CENTRO DE TRANSMISSÃO DOS SABERES TRADICIONAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ
BÁRBARA BEATRIZ DO ESPÍRITO SANTO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO UFSC 2016
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Arquitetura e Urbanismo Orientadores: Dalmo Viera Filho Karine Daufenbach
CENTRO DE TRANSMISSÃO DOS SABERES TRADICIONAIS DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ
BÁRBARA BEATRIZ DO ESPÍRITO SANTO
FLORIANÓPOLIS MARÇO | 2016
AGRADECIMENTOS
Ao meu amor, Thomas, pela paciência, carinho e amor incondicional que me oferece todos os dias; aos meus pais, Mari e Davi, e ao meu irmão Otávio, por serem, para mim, tudo e mais um pouco; aos colegas e amigos do curso, que compartilharam comigo as angústias dos fins de semestre e as noites mal dormidas de projeto; aos meus orientadores, Dalmo e Karine, por aceitarem fazer parte deste trabalho; à minha família, aos amigos queridos e a todos que fizeram parte dessa jornada e colaboraram na minha formação.
Muito obrigada!
A cultura e a memória de um povo são os principais fatores de sua coesão e identidade, os responsáveis pelos liames que unem as pessoas em torno de uma noção comum de compartilhamento e identidade, noção básica para o senso de cidadania. O patrimônio histórico e artístico materializa e torna visível esse sentimento evocado pela cultura e pela memória e, assim, permite a construção das identidades coletivas, fortalecendo os elos das origens comuns, passo decisivo para a continuidade e a sobrevivência de uma comunidade. Além desse aspecto de construção de identidade, a noção de patrimônio cultural diz respeito à herança coletiva que deve ser transmitida às futuras gerações, de forma a relacionar o passado e o presente, permitindo a visão do futuro. (Diretrizes para Proteção do Patrimônio Cultural, 2006, p. 8)
RESUMO A proposta de um Centro de Transmissão dos Saberes Tradicionais da Imigração na Casa Comercial Passold, edificação de alto valor cultural no município de Pomerode, vem como uma das possíveis respostas a uma questão importante na preservação do patrimônio cultural: como pode-se proteger o patrimônio imaterial através da proteção do patrimônio material? A Casa Comercial Passold representa um importante exemplar da cultura de imigração alemã em Santa Catarina, colonização de suma importância para a história deste Estado. Além de apresentar aspectos tipológicos, formais e construtivos característicos da imigração na região, a casa e seus anexos apresentam uma grande variedade de usos: comercial, residencial e de serviços. Esse uso misto é precisamente o que a torna mais rica como exemplar cultural, na medida que traduz costumes e o modo de vida dos imigrantes, além de exprimir com clareza a forma de organização daquela sociedade. Sua história é, ainda, cheia de saberes da imigração. Ali se produziu por mais de oito décadas produtos coloniais dos mais variados, vendidos no comércio e nas feiras do produtor em Blumenau e Pomerode. É representativa, então, não só da arquitetura teutobrasileira, mas também dos muitos conhecimentos que foram trazidos na bagagem dos imigrantes que se estabeleceram no Vale do Itajaí. Propõe-se, assim, a criação de um Centro Cultural focado justamente na transmissão desses saberes, garantindo a conservação do patrimônio material existente no terreno e atuando diretamente na proteção da cultura e hábitos da comunidade rural de Pomerode. A intervenção parte do restauro da casa principal e do moinho e consiste no reuso de dois dos anexos que ainda estão em bom estado e na proposta de três novos volumes, cuja finalidade é abrigar cozinhas comunitárias - para produção de produtos coloniais dentro das normas da vigilância sanitária -, salas de aula com espaços multiuso e oficinas voltadas ao aprendizados das técnicas tradicionais da construção civil - cerâmica, ferro e trabalhos em madeira.
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO
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JUSTIFICATIVA
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PROCESSO: ESCOLHA E APROXIMAÇÃO DO LUGAR
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OBJETIVOS
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CULTURA E IDENTIDADE
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A IMIGRAÇÃO EM SANTA CATARINA
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O PROCESSO IMIGRATÓRIO NO SUL DO BRASIL
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A COLÔNIA BLUMENAU
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O PATRIMÔNIO DO IMIGRANTE
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O LUGAR
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O COMPLEXO COMERCIAL PASSOLD
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LEVANTAMENTO HISTÓRICO
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CARACTERÍSTICAS GERAIS
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COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA
58
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
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RANCHOS E ANEXOS
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MOINHO
68
AÇOUGUE / DEFUMADOR E QUEIJARIA
69
ESTÁBULO, SERRARIA E OLARIA
70
ENTORNO
72
LEGISLAÇÃO URBANA
72
USO E OCUPAÇÃO
74
EQUIPAMENTOS URBANOS
76
PATRIMÔNIO EDIFICADO
78
CONDICIONANTES FÍSICO-CLIMÁTICOS
80
A PROPOSTA
83
PROGRAMA
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IMPLANTAÇÃO
89
CORTES DA IMPLANTAÇÃO
92
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NO ENTORNO
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ESPAÇOS DO PROJETO
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COZINHA PARA PRODUÇÃO DE EMBUTIDOS
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CASA PRINCIPAL
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COZINHA PARA PRODUÇÃO DE LATICÍNIOS
98
COZINHAS COMUNITÁRIAS
99
MOINHO
100
OFICINAS
100
ESCOLA
101
PLANTAS
102
VISTAS
106
CORTES
101
ESQUEMA ESTRUTURAL
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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APRESENTAÇÃO
JUSTIFICATIVA A busca de um tema para o trabalho de conclusão de curso da graduação foi, para mim, bastante agitada. Milhões de temas me passavam pela cabeça - possibilidades e combinações infinitas de terrenos e programas. Sabia que teria que ser um tema que eu amasse, que motivasse e me estimulasse a superar meus limites a cada dia, pois só assim teria a determinação necessária para atingir o resultado final esperado. Decidi por trabalhar com a passagem do tempo, com as histórias e memórias de um lugar - assuntos que me interessam particularmente - mas conclui que esse trabalho deveria ser, também, autobiográfico - deveria trazer uma reflexão sobre como a minha trajetória pessoal reflete no modo que desejo fazer arquitetura, através dos caminhos abertos na escola. Busquei, então, os aspectos da minha linha do tempo que moldaram o meu viver. Quais as minhas referências e em quais bases se estabeleceram os pilares do meu cotidiano? Venho de uma família de artesãs. Minha avó Maria, enfermeira e costureira nas horas vagas, cultivava muitos talentos e saberes das linhas, tecidos e agulhas. Não era raro vê-la colocar os olhos em uma peça de roupa, analisar por alguns minutos e concluir que também sabia fazer uma igual, mesmo que nunca tivesse feito essa peça antes. Minha mãe, mais nova das dez filhas de Maria, herdou esses saberes cultivados por minha avó, que pacientemente lhe ensinou o tricô, o crochê e o bordado - artes que agora partilha com o ofício de professora, advogada, acadêmica e mãe. Com minha mãe aprendi muitas coisas, dentre elas, aprendi a criar. Aprendi que ser artesã é muito mais do que saber manusear linhas, agulhas e tecidos, mas é colocar a mente, as mãos e o coração
APRESENTAÇÃO
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em um trabalho que, no fim da sua criação, é uma pequena parte de mim que irá para o mundo contar, também, a minha história. . Encontrei em mim as histórias e os saberes de minha mãe, minha avó e de muitas outras artesãs antes delas nessa linha tempo. E quantos outros artesãos carregam histórias consigo! Cada doce, cada pão, cada cesto e cada peça esculpida conta todo o conto de uma vida, de uma família. Conhecimentos que sobrevivem aos anos a medida que são passados de pai para filho. Se faz, então, absolutamente imperiosa a garantia de que essas histórias e saberes continuarão por ainda muitos anos, décadas e séculos e, dessa maneira, fica muito claro o meu objetivo para esse trabalho: investigar as possibilidades de conservar os saberes, fazeres e histórias através da arquitetura.
PROCESSO ESCOLHA E APROXIMAÇÃO DO LUGAR A ideia de intervir no patrimônio edificado, em uma arquitetura que refletisse a história e memória de um lugar e que expusesse o tempo que se ali se acumulou ao longo dos anos parece, então, uma escolha natural. Ainda sem um programa determinado, mas com a certeza de que o processo de investigação da arquitetura seria o fator principal para sua construção, iniciouse uma busca por um conjunto arquitetônico que representasse justamente a transmissão dos conhecimentos e os aspectos essenciais da vida cotidiana colocados como foco deste estudo.
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APRESENTAÇÃO
A Casa Comercial Passold, tombada em 2009 pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), encaixou-se perfeitamente nessa premissa. É, além de um exemplar formidável da arquitetura da imigração alemã em Santa Catarina, o local onde por mais oitenta anos a família Passold dedicou-se a produção colonial. Essa propriedade reúne uma história de produção de mais de dez tipos diferentes de produtos coloniais - dentre eles laticínios, compotas, embutidos, pães e bolos - e da fabricação de peças particulares para primorosa construção das edificações da região. Embora contassem com alguns funcionários, muito do que era vendido na casa comercial era produzido pela própria família com conhecimentos passados de geração a geração e que ainda são guardados com carinho pelo Opa e pela Oma Passold, que produzem agora apenas alguns alimentos para consumo próprio. Uma vez definido o objeto de estudo, partiu-se para o levantamento das edificações existentes e do histórico do conjunto. Criaram-se bases e referências para o trabalho através da convivência com a família e o contato com seus relatos, memórias, fotografias e objetos, fazendo possível a identificação não somente dos elementos da casa que são arquitetonicamente singulares, mas também dos aspectos que se destacam pela importância nos significados e lembranças que contém. O levantamento das atividades exercidas ali também foi de grande importância para a compreensão do uso vocacionado daquelas estruturas e a quê elas se propõe dentro deste novo contexto histórico que estão inseridas. Buscou-se, ainda, identificar quais atividades e conhecimentos que ainda se conservam e se propagam, não só dentro do círculo da
APRESENTAÇÃO
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família, mas também nos arredores. Simultaneamente, foi preciso afastar-se da escala da arquitetura e compreender o seu entorno. A identificação das mudanças ocorridas ao longo dos cem anos em que a Casa Passold esteve ali, não só no que diz respeito aos aspectos físicos e morfológicos do espaço, mas também as constantes transformações sociais na sua vizinhança, fez-se fundamental para o entendimento das dinâmicas existentes no conjunto. Retomou-se, então, a questão inicial: como se pode conservar aquilo que é imaterial, os conhecimentos orais, através da conservação do que é material, da arquitetura construída? E, ainda, como um novo uso pode aproximar a comunidade estabelecida naquele bairro da cultura e história da imigração? Uma das respostas a essas indagações vem justamente em forma de um programa que contempla atividades que preservam e partilham os conhecimentos, restaurando não só as arquiteturas presentes no conjunto mas também as atividades que o tornavam tão importante na rotina do bairro. A proposta de criar uma Oficina-Escola focada nas técnicas tradicionais da imigração alemã - desde a produção colonial (melado, müss, geleias, pão, cucas, queijo cozido, dentre outros) até as técnicas de construção civil (olaria, ferraria e serralheria, serraria e carpintaria) - se adapta bem ao lugar e trás nova vitalidade ao bairro, possibilitando não só a conservação dos conhecimentos tradicionais mas também estabelecendo novos elos com a comunidade de Pomerode, cidade onde está localizado o imóvel estudado.
