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 manual das guerrilheiras urbanas: em tempos de quarentenaÂ


esse zine foi pensado em uma conversa entre duas amigas que buscavam ferramentas para se ocupar nos dias de isolamento (ainda era quarentena) e de alguma maneira fazer cultura e conteúdo feminista LBT+ circular de maneira democrática nas redes. a feitura aconteceu através de várias mãos e cabeças inquietas. que nesses tempos bizarros e caóticos a gente lembre de se manter presente nas rotinas das pessoas que amamos, seja com um email, um zap de ‘oi, tô com sdds. espero que cê tenha um bom dia’, uma ligação ou um oi de longe no portão de casa. fiquemos vivas, vives e vivos. se puder fique em casa, lave as mãos, medite e beba bastante água. curitiba, julho/2020

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manifesta das guerrilheiras urbanas por yasmin rocha

não posso falar por todas mas invoco as bruxas, bixas, travestis, sapatãs, bizinhas, não bináries, boycetas, queers e degenerades: é sobre nós. vivemos esse momento de ​tran​sição. e só sairemos dessa juntas. para onde vamos? ainda não sabemos. mas com nossas comunas podemos muito mais. é tempo de limpeza. tempo de revisão: o que queremos e o que já não nos cabe? ​fora cis-patriarcado branco neoliberal fascista! ​taquemos fogo e façamos adubo y esfoliação com as cinzas dessa ​trans​mutação. é tempo de nos cuidarmos e entendermos: quais são nossas armas? quem é nosso inimigo? doralyce (@missbelezauniversal) diz que devemos reconhecer nosso inimigo. é assim que vamos destruí-lo. nossas corpas são nossas maiores armas. cuidemos delas com autonomia, paciência y amor. queremos viver livremente, nos amando, compreendendo e aceitando. viemos até aqui para construir algo novo: algo que talvez ainda não nos caiba completamente mas não nos esmague. quantas vidas terão de acabar para que a humanidade compreenda que vivemos em um sistema falido e genocida? ​vivemos em um tempo no qual ter o básico se tornou privilégio. o capitalismo nos coloniza e tira qualquer dignidade da nossa classe. façamos então milhares de fogueiras com velas y incensos, taquemos fogo, derreteremos a massa e a moldaremos de uma nova maneira: com nossas próprias mãos y corpas-bomba; bailemos sozinhas ou juntes, em nossos quartos y quintais; testando viver com menos, apoiando pequenas iniciativas, reduzindo danos e resíduos; façamos som com panelas y tambores; usemos telepatia e cartas em e-mails para nos comunicar; meditemos; amemo-nos. que a gente afirme, afine, cuide, cresça e se transforme. é necessário criarmos forças, juntas, para apoiarmos quem tem menos, quem pode menos, quem precisa. a revolução será de baixo para cima. avante, garotas! vamos juntes?

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máscara faça você mesma

aqui o link com vídeo do tutorial de máscara 3


costurando uma corpa viva de leitura, por ísis L.

comecei a pensar num texto que pudesse conectar todas as coisas que tenho lido e pensado em um processo mental vezes frenético pela quantidade de informações vezes devagar como próprio efeito do frenesi e do mundo digital que faz com que a gente tenha acesso a tudo e ao mesmo tempo consiga absorver pouco ou nada das informações que consumimos digitalmente. mais do que jogar informações e indicações de textos e materiais queria que esse texto fosse um ensaio, como forma de experimento de escrita e também de juntar todos os fragmentos dispersos pela rede que venho jogando por aí. um exercício de me recolher pra escrever e juntar meus frangalhos de pensamentos na tentativa de dar unidade e sentido a algo. + dia desses nessa loucura que são meus processos de pesquisa para a mediação de livros no clube lesbos me deparei com um tedtalks da escritora abha dawesar chamado “a vida no agora digital”, onde ela reflete sobre como esse espaço-tempo digital fragmentado faz com que a gente perca nossa identidade, essencial pra construção da nossa história, desse arco narrativo da personagem que somos nós mesmas que dá um sentido para nossa própria vida e nos faz encontrar nosso lugar no mundo. se desconectar do momento presente com a ilusão de estarmos todas no mesmo espaço, sendo que em realidade estamos cada uma em um quadrado digital separadas, faz com que percamos a imersão no momento presente e com isso nossa própria noção de nós mesmas enquanto seres inteiras pertencentes a um espaço-tempo agora. me lembram os sonhos com pessoas mutiladas que sylvia molloy descreve em em ​breve cárcere​ e os sonhos de anamika que a própria abha dawesar descreve em​ babyji q ​ ue jéssica me contava que são sonhos comuns de despersonalização.​ ​acho que a quarentena veio nos mostrar a importância e a falta que sentimos de nos conectar profundamente e de verdade nos espaços físicos, de estarmos perto real, por inteiras, e não fragmentadas — ideais que conservo e propago desde quando decidi criar e lutar por um espaço físico de

