POCKET PARK PROJETO DE ESPAÇO PÚBLICO NO CENTRO DE VILA VELHA/ES
Bárbara chalhub peluzio 2017
UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
BÁRBARA CHALHUB PELUZIO
POCKET PARK: PROJETO DE ESPAÇO PÚBLICO NO CENTRO DE VILA VELHA/ES
VILA VELHA 2017
BÁRBARA CHALHUB PELUZIO
POCKET PARK: PROJETO DE ESPAÇO PÚBLICO NO CENTRO DE VILA VELHA/ES
Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado ao Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha como um dos Pré-requisitos para o Título de Arquiteta Urbanista. Orientadora: Profa. Michelly Ramos de Angelo
VILA VELHA 2017
AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus, por minha vida e por ter me dado saúde e força em todos os momentos. Aos meus pais, Patrícia e Manoel, e meus irmãos, João Paulo e Letícia, pela paciência
durante
essa
fase
final,
sempre
me
incentivando
e
apoiando
incondicionalmente. A minha orientadora Michelly, pelas correções, por todo apoio, e por sempre ser doce e compreensiva. Aos meus amigos, que me deram forças e acreditaram em mim em todos os momentos, sempre pacientes. Principalmente, minha amiga Lorena, que me ajudou e esteve comigo do início ao fim. A toda minha família, e todos que fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigada.
RESUMO O trabalho tem como objetivo compreender a evolução dos espaços públicos e suas definições contemporâneas, dando enfoque ao pocket park, um parque inserido em vazios urbanos nas áreas centrais das cidades que servem como um refúgio verde para a população de seu entorno. Para este estudo foram utilizados como referências livros, artigos publicados em periódicos e eventos científicos, normas, dissertações e sítios eletrônicos. Foram analisados três estudos de casos em diferentes locais para se destacar as principais características existentes nestes espaços. Foi levantado e analisado um terreno na cidade de Vila Velha (ES) para a aplicação do estudo, o que resultou em um projeto de espaço público baseado nos conceitos de pocket park. Palavras-chave: Espaços Públicos. Pocket Park. Escala Humana. Refúgio.
ABSTRACT The subject of this work is to understand the evolution of public spaces and their contemporary definitions, focusing on the pocket park, a park inserted in urban voids in the central areas of cities that serve as a green refuge for the population of its surroundings. For this study were used as references books, articles published in scientific journals and events, norms, dissertations and electronic sites. Three case studies were analyzed in different places to highlight the main characteristics of these spaces. A land was surveyed in the city of Vila Velha (ES) for the application of the study, which resulted in a public space project based on pocket park concepts. Keywords: Public Spaces. Pocket Park. Human Scale. Refuge.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7 1.
2.
3.
OS ESPAÇOS PÚBLICOS: DEFINIÇÕES E TIPOS .................................................... 11 1.1
DEFININDO ESPAÇOS PÚBLICOS ............................................................................... 12
1.2
OS TIPOS DE ESPAÇOS PÚBLICOS............................................................................ 15
A IDEIA DE POCKET PARK, OS PRINCÍPIOS E AS DIRETRIZES DE PROJETO .... 24 2.1
O SURGIMENTO DA IDEIA DO POCKET PARK ......................................................... 24
2.2
PRINCIPIOS E DIRETRIZES PARA PROJETAR UM POCKET PARK .................... 26
ESTUDOS DE CASOS ................................................................................................. 33 3.1
PRACINHA OSCAR FREIRE (SÃO PAULO/ BRASIL) ................................................ 37
3.2
POCKET PARK EM EAST VILLAGE (CALIFORNIA/ EUA) ........................................ 42
3.3
BALFOUR STREET PARK (SYDNEY/ AUSTRÁLIA) ................................................... 47
3.4
QUADRO SÍNTESE ........................................................................................................... 52
4.
DIAGNÓSTICO ............................................................................................................ 53
5.
MEMORIAL JUSTIFICATIVO DO PROJETO............................................................... 59 5.1
PRACINHA DA VILA .......................................................................................................... 60
5.2
ACOLHIMENTO.................................................................................................................. 67
5.3
SUBSISTÊNCIA.................................................................................................................. 70
5.4
ÁREA DE PERMANÊNCIA ............................................................................................... 75
5.5
ÁREA SOMBREADA ......................................................................................................... 79
5.6
MICROCLIMA ..................................................................................................................... 82
5.7
CONSIDERAÇÕES GERAIS............................................................................................ 86
CONCLUSÃO...................................................................................................................... 88 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 89 APÊNDICES ........................................................................................................................ 92
7
INTRODUÇÃO Com o crescimento acelerado das cidades, com pressupostos urbanísticos que não valorizavam o planejamento urbano levando em consideração as pessoas, os espaços livres de uso público muitas vezes não receberam a devida atenção do Poder Público. As consequências foram áreas adensadas e sem qualidade ambiental com poucos espaços livres para lazer. Ao contrário, investia-se dando privilégio aos automóveis. Atualmente, algumas ações para criação e apropriação de espaços públicos defrontam por iniciativa dos próprios cidadãos e, nesse sentido, tem-se a ideia do pocket park, que é a ocupação de vazios urbanos em centros adensados transformando-os em espaços verdes de acolhimento para a população de seu entorno. A ideia de pocket park surgiu em Nova York, EUA, com a intenção de ocupar os espaços vazios entre prédios no centro da cidade (espaços de 1 a 3 lotes) que se tornariam pequenos parques espalhados pela cidade para atender a população imediata e incentivar o uso de espaços verdes. O parque possui elementos que acolhem o usuário e o incentivam a permanecer no local, se tornando um refúgio para as pessoas que trabalham em seu entorno, sendo um lugar para almoçar, descansa e socializar. O presente trabalho tem como objetivo apresentar a evolução dos espaços públicos nas cidades e suas principais tipologias, tendo como conceito a ser aprofundado o pocket park, demostrando a pertinência do tema por meio de definições, princípios e formas de aplicação a partir de autores como Jan Gehl, Simone Gatti, Silvio Soares Macedo e Fabio Robba, Manoel Salgado, Miranda Magnoli e Rosa Kliass, por exemplo. O objeto de estudo, propriamente o pocket park, foi melhor compreendido por meio de autores como Alan Tate, Alison Blake, William Whyte, que definem os conceitos do termo e como ele surgiu. Além destes autores, utilizou-se fontes de fundações e organizações sem fins lucrativos, como a NYC Parks, o Instituto Mobilidade Verde e o Project for Public Spaces. O pocket park não possui regra de implantação, mas alguns princípios e condicionantes podem definir esse tipo de espaço. E é a partir das análises das
8
autoras Carmem Maluf e Tairine Gonçalves que se estudou as diretrizes desses espaços, que se adaptam conforme o local de inserção, servindo de suporte para a aplicação do conceito pocket park no projeto realizado. Em relação a metodologia, o trabalho foi desenvolvido utilizando como referências: livros, artigos publicados em periódicos e eventos científicos, normas, dissertações e sítios eletrônicos. Também, foram realizadas visitas técnicas para escolha do local para o projeto, seguido de análises do entorno e do terreno, entrevistas com os usuários do bairro, e a produção de mapas, o que gerou a definição do programa e a setorização do projeto de pocket park, adaptado às necessidades do bairro. O trabalho apresenta informações de diferentes autores que se complementam e cooperam para compreender a evolução dos conceitos, por isso, ao fim de cada capítulo foi elaborada uma tabela síntese que simplifica a ideia de cada autor ou objeto para melhor compreensão do trabalho. A estrutura do trabalho se apresenta da seguinte forma: o primeiro capítulo, “Os espaços públicos: definições e tipos”, consiste em entender, a evolução das cidades e como o seu crescimento afetou na formação dos espaços públicos; as definições desses espaços dentro da cidade e como eles são vistos pela população; e as tipologias dos espaços públicos. O segundo capítulo “A ideia de pocket park, os princípios e as diretrizes de projeto”, apresenta o surgimento dos pocket parks, o contexto dessa ideia, e os primeiros projetos realizados. E, a partir da sua história, são analisados suas definições e conceito, onde ele deve ser inserido e suas formas de uso. Além disso, são apresentadas as diretrizes e elementos para a sua implantação, e o que leva vitalidade a esse espaço. Um estudo teórico, feito pelas autoras Maluf e Gonçalves (2015), aponta a partir da análise de três projetos de pocket park alguns princípios, em forma de uma “Matriz de Critérios”, que é utilizada neste trabalho para análise das diretrizes. Tais princípios são adaptáveis de acordo com o local de implantação. No terceiro capítulo “Estudos de casos”, a Matriz de Critérios de Maluf e Gonçalves (2015), são utilizados para auxiliar na análise de três pocket parks existentes e implantados em diferentes lugares, são eles: a Pracinha Oscar Freire em São Paulo,
9
o Pocket Park em East Village, EUA, que foi criado pelos investidores HP INVESTIDORES junto à comunidade e parceiros, e por fim, o Balfour Street Park em Sidney. Cada parque apresenta diferentes elementos, e ao final do capítulo foi criada uma outra tabela síntese que aponta cada diretriz implantada, apresentando os elementos que são semelhantes entre os parque e novos elementos que surgem a partir do seu local ou função. O quarto capítulo deste trabalho é o “Diagnóstico” de uma área para implantação de um pocket park. Foi realizada a seleção de um local para a aplicação da teoria na cidade de Vila Velha (ES/Brasil), no bairro Centro. O terreno proposto para o projeto foi analisado e se enquadra nos princípios básicos estudados para a inserção dos pocket parks, como: ser aplicado em um centro urbano comercial, ser murado por três lados e localizado em uma via de grande tráfego. No último capítulo, “Memorial Descritivo do Projeto”, é apresentado detalhadamente o projeto do pocket park, desde as primeiras análises ao resultado final. O projeto se iniciou a partir das análises do entorno e do terreno, seguido da definição do programa e a setorização, conforme apresenta o esquema na Figura 1. Os princípios e diretrizes estudados pelas autoras Maluf e Gonçalves (2015), serviram de base para definir cada área projetada. O resultado final é a Pracinha da Vila, implantada visando a atender os usuários do bairro Centro, em Vila Velha/ES. Uma adaptação de todo conceito de pocket park, que demonstra a possibilidade e a importância de criar espaços públicos alternativos em centros urbanos, que estimulem o uso coletivo. Isto posto, o trabalho se finaliza, sendo este um Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
10
Figura 1 - Esquema com as etapas do inĂcio do projeto.
Fonte: Autora.
11
1. OS ESPAÇOS PÚBLICOS: DEFINIÇÕES E TIPOS Atualmente as cidades cumprem funções automáticas, priorizam o tráfego, os edifícios, o comércio e, de certa forma, se esquecem do mais importante elemento de vitalidade: as pessoas. O espaço público é um elemento importante para a sociedade, é nele que acontecem os encontros, podem propiciar o lazer, o descanso, a contemplação, o passeio e outras inúmeras atividades que podem ser realizadas nesses espaços. Segundo Gehl (2013), a forma como as cidades são planejadas atualmente mudou radicalmente se comparadas a forma como eram pensadas até 1960, época onde a vida nos espaços públicos era essencial e a cidade ainda era pensada para as pessoas. A expansão urbana trouxe o desenvolvimento das cidades como consequência de vários fatores, como a partir dos profissionais urbanistas, que por influência do movimento modernista, separou a cidade por funções, tornando prioritário seu desenvolvimento para as máquinas e se esquecendo de como a estrutura física influencia o comportamento humano. Por muito tempo, a consideração pelas pessoas nas cidades foi ignorada em função de seu crescimento exacerbado, e, após muitos anos, os cidadãos começaram a reconquistar seus direitos sobre a cidade e exigir projetos e planejamento quanto aos espaços públicos. Nota-se que a cidade deve se desenvolver a partir do homem adequado a sua escala. Os espaços públicos se tornam peças fundamentais fazendo parte da vida do cidadão, seja em forma de ruas, praças ou parques, como defende Kliass e Magnoli (p.247. 1969), caracterizando a paisagem urbana: Além de simples e indispensável elemento de regularização do grau higrométrico da atmosfera, eliminação de toxinas, equilíbrio de camadas de ar poluído, de abertura de áreas de luz e sol, os espaços livres têm significado muito maior: é um bem público onde, além de promover-se o reencontro do homem com a natureza, desenvolvem-se as atividades urbanas, com seus ritmos, em todas as escalas, desde a ida diária ao trabalho, à escola, às compras, o passeio domingueiro até a percepção da mudança das estações do ano.
Portanto o presente capítulo abordará as definições de espaços públicos e como eles são utilizados na contemporaneidade, suas tipologias e formas de apropriação.
12
A partir de autores como Jan Gehl, Silvio Soares Macedo e Fabio Robba, Simone Gatti, entre outros.
1.1 DEFININDO ESPAÇOS PÚBLICOS A definição de espaços públicos possui diversas vertentes. Em meio a cidade ele pode ser um espaço para recreação, para contemplação, circulação e até de preservação. Assim, segundo Tunnard-Pushkarev (apud MAGNOLI, 2006, p. 179) podemos diferenciar quatro funções para esses espaços: “[...]produtiva, protetora, ornamental e recreativa. ” Segundo Salgado (s.d.), o espaço público atualmente volta a ser pensado como “fruto da necessidade que se sente em reconquistar a cidade para as pessoas tornando-a aberta, permeável, acessível a todos”. O espaço público não deve ser pensado apenas como o que resta do que foi edificado, e sim o inverso. [...] é algo que tem consistência em si próprio, tem uma estrutura definida pelas ruas, praças, jardins, becos, passagens[...] É um todo que se desenha e se define com os edifícios, as árvores que o conformam, tendo também em conta o chão que se pisa, a iluminação pública que o modela, o mobiliário e a arte que o compõem. (SALGADO, s.d., p. 9).
