Projeto livro issuu

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A UM DESIGNER

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A UM DESIGNER

JACQUELINE LOTUFFO

Quimera 3


Copyright © 2016 Quimera

Organizado por Jacqueline Lotuffo

É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora.

1ª Edição

Todos os direitos reservados a Edições Quimera Ltda. Rua Nazaré Paulista, 420 13090-610 - Chácara da Barra - Campinas - SP (19) 3307-6171 www.quimera.com.br vendas@quimera.com.br 2016 Impresso no Brasil 4


Sumário

Apresentação ................................................................... 6 Capítulo 1 .......................................................................... 11 Capítulo 2 .......................................................................... 19 Capítulo 3 .......................................................................... Capítulo 4 .......................................................................... Capítulo 5 .......................................................................... Capítulo 6 .......................................................................... Capítulo 7 ..........................................................................

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Apresentação O primeiro capítulo contém o texto da matéria Empreendedorismo e estabelece uma relação com a poesia de Olavo Bilac ao tratar do ambiente externo e fatores a serem considerados em meio a um processo criativo. O conteúdo do texto e a forma como ele é escrito traduz uma lingugem bem atual e concisa por isso escolhi uma diagramação em colunas para aludir a outros tipos de canais de comunicação, como jornais. A ideia era simular uma forma mais dinâmica de comunicar a mensagem que pretende ser passada. A composição foi baseada nas cores vermelho e preto e nos diferentes pesos de letra. Para manter a mesma linha, a tipografia escolhida foi a Gill Sans. Atemodis seque con estia quis dolor re et ea aut optatet alia volutatum eium dolorib uscipit, odi ut ommolenimpos aut molore delloribus solores tisciminiet venimus andisimpori iusaeri aeserchitiis estiora nimus abo. Et eos esequibus esciant aut as pelis doluptatem ipis nissunt ionsequasi dia serruptatus doluptur sapiciis maiorero te nobit vendit esequatem veleste volecae vendamusamus rerio cum, con et alique volor si cus sapit et uteture nonseria excerum rem es aut ullam voluptur? Hic tem quam qui sit pa pores sinum facere, nimpe quaepe sit quam, con rerum nonem sim etur? Quatess itesto officie nescips usamus eaquidello et offic totamus sam ea ab id mossequo everro et et denis volorendi aut repuditibera quid ut fugiasp ediorem rehento ritendunti ipis venet eum nientiat liquatur remporporio. Nam rem quaereptatur sequianditem ipiet aciis molorit quam qui cuptate pratur sit ipidi am volor aut alic tem volut autecullore rem volorectur resti core, sectur reiciiscia sum rersperitis in coriame nturest, seditas que cum etur animaximus aut

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quam, isUs, quis qui del ime esendeb itatur sam que eos pliqui dolor alis et est eate cus et ped excepudae rem fugia sit omnimen disquae cullam quae aborum endam, quiae coribus ciusciae netur, consed ea aliquas aceris re plabo. Itatemolum re dem endus essum re, as explige ndebit utat atur sunt venditi umquia dolupta tetus, et dit quae. Et et esto doluptat. Doluptas excessunt enis dessi quam facea suntem qui testem reicat.Quid es rernat quibus qui te apelit ent dolorrum facestiosam, omnima qui con conserum qui blabo. Ficat in eum quatiae eictis derite prem a provid mollor a nus.Faceaque atas ullacid qui ute minus aut quiandundam, quatur a quo vereiciatur simendae volorrum comnimi litatusda veliquatur sin excerci tisinis tionsed mod ut qui auda coreici dendi dit iminus et abo. Et et eumet quuntis sed quianti unt fuga. Ga. Quos sit il im velitatemod eost labo. Num qui si ipsaped mincten imporibus et accaepe lesequam qui ut elluptatur sinullor rescima gnisquate si quiscit ea quodi ulpariores simodi dolor ma consedipsum dendiatum doluptiae modigenimodi omnimilita nonsect iumqui ni comnimus. Dunt. Da sequi susam hario tenis moditatem qui debis dem et vent, volupta nietur sunt molutempos dem atiissus unt. Hentinc itinver ehenis molorro con cus eosaped earum lamusda desciiscia consequ ibuscietus elendebitiae quaturem ex eatur? Qui rem. Ibustem oluptate eum que volorum velitisse cum veliquos autem qui idis nim re volorum hilit lab is ape minctur? Quiam ex excea velit, conseculla ditatibusame peruntio moloreriat aut aperum hillabo. Nequias et repelit quam ipsus a si iment perae imagnamus nus aligenesedit endiore iuscil molore pererum aut faccus eria quiduntis mo to modi reptatur aliberu ptaque delistis ist et asped untor as minulliscit voluptatis dolore nobis rerumqu osant, vendandel endellam hicillupta conecti oreperchil esto eaquae experna tibeatiatum aut aspit esequidel eratur simus assusam, te et eatur?

