como os frascos empregados no cultivo. Para que as células conseguissem crescer livres, em suspensão, a equipe testou vários meios de cultura. Primeiramente, testou-se o crescimento da célula aderida, com soro; em seguida, a célula em suspensão, ainda com soro, e, por fim, a redução gradativa do soro até total eliminação. “Escolhemos o meio de cultura com os melhores resultados para a produção da proteína; no entanto, os testes ainda foram executados em sistemas com pouco controle. Partiremos agora para o sistema de biorreatores, que deve ser utilizado na escala de produção industrial”, conclui Elisabeth.
Equipamentos hospitalares da Fanem, que procurou o Progex para ensaiar incubadora pediátrica
Projetos completam dez anos de melhoria de processos e produtos
C
Prumo e Progex ajudam pequenas empresas a crescer
omo o IPT, os projetos Prumo e Progex fazem aniversário em junho.
Em seus dez anos de existência, os dois serviços coordenados pelo Núcleo de Atendimento Tecnológico à Micro e Pequena Empresa (NTMPE) demonstram ter alcançado a maturidade: foram responsáveis pelo bom atendimento a 3 mil empresas e a mil produtos, respectivamente.
Tanto o Progex (Programa de Apoio Tecnológico à Exportação) quanto o Prumo (Projeto Unidades Móveis) auxiliam micro, pequenas e médias empresas a crescer. Os dois programas oferecem recursos tecnológicos para o aprimoramento de processos e a melhoria dos produtos, obrigatórios na busca pela competitividade industrial, aos quais essas empresas dificilmente teriam acesso.
O IPT começou a operar em 1999 o Prumo, baseado no conceito de unidades móveis. A atuação do serviço está voltada para sete setores (transformação de plástico, transformação de borracha, tratamento de superfícies, couro e calçados, madeira e móveis, cerâmica e confecções). Essa é uma das principais diferenças em comparação ao Progex, lembra Mari Katayama, coordenadora dos revista do IPT
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dois projetos: “o Prumo funciona como um pronto-socorro rápido e é setorial, enquanto o Progex atende a todos os segmentos em um trabalho de longa duração, que pode chegar a seis meses”. As empresas que buscam o auxílio do Prumo são visitadas por equipes formadas por um engenheiro e um técnico, em veículos utilitários montados com equipamentos laboratoriais portáteis. Cada atendimento realizado pelo Prumo tem a duração de dois dias, período em que a equipe procura resolver os principais problemas técnicos da empresa visitada. O processo produtivo é verificado no atendimento in loco, tendo como orientação os resultados dos ensaios e análises feitos para a identificação de eventuais deficiências na organização do fluxo de produção e de processos, como aconteceu em 2003 na Retenrol.
Tempo de produção no Prumo Fabricante de peças como vedadores industriais, retentores, gaxetas e raspadores em diversos tipos de borracha, a Retenrol enfrentava até aquele ano problemas em seus processos fabris: o excesso de rebarbas e o desconhecimento das normas a serem seguidas na produção resultavam muitas vezes em falhas precoces dos produtos finais e em durabilidade menor do que a esperada. Segundo Milton Rossi Júnior, sócio-diretor da empresa, peças como vedadores seguem, em geral, normas estabelecidas no exterior, uma vez que um número 36
revista do IPT
Técnico do IPT opera uma das unidades móveis do Projeto Prumo significativo dos equipamentos nos quais serão instalados tem origem estrangeira. Falhas em sua composição, ocasionadas pela formulação incorreta, podem interromper o ciclo de produção da máquina. Além disso, os vedadores são considerados peças especiais, em razão de sua fabricação seguir as necessidades específicas dos equipamentos nos quais serão instalados, nos segmentos de mineração, papel e celulose, alimentício, petrolífero etc. “Não enviávamos as peças defeituosas para os clientes: elas ficavam na fábrica e acabávamos
arcando com os prejuízos. Não conseguíamos atender a todas as demandas dos diferentes segmentos e chegou um momento em que precisávamos de um apoio técnico para suprir essas necessidades”, explica Rossi, que em 2003 entrou em contato com o Prumo pela primeira vez para verificar a possibilidade de prestação de serviços. A parceria iniciada em 2003 já completou seis anos, e os 15 atendimentos realizados pelos técnicos do instituto para a Retenrol desde então cobriram grande variedade de produtos. Um dos
casos mais significativos dos ganhos alcançados pela empresa com o Prumo, lembra Rossi, foi a diminuição do tempo gasto para a produção de um vedador. Em função de a peça ter grandes dimensões, um molde nas mesmas características é necessário para a sua fabricação, e a empresa não conseguia especificar o comportamento da massa de borracha durante o processo fabril. A utilização pela equipe do Prumo de um reômetro (equipamento capaz de medir os níveis de tensão e de deformação de materiais utilizados na composição da massa) permitiu a determinação da curva de vulcanização da borracha e a especificação de um novo ciclo de produção da peça. “A fábrica levava 40 minutos para a conclusão de uma única peça. Após os testes realizados pelo laboratório móvel do Prumo, conseguimos diminuir esse tempo para dez minutos. Ainda foi possível a redução dos custos de mão-de-obra e da energia elétrica necessários para o funcionamento das máquinas de vulcanização”, diz Rossi. “Nesses seis anos, com a ajuda das equipes do Prumo, conseguimos não apenas reduzir as perdas em processos, mas aumentar o rendimento e o faturamento, melhorar o conhecimento técnico-operacional dos funcionários e tornar mais seguro o processo produtivo”, completa Rossi.
Progex ensaia incubadora O Progex foi criado com a intenção de promover a adequação tecnológica de produtos às normas, regulamentos técnicos e demais
aspectos legais de um determinado país, além de outras exigências do importador. Sua atuação engloba desde a geração de novos exportadores até a ampliação da capacidade de exportação de micro, pequenas e médias empresas já em atuação no mercado internacional, em atividades como apoio à certificação de produtos e obtenção de marcações (como a marcação CE), melhoria da qualidade dos produtos e do processo produtivo, superação de barreiras técnicas, desenvolvimento de trabalhos de design e adequação das embalagens dos produtos. O apoio tecnológico é realizado em duas etapas: na primeira delas, o DTPEx (Diagnóstico Técnico de Produto para Exportação), os profissionais das instituições executoras inicialmente visitam a empresa e fazem o diagnóstico dos problemas, enquanto a segunda etapa, a ATPEx (Adequação Técnica de Produto para Exportação), é destinada à execução de ensaios e testes dos produtos. Os resultados são analisados pelos profissionais em conjunto com a empresa, para então decidirem pelas soluções mais adequadas dos problemas diagnosticados. Uma das primeiras empresas a buscar o auxílio do Progex, a Fanem, atua no ramo médico-hospitalar-laboratorial com produtos voltados às linhas neonatal (incubadoras, unidades de cuidado intensivo e sistemas de fototerapia), laboratorial (estufas, centrífugas e câmaras de conservação de vacinas), de biossegurança (autoclaves e aspiradores cirúrgicos) e diagnóstica. Segundo Djalma Luiz Rodrigues, diretor industrial da Fanem, as exportações da empre-
sa começaram no início da década de 1970, e a aproximação com o Progex aconteceu no momento em que a empresa necessitou da qualificação dos produtos, especificamente da linha neonatal, que era uma exigência compulsória para as vendas ao exterior. “O primeiro produto de exportação ensaiado e avaliado pelo Progex, em 2001, foi a incubadora estacionária, submetida a ensaios referentes às normas de compatibilidade eletromagnética, a IEC60601-1-2, que possui como requisito a capacidade de bloquear possíveis interferências que o equipamento pode sofrer ou emitir”, explica Rodrigues. Posteriormente, a mesma incubadora foi submetida aos ensaios da norma básica de segurança elétrica para os equipamentos eletromédicos, a IEC60601-1, e à IEC 60601-2-19, que é específica para o desempenho e a segurança de incubadoras. Todos os casos foram de sucesso, conseguindo-se a certificação necessária. Outro produto que contou com a participação do Progex em seu desenvolvimento foi o Bilitron, um sistema de fototerapia que utiliza luz emitida por diodo (LED) em vez da lâmpada fluorescente para o tratamento de icterícia em recém-nascidos. Em um formato que cabe na palma da mão, o equipamento teve os primeiros ensaios da fonte de LED realizados dentro do IPT em 2003 para verificar as emissões dos comprimentos de onda. Os testes comprovaram que a fonte de irradiação concentrava-se principalmente na emissão do revista do IPT
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espectro azul, fundamental para o tratamento da doença, e não eram emitidos raios nos comprimentos de onda do infravermelho e tampouco ultravioleta. Lançado no mercado em 2004, o equipamento representou um avanço importante no portfólio da Fanem e já tem depositadas duas patentes nacionais e uma internacional. A obtenção dos certificados recebidos por meio dos ensaios e avaliações junto ao Progex colaborou para a Fanem abrir uma série de mercados novos. A prova dos bons resultados está no crescimento de 650% nos últimos seis anos em exportações, enquanto no mercado interno os negócios da empresa aumentaram 25% no mesmo período.
Da América do Sul para a Europa Produtora de sensores inteligentes (IEDs) e sistemas para monitoração online de transformadores, reatores, disjuntores e demais equipamentos de subestações de energia elétrica, a TreeTech ini-
ciou os trabalhos com o Progex em 2003 para ampliar as exportações, concentradas, até o início da década, na América do Sul. “Era uma empresa de pequeno porte naquela época, mas, devido aos ensaios realizados no Progex, garantimos que a linha de sensores atendesse aos padrões de mercados como América do Norte e Europa, onde as exigências técnicas diferiam das solicitadas nos mercados atendidos”, informa Gilberto Amorim, gerente comercial da TreeTech. O regulador de tensão, um dos primeiros produtos que passaram pelo Progex, recebeu um módulo com inteligência artificial para definir uma melhor parametrização de regulagem da tensão de maneira autônoma, e a consequente melhoria da qualidade da energia entregue aos clientes. O resultado foi o início das exportações para países como Estados Unidos, Portugal, Qatar e Ucrânia. Segundo Amorim, a primeira etapa do apoio tecnológico (DTPEx)
recebeu uma grande atenção por conta de os mercados-alvo para os produtos da TreeTech serem tradicionais fornecedores de tecnologia para o sistema elétrico mundial: “Coube aos profissionais do Progex e da empresa determinar as necessidades relacionadas às exigências técnicas, como normas de segurança, climáticas e de compatibilidade eletromagnética, além de design para a introdução nos novos mercados”. Atualmente, a empresa conta com mais de 30 mil equipamentos instalados em 30 países e, embora o objetivo do Progex seja auxiliar as empresas na adequação dos produtos às exigências do mercado externo, os resultados alcançados com o programa também resultaram em novos negócios no Brasil. “O atendimento às normas internacionais propiciou equipamentos mais robustos ao mercado nacional, permitindo a aplicação da tecnologia em grandes empreendimentos do setor elétrico nacional, como as usinas de Tucuruí e Itaipu, e as subestações de Furnas”, completa Amorim.
