19 jane porter [princess brides 01] a princesa e o sultão (jessica 19)

Page 1

A PRINCESA E 0 SULTÃO THE SULTAN'S BOUGHT BRIDE Jane Porter

— Podemos fazer amor? É ilegal ter intimidade antes do casamento? — Nicolette perguntou. — Não é ilegal. Os lábios de Malik roçaram o canto de sua boca. — Se fosse, eu mudaria a lei. Ela tremeu, apertando-se contra ele. Era poderoso, mas nunca usava a força. Nem precisava. — Você está presa — falou, olhando-a sob ele. — Minha prisioneira. — Então, o que vai fazer comigo? Ele fitou os lábios dela. — Fazê-la falar.

Digitalização: Ana Cris Revisão: Simoninha


Cara leitora, A princesa Nicolette Ducasse não queria deixar a irmã se casar com um sultão moderno. Então, resolveu viajar ao encontro dele para comunicá-lo que o casamento não iria acontecer. Mas o que ela não imaginava é que o feitiço viraria contra a feiticeira. Ao conhecer Malik Roman Nuri de Baraka, a princesa o achou muito sexy e resistir a ele estava cada vez mais difícil. E agora...?!

PRÓLOGO — Você não vai. A princesa Nicolette jogou o pesado pergaminho na lixeira. — Pegue o telefone e diga ao sultão, xeique ou o que quer que ele seja, que não vai entrar novamente em um desagradável e bárbaro casamento arranjado. Céus, Chantal, você é uma mulher, não um sacrifício humano! Os lábios de Chantal curvaram, mas o sorriso não chegou aos seus olhos cinzas e à expressão tensa. — Ele é rico, Nic. Pode comprar a liberdade de Lilly, e se for o jeito... — Não é! Você mal sobreviveu a um casamento infernal. Como pode pensar em outro? — Nosso país precisa. Nosso povo precisa. Os ombros delgados de Chantal encolheram, como sua voz. — A minha filha precisa. Nic estava irritada. Sua irmã tinha perdido o ânimo, a determinação, a coragem. Os dois últimos anos tinham arrasado a elegante princesa, a mais velha dos netos da família real Ducasse. — Você também tem necessidades. Precisa ser tratada gentilmente, com amor e respeito. Outro casamento de conveniência, com outro playboy, acabará com você. Se Chantal não podia mais lutar, então, Nic lutaria por ela. — Sei que quer ajudar Lilly, mas sua filha precisa vir para casa, para Melio, Chantal. Ela não precisa de um outro país estrangeiro, outra cultura ou outra ama estrangeira dizendo não princesa, não pode; não sorria princesa; não aprovamos risadas, princesa! — Você não está ajudando, Nic. Nic caiu de joelhos, passando os braços em volta das pernas da irmã. — Deixe-me ajudá-la, fazer alguma coisa, ao menos uma vez. A fina sobrancelha castanho-escura de Chantal arqueou e ela mexeu nas longas mechas loiras de Nic. — Você casará com o sultão? Vamos, Nic. Você nunca concordaria com um casamento de conveniência. E não está nem perto de se acalmar. Ainda comete as


extravagâncias da juventude. — Não faço isso. Estou só namorando... A irmã riu, segurando os longos cabelos loiros. — Você não namora, amor. Caça e destrói. — Faz com que eu pareça o Exterminador. Não destruo os homens. Só não encontrei ainda o Sr. Certo. — E como vai encontrar o homem certo quando dorme com todos os errados? — Não durmo com todo mundo. — Mas gosta de sexo. Nic olhou atentamente a irmã mais velha. — Oh, a mana mais velha não aprova. — A mana mais velha se preocupa com AIDS, doença venérea, herpes e gravidez. Mas não era bem aquilo que preocupava Chantal. Não estava pensando em Nicolette contrair uma doença e sim na reputação dela. — Este é o seu discurso de Boas Garotas Não Fazem? — Bem, a mamãe não está aqui. — O que provavelmente a deixa contente, pois mamãe também não era uma Boa Garota! — Não fale assim da mamãe e, mais importante, sabe muito bem que todas nós precisamos de bons casamentos. Este tem sido o plano por cinco anos. Porque o reino delas consistia em duas pequenas ilhas no mar Mediterrâneo, Mejia e Melio, seria dividido ao final do ano. Mejia seria governada pela França, Melio pela Espanha, se a família real Ducasse não pudesse pagar os impostos e acordos comerciais devidos. Foi Chantal quem sugeriu os casamentos de conveniência. Se as três princesas fizessem bons casamentos, poderiam salvar Melio e Mejia, aplicar um bom dinheiro na economia, fazer novos acordos, ter novo poder. Então, Chantal tinha sido a primeira a se casar, com o príncipe Armand Thibaudet de La Croix, e tinha sido um pesadelo. Nic não estava ansiosa por se casar, mas não significava que não faria a sua parte. — Acha que não posso mais me casar bem? Se Chantal tinha ouvido dor na voz de Nic, não demonstrou. — Não sei nada sobre a sua reputação, mas sei que nós todas temos a responsabilidade de cuidar de Melio. A sucessão depende de nós. A segurança e estabilidade de Melio precisam vir de nós. — Nunca esqueci a minha obrigação. Enquanto você estava fora, cuidei de suas caridades, junto com as minhas. — Caridades são boas e bonitas, mas precisamos de dinheiro. Milhões de


dólares. E você teve duas propostas, Nic. — Anos atrás. — Exatamente! E só. Porque todas as realezas européias sabem que você foi escolhida pela imprensa como a princesa Ducasse mais improvável de tomar juízo. Ainda incomodava Nic que Chantal continuasse considerando dever e responsabilidade como as melhores virtudes pessoais. — Está dizendo que o seu sultão, o rei Nuri, nunca faria uma proposta a alguém como eu? — Bem, ele não fez, não é? Nic olhou para Chantal por um longo momento, percebendo que, mesmo se a cumpridora de deveres Chantal quisesse ir para Baraka conhecer o sultão, não permitiria. Chantal já passara por muita coisa. Ela, Nic, mais do que ninguém sabia sobre o inferno particular de Chantal. Até Joelle, a irmã mais nova delas, sabia pouco sobre os abusos que Chantal sofrerá do marido. — Não há motivo para uma de nós casar com o sultão. Podemos conseguir a ajuda dele sem desistir de nossa liberdade. E sim, valorizo a minha liberdade. Libertaremos Lilly e a traremos para casa. Chantal sacudiu a cabeça. — Os avós dela nunca a deixarão partir. — Deixarão, se adequadamente pressionados. Se o rei Nuri insistir. Você disse que ele é imensamente poderoso. — E rico. — Então, irei ao rei Nuri e pedirei ajuda. Ele não negará um pedido de sua futura noiva, não é? — Nic... — Eu irei, fingindo ser você, e o farei se apaixonar por mim... — Nic! — É um homem, Chantal. Sei como lidar com os homens. — Não vai funcionar. Você nunca passará por mim. É loira, eu sou morena... — Tingirei meus cabelos. Como morena, posso passar por você. De repente, Nic riu. — Vou me insinuar. Ele nem saberá o que aconteceu. — Ah, Nic, isso é um desastre esperando para acontecer! — Não se eu for esperta. Confie em mim. Planejarei e, você me conhece, Chantal. Quando quero uma coisa, sempre consigo.


CAPÍTULO UM O rei Malik Roman Nuri, sultão de Baraka, estava em pé no muro do antigo porto, construído cerca de setecentos anos atrás, na sombra de um forte português do século XVI, observando o iate real Ducasse entrar em seu porto, as bandeiras em púrpura e ouro tremulando. A sua princesa chegara. Parada no brilhante convés de madeira do Royal Star — o iate dos Ducasse batizado em louvor à sua mãe — Nicolette ajeitou os longos cabelos escuros cobertos, ouvindo as bandeiras batendo ao vento quente da tarde, enquanto que seu corpo tremia, tenso. Determinada, sabia o que fazer. Chegaria a Baraka como Chantal, prosseguiria com o casamento e, com Chantal e Lilly protegidas na América, o casamento seria desfeito. Precisava controlar sua irritação. Devia ser charmosa, não raivosa. Temperamento suave, não combativo. O rei Malik Nuri precisava acreditar que era Chantal. Nic sentiu curiosidade. Era aqui que ficaria nas próximas duas semanas? O sultão morava em Atiq ou seu palácio estaria em outro lugar, protegido pelas dunas do Saara? Viu uma multidão nos muros, à sua espera. Por que alguém como o rei Malik Roman Nuri escolheria Chantal como noiva? E por que Chantal pensaria em dizer sim para outro marido infiel? As revistas comentavam que o sultão Malik Nuri, era o Casanova da Arábia. Segundo fontes próximas ao sultão, o rei Nuri tinha maestria na sedução, transformando o fazer amor em arte, e mantinha inúmeras amantes — todas maravilhosas. Chantal merecia um príncipe, não um sultão incapaz de manter as suas calças reais no lugar! Duas, três semanas, no máximo. Ela proporia um casamento na cidade natal de sua mãe, algo bem pequeno e privado, ainda que significativo e, quando estivessem em Baton Rouge, Nic desmancharia o casamento. Se fizesse tudo certo — agradando o sultão, como sabia — tudo seria apenas uma escapada feminina. O enlace seria curto. Doce. Indolor. — Alteza? — O capitão do navio apareceu. — Chegamos. — Excelente. — Vamos aportar, Alteza. Está pronta para desembarcar? — Estou. Com a música soando, Nic desceu pelo passadiço. Na metade do caminho, confetes coloridos caíram sobre ela. Não eram confetes, mas pétalas de rosa laranjas, vermelhas e rosas.


Ao final do passadiço, o tempo pareceu parar. As pessoas acenavam e batiam palmas, tudo parecia irreal. O idioma era diferente, os rostos não eram familiares, não havia nada parecido com a vida que conhecia. O seu olhar perscrutou a multidão, buscando por um sinal, um toque pessoal. Nada. Em vez disso, o calor a assolou, quente, úmido e opressivo, e o ruído bateu em seus ouvidos, alto demais e, por um segundo, tudo dançou diante de seus olhos. Ela piscou, tentando se refazer. Por um instante, ninguém se moveu. Depois, um pequeno homem, forte, com um manto, de cabelos e bigodes pretos se adiantou. — Princesa Chantal Marie Ducasse? O homem mal chegava ao seu ombro. Nic era alta, mais alta do que suas irmãs, mas este homem seria pequeno até perto delas. — Sim. Ele se curvou. — Permita-me apresentá-la, Alteza Real, rei Malik Roman Nuri, sultão de Baraka, príncipe de Atiq. A multidão ficou na expectativa e a tensão deles a abalou. Por um instante, lamentou não ter ficado em casa. Então, as pessoas se afastaram, dando passagem a um homem alto, de terno escuro. Ele. Andava para ela, lenta e languidamente. Engoliu em seco, tentando ver através dos óculos escuros dele, que novamente ocultavam seu olhar. Depois, olhou para os lábios. Pensou em beijos e em sexo. Ocultou uma onda de horror. Tinha visto a figura do sultão na Internet, e quebrava a cabeça tentando combinar as fotos granuladas com este homem, mas não combinavam. Ela o imaginava mais baixo, pesado, facilmente manobrável e seduzível... Este homem não parecia ser assim. — Sua Alteza Real — o homenzinho murmurou, com profunda mesura. O coração dela acelerou, virou-se e suas pernas tremeram. — Alteza? O sultão cobriu a distância entre eles e a estudou por um longo e silencioso momento. Nicolette desviou os olhos. Ele não deixou que escapasse. Ergueu o rosto dela com os dedos, olhando fixamente para o seu rosto e depois, aparentemente satisfeito, beijou o rosto dela. — Sua Alteza lhe dá as boas-vindas de sua amada Baraka, terra de milhares de sonhos. Terra de milhares de sonhos. Interessante. Provocante. — Obrigada — murmurou. O rosto ainda quente pelo roçar dos lábios dele, descobrindo que o sultão não falava inglês. — Por favor, diga à Alteza que estou lisonjeada pela calorosa acolhida do seu povo. O intérprete traduziu, antes de se voltar para Nicolette.


— Alteza acha que seria bom tirá-la do sol. O carro dele está bem ali — e apontou para uma limusine escura atrás deles, rodeada por guardas uniformizados. Ele sentou em um dos acentos compridos da limusine. Nicolette e o sultão sentaram no outro. Ela e o rei Nuri não falaram durante a rápida viagem e, embora ele mal olhasse para ela, Nic nunca sentira tão desconfortavelmente a presença de alguém. Subitamente, ele virou, esticando o braço nas costas do encosto, a mão perto do ombro dela. Nic tremeu, a sua pele parecendo atiçada, os mamilos endurecendo. Bizarro. Impossível. Não respondia tanto a um homem desde... Balançou a cabeça. Já era ruim o bastante lidar com os seus sentidos em alerta, sem voltar às lembranças de Daniel. — A sua bagagem está vindo — o intérprete falou. — Mas, se houver algo que precise antes dela chegar, é só pedir. — Obrigada. Chegaram aos portões externos do palácio. Dentro havia uma cidade em miniatura com jardins, pátios, prédios de pedras brancas elegantes e diferentes, quase todos com fachadas de intermináveis colunas de mármore branco. Guardas com calças, camisas e casacos brancos, botas pretas, curvaram-se quando o rei Nuri, Nicolette e o intérprete atravessaram o pátio, indo para o edifício central. Lá dentro o teto se erguia a pelo menos dois andares de altura, a superfície coberta por murais de mosaicos em ouro e detalhes em bronze. Nicolette seguiu o rei Nuri para um elegante salão, onde ricos tapetes carmim cobriam o piso de mármore. Ele apontou para um dos sofás baixos, no meio da sala. Agradecida, Nicolette afundou na ponta de um sofá. A almofada coberta de seda rubi combinara luxo com elegância. — Café? — Por favor. — Alteza espera que sua viagem tenha sido segura. — Sim, obrigada. — Sem problemas na viagem? Era uma voz incomum. Profunda, rouca. Novamente, a pulsação acelerou. — A viagem foi tranqüila. Pensava estar preparada para esta viagem, que seu plano era à prova de bala, mas, agora que estavam juntos, nada ia ser como planejado. O sultão sentou ao lado dela em um dos sofás baixos. Quando se esticou para pegar seu café, o braço quase tocou seu joelho. Ela ficou tensa. O sultão falava árabe, Nic olhou para o intérprete e, para ele. Era lindo. Definitivamente másculo. — Alteza expressa sua satisfação por estar aqui. Ele e seu povo esperaram muito tempo por este dia. Nic apertou a pequena xícara de expresso, tentando se acalmar. O rei a


avaliava, os olhos, verde acinzentados, fixos nela, como se a achasse absolutamente fascinante. — Estou ansiosa por conhecer Sua Alteza, e discutir minhas idéias sobre o casamento. — Suas idéias? — É, claro. É meu casamento, tenho idéias sobre o meu casamento. Por um momento, ninguém falou e os longos cílios escuros do rei Nuri abaixaram, enquanto a estudava. O olhar frio examinando cada traço, a curva do rosto, a forma e a textura de seus lábios. — O rei entende que acabou de chegar e que tudo parece muito novo e estranho, mas também pede que confie nele quanto aos detalhes do casamento, pois eles estarão de acordo com as crenças dele e dos nossos costumes. — Por favor, diga a Alteza que eu gostaria de confiar apenas nele quanto aos detalhes do casamento. Mas, é um evento pessoal e insisto em participar do planejamento. — O rei agradece e garante que não precisa se preocupar. Quanto aos detalhes do casamento, não há mais nada a fazer nas próximas duas semanas, exceto descansar e se familiarizar com a vida em Baraka. — O que vai acontecer em duas semanas? — O casamento, Alteza. — Acho que estamos perdendo alguma coisa aqui. Está me dizendo que a data do casamento, e todos os detalhes, já estão acertados? — Sim. Nicolette tocou a ponta da língua no lábio superior. Ela tinha chegado a Baraka, o reino do rei Malik Nuri no Norte da África, há menos de duas horas e as coisas já estavam totalmente fora de controle. E o seu plano? E quanto à cerimônia calma e privada, na América, que tinha sonhado? — Alteza escolheu a data abençoada pelo calendário religioso e cultural. — Mas o rei não consultou o meu calendário. Ele não pode marcar uma data sem me consultar. — É costume o rei consultar seus conselheiros espirituais. — Então o rei é muito religioso? Ele hesitou antes de continuar. — O rei é o rei. Faz as regras de Baraka... — E eu sou a princesa Chantal, da família real Ducasse. O seu temperamento estava voltando. Detestava palavras dúbias. — Talvez queira lembrar ao seu rei que nada está acertado, até que eu diga que está acertado. O homem hesitou, sem querer traduzir. O rosto de Nicolette enrijeceu. — Diga a ele. Por favor. — Alteza... — ele protestou. Ela se virou impaciente, pousando a xícara na mesa.


— Talvez tenha sido um erro vir a Baraka. Imaginei que o rei Malik Nuri era educado. Civilizado... — Ocidental? — o rei concluiu, erguendo-se languidamente. Então ele falava inglês. Claro. Ela tinha descoberto na Internet que tinha freqüentado Oxford. Mas, permitira toda a apresentação, a conversa desagradável através do intérprete. O primeiro encontro deles como uma entrevista. — Por que um intérprete? — Pensei que a deixaria mais à vontade. O sultão esperava que ela falasse. Seus olhos queimavam, lutando para manter o leve sorriso e balançar a cabeça, como Chantal fazia. — Quanta consideração. Devo... agradecer. — O prazer foi meu. Ergueu a mão em um gesto imperial e o intérprete saiu da sala. Os dois estavam de pé, peitos demais para o conforto de Nic, e o sultão examinou a sua expressão determinada, antes de juntar as mãos atrás e andar em volta dela, lentamente. Estava examinando. Antes da compra. Como um camelo em um mercado ao ar livre, pensou, enquanto ele dava a segunda volta, com o olhar que nada perdia. — Consegui a sua aprovação, rei Nuri? Ela tremeu, com o sarcasmo de sua voz. Estava assustada. Por ela. O rei Nuri tinha um plano e o selvagem pulsar de seu coração a lembrava que o plano dele estava aniquilando o dela.


CAPÍTULO DOIS O rei terminou a segunda volta, antes de parar de frente, a poucos centímetros. Nic sentiu a respiração dele, lutando para não demonstrar as sensações que sentia. — Você é mais alta do que eu esperava. Ela tinha herdado a altura do pai, assim como os cabelos loiros. — Você também. — Também um pouco mais clara. Mas, acho que na televisão, as pessoas sempre parecem diferentes. — Está desapontado. — Eu disse isto? Malik fitou os olhos furiosos de Nicolette. A princesa tinha rosto forte e atitude, pensou, sorrindo levemente, sem saber por que sorria. Esperava a atitude — ela era uma das belas irmãs Ducasse —, mas o rosto o intrigava. Era escultural. Ele queria tocá-la, acariciá-la. E ela mal tinha chegado. Não apenas o rosto, os lábios também. Adoráveis, cheios, e grandes sobrancelhas curvadas como dois pássaros, livres. — Trouxe alguém com você? Secretária ou assistente? Alguém para cuidar da sua agenda social? — Não julguei necessário, Alteza. Tenho a minha agenda totalmente livre para você. — Muito gentil. — Tento. — Mas claro que precisa de ajuda. Como não trouxe ninguém, ficarei feliz em providenciar sua equipe. Tenho algumas pessoas em mente e todas passaram por rigoroso treinamento, assim como pela segurança. — Realmente, não preciso de uma equipe, Alteza. — Princesa, terá uma agenda bem cheia. Muitas funções e atividades programadas. É importante que tenha ajuda para organizar sua agenda, assim como o seu guarda-roupa. Ela corou. Nunca se importara com a moda e as poucas peças interessantes que tinha eram presentes de estilistas franceses e italianos. — Trouxe pouca roupa. Pensei que seria apenas uma visita preliminar, para nos conhecermos, marcar a data... Enfiando as mãos nos bolsos das calças, ele falou: — Claro que a data está acertada. Discutimos isso... — Não, Alteza, nunca discutimos isso. Você pode ter sugerido um rápido noivado, mas a data nunca foi acertada. — Apesar disso, acho que duas semanas são suficientes, considerando que ambos estamos ansiosos para prosseguir com nossas vidas. Uma das primeiras


pessoas com quem se encontrará é a sua organizadora da cerimônia... — Noivado de duas semanas? Quatorze dias para preparar um casamento, é impossível. — Duas semanas a contar de sábado. Dezoito dias. A questão não eram os dias, mas não casar. Não do jeito dele. Não para ficar presa em Baraka. — Estive pensando, Alteza. Fiz algumas programações preliminares. — Fez? — Fiz. Como minha mãe era americana, pensei em voarmos para a América para a cerimônia. Viu a incredulidade nos olhos dele. — Gostaria de me casar na paróquia da minha mãe, perto de Baton Rouge, Louisiana. — Nunca estive na Louisiana, e você? — Não, por isso quero ir. Gostaria que a família da minha mãe pudesse comparecer... — Eles podem vir para cá. — Eles são pobres, Alteza. A maioria nunca saiu da cidade, muito menos para um país estrangeiro, de avião. — Então enviarei o meu jato. Problema resolvido. O sultão caminhou para uma mesa, pegando algo da gaveta e voltou, dando para ela. — A sua agenda. Como pode ver, ficará bastante ocupada ajudando a planejar e preparar a cerimônia aqui. Haverá coisas que fará sozinha. Muitas faremos juntos... — Rei Nuri, perdoe-me ser burra, mas não entendo porque não podemos ao menos discutir as minhas idéias para o casamento. Ele ergueu a cabeça, o olhar frio. — Claro que podemos discutir suas idéias. Acho importante incorporar tanto das suas tradições quanto possível. É exatamente o que quero que diga à organizadora, que encontrará hoje, mais tarde... — Hoje? — À noite. Mas, para garantir que não ficará sobrecarregada, a sua assistente, Álea e a organizadora discutirão a sua agenda, para que fique confortável com suas obrigações. — Sou bastante capaz de cuidar sozinha dos preparativos. — Imagino que tenha muita experiência em planejar recepções e coisas assim, mas vai ser minha esposa, a rainha de Baraka. Não quero que fique cansada. Trouxe as melhores profissionais, sei que gostará delas... — Mas eu não preciso! — Precisa. Irá ajudá-la a controlar o estresse.


