Revista Pré-TC | Raízes Flutuantes - Bárbara Guerra | PUC-Minas 1.2022

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Imagem fotografada e manipulada pela autora, 2022


A verticalização dos centros urbanos tem diminuído a presença de corpos vegetais e espaços verdes nas cidades. Casas com quintal sendo demolidas e dando lugar a prédios de 20/+ pavimentos onde o ‘jardim’ cumpre apenas uma função legal para satisfazer parâmetros urbanísticos é a realidade do centro de BH desde a década de 1940. A drástica mudança da paisagem urbana era um sinal de modernidade e celebrada pela gestão pública. A região central foi eleita para iniciar esse movimento. Nos dias atuais o Centro é o bairro mais verticalizado e denso da cidade de Belo Horizonte. No projeto de Aarão Reis o Parque Municipal

Imagem da paisagem da cidade dentro do Parque Municipal no ano de 1947, Blogsopt Curral Del Rey, acessado no dia 14 de março de 2022

Américo Garret foi projetado para suprir a demanda de espaços públicos e verdes de Belo Horizonte, que já extrapolou os seus limites

Imagem da paisagem da cidade dentro do Parque Municipal no ano de 2020, Viajante sem fim, acessado no dia 14 de março de 2022

e expectativas há muito. Existe, portanto, um contexto de insuficiência de corpos verdes na região densa e vertical da cidade, o que nos leva a questionar sobre o futuro dos seus espaços públicos verdes e quais as possibilidades para recuperar a qualidade ambiental do Centro. A perda dos recursos estéticos da paisagem, a inexpressividade da oferta de espaços de lazer e a perda de uma qualidade ambiental que afeta a população, são algumas das consequências da redução percentual de áreas verdes nos centros urbanos. Dificilmente na malha urbana já


Imagem fotografada e manipulada pela autora, 2022



definida e reconhecida pelo mercado imobiliário encontraremos a possibilidade de criarmos novos parques ou praças, espaços expressivos quanto à presença de flora e fauna. Lugares que potencializam a socialização e redução dos efeitos sonoros e termais da concentração de veículos motorizados e atividade humana. A proposta deste trabalho é uma possível forma de contornar a rigidez dos centros urbanos e usar do espaço já construído e formalizado para aumentar e reaproximar o que entendemos como natureza ao cotidiano dos centros urbanos. Trata-se da verticalização de parques, que, aliados a outros programas, trabalhariam como corpos biofílicos da cidade. Esses espaços teriam como princípio o fomento de corpos vegetais, ciclos da flora e fauna e a educação ambiental, além da intrínseca relação entre saúde e bem estar que esses corpos proporcionam ao Ser Humano. Nesta proposta será feito um estudo sobre a união de um parque vertical aliado a espaços culturais, de arte e ensino, a ideia final é

Imagem fotografada e manipulada pela autora, 2022

proporcionar a contemplação, lazer, ócio, aprendizado e contato com a natureza. Lidando com a noção do corpo e os seus sentidos a fim de proporcionar um espaço imersivo e capaz de concentrar a atenção do indivíduo, um contratempo em meio à frenética rotina da cidade que proponha novas formas de ocupação de espaços construídos.

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Imagem fotografada e manipulada pela autora, 2022



Imagem fotografada e manipulada pela autora, 2022


Imagem fotografada e manipulada pela autora, 2022


O projeto terá como lugar de estudo e intervenção Belo Horizonte, mais precisamente o seu Centro. O traçado modernista de Aarão Reis formatou o centro de BH em quadras ortogonais, desse plano urbanístico e do desenvolvimento econômico da capital o Centro se destacou pela verticalização e adensamento de atividades e residências. Em contraponto, o Parque Municipal, embora represente um respiro na paisagem, perdeu sua expressividade no que tange ao percentual de área verde no bairro. Isso significa uma perda na qualidade de vida. Desde então, não foram criadas outras grandes