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militância e fazer com que os encontros da coletiva acontecessem nele. quando digo que meus processos como pesquisadora são muito loucos e sincrônicos é sobre nesse processo de mediação para encontros da coletiva durante a quarentena — dois encontros diferentes, um sobre ​babyji​ livro da escritora indiana abha dawesar que mencionei e por isso pesquisava e outro com dois curtas-metragem com protagonismo de sapatonas indígenas, ​yacunã tuxá mulher indígena e arista em salvador​ e ​julieta paredes encontra pavio: uma breve introdução ao feminismo comunitário​ — ter caído em uma video conferência do pensador indígena ailton krenak chamada ​como adiar o fim do mundo​ e ter ouvido mais uma vez sobre os perigos desse mundo (des)conectado. nessa imersão de pesquisa onde os nossos questionamentos e nossa vontade desde sempre latente de rompimento com este mundo que sabemos que não nos cabe — enquanto mulheres, revolucionárias, anarquistas, sapatonas —parti das considerações precisas de krenak quando nos diz que não há porque lamentar este fim de mundo, se este mundo nunca nos coube da forma como está não é preciso pensar em adiá-lo. krenak diz ainda que ao nos depararmos com o deserto não temos como correr, só atravessá-lo, aceitar a queda e aproveitar para construir nossos paraquedas coloridos. usei tudo isso como impulso para começar a escrever este texto e fazer parte dessa zine mostrando os pedaços de textos, livros, vídeos e referências com as quais tenho costurado esse paraquedas. + enquanto jessica mais uma vez me seca os cabelos lembro de uma última palavra sobre o que krenak diz sobre precisarmos ser radicalmente vivas. muitos povos indígenas já presenciaram o fim de seus mundos e o presenciam todos os dias, porém existem, resistem há anos. nessa submersão também entrei mais em contato com a própria consciência da minha corpa viva, renegada nos tempos de capital, nos tempos de trabalho, na rotina de proletária. abri de repente um ebook de poesias que recebi por e-mail e lá me dizia maria isabel iorio em seu​ aos outros só atiro meu corpo​: “os vírus são discretos, eles não transam assim de repente de qualquer jeito não. eles só se reproduzem, em silêncio, entre as membranas de uma célula da gente. se valendo de que​ somos isto um rosto exposto ao sol e ao sangue aos órgãos deliciosos fora do algodão​. isso um corpo todo exposto à queda, ao caldo ao leite e todos os instrumentos que furam ou cortam. somos isso que nunca está totalmente limpo, capaz ou imune”.

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+ volto para julieta paredes, feminista comunitária, boliviana, indígena, aymara, sapatona e tantas outras mulheres e corpas que constróem e construíram juntas um novo modo de ser-estar em uma corpa-comunidade que se funde com tudo que é e não se distingue dela, onde não há esse rompimento eu-outro / eu-objeto / eu-natureza de um pensamento branco colonizado que não consegue mais encontrar sentido comunitário porque ergue fronteiras em torno de uma identidade individual que nos tira as possibilidades de sentido e faz com que a vida tenha que ser algo-externo definida por uma utilidade qualquer inventada. e de novo anamika de ​babyji ​me vem a mente quando “eu não distinguia claramente entre índia, meu país natal, e índia, minha amante. eu não conseguia distinguir entre minha terra natal e minha mãe. eu falei sobre fazer amor com o país e alcançar uma comunhão mística com a terra, seus cursos d’água e platôs.” enquanto vejo raveena em seu jogo de olhares e movimentos com uma mulher deslizar suave em ​temptation ​me lembro de audre lorde me falando da força do erótico em ​os usos do erótico ​como esse algo-nosso indissociável de nossas corpas, essa força criativa, e daquela poesia da taís bravo em seu​ houve um ano chamado 2018 ​sobre uma espécie de força torácica que emerge depois de passar um tempo debaixo d’água. “sonho com mulheres”, yasmin escreve, e também em mim habitam todas essas escritoras, artistas, sapatonas, criadoras de mundo me acompanhando sempre. “cuidem dos amigos e dos amores. voltem a pensar junto com eles, soberanamente, uma forma justa de vida. criem ​aglomerados da boa vida, aumentem o tamanho deles, e ninguém será contra vocês. isso não é uma conclamação à volta maciça à disciplina, mas sim à ​atenção” — ​e que estejamos vivas, atentas e fortes, sobretudo presentes, carregando nossos melhores retalhos e construindo nossos paraquedas.

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bora tentar meditar? 15 min passam voando!

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o pessoal é político. 8


subitamente, entre o sorriso ke brota (involuntário) y algo estranho no peito ou na garganta ou no ventre, concluo ke ela me causa sensações. depois eu penso na distância y na fronteira y em crises sanitárias-solitárias y em mim y em tudo mais ke não-é, y depois eu penso ke mesmo assim​, não-sendo, essas mulheres fazem ke eu seja apaixonada por me apaixonar.

@mugrrra

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“Não são as nossas diferenças que nos dividem. É nossa incapacidade de reconhecer, aceitar e celebrar essas diferenças.” audre lorde

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Em tempos de pandemia, para quem é o seu feminismo? Por Felipa Pinheiro O nosso país vive uma hierarquia estagnada, na qual o topo é ocupado pelos homens brancos e a base pelas mulheres negras. Em tempos de pandemia da COVID-19, essas desigualdades ficam mais evidentes e apontam que as mulheres, principalmente as negras, são as que mais sentirão os efeitos econômicos. O estudo “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça” do IPEA, que traz dados de 1995 a 2015, destaca que as mulheres negras possuem os piores indicadores em praticamente todas as áreas analisadas da pesquisa. São as mulheres negras que têm menos acesso à educação, os menores salários, são a maioria das trabalhadoras informais e também das desempregadas. Além disso, a água, que junto com o sabão, é a principal ferramenta para nos protegermos da COVID-19 não é assegurada para milhares de mulheres negras no Brasil. Conforme o estudo “Mulheres e Saneamento”, realizado pela BRK Ambiental e Instituto Trata Brasil em 2018, 67,8% das 12 milhões de mulheres com acesso irregular à água tratada são pardas e negras. As diferenças sociais e econômicas entre mulheres brancas e negras, portanto, são enormes. Porque além do sexismo, sofrem com o racismo. O que mostra que não podemos universalizar a categoria “mulher”. Como menciona Djamila Ribeiro no livro “Quem tem medo do feminismo negro?”, "se a universalização da categoria “mulheres” não for combatida, o feminismo continuará deixando muitas delas de fora e alimentando assim as estruturas de poder". A primeira morte pelo novo coronavírus no estado do Rio de Janeiro foi justamente de uma trabalhadora doméstica negra. Com 63 anos, ela fazia parte do grupo de risco da COVID-19 e mesmo assim teve que continuar trabalhando. Contraiu o vírus da patroa, que esteve na Itália e não avisou sobre a suspeita da doença. Mulher, que como Ribeiro apontou em sua coluna na Folha de São Paulo, não teve sequer o nome mencionado. Fiz diversas pesquisas e não encontrei o nome dela, o termo usado é sempre “doméstica”.