— Não estou estressada. — Ficará. Mentira. Estava estressada. E se não pudesse sair de Baraka... Se não pudesse levar sua irmã e Lilly para a América... Se o casamento acontecesse sem conseguir se livrar... Para ocultar suas preocupações, Nic abriu a agenda envolta em couro e folheou as páginas, vendo anotadas várias datas e nomes. Conhecer a assistente pessoal, a primeira aula de árabe, primeiro teste do vestido de noiva, escolha do anel de noivado, segunda aula de árabe, primeira festa de noivado, aula de cultura, terceira aula de árabe, passeio pela cidade com o rei Nuri, quarta aula de árabe. E daí por diante, até o casamento. Dezoito dias de atividades, fingindo ser alguém que não era, agindo como se estivesse para ser a rainha do rei Nuri. — Tem algo agendado para cada dia. — Exatamente. Seria treinada para o casamento. — Rei Nuri... — Malik. — Malik, tudo isso é necessário? — Você será rainha. — Sim, mas um pouco disso pode acontecer depois do casamento. As aulas de idioma, de cozinha... — É melhor cuidar do máximo possível agora. Espero que esteja carregando meu filho logo após o casamento e entendo que algumas mulheres não se sentem dispostas no primeiro trimestre. Meu desejo é simplificar a sua vida, para que depois do casamento, concentre-se na família. Definitivamente, isso não era parte do plano. O plano era resgatar Lilly através da América — não ficar presa em Baraka com um anel de casamento no dedo e um bebê do sultão em seu ventre. — Quer tentar filhos imediatamente? — Com certeza, você deseja mais filhos? Mais? Ele a via já como Chantal, a mãe de Lilly. — Claro, mas ainda somos estranhos... — Deixaremos de ser em algumas semanas — apontou para a agenda. — Se olhar, verá que passaremos juntos um tempo significativo todos os dias. Em alguns dias jantaremos sozinhos, em outros sairemos juntos. Em outros, faremos compras necessárias, como a cama de casal. Nic ficou lívida. Não ia compartilhar qualquer cama com Malik Roman Nuri, principalmente uma cama que tinha "marido e mulher" pairando sobre ela. Fazer amor era uma coisa, ficar casada pelo resto da vida era outra. Infelizmente, o rei Nuri estava com tudo engatilhado para a cerimônia, sem deixar furos.


Não era exatamente o que o avô Remi tinha previsto? Por anos, ele tinha dito que um dia Nic conheceria o homem que poderia mais do que ela. — Nem todos os homens caem mortos só por você estalar os dedos — o avô tinha dito. Malik viu a dúvida nos olhos azuis da princesa. Nunca tinha visto uma noiva menos ansiosa em sua vida. Mas, entendeu algumas de suas apreensões. Quando tinha percebido que precisava se casar, ele mesmo as tivera. Estava casando por necessidade. A questão da sucessão tinha se tornado cada vez mais premente, desde a tentativa de assassinato, no ano passado. O seu irmão mais jovem, Kalen, não pretendia deixar Londres, tendo renunciado às suas ligações com Baraka e sua família real. Malik tinha irmãs com filhos jovens, assim como vários primos, mas nenhum tinha ficado em Baraka, todos preferiram a cultura ocidental. Aquilo deixava a sucessão por sua conta. Precisava de herdeiros. Menino ou menina, não importava. Podia reescrever a lei, mudar as regras. A questão era ter um descendente direto. E tinha escolhido a princesa Ducasse para ter aquele descendente. — Não quero que se preocupe. Eu serei um marido leal, monógamo, dedicado a cumprir minhas responsabilidades de marido e companheiro. A cabeça de Nic girou, tumultuada. Companheiro. — A maior parte da realeza tem quartos separados. Não é esse o costume aqui? — Meus pais sempre compartilharam a mesma cama. — Ah! — Os seus não? O rei Nuri era esperto. — Meus pais se casaram por amor. O casamento dos pais dela tinha sido um escândalo. Certamente ele sabia. Seus pais tinham se casado contra os desejos dos pais dele, o que na época, tinha sido um choque. O garoto de ouro, príncipe Julien, casando com uma cantora americana, Star. Todos diziam que o casamento não duraria um ano. Durou dez anos e ainda estariam juntos e felizes se não tivessem morrido em um acidente de carro na estrada costeira, perto de St. Tropez. Nic olhou a agenda em sua mão. — Aparentemente, encontro o meu pessoal em uma hora e meia. — Depois de se refrescar. Chá e sanduíches serão servidos em seu quarto. Terá até tempo para descansar um pouco. Subitamente, o seu temperamento assumiu e revirou o pequeno livro de couro. — Realmente? Tem certeza? Não vejo isso na agenda. Ele nem olhou para o livro. Simplesmente ficou ali, olhando para ela.


— Princesa Chantal, se não deseja esse casamento, é só dizer. A calma voz dele ecoou na elegante sala. Envergonhada de ter explodido, lentamente Nic fechou o livro. — Desculpe. — Não vou segurar uma arma em sua cabeça, princesa. Não é uma obrigação. Se não está satisfeita comigo como noivo, diga. Esta é a hora, não uma semana ou um dia antes da cerimônia. O casamento é daqui a quinze dias. Ainda não foi anunciado. E se tem dúvidas, diga. Não julgarei e prometo não ficar com raiva ou ser cruel. Ela só tinha dúvidas. Ela era uma hipócrita. Estava ali, mentindo, pretendendo enganá-lo. Como dizer a verdade? Se contasse quem era e porque estava em Baraka, o casamento seria cancelado, ele não a ajudaria e todos os esforços para libertar Lilly e Chantal estariam perdidos. Não podia interromper o que tinha iniciado, até que Chantal e Lilly estivessem seguras na América, e Nic no primeiro avião de volta para casa. — Então? Ele nunca a perdoaria por deixá-lo no último minuto, nem a sua família por humilhá-lo... Nic fechou os olhos, tentando lembrar de Lilly, tão pequena, frágil e vulnerável. Abriu os olhos, encontrando o olhar de Malik. — A minha única dúvida é que vou me casar longe daqueles que amo. Mentira. Só queria se casar na América porque o país era grande, Louisiana era como uma tribo e os antigos amigos de sua mãe e parentes afastados poderiam oferecer abrigo para Chantal e Lilly. — Eu ficaria muito mais à vontade se estivesse disposto a considerar meus pensamentos... Meu pedido. Por um momento ele olhou para ela, antes de inclinar a cabeça. — Se significa tanto para você, pensarei mais em seu pedido. Nicolette sentiu uma onda de alívio. Talvez conseguisse. — Obrigada, Alteza. — Quero que seja feliz. Nosso casamento é especial e no dia, será feriado nacional em Baraka. A cerimônia será televisada, então todo o nosso povo pode comemorar conosco. Ficar ao lado do sultão diante de centenas de milhares de pessoas do povo dele não era a sua idéia de uma coisa boa. — Que ótima idéia. — Obrigado. Agora, permita-me mostrar a sua suíte. Creio que deseja ficar um pouco sozinha. No quarto, Nicolette pegou sua própria agenda no fundo da mala, folheando rapidamente. Hotéis, locadoras de carros, contas bancárias, telefones, mapas da


cidade de Baton Rouge e vizinhança. Ela já tinha enviado dinheiro para a agência de Baton Rouge do banco da Louisiana, comprado um carro usado e um kit de primeirossocorros, abastecido-se e munido-se de mapas, e falado com o padre da igreja da infância de sua mãe. Tudo estava organizado. Eles só precisavam chegar lá. Logo bateram na porta. Guardou suas anotações e abriu a porta, vendo um grupo de mulheres no corredor. Suas assistentes. Por duas horas, as mulheres tagarelaram, apresentando-se e explicando como cada uma assistiria à princesa. Todas falavam excelente inglês. A organizadora do casamento era jovem e eficiente, mas não houve tempo para falar da cerimônia. Álea, a assistente de Nicolette, era linda, de cabelos escuros e olhos gentis, e havia várias outras empregadas que borboleteavam em volta da princesa. A sua cabeça ficou repleta com os nomes e funções. Nunca tivera tanta ajuda na vida. Às nove e quinze, a porta do quarto de Nic se abriu novamente e uma jovem e atraente mulher entrou, elegantemente vestida. As mulheres sentadas com Nic levantaram imediatamente. — Bem-vinda, senhora — ecoaram, desdobrando-se em mesuras. A jovem, com idade próxima da de Nicolette, aproximou-se de Nic com um sorriso frio. — Lamento estar atrasada. Parou diante de Nic, olhando-a da cabeça aos pés. — Sou lady Fátima, prima do sultão, membro da família real. Meu primo me pediu que a ajudasse a se ajustar aos nossos costumes. Ela era educada, mas Nic ouviu algo mais. Lady Fátima não pretendia ser sua amiga. Mas, não precisava sentir-se ameaçada. Nic não pretendia ficar. Assim que ela e o sultão fossem para a América, tudo terminaria. Perto da meia-noite, as mulheres foram embora. Estava exausta. Passou a mão pela coberta de seda, pensando que precisava ser cautelosa para não ficar presa em Atiq para sempre, casada com o sultão, mãe de seus filhos. O avô Remi riria por último. Nic, casada. Rainha de Baraka. Fazedora real de bebês. Geralmente, não acordava de mau humor. Mas teve sonhos pesados e, quando foi para o banheiro anexo ao quarto que tinha uma enorme banheira, percebeu que precisava de um bom banho. Estava tensa. Precisava falar com Chantal. Não tinham feito um plano de apoio, o que fora um erro. Deviam ter traçado planos de emergência, com destinos alternativos à América e como livrá-la do compromisso sem criar um escândalo internacional. Entrou na água tépida, ensaboando-se e se enxugando rapidamente, antes de se vestir. Normalmente, era rápida nos pensamentos, mas não tinha idéias, respostas ou possíveis rotas de fuga. O Royal Star tinha voltado para Melio. Ela tinha viajado sem muito dinheiro. E se quisesse fugir? Bem, podia contar a verdade a ele, pensou, enquanto penteava


os cabelos escuros. Mas, se contasse a verdade, Lilly ficaria em La Croix. Não se ele começar a gostar de você... É horrível usar um homem assim. Mesmo assim, muitos homens gostaram de você e nunca se preocupou em magoá-los... Uma batida na porta a ajudou a escapar de sua consciência. — Entre. Malik entrou no quarto. — Estou interrompendo algo? — Estou ajeitando meus cabelos. — Você tem cabelos lindos. — Obrigada. — Sempre gostei de cabelos desta cor. Eram castanhos tingidos, que ela mesma tinha pintado. — Estou lisonjeada, Alteza. — É estranho, mas nunca fui atraído por loiras. — Não gosta de loiras? — Não especialmente. — Por quê? — Não quero parecer preconceituoso, mas... — O quê? — Bem, na minha experiência, descobri que a maioria das loiras é vazia, dissimulada, menos intelectual. Nic piscou. Na experiência dele. Que tipo de loiras tinha conhecido? — Minha irmã, Nicolette, é loira natural e muito inteligente. — Mesmo? — Sim. Nic tem diplomas avançados em matemática e ciências. — Falando de sua irmã, por isso vim. Como nós ainda não somos casados, normalmente eu não viria ao seu quarto sem ser convidado mas, como sua irmã ligou, pensei que podia ser urgente. — Qual irmã? — Eu juraria que ela disse Chantal. — Impossível. — Exatamente. Chantal está aqui. — Deve ter sido Joelle. Talvez soe como Chantal. — Talvez. — Ou Nic. Viu um brilho nos olhos dele. — Não pareceu Nicolette — tirou o telefone do bolso. — Essa irmã parecia sofisticada, refinada. E pelo que ouvi, sua irmã Nic não é assim. Ele nem conhecia Nicolette. Mas segurava o telefone para ela. — Quer ligar?


Quem teria ligado? Seus avós nem sabiam que estava ali. Joelle sabia que Nic tinha viajado, mas pensava que tinha ido para La Croix com Chantal. Então, só podia ser Chantal, e não queria falar na frente dele. — Posso ligar mais tarde. A expressão dele não mudou, o braço estendido. Usava calça caqui, camisa branca rústica com as mangas enroladas no antebraço. — Pode ser urgente. É só pressionar redial. Nic tentou não olhar para ele, pegando o telefone. Foi para a janela que dava para um belo pátio interno. Pressionou o botão e quase na hora, ouviu Chantal. — Felizmente é você. — Chantal não perdeu tempo. — Estava doente de preocupação. — Não há motivo. Está tudo bem... — Como vai? Nic não podia dizer a verdade. Chantal era a típica irmã mais velha. A mais preocupada, responsável. — Estou bem. Verdade. — Como ele é? Nic fechou os olhos, o homem irradiava energia. — Certo. — Ele está causando problemas? — Não. Por sobre o ombro, viu o interesse e o olhar divertido dele. — Como está a Lilly? — Estamos fazendo planos. Falei com a mãe de uma amiga da escola. Ela vai nos ajudar em Baton Rouge. — Bom. Depois, Chantal falou: — Agradeço o que está fazendo. Ainda acho muito arriscado... — Sem arrependimentos. É pela Lilly. Eu a amo muito, você sabe. — Sei. — Certo. Falaremos em breve. Devolveu o fone para o rei Nuri. — Obrigada. Você estava certo. Era importante. — Ouvi você mencionar a sua filha. Ela está bem? Nic lembrou dos grandes olhos azuis de Lilly, já tão cheios de problemas. — Está. — Quando vai se juntar a você? — Logo. Espero. Ele concordou e hesitou. — Não a verei senão ao fim da tarde e imagino que olhou a agenda de hoje. Tem qualquer dúvida? A pergunta dele a fez perceber porque tinha acordado de mau humor. Ele


podia exalar sensualidade, mas era um ditador. — Não sou uma criança, Alteza. — Não achei que fosse. A raiva cresceu com a tensão, as emoções contraditórias. Nunca tinha ficado tão atraída por alguém, que ao mesmo tempo era tão inadequado para um relacionamento. — Então, por que me colocou — sem me consultar ou avisar — de volta na escola? Segundo a agenda, tenho aulas de manhã à tarde, começando com duas horas de aulas de árabe, em quinze minutos. — Só fiz o que é necessário... — Perdoe-me, Alteza — ela interrompeu, bruscamente — mas são decisões que eu mesma deveria tomar. Talvez aqui os homens decidam pelas mulheres, mas em meu país as mulheres têm o direito de falar sobre o que acontece em suas vidas.


CAPÍTULO TRÊS — Um homem deseja o melhor para sua mulher. Sua mulher, ela tremeu. — Uma mulher tem dificuldade em respeitar um homem que não a deixa usar seu cérebro. — Isso não é um exercício político, princesa Thibaudet. Estou apenas pedindo que aprenda o nosso idioma e cultura. — O dia inteiro. — Não é como na escola. Estudará com minha prima Fátima, que não apenas é membro da família real e quase da sua idade, mas uma estudiosa de Baraka. Espero que as duas se tornem grandes amigas. Grandes amigas? Lembrou-se da frieza dela. — É, conheci lady Fátima e, Alteza, a minha frustração não é com a professora, mas com as aulas. A minha preocupação é que, menos de vinte e quatro horas depois de chegar, quase já perdi... — engoliu a palavra "controle" e buscou uma maneira diplomática: — Alteza, estou pedindo que me deixe organizar um pouco a minha agenda. As aulas e atividades serão menos questionáveis se eu tiver uma escolha. — O que seria diferente? Escolhi o melhor para você. — É exatamente o meu ponto, Alteza. As mulheres querem ter liberdade de escolha. — Mesmo que isso seja interessante, tenho pessoas à minha espera e receio não poder continuar esta discussão. Lamento que esteja infeliz com as minhas escolhas, mas talvez goste das aulas, quando começar. Ele suspirou, olhando para o relógio. A raiva voltou, vendo-o virar e andar para a porta. — Não vou às aulas. Verei na minha agenda como posso adaptar as atividades ao meu gosto. Aquilo chamou a atenção dele. Virou-se lentamente, com um olhar implacável. — As aulas estão acertadas. — Nada na vida está acertado. Não serei guiada. Se você deseja um casamento com uma princesa moderna, é melhor esperar um relacionamento moderno. Não viajei até aqui para me tornar um capacho real. — Um capacho? — ele repetiu, suavemente. — Acho a descrição ofensiva. Sempre respeitei demais as mulheres e as mulheres na minha vida são bem tratadas e protegidas. Se aprender o nosso idioma é tão questionável... — Não é o idioma, Alteza. Não me importo de aprender seu idioma, mas não imediatamente após a minha chegada. O seu país é bilíngüe. Todos em Baraka falam francês. Meu país também é bilíngüe. Falamos espanhol e francês. — O francês é parte do nosso passado colonial enquanto que o árabe é o futuro.