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APRESENTAÇÃO
OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Coloca-se como objetivo geral deste trabalho a proposição de um espaço cultural voltado à conservação dos conhecimentos tradicionais da imigração alemã, garantindo a conservação do patrimônio edificado presente no terreno onde se insere e atuando diretamente na proteção das herenças culturais da região.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS Compreender e aplicar os mecanismos de manutenção do patrimônio cultural, preservando os elos que unem a comunidade aos seus antepassados, sua terra, costumes e hábitos que conferem identidade ao seu povo - impedindo que suas tradições se percam nas novas dinâmicas urbanas e na diversidade de estímulos que a atualidade oferece. Refletir sobre as formas de ocupação do espaço observando as dinâmicas estabelecidas no modelo econômico e de ocupação dos imigrantes alemães estabelecidos em Santa Catarina. Propor o reuso das estruturas do Complexo Comercial Passold, um imóvel tombado majoritariamente desocupado e em situação de risco, seja restaurando seus usos originais ou estabelecendo um novo programa, compatível com as suas estruturas formais e relacionado com seu histórico. Elaborar uma proposta de intervenção que aproxime a população do patrimônio edificado e da cultura e história da imigração alemã no Estado e no município de Pomerode. Reintegrar a Casa Comercial Passold à dinâmica da cidade, renovando os laços culturais da comunidade local com a sua história.
APRESENTAÇÃO
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CULTURA E IDENTIDADE
CULTURA E IDENTIDADE O conceito de cultura está intimamente ligado às expressões da autenticidade, da integridade e da liberdade. Ela é uma manifestação coletiva que reúne heranças do passado, modos de ser do presente e aspirações, isto é, o delineamento do futuro desejado (SANTOS, Milton. Da cultura à indústria cultural, 2000.)
1
Cultura é o conjunto de comportamentos, atividades e símbolos de um povo, aprendidos ao longo do tempo através da vida em sociedade. Inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes adquiridos por um grupo social - heranças sociais da convivência em comunidade. É um mecanismo dinâmico e cumulativo, resultado de um esforço comum em aprimorar valores materiais e espirituais a cada geração, estando em constante criação, recriação e ampliação. A soma dos produtos culturais derivados das heranças sociais é tratada como Patrimônio Cultural. É o conjunto de bens que torna visível os aspectos da cultura e da memória que fortalecem a identidade coletiva, podendo ser tangíveis ou intangíveis compreendendo desde conjuntos urbanos até a memória oral de um povo. É, assim como a Cultura, um conceito aberto e mutante, uma vez que é dependente dos sistemas culturais em construção na sociedade - sem fronteiras definidas e sempre passível de subjetividade. O conceito de Patrimônio Cultural que orienta as ações de preservação patrimonial no Brasil atualmente foi estabelecido pela
1
SANTOS, Milton. Da cultura à indústria cultural. São Paulo, SP: Folha Online, 2000.
<http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_3_10.htm>. Acesso: Agosto de 2015.
CULTURA E IDENTIDADE
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Constituição de 1988, como uma ampliação das noções de Patrimônio Histórico já introduzidas no Decreto-Lei nº 25/1937 2 - cujo foco central era a proteção do legado material notável por sua excepcionalidade histórica, monumental e artística no país. No texto constitucional, o Patrimônio Cultural Brasileiro é definido nos seguintes termos: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I. as formas de expressão; II. os modos de criar, fazer e viver; III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV. as obras, os objetos, os documentos, as edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico,
arqueológico,
paleontológico,
ecológico e científico. (Constituição da República Federativa do Brasil, 5/10/1988. Artigo 216.)
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Entende-se, então, que o Patrimônio Cultural Brasileiro é o conjunto de todos os bens que, por seu valor próprio, devem ser considerados relevantes para a preservação da identidade e cultura
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No artigo primeiro do Decreto-Lei nº 25/1937 é definido o conceito de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional como: “Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.” 3
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de 5 de Outubro
de 1988. Brasília, DF: Senado Federal. Constituicao.htm>. Acesso: Maio de 2015.
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CULTURA E IDENTIDADE
do povo brasileiro. Essa definição amplia a de Patrimônio Histórico no sentido de contemplar, também, a dimensão imaterial do povo brasileiro. Essa definição amplia a de Patrimônio Histórico no sentido de contemplar, também, a dimensão imaterial do patrimônio, incorporando o entendimento de referência cultural, ressaltando a importância das contribuições dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira e reconhecendo a relevância da representatividade e da abordagem territorial nas políticas preservacionistas. Essas novas políticas de proteção do patrimônio, mais alinhadas com a diversidade cultural brasileira, possibilitaram a criação de instrumentos de preservação fundamentais para a proteção de legados de diferentes naturezas e origens. Dentre eles, a chancela da Paisagem Cultural - tipologia de reconhecimento do patrimônio que legitima as dimensões globais do patrimônio, compreendendo os bens naturais e culturais de forma integrada. No Brasil, a chancela da Paisagem Cultural é um instrumento de preservação do patrimônio cultural brasileiro regulamentado na Portaria Iphan nº 127/2009 e, conforme essa, possui a seguinte definição: Art. 1o. Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. (Paisagem Cultural, 2009, p. 35)
4
4
WEISSHEIMER, Maria Regina, organizadora. Paisagem Cultural. Brasília, DF: IPHAN,
2009.
CULTURA E IDENTIDADE
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É um conceito que reconhece que uma parcela do território só existe na sua integridade se for preservado não somente o patrimônio físico existe ali, mas também as condições ambientais, socioeconômicas e culturais que a conformam. Mais do que uma chancela, um selo de reconhecimento, a Paisagem Cultural serve como um instrumento de gestão que busca justamente garantir a manutenção da qualidade das paisagens, de forma que a interação entre o homem e o meio continue harmônica e sustentável. Esse aspecto é visível na região de imigração no Vale do Itajaí, cuja organização espacial e concentração de traços históricos revelam o seu período de desenvolvimento e exprimem a relação existente entre o colono e o território. São áreas onde nota-se claramente a forma em que o ambiente influenciou não só o modelo de ocupação do espaço - a forma de usar a terra, de produzir os alimentos e de organizar o terreno -, mas também guiou o caráter e o modo de vida do imigrante ao mesmo tempo que a forma em que as tradições e atividades do povo imigrante modificaram o meio natural existente nessa região.
F 1 | CASA HORNBURG PROPRIEDADE RURAL EM POMERODE FONTE: ACERVO IPHAN/SC
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CULTURA E IDENTIDADE
CULTURA E IDENTIDADE
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A IMIGRAÇÃO EM SANTA CATARINA
O PROCESSO IMIGRATÓRIO NO SUL DO BRASIL As mudanças bruscas na organização político-social da Europa ocorridas a partir do conhecimento e conquista de novos espaços geográficos após as grandes navegações bem como dos efeitos da Revolução Industrial promoveram um movimento migratório em massa da sua população em busca de oportunidades de prosperar em novos territórios. Italianos, suíços, alemães, franceses, poloneses, ucranianos, dentre muitos outros seguiram para o continente americano, colaborando na composição de um panorama cultural plural na América do Sul e no estabelecimento de um dos principais aspectos caracterizadores do Brasil: um país formado por uma grande diversidade de etnias. A vinda da Família Real Portuguesa e, consequentemente, Abertura dos Portos marcam o início de um processo de colonização no Brasil. Se deu, a princípio, por razões estratégicas e políticas, um esforço do Governo Imperial em ocupar áreas devolutas - até então habitadas por índios - e em estabelecer uma classe média livre. A corte portuguesa entendia que as políticas de imigração eram um fator civilizatório e que o território deveria ser ocupado principalmente por imigrantes europeus. Atuou, então, diretamente nos projetos de imigração, viabilizando a fundação das colônias e subsidiando não só a viagem dos imigrantes, mas também seus primeiros anos nas colônias. O governo funcionou como uma espécie de sócio de muitos dos empreendimentos que se estabeleceram, contratando e pagando ordenados aos recém-chegados, até que pudessem tirar o sustendo de suas terras. (Dossiê Roteiros Nacionais da Imigração, 2008, p. 34)
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A IMIGRAÇÃO EM SANTA CATARINA
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A chegada de imigrantes não ibéricos representou, também, uma ruptura com o sistema colonial vigente até então - apoiado nos latifúndios de monoculturas apoiadas no regime escravocrata - e um reorganização do território através de modelos de ocupação baseados na pequena propriedade e agricultura familiar diversificada. Santa Catarina - cujo o território permanecia, até então, ainda bastante despovoado - possuía condições favoráveis a recepção desses novos fluxos populacionais e foi, ao longo do século, um dos estados que recebeu o maior número de imigrantes, possuindo, por consequência, os aspectos mais representativos da presença da colonização europeia não-ibérica. De todas as regiões brasileiras foi no Sul do Brasil que esses novos contingentes tornaram sua presença mais manifesta. Em Santa Catarina existiam condições especiais para a recepção dos imigrantes e ainda hoje persistem
possibilidades
o contexto dessa história
singulares
de
apresentar
notável. (Dossiê Roteiros 5
Nacionais da Imigração, 2008, p. 18)
Os reflexos desses fluxos migratórios foram importantíssimos para a determinação dos traços econômicos e sociais do estado, fazendo parte do processo de construção de uma identidade cultural impar no país.
