Arquitetura& Programação Visual& Identidade. UM ESTUDO SOBRE A CRIAÇÃO CONJUNTA DE UMA IDENTIDADE NO ESPAÇO EDIFICADO
Ensaio Teórico por: BÁRBARA A. M. DE MORAIS Orientação por: JOE RODRIGUES Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Brasília | 2016
MORAIS, Bárbara A. M. de Arquitetura & Programação Visual & Identidade: um estudo sobre a criação conjunta de uma identidade no espaço edificado Ensaio Teórico (Graduação – Departamento: Teoria de História da Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de Brasília, 2016 Orientação: Joe Rodrigues 1. arquitetura 2. programação visual 3. identidade 4. edificação 5. sinalização
RESUMO Este documento é um produto da matéria Ensaio Teórico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília. Seu objetivo é apresentar um estudo sobre a identidade e se ela pode ser obtida através do trabalho conjunto entre arquitetos e programadores visuais. Além disso, também tem como finalidade tentar compreender melhor as ações destes dois profissionais e como um pode contribuir para o trabalho do outro de maneira a aprimorar o produto final de um espaço ou edificação, constituindo de forma conjunta uma identidade. A intenção do trabalho não é desmerecer os projetos que não têm a participação ativa das duas áreas desde o princípio do projeto, mas sim entender melhor as potencialidades e resultados que podem ser obtidos quando há essa troca. Aqui é proposto o estudo dos conceitos de identidade, assim como suas formas de aplicação, ilustrados sempre com projetos exemplos. Palavras-chave: 1. arquitetura 2. programação visual 3. identidade 4. edificação 5. sinalização
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11 1 OS PROFISSIONAIS E AS PROFISSÕES
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1.1 A formação do Arquiteto
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1.2 A formação do Programador Visual
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1.3 Conclusões acerca das diferentes formações
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2 ENTENDENDO AS PARTES PARA COMPREENDER O TODO 21 2.1 O que é identidade?
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2.2 Identidade e Arquitetura
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2.3 Identidade e Programação Visual
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3 ARQUITETURA E PROGRAMAÇÃO VISUAL: UMA OUTRA IDENTIDADE 33 3.2 Projetos Exemplos
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3.2.1 TOOLBOX
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3.2.2 NINE HOURS CAPSULE HOTEL
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3.2.3 SCALES
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CRÉDITOS DAS IMAGENS
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INTRODUÇÃO O trabalho a seguir irá abordar o tema da criação conjunta de uma identidade no espaço edificado, tratando do ofício das áreas de arquitetura e programação visual, na elaboração de projetos, que se complementem e criem, em harmonia e união, um resultado único. A proposta de desenvolver um Ensaio Teórico sobre este assunto surgiu de uma vontade de descortinar e compreender um pouco melhor o assunto, que não é trabalhado durante a grade obrigatória de matérias da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Durante algumas viagens, mas de forma mais marcante à Londres e à Turim, essa relação entre os dois ramos de trabalho se tornou mais explícita. Visitas a museus como o Tate Modern, em Londres, e espaços de trabalho compartilhado como a ToolBox, em Turim, são alguns dos exemplos de edifícios que foram visitados e tinham certa identidade através da sua arquitetura e programação visual. Essa experiência pessoal, aliada a aulas da matéria optativa de Programação Visual aplicada à Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de Brasília, proporcionou ainda mais interesse por essas áreas do conhecimento. O tema se tornou mais relevante ao se perceber que não é uma associação profissional comum nos escritórios do Brasil. A partir daí, houve um interesse em conhecer e estudar esta maneira distinta de se conceber a arquitetura e identificar projetos, através de livros especializados, que tiram partido disso. Dessa maneira, teve-se como objetivo geral deste trabalho encontrar, classificar e compreender quando e de qual forma a programação visual colabora com a concepção e construção da identidade da edificação arquitetônica. Com estes objetivos em mente, o trabalho foi guiado pelas intenções específicas de obter maior entendimento sobre a formação dos profissionais de cada uma dessas áreas, assim como suas habilidades particulares; entender 11
o conceito de identidade e como ela se mostra presente na arquitetura e na programação visual, tanto separadamente quanto em conjunto; apresentar e analisar alguns exemplos de projetos desenvolvidos através da colaboração do trabalho das duas áreas; e, por fim, compilar bibliografias e referências que tratem do assunto. A metodologia que foi utilizada na elaboração deste ensaio se iniciou através de uma aproximação paralela do conceito de identidade – tanto no sentido mais amplo, quanto aplicada especificamente à arquitetura e à programação visual – e coleta de exemplos iconográficos. A construção do conceito do que é identidade foi feita por intermédio de pesquisas bibliográficas de diferentes autores que abordam a temática. Já a coleta de exemplos, foi baseada em compilar alguns projetos de livros da área de programação visual em que a união desta e da de arquitetura foi essencial para a construção de uma identidade. O trabalho conta com análises dos projetos iconográficos através de imagens e croquis de estudo para compreender melhor quando o espaço se diferencia pela união das duas áreas e quando podemos perceber apenas a justaposição, ou seja, o que é e o que não é um projeto desenvolvido com o auxílio e colaboração da programação visual. Procurou-se entender quando a arquitetura é apenas um suporte para a programação visual e quando a programação visual intervém diretamente no processo de transformação do espaço, simultaneamente à arquitetura.
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1 OS PROFISSIONAIS E AS PROFISSÕES Para se obter maior compreensão deste ensaio e do tema como um todo, faz-se necessário previamente contextualizar as áreas envolvidas e como se dá a formação dos profissionais que exercem as ocupações de arquitetura e urbanismo e programação visual.