— Então, por que casar com uma princesa européia, Alteza? Deve haver muitas princesas árabes, se esse é o seu futuro. Sem responder, ele se inclinou para ela, o rosto franzido, enquanto ela prendia a respiração quando os lábios dele tocaram sua orelha. — Não é muito tarde para colocá-la em um avião, de volta para casa. — Talvez você devesse. Não está pronto para a realidade do casamento, Alteza. Subitamente, a mão dele estava em sua nuca. Ela tremeu. Ele sentiu o tremor e apertou mais. — Princesa, não pode me culpar totalmente. Você mudou. Um mês atrás estava ansiosa por essa união. Duas semanas atrás, mais ainda. Por que mudou, Chantal? Você está difícil hoje. — Não difícil, honesta. Mesmo assim, parece que não posso ter uma opinião. Os dedos dele acariciaram a sua nuca, deixando-a louca. Como se o seu corpo adorasse o prazer e sua mente detestasse o controle dele. — Claro que pode ter uma opinião. Mas até agora, só expressou desagrado, insatisfação... — Não pode dizer isso baseado nos noventa minutos que passamos juntos! Ele afastou o rosto dela, para que pudesse ver o seu total desagrado, o rosto fechado, o olhar de pedra. — Alguma vez já pensou antes de falar, princesa? — E você obriga todos a fazer o que quer, rei Nuri? Entendo que é o sultão, mas certamente outros têm permissão para falar livremente... — Você gosta mais do que falar livremente. Na verdade, eu ouvi tudo o que queria de você. — Ele apertou um dedo nos lábios dela. — Bem, eu não me calo! — Estava ficando receosa. Só conseguia pensar em como seria selvagem, explosivo, eles fazendo amor. — Não? — Não. — Nunca tinha se defrontado com um homem tão desafiador. Podia ouvir a desaprovação de Chantal. Ela nunca desafiaria um homem assim, pois acreditava no tato, na diplomacia, na força da calma. Mas, não estava ali como Nicolette, a filha rebelde do meio. E sim como a cordata Chantal, que o rei Nuri esperava. Ele abaixou a cabeça, os lábios tocando o rosto dela. — Não posso ter uma esposa desobediente. A voz profunda a penetrou, sentindo um nó de prazer e medo. Queria que a tocasse. — Um marido não devia exigir obediência. Devia esperar espírito de cooperação e respeito mútuo. — Mas uma mulher não pode respeitar um homem que a deixe pisar nele. — Não acredito que me permitiria pisar em qualquer lugar ao seu redor,


Alteza. — Você se recusa a capitular. — Por que deveria? Se você deseja uma esposa com educação e bom senso, então devia gostar dos meus pensamentos. — Gosto. Só não espero que minha noiva me desafie a cada pedido que faço. — Ainda não sou sua noiva e não está fazendo pedidos. Está ordenando, é diferente. O olhar dele desceu, do rosto quente para os lábios e para as curvas dos seios. — E se eu pedir para assistir às aulas de idioma? O olhar dele a fez tremer, os mamilos endurecendo, como se a tocasse. — Eu pensaria em seu pedido. Lentamente, o olhar dele levantou, passando pelo seu pescoço, pelos lábios suaves, pelo rosto corado, para os olhos. — Nem tudo entre nós precisa ser uma luta. — Agora não estou lutando. — Não, mas acho que é uma retirada momentânea. — Não gosta de lutar? — Não. Há muitas outras coisas que prefiro fazer com as mulheres, especialmente se ela vai ser minha. Então, vejamos como isso funciona. Princesa Chantal, estou pedindo o favor de pensar em assistir às aulas de idioma e cultura que começam em quinze minutos. É importante para mim que se familiarize com a nossa cultura. Pode encaixar as aulas em sua agenda ocupada? Inferno. Malik Roman Nuri era difícil de manobrar. — Verificarei minha agenda. Se a manhã estiver aberta, farei o possível para ter a primeira aula. O sorriso dele era divertido. Tocou-a novamente, os dedos passando pelos seus longos cabelos. — Você o fará. Ambos sabemos. Está em Baraka. A minha vontade, princesa, logo será o seu desejo. Tomando as mãos dela nas dele, beijou os nós dos dedos. — Aproveite o seu tempo com Fátima. Ficarei ansioso para saber de suas aulas, à noite. E saiu. Nicolette se encontrou com Fátima em um salão fresco, o brilho do sol entrando pelas janelas de madeira, iluminando toda a sala. A aula pareceu interminável e depois, uma jovem entrou, trazendo doces de amêndoas e chá de menta. Fátima serviu o chá, olhando para Nicolette. — Temos um ditado, princesa Thibaudet. Não há escapatória, morte ou casamento.


Sorriu amargamente, passando uma xícara para Nicolette. — É verdade. O lugar de uma garota é em casa. Cuidando da família. Deu de ombros, sentindo a hostilidade da mulher, sabendo que falavam do futuro de Chantal, não do dela. — Não vejo problema, lady Fátima. Tenho uma filha e fico bem em casa. — Então, a sua filha também se casará com um homem escolhido para ela? — Não há motivo para Lilly fazer isso. — Bem, se casar com o sultão, seus outros filhos terão que seguir nossas tradições. Certamente, seria melhor para Lilly fazer o mesmo. — Seu primo nunca falou comigo sobre isso. — Ainda não, mas falará. Depois que conhecer a nossa cultura. Nic olhou para a xícara, as emoções tumultuadas. Chantal teria pensado nisso? Se ouvisse aquilo, ficaria torturada. Chantal e Lilly já tinham passado por torturas demais. Depois de oferecer doces à Nic, ela continuou: — Voltando à sua filha, realmente acha que é justo fazê-la ficar de fora? Ser tratada diferente dos seus filhos com o sultão? Pense nisso. Como se sentirá sendo diferente? Porque, princesa, assim nenhum homem de Baraka casará com ela e então, você estará escolhendo mandá-la para longe. — Ela tem quatro anos, lady Fátima. Creio que tais decisões podem ser tomadas daqui a alguns anos. — O tempo passa depressa. — E você? Quais os planos do seu primo para você? Há um marido em vista ou vai permanecer aqui, devotada a ele e a mim? Os olhos de Fátima apertaram. — Não sei quem ele escolheu para mim, mas claro que estou interessada. Por quê? Ouviu algo? — Não. Pela primeira vez, Fátima mostrava insegurança. — Mas, se ouvir alguma coisa me dirá? — Claro. Devemos nos ajudar, não magoar uma à outra, não acha? Voltando ao seu quarto, Nic olhou a agenda, incapaz de acreditar que passaria todas as manhãs naquele inferno com Fátima, inclusive refeições e café. Era um insulto à sua inteligência, um teste ao seu controle. Insulto ou não, Nic sabia que, de acordo com a agenda, só tinha tempo de se refrescar e se arrumar, vestindo a roupa que Álea tinha separado para jantar, sozinha com o rei Nuri. Precisava controlar suas emoções, e reações. Lady Fátima já era um problema e Nicolette não estava nem perto de convencer o sultão a fazer o casamento em Baton Rouge. Pense nesta noite como uma oportunidade, disse a si mesma enquanto era


escoltada para a ala do rei Nuri. Eles jantaram a moda ocidental, em uma pequena mesa, em um elegante pátio, decorado com archotes que iluminavam toda a área. Durante a refeição, Nic tentou, sem sucesso, encontrar uma maneira natural de falar sobre o casamento — e sobre lady Fátima. — Tive aulas hoje — começou. — Certamente, lady Fátima tem conhecimento. — Tem, não é? — Ela falou coisas que me preocuparam. — Mesmo? — Apesar de sua educação, parece muito conservadora, pelo menos em termos das funções femininas em sua sociedade. — Fátima aceita a diferença entre homens e mulheres. — Parece perfeita para você. Estou surpresa por nunca ter pensado em casar com ela. — Eu disse isso? — Você a propôs? — Não. Eu a respeito muito, mas é como uma irmã. Esperei muito tempo para me casar. Esperei muito por você. — Não eu... — Sim, você, princesa. — Teve tempo de pensar em meu pedido? Realmente, significa muito para mim... Casar na paróquia de minha mãe. — Sua mãe, a americana. — Sei que deseja casar aqui em Atiq, mas talvez pudéssemos ter duas cerimônias. Iríamos para Baton Rouge, para a minha cerimônia na igreja e depois, voltaríamos para cá, para uma cerimônia tradicional de Baraka. — Duas cerimônias? — Se não o incomodar, Alteza... — Malik, por favor. Estamos falando de nosso casamento. — Cerimônias duplas estão ficando cada vez mais comuns. É uma maneira de abranger aspectos de várias culturas. — Talvez. Nunca pensei nisso, mas não quer dizer que não possamos. Então, nos casamos primeiro aqui. Você já está aqui e os planos feitos. Depois da cerimônia no palácio, podemos voar para a Louisiana, convidar seus amigos e parentes para vir para cá. — Alteza... Malik, obrigada por pensar na minha sugestão e por estar disposto a viajar para os Estados Unidos. Mas se pudermos fazer tudo isso, eu realmente gostaria de primeiro ser uma noiva de branco. — Uma noiva de branco. — Sei que já fiz isso antes, mas ainda é tradicional.


— E você é a irmã tradicional, certo? Hoje cedo, mencionou que os Ducasse são meio franceses? Ele era bom em mudar de assunto. Controlava tudo. — Francês e espanhol. Ainda que, através da história, muitos reis Ducasse tenham se casado com noivas inglesas. — Noivas reais? — É. — Então você cresceu falando...? — Francês pelo pai, inglês pela mãe e nossa ama era de Sevilha, assim falávamos espanhol com ela. — Algum outro idioma? — Leio latim, sei um pouco de grego, muito italiano e posso me arrumar com alemão. — Uma poliglota. — Sou matemática. Dizem que idiomas e matemática usam a mesma parte do cérebro. — Interessante. Não sabia que você e Nicolette tinham estudado matemática na universidade. Sabia dela, você disse hoje cedo, mas não que você também. Mentalmente, Nic se chutou. Você é Chantal! — É o mesmo grupo genético. — Falando em genética, encontrei seu pai uma vez. Anos atrás, quando eu ainda era adolescente. Ele falava para um grupo de líderes em um encontro econômico europeu. Foi brilhante. — Ele amava Melio. Queria o melhor para Melio e estava disposto a fazer qualquer sacrifício... — Exceto desistir de sua mãe... Sua mãe, a sensação americana, Star, que tinha crescido em uma pobreza incrível, com fome. Fome de comida, carinho, amor, abrigo. De reconhecimento. Só os avós de Nic não a tinham visto assim. Pensavam que sua mãe tinha fome de poder e fizeram todo o possível para impedir o casamento de Julien com ela. — Ele teria abdicado da coroa se preciso. — Seus avós quase o deserdaram. — Eles subestimaram minha mãe. Nic nunca visitara o local de nascença de sua mãe, mas sabia que era rural, rude e pobre. — Ela pode ter nascido pobre, mas não tinha medo de desafios. Os olhos de Malik pousaram no rosto corado de Nic. — Você se dava bem com ela? — Muito. Ela adorava sua mãe e, de certo modo, eram parecidas, não tinham medo de


nada. Uma empregada apareceu com uma bandeja com café fumegante e duas xícaras pequenas. Malik esperou a empregada sair. — Como é a sua relação com sua filha? Subitamente ela lembrou que tudo que estava dizendo e fazendo era uma mentira. Devia estar falando como Chantal, ao invés de falar com o seu coração. — Acho que sou mais protetora do que minha mãe. E Lilly, acho, é mais confiável do que a maioria das crianças e consideravelmente mais vulnerável. — Talvez por perder o pai tão cedo. Nic cerrou os dentes. Armand... como ela odiava o príncipe Armand Thibaudet. Sua voz soou fria. — Talvez, ou por ser muito esperta para sua idade, bastante intuitiva e sinta que as coisas não são como deviam. Por um minuto Malik a estudou depois, afastou a cadeira, encostando-se e olhando-a fixamente. — Pelo que entendi, o seu primeiro casamento não foi por amor. — Longe disso. — Mesmo assim, veio para Baraka...? Porque não tive escolha, pensou. — Quero que Lilly seja feliz... Sentiu o peso do mundo em seus ombros. Em quarenta e oito horas tinha se enrolado. Não era Nic, nem Chantal. Sabia apenas que a química entre ela e o rei Nuri era assombrosa. Nunca sentira aquilo por ninguém mas, não podia deixar a atração atrapalhar.


CAPÍTULO QUATRO Mais tarde, deitada, olhava para o teto, sem conseguir dormir. Sem parar de pensar. Estava ficando muito preocupada. Lembrava-se da conversa com o rei Nuri, no primeiro jantar deles e depois da que tivera com Chantal, horas antes dela embarcar. Quanto a ir lá, conhecer o rei sem se envolver e voltar. Mas o casamento seria dentro de duas semanas e não sabia o que fazer. E se não pudesse sair de Baraka? Se não conseguisse romper o compromisso em tempo? Não podia ir em frente. Nem para resgatar Lilly? A voz interior a fez suspirar e fechar os olhos. Devia haver outro jeito... Acordou novamente de mau humor. Detestava mentira. E aqui estava, outro dia fingindo ser quem não era. Álea serviu o café da manhã no pátio particular de Nic e sentou-se com ela, analisando a agenda. — Será um dia longo. Aulas de idioma e cultura, depois prova do vestido de noiva... — Não. — Quer almoçar antes? — Não quero fazer a prova do vestido... — Só está marcado para uma hora. — Eu só queria... A prova não pode esperar? — Quer que eu envie uma mensagem para Alteza? Gostaria de falar com ele? Nic olhou para o pátio e viu as portas da sua suíte abertas, o teto alto pintado de ouro e azul e o chão de delicados mosaicos. — Estes quartos são lindos. Todos no palácio são assim? — Não princesa. Só alguns especiais. Reservados para as favoritas do sultão. Favoritas do sultão, no plural? Foi sarcástica. — Isso é parte do harém. — Para as escolhidas do sultão. Sobreviveu à árdua aula e depois, ao estudo de geografia. Fátima pegou um mapa de Baraka e países vizinhos, e Nicolette adorou aprender sobre os diversos pontos geográficos de interesse — as cadeias de montanhas, o rio, os grandes desertos. Abruptamente, Fátima perguntou. — O que sabe sobre nossos casamentos? — Pouco. — Precisa saber, pois são muito importantes. Normalmente, as celebrações duram uma semana. O próprio casamento acontece no palácio, por vários dias. Provavelmente, o seu durará uns três dias. Em cada dia da semana, você receberá


mais ouro e jóias de Malik. E no dia do casamento, será carregada em uma grande mesa, coberta de jóias e todos os presentes que Malik deu. Nicolette ficou chocada por ter que desfilar em uma mesa, como um porco assado no Natal. — Você tem muita sorte — Fátima acrescentou. — É muito grata pela boa sorte, não? Um som de vozes veio da entrada, e Nic viu os empregados se curvando. O rei Nuri tinha entrado na sala. — Bom dia — Fátima saudou, levantando. — Como vão as aulas? — Bem. Terminamos. — Fátima falou. — Ótimo. Então, permita-me roubar a minha princesa. — Ele beijou Nicolette nas faces e acenou para Fátima, indicando que estava dispensada. Virouse para Nicolette: — Tem certeza que as lições estão indo suavemente? — Sim. Sua prima tem conhecimento. — Tem, e às vezes é meio formal. Pensei ter escutado falar sobre nossos casamentos. — Estava descrevendo a cerimônia e, devo admitir, que pareceu um pouco demais para mim. — Qual parte? — A parte onde a noiva, é coberta de jóias e carregada em uma mesa. — Não é como andar por uma nave em branco virginal, é? Ele riu, sexy. A encenação o divertia. A princesa estava determinada a cumprir o seu papel, mesmo que não se ajustasse a ela. Sabia que era Nicolette desde a sua chegada e mesmo assim, estava curioso para ver quão longe iria. Tinha ouvido que ela era dura, espirituosa, independente e o seu jogo o intrigava. E desafiava. Olhando o rosto dela agora, secretamente esperava que ela caísse aos seus pés pelo seu poder e dinheiro, como todas as mulheres faziam, facilmente. Mas Nic não era fácil. E ele gostava daquilo. O fato de ter vindo ao seu país, tentar brincar com ele, era desafiador. Ela tinha nascido corajosa. Bom. Muitas pessoas passavam pela vida sem se arriscar. — Podemos ir experimentar o vestido de noiva agora? — Vai me acompanhar na prova? — Por que não? — É costume? De acordo com a sua prima, homens e mulheres ainda são muito separados. Talvez eu a tenha entendido errado, ou a você. — Não. Entendeu certo. — Mas, não vai... acho que... como sultão... — Ai de mim! Não sou o sultão mais tradicional. Viajei muito, morei fora.


Espero que não esteja desapontada. Ele sentiu o olhar dela enquanto caminhavam pelo palácio. Ela estava pensando, mas não conseguia dizer nada. Não o conhecia. Ele gostava dela. Há muito tempo, mas também não a conhecia bem. Gostava do que via, admirava sua atitude. Sabia que era a princesa Ducasse que não queria se casar. Ouvira sobre suas escapadas, os problemas que tinha criado em Melio, as dores de cabeças que tinha dado aos avós. Como ela, ele tinha namorado muito. Nunca se preocupara com casamento, sabendo que um dia casaria. Afinal, era o filho mais velho do poderoso sultão Baraka, e teria uma noiva adorável, leal e devotada. Imaginava uma mulher calma, do próprio país. Mas depois do atentado, suas prioridades mudaram. Precisava mais do que uma noiva obediente e calma. Precisava de uma mulher forte, para enfrentar os desafios da vida com coragem, inteligência e humor. No fim do corredor, Malik abriu a porta para um salão moderno, decorado com sofás baixos de tecidos aveludados, as paredes cheias de espelhos e no centro, uma pequena plataforma para a prova de roupas. Uma mulher elegante entrou na sala, sorrindo, curvando-se para o rei Nuri e depois para Nicolette. — Alteza. É uma honra conhecê-la e honra maior vesti-la para seu casamento. Deve estar muito excitada. Excitada? Nic sentia-se mortificada e ansiosa subindo na plataforma. Acenando para duas ajudantes tirarem as medidas, a estilista perguntou: — Tem alguma idéia do tipo de vestido que deseja usar? — Não, realmente não perco muito tempo com essas coisas. — Nunca pensou no vestido? A cor, estilo, tecido? Balançou a cabeça. As medidas tiradas, a estilista pediu amostras de tecidos, que foram exibidas ao sultão e depois passadas a Nicolette. Eram tecidos caros, sedas delicadas, com fios de ouro. — lsto é só o início — a estilista falou. — Mãos delicadas bordarão padrões incríveis, mas antes, precisamos encontrar a seda certa. Sentado em um dos sofás, Malik observava. Então, falou em árabe com a mulher. A estilista curvou-se e virou para Nic, sorrindo. — Tem muita sorte, Alteza, o sultão deseja que tenha um vestido de cada. Olhou de relance para ele, tentando não imaginar despidos aqueles músculos duros e bronzeados. — Aprecio a generosidade, Alteza, mas não preciso de tantos vestidos caros. — Tenho prazer em vesti-la. — Entendo que é um homem generoso...


— Orgulhoso também. Logo depois a prova terminou, a estilista saiu. Em pé na plataforma, Nic sentiu-se estranhamente solitária e tola. — Qual será meu vestido de noiva? — perguntou, descendo da plataforma. — Importa? — Está com raiva. — De jeito algum. Venha, sente-se aqui para conversarmos. Sentou perto dele. — Confortável? — Sim. — Gostou da prova? — Acho que mencionei antes que não ligo para a moda. — Mas os jornais e revistas sempre dizem que tem um forte apelo pela moda. Não é uma favorita no mundo dos estilistas? Chantal era. Todos os estilistas adoravam vestir a elegante Chantal Thibaudet, a bela princesa viúva de La Croix. — Uma das desvantagens de estar sob os olhares públicos é a pressão constante de manter a imagem. Creio que valorizam demais a aparência, Alteza. Pessoalmente, não gosto de me preocupar com roupas e moda, quando tanto está acontecendo no mundo. De importante. — Você sempre me surpreende. — ele sorriu, com sinceridade. — Isso é bom? — É. Sabe por que a escolhi, princesa? — Sei que queria acesso a um melhor porto mediterrâneo. — Mas há vários portos mediterrâneos e várias princesas européias interessadas em casar. Escolhi você porque a respeito. É como eu. Entende a responsabilidade de ser uma princesa da família real Ducasse e a sua lealdade, junto com seu senso de dever, a tornam a companheira ideal. — Não se preocupa que eu fuja, falhando em minhas obrigações aqui? — Não o fez em La Croix. Casamentos sem amor podem funcionar. Meus pais tiveram um casamento arranjado que durou mais de cinqüenta anos. — Tiveram sorte. — O casamento de seus avós foi arranjado e estão juntos até hoje, e não me diga que não se preocupam um com o outro. O avô Remi era carinhoso com a avó Astrid. Um casal de verdade. Estavam juntos por tanto tempo que se davam bem, como se um não existisse sem o outro. Desde que sua avó tivera um derrame, o avô, antes robusto e forte, tinha definhado. — Eles se amam. Também são ótimas pessoas. Lembrou que precisava ser como Chantal. — Por isso é que aceitei a proposta do príncipe Armand. Se meus avós


pensavam que faríamos um bom casal... Armand era o tipo mais baixo de homem, que abusava verbal e fisicamente de uma mulher, que não se sentia forte senão dominando e subjugando a mulher que dependia dele. — Ontem à noite, você sugeriu que Lilly não é feliz. Conte-me sobre a vida dela em La Croix. — Não é um lugar bom para uma criança crescer. — Mas os avós dela estão lá e, pelo que soube, a família do pai dela se preocupa. — A família do pai dela é obsessivamente controladora. — Obsessivamente? — Controle completo. — Uma desagradável expressão americana. Que não esperava de você. Sua irmã, Nicolette, diria algo assim... — Infelizmente, peguei uma expressão de Nic. Acabamos de passar uma semana juntas em Melio. — Entendo. Tenho notado que está meio estranha desde que chegou. Sempre ouvi que você, Chantal, é gentil, controlada. — E não sou? — Não. — Por quê? Acho que sou. — Até seus gestos são diferentes. Chantal, o gato persa. Nic, o tigre. Jollie, a adorável gatinha doméstica. Seus olhares se encontraram. — Talvez os anos em La Croix a tenham mudado, fazendo-a mais forte, lutadora, raivosa. — Raivosa? — Você está com raiva. Estava. Por Chantal ter sofrido aquele horrível tratamento dos Thibaudets, por ela e Lilly terem ficado presas, por não haver mais ninguém para salvá-las, porque parecia não haver ninguém no mundo que se importasse quando mulheres eram feridas ou sofriam abusos verbais, emocionais e mentais. — Você está certo. Estou muito aborrecida. Respirou fundo para se acalmar. — É fácil ignorar as pessoas em necessidade. Fechar portas, janelas, fingindo cuidar de si, sendo suficiente ter o estômago cheio e uma cama confortável. — O que aconteceu em La Croix? — O que aconteceu?


