Completing S. Joaquim - rethinking a community in Sao Tome and Principe

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Completar S. Joaquim repensar uma comunidade em São Tomé e Príncipe Projecto Final de Mestrado para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura Aluno João Baptista Gaspar Lopes licenciado Orientação Científica Professor Doutor Hugo Farias Professora Doutora Joana Malheiro Júri Presidente Professor Catedrático José Boueri Filho Vogal Professor Catedrático João Sousa Morais

Faculdade de Arquitectura - Universidade de Lisboa Documento Definitivo Dezembro 2018



Completar S. Joaquim repensar uma comunidade em São Tomé e Príncipe Projecto Final de Mestrado para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura Aluno João Baptista Gaspar Lopes licenciado Orientação Científica Professor Doutor Hugo Farias Professora Doutora Joana Malheiro Júri Presidente Professor Catedrático José Boueri Filho Vogal Professor Catedrático João Sousa Morais

Faculdade de Arquitectura - Universidade de Lisboa Documento Definitivo Dezembro 2018



I AM A PRACTICING ARCHITECT, NOT A HISTORIAN; CONSEQUENTLY, THIS BOOK IS NOT an attempt to write history, but an effort to set forth a point of view. More particularly, it is the WHITAKER, Craig in “Architecture and the American Dream”. 1996. pg. ix

assertion that cultural values, more than any other attribute, determine how we shape our manmade environment, and how we appraise what we have built.


título sub-título aluno orientação científica

Completar S. Joaquim repensar uma comunidade em São Tomé e Príncipe João Baptista Gaspar Lopes Professor Doutor Hugo Farias Professora Doutora Joana Malheiro Mestrado Integrado em Arquitectura Lisboa, Dezembro de 2018

001 VI


Resumo

Metaforicamente abandonadas, as ilhas de São Tomé e Príncipe demarcam-se historicamente pela sua dupla relação entre terra e mar. O seu desenvolvimento demográfico e social, intrinsecamente ligado ao território natural endémico, é evidente nas comunidades que o habitam. A roça no território são-tomense, aquando da sua implantação, traz consigo avanços tecnológicos e económicos, porém, na atualidade, apenas carrega memórias rasgadas e comunidades desfavorecidas. O presente trabalho completa um percurso rompido pelo tempo; no que outrora fora um nobre território na Ilha do Príncipe, pretende-se reavivar a conexão perdida com o mar azul e o verdejante terreno, tomando como prioritário o melhoramento do habitar em S. Joaquim que hoje olha para uma baía vazia. De elevada importância devido à sua posição geográfica e inserida na Reserva Natural da Ilha do Príncipe, a Baía das Agulhas esconde-se dentro do seu próprio mistério; palco a raros exemplos de fauna e flora, a reserva natural é das maiores atrações turísticas de toda a ilha e grande fonte de rendimento às comunidades. Compreendendo a importância das diferentes facetas duma tropicalidade demarcadora, o projeto passa por cinco fases, independentes entre si, no entanto comummente honrando a memória, os hábitos e os costumes da população.

Completar, no sentido da palavra, implica tornar pleno, rematar o inconcluso com o complemento. Num primeiro gesto, o projeto prevê o fecho do traçado urbano perdido e diminuto da Roça S. Joaquim, composto por equipamentos base do habitar e objetivando uma subsistência Palavras-chave

económica e social. Numa fase posterior, são devolvidas à baía, por meio da Praia do Caixão,

África

ligações já não existentes que complementarão o melhoramento de serviços atualmente presentes

Roça S. Joaquim

na pequena comunidade piscatória à deriva na ilha.

Arquitectura tropical Habitação Identidade

Habitar, Estruturar, Conectar e Repensar formam o mote do desenvolvimento do trabalho e de S. Joaquim no contexto contemporâneo. VII


title sub-title

Completing S. Joaquim rethinking a commmunity in São Tomé e Príncipe

student

João Baptista Gaspar Lopes

mentors

Professor Hugo Farias Professor Joana Malheiro Master’s degree in Architecture Lisbon, December 2018

002 VIII


Abstract

Metaphorically abandoned, the islands of São Tomé and Príncipe are demarcated historically by their dual relationship between land and sea. Their social and demographic development, intrinsically connected with their natural endemic territory, is evident in the communities that live in it. The roça in the São Tomé and Príncipe territory, when implemented, brings technological and economical progress, however, in current times, it only carries torn memories and underprivileged communities. The current work completes a course broken by time; in what once was a noble territory of the Principe Island, it is intended to revive a lost connection with the blue sea and the verdant terrain, whilst prioritizing the improvement of dwelling in S. Joaquim that today looks to an empty bay. With high importance due to its geographical position and inserted in the Obô National Park of the Principe Island, the Baía das Agulhas hides itself within its own mystery; stage to rare examples of flora and fauna, the natural reserve is one of the biggest touristic attractions of the entire island and a great source of income to the communities. Understanding the importance of these different facades of a demarcating tropicality, the design is composed in five stages, independent from themselves, however commonly honoring the memory, habits and mores of the population.

Complete, in the sense of the word, implies to make full, finish the unresolved with the complement. At a first moment, the design predicts the closing of a lost and diminutive urban fabric of Roça S. Joaquim, composed by basic public buildings to dwell and objecting an economical and Keywords

social self-sustainability. In a posterior phase, it is returned to the bay, by means of the Praia do

Africa

Caixão, no longer existing connections that will complement the improvement of services currently

Roça S. Joaquim

present in the small fishing community drifting on the island.

Tropical Architecture Housing Identity

Dwelling, Structuring, Connecting and Rethinking form the tone of the design and of S. Joaquim in a contemporary context. IX


para os residentes de S. Joaquim

003 X


Agradecimentos

Ao orientador Hugo pelos apoios que ultrapassaram tanto o domínio do projeto como a duração “politicamente correta”. À orientadora Joana pelas ajudas basilares ao desenvolvimento do projeto e representativas do velho ditado “nem sabes no que te estás a meter”. Ao professor João pela disposição e promoção de intensas discussões de projeto, sempre com a garra de um profeta. Ao SPACE pela condecorativa paciência e tolerância. Em conjunto, a Camila, a Inês, o Manuel, a Marta e o Tiago representam a inovação e revolução na profissão de arquiteto(a). À família pelo incondicional apoio e imperativa contribuição monetária durante o duradouro percurso que aqui se encerra. Ao Hugo, ao João, à Marta, à Manon e ao Martim pela indispensável companhia na viagem ao misterioso território de São Tomé e Príncipe, da qual prevalecem histórias infinitas. À Francisca e à Lara pela incrivelmente duradoura amizade e vital “pachorra”. Ao demais elenco nesta peça como o Rui, o Amaro, o Guerreirinho, a Beirante, a Logar, a Vala e o Topê pelos seus audazes ouvidos, oferecidos ao tagarela autor. XI


004 XII


Índice

XXIII

Introdução

PI 01

1. Território Esquecido

03

a demografia

09

o mar

13

a roça

19

2.Território Adormecido

21

Mantero

25

S. Joaquim

P II 33

1. Habitar S. Joaquim casa; identidade; comunidade; tropicalidade case study: Aranya Housing - B.K. Doshi

49

2. Estruturar a Praia do Caixão cidade; biosfera; mar case study: Mercado Municipal Santa Maria da Feira - Fernando Távora

61

3. Conectar a Baía das Agulhas infraestrutura; ligação case study: Vila dos Angolares

67

4. Repensar S. Joaquim abandonada; viabilidade; expansão

71

Considerações finais

75

Bibliografia

79

Anexos XIII


Índice de figuras IV |

Fig. 001 | Residente da Roça Porto Real no recreio comum | fotografia do autor. 2018

VI |

Fig. 002 | Residente da Roça Porto Real no recreio comum | fotografia do autor. 2018

VIII | Fig. 003 | Residente da Roça Porto Real no recreio comum | fotografia do autor. 2018 X|

Fig. 004 | Residentes da Roça Porto Real no recreio comum | fotografia do autor. 2018

XVIII Fig. 005 | Edíficio de sanzala na Roça S. Joaquim | fotografia do autor. 2018 XXII Fig. 006 | Vista interior da casa principal da Roça S. Joaquim | fotografia cedida por João Venâncio. 2018 XXIV Fig. 007 | Caminho existente na Praia do Caixão | fotografia cedida por João Venâncio. 2018 XXVI Fig. 008 | Residentes da Roça S. Joaquim na Praia do Caixão | fotografia cedida por João Venâncio. 2018 00 | Fig. 009 | “Carte de la Coste Occidentale d’Afrique” | desenho de BELLIN, Nicolas in Barcelona, Institut Cartogràfic de Catalunya. 1746 04 | Fig. 010 | “Urbs S. Thomae” | desenho de BARLAEUS, Gaspar in Bibliothéque National de France. 1645 04 | Fig. 011 | “Aanval op het eiland Annobón” | desenho de ‘desconhecido’, in Rijks Museum, Amsterdão. 1602 06 | Fig. 012 | “Quilombo dos Palmares” | desenho de RUGENDAS, Juan Mauricio. sem data 06 | Fig. 013 | “Insula S. Thomae” | desenho de BERTIUS, Petrus. 1639 10 | Fig. 014 | “Cidade de S. Thomé, 1-5000” | desenho de GARCEZ, Bernardo Heitor in Lith. da Impresa Nacional, Lisboa. 1889 10 | Fig. 015 | “Carta de São Tomé - levantamento aerofotogramétrico” | desenho de Missão Hidrográfica de Angola e S. Tomé in Lisboa, Ministério do Ultramar, Junta de Investigações do Ultramar. 1962 14 | Fig. 016 | Roça S. João - dependência da Roça Lembá, vista geral | fotografia de ‘desconhecido’ in Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe. sd 14 | Fig. 017 | Roça St. Cecília, casa principal e secagem de cacau pelo sol | fotografia de ‘desconhecido’ in Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe. 1911 14 | Fig. 018 | Recreio dos filhos de serviçaies da Roça Boa Entrada, em S. Thomé | fotografia por desconhecido in Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe. 1911 XIV


16 | Fig. 019 | Terreiro da Roça Paciência | fotografia de Duarte Pape in PAPE (2015) 16 | Fig. 020 | Vista geral sobre a Roça Porto Alegre | fotografia de Duarte Pape in PAPE (2015) 18 | Fig. 021 | “Carta da Ilha do Príncipe com a divisão das principais explorações agrícolas” | desenho de MANTERO, Francisco in Arquivo Histórico Ultramarino. 1909 22 | Fig. 022 | “Plantas hydrográphicas da Ilhas do Príncipe e seus dois principais portos” | desenho de desconhecido, publicado por José Joaquim Lopes de Lima, capitão de Fragata da Armada Portuguesa. 1845 22 | Fig 023 | Roça São José | fotografia de Duarte Pape in PAPE (2015) 22 | Fig. 024 | Roça Montealegre | fotografia de Duarte Pape in PAPE (2015) 22 | Fig. 025 | Roça Porto Real | fotografia de Duarte Pape in PAPE (2011) 22 | Fig. 026 | Roça S. Joaquim | fotografia cedida por Joana Malheiro. 2015 26 | Fig. 027 | casa principal da Roça S. Joaquim | fotografia cedida por Joana Malheiro. 2015 26 | Fig. 028 | sanzala grande da Roça S. Joaquim | fotografia do autor. 2018 26 | Fig. 029 | sanzala grande da Roça S. Joaquim | fotografia do autor. 2018 26 | Fig. 030 | alçado de casa dos encarregados da Roça S. Joaquim | fotografia cedida por João Venâncio. 2018 28 | Fig. 031 | vista sobre a baía das Agulha da Roça S. Joaquim | fotografia do autor. 2018 32 | Fig. 032 | esquema ilustrativo de “Habitar a Roça S. Joaquim” | desenho do autor. 2018 34 | Fig. 033 | “From Dasein to Homo Economicus - Dasein” | ilustração de Mattias Tjalve. 2018 34 | Fig. 034 | Planta da Cabana de Heidegger em Todnauberg | desenho de SHARR, Adam. ‘La cabana de Heidegger’. Barcelona, 2006 34 | Fig. 035 | Cabana de Heidegger em Todnauberg | fotografia de desconhecido 34 | Fig. 036 | Cabana de Heidegger em Todnauberg | fotografia de desconhecido 36 | Fig. 037 | detalhe de alçado na Roça S. Joaquim | fotografia cedida por João Venâncio. 2018 36 | Fig. 038 | garagem na Roça S. Joaquim | fotografia do autor. 2018 36 | Fig. 039 | entrada de habitação na Roça S. Joaquim | fotografia do autor. 2018 36 | Fig. 040 | “Sketch showing staircases and terraces as living spaces” | desenho de B.V. Doshi in Vastushilpa Foundation for Studies 1989 36 | Fig. 041 | “Growth on a Larger Scale” | desenho de B.V. Doshi in “Presentation by Khushboo Sood, 4th Sem”. 1989 XV


36 | Fig. 042 | “Growth on a Larger Scale” | desenho de B.V. Doshi in “Presentation by Khushboo Sood, 4th Sem”. 1989 38 | Fig. 041 | “Various stages of growth” | desenho de B.V. Doshi in “Presentation by Khushboo Sood, 4th Sem”. 1989 40 | Fig. 044 | Apropriação espacial e construtiva do espaço de alcova | desenhos do autor. 2018 42 | Fig. 045 | Hierarquia Urbana | desenhos do autor. 2018 44 | Fig. 046 | Ambiências da Intervenção | desenhos do autor. 2018 46 | Fig. 047 | polivalência do espaço de alcova | desenho do autor. 2018 46 | Fig. 048 | rua principal do plano proposto | desenho do autor. 2018 46 | Fig. 049 | detalhe de valetas de saneamento no plano urbano proposto | desenho do autor. 2018 48 | Fig. 050 | esquema ilustrativo de “Estruturar a Praia do Caixão” | desenho do autor. 2018 50 | Fig. 051 | “Planta Iconográfica da cidade de Santo António na Ilha do Príncipe” | desenho de CALDAS, José António in Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. 1757 50 | Fig. 052 | “La baye de l’Isle de Prince” | desenho de DEUTECUM, Baptiste van. 1646 50 | Fig. 053 | antiga ponte sobre a ribeira na Praia do Caixão | fotografia do autor. 2018 50 | Fig. 054 | Praia do Caixão | fotografia do autor. 2018 50 | Fig. 055 | Praia do Caixão | fotografia cedida por João Venâncio. 2018 52 | Fig. 056 | Hierarquia Urbana | desenhos do autor. 2018 54 | Fig. 057 | corte AA’ | desenho de Fernando Távora in TRIGUEIROS (1993) 54 | Fig. 058 | planta piso térreo | desenho de Fernando Távora in TRIGUEIROS (1993) 54 | Fig. 059 | ‘Interior’ do mercado | fotografia de Leonardo Negrão in ‘Fernando Távora. Viagem pela obra de um arquiteto genia’ - Diário de Notícias MAR 2016 [vizualizado em Outubro 2018] 54 | Fig. 060 | ‘Interior’ do mercado | fotografia de ‘desconhecido’ in ‘Museus e Património Cultural da Área Metrepolitana do Porto’ [vizualizado em Outubro 2018] 54 | Fig. 061 | Mercado do Caputo - Luanda, Angola (1962/1965) | fotografia de Simões de Carvalho in ‘Jornal Arquitectos’ [vizualizado em Outubro 2018] 54 | Fig. 062 | Mercado do Caputo - Luanda, Angola (1962/1965) | fotografia de Simões de Carvalho in ‘Jornal Arquitectos’ [vizualizado em Outubro 2018] 56 | Fig. 063 | Ponte sobre a ribeira na Praia do Caixão | fotografia de desconhecido de “Sociedade d’Agricultura Colonial, Propriedade da Ilha do Principe [Roça Porto Real] in Instituto de Investigação Científica e Tropical XVI


56 | Fig. 064 | casa da Associação das Tartarugas Marinhas na Praia Grande - Ilha do Príncipe | fotografia in blog “Tartarugas em São Tomé e Príncipe”. 2010 56 | Fig. 065 | casa da Associação das Tartarugas Marinhas na Praia Grande - Ilha do Príncipe | fotografia in blog “Comissão Tartaruga Marinha - Ilha do Príncipe”. 2011 56 | Fig. 066 | exposição no Forte de S. Sebastião - São Tomé | fotografia do autor. 2018 56 | Fig. 067 | exposição no Forte de S. Sebastião - São Tomé | fotografia do autor. 2018 56 | Fig. 068 | exposição no Forte de S. Sebastião - São Tomé | fotografia do autor. 2018 58 | Fig. 069 | pontão na Praia do Caixão | fotografia de desconhecido de “Sociedade d’Agricultura Colonial, Propriedade da Ilha do Principe [Roça Porto Real] in Instituto de Investigação Científica e Tropical 58 | Fig. 070 | Praia do Caixão | fotografia do autor. 2018 58 | Fig. 071 | Ambiências de Intervenção | desenhos do autor. 2018 62 | Fig. 072 | esquema ilustrativo de “Conectar a Baía das Agulhas” | desenho do autor. 2018 62 | Fig. 073 | ligação da Roça S. Joaquim à Praia do Caixão | fotografia do autor. 2018 62 | Fig. 074 | ligação da Roça S. Joaquim à Praia do Caixão | fotografia do autor. 2018 62 | Fig. 075 | ligação da Roça S. Joaquim à Praia do Caixão | fotografia do autor. 2018 62 | Fig. 076 | chegada à Praia do Caixão | fotografia do autor. 2018 62 | Fig. 077 | vista sob a Vila dos Angolares da Roça São João dos Angolares | fotografia in TripAdvisor - Pousada Roça São João dos Angolares 64 | Fig. 078 | Praia dos Angolares | fotografia de ‘desconhecido’. in “São Tomé: Angolares, Praia Jalé e Praia Piscina” [blog vizualizado em Outubro 2018] 64 | Fig. 079 | Praia dos Angolares | fotografia de ‘desconhecido’. in “São Tomé: Angolares, Praia Jalé e Praia Piscina” [blog vizualizado em Outubro 2018] 64 | Fig. 080 | “Praia São João dos Angolares” | fotografia de STANLEY, David in ‘MapCarta’ [visualizado em Outubro 2018] 64 | Fig. 081 | “Wharf at Praia São João dos Angolares” | fotografia de STANLEY, David in ‘MapCarta’ [visualizado em Outubro 2018] 64 | Fig. 082 | excerto de “Carta de São Tomé - levantamento aerofotogramétrico” | desenho de Missão Hidrográfica de Angola e S. Tomé in Lisboa, Ministério do Ultramar, Junta de Investigações do Ultramar. 1962 64 | Fig. 083 | imagem aérea da Vila de São João dos Angolares | imagem do Google Maps. XVII


2018 [vizualizado em Outubro de 2018] 66 | Fig. 084 | esquema ilustrativo de “Repensar S. Joaquim” | desenho do autor. 2018 68 | Fig. 085 | planeamento estratégico sob a Baía das Agulhas | desenhos do autor. 2018 68 | Fig. 086 | proposta da Praia do Caixão | desenho do autor. 2018 68 | Fig. 087 | proposta da Roça S. Joaquim | desenho do autor. 2018 72 | Fig. 088 | Roça S. Joaquim | fotografia cedida por João Venâncio. 2018 72 | Fig. 089 | Praia do Caixão | fotografia cedida por João Venâncio. 2018 74 | Fig. 090 | estrada de acesso à Roça S. Joaquim | fotografia do autor. 2018 78 | Fig. 091 | estrada de saída da cidade Santo António do Príncipe | fotografia do autor.

