EDITORIAL
Ciência & Tecnologia A primeira edição da Revista Consciência, elaborada pelos acadêmicos do 6° período de Jornalismo da Faculdade Boas Novas de Ciências Sociais, Teológicas e Biotecnológicas, apresenta um conteúdo diversificado sobre Ciência & Tecnologia. A leitura da revista oferece ao leitor conhecimento sobre cura através de plantas medicinais, prevenção de doenças ósseas na terceira idade, câncer, homossexualidade, além de abordar sobre como portadores de hanseníase ainda sofrem preconceitos na sociedade, mesmo após a segregação de milhares deles no século XX, em Manaus, capital do Amazonas. Nesta edição o leitor conhece mais sobre programas de animação hospitalar realizada por voluntários em Manaus. A revista aborda também sobre o clampeamento tardio do cordão umbilical, com a proposta de mostrar como essa espera, que leva de um a três minutos após o nascimento, pode prevenir a criança de ter anemia na primeira infância. A matéria de capa vem com o intuito de conscientizar o leitor a cerca de um dos maiores problemas de saúde no Brasil: a obesidade infantil, onde 33,5% das crianças de cinco a nove anos apresentam excesso de peso, de acordo com a pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, realizada pelo Ministério da Saúde. Esta edição traz ainda entrevista ping-pong com o advogado Renildo Viana, acerca dos conflitos sociais dentro de questões ambientais e o direito à moradia. Já na seção coluna, o leitor encontra diversos conteúdos sobre Ciência & Tecnologia. E para fechar, encerramos com a reportagem sobre o quê os jovens estão fazendo na internet, numa abordagem nacional, com base numa pesquisa feita pela Fundação Telefônica Vivo em parceria com o Instituto Ibope, na qual contemplou jovens de todo o Brasil.
SUMÁRIO CURA NATURAL .........................................................................................................................04 DOENÇAS ÓSSSEAS NA TERCEIRA IDADE.................................................................08 ENTREVISTA PING PONG COM RENILDO VIANA..................................................12 HOMOSSEXUALISMO NA VISÃO DA CIÊNCIA..........................................................14 OBESIDADE INFANTIL...........................................................................................................16 CÂNCER DE PELE.......................................................................................................................20 CÂNCER HEREDITÁRIO........................................................................................................24 PRECONCEITO COM HANSENIANOS............................................................................28 EMPATIA COM PORTADORES DE CÂNCER E HIV..................................................34 CLAMPEAMENTO TARDIO DO CORDÃO UMBILICAL........................................38 NOTAS SOBRE C&T....................................................................................................................41 JUVENTUDE CONECTADA....................................................................................................42
EXPEDIENTE COORDENAÇÃO: Raphael Cortezão ORIENTAÇÃO: Glaúcia Chair EDITOR: Mayrlla Motta DIAGRAMAÇÃO: Ayane Souza REPÓRTERES: Darilene Aguiar, Dayane Dias, Edlane Mendes, Fernanda Lima, Gessiane Garcia, Jane Coelho, Jhonata Marques, Karen Lane, Kátia Guedes, Karina Silva, Milena Soares. FOTOS: Pixabay, Shutterstock, Agência Brasil e Reprodução/Internet
ARTIGO
A insuficiência do jornalismo em C&T no AM Por Mayrlla Motta O jornalismo científico é uma das ferramentas para se divulgar a ciência. De acordo com Claúdio Bertolli Filho, no artigo “Elementos fundamentais para a prática do Jornalismo Científico”, o gênero segue os mesmos pressupostos do jornalismo comum, na qual preza pela relevância social e segue também os critérios de classificação de noticias. Essa produção de jornalismo científico, caracterizada pela temática em Ciência &Tecnologia, é insuficiente no Estado do Amazonas. Um exemplo disso pode ser constatado através do número de publicações sobre o tema no jornal Amazonas Em Tempo – veiculado em Manaus, no período de 10 de agosto a 10 de setembro de 2016. Durante esse tempo foram avaliadas diariamente as publicações do periódico e o resultado foi alarmante. De 806 matérias e reportagens publicadas no standard, somente 23 abordavam conteúdo de Ciência & Tecnologia. Desse total, apenas seis eram assinadas pelo repórter. O que fez crer que as demais eram releases e ou o repórter não quis se identificar, no entanto, a primeira opção é mais plausível, visto que no mesmo período, as matérias veiculadas no jornal também circulavam em outros veículos da capital amazonense. Quanto à baixa publicação sobre o tema, o artigo de Bertolli (2016), explica que muita coisa influencia nessa produção de notícias cientificas. Segundo o autor a cobrança social, o conhecimento do editor e a linha política da empresa são uma delas. Além do mais, o autor destaca que o próprio jornalista tem preconceito com os setores da ciência.
De acordo com Bertolli (2006), nos cadernos, revistas e periódicos, as ciências exatas e da saúde, comumente tem mais espaço, comparado com ciências humanas, por exemplo. E essa constatação não foi diferente na avaliação do jornal Amazonas Em Tempo. Grande parte das matérias contemplava física, matemática, medicina e engenharia. 12 delas abriam a página do jornal, seis vinham no rodapé, quatro se encontravam no lado superior direito e somente duas estampavam a capa do caderno. As matérias
Krieghbaum (1970), Warren Burkett (1990) e Alton Blaskeslu (1996), seguidos pelas empresas de comunicação: impacto, interesse humano e proximidade. Apesar disso, é possível observar ainda que, o conteúdo veiculado no jornal, infelizmente não segue algumas recomendações para o jornalismo científico. Isso se dá através da constatação que das 23 matérias, somente três possuíam questionamentos. Ou seja, as outras vinte deixaram o lado do cientista como verdadeiro e imutável. Diante disso, podemos des-
eram encontradas nas editorias dia-a-dia. Um dos exemplos das publicações é a matéria com título “Sobrepeso já é maior que a subalimentação no AM”, publicada no dia 21 de agosto de 2016. A matéria, assinada, trazia aos leitores o que é recomendado para o jornalismo em C&T: o contraponto. O material jornalístico apresentou cinco fontes com posições diferentes a cerca do assunto abordado. Além de obedecer aos critérios estabelecidos por Hiller
tacar a deficiência que caminha o jornalismo em C&T no AM. O capitalismo movimenta as empresas. Sendo assim, é de interesse que o produto dela saia do jeito dela nos veículos de comunicação. E é justamente isso que o jornalista deve quebrar. É preciso ter senso crítico para derrubar os estereótipos, afinal o profissional exerce uma profissão que visa à sociedade, e, portanto, deve adotar a postura de confronto, já que as pessoas tendem a acreditar no que é veiculado pela imprensa.
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Cura natural A COPAÍBA NO TRATAMENTO DE INFLAMAÇÕES Por Edlane Mendes
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ão é à toa que a floresta Amazônica é conhecida como uma farmácia viva. Não há segredo. Apenas uma diversidade de plantas no meio da floresta que servem para tratar e até curar muitos tipos de doenças. Dentre tantas ervas, plantas e seivas com propriedades medicinais, ganha destaque a copaíba, utilizada há muitos séculos pelas populações tradicionais amazônicas como um poderoso remédio no tratamento de inflamações. Diante dos resultados visivelmente positivos, a ciência passou a estudar nos últimos anos as propriedades do óleo extraído do tronco dessa espécie de árvore, a Copaifera multijuga Hayne, e tem obtido resultados animadores. Foi com base no uso popular, e que posteriormente tornou-se produto comercializado, é que pesquisadores passaram a desenvolver um estudo sobre o tratamento de doenças baseado em seus princípios ativos. Uma prova de que ciência e saber tradicional popular, quando compatibilizados, só trazem benefícios à população.
Árvore genuína Na obra “Essências da Amazônia”, série de pesquisas escritas por Lauriene Nakai Rodrigues Faraco, a autora afirma que o óleo vem sendo utilizado desde o século XVII. “Os primeiros médicos residentes no Brasil utilizaram, e a copaíba foi considerada uma das dez árvores genuinamente brasileiras mais úteis na medicina”, descreve a engenheira florestal que estudou essas espécies de plantas geradoras de óleos e resinas durante a graduação e aprofundou as pesquisas durante meses ao qual reuniu os resultados do estudo em seu livro, publicado em 2009. “Quanto ao uso do óleo como remé-
dio o que posso testemunhar é que comprovei de fato sua eficácia como cicatrizante e também como anti-inflamatório, o que colabora com diversas informações amplamente divulgadas”, completou a especialista.
Estudos comprovam O professor Valdir Veiga, coordenador do departamento de química da Universidade Federal do
Na obra “Essências da Amazônia”, série de pesquisas escritas por Lauriene Nakai Rodrigues Faraco, a autora afirma que o óleo é utilizado desde o século XVII. “Os primeiros médicos residentes no Brasil utilizaram, e a copaíba e ela foi considerada uma das árvores mais úteis na medicina”, disse. Amazonas (Ufam), tem diversos trabalhos publicados sobre pesquisa com a copaíba e conta que os estudos já têm aproximadamente 25 anos. Mesmo sendo reconhecida por sua eficácia e utilizada pela maioria dos amazonenses para o tratamento de várias doenças, o especialista alerta. “Os óleos de copaíba possuem diferenças naturais, que fazem com que nem sempre todos os óleos sejam ativos para todos os males. Há também a questão da adulteração e diluição do óleo, que são realizados com frequência. Os estudos que estamos realizando visam contribuir para o uso mais eficaz desse importante recurso natural”, explicou Veiga. Nas bancas de feiras ou até mesmo em algumas esquinas do Centro de Manaus é possível encontrar mercados variados de ervas ou plantas medicinais que são vendi-
das para curar algum tipo de doença. A copaíba sempre está em evidência nesses locais. “Não uso, mas vendo muito e acho que funciona, porque as pessoas que usam sempre voltam a comprar. Antigamente, vendia muito mais, era uma mesa só para esses produtos, o óleo de copaíba e a andiroba, que também é bastante procurada”, disse a feirante Maria de Fatima,55, que trabalha com produtos naturais há 25 anos. “É como um remédio indicado pelo médico, tem que tomar direito e mais de uma vez, porque as pessoas acham que só uma dose já é suficiente para curar e não funciona assim. Para dar certo, tem que ser utilizado por um determinado período”, alerta a feirante. “É bom, barato e dura. Uso três pequenas gotas todas as noites na garganta antes de dormir, pois ajuda a manter minha garganta limpa e saudável”, disse a cantora Marina Lima ,33, que sofria com inflamação nas amígdalas.
Eficácia estampada nos livros A árvore de copaíba é encontrada em diversas áreas da Amazônia e, consequentemente, tem tamanho e propriedades diferentes em cada região. Na história amazônica, o uso da copaíba já era bastante difundido antes mesmo de os primeiros sinais da ciência conhecerem o solo da região: quando os portugueses chegaram no Brasil, os índios brasileiros já utilizavam o óleo de copaíba para tratar infecções.