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WEISSHEIMER, Maria Regina, organizadora. Dossiê Roteiros Nacionais da Imigração.
Brasília, DF: IPHAN, 2008. p.34. 6
WEISSHEIMER, Maria Regina, organizadora. Dossiê Roteiros Nacionais da Imigração.
Brasília, DF: IPHAN, 2008. p.18.
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A IMIGRAÇÃO EM SANTA CATARINA
A COLÔNIA BLUMENAU O processo colonizador aumenta muito o contingente populacional em Santa Catarina em um curto período de tempo, resultando no surgimento de um grande número de cidades polos industriais e populacionais derivados dos principais núcleos coloniais do estado. Blumenau, Jaraguá do Sul, Indaial, Timbó e Pomerode, por exemplo, derivam justamente de um dos núcleos populacionais mais importantes do período de imigração, a Colônia Blumenau - estabelecida no vale do Rio Itajaí-Açu e estendendose até o vale do Rio do Testo e seus confluentes - e possuem os números mais expressivos de descendentes alemães do Brasil. A Colônia Blumenau foi fundada como uma colônia privada por Dr. Hermann Blumenau, em 1850, na confluência do rio ItajaíAçú e Garcia - posição estratégica que fazia ligação com outros centros importantes, tais como com o litoral e o planalto serrano. Se desenvolveu, nesse primeiro momento, de uma forma lenta e gradual, recebendo, entre 1850 e 1859, aproximadamente 900 imigrantes - a grande maioria agricultores e de origem alemã. Após sua aquisição pelo Governo Imperial, a imigração para a Colônia foi intensificada e seus domínios expandidos, buscando estabelecer novos caminhos seguindo os cursos dos ribeirões do sul das serras de Jaraguá e das margens do Rio do Testo. Nos 30 anos seguintes, já passava a marca dos 13 mil habitantes em seu território, cujas origens eram a Alemanha e Itália - com imigrantes vindos da região do Tirol. Em 1880 Blumenau foi elevada a categoria de Município e em 1882 conquistou sua emancipação.
A IMIGRAÇÃO EM SANTA CATARINA
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O PATRIMÔNIO DO IMIGRANTE Os imigrantes chegados nas colônias do Sul do Brasil lidaram com todo o tipo de adversidade na sua acomodação. Além das dificuldades com o clima, numerosas enchentes e epidemias e doenças, tiveram que lidar com a ausência de quase tudo que tinham como familiar, tendo que adaptar seus antigos costumes e técnicas às novas matérias primas disponíveis. É justamente essa combinação de tradições e conhecimentos de culturas milenares, adaptados às condições da história, da cultura e da geografia locais que configuram o patrimônio cultural desses imigrantes estabelecidos em terras catarinenses como de extrema significância para o país. Uma grande parcela desse patrimônio - representado pelas pequenas propriedades e seu conjunto construído - se concentra em áreas rurais, onde ainda se percebe os reflexos da imigração no modo de viver dos habitantes. Os conhecimentos agrícolas, culinária, festas, hábitos, estórias, folclore, dialetos, saberes e fazeres em geral característicos dos imigrantes são aspectos que, juntamente com o patrimônio edificado, o traçado das cidades e a paisagem rural, compõe a bagagem cultural trazida pelos colonos de seus países de origem e são testemunhos da trajetória do imigrante no estado. A arquitetura é uma das expressões mais significativas dessa história. Igrejas, comércios, escolas, clubes e pequenas industrias fazem parte do conjunto edificado pelos colonos, demonstrando não só a maneira tradicional de construir - as técnicas, materiais e detalhes construtivos - mas a vida em comunidade que foi fundada e se mantém viva ali.
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A IMIGRAÇÃO EM SANTA CATARINA
Atualmente o patrimônio da imigração enfrenta grandes desafios. O rápido desenvolvimento e estabelecimento de zonas industriais nesses núcleos populacionais vem transformando a paisagem da cidade - expandindo seu o perímetro urbano e englobando áreas importantes da paisagem histórica - e seus aspectos socioeconômicos, levando ao progressivo abandono das zonas rurais e, consequentemente, colocando em risco o patrimônio cultural - poucas edificações conseguem resistir aos loteamentos e as pressões imobiliárias, bem como à falta de apego pelas tradições e costumes pela crescente população. Entende-se, assim, que a conservação dos costumes e tradições bem como do modo de vida e de ocupação dos imigrantes da região do Vale do Itajaí é a forma mais adequada de salvaguardar o patrimônio construído resultante da imigração, cuja importância é inegável no contexto nacional.
A IMIGRAÇÃO EM SANTA CATARINA
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O LUGAR
JARAGUÁ DO SUL
RIO DOS CEDROS POMERODE
BLUMENAU TIMBÓ
F 2 | MAPA DE LOCALIZAÇÃO FONTE: ACERVO PESSOAL
INDAIAL
40 |
O LUGAR
POMERODE, SANTA CATARINA O município de Pomerode situa-se no médio Vale do Itajaí, a uma altitude em seu núcleo urbano de 58 metros acima do nível do mar, com área total de 217 km2 e com os seguintes limites municipais: ao Norte com Jaraguá do Sul, ao sul e ao leste com Blumenau e Indaial e ao Oeste com Rio dos Cedros e Timbó. Desenvolveu-se ao longo do Rio do Testo, afluente do Rio Itajaí-Açú em sua margem esquerda, de forma semelhante a outros núcleos populacionais de imigrantes - com suas estradas principais se estendendo ao longo dos vales e rios. Em aproximadamente 1860 a sua ocupação iniciase, então, a partir dessas estradas principais e com lotes na encosta do Rio do Testo - onde hoje é a região central da cidade - e prolongase até Pomerode Fundos, Testo Rega e Testo Alto - os bairros mais distantes do centro e os últimos a serem ocupados, em 1880.
Localização: Médio Vale do Itajaí Fundada: Dezembro de 1958 Emancipação político-administrativa: Janeiro de 1959 Município de Origem: Blumenau População: 30.009 mil habitantes (fonte: IBGE) Área total: 216 km2 (fonte: IBGE) Zona Urbana: 76,5 km2 Zona Rural: 139,5 km2 Principais atividades econômicas: indústria do vestuário, indústria metal mecânica, indústria de plásticos, indústria da porcelana, indústria de produção de cimento, fabricação de produtos em madeira e artesanato, fabricação de alimentos(queijo fundido, chocolate) e empresas de transporte.
O LUGAR
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F 3 | PLANO DIRETODE POMERODE FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL
F 4 | DIVISÃO OFICIAL DE BAIRROS FONTE: ACERVO PESSOAL LEGENDA Riberão Luebke Testo Central Riberão Souto Vale do Selke Grande Vale do Selke Pequeno Testo Central Alto Riberão Herdt Riberão Clara Centro Pomerode Fundos Wulnderwald Testo Rega Testo Alto Riberão Areia
42 |
O LUGAR
A principal etnia da cidade é alemã, descendentes de imigrantes provavelmente vindos da região da Pomerânia, na Alemanha. Em sentido figurado, o nome Pomerode significa Colônia da Pomerânia, mas de forma literal pode se entender que o termo
roden - que no alemão significa destocar ou retirar os tocos e raízes para que uma área se torne cultivável - indique uma área destinada a prática do cultivo e da agricultura. De fato a agricultura foi durante um longo período de tempo a principal atividade econômica da cidade: os primeiros imigrantes, estabelecidos em minifúndios estreitos e alongados que iam das estradas principais até as cumeadas de morros, cultivavam arroz, fumo, batata, mandioca, cana de açúcar, milho e feijão, além da criação de gado leiteiro e suíno. Sua produção era voltada principalmente a subsistência e a elaboração de alguns derivados do leite.
Nos entroncamentos ficavam alguns poucos pontos
comerciais, localizados por bairros, que faziam o abastecimento de itens que não eram produzidos pelos próprios colonos - tais como louças, artigos de armarinho, ferragens, dentre outros. Anos mais tarde, as pequenas produções de laticínios dos colonos deram origem as primeiras industrias, que viriam a ser uma parte importante da economia da cidade. Atualmente, Pomerode é um forte polo têxtil - possui 114 malharias que geraram, só em 2010, aproximadamente 3100 empregos na cidade - e metal mecânico - com importantes indústrias como a Netzch e a Bosch, que produzem equipamentos de uso industrial específico (T 1). Na produção agrícola, destacam-se as lavouras da mandioca e do milho, mas também observa-se, em
O LUGAR
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em menor quantidade, lavouras de arroz, batata-doce, feijão e tomate (T 2). Coloca-se que, embora uma boa parte da população ainda desenvolva atividades agropecuárias e a mesma seja importante para a cidade, esse não é o seu setor econômico principal. Muitos dos moradores de Pomerode trabalham meio período nas indústrias ou no comércio, tanto na própria cidade quanto em cidades vizinhas.