massas verdes ou sistemas verdes capazes de conferir um aumento na qualidade ambiental do bairro Centro, a única intervenção passível de citação é o planejamento público da criação de corredores verdes em avenidas selecionadas de Belo Horizonte. Outra característica do bairro é a verticalização de estacionamentos, os Edifícios Garagem. Embora o número destes edifícios não seja relativamente grande, eles se fazem presentes pela sua arquitetura incógnita e deixam marcas na paisagem urbana. Tendo em vista o contexto da verticalização do centro e os edifícios ga-

ragem, a proposta do TC é utilizar de um espaço de estocagem de veículos motorizados e substituí-los pela natureza, aproveitar do lugar de destaque que o edifício possui. Parte da intenção da proposta também pretende levantar uma reflexão sobre o futuro desses espaços. Tendo em vista a localização e o valor que o terreno representa para o mercado imobiliário, quais outras propostas poderiam vir a melhorar a qualidade de vida no centro urbano ao invés de apenas colaborarem com o adensamento, estrangulação de serviços e redução percentual de espaços verdes por habitante.




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Sobre o uso e ocupação do entorno podemos afirmar que existe uma grande diversidade, mesmo a maior parte sendo composta por serviços e comércio, existe uma expressiva quantidade de moradias. No entanto, não existem opções de lazer e ócio ao ar livre próximas. Os poucos espaços que são descritos como praças não apresentam qualidades que propiciem a permanência e o usufruto cotidiano do espaço público.

FOTO DO ESPAÇO PÚBLICO DO ENTORNO

Esquina da Rua São Paulo com a Rua Tupis, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022


Existem espaços privados no entorno que influenciam a dinâmica e fluxos espaciais, entre eles o Shopping Cidade, o Mercado Central e o Centro de Exposições. O primeiro tem uma relação direta com a frente dos terrenos da Rua São Paulo e atende o bairro em variados serviços, desde alimentícios quanto ao consumo direto de bens. O maior fluxo de pessoas se concentra na abertura dos serviços e comércios, na hora do almoço e no fechamento destes. Isso significa que a essência do bairro são os serviços que ele oferece. É importante mencionar o perfil dos moradores, entre idosos, estudantes e jovens adultos de classe média.

Esquina da Avenida Amazonas com a Rua Tupis, o edifício se destaca ao lado direito da rua, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022

FOTO DO MOVIMENTO DAS RUAS

Rua Tupis, visão para o nível térreo do prédio, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022


Sobre as condições ambientais, os terrenos se localizam em uma área de risco de contaminação do solo e estão mapeados como grau alto de “Vulnerabilidade de Ondas de Calor 2030”, segundo os dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de BH. Estes fatores ambientais reforçam a importância de uma intervenção que busque reduzir os impactos antropológicos sobre o meio natural e que contribua com a produção de uma qualidade ambiental. Além disso existe a presença de um córrego canalizado próximo à quadra

do terreno, sendo interessante, como proposta de projeto resgatar essa presença e estimular a consciência sobre os corpos de água. CÓRREGO CANALIZADO / EFEITOS TERMAIS

Esquina da Rua São Paulo com Rua dos Goitacazes, edifício se destaca no meio da quadra, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022


O terreno da Rua São Paulo é ocupado por um estacionamento sem projeto aprovado e regulado junto à PBH. O terreno da Rua Tupis abriga duas torres, a primeira, localizada na frente do terreno tem 14 pavimentos e a segunda, no fundo do terreno, com 40 pavimentos. Este segundo será o objeto de intervenção da proposta. Este edifício ocupa uma posição de destaque no contexto do quarteirão, no entanto, a sua arquitetura incógnita o deixa opaco no meio. A sua presença é tão notada quanto a sua ausência. Ao passo que abriga veículos nos seus impressionantes 40 pavimentos é apenas um edifício branco no meio do quarteirão sem janelas, ou seja, não tem valor, apenas uma função. A escolha foi motivada pelo enquadramento do edifício em meio à quadra que agrega valores climáticos propícios ao desenvolvimento de espécies vegetais e proporciona ao entorno uma faixa verde em meio a tantos edifícios colados. A intenção de fazer notar a arquitetura construída e lhe atribuir um valor. Vista do prédio da Rua Curitiba,imagem capturada e manipulada pela autora, 2022