XVIII


Índice de abreviaturas

AHU | Arquivo Histórico Ultramarino PI | Parte Um PII | Parte Dois RNP | Reserva Natural do Príncipe STP | República Democrática de São Tomé e Príncipe SAC | Sociedade d’Agricultura Colonial XIX


005 | Alpendre nas sanzalas grandes da Roรงa S. Joaquim XX


Glossário

Casa Principal / da Administração | substantivo feminino; habitação do administrador residente da roça; construção de maior destaque arquitetónico, seguindo uma matriz de estilo colonial.

Companhia Agrícola | substantivo feminino; conjunto de roças abaixo da mesma chefia, normalmente com uma a duas roças sede e diversas dependências tendo em conta a escala da produção.

Contratado / Serviçal | substantivo masculino; denominação dos trabalhadores das roças após a abolição da escravatura em 1875. Escravo | substantivo masculino; pessoa privada da liberdade, submetido à vontade de alguém, a quem pertence como propriedade.

Obô | substantivo masculino; floresta densa, floresta equatorial. Designação de selva em São Tomé e Príncipe

Roça | substantivo feminino; estrutura agrícola implementada em São Tomé e Príncipe que visava a exploração do cacau, café e de novas culturas agrícolas; também associado a célula modular de expansão e penetração no território.

Roças satélite / dependências | substantivo feminino; roças de menor dimensão, com funções de aumentar a área de influência da sede, implantação de novos produtos ou rápido escoamento das plantações.

Roça sede | substantivo feminino; roça de maior dimensão, com infraestrutura que a tornam praticamente sustentável das capitais das ilhas, e por vezes das suas dependências.

Sanzala | substantivo feminino; edifício de abrigo dos escravos e posteriormente habitação dos serviçais nas roças. XXI


As ilhas são lugares de solidão e nunca isso é tão nítido como quando partem os que apenas vieram de passagem e ficam no cais, a despedir-se, os que vão permanecer. Na hora da despedida, é quase sempre mais triste ficar do que partir e, numa ilha, isso marca uma diferença fundamental, como se houvesse duas espécies de seres humanos: os que vivem na ilha e os que chegam e partem. XXII

TAVARES (2003). pg. 313


Introdução Esquecidas. Adormecidas no tempo, as ilhas de São Tomé e Príncipe carregam consigo memórias de um passado perdido, apenas presente por entre muros e pilares caídos na vasta selva que consome todo o terreno. Na sua génese, a roça é uma representação direta de poder e opressão, representada na sua arquitetura. Foi através destes sistemas agrários que se desenvolveu e organizou tanto a economia são-tomense como uma estrutura social desde o contratado ao proprietário. Do que outrora foram conjuntos urbanos, organizadores da demografia e do território são-tomenses, apenas restam histórias e lembranças; não obstante, a estrutura agrária que representou modernização e industrialização demonstra um potencial arquitetónico que serve de mote ao desenvolvimento de um povo desfavorecido. Torna-se assim prioritário o repensar da identidade roceira no desenvolvimento de projetos de arquitetura que equacionem relações sociais e territoriais. Compreendendo que o desenvolvimento económico da Ilha do Príncipe se apoia nos terrenos englobados nas reservas naturais, a roça em estudo demonstra um importante potencial como nódulo gerador de um equilíbrio entre meio urbano e natural devido à sua proeminente posição na fronteira do parque protegido. Assim, o presente projeto aborda a temática da expansão e desenvolvimento da Roça S. Joaquim, recuperando uma relação com o mar e a reserva natural que a envolve, entendendo que um momento perdido na história da roça surge como a solução para a sua reestruturação e reabilitação. Exemplar raro na história do mercado cacaueiro, a atividade de S. Joaquim é repartida com a Praia do Caixão, sendo assim este pequeno território à beira do oceano o fundamento para o futuro desenvolvimento da comunidade no Oeste da ilha.

Intrinsecamente ligadas ao espaço público, historicamente relacionadas com o desenho urbano colonial, as cidades são-tomenses recebem o oceano Atlântico que as rodeia. Desde as águas paradas às mais agitadas, estas montam o cenário agrícola, piscatório e turístico que representa o país, em conjunto com exemplos únicos de fauna e flora tropical. Promovendo um desenvolvimento económico-social, os Obôs de ambas as ilhas, inseridos numa corrente conservacionista, encontram um equilíbrio entre as principais atividades económicas e a conservação da natureza. Demarcada como ponto de entrada na Reserva Natural do Príncipe (RNP), a Baía das Agulhas unifica as relações entre mar, roça e território; esta interliga-se com o centro da ilha através da Roça S. Joaquim, hoje uma das comunidades mais pobres, com difíceis XXIII


006 | Interior da casa principal da Roรงa S. Joaquim XXIV


acessos rodoviários e incapacidade de englobar infraestruturas na comunidade. Em conjunto com as praias da baía, a roça do Oeste tem uma grande importância geográfica; torna-se prioritário entender qual a abordagem a tomar para a infraestruturação da antiga zona portuária, visando o seu melhoramento urbano e social. Compreendendo a incontornável distância, poderá esta longínqua roça assumir um carácter independente da ilha a que pertence; ou seja, pode a roça na atualidade, com os serviços e atividades que dispõe, responder às necessidades dos residentes tanto social como economicamente?

Habitar a roça é tão antigo quanto a sua existência enquanto bairro operário; com o decorrer do tempo, desde colónia a república, São Tomé e Príncipe (STP) desenvolve modos de habitar únicos, focados no viver em comunidade, na atividade agrícola e na preservação da biosfera. Dentro deste contexto, coloca-se a questão de como pode o desenho urbano e arquitetónico de uma roça ser influenciado pela cultura populacional, não sendo alheio aos seus residentes ou invasivo ao património natural do território. Entendendo que historicamente no habitar e cultura são-tomense prevalece a mistura de uma hierarquia social e a direta relação com a natureza, devem ser encontradas estratégias para que a vivência principense possa, e deva, ser regradeira da expansão da roça. As diversas visitas ao território, acrescendo a entrevistas à população local, formulam uma interpretação do viver tropical, onde a relação entre comunitário e particular ganha destaque; não obstante, a relação entre infraestrutura e habitação está intrinsecamente ligada a este tema. Tendo isto em conta, o projeto questiona qual a importância da infraestrutura do habitar em prol do espaço da casa ser uma representação direta da identidade individual. A identidade roceira, o turismo num país tropical e as diversas atividades de subsistência coexistem não só na Roça como no espaço da habitação; as variações no habitar dos antigos conjuntos agrários tornam-se num fator deveras importante no desenvolvimento deste projeto de habitação acessível. Assim, Completar S. Joaquim estrutura-se em duas partes onde primeiramente se compreende a realidade do território e o seu contexto arquitetónico e social, sendo o segundo momento uma abordagem às problemáticas encontradas na zona. Na primeira parte (PI), é realizado um reconhecimento e interpretação do local de intervenção através de visitas ao território, tendo em conta os três mais importantes temas que advêm à prática deste projeto: a demografia são-tomense, a ligação marítima e a atividade roceira. Historicamente presentes no país, XXV


007 | caminho existente na Praia do CaixĂŁo XXVI


morfologicamente embutidos na identidade local, os temas abordados participam numa relação abstrata entre sujeito e vivência. Com isto pretende-se interpretar a génese do povo são-tomense, inevitavelmente influenciadora do projeto de arquitetura, que deve compreender as proeminentes relações a serem feitas entre território, espaço e utilizador. Já na segunda parte (PII), a proposta projetual subdivide-se em cinco fases urbano-estratégicas, priorizando o desenvolvimento social e marítimo da esquecida roça no Príncipe, focadas no habitar, completar e preservar a subsistência local. Compreendendo as teorias de Heidegger, Ábalos, Leupen e Doshi, a interpretação do habitar são-tomense apresenta uma influência direta no desenho urbano da roça em Habitar S. Joaquim. Entendendo que a vivência local assenta nos pilares formadores da cultura são-tomense, o projeto foca-se na implantação de serviços estruturantes do traçado urbano e do habitar. Numa fase posterior, Estruturar a Praia do Caixão desenvolve-se em torno da reserva natural da Baía das Agulhas, contemplando a implantação de edifícios representativos da identidade da zona. Apoiado nas teorias de Lamas e Poëte, o desenho linear da nova vila na praia unifica uma zona costeira interligada com caminhos e trilhos no Obô, criando novas relações e demais ligações necessárias. O plano, composto por uma série de momentos projetuais, deve tornar evidente a melhoria das condições habitacionais das comunidades, tendo em conta a preservação e manutenção da reserva natural. Conectar a Baía das Agulhas compreende isso mesmo, reforçando o turismo já existente do parque natural, através da infraestruturação e interligação de percursos pelo terreno. Por fim, Repensar S. Joaquim compreende a importância e possibilidade de ligações por mar a todo o país e por terra a outras roças, prevendo um futuro mais próximo da capital da Ilha do Príncipe, apenas após terem sido garantidas condições mínimas ao habitar de S. Joaquim.

Desta forma, o plano pretende unificar e glorificar uma baía incompleta em STP. Desde a escala do habitante à escala regional, o projeto aborda a temática da génese habitacional; interpretando o bairro como elemento urbano, gerador de cidade, terminando na infraestrutura da casa como representante de uma identidade local ansiando algo melhor. XXVII



PI

008


009 | “Carte de la Coste Occidentale d’Afrique”. 1746


1 | Território Esquecido

Falar de S. Tomé e Príncipe é seguramente falar do sector primário, especialmente dos ciclos da cana do açúcar, do café, onde se sedimentam estruturas urbanorurais denominadas Roças, constituindo o território um excelente laboratório de MORAIS (2015). pg. 39

planeamento urbanístico e arquitectura, que teve como palco as cidades. 01


A história deste povoamento é sempre a história de uma mestiçagem. Mestiçagem óbvia entre pretos e brancos, mas também mestiçagem entre plantações, estilos arquitectónicos, culturas de diferentes partes do globo, desde a europeia à africana ou sul-americana 02

ANDRADE (2008). pg. 15


a demografia Descobertas há cerca de 550 anos, as ilhas no Golfo da Guiné representam uma nova fase nos descobrimentos portugueses além-mar. Amarradas a uma história faseada por medidas de colonização, São Tomé e Príncipe são marcadas pelo tráfico negreiro e agricultura. Economicamente florescendo a importância da colónia, socialmente segregando os brancos dos negros, a escravatura toma um papel crucial na criação do “povo são-tomense” e na origem da sua identidade cultural. Num desenvolvimento e processo de colonização não inovador para a Coroa portuguesa, a estruturação agrária com base no engenho de açúcar, comporta-se como uma célula que desbrava a densa selva da colónia. À semelhança do que fora feito na Madeira, os terrenos das ilhas foram disseminados com plantações açucareiras, apoiadas por pequenos engenhos, de forma a instituir um ciclo de produção. Por volta de 1480, aquando da descoberta de novos territórios no interior da grande ilha, o interesse de Portugal em São Tomé aumenta, o que, juntamente com os benefícios oferecidos a quem fosse residir nas longínquas ilhas, dá o mote a um lento processo de colonização.I.01

colonização

O clima tropical demonstrava-se como uma das maiores barreiras durante a colonização destas paisagens virgens. Associadas à escassez de alimentos conhecidos aos europeus, os altos níveis de humidadeI.02 e as assustadoras doenças, STP toma uma imagem “demoníaca e infernal”.I.03 O primeiro grupo de população na “ilha do inferno” era maioritariamente composto por prisioneiros condenados à pena de morte em Portugal. De número muito escasso, fazem parte

I.01. ROQUE; SEIBERT; MARQUES

destes primeiros povos homens aos quais foram oferecidos altos cargos e cidadãos portugueses

(2012). pg. 15-16

que de livre vontade atravessam os mares. No entanto, o clima e as doenças tomam o melhor

I.02. ANDRADE (2008). pg. 9

destas gentes e em muito pouco tempo o povoamento regressa aos objetivos originais.

I.03. ROQUE; SEIBERT; MARQUES (2012). pg. 18 I.04. ROQUE; SEIBERT; MARQUES (2012). pg. 18 - mito criado por D. João II

A não ser os portugueses, nenhum outro povo se instala (ou aproxima) das ilhas, como descrito em 1506 nos manuscritos de Valentim Fernandes, o que leva a Coroa a mitificar a imagem

com o intuito de popularizar as pequenas

da colónia como um destino idílico, com abundânciaI.04 de alimento e mercado proveniente das

ilhas atlânticas

pequenas (e poucas) fazendas de açúcar da época. O mítico potencial do território atinge a

I.05. ROQUE; SEIBERT; MARQUES

Europa central anos mais tarde, impulsionando maioritariamente castelhanos, franceses e

(2012). pg. 19 - com o objectivo de serem afastadas “das más influências

genoveses a participarem no comércio de escravos e açúcar. [fig. 010 e 011] Nesta mesma altura,

dos seus progenitores e convertidas ao

ocorre a introdução das primeiras mulheres de origem portuguesa nas ilhas, de crianças judias,

cristianismo”

expulsas de Espanha e exiladas em Portugal

I.05

e da população escrava africana. Esta última, 03


010 | “Urbs S. Thomae”. 1645 desenho de autor holandês aquando da chegada a S. Tomé

011 | “Ataque à Ilha de Ano Bom”. 1602 - desenho de autor holandês aquando da chegada a S. Tomé 04


oriunda da costa Ocidental do continente, revela-se como o maior grupo de povoamento da ilha e o que mais fez florescer a economia da colónia. Atribuídos aos pares aos colonos brancos, o objetivo desta maioria da população era o trabalho agrícola nos engenhos de açúcar; produção esta em crescimento que abre caminho para o tráfico de escravos em mercados, com uma presença notória no território.

‘filhos da terra’

Durante o reinado de D. João II, nas décadas finais do século XV, surgem na pirâmide social das ilhas os alforriados, um grupo populacional oriundo da mistura entre brancos e negros. Por ordem do rei, de forma a desvanecer a segregação e aumentar a população do território, os colonos brancos são obrigados a adquirir pelo menos uma escrava negra;I.06 esta nova geração mulata e as suas mães negras são libertadas da escravatura, em conjunto com os primeiros escravos masculinos da fase inicial de colonização. Denominados “os filhos da terra” este pequeno grupo de mestiços, livres, com os mesmos direitos que os europeus, formam o que se acredita ser a primeira população são-tomense. Desta forma passou a existir em STP um sistema económico baseado na monocultura da cana do açúcar e no tráfico de escravos, com uma pirâmide social dividida em três grupos: 1) os europeus brancos, em minoria, albergando vários cargos de administração civil e judicial, encarregues também da gerência do setor económico e da igreja; 2) os alforriados, agora livres e herdeiros de terrenos e fazendas dos seus progenitores, começam a ganhar mais poder económico e social; 3) na base da pirâmide, em grande maioria, a população escrava, forçosamente trabalhadora na produção de açúcar, fomentando a economia local através de pequenos comércios. A vasta quantidade de escravos promove o teste e aperfeiçoamento da relação entre produção e escravatura em STP que, em conjunto com as técnicas desenvolvidas, tornam a fazenda do açúcar “o embrião do que mais tarde se transformaria nas roças do café e do cacau”.I.07 O aumento da produção açucareira no Brasil diminui a popularidade do pequeno território atlântico, contudo este manteve-se como um dos maiores fornecedores de mão de obra negra a todo o Império. Isto faz com que a população da colónia se volte para a agricultura para o aprovisionamento dos navios e o tráfico negreiro. Com uma área de influência desde a Costa do

I.06. ANDRADE (2008). pg. 10-11

Ouro até Angola, São Tomé e Príncipe torna-se numa paragem obrigatória dos navios de transporte

I.07. idem. pg. 10

de escravos entre os mercados da costa africana e o continente americano. [fig. 012] Este contacto 05


012 | “Quilombo dos Palmares”. sd - desenho representativo de comunidades escravas no Brasil

013 | “Insula S. Thomae”. 1639 06


direto, sem passagem pelo continente europeu, oferece à colónia alguma independência da Coroa mas também desinteresse; os séculos XVII e XVIII marcam uma época de pousio na colónia que, excetuando a sua integração na rota do tráfego negreiro, pouco oferecia à soberania portuguesa. Mais tarde, o início do século XIX seria marcado pelo fim do tráfico transatlântico, originando uma nova recolonização e, claro, grandes mudanças sociais em todo o arquipélago.

costume / mestiçidade

Apesar de os séculos seguintes representarem um novo florescer na economia da ainda colónia, este período torna-se crucial na interpretação da cultura são-tomense. Ainda presente nos dias de hoje, mais diretamente relacionada com o período roceiro, a mistura de povos que começa por ocorrer durante os séculos XV e XVI deve ser evidenciada como a origem e criação dos variados e diferentes costumes da atual população. A mestiçidade é sem dúvida marcante da população, não só na sua nacionalidade mas também na sua cultura; cabo-verdianos, angolanos, ebúrneos e gabonensesI.08 encontram-se e coabitam o território antes deserto. Inseridos numa estrutura económica hierarquizada, as pequenas povoações possuem uma organização social praticamente independente de órgãos de maior poder, no entanto não desvinculada da sua posição de escravo. O desinteresse pelas ilhas por parte do Império leva os residentes dos engenhos açucareiros a estabelecer uma rede de comércios e agriculturas de subsistência, com base nos

I.08. população proveniente de CaboVerde, Angola, Costa do Marfim e Gabão respectivamente I.09. ANDRADE; PAPE (2013). pg. 18

alimentos do próprio território.I.09 Diretamente comparável com os dias de hoje, STP sobrevive maioritariamente dos seus bens naturais, dos pequenos comércios criados pela população e de ajudas internacionais. 07


Quando esta ilha de São Tomé foi descoberta, era toda ela um bosque densíssimo, com árvores viçosas e tão grandes que parecia tocarem no céu; eram de diversas castas, porém estéreis e os seus ramos diferentes do que o são entre nós, onde parte se estendem horizontalmente e parte sobem direitos; aqui porém, sobem todos direitos para cima. 08

ALBUQUERQUE (1989). pg. 21


o mar No meio do Oceano Atlântico, desabitadas até à sua descoberta, São Tomé e Príncipe inserem-se no percurso dos navegadores portugueses como dois mantos verdes sobre um vasto oceano azul. Nas longas viagens de João Santarém e Pêro Escobar pelo desconhecido africano, estes encontram-se com as ilhas de São Tomé, Príncipe, Ano Bom e Fernando Pó nos finais de 1470 e princípios de 1471.I.10 Seguindo exemplos da colonização portuguesa além-mar,I.11 as ilhas no golfo africano revelam potencial de se tornarem num ponto estratégico de apoio e paragem aos navios que desbravavam oceanos rumo à Índia.I.12 Com o decorrer do tempo, este desejo torna-se inviável devido às rotas oceânicas navegarem muito mais a Ocidente, todavia STP assume um papel económico importante no império português como ponto de escala e venda de escravos.I.13 O crescimento do mercado negreiro no território marcado pela monocultura do açúcar impulsiona a abertura de uma rota marítima direta até às Antilhas e Brasil em 1525. Já nos finais do mesmo século, a Ilha de São Tomé, que tinha como donatário Álvaro Caminha, transfere uma pequena povoação para a baía de Ana Chaves, onde hoje se localiza a capital da agora república que, apesar de ser uma zona pantanosa, mostra-se mais favorável aos percursos das caravelas vindas do Sul.I.14 O terreno envolvente nesta zona da ilha era mais propício às plantações e agriculturas que na época representavam grande peso na economia da colónia; contudo, a pesca e comércio de madeira compõem as maiores exportações de bens naturais. Assim, a cidade portuária sãotomense influenciada pelo urbanismo lusófono, marca a era colonial portuguesa. Implantadas em baías proeminentes ao trânsito dos navios de mercadoria, estas levam o próprio desenho urbano a voltar-se para o mar - mecanismo de origem natural que em muito fomenta a economia e subsistência dos territórios além-mar portugueses. [figura 014]

companhia negreira

Quando João de Melo se assume como novo donatário da colónia, este é “sentenciado a degredo perpétuo”I.15 na ainda desabitada Ilha do Príncipe, devido a conflitos relativos à troca de