T 1 | PRICIPAIS ATIVIDADES GERADORAS DE EMPREGO FONTE: SEBRAE
Número de empresas
Número de empregos
Grupo 141 - Confecção de artigos de vestuário e acessórios
114
3129
Grupo 135 - Fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário
11
680
Grupo 222 - Fabricação de produtos de material plástico
45
838
Grupo 493 - Transporte rodoviário de carga
58
370
7
658
comércio, exceto veículos automotores e motocicletas
45
55
Grupo 281 - Fabricação de motores, bombas, compressores
1
509
Grupo 324 - Fabricação de brinquedos e jogos recreativos
5
304
Grupo 234 - Fabricação de produtos cerâmicos
9
252
154
224
Grupo de Atividade Econômica versão CNAE 2.0
Grupo 286 - Fabricação de máquinas e equipamentos de uso industrial específico Grupo 461 - Representantes comerciais e agentes do
e equipamentos de transmissão
Grupo 478 - Comércio varejistas de produtos novos não especificados anteriormente e de produtos usados
44 |
O LUGAR
T 2 | PRODUÇÃO DAS LAVOURAS TEMPORÁRIAS FONTE: IBGE
Quantidade produzida e área plantada das lavouras temporárias de Pomerode Principais Produtos
Quantidade Produzida (Toneladas)
Área plantada (hectares)
2006
2010
2006
2010
Arroz
60
72
10
12
Batata-Doce
90
90
2
2
Cana-de-açucar
7200
-
240
-
Feijão (grão)
6
6
6
6
Fumo (folha)
5
-
2
18
Mandioca
3700
1665
185
185
Milho (grão)
3024
4480
1260
1400
Tomate
20
30
1
1
T 3 | PRODUÇÃO DAS LAVOURAS TEMPORÁRIAS FONTE: IBGE
Quantidade produzida e área plantada das lavouras permanentes de Pomerode Principais Produtos
Quantidade Produzida (Toneladas)
Área plantada (hectares)
2006
2010
2006
2010
Banana (cacho)
105
105
10
10
Laranja
68
68
4
4
Tangerina
17
17
4
4
O LUGAR
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Entre Blumenau e Pomerode estão localizadas o maior número de propriedades rurais ligadas ao processo de imigração. Os bairros do Testo Alto e Testo Rega - que se originaram do mesmo processo de povoamento - possuem um dos acervos mais significativos da arquitetura teuto-brasileira (F5). Tanto a área rural da Vila Itoupava como Testo Alto destacam-se pela Paisagem Cultural Preservada, que alia primorosamente a presença da cultura humana com o meio natural onde se inserem casas, ranchos, plantações e áreas de matas preservadas, convivendo com as tradições, línguas, culinária e muitas outras manifestações culturais trazidas na bagagem dos imigrantes. (Dossiê Roteiros Nacionais da Imigração, 2008, p. 311)
6
Embora ainda conservem características de áreas rurais, tanto o Testo Alto quanto o Testo Rega enquadram-se, de acordo com o plano diretor de Pomerode, dentro do perímetro urbano da cidade (F 3) e encontram-se logo acima da área central, tornando-os uma zona periférica da cidade e colocando em risco a sua preservação como paisagem. Ambos sofrem com o acréscimo constante de novas edificações e com o loteamento dos minifúndios existentes, mas os efeitos dessa urbanização são mais visíveis no Testo Rega, uma vez que o Testo Alto é protegido pelo IPHAN pela chancela da paisagem cultural - visa preservar os aspectos particulares da região que representam a interação do colono com o meio natural.
6
WEISSHEIMER, Maria Regina, organizadora. Dossiê Roteiros Nacionais da Imigração.
Brasília, DF: IPHAN, 2008. p.311
46 |
O LUGAR
F 5 | TOMBAMENTOS NO TESTO ALTO FONTE: DOSSIÊ ROTEIROS NACIONAIS DA IMIGRAÇÃO, P.311
O LUGAR
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O COMPLEXO COMERCIAL PASSOLD
F 6 | PRIMEIRO REGISTRO DO COMPLEXO COMERCIAL, 1910 FONTE: ACERVO FAMÍLIA PASSOLD
50 |
O COMPLEXO COMERCIAL
LEVANTAMENTO HISTÓRICO A Casa Comercial Passold localiza-se na Rua Vitória, número 1138, no bairro Testo Rega, e foi construída em 1897 por Gustav Salinger - um comerciante vindo da Alemanha que possuía um negócio de importação e exportação de produtos coloniais. No lote de cinquenta mil braças quadradas (ou 240 mil metros quadrados), Salinger ergueu, a princípio uma filial do seu comércio em Blumenau, acompanhado de um estoque, um dormitório para funcionários e uma parada para cavalos e carroças. Em 1922, Salinger vendeu por seis contos de réis a casa comercial e todas as terras à Richard Passold, um antigo funcionário da loja. Inicialmente, a casa comercial abastecia toda a área rural do Bairro Testo Rega com produtos vindos de Blumenau e de outros fornecedores da região (demais casas comerciais como a Casa de Comércio Weege e Haut, no Centro e Testo Alto). Os produtos que não poderiam ser produzidos pelos colonos, então, eram trazidos das cidades grandes - querosene, tecidos e outros aviamentos, louças, tintas, materiais escolares eram alguns dentre os muitos itens vendidos. A medida que as necessidades da comunidade do Rega iam crescendo, novas estruturas eram acrescidas ao comércio, que passou a trabalhar também com produções próprias feitas a partir das matérias primas fornecidas pelos colonos da região. Nos cinco quartos existentes no andar superior, a família estabeleceu uma pequena hospedaria. Uma vez que a casa se localizava em um importante eixo de conexão entre Blumenau e Joinville, abrigava muitos dos passageiros que faziam essa viagem que durava aproximadamente 2 dias.
O COMPLEXO COMERCIAL
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A hospedagem em muitas ocasiões funcionava na base da troca de serviços: em troca de abrigo era fornecido algum serviço para o complexo comercial. Foi nesse sistema que se construiu muitas das benfeitorias do complexo como, por exemplo, o moinho alguns anos mais tarde. Renato Passold, neto de Richard, conta que um grupo de alemães que estavam no Brasil construiu o moinho e fez um desvio do Rio Rega para alimentação do mesmo, ao longo dos quatro anos que ficaram hospedados. Dessa forma, formou-se o conjunto das construções mais antigas edificadas: o comércio, o estoque e a hospedaria (funcionando na casa principal), a casa dos funcionários, e o moinho (edificado no outro lado da R. Vitória). Em 1947 a família fez algumas modificações na casa para transformala também em moradia - o estoque foi expandido e transformado para abrigar essa nova função. Nos anos seguintes, a casa de comércio se transformou em um verdadeiro complexo comercial: além do comércio/ hospedaria, foram acrescidos ranchos para criação de gado e porcos, um açougue com defumador, uma queijaria - onde se produzia o kochkäse, queijo branco e amarelo, manteiga e nata -, um moinho - para beneficiamento de milho, arroz e café, cultivados pelos pequenos produtores da região -, uma ferraria, uma olaria e uma serraria. Mantinham também uma pequena farmácia e um serviço de banco dentro da casa comercial. A Casa Comercial era, ainda, um importante ponto de trocas sociais do bairro. Era ali que chegavam as notícias vindas de fora - através de jornais, revistas e cartas - e onde os colonos se reuniam para discutir assuntos da vida social e política da época.
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O COMPLEXO COMERCIAL
F 7 | CASA COMERCIAL NOS ANOS 20 FONTE: ACERVO FAMÍLIA PASSOLD
F 8 | CASA COMERCIAL NOS ANOS 50 FONTE: ACERVO FAMÍLIA PASSOLD
O COMPLEXO COMERCIAL
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A Casa Comercial ficou em funcionamento sob comando da família Passold até a década de 80. Quando os grandes supermercados abriram em Pomerode, a necessidade pelo comércio começou a ficar cada vez mais escassa e as atividades existentes cada vez menos lucrativas. Com os loteamentos dos grandes terrenos da região, os pequenos produtores também foram abrindo mão das suas atividades agropecuárias e buscando emprego no setor industrial, reduzindo a disponibilidade da matéria prima necessária para produção dos produtos coloniais. O maior rigor das leis sanitaristas dos anos 80 também foi um fator decisivo para o fechamento de algumas das estruturas do complexo, como a queijaria - que até então produzia alimentos com leite cru ou não pasteurizado - e o açougue.
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O COMPLEXO COMERCIAL
Nos anos finais do comércio, pouco era vendido para a comunidade e alguma coisa ainda era produzida para vender nas feiras em Blumenau, como compotas, pães e biscoitos. Por fim, a construção da nova estrada (R. Presidente Costa e Silva e, hoje, SC416) diminuiu muito o movimento na R. Vitória, fator decisivo para o fechamento do armazém. Desde o fechamento da venda, em 1982, a edificação é utilizada apenas parcialmente: a parte antiga, composta pela casa enxaimel, está fechada e a parte mais nova, feita em alvenaria, foi moradia da família ainda por muitos anos e atualmente está alugada. A casa foi tombada pela Fundação Catarinense de Cultura em novembro de 2002.
F 9 | COMPLEXO COMERCIAL, 2014 FONTE: BASE DE DADOS GOOGLE EARTH
O COMPLEXO COMERCIAL
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CARACTERÍSTICAS GERAIS O Complexo todo está implantado em um terreno de 240 mil metros quadrados, separados em quatro lotes pertencentes a família, e é cortado por duas ruas. A edificação principal localizase na esquina dessas duas ruas (a R. Vitória e a R. Richard Passold) e possui área de aproximadamente 600 metros quadrados, distribuídos em dois pavimentos mais sótão. Sua fachada principal está orientada a noroeste e a sua porta principal está voltada para Rua Vitória. O moinho e o açougue/queijaria localizam-se, também, próximos as ruas e a casa principal, enquanto os ranchos estão distribuídos na porção mais interior ao terreno. Destaca-se que o terreno é cortado pelo Rio Rega na sua porção sul.
9 4
1
2
5
4
8
7 3
3 6
F 11 | IMPLANTAÇÃO, 1920
F 12 | IMPLANTAÇÃO, 1950
FONTE: ACERVO PESSOAL
FONTE: ACERVO PESSOAL
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O COMPLEXO COMERCIAL
1
F 10 | SITUAÇÃO FONTE: ACERVO PESSOAL
9
6
4
8 6
10
11
7
12
14
1 10
11
12
13 6
1 2 3 4 5 6 7
6
CASA COMERCIAL ESTOQUE DORMITÓRIO DE FUNCIONÁRIOS MOINHO PARADA DE CARROS E CARROÇAS RANCHO RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA
8 9 10 11 12 13 14
QUEIJARIA/AÇOUGUE DEFUMADOR ESTÁBULO SERRARIA OLARIA FERRARIA GARAGEM
F 13 | IMPLANTAÇÃO, 2015 FONTE: ACERVO PESSOAL
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COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA Antes das modificações feitas em 1947, a casa provavelmente era composta internamente por seis cômodos no piso térreo e cinco cômodos no piso superior, mais as áreas de circulação. Na fachada voltada ao interior do terreno, onde hoje localizam-se o escritório e a cozinha, havia uma varanda com apoios de tijolos e parapeitos de madeira Os cômodos que abrigavam o armazém ainda tem, no seu interior, muito da mobília original. Ainda existem: um grande balcão de atendimento, armários com prateleiras e portas de vidro junto as paredes, prateleiras para o armazenamento de produtos, bancos, cadeiras, mesas e escrivaninhas, em sua grande maioria executados em madeira de lei (provavelmente canela). Além disso, nesses cômodos se conserva muitos dos objetivos do comércio, como balanças, equipamentos para embalagem, potes de cerâmica para fabricação de chucrute, leiteiras, barris, baús e máquinas para confecção de embutidos de carne, dentre outros. Após a execução do anexo feito em alvenaria, a planta da casa passou a contar com mais cinco cômodos no piso térreo, dois banheiros e uma varanda e mais três cômodos no piso superior. Atualmente as duas edificações - a casa enxaimel e o anexo em alvenaria - funcionam de forma isolada, uma vez que o térreo é só parcialmente alugado, e o acesso ao anexo se dá pela varanda.