O edifício localizado na Rua Tupis Nª 459 tem o nome de Conjunto Frederico Corrêa. Construído na década de 60 com uma proposta inovadora, tanto construtiva quanto no financiamento da obra, contou com 169 financiadores . O projeto conta com 2 blocos. O primeiro, na frente do terreno, com 5.570,50 m² construídos, é uma torre de 10 andares de serviço, sendo 5 salas em cada pavimento. O segundo bloco, no fundo do terreno, com 7.963,00 m² de área construída, é um edifício garagem. Conta com 40 pavimentos e 10 vagas por pavimento, totalizando 400 vagas disponíveis para os funcionários que trabalham no 1ro bloco. São 5 elevadores que elevam os carros e ao chegar no nível da vaga o manobrista anda com o carro para a frente ou para trás. O edifício consta apenas com janelas em uma das faces do prédio. A estrutura do prédio é simples, um sistema de distribuição de cargas verticalmente, a estrutura de vigas está exposta e divide as vagas. Uma questão a olhar no futuro é como lidar com

o baixo pé direito embaixo das vigas. Um fato curioso sobre o projeto desse edifício garagem é que estava previsto um espaço de encontro e descontração para os porprietários das vagas, algo similar a um bar, que nunca chegou a ser construído.

Entrada do Conjunto Frederico Corrêa, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022

Vista do 1ro bloco do Conjunto, dificilmente se vê o 2ndo bloco da Rua Tupis, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022


Vista para o 2ndo bloco do último pavimento do 1ro bloco, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022



Entrada do 2ndo bloco e os 5 elevadores para carro, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022


Vista do elevador para o último pavimento do edifício garagem, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022


Algo que se percebeu com a visita ao edifício é a potência do espaço como mirante, pelo fato de ser um dos prédios mais altos da região é possível ter uma vista 360 graus de Belo Horizonte. É interessante considerar essa característica pois, significa um certo isolamento do entorno, no sentido de que nos andares mais altos existe pouca interação com outros edifícios, podendo abrigar espaços pensados para a proliferação e pouso de aves nativas e outros insetos da fauna local sem causar impactos negativos no entorno imediato.

Vista da casa de máquinas do edifício garagem, ao fundo a Serra do Curral, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022

Vista da casa de máquinas do edifício garagem, ao fundo Contagem, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022


Quanto ao contexto do zoneamento o lote pertence ao OP-3 (Ocupação Preferencial 3), tendo como diretrizes básicas um CA básico de 1, Taxa de Permeabilidade de 20%, faz parte da ADE Avenida do Contorno e tem cota altimétrica de 857m (no entanto, a edificação existente consta com aproximadamente 9830m de altura). O lote está inserido em área de proteção municipal pelo Conjunto Urbano em Estudo Bairro Lourdes/Centro, porém o próprio não se encontra sob nenhum grau de proteção. No entanto, é requesitado que se solicite Carta de Grau de Proteção na Diretoria de Patrimônio Cultural e Arquivo Público- DPCA.

Análise Bioclimática dos terrenos: A posição geográfica dos terrenos e a altimetria do entorno permite uma boa insolação. Levando em consideração a posição central dos terrenos e as condições físicas, existe um “vazio” no inteior da quadra que permite a insolação e ventilação natural, o que para a proposta do TC é positivo, tendo em vista a manutenção e desenvolvimento de vida no espaço.

