Revista Escola Adventista

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escola adventista ano 18 I volume 31

revista

abj notícias

esporte e educação

interdisciplinaridade pode servir de estímulo a novas práticas e programas mais flexíveis dentro e fora da sala de aula

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entrevista

artigo

ensino

desmistificando os jogos pedagógicos

Ellen G. White e a literatura

a (boa) alternativa do ensino privado


InteratIvo e f l e x í v e l como o conhecimento

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Do autor Ă sala de aula

e s t a m o s e n v o lv i d o s

e comprometidos com a construção

do verdadeiro conhecimento, o crescimento pessoal e a cidadania.

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05 - educação em foco

ideias e fatos que marcaram a educação dentro e fora da escola

08 - entrevista brincadeira que ensina

14 - artigo pós-modernismo e os desafios em sala

19 - reportagem educação padrão Fifa

23 - artigo Milton

Ellen G. White e o ensino de literatura

29 - reportagem a (boa) alternativa do ensino privado

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34 - como fazer dicas de atividades pedagógicas para sala de aula

36 - estante

livros que podem fazer a diferença em sala de aula

39 - reportagem na pauta da aula

44 - coluna

as características intelectuais dos professores

46 - coluna o professor, o texto e o contexto

48 - white responde conselhos práticos de Ellen G. White sobre educação


vida nova Caro leitor,

Editor: Prof. Dr. Luis Fernando Assunção Coordenador de produção: Prof. Ms. Rodrigo Follis Editora associada: Anne Seixas (aluna jornalismo) Reportagem: Karine Dias (aluna jornalismo) Curso de Pedagogia: Prof. Dra. Gildene do Ouro Silva Curso de Publicidade e Propaganda: Prof. Dr. Martin Kuhn Curso de Jornalismo: Prof. Dr. Ruben Holdorf Dargã Programação Visual: Fábio Roberto Assistente de Arte e Publicidade: Wallace Neves (publicidade) Ilustrações: Felipe Carmo Revisão: Ingrid Lacerda, Julie Marques Revista Escola Adventista é a revista laboratório do curso de jornalismo produzida semestralmente em parceria com os cursos de pedagogia e de comunicação social do Unasp através da Unaspress. Embora o periódico apresente uma variedade de tópicos pertinentes à educação adventista, as opiniões expressas pelos escritores não representam necessariamente a visão da editora ou mesmo a posição oficial do Unasp.

www.unaspress.unasp.edu.br unaspress@unasp.edu.br CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO (UNASP) Administração da entidade mantenedora (Ucb) Presidente: Domingos José de Souza; Secretário: Emmanuel Guimarães; Tesoureiro: Élnio Álvares de Freitas | ADMINISTRAÇÃO GERAL DO UNASP Reitor: Euler Pereira Bahia; Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e EAD: Tânia Denise Kuntze; PróReitora de Graduação: Sílvia Cristina de Oliveira Quadros; PróReitor Administrativo: Élnio Álvares de Freitas; Secretário Geral: Marcelo Franca Alves | CAMPUS ENG. COELHO Diretor Geral: José Paulo Martini; Diretor Acadêmico: Afonso Ligório Cardoso; CAMPUS SÃO PAULO Diretor Geral: Hélio Carnassale; Diretor Acadêmico: Ilson Tercio Caetano | FACULDADE DE TEOLOGIA Diretor: Emilson dos Reis; Coordenador Acadêmico: Ozeas Caldas Moura | FACULDADE ADVENTISTA DE HORTOLÂNDIA Diretor Geral: Euler Pereira Bahia; Diretora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Tânia Denise Kuntze; Diretora de Graduação: Sílvia Cristina de Oliveira Quadros

Você tem em mãos uma nova proposta da Revista Escola Adventista. Com um design gráfico diferenciado, a revista está mais leve, mais arejada, mais aprazível. A nova proposta privilegia os espaços em branco na diagramação, os textos em duas colunas e a valorização de imagens e ilustração. Tudo para que você tenha mais conforto no manuseio e leitura. Além do novo visual, a sua revista também está privilegiando os textos informativos, através de reportagens e um menor número de artigos opinativos. As tradicionais seções de White Responde e as colunas fixas dos professores Joubert Perez e Adolfo Suarez permanecem e foram revigoradas. As colunas foram agrupadas em um local específico, as últimas páginas, para reforçar a sua identidade na publicação. Mas a principal modificação é a participação do curso de jornalismo na formulação da linha editorial e gráfica da revista, realizada em parceria com a Unaspress e com os cursos de Pedagogia e Comunicação Social. Os alunos do curso terão papel fundamental na confecção da revista, através de pautas, de fotografias ou de reportagens. Esperamos que você, leitor, aprecie as mudanças.

Prof. Dr. Luis Fernando Assunção, Editor

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equipe incansável 2

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O processo de produção jornalístico nem sempre é percebido pelo leitor. Mas desde a discussão de pauta até o último retoque da diagramação, muitas fases se entrelaçam. E nelas, os inevitáveis imprevistos. Correr atrás de uma foto de última hora, editar (e reduzir) o tamanho de um artigo extenso demais para os padrões da revista ou o ajuste de detalhes menores, mas não menos importantes, como a legenda da foto, o tamanho da ilustração ou a tonalidade das cores são apenas alguns dos percalços encontrados pelo caminho da confecção da revista. No final, sobram sorrisos e alívio. Depois de tudo isso, o produto está pronto para ser distribuído. E esse é o prêmio principal para uma equipe (foto acima) que trabalhou incansavelmente para que uma excelente revista chegasse nas mãos do leitor.

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Anne Seixas aluna-editora assistente

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Rodrigo Follis professor de comunicação social

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Felipe Carmo redator e ilustrador

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Giulia Pradela aluna-revisora de normas técnicas

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Emilly Mauriz aluna-revisora de normas técnicas

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Ingrid Lacerda aluna-departamento de traduções

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Jonatan Solar aluno-departamento de vendas

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Karine Dias aluna-repórter

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Wallace Neves aluno-departamento de artes

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Gabriel do Valle aluno-departamento de pesquisas

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Vinícius Aguiar aluno-revisor de normas técnicas

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Luis Fernando Assunção professor de jornalismo

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Fábio Roberto diretor de arte


educação em foco

por Alysson Huf aluno de jornalismo

ideias e fatos que marcaram a educação dentro e fora da escola

mais alunos, menos professores O número de alunos nas universidades federais brasileiras dobrou nos últimos dez anos e superou a marca de um milhão de matrículas em 2013. Os dados são do Censo da Educação Superior do governo federal realizado no ano passado. O levantamento, no entanto, aponta que o número de professo-

res não cresceu na mesma proporção e quase um terço das obras de infraestrutura não foram terminadas. Embora a demora gere reclamações de alunos e professores em vários campi, o Ministério da Educação se defende afirmando que o ritmo das obras é compatível com a oferta de vagas e matrículas. escola adventista - ano 18 - volume 31

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educação em foco

mimo à presidenta

agressões na escola O II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), revelou que 13% das crianças e adolescentes sofrem bullying no ambiente escolar. As meninas são as mais afetadas pelo problema. Entre elas, 13,8% relataram já ter sido alvo da prática, enquanto entre os meninos a parcela é de 12,1%. O tipo mais comum em ambos os sexos foi a agressão verbal, que inclui intimidação, ofensas, humilhações e uso de apelidos inadequados. A pesquisa aponta que o bullying na infância pode aumentar a predisposição à depressão e ao uso de drogas na vida adulta.

A presidenta Dilma Rousseff ganhou um exemplar do livro O grande conflito e uma colcha de retalhos produzida por alunos do 5º ano do Colégio Adventista de Gravataí, no Rio Grande do Sul. O presente foi entregue pela turma, juntamente com a professora Nara Korschner, no dia 11 de abril, em Porto Alegre. A colcha foi confeccionada durante o projeto “Valorizando Gerações”, que visava incentivar a valorização da terceira idade pela geração atual. Ao entregarem os presentes, os alunos pediram à Dilma que dê atenção especial aos idosos do município.

prêmio de melhor ensino O Colégio Adventista de Teófilo Otoni (MG) recebeu em abril o prêmio Philadelphia de melhor instituição de ensino infantil e básico. A premiação reconhece empresas, personalidade e entidades que se destacaram na cidade. Estiveram presentes no evento de entrega da premiação a diretora da escola Vera Kefler, o administrador Julimar Barroso, a orientadora Claudenice Caudeira, a coordenadora Neide Pires e o pastor Jovan Almeida.

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educação em foco

anotações no papel ainda são mais eficentes

Em Campinas (SP), 70% dos alunos de escolas municipais, estaduais e particulares estão insatisfeitos com o ruído dentro da sala. Os dados são de pesquisa da Unicamp envolvendo 700 estudantes entre 6 e 14 anos. Para 99,2% dos es-

tudantes, as maiores fontes de barulho são os próprios colegas. Cerca de 60% dos entrevistados afirmaram que o ruído “atrapalha a fazer a lição” e 6,5% relataram dor de ouvido. O barulho pode afetar a audição em longo prazo.

Um estudo publicado na revista Psychological Science indica que é melhor fazer anotações no papel do que em computadores. Na pesquisa, uma palestra foi mostrada a estudantes, que fizeram suas anotações do jeito que acharam melhor. Os testes revelaram que o uso do computador leva o estudante a apenas transcrever o que está sendo ouvido, em vez de refletir o assunto. Já o uso do papel e da caneta força o estudante a se concentrar mais e reformular o conteúdo.

metas para a educação

competição de números

docentes preparados

O Plano Nacional de Educação (PNE) foi aprovado no dia 6 de maio por uma comissão especial da Câmara de Deputados. A proposta ainda será analisada pelo plenário. Em tramitação há quatro anos, o PNE define 20 metas para a Educação para a próxima década. Entre elas, universalizar a educação fundamental de nove anos, aumento do número de mestres e doutores, expansão do estágio e da inclusão de minorias nas escolas.