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A realidade dessa senhora é a de muitas mulheres no Brasil, os Sindicatos das Domésticas vêm encontrando resistência por parte dos empregadores de liberarem as domésticas durante a pandemia. E quando falo domésticas, é porque 92% dos trabalhadores domésticos são mulheres, sendo que desse número, 63% são negras, conforme dados do IBGE de 2019. Além disso, só 27% das mulheres com esse tipo de trabalho tem carteira assinada, o que torna mais difícil ainda as negociações. Se nós mulheres brancas nos dizemos feministas e temos em nossas casas trabalhadoras domésticas, a primeira coisa a se fazer nesse momento então, é deixar que essas mulheres fiquem em suas casas e que continuem sendo remuneradas. Essa é uma das primeiras ações. Mas, o que eu quero dizer principalmente é: Você assume a sua responsabilidade branca? Você luta contra esse “privilégio”? Você olha pelas suas irmãs negras? Se você já está cansada de falar para os homens sobre a nossa luta e necessidades. Imagina, as mulheres negras, que como Audre Lorde fala no seu livro “Irmã Outsider”, também “precisam” nos educar diante de uma imensa resistência “a respeito de nossa existência [das mulheres negras], de nossas diferenças, de nossos papéis no que diz respeito à nossa sobrevivência conjunta”. Como ela complementa, “isso é uma dispersão de energias e uma trágica repetição do pensamento patriarcal racista”. Não podemos lutar com as mesmas armas de nossos opressores, precisamos encontrar nas nossas diferenças, formas potenciais de mudança. Pois, como mais uma vez a grande Lorde nos ensina: “As ferramentas do senhor nunca derrubarão a casa-grande. Elas podem possibilitar que os vençamos em seu próprio jogo durante certo tempo, mas nunca permitirão que provoquemos uma mudança autêntica. E isso só é ameaçador para aquelas mulheres que ainda consideram a casa-grande como sua única fonte de apoio."

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nathália drumond (@natisuni) 17


siriricantropologias por Anna Neura antropologia da masturbação detalhe importante é que roçar no travesseiro foi o começo e meio da descoberta da minha lésbica-humanidade primeiro os objetos do meu contexto depois os dedos por fim uns relacionamentos e vibradores líquidos estamos o tempo todo nos colocando à provas d'água em algumas eu passei direto e nem parei outras provas ainda me causam curiosidade etnográfica de investigar, aprender e repassar às outras na prática.

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só sei escrever de amor - reclamação antiga só sei escrever de dor do meu dente latejando da bebida que bebo todo gole do cigarro que trago do vício da roupa que tu tava usando aquele dia de gelo de ser totalmente controlável querendo ser controladora de sentir frio de conchinha só sei falar de sua pica escrever de choro escondida que ninguém vê de não existir existindo do que perdi e de nenhum ganho - mesmo ganhando só sei escrever listas que nunca cumpro de organizações absurdas de planos que não vou seguir de sonhos estranhos - como aquele que sonhei com alguém que conheci dois dias depois pelo tinder só sei falar conselhos

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que nunca sigo em poesia ou em palavras mau ditas malditas de como aprendi crochê com ex sogra há 5 anos atrás de mudanças estranhas repentinas e boas ou ruins de perceber ao raiar do dia coisas que eu não sabia ao anoitecer sobre sentir frio também e dormir bêbada de vergonha e frustração eu só sei escrever de arrependimentos de dizer de vísceras e vácuos as vezes me sinto um saco plástico um zip lok mais loki que zip -arnaldo baptista te devo essa sobre letras e palavras que não existem acho pouco o dicionário queria mais escrevo sobre querer mais do que não me é suficiente sobre insuficiência abstinência gavetas desarrumada e bagunça dentro sobre perfeição minha criança interna me diz que sou perfeita e as vezes acredito escrevo sobre pole dance e quanto dinheiro tenho que ter pra resolver escrevo o que incomoda e o que falta um pai que não é meu, passando mão na minha virilha a 11 anos atrás

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é o que incomoda tu é o que falta não ligo pra quem seja mas falta escrevo sobre tempos perdidos e não, não temos todo o tempo do mundo pelo menos espero que a terra possa viver mais escrevo de fogo e violência não da minha, a minha tá bem guardada sobre o que não te digo de realidade falo pouco disso não entendo nem nunca entenderei por nicole elis @kllllnnx

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eme podre (@rotteneme)Â 24


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nathĂĄlia drumond (@natisuni)Â 26


“É um silêncio mortal, causado pela epidemia, mas este silêncio também é vida. Pássaros estão voltando a locais de onde haviam desaparecido. A água suja está se tornando limpa” Ailton Krenak "O amanhã não está a venda" PDF

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Num redemoinho de informações por Gabizira Produções (@gabizira) No dia 17 de março a audiência do Jornal Nacional foi a maior dos últimos 8 anos1. O Instagram apontou2 que a informação sobre o número de mortes no Ceará do story do presidente genocida era falsa. Tem pelo menos 29 pedidos para o seu impitimam3 rolando nesse exato momento. Mil abas para tentar entender o auxílio emergencial. O consumo de internet no Brasil aumentou 40% na quarentena, o de TV, 25%4. Aquele app Caixa Tem não tá funcionando! Na segunda semana5 do isolamento, o BBB bateu o recorde mundial de votos em reality show na TV e foi parar no Guinness book (Livro dos recordes). Lives são acompanhadas por milhões de pessoas. Os grupos do zape estão insanos. Um redemoinho de informações constante é característica latente deste tempo. E nós, no epicentro da rede de comunicação que compomos, tentamos dar conta de absorver tudo, mas é impossível acompanhar. Parece que aquela “lista de links para ver depois” só aumenta, assim como a dúvida se os conteúdos que estamos acessando são verdadeiros diante dessa avalanche de notícias falsas. Há uma intensidade brutal nos fluxos de informações que é óbvia diante de um isolamento social no qual “tudo” (trabalho/interações/diversão/manifestações artísticas etc) migrou para alternativas digitais, mesmo com 30% dos brasileiros sem acesso a elas. Mas a manipulação de notícias/dados/informações impacta todes no contexto político mundial e também brasileiro. Não à toa, a comunicação é um dos 10 pilares do fascismo, como traz o livro de Jason Stanley6, que inclusive cita práticas do governo bolsonaro para exemplificar algumas características do fascismo, como o antiintelectualismo (combate a qualquer coisa que estimule o livre pensamento), a