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Vista para o edifício garagem às 11:30 do dia 31 de maio de 2022, imagem capturada e manipulada pela autora,


Rua São Paulo Nº 952

Entrada do terreno da Rua São Paulo Nº 952, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022


Este terreno é atualmente ocupado por um estacionamento, não tendo encontrado registros de outras edificações. Consta na PBH uma situação de irregularidade quanto ao projeto que ocupa o terreno.O lote do estacionamento é o remembaramento de 3 lotes de áreas similares, totalizando aproximadamente 1.650,00m² de área. Pertence ao Zoneamento OP-3 (Ocupação Preferencial - 3), tendo como diretrizes básicas um CA básico de 1, Taxa de Permeabilidade de 20%, faz parte da ADE Avenida do Contorno e tem cota altimétrica de 860m. O lote está inserido em área de proteção municipal pelo Conjunto Urbano em Estudo Bairro Lourdes/Centro, porém o próprio não se encontra sob grau nenhum de proteção. No entanto é requesitado que se solicite Carta de Grau de Proteção na Diretoria de PatrimônioCultural e Arquivo Público- DPCA.

O estacionamento tem 3 níveis de garagem toda coberta, imagem captudara e manipulada peal autora, 2022

Retorno da PBH quando solicitada a documentação do projeto referente à Rua São Paulo Nª 952, 7 de abril de 2022



“Nothing is invented, for it’s written in nature first”¹ frase atribuída a Antoni Gaudí e a qual se conecta à proposta deste trabalho. Dentro da rigidez urbana é esperado da natureza que cresça no seu canteiro, limitada a um retângulo com o propósito de abrigar uma única espécie.…mas a natureza surge onde se fizer oportunidade e na cidade, em que muros se desgastam e calçadas se abrem, sempre existe um vazio que é preenchido pela vegetação. Esse ato de rebeldia da natureza, de se semear onde não “deve”, desafia a normatização das superfícies urbanas. Uma proposta que quer criar disrupção com valores modernistas e ocupar o espaço com intenções radicais e preocupação sobre a ecologia urbana, deve ter como fundamentos práticas, experimentos e teorias que se alinham sobre um eixo tecnológico, ecologista e uma liberdade da arquitetura. A ecologia urbana direcionará a discussão no contexto urbano que se difere do natural nas forças de poder, as ações antropológicas criaram sistemas sociais, econômicos e

Vegetação arbórea cresce em meio a estrutura de tijolo aparente, Parque das Ruínas - Rio de Janeiro, imagem capturada e manipulda pela autora, 2022

políticos que regem a ordem das coisas. Não mais sob a influência do meio natural o homem fez de si a medida de todas as coisas, isso significou um afastamento e sobreposição ao natural. A importância da ecologia entra aqui: “Pode-se afirmar que a ecologia e a bioecologia do desenvolvimento humano também propõe uma educação que desloca o ser humano da posição de onipotência antropocêntrica para integrar a posição de componente do todo, configurado como espaço psicológico ou espaço vital pelos objetos, pessoas e acontecimentos aos quais a pessoa atribui significado (YUNES; JULIANO, 2010, p. 368).” (Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos Urban ecology: Concepts, preconcepts and postconcepts James Miyamoto* Gilda Collet Bruna pag 103-104)

¹ Tradução da autora: “Nada é inventado pois foi escrito na natureza primeiro”


As estruturas de poder exercem uma força transparente sobre a direção do uso e ocupação do solo assim como as suas tendências que não se guiam pelo ambiente natural mas, pelo fluxo do capital e lucro. A sobreposição histórica de decisões políticas que encaram a natureza como uma matéria prima e não lhe atribuem valores históricos, paisagísticos e culturais é uma muleta para os valores do capital. O realinhamento de uma posição sinérgica é importante para o futuro dos centros urbanos, o desenvolvimento que não visa os impactos e soluções ambientais afetou o clima e as condições ambientais, as ilhas de calor são resultados diretos de um planejamento e intervenções que não integram as ações antropológicas à natureza e indo contra essa posição de Ser, que se afasta do natural para favorecer o desenvolvimento devastador, é importante nos atermos aos desejos humanos, à conexão com a natureza, esta é a nossa tendência, pois dela viemos:

“(...)em pesquisa, desenvolvida por Richard Fuller e Katherine Irvine, dedicada às interações entre homem e natureza, em que se constata que “apesar do evidente empobrecimento do ambiente natural nos meios urbanos, ou talvez por causa disso, muitos habitantes das cidades buscam interação com a natureza de alguma forma” (FULLER; IRVINE, 2010, p. 134). (...) Os pesquisadores chegam a uma interessante conclusão: a partir de um questionário sobre visitas a parques urbanos, a despeito de 59% dos consultados em Guangzhou, China, terem respondido que os acessam “frequentemente” ou “muito frequentemente” e, no Reino Unido, outros 92% terem afirmado frequência (aos parques urbanos), a urbanização tem isolado progressivamente pessoas do ambiente natural, na medida em que as cidades crescem e tornam-se mais densas (FULLER; IRVINE, 2010, p.135)” (Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos Urban ecology: Concepts, pre concepts and post concepts James Miyamoto* Gilda Collet Bruna** pag 98)

Raízes rompendo muro de contenção e erguendo seu tronco bem desenvolvido, Parque das Ruínas - Rio de Janeiro, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022


O físico teórico Fritjof Capra desenvolveu uma linha de pensamento que relaciona tudo e todos. Para ele, a cultura molda o mundo mas, esta é moldada por uma comunidade e dentro dela existem trocas, estas se realizam nos diversos campos do micro ao macro. Esta ciclicidade defende uma visão de mundo como rede de conexões, em que tudo se conecta, tudo impacta, uma reação para uma ação. Dessa perspectiva abre-se um campo infinito sobre a dimensão das consequências dos atos, ao contrário do sistema mecanizado e linear de uma máquina. Sob essa perspectiva a proposta busca reforçar a presença e necessidade de integrar o que é natural ao meio urbano, com a retomada de ciclos naturais espera-se que as consequências perceptíveis do corpo verde verticalizado eduquem as pessoas sobre a importância de compartilhar o espaço e manter trocas constantes com o natural, uma expectativa de relembrar sobre a conexão intuitiva que compartilhamos com o todo.

Vista para a mata do Parque das Ruínas, Rio de Janeiro, imagem capturada e manipulada pela autora, 2022



Imagem capturada e manipulada pela autora, 2021


Imagem capturada e manipulada pela autora, 2022



ART BIOTOP WATER GARDEN, imagem manipulada pela autora



Junya Ishigami é um arquiteto japonês que tem como principal premissa a liberdade da arquitetura e a união com a natureza, para ele a arquitetura deve se desprender da rigidez de estruturas tradicionais, pensamentos normativos e que o funcionalismo é a única resposta, os projetos devem ser específicos e inventivos. As suas obras são o resultado de um processo metodológico que apresenta a arquitetura como um campo de infinitas possibilidades, a sua abordagem de liberdade que representa o imaginário poético e o estudo da ciência possibilitam a concretização de mundos oníricos. A sua inspiração vem principalmente da observação da natureza e aspira criar soluções/propostas diferentes do esperado,

Modelo para o “Noel Restaurant”