Uma cidade ativa incentiva as pessoas a caminhar, andar de bicicleta e usufruir de seus espaços públicos. Conforme Gehl (2013), existe inúmeras atividades praticadas nos espaços comuns da cidade: [...] caminhadas propositais de um lugar a outro; calçadões; paradas curtas; paradas mais longas; ver vitrines; bater papo e encontrar pessoas; fazer exercícios; dançar; divertir-se; comércio de rua; brincadeiras infantis; pedir esmolas; e entretenimento de rua. ” (GEHL, 2013, p. 19).
Essas práticas comuns fazem parte do cotidiano das pessoas na cidade, tornando-a viva, o que pode gerar segurança e incentivar uma vida mais saudável. Percorrer pela cidade a pé ou de bicicleta é o primeiro passo. Caminhar é essencial para ligar as pessoas ao seu entorno, trocar conhecimentos, estar ao ar livre e curtir o ar fresco. Dessa maneira, Gehl (2013) defende o espaço público como o condicionante para a vida da cidade: “[...] um maior número de vias convida ao tráfego de automóveis. Melhorar as condições para os pedestres, não só reforçamos a circulação a pé, mas também - e mais importante - reforçamos a vida da cidade”. (GEHL, 2013, p. 19).
13
Isto posto, nota-se a necessidade de integração dos espaços públicos com as pessoas, uma vez que isso afeta o comportamento da cidade ou vise e versa. Em cidades muito adensadas a falta de espaços públicos pode tornar o cotidiano das pessoas estressante, e isso afeta a sua produtividade, podendo contribuir para um ciclo de insatisfação. Uma cidade precisa encontrar alternativas para amenizar essas condições. Kliass e Magnoli (2006) abordam sobre a carência dos espaços livres na cidade de São Paulo, mostrando como o planejamento dos bairros foram feitos sem determinações quanto aos espaços livres, desenvolvendo, assim, uma massa de bairros com condições desumanas. As autoras apontam que a ausência dos espaços livres é resultado, dentre outros, especialmente a especulação imobiliária e da falta de interferência dos governos municipais. Esses fatos se assemelham a muitos lugares que hoje são grandes centros urbanos e possuem os mesmos problemas com falta de espaços verdes. Consequentemente, tem-se produzido nas cidades espaços semi-públicos, como os shoppings centers e empreendimentos imobiliários, que na realidade são meios que segregam e não interagem com a cidade em si. Bem pelo contrário, são ambientes privados sendo utilizados como públicos. Assim, como estabelece Meirelles (apud EPPINGHAUS, 2004, p. 55), são recriados “espaços de convivência social através de praças de alimentação, das alamedas de serviços e diversões, dos passeios entre vitrines das lojas comerciais”. As pessoas passam a tratar esses espaços como públicos por eles darem a sensação de segurança, e isso mostra um déficit na capacidade da cidade de proporcionar espaços realmente públicos, de lazer e integração da população. Dessa forma, a cidade perde sua identidade e a capacidade de tratar o espaço público como um espaço de socialização de seus habitantes. Segundo Gatti (2013), elementos como os shoppings centers, a internet, a insegurança e o descaso com os espaços públicos afastaram as pessoas das ruas, “contudo, espaços público ainda são representativos da vida urbana que se faz presente, e são os únicos lugares onde a vida coletiva, sem distinção de raça e classe social, permanece inalterada. ” (GATTI, 2013. p.8). Para melhor entender as relações entre espaços públicos, privados e os espaços de transição, Fisher (apud EPPINGHAUS, 2004, p. 49) distingue:
14
O espaço privado - ou território primário - é caracterizado pelo alto grau de intimidade: controlado pelo seu ocupante, que nele permanece usualmente por longos períodos ao sair da esfera mais pública da vida social. O exemplo mais contundente é a habitação. O espaço público, ou território público, em teoria, pertence a todos. É ocupado temporariamente por uma pessoa ou um grupo, entendidos como os “proprietários provisórios”, que se comportam ali conforme normas sociais e costumes daquela cultura. Neste espaço, desenvolvem-se atividades diversas de socialização, mas é também onde se identificam atitudes de maior agressão ao outro, ao desconhecido. O espaço de transição entre o público e o privado, ou território secundário, é o espaço ocupado por grupos que se relacionam segundo regras relativamente formais que identificam o direito de acesso e uso do território. Ele “não é nem completamente privado, nem totalmente público” e corresponde a ambientes onde ocorrem reuniões de grupos que tenham identidades em comum. É um espaço de socialização mais estreita e direcionada.
A perda do significado desses elementos gera espaços segregatórios, que tentam solucionar problemas como a violência isolando os espaços em empreendimentos semi-públicos. Isso é o contrário do que um espaço público ou semi-público ou de transição deve propor. A comunidade deve interagir com sua cidade e seus espaços de forma livre. E, a partir disso, surgem hoje diversas formas contemporâneas de se repensar os espaços públicos e privados da cidade, sejam eles em forma de praças, parques, ruas vivas, e outros. Esses espaços devem ser pensados como uma alternativa para revitalização de áreas degradadas e vazias da cidade, e, mesmo não sendo a solução, podem trazer benefícios para os cidadãos. O conceito de Pocket Park entra como estratégia, a nível de bairro, para os centros urbanos adensados que não receberam investimentos suficientes em áreas públicas, e se encaixam nas cidades contemporâneas como uma alternativa para melhorar a condição espacial e social da comunidade. Considerando o estudo em relação a esses espaços nas cidades, serão expostos algumas tipologias de espaços públicos e as suas novas formas de apropriação.
15
1.2 OS TIPOS DE ESPAÇOS PÚBLICOS Em relação aos tipos de espaços públicos, podemos encontrar em uma cidade locais como parques, praças, margens de águas e ruas. Tais espaços devem ser projetados pensando na coletividade e mobilidade da cidade, tornando-a dinâmica. É importante lembrar que não basta projetar uma praça ou um parque. É preciso entender a dinâmica de uma cidade e a vida das pessoas no seu cotidiano, a fim de que os espaços públicos a serem projetados reflitam as necessidades e os anseios dos seus usuários, para só assim serem realmente utilizados. (GATTI, 2013, p. 9).
Classificando os tipos de espaços públicos, segundo estudo da CCDR-LVT (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo. s.d.), temos os seguintes grupos: a) Parques Urbanos, Jardins Públicos e Áreas Ajardinadas de Enquadramento; b) Avenidas e Ruas; c) Praças, Largos Pracetas, Terreiros e Recintos Multifuncionais; d) Espaços Canais – Vias Férreas, Autoestradas e Vias Rápidas; e) Parques de Estacionamento; f) Margens Fluviais e Marítimas. Segundo
Mora
(2009),
esses
espaços
possuem
variadas
manifestações,
dependendo de onde estão localizados, da cultura e das funções para que se destinam. A autora acrescenta que, atualmente, existem ainda, duas novas ideias de espaços públicos: o espaço público interior, definido como equipamentos com certos níveis de controle, que cumprem funções públicas, como edifícios patrimoniais, pátios de edificações, clubes privados, igrejas, teatros, casas culturais, centros recreativos, centros comerciais e outros; e o espaço público informal, que seria o uso espontâneo de um espaço por falta ou precariedade dos espaços tradicionais, como escadas, corredores, paradas de transporte público, vazios urbanos, estacionamentos, terrenos baldios, sombras de árvores e outros. Um exemplo é a parte de baixo do Viaduto do Café em São Paulo, um vazio urbano que as pessoas se apropriam informalmente, conforme apresenta a Figura 2.
16
Figura 2 - Espaços Públicos Informais.
Fonte: Manual de Espaços Públicos. 2013. p.17
Nota-se que a definição de Mora (2009) sobre o espaço público interior se assemelha com o que foi conceituado sobre os espaços semi-públicos no item anterior, “Definindo os Espaços Públicos”: locais com restrições de usos ou horários definidos, abertos para a população em geral, e que oscilam entre o uso público e privado. Uma das tipologias que deu origem ao conceito do Pocket Park, são os parques urbanos. Segundo Magnoli (2006), no final do século XVIII, em Munich foi proposto o conceito de parques públicos como áreas de lazer, especialmente em espaços não utilizados. Mas, foi em Nova York, EUA, com a implantação do Central Park, que o desenho do maior parque público, com fundamentos julgados sendo de utilidade da população, foi realizado (Figura 3). Figura 3 - Central Park.
Fonte: Paisagem Ambiente: ensaios n. 21. São Paulo. 2006. p. 206
17
Magnoli (2006) define os parques urbanos como sendo parte do sistema de espaços livres de edificação, o que é entendido como “[...] todo espaço (e luz) nas áreas urbanas e em seu entorno, não-coberto por edifícios. ”, (p. 202). Posto isto, o elo desses espaços se dá a partir da sua localização, conectando as pessoas que o ocupam, seja para circulação ou permanência. O espaço livre denominado parque, tem como seu principal motivador as atividades e necessidades do homem, assim como define Carneiro e Mesquita (apud MENDONÇA, 2007, p. 300): Parques são espaços livres públicos com função predominante de recreação, ocupando na malha urbana uma área em grau de equivalência superior à da quadra típica urbana, em geral apresentando componentes da paisagem natural – vegetação, topografia, elemento aquático – como também edificações destinadas a atividades recreativas, culturais e/ou administrativas.
Com princípios semelhantes que os parques, as praças são definidas como “[...] espaços livres de edificação, públicos e urbanos, destinados ao lazer e ao convívio da população, acessível aos cidadãos e livre de veículos” (ROBBA, MACEDO, 2010, p. 17). Os autores explicam que as vezes a praça é confundida por áreas ajardinadas, como os canteiros, rotatórias, encostas ajardinadas, taludes; o que na verdade são jardins urbanos e não possuem programa social ou atividades de lazer, além de muitas vezes possuírem acessos limitados. Segundo Magnoli (2006), a praça é formada pela junção de duas ou mais ruas, ou por um espaço aberto cercado de edificações, assim suas características se desenvolvem a partir dos cheios e vazios e da relação das atividades humanas que a permeiam. “São, então, as praças, coletoras e geradoras, simultaneamente, no sentido de recolherem energia das ruas (e dos edifícios) que a elas convergem e ao mesmo tempo distribuem às ruas (e os edifícios) que nelas nascem”. (MAGNOLI, 2006, p. 153). Nota-se que a praça e o parque possuem características semelhantes quanto as atividades e fluxos, e se diferem em tamanho e localização. Seguindo este pensamento, as autoras Carneiro e Mesquita (apud MENDONÇA, 2007, p. 299) definem as praças da seguinte forma: Praças são espaços livres públicos, com função de convívio social, inseridos na malha urbana como elemento organizador da circulação e de amenização pública, com área equivalente à da quadra, geralmente contendo expressiva cobertura vegetal, mobiliário lúdico, canteiros e bancos.
18
Na Figura 4 é ilustrada a Praça Marechal Deodoro, em Porto Alegre, que é rodeada por edifícios de grande valor histórico, como a Igreja Matriz e o Palácio Piratini, e envolvida pelo fluxo intenso dos veículos e pelas pessoas que a permeiam. Figura 4 - Praça Marechal Deodoro, Porto Alegre.
Fonte: ROBBA e MACEDO, 2010, p. 19.
O uso das praças evoluiu com a sociedade, e passou de uma época onde sua função era voltada para a contemplação da natureza, dos grandes jardins, para uma fase moderna, em que a relação do usuário com o espaço pode ocorrer por meio de atividades de lazer e esportes. Essas atividades podem ser encontradas nas praças de hoje em qualquer cidade de Brasil. Verifica-se a implantação de quadras esportivas, parquinhos infantis, pistas para caminhadas, academias populares, que são voltados para a integração e atividade da população. Segundo Robba e Macedo (2010), um dos primeiros projetos com essa tendência moderna foi o Parque do Flamengo (1965), no Rio de Janeiro, que atualmente possui diversos projetos de incentivo ao esporte e uso do espaço, como o #OCUPAPARQUE¹, que, de acordo com o site do projeto, foi idealizado pelo Instituto Lotta, o projeto salienta a importância da participação e integração da sociedade do convívio no parque, buscando referencias em outros espaços públicos com o mesmo porte do Parque do Flamengo (Figuras 5 e 6). ¹Projeto de incentivo ao esporte e lazer, disponível em: http://www.parquedoflamengo.com.br/ocupaparque/
19
Figura 5 e 6 - Parque do Flamengo, RJ.
Fonte: http://www.parquedoflamengo.com.br/sobre-o-parque/
Outro tipo de espaço público é a área que margeia, rios, córregos e oceanos, que segundo Gatti (2013) são muito privilegiadas e possuem grande potencial para receber equipamentos e atividades relacionadas aos espaços públicos. É uma pena que muitas cidades não reconheçam essa potencialidade e acabam privatizando tais áreas. Tornando esses espaços como de usos coletivos, as cidades poderiam aumentar muito a qualidade de vida de sua população. Projetos de revitalização em canais, em orlas e áreas portuárias, dão espaços públicos extraordinários. Essa ideia é bastante discutida, e os órgãos públicos possuem instrumentos de leis que incentivam tais transformações. Quando a revitalização acontece, essas áreas recebem grandes investimentos, como em mobilidade, infraestrutura, implantação de equipamentos de lazer, modificando, assim, a qualidade de vida da região. Um exemplo de transformação desse tipo de espaço ocorreu no Rio de Janeiro, no “Porto Maravilha”, ilustrado na Figura 7. Independente das críticas ao projeto, relacionados à gentrificação, tem-se um exemplo de revitalização de área degradada, anteriormente portuária que foi aberta para o uso público. Figura 7 - Praça Mauá no Porto Maravilha, Rio de Janeiro.