F 14 e F15 | PlANTAS BAIXAS DA CASA PRINCIPAL ESCALA GRÁFICA FONTE: ACERVO PESSOAL
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O COMPLEXO COMERCIAL
LEGENDA CONFIGURAÇÃO DA CASA ANTES DE 1947 CONFIGURAÇÃO ATUAL VARANDA (FECHADA EM 1947)
O COMPLEXO COMERCIAL
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Em relação à técnica construtiva empregada na edificação principal, verifica-se que toda a parte antiga foi executada em estrutura enxaimel, sendo que a mesma foi parcialmente rebocada na construção do anexo de alvenaria. Suas peças estruturais foram executadas em canela e os panos, entre as peças estruturais, em tijolo maciço aparente com um fino rejunte de argamassa de areia e cal - que cumpre a função de evidenciar a textura criada pelos elementos cerâmicos. A casa se destaca pelos detalhes de esmero na colocação dos tijolos, principalmente no contorno das esquadrias. Na porção enxaimel as paredes tem espessura de 15,0 cm,
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O COMPLEXO COMERCIAL
sendo que e as internas foram revestidas com um reboco de terra. e areia. No piso superior as divisórias internas são madeira com aproximadamente 4,0 cm de espessura. Já o anexo foi executado em alvenaria de tijolos, possuindo 30,0 cm de espessura nas paredes mais externas e 15,0 cm nas internas. Quanto às estruturas de fundação, os alicerces tanto da casa enxaimel quanto do anexo em alvenaria de tijolos foram executados com baldrames de madeira apoiado sobre fundação de cabeças de pedra irregulares, com rejunte em argamassa.
F 16, F17, F 18 e F 19 | REVESTIMENTOS INTERNOS FONTE: ACERVO PESSOAL
O COMPLEXO COMERCIAL
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O COMPLEXO COMERCIAL
F 20 | FACHADA NORDESTE ESCALA GRテ:ICA FONTE: ACERVO PESSOAL
F 21 | FACHADA NOROESTE ESCALA GRテ:ICA FONTE: ACERVO PESSOAL
F 22 | FACHADA SUDOESTE ESCALA GRテ:ICA FONTE: ACERVO PESSOAL
F 23 | FACHADA SUDESTE ESCALA GRテ:ICA FONTE: ACERVO PESSOAL F 24 | IMAGENS EXTERNAS FONTE: ACERVO PESSOAL
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As esquadrias da casa, confeccionadas majoritariamente em madeira, também são um item de muito capricho. O piso térreo a porta principal é trabalhada com almofadas, bandeiras de vidros fixos e um marco bem desenhado, identificando a entrada principal do comércio. As demais portas do pavimento também são trabalhadas com almofadas, mas com acabamentos mais simples. As janelas tanto do térreo quanto do piso superior são de duas folhas com caixilhos de madeira e vidros quadriculados. As janelas do sótão são um caixilho de madeira com subdivisões quadradas nos dois frontões.
F 25 | PORTA PRINCIPAL DA CASA COMERCIAL
F 26 | JANELAS DO SÓTÃO
FONTE: ACERVO PESSOAL
FONTE: ACERVO PESSOAL
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O COMPLEXO COMERCIAL
F 28 | DETALHE DAS ESQUADRIAS ESCALA GRÁFICA F 27 | JANELAS DO SEGUNDO PAVIMENTO
FONTE: ACERVO PESSOAL
FONTE: ACERVO PESSOAL
O COMPLEXO COMERCIAL
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ESTADO DE CONSERVAÇÃO Como a casa encontra-se parcialmente ocupada, pode-se dizer que está em bom estado e com poucos danos, concentrados principalmente na parte antiga, correspondente a casa enxaimel. Embora observa-se a ação de insetos xilófagos em alguns elementos, são danos pontuais e, em geral, as esquadrias, pisos e mobiliário de madeira se encontram bem conservados. O forro de madeira do escritório, originalmente confeccionado em cedro, foi substituído por um forro de pinus e está bastante comprometido pelo ataque de térmitas. Muitos dos ambientes do piso superior estão com tábuas faltando nos forros. A edificação recebeu manutenção na última década e a estrutura da cobertura foi restaurada, estando atualmente em bom estado. No telhamento, não foram identificadas telhas faltantes. Tanto as madeiras estruturais quanto os panos de tijolos que compõe a estrutural enxaimel também receberam manutenção e apresentam poucos danos consideráveis.
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O COMPLEXO COMERCIAL
Durante o asfaltamento da R. Vitória, nos anos 90, algumas paredes foram danificadas e foram adicionados tirantes para o seu travamento. Nesse processo surgiram, também, rachaduras no reboco interno, principalmente do piso superior, mas que não comprometem sua integridade. Nesse mesmo piso há, também, vários trechos em que o reboco se desprendeu, em geral nas proximidades das peças estruturais - isso se dá em função da instabilidade das estruturas, que trabalham aumentando e contraindo em volume dependendo da umidade e causando, assim, estresse nas junções de painéis e estrutura. Em alguns cômodos observa-se, também, a deterioração do reboco junto ao forro apresenta danos em função da umidade. As instalações elétricas não estão mais ativas na casa antiga e precisariam ser refeitas de forma a aproveitar os pontos de instalação elétrica fixados as paredes.
F 29, F 30, F 31 e F 32 | DANOS INTERNOS FONTE: ACERVO PESSOAL
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RANCHOS E ANEXOS MOINHO O moinho é uma das edificações mais antigas do complexo. Foi construído para o beneficiamento do milho, arroz e café produzidos na vizinhança. De certa forma, isso era um serviço que a família prestava a comunidade, já que poucas propriedades possuíam esse tipo de estrutura. Essa estrutura já está desativada há mais de 60 anos, mas muitas das suas peças ainda estão no seu interior. A roda, a peneira, as pedras de moagem, as sacas e baús para o armazenamento dos grãos são alguns dos elementos que ainda se encontram em um estado razoável de conservação. Toda vida, o canal que alimentava o moinho foi fechado e hoje uma residência está localizada em um dos trechos por onde passava. Na última década a barragem do rio também foi demolida. Seu estado de conservação é bastante precário. Como está há muitos anos sem uso, ficou sem manutenção e é constantemente alvo de vandalismo. Só nos últimos seis meses já foi incendiado duas vezes e seus alicerces estão começando a ceder.
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O COMPLEXO COMERCIAL
Como o moinho é todo feito em madeira, sofre muito com a ação da umidade. As enchentes dos últimos anos danificaram sua vedação em vários pontos e muitas tábuas precisariam ser substituídas. Além disso, observa-se danos graves na estrutura do telhado e muitas telhas faltantes. Algumas esquadrias foram retiradas e substituídas por telas.
F 33 e F 34 | IMAGENS EXTERNAS
F 35 e F 36 | ELEVAÇÕES
F 37, F 38 | IMAGENS INTERNAS
FONTE: TEMPO EDITORIAL
ESCALA GRÁFICA
FONTE: ACERVO PESSOAL
FONTE: ACERVO PESSOAL
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AÇOUGUE / DEFUMADOR E QUEIJARIA O açougue funcionava em três partes: a da frente, onde havia tachos de cobre para feitura dos derivados do leite - queijos branco e amarelo, da manteiga, da nata e do kochkäse (queijo fundido) - e grandes mesas de madeira para preparo das linguiças cruas e a serem defumadas; a porção central, composta por uma vala que era fechada apenas por portas venezianas, onde colocava-se os porcos para sangrar; e a parte posterior, onde eram tratadas as carnes. O defumador ficava ao lado do açougue: uma casa pequena com dois andares divididos em dois módulos com uma escada central. No andar inferior era feito o fogo e no andar superior eram penduradas as linguiças a serem defumadas.
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O COMPLEXO COMERCIAL
ESTÁBULO / SERRARIA / OLARIA O rancho que abrigava o estábulo, a serraria e a olaria foi durante muito tempo uma parte importante do complexo comercial. A confecção de madeiras serradas, tijolos e telhas servia ao abastecimento não somente da construção das benfeitorias do próprio complexo, mas também a toda vizinhança. Após o fechamento da venda, todos os cavalos e cabeças de gado da propriedade foram gradualmente vendidos e o estábulo deu espaço a um depósito das madeiras da serraria. Com o tempo, os equipamentos da serraria, que só eram utilizados pelos proprietários do comércio, foram roubados e as atividades nesse rancho cessaram completamente. Embora esse seja um dos poucos ranchos que se manteve original, sofreu muito com a ação do tempo e ataques de térmitas, até a cobertura ceder em junho de 2015. Atualmente, a mata fechada praticamente impede o acesso a olaria. F 39 e F 40 | ELEVAÇÕES DO AÇOUGUE E QUEIJARIA ESCALA GRÁFICA FONTE: ACERVO PESSOAL F 42 | SERRARIA, OLARIA E ESTÁBULO, 2009 F 41 | IMAGEM EXTERNA
FONTE: TEMPO EDITORIAL
FONTE: ACERVO PESSOAL
O COMPLEXO COMERCIAL
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F 43 | MAPA DE ZONEAMENTO SEM ESCALA FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE POMERODE
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O COMPLEXO COMERCIAL
ENTORNO LEGISLAÇÃO URBANA Segundo o Plano Diretor Municipal a área estudada encontra-se dentro da Macrozona de Qualificação (MUQ), caracterizada por possuir sua maior parte localizada no perímetro urbano delimitado, porém “marcada pela ocupação humana menos densa e diversificada que a presente na Macrozona de Consolidação”. Nessa macrozona a legislação vigente permite a instalação de usos não incômodos ou com fator de incômodo 1 - referente a atividades que produzam resíduos sólidos nãoperigosos acima de 100 litros por dia, emitam poluição atmosférica nãotóxica e não-particulada, produzam apenas resíduos líquidos compatíveis com o lançamento direto na rede de esgoto urbana e não produzam vibrações além dos limites do terreno. Ressalta-se que para essa área o gabarito máximo permitido é de 4 pavimentos, a taxa de ocupação máxima é de 60%, o coeficiente de aproveitamento básico é igual a 2 e os afastamentos frontais e laterais iguais a 4 m e 1,5 m, respectivamente. O lote pertencente a Família Passold é também definido pela legislação como um Setor de Interesse Turístico dentro da Macrozona de Qualificação, cujos objetivos principais são definidos na legislação conforme o seguinte artigo: Art. 51. O Setor de Interesse Turístico tem como objetivos, além de manter os objetivos constantes da macrozona no qual se insere, orientar as políticas públicas no sentido de: I - Promover os atrativos turísticos e preservar a paisagem cultural característica das áreas de imigração alemã; II - Ampliar a oferta de espaços de turismo, cultura, lazer 7
e recreação. 7
POMERODE. Lei Complementar no 162/2008, de 12 de Dezembro de 2008. <http://
www.pomerode.sc.gov.br/downloads/>. Acesso: Maio de 2015.