A 9ª edição da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) entregou medalhas de ouro, de prata e de bronze a seis mil estudantes. Dos 18,7 milhões de estudantes que participaram do projeto, 38.836 receberam menção honrosa. A Obmep acontece desde 2005 e serve de estímulo ao estudo da matemática. A cada ano 30 medalhistas de ouro são enviados para competições internacionais.

Levantamento feito pelo movimento “Todos Pela Educação” mostrou que 95,3% dos professores do Ensino Médio das redes de ensino do Brasil têm curso superior. Destes, 77,9% possuem licenciatura, mas menos da metade (48,3%) têm licenciatura específica. Nos anos finais do Fundamental, a taxa chega a 67,2% de docentes despreparados. As regiões Sul e Sudeste apresentam o maior número de professores formados adequadamente: 58%.

ruídos na sala

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entrevista

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entrevista

brincadeira que ensina a pesquisadora Franscimara de Oliveira defende que os jogos pedagógicos necessitam de planejamento e embasamento teórico para funcionar efetivamente Thiago Basílio aluno de jornalismo

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A pesquisadora Franscimara de Oliveira é uma entusiasta da utilização dos jogos pedagógicos em sala de aula. Doutora em psicologia educacional pela Unicamp e professora do curso de pedagogia da Universidade Estadual de Londrina, Francismara lembra que o jogo está presente em nossa vida e deve ser usado sem preconceito. Ela critica a ideia de que o recreio é o momento do brinquedo e a sala de aula o do estudo. “O jogo não se dissocia da condição de aprender”, acredita. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

Revista Escola Adventista - Li recentemente uma frase interessante que dizia o seguinte: “A estimulação, a variedade, o interesse, a concentração e a motivação são igualmente proporcionados pela situação lúdica”. Atualmente se prega principalmente no âmbito educacional a teoria do “se aprende brincando”. Qual é o real significado do “lúdico” no ambiente escolar? Francismara Neves de Oliveira - Nós precisamos pensar no sujeito da aprendizagem, precisamos pensar quem é essa criança, esse adolescente que está no processo de aprendizagem. E, para o desenvolviescola adventista - ano 18 - volume 31

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entrevista

mento, a relação entre o lúdico, o aprender, o construir e o realizar são quase que diretas. É próprio da criança e do desenvolvimento dela brincar, mas também é próprio do adulto. As formas de jogo se modificam, mas jogar, brincar, atuar e representar são formas de relação com a vida. Neste sentido, não tem como a escola prescindir da condição do brincar, do jogar. REA - Quando e como os jogos pedagógicos são pertinentes para sala de aula? Francimara - Eles são sempre pertinentes. Precisamos entender que existe uma condição de planejamento, de realização de embasamento teórico que vai permitir a utilização do jogo pedagógico. Não é apenas tê-los em sala de aula. Não adianta apenas oportunizar ao sujeito o contato com o jogo, porque o jogo por si só não provoca o desenvolvimento e a aprendizagem que a criança precisa ter. O jogo tem a capacidade de suscitar interesse por meio das interações que este provoca. Mas precisamos atuar pedagogicamente diante do jogo. Então o que torna este jogo pedagógico é o tipo de intervenção e como ele é usado no contexto escolar. REA - Muitas vezes existe um momento distinto na cabeça dos alunos do “brincar” no recreio ou nas aulas de educação física. Até que ponto essa ideia de que “o recreio foi feito para brin-

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car e a sala de aula foi feita para estudar” atrapalha para que o conceito e a eficácia dos jogos em sala de aula sejam atingidos em sua forma plena? Francimara - Eu acredito que atrapalha bastante. Nós temos uma organização escolar rígida, onde se acredita que o aprender não pode ser prazeroso, é como se aquilo que é prazeroso não pudesse gerar aprendizagem. Isso é uma contradição historicamente construída, está arraigada no universo escolar. Há uma resistência de educadores de todos os níveis de escolaridade, das famílias que, algumas vezes, não aceitam essa questão do “brincar”, porque acreditam que a criança esteja perdendo tempo quando deveria estar aprendendo e pensando. Mas quando nós observamos o jogo nessa completude, de que ele compõe o desenvolvimento da criança, do adolescente e do adulto, de que ele têm elementos que engendram uma construção cognitiva, social e afetiva, percebemos que o jogo não se dissocia da condição de aprender. Assim, essa dicotomia, momento do jogo e o momento da aprendizagem, não se sustenta. Quando analisamos as teorias que embasam o trabalho pedagógico e que observam a importância do brincar no desenvolvimento infantil percebemos que as teorias que você apontou, e que realmente

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estão inseridas no contexto escolar, são frutos do senso comum. Senso que vai de encontro com as pesquisas que atestam a relação entre jogo e educação. REA - O jogo pedagógico é necessariamente comprado, adquirido já pronto? Francimara - Não. Não mesmo. Ele é produzido, inventado, reproduzido e é trabalhado com os mais diversos tipos de materiais. Não está no objeto, nem no jogo em si as fontes de aprendizado, mas nas relações que os sujeitos vão estabelecer com este objeto de conhecimento. Então os materiais mais diversos podem ser incorporados na produção de um jogo, dissipando a ideia de que este seria para as escolas que possuem mais recursos. Além disso, nós temos outra questão: os jogos mais caros hoje, presentes no mercado, estão empobrecidos em diversos aspectos devido à industrialização. Além de segregar e deixá-lo restrito a algumas famílias, estes já vêm prontos e exigem pouco da interação com o brinquedo, o que não é nada interessante para a proposta que a gente faz em relação ao jogo. O material pode ser o mais rico possível, inclusive o corpo da criança, e o primeiro elemento de jogo é o próprio corpo. Existem várias possibilidades de construção de instrumentos para trabalhar o lúdico.


Entrevista

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Entrevista

REA - A senhora comentou que existem muitas ofertas de jogos e que a maioria deles, embora se intitule como “jogos pedagógicos”, estão nas prateleiras apenas por uma questão mercadológica. Como o professor pode fazer essa distinção do que é pedagógico e o que não é? Francimara - Todos os jogos podem ser anunciados como pedagógicos, mas o que precisa ser pedagógico é o olhar e a postura do professor. Não basta estar escrito na caixa do jogo “jogo pedagógico” por que isso é uma estratégia de marketing, mas o professor, pode transformá-lo se tiver uma postura tal, ainda que aquele material tenha uma proposta não pedagógica, . O embasamento teórico do jogo junto ao olhar do professor é necessário. É uma falácia pensar que o jogo é algo que pode ser trabalhado de qualquer maneira, o que acaba por desvalorizar o método. Há dois erros fatais. O primeiro é pensar que o jogo pode consertar a educação e substituir todo o material didático já existente em nossas escolas. O segundo é o extremo oposto do primeiro, restringir o jogo a apenas um ambiente, âmbito ou momento específico, deixando de contemplar toda a complexidade que é o desenvolvimento humano. A partir dessa ponderação, é preciso olhar para o jogo com uma postura mais pedagógica.

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REA - O jogo está presente na vida de todos sempre. E na área de educação é facil perceber que existe um foco maior na educação infantil, ou seja, no ensino fundamental I. Mas funciona com os alunos de fundamental II e até mesmo no ensino superior? Francimara - Funciona. O jogo está em todos os momentos do ciclo vital. Pesquisas estão sendo feitas com grupos de idosos e os resultados são fantásticos. O jogo serve em todas as dimensões, ele não tem uma relação de classe econômica e nem de idade, ele não tem barreiras. Ele pode e deve ser trabalhado em todos os níveis de desenvolvimento. Um pouco disso que você coloca, mesmo no contexto educacional, tem a ver com o fato de que a psicologia geralmente enfatiza o estudo sobre a criança e o adolescente. As teorias desenvolvidas no século 20 enfatizaram mais esse tipo de estudo. É bem recente pesquisa voltada para a gerontologia, ou seja, estudos sobre o idoso, e também para a vida adulta. REA - Como fazer com que a competição se torne algo positivo e não negativo? Francimara - Em primeiro lugar a gente tem que reconhecer que a competição é algo importante, ela faz parte da vida e está presente no nosso cotidiano. O que nós não podemos é negá-la, e sim trabalhar com ela. Se a gente

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consegue entender que as crianças são mais competitivas quando são mais egocêntricas e esse egocentrismo é uma característica do desenvolvimento que ela está vivenciando, nós atenuamos o peso moral que damos para a competição. Mas também é preciso trabalhar o sujeito para além do que ele tem. A gente não quer que ele continue assim, mas que ele evolua e cresça. Não podemos levar a cooperação e a competição para os extremos. Tanto não iremos alcançar a cooperação, porque em algum momento seremos competitivos, como podemos forçar com que nossos alunos parem de buscar o crescimento. REA - Quais os erros comuns cometidos por professores dentro de sala de aula? Francimara - O primeiro erro é ter o dia específico para o brincar, fazendo uma cisão entre o aprender e o brincar. A segunda é a falta de preparo, pois para trabalhar com o jogo é preciso estudar o jogo, o que deve ser um trabalho intencional do professor. E essa intencionalidade é garantida com base no adensamento teórico. O professor precisa ter competência teórica e muitas vezes não é isso que acontece e por uma série de razões. E uma terceira questão que eu apontaria é que a escola ainda não entendeu o valor do jogo, ele ainda é visto como um apêndice, algo de menor importância.