Fonte: http://www.portomaravilha.com.br/fotos_videos/g/26/pagina/1
20
Outro espaço público considerado de grande importância para as cidades são as ruas, avenidas e calçadas. Nelas ocorrem toda a circulação da cidade, conectando pontos e permitindo a mobilidade da população. Segundo Gatti (2013), as ruas têm priorizado o uso do automóvel, o que já fora diferente de uma época em que ela era lugar de comércio, de reunião e de encontro. O ideal de utilização desses espaços seria priorizando a escala do pedestre ao invés dos veículos, com calçadas mais largas, ciclovias e ruas que fossem fechadas em certos dias ou datas para o uso exclusivo da comunidade, como ilustrado nas Figuras 8 e 9, que mostram a apropriação desse espaço por moradores do Rio de Janeiro e em São Paulo. Figura 8 e 9 - Rua do Rio de Janeiro liberada para pedestres aos domingos e ciclo faixa de lazer em São Paulo nos fins de semana.
Fonte: Manual de Espaços Públicos. 2013. p.22
O desenho urbano, por meio de ruas elevadas, pode também priorizar os pedestres, onde o eixo carroçável se nivela a calçada fazendo com que o carro precise diminuir sua velocidade e respeitar o pedestre. Isso acontece em lugares com comércios bem consolidados ou polos gastronômicos, onde os restaurantes se apropriam das ruas, como o exemplo da Figura 10, em Convent Garden (Londres). Figura 10 - Covent Garden, Londres, Inglaterra.
Fonte: http://movimentoconviva.com.br/ruas-para-pedestres-2/
21
Atualmente, tem surgido formas de apropriação do espaço da rua como lugar de estar/permanência do pedestre. Um exemplo são os Parklets. Segundo o “Manual Parklet” realizado pela Prefeitura de São Paulo (2016), “o parklet é uma extensão temporária da calçada”. O espaço na rua que era destinado a uma ou duas vagas de automóvel passa a ser uma ampliação do passeio público, com a implantação de um ‘miniparque’ com mobiliários, equipamentos e vegetação. Esse termo surgiu na cidade de São Francisco, nos EUA no ano de 2005, com o objetivo de debater a “cidade para as pessoas” e o uso do solo com igualdade. Em 2012 o conceito dos parklets chegou ao Brasil, e a primeira implantação realizada na cidade de São Paulo ocorreu em 2013. Após algumas outras tentativas e a aprovação da população, a Prefeitura de São Paulo transformou a ideia em política pública, e hoje ocorrem várias intervenções de parklets, como nas Figuras 11 e 12, onde vagas de veículos foram convertidas em espaços públicos. A implantação e manutenção desse equipamento acontece a partir de pessoas físicas ou jurídicas que tenham interesse em mantê-lo sabendo que o espaço precisa ser plenamente acessível ao público. Figura 11 - Parklet implantado na Rua Oscar Freire, São Paulo, 2015.
Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/16.183/5956?page=3
22
Figura 12 - Proposta de Intervenção do escritório Prillinger Architectes.
Fonte: http://www.arquiteturasustentavel.org/os-parklets-mais-criativos-do-mundo/
Em resumo pode-se constatar que existem diversas tipologias para os espaços públicos, e que a cada dia que passa surgem mais ideias contemporâneas voltadas para a integração do homem com a cidade. O Quadro 1 apresenta uma síntese com os tipos de espaços públicos que foram abordados e suas definições. Quadro 1 - Síntese dos Tipos de Espaços Públicos. TIPOS DE ESPAÇOS PÚBLICOS POR AUTOR AUTOR
CLASSIFICAÇÃO
DEFINIÇÃO
GATTI
Margens, rios, córregos e oceanos; Ruas, avenidas e calçadas.
Áreas com grande potencial para receber equipamentos e atividades; é onde ocorrem toda circulação da cidade, conectando pontos e permitindo a mobilidade da população
MORA
Espaço Público Interior; Espaço Público Informal
Interior: equipamentos com certos níveis de controle, que cumprem funções públicas; Informal: o uso espontâneo de um espaço por falta ou precariedade dos espaços tradicionais.
Parques Urbanos
“[...] todo espaço (e luz) nas áreas urbanas e em seu entorno, não-coberto por edifícios. ”, (2006. p. 202)
Parques
Parques são espaços livres públicos com função predominante de recreação, ocupando na malha urbana uma área em grau de equivalência superior à da quadra típica urbana, em geral apresentando componentes da paisagem natural – vegetação, topografia, elemento aquático – como também edificações destinadas a atividades recreativas, culturais e/ou administrativas. (2007, p.300)
MAGNOLI
CARNEIRO E MESQUITA (apud MENDONÇA)
23
MAGNOLI
ROBBA E MACEDO
CARNEIRO E MESQUITA (apud MENDONÇA)
Praças
São, então, as praças, coletoras e geradoras, simultaneamente, no sentido de recolherem energia das ruas (e dos edifícios) que a elas convergem e ao mesmo tempo distribuem às ruas (e os edifícios) que nelas nascem. (2006, p.153)
Praças
“[...] espaços livres de edificação, públicos e urbanos, destinados ao lazer e ao convívio da população, acessível aos cidadãos e livre de veículos. ” (2010. p.17)
Praças
Praças são espaços livres públicos, com função de convívio social, inseridos na malha urbana como elemento organizador da circulação e de amenização pública, com área equivalente à da quadra, geralmente contendo expressiva cobertura vegetal, mobiliário lúdico, canteiros e bancos. (2007, p. 299) Fonte: Autora.
Nota-se que cada autor aborda os espaços públicos de forma diferente, como sendo um potencial para a cidade e alguns de uso espontâneo da população. As ideias se complementam e definem os espaços públicos, como os autores Magnoli (2006), Robba e Macedo (2010) que se assemelham com a definição dos parques urbanos e praças como espaços livre de edificação, e a ideia de espaços para o lazer da população e livres de veículos. O objeto de estudo, o pocket park, engloba as características apontadas por Mora (2009) sobre os espaços públicos interior e informal, por se apropriar dos vazios urbanos por falta ou precariedade de espaços públicos nos centros urbanos. Sendo uma alternativa para a população de criar novos espaços verdes, visto a situação atual das grandes cidades e a falta de investimentos nessas áreas. O pocket park traz seus princípios baseados em parques americanos de menor escala. Quando inserido em outros locais, como no Brasil, as características são moldadas ao local de acordo com os costumes, o clima, os usos e as necessidades. Como exemplo tem-se a Praça Amauri em São Paulo, construída a partir dos conceitos de pocket park e identificada como uma praça. E é a partir disso que serão apresentados no próximo capítulo os princípios e funções dos Pocket Parks.
24
2. A IDEIA DE POCKET PARK, OS PRINCÍPIOS E AS DIRETRIZES DE PROJETO O capitulo abortará sobre a história do pocket park; como a ideia surgiu; o porque foi necessário a criação desse conceito; e onde ele foi aplicado. Seus princípios e diretrizes de implantação analisados a partir de projetos já existentes. Com base em autores como Marc A. Weiss (1992), Alan Tate (2014), Alison Blake (s.d.), William H. Whyte (1979) e Carmem Maluf e Tairine Gonçalves (2015), e também por organizações americanas sem fins lucrativos como a NYC Parks e Project for Public Spaces, que fizeram parte da história dos pocket park. 2.1 O SURGIMENTO DA IDEIA DO POCKET PARK Apesar de ser um assunto tratado como contemporâneo no Brasil, de acordo com o NYC Parks², uma organização da prefeitura de Nova Iorque que cuida e projeta parques, o conceito de Pocket Park existe a mais de 40 anos. Ele surgiu na década de 60 em Nova York, EUA, através das ideias de Thomas Hoving, um executivo americano que fazia parte do NYC Parks, que acreditava na possibilidade de se implantar espaços públicos tão pequenos quanto um lote de um prédio. Tal ideia parecia absurda na época, quando só se pensavam em grandes parques tradicionais. A partir da proposta de Hoving, os espaços públicos e pontos verdes seriam implantados em áreas centrais e densas da cidade que, devido ao crescimento acelerado e ao próprio processo de planejamento, se encontravam carentes de áreas verdes e de lazer. A cidade de Nova York se desenvolveu a partir das leis de zoneamentos urbano que, desde 1916, incentivaram as construções de arranha-céus, o que atraia um grande número de investimentos e construções para a cidade, o que, consequentemente, formou um grande centro superadensado (Figura 13). Em 1961 houve mudanças significativas na lei de zoneamento de Nova Iorque, visto que a cidade estava carente de espaços públicos, e incentivou a criação de praças e espaços livres ao nível do solo a partir do sistema de bônus de densidade, que possibilitava ao investidor que construísse espaços de uso público em seus edifícios, um maior potencial construtivo (WEISS, 1992).
² Site da Organização NYC Parks, disponível em: https://www.nycgovparks.org
25
Figura 13 - Arranha-céus em Nova York no início do século XX.
Fonte: http://acidcow.com/pics/7457-new-york-at-the-beginning-of-the-20th-century-50.html
Em tal situação a cidade procurava meios de amenizar a falta desses espaços. Foi quando muitas ideias inovadoras começaram a surgir para tentar solucionar o problema. Segundo Tate (2014), em 1963 ocorreu a exposição New York Parks for New York organizada pela NYC Parks onde o primeiro protótipo de Pocket Park foi apresentado pelo paisagista Robert Zion. A ideia demostrava pequenos parques em terrenos de 15 por 30 metros localizados entre os edifícios, utilizando os terrenos baldios existentes, com intuito de ser um descanso para os trabalhadores e comerciantes do bairro. Na época, a proposta gerou discussão entre a comunidade pelo seu tamanho. E era entendido que parques deveriam possuir áreas maiores que 12 mil metros quadrados, e áreas menores que isso seriam caros e difíceis de se administrar pela gestão pública. Tal repercussão chegou ao presidente da emissora de rádio CBS, William Paley, que apoiou a proposta e, posteriormente, fundou um dos primeiros (e considerado um dos mais importantes) pocket parks em Nova York, o Paley Park, em 1967, que teve como paisagista Robert Zion. Antes mesmo do Paley Park, de acordo com NYC Parks, a Park Association of New York foi responsável pela construção dos primeiros pocket parks, em 1965, porém de forma efêmera (Figura 14). Embora tenham chamado atenção da mídia na época, os projetos eram frágeis, mas os modelos estimularam o conceito dos parques pela cidade, gerando impacto sobre o desenho urbano de Nova York, se tornando um dos meios utilizados para amenizar a crise urbana de 1960.
26
Figura 14 - Primeiro Pocket Park - Rev. Linnette C. Williamson Memorial Park, 1965.
Fonte: http://www.pocketparksnyc.com/blog/the-first-pocket-park
2.2 PRINCIPIOS E DIRETRIZES PARA PROJETAR UM POCKET PARK Visto que o pocket park foi uma das soluções encontradas para amenizar a situação de densidade de grandes centros, seu conceito foi utilizado em diversas cidades e países, se adequando a cultura, ao clima e às necessidades imediatas, sem perder os princípios básicos que o definem. Considerado como um “oásis urbano”, esses parques podem se tornar o refúgio da vida corrida da população, servindo para descanso, como uma parada para um café ou almoço, encontros, ou apenas para contemplação (Figuras 15 e 16). Mesmo sendo parques de pequena escala, eles podem ser produzidos em maior quantidade em vários pontos de uma cidade, se utilizando de áreas ociosas e abandonadas, qualificando, assim, os usos do espaço e a vida da população. Figura 15 e 16 - GreenAcre Park, 1971.
Fonte: http://placemaking.pps.org/great_public_spaces/one?public_place_id=70#
27
Segundo a fundação americana, sem fins lucrativos, Kronkosky (2016), os pocket parks podem ser implantados a partir da combinação de diversas fontes de fundos financeiros; alguns são de propriedade e mantidos pela cidade, outros por fundações de caridade, e alguns de parcerias público-privado. Eles precisam da iniciativa e liderança da comunidade, podendo receber financiamento de diversas maneiras. De acordo com o Project for Public Spaces³, uma organização americana sem fins lucrativos, para definir um espaço como pocket park é necessário seguir algumas diretrizes, que foram baseadas nas necessidades de cidades americanas e precisam ser adequadas conforme o local que serão inseridos. Além do seu tamanho que chega de 1 a 3 lotes, descreve algumas diretrizes básicas: 1. Que seja localizado na rua para que as pessoas sejam atraídas a olhar e entrar; 2. Que ofereça opções de alimentação boa e a preços razoáveis; 3. Que tenha cadeiras e mesas soltas para que as pessoas possam se sentir à vontade e tenham controle sobre onde desejam se sentar; 4. Que possua uma cascata/ fonte de água que proporcione um foco e um motivo dramático para visitar o parque e seu barulho criar um ambiente pacífico e de privacidade; 5. Que tenha sombra de árvores no verão, porém com uma estrutura que não seja tão densa a ponto de evitar a passagem de luz; 6. Que possua lâmpadas de calor nas partes superior para quando fizer frio. Tais definições descrevem o intuito dos pocket park, promover espaços agradáveis em meio ao caos urbano, onde as pessoas possam relaxar por alguns momentos e se sentirem acolhidas em qualquer hora do dia. Sua vegetação pode trazer a vitalidade de um lugar natural e longe do meio urbano. Os pontos de vendas implantados no local atraem mais pessoas para o interior do espaço, gerando movimento, o que proporciona a segurança natural. O elemento água é um ponto essencial do projeto, é ele que dispersa o barulho proveniente da cidade, dos carros, das buzinas, e torna o local pacífico ao som das quedas d’agua (Figura 17).
³ Site da Organização Project for Public Spaces, disponível em: http://www.pps.org
28
Figura 17 - Queda d'água, Paley Park.
Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/pocket-parks/
Do ponto de vista ecológico, Blake (2016) define os pocket parks como pequenas manchas verdes, onde a vegetação implantada, mesmo sendo em pequena escala, regulariza o microclima no seu entorno e produz superfícies permeáveis onde não existia. O autor defende que os parques precisam ser instalados em vias com forte tráfego de pedestres, para permanecerem seguros e funcionando, e ainda idealiza a ideia da necessidade de implantação de um pocket park dentro de cada quarteirão das cidades, o que beneficiaria a ecologia global. Whyte (1979) define os elementos primordiais que um espaço público necessita para ter vitalidade, de forma geral, são os espaços para sentar, a proximidade de vias movimentadas, o sol, seja para se proteger dele ou se esquentar, pontos com venda de comida, a vegetação, água, e as próprias pessoas que proporcionam momentos e interagem entre si. Elementos que geram espaços públicos dinâmicos, que funcionam e tornam a cidade viva, presente nas definições dos pocket parks. A partir de estudos teóricos, Maluf e Gonçalves (2015) analisaram os princípios e as condicionantes de implantação dos Pocket Parks no contexto contemporâneo. A pesquisa envolveu a análise de três pocket parks existentes, o Paley Park, Greenacre Park, em Nova York, e a Praça Amauri, em São Paulo (Figuras 18, 19 e 20). Com a análise percebe-se a similaridade de suas funções e o que cada elemento
instalado
proporciona
aos
usuários
através
das
condicionantes
relacionadas ao clima, a orientação geográfica, a morfologia, ao entorno, e a outros fatores, definindo assim os princípios para a implantação desses parques.
29
Figura 18 - Paley Park, NY.
Fonte: http://placemaking.pps.org/great_public_spaces/one?public_place_id=69# Figura 19 - GreenAcre Park, NY.
Fonte: http://placemaking.pps.org/great_public_spaces/one?public_place_id=70# Figura 20 - Praรงa Amauri, SP.
Fonte: http://isayweinfeld.com/projects/praca-da-amauri/
30
Segundo Maluf e Gonçalves (2015), os princípios são: Acolhimento: proporcionado pelos muros ou prédios que circundam o parque, elementos que acolhem e protegem o usuário. Ainda, em combinação com a entrada, que é feita por uma face apenas, e que deve se estender com pavimentações até a calçada, convidando o cidadão a entrar no espaço. Área Sombreada: são definidas por elementos naturais ou arquitetônicos que proporcionam o conforto térmico e ambiental, como árvores forrando o teto do espaço. Subsistência: é um ponto de apoio ao espaço, como café, livraria, lanchonete, ponto digital; o que vai proporcionar motivo de permanência no espaço. É essencial que se analise o entorno que será inserido o parque para entender suas necessidades. Área de permanência: é proporcionada pela área livre, com espaços confortáveis para sentar, que garantam a permanência do usuário. Um elemento aderindo para essas áreas são as mesas e cadeiras móveis, que dão liberdade aos usuários de onde sentar no espaço livre. Microclima: a utilização do elemento água no espaço, por meio das quedas d’água, fontes, espelhos d’água e outros. Tal estratégia contribui para o conforto térmico e ambiental, além de produzir som que permite a sensação de tranquilidade ao usuário, fazendo com que ele se desligue dos ruídos externos da cidade. Tais pontos podem ser considerados essenciais para o projeto de um pocket park, podendo ser adaptado de acordo com o local de inserção e as necessidades existentes, que mudam dependendo da cidade, cultura, clima e outros diversos fatores. Na figura 21, é demostrado em forma de croqui os princípios das autoras em cada parque analisado, onde é indicado cada espaço e como ele é utilizado, nota-se a semelhança entre os elementos dos projetos, todos possuem os cinco princípios de diferentes formas.
31
Figura 21 - Croquis baseados nos princípios de Maluf e Gonçalves (2015), GreenAcre Park, Paley Park e Praça Amauri respectivamente.
GreenAcre Park, NYC.
Paley Park, NYC.
Fonte: Autora.
Praça Amauri, SP.
32
Figura 22 - Praça Amauri, SP.
Fonte: http://www.mobilize.org.br/galeria-fotos/197/pocket-parks-pelo-mundo.html
Podemos concluir que o projeto de um pocket park na cidade pode trazer inúmeros benefícios para a população, propiciando pontos de refúgios para a distração da vida corrida, englobando cada diretriz citada, sendo um novo espaço público no bairro com atividades e eventos para a população local, levando as pessoas a utilizarem os espaços livres nas cidades (Figura 22). Mesmo sendo um conceito já antigo, o pocket park pode ser uma estratégia para promover maior vitalidade aos centros urbanos contemporâneos, estando adequado à escala humana e possibilitando “refúgios” para o descanso, contemplação ou interação da população.
33
3. ESTUDOS DE CASOS Com base nos conceitos de Maluf e Gonçalves (2015), serão analisados três estudos de casos implantados em diferentes locais, apontando suas necessidades e objetivos quanto ao seu entorno, correlacionando-os com os princípios de implantação definidos pelas autoras. Os casos para estudo serão: a Pracinha Oscar Freire, em São Paulo (Brasil); o Balfour Street Park, em Sidney (Austrália); e o Pocket Park, em East Village (EUA) que foi criado pelos investidores HP INVESTIDORES junto à comunidade e parceiros (Figuras 23, 24 e 25). Cada um possui diferentes abordagens, formas e objetivos relacionados ao local de implantação. A análise relacionará os três de forma a apontar os princípios que eles possuem em comum e o que os definem como pocket parks.
Figura 23, 24 e 25 - Praça Oscar Freire, São Paulo; Pocket Park em East Village Eua; Balfour Street Park em Sidney. Fonte: https://cidadedeideias.wordpress.com/2014/06/02/sao-paulo-pocketpark/; http://www.radlabsd.com/work-avenue/#/cities/; http://www.landezine.com/index.php/2014/07/balfourstreet-pocket-park-by-jane-irwin-landscape-architecture/
Para a análise será utilizada uma Tabela 1 de definições dos pocket park, elaborada pelas autoras Maluf e Gonçalves (2015), denominada Matriz de Critérios.
34
Tabela 1 - Matriz de Critérios. CONDICIONANTES PRINCÍPIOS
ACOLHIMENTO
ÁREA SOMBREADA
ÁREA (%)
SITUAÇÃO
-
Muros divisas do terreno: 2 ou 3 lados; Conexão do parque com a área pública (calçada): utilizando o mesmo piso e vegetação.
70%
Deve estar próxima à subsistência e áreas de permanência; Pode ser sombreada por arbóreas ou elementos arquitetônicos.
PONTO DE VIZINHANÇA INTERESSE IMEDIATA Quando houver Tirar partido das um ponto de empenas Analisar as empenas Microclima; interesse existentes nas vizinhas que vão Área pública vizinho ao Respeitar o divisas para auxiliar influenciar no (passeios que parque, podegabarito existente no sombreamento; sombreamento do dão acesso se integrá-lo, nas divisas Não impedir a parque. ao parque). eliminando a ventilação natural barreira da urbana. divisa CLIMA
Clima tropical e equatorial: áreas sombreadas durante todo o ano; Clima subtropical, mediterrâneo e semiárido: sombra permanente nos verões e primavera e, no inverno, redução das áreas sombreadas.
ORIENTAÇÃO GEOGRÁFICA
CONTIGUIDADE
Hemisfério Sul: norte e oeste: bastante sombreada; leste: meia sombra, pois o sol da manhã não é muito forte; sul: não Subsistência; precisa ser Área sombreado, pois não sombreada. há incidência solar. Hemisfério Norte: leste e sul: bastante sombreada; oeste: meia sombra
Não criar obstáculos que impeçam a visualização do ponto de interesse.
As copas das árvores do pocket park não devem invadir os terrenos limítrofes.
MORFOLOGIA
Piso de conexão com a área pública tem que ser acessível
Clima tropical e equatorial: arbóreas, porte alto, densas e perenes; Clima subtropical, mediterrâneo e semiárido: arbóreas, porte médio e caducas.
35
SUBSISTÊNCIA
ÁREA DE PERMANÊNCIA
MICROCLIMA
30%
70%
10% a 30%
Depende da posição geográfica do terreno e dos pontos de interesse existentes no seu entorno; Não deve interferir no fluxo do parque.
Acontece em praticamente todo o pocket park.
Queda d’água e espelho d’água; Deve estar localizado próximo às áreas de permanência; deve ser visto da subsistência e da entrada do parque, por ser atrativo.
Clima tropical e equatorial: prever ventilação cruzada para garantir conforto ambiental; Clima subtropical, mediterrâneo e semiárido: prever materiais com isolamento térmico.
Tem que prever áreas cobertas para proteger das intempéries.
Clima tropical e equatorial: durante todo o ano; Clima subtropical, mediterrâneo e semiárido: apenas no verão e na primavera.
Melhor localização no hemisfério sul é no leste e no hemisfério norte no oeste, pois são lugares de permanência e devem estar protegidos das incidências solares.
Garantir proteção da incidência solar direta.
Acolhimento; Área sombreada; Área de permanência.
Subsistência; Área sombreada.
A posição geográfica não interfere na Acolhimento. implantação do microclima.
Se houver algum ponto de interesse no entorno do terreno, a subsistência tem que se adaptar para privilegiar a vista dos seus usuários.
O uso que será dado a essa subsistência deve acolher as necessidades do seu entorno; Não deve bloquear a visão do parque.
Deve-se sempre respeitar o gabarito do próprio pocket park, a subsistência é somente um ponto de apoio para esse local.
Garantir a visão dos pontos de interesse.
Quando a vizinhança imediata for um ponto de interesse, conectar as áreas; Se não houver necessidade de fluxo com a vizinhança imediata a privacidade dos vizinhos deve ser preservada.
Toda a área de permanência deve ser acessível; Pode ter diferentes níveis; Fazer a opção por pisos que contribuam com a qualidade ambiental da cidade, como pisos drenantes.
Pode-se aproveitar o gabarito dos muros de divisa dos terrenos vizinhos para a instalação da queda d’água.
É importante a presença da queda d’água, pois ela afasta os ruídos externos. Para que isso ocorra, é preciso que ela tenha uma altura suficiente para emitir som; O espelho d’água pode estar localizado entre a queda d’água e as áreas de permanência, com largura suficiente para não molhar os usuários.
Dentro do parque ele é uma referência muito marcante, por isso deve ser visto de todos os ângulos, inclusive da entrada.
Fonte: MALUF, C. GONÇALVES, T. 2015.
36
A tabela 1 relaciona os agentes e as condicionantes que geram os princípios de implantação a partir de três objetos de estudo das autoras citadas. Na análise que será realizada serão aplicados os mesmos princípios em outros objetos, o que mostrará a semelhança ou diferença entre eles, podendo gerar novos princípios ou condicionantes de acordo com os objetivos e necessidades da população, sendo que não há regra e sim conceitos que se adaptam a cada projeto e lugar. Um dos primeiros pocket park construídos, o Paley Park em Nova York, serviu de modelo para os conceitos de pocket park, e foi um dos projetos analisados pelas autoras Maluf e Gonçalves (2015) para gerar a tabela síntese contendo todos os princípios apontados. De acordo com Blake (s.d., p. 5) este projeto é considerado um dos mais conhecidos e bem-sucedidos pocket park já construídos e desde a sua inauguração, é muito utilizado pela população (Figura 26). Figura 26 - Paley Park em 2009.
Fonte: http://tclf.org/landscapes/paley-park#item-0
37
3.1 PRACINHA OSCAR FREIRE (SÃO PAULO/ BRASIL) Segundo o site da revista Arquitetura e Urbanismo (AU), foi a partir da iniciativa da empresa REUD (uma empresa de desenvolvimento imobiliário) em parceria com o Instituto Mobilidade Verde (uma ONG sem fins lucrativos), que surgiu o primeiro Pocket Park implantado no Brasil, a Pracinha Oscar Freire (Figura 27). Figura 27 - Pracinha Oscar Freire em São Paulo.
Fonte: https://institutomobilidadeverde.wordpress.com/pocket-park/
O projeto arquitetônico foi desenvolvido pelo escritório Zoom Urbanismo Arquitetura e Desing⁴, e o paisagismo pelo escritório Studio SAPU⁵, em um terreno de 300 metros quadrados que servia como rampa de acesso para um estacionamento na rua Oscar Freire (São Paulo), a qual é bem movimentada, localizada no centro expandido da cidade, considerada um ponto econômico de grande importância. Segundo o Instituto de Mobilidade Verde o projeto foi construído pensando nos conceitos de pocket park. A praça foi inaugurada em maio de 2014 e teve como objetivo melhorar a qualidade de vida do bairro, levando novos tipos de espaços abertos ao público, potencializando a vida nas ruas. ⁴ Escritório de Arquitetura, disponível em: http://www.zoom.arq.br/pracinha-oscar ⁵ Escritório de Paisagismo, disponível em: http://www.sapu.com.br/blank-2
38
Além de ser um espaço que recebe eventos, workshops e diversas atividades culturais, a pracinha incentiva o movimento BYOW (Bring your Own Work) que se iniciou em restaurantes nos Estados Unidos na década de 60 e 70. A tradução livre do termo significa “Traga seu próprio trabalho”, o que inspira as pessoas a trabalharem ao ar livre em uma das mesas coletivas disponíveis no espaço, que possui wi-fi gratuito (Figura 28). Figura 28 - Mesas Coletivas na Pracinha Oscar Freire.
Fonte: https://institutomobilidadeverde.wordpress.com/pocket-park/
O espaço é dividido em dois patamares que possuem acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, degraus que servem como bancos, mobiliários diversos e vegetação (Figura 29 e 30). A rampa de acesso principal à praça foi pintada com efeitos tridimensionais para chamar a atenção dos motoristas de que a circulação de pessoas no local é a prioridade, além de dar identidade ao espaço (Figura 31). As paredes receberam painéis de plantas, uma lousa de 19 metros onde são informadas as programações do espaço, e um painel com arte contemporânea da artista Candy Chang com a frase “Before I die”, que é onde os usuários podem interagir com o espaço escrevendo com giz no painel, como mostram as Figuras 32 e 33. Também como atração, a praça recebe diferentes Food Trucks que dão diversas opções goumert e é mais um incentivo para o público entrar e conhecer o espaço (Figura 34).