O COMPLEXO COMERCIAL
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USO DO SOLOS Como já mencionado, a Casa Comercial Passold encontra-se junto a Rua Vitória, principal articuladora do bairro do Testo Rega, e nas proximidades da Rua Presidente Costa e Silva, SC-416 - rodovia que liga os municípios de Rodeio, Timbó, Pomerode e Jaraguá do Sul. Apesar da antiga característica da Rua Vitória de conexão entre Blumenau e Joinville, atualmente recebe apenas um fluxo de veículos moderado, apenas para o acesso local, uma vez que o fluxo mais intenso foi praticamente todo absorvido pela SC-416. A Rua Vitória é, ainda, trajeto de duas linhas de ônibus municipais - a linha Circular Testo Rega e a linha Circular Alto da Serra, ambas conectas com o centro de Pomerode. O bairro Testo Rega é, hoje, um bairro de uso predominantemente residencial e de baixa densidade, onde miutos dos grandes terrenos pertencentes as famílias de Pomerode foram subdivididos em lotes menores configurando pequenas ruas e servidões nas suas bordas.
LEGENDA HABITAÇÃO USO MISTO SERVIÇOS INSTITUICIONAL INDUSTRIAL
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O COMPLEXO COMERCIAL
Nota-se que, em função desse parcelamento, a área é marcada, também, por grandes vazios urbanos, localizados nos fundos de vários dos lotes maiores. Esses lotes são, de modo geral, ocupados por uma densa cobertura vegetal e estabelecem uma relação com os fundos dos demais lotes, organizados ao longo das vias perpendiculares a Rua Vitória. Essa subdivisão tem caracterizado uma dissolução da comunidade rural que existia ali e, consequentemente, do modelo de ocupação voltado a produção em pequena escala. A medida que os moradores mais antigos vão vendendo seu terrenos para famílias vindas de fora para trabalhar nas fábricas e malharias - abundantes na cidade - o complexo comercial vai ficando isolado em uma área residencial, aos moldes dos subúrbios americanos. F 44 e F 45 | USO DOS SOLOS E CHEIOS E VAZIOS SEM ESCALA FONTE: ACERVO PESSOAL
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EQUIPAMENTOS URBANOS No entorno8 do Complexo Comercial pode-se notar a presença de alguns equipamentos urbanos, os quais se localizam principalmente ao longo da Rua Presidente Costa e Silva - um dos eixos de serviços mais importantes do município - e são mais numerosos a medida que esta se aproxima da região central da cidade. Destaca-se, assim, o Posto de Saúde Testo Rega, o Cemitério Municipal Testo Rega, a Associação Recreativa Porcelana Schmidt, o Clube de Caça e Tiro Primavera, o Clube de Caça e Tiro 25 de Julho, a Escola Municipal Almirante Barroso, o Centro de Atenção Psicossocial de Pomerode e duas igrejas evangélicas. Embora a área possua dois clubes de caça e tiro e uma associação recreativa, é, em geral, carente de espaços públicos de convívio. Os clubes recreativos, peças chave na formação dos núcleos germânicos cuja função era manter vivo o espírito esportivo e estimular a vida comunitária, hoje dedicam-se aos eventos privados (casamentos e festas), às atividades esportivas para associados (bocha, tiro e futebol) e, com menos frequência, aos bailes públicos. Pode-se dizer, então, que na maior parte do tempo seus espaços são reservados aos sócios e não configuram ambientes de integração para a comunidade do Testo Rega.
F 46 | EQUIPAMENTOS URBANOS SEM ESCALA FONTE: ACERVO PESSOAL
8
Estabelecido, para esta análise, com base em um raio de aproximadamente dois
quilômetros partindo do entroncamento das ruas Vitória e Richard Passold, ponto de maior concentração de edificações pertencentes ao Complexo Comercial Passold.
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O COMPLEXO COMERCIAL
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PATRIMÔNIO EDIFICADO É possível identificar, só em Testo Rega, mais de 25 unidades com características da arquitetura teuto-brasileira, sendo nem todas identificadas e/ou com proteção. São, em geral, edificações de uso residencial em situação semelhante a da casa estudada, convivendo lado a lado com as transformações da paisagem causadas pelo crescimento urbano do município. Destaca-se, dentre elas, a Casa Enrich Hardt, localizada na Rua Arnoldo Hardt, tombada como patrimônio estadual pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), que é um dos exemplares mais singulares da construção enxaimel no Vale do Itajaí. Existem, ainda, nas proximidades do terreno em questão, outras edificações com qualidades semelhantes às da Casa Comercial Passold não só
no que diz respeito ao sistema
construtivo, mas também nos usos e funções da sua arquitetura. As casas comerciais Weege e Haut, localizadas na entrada do caminho rural que leva a Testo Alto, foram importantes pontos de parada nas rotas da região e, além de funcionarem como secos e molhados, eram produtores de queijo, nata e manteiga. Ambas são edificações teuto-brasileiras, na técnica do enxaimel, e protegidas na esfera estadual. Entende-se, assim, que essas unidades, juntamente com seus anexos e ranchos, representam uma parte viva da história do imigrante no bairro Testo Rega e que sua preservação como conjunto deve ser voltada a fortalecer os elos da comunidade com a memória local. Um uso mais público, com áreas de apropriação coletiva alinha-se com esse pensamento e vem, dessa forma, ser um elemento essencial na proteção do patrimônio cultural.
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O COMPLEXO COMERCIAL
LEGENDA UNIDADES SEM PROTEÇÃO OU IDENTIFICAÇÃO UNIDADES COM TOMBAMENTO ESTADUAL
F 47 | EDIFICAÇÕES DE INTERESSE CULTURAL SEM ESCALA FONTE: ACERVO PESSOAL
DADOS FORNECIDOS PELO IPHAN/SC
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80 | O COMPLEXO COMERCIAL
CONDICIONANTES FÍSICOS E CLIMÁTICOS A área estudada é, como já mencionado, dividida em três lotes, sendo dois de menor tamanho, localizados a sul da rua Vitória, e um grande lote, onde está implantado o moinho. O lote maior possui uma topografia bastante acentuada e, semelhantemente a outros grandes lotes do seu entorno, é em grande parte coberto por uma vegetação densa. Aos fundos da casa comercial, em um dos lotes menores, destaca-se a abundância de árvores frutíferas - jabuticabeiras, mamoeiros, pitangueiras, dentre outras espécies que compõe um pomar plantado pela família Passold. Os lotes menores são, ainda, cortados pelo Rio Testo Rega, afluente do Rio do Testo, e o lote maior por um curso d’água de menor tamanho. O Código Ambiental da cidade de Pomerode delimita, para essas categorias, uma Área de Preservação Permanente (APP) igual a 30 e 15 metros, respectivamente, a partir de suas margens, onde não poderá haver qualquer tipo de ocupação. Os ventos predominantes na região são leste durante a primavera, nordeste durante o verão e início do outono e sudoeste durante o outono e inverno. São ventos considerados fracos, cuja velocidade média situa-se entre 1 e 2 m/s, e, em geral, agradáveis à ventilação. A umidade relativa do ar mantém-se por volta de 85% durante todo o ano, com índice pluviométrico anual em torno de 1.570 mm. LEGENDA APP
F 48 | SÍNTESE DOS CONDICIONANTES FÍSICO-CLIMÁTICOS
HIDROGRAFIA
SEM ESCALA
VENTOS PREDOMINANTES
FONTE: ACERVO PESSOAL
PERCURSO SOLAR
O COMPLEXO COMERCIAL
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A PROPOSTA
PROGRAMA DE NECESSIDADES A proposta de um Centro de Transmissão das Técnicas Tradicionais da Imigração surge, então, a partir de algumas questões importantes. Primeiramente, coloca-se que existe um desestímulo ao desenvolvimento de atividades relacionadas as técnicas tradicionais em detrimento das concepções modernas de sociedade e atividades produtivas, colocando na margem os hábitos e modo de vida dos produtores e impondo barreiras para seu desenvolvimento socioeconômico. Atualmente, uma grande parte da produção artesanal alimentícia ocorre sem registro formal, sem as autorizações necessárias para a fabricação e venda e baseada nas relações de confiança entre o produtor e o consumidor. O produto artesanal é um retentor de valor simbólico, fundamental nas trocas sociais, mas que muitas vezes não participa ativamente no sustento do produtor, cuja principal fonte de renda vem de outras atividades não relacionadas com as técnicas tradicionais. Os aspectos legais são, também, um grande empecilho na formalização deste tipo de produção. Uma vez que não existe na vigilância sanitária municipal uma diferenciação do que é artesanal e o que é industrial no que diz respeito ao produto processado, muitas vezes o cumprimento da legislação é impraticável para o produtor, que não acumula capital o suficiente com a sua produção para que faça as adequações necessárias em suas estruturas e, então, obtenha as aprovações. A ausência de autorizações impede, por exemplo, que os produtores vendam seus produtos em eventos municipais ou na Feira-Livre da Casa do Produtor, importante espaço de encontro entre produtores e consumidores na cidade. Entende-se, assim, a necessidade e importância da estruturação de um espaço comunitário onde os produtores possam fabricar e comercializar seus produtos, dentro das normas sanitárias e de forma cooperada, garantindo a continuidade e transmissão
A PROPOSTA
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da culinária e dos hábitos alimentares trazidos pelos imigrantes. Essa ação não só representa uma forma alternativa de geração de renda para as famílias, mas também alinha-se com os interesses municipais,
trazendo
novas
possibilidades
de
sustentação
econômica para a região. A transmissão das saberes relacionados a construção civil - carpintaria enxaimel, marcenaria, olaria e ferraria -, por outro lado, exigem outro tipo de aproximação. São ofícios aprendidos durante o próprio processo de execução, passados pelos mestres aos aprendizes dentro de suas oficinas. Dessa forma a prática cotidiana tem que ser vista como principal componente na conservação desses conhecimentos e os mestres - carpinteiros, oleiros, serralheiros e pedreiros - parte importante na formação de mão-de-obra especializada nas técnicas tradicionais. A estruturação de uma Oficina-Escola focada nessas técnicas supre, assim, a necessidade de aprendizado dos ofícios fora das oficinas dos mestres, ampliando o alcance dos conhecimentos e possibilitando a especialização de outros profissionais. Experiências como a da Oficina-Escola de João Pessoa, na Paraíba, e da Oficina Escola de Laranjeiras, em Sergipe, demonstram que esses espaços podem cumprir, ainda, um importante papel social, atuando na capacitação de jovens para intervir fisicamente no patrimônio edificado do munícipio e estabelecendo novos elos da comunidade com a memória do lugar. Dessa forma, o programa se divide em três setores principais correlacionados. O Setor 1, chamado de Cooperativa, abriga as estruturas administrativas da Cooperativa dos Produtores Coloniais de Pomerode, que atualmente não possui uma sede fixa, um comércio para a venda dos produtos feitos no próprio complexo, um restaurante e mais cinco cozinhas comunitárias
86 |
A PROPOSTA
para uso cooperado (voltadas produção de laticínios, embutidos, melado e de uso geral). O Setor 2, denominado Escola, acomoda as salas de aula, o auditório e sala de exposições, os jardins e as áreas de convívio. O Setor 3, destinado às Oficinas, acolhe a serralheira, a serraria e carpintaria, a olaria e um espaço de oficias multiuso, além de um pátio externo de trabalho.