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Obis dolorrovit omnisquam que pelis debistia nimod qui odis acestrum autet qui utas consequi omnis si ommo quam, sapiet landus, sint.Ribus atatisque consequunt fugiam numqui od qui dolupta vere prae rerferi beatemp oreius. Invenec tiuntem accae et pora voloribea sum ipienduci berro voloratur, quia soloribus. Feroriorum endes ma quam quam dolore volesequam, as ex exerfer naturia qui iumet vendus, verroreprem nonsequ idellup tatqui dolendit ex eat faceatectium sit odi officaeces cum rem eum ut et mo exerovi tioremped quis nissumet audio bea aut qui sum re eatendit a que quas vit repudanis dolupiet ditassi nulles es ex eium eatem. Sequis adianto temo essitatem que dolori de dolorundent et od ut ad eos et la is int ommodic tem voluptatio. Ribus. Tem quatur? Bore aut ati to et voloremquis et venteces velitate pernat.Pudit ipsant, quis non nobitat etur as sit pere volecto rporehenimus as et adignatio vende con plaut qui totatiates in enimus.Udi doluptiunt alignih iliquunt voluptassit vellatq uaspelestem quat laut quos exerchit quis que coreperuntem in re volupta tistiur sant ipis volumque perciis eliquam doluptis dolo mil inciis andaece puditi ditem. Onsequa spitatecte con et que sima eosanihil etur, con poribusandio cum quae aut assimolent ut digniscia natecupta is dit ut odi num voles perrorecus et expliqu amenis et dolori nimiliq uatiate aut officid quos et fugit verferu ntiusam enimus eat ut faces doluptiatem fugia doluptas est volori des explit, iditi ab inveruntiis sitaess equaest ut reressum nulparum fugitas sequodi citate volut fuga. Eprendunt ut ma ad ma nus de volenempos et erspiciat eum quis mi, officillum que et pe nimus, nullabore sundest et lati ni qui utemquaeped et volor reperci enectenda dolo moditam digni cume maionsedias natur?Aquaeptaecus essimin cimint quuntibusam, iliatur?eossinctatia volo officiis vollecepedi qui conet ex et, cor

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O sétimo e último capítulo contém o texto da matéria História do Design, um texto sobre as Exposições Universais. A ideia foi criar um paralelo com a poesia de Bilac no âmbito do conteúdo, do assunto. Por isso, a diagramação foi pensada em uma esfera mais convencional para a leitura, com textos corridos por toda a extenção do espaço entre margens, comumente verificados em livros de romances e histórias ficcionais. A tipografia utilizada foi a Roboto, uma tipografia muito fácil de ser lida. A ideia foi manter o capítulo bem básico, sem imagens, pois o foco realmente deveria ser o conteúdo.

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Capítulo 1

Você já está demitido e não sabe por Vitor Boccio

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Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, […]

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Você já está demitido e não sabe

Não. Não é culpa da crise.

mágico que nos salve. Dirão os céticos:

Até porque, elas vêm e vão. Existe uma

“sempre existiram os cavaleiros

coisa chamada crescimento exponencial, do apocalipse, que diziam que tal coisa e isso faz o mundo andar cada vez mais

ia morrer, e tal coisa ia matar tal coisa”.

rápido. Abrange desde o crescimento

De fato, não necessariamente uma coisa

da população, o desenvolvimento

mata a outra. Mas sim, uma coisa

de novas tecnologias e a velocidade de

mata a outra se essa outra não

obsolescência das coisas, até grandes mudanças culturais. Um ser humano inventou o Uber e destruiu o esquema do táxi. Outro, o Whatsapp, e matou o sms, telefone e a porra

Você paga sua tv a cabo e nem assiste

toda. O smartphone transfor-

olhar pra dentro e se reinventar. Deixando de lado a fé, vamos voltar aos fatos: – Quanto vale a marca Uber? Como ela se fez? Quanto de comunicação

mou operadoras de telefonia (existem?) investiu? Qual o jeito de fazer e quanto em distribuidoras de banda.Você paga

tempo levou? O mundo todo conhece o

sua tv a cabo e nem assiste.

