Dossiê Sobre o Pastel de Farinha de Milho de Pouso Alegre - Minas Gerais

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QUADRO VI REGISTRO BEM CULTURAL IMATERIAL

Pastel de Farinha de Milho EXERCÍCIO 2012

MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE | MG

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FOLHA DE ROSTO

QUADRO VI DATA DE ENCAMINHAMENTO AO IEPHA: 15/01/2011 ENDEREÇO DA PREFEITURA

NOME DO PREFEITO NOME DO SETOR DE PATRIMONIO CULTURAL DA PREFEITURA

POUSO ALEGRE

Rua dos Carijós, 45 ‐ Centro Agnaldo Perugini Seção do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura

ENDEREÇO DO SETOR

Avenida Dr. Lisboa, 201, 2º piso

TELEFONE DO SETOR

(35) 3449‐4345

ENDEREÇO ELETRÔNICO DO SETOR

NOME DO SECRETÁRIO DE CULTURA

culturapousoalegre@yahoo.com.br Aline Cristina Araújo

DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL Modo de Fazer: PASTEL DE FARINHA DE MILHO DE POUSO ALEGRE

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SUMÁRIO 01. LEI DO REGISTRO IMATERIAL

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02. INTRODUÇÃO

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03. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA / SOCIOLÓGICA / ANTROPOLÓGICA

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03.1. HISTÓRICO DO MUNICÍPIO

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03.2. DO OBJETO

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04. AGENTES, RECURSOS E PÚBLICO ALVO

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05. DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE OCORRÊNCIA

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06. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE OCORRÊNCIA

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07. JUSTIFICATIVA DA DEFINIÇÃO DA ÁREA

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08. FICHA DE INVENTÁRIO

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09. SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO DA ATIVIDADE CULTURAL

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09.1. IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS

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09.2. DIRETRIZES/MEDIDAS PARA GESTÃO

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09.3. VALORIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COM CRONOGRAMA DE AÇÕES A SEREM IMPLEMENTADAS

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10. DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA

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11. REGISTRO AUDIOVISUAL

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12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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13. ANEXOS

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A. FICHA TÉCNICA

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B. PARECER TECNICO

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C. PARECER DO CONSELHO

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D. ATA DE APROVAÇÃO PROVISÓRIA

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C. NOTIFICAÇÕES/COMUNICAÇÃO E RECIBOS

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E. ATA DE APROVAÇÃO DEFINITIVA

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F. CÓPIA DO DECRETO OU HOMOLOGAÇÃO DO REGISTRO

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G. INSCRIÇÃO NO LIVRO DE REGISTRO

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H. PUBLICAÇÃO DO DECRETO OU HOMOLOGAÇÃO DO REGISTRO

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01. LEI DO REGISTRO IMATERIAL

A seguir, cópia da lei que estabelece a proteção para o Patrimônio Imaterial de Pouso Alegre/MG.

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02. INTRODUÇÃO

A Prefeitura Municipal de Pouso Alegre, consciente do valor da cultura e memória de seu povo, busca através de ações de proteção e preservação do patrimônio, uma política cultural eficaz e comprometida com seu resultado. Amparada pela Lei de Proteção do patrimônio cultural municipal e em obediência às condições prescritas na resolução 01/2009, elaborada pelo CONEP, o município coloca‐se como instrumento de identificação, documentação, proteção e promoção do patrimônio local. O Dossiê de Registro de Bem Cultural Imaterial em questão constitui um esforço nesse sentido, a partir do momento que auxilia na construção da identidade municipal baseada no conceito de desenvolvimento sustentável. As visitas técnicas e a elaboração do Dossiê de Registro do Pastel de Farinha de Milho de Pouso Alegre foram feitas seguindo, então, as diretrizes do IEPHA/MG com o intuito de salvaguardar o bem cultural em questão. Diante do exposto, a Prefeitura Municipal de Pouso Alegre apresenta ao IEPHA/MG ‐ Exercício de 2011, o Dossiê de Registro do Pastel de Farinha de Milho de Pouso Alegre. Belo Horizonte, 15 de janeiro de 2011 Coordenação Técnica – R.T. MGTM Ltda. Isabella Corrêa Dias ‐ Arquiteta e Urbanista Coordenação dos Trabalhos de Campo – MGTM Ltda. Mônica Guimarães M.S. Marinho – Arquiteta e Urbanista Supervisão e Montagem ‐ MGTM Ltda. Rogério Stockler de Mello – Administrador de Empresas Agradecimentos Nossos agradecimentos a todos que com seu apoio, depoimentos e sugestões colaboraram para a elaboração do trabalho e em especial a equipe de funcionários da Prefeitura Municipal de Pouso Alegre‐ MG.

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03. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA/SOCIOLÓGICA/ANTROPOLÓGICA

03.1. HISTÓRICO DO MUNICÍPIO

03.1.1. HISTÓRIA DE POUSO ALEGRE: MUNICÍPIO E LOCAL DE OCORRÊNCIA DO BEM Quando pensamos na história de uma cidade ou município não há como não pensarmos nas origens, na primeira pessoa que ali colocou os pés ou no primeiro morador, aquele que foi o primeiro a volver a terra para dali retirar o próprio alimento. Essa busca pelo início é uma preocupação da historiografia positivista que, com suas documentações oficiais nos auxiliou na reconstituição dos fatos do passado. Mas essa história factual exaltada pelo positivismo abandonava alguns dados importantes que chegaram ao presente a partir de fontes diversas e não oficiais. Assim, tentaremos escrever a história de Pouso Alegre, buscando a idéia positivista da origem e, ao mesmo tempo, utilizando outras fontes que não faziam parte das fontes oficiais, mas que podem contribuir para compreendermos o processo de desenvolvimento de Pouso Alegre, desde o século XVIII aos dias atuais. A cidade é um lugar que está em constante mudança, é a construção, a ocupação e a modificação do espaço que reflete a cultura e a história dos povos que ali passaram e se fixaram. É a partir dessa idéia de cidade que tentaremos compreender a história de Pouso Alegre. Para começarmos a entender o processo de ocupação da região onde hoje está Pouso Alegre, precisamos conhecer como os bandeirantes chegaram àquelas terras e o que encontraram. O território do sul de Minas, antes da chegada dos portugueses, era povoado por tribos Tamoios, Temiminós e Tupiniquins que circulavam pelos morros da região, criando trilhas e caminhos. Não sabemos se eles tinham aldeias na região, mas acreditamos que sim porque depois do estabelecimento de europeus na costa brasileira muitas tribos se refugiaram no interior e fundaram suas aldeias nas terras além da Serra do Mar. Após a segunda metade do século XVI, os bandeirantes instalados em São Paulo de Piratininga começaram a procurar indígenas para o trabalho escravo e adentravam no território brasileiro utilizando as rotas abertas pelos próprios índios. O objetivo dos paulistas era entrar cada vez mais para o interior das terras brasileiras em busca de novos cativos silvícolas, pedras e metais preciosos. Os caminhos utilizados por eles se tornaram o acesso às minas e ao Sabarabuçu, onde os paulistas encontraram grande quantidade de ouro. O processo de entrada e ocupação do sertão demorou mais de dois séculos e várias trilhas foram abertas por expedições lideradas por diferentes bandeirantes. Durante a jornada desses grupos que levava alguns meses, eles criavam ranchos ao longo do caminho onde plantavam milho, mandioca, feijão e hortaliças para poderem voltar com a garantia de alimento. Desses ranchos surgiram muitas das cidades mineiras porque essas paradas eram povoadas por

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participantes da expedição e passavam a ser um local de apoio para a volta e as próximas idas ao sertão. Em um desses ranchos, foi criada a localidade de Bom Jesus do Mandu ou Pouso do Mandu. Segundo a Carta Corográfica da Capitania de São Paulo, datada de 1766, a divisa entre a capitania de São Paulo e a mineira era marcada por sete pontos que também davam a indicação dos três caminhos que partiam de São Paulo. Dois deles seguiam para as Minas e um para Goiás. Os sete pontos eram o Rio Grande, o Morro do Cachumbu (Caxambu), o alto da Serra da Mantiqueira, o Cachumbu (Caxambu), o Rio Verde, o Rio Sapocahy (Sapucaí) e o Morro do Lopo, que indicava o início da estrada de Goyazes (Goiás). Nesse mapa há a localização dos caminhos que iam para as Minas e um deles passava perto do Rio Mandu e Sapucaí. Uma das travessias mais antigas passando por aquelas paragens data do final do século XVI, cuja expedição era liderada por Martim Corrêa de Sá, mas o caminho só foi estabelecido a partir de meados do século XVII. Carta Corográfica da Capitania de São Paulo, datada de 1766. Observe no alto os rios Sapucaí e Mandu (cuja grafia é Manduú). Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/mapa106g.htm

O mapa acima mostra um traçado dos rios diferente ao que encontramos na região. É preciso levar em conta que, com a construção da Represa de Furnas na década de 1950, a geografia dos rios da Bacia do Rio Grande foi modificada, mas é possível ainda perceber que os colonizadores conheciam a

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região o suficiente, já em 1766, para descrever os rios e o relevo do caminho que ligava São Paulo a Minas. Ao lado do Rio Verde podemos encontrar a vila de Santo Antônio de Campanha do Rio Verde, que foi criada em 1743 e era responsável por todos os povoamentos em torno dela, incluindo os vales dos Rios Sapucaí e Mandu. Um dos caminhos que seguia para as Minas passava pelos povoados de São Pedro, Santa Ana do Sapucaí e pelo arraial de Campanha. Observando os aspectos geográficos da região, o caminho aberto pelos paulistas atravessava os rios Sapucaí e Mandu e seguia para São João Del Rey para dali ir até Mariana e Vila Rica (Ouro Preto). É importante comentar acerca dos caminhos da colônia porque foi nas margens de um deles que foi fundado o povoado do Pouso do Mandu. Na primeira metade do século XVIII, a região do Rio Sapucaí entrou nas discussões para a definição da divisa entre a Capitania de São Paulo e Minas Gerais. Os paulistas queriam a área a oeste das margens do Sapucaí porque aquelas paragens eram consideradas riquíssimas, mas a coroa não estava propensa a deixar a posse daquelas terras a eles. Assim, o grupo que acompanhava o sertanista Francisco Martins Lustosa chegou a pegar em armas para garantir a posse da região do Sapucaí, mas a provisão régia de nove de maio de 1748 refreou a atuação de Lustosa. Ela deu autorização ao Conde de Bobadela para definir os limites entre as duas capitanias e a partir daí ele tomou as providências necessárias para o apaziguamento da região. No ano seguinte, a divisa foi definida por Gomes Freire de Andrade pela Serra de Mogy‐guassu e as terras referentes a onde hoje está Pouso Alegre passaram a pertencer à capitania mineira.1 Segundo a obra publicada pela Secretaria do Bispado de Pouso Alegre, o primeiro morador da foi o Sr. Carlos de Araújo que vendeu as terras para o Sr. Antônio José Machado. Este doou as terras para a fundação da primeira capela de Bom Jesus do Matozinhos de Pouso Alegre. Já segundo Amadeu de Queiroz, depois das disputas entre paulistas e mineiros pela região e da saída de Lustosa, o primeiro morador das margens do Mandu foi o Sr. Antônio de Araújo Lobato que se estabeleceu ali na década de 1750. As divergências entre os colonizadores e a coroa já haviam acabado e a região, provavelmente, se tornou mais segura para a ocupação. A extração de ouro acontecia apenas nas proximidades de Ouro Fino e de Santana do Sapucaí e as margens do Mandu eram utilizadas como pastagens e campos de plantações. Nas décadas de 1750 e 1760, a região era composta por algumas fazendas e aglomerados de casas. Segundo Amadeu Queiroz, no ano de 1766, foi criado o registro do Mandu para impedir o escoamento da produção aurífera de Ouro Fino sem a devida cobrança dos impostos. Nessas décadas, as terras entre os dois rios Mandu e Sapucaí‐mirim foram vendidas para o Sr. João da Silva Pereira que, em 1785, conseguiu a concessão da sesmaria. 1

ROSSI, Pompeu. O guarda‐mor Lustosa, fundador de Ouro Fino. RAPM. Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, vol. 22, ano 1928, p. 159‐175.

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“(...) Faço saber aos que esta Carta de Sesmaria virem que atendendo o que me representou por sua petição João da Silva Pereira, morador na Freguesia de Santa do Sapucaí, em terra que cultiva há mais de trinta anos por compra que então delas fez a Antônio de Araújo Lobato, primeiro povoador daquele sertão, e outras mais, povoadas e cultivadas ao mesmo tempo daquelas por Félix Francisco, cujas terras se verificam entre os rios Sapucaí‐mirim e Sapucaí‐assu, tanto umas como outras em que se acha com atual cultura desde referido tempo, e porque as quer possuir na forma das Reais Ordens, pedindo‐me por fim e conclusão de seu requerimento lhe concedesse uma sesmaria de três léguas de comprido e uma de largo para poder titular as sobreditas terras compras por de outra forma o não poder fazer por terem extensão grande, sendo a maior parte campos de criar o gado vacum e cavalar com que se acha o suplicante nelas estabelecido, principiando‐se a medição no fim do Espigão onde finda a barra de um e outro rio correndo sempre pelo dito espigão acima ate onde findarem as terras que o suplicante comprou que é o primeiro ribeirão acima do córregos chamado dos macacos, que deságua para o Sapucaí‐mirim e do outro com um córrego chamado Lagoinha que deságua para o Sapucaí‐assu, fazendo‐se Pião, donde mais conveniente for, por ser uma paragem quase sertão inda thé o presente, cuja concessão a requer com preferência a outra qualquer na dita paragem, tudo na forma das ordens de Sua Majestade (...).2 No final do século XVIII, a capela de Senhor Bom Jesus de Matozinhos foi criada a partir da doação de Manuel José Machado, filho de Antônio José Machado em cumprimento ao testamento de seu pai. A capela foi erguida no meio de onde hoje está a Praça Senador José Bento, em frente à atual matriz. O padre que rezou a primeira missa foi o padre da Paróquia de Santana do Sapucaí, Pe. Francisco de Andrade Melo.3 Segundo Amadeu Queiroz, ainda no final do século XVIII, uma comitiva do Conde de Sarzedas passou por Itapeva em Minas Gerais, cuja fazenda era denominada Pouso Alegre e não conseguindo muitos recursos para passar a noite, seguiu para a Fazenda Furquim, no Mandu, onde foi recebida com 2

QUEIROZ, Amadeu de. Pouso Alegre: a origem da cidade e a história da imprensa. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1948, p. 27‐ 28. 3 OLIVEIRA, Cônego João Aristides de. A diocese de Pouso Alegre no ano jubilar de 1950. Pouso Alegre: Tip. da Escola Profissional, 1950.

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melhores condições de pouso. Assim, diante da ironia do pouso alegre ter sido às margens do Mandu, houve uma brincadeira de que o lugar deveria ser conhecido como pouso alegre do Mandu. A importância da discussão acerca dos primeiros moradores está na confirmação de que as margens do Mandu já haviam sido colonizadas no século XVIII e que os povoados já existiam desde meados daquele século. Duas indicações disso são a presença de fazendas e pastos para o gado, mencionadas na sesmaria concedida a João da Silva Pereira e nas disputas territoriais entre paulistas e mineiros nas paragens próximas ao rio Sapucaí, e a criação do Registro do Mandu que também é um indício de que aquelas terras eram controladas em maior medida que as minas de Ouro Fino. Mais tarde, o registro foi extinto ficando apenas o vilarejo. No século XIX, em 1810, a Capela do Mandu foi elevada a freguesia de Nosso Senhor Bom Jesus de Pouso Alegre. No ano seguinte, o Padre José Bento Ferreira de Melo, foi colado na freguesia e se mudou para o arraial do Mandu. Segundo Queiroz, na primeira década do XIX, Mandu tinha cerca de cinqüenta casas bem construídas. A produção aurífera havia se escasseado já no século XVIII e as regiões produtoras de víveres como Pouso Alegre cresceram em quantidade de população e desenvolvimento econômico. No século XIX, isso foi intensificado e o quadro populacional da vila de Campanha de 1826 indica que Pouso Alegre tinha 2.733 homens livres, 2.472 mulheres livres, 854 homens escravos e 431 mulheres escravas, somando 6.490 almas.4 Da primeira década do século XIX aos anos de 1820, Pouso Alegre cresceu muito se tornando a segunda maior cidade do sul de Minas. Acreditamos que esse crescimento acelerado pode ter sido influência da presença da corte no Rio de Janeiro e da necessidade daquela região de abastecimento de víveres produzidos nas fazendas pousoalegrenses. Segundo Alexandre Mendes Cunha, “ Os ritmos do crescimento nessas três áreas que na virada do século compunham o grande termo de Campanha, são reveladores de uma dinâmica diferenciada na ocupação do sul de Minas. A princípio o crescimento se localizou em Campanha, depois se direcionando para outros pontos da região; ganha intensidade aí a ocupação do sudoeste, nas áreas próximas à nascente do rio Grande e onde se localiza Baependi, e o sudoeste, nas terras além do rio Sapucaí, onde está Jacuí. O termo de Jacuí mais que dobra sua população entre 1820 e 1835, passando de 15.229 habitantes para 32.545, e imprimindo alta taxa de crescimento anual. Baependi, por sua vez,

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Mapa Populacional. Revista do Arquivo Público Mineiro, vol. 3, p. 637, jul./set. 1896.

