Mergulho nas Piscinas naturais

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Briefing Presidente e Editor: Ernani Paciornik Vice-Presidente: Denise Godoy denise@gr1editora.com.br Vice-Presidente executiva: Silvana Cassol

Às vezes escrever um editorial é mais difícil do que escrever uma matéria de 90 laudas. Ele traz impressões pessoais e muitas vezes revelam o que o editor sente naquele exato momento. Começo a escrever estas poucas linhas sentada em frente ao mar, numa praia que curiosamente tem o meu nome: Daniela, em Florianópolis. Um lugar indescritivelmente belo, de areias brancas que contrastam com o belo azul do Atlântico. Mar calmo, sem ondas e que traz uma paz absurda, principalmente para quem vive na correria de São Paulo, onde se faz tudo no automático e a vida da grande maioria das pessoas é totalmente mecanizada.

Redação Diretor de Produto: Alcides Falanghe afalanghe@revistamergulho.com.br EditorA-chefe: Daniela Maximo Breitbarg daniela@revistamergulho.com.br Editor de Arte: Alexandre Sakihama alexandre@gr1editora.com.br Tratamento de imagem: Paulo Nery paulo@gr1editora.com.br EstagiáriO: Murilo Barros murilo@revistamergulho.com.br Revisão: Lia Gomes Colaboraram nesta Edição: Ary Amarante, Áthila Bertoncini, Cezar Torres, Daniel Botelho, Eduardo Vinhaes, Flávio Lima, Gabriel Ganme, Luiz Fernando Cassino, Ivan Cavas, Marcio Lisa, Maíra Borgonha, Mauricio Carvalho, Maurício Szpilman, Osmar Luiz Jr., Paulo Amorim, Paulo Francisco da Silva, Rodrigo Correia, Sandro Cesar do Nascimento, Eduardo Vinhaes

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Em Floripa visitei várias praias - todas maravilhosas - e comecei a prestar mais atenção nas piscinas naturais formadas na maré baixa. O que me fez olhar diferente para estes pequenos ecossistemas, foi a matéria belíssima de Áthila Bertoncini e Maíra Borgonha. Eles relatam em um texto impecável ilustrado por fotos surpreendentes, o que um mergulho raso, utilizando apenas máscara e snorkel pode nos proporcionar. Às vezes, não é preciso ir fundo e carregar pesados equipamentos para se deliciar com as belezas subaquáticas... Basta esperar a maré baixar, dar alguns passos na areia e o espetáculo acontece a menos de dois metros de profundidade. FANTÁSTICO!

gerente: Alcides Falanghe afalanghe@revistamergulho.com.br Representante Paraná: Gustavo Ortiz Sampaio gustavo@nautica.com.br

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Atendimento ao leitor

Outra matéria muito especial é a de Ivan Cavas, que nos apresenta 10 razões mais do que especiais para visitar um de nossos paraísos sub mais cobiçados: Abrolhos, na Bahia. O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos é um complexo e maravilhoso ecossistema marinho, de águas transparentes, calmas e que recebe todos os anos visitantes ilustres: as baleias-jubarte! Confira as dicas de Ivan e faça já sua mala rumo ao paraíso.

Roberta Coelho atendimento@revistamergulho.com.br

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Mudando de águas brasileiras, para as super povoadas águas da Indonésia, quem mais uma vez nos presenteia com seu trabalho é o fotógrafo Daniel Botelho, autor da bela foto da capa deste mês. Desta vez, Daniel visitou Bali para fotografar peixes-lua. Bali é considerada a capital mundial dos Mola-mola (peixe-lua), mas guarda também belas surpresas como as raiasmanta e uma infinidade de seres marinhos dos mais variados tamanhos e cores. Como sempre, um show de imagens... Gostaria de convidar você, leitor, a fazer parte da nossa comunidade no Facebook (Revista Mergulho). Lá você vai poder opinar sobre as matérias, saber das novidades que acontecem no mundo sub, sugerir pautas e conversar diretamente conosco.