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artigo

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artigo

pós-modernismo e os desafios em sala a apreensão de conceitos pós-modernos pode ser útil em sala de aula e deve ser utilizado pelo professor como forma de aproximação com o aluno Luis Fernando Assunção

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Os alunos de hoje entram na faculdade mais novos e estão tremendamente mais suscetíveis aos encantos do mundo. A pósmodernidade trouxe uma enxurrada de opções e tornou a vida muito mais interativa com as novas tecnologias, por exemplo. Basta um toque no celular para descrever a aventura passada alguns minutos atrás. Somente um clique pode enviar instantaneamente uma foto dos amigos e, mais, postá-la no mesmo instante no perfil da rede social que será vista por milhares – talvez milhões – de pessoas. Que jovem não gostaria de participar e estar inserido em tal interação?

Mas para entendermos o atual momento pós-moderno precisamos retroceder dois séculos no tempo. O modernismo edificou-se em conceitos filosóficos. A autonomia do ser humano, a valorização da ciência, o tecnicismo e o racionalismo foram marcas do modernismo, concebido especialmente a partir do iluminismo, nos séculos 17 e 18. O ser humano passou a apregoar a sua autonomia, a sua capacidade de domínio das coisas, sendo as leis da natureza o único parâmetro da natureza. “Penso, logo existo”, resumiu Descartes. A razão humana passou a se basear especialmente na ciência, provendo conhecimento cada vez maior do mundo natural, escola adventista - ano 18 - volume 31

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Artigo

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da natureza do ser. Enfim, o poder humano sobre a natureza, bem realçado pelo tecnicismo. Via conhecimento científico, a tecnologia seria capaz de não apenas manipular, mas também controlar os movimentos da natureza, garantindo a supremacia do ser humano moderno. Assim, a sociedade estaria mais organizada, mais sustentável economicamente. E as pessoas viveriam melhor. Bastaram algumas décadas para que os conceitos de ser humano autônomo e do cientificismo e tecnicismo fossem sugados por novos movimentos. Antes mesmo da metade do século 20 surgiram nomes que dariam forma a um novo conceito, como Jean-François Lyotard, Jacques Derrida, Jürgen Habermas e Michel Foucalt. Em A condição pós-moderna, Lyotard cunhou o termo que viria ditar rumos da sociedade nos anos posteriores. As mudanças paradigmáticas no modo de pensar a sociedade, os avanços do capitalismo e a aceleração tecnológica na comunicação, artes e genética também impregnaram o conceito à sociedade. A gênese do pós-modernismo sepultou ideias de harmonia social e utopia econômica inicialmente propostas por pesquisadores sociais como Karl Marx. O conceito se prestava agora a uma série de transformações tecnológicas impactando na ascensão de novas formas de relações de con-

sumo e de movimentações do capital financeiro, ou seja, uma segunda fase do capitalismo como definiria Frederic Jameson. Guerras mundiais, revoluções, ditaduras, o surgimento do extremismo, deram nova configuração social onde o ser humano já não era mais a figura central. A tecnologia e sua reprodutibilidade técnica também colocavam em xeque a aura da obra de arte, segundo Walter Benjamin, e transformava obras até então únicas em avalanches de exemplares acessíveis a todos. Uma verdadeira cultura de massas. Mas a principal mudança de paradigma a partir da pós-modernidade diz respeito à sociedade. Ao negar que muitos aspectos da realidade são objetivos e a existência de valores absolutos, a pós-modernidade trouxe à tona a relativização de contextos e discursos. Construiu-se, a partir daí, uma visão de que os padrões de moralidade, práticas e crenças de uma determinada cultura não podem ser julgados a partir de um ponto de vista exterior a essa cultura. Um relativismo cultural e um nascimento do pluralismo social que dava voz à visão de mundo e aos interesses de culturas marginalizadas. Para termos uma perspectiva cristã de ensino alinhavada com as possibilidades oferecidas pelo pós-modernismo na educação é necessário, primeiro, adequação

de conceitos. Viver em comunidade é um deles. O surgimento de tribos urbanas, como define Michel Mafesolli, tem como objetivo a formação de grupos com interesses e estilos de vida em comum. Nada mais correto dizer, então, que a comunidade universitária dos estudantes de comunicação – ou de qualquer outro curso – forma uma tribo, com características e nuances próprias. Nesse conceito de comunidade, a cooperação deve superar a rivalidade, o individualismo deve dar lugar à vontade de colaborar. O professor tem papel fundamental e central nessa relação. Então, diante da premente idealização dessa nova geração de alunos, como lidar com conceitos de verdade, a luta entre o bem e o mal a partir do grande conflito, entre outros aspectos tão caros à nossa fé? O pesquisador e professor John Wesley Taylor sugere um esforço concentrado para ajudar os alunos na compreensão do conflito cósmico em que vivemos. Isso poderia ser introduzido ao aluno em forma de pequenos relatos, fazendo ressonância com a mentalidade pós-moderna. Mostrar como essa controvérsia pode atingir sua vida, sempre por meio de ilustrações e diálogos francos nas disciplinas. Mas o primeiro aspecto que devemos pensar é o enfrentamento do medo de não apenas incentivarmos o nosso estudante

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a pensar. Mais do que isso. Formarmos um estudante pensante, que certamente dará importante contribuição para a sociedade e para o próprio cristianismo. A apreensão de conceitos pós-modernos pode ser útil e deve ser utilizado pelo professor para a aproximação com o aluno. Se não há regras absolutas, o aluno precisa saber que há princípios absolutos. O professor Taylor define com precisão a diferença entre princípios e regras. Para ele, os alunos devem compreender que, enquanto as regras se limitam em sua envergadura a circunstâncias e contextos específicos, os princípios incorporam valores universais – mantidos através do tempo, lugar e cultura. Quanto à verdade, por que não não basta ensinar os alunos ape- o professor afirnas a respeitar os diversos grupos mar que Deus étnicos e culturais. Mais do que é confiável e isso: é preciso valorizar a diversida- sua versão é fide. Isso deve ser feito realçando os dedigna? A fatraços e valores culturais comuns libilidade das interpretações humanas às sagradas escrituras também deve estar na ordem de discussões e esclarecimentos pelo educador cristão. Diante do relativismo moral da sociedade, é bem provável que os alunos que cheguem à classe tenham conceitos onde a verdade é relativa e que a Bíblia não passa de um livro de histórias. Mas os fundamentos da fé e da ética cristã precisam estar definidos da forma mais clara e amigável possível para os alunos. A solidez e o valor da verdade ajudam na formação da identidade, do pertencimento, da sensibilidade e do companheirismo. Talvez precisemos ser mais cristãos do que o normal em sala. Passar os conteúdos,

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qualquer professor pode fazer. Dar notas, qualquer professor pode dar. Preencher os diários de turma no final do semestre não parece ser tão complicado. O difícil e desafiador é ser conselheiro, amigo, estar sempre disposto a estender a mão. Esse é o primeiro e grande desafio para o professor diante da relação fé e ensino. Demonstrar em sala, e fora dela, que mais do que professor, estamos ali para conduzir o aluno no caminho certo. Não apenas no caminho da profissão, do mercado de trabalho, dos relacionamentos interpessoais. Mas no caminho a Cristo, no caminho da vida eterna. Por fim, dois aspectos essenciais para a aproximação e a compreensão de nossos alunos. A infalibilidade professoral e a falta de reconhecimento dos diferentes. No primeiro, devemos lembrar dos limites humanos de compreensão e interpretações. Como seres humanos, não somos infalíveis em nossos ensinamentos. No segundo aspecto, não basta ensinar os alunos apenas a respeitar os diversos grupos étnicos e culturais. Mais do que isso: é preciso valorizar a diversidade. Isso deve ser feito realçando os traços e valores culturais comuns. Os professores precisam evitar os estereótipos e a intolerância. E ser uma voz constante em direção aos rejeitados e marginalizados, sempre em conjunto com seus alunos. É assim que eles irão apreender os conceitos de solidariedade, de amizade, de compreensão, de humildade e estarão, por certo, em direção ao caminho de Deus.

* Doutor em ciências da comunicação pela Unisinos e professor de jornalismo do Unasp


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”educação padrão Fifa” um dos maiores eventos esportivos do mundo, realizado este ano no Brasil, serviu de estímulo a novas práticas e programas mais flexíveis dentro da sala de aula Anne Seixas aluna de jornalismo

A Copa do Mundo com certeza marcará o ano de 2014. Não só para os apaixonados por futebol, mas para todo aquele que tem o mínimo de contato com a mídia. Por muito tempo o assunto em pauta não foi outra coisa que não o maior torneio futebolístico do planeta e todos estão aproveitando para usar o tema e torná-lo ainda mais familiar aos brasileiros. Muito se fala sobre o legado que o evento deixará para o Brasil, tendo em vista os gastos altíssimos e pouca expectativa de usabilidade dos espaços pós-Copa. Entre os muitos protestos contra o acontecimento da competição, o grito de muitos era para que os bilhões fossem para a educação, saúde e outros direitos básicos e faltantes do cidadão.