1.1 A formação do Arquiteto O arquiteto tem sua profissão definida pela ABNT, através da NBR 13523/19951. Neste documento, consta uma lista dos diferentes serviços que podem ser elaborados por este profissional, dentre eles projetos de: edificação (ambientes exteriores e ambientes interiores); elementos da edificação e seus componentes construtivos (fundações, estruturas, coberturas, forros, vedações verticais, revestimentos e acabamentos); equipamentos para comunicação visual; equipamentos (mobiliário e incorporados); jardins e parques; e instalações prediais e seus componentes construtivos. Dentre estas atribuições, é importante aqui destacar a presença do item “equipamentos para comunicação visual”, definido no documento como “mensagens e pictogramas direcionais de localização e de advertência e suportes” (NBR 13523/1995). Esta atribuição, apesar de constar na norma citada, não é abordada no fluxograma de disciplinas obrigatórias da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo2, aparecendo apenas como conteúdo da matérias optativas, como acontece com a disciplina Programação Visual Aplicada à Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB). Este aspecto se assemelha, de certa maneira, a outros conteúdos vis1 ABNT. (1995). NBR 13532. Rio de Janeiro. 2 Ver Anexo I - Fluxograma de disciplinas obrigatórias do curso diurno da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília
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tos durante o curso de maneira muito breve que necessitam de uma especialização para que o profissional possa, de fato, exercer a área escolhida no mercado de trabalho. “O arquiteto e urbanista deve declarar-se impedido de assumir responsabilidades profissionais que extrapolem os limites de suas atribuições, habilidades, e competências, em seus respectivos campos de atuação.” (CAU-BR)3
Sabe-se que o profissional da área de arquitetura é extremamente versátil e pode desempenhar atividades nas áreas mais distintas, no decorrer da carreira profissional. Entretanto, como o curso deve abranger uma gama de conteúdos considerada extensa, não é viável durante a graduação abordar todos eles, fazendo-se necessária a busca externa pela capacitação em outras áreas. O curso de Arquitetura e Urbanismo no Brasil geralmente apresenta um foco maior em projetos de edificação, disciplinas de história da arquitetura e da arte e matérias sobre os sistemas construtivos mais utilizados hoje em dia.4 A formação do arquiteto pode variar bastante de acordo com sua localização geográfica. Países como a Inglaterra, por exemplo, têm como foco durante o curso um desenvolvimento mais voltado ao artístico do que ao técnico.5
1.2 A formação do Programador Visual Diferente do profissional da área de arquitetura, o programador visual não possui nenhuma norma que rege sua profissão, assim como nenhum órgão que o regulamenta. Entretanto, existem cursos superiores que oferecem essa formação, como o de Desenho
3 CAU-BR. Código de Ética e Disciplina para Arquitetos e Urbanistas (2ª ed.). Goiânia. 4 Ver Anexo I - Fluxograma de disciplinas obrigatórias do curso diurno da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília. 5 Relatos de estudantes da FAU-UnB que realizaram intercâmbio na Inglaterra.
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Industrial (também chamado de Design6), da Universidade de Brasília. Para melhor compreender a atuação do programador visual e entender as habilidades necessárias para o desenvolvimento de seu trabalho, aqui será utilizado como exemplo a formação deste profissional na UnB. O fluxo do curso de Desenho Industrial na UnB apresenta duas possíveis habilitações: Projeto de Produto7 e Programação Visual8. As duas formações possuem as mesmas matérias obrigatórias até o 3º semestre do fluxo, a partir do qual ocorre uma especialização. A diferença primordial está nas disciplinas de projeto, onde a primeira habilitação possui matérias de Projeto de Produto 1 a 4, Materiais Industriais, Processos de Fabricação, Sistemas Mecânicos, Estágio Supervisionado em Projeto de Produto e Diplomação em Projeto de Produto; e a segunda, Programação Visual 1 a 4, Análise Gráfica 1 e 2, Materiais e Processos Gráficos, Estágio Supervisionado em Programação Visual e Diplomação em Programação Visual.9 O curso superior de Desenho Industrial ainda é bastante recente no Brasil. As duas primeiras turmas do curso superior a se formarem no país foram da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em 197610. É interessante notar inclusive que o quadro de professores do curso na Universidade de Brasília 6 Apesar da nomenclatura oficial do curso ser Desenho Industrial, o nome Design consta em diversos documentos e até mesmo sinalizações da Faculdade. 7 Ver Anexo II - Fluxograma de disciplinas obrigatórias do curso Desenho Industrial, Habilitação em Projeto de Produto, da Universidade de Brasília. 8 Ver Anexo III - Fluxograma de disciplinas obrigatórias do curso Desenho Industrial, Habilitação em Programação Visual, da Universidade de Brasília. 9 Como as matérias das duas habilitações do curso de Design Industrial da UnB são as mesmas até o 3º semestre é possível obter formação tanto em Projeto de Produto quanto em Programação Visual, necessitando, para isso, requisitar uma dupla habilitação no curso e finalizar uma das frentes para depois concluir a outra. 10 BRAGA, Marcos (16 de maio de 2012). Palestra sobre APDINS-RJ. Acesso em 16 de novembro de 2016, disponível em Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=-FVnud3_6p8
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é composto, hoje em dia, majoritariamente, de arquitetos que se especializaram na área de Desenho Industrial, já que a profissão e formação ainda estão em processo de estabelecimento e consolidação no panorama brasileiro.
1.3 Conclusões acerca das diferentes formações Conclui-se aqui que o arquiteto possui em seu escopo de atividades definido pela NBR 13523/1995 o serviço de comunicação visual. Entretanto, o profissional muitas vezes não se encontra capacitado nesta área ao se formar no curso de Arquitetura e Urbanismo, fazendo-se necessária uma especialização para aprendizado das especificidades de um projeto como este. O programador visual, apesar de não ter sua profissão regulamentada, como acontece com o arquiteto, adquire em sua formação acadêmica experiência direta com a área, estando capacitado e tendo como foco, desde a graduação, a realização de projetos de mensagens e pictogramas direcionais de localização e de advertência e suportes.
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sinalização
pictogramas
Imagens 1.1 e 1.2: Exposição de trabalhos de graduação da Faculdade de Desenho Indusrtial, UnB
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2 ENTENDENDO AS PARTES PARA COMPREENDER O TODO No capítulo anterior, pôde-se obter uma melhor compreensão sobre a formação dos profissionais de arquitetura e programação visual. Porém, antes de falar da constituição da identidade de projetos pela união das áreas, é importante compreender como as partes envolvidas no processo estabelecem as próprias identidades em seus projetos separadamente, assim como o conceito de identidade como um todo.