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cresce em velocidade menor no período, mas em termos absolutos seria o segundo termo em números de habitantes em 1835.” 5 Cunha analisa a população do termo de Campanha a partir do recenseamento de 1830‐31, mas não chega a mencionar a recém formada vila de Pouso Alegre. Porém ao concluir que a região recebeu muitos migrantes e aumentou a quantidade populacional, ele também está se referindo à Pouso Alegre que fazia parte do termo e também cresceu em números populacionais. Isaías Pascoal analisa os aspectos econômicos que influenciaram a participação política do sul de Minas na formação do Estado Brasileiro, no período regencial. Segundo ele, o desenvolvimento econômico da região trouxe facilidades para a inclusão dos políticos sul ‐ mineiros na política nacional.6 Aliado a isso, há a presença do Padre José Bento que se posicionou em favor da regência e obteve vantagens na administração da vila de Pouso Alegre, fundada em 13 de outubro de 1831. Em 1833, em conseqüência da abdicação de D. Pedro I, houve uma revolta em Minas contra o governo imperial que foi prontamente combatida. Adequando‐se aos interesses imperiais, o Padre José Bento criou a Sociedade Defensora da Independência e Liberdade Nacional em Pouso Alegre que era liberal moderada e defendia o Império e a Regência. O Padre José Bento foi senador e deputado e defendeu o sul de Minas. Ele soube, no cenário político nacional, garantir a manutenção dos interesses econômicos e políticos da região, em especial de Pouso Alegre, onde foi padre. Para a cidade de Pouso Alegre, o padre José Bento foi mais que um padre, foi um político e um defensor dos interesses pousoalegrenses. Sua participação no quadro político nacional provavelmente proporcionou à vila o apoio para o desenvolvimento das suas atividades econômicas e a inseriu no cenário nacional. Acreditamos que isso tenha impulsionado seu crescimento, explicando o aumento populacional e a elevação à vila. A cidade de Pouso Alegre passou por vários momentos de aumento populacional ao longo de sua história. No século XIX isso foi caracterizado inicialmente pelo crescimento das décadas de 1820 e 1830 que culminou em sua elevação a vila. Posteriormente, na década de 1870 um novo crescimento populacional foi percebido e o número de fogos foi elevado. Nessa década, a densidade demográfica do sul de Minas, termo de Campanha, é a terceira maior do Estado, contabilizando 9.4, atrás da zona da mata, com 12.2, e da região mineradora (Vila Rica, Sabará, etc.), com 11.8 de densidade demográfica. Comparando a população do termo de Campanha em 1830 e 1870, encontramos números bem diferenciados. A população cresceu de 90588 para 240387, ou seja, seus índices populacionais cresceram mais que o dobro. Esses números correspondem a todo o termo de Campanha, mas refletem

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CUNHA, Alexandre Mendes. “Paisagem e População: algumas vistas de dinâmicas espaciais e movimentos da população nas Minas do começo do Dezenove.” XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002. 6 PASCOAL, Isaías. Fundamentos econômicos da participação política do sul de Minas na construção do Estado brasileiro nos anos 1822‐1840. Economia e Sociedade, Campinas, v. 17, n. 2 (33), p. 133‐157, ago. 2008.

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o aumento populacional da vila de Pouso Alegre. No recenseamento de 1890, encontramos uma população de 5707 pessoas na área urbana e 37122 contabilizados em toda Pouso Alegre, somando os habitantes das zonas rural e urbana. Isso mostra que a cidade cresceu muito no século XIX, deixando de ser um pequeno povoado de 50 casas para se tornar uma cidade com mais de 2000 fogos na porção urbana. Segundo Marcelo Soares Mello Filho e José dos Santos Junior, a concentração populacional em centros urbanos verificada no século XIX pode indicar um direcionamento da economia mineira para os serviços e bens urbanos e não para a agro‐exportação.7 No caso pousoalegresense, a produção agrícola era intensa, mas na medida em que a cidade crescia, podemos sugerir que as atividades urbanas passaram a ser um dos principais meios de circulação financeira. Isso pode ser caracterizado pelo aumento de escolas, centros culturais e similares na cidade que indicava uma vida urbana mais intensa. Foto da pintura de Passos Maurício de Pouso Alegre deculturapa.com.br/index/textos/Passo%20do%20Mauricio.pdf>

em

1863.

Fonte:

<

http://www.conselho

O pintor Passos Maurício fez uma representação da cidade de Pouso Alegre no ano de 1863.8 Na pintura podemos perceber a presença de sobrados e da igreja com um cruzeiro à frente. As ruas eram largas e de terra e nas terras além do rio Mandu, onde hoje fica o bairro São Geraldo, não havia casas, a não ser por uma ou outra sede de fazenda.

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MELLO FILHO, Marcelo Soares Bandeira; SANTOS JUNIOR, José Maria dos. População e Geografia Econômica: a conformação da população no espaço em Minas Gerais, no século XIX. XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú‐MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006. 8 Disponível em : <http://www.conselhodeculturapa.com.br/index/textos/Passo%20do%20Mauricio.pdf> Acesso em 10 dez 2008, 12:00.

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Partindo das análises populacionais e econômicas do sul de Minas, tentaremos descrever a cidade de Pouso Alegre ao longo do século XIX. Nos primeiros anos do século, ainda na colônia, Pouso Alegre era um pequeno conjunto de casas em torno da capela do Mandu, construída nos últimos anos do século XVIII. Em dez anos, a capela reuniu os fiéis a Bom Jesus e proporcionou ao lugarejo a elevação à freguesia de Bom Jesus de Pouso Alegre. Na década de 1830, com um desenvolvimento maior, em especial por causa da agricultura e da influência política do Senador José Bento, podemos então sugerir que a vila de Pouso Alegre, fundada em 1831, já reunia em torno da capela que ficava onde hoje está a Praça Senador José Bento, praça central da cidade, em frente à atual matriz de Nosso Senhor Bom Jesus, algumas casas assobradadas circundando o largo da igreja e outras tantas ao redor, caracterizando a área urbana. Havia nessa época mais dois largos na área central, o do Rosário e o da Cadeia que foram extintos. Em 1848, a vila de Pouso Alegre se torna cidade e no ano seguinte os pousoalegrenses iniciam a construção de uma nova matriz, no mesmo lugar onde hoje está a catedral. As década subseqüentes do século XIX trouxeram a Pouso Alegre um crescimento urbano marcado pela construção de prédios públicos municipais, o teatro, o Colégio São José, para rapazes, o Nossa Senhora das Dores para moças e o Liceu Pouso Alegrense. A ferrovia chegou a Pouso Alegre na década de 1880 trazendo o progresso e as facilidades do transporte. Em fins do século XIX, o centro da cidade era iluminado com lampiões que eram acesos diariamente no fim da tarde. O mercado municipal foi erguido em 1893, no largo da igreja, para abrigar os comerciantes da zona rural da cidade. O comércio no local tornou‐se tradicional para Pouso Alegre. Para terminar o século XIX e demonstrar o crescimento da cidade, foi instalada a Comarca de Pouso Alegre no ano de 1892 e em 1899 foi criado o Seminário Diocesano de Nossa Senhora Auxiliadora. Pouso Alegre atraiu várias instituições católicas que instalaram seus colégios, conventos e seminários em suas terras. Isso proporcionou à cidade certo destaque no sul de Minas e em conseqüência ela passou a ser uma referência na região. Acreditamos que sua proximidade com São Paulo e seu desenvolvimento urbano em todo o século XIX aumentou essa influência e exaltou Pouso Alegre. Aliado a isso, temos na cidade uma forte imprensa iniciada pelo Padre e Senador José Bento. Ainda em 1830, foi criado o Pregoeiro Constitucional, um jornal de cunho liberal cujo objetivo era discutir o governo de D. Pedro I e que lançou bases para uma reforma constitucional do Império. A força política do Padre José Bento e de seu jornal lançou Pouso Alegre no Brasil e auxiliou a cidade na construção de sua imprensa.9 Três anos depois da criação do Pregoeiro, foi criado o Recopilador Mineiro que também seguia a influência do padre político. Em 1883, a Câmara Municipal de Pouso Alegre criou o Livro do Povo, um jornal abolicionista que fazia a propaganda contra a escravidão para os fazendeiros locais. Três anos antes, diversas famílias italianas chegaram à cidade para trabalhar na agricultura e 9

SOUZA, Françoise Jean de Oliveira. Discursos impressos de um padre político: análise da breve trajetória d’O pregoeiro constitucional. Almanack Braziliense, n. 5, maio 2007, p. 86‐100.

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substituir a mão‐de‐obra escrava. Assim, acreditamos que o jornal tentava diminuir ainda mais o contingente de escravos. Como era um periódico da câmara, a proposta anti escravagista poderia ser compreendida como uma intenção dos próprios pousoalegrenses que refletia na opinião dos vereadores abolicionistas. Isso sugere que os moradores de Pouso Alegre estavam engajados ou eram simpáticos à campanha contra a escravidão. Novamente Pouso Alegre era atuante nas questões nacionais como o foi durante a queda de D. Pedro I e a regência. Da esquerda para a direita: Padre José Bento, proprietário do jornal O Pregoeiro Constitucional, que foi assassinado no caminho para sua fazenda do Engenho da Serra, em 1844; o Recopilador Mineiro, jornal criado sob a influência do padre José Bento e as duas últimas, imagens de páginas do Pregoeiro Constitucional. Fonte: OLIVEIRA, Cônego João Aristides de. A diocese de Pouso Alegre no ano jubilar de 1950. Pouso Alegre: Tip. da Escola Profissional, 1950.

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Recopilador Mineiro, jornal criado sob a influência do padre José Bento e as duas últimas, imagens de páginas do Pregoeiro Constitucional. Fonte: OLIVEIRA, Cônego João Aristides de. A diocese de Pouso Alegre no ano jubilar de 1950. Pouso Alegre: Tip. da Escola Profissional, 1950.

O século XX chegou a Pouso Alegre com muitas inovações. O processo desenvolvimentista da cidade continuou e já no primeiro ano, a partir da iniciativa e esforço do Padre José Paulino de Andrade, foi criado o bispado de Pouso Alegre cujo primeiro bispo foi Dom João Baptista Correa Nery. Dom Nery nasceu no interior paulista. Era um grande orador e foi nomeado bispo de Vitória anos antes de ir para o sul de Minas, mas adoeceu e foi transferido para Pouso Alegre, onde poderia exercer o episcopado e aproveitar o clima para se curar de sua enfermidade. Foi o consolidador do bispado pousoalegrense e junto com o Padre José Paulino, mais tarde Monsenhor, trouxe novos colégios e santuários para a cidade, como o Santuário do Coração de Maria, inaugurou monumentos católicos e construiu o Palácio Episcopal. Deixou a cidade em 1908 e foi para Campinas, onde se tornou o primeiro bispo.

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À esquerda, Dom Nery; ao seu lado, Monsenhor José Paulino de Andrade; ao centro, o Santuário do Coração de Maria, inaugurado em 1905. Fonte: OLIVEIRA, Cônego João Aristides de. A diocese de Pouso Alegre no ano jubilar de 1950. Pouso Alegre: Tip. da Escola Profissional, 1950.

Palácio Episcopal de Pouso Alegre. Fonte: OLIVEIRA, Cônego João Aristides de. A diocese de Pouso Alegre no ano jubilar de 1950. Pouso Alegre: Tip. da Escola Profissional, 1950.

Ainda na primeira década do século XX, o centro de Pouso Alegre passou a ser iluminado por energia elétrica e as casas a receber água canalizada. As reformas urbanas deixavam a cidade cada vez mais com aspecto modernizado, mas as tradições rurais permaneciam e, segundo Amadeu Quieroz, as ruas e o largo da matriz serviam de curral para as vacas que dormiam ali todas as noites. Ao mesmo tempo em que o centro da cidade era o local de manifestações públicas e de encontros depois das missas de domingo, ainda havia o bucolismo da atividade agrícola na cidade que se manifestava na presença do gado nas ruas da cidade e da importância que tomou o mercado após a sua construção. Em 1892 aconteceu a primeira eleição de Pouso Alegre e foi eleito o Coronel Joaquim Vieira de Carvalho que ficou no cargo até o ano de 1904. Ele não era pousoalegrense, mas chegou à cidade em 1855. Era funcionário dos Correios e fazendeiro. Ingressou na política e foi inspetor municipal e

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presidente da Câmara. Faleceu em 1911 em Pouso Alegre. Seu sucessor foi o Sr. Otávio Meyer que foi presidente da Câmara de 1905 a 1912. Era um homem dinâmico e, além de político, se dedicou às atividades agropecuárias, à construção civil, ao comércio. Era um empreendedor. Teve uma numerosa família e viveu oitenta anos. Faleceu na cidade em 1950. O prefeito seguinte foi o Sr. Eduardo Carlos Vilhena do Amaral. Ele era pousoalegrense nascido em 1857. Foi um grande político em âmbito estadual e federal. Chegou a ser senador e vice‐presidente de Minas. Esteve à frente de Pouso Alegre de 1912 a 1922 e foi responsável por muitos avanços na urbanização e desenvolvimento econômico da cidade. Faleceu em 1938, aos 81 anos. De 1923 a 1927, o Sr. Olavo Gomes de Oliveira foi o prefeito de Pouso Alegre. Ele era farmacêutico, foi professor da escola de Farmácia e proprietário de uma tradicional farmácia na cidade, a Farmácia Queiroz. Além de político, foi também presidente do Banco de Pouso Alegre. O Sr. João Tavares Corrêa Beraldo foi o prefeito de 1927 a 1933. Ele foi advogado e juiz de direito. Foi vereador de Pouso Alegre, deputado estadual por Minas, secretário de estado e interventor federal em Minas Gerais. Da esquerda para a direita: Coronel Joaquim Vieira de Carvalho, Sr. Otávio Meyer, Sr. Eduardo Carlos Vilhena do Amaral, Sr. Olavo Gomes de Oliveira e Sr. João Tavares Corrêa Beraldo. Fonte: www.museupousoalegre.com.br

De 1933 a 1934 e depois, num segundo mandato, de 1945 a 1946, o Sr. José de Paiva Coutinho Sapucahy foi prefeito de Pouso Alegre. Ele era conhecido como Dr. Sapucahy em homenagem ao rio que banha a cidade, alcunha recebida durante os anos em que freqüentava a faculdade de Direito. Foi advogado, delegado de polícia, promotor e juiz de direito. Foi prefeito da cidade por dois mandatos e depois foi nomeado consultor da Loteria Mineira. Faleceu em 1966, aos oitenta anos em Caçapava – SP. Entre os dois mandatos do Dr. Sapucahy, foram prefeitos os Srs. Antônio Corrêa Beraldo, de 1935 a 1937, Tuany Toledo, de 1937 a 1941, José Antônio de Vasconcelos Costa, de 1941 a 1943, e Oswaldo Mendonça, de 1943 a 1945. O primeiro nasceu em 1885 em Santana do Sapucaí e faleceu em Pouso Alegre em 1970. Era empresário e criava e instalava fontes luminosas. Foi responsável pela fonte da Praça Senador José Bento e de outras tantas cidades que contrataram seus serviços. Criava mecanismos

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artesanais e engenhosos para o funcionamento dos motores de suas fontes.10 Muitas delas ainda estão ativadas e iluminando as praças onde foram colocadas. O segundo, Sr. Tuany Toledo, dá nome ao museu de Pouso Alegre. Nasceu em Congonhal, em 1893 e faleceu em Pouso Alegre, em 1985. Foi farmacêutico, comerciante, jornalista, inspetor escolar, vereador e presidente da Câmara Municipal de Pouso Alegre. O seguinte foi o Sr. José Antônio de Vasconcelos Costa. Ele nasceu em 1916 em Sete Lagoas e faleceu em agosto de 2008. Nos último anos de vida, sofreu do mal de Alzheimer. Foi velado na Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais.11 Vasconcelos Costa era formada em Direito. Foi prefeito de várias cidades mineiras além de Pouso Alegre, Uberlândia, Pouso Alto, São Sebastião do Rio Verde e Sete Lagoas. Foi secretário de estado, deputado federal por três mandatos e membro permanente do Brasil na ONU. O último foi o Sr. Oswaldo Mendonça. Ele nasceu em Pará de Minas em 1911 e faleceu em Guaxupé em 1985. Foi advogado e juiz de direito. Foi prefeito de Pouso Alegre e Santo Antônio do Monte e vice‐prefeito de Guaxupé. Da esquerda para a direita: o Sr. José de Paiva Coutinho Sapucahy, Sr. Antônio Corrêa Beraldo, Sr. Tuany Toledo, Sr. José Antônio de Vasconcelos Costa e Sr. Oswaldo Mendonça. Fonte: www.museupousoalegre.com.br

Em 1947, o prefeito municipal de Pouso Alegre foi o Sr. José da Costa Rios Filho. Ele nasceu em Silvianópolis em 1917. Foi advogado, juiz de direito e desembargador em Minas Gerais. De 1947 a 1951, o Sr. Alvarim Vieira Rios foi prefeito da cidade. Ele nasceu em Silvianópolis, antiga Santana do Sapucaí, em 1894 e faleceu em 1977. Foi farmacêutico, político e fazendeiro. Ajudou a fundar o Banco da Lavoura. Foi prefeito de Silvianópolis e Pouso Alegre. Após seu mandato, subiu ao cargo o Sr. Custódio Ribeiro de Miranda. Ele era médico e foi criador, fundador e diretor do Hospital Regional Samuel Libânio, inaugurado em 21 de maio de 1921 e construído com verbas da Fundação Rockfeller. Hoje o hospital é conhecido como Hospital das Clínicas “Samuel Libânio” e pertence a Fundação de Ensino Superior do Vale do Sapucaí. Foi prefeito entre os anos de 1951 a 1956. Em sua gestão que começou a ser construído o aeroporto de Pouso Alegre.

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Disponível em <http://luzdeluma.blogspot.com/2005/11/e‐porque‐hoje‐vamos‐passear‐nojardim. html?showComment=1133440140000> Acesso em 11 dez 2008, 14:30. Disponível em <http://www.mao org.br/port/cronologia2.asp> Acesso em 11 dez 2008, 15:30. 11 Disponível em <http://www.correiodeuberlandia.com.br/texto/2008/08/25/31345/vasconcelos_costa_ e_velado _na_almg.html> Acesso em 12 dez 2008, 10:15.

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À esquerda, primeira sede do Hospital Regional Samuel Libânio, na década de 1920. À direita, atual sede do Hospital das Clínicas Samuel Libânio. Fonte: http://www.univas.edu.br/HCSL/hcsl_Interna.asp?opc=1

Ainda na década de 1950, foi prefeito o Sr. Antônio de Barros Lisboa. Ele terminou o aeroporto de Pouso Alegre que mais tarde recebeu o seu nome. Ele era professor de Medicina Legal, médico e trabalhava no Hospital Regional Samuel Libânio. Nasceu em 1908, na cidade de Jacutinga e faleceu em Pouso Alegre, no ano de 1976.

À esquerda, Aeroporto de Pouso Alegre, em 1956, dia da inauguração. No meio, a frente do aeroporto na solenidade de inauguração, em 09 de setembro de 1956. Lisboa Guerra. À direita, foto do Acervo: D. Olga Maria Aeroporto Dr. Antônio de Barros Lisboa, em 2008. Foto: Liliane Corrêa.