I.10. ROQUE; SEIBERT; MARQUES

mercados abertos pelo seu predecessor. O pouco que se sabe acerca do verdejante território nas

(2012). pg. 14-15

águas a norte, é reflexo do interesse que este tinha a nível do Império. A sua posição geográfica

I.11. Madeira, Açores e Cabo Verde

e orografia em muito dificultavam a sua povoação e em pouco ajudavam as rotas oceânicas e

I.12. ROQUE; SEIBERT; MARQUES

produtivas da época. É a partir da pequena ilha, concedida temporariamente à nobre família Melo,

(2012). pg.15 I.13. NASCIMENTO (2008). pg. 22-23

que os desacatos com outros países africanos foram controlados através da introdução do comércio

I.14. idem. pg. 18

negreiro por companhia. Com o intuito de controlar os mares africanos no trânsito marítimo de

I.15. NASCIMENTO (2010). pg. 26-27

navios negreiros, as companhias fomentavam o tráfico do golfo. A criação da Companhia de Cabo

09


014 | “Cidade de S. Thomé, 1-5000”. 1889

10

015 | excertos do “Levantamento Aerofotogramétrico” de ‘roças-porto’. 1962


Verde e Cachéu fez com que o comércio negreiro ganhasse alguma presença no século XVII e XVIII na pequena mancha verde do atlântico, influenciando até a Lisboa pombalina.I.16 O ataque de navios franceses à colónia torna a sua existência curta, tendo nessa mesma altura sido criada a Companhia de Corisco e da Costa da Guiné,I.17 também encurtada devido a ataques por parte de navios holandeses. Apesar da sua curta existência, as companhias de comércio negreiro podem ser equiparadas com as futuras sociedades de cacau, demonstrando a importância histórica que a troca via mar tinha na subsistência do território. É apenas em 1753 que a governação da Ilha do Príncipe é “devolvida” à Coroa e retirada da alçada da família Melo. Nesse mesmo ano, a vila de Santo António do Príncipe é elevada a cidade e a capital da colónia, com o propósito de fazer residir governantes em ambas as ilhas do arquipélago. A agora cidade, que no século XX seria considerada a mais pequena do mundo, não passava de alguns casórios em madeira que rodeavam pontuais bispados.I.18 No entanto, a pequena baía que promete crescimento, demonstra-se capaz de funcionar como centro administrativo do território, controlando de certa forma o trânsito marítimo das ilhas. O desenvolvimento de cidades portuárias no império português já tinha sido testado em exemplos como o Funchal, Angra do Heroísmo e São Tomé, tendo esta expansão acontecido também em Santo António. A construção e estabelecimento de ligações marítimas, que representavam a maior fonte de rendimento das ilhas, tornava-se no seu gerador de crescimento; no caso de São Tomé, a construção do porto de atracagem triplicou o número de fogos, passando de duzentos para setecentos.I.19 Em conjunto, no século XVIII as ilhas atracavam trinta navios por ano, com exportações baseadas no comércio

roça-porto

particular de água, madeira, gado miúdo, farinha de mandioca, palma e banana. Aquando da implantação do mercado cacaueiro nas ilhas as capitais ganham importância, porém o conceito de cidade portuária é ainda mais explorado no contexto das roças. [figura 015] Diferenciadas em três tipologias,I.20 diversas estruturas agrárias ganham alguma

I.16. NASCIMENTO (2008). pg. 19

independência entre elas, proveniente do crescimento económico da colónia. Com isto consegue-

I.17. NESCIMENTO (2010). pg. 28-29

-se destacar a “roça-porto” como quarta tipologia do conjunto urbano que fomentou grande parte

I.18. idem. pg. 28 I.19. ROQUE; SEIBERT; MARQUES (2012). pg. 52

da história; virando-se para o mar e estabelecendo uma relação direta com este, o pontão como denominador comum influencia o traçado urbano destas estruturas costeiras que incorporam

I.20. roça-terreiro; roça-avenida; roça-

elementos de desenho colonial e das “roças-terreiro”, fazendo com que se destaquem das

cidade in ANDRADE (2008). pg.20

comunidades mais próximas devido à sua exclusiva função. 11


(...) Além da cidade e de algumas vilas nativas do nordeste, a base do povoamento para toda a ilha é a roça, que congrega nas suas instalações numerosos trabalhadores rurais negros e o pequeno número de europeus que exercem cargos de mando ou de administração. A casa da administração, a sanzala dos trabalhadores, os armazéns, os fermentadores e secadores, o hospital privativo em algumas delas, e demais instalações, tornavam as roças autênticas povoações. (...) 12

TENREIRO, Francisco (2012). A roça de São Tomé e Príncipe: Desígnio e Projecto


a roça Praticamente em abandono nos finais do século XVIII, inícios de XIX, as ilhas no Atlântico estão maioritariamente habitadas pelos “filhos da terra” que cultivam e utilizam mão de obra escrava de forma pouco sistemática e desorganizada.I.21 A mudança da produção do açúcar para o Brasil, a independência desta colónia e a abolição da escravatura foram fatores que reforçam a decadência de STP, economicamente dependente destas produções. Traficantes de escravos e capitães de navios orientavam-se assim para a agricultura, mais concretamente a produção de café e cacau, introduzida nas ilhas em 1822 por João Baptista da Silva e José Ferreira Gomes.I.22 Anos mais tarde, em 1853, na propriedade de Simaló na Ilha do Príncipe, João Maria de Sousa Almeida, futuro barão de Agua-Izé, surge como “distintíssimo agricultor”I.23 e primeiro produtor de cacau; o comerciante e viajante, traz do Brasil o que chama a “árvore dos pobres” (cacau), café, tabaco, óleo de palma e ainda a popular fruta-pão.I.24 Com o intuito de alcançar elevadas produções, João Almeida produz cacau em terrenos abandonados da ilha grande, criando e publicando o Boletim Official de S. Tomé e Príncipe - documento explicativo acerca da plantação, colheita e conservação do produto. Distinguido como ‘Barão de Agua-Izé’ pelo Rei D. Luís em 1868, o homem natural do Príncipe conhecido como o benfeitor das ilhas, oferece à colónia a construção de estradas e iluminação pública de forma a apoiar o próspero crescimento da produção de cacau.

roça

No seguimento desta estruturação do mercado cacaueiro, surge o complexo agrário da roça, que reunia e suportava o comércio e fluxo de café e cacau, produto agora denominado como a “árvore dos grandes”, pois diversos proprietários brancos compraram ou retiraram por fraude as terras dos proprietários nativos.I.25 Desbravando o denso mato e floresta até aos pontos mais altos dos terrenos, a roça reclama o território das ilhas e só então são estas descobertas na sua íntegra. Estima-se que, nesta corrida às terras e à cultura do cacau, cerca de 70% do território da colónia

I.21. ANDRADE (2008). pg. 13 I.22. idem. pg. 13 I.23. BRANGANÇA (2009), citando NEGREIROS, Almada (1895), História Ethnográfica da ilha de S.thomé

fosse dedicado a esta nova produção; ainda que este mercado fosse vantajoso para as ilhas, a escravatura volta a ter um papel muito importante no comércio local.I.26 Uma estrutura praticamente autossuficiente, a roça caracteriza-se com uma organização

I.24. BRAGANÇA (2009)

tipológica de edificado onde a função sobrepuja a forma, tornando a arquitetura do local num

I.25. idem

ciclo em constante rotação. Este conceito organiza-se através de diversas companhias agrícolas,

I.26. ANDRADE (2008). pg.13 I.27. BRANGANÇA (2009), citando MANTERO, Francisco, Inquérito sobre a mão-de-obra em S. Tomé e Príncipe

chefiadas por “apóstolos iniciadores da cruzada do moderno progresso e desenvolvimento económico e civilizador das ilhas de São Tomé e Príncipe”.I.27 Dentro desta organização, a roça sede marca-se como o principal motor que se torna praticamente independente dos órgãos do 13


016 | Roça S. João - dependência da Roça Lembá. s.d.

017 | Roça St. Cecília - Casa Principal e secadores. 1911

018 | Roça Boa Entrada. 1911 14


roça sede / roça dependência

Estado; roças de menor dimensão, denominadas de “roças-satélite” contudo mais conhecidas como roças dependência, surgem por necessidade de expansão dos terrenos agrícolas e promoção de novas produções como a pecuária, o óleo de palma e a copra.I.28 A roça, dentro de todas as suas composições internas e influências externas, provoca

estrutura roceira

um movimento que toma posse dos terrenos. As estruturas desenvolvem um sistema próprio de ligações e trocas através de caminhos férreos e marítimos, assumindo um papel estruturante no território quer do ponto de vista físico quer social. Ao analisar a estrutura roceira, é inevitável não admirar a consequente identidade que esta ganha através do seu próprio desenho urbano e organização formal e informal que, mesmo em ruínas, ainda se pressente como organizadora do território. O traçado da roça era delineado em função do existente e definidor território, incluindo rede viária e ferroviária, sempre com a iniciativa de melhoramento da exportação, que unia as diversas povoações e em alguns casos à capital da ilha. Consegue-se mesmo entender na Carta do Príncipe/levantamento aerofotogramétrico/1962 um traçado entre Santo António do Príncipe e as mais longínquas roças, que apenas comprovam as estruturas agrárias como territórios insulares, dotados de infraestruturas, habitação e equipamentos.I.29 Todavia, a riqueza destes complexos ultrapassa o seu papel de agente estruturante do território são-tomense. A própria estrutura interna torna-se importante pela sua inserção na paisagem e nos íngremes terrenos, pelo seu programa e as numerosas populações que nela habitam.I.30 Utilizando como referência a organização dos engenhos de açúcar da ilha, o conjunto da roça herda a divisão programática caracterizada por edifícios habitacionais, agroindustriais e assistenciais.I.31 Com base em fatores como a expansão da produção agrícola, a necessidade de autossuficiência e a alteração de estatuto de escravo a contratado, o programa base da roça sofre alterações com o decorrer dos anos. A adaptação e introdução de novas técnicas e práticas agrícolas implicam uma adaptabilidade do programa existente, tanto a nível urbano como arquitetónico; começam então a ser englobados edifícios de manutenção, transformação e apoio alimentar, garantindo assim às companhias agrícolas

I.28. PAPE; ANDRADE (2011) I.29. FERNANDES (2005). pg.37

que eram providenciadas aos trabalhadores necessidades de habitação, saúde, educação, alimentação e vestuário.I.32

I.30. ANDRADE; PAPE (2013). pg.37 I.31. idem. pg. 37-38

A posição geográfica da colónia, rodeada pelas águas oceânicas, leva à unificação das

I.32. idem. pg. 37-38

roças de forma a atingir um nível elevado de subsistência. Desta forma, cada roça desempenha 15


019 | Terreiro da Roça Paciência

020 | Roça Porto Alegre 16


identidade roceira

um papel específico e essencial numa rede industrial que toma posse de todo o território e população; apoiando o seu contexto industrial, a rede permite que a estrutura da roça se expanda, cresça e obtenha uma representação urbanística baseada na produção, circulação e habitação. A organização dos conjuntos surgia como uma necessidade de hierarquizar os espaços construídos dos vazios urbanos, ainda que interligados e permitindo a fixação de residentes; deste modo, diferenciam-se as roças em três tipologias: a roça-terreiro, a roça-avenida e a roça-cidade.I.33 No terreiro demonstravam-se as várias facetas programáticas da roça, marcando sem exceção a sua rotina produtiva e social, pois neste espaço central e orientador encontravamse contratados com encarregados ou edifícios de produção com habitação. A sua facilidade de implantação em diferentes topografias e a circunscrição de todo o perímetro por edifícios tornam este modelo de roça no mais comum, sendo as restantes tipologias variações desta. Na roçaavenida o papel organizador desempenhado pelo terreiro é estendido para eixos estruturantes ao longo da roça, marcando uma ordem de crescimento e intenção de novas relações. Surgindo posteriormente, esta organização urbana destaca o conhecimento e o controlo adquirido sobre a construção e implantação do complexo.I.34 Enquanto que no caso da roça-terreiro e roça-avenida existe um claro elemento estruturante da organização, na roça-cidade é a própria malha urbana a estrutura de toda a implantação.I.35 Expandida por necessidade ao longo dos anos, as roças cidade formavam enormes complexos, providenciando a mais vasta gama de equipamentos de assistência, saúde, educação e religião, tornando-se praticamente independentes, até mesmo das suas dependências. A estrutura interna de uma roça baseava-se assim na relação entre o edificado e o tecido urbano. Tanto nas dependências como nas sedes, o terreiro e a avenida são definidores da estrutura urbana, agindo como elementos norteadores da inserção do complexo no denso Obô, por razões práticas de produção agrícola.

[figura 016 - 017]

A roça assume-se, além de estrutura

agrária, como máquina de produção altamente pensada, organizada e eficiente; desde o pequeno I.33. ANDRADE (2008). pg.20

serviçal até ao administrador, os espaços e funções eram bem definidos e baseados tanto em

I.34. ANDRADE; PAPE (2013). pg.44

conceitos de ordem como de hierarquia social, reforçados por uma conexão entre organização

I.35. idem. pg. 50

urbana e hierarquia arquitetónica. 17


021 | “Carta da Ilha do Príncipe com a divisão das principais explorações agrícolas”. 1909 18


2 | Território Adormecido

Esta ilha tem, da banda do levante, uma ilhota chamada o Príncipe, à distância de cento e vinte milhas, a qual presentemente é habitada e cultivada. O tributo que se tira do açucare é do filho mais velho do nosso rei, e por isso se chama ALBUQUERQUE (1989). pg. 21

Príncipe. 19


A roça é uma colmeia activa e disciplinada. Respira-se asseio e trabalho. Cruzam-se no espaço os risos da molecada - negritos e mestiços nus, perseguindo-se em correrias desordenadas, estremecendo os ventres hipertrofiados. Uma locomotiva surge a matraquear do mato e desliza lentamente sobre a linha “décauville”, soltando silvos prolongados que assustam e fazem debandar as pombas, e atravessa o terreiro arrastando penosamente as vagonetas transbordantes de dendém de cacau. 20

REIS (1960). pg. 39


Mantero Francisco Mantero y Velarde,I.36 descendente de famílias italianas no entanto residente em Lisboa, é convidado pelo seu tio, Francisco d’Assis Belard, ilustre figura no mercado roceiro,

Sociedade d’Agricultura Colonial

a trabalhar na administração da Roça Santa Margarida na Ilha de São Tomé. Mantero torna-se, na década de 1870, num dos proprietários mais notórios da província do cacau, pela expansão dos seus negócios a diversas roças na ilha grande; conhecido como um dos mais importantes roceiros da história, este chega mesmo a comprar a Roça Água-Izé (maior roça da província) e a criar a Roça Esperança e Infante D. Henrique na Ilha do Príncipe, território fortemente explorado pelos “homens de elite local”. Instituindo nas ilhas uma estrutura empresarial, o comerciante cria a Companhia da Ilha do Príncipe e a Sociedade d’Agricultura Colonial (SAC) a 12 de dezembro de 1898,I.37 empresas estas, dominantes na produção do cacau e assentamento deste mercado na ilha pequena.

companhia roceira

A produção e mercados de troca e venda organizados por companhias não era estranho à colónia; no século XVII e XVIII, como anteriormente mencionado, a criação de companhias em conjunto com outras nações africanas, afetas à fomentação do tráfico negreiro, apresenta-se como uma tentativa de implementação deste método. Contrariamente aos séculos anteriores, nos séculos XIX e XX as companhias roceiras tomam um papel dominante na expansão e implementação da produção agrícola do cacau nas ilhas. O interesse internacional por este mercado faz com que comerciantes, muitos deles estrangeiros, se instalem no território através destas “companhias comerciais agrícolas”.I.38 Um conjunto de roças, abaixo da mesma chefia, as companhias agrícolas desenvolviam a produção agrária, de forma a atingir os objetivos económicos impostos pelos seus vários acionistas; dentro deste contexto, cada roça assume uma identidade específica, em prol da produção, seja ela de caráter industrial ou local. A gerência das propriedades por companhia altera a organização social nas ilhas, pois em grande parte os diretores não se encontravam no território, assumindo assim a administração e supervisão do trabalho dos serviçais os encarregados

I.36. proprietário da Quinta do Lilases

europeus que habitavam nas roças. Com o fim da escravatura em 1875 são impostos salários

no Lumiar e a parte rústica da Quinta

mínimos e a libertação dos trabalhadores, levando muitos a abandonar a roça com aversão a ela.I.39

das Conchas

Esta mudança da hierarquia social de escravo para contratado tem grande influência no desenho

I.37. in “Diário do Governo – anno 1898, numero 282” – AHU

arquitetónico das roças. De maneira a pagar salários baixos e manter o número de trabalhadores

I.38. PAPE; ANDRADE (2011)

alto, habitar, trabalhar e socializar todos se encontram no mesmo espaço, em condições mínimas,

I.39. ANDRADE (2008). pg.13

em edificados comuns (armazéns, oficinas, fábricas e secadores de cacau) que circundam um 21


022 | Plantas hydrográphicas da Ilhas do Príncipe e seus dois principais portos. 1845

023 | Roça S. José 024 | Roça Montealegre

025 | Roça Porto Real 026 | Roça S. Joaquim 22


amplo pano de terra. No topo, dominando o terreiro e demarcando uma posição de poder social, a casa principal (do proprietário) em estilo colonial assume um carácter arquitetónico de exceção, tal como os hospitais e as casas dos encarregados brancos. Aquando da implantação do mercado cacaueiro por companhias comerciais, a abordagem à divisão do território também em muito se alterou. Numa fase em que o desenvolvimento da produção de cacau aumenta exponencialmente, cresce também a necessidade de maiores áreas de cultivo. A expansão no território era feita através das dependências, com o objetivo de implementar novas produções e promover a exportação e escoamento do produto sem recorrer à capital da ilha. O desenvolvimento das roças marca-se no território através da infraestruturação destas mesmas, tomada a cabo pela construção de caminhos de ferro de transporte agrícola. Criando uma rede dinâmica e sistematizada,I.40 os vastos quilómetros de carris uniam as diferentes roças, num traçado sinuoso até à capital da ilha ou ao porto marítimo da companhia, influenciando tanto a

Baía das Agulhas

sua produção como o desenvolvimento do pequeno território. A SAC dirigida por Mantero, destacase desta forma como a companhia na Ilha do Príncipe com maior presença no território insular. Com a sua sede na Roça Esperança, mais tarde Roça Porto Real, esta orientava-se a Poente até encontrar o mar azul. Passando por diversas dependências,I.41 [figura 023 - 026] a linha férrea da sociedade terminava na Baía das Agulhas, composta pelos terrenos antigamente denominados Lapa do Oeste, Óque Praia Caixão, Bahia d’Oeste e Roça Prainha. Considerada uma das áreas mais nobres do Príncipe, localizada numa zona do Obô agora inserida na RNP, a baía de acesso limitado olha sobre o pôr do sol e recorda uma entrada marítima perdida na memória. Evidenciado na Planta hidrográfica da Ilha do Príncipe de 1845, [figura 022] o porto marítimo da Praia do Caixão era uma das entradas principais da ilha, realçando a importância do Oeste marítimo. O que outrora foram vastos aglomerados populacionais e industriais, revelam-se nos dias de hoje como longínquas comunidades, afastadas dos centros urbanos e de si mesmas; a decadência e consequente inexistência de infraestrutura de ligação divide o que antes fora