Mas a Copa do Mundo tambem serviu para outros campos sociais. A educação foi um deles. Muitos usaram o evento como uma oportunidade de estímulo para que os alunos se envolvessem com as disciplinas de forma mais prazerosa na sala de aula. Nesse contexto, as escolas tiveram uma oportunidade de pegar um tema de interesse geral e deixar mais atrativo o conteúdo aplicado em sala. Afinal, é mais interessante estudar o diâmetro da bola oficial que apenas um simples círculo, não é mesmo? A interdisciplinaridade foi um dos caminhos de aproveitamento do tema Copa. Quando duas ou mais matérias interagem a fim de que alunos desenvolvam o poder de abstração, escola adventista - ano 18 - volume 31

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criatividade e compreensão do conteúdo de forma mais eficaz. Contudo, é ainda um desafio nas escolas e para os professores colocar esse recurso em prática. Muitos desses educadores não foram preparados em sua formação para, talvez, fugir das linhas do conteúdo programado para o período e inovar para que os alunos entendam e apliquem melhor o que foi passado dentro da sala. E por que não fora dela? Muitas dessas atividades podem e devem ser realizadas em outros espaços. Quando os alunos preparam a ambientação para apresentar o tema estudado, muito da área criativa é exercitada, uma vez que precisam contextualizar e tranformar em imagem aquilo que aprenderam em forma de conteúdo teórico. A coordenação da Escola Adventista de Campos

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dos Goytagazes, no Rio de Janeiro, por exemplo, preparou um material especial para professores da Educação Infantil ao Ensino Fundamental II, como forma de mobilizar os alunos e fazer render ainda mais o conteúdo programático. O plano de Kátia Luiz, coordenadora da unidade, foi envolver as crianças com o tema em pelo menos uma disciplina. As atividades começaram no primeiro bimestre, com a decoração dos corredores e salas de aula. Professoras e alunos usaram a criatividade e as cores da bandeira brasileira para deixar os ambientes com cara de torcida. A partir do segundo bimestre, as atividades diretas se iniciaram e trouxeram os alunos para o mundo da bola. Mas não são somente as atividades esportivas que envolveram o tema da Copa do Mun-


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do. No contexto brasileiro, protestos marcaram a indignação popular com a aplicação de dinheiro acima de todas as outras edições do torneio. Gritos de “Queremos escolas padrão FIFA” ecoaram por muitas cidades em uma das maiores revoluções populares dos últimos anos. Dessa forma, se tornou válido e necessário que professores destinassem espaço para o debate em sala de aula. Para o professor de ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Glauco Barsalini, não existe uma fórmula específica para introduzir o assunto. Contudo, uma vez que o interesse parte dos estudantes, professores podem e devem inserir opiniões. Material para isso é o que não falta. Vídeos, fotos, textos e conteúdos jornalísticos oferecem

visões variadas. Desde o apoio ao evento até o total repúdio, como é visto em veículos alternativos, tudo isso é válido para que todas as perspectivas sejam discutidas e o poder de abstração seja exercitado. No Colégio Unasp, em Engenheiro Coelho, a partir do oitavo ano a discussão de temas como esse chega por conta do maior nível de maturidade e reflexão dos alunos. Nesse caso, segundo a orientadora educacional Nivia Rocco, os alunos são os principais responsáveis por colocar na mesa todos os prós e contras da realização do evento no país. As classes de filosofia e sociologia se tornaram o palco para que as discussões saíssem do lugar comum e atingissem a formação de uma opinião embasada e estruturada. escola adventista - ano 18 - volume 31

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Para as turmas de séries anteriores, os alunos do Colégio Unasp trabalharam em uma feira cultural, onde cada turma se responsabilizou e estudou a fundo uma edição do torneio de futebol. Nivia surpreendeu-se ainda quando as crianças chegaram até ela com informações aprofundadadas e várias curiosidades, tudo pesquisado por conta própria. Fixação mais eficaz O fato de a Copa do Mundo acontecer no País aproxima essa realidade, até então distante, das crianças. A maioria delas está em idade de assistir, de fato, sua primeira competição, de torcer pelo Brasil. Junto a isso, os álbuns de figurinhas unem desde as crianças da educação básica até os professores. Basta um pequeno passeio nos horários de intervalo para ver toda a interação em torno das trocas de figurinhas. A resposta dos alunos não poderia ser melhor, segundo Nivia Rocco. Para ela, quando se insere no contexto educacional um tema tão popular, é natural que a fixação da matéria seja mais eficaz. Transformar carrinhos de controle remoto em jogadores faz com que a movimentação dos corpos e a velocidade aplicada deixem de ser apenas fórmulas de física e se tornem algo que se aplica a realidade deles. Existe ainda o estudo da força do chute que, ao invés de ser estudada por meio de desenhos no quadro negro, acaba sendo avaliada e observada no campo de futebol. Ali, o aluno vê que pode aplicar isso no futebol com os amigos e, mais uma vez, o conte-

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údo se insere no dia a dia. Tudo isso contribui para que as escolas fujam um pouco do conteúdo programático sem prejudicar a qualidade dos itens a serem ensinados. Barsalini defende a adoção de programas em movimento, que integre e valorize a relação entre professores alunos e pais. “Uma escola que cuide exclusivamente de programas pré-estabelecidos, referenciados por ementários e conteúdos programáticos “estáticos”, se nega ao diálogo com a realidade que se faz presente na vida dos alunos, de seus familiares e de seus amigos”, conceitua. Mas tudo isso só se torna possível se professores mostrarem empenho em adaptar seus planos de aula ao que está sendo falado nas ruas. “Nesse sentido, acredito ser imprescindível e fundamental a abertura das instituições de ensino para o “novo” (ainda que esse “novo” - a novidade da copa do mundo - corresponda a uma tradição cultural, como é o caso do futebol), e a disposição do profissional do ensino por desenvolver criativamente, junto aos demais colegas e aos seus alunos, projetos de estudos atuais sobre temas que chamam a atenção ou afetam a vida da comunidade escolar, como é o caso da “paixão nacional” pelo futebol, em plena época de copa do mundo no Brasil”, conclui Barsalini. O objetivo deve ser sempre trazer o aluno para mais perto do conteúdo, familiarizar com o processo de aprendizagem e tornar o período na escola mais produtivo. A interdisciplinaridade e a inserção de temas da atualidade são um recurso válido e possível. Invista!


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Ellen G. White e o ensino de literatura obras de ficção que contribuam para uma maior percepção de realidade e para a expressão mais bela e profunda dos grandes anseios humanos devem ser valorizadas nas escolas adventistas Milton L. Torres

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Apesar de importantes autores adventistas como June Strong, Trudy J. Morgan-Cole e Rafael Escandón publicarem obras de ficção, nem sempre os méritos de seus esforços são devidamente apreciados pelos membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia. De fato, Morgan-Cole (2010) reclama que, por preconceito, certos editores adventistas não permitem que seus livros sejam oficialmente classificados como ficção. Essa hesitação que alguns adventistas demonstram quando se deparam com obras de ficção emana principalmente de sua compreensão de que Ellen G. White, principal voz profética da igreja em seu

período de formação, se oporia a esse tipo de leitura. Em consequência disso, uma pesquisa recente revelou que o uso de ficção em instituições educacionais adventistas continua sendo uma questão bastante controversa, mesmo entre os professores que se dedicam ao ensino da literatura. Quanto à questão do pensamento de Ellen G. White em relação ao uso de obras de ficção por parte de membros da igreja, vale, porém, a observação de Roy Adams de que nós usamos mal os escritos dela quando os empregamos de um modo que ela não aprovaria. O mal uso se torna abuso quando tiramos suas declarações do contexto para apoiar nossas próescola adventista - ano 18 - volume 31

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prias teorias. Assim, sérios problemas surgem quando se deixa de prestar atenção ao tempo, lugar e circunstâncias em que fez determinada afirmação. No entanto, é preciso reconhecer primeiramente que há declarações gerais de Ellen G. White que parecem, de fato, sugerir que certos tipos de ficção são incompatíveis com a espiritualidade dos jovens adventistas: “Apelo aos pais para controlarem a leitura dos filhos. Muita leitura apenas lhes causa prejuízo. Não permitam em suas casas especialmente revistas e jornais onde se acham estórias de amor. É impossível que os jovens possuam saudável disposição mental e corretos princípios religiosos, a menos que apreciem a leitura atenta da Palavra de Deus” (Testemunhos para igreja, v. 2, p. 410). Não se estudava literatura de qualidade nas universidades dos Estados Unidos na época de Ellen G. White. Harvard, em 1876, foi a primeira a nomear um professor de literatura norte-americana, mas a maioria das universidades daquele país não seguiu seu exemplo até a virada daquele século, enquanto que, no Battle Creek College, instituição mantida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, no mesmo período, só se ensinava literatura greco-romana. Por essa razão, o gosto não cultivado ditava as normas de uma ficção sensacionalista, violenta e imoral, em que predo-

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minava uma visão de mundo superficial e cheia de estereótipos. Geralmente se entende por ficção qualquer forma de narrativa que contemple eventos que, no todo ou em parte, não são factuais, mas imaginários ou inventados pelo autor. Apesar disso, há tipos diferentes de ficção. Existe a ficção não realista, que abre mão das conexões que prendem o enredo à realidade, abrindo espaço para a fantasia indiscriminada. Essa categoria compreende obras como Alice no país das maravilhas, O senhor dos anéis, As crônicas de Nárnia e Harry Potter. Há também o que se chama de ficção realista, isto é, narrativas que, embora sejam imaginárias, obedecem às condições que as situam em um contexto próximo ao da realidade. Como exemplos, podem-se mencionar Os três mosqueteiros, Dom Quixote e As aventuras de Tom Sawyer. Finalmente, existe aquilo que se chama de semificção: uma história imaginária escrita com base em fatos verídicos. Isto é, trata-se de uma versão romanceada de algo que, de fato, ocorreu. Nessa categoria, incluem-se, por exemplo, A ciropedia, No tempo das borboletas, Hachiko e Arquipélago Gulag. As declarações de Ellen G. White parecem condenar, indiscriminadamente, mesmo as formas mais brandas de ficção: “O melhor meio de impedir o crescimento do mal é ocupar previamente o