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Da esquerda para a direita, Sr. José da Costa Rios Filho, Sr. Alvarim Vieira Rios, Sr. Custódio Ribeiro Miranda e Sr. Antônio de Barros Lisboa. Fonte: www.museupousoalegre.com.br

O Sr. Jorge Antônio Andere foi prefeito de Pouso Alegre por dois mandatos, de 1959 a 1963 e de 1967 a 1969, quando foi cassado pelo AI‐5. Era um homem ousado e empreendedor. Nasceu no Líbano, em 1914, e imigrou para o Brasil ainda criança. Naturalizou brasileiro em 1936. Foi representante da Ford, comerciante, contador e dono de postos de gasolina. Faleceu em Pouso Alegre em 1977. De 1963 a 1967, entre os mandatos de Andere, o Sr. Cândido Garcia Machado foi prefeito da cidade. Ele nasceu em 1901 e faleceu em 1993. Foi dentista, mas a agropecuária era sua principal atividade econômica. Como político foi vereador, vice‐prefeito e prefeito. No último ano de seu mandato deixou a prefeitura por 20 dias para fazer um tratamento de saúde e assumiu em seu lugar o Sr. Fernando de Barros. Depois do segundo mandato de Andere, foi prefeito o Sr. Antônio Duarte Ribeiro. Ele era contador e comerciante. Foi vereador e vice‐prefeito de Andere. Com a cassação de Jorge Andere, ele assumiu o posto até o final do mandato, em 1971. Em 1972 subiu ao cargo o Sr. Breno José de Carvalho Coutinho. Ele era pousoalegrense. Nasceu em 1919 e faleceu em 2004. Era advogado e político. Foi responsável pelo crescimento industrial do município a partir da promoção de Pouso Alegre para empresários e industriais.12 Em seguida, o Sr. Simão Pedro Toledo assumiu a direção do município. Foi prefeito por dois mandatos, entre 1973 e 1976 e de 1983 a 1988. Ele é advogado e voltado às letras. É conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais e pertenceu ao PTB. Nasceu em Pouso Alegre em 1939 e atualmente mora em Belo Horizonte. 12

Disponível em <http://www.fai‐mg.br/portal/paginas/pub_p_mat2006.php?materia=02> Acesso em 13 dez. 2008, 22:00.

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Da esquerda para a direita, Sr. Jorge Andere, Sr. Cândido Garcia Machado, Sr. Fernando de Barros, Sr. Antônio Duarte Ribeiro, Sr. Breno José de Carvalho Coutinho e Simão Pedro Toledo. Fonte: www.museupousoalegre.com.br

Entre os dois mandatos do Sr. Simão Pedro Toledo, foram prefeitos os Srs. João Batista Rosa e Cândido de Souza. O primeiro ocupou o cargo também por dois mandatos, de 1977 a 1982 e de 1993 a 1997. Ele é de Estiva e já vereador daquela cidade. É advogado e escritor. O segundo ficou empossado apenas entre os anos de 1982 e 1983. É pousoalegrense e já foi vereador e vice‐prefeito. De 1989 a 1992, de 1997 a 2001 e 2005 a 2008, o Sr. Jair Siqueira foi o prefeito de Pouso Alegre. O Sr. Jair é advogado e professor universitário. No último mandato sofreu uma cassação votada pela Câmara e que foi anulada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Por alguns meses ele se manteve fora do cargo, mas voltou para a prefeitura após a anulação e terminou seu mandato. E de 2001 a 2004, o Sr. Eneas Castilho Chiarini assumiu a direção do município, ele é empresário e político. O atual prefeito eleito de Pouso Alegre e empossado esse ano de 2009 é o Sr. Agnaldo Perugini. Da esquerda para a direita, Sr.João Batista Rosa, Sr. Cândido de Souza, Sr. Jair Siqueira, Sr. Eneas Castilho Chiarini e Sr. Agnaldo Perugini. Fonte: www.museupousoalegre.com.br e http://www.mantiqueira7artes.net/noticias_detalhe.asp?id_cat=9&id=3232

A vida política de Pouso Alegre sempre foi intensa e com grande participação da população. No século XIX e no início do XX, podemos perceber essa vivência pelos jornais que foram fundados na cidade e que manifestavam os interesses e satisfações do povo pousoalegrense. O mais famoso e já mencionado nesse trabalho, O Pregoeiro Constitucional, foi o grande ícone da imprensa regencial na década de 1830 e colocou Pouso Alegre na política nacional. Mas há outros jornais importantes e que traduzem a preocupação com o discurso político e o cotidiano da cidade. São eles O Recopilador Mineiro, O Mineiro (1873), Progresso Mineiro (1878), Dez de Dezembro (1879), O Pouso Alegrense

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(1880), Livro do Povo (1881), Jornal de Pouso Alegre (1885), Vale do Sapucaí (1885), Corisco (1886), A Fênix (1887), O Sapucaí (1887), O Pirilampo (1889), O Noticiador (1892), Pátria (1897), Folha Católica (primeiros anos de século XX), Sul de Minas (1900), Semana religiosa (1902), A Esperança (1902), O Clarim (1904), Jornal de Minas (1904), Mensageiro Paroquial (1904), O Estudo (1904), A Verdade (1904), Correio Sul Mineiro (1904) O Estudante (1906), Mensageiro (1906), Cidade de Pouso Alegre (1906), O Arauto (1906), A Mocidade (1906), O Pouso Alegrense (1906), O Levitã (1907), A Gazetinha (1907), O Mandu (1908), O Pouso Alegre (1909), Folha Popular (1910), A Semana (1910), Tribuna Sul Mineira, O Independente (1912), O industrial (1913), O Repórter (1914), O Sul Mineiro (1914), Gazeta (1913), Gazeta de Pouso Alegre (1916), Semana Religiosa (1916), A Luz (1916), A Luneta (1916), A Reação (1916), A Contra Reação (1916), O Trabalho (1917), O Porvir (1917), O Rigor, O Clamor, Arquivo Diocesano (1917), O Acadêmico (1919), O Brinquedo (1919), O Gavroche, U lampió, O Sport (1920), O Ideal (1920), O Operário (1920), A Pequena Arcádia (1920), O Imparcial (1921), O Santuário (1921), O Almofadinha (1922), O Comércio (1922), Revista Veterinária (1922), O Formigão (1922), Ciências e Letras (1922), O Acadêmico Veterinário (1922), O 28 de setembro (1922), A Fonética (1922), O Grilo, A Juventude (1922), Estrela do Mar, A Defesa (1923), O Ensaio (1923), A Granada, O Alfa (1923), A Pedra Verde (1923), O Martelo (1923), O Quinta Feira (1924), A Pulga (1925), A Época (1925), Dom Chicote (1926), O Congregado (1926), O Gavião (1928), Alvorada (1923), O Trabuco (1928), O Grito (1928), A Palavra (1928), Alma Branca (1928), A Gazetinha (1929), Boletim do Posto de Saneamento, A Primavera (1930), A Policultura (1931), Gente Nova (1932), O Reimo (1932), O Vermelhinho (1933), A Turma (1932), O Pouso Alegre (1933), Ação Operária (1933), O Mercantil, O Futurista (1933), O Semeador (1933), A Cidade (1933), O Linguarudo (1934), 11 de Maio (1934), O Retalho, O Cenáculo (1934), O Primaveril (1934), Luz e Calor (1935), O Terceirista (1935), Pombalzinho (1935), A Cultura (1937), O Município (1938) O Linguarudo (1948), Semana Religiosa (1902), Alma Branca (1993), O Jornal de Pouso Alegre (1967), Sul das Geraes (1984), Jornal do Estado (1987), Folha do Vale (1994), O Progresso (1995) e Bandeirante (1996). Do século XIX aos dias de hoje, os jornais publicados em Pouso Alegre dizem respeito à política, mas há entre os periódicos mencionados acima jornais dos colégios e faculdades da cidade, da igreja e do bispado, além de algumas publicações de cunho humorístico. Atualmente, além da imprensa escrita, a cidade conta com emissoras de rádio e televisão, a TV Libertas e a Rádio AM, que além de informar os pousoalegrenses garantem o entretenimento da população. O século XX modificou totalmente o espaço da cidade de Pouso Alegre. O traçado e o nome das ruas, a arquitetura e a ocupação dos terrenos sofreu grandes diferenciações se compararmos a pintura de Passos Maurício à foto aérea da cidade nos anos 2000 ou com um mapa do atual contorno viário urbano de Pouso Alegre. Segundo o Otávio Gouvêa, a antiga Dr. Lisboa, marcada com uma seta vermelha, era a Rua do Imperador, que ligava o centro da cidade à rua da Ponte que ia para o rio

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Mandu. O Largo da Igreja era a atual Praça Senador José Bento, marcada com uma bolinha verde na foto. Outros dois importantes largos da cidade no século XIX eram o largo do Rosário, onde hoje está a Praça João Pinheiro, marcada com um triângulo rosa, e o largo da Cadeia, que não existe mais e está marcado com um quadrado azul escuro. Mapa do centro de Pouso Alegre. Fonte: Google Maps (intervenções nossas).

Temos os nomes antigos de muitas ruas do centro de Pouso Alegre. A Rua Silvestre Ferraz, marcada com uma seta roxa, era denominada Rua da Outra Banda, Rua Boa Vista, ou Rua da Cadeia Queimada. A Rua dos Coqueiros e a Rua das Taipas correspondem hoje a Rua Comendador José Garcia, marcada com a seta amarela. A Rua Cel. José Inácio é a antiga Rua das Palhas, no lado direito do mapa, marcada com uma seta azul. A Rua Adolfo Olinto, paralela à Dr. Lisboa, era conhecida como Rua da Prata e Rua das Pedras. A atual Rua Getúlio Vargas era o antigo Morro das Cruzes, mas não foi indicada no mapa. A Rua João Basílio era a antiga Rua do Brejo e está demonstrada no mapa a partir de uma seta verde. A Rua Monsenhor José Paulino era chamada de Rua do Biju por causa de um morador que tinha esse apelido. No mapa ela está indicada por meio de uma seta alaranjada. O município de Pouso Alegre é o pólo do sul de Minas e uma das cidades mais prósperas de Minas Gerais. Com uma história de desenvolvimento e crescimento, ele passou por um processo de industrialização no último quartel do século XX que o transformou em um centro industrial e universitário do sul de Minas. Honrando a tradição educacional da cidade fundada na presença de

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diversas escolas católicas, a Fundação de Ensino Superior do Vale do Sapucaí, fundada na década de 1960, é a mantenedora da Univás – Universidade do Vale do Sapucaí, sediada em Pouso Alegre e uma referência no sul de Minas. Os cursos oferecidos pela Univás são: Medicina, Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia, Farmácia, Nutrição, Comunicação Social – Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Turismo, Administração Hospitalar, Administração e Gestão de negócios, Administração e Comércio Exterior, Sistemas de Informação, Educação Física, História, Letras, Pedagogia, Biologia, Matemática, Normal Superior e Ciências Contábeis. Outra faculdade importante na cidade é a Faculdade de Direito Sul de Minas que oferece o curso de Direito. Além dessas, a cidade conta com outros estabelecimentos de ensino superior como a FACAPA, Faculdades COC, FACINTER/FATEC, IFET‐Sul de Minas, SENAI E SENAC e ABO. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Meso rregi%C3%A3o_do _Sul_e_Sudoeste_de_Minas

A microregião de Pouso Alegre, marcada no mapa em vermelho, faz parte da mesoregião sul/sudoeste de Minas. É composta por 20 cidades em uma área de 4.917,317 km². Pouso Alegre, a principal cidade de sua microregião, localiza‐se a uma latitude 2º13'48" sul e a uma longitude 45º56'11" oeste. Está a 832 metros de altitude e possui uma área de 545,354 km². Perante sua localização privilegiada às margens da Rodovia Fernão Dias, Pouso Alegre se tornou mais industrializada e desenvolvida. Sua população cresceu muito e em 2008 chegou a 126.000 habitantes. Ao analisarmos o gráfico populacional da cidade, podemos perceber essa aceleração do crescimento da cidade, no distrito sede ao longo do século XX. No século XXI, o crescimento foi pequeno em relação ao século anterior, mas é possível perceber que a população dobrou de 1950 para 1970 e quase triplicou de 1970 para 1985. A cidade sofreu outro surto populacional da década de 1990 para os anos 2000, mas parece ter estabilizado a taxa de crescimento.

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Gráfico de população no distrito sede de Pouso Alegre. Dados retirados do IBGE, site: http://www.museupousoalegre.com.br e Revista APM.

Pouso Alegre tinha uma economia voltada à agricultura com tendências às atividades urbanas por causa de sua vida cultural e política intensa. A partir do último quartel do século XX é que esse quadro modificou da agricultura para a indústria, mas as tradições do pequeno povoado do Mandu e da vila de Pouso Alegre se perpetuaram mesmo na Pouso Alegre moderna do final do século XX. Entre essas tradições, temos os encontros dos pousoalegrenses no Mercado Municipal, a predileção pelos pastéis de farinha de milho como iguaria típica da cidade e as festas e procissões religiosas que animam a vida cultural de Pouso Alegre. Enfim, a cidade cresceu, mas não perdeu suas raízes e tradições.

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03.2. HISTÓRICO DO OBJETO 03.2.1. O PASTEL DE FARINHA DE MILHO: ANTECEDENTES HISTÓRICOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL O pastel de farinha de milho é uma tradição em Itajubá e para contarmos a sua história, precisamos contar a história dos ingredientes que compõem sua massa. Ele é feito basicamente de farinha de milho, polvilho azedo e água. Assim, é necessário um estudo sobre a história do milho e da mandioca, ingredientes fundamentais na elaboração das farinhas usadas na receita do pastel. 03.2.2. O MILHO O milho é um vegetal originário das Américas, uma monocotiledônea da espécie Zea mays, e pertence ao mesmo grupo do sorgo, do Trypsacum, do Coix e da cana‐de‐açúcar. Segundo Rosane Volpatto, esse seu nome faz uma alusão à palavra grega grão, zeia e homenageia os povos que o utilizavam, os maias. Assim, seu nome científico significa grão maia. É um dos cereais mais produzidos no mundo porque ele é capaz de se adaptar facilmente a vários tipos de clima e solo. Há muitas variações de milho que se modificam segundo o tamanho da espiga e o formato e a cor das sementes. Thais Figueira faz um estudo do genoma do milho e descobriu a presença de uma proteína, a α‐ prolamina, que também existe na cana‐de‐açúcar e no sorgo. O sorgo tem essa proteína com peso molecular de 22KD, enquanto a cana e o milho, de 19KD. O desenvolvimento da proteína na forma 19KD aconteceu após a separação das espécies de sorgo e da cana‐de‐açúcar há 8‐9 milhões de anos. Assim, o surgimento do milho, que para ela é o resultado de uma combinação entre genomas de dois ancestrais distintos, ocorreu após essa data. Partindo dessas evidências, ela conclui que a cana e o milho têm um ancestral comum: uma espécie ancestral de Saccharum.13 Acredita‐se que o milho seja originário das Américas, já que não há exemplares dessa planta na Europa e Ásia antes da ida dos europeus para as Américas. Segundo a enciclopédia Delta Larousse, ele é nativo da América do sul, mas a espiga de milho mais antiga encontrada pela arqueologia foi escavada no México, América do Norte.14 Segundo Figueira, ele é originário das Américas Central e do Sul. Assim, para evitarmos discussões muito específicas, vamos admitir que o milho seja um cereal nativo das Américas, sem especificarmos em que parte do continente ele se desenvolveu. Não sabemos 13

FIGUEIRA, Thais Rezende e Silva Figueira. A origem do milho: a identificação de Saccharum como um de seus prováveis parentais. (Tese de Doutorado) Tese apresentada ao Instituto de Biologia para obtenção do Título de Doutor em Genética e Biologia Molecular na área de Genética Vegetal e Melhoramento. Campinas: UNICAMP, 2007. 14 PEIXOTO, Claudio de Miranda. O milho: O Rei dos cereais – da sua descoberta há 8.000 anos até as plantas transgênicas. SeedNews Revista Internacional de Sementes. Disponível em <http://www.seednews.inf.br/ portugues/seed62/milho62.shtml> Acesso em 8 out. 2008, 12:00.

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exatamente quando o milho foi domesticado, mas sabemos que ele já fazia parte da flora americana quando chegaram as primeiras levas populacionais nesse continente. O período de chegada dos homens às Américas e por onde entraram ainda são questões discutidas pelos arqueólogos. A arqueóloga brasileira Niède Guidon acredita que ocorreram várias migrações para as Américas no período de 100.000 a 12.000 anos atrás. Para ela, essas levas alcançaram as terras americanas em diferentes pontos. Sua afirmação é fundamentada na descoberta de vestígios de populações em São Raimundo Nonato – PI, datadas de 60.000 anos, como fogueiras e pedras lascadas. O crânio mais antigo das Américas é também brasileiro, a Luzia, escavado no sítio arqueológico de Lapa Vermelha IV, no município de Confins – MG. Walter Neves, antropólogo físico da USP, estudou os aspectos físicos dos crânios desse sítio e de outros da região e do Brasil e, a partir de sua análise, afirma que quatro ondas migratórias de áreas distintas chegaram às Américas em períodos diferentes, iniciando‐se por volta de 15.000 anos. Segundo Neves, essas populações não eram ameríndias e, possivelmente, eram semelhantes aos atuais aborígenes australianos.15 As pesquisas sobre a origem dos homens nas Américas ainda estão em andamento e não se tem respostas precisas acerca das migrações, mas sabemos que as populações que aqui se estabeleceram criaram um grande vínculo com a flora local, em especial, o milho. Segundo o Dr. John Jones, há evidências da agricultura em sociedades na península de Yucatan desde 7.000 a.C., descoberta a partir de resíduos de milho no solo.16 Isso comprova que após o estabelecimento dos homens nas Américas, eles descobriram o vegetal e domesticaram sua produção. A espiga de milho mais antiga encontrada por arqueólogos foi achada em Tehuacan, no México, e datava de 6000 a. C. Foi encontrada em um sítio arqueológico na década de 1960.17

Sítio arqueológico em Tehuacan no México. Fonte: Origem da Agricultura. Apud.: Smith, B.D. (1995) The emergency of agriculture. Disponível em <http://felix.ib.usp.br/bib138/Origem_agricul tura.pdf >

15

ZARIAS, Alexandre. “Novos dados lançam dúvidas sobre o homem americano”. Arqueologia: Reportagens. Disponível em <http://www.comciencia.br/reportagens/arque ologia/arq02.shtml> Acesso em 10 out. 2008, 13:00. 16 JONES, John. “Early origins of maize in Mexico”. American Society of Plant Biologists. Disponível em < http://www.eurekalert.org/pub_releases/2008‐06/asop‐eoo062308.php> Acesso em 12 out. 2008, 19:00. 17 Origem da Agricultura. Apud.: Smith, B.D. (1995) The emergency of agriculture. Disponível em <http://felix.ib.usp.br/bib138/Origem_agricul tura.pdf > Acesso em 11 out. 2008, 15:00.