2.1 O que é identidade? “Identidade. Do latim tardio identitas, de idem: o mesmo. Relação de semelhança absoluta e completa entre duas coisas, possuindo as mesmas características essenciais, que são assim a mesma.” (Japiassú & Marcondes, 2001)11
A palavra identidade traz alguns diferentes significados de acordo com o contexto em que é aplicada, entretanto, para o Ensaio em questão, nos interessa principalmente a última explícita no Dicionário Básico de Filosofia onde, segundo Parmênides, se tem “a busca de um elemento único, a essência, o ser que explique a totalidade do real” (Japiassú & Marcondes, 2001). Procurando fazer uma comparação mais prática, podemos entender a identidade, de certa forma, como o código genético de um organismo, como sugere Sudijc (2010)12. No DNA ficam armazenadas todas as informações genéticas que o definem e são passa11 JAPIASSÚ, H., & MARCONDES, D. (2001). Dicionário Básico de Filosofia (3ª ed.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 12 SUDJIC, D. (2010). A linguagem das coisas. (A. C. Silva, Trad.) Rio de Janeiro: Intrínseca.
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das para seus descendentes. “O DNA é a estrutura que identifica os seres vivos e apresenta características próprias que permite, mesmo em indivíduos de uma mesma espécie, diferenciá-los.”13 Ele pode ter inúmeras combinações diferentes, que podem chegar a mais de 3 milhões em cada célula, e garantem a variedade dos seres vivos.14 DNA, portanto, é tudo aquilo que constitui um organismo, o distingue e o torna único. Metaforicamente, uma série de objetos distintos também pode conter traços comuns de código genético, o que os torna um conjunto coeso e pode estabelecer uma conexão aos mais diferentes produtos. Esse DNA pode estar presente em uma série de componentes capazes de passar uma mensagem ou significado simbólico comum.
2.2 Identidade e Arquitetura Primeiramente, é importante tentar compreender melhor o significado de arquitetura. Segundo Lúcio Costa (1940)15: “Pode-se então definir a arquitetura como construção concebida com a intenção de ordenar plasticamente o espaço, em função de uma determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica e de um determinado programa.”
13 FERREIRA, Fabricio Alves. DNA; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola. uol.com.br/biologia/dna.htm>. Acesso em 06 de novembro de 2016. 14 DNA. (s.d.). Acesso em 06 de Novembro de 2016, disponível em Só Biologia: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/Ciencias/biogenoma.php 15 COSTA, L. (1995). Considerações sobre a Arte Contemporânea (1940). In: Lúcio Costa, Registro de uma vivência. São Paulo, Brasil: Empresa das Artes.
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Imagem 2.1: DNA
Considerando agora a identidade no contexto arquitetônico, Mahfuz (2009)16, em seu artigo “Forma e Identidade” define que ela “é a ordem específica de cada projeto, aquela estrutura constitutiva que lhe permite ‘ser algo’, sem necessidade de ‘parecer-se com algo’ ”. O autor ainda provoca o leitor fazendo-o imaginar como seria descrever um edifício de maneira verbal. Segundo ele, se puder ser descrito de forma breve, é provável que o edifício possua identidade clara, caso contrário, quanto mais difícil a descrição, menos identidade ele possui. Na arquitetura, temos diversos projetos que constituem forte caráter de identidade. Um exemplo é o edifício do Museu Guggenheim de Frank Gehry17, em Bilbao, Espanha, que forneceu uma visão
Imagem 2.2: Museu Guggenheim, Bilbao, Espanha
16 MAHFUZ, E. (março de 2009). Forma e Identidade. Acesso em 01 de setembro de 2016, disponível em Revista au: http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/180/forma-e-identidade-forma-e-identidade-por-edson-mahfuz-128099-1.aspx 17 Frank Gehry: arquiteto canadense e naturalizado norte-americano, nascido em 1929. Foi ganhador do Prêmio Pritzker de 1989 e é conhecido pela utilização de formas e materiais incomuns em seus projetos. (FURUTO, 2016)
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completamente nova à cidade, colocando-a, a partir de então, em rotas turísticas. A escada da Faculdade de Arquitetura da UnB, também ilustra o senso de identidade. Os alunos associam esse elemento tão fortemente ao lugar, que foram desenvolvidas camisetas com seu desenho para representá-los no curso. A arquitetura tem a capacidade de dar a seus produtos um caráter único que represente pessoas, lugares e até mesmo culturas.
Imagem 2.3: Modelos de camisetas feitas pelos alunos da turma 2º/2012 da FAU-UnB.
Quanto à cidade, Kevin Lynch18 também aborda em certos momentos a temática em seu livro (1999), tratando da importância da 18 LYNCH, K. (1999). A imagem da cidade (1ª ed.). (J. L. Camargo, Trad.) São Paulo: Martins Fontes.
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Imagem 2.4: Escada FAUUnB.
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“circular de maneira independente” identidade como diferenciadora, implicando num reconhecimento das entidades separáveis e garantindo a individualidade ou unicidade. Para Lynch, a identidade influencia fortemente na legibilidade e reconhecimento. Segundo o autor, quando não há heterogeneidade, a imagem da cidade tende a se tornar indistinta. Podemos entrar num universo mais restrito que o da cidade e aplicar o conceito de Kevin Lynch também ao edifício. Para que o usuário possa se locomover sem muita dificuldade, é necessário atentar-se à configuração dos espaços, que deve estar aliada à sinalização, para que as pessoas se orientem mais facilmente. Afinal, a função da sinalização é de ajudar-nos a circular de maneira independente (Senac, 2014)19. A arquitetura e o urbanismo têm a capacidade de reforçar certos aspectos e estabelecer uma identidade única, que pode também refletir conceitos determinados pelo arquiteto, traços de uma cultura, sentimentos e emoções, etc. Entretanto, apesar de muitas vezes ser autossuficiente, a arquitetura pode fazer uso da inserção de trabalhos complementares como, por exemplo, o da programação visual, para obter o resultado de uma identidade distinta e ímpar, a qual será tratada mais a fundo no capítulo seguinte.