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Fonte: https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/audiencias/com-mais-tvs-ligadas-por-coronavirus-globo-dispara-e-massacra-concorrencia-34656 A Agência Lupa fez a apuração da informação falsa. 3 Leia todos os pedidos de impitimam aqui: https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/exclusivo-a-integra-de-todos-os-pedidos-de-impeachment-contra-bolsonaro/ 4 Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/03/em-tres-dias-de-quarentena-consumo-das-redes-subiu-40.shtml 5 Considerando o início da quarenta dia 24/03, data que São Paulo, epicentro do Coronavírus no Brasil, decretou isolamento. 6 Trata-se do livro “Como funciona o fascismo”, de Jason Stanley (2018). 2

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irrealidade (utilização de teorias conspiratórias vindas de Olavo de Carvalho) e o próprio esquema de fake news/notícias falsas (que elegeu e mantém o modo de governar)7.

Checa tudo, combatendo a desinformação Alguns dos principais jornais tradicionais do mundo como o New York Times (EUA), o The Guardian (Inglaterra) e o brasileiro O Globo assinaram uma carta internacional alertando sobre a “infodemia”. Este termo foi criado para sintetizar como a mídia, em especial os fluxos de desinformação, estão impactando a sociedade durante a pandemia. Notícias falsas relacionadas a gravidade do coronavírus, medicamentos que promovem curas e formas de transmissão estão ocasionando intoxicações e mortes. E o pior, muitas vezes essas mentiras partem de pessoas populares ou influenciadores, inclusive presidentes. Como saber se estou lendo uma notícia falsa? 1. Cuidado com as imagens! Muitas notícias falsas são montagens feitas em cima de layouts como G1 e UOL.

de portais

2. Ao receber uma imagem no whats, insta ou messenger, pesquise a manchete no navegador para encontrar a fonte original. Se encontrar, confira se a fonte é segura: navegue pelo site, veja se o endereço do portal fornecido realmente existe no google maps e pesquise sobre o portal em outros sites. 3. Verifique se o veículo de informação ao expor algum dado, colocou a fonte de onde tirou essa informação.

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O Meteoro fez um vídeo explicando de forma bem didática o fascismo no Brasil. Assista, mas só se você quiser: https://www.youtube.com/watch?v=4MJ2mMJIKbM&t=872s

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4. No caso de declarações, recorra ao perfil da pessoa que supostamente deu a declaração para checar se trata-se de uma declaração verdadeira. 5. Pesquise sobre o fato ou declaração em sites especializados em checar notícias: Agência Lupa: ​https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/ Aos Fatos: ​https://aosfatos.org/ Projeto comprova: ​https://projetocomprova.com.br/ Chequeado ​http://chequeado.com/​ - Argentina Site que reúne todas as iniciativas de checagem de informação do mundo: https://reporterslab.org/fact-checking/ 6. Não compartilhe sem checar a fonte e ter certeza que trata-se de uma informação verdadeira. Se você passou uma informação falsa e descobriu depois que se tratava de uma mentira, comunique as pessoas sobre o equívoco. Explique como você descobriu que era uma informação falsa e exponha os dados corretos.

Quebrando monopólios A comunicação é um direito8, mas também se tornou um poder de interferência naquilo que vem (ou não) a se tornar público. Hoje, no Brasil, são os veículos que intermediam a produção de significados, impressões, conceitos, sentidos e opiniões na sociedade9. Antes da internet, esse poder estava um pouco mais restrito às mídias tradicionais, como emissoras de TV e rádio e publicações impressas. Com a internet, as mídias alternativas ganharam um pouco mais de espaço, devido ao baixo custo de produção quando comparado a impressão ou equipamentos para transmissões por satélite, por exemplo - entretanto, o que prevalece na esfera digital também são monopólios. ​Lei nº 12.527, de 2011.​ Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm Daniela Zanetti e Ruth Reis “Comunicação e territorialidades - poder e cultura redes e mídias” (2017). Disponível em: http://repositorio.ufes.br/bitstream/10/6841/1/Comunica%C3%A7%C3%A3o%20e%20territorialidades_poder%20e%20cultura%2C%20redes%20e%20m%C 3%ADdias.pdf 8 9

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Pense, por exemplo, no facebook, que é dono do whatsapp e do instagram, os três apps mais usados no Brasil10 ou no google ou nos grandes portais que são conglomerado vindos da mídia tradicional como OGlobo e R7, os mais acessados no país junto com o UOL. Não é que não possam partir desses veículos materiais com qualidade informativa, inclusive tem muitos jornalistas investigativos fodas nesses lugares, a questão é que precisamos entender que o lucro prevalece ao interesse público para esses monopólios, então suas produções seguem a lógica do capitalismo e portanto, sustentam esse sistema. Isso interfere diretamente no material produzido: na sua linha editorial e nos sensacionalismos que disputam o clique. Dentro desses monopólios, o que estamos fazendo enquanto nos informamos é também gerar lucro para uma elite tosca que tenta perpetuar privilégios cravados no racismo (1) e na disputa de terras/poder (2). A relação mídia/território determina sob qual perspectiva nossa história está sendo contada.