Mais atendimentos O Prumo e o Progex registraram um aumento de 6% no número de atendimentos em 2008 em comparação a 2007. Foram adequados 135 produtos para exportação e realizados 600 atendimentos em unidades móveis no ano passado. Os projetos contam com a colaboração de diferentes
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centros técnicos do IPT, que prestam principalmente serviços de ensaios laboratoriais, atuando de forma complementar às atividades conduzidas pelo NTMPE. Papéis importantes também são desempenhados por parcerias externas. Além das agências de
fomento (Sebrae-SP, Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, Finep, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Desenvolvimento Agrário), há parcerias com institutos que realizam ensaios laboratoriais e atividades tecnológicas não desenvolvidas pelo instituto.
Marcelo Gramani, geólogo do IPT, entre os tenentes Betânia e Carvalho da Defesa Civil de SP
Os salva-vidas na terra
N
ovembro de 2008, dias 22 e 23. O Brasil parou diante da tevê, comovido com o que acontecia em Santa Catarina. Cidades como Navegantes
e Blumenau sofreram com a elevação do leito dos rios e os deslizamentos de terra, que romperam estradas e dutos, provocando caos na região. Cerca de 130 pessoas morreram e 30 mil ficaram desabrigadas. Cenas das enchentes mobilizaram o país. Brasileiros
Especialistas em áreas de risco evitam acidentes por avalanches de lama em Santa Catarina
de todo canto mandaram para os catarineneses alimentos, roupas, calçados e remédios. O IPT, acionado pela Defesa Civil do Estado de São Paulo, enviou especialistas em áreas de risco. Três pesquisadores do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas (CETAE) desembarcaram em Florianópolis: os geólogos Marcelo Gramani e Fabiana Checchinato e o geotécnico Luiz Antonio Gomes, todos do Laboratório de Riscos revista do IPT
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Geóloga avalia deslizamento de terra em razão de chuvas constantes em Santa Catarina Ambientais. Tinham a missão de definir as áreas de risco e orientar a remoção de pessoas desses locais, na força-tarefa constituída pelo governo catarinense. Os profissionais do IPT auxiliaram a Defesa Civil local e as prefeituras. Concentraram-se esforços na região do Complexo do Baú, nas cidades de Ilhota, Gaspar, Luis Alves e Jaraguá do Sul, áreas muito castigadas pelas chuvas. O problema principal foram os escorregamentos e as avalanches de lama. Para os técnicos do IPT, não havia tempo para relatórios; as recomendações eram feitas verbalmente, para ação imediata. As chuvas eram constantes em Santa Catarina desde o mês de agosto, o que deixou o solo saturado, favorecendo os deslizamentos. A situação piorou no final de novembro. Em dois dias caíram 40
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quase 500 milímetros de chuva – mais da metade do acumulado no mês até então. De acordo com Marcelo Gramani, a cidade de Blumenau quase alcançou o recorde de volume de chuvas no país. “Em 1967, Caraguatatuba, no litoral de São Paulo, registrou 570 milímetros de água em dois dias de precipitações. Blumenau marcou cerca de 500 milímetros em dois dias, conforme os dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Furb”, aponta.
DESLIZAMENTOS AOS MILHARES Segundo Gramani, o Morro do Baú, na região da cidade de Luis Alves, foi o mais afetado pelo deslocamento de terras. Ele estima que houve 4 mil deslizamentos naquele morro. As “escapa-
das” de terra foram responsáveis por cerca de 90% das mortes na região. Houve relatos impressionantes de grandes ondas de lama, de solos fragilizados que se dissolviam, como na área do Gasoduto Brasil-Bolívia, que se rompeu em dois pontos. A experiência e o conhecimento acumulados pelos técnicos do IPT foram decisivos em Santa Catarina. Eles liberavam a entrada de bombeiros em locais com condições e coordenavam as escavações onde havia corpos soterrados. Uma equipe de reportagem da TV Globo, alertada pelos técnicos do IPT, retirou-se de uma casa em situação crítica onde gravava imagens e a viu desabar cinco minutos depois. O trabalho foi marcante. “Os dias começavam às 6h e só terminavam à meia noite e meia. O que
Técnico fotografa região catarinense com lamaçais provocados pelas chuvas de novembro nos impressionou foi a dimensão dos escorregamentos. Muitos atingiram centenas de metros de largura por dezenas de metros de profundidade”, relata Gramani. Na noite de sábado, 29 de novembro, quando o tempo acenava com alguma melhora, Gramani, Fabiana e Gomes participaram de uma reunião no auditório do aeroporto de Navegantes, na qual estavam pilotos, Defesa Civil e o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira. “Um tenente-coronel comandou o início da reunião e apresentou os presentes. O governador me abraçou e agradeceu ao IPT”, diz Gramani. Ao todo, o instituto enviou seis pesquisadores em três equipes, incluindo Claudio Luiz Ridente Gomes, Fabricio Araujo Mirandola e Agostinho Tadashi Ogura. Na avaliação dos técnicos, o trabalho
mais importante para enfrentar riscos ambientais é o preventivo, e deve ser realizado o ano inteiro. Consideram fundamental o mapeamento de riscos, intervenções pontuais e informação de alta qualidade técnica.
Ação preventiva em são paulo Decisiva para a redução de danos, a ação do IPT em Santa Catarina não foi a primeira. Em março de 2008, a cidade de Jales, no Noroeste de São Paulo, recebeu uma equipe do instituto, desta vez solicitada preventivamente. Foi realizado o mapeamento das áreas com risco de erosão no perímetro urbano do município, que abriga cerca de 50 mil pessoas. Foram também estabeleci-
das diretrizes para a recuperação do solo em processo erosivo no bairro Santo Expedito. Com base nos estudos realizados pela equipe técnica do CETAE já em 2007, a Secretaria de Obras do município executou medidas de contenção do processo erosivo. O relatório transformou-se em instrumento para o planejamento da expansão da cidade e para fixar diretrizes também para a área rural. A cidade paulista de Taboão da Serra é outra que utilizou o serviço do IPT, também preventivamente. Foi realizado no ano passado o mapeamento de áreas de risco e elaborado o plano de prevenção para o município. Os trabalhos foram desenvolvidos com a participação de técnicos da prefeitura. Na conclusão do relatório estão indicadas as áreas para aplicação das medidas de intervenção. O IPT pode atuar na continuidade dos revista do IPT
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participa dos atendimentos e é co-responsável pelo treinamento das equipes técnicas. Espera-se, como resultado, a inexistência de vítimas fatais em deslizamentos nas áreas de risco.
Reunião de técnicos do IPT com a Defesa Civil e militares para a definição de ações preventivas trabalhos, que foram concluídos em março de 2009, com a entrega do relatório que contém os resultados da audiência pública. Na cidade paulista de Itapevi, o mapeamento ocorreu entre outubro e novembro de 2008, com a vistoria de áreas de risco acompanhada pela Defesa Civil local. O trabalho faz parte dos Planos Municipais de Redução de Riscos (PMRR), do Ministério das Cidades. A prefeitura de Itapevi preparou uma lista de 58 áreas públicas prioritárias para reavaliação. “Vistoriamos as áreas para verificar a dimensão dos riscos e orientar a remoção de pessoas. Ocorreram alguns escorregamentos em áreas já mapeadas, com indicação de muito alto risco”, ressalta o geólogo Gramani, coordenador dos trabalhos. Equipes do IPT também estiveram em Águas de Lindóia e Cubatão. 42
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Apoio à Defesa Civil O IPT realiza atividades de apoio à Defesa Civil de São Paulo desde 1988. O principal projeto nessa área é conhecido como Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC). Trata-se de um contrato de prestação de serviços firmado entre a Casa Militar do Gabinete do governador (Defesa Civil Estadual) e o instituto. O trabalho de apoio à Defesa Civil baseia-se na possibilidade de antecipar a ocorrência de deslizamentos em áreas de risco, utilizando informações de meteorologia, acumulados de chuvas e vistorias de campo. O sistema é referência para outros implantados em grandes cidades brasileiras, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Recife. No Estado de São Paulo, o sistema está implantado em 66 cidades. O IPT
Os trabalhos de prevenção vêm sendo replicados nas cidades paulistas desde o começo do projeto, iniciado com oito cidades. Hoje compreende as regiões do litoral, Vale do Paraíba, Campinas, Sorocaba e ABC. O projeto é permanente, e suas metas dependem de questões naturais, principalmente chuvas, e políticas, dado que as prefeituras modificam suas equipes, algumas delas já estruturadas e treinadas. Esse programa é desenvolvido em parceria com o Instituto Geológico da Secretaria do Meio Ambiente.
Diagnóstico para centrais elétricas Nos últimos anos, em razão da deficiência de oferta de energia elétrica no país, houve um aumento de construções das chamadas Pequenas Centrais Elétricas no Estado de São Paulo, grande consumidor de energia. Com isso, o IPT vem sendo acionado, para que averigúe processos de assoreamento de reservatórios de abastecimento, hidrelétricas e hidrovias. Na Pequena Central Elétrica de Anhanguera, no rio Sapucaí, noroeste do Estado, o IPT já diagnosticou e monitora processos erosivos da elevação induzida no lençol freático no entorno.
110 anos
bem vividos Conheça as realizações do IPT em suas onze décadas de dedicação à pesquisa tecnológica no Brasil
Quando começou a atuar, em 1899, o Gabinete de Resistência dos Materiais, embrião do IPT, buscava o conhecimento das propriedades mecânicas dos materiais ensaiados. Com o tempo, a engenharia passou a exigir a determinação de mais e mais características, como composição química, estrutura e resistência à corrosão. O crescimento da demanda por conhecimento alimentou um processo de busca de informações que não para de crescer e já permitiu ao instituto entrar na era da bionanotecnologia. Nesses 110 anos, o IPT enfrentou vários desafios e foi capaz de grandes realizações, destacados nas próximas páginas.
Edifício Martinelli: estudos do IPT, de 1925, orientaram a construção revista do IPT
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O começo do século XX é marcado por grandes invenções tecnológicas. O telefone, o automóvel, o cinematógrafo e o rádio são novidades que adentram a nova época, alimentando o imaginário popular. No Brasil, no entanto, a distância dos eventos do Primeiro Mundo era grande, e a República, apesar de esboçar um novo tempo, desnudava uma situação de muitos desafios a encarar para desenvolver o país.
1899 No fim do século XIX, o Brasil toma o rumo da industrialização, deixando para trás a agricultura escravista. São Paulo é a seara que os novos caminhos apontavam. Nesse contexto, é criada a Escola Politécnica, em 1893, para atender às necessidades técnicas da construção industrial. O mesmo grupo de professores que ajudou a fundar a Poli, liderado pelo engenheiro e político Antônio Francisco de Paula Souza, passa também a se preocupar com a pesquisa de resistência dos materiais de construção. Nasce o Gabinete de Resistência dos Materiais, que se tornaria o IPT.
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1900 – 1909 1901 Santos Dumont voa ao redor da Torre Eiffel, em Paris, com o balão dirigível n° 6.