2.3 Identidade e Programação Visual O campo do Desenho Industrial é extremamente amplo e complexo, podendo abranger as mais diversas áreas. A cada dia vemos surgir novas especializações, o que pode demonstrar uma resposta a demandas culturais e econômicas da sociedade atual. (SCHERER, 2014)20
19 SENAC. (2014). O essencial do Design (2ª ed.). (B. G. Gordon, Ed., & I. M. Santi, Trad.) São Paulo: Editora Senac São Paulo. 20 SCHERER, F. d. (30 de outubro de 2014). Design Gráfico Ambiental: revisão e definição de conceitos. 11º P&D Design .
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Imagem 2.6: Sinalização Superquadra de Brasília, Brasil. Imagem 2.7: Sinalização Barbican Arts Centre, Londres, Inglaterra.
Imagem 2.5: Sinalização Mornington Shire, Austrália.
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Uma das áreas nas quais o Desenho Industrial se desdobrou no período entre o final do século XX e início do século XXI foi a Programação Visual, que trabalha fundamentalmente com o fornecimento de informações para um usuário, fazendo uso da linguagem escrita, imagens e símbolos (SCHERER, 2014 apud BEDROSSIAN, 2008). Alexandre Wollner, nascido em 1928 e considerado pioneiro do design no Brasil, define programação visual como: “Planejamento de meios de comunicação, através da determinação de estrutura ou linguagem visual básica, metodologicamente desenvolvida no todo e nos detalhes.”21
A programação visual – e o desenho industrial em geral – tem como fundamento a concepção baseada na solução de problemas, sendo ela a resposta para uma série de instruções (SUDIJC, 2010) Sudijc em seu livro relata inclusive sobre suas opiniões a respeito da comparação entre arte e design. Para ele, no desenho industrial “o contexto e o processo são essenciais”. “A questão da utilidade, que foi explorada longamente em A teoria da classe ociosa, de Thorstein Veblen, ajuda a explicar por que, nos últimos cento e cinquenta anos, o design é considerado uma espécie de atividade que não deve ser comparada com a arte. A arte, supostamente, trata de toda uma categoria de coisas inteiramente diferentes. Uma atividade trata do mundo material, comercial e útil dos objetos produzidos em massa, e a outra, de um mundo de ideias mais intangível e escorregadio, e da aura singular e do inútil.” (SUDIJC, 2010)
Os problemas a serem solucionados podem ser desde informar um usuário de determinado espaço sobre sua localização atual e seu destino; passando por organizar a melhor maneira de apresentar certo conteúdo, para que seja o mais legível e melhor compreendido possível; até estabelecer uma linguagem para uma marca,
21 WOLLNER, Alexandre. Textos recentes e escritos históricos. São Paulo: Rosari, 2002.
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transmitindo conceitos da empresa para a identidade visual que a representará; etc. Contudo, apesar de a programação ter como pilar a solução de problemas pelo meio gráfico, ela também faz uso da estética e de elementos estruturadores para atingir certos objetivos. Ao estabelecer uma linguagem e fazer escolhas para obter o resultado final, ela pode também criar um identidade própria. A programação visual pode, inclusive, se apropriar de elementos da arquitetura para se inspirar e direcionar seus conceitos, e ao mesmo tempo ter uma linguagem singular, como é o caso do projeto Docks en Sein. Neste espaço cultural, arquitetura e programa-
a r u t e t arqui
programação visual
Imagem 2.8: Docks en Sein, Pais, França.
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ção visual são completamente independentes, apesar de possuírem a cor verde, em alguns de seus componentes, como elemento comum. Uma serve de suporte para a outra, seja esse suporte físico ou contextual, porém são estruturas dissociáveis. Caso removida a programação visual, a conformação espacial permanece a mesma.
Imagem 2.9: Vista externa do Docks en Sein.
Imagens 2.10: Projeto de programação visual do Docks en Sein.
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Imagem 2.11: Sinalização do Docks en Sein.
Imagem 2.12: Projeto de programação visual do Docks en Sein.
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3 ARQUITETURA E PROGRAMAÇÃO VISUAL: UMA OUTRA IDENTIDADE Como visto anteriormente, a arquitetura e a programação visual independem uma da outra, ou de qualquer frente de desenvolvimento, para estabelecer uma identidade. Elas são áreas completamente capazes de compor algo único, mostrando sua essência ou de seus usuários, culturas, etc. Contudo, ao integrar estas duas áreas desde o princípio, possivelmente pode-se chegar a um resultado completamente distinto daquele obtido a partir da concepção dos projetos em diferentes fases. Esse processo não é primordial para que se constitua uma identidade, mas certamente existe e é uma opção válida e, em muitos casos, inexplorada. A teoria do DNA, abordada previamente22, pode ser aplicada da mesma forma em projetos onde arquitetura e programação visual são pensados juntos. O que se busca atingir é a criação de um código genético exclusivo que transmita a essência do que se está projetando. Mesmo nas diferentes áreas e aplicações, deseja-se remeter ao que ele representa como edifício. Métodos de definição de eixos, grids23, uso de proporções ou formatos conhecidos, quando aplicados em diferentes componentes, transmitem ao observador uma mesma linguagem e podem reforçar a identidade criada.
22 Ver capítulo 2, tópico 2.1. 23 “Os grids dividem e organizam o conteúdo, e são mais comumente associados ao Estilo Internacional ou ao design de estilo suíço. Para os praticantes dessa influente abordagem de design, as malhas complexas e modulares cumprem papel crucial no estabelecimento de uma rígida metodologia de controle no design. Embora a popularidade dos grids tenha acompanhado a do estilo suíço nas décadas de 1950 e 1960, recentemente eles voltaram a despertar interesse, pois a imensidão da internet requer complexos mecanismos de ordenamento universal.” (ARMSTRONG, 2015)
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“A questão aqui não é tanto a coerência no sentido de usar os mesmos elementos, formas e cores repetidamente. O que conta é a natureza do raciocínio, e os métodos usados.” (SUDIJC, 2010)
Imagem 3.1: Proporções do cartaz Bauhaus Ausstellung, Fritz Schleifer.