(1)O

apoio da imprensa no projeto eugenista das elites brasileiras, texto de Ale Santos para

a Vice Brasil, disponível aqui: https://www.vice.com/pt_br/article/8899gz/o-apoio-da-imprensa-brasileira-no-projeto-eugenist a-das-elites-brasileiras (2) “Grande parte dos maiores grupos de comunicação do Brasil, que controlam os principais veículos, tem relações com o agronegócio”, traz o estudo que mostra relações históricas como as do Grupo Folha, Globo e família Saad, da rede Bandeirantes, com grandes investimentos e propriedade de terras no país. A pesquisa comprova que as relações da grande mídia dificulta muito e invisibiliza as disputas pelos direitos dos trabalhadores do campo e acesso a terra. A exemplo de como o MST é abordado nos meios de comunicação, o estigma de movimento violento, clandestino e ilegal são algumas ações midiáticas que possuem o objetivo de 10

Fonte: pesquisa realizada pelo IBOPE Media (2013).

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criminalizar o verdadeiro sentido da luta pela reforma agrária no país. Acesse a pesquisa completa aqui: ​https://brazil.mom-rsf.org/br/proprietarios/ Uma forma simples e direta para driblarmos esses monopólios é recorrermos a fontes alternativas de informações e que não priorizam o lucro nas suas produções. Para se informar sobre dados, vá direto na fonte, recorra à análises científicas: Monitoramento e análises da situação do Coronavírus no Brasil por cientistas independentes de várias instituições brasileiras: ​https://ciis.fmrp.usp.br/covid19/ Iniciativa da UNICAMP para monitorar a pandemia: ​COVID-19 BRASIL Portais alternativos de jornalismo para se informar sobre a pandemia e outros assuntos que permanecem pertinentes: A Mídia Índia-oficial é uma organização sem fins lucrativos que traz notícias, denúncias, visões e opiniões produzidas por indígenas. Se auto-descrevem como a “voz dos povos indígenas, por nós, pelos nossos ancestrais, pelos que virão!”. ​https://www.instagram.com/midiaindiaoficial/ A Agência Pública é um dos primeiros portais de jornalismo independentes do Brasil, atuante desde 2015, ela vem investigando o poder público com reportagens profundas e muitas vezes desenvolvidas com bolsas que contemplam jornalistas de fora dA Pública, o que é muito bom para ampliar visões dentro do próprio veículo e incentivar jornalistas independentes. Além disso, o portal alimenta o Mapa do jornalismo independente: ​https://apublica.org/mapa-do-jornalismo/​, que rola dar uma fuçada para encontrar mais opções de iniciativas independentes de acordo com as coisas que você curte. A A.N.A é um blog que traduz e reproduz as notícias da Agência de Notícias Anarquistas (A.N.A.): https://noticiasanarquistas.noblogs.org/ OBS: Como a mídia tradicional utiliza do sistema capitalista para o seu próprio existir, dificilmente

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vemos dentro dos veículos tradicionais perspectivas contra-sistêmicas. Acessar canais que acreditam na necessidade de mudar o sistema capitalista e deixam isso claro, é importante para construirmos outros pontos de vista, mesmo que sejam discordantes dos nossos. O trabalho de tradução da A.N.A é muito bom para sabermos o que está rolando no mundo e entendermos pautas transnacionais. Além disso, os materiais são apresentados com a fonte, o que permite verificar e aprofundar assuntos. https://amazoniareal.com.br/ As fundadoras da Amazônia Real trabalharam por muitos anos na imprensa tradicional brasileira e observaram que os temas relacionados às questões da Amazônia eram de pouco interesse das redações, principalmente quando o assunto eram povos indígenas, quilombolas, ribeirinhas e defensores ambientais, mulheres, crianças e adolescentes, migrantes entre outros. O portal surgiu em 2013 e não recebe recursos públicos, de pessoas físicas ou jurídicas envolvidas com crime ambiental, trabalho escravo, violação dos direitos humanos e violência contra a mulher. A Repórter Brasil foi fundada em 2001 por jornalistas, cientistas sociais e educadores com o objetivo de gerar reflexão e ação sobre a violação aos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores no Brasil. Devido ao seu trabalho, tornou-se uma das mais importantes fontes de informação sobre trabalho escravo no país. Suas reportagens, investigações jornalísticas, pesquisas e metodologias educacionais têm sido usadas por lideranças do poder público, do setor empresarial e da sociedade civil como instrumentos para combater a escravidão contemporânea, um problema que afeta milhares de pessoas. https://reporterbrasil.org.br/ O Alma Preta é uma agência de jornalismo especializado na temática racial do Brasil. O portal de notícias está dividido em quatro editorias. Em Realidade, traz-se a discussão do racismo na política, economia, cultura e esporte. Na seção Da Ponte Pra Cá, aborda-se o que acontece de positivo nas favelas do país. Mama África contêm notícias do continente africano de forma que exponha a complexidade de temas e a rica diversidade da África. Por fim, O Quilombo, o espaço da rede de opiniões dos colaboradores e parceiros do Alma Preta. https://www.instagram.com/almapretajornalismo/

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Jornalismo, tecnologia e informação contra o machismo. AzMina é um instituto sem fins lucrativos que combate os diversos tipos de violência que atingem mulheres brasileiras. https://azmina.com.br/ A Revista Estudos Libertários publica pesquisas acadêmicas críticas sobre todo tipo de estudo que tenha como lente o instrumental teórico anarquista ou libertário e colabore para a emancipação social e/ou colabore para a crítica do status quo. Está na segunda publicação sobre a pandemia de Covid-19 https://revistas.ufrj.br/index.php/estudoslibertarios A Central Única das Favelas replica conteúdos gerados por diversas iniciativas de comunicação criadas em favelas brasileiras. https://www.cufa.org.br/noticias.php A Agência de Notícias das Favelas foi criada para atender a demanda da imprensa e da sociedade que precisavam obter informações sobre que acontecia no contexto das favelas do Rio de Janeiro. Fundada pelo jornalista André Fernandes, em janeiro de 2001, foi logo reconhecida pela Reuters como a primeira agência de notícias de favelas do mundo. http://www.anf.org.br/ Online e rastreável Pra fechar, sabemos que a internet não é um lugar seguro para falar sobre determinados assuntos, então aplique dicas de defesa digital para continuar se articulando. Opte por aplicativos como o Signal para trocar ideias revolucionárias e lembre-se, segurança digital é o oposto de paranoia: https://autodefesa.org/#about Guia prática de estratégias e táticas para a segurança digital feminista: https://feminismo.org.br/guia-pratica-de-estrategias-e-taticas-para-a-seguranca-digital-feminista/