39
Figura 29 e 30 - Alguns elementos da Pracinha Oscar Freire.
Fonte: http://www.zoom.arq.br/pracinha-oscar Figura 31 - Acesso da Pracinha Oscar Freire.
Fonte: http://www.mobilize.org.br/noticias/6396/pocket-park-e-inaugurado-na-oscar-freire-sp.html Figura 32 e 33 - Painel da artista Candy Chang.
Fonte: https://institutomobilidadeverde.wordpress.com/pocket-park/; https://noticias.terra.com.br/pocket-parks-prometem-deixar-metropole-maisacolhedora,4b128ef1d5f57410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html
40
Figura 34 - Food Truck na Pracinha Oscar Freire.
Fonte: https://institutomobilidadeverde.wordpress.com/pocket-park/
Em análise pode-se perceber que o espaço atende as necessidades dos usuários do entorno como um pocket park adaptado para a cidade de São Paulo. Nota-se que alguns conceitos se diferenciam dos definidos por Maluf e Gonçalves (2015), como o incentivo de levar o trabalho para dentro do espaço. Diferente dos pocket parks que servem como um refúgio para os trabalhadores saírem de seus escritórios e terem um momento de distração, a Pracinha Oscar Freire incentiva o trabalhador a sair do seu cotidiano e levar o escritório para uma área livre, conversar e trocar experiências, o que estimula a criatividade. Um dos elementos primordiais dos pocket parks tradicionais, como as quedas d’água que disfarçam o barulho da cidade, não é encontrado no local. Outros princípios são identificados no local: a pracinha se situa em uma área com as laterais muradas; o piso se integra com a calçada pública e é totalmente acessível; o que são elementos que se definem como o acolhimento do espaço, princípio definido pelas autoras. As áreas sombreadas são proporcionadas pelos edifícios existentes no entorno, sendo que o espaço não possui elementos arbóreos suficientes para sombrear grandes áreas. Como subsistência, os Food Trucks são a grande atração; não são elementos fixos no local, mas atendem aos usuários e, com a troca, oferecem diferentes produtos, o que estimula curiosidade, levando pessoas a conhecer o local.
41
As áreas de permanência acontecem em toda a praça. Desníveis e mobiliários soltos permitem aos usuários ficarem livres para se apropriarem do espaço como quiserem (Figura 35). Figura 35 - Croquis baseados nos princípios de Maluf e Gonçalves (2015), Pracinha Oscar Freire.
Acesso ao estacionamento
Fonte: Autora.
Conclui-se que a Pracinha Oscar Freire trouxe um novo elemento para a cidade de São Paulo, que valoriza a comunidade e traz melhorias na qualidade de vida, tornando-se um ponto cultural da região, onde ocorrem eventos e atividades diversas (Figura 36). A ideia dos pocket parks se adapta à cidade recuperando o seu maior princípio: a interação da população com os espaços públicos. Figura 36 - Exemplo de eventos e atividades que acontecem na Pracinha Oscar Freire.
Fonte: https://noticias.terra.com.br/pocket-parks-prometem-deixar-metropole-maisacolhedora,4b128ef1d5f57410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html
42
3.2 POCKET PARK EM EAST VILLAGE (CALIFORNIA/ EUA) Segundo a RAD Lab⁶ (uma empresa de design e arquitetura), foi em meio a cidade de San Diego na Califórnia, no bairro East Village, EUA, que se iniciou o movimento urbano chamado Place Making (tradução livre: “fazendo/construindo lugares”), tendo como objetivo a implantação de um pocket park na região proporcionando um espaço livre que animasse e envolvesse a comunidade (Figura 37) espaços que faltavam no centro da cidade. Figura 37 - Pocket Park em East Village, San Diego, CA.
Fonte: http://www.radlabsd.com/work-avenue/#/cities/
A ideia foi realizada pela empresa imobiliária HP Investors em parceria com Downtown San Diego Partnership (uma fundação sem fins lucrativos), East Village Association (associação de moradores do bairro East Village) e a equipe de desenvolvimento e arquitetura RAD Lab, que foi chamada para elaborar um projeto em um terreno subutilizado como estacionamento em San Diego, que possuía 185,80 metros quadrados (Figura 38) e foi doado pela própria HP Investors. A equipe foi encarregada de criar uma instalação que duraria um ano e agregaria conforto e comodidade para a comunidade. Durante o processo de criação a RAD Lab pediu a comunidade que participasse do projeto, informando o que gostariam de ter no espaço, escrevendo em um painel que, segundo o site de notícias local KPBS⁷, ficou por aproximadamente uma semana na fachada do lote (Figura 39). ⁶ Site Escritório de Arquitetura e design, disponível em: http://www.radlabsd.com ⁷ Site do noticiário local de San Diego, Califórnia, disponível em: http://www.kpbs.org
43
Figura 38 - Espaço de estacionamento utilizado para implantação do Pocket Park.
Fonte: http://www.radlabsd.com/work-avenue/#/cities/ Figura 39 - Painel utilizado para colher o desejo da comunidade para o espaço.
Fonte: Vídeo em http://www.kpbs.org/news/2014/jun/06/new-pocket-park-opens-east-village-sunday/
Em resposta a comunidade deixou claro seus desejos: um espaço verde onde pudessem socializar e interagir. A equipe RAD Lab criou o projeto, e em conjunto com a comunidade o espaço foi construído. Recebeu mais de 300 paletes reciclados que foram pintados com letras e depois empilhados, formando um grande espaço de lazer e descanso (Figura 40 e 41). O lugar recebeu árvores e vegetação para maior permanência e conforto dos usuários e um mural de um artista local, Christopher Konecki, nas paredes (Figuras 42 e 43). A comunidade carente de espaços públicos, parques e lugares para recreação infantil encontrou no conceito pocket park formas alternativas de se apropriar da cidade (Figuras 44 e 45).
44
Figura 40 e 41 - Mais de 300 paletes utilizados na construção.
Fonte: http://www.radlabsd.com/work-avenue/#/cities/ Figura 42 e 43 - Árvores para sombreamento e vegetação.
Fonte: http://www.radlabsd.com/work-avenue/#/cities/ Figura 44 e 45 - Lazer e integração da comunidade com o espaço.
Fonte: http://www.radlabsd.com/work-avenue/#/cities/
45
Figura 46 - Esquema com os elementos do espaço.
Analisando o espaço, pode-se perceber a aplicação de alguns dos conceitos de pocket park, destacados por Maluf e Gonçalves (2015), como sua localização e os elementos implantados. Em um lote cercado pelos três lados, o acolhimento do local está presente nos muros que o cercam; o espaço é fechado durante a noite e aberto para o público durante o dia por um portão. A partir da Figura 46, podemos analisar o programa do projeto com os princípios definidos por Maluf e Gonçalves (2015). Os dois primeiros esquemas, ground art e pallets, são as áreas de permanência do espaço,
onde
descansam
e
os
usuários
interagem.
sentam,
Os
paletes
empilhados formam um grande playground para crianças, sendo um espaço dinâmico que chama a atenção das pessoas. As árvores são espalhadas por todo lote, como no ultimo esquema da Figura 45, proporcionando Fonte: http://www.radlabsd.com/workavenue/#/cities/
áreas
sombreadas,
sempre próximas aos paletes e também na parede ao fundo com um painel verde.
Acolhimento, áreas sombreadas e de permanência são encontrados no espaço projetado. Nesse caso, alguns princípios não foram aplicados, como a subsistência com pontos de venda de alimentos. O microclima é identificado como as áreas de sombras proporcionadas pelos prédios do entorno e das árvores que dão conforto aos usuários, mas elementos com água também não são identificados.
46
Como o espaço foi construído por um movimento entre investidores e a comunidade, podemos identificar um novo princípio, que será chamado de Triangulação. Segundo Whyte (1979), no documentário⁸ “The Social Life of Small Urban Spaces”, a triangulação é um fenômeno de estimulo externo, algo físico ou uma ação que aproxima pessoas que não se conhecem e possibilita momentos bons para a cidade. Tal princípio é identificado no pocket park do bairro East Village a partir vontade da comunidade em querer proporcionar espaços públicos para seu bairro e, assim, construí-lo de forma comunitária e, ainda, pelo sucesso da proposta, poder estimular que mais parques sejam implantados (Figura 47). Figura 47 - Inauguração do Pocket Park em East Village, San Diego.
Fonte: http://www.radlabsd.com/work-avenue/#/cities/
⁸ Documentário “The Social Life of Small Urban Spaces” de William H. Whyte, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=g_9g5qk0kbY
47
3.3 BALFOUR STREET PARK (SYDNEY/ AUSTRÁLIA) Segundo Landezine⁹, o Balfour Street Park (Figura 48) se localiza em Sydney, Austrália, em um bairro de subúrbio chamado Chippendale. O parque foi implantado em um terreno de 640 metros quadrados no final da Rua Balfour e entre as ruas O’Connor e Wellington Street. O local é uma transição entre o subúrbio histórico de Chippendale, de pequena escala, para a rua Broadway, onde a cidade possui maior escala (Figura 49), servindo como entrada para o futuro Central Park (projeto em desenvolvimento ao lado do terreno), melhorando o tráfego e dando ligação para pedestres e ciclistas às vias de grande importância da cidade. Figura 48 e 49 - Balfour Street Park em Sydney; Localização Balfour Street Park.
Fonte: http://www.jila.net.au/public-domain/balfour-street/; Google Earth, com edição autoral.
A região possui edifícios históricos, como fábricas que formam um fundo histórico para o parque e foram usados como inspiração para o principal material utilizado no projeto, o tijolo, que permitiu uma qualidade de acabamento artesanal ao parque. O projeto foi realizado a pedido do Conselho da Cidade de Sydney, a partir de um plano para melhorias no bairro Chippendale. O projeto paisagístico foi realizado pelo escritório Jane Irwin Landscape Architecture (JILA) com a colaboração dos designs Sue Barnsley Design e Peter Mclean Lighting Art+Science. O parque foi construído pela empresa imobiliária Frasers Property, e foi inaugurado em 2010. ⁹ Site de Arquitetura e Paisagismo, disponível em: http://www.landezine.com/
48
Segundo o site ArchitectureAU¹⁰, o parque está inserido em uma área mais residencial e foi pensado como um espaço de integração, para encontros e passagem dos moradores locais. Projetado com grandes detalhes e pensado na escala humana, os tijolos são o principal material utilizado, fazendo referência à história e à localidade do parque. Estes foram colocados em dois eixos diferentes que compõem a área gramada e o eixo de drenagem criado no sentido norte-sul. Landezine destaca como uma das características centrais do projeto a drenagem das águas pluviais (Figura 50), feita em tijolos. Ela funciona como coleta das águas pluviais vindas das ruas acima do parque, e formam uma conexão visual de movimento entre o ambiente urbano velho e novo. Em formato de “meio cano” a drenagem de tijolos é pouco abaixo do nível do parque, e sua pavimentação foi pensada para quebrar o fluxo de água e reter folhagens e sólidos (Figura 51). Ao longo da drenagem a pavimentação se mistura com a vegetação e recebe uma iluminação diferenciada, se tornando um ponto de atração para o parque tanto durante o dia quanto a noite (Figura 52 e 53). Figura 50 e 51 - Drenagem de águas pluviais; Detalhe na drenagem de águas pluviais.
Fonte: http://architectureau.com/articles/balfour-street-pocket-park/
¹⁰ Site de Arquitetura, disponível em: http://architectureau.com/
49
Figura 52 e 53 - Iluminação e vegetação da drenagem.
Fonte: http://www.landezine.com/index.php/2014/07/balfour-street-pocket-park-by-jane-irwinlandscape-architecture/
O parque possui uma grande variedade de tijolos, e uma “colcha de retalhos” é feita na pavimentação (Figura 54), onde são reunidos todos os materiais usados no parque: os arenitos e tijolos dos edifícios históricos do entorno e o vidro como referência às garrafas usadas por uma antiga cervejaria local. Segundo a ArchitectureAU, a equipe da JILA responsável pelo projeto paisagístico conseguiu equilibrar os elementos do parque, que apresenta amplas áreas de grama e tijolo em concordância com a escala da cidade, e elementos mais detalhados de pequena escala que remetem a região residencial, que também está presente em seu entorno. O parque recebeu bancos de concreto e as árvores existentes no local foram preservadas (Figura 55). O projeto recebeu em 2010 o prêmio Holbury Hunt Award 2010 – Urban Design/Outdoor Spaces.
50
Figura 54 - “Colcha de retalho”.
Fonte: http://www.outdoordesign.com.au/landscape-design/Balfour-Pocket-Park/643.htm Figura 55 - Bancos e árvores em Balfour Street Park.
Fonte: http://www.landezine.com/index.php/2014/07/balfour-street-pocket-park-by-jane-irwinlandscape-architecture/
51
Figura 56 - Esquema baseado nos princípios de Maluf e Gonçalves.