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Quando os europeus chegaram ao novo continente, os povos americanos produziam o milho para abastecer as grandes cidades que aqui existiam. Povos como os Incas, os Maias e os Astecas tinham um grande contingente populacional e eram marcados pela presença do Estado. Para manter essa estrutura organizacional era necessária uma produção sistemática de grãos que abasteceria aquelas populações. Assim, o milho era o principal cereal produzido por eles e ingrediente indispensável na dieta desses povos. Primeira figura: área de ocupação Maia. Segunda figura: área de ocupação do Império Asteca. Terceira figura: área de ocupação do Império Inca. Fonte: Disponível em <http://geodesia.ufsc.br/Geodesia‐online/arquivo/cobrac_2004/ 002.pdf> Acesso em 12 out. 2008, 14:15.

Os maias começaram seu povoamento na região onde hoje estão o México, a Guatemala, Honduras e El Salvador, por volta do ano 1.000 a.C., e tiveram seu auge 650 anos depois. 18 Eles não tinham um Estado unificado e eram formados por cidades‐estados. Os povos denominados Maias não eram homogêneos, mas havia uma unidade cultural e lingüística. O principal produto cultivado pelos Maias era o milho que era fundamental na alimentação de todos os grupos sociais. Era também importante na religião porque as benesses do milho significavam a prosperidade e a fartura, dádivas dos Deuses. O panteão Maia tem um Deus especial só para o milho, cujo nome é Yum‐kaax.19 Deus do milho Maia. Site: www.google.com 18

DUARTE, Ana Alice Miranda. “Os Cadastros Antigos das Américas (Incas, Astecas e Maias)”. COBRAC 2004. Congresso Brasileiro de Cadastro Técnico Multifinalitário. UFSC Florianópolis. 10 a 14 de Outubro 2004. Disponível em <http://geodesia.ufsc.br/Geodesia‐online/arquivo/cobrac_2004/002.pdf> Acesso em 12 out. 2008, 14:15. 19 LEVENE, Ricardo (org). História das Américas. Editora Brasileira: São Paulo, 1964, vol. I.

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Os Incas e os Astecas, diferentemente dos Maias, constituíram grandes impérios a partir da dominação de outros povos menores. Eles estavam em seu auge quando os espanhóis alcançaram seus territórios, na Idade Moderna. Os Incas se formaram no século XII na porção oeste da América do Sul, ocupando parte do Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina e se mantiveram como Império até algum tempo depois da chegada dos europeus, travando muitas lutas contra os invasores. O Império Asteca também se constituiu por volta do mesmo período onde hoje está o México. Com a chegada dos espanhóis, eles sofreram grandes transformações culturais que influenciaram até sua arte. Muitas guerras contra os povos invasores aconteceram, mas os espanhóis conseguiram submeter os astecas e dominar o império. Os povos Incas e Astecas tinham divindades baseadas na natureza. Os panteões desses diferentes povos eram semelhantes e, muitas vezes, eles tinham divindades em comum. Para os Astecas, o Deus Tlaloc, das águas, chuvas e trovões, muitas vezes era representado segurando uma espiga de milho, símbolo da fertilidade. Sua irmã Chicomecoalt era considerada a Deusa protetora do milho. Ela é a divindade da subsistência e da fertilidade. Era chamada de “A Peluda” por causa dos cabelos do milho. Para os Incas, o milho era protegido pela Deusa Mama Sara, que significa Mãe do Milho. Ela era a mãe do alimento. Nas tradições incaicas, há uma bebida alcoólica chamada chicha feita de milho umedecido por água e fermentado pela saliva humana. Ela era bebida em rituais e colocada nos corpos mumificados. O milho também era usado como instrumento divinatório pelos sacerdotes do Deus‐Sol Inca.

Chimecoatl, deusa asteca da subsistência e do milho. Observe que ela carrega espigas de milho em sua mochila. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Chicomecoatl

Na América do Sul, em especial o Brasil, a maioria dos grupos indígenas não tinham tradição de constituição de Estados: eles eram tribais e muitas vezes nômades. Havia sociedades de caçadores e coletores, como os botocudos do Vale do Rio Doce, os Kaingang do sul do Brasil e indígenas como os

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Caiapós, os Xavantes, entre outros. Esses grupos não costumavam plantar nem se fixar por muito tempo. Já os Tupis e Guaranis, a maioria populacional de índios na época da chegada dos portugueses, eram agricultores e produziam a mandioca e o milho. Há inúmeras lendas associadas ao surgimento e descoberta das duas plantas, algumas delas são sincréticas com o cristianismo, mas indicam uma relação mágica com a agricultura. Os Guaranis têm uma lenda que explica como surgiu o milho. A lenda conta que há muito tempo atrás, eram apenas dois caçadores que sustentavam a aldeia e suas famílias. Certo dia, eles estavam conversando enquanto pescavam e um deles se perguntou por que Nhandeyara, o “Grande Espírito”, não criava uma espécie de alimento fácil de colher e que não escasseasse como os frutos silvestres, a caça e a pesca. No dia seguinte, saíram de novo para a caça e tentaram pegar alguns jacus. Mas nesse dia, os animais tinham desaparecido e eles conseguiram pouco para alimentar seu povo. Assim, no início da noite chegou à aldeia um guerreiro que afirmou ser um mensageiro de Nhandeyara. Ele disse que o Grande Espírito ouviu a conversa dos homens e que para terem o alimento que queriam, eles deveriam lutar entre si. O mais fraco seria enterrado e sob sua sepultura nasceria o alimento sagrado. Os dois lutaram. Avaty era o mais fraco e foi enterrado pelo amigo. Nos meses seguintes ele seguia para as florestas para caçar e pescar sozinho para sustentar sua família e a do amigo. Por fim, na chegada da primavera, na sepultura de Avaty, nasceu uma planta com folhas verdes e espigas douradas: era o milho. Ela foi denominada Avaty em homenagem ao guerreiro morto. A partir do nascimento dessa planta, os guaranis não tiveram mais problemas para alimentar seu povo.20 Entre os Parecis também há uma lenda sobre a origem do milho. A gramínea teria nascido na cova de um chefe tribal, chamado Ainotarê. Ele falou com seu filho, Kaleitoê, que ele morreria em breve e pediu que ele o enterrasse no meio de um local roçado. Após três dias das chuvas, nasceria uma planta com sementes que deveriam ser guardadas para serem plantadas. Assim aconteceu e plantando as sementes, os parecis tiveram o suprimento necessário para a vida da tribo.21 03.2.3. A FARINHA DE MILHO BIJU A farinha de milho biju é feita dos grãos do milho que são colhidos maduros e debulhados. Os grãos são colocados na água por doze horas para inchar. Depois de inchados, são moídos. Hoje, são utilizadas máquinas para essa moagem, mas antigamente o milho era moído nos moinhos, em geral, movidos a água.

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VOLPATTO, Rosane. A origem do milho. Disponível em < http://www.rosanevolpatto.trd.br/ lendamilho.htm> Acesso em 01 out. 2008, 10:00. 21 Idem.

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Grãos de milho em processo de inchamento. Foto: Liliane Corrêa

Atualmente, nas fábricas de farinha de milho, o milho é colocado em uma máquina especial para a moagem que mói os grãos até virarem pó. Em seguida, eles descem para um cilindro e são peneirados para um suporte. De lá, o pó de milho segue para uma chapa quente em forma de um disco que gira por cima de brasas. O milho moído começa a se juntar enquanto cozinha nessa chapa. Assim que ele endurece, é raspado para outro compartimento e a farinha está pronta.

Máquina onde o milho inchado é colocado para ser moído. Na foto da direita, o detalhe do cilindro que peneira o milho moído. Foto: Liliane Corrêa

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Máquina onde o milho moído é disposto para torrar. Depois de torrado ele é colocado em um compartimento ao lado para esfriar e ser ensacado. Foto: Liliane Corrêa

A farinha de milho é colocada nos sacos e vendida nos supermercados e padarias. A farinha mais vendida e preferida dos pasteleiros de Itajubá é a Piranguinho, produzida no município de Piranguinho. Há também a farinha Grilo que é distribuída em Itajubá pela Distribuidora Grilo, mas que não é muito usada pelos pasteleiros e cozinheiros itajubenses.

Saco de farinha de milho Piranguinho. Foto: Paola Cunha

03.2.4. A MANDIOCA A mandioca é uma planta originária do Brasil. É uma dicotiledônea da família Euphorbiaceae, gênero Manihot. Da mesma maneira que o milho, ela pode ocorrer em diferentes formas. Suas variações são na cor, amarelada ou branca, na textura da casca, mais lisa ou áspera, no sabor, doce ou amarga, e na quantidade de uma toxina, denominada linamarina. Essa toxina está presente em todas as mandiocas, mas em algumas espécies há uma quantidade maior dela que pode causar danos à saúde de quem a ingerir.

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Segundo Nivaldo Peroni, acredita‐se que a mandioca tenha sido domesticada há 8.000 anos na América do Sul, mas só encontraram vestígios dela associadas ao homem com datações de 4.000 e 3.000 anos.22 As populações Incas produziam mandioca, mas não com a mesma importância e freqüência que o milho. Já as tribos indígenas brasileiras, usavam a mandioca como principal alimento e desenvolveram farinhas e bebidas a partir dessa raiz. Segundo a engenheira agrônoma Teresa Losada Valle, a cultura da mandioca foi um avanço tecnológico que permitiu a existência de grande quantidade de indígenas no Brasil. Para ela, a opção de utilizar as mandiocas venenosas que não eram atacadas por animais e o desenvolvimento da capacidade de extrair o veneno dessas espécies representa um exemplo peculiar de aprendizado de técnicas complexas de criar, produzir e desintoxicar para garantir a sobrevivência.23 Nesse contexto, as culturas indígenas desenvolveram o polvilho e a farinha de mandioca que foram absorvidas pelos portugueses quando chegaram ao Brasil. Várias lendas indígenas contam sobre o surgimento da mandioca. Uma delas é recorrente em várias tribos Tupis e Tupinambás, mas aparece com algumas variações. A lenda diz que uma índia filha do chefe da tribo ficou grávida e quando seu pai lhe perguntou quem era o pai da criança, ela não soube responder. Indignado com isso, ele expulsou a filha de casa. A grávida foi morar numa cabana no alto de uma montanha, mas alguns membros da tribo continuaram alimentando‐a. Quando a criança nasceu ela era muito branca e linda e isso chamou a atenção de todos da aldeia que perceberam que ela era especial. O avô ficou muito feliz por ter uma neta tão linda que recebeu a filha e a neta em casa de volta. Essa criança era chamada de Mani e viveu por três anos. Certo dia ela morreu de repente, sem ter tido nenhuma doença. Foi enterrada perto da oca e a índia chorou sob o túmulo da filha por muito tempo. As lágrimas da mãe escorreram e caíram na terra. No mesmo local brotou uma planta que tinha as raízes brancas como Mani e em forma de chifres que alimentou toda a tribo. Assim, a palavra mandioca, que em algumas tribos era chamada de manioca, vem do nome da criança “Mani” e da palavra “aca” que significa chifre. A outra variação da lenda fala que a índia grávida ficou na casa do pai e que Mani, a criança morta, foi enterrada na própria oca. Lá nasceu a planta e por isso o nome: Mani oca. Entre os parecis, a lenda da mandioca se refere a um casal, Zatanare e Cocoterô, que tinham dois filhos: um menino e uma menina. A menina era Atiolô que sofria com seu pai porque ele não gostava dela. Ele a respondia apenas com assovios e nunca conversava diretamente com ela. Assim, um dia ela pediu à mãe que a enterrasse viva. Cocoterô a enterrou no cerrado, mas Atiolô pediu que

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PERONI, Nivaldo. “Ecologia e genética da mandioca na agricultura itinerante do litoral sul paulista: uma análise espcial e temporal.” Tese apresentada ao Instituto de Biologia para obtenção do título de Doutor em Biologia Vegetal. Universidade Estadual de Campinas: Campinas, 2004. 23 Valle, Teresa Losada. “Mandioca: dos índios aos agronegócios.” IAC – Instituto Agronômico de Campinas. Disponível em <http://www.abam.com.br/artigos/IAC%20‐%20Mandioca.doc> Acesso em 14 out. 2008, 16:00.

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enterrasse no campo porque o cerrado era muito quente. Ela também não gostou do campo e pediu que fosse enterrada na mata. Lá ela se sentiu bem. Atiolô pediu à mãe que saísse e não olhasse para trás quando ela gritasse, mas Cocoterô ouviu os gritos da filha e se virou. Ela viu que no lugar onde havia enterrado Atiolô havia uma planta. A mãe cuidou da planta como se fosse a própria filha e o arbusto cresceu. Era a mandioca, cujo nome entre os Parecis é Quetê.24 Para o Enawerê Nawê, povos indígenas do noroeste do Mato Grosso, a mandioca e o milho têm caráter mágico. “A mandioca, ligada aos espíritos Yakairiti e o milho, ligado aos espíritos Enore, são os dois principais produtos da roça. A roça coletiva de mandioca se inicia em agosto, com o ritual Lerohi e vai terminar de ser plantada no ano seguinte, durante o ritual do Yãkwa. Os trabalhos de roça envolvem derrubada, queimada, limpeza e plantio. Durante o Yãkwa os homens plantam as primeiras ramas durante à noite e fazem um espécie de reza, além de derramar bebida de mandioca e peixe assado na terra para a planta que eles chamam de mandioca mãe.”25 Para eles, a mandioca surgiu quando uma indiazinha pediu à mãe que a enterrasse até o pescoço e que seu pai lhe trouxesse peixe todos os dias. A menina produzia as mandiocas que sua mãe arrancava com carinho e comia. Certo dia uma mulher veio roubar mandiocas e arrancou com força as raízes. A menina ficou triste e chorou muito. Nunca mais falou e morreu logo depois. A partir desse dia, as mandiocas pararam de nascer sozinhas e os Enawenê Nawê foram obrigados a plantá‐las anualmente. O consumo da mandioca foi aprendido pelos portugueses. Ela era usada como o principal alimento da colônia e, mais tarde, como ração para os navios que saiam do Brasil. A raiz era chamada de pão da terra. As técnicas de preparo são indígenas e têm um processo elaborado por causa da necessidade de retirada do veneno da mandioca, que está presente em todas as mandiocas, mesmo aquelas que podem ser ingeridas apenas com o cozimento. A mandioca “sem veneno” tem menor quantidade da substância tóxica e é comida cozida ou sua massa é usada para muitos pratos. Já para fazer a farinha e o polvilho, os índios retiravam o veneno da planta por meio de processos rudimentares,

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Lendas do Mato Grosso. A lenda da mandioca. Apud.: "Terra e Gente" ‐ Ano I, Janeiro de 1946 ‐ Rio de Janeiro, p.114. Disponível em <http://www.fortunecity.com/campus/anthro pology/275/lendas.html> Acesso em 16 out 2008, 11:00. 25 Enawenê Nawê: as roças. Disponível em <http://www.arara.fr/BBTRIBOENAWENE.html> Acesso em 14 out. 2008, 12:40.

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mas eficientes. Os índios faziam também o cauim, uma bebida alcoólica de mandioca, que era fruto da fermentação da raiz mastigada e cuspida pelas índias virgens.

Figura da esquerda: índia fazendo farinha biju. Figura do meio: índia fazendo farinha. Figura da direita: índias fazendo o cauim. Fonte: http://www.terrabrasileir a.net/folclore/origens/in digena/cozinhai.html

03.2.5. O POLVILHO AZEDO

O polvilho é um dos subprodutos da mandioca. A raiz é colhida, descascada, lavada e ralada. Atualmente, com os processos mais modernos, ela pode ser passada no liquidificador, se feito em casa, ou em grandes processadores, como mostrado na foto abaixo. À esquerda, mandioca lavada e descascada. Fonte: http://come‐se.blogspot.com/2007/12/da‐mandioca‐tapioca‐e‐ao‐ polvilho.html. À direita, moedor de mandioca. Fonte: http://www.esta dao.com.br/noticias/suplementos,como‐se‐obtem‐o‐ polvilho‐azedo‐e‐o‐doce,417442,0.htm

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A massa da mandioca ralada é lavada e escorrida. A água que sai da massa desce junto com um pó bem fino. É preciso deixar esse líquido branco amarelado num um recipiente para decantar. A água e o pó decantam e o que sobra no fundo é o polvilho. Se ele for retirado antes da fermentação temos o polvilho doce, se retirado após a fermentação, é obtido o polvilho azedo. Acima à esquerda, massa ralada. Acima à direita, líquido escorrido da massa em processo de decantação. Fonte: http://come‐se.blogspot.com/2007/12/da‐mandioca‐ tapioca‐e‐ao‐polvilho.html. Ao lado, líquido em decantação em processo industrial. Fonte: http://www.muzambinho.com/portal/arqnews/setembro09 /pol vilho.htm

Depois de fermentado, o polvilho é secado ao sol até evaporar toda a água e ficar apenas uma farinha fina. Essa farinha é o polvilho azedo usado para dar liga na massa do Pastel de Farinha de Milho.

À esquerda, polvilho em processo de secagem. Ao centro, polvilho em processo de secagem ao sol. Fonte: http://www.muzambinho.com/portal/arqnews/setembro09/polvilho.htm. À direita, polvilho pronto. Fonte: http://come‐ Os bandeirantes e sua alimentação se.blogspot.com/2007/12/da‐mandioca‐tapioca‐e‐ao‐polvilho.html.