SETOR 3 OFICINAS
SETOR 2 ESCOLA SETOR 1 COOPERATIVA
F 49 | DISTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA NO TERRENO FONTE: ACERVO PESSOAL
A PROPOSTA
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IMPLANTAÇÃO Considerando os condicionantes físicos do local, bem como a história das edificações existentes e do modelo de ocupação característico da imigração alemã em Pomerode, pode-se elaborar uma proposta que se orienta não só pelas necessidades funcionais do programa estabelecido, mas também pelas questões simbólicas levantadas ao longo da pesquisa. Optou-se por uma implantação na porção frontal do lote maior, nas proximidades do moinho, e lateral do lote da casa principal, evitando ao máximo a retirada da cobertura vegetal existente e liberando toda a parte posterior para preservação. Dessa forma, é possível conservar uma das características principais das áreas rurais do município - marcadas pelos lotes longos e com a ocupação concentrada nas proximidades da rua . Essa é porção mais baixa do terreno, compreendida entre um desnível de aproximadamente 1 metro e atualmente é a área com vegetação menos densa, uma vez que recebe manutenção periodicamente e econtra-se bastante limpa, com exceção de uma fileira de palmeiras plantadas na lateral do moinho, paralelamente a Rua Vitória. As dimensões e posicionamentos dos novos volumes são guiados pelos alinhamentos sugeridos pelas edificações existentes, suas alturas e testadas. Assim, ao mesmo tempo que as edificações propostas diferem em linguagem das demais, estabelecem um diálogo forte e colaboram na leitura de todas elas como um conjunto indissociável. Os eixos visuais estabelecidos priorizam esse entendimento e as conexões diretas entre as edificações colaboram na integração dos espaços e entrelaçam os programas contidos em cada uma delas.
88 |
A PROPOSTA
F 49 | CONEXÕES COM AS EDIFICAÇÕES EXISTENTES, ALINHAMENTOS E CONEXÕES COM ÁREAS VERDES ACERVO PESSOAL
F 50 | DISTRUBUIÇÃO DOS PÁTIOS DE TRABALHO (AMARELOS) E ESTAR (VERDES) E EIXOS VISUAIS PRINCIPAIS ACERVO PESSOAL
A PROPOSTA
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A fim de favorecer a ocupação pela comunidade do bairro, propõe-se praças centrais com usos que exploram desde atividades de trabalho, próximas as oficinas, até descanso e lazer. Elas recebem os fluxos recebidos pelas vias que cortam o complexo e os distribuem pelas edificações, sendo, assim, as principais articuladoras do projeto. Embora conformadas pelo conjunto, essas praças se conectam com as áreas verdes por aberturas ao longo dos novos volumes. Essas praças se encontram em dois níveis: a primeira, junto a casa principal, no nível da rua e a segunda, junto a edificação que abriga as oficinas, elavada em 1 m e nivelada com o piso principal do Moinho. A porção entre as praças faz a conexão entre os níveis, configurando uma suave rampa e evitando a criação de patamares e escadarias excessivas. Propõe-se, ainda, uma modificação da Rua Vitória e na rua Richard Passold no trecho que cortam o conjunto, para que seja possível uma leitura contínua das praças, sem interrupções nos fluxos de pedestres entre elas. Para isso, faz-se necessário que a pista de rolamento seja elevada em 30 centímetros e nivelada com as calçada, sem que haja quaisquer desníveis a serem superados pelos usuários nas travessias. É proposto, ainda, que nesse trecho os pisos sejam diferenciados do restante da rua, igualando-se aos utilizados nas áreas de praça nas calçadas - o bloquete de concreto hexagonal - e com blocos de concreto intertravado na cor natural e cinza escuro na área delimitada para a cirulação de veículos. Os acessos de serviço e estacionamento do conjunto são trabalhados em piso grama e piso intertravado, garantindo a permeabilidade do solo sem prejudicar a estabilidade necessária nesses espaços. F 51 E F 51 | IMPLANTAÇÃO ACERVO PESSOAL
90 |
A PROPOSTA
A PROPOSTA
| 91
CORTE GG’
SEM ESCALA
CORTE HH’
SEM ESCALA
CORTE II’ 92 |
SEM ESCALA
A PROPOSTA
SEM ESCALA
CORTE JJâ&#x20AC;&#x2122;
A PROPOSTA
| 93
CORTE 1-1’ | R. RICHARD PASSOLD
1.3 m
1.3 m
6m
CORTE 2-2’ | R. VITÓRIA | SITUAÇÃO ATUAL
1m
1m
8m
CORTE 2-2’ | R. VITÓRIA | SITUAÇÃO PROPOSTA)
1.5 m
6m
2m
1.5 m
CORTE 3-3’ | R. VITÓRIA | TRECHO JUNTO AO CONJUNTO
1.5 m
8m
1.5 m
.3 CORTE 4-4’ | PROPOSTA- R. VITÓRIA | ELEVAÇÃO DA VIA
5m
94 |
A PROPOSTA
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NO ENTORNO Sugere-se, ainda, intervenções gerais no entorno que complementam a inserção do projeto na área, facilitanto seus acessos e fluxos, além de aumentarem a qualidade da circulação no espaço público do bairro de forma geral. A Rua Vitória é, atualmente, uma rua asfaltada com duas faixas de rolamento, circulação de veículos nos dois sentidos e muitos trechos sem calçadas ou com calçadas muito estreitas. A via possui mais ou menos 1 km de comprimento, com fluxo pequeno de veículos, funcionando principalmente como uma conexão entre a SC-416 e as ruas internas do bairro Testo Rega. Propõe-se, assim, que a mesma seja reestruturada, com redução para apenas uma faixa de rolamento, dando lugar a uma ciclofaixa e calçadas mais largas e confortáveis, além da implantação de canteiros com arborização urbana em uma das suas laterais. A Rua Richard Passold também receberia um novo tratamento, uma vez que ainda é uma rua de chão batido, com calçadas apenas em frente as edificações existentes na rua. Dessa forma, sugere-se a instalação de piso drenante e execução de calçadas de no mínimo 1,5 m de largura por todo o seu comprimento. No trecho elevado, como já mencionado, o tratamento dos pisos é feito com o objetivo de reduzir as distinções entre vias e calçadas e, por esse motivo, não se diferencia a ciclofaixa. Também não há necessidade de travessias de pedestre demarcadas, pois a unidade dos pisos orienta os fluxos de forma que priorizem o pedestre. Entende-se, ainda, que ao longo desse trecho os veículos andarão com menor velocidade e mais atenção, principalmente em função da mudança para um piso mais ruguso. F 53 | PERFIS DAS VIAS ACERVO PESSOAL
A PROPOSTA
| 95
OS ESPAÇOS DO COMPLEXO A ocupação das antigas estruturas do complexo é parte importante da articulação do projeto. Entende-se que a medida que se dá uso a uma edificação, ela volta a ter importância na dinâmica dos usuários e, consequentemente, é valorizada e preservada. Dessa forma, propõe-se que uma boa parte do programa seja absorvido pelas estruturas existentes, de acordo com o seu uso vocacionado e de modo que sofram pouco impacto nas suas configurações originais. As edificações novas, por outro lado, suprem as necessidades dos espaços que não poderiam ser suportados pelas estruturas existententes sem um grande número de moficações, tais como oficinas e terraços.
COZINHAS PARA PRODUÇÃO DE EMBUTIDOS A estrutura do antigo açougue passa a ser utilizada como cozinha de produção dos embutidos tradicionais da imigração , como as linguiças cruas e defumadas. Os defumadores ficam nas áreas internas da cozinha, dentro da sala de processamento. Esse espaço foi pensado para que os produtores possam compartilhálo, fornecendo espaços generosos em cada sala existente. As salas são organizadas de acordo com o fluxo do processo produtivo dos embutidos, passando pela sala de descontaminação, processamento, fabricação e embalagem. Esse ambiente conta ainda com uma câmara fria para armazenamento das carnes.