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Boa leitura e bons mergulhos! Daniela Maximo Breitbarg Editora - daniela@revistamergulho.com.br

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Que tal mergulhar em locais onde não é preciso cilindro, roupa de neoprene e nem mesmo nadadeiras? Estamos falando de mergulhos em piscinas naturais, rasos, simples e fáceis, mas não menos especiais

Gosta de aventuras? Provar os extremos? Superar seus limites? Lançamos um desafio: os mergulhos incrivelmente rasos. Para encarar a experiência, primeiro, é necessário estar devidamente equipado: pegue máscara, snorkel e – pasmem! – nada mais, nem mesmo as nadadeiras! Cilindro, colete e neoprene? Nem pensar! Estamos falando de um mergulho que está ali, tão próximo e acessível que você muitas vezes mal se dá conta: o mergulho nas piscinas de maré. O mergulho possibilita estar imerso em ecossistemas que, por meio do excelente aperfeiçoamento de técnicas e equipamentos, conhecemos cada vez mais a fundo (literalmente!). Da mesma forma, a fotografia, o vídeo e o registro de relatos lançam aos quatro ventos o que lá observamos. Atualmente, a atividade abarca incontáveis novos adeptos: amantes e curiosos sobre o assunto, que só se sentirão satisfeitos vendo o mundo submerso com os próprios olhos. No entanto, para se tornarem mergulhadores, muitos simpatizantes esbarram na fronteira financeira. O pacote instrução-equipamento-manutenção, bem como a viabilidade da operação embarcada, demanda investimentos nem sempre modestos. Portanto, não são os mergulhos cada vez mais profundos e técnicos que queremos tratar, mas os rasos, simples, fáceis e não menos especiais. Aqueles em que pouco ou nenhum recurso, exceto a vontade e a paixão pela vida subaquática, são necessários.

Mergulho no extremo Texto e Fotos: Áthila Bertoncini e Maíra Borgonha

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Água pela canela

Donzelinhas (Stegastes variabilis) formam “cardumes” nas piscinas menores Donzelinha (Stegastes fuscus) sobre o fundo arenosa das piscinas

Ouriço-branco (Tripneustes ventricosus), geralmente encontrado sobre locais sombreados, pode ser visto passeando nas piscinas

Atualmente, os recifes de coral tropicais contribuem significativamente para a subsistência e para a segurança das regiões costeiras, seja por meio do turismo, com base na sua beleza estética, seja pela renda e alimentação obtidas das espécies que abrigam. Além disso, a proteção dos litorais contra tempestades e ondas não deve ser esquecida. Embora cubram apenas 1,2% das plataformas continentais do mundo, estima-se que entre 500 milhões e mais de um bilhão de pessoas dependam dos recifes de coral como uma fonte de alimentação, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Eles também sustentam entre um e três milhões de espécies, incluindo aproximadamente 25% de todas as espécies de peixes marinhos.

Contrariando as regras, que tal começar por 30 cm de profundidade e acabar perto dos 1,5 m? Dá pra estrear... e estrear muito bem! Num primeiro momento pode parecer estranho, mas quem já mergulhou nas piscinas de maré pode ter uma breve noção da incrível riqueza que abrigam. O que podemos ver nas piscinas de maré é um verdadeiro laboratório a céu aberto. A fotografia macro é muito bem-vinda nesses ambientes, uma vez que a vida marinha vibra em pequenas proporções: peixes jovens, diminutos invertebrados e diversas espécies de algas são o carro-chefe na observação. Ainda, a presença das interações ecológicas como a predação entre espécies, torna-se um recurso extremamente didático para o conhecimento e conservação da vida marinha. Nas piscinas, é possível presenciar um contraste permanente entre estruturas delicadas, ao mesmo tempo resistentes, que residem em uma área de transição (terra e mar) e sofrem adversidades extremas por se exporem às variações da maré. Imperam pepinos do mar, esponjas, algas e corais. Muitos crustáceos circulam pela zona entre marés, sendo possível observar seus deslocamentos entre pequenas poças. Cardumes de cirurgiões, sargentinhos, trilhas e bodiões são avistados abundantemente. Solitários parus escondem-se por entre as inúmeras frestas das rochas. Polvos, muito visados pela pesca, escondem-se em meio à camuflagem natural e aplísias “pastam” nos campos de algas. Ouriços, em diversas formas, alimentam-se tranquilos e quítons, que parecem seres préhistóricos, compõem a paisagem sub. Nas paredes das piscinas os poliquetas (Sabellidae) formam tufos coloridos. É preciso ter cuidado, pois qualquer movimentação brusca pode fazer o espetáculo desaparecer. Algumas piscinas são de tamanhos tão pequenos, que até mesmo as donzelinhas, conhecidas por serem peixes territorialistas, nos dão a impressão de formar cardumes. Mas, antes de cair neste mergulho de “extrema profundidade”, cabe entender alguns detalhes sobre as piscinas de maré.

