Prologo

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PrĂłlogo &MJTB " HSBOEF DPORVJTUB

“Quem nĂŁo tem namorado ĂŠ alguĂŠm que tirou fĂŠrias nĂŁo remuneradas de si mesmo. Namorado ĂŠ a mais difĂ­cil das conquistas. DifĂ­cil porque namorado de verdade ĂŠ muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lĂĄgrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.â€? A RT U R DA TĂ VO L A

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ensa em um dia emocionante?! Pois Ê... era o meu! Tudo bem... Eu não tenho do que me orgulhar. Meu nome Ê Elisa Alcântara, tenho 21 anos e somente agora comecei a aprender a dirigir. Mas estou tão feliz com essa conquista, que resolvi ignorar meu atraso de desenvolvimento.

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Meu instrutor é baixinho, careca e muito engraçado. Seu nome é Anton, e não sei o motivo, mas este nome me faz rir. Tentando controlar meu nervosismo e a tremedeira que tenta tirar o meu controle sobre as minhas pernas, Anton resolve puxar papo comigo: — O que te fez resolver tirar a carteira só agora? — perguntou, incrédulo pelo meu atraso ao ingressar na autoescola. Putz! A primeira pergunta dele é aquela que faz até os cabelos da minha nuca se arrepiarem. Mexo-me desconfortavelmente em meu banco pensando no que responder ou se responderia. O motivo pelo qual nunca pude tirar carteira é a causa de todos os meus problemas atuais: um ex-namorado obsessivo. *** Seu nome era Rafael, e o conheci há quase quatro anos. Ele era lindo, alto, moreno, esbelto, com cabelos pretos que até brilhavam no sol, com olhos cor de mel, além de um sorriso arrebatador. Era aquele tipo de cara que contava a piada mais sem graça e te fazia dar gargalhadas só da cara que ele fazia. Ele era autêntico, alegre, de bem com a vida; e, principalmente, jovem e irresponsável. Quando o conheci, não tinha nenhuma noção de relacionamento, nem de vida sexual, muito menos do quanto um homem ciumento pode modificar totalmente a nossa visão de mundo, inclusive, sobre o significado de uma amizade. Sabe aquela máxima de que quem muito vigia é porque deveria ser vigiado? Aplica-se corretamente ao caso. Rafael colocou minha vida de pernas pro ar. Oh... tenho mania de citar frase de livros, filmes e demais. Acho que estou perdendo muito tempo na frente do computador e das telas de

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cinema! Mas não me julgue. Garanto que você tem uma lista de livros favoritos e uma coleção oculta de filmes que vê várias vezes sem cansar. Falando nisso, já assistiram Um Amor para Recordar? Aiii... Suspiro só de citar o nome. Estávamos nos preparando para o vestibular. Eu, a típica nerd da sala, tirava boas notas, nunca matava aula, era boa nos esportes e fazia parte da seleção da escola. Gosto de afirmar que era a filha exemplar. Quer dizer, com alguns retoques, eu seria. Já Rafael era aquele aluno que toda escola NÃO gostaria de ter: baderneiro, desagregador, inteligente, mas nada esforçado. Pode falar: clichê a CDF com o badboy da escola, não? Todos me perguntavam para quê eu iria fazer cursinho, já que provavelmente passaria sem estudar. Mas confesso que minha inteligência era mediana e veio de sorte, não de esforço. Por isso tive medo de tentar o vestibular sem estudar devidamente. A pressão da minha família era grande em me ver passar. Desde a primeira vez que o vi, fiquei completamente encantada. Mas quem não se apaixonaria por seu super-herói da utopia? Você vai me perguntar: “Se ele era o badboy, como poderia ser o seu super-herói?”. Fácil! Vou te contar. Ele me salvou de uma situação muito constrangedora. Como vocês verão, não tenho um dedo podre para escolher namorados. Tenho todo o tronco superior e ,muito provavelmente, um déficit cerebral! Mas quem nunca errou na escolha do namorado, que atire a primeira pedra! Está vendo?! Um erro recorrente. Estava chegando ao cursinho, quando me deparei com quem nunca mais gostaria de ver. Ele nunca chegou a ser um namorado, só uma paquera do bairro. No entanto, havia me traumatizado por uma eternidade, e o evitava de todas as formas humanamente possíveis. — O que você está fazendo aqui, Mark? — perguntei apavorada, mas sabia exatamente a resposta.