Em análise pode-se perceber que o pocket park Balfour Street Park está inserido em um local de transição, entre um ambiente residencial e um ambiente mais urbano da cidade. Nota-se que ele é murado nas duas laterais permitindo o fluxo de uma rua a outra. Suas
funções
predominantes
são:
a
de
passagem, marcada pelos dois eixos nas laterais; e a de permanência, no eixo central onde se encontram bancos e uma grande área gramada que interrompe o fluxo. Conforme a Figura 56, a área de permanência definida por Maluf e Gonçalves (2015) está presente em toda área livre do park, que conecta os dois lados da cidade. As áreas sombreadas são fornecidas pelas árvores que foram preservadas no local, e os bancos foram colocados próximo a essas árvores, para aproveitar a sombra proporcionada. O parque não recebeu um equipamento ou apoio
que
poderia
ser
definido
como
“subsistência”. O microclima está presente na drenagem criada que corta o parque, mas apresenta uma função bem diferente dos elementos de água utilizados nos pocket parks Fonte: http://www.landezine.com/index.php/2 014/07/balfour-street-pocket-park-byjane-irwin-landscape-architecture/. Edição: Autoral.
tradicionais. A drenagem exerce uma função mecânica no parque, de colher a água e reter materiais sólidos, diferente das quedas d’águas
criadas para abafar o barulho da cidade. Ela também é um elemento estético para o parque, sendo a drenagem um dos pontos de atração, com diferentes luminárias de Led que foram colocadas de forma a atrair o usuário. O parque possui linhas simples
52
e, ao mesmo tempo, utiliza matérias brutos, com muitos detalhes. O local apresenta um ambiente rústico, pelos materiais, e contemporâneo. 3.4 QUADRO SÍNTESE Após a análise dos três estudos de casos, é apresentado na Quadro 2 uma síntese com todos os princípios definidos pelas autoras Maluf e Gonçalves (2015), mostrando como eles foram aplicados nos projetos estudados. Quadro 2 - Quadro Síntese com base nos princípios de Maluf e Gonçalves, 2015. POCKET PARKS PRINCÍPIOS
PRACINHA OSCAR FREIRE/SP
POCKET PARK EAST VILLAGE/CA
ACOLHIMENTO
Cercado pelas laterais e conectado com a calçada pública.
ÁREA SOMBREADA
Poucas árvores, sombra proporcionada pelo entorno.
SUBSISTÊNCIA ÁREA DE PERMANÊNCIA
MICROCLIMA
TRIANGULAÇÃO
Lote cercado pelos 3 lados; conexão com a calçada interrompida por grades e muros.
BALFOUR STREET PARK/AU Cercado por duas laterais e conectado com a calçada.
Possui uma grande área Árvores espalhadas por sombreada proporcionada todo parque. pelas árvores preservadas no local. Não foi aplicado no Food Trucks. Não foi aplicado no local. local Acontece nos desníveis Proporcionada pelos Existente em todo o parque; e decks do projeto e paletes empilhados por alguns mobiliários fixos. mobiliários soltos. todo parque. Aplicado no local com função Não foi aplicado no Não foi aplicado no de drenagem de águas local local pluviais, além de ser um elemento estético do parque. Proporcionado pelas atividades culturais e eventos que acontecem no local.
O projeto e construção do parque; eventos proporcionados pela comunidade.
Não foi definido no parque, mas pode acontecer a partir de momentos efêmeros e imprevisíveis da cidade.
Fonte: Autoral.
Em conclusão podemos observar que os pocket parks contemporâneos seguem uma linha de concepção e princípios definidos de formas diferentes, adaptado para cada proposta e local. Os princípios são as bases analisadas a partir dos primeiros projetos criados, mas não são regras, e alguns elementos não são tão relevantes dependendo do lugar que será aplicado, como o microclima e a subsistência, que dependendo da função do parque nem sempre são implantados. Os elementos que estão sempre presentes são as áreas sombreadas e de permanência, além do acolhimento que é o principal elemento de locação dos pocket parks.
53
Com a análise foi também apontado um novo princípio, a triangulação, que é um elemento que está presente na vida das cidades (Whyte, 1979), e que proporcionam momentos ocasionais entre as pessoas, sendo um fenômeno presente em espaços públicos. A partir dos estudos de casos e de toda pesquisa realizada, será proposto e analisado um local para aplicação de um pocket park em Vila Velha/ES.
4. DIAGNÓSTICO Para o local de aplicação da pesquisa, será apresentado um terreno que possui as características necessárias para um projeto de pocket park. Localizado no Centro da cidade de Vila Velha no Espírito Santo, Brasil (Figura 57), o terreno possui aproximadamente 349 metros quadrados, com fachada de 11,81 metros e laterais de 29,45 metros, e está inserido em uma das vias de maior movimento do bairro, a Avenida Champagnat, entre usos comerciais, de serviços e residenciais. Figura 57 - Localização do terreno em vermelho.
Fonte: Google Earth. Edição: Autora.
De acordo com o Plano Diretor Municipal de Vila Velha (PDM-VV), a zona que o terreno se encontra é a Zona de Proteção Ambiental e Cultural 2 (ZPAC-2), que define um coeficiente de aproveitamento básico de 3, afastamento frontal mínimo de 4 metros, taxa de ocupação máxima de 50% e taxa de permeabilidade mínima de 10%, como demostra a Figura 58.
54
Figura 58 - Índices Urbanísticos.
Fonte: Plano Diretor Municipal de Vila Velha. Edição: Autora.
Em visita ao local no dia 31 de outubro de 2016, observou-se que o terreno está sendo utilizado como estacionamento de veículos (Figura 59) por uma empresa imobiliária. O terreno não possui árvores ou vegetação existente e está a 90 centímetros abaixo no nível da rua (Figura 60). Em uma das laterais existe um edifício comercial de cinco pavimentos e, na outra lateral, um muro de aproximadamente 2,30 metros, que é um acesso residencial e uma loja comercial térrea (Figuras 61 e 62). Aos fundos o terreno faz divisa com uma residência de dois pavimentos, que possui um muro de 3,65 metros. Figura 59 - Fachada do terreno com placa de estacionamento privado.
Fonte: Autora.
55
Figura 60 - Terreno sem vegetação ou árvores e abaixo do nível da rua.
Fonte: Autora. Figura 61 e 62 - Divisas do terreno.
Fonte: Autora.
Em análise, o entorno do terreno escolhido apresenta tipos de usos bem equilibrados, com uma concentração dos usos comerciais e de serviços na Av. Champagnat, conforme Mapa de Usos 1. Quanto aos fluxos, o terreno está
56
localizado em uma via arterial de mão única que liga o bairro à praia, com ciclovia no lado oposto ao terreno (Mapa de Fluxos 2). Durante a noite, a região não é muito movimentada, os comércios fecham e a Avenida Champagnat perde seu fluxo consideravelmente. Mapa 1 - Mapa de Usos.
Fonte: Google Earth. Edição: Autora. Mapa 2 - Mapa de Fluxos.
Fonte: Google Earth. Edição: Autora.
O Centro de Vila Velha é um dos lugares da cidade que apresenta maior concentração de usos comerciais e de serviços, e não apresenta muitos espaços de usos públicos voltado para o lazer. No bairro, a praça mais próxima ao terreno
57
proposto é a Praça Duque de Caxias, que fica a aproximadamente 480 metros de distância (Figura 63). Figura 63 - Distância entre terreno proposto (em vermelho) e Praça Duque de Caxias.
PRAÇA DUQUE DE CAXIAS
Fonte: Google Earth. Edição: Autora.
O terreno foi escolhido pela sua locação, conforme diretrizes apontadas no item 3.2 apresentado, de “Princípios e Diretrizes para Projetar um Pocket Park”. O terreno está inserido em um centro urbano comercial, murado por três lados e localizado em uma via de grande tráfego. Identificados os princípios básicos de implantação, o local se adequa a proposta. São notáveis diversos pontos de áreas verdes no bairro Centro de Vila Velha, porém ou a maior parte destes pontos não possuem incentivos e atratividades de qualidade para a população, ou são áreas privadas. O bairro não é superadensado, mas há falta de áreas públicas para o descanso e lazer da comunidade. Foi a partir de entrevistas feitas no local e em toda a área do entorno que pôde-se perceber como os usuários do bairro sentem falta de um espaço adequado, principalmente para almoçar. Sendo o bairro com grande parte comercial, os trabalhadores entrevistados sentem falta de locais agradáveis para o horário de almoço. Algumas empresas oferecem o almoço e o local para almoçar; muitos almoçam e descansam na rua, como na Rua 24 horas que fica com restaurantes
58
cheios no horário de almoço; alguns levam marmita e comem no próprio trabalho ou na rua; e outros vão para casa. Com isso, o objetivo do pocket park ser inserido no terreno proposto é para, não só atender a população durante todos os períodos do dia, mas, principalmente os trabalhadores em seus horários de almoço, o que servirá como um espaço de distração e descanso. A aplicação do conceito de pocket park na região apresentará uma outra alternativa de se pensar o uso dos espaços públicos na cidade.
59
5. MEMORIAL JUSTIFICATIVO DO PROJETO Após toda pesquisa e escolha do local adequado foi proposto um projeto piloto de Pocket Park seguindo todos os princípios e diretrizes definidos anteriormente, com o intuito de apresentar na prática o conceito e, assim, estimular sua reprodução em outras áreas da cidade. Antes de discriminar o projeto é preciso entender como e quem financia o pocket park. No item 2.2, “Princípios e Diretrizes para projetar um Pocket Park”, deste trabalho foi brevemente explicado, a partir da fundação americana Kronkosky (2016), que esses parques podem ser implantados a partir da combinação de diversas fontes de fundos financeiros. Alguns são de propriedade e mantidos pela cidade, outros por fundações de caridade, e alguns são parcerias público-privado. Isso quer dizer que o interesse pode partir tanto de fontes públicas quanto privadas, mas principalmente da união delas. Assim, podemos supor diversas hipóteses: o proprietário de um terreno se junta com a comunidade do entorno com interesse em implantar um pocket park, buscam recursos através ou da Prefeitura, ou de uma Fundação que tenha esse interesse ou até uma empresa; uma empresa que precisa compensar algum dano ambiental ou social para uma cidade se une à Prefeitura e à comunidade para construírem um pocket park em alguma área precária; uma comunidade que percebe a falta de um espaço público e se une a Prefeitura; ou até mesmo um investidor, que a partir da implantação de uma estrutura lucrativa ligada a alimentação, tenha o interesse de construir esse espaço (Figura 64). Figura 64 - Esquema das possíveis fontes de investimento.
Fonte: Autora.
60
A iniciativa pode partir dos dois lados (público e/ou privado), tendo em vista quem vai poder investir e manter o local, podendo ser um espaço temporário ou permanente, em que o principal objetivo seja beneficiar a população. 5.1 PRACINHA DA VILA O pocket park projetado recebe o nome de Pracinha da Vila como uma adaptação dedicada ao local de implantação: “pracinha” pelos costumes locais e “vila” pelo nome da cidade de Vila Velha. O conceito do projeto é proporcionar uma oportunidade de alívio da correria da vida cotidiana, como um portal que te leva para outro lugar por algumas horas do seu dia. Podendo trazer benefícios para a saúde a partir da distração do contato com a natureza. A praça tem a intenção de criar curiosidade nos pedestres, os convidando a entrar a partir de volumes que estreitam a fachada formando um eixo, deixando uma curiosidade do que existe mais ao fundo (Figura 65). Figura 65 - Croqui da fachada.
Fonte: Autora.
O início do projeto se baseou na pesquisa feita por Maluf e Gonçalves (2015), estudada anteriormente, que definia os princípios e diretrizes dos pocket parks, em conjunto com as visitas técnicas, entrevistas, análises do entorno e do terreno, elaborando, assim, um programa do que teria na Pracinha da Vila e, logo, a setorização, conforme esquema apresentado na Figura 66.
61
Figura 66 - Esquema do inĂcio do Projeto.
Fonte: Autora.
62
O programa se subdividiu a partir dos princípios estudados que denomina as áreas como de acolhimento, área sombreada, subsistência, área de permanência e microclima. Cada uma dessas áreas compõe o pocket park e foi adaptada de acordo com as necessidades da comunidade local. As atividades previstas foram acrescentadas ao programa definindo alguns equipamentos. As áreas técnicas, tais como depósito de material de limpeza (DML) e banheiros, fazem parte de toda área de subsistência, conforme o Tabela 2. Tabela 2- Programa. PROGRAMA PRINCÍPIOS
ÁREA
DESCRIÇÃO Escadaria/ Rampa
ACOLHIMENTO
Conexão com área pública (calçada)
Pavimentação Vegetação Parklet
ÁREA SOMBREADA
70%
Árvores de copa larga e densa Pergolado (talvez) Saladeria - 15m²: área de trabalho; caixa; distribuição. Café - 15m²: área de trabalho; caixa; distribuição.
SUBSISTÊNCIA
30%
Banheiro feminino, masculino e PNE: vaso sanitário; lavatório. DML - 3m²: prateleiras, armários e tanque Espaços sentáveis (níveis)
ÁREA DE PERMANÊNCIA
70%
Mesas e cadeiras independentes Mesas de 4 pessoas Paisagismo
MICROCLIMA
10% a 30%
Queda d'água Espelho d'água Bicicletário Bebedouro
ATIVIDADES
Bike friendly; horta comunitária; eventos; exposições; oficinas.
Horta Vertical Torneira p/ aguar Painel para projeção Espaço p/ Food Truck Fonte: Autora.
63
Antes de se iniciar a setorização, foi realizado uma análise quanto a trajetória do sol e como ele se comporta no terreno. Ao lado do terreno existe um edifício de cinco andares que afeta de forma significativa na incidência do sol, e o terreno acaba pegando o sol mais forte a partir de onze horas e durante toda a tarde, principalmente no verão (Figura 67). No inverno o terreno recebe sombra mais cedo na parte da tarde (Figura 68). Figura 67 - Planta Baixa esquemática da incidência solar no Solstício de Verão. Terreno identificado com linha vermelha.
Fonte: Autora. Figura 68 - Planta Baixa esquemática da incidência solar no Solstício de Inverno. Terreno identificado com linha vermelha.
Fonte: Autora.
Com base no diagnóstico, que analisou e mapeou os usos e fluxos do entorno, a análise da incidência solar e com o programa definido iniciou-se a setorização do projeto com o diagrama de bolhas, localizando da melhor forma as áreas, os acessos e mobiliários para o fluxo e funcionamento da praça (Figura 69).
64
Figura 69 - Diagrama de Bolhas.
Fonte: Autora.