1
SALA DE DESCONTAMINAÇÃO
2
SALA DE PROCESSAMENTO E FABRICAÇÃO
3
CÂMARA FRIA
4
SALA DE PÓS-PROCESSAMENTO
96 |
A PROPOSTA
A CASA PRINCIPAL A casa principal tem seu uso comercial restaurado e, consequentemente, um importante espaço de trocas sociais do bairro é reestabelecido e volta a fazer parte da rotina da comunidade local. Ainda no primeiro pavimento, abriga um restaurante, fundamental para a movimentação do complexo e do seu entorno. Esse restaurante se expande até a praça através do restauro da sua varanda, representando a ligação entre os salões e o espaço público externo. Propõe-se para essa área, ainda, a recuperação de uma das paredes da casa que foi originalmente executada em estrutura enxaimel e rebocada posteriormente, retomando aspectos da sua configuração orginal importantes para identificação da sua evolução ao longo do tempo. O
segundo pavimento da casa é ocupado pela sede
administrativa da Cooperativa, concentrada nas nos antigos quartos da hospedaria, além reunir as estruturas necessárias para o funcionamento da oficina-escola. 5
COMÉRCIO
6
ESTOQUE
7
SALÃO
8
COZINHA
9
BANHEIROS
10
VARANDA
11
MESAS EXTERNAS
34
SALAS DA ADMINISTRAÇÃO
35
BANHEIROS
36
SALAS DE REUNIÕES
37
COPA
A PROPOSTA
| 97
COZINHAS PARA PRODUÇÃO DE LATICÍNIOS Com pequenas modificações, a estrutura que hoje funciona como garagem e depósito passa a abrigar a cozinha dedicada a produção dos laticínios - representados pelo kochkase, a nata, a manteiga e os queijos branco e amarelos. De forma semelhante a cozinha para produção de embutidos, os espaços se organizam de acordo com o processo produtivo geral, iniciado com recebimento do leite e seguido pela fabricação e maturação dos produtos. Normalmente, cada processo produtivo da elaboração dos derivados do leite envolvem de dois a três funcionários e apenas um tacho de cada vez, permitindo que nesse mesmo espaço mais de um produtor trabalhe simultaneamente. Os tachos utilizados para a produção dos laticínios são de cobre e a gás, sem necessidade de fogões a lenha - os quais aumentam muito o risco de contaminação em função da sujeira carregada pela madeira e da sua facilidade em abrigar insetos e pequenos animais. É importante frisar que o processo de produção artesanal não depende necessariamente do equipamento em si, mas sim do modo tradicional de fazê-lo, podendo e devendo ser facilitado quando possível, de modo que aumente a eficiência fabricação e estimule a continuidade da atividade em questão.
12
ACESSO DE CARGA E DESCARGA
13
SALA DE RECEBIMENTO DO LEITE
14
SALA DE DESCONTAMINAÇÃO
15
SALA DE FABRICAÇÃO
16
SALA DE MATURAÇÃO
98 |
A PROPOSTA
COZINHAS COMUNITÁRIAS O novo volume passa a abrigar as cozinhas comunitárias não específicas (voltadas a produção de pães, bolos e geléias) e a cozinha dedicada a produção do melado de muss, que possuem requisitos especiais na sua fabricação - produtos feitos a partir do processamento da cana-de-açúcar e cozidos por um longo período, até atingirem consistências exatas. Dessa forma, propõe-se duas tipologias distintas de cozinha: a primeira, voltada aos produtos feitos com a garapa ou caldo de cana, possui a planta mais livre e dois tachos de cobre à gás dedicados a produção de doces, com mexedores automáticos, refrigedores e bancadas para pesagem e embalagem. Uma vez que produz muitos resíduos, a área de esmagamento da cana fica isolada, evitando possíveis contaminações da produção. A segunda tipologia é pensada como uma cozinha industrial simples, com bancadas de trabalho e uma mesa de apoio central. Entende-se que essas cozinhas podem ser utilizadas também pela escola quando ocorrerem cursos voltados a produção alimentícia. Assim como as demais cozinhas, possui áreas de descontaminação com banheiros e depósitos, exigidas pela legislação municipal, prevenindo a entrada de agentes que prejudiquem a qualidade do produto no ambiente.
17
DEPÓSITO DO LIXO E ÁREA DE PROCESSAMENTO DA
18
COZINHA PARA PRODUÇÃO MELADO E MUSS
19
SALA DE DESCONTAMINACÃO E BANHEIROS
20
COZINHAS COMUNITÁRIAS
21
ACESSO DE VEÍCULOS E ESTACIONAMENTO
CANA
A PROPOSTA
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MOINHO Por ser tipologicamente diferente do restante do complexo, não acompanhar o alinhamento das demais edificações, estar elevado em relação ao nível da rua e não possuir mais demanda para seu uso original, o moinho é uma das edificações que mais exige o estabelecimento de conexões diretas com as demais estruturas para a garantir a sua preservação. Por essa razão, propõese a abertura de uma larga porta na sua fachada dos fundos, permitindo sua abertura e integração de seus espaços internos com o pátio de trabalho em frente as oficinas. Nele ficam abrigados um auditório e uma sala de exposições, possibilitando o contato dos visitantes com os trabalhos feitos na Oficina-Escola e, consequentemente, aumentando a relação da comunidade com os oficíos aprendidos no conjunto através da observação não só do processo, mas também do resultado final dos cursos. Dessa forma, essa edificação associa-se tanto ao Setor da Escola quando ao Setor das Oficinas, funcionando com um dos elos entre os dois.
22
SALA DE EXPOSIÇÕES
23
AUDITÓRIO
OFICINAS O volume nos fundos do terreno é dedicado às oficinas específicas no primeiro pavimento e multiuso no segundo. Esse volume possui grandes portas para a porção frontal, tirando partido do pátio que o conecta com o moinho como espaço também de trabalho, como um laboratório aberto. dedicado a secagem das peças cerâmicas e de madeiras na pós-produção. Assim, o processo produtivo fica mais evidente e público, integrando os visitantes também na aprendizagem e disseminação dos conhecimentos
100 | A PROPOSTA
conhecimentos ensidados ali. Na sua porção posterior, a edificação é fechada por painéis pivotantes de madeira, criando um pátio coberto que também é utilizado pelas oficinas ao mesmo que promovendo a conexão com a área destinada ao
depísito de
materiais - argila e madeira - localizado junto ao acesso de veículos. 24
PÁTIO DE SECAGEM DAS PEÇAS
25
ABRIGO DO LIXO
26
OFICINA DE CERÂMICA
27
OFICINA DE MARCENARIA
28
OFICINA DE SERRALHERIA
29
CARGA E DESCARGA
30
DÉPOSITO ABERTO DE MATERIAIS
38
OFICINAS MULTIUSO
ESCOLA O volume que abriga a escola se abre tanto para o pátio central quanto para as áreas de vegetação densa presentes no terreno. o seu espaço é dedicado a salas multiuso para 20 pessoas no primeiro pavimento,
intercalados com espaços de estar e
estudar cobertos. Sua fachada possui brises móveis, permitindo a passagem do sol mas protegendo as janelas orientadas a oeste do calor excessivo dos dias de verão. 31 32
VESTIÁRIO E BANHEIROS SALAS DE AULA
33
BANHEIROS
39
TERRAÇO JARDIM
A PROPOSTA | 101
H
G
APP
3
2
VISTA 03
4 1
0,00 m
0,00 m
+0,50 m
5 +0,50 m
+3,20m
6 34
7 36
7 35
37
36 8
9 +0,60 m
10 +0,50 m
11 0,00 m
APP
12
14 13
15 0,00 m
16 F
VISTA 02
I
19 20 18 E
20 19
+1,00 m
+1,00 m
17
21 +1,00 m
1
2
5
10 m
102 | A PROPOSTA
APP
A
0,00 m
25
26
30 +1,00 m
24 27
B’
29 +1,00 m
23 22 +1,00 m
- 1,80 m
28
B
C’
J’
+1,00 m
0,00 m
A’
31
J
32
VISTA 01
32 VISTA 05 D
I’
33
32
E’
C’
+1,00 m
VISTA 04
32
+1,00 m
D’
F’ G’
H’
1,20 m
A PROPOSTA | 103
H
G
APP
+3,20m
34 36
35 36
37
APP
F
I
+3,20 m
E
1
2
5
10 m
104 | A PROPOSTA
APP
A
38
B’
B
J’
C’
+3,20 m
A’
J
D
VISTA 06
I’
39 +3,20 m
E’
C’
D’
G’
H’
F’
A PROPOSTA | 105
VISTA 1
VISTA 2
VISTA 3
106 | A PROPOSTA
VISTA 4
VISTA 5
VISTA 6
A PROPOSTA | 107
108 | A PROPOSTA
A PROPOSTA | 109
ESQUEMA ESTRUTURAL O uso da estrutura mista de concreto e aço responde a duas questões importantes nesse projeto. Primeiramente, a estrutura metálica permitiu a criação de vãos generosos com elementos relativamente esbeltos, criando espaços livres de convivência com poucas interrupções visuais, mesmo nas áreas cobertas. Esses vãos são fundamentais para a articulação de espaços como os das oficina, que utilizam o espaço interno e externo de forma integrada. Aparente nas fachadas, essa estrutura estabelece, ainda, um diálogo com as forma de construir o enxaimel, mas sem deixar de marcar o seu uso contemporâneo. Os perfis são conectados a base de concreto por conexões rígidas chumbadas e, no caso dos perfis inclinados de sustentação da porção frontal da cobertura do galpão, com conexões articuladas também chumbadas a fundação de concreto. As vigas que formam o pórtico recebem rigidez através da utilização de conexões com mísulas, feitas a partir de perfis em I cortados conforme a inclinação do telhado. Os panos de vedação foram projetados em blocos de concreto não estrutural, também aparentes em todas os volumes nas suas faces externas, e fixados na estrutura metálica através de telas eletrosoldadas em cada fiada de blocos. Emprega-se, ainda, lajes de concreto moldado in loco em ambos os pavimentos. A infra-estrutura, por outro lado, precisava atender aos condicionantes climáticos da região. Pomerode possui o clima muito úmido, com chuvas frequentes, e o terreno em questão possui um curso d’água nas proximidades do local escolhido para a implantação. Essa alta umidade no solo coloca empecilhos no uso da estrutura metálica para fundação, que mesmo que esteja apenas parcialmente enterrada. Opta-se, assim, por uma infraestrura executada em concreto moldado in loco, com sapadas isoladas.
110 | A PROPOSTA
GALPÃO EM PÓRTICO LAJE DE CONCRETO MOLDADO IN LOCO PERFIS TUBULARES PARA O ACABAMENTO E FIXAÇÃO DOS GUARDA-CORPOS ESTRUTURA METÁLICA
INFRA-ESTRUTURA EM CONCRETO
A PROPOSTA
| 111
112 | A PROPOSTA
A PROPOSTA
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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