Os primeiros resultados das pesquisas realizadas no Gabinete são divulgados no Manual de Resistência dos Materiais. O livro passa a ser a bíblia dos construtores e fabricantes de materiais de construção, garantindo a qualidade e o uso correto de cimento, tijolos, telhas e outros insumos. A pesquisa com materiais resulta na produção do primeiro cimento nacional, o Rodovalho.
1904
1907 O Gabinete introduz a Metalografia Microscópica no Brasil para a análise da composição de ligas metálicas.
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1909 Estudos comparativos (ensaios de flexão e elasticidade) de vários tipos de trilhos para a Estrada de Ferro Sorocabana. Essa iniciativa foi uma das que impulsionaram o embrião do IPT a integrar o conhecimento científico à construção nacional.
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1910 – 1919
São Paulo começa a manifestar sua vocação industrial. A infraestrutura urbana, aliada à instalação de grandes usinas de geração de energia elétrica, dá o aporte necessário para a industrialização. Paula Souza, à frente do Gabinete, antevendo a formação do Laboratório de Ensaios de Materiais, gera conhecimentos práticos para a evolução da indústria, ainda emergente.
Eclosão da Primeira Guerra Mundial, que acabou em 1918.
Estudo experimental de um tipo de galeria para águas pluviais a ser construído na cidade de Jaú.
1914 Estudo comparativo de tecidos de pita e de juta.
1917
1910
1911
1913
Estudos metalográficos e de tratamentos térmicos relativos à fabricação industrial de tubos de ferro fundido centrifugado.
Estudos dos elementos estruturais do prédio Guinle, primeiro grande edifício de concreto armado de São Paulo, na rua Direita, região central da cidade.
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A crescente demanda por serviços tecnológicos obriga o Gabinete de Resistência de Materiais a promover reformas que ampliem sua capacidade de atuação. Ary Frederico Torres, na chefia da instituição, executa o projeto de remodelação, aplicando conceitos apreendidos em sua experiência em Zurique, a maior cidade da Suíça.
1920 – 1929 1925 Início do estudo dos materiais que seriam empregados na construção do edifício Martinelli, em São Paulo, o primeiro arranha-céu do Brasil. Inaugurada em 1929 com 12 andares, a construção seguiu até 1934, finalizando com 30 andares. Ensaio em trilho: as empresas ferroviárias em construção, como Paulista, Mogiana e Sorocabana, utilizamse das pesquisas do IPT. Ensaio em cimento gera a primeira fábrica de Cimento Portland do país.
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1926 O engenheiro Ary Frederico Torres transforma o Gabinete no Laboratório de Ensaios de Materiais. Suas dimensões físicas triplicam para atender à indústria e à engenharia paulistas.
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O Brasil é atingido pelo crash da Bolsa de Valores americana. A crise atravessa a década de 30, exigindo maior controle de qualidade nos processos produtivos. A queda no comércio exterior leva à substituição das importações, e a indústria diversifica produtos. Um dos grandes desafios da engenharia era garantir a resistência dos condutores de aço que lançam, até hoje, as águas de dois rios na vertente da serra do Mar, alimentando a usina de Cubatão.
1930 – 1939 1927 O Laboratório testa as tubulações da Usina Hidrelétrica de Cubatão, construída pela Light na vertente da Serra do Mar para vencer um desnível de 700 metros.
1929
Crash da Bolsa de Nova York, em outubro.
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A Revolução Constitucionalista, decorrente do levante do governo paulista contra o governo federal, transforma o Estado num campo de batalha. As forças constitucionalistas recorrem ao Laboratório para produzir suas armas. Projetam-se trens blindados, carros de combate, morteiros, milhares de granadas, periscópios e mapas detalhados das frentes de combate.
Surgem as primeiras aplicações dos estudos de madeiras: tacos para assoalho, colas, vernizes, e as primeiras soluções aeronáuticas, em planadores.
1932
1933
1931 Inicia-se o estudo das madeiras brasileiras para conhecer cada espécie e a variedade botânica e abrir campos de aplicação.
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Novas unidades de pesquisa: • Laboratório de Análises Correntes (química) • Laboratório de Análises Espectográficas • Laboratório de Modelos e de Verificação de Grandes Estruturas
1935
1934
1936
Nasce o IPT. No dia 3 de abril, o governo do Estado baixa decreto, transformando o Laboratório no Instituto de Pesquisas Tecnológicas, liderado pelos engenheiros Ary Torres e Adriano Marchini (foto), com apoio de professores da Escola Politécnica.
É criada a seção de Geologia e Minas, que realiza um extenso estudo sobre os granitos da Serra da Cantareira.
A nova instituição herda cinco laboratórios: • Laboratório de Aglomerantes e Concreto • Laboratório de Ensaios Mecânicos e Metais • Laboratório de Metalografia Microscópica • Laboratório de Ensaios Mecânicos de Madeiras • Laboratório de Identificação Micrográfica de Madeiras Foi criada a seção de Metrologia e, depois, a de Normas Técnicas, para dar apoio aos grandes compradores institucionais, produzindo textos de especificações de materiais e métodos de ensaio.
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Criação do Laboratório de Tintas e Vernizes.
Entra em operação o Laboratório de Cerâmica.
Começa a Segunda Guerra Mundial e a corrida de Estados Unidos e Alemanha pela bomba nuclear.
1937
1939
1938 São criadas mais unidades: • Laboratório de Borracha • Laboratório de Solos (Rodovias e Fundações) • Laboratório de Caracterização de Óleos Combustíveis e de Lubrificantes
Inauguração do Túnel 9 de Julho, em São Paulo, construído com o apoio do IPT na realização de ensaios de controle de concreto.
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No período de 1941 a 1945, o IPT desenvolve mais de 20 mil conversores de gás para veículos movidos a gasolina, racionada durante a Segunda Guerra Mundial. O instituto dá assistência à construção de armas para o conflito. A necessidade de medidas de precisão para a produção industrial leva o IPT a liderar estudos dos primeiros padrões do metro e do quilograma importados pelo Brasil. O instituto elabora uma legislação metrológica, adotando o metro como medida padrão, e supervisiona sua aplicação. O desenvolvimento de protótipos e de produção semi-industrial em madeira permite ao IPT projetar, construir e experimentar planadores e aviões desse material, como Bichinho, Planalto e Paulistinha. O instituto desenvolve hélices com freijó, por exemplo. Seu desempenho serve de apoio para a Companhia Aeronáutica Paulista, que construiu cerca de 800 aviões Paulistinha.
1940 – 1949
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Criação da Associação Brasileira de Metais (ABM), com suporte do IPT.
1944
1940
Fundação da Associação Brasileira de Normas Técnicas por iniciativa do IPT e do Instituto Nacional de Tecnologia. O instituto participa da construção da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ), onde realizou estudos de solo para o projeto das fundações da usina.
1941
Entra em funcionamento a Fundição Experimental do IPT, aprovada em 1937.
1943
Apoio a empresas para o desenvolvimento de eixos ferroviários e aços para ferramentas. Assistência tecnológica à construção de aeroportos nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.
1942
O instituto supervisiona os trabalhos geotécnicos e o controle de concreto nas vias Anhanguera, Anchieta e Rio-Santos.
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O IPT começa a dar apoio técnico ao projeto e à construção de barragens de usinas hidrelétricas.
1945
O instituto presta 10 mil consultas formais à indústria, triplicando o volume de 1939 e evidenciando o crescimento da demanda durante a guerra. No dia 2 de setembro, a vitória aliada põe fim ao conflito.
Prova de carga para a manutenção de ferrovias
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revista do IPT
Usina de Paulo Afonso: o IPT realiza medições das deformações das paredes de túneis em rocha.
1950 – 1959
1949
O IPT mantém participação ativa no desenvolvimento da indústria brasileira, cujo valor de sua produção supera pela primeira vez o da agricultura. Nessa década, o instituto analisa gás, para abastecimento e iluminação da cidade de São Paulo, e gasolina, para verificar a conformidade com as especificações do Conselho Nacional do Petróleo. Atua também na construção da primeira hidrelétrica subterrânea brasileira e da primeira hidrelétrica estatal do país, a Paulo Afonso. Participa de projeto fluvial em Goiás e atua em projeto de pesquisa de combustíveis nucleares.
O governador Adhemar de Barros inaugura a usina de preservação de madeira nas novas instalações do IPT na Cidade Universitária, no Butantã, com uma área de 240 mil metros quadrados. revista do IPT
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Fundação da Petrobras, que decide apoiar a indústria nacional de equipamentos. Desde então, o IPT faz pesquisas na área de petróleo.
A Marinha Nacional faz convênio com o IPT para o estabelecimento do Laboratório de Engenharia Naval, incluindo um tanque de provas.
1953
1955
1951
Criado o primeiro computador com semicondutores. Instituído o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). O IPT publica o Boletim nº 40 (Metalografia Macrográfica e Micrográfica dos Produtos Siderúrgicos Comuns), de autoria de Hubertus Colpaert, chefe do Laboratório de Metalografia. A obra é até hoje considerada como referência.
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revista do IPT
1954
O IPT faz ensaios comparativos entre produtos nacionais e de outros países para a definição de restrições de importação.
1956
Estudo de escorregamentos nos morros de Santos.
Identificação de componentes mineralógicos de argilas estrangeiras de interesse tecnológico. Realizadas suas determinações físico-químicas para servirem de referência na pesquisa de argilas brasileiras.
São criados os primeiros computadores com circuitos integrados.
1958
1959
Aterrissa na Lua a primeira sonda espacial, a soviética Lunik.
1957
O instituto firma convênio com a Comissão Nacional de Energia Nuclear para a instalação e a operação das centrífugas destinadas à separação dos isótopos de urânio. Entra em órbita o primeiro satélite, o soviético Sputnik.
revista do IPT
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Em plena Guerra Fria (1947-1991), marcada por disputas estratégicas e confrontos indiretos entre Estados Unidos e União Soviética, ganha importância no mundo todo a relação custo/ benefício nos projetos, e os economistas começam a participar das políticas de ciência e tecnologia, inspirando os modernos métodos de gestão. No Brasil, a instabilidade política culmina no golpe militar em 1964. Apesar do modelo autoritário, o país vive uma expectativa de crescimento, marcada pelos avanços científicos e tecnológicos. Nesse período, a Divisão de Engenharia Civil do IPT presta assistência técnica a grandes empresas:
1960 – 1969 Petrobras: estudos geológicos e geotécnicos na barragem de Saracuruna e da monoboia para descarga de petroleiros no mar. Esse estudo foi pioneiro na área de offshore no Brasil e um dos primeiros do mundo; CESP: apoio tecnológico na linha de transmissão de Jupiá a Cabreúva; DAEE: estudos em geologia aplicada e de solos nas obras da barragem de Ponte Nova e no Alto do Tietê; Metrô-SP: ensaios de resistência e adensamento da linha Norte-Sul. O instituto realiza ainda estudos geológicos e geotécnico para a implantação da Rodovia dos Imigrantes e das hidrelétricas de Ilha Solteira, Jupiá e Itaipu.
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revista do IPT
Inauguração do Túnel de Cavitação do IPT. Descoberta do raio laser.