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Os portugueses chegaram ao Brasil e se estabeleceram na nova terra. Aqui criaram mecanismos de adaptação que envolviam a agricultura, a alimentação, a língua, o comércio, etc. Se misturaram às índias e absorveram parte de sua cultura, assim como, impuseram a sua. Já no século XVII, na região sudeste, os habitantes do Brasil tinham uma atividade agrícola diferenciada da portuguesa original, já que plantavam milho e mandioca. Dedicavam‐se a embrenhar pelo sertão com o objetivo de conhecer novas terras, aprisionar e escravizar indígenas e encontrar pedras e metais preciosos. Inicialmente, os escravos indígenas foram os primeiros a atrair os bandeirantes, também conhecidos por paulistas porque se fixavam em Piratininga, a vila que deu origem à cidade de São Paulo. Os paulistas seguiam para o interior do país em marchas lentas. Paravam a caminhada sempre ao meio dia e nessas paradas plantavam milho, mandioca, abóbora, feijão e batata, além de ergueram pequenos ranchos para garantir pouso na volta. 26 As plantas nativas brasileiras, como o milho e a mandioca, incorporaram‐se ao cardápio desses bandeirantes e dos portugueses que aqui se fixaram. Eles usavam as mandiocas boas como alimento e das mandiocas bravas (venenosas) era feita a farinha e o polvilho. Em relação ao milho, era inicialmente usado para alimentar as galinhas e outros animais domésticos, além de ser a base da comida dos escravos tanto negros como índios. Na região sudeste, o milho era mais aceito na alimentação humana, mas ainda havia uma relação do produto com os escravos indígenas e os animais. Para o plantio e a fabricação das farinhas de milho e mandioca, eram usadas as técnicas indígenas. Para plantarem a mandioca e o milho, eles roçavam uma área, tirando o mato, os arbustos e árvores menores. Ateavam fogo aos restos dessas plantas, queimando‐as. Essa técnica era denominada coivara. Após a queimada, eles limpavam o terreno e plantavam as mudas de mandioca ou semeavam o milho em sulcos feitos no chão. A técnica de fabricação das farinhas era a mesma dos indígenas, com exceção da criação da Casa das Farinhas. A mandioca era colhida, descascada e ralada em um ralo grosso. A massa era espremida e o caldo que escorre desse processo não pode ser ingerido porque tem uma grande quantidade da toxina linamarina. Da decantação desse caldo, sai um pó muito fino que se transforma no polvilho. Se esse pó é retirado de imediato, o polvilho é doce, se ele fica mais tempo imerso nesse líquido, o polvilho fermenta e se transforma em polvilho azedo. Da mandioca ralada e escorrida era feita a farinha de mandioca e a farinha biju. Essa borra da mandioca é colocada no tipiti, um utensílio indígena que auxilia a prensar e escorrer o resto da umidade da massa ralada. Depois de prensada a massa, ela era retirada do tipiti e colocada numa peneira para secar. A parte mais grossa era usada para alimentar os animais ou descartada e a parte fina era levada para uma chapa quente. Nessa etapa, a massa solta era torrada e depois disso estava pronta para o consumo. 26

SOUZA, Laura de Mello e, 1953; BICALHO, Maria Fernanda Baptista; SCHWARCZ, Lilia Moritz. 1680‐1720: o império deste mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

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Imagem acima: tipiti. Imagem á esquerda: colocando a massa ralada da mandioca no Tipiti. Imagem do meio: o tipiti é dependurado para escorrer e prensar a massa. Fonte: http://www.terrabrasileira.net/folclore/ori gens/indigena/cozinhai.html e http://www.agroflo resta.net/fotos/farinha/index.htm

Com o milho, o processo era semelhante. Para fazer o fubá, eles moíam os grãos e separavam o farelo. A parte mais fina era o fubá e o farelo restante era descartado ou para alimentar os animais, em especial, as galinhas. Já a farinha de milho, conhecida como biju, era feita a partir da imersão do milho na água de um dia para o outro. Ele ficava inchado e era moído. O milho moído era colocado numa peneira e separado. A parte mais fina era colocada numa chapa quente e se transformava na farinha biju. Segundo Mary Del Priore, no século XVII, entre os bandeirantes paulistas, o milho era preterido em relação à mandioca, mas ainda assim era mais consumido que em outras partes do Brasil, onde seu uso era restrito à alimentação dos escravos e dos animais.27 Com a descoberta das minas e a expansão territorial brasileira, lugarejos e ranchos foram crescendo no interior, em especial, no caminho de São Paulo e Rio de Janeiro às Minas. Esses povoados seguiam a tradição dos bandeirantes: plantavam milho

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PRIORE, Mary Del; VENÂNCIO, Renato. Uma história da vida rural no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

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e mandioca e faziam as farinhas derivadas dessas plantas para abastecer a população. Itajubá se destaca como uma das cidades próximas desse trajeto que seguia de São Paulo às Minas. Iraci Costa afirma que no século XIX as populações da região sudeste tinham preferência pelo uso do milho, enquanto na região nordeste, havia uma predileção pela mandioca. Saint‐Hilaire, em uma de suas viagens ao Brasil durante o século XIX, observou o tratamento dado ao milho e à farinha na região sudeste. "Sua farinha [de milho] simplesmente moída e separada do farelo, com o auxílio de uma peneira de bambu, toma o nome de fubá. É fazendo cozer o fubá na água, sem acrescentar sal, que se faz essa espécie de polenta grosseira que se chama (...) angu, e constitui o principal alimento dos escravos. [...] Fazem‐se também com a farinha de milho bolos, certo gênero de biscoitos, e mesmo, pequenos pães de gosto agradável, mas de miolo muito compacto. As vezes mistura‐ se essa mesma farinha com a de arroz, de centeio ou de trigo, e daí resulta um pão muito menos compacto."28 03.2.6. A FARINHA DE MILHO E O BAIRRO DOS AFONSOS Dessa produção herdeira do império, a região do Bairro dos Afonsos era responsável pela elaboração de parte da farinha de milho e do polvilho produzido pelo município. Segundo o Sr. João Amadeu Barcelo, o Bairro dos Afonsos já teve muitos nomes, entre eles Pito Aceso, Córrego do Engenho e Roda D’água. Segundo ele, a localidade recebeu o nome de Afonsos porque havia um padre que era chamado de Afonso e por causa de uma capelinha em honra a Santo Afonso que ainda está de pé.29 A região é forte produtora de víveres, em especial, a mandioca e o milho. Atualmente, o Bairro dos Afonsos é famoso pela Festa do Biscoito, realizada em julho para celebrar a mandioca e seus derivados. Tradicionalmente, o local é onde mais se produz a farinha de milho usada na receita do pastel de farinha de milho. Muitos pasteleiros da cidade compram a farinha da fabriqueta que há no lugar, a Fábrica Santo Afonso. O processo de fabricação de farinha de milho é

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MARCONDE, Renato Leite; COSTA, Iraci del Nero da. Nota sobre o uso das farinhas de mandioca e de milho no Brasil antigo. Apud.: SAINT‐HILAIRE, Auguste de. “Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais.” Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1975, p. 107. Disponível em <http://www.brnuede. com/iddcosta/pdfs‐ira/ap15.pdf > Acesso em 16 out. 2008, 13:45. 29 Entrevista com o Sr. João Amadeu Barcelo, concedida a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008, na cidade de Pouso Alegre.

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ainda rudimentar e semi‐artesanal. Segundo o proprietário, Sr. João Amadeu Barcelo, eles plantam o milho nas terras deles e compram os grãos plantados nas fazendas vizinhos. Paisagens do Bairro dos Afonsos, em Pouso Alegre. Ao fundo o campo roçado para plantar o milho. Foto: Liliane Corrêa

O milho já colhido. Foto: Liliane Corrêa

O grão é colhido maduro. Ele é lavado e deixado na água de um dia para o outro para inchar. O

milho é colocado em uma máquina especial para a moagem que mói os grãos até virarem pó. Eles descem para um cilindro e são peneirados para um suporte. De lá ele segue para uma chapa quente em forma de um disco que gira por cima de brasas. O milho moído começa a se juntar enquanto cozinha nessa chapa. Assim que ele endurece, é raspado para outro compartimento e a farinha está pronta.

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inchado é colocado para ser moído. Na foto da direita, o detalhe do cilindro que peneira o milho Máquina onde o milho moído. Foto: Liliane Corrêa Máquina onde o milho moído é disposto para torrar. Depois de torrado ele é colocado em um compartimento ao lado para esfriar e ser ensacado. Foto: Liliane Corrêa

03.2.7. A Tradição do Pastel de Farinha de Milho Não há como sabermos quando e como o pastel de farinha de milho surgiu, mas há como indicarmos um norte sobre sua origem. Definimos que o pastel de farinha de milho é uma construção do sul de Minas, em especial, de Pouso Alegre: um costume popular do povo pousoalegrense. É um modo de fazer que vem da tradição, da repetição e se desenvolveu a partir do cotidiano, mas é possível delinearmos tendências de sua formação como elemento cultural de um povo. Como apuramos, o milho e a mandioca eram alimentos comuns entre os habitantes do sul de Minas nos séculos XVIII e XIX. E as farinhas desses vegetais estavam também incorporadas aos cardápios dessas populações. As técnicas de produção dessas farinhas eram heranças indígenas e indicavam a aculturação indígena e portuguesa. O contato entre os povos americanos pré‐colombianos, os portugueses e, mais tarde, os africanos criou

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uma cultura nova e peculiar com grande capacidade adaptativa. O pastel de farinha de milho é um exemplo dessa adaptação. Há três lendas para o surgimento da receita do pastel de farinha de milho. Segundo o Sr. Claudinei Marcantônio, uma delas seria no tempo dos bandeirantes. Eles teriam saído de Delfim Moreira e foram descendo o rio. Com a caminhada, eles ficaram sem suprimentos e sobrou apenas a farinha de milho. Com o que eles tinham, fizeram uma massa que rechearam com carne de caça e fritaram. Essa fritura seria semelhante ao pastel atual. A outra história que contam é que os escravos recebiam a farinha de milho para comer todos os dias. Com o tempo, eles foram fazendo misturas até chegarem num bolinho cuja massa era semelhante à do pastel. Aprimoraram até chegar à massa do pastel de farinha de milho. A terceira história é que o pastel de farinha de milho seria uma adaptação do pastel de angu, também tradicional em Minas.30 O pastel de angu foi uma criação dos escravos da casa grande da fazenda dos Portões, em Itabirito. Duas escravas conhecidas como Philó e Maria Conga usavam as sobras de angu que comiam com umbigo da banana, na falta da carne. Algumas vezes, eles escondiam pedaços de carne no meio de bolinhas de angu. Essas bolinhas eram assadas. Assim, as primeiras receitas de pastel de angu eram arredondadas e achatadas para serem assadas e tinham o nome de Boroa. Mais tarde, o pastel tomou a forma atual e foi difundido pela fama de ser uma iguaria muito saborosa.31 Como afirmamos anteriormente, é muito difícil descobrir uma origem para costumes populares, assim, vamos analisar as lendas que giram em torno de seu surgimento. Na primeira lenda, os bandeirantes teriam feito uma massa próxima à atual receita do pastel. É possível que bandeirantes, na falta da farinha de mandioca, tivessem criado um bolinho e nunca um pastel porque essa é uma tradição posterior. Esse bolinho poderia ser recheado com carne e estaria apenas continuando uma tradição dos indígenas que enrolavam bolinhas de farinha de mandioca e milho para se alimentarem. Encontramos a menção a uma expedição que teria partido de Itagyba, nome antigo de da cidade de Delfim Moreira, em 1819, com o intuito de se estabelecer em outras paragens com melhores condições para práticas agropecuárias. A história coincide com a versão contada pelo Sr. Claudinei, só que teria acontecido no século XIX e não seriam bandeirantes. A expedição teria ficado sem alimentos, em especial o trigo, e eles improvisaram usando farinha de milho e polvilho, ao invés de farinha de trigo, e fizeram uma massa semelhante à do pastel. Teriam recheado com carne de caça e frito os pastéis com gordura de capivara. Segundo o site da Conexão Itajubá, a história do pastel foi contada pelo engenheiro Menotti Chiaradia Filho, que teria ouvido da babá de seu pai, D. Emiliana Estela, que faleceu com 84

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Entrevista com o Sr. Claudinei Marcantônio, concedida a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008, na cidade de Pouso Alegre. 31 PORTAL Minas Gerais. Pastel de angu: história e receita. Disponível em <http://www.portalmi nasgerais. com.br/culinaria/itabirito.htm > Acesso em 20 out. 13:00.

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anos em 1959. Ela teria escutado a história de sua avó que participou da expedição.32 O mais provável é que a mistura tivesse o formato de um bolinho e não de pastel e que tenha sido assada ao invés de frita porque se havia a necessidade de aproveitar o alimento por causa da escassez, eles não gastariam a gordura da capivara para fritar os bolinhos. Já a segunda lenda se aproxima da tradição do pastel de angu. É quase um consenso na historiografia escravista que as relações entre os senhores e os escravos eram paternalistas. Isso significava que o poder do senhor se manifestava na proteção e na punição, enquanto que o comportamento do escravo era um reflexo desse poderio senhorial, ou seja, eles obedeciam às ordens do senhor para não serem punidos e, em contrapartida, abusavam ao máximo dessa condição de proteção, sempre testando até onde poderiam ir. Assim, baseando‐se nessa concepção paternalista, muitos trabalhos sobre escravidão afirmam que era comum nas casas grandes os escravos esconderem pedaços de carne para levarem às senzalas. Essa atitude era “ignorada” pelos senhores que faziam “vistas grossas” para os furtos. Em um desses desvios do paternalismo escravocrata, o pastel de farinha de milho teria se desenvolvido. Acreditamos, que da mesma maneira que poderia ter ocorrido entre os bandeirantes, ao invés de pastéis teriam sido feitos bolinhos de farinha de milho, onde se esconderiam as carnes furtadas da cozinha. Esses bolinhos seriam provavelmente assados. Em relação ao pastel de angu, acreditamos que o pastel de farinha de milho tenha surgido desvinculado do desenvolvimento do pastel de angu, já que a tradição dele está muito mais associada à região mineradora. A tradição de fazer o pastel foi uma adaptação feita pelos jesuítas quando entraram em contato com a cultura chinesa, provavelmente, nos séculos XVI e XVII. Eles teriam trocado o arroz pelo ovo e recheado a massa com amêndoas.33 Na culinária portuguesa, os pastéis são sempre massas doces e há um doce específico chamado pastel de nata que foi criado pelos monges do mosteiro dos Jerônimos em Belém, um bairro de Lisboa. Eles abriram uma pequena lojinha para venderem esse doce com o objetivo de conseguirem manter a ordem. A receita era transmitida apenas entre os religiosos do mosteiro e, mais tarde, ficou em segredo entre os chefes pasteleiros. Até hoje eles precisam fazer um juramento de que não vão disponibilizar a receita do famoso doce.34 Diferentemente das massas de pastéis portugueses que conhecemos e do próprio pastel de farinha de trigo, semelhante ao chinês, o pastel de nata tem uma massa folhada que se quebra facilmente. Seu formato é mais parecido com empadas e poderia ser uma variante de alguns doces árabes. Em relação ao pastel que conhecemos como português35, quando comparamos a receita do pastel de farinha de milho com a desse pastel, podemos

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CONEXÃO ITAJUBÁ. Gastronomia Típica. Disponível em < http://www.conexaoitajuba.com br/itajuba/Pagi na.do?idSecao=40> Acesso em 23 out. 2008, 16:10. 33 CIA do pastel: a história do pastel. Disponível em < http://www.ciadopastel.com/historia_ do_pastel.php> Acesso em 20 out. 2008, 14:15. 34 Pastel de nata. Disponível em <http://www.pasteldenata.info/contacto.htm> Acesso em 20 out. 2008, 15:20. 35 Há a possibilidade do pastel português ser uma receita brasileira, já que não encontramos exemplos desse prato na culinária portuguesa. De qualquer forma, a origem no pastel português não vem ao caso, é relevante apenas o seu modo de fazer.

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ver uma semelhança quanto ao modo de preparo. Ambas as receitas recebem um líquido quente jogado sobre a farinha para formar um angu e depois abrir a massa. A diferença está nos ingredientes, o pastel português é a mistura de leite fervido e manteiga derretida na farinha de trigo e o pastel de farinha de milho, na mistura de polvilho e farinha de milho é acrescida a água quente. Assim, ao pensarmos no Brasil colonial e imperial, cuja facilidade de produção de milho e mandioca se contrapunha à dificuldade de aquisição do trigo, o pastel de farinha de milho seria um alimento mais econômico que a tradicional variante denominada portuguesa. Independente da receita do pastel conhecido como português, acreditamos que o pastel de farinha de milho tenha se desenvolvido a partir dos bolinhos de farinha característicos da adaptabilidade dos bandeirantes e dos escravos. Eles podem ter surgido independentes, nos séculos XVII e XVIII, entre os paulistas que aqui se fixaram ou nos século XVIII e XIX, entre os escravos africanos que aproveitavam as sobras das farinhas para criarem os bolinhos. O que não há como apurarmos é quando a receita se desmembrou desses bolinhos feitos de aproveitamento de víveres. Em conversas com pasteleiros pousoalegrenses, a pasteleira mais antiga que tivemos notícia era D. Maria Rosária do Prado, esposa do Sr. João Galdino do Prado, moradores do Bairro dos Afonsos na primeira metade do século XX. Não sabemos com quem ela aprendeu a fazer os pastéis, que já tinham essa forma, mas descobrimos um vínculo entre ela e um dos pasteleiros mais antigos do Mercado Municipal de Pouso Alegre, Sr. Vítor Fernandes Jardim. D. Maria Rosária era vizinha do Sr. Vítor e, possivelmente, ensinou a ele a receita que conhecia. A fazenda de D. Maria Rosária e do Sr. João Galdino tinha todo o material de produção de farinha de milho e polvilho. Quando os pais do Sr. João Amadeu Barcelo, atual produtor de farinha de milho da cidade, adquiriram as terras do casal, D. Maria Rosária e do Sr. João Galdino ensinaram as técnicas de fabricação do polvilho e da farinha de milho para os novos proprietários que começaram a produzir as farinhas para vender. O Sr. Vítor e D. Maria Rosária não foram os primeiros nem os únicos a fazerem esses pastéis. Na primeira metade do século XX, a receita do pastel era difundida em toda a região de Pouso Alegre e a iguaria era um prato servido nos finais de semana ou para visitas que chegavam.36 A tradição do pastel era, então, um costume das famílias pousoalegrenses. 03.2.8. O PASTEL, O MERCADO E A RUA – UMA RELAÇÃO DO SABER COM O ESPAÇO O pastel de farinha de milho começou a ser vendido nas ruas e no mercado da cidade de Pouso Alegre. O pastel que antes era símbolo das casas das avós passou a ser comercializado na feira, como um alimento para um lanche rápido ou um tira‐gosto dos botecos. 36

Entrevista com D. Izabel Coutinho Pereira, concedia em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008.