CAPÍTULO CINCO — Devo entender que ele não era exatamente um bom marido? Podia falar daquilo com o sultão. Precisava da simpatia dele para resgatar Lilly. Mas a verdade doía e era vergonhosa. — Bateu em você? Os olhos de Nic se encheram de lágrimas. — Bateu. Malik olhou-a fixamente. — Ele tocou em sua filha? — Ele era mau. Não gostava de falar daquilo. Era vergonhoso e pela primeira vez, percebeu porque Chantal queria esquecer. — Os pais de Armand sabiam do problema? — Deviam saber, pois Armand sempre se descontrolava diante deles. — Não faziam nada? — Não. Uma vez, a mãe dele me confidenciou que no início do casamento dela, o pai de Armand fazia o mesmo, mas que era nosso dever perdoá-los, porque eram bons homens, só não controlavam bem a raiva. — Queria que você aceitasse, como ela. Concordou com a cabeça. Tinha dito a mesma coisa a Chantal. — Quero libertar Lilly. Eu a quero fora de La Croix. Você é o único que talvez consiga tirá-la de lá. — Os avós a deixarão sair do país? — Podem ser persuadidos. Malik ficou calado. Nic continuou: — Há vários os tipos de persuasão. Acho que podem aceitar... — Dinheiro? — Talvez. — É uma medida desesperada. — Eu sou uma mulher desesperada. — Venha, vamos andar. Está ficando abafado aqui. Nic levantou, pensando se tinha afastado Malik com sua honestidade. Talvez não fosse a pessoa certa para ajudar Chantal. Porque estava aqui por Chantal. Não por ela. Certo? Sentia-se ligada ao rei Nuri. Mas Baraka não era seu lar. Sua vida era na ensolarada Melio, do outro lado do Mediterrâneo. O braço de Malik pousou suavemente em volta dela e o calor de seu corpo a aqueceu. Olhou para ele, vendo-o pensativo, preocupado. — Eu o choquei? Na verdade, gostava dele, mais do que tinha gostado de um homem em anos.


Ele era forte, sexy, sensual. Seguro. Até o braço em sua cintura passava força e energia. — Não. — Ficou calado. Nicolette nunca se sentira tão protegida. Malik Roman Nuri era um homem que se preocupava e protegia as mulheres. Um homem que sempre faria o que era certo para as mulheres de sua família. — Você me deu muito para pensar. Percebi que veio aqui apenas por suas próprias necessidades. — Ambos queremos algo. A questão é o que realmente você quer de mim? Já sabe o que quero. — Sei? Sei que quer libertar Lilly e estabilidade e segurança para o seu país, mas e você? Não me parece uma mulher que não tenha sonhos... — É suficiente saber que minha família está feliz, saudável e segura. Nic sempre fora forte. Depois de um momento, falou: — E igualdade para as mulheres. Em qualquer lugar. Então, lembrou onde estava, talvez um dos pátios mais luxuosos do mundo. Não estava falando apenas para Malik, mas para um sultão, o rei de um país que tinha sido parte do poderoso império otomano. Talvez tivesse sido honesta demais. Olhou novamente para Malik, esperando uma reprimenda. — Eu concordo — ele disse. Outra noite sem descanso. Não queria levantar. Quanto mais gostava de Malik, mais difícil ficava. Mas Álea não pretendia deixar Nicollete passar o dia na cama. — Princesa, precisa levantar. Vai se atrasar. — É só uma aula de idioma. — Mas lady Fátima está esperando. Eu fiz um expresso italiano. — Álea a encorajou, com a voz animada. — Você adora café expresso. — O que mais tenho? — Hoje você tem um jantar oficial, com o rei. E seus primeiros vestidos vão chegar. Poderá usar um deles à noite, quando o rei a apresentará aos seus auxiliares e conselheiros. Lentamente, Nicolette ergueu as cobertas. Sabia que teria que enfrentar as aulas e os compromissos do dia. Também queria ver Malik mais tarde. Vê-lo iluminava o seu dia. Fátima levou-a para uma visita ao palácio. Alas antigas, espaçosas, friamente elegantes, cheias de misticismo. Voltando para a suíte de Nic, passaram por Malik andando com dois de seus conselheiros. Ele saudou-a formalmente em árabe, beijou-a no rosto e apresentou os auxiliares. Nicolette respondeu educadamente, surpresa com a onda de calor.


Não sabia por que o toque dos lábios dele a fazia perder o controle. Olhou para o rosto de Malik e sua expressão era cordial, respeitosa, atenta. E algo mais. Posse? Ele não a possuía. Não ia ficar. Mas doía pensar em deixá-lo. Ele a fazia sentir uma emoção que geralmente mantinha oculta, e nada tinha a ver com sexo, mas com vida. Possivelmente, amor. — Como está o seu dia? — Bom, obrigada. Estou encantada com a história daqui, assim como com a beleza. O palácio é muito elegante. — Estou contente que goste. Alguma coisa estava acontecendo em seu coração. Não se sentia como Chantal, a noiva. Mas como Nicolette, a noiva. Sentia-se possessiva quanto a Malik. — Espero ter uma oportunidade de ver mais do palácio, em outra ocasião. É maravilhoso. Tudo foi projetado com perfeição em mente. — Talvez, durante a semana, eu tenha tempo de completar a visita. Ele acenou, indicando que seus conselheiros e Fátima podiam se afastar. Então, Malik pareceu menos formal. — Então ficaria confortável aqui? — Como não? Você pensou em cada conforto possível. — Eu tenho muita imaginação. — Estou certa que tem boa imaginação. A maioria dos homens pensa assim. — Está me forçando a responder ao seu desafio. — Não estou desafiando, Alteza. Apenas constatando um fato. — Um fato? — É. A maioria dos homens pensa que sabe o que uma mulher... — Não sabia que você era tão chauvinista. — Não sou. — Claro que é. Mas, diferente de você, não fico muito tempo debatendo. Palavras não conseguem nada. Eu prefiro ação. E se adiantou, pegando o rosto dela entre as mãos, erguendo-o. Quando ele a tocou, passando o polegar sobre seu lábio, a expressão de seus olhos a fez tremer. Expectativa. Desejo. Ele abaixou a cabeça e a beijou — lenta, curiosamente, como se tivesse imaginado por muito tempo como seria, como se o beijo fizesse parte do universo. Malik tinha cheiro doce, picante. Seus lábios eram frios e firmes e ela ficou fascinada. Não estava dirigindo, comandando, exigindo. Apenas a tocava, deixando-a experimentá-lo. O coração martelando, ela se afastou. — Nada mau. Para começar. — Você quer mais. — Não foi o que disse... — Mas quer. — Eu não seria contrária a desafiar minhas suposições.


— Mas infelizmente, temos negócios primeiro. Sabe da recepção hoje à noite? É um assunto político. — Conhecerei os membros de seu gabinete e suas esposas. — Quero que gostem de você, princesa. — É importante que gostem? Ele abaixou a cabeça e beijou-a no canto da boca, sussurrando: — Quero que gostem tanto de você quanto eu gosto. Quatro horas mais tarde o longo jantar tinha terminado e, em vez de oferecer entretenimento, o rei Nuri tinha sugerido que seus convidados se misturassem, esperando dar a Nicolette uma oportunidade de conhecer melhor os membros de seu gabinete. Vendo-a agora, cercada por uma dúzia de mulheres com mantos, inclusive sua prima Fátima, percebeu ter errado. As mulheres a mantinham presa. Homens de um lado, mulheres de outro. Malik podia até imaginar a conversa das mulheres, limitadas a eventos domésticos. Nic fez um gesto, indicando que estava prestes a se afastar, quando Fátima tocou em seu braço, em silenciosa reprimenda. Malik parou de escutar a conversa à sua volta e viu a prima falar com Nicolette. Parecia dura. Sabia que Fátima não entendia porque tinha escolhido uma mulher como Nicolette, para ser sua companheira, esposa, mãe de seus filhos, os herdeiros de Baraka. Só não sabia que ele precisava de alguém como ela. Nic ensinaria seus filhos e filhas a ter objetivos, a sonhar alto e lutar pelos seus interesses. Viu o rosto irritado de Fátima. Ela tinha raiva por Nicolette ser diferente das mulheres de Baraka. Viu Nicolette virar e olhar por sobre o ombro, lutando para conter a raiva. Subitamente, Nic virou a cabeça e olhou para ele, seus olhares se encontraram. Salve-me, sua expressão parecia dizer e, mesmo assim, parecia meio divertida, meio resignada. Atravessou a sala e as damas em volta de Nicolette curvaram e se afastaram, deixando-o com sua noiva. — Divertido? — perguntou, vendo que Fátima ficara ao lado de Nic. — Conversar não machuca, mas que tal tocar música e deixar as pessoas dançarem? — Não dançamos misturados. Mas você e suas damas poderiam dançar, se os homens saíssem. — Dançar com mulheres? — Claro. Dançar com mulheres pode ser bem excitante. — Não danço com mulheres, Alteza. — E uma dança rápida. Enérgica. Ele fez força para não rir, vendo-a cobrir os lábios com a mão, os olhos arregalados.


—A dança faz o coração bombear, o corpo mover. — Aeróbica? — Acho que é uma versão árabe de exercício com jazz. — Uma das minhas irmãs mora em San Francisco, adora aulas de aeróbica... Nicolette começou a rir. Tentou abafar o som com a mão, mas não funcionou. Quanto mais tentava parar, mais ria. Lágrimas encheram seus olhos. Fátima olhava horrorizada, mas Malik achou a risada de Nic sexy. Nic ria com o rosto todo. Sua risada era contagiante e curou algo dentro dele, danificado na tentativa contra sua vida, um ano atrás. Ele precisava rir. Sentir esperança. — Podemos ir embora. Tenho certeza que encontraremos diversão no palácio.


CAPÍTULO SEIS Os olhos de Nic brilharam. Seus lábios suaves e úmidos se separaram e o corpo dele endureceu instantaneamente. Ele sabia o que ela pensava. Quando a beijara antes, esperava conter a sua atração, inibir seus pensamentos, mas o beijo não acalmou nada. Só pensava nela. Ele a queria de todo jeito. Quando poderia levá-la para sua cama? Levaram uns dez minutos para se despedir e afinal, escaparam para o carro, quando Fátima apareceu e pediu uma carona. Sentaram na limusine. Fátima e Nicolette de um lado, o sultão de outro. — Contente por sair, princesa? — ele perguntou. — Estava cansada esta noite. — Acha difícil ser a única estrangeira na sala? — Estou acostumada com isso nos eventos oficiais, mas devo admitir que esta noite, achei diferente. — Você é diferente — Fátima interrompeu. — Não se veste como as mulheres em Baraka, não usa o manto ou se cobre com o véu... — Eu nunca pedi que o fizesse. — Malik reprovou a prima. — Então, como pode ser uma rainha adequada se não serve de modelo? — Chega! — ele respondeu, asperamente. — Isso não é da sua conta! Ela abaixou a cabeça, mas Nicolette viu raiva em seus olhos. Ficaram em silêncio o resto do trajeto. Chegando ao palácio, ele a acompanhou ao seu quarto, e ela gostou. Mais ou menos, pois seu coração estava pesado e pensou que podia fazer coisas que queria ignorar. Não podia ignorar um homem que admirava tanto. Pela primeira vez desde que chegara, sentia-se muito sozinha. E perguntou suavemente: — Já pensou se talvez estivesse noivo da irmã errada? — Você acha? — Quem sabe eu não sou exatamente quem você deseja... — Em termos de aparência? Atitude? — Não sei. Talvez esteja confusa por ter me escolhido. Por que não uma das outras? Eles chegaram à porta dela e pararam. — Acho que poderia ter proposto Joelle. — Joelle? É muito nova para você. — E talvez você seja muito velha para mim. — Você tem dez anos mais do que eu, rei Nuri. — Podemos ser honestos, Chantal? Estou excitado com o casamento e a possibilidade de ter uma família. Perdoe-me, mas você não parece ligar muito. Eu preferia uma noiva jovem mais ansiosa pelo casamento e maternidade do que uma que despreza o matrimônio.


— Há três princesas Ducasse. Você não mencionou Nicolette. — Ela nunca foi opção. — Por que não? — Não é adequada... — Por que não? — Se isso a aborrece, não continuamos a conversa. — Aborrece e devemos continuar, pois quero entender. Nicolette é muito amada pelo seu povo... — É, mas para ser a rainha Nuri, a rainha de Baraka, é preciso ser mais do que ótima, precisa estar acima de reprovação. Aparentemente, Chantal não tinha exagerado ao dizer que a reputação de Nic estava destruindo suas chances de um bom casamento. — Você nem ao menos a conhece, como pode ser tão crítico? — É sabido que ela gosta de playboys e libertinos. — Libertinos? — Ela não é virgem. — Nem eu. — Nic corou. — Mas era, quando se casou. Nic embolou as luvas. Por que um homem podia fazer o que queria e uma mulher precisava se preocupar com sua reputação? — Você não é virgem. — É dever de um homem saber como dar prazer à sua esposa. — E uma mulher não precisa dar prazer a um homem? — O marido ensinará. — Isso é absurdo! — Por quê? Ela pensou em Chantal. — Meu ex-marido não me ensinou nada. — Ele falhou em suas obrigações. — Exatamente como acho que muitos homens falham. A maioria dos homens nem sabe onde está o clitóris e como tocá-lo! Nic percebeu que tinha falado demais. — Eu falei demais. Ele continuou calado. Tinha que se desculpar novamente. — Eu estava errada, Malik. Sinto muito. Não devia ser tão detalhista. — Não sabia que tinha tanta experiência. — Sou uma mulher. Tenho amigas, irmãs... — Nicolette. Ele disse o nome dela com tanta desaprovação que o seu estômago apertou. — Você não gosta dela. — Não a conheço. Nic acenou, o rosto ainda quente, mais de raiva do que de vergonha. Depois que ele foi embora, entrou no quarto, vestiu um pijama e andou pelo pátio, tentando se acalmar. Era tarde, mas a noite ainda estava quente. Sentia-se


apertada por dentro. Assustada. Só pensava em Malik. Era mais do que fascinação. Ele era o governante ideal para um país como Baraka, com uma cultura de milhares de anos e um povo que tinha sobrevivido a terremotos, incêndios e tragédias. Deus sabia que ela não queria envergonhá-lo, não diante de seu povo, nem do mundo. Não em particular. Como se safar? Ele não gostava dela. Não queria ou faria Nicolette Ducasse sua rainha. Devia continuar com o jogo até Lilly estar em segurança, depois, revelaria a verdade. Nunca se casaria com ela. Tentou não chorar. Estava ajudando àqueles que precisavam mais dela. Bem cedo, Fátima teve permissão para entrar no escritório de Malik. — Sabe por que eu queria vê-la? — Sei que me dirá. Ele olhou a prima longamente. Ela não gostara de Nicolette desde o início e queria saber o motivo. — Sinto sua hostilidade pela nossa hóspede. — Ela não vai casar com você, primo. — Não se continuar a intimidá-la. — Sou honesta com ela e com você. Não confio nela, Malik. Está brincando com você. — Esta é uma desagradável expressão ocidental, vinda de você. — Estive no Ocidente, vivi lá, entendo a cultura ocidental tanto quanto você. Malik, ouça-me. Ele fitou os olhos duros dela. — Ouça-me, primo. Ela. Não. Vai. Casar. Com. Você. Malik tirou os óculos de leitura, esfregando os olhos. — Por que não? — É muito independente, não está interessada em nosso país ou cultura e não acho que esteja interessada em você. Malik franziu o rosto, em parte concordando com ela, em parte discordando, sabendo que Fátima sempre fora brilhante, mas nada sabia sobre química ou atração. Desejo físico. Nic podia não querer casar, mas estava atraída por ele. — Não estou preocupado. Ela precisa de mim. O país dela precisa do que posso oferecer. — Mas, e se ela precisar menos do que você pensa? Bem pensado. Fátima era esperta. Mesmo não tendo feito nada de sua vida, escolhera ficar no palácio. Sendo um membro da família real, valia uma fortuna e, com o pai morto e a mãe morando em Nova Iorque, ela estava sob sua proteção. Quem seria bom o bastante para ela? — Então, eu devo ter cuidado, não é? Sorriu para ela. Era linda. Olhos escuros, rosto alto e queixo firme, os


cabelos escuros e sedosos. Parecia-se com a avó deles, mas tinha a mente astuta do pai dela. — Agora é melhor ir. A princesa deve estar esperando pela aula. Nicolette estava esperando, mas não pensava na aula e sim que seu aniversário era hoje e não podia comemorar, pois ninguém sabia quem era. Era estranho ter chegado aos vinte e sete anos. Sem ter feito nada. Fátima chegou e a aula começou, até a garota trazer a bandeja com o chá e biscoitos doces. — Princesa, a Alteza gostaria que se juntasse a ele para um café da manhã tardio. Vou mostrar o caminho. Fátima franziu o rosto e Nicolette acompanhou a garota até um dos maravilhosos pátios internos, privativo do sultão. Malik já esperava à mesa, posta para dois. Flores claras enfeitavam a mesa, e Nic resolveu que faria disso a sua festa de aniversário. Ele nem precisava saber. A companhia dele significava tanto... — Bom dia — Malik saudou, inclinando para beijar seu rosto. — Estive pensando em você. O cheiro dele era gostoso. - É? — Também me senti muito culpado. — Porquê? — Fui indelicado quanto à sua irmã. Sei como me sinto sobre meu irmão e irmãs e não aceitaria ninguém falando deles, e fui intolerante sobre Nicolette. Perdoe-me. — Ela não é realmente tão... excêntrica. Talvez não seja típica de Baraka, mas é boa, gentil. Não fala coisas cruéis sobre as pessoas. Nem julga ninguém. Se estivesse aqui, não o julgaria, ou à sua prima Fátima, que não diz nada de bom sobre alguém. Posso ir? — Não. A recusa a surpreendeu. Podia ser o rei em Baraka, mas ela era da realeza na Europa. — Devo voltar às aulas com Fátima. — Mesmo ela sendo crítica? — Prefiro a crítica dela à sua. — Por quê? Lágrimas queimaram em seus olhos e ela olhou para ele, tomada de emoções que não esperava sentir, nem expressar. — Por quê? — Porque gosto de você. Não quero que seja desagradável comigo ou tenha pena. Não quero que seja cruel só porque Nicolette não é sua idéia de mulher perfeita. Ninguém é perfeito, rei Nuri, e mesmo aqueles de nós imperfeitos, ainda podemos ser amados e ser leais.


— Eu estava me desculpando... — Não o bastante — os lábios dela tremeram. — É aniversário dela hoje e não acho que mereça isso... — Eu sei que é aniversário dela! Por isso é que você está aqui comigo agora. Queria celebrar com você. — Como sabia do aniversário se nem gosta dela? Levantando, ele pegou a cabeça dela, beijando-a. — Porque gosto de você — falou, beijando-a novamente. — Gosto tanto que quis saber tudo sobre a sua família. As lágrimas encheram seus olhos. — Então, quantos anos ela tem? Com o dedo ele pegou as lágrimas de seus cílios. — Vinte e sete. E sei que está preocupada, porque ela está ficando velha e ainda não casou... Nic afastou a mão dele. — Ela não é velha. — Mas devia estar casada, não é? Provocando, ele a beijou, de leve. Mas algo aconteceu. O beijo suave se transformou em puro desejo. Nic sempre buscara paixão e tinha encontrado com Malik. Ele ergueu a cabeça e tocou o rosto dela. — Perdoe-me. Por favor? — Claro. — Conseguiu sorrir. — Nic também. — Então, podemos tomar o café da manhã para celebrar o dia especial dela? — Podemos. — E podemos recomeçar? — Você é tão bom ator assim? — Depende. Você é? — Sou péssima. Nunca fui escolhida para qualquer peça na escola. — Nem sendo uma princesa famosa? — Gostaria de dizer que havia proteção às princesas, mas não era o caso. Minha irmã Joelle é uma ótima atriz. Também herdou a voz da minha mãe, parece um anjo. Precisa ouvi-la cantar... Parou de falar, corando. — Você me transformou em uma tagarela. Ele fez um gesto e um rapaz apareceu, servindo café. — Você está longe de ser tagarela. Tenho trabalho em fazê-la falar. — Homens gostam de mulheres quietas. Malik falou cuspindo o café: — Não acredito que você diz essas coisas. — Pelo menos o faz sorrir. — Estou contente por você estar sorrindo


novamente.