O diagrama de bolhas define os cinco princípios por cores, a bolha azul escuro como acolhimento; duas bolhas laranjas, localizadas nas extremidades do terreno, como subsistência; bolhas verdes como área sombreada; bolha azul ciano, ao fundo do terreno, como microclima; e as bolhas vermelhas como áreas de permanência, que foram divididas em três tipos para diferenciar os mobiliários.
65
Todas as áreas se conectam e formam um fluxo linear que leva o usuário ao fundo, onde se encontra o microclima. As atividades se encontram espalhadas pela praça, como os espaços livres para exposições e oficinas, a horta vertical e o bicicletário. A partir do diagrama de bolhas, o projeto começou a se aprofundar em cada área, definindo os layouts, solucionando os problemas e dando forma a praça. A Figura 70 mostra o projeto da Pracinha da Vila. Foram implantados dois serviços alimentícios na subsistência para atender a população; as outras áreas possuem uma grande quantidade de diferentes mobiliários compondo a praça e deixando o usuário à vontade (a planta baixa humanizada se encontra na prancha 03/14, localizada no apêndice deste trabalho). Figura 70 - Planta Humanizada da Pracinha da Vila.
Fonte: Autora.
Na figura 71 foi feita a análise dos princípios das autoras Maluf e Gonçalves (2015) no projeto da Pracinha da Vila, e com base nesses princípios será apresentada cada área da praça detalhadamente.
66
Figura 71 - AnĂĄlise dos princĂpios na Pracinha da Vila.
Fonte: Autora.
67
5.2 ACOLHIMENTO A área denominada Acolhimento refere-se a entrada da praça, que acontece por uma única fachada, e pelas barreiras em seu entorno, que acolhem e protegem o usuário (Figura 72). Figura 72 - Espaço de acolhimento em rosa.
Fonte: Autora.
Localizada em uma avenida com grande fluxo de pedestres, a entrada da praça se estende à calçada com uma única pavimentação, convidando o pedestre a entrar no espaço (Figura 73). Figura 73 - Entrada da Pracinha da Vila.
Fonte: Autora.
68
Duas vagas de estacionamentos foram reservadas, uma para carga e descarga e, eventualmente, Food Trucks, e outra para a implantação de um parklet. O parklet foi dividido em três regiões: uma com paletes elevados em vários níveis formando assentos; outra com bicicletário de 04 vagas para atender a praça; e separado, o depósito de lixo. Sendo, assim, um equipamento com funções variadas de apoio à praça (Figura 74). Figura 74 - Parklet.
Fonte: Autora.
A praça foi elevada 70cm do nível da rua e o seu acesso acontece por meio de rampa e escada localizadas no afastamento frontal do terreno. A escada brinca com os degraus, alguns são duplos e outros com vegetação. O formato criado pela escada transforma o espaço em uma pequena recepção que
69
chama quem está passando para se apropriar, podendo sentar e socializar aos pés da árvore ou subir e conhecer a pracinha (Figura 75). Figura 75 - Entrada da Pracinha da Vila.
Fonte: Autora.
A partir dos estudos de casos, pode-se perceber que o pocket park pode ser um espaço público aberto 24h ou ter horário de funcionamento, como um parque público. Tendo em vista os equipamentos e mobiliários implantados na Pracinha da Vila, foi definido que teria horário de funcionamento, podendo ser flexível em dias de evento. Com isso, no acolhimento foi projetado um portão para fechamento do parque, localizado em frente à rampa de acesso (Figura 76). Figura 76 - Vista da fachada com portão.
Fonte: Autora.
70
5.3 SUBSISTÊNCIA De acordo com a pesquisa de Maluf e Gonçalves (2015) a subsistência é um ponto de apoio para uma praça, um atrativo que vai proporcionar o motivo de permanência do usuário no local, como um café, uma livraria, uma lanchonete e um ponto digital (Figura 77). Figura 77 - Espaço de subsistência em laranja.
Fonte: Autora.
A partir disso foi implantado um café para atender a população durante todo o dia, e uma saladeira, que é uma opção rápida e saudável, visto que, a partir de entrevistas, no horário de almoço existe o interesse da população em um espaço público para almoçar e passar o tempo, sendo que muitos trabalhadores da região almoçam em restaurantes ou levam marmita (Figura 78). Figura 78 - Planta Baixa com localização do Café e Saladeria.
Fonte: Autora.
71
Esses comércios foram implantados em dois volumes edificados que formam a fachada da praça. Quem passa pela avenida consegue ver os blocos nas extremidades do terreno formando um único eixo de entrada e escondendo o que existe mais ao fundo, deixando a pessoa curiosa a entrar (Figura 79). Figura 79 - Fachada da Pracinha da Vila.
Fonte: Autora.
Nos dois blocos foram inseridas outras áreas de apoio para a praça, que são acessadas por corredores pela parte posterior (Figura 80). Figura 80 - Acesso para áreas de apoio (para melhor visualização dos elementos da área, a imagem não apresenta a arborização da praça, que será mais detalhada no item 5.5).
Fonte: Autora.
72
O bloco em que foi proposta o café possui uma sala técnica que dá acesso a cobertura e recolhimento do lixo; um depósito de material de limpeza (DML) para a praça; um banheiro para deficientes físicos (D.F.); e, atrás do bloco, lixeiras para os usuários. Na fachada é pintado em preto a frase “A vida é melhor depois do café” para a identificação do uso. (Figura 81). Figura 81 - Ampliação da planta baixa e fachada do Café.
Fonte: Autora.
O outro bloco, com a saladeira, também possui uma sala técnica que dá acesso a cobertura e ao subsolo (destinado a uma cisterna para captação de água, que será melhor explicado no item “Microclima”), e também reserva o lixo da loja; um banheiro feminino e outro masculino para atender os usuários da praça; e, localizado atrás do bloco, bebedouros para o uso da população. Na fachada foi pintado em preto a frase “Comer bem que mal tem” para a identificação do uso. (Figura 82).
73
Figura 82 - Ampliação da planta baixa e fachada da Saladeria.
Fonte: Autora.
Atrás dos dois blocos foi projetado uma horta vertical, em ambos os lados. Feita de paletes embutidos na parede, a horta terá diferentes espécies de temperos, flores e ervas, de responsabilidade das lojas, mas que poderão ser colhidas e cuidadas pelos usuários. A intenção é criar oficinas de plantio, com crianças e pessoas de todas as idades, incentivando a interatividade com o parque (Figura 83).
74
Figura 83 - Horta Vertical (para melhor visualização dos elementos da área, a imagem não apresenta a arborização da praça, que será mais detalhada no item 5.5).
Fonte: Autora.
Quanto a materialidade, os dois blocos são iguais. Os blocos são emoldurados por painéis de madeira (1) nas laterais e no forro. Na fachada os blocos são revestidos por chapas metálicas (2) na cor terracota. No corredor que dá acesso aos banheiros foi proposto um brise de madeira (3), possibilitando maior luminosidade na parte interna. Na moldura do forro uma madeira mais escura (4) para contrastar com o palete (Figura 84). Figura 84 - Materiais utilizados nos blocos. 4 1 1
2
2
3
3
4
Fonte: Autora.
75
5.4 ÁREA DE PERMANÊNCIA A área de permanência engloba toda a área livre da praça, que recebe diversos mobiliários e elementos para sentar dando liberdade e conforto ao usuário (Figura 85). Figura 85 - Espaço de permanência em amarelo.
Fonte: Autora.
O principal material usado na Pracinha da Vila foi o palete. Inspirado nos estudos de caso, o material foi utilizado como pavimentação e como elementos sentáveis, trazendo sustentabilidade, versatilidade e, ainda, como um elemento estético da praça. O palete foi utilizado tanto na pavimentação, assentado alternando as réguas verticais e horizontais, quanto nas jardineiras, com as réguas na vertical. (Figura 86). Figura 86 - Material palete na praça.
Fonte: Autora.
76
Como pavimentação, o palete (medindo 1,20m de largura, 1,20m de comprimento e 17,5cm de altura) reveste toda a área livre da praça a partir dos acessos. Como dito anteriormente, a praça foi elevada 70cm do nível da rua. Nessa elevação, a área pavimentada com o palete recebe primeiro uma camada de brita; a estrutura dos paletes fixada com blocos de concreto e, por último, as ripas para acabamento, deixando, assim, uma grande área com o solo permeável (Figura 87). Figura 87 - Detalhe de assentamento do palete.
Fonte: Autora.
Após as subsistências, essa pavimentação alterna o palete com pisos cimentícios, fazendo uma brincadeira entre os pisos até chegar ao espelho d’água. Esse piso cimentício recebe a mesma estrutura de madeira dos paletes em seu entorno e é assentado in loco, sendo impermeável (Figura 88). Figura 88 - Pavimentação de palete e piso cimentício (para melhor visualização dos elementos da área, a imagem não apresenta a arborização da praça, que será mais detalhada no item 5.5).
Fonte: Autora.
77
A praça recebe três tipos de mobiliários que criam diferentes ambientes para os usuários. O pátio em frente a subsistência recebe mesas e cadeiras móveis, dando liberdade aos usuários de onde sentar no espaço, que foi composto por grandes canteiros de flores ao centro, deixando corredores livres em frente às lojas para o fluxo (Figura 89). Figura 89 - Espaço com mesas e cadeiras móveis.
Fonte: Autora.
A área após as lojas recebe mesas maiores com bancos, tipo piquenique, para incentivar a integração das pessoas. Inspirado pelos estudos de casos, como na Pracinha Oscar Freire, a ideia é que grupos de pessoas possam usar essas mesas coletivas para trabalhar ao ar livre, como o movimento BYOW (“Bring your Own Work”, que na tradução livre significa “traga seu próprio trabalho”) que se iniciou em restaurantes nos Estados Unidos na década de 60 e 70. Essa área teria pontos digitais e wifi disponível para os usuários (Figura 90).
78
Figura 90 - Espaço com mesas coletivas (para melhor visualização dos elementos da área, a imagem não apresenta a arborização da praça, que será mais detalhada no item 5.5).
Fonte: Autora.
Mais ao fundo, onde o piso de paletes alterna com piso o cimentício, foram criados espaços sentáveis. Esse espaço possui três segmentos: um eixo central, que leva o usuário ao espelho d’água; outro à direita, onde os blocos cimentícios e os paletes se elevam do nível da praça em diferentes níveis, formando assentos aos pés de uma árvore; e à esquerda, que rebate a mesma brincadeira das elevações só que ao contrário, abaixo do nível da praça (Figura 91). Figura 91 - Espaço sentáveis (para melhor visualização dos elementos da área, a imagem não apresenta a arborização da praça, que será mais detalhada no item 5.5).
Fonte: Autora.
79
As elevações e descidas formadas pelos blocos criam uma leve arquibancada. A intenção é esse espaço de convivência poder receber atividades lúdicas como exposições, eventos, oficinas, aulas, brincadeiras, entre outros. Assim, no lado esquerdo, onde os blocos descem abaixo do nível da praça, foi criado um nicho para armazenamento de retroprojetor, que em eventos poderá ser usado para projetar aulas, filmes, e transformar o espaço em um cinema ao ar livre (Figura 92). Figura 92 - Espaço para eventos e oficinas.
Fonte: Autora.
5.5 ÁREA SOMBREADA Segundo Maluf e Gonçalves (2015), as áreas sombreadas podem ser definidas por elementos naturais ou arquitetônicos que protejem as áreas de permanências, possibilitando conforto térmico e ambiental à praça (Figura 93). Figura 93 - Espaços sombreados em verde.
Fonte: Autora.
80
Como a Pracinha da Vila recebe muito sol durante a parte da tarde, foi projetado para conforto do usuário, uma cobertura no eixo central onde se encontram as mesas e cadeiras móveis. Essa cobertura de estrutura metálica e painéis em vidro de proteção solar, serigrafado e temperado na cor branca, protege o usuário e permite luminosidade natural no espaço. Em conjunto a esta cobertura de estrutura metálica, a cobertura das lojas se estende abaixo dela, captando o volume de água da chuva e permitindo a ventilação cruzada. Essa cobertura possui uma telha metálica que foi escondida por um forro de madeira que reveste a loja, como uma moldura (Figuras 94 e 95). Figura 94 - Vista aérea da Pracinha da Vila.
Fonte: Autora. Figura 95 - Coberturas da Pracinha da Vila.
Fonte: Autora.
81
Além destes elementos arquitetônicos, foram propostas quatro árvores para sombreamento. A primeira, localizada no afastamento frontal entre a entrada e a calçada, é uma Pata-de-Vaca (Bauhinia variegata L). Por estar na fachada da praça, a árvore foi escolhida pelo seu médio porte, por possuir copa larga, e por sua beleza ornamental (Figura 96). Figura 96 - Localização da árvore Pata-de-vaca.
Fonte: Autora.
Mais ao fundo da praça, as áreas sombreadas foram proporcionadas a partir de três árvores da mesma espécie. Plantadas em canteiros profundos, elas sombreiam as mesas coletivas e os espaços sentáveis. A espécie escolhida foi o Jasmin Manga (Plumeria rubra), por ser uma árvore ornamental de médio porte (Figura 97).
82
Figura 97 - Localização das árvores Jasmin Manga.
Fonte: Autora.
5.6 MICROCLIMA A área denominada Microclima está presente na praça em dois pontos. Com base na pesquisa, o microclima é a utilização do elemento água, como quedas d’água, fontes, espelhos d’água, entre outros, o que proporciona conforto térmico e ambiental ao usuário, além de produzir um som que permite a sensação de tranquilidade e ameniza os ruídos externos da cidade (Figura 98). Figura 98 - Espaço de microclima em azul.
Fonte: Autora.
Foi projetado uma queda d’água no fundo da praça, criando um ambiente relaxante e natural. A queda d’água reveste toda a parede ao fundo e possui aproximadamente 3,50m de altura. A água cai sobre blocos de concreto revestidos
83
com pedras de diferentes alturas até chegar no espelho d’água, que por meio de bomba faz a água circular pelo sistema de volta à queda (Figura 99). Figura 99 - Queda d’água.