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O mercado de Pouso Alegre foi construído no final do século XIX no largo da igreja matriz. Em 1893, a comunidade precisava de um local para comercializar os produtos da zona rural e a Câmara Municipal se prontificou a comprar um terreno para um futuro mercado. O local desejado era um espaço próximo à matriz que pertencia à igreja. Conversaram com o cônego Vicente de Mello César e com uma comissão de obras que estava constituída para a reforma da igreja. Eram integrantes dessa comissão: cônego Vicente de Mello César, Alberto Bressane Lopes, Cap. Cândido Antônio de Barros, Cap. João Xavier de Rezende e Belizário Paulino de Assis. Todos os membros da comissão concordaram com a venda e a Câmara Municipal adquiriu o terreno. No início do século XX, o mercado sofreu sua primeira ampliação. Acrescentaram mais um corredor em cada lado e fizeram uma nova fachada, cuja planta datada de 1900 se encontra arquivada no Arquivo Público Mineiro.37 Cerca de quarenta anos depois, o mercado começou a ser insuficiente para o fluxo de comércio e precisou ser novamente reformado. Em 1970, uma nova reforma modificou todo o prédio para que se tornasse semelhante ao que está hoje em funcionamento.

Acima, da esquerda para a direita, a primeira imagem é o mercado municipal de Pouso Alegre em 1893. A segunda imagem é também a fachada do mercado, datada de 1930. Abaixo, da esquerda para a direita, a primeira imagem é a parte de trás do mercado na década de 1960 e a segunda imagem é a frente do prédio novo, depois da reforma dos anos 70. Fonte: Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.

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Mapa do mercado de Pouso Alegre. Grandes Formatos. SA‐325; MAP 3/9 ENV. 1. APM.

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O mercado sempre foi o local onde os moradores dos distritos vendiam as hortaliças que plantavam e os produtos “da roça” que fabricavam. Na década de 1930, ele estava pequeno para a demanda e muitos vendedores ficavam na parte de trás do prédio com barracas expondo seus produtos. Os carregadores ficavam ao redor esperando os compradores para levarem as compras até as casas e ganharem algum dinheiro. Segundo Otávio Miranda Gouveia, esse burburinho do mercado era mais intenso aos sábados quando as donas de casa iam para as compras. O mercado se tornou um ponto de encontro de comadres para conversas informais. Lá as pessoas bebiam caldo de cana moído na hora e comiam pastel de farinha de milho e arroz doce que eram vendidos nas bancas.38 O autor não cita suas fontes e não há como sabermos se ele descreve com elementos atuais o movimento do mercado nas décadas de 1930 e 40. Como a tradição de comer pastéis de farinha de milho no mercado é muito antiga, o momento em que ela começou a acontecer se perdeu no tempo. Há quem diga que no início, os pasteleiros ficavam do lado de fora, em barracas cobertas e costumavam também vender os pastéis fora do mercado em eventos da cidade em pequenos carrinhos rudimentares. Encontramos algumas fotos das décadas de 1930 e 40 que mostram as pessoas ao redor do mercado, os carrinhos de mão dos carregadores de mercadorias e algumas barracas cobertas que poderiam ser de algum pasteleiro.

Acima à esquerda: mercado na década de 1930. Observe a seta vermelha, ela indica a presença das barracas. Acima, à direita: barracas em frente ao mercado, em 1948. Abaixo à direita: parte de trás do mercado, onde ficavam muitos carregadores e algumas barracas, em 1935. Fonte: Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.

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GOUVEIA, Otávio Miranda. História de Pouso Alegre. Pouso Alegre, 1999.

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Em alguns eventos da cidade fotografados nas décadas de 30 e 40, encontramos a presença de carrinhos semelhantes que poderiam ser para a venda do pastel. Foto da esquerda: desfile na Praça Senador José Bento, em 1945. Observe que próximo ao gradil da velha catedral, na parte de baixo da imagem, há um carrinho. Foto da direita: ampliação da imagem do carrinho. Fonte: Museu Histórico Municipal Tuany Toledo. Foto da esquerda: movimento na estação de rede mineira de viação, na década de 1930. No canto esquerdo da foto, há um carrinho, semelhante ao da foto do desfile na Praça Senador José Bento. Foto da direita: ampliação da imagem do carrinho. Fonte: Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.

Acreditamos que desde a década de 1930 já havia um comércio do pastel de farinha de milho na cidade e que ele era feito por ambulantes. Esse comércio era feito a partir dos carrinhos, levados para os eventos importantes do município ou para os locais de maior movimento da cidade. O comércio de ambulantes é uma tradição muito antiga no Brasil. No nordeste colonial, nos século XVII e XVIII, nas cidades maiores como Vila Rica no século XVIII e no Rio de Janeiro, no XIX, havia a presença dos chamados negros ou negras de ganho que andavam pelas cidades com um tabuleiro vendendo doces e petiscos.39 Com o fim da escravidão, o comércio informal das ruas continuou sendo feito por homens e mulheres livres que viam nessa atividade a maneira de sustentar a família. No século XX, esse costume ainda era comum nos campos de obras e nas estações ferroviárias e rodoviárias. Em Pouso Alegre, essa 39

FREIRE, Gilberto. Casa grande e senzala. Rio de Janeiro: Ed. José Olimpio, 1961.

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tradição se apropriou da iguaria do pastel de farinha de milho para comercializá‐los nas ruas da cidade, em dias de festas e nas áreas de maior movimento. A venda do pastel de farinha de milho se estabeleceu, então, tanto nos carrinhos nas ruas como nas bancas do mercado. No mercado, os pasteleiros mais antigos que conseguimos apurar foram o Sr. Vítor Fernandes Jardim que começou seu negócio para sustentar a família, em 1969, D. Maria José que vendeu sua banca para o Sr. João Ribeiro do Valle em 1972, o Sr. João Fernandes da Silva e o Sr. João Pereira de Freitas que fundaram as suas bancas de pastéis em 1966. Em 1955, o Sr. Vítor veio do Bairro dos Afonsos para a cidade e, na década de 1960, resolveu vender o pastel de farinha de milho em um carrinho. Em 1969, o Sr. Vítor adquiriu uma banca no mercado e abandonou seu carrinho. Isso aconteceu por causa da reforma que ampliou o mercado no início dos anos de 1970, o que possibilitou a compra de uma banca. O Sr. Vítor pode ter aprendido a fazer os pastéis com a D. Maria Rosária do Prado, sua vizinha, no Bairro dos Afonsos ou com seus pais que também conheciam a receita. Segundo o Sr. Josino Jardim, de 40 anos, filho do Sr. Vítor, o pastel de farinha de milho é uma tradição em sua família, mas apenas seu pai teve a idéia de abrir um negócio para comercializá‐lo. Sua mãe, D. Benedita Inácia Jardim, trabalhava com o Sr. Vítor na fabricação e venda dos pastéis. Em 1995, o Sr. Vítor Fernandes Jardim faleceu, mas sua esposa continuou com o negócio até o ano 2000 quando aposentou. Seu filho agora é quem cuida da banca, que fica no Box 49 e se chama “Pastelaria Jardim”.40 A receita dos Jardim é a mais comum: uma medida de polvilho, três de farinha de milho biju, sal a gosto e água fervendo. Jogar a água fervente na mistura de farinhas e mexer até formar a massa. Sovar e abrir com um cilindro, garrafa ou rolo de macarrão e rechear. Os recheios são os mais tradicionais: de queijo e carne. À esquerda, Sr. Vítor Fernandes Jardim fritando pastel. Fonte: Acervo do Sr. Josino Jardim À direita, Pastelaria Jardim, no Box 49 do Mercado Municipal de Pouso Alegre. Atrás da estufa de pastéis, Sr. Josino Jardim. No lado direito do balcão um cliente da pastelaria. Foto: Liliane Corrêa

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Entrevista com o Sr. Josino Jardim, concedida em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008

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Há vários pasteleiros no Mercado Municipal de Pouso Alegre que fabricam e vendem a iguaria. No Box 46, a D. Izabel Coutinho Pereira, de 71 anos, é proprietária da “Lanchonete São João” há 30 anos. Desde 1978, ela faz o pastel e vende. Segundo a pasteleira, ela aprendeu com sua mãe, D. Francisca Maria Coutinho, que aprendeu com a mãe dela, D. Mariana Maria de Jesus. Segundo D. Izabel, D. Mariana aprendeu com alguém que ela não conheceu, provavelmente, com a mãe dela, bisavó de D. Izabel. Quando D. Izabel era criança, ela se lembra de comer o pastel de farinha de milho que sua avó fazia. Para ela, a infância era um “tempo bom da vida” onde todos comiam juntos os pastéis que eram fritos e servidos em seguida. A receita servida na “Lanchonete São João” é quase igual àquela do Sr. Vítor. Ela foi citada no livro de receitas chamado Tribuna de Juiz de Fora. Ela coloca 1 kg de farinha de milho biju, dois copos de polvilho azedo e sal a gosto. Mistura as farinhas e o sal e escalda com água fervente até dar o ponto de pastel: a massa deve ficar dura, mas não pode ficar seca. Sovar bem a massa e rechear com o que quiser. A banca de D. Izabel também vende os pastéis com recheio de queijo e carne, mas às vezes ela faz a versão pizza cujo recheio leva queijo, presunto e orégano.41 No Box 22, do Mercado Municipal de Pouso Alegre, está a banca do Sr. Reginaldo Guimarães do Couto. O Sr. Reginaldo está nesse negócio há três ou quatro anos, desde que comprou a pastelaria do Sr. João Ribeiro do Valle. Segundo ele, o Sr. João vendeu o seu empreendimento porque queria aposentar para ficar mais próximo de sua esposa que estava um pouco adoentada. Assim que passou o ponto, ele ensinou o Sr. Reginaldo a fazer o pastel, como é tradição na cidade.42 Segundo o Sr. João Ribeiro do Valle, ele também aprendeu com a antiga proprietária da banca, D. Maria José, em 1972. Ela era viúva e tinha essa banca há algum tempo. Provavelmente, foi a pasteleira mais antiga que tivemos notícia porque se em 1972 ela estava abandonando o negócio, ela deveria estar no mercado desde antes de 1969, quando o Sr. Vítor comprou a banca dele. D. Maria José faleceu há muitos anos e o Sr. João nunca soube com que ela aprendeu a fazer a receita do pastel. A receita do pastel do Sr. Reginaldo é, então, a mesma do Sr. João e da D. Maria José. A receita é ferver um litro e meio de água com um pouco de sal e jogar sobre uma mistura de um quilo de farinha de milho e meio quilo de polvilho azedo. Quando a mistura estiver toda molhada, mexer com uma colher de pau até formar uma massa. Deixar esfriar e sovar. Abrir a massa com uma garrafa ou cilindro. Rechear com o que quiser, mas em geral, eles recheiam com carne e queijo.43

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Entrevista com D. Izabel Coutinho Pereira, concedia em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008. Entrevista com o Sr. Reginaldo Guimarães do Couto, concedia em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008. 43 Entrevista com o Sr. João Ribeiro do Valle, concedia em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008. 42

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Pastelaria do Reginaldo, no Box 22 do de Pouso Alegre. Foto: Mercado Municipal Catherine Horta

Ao lado da banca do Sr. Reginaldo fica a Pastelaria do Hélio, no Box 20. O Sr. João Fernandes da Silva foi o primeiro proprietário da pastelaria. Ele era sobrinho do Sr. Vitor Fernandes Jardim e aprendeu a fazer o pastel com uma tia, chamada Izabel, que não sabemos se era irmã do Sr. Vítor. Segundo D. Silvana Fátima de Melo, o Sr. João fundou a pastelaria em 1966, mas ainda sem nome. Segundo ela, o que motivou o Sr. João a aprender a fazer o pastel e abrir o negócio foi a vontade de trocar de profissão, já que ele era pedreiro e não gostava dessa atividade. O Sr. João era casado com D. Lídia de Jesus Silva e faleceu em 1999. O Sr. José Hélio da Silva, filho do Sr. João, ficou com a banca e hoje mantém o negócio. Na pastelaria, o que mais vende é a dupla pastel e caçulinha Jota Efe, um refrigerante típico da cidade de Pouso Alegre. A receita do pastel é a mesma do Sr. Vítor. São três medidas de farinha de milho, misturadas a uma medida de polvilho azedo e escaldadas com água fervente. Misturar, sovar, abrir e rechear. Os recheios dos pastéis da Pastelaria do Hélio são os tradicionais de carne e queijo, mas na quaresma há a opção do pastel de bacalhau. À esquerda, D. Silvana Fátima Melo fritando os pastéis na Pastelaria do Hélio. À direita, anúncio do refrigerante Jota Efe com o pastel de farinha de milho. Foto: Catherine Horta.

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O Box 21 também é uma pastelaria e pertence ao Sr. João Pereira de Freitas. Ele tem 76 anos e é casado há 42 anos com D. Maria Isabel de Freitas de 73 anos. Segundo ele, quando se casou em 1966 ele fundou sua banca de pastéis. Ele é de Pouso Alegre, mas se mudou para São Paulo aos 14 anos e lá se casou com sua primeira esposa. Aos 33 ou 34 anos, ele voltou para Pouso Alegre e conheceu sua atual esposa. Casou‐se em seguida e abriu sua banca para comercializar os pastéis de farinha de milho no Mercado Municipal de Pouso Alegre no mesmo ano. Ao ser perguntado sobre quem o ensinou a fazer o pastel, o Sr. João afirmou com um sorriso nos lábios que foi Deus. Apesar da brincadeira, isso nos mostra que o pastel é muito importante para ele. Mas mesmo a receita sendo sagrada, ele nos passou as medidas e os ingredientes. Segundo ele, a massa é composta de três medidas de farinha de milho, uma de polvilho, água fervente e sal. O procedimento é o mesmo de todos os outros, com a diferença que o Sr. João tem um cilindro manual em sua banca para passar a massa e deixá‐la mais fina. À esquerda, cilindro Sr. mecânico usado pelo João Pereira de Freitas para abrir a massa de pastel. À direita, Sr. João Pereira de Freitas em seu Box no Mercado Municipal de Pouso Alegre. Foto: Catherine Horta

A comercialização do pastel de farinha de milho não acontece só no Mercado Municipal de Pouso Alegre. Há barracas e carrinhos em toda a cidade para a venda do pastel, além de sacoleiros que produzem em casa ou compram de pasteleiros e vendem de porta em porta. Na avenida principal e na praça da matriz há diversos carrinhos que vendem a iguaria frita na hora. Essa característica é um traço peculiar do modo de fazer o pastel de farinha de milho em Pouso Alegre. A técnica deixou de ser apenas caseira para tornar‐se uma atividade profissional. O pastel ainda é feito nas casas, mas há uma preferência por adquiri‐los na rua. Seu comércio se intensificou muito. As pessoas passam nas barracas e carrinhos para comprar os pastéis e fritar em casa. Assim, os comerciantes já fazem salgados em maior quantidade porque sabem que irão vendê‐los também sem serem fritos. Outra característica marcante do modo de fazer o pastel de farinha de milho é o costume de ensinar a receita. Em conversas com pasteleiros de carrinhos da cidade percebemos que há a tradição de passar a receita e as técnicas de preparo do pastel de pasteleiro para pasteleiro. O mesmo foi

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constatado entre os proprietários dos Box do Mercado Municipal de Pouso Alegre. Assim, o pastel da farinha de milho e o seu comércio se perpetuam em Pouso Alegre porque quando um Box do mercado ou carrinho é vendido, a receita e as técnicas de fabricação do pastel são ensinadas para o comprador, transformando‐o em um novo pasteleiro. Isso garante a qualidade e a manutenção da tradição de comércio do pastel de farinha de milho.

Imagens de carrinhos de venda do pastel de farinha de milho, na área central da cidade e no bairro São Cristóvão. Fotos: Catherine Horta e Liliane Corrêa

Alguns pasteleiros dos carrinhos da cidade usam um misturador elétrico para misturar e sovar a massa. Para abrir, utilizam um cilindro elétrico por onde a massa é esticada para, a partir daí, ser recheada. O Sr. Jésus José Felipe e sua esposa, D. Ana Maria Pereira Felipe, têm uma receita um pouco diferente dos demais pasteleiros, eles acrescentam um pouco de óleo na mistura de três partes de farinha de milho e uma de polvilho. Jogam tudo no misturador junto com a água fervente e depois abrem a massa na máquina. O carrinho do casal fica em frente à rodoviária da cidade e funciona durante todo o dia. Segundo D. Ana Maria, eles aprenderam com a antiga proprietária de uma barraca, D. Tereza, que passou uma semana com eles ensinando a mistura, o ponto da massa e da fritura. Outro

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pasteleiro proprietário de carrinhos é o Sr. Claudinei Aparecido Marcantônio. Sua produção de pastéis abastece os carrinhos três ou quatro vezes durante o dia e cerca de 800 pastéis são vendidos. Ele também aprendeu com o antigo proprietário do ponto, o Sr. Alcides, que hoje vende na porta da UNIVAS – Universidade do Vale do Sapucaí. O filho Sr. Alcides não quis trabalhar com o comércio de pastéis e, então, ele vendeu o ponto para o Sr. Claudinei que o mantém há alguns anos. A receita é a padrão: uma medida de polvilho azedo, três de farinha de milho, água fervente e sal a gosto. Ele mistura com um misturador elétrico e abre a massa com o cilindro também elétrico. Sua produção ainda é artesanal, como a produção do Sr. Jésus, mas é possível perceber um aprimoramento nas técnicas de fabricação do pastel. À esquerda, carrinho do Sr. Jésus José Felipe, em frente à rodoviária. À direita, carrinho do Sr. Claudinei Aparecido Marcantônio, à Av.: Dr. Lisboa, em frente a Escola Estadual Monsenhor. Foto: Liliane Corrêa

Recentemente, o pastel começou a ser industrializado por alguns pasteleiros da cidade para ser vendido congelado ou refrigerado. A empresa que se chama Coisa de Mineiro tem o objetivo de colocar o pastel no mercado paulista com o nome de Pastel Mineiro. O empreendimento da indústria do pastel de farinha de milho exigiu dos pasteleiros envolvidos muita dedicação na adaptação da massa para o congelamento. Ela não pode receber conservantes, mas também não pode se quebrar com facilidade como ocorre na receita tradicional. Assim, foi mais de um ano gasto testando as medidas até atingirem o ponto desejável. O pastel congelado e embalado a vácuo já está à venda nos supermercados da cidade de Pouso Alegre, mas ainda não chegou à capital paulista.