CAPÍTULO SETE Nic arrepiou, vendo sinceridade no olhar dele. Entre eles havia uma intensa atração, a certeza do mesmo desejo. — Como está a sua agenda para hoje? — Lotada. — Talvez estejamos mantendo-a ocupada demais. A pressão está aparecendo. — Lamento, Alteza. — Precisa de um dia de folga? — Sem livros, atividades, dever de casa? O que eu faria? — Talvez apreciar a minha companhia. — Sei que tem muitos compromissos oficiais... — Demais. — Não seria justo eu aumentar suas pressões... — Mas, querida, você vem primeiro. Vai ser minha rainha, esposa, amante. — Bem, claro que há os deveres, mas se tem preocupações maiores... — Preocupações maiores? Princesa, eu seria tolo em não me preocupar com você. Posso ver que hoje está um pouco solitária. Triste. Precisa de um pouco de companhia. Pode me usar. O plano não era fazer amor ou se apaixonar. Nem ficar presa neste país, tão longe do dela. — Podemos nos encontrar mais tarde para jantar. Poderá me contar o que fez... Sua voz sumiu quando Malik se inclinou, passando o polegar pelos seus lábios. — Hoje você precisa de uma aventura. Algo novo, divertido. Deixe por minha conta. — Malik. — Sim? Os olhos dela arderam e os fechou, sentindo a mão dele. — Por que você nunca me olha nos olhos? Quando falamos assim, sempre desvia o olhar. — Você está me tocando. Verdade, não conseguia olhar em seus olhos, causava emoções intensas. — Meu toque não a assusta — Malik falou. — Você não é uma virgem sem experiência. — Não é falta de experiência ou seu toque. O que temo é você. — Por quê? Eu a protegeria com a minha vida. Há anos Nic não sentia tanta dor. — Talvez você confie demais em mim. Não me conhece o bastante para dar sua vida pela minha.


dizer?

— — — — — — — — — — — — — —

Você é minha noiva. Não trocamos quaisquer palavras, uma declaração formal. Mas você está aqui. As aparências podem ser decepcionantes. Está pensando em partir? Não. Mas ainda tem dúvidas? Eu nasci com dúvidas. De nós três, eu era a princesa que mais... Que mais? Não quer saber. Quero. Mais provável de iniciar a guerra mundial. Ele tossiu. Sinto muito. O que podemos fazer? Como posso ajudar? Há algo que eu possa fazer,

Começava a sentir coisas verdadeiras por Malik Nuri. — Eu não quero humilhar você. — Estou contente. Detesto ser humilhado. Mas você não vai me humilhar. É como eu. Entende dever e responsabilidade. Ama o seu país, seu povo e sua família. Fará o que é melhor para eles. Se me der sua palavra agora, sei que a ce rimônia acontecerá. Não vai cancelar no último minuto, quando seria tão difícil para nossas famílias. Você é livre. Livre para voltar para casa agora. Nunca a manterei aqui contra sua vontade. Ele nem sabia quem era ela. O que aconteceria quando descobrisse que não era Chantal? Diria que uma princesa Ducasse era igual à outra ou iria querer Chantal e se divorciar dela por fraude? O que aconteceria com Chantal e Lilly se confessasse agora? — Não vou a lugar algum. Hoje estou de férias, lembra? Você me prometeu mostrar algo novo, divertido. — Lembro. Depois da refeição, Nicolette foi trocar os sapatos e passar filtro solar no rosto. De volta ao salão de entrada, seu coração ficou pesado ao ver Fátima, que olhou para ela, dizendo asperamente. — Isso não foi idéia minha. Nic estava desapontada. O motorista encostou o carro e Malik chegou. Como Fátima, ele usava um jellaba, um longo manto de tecido bordado à mão. — Preciso me trocar? — Tenho um jellaba que pode usar, se quiser — Malik respondeu, passando o braço por ela, suavemente. — Mas não acho que precise. Muitos de nossos jovens usam jeans e camiseta. Entre nosso passado colonial francês e o fluxo de turistas no inverno, verá que o centro da cidade é bem ocidental.


— É, onde vamos? Ele falou em árabe com a prima, que sentara ao lado de Nic. Hesitante, ela foi sentar em frente e Malik sentou perto de Nic. — Isso é certo? — Nic sussurrou, quando Malik passou o braço pelo acento, tocando os dedos em seu ombro. — É meu carro. — Mas a sua prima... — Sabe que você vai ser minha esposa... Relaxe. Quero que se divirta. Não tem permissão para se preocupar. — Com nada? — Nada. Nem mesmo com Lilly. Está tudo sob controle. Então, por que não tentar? Cercada por seguranças, a limusine percorreu avenidas e ruas estreitas, até chegar à praça do mercado. Mercadores e mascates enchiam a praça com barracas coloridas, oferecendo todos os tipos de mercadorias. Cestas de frutas e nozes. Vasos de cobre. Rolos de tecidos. Objetos de couro. Nic se inclinou, olhando tudo. Os dedos de Malik passaram em suas costas. — Você está ansiosa para explorar. Adoraria poder sair, depois de ficar presa no palácio a semana toda. — Estou. O motorista parou e os seguranças rodearam o carro e os três saltaram. Nicolette percebeu que quase todas as mulheres usavam longos mantos. — Você ainda tem o manto? Acho que eu e a Fátima chamaríamos menos atenção vestidas iguais. — Você gostaria de olhar um pouco? — Malik perguntou, depois que Fátima a ajudou a arrumar o pesado manto. — Gostaria. — Fátima irá com você. Eu gostaria de ir, mas acho menos complicado para a segurança se esperar aqui. Ela entendeu. Enquanto se afastavam, o sol brilhava e um vento quente balançava as lonas das tendas, soprando nas altas palmeiras. Nic estava encantada com a beleza exótica. Grandes jarras de azeitonas coloridas, tâmaras secas e abricós, pimentas e calor, o ar parecia sussurrar. — Ballek! — Um homem gritou. Cuidado. Nic sorriu, entendendo. Seguiu Fátima pela praça. Vez por outra, parava para observar algo. Estava com calor. Hora de voltar, pensou, virando para procurar Fátima. Com surpresa, Nic percebeu que tinha se perdido dela. Sentiu alívio. Sentiu-se livre. Sem Fátima, sultão, casamento, preocupações. Lamentava não ter dinheiro para poder tomar um café gelado, sentada à


sombra. Atiq era surpreendente e Nic adorava a história da cidade, as ruas, os prédios e a luz do sol. Uma mão tocou seu braço. Era uma mulher idosa, de cabelos cinza, parcialmente cobertos por um xale. — Perdida? Nic sorriu. — Um pouco. Os olhos indagadores fitavam Nic. — Você é muito linda — falou, em um inglês difícil. — Obrigada. Merci. Achou que o francês seria mais fácil. — É muito gentil. — Americana? — Não. — Francesa? — Meio. Na verdade, um quarto. Julien, seu pai, era meio francês, meio espanhol. De repente, a mulher acenou, sorrindo, exibindo rugas profundas. — Sei com quem se parece. A cantora americana. Star. Mamãe. Nic conseguiu ver sua mãe, longos cabelos escuros, olhos brilhantes, um incrível senso de humor. — Sabe de quem estou falando? Casou com um príncipe espanhol. Um príncipe de Melio. Seus olhos marejaram e ela piscou. — Obrigada. Você é muito gentil. A mulher sorriu, mostrando os dentes corroídos e tocou o rosto de Nic... — Allah ihennik. Que Deus a proteja. — E a você — murmurou, vendo a mulher sumir na multidão. Há muito tempo ninguém dizia que parecia com sua mãe. Com seus cabelos loiros, a família dizia que parecia com Julien, mas Nic lembrava que, quando criança, a mãe a sentava no colo, penteando seus cabelos, dizendo: — Você tem os olhos da mamãe, a boca e o queixo. — E a irreverência da mamãe — seu pai dizia, como sempre sentado na poltrona ou na cama, no quarto, com pilhas de papéis oficiais. Ninguém se preocupava mais com o futuro do país do que o príncipe Julien Ducasse. Nic lembrava como a multidão lamentara a tragédia da perda de pessoas tão jovens e belas. Mas a beleza não era a força deles e sim a inteligência, o espírito, a determinação. Seus pais eram pessoas verdadeiras. Que lindo presente de aniversário! Nic fechou os olhos, emocionada. Mas precisava voltar para Malik antes que ele se preocupasse e virou uma esquina. Mesmo usando o manto, estava claro que era estrangeira. Olhou em volta. Não podia entrar em pânico. Estava perdida há uns trinta minutos.


Pense. Em Baraka, os mercados — como as mesquitas — ficam de frente para o Leste. Tinha que ir para o Leste e encontraria o caminho. Malik esperava perto do carro quando Fátima chegou, sozinha. — A princesa está aqui? Ele sentiu o coração parar. — Ela devia estar com você. Fátima olhou para ele, fingindo inocência. — Pensei que estávamos juntas. Estávamos revirando o mercado... — Você a perdeu. — Não. — Você a perdeu. A voz dele, normalmente calma, era agressiva. Fátima balançou a cabeça. — Não. Tinha certeza que estava me seguindo. Ele estalou os dedos e o motorista apareceu. — A princesa sumiu. Reúna os seguranças para que a encontrem. Enquanto isso, eu ligarei para o palácio, pedindo mais guardas. O motorista se curvou, afastando-se depressa e Fátima, em lágrimas, viu Malik falar ao telefone. — Eu não queria perdê-la, primo. Não faria isso. — Nem quero ouvir. Você teve um problema com ela desde que ela chegou. Fátima continuava chorando. — Perdoe-me, primo. — Eu confiei em você. E me envergonhou. Ela entrou no carro, enterrando o rosto nas mãos, enquanto Malik andava em volta do carro, esperando o motorista voltar. Pretendia ir procurar Nicolette quando ela apareceu. — Você ainda está aqui. — Nic sorriu. — Eu nunca a deixaria. — Eu sei, mas... — Eu nunca a deixaria. Você está bem? — Estou. Envergonhada. Não sei como me perdi de Fátima. Ela já voltou? A expressão de Malik endureceu. — Está no carro. — Bom. Receava que estivesse procurando por mim e não queria que ela ficasse em perigo. Está quente... — Está — ele concordou, vendo o motorista voltar com os seguranças. — Vou cuidar disso e voltaremos. De volta ao palácio, Nic foi para seu quarto e encontrou Álea esperando, nervosa. — Está bem, princesa? — Estou. A cidade estava quente e me perdi, mas encontrei o caminho e está tudo bem.


— Vamos cuidar de você. Primeiro, um chuveiro frio para tirar a poeira, depois, uma banheira quente e uma massagem, para relaxar os músculos... — Não é necessário, Álea. Só preciso de um banho frio. Mas a jovem já tinha ido para o luxuoso banheiro, abrindo o chuveiro. — Venha, princesa. Quase duas horas depois, Nic sentia os toques fortes da massagem, com desconforto. Mas, aos poucos, sentiu-se meio adormecida. Ao terminar, a massagista ergueu para Nic um roupão. — Alteza. — Obrigada. — O prazer foi meu. A massagista fez um gesto para o banheiro. — O vapor, Alteza? — Tomarei apenas um banho de chuveiro. — Como quiser. A massagista saiu e Álea apareceu. — Como se sente, princesa? — Deliciosa! Mal posso abrir os olhos. — Não precisa. Tire o óleo e eu terminarei, passando uma loção cheirosa para manter sua pele suave. Depois, pode vestir o roupão e terei algo pronto para comer, na sala de estar. Nic tomou um banho demorado, lavando os cabelos. Álea espalhou loção por ela. Sentia-se como uma boneca de pano. Com os cabelos meio secos, vestiu um roupão, de seda coral, bordado de ouro e verde e foi para onde o chá quente de menta e os doces a aguardavam. E Malik Nuri. Parou na porta. — Alteza. — Pensei em tomar chá com você. Malik tinha alguma coisa que a fazia sentir-se nua. E de fato, estava quase nua, pois o roupão não cobria muito. — É o seu palácio. — Não é igual a " estou contente em vê-lo", não é? Nic sabia que não usava absolutamente nada sob o roupão. E ele também. — Claro que aprecio a sua companhia. — A minha? Nervosa, olhou para ele, reclinado no sofá. O roupão aberto no peito, as pernas musculosas descobertas. — Sabe que gosto de sua companhia. — Ela falou, suavemente. — E do meu toque. Ela prendeu o riso. — Já pensou que ainda está solteiro, porque é arrogante e convencido? Sorrindo, ele afirmou. — Não sou convencido.


— Mas arrogante? — Eu não seria um sultão adequado se não tivesse um pouco de confiança.


CAPÍTULO OITO Sorrindo, ele levantou do sofá e foi até um painel na parede, apertando botões, espalhando música por auto-falantes ocultos. Era uma balada popular. — Na outra noite, você disse que queria dançar. — Não achei que dançasse com mulheres. — Não em público. Mas, há muitas coisas que não posso fazer em público que adoro fazer em particular. Parou perto dela, os braços abaixados, o peito nu. — Vem. — Você não tem compromissos de jantar hoje? — Nenhum. — Nada? — Completamente livre. Pensei que gostasse desta música. — Gosto. — Então, venha aqui. — Você vem aqui — sussurrou, rezando para que ele não viesse e fosse embora. Rindo confiante, apesar da insolência dela, Malik se aproximou, pegando-a nos braços, apertando-a contra ele, o olhar brilhando. — Assim, princesa? Ela tremeu, sentindo os quadris dele, o corpo duro, o torso firme. Fechou os olhos, quando Malik afastou o roupão dela e beijou seu ombro nu. Beijou a pele sensível e pegou o lado de seu seio, sentindo o mamilo dela enrijecer. Encostou em Malik, enquanto a música tocava em volta, sedutora. Pensou que podia ficar assim para sempre. Apenas Malik e Nic. Queria que ele a desejasse como Nic. Impulsivamente, tocou o rosto forte. Como seria se eu o amasse? Passou a mão pelo ombro dele, ternamente, Adoraria passar horas com ele, sem pressa. Não acreditava em esperança, em sonhos românticos se realizando. — Pensando em Lilly? — Malik perguntou, os dedos brincando em suas costas. Suspirou, pensando que estava indo muito longe. O que estava acontecendo entre eles? Estavam em curso de colisão com o desastre. — Podemos sentar? — Claro. Ele sentou e ela hesitou. Se sentasse ao seu lado, com o minúsculo roupão, podia desistir da batalha agora. — Talvez eu deva me vestir. — Por quê? — Você sabe. — Não acredito que esteja com medo de fazer amor comigo.


— Se você beijasse mal, eu não teria problema. — Posso tentar, se ficar feliz. Ela gemeu. — Não fico. — Você é difícil de agradar, princesa. — Eu sei. Até mais que o normal. — O que está errado? Ela apertou a cabeça entre as mãos. — Acho que estou desenvolvendo dupla personalidade. Malik se esforçou para ficar sério. — Mesmo? — É. — Fale-me delas. Nic andou na frente dele. — Há a virtuosa Chantal, e também há a Chantal impulsiva, a que realmente gosta de você. — Qual é o problema? Parou de andar. — Se nem eu sei quem sou, como você saberá? — Posso dizer. Venha aqui. Gentilmente, ele pegou a mão dela, entrelaçando os dedos deles, puxando-a para seu colo. As coxas pressionadas nas dele, sentiu-o ereto sob os roupões. As mãos dele passaram pelos seus quadris, roçando-a sobre ele. — Você é minha. Beijou os lábios dela. — Casada ou não, rainha ou amiga, pode chamar como quiser, fomos feitos um para o outro. Puxou-a novamente contra a sua ereção, que tocou no ápice de suas coxas. — Você faz isso com todas as suas esposas? — Haréns são passado — ele respondeu, erguendo a mão para tocar o seu seio, sobre a seda, o dedo brincando com o mamilo endurecido, como se tivesse todo o tempo do mundo. E tinha. Em Baraka, esposas eram para sempre. Passou as mãos pelos ombros dele, apertando-se, enquanto a outra mão dele tocava seu quadril. — Eu quero você. Se agarrou a ele, a voz fraca. — Eu sei. — Não, Malik, você não sabe quanto eu o quero. — Acho que sei o que você precisa. — Ele sussurrou, apertando-a mais contra ele, quase parecendo um só. Nic queria ser possuída por ele. Anos de encontros e amantes desde Daniel, mas ninguém a fizera sentir-se assim. — Podemos fazer amor? É ilegal fazer amor antes do casamento?


— Não é ilegal. Se fosse, eu mudaria a lei. Ele era poderoso. Não precisava falar ou usar palavras duras. Era seguro, confortável, natural. Malik a deitou no sofá e se esticou sobre ela, o peso equilibrado nos cotovelos. — Você está presa. Minha prisioneira. — O que vai fazer comigo? Ele olhou seus lábios. — Fazê-la falar. — Falar? — Quero saber o que pensa quando fica quieta. Quero saber do que você não fala. — Por que sempre temos que falar? — Porque quero ter certeza de que sabe o que está fazendo, de que sei o que está pensando. Melhor enfrentar os fatos do que correr deles. Ele falava tocando suavemente sua orelha. Ela só pensava que seu corpo estava queimando. — Certo. Faça uma pergunta. — O que ninguém sabe, só você? O que ninguém sabia? Daniel. Tinha se apaixonado por ele. Trabalhava no palácio. Era engenheiro. Montava e recuperava carros de corrida, mas o relacionamento tinha sido complicado desde o início. Não podia se casar com Daniel Thierry ou viver com ele. Só amá-lo. Podia ter fugido com ele se não fosse pelo casamento de Chantal, que estava casando sem amor para proteger o futuro de Melio. Um mês depois do casamento de Chantal, Nicolette terminou o romance com Daniel. A coisa mais difícil de sua vida de adulta. Tinha terminado e voltado para ele, em uma noite roubada. No dia seguinte, telefonara, terminando definitivamente. Pedira para não atender seus telefonemas. Ele dissera apenas "se é o que você quer." Era do que Melio precisava. Tinha que pensar nos avós e em Joelle. Em quem tinha se sacrificado até então. Ele era um cidadão de Melio. Tinha estudado em Roma, sob os auspícios da família DeLaurent e voltado para a sua terra. Entendia os problemas dos Ducasse. Deixou-a ir, sem reclamar. Olhando para o teto, Nicolette piscou para conter as lágrimas. Desistindo de Daniel, guardara suas emoções e, pela primeira vez, podia admitir quanto custara. O amor verdadeiro. A felicidade. Sentiu o olhar de Malik. Esperando, paciente. — Não tenho segredos. Minha vida é de conhecimento público. Ele se curvou para ela, pegando o seu rosto e virando-o para ele.


— Mas você chorou. — Não estou chorando. — Vejo lágrimas. Tristeza. Você perdeu algo que nunca mais voltou. Meu coração, pensou. — Meus pais morreram quando eu tinha dez anos. — Não é dos seus pais... Foi interrompido por uma batida na porta e a voz jovem de Álea foi ouvida. — Alteza, perdoe-me, mas é chamado, imediatamente. Malik sentou, fechando o roupão. — O que aconteceu? — Lady Fátima, Alteza. Chamaram a ambulância para ela. Está muito mal. Nic esperou Malik voltar. Não voltou, mandando seu jantar no quarto. Mais tarde, uma Álea de rosto sombrio veio ajudá-la a se preparar para dormir. Não falou sobre Fátima e Nic não perguntou. Andou pelo quarto, preocupada com Fátima, apesar do modo que a tratava. E depois, pensando em Malik. Ela queria fazer amor, não se apaixonar. Queria paixão, não emoção. Queria Malik agora, não se comprometer para o futuro. Por que era tão difícil? Por que aqui não conseguia ser leve, superficial? Porque Malik não era superficial. Não podia magoá-lo. Desapontá-lo. Mas ia. Ele queria Chantal. Ela era Nic. Ele queria para sempre. Ela só acreditava no momento. Nem acreditava em casamento! Queria fazer amor com Malik. Talvez fazer amor fosse uma fuga. Sentia pânico. Queria ser Nic novamente, com seu senso de humor e de aventura. Não se preocupar com Melio, seus avós, Chantal, Lilly e o futuro de Joelle. Se pudesse fugir de suas preocupações, ficar com Malik, os braços dele à sua volta, pousar o rosto em seu peito... Ficar perto dele, sem pensar... Talvez o corpo dele no dela... Adormeceu querendo saber de Malik e acordou com uma enorme dor de cabeça. Era hora de ir para casa, lavar o marrom horrível dos cabelos, responder à sua correspondência, começar a sair novamente... Sentiria saudades de Malik. Gostava de olhar para ele, de ouvi-lo. Gostava dele, ponto. Nic tomou banho, vestiu-se e imaginou onde estaria o café-da-manhã. Saindo do quarto viu um grupo de empregados conversando. Havia algo errado e, pelos tons sombrios, devia ser sério. Fátima estava doente e Nic não tinha notado? Sentiu culpa. E se estivesse se recuperando de algo, câncer ou leucemia? Voltou para seu quarto e fechou a porta, preocupada com Fátima, sem saber o que estava acontecendo. Pouco depois, Álea chegou com o café e um recado do sultão. Era um bilhete,


dizendo que devido à saúde de Fátima, a aula de idioma da manhã tinha sido cancelada.