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yasmin rocha (@avulvalibre)Â

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“você não anda bem, precisa relaxar precisa de uma praia um pôr do sol na praia um pôr do sol a beira mar” Ludmilla 37


tá ansiosa né, menine? 38


como lidar com a ansiedade por Roberta Barcelli

Estamos em meio a uma Pandemia, ou seja, existe um vírus que causa enfermidades e que tem a capacidade de se espalhar rápido. Por conta desse vírus, muitas pessoas estão apresentando sintomas de ansiedade. Então, vamos aproveitar esse espaço para refletirmos um pouco sobre o que é ansiedade, quais são os sintomas de ansiedade e pensar em algumas dicas de como lidar com isso. Lembrando sempre que é muito importante contar com o apoio de profissionais. A ansiedade pode ser explicada como um grupo de sintomas que todes nós temos. Com ansiedade, corremos atrás das coisas, nos preservamos. Nesse sentido, a ansiedade é ótima pra nossa vida, porque faz a gente se mover. E como isso acontece? Dentro do nosso cérebro, existe um sistema de alerta que é super importante para a nossa sobrevivência. No entanto, quando a gente sente que tem alguma “coisa” nos ameaçando - seja essa coisa dentro da gente, ex: se

pensamentos, emoções, ou fora da gente, como por exemplo o covid-19

espalhando e que está causando problemas - é normal ficarmos ansioses, é comum termos

sintomas de ansiedade que são os pensamentos negativos, muito catastróficos. Tudo isso faz com que

o

sistema

de

alerta

do

nosso

cérebro

entre

em

ação.

A

ação

desse

sistema consiste,

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sobretudo, em enviar alguns sinais através do nosso corpo:

taquircadia, suderese, frio na

barriga, suor frio, sensação que o coração vai pular pela boca, dores de estômago. Todos fatores podem ser sintomas de ansiedade. Se você estiver sentindo essas coisas, tente parar um pouco e tirar essa atenção do corpo, se distraindo com uma música, lendo algo que goste (um zine por exemplo), assistindo a um filme. Parando nesses momentos para respirar, você consegue acalmar tais sintomas respirando fundo, aquele popular "conta até 10". Respirando profundamente, puxando o ar pelo nariz e soltando lentamente pela boca.

Experimente fazer isso algumas vezes e você

vai sentir o que estou escrevendo. Além da respiração, podemos também evitar ver tantas notícias sobre o coronavírus. Claro que é importante buscar informações de prevenção, cuidados, orientações de profissionais em jornais ou sites de confiança. No entanto, você não precisa ouvir dez noticiários falando sobre a mesma coisa. Quando você faz isso, aquele seu sistema no cérebro vai ficar sempre em alerta e aí você já sabe o que pode acontecer… A todes nós, desejo cura!

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vídeos interessantes sobre ansiedades, angústias e afins - lidando com a ansiedade - sobre síndrome do pânico - sobre angústia - como meditar em 5 minutos - a yoga que veio da áfrica - vai ter gorda na yoga

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UM CORPO CANSADO por giovanna silveira (@silveira.giovanna)

O corpo brasileiro é um corpo cansado Desde 1500 sendo invadido e explorado Com nosso povo originário sendo enganado. As riquezas por um pedaço de espelho, E mesmo com o reflexo não vemos ainda o desmazelo. Gente branca exploradora Nossas raízes cortadas por essa gente destruidora. Açoitaram, escravizaram, violentaram, assassinaram. Apagaram, embranqueceram, invisibilizaram. Sem nada deixaram, com muita dor mantiveram. Deslegitimaram. Minimizam. Nossas línguas mataram, nossas crenças demonizaram Nossas identidades ressignificaram colocando em um tronco. Limitaram nosso valor às senzalas. Caçoaram da capoeira, da música, da roda de jongo E até hoje nos tratam com bala. A solução para apagar foi encontrar uma salvadora de pele alva. Porque assim pelo menos na história

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Fica registrado que foi bondade branca, MAS não apagamos da nossa memória! O corpo brasileiro é um corpo cansado. Nos submeteram a um processo cruel, devastaram. Nos tiraram a essência e ordenaram: calados! Nos tiraram a nomenclatura. "Que preto o quê? Põe moreno pra ficar mais claro" "Que black o quê? Alisa! Pra ficar mais fácil" "Que nariz natural o quê? Prende com grampo pra ficar mais alinhado!" O corpo brasileiro é um corpo cansado Só de ligar a TV pra ver noticiário Já dá uma gastura pelo tamanho do fardo. Só cresce o número Só cresce o número Só cresce o número Só cresce o número Pelo estado.

de de de de

desempregados. individados. infectados. abandonados...

Não diminui o número de alienados. Não diminui o número de assassinados. Não diminui o número de pretos por bala alvejados... Pelo estado. O corpo brasileiro é um corpo cansado. Ser um corpo brasileiro é pesado. Ser um corpo brasileiro é doido e doído.

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Ser um corpo brasileiro nos deixa moĂ­do. Como diz uma peixa muito voraz, Ser um corpo brasileiro hoje, nos diz muito. E eu sempre me pergunto: serĂĄ que um dia teremos paz?