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Em seu livro, a pesquisadora Lauriene garante ainda, que a copaíba já é vendida em farmácias, como remédio medicinal contra dermatose, infecção na garganta, cicatrizante e de feridas e úlceras, dentre outras funções. “Até a publicação do meu livro em 2009, o Brasil era o maior produtor e exportador de copaíba. Na época, as exportações eram de aproximadamente 100 toneladas por ano. O óleo é muito comercializado até hoje nas cidades amazônicas, tanto brasileiras quanto bolivianas”, afirma.
Falta inclusão nas farmácias Em contrapartida, o professor Valdir Veiga fala das dificuldades do óleo da copaíba estudada por ele, ainda não ter, de fato, se tornado um antiinflamatório incluído nas prateleiras das farmácias. Ele conta que os pesquisadores ainda não chegaram em um produto final e o apoio do Governo é essencial para que a pesquisa seja concluída. “Há muito tempo o Governo não investe e as pesquisas funcionam com a ajuda de materiais utilizados em outras pesquisas em andamento, por isso, há diversas dificuldades. Uma delas é a falta de incentivo de verbas para a comprovação”, disse Veiga. A iniciativa privada – indús-
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trias do ramo de medicamentos só investirá em patentes para efetivamente colocar o produto no mercado quando os resultados forem conclusivos. Até lá, o pesquisador enxerga um longo e árduo caminho a percorrer. “São anos de pesquisas. Não há, atualmente recursos públicos para a execução dos estudos com a copaíba em nosso laboratório na Ufam.
“Dia desses voltei do interior toda picada por mosquitos e como sou alérgica inflamou. Imediatamente passei o óleo, pois para mim é um santo remédio”, Rosilene Douranth O último projeto, realizado pela Rede Amazônica de Pesquisa e Desenvolvimento de Biocosméticos (Redebio), foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas Fapeam (Fapeam) e já foi encerrado a mais de três anos”, desabafou o professor. Enquanto isso, a dona de casa Maria Luísa,72, que já usa o óleo da copaíba há muitos anos, garante que comprou na drogaria. “Faz bem, e como já sou idosa, tomo para dores nos ossos, mas é amargo e por isso, prefiro comprar em cápsulas
na drogaria”, disse. A recepcionista Rosilene Douranth, de 34 anos, trabalha em um renomado hospital de Manaus e, mesmo lidando todos os dias com a medicina tradicional, prefere o uso da copaíba sempre que apresenta algum tipo de inflação, salvo em casos mais graves. “Dia desses voltei do interior toda picada por mosquitos e como sou alérgica, inflamou. Imediatamente passei o óleo, pois, para mim é um santo remédio”, contou a recepcionista. Pesquisadores relatam que apesar da extensa literatura sobre os óleos-resina do gênero Copaifera, poucos são os artigos nos quais se encontra a identificação botânica da espécie estudada. Assim, se torna impossível proceder uma comparação entre os diversos resultados, visto que os dados químicos encontrados em uma espécie podem ser completamente diferentes em outra. Os investigadores demonstraram existir diferenças nas características químicas do óleo proveniente de diferentes espécies e até mesmo no âmbito de uma mesma espécie. Segundo eles, é necessário, antes, conhecer a variabilidade da composição química das Copaiferas para, só depois, utilizar o óleo-resina como matéria prima para medicamentos e cosméticos.
Vilã da terceira idade Na terceira idade, a incidência de doenças ósseas é bem maior, tanto nos homens, quanto nas mulheres. Entre as “vilãs”, a Paget é uma reformulação óssea que causa dor inconsolável. Essa doença afeta frequentemente os ossos longos, a coluna vertebral e o crânio. Por: Karen Lane Souza
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doença óssea é uma das vilãs que mais acomete grupos de terceira idade. Essa doença pode ser congênita ou degenerativa. Apesar disso, existem tratamentos utilizando terapia farmacológicas e mudança na alimentação, seguido de exercícios físicos. Na terceira idade a existência de doenças ósseas é maior, e elas podem causar dores intensas e incapacitar os idosos. Algumas pessoas podem nascer com uma espécie de doenças óssea, resultantes de um genes defeituoso ou até mesmo erros inatos produzidos pelo próprio metabolismo fragilizando os ossos, uma parte integrante da anatomia de um processo esquelético do corpo humano. Pesquisa de diagnóstico laboratorial e monitoramento das doenças osteometabolicas realizada por Jose Gilberto Henriques Vieira, apresenta a evolução recente mais acelerada que os diagnósticos e monitoramento das doenças. Os ossos são compostos de um tecido metabolicamente ativo com duas funções básicas para o organismo, uma mecânica e outra bioquímica, em função disso e seguindo vários sistemas
de controle permitindo sofrer um processo continuo de renovação e remodelação.
Doenças comuns e incomuns A Paget é um processo de remodelação óssea anormal que deforma, afeta os nervos e causa dor inconsolável. Essa doença é conhecida por um grupo pequeno da população. Ela afeta frequentemente os ossos longos, coluna vertebral e o crânio. O artigo “doença de Paget: relato de casos em relação ao diagnostico diferencial”, desenvolvido por Gisela Grandi, Marconi Santos, Hedelson Borgese e Manoel Filho, descreve que a doença também pode ser conhecida como Osteíte Deformante uma condição patológica não inflamatória caracterizada pelo aumento de remodelação óssea de forma irregular e desorganizada. Inicialmente descrita por James Paget, em 1876, essa enfermidade crônica caracteriza-se pela hipertrofia aos ossos deformidades e adores focal. Para o pescador Almir Trindade, 77 anos, morador da comunidade Autaz Mirim, na zona rural de
Inicialmente descrita por James Paget, em 1876, essa enfermidade crônica caracteriza-se pela hipertrofia aos ossos deformidades e odores focal.
Manaus, aceitar a doença não foi fácil. A descoberta da Paget surgiu quando um acidente na pescaria se tornou causador de uma pequena lesão em sua perna esquerda, provocando reações inexplicáveis: dor óssea, inchaços, fadiga e fraqueza. Para o pescador, a situação já estava agravada por falta de um tratamento imediato, transformando a Paget em um câncer. Por sua vez espalhou-se pelo corpo inteiro, desenvolvido por tumores malignos como o osteossarcoma e condrossarcoma originados pelo próprio osso, afetando o fêmur e necessitando a amputação de imediato. Hoje o Almir luta para evitar que a doença alcance seu cérebro, através de um tratamento rígido com apoio de sua esposa Fane Emiliano juntamente a o s s e u s f i l hos.
Pesquisas Segundo o estudo “Osteossarcoma e condrossarcoma – diferenciação radiográfica por meio da tomografia computadorizada” desenvolvido por Patricia Tossato, Amanda Pereira e Marcelo Cavalcanti, a Osteossarcoma é uma neoplasia maligna de ossos longos, afetando frequentemente o fêmur distal e a tíbia proximal, com grande incidência de metástases. Esse tumor ósseo caracteriza-se pela produção de tecido osteoide e osso imaturo que se prolifera através do estroma celular 15, um tumor ósseo primário mais comum e afeta, principalmente, adultos e jovens. Diferente do osteossarcoma, o condrossarcomas, neoplasias malignas que possuem uma prevalência de 5% a 12% na região da cabeça e pescoço. Eles podem ser originários da cartilagem, osso endocondral ou tecido mesenquimal associado com a base do crânio e meninges a região de cabeça e pescoço, a lesão ocorre, principalmente a base de crânio e frequentemente envolve a região principal. As regiões mais afetadas são as articulações e o crânio A cavidade nasal, maxila e mandíbula podem estar envolvidas na descoberta da doença que podem ocorrer por uma série de razões em que, alguns ossos são duros e compactos, outros podem ser leves e porosos, causador de danos futuros para a cartilagem de forma rígida dentro da moldura.
Outros dramas
Almir Trindade ao lado da esposa Fane Emiliano.
Para a dona de casa Maria Angélica, 60 anos, portadora da osteoporose uma doença caracterizada por uma perda gradual de densidade mineral, aceitar a doença não era seu objetivo. Ela conta que quando teve a doença
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diagnosticada por um ortopedista, decidiu praticar exercícios físicos parar sair do sedentarismo e ter uma velhice mais saudável. Um artigo produzido por Michel Yazbek e João Francisco Marques “Doenças osteometabólicasOsteoporose e outras doenças osteometabólicas no idoso”, explica que a osteoporose é a doença osteometabólica mais frequente no paciente idoso. Acomete a ambos os sexos, sendo mais frequente na mulher, já que, no climatério, a diminuição dos níveis estrogênicos precipita as perdas de massa óssea. Os homens são acometidos por outros mecanismos, ligados essencialmente ao envelhecimento. Neles, a diminuição progressiva do calcitriol e da absorção intestinal de cálcio levam a um aumento do paratormônio (PTH), o que justifica a instalação da doença no sexo masculino. Após dez anos de menopausa instalada, a maioria das mulheres diminui o seu ritmo de perda óssea. Entretanto, aquelas que desenvolveram a enfermidade mantêm um ritmo mais acelerado de perdas, o que corresponde a um aumen-
O que comer ? - F o l h a s Ve r d e s c o m o agrião, espinafre, couve e etc. - Leite e derivados - Gema de ovo, sardinha fresca, feijão e ervilha. - Frutas e verduras - Consumir alimentos com alto teor em vitamina D, como manteiga, salmão e queijo prato. -Óleo de figado de peixe e de bacalhau.
Deve-se evitar Nutricionista Jaqueline Cunha.
to considerável do risco de fraturas. Para melhorar a postura Maria Angelica passou a praticar alongamentos, musculações, caminhada, pilates e hidroginástica com auxilio da Educadora em educação física Tanamara Oliveira.
Doenças ósseas na infância “Na juventude é possível praticar varias modalidades evitando
- Fumar - Ingestão de bebidas alcoólicas - Alimentos ricos em cafeína, como refrigerantes
Recomendações - Tomar banho de sol - Praticar exercícios físicos regularmente.
Maria Angelica (dir.) passou a praticar exercicios físicos com apoio da educadora física Tanamara Oliveira (esq.)
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o alto rendimento, o causador de lesões dependendo de sua pratica, as modalidades sugeridas inicialmente para essa faixa etária são os esportes como natação queimada, vôlei, futsal entre outros”, disse. Então para evitar problemas a dica é simples: ter uma vida ativa é essencial para combater as diversas doenças, mudanças de humor, noites tranquilas e favoráveis para manter o corpo mais apresentável.
Alimentação ajuda Todo esse processo requer uma boa alimentação. A nutricionista Jaqueline Cunha explica como o cálcioe vitaminas ajudam nesse processo. “O cálcio é um micronutriente essencial para a mineralização dos ossos e dentes, a vitamina D, é exclusivamente sistematizada na pele, destacandose o aumento da absorção intestinal de Ca”. Além da informação da nutricionista, a vitamina D pode ser adquirida pela dieta entre 10% e 20% das necessidades fisiológicas que pode ser importante para indivíduos idosos e pessoas impossi-
Preocuapções e estresse favorecem a doença
bilitadas por patologias ou condições climáticas de se expor a o s o l , a s p r i n c i pa i s f o n t es dietéticas são a vitamina D3 (cole calciferol de origem ani-
mal, presente nos peixes gordurosos de água fria e profunda como atum e salmão ) e a vitamina D2 ( ergosterol de origem vegetal presente nos fungos co m e s t í v e i s ) .