Junya Ishigami

em um estado constante de superação dos limites imagináveis. Ao mesmo tempo que as suas obras atendem ao escopo do cliente, Ishigami compreende que a arquitetura não é feita apenas para os Humanos mas também para a natureza, o meio ambiente, os animais, inse-

tos e etc. A intenção de estudo sobre o trabalho do arquiteto é compreender a sua abordagem da arquitetura com a natureza, sobre como a poética do imaginário se estende à realidade e produz espaços que induzem a um mundo onírico. O projeto a ser analisado será o “Art Biotop Water Garden”, finalizado no ano de 2019 na província de Tochigi, Japão. O projeto surgiu pela proposta de um novo hotel em uma região de paisagem natural, o terreno destinado à construção do hotel conflitava com uma floresta adulta. Ao lado dessa floresta existia um pasto com dimensões similares à área a ser demolida, Ishigami decide propor a realocação da floresta para o pasto e manipular o ambiente natural. O passado desse pasto carrega algumas informações relevantes para a narrativa do projeto, 50 anos antes o pasto fora um campo de arroz e 100 anos anos era uma floresta com características similares à do terreno vizinho. Acho válido ressaltar que, para o arquiteto nenhuma paisagem natural é natural, isto é, mesmo que não tenha sofrido ação


antropológica as florestas e outras aglomerações verdes são o resultado de interações, migrações e da vida das espécies que ali habitam; as florestas são construídas pelos seres que nela habitam. Portanto, a sua decisão de transpor a floresta para o terreno vizinho se apoia na ideia consciente de que podemos colaborar para a permanência dos biomas e interferir na sua paisagem, desde que a sua ecologia seja respeitada. A manipulação da paisagem sobrepôs os elementos dos diferentes terrenos, criando interações que em um ambiente natural não co-existiriam. Para que esse novo ecossistema funcionasse foi necessário um estudo sobre as particularidades de cada espécie e como adaptar o espaço imaginado a essa natureza. Algumas das espécies não coexistem com corpos de água, para isso foi necessário um cuidado na impermeabilização do solo próximo a essas espécies e para garantir que a água percorra pelos pequenos lagos foram criados conectores que permitem a livre circulação pela força da gravidade, o que garante

Art Biotop Water Garden

a saúde da água e do ecossistema. Neste projeto fica muito clara a consciência sobre as consequências que a ação humana tem sobre a natureza e quais são as nossas escolhas frente a esse dilema e no campo subjetivo, como vamos resolvê-lo. A co-criação da paisagem é a realidade

que encontramos quando aceitamos uma posição de pertencimento à Natureza, quando somos responsáveis e temos consciência do impacto que nossas ações trazem para o ecossistema.


Art Biotop Water Garden


A criação de uma paisagem de outra natureza, uma artificial, abre portas para imaginarmos possíveis paisagens a serem criadas nos espaços urbanos. A tecnologia é uma importante aliada nesse processo pois permite a compreensão do funcionamento dos organismos e da sua adaptação ao meio, a arquitetura tem um papel fundamental na manipulação desse meio e pode integrar a vivacidade da biologia aos espaços. Junya Ishigami traz uma visão que estimula os sentidos, a or-

Art Biotop Water Garden

ganização e os significados do espaço. A união dos conceitos por trás dos projetos e intenções projetuais flutua sobre uma autoconsciência. A compreensão de estar e fazer parte de uma rede e que por isso, podemos manipulá-la com equilíbrio e convidá-la a fazer parte do espaço construído. Uma noção um tanto subjetiva mas que traz uma intuição muito profunda e humana, a conexão com a natureza é sentida e presenciada com satisfação e rechaçar essa conexão é

também nos desconectarmos do meio ambiente que nos acolhe.


Estas referências guiarão o desenvolvimento do projeto pela sua inovação biotecnológica e inteligência dos ciclos naturais, pelos benefícios biofílicos para a cidade e pessoas e pelo questionar do olhar onírico.