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yasmin rocha @avulvalibre

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ontem o mundo acabou por keythe tavares (@osimulacro) antes que o mundo mais uma vez se acabe antes que os amores terminem antes das lágrimas caírem antes dos pássaros não mais cantarem antes dos prédios desabarem antes mesmo de acharem ETs no fundo dos mares me achego a ti na esperança de um novo começo na vontade de uma nova vida no desejo de uma realidade ainda não contada ainda não vivida ainda nem imaginada teu peito é meu refúgio teus fluidos meu alimento se aqui cheguei viva não conseguiria fazê-lo sozinha me ponho a esperar a aurora que se renova sempre por volta do mesmo horário que sendo fim, por ironia é também começo um encontro marcado com o inédito a chance de sempre poder dizer é outro dia mesmo sem saber de mim

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mesmo sem saber de nรณs ontem o mundo acabou amanhรฃ quem saberรก?

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mical kairós 48


“Demorei pra saber porque, mas entendi que as salas fechadas são na minha cabeça. o isolamento. Janelas são como minha mente tem funcionado e é como posso olhar para fora: Com a imaginação. De resto eu já entendo, Tempestades e templos em ruínas são com certeza, corpo e mente.” Mical Kairós 49


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desabafo por yasmin rocha vivemos sendo torturadas por essa máquina de fazer moeda e devastar vida. a roda do capital nunca pode parar de girar, isso pensando da perspectiva dos porcos engravatados que nunca se bastam com o que já detém. a ganância é tamanha que mais vale 1 milhão na conta da corrupção do que a vida da classe trabalhadora. quanto vale a vida de uma trabalhadora? quanto vale a vida de uma trabalhadora preta? dia desses jamine tava falando sobre o mercado de trabalho e os índices de desemprego para a mão de obra feminina é quase o dobro da masculina. vivemos tempos onde a máquina de moer vida destrói a vida das mulheres pretas antes de pensar em encostar no homem branco cis. é exaustivo seguirmos tendo fé. mas o que o capital mais quer é nos ver desesperançosas e sem motivos para vivermos nossas alegrias. sim, é enlouquecedor ter de se manter sã em meio a tantas atrocidades, mas acho que esse é justamente o segredo de nossas vidas, não? nós marginais vivemos fora da régua da norma e lutamos diariamente por um pouco mais de dignidade e respeito. é louco termos de afirmar tantas coisas básicas em 2020, não é? ver os anos passarem é algo que leva tempo para assimilar. lembro de 10 anos atrás, mesmo não vislumbrando grandes coisas, imaginar um 2020 talvez mais justo e evoluído. nossa vida é baseada em ser mão de obra barata, em termos corpas mercantilizadas e vermos nossa essência ser desmatada diariamente. as mulheres da cidade são asfixiadas pela fuligem e a poluição enquanto as indígenas estão sendo contaminadas pelos “senhores” do garimpo. qual a lógica dessa casta que insiste em achar que acumular riqueza traz felicidade ou realização? qual é a lógica de achar que para termos qualidade de vida precisamos explorar e esmagar outras vidas? a humanidade está doente e sinceramente, concordo com ailton krenak que zomba dos homens que utilizam o termo humanidade para se compreenderem como alguém superior. no latim, “humano” significa “ser sábio” (ou no significado misógino - homem sábio). fazem 350 mil anos que o homem acha que é sábio mas falha sendo homem, falha sendo hétero, falha sendo pai, falha sendo cristão, falha sendo de bem.

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playlist para o pós apocalipse

o resgate da intuição como iniciação da mulher selvagem por bruna motta (@brupoesia)

Tenho me perguntado porque tantas vezes caminhei até a boca do leão. Como se Perséfone caminhasse até o Hades, ao invés de ser raptada por ele. Como se fosse uma escolha estar em determinados lugares. Uma escolha que não queremos aceitar que fizemos, que não entendemos o motivo.

No fundo, eu sou essa mulher forte e destemida hoje, porque sobrevivi a tudo isso. A todas as vezes em que tive que me salvar por mim mesma. ​Mulheres: não desconfiem da sua intuição​. Não desconfiem do que o seu corpo diz. Ao contrário, conversem com ele, procure ouvir o porquê do seu útero doer quando você menstrua,o porquê de ele sentir medo. Essa tem sido uma prática para mim, conversar com o meu corpo, não partindo de um lugar racional, mas, intuitivo.

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Usar esses olhos da alma para reconhecer as armadilhas. Entender os aspectos negativos que existem em nós mesmas e ao redor, no mundo. Reconhecer a fome insaciável que quer se preencher de qualquer coisa, de qualquer amor tóxico, carinho superficial​. E preencher esse buraco com algo que só pode ser encontrado em nós mesmas e quem nos conta os segredos e as histórias, é essa voz baixinha.

No livro ​Mulheres que Correm com os Lobo​s, da psicanalista Clarissa Pínkola, encontramos a história de Vasalisa, que ilustra ​o resgate da intuição como iniciação da mulher selvagem​. A partir da análise desse conto, a autora fala de nove tarefas que precisam ser assimiladas para esse despertar da intuição. Quero falar resumidamente delas para vocês,

1º tarefa: Permitir a morte da mãe-boa-demais ​— no conto, o primeiro acontecimento é a morte da mãe de Vasalisa. Ao morrer, ela deixa para a filha de presente uma boneca. A mãe super protetora que morre, para que uma nova mulher nasça. Essa mulher, agora, terá que lidar com novos desafios e precisará

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aprender

a

reconhecer

os

perigos

por

si

mesma.

Sendo

assim,

ela

precisará

aprender

a

usar

sua

ferramenta intuitiva.