1960
É lançado o primeiro satélite de televisão, inaugurando a era das telecomunicações. A Primavera Silenciosa, livro da escritora Rachel Carson, denuncia o aspecto nocivo de pesticidas agrícolas para a saúde e torna-se um best seller mundial, marcando as primeiras críticas ao desenvolvimento tecnológico e científico.
1962
1961 A União Soviética coloca em órbita o astronauta Yuri Gagarin, primeiro homem a deixar a Terra.
1963
O instituto presta assistência técnica à Petrobras no projeto do terminal oceânico flutuante da refinaria Alberto Pasqualini (RS). Iniciam-se no país os cursos de pós-graduação em engenharia, organizados pela Coppe, órgão pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro.
revista do IPT
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Criada a Financiadora de Estudos e Projetos - Finep, o principal agente financeiro do Sistema de Ciência e Tecnologia Nacional. Descoberta a fibra óptica.
1965
Medição de deformação no Laboratório de Ensaios Mecânicos
Criação do Laboratório de Máquinas-Ferramenta no IPT.
1968 1967
Início da parceria com o Metrô de São Paulo para a execução de ensaios especiais de campo e de laboratório. É fundado em São Paulo o Conselho Estadual de Tecnologia, que mais tarde se tornará o Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia.
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revista do IPT
1969
Os astronautas americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin tornamse os primeiros homens a andar na Lua. A Apollo 11 pousou na superfície lunar no dia 20 de julho.
A década do “milagre brasileiro” é marcada pelo expansionismo, um objetivo do governo militar. Organiza-se uma infraestrutura tecnológica no país, com a criação de instituições como o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
1970 – 1979 1970
1971
Criado o Centro de Pesquisas Informáticas, que começa a informatizar o instituto.
Pioneirismo no controle de qualidade de aparelhos de apoio elastoméricos, utilizados em defensas portuárias.
O governo americano institui a Agência de Proteção Ambiental (Environment Protection Agency – EPA).
Expansão da Divisão de Metalurgia do IPT, com o Laboratório de Fundição de Precisão e o Laboratório de Corrosão e Tratamento Superficial de Metais. Nasce o Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Kenbak-1, primeiro computador pessoal, chega às lojas.
1972 A Organização das Nações Unidas, em Estocolmo, apresenta as primeiras medições científicas sobre o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio. Início de parcerias no IPT, voltadas às inovações tecnológicas nas empresas. A primeira é feita com o Exército Nacional e a Engesa, para o desenvolvimento de chapa de blindagem para carro de combate. Projetos de gestão de recursos hídricos em São Paulo para dar apoio à preservação de bacias.
revista do IPT
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O IPT atua no planejamento de trabalho das equipes técnicas de quatro instituições norte-americanas, cumprindo acordo fechado entre o governo dos Estados Unidos e o Conselho Estadual de Tecnologia, de São Paulo. Logo após o impacto do primeiro choque do petróleo, é criado o Programa de Energia.
O governo do Estado de São Paulo cria a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Cultura, à qual o IPT passa a ser vinculado. A Assembleia Legislativa autoriza o Executivo a mudar o estatuto do instituto, que passa de autarquia a empresa pública.
Criado o Sistema Nacional de Metrologia, Normas Técnicas e Qualidade Industrial (Sinmetro).
Apoio ao Pró-Álcool, com pesquisas voltadas à melhoria da indústria sucro-alcooleira e o uso do álcool nos automóveis.
1973
1975
1974 Convênio entre o Ministério do Planejamento, o CNPq e o BID, destinado a modernizar as instituições de tecnologia, permite que o IPT desenvolva vários projetos, como a expansão do Programa de Máquinas-Ferramenta e a ampliação dos laboratórios de Papel e Celulose.
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1976 É desenvolvida a tecnologia de DNA recombinante. Instalação da primeira filial na cidade de Lorena. A Divisão de Química incorpora o Centro de Análises Químicas Instrumentais.
Firmado convênio com estatais para a construção de grandes obras, tais como a Rodovia dos Imigrantes e a ponte Rio-Niterói. Em busca de opções energéticas durante a crise do petróleo, o IPT realiza pesquisas e ensaios em motores de combustão interna, chegando ao uso de óleos vegetais em motores diesel. Destaca-se o desenvolvimento do metanol, do biogás e do gás natural.
Segundo choque do petróleo. O governo federal cria a Comissão Nacional de Energia, para a qual o IPT passa a prestar assessoria. Parceria com a Cosipa para o desenvolvimento de chapas de aço com baixo teor de enxofre. Levantamento das necessidades de transportes fluviais na Amazônia e elaboração de plano de prevenção e monitoramento de riscos geológicos no Brasil. Experiências para obter o biodiesel a partir do babaçu.
1979 1977 Estudos experimentais por meio de modelo reduzido em microconcreto da estrutura de desvio da barragem de Itaipu. Criação do Núcleo Tecnológico de Couros, Calçados e Afins na cidade de Franca.
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Delineia-se um novo padrão de industrialização, atendendo à necessidade dos setores público e privado, sem perder de vista as questões gerais da modernização industrial e da preservação do meio ambiente. O IPT atua com a Petrobras na nacionalização da engenharia de obras na plataforma marítima. Em parceria com a Cosipa, desenvolve uma injetora de cálcio silício para a dessulfuração de aços para tubulações de petróleo e de gás natural.
1980 – 1989 Com o Departamento de Águas e Energia Elétrica, o Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos, a Eletropaulo e o Instituto Agronômico foram realizadas pesquisas sobre os processos erosivos e formas de mitigar ou controlar seus impactos.
Outros projetos que o IPT desenvolve na década: • Segurança contra incêndio, apoiando os setores público e privado • Energia solar • Embalagem de gelatina para sementes, destinadas ao plantio na Serra do Mar • Galvanoplastia – plasma • Biodigestor • Assistência à indústria cerâmica no interior do Estado
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Laboratório de Veículos e Componentes: é o primeiro do país credenciado pelo Inmetro para ensaios de capacetes.
1982
1980 Convênio com a Organização Latino-americana de Energia, visando desenvolver fontes alternativas de energia e implantação de pequenas centrais hidrelétricas. Acordo com o Project Development Institute da Nigéria para dar treinamento e assessoria técnica em projetos de energia, geologia e metalurgia.
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Acidente ecológico de Chernobyl, na URSS: defeito em usina nuclear espalha poluição radioativa. O IPT realiza o Primeiro Simpósio Internacional sobre Economia de Água de Abastecimento Público.
1986
1987
Primeira fusão de aço realizada na América Latina, utilizando tocha de plasma e forno desenvolvidos pelo IPT.
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revista do IPT
Criação da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Apoio do IPT se dá por meio da avaliação do desempenho de elementos construtivos. Queda do muro de Berlim.
1989
Na década da globalização, o IPT fortalece seu relacionamento com a indústria e desenvolve importantes projetos em parceria: . Manual de gerenciamento integrado de lixo municipal, distribuído a todas as prefeituras de São Paulo; . Liga de titânio para implantes ortopédicos; . Válvula de tripa de porco para o coração; . Software para fila de espera de transplante; . Laser – Óptica; . Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Livro e Imobiliários.
1990 – 1999 1990
Com a Acesita, o IPT transforma um forno elétrico a arco em um forno a arco enriquecido por plasma térmico, visando à economia de insumos.
1994
Em parceria com a Adiboard, o IPT desenvolve um catalisador para a fabricação de placas de circuito impresso. Desenvolvimento de concreto projetado para utilização em túneis urbanos.
É lançada a série ISO 14000, de normas industriais para o meio ambiente, que passa a influenciar o comércio internacional.
O IPT celebra com a Cia. Siderúrgica Nacional o primeiro acordo de parceria no âmbito do programa para a Inovação Tecnológica, da
1995 Fapesp. O objetivo é o desenvolvimento de chapas de aço elétrico de média eficiência para a fabricação de motores elétricos com menor consumo de energia. Para a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, o IPT desenvolve um processo alternativo na fabricação do ferro-nióbio, aplicado em aços especiais. A empresa investe 44 milhões de dólares no novo sistema.
revista do IPT
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A Trikem, empresa do pólo petroquímico de Camaçari (BA), fecha com o IPT um contrato de apoio técnico, cujos trabalhos resultam em um ganho de produtividade de 78% em seu reator utilizado na produção de PVC.
O instituto desenvolve para o setor de fundição da Ford um cabeçote com uma liga especial de alumínio, tecnologia com a qual a empresa vence concorrência da Ford International para uma nova série de motores. Em consequência, a subsidiária brasileira investe 4,5 milhões de dólares para reabrir a fundição em Taubaté (SP).
1997
1998
1996 Criado o Centro de Informática e Telecomunicações. Construção da primeira centrífuga para ensaios em modelos reduzidos no país, com a qual foram feitos estudos dos taludes do reservatório de Porto Primavera.
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Parceria entre o IPT, o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e a Copersucar busca o desenvolvimento do plástico biodegradável a partir da cana-de-açúcar.
1999 Monitoramento da qualidade dos combustíveis em cidades paulistas com coleta das amostras, análise e envio dos resultados para verificação de não conformidades pela ANP. Em parceria com a Japan International Cooperation Agency (Jica), atua no desenvolvimento de superligas de níquel, que viabilizam aços com resistência à oxidação muito próxima de seu ponto de fusão, o que permite a aplicação em turbo jatos e turbinas a gás para geração de energia.
revista do IPT
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O IPT ingressa no novo século mantendo seu apoio aos setores público e privado, tanto em questões relativas à tecnologia industrial básica quanto em geração de novas tecnologias. Uma das linhas estratégicas atuais é o desenvolvimento de projetos de maior valor agregado em pesquisas avançadas.
2000 – 2009 2000
Apoio tecnológico à exploração de petróleo e gás em águas profundas, inclusive na camada pré-sal, reservatório de petróleo que está localizado abaixo das rochas salinas. Desenvolvimento de bioinseticida, um produto natural contra larvas de insetos, dentre eles o da dengue.
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revista do IPT
2002
Software para o dispositivo do Sem-Parar, para rodovias com sistema de pedágio.
Diagnóstico não invasivo da ocorrência de cupins e fungos que atacam o lenho da madeira e análise de risco de queda de árvores nas áreas urbanas.
2003
Microencapsulação de sulfato ferroso – Enriquecimento da farinha de trigo para uso no combate à anemia ferropriva.
2004
Pesquisa de processos de corrosão por corrente alternada em dutos enterrados.
revista do IPT
73
Término da elaboração das normas nacionais de avaliação de desempenho das edificações habitacionais para verificar se a forma como foram construídas e projetadas atende às necessidades dos usuários do ponto de vista de segurança, habitabilidade e sustentabilidade. Os métodos de trabalho desenvolvidos desde a década de 80 serviram de base para as primeiras normas da ABNT sobre o assunto.
2005
Programa de apoio ao desenvolvimento de medicamentos de uso popular para o tratamento da tuberculose.
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revista do IPT
Metrô-SP: investigação do acidente na linha amarela.