Imagem 3.2: Grid e Logo Banco Itaú, Alexandre Wollner.
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O trabalho conjunto das áreas de arquitetura e programação visual pode gerar resultados extremamente interessantes. Nesta união, pode-se dizer que “a arquitetura trabalha com a concepção do espaço e o design com a disponibilização da informação.” (SCHERER, 2014 apud HUNT, 2003) As duas áreas, em união, juntamente com seus produtos, interferem no espaço e podem reforçar a linguagem determinada para o projeto, tornando-o único e em destaque para o observador. Isso permite com que possa ser reconhecido nos mais diferentes meios de comunicação e expressão, apenas pela constituição de uma identidade inerente. “[...] diz respeito à transmissão de mensagens e informações por meio do ambiente construído. Trata-se de várias camadas de comunicação que ajudam a moldar a nossa compreensão e senso de lugar” (SCHERER, 2014 apud BEDROSSIAN, 2008)
Esse tipo de projeto onde as áreas de arquitetura e programação visual trabalham em conjunto desde o princípio, e não apenas inserida uma sobreposta à outra, não é tão difundido no contexto brasileiro. Alguns países como Estados Unidos e Inglaterra, por terem as áreas de desenho industrial e programação visual mais consolidadas, possuem mais exemplos de projetos executados dessa forma. “A sinalização deixa de ter a função básica de transmitir informações, e passa a incorporar outros valores como bem-estar e conforto dos usuários, o reforço da identidade visual, assume um importante papel como ferramenta de marketing e de divulgação, apresentando um espectro muito mais amplo e abrangente. A sinalização passa a fazer parte do ambiente construído deixando de ser a aplicação de informações em um determinado espaço existente. O designer passa a desenvolver os projetos com visão mais global e interdisciplinar, não somente definindo os conceitos gráficos e formais, mas considerando também os demais aspectos relacionados aos espaços como, arquitetura, arquitetura de interiores, paisagismo, marketing, merchandising, publicidade, luminotécnica, engenharia e segurança, dentre outros.” (VELHO, 2007)24 24 VELHO, Ana Lucia de Oliveira Leite. (2007). O Design de Sinalização no Brasil: a introdução de novos conceitos de 1970 a 2000. Dissertação de Mestrado, Pontifícia
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O compromisso destas duas áreas, porém, já está sendo mais explorado hoje em dia, tendo surgido até mesmo alguns trabalhos acadêmicos abordando o assunto. O artigo de Scherer (2014), já citado anteriormente, trás até mesmo uma “nomenclatura” para a prática. O texto aborda o Design Gráfico Ambiental, termo introduzido por Bedrossian (SCHERER, 2014 apud BEDROSSIAN, 2008). Segundo o autor, ele “pode ser entendido como a interface visual entre a informação (design gráfico/programação visual) e a edificação (arquitetura)”. Scherer (2014) indica que o Design Gráfico Ambiental é dividido basicamente em três frentes principais: sinalização, ambientação e design de exposições. “Na intersecção entre design gráfico, arquitetura, design de produto e paisagismo vive o Design Gráfico Ambiental.” (SCHERER, 2014) O autor se posiciona, ainda em seu artigo, dizendo que o trabalho conjunto entre disciplinas como planejamento urbano, paisagismo, arquitetura, arquitetura de interiores, desenho industrial e programação visual, pode gerar uma grande riqueza de abordagens, tendo como “colaboração” a palavra chave para o desenvolvimento desse processo. A utilização do termo não é algo difundido no país, e pode certas vezes gerar estranhamento. A área do desenho industrial ainda está sendo consolidada e a diversidade de nomenclaturas para tentar determinar diferentes trabalhos pode se tornar confusa e possivelmente dificultar ainda mais o estabelecimento da área. Alexandre Wollner tem uma forte opinião acerca do assunto. Ao longo dos anos foram criados diversos nomes que “descendem” e se apoiam no termo original design como por exemplo: design inteligente, design estratégico, branding design, design thinking, design de bolos, design de sobrancelhas, etc. Entretanto, a resposta de Wollner quando questionado sobre o assunto é sempre a mesma: Universidade Católica do Rio de Janeiro, Arte e Design, Rio de Janeiro.
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“Não, não existe. É simplesmente uma maneira de consumismo (...) você não pode misturar funções totalmente diferentes como publicidade, marketing, design, etc”25
A nomenclatura ainda é uma questão que deve permanecer em debate durante um tempo, até a consolidação da profissão de designer, porém o produto gerado é algo existente, bastante interessante e ainda pouco explorado no país. No Brasil, os primeiros trabalhos relacionados à área do Design Gráfico Ambiental surgem na década de 1970 (VELHO, 2007), e os mesmo se relacionam principalmente com a sinalização. “A sinalização é uma área do design que também pode ser muito recompensadora para o designer gráfico, por sua grande contribuição para a experiência positiva do visitante de um edifício ou espaço.” “Em grandes projetos de sinalização, é essencial estar envolvido desde o início. Isso ajuda o designer a entender a visão do arquiteto sobre uma edificação ou espaço e deve influenciar as soluções finais da sinalização. Além disso dá a oportunidade de integrar a sinalização à concepção do espaço, reduzindo, assim, o número de sinais a serem aplicados nas paredes.” (SENAC, 2014)26
3.2 Projetos Exemplos Para melhor compreensão prática do tema serão analisados projetos que envolveram o trabalho conjunto das áreas de arquitetura e programação visual para se chegar às soluções finais de concepção, gerando juntas a identidade da edificação.
25 WOLLNER, Alexandre. Textos recentes e escritos históricos. São Paulo: Rosari, 2002. 26 SENAC. (2014). O essencial do Design (2ª ed.). (B. G. Gordon, Ed., & I. M. Santi, Trad.) São Paulo: Editora Senac São Paulo.
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Imagem 3.3: Recepção da Toolbox, Turim, Itália.
Imagens 3.4 e 3.5: Projeto da Toolbox, Turim, Itália.
