Aurora nas Nuvens

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“Ah, essa Aurora só tem um problema, ela vive nas nuvens”


Ao menos era isso que todos os adultos diziam quando eu começava a perguntar o porquê das coisas ou quando contava minhas histórias. É que eu vivo procurando explicações de coisas que para mim não fazem sentido. Quanto mais eu penso, mais dúvidas eu tenho.


Por que as coisas acontecem, afinal? Quem é que apertou o botão de ligar do mundo? Mas mesmo me confundindo, eu até gosto de descobrir, é como se eu fosse uma detetive ou uma aventureira... Uma detetive aventureira!!


Às vezes eu até consigo achar uma explicação para as coisas, como aconteceu hoje, olhei para o relógio e já comecei a me questionar:


– Como é que ele funciona? Quem será que passa os dias girando-o sem parar?


E depois de muito ver o tempo passar e ninguém chegar perto para fazê-lo funcionar, comecei a entender que quem trabalha nisso é invisível e bem pequeno...

Agora faltava eu descobrir quem fazia isso e por quê fazia, será que é divertido? Bem, deve ser, afinal, parece um dos brinquedos do parquinho que eu vou, o gira-gira.


Então, Eureca! Descobri a resposta, aquele TIC TAC é mágico. Com certeza, o conta horas é um parque de fantasminhas, então são meus amiguinhos que sentados naqueles simpáticos ponteiros, criam um gira-gira bem maneiro, onde brincam o dia inteiro.


Mas logo apareceu mais uma dúvida: E quando relógio parava? E não mais tiquetaqueava? Afinal eu já vi isso acontecer várias vezes lá em casa, ele parava de girar e mais tarde quando eu ia olhar, ele já tinha voltado a funcionar.






Então, me lembrei de como era quando eu ia ao parquinho e logo veio a solução.

É simples, quando o relógio para, é porque as mães dos pequenos fantasminhas, estão chamando para ir para casa, jantar.


Quando contei para minha mãe a descoberta, ela sorriu e disse: – Ai Aurora, você vive nas nuvens mesmo. E em seguida passou a mão pelo meu cabelo, como sempre fazia.


Essa frase me deixa confusa, fico pensando o que isso significa, e aí que começo a questionar:

– O que as pessoas querem dizer com isso? Que não me encaixo aqui como todo mundo? Por isso, na verdade eu moro nas nuvens? Como isso é possível se eu moro na terra com minha família?


Hummm... Já sei, eu devo ir para minha casa nas nuvens enquanto eu estou sonhando, afinal é muito tempo parada sem fazer nada. Então é isso, eu tenho duas casas, isso é incrível! Como será que é lá? E por que não consigo me lembrar desse lugar?




Agora eu tenho um mistério para resolver, mas como? Isso que eu tenho que descobrir. Primeiro tenho que ativar minha memória, afinal são poucas as vezes que eu consigo me lembrar do que eu sonho, então é bem possível que as memórias das visitas para a terra das nuvens tenham sido esquecidas junto com os meus sonhos. Ah, mas que pena!


Eu andei de um lado para o outro e até fiquei de cabeça para baixo, mas não me lembrei de nada.


No outro dia, eu fui atrĂĄs de pistas. Peguei meus materiais e tentei desenhar como seria aquela tal terra nas nuvens, atĂŠ que consegui alguns desenhos, mas nada que fosse familiar, mesmo assim, eu nĂŁo ia desistir, tinha que entender.


Então tive uma outra ideia: – Esta noite vou dormir cedo, assim que o sol começar a se por, talvez prestando atenção eu me lembre de algo.


Assim que comeรงou a entardecer eu me aprontei para dormir e fui dar boa noite aos meus pais, que acharam muito estranho e logo comeรงaram a me fazer vรกrias perguntas:


– Ué, mas já minha filha? Ainda não está na sua hora de dormir e você sempre insiste em ficar mais cinco minutos brincando, o que houve? - disse papai parecendo estar muito confuso. – Eu sei papai, mas dessa vez tenho um motivo, quero ir visitar a cidade das nuvens. – Cidade das nuvens? – Perguntou meu pai, parecendo estar mais confuso ainda, achei que ele soubesse sobre minha casa das nuvens.


– Sim, vocês não se lembram? Aquela que todos vivem me falando. Depois de muito pensar e tentar entender sobre como eu poderia “viver nas nuvens”, cheguei à conclusão que se estou aqui durante o dia, só posso ir para lá a noite, enquanto estou sonhando. Então decidi dormir cedo, para ficar mais tempo lá e ter a chance de me lembrar no dia seguinte – Expliquei. – Aaah, pois muito bem Aurora, boa noite, nos conte amanhã como foi. – Disse minha mãe sorrindo. Eu concordei e saí de lá e meus pais ficaram cochichando.


EntĂŁo corri para meu quarto, me joguei na cama e fiquei tentando dormir. Estava sendo difĂ­cil, eu estava ansiosa, mas ia conseguir, afinal tinha que descobrir se vivo mesmo nas nuvens.