2007
2006 Desenvolvimento de um sistema web para o gerenciamento e a logística de distribuição de órgãos para transplante.
Moderniza: projeto de capacitação laboratorial traz para o instituto investimento de 150 milhões de reais até 2010 e criação de célula de gestão para agilizar esses trabalhos.
2008
Trecho Sul do Rodoanel: apoio do IPT para a mitigação do impacto ambiental.
revista do IPT
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Pesquisa na área siderúrgica proporciona a obtenção de cilindros de laminação mais eficientes. O programa Centro de Desenvolvimento de Cilindro (CDC) foi conduzido em parceira com a Escola Politécnia da USP e empresa do setor.
2008
Inauguração de unidades de apoio à indústria, como o laboratório de produção de protótipos navais, o centro de microscopia de alto desempenho e o laboratório de realidade virtual. Novo prédio para o Laboratório de Bionanotecnologia.
2009
Laboratório de Estruturas Leves no Parque Tecnológico de São José dos Campos para o desenvolvimento de materiais compósitos que serão aplicados na indústria aeronáutica e em outras áreas produtivas. Projeto de envio de pesquisadores ao exterior para treinamento por meio de convênios com institutos internacionais.
Túnel de vento: projeto de instrumentação amplia aplicações desse equipamento.
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revista do IPT
Em alto estilo Cliff Korman, ao piano, e Paulo Moura encerram a comemoração do IPT com show de MPB
Comemoração dos 110 anos reúne cientistas e autoridades em cerimônia solene na sala São Paulo
S
ábado, 27 de junho, a Sala São Paulo recebeu uma plateia diferente. O mais moderno espaço de concertos da América Latina acolheu cerca de 800 pessoas, entre cientistas, autoridades, clientes, fornecedores e funcionários do IPT, que compareceram à comemoração dos 110 anos do instituto. O professor João Fernando Gomes de Oliveira, diretor-presidente do IPT, abriu a solenidade com uma retrospectiva histórica, desde a fundação, em 1899. Ressaltou a importância de ver a história pelo aspecto da tecnologia e contou fatos curiosos sobre a atuação do instituto, como o desenvolvimen-
to do concreto, a fabricação de armas e os primeiros passos da indústria aeronáutica no país. Três autoridades do governo paulista discursaram. O governador José Serra destacou o papel nacional do instituto e apoiou o projeto de construção de uma planta-piloto para a gaseificação de bagaço de cana em Piracicaba, que será articulada pelo IPT. “O que nós queremos é aumentar a produção de etanol, mas sem aumentar a área plantada”, disse. O secretário de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, deu destaque às áreas estratégicas para o projeto de modernização do instituto, como nanotecnologia e microscopia eletrônica. Já o vice-governador, Alberto Goldman, disse que a história do IPT se confunde com a história do desenvolvimento do país. “O IPT é um grande instrumento do crescimento”, afirmou. Representando toda a comunidade ipeteana, o pesquisador
Marcio Nahuz, que atua no CTFloresta desde 1969, foi homenageado pelo governador José Serra com uma placa comemorativa. A solenidade foi encerrada com um show de música popular brasileira com Paulo Moura, no clarinete, e Cliff Korman, ao piano. Ao final, Moura convidou o professor João, saxofonista diletante, para tocar com ele. O público aplaudiu de pé ao final da apresentação.
Goldman, João Fernando, Alckmin e Serra cumprimentam o pequisador Marcio Nahuz revista do IPT
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Navegar com
Sonar de última geração ajuda a mapear o fundo dos rios, proporcionando uma navegação mais segura
D
eslizar com segurança sobre a superfície de um grande rio é possível e envolve tecnolo-
gia de ponta. Prova disso são os estudos realizados por uma das maiores autoridades brasileiras em investigações de ambientes 78
revista do IPT
precisão
submersos, o geólogo Luiz Antonio Pereira de Souza, o Laps, pesquisador do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas (CETAE) do IPT. No primeiro semestre deste ano, Laps fez levantamentos experimentais no rio Araguaia, nos trechos de Aruanã (GO), Conceição
do Araguaia (TO) e Couto de Magalhães (PA). Foram realizados cerca de 500 quilômetros de perfis ecobatimétricos e sonográficos, que determinam a profundidade entre a superfície da água e o leito do canal, além de medições de vazão e velocidade de corrente.
Em áreas submersas, o sonar Peixinho identifica trechos de risco, minas, pessoas afogadas e embarcações naufragadas Nesses estudos foram utilizados equipamentos especiais, como um ecobatímetro digital de dupla frequência, capaz de informar com precisão o perfil do fundo do rio, sistemas digitais de medição de vazão do rio e um sonar de varredura lateral digital de última geração, apelidado de Peixinho. Quando analisados em conjunto, os dados obtidos contribuem para a solução de questões relacionadas à investigação geológica e geotécnica em projetos hidroviários.
Luiz Antonio Pereira de Souza (à esq.) prepara o sonar Peixinho para mapear o fundo do rio Araguaia
O sonar Peixinho possui alcance lateral de alta resolução, que possibilita examinar, em tempo real, mais de uma centena de metros de cada lado da embarcação à medida que ela se desloca pelo rio, o que propicia uma ampla visualização da área estudada. “É importante para a navegação conhecer o fundo do rio para evitar
que barcaças com toneladas de cargas se choquem com afloramentos ou encalhem em bancos de areia, causando enormes prejuízos”, afirma Laps. Em investigação de áreas submersas, o Peixinho possibilita o mapeamento de recifes e afloramentos rochosos, a identificação de estruturas sedimentares, a delimitação de áreas de risco e a integridade de estruturas. Em aplicações militares, permite identificar em detalhes objetos como minas, que oferecem riscos à navegação costeira ou portuária. Operações de busca e salvamento de afogados, navios naufragados e arquelogia subaquática também fazem parte do escopo de aplicação dessa ferramenta geofísica. Mais de 100 gigabytes de dados de alta qualidade foram gerados revista do IPT
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Equipamento de análise de fundo de rio em uso pelo IPT nessa primeira pesquisa de campo e encontram-se agora em fase de processamento e interpretação. Todos os obstáculos à navegação serão identificados, mapeados com precisão e sincronizados com um sistema de posicionamento global GPS. A sincronização viabilizará o posicionamento espacial de qualquer característica identificada na superfície de fundo de rio, gerando informações que podem ser utilizadas no planejamento das rotas de navegação. O rio Araguaia cruza praticamente de ponta a ponta a região Centro-Oeste do Brasil, correndo paralelamente ao rio Tocantins. Por isso, explica Laps, apresenta forte potencial como alternativa de baixo custo para o escoamento da produção agropecuária das regiões Centro-Oeste e Norte. Países como Estados Unidos e China utilizam hidrovias como modal principal para transporte de carga, em especial de grãos, o que resulta em preços competitivos no mercado internacional. 80
revista do IPT
“O objetivo desse projeto é demonstrar a importância de estudar hidrovias, utilizando ferramentas com tecnologia de ponta, como as que usamos, para viabilizar a navegação no rio Araguaia com segurança e sustentabilidade ambiental. Planeja-se, numa próxima etapa, viabilizar com os órgãos competentes a ampliação desse estudo para toda a extensão do rio Araguaia e também para o rio Tocantins”, diz Laps.
Parcerias e pesquisas O projeto tem o suporte operacional da Administração das Hidrovias Tocantins e Araguaia – Ahitar e financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do programa CT-Aquaviário da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). No IPT, o estudo envolveu o CETAE e o Centro de Engenharia Naval e Oceânica - CNaval, que tem tradição em atuações técnicas na região Norte do país.
A equipe do IPT foi treinada para usar em campo o Peixinho em novembro de 2008. “Treinamos na represa Billings com Garry Kozac, um dos maiores especialistas do mundo nessa área”, diz Laps. A experiência da equipe e a precisão dos equipamentos empregados poderão ser úteis para desenvolver outras hidrovias de grande potencial no país. “Em São Paulo, por exemplo, o rio Tietê poderá ser completamente navegável, e o Peixinho será útil na investigação desse rio. Nesse sentido, temos uma profícua interação técnica com a diretoria de Hidrovias da Secretaria dos Transportes, que é o órgão que administra a hidrovia Tietê”, afirma o geólogo. A área de investigação de ambientes submersos do IPT está sendo reequipada por meio do projeto Moderniza. A partir de agosto de 2009, se tornará uma das únicas entidades no país a estar devidamente capacitada para desenvolver projetos de investigação nesse campo. Além dos equipamentos para medição de vazão (ADP) e GPS de alta precisão, o Laboratório de Riscos Ambientais vai receber da Finlândia um perfilador sísmico, sistema com três fontes acústicas, no valor de 600 mil reais. Esse novo equipamento permitirá a investigação da espessura das camadas de sedimentos em áreas submersas, parâmetro fundamental para a identificação de problemas relacionados ao assoreamento de reservatórios, de rios e de áreas portuárias.
Ao construir,
recicle Laboratório define procedimentos para a separação e a descontaminação de resíduos na demolição e no canteiro de obras
Q
uando se fala em reciclagem, logo vem à mente aquela latinha de refrigerante, o pa-
pel amassado do escritório e a garrafa de plástico. Mas reciclar é muito mais. Na construção civil, por exemplo, o aproveitamento de resíduos vem se tornando uma necessidade. E é exatamente nes-
Aterro ilegal com resíduos de construção que poderiam ser reciclados, reduzindo custos da obra e impacto ambiental
se setor que o apoio do IPT pode ser fundamental. Sobras de matérias-primas cada vez mais pesam no bolso de gestores da construção civil em todo o mundo. No Brasil, o consumo anual de agregados, como britas e areias, é de cerca de 300 milhões de toneladas. Em média, são produzidos todos os anos no país em torno de 500 quilos de resíduos de construção por habitante. Somente na região metropolitana de São Paulo são aproximadamente 9 milhões de toneladas anuais de sobras e
rejeitos. É muita coisa. E se as empresas não tiverem formas de reaproveitamento, é dinheiro jogado no lixo. Ou é IPT pesquisando. Com a equipe do Laboratório de Materiais de Construção Civil no Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura (CT-Obras), o instituto define procedimentos mais adequados para a separação de resíduos na demolição ou no canteiro de obras, procurando favorecer a reciclagem, descontaminar o material e minimizar o impacto ambiental da atividade. revista do IPT
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Latas, pedaços de ferro, de calhas e outros rejeitos recicláveis acabam indo para o lixo
“Precisamos desenvolver métodos tecnológicos para a separação de materiais e o reaproveitamento no próprio local. Contrapisos feitos de resíduos para o canteiro de obras ou para calçadas das prefeituras de pequenos e médios municípios são soluções de menor custo, inclusive ambiental”, afirma o pesquisador Sergio Cirelli Angulo, do CT-Obras. A metodologia para cada caso é importante. “O instituto encontra respostas sobre como proceder na demolição e aplicar o material lá mesmo, sem passar pela usina. O desafio é pegar o resíduo, saber se há alguma contaminação, reciclar e desenvolver a técnica adequada para sua aplicação na construção. Sem esses cuidados, corre-se o risco de o tiro sair pela culatra, não obtendo a qualidade 82
revista do IPT
compatível e gerando impactos ambientais indesejados. Temos modelos para a produção de cada agregado técnica e ambientalmente seguros”, diz Angulo. O IPT pode dar apoio tanto às prefeituras quanto às empresas, ajudando-as a gerenciar a reciclagem. O CT-Obras atua desde a gestão nos canteiros e nas demolições, reformas, triagem e caracterização dos resíduos e até em sua transformação e aplicação. A tecnologia de transformação do agregado pode ter menores custos e impactos ambientais para prefeituras e pequenos caçambeiros. Em alguns casos, dispensa-se o britador para a produção do agregado reciclado. “Usinas podem desenvolver agregados reciclados exclusivamen-
te para pavimentos ou mistos, para concretos e pavimentação. As tecnologias podem ser combinadas para melhorar a qualidade do produto que se quer. Hoje, o agregado reciclado pode ter uma qualidade muito próxima à do produto natural, tanto no uso em estruturas usuais de concreto quanto na fabricação de blocos”, ressalta o especialista. A área de reciclagem de resíduos da construção é multidisciplinar e pode atender desde o gerenciamento de sobras até o desenvolvimento de uma planta industrial para processamento, aplicações e suas formulações mais apropriadas. E a demanda, tanto no setor público quanto no privado, aumenta. Angulo diz que os resíduos de construção são matériaprima secundária que pode ser
há uma demanda acelerada por materiais para a renovação urbana. Por exemplo, edifícios projetados para durar 50 anos perdem sua função muito antes disso e são demolidos. Há ainda as reformas comerciais e residenciais, que envolvem troca de pisos, azulejos e novas paredes. São todos casos exemplares da geração intensiva de resíduos. Se não houver aproveitamento, seu destino será fatalmente o aterro.