O apoio familiar ajuda antes e durante o tratamento/ Foto: Divulgação
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ENTREVISTA
com
RENILDO VIANA, ADVOGADO
A pesquisa sobre Direito à moradia é resultado de uma dissertação de mestrado em Direito Ambiental, do advogado e mestre professor Renildo Viana, pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) entre os anos de 2006 e 2008. Por Jane Coelho
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e um lado, o direito à moradia de milhares de pessoas que, historicamente, ocuparam as margens dos igarapés de Manaus por diversos motivos. De outro lado, a política de intervenção do Estado para eliminar desses lugares da cidade as palafitas, que representavam sob a ótica da administração pública e de parcelas da sociedade como um lugar feio, violento, sujo, onde todos eram potencialmente vistos como marginais. Foi essa divergência de valores e de compreensão do que é Direito Constitucional do cidadão que levou o advogado, mestre em direito ambiental, professor Renildo Viana, a desenvolver estudos sobre os conflitos sociais que envolviam a questão ambiental e também verificar as implicações nos direitos a moradia das famílias do igarapé da Cachoeirinha afetadas pela execução do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim). Qual a finalidade de sua pesquisa? RV - Fazer uma reflexão de qual é o papel do direito ambiental no
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desenrolar dos conflitos socioambientais urbanos, a partir dos estudos da intervenção do Governo do Estado nos igarapés de Manaus, em especial na área do igarapé da Cachoeirinha, entre as ruas Codajás e Tefé, onde foi possível observar a mobilização de distintos discursos ambientais, que se antagonizaram, explicitando o conflito ali existente. Quais seriam esses conflitos mencionado na sua pesquisa? RV - São os conflitos socioambientais urbanos que constituem um "novo" tipo de conflito social, cuja a origem está ligada à apropriação do discurso ambiental pelo Poder Público e por
diversos agentes sociais como argumentos para a defesa e a promoção dos interesses que se encontram em jogo. Como exemplo, nesse caso, a ação do Poder Público para defender o meio ambiente versus os interesses dos moradores pela necessidade de moradia digna. O que motivou você a realizar o estudo das
consequências sociais e dos direitos das famílias afetadas pelo Prosamin nessa localidade? RV - Eu já conhecia a história de sofrimento e de atuação dos moradores daquele local por melhores condições de moradia. Muitos não sabem, mas essa região foi a primeira a receber o Prosamim em todo o Amazonas. Como advogado, fui convocado várias vezes pela igreja católica a contribuir voluntariamente na defesa dos direitos dos moradores durante as negociações com o Governo do Estado. Naqueles anos, foi a única resistência organizada de moradores contra a forma, de certa maneira nada democrática, de como o Prosamim estava sendo desenvolvido. E o que a resistência dos moradores teve de relevância para a escolha desse lugar para realização de sua pesquisa? RV - No caso me interessava o estudo de conflitos socioambientais, e aquela situação vivida pelos moradores, por um acaso, representava exatamente um conflito social que envolvia a questão ambiental. Pensei: esse é o objeto de estudo ideal que procuro. No seu trabalho você discute a ideia de que o meio ambiente é de interesse difuso, de toda a sociedade. Isso é verdade? RV - Não. A minha
análise a partir dos teóricos do direito ambiental e de autores que discutem a questão ambiental de uma forma geral, é que o meio ambiente não tem o mesmo significado e importância para todos. Parcelas da sociedade percebem a questão ambiental de forma diferente. Por isso é de interesse difuso, ou seja, que todos estariam concordando com a sua defesa. Se não há um interesse difuso, como o meio ambiente é usado pelos grupos sociais e pelo Estado? RV - A questão ambiental a partir dos anos 1970 começou a fazer parte dos discursos desde o capital até os movimentos sociais. No caso do Prosamim, a questão ambiental foi usada como argumento pelo Estado como pretexto para retirar da área central da cidade comunidades inteiras que residiam em palafitas e que eram tidos como um problema social e ambiental. Essa ideia de que as comunidades pobres são um problema de ordem ambiental vem sendo utilizado em diversos lugres do Brasil. O discurso ambiental também serve como meio de evitar o avanço de favelas para outras áreas da cidade que são de interesse do capital imobiliário ou da classe social dominante local. E os moradores dessas áreas também usam a questão ambiental em seus discursos? RV - O estudo no local revelou que não. Não de forma consciente, como o Estado fez. Mas quando os moradores opunham a ideia de drenagem do igarapé contra a ideia de revitalização do igarapé não só opunham duas formas diferentes para tratar o igarapé sob o
ponto de vista do saneamento, mas opunham a visão reassentamento dos moradores para outro lugar da cidade. Portanto, mesmo não usando claramente e forma deliberada a ideia de proteção ambiental, os moradores do igarapé da Cachoeirinha usaram em seu discurso o meio ambiente sob o ponto de sua perspectiva. Então de fato houve um conflito ambiental entre os moradores e o Estado? RV - Sim, houve, porque o pano de fundo desse conflito envolvia questões ambientais, conflitos de perspectivas de como os atores percebiam o mesmo problema. Essa percepção não se dava apenas no plano do confronto de ideias, mas de consequências concretas. Era a diferença em permanecer em lugar da cidade onde “tudo” era perto ou ser deslocado para lugares distantes da cidade, onde nada funcionava. Com relação as questões ambientais o Prosamim cumpriu a função para a qual foi criado? RV - Depende. Do ponto de vista do Estado, sim. Do ponto de vista da melhoria das condições de vida dos moradores dos igarapés, nem tanto. O programa previa, por exemplo, que as famílias deveriam ser deslocadas para no máximo 1.500 metros de raio de suas residências originais. No caso do lugar onde estudei somente alguns moradores foram reassentados com base nesse requisito. Muitos foram deslocados para partes da cidade que não apresentavam serviços públicos suficientes para receber as pessoas, onde o abastecimento de água, por exemplo, não existia de forma adequada, como ocorria no conjunto Nova Cidade, zona norte, para onde centenas de famílias do igarapé da Cachoeirinha foram deslocados.
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HOMOSSEXUALIDADE
O que diz a ciência?
A homossexualidade do ponto de vista científico ainda gera controvérsias. Especialistas divergem sobre as causas. Por Karina Silva
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homossexualidade é um assunto discutido no meio científico. Especialistas de diversos campos, das ciências biológicas às ciências humanas, buscam uma explicação, já que afinidade pelo mesmo sexo, existe até mesmo no mundo dos animais irracionais. Prática que existe desde a préhistória, há referências à homossexualidade tanto em pictografias, como em hieróglifos de culturas antigas, estudadas pela Antropologia. Também há relatos de práticas homossexuais tanto na arte como na literatura grega. São célebres as poesias da poetisa grega, Safo, da ilha de Lesbos, direcionadas a seus romances lésbicos. Também é possível encontrar referências ao assunto, na prosa do filósofo Platão. Longe das explicações científicas para o assunto, a maioria das pessoas ainda preferem exibir concei-
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tos morais ou religiosos para condenar a homossexualidade. A dona de casa Ruth Ferreira não aceita, para ela não condiz à normalidade das relações. “Para mim é algo fora do normal. Jamais será comum como muitos querem que seja”, opina. Para o estudante Adailton Januária, é uma questão de busca à felicidade. Ele explica que as pessoas devem procurar serem felizes como são. “Vivemos em uma sociedade moderna. Se a pessoa se sente feliz vivendo desta forma, então que seja”. Condenada por muitas culturas no passado, o preconceito contra
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“Vivemos em uma sociedade moderna e se apessoa se sente feliz vivendo assim, então que seja.”
essa prática resiste ao tempo, embora a prática seja mais aceita na atualidade, com o surgimento de novas leis que começaram a privilegiar direitos das minorias. A reprovação, no entanto, também atravessou séculos. Os hebreus, egípcios e assírios, por exemplo, possuíam leis que iam contra as práticas homossexuais, em registros datados de 1750 a.C. Pesquisas científicas no campo da endocrinologia já tentaram explicar a homossexualidade como sendo um distúrbio das glândulas sexuais. Essa afirmação partiu de argumentos do médico russo Tarnowsky e do inglês Havelock Ellis. Segundo o estudo, as glândulas que produzem os hormônios masculinos ou femininos na corrente sanguínea, interagem com o sistema nervoso. Quando há desregulação nessa troca de fluídos pode haver um distúrbio hormonal, que muda os caracteres femininos ou masculinos. De acordo com o endocrinologista
Frederico, o nível de hormônios, no entanto, não reflete à opção sexual. “São apenas características do corpo e do desejo sexual, não está associado a que lado (masculino ou feminino), o desejo sexual será direcionado”, explica. Um caso recente sobre o assunto que repercutiu mundialmente foi o da filha da atriz Angelina Jolie. Com apenas oito anos de idade, de acordo com os próprios pais, a criança se comporta como um menino. O caso revela o comportamento de uma criança transexual, assunto que começa a ser debatido, após muitos pais observarem tal comportamento em crianças de várias partes do mundo, o que se tornou mais visível após reportagens ou relatos em mídias sociais. A antropóloga Marcia Regina Calderipe Farias Rufino, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), desenvolve projetos em temas como gênero, processos de globalização e urbanização. “A questão homossexual envolve uma luta que já ocorre desde os anos 60, onde houve todo um universo de agressões contra os homossexuais. É necessário deixar bem claro que na verdade não é o sexo que define a sexualidade do ser humano, mas seu próprio gênero.”
“A questão homossexual é uma luta que já ocorre desde os anos 60, onde houve todo um universo de lutas contra os homossexuais. É necessário se deixar bem claro que na verdade não é o sexo que define a sexualidade do ser humano, mas seu próprio gênero.” O psicanalista Henrique Silva explica que, do ponto de vista da psicanálise, quando se fala em homossexualismo, está se referindo apenas à identidade sexual do ser humano, algo que não está ligado ao “Sexo biológico”. “É preciso compreender que a sexualidade de uma pessoa deriva de processos de identificação em meio ao ambiente, à família e a base anatômica. É importante recuperar a tese que aponta a ideia de uma bissexualidade psicológica universal, bastante enfatizada por Freud ainda em fins do século XIX, ou seja, segundo esses estudos todos os seres humanos seriam bissexuais”, explica. O especialista disse ainda que a questão da sexualidade é inerente à pessoa. “Quero deixar claro que a questão da sexualidade não é ‘aprendida’ pela criança, não é ‘ensinada’ pelos pais. Ela é fruto de identificações, daquilo com o que
a criança se depara em sua própria vivência familiar, na relação com os pais e outros fatores. Encarar o homossexualismo como doença é desconhecer que esses processos de identidade sexual são tão antigos quanto à própria existência humana. A homossexualidade não resulta de aspectos hereditários, genéticos. Ninguém aprende ou escolhe ser homossexual. Também não se trata de uma falha de educação familiar”, explica. Distante das discussões científicas ou filosóficas sobre o assunto, o fato é que um grande número de homossexuais ainda busca respostas para seus enigmas pessoais. O estudante Leandro disse que muito cedo já sabia o que era. “Eu me descobri entre seis a oito anos. Fui percebendo que eu era diferente dos outros meninos. Meu comportamento e minhas preferências eram de uma menina. Chamei a minha mãe para conversar, ela tentou me entend er, e decidimos não falar para o meu pai, já que ele sempre foi muito ausente. Eu desconheço o amor paterno, mas não culpo a minha opção sexual por isso. Não sei de onde veio e porque veio, mas o fato é quenãofoiuma escolha”, concluiu.