I.40. BRAGANÇA (2009) I.41. Roça S. Mateus, Roça S. José, Roça Montealegre, Roça S. Trindade, Roça S. Joaquim, Roça Anselmo Andrade e Roça Maria Correia

uma só máquina habitacional e agrícola. Compreende-se assim que a interligação das diversas comunidades é prioritária dentro do parâmetro social atual, utilizando como mecanismo a memória marítima que a zona da baía possuía e a importância que a zona portuária representava em todo o Centro-Oeste da Ilha do Príncipe. 23


Nestas condições a Sociedade transforma-se em Sociedade anonyma conservando a mesma denominação e ampliando-se com a aquisição da Roça S. Joaquim, toda plantada de cacau, ainda mais de metade improdutivo por falta de edade, com um rendimento imediato de mais de 30 contos anuais, e com todas as construções e aparelhos necessários a sua exploração. 24

Secretaria d’Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, 2ª Repartição AHU


S. Joaquim Já para lá do Pico, passando as frágeis pontes de madeira que atravessam as ribeiras, segue a pequena locomotiva a vapor; atravessando o Ôbo, percorrendo os caminhos cor terracota, assenta no meio das palmeiras uma superfície plana, onde cerca de 150 pessoas se movimentam para cima e para baixo até ao mar. Com vista para todos os picos vulcânicos da ilha, a Roça S. Joaquim encontra-se numa das mais nobres localizações do Príncipe, assumindo-se como o ponto final a Poente de uma vasta extensão de terrenos pertencentes à SAC. Fora talvez a proeminente ligação com pequenas povoações costeiras e o mar que levou Francisco Mantero a adquirir a roça que viria a tornar-se numa das mais importantes da sua empresa.

estrutura da roça S. Joaquim

Datada de 1899 I.42 e preservada no Arquivo Histórico Ultramarino, a ata da companhia roceira descreve as construções em estrutura de madeira, forradas a folha de coco e zinco, a fim de alojar serviçais e trabalhadores europeus. Já na atualidade a roça é desenvolvida em volta de um único terreiro, sobre o qual todas as interseções resolvem encontros sociais e produtivos. Marcada pelos seus edifícios de estrutura de cimento e pedra, embelezados pelos modernos “cobogós”, o crescimento da roça estendeu-se desde pequena máquina produtora a “roça portuária” de presença notória na sociedade. A identidade deste conjunto urbano evoca mais do que produção agrícola. A ligação com a praia e a distribuição de mercadoria via mar oferece a S. Joaquim uma ligação marítima essencial para a viabilidade da produção. Do controlo sob o carregamento de navios à entrada de pessoal trabalhador, era nesta pequena roça deslocada de todo o Príncipe que as entradas e saídas eram realizadas. A ferrovia que em tempos aqui passava repartia-se em dois braços; o primeiro, permanecendo à cota da roça, terminava num pequeno barracão de oficina e inversão de marcha da máquina a vapor; já o segundo seguia caminho até à Praia do Caixão onde os produtos eram extraídos da ilha por meio de um pontão e percursos marítimos que dali partiam. Apenas presente na memória dos mais antigos residentes, os vestígios do caminho estruturante funciona hoje como rodovia, que não consegue existir aquando das condições do clima tropical do território. Após a independência de São Tomé e Príncipe (STP), as roças foram adquiridas na sua totalidade pela recente república. Sem condições de sustentar um mercado cacaueiro de grande presença internacional, juntando com diversas revoltas por parte dos trabalhadores, a produção deixou de existir e baseia-se na agricultura de subsistência. Os vastos terrenos, em

I.42. ano de construção da Roça S. Joaquim

tempos exaustivamente explorados para a produção agrícola e com escassas prospetivas para o futuro, nos finais do século XX foram repartidos pelos residentes. Não obstante, esses mesmos 25


027 | casa principal da Roรงa S. Joaquim

028 | vista do interior da casa principal da Roรงa S. Joaquim 029 | entrada na Roรงa S. Joaquim

030 | sanzala da Roรงa S. Joaquim 26


terrenos encontram as águas do mar Atlântico, relembrando relações adormecidas com potencial de serem restabelecidas e restruturadas de forma a corrigir uma demografia perdida. A escassez de infraestrutura de serviços básicos de vivência e a longa distância até à capital tornam S. Joaquim numa das comunidades mais empobrecidas da ilha. Visando a melhoria desta povoação isolada no Obô, é crucial pensar na sua identidade; para isso, o projeto apresentado pretende Completar S. Joaquim, recorrendo à atividade económica existente e homenageando a relação dos terrenos da Roça no planalto com o mar. O planeamento apresentado em cinco fases independentes divide conceitos de diferentes importâncias no entanto focadas em objetivos comuns. Primeiramente, o plano pretende realçar a relação dos terrenos com a baía ao invés de com a capital; apenas após o fornecimento de condições mínimas de habitar à população residente deve o plano focar-se na criação de ligações e relações com o restante país, tanto por terra como por mar. Posto isto, pretende-se que a primeira fase se foque na Roça S. Joaquim e consequentemente na sua subsistência, assumindo o seu isolamento para com a restante ilha, tendo em conta o habitar e a comunidade. Amarradas à cultura são-tomense, a pesca de venda local e regional e a preservação da biosfera encontram na Praia do Caixão a posição mais proeminente à existência de trocas e relações. Sendo no primeiro momento prioritário pensar em habitar nas suas variadas valências, as duas fases seguintes focam-se na fomentação da atividade profissional de todos os residentes, tanto da roça como dos terrenos da Baía das Agulhas. O desenvolvimento rodoviário e a sua infraestruturação está na atualidade a ser realizado no Norte da ilha, após o reforço da identidade das comunidades desta zona e dos serviços aí albergados. Com isto, quer-se dizer que o valor económico regional e natural de S. Joaquim, em conjunto com o da Baía, após demonstrado, por si só viabiliza a continuação do plano e a execução das fases seguintes que englobam variantes exteriores ao domínio da arquitetura. 27



P II

031


Como arquitecto, fascina-me a diversidade de aspectos na adaptação ao meio: arquitecturas modernas, oitocentistas, transportas da Europa, organização pragmática de um espaço-pátio colectivo, de produção e vida, no quadro da densa mini-floresta equatorial, articulação das infra-estruturas com a exportação dos produtos - com resultados estéticos por vezes notáveis na paisagem edificada resultante.

FERNANDES, José Manuel in ANDRADE (2008). pg.96


CAPELA BAÍA DAS AGULHAS

Praia Caixão 0 hab Praia da Lapa 50 hab Maria Correia 50 hab

Roça S. Mateus Roça S. Trindade Roça S. José Pinqueté Roça Montealegre Roça S. Joaquim Roça Porto Real

0 hab 0 hab 50 hab 100 hab 119 hab 175 hab + 100 hab 311 hab 855 hab

Santo António

1333 hab

ROÇA S. JOAQUIM PRAIA DO CAIXÃO

ESCOLA BÁSICA

LOTA

LOTA

JARDIM PÚBLICO

PORTO MARÍTIMO

CENTRO PERSERVAÇÃO BIOSFERA

CENTRO PERSERVAÇÃO BIOSFERA

POSTO MÉDICO CENTRO COMUNITÁRIO

PRAIA DA LAPA

MERCADO

VARIANTES

PROBLEMÁTICAS

FASE 1 | HABITAR S. JOAQUIM

FASE 2 | LOTA NA PRAIA DO CAIXÃO

FASE 3 | BIOSFERA NA BAÍA DAS AGUHAS

difíceis acessos / longe da cidade

POSIÇÃO GEOGRÁFICA

Leste da Ilha do Príncipe proximidade com praias Baía das Agulhas

ligação histórica com a Praia do Caixão ligação económica com a Lapa

melhoria do acesso entre a roça e a praia

fortalecer ligação com o Sul da baía

LIGAÇÃO MARÍTIMA

Praia do Caixão Praia da Lapa

pequena vila piscatória pontos de venda nas Roças S. Joaquim e Porto Real histórica produção agrícola na roça cacau | coco | banana | pimenta

INTERPOLAÇÃO DE USOS

agricultura pesca habitação

recente produção piscatória na Lapa pontos de troca e venda longínquos más condições do edificado acesso a serviços mínimos de vivência

FASE 5 | FUTURO DE S. JOAQUIM

proeminente ligação existente entre roça e praia permitir circulação de veículos agricolas facilitar acesso de ligeiros à praia

estrada de ligação à cidade é melhorada produção de S. Joaquim expande para novas roças da antiga Sociedade d’Agricultura S. Joaquim volta-se para o interior da ilha

motos | motocarrinha

baía das praias do Leste da ilha zona protegida do Príncipe antiga ligação económica abandonada lagoa (ponto de lazer de S. Joaquim) entrada da reserva natural

FASE 4 | CENTRO DE PERSERVAÇÃO DA BIOSFERA

tratores

Centro de Perservação da Biosfera da Baía das Agulhas

PLANO URBANO-ESTRATÉGICO

centro da reserva natural da baía edíficio rua terreiro

manter identidade do lugar visando a sua melhoria entender usos | cultura | desejos incorporar serviços em falta

remodelação do edificado existente introdução de novas habitações desenvolvimento de serviços mínimos de apoio à habitação

cultura sãotomense

vigilância e observação de tartarugas protecção de praias da baía trilhos pelo obô

Atingidas as condições mínimas de reestruturação e melhoramento

Praia Caixão Prainha | Praia rei Maria Correia | Lapa

começo/fim possivel ligação c/ aloj. local

melhorar condições de lazer na praia implementar na praia do caixão um ponto de venda de peixe de forma a combater distância actual

ligação pedonal desde a Prainha à Praia Rei equipamento de lazer sobre a água tornar a Praia do Caixão no novo ponto de troca e venda de peixe do Leste da ilha

desenho | desenvolvimento urbano agrícola produção para consumo local

edifício de armazenamento na roça espaços de apoio e emergência nos campos produção local cacau | palma | coco banana | pimenta

expansão do centro da biosfera a porto marítimo

recuperação do pontão em ruínas fomentação da economia piscatória leva à criação de um porto porto marítimo destinado ao transporte de mercadorias

ligações económicas regionais

Baía das Agulhas ganha importância comercial na zona centro da ilha proeminentes ligações marítimas (passageiros) desde a praia importante ponto turístico da ilha (baía)

aumento populacional em S. Joaquim

desenho urbano inicial expande de forma a albergar mais habitações multiplicação de serviços deve ser pensada


032 32


1 | Habitar S. Joaquim

A casa é o lugar do autêntico, é o refúgio que protege do exterior, da inclemência do tempo e dos agentes naturais, mas também do mundano e do superficial, dessa ÁBALOS (2012). pg. 51

exterioridade sempre concebida como nociva. 33


033 | ‘From Dasein to Homo Economicus’ - desenho de Mattias Tjalve

034 | planta da cabana de Heidegger. 2006

035 | Martin Heidegger Ă entrada da cabana 036 | cabana de Heidegger 34


casa

O habitante, e consequentemente o ser, demarca-se como objeto primário e essencial na conceção da casa, intrinsecamente vinculado a tudo aquilo que lhe é familiar. Neste sujeito existencial, o passado, presente e futuro encontram-se, com uma certa angústia, na compreensão da casa como marco neutro na representação do familiar.II.01 Habitar não é simples, não é imaterial. A Carta sobre o humanismo de 1947 II.02 reafirma que “a essência do homem é a sua existência”,

identidade

recorrendo à metáfora da casa como o lugar do Ser, apoderando este o seu próprio sistema filosófico.II.03 Nesta lógica de pensamento, a casa demonstra-se como um marco arquitetónico neutro, como a cabana do sujeito alheio à sua existência temporal, ambiente construído do habitar e representação direta do familiar e a sua materialização, incorporando o íntimo e a alienação do público; é onde o homem habita.II.04 Referindo a cabana de Heidegger, a casa é o lugar do “autêntico”,

habitar II.01. ÁBALOS (2012). pg.44-45 II.02. HEIDEGGER, Martin (1947). Carta sobre o Humanismo in ÁBALOS (2012). pg.44 II.03. CARVALHO (2016). pg. 15 II.04. ÁBALOS (2012). pg.52 II.05. idem. pg.44-45 II.06. CARVALHO (2016). pg. 14-15 II.07. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013, https://www. priberam.pt/dlpo/habitar [consultado em 23-05-2018]. II.08. CARVALHO (2016). pg. 13-14 II.09. NORBERG-SCHULZ, Christian (1979). Genius Loci. Paesaggio Ambiente Architettura in CARVALHO (2016). pg. 13-14

[figura 034 - 036]

onde a penetração das manifestações da exterioridade supõe uma

dilaceração e um obscurecimento da sua autenticidade, concluindo que apenas interpretando o íntimo como refúgio do homem se consegue entender na sua plenitude a casa como construção do habitar.II.05 Na sua génese, a casa invoca como princípio elementar a separação entre exterior e interior, assumindo uma identidade dual que permite o público penetrar o íntimo sem que este perca a possibilidade de se demarcar. Esta demarcação provém da atribuição de um significado ao interior, um mundo íntimo que relaciona a vivência do sujeito com a sua identidade,II.06 proveniente da repetida utilização e aculturação do espaço, criando hábitos e costumes. Habito-are [habitare], do latim, habitar significa ter a sua residência em; prover de população ou residentes; estar presente em.II.07 Assumindo uma concetualização maior que a sua definição linguística, habitar como conceito é a representação de refúgio e a procura de abrigo.II.08 Enquanto que o espaço interior é delimitado pela construção que é a casa, autonomizando-se do espaço exterior, é o ato de habitar que atribui significado e identidade a ambos, assumindo-se como lugar, no verdadeiro sentido da palavra, capaz de organizar cidade. “A tarefa do arquitecto é criar um lugar significativo para ajudar o homem a habitar”.II.09 Entendendo a roça em STP não como uma máquina agrícola mas sim como uma comunidade habitacional, no sentido em que a sua identidade portuária se perdeu mas os residentes mantiveram-se, o projeto arquitetónico deve compreender o habitar desta região, no seu contexto local e regional. Com isto, o programa proposto tem em conta as carências existentes da população residente, os usos atuais, os costumes tropicais e os percursos realizados. Consequente ao 35


037 | detalhe de alçado na roça S. Joaquim 038 | garagem na roça S. Joaquim 039 | entrada de habitação na roça S. Joaquim

040 | “Sketch showing staircases and terraces as living spaces”. 1989 - desenho de B.V. Doshi

041 | “Growth on a Larger Scale”. 1989 - desenho de B.V. Doshi 042 | “Growth on a Larger Scale”. 1989 - desenho de B.V. Doshi 36


sequência urbana

ambiente tropical, a composição da casa são-tomense cria uma sucessão de espaços que compõe a divisão entre interior e exterior, não comprometendo a intimidade do habitante. É evidente nas habitações informais no terrenoII.10 a procura de uma sequência entre quintal-alpendre-interiorjardim, à qual a arquitetura original não responde pois não foi concetualizada para tal; não obstante, consegue-se destacar diversas habitações através de ornamentos rudimentares, no entanto arrojados, como meio de busca de uma identidade própria na habitação.

[figura 037 - 039]

Opondo-se às relações sequenciais entre doméstico e território estudadas na arquitetura pósguerra pelos edifícios de habitação baseados na “célula habitacional”,II.11 o projeto em S. Joaquim pretende que o desenho da casa organize o espaço público, prevalecendo a identidade do habitante como regrador desta sequência urbana. Ou seja, assumindo que o habitar são-tomense gera uma imensidão de interações urbanas impossíveis de planear, o desenho das habitações tem de permitir a adaptação e polivalência do espaço, não comprometendo o desenho da comunidade. Neste contexto, a criação de um ambiente de comunidade que inclua a interpolação de diversos ambientes familiares, demarca-se no projeto desenvolvido através do desenho

case study: Aranya Housing

arquitetónico. Enquanto que à escala do bairro o sentido de comunidade deve ser preservado e realçado, este tem de encontrar um equilíbrio com a representação da casa são-tomense. Posto isto, a viabilidade de um projeto de habitação de caráter acessível apenas é garantida quando é encontrada uma harmonia entre o utilizador, a habitação e a comunidade existente. O plano de habitações acessíveis de 1989 Aranya Housing, desenvolvido por Balkrishna Doshi, [anexo III] tinha como principais objetivos a reestruturação de bairros de habitação informal, desenvolvendo o loteamento e a infraestruturação destes mesmos. Muito presente na cultura indiana, o sentido de comunidade destaca-se pelas atividades sociais do dia a dia, tendo uma representação forte na organização e ordem arquitetónica do bairro.II.12 Deste modo, o projeto desenvolveu-se em

II.10. habitações informais: construções

torno de uma “espinha dorsal” rodoviária, norteadora de pequenas comunidades que visavam

normalmente em madeira, que sem

a mistura entre diferentes níveis de rendimento. Divididas em rodoviárias e locais, as ruas do

planeamento e por meio de métodos

plano foram hierarquicamente organizadas de forma a interligar diferentes tipologias de largo,

construtivos rudimentares se apropriam

distribuindo serviços e comércio em resposta ao viver indiano. A monotonia da rua rodoviária

do espaço e terreno

retilínea é quebrada pelas vias locais de acesso às habitações, dando origem a vazios urbanos

II.11. CARVALHO (2012). pg. 15-16

informais ladeados por edifícios de baixa altura; estes formam uma rede interligada de espaços

II.12. ANDEL; GAMERAN; PUTT(2015)

públicos com identidades diferentes devido à polivalência de pequenos comércios locais. Esta 37


043 | “Various stages of Growth”. 1989 - desenho de B.V. Doshi 38


organização viária, através da segregação do trânsito pedestre e local, confina o espaço reservado à circulação automóvel, promovendo os usos de lazer, estar e habitar. [figura 041 - 042] Baseadas num módulo de águas infraestrutural comum a todas as tipologias, o planeamento da habitação tinha em conta as possibilidades económicas de diferentes famílias indianas; assim, o conceito adotado passava pela configuração da casa com base em elementos arquitetónicos usuais na cultura em contexto, providenciando a possibilidade de evolução e expansão com o decorrer do tempo. [figura 043] A casa é tomada como um processo e não como um produto. A habitação de carácter evolutivo, pressupunha a participação do próprio utilizador com base em elementos desenhados pelo arquiteto. Em grupos de dez, as habitações eram unidas pelos sistemas de saneamento e água de forma a garantir a infraestruturação de cada casa. Mais do que um projeto participativo onde a responsabilidade de projetar cai sobre o arquiteto e o utilizador, Aranya Housing assume-se como um projeto que entende as tradições indianas, prevalecendo o desenho urbano que assenta nas condições socioeconómicas do contexto em que se insere.II.13 O planeamento do projeto tinha em conta a interligação das diferentes variantes que compõem o habitar, desde a escala do espaço público à escala da habitação, passando pela infraestruturação de toda a comunidade e prevendo a sua expansão, não comprometendo a perda da sua identidade.

desenho habitacional [anexo VI - P07]

Equiparando o bairro social indiano à Roça S. Joaquim, as problemáticas são bastante semelhantes, podendo fazer corresponder também algumas soluções. O caso de estudo mostra a importância da infraestruturação da casa a nível individual e não comunitário, assumindo que estes espaços não são representativos da identidade do utilizador mas sim necessários ao habitar. O projeto para a Roça propõe que o desenho das habitações parta de um módulo infraestrutural composto por higiene e confeção, acoplando-se a este seis espaços que permitem a apropriação e polivalência mencionada anteriormente. É através destas alcovas que a transição entre social e privado ocorre, sendo a sua apropriação dinamizadora da rua pública. Tal como Doshi faz em Aranya Housing, a casa parte da sua infraestrutura base e daí associam-se espaços habitacionais com diferentes usos e graus de privacidade, por opção do utilizador que assim os define. O espaço de abrigo como origem da conceção da casa está intrinsecamente ligado com