reaproveitada, fechando um ciclo produtivo com valor de mercado.
Apesar de gerar poucos materiais perigosos, em todo o mundo a construção civil consome muita matéria-prima e gera igualmente muitos resíduos em que predominam brita, areia, cimento e cerâmica vermelha, com participação de mais de 90% do total. O concreto é o material mais consumido no planeta, Deposição irregular de resíduos de construção presente nas estrutu- em área de manguezais causa danos Estima-se um custo meras de edifícios, indús- ambientais facilmente evitáveis nor para areia ou brita trias, pontes e viadutos, reciclada na construção. entre outras aplicações. “Quanto mais consumo, mais re- preendedores descobrirão que as O custo do transporte corresponde síduos sólidos urbanos são gera- usinas podem ganhar duas vezes, a dois terços do valor do produto dos e, embora menos patológicos na entrada do resíduo e na saí- natural e não incidirá sobre o que do que os resíduos domésticos, do da do material processado. E o IPT já se encontra na cidade. Isso exponto de vista ambiental o seu está pronto para dar suporte às plica em boa parte por qual razão, em vários países europeus, o uso controle não é menos importan- demandas”, acrescenta. de brita e de areia de resíduos rete. E estamos falando apenas do ciclados chega a 90%. consumo de recursos naturais e da geração de resíduos, sem entrar Outro problema enfrentado pelas no terreno do consumo de energia e geração de CO2”, diz Angulo. A expansão das cidades demanda grandes e médias cidades bravolumes gigantescos de agregados sileiras é a falta de áreas dispoA tendência é de crescimento da que vêm das pedreiras nos res- níveis para aterros. Essas áreas, reciclagem na construção civil, pectivos entornos. À medida que quando existem, ainda geram impulsionada por custos menores a cidade cresce, as pedreiras ficam passivos ambientais. e demandas ambientais. “Esta- cada vez mais distantes, complimos numa zona de transição na cando a logística do transporte e “O problema fica apenas adiado, qual o mercado já demanda, mas encarecendo os materiais. Atual- pois num aterro não se fecha o cinão se decidiu pela implementa- mente, em São Paulo, a areia na- clo da produção industrial. Como ção dos novos projetos. Mas uma tural percorre distâncias superio- os recursos naturais são limitados, hora o gatilho da balança dos res a 150 quilômetros e custa cerca sua volta ao ciclo produtivo é essencial. Neste ponto, a reciclagem custos dispara. Vai custar tão caro de 60 reais por metro cúbico. faz todo o sentido, uma vez que o aterro, que reciclar será a grande solução, e poderemos fechar Além dos desperdícios que ocor- material não reutilizado vira pasesse ciclo de produção. Os em- rem nos processos construtivos, sivo ambiental”, avalia Angulo.
Transtornos urbanos
revista do IPT
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Material reciclado em usina na Alemanha
Para o especialista, qualquer tipo de resíduo, mesmo os que não representam ameaça, corre o risco de se misturar a outros poluentes e, aí sim, potencializar o risco. “O gesso também merece atenção, pois, além de interferir na degradação natural dos materiais orgânicos nos aterros, altera o pH da água e, sendo extremamente solúvel, pode alcançar o lençol freático. Gesso também interfere em outros materiais, como o concreto e os tijolos”, afirma Angulo.
TREINAMENTO DE MÃO-DE OBRA Na avaliação do especialista, é preciso investir em treinamento da mão-de-obra, especialmente a do mercado informal, que é o pedreiro contratado para as pequenas reformas particulares. São importantes a observação de aspectos técnicos e ambientais, o conhecimento de ecopontos das prefeituras, como a da capital paulista, que permitem o descarte administrado dos resíduos. 84
revista do IPT
“Grandes construtoras são responsáveis pela coleta e a destinação de seus resíduos às áreas de triagem e reciclagem. Esse tipo de material processado, basicamente mineral, além de ser utilizado como brita ou areia, pode ser utilizado na regularização geotécnica em substituição à terra para preenchimento das áreas degradadas”, diz. Além de treinamento da mãode-obra do mercado informal e do reaproveitamento dos resíduos, Angulo defende a adoção de critérios técnicos para as argamassas e os contrapisos, entre outros agregados. “Há ainda muito pouco controle técnico nos setores de demolição e de pequenas reformas, importantes geradores de resíduos e que precisam de critérios específicos”, afirma o pesquisador do CT-Obras. Para o especialista, o gerenciamento público que já existe para esses setores é, sem dúvida, um avanço. “Mas podemos avançar ainda mais, participando na cadeia produtiva como um todo.”
QUATRO CLASSES DE RESÍDUOS Em 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, editou a Resolução número 307. O documento legal classificou os materiais utilizados na construção civil para definir as diversas rotas de aproveitamento e reciclagem. Confira as quatro classes de resíduos: Classe D (não recicláveis) – tintas, resinas e cimento amianto Classe C (parcialmente recicláveis) – placas de gesso acartonado Classe B (recicláveis) – resíduos orgânicos com destinação específica para cada setor Classe A (recicláveis) – concreto, argamassa, cerâmica, entre outros materiais
Um robô superprodutivo
U
m sistema que permitisse a rápida fabricação de simuladores de navio e plataformas
de petróleo em alto-mar era o objeto de desejo de muitos dos pesquisadores do IPT. Este ano, o desejo tornou-se realidade. O Centro de Engenharia Naval e Oceânica (CNaval) agregou um sistema automatizado com braço robótico que propicia a construção de modelos para simulação, em poliuretano ou madeira, em pouco tempo – o que antes durava até mais de um mês, agora sai pronto na mesma semana. Com o Robô, apelido do sistema, o IPT tornou-se pioneiro em usinagem robotizada de modelos de navios na América Latina. Ele trabalha em conjunto com o tanque de provas naval e oceânico, uma estrutura aquática com 280 metros de comprimento por 6,6 metros de largura e 4 metros de profundidade. É um dos conjuntos de teste mais evoluídos do mundo.
Sistema automatizado acelera a construção de modelos para simulação na água
No tanque, cascos de navios, depois de produzidos pelo sistema robótico, são monitorados e arrastados sobre a água para a avaliação do desempenho hidrodinâmico e propulsão mais adequada a cada tipo de embarcação. No caso de plataformas offshore, as avaliações de desempenho monitoradas são feitas sob a simulação de ondas em alto-mar. O Robô faz parte de um processo de renovação das instalações laboratoriais iniciado há três anos. Laboratórios e oficinas já estão quase prontos para atuar com revista do IPT
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Modelo de navio ensaiado no tanque de provas do CNaval, que passa a ser produzido com o novo sistema robotizado elevados padrões de eficiência e dar suporte tecnológico ampliado à indústria nacional ligada aos setores naval e de petróleo e gás, segundo Carlos Daher Padovezi, diretor do CNaval. A modernização do CNaval se insere num contexto mais amplo. Com a criação dos fundos setoriais, destinados a financiar a inovação, intensificou-se a participação das grandes empresas nacionais em projetos de pesquisa e desenvolvimento. A legislação estabeleceu que empresas sob concessão, como as dos setores elétrico e de petróleo e gás, aplicassem 1% do faturamento em pesquisas, sendo pelo menos metade disso em instituições científicas e tecnológicas. “Tais recursos permitiram, num primeiro momento, um verdadeiro upgrade em nossas instalações laboratoriais. O desafio que temos pela frente, a partir de agora, é melhorar as condições de trabalho, com mais eficiência e menores custos. Estamos investindo firme em treinamento de pesso86
revista do IPT
al para atender às demandas da Marinha e de empresas como a Petrobras, estaleiros, projetistas e às embarcações fluviais e de cabotagem”, afirma Padovezi.
navios também caíram, enquanto os de offshore cresceram, juntamente com os estudos de embarcações menores para transporte fluvial. “Nos últimos cinco ou seis anos, verificou-se uma retomada na construção naval nacional, os investimentos voltaram, e o IPT está retomando as atividades nessa área, refletindo o que de importante acontece no país”, afirma o diretor do CNaval.
ENSAIOS DE MODELOS Em rede
ALTOS E BAIXOS DA INDÚSTRIA NAVAL
Existem outros tanques de provas nacionais para ensaios de modelos de plataformas de petróleo, como o da Escola Politécnica, na USP, e o da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas o tanque do IPT é o único adequado para ensaios com modelos de navios na América Latina. Segundo Padovezi, a formação de grupos de excelência no Brasil, nas chamadas redes temáticas do Cenpes/ Petrobras, amplia as competências tecnológicas nacionais. As instituições brasileiras não concorrem entre si, mas juntam aquilo que cada uma tem de melhor para atender às demandas e responder aos desafios técnicos.