Uber tanto quanto grandes

E mais mil exemplos desses. E assim

marcas globais.

caminha, rapidamente, a humanidade. E aí vem a pergunta: Por que cara-

– E os estudantes de cinema de Berlim que fizeram um filme

lhos esse treco não há de pegar a

(Que filme!) para a Johnnie Walker.

nossa indústria? Se quiser se basear

Visto pelo planeta. Aplaudido pelo

na fé, talvez encontre um pensamento

planeta.

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Você já está demitido e não sabe – A Netflix com faturamento gigantesco ameaça o negócio da TV. A queda de audiência de quem ainda protege o modelo de negócios no Brasil. Os bureaus de mídia pelo mundo e o jeito como a própria disciplina tem se reinventado, com aprofundamento de ROI e mensuração, mídia programática, customização de canais, etc. – Indústria automotiva em pânico (e excitação) com os carros que

Ninguém mais entra na internet. A vida é uma internet.

andam sozinhos. Os Ubers que andam sozinhos. Os drones que levam pessoas pelos céus. Os drones Uber que farão a humanidade chegar no De Volta para o Futuro. O Google é concorrente e/ou parceiro de todo mundo. Até de você. Indústria alimentícia repensando tudo. Bancos, Imóveis, Escolas, Supermercados. – A morte de todos os tipos de agentes, que não faziam nada mais que ser agentes. Corretores de imóveis, agências de turismo, operadora de hotéis, cartões de crédito tradicionais, cooperativa de táxi. Fim dos intermediários que não têm um valor além de, simplesmente, intermediar. – Falência moral e/ou financeira

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Você já está demitido e não sabe das instituições duras: Fifa, governos

protecionismo. CBF peitando

e classe política, Sindicatos, rupos disso

a Primeira Liga com ameacinha

ou daquilo. O Vaticano, por exemplo,

coronelista, boba, colegial. TV’s

tenta desesperadamente com o Papa

tentando apavorar a Netflix.

Francisco se conectar a outros tempos,

Processos contra o Whatsapp.

outros valores, sobreviver.

Taxistas enfiando porrada no

– Os Youtubers e influencers com

motorista do Uber. Em vão.

mais reputação, audiência e moral que

É tipo o velho casamento, que só

os velhos atores de sempre, da novela

se mantinha por causa de um papel.

de sempre.

Separar era feio, e isso protegia

Qualquer um pode ser a nova

a instituição casamento (e nos

sensação do último minuto

bastidores todo mundo fazia de tudo).

da próxima semana.

Protecionismo é coisa do século

Blogs de alguns clubes de futebo fazem trabalho muito mais sério e relevante que muitos (falsos) jornalistas mumificados nas arcaicas editorias com

Qualquer um pode ser a nova sensação do último minuto da próxima semana.

velho. O negócio é: Entenda a mudança e, como diz a Dori pro Nemo, o peixe: “Continue a Nadar”. Perdemos, playboy. O seu jeito de fazer não funciona mais.

interesses comerciais.

O que você faz será feito de outro

Vemos hoje tentativas da TV

jeito. A proposta de valor da sua

de incorporar linguagens de

empresa não será a mesma.

internet (Adnet é um bom

A ferramenta não será a mesma.

exemplo). Antes tinha um papo

A estrutura da empresa ou

de “isso é coisa pra internet”.

necessidade dos clientes não

Acabou. Ninguém entra mais

será a mesma. O velho planejameto

na internet. A vida é uma internet.

e o planejar não funcionam mais.

E diante de toda essa loucura,

Mas cá entre nós, que tesão viver

a primeira tentativa é a mais banal:

nesse mundo, não? Nunca foi tão fácil

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Você já está demitido e não sabe

aprender. Nunca foi tão acessível se conectar com gente que pode ajudar. Nunca foi tão interessante mensurar. Nunca foi permitido errar como se pode errar e corrigir hoje. Nunca foi tão convidativo e rápido mudar, rever, construir. Enfim, a mudança é forte e rápida. De alguma maneira, ela irá chegar até você.

E por isso você já está demitido.