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terreno. Em vez de recomendar a vossos filhos que leiam Robinson Crusoé [ficção realista] ou histórias fascinantes da vida real, como A cabana do pai Tomás [semificção], abri-lhes as Escrituras, e despendei algum tempo cada dia, lendo e estudando a Palavra de Deus” (Conselhos aos pais, professores e estudantes, p.136). Ellen G. White se preocupava tanto com a leitura das crianças que, entre 1877 e 1878, organizou uma coletânea para elas, intitulada Sabbath readings for the home circle. Quando John Waller examinou, porém, o livro, percebeu que ela incluiu nele várias histórias que são consideradas como “ficção” pelos professores de literatura. A Review & Herald de 21 de junho de 1881 faz propaganda do livro e informa que Ellen G. White havia coletado essas histórias a partir de suas extensas leituras de obras destinadas às crianças e jovens. Além disso, ela recomenda, em seus livros, leitura de obras de ficção como, por exemplo, O peregrino. Como harmonizar, portanto, o fato de que ela condene as obras de ficção em alguns de seus livros, mas as use e recomende em outros livros? John Wood escreveu um artigo que revela que Ellen G. White não se opunha tanto à distinção factual versus fictício, mas à forma como uma literatura de pouco valor era veiculada em sua época. Segundo Wood, nos escritos de


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Ellen G. White, a palavra “ficção” deve ser entendida como se referindo à novela de enredo melodramático, vendida em panfletos de baixo custo, cujo público-alvo incluía crianças e jovens. Trata-se do que hoje os estudiosos da literatura chamam de “ficção popular” (pulp fiction). Além disso, na época de Ellen G. White eram amplamente usados os assim-chamados “contos de faroeste” (dime novels), em que predominavam, entre outros aspectos negativos, a violência e o preconceito contra os índios norte-americanos. Ellen G. White sabia o que os jovens deveriam ler ou não ler. Contudo, suas declarações não podem ser entendidas como condenando “ficção” irrestritamente porque sua definição de “ficção” não corresponde à definição técnica de ficção literária. Em 1971, a Conferência Geral autorizou oficialmente o ensino de literatura, com as seguintes recomendações: usar arte séria; evitar sensacionalismo e sentimentalismo; evitar linguagem obscena ou profana; evitar tornar o mal desejável ou o bem trivial; evitar leitura superficial ou frívola; e contemplar a maturidade do indivíduo. Depois de uma minuciosa investigação dos escritos de Ellen G. White sobre a questão da leitura de obras fictícias, Keith Clouten chegou a cinco conclusões principais: não deveríamos esperar que ela fosse mais liberal em sua avaliação dos riscos da leitura frívola do que os pensadores de sua época; as suas referências ao assunto são raras e não constituem nem 3% do montante total de seus escritos; o critério da ficção não era, de fato, um aspecto determinante em sua escolha de obras para a leitura; em nossa época, a preocupação de Ellen G. White encontraria mais ecos

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numa restrição a programas de televisão ou sites da internet do que em qualquer reserva contra obras literárias. Segundo Velez-Sepulveda, há inúmeras razões por que as obras literárias de reconhecido mérito devem continuar a fazer parte do currículo das escolas mantidas pela Igreja, especialmente as de nível superior. Trata-se de uma exigência acadêmica. A própria Ellen G. White afirmou que “no futuro haverá mais premente necessidade de homens e mulheres de qualificações literárias [literary qualifications] do que houve no passado. O intelecto humano necessita de educação literária bem como de instrução espiritual para que se desenvolva harmonicamente; pois sem educação literária os homens não podem ocupar devidamente diversas posições de responsabilidade” (Fundamentos da educação cristã, p. 255). Devemos valorizar as obras de ficção que contribuam para uma maior percepção da realidade e para a expressão mais bela e profunda dos grandes anseios humanos. A Bíblia contém trechos de ficção literária como, por exemplo, o apólogo de Jotão, em Juízes 9:7-15, e, na parábola do rico e Lázaro (Lc 16:19-31), até mesmo Jesus fez uso de ficção. Além disso, a parábola do joio e do trigo (Mt 13:24-30) sugere que nem tudo na vida pode ser tratado como uma questão de completo rompimento com as dimensões mais contundentes da realidade. É preciso entender que há aspectos na existência humana com os quais é preciso lidar de forma gradiente. A literatura contribui para o amadurecimento de nossa visão de mundo. Por outro lado, deve-se buscar o equilíbrio sempre. * Pós-doutor em Estudos Literários pela UFMG e coordenador do curso de tradutor e intérprete do Unasp


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reportagem

A (boa) alternativa do ensino privado uma parcela considerável dos formandos do ensino médio opta por instituições particulares. Cabe ao professor da Escola Adventista preparar seus alunos para fazer uma boa escolha Karine Dias Rodrigo Follis Ingrid Lacerda

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A necessidade do diploma é cada vez mais presente no mercado de trabalho. A quantidade de vagas ofertada pelas instituições de ensino superior pública sempre esteve longe de atender a demanda dos jovens concluintes do ensino médio. Com o aumento das exigências, ocorreu no Brasil uma reestruturção que possibilitou mais oportunidades aos estudantes. Hoje existem 304 estabelecimentos públicos, um número pequeno em comparação aos 2.112 particulares. Juntas essas instituições acolhem os quase 7 milhões de universitários no país. Desse total, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, cinco milhões de

estudantes estão matriculados em estabelecimentos privados, contra 1,7 milhão em públicos. Há quem defenda a forma pública como único meio de obter reconhecimento e uma educação de qualidade. Mas uma pesquisa realizada pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), em 2012, revelou que 93% dos cargos mais importantes das empresas estão nas mãos de estudantes oriundos da educação superior privada. Os profissionais formados em entidades particulares ocupam 95% dos cargos de gerência, 87% de diretoria e 86% de presidência. O ensino superior privado tem o objetivo de suprir a demanda que o mercado pede, já que as vagas escola adventista - ano 18 - volume 31

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disponibilizadas no público não conseguem acolher todos os jovens em idade universitária. A dinâmica de competição entre os próprios estabelecimentos particulares determina o nível de ensino oferecido em cada instituição. Essa realidade aponta para o fato de que uma parcela considerável dos formandos do ensino médio acabará por escolher uma instituição particular de ensino superior. Cabe, portanto, ao professor da Escola Adventista preparar seus alunos para a melhor escolha. Ingresso facilitado Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), em 2012, de cada dez novos alunos matriculados no ensino superior, oito ingressaram no ensino privado. Com a facilidade do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni) as instituições privadas ganharam mais força na década. Em 2010 o Fies passou a atuar com um novo formato. Baixou os juros, aumentou a oferta de bolsas e permitiu aos alunos solicitarem ingresso no programa em qualquer época do ano. De acordo com o MEC, depois da reformulação até o final de 2012, mais de R$ 25 milhões foram financiados pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil. No ano de 2012 o aumento, em relação a 2011, foi de 140%. Já o Prouni beneficiou, entre 2005 e janeiro do ano passado, mais de 1 milhão de alunos, sendo 739.094 bolsas integrais. Só no primeiro se-

mestre deste ano foram disponibilizadas 191.625, um aumento de 18% em relação ao mesmo período do ano passado. Deste total, 40.344 foram destinados para alunos matriculados no ensino à distância. Em 2012, 2.747.089 universitários ingressaram na educação superior no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), o número de concluintes foi de 1.050,413. Atualmente, o governo federal separa 5% do Produto Interno Bruno (PIB) para investir na educação, mas o senado estuda um aumento de dois por cento do investimento disponibilizado. A Conferência Nacional de Educação (Conae) acredita que, para conseguir atender a demanda que ainda existe na educação do país seria necessário elevar essa porcentagem e chegar a 10%. Público ou privado? O diretor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), Campus São Paulo, Hélio Carnassale, aposta no tratamento que a instituição oferece ao aluno para que ele seja bem posicionado no mercado de trabalho. A dedicação e o comprometimento dos professores geram um ambiente de ensino que prepara o estudante para competir profissionalmente. “A reação do mercado aos egressos de nossa instituição é a mais positiva possível. A grande ênfase que damos no desenvolvimento do caráter do ser humano, certamente se torna num diferencial competitivo”, destaca Carnassale. Acreditando nesse potencial, a estudante Natália Berrocá trocou a universidade pública pela particular para escola adventista - ano 18 - volume 31