Do final dos anos 60 até o início dos 80, o país fabricava grandes navios, e o IPT ensaiava seus cascos em escala reduzida. No final dos anos 70, a Petrobras explorava petróleo no mar, e o instituto dava assistência em tecnologia offshore. No final dos anos 80, a indústria naval brasileira declinou, e os ensaios de modelos de
Os concorrentes diretos do IPT estão em outros países, que também montaram suas competências. “Alguns países, como Noruega, Holanda e Itália, têm buscado parcerias no Brasil. Atualmente, a capacidade do IPT na área de hidrodinâmica experimental pode atender à demanda por ensaios de países latino-americanos, com
O diretor do CNaval acredita que os investimentos, tanto dos fundos setoriais quanto do governo paulista, produzirão inovações. “Isso leva tempo, mas a tendência é que ocorram grandes saltos na pesquisa tecnológica aplicada nacional”, estima Padovezi, lembrando das fases pelas quais o instituto passou, acompanhando a evolução do mercado.
custos menores do que os europeus e com a mesma qualidade”, afirma Padovezi. Em sua avaliação, os grupos de excelência nacionais têm muita consistência. “Quem é bom experimentalmente busca parceria com seus equivalentes teóricos e, juntos, damos conta de trabalhos de grande complexidade.” O CNaval tem capacitação em ensaios em campo
de plataformas e navios, necessários para a aferição dos métodos experimentais em escala reduzida e dos métodos teóricos de avaliação de desempenho. Com as perspectivas abertas pelas grandes jazidas petrolíferas na camada pré-sal, os investimentos visando à produção offshore foram retomados. Vêm com eles
a volta da produção de navios de grande porte, impulsionada pela decisão da Transpetro de nacionalizar a construção de sua frota. “Um grande estaleiro, o maior da América Latina, está em construção em Recife (PE). Pode-se dizer que os recursos de petróleo e gás da camada pré-sal produzem um redesenho da indústria naval e oceânica no Brasil”, diz Padovezi.
Com o vento a favor Novos equipamentos de ponta transformam o túnel do IPT num dos melhores do mundo
O túnel de vento, ferramenta do IPT para ensaios de edificações, incorporou recentemente dois equipamentos de ponta: o rastreador de hidrocarbonetos e o Sistema Óptico PIV. Com o rastreador, é possível determinar a dispersão de poluentes de chaminés da indústria e de plataformas de petróleo ou dos escapamentos dos carros. Uma vez determinada a dispersão, pode-se propor alter-
nativas para melhorar a dispersão e a qualidade do ar. Já o Sistema Óptico PIV (sigla em inglês para Velocimetria por Imagem em Partículas) permite determinar o comportamento do escoamento em um determinado local, como todo o campo de velocidades, os vórtices formados, a turbulência do local, entre outros. Com esses e outros instrumentos
adquiridos recentemente, o túnel de vento do IPT torna-se um dos mais bem equipados do mundo. Inaugurado em meados de 2002, o túnel de vento do IPT é robusto. Mede 40 metros de comprimento com seções de testes de 3 metros de largura por 2 metros de altura e duas mesas giratórias. Uma das mesas posiciona-se na seção atmosférica, onde são ensaiarevista do IPT
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Gilder Nader, pesquisador do Centro de Metrologia de Fluidos
dos modelos em escala reduzida de edificações e plataformas de petróleo, e outra na seção aerodinâmica, onde são ensaiados protótipos de aerodesign, entre outros. Um ventilador de 180 cavalos-vapor (cv) de potência e 3 metros de diâmetro gera ventos de até 90 quilômetros por hora nas seções de teste do túnel. “Algumas pessoas dizem que essa instalação do IPT possui nome e sobrenome”, diz o pesquisador Gilder Nader, do Centro de Metrologia de Fluidos do IPT. “Trata-se de um Túnel de Vento de Camada Limite Atmosférica.” Entre as principais aplicações do túnel de vento atmosférico estão estudos de cargas de vento estáticas e dinâmicas em diversas estruturas. “Podemos avaliar as ações do vento em torres de transmissão de energia elétrica, fazer medições da dispersão de contaminantes no ar. Também conseguimos visualizar o escoamento do ar ao redor de estru88
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turas e com isso melhorar, por exemplo, perfis aerodinâmicos ou posicionamento de helipontos, uma vez que determinados perfis de edificações podem gerar turbulências e colocar em risco operações de pouso e decolagem”. Outro trabalho desenvolvido no túnel de vento relaciona-se com o conforto e a sustentabilidade ambiental, visando melhorias na ventilação em ambientes fechados e abertos como, por exemplo, em ruas e em residências ou prédios comerciais. Segundo Gilder Nader, as aplicações aerodinâmicas do túnel de vento do IPT são realizadas principalmente com equipes das escolas de engenharia, como por exemplo, de aerodesign. “A envergadura e as velocidades de cruzeiro e decolagem dos aerodesigns são compatíveis com o túnel de vento do IPT. Assim, são realizados ensaios nos protótipos para determinação dos coeficientes de arrasto e sustentação.”
Outro tipo de projeto ponderado por Gilder é a possibilidade de uma edificação na marginal do rio Pinheiros, em São Paulo. “A norma pode prever, por exemplo, rajadas de ventos de 110 km/h e de curta duração. O ensaio no túnel do IPT será constante, e os dados coletados, comparados às estatísticas do local, permitirão a projeção para a escala real. Novos fatores, como a mudança climática, podem trazer ventos mais fortes, e os cálculos estruturais também serão alterados. Trocando os valores que são constantes, pode-se fazer a projeção.” Entre os ensaios realizados no túnel de vento, o pesquisador destaca os realizados na igreja do padre Marcelo, em São Paulo, e a ponte estaiada sobre o rio Potengi, em Natal (RN). “Com o ensaio no túnel é possível dimensionar os materiais de construção na medida exata. Sem ele, a obra poderia custar três ou quatro vezes mais”, diz Nader.
Técnico faz prospecção não destrutiva do estado da árvore com tecnologia desenvolvida no IPT
Pronto-socorro de árvores Tecnologias reduzem risco de queda por ataque de insetos e temporais
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A pesquisadora Raquel Amaral coleta dados que irão alimentar o software de gestão de árvores
A
cidentes com quedas de árvores durante vendavais ou temporais são um problema recorrente nas cidades brasileiras. Para ajudar as adminis-
trações municipais a reduzi-los, o Centro de Tecnologia de Recursos Florestais (CT-Floresta) do IPT desenvolveu ferramentas para 90
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diagnóstico e gestão de árvores urbanas. A aplicação dessas tecnologias permite que as espécies tenham uma vida mais saudável, mantendo sua condição estrutural, e harmonizem-se com as áreas do entorno. O diagnóstico envolve critérios de análise externa da espécie arbó-
rea, análise do tronco para a identificação de fungos, cupins ou brocas, além do estudo biomecânico. Trata-se de um modelo de cálculo estrutural que reúne conceitos de biologia e mecânica e foi elaborado pelo pesquisador Takashi Yojo.
na atuação do instituto na área. Foram diagnosticadas 7.050 árvores da cidade, utilizando método de prospecção não destrutiva, desenvolvido no ano de 2002 e patenteado por Raquel Amaral, em seu trabalho de mestrado.
no IPT a parceria tecnológica para a elaboração do Plano Diretor de Arborização Urbana de Campo Grande, o PDAU. “O secretário conheceu melhor o trabalho e manifestou grande interesse pelo auxílio do IPT”, informou Raquel.
Para a gestão das árvores, as equipes do CT-Floresta e do Centro de Tecnologia da Informação, Automação e Mobilidade (CIAM) desenvolveram um software que permite organizar dados para gerar um histórico individual. Inserem-se nele dados como localização e condição biológica, além das inspeções realizadas. “Cada espécie tem um tempo de vida, e esses dados são essenciais para planejar as ações preventivas”, afirma Raquel Amaral, engenheira agrônoma do CT-Floresta.
Em setembro de 2008, o CT-Floresta foi contratado pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap, de Brasília, para transferir conhecimento em diagnóstico de árvores urbanas. A empresa tinha um problema sério. As árvores do Distrito Federal foram atacadas por insetos e fungos apodrecedores e, em consequência, estavam perdendo sustentação. Algumas até tiveram que ser removidas emergencialmente.
O software de gestão de árvores também vem chamando a atenção e já virou notícia divulgada internacionalmente pelo serviço britânico da rádio BBC. Em entrevista ao apresentador Gareth Mitchell, Raquel Amaral destacou a possibilidade de adaptação do software a características locais, uma vez que nas diferentes regiões há uma diversidade de espécies de árvores e de ataques biológicos. O software foi feito sob medida para a cidade de São Paulo, mas poderá atender a outras administrações municipais sem problemas.
O diagnóstico é fundamental para classificar o risco de queda de uma árvore e estabelecer níveis de alerta. “Fazemos uma análise extensa, procurando sinais que indiquem risco”, explica Raquel. Os sinais podem ser detectados pelo corte de raízes, por rachaduras no tronco, pelo tamanho da área interna deteriorada, entre outras observações. No que se refere às podas, aquelas feitas sem critério também podem alterar o centro de gravidade da árvore, fazendo com que ela perca a condição original de estabilidade estrutural. A Operação Árvore Saudável, realizada pela Prefeitura de São Paulo entre 2003 e 2005 com o apoio tecnológico do IPT, foi um marco
CURSO PARA ENGENHEIROS O IPT ministrou um curso para os engenheiros da Novacap, com o objetivo de capacitá-los para a tomada de decisões quanto ao risco de queda das árvores. Além de aulas teóricas, o curso envolveu análise em campo nos pontos mais críticos, incluindo o método que permite analisar as árvores internamente sem danificá-las. A capacitação do instituto com foco em árvores urbanas também chamou a atenção do secretário municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Frederico Luiz de Freitas Júnior, da prefeitura de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Freitas buscou
O CT-Floresta há 40 anos soluciona problemas com insetos que se alimentam de madeira em edificações. Iniciou um histórico de atuação no campo de árvores urbanas no ano 2000 e intensificou suas pesquisas após um acidente com vítima, ocorrido na capital paulista em 2004, devido à queda de uma árvore. As árvores urbanas que têm diagnósticos adequados e são bem cuidadas ajudam a melhorar o conforto térmico e a amenizar os efeitos da poluição do ar. Ajudam também a diminuir impactos ambientais, criando barreiras para ruídos e fixando o solo para controle de enchentes. revista do IPT
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Um tesouro bem aqui Flora Brasiliensis, obra rara e de referência para os estudos de botânica, faz parte do nosso acervo
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arquivo de madeiras do Centro de Tecnologia de Recursos Florestais (CT-Floresta)
guarda um precioso tesouro: Flora Brasiliensis, uma obra antiga e rara, referência para o estudo de espécies botânicas no país. Trata-se da produção do médico e botânico alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), que reúne a descrição de 22.767 espécies nativas do Brasil e traz 3.811 desenhos de plantas com absoluta riqueza de detalhes.