Art Biotop Water Garden


Art Biotop Water Garden



Art Biotop Water Garden



Photo.Synthetica Curtain


É um escritório fundado no ano de 2005 em Londres. Com um perfil experimental e biotecnológico, desenvolvem uma arquitetura que integra microrganismos ao ambiente construído. A prática do escritório apoia-se na ideia da simbiose para o desenvolvimento dos centros urbanos sob a premissa de uma abordagem ecológica, a associação com os microrganismos tem como objetivo explorar as habilidades naturais de adaptação destes e manipulá-las com a tecnologia. A interação entre natural e artificial recebe uma perspectiva tênue quanto à diferenciação, o que faz parte da arquitetura é também o que está vivo, a dissociação entre o corpo e paisagem deixa de fazer sentido e passa a ser compreendi-

HORTUS XL

Da direita para esquerda, Marco Polleto e Claudia Pasquero , fundadores da ecoLogic Studio

do como um organismo pois, para um funcionar necessita do outro. Esta noção simbiótica promove um movimento circular de sistemas ecológicos. O microrganismo que o escritório recorrentemente utiliza são as algas que, devido às suas propriedades e facilidade de aplicação, 50kg de algas

são capazes de absorver a mesma quantidade de CO² que uma árvore de 5000kg. Uma tecnologia leve e eficiente que responde ao estímulo solar, podendo ser utilizada para sombrear um ambiente visto que quando exposta à energia solar ela se prolifera. O uso de recursos tecnológicos para lidar com as consequências do abuso praticado sobre a natureza é recorrente e cada vez mais será necessário. Conhecer e poder aplicar a inteligência da natureza para melhorar a qualidade do meio urbano tem um grande impacto na biosfera sendo que, segundo a ONG C40, as cidades são responsáveis por 70% das emissões de gases carbônicos. Os seus projetos exemplificam um dos possíveis futuros para a arquitetura e que, de forma inteligente, pode auxiliar na criação de uma nova era de sinergia em que todos os elementos que participam da arquitetura são essenciais para que ela exista: o meio ambiente urbano, a arquitetura e o humano.


HORTUS XL



Photo.Synthetica Curtain




Projeto do Heatherwick Studio e liderado pelo arquiteto Thomas Heatherwick, o projeto teve início no ano de 2011 e a primeira etapa foi inaugurada este ano. Localizado em Shanghai, próximo ao distrito de arte M50, o terreno fazia divisa em uma face com um parque público e pelas outras 3, torres corporativistas. O cliente é uma empresa de investimento de holdings que, após ver o trabalho do escritório no Pavilhão do Reino Unido na Expo de 2010 em Shanghai, convidou a equipe a pensar uma infraestrutura com usos mistos, tendo como premissa um impacto positivo para a comunidade e o seu entorno.

1000 Trees

Thomas Heatherwick

Um conceito relevante que Heatherwick difunde é a sustentabilidade do projeto mas, não apenas na sustentabilidade física e energética, para ele a mais relevante é a emocional. A conexão emocional das

pessoas com os espaços é o que irá estipular o seu ciclo de vida, ou seja, quanto mais desconectado do lugar e das pessoas mais facilmente ele será demolido. A demolição, do ponto de vista da sustentabilidade, significa a perda das energias, materiais e tempo investido no projeto, portanto, criar projetos sustentáveis é pensar sobre as afinidades e relações entre as pessoas e o lugar. Esse é um dos motivos que o leva a integrar os edifícios industriais residuais ao projeto, trazendo também uma dimensão histórica e de reconhecimento ao passado da região.


1000 Trees

1000 Trees

A motivação do conceito era fazer da natureza a chave do projeto, o que o sustentaria e permitiria uma conexão emocional com as pessoas. Dessa forma ele estaria contrapondo a tendência dos espaços urbanos de aumentar a quantidade de concreto e diminuir a conexão com a natureza. Esta conexão

será abordada sob a ótica da Biofilia nas suas diferentes escalas e como as soluções projetuais impactam positivamente no desenvolvimento da conexão com a natureza do lugar e consequentemente com o edifício. Um outro elemento é o rio que margeia uma das faces limite, este é por si