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concluir sua graduação. Pelos prós e contras avaliados na hora de fazer as escolhas, Natália preferiu a instituição com mais afinidade com seus ideais. “A educação particular me proporcionou maior contato com a realidade das disciplinas, tanto nas aulas práticas como nas teóricas. Os professores são interessados e os projetos são integradores”, avalia a estudante. Já a estudante de jornalismo, Isadora Stentzler trancou a matrícula em uma universidade federal para se aventurar na instituição particular. Ela sentiu necessidade de buscar novas experiências. “Eu tinha muitos professores na federal que eram fantásticos. Pessoas que até hoje mantenho contato, inclusive. Porém o corpo docente do Unasp é composto não só por professores, mas também por amigos. Gente que se preocupa não apenas com suas notas, mas com sua vida também”, reconhece a estudante. O interesse do aluno em crescer no ambiente universitário deve ser construído antes de seu ingresso. É no ensino fundamental que o professor deve começar a se preocupar em preparar os alunos para se tornarem independentes no seu estudo e na busca pelo seu futuro profissional. A estudante de teologia Giulia Pradela afirma que foi na oitava série que ela optou pela continuação do estudo acadêmico. “Foi uma visita feita pela minha escola ao Iasp que me motivou a viver o ambiente universitário, que me pareceu empolgante.” O estudante deve ser o foco do ensino, argumenta o reitor dos três campi do Unasp, Euler Bahia. Ele defende a forma privada pela sua preocupação e a valorização que instituição demonstra ao aluno. “As instituições particulares compreendem melhor que seu aprendiz é o foco do que realizam. Des-

ta forma, o nível de comprometimento dos docentes com o sucesso dos seus alunos se torna imperioso, já que há uma grande disputa pelos estudantes”, explica. O foco dos estabelecimentos particulares não deve ser de concorrer com o ensino público, que tem grandes qualidades e ainda é de graça. Mas o comprometimento com a qualidade tem levado muitas instituições particulares a se destacarem tanto quanto as públicas. Os estabelecimentos públicos são reconhecidos por investir em pesquisa e extensão. O professor do Unasp Tales Tomaz reconhece o valor que pelo menos uma imersão em algum tipo de pesquisa durante a graduação agrega ao aprendizado do aluno. “Conteúdo que se ensina em uma aula facilmente perde valor dependendo da matéria. Então se você aprende pesquisa, você aprende a ter uma postura mais ativa, a ter uma postura diferente em relação ao conhecimento”, valoriza Tomaz. Felipe Carmo, ex-aluno do Colégio Adventista da Vila Yara, conta que um debate científico realizado no seu segundo ano do ensino médio foi importante para despertar o desejo pela pesquisa. Atualmente, ele se prepara para prestar o mestrado. Para o professor universitário Samuel Lima, que já atuou no setor privado e hoje leciona na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB), os dois setores têm suas qualidades, mas, para ser um diferencial no curso, o principal fator é a postura do aluno. “A qualidade final da educação, da formação de um aluno em graduação vai depender, em larga medida, àquilo que chamamos de atitude’’, assegura. E esse valor deve ser construido desde a educação básica. escola adventista - ano 18 - volume 31

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como fazer

por Karine Dias aluna de jornalismo

dicas de atividades pedagógicas para a sala de aula Existem muitas atividades pedagógicas que, ao serem desenvolvidas, contribuem para o aprendizado. Com as crianças, esse tipo de método funciona melhor se for pautado pela ludicidade. Segundo Taís Bonilha da Silva, que atua na área da Saúde Mental, através do brincar, as crianças aprendem muitas coisas a respeito do mundo que as rodeia. Abaixo algumas ideias para colocar isso em prática em sala de aula:

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Circuitos

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Esta atividade envolve motricidade. Faz-se um circuito com almofadas, colchões e banquinhos, os quais a criança deve percorrer. O grau de dificuldade deve ser correspondente com a idade e deve-se estimular a criança a encontrar diversas formas de percorrer o percurso, por exemplo, com um pé só ou com as mãos para cima.

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Rolos com números

Cubos coloridos

Nesta atividade pedagógica que pode ser feita em séries iniciais usa-se aqueles rolinhos de papel higiênico. Eles devem ser pintados pelas próprias crianças e numerados de 1 a 10. A partir daí já é possível trabalhar números de forma lúdica. As crianças são introduzidas aos numerais, quantidades, classificação e ordem.

Trabalham-se nesta atividade as questões de cores, números e formas geométricas. Com a ajuda do professor, a criança deve confeccionar diversos cubos de papelão e depois pintá-los ou encapá-los com papel colorido. Depois é só deixear as crianças brincarem trocando e conversando sobre o material, por exemplo.

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como fazer

Dia das profissões

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As crianças adoram imitar os adultos e esta atividade colabora para questões de identidade e identificação da própria criança. Trata-se de proporcionar para as crianças roupas e itens específicos das diversas profissões mais importantes e/ ou mais conhecidas. Podem ser roupas (dos adultos mesmo) objetos de brinquedo como microfones, caixas de ferramentas, utensílios de cozinha e trabalhar com as crianças as diferentes profissões dos familiares. Pode despertar nas crianças uma primeira aproximação com sua profissão de preferência.

Encaixar canudos

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As crianças costumam apreciar muito esta atividade quando realizada em sala de aula, pois ela trabalha questões de cores, quantidades e coordenação motora. Trata-se de uma caixa de papelão encapada com papel colorido, uma cor para cada face da caixa (pode-se usar EVA para encapar, ajuda a conservar por mais tempo). Em cada face são feitos diversos furos de modo que a criança possa encaixar os canudos seguindo as orientações do professor, que pode variar o número pedido de canudos e cores.

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Animais-surpresa

Tabuleiro humano

Nesta atividade pedagógica colocam-se em uma caixa diversas figuras de animais. Informe para as crianças que é uma caixa mágica onde cabem muitos animais e que em determinados momentos eles podem sair do local. Reproduza o barulho de alguns animais e peça para que elas adivinhem e repitam os barulhos. Em seguida abra a caixa e retire a figura correspondente de cada animal. É interessante que se trabalhe as características individuais de cada animal escolhido para a atividade.

Confeccione um dado de papelão, mas que seja bem grande, quase do tamanho da criança. Em seguida crie no chão um caminho dividido em casas (como um jogo de tabuleiro) com diversas atividades, por exemplo: 2+2=? E quando a criança parar nessa casa deve responder corretamente para continuar jogando o dado e avançando. Esta atividade possibilita trabalhar muitos conceitos ao mesmo tempo, além de ser super divertida, pois as crianças são os peões que vão percorrendo o tabuleiro.

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estante

Ingrid Lacerda aluna de publicidade e propaganda

livros que podem fazer a diferença em sala de aula

Desafios metodológicos do ensino Eliel Unglaub (org.). Unaspress. 130 páginas

Os educadores precisam cada vez mais se apropriar de metodologias que permitam relações entre a teoria e a vida prática. Sendo assim, o ambiente escolar precisa favorecer ao aluno à compreensão do mundo, da realidade, dos contextos de vida e de trabalho, ampliando a visibilidade de como se efetiva a relação entre as pessoas. Essa realidade implica na necessidade de se pensar novas metodologias em uma abordagem mais dinâmica. A presente obra aceita esse desafio e traz diversos artigos dos professores do curso de pedagogia do Unasp, campus Engenheiro Coelho. A Unaspress disponibiliza esta obra gratuitamente pelo Google Books. Corra e baixe agora o seu!

(Re)significando o lúdico: jogar e brincar como espaço de reflexão

Francismara N. Oliveira; Fernanda V. M. Bazon (org.). EDUEL. 220 páginas A obra aborda a interação lúdica em ambientes diferenciados, desde a própria escola até uma uma banca de revistas, e como tais situações podem despertar nos alunos reflexões diferenciadas. Ela analisa tais resultados de várias perspectivas. O livro é para instituições e educadores, psicólogos, sociólogos, profissionais de outras áreas que possam estar relacionadas com assistência à crianças e adolescentes e, não com menos importância, para pais. Você pode ler uma entrevista com a organizadora desta obra lá na página 8.

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estante

Educação dos sentidos e mais...

Educar para reencantar a vida

Rubem Alves. Verus. Livro Digital

Jung Mo Sung. Reflexão. 216 páginas

O cronista Rubem Alves luta por uma educação que promova a justiça e a igualdade. Ele se utiliza de suas habilidades literárias para, através de crônicas, abordar as possibilidades de tornar a educação algo mais leve e palpável para os alunos, com o objetivo desta se tornar uma realidade para eles pela proximidade. Para tanto, ele traz um novo olhar sobre o uso dos sentidos no processo educativo – o ver, o olhar e o tocar -, além de dar valor às coisas simples da vida, como o sonhos, a arte, a valorização do outro e o amor. É um livro bastante reflexivo e um tanto romântico, que não desfaz a necessidade e o valor da educação para o vestibular e o mercado, mas aproxima esta das coisas pessoais da vida, uma postura desafiadora.

É fato que o ser humano precisa de uma razão que o motive a viver, além de simplesmente comer, beber, estudar e conviver. Jung Mo Sung afirma que para isso criamos ideias, símbolos, mitos e deuses que ganham consciência e poder, os quais determinam como levamos a vida. Através destas criações podemos superar os instintos humanos e as determinações genéticas que nos movem a maltratar e desrespeitar o outro, nossa insensibilidade diante de injustiças sociais e dos quadros trágicos da realidade em que vivemos. Sua proposta é que a educação possibilita a aprendizagem do discernimento crítico dos símbolos e mitos que impulsionam nossa sociedade a encontrar um sentido para além do consumismo.

Educação física e temas transversais na escola Suraya Cristina Darido. Editora Papirus. 240 páginas.