II.13. ANDEL; GAMERAN; PUTT(2015)

as suas dimensões e a adaptabilidade que o interior deve ou não assumir. Desenhar a habitação 39


apropriações espaciais

apropriações construtivas

a.

b.

c. 40

044 | Apropiação espacial e construtiva do espaço de alcova esc 1/200


envolve definir quais os espaços que devem acolher as diferentes atividades do habitar; claro que tais ações têm grandes variações entre culturas e até dentro do mesmo bairro. Assim, o projeto da casa imperativamente define a qualidade da habitação através das suas dimensões, relações e ligações feitas entre espaços, tal como a destes com a ventilação, a luz solar, e as vistas.II.14 As novas habitações propostas para S. Joaquim formam-se com base num espaço de 4m de diagonal,II.15 as alcovas, diferenciando-se dos mínimos regulamentares pois estes não englobam fatores como o conforto e a adaptabilidade. De acordo com a realidade são-tomense e tendo em conta que a casa como construção é a transição entre o público e o privado, a habitação é composta por seis alcovas, agrupados a dois módulos de dimensões idênticas afetos à infraestrutura necessária ao habitar. Sem comprometer o funcionamento do projeto no seu todo, as alcovas interiores devem ter a capacidade espacial e construtiva de se adaptarem ao habitante, permitindo que o espaço se possa assumir desde quarto a loja, passando por salas, ginásios, escritórios e demais variações. [figura 044] No caso da Roça S. Joaquim, tendo a vivência do bairro uma grande II.14. LEUPEN; MOOIJ (2011). pg. 71 II.15. idem. pg. 68 II.16. RAMALHETE; AMADO; FARIAS (2014). pg. 2 II.17. LEUPEN; MOOIJ (2011). pg. 21-22. tradução livre de “We live in a dwelling, but not just there. We also live in a street, in a village or in a city, in the woods, in the countryside, in the mountains or by the sea; in a province, a country, on a continent and on earth; in a suburb or a city centre, near the ring road, next to a shopping centre and close to friends.” II.18. edificado singular: componente

importância, esta permeabilidade espacial passa também pelos espaços exteriores afetos à casa; ou seja, seguindo as mesmas dimensões, as traseiras das habitações são acompanhadas por dois espaços adaptáveis a espaço de refeição, garagem ou horta, expandindo o espaço interior da casa para a rua. A criação de um modelo de habitação acessível que responda a problemáticas de uma forma global é inexequível; contudo o projeto apresentado, entendendo o seu enquadramento habitacional, toma como principal mote o contexto social, económico e ambiental do território. II.16

Se durante a revolução industrial percebemos que a arquitetura cria uma clara divisão entre

a habitação e o trabalho, a roça como “vila operária” fazia precisamente o oposto; o coletivo e individual apesar de acontecerem em situações diferentes, encontram-se por entre os edifícios da estrutura agrária. Com isto, quer-se dizer que apesar da habitação como construção separar o interior do exterior, habitar como ação ocorre em ambos os pontos e cria a sua separação. “Nós vivemos numa habitação, mas não só. Também vivemos numa rua, numa vila, numa cidade, na floresta, no campo, nas montanhas ou perto do mar; numa província, num país, num continente e num planeta; num subúrbio ou num centro urbano, perto de uma circular, ao pé de um centro comercial e perto de amigos.” II.17

privada da cidade (...) de expressão colectiva e de maior representação in COELHO (2013). pg. 32

Proveniente de um alinhamento existente, o eixo principal do plano urbano que aglomera grande parte das habitações propostas, cria a ligação entre quatro edifícios de carácter singular,II.18 41


a.

b.

c.

045 | Hierarquia Urbana - esc 1/3000

d. 42

e.

a. edificado existente b. edificado proposto c. estrutura urbana d. espaรงos verdes / infraestrutura e. faseamento construtivo


desenho urbano [anexo VI - P02]

posicionados em relação aos terreiros estruturantes. [figura 045 c.] A praça surge pela necessidade de abertura do traçado urbano, rompendo uma rede geometrizada, de forma a criar espaços amplos de usos variados mas de ligação e troca de direções. O terreiro, como “o mais importante elemento morfológico do espaço público”II.19 marca a vivência das roças devido à polivalência e multiplicidade de atividades que aqui eram realizadas; com isto, o plano urbano vai encontrar um equilíbrio entre valores históricos e a recuperação do espaço.II.20 Mercado, Centro comunitário, Escola e Capela seguem o alinhamento do traçado urbano retilíneo existente, representando os pilares da cultura social são-tomense, assegurando assim a constante circulação em todo o plano. Demarcada por espaços verdes, a via principal é intersetada perpendicularmente por uma rua comercial que une dois usos complementares ao habitar: as hortas comunitárias e o campo de futebol. Este traçado urbano pode ser equiparado aos planeamentos de acampamentos militares do Império Romano que tinham como base o Cardo (rua direcionada às atividades principais, de orientação NorteSul) e o Decúmano (rua secundária e complementar à circulação, de orientação Este-Oeste). Ao contrário dos desenhos urbanos romanos tradicionais onde o fórum se posiciona na interseção dos dois eixos, o projeto moderniza este conceito, assumindo o terreiro como regrador do traçado e não como sua consequência. A geração destes serviços públicos acontece após a construção das novas habitações, sendo que uma ordem diferente das fases propostas não inviabiliza a sua

equipamentos estruturantes

implantação, pois eles acontecem ou por via de novo edificado ou por reabilitação de ruínas no terreno. [figura 045 e.] Propõe-se que o Mercado surja numa segunda fase de implantação, ocupando as ruínas da Antiga Fábrica de Aguardente [anexo II - D11] em conjunto com o campo de futebol e as hortas comunitárias. Completamente aberto a Norte e Sul, olhando sobre os picos vulcânicos e toda a roça, propõe-se que este ponto de trocas e vendas seja de caráter temporário, promovendo assim a subsistência dos residentes e da produção local. [anexo VI - P06] As hortas comunitárias, já existentes, serão formalizadas e acompanhadas por edifícios de apoio e arrumos, enquanto que o campo de futebol será deslocado da sua posição original, recuperando o caráter estruturante

II.19. COELHO (2013). pg. 84

do terreiro central, criando uma melhor relação com os balneários e o quiosque. Já numa fase

II.20. idem. pg.84

seguinte, o Centro Comunitário apodera-se das ruínas da Casa Principal

II.21. entrevistas aos residentes

invertendo a sua representação de edifício privado e de poder para centro social e comunitário

relatam a existência de um escada em

de toda a Roça. O projeto pretende que o espaço interior permaneça vazio como se encontra

caracól de madeira, “muito bonita, das

atualmente, recuperando a imagem da “monumental escada em caracol” ainda presa na memória

mais bonitas da ilha.”

dos residentes.II.21 Apoiado por espaços de higiene e confeção num anexo da casa principal, esta

[anexo II - D02 - D05],

43


a.

b.

c.

d.

046 | Ambiências de Intervenção

e. 44

f.

a. Habitação b. Habitação c. Capela d. Centro Comunitário e. Escola Básica f. Mercado


zona polivalente volta a presenciar, na sua posição original, a escada entre os dois pisos pintada a rosa-claro;II.22 enquanto que o piso inferior é rebocado e pintado de branco, o superior mantém a pedra à vista, de forma a recuperar a memória e a dramatizá-la pela luz. [anexo VI - P05] Tendo já parte da população sido relocalizada para as novas habitações, a adaptação de uma antiga sanzala pequena a posto médico torna-se viável ocorrer nesta fase de implantação. [anexo II - D09] Numa última fase, assumindo que o edificado existente tenha sido reabilitado e convertido a habitação formal na fase anterior, prevê-se que o edifício da Antiga Escola Primária [anexo II - D07] retorne às suas originais funções como escola básica, complementando a pré-escola localizada na reta de acesso à Roça. Este equipamento educativo é intersetado pelo principal eixo urbano do plano, sendo composto por três salas de aulas, zonas administrativas e um refeitório que poderá ter uma vertente mais pública. A cobertura invertida que cobre todo o complexo, pretende que parte da rua pública seja coberta de maneira a garantir proteção das condições tropicais do território aos utentes da escola. [anexo II - P04] Já do lado oposto da via principal, de encontro com o terreiro Norte, a Capela demarca-se como a única construção nova do plano, excetuando as habitações. [anexo VI - P03] Inspirada pela Chapel on the Water (1988) de Tadao Ando e as capelas em Brasília de Oscar Niemeyer,II.23 a estrutura de betão permite que o seu interior olhe sobre a floresta que lhe serve de cenário e que receba estratégicas faixas de luz de Nascente e Poente. Em conjunto com uma bacia de água sobre qual pousa, o edifício adjacente ao terreiro marca o final do plano de intervenção. Este cénico momento de água vem encontrar e influenciar uma estação de tratamentos residuais que aqui se localiza, de maneira a garantir a infraestruturação de toda a Roça.

infraestrutura

Apesar do acesso a água canalizada acontecer numa única fonte num local mais desafogado do terreiro central, esta garantia é escassa comparativamente à quantidade de

II.22. processo construtivo realizado na

população que aqui habita. Posto isto, torna-se vital que S. Joaquim desenvolva um sistema

ilha: mistura de pigmentos naturais com

de águas e saneamento independente, compreendendo que a pequena fonte não consegue

tinta branca.

fornecer as habitações do local. Tendo em conta o contexto tropical no qual estamos inseridos,

II.23. ‘Capela do Palácio da Alvorada’

a recolha das águas pluviais e o seu tratamento para futuro uso surge como uma solução de

(1957) e ‘Capela de Nossa Senhora de

infraestruturação de toda a Roça, e futuramente da Praia do Caixão. Acompanhando o relevo do

Fátima’ (1958)

terreno, apoiadas por um depósito de água a Sul e uma estação de tratamento de águas a Norte, 45


047 | Polivalência do espaço de alcova

048 | Rua Principal do plano proposto

049 | Detalhe de valetas de saneamento no plano urbano proposto 46


as valetas pré-fabricadas garantem a recolha das águas sujas e a distribuição das águas limpas a todos os edifícios do plano. [figura 045 d.] Cobertas por uma camada de gravilha, este elemento de betão permite a passagem e recolha da chuva para esta ser levada ao ponto de tratamento, sendo devolvida às habitações por bombeamento, acumulando o excesso no depósito a Sul. A recolha das águas residuais dos diferentes edifícios é também feita por meio destes elementos, podendo eles unirem-se e formar um sistema em rede que interliga diferentes comunidades do Oeste do Príncipe. O posicionamento destes elementos urbanos horizontais define áreas de circulação pedonal, rodoviária e mista, trabalhando em conjunto com soluções construtivas no edificado. Tal como Diébédo Kéré faz nos seus projetos em África, a cobertura invertida encontra um equilíbrio entre recolha de água e ventilação natural, que são necessidades comuns no contexto tropical. A solução aplicada aos projetos da Roça desenvolve um sistema independente de águas que fornece sanitários e lavatórios com depósitos independentes dos do bairro, precavendo a estação de Gravana,II.24 mantendo no entanto um foco na fonte existente como ponto único de água própria para consumo. Apesar de habitar, como ação, ser um dos maiores e mais complexos desafios que a arquitetura pode enfrentar, o projeto defende que esta não se deve privar a nenhum dos habitantes de S. Joaquim. Posto isto, o edificado comumII.25 proposto garante habitação a todos os residentes, II.24. Gravana: estação seca em São

incorporando nela espaços de higiene e confeção que atualmente ocorrem em momentos

Tomé e Príncipe; período entre Junho e

improvisados e desordenados na roça. Como mencionado anteriormente, a cultura deste pequeno

Agosto onde as temperaturas descem e

país passa pela união do social com o privado, sendo a separação entre estas ações relativamente

não chove.

ténue; assumindo a confeção como uma atividade social e a higiene evidentemente privada,

II.25. edificado comum: componente

estas devem ser englobadas no desenho da habitação. Sequencialmente organizados desde o

privada da cidade (...) definidor da

mais social ao mais privado, a rua, o quintal, o alpendre e a alcova geram uma hierarquia de

maioria do tecido edificado, seriado e

espaços habitacionais ao longo do traçado urbano. Não obstante, a implantação de equipamentos

eminentemente particular in COELHO

estruturantes garante a viabilidade do plano habitacional que honra a história do local através dum

(2013). pg. 32

traçado urbano com base nos terreiros que os acompanham. 47


050 48


2 | Estruturar a Praia do CaixĂŁo

A ilha de S. ThomĂŠ seria uma outra Java onde as comodidades, a sociedade e o CARVALHO (1875) in AHU

luxo convidariam a viver 49


051 | “Planta Iconográfica da cidade de Santo António na Ilha do Príncipe”. 1757

052 | “La baye de l’Isle de Prince”. 1646

053 | Antiga ponte sob a ribeira da Praia do Caixão 054 | Praia do Caixão 055 | Praia do Caixão 50


cidade colonial

As cidades de São Tomé e Santo António (capitais das Ilhas de São Tomé e Príncipe respetivamente) foram criadas numa lógica de implantação urbana tradicional ao urbanismo de matriz portuguesa. Estas cidades, com desenvolvimentos idênticos às das outras ilhas portuguesas além-mar, partem de três grande critérios: “a escolha do sítio, a evolução do crescimento urbano e as características da forma urbana de cada uma destas cidades”.II.26 No caso são-tomense, tanto em Santo António como em São Tomé, consegue-se perceber a existência dum eixo estruturante paralelo ao mar, a marginal, seguido de um segundo arruamento, a Rua Direita, paralela à primeira. Com um desenvolvimento de malha baseado no largo, arruamento e quarteirão retículo, a cidade de São Tomé era um misto entre construções de madeira “boa e forte” e edifícios em pedra, com um carácter de importância na cidade, como a fortaleza, as igrejas e a cadeia. Com uma malha bastante clara e reticulada, adaptando-se ao terreno em que se encontra, [figura 051] a modernização deste desenho passa por fundamentos futuramente defendidos por Marcel Poëte.

elementos primários de cidade

A aproximação de pequenas povoações em torno de diversas igrejas, conventos e catedrais implantadas nos arredores de São Tomé, fazem com que naturalmente o tecido urbano siga estes alinhamentos e se aproxime destes equipamentos estruturantes. Na criação de cidade existe

II.26. FERNANDES (2012). pg.39

uma decomposição do tecido que provém de elementos geradores da vivência do espaço. Nesta

II.27. “(...) conjunto de elementos

decomposição podemos observar que a cidade é criada pela articulação do edifício e do vazio,

determinados que funcionaram como

sendo a rua consequência de espaços vazios entre edifícios. Abordando o vazio como uma malha

núcleos de agregação. (...) visto que

gerada pelo terreiro e a rua, estes tornam-se nos elementos primáriosII.27 geradores de cidade,

participaram na evolução da cidade

provenientes da necessidade de existirem ligações entre espaços e usos variados. Poëte defende,

no tempo de modo permanente (...)” in

com a “lei da permanência”, que o crescimento da cidade realiza-se através do seu traçado inicial,

ROSSI (1966). pg.109

garantido por eixos de desenvolvimento.II.28 Considerando a cidade como um “ser vivo”, há uma

II.28. teoria da permanência: o traçado

necessidade de crescimento que segue a evolução económica de uma urbanização, guardando

urbano como elemento morfológico

e honrando a morfologia existente. Utilizando a pré-existência como geradora e expansora da

urbano pois o contexto sobrepuja

cidade, esta mais facilmente se adapta ao seu carácter social intrínseco e à industrialização/

o tempo e espaço, permanecendo

modernização.II.29 Sendo que a evolução da cidade cria novas necessidades, respondidas pela

inalterado; desenvolvida por Marcel

alteração e crescimento do tecido urbano, esta cresce incontrolavelmente. Malhas inalteradas

Poëte in Introduction à l’Urbanisme.

provêm maioritariamente de projetos de desenho urbano que são uma exceção no espetro que é

(1930)

a criação do urbano.II.30

II.29. idem II.30. COELHO (2013). pg. 18-19

Posto isto, a prevalência do desenho projetado provém da conceção deste; 51


a.

b.

c.

056 | Hierarquia Urbana - esc 1/3000

d. 52

e.

a. edificado existente b. edificado proposto c. estrutura urbana d. espaรงos verdes / infraestrutura e. faseamento construtivo


compreendendo um crescimento gradual das necessidades económicas e sociais de S. Joaquim e das comunidades no Sul da Baía, a Praia do Caixão é um elemento chave e estruturante na

desenho urbano [anexo VI - P08]

circulação e funcionamento desta zona. Desde a Prainha até à Praia Rei, atravessando a Praia Caixão, Praia da Lapa e Maria Correia, toda a Baía das Agulhas funciona como ponto de entrada na Reserva Natural do Príncipe (RNP). Em suma, a rua como elemento gerador de cidade, surge pela necessidade de ocorrerem novas ligações e relações; assim, o plano proposto na praia segue um alinhamento proveniente das pedras perdidas do antigo pontão da era colonial. Os quinhentos metros de areia escura são interrompidos apenas pelo arruamento único e estruturante, onde “as fachadas dos edifícios sucedem-se ao longo de um troço do caminho original, assim transformado em rua.” II.31 A pequena dimensão deste núcleo aumenta a sua centralidade, permitindo e prevendo nova vias paralelas e interseções destas, de caráter local.

[figura 050 c.]

O plano da praia prevê um crescimento com

o decorrer do tempo; numa primeira fase [figura 050 e.], a zona assume a sua identidade de ponto central entre as comunidades da baía através da implantação de uma lota e um ponto de lazer. Um pequeno café e restaurante, apoiado por um espaço de lazer para os residentes, assenta sobre as águas da pequena lagoa localizada nas costas da praia. Marcando o fim do único eixo estruturante, propõe-se aos residentes um espaço qualificado numa zona já utilizada pelos mesmos. Já mais perto das águas do mar e do caminho existente, a implantação de um mercado de peixe melhora as condições profissionais dos principenses dedicados à pesca como fomentação económica da zona. Uma cobertura de águas invertidas assenta sobre dois blocos infraestruturais permitindo que o espaço central seja totalmente aberto, de forma a que pontos de venda possam aqui ocorrer.

case study: Mercado Santa Maria da Feira

Apesar disso, a lota deve assumir-se não só como ponto de venda de produtos mas também como lugar de troca de ideias e de reunião,II.32 tal como Fernando Távora concretiza em 1959 no Mercado Municipal de Santa Maria da Feira. [anexo AIV] Funcionando como parte fundamental na vivência de todo o concelho, o Mercado da Feira une diversos corpos que circunscrevem um pátio central; com base num módulo de 1mx1m, os edifícios que agem como uma barreira para com a cidade e protegem um pátio interior promovem

II.31. COELHO (2013). pg.75

o convívio entre as diferentes produções e vendas. Os diversos pavilhões que acompanham a

II.32. TRIGUEIROS (1993). pg.53

morfologia do terreno e enquadram as diversas entradas, apesar de apoiados em conceitos da 53


057 | Corte do Mercado de Santa Maria da Feira. s.d.

058 | Planta Piso Térreo do Mercado de Santa Maria da Feira. s.d.