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Crianças s Crescimento epidêmico do excesso de vez mais frequente na infância. Por Gessiane Garcia
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ast-foods, alimentos açucarados e gordurosos e principalmente: falta de informação dos pais em relação aos fatores que levam os filhos ao sobrepeso. Esses ingredientes fazem parte de um dos maiores problemas de saúde do Brasil: a obesidade infantil. Novas gerações nascidas em uma realidade na qual o ritmo de vida é acelerado preferem uma alimentação mais rápida, sem dar importância ao valor nutricional. O malefício que as propagandas geram e a predisposição das novas gerações de serem ainda mais obesas são apontados como fatores prejudiciais à saúde dos pequenos. Essa é a realidade que aborda o documentário “Muito Além do peso”, lançado em novembro de 2012, com direção de Estela Renner, Com depoimentos de especialistas do Brasil e do exterior em diversas áreas do conhecimento, com histórias reais e alarmantes, ele discute por que 33 % das crianças pesam mais do que deviam. No Brasil, 33,5% das crianças de cin-
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co a nove anos apresentam excesso de peso, de acordo com a pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, realizada pelo Ministério da Saúde. Um estudo realizado pela Universidade Católica de Brasília (UCB), em parceria com o Programa de Estudo e Vigilância Nutricional Escolares (Previne), em 2000, na escola privada no campus universitário da UCB, que atende crianças de classe média e media alta da cidade de Taguatinga, no Distrito Federal aponta isso. O número de estudantes é de cerca de 2.500, que corresponde a aproximadamente a 2,1% dos estudantes de escolas privadas da capital nacional. O estudo avaliou 452 escolares, sendo
203 do sexo masculino e 249 do sexo feminino, na faixa etária de 6 a 10 anos de idade. A pesquisa revelou a prevalência de sobrepeso e obesidade de 21,1% nos meninos e 22,9% nas meninas. A adiposidade, que é o acumulo de gordura nos tecidos, diferiu na comparação das demais. Nas crianças com sobrepeso e obesidade, a adiposidade correlacionou-se diretamente com o tempo de permanência sentado e inversamente com as horas de sono. A ocorrência foi maior nas
sob alerta peso é cada
crianças cujas mães tinham menor escolaridade. Em Manaus, o estudante da rede pública de ensino Eduardo Lemos, de 11 anos, diz que não se interessa por atividades físicas devido a seu condicionamento físico e nem se alimenta corretamente durante as refeições diárias. “De manhã quando vou para a escola, sempre levo como lanche, biscoitos recheados, pão de queijo e salgados. Não gosto de comer frutas e no almoço como pouco.
Prefiro comer doces do que comer verduras e legumes. Na aula pratica de Educação Física, eu começo a jogar bola e logo me canso, por isso fico sentado, olhando os outros colegas jogarem”, contou o garoto. Segundo a mãe, a dona de casa Maria Auxiliadora Lemos, Eduardo está com sobrepeso e já foi orientado por profissionais de saúde a seguir uma dieta alimentar e a praticar esportes. “Eu preciso incluir frutas, verduras e legumes na alimentação do meu filho, mas ele não gosta. Está muito difícil esse começo de reeducação alimentar, pois ele chora para comer doces e salgados e como temos um ponto comercial em casa, fica mais fácil para ele consumir esses tipos de alimentos”, relatou. Para a nutricionista Fernanda Soares, a família tem papel fundamental na mudança de hábito alimentar da criança. “Os pais precisam ter consciência do problema de saúde. Assim será mais fácil para a criança aderir um bom hábito alimentar. O sucesso para uma boa reeducação alimentar começa com mudanças simples co-
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mo: diminuir o sedentarismo e aumentar brincadeiras com movimentos, não fazer dieta muito rigorosa e restritiva, incentivá-los nas preparações das refeições” explicou. O exagero no consumo de alimentos e a falta de atividades físicas também fazem parte do cotidiano do estudante Felipe Cavalcante. Segundo a mãe, a Bancária Joelma Cavalcante, o filho possui uma alimentação abrangente, porém dá preferência a produtos industriais, originados de propagandas midiáticas. “O problema dele é que come tudo em exagero, até degusta frutas, mas impõe condições para isso. A pediatra o recomendou práticas de exercícios físicos, porém ele prefere passar tempo jogando videogame e assistindo TV”, disse a mãe. Outro estudo realizado pela Universidade Federal de Campinas, em 2010, intitulado “Influência da mídia no comportamento alimentar de crianças e adolescentes” cita que, segundo a revisão sistemática elaborada pelo Comitê de
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Publicidade de Alimentos e Dieta de Crianças e Jovens do Instituto de Medicina dos Estados Unidos, existem fortes evidencias de que a propaganda televisiva influencia as preferências, os pedidos de
56%
dos bebês tomam refrigerante frequentemente antes do primeiro ano de vida compra e as opiniões sobre alimentos e bebidas e por parte das crianças na faixa etária de dois a 11 anos. O mesmo artigo aborda na proposta sustentada pelos estudos desenvolvidos do comunicador
norte americano da área infantil da Universidade de Chicago James McNeal, arquivado em seu livro “Children as constumers of commercial and social products”, publicado no ano 2000. Seu estudo pressupõe que o desenvolvimento do consumidor na infância está dividido em cinco estágios. O primeiro é a observação: nos dois primeiros meses a criança faz sua primeira visita a um estabelecimento comercial; o segundo, o pedido: aos dois anos a criança pede o produto sendo observado, por meio de gestos e palavras; o terceiro, a seleção: a criança com três anos e meio remove sozinho produtos das prateleiras; o quarto são as compras assistidas; com cinco anos e meio faz a primeira compra do produto desejado, com assistência dos pais; e o ultimo estágio refere-se a compra independente: crianças de oito anos
de idade realizam o ato de comprar por sua conta, independentemente da presença dos pais. Para o sociólogo Francinézio Amaral, mestre em sociologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o governo, as empresas publicitárias e as suas propagandas harmonizam uma ideia de agradar o consumidor em desenvolvimento. “De modo geral, fica nítido que, no Brasil, existe uma espécie de acordo entre órgãos governamentais, das empresas de publicidade e propaganda e as empresas de mídia, ou seja, entre o Estado e o mercado, para que não haja nenhuma preocupação com a regulação da publicidade”, criticou. Ele argumenta que o objetivo dessa espécie de ‘acordo’ é fidelizar os indivíduos que ainda não tem a capacidade de discernimento totalmente desenvolvida. Por outro lado existe o aspecto sócio-psicológico da obesidade infantil que abrange não apenas a estética, mas também os fenômenos sociais na vida de uma criança. É o que explica a psicóloga especializada na área infantil Zenilde Ferreira. “O aspecto estético da obesidade pode está ligado aos fenômenos psicossociais, no que se refere a mídia, que hoje dita muito dos hábitos alimentares, por meio de propagandas estimulantes ao público infantil, fornecendo alimentos como
Sociólogo Francinézio Amaral
O que os Brasileirinhos comem? 80% Consomem açúcar acima do nível recomendado pelos nutricionistas
89%
consome uma quantidade de gordura acima do nível recomendado
82% consome uma quantidade de fibras abaixo do nível recomendado Fonte: Pesquisa do IBGE em 2011 com crianças de 10 a 13 anos
refrigerantes e doces, e muitas famílias abandonam o hábito da alimentação caseira pelos famosos fast-foods”, disse a psicóloga. Zenilde defende a conscientização da família como arma para combater esse problema que atinge boa parte das crianças. “Devese trabalhar em conjunto com a família, a escola e a sociedade o respeito pelo ser humano, pois se trata de uma doença e que olhando para os fenômenos psicossociais qualquer indivíduo pode estar sujeito a desenvolver sobrepeso, chegando à obesidade” explicou. Em 2012, a Universidade de Santo Amaro (Unisa), por meio de estudos com base em dez artigos científicos publicados entre 2004 e 2011, com objetivo de levantar os fatores de risco para sobrepeso e obesidade infantil, menciona que o organismo da criança antes dos seis meses não está preparado para receber outro alimento que não seja o leite materno, quando outro alimento é ingerido, o acúmulo de gordura tornasse frequente, danificando o processo metabólico da criança. O mesmo estudo relata que mães que trabalham fora do lar têm uma tendência de agradar os filhos com merendas, que na maioria das vezes apresentam alto valor calórico e baixo valor nutricional. " Essa
tendência acontece talvez porque as mães se sentem culpadas por não dar a atenção que gostariam para seus filhos, ou por não terem tempo suficiente para preparar uma alimentação saudável", diz o estudo.
Na mamadeira Com apenas oito meses de vida, Pedro Miguel começou a ingerir refrigerante na mamadeira. Hoje, com três anos, não consegue deixar ou trocar por um suco natural. A mãe do pequeno Pedro, a corretora de imóveis Luana Silva, alega que o filho chora quando ela não permite o consumo. “Miguel costuma beber muito refrigerante por influência do pai. Quando eu tento tirar esse hábito dele enfrento dificuldades devido a sua resistência, além disso ele fica bastante tempo assistindo desenhos e pede os doces e salgados dos personagens que aparecem na TV”, confessou. A nutricionista Fernanda Soares afirma que o consumo em excesso de refrigerantes a longo prazo traz sérios problemas à saúde, sendo eles: obesidade infantil, carência nutricional pois altera a microbiota intestinal, crise alérgica respiratória devido aos corantes, irritabilidade, dificuldades de concentração nos estudos e no sono, entre outras.
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Câncer de pele: Dermatologistas orientam como agir e prevenir a doença Por Kåtia Guedes
“
Certo dia, me deparei com um sinal no rosto, aparentemente inofensivo” é o que conta o agricultor Jonas Machado (71), morador da comunidade Rio Purus, boca do Acre. O agricultor mal sabia, que estava prestes a descobrir que contraíra um câncer de pele. Ao procurar um médico, logo constatou a doença, que possibilitou um imediato tratamento cirúrgico. “Trabalhei minha vida toda como agricultor e nunca ouvi falar de algum produto para proteger a pele, e agora, ao me deparar com esta situação, procuro evitar a exposição solar e tive que me acostumar com o uso do protetor” disse Jonas. Essa é a realidade de boa parte da população amazonense. Muitos até sabem que a exposição ao sol de forma inadequada, faz mal e pode trazer inúmeros males à saúde, porém, nem todos, têm o hábito de se prevenir. Ao longo dos últimos 16 anos,
Os “fotoprotetores” ou protetores solares: “Os fotoprotetores também conhecidos protetores solares ou filtros solares, são produtos capazes de prevenir os males provocados pele exposição solar, como o câncer de pele, o envelhecimento precoce e a queimadura solar. O fotoprotetor ideal deve ter amplo aspecto, ou seja, ter boa absorção dos raios UVA e UVB, não ser irritante, ter certa resistência a água e não manchar a roupa”, orienta a Sociedade Brasileira de Dermatologista. a Fundação Alfredo da Mata, que cuida principalmente de doenças ocorridas na pele, registrou aproximadamente 5.058 casos de câncer de pele. Segundo o Centro de pesquisa da Fundação, esse número representa 4% do total de pessoas atendidas na unidade durante esse período. Ainda segundo o Centro de pesquisa, o Melanoma é considerado o câncer de pele mais grave dependendo do estágio ao qual é descoberto. “É um tipo de câncer muito delicado e que pode levar a óbito com muita rapidez”, disse a dermatologista e cirurgiã Arina Abinadabi. Antônio Carlos Colares Buzaglo (74), morador do interior de Careiro Castanho, conta que procurou o médico ao perceber um ferimento no rosto ao qual só inflamava e não sarava. “Ao diagnosticar o câncer, a doutora Cláudia me encaminhou imediatamente ao cirurgião para a retirada da doença. Achei estranho, pois sempre usei protetor solar e não esperava me deparar com um câncer de pele, relata Antônio.