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— Lembrando a você que não adianta fugir de mim, eu sempre vou te achar. — Sua voz me causava arrepios. Logo após ele abrir a boca, fui confrontada por aquele bafo horrível de vinho, e descobri de onde ele tirou coragem para vir me atormentar. Tinha mais de um mês que não estávamos juntos, mas parece que Mark não aceitou tão bem o rompimento como eu imaginava. Ele era o tipo de homem que, quando você olha, pensa: “Não se aproxime!”. Ele não possuía nenhum atrativo físico, mas sabe-se lá porque deixei que se aproximasse. Nosso relacionamento, que nunca passou de ficantes, foi rodeado de mal-entendidos, esquisitices e chateações. Até que um dia resolvi que merecia algo melhor. Porém, acho que ele pensou que era o melhor. Com base em quê, será? Neste momento, Mark se aproximou e tentou me agarrar à força. Tentei me contorcer e fugir, mas até bêbado ele conseguia ser mais forte do que eu. Não que isso fosse difícil, já que eu tinha míseros 1,70m, 56 kg e um porte físico de se invejar, caso o seu parâmetro fosse de uma vareta. Vendo que não conseguia me soltar, Rafael veio em meu socorro. Não sei quais sinais eu dei de que precisava de ajuda. Não sei se foi minha cara de nojo, minha mão tentando empurrar o Mark, ou se foi minha ânsia de vômito. Só sei que funcionou. — Por que não tenta forçar alguém que possa se defender? — disse Rafael, impondo uma voz autoritária sobre Mark. Na hora pensei, ironicamente, que só faltava ele dizer: “Encarar alguém do seu tamanho”. Mas seria um jargão incorreto, já que eles não se assemelhavam em nada no tamanho. Rafael era magro, mas com um corpo bem torneado, que me fazia pensar em quantos pesos teria que carregar para adquirir

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aquele abdômen definido; enquanto Mark era muito magro, sem qualquer músculo aparente. E, pelo que constatei, a quantidade de massa cerebral era equivalente ao número de massa muscular, ou seja, quase inexistente. — E por que você não me deixa resolver isso com a garota? Ela tem cara de dama indefesa por acaso? — Mark estava ficando cada vez mais alterado. Parecia que ele estava latindo e rosnando, tentando defender o território. Homens e seus concursos de mijadas! Isso me lembra tanto a Ana, de Cinquenta Tons. Mas, fala sério, como eu queria estar em um concurso de mijadas em que um dos componentes fosse o Grey! Oh, céus! — Para mim parece uma menina que não te quer, cara. E está fazendo de tudo para te mostrar isso, não é?! — meu cavaleiro de armadura brilhante respondeu, não deixando dúvidas de que estava pronto para me defender. Quando mais precisava da minha voz, ela sempre me traía. Era bem recorrente eu tentar me expressar —embora falasse muito, mas não em público — e travar. Era reconhecida na escola e no meu círculo de amizade pela minha capacidade de expor uma tese. No entanto, nesse momento minha voz simplesmente pegou carona com o vento e voou. Tirando forças da alma, porque meu corpo não mais reagia, respondi: — Tudo que eu quero é que ele me deixe em paz! — Apontei o dedo indicador para Mark e olhei para Rafael. Meu tom de voz foi tão seguro, que até eu mesma me surpreendi. O brilho nos olhos do Rafael me encantou e me fez até sorrir, mesmo que bem sutilmente. Parecia um olhar de orgulho, um olhar de “viu? Eu salvei a garota indefesa”. No entanto, ao olhar para o Mark, minha expressão mudou. Ele tinha um olhar de desolação, que quase me deu pena, mas

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só isso. Se eu não tivesse lembrado quanta vergonha tinha ao pensar que ele era tudo o que eu não queria para a minha vida: um homem irresponsável, fora dos padrões de moral, usuário de drogas, e que resumia toda a minha fase rebelde que eu queria esquecer. Mas pessoal, eu friso, embora tenha gostado de andar com os rebeldes, nunca tive coragem de colocar nem um pingo de bebida alcoólica na boca, muito menos experimentei cigarro ou drogas. — Já que é isso que deseja, Lisa, é isso que vai ter. Mas não adianta se arrepender depois. — Mark soou abatido e derrotado. Depois entrou no carro e nunca mais chegou perto de mim.

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