059 | Zona de venda do Mercado de Santa Maria da Feira

060 | Zona de venda do Mercado de Santa Maria da Feira

061 | Mercado Caputo - Simões de Carvalho (1965) 062 | Mercado Caputo - Simões de Carvalho (1965) 54


arquitetura pós-guerra moderna, rompem os princípios ortodoxos que estes representavam com o pátio central a ganhar o sentido de “lugar” capaz de receber o público e o castelo, propondo uma nova noção de espaço de acolhimento. Elevado da cota da rua, o complexo oferece à cidade um grande terraço sobre um muro de pedra de granito, com ligação a um dos blocos marcado pela “cobertura borboleta” em betão e o revestimento em azulejo azul e branco, característico do local. No espaço interior o uso da cor vem romper a austeridade que o betão à vista representa, contrastando os vermelhos, azuis e laranjas nas zonas de venda que, por serem abertas, recebem o verde envolvente do espaço. [figura 057 - 059] O mercado municipal, das primeiras obras do arquiteto, desenvolve-se com base numa estrutura modular, preenchível e adaptável a diferentes funções, influenciando diversos projetos no território africano. Tomando como exemplo o mercado de Quinaxixe, já não existente, e o mercado de Caputo em Luanda, [figura 061 - 062] consegue-se entender como é que abordagens similares respondem a problemáticas díspares. Ao invés de Távora, que aborda a questão do lugar e da arquitetura como “convite para que os homens se reunam”,II.33 Simões de Carvalho, no contexto moderno tropical de Caputo, depara-se com problemáticas como a confeção de produtos estranhos à sua realidade e a construção como controlador climático do espaço. A cobertura invertida ganha importância no contexto africano pela facilidade de recolha de águas pluviais e a sua futura utilização, potenciando também a ventilação natural. Tendo em conta o contexto modular destes diferentes mercados, a lota na Praia do Caixão assume-se como ponto central, gerador de encontros e trocas entre as diferentes populações da Baía das Agulhas.

[anexo VI - P09]

Para isso, o amplo espaço interior do edifício é pontualmente

interrompido por módulos que aglomeram a infraestrutura garantem o funcionamento do mercado, permitindo que o espaço sobrante fique livre para ocorrerem momentos de venda, socialização e circulação, agrupados por uma grande cobertura invertida, totalmente em madeira. Tendo em conta a arquitetura são-tomense ser bastante arrojada no seu uso de cor, o projeto da lota não lhe é indiferente tanto pelo seu envolvente como interior. Tal como Távora procura um contraste no interior do mercado, pretende-se que o pavimento em betão da lota seja pontuado por bolsas de azul e verde, representados por azulejos e jardins respetivamente, diferenciando diversos II.33. LAIÑO (2002). pg.64

espaços, que assumem variadas funções. 55


063 | Antiga ponte sobre a ribeira da Praia do Caixão. s.d.

064 | Associação Tartarugas Marinhas - Praia Grande 065 | Associação Tartarugas Marinhas - Praia Grande

066 | Pequena exposição em São Tomé sobre a vida marinha da ilha 067 | Modelo à escala real da ‘tartaruga ambulância’ 068 | Modelos de diversas espécies de tartaruga 56


biosfera da Baía das Agulhas

Passando a agir como ponto central de trocas e vendas entre as comunidades piscatórias existentes, a Praia do Caixão torna-se no ponto geográfico de união entre o mar e o Obô. A proeminente posição junto ao mar e no fim da rodovia que parte desde Santo António do Príncipe demarca-se como uma nova entrada na RNP. A unicidade do Obô em termos de flora e fauna, agregada ao desconhecimento que possuí devido à dificuldade de acesso, justificam uma segunda fase de implantação

[figura 050 e.]

composta por um equipamento de proteção de uma espécie

animal que já faz parte da cultura e do imaginário são-tomense: as tartarugas marinhas. Com uma maior presença no território entre outubro e abril, a desova das tartarugas fêmeas ocorre durante a noite, deixando apenas para trás o rasto das pegadas de regresso ao mar. Este idílico equilíbrio é corrompido pela captura em excesso das diferentes espécies que escolhem as praias do pequeno país; prática esta que continua com alguma abundância devido à falta de legislação sobre os caçadores.II.34 Novos programas de proteção das espécies e diversas ações de sensibilização e educação ambiental estão presentes no terreno são-tomense. Estes projetos, tomados a cabo maioritariamente por organizações não governamentais, têm dois grandes objetivos: a educação e formação acerca do problema e asseguramento de alternativas que garantam a subsistência e sobrevivência das espécies.II.35 Dos diversos problemas que afetam os guardas e investigadores das espécies marinhas, é evidente a falta de infraestrutura permanente, interligada com as praias afetas à proteção de tartarugas e do Obô da reserva natural. Na Praia Grande, no Norte da Ilha do Príncipe, localiza-se o único centro de prevenção à excessiva caça,II.36 sendo que a proteção da RNP e da espécie marinha nas praias do Sul cai sobre a responsabilidade dos residentes da zona. [figura 064 - 065]

A criação de uma segunda rua em nada altera a centralidade da via estruturante pois todos os edifícios funcionam para ambas as frentes,II.37 porém torna-se necessária a proposta de um programa de caráter marítimo, comum a todos os pavilhões. Para isso, seguindo o alinhamento da fachada Norte da lota, uma rua secundária, pedonal e elevada da cota térrea, II.34. MACHADO; SOUSA; MARQUES

dá ligação a dois novos pavilhões afetos ao programa de preservação da biosfera. [anexo VI - P10]

(2012). pg. 42

O primeiro, de maior dimensão e vertente mais pública, alberga o programa de proteção das

II.35. idem. pg. 42

tartarugas, englobando uma zona expositiva sobre a vida selvagem da RNP (como já acontece a

II.36. idem. pg. 306

uma escala menor na capital do país referente à Reserva Natural de São Tomé [figura 066 - 068]) e

II.37. COELHO (2013). pg.75

uma grande sala polivalente com capacidade de gerar zonas de trabalho, aula, palestra e demais 57


069 | Pontão na Praia do Caixão.s.d. 070 | Pontão na praia do Caixão (2018)

a.

b.

071 | Ambiências de Intervenção

c. 58

d.

a. Lota b. Lota c. Centro de Perservação da Biosfera d. Centro de Perservação da Biosfera


funções. A proximidade com o mar aumenta os níveis de humidade de toda a zona, optado-se por uma estrutura totalmente em bloco de cimento, rebocada e pintada a branco, de forma a que os espaços consigam assumir variadas exposições. O segundo pavilhão envolve o programa de apoio aos guardas e guias das praias e do Obô, aglomerando copas, arrumos, gabinete diretivo e balneários, tomando as mesmas características construtivas que o primeiro. Visto o programa desta fase de implantação fomentar a atividade profissional dos residentes que vivem ao longo dos quilómetros da baía, o edificado é apoiado na frente de rua a Sul por pequenas habitações de caráter temporário. Com base no módulo habitacional e núcleo infraestrutural implantado na Roça, as pequenas habitações podem tanto servir investigadores das salas de trabalho, como os guardas das praias ou os guias dos trilhos.

Todo o complexo assume-se independente da própria Roça S. Joaquim, prevendo que as coberturas façam a recolha de água para uso dos sanitários e lavatórios, tal como para o mercado de peixe. Um depósito encontra-se à entrada da pequena vila, de igual forma como é feito na Roça, marcando a sua entrada e acumulando o excesso de água recolhida das chuvas. A qualificação do espaço público prevê jardins definidores de percursos e relações, que através dos seus elementos visam a possível implantação de um porto marítimo. [figura 069 - 070] Remetendo para a identidade histórico-portuária da zona e visto as ruínas do pontão de atrancamento ainda prevalecerem nas areias da praia, o projeto desenvolve quatro pavilhões que propõem a sistematização das atividades locais; lota, centro interpretativo, posto de vigia e espaço de lazer convergem num plano urbano capaz de expandir e crescer com a própria comunidade. 59


072 60


3 | Conectar a Baía das Agulhas A capacidade de entendimento de um tecido requer não o seu conhecimento concreto, mas o reconhecimento dos elementos que o compõem e, nessa medida, a sua identidade resulta da relação articulada do elementos entre si, de tal modo que a sua contribuição para a composição de um tecido lhe confira caracterísiticas COELHO (2013). pg. 21

distintas de outros. 61


073 | ligação à Praia do Caixão 074 | ligação à Praia do Caixão 075 | estrada na Praia do Caixão

076 | chegada à Praia do Caixão

077 | vista sob a Vila dos Angolares da roça São João dos Angolares 62


Como já mencionado anteriormente, a Roça S. Joaquim tem uma forte ligação com a atividade agrícola; no entanto, se no passado esta pequena dependência fora palco a novas plantações, atualmente apenas alguns dos residentes se dedicam à agricultura. As anteriores fases do projeto evidenciam a viabilidade da reestruturação da roça através da exploração do mercado piscatório existente nas praias, da proteção das espécies marinhas da baía e da proeminente ligação com a RNP. Esta ligação com o Ôbo, em conjunto com a pesca, demonstrase como a maior fonte de alimento e menor fonte de rendimento dos residentes da longínqua Roça. Posto isto, propõe-se que a presente fase, além de melhorar a ligação entre a Roça S. Joaquim e a Praia do Caixão através da sua infraestruturação, proceda à expansão do traçado urbano da comunidade visando o melhoramento do mercado agrícola. Ou seja, pretende-se que a primeira fase do projeto sofra uma expansão, de forma a que a produção agrícola seja recuperada não como identidade urbana mas sim como consequência do crescimento inevitável da Roça. Para isso, as ruínas dos antigos secadores de cacau [anexo II - D06] devem ser regeneradas como armazém agrícola e edifício de apoio à produção alimentar. Este novo equipamento assistencial é apoiado por uma expansão do traçado urbano, por meio de novas ruas locais que penetram a selva e devolvem à comunidade a agricultura e o parque natural como mecanismo da economia local. [anexo VI - P11]

case study: Vila dos Angolares

A Roça S. Joaquim assume assim, uma posição crucial como ponto de ligação entre a costa Oeste da ilha e o seu interior, demarcando a fronteira do parque natural que ocupa todo o Sul. Isto apresenta novas oportunidades a nível turístico para toda a região, fomentando o turismo de natureza implantado na ilha, em grande parte levado a cabo pelos residentes como meio económico de subsistência. Na Ilha de São Tomé, na região Sul, a Vila dos Angolares desenvolveu-se dentro destas mesmas premissas, baseada na posição da já existente Roça S. João dos Angolares. Implantada num planalto a uma cota superior à da vila, esta roça evidenciase como o ponto de entrada na Reserva Natural de São Tomé. Desconhecida a origem desta pequena povoação isolada do resto da ilha, pensa-se que tenha sido resultado de naufrágios de navios negreiros provenientes de Angola.II.38 A comunidade é marcada pelo seu ódio aos colonos

II.38. MACHADO; SOUSA; MARQUES

brancos, causando alguns distúrbios durante o período de colonização;II.39 no entanto toda a

(2012). pg. 55

região benefícia da unicidade da sua história e da posição geográfica com o património natural da

II.39. ANDRADE (2008). pg.11

ilha. 63


078 | Praia dos Angolares

079 | Praia dos Angolares

080 | Praia dos Angolares 081 | Pontão sobre a Baía dos Angolares

082 | São João dos Angolares (1962) 083 | São João dos Angolares (2018) 64


A Roça São João dos Angolares mostra-se como sendo o melhor exemplo de recuperação e reutilização das roças abandonadas de São Tomé.II.40 Na sua génese, ela é composta por dois terreiros com uma diferença de cota de dez metros. Abaixo, como é habitual na organização interna de roças com diferentes cotas, localizam-se dois edifícios de sanzalas, com um pequeno terreiro onde eram feitas as contagens e os castigos dos serviçais. No topo, olhando sobre a Vila dos Angolares, a casa principal, o hospital e as casas dos empregados rodeiam um terreiro de entrada, sendo a secagem do cacau feita a uma cota inferior.II.41 Toda a estrutura foi requalificada baseada num conceito turístico e artesanal, salvaguardando a natural expansão e crescimento da agora cidade São João dos Angolares. Situadas na Linha Vulcânica dos Camarões, as ilhas do arquipélago tornam-se em verdadeiros miradouros dos mais variados rochedos e picos vulcânicos, muitos destes localizados no distrito desta roça; é dentro deste contexto que a vila à beira do Atlântico se desenvolve, enquanto que a roça no topo da colina ganha reconhecimento como equipamento hoteleiro e espaço de restauração de comeres tradicionais. Prevalecendo o realojamento e desenvolvimento das populações existentes, a Vila dos Angolares é o ponto de ligação entre o Norte da ilha e as paradisíacas praias do Sul, marcada igualmente como um ponto de entrada no Parque Natural de Obô, vocacionado para a preservação da flora e fauna da Ilha de São Tomé e na proteção contra a cobra preta. A viabilização do projeto em S. Joaquim deve compreender as componentes realizadas nos Angolares que, perante o seu desenvolvimento, se concentra num programa turístico que acompanha o crescimento de toda a zona Sul. O desenvolvimento de eco-lodges, de percursos marítimos turísticos, a ligação com o Ilhéu das Rolas e trilhos pelo Obô são alguns exemplos de programas implantados nesta zona que, acompanhados da infraestrutura necessária, vêm responder às necessidades previstas. Este programa viabiliza também a ligação entre a Roça São João e a Vila dos Angolares; a garantia da estruturação da zona à cota baixa e cota alta é o ponto chave no desenvolvimento do objetivo maior, não abdicando das necessidades da estratégia estabelecida ao distrito no geral. Posto isto, o desenvolvimento de um equipamento evolutivo e repartido ao longo do tempo que alberga as necessidades turísticas e de proteção da II.40. ANDRADE (2008). pg.76

biosfera na Praia do Caixão torna-se na garantia do desenvolvimento do projeto de revitalização e

II.41. idem. pg.76

reestruturação de S. Joaquim. 65


084 66


4 | Repensar S. Joaquim

Abandoned houses, real or imaginary, had a similar effect on the viewer. (...) with the difference that they were “haunted� not by some imaginary family spirit but by VIDLER (1992) p.19

virtue of the superstitions (...) 67


085 | Planemaneto estratégico sob a Baía das Agulhas

086 | Proposta da Praia do Caixão 087 | Proposta da Roça S. Joaquim 68


Tendo em conta a revitalização e reestruturação de um território, entende-se que a história tem o “hábito de se repetir e regressar a momentos inesperados e indesejados”.II.42 Tomando como exemplo a arquitetura contemporânea, é evidente um romantismo para com a história do Homem e do habitar pré-modernismo ao invés do “homem - máquina” da arquitetura pós-guerra. No caso da Ilha do Príncipe, mais especificamente das companhias roceiras, o que outrora foram aglomerados agrícolas que fomentaram o progresso da província, hoje representam momentos perdidos e abandonados por entre as árvores. Apesar de habitadas, as roças de STP tornam-se na representação direta do conceito de “casa abandonada” defendido por Anthony Vidler no livro The Architecture Uncanny.II.43 Apresentando-se como aglomerados populacionais, habitáveis e familiares, o seu precedente e historicismo transformam-nas num conjunto de paredes brancas e desoladas onde a memória está embutida nos objetos e costumes.II.44 Com isto, e assumindo que habitar a comunidade S. Joaquim é garantido através das fases anteriores, o último momento do projeto compreende que as ligações e relações entre as roças da antiga Sociedade d’Agricultura Colonial devem ser reestabelecidas. II.42. tradução livre de “ The uncanny habit of history to repeat itself, to return at unexpected and unwanted moments” in VIDLER (1992). pg.05 II.43. haunted house: (...) all the

Representando momentos perdidos no Obô, as Roças ainda habitadas devem-se orientar para o interior da ilha e para a única rodovia de acesso ao Poente do Príncipe. Para isso, e como já é realizado atualmente noutras zonas, os nove quilómetros de estrada devem

tell-tale signs of haunting were present,

ser repensados e infraestruturados de forma a servirem as comunidades dispersas e resistirem

systematically culled from his romantic

às condições climáticas do território. O repensar da via de ligação deve ser intercalado com os

predecessors. The site was desolate;

percursos pedonais que atravessam a reserva natural e a possível reabilitação das nove roças da

the walls were blank and almost literally “faceless”, its windows “eye-like” but

antiga companhia. Tendo em conta os conceitos apresentados anteriormente de identidade roceira,

without life - “vacant”. It was, besides,

equipamento estruturante, infraestrutura e habitar, S. Joaquim e a Praia do Caixão assumem-se

a repository of centuries of memory

como o polo marítimo da zona, baseado na pesca e agricultura de subsistência. Seguindo esta

and tradition, embodied in its walls and

mesma lógica, Roças de maior dimensão conseguem compreender mercados agrícolas a uma

objects (...) Such a house, killed by its very emptiness and the superstitions that

escala nacional devido à sua vasta área de implantação, ou até mesmo momentos de alojamento

have built up in the region, “is a haunted

turístico devido à proeminente posição geográfica. Compreende-se assim que apesar das

house. The devil comes there at night”.

diferentes requalificações funcionarem autonomamente no plano proposto, o restabelecimento de

in VIDLER (1992) pg. 18-19

ligações com outras roças e consequente reabilitação formam a base do desenvolvimento social e

II.44. VIDLER (1992). pg.18

económico destas comunidades perdidas na história e no território. 69


Maria Domingos encosta-se ao ombro de João Paulo, como que a pedir-lhe protecção. - São Tomé tem história, senhor. - São Tomé tem história - repete João Paulo, num eco. 70

REIS (1960). pg. 269


Eu sou um arquiteto, não um historiador; consequentemente, este livro não é uma tentativa de escrever história, mas um esforço para estabelecer um ponto de vista. Mais especificamente, é a afirmação de que valores culturais, mais do que qualquer outro atributo, determinam como nós moldamos o nosso ambiente criado pelo homem, e como estimamos o que construímos. tradução livre de WHITAKER, Craig (1996)

Considerações finais A Arquitetura, como disciplina, passa pelo entender das problemáticas do território, considerando as diferentes variantes que compõem o habitar local e encontrando estratégias que objetivam a criação de um melhor ambiente construído. No começo do presente trabalho, citando Craig Whithaker, afirma-se que mais do que qualquer outra componente, os valores culturais devem tomar o papel principal no desenvolvimento do projeto de arquitetura. Querendo demonstrar isso mesmo, Completar S. Joaquim promove o desenvolvimento e viabilidade do desenho urbano através da utilização do espaço, marcada pela cultura são-tomense. Compreendendo a roça como elemento de expansão urbana na base de uma potência agrícola, o presente trabalho reforça a dimensão habitacional destas estruturas urbano-agrárias, repensando e revitalizando-a. Agora bairros habitacionais de diferentes dimensões, os edifícios e ruínas que os compõem, carregam uma identidade que deve prevalecer em qualquer projeto aqui implantado. O cariz marítimo da Roça S. Joaquim, em conjunto com a Praia do Caixão, demonstra--se como o principal elemento fomentador da revitalização da comunidade no Obô principense. Com isto, o projeto requer um olhar atento à relação entre a roça, a praia e o mar, concluindo que esta comunidade deve atingir uma condição independente do resto da ilha, tanto infraestrutural como socialmente. A decisão tomada, por influência das condições climáticas do território, reproduz resultados tanto no desenvolvimento do desenho urbano proposto, como na composição arquitetónica dos edifícios implantados.

O verde de São Tomé e Príncipe, englobado na Reserva Mundial da Biosfera, demonstrase não só como exemplo único de fauna e flora mas também como elemento morfológico do país, representando uma das maiores fontes de rendimento das populações locais. Tornou-se crucial no desenvolvimento do trabalho assumir a Baía das Agulhas como ponto de entrada na reserva natural, devolvendo à roça uma identidade perdida, reafirmando o fim da estrada oriunda da capital 71


088 | Roรงa S. Joaquim

089 | Praia do Caixรฃo 72


da ilha não como um ponto final mas sim um ponto atrativo, tanto habitacional como turístico. Não obstante, o fomento do mercado piscatório, honra a atividade profissional existente e historicamente ligada com a zona, unificando as praias do Oeste como um polo marítimo de grande importância a nível regional. A Roça S. Joaquim, como roça-porto, é desta forma o elemento ligante entre o Obô, a praia e o mar, ou seja, o passado, presente e futuro da subsistência da Baía das Agulhas.