Prevenção vai além do protetor solar
A Fundação Alfredo da Mata, que cuida principalmente de doenças ocorridas na pele, registrou aproximadamente 5.058 casos de câncer.
Muitos acham que devem apenas utilizar o protetor solar, porém, segundo a dermatologista e pesquisadora de câncer de pele Lucilene Sales, a prevenção não ocorre apenas com o filtro solar. “Existe um aumento considerado de câncer de pele em Manaus e esse aumento deve-se a vários fatores, e o sol é o predominante.
“Tem que haver prevenção contra a radiação solar, ou seja, além do filtro solar, o uso de chapéus e roupas que possam cobrir a pele é essencial para prevenção da doença”, alerta a especialista.
Tipos de câncer de pele Existem muitos tipos de câncer de pele e consequentemente, aparências variadas. Geralmente incide preferencialmente na idade adulta e é possível perceber os sintomas de alguns logo nos priMuitos acham que devem apenas utilizar o protetor solar, porém, segundo a dermatologista e pesquisadora de câncer de pele Lucilene Sales, a prevenção não ocorre apenas com o filtro solar. Uso de chapéus pode ajudar no processo. meiros momentos da doença, enquanto outros, podem ter mais tipos de características para constatações que dificultam o descobrimento precoce. É o caso do manauara Abraim Aleme, 68, que descobriu a doença depois de um tempo avançado. “Descobri há um ano que algo estava errado em meu abdômen, uma mancha escura. Logo procurei um médico que me garantiu:2 “não é nada”. Hoje, estou na fila com esse imenso ferimento, que se tivessem descoberto a tempo, talvez não teria necessidade de eu estar passando por isso”, desabafou Abraim. Estudos realizados pela
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Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), comprovam que as câmaras de bronzeamentos artificiais também trazem riscos à saúde. E em 2009 foram reclassificados como agentes cancerígenos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no mesmo nível do cigarro e do sol. A prática de bronzeamento artificial antes dos 35 anos, aumenta em 75% o risco de câncer de pele, além de acelerar o envelhecimento precoce e provocar outras dermatoses. Em 2014, a SBD deu início ao movimento de combate ao câncer da pele, denominado “Dezembro Laranja”, com intuito de estimular a população a prevenir o câncer de pele.
Trabalho há 20 anos frente a frente com câncer de pele. Um conselho é investir na educação
Dezembro laranja “Assim como existe a campanha do outubro rosa para combater o câncer de mama, criamos o ‘Dezembro Laranja’, que tem início no fim de novembro , mas massificamos em dezembro. É uma
campanha para conscientizar e orientar as pessoas a procurarem os médicos para fazerem exames se tiverem manchas estranhas, sinais e pintas a se prevenir do câncer de pele e isso faz toda a diferença na hora de detectar qualquer irregularidade e somente o exame clinico pode dar esse suporte. Por isso, a importância da campanha Dezembro laranja”, orienta a doutora dermatologista Arina Abinadabi. O especialista em cirurgias de câncer de pele, Carlos Chirano, que trabalha há 20 anos, frente a frente com câncer de pele dermatologicamente e cirurgicamente dá alguns conselhos à população. “Trabalhar na educação da população é designar duas maneiras de se prevenir. A primária é quando o bebê nasce e recebe os primeiros cuidados de proteção até ele crescer. A segunda é orientar as pessoas a se cobrirem e ter cuidado de não se expor ao sol das 10h as 16h”, conclui.
O melanoma, em geral, tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na pele, em tons acastanhados ou enegrecidos. Porém, quando se trata de melanoma, a “pinta” ou o “sinal” em geral mudam de cor, de formato ou de tamanho, e podem causar sangramento. Por isso, é importante observar a própria pele constantemente, e procurar imediatamente um dermatologista caso detecte qualquer lesão suspeita.Aliás, mesmo sem nenhum sinal suspeito, uma visita ao dermatologista ao menos uma vez por ano deve ser feita. Essas lesões podem surgir em áreas difíceis de serem visualizadas pelo paciente. Além disso, uma lesão considerada “normal” para você, pode ser suspeita para o médico.Pessoas de pele clara, com fototipos I e II, têm mais risco de desenvolverem a doença, que também pode manifestarse em indivíduos negros ou de fototipos mais altos, ainda que mais raramente. O melanoma tem origem nos melanócitos, as células que produzem melanina, o pigmento que dá cor à pele. Normalmente, surge nas áreas do corpo mais expostas à radiação solar.Em estágios iniciais, o melanoma se desenvolve apenas na camada mais superficial da pele, o que facilita a remoção cirúrgica e a cura do tumor. Nos estágios mais avançados, a lesão é mais profunda e espessa, o que aumenta a chance de metástase para outros órgãos e diminui as possibilidades de cura. Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental. Casos de melanoma metastático, em geral, apresentam pior prognóstico e dispõem de um número reduzido de opções terapêuticas. Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia
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Família na mira do câncer
Pessoas que têm alteração genética herdada têm 54% de chance de passar a mutação para seus filhos, assim como aconteceu com a Maria de Fatima, que herdou a alteração genética do pai. Essas alterações podem aumentar de forma significativa o risco de câncer.
Por Fernanda Lima
P
imeiro Maria de Fátima Oliveira, de 52 anos, perdeu o pai, Carlos Antônio de Oliveira, e sua irmã, Maria de Lurdes Oliveira. Ambas vítimas do câncer. Alguns anos após as duas mortes, a dona de casa também foi diagnosticada com câncer de mama. ‘’Foi um choque. Jamais pensei que um dia pudesse passar por essa situação,
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vi de perto o sofrimento do meu pai e da minha irmã, e agora estou passando pela mesma situação”, contou. Com a descoberta da doença, Maria de Fátima buscou o histórico de casos em outros parentes já falecidos e acabou descobrindo mais casos na família paterna. A avó faleceu de câncer de ovário, primas distantes e irmãs da avó também foram acometidas pe-
la doença. A investigação da genealogia do câncer em sua família a fez compreender, na prática e de forma dolorosa, o que a ciência hoje aponta como um dos principais fatores para o surgimento do câncer: a hereditariedade. Desde os 42 anos de idade, a dona de casa passava por exames de mamografia, diante do histórico familiar de perdas próximas em consequência do câncer.
Exame de mamografia sendo realizado/ Foto: Divulgação
No entanto, Maria de Fátima revela que não se imaginava com a doença, um câncer de mama agressivo diagnosticado em 2014, aos 49 anos. “Eu já passei pelo câncer, foi um processo difícil e muito doloroso. A cirurgia é agressiva, mas o tratamento do câncer de mama é bem pior, e não é somente agressivo com o corpo, mas às emoções e à família’’, contou ela.
Hereditário A Geneticista molecular, pesquisadora do Hospital de Câncer de Barretos e professora do Programa de Pós-Graduação em Oncologia do Hospital de Câncer de Barretos, Edenir Inêz Palmero, explica em sua obra ‘’Hereditariedade e câncer de mama’’, que o câncer hereditário ocorre quando uma pessoa nasce com alterações em uma cópia de um gene de controle de danos. Isso normalmente protege contra o câncer, já que geralmente essas alterações são herdadas da mãe ou pai. Pessoas que têm alteração genética herdada têm 54% de chance de passar a mutação para seus filhos, assim como aconteceu com
a Maria de Fatima, que herdou a alteração genética do pai. Essas alterações podem aumentar de forma significativa o risco de câncer, mas não aumentam o risco para cada tipo de câncer, pois nem todas as pessoas que nascem com uma alteração em determinados genes desenvolvem a doença. Assim como Maria de Fatima, estimam entre 10% e 12% dos casos de câncer de mama tem caráter Hereditário, conforme relatado no 2º Congresso Internacional de
O câncer hereditário ocorre quando uma pessoa nasce com alterações em uma cópia de um gene de controle de danos.
A atriz Angelina Jolie, de 37 anos, chamou a atenção de todos com a notícia ao anunciar publicamente no dia 14 de maio de 2013, que retiraria as mamas, pois descobriu que era portadora de uma mutação genética rara, no gene BRCA-1, que aumenta em 87% as chances de uma mulher ter câncer de mama e em 50% de ter câncer de ovário, segundo um artigo publicado no jornal americano "The New York Times". Jolie afirma que Decidiu ser proativa e reduzir o risco o máximo que ela podia. De acordo com ela, suas chances de desenvolver câncer de mama agora caíram de 87% para menos de 5%. Angelina Jolie fez um procedimento chamado "nipple delay", que não danifica esteticamente o mamilo. Depois do procedimento, Jolie reconstruiu a mama por meio de implante de prótese de silicone.
Controle de Câncer (ICCC 2007), realizado pelo Instituto Nacional do câncer José Alencar Gomes, no qual estima á oncologista Fátima Vaz, coordenadora do grupo multidisciplinar de câncer de mama hereditário do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, feito á 10 anos, em que um exame de sequenciamento genético consegue detectar a mudança no gene que
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Fonte: site e-inovatio.com.br
provoca o câncer, assim como foi descoberto à mutação de genes no caso da atriz Angelina Jolie chamou a atenção em todo o mundo ao anunciar a retirada das mamas, pois descobriu que era portadora de uma mutação genética rara. As recomendações de investigação genética são diagnosticadas por meio de testes, feitos em mulheres abaixo dos 46 anos, com histórico de outros tumores malignos em qualquer idade ou de casos de câncer na família, do lado materno ou paterno.