CAPÍTULO NOVE Malik sentou perto da cama de Fátima, sombrio. — Não entendo. — Não posso falar disso. — Fátima virou a cabeça. — Tem que falar. — A voz dele era tensa. Em silêncio, Fátima olhou para longe e Malik sentiu raiva. Levantou, inclinando-se para a cama. — Eles queriam que passasse a noite no hospital. Talvez eu deva levá-la de volta... — Não. Eu não farei novamente. Tinha lágrimas nos olhos. Parecia pequena, indefesa e a raiva dele diminuiu. Amava Fátima como a uma irmã. Tinham crescido juntos e confiava nela. — Pra começar, por que tentou algo assim? E se a ajuda não chegasse a tempo? A sua vida é tão intolerável? Cobrindo o rosto com as mãos, ela pediu: — Perdoe-me. — Preciso entender. Ela chorou mais, e Malik ficou triste. — Chamei sua mãe. Ela e sua irmã estão vindo de Nova Iorque. — Não, Malik! Enxugou o rosto, tentando sentar. Eles tinham lavado seu estômago no hospital e ainda doía. — Mamãe ficará furiosa e aborrecida. — E eu não estou? Fátima, você podia morrer. — Foi um erro. Por isso pedi ajuda. — Por quê? Ninguém engole um vidro de pílulas sem um bom motivo. Fátima, insisto que precisa ser sincera comigo. — Você devia casar comigo. Ele gelou. O quê? Olhou para o rosto pálido e fraco dela, vendo o seu tremor, medo e raiva, dor e confusão. — Explique isso. — Papai disse que você seria meu marido, que eu tinha que esperar por você. O coração dele quase parou. Sentiu-se maléfico, mas não tinha feito nada demais, era um membro da família. Não se lembrava de qualquer conversa sobre casamento com ela. — Supunham que nos casaríamos... — Quem? — Minha família. Sua família. — Nunca ouvi isso.


— Meu pai disse que seu pai tinha concordado. Fui criada pensando que você e eu...

— Então tomou uma overdose de pílulas para dormir? — Não entendi porque você resolveu procurar uma noiva em outro lugar enquanto eu estava aqui, esperando-o. Então ele entendeu, não apenas a dor, mas a vergonha dela. Malik sentou, pegando as mãos dela. — Nunca soube... Tinha chegado querendo fazê-la ver a vergonha que tinha imposto à família e agora via a vergonha que passara, todos esses anos. As pessoas podiam comentar porque Fátima Nuri ainda estava solteira, e seu primo tinha procurado por uma noiva fora de Baraka. — Perdoe-me. Agora entendia a sua raiva e ressentimento por Nicolette. Sentia-se rejeitada. — O que disse à minha família? — Que você estava doente, e que elas precisavam vir logo. — Quando chegarão? — Hoje à tarde. — Você contará à mamãe o que fiz? — Não. Mas é inaceitável. É amada por todos. A sua vida é valiosa... — Por favor. Não farei novamente. Fiquei envergonhada com o que aconteceu no mercado ontem. Nunca quis ferir a princesa e, ainda assim... Talvez eu a tenha perdido de propósito... Ele a abraçou. — A princesa não sofreu nada. Não se preocupe, nem se culpe. Precisa descansar. — Talvez eu vá com a mamãe para Nova Iorque por um tempo. Talvez uma mudança... — Arrumarei isso para você. Não se preocupe, Fátima. Descanse e tudo dará certo. — Malik, posso pedir um favor? Ele acenou. — Será que poderia levar a princesa para Zefd por uns dias enquanto mamãe estiver aqui? Seria mais fácil fazer as malas e partir sem a preocupação da mamãe dizer algo para a princesa Chantal. Sei que ficará desapontada que eu não... Ela também esperava... E não sabe sobre o seu noivado com a princesa Chantal. — Entendo. Tinha planejado levar a princesa lá, iremos uns dias antes. Explicará a minha ausência à sua mãe? — Sim. Obrigada, primo. Malik parou no quarto de Nicolette para dizer que iriam visitar outra casa por alguns dias. Nic viu sombra nos olhos dele.


— Como está Fátima? Ele balançou a cabeça. O silêncio dele fez seu estômago dar voltas. — Se ela está doente, não devemos ir... — Ela ficará bem. Não quero que você se preocupe. Peça para Álea arrumar as coisas. Diga que vai para Zefd. Horas depois, Nicolette e Malik saíram da congestionada e barulhenta Atiq, em um luxuoso veículo de tração nas quatro rodas. Malik ficou em silêncio por quase uma hora, olhando pela janela. Afinal, ela não agüentou o silêncio. Ele estava sombrio. O que tinha acontecido na noite passada? — Por favor, fale-me de Fátima. — Não há nada a dizer. O coração de Nic doeu. Falou suavemente. — Estava preocupada. Sei que gosta muito dela. Ele continuou olhando pela janela. — Ela vai para Nova Iorque por uns tempos, ficar lá com a família. Concordamos que precisa de uma mudança... — Até ir ela ficará sozinha? — Não. A mãe e a irmã dela estão chegando hoje à tarde. Nic compreendeu imediatamente que estava sendo afastada de lá, antes da mãe de Fátima chegar. — Você não queria que eu encontrasse sua tia. — Fátima queria evitar problemas. — Encontrar sua tia causaria problemas? — Minha tia queria que me casasse com Fátima que, sabiamente, quis poupála, e a ela mesma, de embaraços. Aquilo explicava a hostilidade de Fátima. Respirou fundo. — Eu não sabia. — Nem eu. Ele parecia impaciente, com raiva. Nic nunca o vira tão quieto e fechado. — Sinto muito, Malik. De verdade. — Eu também. Ela não estava fazendo algo pior, fingindo ser Chantal? Talvez estivesse destruindo a vida de outras pessoas? — Há um motivo por você não se casar? — Eu não a escolhi. Escolhi você. Fátima amava Malik, esperava viver com ele, enquanto ela estava fazendo um jogo, e voltaria para Melio. Como o seu desaparecimento afetaria Malik, Fátima, a família Nuri? — Ela vai ficar bem. Não se culpe. Eu escolhi você. Você não criou esse problema. Nicolette sentiu que ele se culpava. Gostava de Fátima. Amava sua família, e tentava proteger os que ele amava. Percebeu que as fofocas das revistas européias


sobre o rei Malik Roman Nuri estavam erradas. Ele não era um Casanova. Não se aproveitava das mulheres. Preocupava-se com elas. Sentiu lágrimas nos olhos e pousou a mão na dele. — Não é fácil ser rei. Ele levou a mão dela aos lábios, beijando seus dedos. — Você gostará de Zefd. Será bom para você passar uns dias nas montanhas. — Você vai ficar bem? Inclinando, ele pousou os lábios no rosto dela e depois em seus lábios. — Estou contente que esteja comigo. — Eu também estou contente por estar aqui. Eles viajaram duas horas, subindo e descendo montanhas vermelhas e rosadas. Ao final da tarde, chegaram a um vale aberto e pontilhado por oásis verdes. — Lagos artificiais — Malik falou. — Para o plantio comercial de tamareiras. O motorista se aproximou de um forte de paredes altas. O forte se erguia sobre o resto da cidade, mas ao longe, era possível ver as montanhas mais altas, com picos nevados. — Chegamos? — Nic perguntou, olhando as magníficas montanhas esbranquiçadas e as construções de terracota diante deles. — Zefd. Uma das cidades mais antigas de Baraka. A família do meu pai veio daqui. Quando o carro entrou na cidade, as pessoas se aglomeraram. — Eles sabiam que você viria? — Alguém deve ter contado. O motorista estacionou e um grupo de guardas formou uma barreira de proteção entre o carro do sultão e a multidão. Malik saiu e ajudou Nicolette. Vendo o rei, as pessoas o saudavam e Malik acenava. Ficou surpreso quando Nicolette se adiantou, na direção da multidão, saudando o seu povo. Ela só falava algumas palavras de árabe, mas as frases sinceras e seu sorriso quente, pareciam encantar a todos. Ao seu lado, Malik a viu atravessar a multidão. E " atravessar" era a palavra acertada. Ela sabia o que estava fazendo, pensou, vendo-a lidar graciosamente com a pressão do povo, as mãos estendidas, as crianças erguidas para o seu beijo. Sabia quanto tempo conversar, quanto tempo escutar e como, gentilmente, livrava-se, continuando a passar pela multidão. Ele sabia que ela era forte, inteligente, mas não esperava o seu calor natural e a facilidade com o seu povo. Era uma verdadeira princesa e ainda se identificava com as pessoas comuns. Seria boa para o seu povo. E muito boa para ele. Mas, ainda não tinha conseguido fazê-la se abrir para ele. Tinha aprendido a


se esconder muito bem. Mostrava charme e calor, mas não seu íntimo. A princesa Nicolette tinha o coração bem guardado. Ele queria seu coração e ainda não tinha conseguido. Estava atraída por ele, mas continuava a esconder a sua verdadeira identidade, o que o perturbava. E se ainda pretendesse deixá-lo no altar? Seu coração gelou. Ele a queria. Precisava dela. Não podia perdê-la. — Chamamos esta casa de Citadel, ou seja, cidadela. Foi construída como um forte e, embora a família real tenha morado aqui um pouco nos últimos duzentos anos, ainda serve como posto militar avançado importante, uma das nossas posições de defesa mais forte. — Baraka se preocupa com seus vizinhos? — Os vizinhos não são a ameaça. Historicamente, nossos problemas são internos. — Ele abriu uma porta, levando-a a um grande jardim entre muros, dominado por uma antiga árvore de galhos enormes e retorcidos. Sentaram à sombra e foram servidos de chá de menta gelado, adocicado. Malik ficou pensativo, antes de falar. — A sociedade de Baraka é complexa. Nossa colonização é composta de bárbaros, beduínos, árabes, africanos. Ponha um pouco da colonização francesa e você tem um conflito intenso. — Quão intenso? — Tivemos nossa quota de tormentos políticos neste século. Infelizmente, os últimos cinqüenta anos foram especialmente explosivos. Ela serviu-se de chá. — A tensão aumentou? — Violentamente. — Parece que preciso aprender a história de Baraka. — Quando eu nasci, Baraka estava no meio de uma violenta guerra civil, que durou quinze anos. Cada um tomou um partido. Muitos lutaram em nome da família real, outros pelos rebeldes. Estivemos sob o controle francês por tanto tempo que as pessoas simplesmente lutavam por estar com raiva, assustadas, e ninguém sabia o que era melhor. Eu ainda era criança quando meu avô foi assassinado, mas nunca esqueci aquele dia. O rosto dele franziu. — O assassinato do meu avô encerrou a guerra. Meu avô era amado por todos, não devia ter sido morto. Não era uma luta contra ele ou a família, mas de cultura e costumes a serem reconhecidos. Virtualmente, o país parou no dia do enterro de meu avô. Nunca esqueci os aplausos de milhares de pessoas e aquilo me ensinou que nada é mais importante do que a vida. A família. — Estou surpresa por não ter se casado antes. — Não senti urgência. Nunca tinha se preocupado em casar ou constituir família, certo de que um dia encontraria a mulher certa. Mas aqui estava, perto dos quarenta anos, sem uma


esposa, sem um herdeiro, ou sem sua própria família. Já tendo sofrido um atentado. Malik bebeu seu chá, tentando se acalmar. Tinham sido vinte e quatro horas difíceis. Sentia-se esvaziado pelas medidas desesperadas de Fátima, a farsa de Nicolette e seu próprio desejo de se fechar. Queria saber se ela viria ao seu encontro, como ela mesma. Ele a queria, queria o seu coração, sua risada, seu comprometimento. Mas, não podia forçá-la. — Os anos de guerra mudaram a minha visão da sociedade — continuou. — Consegui ver a nossa cultura e a idéia de estabilidade. Cedo, aprendi que precisamos fazer mudanças, que sem mudanças, nós morreríamos. — Eu pensei que temesse mudanças. Afinal, a mudança apressou a morte de seu avô, assim como a década e meia de tumulto. Seria possível acreditar que você associaria mudança a perigo. — Mas o caos e o tumulto nos rodeiam, quer reconheçamos ou não. A mudança é boa, necessária. Não significa que não se deva respeitar a tradição, mas ela é sem sentido se não puder ser usada. — Você gosta de ser rei. — Eu amo ser rei.


CAPÍTULO DEZ Nic olhava para ele. Outro homem sentiria raiva, amargura, crueldade. Malik aceitava as tragédias com elegância. Baraka. Significava graça e paz. Malik tinha paz, não é? Depois de um tempo, ele falou: — Claro que em nossas vidas passamos por perigos. O segredo é perceber como somos vulneráveis, e depois, aceitar a verdade, a vida, ir em frente. Levantou, pegando a mão dela e a ergueu. — Você ainda parece quente. Vou levá-la para o seu quarto. Gostará de saber que tem uma piscina particular. Nic gostou e nadou longamente antes do jantar. O pessoal da Citadel tinha preparado um jantar de boas-vindas para a princesa em um dos pátios internos, o que a agradou, especialmente por ser uma festa só para eles dois. Um grande bufê estava montado sob uma tenda. Sentado ao lado de Nic, Malik tinha as pernas cruzadas sobre um tapete vermelho. Eles jantaram carneiro assado, alcachofras, arroz de açafrão e montes de nozes e doces, antes de encostar e apreciar um espetáculo de malabarismo, com cantores talentosos e dançarinas tradicionais. — Se eu fosse de Baraka, gostaria de viver aqui — falou, pousando a cabeça nos joelhos. — Tudo parece certo. Não sei explicar, mas parece lar. Malik olhou para ela. — Você diz coisas extraordinárias quando menos espero. Ela sentia-se sonolenta. — O quê? — Este é o meu lar, meu lar espiritual. Sempre que tenho dúvidas venho para cá. — Dúvidas sobre o quê? — Minha habilidade de liderar. Minha luta para encontrar equilíbrio entre o que preciso e o que meu povo precisa. Ela olhou para ele. Doía vê-lo lutar e seu peito apertou, assustada com suas emoções. Não devia ter vindo para Zefd e amado as montanhas avermelhadas, as paredes rosadas, a cidadela guarnecida de palmeiras, sentir uma paz verdadeira, pela primeira vez em anos... Não podia se apaixonar por Malik, seu deserto, seu reino. Nem querer conversar com ele, ficar em silêncio com ele, viver com ele... Sua vida estava de cabeça para baixo. Esperava que ela desistisse de tudo que amava, inclusive sua liberdade e sua amada família. Precisava ficar sozinha. Melio parecia estar a anos luz de distância. Como voltaria? Se deixasse Malik, seu coração ficaria em Baraka, com ele. Lágrimas queimaram em seus olhos.


— Estou exausta. — Eu a acompanharei. — Não é preciso. — Sei. Mas sou o sultão e você é minha princesa. Eles andaram pelos corredores iluminados por candelabros, lembrando um castelo medieval. Abrindo a porta do quarto dela, ele verificou se tudo estava em ordem. — Você precisa de algo? — Não. Deu boa noite e a deixou. Nicolette fechou a porta, desejando que Malik tivesse ficado. Precisava ficar perto dele. Mesmo se nunca fizessem amor. Começou a se despir e ouviu uma batida na porta. Abrindo-a, viu Malik. Ficou contente em vêlo. — Se perdeu? O sorriso dele era lindo. — Esqueci algo. — O quê? Passou os braços por ela, puxando-a para perto. Ela sentiu todo o corpo dele no seu. Abaixando a cabeça, Malik a beijou. — Isto. — Voltou por um beijo? — O que é mais importante do que amor? — Não sei — ela respondeu, trêmula, sentindo as mãos dele. — Você tem cabelos lindos. — Obrigada. — Estou contente que não seja loira. Acho as morenas mais atraentes. Você nunca quis ser clara? — Não acho que fico mal como loira e é só uma cor de cabelo. O rosto seria o mesmo. Os olhos, o nariz... — Os lábios. Ele interrompeu, beijando-a. Forte, másculo. Ela o queria. Todo. — Você pode passar a noite? — sussurrou nos lábios dele. — Fomos interrompidos na noite passada. — Fomos. Pelo seu rosto, viu que ele também lembrava. — Sinto muito. Por ela, por você... — Gosto de sua sensibilidade, mas não precisa se desculpar. Eu sempre soube que devia casar dentro da família, mas a opção nunca me atraiu. Será bom para ela ir para a América por uns tempos. Tenho certeza que encontrará o homem certo. Nic sentiu certa compaixão pela prima dele. Se Fátima realmente amasse


Malik, não seria fácil esquecê-lo. — Espero que sim. As mãos dele pegaram os cabelos dela. — Estávamos falando da noite... Ela levou as mãos aos botões da camisa dele. — Eu passo a noite aqui? — Sim. Enquanto desabotoava o primeiro botão, lembrou que não era morena e quando estivesse nua ele veria que o resto de seu corpo era loiro. — Mas se estiver preocupado por ser inadequado, talvez possamos passar a noite juntos, sem fazer amor. — Ou talvez você esteja preocupada em não conseguir passar a noite comigo sem querer fazer amor. Ela riu suavemente. Ele era divertido para um sultão. Sexy também. — Você é muito seguro. — Devo. Sou muito bom. — Quão bom? Ele também riu. — Como você acha? — Eu devia ser virgem. — Acho que a cultura ocidental teve todas as virgens que podia. Você tem uma filha e estou certo que nunca teve a virgindade recuperada. — Então, definitivamente, podemos fazer alguma coisa esta noite, só não tudo. O que o agradaria? — Você. Nic afundou na beira da cama e Malik ficou sobre ela. — O que lhe dá prazer, Alteza? — Sua boca. — Minha boca. — Suas mãos. Ela apertou o travesseiro. — Minhas mãos. — Sua mente. — Você gosta dela mais do que meu corpo? — Eu adoro a sua mente. — Por quê? — É aguçada, esperta. Você é divertida. Tenho adorado observá-la, imaginando o que fará em seguida. Você é muito ousada. — Quer dizer, por casar com você? Uma estranha? Ele riu suavemente e Nic derreteu. — Você nunca admitirá a verdade? — Que verdade?