– Será que o lugar onde eu moro, é uma casa com jardim? Ou um grande castelo? Fico imaginando se lá eu consigo ver o nascer do sol ou as estrelas brilhando durante a noite... Ah! Quem sabe eu veja uma linda Aurora Boreal, com todas aquelas luzes? Será, que é para lá que meus amigos fantasminhas vão quando não estão no relógio? Bem, eu acho que não, eles devem morar lá no espaço, na lua ou em Saturno, mas de qualquer forma, quando eu chegar nas nuvens, vou chamá-los para conhecer minha casa e... – Disse a mim mesma, antes de cair no sono e abrir os olhos na Terra das Nuvens.


Eu estava lá, na minha casa das nuvens, era um belo lugar e tinha uma bela vista, como tinha imaginado. Andei por toda cidade, vi outras casas e também alguns moradores daquele lugar, mas o que me deixou mais espantada foram os balões feitos de nuvem que voavam pelo céu e serviam para levar quem precisasse.


– Olá – Disse, acenando para um dos passageiros de balão. O viajante, logo viu minha saudação e acenou de volta, eu sorri e continuei a caminhar e explorar.


Durante a visita eu fiz vários amigos e até convidei os fantasminhas para irem me visitar e assistir comigo uma aurora boreal, sempre quis ver uma dessas, eu me interessei por elas, desde que vi aquelas lindas luzes coloridas pela TV e perguntei o que eram para minha mãe e ela me disse que são ventos solares que chegam até uma camada, que fica ao redor da terra e isso que produz as luzes, acho muito interessante ter o mesmo nome desse fenômeno. Foi maravilhoso ver aquelas luzes dançando no céu, era quase como assistir um espetáculo.


Estava sendo uma รณtima noite e muito divertida, tudo naquele lugar era encantador.


Mas logo algo me veio à cabeça, eu ainda precisava descobrir se eu pertencia àquele lugar, mas como? Então de novo comecei a pensar e com isso chamei a atenção de um dos meus novos amigos, o Hector, que se aproximou de mim para ver se eu estava bem. Respondi quase que imediatamente, talvez ele pudesse me ajudar.


– Eu estou bem, mas cheia de dúvidas, as pessoas sempre me dizem que eu sou daqui como vocês e eu não entendo bem, como pode ser isso? Eu moro nas nuvens e na terra? Da onde eu sou, afinal? E outra coisa, como as pessoas sabiam? – Ah Aurora, você precisa ser de um lugar só? Fico feliz em te dizer, que sim você é daqui e também de lá, você pode ser de todos os lugares que quiser estar, o que importa nessa história, é se sentir bem com você, onde quer que esteja – Disse o morador nuvem, com um olhar calmo.



As coisas estavam mais claras, mas eu ainda estava confusa, então ele continuou a falar. – Até seu próprio nome já diz, Aurora, significa nascer do sol e são os primeiros raios de sol que deixam o mundo todo iluminado, é quando o dia nasce que vemos novamente o colorido do mundo e é isso que são suas histórias e ideias. Você tem uma luz, a sua imaginação, ela é brilhante como o sol e como sabe, o sol nasce entre nuvens, por isso as pessoas dizem que você vem daqui, pois suas ideias tão criativas e coloridas nascem aqui.


Após ele terminar de falar, tudo fez sentido e eu só consegui me sentir agradecida por ser como eu sou, pois só assim, pude fazer esses amigos e ter essa experiência.


EntĂŁo, sorri e os abracei. Eu adorava estar ali e queria voltar sempre. Dei um rodopio e enquanto girava, eu olhava para tudo a minha volta, todas aquelas nuvens pareciam mesmo ser de algodĂŁo.


Enquanto estava distraída, festejando com todos, algo chamou minha atenção, lá no horizonte, o sol estava nascendo, fiquei maravilhada e tive certeza que estava na hora de voltar, afinal, já estava sentindo falta de casa. Então me despedi dos meus amigos e me virei para ver o sol novamente, pisquei e quando abri os olhos, estava no meu quarto, tinha acordado.


Mal consegui conter minha animação, estava muito feliz com toda a minha aventura, então saltei da cama e fui correndo até meus pais. Eles me desejaram bom dia, eu respondi e fui logo contando toda a minha visita a cidade das nuvens e após me escutarem atentamente, me abraçaram e elogiaram minha história.


Depois começaram a me explicar a expressão “viver nas nuvens”. –Quando dizemos que você vive nas nuvens, estamos na verdade usando uma expressão para dizer o quanto você é sonhadora e criativa, você tem muita imaginação, minha pequena aventureira e isso pode te levar para onde quiser. Saiba que admiramos demais sua criatividade, e suas histórias certamente são a melhor parte do nosso dia.




Eu agradeci a eles e disse que entendi, tudo se encaixou mais ainda. Eu me sentia bem, sabia que não esqueceria mais que tinha andado nas nuvens, mais que isso, descobri que era mágica e agora sempre que alguém me dissesse que vivo nas nuvens, eu saberia que é porque sou a luz do sol e isso me deixava orgulhosa.


“Essa Aurora tem um dom, ela vive nas nuvens�.








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