Mastologista, Gerson Mourão
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Às mulheres que tem recomendação para realização do teste, a dona de casa Maria de Fátima deixa um recado: "vocês já são vitoriosas pelo enfrentamento do câncer. Tenham coragem e investiguem, pois vocês estarão deixando um ato de solidariedade, contribuições de amor para as próximas vidas de sua família”, disse. O oncogenetecista, José Claudio Casali, membro do Comitê Científico do Instituto Oncoguia, fala em entrevista para o Site do Instituto de Oncologia, publicado em 2015, que as mutações BRCA-1 e BRCA-2, são partes do DNA responsável pelo controle de proliferação e reparação das células mamárias. Quando esses genes falham, as células perdem todo o comando de parada do crescimento, acumulando as quebras do DNA, levando uma espécie de sujeira para seu interior, que se podem transformar em câncer. O especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Mastologia Gerson
Mourão, da FCecon, diz que mais de 90% das mulheres que desenvolvem câncer de mama não tem o fator de risco. Entre 10% e 12% dos casos são hereditários. ‘’O exemplo da Angelina Jolie, com BRCA, sua chance de ter câncer é 87% comparado com os 10% da população geral’’, comentou. O mastologista acrescenta que a mutação ocorre durante a vida da mulher, diante da vida que ela leva, e o que ela deve saber sobre á prevenção hereditária. “A mutação pode acontecer ao longo da vida da mulher diante do estilo de vida. Diferentemente do câncer do colo uterino, o câncer de mama ainda não tem prevenção, mas já tem cura. Se exercitar, evitar engordar, reduzir o consumo de a carne vermelha, ter filhos antes dos 30 anos, amamentar adequadamente, evitar ingerir bebida alcoólica e não fumar diminuirá as chances da ocorrência do câncer, inclusive quando há o fator hereditariedade’’, explicou o médico.
CHOOSE HOPE
PREVINA-SE
Filho
E
m 1993, aos 19 anos, na temerosa “Casinha Branca”, o jovem Newton Dione Gomes recebia o diagnóstico que mudaria completamente sua vida e causaria uma sequela irreparável. Newton não podia imaginar que, após o aparecimento de uma pequena mancha no corpo, seus dias ao lado da família estariam contados. ‘Didione’, como gosta de ser chamado, foi internado na Colônia Antônio Aleixo, antigo compulsório de hansenianos. Afastado da família, a maior dor que ele sentiu não foi causada pela doença, mas pelo preconceito dos fami-
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liares e daqueles que considerava amigos.
“Essa é uma doença que atinge países pobres. O Brasil é o segundo país em Hanseníase, perdendo para a Índia. O grande motivo pelo qual essa e outras doenças não foram eliminadas ainda é a falta de saneamento básico para as comunidades, principalmente no interior” - Nelcioney Araújo
A doença que separou Newton da família, conhecida pelo termo preconceituoso “lepra”, é a Hanseníase. De acordo com o Ministério da Saúde, ela é causada através do Mycobacterium leprae, um bacilo que ocorre nos nervos com a capacidade de infectar grande número de indivíduos levando a perda de membros do corpo e até úlcera, caso não seja tratado nos primeiros sintomas. Um dos residentes da Casa Andréa - que abriga hansenianos durante o tratamento em Manaus -, Antônio José da Costa, relata que está curado há 25 anos. Ele foi diagnosticado aos 10 anos, mas levou o tratamento a sério somente aos
os do preconceito Hanseníase, doença que acarretou a segregação de milhares de pessoas no século XX, ainda causa preconceito em plena Era da Informação
15, quando alguns membros do corpo já estavam com sequelas graves como dedos das mãos endurecidos e dificuldade para enxergar. “Hoje em dia, eu não admito mais ninguém me chamando de leproso, porque eu já tenho conhecimento sobre a doença e sei que ela não é transmitida como todos pensam: toque de mãos, abraço e etc”, contou, destacando ainda que vários amigos portadores sequelas piores, ainda sofrem preconceito quando estão no meio dos sadios. A história de Newton e Antônio aconteceu há mais de vinte anos e, de acordo com o professor de Geografia da Universidade Federal
STREATVIEW
Por Milena Soares
Casa Andréa - Local que abriga hansenianos durante o tratamento, em Manaus
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do Amazonas (Ufam), Nelcioney Araújo, a doença é uma das mais antigas de que se tem registro; prova disso são menções dos sintomas em histórias na Bíblia. Foi também com base em histórias bíblicas que as pessoas acometidas por hanseníase passaram a sofrer preconceito, já que o livro associa a doença a uma maldição divina. O professor é coordenador do grupo de estudos em Geografia da Saúde e Vigilância Socioambiental na Ufam e junto aos alunos da área, estuda o contexto social que indivíduos enfermos estão inseridos, constatando a falta de planejamento urbano em muitos municípios do Amazonas. “Essa é uma doença que atinge países pobres. O Brasil é o se-
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gundo país em Hanseníase, perdendo para a Índia. O grande motivo pelo qual essa e outras doenças não foram eliminadas ainda é a falta de saneamento básico para as comunidades, principalmente no interior”, explicou Nelcioney, ressaltando que a culpa da doença não são os doentes, mas a falta de instrução econômica do país, que deve cuidar da qualidade de vida dos indivíduos. Em 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma notícia em seu site, que até 2015, a doença estaria totalmente extinta no país. Dados coletados pela Fundação Alfredo da Mata (Fuam) do ano passado, contrariam a projeção: 577 novos casos foram detectados somente no
Amazonas. O número revela ainda que 507 casos são novos, 35 recidivas (recaídas) e 4 reingressos (que retornaram ao tratamento). Segundo a pesquisa, a maioria dos casos ocorre no interior do Estado, e os munícipios de predominância são Itamarati, Guajará, Humaitá, Tapauá, Jutaí, Boca do Acre, Carauari, Fonte Boa, Novo Aripuanã e Anamã. Os dados mostram os efeitos da falta de informação e assistência básica em saúde, em plena Era da Informação. Segundo a pesquisa de trabalho de conclusão de curso (Tcc) do jornalista Eric Gamboa, no Brasil, durante o século XX a doença causou a segregação de milhares de pessoas. Registros históricos de quem conviveu com a hansenía-
se nesse período demonstram ter sido uma época de verdadeira caça aos ‘seres doentes’. Em 1949 foi decretado a lei federal n°610/1949 que intensificou a perseguição dos “morféticos”, a legislação autorizava a policia a invadir todo local onde houvesse a presença de algum doente, para confina-lo em uma colônia de recuperação. O tratamento era realizado através do isolamento compulsório dos enfermos, que causou a separação de filhos e pais. Até hoje, boa parte deles – os hansenianos – tenta se reerguer e sonha com a cura total da doença e com uma sociedade informada e consequentemente menos preconceituosa.
Tratamento O tratamento da doença passou por muitos avanços de lá para cá, como afirma a dermatologista Izy Peixoto. “Por muitos anos foi utili-
“Minha mãe me levou para a casinha branca, o lugar para onde pessoas com a doença eram encaminhadas. Quando cheguei lá, a médica nem me examinou e já disse que eu iria fincar internado” zado a medicação dapi monoterapia, em que foi observado certa resistência da bactéria. Na década de 80 houve um avanço com a Poliquimioterapia, que é um tratamento que fecha a fonte de infecção interrompendo a transmissão da doença”, explicou, enfatizando que hoje o tratamento é realizado com duas ou três medicações específicas, e que já existem remédios de contraindicações dessas medicações, caso haja re-
ações. A poliquimioterapia – PQT, tratamento recomendado pela Organização Mundial da Saúde para a hanseníase, consiste na combinação de Rifampicina, dapsona e Clofazimina, em formato de blister (embalagem no formato de filme plástico que serve para fixação de produtos dentro de uma pequena bolha plástica). Existem dois tipos de classificação da doença: os Paucibacilares (PB) e Multibacilares (MB). O primeiro contem poucos bacilos e não são considerados fontes de transmissão, já o segundo é um grupo contagiante com grande possibilidade de transmissão enquanto não iniciado o tratamento.
Sequelas emocionais irreparáveis Prova de uma vida restaurada e que ganhou o título de coordenador estadual do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas
“Morei na Colônia até completar a maior idade, e no período que vivi lá, fui muito maltratado pelas pessoas que eram responsáveis por nós”. - Pedro Borges
Coordenador Estadual do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) - Pedro Borges
pela Hanseníase (Morhan) é o seu Pedro Borges, 62. Ele destaca que o movimento iniciou com o objetivo de encaminhar os doentes para a Fundação Alfredo da Mata (Fuam) e acompanhar o tratamento. “Eu praticamente nasci hanseniano, aos oito anos a doença já estava avançada no meu corpo. Na época foi internado eu, meu pai e um tio, e desde quando fui internado não vi mais o restante da família. Morei na Colônia ate completar a maior idade, e no perío-
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Livro “Além da pele”, do fotógrafo André François, mostra como vivem as pessoas que lutam contra a hanseníase
do que vivi lá, fui muito maltratado pelas pessoas que eram responsáveis por nós”, revelou. O coordenador afirma que viveu na época em que o isolamento compulsório já estava no fim, mas ainda sim, sofreu muito. O resultado da falta de informação sobre a doença foi a perca de afeto do filho de Pedro. Ele revela que por medo de transferir a doença para o filho, voltou a se internar na Colônia. O filho, mesmo adulto, ainda não consegue compreender o motivo pelo qual o pai não participou da sua criação. “Toda doença é contagiosa, mas a maioria tem cura”, sustenta Newton Dione, em resposta a questionamentos sobre o preconceito sofrido durante e após seu tratamento. Ele conta que hoje conseguiu superar essa realidade e se diz feliz, mas nunca esquecerá tudo o que vivenciou quando foi diagnosticado com hanseníase. “Minha mãe me levou para a casinha branca, o lugar para onde pessoas com a doença eram en-
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caminhadas. Quando cheguei lá, a médica nem me examinou e já disse que eu iria fincar internado”, contou. Ele se negava a aceitar que estava doente e teria que se separar da família e amigos, mas conta que depois entendeu ser o melhor a fazer, para não ser discriminado.
Bairro distante do preconceito Uma pesquisa realizada pela Me. Juliana Araújo Alves, de 2011, da Universidade Federal do Amazonas indica de o bairro pós-hospital está a 15km do centro urbano de Manaus. A pesquisa é oriunda da dissertação “Do hospital ao bairro: desativação do Hospital— Colônia e criação do bairro Colônia Antônio Aleixo em Manaus”. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do bairro em 2007 correspondia a 13.800 habitantes, a pesquisa atual, de 2010, indica o crescimento de três mil pessoas, 16,602 população residente na região. A
distância do bairro e para o Centro de Manaus, não indica preconceito, mas ao conversar com algumas pessoas, quando indagadas sobre residir no local, as respostas foram quase instantâneas: “Não”. A graduanda em pedagogia, Nair Moraes, 45, informou que não moraria no local porque é distante da faculdade e trabalho, fora os pontos principais da capital. “Eu não tenho preconceito com os hansenianos, eles são gente como a gente. Mas o bairro é muito distante para mim, mesmo com transporte próprio”, explicou. Já para a esteticista Marineuza Lima, 37, que teve hanseníase, mas tratou logo no inicio, não aceitaria morar no lugar pelo histórico. “Além da distância, existe uma história sobre o lugar, não pelos doentes, mas pelo sofrimento que o bairro carrega. Eu não me sentiria bem morando ali”, revelou. Para o coordenador do Morhan, Pedro Borges, o bairro é como todos os outros. “É aqui que eu constituí minha família e me reergui, sou feliz com a vida que levo nesse lugar”, finalizou.