Fonte: Autora.
Alguns blocos menores permitem que o usuário entre em contato com a água, podendo percorrer um caminho dentro do espelho d’água, onde crianças e adultos podem tocar a água e se refrescar (Figura 100). Figura 100 - Interação com a água.
Fonte: Autora.
84
Inspirado no estudo de caso do Balfour Street Park, em Sydney, o qual utilizou o elemento água também como coleta das águas pluviais, a Pracinha da Vila possui um sistema de reutilização da água, tanto da chuva quanto do espelho d’água. Para isso, no bloco à esquerda, onde a saladeira foi implantada, foi projetado um subsolo para uma cisterna, com capacidade de armazenar aproximadamente 13.500,00L de água, como demonstra a planta baixa 05/14, localizada no apêndice deste projeto. O espelho d’água produz cerca de 11.125,40L de água, que circulam pelo sistema formando a cascata. Essa água precisa ser trocada após um tempo, por exemplo, uma vez ao mês ou mais, para limpeza e manutenção do equipamento, gerando um grande volume de água que seria desperdiçada juntamente com a água da chuva, que é captada pelas calhas, e as águas cinzas produzidas pelos lavatórios das lojas (pias e tanques). Com isso, a cisterna é um meio de reutilizar toda essa água, sendo canalizada e levada a uma Estação de Tratamento de Águas Cinzas (ETAC), localizada na pequena área do subsolo; a água é tratada e armazenada na cisterna; e por meio de bomba a água poderá ser utilizada durante todo o mês para a limpeza da praça, irrigação, e também nos sanitários dos banheiros. A queda d’água possui uma bomba submersa, localizada no espelho d’água, que precisa de manutenção. Para isso, o espelho d’água possui duas profundidades: a maior parte possui 40cm de profundidade, e uma pequena área à esquerda chega a 79cm de profundidade. Isso, para armazenar a bomba, que capta e leva a água de volta para o sistema de queda. Para o acesso foi projetado um alçapão acima da bomba, próximo aos espaços sentáveis (Figura 101 - também detalhado nas pranchas de cortes 11/14, 12/14 e 13/14, localizadas no apêndice deste trabalho).
85
Figura 101 - Ampliação da planta baixa humanizada e trecho do corte C-C.
Fonte: Autora.
Outro ponto do microclima está localizado na entrada da praça. São três blocos de concreto revestidos de pedra, com alturas diferentes, que fazem uma pequena queda d’água, utilizando o mesmo sistema de bomba da queda d’água maior ao fundo. Um quarto bloco compõe o conjunto com uma jardineira, onde foi localizada a placa da praça (Figura 102). Figura 102 - Pequena queda d’água na entrada.
Fonte: Autora.
86
A intenção é chamar a atenção do pedestre que vê a pequena cascata na fachada, sendo que a queda d’água principal fica mais ao fundo da praça. Essa pequena cascata fica ao lado de um canteiro de flores que leva a placa do pocket park. Sua localização também atende aos usuários que se apropriam das mesas e cadeiras móveis das áreas de permanência, próximo as lojas e entrada da praça, proporcionando contato com a natureza, tranquilidade e relaxamento desde o primeiro momento na praça (Figura 103). Figura 103 - Queda d’água na entrada da praça.
Fonte: Autora.
5.7 CONSIDERAÇÕES GERAIS O conjunto de todas as áreas forma a Pracinha da Vila, que desde o primeiro contato com o usuário o acolhe e convida a entrar no espaço, tirando-o da correria do dia a dia para um momento particular, como uma pausa para um café, um almoço com um amigo. De forma geral atendendo a todos e podendo receber diferentes tipos de eventos. O resultado demonstra que os princípios de um pocket park se alteram de acordo com os interesses do local de implantação, sendo flexível e aplicável em qualquer lugar.
87
A ideia é que a cidade veja as diversas opções que existem para se criar um espaço público de convivência para seus cidadãos, e que o lazer da comunidade seja considerado. Finalizando, foi feito uma síntese de todas as áreas projetadas para a praça, analisando a aplicação dos princípios de Maluf e Gonçalves (2015), no resultado do projeto (Tabela 3). Tabela 3- Analise dos princípios no resultado do Projeto da Pracinha da Vila. PRINCÍPIOS
ÁREA (%)
ACOLHIMENTO
37,2%
Acontece pelas barreiras vizinhas que cercam a praça; a conexão entre os acessos da praça com a calçada; e a implantação do parklet e vaga para food trucks.
ÁREA SOMBREADA
50,9%
Uma grande cobertura protege os usuários em grande parte da praça, e em alguns pontos a sombra é proporcionada por árvores.
SUBSISTÊNCIA
16,0%
A implantação de dois comércios: o café e a saladeria; áreas de apoio como banheiros, depósito e áreas técnicas; além da vaga para food truck em eventos.
51,4%
Acontece por toda a praça de diferentes formas: na entrada com alguns degraus; no eixo central com mesas e cadeiras móveis; mesas coletivas; e ao fundo, espaços sentáveis proporcionados por blocos em diferentes níveis.
MICROCLIMA
17,5%
Aplicado através de quedas d'água, foi implantado uma pequena na entrada para atrair o pedestre, e uma maior ao fundo da praça para conforto térmico, ambiental e acústico. Também um sistema de reuso das águas.
TRIANGULAÇÃO
-
ÁREA DE PERMANÊNCIA
PRACINHA DA VILA
Proporcionado pelas atividades, com os eventos, as oficinas e os equipamentos implantados, que provocam momentos e encontros inusitados entre as pessoas, possibilitando movimento na praça. Fonte: Autora.
88
CONCLUSÃO Para finalizar, recapitulando a evolução das cidades, os espaços públicos passaram a ser desvalorizados com o tempo, dando lugar a construção de edificações, ruas e calçadas, muitas vezes, em prol do crescimento imobiliário. Assim, perdendo a conexão do homem com a natureza ao ponto de os próprios cidadãos promoverem ações para proteger, apropriar e criar novos espaços verdes de convivência e lazer nas cidades. O trabalho demonstra como o pocket park pode ser inserido nesse contexto, sendo ele uma alternativa de levar novos espaços públicos às áreas adensadas das cidades, aproveitando os espaços subutilizados com áreas verdes, o que estimula a aproximação das pessoas e desenvolve a infraestrutura de lazer das cidades. A escolha do local para a aplicação do pocket park (Centro da cidade de Vila Velha, ES), se baseia nos conceitos e definições apresentadas, como ser um lote inserido em uma área com concentração de comércios e serviços e com potencial para ser um espaço de encontro e lazer para os usuários do entorno, servindo de estimulo para a aproximação das pessoas. O projeto transformou o terreno, que servia de estacionamento, em um espaço público capaz de garantir o uso frequente de pessoas, com conforto, atrativos, oficinas e eventos que proporcionam momentos de uso coletivo e descontração da vida cotidiana. O pocket park pode servir como instrumento para a cidade, sendo adaptável a qualquer cenário, proporcionado pequenas áreas verdes. Um conceito próximo a nossa realidade, como os Food Trucks e os parklet, que precisa ser expandido e valorizado. Assim, o trabalho se finaliza, sendo este um Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
89
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ArchitectureAU. “Balfour Street Pocket Park”. 2012. Disponível em: <http://architectureau.com/articles/balfour-street-pocket-park/project-credits/> Acesso em 31 de outubro de 2016. BLAKE, A. s.d. Pocket parks – Urban Parks. Washington: University of Washington, 2014. Disponível em: <http://depts.washington.edu/open2100/pdf/2_OpenSpaceTypes/Open_Space_Type s/pocket_parks.pdf>. Acesso em 08 de outubro de 2016.
CCDR-LVT. Critérios de Avaliação de Projectos de Desenho de Espaço Público. Programa de Iniciativa Comunitária. PIC Urban II Lisboa - Vale de Alcântara. Lisboa. s.d. Disponível em <http://www.ccdrlvt.pt/files/54ef121756e234aaec998d8782bcd05b.pdf>. Acessado em: 20 de setembro de 2016.
EPPINGHAUS, A. G. Influência do Projeto no Processo de Apropriação dos Espaços Públicos em áreas residenciais: o caso da Barra da Tijuca. 2004. Dissertação de Mestrado ao Programa de Pós-Graduação (curso Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2004.
GATTI, Simone. Manual de Espaços Públicos. Diagnóstico e metodologia de projeto. São Paulo: ABCP, 2013.
GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. Instituto Mobilidade Verde. “Pocket Park”. Disponível em: <https://institutomobilidadeverde.wordpress.com/pocket-park/> Acesso em 19 de setembro de 2016. KLIASS, Rosa. MAGNOLI, Miranda. Em Busca de “Outros” Espaços Livres de Edificação. Paisagem Ambiente: ensaios. São Paulo. 21. 2006. 245-256. KPBS. “New ‘Pocket Park’ In East Village Opens Sunday”. 2014. Disponível em: <http://www.kpbs.org/news/2014/jun/06/new-pocket-park-opens-east-villagesunday/> Acesso em 29 de outubro de 2016.
KRONKOSKY Charitable Foundation. Research Brief. Pocket Park. 2016. 1-4.
90
Landezine. “Balfour Street Pocket Park”. 2014. Disponível em: <http://www.landezine.com/index.php/2014/07/balfour-street-pocket-park-by-janeirwin-landscape-architecture/> Acesso em 31 de outubro de 2016.
MACEDO, Silvio. ROBBA, Fábio. Praças Brasileiras. Public Squares in Brazil. São Paulo. Edusp, 2003.
MALUF, C. S.; GONÇALVES, T. É. C. Pocket park: Matriz de critérios para implantação. In: SEMINÁRIO PROJETAR 7. Ponta Negra, Natal. 2015. Natal: PPGAU/UFRN, 2015. f. 1-15. MAGNOLI, Miranda. Em Busca de “Outros” Espaços Livres de Edificação. Paisagem Ambiente: ensaios. São Paulo. 21. 2006. P. 141-174
MAGNOLI, Miranda. Espaço Livro - Objeto de Trabalho. Paisagem Ambiente: ensaios. São Paulo. 21. 2006. P. 175-198.
MAGNOLI, Miranda. O Parque no Desenho Urbano. Paisagem Ambiente: ensaios. São Paulo. 21. 2006. P. 199-214.
MENDONÇA, Eneida. Apropriações do espaço público: alguns conceitos. Estudos e Pesquisas em Psicologia. UERJ. Rio de Janeiro. v. 7. n. 2. 2007. p. 296-306.
MORA, M. Indicadores de Calidad de Espacios Públicos Urbanos, para la vida ciudadana, em Ciudades Intermedias. In: 53º CONGRESSO INTERNACIONAL DE AMERICANISTAS. Cidade do México. 2009. p. 4.
NYC Parks, Rev. Linnette C. Williamson Memorial Park, 2001. Disponível em:< https://www.nycgovparks.org/about/history/historical-signs/listings?id=12811>. Acesso em 08 de outubro de 2016.
Plano Diretor Municipal de Vila Velha. Prefeitura de Vila Velha. Lei nº 5.430. 2013. Disponível em: <http://www.vilavelha.es.gov.br/midia/paginas/Lei%205430.pdf>. Acessado em: 02 de novembro de 2016.
PREFEITURA DE SÃO PAULO. Lei nº 9.610, de 1998. Manual Operacional para Implantar um Parklet em São Paulo. São Paulo. 2014.
91
RAD Lab. “Pocket Park”. Disponível em: <http://www.radlabsd.com/workavenue/#/cities/> Acesso em 29 de outubro de 2016. Revista AU. “Zoom Arquitetura assina projeto da Pracinha Oscar Freire, primeiro Pocket Park do país.” Maio. 2014. Disponível em: <http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/urbanismo/zoom-arquiteturaassina-projeto-da-pracinha-oscar-freire-primeiro-pocket-312861-1.aspx>. Acessado em 27 de outubro de 2016.
SALGADO, Manuel. Espaços Públicos. Fundação Banco Comercial Português. Parque das Nações, Lisboa. p 1 - 45. s.d.
TATE, Alan. EATON, Marcella. Great City Parks. 2 ed. Routledge, 2014. WEISS, M. Skyscraper Zoning New York’s Pioneering Role, APA Journal, vol. 58, no. 2, Chicago, 1992. 201-2012. Disponível em:< http://www.globalurban.org/Skyscraper_Zoning.pdf>. Acesso em 08 de outubro de 2016.
WHYTE, William. The Social Life of Small Urban Spaces. Nova York. Direct Cinema LTD. The Municipal Art Society of New York. 1979. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=g_9g5qk0kbY> Acesso em 28 de outubro de 2016. ZOOM Urbanismo Arquitetura e Design. “Pracinha Oscar Freire”. Disponível em: <http://www.zoom.arq.br/pracinha-oscar> Acesso em 27 de outubro de 2016.
92
APÊNDICES LISTA DE APÊNDICES: Apêndice 1 - Planta de Situação............................................................................1/14 Apêndice 2 - Planta de Localização.......................................................................2/14 Apêndice 3 - Planta Baixa Humanizada.................................................................3/14 Apêndice 4 - Planta Baixa......................................................................................4/14 Apêndice 5 - Planta Baixa Subsolo........................................................................5/14 Apêndice 6 - Planta Baixa Pavimentação..............................................................6/14 Apêndice 7 - Planta Baixa Ambientação................................................................7/14 Apêndice 8 - Planta Baixa Iluminação....................................................................8/14 Apêndice 9 - Planta Baixa Cobertura.....................................................................9/14 Apêndice 10 - Planta Baixa Paisagismo..............................................................10/14 Apêndice 11 - Cortes............................................................................................11/14 Apêndice 12 - Cortes............................................................................................12/14 Apêndice 13 - Cortes e Fachada..........................................................................13/14 Apêndice 14 - Vistas............................................................................................14/14