Demitido do seu velho você, do que ele fazia, pensava e agia.E, na minha opinião, esse é o primeiro passo para que alguma transformação aconteça. Precisamos de profissionais pra transformar, por exemplo, as agências. Dar uma nova perspectiva, sustentabilidade e relevância na vida das (novas) companhias. Resgatar o respeito, o papel, a estratégia, o espaço, o talento, a motivação. Vamos assistir todo mundo querendo ir trabalhar em qualquer outra coisa? A fonte secar? Saber que estamos ameaçados pode ser um combustível pra nos fazer acordar mais cedo, prototipar coisas, tentar o que ninguém tentou. Inverter ou subverter

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Você já está demitido e não sabe

a lógica.Cruzar agência de propaganda, lab de inovação, startup, academia, engenharia, tudo! Chamar a responsa. Percebemos e repensamos. Ganhamos uma nova vida. Muito mais legal, inspiradora, e em busca de ter maior relevância. Uma vida que quer se plugar num mundo mais flexível, inspirador, democrático, orgânico e de possibilidades infinitas. Sem a demissão, nada aconteceria. Semana que vem, um projeto que faço parte vai pro ar. Pra inspirar a gente a repensar a gente. Afinal, esse mundo dá, ao mesmo tempo, medo e tesão. A questão é:Você vai abraçar sua demissão virtual e começar a tentar mudar? Ajudar sua empresa nisso? Caminhar, evoluir?

O resto é fé. E choro.

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CapĂ­tulo 2

O Design do Texto por Roberto Temin

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Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! […]

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CapĂ­tulo 3

Tipografia por Marian Bantjes

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Mas que na forma de disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa [‌]

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Capítulo 4

ANIMAÇÃO ?

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De tal modo, que a imagem fique nua, […]

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Capítulo 5

Produção por Katy Brighton

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Rica mas sóbria, como um templo grego. […]

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CapĂ­tulo 6

Grades

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Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: […]

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Capítulo 7

As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo por Patrícia Helena Soares Fonseca

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Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. […]

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As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo

“Isto é exatamente o que eu queria! Ah, nós nos daremos bem, o Sr. Fogg e eu! Que cavalheiro doméstico e regrado! Uma verdadeira máquina! Bem,

eu não me importo de servir uma máquina.

Em 1872, quando Phileas Fogg saiu de Londres para cruzar o mundo em 80 dias, a era industrial andava a passos rápidos. As pessoas já estavam se habituando a ter máquinas ao redor de si, como a máquina de costura doméstica, os teares de produção de tecidos diversos, as locomotivas a vapor. A vida moderna se desenrolava rapidamente, e habituar-se à sua crescente velocidade era estonteante às vezes, mas necessário. A modernidade mudava o tempo da vida diária, apressava-a, exigia ordem e exatidão: quando Passepartout, o fiel e diligente criado do Sr. Fogg, orgulhava-se da precisão mecânica de seu patrão, esse orgulho retratava o pensamento pragmático/tecnicista que se instalava na sociedade recém industrializada, da qual o criado francês se comprazia em fazer parte. Vinte e um anos antes, a Grande Exposição Universal havia sacudido a capital inglesa, trazendo transformações que afetariam a vida cotidiana em níveis diversos. A partir dela, a ideia do progresso através da mecanização da sociedade, a crença de que a tecnologia seria a resposta para os problemas sociais futuros e, principalmente, o estabelecimento de uma identidade nacional mediada pelo desenvolvimento industrial tornaram-se metas governamentais das nações que outorgavam para si a posição de líderes mundiais: a saber, Inglaterra, Estados Unidos e França.

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As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo Este texto pretende discutir como as Exposições Universais estabeleceram novos paradigmas não somente para estas nações, mas para as ideias de progresso e futuro que irão se desenvolver ao longo do século XX. Pretendemos também delinear como as Expos (como passaram a ser conhecidas a partir de um momento) ajudaram a estabelecer a noção moderna de um mundo de fronteiras cada vez mais próximas e de um tempo reconstruído em intervalos cada vez mais curtos.