Os recifes de coral enfrentam diversas ameaças, incluindo: sobrepesca, poluição proveniente de fontes terrestres, pesca com uso de explosivos, surtos de doenças, “branqueamento” devido a temperaturas mais quentes do mar – resultantes das mudanças climáticas e acidificação dos oceanos pela maior concentração de dióxido de carbono dissolvido, como uma consequência de emissões atmosféricas induzidas pelo homem. Revista mergulho  49


Caranguejo hermitão

Anêmona (Anthopleura sp.): figurinha fácil e abundante nas piscinas em geral

Caranguejo (Eriphia gonagra) que transita entre as piscinas

Jovem bodião-rei (Halichoeres poeyi), na sua “versão” verde, por entre tufos de alface-domar (Ulva sp.)

Algas verdes (Caulerpa sp.)

Algas marrons (Padina sp.)

Garoupinha (Cephalopholis fulva), em uma de suas versões coloridas, espreitando a presa Jovem peixe-borboleta (Chaetodon striatus), espécie abundante nas piscinas

Jovem hermitão que acaba de encontrar sua casa, do tamanho de uma unha

Poliqueta (Sabellidae)

Garoupinha-gato (Epinephelus adscensionis)

Algas marrons (Dictyota sp.)


Jovem paru (Pomacanthus paru).

Com a força das ondas

Jovem bodião-brasileiro (Halichoeres brasiliensis) em meio a um cardume de ameaçados fumeiros (Anisotremus moricandi)

Diversão e lazer garantidos durante os períodos de maré baixa

A beleza e a importância dos ambientes costeiros (costões rochosos, recifes de coral, estuários, manguezais, praias, etc) vêm sendo cada vez mais disseminadas entre os usuários, que anteriormente apenas viam tais ambientes como fonte de alimento, local de lazer e pouco se importavam se o lixo ali se acumulava ou se espécies eram impactadas. Portanto, antes de cair nas piscinas, não deixe de ler as dicas preciosas do Conduta Consciente em Ambientes Recifais (www.mma.gov.br).

A dinâmica de formação das piscinas é muito simples: durante os períodos de maré baixa e com a diminuição no nível do mar, parte da água fica aprisionada entre recifes e/ou costões, formando as famosas “piscinas”. Assim, as melhores condições para um bom mergulho ocorrem nas luas cheia e nova, quando Terra, Sol e Lua estão alinhados e a maré atinge grandes amplitudes, levando mais tempo para começar a subir novamente. E não pense que só é possível aproveitar à luz do dia; as piscinas representam ainda uma ótima oportunidade para você fazer o seu primeiro mergulho noturno. No Brasil, as piscinas, também chamadas de poças de maré, podem ser encontradas de norte a sul do país, sendo as do Sul principalmente de origem vulcânica, ou seja, costões rochosos que acidentalmente formaram áreas de aprisionamento das águas. Já no Nordeste, têm sua origem principal nos cordões recifais, formados por corais e/ou algas, paralelos à linha de costa. Nos locais onde as barreiras afloram, formam-se ecossistemas singulares, de importância única e com muita vida para ser observada. A cada estação do ano é possível experimentar um mergulho diferente nas piscinas de maré. Tratando-se de ambientes rasos, sofrem uma grande influência não apenas da dinâmica dos nutrientes disponíveis, mas também da luz, da salinidade e principalmente dos sedimentos (areia) da praia, que ora recobrem o ambiente, tornando-as ainda mais rasas (por vezes desaparecendo), ora descobrem, disponibilizando uma infinidade de novos habitats e esconderijos para espécies. Em certas estações, algumas algas dominam o ambiente, impondo sua cor. Na primavera, a cor verde é predominante devido à presença da alfacedo-mar (Ulva sp.), sobressaindo sobre outras espécies também abundantes, como as algas pardas (Padina sp. e Dictyota sp.). Na próxima ocasião em que se deparar com esses presentes naturais ao alcance dos olhos não hesite: a diversão pode estar mais próxima do que se imagina! Muitas vezes, nem é preciso sair do quintal de casa.

Para conhecer mais sobre os ambientes costeiros e ações em prol da sua conservação, visite as iniciativas de projetos como o Coral Vivo (www.coralvivo.org.br), o Projeto Ponta de Pirangi (www.pontadepirangi.org.br), o Instituto Recifes Costeiros (www.recifescosteiros.org.br) e o projeto PróArribada (www.ecomarbrasil.org). Oceanógrafos, Áthila e Maíra trabalham em prol da conservação marinha por meio do estudo da bioecologia de peixes e do conhecimento ecológico local de pescadores. Para desenvolver suas pesquisas utilizam-se do mergulho e da fotografia subaquática. Endereços para correspondência dos autores: athilapeixe@gmail.com e eumaira@gmail.com.

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