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A coleção – composta de 40 livros, dos quais o IPT possui 29 – ainda hoje é ferramenta de trabalho para botânicos, que estimam em 50 mil as espécies existentes no Brasil. Somente em 2004, a importância da Flora Brasiliensis como o maior projeto de flora na história da botânica foi ultrapassada pelo estudo Flora da República Popular da China. Segundo Geraldo José Zenid, diretor do CT-Floresta, o estudo é útil para a taxonomia, que classifica as plantas segundo variáveis
Alguns dos 29 volumes da Flora Brasiliensis, coleção sob a guarda do CT-Floresta
tais como classe, ordem, família, gênero e espécie. Martius, o autor, realizou expedições pelo Brasil a partir de 1817, acompanhado de um grupo de naturalistas e cientistas. Na época, Dom João VI reinava diretamente do Brasil, gerando viagens de europeus ao país, incluindo a missão artística francesa, que trouxe os pintores Taunay e Debret, entre outros nomes de peso. A equipe de Martius percorreu 10 mil quilômetros durante mais de
três anos e reconheceu boa parte dos tipos de vegetação existentes em solo brasileiro. Martius dedicou boa parte de sua vida ao estudo da flora do país e, a partir de 1840, organizou os volumes, que foram publicados sucessivamente, até 1906. O texto original é escrito em latim.
sob o gerenciamento do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria). Outro colaborador importante é o Jardim Botânico do Missouri, dos Estados Unidos, que se encarregou da digitalização das imagens para o site. As imagens são reproduzidas em alta resolução para exibir toda a sua riqueza de detalhes. Atualmente, está sendo desenvolvido um banco de imagens de plantas
que mais tarde se possa conhecer todo o universo de plantas existentes no Brasil. Somente o processo de atualização da nomenclatura do Flora Brasiliensis deve demorar cerca de cinco anos. Concebido para ter uma natureza dinâmica e colaborativa, o Flora Brasiliensis online deverá ser mantido sob constante atualização, utilizando as tecnologias de compartilhamento de informações. Os pesquisadores acreditam que o projeto na internet deva atrair a atenção de outros países da América Latina, uma vez que as plantas desconhecem as fronteiras geopolíticas.
É difícil precisar a chegada da coleção ao IPT. Segundo Cristiane Alves de Sousa, historiadora do acervo técnico, a obra teria ficado com o instituto no momento da separação da Escola Politécnica, em 1944. Curiosa quanto à origem da coleção, Cristiane procurou documentos que atestassem sua procedência e descobriu que uma parte da coleção está na biblioteca da Poli, e outra, na Faculdade de Educação da USP. Um levantamento dos volumes será feito em Tela do projeto Flora Brasiliensis na internet, cada setor para verifique conta com um enorme banco de dados car se as partes compõem a coleção toda.
A COLEÇÃO NA INTERNET A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) lançou em março de 2006 um amplo projeto para produzir a versão digital da Flora Brasiliensis, que já pode ser consultada no endereço http://florabrasiliensis.cria. org.br. Para viabilizar um projeto desse porte, foi montado um enorme banco de dados, que está
vivas e de amostras para serem associadas às imagens do acervo online. Outra frente do projeto prevê a elaboração de um catálogo atualizado das plantas do país. O botânico George Shepherd, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordena um estudo-piloto para atualizar a nomenclatura das famílias de vegetais. Assim, o projeto online representa os passos iniciais para
No primeiro módulo de desenvolvimento do projeto, as 3,8 mil pranchas que compõem a obra foram digitalizadas por meio de processo fotográfico, criando imagens com resolução de 300 por 300 pixels e arquivos de 90 MBytes cada. Para o carregamento das fotos na internet, é utilizado um visualizador Flash, que permite minimizar o tráfego de dados na rede por meio da recuperação de partes das imagens. O sistema adota algoritmos para determinar as partes que devem ser carregadas para o usuário. Outro recurso de destaque é a adoção do banco de dados hierárquico, que guarda os metadados de cada um dos volumes da obra. revista do IPT
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artigo
Divisor de águas para o meio ambiente José Luiz Albuquerque Filho O ano de 2011 será um divisor de águas para a política estadual de recursos hídricos. Até lá, devido à lei estadual n° 12.183, de dezembro de 2005, que dispõe sobre a cobrança pela utilização dos recursos hídricos no Estado de São Paulo, os usuários de água em geral, tais como municípios, indústrias e empresas como a Sabesp, que promovem a captação de água para diversos fins, passarão a pagar por esse uso, gerando receitas que podem chegar aos 600 milhões de reais por ano. Os recursos serão destinados ao Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro), que atualmente conta com receita anual de cerca de 55 milhões de reais. A lei está em fase de regulamentação e implementação. Com esse aumento, os projetos de gestão de bacias hidrográficas do Estado ganharão uma nova perspectiva. Os recursos financeiros serão investidos na melhoria da qualidade do meio ambiente no Estado, permitindo o desenvolvimento de projetos, como os de recomposição florestal, recuperação de rios, melhoria na qualidade da água, combate à erosão, tratamento de resíduos sólidos, combate a enchentes e obras de saneamento, entre outros. Devem ganhar novo impulso também a pesquisa básica e a pesquisa aplicada nas mais diversas áreas de interesse para a gestão dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Um dos aspectos importantes da cobrança pelos recursos hídricos é que a decisão sobre o que fazer com o dinheiro será da alçada da própria região em questão, por meio de cada um dos 21 comitês 94
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O pesquisador José Luiz Albuquerque Filho e o mapa dos recursos hídricos de São Paulo
de bacias hidrográficas (CBHs) que existem atualmente no Estado, com representação dos governos e da população. Há uma série de estudos técnicos e debates para viabilizar a cobrança, tão logo ela se consolide na legislação do Estado. Cada comitê desenvolverá seu sistema de cobrança, que em última instância será autorizado pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH). O Instituto de Pesquisas Tecnológicas tem um papel triplo na Política Estadual de Recursos Hídricos. Atua como apoio tecnológico, por meio de pesquisas e serviços; como representante da Secretaria de Desenvolvimento do Estado nos comitês de bacia de Franca (CBH-SMG), Piracicaba (CBH-PCJ) e São Paulo (CBH-AT), e como agente técnico para todos os colegiados, ao lado de instituições como Cetesb, DAEE, CATI, CPLA e FF.
A política de águas do Estado foi definida em 1991 por meio da lei n° 7.663, configurando pioneirismo no país, já que a lei federal n° 9.433 foi instituída somente em 1997. Os comitês de bacias, os instrumentos de gestão – planos, relatórios de situação, outorga pelo uso da água, entre outros – e o suporte financeiro do Fehidro resultaram da legislação estadual, compondo assim um tripé que viabiliza a melhoria continuada, a conservação e a preservação dos recursos.
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A partir do diagnóstico, foram identificadas e discutidas com os comitês de bacia as ações e recursos necessários para conservar, recuperar e proteger a água e o ambiente em curto, médio e longo prazos, considerando o período 2008 – 2020. Outro projeto de relevância é o de desenvolvimento de indicadores ambientais para a avaliação dos recursos hídricos. De caráter metodológico, esse projeto permitiu que em 2008 fosse montada uma matriz básica de indicadores, discutida preliminarmente com todos os comitês. Assim, serão gerados anualmente relatórios para cada bacia, que trarão o estado das águas e as ações prioritárias a serem executadas.
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Aumento da receita do Fehidro vai ampliar projetos de recursos hídricos no Estado
O IPT foi nomeado Agente Técnico do Fehidro em 2004. O convênio envolve cerca de 20 pesquisadores de diferentes áreas tecnológicas dentro do instituto, que acompanham atualmente cerca de 170 projetos dos vários comitês, totalizando 38 milhões de reais em investimentos.
PROJETOS ATUAIS Em convênio com a Cooperativa de Serviços e Pesquisas Tecnológicas e Industriais (CPTI), o IPT elaborou oito planos de recursos hídricos das bacias paulistas, quais sejam: Turvo/Grande (São José do Rio Preto); rio São José dos Dourados (Jales); Baixo Pardo/Grande (Barretos); Sapucaí-Mirim/Grande (Franca); Pardo (Ribeirão Preto); Tietê/Jacaré (Araraquara); Sorocaba/Médio Tietê (Sorocaba); e Litoral Norte (Caraguatatuba). Essas regiões abrangem 224 dos 645 municípios paulistas. Por meio desses planos, realizou-se diagnóstico dos setores usuários de água – municipal, agrícola e industrial – e foram analisadas suas demandas. Consideraram-se diversos fatores, como caracterização ambiental, potencialidade de aquíferos e rios, situação da erosão, vulnerabilidade dos aquíferos, demografia, qualidade das águas, monitoramento de chuvas, vegetação, destinação do lixo urbano, entre outros.
O IPT atuou ainda no estudo regional das bacias dos rios Cubatão, Mogi, Quilombo e Jurubatuba. Foram diagnosticados os processos erosivos e de contaminação para subsidiar o planejamento e a gestão da bacia hidrográfica da Baixada Santista. Esse estudo também está servindo de base para a escolha de locais para a implementação da base operacional da Petrobras na bacia de Santos. Por fim, o IPT está trabalhando no Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental do Sistema Aquífero Guarani, que é o maior manancial de água doce subterrânea da América do Sul, com área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Aqui a meta é estabelecer um plano de gestão para a área de recarga no Estado de São Paulo. O projeto abrange cerca de 90 municípios.
José Luiz Albuquerque Filho é pesquisador do IPT desde 1981 e geólogo com doutorado em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista (Unesp, Rio Claro).
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você sabia
Primeiros tempos Foi notícia em 1933. Os estudos sobre madeiras brasileiras desenvolvidos pelo IPT, o uso possível e mais consciente, com tratamento técnico adequado, resultaram nas primeiras aplicações tecnológicas da madeira, como na fabricação de tacos e assoalhos, além de abrir espaço para o desenvolvimento de produtos, como colas e vernizes.
Primeira mulher a ocupar cargo de direção Denise Rodrigues, diretora de Gestão Estratégica de março de 2007 a maio de 2009
Os presidentes 1899 - 1903 1903 - 1906 1906 - 1917 1917 - 1926 1926 - 1939 1939 - 1949 1949 - 1968 1968 - 1985 1985 - 1989 1989 - 1990 1990 - 1994 1994 - 1997 1997 - 2001 2001 - 2006 2006 - 2007 2008 -
Antônio Francisco de Paula Souza Wilhelm Fischer Hippolyto Gustavo Pujol Jr. Oscar Machado de Almeida Ary Frederico Torres Adriano José Marchini Francisco João Humberto Maffei Alberto Pereira de Castro Henrique Silveira de Almeida Luiz Carlos Martins Bonilha Francisco de Assis Souza Dantas Milton de Abreu Campanário Plínio Asmann Guilherme Ary Plonski Vahan Agopyan João Fernando Gomes de Oliveira
Por dentro do IPT Infraestrutura Área construída: 96.596 m² Unidades técnicas Centros: 12 Laboratórios: 30 Seções técnicas: 10 Funcionários Pesquisa: 1.000 Administração: 275 Estagiários/bolsistas: 160 Produção científica em 2008 Documentos técnicos emitidos: 35.900 As unidades do IPT fora da capital Franca e, em breve, São José dos Campos e Piracicaba
Camisinhas: testadas e reprovadas No dia 1º de outubro de 1992, a Secretaria da Justiça do Estado de São Paulo apresentou publicamente os resultados dos testes feitos pelo IPT em 13.500 unidades de preservativos masculinos. As marcas que compunham a amostra, coletadas no mercado paulista pelo Instituto de Pesos e Medidas, atendiam à época 95% da demanda brasileira. Nove marcas foram analisadas e apenas duas aprovadas, obedecendo a critérios baseados em normas internacionais e diretrizes do Procon. Foi um dos primeiros testes de preservativos feitos no país e ajudou a ampliar a proteção à saúde dos cidadãos, com destaque para a prevenção à AIDS. 96
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