— Não importa. Deixarei você dormir. Malik se inclinou e beijou-a longamente nos lábios. — Tasbah ala khir. Boa noite. Acorde feliz. — Você não vai ficar? — Não. Ele pareceu lamentar e beijou-a novamente, abrindo os lábios dela suavemente, tocando sua língua. — Você não seria capaz de manter suas mãos longe de mim. E eu de manter minha boca longe de você. Adoro beijar, querida. Em todos os lugares. Malik voltou para o fogo lá fora. Horas se passaram. Os seus pensamentos voavam. Pensou em Nicolette, a sua sereia, sabendo que tinha encontrado seu par. Pensou em Fátima, sua tristeza e vergonha, desejando ter sabido daquilo antes, para poder encontrar um bom companheiro para ela. Pensou em seu irmão, Kalen, agora morando em Londres. Tinha estudado em Oxford, como ele, mas tinha preferido quebrar os vínculos com Baraka, tornando-se um cidadão britânico. Malik nunca entendera, mas aceitara. Com aquela escolha, ele tinha todos os direitos à sucessão, Kalen ficando em segundo lugar na linha do trono. Mas, agora... Tinha ficado furioso — eles eram árabes, o lar deles o norte da África — mas só depois da tentativa contra Malik, um ano atrás, entendera os receios do irmão. Kalen não gostava de política. Era um homem de negócios, amava a vida urbana, tinha encontrado um verdadeiro lar em Londres. Malik não podia ficar com raiva dele. Cada pessoa merecia a chance de uma vida feliz, de valor e significado. Olhando o fogo crepitar, Malik pensou que tinha uma vida abençoada, cheia e interessante. A ameaça contra sua vida o fizera pensar em tudo que tinha recebido — riqueza, prestígio, educação, poder, respeito. Não lamentava nada. Mentira, pensou. Lamentava ter esperado tanto para se casar e iniciar uma família. Queria um filho. Precisava de um herdeiro para o caso do improvável acontecer. Ele, o rei Malik Roman Nuri, tinha sofrido um atentado e sabia que podia haver outro. Um leve som chamou sua atenção e Malik virou, vendo Nicolette se aproximando. — Você não foi para a cama? — Não. Depois de olhá-lo, ela perguntou: — Pensando em Fátima? — Pensando em tudo. Sinto falta desta vida. Não venho para cá o bastante. Ela ficou em silêncio e ele sentiu o seu olhar. — Costumava passar as férias aqui. Meu irmão e primos também gostavam das viagens pelas montanhas. Gostavam de acampar à noite, em volta do fogo, mas


agora todos deixaram Baraka. Mas, eu nunca poderia chamar outro lugar de lar. — Não deveria. Este é o seu país. Nasceu e cresceu aqui... — E você nasceu e cresceu em Melio, mas teve que partir. Nic pensou um pouco, achando as palavras dolorosas e honestas. — Eu sabia. — E não partiu o seu coração? — As pessoas têm que fazer o que é preciso — murmurou. — Sempre pode se rebelar. —Não sou santa. Já me rebelei, muitas vezes. — Mesmo assim, agora está aqui. — Quero o que é melhor para minha família. — E quanto a você? — Eu preciso de muito pouco. — Poderia ficar surpresa. Pegando-a pelos ombros, ele não deixou que se afastasse. — Vejo tristeza em seus olhos novamente, e na noite passada fomos interrompidos. — Não há tristeza. — Não? Por que tem o Saara em seus olhos? Interminável, silencioso, solitário. — Não sou solitária. Como podia entendê-la tão bem? Ela o sentia parte dela, a sua outra metade. Como, tão depressa? — Você esteve muito tempo sozinha. Abaixando a cabeça, ele beijou a sua testa. — Acho que é o destino, sendo uma princesa tão bela. Não há nada mais belo do que você... — Malik. Ele pegou seu rosto entre as mãos. — A vida no alto de uma torre. — Não é assim. Eu não vivi assim. Não sou... — Não é o quê? Como contar que era Nic? Apertou a mão dele em seu rosto, vendo tristeza em seus olhos. Como se conhecesse seus segredos, que o magoavam, mas que já a perdoara. Como saberia? Ele a soltou, indo colocar uma acha no fogo. — Vai me dizer? Havia tanto a dizer e Nic não sabia como. — Simplesmente, diga. — Podemos sentar? As pernas dela tremeram, de medo e cansaço. Tinha que falar ou iria


sufocar. — Estou preocupada... Com o futuro. Com Melio, com meus avós, com Lilly... — E conosco. Está preocupada sobre nós. — Estou. — Eu também. — Está? — E também preocupado com o futuro. Ela ouviu o peso do mundo na voz dele. Rezou para não ser a causa da infelicidade dele, não ser mais preocupações para ele. — Porquê? — Não acredito em divórcio. Não quero casar para ser divorciado.


CAPÍTULO ONZE — Não sou moderno o bastante para casar e viver separado, como alguns nobres.

— Se nos casássemos, não iria querer que vivêssemos separados. — Se nos casássemos. Você não decidiu. Ela queria protestar, mas não tinha força. Nem coragem. — Quero ficar com você. — Só esta noite ou para sempre? — Fico assustada com casamento. — Por causa de Armand? — Eu nunca... quis me casar. Não podia mais ser Chantal. — Nunca sonhei em me casar, ter filhos. Isso é mais para Joelle e... Não sou quem realmente quer. — Quero. Realmente. — Por causa de Melio e dos portos mediterrâneos. — Inicialmente. — O que em mim você quer? — Tudo. — Porque sou uma princesa... — Porque é esperta, espirituosa, independente, interessante. — Mas não casaria comigo se eu não fosse uma Ducasse. — E você não se casaria comigo se eu não fosse um Nuri. — Não vejo como o nosso casamento pode funcionar. Ambos somos fortes e temos opinião... — Acha que um casamento entre uma pessoa forte e uma fraca é melhor? Que seria melhor com parceiros limitados, sem emoções? Ele prendeu os dedos dela, quando tentou se afastar. — O que você teme não é sexo, eu sei. Nic olhou para as mãos deles entrelaçadas, sentindo-se confortável. — O casamento prende uma mulher. — Não. — Você é homem, não sabe. — Sou homem e nunca prenderia uma mulher. — Não é uma escolha masculina. Acontece. Casamento... gravidez... filhos. A mulher, as prioridades mudam. — Isso é ruim? — É como se você perdesse a liberdade. — E sua liberdade é tão valiosa? Ele não podia entender — o fim da carreira de sua mãe e depois Chantal, presa e ignorada em La Croix.


— É, para mim. Sussurrou, sentindo as lágrimas subindo pela garganta. — Você cortaria minhas asas e eu odiaria isso. Odiaria você. — Odiar é uma palavra forte. — É um sentimento forte. — Então, você sabe odiar? — Certa vez, amei alguém. E não podia funcionar. Negar o amor foi difícil e quebrou algo em mim. — O seu coração. — Esquecer Daniel demorou anos, pois esquecer um amor não acontece imediatamente. Às vezes, achava que ia pegar o telefone e ligar para ele. — Alguma vez ligou? — Não. — O que aconteceu? — No segundo ano, consegui controlar a dor e namorei como louca. Não sou mais inocente. Vivi o suficiente para conhecer o mundo, os relacionamentos. Cedo ou tarde você vai querer que eu seja diferente. — Talvez seu primeiro casamento tenha sido ruim, mas seus pais... foram felizes. Todo mundo sabe. — Mamãe não devia ter desistido de sua carreira. — Teria sido difícil para ela viajar, estar com seu pai, ter uma família. — Exatamente. E você pode descobrir que não sou como você queria. Tentaria me mudar. As pessoas se apaixonam por algo que pode não ser o bastante... — Precisamos mudar o cenário. Venha. As portas tinham formato de ferraduras, arcos entalhados em madeira e pedra, com elegantes filigranas. Quando Malik levou-a para um quarto, Nic gelou. Velas cintilavam em uma mesa perto da cama e por todo o cômodo. — Onde estamos? — Meu quarto. Ele a apertou contra a parede, as mãos emoldurando seu rosto e deslizando pelos seus cabelos. — Eu quero você. E pode confiar em mim, querida. Não a deixarei. Nic amava sentir o peito dele, a força de seus quadris contra ela. Ergueu os lábios para os dele, querendo que finalmente a tomasse. Ele a beijou, seus corpos colados. Ela suspirou de prazer, sentindo a dureza sob as calças dele. — Todos os homens sentem isso por você? — Isso o quê? — Que não podem viver sem você. Nic sentia desejo, fome. — Não acho que esta é a resposta dos homens comigo. — E aquele que você amou anos atrás? Como era o nome dele? Daniel? — É.


Tentou respirar quando ele afastou suas pernas, posicionando-se entre elas, e ela sentiu a dureza dele entre suas coxas. Sentia a pele quente dele, como a sua, enquanto a mão passava por todo o seu corpo. Tremendo, passou os braços pelos ombros dele, puxando-o mais para perto. — Sopre as velas e vamos ficar juntos. Ele tirou lentamente as roupas dela, o que foi fácil, pois ela só usava a camisola e o manto por cima. Nenhum dos dois falava e o toque dele era o de um homem que tinha um tempo infinito. Os lábios e depois as mãos saboreando a suavidade, o calor e a textura da pele quente dela. Quando ajoelhou aos seus pés, ela tentou se afastar. — Não ainda. Ele beijou entre suas pernas. — Não estou fazendo isso, ainda não. Com ele ajoelhado aos seus pés, entre ondas de calor e tremores, sentiu-o beijar e traçar círculos na parte interna de suas coxas, nas dobras dos joelhos, chegando aos pés. Todo o seu corpo estava alerta. Levantando, Malik tirou suas roupas e abraçou Nicolette, os corpos nus e quentes se tocando. Carregando-a, ele a deitou no meio da cama e Nic puxou-o, pelos ombros . Nem foi preciso que ele pedisse nada. Ela separou as pernas para ele, como se isso fosse natural em sua vida. Lentamente, ele a preencheu, com incrível controle, dando tempo para ela se ajustar ao seu tamanho. Nic não tinha percebido que ele era tão grande até senti-lo. Movendo lentamente, afundava nela, com toques estáveis. Parecia entender seu corpo. Eles queriam mais, sem pressa. Cada entrada dele a fazia querer mais. — Devagar — ela sussurrou. — Quero que isto... Interrompeu, fechando os olhos, não querendo ainda o primeiro orgasmo, que nada nesta noite incrível acabasse. Beijou Malik quase com desespero. Nunca se sentira assim. O corpo dele a exigia. Enterrou mais fundo e mais depressa, mais duro. Malik veio junto com ela que sentiu o corpo duro dele tremer em seus braços. Lágrimas vieram aos seus olhos, enquanto seus braços o apertavam mais, ouvindo o coração dele bater descompassado. Ainda latejava dentro dela, fazendo o seu corpo tremer de prazer. Malik virou, puxando-a junto e ela ficou aninhada nele, ambos quietos. Fazer amor com ele era tudo o que sempre quisera. Nunca tinha se sentido tão perto de alguém, nem tão amada. Com o rosto no peito dele, Nic sentiu-se em paz. Queria falar. Saber o que pensava. Se ele sentia o mesmo que ela. Mesmo no escuro, Nic ergueu os olhos para ele. — Não foi apenas prazer, foi... mais. Você me deu...


Não sabia explicar, mas era perfeito. Como nada que sentira na vida. Sem conseguir falar, beijou suavemente os lábios dele. — Você é lindo... — Não sou. — É. — Meu nariz é muito grande... Minha boca é muito larga... Ele a pegou por trás e a puxou para cima dele. Sentiu-o ereto novamente, a ponta já deslizando em sua carne quente. — Os melhores lábios que já beijei. — E os últimos que beijará — ele falou, abrindo as pernas dela. Novamente a ereção deslizou pela sua umidade e ela podia sentir a ponta entrando e se arqueou, tentando tomá-lo. Mas ele não penetrou. Os lábios roçaram seus ombros, os dedos entrando em sua abertura e pensou que ia quebrar. — O que está fazendo comigo? — Estava me lembrando de nossa conversa... Uma das mãos, entre seus corpos, chegou à umidade dela, um dedo deslizando suavemente em sua vagina, que pulsou, viva. — Lembra-se da nossa conversa sobre homens, mulheres e sexo? Ele continuou, deslizando o dedo, tocando cada parte. Nic se apertou contra a mão dele. — Não. — Você disse que, na sua experiência... — Não posso falar. Nem pensar. Os lábios passaram pelo seu corpo, evitando os seios. — Então, vou ajudar. Você disse e eu acredito, que a maioria dos homens não tem idéia de como tocar uma mulher. Ele a curvou para trás e enfiou o dedo fortemente na carne exposta, a pele delicada tão intumescida, doeu. — Você disse que os homens não sabiam o que as mulheres queriam... — Malik! Ele enfiou toda a sua extensão nela, repetidamente. — Ajude-me, princesa. Onde é este clitóris? Deus, ele ia derreter seu cérebro. Queimava e latejava. — Engulo minhas palavras. Por favor. A ponta do dedo dele encontrou bem o ponto doce entre suas pernas. — Estou perto? — Pare de falar. Mal conseguia respirar. Ele parou de tocá-la. — Acho que não sei o que fazer... Inclinando-se para ele, ela o beijou. — Sabe, está fazendo. Malik, por favor, está me enlouquecendo. Ele a beijou, enterrando a língua em sua boca, sugando a ponta da dela, que


arqueou os quadris. Depois, ele se enterrou nela, duro, fundo, tão completamente que ela gritou, e ele a puxou, seus corpos colados, roçando, e o calor era intenso. Ela simplesmente desistiu, deu seu corpo a ele, e toda sua resistência. Ele a tomou toda — coração, mente, corpo e alma. E o orgasmo foi espetacular, sem qualquer controle. Ela tinha encontrado o amor. A outra metade de sua alma. Nic não se lembrava de ter adormecido depois de fazerem amor pela segunda vez, só da alegria e conforto de estar nos braços de Malik. Quando acordou, estava amanhecendo. Tremeu, sonolenta e Malik beijou sua cabeça. — Agora você é minha. Só minha. — Eu sei. — Sem mais talvez sobre o casamento. — Não. Nic viu a luz no fim do túnel. Não havia porque não se casar com Malik. Era o certo para todos: Melio, a economia do país, sua família. — Estou contente por nos casarmos em seis dias. — Cinco, agora. — Que bom. Nic pensou na cerimônia em Atiq e tudo pareceu certo. Exceto por um detalhe importante. Lilly. — A Lilly precisa estar aqui. — Estará. — Os avós Thibaudets podem não deixar... — Deixarão. Não se preocupe. Eu cuidarei de tudo.


CAPÍTULO DOZE Nic abriu os olhos. Malik estava parado diante da cama, olhando-a, os braços cruzados. Ela sentou, as cobertas na cintura. — Você está vestido. — Trabalhei por duas horas, mas voltei para o café-da-manhã na cama. O olhar dele em seus seios fez seu coração pular. — Estamos falando de suco de laranja e ovos mexidos? — Claro. Como se sente? — Bem, obrigada. Deitando ao lado dela, ele se apoiou no cotovelo. — Você mudou de idéia sobre o casamento? — Não. Você mudou? — Eu sabia que não devíamos ter intimidades. Agora, você confundirá amor e sexo. — Nunca confundi amor com sexo. — Eu quero você — a voz dele era rouca de desejo. — Tanto que você nem imagina. O que sinto por você, o que quero com você... É perigoso, querida. — Você pode estar certo. O olhar faminto dele buscou o dela. — Tive uma idéia. — Sim? — Acho que devemos nos casar em Melio. — Casar... em Melio? — Você pode ter sua família com você... — Pensei que fôssemos ter um casamento tradicional aqui. Um feriado nacional, transmitido pela televisão. — Transmitiremos de lá. — Seria demais para a minha família. Meus avós não estão bem... — Por isso. Sua família não precisa viajar. A catedral é perto do palácio. Ela se inclinou, beijando os lábios dele. — Podemos vê-los depois de nossa lua-de-mel. Seria muita correria. Na Europa, casamentos reais são grandes eventos. — Devemos pensar nas necessidades de seus avós. Sei como é se preocupar com a família. Também sei que fará bem ao seu avô saber que, apesar de nosso casamento ser arranjado, não é frio ou insuportável. — Haveria muitos preparativos. — Tudo acertado. — Como "tudo acertado"? — Como disse ao seu avô mais cedo... — O quê?


— É melhor beber. Você está pálida, precisa de um pouco de açúcar. Beba. Não quero que desmaie agora, não quando temos tanto a fazer antes de voar. Nic quase mordeu o copo, esforçando-se para engolir, antes de afastar o copo. — Não entendo. — Você é viúva, não divorciada. Pode ter um casamento formal. Assim, esta manhã, falei no telefone. Primeiro com seu avô e depois com o meu pessoal, começando a mudar os preparativos da cerimônia de Atiq para Porto Terza. Tinha ligado para o vovô... — O que falou para ele? — Que você estava aqui e tinha concordado em casar comigo... — Disse quem eu era? — Quem acha? — Disse que eu era Chantal. — Sim. — E o vovô disse...? — Que não podia ser, pois Chantal estava em La Croix. Tinha acabado de falar com ela. — Malik? — Sim, querida? — O que está pensando agora? — Que tenho uma princesa impostora. Ele não parecia estar com raiva. — Sou uma princesa Ducasse. — Mas não Chantal. — Não. — Eu sou... — Nicolette. — Como adivinhou? — Está falando sério? — Só pensei... — Passamos a noite juntos, bem intimamente, mas não foi como soube. — Sempre soube. Desde que você chegou. — O quê? — Eu tinha falado com a verdadeira Chantal antes, pelo telefone. Você é esperta, Nic, linda, mas não se parece com sua irmã mais velha. Ela deitou, cobrindo-se até o pescoço, olhando para o teto. — Por isso ligou para o vovô. — Ele sempre soube que você estava aqui. — Como você. Por que não me enfrentou ou me fez confessar a verdade? — Eu estava intrigado. Achei divertido. — E agora?


— Vamos para Meíio e nos casamos. — Você ainda quer casar? — Sim. — O que mais meu avô disse? — Que você ia contar. Disse para lembrá-la que uma vez ele tinha dito... — Que eu encontraria o meu par. Ela o amava, tinha se apaixonado por ele. Perdidamente. Dois dias depois voltaram para Atiq, por duas horas. Malik deu tempo para fazer as malas e partiriam para Melio, onde sua família os esperava. Em seu quarto, Nic pediu a ajuda de Álea. — Preciso de um cabeleireiro muito bom. Ia apagar todos os sinais de Chantal, ser ela mesma. O jato de Malik decolou às duas da tarde. Estavam no ar há cinco minutos quando Malik se inclinou e tirou o xale que a cobria. — Posso ver como está a minha noiva? Ela agüentou a inspeção de Malik, lembrando-se do primeiro dia em Baraka. — Passei? — É sua cor natural? — Você não gosta. — Você é bem loira. — Não tem que se casar comigo. — Você já pode estar grávida. — Bem, não me faça favores! — Não faço. Daniel ainda trabalha na garagem do palácio? — Sim, por quê? Como lembra o nome dele? — Sou bom com nomes. Você ainda o ama? — Não. Vou casar com você. — Você me ama? — Você me ama? Ele só olhou para ela. Mesmo sem usar a palavra amor, a emoção de seus olhos dizia tudo. Três horas depois, o jato sobrevoou Melio. Nic apertou a mão de Malik. — Estou nervosa. — Eu também. O avião pousou no pequeno terminal da família Ducasse, também usado por visitantes ilustres. O estômago de Nic revirava. O motorista de uma Mercedes os esperava e, em poucos minutos, entravam nos portões do palácio. Malik observou a grande entrada. Joelle apareceu no alto da escada. — Nicolette! Desceu correndo e atirou os braços em volta da irmã. — Você pôs todos em alvoroço. Vai mesmo casar? Nic virou, fazendo um


gesto para Malik. — Joelle, meu noivo está aqui. O resto da tarde foi de intermináveis apresentações. Uma recepção privada antes do jantar, com os avós de Nic, rei Remi e rainha Astrid e depois, um grande jantar sentado com quase todos os conselheiros do rei. Na manhã seguinte, Nic acordou e o seu primeiro pensamento foi não ter ouvido falar de Chantal. O casamento seria dentro de dois dias. Seu avô dissera que Chantal planejava viajar com Lilly na véspera, para ajudar nos preparativos, mas não tinha chegado e Nic procurou o avô, em busca de respostas. — Não queria aborrecê-la ontem, não no primeiro dia do rei Nuri aqui, mas aparentemente, os Thibaudet não acham prudente Lilly viajar para tão longe por tão pouco tempo. — Então que ela venha por duas semanas! Já faz dois anos que Lilly não vem a Porto Terza. Dois anos, vovô. Você não quer vê-la? — Claro que sim. — Então, ligue para o rei Phillipe e diga que você e a vovó insistem que Lilly venha... — A criança não está bem, Nicolette. — Ela não está bem porque La Croix é ruim para ela! Só ouço dizer como Lilly é frágil, como é pequena e delicada para sua idade. Talvez só precise vir para cá. — Você está sendo dramática. — Os Thibaudets assumiram a vida dela. Eles afastaram Chantal, que mal a viu crescer... — Você não deve falar de Phillipe e Catherine assim. Conheço os Thibaudets a vida toda. A rainha Catherine e sua avó são amigas de infância. — Vou trazê-la para casa, vovô. Não precisa gostar ou concordar. Só não pode me interromper.