Pastel de farinha de milho refrigerado na gôndola de um supermercado de Pouso Alegre. Foto: Liliane Corrêa

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Em 2005, pasteleiros de Pouso Alegre resolveram se organizar para fundar uma associação, a ASSEASAPA – Associação dos Empreendedores Autônomos do Segmento de Alimentação de Pouso Alegre. Eles se inspiraram na ABAM – Associação das Baianas de Acarajé e Mingau de Salvador. A ABAM reúne duas mil mulheres em torno da profissionalização e da qualidade do acarajé vendido em Salvador. Além da preocupação com as normas de higiene e saúde, as baianas queriam que fosse feito o registro do acarajé, considerado sagrado pelos adeptos do Candomblé. Assim, inspirados pelo exemplo das baianas, cerca de quarenta pasteleiros de Pouso Alegre fundaram a ASSEASAPA. O objetivo era profissionalizar a atividade com cursos de manipulação de alimentos, adotar os critérios de vigilância sanitária da ANVISA e padronizar os formatos dos pastéis, das embalagens e dos carrinhos. No primeiro ano, a ASSEASAPA encontrou muitas dificuldades de atuação. Os projetos da organização não vingaram e isso criou certa insatisfação entre os sócios. Com pouco retorno, a maioria dos pasteleiros deixou de contribuir e se desvinculou da associação. A diminuição dos sócios resultou em menor arrecadação e mais empecilhos no alcance dos objetivos do grupo. Mesmo diante desses problemas, os dezoito membros restantes se empenharam para exaltar a profissão de pasteleiro e o pastel de farinha de milho em Pouso Alegre. No mesmo ano pediram junto ao Conselho Deliberativo do Patrimônio Histórico e Cultural de Pouso Alegre o registro do pastel de farinha de milho como bem cultural imaterial da cidade. Em 2006, o carrinho desenvolvido no ano anterior ficou pronto, mas nem todos os pasteleiros trocaram seus carrinhos antigos pelos novos porque eles saíram pelo valor de R$ 10.000,00. Em 2006, 2007 e 2008, a ASSEASAPA organizou a “Festa do Pastel” incorporada à festa da cidade e os pasteleiros associados ofereceram cerca de 10.000 pastéis de graça para a população pousoalegrense na praça da matriz. O objetivo desse evento é criar uma festa do pastel associada à cidade e divulgar as ações da associação. Segundo o presidente da ASSEASAPA, Sr. Claudinei Aparecido Marcantônio, um dos problemas enfrentados pela associação foi a dificuldade de criação de um curso de manipulação de alimentos a baixo custo que atendesse os associados. Eles tentaram junto ao SENAI que um curso fosse organizado, mas a proposta da escola não se encaixou no orçamento dos pasteleiros e a tentativa foi frustrada. A próxima medida da ASSEASAPA é tentar junta à prefeitura disponibilizar um ponto de luz em cada carrinho para facilitar o comércio e a conservação do produto. Em agosto de 2008, os associados da ASSEASAPA eram dezoito pasteleiros dispostos por toda a cidade. Eles eram: Claudinei Aparecido Marcantônio, Av.: Dr. Lisboa – em frente à Escola Estadual Monsenhor; Jésus José Felipe, em frente à rodoviária; Reginaldo Gonçalves Ferreira, em frente ao Hospital Santa Paula; Maria das Graças Melo, Praça Senador José Bento – em frente ao Santander; Aparecida Giane Borges, R. Silviano Brandão – ao lado do Supermercado Alvorada; Donizete José Pereira, R. Silviano Brandão – em frente ao açougue; Helenice do Amaral Bueno, R. Comendador José Garcia – próximo ao hospital; Carmelindo Claro Lopes,

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na praça da escola do bairro São Cristóvão; Paulo Henrique Alves, Praça Senador José Bento – em frente ao Morato; Benedito José Pereira, Praça Senador José Bento – em frente ao Morato; Aloísio dos Santos Pereira, Av. Dr. Lisboa – em frente ao Bradesco; Lázaro José Pereira, em frente às Lojas CEM; Messias Altair Claudino, próximo ao Supermercado Bonifácaio; Tibério Nonato de Oliveira, Av. Vereador Professor Olavo Gomes de Oliveira – em frente ao César Pneus; Vandré Andrade Castro, Praça Dr. Garcia Coutinho – em frente ao Hotel Ferraz; Marinho da Rocha Junqueira, Av. Vereador Antônio da Costa Rios – próximo ao farol do SESI; Patrícia de Oliveira Pedro, Av. Vereador Professor Olavo Gomes de Oliveira – em frente ao Espetão e Gilberto, R. Comendador José Garcia – próximo ao hospital.

Selo da ASSEASAPA – Associação dos Empreendedores Autônomos do Segmento de Alimentação de Pouso Alegre. Esse selo é colocado nos carrinhos dos associados. Foto: Liliane Corrêa

03.2.9. A RECEITA – UMA DESCRIÇÃO DETALHADA DO MODO DE FAZER A receita do pastel de farinha de milho varia em proporções para cada pasteleiro. A massa é formada de farinha milho biju, polvilho azedo, água, sal e, às vezes, óleo. A proporção mais encontrada é a de três para um, ou seja, três medidas de farinha de milho e uma de polvilho, mas encontramos também quem desse a receita com a mesma medida de farinha de milho e polvilho. A quantidade de água é sempre relativa, porque está associada à liga que a massa dá. Acompanhamos o pastel da sua fabricação até a venda nos carrinhos. Vimos trabalho processo de fabricação dos pastéis na cozinha de D. Ana Maria Pereira Felipe. Ela trabalha com sua ajudante, D. Matilde Silvino da Silva Rosa, todas as manhãs para abastecer o carrinho que fica próximo à rodoviária.

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A cozinha é um corredor pequeno e comprido na casa da pasteleira. Há um fogão industrial, onde D. Ana Maria aquece a água e a gordura, um misturador e um cilindro elétricos, que misturam e abrem a massa, e uma bancada usada para apoiar a massa aberta e rechear os pastéis. No fogão, elas também fazem o recheio de carne moída. As pasteleiras esquentam os quatro litros D. Ana Maria Pereira Felipe em sua cozinha. No canto direito a panela com água sob o fogão. Ao lado, o misturador, a bancada e no fundo o cilindro.Foto: Liliane Corrêa.

de água necessários para uma receita de três quilos de farinha. Assim que ela ferve, é acrescentado o sal para formar uma salmoura. São cerca de três colheres de sopa bem cheias de sal colocadas na água. D. Ana Maria coloca no misturador elétrico a farinha de milho biju comprada já moída, o polvilho azedo e os quatro litros de água. Ela liga o aparelho que começa a misturar a massa. Depois, ela acrescenta as quatro colheres de óleo. O misturador continua mexendo a massa até que ela fique com uma textura homogênea. D. Ana Maria ainda auxilia a

Na figura acima, a água cai sobre a mistura colocada no misturador elétrico. Na figura abaixo, D. Ana Maria acrescenta o óleo à mistura. Foto: Liliane Corrêa.

batedeira com uma colher de pau, usada para virar o angu. Esse processo inicial é muito rápido porque o aparelho faz o trabalho pesado de mistura em cinco minutos. Antes da máquina misturadora, na fabricação mais artesanal do pastel de farinha de milho, a mistura e sova da massa demoravam cerca de 30 ou 40 minutos.

Depois de homogênea, a massa é retirada

da batedeira e colocada sobre a bancada para ser cortada e passada no cilindro elétrico. D. Matilde corta a massa em fatias grossas e coloca‐as no cilindro.

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Na figura mais a esquerda, D. Ana Maria mexe a massa com a colher de pau dentro do misturador. Depois, na figura ao lado, ela retira a massa e a coloca sobre a bancada. Foto: Liliane Corrêa.

D. Matilde reúne a massa e a sova um pouco formando um uma bola, mostrada na figura da esquerda. Essa bola é cortada em fatias grossas, como é mostrado na foto da direita. Foto: Liliane Corrêa.

As fatias cortadas são passadas no cilindro elétrico que continua o processo de mistura e o instrumento usado para abrir a massa. Sem o cilindro elétrico, a massa era aberta com garrafas de vidro ou rolos de macarrão. Mais tarde, alguns pasteleiros adquiriram um cilindro mecânico que abre a massa na medida em que a manivela é girada. Já com o cilindro elétrico esse processo é muito rápido e a massa é retirada da máquina parecendo um pano, comprido e liso. Essa massa é colocada na bancada e recheada. As quatro fotos mostram o processo de passagem da massa no cilindro elétrico. Da colocação da fatia de massa até a sua abertura como se fosse um pano liso e comprido. Foto: Liliane Corrêa.

Enquanto D. Ana Maria passa as fatias da massa do pastel de farinha de milho no cilindro elétrico, D. Matilde vai recheando a massa na bancada ao lado. Ela coloca a massa aberta na bancada e

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acrescenta o recheio de carne ou queijo. Eles são colocados na mesma quantidade e em espaços eqüidistantes para que os pastéis saiam do mesmo tamanho.44 As três fotos mostram o processo de colocação do recheio na massa, tanto o recheio de carne como o de queijo. Foto: Liliane Corrêa.

D. Matilde, após colocar o recheio, fecha a massa dobrando a parte que sobrou sobre a parte recheada. Em seguida, ela vem com as mãos marcando o recheio e retirando o ar. Esse processo é muito rápido e mecânico. Depois de marcado, ela vem com o cortador e separa o pastel do resto da massa. Esse cortador garante que os pastéis ficarão do mesmo tamanho e com o formato padronizado: quadrado para os de queijo e meio círculo para os de carne. Às vezes quando produzem o pastel pizza, com recheio de queijo, presunto e orégano, eles usam um cortador que tem a forma de meio círculo, mas com um corte na parte superior. Isso facilita para quem vai fritar os pastéis porque ele tem como saber qual é o recheio.45 Nas imagens acima, D. Matilde fecha a massa sobre os recheios de carne e queijo. Foto: Liliane Corrêa.

44

Entrevista com o Sr. Jésus José Felipe, concedia em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008. Entrevista com o D. Matilde Silvério da Silva Rosa, concedia em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008.

45

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Nas imagens acima, D. Matilde corta os pastéis com o cortador, separando cada unidade do resto da massa. Foto: Liliane Corrêa.

Ao serem separados, eles são armazenados em vasilhas quadradas ou isopores e sobre eles é colocado um pano de prato umedecido. Os pastéis vão, então, para a próxima etapa: serem fritos e vendidos no carrinho para o público em geral. Nessa etapa, a concorrência entre os carrinhos é grande e vence quem faz os pastéis com o melhor sabor. Segundo os pasteleiros, o melhor pastel depende do gosto do freguês, mas também envolve o carinho na fabricação da massa, o tempero do recheio e a simpatia nas vendas. O Sr. Jésus, esposo de D. Ana Maria, vende durante todo o dia os pastéis que ela faz. Segundo ele, há uma técnica para fritar os pastéis. O óleo deve ser novo e a bem quente. Para saber quando a gordura está suficientemente quente, ele coloca um palito de fósforo no óleo e espera que ele acenda sozinho. Os pastéis devem ser virados várias vezes enquanto fritam e são retirados quando estão levemente dourados.46 46

Entrevista com o Sr. Jésus José Felipe, concedia em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008.

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Pastéis armazenados e sendo fritos em um tacho de cobre no carrinho do Sr. Jésus, em frente à rodoviária de Pouso Alegre. Foto: Liliane Corrêa.

Pastéis armazenados e sendo fritos em um tacho de cobre no carrinho do Sr. Jésus, em frente à rodoviária de Pouso Alegre. Na foto da direita, o Sr. Jésus fritando os pastéis. Foto: Liliane Corrêa.

Segundo os pasteleiros da ASSEASAPA, há cerca de 50 carrinhos espalhados por toda cidade. Todos os carrinhos e bancas dos entrevistados estavam sempre cheios e os pastéis eram vendidos sem parar. Aos sábados esse comércio é ainda mais intenso. Comprar e comer os pastéis de farinha de milho nas ruas e no mercado da cidade é uma tradição em Pouso Alegre. Essa tradição de Pouso Alegre incorporou o imaginário pousoalegrense. Há até uma brincadeira na internet, no site Desciclopédia, explicando que o fechamento da lanchonete McDonald’s aconteceu porque não fazia parte da franquia vender o pastel de farinha de milho acompanhado de um refrigerante caçulinha Jota Efe e isso fez com que o público não freqüentasse a lanchonete.47 Assim, a iguaria desenvolvida a partir da aculturação de índios, portugueses e negros cresceu em Pouso Alegre como parte de uma economia informal para se tornar um elemento central da cultura pousoalegrense. Em 2010, a Prefeitura Municipal de Pouso Alegre lançou o Programa de Valorização do Pastel de Farinha de Milho e o prefeito sancionou o decreto de registro do Pastel de Farinha de Milho como patrimônio imaterial de Pouso Alegre. O programa tem como objetivo a “elaboração de ferramentas de divulgação e fortalecimento do produto como fomentador de turismo, emprego e renda no 47

Pouso Alegre. Disponível em < http://desciclo.pedia.ws/wiki/Pouso_Alegre> Acesso em 20 out. 2008, 19:50.

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município.”48 O evento foi realizado na sede da associação dos pasteleiros, a ASSEASAPA. Essa medida é uma forma de exaltação da tradição do modo de fazer o Pastel de Farinha de Milho e vem demonstrar a importância da iguaria para a comunidade pousoalegrense.

48

POUSO ALEGRE. Disponível em < http://www.pousoalegre.mg.gov.br/portal/index.php?option= com_content&view=article&id=287:lancado‐programa‐de‐valorizacao‐do‐pastel‐de‐farinha‐de‐milho& catid=1:ultimas&Itemid=18> Acesso em 19 ago. 2010, 23:13.

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04. AGENTES, RECURSOS E PÚBLICO ALVO Os agentes do modo de fazer o Pastel de Farinha de Milho de Pouso Alegre são chamados de pasteleiros. Não há um agrupamento ou identificação que os reúna em um mesmo conjunto a não ser a atividade de preparo e venda do pastel. Os pasteleiros são, então, em sua maioria, comerciantes que preparam a iguaria para vendê‐la nas barracas espalhadas por todo o distrito sede de Pouso Alegre. Como já afirmamos anteriormente, as barracas podem ser alugadas ou de propriedade do pasteleiro. Há alguns pontos mais tradicionais na cidade como o mercado, as principais ruas do centro, a frente da rodoviária, a porta da Escola Estadual Monsenhor, a porta da UNIVAS – Universidade do Vale do Sapucaí e algumas as praças nos bairros da cidade. Onde não há pontos, um pasteleiro pode criar um ponto seu, mas os pontos de venda tradicionais tem o costume de ser vendidos. O aprendizado do modo de fazer o Pastel de Farinha de Milho é passado pelo vendedor do ponto para o comerciante que adquire a loja ou a barraca. Essa transmissão de conhecimento é um costume e acontece durante uma semana ou mais após a venda do ponto, até que o comprador aprenda a preparar o pastel. Nesse aprendizado, saber fazer um bom pastel é uma honra e o vendedor da banca se sente honrado em ensinar e ver a continuidade da qualidade de seu ponto de venda de pastéis. Enfim, o Pastel de Farinha de Milho de Pouso Alegre, com suas barracas espalhadas pela cidade, é uma tradição unicamente pousoalegrense que vinculou o preparo do pastel a uma atividade remunerada. Os pasteleiros se diferenciam por muito pouco: detalhes na massa do pastel, a habilidade de fritá‐los e o sabor do recheio. Como é um negócio, cada pasteleiro se vangloria de seus dotes culinários e do sabor de seus pastéis. Muitos deles criam novos recheios ou agregam temperos aos recheios tradicionais, estabelecendo certa disputa entre eles que agrada os consumidores. Os consumidores dos pastéis de farinha de milho são todos os moradores pousoalegrenses e, ainda, alguns turistas, que gostam de saborear o petisco. Não há hora nem modo de comer o Pastel de Farinha de Milho, é o freguês que decide quando, como e de quem compra. Muitos adquirem os pastéis para fritar em casa, outros apenas saboreiam o salgado na hora do café, do almoço ou no lanche da tarde em frente as barracas espalhadas pela cidade. Assim, o Pastel de Farinha de Milho, produto do modo de fazer o Pastel de Farinha de Milho, é uma tradição pousoalegrense no que se refere aos pasteleiros que tem uma maneira própria de aprender a elaborar a receita e de perpetuá‐la e aos consumidores que já tem o costume de adquirir os pastéis por toda a cidade, esperando que nos pontos tradicionais tenha um pasteleiro pronto para vender a iguaria.

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05. DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE OCORRÊNCIA MAPA DO PERÍMETRO DE OCORRÊNCIA DO BEM: Distrito Sede Escala gráfica Fonte: Base: Arquivo digital elaborado pelo IBGE – Geocódigo 3165206 Adaptado por: Liliane Faria Corrêa Pinto, agosto| 2010

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PLANTA ‐ PERÍMETRO DE OCORRÊNCIA DO BEM: Arruamento do Distrito Sede Escala gráfica Fonte: Base: Google Maps Adaptado por: Liliane Faria Corrêa Pinto, agosto| 2010

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06. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE OCORRÊNCIA

O modo de fazer do Pastel de Farinha de Milho pode ser encontrado em todo o município de

Pouso Alegre. A ocorrência em todo o território municipal deve‐se ao fato de que não há uma grande concentração industrial e que, principalmente, o pastel é absorvido por todas as famílias, sendo sua receita passada dos pais para os filhos.

Há também algumas pessoas que se dedicam a fazer os pastéis em suas casas e vendê‐los para

outras famílias para que no momento de servi‐los, principalmente às visitas, possam apenas fritá‐los. Sendo assim, é possível encontrar o pastel em toda a cidade especificamente nas casas, nos supermercados e mercados do local.

A produção, ainda que seja artesanal, possui grande saída entre turistas que visitam a região e

costumam levar para suas cidades os pastéis congelados, contudo, a área de ocorrência ainda se restringe à cidade, ficando somente o seu consumo estendido para outros locais.

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07. JUSTIFICATIVA DA DEFINIÇÃO DA ÁREA DE OCORRÊNCIA Considerando que o modo de fazer o pastel de farinha de milho está restrito à região da cidade de Pouso Alegre, sede e área rural e que ele ocorre em diversos pontos isolados da mesma, justifica delimitar sua área com a circunscrição da cidade inteira com a tradição tão vivenciada como a de se deliciar com estes pastéis.