A doença será extinta algum dia? O professor Nelcioney Araújo, revela que apesar do Amazonas ter uma Fundação especializada em tratar a doença, os hansenianos necessitam de um cuidado a mais, como a alimentação, por exemplo. Araújo destaca que o papel do Estado em providenciar além do tratamento, qualidade de vida para os pacientes durante esse tratamento, principalmente com higienização rural e urbana. “As pessoas vem do interior se tratar, sem dinheiro para se manter aqui e sem condições de melhoria de vida, além da alimentação, que é uma obrigação dos governantes com a população”, afirmou. Os dados da FUAM indicam crianças menores de 15 anos sendo atingidas pela enfermidade, mas
que os cuidados com esse grupo é maior. De 1990 a 2015, houve uma redução de 90,3%. Mas a pesquisa revela que nos últimos quatro anos houve um grande crescimento (não revelam percentuais), em um bairro da capital amazonense, fora os municípios. O estudo aponta ainda que a maioria dos casos ocorre no sexo masculino. Mas no período de 2000 a 2015 a proporção em mulheres cresceu cerca de 39,0%, sendo que somente em 2015 foi de 34,9%. A Fundação Alfredo da Mata informou que dos 507 novos casos, 451 foram bem avaliados em relação ao grau de incapacidade e destes, 39 apresentaram grau II de deformidades consideradas médias, e 123 apresentaram grau
I de incapacidade. Ainda em 2015, a examinação dos infectados foi de 84,0%, o que é um resultado positivo segundo o Ministério da Saúde. Os relatos de Newton, Antônio e Pedro aconteceram em períodos diferentes, porém o resultado da falta de informação daquela época comparado aos dias atuais, informados nesta reportagem, revela que a doença está muito mais longe de ser extinta do que as expectativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) deseja, como defende alguns pesquisadores, em que o problema da doença não é do doente, mas da falta de cuidado por parte dos órgãos públicos que administram a saúde pública do Brasil.
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Solidariedade Voluntários criam grupos de apoio para auxiliar pacientes na luta contra doenças crônicas. Por Jhonata Marques
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família e os amigos são as pessoas de quem esperamos apoio nos momentos difíceis. Mas não foi que a família de Leonardo Silva, 28, fez quando soube que ele era portador do vírus HIV. O apoio que ele recebeu na luta contra a doença veio do grupo de acolhimento e adesão ao tratamento na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD). Ele diz que a sociedade é muito ignorante para aprender sobre o HIV/AIDS, e até mesmo sua mãe. “Os médicos e psicólogos já conversaram com ela para explicar sobre a transmissão do vírus, mas ainda assim há resistência”, disse ele acrescentando que a mãe separa tudo na casa para ele usar. Porém o que mais o aflige não é viver com o HIV e sim conviver com a ausência do carinho da sua mãe. Ela nunca mais lhe deu sequer um abraço desde que contraiu o vírus. Portadores de doenças crônicas podem reagir ao tratamento de diversas maneiras, talvez por não conhecer a doença, por não ter apoio da família ou pelo temor, a situação pode se agravar. E dependendo da doença, pode ser mais fácil ou não lidar com o novo modelo de vida, totalmente sujeita a combater a enfermidade. O HIV é uma doença crônica muito temida pelas pessoas, mas os pa-
cientes dela, tentam se unir de várias formas possíveis, para juntos deixar a situação do vírus estável. Tratamentos em grupo são eficazes para influenciar no tratamento pessoal. E trazem a melhora que remédio nenhum pode trazer, que é a melhora psicológica. Grupos de apoio a pacientes
Tratamentos em grupo são eficazes para influenciar no tratamento pessoal. E trazem a melhora que remédio nenhum pode trazer. são tão importantes quanto os cuidados através do remédio, e é justamente isso que o estudo de psicologia feito na USP de Ribeirão Preto, comprovou. Os psicólogos e pesquisadores Emerson F. Rasera e Marisa Japur, chegaram na conclusão que tratamentos em grupos possibilitam ao participante uma fonte de apoio e encorajamento, pois diminui os medos, ansiedades, o isolamento e proporciona a novas maneiras de lidar com o HIV/AIDS. É possível ver que trabalhos voluntários são utilizados como tratamentos em grupo. O estoquista
Edson Goncalves, 51, convive o vírus HIV há 20 anos. Logo quando descobriu que era portador, ele viu a necessidade de conversar com outras pessoas que tinham a mesma situação para lutarem pelos seus direitos e, conseguir benefícios além de simplesmente o remédio. Foi quando Edson e alguns amigos, também pacientes da Tropical, criaram o grupo de acolhimento no hospital para auxiliar os pacientes portadores do vírus HIV/AIDS ou ‘vivendo’ com ele, como eles preferem ser chamados. A partir do acolhimento iniciouse o projeto de adesão onde vários ‘vivendos’ se reuniam e partilhavam suas histórias, sentindose compreendidos por ter pessoas que passam pela mesma situação. Edson é coordenador dos dois projetos. Infelizmente o programa de adesão parou por conta de uma pesquisa do ministério da saúde sobre o atendimento aos pacientes ‘vivendo’ com HIV/AIDS, onde o Edson também está fazendo parte dessa pesquisa, indo a diferentes hospitais da cidade, inclusive no Tropical. Para Edson tanto o acolhimento quanto o grupo de adesão ao tratamento preza em melhorar tanto a vida dos pacientes quanto a vida dos médicos. “A falta do grupo de adesão desde abril desse ano tem adoecido os pacientes por não terem contato com outras
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que são ‘vivendo’ e davam atenção uns aos outros. E por estarem adoecendo estão indo direto ao Pronto Atendimento”. Mas ele diz que irão voltar com o grupo de adesão independente de recursos, pois ele é importante para os pacientes. A pesquisa da USP sugere ainda que os grupos devem ser compostos por pacientes em estágios similares da doença. Edson já está de acordo com a pesquisa, outra pessoa que se encaixa nessa perfil é Oriona Ohse, 62. Ela é paciente da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon). Durante seu tratamento de câncer na mama, ela sentia a necessitada de algo para fortalece-la em meio ao tratamento. E teve a ideia de distribuir próteses de mamas feitas de travesseiros para as pacientes que tiveram a mama retirada. Com esse gesto outras pacientes começaram a ajuda-la na distribuição,
esse foi o início do Gamma, Grupo de Apoio às Mulheres Mastectomizadas da Amazônia. Depois disso várias atividades
“A falta do grupo de adesão desde abril desse ano tem adoecido os pacientes por não terem contato com outras que são ‘vivendo’ e davam atenção uns aos outros. E por estarem adoecendo estão indo direto ao Pronto Atendimento” Edson Gonçalves
foram feitas para ajudar as pacientes, como um projeto de distribuição de perucas, cestas básicas, entre outros. Antes o Gamma
se reunia em uma sala na Fcecon, hoje as reuniões e atendimentos aos pacientes acontece numa casa alugada no bairro Dom Pedro, e é mantido através do bazar que fazem na recepção da Fcecon e de doações que recebem. Com a mama retirada e a queda do seu cabelo, a dona de casa Nilza da Silva, 44, ficou com baixa autoestima, ela então foi indicada ao Gamma pedir ajuda e conseguir uma peruca, mas ganhou mais que isso. A dona Nilza diz eu se sente num ambiente agradável quando está com o grupo. “Minha família me apoia, mas as vezes não perguntam como me sinto. Por isso eu me sinto melhor estando aqui, porque são pessoas que passam pela mesma situação que eu, e passam pra gente uma experiência de vencer mesmo. E que vai ficar tudo bem. Se não existisse o Gamma eu não sei nem por onde iria começar minha
Sala do acolhimento, local que preza em melhorar tanto a vida dos pacientes quanto a vida dos médicos
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“O Gamma é o meu ar, é minha vida. Eu o criei. É uma responsabilidade muito grande, e eu não quero que ele morra”
Oriona Ohse, Fundadora do Gamma vida, ele me deu esperança.”. O Gamma é um trabalho totalmente voluntário, mas Oriona deseja remunerar pessoas capacitadas para atender os pacientes da melhor maneira possível. A Psicóloga Danielle Queiroz, 30, é voluntária no grupo há mais de um mês. Seu trabalho é fazer a abordagem com pacientes que aguardam atendimento na Fcecon, e os acalma. Assim ela apresenta o
Grupo e cria um cadastro para esses pacientes, e assim mantenham contato. Se não houvesse programas como o Gamma, Danielle acredita que seria mais difícil para os pacientes contarem apenas com o atendimento da Fcecon. “Eles não teriam tanto conhecimento da situação. Por isso a gente também trabalha o lado emocional e psicológico deles. A gente vê essa necessidade de eles terem uma autoestima maior”. A atitude da dona Oriona mos-
Por isso a gente também trabalha o lado emocional e psicológico deles. A gente vê essa necessidade de eles terem uma autoestima maior”. Psicóloga Danielle Queiroz
trou como é possível alcançar tanta gente que estava desenganada por conta da doença e encontrou no grupo uma maneira diferente
de combater não só a doença, mas a vida. E quando ela fala do grupo suas palavras soam com sinceridade. “O Gamma é o meu ar, é minha vida. Eu o criei. É uma responsabilidade muito grande, e u não quero que ele morra. Foi e está sendo difícil. A semente que eu plantei ela está germinando. E as pessoas estão vendo e vindo até mim. Eu faria tudo de novo do mesmo jeito, porque não fiz errado.” O objetivo da pesquisa é mostrar a construção da homogeneidade e do apoio no grupo. Quando olhamos os grupos coordenados pelo Edson e pela Oriona, podemos ver diferentes personagens, mas o cenário é o mesmo, e como toda a situação aproxima pessoas tão diferentes mas com as mesma causa e que lutam uns pelos outros, criando então a homogeneidade que a pesquisa mostra. E o Exemplo e reflexão que ganhamos com essas histórias é sobre nossa utilidade na sociedade. Talvez programas voluntários não fossem necessários se houvesse aceitação das pessoas. Atitudes como as deles podem não mudar a sociedade, mas produzem efeitos positivos para ela.
Foto: divulgação
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Espere três minutos Os benefícios do corte tardio do cordão umbilical para o bebê Por Mayrlla Motta
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ãe e bebê: uma conexão plantada no útero. São em média 40 semanas, equivalente a 290 dias, num total de seis mil horas, conectados através de um cordão umbilical. Constituído por duas artérias e uma veia, é através desse tubo que o feto recebe o oxigênio, além de nutrientes, substâncias e proteínas necessárias para se de-
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senvolver. E mais: esse cordão, por meio da placenta, cumpre papel primordial durante os primeiros minutos de vida do recém-nascido, já fora do útero. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda esperar de um a três minutos para cortá-lo, ou até que pare de pulsar. Essa prática, denominada de clampeamento tardio do cordão umbilical, é recomendada pela
OMS para todos os nascimentos, inclusive os prematuros. Um informe baseado na recomendação da OMS, feito pelo Programa Integrado de Saúde Materna e Infantil (MCHIP), de São Paulo, descreve os benefícios da técnica que ganhou notoriedade nos últimos anos, principalmente no denominado ‘Parto Humanizado’. Segundo o MCHIP, o atraso no corte do cordão umbilical é con-
hecido por aumentar as reservas de ferro do bebê em até 50% aos seis meses de idade. Isso significa que, durante esses minutos de espera, o cordão libera a passagem de sangue da placenta para a criança. Esse estoque de até 75 mg de ferro contribui para fortalecer o sistema imunológico e neurológico da criança. O ato resulta ainda no combate à anemia, considerada como uma das principais causas de mortalidade infantil em todo o mundo. Segundo a OMS não há necessidade de apressar o clampeamento e cortar o cordão, exceto em uma situação de emergência. “O bebê pode ser enxugado e dado para a mãe primeiro e o cordão ser cortado quando a pulsação parar. O corte do cordão e o manuseio da placenta podem estar ligados à tradição em diferentes culturas. É importante que o pessoal da saúde conheça essas tradições e solicitações da mãe e que procurem atender tanto quanto possível, desde que isso seja seguro para a mãe e o bebê”,diz a Organização. Só no Brasil, considerando que nascem 321 bebês por hora segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em um dia, sete mil recém-nascidos seriam beneficiados em todo o país se a prática fosse adotada em todas as maternidades.