As aulas de educação física não devem ser um tempo dedicado apenas a técnicas e táticas esportivas. Devem, em sintonia com o papel ideológico da educação, auxiliar na formação dos alunos como cidadãos críticos. Darido explica que é um dever da educação física agregar ao esporte os valores transversais comuns às outras disciplinas. Cada capítulo indica atividades, curiosidades, e dicas. O objetivo desta obra é mostrar ao professor como ele pode pensar além de suas práticas rotineiras esportivas – ideias que podem facilmente ser aplicáveis a professores de outras disciplinas. escola adventista - ano 18 - volume 31

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na pauta da aula revista Conexão 2.0 pode ajudar professores a contextualizar o conteúdo e integrar o currículo à visão criacionista. Saiba como utilizar a revista Wendel Lima editor da casa publicadora brasileira

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Relacionar o conteúdo previsto no currículo escolar com a realidade do aluno e com a cosmovisão bíblica é um dos grandes desafios dos professores da rede educacional adventista, especialmente para os que trabalham no ensino médio. A boa notícia é que desde julho de 2012, os docentes da rede contam com uma ferramenta pedagógica adicional, que tem se mostrado eficaz do ponto de vista educacional e missionário nos colégios em que tem sido utilizada. Falo da revista Conexão 2.0, periódico produzido pela Casa Publicadora Brasileira (CPB) para

os mais de 24 mil alunos secundaristas das unidades escolares adventistas. Nesta matéria, você vai entender a proposta editorial da revista, conhecer sugestões de utilização do periódico dentro e fora de sala de aula, além de saber como professores e leitores têm avaliado o material. É de longa data o investimento da Igreja Adventista em revistas. Na verdade, segundo o historiador Dr. George Knight, as revistas, panfletos e folhetos foram as principais ferramentas de evangelização do movimento milerita, na década de 1840. Foram também fundamentais para o período formativo da Igreja Adventista, quando os poucos escola adventista - ano 18 - volume 31

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fiéis da época tinham nos periódicos seu elemento mais forte de unidade e formação de identidade. Não é sem razão que, num concílio para editores sul-americanos em setembro de 2012, Knight afirmou que o ministério editorial precedeu a própria organização da denominação, em 1863. Mas, para os adventistas, o impacto evangelístico da mídia impressa não está restrito ao século 19. Tendo como base os conselhos e predições de Ellen G. White, uma da pioneiras do adventismo e profetisa do movimento, nós acreditamos que livros, revistas e folhetos ainda terão um importante papel na proclamação final do evangelho (O outro poder, p. 120). No Brasil, a produção de periódicos para jovens começou em 1936, com a revista Juventude. De lá para cá, esses periódicos já receberam o nome de Mocidade, Super Amigo e Conexão JA, até chegar a atual Conexão 2.0. Pensada para auxiliar o trabalho dos capelães e as aulas dos professores de ensino religioso, a revista ofecere conteúdo baseado na cosmovisão adventista num formato editorial e gráfico inspirado nas tendências do mercado secular. Na prática, isso significou redirecionamento da proposta anterior, lançada no fim de 2006, como Conexão JA. Por meio de infográficos, entrevistas ao ponto, notas opinativas, reportagens interpretativas, textos narrativos e perfis, os editores da revista têm o objetivo de explicar um pouco da realidade que nos cerca, levar os leitores a repensar comportamentos e incentivar novas atitudes. Proposta editorial que é traduzida pelo slogan: “Entenda. Experimente. Mude”.

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Potencial pedagógico Para a coordenadora pedagógica do ensino médio da CPB Educacional e autora do fascículo Enem inter@tivo, Doris Lima, a revista Conexão 2.0 pode ajudar os professores da rede adventista em dois grandes desafios: contextualizar os conteúdos curriculares e fazer a integração fé e ensino. “A revista pretende atender essas duas lacunas, porque traz assuntos práticos relativos a várias áreas do conhecimento e integra o ensino à visão criacionista”, justifica a educadora. Exatamente por tratar de temas da atualidade – como comportamento, cidadania, tecnologia, relacionamentos e a relação entre ciência e religião –, o diretor da rede educacional adventista para a América do Sul, Edgard Luz, vê na Conexão 2.0 “um leque de possibilidades”. Para o gestor, o uso criativo da mídia revista em sala de aula pode favorecer o desenvolvimento do pensamento reflexivo e a formação de cidadãos pensantes. Mas, segundo ele, essa utilização precisa estar inserida num planejamento que promova a interação e enxergue o aluno como um sujeito ativo no processo de ensino e aprendizagem. “Porém, o mais importante é que a revista traduz para o cotidiano dos alunos os valores bíblico-cristãos que fundamentam a filosofia educacional adventista”, pontua. Histórico favorável Utilizar revistas como objeto de estudo ou ponto de partida para algum conteúdo em sala de aula não é algo novo. Antes do direcionamento da Conexão 2.0 para as aulas do ensino médio, desde 2004, escolas da rede já adotam facultativamente a revista Nosso Amiguinho para as turmas do ensino fundamental I. As unidades que


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aderem ao programa, em parceria com a CPB, recebem um suplemento pedagógico para auxiliar o professor no uso das oito edições anuais específicas do projeto. “A revista é um ótimo instrumento para fins pedagógicos, porque é de fácil manuseio, a diagramação tem mais movimento, os textos são mais curtos, e as imagens e fotos aparecem numa escala maior do que nos livros didáticos”, justifica a professora Kênia Amazonita, coordenadora pedagógica do ensino fundamental da CPB Educacional. “Quando você tem um veículo que traz conteúdo didático, mas não tem o perfil de um livro didático, dá a sensação ao aluno de que ele está em contato com um objeto de entretenimento. Ou seja, ele aprende por prazer e não por obrigação”, acrescenta a pedagoga e editora da revista Nosso Amiguinho, Sueli Oliveira. Para ela, a inserção de revistas na sala de aula também apresenta como vantagem a formação de futuros leitores críticos. Potencial missionário Outro ponto que foi observado pelos editores na transição da Conexão JA para Conexão 2.0 foi a adaptação da linguagem e temáticas para um público diverso quanto à religião. Estima-se que apenas 30% dos alunos da rede na América do Sul são adventistas. Por isso, expressões e pautas denominacionais deram espaço para uma abordagem mais jornalística que pudesse ser compreendida até por leitores sem formação religiosa. Alguns comentários que chegam à redação da revista, apontam que esse objetivo parece estar sendo alcançado. “Li de capa a capa a última edição [janeiro-março de 2013] e fiquei muito satisfeito. É o escola adventista - ano 18 - volume 31

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tipo de matéria, diagramação e design que atingem não somente os jovens religiosos, mas também os mais secularizados”, pontou por e-mail o Dr. Rodrigo Silva, professor de teologia do Unasp. Opinião semelhante tem Rodrigo Zeviani, professor de História num cursinho em Maringá, PR. Ele costuma iniciar seus semestres letivos com uma aula sobre criacionismo. Em uma destas oportunidades, Rodrigo decidiu disponibilizar para seus alunos alguns exemplares da edição da Conexão 2.0 que tratava da versão criacionista sobre a pré-história. “Faltaram revistas!”, conta animado. “A Conexão 2.0 é uma ferramenta eficaz na pregação do evangelho porque tem conteúdo singular e linguagem não religiosa. Ela precisa chegar nas mãos de um público que foi doutrinado a pensar que ciência e religião são incompatíveis, mas que está aberto a questionar seus próprios paradigmas”, apela o professor, que planeja repetir a experiência. Na sala Porém, vale lembrar que, apesar do esforço dos editores e designers de produzir uma revista que tenha visual atraente e temáticas relevantes para alunos préuniversitários, o potencial educativo e evangelizador desta mídia só pode ser plenamente explorado se o professor se identificar com a proposta do material e se engajar em sua utilização. Nessa direção, alguns docentes têm mostrado interesse em potencializar o impacto da revista. É o caso do pastor Elber Rizziolli, professor de Ensino Religioso e um dos capelães do Unasp, campus Hortolândia. “Todo o trabalho de adaptação da revista ao contexto dos alu-

nos surtiu efeito. Creio que se não fosse essa a proposta, não haveria um interesse pelo material como houve”, explica Elber, ao mencionar que estudou a revista antes de utilizá-la em um projeto pedagógico que cobre o ano de 2014. André Fernando Siqueira, professor de Ensino Religioso do Colégio Adventista de Vila Alpina, em São Paulo, é outro exemplo. Ele elaborou uma aula, com apresentação em slides, a partir de uma matéria de capa sobre sexualidade (abril-junho de 2013). “Em todas as salas, houve bastante interesse pelo tema. Tenho percebido que a revista já não é mais desconhecida. Mais uma vez, o grande diferencial da reportagem foi mencionar um princípio cristão sem falar diretamente sobre regras e dogmas”, avaliou a iniciativa. Fora da sala Isaías Araújo da Silva, que atua no Colégio Adventista de São Miguel, viu potencial na matéria de capa sobre política da edição de outubro-dezembro de 2012. “Sou professor de sociologia e estou recomendando a leitura da revista para os alunos e amigos. Vou planejar algumas aulas para abordar o assunto a partir desta reportagem, e motivar os estudantes a participar do projeto Parlamento Jovem”, informou o professor na época. Quem já tirou o projeto do papel foi a professora de ensino religioso do Colégio Adventista de Tatuí, SP, Roberta Engel. Ela transformou uma matéria sobre os princípios bíblicos de sustentabilidade no tema de uma mostra cultural do terceiro ano do Ensino Médio. “Sempre que os alunos recebem a revista é um desafio escolher apenas uma ou duas matérias para trabalhar em sala de aula”, elogia. escola adventista - ano 18 - volume 31

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as características intelectuais dos professores confiança na capacitação por parte de Deus é importante, mas não exclui a necessidade de disciplina mental durante o processo de aprendizagem Adolfo S. Suárez

O conhecimento do professor Como regra geral, o professor e a professora precisam ter conhecimento de várias áreas a fim de desenvolver um trabalho global, estabelecendo interdisciplinaridade. Conhecimentos vindos da psicologia, literatura, história, teologia, música, pedagogia etc. são muito úteis. Entretanto, sua atenção deve estar direcionada a três áreas bem específicas: conhecimento do assunto que vai ensinar, conhecimento dos alunos e conhecimento de princípios de didática e metodologia. Em palavras mais diretas: o professor precisa conhecer “o que” ensinar, “a quem” ensinar e “como” ensinar.