só tem bastante relevância para uma arquitetura biofílica, tendo em vista que a presença do corpo de água é caracterizada como um padrão de “Natureza no Espaço”, assim como a presença de vegetação no projeto. É interessante ressaltar que a qualidade biofílica nesse padrão é maior


quanto mais diversa for a ocupação, ou seja, uma ocupação que contemple animais, vegetação diversificada, indicativos de usos humanos. A qualidade do meio ambiente é mais importante que a quantidade em si. Ainda dentro desse padrão temos a forma que o projeto ocupa na paisagem, a similaridade a uma montanha é uma presença explícita do natural que agrega valor ao projeto. O projeto abriga, nos seus vasos-pilares um ecossistema com 23 espécies nativas que foram especificamente agrupadas para permitir um funcionamento correto e autônomo. A conexão visual com a natureza e o meio traz para o indivíduo uma experiência que proporciona a redução de estresses físicos e emocionais. A escala do detalhe também é relevante neste projeto, a materialidade e a sua textura fazem referências diretas e indiretas ao mundo natural. O revestimento externo é composto, em parte, por pedra não polida. Esta característica, juntamente com a textura dos pilares enriquece o ambiente e estimula o toque. Em uma de suas entrevistas, Heatherwick refor-

1000 Trees, interior

ça a importância do detalhe na conexão emocional com o espaço, pois essa pequena escala é muito mais relacionável com a escala do ser humano e ainda conclui que é provável que a arquitetura de grande escala que, tende a ser cada vez maior e que não se relaciona à escala humana, é uma das possíveis responsáveis pelo distanciamento emocional das pessoas com o espaço construído. Apesar de ser um projeto de grande escala, existe uma preocupação e cuidado quanto aos seus impac-

tos. Do ponto de vista da Biofilia existe um tratamento cuidadoso das superfícies e estímulos consequentes à exposição do arranjo espacial do edifício e dos seus componentes. Essas características colaboram com a conexão emocional do espaço, desenvolvendo significado para a comunidade e atribuindo sustentabilidade ao projeto.


Seção esquemática da estrutura, 1000 Trees

Texturas aplicadas sobre as colunas, 1000 Trees



1000 Trees


“The intersection of the natural and the human-made” por Jamie North


A intenção deste projeto é ser suporte para a natureza e conciliar o lazer urbano ao espaço adaptado. Um lugar físico e um espaço sensorial. A dimensão dos sentidos tem grande relevância à experiência que se procura proporcionar, tendo em vista o poder imersivo que a natureza e o ambiente construído podem ter, aliados. Para abrigar a experiência completa é esperado um ambiente disruptivo, educativo, imersivo e público. A permeabilidade do espaço aos fluxos do cotidiano é de fundamental importância para que o projeto tenha força e sentido, portanto, o uso dos níveis térreos deverá ser pensado para abrigar possíveis atividades e encontros rotineiros. No âmbito educacional, além do programa que envolve o natural diretamente, existirão espaços livres para a disseminação de conhecimentos, encontros e aulas. No que tange ao Núcleo Vivo do projeto temos a possibilidade de usos integrados às outras atividades propostas. Este deverá proporcionar melhorias ambientais efetivas no entorno e influenciar positivamente

a experiência e vivência do bairro. No programa verde estão inclusas incubadoras de espécies nativas do Cerrado e Mata Atlântica, apiários e outros tipos de fomento de polinização, locais de pouso para aves nativas, existindo o cuidado para não gerar desequilíbrios ambientais. Um espaço que propicie a divagação, o descanso e a natureza. Um estado natural do ser humano que à muito foi desnaturalizado.

Mandala Pop-Up Digital Art Museum projeto da One Take Architects, referência de espaços imersivos e sensoriais

“Not Just a Library” pelo escritório MOTIF, referência para o acesso público do parque

Instalação de Hiroshi Sambuichi em Frederiksberg, Dinamarca , referência para a proliferação de vida em ambientes sub-utilizados


Referências •

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