2º tarefa: Denunciar a natureza sombria — aqui, Vasalisa é levada a conviver com a madrasta má e suas filhas

(que

aparecem

como

aspectos

sombrios da psique) . O papel dessa madrasta é aprisioná-la,

podá-la. É apontar “​Você não sabe fazer isso”, “Você não tem a coragem necessária”, “Você não é bonita​”. Essas vozes que, tenho certeza, você já deve ter ouvido. Aqui, Vasalisa começa a aprender que ser apenas boa e dócil, não vai garantir que ela saia dessa situação. ​E com essa solidão, ela vai aprendendo a se comunicar consigo mesma, com seu corpo, com as partes positivas e negativas, todas.

Clarissa afirma, que para a mulher, esse material que vem de olhar para a sombra pode ser muito proveitoso, já que, muitas vezes, é para esse lugar que nossos talentos são jogados.

3º tarefa: Navegar nas trevas ​— a madrasta, na tentativa de se livrar de Vasalisa, a envia para uma missão kamikaze, buscar fogo na casa da velha Baba Yaga. Nessa parte da história, a boneca que a mãe

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havia dado a Vasalisa, começa a falar e a orientar a menina no caminho pela floresta. Entrar na floresta a noite é como imersar nesse lugar do inconsciente, nas profundezas, e nesse caso, é um lugar novo para essa mulher. Aqui, ela só pode confiar em nela mesma e nos seus sentidos. Deixando cada vez mais para trás a menina ingênua, para aprender o caminho de volta para a casa da Mãe Selvagem. ​A intuição é um presente que ela ganhou, que a ajuda a se movimentar no mundo.

4º tarefa: Encarar a Megera Selvagem ​— a velha Baba Yaga é a guardiã dos seres da terra e dos céus, do Sol Nascente e da Noite. Ela vive no meio da floresta, em uma casa feita de ossos de galinha . Ela é assustadora e agora Vasalisa está em sua frente e precisa encará-la. ​Manter-se firme. Ela precisa adentrar a casa da Baba Yaga, aprender com ela, adotar da velha algumas posturas que são necessárias para essa vida terrena. Nós, mulheres, como proteção, precisamos encarnar esse arquétipo, para afastar certas coisas ruins. ​Precisamos aprender a fechar a cara.

5º tarefa: Servir o não-racional ​— aqui, Vasalisa pede o fogo a Baba Yaga, que aceita lhe dar, caso ela faça alguns serviços domésticos em troca. Primeiro, ela lava suas roupas, em um ritual de limpeza

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profunda. Depois, ela varre o quintal, como se assim estivesse limpando o espaço mental, desempoeirando os

cantos.

Depois,

ela

precisa

alimentar

esse

poderoso

arquétipo.

A

comida

é

o

momento

em

que

absorvemos energias. Para preparar o alimento, Vasalisa precisa lidar com o fogo: que representa o ponto em que restabelecemos contato com nossa vida criativa. Aqui, a​prendemos a cuidar do nosso terreno psíquico​, organizar, limpar.

6º tarefa: Separar isso daquilo — uma lição extremamente importante. Baba Yaga pede que Vasalisa separe o milho mofado do milho que está bom. Novamente, a boneca volta a ajudar Vasalisa, para que ela consiga cumprir a tarefa no tempo estipulado. A bruxa passa outra tarefa, separar as sementes de papoula do estrume. Com essa tarefa, é como se fosse ensinado que ​devemos aprender a separar um amor verdadeiro, de uma enganação. Um contrato duvidoso de uma boa oportunidade de negócio. Uma amizade falsa de um amigo que realmente se importa com você.​ Ela ensina sobre o ciclo vida-morte-vida.

7º tarefa: Perguntar sobre os mistérios — ​esse é o momento em que Vasalisa faz perguntas à velha. Ela quer aprender mais sobre os ciclos, o ritmo pulsante, como é a cada anoitecer e a cada despertar. No

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caminho de ida, Vasalisa havia se deparado com dois cavaleiros, um todo vestido de vermelho e outro de preto, que funcionam representam a Noite e o Sol Nascente, a descida às sombras e a transmutação através do fogo, da vitalidade.

8º tarefa: De pé nas quatro patas — ​chegou o momento da nossa personagem fazer o caminho de volta e, assim como a mãe lhe deu um presente, Baba Yaga lhe dá uma caveira incandescente em uma vara. Agora, ela está acompanhada por essas duas forças, a da boneca e a da caveira, ​e passa a ver as situações de sua vida através dessa nova luz.

9ª tarefa: Reformular a sombra — essa é a última etapa dessa jornada. Mas cada final, também inicia outro começo. Vasalisa volta com o fogo e quando a caveira vê a madrasta e as irmãs, queima-as por dentro, reduzindo elas a cinzas. Aqui, há o reconhecimento da sombra negativa da psique, que no início da jornada torturava, aparecia pensamentos depreciativos. Agora, o fogo transmutador queimou esses aspectos negativos, dando lugar para que nasça algo novo.

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A luz que vem da caveira, irá apontar os medos, as falhas, as invejas, a posse, que existe tanto em nós quanto no outro. Muitas vezes não queremos encará-las, mas faz parte do processo de cura. Entender que somos sombra e luz habitando o mesmo corpo. Iluminando essa sombra, vamos curando. Mas como o próprio conto ilustra, é todo um longo processo, uma jornada espiritual. Ao final da história, a lição é aprender a deixar morrer. Aprender a ouvir a intuição para traçar os caminhos de volta até nós mesmas. Essa morte é inerente, inevitável. Mas, se aprendermos a como acessar a noite e depois construir o caminho de volta, o caminho do Sol Nascente, estaremos mais perto de nos integrarmos e curar essas feridas internas.

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esse zine é uma feitura de : priscilla scurupa​ bea lake​ mical kairós​ mugra​ nicole elis​ nathália jardini​ bruna motta​

​yasmin rocha ​felipa pinheiro ​ísis L. ​anna neura ​gabizira ​roberta barcelli ​eme podre

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giovanna silveira​

​keythe tavares

BEBA ÁGUA BEIJE SUA GAROTA XINGUE FASCISTA

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FIQUE VIVA! ATÉ LOGO <3

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