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08. FICHA DE INVENTÁRIO INVENTÁRIO DE PROTEÇÃO DO ACERVO CULTURAL PATRIMÔNIO IMATERIAL – Ofícios e Modos de Fazer

EX. 2012

Prefeitura Municipal de Pouso Alegre Pastel de Farinha de Milho 01. Município Pouso Alegre 02. Distrito Sede 03. Denominação Pastel de Farinha de Milho 04. Outras denominações Não tem 04.1. Motivação do Inventário O Pastel de Farinha de Milho é uma tradição pousoalegrense que está na identidade do cidadão de Pouso Alegre. É um importante modo de fazer na cultura local e, ainda, agrega valor aos pequenos comerciantes que vivem do preparo e da venda da iguaria. Vigente | Íntegro Memória 05. Condição Atual Descaracterizado 06. Época em que ocorre O ano todo 07. Executante Pasteleiros 08. Como é conhecido Várias pessoas preparam o pastel e vendem 09. Data de nascimento Não se aplica 10. Sexo Masculino Feminino 11. Endereço | Telefone Não se aplica 12. Ocupação Pasteleiro 13. Naturalidade | Mora na cidade desde quando? Não se aplica Mestre Aprendiz 14. Relação do executante com o bem Produtor Vendedor Público Executante Outro 15. Documentação Fotográfica Fotografia digital, 5.1 megapixel. Fotógrafa | Data Catherine Fonseca A. Horta | julho ‐ 2007

Foto 1. Pastel sendo frito na barraca em frente a Rodoviária de Pouso Alegre. Município de Pouso Alegre – MG Liliane Corrêa, maio/ 2010

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Foto 02‐ Pastéis prontos para fritar Município de Pouso Alegre ‐ MG Liliane Corrêa, maio/ 2010

Foto 03‐ Pastéis expostos no mercado. Município de Pouso Alegre ‐ MG Liliane Corrêa, maio/ 2010

16. Documentação Cartográfica Fonte

Não se aplica Não se aplica

17. Biografia do executante Não se aplica porque são vários os pasteleiros da cidade, não há um executor específico. 18. Histórico O Pastel de Farinha de Milho foi desenvolvido na região de Pouso Alegre a partir da cozinha dos bandeirantes que, por falta de víveres e farinha de trigo, adaptavam as farinhas que tinham para poder cozinhar. Acreditamos que ele tenha vindo de uma variação de bolinhos de polvilho e farinha de milho em substituição aos bolinhos fritos ou assados de farinha de trigo, ingrediente escasso no sertão das Minas do início do século XVIII. Essa tradição de fazer um bolinho com farinha de milho e polvilho foi tomando a forma de pastel e se espalhou pela cozinhas das casas da região. Em Pouso Alegre, esse modo de fazer ganhou uma característica especial: a comercialização desses pastéis nas ruas da cidade. Os pasteleiros ensinam aos compradores das barracas e pontos de comércio como preparar a iguaria, formando novos pasteleiros e a tradição se perpetua a partir do costume de transferir o saber com a venda do ponto ou a aposentadoria. 19. Descrição O pastel é feito da mistura das farinhas de milho e polvilho, água quente e sal. Alguns pasteleiros usam óleo na massa. O recheio é a gosto, mas em geral é feito de queijo ou carne moída. Receita: Ingredientes 3 medidas de farinha de milho biju 1 medida de polvilho azedo 1 litro de água fervente com sal a gosto. Modo de fazer Moer a farinha de milho biju. Misturar a farinha moída e o polvilho até que fiquem bem misturados. Jogar a água fervente aos poucos na mistura e sovar até que a massa fique homogênea. Abrir a massa com um rolo em uma superfície lisa e acrescentar o recheio que pode ser de queijo ou carne moída refogada com tempero a gosto. Fechar o pastel e fritar em óleo bem quente.

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20. Lugar da Atividade Barracas espalhadas em todo o distrito sede e nos Box do mercado municipal de Pouso Alegre. 21. Referências Documentais | Bibliográficas GOUVEIA, Otávio Miranda. História de Pouso Alegre. Pouso Alegre, 1999. PRIORE, Mary Del; VENÂNCIO, Renato. Uma história da vida rural no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. Fontes orais: Entrevista com D. Ana Maria Pereira Felipe, concedia em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008. Entrevista com o D. Matilde Silvério da Silva Rosa, concedia em Pouso Alegre a Liliane Faria Corrêa Pinto, em agosto de 2008.

22. Informações Complementares

Sem referência

23. Ficha Técnica

21.1. Levantamento | junho ‐ 2010

Liliane Faria Corrêa Pinto Historiadora – MGTM Ltda. Isabella Corrêa Dias | CREA:91.235/D Arquiteta e Urbanista – MGTM Ltda.

21.2. Elaboração | junho ‐ 2010

Liliane Faria Corrêa Pinto Historiadora – MGTM Ltda. Isabella Corrêa Dias | CREA:91.235/D Arquiteta e Urbanista – MGTM Ltda.

21.3. Revisão | janeiro ‐ 2011

Isabella Corrêa Dias | CREA:91.235/D Arquiteta e Urbanista – MGTM Ltda. Rogério Stockler de Mello Administrador de Empresas ‐ MGTM Ltda. Aline Cristina Araújo Secretária de Cultura de Pouso Alegre

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09. SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO DA ATIVIDADE CULTURAL A salvaguarda do patrimônio imaterial é um recurso para a proteção de um bem que é mutável – o bem imaterial. É composta por medidas que buscam perpetuar a continuidade do patrimônio cultural imaterial a partir da preservação, identificação, documentação, promoção, proteção, valorização obtidas por meio da educação e da revitalização do patrimônio. 09.1. IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS: Identificamos alguns problemas relativos ao patrimônio cultural Pastel de Farinha de Milho. Entre eles: •

A dificuldade que os pasteleiros tem de passar as técnicas e receitas do pastel para seus filhos e dar continuidade no comércio. Segundo o Sr. Claudinei, em geral, os filhos dos proprietários dos pontos de carrinho não querem continuar a atividade dos pais.

A preocupação que os pasteleiros tem em perpetuar a atividade porque eles nunca sabem se surgirão novos interessados em adquirir os pontos e perpetuar a profissão de pasteleiro.

A falta de apoio da prefeitura no que se refere à estrutura de funcionamento das barracas como fornecimento de luz e água.

A falta de reconhecimento da atividade em relação ao poder público.

Poucos recursos para a propaganda do produto.

A festa realizada pela ASSEASAPA no aniversário da cidade acontece sem recursos municipais e é o único meio de divulgação do Pastel de Farinha de Milho.

09.2. DIRETRIZES PARA GESTÃO E MANUTENÇÃO DAS ATIVIDADES O Pastel de Farinha de Milho é um patrimônio cultural de Pouso Alegre e seu modo de fazer precisa ser preservado. Para isso, há diretrizes de salvaguarda do bem imaterial:

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Preservação da atividade por meio de incentivos, divulgação e educação patrimonial.

Buscar junto ao poder público o apoio para facilitar, apoiar e capacitar os pasteleiros para o melhor funcionamento das barracas e dos carrinhos nas ruas de Pouso Alegre, como o fornecimento de água e luz, alvará de funcionamento, diretrizes de produção e da vigilância sanitária;

Incentivar a iniciativa da ASSEASAPA de criar um carrinho padronizado;

Buscar junto ao poder público o reconhecimento da atividade de pasteleiro como perpetuador de um dos patrimônios culturais da cidade.

Nossas sugestões são: •

Criação de concursos de pasteleiros;

Criação de festas com a presença das barracas de pasteleiros;

Palestras para ensinar os pasteleiros a preparar o pastel com a higiene exigida pelas normas da vigilância sanitária;

Criar normas de produção que garantam a qualidade do pastel vendido;

Incentivo financeiro da prefeitura na aquisição dos carrinhos segundo os moldes da ASSEASAPA;

Implementação do Programa de Valorização do Pastel de Farinha de Milho.

09.3.

VALORIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COM CRONOGRAMA DE AÇÕES A SEREM IMPLEMENTADAS

A Prefeitura Municipal de Pouso Alegre criou o programa de valorização do Pastel de Farinha de Milho para a criação de formas de divulgação e fortalecimento do produto como fomentador de turismo, emprego e renda no município.

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2° Trimestre

3° Trimestre

Educação patrimonial voltada à valorização do Pastel

Criação de concursos de pasteleiros

Fornecimento de água e luz,

Concessão alvará de funcionamento

Criação de diretrizes de produção

Aplicação das diretrizes de produção

Palestras explicando as diretrizes de produção

de Farinha de Milho

Manutenção da Festa do Pastel no aniversário da cidade

Incentivar a aquisição dos carrinhos nos moldes da ASSEASAPA

4° Trimestre

1° Trimestre

4° Trimestre

Implementação do Programa de Valorização do Pastel

3° Trimestre

2012

Ações

2° Trimestre

1° Trimestre

2011

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10. DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 01‐ Pastel de Farinha de Milho exposto na estufa da barraca Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 02‐ Barraca de venda do Pastel de Farinha de Milho. Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 03‐ Barraca de venda do Pastel de Farinha de Milho.Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 04‐ Barraca de venda do Pastel de Farinha de Milho. Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 05‐ Box de venda do Pastel de Farinha de Milho no Mercado Municipal. Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 07‐ Milho em processo para ser moído Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 06‐ Pastel de Farinha de Milho exposto na estufa do Box no Mercado Municipal. Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 08‐ Farinha sendo cozida para se tornar farinha biju Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 09‐ Farinha de milho biju Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

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FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 10‐ Cozinha de uma pasteleira Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 11‐ Detalhe da mistura das farinhas Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

Foto 14 ‐ Massa misturada e homogênea Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 13 ‐ Pasteleira misturando a massa Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

Foto 15 ‐ Massa sendo retirada da máquina de abrir Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

LILIANE CORRÊA

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Foto 12‐ Mistura com égua fervente no misturador elétrico Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 16 – Pasteleira colocando o recheio Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 17 – Pasteleira fechando os pastéis Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 18 – Pasteleira fechando os pastéis Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

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FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 20 ‐ Pastel de queijo sendo destacado do corpo da massa Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 19 ‐ Pastel de carne sendo destacado do corpo da massa Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

Foto 21‐ Pasteleira com os pastéis já cortados Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 23‐ Pastéis de queijo empilhados Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 22 ‐ Pastéis de carne empilhados Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

Foto 24 – Pastéis armazenados para serem fritos no carrinho. Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 25 ‐ Tacho de cobre onde são fritos os pastéis no carrinho em frente a Rodoviária Município de Pouso Alegre – MG ‐ Dezembro/ 2010

Foto 26‐ Pastéis sendo fritos Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 27 – Pastéis sendo retirados do tacho Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

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FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 28 – Consumidores degustando a iguaria Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

Foto 29‐ Pastéis fritos expostos Município de Pouso Alegre – MG Dezembro 2010

Foto 30 ‐ Pastéis fritos expostos Município de Pouso Alegre – MG Dezembro/ 2010

FOTOS DO PASTEL DE FARINHA DE MILHO – DATA DEZEMBRO DE 2010

LILIANE CORRÊA

Foto 31 ‐ Pastéis fritos expostos Município de Pouso Alegre – MG

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11. REGISTRO AUDIOVISUAL

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12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, Waldemar de. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997. CARRARA, Ângelo Alves. Mineração, produção rural e espaços urbanos em Minas Gerais: 1808‐1835. Disponível em <https://www.cedeplar.ufmg.br/seminarios/seminario diamantina/2006/D06A085.pdf.> Acesso em 20 out. 2008, 12:00. CIA do pastel: a história do pastel. Disponível em < http://www.ciadopastel.com/historia_do _pastel.php> Acesso em 20 out. 2008, 14:15. CONEXÃO

ITAJUBÁ.

Gastronomia

Típica.

Disponível

em

<

http://www.conexaoitajuba.

com.br/itajuba/Pagina.do?idSecao=40> Acesso em 23 out. 2008, 16:10. DUARTE, Ana Alice Miranda. “Os Cadastros Antigos das Américas (Incas, Astecas e Maias)”. COBRAC 2004. Congresso Brasileiro de Cadastro Técnico Multifinalitário. UFSC Florianópolis. 10 a 14 de Outubro 2004. Disponível em <http://geodesia.ufsc.br/Geodesia‐online/arquivo/cobrac_2004/002.pdf> Acesso em 12 out. 2008, 14:15. Enawenê Nawê: as roças. Disponível em <http://www.arara.fr/BBTRIBOENAWENE.html> Acesso em 14 out. 2008, 12:40. FIGUEIRA, Thais Rezende e Silva Figueira. A origem do milho: a identificação de Saccharum como um de seus prováveis parentais. (Tese de Doutorado) Tese apresentada ao Instituto de Biologia para obtenção do Título de Doutor em Genética e Biologia Molecular na área de Genética Vegetal e Melhoramento. Campinas: UNICAMP, 2007. FREIRE, Gilberto. Casa grande e senzala. Rio de Janeiro: Ed. José Olimpio, 1961. JONES, John. “Early origins of maize in Mexico”. American Society of Plant Biologists. Disponível em <http://www.eurekalert.org/pub_releases/2008‐06/asop‐eoo062308.php> Acesso em 12 out. 2008, 19:00.

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transgênicas.

SeedNews

Revista

Internacional

de

Sementes.

Disponível

em

<http://www.seednews.inf.br/ portugues/seed62/milho62.shtml> Acesso em 8 out. 2008, 12:00. PERONI, Nivaldo. “Ecologia e genética da mandioca na agricultura itinerante do litoral sul paulista: uma análise espcial e temporal.” Tese apresentada ao Instituto de Biologia para obtenção do título de Doutor em Biologia Vegetal. Universidade Estadual de Campinas: Campinas, 2004. PORTAL Minas Gerais. Pastel de angu: história e receita. Disponível em <http://www.portalminasgerais. com.br/culinaria/itabirito.htm> Acesso em 20 out. 13:00. PRIORE, Mary Del; VENÂNCIO, Renato. Uma história da vida rural no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

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13. ANEXOS A. FICHA TÉCNICA MGTM Ltda. Av. Prudente de Morais, 135 5º andar ‐ Cidade Jardim Tel/fax. (31) 3503 ‐ 5900 Belo Horizonte – MG mgtm@mgtm.com.br

CONSULTORIA TÉCNICA Coordenação Geral: Rogério Stockler de Mello Coordenação Técnica

___________________ Isabella Corrêa Dias Arquiteta e Urbanista – CREA: 91235/D Equipe Monica Guimarães M. S. Marinho Arquiteta e Urbanista | CREA: 98.109|D Raquel Eugênia Nasser Santos Assistente em História

LEVANTAMENTO | DATA: Agosto de 2010 Isabella Corrêa Dias Arquiteta e Urbanista – CREA: 91235/ D MGTM Ltda. ELABORAÇÃO | DATA: Outubro de 2010 Isabella Corrêa Dias Arquiteta e Urbanista – CREA: 91235/ D MGTM Ltda. ASSESSORIA TÉCNICA| DATA: Outubro de 2010 Isabella Corrêa Dias Arquiteta e Urbanista – CREA: 91235/ D MGTM Ltda Amanda Auxiliadora Siqueira Assistente Administrativo REVISÃO | DATA: Janeiro de 2011 Equipe de Coordenação Técnica MGTM Ltda.

Liliane Faria Corrêa Pinto Historiadora MGTM Ltda.

Liliane Faria Corrêa Pinto Historiadora MGTM Ltda.

Mônica Guimarães M. S. Marinho Arquiteta e Urbanista – CREA: 98.109 | D MGTM Ltda Raquel Eugênia Nasser Santos Assistente em História

Prefeitura Municipal de Pouso Alegre

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B. PARECER TÉCNICO O registro de um bem imaterial é um recurso para a sua proteção, preservação, divulgação, valorização e incentivo. As comunidades buscam registrar seus traços culturais para garantirem a preservação das tradições que caracterizam a identidade daquele povo. Em Pouso Alegre, o Pastel de Farinha de Milho é um dos elementos que identificam o povo pousoalegrense. Há o costume de prepará‐los em casa, mas a tradição mais presente é comê‐los nas ruas e no mercado, comprados dos pasteleiros espalhados por toda a cidade. A tradição está também entre os pasteleiros que aprendem a preparar o pastel com o vendedor da banca ou do ponto. A relação entre os pasteleiros e a relação entre o consumidor e o pasteleiro são as principais características dessa tradição que identifica o pousoalegrense. Não basta saber fazer o pastel e fazer para servir em casa, em Pouso Alegre o pastel é um instrumento de união da população. O processo de construção desse patrimônio imaterial passa pelo ensinamento do preparo da iguaria entre os pasteleiros que vendem os pastéis de farinha de milho nas ruas da cidade e, também, pelo ato de comprar e degustar os pastéis nos carrinhos que ficam espalhados pelas ruas da cidade. O povo pousoalegrense se orgulha desse modo de fazer e dessa iguaria que aclamam como sua e como representante de sua identidade alimentar e histórica. Enfim, é importante o registro do Pastel de Farinha de Milho de Pouso Alegre e de sua característica de venda por meio dos pasteleiros para sua proteção na comunidade, seu incentivo, tanto para a produção e consumo, como para a sua divulgação, sua valorização como patrimônio da cidade e a identificação entre os consumidores de estarem vivenciando um ato tradicional que os remetem à identidade pousoalegrense. Nesse sentido, o Pastel de Farinha de Milho é um patrimônio cultural de Pouso Alegre e merece um registro. Belo Horizonte, 14 de Novembro de 2010 Liliane Faria Corrêa Pinto Historiadora ‐ CPF 037923286‐31 Isabella Corrêa Dias Arquiteta e Urbanista ‐ CREA 91.235/D

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C. PARECER DO CONSELHO EM ANECO O PARECER DO CONSELHO.

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D. ATA DE APROVAÇÃO PROVISÓRIA EM ANEXO A ATA DE APROVAÇÃO PROVISÓRIA.

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E. NOTIFICAÇÃO / COMUNICAÇÕES E RECIBOS EM ANEXO A NOTIFICAÇÃO E O RECIBO.

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F. ATA DE APROVAÇÃO DEFINITIVA EM ANEXO A ATA DE APROVAÇÃO DEFINITIVA.

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G. CÓPIA DO DECRETO OU HOMOLOGAÇÃO DO REGISTRO EM ANEXO A CÓPIA DECRETO DO REGITRO.

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H. INSCRIÇÃO DO LIVRO DE REGISTRO EM ANEXO A INSCRIÇÃO NO LIVRO DE REGISTRO.

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I. PUBLICAÇÃO DO DECRETO OU HOMOLOGAÇÃO DO REGISTRO EM ANEXO A PUBLICAÇÃO DO REGISTRO DO BEM.

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