Benefícios Os benefícios não se limitam somente a diminuição de anemia infantil. Segundo a presidente da Sociedade Amazonense de Pediatra (Saped-AM), Elena Marta, o corte tardio “reduz em até 59% a taxa de hemorragia intraventricular (um tipo de lesão cerebral), e diminui em até 62% as chances de infecção intestinal grave em recém-nascidos prematuros, além de reduzir em 29% a taxa de sepse neonatal (infecção generalizada) também em bebês prematuros”, afirma a
Momento do corte do cordão umbilical
Segundo o MCHIP, o atraso no corte do cordão umbilical é conhecido por aumentar as reservas de ferro do bebê em até 50% aos seis meses de idade. .
da placenta, após o nascimento, aumente a possibilidade de transmissão do HIV da mãe para a criança”, afirma a pediatra com especializada desde 2005 em Atuação em Neonatologia pela SBP.
Avaliação nacional Um estudo realizado pelo Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, em par-
médica acrescentando que o clampeamento tardio diminui também a necessidade de transfusão de sangue nos prematuros. Conforme a presidente da Saped-AM, a prática pode ser adotada inclusive em partos de mães soropositivas. “Não há evidências científicas de que a transfusão de um a cinco minutos de sangue adicional
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O estudo dividiu os nascimentos em dois grupos: os de clampeamento imediato e tardio, nascidos entre 37 e 42 semanas de gestação. ceria com o Hospital Municipal Fernando Mauro Pires da Rocha, avaliou a prática em 300 partos realizados pelo Hospital Municipal do Campo Limpo, em São Paulo, no período de abril de 2006 e março de 2007. O estudo dividiu os nascimentos em dois grupos: os de clampeamento imediato e tardio, nascidos entre 37 e 42 semanas de gestação.Foram estudados 109 casos de clampeamento imediato e 115 de clampeamento tardio. Três meses depois foram avaliados os índices de ferritina e hemoglobina dos bebês, ambas proteínas que estocam ferro no fígado e glóbulos vermelhos, respectivamente. Os resultados mostraram que os níveis de ferritina das crianças submetidas ao corte tardio do cordão umbilical foram mais que o detectado nas demais crianças não submetidas à técnica ao nascerem. De acordo com o estudo, o resultado foi significativo. O efeito do clampeamento tardio do cordão umbilical foi significativo somente para os níveis de ferritina das crianças aos três meses de idade (p = 0,040), sendo superior em 23,29ng/mL quando comparado às crianças submetidas ao clampeamento imediato.
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A Falácia da circular de cordão Pelo menos uma vez na vida você deve ter ouvido a frase “a criança nasceu enforcada com o cordão enrolado no pescoço”. De acordo com a médica ginecologista obstetra Melania Amorim, essas voltas que o cordão dá em torno do bebê não enforca. “O que permeia o imaginário popular, alimentado, infelizmente, pelo terrorismo que alguns obstetras fazem em torno desse achado, é a fantasia de que circulares em torno do pescoço possam levar ao "enforcamento" do bebê, uma entidade nosológica (classificação de doenças) que definitivamente não existe, nunca foi documentada. Bebês nascem ‘laçados’ há milênios”, afirma a PhD. A médica que possui Pósdoutorado Sênior pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, relembra que a história da circular é antiga, no entanto, só se descobria no momento em que a criança nascia. “Nas últimas décadas, com o advento e a popularização da ultrassonografia pré-natal é que sur-
giu a possibilidade de se detectar circular de cordão no momento do exame e, infelizmente, isso tem levado a muitas indicações desnecessárias de cesariana em nosso país. Digo em nosso país porque não tenho conhecimento de que circular de cordão represente ‘indicação’ de cesariana fora do Brasil”, finaliza a ativista pela humanização do parto e nascimento, direitos sexuais e reprodutivos.
Melania Amorim Médica Ginecologista Obstetra
NOTAS Por Dayane Dias
Remédio sem haver doenças A primeira descoberta dos antibióticos (penicilina) foi comercializada em 1941, revolucionando a ciência e impedindo que milhares de vidas fossem perdidas por infecções bacterianas. Atualmente seu efeito vem sendo questionados, pois ao invés de combater bactérias, esses medicamentos estariam tornando-as mais resistentes e nos deixando vulneráveis as doenças. A organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para o uso das drogas “ recomendamos que os médicos prescrevam e a população utilizem os antibióticos com muito cuidado”. Para a mãe e dentista Andréia da Natividade, o filho João precisou ir ao médico esse mês e foi receitado o antibiótico para ela evitar o medicamento é essencial, “Esse mês levei meu filho que te-
ve uma otite avançada e infelizmente, precisou de antibióticos, mas evito ao máximo esses medicamentos” disse a dentista. A organização mundial da saúde acredita que a partir de um estudo sobre resistências de bactérias classifica uma “ameaça global”, “atualmente milhares de pessoas morrem no mundo todo por infecções simples, para as quais existe tratamento e cura há décadas, como por exemplo, a tuberculose. Além disso pacientes debilitados com câncer e transplantados podem apresentar mais dificuldades apara responder a tratamentos com antibióticos” relatou a OMS em nota. O uso frequente de antibióticos as bactérias presentes no nosso organismo vão sofrendo alterações ate se tornarem totalmente a ele.
Choques a Serviço do peito Bioimpedância cardiográfica - apesar do nome complicado, o método ainda recente no país pretende facilitar o diagnóstico de desordens como insuficiência cardíaca. "Esse exame agrega informações preciosas sobre as funções do coração e revela se há água demais nos pulmões, o que pode ser consequência de um problema cardíaco", explica Marcelo Montera, coordenador do Centro de Insuficiência Cardíaca do Hospital Pró-Cardíaco, um dos primeiros a adotar a novidade. Segundo um estudo chefiado pelo médico, quando somada as técnicas tradicionais, a bioimpedância toma mais preciosos o rastreamento e o monitoramento dos martírios do peito.
Equipamento de monitoramento
Reposição mais segura A diminuição de hormônio feminino costuma anunciar ondas de calor, ressecamento vaginal e variação de humor. Tanto mal estar pode ser repelido pela terapia de reposição hormonal. Sendo indicada com parcimônia a mulheres que apresentam maior risco de câncer de mama. "O estrogênio é um fator de crescimento do
tumor", afirma a ginecologista Jaime Silva. Em busca de uma solução para as mulheres que não são candidatas à reposição, Jaime explica que as substâncias que administradas junto ao hormônio, inibem a captação pela mama, "Elas limitam a entrada do estrogênio na célula mamária". A estratégia passará por testes clínicos.
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Juventude conectada Por Darilene Aguiar
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hega da escola, toma banho, almoça e corre em direção ao computador, onde permanece até altas horas da noite. Essa é a rotina do estudante Adriano Marques, de apenas 12 anos. Assim como ele, milhares de crianças vivem essa realidade, com o crescimento da tecnologia e a facilidade de viver conectado, é comum ver crianças entendendo mais do universo virtual que muitos adultos. “Esse menino entende mais de computador que eu, estando com 31 anos, peço a ajudar dele quando preciso acessar as redes sociais.” Relatou a industriaria e mãe de Adriano, Débora.
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Uma pesquisa realizada pela Rede Telefônica Vivo, apresentou dados coletados no Brasil inteiro, sobre o crescimento de jovens e adolescentes conectados, a análise mostra que a região sudeste é a que mais cresce no Brasil, tanto na capital quanto nos interiores. O maior índice de usuários faz parte da classe C na economia, sendo a maioria estudantes das redes públicas de ensino, que utilizam redes wi-fi para acessar a internet. Os jovens estão cada vez mais ligados ao mundo cibernético, a pesquisa aponta um crescimento de 102%em relação à mesma pesquisa realizada em 2013, esse au-
mento se deve a facilidade de adquirir smatphones que se conecte a internet. “Hoje podemos acessar as redes sociais em qualquer lugar, basta ter um celular na mão com acesso à internet, as operadoras facilitam esse acesso criando pacotes de internet com um preço acessível”, disse a secretária Erica. O acesso as redes sociais cres-
cem entre os adolescentes, devido a facilidade de interação com outros jovens do mundo inteiro sem precisar olhar nos olhos ou sair de casa, essa comunicação virtual prejudica a relação pessoal, as brincadeiras de rodas, petecas e até mesmo o futebol do fim de semana, tem se tornado cada vez mais raro. A psicóloga Dilza Santos relatou a importância desse contato, “O mundo virtual hoje faz parte da vida do indivíduo, porém o que tem se observado são doenças sendo desencadeadas que afetam diretamente na saúde mental do indivíduo. As conseqüências são inúmeras, o estresse e a an-
siedade estão entre elas.” A psicóloga disse ainda que as relações sociais e familiares deixadas de lado, e os vínculos familiares esquecidos são preocupantes, e concluiu com uma mensagem aos jovens. “Tudo em exagero faz mal, nada substitui o contato olho no olho. As melhores relações ain-
da são a moda antiga.” Os jovens tornam-se cada vez mais frequentadores da internet, seja para disseminar ou absorver informações. Pesquisa realizada pela EBC Agência Brasil, constatou que 80% da população brasileira entre 9 e 17 anos, utiliza as redes virtuais. Identificou ainda, um aumento na frequência de acesso entre os jovens de 15 a 17 anos, subiu de 17% no ano de 2014 para 77% no ano de 2015. Esse aumento pode estar a rela-
cionado a facilidade de encontrar tudo que precisa num só lugar, desde diversão a estudos, antigamente era necessário recorrer a pilhas de livros para pesquisas escolares, enquanto hoje em dia, é possível encontrar tudo em um clik. “Os alunos vivem ligados nos aparelhos celulares, para os estudos a internet é um importante aliado, no entanto para convivência em sociedade é um ponto negativo. No intervalo não vimos mais grupos de jovens conversando, sorrindo e interagindo sem estar com o celular nas mãos”, relatou o Pedagogo Adriano Teixeira. No entanto a pesquisa realizada pela rede de telefonia vivo, revela que o uso da internet para pesquisas de trabalhos escolares, despencou de 86% em 2013, pa-
ra 59% em 2015. Embora o crescimento ao acesso diário tenha aumentado esse dado apenas reduziu. Somente 25% dos entrevistados afirmaram realizar pesquisas de trabalhos escolares.
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