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Conhecimento do assunto a ser ensinado/aprendido Pode até ser que no início de seu trabalho o professor ou professora não dominem todo o conhecimento necessário. Isto é justificável. Porém, espera-se que, à medida que adquirem experiência, adquiram também um conhecimento gradativo. O conhecimento implica em estar sempre atualizado, assim como estar em sabedoria na hora de interpretar as informações relacionadas à sua área de atuação. Implica também em ter habilidade para resolver problemas desde variados ângulos. Talvez a grande questão neste momento seja: Como adquirir um conhecimento apropriado e sólido? Eis algumas sugestões gerais:


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- Tenha sempre à mão ferramentas de pesquisa: dicionários, enciclopédias, comentários etc. - Frequente cursos ou palestras que esclareçam informações que você precisa. - Assine revistas ou jornais que sirvam como material de apoio; se não puder assinar, consulte revistas e jornais numa biblioteca ou disponíveis online. - Mantenha contato com pessoas que podem explicar de modo claro o assunto que você precisa. Conhecimento do aluno Conhecer o aluno implica em dois resultados fundamentais. O primeiro é que isso possibilita alcançá-lo no nível onde ele se encontra. O segundo resultado é que pode ser dado um toque pessoal aos conteúdos estudados. Conhecer o aluno permite aplicações específicas, contextualizadas; caso contrário, o ensino pode ser frio, eruditamente impessoal, sem significado. Ao estar familiarizado com a vida e realidade dos seus alunos, o professor e a professora são capazes de comentários e conclusões tocantes, e de apelos que induzam a mudanças possíveis. Podemos conhecer os estudantes mediante pesquisa em livros especializados, principalmente os que tratam da psicologia do desenvolvimento; pode também haver um aprendizado produtivo ouvindo uma boa palestra sobre o assunto. Além disso, podemos conhecer os estudantes pelo convívio. É claro que podemos conhecer o universo humano estudando bons livros. Entretanto, o conhecimento autêntico e real advém de um convívio pessoal. E para que isso seja possível, o relacionamento deve ultrapassar o momento da aula, e se estender

em visitas informais, atividades sociais, eventos esportivos etc. Didática, método e técnicas Não existe uma regra mágica para ser um professor de sucesso, mas conhecimento teórico (que depois vira prático) é essencial para um bom começo e continuidade do processo ensino-aprendizagem. Podemos ter sucesso se considerarmos seriamente alguns itens valiosos referentes à arte de ensinar. Pense nos seguintes: - O aluno se esforça para aprender quando a aprendizagem é agradável, satisfaz alguma necessidade e é interessante. - O ensino-aprendizado é mais produtivo quando o professor cria um clima adequado antes de “vender o peixe”. Criar o clima é levar os alunos a desejarem estudar a lição ou assunto. - O ensino-aprendizado é mais produtivo quando o professor varia constantemente suas técnicas de ensino. Uma boa técnica usada com muita frequência acaba perdendo seu impacto e eficácia. - O aluno aprende de fato quando faz alguma coisa relacionada com o que acabou de ouvir ou aprender. O impacto de uma aula está fortemente ligado à maneira como o professor e a professora conduzem o momento do estudo. Ótimos temas podem não ter o efeito esperado se o professor não conduzir o estudo da maneira adequada; e isso, em grande medida, depende de seu preparo. Nossa maneira de ensinar é decisiva para a transformação da vida dos nossos alunos.

* Doutor em ciências da religião pela Umesp; coordenador do núcleo de integração fé e ensino do Unasp. escola adventista - ano 18 - volume 31

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o professor, o texto e o contexto não basta ao professor munir-se de todo o conhecimento de sua área de atividade. Só no amor ele atingirá o coração dos educandos e cumprirá seu propósito Joubert Perez

Eram 7h51 de uma fria sexta-feira de 12 de janeiro de 2007, quando Joshua David Bell, o então menino-prodígio, agora aos 39 anos, aclamado e premiado como um dos mais virtuosos violinistas do mundo, abre uma pequena caixa de madeira, retira carinhosamente seu Gibson ex Huberman, o famoso Stradivarius fabricado em 1713, e começa a tocar. Três dias antes, ele lotara o imponente Symphony Hall de Boston, com seus 2600 assentos,

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alguns dos quais chegaram a valer 100 dólares. Mas desta vez é diferente. Ele está em pé, ao lado de uma cesta de lixo, no piso superior da escada rolante, na estação de metrô L’Enfant Plaza, Washington, DC. De calça jeans, camiseta e um boné de beisebol, ele mantém a seus pés a caixa de madeira em cujo interior jogara espertamente alguns dólares. Bell começa o concerto com “Chaconne”, Partita n.o 2 em Ré Menor, de Johann Sebastian Bach. A lon-


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ga peça de 14 minutos é uma das mais difíceis de serem tocadas e, segundo o próprio Bell, “não só uma das maiores peças de música jamais escritas, mas também uma das maiores realizações de qualquer homem na história.” A música invade a estação com sua poderosa espiritualidade. O virtuoso violinista funde-se a seu instrumento numa apresentação celestial. Depois de Bach, segue a comovedora “Ave Maria”, de Franz Schubert. E por quase uma hora, nas mãos hábeis de Bell, seu violino de três milhões e meio de dólares chora, ri e canta, em êxtase, ora triste, ora alegre e gracioso, criando atmosferas variadas de festa, romance e adoração. Você pode não acreditar, mas só depois de três minutos e sessenta e três pessoas haverem passado apressadas pelo local, é que um homem altera o passo por uma fração de segundo e gira a cabeça dando a impressão de que percebera não se tratar de um mero músico de rua ganhando os trocados do dia. Mais três minutos e a primeira pessoa se apoia na parede e para para escutar. A primeira doação vem aos trinta minutos, de uma mulher que joga uma ninharia e sai de fininho. Nos quarenta e três minutos do concerto de Bell, o cenário não muda muito. Das 1.070 pessoas que passaram inadvertidamente pela estação, apenas 7 pararam para apreciar; e 27 deram algum dinheiro para o inacreditável total de 32,17 dólares. A esta altura uma pergunta inquieta. Por que um violinista

acostumado a ganhar 1000 dólares por minuto obtém um resultado tão desalentador, tocando as mesmas músicas com o mesmo talento? Entre respostas possíveis, destaco apenas uma: a relação de um texto com seu contexto. Bell e seu violino saíram do contexto habitual de suas apresentações. Apesar de as formas serem as mesmas – a qualidade do repertório e a inquestionável performance do violinista -, as pessoas não atribuíram o valor e os sentidos esperados ao magnífico “texto” ofertado a elas naquela enevoada manhã na L’Enfant Plaza. E o contexto é indispensável à significação. Ao pensar na relação entre o que acabamos de considerar e o trabalho em sala de aula, vem à lembrança o texto de I Coríntios 13, que eu tomo a liberdade de parafrasear: “Ainda que eu fale a língua dos anjos e seja abençoado com o domínio da arte e ciência de minha profissão [...], se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.” Não basta, portanto, ao professor munir-se de todo o conhecimento de sua área de atividade. Não lhe bastará também o talento. O contexto exigido pela palavra bela e significativa é o amor. Só no amor ela atingirá o coração dos educandos e cumprirá seu propósito.

* Mestre em linguistica pela Unicamp e professor do curso de letras e tradutor e intérprete do Unasp escola adventista - ano 18 - volume 31

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White responde conselhos práticos de Ellen G. White sobre educação

Como conciliar, no processo educacional, o conhecimento científico com a formação pessoal do estudante? “A verdadeira educação não desconhece o valor dos conhecimentos científicos ou aquisições literárias; mas acima da instrução aprecia a capacidade, acima da capacidade a bondade, e acima das aquisições intelectuais o caráter. O mundo não necessita tanto de seres humanos de grande intelecto, como de nobre caráter. Precisa de seres humanos cuja habilidade seja dirigida por princípios firmes”. (Educação, 225) Qual é o papel do educador no desenvolvimento individual do potencial dos estudantes? “Muitos jovens que aparentemente nada prometem, são ricamente dotados de talentos que não aplicam a uso algum. Suas faculdades permanecem ocultas por causa da falta de discernimento por parte de seus educadores. Em muito menino ou menina de aparência tão pouco atraente como a pedra não lavrada, pode-se encontrar precioso material que resista à prova do calor, tempestade e pressão. O verdadeiro educador, conservando em vista aquilo que seus

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discípulos podem tornar-se, reconhecerá o valor do material com que trabalha. Terá um interesse pessoal em cada um de seus alunos, e procurará desenvolver todas as suas faculdades. Por mais imperfeitos que sejam eles, incentivará todo o esforço por conformar-se com os princípios retos” (Educação, 232). Qual a função pedagógica do trabalho manual? “Na criação, o trabalho foi designado como uma bênção. Significava desenvolvimento, poder, felicidade. A mudada condição da Terra em virtude da maldição do pecado acarretou uma mudança nas condições de trabalho; contudo, apesar de efetuado hoje com ansiedade, cansaço e dor, é ainda uma fonte de felicidade e desenvolvimento. Outrossim, é uma salvaguarda contra a tentação. Sua disciplina opõe uma barreira à condescendência própria, e promove indústria, pureza e firmeza. Assim, torna-se parte do grande plano de Deus para que sejamos recuperados da queda”. (Educação, 214).

Seleção de textos por Adolfo S. Suárez



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