A Grande Exposição Universal de 1851: o império tem urgência Pioneirismo em montar uma exposição para apresentar novos produtos e invenções pertence aos franceses: desde 1798 eles montavam mostras periodicamente, mas elas costumavam ser “uma mistura agradável de produtos agrícolas, invenções mais ou menos convincentes, objetos de arte e bibelôs à venda.” Estas mostras eram de cunho nacional: “as nações estrangeiras não eram convidadas: os ‘industriais’ franceses não queriam se esbarrar na concorrência”. A exibição inglesa de 1851 quebrou a monotonia: intitulada A Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações, ela mudou os parâmetros de montagem de mostras expositivas. Sua primeira inovação foi convidar outras nações a exibirem suas criações: 32 países teriam participado da mostra, segundo nos informa Jackson (2008). A mostra rompeu escalas, a começar com a grandiosidade do edifício que a abrigou: “uma estrutura gigantesca de ferro e vidro cobrindo mais de sete hectares de terreno, com um vasto espaço interior onde caberiam quatro igrejas do tamanho da catedral de St. Paul”. Nomeado Palácio da Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações, o edifício foi apelidado de Palácio de Cristal pela revista semanal inglesa Punch. Montado em cinco meses e meio apenas, ele era “magnífico;

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As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo porém mais ainda por ser tão repentino, tão surpreendente por ser todo de vidro, tão gloriosa e inesperadamente real”. A rapidez com que foi montado ilustrava a velocidade que a modernidade impunha às novas sociedades industriais: a urgência em sua construção espelhava a urgência de uma nação que apressava o passo e colocava-se à frente dos demais países do continente europeu. Em seis meses, a mostra recebeu 6 milhões de visitantes, um número impressionante para a época. Mas se a mostra de 1851 apresentava uma escala suprahumana e números exponenciais, foi a sua influência no cotidiano das pessoas comuns um dos seus maiores legados. O encanto que a mostra causava nos visitantes era notável, e visitá-la era quase uma obrigação: Bryson nos relata o caso da Sr.ª Callinack, “de 85 anos, ganhou fama ao vir a pé desde a Cornualha, caminhando quatrocentos quilômetros”. O maravilhamento das pessoas começava com o edifício, a maior construção em vidro já feita até então. Sua monumentalidade foi alcançada graças aos avanços da Revolução Industrial, cujo desenvolvimento tecnológico tornou possível a utilização do ferro prémoldado e dos painéis de vidro em grandes estruturas arquitetônicas. O fato de ser todo em vidro dava ao edifício uma atmosfera especial, uma aura espectral, quase fantasmagórica. Uma vez passado o torpor causado pela monumentalidade da construção, o visitante se encantava com os produtos expostos: as máquinas apresentadas na Exposição prometiam organizar as tarefas diárias, tornando-as mais rápidas e eficientes: “quase todas as máquinas faziam coisas que o mundo desejava ardentemente que as máquinas fizessem - arrancar pregos, talhar pedras, moldar velas de cera - (...) com tanta precisão, presteza e incansável confiabilidade (...)”. A exibição trazia ainda a ideia de um mundo encurtado, menor: em uma única visita era possível ver pavilhões de países distantes como o Egito, a Índia, a Turquia. Para a maior parte dos visitantes, a possibilidade de entrar em contato com culturas tão diversas era

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As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo fascinante, algo impensável até há pouco tempo. Esta variedade de informações e proximidades possibilitava novas apreensões de sentidos e olhares, e interferia com a própria noção tempo/distância: países longínquos a passos de distância, máquinas que só estariam presentes no mercado dali a meses, ou mesmo anos. O futuro era presentificado, as distâncias continentais inexistiam. Para o homem comum de meados do século XIX, cuja vida inteira se passava, muito provavelmente, em uma única cidade e às vezes em um único bairro ou distrito, visitar uma exposição universal era uma experiência transformadora. O próprio ato de se deslocar até a exposição, já propiciava, por si só, o vivenciar de um lampejo da modernidade: na nova era das máquinas, deslocar-se, viver a cidade e suas transformações são os fundamentos da nova época. Como afirma Ortiz (1991), “o princípio de ‘circulação’ é um elemento estruturante da modernidade que emerge no século XIX.”

A modernidade se instala: as exposições e a vertigem dos deslocamentos Quando Napoleão III se instalou no poder em 1852, projetos de modernidade estavam em seus planos: entre eles, a realização da Exposição Universal de 1855. Ela não foi um sucesso como a exposição inglesa de 1851, mas sua ocorrência e aquelas que a seguirão vão marcar o tom das próximas exposições internacionais: se foi a Grande Exposição que estabeleceu o modelo pelo qual as exposições internacionais passaram a ser julgadas, foram os eventos parisienses que elevaram os padrões. Entre 1855 e 1900 a capital francesa hospedou cinco Expositions Universelles, cada uma mais exuberante que a outra. (Jackson 2008).