CAPÍTULO TREZE Nic encontrou Malik em um salão, cercado por especialistas em segurança. Toda a Europa iria comparecer. A realeza, líderes políticos, grandes empresários, celebridades. Até a esposa do presidente americano. — O que há? — ele perguntou, vendo seu rosto estressado. Rapidamente, Nic explicou tudo. Devido a uma lei arcaica de La Croix, Chantal não podia tirar a princesa Lilly, herdeira do trono, do país sem a permissão do rei e da rainha e os Thibaudets não iam deixar Lilly vir. Também explicou a posição do avô e como ele, que tinha o poder para desafiar os Thibaudets, recusava-se fazê-lo. Ela sentia o peso voltar ao seu peito. — Fui para Baraka para libertar Lilly. Não posso me casar sem ela estar aqui. Eu prometi a ela. — Eu garanti que ela estaria. — Mas isso foi antes... — Nada mudou. Dei a minha palavra. A manhã do casamento chegou e Nic acordou com o coração doendo. A distância entre o palácio e a catedral era curta, mas pareceu uma eternidade. Estava nervosa por Chantal e Lilly não virem, mas também sabia que Maliki Nuri era o coração, a alma, seu futuro e não podia desistir dele. Chegaram à igreja cinco minutos adiantados. O rei Remi a esperava na capela e Nic quase se descontrolou vendo o avô resplandecente, em seu terno de coroação, que só usava em ocasiões muito especiais. Os olhos dele estavam cheios de lágrimas. — Diga-me que está feliz, querida. Nic cerrou os dentes, sabendo que andaria sobre fogo para que os avós tivessem paz. Sabia que estavam cansados. E preocupados. — Estou muito feliz — sussurrou, abraçando-o. — Me desculpe ter falado áspera com você no outro dia. — Você estava certa. Seu pai nunca me perdoaria se eu deixasse qualquer de suas meninas casar ou viver infeliz. — Eu amo Malik. — Devia. Ele se afastou e uma das portas escuras da capela abriu, dando passagem a uma garotinha de vestido rosa salpicado de flores rosadas. — Tia Nicolette? A voz suave era de uma menina pequena de cabelos castanhos e sorriso incerto. — Lilly! Nic gritou, correu para a sobrinha, erguendo-a nos braços. — Minha criancinha Lilly, você está aquil O sorriso de Lilly ficou mais seguro e ela riu.


— Não sou criancinha, tia Nicollete. Tenho quatro anos, falo francês e italiano e sei esquiar. — É melhor parar de chorar. Não quer entrar na igreja com o rosto brilhando. Chantal e Lilly estavam aqui. — Como...? — Vovô. Ele foi lá hoje cedo. Disse a Phillipe e Catherine que eram bemvindos ao casamento mas, que mesmo se não viessem, queria Lilly e eu aqui. E aqui estamos. — Vovô fez isso? Chantal concordou. — Bem, Malik foi com ele, claro. Mas você já sabia, não? Não sabia. Mas devia. Malik era um homem de palavra. Houve um momento em que as notas triunfantes do órgão encheram a catedral de conto de fadas, a luz do sol passando pelas janelas trabalhadas e Nic parou, na porta da igreja, segurando o braço de seu amado avô, vendo suas irmãs e a pequena Lilly do lado esquerdo e Malik, do lado direito, como quando tinha chegado em Atiq. O tempo pareceu parar e ela se lembrou da chuva de pétalas perfumadas. Nic não se lembrava de caminhar pela nave, ver as flores à sua volta, as pétalas caindo, as orações e palavras ditas, a música ou o coral da catedral. Toda cerimônia pareceu estranha e bela, um sonho, pensou, só acordando quando Malik ergueu seu véu e beijou-a nos lábios. A recepção foi indescritível. Outro passo no sonho. As sessenta e três mesas redondas estavam cobertas de seda púrpura e rosa, os cristais brilhando à luz dos candelabros, distribuídos por todo o salão. E um bolo, no canto, de uns dois metros de altura, cada uma das nove camadas deliciosas, em tons de rosa, abricó e dourado. Ela e Malik inseparáveis. Comeram, dançaram, beijaram-se. Falaram com todos os convidados. Cortaram o bolo. Dançaram um pouco mais, quando Nicolette soube que precisava ficar a sós com Malik. Afinal, conseguiram deixar a recepção à meia-noite, saindo escondidos pela porta lateral, entrando em um dos carros da família real. No palácio, subiram as escadas praticamente correndo. Malik a apertou contra a coluna. — Faz uma eternidade que não a beijo. — Nos beijamos ontem. — Aquilo não foi beijo. — Acho que precisamos de um lugar para isso. No quarto, Malik assumiu o controle. Mesmo impaciente, não se apressou, tirando lentamente o vestido dela, tocando e beijando, e às vezes lambendo sua pele. Ela sentiu a sua ereção contra a seda da calcinha branca. O tremor do seu


corpo passou para o dele, enquanto pegava seus seios com a mão espalmada, sob a seda do espartilho. Ela já estava desmanchando, quando a mão dele deslizou para encontrar o calor e umidade entre suas pernas. Fraca, ela se apertou contra ele, puxando-os pelos quadris. — Não é justo. Você ainda está vestido. — Temos tempo. — Nem tanto — ela respondeu, afastando para olhá-lo. — Tenho um presente de casamento para você. — Não quero presentes. — Vai querer este. Quero que tire a roupa para mim. Primeiro, a camisa... — ela comandou. Olhando-a, ele tirou a camisa. — Agora o cinto. Depois as meias e a calça. Silenciosamente, ele tirou o cinto, enquanto o coração dela pulava. Erguendo a sobrancelha, ele abriu o zíper das calças, expondo a barriga e alguns pelos escuros, que sumiam sob a cueca larga de seda. Com a boca seca e o coração aos pulos, pensou que ele era dela. Para sempre. Quando ele tirou as calças, mandou que sentasse na cama. Com um olhar irônico, ele lhe obedeceu, visivelmente excitado. Ela se adiantou, separando as pernas dele e abrindo espaço para ela. Ajoelhada, sentiu-se primitiva, poderosa, fêmea. Acariciando as coxas dele, Nic sentiu os músculos retesarem sob suas mãos. Ele passou a mão pelos longos cabelos loiros dela. — Você não tem que fazer nada para mim. — Eu sei... Acariciou novamente as coxas dele e ele gemeu. Ela continuou a acariciar e explorar os músculos. Sentiu-o tremer, viu a ereção pressionar o tecido. Bom. Ele estava provando de seu próprio remédio. Nic continuou, tocando o umbigo, a pele sob os testículos, tudo, menos a ereção. Quando viu que ele estava perdendo o controle, Nic abaixou a cueca e envolveu-o com a mão inteira. Roçou os lábios na ponta quente e suave e seguiu o beijo suave com uma lambida. Ia beijá-lo novamente quando ele deslizou os dedos pelos seus cabelos. — Então me perdoou, querida, por trazê-la para cá? — Perdoá-lo por quê? — Por pedir ajuda a Chantal. — Não entendo. — Você me ama? — Amo. Ele ergueu o rosto dela, olhando em seus olhos.


— Eu te amo. Hoje você me fez completo. Sinto-me inteiro novamente. Estava dizendo as palavras certas, mas havia algo errado. Cansada pela cerimônia e o estresse, Nic não conseguia pensar direito. Por que precisava perdoar? Malik ajeitou a cueca e puxou-a para seu colo, dizendo: — Chantal nos apresentou. Eu pedi. — Não. Você a propôs. Formalmente. Sentiu medo. Tentou levantar e Malik não deixou. — Fique aqui. Precisamos conversar. Estava gelada. — Mandou uma carta. Não queria casar com ela? — Não. A carta foi a minha isca. Isca? Uma armadilha? Conseguiu se afastar. Chantal não podia tê-la enganado, junto com Malik, podia? — Você nunca quis a minha irmã. — Sempre quis você. Só você.


CAPÍTULO QUATORZE Parada ali, o espartilho solto, meias e a minúscula calcinha branca, sentiu-se ridícula, como nas últimas semanas. Ele sabia que a princesa Ducasse chegando a Atiq era Nicolette. Só um plano para forçá-la ir para o altar e encher os cofres Ducasse. De gelado, seu rosto ficou quente. Estava embaraçada, envergonhada. Tinha se sentido nobre, sacrificando seus interesses pela felicidade de Lilly e Chantal. Como Chantal tinha vendido sua própria irmã? — Você está com raiva. — Malik falou, deitando na cama, olhando-a. — Pode apostar. — Ela quis ajudar. — O casamento não me ajuda. — Ajuda seu país. Ela disse que todas vocês concordaram com casamentos que ajudassem a melhorar a situação e posição do país. — Ela o procurou ou foi você? — Tentando descobrir quem é o vilão? — Os dois são. Mas, sim, quero saber quem iniciou esta vergonha. O rosto dele ficou sombrio. — Não é vergonha. É um casamento real. Legal. Consumado, permanente. — Você não respondeu. — Eu a procurei. Depois procurei seu avô. — Vovô? Desde o início? — Claro. Ele é o rei que podia me dar permissão para casar com você. — E a minha permissão, minha vontade? — Você foi para Baraka por sua vontade. — Pensei que podia ir! Até ter Chantal e Lilly livres, depois, voltar para Melio. — Você está tremendo. Não precisa ficar nervosa. Venha para a cama, querida. — Não posso. — Pode. Vai poder. — Não pode me comandar. Nunca deixei e certamente, não vou deixar agora. Não acredito como fui tola. Uma romântica idiota. — Nada mudou. — Nada? Nem ao menos o conheço, Malik Nuri. Eu pensei... — Pensou o quê? Que eu era tolo? Só outro homem que você podia guiar, como um cãozinho mimado? — Nunca tratei um homem assim! — Lógico que sim. Usa a sua beleza. Você os enfeitiça, dobra e joga fora. Eu queria você e estava disposto a correr o mesmo risco. Não pode ficar com raiva por tê-la vencido em seu próprio jogo.


— Você foi desonesto. Estava casada e tinha sido uma cilada. Ele a levara ao altar e mais. — Você também não foi honesta e nunca a culpei. Eu a conhecia e entendia. Você é competitiva, gosta de vencer. — Não se trata de vencer. — Claro que sim, querida. — É, mas dois errados não fazem um certo! — Eu pretendia contar a verdade. — Quando? Não pareceu. — Não confessei. Queria contar quando você me contasse e não aconteceu, então, não contei. Nic, querida, você me queria e me tem. Para sempre. — Mas não queria casar. — Mas se fosse casar, não ficaria contente de casar comigo? — Não é o ponto, Alteza. — Alguns pontos são sem sentido. Estamos casados e vamos viver bem juntos. Com certeza gostar um do outro. — Qual foi o meu preço? — Alto. — Quão alto? — Vinte e cinco... — Vinte e cinco...? — Milhões. — Dólares? — Libras. Meu banco em Londres tratou da transação. Nic sentou na janela. O vidro frio em sua pele quase nua. Estava lisonjeada. Uma noiva extremamente cara, além de relutante. — Outros vinte e cinco milhões quando o nosso primeiro filho fizer quinze anos. Ela não acreditava que alguém gastasse tal quantia mesmo querendo uma esposa real. — Por que quinze anos? — Aos quinze anos, nosso filho ou filha pode assumir legalmente o trono, sem precisar de um guardião. Isso é importante. Com freqüência, os guardiões tentam assumir o controle. Ela respirou fundo para conter as lágrimas. — Está pretendo ir a algum lugar em quinze anos? — Não. Olhou em volta, procurando um roupão, algo para envolvê-la. Estava com frio. Pegou o vestido de noiva, lutando para conter as lágrimas. Que maneira horrível de terminar um dia lindo. — Pensando? — ele perguntou, sério. Engoliu as lágrimas, sem se importar que a olhava. Tentou fechar o vestido.


— Acho que gostaria de dormir sozinha esta noite. — Não há motivo... — Há. Estou magoada. Com raiva. Vou para o meu antigo quarto. Preciso ficar sozinha. — Por quê? — Preciso pensar. Malik levantou. — Ficará com mais raiva. Mas se é o que quer... ? Ele não se aproximou. Foi para o banheiro. — Boa noite. A pior noite de núpcias da história. Nic lutou a noite toda contra as lágrimas, sem dormir ou descansar. A manhã chegou e Chantal entrou no quarto, enquanto Nicolette calçava sapatilhas de couro. — Uma das empregadas disse que você dormiu aqui. Dormiu sozinha? Chantal sentou em uma cadeira de braço perto da janela. — Sinto muito, Nic. Nic afastou o olhar, não querendo brigar. Especialmente por Chantal estar tão contente por libertar Lilly da família de Armand, de La Croix. Agora, de volta ao lar, no palácio, Lilly estaria em segurança. — Você devia ter contado. — Fiquei um pouco sem jeito... — Um pouco? Chantal corou. — Sabia que gostaria dele, Nic. Só queria que os dois se encontrassem. Sabia que não se casaria com ele, se não quisesse. — Concordamos que nunca tentaria encontrar um par para mim. — Pense um instante. Você não salvou apenas um país, mas dois. Melio precisava do dinheiro do rei Nuri, e ele precisava de você. Nic foi para o jardim de flores alpinas importadas da Áustria. Só pensava em Malik e em seu truque, em Chantal. Duas pessoas que ela respeitava, em quem confiava. Chutou um seixo e conseguiu mandá-lo longe. — Belo chute! — uma voz masculina falou. Nic virou, vendo um homem de jeans e casaco de gola alta de lã fina, encostado na parede atrás deles. Olhou, achando-o jovem e musculoso. — Eu joguei futebol... — respondeu, irritada. — Aposto que era boa. — Muito boa. — Deve estar se sentindo muito bem, trazendo um homem de volta à vida. Nic virou, olhando o estranho, e percebeu que ele falava com o mesmo sotaque de Malik. Também parecia com ele. Ele pegou um cigarro, acendeu, depois soltou no chão e amassou. — Acho que ele não contou... do atentado? — Quem?


— O rei Malik Roman Nuri. — Você é primo ou... — O irmão mais novo. Kalen. — Veio para o casamento. Ele riu. — Eu era o padrinho. — Eu não... — Eu sei. Só tinha olhos para meu irmão. — O que quer dizer com "atentado"? — A tentativa de assassinato. No ano passado. Ele escapou. Desde então, ele não era mais o mesmo. — Ele não ia me contar... — Provavelmente não. Ele é um rei. — É melhor eu voltar. — Ele deve estar preocupado com você. — Eu o verei de novo antes de voltar para Londres? — Duvido — ele sorriu, gentilmente. — AUah ihennik. — A paz de Deus para você também, príncipe Kalen. Nic virou. — Rainha Nuri... Não sei o que disse, mas ele adora loiras. Os dentes brancos de Kalen brilharam. — Nunca se casaria com uma morena. Subindo as escadas, foi para o quarto, onde Malik ainda estava deitado. Tomando café na cama. Nic se jogou na cadeira em frente à cama. — Bastardo. Ele olhou por cima do jornal que estava lendo. Usava óculos de leitura e havia uma bandeja ao seu lado, com croissants quentes, suco e café. — Bom dia, esposa. — Você está certo. Não gosto de perder. Pensei... — Pode vencer. Venceu. E sabe que eu a amo. — E você sabe como eu tinha horror ao casamento. — Até agora, as minhas impressões sobre casamento também não são positivas. — Não é engraçado, Malik. Não se manipula mulheres para casar. — Eu queria você. — Mas a vida não funciona assim. — Funciona, se você encontra a sua alma gêmea. — Você deveria ter sido honesto com a sua alma gêmea, contando a verdade... — Como você fez? Vamos, Nic. Não se trata de honestidade. Trata-se de poder, controle. Você está com raiva porque foi menos esperta. — Não fui. — Está triste por perder. Eu detesto isso.


Estava nu. — Não pode andar nu enquanto estamos brigando. Ele a ignorou, erguendo-a e puxando para perto. — Nunca conheci ninguém tão obcecado por vencer. Ele beijou o seu pescoço, depois, ergueu os longos cabelos e beijou sua nuca. — Mas, Malík, por que eu? — Mesmo sabendo que você não estava interessada em casamento, admirava a sua independência. Você não via o casamento como um meio de conseguir coisas. Queria um relacionamento onde fosse igual... — E mesmo assim, o que fez? Prendeu-me em um casamento. Vive em um país onde as mulheres não são iguais... Ela engoliu em seco. — Houve uma tentativa de assassinato no ano passado. Os olhos dele apertaram. — Kalen não tinha o direito... — Ele o ama. — Esperei anos para me casar. Nunca pensei que encontraria alguém certo para mim... Mas você é certa, e sei, em minha alma, onde vivem minha esperança e meus ancestrais, que você é a única para mim. Ela encostou no peito dele, sentindo a pele quente e perfumada, deixando-a quase louca. — Você tem idéia de quanto o amo? De quanto a sua vida significa para mim? Não quero ninguém ferindo você. Não quero que ninguém o tire de mim. — Também não quero que ninguém a tire de mim. Mas, se o impensável acontecer, sei que você será um tigre no palácio. Lutará como um tigre pelos nossos filhos. — Mas nada vai acontecer a você. Não vou deixar nada acontecer a você. Para o melhor ou o pior, você é minha outra metade e, se vai me dar filhos, então, tem obrigação de ficar por perto e me ajudar a criá-los. Entendeu? — É uma ordem? — O primeiro decreto de Nicolette Nuri, rainha de Baraka. — Sim, minha amada Nicolette. E agora, rainha Nuri, seu marido, o rei e sultão de Baraka solicita que suas roupas sejam removidas. O rei a quer nua e ajoelhada em sua cama. — Nua e ajoelhada? Por que ele me quer de joelhos? — Há ainda um par de posições que os recém-casados reais têm que experimentar, inclusive a preferida do rei...


EPÍLOGO O fogo brilhava nas paredes de pedras avermelhadas. A Citadel sempre fora linda e misteriosa à noite, e Nicolette observava o rosto de seu filho Zaid, de quatro anos, os grandes olhos verdes, arregalados, enquanto Malik jogava outra acha no fogo e fagulhas cor de laranja estouravam no céu escuro. Agora, Malik estava contando histórias sobre os bravos ancestrais dos garotos, sobre as batalhas vencidas e perdidas aqui, nas dramáticas montanhas. Sentada no tapete vermelho de lã, Nic sentia o pequeno Aden apertar o rosto, o coração dele batendo depressa em seu peito de dois anos de idade, e ela lançou um olhar exasperado para Malik. Seu marido era quase tão levado quanto as crianças. Ele adorava trazê-las para Zefd, amava essas noites, quando se sentavam em volta do fogo, fazendo de conta que eram nômades e beduínos, ao invés de um poderoso rei e seus filhos. Quando estavam aqui, na Citadel, juntos assim, as preocupações de Malik pareciam se dissolver. E agora, ele parecia quase tão jovem e descuidado quanto os filhos. Nic passou a mão pela pequena cabeça de Aden. Os seus cabelos pretos ainda eram sedosos, os longos cachos soltos, quase chegando aos ombros. Um dia, teriam que ser cortados. O bebê cresceria. Uma acha se moveu, disparando mais fagulhas e Nic pensou nos últimos cinco anos, sabendo que não mudaria nada neles, nada sobre o casamento deles. Malik era perfeito para ela, a combinação certa de força, integridade e sensualidade. Ele a mantinha em seus pés. Nunca permitia que a vida dela fosse aborrecida. E acima de tudo, tinha ensinado a ela que às vezes, é preciso perder para vencer.


Próximos Lançamentos Jessica A AMANTE REAL — A princesa Chantal Thibaudet é resgatada de uma explosão por Demetrius Mantheakis, um renomado especialista em segurança internacional. Ele insiste que Chantal vá com ele para a sua ilha particular, onde pode protegê-la. Mas quando princesas se deixam arrebatar por plebeus — especialmente um tão arrogante e sensual como Demetrius - um escândalo real está prestes a acontecer! Luz DA PAIXÃO — Catherine Spencer Cassandra Wilde engravidou de Benedict Constantino e o casamento foi a solução mais conveniente. Na Itália, Cassie começa a ter esperanças de que a união por conveniência poderia se transformar em uma história de amor. Mas pelo visto Benedict estava disposto a prazeres mais imediatos. Já nas bancas PARAÍSO DO AMOR — Arme McAUister O mais obstinado playboy de Pelican Cay, Hugh McGillivray, fica deslumbrado quando pesca a bela e sensual Sydney St. John em pleno oceano. Mas Sydney precisa fugir do sócio nada atraente, que resolveu se casar com ela. E se concordasse com a solução de Hugh — fingir ser sua esposa? Isso significava que deveriam encenar um casamento nos mínimos detalhes. MARCAS DO PASSADO—Emma Darcy Mitch Tyler é um advogado destemido e bem-sucedido em Sidney, que deixou a infância problemática para trás. E ele se sente incrivelmente atraído por Kathryn Ledger, mas ela está noiva de outro homem. Mitch se desespera ao perceber que ela precisa de proteção. Agora, a única coisa que ele tem a fazer é impedir este casamento. ESPOSA POR ACASO — Helen Bianchin O bilionário Manolo Del Guardo precisa de alguém para cuidar de sua filhinha de seis meses o mais rápido possível! Desesperado, ele propõe a Ariane Celeste, uma repórter de TV de Sidney, enviada para entrevistá-lo, que cuide do seu bebê temporariamente. Mas Manolo acaba decidindo que quer Ariane como sua esposa e mãe de sua filha para sempre.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.