3.2.1 TOOLBOX LOCAL Turim, Itália DATA DO PROJETO 2010 CATEGORiA Escritório coworking (antiga fábrica) ÁREA 4500 m2 ARQUiTETURA Caterina Tiazzoldi COLABORADORES Lorenza Croce,Monica Pianosi, Chiara Caramassi, Andrea Balza- no, Helene Cany, Mauro Fassino
Imagem 3.6: Entrada principal da Toolbox, Turim, Itália.
Toolbox é um espaço de coworking27 localizado em Turim, Itália. Segundo a arquiteta do projeto, Caterina Tiazzoldi, ele pode ser 27 Modelo de trabalho colaborativo pautado no compartilhamento de espaços e recursos de escritório que reúne profissionais de áreas não necessariamente iguais e na maioria das vezes utilizado por profissionais liberais.
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definido como “uma incubadora de profissionais localizada em um edifício industrial na cidade.”28 A ideia por trás do projeto foi suprir uma crescente necessidade que surgia neste período de mudança da realidade empresarial de Turim. Na época, já era possível que profissionais, acessorados por um laptop e uma boa conexão Wi-Fi, trabalhassem a partir de qualquer localização. A vida profissional na cidade estava cada vez menos atada a ambientes corporativos e se caracterizava cada vez mais pela presença de profissionais freelancers, trabalhando de maneira independente. Em seguida, os seguintes questionamentos surgiram para a arquiteta: “Qual seria a real necessidade de um espaço de trabalho? Como seria possível criar um espaço coerente, mesmo com uma grande pluralidade de usuários? Como seria possível mediar a necessidade de socialização com a privacidade, relaxamento e concentração?” (TIAZZOLDI, 2010)
Transformou-se, então, um centro de escritórios de 4500 m2 (antes um edifício industrial próximo à ferrovia) em um novo ambiente de trabalho. Tinha-se como um dos objetivos do projeto não intervir na estrutura modular de concreto existente na antiga fábrica. O novo projeto consiste em um espaço aberto com 44 estações de trabalho individual e coletivo, combinadas a outros serviços e atividades como salas de reunião, cozinha, auditório, etc. De acordo com Caterina29, ele foi pensado para uma nova geração de profissionais e foi derivado de uma combinação entre espaços de trabalho europeus (organizados em pequenos escritórios) e o modelo americano de planta livre. 28 TIAZZOLDI, Caterina (14 de outubro de 2010) Toolbox. Acesso em 19 de novembro de 2016, disponível em ArchDaily: http://www.archdaily.com/81630/toolbox-caterina-tiazzoldi/ 29 TIAZZOLDI, Caterina. Toolbox Office Lab and Coworking. Acesso em 19 de novembro de 2016, disponível em Caterina Tiazzoldi: http://www.tiazzoldi.com/m-toolbox
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planta livre
Imagem 3.7: Planta Baixa da Toolbox, Turim, Itália.
Uma série de volumes, a princípio idênticos, se diferenciam pelo uso de diferentes materiais, de acordo com a função estabelecida. A especificidade do volume genérico também aparece de acordo com as condições térmicas, sonoras e visuais determinadas.
Imagens 3.8 e 3.9: Salas com isolamento acústico na Toolbox.
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O projeto repete diversos elementos em combinações diferentes para criar, ao mesmo tempo, variedade e coerência. Isso acontece, por exemplo, na parede ao lado do balcão, localizada na entrada principal, onde um mesmo elemento – uma caixa branca – é repetido em 500 variações. O resultado pôde ser atingido através da utilização de um programa paramétrico que gera infinitas configurações a partir de uma única matriz digital. Um modelo de grid condicional similar também foi utilizado para definir os tamanhos e posições das aberturas para troca de ar em cada ambiente.
Imagem 3.10: Projeto da parede ao lado do balcão com variações de um mesmo elemento.
pictogramas informam as funções dos espaços
Imagens 3.11, 3.12 e 3.13: Resultado das variações feitas através da matriz digital.
42
As cores predominantes dos ambientes são branco e verde, com alguns toques de laranja, vermelho ou azul. Foi elaborada para o espaço uma programação visual que auxilia na compreensão das áreas, demarcando a função de cada ambiente e, ao mesmo tempo, ajudando a determinar a identidade do projeto.
Imagem 3.14: Projeto da cafeteria da Toolbox.
Imagem 3.15: Cafeteria da Toolbox. Imagem 3.16: Sala de reunião na Toolbox.
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arquitetura plana, leve e com poucas texturas
pictogramas indicam cada ação do usuário
Imagens 3.17 e 3.18: Fachada e emtrada do Nine Hours Hotel, kyoto, Japão.
Imagem 3.19: Alguns dos produtos desenhados para o Nine Hours Hotel. Imagem 3.20: Cápsulas de dormir do hotel.
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3.2.2 NINE HOURS CAPSULE HOTEL LOCAL Kyoto, Japão DATA DO PROJETO 2009 CATEGORiA Hotel ARQUiTETURA Fumie Shibata Sigma Achitectural Design PROGRAMAÇÃO VISUAL Fumie Shibata Design Studio S (conceito inicial e projeto de produto), Masaaki Hiromura (sinalização) e Takaaki Nakamura (arquitetura de interior)
Imagem 3.21: Entrada princiapal do Hotel Nine Hours, Kyoto, Japão.
O hotel Nine Hours fica localizado em Kyoto, Japão, e possui o característico aspecto futurista e tecnológico pelo qual os japoneses são conhecidos. Para o hotel, 9 horas é o tempo necessário para fazer o rápido check-in, recebendo uma chave para um pequeno armário e uma cápsula de dormir; tomar banho com os produtos desenhados especialmente para o hotel; dormir algumas horas na unidade de cápsula, com um sistema de ambiente controlado; utilizar a internet; e fazer o check-out.
Imagem 3.22: Esquema da concepção e ideias do projeto.