Alheio à cultura ocidental, o habitar tropical é marcado pela mistura entre influências históricas, muitas vezes portuguesas, e por costumes oriundos do território. O conceito de comunidade no Príncipe carrega consigo um sentido de vizinhança e companheirismo ao invés da partilha de serviços e infraestruturas. Assim, o trabalho conclui que num plano de habitação acessível deve existir um distanciamento entre as decisões projetuais e a utilização final do espaço. A casa, que deve agir como representante do espaço íntimo, no habitar são-tomense ultrapassa as suas barreiras físicas; a separação entre o público e o privado vai além das suas paredes, expandindose para a sua envolvente. Cabe então ao desenho habitacional criar os meios necessários para a ocorrência de uma sequência urbana entre público e privado, devolvendo à casa são-tomense a infraestrutura necessária, tendo esta de estar em congruência com a polivalência do seu interior. Admite-se assim a infraestrutura como a representação do íntimo e a polivalência demonstrativa da pluralidade dos espaços afetos à vivência tropical.

Com isto, conclui-se que o desenho arquitetónico de uma comunidade tem de passar por uma análise identitária, intrinsecamente ligada à cultura e utilização do espaço. A viabilidade da reestruturação e reabilitação de uma roça apenas é possível quando o desenvolvimento social é mais prioritário que o urbano, sendo este último apenas viável aquando do entendimento que os percursos e a vivência roceira assentam sobre elementos estruturantes do habitar são-tomense. Assim, definir roça como uma antiga estrutura urbano-agrária, historicamente relacionada com a exploração do cacau em São Tomé e Príncipe é diminutivo e insuficiente. A Roça, com “R“ grande, na atualidade, é representativa de uma vivência tropical marcada pela identidade local, não agrícola mas sim social; a Roça, na atualidade, é onde a multiplicidade do habitante sãotomense é mais evidente; as Roças, na atualidade, não são mais conjuntos arquitetónicos de expansão e penetração no território mas sim comunidades habitacionais, narradoras das relações estabelecidas entre ser-humano, habitar e território. 73


090 74


Bibliografia ÁBALOS, Iñaki (2012). A boa vida – visita guiada às casas da modernidade. Tradução de Alícia Duarte Penna. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SL. ALBUQUERQUE, Luís de (1989). A Ilha de São Tomé nos Séculos XV e XVI. Lisboa: Publicações Alfa. ANDEL, Frederique van; GAMERAN, Dick van; PUTT, Pierijn van der (2015). Dash 12/13. Global Housing - Models for the Affordable House. Roterdão: nai010. ANDRADE, Rodrigo Rebelo de (2008). As Roças de São Tomé e Príncipe – o passado e o futuro de uma arquitectura de poder. Prova final para Licenciatura em Arquitetura, FAUP. ANDRADE, Rodrigo Rebelo de; PAPE, Duarte (2013). As Roças de São Tomé e Príncipe. Lisboa: Tinta da China. BAHAMÓN, Alejandro; ÁLVAREZ, Ana María (2009). Palafita – da arquitectura vernácula à contemporânea. Lisboa: Argumentum. BRAGANÇA, Neco (2009). “O Declínio da Produção do Cacau / O ciclo do café e cacau” in STP Arquitecturarte. [Vizualizado em Dezembro de 2017], disponível em https://stparquitecturarte. blogspot.pt/2009_11_19_archive.html. BRAGANÇA, Neco (2009). “O Hospital, os secadores, o armazém e o caminho-de-ferro / A sanzala e a capela / O terreiro” in STP Arquitecturarte. [Vizualizado em Dezembro de 2017], disponível em https://stparquitecturarte.blogspot.pt/2009_11_23_archive.html. CARVALHO, Ricardo (2016). A cidade Social - impasse. desenvolvimento. fragmento. Lisboa: Tinta da China. COELHO, Carlos Dias (2013). Morfologia Urbana - os elementos urbanos. Lisboa: Argumentum. DUARTE, Rui Barreiros (2003). “Entrevista a Fernando Távora” in Arquitectura e Vida - Fernando Távora, o ensino da experiência - nº37. Lisboa: Bertrand Editora. FATHY, Hassan (2009). Arquitectura para os pobres - uma experiência no Egipto rural. Trad. Joana Pedroso Correia. Lisboa: Argumentum. FERNANDES, José Manuel (2005). Arquitectura e Urbanismo na África Portuguesa. Casal de Cambra: Caleidoscópio. 75


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77


091 78


Anexos

80

AI | Proposta de projeto de intervenção apresentada na unidade curricular Laboratório de Projecto VI | trabalhado realizado pelo autor sob orientação de Prof. Catedrático João Sousa Morais e Prof.ª Joana Malheiro. 2017

82

AII | Levantamento Arquitectónico do edificado existente na Roça S. Joaquim | levantamento e desenhos realizados pelo autor, com o apoio de João Venâncio. 2018

84

AII | Mapa Fotográfico do case study: Aranya Housing - B.V. Doshi | fotografias variadas

86

AIV | Mapa Fotográfico do case study: Mercado de Santa Maria da Feira - Fernando Távora | fotografias variadas

88

AV | Mapa Fotográfico do case study: Vila dos Angolares | fotografias variadas

90

AVI | Desenvolvimento do Projecto Final de Mestrado | trabalho realizado pelo autor, sob orientação de Prof. Hugo Farias e Prof.ª Joana Malheiro 79


AI | Prosposta de projeto de intervenção de Laboratório de Projecto Folha 01 | Sociedade d’Agricultura Colonial 001 | Paínel 01 de apresentação | escala 1:15000 Folha 02 | Sociedade d’Agricultura Colonial 001 | 002 | 003 | 004 | Maqueta 01 | fotografia do autor 005 | Painel 01 de esquemas | desenhos do autor Folha 03 | Praia do Caixão 001 | Paínel 02 de apresentação | escala 1:1000 Folha 04 | Praia do Caixão 001 | 002 | 003 | 004 | Maqueta 02 | fotografia do autor 005 | Painel 02 de esquemas | desenhos do autor Folha 05 | Roça S. Joaquim | escala 1:200 001 | Paínel 03 de apresentação | escala 1:1000 Folha 06 | Roça S. Joaquim | escala 1:200 001 | 002 | 003 | 004 | Maqueta 03 | fotografia do autor 005 | Painel 03 de esquemas | desenhos do autor Folha 07 | Terreiro 001 | Paínel 04 de apresentação | escala 1:500 Folha 08 | Terreiro 001 | 002 | 003 | 004 | Ambiências do projeto de intervenção | desenhos do autor 005 | Painel 04 de esquemas | desenhos do autor Folha 09 | Edificado 001 | Paínel 05 de apresentação | escala 1:100 Folha 10 | Edificado 001 | 002 | 003 | 004 | Maqueta 04 | desenhos do autor 005 | Painel 05 de esquemas | desenhos do autor

80

VI


Folha 01

SOCIEDADE D’AGRICULTURA COLONIAL 1:15000 | Plano Estratégico 1061 habitantes

Roça S. Joaquim 145 hab

Roça Sª. Trindade 0 hab

Roça Montealegre 119 hab

Roça S. José 50 hab

Roça S. Mateus 0 hab

- REPENSAR S. JOAQUIM Baptista Lopes | 20130119 | Labortatório Projecto VI

Roça Porto Real 311 + 100 hab

001


Folha 02

001 | 002

003 | 004

005


Folha 03

PRAIA DO CAIXÃO 1:1000 | Escala Urbana 16.955 m2 | 1800 m2 construção | 54 habitantes

porto de fábrica de lota S. Joaquim copra e palma 130 m2 340 m2 200 m2

capela quiosques / 105 m2 comércios 35 - 40 m2

REPENSAR S. JOAQUIM Baptista Lopes | 20130119 | Labortatório Projecto VI

001


Folha 04

001 | 002

003 | 004

005


Folha 05

ROÇA S. JOAQUIM 1:1000 | Escala Urbana 172.130 m2 | 1300 m2 construção | 140 -160 habitantes 220.982 m2 | 8775 m2 construção | 260 -280 habitantes

- igreja 100 m2

- escola primária / básica 156 m2

- posto médico - mercado 156 m2 170 m2 - centro - mercearia - creche comunitário 103 m2 -156 m2 -96 m2 - alojamento local 103 m2 + 6 hab.

REPENSAR S. JOAQUIM Baptista Lopes | 20130119 | Labortatório Projecto VI

- armazem - quiosques / 99 m2 comércios 35 - 40 m2

001


Folha 06

001 | 002

003 | 004

005


Folha 07

TERREIRO 1:500 | Espaço Público

Roça S. Joaquim / edificado existente

Roça S. Joaquim / vista sobre a praia

REPENSAR S. JOAQUIM Baptista Lopes | 20130119 | Labortatório Projecto VI

S. Joaquim / acesso à praia

001


Folha 08

001 | 002

003 | 004

005


Folha 09

EDIFICADO 1:200 | Equipamentos Públicos 1:100 | Habitação

piso térreo / 00.75

piso térreo / 00.10

- enfermaria / horta medicinal

- auditório / sala polivalente

piso térreo / 00.10

2º piso / 03.75 - centro comunitário

corte aa’

corte bb’

00.70

00.00

corte cc’

00.70

00.00

00.70

alçado nascente

1. tipologia plurifamiliar

2. tipologia unifamiliar

- REPENSAR S. JOAQUIM Baptista Lopes | 20130119 | Labortatório Projecto VI

001


Folha 10

001 | 002

003 | 004

005


AII | Levantamento Arquitectónico do edificado existente na Roça S. Joaquim Desenho 01 | Planta de Localização | escala 1:500 Desenho 02 | Casa Principal (plantas) | escala 1:200 Desenho 03 | Casa Principal (cortes longitudinais) | escala 1:200 Desenho 04 | Casa Principal (cortes transversais) | escala 1:200 Desenho 05 | Casa Principal (alçados) | escala 1:200 Desenho 06 | Ruínas de Secadores de Cacau e Loja de Conveniência | escala 1:200 Desenho 07 | Antiga Escola Primária | escala 1:200 Desenho 08 | Sanzala Tipologia 1 | escala 1:200 Desenho 09 | Sanzala Tipologia 2 | escala 1:200 Desenho 10 | Balneários e Ruína de Casa de Encarregado branco | escala 1:200 Desenho 11 | Ruínas de Fábrica de Aguardente | escala 1:200 Desenho 12 | Planta de Implantação | escala 1:500

82


e.

e.

e.

c.

d.

a.

b.

f.

f.

f. g.

i.

h.

a. b. c. d. e. f. g. h. i.

Casa Principal Ruínas de Antigos Secadores de Cacau Loja de Conveniência (desativada) Antiga Escola Primária Sanzala tipologia 1 Sanzala tipologia 2 Balneários (desativados) Ruínas de casa de encarregado branco Ruínas de Antiga Fábrica de Água-ardente

Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Localização - esc. 1:500 - ABR 2018

D 01


D

E

F

C

C'

B

B'

A

A'

D'

E'

F'

Planta Piso Térreo

D

E

F

C

C'

B

B'

A

A'

D'

E'

F'

Planta Piso Superior

Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Casa Principal - esc. 1:200 - ABR 2018

D 02


13.44

10.00 09.36

05.00 04.21

00.00

Corte CC'

13.44

10.00 09.36

05.00 04.21

00.00

Corte BB'

13.44

10.00 09.36

05.00 04.21

00.00

Corte AA' Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Casa Principal - esc. 1:200 - ABR 2018

D 03


13.44

10.00 09.36

05.00 04.21

00.00

Corte CC'

13.44

10.00 09.36

05.00 04.21

00.00

Corte EE'

13.44

10.00 09.36

05.00 04.21

00.00

Corte DD' Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Casa Principal - esc. 1:200 - ABR 2018

D 04


Alçado Lateral Esquerdo

Alçado Lateral Direito

Alçado Frontal

Alçado Tardoz

Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Casa Principal - esc. 1:200 - ABR 2018

D 05


Planta Piso Térreo

Alçado Frontal

A

A'

Planta Piso Térreo

Alçado Frontal

Alçado Lateral Esquerdo

Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Ruína de Secadores e Loja - esc. 1:200 - ABR 2018

D 06

Corte AA'


Alçado Lateral Direito

Alçado Lateral Esquerdo

Corte AA'

A

A'

Planta Piso Térreo

Alçado Frontal

Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Antiga Escola Primária - esc. 1:200 - ABR 2018

D 07


Corte AA'

Alçado Lateral

A

A'

Planta Piso Térreo

Alçado Frontal

Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Sanzala Tipologia 1 - esc. 1:200 - ABR 2018

D 08


Corte AA'

Alçado Lateral

A

A'

Planta Piso Térreo

Alçado Frontal

Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Sanzala Tipologia 2 - esc. 1:200 - ABR 2018

D 09


Planta Piso Térreo

Alçado Frontal

Alçado Frontal

Alçado Frontal

Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Balneários (desativados) - esc. 1:200 - ABR 2018

D 10


Corte AA'

A

Alçado Lateral Direito

A'

Planta Piso Térreo

Alçado Frontal

Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Ruínas de Fábrica de Água-ardente - esc. 1:200 - ABR 2018

D 11


Ilha do Príncipe - São Tomé e Príncipe Roça S. Joaquim - Levantamento Arquitetónico Implantação - esc. 1:500 - ABR 2018

D 12


AIII | Mapa Fotográfico do case study: Aranya Housing - B.V. Doshi Folha 01 | Fotografias e desenhos variados 001 | Maqueta de implantação do projeto 002 | Esquema de hierarquia urbana 003 | Esquema de espaços públicos 004 | Fotografia aérea da implantação do projeto Folha 02 | Fotografias variadas 001 | Pequeno largo no projeto Aranya Housing 002 | Arruamento tipo do projeto 003 | Pequeno largo no projeto 004 | Alçados fotografados do projeto 005 | Arruamento tipo do projeto Folha 03 | Fotografias variadas 001 | Loteamento das habitações 002 | Entrada na habitação 003 | Infraestruturação das habitações 004 | Arruamento tipo do projeto 005 | Infraestruturação do bairro

84


Folha 01

001

002 | 003

004


Folha 02

001

002 | 003

004 | 005


Folha 03

001

002

003

004 | 005


AIV | Mapa Fotogrรกfico do case study: Mercado de Santa Maria da Feira - Fernando Tรกvora Folha 01 | Fotografias e desenhos variados 001 | Corte da cobertura do mercado 002 | Corte das caves do mercado 003 | Alรงado lateral do mercado 004 | Mercado Municipal de Santa Maria da Feira 005 | Pรกtio central do mercado (cota superior) 006 | Pรกtio central do mercado (cota inferior) Folha 02 | Fotografias e desenhos variados 001 | Corte do mercado 002 | Entrada no mercado 003 | Pontos de venda no mercado 004 | Pontos de venda no mercado

86


Folha 01

001

002 | 003

004 | 005

006


Folha 02

001

002 | 003

004


AV | Mapa Fotográfico do case study: Vila dos Angolares Folha 01 | Fotografias variadas 001 | Alçado da casa principal da Roça São João dos Angolares 002 | vista sob a Roça São João dos Angolares da Vila dos Angolares 003 | vista sob a Vila dos Angolares da Roça São João dos Angolares Folha 02 | Fotografias variadas 001 | “estender a roupa” na Vila dos Angolares 002 | Pico Cão Grande, na Reserva Natural de São Tomé, para a qual a vila é o momento de entrada 003 | secagem do peixe na Praia de São João dos Angolares 004 | pescadores na Praia de São João dos Angolares 005 | estátua do rei Amador à entrada da Vila dos Angolares 006 | zona central da Vila dos Angolares

88


Folha 01

001

002 | 003


Folha 02

001 | 002

003 | 004

005 | 006


AVI | Execução do Projecto Final de Mestrado Paínel 01 - Ua | Localização | escala 1:500 Paínel 02 - Dôsu | Roça S. Joaquim | escala 1:200 Paínel 03 - Têxi | Capela | escala 1:100 / 1:50 Paínel 04 - Kwatu | Escola Básica | escala 1:100 / 1:50 Paínel 05 - Xinku | Casa Principal | escala 1:100 / 1:50 Paínel 06 - Sêy | Mercado | escala 1:100 / 1:50 Paínel 07 - Seti | Habitação | escala 1:100 / 1:50 / 1:20 Paínel 08 - Wêtu | Praia do Caixão | escala 1:200 Paínel 09 - Nove | Lota | escala 1:100 / 1:50 Paínel 10 - Dexi | Centro de Protecção Marinha | escala 1:100 / 1:50 Paínel 11 - Onji | Repensar S. Joaquim | escala 1:500

Folha 01 | Imagens de Localização | paínel 01 Folha 02 | Ambiência Capela | paínel 03 Folha 03 | Ambiência Centro Comunitário | paínel 05 Folha 04 | Ambiências Escola Básica | paínel 04 Folha 05 | Ambiências Mercado | paínel 06 Folha 06 | Ambiências Habitação | paínel 07 Folha 07 | Ambiências Habitação | paínel 07 Folha 08 | Ambiências Lota | paínel 09 Folha 09 | Ambiências Centro de Protecção Marinha | paínel 10

Folha 10 | Maqueta 00 - Testes de Materiais | Folha 11 | Maqueta 01 - Localização | escala 1:15000 Folha 12 | Maqueta 02 - Plano Urbano Roça S. Joaquim | escala 1:500 Folha 13 | Maqueta 03 - Plano Urbano Praia do Caixão | escala 1:500 Folha 14 | Maqueta 04 - Eixo Estruturante da Roça S. Joaquim | escala 1:200 Folha 15 | Maqueta 05 - Habitação | escala 1:20

Folha 16 | Documento Excrito | 90


0.89

0.89

001 | esquema de montagem dos paíneis

Têxi | Cap

0.59

Roça | PU

1/500

Localização 1/500

0.89

Sêy | Mercado

1/200

Eixo

Kwatu | Escola

Praia | PU

Dôsu | Roça (pln + cort) Xinku | CP

0.91

1/12000

?

Ua | Loc

0.59

1/20

Hab

7.29

Seti | Habitação

2.50

Nove | Lota

0.89

Wêtu | Praia (pln + cort) Dexi | Turtle

0.91

1.78


Completar S. Joquim

repensar uma comunidade em São Tomé e Príncipe

Roça S. Joaquim 145 hab

Localização | Habitar S. Joaquim - Estruturar a Praia do Caixão

Roça Sª Trindade Roça Montalegre Roça S. José 119 hab 0 hab 119 hab

Roça S. Mateus 0 hab

Roça Porto Real 311 + 100 hab

Praia do Caixão | 1:1000

Roça S. Joaquim | 1:1000

plano urbano proposto

plano urbano proposto

01 | Ũa


68.16

17.81

8.18

17.09

7.99

17.12

d'

11.65

2.50

146.80

148.30

edificado existente Habitar S. Joaquim

37.70

144.20

147.05

148.35

5.00

a

a'

edificado proposto Habitar S. Joaquim

37.65

146.35

b

147.50

148.35

148.20

10.00

215.12

146.10 22.40

traçado urbano Habitar S. Joaquim

146.50

147.50

148.00

148.10

147.20

7.35

b'

145.00 19.55

c

146.45

147.25

148.50

23.87

c'

saneamento + espaço verde Habitar S. Joaquim

14.90

145.75

146.25

148.00

11.33

6.13

d 119.96

faseamento de implantação

planta piso térreo | 1:200

Habitar S. Joaquim

plano urbano da Roça S. Joaquim

corte aa' | 1:200 corte transversal | habitações tipo

corte bb' | 1:200 corte transversal | rua comercial

corte cc' | 1:200 corte transversal | terreiro existente

corte dd' | 1:200 corte longitudinal | mercado-capela

Plano Urbano | Habitar S. Joaquim

02 | Dôsu


2.66 6.64 03. 3.22

a

2.95

02.

a'

148.00 01.