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As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo Mesmo não sendo tão grandiosa como a mostra de 1851, a mostra de 1855 espantava os visitantes ao apresentar-lhes a fotografia e a “aplicação doméstica da eletricidade”. Na exposição de 1867, as fronteiras entre os países se tornam cada vez menores, possibilitando os visitantes transitarem de uma cultura à outra em minutos. O experimentar outras culturas era mediado também pelo olfato e paladar: o Champs de Mars fica aberto até a meia noite e se torna, por cinco meses, o ponto de encontro preferido dos parisienses. Entre as centenas de restaurantes que se encontra ao longo do passeio de um quilômetro que contorna o palácio das Indústrias e o parque, havia um café argelino, um café holandês, um lugar para degustar curaçao, um restaurante prussiano que serve os vinhos do Reno, uma brasserie vienense, uma loja de refrescos suíça (...). O café sueco servia ponche; o restaurante russo, caviar e salmão cru. Ainda há os restaurantes italianos, turcos, romanos, marroquinos... e um café dos Estados Unidos onde os parisienses se espremiam para degustar soda com sorvete”. (Ageorges, 2008). As mais novas tecnologias serão exibidas nas Expos: na mostra de 1878, a iluminação elétrica foi instalada na Avenue d’Opera e na Place de l’Opera. A eletricidade ampliava as possibilidades da noite como espaço de entretenimento: o tempo diário se estendia, o dia se alongava. Em 1889, na Expo que comemorava o centenário da Revolução Francesa, seus maiores trunfos foram duas joias arquitetônicas que competiam com a engenhosidade do Palácio de Cristal e glorificavam o poder da máquina: a Galerie des Machines e a torre Eiffel. A exposição, apesar da recusa de alguns países em participar de um evento que comemorava uma revolução, foi um triunfo: 32 milhões de pessoas a visitaram (Jackson, 2006). A exposição celebrava a arquitetura do ferro, que já havia sido glorificada com a construção do Palácio de Cristal em 1851. Mesmo com um antecedente deste porte, a construção da torre Eiffel foi um espanto: com seus 320m de altura, ela causava vertigens nos

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As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo visitantes. Sua iluminação elétrica também foi um sucesso: milhares de lâmpadas a adornavam, enquanto um raio tricolor saía de seu topo e iluminava os céus todas as noites. A mostra de 1900, ao raiar do novo século, confirmou as mudanças nos deslocamentos espaço/tempo causadas pelas novas tecnologias. Uma nova estação de trem, a Gare d’Orleans, foi construída para receber os visitantes, possibilitando que habitantes de localidades mais distantes chegassem com maior conforto, desembarcando nas proximidades da mostra. Próximo à nova estação, e fazendo parte do complexo de edifícios montados para a Expo, foi construído um hotel. A primeira linha de metrô parisiense foi inaugurada e uma calçada ambulante transportava os visitantes entre pontos importantes da exposição. Não havia tempo a perder: os deslocamentos mais rápidos se faziam necessários, e a exposição foi um emblema disto. “A rapidez e a quebra das fronteiras representam o espírito de uma época; elas expressam uma aceleração da vida social”. No topo do Palácio da Eletricidade, uma estátua de 6,5 metros segurava uma tocha que disparava um facho de luz de 50.000 volts. A eletricidade, glorificada na exposição, já havia mudado transformado a noção de pertencimento ao mundo. Como escreve Bodanis: “Antes da eletricidade, o tempo era uma coisa local, mutável, pessoal. Os relógios de Nova York e Baltimore, por exemplo, tinham uma defasagem de vários minutos, pois estavam em diferentes latitudes e o meio-dia chegava um pouco mais tarde em Baltimore. Cada cidade era um mundo em separado, e assim era legítimo pensar que um indivíduo andando aqui ou ali, ou trabalhando na sua fazenda isolada em algum lugar, era parte de um mundo igualmente separado. Mas agora esses mundos podiam sincronizar-se e, onde quer que alguém estivesse, ele sabia como ajustar-se ao “controle” preciso e universal do tempo perdido.”(Bodanis, 2008). A mostra de 1900 foi montada em uma Paris bem diferente daquela

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As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo que recebeu a exposição de 1855. O processo de reurbanização conduzido por Georges Haussmann durante o Segundo Império havia deixado a cidade mais rápida, pois as novas avenidas reduziram o tempo gasto nos deslocamentos. Flanar pela cidade havia se tornado um hábito de seus moradores, não mais circunscritos a pequenas distâncias entre os bairros em que moravam. Os pavilhões da mostra de 1900 e o deslocar-se entre eles eram um retrato desta cidade feérica, que exigia trilhos e relógios: “antes da estrada de ferro, possuir um relógio era um sinal de riqueza; desde então, tornou-se uma prova de civilização .”