45
É um hotel luxo de pouca permanência e fluxo intenso de pessoas, além de possuir espaços de tamanho reduzido, sendo descrito pela arquiteta, Fumie Shibata, como um “espaço mínimo e de transição para cidades grandes no Japão”. Porém, por ter o branco como cor predominante nos ambientes de convivência, não passa a sensação de claustro. O branco também garante o aspecto de limpeza nos espaços. Os espaços são todos sinalizados através de pictogramas que indicam de forma intuitiva as possibilidades de ações dos clientes em cada ambiente. A sinalização é em grande parte feita no piso, guiando os passos dos usuários. O artifício da cor quase não é utilizado nesse projeto. Ela aparece apenas em uma situação através do tom de vermelho, indicando os ambientes e pavimentos voltados ao público feminino.
ambiente claro para contrapor a sensação gerada pelos ambientes pequenos
pictogramas indicam a direção e dão identidade Imagens 3.23, 3.24 e 3.25: Interior do hotel.
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Já nos locais designados para as cápsulas de dormir, o ambiente é majoritariamente escuro, com focos de iluminação para auxiliar na orientação do espaço, porém garantindo uma atmosfera mais aconchegante através da iluminação amarelada do interior das cápsulas. Os elementos dessa área são mínimos, até mesmo pelo espaço estremamente compacto.
Imagem 3.26 e 3.27: Cápsulas de dormir do hotel.
47
o conceito invade todos os espaรงos da escola
Imagens 3.28 e 3.29: Corredor da Escola Preparatรณria, Japรฃo.
48
3.2.3 SCALES LOCAL Japão DATA DO PROJETO 2009 CATEGORiA Escola ARQUiTETURA Takenaka Corporation PROGRAMAÇÃO VISUAL
Imagem 3.30: Interior da Escola Preparatória, Japão.
Eisuke Tachikana – Nosigner (design de interior, sinalização e programação visual)
O projeto descrito como Scales é uma escola preparatória no Japão criada para alunos reclusos que se recusam a ir à escola. Todos os ambientes possuem medidas que quantificam as paredes do espaço da instituição. Essas medidas marcam a progreção potencial dos alunos e também funciona como um indicativo gráfico da função dos ambientes e pavimentos.30 30 SCALES. Acesso em 20 de novembro de 2016, disponível em NOSIGNER: http:// nosigner.com/case/scales/
Imagem 3.31 e 3.32: Indicação dos pavimentos da escola.
49
Os armários individuais dos estudantes são indicados por um sistema de coordenadas, que assinalam as colunas e fileiras de cada caixa. Na entrada da escola há uma enorme régua com 9 tipos diferentes de medidas, onde os estudantes podem aprender diferentes unidades numéricas.
Imagens 3.33: Sistema de coordenadas nos armárioss da escola.
O principal conceito é o aprendizado através do ambiente construído. Foram utilizadas referências de escalas e medidas aplicadas a diferentes materiais e das mais diversas formas para que os alunos pudessem interagir com o espaço enquanto aprendem. “A sinalização funciona não somente como orientação, mas também como linguagem do espaço” (VICTION:ARY, 2013)31 31 VICTION:ARY. (2013). You Are Here: a new approach to signage and wayfinding. Hong Kong: viction:ary.
50
pictogramas dos banheiros levam a mesma ideia de todo o projeto Imagem 3.34, 3.35 e 3.36: Interior da escola.
51
CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo realizado neste ensaio trouxe um breve panorama da situação atual das profissões de arquiteto e programador visual no Brasil, assim como suas formações acadêmicas. Ao analisar os currículos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e o de Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual, vimos que apenas o programador visual tem em sua grade de matérias obrigatórias, o estudo e projeto de sistemas de sinalização. Apesar de o arquiteto ser o profissional definido por norma para a elaboração de equipamentos para comunicação visual (mensagens e pictogramas direcionais de localização e de advertência e suportes), ele muitas vezes necessita de especializações a parte para atuar nesta área. Foram estabelecidos alguns conceitos para identidade, assim como apresentação de exemplos para a atuação dela na arquitetura e na programação visual. Estabeleceu-se uma metáfora entre identidade — para objetos, edifícios e espaços — e o DNA de um indivíduo. Desta forma, a identidade atua como uma estrutura que identifica e permite a individualidade e variedade, podendo ter alguns de seus traços presentes em mais de um objeto, criando um conjunto de elementos com uma coesão e significado entre si. Determinou-se que as identidades dos projetos da programação visual da arquitetura independem uma da outra, sendo elas autossuficientes como elemento de conceito (desconsiderando a função inata de sinalizar e formar um espaço). Entretanto, pode-se concluir que as duas áreas, quando trabalham em conjunto e produzem uma única identidade, o resultado obtido possui grande potencial de se tornar algo único e ímpar. Existem diferentes opniões a respeito do estabelecimento de uma nomenclatura para esse tipo de trabalho em conjunto entre as duas áreas. Autores como Scherer sugerem a terminologia "Design Gráfico Ambiental", enquanto outros, como Alexandre Woll53
ner, acreditam que a criação de nomenclaturas derivadas somente dificulta a consolidação do ramo. Foi observado que, no Brasil, o trabalho colaborativo desde o início do projeto entre arquitetura e programação visual ainda não é tão presente como em outros países, mas é uma frente em desenvolvimento e que apresenta bastante potencial de crescimento. Por fim, pôde-se observar, através de projetos exemplos, algumas das qualidades desses espaços construídos em conjunto, assim como as identidades para eles estabelecidas, afim de expressar ideias, culturas e visões de mundo, tanto das empresas quanto dos usuários que as frequentam.