1.40 10.20 2.95

7.77

147.50 1.40 1.50

5.39

2.54

148.30

8.00 7.00 2.45

148.60

148.75

01. capela / 43 m2 02. confessionário / 2.26 m2 03. sacristia / 2.54 m2

planta piso térreo | 1:100 Capela na Roça S. Joaquim

1.59 6.57 1.07

5.52

4.68 0.85

01 02 03

2.00

04

07

05

0.25

01. 02. 03. 04.

parede de betão armado reboco de argila espelho de água em circulação camada de forma de betão 100 mm

Capela | Habitar S. Joaquim

06

05. tela de impermeabilização 06. tout-venant 150 mm 07. parede de tijolo de cimento 290 x 145 x 70 mm 08. junta metálica

2.07

08 09

09. azulejos pastilha 10. lajeta de cimento

10

corte aa' | 1:50 Capela na Roça S. Joaquim

03 | Têxi


147.50

148.00

148.10

147.20

0.43 8.04

8.26

2.21 3.51

2.63

7.00

147.80 01. 3.43

2.27 0.40

a

147.80 05.

147.50

147.75

1.70

147.60 06.

147.75

7.39

147.75

a'

1.93 20.15

19.55

3.49 147.80 02.

2.00 4.93

1.06

2.20

03.

03.

1.95

2.63

147.80 06.

147.80 04.

4.21

7.20

4.60

2.15 0.72 10.28

11.09

17.17

17.11 42.29

146.45

147.25

01. refeitório / 56 m2 02. cozinha / 20 m2 03. instalações sanitárias / 6.24 m2

148.50

04. gabinete / 21 m2 05. arrumos / 29 m2 06. sala de aula / 62 m2

planta piso térreo | 1:100 Escola Básica na Roça S. Joaquim

alçado frontal | 1:100 Escola Básica na Roça S. Joaquim

01

0.35

02

0.37

0.42

03 04

1.76

3.01

3.35

3.69

1.90

3.03

3.61

05 06

0.84

0.83

07

09

08

01. 02. 03. 04.

chapa de zinco viga de madeira 170 x 50 mm tabuado de madeira reutilizada caibros de madeira 100 x 100 mm

0.76

05. ripa de madeira 140 x 50 mm 06. tijolo maciço 290 x 145 x 70 mm 07. camada de forma de betão 100 mm 08. tout-venant 150 mm

09. pilar tripartido 10. pavimento em gravilha 11. valeta de betão 12. tijolo de cimento 290 x 145 x 75 mm

10

12

11

13

13. portada de madeira

corte aa' | 1:50 Escola Básica na Roça S. Joaquim

Escola Básica | Habitar S. Joaquim

04 | Kwatu


1.10 145.00

12.57

8.99

a

8.70 10.85 145.75 01.

5.42

3.61

145.75 03. 5.67

146.00

02. 2.31

1.05

8.69

6.49

1.10

1.10

19.29

a'

01. área polivalente / 93 m2 + 47 m2 02. instalações sanitárias / 10 m2 03. cozinha comunitária / 20 m2

planta piso térreo | 1:100 Casa Principal da Roça S. Joaquim

01 02 03 04 05

1.43

13.50

4.77 3.20

10

0.21

11 12

1.26

4.08 3.00

06 07 08 09

01. 02. 03. 04.

telha Marselha ripas de madeira 70 x 40 mm caibros de madeira 100 x 100 mm frechal de madeira 150 x 170 mm

05. sanca em tabuado de madeira 06. ombreira em tinta rosa 07. tijolo maciço 290 x 145 x 70 mm 08. camada de forma de betão 100 mm

09. 10. 11. 12.

tout-venant 150 mm reboco branco 50 mm parede pedra natural 730 mm candeeiro luminoso

corte aa' | 1:50 Casa Principal da Roça S. Joaquim

Centro Comunitário | Habitar S. Joaquim

05 | Xinku


a

146.00

145.50

146.25

37.15 7.46

3.73

2.97

3.30

146.20 02. 8.99

3.25

3.33

3.28

3.28

3.44

146.20 01.

146.25

6.11

3.42

2.34

2.67

2.62

2.70

2.65

2.68

3.14

a' 01. zona de venda temporária / 179 m2 02. mercearia / 34 m2

planta piso térreo | 1:100 Antiga Fábrica da Roça S. Joaquim

alçado frontal | 1:100 Antiga Fábrica da Roça S. Joaquim

01

0.19

02 03 04

2.16 3.56

05 08 09

1.11

3.32

3.67

06 07

10 11

01. 02. 03. 04.

chapa de zinco junta metálica tabuado de madeira reutilizada caibros de madeira 100 x 100 mm

Mercado | Habitar S. Joaquim

05. depósito de água pintado de azul 06. reboco branco 50 mm 07. parede de pedra natural 220 mm 08. bancada de betão

09. tijolo maciço 290 x 145 x 70 mm 10. camada de forma de betão 100 - 260 mm 11. tout-venant 150 mm

corte aa' | 1:50 Antiga Fábrica da Roça S. Joaquim

06 | Sêy


apropriações de espaços de alcova 1 espaço de alcova 1 entrada

5.45

3.86

quarto individual

quarto de casal

quarto triplo

sala de estar

sala de jantar

sala de lazer

sala de trabalho

garagem pavimento opcional

garagem pavimento opcional

horta pavimento de terra

zona de estar pavimento em relva

3.85 10

infraestrutura | escala urbana

espaços verdes | escala urbana

usos | escala urbana

estrutura | escala habitacional

espaços | escala habitacional

sequência urbana | escala habitacional

social - privado | escala habitacional

saneamento + fornecimento de água + ventilação subterrânea

corredor verde + jardins privados

habitação + pequenos comércios

construção

espaço exterior + infraestrutura + espaço alcova

quinté + alpendre + privado + jardim

circulação + social/íntimo

3.92

apropriações construtivas de espaços de alcova

5.08

3.85

7.84

8.12 17.09

9.65

09

0.67

0.67

08

03 05

4.39

a. nova ligação com espaço exterior

b. ligação com espaço de confeção

c. ligação com espaço de alcova

2 entradas

0 entradas

2 entradas

sala de aula

café / restauração

a. 2 entradas

5.04

0.40 8.00

8.00

4.00

4.00

4.00

4.00

4.08

escritório

36.15

b. 0 entradas

planta piso térreo | 1:50 agregação de habitações tipo

02 07 06

02 04

open space

restaurante

01

0.20

c. 2 entradas

0.28 0.10

2.38

0.18

2.86

5.45 3.49

3.11

2.71 2.98

0.68

0.62

corte aa' | 1:50

alçado frontal | 1:50

agregação de habitações tipo

agregação de habitações tipo

01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10.

murete em alvenaria de tijolo de cimento parede em alvenaria de tijolo de cimento parede em estrutura e revestimento de madeira embasamento de pilar em betão pilar tripartido sapata de forno em betão enchimento de terra pavimento em alvenaria de tijolo maciço pavimento em tabuado de madeira cobertura de madeira, folha de palma e chapa de zinco

axonometria esplodida habitações tipo

dormitório

quarto + sala de trabalho

loja


19.55

planta piso térreo | 1:20

6 5 4 3 2 1

habitação tipo 33

2

área útil 61 m área alpendre 39 m2 área jardim 31 m2

28

10

04

34

35

08

33

29

34

30

09

000.00 146.00

0.14

3.52

2 espaços de alcova 15 m 2 espaços de infraestrutura 30 m2 2 espaços de alpendre 39 m2 2 espaços de jardim 31 m2 e.1. e.2. e.3. e.4. e.5. e.6. e.7.

00.62 e.5

quintal alpendre vestíbulo espaço de higiene espaço de confeção / refeição espaço de alcova jardim

3.92

6.34 1.69

7.26

00.62 e.4

3.22

0.88 00.55 e.2

0.14

00.47 e.7

000.00 147.00

4.92

3.67

4.12

00.90 e.8

19.56

00.52 e.1

2.00

1.36

1.39

2.90

1 2 3

8 espaço de 4 m de lado 2

2.86

0.40

1.31

3.29

3.83

01.05 e.7

01.05 e.5

4.54

1.39

4.23

3.86

00.55 e.3

3.95

3.05

01.05 e.6

3.90 00.60 e.5

5.28 2.36

2.33

01. pilar estrutural tripartido de madeira | 140 x 40 mm 02. viga estrutural dupla de madeira | 190 x 50 mm 03. viga estrutural em tijolo de cimento 04. parede em alvenaria de tijolo de cimento | 290 x 190 x 145 mm 05. parede em alvenaria de tijolo de cimento | 145 x 145 x 145 mm 06. estrutura interna de paredes em madeira | 90 x 40 mm 07. tabuado de revestimento em madeira 08. reboco de cimento pintado 09. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16.

14.90

00.62 e.3

materiais de construção

17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26.

valeta pré-fabricada de recolha e distribuição de águas tubagem de ventilação | 150 mm tubagem de águas residuais | 60 mm tubagem de águas pluviais | 60 mm pavimento em gravilha caibros de madeira tabuado de madeira reutilizada isolamento acústico em folha de palmeira chapa de zinco caleira em chapa metálica

27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35.

portada veneziana 350 x 1500 mm portada veneziana 650 x 1500 mm porta de madeira 2070 x 805 x 30 mm "parede amovível" aro de vão de janela em madeira aro de vão de janela em tijolo maciço aduela de vão de porta em madeira bancada de cozinha pré-fabricada em betão grelha metálica

10.28

00.62

00.62 e.2

2 1

8.14

7.23

8.04 1.53

2.70 00.55 e.4

0.14

1.62

5.50

3.95

3.84

1.28

2.62

0.29

01.05 e.3

1.61

01.05 e.6

3.05

00.60 e.4

00.60 e.3

01.05 e.4

1.38 0.82

0.29

1.39 3.84

1.30

0.67

1.89

0.88

00.52 e.5

2.03

3.93

1.54

3.81

1.00

3 2 1

3.86

00.62 e.6

2.90

00.62 e.6

7.14 1.18

0.14

1.69

00.60 e.1

01.05 e.2

4.74 3.74

00.00 e.7

1.31

00.60 e.2

3.22

3.52

2.63

2.44

8.06

2.20

2.00

3.37 01.05 e.1

000.00 002.50

1.92

11.20

0.37 1.69

3.49

0.44

3.85

3.85

0.82

planta piso térreo | 1:50

planta piso térreo | 1:50

planta piso térreo | 1:50

recuperação de sanzala existente

recuperação de sanzala existente

protótipo de habitação temporária na praia

2 habitações área útil 31 m2 área alpendre 7 m2 área jardim 7 m2

2 habitações área útil 95 m2 área alpendre 40 m2 área jardim 40 m2

2 habitações área útil 30 m2 área alpendre 20 m2 área jardim 0 m2

1 espaço de alcova 15 m2

0.81

a

000.00 148.75

00.62 e.1

3

pavimento em alvenaria de tijolo maciço | 290 x 145 x 75 mm pavimento em tabuado de madeira | 1430 x 145 x 20 mm camada de forma em betão | 60 mm 'tout-venat' em gravilha | 230 mm embasamento de pilar em betão | 240 x 160 mm junta metálica estrutura interna de pavimento vazado | 80 x 40 mm estrutura de pavimento flutuante | 100 x 20 mm

00.60 e.5

0.14 04

a' 3.92

07

06

31

8.12

27

13

01

25

09

1.31

10

21

17

e. 1. espaço de confeção e. 2. espaço de higiene e. 3. espaço de estar e. 4. espaço de alcova e. 5. alpendre

2 espaços de alcova 7 m2 1 espaço variante 15 m2

3.52 0.22

e. 1. quintal e. 2. alpendre e. 3. vestíbulo e. 4. espaço de higiene e. 5. espaço de confeção e. 6. espaço de alcova e. 7. espaço de estar e. 8. jardim

2 espaços de dormir 4 m2

e. 1. quintal e. 2. alpendre e. 3. espaço de confecção / estar e. 4. espaço de higiene e. 5. espaço de dormir

05.57 05.45

05.00 25 24 23

04.29

22 02

0.20

04.01

0.19 0.19

03.65 03.47

0.38

0.19

0.18 0.20 0.77

03.00

3.50 1.52

2.85

2.75

2.85

2.73

3.00

06

01.00

10

0.57

15

00.62

03

0.06

00.47 0.62

corte aa' | 1:20

000.00 148.75

0.52 18

09

10

16

11

12

29

33

26

35

32

04

21

habitação tipo

0.64

20 19 17

0.43 0.14

Desenho Habitacional | Habitar S. Joaquim - Estruturar a Praia do Caixão

7.84 0.14

4.90 0.14

07 | Seti


edificado existente Praia do Caixão

000.00

000.30 d

001.00

001.50 003.10

edificado proposto Praia do Caixão

002.00

002.50

003.10

a

a'

004.00

004.00 124.23

traçado urbano Praia do Caixão

004.00

004.30

b

b' 004.30

c

c'

saneamento + espaço verde Praia do Caixão

004.30

004.00

004.00

001.00 d'

6.30 47.82

faseamento de implantação Praia do Caixão

planta piso térreo | 1:200 plano urbano da Praia do Caixão

corte aa' | 1:200 corte transversal | lota

corte bb' | 1:200 corte transversal | posto de guardas

corte cc' | 1:200 corte transversal | habitações

corte dd' | 1:200 corte transversal | centro de proteção

Plano Urbano | Estruturar a Praia do Caixão

08 | Wêtu


a'

003.10

2.80 3.00

003.10 3.31

4.53

3.31 7.21

4.12

3.04

3.83

3.20

2.86

11.27

003.80

1.89

003.10 01.

4.57 12.11

04.

9.32 003.10 02.

4.57

1.49

003.10 03.

3.51

14.26

003.10 03.

1.33

3.20

4.36

14.72

1.33

44.17

001.30

001.50

002.50

a

003.60

01. arca frigorífica / 9.30 m2 02. cais de carga e descarga / 15.60 m2 03. zona de mercado / 295 m2 04. instalações sanitárias / 30 m2

5.47

planta piso térreo | 1:100 Lota na Praia do Caixão

4.31

0.60

alçado frontal | 1:100 Lota na Praia do Caixão

13 12 11 10

5.49 4.33

4.01 09 08 07 06

01

02

03

0.60

05 04

01. 02. 03. 04.

tijolo maciço 290 x 145 x 70 mm camada de forma de betão 100 mm tout venant 150 mm tijolo de cimento 290 x 190 x 145 mm

05. junta metálica 06. pilar tripartido 07. bancada de betão 08. depósito de água em tijolo de cimento

09. viga dupla 10. caibros de madeira 100 x 100 mm 11. tabuado de madeira reutilizada 12. chapa de zinco

corte aa' | 1:50 Lota na Praia do Caixão

Lota | Estruturar a Praia do Caixão

09 | Nove


a

13.14

6.50

2.10

7.25

1.16

10.61

1.16

10.68

1.16

1.16

1.47

08. 01. 8.52

8.24

8.99

10.

2.75

2.31

004.00

7.25

07. 2.75

20.62

004.00

2.71

2.75

1.74

1.45

004.00

1.74

07.

02.

6.46

10. 06.

9.52

9.11

9.57

05. 03.

09.

04.

9.88

8.82

4.93

12.86

6.66

43.14

2.72 7.98

a'

01. 02. 03. 04. 05.

zona/sala de trabalho / 83 m2 zona de exposição / 65 m2 arrumos / 13 m2 copa / 11 m2 gabinete / 16 m2

06. arrumos / 8 m2 07. instalações sanitárias / 17 m2 08. zona de funcionários / 14 m2 09. cozinha / 9 m2 10. refeitório / 108 m2

planta piso térreo | 1:100 Centro de Proteção da Biosfera

4.31

0.20 9.88

8.82

4.93

12.86

6.65

alçado frontal | 1:100 Centro de Proteção da Biosfera

01 02 03 04

5.85 2.28 3.32

3.88

05 06 07

09

0.90

08

10

0.63 01. 02. 03. 04.

chapa de zinco tabuado de madeira reutilizada caibros de madeira 100 x 100 mm viga dupla

05. 06. 07. 08.

bancada de betão tijolo maciço 290 x 145 x 70 mm camada de forma 100-300 mm tout venant 200 mm

09. reboco branco 25 mm 10. tijolo de cimento 290 x 190 x 145 mm

corte aa' | 1:50 Centro de Proteção da Biosfera

Centro de Proteção Marinha | Estruturar a Praia do Caixão

10 | Dexi


Folha 01


Folha 02


Folha 03


Folha 04


Folha 05


Folha 06


Folha 07


Folha 08


Folha 09


Folha 10


Folha 11


Folha 12


Folha 13


Folha 14


Folha 15


Folha 15


Folha 16


a.

a. vivência são-tomense; desenhos do autor b. habitação são-tomense; desenhos do autor

b.


c.

a.

a. Vivenda no Restelo, desenho de Joana Malheiro b. Kings Road House de Rudolf Schindler, desenho de Hugo Farias c. evolução do núcleo infraestrutural, desenhos do autor d. conceito habitacional, desenho do autor

b.

d.


a. processo do desenho habitacional; desenhos do autor b. perspectiva construtiva da habitação, desenho do autor

a.

b.


a.

b.

d.

c.

a. diversos detalhes construtivos, desenhos do autor e de Hugo Farias b. construção da cobertura invertida, desenhos do autor e de Hugo Farias c. cortes construtivos da habitação, desenhos do autor d. toque entre pilares e vigas, desenho do autor e. disposição do tabuado de madeira em cobertura, desenho de Hugo Farias f. “catálogo” construtivo da habitação; desenhos do autor g. perspectiva dos materiais da habitação; desenhos do autor

f.

e.

g.


a.

b. a. desenvolvimento do desenho urbano da Roça S. Joaquim; desenhos do autor e de João Sousa Morais b. perfis de ruas do desenho urbano proposto; desenhos do autor c. perfis de rua do desenho urbano proposto; desenho do autor d. perspetiva sob o Mercado e o depósito de água; desenho do autor e. perspetiva sob o quarteirão de habitações; desenho do autor

d.

c.

e.


a.

b.

d. a. processo do desenho da Casa Principal; desenhos do autor b. processo do desenho da Escola Básica; desenhos do autor c. processo do desenho da Capela; desenho de Hugo Farias d. processo do desenho da Capela; desenhos do autor e. ‘Capelas Africanas’, inspirado por Simões de Carvalho; desenho de Joana Malheiro f. processo do desenho da Capela; desenhos de João Sousa Morais

c.

e.

f.


a.

a. utilização média de água e saneamento numa habitação; esquema do autor b. vista sobre o Mercado e depósito de água; desenho do autor c. perfil da valeta e influência no desenho urbano; desenhos do autor d. perspetiva do depósito de água; desenho do autor

c.

b.

d.


b.

a.

e. a. previsão de faseamento do plano da Praia do Caixão; desenhos do autor b. primeira abordagem ao desenho urbano da Praia do Caixão; desenho do autor c. desenvolvimento do plano urbano da Praia do Caixão; desenho do autor d. desenvolvimento do plano urbano da Praia do Caixão; desenho do autor e. diversos cortes do plano urbano da Praia do Caixão; desenhos do autor f. perspectivas do plano da Praia do Caixão; desenhos do autor

f.

c.

d.


b.

a. desenvolvimento do edificado da Lota; desenhos do autor b. processo de desenvolvimento da banca de venda na lota; desenhos do autor c. ‘Banca de Venda’; desenho de Joana Malheiro

a.

c.


c.

a. desenho agrícola proposto na Roça S. Joaquim; desenho do autor b. corte perspectivo do imaginário sãotomense; desenho do autor c. identidade da Praia do Caixão e da Roça S. Joaquim desenhos do autor d. ligação entre a Praia do Caixão e a Roça S. Joaquim desenho do autor

a.

b.

d.



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