O século XX: O futuro instaurado pelas Expos A exposição de 1900 inaugurou um século que será pautado pela inovação tecnológica e pela construção do futuro. As expos subsequentes, realizadas em várias partes do mundo, reafirmaram este posicionamento. Mas nenhuma delas talvez tenha levado a ideia do futuro de maneira tão ousada e completa como a exposição de 1939, realizada em Nova York. Com o slogan “O Amanhã é Hoje”, a feira de 39 foi pautada pela vontade norte-americana de mostrar que os difíceis anos de depressão econômica já tinham sido superados. “Construindo o mundo de amanhã com as ferramentas de hoje”: a nação agora mirava o futuro e mostrava ao mundo que, se havia um país pronto para chegar lá primeiro, estes seriam os Estados Unidos da América. O empenho do governo norte-americano em mostrar seu avanço tecnológico mostrava uma nação sôfrega por adiantar-se no tempo, como se a feira fosse um túnel que levaria a um futuro feliz, de irmandade entre os povos, onde todas as imperfeições seriam sanadas pela tecnologia. As empresas americanas esmeraram-se:

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As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo no pavilhão da Westinghouse Electric, o público era recebido por Elektro, um robô de aproximadamente 2m de altura que respondia a pequenos comandos e conseguia entabular uma conversa com seu interlocutor. As montadoras de automóveis não ficaram atrás: assim como na mostra de 1900, inovações na mobilidade e no transporte individual e coletivos eram o cerne das questões ligadas à projeção da vida no futuro. A GM apresentou Futurama, cidade projetada pelo designer Norman Bel Geddes, montada em uma imensa maquete que se estendia por mais de 3.000m2. Jackson nos descreve a experiência com a cidade imaginada: “Do conforto de poltronas que se moviam, os visitantes podiam ver o mundo em 1960, enquanto escutavam um comentário sobre as virtudes da América do futuro, melhorada pelas autoestradas avançadas e carros sofisticados. Os visitantes saíam por um display dos últimos lançamentos automobilísticos da General Motors e recebiam um broche que orgulhosamente aclamava “eu vi o futuro”. (Jackson, 2008). A feira de 1939 presentificava o sonho pensado em 1851: a crença em um mundo melhor, uma época futura em que a humanidade, sob os auspícios da máquina e da tecnologia, caminharia para uma era de paz e cooperação internacional. A Segunda Guerra Mundial irrompeu antes do término da feira, adiando os sonhos.

O legado das Expos Clarck (2004), comentando a respeito da pintura de Manet sobre a exposição Universal de 1867, afirma que “ninguém acredita propriamente em uma Exposição, pelo menos não na sua pretensão de representar o mundo”. Difícil concordar com esta afirmação, quando

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As Exposições Universais e a Reconstrução do Tempo se pensa na história das Exposições Universais. Seus organizadores e público acreditavam nas mostras, nas experiências que elas proporcionavam. Mais ainda, acreditavam no poder transformador destas experiências. O número de visitantes alcançado pelas principais feiras atesta esta crença. Seja pela vontade de se inteirarem do mundo em que viviam, de entender sua época, de pensarem o futuro, os visitantes acorriam às mostras desejando, por instantes, serem raptados da realidade em que viviam, serem transportados para outro espaço, para outro tempo. Quanto aos organizadores, planejar o futuro, trazê-lo para o presente, torná-lo possível em uma brecha do espaço/tempo: as feiras proporcionavam esta ilusão, tão real para muitos. Em seus oitenta dias de viagem ao redor do globo, Phileas Fogg e Passepartout acreditaram no poder do tempo cronometrado, da ordem, da máquina e conseguiram que o até então impossível acontecesse. Se algum viajante do tempo lhes contasse sobre a futura conversa do robô Elektro com a srª Ellias, em 1939, eles provavelmente não se espantariam. Mas talvez se perguntassem porque ela teria demorado tanto tempo para acontecer.

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