54
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55
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57
58
CRÉDITOS DAS IMAGENS Capa, Folha de Guarda e Imagens de Início de Capítulo Ilustrações da autora Imagem 1.1 e 1.2 Fotos da autora Imagem 2.1 https://medicine.umich.edu/medschool/research/office-research/biomedical-research-core-facilities/dna-sequencing Imagem 2.2 http://modernperiodresources.weebly.com/1990s-architecture.html Imagem 2.3 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10202101128554474&set=g.223710071004501&type=1 Imagem 2.4 Foto de Pedro Isaac Maciel Imagem 2.5 https://ndga.wordpress.com/2014/03/10/sinalizacao-mornington-shire/ Imagem 2.6 http://terravermelha2.blogspot.com.br/2013/04/pirenopolis-tradicao.html Imagem 2.7 http://www.abcdesign.com.br/analogico-digital-e-ambiental/ Imagem 2.8 http://andren.tumblr.com/post/152636214032/searchsystem-nicolas-vrignaud Imagem 2.9 http://www.architectureweek.com/2011/0209/index.html Imagens 2.10, 2.11 e 2.12 http://graphicambient.com/2012/02/28/docks-en-seine-france/ Imagem 3.1 http://waltermattos.com/artigos/grids-no-design-grafico-o-que-voce-precisa-saber-antes-de-comecar-a-usar/ Imagem 3.2 http://waltermattos.com/artigos/grids-no-design-grafico-o-que-voce-precisa-saber-antes-de-comecar-a-usar/ Imagem 3.3 http://www.toolboxoffice.it/gallery.html Imagem 3.4 e 3.5 http://www.archdaily.com/81630/toolbox-caterina-tiazzoldi
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Imagem 3.6 Foto da autora Imagem 3.7 https://divisare.com/projects/132323-caterina-tiazzoldi-sebastiano-pellion-di-persano-helene-cany-toolbox-coworking-torino Imagem 3.8 e 3.9 http://www.toolboxoffice.it/gallery.html Imagem 3.10 http://www.archdaily.com/81630/toolbox-caterina-tiazzoldi Imagem 3.11, 3.12 e 3.13 Fotos da autora Imagem 3.14 https://www.behance.net/gallery/14080537/Toolbox-office-lab-coworking Imagem 3.15 Foto da autora Imagem 3.16 http://www.toolboxoffice.it/gallery.html Imagem 3.17 a 3.20 https://www.behance.net/gallery/10118843/9h-nine-hours-capsule-hotel-Kyoto Imagem 3.21 https://www.behance.net/gallery/5354353/9h-Nine-Hours Imagem 3.22 http://www.designboom.com/architecture/9-h-nine-hours-capsule-hotel-in-kyoto/ Imagem 3.23 a 3.25 http://www.uniqhotels.com/9-hours-capsule-hotel Imagem 3.26 http://detaillog.blogspot.com.br/2013/01/9-hours-kyoto-teramachi-hotel.html Imagem 3.27 https://ninehours.co.jp/en/kyoto/ Imagem 3.28 a 3.36 http://nosigner.com/case/scales/
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ANEXO I - Fluxograma de disciplinas obrigatórias do curso diurno da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília
Fluxograma do curso de graduação - diurno Atualizado em 07/05/2014
Disciplinas Obrigatórias
EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO
1 154008 4 INTRODUÇÃO ARQ. E URB.
2
154598 4 DESENHO E PLÁSTICA 1
PROJETO CONSTRUÇÃO
4
5
6
7
154741 4 HISTÓRIA ARQ. ARTE 1 1
13 154750 4 HISTÓRIA ARQ. ARTE 2 7
19 154768 4 ARQ. URB. SOC. INDUST. 13
24 154784 4 ARQ. URB. COL. IMPÉRIO 19
29 154776 4 ARQ. URB. BRASIL CONT. 19
34 154806 4 ARQ. URB. ATUALIDADE 24
8
14 154601 4 DESENHO E PLÁSTICA 2 2
7
208469
2
MOD. TRID. DIG. EM ARQUITETURA
5
15 208485
154628 4 GEOMETRIA CONSTRUTIVA
154474 8 PROJETO ARQUITETÔN 1
9
154482 8 PROJ. ARQ. LING. E EXP. 5
16 154491 8 PROJ. ARQ. HABITAÇÃO 9 e 12 ou 6
2
17 154661 4 CONFORTO TERM. AMB. 10
1 ou 5
10
11 112984
20 154504 8 PROJ. ARQ. GDES. VÃOS 10 12 16
25 154512 8 PROJ. ARQ. EDIF. ALTURA 20
Total de c Total de c Mínimo d Demais c
Máximo d Máximo d
4
1 crédito
30 154521 8 PROJ. ARQ. FUNC. COMPL. 21 22 24
37 154547 8 PROJETO URBANISMO 1 30 31 ou 11
39 154555 8 PROJETO URBANISMO 2 32 37
31 154571 8 PROJETO PAISAGIST. 1 20
38 154130 2 ESTÁG. SUP. DE PROJETOS 37 ou 24
40 155390 8 TÉCNICAS RETROSPECT. 24 32 33 37
43 154989 4 INTRODUÇÃO AO TFG 28 30 34 37
44 155411 4 TFG 11 14 39 40 42 43
8
4
20 155349 2 CONFOR. AMB. LUMINOSO 16 21 155331 2 CONFORTO SONORO 17
4
TOPOGRAFIA
26 154091 4 INSTALAÇÕES E EQUIPAM. 5
32 155322 2 INFRA-ESTR. URBANA
27 166952 166961
33 154423 4 TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO 27
6
12 154687 8 SIST. ESTR. NA ARQUITET. 5
18 154695 8 SIST. ESTR. CONCR. ARM. 12
22 154709 4 SIST. ESTR. AÇO 18
28 154717 4 SIST. ESTR. MADEIRA 23
28
30
20
26
26
61
41 154563 2 ESTÁG. SUP. EM OBRA 24 ou 37
22
O curso de 10 semest máximo de e confere o
O número ultrapassar considerad necessária
42 154814 4 ENSAIO TEÓRICO 34
PLANEJAMENTO URBANO
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 11
28
9
3 5
EST. AMBIENT. BIOCLIMATISMO
155080 4 INTRODUÇÃO TEC ARQ URB
36 154849
2
BIM
10 154652
6
8
35 155403 4 ESTÉTICA HIST. ARTE 13
MOD. INF. CONST.
4
ESTRUTURAS
DEPT° DE TECNOLOGIA
3
3 154580 4 DESENHO ARQUITETÔN.
5
CRÉDITOS
2
1
AMBIENTAL
DEPT° DE PROJETO, EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO
DEPT° DE TEORIA E HISTÓRIA
PERÍODO
18
ANEXO II – Fluxograma de disciplinas obrigatórias do curso Desenho Industrial, Habilitação em Projeto de Produto, da Universidade de Brasília
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ANEXO III – Fluxograma de disciplinas obrigatórias do curso Desenho Industrial, Habilitação em Programação Visual, da Universidade de Brasília
63
64
65